REVISTA-JUSTA-POSTO-VERSAO-ISSUU
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Especial:
Secura vaginal e a
saúde das mulheres
Santa Catarina:
Um reitor, uma jornalista e
uma atleta nos perfis da edição
Cinema:
Sequência de Avatar pode
definir o futuro do cinema
Edição 1 - Ano 1
18 de dezembro de 2022
Diplomado pelo TSE,
Luís Inácio Lula da Silva
se prepara para a posse
e para o começo do seu
terceiro mandato como
presidente do Brasil
O que esperar da terceira parte da
Conteúdo
10
A diplomação
de Lula
Petista citou Deus e disse
que o resultado eleitoral é
vitória da democracia, que
precisa ser defendida
48
Sequência de
Avatar
Se não der prejuízo, Avatar:
o caminho da água, irá
definir o futuro do cinema
e da Disney
30
Secura
Vaginal
Problemas ligados a
lubrificação íntima afetam
a saúde de milhares de
brasileiras
Editorias
06 Explicando
O que é o Orçamento
Secreto
07 hitou/flopou
Os assuntos mais falados
da semana
08 Política
Margareth Menezes no
Ministério da Cultura
54 Televisão
O sucesso de Todas as
Flores no Globoplay
2 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Especial Santa Catarina
Editorial
14 Cidades
Terminais de ônibus
desativados prejudicam a
população de Florianópolis
24
Educação
Reitor da UFSC
preza pela
simplicidade
36
Perfil
O Jornalismo
Mãe de Laine
Valgas
44
Esporte
Julia Dias é
destaque no
skimboard
Chegamos à penúltima semana de
um ano pra lá de agitado. 2022
reuniu grandes eventos e acontecimentos
que não parece que
se passaram só doze meses.
Na matéria de capa a diplomação
de Lula que se prepara para o seu
terceiro mandato. A Copa do Mundo
também chegou ao fim com Argentina
campeã e nós fomos descobrir como
é cobrir a Copa para os jornalistas. Na
editoria spotlight uma grande reportagem
joga luz em cima de um assunto
pouco falado: a lubrificação vaginal.
Para sair do eixo SP-RJ-DF, toda
semana a JustaPosto dedica quatro
de suas editorias a um Estado do
Brasil, e nesta edição fomos até Santa
Catarina trazer grandes histórias e
até uma denúncia sobre o transporte
público da capital Florianópolis.
E para terminar em ritmo de férias,
uma reportagem especial sobre a sequência
de Avatar: O caminho da água
que já está lotando salas de cinema
em todos os cantos do planeta.
Boa leitura!
Pablo Brito, Robson Ribeiro e Victória Prado
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 3
30 segundos
“Jornalismo
é ponte para
o coração do
outro”
Por Erika Artmann
“Um trabalho de artesão”. Essa é uma
das definições que Daniela Arbex deu
ao jornalismo durante a Aula Magna que
ofereceu no início de setembro, no auditório
da reitoria da Universidade Federal
de Santa Catarina. Seu método de
trabalho, as histórias que encontrou na
cobertura de Arrastados e os detalhes de
sua carreira profissional foram abordados
por ela, e perguntados pela plateia.
Escritora e jornalista investigativa,
Daniela é conhecida por contar histórias
de tragédias por meio de livros como
Holocausto Brasileiro (2013) e Todo Dia a
Mesma Noite (2018), mas suas escolhas
temáticas não ficam restritas a isso. É
autora também de biografias sobre heroínas,
como no caso de Os Dois Mundos
de Isabel (2020).
Imagem: Divulgação Daniela Arbex
Texto publicado na versão digital do Jornal Zero
4 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre o risco
de efeitos colaterais graves, como cegueira temporária, possivelmente associados
a produtos utilizados para trançar e modelar cabelos. O documento é resultado de
relatos que a agência tem recebido sobre os problemas, além de notícias veiculadas
na mídia que chamaram a atenção do órgão.
Pílulas
Aquele sexto sentido não tem
nada de místico, é genético
Muitas vezes abordado com caráter místico em histórias
sobrenaturais, o sexto sentido na realidade existe
e é nada mais que um nome popular dado a um sistema
conhecido do corpo que mistura informações de
todos os outros cinco e é chamado de propriocepção,
ou cinestesia. Essa habilidade, indispensável para a coordenação
de movimentos motores, consiste em conseguir
identificar a sua posição e as partes do corpo no
espaço de forma inconsciente, sem abrir os olhos ou
encostar em algo, por exemplo.
Imagem: Amin RK | Unsplash
Todos os textos desta página foram publicado no Instagram do Jornal O Globo
Expediente
Universidade Federal de Santa Catarina
Curso de Jornalismo
Laboratório de Produção Gráfica
Profa. Janaíne Kronbauer dos Santos
Editor(es):
Pablo Brito, Robson Ribeiro e Victória Prado
Projeto gráfico-editorial:
Pablo Brito, Robson Ribeiro e Victória Prado
Textos:
G1 São Paulo
Jornal O Globo
O Estadão
UOL
Ana Paula Souza - Carta Capital
Erika Artmann - Jornal Zero
Guilherme Ravache - Uol Splash
Mariana Franco
Mariana Haubert e Caio Spechoto
Pablo Brito
Robson Ribeiro
Tony Goes - Folha de São Paulo
Victoria Prado
Imagens:
Divulgação Daniela Arbex
Vários | Unsplash
Rádio Bandeirantes
Divulgação Disney
Pedro França | Agência Senado
Divulgação | AFP
Agência O Globo
Adriana Spaca | AE
Carl Recine - Reuters
Sérgio Lima - Poder360
Ricardo Stuckert
Ueslei Marcelino | Reuters
Robson Ribeiro
Prefeitura Municipal de Florianópolis
Eduardo Valente | ND
Diorgenes Pandini / NSC
Agecom UFSC
Henrique Almeida | Agecom UFSC
Pablo Brito
Arquivo Pessoal Laine Valgas
Fabrice Coffrini | AFP
Divulgação Rede Globo
Instagram Filipe Cury
Arquivo Pessoal Julia Dias
Arquivo Pessoal Lucas Fink
Roberto Teixeira | GShow
Antonin Thuillier | AFP
Esse trabalho é experimental, sem
fins lucrativos e de caráter puramente
acadêmico, criado e editado pelos(as)
acadêmicos(as) Pablo Brito, Robson Ribeiro
e Victoria Prado como exercício de projeto
gráfico-editorial para a disciplina de
Laboratório de Produção Gráfica do curso
de Jornalismo da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) no semestre 2022-
2. Não será distribuído, tampouco comercializado.
Seu conteúdo e suas opiniões
são de inteira responsabilidade dos acadêmico(a)(s),
isentando assim a UFSC e a
docente da disciplina de qualquer responsabilidade
legal por essa publicação.
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 5
Explicando
Por que precisamos entender?
O Congresso aprovou em 16 de dezembro mudanças nas regras do orçamento secreto.
O projeto, aprovado em uma sessão conjunta da Câmara e do Senado, presidida
por Arthur Lira (foto), aumenta a transparência das emendas de relator, mas
mantém concentrada a distribuição das verbas nas mãos dos parlamentares.
Imagem: Rádio Bandeirantes
Mas afinal, o que é o
Orçamento
secreto?
Recursos têm origem em emendas, verba prevista no Orçamento da
União para investimentos indicados pelos parlamentares
Ochamado orçamento secreto surgiu
com a criação de uma nova modalidade
de emendas parlamentares.
Emendas são recursos do Orçamento
da União direcionados por deputados
para suas bases políticas ou estados de
origem. As verbas devem ser usadas para
investimentos em saúde e educação.
As emendas podem ser individuais, em
que cada parlamentar decide onde alocar
o dinheiro; de bancada, onde emendas
coletivas, são elaboradas por deputados
do mesmo estado ou região; e de comissão,
com emendas coletivas de comissões
permanentes da Câmara ou do Senado.
A nova modalidade partiu de emendas
que o relator podia fazer ao Orçamento
da União, ajustes pontuais para corrigir
itens do texto.
Hoje, as emendas de relator podem
ser indicadas por um usuário externo -
na prática, permitem que fique oculto
o nome do parlamentar que determina
onde o dinheiro será gasto.
Texto publicado no G1 - São Paulo
Imagem: Pedro França/Agência Senado
6 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Imagem: Divulgação Disney
Promete: Avatar 2 - O caminho da água
"Avatar: O Caminho da Água" arrecadou 17 milhões de dólares nas bilheterias dos
Estados Unidos e Canadá desde sua primeira exibição na noite de quinta-feira, informou
a distribuidora Walt Disney Co. James Cameron, diretor do filme, disse que a
sequência precisará arrecadar 2 bilhões de dólares para não ter prejuízos.
hitou/flopou
Imagem: Carl Recine - Reuters
Imagem: ADRIANA SPACA / AE
Messi e Mbappé
Os dois jogadores dividem artilharia
da Copa do Mundo do Qatar (cinco
gols), são as maiores armas ofensivas de
Argentina e França, respectivamente, e
decidiram o torneio no domingo (18), no
estádio de Lusail.
Padre Júlio Lancellotti
O veto do presidente Jair Bolsonaro
(PL) ao projeto de lei 488/2021, conhecido
como lei Padre Júlio Lancellotti, foi
derrubado em sessão conjunta do Congresso
por 60 votos a quatro. Com a decisão,
a lei será promulgada.
Operação Lava Jato
Último preso da Lava Jato, o ex-governador
do Rio Sérgio Cabral (MDB)
passará o final de ano em casa, após seis
anos de detenção. O Supremo mudou a
prisão do ex-governador de regime fechado
para domiciliar.
Twitter e Elon Musk
O magnata provocou raiva e advertências
da União Europeia e das Nações
Unidas depois de suspender as contas
de mais de meia dúzia de jornalistas, alguns
de empresas como CNN, The New
York Times e The Washington Post.
Todos os textos desta página foram publicado no UOL
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 7
Imagem: Olivier Douliery/AFP Imagem: Pedro Teixeira - Agência O Globo
Política | Lideranças
Imagem: Sérgio Lima - Poder360
A nova voz da
Cultura
A cantora Margareth Menezes comandará o ministério que, extinto por Bolsonaro, teve 85%
do orçamento reduzido.
Por Ana Paula Souza publicado em Carta Capital
Assim como fizera 20 atrás, Lula escolheu, para a cultura, um nome ausente das
bolsas de apostas e desvinculado da ala cultural do Partido dos Trabalhadores.
A chegada da cantora baiana Margareth Menezes à pasta guarda, em muitos aspectos,
semelhança com a chegada de Gilberto Gil, em 2003. A primeira delas diz
respeito à simbologia. Gil, com sua história e personalidade, quebrou a tradição dos
intelectuais brancos à frente da cultura e, a partir de um discurso em defesa de um
abstrato “do-in antropológico”, rompeu com a ideia de que a classe artística estabelecida
era a beneficiária natural da política pública.
8 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
“
Riqueza da nossa cultura alimenta a nossa alma e fortalece a nossa
identidade como nação. A cultura reflete a força, a grandeza e a
beleza do povo brasileiro. Vamos precisar de todo mundo!”
Margareth Menezes
Lula beija testa de Margareth Menezes, futura ministra da Cultura,
durante encontro em Brasília — Imagem: Ricardo Stuckert
A nomeação de Margareth é um passo
além nesse processo. Mulher negra,
nascida na periferia de Salvador, ela representa
uma fração fundamental do
Brasil que tem reagido à exclusão histórica,
não apenas social e econômica,
mas cultural. Não por acaso, a indicação
de seu nome suscitou, em alguns setores,
críticas e desconfiança.
