TERMINOLOGIA URBANA DO RECIFE
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terminologia
urbana
do recife
Ideia original
Pau Faus
Realização no Recife
Pau Faus
Diogo Todë
Participantes
Cristiane Alves
Lourdinha Campos
Ana Cristina Cavalcanti
Betânia Corrêa
Eva Duarte
Vera Freire
Duda Freyre
Juliana Guanais
Julien Ineichen
Cyane Pacheco
Daianne Rafael
Josivan Rodrigues
T.U. Recife
Pensar e agir sobre a trama urbana que configura a cidade do Recife. Eis operações que
sempre estiveram presentes no SPA das Artes do Recife, e que mobilizaram os integrantes
do Workshop que deu origem a essa publicação.
Ao longo de sua trajetória, o SPA vem se consolidando como o maior evento voltado para o
Campo de Artes Visuais no Recife, repercutindo suas realizações para outros territórios.
Antecipando a programação do SPA das Artes do Recife 2009, o Centro de Formação em
Artes Visuais – CFAV realizou o Workshop Terminologia Urbana Recife, orientado pelo
artista catalão Pau Faus e o artista recifense Diogo Todë entre os dias 24 de agosto e 02 de
setembro. Durante o workshop, a cidade serviu de campo para expedições exploratórias e
proposições artísticas, sendo inventariada e “dicionarizada”.
Com essa iniciativa, o CFAV fomenta a investigação e os intercâmbios artísticos, ao
mesmo tempo em que contribui para a apropriação e re-cognição da cidade e de suas redes
de significado durante a realização de tais investigações.
André Aquino
Gerente do Centro de Formação em Artes Visuais
Coordenação do SPA das Artes do Recife 2009
Narrando a pé a cidade
“Terminologia Urbana do Recife” é o resultado de uma série de explorações a pé pela cidade
do Recife. Um dos resultados do trabalho é apresentado neste dicionário. Nós nos
apropriamos assim de um formato de narração habitualmente acadêmico e genérico, para
mostrar e contrapor um olhar cotidiano e mutante.
Freqüentemente, a cidade é interpretada por vozes que a observam à distância, de modo
fugaz ou levando em consideração os interesses político-econômicos, gerando e
promovendo assim interpretações manipuladas sobre o espaço público. Como resposta a
essa leitura urbana equivocada, nós nos propusemos a narrar aqui a cidade a partir da
proximidade e da presença.
Entendemos que é necessário conhecer o território urbano através de uma experiência
direta e pessoal, que supere o imaginário imposto e a leitura bidimensional do mapa. É
necessário para isso “caminhar o mapa” para poder perceber e narrar a cidade tendo como
ponto de partida a escala humana, física e emocional, pois esta é, afinal de contas, a base
de interpretação mais rica e genuína que possuímos.
Pau Faus e Diogo Todë
Realizadores do Workshop
Terminologia Urbana do Recife
terminologia
urbana
do recife
Ab
Abandono 1 Ato ou efeito de deixar algo ou
alguém entregue à propria sorte. 2
Circuntância que sugere sobre o que se deve
sentir pena; sobre o que encontra-se sem
amor; sobre aquilo a que se dá as costas;
sobre aquilo a que se vira a cara. 3 Condição
em que se encontra algo ou alguém à espera
de valorização. 4 Sentimento de inferiorizarão
causado por atitude de descaso por parte do
poder público. Abandonou o edifício até deixálo
cair em Casa Amarela. O abandono pelo
poder público gera favelas. Vide “Sem teto” .
Acesso 1 Lugar «entre» o fora e o dentro.
Caminho para se chegar a algum lugar. O que
determina um lugar visitado a medida em que
se inicia a visita. O «onde» se anda: ladeira,
rua, calçada, ponte, rio, pontilhão, escadaria,
rua de marisco, etc. 2 Aquilo que falta a quem
é privado de cultura, educação, saúde, etc.
Água 1 A origem do Recife e sua morfologia. 2
Luta e negociação entre espaço urbano e leitos
naturais. 3 Substância encontrada em
diversos estados: mormaço, lama, chuva,
Ar
maré, oceano, maresia, Capibaribe, botijões
de água mineral, esgotamento sanitário,
obstáculo, caminho, jacaré. 4 Água que
passarinho não bebe, aguardente Vide “Pitú”.
Para pagar menos a conta d´água enfiou a
mão na lama e instalou um jacaré. Água mole
em pedra dura, tanto bate até que fura.
Anjos do asfalto Recente profissão no Recife,
cuja origem associa-se à aplicação da lei seca
no trânsito. Comboio de apoio, com utilização
de motocicletas, para a condução de veículos
cujos donos encontram-se embriagados.
