RISCO #25
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SUSTENTABILIDADE FIDELIDADE<br />
José Eduardo Bonito<br />
Investir para gerar impacto<br />
positivo<br />
INOVAÇÃO ACCENTURE<br />
João Alves<br />
Tendências e inovação no sector<br />
financeiro<br />
FINANÇAS NOVOBANCO<br />
Carlos Brandão<br />
Sustentabilidade: uma jornada<br />
em curso<br />
MERCADOS, INSIGHTS E TENDÊNCIAS DO SECTOR FINANCEIRO<br />
Rui Miranda<br />
TRANQUILIDADE | GENERALI<br />
A RESILIÊNCIA<br />
DAS EMPRESAS PERANTE<br />
OS <strong>RISCO</strong>S ACTUAIS<br />
GESTÃO<br />
de<br />
<strong>RISCO</strong><br />
Em cenário<br />
de incerteza global<br />
INFLAÇÃO<br />
GALOPANTE<br />
AS RAZÕES<br />
PARA O AUMENTO<br />
OS SECTORES<br />
MAIS AFECTADOS<br />
MEDIDAS<br />
DE PROTECÇÃO<br />
DAS EMPRESAS<br />
25<br />
VERÃO 2022 • TRIMESTRAL<br />
2,30 euros (cont.) revistarisco.pt<br />
APS<br />
CIBER <strong>RISCO</strong> EM DEBATE NO<br />
XVIII ENCONTRO DE RESSEGUROS<br />
CRIPTOMOEDAS<br />
O PERFIL DOS NOVOS<br />
INVESTIDORES
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<strong>RISCO</strong> E<br />
INCERTEZA<br />
PAULO MENDONÇA<br />
COORDENADOR EDITORIAL<br />
paulo.mendonca@multipublicacoes.pt<br />
Já não há dúvidas de que a grande<br />
recuperação esperada para<br />
o pós-pandemia ficou pelo caminho,<br />
adiada para dias melhores<br />
que inevitavelmente virão. Falta<br />
saber quando.<br />
D<br />
epois das previsões optimistas<br />
do início do ano, quando ainda<br />
se considerava a hipótese de o<br />
aumento da inflação ser um fenómeno<br />
transitório, o FMI reviu<br />
em baixa, no seu relatório de Primavera, o<br />
crescimento do PIB global, com destaque para<br />
a desaceleração europeia, que se explica em<br />
grande parte pela guerra. De novo os tempos<br />
adivinham-se difíceis, e desta vez o desfecho<br />
da crise depende muito mais da vontade de<br />
líderes internacionais do que da ciência por detrás<br />
da fórmula de uma vacina, o que confere<br />
ao cenário em que o mundo mergulhou um<br />
grau muito maior de imprevisibilidade.<br />
Enquanto houver guerra na Europa, o retrocesso<br />
da inflação não passará de uma miragem,<br />
e outros períodos da História já mostraram<br />
as consequências, para as famílias e para<br />
as empresas, que estão associadas a este tipo<br />
EDITORIAL<br />
de cenário. A inflação é, por si só, um fenómeno<br />
a que tipicamente se seguem problemas<br />
que afectam toda a economia: perda do poder<br />
de compra, aumento da despesa, escassez de<br />
bens, aumento do crédito malparado, desemprego.<br />
Uma sucessão de fenómenos que muitas<br />
vezes acaba por redundar no mais receado<br />
conceito da economia: recessão.<br />
As escolhas dos governos e a hesitação na<br />
tomada de medidas drásticas, como uma subida<br />
abrupta das taxas de juro, pode explicar-se<br />
pela cautela adquirida nas experiências mais<br />
recentes da crise de 2008, mas também porque<br />
esta crise é diferente de outras motivadas por<br />
conflitos geopolíticos, com riscos diferentes,<br />
porventura maiores e com uma margem de<br />
incerteza superior. De resto, a guerra é neste<br />
momento o maior problema para a economia,<br />
mas não é o único, e a cada probabilidade de<br />
cenário negativo torna-se necessário contrapor<br />
uma equivalente probabilidade de cenário<br />
positivo. Enquanto se mantiver esta incerteza,<br />
nem tudo vai mal... Embora também não vá,<br />
indubitavelmente, bem.<br />
É neste tipo de cenário que a gestão de<br />
risco se torna um aspecto fulcral para as empresas.<br />
Se, por um lado, se recomenda cautela<br />
face ao futuro, por outro, nenhuma empresa<br />
quer deixar passar as oportunidades do pós-<br />
-pandemia. É por isso que, mais do que nunca,<br />
as empresas devem tomar consciência de<br />
que hoje o risco chega de todos os lados e é<br />
fundamental geri-lo: traçar cenários, conhecer<br />
as consequências de cada um e calcular o<br />
potencial de perdas face a cada factor de risco,<br />
tendo em conta o seu grau de previsibilidade.<br />
A gestão de risco é necessária sempre, mas<br />
para muitas empresas pode ser agora o segredo<br />
para sobreviver a uma crise sem precedentes<br />
em que o maior risco é mesmo a incerteza.<br />
E essa, sim, veio para ficar.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 3
ESTA<br />
EDIÇÃO<br />
6 NOTAS<br />
PME acreditam em crescimento<br />
entre 10 e 30%<br />
25 12 TEMA DE CAPA: GESTÃO DE <strong>RISCO</strong><br />
OS PROFISSIONAIS DE <strong>RISCO</strong> DEVEM<br />
AJUDAR A RESTANTE ORGANIZAÇÃO A<br />
IDENTIFICAR <strong>RISCO</strong>S<br />
COM IMPACTOS<br />
NEGATIVOS<br />
20 INOVAÇÃO NO SECTOR<br />
FINANCEIRO<br />
Entrevista com João Alves,<br />
Financial Services da Accenture<br />
24 SUSTENTABILIDADE<br />
Entrevista com José Eduardo<br />
Bonito, head of Life Savings<br />
Divison da Fidelidade<br />
28 FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />
Entrevista com Carlos Brandão,<br />
General manager de Global Risks<br />
do novobanco<br />
32 CIBER <strong>RISCO</strong><br />
Reportagem no XVIII Encontro de<br />
Resseguros, organizado pela Associação<br />
Portuguesa de Seguradores (APS)<br />
36 ECONOMIA<br />
Inflação: qual o impacto?<br />
40 MACROECONOMIA<br />
Cenário de guerra: os riscos para<br />
a economia global<br />
47 TECNOLOGIA<br />
Desafios da cibersegurança no trabalho<br />
híbrido, por Carlos Jesus, Country<br />
manager da Colt Portugal<br />
48 PME SUSTENTÁVEIS<br />
Entrevista com Sofia Santos,<br />
economista especializada em<br />
Financiamento Sustentável e fundadora<br />
da Systemic<br />
52 CRIPTOMOEDAS<br />
O perfil do investidor deste tipo de activos<br />
54 TRADING<br />
As ambições de quem investe nos<br />
mercados financeiros, por Adelino<br />
Matos, CEO e founder da Escola<br />
Trading<br />
58 CBDC<br />
As moedas digitais dos bancos<br />
centrais, por Nuno Sousa Pereira,<br />
director de Investimentos da Sixty<br />
Degrees<br />
Opinião de Rui Miranda,<br />
Chief Risk Officer,<br />
Tranquilidade | Generali<br />
60 ACÇÕES<br />
Os caminhos do PSI, por Carlos<br />
Rodrigues, presidente da Maxyeld –<br />
Clube dos Pequenos Accionistas<br />
64 CIBERSEGURANÇA<br />
A transição para serviços de<br />
segurança geridos, por Carlos Vieira,<br />
Country manager da WatchGuard<br />
para Portugal e Espanha<br />
66 ACTIVOS<br />
Criptomoedas: um futuro presente,<br />
por Ricardo Branco, Outsourcing<br />
senior da Mazars em Portugal<br />
70 FINTECH<br />
Entrevista com Filipe Moura,<br />
CEO da ifthenpay<br />
74 ESTANTE<br />
Sugestões de leitura<br />
ESTATUTO EDITORIAL REVISTA <strong>RISCO</strong> A Risco é uma revista trimestral de informação<br />
geral que aposta numa informação diversificada abrangendo os mais variados campos de<br />
actividade e que pretende ir ao encontro das motivações e interesses de um público plural.<br />
A Risco pretende atingir uma ampla cobertura dos mais importantes e significativos acontecimentos<br />
nacionais e internacionais em todos os domínios de interesse. A Risco é uma<br />
revista que dá primazia às matérias de finanças no seu sentido mais lato e abrangente.<br />
A revista Risco reger-se-á pelo seguinte projecto de estatuto editorial: 1. Cumprimento rigoroso<br />
das normas éticas e deontológicas do jornalismo; 2. Identificação com os valores da<br />
democracia; 3. Independência face a quaisquer grupos de pressão, poderes políticos ou económicos;<br />
4. Salvaguarda do espaço privado dos cidadãos; 5. Defesa do pluralismo de opinião.<br />
04 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
ACCENTURE SONG É O<br />
NOVO NOME DA ACCENTURE<br />
INTERACTIVE<br />
Accenture Song é a nova designação<br />
da empresa para a Accenture<br />
Interactive.<br />
De acordo com a consultora, «a mudança<br />
reflecte os serviços globais oferecidos pela<br />
empresa num contexto pós-pandemia, os quais<br />
permitem reinventar a relação das organizações<br />
com o cliente, vendas, e-Commerce e marketing<br />
e inovação. Estes serviços foram concebidos para<br />
responder à acelerada necessidade de crescimento<br />
das empresas para criar maior relevância<br />
junto dos seus clientes».<br />
O nome Accenture Song tem por base uma<br />
cultura de mudança da empresa, cimentada<br />
ao longo dos anos, e «uma forma duradoura e<br />
universal de arte, conexão, inspiração, proeza<br />
técnica e experiência humana – dando asas à<br />
imaginação e às ideias dos seus profissionais<br />
para entregar resultados tangíveis», pode ler-se<br />
em comunicado da Accenture.<br />
David Droga, CEO & creative chairman, explica<br />
que «a Accenture Song simboliza o processo de<br />
crescimento dos nossos clientes nesta fase pós-<br />
-pandemia. Desde a sua génese que a Accenture<br />
Interactive – agora Accenture Song – ajudou<br />
as empresas a construir e a expandir os seus<br />
negócios por meio da experiência que ofereciam.<br />
Porém, as necessidades dos consumidores de<br />
hoje são consideravelmente diferentes, pelo que a<br />
captura de novas ondas de crescimento, por parte<br />
destas empresas, será apenas possível através<br />
de um processo de aceleração de operações,<br />
capaz de demonstrar perpetuamente a sua<br />
relevância para clientes, colaboradores e<br />
restantes stakeholders».<br />
A Accenture Song, que deverá atingir<br />
US$ 14 biliões em receita até ao<br />
final do ano fiscal de 2022 (31 de<br />
Agosto), trabalha com marcas<br />
voltadas para o futuro, incluindo a<br />
Coinbase, Blue Buffalo da General<br />
Mills e Shiseido. Além disso,<br />
está a unir-se à Capri Holdings,<br />
um grupo global de moda e<br />
luxo composto pelas marcas<br />
icónicas Versace, Jimmy<br />
Choo e Michael Kors, traduzindo<br />
a sua experiência de compras<br />
de luxo numa experiência digital, que<br />
se alinha com o perfil dos seus clientes.<br />
As PME estão<br />
confiantes no seu<br />
crescimento nos<br />
próximos três anos, com<br />
mais de 50% dos gestores<br />
a perspectivar um<br />
crescimento significativo<br />
entre 10 e 30%.<br />
PME<br />
ACREDITAM<br />
EM CRESCIMENTO<br />
ENTRE<br />
10%<br />
C<br />
omo efeito da pandemia, 69,6% revela<br />
que a sustentabilidade se tornou um<br />
tópico mais importante para a sua<br />
empresa e a relevância da avaliação e<br />
gestão de risco aumentou em 26,8% face ao período<br />
pré-pandemia. Estes são alguns dos principais resultados<br />
do primeiro Barómetro Heróis PME, lançado<br />
pela Yunit Consulting, consultora nacional especializada<br />
em investimento e capitalização das empresas,<br />
que visou a participação de mais de 200 PME.<br />
«Após a leitura atenta dos resultados, é possível<br />
afirmar que as empresas estão dispostas a enfrentar<br />
os desafios que se avizinham para construir um<br />
futuro mais sustentável e digital, que a maioria saiu<br />
fortalecida no pós-pandemia e que as perspectivas de<br />
crescimento para os próximos três anos são animadoras.<br />
Por outro lado, é de salientar que saiu reforçado<br />
o sentimento e a necessidade de apostar no estabelecimento<br />
de parcerias de negócio, bem como de olhar<br />
de forma mais atenta para temas como avaliação e<br />
gestão de risco ou plano de continuidade de negócio»,<br />
afirma Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting.<br />
De referir que 80% das empresas que responderam<br />
ao inquérito já o fizeram após 24 de Fevereiro e,<br />
dessas, 78% fizeram-no após 11 de Março. «Isto<br />
permite-nos concluir que o sentimento de confiança<br />
partilhado pelos empresários já teve em conta o<br />
contexto actual económico e geopolítico. Este facto<br />
reforça a nossa visão sobre a grande resiliência que<br />
06 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
E<br />
30%<br />
caracteriza as nossas pequenas e médias<br />
empresas», conclui Bernardo Maciel.<br />
A transformação digital foi outra das áreas<br />
que ganhou preponderância neste contexto.<br />
50,7% dos gestores afirma que a pandemia<br />
acelerou a digitalização e 62,7% reconhece<br />
que a adopção de uma estratégia de transformação<br />
digital tem influência na vantagem<br />
competitiva da sua empresa.<br />
É possível apurar também que as empresas<br />
começaram a dar maior importância ao<br />
plano de continuidade de negócio (aumentou<br />
22,6% para 84,8%) e à importância de estabelecer<br />
parcerias de negócio (94,5%). Por outro<br />
lado, os gestores identificam a organização<br />
e a melhoria de procedimentos, a eficiência<br />
produtiva e o desenvolvimento de novos<br />
produtos/processos como principais áreas<br />
onde existe mais margem de melhoria do<br />
desempenho das suas empresas.<br />
Entre os principais factores que contribuíram<br />
para enfrentar os desafios de mercado actuais,<br />
95,8% dos gestores salientam a capacidade<br />
de adaptação e empenho dos colaboradores.<br />
concordando também que a sua empresa saiu<br />
fortalecida no contexto pandémico (69,7%).<br />
16%<br />
O impacto do ambiente<br />
económico no risco de crédito<br />
da carteira de clientes é sentido<br />
por 86% das empresas, segundo<br />
dados da Crédito e Caución.<br />
Em 2021, 16% das empresas portuguesas<br />
sofreram incumprimentos significativos,<br />
apesar da dimensão das injecções de<br />
liquidez e dos estímulos fiscais que<br />
o tecido empresarial nacional recebeu<br />
para mitigar os efeitos económicos<br />
da Covid-19. Este é um dos dados mais<br />
relevantes do inquérito de Primavera<br />
do Estudo de Gestão de Risco de Crédito<br />
em Portugal, impulsionado pela Crédito<br />
y Caución e pela Iberinform, no qual<br />
participaram os gestores de mais de 300<br />
empresas de todas as dimensões<br />
e sectores.<br />
O impacto do contexto económico no<br />
risco de crédito da carteira de clientes<br />
é sentido por 86% das empresas<br />
portuguesas. Neste cenário, coloca-<br />
-se a questão de saber qual o principal<br />
evento que está a deteriorar os níveis<br />
de solvência dos clientes. A lista é<br />
encabeçada pelo assinalável aumento dos<br />
preços da energia (destacado por 21%<br />
das empresas), seguido pela escalada<br />
da inflação (19% das empresas). Por<br />
outras palavras, a evolução dos preços<br />
dos insumos, que as empresas não<br />
repercutem de forma directa nos seus<br />
preços finais, mas que repercutem<br />
nas suas margens, é o principal factor<br />
DAS EMPRESAS INCORRERAM EM<br />
INCUMPRIMENTO SIGNIFICATIVO EM 2021<br />
desestabilizador do risco de crédito<br />
neste momento. O terceiro evento mais<br />
relevante são os problemas na cadeia<br />
de fornecimento (destacado por 18%<br />
das empresas). A menção genérica da<br />
Covid-19 (13%) ocupa já um discreto<br />
quarto lugar, enquanto as tensões<br />
geopolíticas (assinalado por 10% das<br />
empresas) e a evolução dos custos<br />
financeiros (6%) têm uma presença<br />
menos significativa.<br />
Apesar do cenário de deterioração do<br />
risco de crédito confirmado por este<br />
estudo, apenas 16% do tecido produtivo<br />
registaram uma diminuição das suas<br />
vendas, face a 70% que observaram<br />
algum tipo de crescimento. O tecido<br />
produtivo mostra confiança em poder<br />
manter esta dinâmica em 2022. Destaca-<br />
-se pela positiva que 64% das empresas<br />
esperam que os seus níveis de facturação<br />
continuem a crescer, face a uns exíguos<br />
10%, que esperam que este exercício seja<br />
pior que o anterior em termos de receitas.<br />
69,6% REVELA<br />
QUE A SUSTENTABILIDADE<br />
SE TORNOU UM<br />
TÓPICO MAIS IMPORTANTE<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 07
UNIPARTNER COM NOVO LÍDER<br />
PARA A ÁREA DE DATA & IA<br />
GUERRA NA UCRÂNIA<br />
REDUZ CRESCIMENTO<br />
ECONÓMICO DA ZONA EURO<br />
Segundo as estimativas da Crédito y Caución, o crescimento<br />
na Alemanha e em Itália será mais afectado do que em França,<br />
Espanha ou nos Países Baixos.<br />
A<br />
Crédito y Caución<br />
prevê que a<br />
invasão russa<br />
da Ucrânia retire<br />
um ponto de crescimento do PIB da<br />
Zona Euro em 2022, situando-o nos<br />
2,9%, devido à interrupção da cadeia de<br />
fornecimento, ao aumento dos preços<br />
das matérias-primas e ao impacto<br />
negativo na confiança das empresas e dos<br />
consumidores. Esta avaliação do impacto,<br />
sujeita a um elevado nível de incerteza,<br />
assenta em dois pressupostos: que o<br />
conflito bélico não se prolongue para lá de<br />
2022 e que as sanções sejam reforçadas,<br />
mas não até ao ponto de interromper<br />
totalmente as exportações de energia. Se<br />
os combates na Ucrânia se prolongarem<br />
até meados de 2023, se as sanções se<br />
intensificarem e se os fluxos de gás russo<br />
se restringirem, o crescimento poderá<br />
descer até 1% em 2022.<br />
No seu cenário de referência, a<br />
seguradora de crédito prevê que a<br />
redução do crescimento afecte com<br />
diferentes intensidades os distintos<br />
mercados europeus: 1,8 pontos na<br />
Alemanha, 1,5 em Itália, 0,7 em França,<br />
0,6 em Espanha e 0,3 nos Países<br />
Baixos. Alemanha e Itália estão entre<br />
os países mais afectados. Além de<br />
terem estreitas relações comerciais<br />
com a Rússia, é provável que as suas<br />
indústrias automobilísticas sejam<br />
afectadas negativamente pela guerra.<br />
Os fabricantes de automóveis alemães<br />
já anunciaram reduções temporárias<br />
na produção, devido à escassez de<br />
peças provenientes da Ucrânia, e é<br />
provável que surjam problemas de<br />
fornecimento semelhantes em Itália.<br />
A Alemanha também depende em<br />
grande medida da Rússia para as suas<br />
importações de gás. O impacto é mais<br />
reduzido em França, Espanha e nos<br />
Países Baixos, na medida em que são<br />
menos dependentes da Rússia.<br />
De acordo com as previsões da<br />
seguradora de crédito, a Zona Euro<br />
irá registar um abrandamento da sua<br />
actividade empresarial nos próximos<br />
trimestres, num contexto de aumento<br />
sem precedentes dos preços dos<br />
insumos. A Crédito y Caución prevê que<br />
as compras de activos por parte do Banco<br />
Central Europeu terminem totalmente<br />
em Dezembro de 2022 e que a primeira<br />
subida das taxas de juro não aconteça<br />
até ao quarto trimestre deste ano ou no<br />
primeiro de 2023.<br />
A Unipartner, empresa de consultoria<br />
e integração de sistemas de informação<br />
que apoia instituições financeiras, o<br />
sector público, ONG e grandes empresas,<br />
anunciou a integração de Rui Miguel para<br />
assumir a liderança da área de Data & IA,<br />
reforçando assim a aposta da consultora no<br />
domínio da exploração dos dados através<br />
de tecnologias disruptivas.<br />
Com quase 25 anos de experiência, Rui Miguel<br />
liderou inúmeros projectos como consultor<br />
especialista nos sectores de Telecomunicações,<br />
Energia, Utilities, Media e Serviços Financeiros,<br />
que ajudaram clientes a definir e implementar<br />
soluções de alta complexidade.<br />
«O Rui junta-se à Unipartner para nos ajudar a<br />
acelerar o desenvolvimento e inovação dos projectos<br />
de Data & AI. Através do seu expertise e experiência<br />
comprovada, acreditamos que é a pessoa certa<br />
para apoiar o crescimento desta área e alcançar os<br />
objectivos que definimos», refere Fernando Reino da<br />
Costa, CEO da Unipartner.<br />
Licenciado em Informática e Gestão de Empresas<br />
pelo ISCTE, Rui Miguel possui uma pós-graduação<br />
em Media, Telecomunicações e Tecnologias<br />
da Informação pela Universidade Católica, e<br />
certificação em Gestão de Projecto pelo Project<br />
Management Institute.<br />
08 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
DECSKILL REFORÇA A<br />
ESTRATÉGIA DE LOW CODE<br />
COM A WORKATO<br />
A DecSkill, especialista em outsourcing e tecnologias de<br />
informação, anunciou uma nova parceria com a WorKato, uma<br />
plataforma global de automação empresarial.<br />
A<br />
linhada com<br />
os desafios da<br />
transformação<br />
digital nas<br />
organizações, a Decskill capacita as<br />
empresas com serviços em tecnologias<br />
de informação e comunicação, através<br />
de modelos de negócio flexíveis e ágeis.<br />
O desenvolvimento de Low & No Code faz<br />
parte da sua estratégia e sai reforçado<br />
com esta parceria com a WorKato.<br />
A Decskill e a WorKato visam ampliar<br />
a capacitação de integrações de<br />
sistemas complexos nas organizações,<br />
contribuindo para a criação de equipas<br />
e serviços inovadores e ágeis para os<br />
seus clientes.<br />
«A missão da DecSkill é simplificar<br />
o processo de transformação digital,<br />
através de modelos de negócio ou<br />
do talento das equipas. A WorKato<br />
vem reforçar a nossa estratégia de<br />
especialização e diversificação de<br />
portefólio com o acesso a sistemas<br />
Low Code que potenciam o negócio e<br />
a operação dos clientes e parceiros,<br />
com integrações entre sistemas e<br />
plataformas – pagamento, facturação,<br />
CRM, gestão documental, Governance,<br />
etc.», afirma Diogo Mendonça,<br />
Executive Board Member e Cross Market<br />
Lead da DecSkill.<br />
A plataforma de automação da WorKato<br />
permite a integração de sistemas<br />
empresariais através de uma abordagem<br />
visual ou de elementos gráficos versus<br />
desenvolvimento de software. Responde<br />
a uma necessidade de automação<br />
inteligente, permitindo atingir objectivos<br />
de inovação, capacitação, optimização<br />
de processos de negócio e melhoria da<br />
experiência de cliente.<br />
A oferta de serviços baseada em<br />
centros de competência distribuídos<br />
globalmente abrange a análise,<br />
desenho, implementação e<br />
evolução de soluções, em formatos<br />
customizados e escaláveis.<br />
A DECSKILL E A WORKATO<br />
VISAM AMPLIAR<br />
A CAPACITAÇÃO<br />
DE INTEGRAÇÕES<br />
DE SISTEMAS<br />
COMPLEXOS NAS<br />
ORGANIZAÇÕES<br />
ALTICE PORTUGAL ABRE<br />
CANDIDATURAS PARA RECRUTAR<br />
JOVENS TALENTOS<br />
As candidaturas para a próxima edição do<br />
Programa DarWIN, o programa de estágios<br />
da Altice Portugal, já estão abertas e podem<br />
ser realizadas através do site telecom.pt.<br />
Através deste programa, a Altice Portugal pretende<br />
atrair jovens de elevado potencial, finalistas das<br />
áreas de Engenharia, Tecnologias da Informação,<br />
Gestão, Economia e outras similares, dotados de um<br />
espírito inovador, empreendedor, dinâmico e ágil. As<br />
candidaturas para a edição de 2022/2023 já podem<br />
ser submetidas na área de estágios do site oficial da<br />
Altice Portugal.<br />
Desde o início do programa, foram recrutados mais<br />
de 70 estagiários, integrados em diferentes direcções<br />
da Altice Portugal. Em comunicado enviado à<br />
imprensa, a Altice afirma que estes números «são representativos<br />
da aposta que a empresa faz nas novas<br />
gerações e na preparação dos líderes do amanhã.<br />
Durante 12 meses, os estagiários do programa vão<br />
integrar diversos departamentos da empresa e assim<br />
contribuir para os seus objectivos estratégicos, ao<br />
mesmo tempo que entram no mercado de trabalho e<br />
vivem uma experiência ímpar e enriquecedora».<br />
10 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
GESTÃO<br />
GESTÃO<br />
DE <strong>RISCO</strong><br />
12 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
GESTÃO<br />
NUM CENÁRIO<br />
DE INCERTEZA<br />
GLOBAL<br />
Guerra, pandemia, inflação e subida das taxas<br />
de juro. Numa altura em que o risco vem<br />
de todos os lados, este é um verdadeiro teste<br />
à resiliência das empresas.<br />
POR PAULO MENDONÇA<br />
N<br />
o âmbito financeiro, o termo “risco” existe para definir a possibilidade<br />
de prejuízo ou insucesso num determinado empreendimento,<br />
em resultado de um acontecimento imprevisto<br />
e independente da vontade dos envolvidos. De acordo<br />
com esta definição, o risco acaba por enquadrar-se em todas<br />
as dimensões da nossa vida, e em todas elas é preciso fazer<br />
uma análise, de forma a compreender o risco envolvido em<br />
determinada actividade, e, depois, a sua gestão.<br />
No caso específico dos riscos financeiros, esta gestão corresponde fundamentalmente<br />
a uma análise e medição, tendo por base um determinado projecto ou<br />
transacção, com o objectivo de identificar o potencial de perdas decorrentes das<br />
movimentações do mercado. Os profissionais que se dedicam à área de gestão de<br />
risco têm as suas próprias metodologias, com estudos de probabilidade e estatística,<br />
que visam identificar os diferentes eventos que podem ter um impacto negativo no<br />
sucesso projectado.<br />
As empresas estão sujeitas a diferentes tipos de riscos financeiros, que incluem a<br />
má gestão do fluxo de caixa e o retorno inferior ao esperado em investimentos e outras<br />
transacções. No entanto, existem outros tipos de riscos financeiros, como a gestão<br />
inadequada das finanças, altos níveis de endividamento, exposição a taxas de juro ou<br />
variações de câmbio, operações e investimentos de alto risco e má qualidade das informações<br />
que levam às tomadas de decisão. A juntar a tudo isto, a conjuntura actual<br />
implica outros riscos externos, como o conflito na Ucrânia e a pandemia de Covid-19,<br />
por exemplo, que podem agravar os já existentes. Em todos estes casos é necessário<br />
avaliar o potencial de prejuízos para proteger a empresa de transtornos futuros.<br />
Análise de riscos<br />
Fazer uma gestão de riscos financeiros<br />
passa, em primeiro lugar, por uma análise<br />
do efeito potencial que um dado evento<br />
pode ter num projecto ou numa transacção.<br />
Em termos simples, esta gestão consiste em<br />
quantificar a exposição da empresa a um<br />
dado risco, tendo em conta todas as variáveis<br />
e considerando que estas se podem alterar<br />
de acordo com a volatilidade do mercado<br />
ou outros factores. A crescente inflação<br />
que se verifica aos dias de hoje é um bom<br />
exemplo disso, em que a gestão do risco tem<br />
de ter em consideração diversos cenários e<br />
diferentes tectos máximos de até onde este<br />
indicador pode crescer, em que condições e<br />
quando. A incerteza é, assim, um dos factores<br />
onde reside a maior dificuldade de uma<br />
boa gestão de risco.<br />
Um método comum de analisar um risco<br />
consiste em fazer uma comparação entre<br />
a probabilidade de um evento imprevisto<br />
acontecer e as possíveis perdas financeiras<br />
decorrentes dessa mesma ocorrência.<br />
Por outro lado, em alguns casos, a gestão<br />
de risco ajuda a criar mecanismos que permitem<br />
detectar de forma automática (ou<br />
mesmo prever) a ameaça, com o objectivo<br />
de neutralizá-la antes que os efeitos negativos<br />
se manifestem. Esta é a estratégia mais<br />
utilizada pela área de cibersegurança, por<br />
exemplo, em que se recorre a software e a<br />
procedimentos defensivos e proactivos de<br />
segurança para interceptar um ciberataque<br />
antes deste ocorrer ou, pelo menos, antes<br />
que as consequências nefastas tenham a<br />
oportunidade de se fazer sentir.<br />
Nestes e noutros riscos, é fundamental<br />
estabelecer uma quantificação do risco para<br />
poder prever o impacto. Se a área de influência<br />
se limitar apenas a uma parte da empresa,<br />
o cálculo do efeito previsto pode ser feito<br />
multiplicando a probabilidade de ocorrência<br />
pela perda financeira potencial. Com esta<br />
