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RISCO #25

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SUSTENTABILIDADE FIDELIDADE<br />

José Eduardo Bonito<br />

Investir para gerar impacto<br />

positivo<br />

INOVAÇÃO ACCENTURE<br />

João Alves<br />

Tendências e inovação no sector<br />

financeiro<br />

FINANÇAS NOVOBANCO<br />

Carlos Brandão<br />

Sustentabilidade: uma jornada<br />

em curso<br />

MERCADOS, INSIGHTS E TENDÊNCIAS DO SECTOR FINANCEIRO<br />

Rui Miranda<br />

TRANQUILIDADE | GENERALI<br />

A RESILIÊNCIA<br />

DAS EMPRESAS PERANTE<br />

OS <strong>RISCO</strong>S ACTUAIS<br />

GESTÃO<br />

de<br />

<strong>RISCO</strong><br />

Em cenário<br />

de incerteza global<br />

INFLAÇÃO<br />

GALOPANTE<br />

AS RAZÕES<br />

PARA O AUMENTO<br />

OS SECTORES<br />

MAIS AFECTADOS<br />

MEDIDAS<br />

DE PROTECÇÃO<br />

DAS EMPRESAS<br />

25<br />

VERÃO 2022 • TRIMESTRAL<br />

2,30 euros (cont.) revistarisco.pt<br />

APS<br />

CIBER <strong>RISCO</strong> EM DEBATE NO<br />

XVIII ENCONTRO DE RESSEGUROS<br />

CRIPTOMOEDAS<br />

O PERFIL DOS NOVOS<br />

INVESTIDORES


DIRECTOR<br />

Ricardo Florêncio<br />

ricardo.florencio@executivedigest.pt<br />

COORDENADOR EDITORIAL<br />

Paulo Mendonça<br />

paulo.mendonca@multipublicacoes.pt<br />

REDACÇÃO e ONLINE<br />

Carla Ferreira (revisão), André Mendes, António<br />

Sarmento, Beatriz Caetano, Daniel Almeida, Filipa<br />

Almeida, Francisco Laranjeira, Margarida Lopes,<br />

Mariana Godinho, Rita Paz, Sandra M. Pinto,<br />

Simone Silva<br />

ARTE Projecto Gráfico DesignGlow<br />

FOTOGRAFIA<br />

Nuno Carrancho NC Produções<br />

IngImage.com/AIC<br />

N.º Registo ERC 126799<br />

Depósito Legal 409954/16 - ISSN 2182-4959<br />

Tiragem 19.000 exemplares – Periodicidade Trimestral<br />

IMPRESSÃO E ACABAMENTO<br />

Lidergraf – Sustainable Printing<br />

Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

VASP – Distribuidora de Publicações, Lda.<br />

MLP Media Logistics Park,<br />

Quinta do Grajal – Venda Seca<br />

2739-511 Agualva-Cacém<br />

ASSINATURAS<br />

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PREÇO DAS ASSINATURAS<br />

Portugal – (anual) 8,20 euros<br />

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Ricardo Florêncio (CEO)<br />

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COMERCIAL E PUBLICIDADE<br />

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Joana Correia de Barros<br />

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MARKETING E COMUNICAÇÃO<br />

marketing@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 441<br />

Filipa Pereira (Communications Manager)<br />

filipa.pereira@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 412<br />

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Sónia Almeida (Marketing Assistant)<br />

sonia.almeida@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 418<br />

Joana Lagarto (Marketing Assistant)<br />

joana.lagarto@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 432<br />

FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA<br />

Teresa Vultos (Manager) teresa.vultos@multipublicacoes.pt<br />

Tel. 210 123 400 | Fax 210 123 444<br />

PESSOAS E ORGANIZAÇÃO<br />

Ana Florêncio (Manager)<br />

ana.florencio@multipublicacoes.pt | Tel. 210 123 440<br />

Proprietários com mais de 5% do capital social<br />

AMLC, SA · Gonçalo Dias ·<br />

Manuel Lopes da Costa · Ricardo Florêncio<br />

<strong>RISCO</strong> E<br />

INCERTEZA<br />

PAULO MENDONÇA<br />

COORDENADOR EDITORIAL<br />

paulo.mendonca@multipublicacoes.pt<br />

Já não há dúvidas de que a grande<br />

recuperação esperada para<br />

o pós-pandemia ficou pelo caminho,<br />

adiada para dias melhores<br />

que inevitavelmente virão. Falta<br />

saber quando.<br />

D<br />

epois das previsões optimistas<br />

do início do ano, quando ainda<br />

se considerava a hipótese de o<br />

aumento da inflação ser um fenómeno<br />

transitório, o FMI reviu<br />

em baixa, no seu relatório de Primavera, o<br />

crescimento do PIB global, com destaque para<br />

a desaceleração europeia, que se explica em<br />

grande parte pela guerra. De novo os tempos<br />

adivinham-se difíceis, e desta vez o desfecho<br />

da crise depende muito mais da vontade de<br />

líderes internacionais do que da ciência por detrás<br />

da fórmula de uma vacina, o que confere<br />

ao cenário em que o mundo mergulhou um<br />

grau muito maior de imprevisibilidade.<br />

Enquanto houver guerra na Europa, o retrocesso<br />

da inflação não passará de uma miragem,<br />

e outros períodos da História já mostraram<br />

as consequências, para as famílias e para<br />

as empresas, que estão associadas a este tipo<br />

EDITORIAL<br />

de cenário. A inflação é, por si só, um fenómeno<br />

a que tipicamente se seguem problemas<br />

que afectam toda a economia: perda do poder<br />

de compra, aumento da despesa, escassez de<br />

bens, aumento do crédito malparado, desemprego.<br />

Uma sucessão de fenómenos que muitas<br />

vezes acaba por redundar no mais receado<br />

conceito da economia: recessão.<br />

As escolhas dos governos e a hesitação na<br />

tomada de medidas drásticas, como uma subida<br />

abrupta das taxas de juro, pode explicar-se<br />

pela cautela adquirida nas experiências mais<br />

recentes da crise de 2008, mas também porque<br />

esta crise é diferente de outras motivadas por<br />

conflitos geopolíticos, com riscos diferentes,<br />

porventura maiores e com uma margem de<br />

incerteza superior. De resto, a guerra é neste<br />

momento o maior problema para a economia,<br />

mas não é o único, e a cada probabilidade de<br />

cenário negativo torna-se necessário contrapor<br />

uma equivalente probabilidade de cenário<br />

positivo. Enquanto se mantiver esta incerteza,<br />

nem tudo vai mal... Embora também não vá,<br />

indubitavelmente, bem.<br />

É neste tipo de cenário que a gestão de<br />

risco se torna um aspecto fulcral para as empresas.<br />

Se, por um lado, se recomenda cautela<br />

face ao futuro, por outro, nenhuma empresa<br />

quer deixar passar as oportunidades do pós-<br />

-pandemia. É por isso que, mais do que nunca,<br />

as empresas devem tomar consciência de<br />

que hoje o risco chega de todos os lados e é<br />

fundamental geri-lo: traçar cenários, conhecer<br />

as consequências de cada um e calcular o<br />

potencial de perdas face a cada factor de risco,<br />

tendo em conta o seu grau de previsibilidade.<br />

A gestão de risco é necessária sempre, mas<br />

para muitas empresas pode ser agora o segredo<br />

para sobreviver a uma crise sem precedentes<br />

em que o maior risco é mesmo a incerteza.<br />

E essa, sim, veio para ficar.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 3


ESTA<br />

EDIÇÃO<br />

6 NOTAS<br />

PME acreditam em crescimento<br />

entre 10 e 30%<br />

25 12 TEMA DE CAPA: GESTÃO DE <strong>RISCO</strong><br />

OS PROFISSIONAIS DE <strong>RISCO</strong> DEVEM<br />

AJUDAR A RESTANTE ORGANIZAÇÃO A<br />

IDENTIFICAR <strong>RISCO</strong>S<br />

COM IMPACTOS<br />

NEGATIVOS<br />

20 INOVAÇÃO NO SECTOR<br />

FINANCEIRO<br />

Entrevista com João Alves,<br />

Financial Services da Accenture<br />

24 SUSTENTABILIDADE<br />

Entrevista com José Eduardo<br />

Bonito, head of Life Savings<br />

Divison da Fidelidade<br />

28 FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />

Entrevista com Carlos Brandão,<br />

General manager de Global Risks<br />

do novobanco<br />

32 CIBER <strong>RISCO</strong><br />

Reportagem no XVIII Encontro de<br />

Resseguros, organizado pela Associação<br />

Portuguesa de Seguradores (APS)<br />

36 ECONOMIA<br />

Inflação: qual o impacto?<br />

40 MACROECONOMIA<br />

Cenário de guerra: os riscos para<br />

a economia global<br />

47 TECNOLOGIA<br />

Desafios da cibersegurança no trabalho<br />

híbrido, por Carlos Jesus, Country<br />

manager da Colt Portugal<br />

48 PME SUSTENTÁVEIS<br />

Entrevista com Sofia Santos,<br />

economista especializada em<br />

Financiamento Sustentável e fundadora<br />

da Systemic<br />

52 CRIPTOMOEDAS<br />

O perfil do investidor deste tipo de activos<br />

54 TRADING<br />

As ambições de quem investe nos<br />

mercados financeiros, por Adelino<br />

Matos, CEO e founder da Escola<br />

Trading<br />

58 CBDC<br />

As moedas digitais dos bancos<br />

centrais, por Nuno Sousa Pereira,<br />

director de Investimentos da Sixty<br />

Degrees<br />

Opinião de Rui Miranda,<br />

Chief Risk Officer,<br />

Tranquilidade | Generali<br />

60 ACÇÕES<br />

Os caminhos do PSI, por Carlos<br />

Rodrigues, presidente da Maxyeld –<br />

Clube dos Pequenos Accionistas<br />

64 CIBERSEGURANÇA<br />

A transição para serviços de<br />

segurança geridos, por Carlos Vieira,<br />

Country manager da WatchGuard<br />

para Portugal e Espanha<br />

66 ACTIVOS<br />

Criptomoedas: um futuro presente,<br />

por Ricardo Branco, Outsourcing<br />

senior da Mazars em Portugal<br />

70 FINTECH<br />

Entrevista com Filipe Moura,<br />

CEO da ifthenpay<br />

74 ESTANTE<br />

Sugestões de leitura<br />

ESTATUTO EDITORIAL REVISTA <strong>RISCO</strong> A Risco é uma revista trimestral de informação<br />

geral que aposta numa informação diversificada abrangendo os mais variados campos de<br />

actividade e que pretende ir ao encontro das motivações e interesses de um público plural.<br />

A Risco pretende atingir uma ampla cobertura dos mais importantes e significativos acontecimentos<br />

nacionais e internacionais em todos os domínios de interesse. A Risco é uma<br />

revista que dá primazia às matérias de finanças no seu sentido mais lato e abrangente.<br />

A revista Risco reger-se-á pelo seguinte projecto de estatuto editorial: 1. Cumprimento rigoroso<br />

das normas éticas e deontológicas do jornalismo; 2. Identificação com os valores da<br />

democracia; 3. Independência face a quaisquer grupos de pressão, poderes políticos ou económicos;<br />

4. Salvaguarda do espaço privado dos cidadãos; 5. Defesa do pluralismo de opinião.<br />

04 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


ACCENTURE SONG É O<br />

NOVO NOME DA ACCENTURE<br />

INTERACTIVE<br />

Accenture Song é a nova designação<br />

da empresa para a Accenture<br />

Interactive.<br />

De acordo com a consultora, «a mudança<br />

reflecte os serviços globais oferecidos pela<br />

empresa num contexto pós-pandemia, os quais<br />

permitem reinventar a relação das organizações<br />

com o cliente, vendas, e-Commerce e marketing<br />

e inovação. Estes serviços foram concebidos para<br />

responder à acelerada necessidade de crescimento<br />

das empresas para criar maior relevância<br />

junto dos seus clientes».<br />

O nome Accenture Song tem por base uma<br />

cultura de mudança da empresa, cimentada<br />

ao longo dos anos, e «uma forma duradoura e<br />

universal de arte, conexão, inspiração, proeza<br />

técnica e experiência humana – dando asas à<br />

imaginação e às ideias dos seus profissionais<br />

para entregar resultados tangíveis», pode ler-se<br />

em comunicado da Accenture.<br />

David Droga, CEO & creative chairman, explica<br />

que «a Accenture Song simboliza o processo de<br />

crescimento dos nossos clientes nesta fase pós-<br />

-pandemia. Desde a sua génese que a Accenture<br />

Interactive – agora Accenture Song – ajudou<br />

as empresas a construir e a expandir os seus<br />

negócios por meio da experiência que ofereciam.<br />

Porém, as necessidades dos consumidores de<br />

hoje são consideravelmente diferentes, pelo que a<br />

captura de novas ondas de crescimento, por parte<br />

destas empresas, será apenas possível através<br />

de um processo de aceleração de operações,<br />

capaz de demonstrar perpetuamente a sua<br />

relevância para clientes, colaboradores e<br />

restantes stakeholders».<br />

A Accenture Song, que deverá atingir<br />

US$ 14 biliões em receita até ao<br />

final do ano fiscal de 2022 (31 de<br />

Agosto), trabalha com marcas<br />

voltadas para o futuro, incluindo a<br />

Coinbase, Blue Buffalo da General<br />

Mills e Shiseido. Além disso,<br />

está a unir-se à Capri Holdings,<br />

um grupo global de moda e<br />

luxo composto pelas marcas<br />

icónicas Versace, Jimmy<br />

Choo e Michael Kors, traduzindo<br />

a sua experiência de compras<br />

de luxo numa experiência digital, que<br />

se alinha com o perfil dos seus clientes.<br />

As PME estão<br />

confiantes no seu<br />

crescimento nos<br />

próximos três anos, com<br />

mais de 50% dos gestores<br />

a perspectivar um<br />

crescimento significativo<br />

entre 10 e 30%.<br />

PME<br />

ACREDITAM<br />

EM CRESCIMENTO<br />

ENTRE<br />

10%<br />

C<br />

omo efeito da pandemia, 69,6% revela<br />

que a sustentabilidade se tornou um<br />

tópico mais importante para a sua<br />

empresa e a relevância da avaliação e<br />

gestão de risco aumentou em 26,8% face ao período<br />

pré-pandemia. Estes são alguns dos principais resultados<br />

do primeiro Barómetro Heróis PME, lançado<br />

pela Yunit Consulting, consultora nacional especializada<br />

em investimento e capitalização das empresas,<br />

que visou a participação de mais de 200 PME.<br />

«Após a leitura atenta dos resultados, é possível<br />

afirmar que as empresas estão dispostas a enfrentar<br />

os desafios que se avizinham para construir um<br />

futuro mais sustentável e digital, que a maioria saiu<br />

fortalecida no pós-pandemia e que as perspectivas de<br />

crescimento para os próximos três anos são animadoras.<br />

Por outro lado, é de salientar que saiu reforçado<br />

o sentimento e a necessidade de apostar no estabelecimento<br />

de parcerias de negócio, bem como de olhar<br />

de forma mais atenta para temas como avaliação e<br />

gestão de risco ou plano de continuidade de negócio»,<br />

afirma Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting.<br />

De referir que 80% das empresas que responderam<br />

ao inquérito já o fizeram após 24 de Fevereiro e,<br />

dessas, 78% fizeram-no após 11 de Março. «Isto<br />

permite-nos concluir que o sentimento de confiança<br />

partilhado pelos empresários já teve em conta o<br />

contexto actual económico e geopolítico. Este facto<br />

reforça a nossa visão sobre a grande resiliência que<br />

06 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


E<br />

30%<br />

caracteriza as nossas pequenas e médias<br />

empresas», conclui Bernardo Maciel.<br />

A transformação digital foi outra das áreas<br />

que ganhou preponderância neste contexto.<br />

50,7% dos gestores afirma que a pandemia<br />

acelerou a digitalização e 62,7% reconhece<br />

que a adopção de uma estratégia de transformação<br />

digital tem influência na vantagem<br />

competitiva da sua empresa.<br />

É possível apurar também que as empresas<br />

começaram a dar maior importância ao<br />

plano de continuidade de negócio (aumentou<br />

22,6% para 84,8%) e à importância de estabelecer<br />

parcerias de negócio (94,5%). Por outro<br />

lado, os gestores identificam a organização<br />

e a melhoria de procedimentos, a eficiência<br />

produtiva e o desenvolvimento de novos<br />

produtos/processos como principais áreas<br />

onde existe mais margem de melhoria do<br />

desempenho das suas empresas.<br />

Entre os principais factores que contribuíram<br />

para enfrentar os desafios de mercado actuais,<br />

95,8% dos gestores salientam a capacidade<br />

de adaptação e empenho dos colaboradores.<br />

concordando também que a sua empresa saiu<br />

fortalecida no contexto pandémico (69,7%).<br />

16%<br />

O impacto do ambiente<br />

económico no risco de crédito<br />

da carteira de clientes é sentido<br />

por 86% das empresas, segundo<br />

dados da Crédito e Caución.<br />

Em 2021, 16% das empresas portuguesas<br />

sofreram incumprimentos significativos,<br />

apesar da dimensão das injecções de<br />

liquidez e dos estímulos fiscais que<br />

o tecido empresarial nacional recebeu<br />

para mitigar os efeitos económicos<br />

da Covid-19. Este é um dos dados mais<br />

relevantes do inquérito de Primavera<br />

do Estudo de Gestão de Risco de Crédito<br />

em Portugal, impulsionado pela Crédito<br />

y Caución e pela Iberinform, no qual<br />

participaram os gestores de mais de 300<br />

empresas de todas as dimensões<br />

e sectores.<br />

O impacto do contexto económico no<br />

risco de crédito da carteira de clientes<br />

é sentido por 86% das empresas<br />

portuguesas. Neste cenário, coloca-<br />

-se a questão de saber qual o principal<br />

evento que está a deteriorar os níveis<br />

de solvência dos clientes. A lista é<br />

encabeçada pelo assinalável aumento dos<br />

preços da energia (destacado por 21%<br />

das empresas), seguido pela escalada<br />

da inflação (19% das empresas). Por<br />

outras palavras, a evolução dos preços<br />

dos insumos, que as empresas não<br />

repercutem de forma directa nos seus<br />

preços finais, mas que repercutem<br />

nas suas margens, é o principal factor<br />

DAS EMPRESAS INCORRERAM EM<br />

INCUMPRIMENTO SIGNIFICATIVO EM 2021<br />

desestabilizador do risco de crédito<br />

neste momento. O terceiro evento mais<br />

relevante são os problemas na cadeia<br />

de fornecimento (destacado por 18%<br />

das empresas). A menção genérica da<br />

Covid-19 (13%) ocupa já um discreto<br />

quarto lugar, enquanto as tensões<br />

geopolíticas (assinalado por 10% das<br />

empresas) e a evolução dos custos<br />

financeiros (6%) têm uma presença<br />

menos significativa.<br />

Apesar do cenário de deterioração do<br />

risco de crédito confirmado por este<br />

estudo, apenas 16% do tecido produtivo<br />

registaram uma diminuição das suas<br />

vendas, face a 70% que observaram<br />

algum tipo de crescimento. O tecido<br />

produtivo mostra confiança em poder<br />

manter esta dinâmica em 2022. Destaca-<br />

-se pela positiva que 64% das empresas<br />

esperam que os seus níveis de facturação<br />

continuem a crescer, face a uns exíguos<br />

10%, que esperam que este exercício seja<br />

pior que o anterior em termos de receitas.<br />

69,6% REVELA<br />

QUE A SUSTENTABILIDADE<br />

SE TORNOU UM<br />

TÓPICO MAIS IMPORTANTE<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 07


UNIPARTNER COM NOVO LÍDER<br />

PARA A ÁREA DE DATA & IA<br />

GUERRA NA UCRÂNIA<br />

REDUZ CRESCIMENTO<br />

ECONÓMICO DA ZONA EURO<br />

Segundo as estimativas da Crédito y Caución, o crescimento<br />

na Alemanha e em Itália será mais afectado do que em França,<br />

Espanha ou nos Países Baixos.<br />

A<br />

Crédito y Caución<br />

prevê que a<br />

invasão russa<br />

da Ucrânia retire<br />

um ponto de crescimento do PIB da<br />

Zona Euro em 2022, situando-o nos<br />

2,9%, devido à interrupção da cadeia de<br />

fornecimento, ao aumento dos preços<br />

das matérias-primas e ao impacto<br />

negativo na confiança das empresas e dos<br />

consumidores. Esta avaliação do impacto,<br />

sujeita a um elevado nível de incerteza,<br />

assenta em dois pressupostos: que o<br />

conflito bélico não se prolongue para lá de<br />

2022 e que as sanções sejam reforçadas,<br />

mas não até ao ponto de interromper<br />

totalmente as exportações de energia. Se<br />

os combates na Ucrânia se prolongarem<br />

até meados de 2023, se as sanções se<br />

intensificarem e se os fluxos de gás russo<br />

se restringirem, o crescimento poderá<br />

descer até 1% em 2022.<br />

No seu cenário de referência, a<br />

seguradora de crédito prevê que a<br />

redução do crescimento afecte com<br />

diferentes intensidades os distintos<br />

mercados europeus: 1,8 pontos na<br />

Alemanha, 1,5 em Itália, 0,7 em França,<br />

0,6 em Espanha e 0,3 nos Países<br />

Baixos. Alemanha e Itália estão entre<br />

os países mais afectados. Além de<br />

terem estreitas relações comerciais<br />

com a Rússia, é provável que as suas<br />

indústrias automobilísticas sejam<br />

afectadas negativamente pela guerra.<br />

Os fabricantes de automóveis alemães<br />

já anunciaram reduções temporárias<br />

na produção, devido à escassez de<br />

peças provenientes da Ucrânia, e é<br />

provável que surjam problemas de<br />

fornecimento semelhantes em Itália.<br />

A Alemanha também depende em<br />

grande medida da Rússia para as suas<br />

importações de gás. O impacto é mais<br />

reduzido em França, Espanha e nos<br />

Países Baixos, na medida em que são<br />

menos dependentes da Rússia.<br />

De acordo com as previsões da<br />

seguradora de crédito, a Zona Euro<br />

irá registar um abrandamento da sua<br />

actividade empresarial nos próximos<br />

trimestres, num contexto de aumento<br />

sem precedentes dos preços dos<br />

insumos. A Crédito y Caución prevê que<br />

as compras de activos por parte do Banco<br />

Central Europeu terminem totalmente<br />

em Dezembro de 2022 e que a primeira<br />

subida das taxas de juro não aconteça<br />

até ao quarto trimestre deste ano ou no<br />

primeiro de 2023.<br />

A Unipartner, empresa de consultoria<br />

e integração de sistemas de informação<br />

que apoia instituições financeiras, o<br />

sector público, ONG e grandes empresas,<br />

anunciou a integração de Rui Miguel para<br />

assumir a liderança da área de Data & IA,<br />

reforçando assim a aposta da consultora no<br />

domínio da exploração dos dados através<br />

de tecnologias disruptivas.<br />

Com quase 25 anos de experiência, Rui Miguel<br />

liderou inúmeros projectos como consultor<br />

especialista nos sectores de Telecomunicações,<br />

Energia, Utilities, Media e Serviços Financeiros,<br />

que ajudaram clientes a definir e implementar<br />

soluções de alta complexidade.<br />

«O Rui junta-se à Unipartner para nos ajudar a<br />

acelerar o desenvolvimento e inovação dos projectos<br />

de Data & AI. Através do seu expertise e experiência<br />

comprovada, acreditamos que é a pessoa certa<br />

para apoiar o crescimento desta área e alcançar os<br />

objectivos que definimos», refere Fernando Reino da<br />

Costa, CEO da Unipartner.<br />

Licenciado em Informática e Gestão de Empresas<br />

pelo ISCTE, Rui Miguel possui uma pós-graduação<br />

em Media, Telecomunicações e Tecnologias<br />

da Informação pela Universidade Católica, e<br />

certificação em Gestão de Projecto pelo Project<br />

Management Institute.<br />

08 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


DECSKILL REFORÇA A<br />

ESTRATÉGIA DE LOW CODE<br />

COM A WORKATO<br />

A DecSkill, especialista em outsourcing e tecnologias de<br />

informação, anunciou uma nova parceria com a WorKato, uma<br />

plataforma global de automação empresarial.<br />

A<br />

linhada com<br />

os desafios da<br />

transformação<br />

digital nas<br />

organizações, a Decskill capacita as<br />

empresas com serviços em tecnologias<br />

de informação e comunicação, através<br />

de modelos de negócio flexíveis e ágeis.<br />

O desenvolvimento de Low & No Code faz<br />

parte da sua estratégia e sai reforçado<br />

com esta parceria com a WorKato.<br />

A Decskill e a WorKato visam ampliar<br />

a capacitação de integrações de<br />

sistemas complexos nas organizações,<br />

contribuindo para a criação de equipas<br />

e serviços inovadores e ágeis para os<br />

seus clientes.<br />

«A missão da DecSkill é simplificar<br />

o processo de transformação digital,<br />

através de modelos de negócio ou<br />

do talento das equipas. A WorKato<br />

vem reforçar a nossa estratégia de<br />

especialização e diversificação de<br />

portefólio com o acesso a sistemas<br />

Low Code que potenciam o negócio e<br />

a operação dos clientes e parceiros,<br />

com integrações entre sistemas e<br />

plataformas – pagamento, facturação,<br />

CRM, gestão documental, Governance,<br />

etc.», afirma Diogo Mendonça,<br />

Executive Board Member e Cross Market<br />

Lead da DecSkill.<br />

A plataforma de automação da WorKato<br />

permite a integração de sistemas<br />

empresariais através de uma abordagem<br />

visual ou de elementos gráficos versus<br />

desenvolvimento de software. Responde<br />

a uma necessidade de automação<br />

inteligente, permitindo atingir objectivos<br />

de inovação, capacitação, optimização<br />

de processos de negócio e melhoria da<br />

experiência de cliente.<br />

A oferta de serviços baseada em<br />

centros de competência distribuídos<br />

globalmente abrange a análise,<br />

desenho, implementação e<br />

evolução de soluções, em formatos<br />

customizados e escaláveis.<br />

A DECSKILL E A WORKATO<br />

VISAM AMPLIAR<br />

A CAPACITAÇÃO<br />

DE INTEGRAÇÕES<br />

DE SISTEMAS<br />

COMPLEXOS NAS<br />

ORGANIZAÇÕES<br />

ALTICE PORTUGAL ABRE<br />

CANDIDATURAS PARA RECRUTAR<br />

JOVENS TALENTOS<br />

As candidaturas para a próxima edição do<br />

Programa DarWIN, o programa de estágios<br />

da Altice Portugal, já estão abertas e podem<br />

ser realizadas através do site telecom.pt.<br />

Através deste programa, a Altice Portugal pretende<br />

atrair jovens de elevado potencial, finalistas das<br />

áreas de Engenharia, Tecnologias da Informação,<br />

Gestão, Economia e outras similares, dotados de um<br />

espírito inovador, empreendedor, dinâmico e ágil. As<br />

candidaturas para a edição de 2022/2023 já podem<br />

ser submetidas na área de estágios do site oficial da<br />

Altice Portugal.<br />

Desde o início do programa, foram recrutados mais<br />

de 70 estagiários, integrados em diferentes direcções<br />

da Altice Portugal. Em comunicado enviado à<br />

imprensa, a Altice afirma que estes números «são representativos<br />

da aposta que a empresa faz nas novas<br />

gerações e na preparação dos líderes do amanhã.<br />

Durante 12 meses, os estagiários do programa vão<br />

integrar diversos departamentos da empresa e assim<br />

contribuir para os seus objectivos estratégicos, ao<br />

mesmo tempo que entram no mercado de trabalho e<br />

vivem uma experiência ímpar e enriquecedora».<br />

10 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


GESTÃO<br />

GESTÃO<br />

DE <strong>RISCO</strong><br />

12 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


GESTÃO<br />

NUM CENÁRIO<br />

DE INCERTEZA<br />

GLOBAL<br />

Guerra, pandemia, inflação e subida das taxas<br />

de juro. Numa altura em que o risco vem<br />

de todos os lados, este é um verdadeiro teste<br />

à resiliência das empresas.<br />

POR PAULO MENDONÇA<br />

N<br />

o âmbito financeiro, o termo “risco” existe para definir a possibilidade<br />

de prejuízo ou insucesso num determinado empreendimento,<br />

em resultado de um acontecimento imprevisto<br />

e independente da vontade dos envolvidos. De acordo<br />

com esta definição, o risco acaba por enquadrar-se em todas<br />

as dimensões da nossa vida, e em todas elas é preciso fazer<br />

uma análise, de forma a compreender o risco envolvido em<br />

determinada actividade, e, depois, a sua gestão.<br />

No caso específico dos riscos financeiros, esta gestão corresponde fundamentalmente<br />

a uma análise e medição, tendo por base um determinado projecto ou<br />

transacção, com o objectivo de identificar o potencial de perdas decorrentes das<br />

movimentações do mercado. Os profissionais que se dedicam à área de gestão de<br />

risco têm as suas próprias metodologias, com estudos de probabilidade e estatística,<br />

que visam identificar os diferentes eventos que podem ter um impacto negativo no<br />

sucesso projectado.<br />

As empresas estão sujeitas a diferentes tipos de riscos financeiros, que incluem a<br />

má gestão do fluxo de caixa e o retorno inferior ao esperado em investimentos e outras<br />

transacções. No entanto, existem outros tipos de riscos financeiros, como a gestão<br />

inadequada das finanças, altos níveis de endividamento, exposição a taxas de juro ou<br />

variações de câmbio, operações e investimentos de alto risco e má qualidade das informações<br />

que levam às tomadas de decisão. A juntar a tudo isto, a conjuntura actual<br />

implica outros riscos externos, como o conflito na Ucrânia e a pandemia de Covid-19,<br />

por exemplo, que podem agravar os já existentes. Em todos estes casos é necessário<br />

avaliar o potencial de prejuízos para proteger a empresa de transtornos futuros.<br />

