Jornal 100% Agro — Ed. 1, Março de 2023
Jornal impresso do serviço multiplataformas dedicado exclusivamente ao agronegócio do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro - 100porcentoagro.com.br
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SIM rendeu premiação do Sebrae a Prefeitos do Cispar
(Foto: Ascom/Cispar)
EDITORIAL
Novos canais para dar
mais visibilidade ao
agronegócio
A cadeia produtiva do agronegócio no Alto
Paranaíba passa a contar com um aliado forte: o
100% Agro. Nossa proposta é colocar o jornalismo a
serviço do setor que move a economia nesta região,
considerada um dos polos do agronegócio nacional.
Criado pelo jornalista Rodolfo de Souza (RAF Comunicação),
em parceria com os empreendedores
Marcelo Gonçalves (Rago Comunicação e Marketing),
Daniel Ribeiro e Wanderson Nunes (Sentinella Empreendimentos),
o serviço de jornalismo multiplataforma
ocupa uma lacuna importante nas comunicações especializadas
do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro.
Chegamos com a proposta de trazer temas relevantes
de forma clara, objetiva, ética e responsável,
transmitindo a verdadeira essência de quem trabalha
no dia a dia para produzir no campo e gerar emprego
e riquezas para o Brasil.
O 100% Agro foi pensado para fincar a bandeira
do agronegócio no jornalismo multiplataforma desta
que é uma das maiores regiões agropecuárias do
País. Por aqui, dominam a cena: HF, soja, milho, café,
cana-de-açúcar, pecuária e a agroindústria, mas a
região também contribui com soluções tecnológicas
inovadoras.
Mas, o que seria da região sem as pessoas que fazem
essa grande roda girar, no campo e nas cidades?
É sobre pessoas, sustentabilidade e responsabilidade
econômica, social, cultural e ambiental que falaremos
nesta e nas próximas edições do jornal 100% Agro.
AGROINDÚSTRIA
Premiado, SIM é
vantagem competitiva
para o Alto Paranaíba
Para fomentar as atividades
agropecuárias no município,
a Prefeitura de São Gotardo
reestruturou o Serviço de
Inspeção Municipal (SIM). A
iniciativa é resultado de um
contrato celebrado com o
Consórcio Intermunicipal de
Desenvolvimento Sustentável
do Alto Paranaíba (Cispar),
estratégia que rendeu aos
prefeitos do Consórcio a
premiação “Prefeito Empreendedor”,
concedida pelo
Sebrae em 2022.
O Serviço possibilita a equiparação
ao Serviço Brasileiro
de Inspeção de Produtos de
Origem Animal (SISBI-POA)
para alguns produtos. É a
oportunidade para regularizar
fabricantes de produtos de
origem animal, abrindo novos
mercados para os produtores
locais.
Em São Gotardo, o laticínio
Minas Cabra e o frigorífico
Frisago já conquistaram o selo.
“Os primeiros resultados
do SIM são uma forma de valorizar
os empreendimentos
locais, gerar emprego e manter
no município recursos tributários
anteriormente destinados
ao Estado”, avalia a Prefeita
Denise Oliveira. Pág. 4
Barragens garantem
irrigação, até sem chuva Pág. 2
Faemg Senar em Campo:
lideranças de 36 municípios
da região se reúnem em São
Gotardo Pág. 3
Alto Paranaíba está na rede
da Escola Cooperativa do
Brasil Pág. 8
Ano I — Edição n. 1 — São Gotardo (MG), — Março, 2023
USO DA ÁGUA
Barragens garantem irrigação na estiagem
Uma das barragens do Grupo
Shimada (Foto: Shimada
Agronegócios)
“Os produtores devem
estar unidos e trabalhar
em parceria para benefício
de todos, reservando
água para irrigação na
propriedade, garantindo,
assim, a produção,
emprego e renda, também
na seca”
MAKOTO SEKITA,
PRESIDENTE DA
ASSOCIAÇÃO DE
IRRIGANTES
Como alternativa de garantia
da produção agrícola, produtores
do Alto Paranaíba têm
recorrido à construção de barragens
para armazenamento de
água. Hugo Shimada, um dos
mais tradicionais produtores do
agro na região, conta que a família
Shimada veio do Japão há
90 anos e se instalou na região
de São Gotardo em 1975. A família
começou produzindo café,
soja e milho e, com a aquisição
de equipamentos de irrigação,
conseguiu aumentar a produtividade
e a diversificação de culturas,
passando também a produzir
alho, cenoura, beterraba,
repolho, batata, cebola, e outras
culturas.