quantificação, é possível criar gráficos que<br />
permitam compreender quais os riscos que<br />
a empresa consegue tolerar e quais aqueles<br />
que representam uma ameaça grave à saúde<br />
financeira da empresa. Com estes dados torna-se<br />
possível uma tomada de decisão mais<br />
informada quanto aos riscos, enquadrada<br />
igualmente no cenário macroeconómico e<br />
nas tendências preponderantes no mercado.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 13
GESTÃO<br />
Em resumo, a análise de risco compreende<br />
o planeamento, a gestão, a organização e<br />
o controlo das incertezas locais e de mercado.<br />
O objectivo é prever o comportamento<br />
do fluxo de caixa e a oscilação de outros indicadores<br />
financeiros antes que o risco ocorra<br />
de facto. Trata-se, assim, de uma estratégia<br />
de prevenção que nos permite reduzir os<br />
riscos e acompanhar indicadores fiáveis que<br />
assinalam com precisão os ajustes a fazer.<br />
Do ponto de vista das empresas, a gestão<br />
de risco é principalmente uma medida<br />
preventiva que serve a todos os sectores<br />
de actividade; e não se trata de um requisito<br />
reservado a grandes empresas. Aliás, a<br />
sua ausência é frequentemente notada nas<br />
PME, onde a falta deste tipo de gestão acarreta<br />
riscos desnecessários.<br />
OS PROFISSIONAIS QUE SE<br />
DEDICAM À ÁREA DE GESTÃO<br />
DE <strong>RISCO</strong> TÊM AS SUAS<br />
PRÓPRIAS METODOLOGIAS,<br />
COM ESTUDOS<br />
DE PROBABILIDADE<br />
E ESTATÍSTICA<br />
Instrumentos de gestão<br />
Identificar os riscos é fundamental para<br />
criar mecanismos capazes de os mitigar,<br />
controlar ou prever, e existem diversas tácticas<br />
e instrumentos que as empresas utilizam<br />
tendo em vista este objectivo. O primeiro a<br />
ser utilizado é a metodologia What If, que<br />
consiste na realização de várias reuniões<br />
onde é apresentado em detalhe o processo<br />
através do qual são feitas as operações financeiras.<br />
Nestas reuniões, os colaboradores<br />
são convidados a fazer perguntas com o objectivo<br />
de identificar todos os problemas que<br />
podem ocorrer ao longo do processo. Estas<br />
perguntas devem começar por “E se…”, daí<br />
o nome desta metodologia. Alguns exemplos<br />
de perguntas comuns são: E se o cliente<br />
não pagar? E se o fornecedor não aceitar<br />
pagamentos flexíveis? E se o empréstimo ao<br />
banco for pago mais tarde? Face a estas perguntas,<br />
a equipa tenta encontrar soluções,<br />
olhando para o processo de uma forma mais<br />
ampla e de diversos pontos de vista.<br />
Um outro instrumento de gestão<br />
é a análise preliminar de risco.<br />
Esta abordagem preliminar tem<br />
por objectivo identificar os riscos<br />
de uma operação ainda em fase de<br />
implementação. Assim, os possíveis<br />
problemas são abordados antes<br />
do processo acontecer, sendo<br />
possível prever e corrigir factores<br />
de risco. Na análise preliminar,<br />
é criada uma tabela onde se<br />
descreve o risco, as potenciais<br />
causas, as consequências e a<br />
categoria da ameaça. Por fim,<br />
indica-se a frequência (residual<br />
ou provável), a gravidade (marginal, grave,<br />
muito grave, crítica) e a matriz de risco, que<br />
mistura todos os itens e cria um ranking de<br />
prioridades. Por fim, a tabela de análise preliminar<br />
deve incluir uma coluna com as medidas<br />
a tomar para resolver cada problema.<br />
Um terceiro instrumento de gestão é a<br />
metodologia Failure Mode and Effect Analysis<br />
(FMEA), criada pela NASA em 1960 e utilizada<br />
com sucesso, posteriormente, na indústria<br />
automóvel. Esta metodologia identifica, categoriza<br />
e tenta eliminar falhas nos processos<br />
antes de serem produzidos efeitos negativos.<br />
Em primeiro lugar, é necessário identificar<br />
todas as falhas e efeitos negativos que podem<br />
ocorrer, para depois criar um ranking de prioridades<br />
influenciado por três factores: a ocorrência<br />
da falha, a gravidade da consequência<br />
e a possibilidade de ser identificada antes de<br />
criar prejuízo. Com esta abordagem é possível<br />
verificar os erros mais graves e com piores<br />
consequências, de forma a eliminá-los ou reduzi-los<br />
por via da prevenção.<br />
Prevenção e mitigação de riscos<br />
Por melhor que seja uma estratégia de gestão<br />
de riscos, existe um número de incertezas<br />
que não são possíveis de prever. No entanto,<br />
a preparação para uma grande variedade de<br />
eventos prováveis ajuda a evitar muitos problemas<br />
e também a lidar com o inesperado.<br />
Uma das formas mais eficientes de fazer<br />
gestão de riscos é focar no essencial sem<br />
esquecer o acessório. Isto significa que não<br />
vale a pena elencar um enorme número de<br />
TIPOS DE<br />
<strong>RISCO</strong>S FINANCEIROS<br />
Embora existam muitos riscos diferentes<br />
a que as empresas estão sujeitas, e mesmo tendo em conta<br />
a variedade de imprevisibilidade que existe hoje<br />
em dia, podem identificar-se quatro tipos fundamentais<br />
de riscos financeiros:<br />
DE MERCADO<br />
Este risco está directamente<br />
1.<strong>RISCO</strong><br />
relacionado com a volatilidade<br />
das cotações e preços, com impacto<br />
nas empresas. Tomemos como<br />
exemplo uma empresa portuguesa<br />
que importa matéria-prima e faz o<br />
pagamento em dólares, para depois<br />
transaccioná-la em euros, em<br />
território nacional. Esta empresa fica<br />
sujeita à variação do valor do euro e,<br />
no limite, pode não conseguir honrar<br />
os seus compromissos se o euro<br />
baixar face ao dólar.<br />
DE CRÉDITO<br />
Este é um risco cuja gestão é<br />
2.<strong>RISCO</strong><br />
muito comum na actividade<br />
das empresas do sector financeiro<br />
e a sua aplicação serve para avaliar<br />
a resiliência das empresas face ao<br />
crédito. Tipicamente, quando uma<br />
empresa resolve subscrever uma<br />
linha de crédito, a entidade credora<br />
14 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
GESTÃO<br />
UM MÉTODO COMUM DE<br />
ANALISAR UM <strong>RISCO</strong> CONSISTE<br />
EM FAZER UMA COMPARAÇÃO<br />
ENTRE A PROBABILIDADE<br />
DE UM EVENTO IMPREVISTO<br />
ACONTECER E AS POSSÍVEIS<br />
PERDAS FINANCEIRAS<br />
riscos e preparar uma solução para todos<br />
eles. Muitos eventos de baixa probabilidade<br />
podem não ser de alto risco e estes não<br />
têm razão para ser prioritários. No entanto,<br />
a história recente ensina-nos que também<br />
existem riscos improváveis com grande<br />
impacto, pelo que faz sentido ter planos de<br />
contingência para algumas situações.<br />
Mesmo assim, a gestão de risco trata, mais<br />
aprofundadamente, de riscos com maior probabilidade<br />
do que uma pandemia, por exemplo,<br />
e deve focar-se de forma mais abrangente<br />
em situações que podem ocorrer com relativa<br />
facilidade e impacto para a empresa.<br />
Dentro deste tipo de riscos de maior probabilidade,<br />
existem aqueles com que a empresa<br />
já lidou anteriormente e os que nunca<br />
ocorreram. Deverão existir soluções para os<br />
primeiros, visto que não são uma novidade<br />
para a empresa; já os riscos sem precedentes<br />
poderão ter mais impacto por não haver um<br />
histórico de resolução na prática.<br />
Outra forma de trabalhar uma boa gestão<br />
de risco é ter em conta as especificidades<br />
de cada empresa, visto que existem particularidades,<br />
na área financeira, que fazem com<br />
que um mesmo risco tenha impacto diferente.<br />
É importante identificar algumas vulnerabilidades<br />
que poderão fazer com que aumente<br />
a probabilidade de determinados eventos<br />
de risco. Tendo em consideração que a área<br />
financeira tem relação directa com todos os<br />
departamentos da empresa, é fundamental<br />
que a gestão de risco tenha uma visão global<br />
da empresa e de como ela funciona.<br />
A relação entre a probabilidade de um<br />
evento e o seu impacto é outro factor a ter<br />
em conta, dado que um evento improvável<br />
poder ter muito ou pouco impacto e vice-<br />
-versa. O cálculo desta relação é o que permite<br />
definir uma lista de prioridades.<br />
A última etapa é aquela que traz mais<br />
benefícios à empresa. Com toda a análise<br />
concluída, poderá implementar processos<br />
e sistemas, criar relatórios e indicadores<br />
de desempenho e definir<br />
políticas e procedimentos, entre<br />
outras acções.<br />
O importante é ter em conta<br />
que este trabalho nunca acaba.<br />
A gestão de riscos financeira é<br />
extremamente dinâmica e muda<br />
rapidamente, pelo que exige um<br />
esforço constante de actualização<br />
das medidas adoptadas.<br />
avalia a sua capacidade de honrar os<br />
pagamentos devidos. Se o risco for<br />
demasiado grande, a entidade que<br />
concede o crédito poderá aumentar<br />
as taxas de juro como contrapartida<br />
para controlar o grau de risco. No<br />
entanto, o risco de crédito não se limita<br />
a empréstimos prestados pelos bancos<br />
ou outras instituições financeiras. Uma<br />
empresa que forneça bens ou serviços<br />
sem ser a pronto pagamento está<br />
sempre sujeita ao risco de crédito, que<br />
ocorre sempre que uma entidade não<br />
tem a capacidade de honrar os seus<br />
compromissos de pagamento.<br />
DE LIQUIDEZ<br />
O risco de liquidez está<br />
3.<strong>RISCO</strong><br />
relacionado com o de<br />
crédito, mas reporta não a quem<br />
empresta, mas a quem tem de<br />
pagar. Uma empresa que não honra<br />
os seus compromissos deverá estar<br />
com problemas de liquidez, que se<br />
traduzem na existência de contas para<br />
pagar sem que haja uma previsão de<br />
recebimentos que garantam a liquidez<br />
necessária a esses pagamentos. O risco<br />
de liquidez tem como consequências o<br />
endividamento, a exposição a coimas<br />
e juros e o aumento do risco de crédito<br />
em caso de pedido de um empréstimo.<br />
OPERACIONAL<br />
O quarto risco é também<br />
4.<strong>RISCO</strong><br />
o mais difícil de medir<br />
quantitativamente. Trata-se do<br />
risco operacional, que se relaciona<br />
com a possibilidade de perdas<br />
para a empresa em resultado de<br />
falhas causadas por processos,<br />
colaboradores, sistemas e eventos<br />
externos. A insatisfação dos<br />
colaboradores, a baixa qualificação, o<br />
obsoletismo de sistemas e máquinas<br />
ou a falta de materiais indispensáveis<br />
à actividade da empresa são<br />
exemplos de riscos operacionais.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 15
GESTÃO<br />
A IMPORTÂNCIA<br />
DA GESTÃO DE <strong>RISCO</strong>S<br />
De acordo com o dicionário da Língua<br />
Portuguesa da Porto Editora, o risco<br />
é definido como «possibilidade de<br />
um acontecimento futuro e incerto»,<br />
«perigo» ou ainda «diferença entre o<br />
retorno esperado e o retorno obtido».<br />
POR RUI MIRANDA<br />
CHIEF RISK OFFICER, TRANQUILIDADE | GENERALI<br />
A<br />
o nível das organizações, a percepção de risco é fundamental<br />
porque é o efeito que a incerteza tem sobre os objectivos.<br />
Por esse motivo, qualquer organização, independentemente<br />
da natureza dos seus objectivos, terá necessariamente de<br />
considerar os riscos existentes na sua actividade. Até porque,<br />
em última análise, um objectivo primordial será assegurar a<br />
continuidade do negócio, o que, sem a devida análise e consideração<br />
dos riscos existentes, irá seguramente ser colocado em causa.<br />
A pandemia evidenciou a existência de vários sectores que, não sendo regulados<br />
do ponto de vista da gestão de riscos, prestam serviços ou vendem produtos sem os<br />
quais não conseguimos “viver”. Todos os sectores acabaram por alterar de alguma<br />
forma os seus processos e não existem grandes dúvidas que estarão mais bem preparados<br />
para riscos futuros de natureza similar.<br />
Os riscos emergentes, cuja probabilidade de ocorrência e impactos não é facilmente<br />
mensurável, até porque não existe informação histórica que permita auxiliar<br />
o processo de identificação e avaliação destes riscos, não devem ser, no entanto,<br />
ignorados. Pelo contrário, devem fazer parte integral do processo de gestão de riscos<br />
e ser reavaliados regularmente, com a colaboração da gestão de topo e com um olhar<br />
atento, não só para o interior das organizações, mas também para todo o contexto<br />
que as rodeia.<br />
Seria desafiante, para não dizer injusto, pedir que todos os sectores da economia,<br />
ou mesmo apenas alguns, estivessem preparados antecipadamente para um<br />
risco sem precedentes na era moderna,<br />
pelo menos com a magnitude experienciada.<br />
Mas já será razoável esperar que as<br />
organizações estejam pelo menos melhor<br />
preparadas para fazer face a riscos menos<br />
disruptivos, não emergentes, sejam eles<br />
legais, fiscais ou riscos sobre colaboradores<br />
e infra-estruturas.<br />
Os riscos externos, como, por exemplo,<br />
a alteração do comportamento dos clientes,<br />
ou a subida das taxas de juro, são riscos<br />
que não podem ser controlados, mas onde<br />
podem ser colocadas em prática medidas<br />
que minimizam o impacto dos mesmos,<br />
e, no melhor cenário, podem até criar<br />
oportunidades que não tinham sido identificadas<br />
antes. Não existindo neste caso a<br />
possibilidade de prevenção, o foco está na<br />
identificação e mitigação destes riscos.<br />
Outro risco relevante é o operacional,<br />
surgindo no seio da organização, em que<br />
as empresas gerem os riscos das suas pessoas,<br />
processos e sistemas. Apesar da tolerância<br />
que pode existir relativamente a<br />
estes riscos, por exemplo por serem residuais<br />
ou pelo facto de não ser economicamente<br />
viável eliminar completamente os<br />
mesmos, não existe por norma interesse<br />
em assumir este tipo de riscos, porque<br />
não existem benefícios estratégicos e que<br />
podem colocar em causa a concretização<br />
dos objectivos de longo prazo.<br />
Não menos importante é o risco estratégico,<br />
que inclui, por exemplo, os<br />
riscos no desenvolvimento de novos<br />
produtos ou na expansão para diferentes<br />
geografias, em que as empresas aceitam<br />
aqueles que lhes permitem gerar valor<br />
16 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
GESTÃO<br />
através das vantagens competitivas que<br />
consideram ter.<br />
A gestão de riscos<br />
A gestão de riscos encontra-se presente<br />
em todas as organizações, mesmo quando<br />
não é enquadrada formalmente como<br />
tal. Por exemplo, a existência de controlos,<br />
mais ou menos formais, implica que essa<br />
gestão de riscos exista, porque o controlo,<br />
por definição, existe para minimizar<br />
a ocorrência de um determinado risco. E<br />
nunca é de mais salientar a importância do<br />
ambiente de controlo interno, sem o qual<br />
nenhum sistema de gestão de riscos poderá<br />
funcionar.<br />
Alguns sectores são regulados e obrigados<br />
por lei a terem sistemas de gestão<br />
de riscos. A obrigação regulamentar, não<br />
sendo o mais proactivo dos motivos que<br />
leva à existência de um sistema de gestão<br />
de risco, é, sem dúvida, eficaz.<br />
Outro factor que leva as organizações a<br />
considerarem a implementação de um sistema<br />
de gestão de riscos, e talvez um dos<br />
mais frequentes, é quando algo corre mal.<br />
Organizações que não tinham considerado<br />
antes a gestão estruturada de riscos começam<br />
a questionar-se sobre um determinado<br />
evento e sobre os motivos que explicam<br />
que não estivessem preparadas para a ocorrência<br />
do mesmo.<br />
É importante também olhar para a gestão<br />
de riscos de uma forma mais abrangente,<br />
incluindo não só ameaças, mas também<br />
oportunidades, complementando a abordagem<br />
tradicional da gestão de riscos de<br />
se concentrar nos aspectos negativos e na<br />
possibilidade de ocorrência de perdas. Por<br />
norma, são as organizações que não consideraram<br />
anteriormente a gestão de riscos<br />
de forma estruturada que mais se focam<br />
nos impactos negativos dos riscos.<br />
As fintech/insurtech no sector financeiro<br />
são um bom exemplo de riscos que<br />
eram inicialmente vistos como negativos<br />
para as instituições financeiras e que são<br />
agora encarados como positivos. «O que<br />
inicialmente aparentava ser um tsunami<br />
sobre o sector bancário e segurador, demonstra-se<br />
agora uma onda necessária e<br />
que deve ser surfada», como referido na<br />
edição 21 da revista Risco, que contém<br />
A GESTÃO DE <strong>RISCO</strong>S<br />
ENCONTRA-SE<br />
PRESENTE EM TODAS<br />
AS ORGANIZAÇÕES,<br />
MESMO QUANDO<br />
NÃO É ENQUADRADA<br />
FORMALMENTE<br />
COMO TAL<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 17
GESTÃO<br />
OS PROFISSIONAIS DE <strong>RISCO</strong><br />
DEVEM AJUDAR A RESTANTE<br />
ORGANIZAÇÃO<br />
A IDENTIFICAR<br />
<strong>RISCO</strong>S COM IMPACTOS<br />
NEGATIVOS, BEM<br />
COMO OPORTUNIDADES,<br />
OU <strong>RISCO</strong>S POSITIVOS<br />
vários artigos sobre as possibilidades da<br />
relação colaborativa entre bancos/seguradoras<br />
e fintech/insurtech.<br />
Para capturar todos os benefícios da<br />
gestão de riscos, é assim essencial considerar<br />
não só os riscos sobre as oportunidades<br />
identificadas através do processo estratégico,<br />
mas também as oportunidades<br />
que podem surgir depois da identificação<br />
dos riscos. Em resumo, destacar o que é<br />
positivo e não só o que é negativo, consolidando<br />
a reciprocidade entre riscos e oportunidades<br />
e o processo de criação de valor.<br />
Independentemente da natureza dos<br />
riscos, tanto para criar valor como para<br />
proteger a organização, é crucial continuar<br />
a fazer bem o que já se faz actualmente,<br />
enquanto é assegurado o alinhamento<br />
continuado da implementação<br />
da estratégia com os interesses dos diferentes<br />
stakeholders.<br />
E se considerarmos todos os stakeholders<br />
existentes, desde os accionistas até<br />
à comunidade em que a organização se<br />
insere, é fácil perceber que é imperativo<br />
considerar e ponderar os riscos existentes,<br />
sejam eles externos, estratégicos ou operacionais.<br />
Ainda mais quando os stakeholders<br />
têm frequentemente interesses distintos<br />
e conflituantes entre si.<br />
É importante que empresas com menor<br />
dimensão, ou, ainda que de maior dimensão<br />
e não reguladas, não sejam desencorajadas<br />
pelo vasto ecossistema da gestão<br />
de riscos. Ao invés, os gestores devem alavancar<br />
o conhecimento que têm das suas<br />
organizações, fomentando o debate de<br />
ideias interno do ponto de vista da gestão<br />
de riscos. A utilização de um framework<br />
de gestão de riscos irá suportar uma abordagem<br />
estruturada e sistematizada na<br />
identificação, mensuração, monitorização<br />
e reporte dos riscos.<br />
Independentemente das ferramentas<br />
utilizadas, a troca de ideias e conhecimento<br />
na identificação dos maiores riscos a<br />
que uma organização se encontra exposta,<br />
assente numa abordagem exploratória<br />
e transversal à organização, pode ser uma<br />
ferramenta muito poderosa e benéfica<br />
para a concretização dos seus objectivos.<br />
Envolver a primeira linha das organizações<br />
é também essencial em vários aspectos,<br />
e não apenas no que diz respeito<br />
ao risco operacional. É usualmente esta<br />
que tem uma percepção em primeira instância<br />
da alteração ao nível dos riscos externos,<br />
que implementa a estratégia nas<br />
organizações e que está mais exposta ao<br />
risco operacional. É por isso, para benefício<br />
da organização como um todo, que a<br />
primeira linha saiba qual o papel que tem<br />
a desempenhar na gestão de riscos e que<br />
o seu input tenha o merecido destaque na<br />
definição da estratégia subjacente.<br />
Transmitir os benefícios da gestão<br />
de riscos e salientar o retorno do investimento<br />
destas actividades é crucial no<br />
envolvimento da linha da frente, porque<br />
é nesta última que a primeira linha, legitimamente,<br />
se irá focar. Para assegurar o<br />
envolvimento transversal da organização,<br />
é também decisivo que a gestão reforce a<br />
importância da gestão de riscos e seja um<br />
facilitador da missão que os responsáveis<br />
por estas actividades têm pela frente.<br />
Os profissionais de risco devem ajudar<br />
a restante organização a identificar riscos<br />
com impactos negativos, bem como oportunidades,<br />
ou riscos positivos, através de comunicação<br />
permanente e bidireccional, não<br />
se focando apenas na identificação de riscos<br />
potencialmente negativos com base num<br />
circuito de informação com sentido único.<br />
Olhando para o momento actual, vemos<br />
que as organizações estão a usar a<br />
seu favor a transformação digital necessária<br />
para fazer frente ao risco cibernético,<br />
ou a mitigar o risco de custos através da<br />
identificação de fornecedores alternativos<br />
com melhores condições ou com políticas<br />
mais sustentáveis, ou ainda como o sector<br />
financeiro irá capturar as oportunidades<br />
que resultam da subida das taxas de juro<br />
através da introdução de novos produtos.<br />
As mudanças internas e externas têm<br />
sido muitas e a uma velocidade cada vez<br />
maior, sendo de crucial importância a integração<br />
da gestão de riscos no processo<br />
estratégico e de decisão das empresas.<br />
O caminho a percorrer dependerá em<br />
muito das especificidades e recursos disponíveis<br />
de cada empresa, sendo certo<br />
que, quem o fizer, extrairá dividendos desse<br />
percurso.<br />
18 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
INOVAÇÃO<br />
BANCOS DEVEM CRIAR NOVAS<br />
EXPERIÊNCIAS PARA CLIENTES<br />
& COLABORADORES<br />
O mundo mudou e o<br />
comportamento dos<br />
clientes bancários<br />
também. Compreender<br />
essas mudanças é<br />
fundamental para que<br />
os bancos mantenham<br />
a confiança e fidelidade<br />
dos seus clientes. Em<br />
entrevista à Risco,<br />
João Alves, Senior<br />
Manager, Financial<br />
Services, da Accenture<br />
Portugal, explica-nos<br />
a onda de inovação a<br />
que estamos a assistir<br />
no sector financeiro, a<br />
criação de uma nova<br />
banca e o perfil dos<br />
novos consumidores.<br />
omo estão a ser endereçados os desafios colocados pelo<br />
C<br />
contexto geopolítico, pelas perspectivas de desaceleração<br />
económica e pela imprevisibilidade da pandemia?<br />
A instabilidade no leste da Europa tem tido um impacto relativamente<br />
suave na banca nacional, devido à reduzida exposição<br />
directa ao sistema bancário russo. No entanto, os impactos indirectos<br />
estão ao virar da esquina, fruto da disrupção das cadeias de abastecimento<br />
e do aumento do preço dos combustíveis, contribuindo para a aceleração dos preços.<br />
Estes dois efeitos negativos têm sido amortecidos pelo nível elevado de poupança das<br />
famílias portuguesas no pós-pandemia e pela reduzida taxa de desemprego.<br />
Os picos de inflação que se deverão manter, no curto prazo, são o grande desafio<br />
para os bancos, prevendo-se um ambiente de taxas de juro crescentes nos próximos<br />
meses para conter a inflação. Entrámos num ambiente de incerteza, onde a eventual<br />
desaceleração da economia, aumento do desemprego e dificuldades no pagamento<br />
do crédito à habitação poderão gerar perdas para os bancos. No entanto, provavelmente,<br />
não antes do 2.º semestre de 2023.<br />
A inflação pode levar os bancos a explorarem novos modelos de negócio baseados<br />
em microprodutos e novos serviços de crédito e poupança. Em paralelo, os<br />
bancos devem continuar a transformar-se do ponto de vista de eficiência, tecnologia<br />
e gestão de risco e liquidez.<br />
Que grandes investimentos irão ter mais impacto nos próximos anos?<br />
A operacionalização de vários modelos de negócio na mesma instituição levanta desafios<br />
de investimento e questões a serem endereçadas pelos bancos, incluindo sobre a:<br />
Capacidade de criar uma base tecnológica e operacional única e transversal;<br />
Gestão de conflitos e canibalização de receitas entre os canais de distribuição;<br />
Propriedade dos dados e dos clientes transversais.<br />
Simultaneamente, os bancos precisarão de lidar com uma série de outras questões,<br />
que irão moldar os investimentos nos próximos anos, nomeadamente:<br />
Como podem ser mitigados os ataques cibernéticos?<br />
20 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
INOVAÇÃO<br />
João Alves,<br />
Senior Manager,<br />
Financial Services, da<br />
Accenture Portugal<br />
Quais devem ser as prioridades de AI,<br />
cloud, metaverso e outras tecnologias?<br />
Qual o posicionamento num contexto<br />
de cashless e aumento dos pagamentos<br />
digitais?<br />
Como criar empatia e aconselhamento<br />
personalizado num mundo digital?<br />
Quais os movimentos de preparação<br />
para as futuras moedas digitais dos<br />
bancos centrais?<br />
Como deve ser gerido o imperativo<br />
da sustentabilidade?<br />
Como irá evoluir o ambiente<br />
regulatório?<br />
Como serão as novas formas de<br />
trabalhar?<br />
Os investimentos estarão, certamente,<br />
centrados na capacitação tecnológica dos<br />
bancos, que permita ganhos de agilidade<br />
na reformulação dos modelos de negócio.<br />
De que forma é que tecnologias já<br />
bem presentes no mercado, como a<br />
IA e o ML, contribuíram e ainda vão<br />
contribuir para a grande transformação<br />
SEGUNDO O “ACCENTURE<br />
TECHNOLOGY VISION<br />
2022”, 89% DOS<br />
EXECUTIVOS<br />
BANCÁRIOS CONCORDAM<br />
QUE A CAPACIDADE DE<br />
GERAR VALOR ESTÁ CADA<br />
VEZ MAIS DEPENDENTE DA<br />
SUA ARQUITECTURA<br />
TECNOLÓGICA<br />
do sector nos últimos anos?<br />
Segundo o “Accenture Technology Vision<br />
2022”, 89% dos executivos bancários concordam<br />
que a sua capacidade de gerar valor está<br />
cada vez mais dependente da sua arquitectura<br />
tecnológica. De facto, existe uma alta correlação<br />
no sector bancário entre a adopção de<br />
tecnologia e o crescimento de receita.<br />
Embora o leque de tecnologias continue<br />
a expandir-se, o Technology Vision 2022<br />
confirma que IA/ML e cloud, seguidas pela<br />
cibersegurança, serão provavelmente as<br />
que terão maior impacto, nomeadamente<br />
na aquisição de clientes, desenvolvimento<br />
de produtos, serviços de advisory, etc.<br />
A combinação destas tecnologias permite<br />
que os bancos revolucionem o seu front,<br />
middle e back offices e, fundamentalmente,<br />
repensem seus negócios.<br />
Em relação a IA, 77% dos executivos portugueses<br />
afirmam que a sua organização já<br />
depende de tecnologias de IA para funcionar<br />
de forma eficaz e 92% concordam que “a IA<br />
está a tornar-se generalizada nos processos<br />
de negócio”. No entanto, há alguma desconfiança<br />
dos clientes em confiar totalmente na<br />
IA. Os clientes esperam transparência e responsabilidade<br />
para evitar o uso indevido.<br />
A tecnologia é o factor-chave que continuará<br />
a viabilizar novas propostas de valor<br />
e modelos de negócio.<br />
Qual o papel para o sector financeiro<br />
de tecnologias emergentes como o<br />
metaverso, por exemplo?<br />
Ainda faz sentido começar por questionar<br />
o que é o metaverso. Construído em<br />
tecnologias como a realidade aumentada<br />
(RA), realidade virtual (RV) e blockchain, o<br />
metaverso é um lugar onde as pessoas podem<br />