Anuncicleta 1 Meio de transporte e de
publicidade realizado pela/na/com bicicleta. 2
Provocadores ilegais de ruídos que não
sentem medo de serem vistos. 3
“Veiculadores” das paradas de sucesso,
“pioradores” da poluição sonora.
Árvore 1 Refúgio do sol. Lugar para descanso
e encontro sob a sua sombra. 2
Estacionamento. 3 Mictório público
masculino. 4 Marco arqueológico espacial. 5
Mobiliário urbano em extinção. 6 Obstáculo
Água
At
nas calçadas.
Atlântico, Oceano Porção d´água que banha
quatro continentes e várias ilhas. Constituído
em Recife a partir do encontro das águas dos
rios Capibaribe e Beberibe. Exemplo da
completa ausência de modéstia dos
recifenses.
Avião Aquele que transporta pequenas
quantidades de droga. Distribuidor de
entorpecentes entre o boqueiro e o viciado.
Azulejos 1 Revestimento cerâmico de casas,
banheiros e cozinhas, podendo ser liso ou
estampado. Aplicado de diversas formas,
valoriza e protege a casa. 2 Ornamento cuja
riqueza tipográfica é proporcional ao poder
aquisitivo dos que o utilizam. Tendem a ser
azuis e brancos, por questões econômicas,
quando aplicados em grandes fachadas de
prédios de luxo.
Bacurau 1 Aquele ônibus que nunca vem,
exatamente quando você está na rua, tarde da
noite, em alguma roubada. Ônibus que só anda
em bandos de outros ônibus, e que tardará a us
Bi
passar novamente caso você o perca. 2
Espécie de ônibus que se assemelha ao
pássaro, de mesmo nome, que só trafega
madrugada a dentro.
Bar 1 Cerveja, caldinho, idéias, música e
amigos. Local de alegria e abstração alcoólica
ao redor de pessoas queridas. Contém
mobiliário que estimula a aproximação das
pessoas. 2 Lugar que lembra uma farmácia,
com líquidos que para dissolver problemas.
Barco 1 Transporte usado para se ir de um
lado a outro de um rio. Aquilo que aproxima
margens. 2 Equipamento essencial para a
atividade econômica de extração marítimoalimentar.
3 Objeto flutuante que suporta uma
diversidade “daquilos”. 4 Objeto usado como
gangorra por crianças. Pode não haver um
barco em alguma margem em que tu precises
cruzar.
Bicicleta 1 Principal meio de transporte da
população de baixa renda, odiado por
motoristas de carros ou ônibus. 2 Um veículo
de baixo custo, ecológico, utilizado
Árvore
Bi
principalmente nas áreas planas do Recife. 3
Veículo para venda de diversos produtos. Vide
“Anuncicleta”.
Bingo Atividade de lazer de dez em cada dez
grávidas na Beirinha.
Brega Música incidental de todas as ruas e
ônibus. Aquilo que se toca em alto e bom som.
Cabanga, Ponte do Limite geográfico do
Recife que separa dois mundos: a zona sul e o
resto da cidade. Existem habitantes dos dois
mundos que não frequentam o ambiente
oposto. Diz-se que o mundo sul assemelha-se
ao Rio de Janeiro, enquanto que o mundo
oposto aproxima-se de São Paulo.
Cachorro 1 Mamífero de fidelidade
incondicional. 2 Ex-namorado sacana. 3
Habitante das ruas, dos rios, dos lixões, dos
casebres, das sombras das árvores, dos
puxadinhos, das sarjetas, de um poema de
João Cabral de Melo Neto, de toda água que
escorre, do sorriso da criança, do “auau” do
bebê. Vive junto a porcos, galinhas, gatos,
pombos, baratas, ratos, bodes e, por vezes,
Ca
até caranguejos. Quem não tem cão caça com
gatos.
Calçada 1 Local por onde não se anda, ou se
anda com dificuldade. 2 Espaço público
utilizado tal qual espaço privado. 3 Local para
comércio, secagem de roupa, oficina. 4 Local
para dormir. Vide “Sem teto” 5 Extensão da
casa. 6 Mobiliário urbano. 7 Mostruário de
material para pavimento 8 Local para onde se
deve olhar ao caminhar por Recife, a fim de
esquivar-se dos obstáculos. 9 Terra de
ninguém. 10 Dentro do mar: Arrecife (do árabe
“calçada que margeia a costa”).
Caldinho Sustância alimentícia líquida,
instantânea e barata.