Com o aumento das áreas
irrigadas, houve a necessidade
da construção de barragens,
e de se criar a Associação dos
Irrigantes do Alto Paranaíba. A
entidade atua em políticas públicas,
de forma conjunta, para a
construção de barramentos e a
utilização regular dos recursos
hídricos.
Mas, nem sempre a regularização
dessas obras é tão simples
assim. De acordo com a
advogada Cíntia Nogueira, especialista
em agronegócio, para
uma barragem estar dentro da
legalidade, é preciso passar pelos
processos de licenciamento prévio,
de instalação e de operação
ou, no mínimo, o licenciamento
simplificado. A especialista
alerta que o primeiro passo para
realizar um barramento deve ser
a outorga pelo uso da água, um
processo que, na prática, pode
ser moroso.
Hugo Shimada conta que,
para a Shimada Agronegócios, o
processo foi lento e caro. “Foram
6 longos anos e muito dinheiro
gasto para conseguir a aprovação
do Estudo de Impacto
Ambiental [EIA-RIMA], tendo
que contratar, inclusive, levantamento
arqueológico para atender
as normas”.
Pensando em agilizar e simplificar
o processo, a Associação
dos Irrigantes oferece suporte
aos produtores no processo de
planejamento e licenciamento de
barragens. O produtor Makoto
Sekita, Presidente da Associação,
conta que, atualmente, a região já
conta com 20 barragens prontas
e 20 em processo de licenciamento.
“Os produtores devem estar
unidos e trabalhar em parceria
para benefício de todos, reservando
água para irrigação na
propriedade, garantindo, assim, a
produção, emprego e renda também
na seca”, diz.
Makoto Sekita ressalta, também,
a importância de trabalhar
dentro da lei e de realizar
a barragens de forma correta,
inclusive com o reflorestamento
às margens do barramento, para
garantir condições para a manutenção
da diversidade de fauna e
fl o r a .
EXPEDIENTE
Jornal 100% Agro - Ano I - Edição n. 1 - Mar, 2023
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Pauliane Oliveira
2 100% Agro / Março, 2023
FAEMG SENAR EM CAMPO
São Gotardo recebe lideranças regionais
Debates e mesa-redonda foram pontos altos do evento em Alfenas (Foto: ASCOM/Faemg Senar)
São Gotardo sediará, no dia
30 de março, das 8h30 às 16h,
no Sindicato dos Produtores
Rurais: avenida Brasil, no Jardim
das Flores, a terceira edição do
evento “Sistema Faemg Senar
em Campo”. A iniciativa é do
Sindicato Rural com apoio do
Sistema, e pretende reunir cerca de
500 produtores rurais, mulheres e
jovens do campo, com destaque
para participantes do Programa
de Assistência Técnica e Gerencial
(ATeG).
O Presidente da Federação
da Agricultura do Estado de
Minas Gerais (Faemg), Antônio
Pitangui de Salvo, estará presente,
ao lado do Superintendente do
Senar, Christiano Nascif, além de
membros da diretoria, gerentes e
outros representantes do Sistema
Faemg Senar. A ideia central é
estreitar as relações da entidade
com os produtores rurais das cidades
que compõem as regionais
de Patos de Minas e Uberaba.
Faemg e Senar já promoveram
dois encontros do evento neste
ano. O primeiro, realizado em
Manhuaçu, teve como destaque
a fala do Presidente Antônio
Pitangui de Salvo, valorizando
esse novo projeto como pilar
da proposta de levar a Faemg
para dentro dos sindicatos com
o objetivo de fortalecê-los. “Nós
entendemos que a nossa entidade,
nosso setor, só será forte se
toda entidade, se todo segmento
estiver unido, trabalhando junto
com planejamento, foco e projetos,
para que possamos continuar
representando bem o nosso produtor
rural que é o objetivo maior
do Sistema Faemg Senar”, disse.
