13.12.2022 Views

flipBOOK_CONCESSÃOITABIRAIRON_EDFACSIMILE_NOV22_compressed

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.


A Concessão

Itabira Iron

Edição Fac-símile 2022

[ A origem da Vale e os primórdios da

indústria da mineração no Brasil ]

Clodomiro de Oliveira

Belo Horizonte

2022



Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Oliveira, Clodomiro de

A concessão de Itabira Iron / Clodomiro de

Oliveira. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG :

AMIG, 2022.

ISBN 978-65-999015-0-8

1. Companhia Vale do Rio Doce - História

2. Itabira Iron Company - História 3. Siderurgia -

Brasil - História I. Título.

22-132412 CDD-622.06081

Índices para catálogo sistemático:

1. Companhia Vale do Rio Doce : Mineração : Brasil :

História 622.06081

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

https://www.amig.org.br/

Diretoria - Mandato 2021 / 2023

PRESIDENTE

- José Fernando Aparecido de Oliveira

Prefeito de Conceição do Mato Dentro-MG

Todos os direitos reservados

VICE-PRESIDENTE

- Josemira Raimunda Diniz Gadelha | Prefeita de Canaã dos Carajás-PA

DIRETOR DE NÃO FERROSOS

- Marco Aurélio Rabelo Gomes | Prefeito de Pains-MG

DIRETOR DOS MUNICÍPIOS AFETADOS

- André Luiz Coelho Merlo | Prefeito de Governador Valadares-MG

DIRETOR FINANCEIRO

- Orlando Amorim Caldeira | Prefeito de Itabirito-MG

DIRETOR ADMINISTRATIVO

- João Marcelo Dieguez Pereira | Prefeito de Nova Lima-MG

DIRETOR DE MEIO AMBIENTE

- Marco Antônio Lage | Prefeito de Itabira-MG

CONSELHO FISCAL

- Avimar de Melo Barcelos | Prefeito de Brumadinho-MG

CONSELHO FISCAL

- Raimundo Nonato de Barcelos | Prefeito de São Gonçalo do Rio Abaixo-MG

CONSELHO FISCAL

- Igor Pereira dos Santos | Prefeito de Paracatu-MG

PRESIDENTE DE HONRA DA AMIG

- Vitor Penido de Barros

Corpo Administrativo AMIG:

Gerente Administrativa - Stael Gomes

Departamento de Economia - Luciana Portela Mourão

Departamento de Comunicação - Camila Freitas

Departamento Financeiro - Fabrícia Félix

Administrativo - Samira Otoni

Serviços gerais - Maria Vaneuza Fonseca Reis

Consultores AMIG:

Assessoria de ReIaçoes Institucionais e

Desenvolvimento Econômico - Waldir Salvador

Assessoria Ambiental - Danilo Vieira Júnior

Assessoria de Comunicação – Cristina Pedrosa

Assessoria Jurídica - Rogério Moreira

Assessoria Tributária - Rosiane Seabra

Prefeituras Associadas da AMIG:

Alvorada de Minas - MG - Prefeito – Valter Antônio Costa

Barão de Cocais - MG - Prefeito – Décio Geraldo dos Santos

Belo Vale – MG - Prefeito – Waltenir Liberato Soares

Brumado - BA - Prefeito – Eduardo Lima Vasconcelos

Caeté – MG - Prefeito – Lucas Coelho Ferreira

Catas Altas – MG - Prefeito – Saulo Morais de Castro

Congonhas – MG - Prefeito – Claudio Antônio de Souza

Coronel Fabriciano –MG - Prefeito – Marcos Vinicius da Silva Bizarro

Crixás – GO - Prefeito – Carlos Seixo de Brito Júnior

Desterro de Entre Rios – MG - Prefeito – José Walter Rezende Aguiar

Diamantina – MG - Prefeito – Juscelino Brasiliano Roque

Dom Joaquim – MG - Prefeito – Geraldo Adilson Gonçalves

Doresópolis – MG - Prefeito – Eliton Luiz Moreira

Franciscópolis – MG - Prefeito – Nilton dos Santos Coimbra

Itambé do Mato Dentro – MG - Prefeita – Cleidileny Aparecida Chaves

Itatiaiuçu – MG - Prefeito – Adelcio Rosa de Morais

Itaúna – MG - Prefeito – Neider Moreira de Faria

Jeceaba – MG - Prefeito – José Donizete Almeida Maia

Mariana – MG - Prefeito – Ronaldo Bento

Mário Campos – MG - Prefeito – Anderson Ferreira Alves

Morro do Pilar – MG - Prefeito – José de Matos Vieira Neto

Nobres – MT - Prefeito – Leocir Hanel

Nazareno – MG - Prefeito – José Heitor Guimarães de Carvalho

Ouro Preto – MG - Prefeito – Ângelo Oswaldo de Araújo Santos

Piracema – MG - Prefeito – Wesley Diniz

Porteirinha – MG - Prefeito – Juraci Freire Martins

Prados – MG - Prefeito – Lester Rezende Dantas Júnior

Rio Acima – MG - Prefeito – Felipe Gonçalves Santos

Santa Bárbara – MG - Prefeito – Alcemir José Moreira

São Tiago – MG - Prefeito – Alexandre Nonato Almeida Vivas

Sarzedo – MG - Prefeito – Marcelo Pinheiro do Amaral

Serro – MG - Prefeito – Epaminondas Pires de Miranda

Taquaraçu de Minas – MG - Prefeito – Marcílio Bezerra da Cruz

Volta Redonda – RJ - Prefeito – Antônio Francisco Neto



Aviso ao leitor:

Para localizar os assuntos abordados

na edição original, o leitor deverá encaminhar-se

para os fac-símiles do

índice situado a partir da página 35 da

presente edição.

Identificando o número da página

correspondente ao conteúdo de interesse,

deverá encontrá-lo adiante, no

canto superior das próprias páginas

fac-similadas, como indicado abaixo:

. . . SUMÁRIO . . .

Prefácio para a Edição Fac-símile 2022

Pág. 06

Apresentação

Pág. 07

Sobre o autor

Pág. 27

Fac-símiles

Pág. 31

Índice original dos fac-símiles

Pág. 35

(Localização da paginação original dos fac-símiles, conservada sua série sequencial e progressiva)



Prefácio para a Edição Fac-símile 2022

O resgate de um livro fundamental e quase

centenário, até agora relegado ao esquecimento,

tornou-se um dever para a Associação

de Municípios Mineradores de Minas Gerais e

do Brasil - AMIG.

Ao cumprir a tarefa igualmente histórica, a

AMIG oferece ao caloroso debate da atualidade

um documento no qual emerge toda a trajetória

da mineração ferrífera nos primeiros

decênios do século que passou. Luta, resistência,

polêmica, tudo transcorre como uma prévia

dos dias de hoje.

Instrumento capaz de informar e sustentar,

iluminar e elucidar questões cruciais da exploração

das jazidas de ferro em Minas Gerais

e no Brasil, essa obra clássica do professor e

homem público mineiro, Clodomiro Augusto

de Oliveira, fica dessa forma acessível aos que,

como ele, defendem os interesses superiores

do Estado e da Federação em campo minado

pelo entrechoque de objetivos.

Por sobre as mais intensas pressões, o secretário

de Estado e ministro do presidente Artur

Bernardes parece tocado pelo ardor que levou

o jovem engenheiro inconfidente José Álvares

Maciel Filho, degredado da África em 1792,

a fazer em Angola a fábrica de ferro que sonhou

implantar em Minas Gerais. Clodomiro

de Oliveira defende os interesses públicos, ao

professar sua fé na capacidade empreendedora

dos mineiros e brasileiros, na luta contra a

Itabira Iron e na aurora da criação da Companhia

Vale do Rio Doce pelo presidente Getúlio

Vargas.

A fim de assinalar os 80 anos da instituição da

empresa nacional privatizada em 1997, a AMIG

renova seu compromisso com a mineração

compatível com o efetivo desenvolvimento social,

econômico, cultural e ambiental do país.

As lições de Clodomiro de Oliveira, antigo diretor

da Escola de Minas de Ouro Preto – inaugurada

em 1876 para alavancar a mineração e

a siderurgia no país – estão presentes como

um convite ao exercício da nossa consciência

crítica e a renovação da crença no destino do

Brasil.

Apresentação

José Fernando Aparecido de Oliveira

Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Marco Antônio Lage

Conselho Editorial AMIG



Apresentação 11

A Concessão Itabira Iron

O nascente nacionalismo mineiro

A história da exploração do minério de ferro

nas ricas jazidas de Minas Gerais encontra no

livro “A concessão Itabira Iron”, publicado em

novembro de 1934 pelo mineralogista Clodomiro

Augusto de Oliveira, professor e diretor

da Escola de Minas de Ouro Preto no biênio

1930/31, um ilustrativo e paradigmático relato

dessa atividade em Minas Gerais no período

compreendido entre a década inicial do Século

XX até 1942, quando é criada a então Companhia

Vale do Rio Doce, por ato do presidente

Getúlio Vargas.

O livro decorre de explanação elaborada por

Clodomiro de Oliveira, solicitada pelo então

governador Artur Bernardes, de quem era secretário

de Agricultura, Comércio, Indústria e

Viação, a propósito da Lei 3.391, de 5 de janeiro

de 1920. Esse ato concedia à Itabira Iron Ore

Company várias autorizações para explorar o

minério de ferro, utilizar e ampliar a Estrada

de Ferro Vitória a Minas, usar instalações para

um porto de embarque e desembarque de

produtos da mineração em território mineiro

e “facilitar e auxiliar a fabricação de ferro e

aço, sem encargos para o Tesouro”. Refere-se

também à Autorização, dada pelo ministro da

Viação e Obras Públicas, em 11 de maio de 1920,

no governo de Epitácio Pessoa, às iniciativas

propostas pela Itabira Iron. Clodomiro de Oliveira

se mostra contrário aos favores concedidos

à empresa, com extensos e minuciosos

argumentos e dados técnicos e econômicos,

os quais reuniu no livro divulgado mais tarde,

mas com enorme atualidade, uma vez que as

questões que apresenta ainda hoje se fazem

presentes no debate sobre a mineração e a industrialização

mineira e brasileira.

Como secretário de Estado e ministro de Artur

Bernardes, governador de Minas Gerais

de 1918 a 1920, e presidente da República de

1923 a 1926, Clodomiro de Oliveira sustentou,

com apoio de professores da Escola de Minas

de Ouro Preto, instituições empresariais e opinião

pública, no exaustivo e precioso trabalho,

a justa aspiração dos mineiros pelo desenvolvimento

da siderurgia no Estado, atividade básica

para a diversificação e sustentação de um

parque industrial compatível com a riqueza

mineral e a busca de evolução econômica dos

mineiros.

Para os pesquisadores que se dedicam ao estudo

da mineração em Minas Gerais, o livro é

fonte histórica pedagógica, por seu conteúdo

referencial sobre as lutas mineiras a fim de

conseguir melhor retribuição pela exploração

do seu rico solo, tema que se estende aos nossos

dias. Por outro lado, a publicação permite

relembrar as iniciativas históricas da implantação

em Minas da indústria siderúrgica.