Camarão 1 Crustáceo do rio ou do mar,
presente e apreciado em vários pratos. 2
Nome de castelo em Brasília Teimosa. 3 Tira
gosto preferido pelos recifenses,
acompanhado de cachaça Pitú ou de cerveja.
Pode-se consumir com casca ou descascado,
mas sempre rejeitando-se a cabeça, por ser
ela preenchida de fezes. 4 Fonte de
Bar
Ca
sobrevivência na Ilha de Deus. 5 Apelido da
plantinha mágica que se fuma, encontrada no
sertão pernambucano.
Camelô Vendedor ambulante de rua. Presente
em todas as ruas dos centros urbanos
subdesenvolvidos. Esta categoria está sempre
sendo perseguida ou “oficializada” pelo poder
público. Ações para a regulamentação da
atividade aparentemente não demonstram
surtir efeito. Um exemplo recente foi o
fracasso do “camelódromo”. Desde os antigos
mascates, pouca coisa mudou. Vide “Dantas
Barreto, Avenida”.
Caminhar 1 Deslocar-se entre dois pontos de
forma lenta ou rápida, só ou em grupo. 2
Maneira de conhecer um lugar. Na cidade é
possível empreender vários caminhos. 3 Estar
vulnerável a topadas ou assaltos.
Cansaço Sensação de incapacidade para
fazer alguma atividade. Estado de desânimo
físico ou mental. Asma, puxadas, falta de ar.
Quem corre sente cansaço na Avenida Norte
ao meio dia.
Co
Carro 1 Cidadão mais importante da cidade. A
cidade está “orientada” em sua função. Ele é o
patrão, a medida e a escala. 2 Sonho de
consumo. 3 Aquele que domina grandes
espaços na cidade. Promotor da indiferença
das calçadas. Na cidade não se anda a pé, mas
de carro. 4 Anúncio móvel. 5 Bunker móvel. 6
Refúgio privativo na cidade.
Chuva 1 Parte de um ciclo frequente no Recife:
lugar mal drenado, saneado e urbanizado
acaba coberto de água. 2 Água na vertical ou
em ângulo (quando de vento). Queda d´água.
Fraca ou toró. 3 Aquela que pode ser amiga,
torna-se inimiga quando causa inundações. 4
Com o calor que nos cerca é a geradora do
mormaço. Vide “Água”.
Cozinhar 1 Preparar a energia vital que
transforma alguém em si mesmo. 2 Enfatizar
sabores, construir texturas. Para si, ou para a
venda. 3 Forma de gerar prazer, felicidades,
aromas, e o encontro de afetos sociais.
Celebração. 4 Tudo que se vende em barracas
de rua. Enquanto construíam uma palafita, a
Bingo
Co
galinha guisada cosinhava para ser
“agasalhada” ao final do trabalho.
Coxinha de Aquário Composto alimentício
feito de porções de galináceas desfiadas
acomodadas internamente em uma massa
frita em óleo velho. A modalidade de aquário
encontra-se em um caixote de vidro.
Criança 1 Ser cheio de idéias. Pode ser
encontrada em praças, escolas, playgrounds,
ou centros de compras. 2 Vista em bandos nas
ruas de toda cidade Vide “Abandono”. Gosta
de doces, pipocas, bombons, salgadinhos,
dudus. 3 É sincera e por vezes chora. 4 Adora
ser fotografada.
Dantas Barreto, Avenida Via pública que liga
nada a lugar nenhum. Instalou-se nela um
inútil camelódromo. Vide “Camelô”
Desapego 1 Aquilo que se espera de um
cigano ou ambulante. 2 Compreensão de que
não é preciso nem ter nem ser, apenas viver e
evoluir a cidade. Quietude da completude do
agora caótico. 3 Desprender-se. Concentrarse
em si. 4 Considerar o que realmente é
De
importante. 5 Deslocamento, descolamento. 6
Desfazer-se do que se tem. 7 Algo necessário
para caminhar. 8 Algo a que se atribui culpa ao
não se intervir por não se sentir pertencente
ao local.
Descalço 1 Pessoa com os pés descobertos.
Couro grosso, primitivo, em contato direto
com qualquer superfície. Pessoa que por falta
de dinheiro não possui calçados, geralmente
verminosa e com grosso solado dos pés. 2
Mecanismo de distinção social.
Desemprego 1 Termômetro da economia.
Causa de desconforto e depressão de boa
parte da população. Provoca o crescimento da
violência. 2 Bom mote para novos
investimentos públicos. 3 Liberdade? 4
Segundas livres. 5 Ausência de função social.
6 Obstáculo à capitalização e à transformação
da condição de vida.