encontrar-se e interagir, e onde activos<br />
digitais (terrenos, edifícios, avatares, etc.)<br />
podem ser criados, comprados e vendidos.<br />
Este mundo virtual onde se podem realizar<br />
transacções sobre activos digitais precisará<br />
de serviços financeiros. Na economia<br />
do metaverso residem oportunidades para os<br />
bancos promoverem serviços de pagamentos,<br />
investimento, seguros e empréstimos.<br />
Além disso, é uma oportunidade de restabelecer<br />
os diálogos perdidos nos canais digitais.<br />
Vários bancos estão já a explorar o metaverso.<br />
O BNP Paribas lançou uma app que<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 21
INOVAÇÃO<br />
permite aos clientes consultar a sua actividade<br />
bancária num ambiente de RV. O Bank<br />
of America oferece formação em RV aos colaboradores<br />
para simular interacções com os<br />
clientes. Um grande banco sul-coreano oferece<br />
um banco virtual onde os clientes podem<br />
interagir com consultores financeiros.<br />
Não há certeza de como este canal irá<br />
evoluir, mas a mudança é inevitável. Os<br />
bancos precisam de explorar o seu potencial<br />
e preparar-se para criar novas experiências<br />
para clientes e colaboradores.<br />
Como podem os bancos aproveitar<br />
estas tecnologias desde já?<br />
O metaverso está ainda no início do<br />
seu desenvolvimento. No entanto, os bancos<br />
devem estar preparados para uma trajectória<br />
semelhante à verificada no mobile<br />
banking, que levou cerca de cinco anos para<br />
se difundir totalmente no sector bancário.<br />
Um bom ponto de partida é avaliar o contexto<br />
de mercado e tecnologia para entender<br />
como está a evoluir o metaverso, bem como<br />
eventuais oportunidades e parceiros. Os bancos<br />
devem também avaliar a sua preparação<br />
tecnológica para estas mudanças iminentes.<br />
Uma adopção madura da cloud é um requisito<br />
base. Pode haver espaço para investimentos<br />
mais direccionados em RV, RA, distributed<br />
ledgers e marketplaces virtuais.<br />
Os bancos devem avaliar quais os casos<br />
de uso que podem alavancar sem alto nível<br />
de custos ou riscos. Por exemplo, o uso de<br />
RV para formação já tem vindo a ser testado<br />
ao longo dos últimos anos.<br />
Paralelamente, os bancos precisarão de<br />
um novo conjunto de competências para<br />
um futuro impulsionado pelo metaverso,<br />
que podem incluir artistas 3D, designers de<br />
jogos, especialistas em plataformas e profissionais<br />
com experiência em blockchain. É essencial<br />
começar a desenvolver talento hoje.<br />
Este período de forte inovação é uma<br />
resposta à mudança do perfil de<br />
consumidor? Como se caracteriza o<br />
novo consumidor do sector financeiro?<br />
Em anos de mudanças sem precedentes,<br />
os clientes bancários moveram-se para<br />
os canais digitais mais rápido do que nunca.<br />
A Covid-19 só acelerou este movimento<br />
em direcção à hiperdigitalização.<br />
O mundo mudou e o comportamento<br />
dos clientes bancários também. Compreender<br />
essas mudanças é fundamental<br />
para que os bancos mantenham a confiança<br />
e fidelidade dos seus clientes. Neste contexto,<br />
a Accenture identifica quatro perfis<br />
principais de clientes bancários:<br />
Pragmáticos: agnósticos ao canal,<br />
vêem a tecnologia como um meio para um<br />
fim e não como uma paixão duradoura;<br />
Tradicionalistas: valorizam o<br />
contacto humano e evitam a tecnologia<br />
sempre que possível;<br />
Pioneiros: assumem riscos, entendem<br />
a tecnologia e têm fome de inovação,<br />
privilegiando o contacto por meio de<br />
canais digitais;<br />
Cépticos: preocupados com a tecnologia<br />
e geralmente insatisfeitos com os bancos.<br />
Os clientes estão focados na competitividade<br />
de preços e na relação qualidade-preço,<br />
mas também desejam um toque pessoal quando<br />
se trata de aconselhamento financeiro.<br />
É improvável que a mudança para os<br />
canais digitais seja revertida completamente,<br />
mesmo após a Covid-19. Nem os bancos<br />
nem a maioria dos seus clientes o querem.<br />
EMBORA O VOLUME DE<br />
ACTIVIDADE BANCÁRIA<br />
REALIZADA NOS BALCÕES<br />
CONTINUE A DIMINUIR,<br />
OS CLIENTES<br />
AINDA DESEJAM<br />
INTERACÇÕES<br />
HUMANAS EM<br />
MOMENTOS-CHAVE<br />
Numa banca cada vez mais digital, qual<br />
o papel do balcão tradicional?<br />
A forte adopção das plataformas digitais<br />
tem colocado os balcões tradicionais<br />
sob forte pressão. Há uma percepção generalizada<br />
de que haverá uma redução da<br />
rede de balcões. Mas a realidade é mais<br />
complexa. Embora o volume de actividade<br />
22 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
A Accenture lançou recentemente o seu estudo anual - “Banking Top 10 Trends<br />
for 2022” – que identifica as tendências que estão a impulsionar a disrupção<br />
no sector num mundo pós-Covid, nomeadamente:<br />
QUEREM SER<br />
UMA SUPER-APP<br />
1.TODOS<br />
Os bancos devem decidir competir<br />
ou colaborar com as super-apps.<br />
2.O VERDE TORNA-SE REAL<br />
Os bancos vão ter um papel<br />
decisivo na promoção<br />
da sustentabilidade.<br />
ESTÁ DE VOLTA<br />
Os bancos estão a reinventar<br />
3.INOVAÇÃO<br />
o seu espírito criativo e a<br />
questionar “Porque não?”<br />
UM PASSEIO<br />
MISTERIOSO<br />
4.COMISSÕES...<br />
Produtos “gratuitos” de players<br />
digitais estão a forçar os bancos<br />
a ser mais transparentes – e<br />
criativos – com as comissões.<br />
DIGITAIS<br />
PROCURAM EMPATIA<br />
5.PLATAFORMAS<br />
Os bancos estão a procurar<br />
conexão humana em espaços<br />
digitais.<br />
INTELIGENTES<br />
COM OBJECTIVO ZERO<br />
6.OPERAÇÕES<br />
A aplicação de IA/ ML vai<br />
incrementar a eficiência das<br />
operações bancárias.<br />
DIGITAIS ESTÃO<br />
A CHEGAR<br />
7.MOEDAS<br />
Com a evolução das<br />
criptomoedas, estão a<br />
ganhar ritmo os casos de uso<br />
em torno das moedas digitais<br />
dos bancos centrais.<br />
EM<br />
QUALQUER LUGAR,<br />
QUALQUER HORA… E<br />
8.PAGAMENTOS:<br />
AGORA DE QUALQUER<br />
FORMA<br />
A próxima revolução nos<br />
pagamentos resulta da<br />
adopção de redes abertas,<br />
que obrigam os bancos a<br />
reimaginar a sua oferta.<br />
VOLTAM À<br />
ESTRADA<br />
9.BANCOS<br />
A partir de 2022 esperam-<br />
-se movimentos de<br />
crescimento transfronteiriço<br />
e consolidação.<br />
PELO TALENTO<br />
Os bancos necessitam<br />
10.BATALHA<br />
de uma ambiciosa<br />
estratégia de talento, que<br />
permita voltarem a ser<br />
atraentes para os jovens.<br />
NOVAS TENDÊNCIAS<br />
bancária realizada nos balcões continue a<br />
diminuir, os clientes ainda desejam interacções<br />
humanas em momentos-chave.<br />
Para os bancos, o caminho é transformar<br />
a rede de balcões em “lojas de experiência”,<br />
que coloquem a experiência do cliente no<br />
centro. As lojas de experiência irão permitir:<br />
Promover produtos e disponibilizar<br />
consultoria complexa;<br />
Operar como um componente integrado<br />
da estratégia global de canais, trazendo humanidade<br />
e empatia para a experiência digital;<br />
Promover espaços comunitários, ferramentas<br />
digitais e áreas de retalho, combinando<br />
serviços bancários e de retalho;<br />
Gerir o território, não o balcão, usando<br />
uma combinação de lojas, incluindo<br />
“Experience Hubs” de alta visibilidade, lojas<br />
de “Complemento” e “Satélites” pop-up<br />
ou móveis.<br />
Uma vez que o balcão tradicional continuará<br />
a ser percebido como um must-have,<br />
os bancos terão o desafio de atender às expectativas<br />
dos seus clientes em novos espaços<br />
físicos e canais, proporcionando-lhes<br />
experiências imersivas.<br />
Como são endereçadas as questões<br />
de cibersegurança, numa altura em<br />
que os ciberataques apresentam uma<br />
tendência crescente?<br />
Segundo o estudo “Accenture State of<br />
Cyber Resilience”, e apesar do forte aumento<br />
do investimento em cibersegurança, o<br />
número médio de ataques aumentou 31%<br />
em 2021. Por outro lado, 61% dos ataques<br />
foram indirectos, ou seja, através da cadeia<br />
de valor das organizações e não directamente.<br />
Para além da reforço da capacidade<br />
de defesa a ataques indirectos, as equipas<br />
de cibersegurança das organizações com<br />
maior ciber-resiliência têm continuado a<br />
endereçar um conjunto de outras medidas:<br />
Equilibrar os investimentos de cibersegurança<br />
com os objectivos de negócio;<br />
Reportar a cibersegurança directamente<br />
ao CEO e ao conselho de administração;<br />
Consultar regularmente o CEO e o<br />
INOVAÇÃO<br />
CFO no desenvolvimento das estratégias<br />
de cibersegurança, colaborando mais com<br />
os restantes gestores de topo;<br />
Incorporar a segurança nas iniciativas<br />
de transformação para a cloud;<br />
Medir a maturidade dos programas de<br />
cibersegurança pelo menos uma vez por ano;<br />
Proteger melhor a organização da<br />
perda de dados.<br />
Para alcançar ciber-resiliência de uma<br />
forma sustentada, os CISO precisam obter<br />
uma visão 360º dos riscos e prioridades de<br />
negócio. Gastar mais em cibersegurança<br />
sem um alinhamento com o negócio não<br />
torna uma organização mais segura.<br />
De que forma as questões de<br />
cibersegurança impactam o<br />
funcionamento interno dos bancos?<br />
Tal como já mencionado, o maior risco<br />
são as crescentes ameaças de ataques indirectos,<br />
feitos por meio das vulnerabilidades<br />
nas defesas dos fornecedores, parceiros ou<br />
entidades subsidiárias.<br />
A resposta a este problema seria fácil de<br />
explicar, embora muito mais difícil de implementar<br />
e gerir a longo prazo. Seria exigir os<br />
mesmos padrões de segurança da sua organização<br />
a qualquer entidade terceira. Caso contrário,<br />
a sua rede é tão segura quanto a entidade<br />
menos segura conectada à sua organização.<br />
O recurso a relatórios externos de avaliação<br />
do rating de segurança de entidades externas<br />
pode ser uma alternativa para priorizar riscos<br />
e proteger o ecossistema corporativo.<br />
Para além da forma de interacção com<br />
terceiros, os desafios da cibersegurança impactam<br />
em muitos outros domínios o funcionamento<br />
interno das entidades financeiras,<br />
nomeadamente:<br />
No lançamento de novos produtos;<br />
Na definição de novas formas de trabalhar<br />
– trabalho remoto;<br />
Na priorização de investimentos<br />
tecnológicos;<br />
Na formação a toda a organização em<br />
temas de segurança;<br />
Na maior colaboração interna para<br />
uma visão 360º dos riscos de cibersegurança.<br />
As instituições financeiras devem continuar<br />
a reforçar a sua ciber-resiliência, impactando<br />
o menos possível as consequências<br />
para o seu negócio.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 23
SUSTENTABILIDADE<br />
JÁ NÃO SÃO ACEITÁVEIS<br />
MODELOS DE NEGÓCIO<br />
ASSENTES NUMA<br />
EXPLORAÇÃO DOS<br />
RECURSOS ATÉ<br />
À EXAUSTÃO<br />
José Eduardo<br />
Bonito,<br />
head of Life<br />
Savings Divison<br />
da Fidelidade<br />
24 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
SUSTENTABILIDADE<br />
«INVESTIR PARA GERAR<br />
IMPACTO POSITIVO»<br />
Com 214 anos de história, a Fidelidade tem<br />
a responsabilidade social e a sustentabilidade integradas<br />
num modelo de negócio, desde sempre, pensado<br />
de pessoas para pessoas. José Eduardo Bonito,<br />
head of Life Savings Divison da Fidelidade, explicou à<br />
Risco como as novas soluções da seguradora<br />
se enquadram nesta estratégia.<br />
Q<br />
ual a importância do tema da sustentabilidade para a Fidelidade?<br />
A sustentabilidade na Fidelidade é, acima de tudo, um investimento<br />
no futuro e uma transformação que toda a sociedade terá de ganhar a<br />
consciência de que terá de acontecer. Em termos corporativos, há muito<br />
tempo que a Fidelidade já tem essa consciência, e por isso a sustentabilidade está<br />
perfeitamente integrada no modelo de negócio. Há anos que a Fidelidade aposta em<br />
projectos diferenciadores para o mercado português no âmbito da responsabilidade<br />
social. E este é um facto que está no ADN da seguradora; a sustentabilidade está na<br />
nossa génese.<br />
Não é segredo que este tema já não é uma moda. É, em si mesmo, um novo<br />
modelo de negócio, e por isso os factores ambientais, sociais e de governance são<br />
integrados em tudo o que fazemos, seja nas operações internas, seja no desenvolvimento<br />
de produtos e serviços para o cliente, seja na relação com parceiros, distribuidores<br />
e fornecedores. Os modelos de negócio tradicionais, que assentavam<br />
puramente no aspecto económico-financeiro, mudaram totalmente e este é um<br />
caminho que já não volta atrás.<br />
É certo que o objectivo económico-financeiro não se pode perder nesta nova<br />
lógica de mercado, mas é agora exigido às empresas que o façam de uma forma<br />
consciente e com benefícios para o planeta e para a sociedade. Assim, já não são<br />
aceitáveis modelos de negócio assentes numa exploração dos recursos até à exaustão.<br />
Exige-se que exista um equilíbrio entre a componente económico-financeira e a<br />
sustentabilidade que garanta que, no final, continuaremos a ter um planeta, na plenitude<br />
do termo, e não apenas um espaço para viver. Certo é que no que diz respeito<br />
às questões ambientais, chegámos a um ponto sem retorno.<br />
As empresas e a sociedade, com especial<br />
envolvimento das novas gerações, estão<br />
a tomar consciência da importância de<br />
investir numa oferta de produtos sustentáveis<br />
e de ter valores e atitudes em conformidade<br />
com esta necessidade de proteger<br />
o ambiente. E, por isso, este é um tema de<br />
extrema importância e que tem de estar incorporado<br />
na gestão do dia-a-dia da Fidelidade<br />
e, arrisco dizer, de qualquer empresa.<br />
Além dessa tomada de consciência por<br />
parte das empresas, a sustentabilidade<br />
tornou-se igualmente uma exigência<br />
dos clientes...<br />
Sem dúvida. A sociedade e os clientes<br />
têm sido impulsionadores essenciais para<br />
esta tomada de consciência e levam as empresas<br />
a pensar as suas ofertas com objectivos<br />
enquadrados no âmbito da sustentabilidade.<br />
Hoje em dia, já não é viável lançar um<br />
produto ou serviço sem ter em consideração<br />
o risco de sustentabilidade. O retorno<br />
dos produtos de poupança e investimento<br />
continua a ser importante, mas já não é o<br />
único objectivo, nem o pode ser, nem para<br />
a empresa que o lança, nem para o cliente<br />
que o subscreve. É fundamental que estes<br />
produtos tenham a capacidade de gerar impacto<br />
positivo na sociedade.<br />
Esta preocupação dos clientes com o<br />
meio ambiente já não é nova, mas continua<br />
a ser crescente. Cada vez mais as pessoas<br />
estão muito atentas a estas questões e já<br />
não vêem com bons olhos produtos de investimento<br />
cujo retorno tenha por base activos<br />
que possam ter impacto negativo em<br />
termos ambientais.<br />
Além dos clientes, também o regulador<br />
está a levar as empresas e os agentes econó-<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 25
SUSTENTABILIDADE<br />
micos a terem a sustentabilidade em linha<br />
de conta nas suas políticas corporativas.<br />
Os riscos financeiros já não são os únicos<br />
a serem tidos em conta; também os ambientais,<br />
sociais e de governance têm de ser<br />
considerados e avaliados.<br />
Neste sentido, em Dezembro do último<br />
ano, a Fidelidade criou um produto PPR<br />
ESG (Environment, Social and Governance).<br />
Este é um bom exemplo de produto em<br />
que equilibramos os modelos de retorno<br />
do investimento com os factores de ESG.<br />
O produto promove características ambientais<br />
e sociais através do investimento<br />
em índices de acções, com boas classificações<br />
de rating ESG, emitidos por entidades<br />
reconhecidas neste âmbito, considerando<br />
o investimento em emitentes com rating<br />
ESG igual ou superior a “A” (ou equivalente),<br />
sendo assim alinhados, por um lado,<br />
com boas práticas e critérios do ponto de<br />
vista ambiental e social, bem como com os<br />
princípios emanados pelos Objectivos de<br />
Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos<br />
pela Organização das Nações Unidas<br />
na implementação da Agenda 2030 para o<br />
Desenvolvimento Sustentável.<br />
Foi a partir desse projecto piloto que foi<br />
criada a app Fidelidade MySavings?<br />
O Fidelidade Savings, baseado na App<br />
MySavings, já existia, mas está a evoluir<br />
também numa óptica de sustentabilidade<br />
e literacia financeira. É uma aplicação end-<br />
-to-end (da Fidelidade directamente para o<br />
cliente) e inclui um conjunto de informações<br />
que podem ser consultadas antes da<br />
subscrição de produtos de poupança ou<br />
investimento, e que esclarecem o cliente<br />
quanto a vários conceitos financeiros: o que<br />
é o risco, como planear um investimento,<br />
qual a diferença entre investimento e poupança,<br />
entre outros temas. É uma academia<br />
in-app – aliás, é assim mesmo que lhe chamamos<br />
dentro da aplicação.<br />
Esta questão da literacia financeira é<br />
uma outra forma de sustentabilidade, neste<br />
caso, do ponto de vista social. Portugal tem<br />
uma literacia financeira baixa e a Fidelidade<br />
quer contribuir para formar os seus clientes,<br />
com o objectivo de lhes fazer perceber<br />
como funcionam os serviços que subscrevem,<br />
qual o retorno expectável, quais os<br />
riscos inerentes e qual o impacto ambiental,<br />
que se pretende cada vez menor.<br />
A app permite ao cliente, de uma<br />
forma completamente desmaterializada<br />
(todo o processo é online e sem papel),<br />
criar uma poupança ou investir capital.<br />
No que diz respeito à poupança, queremos<br />
explicar aos nossos clientes que esta<br />
deve ter um objectivo. Vivemos numa sociedade<br />
de imediatismo, em que, quando<br />
se quer comprar algo, recorre-se ao crédito.<br />
É importante formar as pessoas para<br />
que tomem consciência que isto não é<br />
sustentável. Quem não tiver liquidez para<br />
comprar determinado bem, deve planear<br />
essa compra com antecedência e fazer<br />
uma poupança que conduza a essa liquidez.<br />
Assim, na app, o cliente encontra vários<br />
objectivos predefinidos de poupança<br />
(comprar casa, carro, um telemóvel, obras,<br />
entre outros) e é apresentada uma solução<br />
de poupança para cada um desses objectivos,<br />
com um valor mensal e um prazo não<br />
inferior a seis meses.<br />
Além desta secção de poupança, o<br />
Fidelidade Savings tem uma opção de investimento,<br />
com diferentes graus de risco,<br />
e também aqui a literacia financeira é<br />
baixa e muito necessária. Culturalmente,<br />
Portugal tem pouca dinâmica de mercado<br />
de capitais, seja em termos colectivos ou<br />
individuais, porque as pessoas associam o<br />
mercado de capitais a alavancagem, arbitragem,<br />
especulação e jogo. Na verdade,<br />
não é disto que se trata, mas sim de uma<br />
forma de investir as nossas poupanças.<br />
A SOCIEDADE E OS<br />
CLIENTES TÊM SIDO<br />
IMPULSIONADORES<br />
ESSENCIAIS<br />
PARA ESTA TOMADA<br />
DE CONSCIÊNCIA<br />
Nesse sentido, foi criada uma opção de<br />
investimento do Fidelidade Savings, que dá<br />
acesso a activos diversificados de índices<br />
ESG, complementando as duas opções já<br />
existentes, inclusive uma com 90% de capital<br />
garantido (oferta equilibrada, para todos os<br />
perfis e necessidades, na óptica investimento).<br />
Logicamente, o retorno destes investimentos<br />
depende da opção por uma ou outra<br />
modalidade, sendo maior o retorno expectável<br />
quando não existe capital garantido.<br />
Esta opção tem 52% em índices de acções<br />
e 48% em dívida pública da Alemanha<br />
e da França. Dos índices S&P e MSCI, são<br />
seleccionadas as empresas com melhor<br />
rating ESG, excluindo sectores ou empresas<br />
controversas. A médio e longo prazo,<br />
acreditamos que estas empresas vão gerar<br />
maior valor para os nossos clientes, porque<br />
apostam em modelos de negócio assentes<br />
no desenvolvimento sustentável.<br />
Em 2023 a Fidelidade irá lançar mais<br />
produtos com esta dinâmica. No entanto,<br />
além de novos produtos que venham a ser<br />
lançados, toda a nossa carteira de investimentos<br />
está a ser repensada de acordo com<br />
os Princípios para um Investimento Responsável.<br />
Os novos investimentos já têm estes<br />
princípios em conta, mas existe um legacy<br />
que tem de ser adaptado com o tempo. É um<br />
caminho que se vai fazendo gradualmente.<br />
Uma outra opção que poderá vir a integrar<br />
o Fidelidade Savings no futuro é um<br />
PPR geracional, que se adapta ao ciclo de<br />
vida de cada pessoa. O risco que uma pessoa<br />
de 20 anos pode assumir é diferente<br />
daquele que uma de 60 assume. Mas todas<br />
podem investir ao longo da vida e todas podem<br />
continuar a investir, mesmo depois de<br />
já se encontrarem em situação de reforma.<br />
O objectivo desta nova oferta é, mais uma<br />
vez, o de apoiar os nossos clientes na construção<br />
da sua sustentabilidade financeira.<br />
Qual o feedback dos clientes?<br />
O feedback que temos recebido é que<br />
este é um produto muito simples e funcional<br />
na sua contratação, gestão e acompanhamento.<br />
No negócio segurador, este<br />
nível de transparência é muito importante,<br />
ainda mais quando este é um produto que<br />
transfere riscos de mercado para o cliente<br />
e muitas vezes este não sabe o que isso sig-<br />
26 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
SUSTENTABILIDADE<br />
PORTUGAL TEM UMA<br />
LITERACIA FINANCEIRA<br />
BAIXA E A FIDELIDADE<br />
QUER CONTRIBUIR<br />
PARA FORMAR<br />
OS SEUS CLIENTES<br />
nifica. É por isso que é tão importante este<br />
caminho que estamos a fazer de aposta na<br />
literacia financeira.<br />
Outro ponto interessante é que esta<br />
aplicação está a chegar a clientes mais jovens,<br />
e foi pensada precisamente tendo esse<br />
como um dos objectivos. Não basta, no entanto,<br />
entregar um produto a estes novos<br />
clientes: é fundamental que eles percebam<br />
que existe um valor real e que se trata de<br />
uma solução ampla, eficaz e que se adapta<br />
às suas necessidades.<br />
O que também é muito interessante<br />
no Fidelidade Savings é o facto de permitir<br />
gerir o ciclo de vida e o ciclo económico.<br />
Num produto tradicional, quando se faz o<br />
resgate de uma poupança, é preciso criar<br />
uma nova apólice para reinvestir. Neste<br />
caso não. É possível mudar de modalidade<br />
de poupança ou investimento para mitigar<br />
os riscos em determinadas alturas e, depois,<br />
se assim o entender, voltar à modalidade de<br />
maior risco. Tudo sem mudar de apólice.<br />
Por tudo isto, este é um produto para a<br />
vida toda, se o cliente assim o entender, e<br />
permite gerir todas as dinâmicas de mercado.<br />
Os produtos tradicionais não conseguem<br />
ter esta dinâmica.<br />
Queremos, acima de tudo, que os clientes<br />
tenham a consciência de que é importante<br />
poupar por objectivos e planear o futuro.<br />
Para isso, apresentamos uma aplicação que<br />
é equilibrada em termos de custo/retorno e<br />
tem uma dinâmica interessante de elasticidade<br />
que serve para todas as condicionantes.<br />
Quais os maiores obstáculos?<br />
O maior obstáculo é mesmo a baixa<br />
literacia financeira. O negócio segurador<br />
alicerça-se na confiança, e essa a Fidelidade<br />
tem, ou não fosse uma empresa com<br />
mais de 200 anos, e uma solidez financeira<br />
inquestionável (rating A pela agência<br />
de notação Fitch). Tudo o que fazemos é<br />
para acrescentar valor aos clientes. A maior<br />
dificuldade é mesmo a estrutura da nossa<br />
sociedade, onde este tipo de dinâmicas,<br />
conceitos e modelos de negócio ambientais<br />
ainda têm um caminho muito longo para<br />
fazer. A nossa população não tem o grau de<br />
literacia que gostaríamos. E esse caminho<br />
tem de ser feito.<br />
Estamos num processo de transformação<br />
de um negócio de capital e taxa garantidos<br />
para um negócio de risco tomador<br />
(jargão segurador: unit-linked), e isto implica<br />
outros tipos de riscos a que as nossas<br />
redes de distribuição e os nossos clientes<br />
não estavam habituados.<br />
É por isso que estamos a dar tanta importância<br />
à formação de clientes, para que<br />
os subscritores destes produtos percebam o<br />
significado do que estão a subscrever, o seu<br />
valor real e os riscos. Transparência total.<br />
Que boas práticas internas se<br />
destacam na Fidelidade em matéria<br />
de sustentabilidade?<br />
A Fidelidade é um casa de valores humanos<br />
e de grande consciência social. Procura<br />
recorrentemente apoiar os seus colaboradores,<br />
parceiros, clientes e a sociedade em<br />
geral, está na sua génese e no seu modelo de<br />
negócio, não fosse um negócio de pessoas<br />
para pessoas – o “S” (do ESG) está “entranhado”.<br />
Além disso, na sua cadeia de valor e<br />
na relação com todos os seus stakeholders,<br />
procura recorrentemente ter um impacto<br />
positivo, tendo sempre presente a inclusão<br />
dos impactos ambientais e sociais na forma<br />
como o seu retorno económico-financeiro<br />
é gerado, i.e., um valor real sustentável.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 27
FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />
SUSTENTABILIDADE:<br />
O novobanco anunciou<br />
em Maio uma nova<br />
estratégia de ESG com um<br />
compromisso a três anos.<br />
Carlos Brandão, general<br />
manager de Global Risks<br />
do novobanco, explica<br />
à Risco as premissas<br />
desta estratégia.<br />
«UMA JORNADA<br />
EM CURSO»<br />
C<br />
omo vê o novobanco as matérias ESG e como as incorpora na sua<br />
estratégia de negócio?<br />
A sustentabilidade e as preocupações ESG, sigla em inglês para Ambiente,<br />
Social e Governo Corporativo, dominam a agenda mundial e<br />
têm merecido uma especial atenção por parte da maioria das grandes empresas,<br />
não sendo o novobanco uma excepção.<br />
Em particular, a preocupação com as alterações climáticas deu origem a muitas<br />
iniciativas ao longo dos últimos 30 anos, mas, na realidade, não é ainda um tema<br />
verdadeiramente integrado na maioria dos modelos de negócio, é antes uma jornada<br />
em curso, não completamente dominada e com desafios muito significativos.<br />
Desde 2015, aquando do Acordo de Paris, e em particular nos últimos cinco<br />
anos, governos, investidores e sociedade em geral têm intensificado a pressão para<br />
acelerar a integração, nos modelos de negócio, dos temas do combate às alterações<br />
climáticas e da sustentabilidade.<br />
Neste contexto, o quadro regulatório do sector financeiro tem evoluído significativa<br />
e aceleradamente, reconhecendo o papel da banca como principal financiador<br />
da economia e, consequentemente, catalisador de uma transição justa para<br />
uma economia de baixo carbono.<br />
O plano de acção da Comissão Europeia para um crescimento sustentável é a base<br />
para iniciativas regulatórias com impacto nos bancos e nas empresas em geral, que procuram,<br />
entre outros, reorientar capitais para investimentos mais sustentáveis e reforçar<br />
a transparência e visão de longo prazo na condução do negócio e na gestão dos riscos.<br />