Por quase toda a sua extensão, a Serra do Espinhaço

é ferrífera e aurífera, e foi, nos anos

iniciais da ocupação territorial mineira, referência

de caminhos de penetração. No debate

histórico sobre a exploração mineral do Estado,

é significativo lembrar que, por todo o Século

XVIII, portugueses e ingleses usufruíram

do ouro e dos diamantes de Minas Gerais, estes

intensamente explorados a partir de 1726,

na região de Diamantina. No século XIX, com

a abertura econômica aos ingleses, a partir de

1808 instalaram-se em Minas Gerais 18 minas

de ouro, em sua quase totalidade com capitais

ingleses, já com exploração pelo capitalismo

industrial mecanizado, sendo as mais conhecidas

Morro Velho, Passagem de Mariana,

além de algumas minas na região de Barão de

Cocais.

O livro compreende o período de 1908, quando

se inicia a presença de capitais ingleses em

Itabira, até a década de 1930, quando ocorre,

em escala ampliada, a compra de imensas glebas

de terra com reservas de minério de ferro

por capitais estrangeiros. Mas, desde então, as

negociações com o Governo de Minas condicionavam

a liberação à implantação da indústria

siderúrgica no Estado, aspiração que se

torna mais contundente pelas posturas do governador

e presidente Artur Bernardes e seu

secretário e ministro Clodomiro de Oliveira.

Desde os anos finais do Século XIX, a Escola

de Minas de Ouro Preto exerce um novo protagonismo

nas discussões que tratam dos ciclos

do minério de ferro e da siderurgia no desenvolvimento

mineiro e brasileiro, com manifestações

da sua Congregação, professores e

alunos. O professor Clodomiro de Oliveira, no

livro “A concessão Itabira Iron”, apresenta à

História Econômica de Minas Gerais um relato

com significados e referenciais de imenso

valor. E que se revelam interessantes e oportunos,

também, para a atualidade dos debates

que se travam sobre o momento econômico vivido

por Minas Gerais quanto à exploração das

reservas de minério de ferro e as interrelações

dessa atividade com a preservação ambiental,

especialmente após os desastres de Mariana e

Brumadinho. Essa discussão retoma e alimenta

as iniciativas que reivindicam maiores compensações

econômicas e sociais para o Estado

e os municípios mineradores.

Como parte do seu esforço pela industrialização

mineira, é significativa a conduta do governador

Artur Bernardes, que, aproveitando

a presença no Brasil do rei Alberto, da Bélgica,

o convida a vir a Minas Gerais. No dia 2 de

outubro de 1920, o rei Alberto e a rainha Elisabeth

são recebidos com todas as pompas e

cerimônias e cumprem um extenso programa

de visitas. Como resultado da sua presença em

Minas, vem ao Estado, em 1921, uma missão

da Arbed (Aciéries Réunis de Butbach-Eich-

-Ouderlange), de Luxemburgo, que inicia conversações

para a criação da Companhia Belgo-Mineira,

em associação com os ex-alunos

de Ouro Preto, Cristiano Guimarães e Amaro

Lanari, os quais, em 1917, já haviam criado a

Companhia Siderúrgica Mineira, em Sabará.

Esse fato representa exemplo histórico da exploração

mineral, em grande escala, pelo capital

estrangeiro, mas com investimento na indústria

de transformação no Estado, questão

básica que a distingue da exploração mineral

sem investimento.

A Belgo Mineira, com avanços tecnológicos na

produção de ferro, exercerá uma crescente e

influente participação no mercado siderúrgico

brasileiro, investindo também numa nova

siderúrgica em João Monlevade, inaugurada

por Getúlio Vargas em 1935.

Outras tentativas de fabricação do ferro em

Minas, ainda no período colonial, merecem

ser lembradas para registro histórico do esforço

mineiro pelo aproveitamento de sua riqueza

mineral. Em 1808, Carta Régia de Dom

João VI atribuiu a Manoel Ferreira da Câmara

Bettencourt e Sá, o famoso Intendente Câmara,

o encargo de instalar uma fábrica de ferro,

em Morro do Pilar, na Serra do Cipó, pioneiramente

no Brasil. Essa fábrica operou por pouco

mais de dez anos. O Barão de Eschwege, em

1812, implantou em Congonhas do Campo a

Fábrica Patriótica, também com duração dificultada

por insuficiência de meios para sua

continuidade. As edificações remanescentes

da Patriótica foram tombadas pelo IPHAN em

1938 e permanecem preservadas. Os projetos

de Morro do Pilar e, em São Paulo, de São João

de Ipanema, nasceram antes, mas a Fábrica

Patriótica terá sido a primeira a funcionar,

conseguindo uma produção regular e em escala

comercial. Por seu pioneirismo, merecem

lembrança também a Usina Esperança, instalada

em 1888, em Itabirito, por Alberto Gerspacher

e Carlos da Costa Wigg, e em Miguel

Burnier, Distrito de Ouro Preto, também por

Wigg e José Gerspacher, filho de Alberto Gerspacher,

ambas em funcionamento até hoje. A

história registra a existência em Minas, já nos

anos finais do Século XVIII, de pequenas ferrarias

e forjarias para a produção de instrumentos

mais rudes de trabalho.

A corrida internacional pelo minério de ferro

As reservas de minério de ferro do Estado já

vinham despertando especial interesse internacional,

em razão do desenvolvimento da

indústria siderúrgica, desde os anos finais do

Século XIX. Esse interesse é estimulado e ampliado

pela realização, em 1911, em Estocolmo,



12 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 13

do XI Congresso Internacional de Geologia,

patrocinado pelo então presidente dos EUA,

Theodore Roosevelt, em que foram apresentadas

e avaliadas as principais reservas de minério

de ferro do mundo. O objetivo do Congresso

era “fazer um diagnóstico minucioso das reservas

de minério de ferro em escala mundial,

para atender, obviamente, aos interesses estrangeiros

das grandes economias europeias e

norte-americanas”. 1

Formado nas primeiras turmas da Escola de

Minas, Gonzaga de Campos apontou as jazidas

de minério de ferro existentes ao longo da Serra

do Espinhaço, em meio às vertentes do Rio

Doce e seus inúmeros afluentes, a Oeste, e os

rios das Velhas, Paraopeba e São Francisco, a

Leste. Estimava as reservas em 3 bilhões de toneladas,

“com alto teor de ferro e com proporção

de fósforo notavelmente baixa”. 2 O estudo

indicava localização e dimensões das jazidas.

Essa divulgação não tinha, à época, conotação

de ato negativo para os interesses do Brasil.

Era uma providência vista como missão institucional

do recente Serviço Geológico e Mineralógico

do Brasil.

Compilados e publicados os dados levantados

pelos organizadores do Congresso de Estocolmo,

o Brasil foi citado como possuidor

das “maiores reservas de minério de ferro do

mundo”. Em meio às movimentações internacionais

provocadas pela notícia, seguiu-se

uma corrida às regiões mineiras detentoras de

jazidas.

Gonzaga de Campos, já no seu relatório apresentado

em Estocolmo, informa que, embora

1 JUNQUEIRA, Thaís Lanna. O destombamento

do Pico de Itabirito: paisagem, patrimônio

e mineração. 2019. 195 p. Dissertação de Mestrado

apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável

(PACPS) da Universidade Federal de Minas Gerais,

como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre

em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável.

Belo Horizonte, 2019.

2 OLIVEIRA, Clodomiro de. A concessão Itabira

Iron. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1934.

fossem “excepcionais as jazidas de minério de

ferro”, era “grande a deficiência de carvão mineral,

essencial à transformação siderúrgica”.

O carvão mineral é inexistente em Minas Gerais

e, posteriormente, vai gerar grandes discussões

quanto à implantação da indústria siderúrgica,

obrigada a importar carvão mineral

principalmente do Sul do Brasil, e a usar o carvão

vegetal, acarretando imensa devastação

de florestas naturais do Estado, nas décadas de

60 e 70 do século passado, motivo de contestações

e debates veementes por longo período. O

tema já é abordado, com dados e informações

técnicas, pelo professor Clodomiro de Oliveira,

a propósito da implantação da indústria siderúrgica

em Minas Gerais.

Dirá Clodomiro de Oliveira, com o apoio de

seus colegas da Escola de Minas, já com viés

nacionalista, “que os caçadores de jazidas de

minérios visam tão somente as exportações

para o fim especial de abastecimento das

grandes usinas de que são representantes”. E

acrescenta: “São os produtos do trabalho mecânico,

e não os nossos recursos naturais, com

suas boas ou e más qualidades, que devem ir

para os mercados, porque a melhoria das condições

industriais somente pode vir da expansão

das manufaturas”.

É significativo registrar que as jazidas de Minas

apresentavam teores elevados de ferro, fator

que também alimentou a cobiça de investidores.

O teor das minas de Itabira, do Pico do

Cauê, alcançava 68% de ferro, um dos maiores

teores do mundo. Hoje, estão sendo exploradas

jazidas de itabiritos, minérios com menos

de 40% de teor de ferro, aproveitados com a

sua redução em “pelletz”, pelotas excluídas de

impurezas de terra e areia, com grande valor

no mercado internacional, mas que elevam

bastante a geração de rejeitos acumulados em

barragens implantadas junto às minerações.

Na sua justificativa pela opção pela siderurgia,

diz Clodomiro de Oliveira que, “dentre os

recursos naturais de um país, o que intervém

poderosa e fortemente sobre o seu desenvolvimento

econômico é o que se refere ao seu

recurso em minério de ferro, cuja utilização é

posta em valor pela indústria siderúrgica, que

o definirá como potência industrial e militar,

indústria que é o termômetro que dá o grau de

desenvolvimento de um povo e que é a alavanca

que move as sociedades”.

Já por volta de 1808, o engenheiro e empresário

inglês Murley Cotto, representando os

interesses dos capitalistas ingleses Banung

Bothers, Cecil Rhodes, E. Cassem, De Candolle

e C. Rotschild, adquiriu extensas terras em

Itabira, abrangendo o Pico do Cauê e as jazidas

contíguas de Conceição e Santana. Gonzaga

de Campos estimava em um bilhão as jazidas

de minério de ferro de Itabira, posteriormente

avaliadas em muito mais. Comprou também a

Fábrica do Girau, fundição, forjaria, mecânica

e pilagem de carvão e enxofre, pioneira nesses

campos. Logo após, foi organizado em Londres

o Brazilian Hematite Syndicate, um consórcio

formado por capitais interessados no minério

de ferro do Brasil. Esse grupo criou em 1911 a

Itabira Iron Company, destinada a explorar o

minério de ferro de Itabira.

É interessante a observação de que os estrangeiros,

com grandes programas exploratórios,

utilizavam técnicas de pesquisa e extração

nunca antes vistas na mineração brasileira.

E os trabalhos de pesquisa foram executados

sem qualquer participação de brasileiros, que

não tiveram oportunidade de tirar proveito

tecnológico do esforço empreendido. 3

Em meados de 1919, com dificuldades na organização

empresarial e na própria mineração,

Gordon Leith, representando os ingleses, foi a

Nova Iorque e, depois de contatos com a Berthlehem

Steel e a United States Steel, encontrou-se

com o empresário norte-americano

Percival Farquhar (1864/1953), que adquirira o

controle da Itabira Iron. Capitalista visionário

e polêmico, internacionalista, Farquhar terá

uma longa vida de realização de negócios nos

3 SILVA, Haroldo Zeferino. Comentário sobre:

The iron ores of Brazil. Revista Escola de Minas,

Ouro Preto, Escola de Minas, v. 63, n. 3, p. 481-482,

jul-set 2010.