Análise de riscos<br />

Fazer uma gestão de riscos financeiros<br />

passa, em primeiro lugar, por uma análise<br />

do efeito potencial que um dado evento<br />

pode ter num projecto ou numa transacção.<br />

Em termos simples, esta gestão consiste em<br />

quantificar a exposição da empresa a um<br />

dado risco, tendo em conta todas as variáveis<br />

e considerando que estas se podem alterar<br />

de acordo com a volatilidade do mercado<br />

ou outros factores. A crescente inflação<br />

que se verifica aos dias de hoje é um bom<br />

exemplo disso, em que a gestão do risco tem<br />

de ter em consideração diversos cenários e<br />

diferentes tectos máximos de até onde este<br />

indicador pode crescer, em que condições e<br />

quando. A incerteza é, assim, um dos factores<br />

onde reside a maior dificuldade de uma<br />

boa gestão de risco.<br />

Um método comum de analisar um risco<br />

consiste em fazer uma comparação entre<br />

a probabilidade de um evento imprevisto<br />

acontecer e as possíveis perdas financeiras<br />

decorrentes dessa mesma ocorrência.<br />

Por outro lado, em alguns casos, a gestão<br />

de risco ajuda a criar mecanismos que permitem<br />

detectar de forma automática (ou<br />

mesmo prever) a ameaça, com o objectivo<br />

de neutralizá-la antes que os efeitos negativos<br />

se manifestem. Esta é a estratégia mais<br />

utilizada pela área de cibersegurança, por<br />

exemplo, em que se recorre a software e a<br />

procedimentos defensivos e proactivos de<br />

segurança para interceptar um ciberataque<br />

antes deste ocorrer ou, pelo menos, antes<br />

que as consequências nefastas tenham a<br />

oportunidade de se fazer sentir.<br />

Nestes e noutros riscos, é fundamental<br />

estabelecer uma quantificação do risco para<br />

poder prever o impacto. Se a área de influência<br />

se limitar apenas a uma parte da empresa,<br />

o cálculo do efeito previsto pode ser feito<br />

multiplicando a probabilidade de ocorrência<br />

pela perda financeira potencial. Com esta<br />

quantificação, é possível criar gráficos que<br />

permitam compreender quais os riscos que<br />

a empresa consegue tolerar e quais aqueles<br />

que representam uma ameaça grave à saúde<br />

financeira da empresa. Com estes dados torna-se<br />

possível uma tomada de decisão mais<br />

informada quanto aos riscos, enquadrada<br />

igualmente no cenário macroeconómico e<br />

nas tendências preponderantes no mercado.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 13


GESTÃO<br />

Em resumo, a análise de risco compreende<br />

o planeamento, a gestão, a organização e<br />

o controlo das incertezas locais e de mercado.<br />

O objectivo é prever o comportamento<br />

do fluxo de caixa e a oscilação de outros indicadores<br />

financeiros antes que o risco ocorra<br />

de facto. Trata-se, assim, de uma estratégia<br />

de prevenção que nos permite reduzir os<br />

riscos e acompanhar indicadores fiáveis que<br />

assinalam com precisão os ajustes a fazer.<br />

Do ponto de vista das empresas, a gestão<br />

de risco é principalmente uma medida<br />

preventiva que serve a todos os sectores<br />

de actividade; e não se trata de um requisito<br />

reservado a grandes empresas. Aliás, a<br />

sua ausência é frequentemente notada nas<br />

PME, onde a falta deste tipo de gestão acarreta<br />

riscos desnecessários.<br />

OS PROFISSIONAIS QUE SE<br />

DEDICAM À ÁREA DE GESTÃO<br />

DE <strong>RISCO</strong> TÊM AS SUAS<br />

PRÓPRIAS METODOLOGIAS,<br />

COM ESTUDOS<br />

DE PROBABILIDADE<br />

E ESTATÍSTICA<br />

Instrumentos de gestão<br />

Identificar os riscos é fundamental para<br />

criar mecanismos capazes de os mitigar,<br />

controlar ou prever, e existem diversas tácticas<br />

e instrumentos que as empresas utilizam<br />

tendo em vista este objectivo. O primeiro a<br />

ser utilizado é a metodologia What If, que<br />

consiste na realização de várias reuniões<br />

onde é apresentado em detalhe o processo<br />

através do qual são feitas as operações financeiras.<br />

Nestas reuniões, os colaboradores<br />

são convidados a fazer perguntas com o objectivo<br />

de identificar todos os problemas que<br />

podem ocorrer ao longo do processo. Estas<br />

perguntas devem começar por “E se…”, daí<br />

o nome desta metodologia. Alguns exemplos<br />

de perguntas comuns são: E se o cliente<br />

não pagar? E se o fornecedor não aceitar<br />

pagamentos flexíveis? E se o empréstimo ao<br />

banco for pago mais tarde? Face a estas perguntas,<br />

a equipa tenta encontrar soluções,<br />

olhando para o processo de uma forma mais<br />

ampla e de diversos pontos de vista.<br />

Um outro instrumento de gestão<br />

é a análise preliminar de risco.<br />

Esta abordagem preliminar tem<br />

por objectivo identificar os riscos<br />

de uma operação ainda em fase de<br />

implementação. Assim, os possíveis<br />

problemas são abordados antes<br />

do processo acontecer, sendo<br />

possível prever e corrigir factores<br />

de risco. Na análise preliminar,<br />

é criada uma tabela onde se<br />

descreve o risco, as potenciais<br />

causas, as consequências e a<br />

categoria da ameaça. Por fim,<br />

indica-se a frequência (residual<br />

ou provável), a gravidade (marginal, grave,<br />

muito grave, crítica) e a matriz de risco, que<br />

mistura todos os itens e cria um ranking de<br />

prioridades. Por fim, a tabela de análise preliminar<br />

deve incluir uma coluna com as medidas<br />

a tomar para resolver cada problema.<br />

Um terceiro instrumento de gestão é a<br />

metodologia Failure Mode and Effect Analysis<br />

(FMEA), criada pela NASA em 1960 e utilizada<br />

com sucesso, posteriormente, na indústria<br />

automóvel. Esta metodologia identifica, categoriza<br />

e tenta eliminar falhas nos processos<br />

antes de serem produzidos efeitos negativos.<br />

Em primeiro lugar, é necessário identificar<br />

todas as falhas e efeitos negativos que podem<br />

ocorrer, para depois criar um ranking de prioridades<br />

influenciado por três factores: a ocorrência<br />

da falha, a gravidade da consequência<br />

e a possibilidade de ser identificada antes de<br />

criar prejuízo. Com esta abordagem é possível<br />

verificar os erros mais graves e com piores<br />

consequências, de forma a eliminá-los ou reduzi-los<br />

por via da prevenção.<br />

Prevenção e mitigação de riscos<br />

Por melhor que seja uma estratégia de gestão<br />

de riscos, existe um número de incertezas<br />

que não são possíveis de prever. No entanto,<br />

a preparação para uma grande variedade de<br />

eventos prováveis ajuda a evitar muitos problemas<br />

e também a lidar com o inesperado.<br />

Uma das formas mais eficientes de fazer<br />

gestão de riscos é focar no essencial sem<br />

esquecer o acessório. Isto significa que não<br />

vale a pena elencar um enorme número de<br />

TIPOS DE<br />

<strong>RISCO</strong>S FINANCEIROS<br />

Embora existam muitos riscos diferentes<br />

a que as empresas estão sujeitas, e mesmo tendo em conta<br />

a variedade de imprevisibilidade que existe hoje<br />

em dia, podem identificar-se quatro tipos fundamentais<br />

de riscos financeiros:<br />

DE MERCADO<br />

Este risco está directamente<br />

1.<strong>RISCO</strong><br />

relacionado com a volatilidade<br />

das cotações e preços, com impacto<br />

nas empresas. Tomemos como<br />

exemplo uma empresa portuguesa<br />

que importa matéria-prima e faz o<br />

pagamento em dólares, para depois<br />

transaccioná-la em euros, em<br />

território nacional. Esta empresa fica<br />

sujeita à variação do valor do euro e,<br />

no limite, pode não conseguir honrar<br />

os seus compromissos se o euro<br />

baixar face ao dólar.<br />

DE CRÉDITO<br />

Este é um risco cuja gestão é<br />

2.<strong>RISCO</strong><br />

muito comum na actividade<br />

das empresas do sector financeiro<br />

e a sua aplicação serve para avaliar<br />

a resiliência das empresas face ao<br />

crédito. Tipicamente, quando uma<br />

empresa resolve subscrever uma<br />

linha de crédito, a entidade credora<br />

14 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


GESTÃO<br />

UM MÉTODO COMUM DE<br />

ANALISAR UM <strong>RISCO</strong> CONSISTE<br />

EM FAZER UMA COMPARAÇÃO<br />

ENTRE A PROBABILIDADE<br />

DE UM EVENTO IMPREVISTO<br />

ACONTECER E AS POSSÍVEIS<br />

PERDAS FINANCEIRAS<br />

riscos e preparar uma solução para todos<br />

eles. Muitos eventos de baixa probabilidade<br />

podem não ser de alto risco e estes não<br />

têm razão para ser prioritários. No entanto,<br />

a história recente ensina-nos que também<br />

existem riscos improváveis com grande<br />

impacto, pelo que faz sentido ter planos de<br />

contingência para algumas situações.<br />

Mesmo assim, a gestão de risco trata, mais<br />

aprofundadamente, de riscos com maior probabilidade<br />

do que uma pandemia, por exemplo,<br />

e deve focar-se de forma mais abrangente<br />

em situações que podem ocorrer com relativa<br />

facilidade e impacto para a empresa.<br />

Dentro deste tipo de riscos de maior probabilidade,<br />

existem aqueles com que a empresa<br />

já lidou anteriormente e os que nunca<br />

ocorreram. Deverão existir soluções para os<br />

primeiros, visto que não são uma novidade<br />

para a empresa; já os riscos sem precedentes<br />

poderão ter mais impacto por não haver um<br />

histórico de resolução na prática.<br />

Outra forma de trabalhar uma boa gestão<br />

de risco é ter em conta as especificidades<br />

de cada empresa, visto que existem particularidades,<br />

na área financeira, que fazem com<br />

que um mesmo risco tenha impacto diferente.<br />

É importante identificar algumas vulnerabilidades<br />

que poderão fazer com que aumente<br />

a probabilidade de determinados eventos<br />

de risco. Tendo em consideração que a área<br />

financeira tem relação directa com todos os<br />

departamentos da empresa, é fundamental<br />

que a gestão de risco tenha uma visão global<br />

da empresa e de como ela funciona.<br />

A relação entre a probabilidade de um<br />

evento e o seu impacto é outro factor a ter<br />

em conta, dado que um evento improvável<br />

poder ter muito ou pouco impacto e vice-<br />

-versa. O cálculo desta relação é o que permite<br />

definir uma lista de prioridades.<br />

A última etapa é aquela que traz mais<br />

benefícios à empresa. Com toda a análise<br />

concluída, poderá implementar processos<br />

e sistemas, criar relatórios e indicadores<br />

de desempenho e definir<br />

políticas e procedimentos, entre<br />

outras acções.<br />

O importante é ter em conta<br />

que este trabalho nunca acaba.<br />

A gestão de riscos financeira é<br />

extremamente dinâmica e muda<br />

rapidamente, pelo que exige um<br />

esforço constante de actualização<br />

das medidas adoptadas.<br />

avalia a sua capacidade de honrar os<br />

pagamentos devidos. Se o risco for<br />

demasiado grande, a entidade que<br />

concede o crédito poderá aumentar<br />

as taxas de juro como contrapartida<br />

para controlar o grau de risco. No<br />

entanto, o risco de crédito não se limita<br />

a empréstimos prestados pelos bancos<br />

ou outras instituições financeiras. Uma<br />

empresa que forneça bens ou serviços<br />

sem ser a pronto pagamento está<br />

sempre sujeita ao risco de crédito, que<br />

ocorre sempre que uma entidade não<br />

tem a capacidade de honrar os seus<br />

compromissos de pagamento.<br />

DE LIQUIDEZ<br />

O risco de liquidez está<br />

3.<strong>RISCO</strong><br />

relacionado com o de<br />

crédito, mas reporta não a quem<br />

empresta, mas a quem tem de<br />

pagar. Uma empresa que não honra<br />

os seus compromissos deverá estar<br />

com problemas de liquidez, que se<br />

traduzem na existência de contas para<br />

pagar sem que haja uma previsão de<br />

recebimentos que garantam a liquidez<br />

necessária a esses pagamentos. O risco<br />

de liquidez tem como consequências o<br />

endividamento, a exposição a coimas<br />

e juros e o aumento do risco de crédito<br />

em caso de pedido de um empréstimo.<br />

OPERACIONAL<br />

O quarto risco é também<br />

4.<strong>RISCO</strong><br />

o mais difícil de medir<br />

quantitativamente. Trata-se do<br />

risco operacional, que se relaciona<br />

com a possibilidade de perdas<br />

para a empresa em resultado de<br />

falhas causadas por processos,<br />

colaboradores, sistemas e eventos<br />

externos. A insatisfação dos<br />

colaboradores, a baixa qualificação, o<br />

obsoletismo de sistemas e máquinas<br />

ou a falta de materiais indispensáveis<br />

à actividade da empresa são<br />

exemplos de riscos operacionais.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 15


GESTÃO<br />

A IMPORTÂNCIA<br />

DA GESTÃO DE <strong>RISCO</strong>S<br />

De acordo com o dicionário da Língua<br />

Portuguesa da Porto Editora, o risco<br />

é definido como «possibilidade de<br />

um acontecimento futuro e incerto»,<br />

«perigo» ou ainda «diferença entre o<br />

retorno esperado e o retorno obtido».<br />

POR RUI MIRANDA<br />

CHIEF RISK OFFICER, TRANQUILIDADE | GENERALI<br />

A<br />

o nível das organizações, a percepção de risco é fundamental<br />

porque é o efeito que a incerteza tem sobre os objectivos.<br />

Por esse motivo, qualquer organização, independentemente<br />

da natureza dos seus objectivos, terá necessariamente de<br />

considerar os riscos existentes na sua actividade. Até porque,<br />

em última análise, um objectivo primordial será assegurar a<br />

continuidade do negócio, o que, sem a devida análise e consideração<br />

dos riscos existentes, irá seguramente ser colocado em causa.<br />

A pandemia evidenciou a existência de vários sectores que, não sendo regulados<br />

do ponto de vista da gestão de riscos, prestam serviços ou vendem produtos sem os<br />

quais não conseguimos “viver”. Todos os sectores acabaram por alterar de alguma<br />

forma os seus processos e não existem grandes dúvidas que estarão mais bem preparados<br />

para riscos futuros de natureza similar.<br />

Os riscos emergentes, cuja probabilidade de ocorrência e impactos não é facilmente<br />

mensurável, até porque não existe informação histórica que permita auxiliar<br />

o processo de identificação e avaliação destes riscos, não devem ser, no entanto,<br />

ignorados. Pelo contrário, devem fazer parte integral do processo de gestão de riscos<br />

e ser reavaliados regularmente, com a colaboração da gestão de topo e com um olhar<br />

atento, não só para o interior das organizações, mas também para todo o contexto<br />

que as rodeia.<br />

Seria desafiante, para não dizer injusto, pedir que todos os sectores da economia,<br />

ou mesmo apenas alguns, estivessem preparados antecipadamente para um<br />

risco sem precedentes na era moderna,<br />

pelo menos com a magnitude experienciada.<br />

Mas já será razoável esperar que as<br />

organizações estejam pelo menos melhor<br />

preparadas para fazer face a riscos menos<br />

disruptivos, não emergentes, sejam eles<br />

legais, fiscais ou riscos sobre colaboradores<br />

e infra-estruturas.<br />

Os riscos externos, como, por exemplo,<br />

a alteração do comportamento dos clientes,<br />

ou a subida das taxas de juro, são riscos<br />

que não podem ser controlados, mas onde<br />

podem ser colocadas em prática medidas<br />

que minimizam o impacto dos mesmos,<br />

e, no melhor cenário, podem até criar<br />

oportunidades que não tinham sido identificadas<br />

antes. Não existindo neste caso a<br />

possibilidade de prevenção, o foco está na<br />

identificação e mitigação destes riscos.<br />

Outro risco relevante é o operacional,<br />

surgindo no seio da organização, em que<br />

as empresas gerem os riscos das suas pessoas,<br />

processos e sistemas. Apesar da tolerância<br />

que pode existir relativamente a<br />

estes riscos, por exemplo por serem residuais<br />

ou pelo facto de não ser economicamente<br />

viável eliminar completamente os<br />

mesmos, não existe por norma interesse<br />

em assumir este tipo de riscos, porque<br />

não existem benefícios estratégicos e que<br />

podem colocar em causa a concretização<br />

dos objectivos de longo prazo.<br />

Não menos importante é o risco estratégico,<br />

que inclui, por exemplo, os<br />

riscos no desenvolvimento de novos<br />

produtos ou na expansão para diferentes<br />

geografias, em que as empresas aceitam<br />

aqueles que lhes permitem gerar valor<br />

16 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


GESTÃO<br />

através das vantagens competitivas que<br />

consideram ter.<br />

A gestão de riscos<br />

A gestão de riscos encontra-se presente<br />

em todas as organizações, mesmo quando<br />

não é enquadrada formalmente como<br />

tal. Por exemplo, a existência de controlos,<br />

mais ou menos formais, implica que essa<br />

gestão de riscos exista, porque o controlo,<br />

por definição, existe para minimizar<br />

a ocorrência de um determinado risco. E<br />

nunca é de mais salientar a importância do<br />

ambiente de controlo interno, sem o qual<br />

nenhum sistema de gestão de riscos poderá<br />

funcionar.<br />

Alguns sectores são regulados e obrigados<br />

por lei a terem sistemas de gestão<br />

de riscos. A obrigação regulamentar, não<br />

sendo o mais proactivo dos motivos que<br />

leva à existência de um sistema de gestão<br />

de risco, é, sem dúvida, eficaz.<br />

Outro factor que leva as organizações a<br />

considerarem a implementação de um sistema<br />

de gestão de riscos, e talvez um dos<br />

mais frequentes, é quando algo corre mal.<br />

Organizações que não tinham considerado<br />

antes a gestão estruturada de riscos começam<br />

a questionar-se sobre um determinado<br />

evento e sobre os motivos que explicam<br />

que não estivessem preparadas para a ocorrência<br />

do mesmo.<br />

É importante também olhar para a gestão<br />

de riscos de uma forma mais abrangente,<br />

incluindo não só ameaças, mas também<br />

oportunidades, complementando a abordagem<br />

tradicional da gestão de riscos de<br />

se concentrar nos aspectos negativos e na<br />

possibilidade de ocorrência de perdas. Por<br />

norma, são as organizações que não consideraram<br />

anteriormente a gestão de riscos<br />

de forma estruturada que mais se focam<br />

nos impactos negativos dos riscos.<br />

As fintech/insurtech no sector financeiro<br />

são um bom exemplo de riscos que<br />

eram inicialmente vistos como negativos<br />

para as instituições financeiras e que são<br />

agora encarados como positivos. «O que<br />

inicialmente aparentava ser um tsunami<br />

sobre o sector bancário e segurador, demonstra-se<br />

agora uma onda necessária e<br />

que deve ser surfada», como referido na<br />

edição 21 da revista Risco, que contém<br />

A GESTÃO DE <strong>RISCO</strong>S<br />

ENCONTRA-SE<br />

PRESENTE EM TODAS<br />

AS ORGANIZAÇÕES,<br />

MESMO QUANDO<br />

NÃO É ENQUADRADA<br />

FORMALMENTE<br />

COMO TAL<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 17


GESTÃO<br />

OS PROFISSIONAIS DE <strong>RISCO</strong><br />

DEVEM AJUDAR A RESTANTE<br />

ORGANIZAÇÃO<br />

A IDENTIFICAR<br />

<strong>RISCO</strong>S COM IMPACTOS<br />

NEGATIVOS, BEM<br />

COMO OPORTUNIDADES,<br />

OU <strong>RISCO</strong>S POSITIVOS<br />

vários artigos sobre as possibilidades da<br />

relação colaborativa entre bancos/seguradoras<br />

e fintech/insurtech.<br />

Para capturar todos os benefícios da<br />

gestão de riscos, é assim essencial considerar<br />

não só os riscos sobre as oportunidades<br />

identificadas através do processo estratégico,<br />

mas também as oportunidades<br />

que podem surgir depois da identificação<br />

dos riscos. Em resumo, destacar o que é<br />

positivo e não só o que é negativo, consolidando<br />

a reciprocidade entre riscos e oportunidades<br />

e o processo de criação de valor.<br />

Independentemente da natureza dos<br />

riscos, tanto para criar valor como para<br />

proteger a organização, é crucial continuar<br />

a fazer bem o que já se faz actualmente,<br />

enquanto é assegurado o alinhamento<br />

continuado da implementação<br />

da estratégia com os interesses dos diferentes<br />

stakeholders.<br />

E se considerarmos todos os stakeholders<br />

existentes, desde os accionistas até<br />

à comunidade em que a organização se<br />

insere, é fácil perceber que é imperativo<br />

considerar e ponderar os riscos existentes,<br />

sejam eles externos, estratégicos ou operacionais.<br />

Ainda mais quando os stakeholders<br />

têm frequentemente interesses distintos<br />

e conflituantes entre si.<br />

É importante que empresas com menor<br />

dimensão, ou, ainda que de maior dimensão<br />

e não reguladas, não sejam desencorajadas<br />

pelo vasto ecossistema da gestão<br />

de riscos. Ao invés, os gestores devem alavancar<br />

o conhecimento que têm das suas<br />

organizações, fomentando o debate de<br />

ideias interno do ponto de vista da gestão<br />

de riscos. A utilização de um framework<br />

de gestão de riscos irá suportar uma abordagem<br />

estruturada e sistematizada na<br />

identificação, mensuração, monitorização<br />

e reporte dos riscos.<br />

Independentemente das ferramentas<br />

utilizadas, a troca de ideias e conhecimento<br />

na identificação dos maiores riscos a<br />

que uma organização se encontra exposta,<br />

assente numa abordagem exploratória<br />

e transversal à organização, pode ser uma<br />

ferramenta muito poderosa e benéfica<br />

para a concretização dos seus objectivos.<br />

Envolver a primeira linha das organizações<br />

é também essencial em vários aspectos,<br />

e não apenas no que diz respeito<br />

ao risco operacional. É usualmente esta<br />

que tem uma percepção em primeira instância<br />

da alteração ao nível dos riscos externos,<br />

que implementa a estratégia nas<br />

organizações e que está mais exposta ao<br />

risco operacional. É por isso, para benefício<br />

da organização como um todo, que a<br />

primeira linha saiba qual o papel que tem<br />

a desempenhar na gestão de riscos e que<br />

o seu input tenha o merecido destaque na<br />

definição da estratégia subjacente.<br />

Transmitir os benefícios da gestão<br />

de riscos e salientar o retorno do investimento<br />

destas actividades é crucial no<br />

envolvimento da linha da frente, porque<br />

é nesta última que a primeira linha, legitimamente,<br />

se irá focar. Para assegurar o<br />

envolvimento transversal da organização,<br />

é também decisivo que a gestão reforce a<br />

importância da gestão de riscos e seja um<br />

facilitador da missão que os responsáveis<br />

por estas actividades têm pela frente.<br />

Os profissionais de risco devem ajudar<br />

a restante organização a identificar riscos<br />

com impactos negativos, bem como oportunidades,<br />

ou riscos positivos, através de comunicação<br />

permanente e bidireccional, não<br />

se focando apenas na identificação de riscos<br />

potencialmente negativos com base num<br />

circuito de informação com sentido único.<br />

Olhando para o momento actual, vemos<br />

que as organizações estão a usar a<br />

seu favor a transformação digital necessária<br />

para fazer frente ao risco cibernético,<br />

ou a mitigar o risco de custos através da<br />

identificação de fornecedores alternativos<br />

com melhores condições ou com políticas<br />

mais sustentáveis, ou ainda como o sector<br />

financeiro irá capturar as oportunidades<br />

que resultam da subida das taxas de juro<br />

através da introdução de novos produtos.<br />

As mudanças internas e externas têm<br />

sido muitas e a uma velocidade cada vez<br />

maior, sendo de crucial importância a integração<br />

da gestão de riscos no processo<br />

estratégico e de decisão das empresas.<br />

O caminho a percorrer dependerá em<br />

muito das especificidades e recursos disponíveis<br />

de cada empresa, sendo certo<br />

que, quem o fizer, extrairá dividendos desse<br />

percurso.<br />

18 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


INOVAÇÃO<br />

BANCOS DEVEM CRIAR NOVAS<br />

EXPERIÊNCIAS PARA CLIENTES<br />

& COLABORADORES<br />

O mundo mudou e o<br />

comportamento dos<br />

clientes bancários<br />

também. Compreender<br />

essas mudanças é<br />

fundamental para que<br />

os bancos mantenham<br />

a confiança e fidelidade<br />

dos seus clientes. Em<br />

entrevista à Risco,<br />

João Alves, Senior<br />

Manager, Financial<br />

Services, da Accenture<br />

Portugal, explica-nos<br />

a onda de inovação a<br />

que estamos a assistir<br />

no sector financeiro, a<br />

criação de uma nova<br />

banca e o perfil dos<br />

novos consumidores.<br />

omo estão a ser endereçados os desafios colocados pelo<br />

C<br />

contexto geopolítico, pelas perspectivas de desaceleração<br />

económica e pela imprevisibilidade da pandemia?<br />

A instabilidade no leste da Europa tem tido um impacto relativamente<br />

suave na banca nacional, devido à reduzida exposição<br />

directa ao sistema bancário russo. No entanto, os impactos indirectos<br />

estão ao virar da esquina, fruto da disrupção das cadeias de abastecimento<br />

e do aumento do preço dos combustíveis, contribuindo para a aceleração dos preços.<br />

Estes dois efeitos negativos têm sido amortecidos pelo nível elevado de poupança das<br />

famílias portuguesas no pós-pandemia e pela reduzida taxa de desemprego.<br />

Os picos de inflação que se deverão manter, no curto prazo, são o grande desafio<br />

para os bancos, prevendo-se um ambiente de taxas de juro crescentes nos próximos<br />

meses para conter a inflação. Entrámos num ambiente de incerteza, onde a eventual<br />

desaceleração da economia, aumento do desemprego e dificuldades no pagamento<br />

do crédito à habitação poderão gerar perdas para os bancos. No entanto, provavelmente,<br />

não antes do 2.º semestre de 2023.<br />

A inflação pode levar os bancos a explorarem novos modelos de negócio baseados<br />

em microprodutos e novos serviços de crédito e poupança. Em paralelo, os<br />

bancos devem continuar a transformar-se do ponto de vista de eficiência, tecnologia<br />

e gestão de risco e liquidez.<br />

Que grandes investimentos irão ter mais impacto nos próximos anos?<br />

A operacionalização de vários modelos de negócio na mesma instituição levanta desafios<br />

de investimento e questões a serem endereçadas pelos bancos, incluindo sobre a:<br />

Capacidade de criar uma base tecnológica e operacional única e transversal;<br />

Gestão de conflitos e canibalização de receitas entre os canais de distribuição;<br />