Argumentou-se, de saída, que ela não
teria a capacidade de gestão necessária
para reerguer a pasta e reordenar a legislação
desmantelada. “Tenho lido absurdos
sobre ela ser despreparada”, escreveu
a produtora audiovisual Vânia
Lima, também baiana, no grupo de Mulheres
Fora do Eixo. “Fico decepcionada
com tanto preconceito escondido sob
camadas de boas intenções.”
Com o passar dos dias, o desconhecimento
em torno da trajetória de Margareth,
que comanda, desde 2004, um
importante projeto sociocultural em
Salvador – a Associação Fábrica Cultural
– e tem ideias claras a respeito das indústrias
criativas, deu lugar a manifestações
de boas-vindas.
A cantora formalizou o “sim” para o
convite na terça-feira 13, durante encontro
com Lula num hotel, em Brasília.
Na sequência, foi para o Centro Cultural
Banco do Brasil, sede do gabinete de
transição. No fim desse mesmo dia, foi
anunciado o nome do historiador Márcio
Tavares para a secretaria-executiva
da pasta, responsável pela operacionalização
das políticas. Tavares é secretário
nacional do PT há quatro anos e foi
ativo nas discussões em torno da Lei
Aldir Blanc de emergência cultural e da
Lei Paulo Gustavo. Em declarações públicas,
demonstra conhecer as nuances
de uma área que, ao mesmo tempo que
trata de arte e identidade, faz parte do
mercado de entretenimento. ///
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 9
Política | Brasília
Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino
10 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Lula (foto) falou por 14 minutos e citou
a palavra democracia 21 vezes
Lula chora, elogia TSE e diz que
democracia
enfrenta desafio
Petista citou Deus e disse que o resultado eleitoral é
vitória da democracia, que precisa ser defendida
Por Mariana Haubert e Caio Spechoto - Publicado em Poder 360
O
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se emocionou nesta
2ª feira (12.dez.2022) ao iniciar seu discurso na cerimônia de sua diplomação,
realizada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Lembrou
do tempo em que esteve preso em Curitiba por causa da Operação
Lava Jato, elogiou a conduta da Corte Eleitoral no pleito deste ano e, sem
citar nomes, criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Também fez uma ampla defesa da democracia, que, para ele, enfrenta
desafio “talvez maior do que no período da 2ª Guerra Mundial”. “A democracia
enfrenta um imenso desafio ao redor do planeta, talvez maior do
que no período da 2ª Guerra Mundial.
Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, os inimigos da democracia
se organizam e se movimentam. Usam e abusam dos mecanismos
de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais
que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável”, disse.
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 11
Política | Brasília
Lula e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), receberam os
diplomas confirmando que estão aptos a tomar posse.
Imagem: Sérgio Lima | Poder 360
O petista defendeu a regulação das
plataformas digitais, mas não detalhou
como isso deveria ser feito ou quando.
Disse apenas que a solução é uma “legislação
internacional mais dura e eficiente”.
Lula e o vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB) receberam os diplomas
que os formalizam como presidente e
vice-presidente atestam que estão aptos
a tomar posse.
Os documentos foram assinados pelo
presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
A cerimônia marca o fim do processo eleitoral
e encerra o prazo para questionamentos
do pleito. Lula falou por 14 minutos
e citou a palavra democracia 21 vezes.
Em longo trecho de seu discurso, Lula
afirmou que “poucas vezes na história do
país a democracia esteve tão ameaçada”
e a vontade popular “foi tão colocada à
prova” e “teve que vencer tantos obstáculos
para, enfim, ser ouvida”. “Quero dizer
que muito mais que a cerimônia de
diplomação de um presidente eleito, esta
é a celebração da democracia”, disse.
Durante seu discurso, Lula classificou
como corajosa a atuação do TSE e do
STF (Supremo Tribunal Federal) durante
o processo eleitoral deste ano ao terem,
segundo ele, enfrentado “toda sorte de
ofensas, ameaças e agressões para fazer
valer a soberania do voto popular”.
Sem citar seu adversário direto, o presidente
Jair Bolsonaro, e aliados dele,
12 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
“
Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo. Os inimigos
da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas eletrônicas,
cuja confiabilidade é reconhecida em todo o mundo”
Lula
Lula criticou a tentativa de questionamento
da lisura das urnas eletrônicas
usadas nas eleições e disse que a medida
era uma tentativa de “sufocar a voz do
povo”. “Não foram poucas as tentativas
de sufocar a voz do povo. Os inimigos da
democracia lançaram dúvidas sobre as
urnas eletrônicas, cuja confiabilidade é
reconhecida em todo o mundo”, disse.
Antes, o petista havia dito que a disputa
eleitoral foi entre “duas visões de mundo
e de governo”. “De um lado, o projeto de
reconstrução do país, com ampla participação
popular. De outro lado, um projeto
de destruição do país ancorado no poder
econômico e numa indústria de mentiras
e calúnias jamais vista ao longo de nossa
história”, disse. Lula se emocionou, chorou
e teve que interromper o discurso
logo no início ao lembrar da sua 1ª diplomação,
em 2002. “Lembrei da ousadia
do povo brasileiro em conceder, para alguém
tantas vezes questionado por não
ter diploma universitário, o diploma de
presidente da República”, disse.
“Quero pedir desculpas pela emoção.
Quem passou o que eu passei nesses últimos
anos, e estar aqui agora, é a certeza
que Deus existe e de que o povo brasileiro
é maior do que qualquer pessoa
que tentar um arbítrio nesse país. Eu sei
o quanto custou, não apenas a mim, mas
ao povo brasileiro essa espera para que a
gente pudesse reconquistarmos a democracia
nesse país”, disse. ///
Lula (dir.) e o ministro Alexandre de Moraes
(esq.). Ao fundo, a ministra Weber .
Imagem: Sérgio Lima | Poder 360
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 13
Cidades | Denúncia
Terminais de ônibus
desativados prejudicam a mobilidade da
população de Florianópolis e região
Construções, que custaram quase R$ 13 milhões e prometiam aprimorar o transporte público
da capital, não atendem àa população há 17 anos
Por Pablo Brito e Robson Ribeiro
População do Saco dos Limões poderia se beneficiar do funcionamento do Terminal de
Integração que foi desativado no bairro. Imagem: Robson Ribeiro
14 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Os terminais de integração proporcionam
capilaridade ao transporte urbano
Quinta-feira, 14h. O primeiro desafio
é ir da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), localizada
no bairro Trindade, até o Terminal
Integrado do Saco dos Limões (TISAC),
no bairro de mesmo nome. O trajeto é
de 3,5 km, mas o trânsito complicado da
região dificulta tudo.
Entre esperar 15 minutos por um ônibus
ou se atrasar para a entrevista, a melhor
opção é usar o carro por aplicativo.
O sistema não encontra nenhum lugar
quando se digita TISAC como destino,
nem mesmo quando o termo é escrito
por extenso. Boa parte do tempo da corrida
é dedicado às tentativas de explicar
o trajeto para o motorista, que não faz a
mínima ideia da existência desse terminal.
Em menos de dez minutos o carro
para em frente ao local, que parece vazio.
O que se vê é uma grande construção,
assentada em um terreno que um dia foi
mar, e cercada por duas ruas. De um lado
a Prefeito Waldemar Vieira, uma grande
avenida tomada por condomínios; do outro,
a Via Expressa Sul que une o centro
da cidade ao Sul da ilha.
Naquele horário chama a atenção o silêncio.
Na Waldemar Vieira não há movimentação
significativa de pedestres.
Na Via Expressa, o silêncio só é quebrado
pelo barulho dos carros que circulam
em alta velocidade. O que se constata é
um terminal desativado, construído com
verba pública e que não é mais utilizado
para o seu objetivo inicial: atender a população
que utiliza os ônibus.
O TISAC foi construído em 2003 e não
opera desde 2005, não cumprindo a função
de integrar o sistema de transporte
público de Florianópolis, idealizado em
1997. O Sistema Integrado de Mobilidade
(SIM), inicialmente proposto na gestão da
então prefeita Ângela Amin, era composto
por nove terminais e tinha o objetivo
de promover a conexão entre as regiões
Norte, Leste e Sul do município com as
demais localidades da ilha e do continente.
Obras que, conforme o Edital de
Concessão nº 002/99-SMTO, custaram
juntas quase R$ 13 milhões aos cofres públicos.
Destes nove terminais de integração
construídos, três estão desativados.
Além do TISAC na ilha, o Terminal de
Capoeiras (TICAP) e do Jardim Atlântico
(TIJAR), na região continental da cidade,
também ganharam destinos totalmente
diferentes do que foi planejado.
Os terminais de integração proporcionam
uma capilaridade ao transporte urbano.
Para o usuário isso significa mais
linhas, mais horários e a possibilidade de
ir e vir para mais lugares em uma região
metropolitana. “A beleza do terminal de
integração é tornar o transporte eficiente
do ponto de vista econômico e do ponto
de vista da comodidade do passageiro”,
explica o coordenador do Observatório
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 15
Cidades | Denúncia
Dos 9 terminais de integração
construídos em Florianópolis,
3 estão desativados
da Mobilidade Urbana da UFSC, Bernardo
Meyer, coordenador do Observatório
da Mobilidade Urbana da UFSC.
Das nove construções, o Terminal de
Integração do Centro (TICEN), localizado
na Avenida Paulo Fontes, é o que
concentra o maior volume de tráfego
de ônibus e pessoas. Em média 150 mil
pessoas passam por ali todos os dias, segundo
dados da Prefeitura de Florianópolis.
TISAC, TICAP e TIJAR, as siglas que
poderiam ser tão conhecidas quanto TI-
CEN caíram no esquecimento. Há 17 anos
esses três locais não são utilizados para
o transporte público. Desde 2005, uma
sucessão de anúncios, projetos, acordos,
licitações e até processos judiciais passaram
a fazer parte de uma situação que
pouco avança, enquanto o número de
moradores da região e a demanda pelo
transporte coletivo, só aumentam.
Situação que só se agrava
A situação se agrava a cada ano, pois a
população da Grande Florianópolis cresce
mais do que o dobro da média nacional.
Em pesquisa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), divulgada
em 2019, estima-se que a região metropolitana
da capital teve, em relação ao
ano anterior, um aumento populacional
de 1,6%, enquanto a média nacional foi de
0,7%. O crescimento da cidade, o abandono
dos terminais e a falta de soluções
para o transporte público são questões
complexas. Envolvem mobilidade urbana,
utilização de espaços públicos, meio ambiente,
direitos da população e a particularidade
de cada um dos bairros em que
estas plataformas estão instaladas. Planejar
a mobilidade urbana vai além de
16 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Imagem: Divulgação/CSC
Florianópolis terá ônibus com tarifa zero aos
finais de semana em dezembro e janeiro
Prefeito diz que objetivo é incentivar o uso do transporte coletivo
para reduzir fluxo de veículos aos sábados e domingos
durante a alta temporada.
resolver os problemas de trânsito. Trata-se
de uma forma de organizar a cidade
para que ela possa oferecer mais
qualidade de vida para a sua população.
A própria ideia de cidade descrita pelo
filósofo alemão Max Weber, diz que é o
lugar onde se pode ser livre.