São disso exemplo a Taxonomia Europeia, que estabelece critérios para determinar<br />
em que condições uma actividade económica contribui substancial-<br />
mente para um objectivo ambiental, o<br />
Regulamento SFDR, que define requisitos<br />
adicionais de divulgação de informações<br />
relacionadas com a sustentabilidade no<br />
sector financeiro, ou os requisitos adicionais<br />
de informação não financeira aplicáveis<br />
a todas as grandes empresas e, a prazo,<br />
previsivelmente também às pequenas e<br />
médias empresas.<br />
O novobanco, consciente deste importante<br />
papel do sector financeiro, definiu<br />
como um dos pilares do seu plano estratégico<br />
a integração dos riscos ESG no seu<br />
modelo de negócio, procurando adoptar<br />
uma abordagem estruturada, ambiciosa e<br />
eficaz para enfrentar os desafios ambientais<br />
e sociais na transição para uma economia<br />
sustentável e de baixo carbono.<br />
A nossa actuação incide não apenas nas<br />
questões ambientais, onde queremos minimizar<br />
o impacto negativo no ambiente<br />
das nossas operações próprias e apoiar os<br />
nossos clientes nas suas jornadas de transição,<br />
mas também nas questões sociais e de<br />
28 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />
governance. Queremos maximizar e medir<br />
o impacto positivo que o novobanco tem<br />
na sociedade e nas comunidades que serve,<br />
endereçando em primeira instância os nossos<br />
clientes e colaboradores.<br />
Recentemente, o novobanco anunciou<br />
o seu compromisso a três anos no<br />
financiamento da transição energética,<br />
economia circular e economia de baixo<br />
carbono. Quais são os eixos principais<br />
desta estratégia?<br />
A nossa estratégia e abordagem endereça<br />
os temas ambientais e sociais não apenas<br />
como riscos, mas também como oportunidades<br />
que queremos incorporar intrinsecamente<br />
na estratégia de negócio.<br />
Na definição da nossa estratégia, compromissos<br />
e objectivos ESG, estruturámos<br />
a nossa abordagem em três eixos que reflectem<br />
a forma como endereçamos os<br />
temas materiais e objectivos de desenvolvimento<br />
sustentável identificados pelos<br />
nossos stakeholders:<br />
Negócio sustentável: assegurando<br />
um desempenho financeiro robusto que<br />
crie valor para todos os stakeholders;<br />
minimizando o impacto ambiental das<br />
nossas operações; e investindo de forma<br />
responsável, incorporando riscos e oportunidades<br />
ESG no negócio e na oferta.<br />
A minimização do nosso impacto ambiental<br />
passa pela redução de consumos<br />
internos, optando pelo digital em substituição<br />
do papel, pela racionalização das<br />
deslocações e pela utilização de energias<br />
Carlos Brandão,<br />
general manager<br />
de Global Risks<br />
do novobanco<br />
A SUSTENTABILIDADE<br />
E, PARTICULARMENTE,<br />
OS TEMAS ASSOCIADOS ÀS<br />
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS<br />
DOMINAM A AGENDA<br />
MUNDIAL<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 29
FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />
renováveis, para citar alguns exemplos,<br />
mas principalmente pelo apoio que pretendemos<br />
dar aos nossos clientes na redução<br />
da intensidade carbónica da sua<br />
actividade, através da disponibilização de<br />
produtos e financiamento que lhes permitam<br />
transitar para modelos de negócio<br />
mais sustentáveis.<br />
Bem-estar social e financeiro: promovendo<br />
o bem-estar dos nossos colaboradores<br />
e uma cultura corporativa inclusiva, que<br />
tem a diversidade como alavanca estratégica;<br />
e garantindo uma troca justa de valor<br />
com os nossos clientes, servindo com conveniência,<br />
proximidade e transparência.<br />
Neste âmbito, desenvolvemos iniciativas<br />
junto dos colaboradores, como o Programa<br />
de Bem-Estar, que promove iniciativas<br />
de conciliação entre a vida pessoal e<br />
profissional ou a saúde mental e física dos<br />
colaboradores, bem como uma oferta comercial<br />
para clientes particulares que incentiva<br />
hábitos de poupança saudáveis e<br />
regulares, acessíveis a todas as bolsas.<br />
Banca responsável: queremos ser<br />
uma referência de impacto positivo na sociedade,<br />
actuando num modelo de governance<br />
robusto, com transparência e ética.<br />
Alguns exemplos da nossa actuação<br />
neste âmbito são as iniciativas desenhadas<br />
para promover a equidade e igualdade de<br />
género nas equipas do banco, bem como<br />
A NOSSA PRIORIDADE<br />
É APOIAR OS NOSSOS<br />
CLIENTES NA TRANSIÇÃO<br />
PARA UMA ECONOMIA<br />
DE BAIXO CARBONO<br />
iniciativas de impacto nas comunidades<br />
que servimos, que contribuem para o aumento<br />
da literacia financeira e digital.<br />
De que forma o modelo de negócio<br />
do banco está a ser alinhado em<br />
conformidade com as directivas<br />
decorrentes do Pacto Europeu para<br />
o Clima e com os compromissos<br />
assumidos pela União Europeia no<br />
âmbito do Acordo de Paris?<br />
O nosso programa de transformação do<br />
modelo de negócio para garantir o alinhamento<br />
com as metas europeias estrutura-se<br />
em três linhas de actuação para endereçar<br />
os riscos climáticos e sociais e promover<br />
um impacto social e económico positivo<br />
nas comunidades que servimos: adaptação<br />
da estratégia de negócio, governance e gestão<br />
de risco, e divulgação e reporte.<br />
No que respeita à adaptação da estratégia<br />
de negócio, a nossa prioridade é<br />
apoiar os nossos clientes na transição para<br />
uma economia de baixo carbono, com forte<br />
valorização da sua circularidade.<br />
Esta transição envolve riscos e oportunidades<br />
para o sector bancário, das quais<br />
decorrem novas formas de fazer negócio,<br />
estando o banco a assumir um papel activo:<br />
i) na reorientação dos fluxos financeiros<br />
para investimentos sustentáveis,<br />
com a incorporação ESG na oferta e nos<br />
investimentos;<br />
ii) no reposicionamento do investimento<br />
nos sectores mais poluentes, apoiando<br />
os esforços de transição das empresas e;<br />
iii) na integração dos riscos ambientais,<br />
sociais e de governance na análise de risco,<br />
respeitando as directivas decorrentes do<br />
Pacto Europeu.<br />
Neste contexto, estamos a rever e<br />
adaptar a nossa estratégia de financiamento<br />
e investimento, o apetite pelo risco<br />
e a nossa oferta de produtos e serviços<br />
para garantir um alinhamento gradual da<br />
carteira para cumprir os objectivos da<br />
COP26, o Plano de Acção da UE e os compromissos<br />
climáticos nacionais.<br />
MODELO DE DIVIDENDO SOCIAL<br />
O modelo de Dividendo<br />
Social do novobanco<br />
é composto por três<br />
programas com cinco<br />
indicadores cada,<br />
e define objectivos<br />
para 2024.<br />
30 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
Quais os objectivos definidos pelo<br />
novobanco para esta estratégia<br />
até 2024? Qual a estratégia para<br />
financiamentos verdes?<br />
A estratégia para o financiamento verde<br />
do banco passa pela caracterização da<br />
nossa carteira de crédito e investimentos<br />
de acordo com a Taxonomia Europeia, pela<br />
reavaliação do nosso apetite de risco e integração<br />
dos riscos ESG no quadro global<br />
de gestão de riscos do banco e, principalmente,<br />
por um plano de apoio à transição<br />
de sectores e empresas nacionais.<br />
A nossa estratégia transversal de sustentabilidade<br />
estabelece os objectivos, os<br />
planos de acção calendarizados e a capacitação<br />
interna das equipas com conhecimentos<br />
especializados. Mas estabelece<br />
também um compromisso de divulgação<br />
e monitorização da nossa performance<br />
na sustentabilidade.<br />
O banco lançou recentemente o seu<br />
modelo de Dividendo Social, composto por<br />
três programas com cinco indicadores cada<br />
e com objectivos definidos para 2024.<br />
No programa Ambiente, o banco estabeleceu<br />
um objectivo de 600 milhões<br />
de euros em novo investimento verde até<br />
2024, i.e., investimento ou financiamento<br />
a empresas ou projectos cuja actividade<br />
económica principal seja elegível para<br />
a Taxonomia Europeia. Monitorizamos<br />
mensalmente este indicador e divulgamos<br />
trimestralmente a nossa evolução.<br />
Que desafios existem neste<br />
realinhamento do modelo de negócio<br />
para uma actividade mais sustentável?<br />
O complexo quadro regulamentar e<br />
ESG em constante evolução insta os bancos<br />
a rever e incorporarem novos requisitos<br />
regulamentares ao longo de cadeias de<br />
valor inteiras, a reverem as estratégias de<br />
negócio em relação aos clientes e produtos-alvo,<br />
a ajustarem as ferramentas e modelos<br />
de risco e de preço e a desenvolverem<br />
capacidades para quantificar e monitorizar<br />
novos tipos de risco, sejam riscos de transição,<br />
físicos, sociais ou de governação.<br />
Esta transformação é particularmente<br />
desafiante, uma vez que exigirá:<br />
Uma quantidade substancial de novos<br />
dados e informações a serem solicitados<br />
A ADOPÇÃO DESTA<br />
ESTRATÉGIA ESG PERMITIRÁ<br />
POSICIONAR-NOS<br />
COMO BANCO<br />
DE REFERÊNCIA ESG<br />
NO MERCADO<br />
FINANCEIRO NACIONAL<br />
aos clientes bancários, nomeadamente micro,<br />
pequenas e médias empresas (PME),<br />
que não estão preparadas para recolher,<br />
monitorizar ou reportar este tipo de informação,<br />
com potenciais custos adicionais<br />
para o fazer. Alguns exemplos são os dados<br />
relativos às suas emissões de gases com<br />
efeito de estufa ou ao alinhamento das suas<br />
actividades com a Taxonomia Europeia.<br />
Operando em Portugal, um mercado<br />
composto quase na totalidade por PME,<br />
este poderá ser um dos maiores desafios<br />
na procura de fontes alternativas de dados<br />
e, simultaneamente, no apoio aos clientes<br />
a prepararem-se e a evoluir os seus modelos<br />
de negócio não só para reportar, mas<br />
também transitar para um modelo de negócio<br />
de baixo carbono.<br />
Igualmente desafiante é o desenvolvimento<br />
de metodologias e processos sobre<br />
questões para as quais a experiência e<br />
a informação de mercado ainda são limitadas<br />
(por exemplo, quantificação a longo<br />
prazo de impactos de transição ou risco<br />
físico). A estratégia terá de ser uma de test<br />
and learn, com evolução gradual das metodologias<br />
por incorporação de resultados<br />
e nova informação.<br />
Finalmente, a disponibilidade em<br />
mercado de exposições verdes/ESG é ainda<br />
algo incipiente, o que constitui uma<br />
limitação aos objectivos de negócio a<br />
curto/médio prazo e, face à procura elevada<br />
para as exposições existentes, vemos<br />
potencial para algum impacto adverso nos<br />
FINANÇAS SUSTENTÁVEIS<br />
preços/rentabilidade dessas exposições<br />
nos balanços do banco.<br />
Qual o impacto no negócio do banco<br />
desta estratégia de ESG?<br />
Talvez o principal impacto para a banca<br />
seja a disrupção da passagem para primeiro<br />
plano e a gradual quantificação dos impactos<br />
e riscos indirectos, positivos ou negativos,<br />
sobre o ambiente e a sociedade das actividades<br />
que financiamos ou nas quais investimos.<br />
Com este novo paradigma, o banco<br />
pretende reforçar o seu apoio aos clientes,<br />
adequando e reformulando a sua oferta de<br />
produtos e serviços para incluir progressivamente<br />
considerações ambientais, sociais<br />
e éticas, cada vez mais presentes nas necessidades<br />
de clientes, tendências de mercado<br />
e exigências regulamentares.<br />
A adopção desta estratégia ESG, alicerçada<br />
numa política de sustentabilidade<br />
recentemente publicada, permitirá posicionar-nos<br />
como banco de referência ESG no<br />
mercado financeiro nacional.<br />
Conscientes do importante papel que<br />
temos que desenvolver, assumimos, de forma<br />
voluntária, importantes compromissos<br />
de sustentabilidade, que ultrapassam as<br />
nossas obrigações legais e consubstanciam<br />
o nosso papel na sociedade e o impacto positivo<br />
que queremos imprimir na relação<br />
com os nossos diferentes stakeholders.<br />
Acredita que as estratégias para a<br />
sustentabilidade serão cada vez mais<br />
uma tendência no sector bancário<br />
em Portugal?<br />
Sem dúvida, a estratégia para a sustentabilidade<br />
terá que ser inevitavelmente incorporada<br />
no modelo de negócio do sector<br />
financeiro em Portugal. Mais do que uma<br />
tendência, diria antes um vector de transformação<br />
inevitável para o sucesso de uma<br />
gestão que se quer a longo prazo, tanto no<br />
sector financeiro como globalmente no tecido<br />
económico e na sociedade.<br />
Uma robusta análise dos impactos ESG,<br />
seus riscos e oportunidades por parte do<br />
sector financeiro e a capacidade de apoiar<br />
os seus clientes na implementação de um<br />
modelo de gestão sustentável dos seus negócios,<br />
será basilar para a competitividade<br />
e para a resiliência do sector financeiro.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 31
CIBERSEGURANÇA<br />
Quatro anos depois,<br />
voltou a realizar-se<br />
o Encontro de Resseguros,<br />
depois de suspensa<br />
a edição de 2020, devido<br />
à pandemia. Os desafios<br />
e as oportunidades<br />
do sector estiveram<br />
em debate durante dois<br />
dias no Estoril.<br />
CIBER<br />
<strong>RISCO</strong><br />
ENTRE A AMEAÇA<br />
E A OPORTUNIDADE<br />
32 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
CIBERSEGURANÇA<br />
N os dias 26 e 27 de Maio, decorreu no Estoril<br />
o XVIII Encontro de Resseguros, promovido<br />
pela Associação Portuguesa de Seguradores<br />
(APS). “Ciber Risco, entre a ameaça e a oportunidade” foi um<br />
dos grandes temas em debate e contou com a participação<br />
do keynote speaker Martin Kreuzer, senior risk manager de<br />
Cyber Risks do grupo alemão Munich RE, que esquematizou<br />
o seu enquadramento nos seguintes tópicos: a situação actual,<br />
os maiores riscos e a sua gestão.<br />
Para ilustrar o ponto em que nos encontramos hoje no<br />
que diz respeito ao ciber risco, Martin Kreuzer recordou que,<br />
à data do evento, contavam-se 19 204 dias desde que a internet<br />
surgiu pela primeira vez, e que desde então foi percorrido<br />
um longo caminho, desde o envio do primeiro e-mail em<br />
Da esquerda<br />
para a direita:<br />
Pedro Santos<br />
Guerreiro<br />
(CNN Portugal),<br />
Jorge Portugal<br />
(Cotec)<br />
e Javier Mora<br />
Rubio<br />
(Mapfre RE)<br />
Foto: Associação Portuguesa de Seguradores (APS)<br />
Outubro de 1969 até à complexidade dos<br />
sistemas actuais.<br />
Hoje, a internet tem 5,3 mil milhões de<br />
utilizadores em todo o mundo e já existem<br />
16,4 mil milhões de dispositivos IOT ligados<br />
à rede. Todo este crescimento alterou<br />
por completo o mundo em que vivemos,<br />
bem como os modelos sociais e de trabalho,<br />
mas Martin Kreuzer lembra que também<br />
existe um «lado negro que corresponde ao<br />
cibercrime e aos seus efeitos económicos.<br />
Para termos uma ideia, só no ano passado,<br />
o impacto de custos estimados, em termos<br />
globais, devido ao cibercrime, foi de 6 biliões<br />
de dólares. É esta a dimensão do que<br />
estamos a tratar».<br />
Entre os principais riscos da actualidade<br />
no que diz respeito à cibersegurança,<br />
Martin Kreuzer coloca no topo da lista o<br />
ransomware, «a ameaça mais altamente<br />
sofisticada que se colocou aos sistemas nos<br />
últimos anos. Existem especialistas que<br />
trabalham apenas nesta área e que seguem<br />
uma lógica económica de negociação de<br />
um resgate para ganhar dinheiro. Mais do<br />
que isso, estes especialistas tentam atrair<br />
pessoas para o seu “negócio”, porque têm<br />
interesse em alargar a sua comunidade para<br />
aumentar a sua eficiência. Existem manuais<br />
para formar novos especialistas, há formações<br />
por subscrição e este é um negócio<br />
que irá continuar».<br />
Outro dos grandes riscos actuais é o<br />
conjunto de ataques informáticos às cadeias<br />
de fornecimento, que está a atingir novos recordes<br />
e se coloca como uma ameaça muito<br />
real e sistémica. A contribuir para este<br />
aumento do risco sistémico está também o<br />
incremento de interdependências digitais,<br />
que faz com que uma enorme parte dos<br />
dispositivos esteja ligada à internet e interligada<br />
entre si. Um bom exemplo disto é o<br />
número de dispositivos IOT que continua<br />
em crescimento e que implica não só uma<br />
conexão constante à internet, mas também<br />
uma interdependência de várias dimensões<br />
do funcionamento das infra-estruturas.<br />
Martin Kreuzer identifica um outro risco,<br />
que é a digitalização dos conflitos geopolíticos,<br />
de que a guerra na Ucrânia está a ser<br />
um exemplo paradigmático. E, neste sentido,<br />
torna-se cada vez mais necessária uma<br />
regulação para lidar com os ciber riscos.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 33
CIBERSEGURANÇA<br />
Perante todas estas ameaças, é essencial<br />
uma gestão de risco eficaz, tendo em<br />
vista este tipo específico de riscos. A diferença<br />
entre a forma como as grandes e<br />
as pequenas empresas lidam com o ciber<br />
risco continua a ser um problema, dado<br />
que nas organizações de menor dimensão<br />
existem casos em que não há sequer uma<br />
abordagem básica à cibersegurança.<br />
Outro problema a resolver é a falta<br />
de especialistas nesta área. De acordo<br />
com dados do WEC, referidos por Martin<br />
Kreuzer, existem apenas 3 milhões de<br />
profissionais de cibersegurança em todo o<br />
mundo – o que é manifestamente pouco.<br />
Os seguros cibernéticos apresentam-<br />
-se como uma grande parte da solução<br />
para as empresas, sendo que a Munich RE<br />
prevê um forte crescimento dos prémios,<br />
em termos globais, de 9,2 mil milhões de<br />
dólares em 2021 para 22,1 mil milhões de<br />
dólares em 2025.<br />
O debate<br />
Após a intervenção de Martin Kreuzer, o<br />
painel sobre ciber risco prosseguiu com um<br />
debate entre António Gameiro Marques,<br />
contra-almirante da Autoridade Nacional<br />
de Segurança e director-geral do Gabinete<br />
Nacional de Segurança; Javier Mora Rubio,<br />
head of Infrastructure and IT Governance<br />
da Mapfre RE; e Jorge Portugal, director-geral<br />
da Cotec – Associação Empresarial para<br />
a Inovação. A moderação do debate esteve<br />
a cargo de Pedro Santos Guerreiro, director<br />
executivo da CNN Portugal.<br />
Perante o contexto apresentado pelo<br />
keynote speaker, o contra-almirante António<br />
Gameiro Marques afirma que este é<br />
«um reflexo do mundo em que vivemos. O<br />
ciber risco coloca-nos uma pressão e um<br />
desafio permanentes, mas continuamos<br />
a ter uma visão transversal à sociedade. É<br />
por isso que empenhamos muitas das nossas<br />
energias na formação e na sensibilização<br />
das pessoas». Esta aposta na formação<br />
prende-se com o facto de existirem «indicadores<br />
da União Europeia que referem<br />
que a literacia digital dos portugueses é baixa,<br />
embora esteja a subir nos últimos anos.<br />
E, quando não sabemos utilizar os meios<br />
digitais, então também não os sabemos utilizar<br />
com segurança».<br />
O contra-almirante refere também a<br />
aposta da Autoridade Nacional de Segurança<br />
e do Gabinete Nacional de Segurança<br />
nas políticas públicas que enquadram a<br />
actividade do Centro Nacional de Cibersegurança<br />
e a colaboração com outras entidades<br />
públicas e privadas. Neste sentido,<br />
António Gameiro Marques afirma que o<br />
sector dos seguros também pode ser um<br />
veículo de transmissão de formação em cibersegurança<br />
para as empresas. Uma ideia<br />
seria a promoção de seguros cujo prémio<br />
dependesse da maturidade digital da empresa,<br />
contribuindo assim para uma sensibilização<br />
quanto à segurança. «Não há<br />
desenvolvimento económico ou social sem<br />
segurança», afirmou.<br />
Por seu lado, Jorge Portugal referiu um<br />
ciberataque recente a um operador de telecomunicações<br />
para lembrar que o tempo<br />
de recuperação até que todos os serviços<br />
fossem restabelecidos foi de 200 dias. E referiu<br />
ainda os 3.000 milhões de dólares de<br />
impacto global do vírus NotPetya, atribuído<br />
por um conjunto de países à Rússia. «A<br />
tendência destes ataques é para aumentar.<br />
Nas empresas há um imperativo para a digitalização,<br />
e por isso é preciso inovar cada<br />
vez mais, mais barato e, se possível, by design.<br />
Só que nem sempre isto é seguro». O<br />
problema é que sempre que se desenvolve<br />
uma componente de software que liga<br />
um dispositivo a uma cloud, por exemplo,<br />
é aberta uma nova frente, ou mesmo um<br />
conjunto de novas frentes de ataque.<br />
O director-geral da Cotec refere que,<br />
«se por um lado a digitalização é essencial<br />
para aumentar a produtividade e manter a<br />
empresa na linha da frente do mercado, por<br />
HOJE, A INTERNET TEM 5,3 MIL<br />
MILHÕES DE UTILIZADORES<br />
EM TODO O MUNDO<br />
E JÁ EXISTEM 16,4<br />
MIL MILHÕES DE<br />
DISPOSITIVOS IOT<br />
LIGADOS À REDE<br />
Martin Kreuzer<br />
falou dos diferentes ciber<br />
riscos que as empresas<br />
enfrentam hoje<br />
outro, existem riscos incrementais que são<br />
incorporados se não se endereçar uma segurança<br />
adicional».<br />
Javier Mora Rubio entrou no debate<br />
com um caso prático, que foi o ataque<br />
informático de que a Mapfre foi alvo em<br />
2020. O head of Infrastructure and IT Governance<br />
da seguradora recordou que a<br />
empresa foi vítima de um software de ransomware,<br />
que conseguiu entrar na rede<br />
através de um anexo de e-mail aberto por<br />
um colaborador.<br />
Rubio refere que o ataque foi «bem planeado<br />
e organizado, com diferentes versões<br />
do malware a serem instaladas na rede, o<br />
que provocou um grande impacto nas operações<br />
em Espanha. Felizmente, estávamos<br />
preparados para reagir». Compreender<br />
o problema e tentar conter a propagação<br />
do malware na rede informática foram as<br />
grandes prioridades, assim que o problema<br />
se manifestou; depois disso, o primeiro passo<br />
foi restabelecer os serviços aos clientes.<br />
34 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
CIBERSEGURANÇA<br />
OS SEGUROS CIBERNÉTICOS<br />
APRESENTAM-SE<br />
COMO UMA GRANDE<br />
PARTE DA SOLUÇÃO PARA<br />
AS EMPRESAS<br />
Ataques com impacto<br />
Em Portugal, desde o início deste ano,<br />
foram oito os ciberataques significativos a<br />
entidades (duas públicas e seis privadas).<br />
António Gameiro Marques afirma que «os<br />
ataques mais destrutivos não foram por<br />
ransomware; foram aqueles em que o atacante<br />
entrou e pura e simplesmente apagou<br />
tudo, incluindo a parte do sistema que permite<br />
que tudo o resto funcione. Em alguns<br />
casos, até os backups foram apagados, o que<br />
é dramático para uma empresa. Há histórico<br />
que se perdeu para sempre. Isto aconteceu<br />
em dois dos ciberataques deste ano».<br />
Outro ponto que o contra-almirante<br />
ressalva é o facto de pelo menos duas entidades<br />
deste grupo de oito estarem muito<br />
bem preparadas e terem investimentos<br />
avultados em cibersegurança. A diferença<br />
desses dois casos foi precisamente esta preparação,<br />
que permitiu «uma recuperação<br />
muito mais estruturada, sem perda de informação<br />
e com a restituição dos serviços<br />
aos colaboradores e aos clientes de uma<br />
forma previsível. Num destes casos, a comunicação<br />
para o exterior foi exemplar».<br />
A lição a tirar é que a diferença entre<br />
os casos de sucesso e os que têm mais dificuldades<br />
em lidar com um ciberataque está<br />
na percepção de risco por parte do C-Level.<br />
«Se o CEO continua a achar que a cibersegurança<br />
é um assunto do departamento de<br />
TI, a empresa está num mau caminho».<br />
Jorge Portugal concorda com esta posição<br />
e diz que as empresas têm de partir do<br />
princípio de que vão ser atacadas, mais cedo<br />
ou mais tarde. É por isso que é tão importante<br />
«perceber de que forma o risco digital<br />
está contemplado. Se ao C-Level temos um<br />
investimento em tecnologia e em digitalização,<br />
do mesmo modo devemos ter um<br />
acompanhamento sobre os riscos incrementais<br />
em termos futuros». O director-geral da<br />
Cotec defende, assim, que deve haver uma<br />
preparação e uma política de segurança que<br />
contemple vários cenários e que defina o<br />
Foto: Associação Portuguesa de Seguradores (APS)<br />
que acontece no caso de um ciberataque,<br />
qual o impacto e quem faz o quê na fase de<br />
reacção. Para isto, as simulações de treino<br />
operacional são uma prática fundamental<br />
no que diz respeito à cibersegurança.<br />
Javier Mora Rubio também realça a importância<br />
desta política de treino e deixa alguns<br />
conselhos às empresas para reduzirem o<br />
possível impacto de um ciberataque: realizar<br />
treinos operacionais, fazer backups externos,<br />
reforçar a segurança, adaptar a segurança aos<br />
dispositivos utilizados na empresa e recorrer a<br />
múltiplas autenticações, entre outras. O head<br />
of Infrastructure and IT Governance da Mapfre<br />
RE lembra ainda que «é fundamental trabalharmos<br />
tendo em conta que os cibercriminosos<br />
estão sempre um passo à nossa frente».<br />
Como nota final, o contra-almirante<br />
António Gameiro Marques afirmou que<br />
«não é cultural na nossa sociedade pensarmos<br />
de uma forma “risk oriented”, mas<br />
é preciso que o façamos. O Centro Nacional<br />
de Cibersegurança coloca ao dispor das<br />
empresas ferramentas que as ajudam a avaliar<br />
o seu risco de cibersegurança, a saber<br />
em que estado de maturidade digital estão<br />
e, sobretudo, a indicar um caminho para<br />
aumentar esse nível de maturidade».<br />
Jorge Portugal concluiu que «o sector<br />
segurador vai representar um papel absolutamente<br />
crucial no futuro, através da criação<br />
de confiança para a estabilização da economia.<br />
Sem que o sector segurador compreenda<br />
como os riscos se estão a acumular nas<br />
empresas, não é possível servir o propósito<br />
para o qual existe, que é o de transferência<br />
de risco. Isto é crítico para as empresas».<br />
Em jeito de conclusão, Javier Mora<br />
Rubio reforçou que «o risco de um ciberataque<br />
é real e acontece. A educação é um<br />
factor crítico».<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 35
ECONOMIA<br />
INFLAÇÃO<br />
Um dos riscos com que as<br />
empresas terão de contar nos<br />
próximos tempos é a inflação,<br />
que já se encontra a níveis só<br />
vistos nos anos 90. Hotelaria,<br />
transportes, têxtil, construção ou<br />
retalho são alguns dos sectores<br />
mais impactados.<br />
QUAL<br />
POR ANTÓNIO SARMENTO<br />
processo de cálculo da inflação<br />
é elaborado pelo Eurostat, que<br />
O<br />
todos os meses recolhe os preços<br />
de cerca de 700 bens e serviços<br />
em Portugal. Estes bens<br />
consistem em produtos do<br />
dia-a-dia que compõem aquilo<br />
a que se chama “cabaz” médio.<br />
Em cada um dos produtos é analisado<br />
o preço em diversos estabelecimentos<br />
comerciais e regiões, por forma a ser calculado<br />
um preço médio. Na análise feita<br />
posteriormente, entram os bens mais preponderantes,<br />
como a electricidade, por<br />
