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SCMedia News | Revista | Junho 2022

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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<strong>Junho</strong> <strong>2022</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

33<br />

DESPERDÍCIO:<br />

REFLETIR, REPENSAR<br />

E RECONSIDERAR<br />

NESTLÉ<br />

HÁ VEÍCULOS,<br />

MAS SÃO VERDES<br />

MICROSEGUR<br />

“OS DADOS SÃO O<br />

PETRÓLEO DO FUTURO”<br />

O QUE SERÁ O FUTURO<br />

DO TRABALHO NA<br />

LOGÍSTICA?<br />

LOGÍSTICA URBANA:<br />

Mudar as regras do jogo


2<br />

JUNHO <strong>2022</strong>


SCM Supply Chain Magazine 3<br />

Dora Assis<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

EDITORIAL<br />

A REVOLUÇÃO SEGUE DENTRO DE MOMENTOS<br />

“As empresas mais competitivas e resilientes serão<br />

as que procurarem ser as melhores para o mundo,<br />

não as melhores do mundo.”<br />

João Wengorovius Meneses<br />

As cadeias de abastecimento são<br />

importantes! Quem trabalha no setor já o<br />

sabia há muito, mas os últimos dois anos e<br />

meio têm vindo sistematicamente a empurrar<br />

o tema para a agenda de todos, órgãos<br />

de informação generalistas e população<br />

incluídos.<br />

A crise da COVID-19, os efeitos económicos<br />

pós-pandémicos, e todos os constrangimentos<br />

na sequência da guerra na Ucrânia expuseram<br />

as vulnerabilidades das atuais cadeias de<br />

abastecimento globais e a necessidade de<br />

fazer mudanças reais e pensar o futuro,<br />

com a sustentabilidade económica, social e<br />

ambiental no centro das preocupações.<br />

Sem isso não há transição para uma<br />

economia limpa e socialmente mais justa,<br />

pois atirámo-nos a todos para um momento<br />

em que não ser sustentável é insustentável.<br />

Passito a passito, empresas e todos nós,<br />

consumidores, cidadãos do mundo, e parte<br />

interessada em que esta história tenha um<br />

final feliz, começamos a fazer caminho rumo<br />

a um futuro melhor.<br />

Esta edição traz-lhe uma mão-cheia de<br />

casos e exemplos de projetos e empresas<br />

que sem fundamentalismos, mas com<br />

muita consciência, já perceberam que este<br />

é MESMO o ponto de viragem e que cada<br />

produto não essencial não produzido faz<br />

mesmo deste planeta um lugar melhor.<br />

A revolução segue dentro de momentos. É só<br />

virar a página.


4<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

#22 #34 #38<br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Gartner Supply Chain top 25 06<br />

LOGÍSTICA<br />

Mudar as regras do jogo 08<br />

Aumento da inflação reduz desperdício<br />

alimentar 18<br />

Reduzir, Reutilizar e Reciclar a Supply<br />

Chain 22<br />

PROCUREMENT<br />

Você compra ou constrói<br />

relacionamentos? 26<br />

Transformação da frota da Nestlé 30<br />

Congresso APCADEC 34<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Um empilhador para qualquer ocasião 38<br />

Modula e MiR Robots lançam solução<br />

conjunta 46<br />

IFOY Awards: Inovação subiu ao palco 50<br />

TECNOLOGIAS<br />

Microsegur - “Os dados são o petróleo do<br />

futuro” 54<br />

5 Razões para automatizar processos 58<br />

TRANSPORTES<br />

Acelerar a transição 62<br />

ALDI considera que camião 100% elétrico<br />

“tem potencial” 66


SCM Supply Chain Magazine 5<br />

CARREIRA<br />

#46<br />

6 Dicas para reduzir o impacto ambiental das suas<br />

frotas 68<br />

O que será o futuro do trabalho na logística? 72<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

Parece agora haver um Quick-Commerce, mas o que<br />

é exatamente? 76<br />

O MUNDO É REDONDO<br />

Ideas worth spreading, TEDGlobal2009 “Uma filosofia<br />

de sucesso mais gentil”, Alain de Botton 78<br />

#66<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Diretora_<br />

Dora Assis<br />

Redação_<br />

Fábio Santos<br />

Projeto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Design Gráfico & Paginação _<br />

Laura Dias<br />

Direção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Business Development_<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital_<br />

Catarina Santos<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.


6<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

Gartner Supply<br />

Chain top 25<br />

CISCO MANTÉM<br />

LIDERANÇA EM <strong>2022</strong><br />

A<br />

Gartner lançou o seu relatório anual relativo<br />

às melhores 25 cadeias de abastecimento<br />

para o ano de <strong>2022</strong>. Segundo os resultados<br />

do “The Gartner Supply Chain Top 25 for <strong>2022</strong>”,<br />

a Cisco Systems volta a estar na liderança<br />

pelo terceiro ano consecutivo, seguida pela<br />

Schneider Electric, Colgate-Palmolive, Johnson<br />

& Johnson e PepsiCo. Comparativamente ao<br />

ano passado, no top 5 verifica-se a subida da<br />

PepsiCo, ocupando o lugar da Nestlé no topo da<br />

tabela.<br />

A permanência das empresas no top 5 poderá<br />

ascendê-las a um outro patamar pertencente<br />

ao ranking, para a categoria Master. Para atingir<br />

este nível, as empresas deverão constar no top<br />

5 por sete vezes nos últimos 10 anos, tendo<br />

apenas as empresas Amazon, Apple, P&G,<br />

McDonald’s e Unilever atingido esse estatuto.<br />

Outro destaque no top 25 são a chegada da<br />

Microsoft, AstraZeneca e Siemens, que vieram<br />

ocupar os espaços deixados pela 3M, Bristol<br />

Myers Squibb e Starbucks. •<br />

Confira abaixo o Top<br />

25 deste ano:<br />

1 - Cisco Systems<br />

2 - Schneider Electric<br />

3 - Colgate-Palmolive<br />

4 - Johnson &<br />

Johnson<br />

5 - PepsiCo<br />

6 - Pfizer<br />

7 - Intel<br />

8 - Nestlé<br />

9 - Lenovo<br />

10 - Microsoft<br />

11 - L’Oréal<br />

12 - The Coca-Cola<br />

Company<br />

13 - Nike<br />

14 - Walmart<br />

15 - HP Inc.<br />

16 - Diageo<br />

17 - Dell<br />

Technologies<br />

18 - Inditex<br />

19 - BMW<br />

20 - AbbVie<br />

21 - Siemens<br />

22 - AstraZeneca<br />

23 - General Mills<br />

24 - British American<br />

Tobacco<br />

25 - Alibaba


8<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Distribuição urbana<br />

MUDAR<br />

AS REGRAS<br />

DO JOGO<br />

A pandemia, os confinamentos e<br />

o subsequente boom do comércio<br />

eletrónico, mas também questões<br />

ambientais, trouxeram a distribuição<br />

urbana e a última milha para a ordem<br />

do dia. Na Europa, Paris apresentou em<br />

junho a sua nova estratégia de logística<br />

urbana <strong>2022</strong>-2026 e a Suíça também<br />

tem um ambicioso e revolucionário<br />

plano: um metro logístico.


SCM Supply Chain Magazine 9<br />

Texto: Dora Assis


10<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

A<br />

entrega de mercadorias é sempre uma<br />

dor de cabeça para os municípios, entre<br />

falta de espaço, horários inadequados e<br />

agora contingências ambientais, os problemas<br />

multiplicam-se e as abordagens ao tema<br />

nunca são pacíficas.<br />

O que é facto também é que, em geral,<br />

os padrões de consumo estão a mudar em<br />

resultado da crise sanitária (desenvolvimento<br />

do comércio electrónico e das “dark stores”),<br />

levando a fluxos urbanos cada vez mais<br />

congestionados. Isto é tanto mais verdade<br />

quanto existem agora qualquer coisa como<br />

9.000 espaços de entrega na capital francesa.<br />

Em Paris, as operações de transporte<br />

e logística são uma fonte de incómodo:<br />

congestionamento do centro da cidade,<br />

emissões de carbono prejudiciais à saúde<br />

e ao ambiente, degradação do ambiente e<br />

da qualidade de vida, enfim, os exemplos<br />

poderiam multiplicar-se. Para resolver todos<br />

estes problemas, o município anunciou em<br />

junho uma ambiciosa estratégia de logística<br />

urbana para o horizonte <strong>2022</strong>-2026.<br />

Com 500.000 encomendas entregues todos<br />

os dias, a logística urbana e as soluções de<br />

última são uma questão-chave na capital<br />

francesa, onde se estima que 25% das<br />

emissões de dióxido de carbono provêm do<br />

transporte de mercadorias.<br />

Face a esta situação, que não é provável<br />

que melhore com a explosão do comércio<br />

eletrónico e das entregas ao domicílio, Paris<br />

decidiu enfrentar o problema e implementar<br />

soluções.<br />

FOCOS DE AÇÃO<br />

Durante workshops organizados pelo<br />

município, mais de 300 intervenientes<br />

públicos e privados propuseram ações<br />

concretas a serem implementadas. A nível<br />

espacial, está previsto reforçar a rede de<br />

zonas dedicadas à logística urbana, a fim de<br />

desenvolver entregas mais livres de carbono e<br />

também mais silenciosas nas últimas milhas, e<br />

aumentar o número de locais multimodais que<br />

limitarão o transporte rodoviário.<br />

Já existem 9.000 lugares de entrega em Paris,<br />

mas o plano é criar 1.000 zonas adicionais,<br />

com maior controlo, e 1.000 lugares de<br />

estacionamento reservados para as bicicletas<br />

de carga.<br />

O já existente cartão ProMobile será alargado<br />

aos subúrbios e num esforço para reduzir a<br />

poluição sonora, serão introduzidos prazos de<br />

entrega mais silenciosos e escalonados.<br />

APOIAR A SUSTENTABILIDADE<br />

Na frente ecológica, a cidade de Paris planeia<br />

rever toda a sua ajuda aos profissionais a<br />

fim de avançarem para uma logística menos<br />

poluente. As estações de recarga elétrica<br />

e de hidrogénio serão multiplicadas, e a<br />

“ciclo-logística” será promovida através do<br />

pagamento de ajuda financeira para encorajar<br />

a aquisição de bicicletas elétricas/bicicletas<br />

de carga, a par da criação de infraestruturas<br />

de apoio adequadas. O município lançará<br />

campanhas de sensibilização junto das<br />

empresas locais para as encorajar a mudar


SCM Supply Chain Magazine 11<br />

para soluções com baixo teor de carbono, que<br />

também incluem carrinhas e veículos elétricos.<br />

DINAMIZAR O FLUVIAL<br />

Em Île-de-France, o dinâmico setor da<br />

construção leva ao transporte de grandes<br />

volumes de materiais e resíduos a partir<br />

de estaleiros de construção. Paris quer<br />

reduzir o incómodo causado estimulando<br />

os empreiteiros a apostarem em frotas<br />

ecológicas, bem como levando-os a fazer<br />

maior uso do transporte fluvial, ainda que<br />

30% da tonelagem de materiais de construção<br />

e resíduos já seja atualmente transportada<br />

através do Sena.<br />

A cidade afirma que o frete fluvial representa<br />

60% menos emissões de CO2 do que o<br />

transporte rodoviário.<br />

Quando combinado com o frete ferroviário,<br />

este número pode atingir 90%. Para coroar<br />

todos estes esforços, está prevista a criação<br />

de uma carta oficial para “locais de construção<br />

sustentáveis de baixo consumo de energia”.<br />

O aspeto social não é deixado de fora.<br />

O crescimento das entregas ao domicílio<br />

revelou a precariedade do trabalho do<br />

motorista de entregas de curta distância.<br />

Para remediar esta situação, a Cidade de Paris<br />

deseja desenvolver a “Maison des Coursiers”,<br />

melhorar as condições de trabalho na cidade,


12<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

e lançar uma carta social e ambiental em<br />

colaboração com as plataformas.<br />

DAR O EXEMPLO<br />

Longe de apenas emitir diretivas, a “mairie” de<br />

Paris anunciou que irá alterar os seus próprios<br />

procedimentos operacionais. Tenciona dar<br />

prioridade às compras locais nos seus concursos<br />

públicos, descarbonizar a sua frota de veículos<br />

a favor dos veículos elétricos e do hidrogénio,<br />

reduzir os fluxos rodoviários causados pelos<br />

seus estaleiros de construção e lutar contra os<br />

ângulos mortos dos seus camiões através da<br />

instalação de dispositivos específicos.<br />

O plano de ação agora apresentado é o<br />

resultado de um ano e meio de reflexão<br />

que envolveu perto de 300 atores privados<br />

e públicos ligados ao setor do transporte<br />

rodoviário de mercadorias e são estas, em<br />

síntese, as ações previstas:<br />

1. Infraestruturas e áreas<br />

logísticas<br />

Reforço da rede de espaços logísticos urbanos<br />

e desenvolvimento de zonas multimodais que<br />

permitirão limitar os fluxos rodoviários.<br />

2. Melhor partilha do espaço<br />

público<br />

• Criação de 1.000 zonas de entrega<br />

adicionais e um maior controlo, extensão<br />

do cartão PROMobile para os subúrbios;<br />

• 1.000 lugares de estacionamento adicionais<br />

para bicicletas-carga, implementação de<br />

entregas silenciosas.


SCM Supply Chain Magazine 13<br />

3. Melhorar as condições de<br />

trabalho de quem entrega<br />

Desenvolvimento da “Maison des coursiers”,<br />

criação de uma rede de instalações (acesso<br />

a sanitários, fontes de água e pontos de<br />

eletricidade), criação de uma carta social e<br />

ambiental com as plataformas.<br />

4. Novos modelos a serem criados<br />

para encorajar o abastecimento<br />

local<br />

Informação e sensibilização das empresas<br />

locais sobre práticas logísticas que emitam<br />

menos gases com efeito de estufa, com ajudas<br />

do município para a compra de bicicletas de<br />

carga, bicicletas elétricas e carrinhas elétricas,<br />

bem como o desenvolvimento de veículos<br />

utilitários elétricos partilhados por empresas e<br />

profissionais.<br />

5. Logística do estaleiro de<br />

construção<br />

Massificar a utilização do canal fluvial, criar<br />

um “cartão sustentável, locais de construção<br />

com baixo consumo de energia”.<br />

6. Transição ecológica do<br />

transporte de mercadorias<br />

Revisão da ajuda da cidade aos profissionais<br />

para uma logística menos poluente e mais<br />

silenciosa, criação de uma rede de terminais<br />

de carregamentos elétricos e estações de<br />

hidrogénio, desenvolvimento do transporte em<br />

bicicleta com a criação de infraestruturas de<br />

apoio e incentivos à aquisição de cargo-bikes.


14<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

Os objetivos, como se vê, são muitos:<br />

aliviar o congestionamento no centro<br />

da cidade, limitar a pegada de carbono,<br />

promover o comércio local, simplificar a vida<br />

do consumidor e, sobretudo, minimizar o<br />

impacto sobre o planeta. É preciso começar<br />

por algum lado e Paris quer dar prioridade à<br />

sustentabilidade.<br />

OS NÚMEROS DA LOGÍSTICA<br />

• 500.000 encomendas entregues por dia;<br />

• 4,4 milhões de entregas/levantamentos<br />

por semana em Île-de-France;<br />

• 51% das operações em Île-de-France<br />

são realizadas por transportadores, os<br />

restantes 49% são por conta própria;<br />

• 9.000 lugares de entrega em Paris;<br />

• ¼ dos movimentos de mercadorias na<br />

região de Île-de-France têm lugar em<br />

Paris, onde apenas cerca de 1% dos<br />

espaços são dedicados à logística;<br />

• 25% das emissões de CO2 em Paris têm<br />

origem no transporte de mercadorias;<br />

• O transporte fluvial de mercadorias<br />

significa 60% menos emissões de gases<br />

com efeito de estufa do que o transporte<br />

rodoviário. Se o transporte fluvial for<br />

combinado com o ferroviário, aquele valor<br />

pode chegar aos 90%.<br />

O METRO DE CARGA SUÍÇO<br />

Um metro logístico ligará as principais cidades<br />

suíças e será dedicado ao transporte de<br />

mercadorias. Reduzirá significativamente as<br />

emissões de gases de efeito estufa, a poluição<br />

do ar e o congestionamento rodoviário e<br />

ferroviário. É pelo menos essa a intenção da<br />

Suíça que lançou oficialmente o seu projeto<br />

chamado Cargo Sous Terrain (CST).