Propriedade dos dados e dos clientes transversais.<br />

Simultaneamente, os bancos precisarão de lidar com uma série de outras questões,<br />

que irão moldar os investimentos nos próximos anos, nomeadamente:<br />

Como podem ser mitigados os ataques cibernéticos?<br />

20 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


INOVAÇÃO<br />

João Alves,<br />

Senior Manager,<br />

Financial Services, da<br />

Accenture Portugal<br />

Quais devem ser as prioridades de AI,<br />

cloud, metaverso e outras tecnologias?<br />

Qual o posicionamento num contexto<br />

de cashless e aumento dos pagamentos<br />

digitais?<br />

Como criar empatia e aconselhamento<br />

personalizado num mundo digital?<br />

Quais os movimentos de preparação<br />

para as futuras moedas digitais dos<br />

bancos centrais?<br />

Como deve ser gerido o imperativo<br />

da sustentabilidade?<br />

Como irá evoluir o ambiente<br />

regulatório?<br />

Como serão as novas formas de<br />

trabalhar?<br />

Os investimentos estarão, certamente,<br />

centrados na capacitação tecnológica dos<br />

bancos, que permita ganhos de agilidade<br />

na reformulação dos modelos de negócio.<br />

De que forma é que tecnologias já<br />

bem presentes no mercado, como a<br />

IA e o ML, contribuíram e ainda vão<br />

contribuir para a grande transformação<br />

SEGUNDO O “ACCENTURE<br />

TECHNOLOGY VISION<br />

2022”, 89% DOS<br />

EXECUTIVOS<br />

BANCÁRIOS CONCORDAM<br />

QUE A CAPACIDADE DE<br />

GERAR VALOR ESTÁ CADA<br />

VEZ MAIS DEPENDENTE DA<br />

SUA ARQUITECTURA<br />

TECNOLÓGICA<br />

do sector nos últimos anos?<br />

Segundo o “Accenture Technology Vision<br />

2022”, 89% dos executivos bancários concordam<br />

que a sua capacidade de gerar valor está<br />

cada vez mais dependente da sua arquitectura<br />

tecnológica. De facto, existe uma alta correlação<br />

no sector bancário entre a adopção de<br />

tecnologia e o crescimento de receita.<br />

Embora o leque de tecnologias continue<br />

a expandir-se, o Technology Vision 2022<br />

confirma que IA/ML e cloud, seguidas pela<br />

cibersegurança, serão provavelmente as<br />

que terão maior impacto, nomeadamente<br />

na aquisição de clientes, desenvolvimento<br />

de produtos, serviços de advisory, etc.<br />

A combinação destas tecnologias permite<br />

que os bancos revolucionem o seu front,<br />

middle e back offices e, fundamentalmente,<br />

repensem seus negócios.<br />

Em relação a IA, 77% dos executivos portugueses<br />

afirmam que a sua organização já<br />

depende de tecnologias de IA para funcionar<br />

de forma eficaz e 92% concordam que “a IA<br />

está a tornar-se generalizada nos processos<br />

de negócio”. No entanto, há alguma desconfiança<br />

dos clientes em confiar totalmente na<br />

IA. Os clientes esperam transparência e responsabilidade<br />

para evitar o uso indevido.<br />

A tecnologia é o factor-chave que continuará<br />

a viabilizar novas propostas de valor<br />

e modelos de negócio.<br />

Qual o papel para o sector financeiro<br />

de tecnologias emergentes como o<br />

metaverso, por exemplo?<br />

Ainda faz sentido começar por questionar<br />

o que é o metaverso. Construído em<br />

tecnologias como a realidade aumentada<br />

(RA), realidade virtual (RV) e blockchain, o<br />

metaverso é um lugar onde as pessoas podem<br />

encontrar-se e interagir, e onde activos<br />

digitais (terrenos, edifícios, avatares, etc.)<br />

podem ser criados, comprados e vendidos.<br />

Este mundo virtual onde se podem realizar<br />

transacções sobre activos digitais precisará<br />

de serviços financeiros. Na economia<br />

do metaverso residem oportunidades para os<br />

bancos promoverem serviços de pagamentos,<br />

investimento, seguros e empréstimos.<br />

Além disso, é uma oportunidade de restabelecer<br />

os diálogos perdidos nos canais digitais.<br />

Vários bancos estão já a explorar o metaverso.<br />

O BNP Paribas lançou uma app que<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 21


INOVAÇÃO<br />

permite aos clientes consultar a sua actividade<br />

bancária num ambiente de RV. O Bank<br />

of America oferece formação em RV aos colaboradores<br />

para simular interacções com os<br />

clientes. Um grande banco sul-coreano oferece<br />

um banco virtual onde os clientes podem<br />

interagir com consultores financeiros.<br />

Não há certeza de como este canal irá<br />

evoluir, mas a mudança é inevitável. Os<br />

bancos precisam de explorar o seu potencial<br />

e preparar-se para criar novas experiências<br />

para clientes e colaboradores.<br />

Como podem os bancos aproveitar<br />

estas tecnologias desde já?<br />

O metaverso está ainda no início do<br />

seu desenvolvimento. No entanto, os bancos<br />

devem estar preparados para uma trajectória<br />

semelhante à verificada no mobile<br />

banking, que levou cerca de cinco anos para<br />

se difundir totalmente no sector bancário.<br />

Um bom ponto de partida é avaliar o contexto<br />

de mercado e tecnologia para entender<br />

como está a evoluir o metaverso, bem como<br />

eventuais oportunidades e parceiros. Os bancos<br />

devem também avaliar a sua preparação<br />

tecnológica para estas mudanças iminentes.<br />

Uma adopção madura da cloud é um requisito<br />

base. Pode haver espaço para investimentos<br />

mais direccionados em RV, RA, distributed<br />

ledgers e marketplaces virtuais.<br />

Os bancos devem avaliar quais os casos<br />

de uso que podem alavancar sem alto nível<br />

de custos ou riscos. Por exemplo, o uso de<br />

RV para formação já tem vindo a ser testado<br />

ao longo dos últimos anos.<br />

Paralelamente, os bancos precisarão de<br />

um novo conjunto de competências para<br />

um futuro impulsionado pelo metaverso,<br />

que podem incluir artistas 3D, designers de<br />

jogos, especialistas em plataformas e profissionais<br />

com experiência em blockchain. É essencial<br />

começar a desenvolver talento hoje.<br />

Este período de forte inovação é uma<br />

resposta à mudança do perfil de<br />

consumidor? Como se caracteriza o<br />

novo consumidor do sector financeiro?<br />

Em anos de mudanças sem precedentes,<br />

os clientes bancários moveram-se para<br />

os canais digitais mais rápido do que nunca.<br />

A Covid-19 só acelerou este movimento<br />

em direcção à hiperdigitalização.<br />

O mundo mudou e o comportamento<br />

dos clientes bancários também. Compreender<br />

essas mudanças é fundamental<br />

para que os bancos mantenham a confiança<br />

e fidelidade dos seus clientes. Neste contexto,<br />

a Accenture identifica quatro perfis<br />

principais de clientes bancários:<br />

Pragmáticos: agnósticos ao canal,<br />

vêem a tecnologia como um meio para um<br />

fim e não como uma paixão duradoura;<br />

Tradicionalistas: valorizam o<br />

contacto humano e evitam a tecnologia<br />

sempre que possível;<br />

Pioneiros: assumem riscos, entendem<br />

a tecnologia e têm fome de inovação,<br />

privilegiando o contacto por meio de<br />

canais digitais;<br />

Cépticos: preocupados com a tecnologia<br />

e geralmente insatisfeitos com os bancos.<br />

Os clientes estão focados na competitividade<br />

de preços e na relação qualidade-preço,<br />

mas também desejam um toque pessoal quando<br />

se trata de aconselhamento financeiro.<br />

É improvável que a mudança para os<br />

canais digitais seja revertida completamente,<br />

mesmo após a Covid-19. Nem os bancos<br />

nem a maioria dos seus clientes o querem.<br />

EMBORA O VOLUME DE<br />

ACTIVIDADE BANCÁRIA<br />

REALIZADA NOS BALCÕES<br />

CONTINUE A DIMINUIR,<br />

OS CLIENTES<br />

AINDA DESEJAM<br />

INTERACÇÕES<br />

HUMANAS EM<br />

MOMENTOS-CHAVE<br />

Numa banca cada vez mais digital, qual<br />

o papel do balcão tradicional?<br />

A forte adopção das plataformas digitais<br />

tem colocado os balcões tradicionais<br />

sob forte pressão. Há uma percepção generalizada<br />

de que haverá uma redução da<br />

rede de balcões. Mas a realidade é mais<br />

complexa. Embora o volume de actividade<br />

22 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


A Accenture lançou recentemente o seu estudo anual - “Banking Top 10 Trends<br />

for 2022” – que identifica as tendências que estão a impulsionar a disrupção<br />

no sector num mundo pós-Covid, nomeadamente:<br />

QUEREM SER<br />

UMA SUPER-APP<br />

1.TODOS<br />

Os bancos devem decidir competir<br />

ou colaborar com as super-apps.<br />

2.O VERDE TORNA-SE REAL<br />

Os bancos vão ter um papel<br />

decisivo na promoção<br />

da sustentabilidade.<br />

ESTÁ DE VOLTA<br />

Os bancos estão a reinventar<br />

3.INOVAÇÃO<br />

o seu espírito criativo e a<br />

questionar “Porque não?”<br />

UM PASSEIO<br />

MISTERIOSO<br />

4.COMISSÕES...<br />

Produtos “gratuitos” de players<br />

digitais estão a forçar os bancos<br />

a ser mais transparentes – e<br />

criativos – com as comissões.<br />

DIGITAIS<br />

PROCURAM EMPATIA<br />

5.PLATAFORMAS<br />

Os bancos estão a procurar<br />

conexão humana em espaços<br />

digitais.<br />

INTELIGENTES<br />

COM OBJECTIVO ZERO<br />

6.OPERAÇÕES<br />

A aplicação de IA/ ML vai<br />

incrementar a eficiência das<br />

operações bancárias.<br />

DIGITAIS ESTÃO<br />

A CHEGAR<br />

7.MOEDAS<br />

Com a evolução das<br />

criptomoedas, estão a<br />

ganhar ritmo os casos de uso<br />

em torno das moedas digitais<br />

dos bancos centrais.<br />

EM<br />

QUALQUER LUGAR,<br />

QUALQUER HORA… E<br />

8.PAGAMENTOS:<br />

AGORA DE QUALQUER<br />

FORMA<br />

A próxima revolução nos<br />

pagamentos resulta da<br />

adopção de redes abertas,<br />

que obrigam os bancos a<br />

reimaginar a sua oferta.<br />

VOLTAM À<br />

ESTRADA<br />

9.BANCOS<br />

A partir de 2022 esperam-<br />

-se movimentos de<br />

crescimento transfronteiriço<br />

e consolidação.<br />

PELO TALENTO<br />

Os bancos necessitam<br />

10.BATALHA<br />

de uma ambiciosa<br />

estratégia de talento, que<br />

permita voltarem a ser<br />

atraentes para os jovens.<br />

NOVAS TENDÊNCIAS<br />

bancária realizada nos balcões continue a<br />

diminuir, os clientes ainda desejam interacções<br />

humanas em momentos-chave.<br />

Para os bancos, o caminho é transformar<br />

a rede de balcões em “lojas de experiência”,<br />

que coloquem a experiência do cliente no<br />

centro. As lojas de experiência irão permitir:<br />

Promover produtos e disponibilizar<br />

consultoria complexa;<br />

Operar como um componente integrado<br />

da estratégia global de canais, trazendo humanidade<br />

e empatia para a experiência digital;<br />

Promover espaços comunitários, ferramentas<br />

digitais e áreas de retalho, combinando<br />

serviços bancários e de retalho;<br />

Gerir o território, não o balcão, usando<br />

uma combinação de lojas, incluindo<br />

“Experience Hubs” de alta visibilidade, lojas<br />

de “Complemento” e “Satélites” pop-up<br />

ou móveis.<br />

Uma vez que o balcão tradicional continuará<br />

a ser percebido como um must-have,<br />

os bancos terão o desafio de atender às expectativas<br />

dos seus clientes em novos espaços<br />

físicos e canais, proporcionando-lhes<br />

experiências imersivas.<br />

Como são endereçadas as questões<br />

de cibersegurança, numa altura em<br />

que os ciberataques apresentam uma<br />

tendência crescente?<br />

Segundo o estudo “Accenture State of<br />

Cyber Resilience”, e apesar do forte aumento<br />

do investimento em cibersegurança, o<br />

número médio de ataques aumentou 31%<br />

em 2021. Por outro lado, 61% dos ataques<br />

foram indirectos, ou seja, através da cadeia<br />

de valor das organizações e não directamente.<br />

Para além da reforço da capacidade<br />

de defesa a ataques indirectos, as equipas<br />

de cibersegurança das organizações com<br />

maior ciber-resiliência têm continuado a<br />

endereçar um conjunto de outras medidas:<br />

Equilibrar os investimentos de cibersegurança<br />

com os objectivos de negócio;<br />

Reportar a cibersegurança directamente<br />

ao CEO e ao conselho de administração;<br />

Consultar regularmente o CEO e o<br />

INOVAÇÃO<br />

CFO no desenvolvimento das estratégias<br />

de cibersegurança, colaborando mais com<br />

os restantes gestores de topo;<br />

Incorporar a segurança nas iniciativas<br />

de transformação para a cloud;<br />

Medir a maturidade dos programas de<br />

cibersegurança pelo menos uma vez por ano;<br />

Proteger melhor a organização da<br />

perda de dados.<br />

Para alcançar ciber-resiliência de uma<br />

forma sustentada, os CISO precisam obter<br />

uma visão 360º dos riscos e prioridades de<br />

negócio. Gastar mais em cibersegurança<br />

sem um alinhamento com o negócio não<br />

torna uma organização mais segura.<br />

De que forma as questões de<br />

cibersegurança impactam o<br />

funcionamento interno dos bancos?<br />

Tal como já mencionado, o maior risco<br />

são as crescentes ameaças de ataques indirectos,<br />

feitos por meio das vulnerabilidades<br />

nas defesas dos fornecedores, parceiros ou<br />

entidades subsidiárias.<br />

A resposta a este problema seria fácil de<br />

explicar, embora muito mais difícil de implementar<br />

e gerir a longo prazo. Seria exigir os<br />

mesmos padrões de segurança da sua organização<br />

a qualquer entidade terceira. Caso contrário,<br />

a sua rede é tão segura quanto a entidade<br />

menos segura conectada à sua organização.<br />

O recurso a relatórios externos de avaliação<br />

do rating de segurança de entidades externas<br />

pode ser uma alternativa para priorizar riscos<br />

e proteger o ecossistema corporativo.<br />

Para além da forma de interacção com<br />

terceiros, os desafios da cibersegurança impactam<br />

em muitos outros domínios o funcionamento<br />

interno das entidades financeiras,<br />

nomeadamente:<br />

No lançamento de novos produtos;<br />

Na definição de novas formas de trabalhar<br />

– trabalho remoto;<br />

Na priorização de investimentos<br />

tecnológicos;<br />

Na formação a toda a organização em<br />

temas de segurança;<br />

Na maior colaboração interna para<br />

uma visão 360º dos riscos de cibersegurança.<br />

As instituições financeiras devem continuar<br />

a reforçar a sua ciber-resiliência, impactando<br />

o menos possível as consequências<br />

para o seu negócio.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 23


SUSTENTABILIDADE<br />

JÁ NÃO SÃO ACEITÁVEIS<br />

MODELOS DE NEGÓCIO<br />

ASSENTES NUMA<br />

EXPLORAÇÃO DOS<br />

RECURSOS ATÉ<br />

À EXAUSTÃO<br />

José Eduardo<br />

Bonito,<br />

head of Life<br />

Savings Divison<br />

da Fidelidade<br />

24 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


SUSTENTABILIDADE<br />

«INVESTIR PARA GERAR<br />

IMPACTO POSITIVO»<br />

Com 214 anos de história, a Fidelidade tem<br />

a responsabilidade social e a sustentabilidade integradas<br />

num modelo de negócio, desde sempre, pensado<br />

de pessoas para pessoas. José Eduardo Bonito,<br />

head of Life Savings Divison da Fidelidade, explicou à<br />

Risco como as novas soluções da seguradora<br />

se enquadram nesta estratégia.<br />

Q<br />

ual a importância do tema da sustentabilidade para a Fidelidade?<br />

A sustentabilidade na Fidelidade é, acima de tudo, um investimento<br />

no futuro e uma transformação que toda a sociedade terá de ganhar a<br />

consciência de que terá de acontecer. Em termos corporativos, há muito<br />

tempo que a Fidelidade já tem essa consciência, e por isso a sustentabilidade está<br />

perfeitamente integrada no modelo de negócio. Há anos que a Fidelidade aposta em<br />

projectos diferenciadores para o mercado português no âmbito da responsabilidade<br />

social. E este é um facto que está no ADN da seguradora; a sustentabilidade está na<br />

nossa génese.<br />

Não é segredo que este tema já não é uma moda. É, em si mesmo, um novo<br />

modelo de negócio, e por isso os factores ambientais, sociais e de governance são<br />

integrados em tudo o que fazemos, seja nas operações internas, seja no desenvolvimento<br />

de produtos e serviços para o cliente, seja na relação com parceiros, distribuidores<br />

e fornecedores. Os modelos de negócio tradicionais, que assentavam<br />

puramente no aspecto económico-financeiro, mudaram totalmente e este é um<br />

caminho que já não volta atrás.<br />

É certo que o objectivo económico-financeiro não se pode perder nesta nova<br />

lógica de mercado, mas é agora exigido às empresas que o façam de uma forma<br />

consciente e com benefícios para o planeta e para a sociedade. Assim, já não são<br />

aceitáveis modelos de negócio assentes numa exploração dos recursos até à exaustão.<br />

Exige-se que exista um equilíbrio entre a componente económico-financeira e a<br />

sustentabilidade que garanta que, no final, continuaremos a ter um planeta, na plenitude<br />

do termo, e não apenas um espaço para viver. Certo é que no que diz respeito<br />

às questões ambientais, chegámos a um ponto sem retorno.<br />

As empresas e a sociedade, com especial<br />

envolvimento das novas gerações, estão<br />

a tomar consciência da importância de<br />

investir numa oferta de produtos sustentáveis<br />

e de ter valores e atitudes em conformidade<br />

com esta necessidade de proteger<br />

o ambiente. E, por isso, este é um tema de<br />

extrema importância e que tem de estar incorporado<br />

na gestão do dia-a-dia da Fidelidade<br />

e, arrisco dizer, de qualquer empresa.<br />

Além dessa tomada de consciência por<br />

parte das empresas, a sustentabilidade<br />

tornou-se igualmente uma exigência<br />

dos clientes...<br />

Sem dúvida. A sociedade e os clientes<br />

têm sido impulsionadores essenciais para<br />

esta tomada de consciência e levam as empresas<br />

a pensar as suas ofertas com objectivos<br />

enquadrados no âmbito da sustentabilidade.<br />

Hoje em dia, já não é viável lançar um<br />

produto ou serviço sem ter em consideração<br />

o risco de sustentabilidade. O retorno<br />

dos produtos de poupança e investimento<br />

continua a ser importante, mas já não é o<br />

único objectivo, nem o pode ser, nem para<br />

a empresa que o lança, nem para o cliente<br />

que o subscreve. É fundamental que estes<br />

produtos tenham a capacidade de gerar impacto<br />

positivo na sociedade.<br />

Esta preocupação dos clientes com o<br />

meio ambiente já não é nova, mas continua<br />

a ser crescente. Cada vez mais as pessoas<br />

estão muito atentas a estas questões e já<br />

não vêem com bons olhos produtos de investimento<br />

cujo retorno tenha por base activos<br />

que possam ter impacto negativo em<br />

termos ambientais.<br />

Além dos clientes, também o regulador<br />

está a levar as empresas e os agentes econó-<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 25


SUSTENTABILIDADE<br />

micos a terem a sustentabilidade em linha<br />

de conta nas suas políticas corporativas.<br />

Os riscos financeiros já não são os únicos<br />

a serem tidos em conta; também os ambientais,<br />

sociais e de governance têm de ser<br />

considerados e avaliados.<br />

Neste sentido, em Dezembro do último<br />

ano, a Fidelidade criou um produto PPR<br />

ESG (Environment, Social and Governance).<br />

Este é um bom exemplo de produto em<br />

que equilibramos os modelos de retorno<br />

do investimento com os factores de ESG.<br />

O produto promove características ambientais<br />

e sociais através do investimento<br />

em índices de acções, com boas classificações<br />

de rating ESG, emitidos por entidades<br />

reconhecidas neste âmbito, considerando<br />

o investimento em emitentes com rating<br />

ESG igual ou superior a “A” (ou equivalente),<br />

sendo assim alinhados, por um lado,<br />

com boas práticas e critérios do ponto de<br />

vista ambiental e social, bem como com os<br />

princípios emanados pelos Objectivos de<br />

Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos<br />

pela Organização das Nações Unidas<br />

na implementação da Agenda 2030 para o<br />

Desenvolvimento Sustentável.<br />

Foi a partir desse projecto piloto que foi<br />

criada a app Fidelidade MySavings?<br />

O Fidelidade Savings, baseado na App<br />

MySavings, já existia, mas está a evoluir<br />

também numa óptica de sustentabilidade<br />

e literacia financeira. É uma aplicação end-<br />

-to-end (da Fidelidade directamente para o<br />

cliente) e inclui um conjunto de informações<br />

que podem ser consultadas antes da<br />

subscrição de produtos de poupança ou<br />

investimento, e que esclarecem o cliente<br />

quanto a vários conceitos financeiros: o que<br />

é o risco, como planear um investimento,<br />

qual a diferença entre investimento e poupança,<br />

entre outros temas. É uma academia<br />

in-app – aliás, é assim mesmo que lhe chamamos<br />

dentro da aplicação.<br />

Esta questão da literacia financeira é<br />

uma outra forma de sustentabilidade, neste<br />

caso, do ponto de vista social. Portugal tem<br />

uma literacia financeira baixa e a Fidelidade<br />

quer contribuir para formar os seus clientes,<br />

com o objectivo de lhes fazer perceber<br />

como funcionam os serviços que subscrevem,<br />

qual o retorno expectável, quais os<br />

riscos inerentes e qual o impacto ambiental,<br />

que se pretende cada vez menor.<br />

A app permite ao cliente, de uma<br />

forma completamente desmaterializada<br />

(todo o processo é online e sem papel),<br />

criar uma poupança ou investir capital.<br />

No que diz respeito à poupança, queremos<br />

explicar aos nossos clientes que esta<br />

deve ter um objectivo. Vivemos numa sociedade<br />

de imediatismo, em que, quando<br />

se quer comprar algo, recorre-se ao crédito.<br />

É importante formar as pessoas para<br />

que tomem consciência que isto não é<br />

sustentável. Quem não tiver liquidez para<br />

comprar determinado bem, deve planear<br />

essa compra com antecedência e fazer<br />

uma poupança que conduza a essa liquidez.<br />

Assim, na app, o cliente encontra vários<br />

objectivos predefinidos de poupança<br />

(comprar casa, carro, um telemóvel, obras,<br />

entre outros) e é apresentada uma solução<br />

de poupança para cada um desses objectivos,<br />

com um valor mensal e um prazo não<br />

inferior a seis meses.<br />

Além desta secção de poupança, o<br />

Fidelidade Savings tem uma opção de investimento,<br />

com diferentes graus de risco,<br />

e também aqui a literacia financeira é<br />

baixa e muito necessária. Culturalmente,<br />

Portugal tem pouca dinâmica de mercado<br />

de capitais, seja em termos colectivos ou<br />

individuais, porque as pessoas associam o<br />

mercado de capitais a alavancagem, arbitragem,<br />

especulação e jogo. Na verdade,<br />

não é disto que se trata, mas sim de uma<br />

forma de investir as nossas poupanças.<br />

A SOCIEDADE E OS<br />

CLIENTES TÊM SIDO<br />

IMPULSIONADORES<br />

ESSENCIAIS<br />

PARA ESTA TOMADA<br />

DE CONSCIÊNCIA<br />

Nesse sentido, foi criada uma opção de<br />

investimento do Fidelidade Savings, que dá<br />

acesso a activos diversificados de índices<br />

ESG, complementando as duas opções já<br />

existentes, inclusive uma com 90% de capital<br />

garantido (oferta equilibrada, para todos os<br />

perfis e necessidades, na óptica investimento).<br />

Logicamente, o retorno destes investimentos<br />

depende da opção por uma ou outra<br />

modalidade, sendo maior o retorno expectável<br />

quando não existe capital garantido.<br />

Esta opção tem 52% em índices de acções<br />

e 48% em dívida pública da Alemanha<br />

e da França. Dos índices S&P e MSCI, são<br />

seleccionadas as empresas com melhor<br />

rating ESG, excluindo sectores ou empresas<br />

controversas. A médio e longo prazo,<br />

acreditamos que estas empresas vão gerar<br />

maior valor para os nossos clientes, porque<br />

apostam em modelos de negócio assentes<br />

no desenvolvimento sustentável.<br />

Em 2023 a Fidelidade irá lançar mais<br />

produtos com esta dinâmica. No entanto,<br />

além de novos produtos que venham a ser<br />

lançados, toda a nossa carteira de investimentos<br />

está a ser repensada de acordo com<br />

os Princípios para um Investimento Responsável.<br />

Os novos investimentos já têm estes<br />

princípios em conta, mas existe um legacy<br />

que tem de ser adaptado com o tempo. É um<br />

caminho que se vai fazendo gradualmente.<br />

Uma outra opção que poderá vir a integrar<br />

o Fidelidade Savings no futuro é um<br />

PPR geracional, que se adapta ao ciclo de<br />

vida de cada pessoa. O risco que uma pessoa<br />

de 20 anos pode assumir é diferente<br />

daquele que uma de 60 assume. Mas todas<br />

podem investir ao longo da vida e todas podem<br />

continuar a investir, mesmo depois de<br />

já se encontrarem em situação de reforma.<br />

O objectivo desta nova oferta é, mais uma<br />

vez, o de apoiar os nossos clientes na construção<br />

da sua sustentabilidade financeira.<br />

Qual o feedback dos clientes?<br />

O feedback que temos recebido é que<br />

este é um produto muito simples e funcional<br />

na sua contratação, gestão e acompanhamento.<br />

No negócio segurador, este<br />

nível de transparência é muito importante,<br />

ainda mais quando este é um produto que<br />

transfere riscos de mercado para o cliente<br />

e muitas vezes este não sabe o que isso sig-<br />

26 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


SUSTENTABILIDADE<br />

PORTUGAL TEM UMA<br />

LITERACIA FINANCEIRA<br />

BAIXA E A FIDELIDADE<br />

QUER CONTRIBUIR<br />

PARA FORMAR<br />

OS SEUS CLIENTES<br />

nifica. É por isso que é tão importante este<br />

caminho que estamos a fazer de aposta na<br />

literacia financeira.<br />

Outro ponto interessante é que esta<br />

aplicação está a chegar a clientes mais jovens,<br />

e foi pensada precisamente tendo esse<br />

como um dos objectivos. Não basta, no entanto,<br />

entregar um produto a estes novos<br />

clientes: é fundamental que eles percebam<br />

que existe um valor real e que se trata de<br />

uma solução ampla, eficaz e que se adapta<br />

às suas necessidades.<br />

O que também é muito interessante<br />

no Fidelidade Savings é o facto de permitir<br />

gerir o ciclo de vida e o ciclo económico.<br />

Num produto tradicional, quando se faz o<br />

resgate de uma poupança, é preciso criar<br />

uma nova apólice para reinvestir. Neste<br />

caso não. É possível mudar de modalidade<br />

de poupança ou investimento para mitigar<br />

os riscos em determinadas alturas e, depois,<br />

se assim o entender, voltar à modalidade de<br />

maior risco. Tudo sem mudar de apólice.<br />

Por tudo isto, este é um produto para a<br />

vida toda, se o cliente assim o entender, e<br />

permite gerir todas as dinâmicas de mercado.<br />

Os produtos tradicionais não conseguem<br />

ter esta dinâmica.<br />

Queremos, acima de tudo, que os clientes<br />

tenham a consciência de que é importante<br />

poupar por objectivos e planear o futuro.<br />

Para isso, apresentamos uma aplicação que<br />

é equilibrada em termos de custo/retorno e<br />

tem uma dinâmica interessante de elasticidade<br />

que serve para todas as condicionantes.<br />

Quais os maiores obstáculos?<br />

O maior obstáculo é mesmo a baixa<br />

literacia financeira. O negócio segurador<br />

alicerça-se na confiança, e essa a Fidelidade<br />

tem, ou não fosse uma empresa com<br />

mais de 200 anos, e uma solidez financeira<br />

inquestionável (rating A pela agência<br />

de notação Fitch). Tudo o que fazemos é<br />

para acrescentar valor aos clientes. A maior<br />

dificuldade é mesmo a estrutura da nossa<br />

sociedade, onde este tipo de dinâmicas,<br />

conceitos e modelos de negócio ambientais<br />

ainda têm um caminho muito longo para<br />

fazer. A nossa população não tem o grau de<br />

literacia que gostaríamos. E esse caminho<br />

tem de ser feito.<br />

Estamos num processo de transformação<br />

de um negócio de capital e taxa garantidos<br />

para um negócio de risco tomador<br />

(jargão segurador: unit-linked), e isto implica<br />

outros tipos de riscos a que as nossas<br />

redes de distribuição e os nossos clientes<br />

não estavam habituados.<br />

É por isso que estamos a dar tanta importância<br />

à formação de clientes, para que<br />

os subscritores destes produtos percebam o<br />

significado do que estão a subscrever, o seu<br />

valor real e os riscos. Transparência total.<br />

Que boas práticas internas se<br />

destacam na Fidelidade em matéria<br />

de sustentabilidade?<br />

A Fidelidade é um casa de valores humanos<br />

e de grande consciência social. Procura<br />

recorrentemente apoiar os seus colaboradores,<br />

parceiros, clientes e a sociedade em<br />

geral, está na sua génese e no seu modelo de<br />

negócio, não fosse um negócio de pessoas<br />

para pessoas – o “S” (do ESG) está “entranhado”.<br />

Além disso, na sua cadeia de valor e<br />

na relação com todos os seus stakeholders,<br />

procura recorrentemente ter um impacto<br />

positivo, tendo sempre presente a inclusão<br />

dos impactos ambientais e sociais na forma<br />

como o seu retorno económico-financeiro<br />

é gerado, i.e., um valor real sustentável.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 27


FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />

SUSTENTABILIDADE:<br />

O novobanco anunciou<br />

em Maio uma nova<br />

estratégia de ESG com um<br />

compromisso a três anos.<br />

Carlos Brandão, general<br />

manager de Global Risks<br />

do novobanco, explica<br />

à Risco as premissas<br />

desta estratégia.<br />

«UMA JORNADA<br />

EM CURSO»<br />

C<br />

omo vê o novobanco as matérias ESG e como as incorpora na sua<br />

estratégia de negócio?<br />

A sustentabilidade e as preocupações ESG, sigla em inglês para Ambiente,<br />

Social e Governo Corporativo, dominam a agenda mundial e<br />

têm merecido uma especial atenção por parte da maioria das grandes empresas,<br />

não sendo o novobanco uma excepção.<br />

Em particular, a preocupação com as alterações climáticas deu origem a muitas<br />

iniciativas ao longo dos últimos 30 anos, mas, na realidade, não é ainda um tema<br />

verdadeiramente integrado na maioria dos modelos de negócio, é antes uma jornada<br />

em curso, não completamente dominada e com desafios muito significativos.<br />

Desde 2015, aquando do Acordo de Paris, e em particular nos últimos cinco<br />

anos, governos, investidores e sociedade em geral têm intensificado a pressão para<br />

acelerar a integração, nos modelos de negócio, dos temas do combate às alterações<br />

climáticas e da sustentabilidade.<br />

Neste contexto, o quadro regulatório do sector financeiro tem evoluído significativa<br />

e aceleradamente, reconhecendo o papel da banca como principal financiador<br />

da economia e, consequentemente, catalisador de uma transição justa para<br />

uma economia de baixo carbono.<br />

O plano de acção da Comissão Europeia para um crescimento sustentável é a base<br />

para iniciativas regulatórias com impacto nos bancos e nas empresas em geral, que procuram,<br />

entre outros, reorientar capitais para investimentos mais sustentáveis e reforçar<br />

a transparência e visão de longo prazo na condução do negócio e na gestão dos riscos.<br />

