Boletim_Warming_011
Boletim informativo do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração Campos Rupestres da Serra do Cipó
Boletim informativo do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração Campos Rupestres da Serra do Cipó
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 011 Março 2023
https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652 Foto: Geraldo W Fernandes
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 011 Março 2023
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 011 Março 2023
Índice
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
Editorial...............................................................................................
O Centro de Conhecimento em Biodiversidade e a Pesquisa Ecológica de
Longa Duração PELD-CRSC...................................................................
Um banco de dados para as sementes dos Afloramentos Rochosos...........
Uma bolsa cheia de formigas e mistérios.................................................
A deep web da natureza: revelando as conexões ocultas entre as espécies
Cupins e a sua capacidade de tolerar o fogo...........................................
Caminhões colocam em risco a proposta de conservação na Serra do Cipó
Peld-CRSC nos eventos:
Conservação e recuperação dos campos rupestres.......................
Oficina de manejo e prevenção do fogo do Projeto Bandeirinhas
da Serra do Cipó.......................................................................
Rede de parcerias do Peld-CRSC:
Um pacto pelas Águas no campo rupestre...................................
A magnitude da China industrial a caminho da sustentabilidade
A ciência que eu faço:
Dr. Pablo Cuevas-Reyes...............................................................
Trabalhos científicos publicados no ano de 2022 pela equipe Peld-CRSC...
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Montanhas da Serra do Cipó
Março 2023
Foto: Geraldo W Fernandes
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
1. Editorial
A
edição 11 do Warming
apresenta ao leitor o Centro
de Conhecimento em
Biodiversidade, um Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia do Conselho
Nacional de Pesquisas (CNPq). O
Peld-CRSC está vinculado ao novo
Centro, que pode se tornar um espaço
muito importante para os tomadores
de decisão em assuntos relacionados
a biodiversidade e sustentabilidade.
O centro foi criado num momento
extremamente oportuno tendo em
vista as demandas das agendas
nacionais e internacionais em
biodiversidade e sustentabilidade.
O boletim apresenta também o
banco de sementes do campo
rupestre, fundamental nas ações
de restauração da biodiversidade e
funcionalidade do campo rupestre.
As interações entre insetos e suas
plantas hospedeiras são o foco da
terceira matéria do Warming. Nela,
são abordadas novas estratégias
pelas quais insetos, plantas e seus
inimigos naturais interagem, cada
um buscando a melhor forma de
sobreviver nos cerrados e montanhas.
Quando observamos um predador
correndo para pegar sua presa, ou
vemos a imagem de um parasita
atacando seu hospedeiro, pensamos
que as relações entre as espécies são
simples de serem analisadas. Mas isso
nunca é o caso. A vida é, na realidade,
muito complexa, composta por muitos
atores e por muitas engrenagens. Na
tentativa de simplificar, falamos do
predador e da presa, do polinizador
e da flor. Mas, no mundo real,
um grupo gigante de organismos
estão associados e as respostas
do predador ou da presa podem
muitas vezes serem determinadas por
estes organismos, que não estamos
prestando atenção ou nem vemos
direito! O trabalho sobre as redes
invisíveis nos mostra como, de fato,
as interações ecológicas ocorrem e
quão complexas e importantes elas
são.
Tolerar o fogo nos campos e
cerrados não é matéria simples,
principalmente pelo fato dele ter
aumentado em frequência e ter se
tornado cada vez mais avassalador.
Muitos organismos, incluindo
insetos como os cupins, parecem
não se incomodar com os incêndios
florestais. Na quarta matéria,
explicamos sobre as interações entre
cupins e o fogo nos campos rupestres.
Esta edição relata um aspecto
muito importante no ambiente do
campo rupestre local, o enorme
aumento do tráfego de caminhões
na rodovia MG-010 e o potencial
impacto na biodiversidade e serviços
ecossistêmicos da região. Além
disso, fizemos uma breve síntese da
participação da equipe Peld-CRSC
em uma variedade de eventos no
decorrer deste ano. Por fim, a última
matéria desta edição traz um papo
com o cientista Dr. Pablo Cuevas
Esses são os destaques da edição
11.
Boa leitura!
Março 2023
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
2. Sinergia entre o Centro de Conhecimento em Biodiversidade e a Serra
Figura 1. Vegetação do campo rupestre na Serra do Cipó. Foto: Geraldo W Fernandes.
O
Centro de Conhecimento em Biodiversidade
é um dos Institutos Nacionais
de Ciência e Tecnologia do
CNPq e foi implementado em 2023. Ele tem
como missão avaliar e monitorar de forma
integrada as mudanças na biodiversidade e
no funcionamento dos ecossistemas brasileiros.
O Centro emprega ações guiadas pelo
conhecimento para atender aos objetivos e
metas nacionais e globais de conservação da
biodiversidade, como a Convenção da Diversidade
Biológica, o Acordo do Clima, os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e
ainda aqueles de restauração ambiental em
larga escala. Isso esta sendo viabilizado pela
capilaridade de redes pré-existentes, como a
do Programa Brasileiro de Biodiversidade do
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações,
incluindo iniciativas em todos os biomas e sistemas
terrestres aquáticos continentais e marinhos.
As ações do Centro em Biodiversidade estão
centradas em três pilares que envolvem monitoramento
com foco na previsão de mudanças
a partir de fatores de degradação: biodiversidade,
efeitos da degradação dos ecossistemas
e medidas mitigadoras, e efeitos das mudanças
climáticas globais. Os primeiros projetos já foram
iniciados, e tratam da avaliação da saúde
dos solos em âmbito nacional, proposição
de ecossistemas de referência e espécies estruturantes
para restauração ecológica dos
ecossistemas brasileiros, ameaças da invasão
biológica, efeitos de mudanças climáticas à
biodiversidade brasileira, doenças emergentes
e a degradação ambiental, uso racional
de espécies nativas do Brasil e lacunas do conhecimento
da biodiversidade brasileira.