EUA, na América Latina e no Brasil, tornando-

-se um empreendedor conhecido nos meios

financeiros e políticos brasileiros, com uma

atuação que incluiu a montagem da Light no

Rio de Janeiro, a construção do Porto de Belém,

a construção da famosa Estrada de Ferro

Madeira-Mamoré, a exploração da borracha

no Norte do Brasil e outros investimentos em

energia e ferrovias. Explorou, no Amapá, rica

jazida de manganês. Será ele quem, nas décadas

de 20, 30 e 40 do Século XX, manterá várias

conversações com autoridades dos governos

de Minas e do Brasil com relação à exploração

do minério de ferro de Itabira e as exigências

de investimentos na implantação de usina siderúrgica

no Estado a partir das jazidas de Itabira,

nunca efetivados pela Itabira Iron. 4, 5

Já em 1908, os diretores da Estrada de Ferro

Vitória a Minas foram procurados por grupo

inglês “que declarou possuir opção de compra

das jazidas da região do Pico de Itabira” e que

pretendia “exercer tal opção caso fosse possível

transportar o minério pela Estrada de Ferro

Vitória a Minas. 6, 7 A ferrovia avaliou a proposta

e, em 1909, concluiu que, se a linha fosse melhorada,

incluindo eletrificação, substituição

de trilhos, reforço de pontes etc., ela “poderia

transportar até três milhões de toneladas

anuais”.

Diante dessa resposta, o grupo inglês decidiu

organizar o Hematite Brazilian Syndicate, que

adquiriu, nesse mesmo ano, uma opção de

4 TEICH, Daniel Hessel. Percival Farquhar, o

internacionalista. O Estado de São Paulo, São Paulo,

6 mar 2005. Economia, p. B9.

5 GAULD, Charles. Farquhar, o último titã: um

empreendedor americano na América Latina. São

Paulo: Editora de Cultura, 2006.

6 PIMENTA, Dermeval José. O minério de ferro

na economia nacional: (o Vale do Rio Doce). Rio de

Janeiro: [Aurora], 1950.

7 BARROS, Gustavo. Geopolítica do minério

de ferro brasileiro no entreguerras. In: 18º SEMI-

NÁRIO DE DIAMANTINA, 2019, Diamantina. 18º

Seminário sobre a Economia Mineira. Anais. Belo

Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2019.



14 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 15

compra de 50% da Estrada de Ferro Vitória a

Minas (EFVT), que permitia o melhor acesso a

portos de exportação no Rio de Janeiro e Espírito

Santo. A Ferrovia possuía uma concessão

para o trecho Vitória-Peçanha-Diamantina,

e não para Itabira. Buscou-se, então, junto

ao governo federal, a alteração do seu roteiro

e a obtenção de garantias de novos aportes

financeiros para melhoria da ferrovia nos parâmetros

necessários à exportação do minério

de ferro.

O presidente Nilo Peçanha (junho de 1909

a novembro de 1910) não se opôs às pretensões

da Itabira Iron e aprovou o contrato, em

dezembro de 1909, autorizando a exportação

média de três milhões/ano de toneladas, entre

outras solicitações e autorizações solicitadas.

Mas apresentou solicitação de apoio ao desenvolvimento

da siderurgia no Brasil. Esse documento

será objeto, mais tarde, de inúmeros

debates e críticas, que questionavam dados e

informações apresentadas pela Itabira Iron.

O Brazilian Hematite Syndicate assumiu plenamente

suas funções no primeiro semestre

de 1910, com posse das jazidas de Itabira

e o controle da EFVM. O Syndicate foi, então,

incorporado por uma nova empresa, a Itabira

Iron Ore Company Limited, registrada em

Londres e que recebeu autorização plena para

atuar no Brasil em junho de 1911. A partir daí,

novos negócios foram incorporados à Itabira

Iron, especialmente pelo banqueiro Ernest

Casel, que já explorava minério de ferro na Suécia,

e o grupo Baring Brothers.

Essas liberações para os capitais ingleses,

com o início da exploração do minério de ferro

em escala empresarial, exclusivamente para

exportação, sem qualquer compensação ou

compromisso firme de investimento na siderurgia

no Brasil, provocam reações de caráter

nacionalista dos mineiros e de setores do governo

federal, inclusive do Estado Maior das

Forças Armadas Brasileiras, que se manifestaram,

mais de uma vez, em defesa de implantação

da indústria siderúrgica no Brasil.

A divulgação feita em Estocolmo, em 1910, provocou

a compra de várias jazidas mineiras em

tempo rápido. O professor Clodomiro de Oliveira

cita as seguintes aquisições: grupo inglês

representado pela Itabira Iron Ore Company,

adquiriu em Itabira as jazidas Conceição, Cauê

e Girão, já citadas; grupo americano, representado

pela Brazilian Iron and Stell, adquiriu

três jazidas em Itabira, as de Esmeril e Periquito,

em Rio Piracicaba, a do agudo e, em Mariana,

a de Alegria; grupo alemão, representado

pela Dentsch Luxemburgich Beyard InHutem,

adquiriu em Sabará jazida do Gaya e, em Bonfim,

a do Córrego do Feijão. O capital francês,

representado por três grupos diferentes, o da

Societé Civil des Mines de fer, representado

por Jules Bernard, Mathien Cia, adquiriu em

Bonfim as jazidas de Jangada, o grupo da Bracuhy

Falls adquiriu as jazidas de Nhotim e do

Mendonça, em Bonfim. A Sociedade Franco-

-Brasileira adquiriu em Itabira as jazidas do

Andrade.

Posteriormente, informa Clodomiro, a The

Saint John Del-Rey Gold Mining, que já operava

a Mina de Morro Velho desde 1832, em Nova

Lima, passou a comprar, por preços muito baixos,

terras em que ocorriam jazidas de ferro e

manganês, estendendo suas propriedades aos

municípios de Nova Lima, Raposos e Sabará,

numa grande extensão de terras, incluindo

a Serra do Curral, contígua a Belo Horizonte,

com a famosa jazida de Águas Claras, que viria

a ser explorada a partir de 1974 e hoje já esgotada.

Inicialmente modificando o perfil da Serra

do Curral, que define o horizonte sul de Belo

Horizonte, a exploração foi obrigada a minerar

somente na vertente sul da serra, após protestos

da opinião pública de Belo Horizonte. Essas

terras posteriormente passaram para o grupo

norte-americano Hanna Mining, que adquirira

a exploração do entorno do Pico do Itabirito

e a mina de ouro de Morro Velho. O grupo adquiriu

também jazidas da Serra da Moeda.

Toda essa imensa região, atualmente contígua

a vários núcleos urbanos, especialmente

Belo Horizonte, Nova Lima e Itabirito,

e muitos condomínios habitacionais,

está hoje intensamente explorada, com

vários conflitos ambientais e contestação de

entidades ambientalistas, debate acelerado e

ampliado, nos nossos dias, após os desastres

ambientais de Mariana e Brumadinho. Novas

solicitações de lavras encontram-se em discussão,

com oposição de condomínios próximos,

entidades ambientais e ações do Ministério

Público no encaminhamento de ações

judiciais.

A Vale adquiriu mineradoras, conseguiu novas

licenças e explorou novas jazidas desde a privatização

pelo governo do presidente Fernando

Henrique Cardoso, ocorrida a 6 de agosto

de 1997, por R$ 3,3 bilhões, mesmo com suas

jazidas sendo avaliadas em R$ 100 bilhões,

consolidando-se hoje como líder mundial na

exportação de minério de ferro. Afirma o professor

Clodomiro, no seu livro, que “o governo

de Minas viu assim que as importantes jazidas

de minério de ferro localizadas nas vertentes

dos rios das Velhas e Paraopeba, parte central

do Estado, como as da bacia do Rio Doce,

parte nordeste do Estado, estavam sendo ou

já tinham sido adquiridas por sindicatos estrangeiros,

aquisições que se justificavam no

objetivo de exportação de minério de ferro e

manganês”.

Previsão que o futuro viria a confirmar e que

se acelerou extraordinariamente nos últimos

20 anos, já no Século XXI, com a preferência do

mercado comprador internacional pelo minério

de Minas Gerais e a elevação do preço da

tonelada. Constituem fatos significativos, na

atualidade, no mercado de exploração mineral

em Minas Gerais, a evolução da tecnologia

de extração mineral, em velocidade e volume,

o gigantismo da Vale, líder na exploração brasileira,

seu domínio no transporte ferroviário

após a extinção da Rede Ferroviária Nacional

em 1986, e a chegada, muito recente, no território

mineiro, de outras empresas exportadoras.

Acrescente-se a recuperação e expansão

das siderúrgicas mineiras e a elevação do seu

consumo de minério de ferro.

Em maio de 1910, o presidente Nilo Peçanha

assinou o Decreto 8.019, concedendo favores

aos que se propusessem a montar no Brasil

empreendimentos siderúrgicos, especificado

os tipos de fornos de ferro-gusa, instalações

de refino, de laminação e seus produtos. A

decisão de Nilo Peçanha é considerada como

iniciativa em favor da siderurgia, mas também

criticada no sentido de que também concedia

privilégios à exportação do minério de ferro,

fretes subsidiados à exportação. Alguns historiadores

veem a iniciativa de Peçanha como

danosa ao Brasil, pois “entregava literalmente

aos interesses estrangeiros o mapa da mina

nacional” 8 , oferecendo estímulos em forma de

privilégios e subsídios aos capitais estrangeiros

e nacionais, facilitando a exportação. Mas

não adotou ações objetivas de apoio à implantação

da siderurgia no Brasil. Os benefícios

concedidos seriam transporte, redução de

fretes para matérias-primas, isenções e preferência

de consumo por estabelecimentos

públicos. O Decreto, no entanto, não produziu

resultados, e a ocorrência da Primeira Guerra

Mundial paralisou a decisão de novos investimentos.

O Governo do Estado de Minas Gerais editou

a Lei 553, de setembro de 1910, aumentando

o imposto de exportação sobre o minério de

ferro, mas permitindo que as primeiras usinas

siderúrgicas implantadas em Minas permanecessem

isentas por cinco anos de impostos,

isenção que poderia ser estendida à exportação.

Alguns investimentos foram feitos mas

não prosperaram nem produziram mudanças

substanciais na exportação. O período entre os

dois grandes conflitos mundiais foi marcado,

segundo vários depoimentos de estudiosos do

período, por confrontos e debates em torno da

Itabira Iron Ore Co. e sua atividade de exportação

de minério de ferro em grande quantidade,

debate que envolvia também o uso da

EFVM. O contrato inicial de concessão da ferrovia

previa que ela construísse uma diminuta

usina de 1.000 toneladas mensais, sem fixar

qualquer proporcionalidade entre a produção

8 WISNIK, José Miguel. Maquinação do mundo

– Drummond e a mineração. São Paulo: Cia das

Letras, 2018, p. 78.