São disso exemplo a Taxonomia Europeia, que estabelece critérios para determinar<br />

em que condições uma actividade económica contribui substancial-<br />

mente para um objectivo ambiental, o<br />

Regulamento SFDR, que define requisitos<br />

adicionais de divulgação de informações<br />

relacionadas com a sustentabilidade no<br />

sector financeiro, ou os requisitos adicionais<br />

de informação não financeira aplicáveis<br />

a todas as grandes empresas e, a prazo,<br />

previsivelmente também às pequenas e<br />

médias empresas.<br />

O novobanco, consciente deste importante<br />

papel do sector financeiro, definiu<br />

como um dos pilares do seu plano estratégico<br />

a integração dos riscos ESG no seu<br />

modelo de negócio, procurando adoptar<br />

uma abordagem estruturada, ambiciosa e<br />

eficaz para enfrentar os desafios ambientais<br />

e sociais na transição para uma economia<br />

sustentável e de baixo carbono.<br />

A nossa actuação incide não apenas nas<br />

questões ambientais, onde queremos minimizar<br />

o impacto negativo no ambiente<br />

das nossas operações próprias e apoiar os<br />

nossos clientes nas suas jornadas de transição,<br />

mas também nas questões sociais e de<br />

28 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />

governance. Queremos maximizar e medir<br />

o impacto positivo que o novobanco tem<br />

na sociedade e nas comunidades que serve,<br />

endereçando em primeira instância os nossos<br />

clientes e colaboradores.<br />

Recentemente, o novobanco anunciou<br />

o seu compromisso a três anos no<br />

financiamento da transição energética,<br />

economia circular e economia de baixo<br />

carbono. Quais são os eixos principais<br />

desta estratégia?<br />

A nossa estratégia e abordagem endereça<br />

os temas ambientais e sociais não apenas<br />

como riscos, mas também como oportunidades<br />

que queremos incorporar intrinsecamente<br />

na estratégia de negócio.<br />

Na definição da nossa estratégia, compromissos<br />

e objectivos ESG, estruturámos<br />

a nossa abordagem em três eixos que reflectem<br />

a forma como endereçamos os<br />

temas materiais e objectivos de desenvolvimento<br />

sustentável identificados pelos<br />

nossos stakeholders:<br />

Negócio sustentável: assegurando<br />

um desempenho financeiro robusto que<br />

crie valor para todos os stakeholders;<br />

minimizando o impacto ambiental das<br />

nossas operações; e investindo de forma<br />

responsável, incorporando riscos e oportunidades<br />

ESG no negócio e na oferta.<br />

A minimização do nosso impacto ambiental<br />

passa pela redução de consumos<br />

internos, optando pelo digital em substituição<br />

do papel, pela racionalização das<br />

deslocações e pela utilização de energias<br />

Carlos Brandão,<br />

general manager<br />

de Global Risks<br />

do novobanco<br />

A SUSTENTABILIDADE<br />

E, PARTICULARMENTE,<br />

OS TEMAS ASSOCIADOS ÀS<br />

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS<br />

DOMINAM A AGENDA<br />

MUNDIAL<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 29


FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />

renováveis, para citar alguns exemplos,<br />

mas principalmente pelo apoio que pretendemos<br />

dar aos nossos clientes na redução<br />

da intensidade carbónica da sua<br />

actividade, através da disponibilização de<br />

produtos e financiamento que lhes permitam<br />

transitar para modelos de negócio<br />

mais sustentáveis.<br />

Bem-estar social e financeiro: promovendo<br />

o bem-estar dos nossos colaboradores<br />

e uma cultura corporativa inclusiva, que<br />

tem a diversidade como alavanca estratégica;<br />

e garantindo uma troca justa de valor<br />

com os nossos clientes, servindo com conveniência,<br />

proximidade e transparência.<br />

Neste âmbito, desenvolvemos iniciativas<br />

junto dos colaboradores, como o Programa<br />

de Bem-Estar, que promove iniciativas<br />

de conciliação entre a vida pessoal e<br />

profissional ou a saúde mental e física dos<br />

colaboradores, bem como uma oferta comercial<br />

para clientes particulares que incentiva<br />

hábitos de poupança saudáveis e<br />

regulares, acessíveis a todas as bolsas.<br />

Banca responsável: queremos ser<br />

uma referência de impacto positivo na sociedade,<br />

actuando num modelo de governance<br />

robusto, com transparência e ética.<br />

Alguns exemplos da nossa actuação<br />

neste âmbito são as iniciativas desenhadas<br />

para promover a equidade e igualdade de<br />

género nas equipas do banco, bem como<br />

A NOSSA PRIORIDADE<br />

É APOIAR OS NOSSOS<br />

CLIENTES NA TRANSIÇÃO<br />

PARA UMA ECONOMIA<br />

DE BAIXO CARBONO<br />

iniciativas de impacto nas comunidades<br />

que servimos, que contribuem para o aumento<br />

da literacia financeira e digital.<br />

De que forma o modelo de negócio<br />

do banco está a ser alinhado em<br />

conformidade com as directivas<br />

decorrentes do Pacto Europeu para<br />

o Clima e com os compromissos<br />

assumidos pela União Europeia no<br />

âmbito do Acordo de Paris?<br />

O nosso programa de transformação do<br />

modelo de negócio para garantir o alinhamento<br />

com as metas europeias estrutura-se<br />

em três linhas de actuação para endereçar<br />

os riscos climáticos e sociais e promover<br />

um impacto social e económico positivo<br />

nas comunidades que servimos: adaptação<br />

da estratégia de negócio, governance e gestão<br />

de risco, e divulgação e reporte.<br />

No que respeita à adaptação da estratégia<br />

de negócio, a nossa prioridade é<br />

apoiar os nossos clientes na transição para<br />

uma economia de baixo carbono, com forte<br />

valorização da sua circularidade.<br />

Esta transição envolve riscos e oportunidades<br />

para o sector bancário, das quais<br />

decorrem novas formas de fazer negócio,<br />

estando o banco a assumir um papel activo:<br />

i) na reorientação dos fluxos financeiros<br />

para investimentos sustentáveis,<br />

com a incorporação ESG na oferta e nos<br />

investimentos;<br />

ii) no reposicionamento do investimento<br />

nos sectores mais poluentes, apoiando<br />

os esforços de transição das empresas e;<br />

iii) na integração dos riscos ambientais,<br />

sociais e de governance na análise de risco,<br />

respeitando as directivas decorrentes do<br />

Pacto Europeu.<br />

Neste contexto, estamos a rever e<br />

adaptar a nossa estratégia de financiamento<br />

e investimento, o apetite pelo risco<br />

e a nossa oferta de produtos e serviços<br />

para garantir um alinhamento gradual da<br />

carteira para cumprir os objectivos da<br />

COP26, o Plano de Acção da UE e os compromissos<br />

climáticos nacionais.<br />

MODELO DE DIVIDENDO SOCIAL<br />

O modelo de Dividendo<br />

Social do novobanco<br />

é composto por três<br />

programas com cinco<br />

indicadores cada,<br />

e define objectivos<br />

para 2024.<br />

30 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


Quais os objectivos definidos pelo<br />

novobanco para esta estratégia<br />

até 2024? Qual a estratégia para<br />

financiamentos verdes?<br />

A estratégia para o financiamento verde<br />

do banco passa pela caracterização da<br />

nossa carteira de crédito e investimentos<br />

de acordo com a Taxonomia Europeia, pela<br />

reavaliação do nosso apetite de risco e integração<br />

dos riscos ESG no quadro global<br />

de gestão de riscos do banco e, principalmente,<br />

por um plano de apoio à transição<br />

de sectores e empresas nacionais.<br />

A nossa estratégia transversal de sustentabilidade<br />

estabelece os objectivos, os<br />

planos de acção calendarizados e a capacitação<br />

interna das equipas com conhecimentos<br />

especializados. Mas estabelece<br />

também um compromisso de divulgação<br />

e monitorização da nossa performance<br />

na sustentabilidade.<br />

O banco lançou recentemente o seu<br />

modelo de Dividendo Social, composto por<br />

três programas com cinco indicadores cada<br />

e com objectivos definidos para 2024.<br />

No programa Ambiente, o banco estabeleceu<br />

um objectivo de 600 milhões<br />

de euros em novo investimento verde até<br />

2024, i.e., investimento ou financiamento<br />

a empresas ou projectos cuja actividade<br />

económica principal seja elegível para<br />

a Taxonomia Europeia. Monitorizamos<br />

mensalmente este indicador e divulgamos<br />

trimestralmente a nossa evolução.<br />

Que desafios existem neste<br />

realinhamento do modelo de negócio<br />

para uma actividade mais sustentável?<br />

O complexo quadro regulamentar e<br />

ESG em constante evolução insta os bancos<br />

a rever e incorporarem novos requisitos<br />

regulamentares ao longo de cadeias de<br />

valor inteiras, a reverem as estratégias de<br />

negócio em relação aos clientes e produtos-alvo,<br />

a ajustarem as ferramentas e modelos<br />

de risco e de preço e a desenvolverem<br />

capacidades para quantificar e monitorizar<br />

novos tipos de risco, sejam riscos de transição,<br />

físicos, sociais ou de governação.<br />

Esta transformação é particularmente<br />

desafiante, uma vez que exigirá:<br />

Uma quantidade substancial de novos<br />

dados e informações a serem solicitados<br />

A ADOPÇÃO DESTA<br />

ESTRATÉGIA ESG PERMITIRÁ<br />

POSICIONAR-NOS<br />

COMO BANCO<br />

DE REFERÊNCIA ESG<br />

NO MERCADO<br />

FINANCEIRO NACIONAL<br />

aos clientes bancários, nomeadamente micro,<br />

pequenas e médias empresas (PME),<br />

que não estão preparadas para recolher,<br />

monitorizar ou reportar este tipo de informação,<br />

com potenciais custos adicionais<br />

para o fazer. Alguns exemplos são os dados<br />

relativos às suas emissões de gases com<br />

efeito de estufa ou ao alinhamento das suas<br />

actividades com a Taxonomia Europeia.<br />

Operando em Portugal, um mercado<br />

composto quase na totalidade por PME,<br />

este poderá ser um dos maiores desafios<br />

na procura de fontes alternativas de dados<br />

e, simultaneamente, no apoio aos clientes<br />

a prepararem-se e a evoluir os seus modelos<br />

de negócio não só para reportar, mas<br />

também transitar para um modelo de negócio<br />

de baixo carbono.<br />

Igualmente desafiante é o desenvolvimento<br />

de metodologias e processos sobre<br />

questões para as quais a experiência e<br />

a informação de mercado ainda são limitadas<br />

(por exemplo, quantificação a longo<br />

prazo de impactos de transição ou risco<br />

físico). A estratégia terá de ser uma de test<br />

and learn, com evolução gradual das metodologias<br />

por incorporação de resultados<br />

e nova informação.<br />

Finalmente, a disponibilidade em<br />

mercado de exposições verdes/ESG é ainda<br />

algo incipiente, o que constitui uma<br />

limitação aos objectivos de negócio a<br />

curto/médio prazo e, face à procura elevada<br />

para as exposições existentes, vemos<br />

potencial para algum impacto adverso nos<br />

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />

preços/rentabilidade dessas exposições<br />

nos balanços do banco.<br />

Qual o impacto no negócio do banco<br />

desta estratégia de ESG?<br />

Talvez o principal impacto para a banca<br />

seja a disrupção da passagem para primeiro<br />

plano e a gradual quantificação dos impactos<br />

e riscos indirectos, positivos ou negativos,<br />

sobre o ambiente e a sociedade das actividades<br />

que financiamos ou nas quais investimos.<br />

Com este novo paradigma, o banco<br />

pretende reforçar o seu apoio aos clientes,<br />

adequando e reformulando a sua oferta de<br />

produtos e serviços para incluir progressivamente<br />

considerações ambientais, sociais<br />

e éticas, cada vez mais presentes nas necessidades<br />

de clientes, tendências de mercado<br />

e exigências regulamentares.<br />

A adopção desta estratégia ESG, alicerçada<br />

numa política de sustentabilidade<br />

recentemente publicada, permitirá posicionar-nos<br />

como banco de referência ESG no<br />

mercado financeiro nacional.<br />

Conscientes do importante papel que<br />

temos que desenvolver, assumimos, de forma<br />

voluntária, importantes compromissos<br />

de sustentabilidade, que ultrapassam as<br />

nossas obrigações legais e consubstanciam<br />

o nosso papel na sociedade e o impacto positivo<br />

que queremos imprimir na relação<br />

com os nossos diferentes stakeholders.<br />

Acredita que as estratégias para a<br />

sustentabilidade serão cada vez mais<br />

uma tendência no sector bancário<br />

em Portugal?<br />

Sem dúvida, a estratégia para a sustentabilidade<br />

terá que ser inevitavelmente incorporada<br />

no modelo de negócio do sector<br />

financeiro em Portugal. Mais do que uma<br />

tendência, diria antes um vector de transformação<br />

inevitável para o sucesso de uma<br />

gestão que se quer a longo prazo, tanto no<br />

sector financeiro como globalmente no tecido<br />

económico e na sociedade.<br />

Uma robusta análise dos impactos ESG,<br />

seus riscos e oportunidades por parte do<br />

sector financeiro e a capacidade de apoiar<br />

os seus clientes na implementação de um<br />

modelo de gestão sustentável dos seus negócios,<br />

será basilar para a competitividade<br />

e para a resiliência do sector financeiro.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 31


CIBERSEGURANÇA<br />

Quatro anos depois,<br />

voltou a realizar-se<br />

o Encontro de Resseguros,<br />

depois de suspensa<br />

a edição de 2020, devido<br />

à pandemia. Os desafios<br />

e as oportunidades<br />

do sector estiveram<br />

em debate durante dois<br />

dias no Estoril.<br />

CIBER<br />

<strong>RISCO</strong><br />

ENTRE A AMEAÇA<br />

E A OPORTUNIDADE<br />

32 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


CIBERSEGURANÇA<br />

N os dias 26 e 27 de Maio, decorreu no Estoril<br />

o XVIII Encontro de Resseguros, promovido<br />

pela Associação Portuguesa de Seguradores<br />

(APS). “Ciber Risco, entre a ameaça e a oportunidade” foi um<br />

dos grandes temas em debate e contou com a participação<br />

do keynote speaker Martin Kreuzer, senior risk manager de<br />

Cyber Risks do grupo alemão Munich RE, que esquematizou<br />

o seu enquadramento nos seguintes tópicos: a situação actual,<br />

os maiores riscos e a sua gestão.<br />

Para ilustrar o ponto em que nos encontramos hoje no<br />

que diz respeito ao ciber risco, Martin Kreuzer recordou que,<br />

à data do evento, contavam-se 19 204 dias desde que a internet<br />

surgiu pela primeira vez, e que desde então foi percorrido<br />

um longo caminho, desde o envio do primeiro e-mail em<br />

Da esquerda<br />

para a direita:<br />

Pedro Santos<br />

Guerreiro<br />

(CNN Portugal),<br />

Jorge Portugal<br />

(Cotec)<br />

e Javier Mora<br />

Rubio<br />

(Mapfre RE)<br />

Foto: Associação Portuguesa de Seguradores (APS)<br />

Outubro de 1969 até à complexidade dos<br />

sistemas actuais.<br />

Hoje, a internet tem 5,3 mil milhões de<br />

utilizadores em todo o mundo e já existem<br />

16,4 mil milhões de dispositivos IOT ligados<br />

à rede. Todo este crescimento alterou<br />

por completo o mundo em que vivemos,<br />

bem como os modelos sociais e de trabalho,<br />

mas Martin Kreuzer lembra que também<br />

existe um «lado negro que corresponde ao<br />

cibercrime e aos seus efeitos económicos.<br />

Para termos uma ideia, só no ano passado,<br />

o impacto de custos estimados, em termos<br />

globais, devido ao cibercrime, foi de 6 biliões<br />

de dólares. É esta a dimensão do que<br />

estamos a tratar».<br />

Entre os principais riscos da actualidade<br />

no que diz respeito à cibersegurança,<br />

Martin Kreuzer coloca no topo da lista o<br />

ransomware, «a ameaça mais altamente<br />

sofisticada que se colocou aos sistemas nos<br />

últimos anos. Existem especialistas que<br />

trabalham apenas nesta área e que seguem<br />

uma lógica económica de negociação de<br />

um resgate para ganhar dinheiro. Mais do<br />

que isso, estes especialistas tentam atrair<br />

pessoas para o seu “negócio”, porque têm<br />

interesse em alargar a sua comunidade para<br />

aumentar a sua eficiência. Existem manuais<br />

para formar novos especialistas, há formações<br />

por subscrição e este é um negócio<br />

que irá continuar».<br />

Outro dos grandes riscos actuais é o<br />

conjunto de ataques informáticos às cadeias<br />

de fornecimento, que está a atingir novos recordes<br />

e se coloca como uma ameaça muito<br />

real e sistémica. A contribuir para este<br />

aumento do risco sistémico está também o<br />

incremento de interdependências digitais,<br />

que faz com que uma enorme parte dos<br />

dispositivos esteja ligada à internet e interligada<br />

entre si. Um bom exemplo disto é o<br />

número de dispositivos IOT que continua<br />

em crescimento e que implica não só uma<br />

conexão constante à internet, mas também<br />

uma interdependência de várias dimensões<br />

do funcionamento das infra-estruturas.<br />

Martin Kreuzer identifica um outro risco,<br />

que é a digitalização dos conflitos geopolíticos,<br />

de que a guerra na Ucrânia está a ser<br />

um exemplo paradigmático. E, neste sentido,<br />

torna-se cada vez mais necessária uma<br />

regulação para lidar com os ciber riscos.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 33


CIBERSEGURANÇA<br />

Perante todas estas ameaças, é essencial<br />

uma gestão de risco eficaz, tendo em<br />

vista este tipo específico de riscos. A diferença<br />

entre a forma como as grandes e<br />

as pequenas empresas lidam com o ciber<br />

risco continua a ser um problema, dado<br />

que nas organizações de menor dimensão<br />

existem casos em que não há sequer uma<br />

abordagem básica à cibersegurança.<br />

Outro problema a resolver é a falta<br />

de especialistas nesta área. De acordo<br />

com dados do WEC, referidos por Martin<br />

Kreuzer, existem apenas 3 milhões de<br />

profissionais de cibersegurança em todo o<br />

mundo – o que é manifestamente pouco.<br />

Os seguros cibernéticos apresentam-<br />

-se como uma grande parte da solução<br />

para as empresas, sendo que a Munich RE<br />

prevê um forte crescimento dos prémios,<br />

em termos globais, de 9,2 mil milhões de<br />

dólares em 2021 para 22,1 mil milhões de<br />

dólares em 2025.<br />

O debate<br />

Após a intervenção de Martin Kreuzer, o<br />

painel sobre ciber risco prosseguiu com um<br />

debate entre António Gameiro Marques,<br />

contra-almirante da Autoridade Nacional<br />

de Segurança e director-geral do Gabinete<br />

Nacional de Segurança; Javier Mora Rubio,<br />

head of Infrastructure and IT Governance<br />

da Mapfre RE; e Jorge Portugal, director-geral<br />

da Cotec – Associação Empresarial para<br />

a Inovação. A moderação do debate esteve<br />

a cargo de Pedro Santos Guerreiro, director<br />

executivo da CNN Portugal.<br />

Perante o contexto apresentado pelo<br />

keynote speaker, o contra-almirante António<br />

Gameiro Marques afirma que este é<br />

«um reflexo do mundo em que vivemos. O<br />

ciber risco coloca-nos uma pressão e um<br />

desafio permanentes, mas continuamos<br />

a ter uma visão transversal à sociedade. É<br />

por isso que empenhamos muitas das nossas<br />

energias na formação e na sensibilização<br />

das pessoas». Esta aposta na formação<br />

prende-se com o facto de existirem «indicadores<br />

da União Europeia que referem<br />

que a literacia digital dos portugueses é baixa,<br />

embora esteja a subir nos últimos anos.<br />

E, quando não sabemos utilizar os meios<br />

digitais, então também não os sabemos utilizar<br />

com segurança».<br />

O contra-almirante refere também a<br />

aposta da Autoridade Nacional de Segurança<br />

e do Gabinete Nacional de Segurança<br />

nas políticas públicas que enquadram a<br />

actividade do Centro Nacional de Cibersegurança<br />

e a colaboração com outras entidades<br />

públicas e privadas. Neste sentido,<br />

António Gameiro Marques afirma que o<br />

sector dos seguros também pode ser um<br />

veículo de transmissão de formação em cibersegurança<br />

para as empresas. Uma ideia<br />

seria a promoção de seguros cujo prémio<br />

dependesse da maturidade digital da empresa,<br />

contribuindo assim para uma sensibilização<br />

quanto à segurança. «Não há<br />

desenvolvimento económico ou social sem<br />

segurança», afirmou.<br />

Por seu lado, Jorge Portugal referiu um<br />

ciberataque recente a um operador de telecomunicações<br />

para lembrar que o tempo<br />

de recuperação até que todos os serviços<br />

fossem restabelecidos foi de 200 dias. E referiu<br />

ainda os 3.000 milhões de dólares de<br />

impacto global do vírus NotPetya, atribuído<br />

por um conjunto de países à Rússia. «A<br />

tendência destes ataques é para aumentar.<br />

Nas empresas há um imperativo para a digitalização,<br />

e por isso é preciso inovar cada<br />

vez mais, mais barato e, se possível, by design.<br />

Só que nem sempre isto é seguro». O<br />

problema é que sempre que se desenvolve<br />

uma componente de software que liga<br />

um dispositivo a uma cloud, por exemplo,<br />

é aberta uma nova frente, ou mesmo um<br />

conjunto de novas frentes de ataque.<br />

O director-geral da Cotec refere que,<br />

«se por um lado a digitalização é essencial<br />

para aumentar a produtividade e manter a<br />

empresa na linha da frente do mercado, por<br />

HOJE, A INTERNET TEM 5,3 MIL<br />

MILHÕES DE UTILIZADORES<br />

EM TODO O MUNDO<br />

E JÁ EXISTEM 16,4<br />

MIL MILHÕES DE<br />

DISPOSITIVOS IOT<br />

LIGADOS À REDE<br />

Martin Kreuzer<br />

falou dos diferentes ciber<br />

riscos que as empresas<br />

enfrentam hoje<br />

outro, existem riscos incrementais que são<br />

incorporados se não se endereçar uma segurança<br />

adicional».<br />

Javier Mora Rubio entrou no debate<br />

com um caso prático, que foi o ataque<br />

informático de que a Mapfre foi alvo em<br />

2020. O head of Infrastructure and IT Governance<br />

da seguradora recordou que a<br />

empresa foi vítima de um software de ransomware,<br />

que conseguiu entrar na rede<br />

através de um anexo de e-mail aberto por<br />

um colaborador.<br />

Rubio refere que o ataque foi «bem planeado<br />

e organizado, com diferentes versões<br />

do malware a serem instaladas na rede, o<br />

que provocou um grande impacto nas operações<br />

em Espanha. Felizmente, estávamos<br />

preparados para reagir». Compreender<br />

o problema e tentar conter a propagação<br />

do malware na rede informática foram as<br />

grandes prioridades, assim que o problema<br />

se manifestou; depois disso, o primeiro passo<br />

foi restabelecer os serviços aos clientes.<br />

34 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


CIBERSEGURANÇA<br />

OS SEGUROS CIBERNÉTICOS<br />

APRESENTAM-SE<br />

COMO UMA GRANDE<br />

PARTE DA SOLUÇÃO PARA<br />

AS EMPRESAS<br />

Ataques com impacto<br />

Em Portugal, desde o início deste ano,<br />

foram oito os ciberataques significativos a<br />

entidades (duas públicas e seis privadas).<br />

António Gameiro Marques afirma que «os<br />

ataques mais destrutivos não foram por<br />

ransomware; foram aqueles em que o atacante<br />

entrou e pura e simplesmente apagou<br />

tudo, incluindo a parte do sistema que permite<br />

que tudo o resto funcione. Em alguns<br />

casos, até os backups foram apagados, o que<br />

é dramático para uma empresa. Há histórico<br />

que se perdeu para sempre. Isto aconteceu<br />

em dois dos ciberataques deste ano».<br />

Outro ponto que o contra-almirante<br />

ressalva é o facto de pelo menos duas entidades<br />

deste grupo de oito estarem muito<br />

bem preparadas e terem investimentos<br />

avultados em cibersegurança. A diferença<br />

desses dois casos foi precisamente esta preparação,<br />

que permitiu «uma recuperação<br />

muito mais estruturada, sem perda de informação<br />

e com a restituição dos serviços<br />

aos colaboradores e aos clientes de uma<br />

forma previsível. Num destes casos, a comunicação<br />

para o exterior foi exemplar».<br />

A lição a tirar é que a diferença entre<br />

os casos de sucesso e os que têm mais dificuldades<br />

em lidar com um ciberataque está<br />

na percepção de risco por parte do C-Level.<br />

«Se o CEO continua a achar que a cibersegurança<br />

é um assunto do departamento de<br />

TI, a empresa está num mau caminho».<br />

Jorge Portugal concorda com esta posição<br />

e diz que as empresas têm de partir do<br />

princípio de que vão ser atacadas, mais cedo<br />

ou mais tarde. É por isso que é tão importante<br />

«perceber de que forma o risco digital<br />

está contemplado. Se ao C-Level temos um<br />

investimento em tecnologia e em digitalização,<br />

do mesmo modo devemos ter um<br />

acompanhamento sobre os riscos incrementais<br />

em termos futuros». O director-geral da<br />

Cotec defende, assim, que deve haver uma<br />

preparação e uma política de segurança que<br />

contemple vários cenários e que defina o<br />

Foto: Associação Portuguesa de Seguradores (APS)<br />

que acontece no caso de um ciberataque,<br />

qual o impacto e quem faz o quê na fase de<br />

reacção. Para isto, as simulações de treino<br />

operacional são uma prática fundamental<br />

no que diz respeito à cibersegurança.<br />

Javier Mora Rubio também realça a importância<br />

desta política de treino e deixa alguns<br />

conselhos às empresas para reduzirem o<br />

possível impacto de um ciberataque: realizar<br />

treinos operacionais, fazer backups externos,<br />

reforçar a segurança, adaptar a segurança aos<br />

dispositivos utilizados na empresa e recorrer a<br />

múltiplas autenticações, entre outras. O head<br />

of Infrastructure and IT Governance da Mapfre<br />

RE lembra ainda que «é fundamental trabalharmos<br />

tendo em conta que os cibercriminosos<br />

estão sempre um passo à nossa frente».<br />

Como nota final, o contra-almirante<br />

António Gameiro Marques afirmou que<br />

«não é cultural na nossa sociedade pensarmos<br />

de uma forma “risk oriented”, mas<br />

é preciso que o façamos. O Centro Nacional<br />

de Cibersegurança coloca ao dispor das<br />

empresas ferramentas que as ajudam a avaliar<br />

o seu risco de cibersegurança, a saber<br />

em que estado de maturidade digital estão<br />

e, sobretudo, a indicar um caminho para<br />

aumentar esse nível de maturidade».<br />

Jorge Portugal concluiu que «o sector<br />

segurador vai representar um papel absolutamente<br />

crucial no futuro, através da criação<br />

de confiança para a estabilização da economia.<br />

Sem que o sector segurador compreenda<br />

como os riscos se estão a acumular nas<br />

empresas, não é possível servir o propósito<br />

para o qual existe, que é o de transferência<br />

de risco. Isto é crítico para as empresas».<br />

Em jeito de conclusão, Javier Mora<br />

Rubio reforçou que «o risco de um ciberataque<br />

é real e acontece. A educação é um<br />

factor crítico».<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 35


ECONOMIA<br />

INFLAÇÃO<br />

Um dos riscos com que as<br />

empresas terão de contar nos<br />

próximos tempos é a inflação,<br />

que já se encontra a níveis só<br />

vistos nos anos 90. Hotelaria,<br />

transportes, têxtil, construção ou<br />

retalho são alguns dos sectores<br />

mais impactados.<br />

QUAL<br />

POR ANTÓNIO SARMENTO<br />

processo de cálculo da inflação<br />

é elaborado pelo Eurostat, que<br />

O<br />

todos os meses recolhe os preços<br />

de cerca de 700 bens e serviços<br />

em Portugal. Estes bens<br />

consistem em produtos do<br />

dia-a-dia que compõem aquilo<br />

a que se chama “cabaz” médio.<br />

Em cada um dos produtos é analisado<br />

o preço em diversos estabelecimentos<br />

comerciais e regiões, por forma a ser calculado<br />

um preço médio. Na análise feita<br />

posteriormente, entram os bens mais preponderantes,<br />

como a electricidade, por<br />

exemplo, que têm um peso superior a outros<br />

com menos importância nas necessidades<br />

do dia-a-dia.<br />

Para completar o cálculo é feita uma<br />

comparação dos preços com o período<br />

homólogo anterior, obtendo-se assim uma<br />

percentagem que representa a variação de<br />

preços. Quando positiva, estamos perante<br />

um cenário de inflação.<br />

A oferta e a procura são um dos factores<br />

catalisadores da inflação. Numa altura<br />

de crise económica, as famílias consomem<br />

menos, provocando uma diminuição da<br />

procura, que leva à redução dos preços.<br />

Do lado inverso temos o exemplo provocado<br />

pelo pós-pandemia, em que a activi-<br />

36 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


ECONOMIA<br />

O IMPACTO?<br />

dade económica ressurgiu, a procura aumentou<br />

e, consequentemente, os preços.<br />

Há, no entanto, outros factores que influenciam<br />

um cenário inflacionário, como<br />

é o caso do aumento do custo das matérias-primas,<br />

as dificuldades nas cadeias<br />

de abastecimento ou ainda um cenário de<br />

tensão geopolítica, como a que se verifica<br />

actualmente com a guerra na Ucrânia.<br />

O antigo ministro da Economia e actual<br />

director do Departamento de Economia da<br />

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Económico (OCDE), Álvaro<br />