O Centro foi construído a partir do
conjunto de redes e sistemas existentes no
Brasil e fora dele. Embora muitas iniciativas
de monitoramento e estudo em longo prazo
da biodiversidade já existem no território
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
brasileiro, as mesmas encontravam-se ainda
pouco integradas e/ou não ainda totalmente
consolidadas. Por exemplo, no sítio de
Pesquisas de Longa Duração na Serra do Cipó
(PELD-CRSC), as pesquisas estão progredindo
rapidamente na geração e fornecimento de
informações precisas das variações do clima
e de respostas da biodiversidade e serviços
ecossistêmicos em função das mudanças
climáticas e de uso do solo. A parceria do
PELD com o Centro de Conhecimento em
Biodiversidade tem como objetivo melhor
desenvolver e comunicar com a sociedade
e tomadores de decisões as previsões sobre
os impactos das mudanças climáticas e a
manutenção e restauração dos serviços
ecossistêmicos do Espinhaço, por exemplo.
O Centro de Conhecimento em
Biodiversidade surgiu para consolidar os
esforços em desenvolvimento por diferentes
projetos de pesquisa, e atuar como centro
de referência para pesquisas sobre a
biodiversidade brasileira, representando
um espaço democrático para buscar
sinergias e catalisar pessoas e ideias que
resultem em efeitos positivos para a natureza
e sociedade. Assim, o Centro pode ter
um papel importante no monitoramento
integrado da biodiversidade do Espinhaço
e possibilitar que a pesquisa realizada na
região seja referência acerca das mudanças
e impactos na biodiversidade.
Veja
Fernandes, G. W. 2023. Um Centro de Conhecimento
em Biodiversidade para monitorar uma cadeia de
montanhas. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa,
R., Siqueira, W. K. Warming 10:3-4.
Fernandes, G. W. et al. 2018. The deadly route to
collapse and the uncertain fate of Brazilian rupestrian
grasslands. Biodiversity & Conservation 27: 2587–
603.
Fernandes, G. W. 2016. Ecology and Conservation
of Mountaintop Grasslands in Brazil. Springer
International Publishing, Switzerland.
Por:
Letícia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Tiago Shizen P Toma
Biólogo, Mestre e
Doutor em Ecologia
pela UFRS, Bolsista do
programa PPBio.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Serra do
Cipó, Prof. Titular de
Ecologia pela UFMG
e Membro Titular da
Academia Brasileira
de Ciências.
Figura 2. Sempre-vivas na Serra do Cipó. Foto: Geraldo W Fernandes.
Como citar:
Pereira, C. C., Fernandes, G. F. C., Maia, R.L. 2023. Uma bolsa cheia
de formigas e mistérios. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa,
R., Siqueira, W. K. Warming 10:4-5. https://doi.org/10.6084/
m9.figshare.23257652
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
3. Um banco de dados para as sementes dos Afloramentos Rochosos
Figura 1. Campo rupestre quartzitico na Serra do Cipó. Foto: Os autores.
A
biologia e a ecologia das sementes
são áreas indispensáveis para compreender
a dinâmica das populações
e comunidades de plantas. Por exemplo, conhecer
as condições necessárias para a germinação
nos diz muito sobre os ambientes
em que uma espécie tende a se estabelecer.
Da mesma forma, as informações sobre a
morfologia da semente –como seu tamanho,
peso e aparência interna– nos permitem prever
vários aspectos de sua ecologia, como
a distância que ela pode se dispersar ou o
tempo que pode permanecer no solo. Todas
essas características que nos informam sobre
o estabelecimento e a sobrevivência das es-
pécies são chamadas de “traços funcionais” e
são cada vez mais usadas em diferentes áreas
da Ecologia.
A popularização dos traços funcionais levou
à consolidação de grandes bancos de dados
globais que contêm uma quantidade enorme de
dados sobre uma ampla variedade de características
de plantas: da raiz à folha. No entanto,
a peça que falta na maioria desses bancos
de dados são as características associadas às
sementes, seja porque elas costumam ser mais
complicadas de medir do que outras características
–por exemplo, área e peso das folhas– ou
porque sua importância só está sendo reconhecida
nos últimos anos. Isso é mais notório quan-
do se trata de traços de germinação, ou seja,
as características da fisiologia da semente
que determinam onde e quando a germinação
pode ocorrer.
Com isso em mente, decidimos criar o
Rock n’ Seeds, um banco de dados de traços
funcionais de sementes e experimentos
de germinação na vegetação associada a
afloramentos rochosos no Brasil. Bancos de
dados agregam informações espalhadas na
literatura, dados ainda não publicados e
aqueles disponíveis apenas em teses e dissertações,
e portanto, preenchem uma importante
lacuna ao compilar todas estas fontes
em um formato disponível gratuitamente
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
para a comunidade científica e tomadores
de decisão. Esse banco de dados contém informações
sobre 16 traços funcionais de sementes
de aproximadamente 380 espécies do
campo rupestre, canga, campo de altitude e
inselbergs do país. Também podem ser encontrados
os dados originais de 48 experimentos
de germinação diferentes, totalizando 10.187
registros associados a 281 espécies. Todas
essas informações são o resultado da compilação
de dados depositados em 103 publicações
e da colaboração de mais de 50 autores
de diferentes instituições brasileiras.
Os traços funcionais disponíveis do banco
de dados podem ser divididos em cinco
grupos principais: morfologia, dispersão, germinação,
produção e biofísicas. Destes, foi
possível coletar mais informações sobre características
de germinação, especificamente a
presença e classe de dormência, e dispersão,
incluindo a síndrome e o tempo de dispersão
das sementes. Por outro lado, as características
biofísicas, como o conteúdo de água e a
tolerância à dessecação, e as características
de produção de sementes (por exemplo, número
de sementes por fruto ou proporção de
sementes viáveis) são pouco relatadas na literatura.
No que diz respeito aos experimentos
de germinação, o Rock n’ Seeds contém uma
grande variedade de projetos experimentais
que avaliam todos os tipos de variáveis
ambientais, como luz, temperatura e
fogo, bem como o efeito da dispersão por
animais.
Rock n’ Seeds é um banco de dados
único no mundo, pois a maioria dos bancos
de dados não possui informações tão
detalhadas sobre experimentos de germinação.
Dessa forma, os usuários desse
banco de dados poderão usá-los gratuitamente
para uma ampla variedade de propósitos.
Da mesma forma, nosso banco
de dados contribui muito para a grande
lacuna existente nos bancos de dados de
características funcionais do mundo, contribuindo
não apenas com características
de sementes, mas também com dados
de espécies tropicais que geralmente são
sub-representadas nessas fontes. Mais
importante ainda, esperamos que esse
banco de dados oriente futuros estudos
de ecologia de sementes e contribua para
a criação de programas de conservação
e restauração baseados em sementes que
possam contribuir para a preservação
dessa vegetação única e diversa.