Para a antropóloga e professora da
UFSC, Carmen Rial, essa liberdade é um
direito de todos e não promover a mobilidade
urbana é uma forma de negar esse
direito. “O que acontece no Brasil é que
as cidades são cada vez mais feitas para
os automóveis e para quem tem direito
ao dinheiro para ter um automóvel e
o resto da população é deixada de lado
praticamente”. Por mais que um engarrafamento
de 40 minutos seja uma situação
enfrentada por todos, há uma disparidade
no bem-estar de quem faz isso sentado
dentro de um carro com ar condicionado,
ou em pé, dentro de um ônibus
apertado com dezenas de pessoas.
Na grande Florianópolis, a situação
de quem precisa se deslocar dentro do
continente é a mais complicada. Na re-
O TICEN fica na área central da capital e virou um dos locais
mais movimentados de Florianópolis.
Imagem: Prefeitura Municipal de Florianópolis
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 17
gião metropolitana, cinco empresas são
encarregadas do transporte coletivo de
passageiros. São elas: Estrela, Biguaçu,
JOTUR, Santa Terezinha e Imperatriz.,
sendo que cada uma tem domínio de uma
porção do continente.
Isso implica diretamente em divergências
internas que dificultam a operação
conjunta e interconectada dos itinerários,
é o que explica o professor Werner
Kraus, pesquisador da área de engenharia
do tráfego e do Observatório de Mobilidade
Urbana da UFSC. A eventual consolidação
de um convênio entre as empresas
que operam na região resolveria parte dos
problemas de deslocamento interbairros
e intermunicipal. A implantação da Rede
Integrada de Transporte Coletivo Metropolitano
vem sendo estudada desde 2015
pela Superintendência de Desenvolvimento
da Região Metropolitana (SUDERF)
em parceria com o Observatório da Mobilidade
Urbana da UFSC. O projeto pretende
implantar um único sistema de transporte
que abrange todos os municípios da
Grande Florianópolis e foi aprovado pela
Assembléia Legislativa de Santa Catarina
(ALESC) em 2018. O Governo do Estado
confirmou que se prepara para lançar
o edital de licitação, mas isso ainda não
aconteceu.
Cada bairro, uma história
Em meio à falta de soluções, a rotina
da gerente de Recursos Humanos, Jami-
O Terminal de Capoeiras (TICAP) funciona como Ecoponto da
Comcap e recebe uma feira livre toda quinta-feira
Imagem: Eduardo Valente/ND
18 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Cidades | Denúncia
la Cabral, é impactada todo dia por um
sistema de transporte público que opera
com pouca lógica. Morando próximo ao
Shopping Itaguaçu, em São José, e trabalhando
em Coqueiros, na parte continental
de Florianópolis, Jamila utiliza três
ônibus em seu trajeto matinal. Antes de
ir para o trabalho, precisa deixar o filho
na creche, que fica próxima ao Hospital
Regional de São José, cidade vizinha
a Florianópolis. Dali outro ônibus a leva
até o TICEN, no centro da cidade e, finalmente,
outro para Coqueiros, o que faz
com que ela atravesse as pontes Pedro
Ivo Campos e Colombo Salles duas vezes
todos os dias.
Especialistas acreditam que a reativação
do Terminal de Capoeiras ajudaria a
resolver parte do problema. Para Bernardo
Meyer, o TICAP conseguiria receber
um pouco dessa demanda e encaminhá-
-la para outros destinos, evitando que as
pessoas tenham que ir até o centro. Em
vez disso, no local atualmente funciona
um Ecoponto da Secretaria do Meio Ambiente
(SMA), onde os moradores podem
descartar resíduos sólidos.
A reportagem consultou a Prefeitura
Municipal de Florianópolis (PMF) que, por
meio da Secretaria de Mobilidade e Planejamento
Urbano (SMPU), afirmou que
está fazendo estudos técnicos e busca
junto às prefeituras de São José, Palhoça
e Biguaçu a viabilidade de utilização dos
terminais de integração desativados no
momento, em especial o TICAP. Contudo,
ao ser questionada, a PMF não informou
os prazos para conclusão desses estudos.
Enquanto isso, quem utiliza ônibus na
região, como Jamila, acaba recorrendo
muitas vezes ao transporte alternativo.
“Se perder um horário de ônibus, já
chego atrasada. Tem dias que eu
estou mais corrida, daí eu pego um
Uber mesmo, para ganhar tempo”.
Para ela, o funcionamento do TICAP
ajudaria a não enfrentar o trânsito das
pontes diariamente.
No Jardim Atlântico, a três quilômetros
do TICAP, está o segundo terminal
desativado do continente, o TIJAR. O
bairro faz fronteira com Barreiros, na vizinha
São José, . Cconstruído em um local
de pouca movimentação. Werner Kraus
afirma que o terminal seria uma solução
se estivesse mais próximo da Avenida
Leoberto Leal, principal via da região e
que funciona como saída dos ônibus que
levam as pessoas de Florianópolis para a
região norte de São José e Biguaçu.
Ele explica que o fato de o terminal
estar distante 1 km da avenida representa
um empecilho em relação a otimização
de tempo e mobilidade dos ônibus
na região. “Tem um defeito de posição,
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 19
Parceria para utilização de um espaço público
que estava totalmente abandonado
Por meio do acordo de cooperação com a FCC, a intenção é desenvolver
ações de cunho artístico e cultural no contraturno escolar,
especialmente com adolescentes, promovendo a inclusão de
comunidades que historicamente se encontram em situação de
exclusão e vulnerabilidade social.
mais próximo da Leoberto Leal ele poderia
funcionar como integração, mas
além disso, precisaríamos da efetiva integração
entre linhas metropolitanas e
linhas municipais”. O TIJAR está desativado
desde 2005. Em 2015, conforme
o contrato 918/SMC/2014, passou por
uma reforma de 18 meses que custou
mais de R$ 1,7 milhão, para que virasse o
Mercado Público do Continente. A ideia
foi descartada e desde março deste ano
o terminal está cedido para o funcionamento
da Escola Olodum Sul.
A utilização faz parte de um termo de
cooperação técnica entre a Fundação
Franklin Cascaes e o Instituto Liberdade,
que administra a escola. O local oferece
cursos na área de cultura, esporte e
cidadania para crianças e adolescentes.
O responsável pelo projeto, Marcos Canetta,
responsável pelo projeto, mora no
Jardim Atlântico desde que nasceu e testemunhou
o abandono do terminal por
anos. “É um convênio importante, uma
concessão de 20 anos, que dá um novo
sentido para este espaço público”. Com
a longa parceria firmada com a Olodum
Sul, a PMF considera que a estação retomou
uma nova função social.
Essa realidade é bem diferente do que
acontece no Terminal Integrado do Saco
dos Limões, uma situação longe de alguma
resolução. Em 2016, o local passou a
funcionar provisoriamente como Casa de
Passagem para indígenas Kaingang, que
migram para Florianópolis e vivem da
venda de artesanatos. Desde então, um
imbróglio segue em andamento na justiça.
De um lado os indígenas, pedem a construção
definitiva do local de passagem; do
outro, a administração municipal, alega
que não há possibilidade de realizar construções
no espaço por conta do Plano Diretor,
que não prevê zoneamento para o
terreno do TISAC e propõe a construção
da casa de passagem em outro local.
Caso, efetivamente, os indígenas fossem
realocados em outro espaço com
melhores condições, e o terminal pudesse
ser reativado, apesar de considerarem
difícil, os especialistas acreditam que
o TISAC poderia voltar a ser utilizado.
Kraus afirma que o terminal deveria funcionar
como um ponto de interconexão.
“Se o TISAC pudesse operar como uma
estação de passagem em que os ônibus
não finalizam seu trajeto, seria melhor”.
População prejudicada
A terapeuta capilar Natali Begotto,
moradora da Caeira do Saco dos Limões,
nunca utilizou o TISAC, mas confirma a
fala do pesquisador. “Tem um problema
de falta de opções de linhas e a que temos
ainda está com horário de pandemia”.
Para Natali, o funcionamento do
terminal oferecendo mais opções de li-
20 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
nhas e horários seria vantajoso.
Na visão dos pesquisadores, tornar o
transporte coletivo mais atrativo e criar
mais pontos de interconexão é fundamental
para o aprimoramento da mobilidade
urbana em cidades como Florianópolis,
mas isso só seria possível com
planejamento.
Bernardo Meyer explica que, atualmente,
quem opta por utilizar o transporte
público está fadado a ficar mais
tempo no trânsito do que quem utiliza
carro ou moto. “Sempre que essa equação
estiver pendendo para o transporte
individual, o transporte público não vai
ser atrativo”. Todos os dias Natali Begotto
lembra que é prejudicada todos os dias
por essa situação. “Preciso sair duas ho-
ras mais cedo de casa pra poder chegar
na hora certa no meu trabalho. Tudo por
conta da falta de horários e de linhas, às
vezes o ônibus atrasa”.
Para Carmen Rial, essa falta de mobilidade
também é uma forma de privar
a liberdade das pessoas, que poderiam
estar usando o tempo que ficam paradas
no trânsito de outra forma. A antropóloga
concorda que, quando um
desstes terminais não serve mais para
o transporte de passageiros, é necessário
repensar o uso deste daquele espaço
público, mas antes de tudo, é preciso
saberobservar por que eles foram desativados.
Rial diz que para entender a situação
é importante observar o que está
por trás de determinadas opções dos
governantes. “Os terminais são abandonados,
porque quem usa ônibus é uma
população a quem não interessa garantir
o mínimo de conforto”.
///
Discussão por construção da casa de passagem
dura anos em Florianópolis
Imagem: Diorgenes Pandini/NSC
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 21
Cidades | Mobilidade
Imagem: Centre for Ageing Better | Unsplash
Como tornar a
Mobilidade Urbana
mais acessível?
Celebrado em 03/12, o Dia Internacional do Portador de Deficiência deve
promover a conscientização sobre o papel da acessibilidade
Texto de Summit Mobilidade publicado em O Estadão
Em 3 de dezembro, é celebrado o Dia
Internacional do Portador de Deficiência.
A data é importante e não
chama a atenção apenas para a necessidade
de assegurar o direito de ir
e vir de todas as pessoas, mas também
para a urgência de promover melhores
condições e otimizar as soluções em
mobilidade urbana. Segundo a Organização
das Nações Unidas (ONU), há 1 bilhão
de habitantes que apresentam algum
tipo de deficiência. No Brasil, estima-se
que esse público corresponda a 24% da
população brasileira, de acordo com os
dados do Censo 2010. Apesar de ser um
dado alarmante por si só, com o impacto
decorrente da pandemia, a carência de
uma ampla rede estruturada que viabilize
um deslocamento prático e seguro ficou
ainda mais evidente.
22 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
A tecnologia assistiva pode desempenhar
um papel importante dentro da mobilidade
Se tratando de acessibilidade, uma
abordagem mais profunda mostra que há
barreiras de diferentes naturezas presentes
no cotidiano das PCDs, dificultando
mesmo a realização de atividades que podem
ser consideradas mais simples no dia
a dia. Intrinsecamente relacionadas, elas
assumem diversas formas tanto nos projetos
urbanísticos, quanto na mobilidade
e na comunicação. Apesar disso, elas também
mostram o caminho para a solução.
mas também promover o barateamento
dos produtos que contam com recursos
de tecnologia assistida, facilitando a realização
de diversas tarefas.