Deus 1 Deus é fiel. 2 Presença constante e
onipresente marcada em muros, portas,
carros, bicicletas, fachadas de residências,
comércios, e igrejas. 3 Personagem citado em
Cozinhar
De
agradecimentos, recomendações e
praguejos. 4 Uma força que indica o caminho
ou a postura a se seguir. 5 Atenuador de
sofrimentos. 6 Ele tem uma ilha em Recife
(antes cohecida como ilha sem Deus). 7 Se
deus quiser...
Deus é fiel Vide “Deus”
Dominó 1 Jogo de salão com peças de
madeira, plástico ou marfim. 2 No Recife, o
dominó é um território de socialização para
seus moradores, em calçadas, próximos às
ruas. 3 Sua queda é efeito em cadeia, em rede,
e suas conseqüências são as que se notam no
caos de Recife.
Ebó Oferenda feita aos orixás em
encruzilhadas da cidade. A depender da
entidade que se trata, esta reverência alterna
de cenário.
Escada 1 Elemento essencial construído para
descer ou subir. Pode ser coletiva ou privada.
Muito vista em casas dos morros. Podem ser
feitas de pedra, concreto, madeira ou ferro. 2
Inicialmente construídas por moradores, logo
Fa
foram requalificadas para serem utilizadas
como moeda de troca em alguma eleição. 3
Seus degraus também são usados como
assentos e tornam-se áreas de encontro e
lazer.
Esperar 1 Aguardar por algo que vai
a c o n t e c e r . E s p e r a - s e p o r u m
desenvolvimento, por reconhecimento, por
uma vida melhor, por ser gente, por ser
cidadão. 2 Atitude paciente e contemplativa
de utilizar o espaço público. 3 Tempo entre um
ônibus e outro, quando é possível a
socialização. 4 Oportunidade de se gerar um
potencial lucro comercial em um local de
grande concentração. Quem espera sempre
alcança, quando não se cansa.
Favela 1 Nome de habitações militares na
guerra de Canudos, aplicado a um morro no
Rio de Janeiro, e aplicado para todos os
conjuntos de habitações subnormais do
Brasil, incluindo estas áreas no Recife. 2
Assentamento humano espontâneo em
constante crescimento e transformação que
Esperar
Fe
lembra o aspecto desumano relativo ao
subdesenvolvimento. 3 Comunidade informal
em permanente estado efêmero. 4 Lugar de
sobrevivência e invenção, com caminhos e
surpresas.
Fé 1 Escapismo ao se crer que tudo poderá dar
certo para sobreviver a momentos difíceis e
situações precárias. 2 Aquilo que move
montanhas, por vezes de dinheiro, em templos
ou morros. 3 Auto-advertência para se
reconhecer entre o mau e o bom caminho.
Futebol Esporte realizado em ruas, calçadas,
campos, praças, várzeas, casas... Praticado
por homens, mulheres e crianças que
constroem suas barras com paus, pedras,
camisas, objetos diversos, portas, janelas etc.
Gambiarra 1 Arranjo criativo para soluções
temporárias que se tornam permanentes.
Adaptação. 2 Costume freqüente de adotar
códigos abertos não patenteados. 3 Solução
para a minimização orçamentária de
cobranças.
Garagem 1 Espaço essencial para a guarda
Gr
segura dos automóveis. Muitas vezes é vista
na frente da casa ocupando o lugar dos
terraços. 2 Elemento de distinção social na
periferia. 3 Antigo bar do Recife que agregava
boêmios.
Gelo baiano Obstáculos de concreto e tinta
lumirreflexiva. Limítrofe urbano utilizados na
rolagem das ruas para disciplinar o trânsito.
Em áreas de fluxo intenso pode assumir
dimensões maiores, tornando-se um iceberg
baiano.
Guarda chuva 1 Objeto essencial para a
proteção do sol, geralmente usado por
senhoras, que também serve para se proteger
das chuvas. 2 Objeto utilizado para gerar
espaços privados em pontos informais de
comércio. Vide “Sombra”
Guarda do Apito Serviço de segurança
informal presente nos subúrbios do Recife,
que apita por toda a noite avisando aos ladrões
que naquele momento não devem assaltar.
Grade 1 Muro furado. 2 Objeto usado nas
prisões para isolar seres humanos da
Janela
Ig
sociedade. Objetos usados nas casas para
isolar os seres humanos que deveriam estar
nas prisões. 3 Tradição artesanal herdada dos
mouros espanhóis e portugueses 4 Limite. 5
Controle de entrada e saída. 6 Local para secar
roupas. 7 PROTEÇÃO!!!
