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Internet
nas que são preponderantes na edificação
de jovens sãos e de adultos equilibrados?
Como é que as famílias têm tempo para
estarem juntas e serem uniões de amor,
quando todos os seus membros, desde os
mais jovens aos mais velhos, estão presos
numa ratoeira de casa-escola-trabalho-escola-casa,
da qual não se conseguem libertar
para viver o essencial, o mais bonito e o
mais determinante da vida?
A juntar a isto, as famílias enfrentam galopantes
acréscimos nos custos de vida, aumentos
de preços injustificáveis (incluindo
nos bens alimentares mais básicos), uma
conta de energia que resulta mais de políticas
erradas e monopólios sanguessugas
do que de guerras em sítios remotos na
Europa, salários que apontam para o fundo
do barril, assimetrias sociais que enchem
os bolsos das elites ao mesmo tempo que
mandam para a pobreza quem trabalha de
sol a sol e elites políticas que, em vez de
servirem aqueles que os elegem, estão infinitamente
mais preocupadas em manter
o poder pelo poder, alimentando, para esse
efeito, as redes de amiguismo, compadrio e
corrupção que lhes são mais convenientes.
Lidar com tudo isto – quer do ponto de vista
financeiro, quer do ponto de visto psicológico
– não é fácil, pois, num país que parece
ter apostado tudo no suicídio colectivo,
ninguém tem motivação, e muito menos capacidade
económica, para pensar o futuro
e trazer crianças a um mundo que trata de
forma tão desumana os idosos que já trabalharam
e os pais que dão o que têm e o
que não têm para verem certas figuras que
vivem à custa dos subsídios terem vidas, férias,
carros e casas que aqueles que trabalham
a sério não conseguem pagar com o
suor da sua labuta.
Mas, porque nos especializamos em ser
uma sociedade que discute futebol, as infidelidades
das celebridades, os carros que
guiam os famosos e a longa lista de alarvidades
que são debitadas nas redes sociais
por gente da mais variada espécie, pensar
a sustentabilidade da nação, as gerações
que emigram (e que nos sangram dos nossos
melhores recursos humanos) e a enormíssima
ausência de respostas dignas para
quem anseia por um raio de esperança,
planear o futuro é, cada vez mais, uma actividade
minoritária e silenciosa. O que está
a dar é viver de fim-de-semana em fim-de-
-semana, de jantarada de sexta em jantarada
de sexta e de eleição em eleição. Fora
disso, o país há de cuidar de si. Ou assim
eles dizem, pois pensar, falar e reivindicar o
que é nosso, pura e simplesmente, não dá
jeito nenhum!
Sim, no Portugal do século XXI manter um
casamento, e ainda mais um casamento
com filhos, tornou-se muito difícil. E isto não
é o fruto do ocaso ou um ‘sinal dos tempos’,
como certas correntes modernistas insistem
em afirmar. É, sim, e acima de tudo, o
fruto amargo de um país que não tem a coragem
para fazer política e tomar decisões
centradas na sustentabilidade e no futuro.
E o que dizer aos nossos filhos? Quem os
representa? Quem defende os seus direitos
a crescer em lares com paz e com carinho?
Há sequer alguém que esteja a pensar nisso
e a pensar em formar de salvar as famílias
do pesado rolo compressor para debaixo
do qual são constante e invariavelmente
empurradas?. s
saber novembro 2022
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