A tecnologia, de forma geral, também
é fundamental para promover a acessibilidade
digital. Presente em páginas da
internet e tradução da linguagem em libras,
por exemplo, ela desempenha pa-
Imagem: Centre for Ageing Better |Unsplash
Elementos que podem
trazer soluções
Ao pensar no desenvolvimento de soluções,
é importante destacar o papel do
desenho universal no urbanismo, que se
faz como um elemento essencial para entrega
de espaços inclusivos. É por meio
dele que a concepção de produtos e serviços
é gerada para atender a todos os públicos.
Como não é necessária sua adaptação,
o conceito torna viável o objetivo
de promover flexibilidade por meio de
uma utilização simples e intuitiva.
A comunicação é outro fator que tem
muito a agregar, sendo relacionada tanto
com o urbanismo quanto com a mobilidade,
e pode ter maior protagonismo por
meio da adoção da tecnologia assistiva.
Ela pode não apenas propiciar uma melhor
utilização de diversos aparelhos, ainda
que ocorra de forma supervisionada,
A falta de elevadores, rampas e calçadas projetadas é uma das dificuldades
que mais se faz presentes no cotidiano.
pel fundamental na entrega de recursos
que oferecem maior conforto e segurança.
As possibilidades de uso conferem
à tecnologia, portanto, um papel
promissor para uma mobilidade urbana
mais acessível. O baixo investimento em
acessibilidade é um dos principais empecilhos
que se fez presente, resultando
em dificuldades de locomoção e de
acesso a diversos espaços. ///
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 23
Educação | Grandes Histórias
Apaixonado por
música, o reitor da
UFSC preza pela
simplicidade
Irineu Manoel de Souza, Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) leva para a administração da instituição valores familiares e a
habilidade de gerir pessoas e problemas
Por Robson Ribeiro
O
reitor da maior instituição de ensino
superior de Santa Catarina não
vem de família de intelectuais nem
tão pouco sofisticada. Para chegar
a esse cargo, ele superou obstáculos, os
mesmos que enfrentam pessoas simples
e humildes. Irineu Manoel de Souza, 67
anos, cresceu em uma casa composta
por oito irmãos, chefiados pela mãe Lídia
da Silva de Souza e pelo pai, Manoel
Fernandes de Souza, na cidade de Santa
Tereza. Localizada no Alto Vale do Itajaí,
no Estado de Santa Catarina, foi ali que,
“Neca Pequeno”, como era chamado, encontrou
uma oportunidade nos estudos.
“A cobrança dos meus pais por estudar
nunca existiu, eu que sempre fui
assim. Com as nossas condições finan-
24 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Irineu Manoel de Souza atuou como diretor do Centro Socioeconômico (CSE)
até sua eleição para reitor. Imagem: Agecom UFSC
ceiras e considerando a própria cultura
de só fazer o primário [hoje Ensino Fundamental
I], o acesso ao segundo grau
[Ensino Fundamental II] era mais difícil.
Eu fui o primeiro a cursar o superior,
então sempre estive abrindo os caminhos,
apesar das dificuldades”. Seu sonho
de estudar o trouxe até a cidade
de Florianópolis, onde hoje é reitor da
Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), que concentra uma comunidade
formada por cerca de 40 mil estudantes
e 5.600 servidores.
Em meio aos despachos, reuniões e
viagens, encontra momentos para cuidar
de si, estar com seus entes queridos
e manter tradições familiares. Um dos
costumes deixados por Lídia, sua mãe,
é reunir os filhos em casa para partilhar
datas importantes, como aniversários,
natais e o tão esperado dia das crianças.
Elci Regina, irmã de Irineu, explica a tradição.
“Era uma promessa que a minha
mãe tinha desde muito tempo e a gente
manteve. Todo ano a gente faz um café
para as criancinhas do bairro, ele participa
e ajuda na compra das coisas”. Depois
que Lídia faleceu em 2021, a família
decidiu não vender sua casa, que fica
no Bairro Ponte de Imaruim, na cidade
de Palhoça, na Região Metropolitana de
Florianópolis, onde parte das vivências
dos oito filhos foram construídas. Hoje
eles se reúnem no local que pertencia
aos progenitores durante os finais de
semana. “É uma maneira da gente se encontrar
aqui, é um lugar mais tranquilo,
como a gente se encontrava com a mãe
antes”, relembra Irineu. Monique Kowalski,
sua filha, 37 anos, considera que a
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 25
Na casa da família é responsável por proporcionar encontros “regados” a violão. Imagem: Robson Ribeiro
casa da avó é um lugar importante para
todos. “Sempre convivemos com os familiares
e as tardes são regadas a muito
violão e brincadeiras de criança”.
Uma casa, muitas lembranças
No espaço, não só as tradições maternas
foram mantidas. Irineu é um dos responsáveis
por manter o legado de seu pai,
Manoel, que faleceu há 23 anos. Todos os
dias após o trabalho, tomava café e tocava
cavaquinho, violão e outros instrumentos
de percussão. Durante os momentos em
que estava reunido com os filhos, ele os
ensinava a tocar e a cada “aula”, o pequeno
aprendia, por observação, as melodias
dedilhadas. Hoje, ao tocar violão para a
família em um movimento alusivo ao pai,
lembra da infância, da vida sem compromissos
e das festas de finais de semana.
Em um dia de visita à casa dos pais, no
feriado de Proclamação da República, em
15 de Novembro, ainda durante o trajeto
no carro, a conversa sobre os jogos de tabuleiro
revela o lado brincalhão do gestor.
Mas a preocupação com o trabalho e as
decisões à frente da UFSC não são perdidas
de vista. Isto porque, uma reunião da
comissão de enfrentamento ao Covid-19
havia sido convocada dois dias antes para
debater o retorno do uso das máscaras de
proteção facial na instituição. Irineu conversa
com o irmão, Luiz Celio, que trabalha
no setor administrativo de uma escola da
rede estadual de ensino em Florianópolis.
Ele o questiona em relação ao andamento
das discussões sobre o retorno do uso dos
Equipamentos de Proteção Individual (EPI
‘s) em um sinal que soa como consulta de
perspectiva e orientação para futuros encaminhamentos
na universidade.
26 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
“Ai, se alguém segura o leme
Dessa nave incandescente
Que incendeia minha vida
Que era viajante e lenta
Tão faminta d’alegria
Hoje é porto de partida"
No percurso, a indecisão acerca do assunto
é quebrada quando os dois param
em uma padaria para comprar os itens
para o lanche da tarde. Na lista: pão de
trigo, rosca, requeijão e refrigerante. Sequenciar
as tarefas é um hábito de Irineu,
foi uma das soluções encontradas para
melhor organizar o tempo, que ficou ainda
mais corrido depois que assumiu a
Administração Central da UFSC. Segundo
o dirigente, estar à frente do gabinete
exige mais atenção do que os outros
postos por onde já passou. É preciso entregar
muito de si, mas também saber limitar
os momentos que requerem cessar
o infindo e complexo trabalho, algo que
não conseguiu resolver completamente.
Antigamente, as anotações eram feitas a
mão, em cadernos, mas hoje também domina
as ferramentas digitais. “Um defeito
que tenho é que eu fico ligado o tempo
todo. Chego em casa e sempre mantenho
a atenção no celular e no computador”.
Nos momentos em que consegue se
desprender do trabalho, as preocupações
dão lugar a uma atmosfera de retorno
à infância. Durante a passagem
pela panificadora, Irineu e Luiz se perdem
um do outro por entre os corredores
e como crianças a brincar de esconde-esconde
se procuram por entre
as prateleiras. Ao chegar à casa da mãe,
Os irmãos também se divertem com jogos de tabuleiros
quando se encontram na casa dos pais.
Imagem: Robson Ribeiro
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 27
Educação | Grandes Histórias
o ambiente se transforma e todos são
transferidos para o passado, onde o clima
de nostalgia toma conta. Elci chega logo
na sequência e segue rumo à cozinha
para preparar o café, enquanto Irineu se
organiza para iniciar a tarde de músicas
ao violão. Ele afina o seu aparelho e logo
na sequência o de Luiz. O olhar atento e
sério guia os versos da composição dedilhada,
enquanto assopra o diapasão,
instrumento que produz por meio dos
sopros determinadas ondas sonoras e é
usado para afinar instrumentos de corda.
Ao fim da longa e apurada afinação,
a primeira canção é embalada pelo som
de Vira, Virou, dos compositores Kleiton
e Kledir. A introdução instrumental da
música deixa em suspenso qual dos dois
vai puxar a letra. Em alguns instantes, o
canto é incorporado à melodia.
Simplicidade e generosidade
De repente, como na partida veloz da
nave incandescente, Irineu solta a voz e
a seriedade inicial do olhar aguçado e audição
atenta são desfeitos, à medida que
mergulha no universo retratado na letra
da música. A maneira calma e ponderada
com que canta, espelha o modo como
constrói as relações com as pessoas. Segundo
Monique, desde pequena, reconhece
no pai aquele que é procurado para
auxiliar na resolução de problemas de
O café da tarde após a roda de música é uma tradição deixada pelo pai, Manoel. Imagem: Robson Ribeiro
28 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Parte da equipe das pró-reitorias e secretarias presente no momento de entrada do reitor e da
vice-reitora no Gabinete da Reitoria. O registro demonstra a forte presença feminina na nova gestão.
Imagem: Henrique Almeida/Agecom
colegas e até de desconhecidos. Nos passeios
que faziam, ouviu muitas pessoas
contarem como tinham sido ajudadas por
Irineu. “Eu não tinha noção do significado
daquela ajuda, nem do que o meu pai
fazia. Mas eu sempre cresci com o sentimento
de que ele ajudou muita gente”.
A filha reconhece a generosidade do
pai, inclusive, na forma como a criou.
“Ele me ensinava por experimentação,
não me privou". Para a filha, os ensinamentos
do pai passam pela liberdade
de escolha e o respeito do processo das
pessoas envolvidas.
O valor da simplicidade, trazido de
casa por Irineu, e abertura que permitia
aos alunos quando era diretor do Centro
Socioeconômico, entre 2016 e julho de
2022, foi trazida para a reitoria da UFSC
e refletem na atual gestão da universidade.
Segundo Gabriela Costa, secretária
do Gabinete, o perfil facilitador do reitor
tornou o ambiente de trabalho mais
humanizado. “Por vezes ele tenta transpassar
a questão burocrática para poder
ajudar, claro, não fazendo nada que seja
ilegal, mas para esgotar as possibilidades,
põe a mão na massa e acolhe. Tem dias
que ele atende das 8h da manhã às 20h”.
Ao contrário da letra da canção Vira,
Virou, a rotina de Irineu não é viajante
lenta. Com tamanha responsabilidade,
administrar o tempo entre a universidade
e a família não é uma atribuição simples.
Na sua visão, os aprendizados são
complementares às experiências nos
dois âmbitos da vida. “A única diferença é
que na universidade tenho aqueles compromissos
e responsabilidade e na minha
casa estou mais à vontade.” Ele reforça
que realiza a transição entre os dois
mundos com naturalidade. “Na verdade,
acredito que a separação cria um pouco
de artificialidade”. Seja como colega de
trabalho, pai, irmão ou avô, seu coração
navegador segue movido pela alegria de
fazer a diferença na vida de cada pessoa
que passa pelo seu caminho. ///
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 29
"Esse é o sexo de que tanto falavam?”