Igreja 1 Lugar para práticas sagradas. 2 São
muitas no Recife, católicas, batistas,
universais, todas do reino de Deus. 3 Ícones
urbanos, referência visual e espacial. 4
Historicamente, são epicentros do
crescimento urbano. 5 Lote com torre, padre e
sacristia. Espaço pertencente à Santa Igreja
Católica do Vaticano, onde o padre,
representante de Deus, estabelece
mecanismos de controle. 6 Muitas casas
vazias do Recife pertencem à Igreja, mesmo
que ela não o saiba. 7 Assistencialimo.
Moradores de rua são assistidos por católicos
e evangélicos. Há muitos templos evangélicos
em Recife.
Jackson, Michael 1 Trilha sonora recente nas
ruas do Recife. 2 Futuro ídolo das novas
La
gerações. 3 Sugestão de nome para recémnascidos.
4 Imagem da moda post mortem.
Janela 1 Através dela muitos cidadãos olham
a cidade fugazmente, seja da casa, do carro,
do trem, do ônibus... 2 Abertura para abrir ou
fechar, olhar ou não olhar. 3 Ponto frágil, por
onde entram os não quistos. 4 Elemento que
se abre para o mundo.
Labirinto 1 Caminho consolidado de ordem
espontânea, integrado à cidade formal. 2
Caminho onde o usuário perde o referencial,
podendo ser estreito ou largo, tortuoso ou
cartesiano. 3 Traçado da cidade medieval e
das favelas. 4 O labirinto da mesma forma que
protege, facilita a fuga. Quem não for
minotauro se perde.
Lama 1 Mistura de terra e água. Presente em
ruas, praças, rios, lagoas etc. Praticamente
todo o solo original do Recife. 2 Diz-se de quem
está sem dinheiro ou em desgraça pessoal:
Fulano está na lama.
Largura Parâmetro de classe social. Quanto
mais largo, mais rico, quanto mais estreito,
Largura
Li
mais pobre. Dimensão transversal, definidora
da escala urbana.
Liberdade, Avenida Nela estão o cemitério
Parque das Flores, o Presídio Professor Aníbal
Bruno e duas delegacias. Não há muitos
espaços livres na avenida Liberdade.
Limite 1 Linhas invisíveis, ocorrem em geral
nos mapas, e determinam um território. 2
Linhas visíveis, impostas ao traçado urbano a
exemplo das linhas de metrô, que propõem
rupturas da cidade, de um bairro, de uma
comunidade. 3 Os limites não são lineares e às
vezes tornam-se áreas sem reconhecimento
legal. 4 Só a Celpe sabe que a gente existe... 5
Onde começa e ou acaba alguma coisa ou
território. 6 Limite de transição. 7 Linha física
ou imaginária que separa.
Lixo 1 Resíduo natural ou artificial. 2 Material
para reciclar e construir; 3 Habitante usual de
ruas, matas e rios. 4 Possibilidade de
revelação de uso e costume local, sinal de
status social. 5 Fonte de renda para catadores
e partidos políticos.
Ma
Lona Presente em toda área elevada do
Recife. Usa-se para proteger as barreiras de
inundações no período das chuvas e o
conseqüente desabamento de casas.
Macaxeira 1 Tubérculo extremamente
consumido em todo nordeste brasileiro.
Presente em quase todas as mesas de bares
acompanhada de elementos protéicos
guisados, fritos e assados. 2 Nome de um
grande terminal de transporte do Recife.
Mangue 1 Fonte riquíssima e natural de vida.
2 Principal elemento natural do território
estuarino que é Recife, onde impera a lama, o
caos, o caranguejo, e Chico Science. 3 Massa
orgânica fétida. Berçário de vida. 4 Elemento
venerado pelo IBAMA e o CPRH, odiado pelos
incorporadores, e apreciado pelo turista como
elemento de paisagem.
Mapa 1 Desenho cartográfico que tenta definir
um território. 2 Através dele podemos nos
desorientar. Mapa Mundi, Mapa astral, Mapa
rodoviário, mapa do céu.
Maré 1 Movimento dos níveis fluviais da
Lixo
Ma
cidade regulados pela lua. Modificação da
vida, paisagem, cor, cheiro. 2 Determinante do
trabalho dos pescadores. 3 Toma-se banho de
canal quando a maré enche. 4 Renovação das
águas. 5 Típica gíria: a maré não está pra
peixe.
Maresia 1 Cheiro ou atmosfera marítima.
Geralmente úmida e com grande quantidade
de sais marinhos. 2 O que corrói peças
metálicas de uma casa à beira mar. 3 Cheiro de
maconha no ar ou efeito de quem acaba de
fumar.