16 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 17

e a exportação (Decreto 14.160, de 11.5.1920),

compromisso não realizado.

Percival Farquhar, em julho de 1919, encontrou-se

com Epitácio Pessoa, já eleito presidente

do Brasil, em Nova Iorque, apresentando

proposta de construção de uma estrada de

ferro, em condições técnicas especiais, ligando

Itabira ao porto de Santa Cruz, no Espírito

Santo, passando pelo Vale do Rio Doce, destinada

à exportação do minério. Propôs também

a implantação de uma usina siderúrgica com

carvão importado no frete de retorno do minério.

Seria uma usina com produção de 150.000

toneladas/ano de vergalhões, barras, chapas,

vigas, trilhos e perfilados. Epitácio, interessado

na proposta, e após vários entendimentos,

assinou o “Contrato Itabira”, em 1920.

Na verdade, reeditava proposta anteriormente

apresentada pela Itabira, com poucas modificações.

O contrato foi submetido ao governo

de Minas Gerais, que concordou com seus termos,

inclusive oferecendo redução no imposto

de exportação, mas reiterando a condição de

implantação de usinas siderúrgicas, em território

mineiro, com uso de pelo menos 5% do

minério de ferro exportado, obedecendo-se a

legislação anterior do Estado (Lei Estadual 533,

de 1910). O governo mineiro chegou a reeditar

a Lei 750/1919, com flexibilização de exigências,

com prazos maiores para isenção fiscal,

propondo vinte anos em lugar de cinco anos,

e uma menor proporção obrigatória entre a

produção e a exportação e redução do volume

a ser exportado. Farquhar, à frente da Itabira

Iron, tornou-se conhecido pelas tentativas de

expandir a empresa, mas sempre encontrando

resistências de caráter nacionalista, defensoras

do desenvolvimento no Brasil da indústria

siderúrgica, e não somente da exportação

do minério.

A geopolítica mundial, os ajustes posteriores

à Segunda Guerra Mundial, determinaram, no

entanto, modificações substanciais nos mercados

internacionais, com restrições especialmente

à Alemanha e a outros países, resultando

na criação da Comunidade Europeia do

Carvão e do Aço, em 1951.

O período Vargas

O livro do professor Clodomiro de Oliveira é

um parecer encomendado pelo governador

Artur Bernardes, do qual era secretário de

Estado, sobre o contrato de maio de 1920, em

que o presidente da República, Epitácio Pessoa

(1919/1922), propunha autorização para as

operações da Itabira Iron, conforme solicitado

por Percival Farquhar após encontro em Nova

Iorque, em 1919, com o novo presidente brasileiro.

Com vasta e detalhada argumentação,

técnica e econômica, em defesa do aproveitamento

industrial do minério de ferro para o

desenvolvimento da siderurgia mineira, Clodomiro

não só contesta as informações prestadas

pela Itabira Iron, como afirma que são

contrárias ao interesse de Minas Gerais, por

reforçarem as atividades de exportação. Discorre

também sobre o valor e atratividade das

jazidas de Itabira, por estarem concentradas

em extensão relativamente pequena e porque

a cidade seria o ponto terminal da Estrada de

Ferro Vitória a Minas, que atravessava o Vale

do Rio Doce.

Clodomiro não se opunha à exportação, mas

reiterava, como condição essencial, a implantação

da indústria siderúrgica no Estado, com

5% do minério extraído transformado em aço,

com um mínimo de 150 mil toneladas. Em 1923,

o governador Raul Soares também se recusará

a celebrar qualquer contrato com a Itabira

Iron, conforme solicitado por Percival Farquhar.

Uma última tentativa ocorreu em 1938,

quando havia caducado o contrato da Itabira

Iron, e Farquhar, em associação com capitais

brasileiros, criou a Companhia Brasileira de

Mineração e Siderurgia (CBMS), da qual detinha

47% das ações.

Em 1931, o presidente Vargas defendeu a nacionalização

das reservas minerais, editando

decretos que suspendiam a alienação ou

a oneração de qualquer jazida. Em 1934, a

Constituição Federal separou as propriedades

do solo e do subsolo, passando este novamente

para a propriedade do Estado. Nesse ano foi

criado o Departamento Nacional de Produção

Mineral (DNPM) e publicado o primeiro Código

de Minas, por meio do Decreto 24.642, que

criou um novo regime jurídico para as minas.

Em 1937, a Constituição outorgada do Estado

Novo de Vargas determinou que as concessões

de jazidas minerais dependeriam de

prévia autorização do governo federal e que

só poderiam ser concedidas a empresas brasileiras.

O Decreto-Lei 1.985, de 29 de março

de 1940, instituiu um novo Código de Minas,

estabelecendo que as minas não declaradas

até 1934 seriam de domínio público.

Em carta a Getúlio Vargas, a Congregação da

Escola de Minas afirmou que “é dever dos brasileiros

fazer com que uma riqueza tão considerável

como o minério de ferro do nosso solo

seja aproveitado ou exportado para melhoria

da nossa economia, nossas estradas e defesa

nacional, e não para beneficiar, quase que

exclusivamente, uma empresa estrangeira”.

Igualmente se manifestou a Sociedade Mineira

de Engenheiros, que apresentou ao governo

federal documento denominado “Siderurgia

Nacional e Exportação de Minério de Ferro”,

elaborado pelo professor Francisco Magalhães

Gomes, professor da Escola de Minas e posteriormente

da UFMG, e assinado por dezenas

de engenheiros, formalizando sua oposição à

Itabira Iron e em apoio à atuação do professor

Clodomiro de Oliveira. Propunha a criação de

uma usina siderúrgica, objetivo que seria alcançado

através do Decreto-lei 3.002, de 30

de janeiro de 1941, que autorizava a criação

da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta

Redonda, resultante do acordo entre o presidente

Vargas e os EUA e a Inglaterra como

parte do esforço de guerra. A CSN só foi inaugurada

em 1944. Dois anos antes, Getúlio determinara

a criação da Companhia Vale do Rio

Doce, em Itabira, com a incorporação das terras

e jazidas da Itabira Iron.

A discussão em torno da Itabira Iron termina

em 1939, quando o presidente Vargas decretou

o encerramento de quaisquer ajustes

com a empresa. Com o Decreto 1.507, Vargas

determinou a extinção do contrato assinado

em 1920, criando as condições para que o governo

brasileiro ficasse liberado para tomar

iniciativas para a implantação da siderurgia

no Brasil, em escalas elevadas e com capitais

públicos, mantendo a exportação de minério

de ferro, mas realizada por empresa brasileira.

Em 1942, determinou a desapropriação das

jazidas e demais propriedades da empresa em

Itabira, sendo o patrimônio incorporado à Vale

do Rio Doce.

O ato contou com aquiescência dos ingleses,

em troca do apoio ao “esforço de guerra”. Estados

Unidos e Inglaterra necessitavam do

minério brasileiro para suas indústrias siderúrgicas,

dedicadas à produção de armamentos

e outros usos do ferro também integrados

ao “esforço de guerra”. A nova companhia incorporou

também a Estrada de Ferro Vitória

a Minas, imprescindível para o transporte do

minério até o porto de exportação.

Com habilidade, pressionado também pela

opinião pública brasileira favorável à participação

do Brasil no combate às forças nazistas,

Vargas conduziu as negociações com os EUA e

a Inglaterra, incluindo envio à Europa da Força

Expedicionária Brasileira (FEB), concretizando

a participação do Brasil na Segunda Guerra

Mundial e o apoio econômico e financeiro às

iniciativas brasileiras, também de interesse

dos EUA e Inglaterra. O Brasil, ainda como parte

do acordo, permitiu a instalação de duas bases

americanas, em Recife e Natal, mais próximas

do Norte da África, onde os aliados (EUA,

Inglaterra e outros) combatiam o domínio alemão.

O Export-Import Bank, dos EUA, concedeu

financiamento, em condições favorecidas,

para a implantação da Companhia Siderúrgica

Nacional (CSN) em Volta Redonda, localização

definida pela Comissão Siderúrgica Nacional,

e que gerou protestos de mineiros e paulistas,

vencendo, no entanto, o argumento de que a



18 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 19

nova usina deveria ficar próxima ao mar. As

ações de Vargas decorrem dos Acordos de Washington,

firmados entre os Estados Unidos, a

Inglaterra e o Brasil, em 1942, cujo objetivo era

garantir, em um contexto bélico, “matérias-

-primas estratégicas para os Aliados”. Hoje, a

CSN retira minério de ferro de sua jazida situada

em Congonhas do Campo, em Minas

Gerais.

José Miguel Wisnik 9 diz que a Segunda Guerra

Mundial “ofereceu a Vargas a ocasião para

equacionar a questão mineração-siderurgia,

que se arrastava no impasse, com perspectivas

remotas, àquela altura, de encontrar a

solução no terreno da iniciativa privada. Assim,

foi pelas mãos do Estado que a querela

passou a ser conduzida”. Em seu livro sobre a

história da Vale do Rio Doce, que presidiu de

1946 a 1951, no Governo de Eurico Dutra, Demerval

Pimenta exalta a importância dos atos

praticados por Vargas: “Entre esses ajustes,

dois se destacaram, indubitavelmente, porque

viriam a permitir ao nosso país reincorporar

ao patrimônio nacional não só as poderosas

jazidas de minério de ferro de Itabira, pertencentes

à companhia estrangeira Itabira Iron

Ore Company, mas ainda encampar a Estrada

de Ferro Vitória-Minas, por ela controlada. As

jazidas e a exploração do minério passariam

a ser realizadas através de uma companhia

brasileira de economia mista. O Brasil iria exportar

sua riqueza mineral de acordo com as

conveniências nacionais, estreitamente entrelaçadas

com a colaboração amistosa dos

Estados Unidos e da Inglaterra”. 10

A evolução da mineração e da siderurgia

Por sua relevante atuação na expansão, modernização

e internacionalização da mineração

brasileira, merece reconhecimento o en-

9 WISNIK, José Miguel. Maquinação do mundo:

Drummond e a mineração. São Paulo: Companhia

das Letras, 2018.

10 PIMENTA, Dermeval José. A Vale do Rio Doce

& sua história. Belo Horizonte: Editora Vega, 1981.

genheiro Eliezer Batista, mineiro de Nova Era.

É reconhecido como o principal responsável

pela expansão e consolidação da Vale e sua

atuação internacional. Como engenheiro ferroviário,

ingressou na então Vale do Rio Doce

em 1949, atuando na modernização e expansão

da Estrada de Ferro Vitória a Minas e outros

trechos ferroviários. Presidiu a empresa

duas vezes, de 1961 a 1964, e de 1979 a 1986, e

foi ministro de Minas e Energia do Governo

de João Goulart, em 1961/1962. Desempenhou

diversas missões públicas nas áreas da mineração

e metalurgia, como também na gestão

de empresas brasileiras no exterior, especialmente

na Alemanha. Ampliou e modernizou o

Porto de Tubarão, principal embarcadouro de

minério da Vale nos nossos dias, foi o implementador

do Projeto Grande Carajás, que hoje

gera metade da produção de minério de ferro

da Vale, com maior competitividade de custos.