30 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Matéria Especial - Spotlight
Secura vaginal
e a saúde das mulheres
Problemas ligados a lubrificação íntima afetam milhares de brasileiras
Por Mariana Franco e Victoria Prado - Imagens Ilustrativas: Unsplash
Para Sabrina, uma jovem de 24 anos, estudante do oitavo semestre de engenharia
civil, sexo era sinônimo de dor e desconforto. Seus momentos de prazer se tornaram
apenas uma obrigação para a satisfação do outro. “Esse é o sexo de que tanto
falavam?”, julgava ela, emudecida pela vergonha. Nem mesmo conseguia contar
para as amigas que o namoro de dois anos ia de mal a pior e já não sentia mais vontade
de se relacionar. O namorado, Eduardo, de 22 anos, que dividia seu tempo entre os
cálculos no curso de ciências contábeis e os turnos de estágio, reclamava que ela já não
era mais a mesma. Sabrina evitava qualquer momento íntimo e fugia quando questionada.
Para ela, o sentimento era de que havia algo de errado com seu corpo e, principalmente,
de que era a única responsável em achar uma solução para esse problema.
O que ela ainda não sabia é que todo o desconforto na relação acontecia devido à sua
baixa lubrificação na vagina, que afetava tanto a vida sexual, quanto todo seu dia a dia.
Sabrina não é um caso isolado. Ela representa milhares de mulheres que convivem
com a secura vaginal e sequer sabem nomeá-la. Segundo um estudo da Metrópole
Brasil, publicado em 2008, pelo menos 35% das mulheres adultas brasileiras sofrem algum
tipo de disfunção sexual, sendo a baixa lubrificação uma das mais comuns entre a
população feminina. “Os sintomas aparecem como dores na relação sexual, coceiras ou
sangramentos e também através de relacionamentos amorosos fragilizados, autoestima
instável e desinteresse pelo sexo, ligado diretamente ao fator emocional”, explica a
sexóloga e psicóloga pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Buna Vargas.
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 31
Imagem: Tamara Velazquez | CaptureNow
Matéria Especial - Spotlight
Diferentemente do que muitos acreditam,
não é apenas a chegada da menopausa
que incide na baixa lubrificação, já
que mulheres jovens, em período fértil e
com a vida sexual ativa também podem
apresentar os mesmos sinais. A estudante
de 21 anos, Amanda Costa, relata
que em seu caso “começou quando fui
usar um absorvente interno e percebi
que tinha muita dificuldade de fazer ele
passar, muito mais do que minha mãe e
minhas amigas, só que ainda assim não
era algo que eu me preocupasse. Depois,
quando estava com meu namorado
eu notava que algo estava errado, mas
achava que tinha a ver com a minha idade,
porque eu ainda era adolescente”.
A ausência de informação e diálogo
são um dos principais motivos que levam
a mulher a se ver atingida emocionalmente.
“Já atendi várias pacientes que
achavam que tinha algo errado com elas
mesmas e, a partir disso, começaram a se
culpabilizar'', comenta Bruna. Ainda de
acordo com a especialista, pelo fato das
mulheres serem consideradas multitarefas
e carregarem consigo o mito de que
conseguem dar conta de tudo o tempo
todo, relaxar, às vezes, não é tão simples.
Sentimentos negativos geram mais dificuldades
para criar um ambiente prazeroso,
estar tranquila é essencial. "Para
termos uma lubrificação adequada, nós
precisamos estar de bem com a gente e
Considerada a primeira fase da resposta sexual feminina e sinônimo de
excitação, a umidade também ajuda a proteger a área genital de dilacerações
e mantém a vagina limpa.
com nossa saúde mental em dia", afirma
a ginecologista e obstetra pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC),
Margel Cantarelli. Um estudo do departamento
de Psicologia da Universidade
de Texas em Austin (UT) realizado apenas
com mulheres, aponta que o hormônio
do estresse, o cortisol, pode prejudicar
de forma direta a resposta sexual e a libido.
Da mesma maneira, doenças que afetam
o funcionamento correto da mente,
como depressão ou ansiedade, refletem
na autoimagem, no desejo sexual e, consequentemente,
na lubrificação.
32 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
O ressecamento vaginal pode ser causado por
uma série de fatores. Mas, por estar relacionada
com a diminuição da produção do hormônio
estrogênio, é bem mais comum na menopausa
Como acontece
a lubrificação?
A lubrificação íntima acontece por
meio de duas glândulas - Bartholin e
Skene -, pelo colo uterino e pelas células
que produzem fluidos para manter a vagina
umedecida. As glândulas de Bartholin
são responsáveis por conservar a lubrificação
diária dentro da normalidade.
Já as glândulas de Skene atuam liberando
um líquido incolor ou esbranquiçado durante
a incitação sexual. “Estímulos sensitivos
sensoriais e estímulos do ambiente
vão influenciar para que nosso corpo
produza a lubrificação de uma maneira
geral durante o sexo. Além disso, a mulher
precisa estar calma”, explica Margel.
Um fator determinante para uma região
íntima saudável é ter um corpo sadio.
Alimentação apropriada, rica em frutas,
verduras e legumes, é indispensável para
uma boa lubrificação vaginal, assim como
o consumo de cálcio e vitamina D. Para
a nutricionista, Camila Mercali, mestre
em Fitoquímica pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR), “alimentos industrializados
e que geram inflamação, por
exemplo, o consumo excessivo de carnes
vermelhas e bebidas alcoólicas, vão alterar
e interferir no desenvolvimento de
hormônios encarregados de lubrificar e
provocar a libido”. Camila ainda nega que
existam alimentos específicos que, ao serem
consumidos, melhorem o rendimento
sexual. É importante que no processo de
obtenção de lubrificação adequada - tanto
no dia a dia, quanto no momento da relação
sexual - não haja alteração ou distúrbio
hormonal, que a estrutura anatômica
da vagina e as diversas bactérias presentes
na flora vaginal, chamadas de lactobacilos,
estejam funcionando corretamente e consigam
proteger o órgão de possíveis infecções.
Segundo a ginecologista Margel, “a
mulher pode apresentar ressecamento por
conta de outras coisas que não estão dentro
da normalidade. A questão da lubrificação
é muito mais do que apenas na hora da
relação, ela também vai depender de você
ter um órgão saudável”.
Durante o período de amamentação, é
fisiologicamente natural o ressecamento
vaginal, assim como a diminuição da libido
causada pelo aumento de prolactina
- hormônio que estimula a produção do
leite materno pelas glândulas mamárias
- porque o corpo dá enfoque ao cuidado
com o recém-nascido e as questões re-
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 33
lacionadas à maternidade. Na menopausa,
a umidade na vagina também tende
a baixar, devido a níveis de estrogênio
- hormônio que prepara o útero para a
chegada do embrião, iniciando a gravidez
- estarem quase zerados dentro do
organismo. A pílula anticoncepcional é
outra causa da pouca lubrificação, já que
o contraceptivo age nos níveis hormonais,
inibindo o ciclo menstrual.
Por conta disso, é comum algumas
mulheres terem esse efeito colateral ao
usar o método. Margel salienta que “não
há muito o que fazer. É possível tentar
trocar ou tirar o contraceptivo, dependendo
de cada caso em específico”. Usar
um gel lubrificante pode ajudar na hora
da relação sexual ou da masturbação,
mas ainda segundo a médica, é importante
avaliar se a pílula anticoncepcional
é a causa única do problema.
Algumas doenças como a bartolinite, a
Síndrome de Sjögren e o vaginismo têm
como sintomas a baixa lubrificação vaginal.
A bartolinite é a inflamação das glândulas
de Bartholin - responsáveis pela
lubrificação diária -, que acontece como
consequência de infecções na região da
vagina. Essa inflamação origina um cisto
que obstrui o canal que transporta o
fluido lubrificante, causando dor, vermelhidão
e inchaço. A Síndrome de Sjögren
- também chamada de exocrinopatia
autoimune, síndrome seca ou sicca -, é
uma doença decorrente da disfunção das
glândulas exócrinas - aquelas que liberam
fluidos, como a saliva e as lágrimas, para
fora do corpo -, levando ao ressecamento
das áreas afetadas, e que, em casos mais
avançados, atinge a vagina, resultando na
Outros fatores que podem contribuir para
a secura são o uso de alguns remédios,
alergias, estresse, uso de sabonetes íntimos
ou outros produtos que podem alterar
a flora vaginal.
Imagem: atlasstudio
34 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Assunto ainda vira polêmica
A rapper norte americana Cardi B lançou a música
WAP que fala sobre um tema incomum: a
lubrificação vaginal relacionada à satisfação
sexual feminina. A letra direta e exagerada virou
motivo de polêmica nas redes sociais.
diminuição de sua umidez. Já o vaginismo,
é a contração involuntária dos músculos
do assoalho pélvico, que geram dificuldade
ou até impossibilidade de penetração
vaginal em consequência da dor. O tratamento,
tanto da bartolinite, quanto da
Síndrome de Sjögren, é feito a partir de
medicamentos. No vaginismo, por estar,
geralmente, relacionado a traumas, abusos
ou problemas psicológicos, o processo
de recuperação é mais longo.
A fisioterapia é uma aliada significativa
na prevenção e no tratamento de disfunções
no órgão sexual feminino. Exercícios
de fortalecimento do assoalho pélvico são
eficazes na sensibilidade, na força da musculatura
e no fluxo sanguíneo da região
perineal (área entre o ânus e a vagina),
favorecendo a melhora do desejo sexual,
excitação, lubrificação e, consequentemente,
na chegada ao orgasmo. Conforme
a pós-graduada em Fisioterapia Pélvica e
Uroginecologia Funcional pela Universidade
Inspirar, Juliana Castrillon, “através
de técnicas é possível aumentar a coordenação
das contrações musculares desta
região, melhorando a função da musculatura
no ato sexual”. A profissional afirma,
também, que a fisioterapia tem se mostrado
efetiva entre os recursos terapêuticos
usados para o tratamento do vaginismo
e dispareunia (dores durante o sexo).
O pompoarismo é um dos métodos que,
através de exercícios coordenados, aju-
dam no ganho
de
elasticidade
do canal vaginal, diminuindo
o desconforto no momento da
penetração e proporcionando um maior
autoconhecimento feminino.
Conhecer e explorar o próprio corpo
é um dos mecanismos primordiais, tanto
para entender se há alguma irregularidade,
quanto para ajudar a solucionar possíveis
problemas. Jéssica, de 43 anos, conta
que nunca teve uma boa lubrificação nem
quando era jovem, "com o tempo senti
que isso piorou e foi deixando minha vida
sexual menos ativa. Numa consulta periódica
com minha ginecologista, comentei
que transar não era como antes. Foi aí que
descobri a masturbação”.
Para a psicóloga e sexóloga Bruna, "a
masturbação tem muito a ver com conhecer
e explorar a si própria. Também,
pôr uma musiquinha, deixar meia luz ou
apagar para que fique um ambiente mais
confortável, consequentemente, aumentando
a intimidade com seu corpo”.
No caso de Jéssica, trabalhar para compreender
a si mesma melhorou a relação
com seu parceiro “Me conectar comigo
fez com que eu soubesse exatamente o
que eu gostava e, assim, ficou mais fácil
explicar ao meu marido como e onde eu
queria ser estimulada. Nos aproximamos
muito porque isso aumentou, também,
nossa intimidade”. ///
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 35
"Eu faço Jornalismo
Mãe
Prestes a completar 50 anos, a jornalista Laine Valgas se dedica a
novos projetos profissionais e ao sonho de ser mãe
"
Por Pablo Brito
Laine Valgas quer ser mãe. Em 2023,
uma das jornalistas mais conhecidas
de Santa Catarina completará 50
anos e anuncia a maternidade como
um dos seus projetos. A declaração é feita
em uma de suas palestras sobre saúde
emocional para dezenas de mães e pais
de uma escola de ensino fundamental de
Florianópolis. Atuando há alguns anos
também como palestrante, diz que não
há frieza nenhuma em classificar a futura
gravidez como projeto. “É um projeto,
exige responsabilidade. Estou me preparando
para ser mãe, como me preparei
para tudo nessa vida”.