SCM Supply Chain Magazine 15<br />

Será um dia um metro logístico exclusivo para<br />

mercadorias que ligará a maioria das cidades<br />

suíças e deverá reduzir significativamente a<br />

movimentação de mercadorias em rotas muito<br />

utilizadas pelo público em geral (rodoviário,<br />

ferroviário, aéreo) e também a poluição e<br />

consumo de energia.<br />

O fornecimento de eletricidade para o metro<br />

de carga virá exclusivamente de energias<br />

renováveis. As emissões de CO2 por tonelada<br />

de mercadorias transportadas devem, portanto,<br />

ser reduzidas em 80% em comparação com<br />

o transporte rodoviário. Com essa rede, a<br />

Suíça espera reduzir o tráfego das suas redes<br />

rodoviárias e ferroviárias em pelo menos 30%.<br />

UMA PRIMEIRA SECÇÃO EM 2031<br />

O início do projeto envolverá a construção<br />

de um enorme túnel que conectará centros<br />

logísticos localizados nas maiores cidades<br />

suíças. É financiado por investidores e<br />

industriais suíços, incluindo a Swiss Post,<br />

Swisscom, CFF Cargo, os grupos de distribuição<br />

Coop e Migros, bem como o grupo de energia<br />

BKW Energie e a seguradora La Mobilière.<br />

Em 2031, uma primeira secção irá ligar os<br />

principais centros de distribuição de Härkingen-<br />

-Niederbipp a Zurique, duas cidades no norte<br />

da Suíça. O trecho terá 66,7 km de extensão e<br />

incluirá dez cruzamentos principais, ou hubs,<br />

que permitem cargas e descargas. Espera-se<br />

que custe cerca de 3,55 mil milhões de francos<br />

suíços.<br />

Até 2045, a rede deve estender-se por 490<br />

quilómetros e vai de Genere, no extremo oeste<br />

do país, até Saint-Gall, no leste. Duas secções<br />

ligarão as cidades mais ao sul: entre Härkingen-<br />

Niederbipp e Lucerna, bem como entre Berna e<br />

Thun (ver mapa). Não há equivalente no mundo<br />

de um projeto de rede de logística subterrânea.<br />

A título de comparação, o metro de Paris tem<br />

uma rede de 227 quilómetros.


16<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

O FUTURO É AUTÓNOMO?<br />

O túnel estará a uma profundidade entre 20 e<br />

40 metros. Terá seis metros de diâmetro e terá<br />

três faixas, uma faixa por sentido de tráfego<br />

e uma faixa de serviço central. As maiores<br />

máquinas de rolamento autónomas viajarão<br />

a 30 quilómetros por hora. Estes veículos<br />

terão rodas e acionamento elétrico por trilho<br />

de indução. Além disso, um monotrilho de<br />

três vias é fornecido no teto, permitindo o<br />

transporte de mercadorias mais leves a 60<br />

km/h. Hubs serão instalados a cada poucos<br />

quilómetros para alimentar mercadorias por<br />

elevador no sistema ou para removê-las do<br />

sistema.<br />

Mas obviamente que o projeto promete ser<br />

particularmente complicado a nível técnico e<br />

político. A construção de túneis longos será<br />

um desafio ambiental, para evitar obstáculos<br />

naturais, mas também em termos políticos, com<br />

expropriações e negociações com metrópoles<br />

e opositores ao projeto. Contudo, o Cargo Sous<br />

Terrain quer chegar ao fim da linha. •


SCM Supply Chain Magazine 17


18<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Refletir, Repensar,<br />

Reconsiderar<br />

AUMENTO DA INFLAÇÃO<br />

REDUZ DESPERDÍCIO<br />

ALIMENTAR<br />

Texto: Fábio Santos<br />

O aumento dos preços fez com que as<br />

pessoas, e as próprias empresas, tivessem<br />

mais em conta os custos dos alimentos e<br />

procurassem reduzir o seu desperdício<br />

alimentar, contribuindo também para a<br />

transição sustentável. Ao mesmo tempo,<br />

a mudança de paradigma vai ao encontro<br />

das novas tendências e preocupações<br />

ambientais.


SCM Supply Chain Magazine 19<br />

A<br />

taxa de inflação em Portugal atingiu um<br />

máximo desde 1992, alcançando os 8,7%<br />

em junho, face aos 8% registados em<br />

maio. De acordo com sondagens recentes, a<br />

alimentação é o setor em que as famílias mais<br />

sentiram o impacto deste aumento de custos,<br />

e de acordo com os dados da DECO Proteste,<br />

a inflação deixou um cabaz de 63 produtos,<br />

criado tendo por base o consumo normal das<br />

famílias, cerca de 10% mais caro.<br />

Segundo o estudo “Reflect. Rethink.<br />

Reconsider. Why food waste is everybody’s<br />

problem”, da Capgemini, cerca de 91% dos<br />

consumidores prefere comprar alimentos de<br />

marcas e empresas que demonstram ter uma<br />

preocupação com o desperdício, e que contem<br />

com medidas, políticas e soluções para o<br />

reduzirem.<br />

O estudo da Capgemini aponta alguns<br />

dos benefícios de as empresas reduzirem<br />

o desperdício alimentar, desde logo ao<br />

nível da diminuição de custos, aumento de<br />

receitas, novos fluxos de receitas, melhores<br />

classificações de ESG, bem como maior<br />

confiança dos consumidores, “por exemplo,<br />

em média, o custo associado ao desperdício<br />

alimentar é de cerca de 5,6% das vendas totais<br />

para as organizações. Mais de metade (56%)<br />

das organizações citou a redução dos custos<br />

como um dos principais benefícios das suas<br />

iniciativas relacionadas com o desperdício<br />

alimentar”.<br />

Para além disso, no relatório podemos<br />

observar que a maioria das organizações<br />

declarou estar a concentrar as suas iniciativas<br />

de desperdício alimentar nas suas próprias<br />

operações, e “muito poucas organizações<br />

indicaram que estão a trabalhar com os<br />

seus fornecedores para reduzir a perda<br />

de alimentos na produção, distribuição e<br />

armazenamento agrícolas”.<br />

Três recomendações que a Capgemini<br />

deixa para as organizações lutarem contra o<br />

desperdício alimentar são:<br />

1. Envolver os consumidores e os<br />

colaboradores em iniciativas de gestão de<br />

resíduos alimentares;<br />

2. Colaborar em toda a cadeia de valor;<br />

3. Definir, monitorizar e reportar métricas<br />

relacionadas com o desperdício alimentar.<br />

A Too Good To Go, empresa que procura<br />

criar um impacto positivo no ambiente e<br />

salvar excedente alimentar, também sentiu<br />

uma variação nas compras através da sua<br />

aplicação, tendo em Portugal aumentado 11%<br />

no número de utilizadores ativos na aplicação<br />

entre março e maio, face aos primeiros meses<br />

do ano.<br />

Em Portugal a aplicação já conta com mais<br />

de 1 milhão de utilizadores, ou seja, já “10%<br />

dos portugueses estão familiarizados com a<br />

App (Portugal continental e ilhas)”. Através da<br />

APP, os portugueses já salvaram mais de 1,6<br />

milhões de refeições de serem desperdiçadas,<br />

o equivalente a 4 milhões de quilos de CO2e,<br />

o mesmo que 10.478 voos entre Lisboa e<br />

Londres.<br />

A empresa aponta que a consciência sobre o<br />

desperdício de alimentos mais do que duplicou<br />

nos últimos dois anos, tendo o número de<br />

pessoas que estão mais atentas ao problema<br />

passado de 33% para 72%.<br />

Nuno Plácido, Country Manager da Too Good<br />

To Go em Portugal, comenta que “este é, sem<br />

dúvida, um período complexo, e quando os<br />

preços sobem e impactam algo tão básico e<br />

fundamental como a alimentação, é natural<br />

que enquanto consumidores procuremos


20<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

formas de otimizar o nosso orçamento familiar.<br />

O nosso utilizador sempre esteve ciente da<br />

importância de um consumo mais consciente<br />

e sustentável, mas este aumento de procura<br />

leva-nos a crer que somos cada vez, também,<br />

uma oferta com benefício de custo, também<br />

ele muito relevante. Uma forma simples e<br />

prática de adquirir produtos de qualidade<br />

a preços muito mais acessíveis, algo que<br />

faz hoje, mais do que nunca, uma diferença<br />

considerável no orçamento das famílias”.<br />

Segundo os dados da Too Good To Go,<br />

cerca de 1/3 das Magic Boxes adquiridas<br />

na aplicação nos últimos meses foram<br />

provenientes de supermercados, e nota<br />

que isso se deve à diversidade de produtos<br />

alimentares que estas incluem, e “tornam-se<br />

uma alternativa de compra que possibilita o<br />

acesso a uma grande variedade de produtos<br />

básicos e alimentos essenciais”, envolvendo<br />

produtos como frutas e verduras, massas,<br />

farinhas ou laticínios, e que por incluírem<br />

algumas imperfeições, ou por aproximação do<br />

prazo de validade, seriam descartados.<br />

Em abril de 2021 a Too Good To Go lançou<br />

a iniciativa “Observar, Cheirar, Provar”, um<br />

projeto global de sensibilização sobre datas de<br />

validade, tendo 31 marcas aderido à iniciativa<br />

anti-desperdício e adicionado o selo a mais de<br />

130 referências de produtos.<br />

“Neste caso específico, recorrendo a algo<br />

que nos é bastante acessível e lógico - os<br />

nossos sentidos - a mensagem é, portanto, que<br />

antes de desperdiçar um alimento com rótulo<br />

de data de durabilidade mínima - “Consumir<br />

de preferência antes de” ou “Consumir de<br />

preferência antes do fim de” - pode e deve, caso<br />

o produto tenha sido conservado corretamente<br />

- Observar o produto e verificar se tem bom<br />

aspeto, Cheirar e comprovar se mantêm o odor<br />

habitual e, por fim, Provar e verificar se não<br />

existe qualquer alteração no sabor”.


SCM Supply Chain Magazine 21<br />

Caso o alimento passe nestes três testes<br />

simples, significa que este mantém a sua<br />

segurança alimentar e pode ser consumido,<br />

“portanto, Faz Sentido Usar os Sentidos”, mas<br />

explica que este teste não deve ser aplicado<br />

a produtos com data de consumo limite,<br />

portanto, “Consumir até”.<br />

À data do lançamento do projeto, Madalena<br />

Rugeroni, a anterior Country Manager da Too<br />

Good To Go, comentava que “a urgência de<br />

iniciativas de educação que se traduzam em<br />

ferramentas práticas e escaláveis - como é o<br />

caso da nossa app e agora deste novo selo -<br />

são uma prioridade”. •


22<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Economia circular<br />

Texto: Fábio Santos<br />

REDUZIR, REUTILIZAR<br />

E RECICLAR<br />

A SUPPLY CHAIN<br />

A economia circular é uma<br />

preocupação importante para<br />

a indústria têxtil. O desperdício<br />

gerado é imenso, e a indústria da fast<br />

fashion não só promove uma ideia<br />

de renovação rápida das tendências,<br />

como também de uma produção<br />

rápida e a baixo custo. O resultado<br />

está à vista, e a McKinsey & Company<br />

apresenta-o no seu recente relatório.


SCM Supply Chain Magazine 23<br />

A<br />

indústria têxtil na Europa enfrenta novos<br />

desafios relacionados com a redução da sua<br />

pegada ambiental, através da promoção<br />

da economia circular e da criação de novos<br />

modelos de negócio sustentáveis a partir da<br />

reciclagem de resíduos têxteis. Para além do<br />

impacto ambiental que implica, a transformação<br />

para uma economia circular oferece inúmeras<br />

oportunidades para o setor, e produção em<br />

circuito fechado na Europa pode gerar um<br />

mercado de 6 a 8 mil milhões de euros em<br />

vendas, com potenciais retornos anuais de<br />

20% a 25% para a indústria de reciclagem e a<br />

possibilidade de criar cerca de 15.000 novos<br />

empregos até 2030, segundo o novo relatório<br />

da McKinsey & Company “Scaling textile<br />

recycling in Europe - turning waste into value”,<br />

que analisa e desenvolve cenários para o<br />

desenvolvimento de volumes de resíduos têxteis<br />

e taxas de recolha e reciclagem até 2030.<br />

De acordo com a análise, cada europeu produz<br />

em média mais de 15 quilos de resíduos têxteis<br />

por ano e, em 2030, este valor poderá atingir<br />

os 20 quilos (um aumento de mais de 30%). A<br />

maior proporção (85%) dos resíduos é produzida<br />

em casas particulares e diz respeito a vestuário<br />

e têxteis domésticos. Deste volume, menos de<br />

1% dos resíduos pós-consumo é atualmente<br />

reciclado para produzir novos produtos têxteis<br />

nos 27 países da UE e na Suíça. Mais de 65%<br />

destes resíduos são transportados diretamente<br />

para aterro ou incinerados.<br />

“Se todo o potencial de reciclagem mecânica<br />

fosse utilizado e mais têxteis fossem recolhidos,<br />

18% a 26% dos resíduos têxteis poderiam ser<br />

reutilizados para o fabrico de novas peças de<br />

vestuário já em 2030”, afirma Ignacio Marcos,<br />

sócio sénior e líder da área de sustentabilidade<br />

no consumo da McKinsey. “A reciclagem têxtil<br />

em escala não só reduziria as emissões de CO2e<br />

em 4 milhões de toneladas, mas também criaria<br />

uma indústria rentável com cerca de 15.000<br />

empregos na Europa e um mercado potencial de<br />

6 a 8 mil milhões de euros em vendas”.<br />

MAIS RECOLHA, MAIOR<br />

RECICLAGEM<br />

Atualmente, um terço de todo o vestuário<br />

pós-consumo é recolhido e reciclado, quer para<br />

venda como artigos em segunda mão, quer<br />

como produtos têxteis reciclados em bruto<br />

(panos industriais ou materiais de isolamento,<br />

entre outras utilizações).<br />

Menos de 1% deste material é reciclado para<br />

recuperar ou reutilizar as fibras componentes<br />

(algodão, poliéster, etc.) para peças de<br />

vestuário novas.<br />

A taxa de reciclagem têxtil poderia<br />

aumentar para 50% a 80% até 2030 e,<br />

consequentemente, a economia circular para a<br />

produção de fibras têxteis para novos artigos<br />

de vestuário a partir de resíduos têxteis<br />

poderia escalar entre 18% e 26%.


24<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

“A chamada reciclagem de fibra para fibra,<br />

na qual as fibras têxteis são transformadas<br />

em novas fibras para vestuário, é a forma mais<br />

sustentável de gerar algo novo e valioso a partir<br />

de resíduos”, explica Sandra Lucía, associate<br />

partner da McKinsey em Espanha.<br />

Paralelamente, esta economia circular oferece<br />

um enorme potencial financeiro, com potenciais<br />

retornos anuais de 20% a 25% para a indústria de<br />

reciclagem.<br />

Esta evolução para uma economia circular<br />

é facilitada por novas tecnologias, como é o<br />

caso da reciclagem mecânica do algodão (já<br />

implementada); transformação inovadora em<br />

fibras de viscose e reciclagem química para<br />

a reutilização do poliéster (atualmente a ser<br />

testada).<br />

No entanto, a recolha e preparação de<br />

peças antigas de vestuário e têxteis através<br />

de estruturas fragmentadas e em pequena<br />

escala e de processos de trabalho em grande<br />

parte manuais ainda está repleta de desafios<br />

significativos: os resíduos têxteis devem ser<br />

triados utilizando critérios de qualidade, botões e<br />

fechos de correr removidos, e as composições de<br />

fibras devem ser claramente identificadas. Muitos<br />

produtos compostos de fibras mistas constituem<br />

um problema para a reciclagem de fibra para<br />

fibra, para o qual ainda não existe solução.<br />

INVESTIMENTO PRECISA-SE<br />

Serão necessários investimentos em toda a<br />

indústria para escalar as tecnologias e processos<br />

de reciclagem em circuito fechado, que possam<br />

permitir às empresas reduzir o seu impacto no<br />

ambiente.<br />

A maturidade das soluções tecnológicas é um<br />

dos fatores mais relevantes para a ampliação<br />

de soluções de reciclagem em circuito fechado.<br />

Neste sentido, a ampliação da reciclagem<br />

em circuito fechado pode ajudar a reduzir<br />

o impacto ambiental da moda a nível dos<br />

materiais e, à medida que estas tecnologias<br />

amadurecem, as empresas terão de as<br />

incorporar no desenvolvimento de produtos e<br />

adotar processos em grande escala.<br />

“Para aproveitar todo o potencial<br />

da reciclagem têxtil, é necessário um<br />

investimento total de 6 a 7 mil milhões de<br />

euros em toda a cadeia de valor – incluindo<br />

a recolha, triagem e construção de centros de<br />

reciclagem – até 2030. Este investimento na<br />

reciclagem de fibra para fibra é valioso, não<br />

só por razões de sustentabilidade como pela<br />

criação de novas matérias-primas valiosas<br />

durante a reciclagem, o que permitiria<br />

aumentar a produção têxtil na Europa e criar<br />

valor acrescentado para a indústria”, lembra<br />

Ignacio Marcos.<br />

COLABORAÇÃO E INOVAÇÃO SÃO<br />

PONTOS-CHAVE<br />

O relatório identificou ainda cinco pontos-chave<br />

para o sucesso nesta indústria, através dos<br />

entraves que estão a impedir o crescimento, e<br />

que irão requerer a atuação dos stakeholders:<br />

• Escala crítica: A cadeia de valor da<br />

reciclagem têxtil não pode funcionar<br />

em pequena escala. Esta escala, em<br />

toda a cadeia de valor, é necessária para<br />

fornecer matéria-prima suficiente para as<br />

tecnologias de reciclagem de fibra para<br />

fibra necessárias, bem como para permitir<br />

que essas tecnologias de reciclagem<br />

operem em escala. Portanto, a indústria<br />

deve definir metas de escala ousadas e<br />

cumpri-las;