Criou, em 1968, a Rio Doce Internacional, com

sede em Bruxelas, na Bélgica. Desenvolveu

amplas relações internacionais e negociou

contratos de longo prazo com a Alemanha e

especialmente com o Japão, país com quem

mantinha relações comerciais com grande

credibilidade. Entre suas conquistas, está a

criação de rotas de transporte marítimo em

escala ampliada e internacionalmente competitiva.

Em 1956, Minas recebeu uma missão empresarial

do Japão que declarou o interesse japonês

de investir no Estado. Criaram-se, então,

as condições para o surgimento da Usiminas,

com participação acionária e tecnológica japonesa,

dos grupos Nippon Steel e Sumitomo

Metals Corporation. Lançada em 25 de abril de

1956, com 40% de capital japonês, foi inaugurada

em outubro de 1962. Em 2006, a Usiminas,

em nova associação com a Sumitomo,

investe em mineração própria, na região de

Serra Azul.

A Cosipa, em São Paulo, e a Usiminas resultam,

portanto, dos debates e iniciativas resultantes

da implantação da CSN em Volta Redonda.

A Cosipa receberia o minério de ferro através

da Vale do Rio Doce, usando o transporte

marítimo de Vitória até o Porto de Santos. A

CSN participou da formação do capital da Usiminas.

A Usiminas foi privatizada em 1997,

com capital compartilhado por vários grupos.

Em 2011, adquiriu seu controle acionário a Nippon

Steel e o grupo Ternium/Technint, integrado

por empresas italianas e argentinas. A

Cosipa, privatizada em 1993, passou em 2005

ao controle da Usiminas. Em 12 de agosto de

1954, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitscheck

inauguram a Companhia Siderúrgica Mannesmann,

com capital alemão, destinada à

fabricação de tubos sem costura, instalada no

Barreiro, bairro de Belo Horizonte. Em 2007 a

Mannesmann associou-se à Vallourec, com

participação da Sumitomo Metals, na implantação

de nova unidade industrial em Jeceaba,

próximo a Congonhas do Campo, denominada

Mannesmann & Valourec Tubes.

Percival Farquhar, com o recurso recebido com

a desapropriação da Itabira Iron, associou-se

a dois engenheiros de minas, formados em

Ouro Preto, Amintas Jacques de Morais e Athos

de Lemos Rache, e fundaram a Companhia

Brasileira de Mineração e Siderurgia, Acesita,

destinada a produzir aços especiais, inoxidáveis

e siliciosos, que se localizou em Timóteo,

no Vale do Aço, próximo a Coronel Fabriciano,

Ipatinga, Nova Era e Itabira. Em 1952, o Banco

do Brasil assumiu a Acesita e, em 1998, seu

controle acionário passou à Usinor, empresa

francesa que, em fevereiro de 2002, fundiu-se

com o Grupo Arcelor, da Espanha, e o Grupo

Arbed, de Luxemburgo. O grupo Arcelor se associará

ao conglomerado indiano Mittal Steel

Company, passando a formar a Arcelor-Mittal.

Em 1986, implantou-se em Ouro Branco a

Açominas, hoje pertencente ao Grupo Gerdau,

resultante de amplo movimento das entidades

empresariais de Minas que defendiam a instalação

de uma siderúrgica integrada, produtora

de aços planos e não planos. A Gerdau possui

duas siderúrgicas menores, em Barão de Cocais

e Divinópolis, e adquiriu também a Siderúrgica

Mendes Júnior, de Juiz de Fora, iniciativa

do Grupo Mendes Júnior, de Belo Horizonte.

Uma associação entre a Vale e a empresa anglo-australiana

BHP Billiton, as duas maiores

mineradoras do mundo, possibilitou a ampliação

da exploração do minério de ferro nas

regiões de Mariana, Catas Altas e Ouro Preto.

A BHP incorporou a Marcona Corporation,

especialista na concentração e pelotização

de minério de baixa qualidade, conseguindo

concentração de até 84% de ferro, com grande

valor no mercado internacional. As duas

adquiriram a Samarco Mineração, criada em

1977 com a absorção da Samitri (Mineração da

Trindade), detentora das jazidas do Complexo

Alegria. A Samarco explora as imensas jazidas

da região, concentradas na Mina do Germano,

servida por estrada de ferro da Vale, que liga a

região a Anchieta, no Espírito Santo. A Samarco

possui quatro usinas de pelotização para

concentração do minério de menor qualidade

junto à mineração, e mais quatro em Ubu, no

Espírito Santo, dispondo também de minerodutos

para transporte da mina ao porto. Os

“pelletz”, pelotas, resultantes da concentração,

têm valor bastante mais elevado no mercado

consumidor, nacional e internacional, mas

sua operação gera quantidades maiores de rejeitos

nas barragens de contenção.

Merecem registro, por sua localização, importância

histórica e repercussões contemporâneas,

as atividades de mineração na região de

Itabirito e Nova Lima. Em 1938 uma subsidiário

da Saint John del Rey Mining Company, a Cia

de Mineração Novalimense, iniciou a exploração

da Serra de Itabirito, em escala industrial,

atuando nas ricas jazidas em torno do famoso

Pico de Itabirito e da antiga mina de ouro da

Cata Branca. A Saint John del-Rey, de capital

inglês, começou explorando ouro em São João

del-Rey e, em 1832, adquiriu a Mina de Morro

Velho, em Nova Lima. A partir da inauguração

de Volta Redonda, a mina do Pico forneceu

minério para a nova siderúrgica. Nessa ocasião,

os direitos minerários do Pico estavam

arrendados à Sociedade Usina Queiroz Júnior,

proprietária da Usina Esperança, de Itabirito.

A partir de 1943, seus direitos passaram à Sociedade

Indústria e Comércio de Minério Ltda.,

posteriormente renomeada Icominas e, mais



20 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 21

tarde, reestruturada como Minerações Brasileiras

Reunidas (MBR), já pela empresa Caemi,

que surgiu em 1949, e associou-se à Hanna

Mining Company, dos EUA. Icominas e Caemi

pertenciam ao empresário brasileiro Augusto

Trajano de Azevedo Antunes, sempre ligado

aos capitais estrangeiros, o que gerou resistência

e severas criticas à sua atuação, protestos

nacionalistas pelo “entreguismo” ao capital

internacional, críticas na imprensa e reação de

parlamentares. A Hanna Mining, condenada

pela opinião pública e por protestos políticos

e parlamentares, reprovada pelos seus atos de

mera exploração capitalista, acabou retirando-se

de Minas Gerais.

Os primeiros anos do regime militar implantado

em 1964 são chamados de “período áureo

da mineração”, em razão da simplificação e

mesmo eliminação de restrições burocráticas

e legais, permitindo uma maior abertura de

mercado para mineradoras estrangeiras em

associação com empreendedores brasileiros.

O novo Código de Minas, de 1967, estimulou o

crescimento de investimentos estrangeiros e

nacionais. O setor público investiu em infraestrutura,

geração de energia, transporte e disponibilidade

de recursos naturais preciosos,

inclusive fontes de água. Destaca-se, como

parte do “milagre econômico”, propalado pelo

regime militar, a implantação da Ferrovia do

Aço, com traçado inicial de Itabirito a Barra

Mansa, no Rio de Janeiro, que ficou inconclusa

e foi ampliada com investimentos particulares,

servindo à mineração do Quadrilátero

Ferrífero mineiro. Hoje pertence à Vale e suas

empresas ferroviárias, quase totalmente dedicadas

ao transporte de minério de ferro.

A possibilidade de a Icomi dinamitar o Pico

de Itabirito, denunciada como uma pretensão

anunciada, gerou protestos não só da população

de Itabirito, mas de defensores do ambiente

e do patrimônio natural e geográfico. O

Pico, conforme relatos dos primeiros anos da

ocupação territorial de Minas Gerais, serviu de

referência e orientação geográfica para bandeirantes

e viajantes. Por sua altitude, é visto

de longa distância e é considerado “paisagem

natural notável” por sua imponência e marcante

presença no horizonte de vasta região.

Distante 55 km de Belo Horizonte, de evidente

simbolismo para Itabirito, entre as rodovias

BR-356 e BR-040, em um dos braços da Serra

da Moeda, com altitude de 1.560 metros, é uma

“cobiçada montanha de ferro”, formada por

hematita compacta e valiosa no mercado de

exportação.

A história do Pico do Itabirito é pedagógica e

exemplar quanto à resistência à destruição de

patrimônios naturais pela mineração. O Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN), após longas discussões e pareceres,

em ato realizado no dia 15 de junho de 1962,

tombou o Pico (inscrito nos Livros do Tombo,

IPHAN, pág. 50) para evitar sua destruição,

atendendo a solicitações da comunidade de

Itabirito e de defensores do meio-ambiente,

da geografia e da cultura mineiras e propostas

de integrantes do Conselho Deliberativo

do Instituto, integrado por personalidades do

meio cultural brasileiro. Alegava-se, em pareceres

técnicos aprovados pelo IPHAN, a sua

excepcionalidade como monumento natural e

”paisagem notável”, por sua distinta e marcante

visibilidade e presença nos primitivos relatórios

históricos de viajantes, os primeiros a

ocupar o território mineiro no princípio do Século

XVIII. Mas, novamente por influência de

Trajano Antunes junto aos militares e graças

ao apoio que prestou ao golpe militar de 1964,

em 1965 foi destombado, em decisão autoritária,

sem maiores explicações e consultas, por

ato sumário do então ocupante da Presidência

da República, general Humberto Castelo Branco,

que aceitou argumentos das mineradoras

inglesa e norte-americana (Despacho de 8 de

junho de 1965, Diário Oficial da União).

Em 1988, os constituintes mineiros inscreveram

na Constituição Estadual, vigente a partir

de 1989, o tombamento do Pico, tendo o Instituto

Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico,

obedecendo a determinação constitucional,

realizado a inscrição do Pico nos livros

do Tombo. Em 1986, em carta ao IPHAN, a mineradora

do Pico manifestara sua decisão de

preservá-lo, mas mantendo a mineração no

seu entorno, que prossegue até nossos dias.

Hoje, a Vale instalou, no alto da Serra do Itabirito,

usina de pelotização, redução primária

e concentradora do minério de ferro, com alto

valor no mercado internacional, permitindo o

aproveitamento de jazidas com menor teor de

ferro. No seu artigo 84, a Constituição Mineira

determina que “ficam tombados para o fim de

conservação e declarados monumentos naturais,

os picos do Itabirito ou do Itabira, de Ibituruna,

e do Itambé, e as Serras do Caraça, da

Piedade, de Ibitipoca, do Cabral e, no Planalto

de Poços de Caldas, a de São Domingos”. Relembrar

a história do Pico é importante como

reflexão sobre a mineração e as muitas consequências

ambientais, econômicas, sociais e

suas relações com as ocupações urbanas em

suas áreas de atuação.

Em 1965, com apoio de militares do recém

implantado regime ditatorial, Azevedo Antunes

obteve autorização para explorar a Serra

do Curral, mina “à flor da terra”, minério retirado

a baixo custo, com alto teor de hematita,

que delimita o horizonte ao sul de Belo Horizonte.