Com um sorriso largo e uma mão que
vai afagando a todos que a abordam, a
apresentadora do Jornal do Almoço (JA)
36 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
“
Quem me vê hoje como apresentadora de TV, em uma carreira
de quase 30 anos, talvez nem imagine, que até muito pouco
tempo atrás eu não conseguia me assistir na televisão”
Laine Valgas
estabelece uma intimidade instantânea
com quem encontra. Afinal, são 13 anos
ancorando, de segunda à sábado, um dos
telejornais de maior audiência do Estado.
À frente do JA, viu a emissora afiliada
da Rede Globo se transformar, passar
de RBS TV para NSC TV, ao mesmo tempo
em que o Jornalismo mudava com a
chegada das redes sociais. A voz ampliada
das redes causou temor e estranheza
no começo, mas acabou virando mais
uma forma de se aproximar do público.
“Ela é como se fosse da família, né?! Todo
dia ali com a gente na hora da refeição”,
enfatiza Lígia Soares, uma das mães da
plateia. Lígia é a última da longa fila que
se formou no final da palestra para abraços
e fotografias. “Como é que não vou
compartilhar com essas pessoas algo tão
importante da minha vida, como decidir
engravidar? É uma forma de eu jogar
para o universo também”.
Embora o projeto de ser mãe hoje seja
uma prioridade, e já tenha uma carreira
consolidada, os planos para o futuro
são inúmeros. Com uma lista de 14
formações, além do Jornalismo, entre
elas especialista em Neurociências,
Psicologia Positiva e Mindfulness
(técnica que auxilia a ter atenção
plena no presente); ainda encontra
tempo para fazer seis cursos
simultaneamente, incluindo um
de biodecodificação de doenças
emocionais. A vontade de se matricular
nesse último surgiu quando decidiu engravidar.
Em consulta com seu ginecologista,
descobriu um mioma no útero.
Seguiu o tratamento proposto pelo médico,
mas ao mesmo tempo foi buscar
entender a causa emocional do nódulo.
“O mioma cresce quando a mulher se
sente desvalorizada ou abusada”. Mostrar
seu valor é algo que busca desde
pequena, quando sofria bullying por ser
uma criança acima do peso.
“Quem me vê hoje como apresentadora
de TV, em uma carreira de quase 30
anos, talvez nem imagine, que até mui-
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 37
Perfil
to pouco tempo atrás eu não
conseguia me assistir na levisão”. A aversão por sua
imagem vem da infância. A
criança fofinha e que era
te-
a rainha da família leva
um choque de realidade
ao entrar para a escola.
“Era comum ouvir frases
como ‘Tu é gorda, tu é
feia, nunca vai casar’, e elas vinham
assim, acompanhadas até de dancinha”,
lembra enquanto repete a entonação e os
gestos dos colegas. Muito cedo a pequena
Laine descobriu que não se sentir incluída
era dolorido. A chegada do irmão Dêivid,
quando tinha quatro anos, piorou a situação.
“Eu me sentia rejeitada na escola, e
quando chegava em casa queria o colo da
minha mãe, e quem estava lá? Meu irmão”.
Hoje ela diz saber que o amor era igual
para os dois e ama o irmão de paixão.
Olhando a mãe trabalhar muito para que
nada faltasse aos filhos, Laine foi fazendo
de tudo para ser uma criança que não
dava trabalho, e isso era reconhecido por
todos. Porém, toda vez que a mãe repetia
que ela era boazinha e não incomodava,
reforçava em sua mente que precisava ser
uma filha perfeita.
A criança exemplar virou uma aluna
dedicada. Quando entrou na faculdade
de Jornalismo na Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), a autocobrança ex-
ces-
siva fez com
que desenvolvesse transtornos
alimentares. “Eu precisava
ser perfeita, e estar acima do peso não
combinava com minhas ambições”. Apesar
de lembrar com carinho dos colegas e
professores da UFSC, considera a época
de formação um tempo complicado. “Foi
quando parei de comer, desenvolvi bulimia
e anorexia. Perdi 17 quilos e recupe-
rei o dobro”. O processo resultou em “O
peso de uma obsessão”, seu Trabalho de
Conclusão de curso em que abordou o
tema. “Por que eu faço isso comigo? Comecei
a me questionar por que eu e muitas
pessoas fazíamos tantas dietas para
serem aprovadas pela sociedade. Sinto
que a nova Laine começou a nascer exa-
tamente ali”.
Em janeiro de 1994, recém-formada,
se inscreve em uma seleção para ser repórter
da TV Barriga Verde (TVBV), afi-
38 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
liada catarinense da Band. Durante todo
processo seletivo, seu único pensamento
era que nunca iriam contratar alguém
acima do peso para trabalhar na televisão.
Aprovada, começa sua carreira em
frente às câmeras, lugar do qual nunca
mais sairia. “Era a primeira vez que alguém
estava olhando minha alma e não
minha forma física”, diz se referindo aos
chefes na TVBV.
O olhar atento para a alma do outro é
recorrente na forma como trabalhou nos
últimos 28 anos. Isso fica evidente quando
reencontra a dona de casa Jussara
Ferreira na palestra. Moradora do bairro
Estreito de Florianópolis, o mesmo
em que Laine nasceu e cresceu, Jussara
foi personagem de uma das matérias
feitas pela jornalista. As duas viajaram
juntas até Mi-
nas Gerais para tentar
encontrar o pai da
dona de casa, que
ela nunca conhecera.
“Humana,
sincera e muito
profissional,
principalmente
quando
precisou me
dar a notícia
que
meu
pai não estava
mais
v i v o .
Depois que a conheci,
deu pra ver que não tem nenhuma
diferença da que aparece na televisão”.
O colega de apresentação no JA,
Douglas Costa, confirma. “A energia boa
que a Laine tem transparece e isso faz
ela ser tão querida pelo público”.
A âncora conta que a intimidade que
desenvolveu com os telespectadores
nem sempre foi bem recebida. Algumas
pessoas que passaram por sua vida profissional
chegaram a pedir que ela tocasse
menos nas pessoas. “Na época do quadro
Missão Mudança no JA, eu praticamente
pegava as pessoas no colo, imagina não
tocar, não abraçar?”. Essa proximidade fez
com que se tornasse amiga de Munique
da Costa. Hoje com 30 anos, a produtora e
fotógrafa brinca que cresceu nos bastidores
do JA. Quando tinha 12 anos, escreveu
um email para a apresentadora falando
que a admirava. A resposta veio em forma
de convite para acompanhar uma edição
do telejornal. “Ela me recebeu com muito
carinho. Ir ao jornal e ficar lá nos basti-
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 39
Perfil
dores acabou virando um ritual. Eu
ia de tempos em tempos e ela foi
me vendo crescer”. Munique cursou
Jornalismo e a amiga foi sua primeira
entrevistada. “Criamos uma amizade
muito bonita e de muitas trocas”.
A troca com o público sempre esteve
presente no seu caminho. “Eu
sempre gostei mais do Jornalismo que
é humano, dessa relação que vai além
de uma tela de televisão. Eu faço o Jornalismo
Mãe”. Lembra que durante a
pandemia ficou muito preocupada com
quem estava isolado em casa. Com o que
tinha aprendido nas formações em saúde
mental e neurociência, sabia que, mesmo
sendo necessário, falar de mortes e doenças
todos os dias poderia abalar ainda
mais o emocional das pessoas. Aflita,
procurou a direção da emissora. “Estamos
matando o telespectador”, afirmou.
Propôs um quadro dentro do JA na intenção
de mostrar o que o público estava
fazendo para ficar bem dentro de casa. O
Coronalívio recebeu mais de 52 mil vídeos
de telespectadores de vários lugares
do mundo. Acabou descobrindo na prática
que a busca pelo bem-estar não era
mais um simples objetivo das pessoas, tinha
virado uma urgência global.
Da semente plantada durante a pandemia
surgiu o Fique Bem. A série de
reportagens é o seu projeto atual no JA
e na Rádio CBN. Com duas temporadas,
a estreia aconteceu em
novembro de 2021 e já recebeu nomes
como os escritores Rossandro Klinjey e
Monja Coen. “Não sou eu que faço as pessoas
ficarem bem, a intenção é que elas
fiquem bem entendendo que ferramentas
possuem e até então não conheciam”.
O tema virou uma filosofia de vida e ela já
patenteou o nome Fique Bem. Entre seus
planos está transformar a marca em uma
plataforma de referência sobre Jornalismo
que fala sobre saúde mental.
Enquanto explica o futuro do Fique
Bem, acrescenta que fará uma nova
pós-graduação em 2023. “Vou fazer Psiquiatria
Nutricional, uma área que estuda
como o que entra pela boca afeta o
cérebro”. A apresentadora confessa que
já se questionou sobre essa vontade de
estar sempre estudando. “No começo
40 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
era uma forma de buscar uma perfeição
que eu sei que não existe. Insegurança,
medo de não ser aceita. Eu me cobro
muito, mas eu amo aprender. Fui me
conhecendo e entendi que tudo isso faz
parte da minha personalidade”.
“A autocobrança dela existe, não é
uma questão de querer provar para al-
guém, mas para si mesma. Ela tem consciência
disso e vem aprendendo a
dosar”, revela Affonso Kulevicz, marido
de Laine. Para ele, a cobrança
faz parte de uma história que vem
de gerações. “O fato de vir de uma
família de mulheres muito trabalhadoras
e que sustentavam a
casa, acaba fazendo com que ela
também carregue essa responsabilidade”.
Para Affonso, não há
chances dela parar, mesmo com
a maternidade. “É um projeto
de muito amor, ela vai unir
tudo e no final vai dar certo,
como sempre. Eu enxergo
ela como uma mãe incrível”.
A jornalista diz que
2023 deve ser um ano de
colheita, em que vai transformar
ideias em realidade.
“Mãe é um projeto,
não é uma obsessão. É
um projeto aberto para
o que possa acontecer”.
Consolidar o Fique Bem
e poder trabalhar com leveza em cima de
temas que gosta é outro objetivo. Afirma
que será um ano de dizer não para algumas
coisas, de se aprofundar em outras,
de entender alguns movimentos e até de
respirar. “Não vou virar uma monja, não
é o meu perfil. O que vou aprender é a
me movimentar com mais sabedoria. É
o que eu quero para 2023: movimento e
sabedoria”. ///
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 41
Imagem: Fabrice Coffrini / AFP
Cobertura Especial - Copa do Mundo
Como é cobrir a
Copa do Mundo?
Para os jornalistas, a copa do mundo além de ser um momento que pode
mudar a carreira, também é uma ocasião para guardar muitas lembranças
Por Victoria Prado
Neste ano, o país selecionado para
sediar os jogos foi o Catar, sendo a
primeira vez que a cultura árabe assume
o evento. A razão por trás das
mudanças do início da copa do mundo se
deve às altas temperaturas que a região
tende a ter, chegando a mais de 40°, o que
poderia prejudicar tanto os jogadores,
quanto os torcedores. Por isso, ao invés
de ser na metade do ano, como de costume,
a promotora oficial da competição
decidiu mudar a data para começar no
passado mês de novembro.