SCM Supply Chain Magazine 25<br />

• Colaboração real: A colaboração é a<br />

chave para vários dos principais desafios<br />

que estão para vir. Líderes das empresas<br />

por toda a cadeia de valor, investidores<br />

e líderes de instituições públicas devem<br />

unir-se de forma a criar sinergias para<br />

superarem as barreiras que vão surgindo;<br />

• Financiamento de transição: A análise<br />

da McKinsey aponta para que a indústria<br />

da reciclagem de têxteis possa tornar-<br />

-se autónoma e lucrativa, assim que<br />

esteja amadurecida e ampliada, porém,<br />

o financiamento é necessário no curto<br />

prazo. Alguns exemplos de financiamento<br />

identificados são subsídios ou prémios<br />

de sustentabilidade, podendo mesmo ser<br />

necessárias soluções público-privadas;<br />

• Investimentos: Algumas partes da cadeia<br />

de valor deverão ser construídas quase<br />

do zero, e isso implica um investimento<br />

significativo. De acordo com o relatório,<br />

o valor económico existente pode ser<br />

realizado para compensar o risco exigido,<br />

e aponta que os investidores privados<br />

iriam liderar esta mudança ao tomarem<br />

a iniciativa de financiar a construção da<br />

cadeia de valor;<br />

• Empurrão do setor público: A McKinsey<br />

aponta que os líderes de instituições<br />

do setor público teriam de ajudar a<br />

impulsionar a reciclagem têxtil. Aumentar<br />

as taxas de coleta, limitar a exportação de<br />

resíduos têxteis não triados, estimular a<br />

demanda, ou criar estruturas harmonizadas<br />

para aumentar a circularidade, são algumas<br />

das medidas apontadas. •


26<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Vendedores versus<br />

fornecedores<br />

Texto e adaptação: Bruna Manguito<br />

VOCÊ COMPRA<br />

OU CONSTRÓI<br />

RELACIONAMENTOS?<br />

O comprador deve saber que<br />

Vendedor e Fornecedor podem<br />

parecer sinónimos mas não<br />

são. A principal diferença é que<br />

um vendedor é um fornecedor<br />

transacional ao contrário de um<br />

fornecedor, que deverá construir<br />

relações duradouras com o seu<br />

cliente. As fontes de aquisição do<br />

comprador devem passar por uma<br />

mistura de ambos, pois caso a sua<br />

lista esteja cheia de vendedores tem<br />

certamente um problema na sua<br />

cadeia de abastecimento, pelo menos<br />

é o que defende Richard Kunst,<br />

presidente e CEO da Kunst Solutions<br />

Inc., num artigo publicado na<br />

Industry Week e cujas ideias-chave<br />

levamos até si.


SCM Supply Chain Magazine 27<br />

No mundo dos negócios há uma diferença-<br />

-chave entre fornecedor e vendedor,<br />

a sua ligação com o consumidor. O<br />

relacionamento do cliente com o vendedor<br />

é apenas transacional, o que significa que o<br />

que se compra geralmente é mercadoria ou<br />

algo com pouca ou nenhuma propriedade<br />

intelectual. Isto significa que o vendedor<br />

procura uma estratégia de fornecimento de<br />

baixo custo no país, onde normalmente a<br />

preocupação está apenas no custo real dos<br />

componentes, ignorando o custo da logística<br />

e até mesmo a qualidade do produto. Muitas<br />

empresas seguem este modelo, como ficou<br />

bem patente pela crise dos contentores que<br />

se foram acumulando em diversos portos.<br />

Aliás, o vendedor pode deslocar-se para<br />

qualquer local de modo a obter os produtos<br />

que considera que os seus clientes vão<br />

gostar e da forma mais económica possível,<br />

mudando-se posteriormente para uma<br />

zona onde terá mais lucro. Exemplificando,<br />

a produção da China está a migrar para o<br />

Vietname, Índia e África por o padrão de vida<br />

ser muito mais barato. Portanto, este é um<br />

método relativamente mais fácil do que o de<br />

um fornecedor. Desta forma, os compradores<br />

que trabalham com os vendedores sentem<br />

que esses produtos estão amplamente<br />

disponíveis e como tal ignoram a necessidade<br />

de criar um relacionamento. É por isso<br />

que muitas empresas sofrem diariamente<br />

com a escassez de chips, enquanto outras<br />

conseguem sustentar a produção.<br />

RELACIONAMENTO FORTE E FELIZ<br />

Para um relacionamento forte e feliz há que<br />

fazer um investimento significativo. Assim,<br />

a primeira coisa a ser desenvolvida entre<br />

fornecedor e comprador é a confiança de<br />

modo a existir uma convivência duradoura e<br />

promissora. Seguem-se alguns aspetos a ter<br />

em conta quando o comprador se relaciona<br />

com o seu fornecedor:<br />

Aparecer significa algo<br />

Nenhum fornecedor deve perceber que tem<br />

um problema de qualidade até o comprador<br />

aparecer. Cabe assim ao comprador não<br />

disciplinar o seu fornecedor mas resolver<br />

problemas que possam vir a surgir com o<br />

mesmo de forma permanente.


28<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

O fornecedor é a fábrica oculta do<br />

comprador<br />

Normalmente, o fornecedor terá cerca de dez<br />

pessoas que o apoiam e trabalham consigo<br />

externamente. Deste modo, faz sentido<br />

envolver todos para o sucesso do comprador,<br />

o que também acelerará o sucesso das<br />

pessoas com quem compra.<br />

Comunicação é tudo<br />

Este é um tema comum dentro da liderança<br />

em relação aos protocolos externos, no<br />

entanto, é importante ter o mesmo nível<br />

de comunicação externa também com os<br />

fornecedores. Assim, é crucial reunir os<br />

mesmos e compartilhar os desejos dos<br />

clientes de modo a que existam novos<br />

recursos e opções no que diz respeito aos<br />

produtos. Em troca, os fornecedores podem<br />

explicar os avanços que veem nos seus<br />

setores industriais específicos. O resultado<br />

pode ser o de conseguir ser o primeiro no<br />

mercado com recursos avançados, criando<br />

vantagens competitivas por meio de um<br />

diferencial estratégico.<br />

O fornecedor deve ser claro quanto<br />

ao seu valor<br />

À medida que os compradores partilham a sua<br />

propriedade intelectual com fornecedores,<br />

estes ficam muito mais cientes de como<br />

organização, estão posicionados no setor<br />

de indústria: como líderes, seguidores ou<br />

fornecedores de commodities. Assim, os<br />

fornecedores trabalham numa estreita<br />

colaboração com os compradores na definição<br />

de preços para garantir que, coletivamente,<br />

podem fornecer uma solução de valor real para<br />

os seus clientes finais.<br />

Correr riscos pode trazer<br />

resultados<br />

Se o comprador realmente confia no seu<br />

fornecedor porque não inseri-lo na sua<br />

organização? Este pode começar a fazer<br />

parte do planeamento, tratar de questões<br />

de qualidade ou participar em reuniões<br />

de previsão de vendas. Além disso, este<br />

pode ainda fazer pedidos de compra em<br />

nome do comprador. A contabilidade pode<br />

estranhar, mas esta é uma boa estratégia,<br />

pois os controlos que as empresas têm para<br />

se salvaguardar também irão salvaguardar<br />

automaticamente os seus fornecedores. Estes<br />

controlos incluem examinar a variação de<br />

preço de compra (PPV) para que, caso um<br />

fornecedor aumente o seu preço, a empresa<br />

seja notificada automaticamente podendo<br />

aceitar ou invocar alguma ação corretiva.<br />

Também é possível monitorizar os níveis<br />

de stock contando que as faltas do mesmo


SCM Supply Chain Magazine 29<br />

desapareçam, já que os fornecedores terão<br />

acesso à procura atual e podem usar esses<br />

dados para cumprir os seus cronogramas.<br />

Consequentemente, espera-se que a qualidade<br />

melhore à medida que os fornecedores<br />

realmente comecem a entender os requisitos<br />

críticos de qualidade e ajustem as suas<br />

metodologias de produção. O outro benefício<br />

é que se elimina a maioria das funções<br />

de recebimento, incluindo inspeção de<br />

recebimento, pois a confiança do fornecedor<br />

aumenta, aceitando total responsabilidade<br />

pelo seu produto e/ou serviço, o que a médio<br />

prazo gera economia de custos.<br />

O tratamento preferido importa<br />

Todas as empresas têm concorrência mas<br />

o compromisso do comprador com os seus<br />

fornecedores, ou seja, a preferência por uma<br />

única fonte traz benefícios inesperados como<br />

um preço preferencial ou um lead time de<br />

aquisição muito melhor.<br />

É provável que os vendedores se convertam<br />

em fornecedores, embora forneçam produtos<br />

do tipo commodity. Contudo, o que interessa<br />

no final das contas é que os compradores<br />

tenham a agilidade e a competitividade<br />

necessária para dedicar tempo para investir,<br />

acreditar e confiar nos seus fornecedores. •<br />

bem-vindo a<br />

uma estreita colaboração<br />

em toda a Europa<br />

Descubra o caminho mais curto para uma experiência local,<br />

apoio ao cliente, garantia de disponibilidade e uma<br />

parceria dedicada, com a nossa cobertura Europeia.<br />

together towards a sustainable future


30<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Transformação da<br />

frota Nestlé<br />

HÁ VEÍCULOS,<br />

MAS SÃO VERDES<br />

Os avanços da tecnologia, os<br />

incentivos fiscais e a crescente<br />

pressão da sociedade no que diz<br />

respeito à defesa do ambiente,<br />

responsabilizam cada vez mais as<br />

empresas pelo impacto ambiental<br />

da sua atividade. A Nestlé vai<br />

transformar toda a sua frota de<br />

automóveis em veículos elétricos<br />

até 2025, de modo a atingir a<br />

neutralidade carbónica até 2050.


SCM Supply Chain Magazine 31<br />

Texto: Bruna Manguito


32<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

É<br />

uma verdadeira mudança de paradigma<br />

a que a Nestlé Portugal tem em curso<br />

para, até 2025, substituir toda a sua frota,<br />

comercial e não comercial, por veículos<br />

elétricos. O projeto nasceu em abril de 2021<br />

e tem como objetivo atingir a neutralidade<br />

carbónica até 2050, permitindo reduzir as<br />

emissões de CO2.<br />

Este está inserido na estratégia de<br />

Green Vision da empresa, a par com os<br />

restantes projetos da mesma (mobilidade<br />

integrada, eletricidade 100% renovável<br />

certificada, produção de energia com<br />

painéis solares, eficiência de operações,<br />

transformação de materiais de embalagens,<br />

entre outros) e promete ser um marco<br />

importante para a redução do impacto<br />

ambiental das operações, conseguindo reduzir<br />

1.800 toneladas de CO2 por ano.<br />

“Pela dimensão do seu projeto, a Nestlé é<br />

pioneira em Portugal na transformação da sua<br />

frota automóvel, com 500 veículos a passarem,<br />

até 2025, para a tecnologia elétrica. Somos<br />

o exemplo de que é possível tirar partido<br />

da tecnologia já existente e colocá-la ao<br />

serviço da sustentabilidade das operações das<br />

empresas e, com isso, reduzir substancialmente<br />

os seus impactos ambientais. Este é um<br />

grande contributo para o objetivo máximo da<br />

companhia de atingir a neutralidade carbónica<br />

até 2050”, afirma Alexis Pinheiro, Workplace<br />

Solutions Manager da Nestlé Portugal.<br />

De facto, os veículos elétricos contam<br />

com várias vantagens, tais como o seu ótimo<br />

desempenho, a sua autonomia, serem menos<br />

poluentes, contarem com uma rede de<br />

carregamento cada vez maior, além de terem<br />

um menor custo de manutenção se comparados<br />

aos veículos de combustão.


SCM Supply Chain Magazine 33<br />

TRANSFORMAÇÃO EM CURSO<br />

Contudo, esta tecnologia também acarreta<br />

dificuldades, primeiramente no que diz<br />

respeito às alterações de comportamento e<br />

rotinas diárias dos trabalhadores e, por outro<br />

lado, por ser necessária a construção de<br />

uma infraestrutura logística de apoio a esta<br />

transformação.<br />

Para isso, a Nestlé irá realizar ações de<br />

formação sobre como conduzir um veículo<br />

elétrico e que cuidados se deve ter na gestão<br />

da autonomia dos mesmos, que locais de<br />

abastecimento se podem utilizar e como<br />

fazê-lo de forma eficiente. Relativamente à<br />

estrutura necessária, a Nestlé está também, a<br />

dotar todas as suas infraestruturas de postos<br />

de carregamento de viaturas, no edifício sede,<br />

em Linda-a-Velha, nas fábricas de Avanca e<br />

Porto e ainda na sua delegação comercial do<br />

Funchal. No total serão instalados 64 postos<br />

de carregamento de veículos: 12 na fábrica<br />

do Porto, oito na fábrica de Avanca, 40 na<br />

sede, e quatro no Funchal. Além destes, a<br />

Nestlé disponibiliza também toda a rede de<br />

abastecimento público (Mobi-E), ou as redes<br />

disponibilizadas pelas zonas comerciais dos<br />

parceiros de negócios retalhistas da empresa.<br />

Ademais, no último ano foram entregues 50<br />

viaturas ligeiras elétricas, sendo que este ano o<br />

número irá aumentar com a entrega de mais 66.<br />

É de salientar que a Nestlé Professional<br />

recebeu, no início do ano, as suas primeiras<br />

cinco carrinhas elétricas comerciais destinadas<br />

à sua equipa de vendas, que diariamente<br />

entregam os cafés Nestlé produzidos na<br />

fábrica do Porto – Buondi, Sical, Tofa e<br />

Christina. A mobilidade elétrica começa<br />

assim a ganhar terreno e surge através de<br />

um desejo de renovação e de uma nova onda<br />

de consciencialização ambiental para uma<br />

sociedade com uma melhor qualidade de<br />

vida e um ambiente mais sustentável, menos<br />

poluente e mais saudável. •


34<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

Congresso APCADEC<br />

MUDAM-SE OS<br />

TEMPOS, MUDA-SE<br />

O PROCUREMENT<br />

Após dois anos de pandemia de COVID-19<br />

e disrupções várias nas cadeias de<br />

abastecimento, instala-se uma guerra na<br />

Ucrânia que traz consigo consequências<br />

abruptas ao setor e também muitas<br />

interrogações. Neste sentido, o congresso<br />

da APCADEC “Desafios do procurement<br />

em tempos de mudança”, realizado em<br />

junho, em Lisboa, foi um marco importante<br />

na discussão de temas como a inflação,<br />

a volatilidade dos preços, a diminuição<br />

dos prazos de entrega, a renegociação de<br />

contratos e a escassez de mão de obra.