Veja
Carlos A. Ordóñez-Parra, Roberta L. C. Dayrell, Daniel
Negreiros, Antônio C. S. Andrade, Letícia G. Andrade, Yasmine
Antonini, Leilane C. Barreto, Fernanda de V. Barros, Vanessa da
Cruz Carvalho, Blanca Auxiliadora Dugarte Corredor, Antônio
Cláudio Davide, Alexandre A. Duarte, Selma Dos Santos
Feitosa, Alessandra F. Fernandes, G. Wilson Fernandes, Maurílio
Assis Figueiredo, Alessandra Fidelis, Letícia Couto Garcia,
Queila Souza Garcia, Victor T. Giorni, Vanessa G. N. Gomes,
Carollayne Gonçalves-Magalhães, Alessandra R. Kozovits,
José P. Lemos-Filho, Soizig Le Stradic, Isabel Cristina Machado,
Fabiano Rodrigo Maia, Andréa R. Marques, Clesnan Mendes-
Rodrigues, Maria Cristina T. B. Messias, Leonor Patrícia Cerdeira
Morellato, Moemy Gomes de Moraes, Bruno Moreira, Flávia
Peres Nunes, Ademir K. M. Oliveira, Yumi Oki, Alba R. P.
Rodrigues, Carolina Pietczak, José Carlos Pina, Silvio Junio
Ramos, Marli A. Ranal, João Paulo Ribeiro-Oliveira, Flávio
H. Rodrigues, Denise G. Santana, Fernando M. G. Santos...
Fernando A. O. SilveiraSilveira FAO (2023). Rock n’ Seeds: A
database of seed functional traits and germination experiments
from Brazilian rock outcrop vegetation. Ecology, 104(1), e3852.
Ordóñez-Parra CA, Medeiros NF, Dayrell RLC, Le Stradic
S, Negreiros D, Cornelissen T & Silveira FAO (2023) Seed
functional ecology in Brazilian rock outcrop vegetation: an
integrative synthesis. bioRxiv.
Por:
Carlos A Ordóñez-Parra
Doutorando em Biologia
Vegetal pela
UFMG, Centro de
Síntese Ecológica e
Conservação (CSEC).
Fernando A O Silveira
Prof. Dr. na UFMG,
no PPG em Ecologia,
Conservação e Manejo
da Vida Silvestre,
Centro de Síntese Ecológica
e Conservação
(CSEC).
Figura 2. As dez famílias com o maior número de espécies (indicadas abaixo do nome de cada
uma) presentes no banco de dados. Fotos: Os autores.
Como citar:
Ordóñez-Parra, C. A., Silveira, F. A.O. 2023. Um banco de dados
para as sementes dos Afloramentos Rochosos. In: Fernandes, G. W.,
Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming 10:6-7. https://doi.
org/10.6084/m9.figshare.23257652
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
4. Uma bolsa cheia de formigas e mistérios
Figura 1. Vegetação do campo rupestre na Serra do Cipó. Foto: Cássio C Pereira.
O
arbusto Zeyheria montana Mart.,
conhecido popularmente como
bolsa-de-pastor, é uma espécie da
família Bignoniaceae, a mesma dos ipês. Essa
espécie ocorre no Cerrado, com mais frequência
em regiões montanhosas como a Serra do
Cipó, sobretudo em afloramentos rochosos, se
destacando na vegetação por conta das suas
flores amarelas tubulares, e também pelos seus
frutos de formato incomum em forma de bolsa,
o que lhe confere seu nome popular (Figura 1).
A bolsa-de-pastor apresenta glândulas secretoras
de néctar, conhecidas como nectários extraflorais
na base das suas folhas. Na verdade,
essas glândulas apresentam uma função defensiva
muito importante para a planta, pois elas
atraem formigas (como a agressiva Ectatomma
tuberculatum) pelo doce do seu néctar secretado,
e em troca, essas formigas defendem a
planta contra a ação de insetos herbívoros, em
um processo conhecido como mutualismo defensivo
(Figura 1). No entanto, nem tudo são flores.
Esse mecanismo é bastante efetivo para a defesa
das folhas, porém, se as formigas se concentram
nas folhas, as partes reprodutivas da planta,
como os botões florais, flores e frutos, podem virar
alvo de florívoros (aqueles herbívoros que se
alimentam de pétalas), ladrões de néctar (insetos
que furam a flor para coletar néctar, sem realizar
o processo de polinização) e também de frugívoros
(Figura 1).
Mas isso não parece ser um problema para
a bolsa-de-pastor. Surpreendentemente, observamos
um segundo mecanismo de proteção ocorrendo
nos tecidos reprodutivos desse arbusto,
entre a formiga E. tuberculatum e a cigarrinha
Guayaquila xiphias, que fornece melada em troca
de proteção (Figura 1). Aqui, temos outro tipo
de mutualismo defensivo conhecido na natureza,
chamado trofobiose, que são interações entre
formigas e cigarrinhas que secretam exsudatos
açucarados. O principal benefício proporcionado
pelas formigas às cigarrinhas é a proteção
contra predadores e parasitóides. Porém,
como essas formigas são agressivas e territorialistas,
defender a cigarrinha implica também
em defender o local onde a cigarrinha está
inserida, ou seja, no caso da bolsa-de-pastor,
os tecidos reprodutivos. Dessa forma, essa
relação de trofobiose persistiu durante todo
o período reprodutivo da planta e parece ser
eficaz não só como estratégia defensiva para
botões florais e flores (Figura 1), mas também
para o fruto (Figura 1), que, apesar de seco,
foi atacado por gorgulhos (pequenos besouros)
porque contém uma quantidade significativa
de água durante o seu desenvolvimento. Outra
coisa interessante a se destacar, é que embora
essas formigas lutem contra florívoros, ladrões
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
de néctar e frugívoros, provavelmente elas não
prejudicam a polinização, porque ela é realizada
por beija-flores, que, além de não pousar
nas flores, são maiores e mais fortes que as formigas,
não sendo afugentados por elas.