No segundo encontro, realizado
em Alfenas, 400 produtores
trocaram conhecimentos e conversaram
sobre os caminhos do
agronegócio. Além de detalhes
sobre todo o processo de atuação
do Sistema Faemg Senar em favor
do produtor, temas como
prestação de serviços e questões
ambientais, jurídicas e econômicas
permearam uma mesa-redonda
que foi um dos pontos
altos do evento. Os participantes
também conheceram todo o potencial
de serviços educacionais
que serão oferecidos a partir deste
ano, no Centro de Excelência
em Cafeicultura, com sede em
Varginha.
ALTO PARANAÍBA: A programação
do evento de São
Gotardo, no Alto Paranaíba, vai
abrir espaço para debates técnicos
sobre pautas sindicais, jurídicas
e ambientais com especialistas
do Sistema Faemg Senar. Os
participantes também poderão
conhecer as ações, produtos e
serviços que a entidade oferece
para produtores e trabalhadores
rurais e suas famílias.
O credenciamento será às
8h30, seguido de café, com abertura
prevista para 9h30. Às
9h45, haverá uma apresentação
insti- -tucional da Faemg. Em
seguida, apresentação do Senar.
Após o almoço, às 14h, um debate
técnico abordará temas ligados
às áreas ambiental, sindical e
jurídica — especialmente aspectos
trabalhistas e previdenciários.
Às 15h30, será apresentado
um relato sobre os programas e
ações na região. O encerramento
será às 16h.
O Presidente do Sindicato
dos Produtores Rurais de São
Gotardo, Rodolfo Molinari,
afirma que a maior aproximação
entre o Faemg, Senar e
produtores é altamente positiva
porque rende parcerias importantes
para o segmento. “É a
oportunidade de trazer a Faemg
e o Senar mais pra perto de nós,
por meio do Sindicato. E isso é
muito benéfico”.
NOTAS
PECUÁRIA: Pesquisadores da
Embrapa e parceiros do campo
formataram um sistema produtivo
para aumentar a produtividade
e reduzir o ciclo da pecuária:
o Sistema Pontal. O nome é
referência à Fazenda Pontal, em
Nova Guarita (MT), base do experimento.
O Sistema é sustentado
por três pilares: integração
lavoura-pecuária (ILP), manejo
de pastagens e a estação de monta
invertida. Já é referência para produtores
por aliar sustentabilidade
com incremento de produtividade
e ganhos econômicos.
FRUTAS: O plantio de árvores
frutíferas para a formação de um
pomar doméstico é uma boa opção
para quem procura disponibilidade
de alimentos saudáveis no quintal
de casa. A cartilha on-line “Pomar
doméstico, orientações técnicas e
recomendações gerais”, disponibilizada
gratuitamente pela Emater-
MG, traz informações sobre como
formar um pomar em casa. Traz
dicas sobre abacate, abacaxi, acerola,
banana, goiaba, laranja, limão,
manga, maracujá e tangerina. Para
baixar a cartilha, basta acessar o site
da Emater-MG na aba downloads.
ALHO: As importações de alho da
Argentina estão sufocando os produtores
brasileiros, principalmente
dos estados do sul. O presidente da
Associação Nacional dos Produtores
de Alho (Anapa), Rafael Jorge
Corsino, se reuniu com o ministro
do Desenvolvimento Agrário,
Paulo Teixeira, em Brasília, para
tratar do tema. Além do reforço
na fiscalização, Rafael Corsino
destacou a importância de prorrogar
o custeio. Aliás, a concorrência
do alho argentino será tema
de um dos próximos episódios do
podcast “100% Agro”, com o
Presidente da Associação Mineira
dos Produtores de Alho, Flávio
Márcio da Silva.
100% Agro / Março, 2023 3
MATÉRIA DE CAPA
SIM beneficia agroindústrias com
certificação de produtos de origem animal
Graças ao Serviço de Inspeção
Municipal (SIM), a Prefeitura
de São Gotardo, por
meio da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico
Sustentável, está promovendo
a regularização de empreendimentos
locais. A afirmação é da
Prefeita Denise Oliveira, para
quem o SIM facilita o contato
entre empreendedores e a fiscalização,
e traz importantes ganhos
econômicos.
Implantado em 2019, pelo
Consórcio Público Intermunicipal
de Desenvolvimento Sustentável
do Alto Paranaíba (Cispar), o
SIM é uma grande conquista
para a região, ao estimular a regularização
de estabelecimentos
agroindustriais com os serviços
de inspeção de leite, ovos, pescados,
produtos de abelhas, como
mel e própolis, além de outros
produtos de origem animal e
seus derivados.