exemplo, que têm um peso superior a outros<br />
com menos importância nas necessidades<br />
do dia-a-dia.<br />
Para completar o cálculo é feita uma<br />
comparação dos preços com o período<br />
homólogo anterior, obtendo-se assim uma<br />
percentagem que representa a variação de<br />
preços. Quando positiva, estamos perante<br />
um cenário de inflação.<br />
A oferta e a procura são um dos factores<br />
catalisadores da inflação. Numa altura<br />
de crise económica, as famílias consomem<br />
menos, provocando uma diminuição da<br />
procura, que leva à redução dos preços.<br />
Do lado inverso temos o exemplo provocado<br />
pelo pós-pandemia, em que a activi-<br />
36 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
ECONOMIA<br />
O IMPACTO?<br />
dade económica ressurgiu, a procura aumentou<br />
e, consequentemente, os preços.<br />
Há, no entanto, outros factores que influenciam<br />
um cenário inflacionário, como<br />
é o caso do aumento do custo das matérias-primas,<br />
as dificuldades nas cadeias<br />
de abastecimento ou ainda um cenário de<br />
tensão geopolítica, como a que se verifica<br />
actualmente com a guerra na Ucrânia.<br />
O antigo ministro da Economia e actual<br />
director do Departamento de Economia da<br />
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />
Económico (OCDE), Álvaro<br />
Santos Pereira, disse, durante as comemorações<br />
do 1.º de Maio, estar preocupado<br />
com o aumento da inflação, e alertou para<br />
potenciais «efeitos dramáticos».<br />
Dando como exemplo os créditos à habitação,<br />
o antigo governante questionou:<br />
«Que consequências terá um aumento de<br />
1 ou 2% das taxas de juro dos empréstimos<br />
das casas? E para os Estados? Terá um impacto<br />
dramático para as pessoas em muitos<br />
países.»<br />
De facto, os preços em Portugal aumentaram<br />
mais 1% durante o mês de Maio,<br />
colocando a taxa de inflação homóloga em<br />
8%, o valor mais alto desde 1993. O País,<br />
que desde o início do ano passado manteve<br />
sempre uma taxa de inflação inferior à da<br />
maioria dos seus parceiros da moeda única,<br />
evitando impactos tão imediatos nos preços,<br />
está agora já ao nível do resto da Zona<br />
Euro neste indicador.<br />
Do lado das empresas, o presidente<br />
da Confederação Empresarial de Portugal<br />
(CIP), António Saraiva, disse recentemente<br />
ser «impossível as empresas, com todos<br />
os custos exponenciais que suportam, por<br />
estas crises que vivemos, acompanharem<br />
os aumentos da inflação». António Saraiva<br />
explicou que as empresas estão a sofrer<br />
aumentos acentuados dos factores de produção,<br />
explicando que a energia eléctrica e<br />
o gás natural subiram 300% e que os transportes<br />
aumentaram 500%.<br />
Da hotelaria ao têxtil<br />
A inflação e a escassez de matérias-primas<br />
e de recursos humanos são actualmente<br />
as principais preocupações da Associação<br />
de Hotelaria, Restauração e Similares de<br />
Portugal (AHRESP). Segundo Carlos Mou-<br />
OS PREÇOS EM PORTUGAL<br />
AUMENTARAM MAIS 1%<br />
EM MAIO, COLOCANDO A TAXA<br />
DE INFLAÇÃO HOMÓLOGA<br />
EM 8%, O VALOR<br />
MAIS ALTO DESDE 1993<br />
ra, vice-presidente da associação, os empresários<br />
do sector vêem-se actualmente confrontados<br />
com «dificuldades decorrentes,<br />
essencialmente, da inflação dos preços dos<br />
combustíveis e da energia, da escassez das<br />
matérias-primas, sobretudo devido à guerra<br />
na Ucrânia, e também de recursos humanos<br />
disponíveis para trabalhar». Relativamente à<br />
inflação, o dirigente lamentou que não haja<br />
«medidas para que as empresas possam suportar<br />
este círculo inflacionista» e que «não<br />
se avizinhe uma inversão do problema».<br />
O sector têxtil, um dos motores da<br />
economia do País durante várias décadas<br />
e uma das indústrias mais importantes de<br />
Portugal, com grande epicentro no Norte e<br />
na zona do Vale do Ave, passou, ao longo<br />
dos anos, por grandes crises. Nos anos 80,<br />
as paisagens misturavam o verde das árvores<br />
com o cinzento das paredes das grandes<br />
fábricas têxteis, que empregavam milhares<br />
de pessoas, famílias inteiras, e que faziam<br />
girar a economia das regiões à sua volta.<br />
Mais tarde, tudo caiu. Foram cerca de<br />
duas mil as empresas que desapareceram,<br />
mais de metade sediadas no distrito de<br />
Braga. 100 mil operários perderam o emprego<br />
e o sector viu o número de trabalhadores<br />
reduzido de 240 mil, à data, para 123<br />
mil registados no ano passado.<br />
Nas mesmas paisagens só se viam gigantes<br />
de betão abandonados, que seguravam<br />
apenas a memória de um motor da<br />
economia de um país. Durante anos prevaleceu<br />
um sector que trabalhava arduamente<br />
para se manter vivo, enfrentando a concorrência<br />
da fast fashion chinesa e as crises<br />
económicas que assolaram o nosso país.<br />
Mas, anos mais tarde, tudo acabou por mudar,<br />
e o sector reergueu-se, começou a empregar<br />
pessoas e a exportar cada vez mais.<br />
No coração do baixo Minho, uma empresa<br />
atravessou todos os altos e baixos do<br />
sector desde o seu ano de fundação, em<br />
1927. A Riopele é uma das mais antigas<br />
empresas têxteis portuguesas e uma referência<br />
internacional na criação e na produção<br />
de tecidos para colecções de moda<br />
e de vestuário. Agora, um novo desafio se<br />
apresenta a esta e a outras empresas do sector.<br />
A inflação tem impactado fortemente a<br />
actividade produtiva das empresas e a sua<br />
lucratividade, sendo necessário engenho e<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 37
ECONOMIA<br />
estratégia para que as empresas continuem<br />
a ser lucrativas.<br />
José Alexandre Oliveira, presidente da<br />
Riopele, admite que o impacto da inflação é<br />
genérico, comum aos mais de 50 mercados<br />
onde actua, sublinhando que a empresa exporta<br />
mais de 95% da sua produção.<br />
«A nossa actividade tem sido particularmente<br />
afectada pelo aumento de preços<br />
das matérias-primas, dos químicos, dos corantes<br />
e dos transportes, desde o primeiro<br />
semestre de 2021, registando-se um agravamento<br />
no final do ano, dado o rápido crescimento<br />
da procura com a reabertura da economia.<br />
Esta subida de preços está ainda a ser<br />
acompanhada pelo aumento substancial dos<br />
custos energéticos, com a subida do preço<br />
do gás, petróleo e electricidade», afirmou.<br />
Por forma a dar resposta aos desafios<br />
apresentados pela conjuntura económica<br />
actual, ao longo da última década a Riopele<br />
investiu 35 milhões de euros em várias<br />
áreas críticas, muito especialmente no domínio<br />
da sustentabilidade (eficiência energética,<br />
optimização das operações, entre<br />
outros), que permitiram à empresa «minimizar<br />
os impactos externos e promover um<br />
aumento da competitividade».<br />
O presidente da empresa admitiu ainda<br />
que ao longo de 2022 continuarão a realizar<br />
investimentos complementares, como a<br />
criação de uma central de biomassa e uma<br />
segunda central solar fotovoltaica, que permitirão<br />
poupanças ao nível dos consumos.<br />
Paralelamente, para além de uma política<br />
concertada de investimentos, a Riopele<br />
tem procurado assegurar novos ganhos de<br />
eficiência operacional em todos os níveis<br />
da organização e no desenvolvimento de<br />
produtos inovadores resultantes de novos<br />
projectos de I&D.<br />
Questionado sobre como é que a inflação<br />
se está a reflectir no preço final dos produtos<br />
da empresa, José Alexandre Oliveira<br />
admite que o aumento generalizado de preços<br />
acaba por impactar o preço de venda,<br />
e que a Riopele começou a incorporar estes<br />
custos no preço dos seus produtos. No<br />
entanto, uma vez que estes preços são, na<br />
sua maioria, calculados por colecção, esse<br />
incremento leva o seu tempo a reflectir-<br />
-se. «Trata-se naturalmente de um processo<br />
complexo, que implica um exercício de<br />
O PAÍS DEFRONTA-SE COM<br />
UMA CRISE ENERGÉTICA E UMA<br />
INFLAÇÃO GALOPANTE<br />
COMO JÁ NÃO<br />
SE VERIFICAVA HÁ MAIS<br />
DE DUAS DÉCADAS<br />
grande pedagogia com os nossos clientes»,<br />
explica. Apesar do cenário actual adverso,<br />
José Alexandre Oliveira acredita que há razões<br />
para crer na normalização das cadeias<br />
globais de fornecimento e perspectivar uma<br />
estabilização de preços até ao final do ano.<br />
Transportes<br />
«Relativamente ao impacto da inflação<br />
na nossa operação e nos preços praticados,<br />
o que lhe podemos dizer é que estamos,<br />
obviamente, a acompanhar de perto o seu<br />
impacto, e apesar do aumento generalizado<br />
dos preços, a FlixBus continuará a disponibilizar<br />
os melhores preços aos seus clientes,<br />
de acordo com a situação do mercado», disse<br />
Pablo Pastega, director-geral da FlixBus<br />
(o maior operador europeu de transporte<br />
expresso de passageiros) para Portugal e Espanha,<br />
em entrevista à Executive Digest.<br />
Segundo este responsável, o sector dos<br />
transportes tem sido fortemente afectado<br />
nos últimos anos, primeiro pela pandemia,<br />
em que foram forçados a parar ou a reduzir<br />
drasticamente a operação, e depois, no<br />
momento em que se inicia o processo de<br />
recuperação, são confrontados com a crise<br />
dos combustíveis, com a guerra na Ucrânia,<br />
que está a impactar as economias um<br />
pouco por todo o mundo.<br />
«O transporte expresso de passageiros é<br />
vital para Portugal, não só porque é cada vez<br />
mais uma alternativa mais económica e sobretudo<br />
mais sustentável para todos aqueles<br />
que precisam de viajar dentro e fora do país,<br />
quando comparada com a viatura particular.<br />
É preciso não esquecer que, em 2019 e<br />
de acordo com dados oficiais, viajaram nos<br />
chamados expressos cerca de 6,6 milhões de<br />
passageiros, praticamente o mesmo número<br />
de pessoas transportado pelos comboios<br />
de longo curso (6,7 milhões). Isto confirma<br />
a importância deste meio de transporte para<br />
o País», acrescenta Pablo Pastega.<br />
38 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
ECONOMIA<br />
Dois anos de pandemia depois, o País<br />
defronta-se com uma crise energética e<br />
uma inflação galopante, como já não se<br />
verificava há mais de duas décadas. «Naturalmente,<br />
os efeitos não são desejáveis<br />
para nenhum sector e o de transportes e<br />
logística não é excepção. Como primeiro<br />
impacto, sofremos com os aumentos<br />
de custos fixos, que resultam em resultados<br />
financeiros menos favoráveis para<br />
as empresas. Como efeito secundário, em<br />
particular para os negócios de produto<br />
acabado e de retalho, a subida dos preços<br />
reflecte-se na retracção do consumo,<br />
a qual, por sua vez, faz com que haja uma<br />
redução, quer no transporte dessas mercadorias,<br />
como na actividade logística de<br />
armazém, que tem de movimentar quantidades<br />
menores de produtos. O cenário<br />
provável é o de uma recessão económica,<br />
ainda que os seus efeitos talvez não sejam<br />
imediatos, pois o consumo pós-Covid-19<br />
ainda é muito forte», afirma Luís Ribeiro,<br />
director comercial nacional da Garland<br />
Transport Solutions.<br />
«Tem sido inevitável o aumento do<br />
custo do serviço final que prestamos aos<br />
nossos clientes. Na vertente do transporte<br />
marítimo, o aumento dos preços deve-se<br />
sobretudo à escassez ou ao desequilíbrio<br />
nos fluxos de contentores, que continua a<br />
afectar o transporte de mercadorias. Por<br />
sua vez, nos transportes rodoviário e aéreo<br />
é a escalada dos preços dos combustíveis<br />
que afecta de forma muito significativa os<br />
nossos serviços. Para nos mantermos absolutamente<br />
operacionais e continuarmos<br />
a ser um parceiro de confiança para as<br />
empresas nacionais, foi necessário tomar<br />
medidas excepcionais de introdução de actualizações<br />
periódicas aos valores acordados<br />
para fazer face à escalada de custos do<br />
principal consumível do transporte, o combustível.<br />
De uma forma global, os preços de<br />
O PRESIDENTE<br />
DA REPÚBLICA CONSIDEROU<br />
QUE TERÁ DE HAVER<br />
UM «REAJUSTAMENTO<br />
DA INFLAÇÃO» PREVISTA<br />
PARA 2022<br />
transporte estão a crescer a dois dígitos»,<br />
acrescenta Tiago Matosinhos, director comercial<br />
da Garland Logistics.<br />
Reajustamento<br />
O Presidente da República considerou<br />
que, tendo em conta os indicadores disponíveis,<br />
terá de haver um «reajustamento da<br />
inflação» prevista para 2022 dos actuais 4%<br />
para pelo menos 6%. Marcelo Rebelo de<br />
Sousa deixou esta mensagem durante um<br />
encontro com cerca de 200 presidentes de<br />
câmaras municipais no antigo picadeiro<br />
real, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa,<br />
avisando que enfrentamos um período<br />
«muito, muito complexo», de elevada «imprevisibilidade»,<br />
sobretudo devido à invasão<br />
russa da Ucrânia.<br />
«É verdade que os números conhecidos<br />
mostram que há factores económicos que<br />
têm constituído uma almofada positiva na<br />
vida nacional: o crescimento abrupto do<br />
turismo para um destino considerado mais<br />
seguro, como se fosse uma ilha no meio do<br />
Atlântico, longe da realidade do continente<br />
europeu, o investimento imobiliário que<br />
acompanha muito esse turismo, e outro<br />
investimento que continua a vir para Portugal»,<br />
apontou.<br />
Segundo o chefe de Estado, «isso resulta<br />
nos números de aumento do emprego e<br />
na recuperação de algum salário médio naquelas<br />
actividades como o turismo, a restauração,<br />
alguns serviços ou sectores nos<br />
quais há falta de mão-de-obra».<br />
«Mas também sabemos que a inflação<br />
sobe – os indicadores mostram que a previsão<br />
de 4% terá de ser reajustada em relação<br />
ao ano para certamente não menos<br />
de 6%», acrescentou. Interrogado se são<br />
suficientes as medidas de apoio a famílias e<br />
empresas aprovadas pelo Governo, o chefe<br />
de Estado considerou que é preciso esperar<br />
para ver se a inflação estabiliza ou não e ir<br />
constantemente avaliando a situação.<br />
«Se a evolução for no sentido da subida<br />
da inflação, isso naturalmente tem influências<br />
financeiras, nomeadamente nos meses<br />
mais perto do fim do ano e no Orçamento<br />
para o ano que vem. Se estabilizar, já tem<br />
menos consequências financeiras. Vamos<br />
ver. Isto é um processo que tem de ser visto<br />
quase semana a semana», disse.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 39
MACROECONOMIA<br />
CENÁRIO<br />
DE<br />
GUERR A<br />
40 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
MACROECONOMIA<br />
OS<br />
<strong>RISCO</strong>S<br />
PARA A<br />
ECONOMIA<br />
GLOBAL<br />
O impacto do conflito<br />
na Ucrânia já se faz<br />
sentir na economia e as<br />
projecções de Primavera<br />
mostram o que já se<br />
esperava: a recuperação<br />
do pós-pandemia vai<br />
desacelerar.<br />
POR PAULO MENDONÇA<br />
R<br />
ecentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu<br />
as suas expectativas para o crescimento económico global ao<br />
longo dos próximos dois anos, devido à invasão russa à Ucrânia,<br />
e comparou os efeitos do conflito a um terramoto. De<br />
acordo com o relatório divulgado em Abril, «as consequências<br />
económicas estão a alastrar-se» e, por isso, o FMI prevê<br />
agora um crescimento da economia mundial de apenas 3,6%<br />
nos anos 2022 e 2023. Este valor representa uma queda acentuada face aos 6,1%<br />
registados em 2021 e uma descida de 0,8% em 2022 e de 0,2% em 2023, face às previsões<br />
que o FMI tinha apresentado em Janeiro, antes da guerra começar.<br />
Segundo avança a CNN Business, estas previsões assumem três premissas: que a<br />
guerra se mantém localizada apenas na Ucrânia, que as sanções à Rússia não visam<br />
directamente o sector energético e que as consequências da pandemia continuam<br />
a esbater-se. De notar que pelo menos as duas últimas condições são, actualmente,<br />
muito voláteis.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 41
MACROECONOMIA<br />
NÚMEROS<br />
CONDIÇÕES<br />
(para manter as previsões de crescimento)<br />
QUE A GUERRA NÃO SAIA<br />
DAS FRONTEIRAS DA UCRÂNIA<br />
QUE O SECTOR ENERGÉTICO<br />
NÃO SEJA AINDA MAIS<br />
AFECTADO PELAS SANÇÕES<br />
À RÚSSIA<br />
QUE A PANDEMIA SE<br />
MANTENHA CONTROLADA<br />
Ao separar-se<br />
do mundo ocidental,<br />
a Rússia poderá<br />
estar a abdicar<br />
de parte da ambição<br />
de internacionalizar<br />
a sua economia.<br />
CONSEQUÊNCIAS PARA A RÚSSIA<br />
Excluído do sistema<br />
financeiro internacional,<br />
ao mesmo tempo que se<br />
encontra sujeito a um embargo<br />
crescente das suas importações<br />
por parte dos EUA e da Europa,<br />
o país poderá entrar numa<br />
espiral de inflação e depressão,<br />
com o rublo a perder mais de<br />
30% desde o início da guerra e<br />
mais de 70% desde a anexação<br />
da Crimeia. Actualmente a<br />
Rússia ainda beneficia das<br />
importações de petróleo e gás<br />
natural para a Europa, mas há<br />
cada vez mais sinais, por parte<br />
da União Europeia, de que a<br />
dependência de alguns países<br />
face a estas matérias-primas<br />
deverá reduzir-se ou mesmo<br />
anular-se até ao final do ano.<br />
Apesar deste cenário pouco<br />
animador, alguns economistas<br />
acreditam que o futuro da<br />
economia da Rússia e das suas<br />
relações com o Ocidente ainda<br />
não é um assunto fechado, dado<br />
que um acordo satisfatório e o<br />
fim da guerra poderiam levar ao<br />
levantamento das sanções que<br />
hoje atingem mais directamente<br />
o núcleo financeiro daquele país.<br />
Pelo contrário, o prolongamento<br />
indefinido do conflito na Ucrânia<br />
poderá levar a uma contracção<br />
cada vez maior da economia<br />
russa. Aliás, apenas com base<br />
nas sanções já em vigor, o FMI<br />
estima que o PIB da Rússia caia<br />
7% em 2022.<br />
Embora esta queda pareça pouco<br />
relevante face à severidade das<br />
sanções, segue-se a um forte<br />
crescimento no início deste ano,<br />
entretanto interrompido pelo<br />
início do conflito na Ucrânia.<br />
Para alguns economistas<br />
internacionais, a estratégia<br />
de Putin conduzirá a Rússia<br />
a uma depressão duradoura,<br />
com perdas permanentes entre<br />
15 e 20% e um declínio pelo<br />
menos equivalente da receita.<br />
Isto coloca em causa qualquer<br />
sonho que o presidente russo<br />
possa ter de ser uma referência<br />
económica: desligada do<br />
Ocidente, a economia russa<br />
dependerá mais do que nunca do<br />
poder financeiro da China.<br />
42 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
MACROECONOMIA<br />
3,6% 35% 8,5%<br />
PREVISÃO<br />
DE CRESCIMENTO<br />
ECONÓMICO<br />
GLOBAL PARA<br />
2022-23, SEGUNDO<br />
O ÚLTIMO RELATÓRIO<br />
DO FMI<br />
CONTRACÇÃO<br />
DA ECONOMIA<br />
DA UCRÂNIA JÁ<br />
EM 2022<br />
IMPACTO PREVISTO<br />
DAS SANÇÕES<br />
NO PIB DA RÚSSIA<br />
EM 2022<br />
Na mesma linha, o Banco Mundial reviu<br />
em baixa as suas previsões para este<br />
ano, esperando agora um crescimento da<br />
economia global na ordem dos 3,2%.<br />
Sem surpresas, de acordo com o relatório<br />
do FMI, a Ucrânia e a Rússia serão<br />
os países mais seriamente afectados economicamente<br />
pelo conflito armado. As<br />
actuais previsões apontam para uma contracção<br />
da economia ucraniana em 35% já<br />
este ano; já as sanções impostas pelo Ocidente<br />
à Rússia poderão contrair a economia<br />
daquele país na ordem dos 8,5%.<br />
No entanto, é evidente que as consequências<br />
serão globais. A guerra provocou<br />
um aumento muito significativo do<br />
preço da energia e de outras matérias-<br />
-primas, o que veio piorar os problemas<br />
que a pandemia já tinha causado nas cadeias<br />
de fornecimento de bens. Por outro<br />
lado, esta conjuntura veio reforçar a ideia<br />
de uma inflação persistente e não temporária,<br />
como os EUA acreditavam há poucos<br />
meses, o que terá consequências um<br />
pouco por todo o mundo.<br />
«A guerra irá atrasar severamente<br />
a recuperação económica global, desacelerando<br />
o crescimento e aumentando<br />
ainda mais a inflação», pode ler-se no<br />
relatório do FMI, que enfatiza o facto<br />
desta guerra surgir numa altura em que a<br />
economia mundial ainda não tinha recuperado<br />
das consequências da pandemia<br />
de Covid-19.<br />
Esta conjuntura é particularmente<br />
grave na Europa, que depende significativamente<br />
da Rússia para satisfazer<br />
as suas necessidades energéticas, e, por<br />
isso, o FMI espera uma desaceleração<br />
DE ACORDO COM O RELATÓRIO<br />
DO FMI, A UCRÂNIA E A RÚSSIA<br />
SERÃO OS PAÍSES MAIS<br />
SERIAMENTE AFECTADOS<br />
ECONOMICAMENTE PELO<br />
CONFLITO ARMADO<br />
POLÍTICAS<br />
ECONÓMICAS<br />
Antes da invasão à Ucrânia, as escolhas<br />
dos bancos centrais quanto às políticas<br />
económicas resumiam-se a uma lógica de<br />
“fazer o suficiente, mas não demasiado”.<br />
A hesitação quanto à subida<br />
das taxas de juro, por exemplo,<br />
dependia da percepção sobre a<br />
natureza da inflação, que já se apresentava<br />
crescente, havendo a esperança de que se<br />
tratasse de um fenómeno transitório.<br />
Fiscalmente, havia o objectivo de reduzir<br />
os défices públicos causados pela<br />
pandemia, mas com o cuidado de o fazer<br />
de uma forma, nem demasiado brusca,<br />
nem demasiado rápida, para não intervir<br />
na recuperação.<br />
A nova conjuntura altera este paradigma,<br />
confirmando os receios de uma inflação<br />
persistente e de uma desaceleração do<br />
crescimento económico que compromete<br />
a recuperação esperada após a pandemia.<br />
Assim, no que diz respeito à Zona<br />
Euro, é de esperar que haja uma maior<br />
flexibilidade, por parte da Comissão<br />
Europeia, no que diz respeito aos défices<br />
dos países. O impacto da estagflação, o<br />
aumento da despesa em áreas da Defesa,<br />
os custos relacionados com o movimento<br />
de refugiados e a aceleração de<br />
investimentos em infra-estruturas para<br />
o sector da Energia, com o objectivo de<br />
reduzir a dependência face à Rússia, são<br />
factores que resultam, inevitavelmente,<br />
num grande aumento da despesa pública.<br />
Muitos economistas acreditam que, face<br />
a este novo cenário, haja um aumento<br />
do orçamento para financiar um plano<br />
dedicado à economia de guerra.<br />
do crescimento económico na Zona Euro<br />
para 2,8% em 2022 – uma revisão de 1,1<br />
pontos percentuais face às previsões<br />
de Janeiro.<br />
Nos EUA existem questões económicas<br />
que neste momento são mais relevantes<br />
do que as causadas pela guerra,<br />
como o fim dos incentivos atribuídos durante<br />
a pandemia e a subida das taxas de<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 43
MACROECONOMIA<br />
encontra-se «muito acima do normal»,<br />
devido à natureza sem precedentes do<br />
«embate». Os riscos de uma ainda maior<br />
desaceleração, combinada com uma inflação<br />
persistentemente alta, estão a escalar.<br />
Na sequência destas projecções, outros<br />
organismos avançaram com as suas<br />
posições, como o Goldman Sachs, que<br />
estima em 15% a probabilidade dos EUA<br />
entrarem em recessão nos próximos 12<br />
meses e em 35% nos próximos dois anos.<br />
Por outro lado, o banco japonês de investijuro.<br />
O FMI projecta, assim, um crescimento<br />
económico de 3,7% em 2022 e de<br />
2,3% em 2023 – apenas menos 0,3% do<br />
que apontavam as previsões do relatório<br />
de Janeiro.<br />
A segunda maior economia do mundo,<br />
a chinesa, também está a ser menos<br />
influenciada pela guerra do que por questões<br />
internas, nomeadamente um ressurgimento<br />
da Covid-19, que leva a novos<br />
e alargados confinamentos, que não só<br />
afectarão o crescimento económico interno<br />
como trarão, provavelmente, mais<br />
problemas com efeito de contágio para o<br />
resto do mundo, nomeadamente no que<br />
diz respeito às cadeias de fornecimento.<br />
No seu novo relatório o FMI prevê um<br />
crescimento económico de 4,4% para a<br />
China, muito abaixo dos objectivos de<br />
Beijing, que se situam a cerca de 5,5%.<br />
Embora estes números signifiquem<br />
que «as projecções económicas globais<br />
pioraram significativamente», o relatório<br />
do FMI não prevê uma recessão, que tecnicamente<br />
apenas teria lugar se o crescimento<br />
económico global caísse para 2,5%<br />
ou menos. Mas o mesmo relatório refere<br />
que a incerteza quanto a estas projecções<br />
NÚMEROS<br />
A GUERRA IRÁ ATRASAR<br />
SEVERAMENTE A RECUPERAÇÃO<br />
ECONÓMICA GLOBAL,<br />
DESACELERANDO<br />
O CRESCIMENTO<br />
E AUMENTANDO AINDA<br />
MAIS A INFLAÇÃO<br />
ALGUNS ECONOMISTAS<br />
ACREDITAM QUE O FUTURO<br />
DA ECONOMIA DA RÚSSIA<br />
E DAS SUAS RELAÇÕES<br />
COM O OCIDENTE AINDA<br />
NÃO É UM ASSUNTO<br />
FECHADO<br />
2,8% 4,4% 15% 3,7% 2,3%<br />
E<br />
DESACELERAÇÃO<br />
DO CRESCIMENTO<br />
ECONÓMICO<br />
NA ZONA EURO<br />
JÁ ESTE ANO<br />
CRESCIMENTO<br />
PREVISTO PELO<br />
FMI PARA A CHINA<br />
EM 2022. BEIJING<br />
PREVÊ 5,5%<br />
PROBABILIDADE<br />
EM PERCENTAGEM<br />
DOS EUA ENTRAREM<br />
EM RECESSÃO<br />
AO LONGO DOS<br />
PRÓXIMOS 12<br />
MESES, SEGUNDO<br />
O GOLDEN SACHS<br />
CRESCIMENTO ECONÓMICO<br />
DOS EUA, RESPECTIVAMENTE,<br />
EM 2022 E 2023<br />
44 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
MACROECONOMIA<br />
mento Nomura já afirmou que estão a aumentar<br />
as probabilidades da China entrar<br />
em recessão ainda durante a Primavera.<br />
Muito do que irá acontecer depende<br />
dos próximos passos de Vladimir Putin<br />
na Rússia. Caso o fornecimento de gás<br />
natural à Alemanha seja repentinamente<br />
suspenso, a maior economia da Europa<br />
poderá perder 238 mil milhões de dólares<br />
ao longo dos próximos dois anos, de<br />
acordo com as previsões daquele país.<br />
Por outro lado, há cada vez mais pressão<br />
para que a Europa agrave as suas sanções<br />
à Rússia no sector energético. Recentemente,<br />
o primeiro-ministro francês<br />
Bruno Le Maire afirmou a possibilidade<br />
de um embargo ao petróleo russo de toda<br />
a União Europeia, tudo indicando que<br />
Emmanuel Macron quer mesmo avançar<br />
com esta sanção. Segundo as declarações<br />
de Le Maire à rádio Europe 1, não é por<br />
falta de vontade da França que ainda não<br />
se chegou a este nível sancionatório – é<br />
apenas porque outros países da Europa<br />
permanecem hesitantes.<br />
CASO O FORNECIMENTO DE GÁS<br />
NATURAL À ALEMANHA SEJA<br />
REPENTINAMENTE SUSPENSO,<br />
A MAIOR ECONOMIA<br />
DA EUROPA PODERÁ<br />
PERDER 238 MIL MILHÕES<br />
DE DÓLARES<br />
ESTAGFLAÇÃO<br />
A conjuntura de guerra<br />
na Europa está<br />
a arrastar a economia<br />
mundial para um estado<br />
de estagflação, ou seja,<br />
uma situação de inflação<br />
persistentemente<br />
alta, aliada a um<br />
desenvolvimento<br />
estagnado<br />
da economia.<br />
Ainda antes da invasão à<br />
Ucrânia os economistas já<br />
identificavam este factor<br />
como um risco para a economia<br />
global, devido ao aumento do<br />
preço das matérias-primas e aos<br />
problemas nas cadeias de produção.<br />
No entanto, este era um receio<br />
transitório, existindo a expectativa<br />