Medo 1 Betânia não sente medo andando.
Betânia sente medo em Boa Viagem no seu
carro. 2 Boa desculpa para não pagar multa ao
cruzar um sinal vermelho. 3 A polícia impõe
mais medo que os bandidos. 4 Há medo na
solidão.
Mercado 1 Equipamento público ou privado
que congrega pessoas que compram e
vendem, que comem e bebem, que se
encontram e desencontram. 2 Lugar
multicompartimentado que abriga em de
Mo
comercializa pessoas, coisas e animais, além
de oferecer a prestação de serviços. 3 Lugar
onde se encontra mais facilmente tudo o que é
produzido com rótulo de cultura popular e
pessoas peculiares da cidade. 4 Na cidade do
Recife, existem muitos formais ou informais. 5
O mercado organiza a feira.
Metrô 1 De superfície. 2 Serve para entrar e
sair do centro urbano. 3 Principal gerador de
muros e isolamento. Ruptura da malha urbana.
4 Estação do metrô: local para transposição de
seus trilhos e mirante artificial. 5 O Recife tem
um metrô que nem parece com Recife.
Mormaço 1 Efeito climático de drástica
sensação de calor, causado pela aliança do sol
escaldante com a alta umidade. 2 Causa
direta da instalação de climatizadores de
ambiente.
Morro 1 Elemento natural, sempre em
m o v i m e n t o , e r o s i v o o u e x p l o s i v o
(culturalmente), que cerca a cidade formal
com suas ocupações espontâneas. 2 Local em
processo contínuo de concretização (do o
Mormaço
Mu
concretizar até ao passar ao concreto). 3 Lugar
privilegiado pela natureza e desprestigiado
pela sociedade do Recife. 4 O que provoca
cansaço ao percorrer, medo ao cair da chuva,
esperança e desconfiança quando se
aproximam as eleições. Quando derem vez ao
morro todo o universo vai sambar.
Muro 1 Obstáculo artificial construído pelo
homem para o isolar de algo ou alguém. 2
Artifício utilizado para demarcar propriedade,
definir fronteiras. 3 Espaço publicitário. 4
Elemento essencial para grafiteiros. 5
Elemento gerador de sombra.
Nômade 1 Aquele que entra e sai a todo
instante, em constante mudança de habitat. 2
Cidadão trabalhador que habita e usa toda a
cidade. 3 O oposto de sedentário, que habita e
usa uma mínima parte da cidade.
Obstáculo 1 Ponto de mutação. 2 O que tem
que ser superado para crescer. Algo que
impede e limita. 3 É inevitável quando se anda
pelas calçadas. 4 Equipamentos urbanos
também são osbtáculos: orelhões, placas,
Pa
paradas de ônibus, lixeiras.
Odores 1 Cheiros. 2 Podem ser bom ou ruins,
fortes ou suaves. 3 Cheiro do corpo é inhaca,
do pé é chulé. 4 Vem de várias fontes, dos
dejetos, da comida que se prepara, do
desodorante do operário de construção
liberado às 17h, do animal que cria, do
combustível. 5 Recifede, Recifezes.
Olhar 1 Observar, analisar de modo particular,
ação para a descoberta. 2 Olhar suspeito, olhar
doce, olho grande, olho da rua.
Olha o Ovo! Típico mecanismo de
comercialização de ovos ou de leguminosas.
Utiliza-se um carro avariado e um mecanismo
sonoro de ampliação da voz com baixa
qualidade. Herança dos feirantes e mascates:
ganha-se o freguês no grito. Vai amolar? Vide
“Camelô”
Palafita A primeira técnica de construção
humana para abrigar-se em leitos de rios ainda
presente na cidade do Recife. Técnica
empírica e bela, porém miserável. Construtora
de elementos criativos com percursos lúdicos.
Muro
Pe
Pentagrama 1 Conjunto de cinco linhas onde
se escrevem as notas, uma alegoria. 2 A
cidade física é um pentagrama rígido. 3 A
música sempre é presente na cidade, na rua,
nos quintais, nos carros.
Perigo 1 Aproximação da morte. 2
Instabilidade. 3 Sentimento próprio que nem
sempre está presente na cidade. 4 O perigo
está no imaginário da pessoa.
Pitú 1 Espécie de crustáceo de rio apreciado
nas refeições ou como petiscos. Aparenta-se
ao camarão sendo maior. 2 Marca afamada de
aguardente de cana, extremamente barata,
consumida aos tubos na maioria dos bares
mais populares. E vendida no exterior do país
como especiaria de luxo.