Pelo visto, a bolsa-de-pastor apresenta
mais peculiaridades do que suas flores conspícuas
e seu fruto sem igual na vegetação do
Cerrado. Este é o primeiro caso relatado na
literatura envolvendo nectários extraflorais,
formigas e trofobiontes ocorrendo simultaneamente
em uma espécie de planta. Estudos
futuros precisam ser realizados para avaliar se
essa combinação de mutualismos defensivos
pode aumentar a aptidão dessas plantas. Perguntamo-nos
quão frequentes podem ser os
mutualismos defensivos simultâneos, que ge-
ralmente não são quantificados ou relatados na
literatura. Comuns ou não, ressaltamos que interações
inseto-planta como as aqui apresentadas
correm sério risco de desaparecer junto com os
raros ambientes em que ocorrem. Dessa forma,
para conhecermos melhor essas raras interações,
devemos proteger com unhas e dentes nossos
ambientes montanhosos, tão importantes para a
biodiversidade, para o clima, e para nossa vida.
A
B
Veja
Pereira, C. C.; Fernandes, G. W. & Cornelissen, T. G.
2022. A double defensive mutualism? A case between
plants, extrafloral nectaries, and trophobionts. Alpine
Entomology, 6: 129-131.
Por:
C
D
Cássio Cardoso Pereira
Doutorando em Ecologia,
Conservação e Manejo
da Vida Silvestre pela
UFMG, Centro de Síntese
Ecológica e Conservação
(CSEC).
E
F
Gabriela F C Fernandes
Graduanda do curso de
Ciências Biológicas da
UFMG e aluna de iniciação
científica no Centro
de Síntese Ecológica e
Conservação (CSEC).
Lara Ribeiro Maia
Figura 2. (Foto A) Indivíduo de Zeyheria montana Mart. (bolsa-de-pastor). (Foto B) A formiga
Ectatomma tuberculatum (Olivier, 1792) na folha de Z. montana. A seta amarela aponta para
a formiga e as setas vermelhas apontam para os nectários extraflorais. (Foto C) Vespa (seta
amarela) retirando néctar do interior do botão floral de Z. montana. (Foto D) Interação entre a
formiga E. tuberculatum e a cigarrinha Guayaquila xiphias Fabricius, que fornece melada em
troca de proteção. A seta amarela aponta para a formiga e as setas vermelhas apontam para a
cigarrinha. (Foto E) A reação da formiga agressiva E. tuberculatum, que protege as cigarrinhas,
atacando os invasores. A seta amarela aponta para a formiga e as setas vermelhas apontam
para a cigarrinha. (Foto F) Cigarrinhas G. xiphias (setas vermelhas) na base dos frutos de Z.
montana.
Como citar:
Graduanda do curso
de Ciências Biológicas
da UFMG e aluna
de iniciação científica
no Laboratório de
Ecologia evolutiva e
Biodiversidade.
Pereira, C. C., Fernandes, G. F. C., Maia, R.L. 2023. Uma bolsa cheia
de formigas e mistérios. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa,
R., Siqueira, W. K. Warming 10:8-9. https://doi.org/10.6084/
m9.figshare.23257652
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
5. A deep web da natureza: revelando as conexões ocultas entre as espécies
Figura 1. O arbusto, alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia) hospedeiro de insetos na Serra do Cipó. Foto: Geraldo W Fernandes.
Qual o efeito da perda de uma espécie
para um ecossistema? Como
impedir a extinção de uma espécie?
Como evitar espécies indesejáveis, por exemplo,
em sistemas de cultivo? O que determina
que uma espécie ocorra em um local e em outro
não? Estas são algumas questões difíceis
de responder com as quais a sociedade tem
que lidar frequentemente. Todas elas estão relacionadas
a um problema maior, ainda mal
resolvido, que é entender como plantas, animais
e micróbios se estruturam e fazem com
que o planeta funcione produzindo água, ar e
alimento, dentre muitas outras coisas.
Um estudo inédito mundialmente desenvolvido
na Serra do Cipó, ajudou a desvendar
parte deste mistério. O estudo mostra que
além da estrutura visível e mais estudada nas
relações ecológicas entre pares de espécies,
existe uma estrutura muito maior nos ecossistemas,
uma estrutura invisível, muito importante
dador detectar suas presas, e assim influenciar
o funcionamento de todo o ecossistema. O
estudo mostrou com a realização de experimentos
inéditos, como funciona o mundo das
relações ecológicas ocultas e sua importância
na biodiversidade
Antes, essas interações só haviam sido
demonstradas em estudos de modelagem
computacional. Isso porque realizar tais experimentos
na natureza é extremamente problemático
e trabalhoso. No entanto, nós encontramos
no alecrim-do-campo (Baccharis
dracunculifolia), na Serra do Cipó, um sistema
ideal para os estudos. O sistema formado no
alecrim-do-campo inclui pelo menos 15 espécies
de formigas, nove espécies de predadores
(principalmente aranhas e joaninhas), 41 espécies
de insetos herbívoros, 17 espécies de
insetos galhadores (organismos, neste caso
insetos, que induzem tumores, ou galhas, na
planta, e se desenvolvem dentro delas), e cere
ainda pouco explorada. Essa estrutura é formada
por relações indiretas entre as espécies,
e por isso denominadas de invisíveis! Essas relações
ecológicas compõem uma verdadeira deep
web da natureza, em referência à parte oculta
da internet, que é a sua maior porção. Entender
como essa rede de conexões ocultas afetam
os ecossistemas parece cada vez mais imprescindível
para resolver as questões mencionadas
acima.
Na natureza, espécies se afetam todo tempo
através das interações que ocorrem entre as espécies
e entre elas o meio ambiente. Essas interações
podem ser prejudiciais para pelo menos
um dos participantes, como ocorre na predação
e no parasitismo, ou podem ser benéficas, como
é o caso do mutualismo. Essas interações chamamos
de diretas. Por outro lado, elas são também
afetadas por meios indiretos, e mais difíceis
de serem detectados. Por exemplo, uma terceira
espécie pode diminuir a capacidade de um pre-
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
ca de 50 vespas que parasitam os galhadores
enquanto eles ainda estão se desenvolvendo
dentro das galhas. Quanto as galhas são eclodidas
(inseto adultos saem) as “casas” delas
são ocupadas por formigas, aranhas e pulgões,
os quais compartilham o espaço de vida
do galhador e são conhecidos como inquilinos.