de que as cadeias de fornecimento<br />
voltassem a um determinado nível<br />
de normalidade no pós-pandemia.<br />
Agora, a estagflação é um cenário<br />
mais provável. O aumento dos<br />
preços das matérias-primas<br />
abrange mais activos do que antes<br />
e as ondas de choque nas cadeias<br />
de produções afectam um espectro<br />
mais alargado de canais - situação<br />
que poderá piorar ainda mais se as<br />
restrições motivadas pela Covid-19<br />
na China se mantiverem por um<br />
período prolongado de tempo.<br />
Inevitavelmente, estas perturbações<br />
irão reduzir a actividade em sectores<br />
que já tinham sido afectados pela<br />
pandemia, como são os casos da<br />
indústria automóvel e da produção<br />
de componentes electrónicos.<br />
Ao mesmo tempo, a inflação<br />
crescente tem como efeito a<br />
redução do poder de compra<br />
das famílias, o que diminui a<br />
actividade económica num período<br />
de inflação crescente, resultando<br />
numa tempestade perfeita para o<br />
cenário típico de uma estagflação.<br />
Para completar este quadro,<br />
teoricamente o desemprego poderá<br />
aumentar e os lucros das empresas<br />
baixarão, levando a uma redução<br />
dos investimentos.<br />
As consequências de uma<br />
estagflação dependerão, no<br />
entanto, do tempo que a guerra<br />
ainda vai durar. Mesmo na melhor<br />
das hipóteses, o regresso à<br />
situação económica anterior à<br />
invasão poderá ser lento, porque a<br />
inflação não irá parar de aumentar<br />
bruscamente e será preciso que<br />
os bancos centrais encontrem<br />
soluções para lidar com essa<br />
situação, sem atrasar a recuperação<br />
económica. Mas o cenário mais<br />
provável parece cada vez mais ser o<br />
de uma guerra prolongada com um<br />
alargamento das sanções à Rússia,<br />
o que tornará mais desafiante para<br />
a economia global regressar a um<br />
crescimento equilibrado. Seja qual<br />
for o futuro, todos os países serão<br />
afectados por esta conjuntura<br />
económica, embora em diferentes<br />
graus. Na Europa, por exemplo,<br />
países como a Alemanha e a Itália<br />
encontrarão mais dificuldades<br />
por estarem mais dependentes da<br />
Rússia do que o Reino Unido ou<br />
França, por exemplo. Mas haverá<br />
certamente ondas de choque em<br />
toda a Europa e principalmente na<br />
Zona Euro, cujo principal motor<br />
económico é a Alemanha.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 45
OPINIÃO<br />
POR CARLOS JESUS<br />
COUNTRY MANAGER DA COLT PORTUGAL<br />
E VP GLOBAL SERVICE DELIVERY DA COLT<br />
NO TRABALHO<br />
HÍBRIDO<br />
A experiência do trabalho remoto – acelerada<br />
pela pandemia de Covid-19, provou-nos que as formas<br />
alternativas de trabalho afinal têm um impacto positivo<br />
e duradouro na nossa felicidade, bem-estar e níveis<br />
de produtividade.<br />
DESAFIOS<br />
DA CIBERSEGURANÇA<br />
E<br />
m todo o mundo, as empresas estão a repensar a forma<br />
de trabalharmos. O futuro do trabalho é, necessariamente,<br />
flexível. Uma característica que passou a ser<br />
exigida pelos colaboradores e que se tornou um factor<br />
decisivo para as empresas reterem talento.<br />
A maioria das pessoas gostou da liberdade ganha ao poderem<br />
trabalhar a partir de casa e agora não quer regressar aos modelos<br />
anteriores. Um estudo conduzido pela Wakefield Research, em Abril<br />
passado, revela que 47% dos trabalhadores, caso o seu actual empregador<br />
não lhes dê a oportunidade de terem um modelo de trabalho<br />
flexível, irão procurar um novo emprego. Também as empresas acham<br />
que uma abordagem híbrida do trabalho é uma boa opção,<br />
por conjugar os benefícios de trabalhar a partir de casa e<br />
os de o fazer no escritório.<br />
Porém, o modelo híbrido - que reúne quase todos<br />
os benefícios do trabalho remoto e lhes acrescenta<br />
maior autonomia e flexibilidade, traz desafios acrescidos de<br />
segurança para as empresas. Havendo maior dependência das<br />
tecnologias de informação e uma maior dispersão das comunicações<br />
por vários locais, aumentam as potenciais vulnerabilidades.<br />
Os empregadores terão agora de assumir a responsabilidade<br />
adicional de disponibilizarem ligações seguras às infra-estruturas<br />
das empresas e de implementarem sistemas de<br />
backup e planos de recuperação.<br />
A maior dependência da conectividade cria desafios<br />
incontornáveis para as empresas. Foi assim<br />
quando, em Março de 2020, tiveram de migrar<br />
para o trabalho totalmente remoto, e também<br />
será assim com o trabalho híbrido, que obriga<br />
a pensar a segurança de forma diferente. Num<br />
escritório tradicional, todos os computadores,<br />
telefones e ligações à internet são cuidadosamente<br />
controlados e a sua utilização depende do<br />
acesso físico ao edifício onde se encontram. Com<br />
o trabalho híbrido sucede exactamente o contrário:<br />
as pessoas conectam-se remotamente,<br />
usando hotspots Wi-Fi partilhados ou públicos e<br />
vários dispositivos diferentes.<br />
Mas o trabalho híbrido é também uma oportunidade<br />
para as empresas reverem a sua cibersegurança,<br />
encontrando parceiros de confiança,<br />
que possam ajudá-las a redesenhar os processos,<br />
integrando-os totalmente, conferindo-lhes<br />
uma visão única da segurança transversal a<br />
todo o seu negócio, enquanto tornam o trabalho<br />
híbrido seguro.<br />
O trabalho híbrido nas empresas depende<br />
do ecossistema da cloud e da conectividade<br />
remota através de uma Rede Privada Virtual<br />
(VPN), e os hackers sabem disto. Já os trabalhadores,<br />
quando estão em modo remoto, podem<br />
aceder aos servidores das suas empresas ou a<br />
tecnologia cloud através de redes públicas, o<br />
que cria oportunidades e vulnerabilidades que os<br />
cibercriminosos exploram. As empresas devem,<br />
por isso, desenvolver a consciência da segurança<br />
no seu seio e permitir que os seus colaboradores<br />
se transformem na primeira linha de defesa.<br />
São cada vez mais as empresas que estão a<br />
adaptar as suas telecomunicações para que o<br />
trabalho híbrido possa funcionar. Actualmente,<br />
a conectividade tornou-se na espinha dorsal de<br />
qualquer negócio e o seu correcto funcionamento<br />
é vital. A tecnologia está a preparar o caminho<br />
para o futuro do trabalho híbrido. Esta é uma<br />
alteração profunda, que não se resume à simples<br />
mudança do local onde trabalhamos, mas tem a<br />
ver com a forma como o fazemos. O que implica<br />
repensarmos os actuais processos de negócio<br />
e usarmos a tecnologia para trabalharmos<br />
de forma mais eficiente e segura.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 47
SUSTENTABILIDADE<br />
«EMPRESAS MAIS EFICIENTES,<br />
MAIS COMPETITIVAS<br />
E MAIS DIFERENCIADORAS»<br />
Em 2024, todas as grandes<br />
empresas a operar na UE terão<br />
de publicar um relatório de<br />
sustentabilidade. As PME cotadas<br />
terão de o fazer em 2026.<br />
E será uma questão de tempo<br />
até esta medida ser aplicada às<br />
restantes PME e microempresas.<br />
Sofia Santos, economista<br />
especializada em Financiamento<br />
Sustentável e fundadora<br />
da Systemic, explica à Risco<br />
o que está em causa.<br />
A<br />
s PME estão conscientes de que estas medidas de<br />
sustentabilidade existem e já para daqui a poucos anos?<br />
Não, não estão. Diria mesmo que as PME estão muito<br />
longe de terem esta ideia de que vão ter de começar a<br />
reportar informação ambiental, social e de governação.<br />
No entanto, as PME já hoje podem estar a sentir pressão<br />
para começarem a reportar alguma informação desta<br />
natureza. Por exemplo, o Crédito Agrícola começou,<br />
desde Julho de 2021, a questionar todas as empresas –<br />
grandes, PME, micro e empresas em nome individual – sobre as suas práticas<br />
ambientais e sociais a nível corporativo, bem como ao nível do projecto que<br />
está a solicitar empréstimo. Por outro lado, as PME portuguesas, ao serem<br />
clientes de grandes empresas europeias, e estas, ao terem a obrigatoriedade<br />
europeia de reportar sobre as suas práticas<br />
de sustentabilidade e ao longo da sua cadeia<br />
de valor, irão necessariamente acelerar a<br />
pressão sobre as PME. Não esquecer que<br />
o COMPETE também vai ter de garantir<br />
que o financiamento que proporciona na<br />
economia não prejudica significativamente<br />
o ambiente e que os projectos financiados<br />
estão alinhados com os objectivos ambientais<br />
europeus, o que significa que as PME,<br />
que recorrem normalmente ao co-financiamento<br />
público, terão também de construir<br />
projectos mais verdes e terão de ser capazes<br />
de reportar e comunicar essa mesma faceta.<br />
Como vão as empresas portuguesas<br />
adaptar-se a estas medidas?<br />
É inevitável e não é complicado. O<br />
acesso ao capital vai estar associado às<br />
boas práticas ambientais e sociais das<br />
empresas. Quem não as tiver poderá ter<br />
taxas de juro mais altas, ou mesmo não<br />
ter acesso a capital. O que é exigido parece<br />
ser muito difícil, mas não é. É apenas<br />
algo que não aprendemos nas escolas e<br />
por isso ficamos assustados. Ter boas práticas<br />
ambientais e sociais, e reportá-las,<br />
não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, e<br />
na realidade contribui para a eficiência e<br />
48 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
SUSTENTABILIDADE<br />
«O ACESSO AO CAPITAL<br />
VAI ESTAR ASSOCIADO<br />
ÀS BOAS PRÁTICAS<br />
AMBIENTAIS<br />
E SOCIAIS DAS<br />
EMPRESAS»<br />
Sofia Santos,<br />
economista especializada<br />
em Financiamento<br />
Sustentável e fundadora<br />
da Systemic<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 49
SUSTENTABILIDADE<br />
competitividade das empresas. Penso que<br />
algumas PME quererão ter os chamados<br />
ratings ESG, que são atribuídos por entidades<br />
terceiras e que lhes conferem um<br />
certo “grau” de sustentabilidade. Obter um<br />
desses ratings implica um trabalho interno<br />
estratégico, de compromissos, de recolha<br />
de informação ambiental e social, mas é<br />
algo que com uma boa equipa transversal<br />
se consegue fazer bem e com qualidade.<br />
Faz sentido que a sustentabilidade<br />
se apresente como uma imposição<br />
legal, principalmente quando chegar a<br />
pequenas e microempresas?<br />
Não existe imposição legal para chegar<br />
às pequenas e microempresas. Actualmente,<br />
a única imposição legal que<br />
está em discussão pública a nível europeu<br />
é as PME cotadas em bolsa passarem<br />
a ser obrigadas a reportar um relatório<br />
de sustentabilidade em 2026. Obrigatoriedade<br />
apenas para as PME cotadas. Em<br />
Portugal não existe nenhuma. E não há<br />
obrigatoriedade para as microempresas.<br />
A meu ver, antecipo que irá existir<br />
obrigatoriedade para todas as PME reportarem<br />
estes temas, mas as microempresas<br />
serão apenas pressionadas pelo<br />
mercado e pelos financiadores, o que<br />
pode ser uma pressão ainda mais forte<br />
do que a legal.<br />
«IRÁ EXISTIR<br />
OBRIGATORIEDADE<br />
PARA TODAS AS PME<br />
REPORTAREM<br />
ESTES TEMAS,<br />
MAS AS<br />
MICROEMPRESAS<br />
SERÃO APENAS<br />
PRESSIONADAS<br />
PELO MERCADO<br />
E PELOS<br />
FINANCIADORES»<br />
Qual o impacte positivo que se espera<br />
que as finanças sustentáveis tenham?<br />
Torná-las mais eficientes, mais competitivas<br />
e mais diferenciadoras. As finanças<br />
sustentáveis vão induzir as empresas a<br />
emitirem menos emissões de CO 2<br />
, a consumirem<br />
mais energia verde, a aumentarem<br />
a eficiência energética, a adquirirem<br />
equipamentos menos poluidores, a terem<br />
menos resíduos para aterro e a colaborarem<br />
mais umas com as outras. Tal irá<br />
levar ao surgimento de novas empresas,<br />
serviços e produtos, e, obviamente, aquelas<br />
que não se conseguirem adaptar a uma<br />
economia mais verde perderão o seu lugar.<br />
O impacte positivo tem essencialmente<br />
que ver com o aumento da independência<br />
energética fóssil e com a inovação que este<br />
tipo de pensamento pode criar nas áreas<br />
50 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
SUSTENTABILIDADE<br />
Os planos nacionais de recuperação e<br />
resiliência devem dedicar pelo menos<br />
37% dos gastos totais a investimentos<br />
e reformas que apoiem os objectivos<br />
climáticos. Esta meta é realista?<br />
Devia ser mais alta. Na realidade todos<br />
os projectos deveriam apoiar objectivos<br />
climáticos. Todos os projectos a financiar<br />
deveriam ser neutros em carbono, utilizar<br />
o mais possível energias renováveis, contribuir<br />
para a independência energética<br />
dos combustíveis fósseis e garantir a manutenção<br />
dos serviços dos ecossistemas.<br />
Não ter isto exposto e garantido nos vários<br />
mil milhões de euros que vão ser investidos<br />
em Portugal pode significar um atraso injustificado<br />
no investimento no combate às<br />
alterações climáticas.<br />
de inovação de produto, processo e serviço<br />
das empresas.<br />
«O IMPACTE POSITIVO<br />
TEM ESSENCIALMENTE<br />
QUE VER<br />
COM O AUMENTO<br />
DA INDEPENDÊNCIA<br />
ENERGÉTICA<br />
FÓSSIL E COM<br />
A INOVAÇÃO»<br />
O que é a taxonomia, que actividades<br />
económicas vai impactar e como se vão<br />
adaptar as empresas nacionais?<br />
A taxonomia é uma lista de actividades<br />
económicas que têm critérios científicos<br />
mínimos que garantem o alinhamento com<br />
a neutralidade carbónica em 2050. Ou seja,<br />
são tecnologias e critérios que certos sectores<br />
têm de cumprir para estarem alinhados<br />
com a neutralidade carbónica em 2050.<br />
Obviamente que a grande maioria das empresas<br />
europeias e a nível mundial não está<br />
neste nível, e é por isso que temos o desequilíbrio<br />
do planeta e o aquecimento global.<br />
Esta lista de actividades abrange praticamente<br />
todos os sectores: desde a agricultura,<br />
energia, manufactura, imobiliário, até<br />
turismo, transporte, educação, têxtil, etc.,<br />
e diz-nos as tecnologias e as emissões de<br />
CO 2<br />
limite que cada actividade pode emitir<br />
(estou a simplificar para efeitos de comunicação)<br />
para ser coerente com a neutralidade<br />
carbónica em 2050. Quem não cumprir<br />
com estes requisitos mínimos não está alinhado<br />
com a taxonomia.<br />
Um estudo feito pela Associação Europeia<br />
Bancária, em 2021, calculou que apenas<br />
7,9% dos empréstimos de 29 bancos europeus<br />
estavam alinhados com a taxonomia.<br />
Estes números são de esperar, pois, como<br />
já disse, temos um aquecimento global<br />
premente, que se deve a uma não utilização<br />
das melhores tecnologias e métodos de<br />
gestão. Assim, as empresas terão de entrar<br />
no chamado processo de transição, em que<br />
deverão incluir em todos os projectos uma<br />
componente para baixar o seu impacte ambiental<br />
significativamente, de forma a atingir<br />
estes critérios e assim estarem alinhadas<br />
com a taxonomia. Como os bancos e investidores<br />
serão estimulados a emprestar e a<br />
investir em projectos verdes (devido à ideia<br />
de que empresas poluentes são aquelas com<br />
mais risco, o que implica aumentos de capital<br />
para o banco), então as empresas sentirão<br />
também o estímulo em introduzir uma<br />
componente verde em todos os projectos<br />
que necessitem de empréstimos. Será assim<br />
que as empresas se irão adaptar. Obter os ratings<br />
ESG será também uma ajuda.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 51
CRIPTOMOEDAS<br />
QUEM INVESTE<br />
CRIPTOMOEDAS?<br />
EM<br />
Cada vez mais as criptomoedas são<br />
consideradas pelos investidores para<br />
integrarem as suas carteiras de activos.<br />
Mas qual o perfil de quem investe hoje em<br />
criptomoedas?<br />
POR PAULO MENDONÇA<br />
D<br />
esde que a Bitcoin – a primeira criptomoeda – foi lançada em 2009, o<br />
entusiasmo em torno deste tipo de activos tem vindo a crescer, bem<br />
como o número de investidores dispostos a integrá-lo nas suas carteiras.<br />
Para perceber de uma forma mais detalhada quem são estes investidores,<br />
a corretora internacional XTB elaborou um estudo com o título “O perfil<br />
do investidor de criptomoedas”, onde analisa dados demográficos, transacções e<br />
dispositivos presentes na sua plataforma desde o início de 2021.<br />
De acordo com este estudo, o investidor típico da XTB em criptomoedas «é<br />
homem (somente 9,6% são mulheres), tem 34 anos e faz, em média, cinco transacções<br />
por ano em criptomoedas através da utilização de CDF».<br />
Acrescenta-se que este perfil de investidor<br />
utiliza a aplicação móvel (66,7%)<br />
para executar as suas ordens no mercado,<br />
que tendem a durar, em média, cerca de<br />
três dias e 21 horas.<br />
Entre as oito mil criptomoedas disponíveis<br />
no mercado, os investidores<br />
inscritos na XTB demonstraram, desde 1<br />
de Janeiro de 2021, uma clara preferência<br />
pela Ethereum (33%), seguida pela Bitcoin<br />
(17%), Ripple (13%), Litecoin (10%) e BitcoinCash<br />
(7%). O relatório acrescenta que<br />
«também a Cardano, desde que integrou<br />
o portefólio de CFD de criptomoedas da<br />
XTB, passou a revelar-se um activo de<br />
grande popularidade».<br />
Ao contrário da ideia comum de que<br />
a actividade de investimento em criptomoedas<br />
é uma área maioritariamente dos<br />
jovens, os dados da XTB indicam que a<br />
As criptomoedas mais transaccionadas entre<br />
os investidores na XTB desde 1 de Janeiro de 2021<br />
O INVESTIDOR TÍPICO<br />
DA XTB EM CRIPTOMOEDAS<br />
«É HOMEM (SOMENTE 9,6%<br />
SÃO MULHERES),<br />
TEM 34 ANOS E FAZ,<br />
EM MÉDIA, CINCO<br />
TRANSACÇÕES POR ANO<br />
EM CRIPTOMOEDAS»<br />
52 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
CRIPTOMOEDAS<br />
Quão populares<br />
são as<br />
criptomoedas?<br />
É NOS PAÍSES DA EUROPA<br />
OCIDENTAL QUE SE<br />
REGISTAM OS MAIORES<br />
NÍVEIS DE POPULARIDADE<br />
DAS CRIPTOMOEDAS<br />
ENTRE OS INVESTIDORES<br />
DA XT<br />
Investidor de criptomoedas<br />
idade média dos investidores em criptomoedas<br />
está em linha com a idade dos<br />
investidores em activos tradicionais, independentemente<br />
da classe de activos<br />
com que iniciou a sua jornada de investimento.<br />
Os investidores em criptomoedas<br />
registados na plataforma da XTB vão dos<br />
18 aos 89 anos, provando que não há uma<br />
idade melhor do que outra para investir<br />
em criptomoedas. No entanto, os números<br />
mostram que três em cada quatro investidores<br />
que negoceiam criptomoedas<br />
através de CDF, têm menos de 43 anos.<br />
No que diz respeito às mulheres registadas<br />
na plataforma da XTB e que<br />
investem em criptomoedas, a maior percentagem<br />
encontra-se na Roménia, representando<br />
12% do total de investidores<br />
desse país inscritos na plataforma.<br />
Em Portugal, essa percentagem desce<br />
para os 10,5%, ainda assim acima da<br />
média global de 9,6% e muito próxima do<br />
Reino Unido (10,6%).<br />
A análise indica ainda que é nos países<br />
da Europa Ocidental que se registam os<br />
maiores níveis de popularidade das criptomoedas<br />
entre os investidores da XTB.<br />
Em Portugal, em 2021, 36,3% dos investidores<br />
inscritos na plataforma da corretora<br />
investiram em criptomoedas, ficando somente<br />
atrás da República Checa (41,2%) e<br />
de Espanha (37,7%).<br />
No que diz respeito aos dispositivos<br />
utilizados para as transacções, o estudo<br />
refere que 67,2% dos investidores recorrem<br />
à app móvel, contra 32,8%, que utilizam<br />
o computador.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 53
TRADING<br />
AS AMBIÇÕES<br />
DE QUEM INVESTE<br />
NOS MERCADOS<br />
FINANCEIROS<br />
Deve haver uma base sólida de iniciação,<br />
um mapa perfeitamente identificável<br />
a seguir. Caso contrário, as ambições não<br />
passam de sonhos que rapidamente<br />
se podem tornar pesadelos.<br />
POR ADELINO MATOS<br />
CEO & FOUNDER DA ESCOLA TRADING<br />
É<br />
indissociável falar-se em ambições, independentemente da área, tópico<br />
ou sonho, sem pensar no trajecto a percorrer até ao dia em que estas<br />
se tornam realidade e passam a um ou mais objectivos finalmente alcançados.<br />
Falar em ambições, fazendo desde já a transição para quem<br />
investe nos mercados financeiros, é, no mínimo, um desafio. Chegar, ver e vencer,<br />
não é assim que se diz? Infelizmente, para a grande maioria dos traders iniciantes,<br />
isto nunca passará de um velho ditado.<br />
A linha que separa um investidor que desiste de um que permanece a longo<br />
prazo no “jogo” é muito ténue, mas é suportada por características perfeitamente<br />
identificadas, as quais nunca me canso de incutir e promover nos meus alunos: paciência,<br />
autocontrolo e, acima de tudo, mentalidade.<br />
Parece tão fácil falar disto ou deveria ser simples de entender: ninguém nasce ensinado,<br />
mesmo aqueles que são tratados como deuses das suas áreas de intervenção.<br />
A psicologia está em tudo e em todo o lado, mesmo que não tenhamos essa noção<br />
– aliás, ter esta inconsciência é já prova desta minha afirmação.<br />
O que trago para mais um dos meus desabafos é como pode ser o trajecto de<br />
investidores que têm como ambição iniciar-se nos investimentos, com a profissionalização<br />
à vista. Mas, afinal, como se pode traduzir para bom português o que as<br />
pessoas procuram com os investimentos nos mercados financeiros?<br />
A tão procurada liberdade<br />
A definição de liberdade poderia muito<br />
bem ser explicada através de uma única<br />
palavra: independência. Investir nos mercados<br />
financeiros, ou melhor, saber investir<br />
nos mercados financeiros e tornar-se<br />
profissional pode, sem qualquer dúvida,<br />
tornar esta ambição realidade. O sonho de<br />
não ter de dar mais explicações, de não ter<br />
de cumprir horários e saber que tudo está<br />
nas nossas mãos – o rendimento e desempenho<br />
nunca mais estarão sujeitos a avaliações<br />
de terceiros.<br />
O mundo corporativo passa para segundo<br />
plano e um dos grandes objectivos<br />
passa por lançar um negócio rentável. Já<br />
ouvi este testemunho muitas vezes, mas<br />
é necessário ter a noção de que os mercados<br />
financeiros não dão retorno a nin-<br />
54 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
TRADING<br />
guém do dia para a noite. Consolidar um<br />
plano de negócios demora tempo. Ter a<br />
capacidade de entender o mercado, a sua<br />
imprevisibilidade e volatilidade demora<br />
tempo. Criar condições para construir<br />
a ambicionada liberdade demora tempo.<br />
Os desafios são constantes e diários, mas<br />
com esforço e dedicação é possível ser-se<br />
dono do próprio destino.<br />
Ganhar dinheiro<br />
Vou tocar no calcanhar de Aquiles<br />
de todas as ambições: ganhar dinheiro e,<br />
acima de tudo, ganhar dinheiro rápido.<br />
É um passo gigante para o precipício. É<br />
uma das principais culturas promovidas<br />
por propaganda e por histórias de investidores<br />
“bem-sucedidos”, acabando com<br />
a carreira de quem ainda mal começou e,<br />
O PRIMEIRO PASSO<br />
ONDE A MAIORIA FALHA<br />
É NA CONSTRUÇÃO<br />
DE UM PROGRAMA<br />
SÓLIDO BASEADO NUMA<br />
PSICOLOGIA INABALÁVEL<br />
a uma escala superior, descredibilizando<br />
os benefícios que o entendimento sobre<br />
investimentos pode trazer para a vida de<br />
qualquer pessoa que esteja disposta a, simplesmente,<br />
esperar e respeitar o mercado.<br />
A ânsia em alcançar sucesso semelhante<br />
e instantâneo ao dos grandes especialistas,<br />
que por aí apregoam as suas capacidades,<br />
toma conta do discernimento de quem remeteu<br />
alguma esperança em aprender a<br />
investir nos mercados financeiros. A desilusão<br />
é ainda maior, intensificada pela sensação<br />
de engano e falsas promessas. É verdade<br />
que há a possibilidade de rentabilizar de<br />
forma exponencial os ganhos, dado que os<br />
fundos que podem ser negociados são infinitos<br />
e o volume de transacções envolvidas<br />
diariamente permite investir e criar uma<br />
banca na verdadeira acepção da palavra.<br />
Nunca me vou cansar de frisar: é um<br />
longo e árduo processo até conseguir ganhar<br />
dinheiro para ser independente com<br />
investimentos – não é uma tarefa de um<br />
mês nem tão-pouco de uma operação louca<br />
que, com sorte, acabou por sorrir. O<br />
primeiro passo onde a maioria falha é na<br />
construção de um programa sólido baseado<br />
numa psicologia inabalável.<br />
Tornar-se profissional: a mãe<br />
de todas as ambições<br />
Intrinsecamente ligado aos dois pontos<br />
anteriores, tornar-se profissional é<br />
uma sensação que parece uma miragem e<br />
um sonho ao mesmo tempo – esta poderia<br />
igualmente ser uma definição de ambição.<br />
O ponto mais alto, e ao contrário do<br />
que referi anteriormente, é alavancar uma<br />
carreira no mundo corporativo, ingressando<br />
num fundo de investimento ou numa<br />
empresa que gere fundos privados. Este<br />
é igualmente um dos relatos que particularmente<br />
vou ouvindo em conversas com<br />
pessoas, que reúnem as condições para se<br />
profissionalizar nesta área.<br />
Mas assim como os objectivos têm de<br />
ser realistas e mensuráveis, as ambições<br />
têm de seguir os mesmos pergaminhos. A<br />
não tomada de consciência deste jogo de<br />
cintura pode levar a operações desmesuradas<br />
e, para agravar, em volumes proibitivos.<br />
Se leu o meu artigo na Risco, número 24,<br />
“Overtrading”, é automático pensar no vício<br />
ao investir – sim, apesar de nunca considerar<br />
investimentos como um jogo, não<br />
tenho dúvidas de que é muito fácil entrar<br />
neste loop negativo em busca do que foi<br />
perdido de forma totalmente irracional.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 55
TRADING<br />
As emoções vêm à flor da pele quando<br />
se investe e há dinheiro envolvido. Isto é<br />
ponto assente, é a natureza humana e um<br />
dos instintos mais primários a manifestar-<br />
-se. O grande problema é que há quem vá<br />
muito além disso e apenas esteja no mercado<br />
de investimentos não pelo dinheiro,<br />
mas pela adrenalina e emoções. É a partir<br />
daqui que o problema do vício entra com<br />
toda a força em cena. O sentimento de ter<br />
dinheiro em jogo, que proporciona um<br />
“sentimento bom”, tem o nome de dopamina<br />
– a química do prazer.<br />
Por incrível que pareça, a dopamina<br />
aparece quando o trader tem posições<br />
abertas no mercado e “esconde-se” quando<br />
ele ganha dinheiro. É muito importante<br />
ter uma mentalidade correcta para saber o<br />
que realmente se está a fazer nos mercados<br />
financeiros e se os objectivos são ganhar<br />
dinheiro ou apenas diversão.<br />
Com tudo isto a acontecer, existirá<br />
mais algum factor que esbarra nas ambições<br />
de quem investe nos mercados financeiros?<br />
Infelizmente sim e é um problema<br />
tão intangível como grave: a solidão, por<br />
natureza, deste tipo de actividade.<br />
Estou nesta área há mais de 15 anos<br />
e iria estar a omitir uma verdade gigantesca:<br />
investimento não é uma prática<br />
comum, muito menos em Portugal. Há<br />
muito mais desconfiança em torno desta<br />
prática do que propriamente curiosidade<br />
verdadeira em conhecer os benefícios de<br />
bem investir dinheiro.<br />
Ser investidor é uma actividade solitária<br />