Santos Pereira, disse, durante as comemorações<br />

do 1.º de Maio, estar preocupado<br />

com o aumento da inflação, e alertou para<br />

potenciais «efeitos dramáticos».<br />

Dando como exemplo os créditos à habitação,<br />

o antigo governante questionou:<br />

«Que consequências terá um aumento de<br />

1 ou 2% das taxas de juro dos empréstimos<br />

das casas? E para os Estados? Terá um impacto<br />

dramático para as pessoas em muitos<br />

países.»<br />

De facto, os preços em Portugal aumentaram<br />

mais 1% durante o mês de Maio,<br />

colocando a taxa de inflação homóloga em<br />

8%, o valor mais alto desde 1993. O País,<br />

que desde o início do ano passado manteve<br />

sempre uma taxa de inflação inferior à da<br />

maioria dos seus parceiros da moeda única,<br />

evitando impactos tão imediatos nos preços,<br />

está agora já ao nível do resto da Zona<br />

Euro neste indicador.<br />

Do lado das empresas, o presidente<br />

da Confederação Empresarial de Portugal<br />

(CIP), António Saraiva, disse recentemente<br />

ser «impossível as empresas, com todos<br />

os custos exponenciais que suportam, por<br />

estas crises que vivemos, acompanharem<br />

os aumentos da inflação». António Saraiva<br />

explicou que as empresas estão a sofrer<br />

aumentos acentuados dos factores de produção,<br />

explicando que a energia eléctrica e<br />

o gás natural subiram 300% e que os transportes<br />

aumentaram 500%.<br />

Da hotelaria ao têxtil<br />

A inflação e a escassez de matérias-primas<br />

e de recursos humanos são actualmente<br />

as principais preocupações da Associação<br />

de Hotelaria, Restauração e Similares de<br />

Portugal (AHRESP). Segundo Carlos Mou-<br />

OS PREÇOS EM PORTUGAL<br />

AUMENTARAM MAIS 1%<br />

EM MAIO, COLOCANDO A TAXA<br />

DE INFLAÇÃO HOMÓLOGA<br />

EM 8%, O VALOR<br />

MAIS ALTO DESDE 1993<br />

ra, vice-presidente da associação, os empresários<br />

do sector vêem-se actualmente confrontados<br />

com «dificuldades decorrentes,<br />

essencialmente, da inflação dos preços dos<br />

combustíveis e da energia, da escassez das<br />

matérias-primas, sobretudo devido à guerra<br />

na Ucrânia, e também de recursos humanos<br />

disponíveis para trabalhar». Relativamente à<br />

inflação, o dirigente lamentou que não haja<br />

«medidas para que as empresas possam suportar<br />

este círculo inflacionista» e que «não<br />

se avizinhe uma inversão do problema».<br />

O sector têxtil, um dos motores da<br />

economia do País durante várias décadas<br />

e uma das indústrias mais importantes de<br />

Portugal, com grande epicentro no Norte e<br />

na zona do Vale do Ave, passou, ao longo<br />

dos anos, por grandes crises. Nos anos 80,<br />

as paisagens misturavam o verde das árvores<br />

com o cinzento das paredes das grandes<br />

fábricas têxteis, que empregavam milhares<br />

de pessoas, famílias inteiras, e que faziam<br />

girar a economia das regiões à sua volta.<br />

Mais tarde, tudo caiu. Foram cerca de<br />

duas mil as empresas que desapareceram,<br />

mais de metade sediadas no distrito de<br />

Braga. 100 mil operários perderam o emprego<br />

e o sector viu o número de trabalhadores<br />

reduzido de 240 mil, à data, para 123<br />

mil registados no ano passado.<br />

Nas mesmas paisagens só se viam gigantes<br />

de betão abandonados, que seguravam<br />

apenas a memória de um motor da<br />

economia de um país. Durante anos prevaleceu<br />

um sector que trabalhava arduamente<br />

para se manter vivo, enfrentando a concorrência<br />

da fast fashion chinesa e as crises<br />

económicas que assolaram o nosso país.<br />

Mas, anos mais tarde, tudo acabou por mudar,<br />

e o sector reergueu-se, começou a empregar<br />

pessoas e a exportar cada vez mais.<br />

No coração do baixo Minho, uma empresa<br />

atravessou todos os altos e baixos do<br />

sector desde o seu ano de fundação, em<br />

1927. A Riopele é uma das mais antigas<br />

empresas têxteis portuguesas e uma referência<br />

internacional na criação e na produção<br />

de tecidos para colecções de moda<br />

e de vestuário. Agora, um novo desafio se<br />

apresenta a esta e a outras empresas do sector.<br />

A inflação tem impactado fortemente a<br />

actividade produtiva das empresas e a sua<br />

lucratividade, sendo necessário engenho e<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 37


ECONOMIA<br />

estratégia para que as empresas continuem<br />

a ser lucrativas.<br />

José Alexandre Oliveira, presidente da<br />

Riopele, admite que o impacto da inflação é<br />

genérico, comum aos mais de 50 mercados<br />

onde actua, sublinhando que a empresa exporta<br />

mais de 95% da sua produção.<br />

«A nossa actividade tem sido particularmente<br />

afectada pelo aumento de preços<br />

das matérias-primas, dos químicos, dos corantes<br />

e dos transportes, desde o primeiro<br />

semestre de 2021, registando-se um agravamento<br />

no final do ano, dado o rápido crescimento<br />

da procura com a reabertura da economia.<br />

Esta subida de preços está ainda a ser<br />

acompanhada pelo aumento substancial dos<br />

custos energéticos, com a subida do preço<br />

do gás, petróleo e electricidade», afirmou.<br />

Por forma a dar resposta aos desafios<br />

apresentados pela conjuntura económica<br />

actual, ao longo da última década a Riopele<br />

investiu 35 milhões de euros em várias<br />

áreas críticas, muito especialmente no domínio<br />

da sustentabilidade (eficiência energética,<br />

optimização das operações, entre<br />

outros), que permitiram à empresa «minimizar<br />

os impactos externos e promover um<br />

aumento da competitividade».<br />

O presidente da empresa admitiu ainda<br />

que ao longo de 2022 continuarão a realizar<br />

investimentos complementares, como a<br />

criação de uma central de biomassa e uma<br />

segunda central solar fotovoltaica, que permitirão<br />

poupanças ao nível dos consumos.<br />

Paralelamente, para além de uma política<br />

concertada de investimentos, a Riopele<br />

tem procurado assegurar novos ganhos de<br />

eficiência operacional em todos os níveis<br />

da organização e no desenvolvimento de<br />

produtos inovadores resultantes de novos<br />

projectos de I&D.<br />

Questionado sobre como é que a inflação<br />

se está a reflectir no preço final dos produtos<br />

da empresa, José Alexandre Oliveira<br />

admite que o aumento generalizado de preços<br />

acaba por impactar o preço de venda,<br />

e que a Riopele começou a incorporar estes<br />

custos no preço dos seus produtos. No<br />

entanto, uma vez que estes preços são, na<br />

sua maioria, calculados por colecção, esse<br />

incremento leva o seu tempo a reflectir-<br />

-se. «Trata-se naturalmente de um processo<br />

complexo, que implica um exercício de<br />

O PAÍS DEFRONTA-SE COM<br />

UMA CRISE ENERGÉTICA E UMA<br />

INFLAÇÃO GALOPANTE<br />

COMO JÁ NÃO<br />

SE VERIFICAVA HÁ MAIS<br />

DE DUAS DÉCADAS<br />

grande pedagogia com os nossos clientes»,<br />

explica. Apesar do cenário actual adverso,<br />

José Alexandre Oliveira acredita que há razões<br />

para crer na normalização das cadeias<br />

globais de fornecimento e perspectivar uma<br />

estabilização de preços até ao final do ano.<br />

Transportes<br />

«Relativamente ao impacto da inflação<br />

na nossa operação e nos preços praticados,<br />

o que lhe podemos dizer é que estamos,<br />

obviamente, a acompanhar de perto o seu<br />

impacto, e apesar do aumento generalizado<br />

dos preços, a FlixBus continuará a disponibilizar<br />

os melhores preços aos seus clientes,<br />

de acordo com a situação do mercado», disse<br />

Pablo Pastega, director-geral da FlixBus<br />

(o maior operador europeu de transporte<br />

expresso de passageiros) para Portugal e Espanha,<br />

em entrevista à Executive Digest.<br />

Segundo este responsável, o sector dos<br />

transportes tem sido fortemente afectado<br />

nos últimos anos, primeiro pela pandemia,<br />

em que foram forçados a parar ou a reduzir<br />

drasticamente a operação, e depois, no<br />

momento em que se inicia o processo de<br />

recuperação, são confrontados com a crise<br />

dos combustíveis, com a guerra na Ucrânia,<br />

que está a impactar as economias um<br />

pouco por todo o mundo.<br />

«O transporte expresso de passageiros é<br />

vital para Portugal, não só porque é cada vez<br />

mais uma alternativa mais económica e sobretudo<br />

mais sustentável para todos aqueles<br />

que precisam de viajar dentro e fora do país,<br />

quando comparada com a viatura particular.<br />

É preciso não esquecer que, em 2019 e<br />

de acordo com dados oficiais, viajaram nos<br />

chamados expressos cerca de 6,6 milhões de<br />

passageiros, praticamente o mesmo número<br />

de pessoas transportado pelos comboios<br />

de longo curso (6,7 milhões). Isto confirma<br />

a importância deste meio de transporte para<br />

o País», acrescenta Pablo Pastega.<br />

38 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


ECONOMIA<br />

Dois anos de pandemia depois, o País<br />

defronta-se com uma crise energética e<br />

uma inflação galopante, como já não se<br />

verificava há mais de duas décadas. «Naturalmente,<br />

os efeitos não são desejáveis<br />

para nenhum sector e o de transportes e<br />

logística não é excepção. Como primeiro<br />

impacto, sofremos com os aumentos<br />

de custos fixos, que resultam em resultados<br />

financeiros menos favoráveis para<br />

as empresas. Como efeito secundário, em<br />

particular para os negócios de produto<br />

acabado e de retalho, a subida dos preços<br />

reflecte-se na retracção do consumo,<br />

a qual, por sua vez, faz com que haja uma<br />

redução, quer no transporte dessas mercadorias,<br />

como na actividade logística de<br />

armazém, que tem de movimentar quantidades<br />

menores de produtos. O cenário<br />

provável é o de uma recessão económica,<br />

ainda que os seus efeitos talvez não sejam<br />

imediatos, pois o consumo pós-Covid-19<br />

ainda é muito forte», afirma Luís Ribeiro,<br />

director comercial nacional da Garland<br />

Transport Solutions.<br />

«Tem sido inevitável o aumento do<br />

custo do serviço final que prestamos aos<br />

nossos clientes. Na vertente do transporte<br />

marítimo, o aumento dos preços deve-se<br />

sobretudo à escassez ou ao desequilíbrio<br />

nos fluxos de contentores, que continua a<br />

afectar o transporte de mercadorias. Por<br />

sua vez, nos transportes rodoviário e aéreo<br />

é a escalada dos preços dos combustíveis<br />

que afecta de forma muito significativa os<br />

nossos serviços. Para nos mantermos absolutamente<br />

operacionais e continuarmos<br />

a ser um parceiro de confiança para as<br />

empresas nacionais, foi necessário tomar<br />

medidas excepcionais de introdução de actualizações<br />

periódicas aos valores acordados<br />

para fazer face à escalada de custos do<br />

principal consumível do transporte, o combustível.<br />

De uma forma global, os preços de<br />

O PRESIDENTE<br />

DA REPÚBLICA CONSIDEROU<br />

QUE TERÁ DE HAVER<br />

UM «REAJUSTAMENTO<br />

DA INFLAÇÃO» PREVISTA<br />

PARA 2022<br />

transporte estão a crescer a dois dígitos»,<br />

acrescenta Tiago Matosinhos, director comercial<br />

da Garland Logistics.<br />

Reajustamento<br />

O Presidente da República considerou<br />

que, tendo em conta os indicadores disponíveis,<br />

terá de haver um «reajustamento da<br />

inflação» prevista para 2022 dos actuais 4%<br />

para pelo menos 6%. Marcelo Rebelo de<br />

Sousa deixou esta mensagem durante um<br />

encontro com cerca de 200 presidentes de<br />

câmaras municipais no antigo picadeiro<br />

real, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa,<br />

avisando que enfrentamos um período<br />

«muito, muito complexo», de elevada «imprevisibilidade»,<br />

sobretudo devido à invasão<br />

russa da Ucrânia.<br />

«É verdade que os números conhecidos<br />

mostram que há factores económicos que<br />

têm constituído uma almofada positiva na<br />

vida nacional: o crescimento abrupto do<br />

turismo para um destino considerado mais<br />

seguro, como se fosse uma ilha no meio do<br />

Atlântico, longe da realidade do continente<br />

europeu, o investimento imobiliário que<br />

acompanha muito esse turismo, e outro<br />

investimento que continua a vir para Portugal»,<br />

apontou.<br />

Segundo o chefe de Estado, «isso resulta<br />

nos números de aumento do emprego e<br />

na recuperação de algum salário médio naquelas<br />

actividades como o turismo, a restauração,<br />

alguns serviços ou sectores nos<br />

quais há falta de mão-de-obra».<br />

«Mas também sabemos que a inflação<br />

sobe – os indicadores mostram que a previsão<br />

de 4% terá de ser reajustada em relação<br />

ao ano para certamente não menos<br />

de 6%», acrescentou. Interrogado se são<br />

suficientes as medidas de apoio a famílias e<br />

empresas aprovadas pelo Governo, o chefe<br />

de Estado considerou que é preciso esperar<br />

para ver se a inflação estabiliza ou não e ir<br />

constantemente avaliando a situação.<br />

«Se a evolução for no sentido da subida<br />

da inflação, isso naturalmente tem influências<br />

financeiras, nomeadamente nos meses<br />

mais perto do fim do ano e no Orçamento<br />

para o ano que vem. Se estabilizar, já tem<br />

menos consequências financeiras. Vamos<br />

ver. Isto é um processo que tem de ser visto<br />

quase semana a semana», disse.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 39


MACROECONOMIA<br />

CENÁRIO<br />

DE<br />

GUERR A<br />

40 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


MACROECONOMIA<br />

OS<br />

<strong>RISCO</strong>S<br />

PARA A<br />

ECONOMIA<br />

GLOBAL<br />

O impacto do conflito<br />

na Ucrânia já se faz<br />

sentir na economia e as<br />

projecções de Primavera<br />

mostram o que já se<br />

esperava: a recuperação<br />

do pós-pandemia vai<br />

desacelerar.<br />

POR PAULO MENDONÇA<br />

R<br />

ecentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu<br />

as suas expectativas para o crescimento económico global ao<br />

longo dos próximos dois anos, devido à invasão russa à Ucrânia,<br />

e comparou os efeitos do conflito a um terramoto. De<br />

acordo com o relatório divulgado em Abril, «as consequências<br />

económicas estão a alastrar-se» e, por isso, o FMI prevê<br />

agora um crescimento da economia mundial de apenas 3,6%<br />

nos anos 2022 e 2023. Este valor representa uma queda acentuada face aos 6,1%<br />

registados em 2021 e uma descida de 0,8% em 2022 e de 0,2% em 2023, face às previsões<br />

que o FMI tinha apresentado em Janeiro, antes da guerra começar.<br />

Segundo avança a CNN Business, estas previsões assumem três premissas: que a<br />

guerra se mantém localizada apenas na Ucrânia, que as sanções à Rússia não visam<br />

directamente o sector energético e que as consequências da pandemia continuam<br />

a esbater-se. De notar que pelo menos as duas últimas condições são, actualmente,<br />

muito voláteis.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 41


MACROECONOMIA<br />

NÚMEROS<br />

CONDIÇÕES<br />

(para manter as previsões de crescimento)<br />

QUE A GUERRA NÃO SAIA<br />

DAS FRONTEIRAS DA UCRÂNIA<br />

QUE O SECTOR ENERGÉTICO<br />

NÃO SEJA AINDA MAIS<br />

AFECTADO PELAS SANÇÕES<br />

À RÚSSIA<br />

QUE A PANDEMIA SE<br />

MANTENHA CONTROLADA<br />

Ao separar-se<br />

do mundo ocidental,<br />

a Rússia poderá<br />

estar a abdicar<br />

de parte da ambição<br />

de internacionalizar<br />

a sua economia.<br />

CONSEQUÊNCIAS PARA A RÚSSIA<br />

Excluído do sistema<br />

financeiro internacional,<br />

ao mesmo tempo que se<br />

encontra sujeito a um embargo<br />

crescente das suas importações<br />

por parte dos EUA e da Europa,<br />

o país poderá entrar numa<br />

espiral de inflação e depressão,<br />

com o rublo a perder mais de<br />

30% desde o início da guerra e<br />

mais de 70% desde a anexação<br />

da Crimeia. Actualmente a<br />

Rússia ainda beneficia das<br />

importações de petróleo e gás<br />

natural para a Europa, mas há<br />

cada vez mais sinais, por parte<br />

da União Europeia, de que a<br />

dependência de alguns países<br />

face a estas matérias-primas<br />

deverá reduzir-se ou mesmo<br />

anular-se até ao final do ano.<br />

Apesar deste cenário pouco<br />

animador, alguns economistas<br />

acreditam que o futuro da<br />

economia da Rússia e das suas<br />

relações com o Ocidente ainda<br />

não é um assunto fechado, dado<br />

que um acordo satisfatório e o<br />

fim da guerra poderiam levar ao<br />

levantamento das sanções que<br />

hoje atingem mais directamente<br />

o núcleo financeiro daquele país.<br />

Pelo contrário, o prolongamento<br />

indefinido do conflito na Ucrânia<br />

poderá levar a uma contracção<br />

cada vez maior da economia<br />

russa. Aliás, apenas com base<br />

nas sanções já em vigor, o FMI<br />

estima que o PIB da Rússia caia<br />

7% em 2022.<br />

Embora esta queda pareça pouco<br />

relevante face à severidade das<br />

sanções, segue-se a um forte<br />

crescimento no início deste ano,<br />

entretanto interrompido pelo<br />

início do conflito na Ucrânia.<br />

Para alguns economistas<br />

internacionais, a estratégia<br />

de Putin conduzirá a Rússia<br />

a uma depressão duradoura,<br />

com perdas permanentes entre<br />

15 e 20% e um declínio pelo<br />

menos equivalente da receita.<br />

Isto coloca em causa qualquer<br />

sonho que o presidente russo<br />

possa ter de ser uma referência<br />

económica: desligada do<br />

Ocidente, a economia russa<br />

dependerá mais do que nunca do<br />

poder financeiro da China.<br />

42 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


MACROECONOMIA<br />

3,6% 35% 8,5%<br />

PREVISÃO<br />

DE CRESCIMENTO<br />

ECONÓMICO<br />

GLOBAL PARA<br />

2022-23, SEGUNDO<br />

O ÚLTIMO RELATÓRIO<br />

DO FMI<br />

CONTRACÇÃO<br />

DA ECONOMIA<br />

DA UCRÂNIA JÁ<br />

EM 2022<br />

IMPACTO PREVISTO<br />

DAS SANÇÕES<br />

NO PIB DA RÚSSIA<br />

EM 2022<br />

Na mesma linha, o Banco Mundial reviu<br />

em baixa as suas previsões para este<br />

ano, esperando agora um crescimento da<br />

economia global na ordem dos 3,2%.<br />

Sem surpresas, de acordo com o relatório<br />

do FMI, a Ucrânia e a Rússia serão<br />

os países mais seriamente afectados economicamente<br />

pelo conflito armado. As<br />

actuais previsões apontam para uma contracção<br />

da economia ucraniana em 35% já<br />

este ano; já as sanções impostas pelo Ocidente<br />

à Rússia poderão contrair a economia<br />

daquele país na ordem dos 8,5%.<br />

No entanto, é evidente que as consequências<br />

serão globais. A guerra provocou<br />

um aumento muito significativo do<br />

preço da energia e de outras matérias-<br />

-primas, o que veio piorar os problemas<br />

que a pandemia já tinha causado nas cadeias<br />

de fornecimento de bens. Por outro<br />

lado, esta conjuntura veio reforçar a ideia<br />

de uma inflação persistente e não temporária,<br />

como os EUA acreditavam há poucos<br />

meses, o que terá consequências um<br />

pouco por todo o mundo.<br />

«A guerra irá atrasar severamente<br />

a recuperação económica global, desacelerando<br />

o crescimento e aumentando<br />

ainda mais a inflação», pode ler-se no<br />

relatório do FMI, que enfatiza o facto<br />

desta guerra surgir numa altura em que a<br />

economia mundial ainda não tinha recuperado<br />

das consequências da pandemia<br />

de Covid-19.<br />

Esta conjuntura é particularmente<br />

grave na Europa, que depende significativamente<br />

da Rússia para satisfazer<br />

as suas necessidades energéticas, e, por<br />

isso, o FMI espera uma desaceleração<br />

DE ACORDO COM O RELATÓRIO<br />

DO FMI, A UCRÂNIA E A RÚSSIA<br />

SERÃO OS PAÍSES MAIS<br />

SERIAMENTE AFECTADOS<br />

ECONOMICAMENTE PELO<br />

CONFLITO ARMADO<br />

POLÍTICAS<br />

ECONÓMICAS<br />

Antes da invasão à Ucrânia, as escolhas<br />

dos bancos centrais quanto às políticas<br />

económicas resumiam-se a uma lógica de<br />

“fazer o suficiente, mas não demasiado”.<br />

A hesitação quanto à subida<br />

das taxas de juro, por exemplo,<br />

dependia da percepção sobre a<br />

natureza da inflação, que já se apresentava<br />

crescente, havendo a esperança de que se<br />

tratasse de um fenómeno transitório.<br />

Fiscalmente, havia o objectivo de reduzir<br />

os défices públicos causados pela<br />

pandemia, mas com o cuidado de o fazer<br />

de uma forma, nem demasiado brusca,<br />

nem demasiado rápida, para não intervir<br />

na recuperação.<br />

A nova conjuntura altera este paradigma,<br />

confirmando os receios de uma inflação<br />

persistente e de uma desaceleração do<br />

crescimento económico que compromete<br />

a recuperação esperada após a pandemia.<br />

Assim, no que diz respeito à Zona<br />

Euro, é de esperar que haja uma maior<br />

flexibilidade, por parte da Comissão<br />

Europeia, no que diz respeito aos défices<br />

dos países. O impacto da estagflação, o<br />

aumento da despesa em áreas da Defesa,<br />

os custos relacionados com o movimento<br />

de refugiados e a aceleração de<br />

investimentos em infra-estruturas para<br />

o sector da Energia, com o objectivo de<br />

reduzir a dependência face à Rússia, são<br />

factores que resultam, inevitavelmente,<br />

num grande aumento da despesa pública.<br />

Muitos economistas acreditam que, face<br />

a este novo cenário, haja um aumento<br />

do orçamento para financiar um plano<br />

dedicado à economia de guerra.<br />

do crescimento económico na Zona Euro<br />

para 2,8% em 2022 – uma revisão de 1,1<br />

pontos percentuais face às previsões<br />

de Janeiro.<br />

Nos EUA existem questões económicas<br />

que neste momento são mais relevantes<br />

do que as causadas pela guerra,<br />

como o fim dos incentivos atribuídos durante<br />

a pandemia e a subida das taxas de<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 43