Um pulgão é de longe o inquilino mais
frequente destas galhas e pode levar à morte
das larvas do inseto que causa as galhas.
A Descoberta
O estudo revelou uma enorme e complexa
rede oculta que modifica as interações
“visíveis” entre pares de espécies no alecrim-
-do-campo. Estas interações ocultas são onipresentes
neste sistema, mas isso ocorre em
todas as outras comunidades de quaisquer
que sejam as espécies. Este estudo mostrou
que investigar os mecanismos de coexistência
de espécies pode ser a chave para mostrar
como podem surgir pragas e doenças a partir
da destruição dos ambientes naturais, por
exemplo. Além disso, o estudo nos fornece
pistas para começarmos a responder perguntas
sobre como a extinção de algumas
espécies podem conduzir a uma cascata de
efeitos que terminam com grandes perturbações
em todo o ecossistema, e até modelagens
dos impactos das mudanças climáticas
nos diferentes ambientes. A existência de qualquer
espécie está condicionada pelas interações
que as espécies tem em uma dada comunidade
de espécies e indica que a preservação de ecossistemas
precisa ser ampliada com urgência. A
mensagem mais importante deste artigo foi que
a perda de uma espécie tem consequências para
o ecossistema muito além das espécies diretamente
relacionadas àquela extinta.
Veja
Barbosa M, Fernandes GW, Morris RJ (2022).
Experimental evidence for a hidden network of higherorder
interactions in a diverse arthropod community.
Current Biology 33, 1-8.
A
B
Você pode assistir um video
picth de divulgação do artigo
citado acima escaneando o
código ao lado.
Por:
C
D
Milton Barbosa
Biólogo pela UFOP,
Mestre E Doutor em
Ecologia pela UFMG,
Bolsista CNPq no Environmental
Change
Institute, Universidade
de Oxford
Geraldo W Fernandes
E
F
Coordenador do Projeto
PELD Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Brasileira de Ciências.
G
H
Rebecca Jane Morris
Department of Zoology,
University of Oxford,
South Parks Road,
Oxford OX1 3PS, UK
Figura 2. Alguns invertebrados que participam da rede de interações no Alecrim-do-campo:
besouros (fotos A e B), formigas (foto C), gafanhotos (foto D), vespas (foto E), aranhas (foto F),
lagartas (foto G) e joaninhas (foto H). Fotos: Milton Barbosa.
Como citar:
Barbosa, M., Fernandes, G. W., Morris, R. J. 2023. A deep web da
natureza: revelando as conexões ocultas entre as espécies. In:
Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming
10:10-11. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
6. Cupins e a sua capacidade de tolerar o fogo
Figura 1. Vegetação do campo rupestre na Serra do Cipó, após passagem de fogo. Foto: Samuel Novais.
Apesar de que muitas pessoas só
dão alguma importância aos cupins
quando percebem que algum objeto,
o jardim ou parte de sua casa está sendo
devorada por estes organismos, eles estão
entre os invertebrados mais abundantes em
ambientes tropicais. São mais de 2.800 espécies
descritas em todo o mundo (!) e que
cumprem importantes funções na natureza.
Como são capazes de digerir a celulose,
transformam grandes pedaços de matéria
orgânica, como galhos e folhas, em pequenas
partículas que são mais rapidamente
incorporadas ao solo, contribuindo para
um processo conhecido como ciclagem de
nutrientes. A construção dos seus túneis
permite que o ar (oxigênio) entre no solo
com mais eficiência, assim como permite
uma maior penetração da água das chuvas,
beneficiando as raízes das plantas e as bactérias
benéficas do solo. Além disso, os cupins
alteram a composição química do solo ao
acumularem nutrientes em seus ninhos. Os
cupins ainda podem ser considerados importantes
engenheiros ecossistêmicos - organismos
que modificam o habitat controlando a
disponibilidade de recursos para outras espécies
- uma vez que seus cupinzeiros podem
ser ocupados por uma grande diversidade de
outros organismos como formigas, besouros,
lacraias, aranhas e, inclusive, outras espécies
de cupins. Todos eles têm muita importância
no funcionamento dos processos que governam
a vida na Terra.
Dentre os diferentes ecossistemas nos
quais os cupins habitam, incluem aqueles
propensos ao fogo, como o Cerrado.
Nestes ecossistemas, o fogo age como um
grande herbívoro determinando o porte da
vegetação, assim como limitando o estabelecimento
de algumas espécies de plantas
em detrimento de outras. As plantas encontradas
nestes ambientes, por sua vez,
apresentam várias características que as
permitem sobreviver, como caules aéreos
muito espessos e com acúmulo de cortiça
para proteção contra o fogo. Os efeitos do
fogo na fauna de invertebrados podem ser
diretos e indiretos. Além de causar morte
de maneira direta, os incêndios podem
consumir as plantas ou outros resíduos que
Março 2023
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
servem de alimento para os invertebrados.
Além de reduzir as fontes de alimento, o
fogo pode eliminar os locais onde estes
organismos habitam ou constroem seus ninhos,
assim como deixar o ambiente mais
seco devido, por exemplo, à redução na
cobertura de árvores. No entanto, assim
como as plantas, espera-se que os invertebrados
que habitam ecossistemas propensos
ao fogo tenham desenvolvido estratégias
para resistir ou escapar de eventos de
fogo.
Um extenso evento de incêndio
ocorreu na região do Morro da Pedreira e
no Parque Nacional da Serra do Cipó em
setembro de 2020 (Figura 1), oferecendo
uma oportunidade única para avaliar os
efeitos do fogo sobre cupins no ambiente
montanhoso. Cupins foram amostrados
em áreas não queimadas e queimadas
duas semanas após o incêndio. O método
para avaliar o efeito do fogo sobre os
cupins consistiu no uso de iscas de papel
higiênico (Figura 2) colocadas em três
elevações: 800 m (Cerrado), 1100 e 1400
m (Campo rupestre). No total, encontramos
19 espécies de cupins ao longo do
gradiente de altitude da Serra do Cipó.
O número de espécies diminuiu à medida
que subimos a montanha. Esse resultado
está de acordo um estudo anterior reali-
zado no mesmo local, e que destacou que
menos espécies podem sobreviver no campo
rupestre mais frio e úmido do topo em
comparação com as áreas na base da montanha.