A exploração contou com a concordância

do então governador Rondon Pacheco

(1971/74), nomeado pelo regime militar. Hoje,

a Mina de Águas Claras está esgotada, mas

persiste uma imensa área estéril, sem que a

legislação de recuperação de áreas degradadas

pela mineração seja respeitada. O ramal

ferroviário que atendia à mina, pertencente à

União, está desativado e em debate sobre sua

ocupação por empreendimentos imobiliários

ou como área de preservação ambiental. Anteriormente,

em diversas ocasiões, ocorreram

recusas e resistências a tentativas de minerar

na Serra do Curral. Indiferente aos protestos

contra a mutilação da serra, e aproveitando o

regime militar, a MBR iniciou a mineração e

chegou a alterar parte do perfil da serra, visto

de Belo Horizonte. E só decidiu não explorar

a vertente sul da Serra após a publicação, no

Jornal Estado de Minas, reproduzido em vários

veículos, de artigo de Carlos Drummond de

Andrade, que condenava a mutilação da serra.

Com grande repercussão, provocou protestos

contra a empresa e a destruição da Serra do

Curral.

Carlos Drummond de Andrade, nascido em

Itabira e por longo anos funcionário do IPHAN,

no Rio, para onde se mudou em 1934 e nunca

mais voltou a Minas, dedicou três poemas à

mineração, famosos e ainda bastante reproduzidos:

“O Pico do Itabirito”, de 1965, contra

o destombamento do Pico e a ameaça de sua

derrubada; “Canto Mineral”, sobre Itabira e a

exploração do Pico do Cauê e, em 1976, “Triste

horizonte”, em que condenava a mineração na

Serra do Curral e a desfiguração da seu perfil,

visto por toda Belo Horizonte. 11 A MBR limitou-se

a explorar a vertente sul da Serra. As

campanhas contra a derrubada do Pico de Itabirito

como também da desfiguração da Serra

do Curral relembram, em diferentes tempos e

circunstâncias, a resistência contra a Itabira

Iron. Nas tentativas de exploração total do Pico

de Itabirito e Serra do Curral atuaram aliadas

a Icominas, a Saint John Del-Rey Mining, Hanna

Mining e a MBR, agindo em conluio e de

“forma agressiva”, sob o comando e atuação

do empresário Augusto Trajano de Azevedo

Antunes. A MBR pretendia realizar, em Belo

Horizonte e Nova Lima, conforme seu projeto

inicial, o mesmo que a Itabira Iron realizou em

Itabira, ou seja, a destruição total do Pico do

Cauê.

A Anglo American, conglomerado britânico,

criado em 1917, um dos maiores do mundo,

que explora vários minerais na África, Europa,

América do sul e Austrália, com sede em Londres,

vem para o Brasil em 1973 e hoje mantém

várias iniciativas em diferentes Estados. Em

2008 adquiriu mina da antiga MMX, mineração

com falência determinada pela Justiça,

implantou o Projeto Minas-Rio para exploração

de minério de ferro em Conceição do Mato

Dentro, com uma unidade de beneficiamento

em Alvorada de Minas. Já pesquisas antigas

revelavam que a região de Conceição do

Mato Dentro possui as maiores reservas de

11 WISNIK, José Miguel. Maquinação do mundo:

Drummond e a mineração. São Paulo: Companhia

das Letras, 2018.



22 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 23

minério de ferro do Estado, fora do Quadrilátero

Ferrífero. O projeto Minas-Rio implantou

mineroduto de 525 km, o maior do Brasil,

atravessando 33 municípios, até o Porto de

Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro.

Sua capacidade é de 26,5 milhões de toneladas/ano.

Os rompimentos de duas barragens de rejeitos

de mineração, em Mariana e em Brumadinho,

constituem fatos marcantes e dramáticos da

história contemporânea da atividade no Estado.

No dia 5 de novembro de 2015 rompeu a

barragem de rejeitos de Fundão, mantida pela

Samarco Mineração, empresa da Vale e da

Australiana BHP Billiton, as duas maiores mineradoras

do mundo. O rompimento da barragem

do Fundão é considerado o maior desastre

ambiental da história brasileira e um dos

maiores do mundo. Despejou 62 milhões de

metros cúbicos de lama de rejeitos em vasta

região, destruiu Bento Rodrigues, Distrito de

Mariana, e danificou outros povoados, matou

27 pessoas e atingiu o Rio Doce, cuja bacia hidrográfica

abrange 230 municípios de Minas

e do Espírito Santo, usuários das águas do rio.

Permanecem as iniciativas de apoio aos atingidos,

reconstrução de moradias, reparação de

danos ambientais, em meio a críticas quanto à

integridade destas ações e a execução do programa

de reparações e indenizações, mas sob

constantes críticas dos atingidos. Em 2021, a

Samarco voltou a funcionar com operação limitada

a 26% da capacidade anterior e a previsão

de um retorno total em dois anos.

Em 25 de janeiro de 2019, ocorreu em Brumadinho

novo desastre, com o rompimento da

barragem de rejeitos de minérios da mina de

Córrego do Feijão, pertencente à Vale. O desastre

humanitário e ambiental matou 279 pessoas.

A lama de rejeitos destruiu instalações da

Vale, alcançou várias edificações, fazendas e

populações próximas e poluiu o Rio Paraopeba,

que abastece várias cidades, inclusive Belo

Horizonte. Os desastres de Mariana e Brumadinho

suscitam, até hoje, intensos debates

com os atingidos, com agências ambientais,

com o Ministério Publico, Assembleia Legislativa

e o Poder Judiciário, envolvendo as ações

de recuperação das áreas atingidas, indenizações

e o pagamento de multas aplicadas pelos

órgãos de controle e fiscalização ambiental.

Ambos os desastres motivam discussões em

torno das barragens de rejeitos, sua gestão de

segurança, substituição e eliminação, envolvendo

cerca de 80 municípios mineiros onde

existem, algumas com riscos já revelados. Outros

desastres, de menores proporções, têm

acontecido em Minas Gerais, também com vítimas

humanas.

Em 9 de setembro de 2019, em reação aos desastres

de Mariana e Brumadinho, o Ibram

(Instituto Brasileiro de Mineração) publicou

Carta-Compromisso, 12 elaborada durante encontro

de representantes das empresas mineradoras.

Em seu texto inicial afirma que

“estamos comprometidos com uma profunda

transformação da indústria da mineração, em

nossos processos e técnicas, em novas relações

com as pessoas e com a natureza. Reconhecemos

nossa relevância e influência nos

contextos em que estamos inseridos, sobretudo

nas questões socioeconômicas e ambientais.

Assim, sabemos que é preciso intensificar

a prática da escuta e do diálogo”.

O documento discorre sobre “Qual é a mineração

do futuro” e reconhece a necessidade

“de uma transformação estrutural profunda

da mineração brasileira ao longo dos próximos

anos”. Entre os diversos temas tratados

pelo documento, com indicação sequencial de

ações a serem praticadas, estão “Segurança

operacional”, “Barragens e estruturas de disposição

de rejeitos”, “Mitigação de impactos

ambientais”, “Desenvolvimento local e futuro

dos territórios”, “Relacionamento com comunidades”,

“Comunicação e reputação”, “Diversidade

e inclusão”, “Inovação”, ”Água”, “Energia”,

12 IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração.

Carta Compromisso do Instituto Brasileiro de Mineração

(IBRAM) perante a sociedade. Belo Horizonte,

09 set. 2019. Disponível em https://ibram.org.br/

wp-content/uploads/2021/08/carta-compromisso-setor-mineral-setembro-2019-2.pdf.

Acesso

em 02 nov. 2022.

“Gestão e resíduos”. Ao final, o documento do

Ibram informa que “esta Carta é fruto da reflexão

e do engajamento de 200 profissionais da

indústria da mineração e conta com o endosso

do corpo de executivos e conselheiros das empresas

associadas ao Ibram”.

Em menos de uma década, a partir dos anos

finais do Século XX, Minas Gerais dobrou as

reservas conhecidas de minério de ferro, passando

de 30 para 60 bilhões de toneladas (José

Mendo Mizael de Souza, Conselho de Mineração,

ACMinas, 2013). Mendo cita a “valorização

das commodities minerais no mercado internacional,

o grande avanço na tecnologia de

exploração e beneficiamento, com ganhos de

escala e redução de custos, e as pesquisas geológicas

realizadas nos últimos anos, que ampliaram

extraordinariamente as fronteiras minerais

do Estado, muito além do Quadrilátero

Ferrífero descrito por Gonzaga de Campos no

início do século passado”. 13 E lembra o potencial

de Minas com outros minerais, como ouro,

bauxita, potássio, fosfato, silício, terras raras,

rochas ornamentais e vários agregados para

a construção civil, especialmente mármores e

granitos, areia e brita. E conclui: “A nova fronteira

mineral demanda também uma nova

fronteira para o desenvolvimento sustentável”.

No momento, é significativo lembrar a busca,

pelas mineradoras, de licenças para exploração

de jazidas na Serra da Piedade, na Serra do

Gandarela, Serra da Moeda, Serra de Congonhas,

Serra do Brigadeiro, Conceição do Mato

Dentro, Serra do Cipó (Morro do Pilar e outros),

Matosinhos, Ouro Preto e no Norte de Minas,

em avanço que conflita com questões ambientais

em várias regiões.

Em seu relatório oficial de desempenho sobre

2021, a Vale anuncia a produção de 335 milhões

de toneladas de minério de ferro para

2022. Em 2021, a produção registrada foi de 315

milhões de toneladas, representando recuperação

em face da produção de 2020, reduzida

devido a operações de revisão de segurança

13 Palestra proferida por José Mendo Mizael de

Souza na Associação Comercial de Minas Gerais.

nas minas e barragens após os desastres de

Mariana e Brumadinho. A produção de “pelotas”

de minério de ferro, resultante de uma

concentração do minério de menor teor, deverá

atingir 38 milhões de toneladas em 2022,

versus 29,7 milhões em 2021. A previsão é que

de 2023 em diante a produção deverá alcançar

50 milhões de toneladas. O Sistema Norte,

onde está a maior mina da Vale (Carajás e região),

deverá responder por 215 milhões de toneladas,

devendo chegar a 240/280 milhões de

toneladas a médio prazo. A Vale é grande produtora,

no Brasil e no exterior, de níquel, com

168 mil toneladas/ano, e de cobre, com 296 mil

toneladas/ano, segundo relatórios de desempenho.

A Lei Kandir

No dia 13 de setembro de 1996, para vigência a

partir de 1º de novembro, o então ministro do

Planejamento, Antônio Kandir, propôs ao presidente

Fernando Henrique Cardoso a isenção

do ICM (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias

e Serviços) às exportações de produtos

primários semi-elaborados, ou seja, não industrializados.

A isenção foi determinada pela

Lei Complementar 87. O objetivo, segundo a

exposição de motivos que propôs a isenção, é

incentivar a exportação brasileira. A compensação

aos Estados e Municípios pela perda dos

tributos estava prevista na legislação adotada.

Minérios e produtos do agronegócio, itens

com elevada presença na pauta de exportação

de Minas, deixaram de pagar o ICMS da exportação,

causando elevada perda de arrecadação

ao Estado.