Pirataria 1 Difusão de informação humana
sem CPF ou CNPJ. 2 Direito da não
propriedade intelectual. 3 Do imaginário
pirata, aquele que rouba. 4 Pode ser vista em
pontos comerciais ilegais por toda a cidade,
incluindo próximos a policiais.
Polícia Em muitos casos, bandidos fardados
Pr
que agridem a quem deveriam defender e
protegem quem deveriam Ra tá tá tá!
Praça 1 Local público e democrático onde
pessoas de todos os sexos e idades se
encontram, param, pensam, descansam, são
felizes ou infelizes... Ponto de táxi. 2 Nascem
da história da cidade, eram cemitérios,
mercados. Vide “Dominó”
Prato Feito Forma de comer diária da grande
parte da população. Formato reduzido do prato
comercial. Conhecido pela sigla PF. Em um
único prato é servido uma base de feijão
coberta por arroz branco e uma porção de
carne da preferência do cliente. Duas fatias de
tomate, um pedaço de cebola e uma singela
fatia de alface complementam a decoração e
fingem ser salada.
Proteção 1 Pseudo manto de imunidade. 2
Energia externa para fortalecimento aplicada
às grades. 3 Aquilo que se aplica para
preservação do amor, do carinho, da família. 4
O grande negócio da insegurança, do
imaginário do perigo.
Rua
Pu
Puxadinho Edícula erguida precariamente em
qualquer espaço que sobre do pequeno lote
urbano.
Refúgio 1 Lugar escondido, caverna. 2 O
mesmo que casa em um bairro rico. 3 Espaço
livre, independente de ser urbanizado, como
uma praça. Nem sempre sombreado por
árvores ou cobertas construídas. 4 Local para
descanso comumente tomado por carros.
Resífilis A venérea brasileira.
Rio No início tudo era rio. Uma referência de
localização ao andar pelo Recife. Vide
“Atlântico, Oceano”
Rua 1 Elemento multiuso. 2 Quando privado é
igual a um mau lugar. 3 Podem-se criar
eventos de rua por seu caráter de múltipla
atividade. 4 Local de circulação de pessoas e
mercadorias. Pequena extensão da casa.
Ruído 1 Sonoridade caótica provocada por
vários sons e autores: automóveis,
comerciante, músicas, conversas, buzinas,
sirenes, gritos, amoladores de alicate. Vide
“Anuncicleta” 2 Diretamente ligada à vida e à
So
atividade comercial móvel e estética.
Schevchenko Jovem pixador que escolheu a
enorme alcunha (raro entre pixadores) para
marcar toda a zona norte da cidade.
Sedimento 1 Material natural ou artificial
constituinte de grande parte do solo do Recife.
2 O lixo sedimentado 3 Matéria orgânica
observada na Ilha de Deus. 4 Desamparado,
solto ao mundo. 5 Carente de sua terceira pele.
6 Habitante das ruas que as utiliza para fazer
todas as atividades domésticas.
Sem teto Seres humanos visíveis ou invisíveis
que habitam as ruas da cidade. Podem-se
notar vários deles sob as marquises, escadas,
cobertas, barracas e outros infindáveis
abrigos urbanos. Por incrível que pareça ele
não são notados pelas autoridades
competentes.
Sol 1 É quente!!! 2 Inclemente para caminhar.
3 O sol é deus, deus é fiel: serve para
demarcação dos horários. 4 Atração turística.
5 Gerador de cadeia produtiva. 6 Promove a
sombra. 7 Carne de sol. 8 Elemento secar
Sombra
So
fundamental para secar roupas. O sol de
Recife está de rachar.
Sombra 1 Refúgio natural e/ou artificial; local
para esperar o ônibus, quando há. 2 Aluga-se
nas praias. 3 Sombrinhas Vide “Sol” 4 Fumase
nela. 5 Espaço urbano extremamente
disputado. 6 Tesouro caríssimo do Recife.
Sujeira 1 O mesmo que policial quando se
está em atitude suspeita. Apaga esse baseado
que lá vem os homens. Olha a sujeira! Olha a
sujeira! 2 Aquele que não é boa companhia. 3
Resíduos espaciais frutos do mau
planejamento. 4 Fim de feira. 5 Diz-se das
ruas, dos rios. 6 Status das zonas urbanas. 7
Resultadodos usos humanos. 8 Resto de
maconha nos bolsos de alguém.
Skyline Lugar onde se evidenciam as
diferenças entre classes sociais. Arranha-céu
versus telhados das favelas. A altura como
dialética do poder.