Em relação ao fogo, não encontramos
nenhum efeito no número de espécies nem
na colonização das iscas para nenhuma das
elevações. Acreditamos que a alta tolerância
dos cupins aos efeitos do fogo provavelmente
está associada à estratégia de muitas espécies
coletadas em construir cupinzeiros de
argila dura, acima ou abaixo do solo, ou se
abrigar em cupinzeiros construídos por outras
espécies de cupins para escapar do fogo.
Veja
Nunes, C. A., Quintino, A. V., Constantino, R.,
Negreiros, D., Reis Junior, R., & Fernandes, G. W.
(2017). Patterns of taxonomic and functional diversity
of termites along a tropical elevational gradient.
Biotropica, 49(2), 186-194.
Fernandes, G.W., Oki, Y., Negreiros, D., Constantino,
R., Novais, S. No short-term effects of fire on termite
diversity in a tropical mountain. Insect. Soc. (2023).
Por:
Samuel Novais
Investigador Asociado
C Red de Interacciones
Multitróficas
Instituto de Ecología,
A. C. Xalapa, Veracruz,
México.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Serra do
Cipó, Prof. Titular de
Ecologia pela UFMG
e Membro Titular da
Academia Brasileira de
Ciências.
Figura 2. Iscas com cumpins dentro de uma armadilha. Foto: Samuel Novais.
Como citar:
Novais, S., Fernandes, G. W. 2023. Cupins e a sua capacidade de tolerar
o fogo. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K.
Warming 10:12-13. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
Março 2023 Página 13
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
7. Caminhões colocam em risco a proposta de conservação na Serra do Cipó
A
Serra do Cipó é, provavelmente,
a área do Brasil mais representativa
e singular do campo rupestre.
A região pertence a reserva da
biosfera da Serra do Espinhaço e suporta
uma fauna e flora espetaculares e singulares
tendo em vista o altíssimo grau
de endemismo e de diversidade. Várias
espécies da sua flora apresentam valor
medicinal, florestal, ornamental e farmacológico.
Apresenta ainda água de
excelente qualidade, além de abrigar diversas
nascentes importantes tanto para
a bacia do São Francisco quanto para
a bacia do Rio Doce. A região atrai turistas
de diversas regiões do país e do
mundo para práticas de atividades ao ar
livre e para descanso, o que fomenta a
economia da região.
No entanto, toda a beleza cênica
desse lugar, outrora relaxante, está desaparecendo
e dando lugar a um ambiente
de estresse e acidentes. O trânsito
intenso de caminhões pesados na MG10,
que corta toda a região, vem causando
impactados significativos no ecossistema.
Além de danificar as estradas aumentando
o número de buracos, é corriqueiro
vermos caminhões estragados,
tombados derramando carga e atrapalhando
o trânsito na região e causando
congestionamentos.
Figura 1. Divulgação da ação popular. Foto: Mídias sociais do movimento.
A rodovia MG 010 passa por uma
grande extensão da APA Morro da Pedreira
e margeia parte do Parque Nacional
da Serra do Cipó. A estrada corta
uma importante zona de conservação
chamada Zona de Vida Silvestre. Mas
mesmo sendo objeto de grande fiscalização
por parte dos órgãos ambientais, os
impactos ambientais causados pelo trânsito
destes veículos são inúmeros e aumentaram
astronomicamente nos últimos
anos. Os impactos estão relacionados à
perda da biodiversidade, onde espécies
que ocorrem justamente ao lado de onde
a rodovia foi implementada correm risco
de desaparecerem. Os caminhões carre-
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Figura 2. Acidentes envolvendo caminhões na MG-010 na Serra do Cipó. Fotos: CBMMG/Divulgação.
gam sementes e ovos de insetos pragas de
outras regiões, que ficam presos na lona
e pneus e vão espalhando por onde passa.
Assim, o estabelecimento de espécies
invasoras (que não são da região) pode
ocorrer e competir por espaço com as espécies
locais e podem levá-las à extinção.
Comumente as faíscas que saem do escapamento
destes automóveis pesados dão
início a focos de incêndios que se alastram
pela vegetação e causam perdas inestimáveis
para a região. Sem contar a poluição
do ar, sonora e visual que prejudica nem
só a saúde dos moradores e visitantes da
região, mas os animais que dependem de
sinais sonos para se comunicar, reproduzir
e alimentar. Além disso, os acidentes,
muitos com vítimas fatais vem aumentando
na região, além da degradação das estradas
que geram custos elevados para recapeamento
pelo poder público. Por outro
lado, o recapeamento, que ocorre apenas
depois de muita reclamação, é sempre de
má qualidade e não atende aos quesitos
de uma estrada voltada para o turismo.
Os moradores da região têm como
principal fonte de renda as atividades turísticas
(ex: restaurantes, pousadas, feiras
comunitárias, guias turísticos) veem relatando
a desvalorização dos seus serviços.
Este tráfego intenso impacta diretamente
a experiência dos visitantes, que
buscam na Serra do cipó uma conexão
com a natureza, descanso, lazer e refúgio
do agito das cidades.
Desta forma, o PELD-CRSC apoia a
ação popular liderada pelos moradores
da região pela restrição do tráfego de
caminhões e carretas de cargas na região
da Serra do Cipó e lembra ao poder
público que as condicionantes para o asfaltamento
proibiam fortemente o tráfego
de veículos pesados no trecho especial
da MG 10 onde o campo rupestre deveria
ser objeto de preservação e proteção
pelas prefeituras e órgãos ambientais.
A maior ameaça à Zona de Vida Silvestre
na região é aquela ligada à rodovia
MG10 e, portanto, precisa ser objeto de
ampla discussão e ação imediata por
parte do poder público.
Por:
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Como citar:
Brasileira de Ciências.
Você pode apoiar
o movimento
escaneando o
código ao lado e
assinando a petição.
Letícia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências
Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Novais, S., Fernandes, G. W. 2023. Cupins e a sua capacidade de tolerar
o fogo. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K.
Warming 10:14-15. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
8. Peld-CRSC nos eventos: Conservação e recuperação dos campos rupestres
Figura 1. A esquerda: foto de todos os participares no evento presencial, dentre eles os palestrantes do Peld-CRSC. A direita: Cartaz de divulgação do
evento. Foto: Divulgação PAT Espinhaço.