e, em muitos casos, anónima. Quando<br />
se ganha, ganha-se sozinho. Quando<br />
se perde, enfrenta-se uma dor que não é<br />
partilhada com ninguém – ou raras vezes<br />
o é. A responsabilidade pelas atitudes e<br />
resultados – como mencionei no ponto<br />
sobre a liberdade como ambição – ao<br />
mesmo tempo que a sociedade ecoa e<br />
rotula esta prática como “uma coisa para<br />
loucos”, apenas para milionários ou onde<br />
simplesmente são desperdiçados rios de<br />
dinheiro, é exclusivamente de quem está<br />
a olhar para o ecrã a tentar entender<br />
como, mais uma vez, foi tomar uma decisão<br />
errada.<br />
A jornada que se inicia com grandes<br />
ambições de investimento nos mercados<br />
É MUITO IMPORTANTE<br />
TER UMA MENTALIDADE<br />
CORRECTA PARA SABER<br />
O QUE REALMENTE<br />
SE ESTÁ A FAZER<br />
NOS MERCADOS<br />
FINANCEIROS<br />
financeiros e onde, para muitos, a intenção<br />
é terminar com chave de ouro e tornar-se<br />
profissional, é pautada por quatro<br />
fases nas quais é necessário o tão aclamado<br />
mindset de ferro para ultrapassar<br />
barreiras rumo a uma carreira segura e<br />
estável em investimentos. Quais são então<br />
estes quatro desafios mentais e de consciência<br />
até à profissionalização?<br />
1.<br />
Inconsciência incompetente<br />
O que dizer sobre esta atribulada<br />
primeira fase? Basicamente, não há capacidade<br />
em entender o grau de incompetência<br />
em que o investidor se encontra.<br />
Movido por emoções ou desejos, é infelizmente<br />
comum entrar em posições sem<br />
a aquisição de conhecimento capaz sobre<br />
o mercado em que opera.<br />
Pode até ser negada esta necessidade<br />
de aprender novas aptidões sobre um<br />
determinado assunto que, aos olhos de<br />
56 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
TRADING<br />
TER A CAPACIDADE<br />
DE ENTENDER<br />
O MERCADO, A SUA<br />
IMPREVISIBILIDADE<br />
E VOLATILIDADE<br />
DEMORA TEMPO<br />
É UM LONGO E ÁRDUO<br />
PROCESSO ATÉ<br />
CONSEGUIR GANHAR<br />
DINHEIRO PARA SER<br />
INDEPENDENTE<br />
COM INVESTIMENTOS<br />
quem olha para o ecrã com enganadora<br />
clarividência, é tão claro e a solução é<br />
tão óbvia que fazer algo em contrário parece<br />
absurdo. Não conseguir atingir que<br />
se tem uma deficiência de aprendizagem<br />
pode, assim, ser sintoma desta fase.<br />
É imperativo ter esta necessidade sobre<br />
aquisição de conhecimento sobre investimentos<br />
e sobre os mercados financeiros<br />
para passar para a próxima fase.<br />
Uma grande ajuda durante momentos<br />
como este é alguém que, contrariando a<br />
solidão desta actividade, consegue dar a<br />
entender que, sem estudo e compreensão,<br />
nunca se sairá do modo de inconsciência<br />
incompetente.<br />
2.<br />
Consciência incompetente<br />
Como mencionei, aqui existe a noção<br />
de que há uma deficiência na compreensão<br />
de uma determinada aptidão. A<br />
relevância da aprendizagem torna-se evidente.<br />
Ter a humildade para se aperceber<br />
de que deve existir a aquisição de conhecimento<br />
mostra, igualmente, que as capacidades<br />
técnicas irão também melhorar.<br />
Sentir que o benefício da aprendizagem<br />
pode trazer algo em troca é o principal<br />
motor de ambição e esperança.<br />
Idealmente existe uma noção genética<br />
do nível de aprendizagem necessário para<br />
alcançar o objectivo. E existe um comprometimento<br />
claro por parte do investidor<br />
em treinar esta nova aptidão de maneira<br />
consistente e permanente.<br />
3.<br />
Consciência competente<br />
A maturidade no exercício de uma<br />
qualquer actividade é alcançada nesta etapa.<br />
Fazer com sucesso uma determinada<br />
tarefa é o reflexo mais claro desta fase.<br />
Pensar, raciocinar, reflectir, antes de agir,<br />
marcam-na, onde o exercício da actividade<br />
sem um esforço de raciocínio e reflexão,<br />
no entanto, ainda não é alcançado.<br />
Desenvolver a actividade sem assistência<br />
de ninguém caracteriza igualmente o<br />
desempenho individual nesta etapa, o que<br />
pode levar à fase número quatro, onde a<br />
maior característica em destaque é a capacidade<br />
de mostrar a aptidão para outras<br />
pessoas, sem ser necessário qualquer esforço<br />
de explicação.<br />
4.<br />
Inconsciência competente<br />
A prática gerou o quarto e último<br />
patamar de desenvolvimento, possibilitando<br />
que, na fase de inconsciência compe-<br />
tente, a actividade se torne instantânea e<br />
mecanizada. Passa a ser possível exercer a<br />
função ao mesmo tempo que outras actividades<br />
são desenvolvidas em paralelo.<br />
A capacidade de ensino é igualmente<br />
impulsionada e os assuntos tornam-se pessoais<br />
e de fácil compreensão. A necessidade<br />
de constante actualização e prática manterá<br />
este nível de inconsciência competente.<br />
Por experiência própria afirmo com<br />
toda a certeza de que é a ajudar o próximo<br />
o momento onde mais aprendemos e,<br />
acima de tudo, ganha-se a noção de pontos<br />
de melhoria que outrora nunca eram<br />
identificados. Tudo isto só é possível com<br />
plena consciência do estado actual, que só é<br />
alcançado com força mental robusta, adaptável<br />
e que encara desafios como oportunidades<br />
de crescimento.<br />
Conclusão<br />
Quem nunca olhou para alguém que<br />
alcançou enorme sucesso na vida e em<br />
seguida se interroga como essa pessoa foi<br />
capaz? Considero isto um acto de coragem<br />
e receio, em simultâneo. É importante haver<br />
referências que façam sonhar e motivar<br />
quem deseja desenvolver ambições<br />
como investidor, mas, em contrapartida,<br />
pode ter o efeito de afastar ou, pior, dar a<br />
entender que tudo parece fácil.<br />
Ter ambições deve ser considerado<br />
como a poção que faz querer lutar por<br />
algo na vida – aplicado a 100% a investimentos<br />
ou não. Mas, como em tudo, deve<br />
haver uma base sólida de iniciação, um<br />
mapa perfeitamente identificável a seguir.<br />
Caso contrário, as ambições não passam<br />
de sonhos que rapidamente se podem tornar<br />
pesadelos.<br />
Não é, nem nunca será, fácil dominar<br />
de forma tranquila e segura a natureza dos<br />
mercados financeiros, onde eu próprio enfrento<br />
desafios todos os dias, sempre que<br />
me sento em frente ao ecrã. A diferença<br />
está no mindset desenvolvido, não só com<br />
estratégias bem fundamentadas para operar,<br />
mas principalmente com a consciência<br />
do ponto em que estou e onde posso<br />
melhorar diariamente.<br />
Como disse, nunca será fácil – mas<br />
não tem de ser tão difícil, perigoso e desgastante<br />
quanto isso.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 57
OPINIÃO<br />
POR NUNO SOUSA PEREIRA<br />
DIRECTOR DE INVESTIMENTOS<br />
DA SIXTY DEGREES<br />
CBDC<br />
AS MOEDAS DIGITAIS<br />
DOS BANCOS CENTRAIS<br />
Raramente reflectimos sobre o que é o dinheiro,<br />
por que razão tem o valor que colectivamente<br />
lhe atribuímos, ou qual a estrutura<br />
de intermediação para o movimentar.<br />
N<br />
o entanto, todos os dias à volta do mundo, milhões de transacções são<br />
processadas através de empresas privadas, maioritariamente bancos,<br />
utilizando o dinheiro emitido por Bancos Centrais, com permissão dos<br />
respectivos governos, sem que tenha um valor atribuído para além da<br />
confiança. Existe uma versão do dinheiro detido nos bancos que é apenas um<br />
conjunto de zeros e uns num qualquer computador, e a versão do dinheiro<br />
físico representado através de moedas e notas.<br />
Alguns eventos da história monetária recente, nomeadamente a criação das moedas<br />
digitais (criptomoedas), os elevados níveis de dívida governamental face ao PIB ou os valores<br />
recentes de inflação, muito elevados quando comparados com as últimas décadas, voltaram<br />
a trazer desenvolvimentos sobre a estrutura do dinheiro e da sua utilização e os deveres e<br />
benefícios das entidades governamentais e reguladores financeiros nessa estrutura.<br />
Enquanto muitos advogam que o poder das criptomoedas não está apenas ligado ao<br />
potencial tecnológico de muitos dos projectos, mas, acima de tudo, à sua descentralização<br />
e capacidade de resiliência face ao autoritarismo governamental, outros criticam a falta de<br />
regulamentação deste espaço, o elevado risco associado – recentemente uma das maiores<br />
moedas alternativas em circulação implodiu praticamente de um dia para o outro (valor total<br />
de mercado de cerca de 40 mil milhões de dólares) – e a falta de curso legal* destas “moedas”.<br />
Adicionalmente, o número de pessoas sem acesso a contas bancárias ou internet no<br />
mundo também limita a adopção de alternativas 100% digitais.<br />
Têm surgido muitas iniciativas para tentar resolver estas questões de ambos os lados.<br />
O maior destaque tem ido para a adopção da bitcoin como moeda legal de alguns países,<br />
caso de El Salvador, que aparece em primeiro plano por ser o país onde, na teoria, todos os<br />
pagamentos podem ser feitos usando bitcoin (desde pagamentos ao Governo a transacções<br />
comerciais). Na prática, esta experiência não estará a correr tão bem como esperado, até<br />
porque a desvalorização recente dos preços das criptomoedas trouxe obstáculos adicionais à<br />
penetração de mercado destas soluções.<br />
Na esfera pública e num movimento considerado<br />
rápido pelos padrões históricos, vários<br />
Bancos Centrais começaram a desenvolver<br />
alternativas para emitir dinheiro digitalmente.<br />
Convém, por isso, tentar perceber em que difere<br />
o dinheiro emitido actualmente, um conjunto de<br />
zeros e uns na nossa conta bancária, das CBDC<br />
(Central Bank Digital Currencies).<br />
No actual sistema, uma unidade monetária é<br />
igual a outra qualquer, não se conseguindo distinguir<br />
que nota, moeda ou conjunto de “zeros e<br />
uns” foi utilizado numa determinada transacção.<br />
Esta forma de moeda, por muito que já tenha<br />
uma aplicação desmaterializada, continua a ser<br />
diferente do conceito de criptomoeda.<br />
Baseada na tecnologia blockchain, cada<br />
criptomoeda é identificável, assim como todas as<br />
transacções em que essa unidade esteve envolvida,<br />
permitindo um escrutínio total das transacções<br />
a quem consulte o histórico do blockchain.<br />
Esta transparência é um dos atractivos das<br />
criptomoedas privadas, já que o “ledger” –<br />
histórico de transacções – está acessível a<br />
quem quiser consultá-lo. No caso das CBDC,<br />
essa informação privilegiada está nas mãos<br />
dos Bancos Centrais e potencialmente dos<br />
Governos, com todos os efeitos nefastos que<br />
daí possam resultar.<br />
Além das valências do dinheiro “actual”,<br />
como meio de transacção, as CBDC estão a<br />
ser olhadas pelos Bancos Centrais como uma<br />
excelente alternativa, não só para controlar as<br />
transacções económicas que hoje escapam às<br />
malhas das autoridades (“shadow economy”),<br />
mas também como uma ferramenta que<br />
58 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
permite implementar outros mecanismos de<br />
controlo monetário, como a distribuição universal<br />
de rendimentos ou a tributação universal<br />
do património.<br />
Esta ferramenta, estando a ser desenvolvida<br />
pelos Bancos Centrais, que até agora têm dado<br />
algum espaço de manobra ao ecossistema das<br />
criptomoedas privadas para mapear os eventuais<br />
problemas a enfrentar, vai trazer simplificações<br />
na operacionalidade das transacções, tornando-<br />
-as mais seguras e baratas (uma das vantagens<br />
que os proponentes das criptomoedas destacam<br />
face ao circuito bancário).<br />
Por outro lado, como referido, o lançamento<br />
das CBDC vai fazer aumentar o grau de informação<br />
que passaremos a dar às instituições no<br />
poder. Este é, sem dúvida, um dos principais<br />
problemas que teremos pela frente, sendo já<br />
possível verificar alguns exemplos da utilização<br />
deste poder, que se tornará especialmente<br />
preocupante se for cruzado com métodos de<br />
avaliação do cumprimento social. O exemplo<br />
mais avançado desta situação pode ser observado<br />
no Sistema de Pontuação Social Chinês (Social<br />
Credit System), onde os elementos da sociedade<br />
que não cumpram um determinado padrão de<br />
comportamento vêem limitada a sua capacidade<br />
de interagir com a sociedade em inúmeras actividades<br />
essenciais, que vão desde a concessão<br />
de crédito à simples utilização de transportes<br />
públicos. É fácil imaginar que todas as transacções<br />
estarão também contidas num ambiente<br />
controlado pelo Governo, pelo que os membros<br />
da sociedade, que não respeitarem inteiramente<br />
as regras impostas, poderão ficar completamente<br />
sem recursos pelo simples apertar de um botão.<br />
Neste ponto da história, em que tanto se fala de<br />
literacia financeira, é essencial que as pessoas<br />
percebam o potencial da tecnologia associada às<br />
CBDC e que tomem uma opção informada sobre<br />
o uso generalizado da mesma.<br />
Outro problema adicional associado ao<br />
desenvolvimento das CBDC reside na possibi-<br />
VÁRIOS BANCOS<br />
CENTRAIS COMEÇARAM<br />
A DESENVOLVER<br />
ALTERNATIVAS PARA<br />
EMITIR DINHEIRO<br />
DIGITALMENTE<br />
lidade de tornar os bancos comerciais redundantes.<br />
Todos os utilizadores da rede passam a<br />
poder efectuar transacções directamente com o<br />
Banco Central, não necessitando de uma conta<br />
bancária, o que, no momento inicial, poderá levar<br />
à quebra abrupta do sistema vigente em favor do<br />
“novo” sistema.<br />
Assim, apesar das etapas estarem a ser<br />
ultrapassadas a uma velocidade anteriormente<br />
impensável, falta ainda ultrapassar uma série<br />
de obstáculos que permitam a total adopção<br />
das CBDC de um modo generalizado. É assim<br />
essencial que seja promovido um debate sério na<br />
sociedade civil sobre os poderes que um sistema<br />
destes entregará tanto a Bancos Centrais como<br />
a Governos. No entanto, não faltam já entidades<br />
com vontade de saltar esta discussão, tal como<br />
foi sugerido em Davos, no final de Maio, onde foi<br />
adiantado que as CBDC poderiam ser adoptadas<br />
como forma de substituir o sistema SWIFT,<br />
utilizando a tecnologia blockchain e criando um<br />
cabaz de CBDC para se obter um preço mais<br />
estável entre elas.<br />
*Curso legal - Uma moeda de curso legal é aquela que,<br />
segundo a lei, pode ser usada para quitar dívidas públicas,<br />
dívidas privadas e cumprir obrigações financeiras como<br />
pagamentos de impostos, contratos, multas ou danos legais<br />
e é aceite pelo valor facial de emissão.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 59
OPINIÃO<br />
POR CARLOS RODRIGUES<br />
PRESIDENTE DA MAXYIELD – CLUBE<br />
DOS PEQUENOS ACCIONISTAS<br />
OS CAMINHOS<br />
DO PSI<br />
A<br />
nível<br />
O mercado de acções nas bolsas de valores<br />
mobiliários caracteriza-se por forte volatilidade<br />
e variabilidade diária das cotações, com<br />
significativas oscilações nos ciclos longos em<br />
que se encontram e num enquadramento<br />
económico internacional adverso.<br />
nacional, o PSI apresenta uma grande resiliência a estes<br />
fenómenos e um comportamento em contraciclo com os principais<br />
índices de referência do mercado europeu e americano. Através deste<br />
artigo, pretendemos identificar os caminhos que se abrem ao PSI no<br />
contexto referido.<br />
1. ENQUADRAMENTO ECONÓMICO<br />
1.1 – As pressões inflacionistas<br />
Os estímulos económicos e monetários de combate à pandemia provocaram um aumento da<br />
massa monetária em circulação, acompanhada por uma redução da velocidade de circulação<br />
da moeda devido às situações de confinamento.<br />
O fim do confinamento e regresso progressivo à normalidade têm como consequência o<br />
retorno aos níveis pré-pandémicos da velocidade de circulação da moeda, e respectivo ajustamento<br />
económico pelo aumento dos preços, provocando pressões inflacionistas persistentes<br />
de natureza permanente.<br />
Este quadro foi agravado por um crescimento dos preços dos combustíveis e de um<br />
amplo conjunto de matérias-primas não energéticas, provocado por disfunções nas<br />
cadeias de abastecimento e dificuldades logísticas, que a agressão da Rússia à Ucrânia veio<br />
agravar significativamente.<br />
1.2 - O aumento das taxas de juro<br />
Para conter as tensões inflacionistas, as<br />
autoridades monetárias recorrem ao aumento<br />
das taxas de juro directoras, cujo processo já se<br />
iniciou nos EUA, no Reino Unido e nas yield das<br />
dívidas soberanas, sendo expectável o aumento<br />
das taxas de referência pelo BCE a curto prazo.<br />
A FED aumentou a taxa de juro em 0,25% em<br />
Março e 0,5% em Maio para responder à inflação,<br />
que atingiu 8,5% no final do 1.º T/2022.<br />
O Banco Central de Inglaterra, um dos mais<br />
antigos bancos centrais do mundo, para responder<br />
à taxa de inflação de 5,5% em Janeiro,<br />
procedeu a aumentos de 0,25% nas suas taxas<br />
de referência, nos meses de Fevereiro, Março<br />
e Maio.<br />
São expectáveis novos aumentos das taxas de<br />
juro conforme já foi anunciado pelos responsáveis<br />
da FED, Banco Central de Inglaterra e<br />
posições avulsas de responsáveis do BCE, que<br />
sinalizam a subida das taxas de juro para este<br />
Verão, após a taxa de inflação anual de 8,1%<br />
verificada em Maio na Zona Euro.<br />
A redução dos balanços através da diminuição<br />
das compras líquidas de activos, designadamente<br />
títulos de dívida soberana, deverá ter o seu início<br />
no limiar do 2.º S/2022.<br />
Merece uma referência especial a evolução<br />
das taxas de juro reais (corrigidas da inflação)<br />
num contexto inflacionista, que poderá determinar<br />
uma evolução das taxas nominais com<br />
amplitude assinalável.<br />
60 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
PARA CONTER AS<br />
TENSÕES INFLACIONISTAS,<br />
AS AUTORIDADES<br />
MONETÁRIAS RECORREM<br />
AO AUMENTO DAS<br />
TAXAS DE JURO<br />
DIRECTORAS<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 61
OPINIÃO<br />
O BANCO CENTRAL DE<br />
INGLATERRA, PARA<br />
RESPONDER À TAXA<br />
DE INFLAÇÃO<br />
DE 5,5% EM JANEIRO,<br />
PROCEDEU A<br />
AUMENTOS DE 0,25%<br />
NAS SUAS TAXAS<br />
DE REFERÊNCIA,<br />
NOS MESES<br />
DE FEVEREIRO,<br />
MARÇO E MAIO<br />
vo), em contexto de evolução anual positiva do<br />
PIB, através da desaceleração e abrandamento<br />
do ritmo de crescimento.<br />
1.4 - E Portugal?<br />
Relativamente ao nosso país, a Comissão<br />
Europeia e o FMI em 2022 vêem o PIB a crescer<br />
5,8% e 4,9%, respectivamente. Paralelamente, a<br />
Comissão Europeia e o FMI prevêem uma inflação<br />
de 4,4% e 6%, respectivamente.<br />
Esta evolução deve-se ao impulso do consumo<br />
privado apoiado pela normalização da<br />
taxa de poupança das famílias, à alavancagem<br />
do investimento pelo Plano de Recuperação e<br />
Resiliência, à recuperação do turismo e ao facto<br />
de Portugal ter sido uma das economias mais<br />
afectadas pela pandemia.<br />
Em conformidade com as previsões da UE, em<br />
2023 Portugal regressa a uma baixa trajectória<br />
de crescimento em torno de 2,7%, sendo que a<br />
inflação, os preços da energia, as disfunções na<br />
cadeia de abastecimentos, o aumento das taxas<br />
de juro e a bolha imobiliária são riscos que não<br />
podem ser subvalorizados.<br />
1.3 - Arrefecimento económico internacional<br />
O ciclo económico tem pela frente políticas<br />
monetárias restritivas, provocando maior lentidão<br />
na retoma, abrandamento ou desaceleração<br />
do ritmo de crescimento económico.<br />
Depois do crescimento de 5,7% do PIB dos<br />
EUA em 2021, o 1.º T/2022 fica marcado por<br />
uma evolução negativa em cadeia de -1,4%,<br />
cuja economia deverá sofrer um acréscimo de<br />
2,8% em 2022, influenciada pelos níveis de<br />
emprego, evolução salarial, manutenção da<br />
despesa das famílias e gastos públicos.<br />
O crescimento homólogo do PIB chinês no<br />
1.º T/2022 situa-se em 4,8%, com expectável<br />
agravamento no 2.º T, e encontra-se muito<br />
longe do aumento de 8,1% em 2021 e da<br />
meta de 6% para o ano em curso, a qual, com<br />
excepção de 2020, não tem precedentes nas<br />
últimas três décadas.<br />
Após a quebra de 5,9% da economia europeia<br />
em 2020, verificou-se um crescimento de<br />
5,3% em 2021, sendo que em 2022 a inflação<br />
(7,5% em Abril) e a guerra na Ucrânia vão provocar<br />
uma forte desaceleração para 2,3%, em<br />
conformidade com as previsões do Eurostat.<br />
O arrefecimento económico internacional<br />
pode originar situações de recessão (dois trimestres<br />
consecutivos de crescimento negati-<br />
62 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
2. COMPORTAMENTO DOS<br />
MERCADOS BOLSISTAS<br />
EUROPEUS E AMERICANOS<br />
A tendência decrescente dos índices bolsistas internacionais<br />
já incorpora alguns efeitos macroeconómicos<br />
referidos, sendo que o PSI apresenta<br />
uma surpreendente situação inversa com um<br />
crescimento anual de 12,4% no final de Maio.<br />
O índice S&P 500, composto pelas maiores<br />
500 sociedades cotadas na NYSE, que atingiu<br />
em 4 de Janeiro o valor máximo de sempre 1 ,<br />
apresenta no final de Maio uma diminuição<br />
anual acumulada de -13%, tendo atingido o bear<br />
market no dia 20 deste mês.<br />
O índice STOXX 600, que agrega as 600 maiores<br />
sociedades cotadas europeias, que atingiu<br />
em 5 de Janeiro o valor máximo histórico 2 , e, no<br />
final de Maio, uma baixa anual acumulada de<br />
-9%, que não deixa ninguém tranquilo, face às<br />
características da conjuntura e ciclo económico<br />
no 2.º S/2022.<br />
O índice tecnológico americano NASDAQ<br />
entrou no mês de Abril em bear market (quebra<br />
acumulada superior a 20% relativamente ao<br />
último máximo ocorrido em 22 de Novembro/2021),<br />
para o qual contribuiu a decepcionante<br />
earning season das FAANG (Facebook, Amazon,<br />
Apple, Netflix e Google).<br />
As bolsas dos diversos países europeus<br />
apresentam uma evolução bastante diferenciada,<br />
sendo que o índice alemão DAX30 e o índice<br />
francês CAC40 são aqueles que sofreram uma<br />
quebra mais acentuada.<br />
É de referir que o índice espanhol IBEX 35 e o<br />
londrino FTSE 100 ainda não atingiram os valores<br />
anteriores ao crash de 2020.<br />
SUCESSÃO DE PICOS E VALES<br />
NOS CICLOS LONGOS DO PSI<br />
8 000<br />
6 000<br />
4 000<br />
2 000<br />
2011 2013 2015 2017 2019 2021<br />
3. PERSPECTIVAS PARA O PSI<br />
Estas tendências colocam interrogações sobre<br />
a capacidade de resiliência do PSI até ao final<br />
do ano e a persistência de uma evolução em<br />
contraciclo com os mercados internacionais.<br />
A actividade das maiores sociedades do PSI<br />
vai ser influenciada pelo arrefecimento económico<br />
internacional, devido ao peso da internacionalização<br />
nos seus negócios.<br />
Pelo contrário, a actividade das sociedades<br />
do PSI, com actividade concentrada no mercado<br />
doméstico, será potenciada pela favorável conjuntura<br />
económica do País em 2022.<br />
A evolução do PSI poderá ser influenciada<br />
por estes dois efeitos de sentido inverso e pelo<br />
grau de volatilidade.<br />
EM CONFORMIDADE<br />
COM AS PREVISÕES<br />
DA UE, EM 2023<br />
PORTUGAL<br />
REGRESSA A UMA<br />
BAIXA TRAJECTÓRIA<br />
DE CRESCIMENTO<br />
EM TORNO DE 2,7%<br />
No actual contexto estaremos confrontados<br />
pela permanência do PSI na faixa de variação<br />
[6300 3 -7750 4 ] ou um regresso à faixa<br />
[5750 5 -6300].<br />
A permanência na faixa de variação<br />
[6300-7750] significa que o PSI se manterá<br />
ao nível de máximos de 2014-2015 e numa<br />
significativa tendência ascensional.<br />
O regresso à faixa [5750-6300] significa que<br />
o índice se manterá ao nível de 2016-2018, com<br />
o perigo de regressão, com quebra da zona de<br />
sustentação ao encontro daquele que sempre<br />
vem e se esconde na sucessão de picos e vales<br />
dos períodos longos de variação: o bear market.<br />
No fundo, estaremos perante o “pesadelo”<br />
da histórica intermitência, alternando<br />
anualmente variações positivas e negativas,<br />
com fraca correlação com a evolução do PIB,<br />
ou “romper” com esta tradição dos últimos<br />
10 anos?<br />
Os price targets da generalidade das<br />
sociedades cotadas não afastam esta<br />
interrogação, pelo que estamos perante<br />
tempos desafiantes para a evolução do PSI<br />
e também de verificação se o novo índice,<br />
baptizado no mês de Março, continua sujeito<br />
a bear markets de periodicidade bianual ou<br />
interrompe esta tendência.<br />
1 O valor máximo de sempre foi de 4.818,62 pontos em 4 de<br />
Janeiro de 2022.<br />
2 O máximo histórico atingiu 495,46 pontos em 5 de Janeiro<br />
de 2022.<br />
3 Pico observado em 10 de Abril de 2015 e anterior ao bear<br />
market de 2016.<br />
4 Pico ocorrido em 1 de Abril de 2014, que precedeu o crash<br />
verificado neste ano.<br />
5 Valor ocorrido em 21 de Maio de 2018, correspondente ao<br />
pico anterior ao bear market de 2018.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 63
OPINIÃO<br />
POR CARLOS VIEIRA<br />
COUNTRY MANAGER DA WATCHGUARD<br />
PARA PORTUGAL E ESPANHA<br />
A TRANSIÇÃO<br />
PARA SERVIÇOS<br />
DE SEGURANÇA<br />
GERIDOS<br />
São inúmeras as oportunidades para os MSP<br />
(Managed Service Providers) que querem adoptar<br />
um modelo de segurança gerida. Seja criterioso,<br />
verifique qual o valor acrescentado que aporta<br />
e escolha sabiamente o seu parceiro.<br />
O<br />
aumento da complexidade e do número de ciberataques torna o panorama<br />
da cibersegurança cada vez mais desafiante. Encontrar a solução certa<br />
para determinado problema pode ser avassalador para as empresas, que<br />
se confrontam com a existência de um enorme volume de tecnologias de<br />
segurança e de opções de fornecedores.<br />
De alguma forma, a complexidade parece ser o problema primário quando se está<br />
a trabalhar numa estratégia de segurança eficaz. Quando combinado com a escassez<br />
sistémica de pessoal especializado, é, de certa forma, a tempestade perfeita.<br />
No entanto, estas mesmas dinâmicas de mercado estão a levar à necessidade e a<br />
um crescimento exponencial de fornecedores de serviços de segurança geridos (MSSP).<br />
Nos últimos dois anos, os profissionais do sector têm reconhecido estas oportunidades e<br />
trabalhado para evoluir para modelos de serviços de segurança geridos. E é fácil perceber<br />
o porquê: os ganhos são elevados do ponto de vista de uma segurança eficaz e eficiente,<br />
mas, também, de uma perspectiva financeira.<br />
1.<br />
Quem tudo quer, tudo pode perder. Seja criterioso quanto aos serviços de<br />
segurança geridos que pretende fornecer. A variedade de necessidades de<br />
segurança é grande e é fácil perdermo-nos neste mundo. Concentre-se num conjunto<br />
diferenciado de serviços de segurança geridos e fora do âmbito do qual a sua actual<br />
base de clientes pode beneficiar. Além disso, preste especial atenção à gestão do fluxo<br />
de dinheiro de caixa e ajustes das comissões de vendas, para melhor satisfazer as<br />
necessidades do seu negócio.<br />
2.<br />
Conhecer a mais-valia do serviço.<br />
A segurança resulta de uma intersecção<br />
entre pessoas, processos e tecnologia. Estes<br />
três vectores têm de ser completamente<br />