Como já era esperado, a estrutura
montada para receber o maior campeonato
de futebol do mundo não é pequena,
sete dos oito estádios onde acontece
a competição foram construídos do zero
e idealizados para serem desmontados
depois da finalização da copa. No Brasil,
42 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
vários jornalistas se preparam para cobrir
o evento, mesmo à distância.
Filipe Cury, do canal SporTV, conta
que a rotina acaba sendo totalmente diferente
do que se pensa. O foco é direcionado
para as histórias que ilustram
o que acontece nos campos do outro
lado do planeta, além de mostrar a repercussão
que o campeonato gera entre
os brasileiros. “Sabemos que é algo que
mobiliza todo mundo, e a nossa cobertura
acaba girando em torno disso, das
pessoas, de como e onde elas estão assistindo”,
comenta o jornalista.
Contudo, o evento de grande porte
recebeu várias críticas mesmo antes de
começar. Devido às leis do país, surgiram
algumas restrições que se relacionam ao
alcorão - livro sagrado da religião islã -.
Evitar roupas curtas, fotografias sem au-
Depois de 12 Copas do Mundo, Galvão Bueno narrou
no domingo (18) pela última vez na TV aberta.
Imagem: Divulgação Rede Globo
Filipe Cury não foi para o Catar, mas foi um dos responsáveis
pela cobertura da Copa 2022 na GloboNews.
Imagem: Reprodução Instagram Filipe Cury
torização, bebidas alcoólicas em espaços
públicos e, inclusive, demonstrações de
afeto, são as principais regras pautadas.
Por outro lado, muitas pessoas discordaram
de, entre vários países, a Federação
Internacional de Futebol Associado
(FIFA) escolher especificamente o
Catar para sediar os jogos. A região tem
uma série de denúncias sobre violações
aos direitos humanos da Organização
das Nações Unidas
(ONU) e nos últimos
meses foram
divulgadas diversas notícias sobre
o trabalho escravo que esteve presente
na construção dos estádios.
Filipe afirma que o papel de quem reporta
é estar preparado para todo tipo
de situação. “Para trazer informações de
qualidade, nós precisamos entender que
a cultura do país árabe é completamente
diferente da nossa. Além de apurar,
respeitar sempre é o mais importante
na nossa profissão”. A questão financeira
tende a ser a maior dificuldade que as
editorias enfrentam para se deslocar até
o lugar, motivo principal de acontecer
mais coberturas online este ano. Porém,
nessa modalidade, considerando que se
utilizam diversas fontes, veículos de imprensa
local, notícias dos sites oficiais e
as opiniões dos jogadores nas redes sociais,
o cuidado com a apuração e a checagem
dos fatos deve ser reforçado.
Inegavelmente, a Copa do Mundo em
2022 foi cheia de surpresas. Uma delas a
saída de um dos principais jornalistas esportivos
brasileiros, o narrador Galvão
Bueno, que se despediu da TV aberta neste
domingo 18. O vencedor desta vez foi a
Argentina, ganhando da França. O campeonato
deste ano acabou, mas os jornalistas
já estão se preparando para trabalhar
no próximo, que acontecerá em três
países diferentes, com jogos no Canadá,
Estados Unidos e México em 2026. ///
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 43
Esporte
Não é surfe, é
skimboard
Entenda mais sobre o esporte que vem ganhando
reconhecimento no Brasil nos últimos anos
Por Victoria Prado
“
No Brasil você consegue contar
nos dedos quantas meninas
profissionais praticam
skinboard, e já tivemos mais,
só que essa questão de você conseguir
e ser reconhecida
acaba te levando a procurar
outra profissão”
Julia Dias
Imagem: Arquivo Pessoal Julia Dias
44 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Foi somente no final da década dos 80 que a
modalidade chegou ao Brasil, ganhando mais
popularidade nos anos 2000
Entre a mistura do surfe e skate, o
skimboard trouxe um novo significado
aos tradicionais esportes aquáticos.
A prancha geralmente é menos
pesada, conta com um material de resina
e não possui rodas nem quilhas - peças
que se encontram na parte inferior traseira
-. O objetivo é claro: correr na areia
até encontrar o mar e conseguir deslizar
no espelho da água em direção à arrebentação
das ondas. O praticante então
poderá fazer diversas manobras em cima
da prancha e finalmente voltar à areia.
O “Skim” surgiu na década de 50, na
Califórnia, Estados Unidos. Curiosamente
sua origem se deu graças a guarda-vidas
que costumavam utilizar pranchas de madeira
para alcançar mais rápido os banhistas
que estavam em perigo. Algum tempo
depois, as pessoas perceberam que isso
podia não ser apenas uma prática utilizada
unicamente em casos de emergência,
mas sim uma novidade com grande potencial
que, sobretudo, era divertida.
Foi somente no final da década dos 80
que a modalidade chegou ao Brasil, ganhando
mais popularidade nos anos 2000.
Aqui, a prática inicialmente era chamada
de “sonrisal”, nome de um esporte similar
que conta com algumas características
diferentes. Uma delas é que a prancha de
madeira é totalmente redonda, o que torna
mais difícil realizar movimentos. Desde
então, as técnicas e termos foram se
aperfeiçoando para que o skimboard evoluísse
no território nacional.
Consequentemente o esporte ganhou
mais visibilidade, e com o tempo
foram surgindo cada vez mais esportistas
interessados. Hoje há aproximadamente
30 mil praticantes ao redor do
mundo. O esporte atualmente tem tanto
impacto, que marcas famosas como
Mormaii e Red Bull são patrocinadoras
constantes das competições.
Julia Dias: brasileira apaixonada pelo
Ju (como é chamada pelos amigos) é uma das poucas
“skim”
meninas a praticar o skimboard no Brasil
Imagem: Arquivo Pessoal Julia Dias
Nascida no litoral norte de São Paulo e
hoje estudante de Jornalismo na Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC),
Julia tem 20 anos e é uma das poucas mulheres
que praticam profissionalmente o
skimboard no Brasil, inclusive, a única da
sua cidade natal.
A esportista se declara encantada pela
modalidade desde criança. Júlia cresceu
na Praia da Sununga, em Ubatuba, segundo
melhor lugar para skiar. O local tem
um ambiente repleto de surfistas, o que
influenciou nessa fascinação. “Minha família
foi um dos grupos responsáveis por
implementar o skim na praia da Sununga,
eles criaram a Associação Ubatubense de
Skimboard (AUS) e começaram a fabricar
pranchas, as distribuiam para toda a comunidade.
Não tinha como eu não parti-
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 45
Esporte
Uma das maiores satisfações de Julia no esporte é
representar o gênero feminino.
Imagem: Linda Fidelis | Arquivo Pessoal Julia Dias
cipar disso”, conta. Atualmente a Praia da
Sununga é o principal local de encontro
para competições no país.A ideia de manter
o equilíbrio em cima de uma onda já
parece o suficientemente complexa, E se
torna ainda mais quando analisamos o
alto risco de ferimento nessas horas.
Ju, como muitos costumam chamar,
já se lesionou gravemente quatro vezes
desde que começou a skiar. Ela afirma
que a primeira fratura foi na panturrilha
e precisou passar um tempo longe
do esporte. “Tive que ficar por três meses
usando gesso e fazendo fisioterapia.
Depois foi o osso da clavícula, a boca e
o último foi o tornozelo. Não conseguia
nem andar”. A atleta ainda reitera a importância
de tomar certos cuidados antes
e depois de fazer skimboard. “Manter
um bom estado físico, realizar exercícios
constantemente e sempre ter uma série
de alongamentos antes de entrar na
água, são os principais'', afirma.
Representar o gênero feminino sempre
foi uma das partes mais satisfatórias
na trajetória da atleta. Na infância, tendo
apenas 10 anos, Julia já estava consciente
do contexto machista que teria que enfrentar
para poder competir contra o resto
de garotos que skiavam. “No Brasil você
consegue contar nos dedos quantas meninas
profissionais praticam skinboard, e
já tivemos mais, só que essa questão de
você conseguir e ser reconhecida acaba
te levando a procurar outra profissão”.
A esportista já teve que participar das
competições como “amador masculino”
por ser a única menina. No entanto, hoje,
apesar da prática ter um grande destaque
de atletas homens, a jovem já esteve em
46 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
2023 promete para Julia Dias
Em 2023, a atleta pretende atuar no Circuito Brasileiro
de Skimboard, o maior campeonato do país. Júlia
já participou de aproximadamente 30 campeonatos
nacionais e internacionais, em países como Angola,
Estados Unidos e México.
aproximadamente 30 campeonatos nacionais
e internacionais. Angola, Estados
Unidos e México foram alguns dos países
onde participou na categoria “feminina
profissional”. Em 2023, a atleta pretende
atuar no Circuito Brasileiro de Skimboard,
o maior campeonato do país. “Sempre
tem garotas que me mandam mensagem
quando posto algum vídeo esquiando nas
redes sociais, é nesse momento que se
percebe como seu talento pode ajudar a
inspirar outras pessoas, que se espelham
em você através do esporte”.
Mitos sobre o skimboard
"Skimboard é aquele pranchinha que
desliza na areia". Sim, essa frase pode ser
verdade para quem acaba de conhecer
o esporte. Mas é muito mais que isso. A
prancha de skim faz parte dos brinquedos
que muita gente ganha pra se divertir na
praia. Só que existe até um circuito mundial
e o brasileiro Lucas Fink foi o primeiro
não-americano a levar o título. É ele quem
fala alguns dos mitos sobre o seu esporte.
'É fácil, só correr e se jogar na prancha'.
Se você já tentou alguma vez fazer
skimboard, sabe que essa é uma mentira
bem cabeluda. É bem difícil coordenar o
lançamento da prancha, com a corrida e
o deslize em cima dela sem resultar em
um belo capote. E aproveitar o surfe das
ondas da beirada, então? Você vai ter que
ralar muito as costas e os cotovelos pra
chegar nesse estágio. Para se dar bem no
skimboard é preciso habilidade.
Assim como o surfe, o início não é fácil
pra ninguém. No surfe, o maior medo
dos aspirantes é de afogamento. Por
isso, existe a impressão de que o skimboard
é menos perigoso, pois você está
pertinho da faixa de areia. Mas cair na
areia é muito pior. Há risco de bater a
cabeça, quebrar um braço, coisas que
são comuns no skim e raras no surfe.///
Lucas Fink entubando de skim no México
Imagem: Arquivo Pessoal Lucas Fink
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 47
Cultura | Cinema
A sequência de
AVATAR
pode definir o futuro
do cinema
Se não der prejuízo, Avatar irá definir o futuro
do cinema e da Disney
Por Guilherme Ravache publicado no UOL Splash
A
Disney está em crise. A empresa já perdeu mais da metade de seu valor de mercado,
cerca de US$ 165 bilhões, desde março de 2021. A situação é tão delicada
que em novembro o CEO, Bob Chapek, foi demitido. Bob Iger, que ocupava o
cargo antes de Chapek, voltou para o comando da Disney.
A gigante de mídia está em crise porque o cinema e o streaming estão em crise.
Mesmo com o fim da pandemia, as salas de cinema não conseguem atrair o mesmo
número de espectadores do passado. Os filmes da Marvel têm tido cada vez mais dificuldade
de atrair o público e os números tem decepcionado.