Entre os dias 11 e 13 de abril O Parque Estadual
da Serra do Rola-Moça foi palco do I
Seminário Técnico de Conservação e Recuperação
de Campos Rupestres. O objetivo principal
do evento foi debater a gestão ambiental do
tão ameaçado campo rupestre, ecossistema chave
para a conservação da biodiversidade brasileira.
O evento foi promovido pelo Instituto Estadual de
Florestas (IEF) e organizado pelo Plano de Ação
Territorial (PAT Espinhaço Mineiro) e contou com a
participação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Foram
convidados para o debate órgãos de governo,
sociedade civil, setor produtivo e os principais cientistas
especialistas no tema. Dentre os participantes
estava alguns representantes do sítio Peld-CRSC,
como o coordenador geral Dr. Geraldo Fernandes,
e os pesquisadores Dr. Fernando Silveira e Dr.
Daniel Negreiros.
Durante o evento foram ministradas palestras
tratando os mais diversos temas; abordando
os aspectos técnicos e funcionais da fauna e flora
endêmicas da vegetação rupestre, presente principalmente
em regiões montanhosas dos estados
de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Pará. Um dos
principais focos do evento foi o debate sobre a necessidade
de revisão normativa das leis que regem
a proteção e preservação das espécies endêmicas do
campo rupestre.
Para o professor Geraldo Fernandes, a mudança
na legislação deve ser fundamentada em bases
científicas sólidas. Fernandes destacou que “Há necessidade
de mudança nas leis que regem a gestão
ambiental do campo rupestre, pois mais da metade
de toda diversidade do Cerrado está nesse ecossistema.
A academia deve participar efetivamente nesse
processo, contribuindo com o conhecimento consolidado
a partir da pesquisa, ciência e tecnologia”.
O pesquisador ainda ressaltou a necessidade de
adequação normativa à cada local para que sejam
respeitadas as especificidades de cada região onde
a vegetação rupestre é encontrada: “No caso específico
do campo rupestre quartzítico, por exemplo, a
vegetação não está inserida no bioma Mata Atlântica.
Quando se aplica uma lei de Mata Atlântica
nesse tipo de fitofisionomia, acaba-se utilizando uma
lista de espécies inadequada para restauração, o
que pode acabar gerando ainda mais problemas no
processo de recuperação ecossistêmica de campo
rupestre”, afirmou o pesquisador.
Ao final do seminário, foi proposto pelos organizadores
e participantes a assinatura de um “Pacto
para Conservação do Campo Rupestre”. O docu-
mento tem como foco principal o início das ações
para definir e estabelecer uma legislação ambiental
específica para a proteção do ecossistema
Campo Rupestre, tanto em Minas Gerais quanto
em todo o Brasil.
Por:
Letícia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Brasileira de Ciências.
Como citar:
Ramos L., Fernades, G. W. 2023. Peld-CRSC nos eventos: conservação e recuperação
dos campos rupestres. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira,
W. K. Warming 11:16. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
Março 2023
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
8. Peld-CRSC nos eventos: Oficina de manejo e prevenção do fogo do Projeto Bandeirinhas da Serra do Cipó
No dia 1° de abril 2023 a equipe de divulgação
científica do PELD-CRSC participou
da segunda oficina do Projeto Bandeirinhas
III - Calendário Ambiental do Território
de Santana do Riacho na escola Municipal Padre
Cadinho, sediada na Fazenda Cipó, Patrimônio
Histórico de Santana do Riacho - MG. O evento
intitulado “Tempo, Prevenção e Manejo do Fogo”
foi direcionado aos professores do município com
objetivo sensibilização e capacitação para alterar
o uso e cultura do fogo. O evento contou com a
participação de representantes das comunidades
tradicionais indígenas e raizeiras que vivem na região
da Serra do Cipó. Além da participação da
brigada voluntária contra Incêndios “Guardiões
da Serra”, a brigada contra incêndios do ICMBio,
ativistas, artistas e profissionais da biologia.
O Projeto Bandeirinhas nasceu em 1994 e está
em sua Terceira Edição. O Projeto tem como objetivo
compartilhar conhecimentos e promover debates
culturais no município. O representante de divulgação
científica do Peld-CRSC, Dr. Walisson Kenedy
Siqueira, ministrou uma palestra sobre “A relação
do fogo e a biodiversidade: o estudo da influência
do fogo em pesquisas científicas na Serra do Cipó”
onde destacou a importância das pesquisas cientificas
que relacionam o fogo com a biodiversidade do
campo rupestre. Já a jornalista Ms. Raíra Saloméa
fez entrevistas com os organizadores, participantes
do evento e os povos tradicionais. Através desse
material está sendo elaborado e em breve será disponibilizado
um curta sobre a importância da cone-
xão da escola, sabedoria tradicional e a ciência.
A equipe Peld-CRSC tem como preocupação
a difusão do conhecimento gerado na região
para a comunidade. E neste evento foi possível
trazer de forma simples os resultados das pesquisas
que veem sendo desenvolvidas ao longo
dos mais de 10 anos de existência do Peld-CRSC.
Além de mostrar a relação do fogo e a biodiversidade
da Serra do Cipó, foi possível exemplificar
como as pesquisas cientificas podem auxiliar a
revelar o conhecimento sobre os mais diversos
grupos de plantas e animais (além do clima e
turismo) e com isso dar suporte na elaboração
de pautas de conservação da biodiversidade do
campo rupestre.
PROJETO BANDEIRINHAS III
Por:
Walisson Kenedy Siqueira
Biólogo e Mestre em
Ciências Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do programa
PELD-CRSC.
Raíra Saloméa
Jornalista e Mestre em
Comunicação Científica
pela UFMG, Bolsista
do programa Rede
Pantanal.
Leticia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Como citar:
Figura 1. Fotos de alguns palestrantes, algumas intervenções artísticas, e de todos que participaram
do evento. Fotos: Divulgação Projeto Bandeirinhas.
Ramos L. 2023. Peld-CRSC nos eventos: oficina de manejo e prevenção do fogo do
Projeto Bandeirinhas da Serra do Cipó. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa,
R., Siqueira, W. K. Warming 11:17 https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
Março 2023 Página 17
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
9. Rede de parcerias do Peld-CRSC: Um pacto pelas águas no campo rupestre
O
Instituto Espinhaço promoveu no
dia 28 de março o “Seminário
Internacional Pacto Pelas
Águas” na cidade de Conceição do Mato
Dentro-MG. O evento teve como objetivo
principal compartilhar conhecimentos e
saberes sobre as águas, sua importância e
diretrizes para conservação.