compreendidos para que possam aportar<br />
valor. Uma das vantagens em fazer uma<br />
parceria com um MSSP já estabelecido é, por<br />
exemplo, o contacto prévio com diferentes<br />
clientes e situações, o que ajuda a desenvolver<br />
melhores práticas (e trabalhar dentro dos<br />
enquadramentos legais e de privacidade<br />
indicados).<br />
3.<br />
A eficácia da segurança não é suficiente.<br />
Embora um sistema de segurança óptimo<br />
seja um imperativo, deve certificar-se que os<br />
seus serviços têm um custo material adequado.<br />
A eficiência operacional é o ponto central deste<br />
modelo de negócio. Os MSSP precisam de ter um<br />
melhor serviço a um melhor preço, ao mesmo<br />
tempo que tentam manter-se rentáveis. Este<br />
é um caminho cheio de obstáculos, que pode<br />
64 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
desviar clientes e redireccionar as receitas.<br />
Deve concentrar-se em pontos como a<br />
flexibilidade de compra, facilidade de gestão<br />
e um único fornecedor para apoiar a sua<br />
base de clientes. Reduzir o seu portefólio de<br />
fornecedores melhora a eficiência e eficácia na<br />
gestão das plataformas dos seus clientes.<br />
OS PROFISSIONAIS<br />
DO SECTOR TÊM<br />
RECONHECIDO ESTAS<br />
OPORTUNIDADES<br />
E TRABALHADO<br />
PARA EVOLUIR<br />
PARA MODELOS<br />
DE SERVIÇOS<br />
DE SEGURANÇA<br />
GERIDOS<br />
4.<br />
One too many models. Esta<br />
dica é essencial, mas, por vezes<br />
(dolorosamente), subestimada. Um MSSP<br />
não é a mesma coisa que uma empresa de<br />
segurança em outsourcing (seja no cliente ou<br />
remotamente).<br />
O modelo económico é diferente, as<br />
características são diferentes e a rentabilidade<br />
esperada é diferente. Um MSSP tem de<br />
prever, operar e entregar um serviço sob a<br />
premissa “one-to-many model”. Isto significa<br />
que é necessário haver um elevado nível de<br />
replicabilidade e transportabilidade, o que ajuda<br />
a encontrar o valor acrescentado do serviço, a<br />
diferenciação e a eficiência operacional.<br />
5.<br />
Cada acção tem um impacto,<br />
especialmente na escolha de parceiros.<br />
São poucas as empresas que conseguem<br />
juntar pessoas, processos e tecnologias num<br />
formato convincente. E um parceiro de canal,<br />
por definição, já tem relação com alguns<br />
fornecedores. Na migração para um modelo<br />
MSSP, é importante ter os fornecedores certos.<br />
Esta análise pode acrescentar ou diminuir a sua<br />
mais-valia, diferenciação e rentabilidade.<br />
Há imensas oportunidades para os MSP que<br />
querem avançar para o modelo de segurança<br />
gerida. Mas esta mudança é uma transição não<br />
só na forma como se entrega valor aos clientes,<br />
mas também em muitos aspectos intrínsecos<br />
do modelo de negócio. Antes de iniciar esta<br />
viagem, pense nas implicações que vai ter o seu<br />
negócio já existente. Seja criterioso e perceba<br />
onde está o valor do serviço. E escolha o seu<br />
parceiro sabiamente.<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 65
OPINIÃO<br />
CRIPTOMOEDAS<br />
UM FUTURO<br />
POR RICARDO BRANCO<br />
OUTSOURCING SENIOR DA MAZARS<br />
EM PORTUGAL<br />
PRESENTE<br />
Há momentos na história da Humanidade<br />
que serão relembrados como verdadeiramente<br />
transformadores.<br />
A<br />
31 de Outubro de 2008, nos primórdios da crise financeira, foi<br />
publicado um livro branco intitulado “Bitcoin: A Peer to Peer<br />
Electronic Cash System”, por alguém que utilizava o pseudónimo<br />
Satoshi Nakamoto. A sua principal premissa seria defender a<br />
realização de transacções financeiras sem a necessidade de um<br />
intermediário, como um banco ou outras instituições financeiras. Em última instância, esta<br />
tornar-se-ia uma transferência de informação.<br />
Actualmente, é possível enviar fotografias e vídeos quase instantaneamente e praticamente<br />
de graça, mas, se quisermos realizar uma transferência de dinheiro de Portugal para<br />
o Japão, esta irá demorar cerca de dois dias, pagar comissões bancárias diversas e custos de<br />
conversão da moeda, e só o podemos fazer em dias úteis. A tecnologia utilizada pela Bitcoin<br />
(BTC) é o blockchain que, de forma muito simples, podemos caracterizar como uma lista de<br />
transacções que, agrupadas em blocos que vão adicionando a blocos anteriores, pode ser<br />
visualizada e verificada por todos os utilizadores, já que o seu código é Open Source.<br />
No entanto, a BTC é apenas uma das criptomoedas que utilizam esta tecnologia. Segundo<br />
dados do site CoinmarketCap, existem mais de 19 mil criptomoedas que utilizam o Blockchain<br />
ou desenvolvimentos desta tecnologia. A Bitcoin e a Ethereum são, de longe, as mais conhecidas,<br />
já que, em conjunto, representam mais de 60% do total da capitalização do mercado<br />
das criptomoedas. A tecnologia tem evoluído de uma forma exponencial e tem sido uma base<br />
para o desenvolvimento de novas aplicações em vários sectores. Exemplo disso são moedas<br />
digitais como a BTC, XRP, Dogecoin e Litecoin; plataformas de contratos inteligentes (Smart<br />
Contract Platforms), sendo as mais conhecidas a Ethereum (ETH), Cardano (ADA), Solana<br />
(SOL) e Polkadot (DOT); na área da interoperabilidade, a Quant (QNT); e nos jogos, a Enjin Coin<br />
(ENJ) e a Axie Infinity (AXS). Até no mundo do futebol, clubes como o Futebol Clube do Porto, a<br />
Juventus, o Barcelona e o Manchester City já aderiram à tecnologia com a emissão de tokens<br />
(representação digital da criptomoeda).<br />
66 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
Outra área muito importante tem sido a das<br />
finanças, com as moedas DeFi (Decentralized<br />
Finances) ou finanças descentralizadas, que,<br />
de um modo geral, oferecem um conjunto de<br />
serviços que rivalizam com o nosso sistema<br />
bancário actual, tais como investir e receber<br />
juros, solicitar financiamentos, transaccionar<br />
activos financeiros de uma forma mais rápida,<br />
segura, barata e sem a necessidade de intermediários,<br />
que encarecem todo o processo. Entre<br />
as criptomoedas que usam tecnologia para estes<br />
serviços contam-se, por exemplo, a Wrapped<br />
Bitcoin (WBTC) ou a Avalanche (AVAX).<br />
Um outro mercado que tem proliferado<br />
rapidamente é o dos NFT (Non Fungible Token).<br />
Basicamente, estes são um direito de propriedade<br />
sobre um activo digital. Como o seu nome<br />
indica, cada um é não fungível, ou seja, é único<br />
no mundo e pode ser utilizado para a autenticação<br />
da propriedade de activos digitais, tais como<br />
arte digital, músicas, vídeos, bilhetes de cinema<br />
e até mesmo um tweet. As utilizações podem<br />
ser variadas e os mais entusiastas da tecnologia<br />
afirmam que nos próximos anos o mercado dos<br />
NFT irá ser preponderante nas nossas operações.<br />
Ainda recentemente, verificaram-se problemas<br />
na final da Liga dos Campeões com a venda de<br />
bilhetes falsos. Com esta tecnologia, o problema,<br />
muito provavelmente, não existiria.<br />
Mas como podemos comprar ou transaccionar<br />
criptomoedas? Primeiro, é necessário ter uma<br />
carteira digital associada a duas chaves: uma<br />
chave privada, que serve de password para aceder<br />
aos fundos, e uma chave pública, que constitui o<br />
endereço da carteira e que serve para terceiros<br />
enviarem moedas. O processo é muito idêntico<br />
a enviar um e-mail. Uma outra forma consistirá<br />
ALGUNS ANALISTAS<br />
FINANCEIROS<br />
TÊM RECOMENDADO<br />
ALOCAR UMA PARTE<br />
DO PATRIMÓNIO<br />
EM CRIPTOMOEDAS<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 67
OPINIÃO<br />
em abrir uma conta numa Exchange. As mais conhecidas<br />
são a Binance, Coinbase, Kraken, Huobi<br />
Global e Bitfinex. No entanto, estas plataformas<br />
não são necessárias para transaccionar criptomoedas,<br />
bastando uma carteira digital e chaves<br />
públicas para a realização de transacções. Uma<br />
das primeiras transacções em BTC teve lugar em<br />
2010, quando um programador comprou duas<br />
pizzas por 10 mil BTC. Aos preços actuais, o valor<br />
total pago seria de cerca de 268 milhões de euros.<br />
Em Portugal, muito recentemente, registou-se o<br />
primeiro imóvel liquidado em BTC.<br />
Podemos ainda adquirir moedas virtuais<br />
através de dois mecanismos: a Prova de Trabalho<br />
(Proof of Work) e a Prova de Participação (Proof<br />
of Stake). A primeira é utilizada pelas primeiras<br />
criptos, tais como a BTC ou ETH 1.0 (está em<br />
desenvolvimento a ETH 2.0), e consiste num<br />
processo denominado mineração, no qual, através<br />
de um processo de resolução de problemas, os<br />
“mineiros” ganham o direito de criar blocos na<br />
Blockchain, assim conquistando tokens. O grande<br />
problema deste processo é que a quantidade de<br />
energia necessária é enorme, o que o torna pouco<br />
atractivo, mesmo em questões ambientais. É por<br />
este motivo que em alguns países a mineração<br />
está já a ser proibida. Adicionalmente, os programadores<br />
verificaram que, com a quantidade de<br />
novas aplicações a serem desenvolvidas, a própria<br />
rede iria sofrer limitações. As novas criptomoedas<br />
têm utilizado a Prova de Participação, que consiste<br />
em contribuir com criptomoedas e aceder à<br />
oportunidade de validar novas transacções. É a<br />
TEMOS ASSISTIDO,<br />
NOS PAÍSES OCIDENTAIS,<br />
A UMA INFLAÇÃO<br />
QUE NÃO ERA TÃO ALTA<br />
HÁ PELO MENOS<br />
20 ANOS,<br />
O QUE LEVANTOU<br />
NOVAMENTE A<br />
QUESTÃO DE INVESTIR<br />
NESTES ACTIVOS<br />
própria rede que, através de critérios variáveis,<br />
atribui essa possibilidade e, consequentemente, a<br />
recompensa. Em termos práticos, podemos considerá-lo<br />
quase como fazer um depósito e receber<br />
os juros. Só que os juros são mais criptomoedas.<br />
Utilizado maioritariamente por jovens, alguns<br />
analistas financeiros têm recomendado alocar uma<br />
parte do património em criptomoedas. Como qual-<br />
68 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
Fonte: CoinmarketCap.com<br />
quer outro activo, o preço é fortemente influenciado<br />
pela lei da oferta e da procura. Por exemplo,<br />
a BTC obteve uma subida exponencial desde a sua<br />
criação e criou muitos milionários. No entanto, a<br />
volatilidade destes activos é tão grande que, tal<br />
como cria fortunas muito rapidamente, também as<br />
destrói. Uma outra moeda digital muito conhecida,<br />
até pelo facto de no momento de elaboração deste<br />
artigo estar a ser alvo de um processo por parte da<br />
SEC (Securities Exhance Commision), a congénere<br />
norte-americana da Comissão de Valores e Mercado<br />
(CMVM), a Ripple (XRP), registou o seu valor<br />
mais alto (ATH - All Time High) há cerca de quatro<br />
anos e está actualmente a perder cerca de 88%<br />
do seu valor. A BTC está a perder cerca de 57% e a<br />
Ethereum (ETH) 63%. Mais recentemente, um episódio<br />
abalou o mercado, associado à criptomoeda<br />
Terra Classic. Como pode ser observado no gráfico,<br />
em meados de Abril cada token valia mais de 100<br />
euros, tendo o preço afundado em meros dias.<br />
Estes exemplos mostram que as criptomoedas<br />
precisam ainda de estabilizar o seu preço de forma<br />
a serem uma alternativa viável para investidores<br />
mais avessos ao risco.<br />
Em países em que os sistemas financeiros são<br />
consistentes e as moedas nacionais são estáveis, a<br />
procura por estes activos não tem a mesma importância<br />
que em países em que o contrário acontece.<br />
Em geografias como a Argentina, o Zimbabué ou<br />
mesmo a Venezuela, a moeda nacional sofre fortes<br />
desvalorizações, devido a valores elevados de<br />
inflação derivados da impressão desenfreada de<br />
dinheiro por parte dos seus governos, prejudicando<br />
aforradores e pensionistas. Nestes casos, existem<br />
vários exemplos de pessoas que transferiram as<br />
suas poupanças para BTC e conseguiram manter o<br />
seu poder de compra. Entretanto, temos assistido,<br />
nos países ocidentais, a uma inflação que não era<br />
tão alta há pelo menos 20 anos, o que levantou<br />
novamente a questão de investir nestes activos.<br />
Quanto à fiscalidade, em termos de IRS, em alguns<br />
países a tributação dos rendimentos obtidos<br />
VIVEMOS NUMA ERA<br />
DIGITAL, SENDO<br />
O SURGIMENTO<br />
DE MOEDAS DIGITAIS<br />
APENAS UMA<br />
EVOLUÇÃO NATURAL<br />
já começou a ser efectuada, sendo que em Portugal<br />
o assunto está ainda em discussão. Assim,<br />
à data de elaboração deste artigo, existe a possibilidade<br />
de esta se tornar uma actividade profissional<br />
enquadrada em rendimentos da categoria<br />
B. Quanto ao IRC, estamos também numa “área<br />
cinzenta”, sendo que alguns autores defendem<br />
a sua tributação aplicando os termos presentes<br />
no Sistema de Normalização Contabilística (SNC)<br />
e as Normas Internacionais de Contabilidade no<br />
apuramento do resultado tributável.<br />
Vivemos numa era digital, sendo o surgimento<br />
de moedas digitais apenas uma evolução natural.<br />
É algo que os próprios bancos centrais já interiorizaram<br />
e estão em curso vários desenvolvimentos<br />
para a criação de moedas digitais disponibilizadas<br />
por estas entidades. As chamadas CBDC (Central<br />
Bank Digital Currency) são nada menos que a<br />
resposta que estas instituições têm desenvolvido<br />
de forma a acompanharem esta evolução.<br />
Tal como já referido, a tecnologia está em<br />
constante evolução. A criptomoeda Hedera<br />
(Hbar) é o caso mais visível desta evolução. Através<br />
da tecnologia Hashgraph resolve grande parte<br />
dos principais problemas inicialmente identificados,<br />
tais como a velocidade das transacções,<br />
os fees cobrados por transacção e o consumo de<br />
energia. Por isso finalizo com a frase presente em<br />
Hedera.com: “Hello Future.”<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 69
FINTECH<br />
PAGAMENTOS<br />
À ESCALA<br />
GLOBAL<br />
Com 17 anos de actividade em Portugal,<br />
a ifthenpay proporciona a empresas<br />
de qualquer dimensão uma plataforma<br />
de pagamentos para e-Commerce. Filipe<br />
Moura, CEO da empresa, falou com a Risco<br />
sobre a evolução do sector.<br />
A<br />
ifthenpay comemora 17 anos de actividade em Portugal. Qual o balanço?<br />
O balanço é muito positivo, a começar pelo crescimento constante e<br />
robusto nestes 17 anos. Estamos muito perto de atingir os mil milhões<br />
de euros anuais em volume de pagamentos e 23 mil empresas aderentes.<br />
Do mesmo modo, estamos muito satisfeitos por ter ajudado milhares de<br />
empresas no seu percurso para o comércio online e para os pagamentos digitais.<br />
Fomos pioneiros na democratização da utilização das referências multibanco,<br />
ajudámos à implementação do MB WAY e estávamos no lugar certo e com as ferramentas<br />
certas para ajudar as empresas portuguesas a ultrapassar os obstáculos<br />
que a pandemia trouxe, contribuindo para o aumento dos seus canais de vendas<br />
digitais. Para muitas, foi a tábua de salvação, e, para outras, foi uma alavanca para<br />
o seu crescimento online.<br />
Quais os grandes factores de diferenciação da ifthenpay no mercado face a<br />
outras empresas do mesmo sector?<br />
Eu diria que a ifthenpay tem crescido fundamentalmente por dois factores:<br />
primeiro, pela inovação e especialização que trouxe na área dos pagamentos digitais.<br />
Por sermos da área das tecnologias, somos mais ágeis na integração dos<br />
pagamentos em todo o tipo de plataformas digitais e software. O nosso ADN é a<br />
tecnologia e fazemos a ponte entre a tecnologia e os serviços de pagamento, tradicionalmente<br />
mais associados à Banca.<br />
Mas, mais importante do que termos um bom produto e serviço, é o nosso help<br />
desk e o foco no cliente. Oferecemos um serviço de help desk em português, por<br />
vários meios, muito próximo do cliente e efectuado por colaboradores internos,<br />
predominantemente da área das tecnologias (engenheiros informáticos), que entendem,<br />
conhecem e resolvem as questões técnicas que sempre surgem quando se<br />
integra um universo de software e plataformas digitais.<br />
Filipe Moura, CEO da ifthenpay<br />
Quais os principais desafios que uma<br />
fintech com aspirações globais encontra<br />
no mercado português?<br />
Por um lado, a questão da legislação, supervisão<br />
e compliance, indispensáveis neste<br />
tipo de actividade, é sempre um desafio para<br />
quem tem formação mais ligada às tecnologias<br />
e menos ao direito. Mas estes 17 anos<br />
de actividade, a formação contínua, a ajuda<br />
das entidades que nos supervisionam, como<br />
o Banco de Portugal, e o crescimento dos<br />
recursos humanos em todas as vertentes,<br />
ajudaram-nos a crescer também nessas matérias.<br />
Por outro lado, o mercado português<br />
está muito fechado e centrado nas entidades<br />
financeiras incumbentes. Isto dificulta<br />
bastante o acesso das fintechs às infra-estruturas<br />
ligadas aos meios de pagamento.<br />
70 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
FINTECH<br />
QUALQUER EMPRESA,<br />
DE QUALQUER DIMENSÃO,<br />
DE UMA FORMA FÁCIL,<br />
CÓMODA E SEGURA,<br />
PODE ABRIR O SEU<br />
NEGÓCIO AO MUNDO<br />
resposta atempada a todos. Felizmente, já<br />
antes da pandemia tínhamos as soluções<br />
que eles precisavam. A pandemia veio acelerar<br />
a adopção do e-Commerce para muitas<br />
empresas, que passaram a ver no canal<br />
digital uma alternativa ou complemento ao<br />
canal presencial.<br />
A ifthenpay encerrou o exercício de<br />
2021 com um crescimento de 28% no<br />
volume de negócios e um valor total de<br />
4.267.675 euros. Quais os factores que<br />
Quais os principais desafios que a<br />
pandemia apresentou ao negócio?<br />
Apesar de ter prejudicado os negócios<br />
de forma geral, a verdade é que a pandemia<br />
veio impulsionar ainda mais as vendas<br />
online e os pagamentos digitais. Em consequência<br />
disto, a quantidade de pagamentos<br />
e o número de clientes a aderir ao serviço da<br />
ifthenpay aumentou ainda mais. Durante os<br />
primeiros meses da pandemia, praticamente<br />
triplicou o número de clientes diários<br />
que aderiram ao serviço. Isto foi um desafio<br />
em termos de logística, porque, de repente,<br />
além de termos grande parte dos colaboradores<br />
em teletrabalho, ainda tínhamos o triplo<br />
do trabalho. A somar a isto, as empresas<br />
tinham uma urgência compreensível em ter<br />
o serviço activo, porque, para muitas delas,<br />
as vendas online e os pagamentos à distância<br />
passaram a ser a única alternativa.<br />
Mas com a boa vontade e dedicação de<br />
todos os colaboradores, conseguimos dar<br />
<strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022 71
FINTECH<br />
escolhendo o método de pagamento que<br />
desejarem. Isto pode ser utilizado de várias<br />
formas: pode, por exemplo, ser utilizado<br />
por uma empresa para receber os pagamentos<br />
das suas facturas em Portugal ou<br />
no estrangeiro; pode ser usado para receber<br />
os pagamentos de inscrições em eventos;<br />
donativos; venda directa (pelas redes<br />
sociais, por exemplo); etc. Na pandemia foi<br />
também muito útil para os take-away.<br />
contribuíram para este crescimento<br />
num ano difícil?<br />
Como podem ver no nosso site, em ifthenpay.com,<br />
o crescimento da empresa tem<br />
sido constante e robusto todos os anos. A<br />
pandemia veio impulsionar os canais de vendas<br />
digitais e, apesar de haver alguns sectores<br />
em que as quedas foram impressionantes,<br />
como os ligados ao turismo, viagens e eventos,<br />
no geral, as vendas online aumentaram<br />
e contribuíram para este nosso crescimento.<br />
No mesmo período, registou um<br />
crescimento de 27% no volume de<br />
pagamentos face ao período homólogo.<br />
Este crescimento também está<br />
relacionado com a pandemia?<br />
Sim, também. Este crescimento no volume<br />
de pagamentos é um resultado directo<br />
do crescimento do volume de pagamentos<br />
dos nossos clientes. Claro que também<br />
conquistámos muitos novos clientes, criámos<br />
novos serviços e integrámos em mais<br />
plataformas… Mas a pandemia acelerou<br />
isto tudo.<br />
Também em 2021, a ifthenpay lançou<br />
a “Gateway Pay By Link”. Em que<br />
ESTÁVAMOS NO LUGAR<br />
CERTO E COM AS<br />
FERRAMENTAS CERTAS<br />
PARA AJUDAR<br />
AS EMPRESAS<br />
PORTUGUESAS<br />
A ULTRAPASSAR<br />
OS OBSTÁCULOS QUE<br />
A PANDEMIA TROUXE<br />
consiste esta plataforma e a quem<br />
se destina?<br />
O pay-by-link é um mecanismo que<br />
permite a uma empresa enviar um link aos<br />
seus clientes para que estes lhe paguem,<br />
Actualmente, a ifthenpay tem<br />
uma parceria com a Visa. Quais os<br />
objectivos e como se desenvolve?<br />
A ifthenpay já alcançou uma quota<br />
muito relevante nos pagamentos digitais<br />
em Portugal, quer no B2B, quer no B2C.<br />
E em Portugal, os métodos de pagamento<br />
locais, como a referência multibanco e o<br />
MB WAY, têm um peso muito grande nas<br />
preferências dos utilizadores. No entanto,<br />
para as nossas empresas exportarem mais e<br />
abrirem o seu negócio ao mundo, é necessário<br />
integrar nas plataformas que utilizam<br />
métodos de pagamento internacionais,<br />
como o Visa e outros. A nossa parceria com<br />
a Visa procura precisamente fomentar a internacionalização<br />
das empresas portuguesas,<br />
oferecendo-lhes soluções de pagamento<br />
internacionais integradas na nossa oferta<br />
e nas plataformas que eles utilizam. Assim,<br />
qualquer empresa, de qualquer dimensão,<br />
de uma forma fácil, cómoda e segura, pode<br />
abrir o seu negócio ao mundo.<br />
Quais os objectivos de negócio até<br />
ao final do ano?<br />
Em termos de resultados, conforme<br />
anunciamos no nosso site, vamos continuar<br />
com crescimentos elevados, quer a<br />
nível de volume de pagamentos, quer a nível<br />
de novos clientes. Ficaremos perto dos<br />
mil milhões de euros em volume de pagamentos<br />
anual.<br />
Em termos estratégicos, o nosso novo<br />
grande desígnio é ajudar as empresas portuguesas<br />
a levar os seus negócios ao mundo.<br />
Vamos continuar a aumentar a oferta<br />
dos pagamentos internacionais em cada<br />
vez mais software e plataformas.<br />
A internacionalização dos nossos<br />
clientes será também, de forma indirecta,<br />
a nossa internacionalização.<br />
72 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022
1 ANO<br />
ASSINATURA<br />
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VÁLIDOS PARA<br />
CONTINENTE<br />
E ILHAS
UM MUNDO<br />
EM MUDANÇA<br />
A QUEDA<br />
DE UM UNICÓRNIO<br />
“Bad Blood” conta a história<br />
da ascensão e colapso da<br />
Theranos, a multimilionária<br />
startup de biotecnologia fundada<br />
por Elizabeth Holmes, pela voz<br />
do jornalista que a contou em<br />
primeira mão e a perseguiu até ao<br />
fim, apesar da pressão da CEO e<br />
das ameaças dos seus advogados.<br />
Esquemas elaborados, intriga corporativa,<br />
relações familiares destruídas e<br />
a morte de uma empresa avaliada em<br />
dez mil milhões de dólares compõem<br />
uma história que parece ficção, mas é<br />
pura realidade.<br />
Em 2014, a fundadora e CEO da Theranos,<br />
Elizabeth Holmes, era vista como a versão<br />
feminina de Steve Jobs: uma brilhante<br />
ex-aluna de Stanford, cujo unicórnio<br />
prometia revolucionar a indústria médica<br />
com uma máquina que tornaria as análises<br />
ao sangue mais rápidas e eficientes.<br />
Apoiada por investidores como Larry<br />
Ellison e Tim Draper, a Theranos vendeu<br />
acções numa rodada de levantamento de<br />
fundos que a valorizou em mais de 9 mil<br />
milhões de dólares - o que fez o valor de<br />
Elizabeth Holmes aumentar para cerca<br />
de 4,5 mil milhões de dólares. Mas houve<br />
um pequeno problema: a tecnologia não<br />
funcionou.<br />
Em “Bad Blood”, John Carreyrou conta<br />
a história fascinante da maior fraude<br />
corporativa desde a Enron, um conto de<br />
ambição e arrogância em Silicon Valley.<br />
-------------------------------<br />
BAD BLOOD: FRAUDE MULTIMILIONÁRIA<br />
EM SILICON VALLEY<br />
John Carreyrou<br />
Editora: Editorial Presença<br />
Género: Biografias/Memórias<br />
/Testemunhos<br />
376 páginas<br />
Ray Dalio passou meio século<br />
a estudar economias, impérios<br />
e mercados globais. Nesta obra,<br />
“Princípios para Lidar com a Nova<br />
Ordem Mundial”, o autor examina<br />
os períodos económicos e políticos<br />
mais turbulentos da História<br />
para revelar por que os próximos<br />
tempos serão radicalmente diferentes<br />
dos que temos experienciado<br />
nas nossas vidas – mas<br />
semelhantes ao que já aconteceu<br />
muitas vezes.<br />
Com “Bitcoin: O Ouro Digital”,<br />
Nathaniel Popper oferece uma<br />
visão ímpar sobre a ascensão<br />
drástica da criptomoeda. É um<br />
livro jornalístico que esclarece<br />
os detalhes de uma intrincada<br />
tecnologia – que o leitor vai<br />
ficar a perceber como funciona<br />
- e as suas persistentes lutas e<br />
actualizações contra utilizadores<br />
BITCOIN: O OURO DIGITAL<br />
Nathaniel Popper<br />
Editora: Talento Intemporal<br />
Género: Finanças<br />
368 páginas<br />
á alguns anos, Ray Dalio observou uma confluência<br />
de condições políticas e económicas<br />
H<br />
com que nunca se tinha deparado. Entre elas,<br />
enormes endividamentos, e taxas de juro zero<br />
ou quase zero, que levaram à impressão massiva<br />
de dinheiro nas três principais moedas de<br />
reserva do mundo. A isto, somam-se grandes conflitos políticos<br />
e sociais internos nos maiores países, especialmente os EUA,<br />
devido às maiores divergências do nível de riqueza, da política e<br />
dos valores ao longo de mais de 100 anos.<br />
E por fim, o crescimento de uma potência mundial (China)<br />
desafiando a potência mundial existente (EUA), bem como a<br />
ordem mundial. A última vez que esta confluência de factores<br />
ocorreu foi entre 1930 e 1945. Essa constatação levou Ray Dalio<br />
a uma busca por padrões repetidos e relações de causa/efeito<br />
subjacentes a todas as grandes mudanças na riqueza e no<br />
poder nos últimos 500 anos.<br />
Numa adição notável e oportuna à sua série “Princípios”, Dalio<br />
leva-nos ao seu estudo dos principais impérios – incluindo o<br />
holandês, o britânico e o americano –, colocando em perspectiva<br />
o Grande Ciclo que impulsionou os sucessos e fracassos dos<br />
principais países do mundo ao longo da História.<br />
-------------------------------<br />
PRINCÍPIOS PARA LIDAR<br />
COM A NOVA ORDEM MUNDIAL<br />
Ray Dalio<br />
Editora: Self PT<br />
Género: Economia<br />
608 páginas<br />
A ASCENSÃO DAS CRIPTOMOEDAS<br />
perversos, bancos e governos.<br />
“Bitcoin: O Ouro Digital” é, porém,<br />
mais do que essa explicação,<br />
na forma romanceada como<br />
apresenta as personalidades de<br />
um grupo de talentosos e revolucionários<br />
desajustados, que se<br />
conheceram quase todos online.<br />
De Pequim a Buenos Aires, desfilam<br />
por estas páginas os crentes<br />
numa mudança para uma<br />
estrutura económica mais justa,<br />
incluindo um estudante finlandês,<br />
um milionário argentino, um<br />
empresário chinês, os gémeos<br />
Tyler e Cameron Winklevoss (que<br />
afrontaram Mark Zuckerberg na<br />
criação do Facebook) e ainda o<br />
misterioso criador da Bitcoin,<br />
Satoshi Nakamoto.<br />
74 <strong>RISCO</strong> JUNHO / AGOSTO 2022