FOLHA SERTANEJA / CADERNO DOMINGO - III° EDIÇÃO
O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO Criado em 18/02/2004 | Fundador: Antônio Galdino | Caderno Cultural Online | DOMINGO | 20/02/2022
O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO
Criado em 18/02/2004 | Fundador: Antônio Galdino | Caderno Cultural Online | DOMINGO | 20/02/2022
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OS IMBECIS PALRADORES
Antigamente os melros cantavam, os corvos grasnavam,
os imbecis calavam. Nesse tempo de fábula, na savana e
nas aldeias nossa luta era só pelo dia seguinte. Evoluímos
e houve um tempo em que a caça foram as bruxas, e já era
possível ouvir o palrar dos sabidos que, ignorando certas
circunstâncias do mundo natural, pugnavam por livrá-lo
do mal e da maldade.
Evoluímos, e nas tabernas nos vimos a chilrear e cantar.
Com mais um pouco, a ciência permitiu que nossas vozes
se ampliassem – mas ainda restritos em “um bar, e depois
de uma taça de vinho”. Depois, inventamos a imprensa,
o jornal, o telégrafo, o rádio, o telefone, a televisão, as
revistas, o computador, a internet e por fim as redes
sociais. E aí já não ouvimos os melros, nem os corvos, nem
os pardais, nem os rouxinóis, sequer os imbecis.
Stravinsky dividiu a oitava em 12 meios-tons, criando
a dodecafonia; nós fomos adiante: instalamos a algaravia,
um sistema perfeito em que todos falam e ninguém
escuta. Falar sem ouvir, uma prova de ignorância, é o que
nos faz todos imbecis, pois torna impossível o diálogo, e
sem diálogo não há consideração, sem consideração não
há ética, sem ética não há empatia, consenso, dignidade,
humanidade. É uma condição determinante - mas é
também, justamente, a condição que nos salva porque,
sendo transitória, pode ser suprida e revertida.
Nós, os néscios, grosseiros e estúpidos, produtores
e reprodutores, trocamos o argumento pelo dogma,
a persuasão pela agressão, os bons modos pelos maus
modos, e não defendemos princípios, mas paixões.
Todavia, podemos mudar – e isso será, sempre, uma prova
de inteligência: é possível ter ideias opostas e defendê-las
com elegância. É possível acreditar que delas, opostas ou
supostas, justapostas, possa surgir uma outra, nascida da
luz ou do consenso.
Edson Mendes
Mas, dirá alguém, como discutir, se discutir com um
tolo é uma tolice? Como tolerar os intolerantes? Calando?
Calando-os? A tolerância é uma virtude, mas eles são muitos,
e se a cada dia são mais, menor nos parece a cada dia o
quintal da paciência onde florescem as virtudes. Convém,
contudo, a esse respeito, lembrar que, se somos todos
árvores e ervas e arbustos e herbívoros, quem nos garante
que está certo nesse incerto viver que nos conduz?
Na floresta enorme deste enorme paraíso, nós todos
nascemos ignorantes, mas ninguém nasceu já imbecil.
Nenhum de nós o admite – exceto aquele que, sabendo
que não nasceu sabendo, para um pouco pra pensar,
e pensa um pouco antes de afirmar e negar e acusar e
sofismar e legislar e gritar e palrar. E agir.
Advirto aos que me acompanham por generosidade,
curiosidade, ou mesmo malícia, que o termo aqui usado
não é adjetivo, mas substantivo, e é nesta condição que
me ponho, démodé, entre os animais da floresta, bois
e beócios, a levantar poeira e costurar, sísifo, remendos
utópicos com as linhas do horizonte. Sigo a cena e o
rebanho aqui dos galhos genealógicos, a refletir sobre as
ilusões do mundo e a sensatez dos insensatos.
Bois e beócios, papagaios e piratas, bestas e
quadrúpedes, somos muitos. Nossa sorte, ou melhor
dizendo nosso azar (?!), caros leitores, solidários e
solitários aqui comigo empoleirados, é que esses muitos,
mesmo sendo tantos, não sabem voar, como disse uma
vez Ednardo... Mesmo assim, mas confiante no poder da
aprendizagem, aceitarei, de bom grado, se lhes parecer
pertinente, a gentileza de ser ouvido, como também a
pecha de balda – uma carta sem valor, que serve apenas
para descarte. Ou, apenas e ainda, um novo velho parceiro
em seu longevo Clube dos Imbecis Palradores.
11/02/2022
EDITAL - Usucapião Extrajudicial – Terceiros, art.16 do Prov. CNJ n. 65/17 -
Interessado(s): MARCOS AURÉLIO MARINHO RIBEIRO, EUCLIDES RIBEIRO
JÚNIOR E ANA RITA MARINHO RIBEIRO CARVALHO
EDITAL DE NOTIFICAÇÃO - USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL Maria Leny Batista
Almeida, Oficiala do Registro de Imóveis da Comarca de Paulo Afonso-BA, na forma da
lei, Faz saber a tantos quantos este edital virem ou dele conhecimento tiverem, que foi
protocolado nesta Serventia em 04/01/2022 o requerimento pelo qual MARCOS
AURÉLIO MARINHO RIBEIRO, brasileiro, capaz, Engenheiro Eletricista, natural de
Paulo Afonso-BA , nascido aos 16/02/1972, filho de Euclides Ribeiro e Estelita Marinho
Ribeiro, portador da Cédula de Identidade nº 04.351.536-33 SSP/BA, inscrito no CPF nº
535.822.335-53, casado com Ana Patrícia de Alcântara e Silva Ribeiro, Rg 1.000.061
SDES/AL, inscrito no CPF n° 627.590.005-91, conforme Certidão de Casamento lavrada
no Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Paulo Afonso/BA , sob matrícula
nº 138016 01 55 1998 3 00008 043 0004285 79 de 18/06/1998, residente e domiciliado
na Avenida da Maçonaria, 45 Bairro Perpétuo do Socorro, CEP: 48.603-241, Paulo
Afonso/BA, endereço eletrônico não informado, solicita o reconhecimento do direito de
propriedade através da Usucapião extrajudicial, nos termos do art. 216-A, da Lei n.