SCM Supply Chain Magazine<br />

35<br />

A<br />

APCADEC promoveu no dia 23 de junho<br />

em Lisboa o seu congresso anual com<br />

o tema “Desafios do procurement<br />

em tempos de mudança”, contando com<br />

a presença de profissionais do setor das<br />

compras para que em conjunto debatessem<br />

algumas das questões que impactam a sua<br />

atividade profissional. Assim, depois de dois<br />

anos de pandemia e do seu consequente<br />

afastamento social, este foi um dia de muito<br />

networking com sessões, temas e oradores<br />

muito diversificados.<br />

João Botelho, o presidente da APCADEC,<br />

enfatizou a importância deste regresso: “assim<br />

que o pudemos fazer, fizemo-lo, e procurámos<br />

que fosse com uma agenda um bocadinho<br />

diferente para dar aos nossos associados,<br />

aos profissionais de compras e a todos os<br />

participantes, não só uma visão estrita sobre<br />

temas de compras, mas também uma visão<br />

sobre temas mais alargados”. As sessões<br />

contaram com oradores como Pedro Reis,<br />

ex-presidente da AICEP, que fez a abertura do<br />

evento, cabendo depois a Constança Monteiro<br />

Casquinho, professora da NOVA SBE, abordar<br />

o tópico “Self & Other Awareness: uma<br />

ferramenta de optimização”. Seguiu-se a mesa<br />

redonda, onde foram debatidos os “Desafios<br />

do procurement em tempos de mudança”, da<br />

qual fez parte Pedro Amorim, diretor geral<br />

da Experis, Carlos Mota Pinto, diretor da<br />

unidade global de compras da EDP Global<br />

Solutions - HEC, Dinora Guerreiro, responsável<br />

pela cadeia de fornecimento e transporte da<br />

Volkswagen Autoeuropa e Mariana Coimbra,<br />

administradora delegada (Portugal, Espanha<br />

e Bélgica) da TDGI, S.A. - Grupo Teixeira<br />

Duarte, falando sobre as suas experiências<br />

nas organizações em que se encontram, neste<br />

período tão desafiante para os profissionais de<br />

procurement.<br />

Houve também tempo e espaço para a<br />

apresentação de vários case studies, bem<br />

como para Alexandre Monteiro, autor dos<br />

best sellers “Os segredos que o nosso corpo<br />

revela” e “Torne-se um decifrador de pessoas”,<br />

partilhar com o público algumas dicas úteis<br />

do seu dia a dia profissional.<br />

ENSINAMENTOS DA PANDEMIA<br />

A pandemia de COVID-19 veio alterar os<br />

setores de atividade, trazendo diversos<br />

desafios às cadeias de abastecimento, devido<br />

às medidas de confinamento que abrandaram<br />

e interromperam o fluxo de matérias-primas<br />

e bens acabados, criando perturbações<br />

na produção. Dinora Guerreiro explicava<br />

durante a sua mesa redonda que a pandemia<br />

trouxe “uma queda abrupta daquilo que era<br />

a cadeia de fornecimento, algo para que nós<br />

não estávamos preparados e que levou a<br />

que tivéssemos em conjunto com os nossos<br />

parceiros, os nossos fornecedores, de repensar<br />

como é poderíamos continuar a assegurar,<br />

neste caso, o fornecimento”, aprofundando<br />

como a Volkswagen Autoeuropa conseguiu<br />

mitigar estas dificuldades. “Fizemos em<br />

conjunto com as compras o mapeamento<br />

total da nossa cadeia de abastecimento.<br />

Fomos até ao fornecedor de origem que<br />

estava com dificuldades e começamos a<br />

gerir os fornecedores de origem e com<br />

esses abastecer todos aqueles que são os<br />

nossos second tier, third, fourth e o fifth


36<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

tier no final”, acrescentando que “o desafio<br />

foi estabelecer este trabalho em conjunto<br />

com empresas que estão situadas no mundo<br />

inteiro e conseguir novas ferramentas de<br />

trabalho que nos permitam de alguma forma<br />

restabelecer operações, conseguindo fazê-lo<br />

com o uso do teletrabalho, algo que numa<br />

indústria normalmente não era usual, e que<br />

nos permitiu saber qual o momento certo<br />

para repor operações e com que dimensão”,<br />

demonstrando assim que a pandemia veio a<br />

acelerar o uso das tecnologias, digitalizando e<br />

autonomizando as cadeias de abastecimento.<br />

O IMPACTO DA GUERRA<br />

Após a pandemia de COVID-19, se a resiliência<br />

das cadeias de abastecimento já tinha sido<br />

testada, com a guerra na Ucrânia estas voltam<br />

a ser bombardeadas, tornando os dias de quem<br />

se movimenta profissionalmente no setor e, em<br />

particular, na área de compras e procurement<br />

muito desafiantes e incertos. Esta crise, por sua<br />

vez, dá lugar a um aumento dos preços, por<br />

exemplo, “da energia e do transporte, que levou<br />

a produção e a movimentação dos produtos a<br />

tornar-se cada vez mais cara”, segundo Mariana<br />

Coimbra.<br />

A responsável aponta dois pilares<br />

desafiantes com os quais tem de lidar: “por um<br />

lado, a volatilidade dos preços, a inflação, as<br />

interrupções da cadeia de abastecimento e os<br />

prazos de entrega e, por outro lado, a escassez<br />

de mão de obra e o aumento dos salários”. Isto<br />

quer dizer que para lidar com a volatilidade<br />

dos preços e até prazos de entrega que<br />

diminuíram, há a necessidade de fazer novos<br />

contratos, como aponta Carlos Pinto, “temos<br />

semanalmente fornecedores a baterem-nos à<br />

porta a dizer ’eu não consigo continuar com<br />

este contrato em vigor’, ‘estes preços que<br />

vos apresentámos neste momento não são<br />

sustentáveis’, e conseguem-nos apresentar<br />

motivos e argumentos que são perfeitamente<br />

válidos e, portanto, nós temos vivido um<br />

momento em que estamos a renegociar<br />

grande parte dos contratos que tinhamos”, um<br />

problema que afeta todos os fornecedores.<br />

Esta é uma situação que acarreta riscos, pois<br />

“não sabemos como vão evoluir os salários,<br />

como vão evoluir os preços dos materiais,<br />

como vai evoluir a inflação e, portanto, isto<br />

tem que naturalmente ser incorporado no<br />

preço”, remata Mariana Coimbra.<br />

É PRECISO RETER O TALENTO<br />

Uma bola de neve que arrasta atrás de si<br />

ainda a escassez de talento e o aumento da<br />

concorrência, pelo menos segundo Pedro<br />

Amorim, “nós temos um país que forma muitos<br />

bons técnicos, nós temos universidades muito<br />

bem reconhecidas do ponto de vista europeu<br />

(...) mas somos baratos. Ponto. Somos baratos.<br />

E eles vêm para cá com recursos baratos ou<br />

então estão a levar recursos daqui e muitas<br />

vezes nem é daqui para fora, é deixá-los cá<br />

para trabalhar para os seus países e a receber<br />

mais. Essa é uma realidade que nós não<br />

conseguimos ultrapassar num curso prazo.<br />

É muito difícil”, indicando logo de seguida<br />

outro problema associado ao talento. “Temos<br />

uma enorme taxa de desemprego em jovens<br />

qualificados que saíram das universidades em


SCM Supply Chain Magazine 37<br />

programas de cursos criados para alimentar<br />

um sistema que não vai permitir que estes<br />

jovens entrem no mercado de trabalho. Nós<br />

temos uma das maiores taxas de desemprego<br />

europeias, que ultrapassa os 25% dessa<br />

população jovem entre os 18 e os 25 anos,<br />

e que está a viver de subsídios. Temos que<br />

rapidamente agarrar neles”. Desta forma, e<br />

se nada for feito, emigram e a sua escassez é<br />

cada vez mais notória, havendo a necessidade<br />

de aumentar o salário nestas empresas, o<br />

que associado a todos os custos que se fazem<br />

sentir na cadeia de abastecimento obrigam<br />

os profissionais a terem de se desdobrar para<br />

ultrapassar estes obstáculos.<br />

João Botelho realça este ponto ao dizer<br />

que “as pessoas estão muito ocupadas, em<br />

particular os compradores”. Não obstante,<br />

o presidente da APCADEC rematou que<br />

também por isso “é muito bom ver que as<br />

pessoas conseguiram arranjar um tempo<br />

na sua agenda para estar aqui e poderem<br />

também levar algumas lições e aprendizagens<br />

que temos vindo a abordar e partilhar no<br />

congresso”. De acordo com João Botelho,<br />

presidente da APCADEC, este evento permitiu<br />

aos “compradores e às pessoas que estão na<br />

área das compras estarem juntas, partilharem<br />

experiências e verem quais é que são as<br />

melhores práticas que existem nesta área”. •


38<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: Fábio Santos<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

World of Material<br />

Handling<br />

UM EMPILHADOR<br />

PARA QUALQUER<br />

OCASIÃO<br />

Nos últimos anos, a Linde Material<br />

Handling tem investido muito em questões<br />

de segurança, ergonomia, automação e<br />

facilidade de utilização, o que se verifica<br />

especialmente útil numa altura em que a<br />

falta de mão de obra no setor da logística<br />

tanto afeta as empresas. Ao mesmo tempo,<br />

tem em conta questões de sustentabilidade e<br />

versatilidade, tendo várias opções de escolha,<br />

adequadas a diferentes necessidades.


SCM Supply Chain Magazine 39<br />

Após uma interrupção causada pela<br />

pandemia, o World Of Material Handling,<br />

evento da Linde Material Handling<br />

que ocorre de dois em dois anos, voltou a<br />

Mannheim. Este ano decorreu entre os dias 20<br />

e 30 de junho, tendo como mote “Y/our way”,<br />

um trocadilho feito com o lema “Your Way Is<br />

Our Way”, que procurou dar a entender que a<br />

empresa segue o mesmo caminho do cliente,<br />

e que andam juntos. A convite da empresa,<br />

também nós estivemos presentes no espaço<br />

de 17.000 metros quadrados, para acompanhar<br />

as novidades da marca.<br />

A visita guiada simulou todo o processo de<br />

transporte e armazenamento de garrafas de<br />

vidro, desde a sua receção até à distribuição<br />

de última milha na loja, e as diversas formas<br />

como as soluções Linde podiam ajudar nesses<br />

processos. Foram exibidos desde empilhadores<br />

tradicionais, de pé, laterais, com plataformas<br />

elevatórias, porta-paletes, AGV’s, entre muitas<br />

outras soluções totalmente automatizadas e<br />

semi-automatizadas, bem como as tecnologias<br />

complementares que tornam as operações<br />

mais fáceis, rápidas e seguras.<br />

A ESTRELA DO EVENTO<br />

O maior destaque do evento foi o lançamento<br />

do Linde Steer Control, um sistema de<br />

condução inovador da empresa, que substitui<br />

o habitual volante por um sistema de<br />

condução mais simples e ergonómico, com<br />

uma mini-roda integrada ou com um joystick<br />

localizados no repouso esquerdo para o braço.<br />

O novo sistema tem por base uma tecnologia<br />

steer-by-wire, em que os comandos de controlo<br />

do condutor são convertidos em sinais elétricos<br />

e encaminhados para mecanismos hidráulicos.<br />

Através desta pequena alteração, o operador<br />

deixa de fazer grandes movimentos que lhe<br />

consomem muita energia a rodar o volante,<br />

passando a controlar a direção do empilhador<br />

apenas com um rodar de dedos ou um deslocar<br />

da mão, e mantendo o braço sempre em<br />

repouso durante as manobras.<br />

Frank Bergmann, Gestor de Produto de<br />

Empilhadores Contrapesados, explica que<br />

“os braços do condutor encontram-se agora<br />

ambos sobre um apoio de braço. A mão direita<br />

dirige o mastro e os garfos, enquanto a mão<br />

esquerda dirige o empilhador pelas curvas.<br />

Desta forma, conseguimos reduzir ainda mais<br />

os movimentos da carroçaria e tirar a tensão<br />

ao condutor”.


40<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

O responsável também comentou que<br />

“nos últimos anos, a Linde Material Handling<br />

tornou-se um fornecedor global, oferecendo<br />

um grande número de soluções de software,<br />

sistemas de assistência, ferramentas de<br />

consultoria e ofertas de serviços, como<br />

aluguer de baterias ou manutenção preditiva,<br />

além da sua crescente gama de produtos”, e<br />

embora não saiba se este modelo vá vingar<br />

enquanto uma nova tendência, agrada-lhe a<br />

ideia e considera que tem potencial para o ser.<br />

Para já, espera uma penetração de mercado<br />

superior a 10%.<br />

ERGONOMIA<br />

Uma das ideias defendidas pela empresa é da<br />

melhoria da felicidade dos operadores através<br />

da ergonomia, como foi o caso deste novo<br />

sistema, em que “é tudo sobre ergonomia”.<br />

Durante as demonstrações a empresa explicou<br />

que “o operador está a trabalhar por várias<br />

horas seguidas, e quão mais feliz ele estiver,<br />

melhor a sua produtividade”.<br />

As mudanças que foram feitas ao longo dos<br />

tempos vieram também facilitar em muito a<br />

vida aos operadores, tornando os equipamentos<br />

mais user-friendly. Nos anos 60 com a inovação<br />

dos pedais para a frente e para trás, nos 90 com<br />

a adição do joystick para mais direções, e agora<br />

com steer-control, com joystick ou mini-roda.<br />

Em colaboração com a RWTH Aachen<br />

University e a fka GmbH, a Linde Material<br />

Handling realizou um estudo de modo a<br />

compreender os benefícios ergonómicos<br />

do Linde Steer Control. O foco do estudo<br />

foi a redução dos movimentos do corpo do<br />

condutor e a redução do esforço dos braços e<br />

ombros, tendo participado operadores entre<br />

os 19 e os 67 anos, com carta de condução de<br />

empilhadores há pelo menos três anos, e que<br />

utilizavam diariamente um empilhador como<br />

parte da sua profissão. Segundo o estudo, os<br />

movimentos do ombro são reduzidos em 25%, e<br />

os do cotovelo em 45%.<br />

“Foi utilizada uma câmara especial para<br />

gravar o alcance do movimento do ombro,<br />

cotovelo e pulso e depois analisada. A<br />

conclusão: A utilização tanto da mini roda<br />

como do joystick resulta em menos movimento<br />

articular no ombro e no cotovelo, em<br />

comparação com o volante convencional”,<br />

explica a empresa. “Isto significa que o<br />

sistema Linde Steer Control contribui de forma<br />

demonstrável para uma maior ergonomia e<br />

menos esforço para o condutor”, resume Frank<br />

Bergmann.<br />

Durante a apresentação, Stefan Prokosch,<br />

Vice-Presidente Sénior de Gestão de Marcas<br />

da Linde Material Handling, destacou que<br />

um operador habituado ao volante consegue<br />

habituar-se a este novo sistema em cerca de<br />

dois dias, e que se torna ainda mais fácil caso<br />

a pessoa não tenha experiência anterior, e que<br />

começa desde logo a manobrar com o Steer<br />

Control sem quaisquer hábitos anteriores.<br />

SEGURANÇA<br />

A aposta na ergonomia também passa<br />

igualmente pela segurança, e ao mesmo tempo<br />

que as tecnologias são mais user-friendly<br />

também são mais seguras. Exemplo disso é o<br />

motor auxiliar para os porta-paletes manuais,<br />

que retiram algum esforço ao operador, e que<br />

caso embatam nele mudam automaticamente<br />

de rumo para o lado.<br />

Outra aposta em que a empresa já tinha<br />

vindo a investir nos últimos anos é na<br />

visibilidade, e também ela foi reforçada. Alguns<br />

exemplos disso foram verificados no modelo<br />

H-50, com capacidade de 3,5 a 5 toneladas, em<br />

que face ao modelo anterior, este conta agora<br />

com muito mais vidro, inclusive no telhado,


SCM Supply Chain Magazine 41


42<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

tendo um vidro reforçado que lhe garante<br />

uma maior visibilidade. Para além disso, o<br />

pilar A foi reduzido e o mastro foi tornado<br />

assimétrico, de forma a que o operador tenha<br />

uma maior visibilidade no manuseamento de<br />

carga.<br />

Ainda ao nível da segurança, nesse mesmo<br />

modelo foi demonstrada a questão da deteção<br />

de objetos. Graças a uma câmara de deteção<br />

de movimentos, o Wide Guard System Motion<br />

Detection o empilhador para antes de ir contra<br />

um obstáculo em movimento. Foram também<br />

demonstrados outros sistemas de deteção de<br />

obstáculos imóveis, especialmente úteis para<br />

empilhadores com plataformas elevatórias.<br />

A acrescer a estas, também existem as<br />

soluções apresentadas na edição de 2018,<br />

“Simplexity. The Art of Smart Solutions”,<br />

como os sistemas de deteção de peões,<br />

redução automática de velocidade, iluminação<br />

alternada, de alerta, ou o Linde Safety Guard.<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Uma das preocupações da empresa é com<br />

a sustentabilidade ambiental, e por isso<br />

mesmo está a investir em empilhadores<br />

que funcionam a combustíveis verdes e em<br />

elétricos. Ao nível da potência, são diferentes<br />

entre si, mas a questão ecológica preocupa<br />

cada vez mais as empresas, e como tal,<br />

procuram responder às necessidades de todos.<br />

A aposta nos veículos elétricos, por exemplo, é<br />

de cerca de 25%.<br />

Foram ainda apresentados os modelos da<br />

mais recente gama X (X20 – X35), que seriam<br />

as estrelas do WoHM de 2020, caso o evento<br />

não tivesse sido adiado devido à pandemia.<br />

Esta gama é elétrica, mas comparativamente<br />

com os modelos E, são mais robustos e<br />

oferecem um desempenho mais equiparável


SCM Supply Chain Magazine 43<br />

com os empilhadores de combustão interna.<br />

“Os empilhadores têm de trabalhar em<br />

condições extremas, tais como levantamentos<br />

e descidas constantes, transporte de<br />

mercadorias sobre superfícies irregulares,<br />

sujidade e poeira, e mudanças de temperatura.<br />

Devido à sua durabilidade e desempenho,<br />

foram apenas os empilhadores de combustão<br />

interna que foram considerados aptos para<br />

o trabalho, uma vez que os empilhadores<br />

elétricos simplesmente não conseguiam<br />

oferecer desempenho suficiente – até agora”,<br />

explica a Linde no seu site.<br />

Para além destas apostas nas energias<br />

alternativas para os seus empilhadores,<br />

a Linde Material Handling conta com<br />

o programa Approved Trucks, que dá a<br />

possibilidade de o cliente optar por um<br />

empilhador renovado. Ao reaproveitar<br />

os usados, vindos de serviços de aluguer<br />

ou leasing, e a dar-lhes uma nova vida, a<br />

empresa está a apostar na sustentabilidade,<br />

garantindo a qualidade dos equipamentos<br />

através de processos de verificação rigorosos.<br />

“O reacondicionamento permite reduzir<br />

a quantidade total de matérias-primas<br />

consumidas e diminuir consideravelmente a<br />

pegada ambiental do produto”, pode ler-se<br />

ainda no site.<br />

VERSATILIDADE<br />

Durante as exposições, a Linde mostrou a sua<br />

vasta oferta de soluções, desde a diferenciação<br />

energética à adaptação a diversas situações do<br />

quotidiano das empresas, de diversos setores<br />

de atividade e para necessidades distintas.<br />

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44<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