Em novembro de 2022, o
Cispar aderiu ao Sistema Brasileiro
de Inspeção de Produtos de
Origem Animal (SISBI-POA).
Na prática, os produtos certifi-
Prefeita de São Gotardo, Denise Oliveira: SIM garante vantagem a
produtos locais (Foto: ASCOM/PM São Gotardo)
cados, antes comercializados somente
na área de abrangência do
Consórcio, agora podem obter o
selo SISBI, válido em todo o território
nacional.
A iniciativa rendeu o reconhecimento
do Sebrae. Em novembro
de 2022, prefeitos do Cispar
receberam o XI Prêmio Sebrae
Prefeito Empreendedor, em
Presidente Olegário, na categoria
Governança Regional e
Cooperação Intermunicipal.
Em São Gotardo, o Secretário
de Desenvolvimento Econômico
e Sustentável, Dener Henrique
de Castro, afirma que o município
já vem recebendo solicitações
para a inspeção. Castro disse, ainda,
que outros empreendimentos
estão em processo de análise para
a concessão do Selo.
SIM facilita a vida do produtor, diz especialista
A Lei Municipal 2517/21,
regulamentada pelo decreto
414/21, estabelece critérios para
inspeção na fabricação de produ-
tos de origem animal e também a
segurança alimentar.
Dois empreendimentos lo-
cais já receberam o selo: o Minas
Cabra, primeiro empreendi-
mento certificado, e o Frisago:
Frigorífico São Gotardo.
O Minas Cabra se apresenta
como produtor de queijos arte-
sanais feitos com leite de cabra
produzido nas montanhas do
Cerrado Mineiro, na cidade de
São Gotardo, “pelas mãos da
dona Joana”. Daniel Ribeiro, representante
do Minas Cabra, explica
que buscou o SIM ao perce-
ber que seus produtos poderiam
alcançar novos mercados, que
exigem certificação. Atualmente
a empresa produz leite, queijos e
matrizes de alta genética, e já teve
produtos premiados por uma es-
cola francesa, em 2022. “Estamos
gerando empregos e inovando na
criação de novos queijos, levando
o nome de São Gotardo para outros
palcos”, conclui.
Inspeção rigorosa é garantia
de diferencial para o
consumidor final
(Foto: ASCOM/Cispar)
É importante divulgar que
São Gotardo já dispõe do Serviço
de Inspeção Municipal. A afirmação
é do Coordenador do Serviço
de Inspeção Municipal, médico
veterinário Pedro Pinheiro, para
quem a região só tem a ganhar.
“Com o produto regularizado, há
diversos benefícios: maior área
de abrangência do comércio, o
que agrega valor ao produto, oferecendo
maior rentabilidade para
quem vende e para o consumidor.
Temos produtos alimentícios
mais seguros e de melhor qualidade.
E isso ainda gera receita para o
município, promovendo o desenvolvimento
local”, diz.
O especialista explica que,
com um registro menos burocrático
em relação aos serviços
estadual e federal, o produtor é
atendido com mais agilidade sem
a necessidade de se deslocar para
fora da cidade. “Muitas vezes,
o produtor tenta se registrar em
outras esferas e não consegue.
Quando se fala em burocracia,
muitas vezes não tem a ver com
a quantidade de documentos exigidos.
É que a análise do projeto
fica mais rápida. O contato mais
próximo confere maior agilidade
ao processo”, explica.
NOVIDADE – Em breve, a região
poderá contar com o Serviço de
Inspeção de Produtos de Origem
Vegetal (SINCOV) que, até o
momento, não foi descentralizado,
mas já foi editada a legislação
que permitirá aos municípios
oferecerem o serviço. No começo,
espera-se realizar registros de
agroindústrias de polpa e sucos
de fruta, se estendendo para a
classificação de grãos e outros
ramos da agroindústria vegetal.
Fazem parte do Consórcio
do Serviço de Inspeção Municipal
do CISPAR os municípios
de João Pinheiro, Presidente
Olegário, Guimarânia, Patrocí-nio,
Cruzeiro da Fortaleza, Serra do
Salitre, Coromandel, Carmo do
Paranaíba, Arapuá, São Gonçalo
do Abaeté e Paracatu.
