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opinião
Luís Sena-Lino
Consultor de Marketing e Comunicação
luis.sena.lino@gmail.com
A casa
de banho
D.r. (direitos reservados)
H
á cerca de meia dúzia de anos
atrás, fui a uma casa de banho
num restaurante (de gama média/alta)
em Lisboa e ao lá chegar,
deparei-me com um espaço único
frequentado por homens e mulheres. As
várias portas que davam acesso a espaços
individuais e privativos eram frequentadas
por uns ou por outros; assim que a porta
se abria ficava disponível para o próximo.
Todos tínhamos privacidade. A zona dos
lavabos e dos espelhos era de uso comum,
numa arquitetura bastante higiénica e bastante
– tanto quanto um wc pode ser – acolhedora.
Há menos tempo do que o relato anterior,
deparei-me com o mesmo cenário no wc
de uma discoteca em São Paulo, no Brasil.
Isto dito, não me recordo de em qualquer
destas circunstâncias ter-me vindo à ideia
qualquer tema relacionado com homofobia,
diferença de género ou tantos outros
tão importantes valores que são suscitados
em redor do projeto de lei, ainda por aprovar,
na Assembleia da República, que prevê
que cada aluno utilize na sua escola a casa
de banho com que mais se identifica.
Quem está fora da “norma” acaba por se
sentir minoritário e na diferença de género
o tema não é diferente. A questão é
extensa e impossível de debater em tão
pouco espaço, mas no essencial a abertura
para quem se sente diferente não deve ser
coartada. Quem não faz parte da “norma”
é capaz de viver horrores para se assumir
e para se integrar e ser aceite. Penso que
ninguém com isto pretende promover e
incentivar a homossexualidade, ou outros
géneros, que aliás não é nenhum produto
da realidade pós-moderna, mas tem raízes
na Grégia Antiga. Coisa diferente é reprimir
quem tendo nascido homem se sinta mulher
ou vice-versa.
Eu, que me encontro dentro da “norma”,
consigo com a maior facilidade entrar na
galeria de horrores sentimentais em que
vivem aqueles que sofrem este tema na
pele e no dia a dia. Não compreendo aliás,
o porquê de tal projeto lei ser tão ofensivo
aos valores que os seus adversários ideológicos
apregoam, mas prefiro viver num
Mundo mais livre e mais tolerante. Penso
também que ninguém quer fazer do wc
uma balbúrdia, antes transpor para a vida
prática aquilo que a Constituição garante
na “não discriminação em função do sexo
(...) ou orientação sexual” (artigo 13). Desde
que usado com urbanismo, civilidade e
privacidade, não entendo porque não possa
um aluno escolher a casa de banho com
que mais se sente confortável.
Há mais de 40 anos, o colégio onde realizei
o ensino primário e pré-primário só aceitava
rapazes até à 4ª classe dado que daí em
diante, até ao 9º ano, o mesmo colégio só
lecionava aulas para raparigas. Nunca percebi
bem o porquê na altura, porque era
uma criança. Certo é que hoje, rapazes e
raparigas, frequentam em igualdade de circunstância
o mesmo colégio, o que me parece
bastante razoável. O Colégio mudou,
porque o Mundo é feito de mudança. s
saber novembro 2022
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