MACROECONOMIA<br />

encontra-se «muito acima do normal»,<br />

devido à natureza sem precedentes do<br />

«embate». Os riscos de uma ainda maior<br />

desaceleração, combinada com uma inflação<br />

persistentemente alta, estão a escalar.<br />

Na sequência destas projecções, outros<br />

organismos avançaram com as suas<br />

posições, como o Goldman Sachs, que<br />

estima em 15% a probabilidade dos EUA<br />

entrarem em recessão nos próximos 12<br />

meses e em 35% nos próximos dois anos.<br />

Por outro lado, o banco japonês de investijuro.<br />

O FMI projecta, assim, um crescimento<br />

económico de 3,7% em 2022 e de<br />

2,3% em 2023 – apenas menos 0,3% do<br />

que apontavam as previsões do relatório<br />

de Janeiro.<br />

A segunda maior economia do mundo,<br />

a chinesa, também está a ser menos<br />

influenciada pela guerra do que por questões<br />

internas, nomeadamente um ressurgimento<br />

da Covid-19, que leva a novos<br />

e alargados confinamentos, que não só<br />

afectarão o crescimento económico interno<br />

como trarão, provavelmente, mais<br />

problemas com efeito de contágio para o<br />

resto do mundo, nomeadamente no que<br />

diz respeito às cadeias de fornecimento.<br />

No seu novo relatório o FMI prevê um<br />

crescimento económico de 4,4% para a<br />

China, muito abaixo dos objectivos de<br />

Beijing, que se situam a cerca de 5,5%.<br />

Embora estes números signifiquem<br />

que «as projecções económicas globais<br />

pioraram significativamente», o relatório<br />

do FMI não prevê uma recessão, que tecnicamente<br />

apenas teria lugar se o crescimento<br />

económico global caísse para 2,5%<br />

ou menos. Mas o mesmo relatório refere<br />

que a incerteza quanto a estas projecções<br />

NÚMEROS<br />

A GUERRA IRÁ ATRASAR<br />

SEVERAMENTE A RECUPERAÇÃO<br />

ECONÓMICA GLOBAL,<br />

DESACELERANDO<br />

O CRESCIMENTO<br />

E AUMENTANDO AINDA<br />

MAIS A INFLAÇÃO<br />

ALGUNS ECONOMISTAS<br />

ACREDITAM QUE O FUTURO<br />

DA ECONOMIA DA RÚSSIA<br />

E DAS SUAS RELAÇÕES<br />

COM O OCIDENTE AINDA<br />

NÃO É UM ASSUNTO<br />

FECHADO<br />

2,8% 4,4% 15% 3,7% 2,3%<br />

E<br />

DESACELERAÇÃO<br />

DO CRESCIMENTO<br />

ECONÓMICO<br />

NA ZONA EURO<br />

JÁ ESTE ANO<br />

CRESCIMENTO<br />

PREVISTO PELO<br />

FMI PARA A CHINA<br />

EM 2022. BEIJING<br />

PREVÊ 5,5%<br />

PROBABILIDADE<br />

EM PERCENTAGEM<br />

DOS EUA ENTRAREM<br />

EM RECESSÃO<br />

AO LONGO DOS<br />

PRÓXIMOS 12<br />

MESES, SEGUNDO<br />

O GOLDEN SACHS<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO<br />

DOS EUA, RESPECTIVAMENTE,<br />

EM 2022 E 2023<br />

44 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


MACROECONOMIA<br />

mento Nomura já afirmou que estão a aumentar<br />

as probabilidades da China entrar<br />

em recessão ainda durante a Primavera.<br />

Muito do que irá acontecer depende<br />

dos próximos passos de Vladimir Putin<br />

na Rússia. Caso o fornecimento de gás<br />

natural à Alemanha seja repentinamente<br />

suspenso, a maior economia da Europa<br />

poderá perder 238 mil milhões de dólares<br />

ao longo dos próximos dois anos, de<br />

acordo com as previsões daquele país.<br />

Por outro lado, há cada vez mais pressão<br />

para que a Europa agrave as suas sanções<br />

à Rússia no sector energético. Recentemente,<br />

o primeiro-ministro francês<br />

Bruno Le Maire afirmou a possibilidade<br />

de um embargo ao petróleo russo de toda<br />

a União Europeia, tudo indicando que<br />

Emmanuel Macron quer mesmo avançar<br />

com esta sanção. Segundo as declarações<br />

de Le Maire à rádio Europe 1, não é por<br />

falta de vontade da França que ainda não<br />

se chegou a este nível sancionatório – é<br />

apenas porque outros países da Europa<br />

permanecem hesitantes.<br />

CASO O FORNECIMENTO DE GÁS<br />

NATURAL À ALEMANHA SEJA<br />

REPENTINAMENTE SUSPENSO,<br />

A MAIOR ECONOMIA<br />

DA EUROPA PODERÁ<br />

PERDER 238 MIL MILHÕES<br />

DE DÓLARES<br />

ESTAGFLAÇÃO<br />

A conjuntura de guerra<br />

na Europa está<br />

a arrastar a economia<br />

mundial para um estado<br />

de estagflação, ou seja,<br />

uma situação de inflação<br />

persistentemente<br />

alta, aliada a um<br />

desenvolvimento<br />

estagnado<br />

da economia.<br />

Ainda antes da invasão à<br />

Ucrânia os economistas já<br />

identificavam este factor<br />

como um risco para a economia<br />

global, devido ao aumento do<br />

preço das matérias-primas e aos<br />

problemas nas cadeias de produção.<br />

No entanto, este era um receio<br />

transitório, existindo a expectativa<br />

de que as cadeias de fornecimento<br />

voltassem a um determinado nível<br />

de normalidade no pós-pandemia.<br />

Agora, a estagflação é um cenário<br />

mais provável. O aumento dos<br />

preços das matérias-primas<br />

abrange mais activos do que antes<br />

e as ondas de choque nas cadeias<br />

de produções afectam um espectro<br />

mais alargado de canais - situação<br />

que poderá piorar ainda mais se as<br />

restrições motivadas pela Covid-19<br />

na China se mantiverem por um<br />

período prolongado de tempo.<br />

Inevitavelmente, estas perturbações<br />

irão reduzir a actividade em sectores<br />

que já tinham sido afectados pela<br />

pandemia, como são os casos da<br />

indústria automóvel e da produção<br />

de componentes electrónicos.<br />

Ao mesmo tempo, a inflação<br />

crescente tem como efeito a<br />

redução do poder de compra<br />

das famílias, o que diminui a<br />

actividade económica num período<br />

de inflação crescente, resultando<br />

numa tempestade perfeita para o<br />

cenário típico de uma estagflação.<br />

Para completar este quadro,<br />

teoricamente o desemprego poderá<br />

aumentar e os lucros das empresas<br />

baixarão, levando a uma redução<br />

dos investimentos.<br />

As consequências de uma<br />

estagflação dependerão, no<br />

entanto, do tempo que a guerra<br />

ainda vai durar. Mesmo na melhor<br />

das hipóteses, o regresso à<br />

situação económica anterior à<br />

invasão poderá ser lento, porque a<br />

inflação não irá parar de aumentar<br />

bruscamente e será preciso que<br />

os bancos centrais encontrem<br />

soluções para lidar com essa<br />

situação, sem atrasar a recuperação<br />

económica. Mas o cenário mais<br />

provável parece cada vez mais ser o<br />

de uma guerra prolongada com um<br />

alargamento das sanções à Rússia,<br />

o que tornará mais desafiante para<br />

a economia global regressar a um<br />

crescimento equilibrado. Seja qual<br />

for o futuro, todos os países serão<br />

afectados por esta conjuntura<br />

económica, embora em diferentes<br />

graus. Na Europa, por exemplo,<br />

países como a Alemanha e a Itália<br />

encontrarão mais dificuldades<br />

por estarem mais dependentes da<br />

Rússia do que o Reino Unido ou<br />

França, por exemplo. Mas haverá<br />

certamente ondas de choque em<br />

toda a Europa e principalmente na<br />

Zona Euro, cujo principal motor<br />

económico é a Alemanha.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 45


OPINIÃO<br />

POR CARLOS JESUS<br />

COUNTRY MANAGER DA COLT PORTUGAL<br />

E VP GLOBAL SERVICE DELIVERY DA COLT<br />

NO TRABALHO<br />

HÍBRIDO<br />

A experiência do trabalho remoto – acelerada<br />

pela pandemia de Covid-19, provou-nos que as formas<br />

alternativas de trabalho afinal têm um impacto positivo<br />

e duradouro na nossa felicidade, bem-estar e níveis<br />

de produtividade.<br />

DESAFIOS<br />

DA CIBERSEGURANÇA<br />

E<br />

m todo o mundo, as empresas estão a repensar a forma<br />

de trabalharmos. O futuro do trabalho é, necessariamente,<br />

flexível. Uma característica que passou a ser<br />

exigida pelos colaboradores e que se tornou um factor<br />

decisivo para as empresas reterem talento.<br />

A maioria das pessoas gostou da liberdade ganha ao poderem<br />

trabalhar a partir de casa e agora não quer regressar aos modelos<br />

anteriores. Um estudo conduzido pela Wakefield Research, em Abril<br />

passado, revela que 47% dos trabalhadores, caso o seu actual empregador<br />

não lhes dê a oportunidade de terem um modelo de trabalho<br />

flexível, irão procurar um novo emprego. Também as empresas acham<br />

que uma abordagem híbrida do trabalho é uma boa opção,<br />

por conjugar os benefícios de trabalhar a partir de casa e<br />

os de o fazer no escritório.<br />

Porém, o modelo híbrido - que reúne quase todos<br />

os benefícios do trabalho remoto e lhes acrescenta<br />

maior autonomia e flexibilidade, traz desafios acrescidos de<br />

segurança para as empresas. Havendo maior dependência das<br />

tecnologias de informação e uma maior dispersão das comunicações<br />

por vários locais, aumentam as potenciais vulnerabilidades.<br />

Os empregadores terão agora de assumir a responsabilidade<br />

adicional de disponibilizarem ligações seguras às infra-estruturas<br />

das empresas e de implementarem sistemas de<br />

backup e planos de recuperação.<br />

A maior dependência da conectividade cria desafios<br />

incontornáveis para as empresas. Foi assim<br />

quando, em Março de 2020, tiveram de migrar<br />

para o trabalho totalmente remoto, e também<br />

será assim com o trabalho híbrido, que obriga<br />

a pensar a segurança de forma diferente. Num<br />

escritório tradicional, todos os computadores,<br />

telefones e ligações à internet são cuidadosamente<br />

controlados e a sua utilização depende do<br />

acesso físico ao edifício onde se encontram. Com<br />

o trabalho híbrido sucede exactamente o contrário:<br />

as pessoas conectam-se remotamente,<br />

usando hotspots Wi-Fi partilhados ou públicos e<br />

vários dispositivos diferentes.<br />

Mas o trabalho híbrido é também uma oportunidade<br />

para as empresas reverem a sua cibersegurança,<br />

encontrando parceiros de confiança,<br />

que possam ajudá-las a redesenhar os processos,<br />

integrando-os totalmente, conferindo-lhes<br />

uma visão única da segurança transversal a<br />

todo o seu negócio, enquanto tornam o trabalho<br />

híbrido seguro.<br />

O trabalho híbrido nas empresas depende<br />

do ecossistema da cloud e da conectividade<br />

remota através de uma Rede Privada Virtual<br />

(VPN), e os hackers sabem disto. Já os trabalhadores,<br />

quando estão em modo remoto, podem<br />

aceder aos servidores das suas empresas ou a<br />

tecnologia cloud através de redes públicas, o<br />

que cria oportunidades e vulnerabilidades que os<br />

cibercriminosos exploram. As empresas devem,<br />

por isso, desenvolver a consciência da segurança<br />

no seu seio e permitir que os seus colaboradores<br />

se transformem na primeira linha de defesa.<br />

São cada vez mais as empresas que estão a<br />

adaptar as suas telecomunicações para que o<br />

trabalho híbrido possa funcionar. Actualmente,<br />

a conectividade tornou-se na espinha dorsal de<br />

qualquer negócio e o seu correcto funcionamento<br />

é vital. A tecnologia está a preparar o caminho<br />

para o futuro do trabalho híbrido. Esta é uma<br />

alteração profunda, que não se resume à simples<br />

mudança do local onde trabalhamos, mas tem a<br />

ver com a forma como o fazemos. O que implica<br />

repensarmos os actuais processos de negócio<br />

e usarmos a tecnologia para trabalharmos<br />

de forma mais eficiente e segura.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 47


SUSTENTABILIDADE<br />

«EMPRESAS MAIS EFICIENTES,<br />

MAIS COMPETITIVAS<br />

E MAIS DIFERENCIADORAS»<br />

Em 2024, todas as grandes<br />

empresas a operar na UE terão<br />

de publicar um relatório de<br />

sustentabilidade. As PME cotadas<br />

terão de o fazer em 2026.<br />

E será uma questão de tempo<br />

até esta medida ser aplicada às<br />

restantes PME e microempresas.<br />

Sofia Santos, economista<br />

especializada em Financiamento<br />

Sustentável e fundadora<br />

da Systemic, explica à Risco<br />

o que está em causa.<br />

A<br />

s PME estão conscientes de que estas medidas de<br />

sustentabilidade existem e já para daqui a poucos anos?<br />

Não, não estão. Diria mesmo que as PME estão muito<br />

longe de terem esta ideia de que vão ter de começar a<br />

reportar informação ambiental, social e de governação.<br />

No entanto, as PME já hoje podem estar a sentir pressão<br />

para começarem a reportar alguma informação desta<br />

natureza. Por exemplo, o Crédito Agrícola começou,<br />

desde Julho de 2021, a questionar todas as empresas –<br />

grandes, PME, micro e empresas em nome individual – sobre as suas práticas<br />

ambientais e sociais a nível corporativo, bem como ao nível do projecto que<br />

está a solicitar empréstimo. Por outro lado, as PME portuguesas, ao serem<br />

clientes de grandes empresas europeias, e estas, ao terem a obrigatoriedade<br />

europeia de reportar sobre as suas práticas<br />

de sustentabilidade e ao longo da sua cadeia<br />

de valor, irão necessariamente acelerar a<br />

pressão sobre as PME. Não esquecer que<br />

o COMPETE também vai ter de garantir<br />

que o financiamento que proporciona na<br />

economia não prejudica significativamente<br />

o ambiente e que os projectos financiados<br />

estão alinhados com os objectivos ambientais<br />

europeus, o que significa que as PME,<br />

que recorrem normalmente ao co-financiamento<br />

público, terão também de construir<br />

projectos mais verdes e terão de ser capazes<br />

de reportar e comunicar essa mesma faceta.<br />

Como vão as empresas portuguesas<br />

adaptar-se a estas medidas?<br />

É inevitável e não é complicado. O<br />

acesso ao capital vai estar associado às<br />

boas práticas ambientais e sociais das<br />

empresas. Quem não as tiver poderá ter<br />

taxas de juro mais altas, ou mesmo não<br />

ter acesso a capital. O que é exigido parece<br />

ser muito difícil, mas não é. É apenas<br />

algo que não aprendemos nas escolas e<br />

por isso ficamos assustados. Ter boas práticas<br />

ambientais e sociais, e reportá-las,<br />

não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, e<br />

na realidade contribui para a eficiência e<br />

48 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


SUSTENTABILIDADE<br />

«O ACESSO AO CAPITAL<br />

VAI ESTAR ASSOCIADO<br />

ÀS BOAS PRÁTICAS<br />

AMBIENTAIS<br />

E SOCIAIS DAS<br />

EMPRESAS»<br />

Sofia Santos,<br />

economista especializada<br />

em Financiamento<br />

Sustentável e fundadora<br />

da Systemic<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 49


SUSTENTABILIDADE<br />

competitividade das empresas. Penso que<br />

algumas PME quererão ter os chamados<br />

ratings ESG, que são atribuídos por entidades<br />

terceiras e que lhes conferem um<br />

certo “grau” de sustentabilidade. Obter um<br />

desses ratings implica um trabalho interno<br />

estratégico, de compromissos, de recolha<br />

de informação ambiental e social, mas é<br />

algo que com uma boa equipa transversal<br />

se consegue fazer bem e com qualidade.<br />

Faz sentido que a sustentabilidade<br />

se apresente como uma imposição<br />

legal, principalmente quando chegar a<br />

pequenas e microempresas?<br />

Não existe imposição legal para chegar<br />

às pequenas e microempresas. Actualmente,<br />

a única imposição legal que<br />

está em discussão pública a nível europeu<br />

é as PME cotadas em bolsa passarem<br />

a ser obrigadas a reportar um relatório<br />

de sustentabilidade em 2026. Obrigatoriedade<br />

apenas para as PME cotadas. Em<br />

Portugal não existe nenhuma. E não há<br />

obrigatoriedade para as microempresas.<br />

A meu ver, antecipo que irá existir<br />

obrigatoriedade para todas as PME reportarem<br />

estes temas, mas as microempresas<br />

serão apenas pressionadas pelo<br />

mercado e pelos financiadores, o que<br />

pode ser uma pressão ainda mais forte<br />

do que a legal.<br />

«IRÁ EXISTIR<br />

OBRIGATORIEDADE<br />

PARA TODAS AS PME<br />

REPORTAREM<br />

ESTES TEMAS,<br />

MAS AS<br />

MICROEMPRESAS<br />

SERÃO APENAS<br />

PRESSIONADAS<br />

PELO MERCADO<br />

E PELOS<br />

FINANCIADORES»<br />

Qual o impacte positivo que se espera<br />

que as finanças sustentáveis tenham?<br />

Torná-las mais eficientes, mais competitivas<br />

e mais diferenciadoras. As finanças<br />

sustentáveis vão induzir as empresas a<br />

emitirem menos emissões de CO 2<br />

, a consumirem<br />

mais energia verde, a aumentarem<br />

a eficiência energética, a adquirirem<br />

equipamentos menos poluidores, a terem<br />

menos resíduos para aterro e a colaborarem<br />

mais umas com as outras. Tal irá<br />

levar ao surgimento de novas empresas,<br />

serviços e produtos, e, obviamente, aquelas<br />

que não se conseguirem adaptar a uma<br />

economia mais verde perderão o seu lugar.<br />

O impacte positivo tem essencialmente<br />

que ver com o aumento da independência<br />

energética fóssil e com a inovação que este<br />

tipo de pensamento pode criar nas áreas<br />

50 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


SUSTENTABILIDADE<br />

Os planos nacionais de recuperação e<br />

resiliência devem dedicar pelo menos<br />

37% dos gastos totais a investimentos<br />

e reformas que apoiem os objectivos<br />

climáticos. Esta meta é realista?<br />

Devia ser mais alta. Na realidade todos<br />

os projectos deveriam apoiar objectivos<br />

climáticos. Todos os projectos a financiar<br />

deveriam ser neutros em carbono, utilizar<br />

o mais possível energias renováveis, contribuir<br />

para a independência energética<br />

dos combustíveis fósseis e garantir a manutenção<br />

dos serviços dos ecossistemas.<br />

Não ter isto exposto e garantido nos vários<br />

mil milhões de euros que vão ser investidos<br />

em Portugal pode significar um atraso injustificado<br />

no investimento no combate às<br />

alterações climáticas.<br />

de inovação de produto, processo e serviço<br />

das empresas.<br />

«O IMPACTE POSITIVO<br />

TEM ESSENCIALMENTE<br />

QUE VER<br />

COM O AUMENTO<br />

DA INDEPENDÊNCIA<br />

ENERGÉTICA<br />

FÓSSIL E COM<br />

A INOVAÇÃO»<br />

O que é a taxonomia, que actividades<br />

económicas vai impactar e como se vão<br />

adaptar as empresas nacionais?<br />

A taxonomia é uma lista de actividades<br />

económicas que têm critérios científicos<br />

mínimos que garantem o alinhamento com<br />

a neutralidade carbónica em 2050. Ou seja,<br />

são tecnologias e critérios que certos sectores<br />

têm de cumprir para estarem alinhados<br />

com a neutralidade carbónica em 2050.<br />

Obviamente que a grande maioria das empresas<br />

europeias e a nível mundial não está<br />

neste nível, e é por isso que temos o desequilíbrio<br />

do planeta e o aquecimento global.<br />

Esta lista de actividades abrange praticamente<br />

todos os sectores: desde a agricultura,<br />

energia, manufactura, imobiliário, até<br />

turismo, transporte, educação, têxtil, etc.,<br />

e diz-nos as tecnologias e as emissões de<br />

CO 2<br />

limite que cada actividade pode emitir<br />

(estou a simplificar para efeitos de comunicação)<br />

para ser coerente com a neutralidade<br />

carbónica em 2050. Quem não cumprir<br />

com estes requisitos mínimos não está alinhado<br />

com a taxonomia.<br />

Um estudo feito pela Associação Europeia<br />

Bancária, em 2021, calculou que apenas<br />

7,9% dos empréstimos de 29 bancos europeus<br />

estavam alinhados com a taxonomia.<br />

Estes números são de esperar, pois, como<br />

já disse, temos um aquecimento global<br />

premente, que se deve a uma não utilização<br />

das melhores tecnologias e métodos de<br />

gestão. Assim, as empresas terão de entrar<br />

no chamado processo de transição, em que<br />

deverão incluir em todos os projectos uma<br />

componente para baixar o seu impacte ambiental<br />

significativamente, de forma a atingir<br />

estes critérios e assim estarem alinhadas<br />

com a taxonomia. Como os bancos e investidores<br />

serão estimulados a emprestar e a<br />

investir em projectos verdes (devido à ideia<br />

de que empresas poluentes são aquelas com<br />

mais risco, o que implica aumentos de capital<br />

para o banco), então as empresas sentirão<br />

também o estímulo em introduzir uma<br />

componente verde em todos os projectos<br />

que necessitem de empréstimos. Será assim<br />

que as empresas se irão adaptar. Obter os ratings<br />

ESG será também uma ajuda.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 51


CRIPTOMOEDAS<br />

QUEM INVESTE<br />

CRIPTOMOEDAS?<br />

EM<br />

Cada vez mais as criptomoedas são<br />

consideradas pelos investidores para<br />

integrarem as suas carteiras de activos.<br />

Mas qual o perfil de quem investe hoje em<br />

criptomoedas?<br />

POR PAULO MENDONÇA<br />

D<br />

esde que a Bitcoin – a primeira criptomoeda – foi lançada em 2009, o<br />

entusiasmo em torno deste tipo de activos tem vindo a crescer, bem<br />

como o número de investidores dispostos a integrá-lo nas suas carteiras.<br />

Para perceber de uma forma mais detalhada quem são estes investidores,<br />

a corretora internacional XTB elaborou um estudo com o título “O perfil<br />

do investidor de criptomoedas”, onde analisa dados demográficos, transacções e<br />

dispositivos presentes na sua plataforma desde o início de 2021.<br />

De acordo com este estudo, o investidor típico da XTB em criptomoedas «é<br />

homem (somente 9,6% são mulheres), tem 34 anos e faz, em média, cinco transacções<br />

por ano em criptomoedas através da utilização de CDF».<br />

Acrescenta-se que este perfil de investidor<br />

utiliza a aplicação móvel (66,7%)<br />

para executar as suas ordens no mercado,<br />

que tendem a durar, em média, cerca de<br />

três dias e 21 horas.<br />

Entre as oito mil criptomoedas disponíveis<br />

no mercado, os investidores<br />

inscritos na XTB demonstraram, desde 1<br />

de Janeiro de 2021, uma clara preferência<br />

pela Ethereum (33%), seguida pela Bitcoin<br />

(17%), Ripple (13%), Litecoin (10%) e BitcoinCash<br />

(7%). O relatório acrescenta que<br />

«também a Cardano, desde que integrou<br />

o portefólio de CFD de criptomoedas da<br />

XTB, passou a revelar-se um activo de<br />

grande popularidade».<br />

Ao contrário da ideia comum de que<br />

a actividade de investimento em criptomoedas<br />

é uma área maioritariamente dos<br />

jovens, os dados da XTB indicam que a<br />

As criptomoedas mais transaccionadas entre<br />

os investidores na XTB desde 1 de Janeiro de 2021<br />

O INVESTIDOR TÍPICO<br />

DA XTB EM CRIPTOMOEDAS<br />

«É HOMEM (SOMENTE 9,6%<br />

SÃO MULHERES),<br />

TEM 34 ANOS E FAZ,<br />

EM MÉDIA, CINCO<br />

TRANSACÇÕES POR ANO<br />

EM CRIPTOMOEDAS»<br />

52 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


CRIPTOMOEDAS<br />

Quão populares<br />

são as<br />

criptomoedas?<br />

É NOS PAÍSES DA EUROPA<br />

OCIDENTAL QUE SE<br />

REGISTAM OS MAIORES<br />

NÍVEIS DE POPULARIDADE<br />

DAS CRIPTOMOEDAS<br />

ENTRE OS INVESTIDORES<br />

DA XT<br />

Investidor de criptomoedas<br />

idade média dos investidores em criptomoedas<br />

está em linha com a idade dos<br />

investidores em activos tradicionais, independentemente<br />

da classe de activos<br />

com que iniciou a sua jornada de investimento.<br />

Os investidores em criptomoedas<br />

registados na plataforma da XTB vão dos<br />

18 aos 89 anos, provando que não há uma<br />

idade melhor do que outra para investir<br />

em criptomoedas. No entanto, os números<br />

mostram que três em cada quatro investidores<br />

que negoceiam criptomoedas<br />

através de CDF, têm menos de 43 anos.<br />

No que diz respeito às mulheres registadas<br />

na plataforma da XTB e que<br />

investem em criptomoedas, a maior percentagem<br />

encontra-se na Roménia, representando<br />

12% do total de investidores<br />

desse país inscritos na plataforma.<br />

Em Portugal, essa percentagem desce<br />

para os 10,5%, ainda assim acima da<br />

média global de 9,6% e muito próxima do<br />

Reino Unido (10,6%).<br />

A análise indica ainda que é nos países<br />

da Europa Ocidental que se registam os<br />

maiores níveis de popularidade das criptomoedas<br />

entre os investidores da XTB.<br />

Em Portugal, em 2021, 36,3% dos investidores<br />

inscritos na plataforma da corretora<br />

investiram em criptomoedas, ficando somente<br />

atrás da República Checa (41,2%) e<br />

de Espanha (37,7%).<br />

No que diz respeito aos dispositivos<br />

utilizados para as transacções, o estudo<br />

refere que 67,2% dos investidores recorrem<br />

à app móvel, contra 32,8%, que utilizam<br />

o computador.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 53


TRADING<br />

AS AMBIÇÕES<br />

DE QUEM INVESTE<br />

NOS MERCADOS<br />

FINANCEIROS<br />

Deve haver uma base sólida de iniciação,<br />

um mapa perfeitamente identificável<br />

a seguir. Caso contrário, as ambições não<br />

passam de sonhos que rapidamente<br />

se podem tornar pesadelos.<br />

POR ADELINO MATOS<br />

CEO & FOUNDER DA ESCOLA TRADING<br />

É<br />

indissociável falar-se em ambições, independentemente da área, tópico<br />

ou sonho, sem pensar no trajecto a percorrer até ao dia em que estas<br />

se tornam realidade e passam a um ou mais objectivos finalmente alcançados.<br />

Falar em ambições, fazendo desde já a transição para quem<br />

investe nos mercados financeiros, é, no mínimo, um desafio. Chegar, ver e vencer,<br />

não é assim que se diz? Infelizmente, para a grande maioria dos traders iniciantes,<br />

isto nunca passará de um velho ditado.<br />

A linha que separa um investidor que desiste de um que permanece a longo<br />

prazo no “jogo” é muito ténue, mas é suportada por características perfeitamente<br />

identificadas, as quais nunca me canso de incutir e promover nos meus alunos: paciência,<br />

autocontrolo e, acima de tudo, mentalidade.<br />

Parece tão fácil falar disto ou deveria ser simples de entender: ninguém nasce ensinado,<br />

mesmo aqueles que são tratados como deuses das suas áreas de intervenção.<br />

A psicologia está em tudo e em todo o lado, mesmo que não tenhamos essa noção<br />

– aliás, ter esta inconsciência é já prova desta minha afirmação.<br />

O que trago para mais um dos meus desabafos é como pode ser o trajecto de<br />

investidores que têm como ambição iniciar-se nos investimentos, com a profissionalização<br />

à vista. Mas, afinal, como se pode traduzir para bom português o que as<br />

pessoas procuram com os investimentos nos mercados financeiros?<br />

A tão procurada liberdade<br />

A definição de liberdade poderia muito<br />

bem ser explicada através de uma única<br />

palavra: independência. Investir nos mercados<br />

financeiros, ou melhor, saber investir<br />

nos mercados financeiros e tornar-se<br />

profissional pode, sem qualquer dúvida,<br />

tornar esta ambição realidade. O sonho de<br />

não ter de dar mais explicações, de não ter<br />

de cumprir horários e saber que tudo está<br />

nas nossas mãos – o rendimento e desempenho<br />

nunca mais estarão sujeitos a avaliações<br />

de terceiros.<br />

O mundo corporativo passa para segundo<br />

plano e um dos grandes objectivos<br />

passa por lançar um negócio rentável. Já<br />

ouvi este testemunho muitas vezes, mas<br />

é necessário ter a noção de que os mercados<br />

financeiros não dão retorno a nin-<br />

54 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


TRADING<br />

guém do dia para a noite. Consolidar um<br />

plano de negócios demora tempo. Ter a<br />

capacidade de entender o mercado, a sua<br />

imprevisibilidade e volatilidade demora<br />

tempo. Criar condições para construir<br />

a ambicionada liberdade demora tempo.<br />

Os desafios são constantes e diários, mas<br />

com esforço e dedicação é possível ser-se<br />

dono do próprio destino.<br />

Ganhar dinheiro<br />

Vou tocar no calcanhar de Aquiles<br />

de todas as ambições: ganhar dinheiro e,<br />

acima de tudo, ganhar dinheiro rápido.<br />

É um passo gigante para o precipício. É<br />

uma das principais culturas promovidas<br />

por propaganda e por histórias de investidores<br />

“bem-sucedidos”, acabando com<br />

a carreira de quem ainda mal começou e,<br />

O PRIMEIRO PASSO<br />

ONDE A MAIORIA FALHA<br />

É NA CONSTRUÇÃO<br />

DE UM PROGRAMA<br />

SÓLIDO BASEADO NUMA<br />

PSICOLOGIA INABALÁVEL<br />

a uma escala superior, descredibilizando<br />

os benefícios que o entendimento sobre<br />

investimentos pode trazer para a vida de<br />

qualquer pessoa que esteja disposta a, simplesmente,<br />

esperar e respeitar o mercado.<br />

A ânsia em alcançar sucesso semelhante<br />

e instantâneo ao dos grandes especialistas,<br />

que por aí apregoam as suas capacidades,<br />

toma conta do discernimento de quem remeteu<br />

alguma esperança em aprender a<br />

investir nos mercados financeiros. A desilusão<br />

é ainda maior, intensificada pela sensação<br />

de engano e falsas promessas. É verdade<br />

que há a possibilidade de rentabilizar de<br />

forma exponencial os ganhos, dado que os<br />

fundos que podem ser negociados são infinitos<br />

e o volume de transacções envolvidas<br />

diariamente permite investir e criar uma<br />

banca na verdadeira acepção da palavra.<br />

Nunca me vou cansar de frisar: é um<br />

longo e árduo processo até conseguir ganhar<br />

dinheiro para ser independente com<br />

investimentos – não é uma tarefa de um<br />

mês nem tão-pouco de uma operação louca<br />

que, com sorte, acabou por sorrir. O<br />

primeiro passo onde a maioria falha é na<br />

construção de um programa sólido baseado<br />

numa psicologia inabalável.<br />

Tornar-se profissional: a mãe<br />

de todas as ambições<br />

Intrinsecamente ligado aos dois pontos<br />

anteriores, tornar-se profissional é<br />

uma sensação que parece uma miragem e<br />

um sonho ao mesmo tempo – esta poderia<br />

igualmente ser uma definição de ambição.<br />

O ponto mais alto, e ao contrário do<br />

que referi anteriormente, é alavancar uma<br />

carreira no mundo corporativo, ingressando<br />

num fundo de investimento ou numa<br />

empresa que gere fundos privados. Este<br />

é igualmente um dos relatos que particularmente<br />

vou ouvindo em conversas com<br />

pessoas, que reúnem as condições para se<br />

profissionalizar nesta área.<br />

Mas assim como os objectivos têm de<br />

ser realistas e mensuráveis, as ambições<br />

têm de seguir os mesmos pergaminhos. A<br />

não tomada de consciência deste jogo de<br />

cintura pode levar a operações desmesuradas<br />

e, para agravar, em volumes proibitivos.<br />

Se leu o meu artigo na Risco, número 24,<br />

“Overtrading”, é automático pensar no vício<br />

ao investir – sim, apesar de nunca considerar<br />

investimentos como um jogo, não<br />

tenho dúvidas de que é muito fácil entrar<br />

neste loop negativo em busca do que foi<br />

perdido de forma totalmente irracional.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 55