4 100% Agro / Março, 2023
TRADIÇÃO
Herança de Minas,
herança de família
Valores familiares sólidos estão na origem da
Cachaça Boi Parido (Foto: Acervo da Empresa)
NATÁLIA PERSI FARIA,
JORNALISTA
Jornalista renomado e apreciador
da natureza, Demóstenes Romano
Filho, que em meados dos anos 90
morava em Belo Horizonte mas
mantinha a Fazenda Boi Parido, em
Oliveira/MG, teve a ideia de produzir
cachaça após um encontro
com Roberto Rodrigues, ex-Ministro
da Agricultura. Acatar o desafio
do amigo foi fácil, uma vez que
Demóstenes e sua esposa Beatriz
também eram grandes apreciadores
de uma boa cachaça.
De valores familiares muito
sólidos, o casal se preocupou com
cada etapa da criação da cachaça da
família, focados em produzir um
produto ético, que respeitasse a terra,
as pessoas e sua comunidade.
Naquela época, a cachaça não era
tão bem vista. Mesmo carregando
uma forte bagagem cultural
e considerada uma
herança do povo mineiro,
a bebida ainda era associada
à marginalidade ou
à exageros. Produzir e disseminar
uma cachaça para
o bem foi, desde o primeiro
momento, uma missão.
Assim, nasceu a Cachaça
da Fazenda Boi Parido,
um aguardente de altíssima
qualidade, amadurecido
em barris de carvalho e
fortemente enraizado aos
valores da família Romano.
Seu curioso nome
chamou atenção e fez fãs
em todo país. De produção
artesanal, foi vendida e divulgada
pelos próprios consumidores. Ganhou
um rótulo robusto, rústico como o seu
meio, valorizando assim sua simplicidade
e tradição. Demóstenes e sua
esposa Beatriz entregavam mais do
que a cachaça, mas toda uma experiência
sensorial, adicionando à bebida
um saquinho de juta que envolvia um
copinho de bambu para o consumo de
doses da Boi Parido e um panfleto (feito
em papel reciclado, claro) contando
sua composição e história.
Completando 30 anos em 2023,
a Cachaça da Fazenda Boi Parido caminha
para novos desafios, agora sob
a tutela dos sucessores Bené e Gabriel
Romano, afilhados do casal fundador e
os sortudos herdeiros que darão continuidade
a esse legado.
100% Agro / Março, 2023 5
ARTIGO
Oportunidades de captação de
investimentos no agro
PAULIANE OLIVEIRA,
ADVOGADA. SÓCIA
COFUNDADORA
DA SANTOLIVEIRA
ADVOGADOS.
COMUNICADORA NO AGRO
Em novembro de 2021, Presidente do Banco Central, Campos
Neto, falou de títulos verdes no seminário “Agronegócio
Sustentável no Brasil”, em Portugal (Foto: Ag. Brasil)
Dados sobre financiamento
pela via privada especialmente
ligados a títulos verdes, sociais
e afins, apresentam expectativa
de atingir, até 2030, o montante
de US$163 bilhões, segundo a
Climate Bonds Initiative (CBI),
no artigo “Mercado brasileiro de
títulos verdes bate a marca dos
9 bilhões de dólares”, publicado
por Luiza Mello, no site Climate
Bonds, em junho de 2021.
Já as operações no mercado de
crédito de carbono poderão atingir
US$100 bilhões em 2030, de acordo
com a Câmara de Comércio
Internacional (ICC). A informação
foi publicada pelo site Valor
Econômico em outubro de 2021,
sob o título “Brasil pode gerar receita
de US$100 bi com créditos
de carbono até 2030, diz ICC”.
Diante disso, é muito importante
considerar a percepção ESG (environmental,
social and corporate
governance) e de como o Brasil
tem aproveitado para amadurecer
o conceito que perpassa pela visão
global sobre todos os impactos positivos
e negativos das atividades
econômicas, especialmente para as
externalidades ambientais, sociais
e morais, avaliando riscos financeiros,
reputacionais, operacionais,
sistêmicos, de mercado, de crédito,
sustentabilidade do negócio no
longo prazo e legais.
Para aproveitar todo o potencial
do agronegócio brasileiro em
receber esses investimentos, é necessário
disseminar e democratizar
o conhecimento das possíveis
partes interessadas sobre gestão,
governança e boas práticas, as
quais são imprescindíveis para
acessar o mercado de capitais ou
mesmo fazer uma emissão rotulada/temática.
