ABL-076 - Sonetos e rimas - L... - Academia Brasileira de Letras
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14 � Luís Guimarães Jr.<br />
tadupas... Lá, on<strong>de</strong> a calma aperta, e cantam as aves mais extraordinárias<br />
da terra, e se ouvem as núpcias da seiva, caule a caule, na misteriosa<br />
alcova das florestas, o espírito, naturalmente exaltado à contemplação,<br />
<strong>de</strong>riva por seu turno na cheia sensual <strong>de</strong>sses titânicos e cósmicos amores.<br />
Filho <strong>de</strong> colono, o brasileiro guarda na alma a in<strong>de</strong>finida nostalgia<br />
que vira bruxulear nos olhos dos pais. A mesma criação opulenta que<br />
o cerca, o humilha e acabrunha: entanto, as paixões <strong>de</strong>la propagam-se-lhe<br />
ao sangue em efervescências insofridas, e um gulf-stream <strong>de</strong><br />
magnéticos amplexos o arrasta no vortilhão das monstruosas e sagradas<br />
gestações da natureza. Assim, o poeta é lá um produto do clima e<br />
do solo, como os frutos, como as flores. Nem quase cultivá-lo é<br />
necessário.<br />
Em Luís Guimarães, está <strong>de</strong> ver, todas estas <strong>de</strong>terminantes convergiam<br />
a impulsionar-lhe o talento. Em 1869, ao formar-se em Direito,<br />
na escola <strong>de</strong> Pernambuco, contava já na bagagem literária dois volumes<br />
<strong>de</strong> versos: Corimbos, composições soltas, e o poemeto Mont’Alverne.<br />
Estou a pensar que Mont’Alverne não arrojará o poeta para excessivas<br />
culminâncias artísticas. Entanto os Corimbos elucidam-nos à farta sobre<br />
as nativas qualida<strong>de</strong>s da sua inspiração.<br />
Ali pululam blandícias e ardores duma natureza essencialmente<br />
amorosa, a que a melancolia presta o seu colorido romântico. Ali bate<br />
pulso uma insofrida febre d’i<strong>de</strong>ais, e ânsias <strong>de</strong> paixão don<strong>de</strong> se vê golfando<br />
uma seiva inesgotável. Neste livro <strong>de</strong> lírico, em cujos ditirambos<br />
rebrilham, numa espécie <strong>de</strong> petulância, as in<strong>de</strong>cisas graças da mocida<strong>de</strong>,<br />
edita-se a alma virgem <strong>de</strong> contatos, duma selvageria sincera e<br />
duma insaciável virulência amantética – alma sonora d’americano,<br />
cheia <strong>de</strong> ímpetos, on<strong>de</strong> ao mesmo tempo tivessem <strong>de</strong>ixado ressonância<br />
o gemer da araponga e o rugir do leão, o cântico e o grito: e entre<br />
ambos, toda a vastíssima gama das emoções intercalares.