Teimosia 1 O mesmo que resistência. 2 Aquilo
que se teve em Brasília Teimosa no início de
sua ocupação popular. Aquela que tem
se podia ouvir: Daqui não saio / Daqui
ninguém me tira. (bis) / Onde é que eu vou
morar / O senhor tem paciência de esperar /
Ainda mais com quatro filhos / Aonde é que
vou parar (bis) / Sei que o senhor tem razão /
Pra querer a casa pra morar / Mas aonde eu
vou ficar / No mundo ninguém perde por
esperar / Mas já dizem por aí / Que a vida vai
melhorar. Vide “Sem Teto”
Trabalho 1 Para alguns uma tortura,
obrigação, fruto da herança escravagista de
nossa sociedade. 2 Cumprimento de prazos ou
o que a elite se nega a fazer. 3 No caminho
místico ou social: o bom caminho a seguir.
Melhor trabalhar que roubar. Vide “Deus é fiel”
Tração animal Mecanismo de transporte
medieval encontrado até hoje nas ruas do
Recife. Diz-se que Recife não possui área rural,
porém pode-se ver movimentação de animais
de grande porte pela cidade.
Traficante 1 Indivíduo que comercializa
drogas, pessoas ou objetos ilegais. 2 O que
arma a “defesa” de um território, que desafia a
Tr
Skyline
Tr
lei, que questiona o poder instituído. 3 Aquele
que possui o poder de limitar acessos. 4
Aquele que modifica o uso da cidade, que gera
uma mudança social e de relações humanas.
Transporte 1 Aquilo que nos faz ir e vir. 2 O
meio. 3 O que transporta espacialmente a
localização de algo. 4 Aquilo que permite
várias leituras de um mesmo sítio ao se
locomover de carro, ônibus, a pé, trem ou
bicicleta. 5 Aquilo que o homem adapta para
transpor a geografia urbana. 6 Aquilo que
transporta, guarda e comercializa: cachorroquente,
coxinha, pastéis, caldo de cana... 7
Também conhecido como espera, lentidão,
ineficiência.
Tubarão Habitante mítico das praias do
Recife. Gosta muito de surfistas.
Uso múltiplo 1 Lugar, objeto, espaço ou
pessoas aptos a abrigar ou desempenhar
várias funções. 2 Aquilo que não tem o uso
definido uso. 3 Prédio que se destina à múltipla
sobrevivência e que por sua variante usual se
assemelha à versatilidade de um circo.
Vi
Vende-se 1 Tudo. Absolutamente tudo está à
venda: prédios quase destruídos na Mirueira.
2 O trator que se troca por um punhado de seu
dinheiro na Dr. José Rufino. 3 Permanente
estado de compra e venda nas ruas do Recife.
4 Aquilo que se aplica a placas para vendas de
uma barraca de cachorro-quente na Rua da
Saudade.
Vitória das Mulheres, Ponte Pequeno
pontilhão para pedestres (também utilizado
por motocicletas) que liga o continente à Ilha
de Deus. O nome é uma homenagem à
organização das mulheres da ilha que articulou
a construção desta.
Vizinhança 1 Espaço de intimidade ou
estranhamento. 2 Vizinhos do lado, de cima,
da frente e de trás. 3 O vizinho a quem se deve
ou a quem se dá. 4 Relação de convivência e
solidariedade não institucionalizada frequente
nos em alguns bairros, onde as ruas são
extensões de uma casa. Um bom muro faz um
bom vizinho. O perigo mora ao lado.
Uso múltiplo
terminologia
urbana
do recife
Prefeito
João da Costa
Vice-Prefeito
Milton Coelho
Secretário de Cultura
Renato Lins
Presidente da Fundação de Cultura
Luciana Félix
Diretor de Gestão de Equipamentos Culturais
Beto Rezende
Gerência de Museus
Carmem Lúcia Piquet
Diretor do Espaço Cultural Pátio de São Pedro
Fernando Augusto
Gerente do CFAV
André Aquino
Coordinador geral do Spa das Artes
Márcio Almeida
Coordenadora da oficina
Maria Eduarda Belém
Agradecimentos
Luciana Soares
Pessoal do CFAV
Pessoal do Museu Murillo LaGreca
Romero da Ilha de Deus
O barqueiro que nos atravessou ao Pina
O Barqueiro anônimo que nos salvou
Luciano, motorista do Multicultural
Todos os garçons que nos atenderam
Carol Azevedo e seu fusquinha
Lia Menezes
Fred Ayres
Hugo
Livrinho de papel finíssimo
Pessoal do Branco do Olho
Centre d’Art Can Xalant
A todos das ruas
A cidade do Recife
www.tu-recife.net