A isenção gerou polêmicas e protestos entre

os governadores prejudicados e os exportadores

brasileiros, especialmente de produtos

minerais. Minas Gerais, pelas características

de sua atividade econômica, com forte participação

na atividade, tendo sua origem e seu

nome decorrentes da mineração, é o Estado

mais prejudicado, com forte perda de arrecadação.

Em 2020, calculou-se que a perda



24 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 25

mineira aproximava-se de R$ 150 bilhões.

A Associação dos Municípios Mineradores de

Minas Gerais (Amig), fundada em 1989, lidera

amplo movimento, com apoio de várias instituições

públicas e privadas, no sentido de denunciar

e reivindicar melhor compensação à

perda de receita de Minas Gerais, Estado minerador

e que vê suas riquezas minerais serem

exportadas sem justa tributação. Minas

produz hoje minério de ferro, manganês, ouro,

granito, grafita, diamante, topázio, quartzito,

feldspato, mica, quartzo, gemas, alumínio,

pedras preciosas, talco, água mineral, caulim,

calcário, ardósia, mármore, filito, nióbio, fosfato,

prata, zinco, chumbo e vários materiais

para construção, riquezas minerais do Estado.

Articulação ampla, com participação da Assembleia

de Minas, apoiada pelo Poder Judiciário

mineiro, entidades do comércio e da

indústria, com atuação e liderança da Associação

dos Municípios Mineradores, levou

à celebração de um acordo financeiro, que

obteve aprovação do Supremo Tribunal Federal,

prevendo o repasse, até 2037, em parcelas,

de compensação aos Estados. A Lei prevê

ainda outros repasses, especialmente de R$ 4

bilhões, provenientes de arrecadação no leilão

de petróleo do Pré-Sal, dos campos de Atapu

e Sépia, totalizando R$ 65,5 bilhões de compensação.

Em 2020 o presidente da República

sancionou a Lei Complementar 176/2020, que

fixou regras para a compensação da Lei Kandir

aos Estados. A Lei, originária do Senado

Federal, também fora aprovada pela Câmara

Federal. Em compensação, os Estados ficam

compromissados de desistir de todas as ações

existentes na Justiça relativas à Lei Kandir. Minas

Gerais, pelo rateio, receberá R$ 8,7 bilhões,

valor bastante inferior à perda total.

Persiste a opinião de que a compensação e

seus valores não fazem justiça econômica a

Minas Gerais, Estado minerador, especialmente

levando-se em consideração o excepcional

aumento da exploração do minério de

ferro ocorrido nos últimos anos e seus preços

nos mercados nacionais e internacionais, elevando

extraordinariamente os lucros das mineradoras.

Os críticos da Lei Kandir veem grave

injustiça contra Minas, argumentando que

Estado e, especialmente, os municípios mineradores,

são obrigados a arcar com outras

despesas decorrentes da mineração, especialmente

quanto à reparação do meio ambiente e

outros impactos, além do constante receio de

novos acidentes com as inúmeras barragens

de rejeitos existentes no Estado, algumas oferecendo

riscos efetivos.

O presidente da Associação dos Municípios

Mineradores (biênio 2021/22), José Fernando

Aparecido de Oliveira, prefeito de Conceição

do Mato Dentro, crítico da Lei Kandir, diz que “já

passamos pelos Ciclos do Ouro e do Diamante,

que ajudaram a financiar a primeira revolução

industrial inglesa”. E agora, sustenta, “não dá

mais para ficarmos isentando o imposto mais

importante do nosso Estado, que tem na mineração

sua maior riqueza. Os empresários

brasileiros, a indústria brasileira, que geram

empregos e riquezas, pagam pelo minério que

consomem. A China não paga pelo minério de

Minas, que está sustentando o seu desenvolvimento”.

14 E lembra que “em 1980 o Brasil produzia

30 milhões de toneladas de aço. A China

também produzia 30 milhões e hoje produz

300 milhões de toneladas, com o minério de

Minas. O nosso minério está financiando a revolução

chinesa”. José Fernando lembra que

“a Lei Kandir prejudica especialmente Minas

Gerais, que tem na mineração sua principal

atividade econômica. E o Estado, com várias

dificuldades, precisa das receitas da mineração”.

Finalizando, repete Artur Bernardes: “O

minério não dá duas safras”.

A Contribuição Financeira pela Exploração

Mineral – CFEM

A Contribuição Financeira pela Exploração Mineral

(CFEM) foi instituída pelas Leis 7.999/1990

e 8.001/1990, em cumprimento à Constituição

14 Discurso proferido pelo então deputado

José Fernando Aparecido de Oliveira na Câmara

dos Deputados

Federal de 1988 (artigo 20, § 1º). E regulamentada

pelo Decreto 001/1991. A Medida Provisória

789/2017, assinada pelo presidente Michel

Temer, determinou que, para o minério de

ferro, a CFEM incidisse sobre a renda bruta da

produção com a alíquota de 3,5%, alíquota de

3% para bauxita, manganês, nióbio, e sal-gema,

alíquota de 2% para diamante e demais

substanciais minerais, alíquota de 1,5% para

ouro e alíquota de 1% para rochas, areias, cascalhos,

saibros e demais substâncias minerais,

como rochas ornamentais, águas minerais e

termais.

A receita obtida obedece à seguinte distribuição:

65% para os municípios mineradores,

23% para os Estados de origem da mineração,

12% para a União. Antes, era de apenas 2%,

mas as mineradoras conseguiram, em alguns

momentos, abatimentos por alguns investimentos

realizados para atender à mineração e

aos municípios.

Mesmo com a elevação para 3,5 %, a alíquota

de incidência da CFEM é considerada uma das

mais baixas entre os países mineradores: varia

de 5% a 7% na Austrália, no Canadá de 15% a

20%, na Rússia é de 4,8%. A comparação com a

alíquota paga pelo petróleo, hoje em 10%, sempre

foi realizada, junto com os elevados valores

pagos que têm promovido o desenvolvimento

de vários municípios e regiões abrangidos pelas

atividades de extração e refino do petróleo.

Extinto pela Constituição 1988, o Imposto Único

sobre Minerais, até então vigente, era objeto

de antigas e veementes críticas, considerado

“simbólico” por seus críticos e que penalizava

especialmente Minas Gerais, principal Estado

minerador.

A obtenção dessas novas alíquotas para a mineração,

especialmente o minério de ferro,

que domina a atividade minerária por sua dimensão,

presença geográfica e qualidade, decorre

de históricos debates sobre a retribuição

a ser paga aos municípios mineradores, realizados

pela Câmara Federal, Assembleia Legislativa

de Minas Gerais e municípios. Em 1989,

foi fundada a Associação Mineira dos Municípios

Mineradores (Amig), que passa a liderar

as ações em defesa de uma alíquota mais justa

para a CFEM, e que tem desempenho decisivo

não só na conquista das novas alíquotas, mas

também na fiscalização do seu cumprimento,

entre outras ações de interesse dos municípios

nas suas relações com as mineradoras. É

importante lembrar que Minas Gerais guarda

no seu nome e na sua história a tradição dos

tempos do Ciclo do Ouro, quando se pagava

à Coroa Portuguesa 20% do ouro extraído, “o

quinto do ouro”.

Além da reivindicação de uma alíquota condizente

com os elevados ganhos das mineradoras

e dos produtores de ferro, como também

para outros bens minerais, os debates sustentados

pela Amig e municípios envolviam

também denúncias de sonegação e a pouca

fiscalização, em razão dos insuficientes e precários

meios legais e operacionais de controle

do valor a ser pago, especialmente pelas minerações

que supriam as usinas menores de ferro-gusa.

Em 2007, o consultor legislativo Paulo

Cesar Ribeiro de Lima dizia que “O Brasil, com

a atual legislação, está sendo explorado com

valores três vezes abaixo do preço pago pela

mineração no Século XIX”.

Igualmente motivo de debates e críticas foi o

acesso facilitado a jazidas, sem maiores exigências

e controles, para licenciamento e fiscalização.

Hoje, embora a legislação seja mais

rigorosa, a fiscalização é considerada insuficiente

quanto ao estrito cumprimento da legislação.

Em 2017, a Lei 13.575 criou a Agência

Nacional de Mineração, em substituição ao

antigo Departamento Nacional de Produção

Mineral (DNPM), que prestou relevantes serviços

à mineração brasileira, com estudos e

pesquisas pioneiras, especialmente na área

geológica. Mas tornou-se obsoleto na sua estrutura,

no fomento ao desenvolvimento da

mineração e na fiscalização do setor, na concessão

de licenciamentos de lavras, perdendo

técnicos e funções, sem conseguir estabelecer

uma atualizada política mineral para o Brasil.

Comparava-se sua atuação com as agências

de controle da atividade petrolífera e do gás e



26 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022 Apresentação 27

da energia elétrica, e fica patente a falta de sua

atualização, o que a tornaria compatível com

o novo modelo de agências reguladoras, suas

estruturas e modos de atuação.

A reivindicação dos municípios mineradores

por um royalty (CFEM) maior sustenta-

-se também na constatação de que a atividade

mineradora é altamente lucrativa para as

empresas, e a exploração do minério de ferro

vem obtendo uma crescente elevação, em razão

das demandas internas e internacionais,

chegando a cerca de 80% comparativamente

com desempenhos do passado recente. A partir

de 1950, com a recuperação econômica do

pós-guerra, as estatísticas revelam “corridas”

internacionais a jazidas de minério de ferro,

petróleo, níquel, chumbo, gás natural, nióbio,

hematita, zinco, cádmio, amianto e os minerais

atômicos, ocorrendo descobertas de novas

jazidas no Brasil. A riqueza mineral brasileira

atrai inúmeras empresas internacionais,

sem que as Constituições brasileiras (tivemos

as Constituições de 1894, 1934, 1937, 1946, 1967

e 1988) adotassem legislações mais objetivas

de defesa dos interesses brasileiros quanto à

retribuição pela exploração mineral. E os códigos

de minas, especialmente o adotado em

1967, já no regime militar, acabaram provocando

conflitos entre donos de terras e as empresas

de mineração, dificultando também a

obtenção de licenciamentos, provocando distorções

e facilitações.

É significativo lembrar que a Compensação

Financeira pela Exploração Mineral não é considerada

um tributo, mas “o preço pago pelo

empreendedor ao proprietário do recurso natural

pelo direito de produzir e comercializar

esse recurso” (Paulo César Ribeiro Lima, parecerista

da Câmara Federal). Na maioria dos países,

incluindo o Brasil, “os recursos minerais

pertencem ao estado, que é o responsável por

gerenciar o desenvolvimento dos recursos minerais

em benefício de seus cidadãos”. No Brasil,

os recursos minerais são de propriedade da

União, responsável pela cobrança dos royalties

em nome da sociedade brasileira. É importante

destacar que cabe aos Estados grande parte

da responsabilidade regulatória e fiscalizatória

sobre a atividade mineral, no licenciamento

ambiental, na fiscalização da preservação

ambiental, proteção de recursos hídricos, fiscalização

tributária, entre outros atributos

conferidos pela legislação.