O momento global é de procura
por investimentos verdes,
iniciativas que viabilizem o clima,
que nos direcionem para uma
transição rumo a uma economia
verde e de perceber essa oportunidade
em um país com o potencial
de produção sustentável como o
Brasil é o mesmo que alguém que
tem muita sede encontrar uma
fonte de água para beber.
O que se faz necessário pelo
Brasil e pelos agentes das cadeias
produtivas do agronegócio é ter
esse ponto de vista, é enxergar
no desafio, a oportunidade e, no
anseio global, o mote para o desenvolvimento
dos projetos que
irão alavancar o Sistema Privado
de Financiamento da produção
agrícola sustentável no Brasil.
Produtor
A força que vem do
lado a lado das soluções
que nutrem sua produtividade
6 100% Agro / Março, 2023
TECNOLOGIA NO AGRO
Empresário analisa cenário regional
de startups
Equipe da Difere atuando com
tecnologia no agro do Alto
Paranaíba (Foto: Difere)
Recentemente, o empresário
Leandro Duarte, CEO da Difere
Energia, de São Gotardo, gravou
entrevista para o podcast “‘100%
Agro” falando sobre disrupção no
agronegócio. O episódio é uma verdadeira
aula sobre inovação, tratando
de startups, notadamente as startups
do agronegócio. O episódio estará
disponível em breve.
As startups são empresas que atuam
em diferentes áreas e mercados.
Em geral utilizam tecnologia
como base para as suas
operações. “Nem toda empresa
digital é uma startup
e nem toda startup precisa
ser uma empresa digital”,
explica Duarte. “Temos
empresas que simplesmente
seguem utilizando processos
já existentes e outras,
que trazem soluções mais
inovadoras e disruptivas.
São produtos fora do padrão,
que trazem uma nova
forma de entregar produtos
ou serviços. Isto basta para
caracterizar essas empresas
como startups”.
O termo startup surgiu
no Vale do Silício, região de
alta concentração de empresas de
tecnologia, nos Estados Unidos. Nos
anos 1990, época conhecida pelo
fenômeno “Bolha da Internet”, foram
criadas pequenas empresas que
cresceram muito e hoje são as famosas
big techs. “Essas empresas, como
Google, Tesla e Facebook, tinham
enorme potencial, mas não sabiam
onde iriam chegar. Hoje, elas dominam
o mercado”, lembra Duarte.
Uma das características das
startups é que seus produtos sejam
escaláveis. Depois de testados e validados,
esses produtos conquistam
mercados e geram grande faturamento
para essas empresas. “Elas conseguem
vender mais sem precisar aumentar
a sua operação e seus custos”.
Os segmentos em que atuam acabam
por dar diferentes identidades a
essas startups. No caso do agronegócio,
são as agritechs ou agtechs.
Uma startup cria, entrega, captura
valor e gera dinheiro. Basicamente,
há empresas que entregam direto para
o consumidor final (B2C) e empresas
que atendem outras empresas (B2B).
Em São Gotardo, existem exemplos
isolados de startups, inclusive
a própria Difere, que trabalha com
energia fotovoltaica. Mas, Duarte
lamenta a inexistência de um hub:
um espaço onde empresas de inovação
e tecnologia possam ter acesso
a contatos, investidores, mentores
e fornecedores, onde seus projetos
ganhem visibilidade. Hubs assim
existem, por exemplo, dentro da
Universidade Federal de Viçosa,
campus Rio Paranaíba, e em Patos
de Minas.
100% Agro / Março, 2023 7
COOPERATIVISMO
Alto Paranaíba tem unidade da primeira escola
cooperativa de líderes para o agronegócio
Da esquerda para a direita:
Felipe Zumkeller, Ana Flávia
Veronezzi, Eduardo Sekita,
Henrique Zaparoli, Fernando
Sekita, Ana Paula Coelho
Sekita e Dayane dos Santos
(Foto: Terra Lean)
“... o aluno
aprende fazendo,
e principalmente,
aprende a ensinar,
para que depois ele
possa voltar para o seu
negócio e multiplicar o
conhecimento”
Henrique Zaparoli
No segundo semestre de 2022
um grupo de produtores de diversas
regiões do Brasil, pautados
pela construção de uma cultura de
melhoria contínua e de desenvolvimento
das pessoas dentro dos
seus próprios negócios, se reuniu
para criar a Cooperativa Terra
Ideal. A proposta é ser um núcleo
de aprendizado para pessoas do
agro desenvolverem habilidades
gerenciais e de liderança com um
ensino prático e aplicado.