Desde as diferentes soluções energéticas,<br />

com motores de combustão interna,<br />

baterias de chumbo-ácido, iões de lítio ou<br />

células de combustível, a equipamentos<br />

de movimentação de diversos tamanhos e<br />

capacidades, tradicionais, porta-paletes, de<br />

pé, laterais, de elevação de plataformas, ou<br />

até mesmo AGV’s, empilhadores totalmente<br />

automatizados, ou semi, a versatilidade de<br />

opções adequadas facilmente se adapta a<br />

qualquer negócio.<br />

Nesse sentido, a Linde defende que “cada<br />

empresa tem necessidades e requisitos<br />

fundamentais individuais: capital, processos<br />

operacionais, padrões gerais de tecnologia ou<br />

segurança, infraestruturas e sistemas de TI.<br />

Cada utilização impõe requisitos diferentes<br />

aos produtos e soluções”. Como tal, procuram<br />

adaptar a sua oferta às necessidades dos<br />

mercados, e uma das mensagens foi bastante<br />

clara: existe sempre um empilhador para cada<br />

ocasião. •


46<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Colaboração<br />

Texto: Dora Assis<br />

MODULA E MIR<br />

ROBOTS LANÇAM<br />

SOLUÇÃO CONJUNTA<br />

A Modula e a MiR Robots lançaram uma<br />

solução totalmente automatizada para a<br />

movimentação de produtos ou materiais<br />

em fábricas, armazéns ou centros de<br />

distribuição. Com várias configurações,<br />

a solução pode automatizar total ou<br />

parcialmente os processos de picking e<br />

manipulação.


SCM Supply Chain Magazine 47


48<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

A<br />

feira LogiMAT deste ano, que decorreu em<br />

Estugarda, Alemanha, foi o palco escolhido<br />

pela Modula e pela Mobile Industrial<br />

Robots (MiR) para darem a conhecer ao<br />

mercado europeu esta solução. Aos Estados<br />

Unidos chegará em setembro.<br />

Esta solução de intralogística, aplicável em<br />

armazéns, centros de produção ou centros de<br />

distribuição, com ou sem intervenção humana,<br />

suporta várias configurações, entre as quais se<br />

incluem:<br />

• Picking semi-automatizado de artigos<br />

únicos<br />

Com este processo, os operadores humanos<br />

recolhem itens individuais da unidade de<br />

armazenamento da Modula e colocam-nos<br />

no robô móvel da MiR para transporte<br />

autónomo para áreas designadas, tais<br />

como centros de consolidação;<br />

• Picking semi-automático com carrinhos de<br />

recolha<br />

Um operador pode apanhar vários artigos<br />

e colocá-los numa estação de recolha.<br />

Uma vez concluída a recolha, o robô MiR<br />

engancha a estação de recolha e move-a<br />

para a área designada;<br />

• Picking totalmente automatizado de itens<br />

individuais<br />

Os robôs MiR estão equipados com<br />

um braço robótico que recolhe itens<br />

individuais da unidade de armazenamento<br />

da Modula e transporta-os com facilidade<br />

e segurança para a zona de recolha ou área<br />

de consolidação seguinte;<br />

• Picking de caixas totalmente automatizado<br />

Neste caso, os robôs MiR estão equipados<br />

com um módulo superior personalizado<br />

que levanta, faz o picking e coloca as<br />

caixas ou banheiras diretamente de ou<br />

para o tapete existente no VLM (Vertical<br />

Lift Module) da Modula, facilitando<br />

a recolha e o reabastecimento sem<br />

intervenção humana;<br />

• Totalmente automatizado com paletes<br />

Os robôs MiR estão especialmente<br />

equipados para recolher itens grandes e<br />

pesados do modelo VLM da Modula para<br />

paletes.<br />

Pela sua versatilidade e adaptabilidade,<br />

a solução permite economias consideráveis<br />

em tempo e em espaço, melhorando a<br />

produtividade e o desempenho nas operações<br />

internas.


SCM Supply Chain Magazine 49<br />

De acordo com o CEO da Modula,<br />

Massimiliano Gigli, a segurança no local de<br />

trabalho e a satisfação das equipas estão<br />

também entre os principais benefícios da<br />

solução conjunta agora apresentada pelas duas<br />

empresas.<br />

“Ao assumir tarefas repetitivas, de tensão<br />

física e outras perigosas, este sistema melhora<br />

significativamente as condições de trabalho em<br />

armazéns, fábricas e centros de distribuição”,<br />

disse Gigli.<br />

“Perante a escassez de mão de obra, as<br />

empresas que procuram automatizar o<br />

armazenamento, a recolha e o manuseamento<br />

e movimentação de materiais e produtos,<br />

têm a ganhar mais do que apenas uma<br />

maior produtividade, oferecendo aos seus<br />

empregados responsabilidades mais valiosas e<br />

um ambiente de trabalho mais seguro”.<br />

Concebido para uma implementação modular<br />

e rápida, o sistema Modula e MiR é altamente<br />

adaptável a armazéns e centros de distribuição<br />

de quase todas as dimensões e layouts, o que<br />

facilita a automatização gradual, permitindo<br />

às empresas transformar e melhorar os seus<br />

processos ao seu próprio ritmo.<br />

Segundo as duas empresas parceiras, o<br />

sistema pode gerar um retorno do investimento<br />

(ROI) logo a partir de seis a 18 meses após a<br />

sua instalação. •


50<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Texto: Dora Assis<br />

IFOY Awards<br />

INOVAÇÃO SUBIU AO<br />

PALCO EM MUNIQUE<br />

Os prémios IFOY distinguem anualmente<br />

as melhores soluções de intralogística do<br />

ano. Mais uma vez os fornecedores puderam<br />

inscrever os seus produtos e soluções a<br />

competição, num total de 13 categorias.<br />

Depois de várias rondas, testes e verificação<br />

da inovação científica, foram conhecidos os<br />

vencedores, numa cerimónia que aconteceu<br />

em Munique.


SCM Supply Chain Magazine 51<br />

Já são conhecidas as melhores soluções<br />

de intralogística de <strong>2022</strong>, segundo o IFOY<br />

– Prémio Internacional de Intralogística<br />

e Empilhador do Ano. Seis empresas<br />

conquistaram o cobiçado troféu em diferentes<br />

categorias: Jungheinrich, Locus Robotics,<br />

Noyes Technologies, Robominds, SSI Schäfer<br />

e Synaos.<br />

A decisão é baseada numa auditoria<br />

realizada em três etapas, composta pelo<br />

protocolo de teste IFOY, que compreende<br />

cerca de 80 critérios, o IFOY Innovation Check<br />

científico e o teste do júri.<br />

AND THE WINNERS ARE…<br />

A vencedora na categoria “Veículo Especial<br />

do Ano <strong>2022</strong>” foi a Jungheinrich, com o seu<br />

stacker elétrico ERD 220i, movido a bateria de<br />

lítio, com capacidade para 2 toneladas.<br />

Em vez de instalar uma bateria de<br />

grande dimensão entre a plataforma e os<br />

garfos, como no passado, a Jungheinrich<br />

utilizou dois módulos compactos de<br />

bateria de iões de lítio de 130 ampère-hora<br />

cada, que estão integradas no chassis do<br />

equipamento. A remoção da bandeja da<br />

bateria oferece benefícios significativos no<br />

desempenho do equipamento: o ERD 220i<br />

é 300 milímetros mais curto do que o seu<br />

antecessor, o que resulta numa redução do<br />

espaço de aproximadamente 25 por cento.<br />

As dimensões compactas fazem do stacker<br />

elétrico, projetado para um uso flexível na<br />

movimentação em armazéns e para carregar e<br />

descarregar camiões, particularmente versátil<br />

e ágil de conduzir. O raio de viragem de 1.985<br />

milímetros permite manobras precisas em<br />

espaços estreitos e permite novos conceitos<br />

no planeamento do armazém no futuro.<br />

O equipamento requer menos espaço nos<br />

corredores, para que a área utilizável possa<br />

ser aumentada em conformidade. Desta<br />

forma, os clientes podem criar mais espaço<br />

de armazenamento na mesma superfície do<br />

armazém.<br />

Além disso, a Jungheinrich melhorou<br />

a distribuição de peso do ERD 220i para<br />

favorecer os parâmetros de condução, o<br />

que é evidente numa aceleração poderosa,<br />

permitindo velocidades de condução de<br />

até 14 quilómetros por hora. Devido ao<br />

espaço poupado, o equipamento pode ser<br />

disponibilizado em duas versões de plataforma<br />

espaçosa sem ter que fazer quaisquer<br />

sacrifícios relevantes em compactidade e<br />

agilidade. Ambas as plataformas têm painéis<br />

de proteção lateral fixos em três lados e<br />

permitem uma condução segura e confortável.<br />

Graças à sua nova versão de mastro de<br />

elevação, o ERD 220i pode ser usado de<br />

forma mais ampla para carregar, descarregar<br />

e empilhar. Um novo mastro de elevação<br />

triplo com 3.760 milímetros oferece de<br />

longe a altura mais alta da plataforma de


52<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

um equipamento neste segmento. Ao mesmo<br />

tempo, a altura do mastro de elevação é feita<br />

de forma tão compacta que o empilhador pode<br />

ser utilizado sem problemas no reboque do<br />

camião. Além disso, o ERD 220i pode ser usado<br />

como um duplo-decker, através da elevação do<br />

braço de apoio e pode transportar duas paletes<br />

em cima uma da outra, o que oferece ganhos<br />

significativos de eficiência, especialmente<br />

quando carrega e descarrega camiões.<br />

Na categoria “Automatic Guided Vehicles”<br />

(AGV/AMR)”, a solução escolhida foi a Locus<br />

Robotics AMR Solution, robô autónomo<br />

da Locus Robotics que trabalha de forma<br />

colaborativa com a equipa do armazém.<br />

A recolha no robô móvel de 45 kg é<br />

extremamente fácil: o tipo e a quantidade<br />

dos produtos a serem recolhidos no local e<br />

colocados no pequeno transportador de carga<br />

no robô Locus são exibidos com muita clareza<br />

no monitor sensível ao toque.<br />

O prémio “Start-up do Ano” foi para a<br />

Noyes Storage by Noyes Technologies,<br />

que desenvolveu o primeiro sistema de<br />

nanologística movido a robótica, ultradenso,<br />

automatizado e altamente flexível. A empresa<br />

pode automatizar até as áreas mais pequenas<br />

com a tecnologia de armazenamento e,<br />

consequentemente, permite prazos de entrega<br />

rápidos a um preço acessível. Até 2.000 SKU<br />

podem ser compactados num armazém de 30<br />

metros quadrados, por exemplo.<br />

Na categoria “Robô”, a vencedora foi a<br />

robomins, com o sistema operacional de robô<br />

neuronal robobrain. O NEUROS é considerado<br />

um solucionador de problemas, realizando<br />

operações de paletização e reconhecimento de<br />

caixas, entre outros.<br />

Já a melhor “Solução de Armazém Integrado”<br />

foi para a SSI Schäfer, pelo IKEA Project<br />

Flat Pack Picking, implementado no maior<br />

Centro de Distribuição de pedidos de clientes<br />

alemães da cadeia sueca de móveis e produtos<br />

para o lar. Com esta solução automática, os<br />

funcionários da IKEA ficam livres de tarefas<br />

pouco ergonómicas, pois a solução da SSI<br />

Schäfer paletiza automaticamente itens<br />

grandes e pesados.<br />

Na categoria “Especial do Ano”, a vencedora<br />

foi a Synaos, com o seu sistema de localização<br />

Synaos IMS – Vehicle Localization para<br />

empilhadores. A sua deteção chega a ter uma<br />

precisão de cerca de 25 centímetros, alcançada<br />

com marcadores a cada 100 metros. Com<br />

esta solução é possível observar exatamente<br />

a utilização da frota. Todo o processamento<br />

de imagem do sistema ocorre localmente<br />

no computador embarcado e nenhum dado<br />

ou informação sensível precisam de ser<br />

transferidos para a nuvem. •


SCM Supply Chain Magazine 53<br />

Outsourcing Logístico<br />

Serviços<br />

Descarga e receção de mercadorias Conferência e arrumação Manipulações e<br />

Recondicionamento Etiquetagem Co-packing Kitting Picking e Embalamento<br />

Cross-docking Carregamento e Expedição de Mercadorias Carga e Descarga de Contentores<br />

Operações “One-shot” (campanhas) Controlo de Qualidade Realização de inventários<br />

Gestão de Devoluções Controlo e Manutenção de Suportes de Manuseamento<br />

Tratamento de Vasilhame e Resíduos<br />

Gesgrup, o parceiro Ideal.<br />

www.gesgrup.pt


54<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Microsegur<br />

Texto: Dora Assis<br />

“OS DADOS SÃO O<br />

PETRÓLEO DO FUTURO”<br />

Quando a Microsegur foi criada, em 1997, o foco<br />

era essencialmente a segurança de pessoas<br />

e bens. 25 anos depois, e com a digitalização<br />

do mundo, segurança e tecnologia andam de<br />

mãos dadas e são hoje críticas e de importância<br />

estratégica para qualquer área de negócio. A<br />

conversa com Arménio Santos, CEO da empresa,<br />

assenta nesses dois elementos transformadores<br />

da atividade económica e, claro, no que ainda<br />

está para vir com a transição digital no horizonte.


SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Começaram pela segurança eletrónica mais<br />

vocacionada para a segurança de edifícios,<br />

mas longe vão os tempos em que tudo<br />

se resumia a um sistema de CCTV. Sistemas<br />

de segurança contra incêndios, intrusão,<br />

controlo de acessos, videovigilância e depois<br />

a integração de todas estas soluções estão<br />

em constante evolução e o know-how da<br />

Microsegur também.<br />

“Em 2019 nasceu uma área a que chamamos<br />

I&D e que começou a trabalhar áreas<br />

mais tecnológicas, ligadas à segurança e à<br />

transformação digital, nomeadamente na área<br />

da robótica com a utilização de drones e na<br />

área de IoT, onde já temos algumas aplicações<br />

desenvolvidas e soluções implementadas”,<br />

explica Arménio Santos. E essa tem sido<br />

também a grande transformação da empresa,<br />

ou seja, conseguir que a transição digital e o<br />

desenvolvimento das tecnologias aplicadas<br />

à segurança dê resposta aos requisitos<br />

tradicionais de segurança, mas também<br />

às questões operacionais e de gestão das<br />

empresas.<br />

Da indústria aos operadores logísticos,<br />

passando também pelos transportes, a<br />

segurança e controlo das mercadorias é<br />

fundamental e uma área que a Microsegur<br />

tem acompanhado de perto. ”Na carga aérea,<br />

por exemplo, pelas necessidades óbvias de<br />

controlo e inspeção das mercadorias”, detalha<br />

o CEO da companhia, ou mais recentemente<br />

por via de algumas soluções ligadas ao last<br />

mile, com um novo projeto tecnológico, a<br />

que chamaram Pick-a-Buy, uma plataforma<br />

que permite fazer a entrega e recolha das<br />

mercadorias, porque como sublinha Arménio<br />

Santos ”o problema hoje não é apenas a<br />

entrega, é também a gestão das devoluções, a<br />

logística inversa”.<br />

Arménio Santos, CEO da Microsegur<br />

DO SAFETY&SECURITY À GESTÃO<br />

DAS OPERAÇÕES<br />

Dentro desta rede constituída pelo fabricante,<br />

plataforma logística, transporte, last mile<br />

e entrega ao cliente, sem dúvida que a<br />

segurança é um denominador comum e<br />

a evolução imparável. “As soluções de<br />

videovigilância avançaram para vídeo<br />

analytics, a inteligência artificial aplicada<br />

ao vídeo, que para além de fazer a vigilância<br />

clássica através das câmaras, consegue<br />

também fornecer dados muito importantes<br />

para as operações. Hoje, conseguimos contar<br />

pessoas, saber se o lugar está ocupado ou<br />

livre, quantas pessoas entraram… enfim, uma<br />

panóplia de dados que são importantes do<br />

ponto de vista da segurança, mas também<br />

para a gestão das operações”.<br />

Em operadores logísticos e empresas<br />

que movimentam produtos de elevado<br />

valor há muito que a Microsegur integrava<br />

determinado tipo de equipamentos e<br />

soluções, mas com um foco no campo de<br />

security. “Agora a evolução está a dar-se


56 JUNHO <strong>2022</strong><br />

para algo mais amplo e com impacto direto<br />

na produtividade e otimização das próprias<br />

operações, pela repercussão que pode ter<br />

na redução de custos por via da eficácia e<br />

eficiência dos processos”, explica o nosso<br />

interlocutor. O grande negócio parecem<br />

ser cada vez mais os dados e a crescente<br />

digitalização traz, de facto, muitos dados às<br />

empresas para que otimizem a gestão do seu<br />

negócio. É aqui que a Microsegur se está a<br />

posicionar.<br />

E Arménio Santos dá o exemplo das<br />

soluções de Real Time Location System<br />

(RTLS). “Estamos a falar de soluções indoor,<br />

que dentro de um armazém ou centro<br />

logístico permitem localizar e saber o<br />

percurso, por exemplo, de uma caixa, de<br />

uma palete ou de um empilhador, não só<br />

por razões de segurança (safety), não só por<br />

razões de security, como deteção de furtos<br />

ou abandono de objetos, mas sobretudo por<br />

razões ligadas à eficiência da gestão das<br />

operações. É que com este tipo de tecnologia<br />

consegue-se ter uma ideia real sobre tempos<br />

dos percursos e sua rentabilidade, tempos<br />

de movimentação e/ou de carga, pelo que<br />

esta plataforma RTLS é algo em que estamos<br />

a apostar, pois além da sua componente<br />

de safety & security é em simultâneo uma<br />

mais-valia pelos dados que fornece sobre as<br />

operações e que ao fim de um ano e meio ou<br />

dois anos já se pagou a si própria pelo retorno<br />

e otimizações que traz às operações”.<br />

Contudo, no entender do CEO da<br />

Microsegur, as nossas empresas ainda<br />

são muito herméticas na estrutura e este<br />

conhecimento ainda não é transversal e<br />

muito menos é explorado dessa forma. “Basta<br />

pensarmos quantas empresas têm na sua<br />

estrutura alguém focado na transição digital,<br />

preocupado em perceber de que forma é que<br />

o negócio da empresa tem que mudar, como<br />

e quando. Porque a transição digital é isso:<br />

não é apenas a digitalização de processos, é


SCM Supply Chain Magazine 57<br />

a mudança completa do negócio. Não tenho<br />

dúvidas que alguns processos que hoje<br />

são completamente manuais e intensivos,<br />

sem qualquer valor acrescentado a não<br />

ser o esforço físico do trabalhador, sejam<br />

substituídos por robôs. Mas, então, temos<br />

que qualificar as pessoas para desenvolverem<br />

outro tipo de trabalhos. E isso é um processo<br />

que em muitos casos ainda levará tempo”.<br />

A IMPORTÂNCIA DE<br />

SER PREDITIVO<br />

Ainda assim, estão atentos à evolução e<br />

também às muitas PME do nosso tecido<br />

industrial aptas a darem o passo para a<br />

digitalização “e o nosso papel é ajudá-las<br />

nessa transição”, sublinha.<br />

“É muito fácil para um diretor de compras<br />

e para uma administração justificar a compra<br />

de um ERP, porque o negócio da empresa<br />

depende desses dados. Até se levantarem<br />

estas questões de cibersegurança, quais<br />

eram os dados mais importantes de uma<br />

empresa? Eram claramente a sua base de<br />

dados de clientes e a faturação. Quando<br />

passamos para a economia digital, e tudo está<br />

baseado no online, os dados mais importantes<br />

de uma empresa passaram a estar na sua<br />

rede produtiva. Hoje todos os sistemas<br />

tecnológicos produzem dados e esses dados<br />

são vitais para o negócio. Os dados são o<br />

petróleo do futuro”, defende Arménio Santos.<br />

O que é preciso é alterar a forma de olhar a<br />

informação e trabalhar os dados. É importante<br />

ter um histórico e ainda mais importante<br />

se torna se este for preditivo. “Os dados,<br />

aliados à inteligência artificial permitem às<br />

empresas criar cenários meramente digitais,<br />

especulativos, para simular diferentes<br />

situações em termos de oferta e de procura<br />

e, objetivamente, a possibilidade de se ser<br />

preditivo traz maior inteligência a todos os<br />

processos e às tomadas de decisão”. •


58<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Automatização de<br />

processos<br />

5 RAZÕES PARA<br />

AUTOMATIZAR<br />

PROCESSOS NA SUA<br />

EMPRESA<br />

Automatizar processos, ou melhorar os<br />

existentes, pode ser um procedimento<br />

complicado, ou difícil de assumir como<br />

prioritário ou essencial para a empresa.<br />

Ao nível das vantagens, são vários os<br />

argumentos que o podem levar a digitalizar<br />

e explorar o ecossistema da Indústria 4.0.<br />

Neste artigo, Pedro Faria identifica alguns.


SCM Supply Chain Magazine 59<br />

A<br />

evolução tecnológica de equipamentos e<br />

softwares tem permitido uma crescente<br />

integração dos processos onde a interface<br />

homem e máquina é mais eficiente e<br />

produtiva, e mais e mais empresas promovem<br />

a automação dos seus processos e, como<br />

consequência, a digitalização da informação<br />

associada, designadamente as métricas do<br />

processo.<br />

Dependendo do negócio, da atividade e da<br />

atual evolução tecnológica, pode ter mais ou<br />

menos dificuldade para iniciar ou aprofundar<br />

esta abordagem.<br />

1. PARA POUPAR EM RECURSOS<br />

E AUMENTAR O LUCRO<br />

Em processos de seleção e movimentação<br />

de artigos, montagem, teste, armazenagem<br />

e embalagem, a automação já ocupa um<br />

lugar relevante em oficinas, fábricas e<br />

armazéns. Estas atividades podem beneficiar<br />

de automação e de processos automatizados<br />

porque evitam problemas de ergonomia e<br />

fadiga física/mental e acidentes, melhoram<br />

os tempos de ciclo, e permitem integração<br />

direta com softwares SCADA, MES, WMS OU<br />

ERP no geral, permitindo a sua rastreabilidade.<br />

Os investimentos devem ser idealizados e ser<br />

alvo de projeto e estudo, selecionando o que<br />

melhor se adapta às operações concretas e ao<br />

ROI pretendido, no que vai ser provavelmente<br />

um investimento capex (ou opex nas<br />

tendências atuais).<br />

Pedro Faria, Partner & Manager, Nostra Prius<br />

2. PARA ELIMINAR OU MITIGAR<br />

O DESPERDÍCIO<br />

O erro humano introduz desperdícios no<br />

processo produtivo, em todas as indústrias,<br />

incluindo serviços. Muitas tarefas podem ser<br />

realizadas de forma mais expedita e com maior<br />

confiabilidade por computadores e máquinas,<br />

evitando erros. Um exemplo de consumo<br />

extraordinário de tempo devido a erro humano<br />

é o inventário corrente, ou online. Processos<br />

que se relacionam com inventário, como a<br />

escolha de peças e componentes, ou avaliação<br />

de lotes, podem ser automatizados para<br />

obter estimativas precisas de inventário. Um<br />

equipamento que automatize e digitalize a<br />

atividade ajuda a eliminar informação errada e<br />

materiais “perdidos”, evita sobre-produção ou<br />

sobre-encomendas, e custos extraordinários<br />

de correção e verificação (muitas vezes com


60<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

recurso a horas extra), assim como perdas<br />

associadas a bens e produtos perecíveis.<br />

3. PARA PERMITIR REAÇÕES MAIS<br />

RÁPIDAS AO MERCADO<br />

O uso extensivo de automação e de<br />

processos automatizados é genericamente<br />

considerado um benefício exclusivo de<br />

indústrias de produção série e grande<br />

escala, com reconhecida baixa agilidade,<br />

uma vez que o estudo, a preparação e o<br />

setup no investimento de infra-estruturas<br />

e equipamentos são considerados grandes<br />

consumidores de tempo e dinheiro, e que<br />

devem ser imperativamente equacionados<br />

no lucro global esperado e o risco de negócio<br />

associados.<br />

Apesar desta máxima ser legítima, também<br />

podemos enunciar três aspetos beneficiais<br />

adicionais que devem ser considerados:<br />

1. o seu negócio pode e deve considerar uma<br />

transição modular para a automação e<br />

digitalização, que se baseada num caderno<br />

de estudos apropriado, algumas opções<br />

de investimento podem ser consideradas<br />

como incrementais, por oposição a<br />

disruptivas e drásticas, e com fatores de<br />

mudança fáceis de gerir e implementar.<br />

É o caso típico da implementação de<br />

melhorias produtivas com recursos<br />

humanos vs. tornar todo o fluxo produtivo<br />

robotizado com pouca ou nenhuma<br />

intervenção humana;<br />

2. por forma a serem automatizados as<br />

atividades e o fluxo dos processos, este<br />

deve ser obrigatoriamente mapeado,<br />

e no processo de mapeamento, várias<br />

melhorias onde a automatização e<br />

digitalização vão trazer benefícios, vão<br />

ficar visíveis. É assim mais fácil para<br />

a gestão da empresa tomar decisões<br />

objetivas com impacto bem definido;<br />

3. com o fluxo de operações mapeado,<br />

adaptar o seu negócio às nuances<br />

do mercado vai ser mais facilmente<br />

executado e a sua empresa é agora muito<br />

mais competitiva, porque se tornou mais<br />

dinâmica e reativa.<br />

4. PARA AUMENTAR A QUALIDADE<br />

DO PRODUTO E A CREDIBILIDADE<br />

DA MARCA<br />

O retrabalho causado por falhas de qualidade<br />

diminui a capacidade produtiva de um negócio,<br />

e pode criar perdas de imagem da marca se<br />

chegar às mãos dos consumidores. Alguns<br />

problemas de qualidade podem até afetar<br />

a segurança no consumo ou utilização do<br />

produto, e gerar problemas e custos maiores<br />

que arruínam uma marca. Alguns analistas<br />

defendem um rácio de 1:100 entre o custo de<br />

um produto detetado num cliente utilizador, ou<br />

seja, todas as atividades de prevenção obtêm<br />

um retorno bastante eficaz. Este rácio pode ser<br />

maior caso o negócio esteja num contexto de<br />

uma indústria de luxo (versus uma low cost).<br />

Quer seja desperdício, retrabalho, ou<br />

imagem de marca, os problemas de qualidade<br />

causam sempre perdas no lucro esperado<br />

e lesam o negócio. Uma das metodologias<br />

do processo de garantia da qualidade mais<br />

valiosa nas atividades de manufatura e<br />

montagem, ou de armazém, é a capacidade<br />

de rastrear os passos produtivos e a supply<br />

chain, por exemplo, usando um sistema<br />

de machine vision (controlo por padrão de<br />

reconhecimento de imagem), um scanner de<br />

leitura de um manifesto em código de barras


SCM Supply Chain Magazine 61<br />

ou introduzindo dados com um teclado ou,<br />

numa etapa final, realizando controlo de<br />

qualidade por amostragem, ou ainda, no<br />

caso dos serviços, avaliando as métricas de<br />

execução ou mesmo com recurso ao clientes<br />

mistério (mesmo em B2B).<br />

5. PARA GARANTIR QUE O<br />

NEGÓCIO ESTÁ PREPARADO PARA<br />

O FUTURO<br />

Ao automatizar os seus processos, as<br />

métricas do negócio tornam-se evidentes e<br />

as decisões mais racionais. O negócio é mais<br />

rentável, menos dependente de processos<br />

não produtivos, determina mais tempo para<br />

o desenvolvimento dos produtos, processos e<br />

certificações na cadeia de valor b2b, interage<br />

mais com o consumidor e gere a imagem<br />

de marca. Tudo isto aumenta a capacidade<br />

competitiva, o que equivale a dizer que para o<br />

mesmo valor de referência RSP de um produto<br />

ou serviço, a sua margem é maior do que a da<br />

concorrência.<br />

Os recursos da sua empresa terão de<br />

forçosamente evoluir para lidar com estas<br />

tarefas e tecnologias complementares, e com<br />

isso também irão evoluir profissionalmente<br />

e dotar a empresa de trabalhadores ágeis,<br />

com habilitações dentro da Indústria 4.0,<br />

garantindo a renovação de competências na<br />

empresa.<br />

Em esferas superiores, com o negócio<br />

digitalizado, os softwares existentes<br />

automatizam facilmente a recolha e<br />

correlação de dados de vários níveis e extratos<br />

de fontes de informação, produzindo dados<br />

objetivos complexos e atuais, que pode usar<br />

para tomar decisões de médio e longo prazo<br />

com confiança.<br />

Ninguém consegue prever o futuro,<br />

mas a automação e acesso a dados<br />

tratados (business intelligence) aumenta<br />

a probabilidade de identificar tendências<br />

imediatas num curto intervalo de tempo e<br />

ser mais competitivo no curto prazo e mais<br />

resiliente no longo. •


62<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Texto: Dora Assis<br />

Indústria automóvel<br />

ACELERAR<br />

A TRANSIÇÃO<br />

O Parlamento Europeu aprovou a<br />

proposta da Comissão que proíbe<br />

a venda de novos veículos com<br />

motor de combustão a partir<br />

de 2035. O que se segue é um<br />

gigantesco desafio, financeiro<br />

e logístico, para a indústria da<br />

construção automóvel e suas<br />

cadeias de abastecimento.


SCM Supply Chain Magazine 63<br />

Foi aprovada a proposta da Comissão<br />

Europeia – já aceite pelos 27 estados-<br />

-membros da União Europeia – que proíbe<br />

a venda de novos veículos com motor de<br />

combustão (gasolina e gasóleo) a partir de<br />

2035, na prática só permitindo a venda de<br />

veículos novos elétricos.<br />

O transporte é um dos maiores emissores<br />

de CO2 na UE, sendo os automóveis por si só<br />

responsáveis por 12% do total de emissões<br />

de gases com efeito de estufa.<br />

A pedido de alguns países, onde se inclui<br />

a Alemanha e a Itália, a UE concordou,<br />

contudo, em considerar dar “luz verde” no<br />

futuro para tecnologias alternativas, como<br />

os combustíveis sintéticos ou híbridos plug-<br />

-in, se forem capazes de alcançar o objetivo<br />

de eliminar completamente as emissões de<br />

gases com efeito de estufa dos veículos.<br />

A norma final da medida que pretende<br />

reduzir para zero as emissões de dióxido de<br />

carbono (CO2) dos automóveis novos a partir<br />

de 2035 será negociada entre o Parlamento,<br />

Conselho e Comissão no segundo semestre<br />

do ano, já com a República Checa na<br />

presidência do Conselho da UE.<br />

É, portanto, um assunto praticamente<br />

decidido: a partir de 2035, já não serão<br />

aprovados quaisquer veículos com motor de<br />

combustão na UE.<br />

Desta forma, o setor da construção<br />

automóvel está perante uma conversão sem<br />

precedentes das suas fábricas e unidades<br />

de produção e alguns equipamentos podem<br />

alcançar preços elevados no mercado de<br />

máquinas e equipamentos usados, para<br />

financiar uma parte do investimento<br />

necessário.<br />

NEUTRALIDADE CARBÓNICA<br />

ATÉ 2050<br />

A UE assumiu um papel precursor e pretende<br />

atingir a neutralidade climática até 2050. Um<br />

quarto das emissões totais de CO2 a nível<br />

europeu é proveniente do trânsito. Em 2019,<br />

perto de 800 milhões de toneladas de CO2<br />

foram emitidas nas estradas da União Europeia.<br />

Os veículos ligeiros e os motociclos causaram a<br />

maioria das emissões, representando 62%.<br />

No âmbito da transição verde, agora os<br />

estados-membros da UE e o Parlamento<br />

Europeu têm de chegar a um compromisso<br />

coletivo. É possível que se abra também uma<br />

porta das traseiras para os combustíveis<br />

sintéticos, mas o objetivo é a eletrificação total<br />

dos veículos.<br />

CONSEQUÊNCIAS PARA A<br />

INDÚSTRIA<br />

Para a produção de automóveis e para os<br />

seus fornecedores, isto significa que vários<br />

componentes que agora integram os veículos<br />

terão de ser suprimidos, modificados ou<br />

incluídos nos portefólios dos fornecedores.<br />

Em vez de um motor de combustão será<br />

necessária uma máquina elétrica. Em vez do<br />

sistema de alimentação de combustível, serão<br />

montados sistemas de baterias ou de células<br />

de combustível. Serão suprimidos o sistema de<br />

escape e o alternador e a transmissão terá de<br />

ser adaptada.<br />

Por outro lado, será necessária eletrónica de<br />

potência que não é instalada nos automóveis<br />

convencionais até à data. E não só os sistemas<br />

serão diretamente afetados, como também


64<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

toda a arquitetura e design dos veículos sofrerá<br />

alterações, uma vez que os motores elétricos<br />

requerem menos espaço.<br />

As cadeias de abastecimento têm vindo a<br />

ser abaladas e a sofrer disrupções várias nos<br />

últimos anos, como é o caso da crise dos chips,<br />

que têm desencadeado perdas consideráveis no<br />

setor da construção automóvel.<br />

A transição planeada dos motores de<br />

combustão para os elétricos será para toda esta<br />

cadeia de fornecimento um gigantesco desafio<br />

financeiro. A associação alemã VDA estima<br />

que seja necessário investir mais de 100 mil<br />

milhões de euros na conversão da produção<br />

automóvel até 2030.<br />

COMO FINANCIAR A TRANSIÇÃO?<br />

Esta é a “one million dolar question”. Uma<br />

possibilidade de gerar alguma receita para<br />

as empresas automóveis é a conversão<br />

do capital físico que já não é necessário<br />

no mercado de máquinas e equipamentos<br />

usados. Este beneficia da situação tensa<br />

na construção de máquinas e instalações,<br />

que também é afetada pelos problemas de<br />

fornecimento atuais, os custos crescentes e a<br />

escassez de mão de obra especializada, já que<br />

no mercado de máquinas usadas é possível<br />

adquirir sistemas de produção de forma<br />

célere e económica.