48 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
Avatar: O Caminho das Águas é a segunda
produção mais cara da história do cinema
Imagem: Divulgação Disney
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 49
Produção chega no momento em que cinema, streaming e
empresas de mídia como a Disney vivem crise
Imagem: Divulgação Disney
Muitos dos espectadores do cinema
agora preferem assistir aos filmes no streaming,
em casa. Mas o streaming também
está em crise. O aumento da concorrência
e os altos custos de produção tornaram o
Disney+ um pesadelo financeiro.
A Disney perdia mais de US$ 1 bilhão
por ano com suas plataformas de streaming
desde a estreia do Disney+. Mas
neste ano o prejuízo disparou. Nos primeiros
nove meses de 2022 a empresa
perdeu mais de US$ 2,5 bilhões com
a área. A hemorragia financeira foi uma
das razões da demissão de Chapek.
O desafio de Avatar
Este parece ser um péssimo momento
para lançar o segundo (ou primeiro) filme
mais caro da história. "Avatar: O Caminho
da Água" custou entre US$ 350 milhões
e US$ 400 milhões. "Piratas do Caribe:
Navegando em Águas Misteriosas", também
produzido pela Disney, custou US$
379 milhões. Mas se a história nos ensina
algo é que apostar contra James Cameron
não costuma ser uma boa ideia. Os
dois primeiros filmes do "Exterminador
do Futuro", "Titanic" e "Avatar", também
produções do diretor, mostram sua capacidade
de mudar os rumos do mercado
ao bater recordes de bilheteria mesmo
com os críticos torcendo o nariz.
Há 13 anos, o primeiro "Avatar" faturou
US$ 2,9 bilhões em bilheteria e o
número nunca foi superado por outro
filme. "Vingadores: Ultimato", registrou
US$ 2,8 bilhões, e "Titanic", US$ 2,2 bilhões.
Apesar do histórico de Camaron,
até dias atrás haviam apostas de que o
novo "Avatar" daria prejuízo.
Mas a decisão da China de permitir a
exibição de "Avatar: O Caminho da Água"
nos cinemas chineses foi um importante
sinal de que Cameron poderá surpreender
novamente. Nos últimos anos, diversas
produções de Hollywood, incluindo
as últimas sete superproduções da Mar-
50 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
No Brasil, novo filme do Avatar tem
mais de meio milhão de espectadores
Longa-metragem já arrecadou US$ 103 milhões (cerca
de R$ 545 milhões) em todo o mundo até o último domingo,
18 de dezembro.
vel, foram barradas no país e não puderam
estrear nos cinemas locais.
Fator China
Por muitos anos os Estados Unidos foram
o maior mercado do mundo de cinema.
Agora, este posto é da China. Mas
o governo chinês intensificou os esforços
para barrar produções estrangeiras.
A ideia é incentivar o consumo de filmes
nacionais, o que colaborou para os lucros
de Hollywood despencarem.
"Avatar" estreou na China e no restante
do mundo ao mesmo tempo, o
que deve aumentar consideravelmente
os resultados da produção. "Esta é uma
notícia fantástica para a Disney, para James
Cameron e para o filme, porque o
potencial de bilheteria da China é enorme",
disse Paul Dergarabedian, analista
sênior de mídia da Comscore ao WSJ.
"Este pode ser o momento crucial que
indica que O Caminho da Água ganhará
dinheiro suficiente para justificar novas
produções da franquia Avatar".
Em julho, a Disney afirmou que o resultado
de bilheteria abaixo da expectativa
para "Thor: Amor e Trovão" tinha
como uma das razões o fato de o filme
não ter estreado na China. Se "O Caminho
das Águas" funcionar e as superproduções
com heróis da Marvel não, o natural
é que a Disney e Hollywood comecem a
tentar criar personagens e enredos mais
aceitáveis para os censores chineses. Se
o que funciona são grandes seres azuis
digitalizados defensores da natureza,
prepare-se para ver muitas produções
semelhantes.
Público de volta ao cinema
Se funcionar nos cinemas fora da China,
"O Caminho das Águas" pode indicar ainda
que o problema não está nas salas ou
James Cameron se tornou notório por vencer a descrença de seus críticos;
se o novo Avatar não der prejuízo, o diretor surpreenderá novamente.
Imagem: Divulgação Disney
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 51
Quanto mais dinheiro "O Caminho das
Águas" faturar, mais difícil será produzir
obras de pequeno e médio porte
mudança de hábito das pessoas, mas sim
no tipo de filmes que vem sendo exibido
nelas. Se Cameron provar novamente que
seus críticos estão errados, provará que a
fórmula da Marvel pode estar desgastada,
mas que os grandes "filmes evento", apesar
de extremamente caros, ainda funcionam.
A Disney já tem mais 3 produções de
Avatar programadas até 2028 caso "O Caminho
das Águas" seja bem-sucedido.
Um dos principais atrativos das produções
de Cameron são as inovações
tecnológicas. As salas mais modernas
oferecem uma experiência melhor para
essas produções. No Brasil, as salas IMAX
estiveram lotadas por sucessivas semanas
no primeiro "Avatar".
A IMAX tem mais de 1.500 salas em
80 países. Destas, 800 estão na China
e mais de 200 estão sendo construídas
no país. Em 2009, quando o primeiro
"Avatar" estreou, havia somente 14 salas
na China. Na época, as pessoas
chegavam a esperar seis horas na
fila para assistir ao filme. De quebra,
as salas mais modernas têm
uma margem de lucro maior, já
que vendem ingressos mais
caros que as salas usuais.
Um potencial efeito
colateral é que as
produções menores e independentes
devem sofrer ainda mais. Quanto mais
dinheiro "O Caminho das Águas" faturar,
mais difícil será produzir obras de
pequeno e médio porte. Além de menos
interesse dos estúdios, existe ainda a
crescente dificuldade de encontrar salas
menores (e menos caras) para exibir produções
alternativas.
Outra possível consequência de "O
Caminho das Águas" é mostrar que filmes
ainda podem atrair receitas consideráveis
nos cinemas ao usar o antigo
52 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
modelo de estreias. A Warner foi pioneira
ao lançar grandes produções diretamente
no streaming, colocando "Mulher
Maravilha 1984" diretamente na HBO
Max no Natal de 2020. Foi o primeiro filme
do experimento da Warner que passou
a lançar as obras simultaneamente
nos cinemas e na HBO Max.
Após a venda da Warner para a Discovery,
o experimento foi encerrado e a
empresa retomou o modelo tradicional
com janelas de estreia. Primeiramente,
45 dias exclusivamente nos cinemas, depois
estreando para venda à la carte em
plataformas digitais para depois de meses
estrear no streaming. A Disney também
lançou produções diretamente no
Disney+. "Viúva Negra", da Marvel, foi um
desses casos e inclusive gerou um processo
da atriz Scarlett Johansson contra a
Disney. A atriz alegava que o lançamento
diretamente no Disney+ prejudicou a produção
e reduziu seus lucros que vinham
da bilheteria dos cinemas. As partes entraram
em acordo, mas a imagem de Chapek
saiu bastante arranhada.
O lançamento das produções da Pixar
diretamente no streaming hoje parece
ter sido outro grandes equívoco de
Chapek. Além de irritar os funcionários
do principal estúdio de animação da
Disney, a prática mudou o hábito das famílias,
que usualmente são as que mais
gastam nos cinemas. ///
Em 2009, o primeiro filme da saga Avatar trouxe
mais de 770 mil pessoas para o cinema durante o
primeiro final de semana de estreia
Imagem: Divulgação Disney
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 53
Cultura | Televisão
Todas as Flores: Judite (Mariana Nunes), Maíra (Sophie Charlote),
Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Leticia Colin)
Imagem: Roberto Teixeira/GShow
'Todas as Flores' humilha
'Travessia' e inaugura nova
era das novelas
Novela de João Emanuel Carneiro, no streaming, vem repercutindo
melhor que a de Gloria Perez, na TV aberta
Por Tony Goes publicado em Folha de São Paulo
A
Globo vive uma situação inusitada.
O carro-chefe de sua programação,
a novela das nove, vem sofrendo
uma acirrada concorrência
interna –se não nos índices de audiência,
pelo menos na repercussão na imprensa
e nas redes sociais.
Isso porque a emissora decidiu produzir
e lançar, ao mesmo tempo, duas "novelas
das nove". "Travessia", de Gloria Perez,
é a atual ocupante da faixa mais nobre da
TV brasileira. Já "Todas as Flores", de João
Emanuel Carneiro, está disponível na plataforma
Globoplay, ao ritmo de cinco novos
capítulos por semana.
A ideia nunca foi promover um confronto
entre os dois títulos, mas é o que
aconteceu. "Travessia" vem alcançando
números no Ibope bem inferiores aos de
sua antecessora, "Pantanal", e sendo cri-
54 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto
ticada pela trama confusa. Por seu lado,
"Todas as Flores" tem agradado ao público,
que reclama que ela deveria ocupar o
horário da "rival" na TV aberta.
Isso quase ocorreu. Anunciada há
cerca de dois anos, a novela de Carneiro
estava originalmente prevista para
substituir "Pantanal". No início deste
ano, a Globo mudou de planos. A obra
seria encurtada para apenas 85 capítulos;
o elenco, enxugado, e a estreia se
daria primeiro no streaming.
Para seu lugar, a emissora escalou Gloria
Perez, cuja última novela, "A Força do
Querer", exibida em 2017, inovou ao promover
uma espécie de rodízio de protagonistas.
Infelizmente, "Travessia" não
tem nada de novo. Isso até não seria um
problema, já que "Todas as Flores" tampouco
tem algo nesse sentido. Ambas são
novelões tradicionais, com mocinhas sofredoras,
vilões pérfidos e todos os demais
clichês da nossa teledramaturgia.
Enquanto isso, com perdão do trocadilho,
tudo são flores para "Todas as Flores".
Ao contrário de "Verdades Secretas
2", a primeira novela da Globo a estrear
primeiro no streaming, o folhetim de
João Emanuel Carneiro não tem maiores
ousadias. A trama central é digna de um
dramalhão cubano da década de 1950 —
mocinha cega sofre nas mãos da mãe corrupta
e da irmã invejosa, às quais ela só
conheceu depois de adulta.
Mas "Todas as Flores" tem uma vantagem
indiscutível. Com menos personagens
e menos histórias paralelas, o ritmo
da novela é mais ágil que o habitual.
Além disso, o elenco bem escalado traz
Regina Casé como a matriarca Zoé, a primeira
vilã, a primeira rica e a primeira loira
da carreira da atriz. As irmãs vividas por
Sophie Charlotte e Letícia Colin —respectivamente,
a bondosa Maíra e a cruel Vanessa—
também conseguem ultrapassar
os estereótipos de seus papéis.
"Todas as Flores" será interrompida
em janeiro, por causa do "Big Brother
Brasil", e retomada no final de abril,
quando o reality show —um grande chamariz
de público para o Globoplay— tiver
acabado. Assim fica claro objetivo da
Globo, que é alavancar sua plataforma
de streaming, e não testar novas fórmulas
em sua dramaturgia. ///
Nicolas Prattes surpreende vivendo Diego em Todas as Flores
Imagem: Roberto Teixeira/GShow
Revista JustaPosto | 18 de dezembro de 2022 | 55
Imagem da Semana - 18 de dezembro de 2022
Copa do Mundo 2022: Argentina campeã do mundo
36 anos depois. O jogo da final foi o último de Leonel
Messi em mundiais.
Imagem: ANTONIN THUILLIER/AFP
56 | 18 de dezembro de 2022 | Revista JustaPosto