TRADING<br />

As emoções vêm à flor da pele quando<br />

se investe e há dinheiro envolvido. Isto é<br />

ponto assente, é a natureza humana e um<br />

dos instintos mais primários a manifestar-<br />

-se. O grande problema é que há quem vá<br />

muito além disso e apenas esteja no mercado<br />

de investimentos não pelo dinheiro,<br />

mas pela adrenalina e emoções. É a partir<br />

daqui que o problema do vício entra com<br />

toda a força em cena. O sentimento de ter<br />

dinheiro em jogo, que proporciona um<br />

“sentimento bom”, tem o nome de dopamina<br />

– a química do prazer.<br />

Por incrível que pareça, a dopamina<br />

aparece quando o trader tem posições<br />

abertas no mercado e “esconde-se” quando<br />

ele ganha dinheiro. É muito importante<br />

ter uma mentalidade correcta para saber o<br />

que realmente se está a fazer nos mercados<br />

financeiros e se os objectivos são ganhar<br />

dinheiro ou apenas diversão.<br />

Com tudo isto a acontecer, existirá<br />

mais algum factor que esbarra nas ambições<br />

de quem investe nos mercados financeiros?<br />

Infelizmente sim e é um problema<br />

tão intangível como grave: a solidão, por<br />

natureza, deste tipo de actividade.<br />

Estou nesta área há mais de 15 anos<br />

e iria estar a omitir uma verdade gigantesca:<br />

investimento não é uma prática<br />

comum, muito menos em Portugal. Há<br />

muito mais desconfiança em torno desta<br />

prática do que propriamente curiosidade<br />

verdadeira em conhecer os benefícios de<br />

bem investir dinheiro.<br />

Ser investidor é uma actividade solitária<br />

e, em muitos casos, anónima. Quando<br />

se ganha, ganha-se sozinho. Quando<br />

se perde, enfrenta-se uma dor que não é<br />

partilhada com ninguém – ou raras vezes<br />

o é. A responsabilidade pelas atitudes e<br />

resultados – como mencionei no ponto<br />

sobre a liberdade como ambição – ao<br />

mesmo tempo que a sociedade ecoa e<br />

rotula esta prática como “uma coisa para<br />

loucos”, apenas para milionários ou onde<br />

simplesmente são desperdiçados rios de<br />

dinheiro, é exclusivamente de quem está<br />

a olhar para o ecrã a tentar entender<br />

como, mais uma vez, foi tomar uma decisão<br />

errada.<br />

A jornada que se inicia com grandes<br />

ambições de investimento nos mercados<br />

É MUITO IMPORTANTE<br />

TER UMA MENTALIDADE<br />

CORRECTA PARA SABER<br />

O QUE REALMENTE<br />

SE ESTÁ A FAZER<br />

NOS MERCADOS<br />

FINANCEIROS<br />

financeiros e onde, para muitos, a intenção<br />

é terminar com chave de ouro e tornar-se<br />

profissional, é pautada por quatro<br />

fases nas quais é necessário o tão aclamado<br />

mindset de ferro para ultrapassar<br />

barreiras rumo a uma carreira segura e<br />

estável em investimentos. Quais são então<br />

estes quatro desafios mentais e de consciência<br />

até à profissionalização?<br />

1.<br />

Inconsciência incompetente<br />

O que dizer sobre esta atribulada<br />

primeira fase? Basicamente, não há capacidade<br />

em entender o grau de incompetência<br />

em que o investidor se encontra.<br />

Movido por emoções ou desejos, é infelizmente<br />

comum entrar em posições sem<br />

a aquisição de conhecimento capaz sobre<br />

o mercado em que opera.<br />

Pode até ser negada esta necessidade<br />

de aprender novas aptidões sobre um<br />

determinado assunto que, aos olhos de<br />

56 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


TRADING<br />

TER A CAPACIDADE<br />

DE ENTENDER<br />

O MERCADO, A SUA<br />

IMPREVISIBILIDADE<br />

E VOLATILIDADE<br />

DEMORA TEMPO<br />

É UM LONGO E ÁRDUO<br />

PROCESSO ATÉ<br />

CONSEGUIR GANHAR<br />

DINHEIRO PARA SER<br />

INDEPENDENTE<br />

COM INVESTIMENTOS<br />

quem olha para o ecrã com enganadora<br />

clarividência, é tão claro e a solução é<br />

tão óbvia que fazer algo em contrário parece<br />

absurdo. Não conseguir atingir que<br />

se tem uma deficiência de aprendizagem<br />

pode, assim, ser sintoma desta fase.<br />

É imperativo ter esta necessidade sobre<br />

aquisição de conhecimento sobre investimentos<br />

e sobre os mercados financeiros<br />

para passar para a próxima fase.<br />

Uma grande ajuda durante momentos<br />

como este é alguém que, contrariando a<br />

solidão desta actividade, consegue dar a<br />

entender que, sem estudo e compreensão,<br />

nunca se sairá do modo de inconsciência<br />

incompetente.<br />

2.<br />

Consciência incompetente<br />

Como mencionei, aqui existe a noção<br />

de que há uma deficiência na compreensão<br />

de uma determinada aptidão. A<br />

relevância da aprendizagem torna-se evidente.<br />

Ter a humildade para se aperceber<br />

de que deve existir a aquisição de conhecimento<br />

mostra, igualmente, que as capacidades<br />

técnicas irão também melhorar.<br />

Sentir que o benefício da aprendizagem<br />

pode trazer algo em troca é o principal<br />

motor de ambição e esperança.<br />

Idealmente existe uma noção genética<br />

do nível de aprendizagem necessário para<br />

alcançar o objectivo. E existe um comprometimento<br />

claro por parte do investidor<br />

em treinar esta nova aptidão de maneira<br />

consistente e permanente.<br />

3.<br />

Consciência competente<br />

A maturidade no exercício de uma<br />

qualquer actividade é alcançada nesta etapa.<br />

Fazer com sucesso uma determinada<br />

tarefa é o reflexo mais claro desta fase.<br />

Pensar, raciocinar, reflectir, antes de agir,<br />

marcam-na, onde o exercício da actividade<br />

sem um esforço de raciocínio e reflexão,<br />

no entanto, ainda não é alcançado.<br />

Desenvolver a actividade sem assistência<br />

de ninguém caracteriza igualmente o<br />

desempenho individual nesta etapa, o que<br />

pode levar à fase número quatro, onde a<br />

maior característica em destaque é a capacidade<br />

de mostrar a aptidão para outras<br />

pessoas, sem ser necessário qualquer esforço<br />

de explicação.<br />

4.<br />

Inconsciência competente<br />

A prática gerou o quarto e último<br />

patamar de desenvolvimento, possibilitando<br />

que, na fase de inconsciência compe-<br />

tente, a actividade se torne instantânea e<br />

mecanizada. Passa a ser possível exercer a<br />

função ao mesmo tempo que outras actividades<br />

são desenvolvidas em paralelo.<br />

A capacidade de ensino é igualmente<br />

impulsionada e os assuntos tornam-se pessoais<br />

e de fácil compreensão. A necessidade<br />

de constante actualização e prática manterá<br />

este nível de inconsciência competente.<br />

Por experiência própria afirmo com<br />

toda a certeza de que é a ajudar o próximo<br />

o momento onde mais aprendemos e,<br />

acima de tudo, ganha-se a noção de pontos<br />

de melhoria que outrora nunca eram<br />

identificados. Tudo isto só é possível com<br />

plena consciência do estado actual, que só é<br />

alcançado com força mental robusta, adaptável<br />

e que encara desafios como oportunidades<br />

de crescimento.<br />

Conclusão<br />

Quem nunca olhou para alguém que<br />

alcançou enorme sucesso na vida e em<br />

seguida se interroga como essa pessoa foi<br />

capaz? Considero isto um acto de coragem<br />

e receio, em simultâneo. É importante haver<br />

referências que façam sonhar e motivar<br />

quem deseja desenvolver ambições<br />

como investidor, mas, em contrapartida,<br />

pode ter o efeito de afastar ou, pior, dar a<br />

entender que tudo parece fácil.<br />

Ter ambições deve ser considerado<br />

como a poção que faz querer lutar por<br />

algo na vida – aplicado a 100% a investimentos<br />

ou não. Mas, como em tudo, deve<br />

haver uma base sólida de iniciação, um<br />

mapa perfeitamente identificável a seguir.<br />

Caso contrário, as ambições não passam<br />

de sonhos que rapidamente se podem tornar<br />

pesadelos.<br />

Não é, nem nunca será, fácil dominar<br />

de forma tranquila e segura a natureza dos<br />

mercados financeiros, onde eu próprio enfrento<br />

desafios todos os dias, sempre que<br />

me sento em frente ao ecrã. A diferença<br />

está no mindset desenvolvido, não só com<br />

estratégias bem fundamentadas para operar,<br />

mas principalmente com a consciência<br />

do ponto em que estou e onde posso<br />

melhorar diariamente.<br />

Como disse, nunca será fácil – mas<br />

não tem de ser tão difícil, perigoso e desgastante<br />

quanto isso.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 57


OPINIÃO<br />

POR NUNO SOUSA PEREIRA<br />

DIRECTOR DE INVESTIMENTOS<br />

DA SIXTY DEGREES<br />

CBDC<br />

AS MOEDAS DIGITAIS<br />

DOS BANCOS CENTRAIS<br />

Raramente reflectimos sobre o que é o dinheiro,<br />

por que razão tem o valor que colectivamente<br />

lhe atribuímos, ou qual a estrutura<br />

de intermediação para o movimentar.<br />

N<br />

o entanto, todos os dias à volta do mundo, milhões de transacções são<br />

processadas através de empresas privadas, maioritariamente bancos,<br />

utilizando o dinheiro emitido por Bancos Centrais, com permissão dos<br />

respectivos governos, sem que tenha um valor atribuído para além da<br />

confiança. Existe uma versão do dinheiro detido nos bancos que é apenas um<br />

conjunto de zeros e uns num qualquer computador, e a versão do dinheiro<br />

físico representado através de moedas e notas.<br />

Alguns eventos da história monetária recente, nomeadamente a criação das moedas<br />

digitais (criptomoedas), os elevados níveis de dívida governamental face ao PIB ou os valores<br />

recentes de inflação, muito elevados quando comparados com as últimas décadas, voltaram<br />

a trazer desenvolvimentos sobre a estrutura do dinheiro e da sua utilização e os deveres e<br />

benefícios das entidades governamentais e reguladores financeiros nessa estrutura.<br />

Enquanto muitos advogam que o poder das criptomoedas não está apenas ligado ao<br />

potencial tecnológico de muitos dos projectos, mas, acima de tudo, à sua descentralização<br />

e capacidade de resiliência face ao autoritarismo governamental, outros criticam a falta de<br />

regulamentação deste espaço, o elevado risco associado – recentemente uma das maiores<br />

moedas alternativas em circulação implodiu praticamente de um dia para o outro (valor total<br />

de mercado de cerca de 40 mil milhões de dólares) – e a falta de curso legal* destas “moedas”.<br />

Adicionalmente, o número de pessoas sem acesso a contas bancárias ou internet no<br />

mundo também limita a adopção de alternativas 100% digitais.<br />

Têm surgido muitas iniciativas para tentar resolver estas questões de ambos os lados.<br />

O maior destaque tem ido para a adopção da bitcoin como moeda legal de alguns países,<br />

caso de El Salvador, que aparece em primeiro plano por ser o país onde, na teoria, todos os<br />

pagamentos podem ser feitos usando bitcoin (desde pagamentos ao Governo a transacções<br />

comerciais). Na prática, esta experiência não estará a correr tão bem como esperado, até<br />

porque a desvalorização recente dos preços das criptomoedas trouxe obstáculos adicionais à<br />

penetração de mercado destas soluções.<br />

Na esfera pública e num movimento considerado<br />

rápido pelos padrões históricos, vários<br />

Bancos Centrais começaram a desenvolver<br />

alternativas para emitir dinheiro digitalmente.<br />

Convém, por isso, tentar perceber em que difere<br />

o dinheiro emitido actualmente, um conjunto de<br />

zeros e uns na nossa conta bancária, das CBDC<br />

(Central Bank Digital Currencies).<br />

No actual sistema, uma unidade monetária é<br />

igual a outra qualquer, não se conseguindo distinguir<br />

que nota, moeda ou conjunto de “zeros e<br />

uns” foi utilizado numa determinada transacção.<br />

Esta forma de moeda, por muito que já tenha<br />

uma aplicação desmaterializada, continua a ser<br />

diferente do conceito de criptomoeda.<br />

Baseada na tecnologia blockchain, cada<br />

criptomoeda é identificável, assim como todas as<br />

transacções em que essa unidade esteve envolvida,<br />

permitindo um escrutínio total das transacções<br />

a quem consulte o histórico do blockchain.<br />

Esta transparência é um dos atractivos das<br />

criptomoedas privadas, já que o “ledger” –<br />

histórico de transacções – está acessível a<br />

quem quiser consultá-lo. No caso das CBDC,<br />

essa informação privilegiada está nas mãos<br />

dos Bancos Centrais e potencialmente dos<br />

Governos, com todos os efeitos nefastos que<br />

daí possam resultar.<br />

Além das valências do dinheiro “actual”,<br />

como meio de transacção, as CBDC estão a<br />

ser olhadas pelos Bancos Centrais como uma<br />

excelente alternativa, não só para controlar as<br />

transacções económicas que hoje escapam às<br />

malhas das autoridades (“shadow economy”),<br />

mas também como uma ferramenta que<br />

58 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


permite implementar outros mecanismos de<br />

controlo monetário, como a distribuição universal<br />

de rendimentos ou a tributação universal<br />

do património.<br />

Esta ferramenta, estando a ser desenvolvida<br />

pelos Bancos Centrais, que até agora têm dado<br />

algum espaço de manobra ao ecossistema das<br />

criptomoedas privadas para mapear os eventuais<br />

problemas a enfrentar, vai trazer simplificações<br />

na operacionalidade das transacções, tornando-<br />

-as mais seguras e baratas (uma das vantagens<br />

que os proponentes das criptomoedas destacam<br />

face ao circuito bancário).<br />

Por outro lado, como referido, o lançamento<br />

das CBDC vai fazer aumentar o grau de informação<br />

que passaremos a dar às instituições no<br />

poder. Este é, sem dúvida, um dos principais<br />

problemas que teremos pela frente, sendo já<br />

possível verificar alguns exemplos da utilização<br />

deste poder, que se tornará especialmente<br />

preocupante se for cruzado com métodos de<br />

avaliação do cumprimento social. O exemplo<br />

mais avançado desta situação pode ser observado<br />

no Sistema de Pontuação Social Chinês (Social<br />

Credit System), onde os elementos da sociedade<br />

que não cumpram um determinado padrão de<br />

comportamento vêem limitada a sua capacidade<br />

de interagir com a sociedade em inúmeras actividades<br />

essenciais, que vão desde a concessão<br />

de crédito à simples utilização de transportes<br />

públicos. É fácil imaginar que todas as transacções<br />

estarão também contidas num ambiente<br />

controlado pelo Governo, pelo que os membros<br />

da sociedade, que não respeitarem inteiramente<br />

as regras impostas, poderão ficar completamente<br />

sem recursos pelo simples apertar de um botão.<br />

Neste ponto da história, em que tanto se fala de<br />

literacia financeira, é essencial que as pessoas<br />

percebam o potencial da tecnologia associada às<br />

CBDC e que tomem uma opção informada sobre<br />

o uso generalizado da mesma.<br />

Outro problema adicional associado ao<br />

desenvolvimento das CBDC reside na possibi-<br />

VÁRIOS BANCOS<br />

CENTRAIS COMEÇARAM<br />

A DESENVOLVER<br />

ALTERNATIVAS PARA<br />

EMITIR DINHEIRO<br />

DIGITALMENTE<br />

lidade de tornar os bancos comerciais redundantes.<br />

Todos os utilizadores da rede passam a<br />

poder efectuar transacções directamente com o<br />

Banco Central, não necessitando de uma conta<br />

bancária, o que, no momento inicial, poderá levar<br />

à quebra abrupta do sistema vigente em favor do<br />

“novo” sistema.<br />

Assim, apesar das etapas estarem a ser<br />

ultrapassadas a uma velocidade anteriormente<br />

impensável, falta ainda ultrapassar uma série<br />

de obstáculos que permitam a total adopção<br />

das CBDC de um modo generalizado. É assim<br />

essencial que seja promovido um debate sério na<br />

sociedade civil sobre os poderes que um sistema<br />

destes entregará tanto a Bancos Centrais como<br />

a Governos. No entanto, não faltam já entidades<br />

com vontade de saltar esta discussão, tal como<br />

foi sugerido em Davos, no final de Maio, onde foi<br />

adiantado que as CBDC poderiam ser adoptadas<br />

como forma de substituir o sistema SWIFT,<br />

utilizando a tecnologia blockchain e criando um<br />

cabaz de CBDC para se obter um preço mais<br />

estável entre elas.<br />

*Curso legal - Uma moeda de curso legal é aquela que,<br />

segundo a lei, pode ser usada para quitar dívidas públicas,<br />

dívidas privadas e cumprir obrigações financeiras como<br />

pagamentos de impostos, contratos, multas ou danos legais<br />

e é aceite pelo valor facial de emissão.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 59


OPINIÃO<br />

POR CARLOS RODRIGUES<br />

PRESIDENTE DA MAXYIELD – CLUBE<br />

DOS PEQUENOS ACCIONISTAS<br />

OS CAMINHOS<br />

DO PSI<br />

A<br />

nível<br />

O mercado de acções nas bolsas de valores<br />

mobiliários caracteriza-se por forte volatilidade<br />

e variabilidade diária das cotações, com<br />

significativas oscilações nos ciclos longos em<br />

que se encontram e num enquadramento<br />

económico internacional adverso.<br />

nacional, o PSI apresenta uma grande resiliência a estes<br />

fenómenos e um comportamento em contraciclo com os principais<br />

índices de referência do mercado europeu e americano. Através deste<br />

artigo, pretendemos identificar os caminhos que se abrem ao PSI no<br />

contexto referido.<br />

1. ENQUADRAMENTO ECONÓMICO<br />

1.1 – As pressões inflacionistas<br />

Os estímulos económicos e monetários de combate à pandemia provocaram um aumento da<br />

massa monetária em circulação, acompanhada por uma redução da velocidade de circulação<br />

da moeda devido às situações de confinamento.<br />

O fim do confinamento e regresso progressivo à normalidade têm como consequência o<br />

retorno aos níveis pré-pandémicos da velocidade de circulação da moeda, e respectivo ajustamento<br />

económico pelo aumento dos preços, provocando pressões inflacionistas persistentes<br />

de natureza permanente.<br />

Este quadro foi agravado por um crescimento dos preços dos combustíveis e de um<br />

amplo conjunto de matérias-primas não energéticas, provocado por disfunções nas<br />

cadeias de abastecimento e dificuldades logísticas, que a agressão da Rússia à Ucrânia veio<br />

agravar significativamente.<br />

1.2 - O aumento das taxas de juro<br />

Para conter as tensões inflacionistas, as<br />

autoridades monetárias recorrem ao aumento<br />

das taxas de juro directoras, cujo processo já se<br />

iniciou nos EUA, no Reino Unido e nas yield das<br />

dívidas soberanas, sendo expectável o aumento<br />

das taxas de referência pelo BCE a curto prazo.<br />

A FED aumentou a taxa de juro em 0,25% em<br />

Março e 0,5% em Maio para responder à inflação,<br />

que atingiu 8,5% no final do 1.º T/2022.<br />

O Banco Central de Inglaterra, um dos mais<br />

antigos bancos centrais do mundo, para responder<br />

à taxa de inflação de 5,5% em Janeiro,<br />

procedeu a aumentos de 0,25% nas suas taxas<br />

de referência, nos meses de Fevereiro, Março<br />

e Maio.<br />

São expectáveis novos aumentos das taxas de<br />

juro conforme já foi anunciado pelos responsáveis<br />

da FED, Banco Central de Inglaterra e<br />

posições avulsas de responsáveis do BCE, que<br />

sinalizam a subida das taxas de juro para este<br />

Verão, após a taxa de inflação anual de 8,1%<br />

verificada em Maio na Zona Euro.<br />

A redução dos balanços através da diminuição<br />

das compras líquidas de activos, designadamente<br />

títulos de dívida soberana, deverá ter o seu início<br />

no limiar do 2.º S/2022.<br />

Merece uma referência especial a evolução<br />

das taxas de juro reais (corrigidas da inflação)<br />

num contexto inflacionista, que poderá determinar<br />

uma evolução das taxas nominais com<br />

amplitude assinalável.<br />

60 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


PARA CONTER AS<br />

TENSÕES INFLACIONISTAS,<br />

AS AUTORIDADES<br />

MONETÁRIAS RECORREM<br />

AO AUMENTO DAS<br />

TAXAS DE JURO<br />

DIRECTORAS<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 61


OPINIÃO<br />

O BANCO CENTRAL DE<br />

INGLATERRA, PARA<br />

RESPONDER À TAXA<br />

DE INFLAÇÃO<br />

DE 5,5% EM JANEIRO,<br />

PROCEDEU A<br />

AUMENTOS DE 0,25%<br />

NAS SUAS TAXAS<br />

DE REFERÊNCIA,<br />

NOS MESES<br />

DE FEVEREIRO,<br />

MARÇO E MAIO<br />

vo), em contexto de evolução anual positiva do<br />

PIB, através da desaceleração e abrandamento<br />

do ritmo de crescimento.<br />

1.4 - E Portugal?<br />

Relativamente ao nosso país, a Comissão<br />

Europeia e o FMI em 2022 vêem o PIB a crescer<br />

5,8% e 4,9%, respectivamente. Paralelamente, a<br />

Comissão Europeia e o FMI prevêem uma inflação<br />

de 4,4% e 6%, respectivamente.<br />

Esta evolução deve-se ao impulso do consumo<br />

privado apoiado pela normalização da<br />

taxa de poupança das famílias, à alavancagem<br />

do investimento pelo Plano de Recuperação e<br />

Resiliência, à recuperação do turismo e ao facto<br />

de Portugal ter sido uma das economias mais<br />

afectadas pela pandemia.<br />

Em conformidade com as previsões da UE, em<br />

2023 Portugal regressa a uma baixa trajectória<br />

de crescimento em torno de 2,7%, sendo que a<br />

inflação, os preços da energia, as disfunções na<br />

cadeia de abastecimentos, o aumento das taxas<br />

de juro e a bolha imobiliária são riscos que não<br />

podem ser subvalorizados.<br />

1.3 - Arrefecimento económico internacional<br />

O ciclo económico tem pela frente políticas<br />

monetárias restritivas, provocando maior lentidão<br />

na retoma, abrandamento ou desaceleração<br />

do ritmo de crescimento económico.<br />

Depois do crescimento de 5,7% do PIB dos<br />

EUA em 2021, o 1.º T/2022 fica marcado por<br />

uma evolução negativa em cadeia de -1,4%,<br />

cuja economia deverá sofrer um acréscimo de<br />

2,8% em 2022, influenciada pelos níveis de<br />

emprego, evolução salarial, manutenção da<br />

despesa das famílias e gastos públicos.<br />

O crescimento homólogo do PIB chinês no<br />

1.º T/2022 situa-se em 4,8%, com expectável<br />

agravamento no 2.º T, e encontra-se muito<br />

longe do aumento de 8,1% em 2021 e da<br />

meta de 6% para o ano em curso, a qual, com<br />

excepção de 2020, não tem precedentes nas<br />

últimas três décadas.<br />

Após a quebra de 5,9% da economia europeia<br />

em 2020, verificou-se um crescimento de<br />

5,3% em 2021, sendo que em 2022 a inflação<br />

(7,5% em Abril) e a guerra na Ucrânia vão provocar<br />

uma forte desaceleração para 2,3%, em<br />

conformidade com as previsões do Eurostat.<br />

O arrefecimento económico internacional<br />

pode originar situações de recessão (dois trimestres<br />

consecutivos de crescimento negati-<br />

62 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


2. COMPORTAMENTO DOS<br />

MERCADOS BOLSISTAS<br />

EUROPEUS E AMERICANOS<br />

A tendência decrescente dos índices bolsistas internacionais<br />

já incorpora alguns efeitos macroeconómicos<br />

referidos, sendo que o PSI apresenta<br />

uma surpreendente situação inversa com um<br />

crescimento anual de 12,4% no final de Maio.<br />

O índice S&P 500, composto pelas maiores<br />

500 sociedades cotadas na NYSE, que atingiu<br />

em 4 de Janeiro o valor máximo de sempre 1 ,<br />

apresenta no final de Maio uma diminuição<br />

anual acumulada de -13%, tendo atingido o bear<br />

market no dia 20 deste mês.<br />

O índice STOXX 600, que agrega as 600 maiores<br />

sociedades cotadas europeias, que atingiu<br />

em 5 de Janeiro o valor máximo histórico 2 , e, no<br />

final de Maio, uma baixa anual acumulada de<br />

-9%, que não deixa ninguém tranquilo, face às<br />

características da conjuntura e ciclo económico<br />

no 2.º S/2022.<br />

O índice tecnológico americano NASDAQ<br />

entrou no mês de Abril em bear market (quebra<br />

acumulada superior a 20% relativamente ao<br />

último máximo ocorrido em 22 de Novembro/2021),<br />

para o qual contribuiu a decepcionante<br />

earning season das FAANG (Facebook, Amazon,<br />

Apple, Netflix e Google).<br />

As bolsas dos diversos países europeus<br />

apresentam uma evolução bastante diferenciada,<br />

sendo que o índice alemão DAX30 e o índice<br />

francês CAC40 são aqueles que sofreram uma<br />

quebra mais acentuada.<br />

É de referir que o índice espanhol IBEX 35 e o<br />

londrino FTSE 100 ainda não atingiram os valores<br />

anteriores ao crash de 2020.<br />

SUCESSÃO DE PICOS E VALES<br />

NOS CICLOS LONGOS DO PSI<br />

8 000<br />

6 000<br />

4 000<br />

2 000<br />

2011 2013 2015 2017 2019 2021<br />

3. PERSPECTIVAS PARA O PSI<br />

Estas tendências colocam interrogações sobre<br />

a capacidade de resiliência do PSI até ao final<br />

do ano e a persistência de uma evolução em<br />

contraciclo com os mercados internacionais.<br />

A actividade das maiores sociedades do PSI<br />

vai ser influenciada pelo arrefecimento económico<br />

internacional, devido ao peso da internacionalização<br />

nos seus negócios.<br />

Pelo contrário, a actividade das sociedades<br />

do PSI, com actividade concentrada no mercado<br />

doméstico, será potenciada pela favorável conjuntura<br />

económica do País em 2022.<br />

A evolução do PSI poderá ser influenciada<br />

por estes dois efeitos de sentido inverso e pelo<br />

grau de volatilidade.<br />

EM CONFORMIDADE<br />

COM AS PREVISÕES<br />

DA UE, EM 2023<br />

PORTUGAL<br />

REGRESSA A UMA<br />

BAIXA TRAJECTÓRIA<br />

DE CRESCIMENTO<br />

EM TORNO DE 2,7%<br />

No actual contexto estaremos confrontados<br />

pela permanência do PSI na faixa de variação<br />

[6300 3 -7750 4 ] ou um regresso à faixa<br />

[5750 5 -6300].<br />

A permanência na faixa de variação<br />

[6300-7750] significa que o PSI se manterá<br />

ao nível de máximos de 2014-2015 e numa<br />

significativa tendência ascensional.<br />

O regresso à faixa [5750-6300] significa que<br />

o índice se manterá ao nível de 2016-2018, com<br />

o perigo de regressão, com quebra da zona de<br />

sustentação ao encontro daquele que sempre<br />

vem e se esconde na sucessão de picos e vales<br />

dos períodos longos de variação: o bear market.<br />

No fundo, estaremos perante o “pesadelo”<br />

da histórica intermitência, alternando<br />

anualmente variações positivas e negativas,<br />

com fraca correlação com a evolução do PIB,<br />

ou “romper” com esta tradição dos últimos<br />

10 anos?<br />

Os price targets da generalidade das<br />

sociedades cotadas não afastam esta<br />

interrogação, pelo que estamos perante<br />

tempos desafiantes para a evolução do PSI<br />

e também de verificação se o novo índice,<br />

baptizado no mês de Março, continua sujeito<br />

a bear markets de periodicidade bianual ou<br />

interrompe esta tendência.<br />

1 O valor máximo de sempre foi de 4.818,62 pontos em 4 de<br />

Janeiro de 2022.<br />

2 O máximo histórico atingiu 495,46 pontos em 5 de Janeiro<br />

de 2022.<br />

3 Pico observado em 10 de Abril de 2015 e anterior ao bear<br />

market de 2016.<br />

4 Pico ocorrido em 1 de Abril de 2014, que precedeu o crash<br />

verificado neste ano.<br />

5 Valor ocorrido em 21 de Maio de 2018, correspondente ao<br />

pico anterior ao bear market de 2018.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 63


OPINIÃO<br />

POR CARLOS VIEIRA<br />

COUNTRY MANAGER DA WATCHGUARD<br />

PARA PORTUGAL E ESPANHA<br />

A TRANSIÇÃO<br />

PARA SERVIÇOS<br />

DE SEGURANÇA<br />

GERIDOS<br />

São inúmeras as oportunidades para os MSP<br />

(Managed Service Providers) que querem adoptar<br />

um modelo de segurança gerida. Seja criterioso,<br />

verifique qual o valor acrescentado que aporta<br />

e escolha sabiamente o seu parceiro.<br />

O<br />

aumento da complexidade e do número de ciberataques torna o panorama<br />

da cibersegurança cada vez mais desafiante. Encontrar a solução certa<br />

para determinado problema pode ser avassalador para as empresas, que<br />

se confrontam com a existência de um enorme volume de tecnologias de<br />

segurança e de opções de fornecedores.<br />

De alguma forma, a complexidade parece ser o problema primário quando se está<br />

a trabalhar numa estratégia de segurança eficaz. Quando combinado com a escassez<br />

sistémica de pessoal especializado, é, de certa forma, a tempestade perfeita.<br />

No entanto, estas mesmas dinâmicas de mercado estão a levar à necessidade e a<br />

um crescimento exponencial de fornecedores de serviços de segurança geridos (MSSP).<br />

