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Warming

Uma Newsletter do PELD – CRSC

3. A fantástica diversidade nas águas das “ilhas do céu” no campo rupestre

O

campo rupestre abriga diversas

nascentes e riachos de cabeceira,

que serpenteiam sobre montes e

vales, integrando mosaicos de paisagens, relevos,

solos e vegetação, abrigando espécies

aquáticas que evoluíram ao longo de milhões

de anos. Os riachos de cabeceira no campo

rupestre são canais fluviais estreitos e rasos,

que podem ser temporários ou perenes e, em

geral, pobres em nutrientes. São formados

por águas transparentes, amareladas ou cor

de chá forte, coloração causada por substâncias

orgânicas (húmus).

Esses riachos são laboratórios naturais

para estudos ecológicos, onde buscamos

conhecer as características de suas águas,

as espécies aquáticas e suas relações com

a vegetação do entorno. Os estudos estão

concentrados nas cabeceiras das bacias hidrográficas

dos rios Doce, São Francisco e do

Jequitinhonha, ao longo da Serra do Espinhaço,

em Minas Gerais.

Um desafio urgente na Ecologia é entender

como as mudanças globais no clima

e nos usos da terra devido a atividades humanas

influenciam os ecossistemas aquáticos

e sua rica biodiversidade. A substituição de

cobertura vegetal nativa por atividades agropastoris,

aumento de urbanização, mineração

e turismo não planejado, desmatamento

de matas ciliares e aumento de nutrientes em

riachos de cabeceira têm degradado a qualidade

e quantidade de água no campo rupestre,

colocando em risco a sua biodiversidade.

Vistas de cima das nuvens, as montanhas

formam ilhas na paisagem, as chamadas

ilhas do céu (sky islands). Nesses pontos altos,

a degradação de nascentes dos riachos

afeta o funcionamento de vários ecossistemas,

influenciando profundamente as regiões

mais baixas e o abastecimento urbano, bens

e serviços ecossistêmicos.

As atividades humanas e as mudanças climáticas

ameaçam a diversidade de espécies

aquáticas, com altos níveis de endemismo e

ainda pouco conhecidas. Dentre os grupos

menos estudados, destacam-se os macroinvertebrados

bentônicos, organismos que

vivem no fundo de ecossistemas aquáticos,

como minhocas (anelídeos), caramujos (mo-

Figura 1. Riachos de cabeceira no campo rupestre, localizados no alto das montanhas (sky islands) do Parque Nacional da Serra do Cipó,

MG. Fotos (VANT): Ricardo R. C. Solar.

luscos) e, principalmente, estágios jovens de insetos.

Eles participam de processos ecológicos maior nos locais onde há acúmulo de folhas

aumento da altitude e que a abundância é

fragmentando folhas que caem da vegetação e detritos.

do entorno dos riachos e são alimento para invertebrados,

peixes, anfíbios e aves.

riachos formam verdadeiras ilhas de biodi-

Esses acúmulos de folhas no fundo de

Os estudos produzidos pelo PELD na Serra

do Cipó avaliaram os fatores determinantes invertebrados aquáticos se comparados a

versidade, concentrando maior riqueza de

para a diversidade de espécies desses organismos

nos riachos de diferentes altitudes do local. seixos, cascalho, areias. Além disso, o estudo

outros tipos de habitats, como por exemplo

A cada 100 m de elevação um riacho da Serra mostrou grandes diferenças na composição

foi selecionado, a partir dos 800m de altitude de espécies nos riachos do ponto mais elevado

da montanha.

até 1400 metros. Os pesquisadores verificaram

que a riqueza e abundância de organismos Outro estudo do PELD mostrou que a

aquáticos macroinvertebrados diminui com o grande diversidade de invertebrados se dá

Figura 2. Padrões de diversidade alfa e beta de macroinvertebrados bentônicos observados ao longo do gradiente altitudinal da Serra do

Cipó, MG.

Dezembro 2022

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