SCM Supply Chain Magazine 65<br />

Alguns fornecedores de componentes e<br />

também os fabricantes de automóveis já<br />

iniciaram a reestruturação da sua produção<br />

e começam a criar condições para estarem<br />

preparados para o futuro.<br />

A prová-lo está o facto de nos últimos<br />

meses se terem multiplicado os leilões de<br />

tecnologia de fabrico automóvel, como é<br />

o caso dos realizados pela casa de leilões<br />

online de máquinas usadas internacional<br />

Surplex.com, na sequência da reconversão de<br />

grandes unidades de produção europeias.<br />

Especialmente equipamentos de tecnologia<br />

robotizada – como células de solda, robôs<br />

industriais e instalações compactas – bem<br />

como máquinas para trabalhar metais já<br />

trocaram de proprietário. À luz das atuais<br />

mudanças, as empresas que queiram<br />

continuar no jogo e adaptar a sua produção<br />

vão ter que começar já a delinear a sua<br />

estratégia de reconversão e adaptação, pois<br />

2035 é já. •


66<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Pegada ambiental<br />

Texto: Fábio Santos<br />

ALDI CONSIDERA QUE<br />

CAMIÃO 100% ELÉTRICO<br />

“TEM POTENCIAL”<br />

Durante a inauguração do novo centro de<br />

distribuição da ALDI, a empresa apresentou<br />

o seu novo camião 100% elétrico, um MAN<br />

eTGM, pioneiro da estratégia de emissões<br />

zero da Transportes J. Amaral (TJA), e o<br />

primeiro ao serviço da distribuição de um<br />

retalhista alimentar em Portugal. O veículo<br />

está operacional desde maio, e após um<br />

mês de utilização e análise, as empresas<br />

deram a conhecer alguns dos resultados.<br />

Foi o primeiro mês de testes de um camião<br />

100% elétrico ao serviço de uma empresa<br />

retalhista alimentar em Portugal, e apesar<br />

de ainda apresentar algumas limitações,<br />

os resultados apresentados são bastante<br />

positivos. A sua primeira viagem envolveu um<br />

percurso de 92 quilómetros, apresentando um<br />

consumo de 96,2 kW de energia, o equivalente<br />

a 1,04 kW por quilómetro.<br />

A bateria do veículo tem uma autonomia<br />

para 180 quilómetros, pelo que retornou ao<br />

centro de distribuição da Moita com ainda<br />

48% de bateria disponível, e sem necessidade<br />

de qualquer carregamento intermédio. “Estes<br />

valores foram alcançados graças à tecnologia<br />

eficiente do MAN eTGM e a uma notável taxa<br />

de recuperação de energia”, explica a MAN em<br />

comunicado. A empresa também explica que a<br />

energia foi fornecida por 12 baterias de iões de<br />

lítio NMC altamente eficientes, com 185 kWh<br />

de capacidade, montadas de forma a poupar<br />

espaço.


SCM Supply Chain Magazine 67<br />

REFORÇO DA APOSTA NA<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Esta aposta nas entregas com energias<br />

renováveis enquadra-se na estratégia de<br />

sustentabilidade da ALDI. André Fradinho,<br />

Managing Director Supply Chain da ALDI,<br />

comenta que “somos o primeiro retalhista<br />

alimentar em Portugal a utilizar uma viatura<br />

pesada 100% elétrica para o transporte de<br />

mercadorias”, mas explica que ainda estão “a<br />

avaliar vários fatores operacionais relativos a<br />

viaturas elétricas, nomeadamente no que diz<br />

respeito à sua autonomia”. Ainda em testes,<br />

a ALDI espera tomar decisões mais concretas<br />

em 2023 relativamente à expansão da frota<br />

elétrica.<br />

O responsável comenta que “além de<br />

possuir uma autonomia de 180 km e uma<br />

capacidade máxima de 26 toneladas<br />

(capacidade de transporte aproximada de<br />

18 paletes standard), conta ainda com um<br />

motor de frio 100% elétrico e apresenta como<br />

principais características o seu baixo ruído e os<br />

circuitos independentes de reduzido consumo<br />

energético”, avançou o responsável.<br />

A MAN destaca que a bateria tem um<br />

sistema de carregamento rápido, e que a<br />

caixa de frio tem um pavimento “topo de<br />

gama da marca Lamberet, eliminando todo os<br />

ruídos consequentes das cargas e descargas”.<br />

Para além do motor, também a plataforma<br />

elevatória é 100% elétrica, tendo por base um<br />

conjunto de baterias da Addvolt.<br />

DISTRIBUIÇÃO 100% ELÉTRICA<br />

Sobre o futuro dos veículos 100% elétricos<br />

para a distribuição, André Fradinho nota que<br />

“estamos confiantes de que a utilização deste<br />

tipo de veículos tem potencial para se expandir<br />

para a distribuição regional e, principalmente,<br />

para os grandes centros urbanos”, destacando<br />

ainda os benefícios que trazem ao nível da<br />

sustentabilidade e da responsabilidade social.<br />

Nesse sentido, aponta que “as vantagens<br />

mais imediatas situam-se ao nível da<br />

sustentabilidade ambiental, pela ausência<br />

de emissões de gases nocivos, mas também<br />

ao nível da redução dos custos de energia<br />

e da flexibilidade de horários e baixo ruído<br />

nas descargas, principalmente noturnas”,<br />

e acrescenta que “a utilização deste tipo<br />

de tecnologia tem sido uma experiência<br />

enriquecedora e temos recebido um feedback<br />

positivo por parte da população”.<br />

Face aos valores apresentados nestes<br />

primeiros meses de teste de um único veículo,<br />

a ALDI espera atingir uma redução de emissões<br />

de CO2 de 67,8 toneladas por ano, um passo<br />

para o objetivo de atingirem a neutralidade<br />

carbónica. “Além de ser um projeto pioneiro<br />

em Portugal, este novo camião permite-nos<br />

continuar a proporcionar aos nossos clientes<br />

uma experiência de compra simples, rápida<br />

e fácil, com tudo o que precisam, ao mesmo<br />

tempo que nos permite reduzir o impacto<br />

da nossa atividade e assegurar que o nosso<br />

trabalho é feito sem pôr em causa o futuro do<br />

planeta”, comenta André Fradinho.<br />

Apesar dos benefícios, existe ainda um<br />

entrave: a autonomia do veículo. Utilizam uma<br />

tecnologia de gestão de rotas para maximizar<br />

a sua produtividade, no entanto, considera<br />

que este ainda é um ponto a melhorar para o<br />

transporte 100% elétrico. Face ao caminho que<br />

ainda se tem de percorrer para a neutralidade<br />

carbónica, André Fradinho deixa ainda um<br />

apelo para “a existência de uma política<br />

efetiva de incentivo a viaturas 100% elétricas,<br />

em moldes semelhantes à adotada para os<br />

veículos ligeiros”. •


68<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

TRANSPORTE<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

Logística verde<br />

6 DICAS PARA<br />

REDUZIR O IMPACTO<br />

AMBIENTAL DAS<br />

SUAS FROTAS<br />

A logística verde ganha cada vez mais<br />

relevância dado que os consumidores<br />

estão cada vez mais exigentes, dispostos<br />

a associar-se a marcas que apenas se<br />

comprometam com práticas de logística<br />

amigas do ambiente. É neste sentido<br />

que a Galp fornece seis dicas de como<br />

reduzir o impacto ambiental das suas<br />

frotas, de modo a que fique a par destas<br />

tendências e possa beneficiar de todas as<br />

suas vantagens.


SCM Supply Chain Magazine 69<br />

Oprincipal objetivo da logística verde é<br />

encontrar um equilíbrio entre a parte<br />

económica e a parte ambiental, sendo<br />

que esta deve abordar todos os processos<br />

relativos às operações logísticas: produção,<br />

packaging, armazenamento, gestão de espaços<br />

e informação, transporte e reciclagem ou<br />

reutilização dos resíduos produzidos. Deste<br />

modo, dentro deste grande propósito podem<br />

encontrar-se outros como a consciencialização<br />

da pegada de carbono das operações logística,<br />

com o objetivo de diminuí-la ao longo do<br />

tempo; reduzir os diferentes tipos de poluição:<br />

ar, água, sonora e do solo; o uso racional dos<br />

recursos materiais, privilegiando materiais<br />

com pouco impacto ambiental e que possam<br />

ser reutilizados ou reciclados; melhorar a<br />

gestão do espaço e do stock em armazém e<br />

aumentar a produtividade através da melhoria<br />

dos processos de armazenamento, gestão<br />

de informação e otimização de rotas, com a<br />

consequente redução dos prazos de entrega.<br />

DICAS PARA UMA GESTÃO<br />

DE FROTAS VERDES<br />

O transporte de mercadorias é uma das<br />

atividades que mais emite dióxido de carbono e<br />

que consequentemente mais impactos negativos<br />

traz ao ambiente. A logística verde pode assim<br />

ser uma solução para a diminuição deste mal<br />

trazendo ainda vantagens para as operações<br />

das empresas. Segue-se a proposta da Galp para<br />

reduzir o impacto ambiental das frotas:<br />

1. Armazéns inteligentes<br />

Vários armazéns já utilizam robôs que<br />

otimizam e automatizam a gestão do espaço e<br />

todas as operações que envolvem essa gestão.<br />

Estes são também equipados com sistemas<br />

de autoidentificação que permitem otimizar<br />

a gestão de stock. Além destas tecnologias<br />

é habitual ver nestes armazéns tecnologias<br />

como voice picking, light picking e realidade<br />

aumentada.<br />

2. Estratégias de armazenamento<br />

“smart”<br />

Os armazéns inteligentes não se moldam<br />

apenas pelas tecnologias, mas também,<br />

pela estratégia do que é a logística verde<br />

e a gestão destes espaços. Neste sentido é<br />

necessário fazer uma otimização do processo<br />

de armazenamento utilizando estratégias<br />

como a FIFO (first in, first out), FEFO (first<br />

expire, first out), LIFO (last in, first out), entre<br />

outras.<br />

3. Utilização de materiais amigos<br />

do ambiente<br />

A logística envolve uma grande quantidade<br />

de materiais, principalmente de papéis e<br />

plásticos de packaging e transporte de<br />

todos os produtos. Deste modo o segredo é<br />

apostar em materiais amigos do ambiente à<br />

semelhança do que fazem algumas grandes<br />

marcas mundiais, um trunfo na comunicação<br />

com o cliente.


70<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

4. Planeamento mais estruturado<br />

das rotas<br />

O transporte tem um peso enorme na pegada<br />

carbónica da empresa e, como tal, é necessário<br />

utilizar as tecnologias à disposição para<br />

otimizar e planear rotas. No entanto, isto<br />

pode ser um desafio já que os clientes querem<br />

entregas cada vez mais rápidas, o que pode<br />

não ser possível enquanto se está a otimizar as<br />

rotas.<br />

5. Frota de veículos híbrida ou<br />

elétrica<br />

As entregas rápidas dificultam a otimização das<br />

rotas e como tal existe outra forma de reduzir<br />

o tempo destas entregas, como os veículos<br />

híbridos ou elétricos. Uma frota destes veículos<br />

é o standard futuro de empresas que adotem<br />

uma política de logística verde.<br />

6. Redução e reciclagem dos<br />

resíduos produzidos<br />

A gestão dos resíduos quanto mais amiga do<br />

ambiente mais se aproxima do conceito de<br />

logística verde onde a prioridade deve ser a<br />

reutilização dos materiais e só depois a sua<br />

devida reciclagem. Assim, a utilização de<br />

materiais amigos do ambiente é de extrema<br />

importância pois estes também podem ser<br />

reutilizados e/ou reciclados. •


SCM Supply Chain Magazine 71


72<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

CARREIRA<br />

Logistics Trend Radar<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Fotos: DHL<br />

O QUE SERÁ<br />

O FUTURO DO<br />

TRABALHO NA<br />

LOGÍSTICA?<br />

O mundo está mais digital, e com<br />

essa mudança, tudo o que está anexo<br />

também é afetado – ora mais, ora<br />

menos. A logística tem sido uma área<br />

de grande renovação tecnológica, com<br />

questões de robotização, digitalização,<br />

novas tendências, exigências mais<br />

complexas por parte dos clientes, entre<br />

muitas outras questões. O Logistics<br />

Trend Radar da DHL veio analisar essa<br />

mudança e tentar antecipar como será o<br />

futuro do trabalho na logística.


SCM Supply Chain Magazine 73<br />

A<br />

transição para o 4.0, com as suas questões<br />

de avanço tecnológico e de digitalização, as<br />

mudanças demográficas ou a pandemia de<br />

COVID-19, trouxeram consigo uma grande carga<br />

de robotização e de automação, que também<br />

colocam questões adicionais ao nível do papel<br />

dos recursos humanos e da própria logística<br />

em si. Qual o papel que as pessoas terão ao<br />

nível da robótica colaborativa, novos métodos<br />

de trabalho, ou as diferentes skills necessárias<br />

para o futuro são alguns exemplos dos novos<br />

desafios aos quais o Logistics Trend Radar da<br />

DHL pretende responder.<br />

Para esta primeira parte do estudo foram<br />

recolhidas mais de 7.000 respostas a um<br />

inquérito global, de profissionais de logística<br />

em início de carreira, para uma visão no terreno<br />

sobre preferências, ferramentas, ambientes e<br />

expectativas que irão moldar a próxima década.<br />

FUTURO DO TRABALHO<br />

NA LOGÍSTICA<br />

Começando por explicar o que irá ser<br />

abordado ao nível do “Futuro do trabalho<br />

na logística”, a DHL aponta que envolve o<br />

papel, responsabilidades, sistemas, horários,<br />

ferramentas e ambientes dos trabalhadores,<br />

e como irá ser alterado dentro das cadeias de<br />

abastecimento nas próximas décadas.<br />

“À medida que olhamos para o futuro, várias<br />

forças de mudança - a alteração demográfica,<br />

o avanço tecnológico e a pandemia de<br />

COVID-19 - estão a unir-se para alterar a forma<br />

como trabalhamos a um ritmo e escala nunca<br />

antes vistos na indústria logística”, aponta<br />

o relatório da DHL, acrescentando que “a<br />

convergência destas forças transformará a<br />

forma como cada um de nós trabalha, a vários<br />

níveis - alguns empregos exigirão a utilização<br />

de novas ferramentas, alguns deixarão de ser<br />

necessários, e muitos novos postos de trabalho<br />

serão criados”.<br />

Por parte da própria DHL, Thomas Ogilvie,<br />

Chief Human Resources Officer do DHL Group,<br />

aponta que “embora as competências e perfis<br />

de emprego mudem mais rapidamente do<br />

que nunca, os mais de 570.000 colaboradores<br />

da DHL continuarão a ser o nosso ativo mais<br />

importante. Reconhecemos que as novas<br />

tecnologias e automação terão impacto em<br />

muitos processos manuais e repetitivos em<br />

toda a cadeia de abastecimento, e terão<br />

o potencial de permitir oportunidades de<br />

emprego mais gratificantes e perspetivas de<br />

carreira. Com a mentalidade de liderança certa<br />

e os investimentos na força de trabalho, estou<br />

confiante de que continuaremos a fornecer o<br />

melhor lugar para trabalhar agora e no futuro”.<br />

O estudo aponta a falta de recursos,<br />

que envolve profissões como motoristas,<br />

operadores de armazém, gestores de supply<br />

chain ou analisadores de data, e uma “guerra<br />

pelo talento” entre as empresas. “Para serem<br />

bem-sucedidas, as empresas precisam de<br />

desenvolver estratégias que irão atrair, reter,<br />

desenvolver e motivar os colaboradores na era<br />

digital”, defende o estudo.<br />

AS FORÇAS DE MUDANÇA<br />

Alteração da Demografia:<br />

Pela primeira vez na história, os nativos<br />

digitais estão a superar numericamente os<br />

trabalhadores que iniciaram as suas carreiras<br />

antes da internet (Baby Boomers). Durante a<br />

próxima década, as empresas irão sentir esta<br />

mudança nas suas organizações.