Nos últimos dois anos, os profissionais do sector têm reconhecido estas oportunidades e<br />

trabalhado para evoluir para modelos de serviços de segurança geridos. E é fácil perceber<br />

o porquê: os ganhos são elevados do ponto de vista de uma segurança eficaz e eficiente,<br />

mas, também, de uma perspectiva financeira.<br />

1.<br />

Quem tudo quer, tudo pode perder. Seja criterioso quanto aos serviços de<br />

segurança geridos que pretende fornecer. A variedade de necessidades de<br />

segurança é grande e é fácil perdermo-nos neste mundo. Concentre-se num conjunto<br />

diferenciado de serviços de segurança geridos e fora do âmbito do qual a sua actual<br />

base de clientes pode beneficiar. Além disso, preste especial atenção à gestão do fluxo<br />

de dinheiro de caixa e ajustes das comissões de vendas, para melhor satisfazer as<br />

necessidades do seu negócio.<br />

2.<br />

Conhecer a mais-valia do serviço.<br />

A segurança resulta de uma intersecção<br />

entre pessoas, processos e tecnologia. Estes<br />

três vectores têm de ser completamente<br />

compreendidos para que possam aportar<br />

valor. Uma das vantagens em fazer uma<br />

parceria com um MSSP já estabelecido é, por<br />

exemplo, o contacto prévio com diferentes<br />

clientes e situações, o que ajuda a desenvolver<br />

melhores práticas (e trabalhar dentro dos<br />

enquadramentos legais e de privacidade<br />

indicados).<br />

3.<br />

A eficácia da segurança não é suficiente.<br />

Embora um sistema de segurança óptimo<br />

seja um imperativo, deve certificar-se que os<br />

seus serviços têm um custo material adequado.<br />

A eficiência operacional é o ponto central deste<br />

modelo de negócio. Os MSSP precisam de ter um<br />

melhor serviço a um melhor preço, ao mesmo<br />

tempo que tentam manter-se rentáveis. Este<br />

é um caminho cheio de obstáculos, que pode<br />

64 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


desviar clientes e redireccionar as receitas.<br />

Deve concentrar-se em pontos como a<br />

flexibilidade de compra, facilidade de gestão<br />

e um único fornecedor para apoiar a sua<br />

base de clientes. Reduzir o seu portefólio de<br />

fornecedores melhora a eficiência e eficácia na<br />

gestão das plataformas dos seus clientes.<br />

OS PROFISSIONAIS<br />

DO SECTOR TÊM<br />

RECONHECIDO ESTAS<br />

OPORTUNIDADES<br />

E TRABALHADO<br />

PARA EVOLUIR<br />

PARA MODELOS<br />

DE SERVIÇOS<br />

DE SEGURANÇA<br />

GERIDOS<br />

4.<br />

One too many models. Esta<br />

dica é essencial, mas, por vezes<br />

(dolorosamente), subestimada. Um MSSP<br />

não é a mesma coisa que uma empresa de<br />

segurança em outsourcing (seja no cliente ou<br />

remotamente).<br />

O modelo económico é diferente, as<br />

características são diferentes e a rentabilidade<br />

esperada é diferente. Um MSSP tem de<br />

prever, operar e entregar um serviço sob a<br />

premissa “one-to-many model”. Isto significa<br />

que é necessário haver um elevado nível de<br />

replicabilidade e transportabilidade, o que ajuda<br />

a encontrar o valor acrescentado do serviço, a<br />

diferenciação e a eficiência operacional.<br />

5.<br />

Cada acção tem um impacto,<br />

especialmente na escolha de parceiros.<br />

São poucas as empresas que conseguem<br />

juntar pessoas, processos e tecnologias num<br />

formato convincente. E um parceiro de canal,<br />

por definição, já tem relação com alguns<br />

fornecedores. Na migração para um modelo<br />

MSSP, é importante ter os fornecedores certos.<br />

Esta análise pode acrescentar ou diminuir a sua<br />

mais-valia, diferenciação e rentabilidade.<br />

Há imensas oportunidades para os MSP que<br />

querem avançar para o modelo de segurança<br />

gerida. Mas esta mudança é uma transição não<br />

só na forma como se entrega valor aos clientes,<br />

mas também em muitos aspectos intrínsecos<br />

do modelo de negócio. Antes de iniciar esta<br />

viagem, pense nas implicações que vai ter o seu<br />

negócio já existente. Seja criterioso e perceba<br />

onde está o valor do serviço. E escolha o seu<br />

parceiro sabiamente.<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 65


OPINIÃO<br />

CRIPTOMOEDAS<br />

UM FUTURO<br />

POR RICARDO BRANCO<br />

OUTSOURCING SENIOR DA MAZARS<br />

EM PORTUGAL<br />

PRESENTE<br />

Há momentos na história da Humanidade<br />

que serão relembrados como verdadeiramente<br />

transformadores.<br />

A<br />

31 de Outubro de 2008, nos primórdios da crise financeira, foi<br />

publicado um livro branco intitulado “Bitcoin: A Peer to Peer<br />

Electronic Cash System”, por alguém que utilizava o pseudónimo<br />

Satoshi Nakamoto. A sua principal premissa seria defender a<br />

realização de transacções financeiras sem a necessidade de um<br />

intermediário, como um banco ou outras instituições financeiras. Em última instância, esta<br />

tornar-se-ia uma transferência de informação.<br />

Actualmente, é possível enviar fotografias e vídeos quase instantaneamente e praticamente<br />

de graça, mas, se quisermos realizar uma transferência de dinheiro de Portugal para<br />

o Japão, esta irá demorar cerca de dois dias, pagar comissões bancárias diversas e custos de<br />

conversão da moeda, e só o podemos fazer em dias úteis. A tecnologia utilizada pela Bitcoin<br />

(BTC) é o blockchain que, de forma muito simples, podemos caracterizar como uma lista de<br />

transacções que, agrupadas em blocos que vão adicionando a blocos anteriores, pode ser<br />

visualizada e verificada por todos os utilizadores, já que o seu código é Open Source.<br />

No entanto, a BTC é apenas uma das criptomoedas que utilizam esta tecnologia. Segundo<br />

dados do site CoinmarketCap, existem mais de 19 mil criptomoedas que utilizam o Blockchain<br />

ou desenvolvimentos desta tecnologia. A Bitcoin e a Ethereum são, de longe, as mais conhecidas,<br />

já que, em conjunto, representam mais de 60% do total da capitalização do mercado<br />

das criptomoedas. A tecnologia tem evoluído de uma forma exponencial e tem sido uma base<br />

para o desenvolvimento de novas aplicações em vários sectores. Exemplo disso são moedas<br />

digitais como a BTC, XRP, Dogecoin e Litecoin; plataformas de contratos inteligentes (Smart<br />

Contract Platforms), sendo as mais conhecidas a Ethereum (ETH), Cardano (ADA), Solana<br />

(SOL) e Polkadot (DOT); na área da interoperabilidade, a Quant (QNT); e nos jogos, a Enjin Coin<br />

(ENJ) e a Axie Infinity (AXS). Até no mundo do futebol, clubes como o Futebol Clube do Porto, a<br />

Juventus, o Barcelona e o Manchester City já aderiram à tecnologia com a emissão de tokens<br />

(representação digital da criptomoeda).<br />

66 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


Outra área muito importante tem sido a das<br />

finanças, com as moedas DeFi (Decentralized<br />

Finances) ou finanças descentralizadas, que,<br />

de um modo geral, oferecem um conjunto de<br />

serviços que rivalizam com o nosso sistema<br />

bancário actual, tais como investir e receber<br />

juros, solicitar financiamentos, transaccionar<br />

activos financeiros de uma forma mais rápida,<br />

segura, barata e sem a necessidade de intermediários,<br />

que encarecem todo o processo. Entre<br />

as criptomoedas que usam tecnologia para estes<br />

serviços contam-se, por exemplo, a Wrapped<br />

Bitcoin (WBTC) ou a Avalanche (AVAX).<br />

Um outro mercado que tem proliferado<br />

rapidamente é o dos NFT (Non Fungible Token).<br />

Basicamente, estes são um direito de propriedade<br />

sobre um activo digital. Como o seu nome<br />

indica, cada um é não fungível, ou seja, é único<br />

no mundo e pode ser utilizado para a autenticação<br />

da propriedade de activos digitais, tais como<br />

arte digital, músicas, vídeos, bilhetes de cinema<br />

e até mesmo um tweet. As utilizações podem<br />

ser variadas e os mais entusiastas da tecnologia<br />

afirmam que nos próximos anos o mercado dos<br />

NFT irá ser preponderante nas nossas operações.<br />

Ainda recentemente, verificaram-se problemas<br />

na final da Liga dos Campeões com a venda de<br />

bilhetes falsos. Com esta tecnologia, o problema,<br />

muito provavelmente, não existiria.<br />

Mas como podemos comprar ou transaccionar<br />

criptomoedas? Primeiro, é necessário ter uma<br />

carteira digital associada a duas chaves: uma<br />

chave privada, que serve de password para aceder<br />

aos fundos, e uma chave pública, que constitui o<br />

endereço da carteira e que serve para terceiros<br />

enviarem moedas. O processo é muito idêntico<br />

a enviar um e-mail. Uma outra forma consistirá<br />

ALGUNS ANALISTAS<br />

FINANCEIROS<br />

TÊM RECOMENDADO<br />

ALOCAR UMA PARTE<br />

DO PATRIMÓNIO<br />

EM CRIPTOMOEDAS<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 67


OPINIÃO<br />

em abrir uma conta numa Exchange. As mais conhecidas<br />

são a Binance, Coinbase, Kraken, Huobi<br />

Global e Bitfinex. No entanto, estas plataformas<br />

não são necessárias para transaccionar criptomoedas,<br />

bastando uma carteira digital e chaves<br />

públicas para a realização de transacções. Uma<br />

das primeiras transacções em BTC teve lugar em<br />

2010, quando um programador comprou duas<br />

pizzas por 10 mil BTC. Aos preços actuais, o valor<br />

total pago seria de cerca de 268 milhões de euros.<br />

Em Portugal, muito recentemente, registou-se o<br />

primeiro imóvel liquidado em BTC.<br />

Podemos ainda adquirir moedas virtuais<br />

através de dois mecanismos: a Prova de Trabalho<br />

(Proof of Work) e a Prova de Participação (Proof<br />

of Stake). A primeira é utilizada pelas primeiras<br />

criptos, tais como a BTC ou ETH 1.0 (está em<br />

desenvolvimento a ETH 2.0), e consiste num<br />

processo denominado mineração, no qual, através<br />

de um processo de resolução de problemas, os<br />

“mineiros” ganham o direito de criar blocos na<br />

Blockchain, assim conquistando tokens. O grande<br />

problema deste processo é que a quantidade de<br />

energia necessária é enorme, o que o torna pouco<br />

atractivo, mesmo em questões ambientais. É por<br />

este motivo que em alguns países a mineração<br />

está já a ser proibida. Adicionalmente, os programadores<br />

verificaram que, com a quantidade de<br />

novas aplicações a serem desenvolvidas, a própria<br />

rede iria sofrer limitações. As novas criptomoedas<br />

têm utilizado a Prova de Participação, que consiste<br />

em contribuir com criptomoedas e aceder à<br />

oportunidade de validar novas transacções. É a<br />

TEMOS ASSISTIDO,<br />

NOS PAÍSES OCIDENTAIS,<br />

A UMA INFLAÇÃO<br />

QUE NÃO ERA TÃO ALTA<br />

HÁ PELO MENOS<br />

20 ANOS,<br />

O QUE LEVANTOU<br />

NOVAMENTE A<br />

QUESTÃO DE INVESTIR<br />

NESTES ACTIVOS<br />

própria rede que, através de critérios variáveis,<br />

atribui essa possibilidade e, consequentemente, a<br />

recompensa. Em termos práticos, podemos considerá-lo<br />

quase como fazer um depósito e receber<br />

os juros. Só que os juros são mais criptomoedas.<br />

Utilizado maioritariamente por jovens, alguns<br />

analistas financeiros têm recomendado alocar uma<br />

parte do património em criptomoedas. Como qual-<br />

68 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


Fonte: CoinmarketCap.com<br />

quer outro activo, o preço é fortemente influenciado<br />

pela lei da oferta e da procura. Por exemplo,<br />

a BTC obteve uma subida exponencial desde a sua<br />

criação e criou muitos milionários. No entanto, a<br />

volatilidade destes activos é tão grande que, tal<br />

como cria fortunas muito rapidamente, também as<br />

destrói. Uma outra moeda digital muito conhecida,<br />

até pelo facto de no momento de elaboração deste<br />

artigo estar a ser alvo de um processo por parte da<br />

SEC (Securities Exhance Commision), a congénere<br />

norte-americana da Comissão de Valores e Mercado<br />

(CMVM), a Ripple (XRP), registou o seu valor<br />

mais alto (ATH - All Time High) há cerca de quatro<br />

anos e está actualmente a perder cerca de 88%<br />

do seu valor. A BTC está a perder cerca de 57% e a<br />

Ethereum (ETH) 63%. Mais recentemente, um episódio<br />

abalou o mercado, associado à criptomoeda<br />

Terra Classic. Como pode ser observado no gráfico,<br />

em meados de Abril cada token valia mais de 100<br />

euros, tendo o preço afundado em meros dias.<br />

Estes exemplos mostram que as criptomoedas<br />

precisam ainda de estabilizar o seu preço de forma<br />

a serem uma alternativa viável para investidores<br />

mais avessos ao risco.<br />

Em países em que os sistemas financeiros são<br />

consistentes e as moedas nacionais são estáveis, a<br />

procura por estes activos não tem a mesma importância<br />

que em países em que o contrário acontece.<br />

Em geografias como a Argentina, o Zimbabué ou<br />

mesmo a Venezuela, a moeda nacional sofre fortes<br />

desvalorizações, devido a valores elevados de<br />

inflação derivados da impressão desenfreada de<br />

dinheiro por parte dos seus governos, prejudicando<br />

aforradores e pensionistas. Nestes casos, existem<br />

vários exemplos de pessoas que transferiram as<br />

suas poupanças para BTC e conseguiram manter o<br />

seu poder de compra. Entretanto, temos assistido,<br />

nos países ocidentais, a uma inflação que não era<br />

tão alta há pelo menos 20 anos, o que levantou<br />

novamente a questão de investir nestes activos.<br />

Quanto à fiscalidade, em termos de IRS, em alguns<br />

países a tributação dos rendimentos obtidos<br />

VIVEMOS NUMA ERA<br />

DIGITAL, SENDO<br />

O SURGIMENTO<br />

DE MOEDAS DIGITAIS<br />

APENAS UMA<br />

EVOLUÇÃO NATURAL<br />

já começou a ser efectuada, sendo que em Portugal<br />

o assunto está ainda em discussão. Assim,<br />

à data de elaboração deste artigo, existe a possibilidade<br />

de esta se tornar uma actividade profissional<br />

enquadrada em rendimentos da categoria<br />

B. Quanto ao IRC, estamos também numa “área<br />

cinzenta”, sendo que alguns autores defendem<br />

a sua tributação aplicando os termos presentes<br />

no Sistema de Normalização Contabilística (SNC)<br />

e as Normas Internacionais de Contabilidade no<br />

apuramento do resultado tributável.<br />

Vivemos numa era digital, sendo o surgimento<br />

de moedas digitais apenas uma evolução natural.<br />

É algo que os próprios bancos centrais já interiorizaram<br />

e estão em curso vários desenvolvimentos<br />

para a criação de moedas digitais disponibilizadas<br />

por estas entidades. As chamadas CBDC (Central<br />

Bank Digital Currency) são nada menos que a<br />

resposta que estas instituições têm desenvolvido<br />

de forma a acompanharem esta evolução.<br />

Tal como já referido, a tecnologia está em<br />

constante evolução. A criptomoeda Hedera<br />

(Hbar) é o caso mais visível desta evolução. Através<br />

da tecnologia Hashgraph resolve grande parte<br />

dos principais problemas inicialmente identificados,<br />

tais como a velocidade das transacções,<br />

os fees cobrados por transacção e o consumo de<br />

energia. Por isso finalizo com a frase presente em<br />

Hedera.com: “Hello Future.”<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 69


FINTECH<br />

PAGAMENTOS<br />

À ESCALA<br />

GLOBAL<br />

Com 17 anos de actividade em Portugal,<br />

a ifthenpay proporciona a empresas<br />

de qualquer dimensão uma plataforma<br />

de pagamentos para e-Commerce. Filipe<br />

Moura, CEO da empresa, falou com a Risco<br />

sobre a evolução do sector.<br />

A<br />

ifthenpay comemora 17 anos de actividade em Portugal. Qual o balanço?<br />

O balanço é muito positivo, a começar pelo crescimento constante e<br />

robusto nestes 17 anos. Estamos muito perto de atingir os mil milhões<br />

de euros anuais em volume de pagamentos e 23 mil empresas aderentes.<br />

Do mesmo modo, estamos muito satisfeitos por ter ajudado milhares de<br />

empresas no seu percurso para o comércio online e para os pagamentos digitais.<br />

Fomos pioneiros na democratização da utilização das referências multibanco,<br />

ajudámos à implementação do MB WAY e estávamos no lugar certo e com as ferramentas<br />

certas para ajudar as empresas portuguesas a ultrapassar os obstáculos<br />

que a pandemia trouxe, contribuindo para o aumento dos seus canais de vendas<br />

digitais. Para muitas, foi a tábua de salvação, e, para outras, foi uma alavanca para<br />

o seu crescimento online.<br />

Quais os grandes factores de diferenciação da ifthenpay no mercado face a<br />

outras empresas do mesmo sector?<br />

Eu diria que a ifthenpay tem crescido fundamentalmente por dois factores:<br />

primeiro, pela inovação e especialização que trouxe na área dos pagamentos digitais.<br />

Por sermos da área das tecnologias, somos mais ágeis na integração dos<br />

pagamentos em todo o tipo de plataformas digitais e software. O nosso ADN é a<br />

tecnologia e fazemos a ponte entre a tecnologia e os serviços de pagamento, tradicionalmente<br />

mais associados à Banca.<br />

Mas, mais importante do que termos um bom produto e serviço, é o nosso help<br />

desk e o foco no cliente. Oferecemos um serviço de help desk em português, por<br />

vários meios, muito próximo do cliente e efectuado por colaboradores internos,<br />

predominantemente da área das tecnologias (engenheiros informáticos), que entendem,<br />

conhecem e resolvem as questões técnicas que sempre surgem quando se<br />

integra um universo de software e plataformas digitais.<br />

Filipe Moura, CEO da ifthenpay<br />

Quais os principais desafios que uma<br />

fintech com aspirações globais encontra<br />

no mercado português?<br />

Por um lado, a questão da legislação, supervisão<br />

e compliance, indispensáveis neste<br />

tipo de actividade, é sempre um desafio para<br />

quem tem formação mais ligada às tecnologias<br />

e menos ao direito. Mas estes 17 anos<br />

de actividade, a formação contínua, a ajuda<br />

das entidades que nos supervisionam, como<br />

o Banco de Portugal, e o crescimento dos<br />

recursos humanos em todas as vertentes,<br />

ajudaram-nos a crescer também nessas matérias.<br />

Por outro lado, o mercado português<br />

está muito fechado e centrado nas entidades<br />

financeiras incumbentes. Isto dificulta<br />

bastante o acesso das fintechs às infra-estruturas<br />

ligadas aos meios de pagamento.<br />

70 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


FINTECH<br />

QUALQUER EMPRESA,<br />

DE QUALQUER DIMENSÃO,<br />

DE UMA FORMA FÁCIL,<br />

CÓMODA E SEGURA,<br />

PODE ABRIR O SEU<br />

NEGÓCIO AO MUNDO<br />

resposta atempada a todos. Felizmente, já<br />

antes da pandemia tínhamos as soluções<br />

que eles precisavam. A pandemia veio acelerar<br />

a adopção do e-Commerce para muitas<br />

empresas, que passaram a ver no canal<br />

digital uma alternativa ou complemento ao<br />

canal presencial.<br />

A ifthenpay encerrou o exercício de<br />

2021 com um crescimento de 28% no<br />

volume de negócios e um valor total de<br />

4.267.675 euros. Quais os factores que<br />

Quais os principais desafios que a<br />

pandemia apresentou ao negócio?<br />

Apesar de ter prejudicado os negócios<br />

de forma geral, a verdade é que a pandemia<br />

veio impulsionar ainda mais as vendas<br />

online e os pagamentos digitais. Em consequência<br />

disto, a quantidade de pagamentos<br />

e o número de clientes a aderir ao serviço da<br />

ifthenpay aumentou ainda mais. Durante os<br />

primeiros meses da pandemia, praticamente<br />

triplicou o número de clientes diários<br />

que aderiram ao serviço. Isto foi um desafio<br />

em termos de logística, porque, de repente,<br />

além de termos grande parte dos colaboradores<br />

em teletrabalho, ainda tínhamos o triplo<br />

do trabalho. A somar a isto, as empresas<br />

tinham uma urgência compreensível em ter<br />

o serviço activo, porque, para muitas delas,<br />

as vendas online e os pagamentos à distância<br />

passaram a ser a única alternativa.<br />

Mas com a boa vontade e dedicação de<br />

todos os colaboradores, conseguimos dar<br />

<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 71


FINTECH<br />

escolhendo o método de pagamento que<br />

desejarem. Isto pode ser utilizado de várias<br />

formas: pode, por exemplo, ser utilizado<br />

por uma empresa para receber os pagamentos<br />

das suas facturas em Portugal ou<br />

no estrangeiro; pode ser usado para receber<br />

os pagamentos de inscrições em eventos;<br />

donativos; venda directa (pelas redes<br />

sociais, por exemplo); etc. Na pandemia foi<br />

também muito útil para os take-away.<br />

contribuíram para este crescimento<br />

num ano difícil?<br />

Como podem ver no nosso site, em ifthenpay.com,<br />

o crescimento da empresa tem<br />

sido constante e robusto todos os anos. A<br />

pandemia veio impulsionar os canais de vendas<br />

digitais e, apesar de haver alguns sectores<br />

em que as quedas foram impressionantes,<br />

como os ligados ao turismo, viagens e eventos,<br />

no geral, as vendas online aumentaram<br />

e contribuíram para este nosso crescimento.<br />

No mesmo período, registou um<br />

crescimento de 27% no volume de<br />

pagamentos face ao período homólogo.<br />

Este crescimento também está<br />

relacionado com a pandemia?<br />

Sim, também. Este crescimento no volume<br />

de pagamentos é um resultado directo<br />

do crescimento do volume de pagamentos<br />

dos nossos clientes. Claro que também<br />

conquistámos muitos novos clientes, criámos<br />

novos serviços e integrámos em mais<br />

plataformas… Mas a pandemia acelerou<br />

isto tudo.<br />

Também em 2021, a ifthenpay lançou<br />

a “Gateway Pay By Link”. Em que<br />

ESTÁVAMOS NO LUGAR<br />

CERTO E COM AS<br />

FERRAMENTAS CERTAS<br />

PARA AJUDAR<br />

AS EMPRESAS<br />

PORTUGUESAS<br />

A ULTRAPASSAR<br />

OS OBSTÁCULOS QUE<br />

A PANDEMIA TROUXE<br />

consiste esta plataforma e a quem<br />

se destina?<br />

O pay-by-link é um mecanismo que<br />

permite a uma empresa enviar um link aos<br />

seus clientes para que estes lhe paguem,<br />

Actualmente, a ifthenpay tem<br />

uma parceria com a Visa. Quais os<br />

objectivos e como se desenvolve?<br />

A ifthenpay já alcançou uma quota<br />

muito relevante nos pagamentos digitais<br />

em Portugal, quer no B2B, quer no B2C.<br />

E em Portugal, os métodos de pagamento<br />

locais, como a referência multibanco e o<br />

MB WAY, têm um peso muito grande nas<br />

preferências dos utilizadores. No entanto,<br />

para as nossas empresas exportarem mais e<br />

abrirem o seu negócio ao mundo, é necessário<br />

integrar nas plataformas que utilizam<br />

métodos de pagamento internacionais,<br />

como o Visa e outros. A nossa parceria com<br />

a Visa procura precisamente fomentar a internacionalização<br />

das empresas portuguesas,<br />

oferecendo-lhes soluções de pagamento<br />

internacionais integradas na nossa oferta<br />

e nas plataformas que eles utilizam. Assim,<br />

qualquer empresa, de qualquer dimensão,<br />

de uma forma fácil, cómoda e segura, pode<br />

abrir o seu negócio ao mundo.<br />

Quais os objectivos de negócio até<br />

ao final do ano?<br />

Em termos de resultados, conforme<br />

anunciamos no nosso site, vamos continuar<br />

com crescimentos elevados, quer a<br />

nível de volume de pagamentos, quer a nível<br />

de novos clientes. Ficaremos perto dos<br />

mil milhões de euros em volume de pagamentos<br />

anual.<br />

Em termos estratégicos, o nosso novo<br />

grande desígnio é ajudar as empresas portuguesas<br />

a levar os seus negócios ao mundo.<br />

Vamos continuar a aumentar a oferta<br />

dos pagamentos internacionais em cada<br />

vez mais software e plataformas.<br />

A internacionalização dos nossos<br />

clientes será também, de forma indirecta,<br />

a nossa internacionalização.<br />

72 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022


1 ANO<br />

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VÁLIDOS PARA<br />

CONTINENTE<br />

E ILHAS


UM MUNDO<br />

EM MUDANÇA<br />

A QUEDA<br />

DE UM UNICÓRNIO<br />

“Bad Blood” conta a história<br />

da ascensão e colapso da<br />

Theranos, a multimilionária<br />

startup de biotecnologia fundada<br />

por Elizabeth Holmes, pela voz<br />

do jornalista que a contou em<br />

primeira mão e a perseguiu até ao<br />

fim, apesar da pressão da CEO e<br />

das ameaças dos seus advogados.<br />

Esquemas elaborados, intriga corporativa,<br />

relações familiares destruídas e<br />

a morte de uma empresa avaliada em<br />

dez mil milhões de dólares compõem<br />

uma história que parece ficção, mas é<br />

pura realidade.<br />

Em 2014, a fundadora e CEO da Theranos,<br />

Elizabeth Holmes, era vista como a versão<br />

feminina de Steve Jobs: uma brilhante<br />

ex-aluna de Stanford, cujo unicórnio<br />

prometia revolucionar a indústria médica<br />

com uma máquina que tornaria as análises<br />

ao sangue mais rápidas e eficientes.<br />

Apoiada por investidores como Larry<br />

Ellison e Tim Draper, a Theranos vendeu<br />

acções numa rodada de levantamento de<br />

fundos que a valorizou em mais de 9 mil<br />

milhões de dólares - o que fez o valor de<br />

Elizabeth Holmes aumentar para cerca<br />

de 4,5 mil milhões de dólares. Mas houve<br />

um pequeno problema: a tecnologia não<br />

funcionou.<br />

Em “Bad Blood”, John Carreyrou conta<br />

a história fascinante da maior fraude<br />

corporativa desde a Enron, um conto de<br />

ambição e arrogância em Silicon Valley.<br />

-------------------------------<br />

BAD BLOOD: FRAUDE MULTIMILIONÁRIA<br />

EM SILICON VALLEY<br />

John Carreyrou<br />

Editora: Editorial Presença<br />

Género: Biografias/Memórias<br />

/Testemunhos<br />

376 páginas<br />

Ray Dalio passou meio século<br />

a estudar economias, impérios<br />

e mercados globais. Nesta obra,<br />

“Princípios para Lidar com a Nova<br />

Ordem Mundial”, o autor examina<br />

os períodos económicos e políticos<br />

mais turbulentos da História<br />

para revelar por que os próximos<br />

tempos serão radicalmente diferentes<br />

dos que temos experienciado<br />

nas nossas vidas – mas<br />

semelhantes ao que já aconteceu<br />

muitas vezes.<br />

Com “Bitcoin: O Ouro Digital”,<br />

Nathaniel Popper oferece uma<br />

visão ímpar sobre a ascensão<br />

drástica da criptomoeda. É um<br />

livro jornalístico que esclarece<br />

os detalhes de uma intrincada<br />

tecnologia – que o leitor vai<br />

ficar a perceber como funciona<br />

- e as suas persistentes lutas e<br />

actualizações contra utilizadores<br />

BITCOIN: O OURO DIGITAL<br />

Nathaniel Popper<br />

Editora: Talento Intemporal<br />

Género: Finanças<br />

368 páginas<br />

á alguns anos, Ray Dalio observou uma confluência<br />

de condições políticas e económicas<br />

H<br />

com que nunca se tinha deparado. Entre elas,<br />

enormes endividamentos, e taxas de juro zero<br />

ou quase zero, que levaram à impressão massiva<br />

de dinheiro nas três principais moedas de<br />

reserva do mundo. A isto, somam-se grandes conflitos políticos<br />

e sociais internos nos maiores países, especialmente os EUA,<br />

devido às maiores divergências do nível de riqueza, da política e<br />

dos valores ao longo de mais de 100 anos.<br />

E por fim, o crescimento de uma potência mundial (China)<br />

desafiando a potência mundial existente (EUA), bem como a<br />

ordem mundial. A última vez que esta confluência de factores<br />

ocorreu foi entre 1930 e 1945. Essa constatação levou Ray Dalio<br />

a uma busca por padrões repetidos e relações de causa/efeito<br />

subjacentes a todas as grandes mudanças na riqueza e no<br />

poder nos últimos 500 anos.<br />

Numa adição notável e oportuna à sua série “Princípios”, Dalio<br />

leva-nos ao seu estudo dos principais impérios – incluindo o<br />

holandês, o britânico e o americano –, colocando em perspectiva<br />

o Grande Ciclo que impulsionou os sucessos e fracassos dos<br />

principais países do mundo ao longo da História.<br />

-------------------------------<br />

PRINCÍPIOS PARA LIDAR<br />

COM A NOVA ORDEM MUNDIAL<br />

Ray Dalio<br />

Editora: Self PT<br />

Género: Economia<br />

608 páginas<br />

A ASCENSÃO DAS CRIPTOMOEDAS<br />

perversos, bancos e governos.<br />

“Bitcoin: O Ouro Digital” é, porém,<br />

mais do que essa explicação,<br />

na forma romanceada como<br />

apresenta as personalidades de<br />

um grupo de talentosos e revolucionários<br />

desajustados, que se<br />

conheceram quase todos online.<br />

De Pequim a Buenos Aires, desfilam<br />

por estas páginas os crentes<br />

numa mudança para uma<br />

estrutura económica mais justa,<br />

incluindo um estudante finlandês,<br />

um milionário argentino, um<br />

empresário chinês, os gémeos<br />

Tyler e Cameron Winklevoss (que<br />

afrontaram Mark Zuckerberg na<br />

criação do Facebook) e ainda o<br />

misterioso criador da Bitcoin,<br />

Satoshi Nakamoto.<br />

74 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022

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