A cooperativa começa suas atividades
contando com a participação
de 18 cooperados, entre pessoas físicas
e grandes empresas produtoras
de alimentos em São Paulo, Minas
Gerais e Brasília, trazendo para esse
movimento uma representatividade
de diferentes realidades da produ-
ção do país.
Entre os signatários da proposta
está o grupo Sekita, de São
Gotardo. A adesão da empresa
foi assinada no dia 27 de outubro
de 2022, em Piracicaba (SP),
por Henrique Zaparoli Marques
(Presidente da Cooperativa
Terra Ideal, Felipe Zumkeler
(Gestor e um dos idealizadores
da Co-operativa), Dayane
Aparecida Santos (Comunicação
da Cooperativa), e pelos executivos
do Grupo Sekita: Makoto
Sekita (Presidente do Conselho
Administrativo), Eduardo Sekita
(Diretor Executivo), Fernando
Sekita (Diretor Agrícola), Ana
Paula Sekita (Membro do Conselho
Administrativo) e Ana
Flávia Veronezzi (Diretora de
Gestão de Pessoas).
A primeira iniciativa da cooperativa
foi a criação da Escola
Cooperativa Terra Lean, dedicada
aos gestores de negócios
agrícolas, com campus em
São Gotardo, Brasília (DF),
Holambra (SP) e Ibiúna (SP).
Em novembro de 2022, ocorreu
a Assembleia Geral de
Constituição, com participações
de cooperados e produtores agrícolas
envolvidos na concepção e
construção da iniciativa.
A Escola vai levar conhecimento
e prática de gestão a fazendas de
todo o Brasil, difundindo um modelo
de gestão diferenciado, com
formas assertivas de resolver problemas
e de conduzir projetos, por
meio de gestão visual e metodologias
ágeis. Com isso, é possível ao
participante avaliar a performance
do próprio negócio.
Os programas de formação e projetos
acontecem “in loco”, nas fazendas
dos cooperados, abordando
assuntos como: gestão do dia a dia
das operações agrícolas, liderança
de equipe e comunicação, melhoria
e padronização de processos, métodos
de capacitação de pessoas e
planejamento de projetos agrícolas.
“O fato de estarmos onde as coisas
acontecem contribui muito para o
ensino-aprendizado, e possibilitou
a utilização de uma metodologia de
ensino inovadora em que o aluno
aprende fazendo, e principalmente,
aprende a ensinar, para que, depois,
ele possa voltar para o seu negócio e
multiplicar o conhecimento”, conta
Henrique Zaparoli Marques.
Além dos programas de formação,
a cooperativa conta com
um grupo de profissionais que
realizam projetos de capacitação
no local de trabalho, diferente das
consultorias tradicionais que vão
às empresas para resolver problemas,
tendo como foco o desen-
volvimento de lideranças capazes
de resolver os próprios problemas,
gerando autonomia na criação da
cultura de melhoria contínua.
Os cursos e programas utilizam
como base os fundamentos do
Sistema MDA, modelo de gestão
baseado na filosofia lean, e que foi
criado e vem sendo adaptado, nos
últimos 40 anos, para a pecuária
de leite, por Paulo Machado: professor
titular da Escola Superior
de Agricultura da Universidade
de São Paulo (ESALQ/USP)
e Diretor da Clínica do Leite.
Esse trabalho inovador é a inspiração
e a base para a criação da
Cooperativa, que busca continuar
expandindo esse modelo para a
produção de hortifruti e cereais.
FILOSOFIA LEAN: A filosofia
lean é o modelo de gestão criado
pela Toyota para produzir com mais
qualidade, rapidez, facilidade e mais
barato, utilizando os recursos de
forma racional. “A realidade de uma
indústria automobilística é bem diferente
da realidade de produção
agrícola. Entretanto, os resultados
obtidos pelos cooperados ao longo
dos anos em seus negócios mostram
que essa é uma nova forma
de pensar que veio para ficar e para
revolucionar a agricultura no país”,
conclui Felipe.
8 100% Agro / Março, 2023