74<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

“Por um lado, as organizações estão<br />

preocupadas com uma fuga de ‘cérebros’ do<br />

conhecimento institucional, à medida que os<br />

colaboradores mais velhos com experiência de<br />

décadas e know-how começam a sair em massa<br />

para a reforma. Por outro lado, estão ansiosos<br />

por preencher vagas e atrair novos talentos, mas<br />

há concorrência à medida que os empregadores<br />

tentam adaptar-se às necessidades e<br />

preferências das gerações mais novas”, pode ler-<br />

-se no relatório.<br />

Os trabalhadores estão a tomar novas decisões<br />

relativamente às condições e ao tipo de empresas<br />

para as quais trabalham, bem como o retorno<br />

que pretendem em troca do seu tempo e esforço.<br />

Quatro das principais preocupações destas novas<br />

gerações são a Sustentabilidade, a Diversidade<br />

e Inclusão, o Bem-estar dos trabalhadores e os<br />

Ambientes Tecnologicamente Avançados.<br />

A DHL nota que devido a esta mudança de<br />

paradigma as empresas apresentam dificuldades<br />

ao nível da atração e retenção de talento, e<br />

que isso provocou uma escassez de mão de<br />

obra ao nível da indústria, que está a afetar<br />

negativamente as cadeias de abastecimento.<br />

Avanços tecnológicos:<br />

O estudo aponta que 29% das tarefas dos locais<br />

de trabalho estão a ser feitas por máquinas, e<br />

que até 2025 é esperado que esse número suba<br />

para 52%. Esta é talvez a força mais reconhecida<br />

que sustém a pressão das mudanças na logística,<br />

e que está a dar uma nova forma ao que é o<br />

futuro do trabalho.<br />

Os avanços contínuos a favor da digitalização,<br />

automação e inteligência artificial já estão a ter<br />

grandes impactos nos locais de trabalho e nas<br />

funções setores à volta do mundo, e o acesso<br />

a este tipo de tecnologias é cada vez mais<br />

facilitado, mesmo para as Pequenas e Médias<br />

Empresas (PME).<br />

“Com a crescente difusão da tecnologia<br />

aumentada e automação em cadeias de<br />

abastecimento, os operadores no terreno<br />

e no escritório estão a ver as suas tarefas<br />

transformarem-se, e a surgirem novos papéis.<br />

No entanto, apesar dos avanços, não prevemos<br />

para a indústria logística uma mudança<br />

instantânea e dramática do trabalho humano<br />

para a automação. Em vez disso, vemos um<br />

período de mudança gradual ao longo de 30<br />

anos em que mais papéis irão colaborar com<br />

a tecnologia no local de trabalho em vez de<br />

competir com ela”, explica o relatório.<br />

Abaixo, alguns factos apontados pelo relatório,<br />

baseados em diferentes estudos, relativos à<br />

importância das tecnologias e aos benefícios que<br />

trarão para a transição digital da logística:<br />

• Autonomia dos camiões comerciais ligeiros<br />

elétricos: de 100 km (2017) para 1.099 km<br />

(2021);<br />

• Desempenho de reconhecimento facial<br />

por inteligência artificial: 230 milhões de<br />

correspondências por segundo (99,5% de<br />

precisão);<br />

• Tempo poupado nas entregas com um<br />

camião semi-automático: 10 horas em 1.530<br />

km;<br />

• Performance de picking e packing por braços<br />

robóticos: 99% de precisão em 10.000<br />

produtos diferentes;<br />

• Total investido em software de Automação<br />

de Processos Robóticos (RPA) em 2020: 1,5<br />

mil milhões;<br />

• Alcance dos novos aviões totalmente<br />

elétricos: 815 km;


SCM Supply Chain Magazine 75<br />

• Conectividade fornecida pelo 5G: 1.000<br />

dispositivos por metro;<br />

• Etiquetas RFID na última década: Redução de<br />

80% do preço, duplicação da sua precisão de<br />

leitura e 4x maior alcance.<br />

Pandemia de COVID-19:<br />

Uma das questões apontadas foi a forma como<br />

um pequeno ser microscópico revolucionou<br />

em apenas semanas, ou mesmo dias, algo que<br />

normalmente levaria anos, ou décadas, a renovar.<br />

A evolução tecnológica sentida durante esta<br />

época alterou a forma como milhões de pessoas<br />

no mundo vivem e trabalham, quiçá para sempre.<br />

A pandemia “incentivou indivíduos e<br />

organizações a olharem para os procedimentos<br />

e hábitos há muito estabelecidos com novos<br />

olhos e a considerarem formas alternativas de<br />

trabalhar - desde repensar as responsabilidades<br />

e utilizar ferramentas digitais a considerar<br />

o significado e o propósito de trabalhos<br />

específicos. Também mudou muito os<br />

comportamentos de compra, o que resultou em<br />

novas oportunidades e desafios para as cadeias<br />

de abastecimento globais”, aponta o relatório.<br />

Um dos claros benefícios económicos foi ao<br />

nível do e-commerce. Com lojas e restaurantes<br />

fechados durante meses, o comércio eletrónico<br />

levou um grande impulso a nível global, e cada<br />

vez mais as pessoas começaram a comprar<br />

online, e os próprios negócios tiveram de se<br />

renovar. “Apesar de muitas restrições terem sido<br />

levantadas, muitos consumidores descobriram<br />

que os seus hábitos de compras online se<br />

solidificaram, e numerosos novos mercados de<br />

comércio eletrónico estão a prosperar”, nota a<br />

DHL. Como exemplo disso, na região oeste da<br />

Europa, o crescimento das vendas online do<br />

retalho em 2020 foi de 26,3%.<br />

“As organizações estão a ter de fornecer<br />

e implementar rapidamente equipamentos,<br />

competências e ferramentas de colaboração<br />

para permitir o trabalho remoto, bem<br />

como permitir novos horários de trabalho.<br />

Ferramentas de visibilidade, automatização,<br />

tecnologias de entrega sem contacto e flexíveis,<br />

e sensores IoT para rastrear envios são apenas<br />

alguns exemplos de aceleração tecnológica<br />

como resultado do COVID-19”, aponta o relatório<br />

da DHL, concluindo que “este novo Futuro do<br />

Trabalho está para ficar”. •


76<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

João Lopes<br />

COO e cofundador | Bloq.it<br />

HÁ AGORA UM<br />

QUICK-COMMERCE,<br />

MAS O QUE É<br />

EXATAMENTE?<br />

Se tivesse de apostar, diria que o conceito<br />

de E-commerce é já do conhecimento<br />

da maioria das pessoas, pelo menos das<br />

gerações mais jovens. Habituadas a fazer login<br />

em plataformas ou sites para comprar o que<br />

mais precisam e, posteriormente, receberem<br />

encomendas em casa, após um ou dois dias,<br />

estes são os grupos que têm presente o<br />

E-commerce, ou comércio eletrónico, quase<br />

diariamente na sua vida.<br />

Mas esperem, um ou dois dias? É cada vez<br />

menos compreensível que este seja o tempo<br />

estimado para uma encomenda chegar ao<br />

destino. É certo que a pandemia veio potenciar<br />

a tendência do comércio online, já que forçou as<br />

pessoas a realizarem mais compras por esta via.<br />

Segundo o Recovery Insights – Small Business<br />

Reset, estudo desenvolvido pela Mastercard,<br />

desde o início do ano, o E-commerce já atingiu<br />

a nível mundial os 900 mil milhões de euros,<br />

mais 6 pontos percentuais comparativamente<br />

ao período pré-pandemia.<br />

Este crescimento fez, porém, aumentar a<br />

exigência dos consumidores relativamente à<br />

rapidez com que as encomendas lhes chegam<br />

a casa. Hoje, as pessoas são cada vez menos<br />

compreensivas sobre as limitações da logística<br />

e da tecnologia e, face a isto, surge um novo<br />

desafio: criar um comércio online mais rápido,<br />

que permita ter encomendas à porta de todos,<br />

mas em minutos.<br />

Foi exatamente isto que forçou o surgimento<br />

do Quick-Commerce, ou comércio rápido (se não<br />

gostar de estrangeirismos). Em Portugal, pode<br />

parecer algo recente, mas o certo é que este é<br />

um modelo de negócio já validado em países<br />

como os Estados Unidos da América, Turquia<br />

e Rússia. Mas o que é ao certo? Da forma<br />

mais simples possível, o Quick-Commerce é o<br />

tipo de comércio em que as entregas de bens<br />

essenciais são feitas em menos de 15 minutos.<br />

Conhece a Bairro, a Getir, a Bolt Market<br />

ou outras empresas que andam aí? São<br />

todas plataformas de Quick-Commerce, mas<br />

como funcionam? Primeiro, o cliente realiza<br />

uma encomenda numa destas aplicações.


SCM Supply Chain Magazine 77<br />

Depois, esta é preparada por um funcionário,<br />

que agrega todos os produtos numa única<br />

embalagem e, por fim, o estafeta leva a<br />

encomenda para casa do cliente, num percurso<br />

célere e de poucos quilómetros.<br />

Se pensarmos bem, este parece ser o modelo<br />

de uma empresa de entregas normal, pelo<br />

menos nos grandes centros urbanos, mas há<br />

uma diferença. A magia para que tudo isto seja<br />

mais rápido está exatamente no local onde<br />

a encomenda é preparada: a Dark Store. Pelo<br />

nome, parece saída de um filme de terror, mas<br />

não! É o espaço que torna o Quick-Commerce<br />

possível. A Dark Store é, tal como qualquer<br />

outro sítio onde se localiza um supermercado,<br />

um armazém onde se encontram todos os<br />

produtos disponibilizados numa aplicação<br />

ou site, mas que não permite o atendimento<br />

ao público, e onde está presente apenas o<br />

profissional responsável por preparar todas<br />

as encomendas. Normalmente, situa-se numa<br />

zona residencial e com bons acessos, sendo<br />

precisamente todos estes motivos aliados<br />

que permitem o aceleramento do processo de<br />

preparação e permite a entrega em menos de<br />

15 minutos.<br />

Mas existem mais benefícios, que vão da<br />

rapidez. O recurso a estas plataformas permite<br />

ainda um menor desperdício de produtos, já<br />

que a oferta existente é adaptada em função<br />

dos itens mais procurados pelos consumidores.<br />

Ao contrário dos supermercados, onde a<br />

quantidade reina, este novo modelo de negócio<br />

concentra-se em tipos específicos de produtos,<br />

permitindo um controlo mais apertado sobre<br />

alimentos perecíveis, como alimentos frescos, e<br />

uma gestão mais eficiente do inventário.<br />

Agora que já sabe o que é o Quick-Commerce,<br />

ou assim espero após este artigo, vale a<br />

pena pensar sobre o seu futuro, que, a meu<br />

ver, espelha-se brilhante, impactando todo o<br />

universo do retalho. A expectativa é que um<br />

comércio online cada vez mais rápido permita<br />

entregar em minutos mais e mais produtos, que<br />

irão muito além dos essenciais. Uma extensão,<br />

um cabo elétrico de vários tipos, um telemóvel<br />

de última geração – quase tudo será possível<br />

receber em casa, até mesmo produtos de<br />

segmentos ditos mais tradicionais. Vejo que<br />

isto, certamente, impactará atores dos mais<br />

diversos setores, desde o retalho, à distribuição,<br />

passando mesmo pela logística, sendo que<br />

todos estes terão o desafio de se reinventarem,<br />

de forma a acompanharem o que será o futuro<br />

do consumo rápido e cómodo, respondendo às<br />

preferências dos atuais e futuros clientes.<br />

Indo mesmo além da vertente económica,<br />

acredito que o Quick-Commerce terá um<br />

papel de extrema importância na construção<br />

das cidades inteligentes, através das novas<br />

tecnologias que utiliza para tornar a maioria<br />

dos processos de encomenda e entrega de<br />

bens mais rápidos, cómodos e sustentáveis<br />

para empresas e consumidores, bem como<br />

melhorando do início ao fim a experiência de<br />

compra destes últimos. Tudo isto, tornará as<br />

cidades mais ágeis e interligadas, de um ponto<br />

ao outro, mas em minutos, e à distância de um<br />

clique.<br />

Assim, acredito que o tão rápido tempo do<br />

Quick-Commerce nos permitirá a todos ganhar<br />

mais tempo, mas uma coisa é certa: sei que não<br />

teremos de esperar muito tempo para ver o que<br />

se segue. •


78<br />

JUNHO <strong>2022</strong><br />

O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />

“Uma filosofia de sucesso mais gentil”<br />

Ideas worth spreading, TEDGlobal2009,<br />

Alain de Botton, 9 millhões de visualizações<br />

No que diz respeito às nossas carreiras, há um hiato entre o que queremos e o que temos. Já é mau não se ter<br />

o que se quer, pior é ter uma ideia do que se quer, e no fim chegar à conclusão de que não era nada disso.<br />

Alain de Botton desafia-nos a analisar se a nossa ideia de sucesso é mesmo nossa, ou se nos foi incutida,<br />

seja pelos nossos pais, seja pelos instrumentos da sociedade de consumo em que vivemos.<br />

Algo que é único no nosso tempo, em relação<br />

a qualquer outra época da humanidade, é que<br />

nos adoramos a nós mesmos. Os nossos heróis<br />

modernos são seres humanos, de carne e osso,<br />

em vez de criaturas míticas, deuses, espíritos<br />

ou forças da natureza, como antigamente. Este<br />

paradigma cria-nos um desafio adicional, que é o<br />

de que temos a total responsabilidade por tudo o<br />

que nos acontece, bom ou mau. Leva-nos também<br />

a procurar a Natureza, não necessariamente por<br />

questões de saúde, como racionalizamos, mas<br />

para fugirmos a esta intensa e sempre presente<br />

“humanidade”, à competição intensa e aos dramas<br />

humanos.<br />

Na nossa sociedade actual, a nossa carreira<br />

define-nos. Conforme o que fazemos é mais ou<br />

menos valorizado pelos outros, assim somos mais<br />

ou menos bem-sucedidos. O dinheiro e a fama<br />

são a medida do sucesso, e criando um mundo<br />

materialista. Alain de Botton propõe uma visão<br />

alternativa, em que não é pelos bens de consumo<br />

que ansiamos, mas pelo reconhecimento social<br />

que eles trazem, na proporção directa do seu<br />

valor percepcionado. Nesta perspectiva, o dono<br />

dum Ferrari deveria suscitar muita simpatia e<br />

carinho.<br />

Na realidade, a ideia de que vivemos numa<br />

meritocracia, em que qualquer pessoa com<br />

suficiente energia, competências e talento pode<br />

chegar ao topo, gera mais inveja do que amor.<br />

Segundo Alain de Botton, este sentimento surge<br />

devido ao pressuposto de igualdade ser falso,<br />

porque há demasiados factores aleatórios que se<br />

impõem. É aqui que um outro recurso em desuso<br />

se revela útil, nomeadamente a arte e o teatro. As<br />

tragédias gregas, por exemplo, permitiam tratar<br />

com dignidade os que perdiam, que não eram<br />

reduzidos a descartáveis “perdedores”, porque<br />

eram simplesmente desafortunados. Hoje em dia,<br />

a comunicação social procura, e é procurada, para<br />

julgar e ridicularizar aqueles que perdem estatuto<br />

e controlo. A premissa é que, se dominamos o<br />

nosso destino, como acreditamos, merecemos<br />

tudo de mau que nos acontece.<br />

Não podemos ter tudo o que queremos, por<br />

isso temos de aceitar que vamos sempre perder<br />

nalguma área. A sabedoria vem de reconhecermos<br />

que a justiça absoluta é algo que merece ser<br />

ambicionado, mas objectivamente é impossível de<br />

alcançar.<br />

Alain de Botton é de origem suiça, falando<br />

fluentemente francês, alemão e inglês. Estudou<br />

História na Universidade de Cambridge e Filosofia no<br />

King’s College em Londres, tendo-se depois dedicado<br />

a escrever sobre diversos temas contemporâneos, em<br />

vários livros que foram “best-sellers”.


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