Já em 2007, o então deputado por Minas Gerais,

José Fernando Aparecido de Oliveira, então

integrante da Comissão de Minas e Energia

da Câmara Federal, apresentou proposta

de reajuste da CFEM para o minério de ferro

de 2% para 4%, incidindo sobre a renda bruta

das mineradoras. A assinatura da Medida

Provisória, ocorrida dez anos após a proposição

inicial, resultou de campanha liderada

pela Associação dos Municípios Mineradores,

representando retribuição importante para

as receitas das cidades. O debate no Congresso

levou a que a alíquota fosse reduzida para

3,5%, condição para sua aprovação e sanção

presidencial.

Cabe aos municípios atender à determinação

contida na legislação da CFEM, que diz: “As

respectivas receitas deverão ser aplicadas em

projetos que, direta ou indiretamente, revertam

em prol da comunidade local, na forma de

melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental,

da saúde e educação”. É vedada a aplicação

no pagamento de dívidas ou no quadro

permanente de pessoal.

Com a nova alíquota e a incidência na renda

bruta, as receitas resultantes da exploração

do minério de ferro passaram a constituir importante

fonte de recursos para os municípios,

com valores elevados em decorrência do expressivo

aumento preço do minério, especialmente

no segundo semestre de 2021.

O Instituto Brasileiro de Mineração revela, na

sua página institucional, as seguintes arrecadações

da CFEM em 2021: primeiro trimestre,

R$ 24,2 bilhões; segundo trimestre, R$ 26,1 bilhões,

terceiro trimestre R$ 37,5 bilhões e, no

quarto trimestre, R$ 28,1 bilhões.

Em meio aos debates que ocorrem em Minas

Gerais em torno da mineração, sua expansão,

questões ambientais, o temor de novos desastres

com barragens de rejeitos e a necessidade

de ‘descomissionamentos” para evitar novos

acidentes, surge a situação vivida no momento

por Itabira, com a exaustão de suas minas.

Berço da Vale e primeiro grande município

minerador, já com previsão de esgotamento

em tempo muito próximo, Itabira procura

discutir como garantir sustentabilidade econômica

e social após a exaustão das minas,

110 anos após o início de exploração de suas

jazidas, contados desde a presença dos capitais

ingleses a partir de 1908. Os caminhos a

serem seguidos por Itabira para substituir a

mineração por outras atividades geradoras de

emprego e renda podem ser modelares para

os municípios mineradores, em todo o Brasil e

mesmo no mundo. Discute-se como reduzir as

incertezas sobre o futuro, como desenvolver

atividades substitutivas, e ainda como a Vale

poderá apoiar um programa de superação das

perdas de rendas e empregos.

O livro e a defesa da riqueza mineral de

Minas Gerais

Com vastos e minuciosos argumentos, tabelas,

estatísticas e análises comparativas, o professor

Clodomiro de Oliveira sustenta sua discordância

sobre a Lei 3.391, de 5 de janeiro de 1920,

em parecer solicitado pelo então governador

de Minas, Artur Bernardes, sobre esse texto

legal. O livro é, portanto, uma forte e fundamentada

crítica às pretensões da Itabira Iron,

que solicita ao Governo Federal a assinatura

de novos contratos. Propunha a implantação

de uma siderúrgica, embora com capacidades

menores, e nunca realizada.

O livro, em publicação preciosa, lista as aquisições

de jazidas de minério de ferro de Minas

por capitais estrangeiros, ocorridas no Encontro

de Estocolmo, ratifica argumentos apresentados

pelo Governo de Minas nas várias

propostas apresentadas pela empresa, com

sugestões modificativas de pretensões contratuais,

atos e decisões governamentais.

No capítulo final do livro, o autor afirma que,

“dentre os problemas da República Velha, o

que sobreleva a todos é o da criação da indústria

siderúrgica nacional, o que sem a eliminação

completa da concessão Itabira Iron Ore

não terá solução”. E conclui: “É a siderurgia o

principal fator da independência econômica

de um país, sem a qual a independência política

é pura ficção”. Também sustenta que “os

países, mesmo possuidores de jazidas de combustível

mineral, que se fizeram exportadores

de minério de ferro, não têm indústria siderúrgica

ou, se a têm, é muito sem importância

ou de importância secundária”, concluindo:

“Constituem, esses países, fontes de abastecimento

dos países produtores de ferro e aço”.

Mauro Werkema

Jornalista, Mauro Werkema trabalhou na TV

Globo e no jornal Estado de Minas, onde foi editor-chefe.

Integrou o Instituto de Desenvolvimento

Industrial de MG, o BDMG e a Secretaria

de Estado de Indústria, Comércio e Turismo. Foi

diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (IPHAN), secretário de Cultura

e Turismo de Ouro Preto, presidente da Belotur

e da Fundação Municipal de Cultura de BH e

presidente da Fundação Clóvis Salgado. É autor

dos livros “História e Formação de Minas Gerais

em 300 anos da Capitania”, “História, arte

e sonho na formação de Minas Gerais” e “Ouro

Preto na história, protagonismos, paradigmas

e revisões”. É coautor dos livros “Aleijadinho

– 200 anos”, “Igrejas e Capelas de Ouro Preto”,

“Museus de Ouro Preto”, “História da Escola de

Minas”, entre outras publicações.



Sobre o autor



30 31

A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Sobre o autor

Clodomiro Augusto de Oliveira

Político, engenheiro e professor, nasceu em

Conceição do Serro, Província de Minas Gerais

(hoje Conceição do Mato Dentro), a 9 de

novembro de 1868, e faleceu no Rio de Janeiro,

DF, a 10 de agosto de 1935. Filho do fazendeiro

e Coronel da Guarda Nacional Modesto

Justino de Oliveira e de Custódia Augusta da

Silva Oliveira. Casado com Emília Amaral da

Veiga Oliveira.

Fez Humanidades no Colégio do Caraça, MG,

os preparatórios no Colégio Mineiro de Ouro

Preto, MG, e o curso superior na Emop, pela

qual se diplomou como engenheiro de minas

e civil, em 1897.

Ainda estudante, lecionou Aritmética e Álgebra

no Colégio Mineiro. Logo após a formatura,

trabalhou em pesquisa de aluviões auríferas

em São José do Quilombo, Município do Serro,

MG, por conta de um sindicato inglês. Lente

interino da Emop desde o fim de 1897, em 1910

tornou-se catedrático de Navegação Interior,

Portos de Mar e Arquitetura. Foi, ainda, secretário

da instituição e seu Diretor de dezembro

de 1930 a maio de 1931.

De 1907 a 1909, dirigiu os setores de mineração

de manganês e fabricação de produtos

siderúrgicos da Usina Wigg, em Miguel

Burnier, MG.

No Governo Estadual Artur da Silva Bernardes

(1918-1922) exerceu o cargo de Secretário

da Agricultura, Indústrias, Terras, Viação e

Obras Públicas, época em que instalou a Escola

Superior de Agricultura e Veterinária em

Viçosa e reorganizou o Serviço Geográfico de

Minas Gerais.

Foi, também, Vereador à Câmara Municipal de

Ouro Preto.

Publicou os estudos técnicos A metalurgia do

ferro em Minas e sua viabilidade (monografia);

Indústria siderúrgica (monografia) e A concessão

Itabira Iron.

Era genro de José Pedro Xavier da Veiga,

concunhado de Alfredo Teixeira Baeta Neves e

tio de José Aparecido de Oliveira.

Texto extraído de:

MONTEIRO, Norma de Góis (Coord.). Dicionário

biográfico de Minas Gerais: período republicano

1889-1991. Belo Horizonte: Assembléia Legislativa

do Estado de Minas Gerais, 1994. 2 v., il.

Retrato de Clodomiro Augusto de Oliveira.

(Desenho feito por autor desconhecido).



Fac-símiles



34 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 35



36 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 37



38 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 39



40 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 41



42 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 43



44 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 45



46 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 47



48 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 49



50 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 51



52 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 53



54 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 55



56 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 57



58 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 59



60 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 61



62 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 63



64 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 65



66 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 67



68 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 69



70 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 71



72 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 73



74 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 75



76 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 77



78 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 79



80 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 81



82 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 83



84 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 85



86 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 87



88 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 89



90 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 91



92 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 93



94 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 95



96 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 97



98 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 99



100 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 101



102 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 103



104 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 105



106 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 107



108 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 109



110 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 111



112 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 113



114 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 115



116 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 117



118 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 119



120 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 121



122 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 123



124 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 125



126 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 127



128 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 129



130 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 131



132 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 133



134 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 135



136 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 137



138 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 139



140 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 141



142 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 143



144 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 145



146 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 147



148 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 149



150 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 151



152 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 153



154 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 155



156 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 157



158 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 159



160 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 161



162 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 163



164 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 165



166 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 167



168 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 169



170 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 171



172 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 173



174 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 175



176 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 177



178 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 179



180 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 181



182 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 183



184 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 185



186 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 187



188 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 189



190 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 191



192 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 193



194 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 195



196 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 197



198 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 199



200 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 201



202 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 203



204 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 205



206 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 207



208 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 209



210 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 211



212 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 213



214 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 215



216 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 217



218 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 219



220 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 221



222 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 223



224 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 225



226 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 227



228 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 229



230 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 231



232 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 233



234 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 235



236 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 237



238 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 239



240 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 241



242 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 243



244 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 245



246 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 247



248 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 249



250 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 251



252 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 253



254 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 255



256 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 257



258 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 259



260 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 261



262 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 263



264 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 265



266 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 267



268 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 269



270 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 271



272 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 273



274 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 275



276 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 277



278 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 279



280 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 281



282 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 283



284 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 285



286 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 287



288 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 289



290 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 291



292 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 293



294 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 295



296 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 297



298 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 299



300 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 301



302 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 303



304 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 305



306 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 307



308 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 309



310 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 311



312 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 313



314 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 315



316 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 317



318 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 319



320 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 321



322 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 323



324 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 325



326 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 327



328 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 329



330 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 331



332 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 333



334 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 335



336 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 337



338 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 339



340 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 341



342 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 343



344 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 345



346 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 347



348 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 349



350 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 351



352 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 353



354 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 355



356 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 357



358 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 359



360 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 361



362 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 363



364 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 365



366 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 367



368 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 369



370 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 371



372 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 373



374 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 375



376 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 377



378 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 379



380 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 381



382 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 383



384 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 385



386 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 387



388 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 389



390 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 391



392 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 393



394 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 395



396 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 397



398 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 399



400 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 401



402 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 403



404 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 405



406 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 407



408 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 409



410 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 411



412 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 413



414 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 415



416 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 417



418 A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022

Fac-símiles 419



420

A Concessão Itabira Iron - Edição fac-símile 2022



Conselho editorial AMIG:

Ângelo Oswaldo de Araújo Santos

José Fernando Aparecido de Oliveira

Marco Antônio Lage

Coordenação editorial:

Cristina Pedrosa

Projeto gráfico e diagramação:

Daigo da Mata

Imagem da capa:

Daigo da Mata

Digitalização dos originais:

Leandro Araújo Nunes

Conservação e restauração:

Ateliê Marca D’água Ltda.

Revisão:

Alexandre Silva Habib

Impressão:

Koloro Indústria Gráfica

Tiragem:

2.000 unidades

Esta versão fac-símile foi impressa em Belo Horizonte no ano de 2022.



Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!