6.015/1973, autuado sob Protocolo nº 63188 em 04/01/2022 do imóvel denominado Sítio
Nova Alvorada, Estrada dos Paios – Margens da Bacia de PA-IV , Município de Paulo
Afonso , Estado da Bahia , com uma área total de 35.847,73 m² (trinta e cinco mil
oitocentos e quarenta e sete metros e setenta e três centímetros quadrados), com NIRF
4.383.720-4 e cadastrado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA com CERTIFICADO DE CADASTRO DE IMÓVEL RURAL – CCIR
317.047.021.989-4 em nome dos requerentes , SENDO URBANO desde o ano de 2019,
através da LEI MUNICIPAL 1.431 DE 01/10/2019. Tudo conforme mapa e memorial
descritivo elaborados pela Arquiteta e Urbanista ANA PATRÍCIA DE ALCÂNTARA E
SILVA RIBEIRO e Anotação de Responsabilidade Técnica nº SI 10117630I00, inscrita
no CAU-BA nº 000A245410. Assim sendo, ficam intimados terceiros eventualmente
interessados e titulares de direitos reais e de outros direitos em relação ao pedido,
apresentando impugnação escrita perante a Oficiala de Registro de Imóveis, com as
razões de sua discordância em 15 (quinze) dias corridos a contar da publicação deste,
ciente de que, caso não contestado presumir-se-ão aceitos como verdadeiros os fatos
alegados pelo Requerente, sendo reconhecida a usucapião extrajudicial, com o
competente registro conforme determina a Lei. Paulo Afonso/BA, 21 de fevereiro de
2022. A Oficiala, Maria Leny Batista Almeida.
Candeeiros e lampiões
Maria Soleni Silva Oliveira
Declina a tarde por demais comprida.
Amorna o sol remansado.
Por trás dos montes.
Lampejo arqueado a se deitar no chão empoeirado.
Vasto e aquecido. Resfolega
E o entardecer vem carregando em seu hálito morno.
Cálido sereno. Embriagado.
A se derramar por cima do cio da terra, fértil.
Assedilhado. Desfalece.
Ante a sabedoria do universo a se contentar, sorrir.
Feito coração de menino.
E as flores afadigadas, adormecidas beiram as estradas.
Aldravadas. Descoram.
Balizam na dança dos ventos insetos ensarilhados.
Nuvens breves. Costumeiras.
Despertam vagalumes, olhos das matas.
Acendendo e apagando. Insistentes.
Repousam grandes pés de árvores das bruscas ventanias.
Aquietam-se serenas
Descem em calmaria as derradeiras e mansas cintilações.
A passear pelos quintais escurecidos na hora da Ave-Maria.
E por esses instantes cai um manto escuro.
Despe o infinito. Cobre os céus. Em absoluto.
Chega à noite, entremeada as rústicas chamas dos candeeiros.
E vaidosos lampiões. Entre vidas. Às escuras.
Iluminando a lenta escuridão que avança sorrateira.
Pelos cantos das cozinhas.
Misturadas ao cheiro forte de café adocicado.
E as casas recolhidas de humildes ruas escuras.
Descalças, dividem becos e ruelas. Irrefutáveis.
Abraçam silêncios calados e profundos.
Deslembrados. Insistem.
Moradas afastadas, separadas. Acendem braseiros.
Aclarando terreiros. Distraídos.
E o povo que vai e vem. Encurtam passos.
Embaraçados às sombras. Desconhecidas.
Passam de longe.
Aclara entreabertas portas e janelas à luz das excêntricas
lamparinas.
Os candeeiros. Luzeiros de latas. Chapas de alumínio.
Folhas de flandres. Arredondados. Cones.
De chamas embebidas em pavios de algodão.
A clarear cantos. Rostos. Corpos. Nomes. Afeitos.
Acolhidos entre humildes espaços cativos e singelos.
Acomodados. Mimos.
Bem mais adiante, se vê elegantes lampiões.
De mangas de vidros decorados. A ferro de metal.
De barbante condutor, regulador de chamas.
Presos as paredes ornamentadas.
Esfumaçam. Alinhados.
Evidenciando a noite e seus mundos de mistérios.
Encantados e divididos. Inquietos.
Atados às estórias da carochinha de vós cachimbeiras.
Acercada de dengos.
E encantos.
A espera de sossegadas madrugadas.
(Texto do livro Saudade que gosto de ter)
Diretor: Antônio Galdino | Colaboradores desta edição: Edson Mendes, Maria
Soleni Silva Oliveira, Alyce Raiane Jales de Lira, Ana Guiomar/RR, Jovelina Ramalho,
Marcos Antônio Lima | Diagramação: Admilson Gomes e Darlan Soares