Dentre os principais objetivos do
Seminário teve destaque a escolha do
projeto “Programa Plantando Árvores,
Colhendo Florestas no Rio Santo Antônio”
como um Sítio Demonstrativo do Programa
Hidrológico Internacional da Unesco, como
parte da Agenda 2030 das Nações Unidas
para o Desenvolvimento Sustentável. Além
disso, o Seminário fomentou e incentivou
outras iniciativas que estão em andamento
no município.
Com diálogos voltados para as diversas
lideranças locais, regionais, nacionais,
internacionais as ações desenvolvidas
no Seminário objetivaram contribuir com
disseminação de tecnologias e abordagens
voltadas para a recuperação ambiental.
O objetivo é voltado à regeneração da
vegetação nativa no território, contribuindo
para melhorar a qualidade e a quantidade
da água na Bacia Hidrográfica da região.
O Seminário constitui-se em oportunidade
de aproximação entre representantes do
poder político local e federal, lideranças do
terceiro setor, acadêmicos e especialistas
de organizações internacionais que
puderam trocar experiência ao longo do
dia.
Dentre os convidados, o coordenador
do Sitio Peld-CRSC, Dr. Fernandes
ministrou uma palestra intitulada “Águas,
biodiversidade e desenvolvimento:
oportunidades para o Brasil”. A
abordagem relatou as oportunidades para
o desenvolvimento científico e tecnológico
e apresentou os trabalhos realizado
Figura 1. Imagem maior: cartaz de divulgação do evento, foto em miniatura: palestrante Dr. Geraldo
Wilson Fernandes. Foto: Divulgação Instituto Espinhaço.
no âmbito do projeto Peld-CRSC para a
sustentabilidade regional.
Durante o Seminário foi possível o
compartilhamento de ideias técnicas e
científicas pautadas pelo compromisso
das abordagens integradas. Além disso,
fortalecemos as redes locais colaborativas,
a partir do compartilhamento de propósitos
e metas integrando as atividades humanas,
no território de Conceição do Mato Dentro,
com a preservação do ciclo natural da água
e a melhoria da sua quantidade e qualidade.
Você pode assistir
o evento na integra
escaneando o
código ao lado.
Por:
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Como citar:
Brasileira de Ciências.
Letícia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências
Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Ramos L., Fernandes, G. W. 2023. Rede de parcerias do Peld-CRSC: um pacto
pelas águas no campo rupestre. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R.,
Siqueira, W. K. Warming 11:18. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
Março 2023
Página 18
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
9. Rede de parcerias do Peld-CRSC: A magnitude da China industrial a caminho da sustentabilidade
Entre os dias 9 e 22 de março de
2023 a China recebeu especialistas
e autoridades de vários países para
discutir as práticas de proteção ambiental e
sustentabilidade voltadas aos seus parceiros
comerciais mundiais. O coordenador do
sítio Peld-CRSC, Prof. Geraldo Fernandes,
foi convidado a integrar a participar de um
seminário de discussões sobre as metas da
sustentabilidade a convite do Consulado
Geral da China no Rio de Janeiro.
O evento intitulado “Seminário sobre
proteção ecológica do meio ambiente
e desenvolvimento sustentável para os
países do cinturão e estradas (“Seminar
on Ecological Environment Protection and
Sustainable Development for Belt and Road
Countries”) foi realizado em Pequim e foi
diretamente organizado pelo Ministério do
Comércio da República Popular da China
para os países parceiros ligados ao projeto
“Belt and Road Initiative (BRI)”.
Este é um projeto estratégico e
ambicioso de desenvolvimento econômico
e comercial liderado pela China, do qual
o Brasil também faz parte. A China é o
maior parceiro comercial do Brasil, mas
mantem também parcerias voltadas para
a infraestrutura, ciência e tecnologia. No
entanto, apesar da intensa prosperidade
alcançada pela China nas últimas décadas,
os problemas ambientais têm se intensificado
e afetando a qualidade de vida e economia
do povo chinês. A poluição do ar, água e
solo estão dentro os problemas mais graves
que afetam a agenda da sustentabilidade
do país.
Especificamente, o seminário teve
como objetivo aumentar a compreensão
e aprofundar a amizade entre os
participantes por meio de aprendizado
mútuo e intercâmbio, através da criação
de uma plataforma para intercâmbio
internacional e cooperação entre os países
em desenvolvimento. O seminário incluiu
palestras e viagens de campo na cidade
de Ganzhou na província de Jiangxi,
onde foram visitados centros de produção
Figura 1. Visita da comitiva de Minas Gerais a cidade de Ganzhou, província de Jiangxi.
de móveis, museus, escolas, indústria de
eletrodomésticos e fazenda de produção
agrícola sustentável.
As palestras foram no Academy for
International Business Officials (AIBO), do
Ministério do Comércio Chinês, e incluíram
uma visão geral das condições nacionais
da China, reforma e abertura da China e
experiência em desenvolvimento econômico,
o conceito dos líderes chineses de governar o
país, a inciativa do cinturão e estradas e suas
medidas de implementação, a estratégia verde
da China no desenvolvimento e construção
de uma civilização ecológica e a estratégia
para o desenvolvimento sustentável da China.
Além disso, o curso abordou a política da
China para lidar com a mudança climática,
o desenvolvimento de baixo carbono da
China na prática, neutralidade de carbono
e desenvolvimento econômico da indústria,
visão geral de energia mundial e política de
desenvolvimento de energia de baixo carbono
da China.
O Cordenador destacou a importância
da parceria China Brasil, principalmente
para o fortalecimento científico e de novas
tecnologias. As metas da sustentabilidade
da China estão alinhadas com os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O
país se comprometeu a reduzir suas emissões
de carbono em 60-65% até 2050 e para
isso está realizando grandes investimentos
em tecnologias limpas, como aumentando
a produção de carros elétricos, energia
eólica e solar, alcançando o posto de maior
produtor e consumidor de energia solar
do mundo. Todavia, ao redor do mundo
crescem as expectativas de que o comércio
mundial seja muito em breve regulado por
relações sustentáveis que privilegiam a
justiça social, a biodiversidade e respeito ao
conhecimento e direitos humano.
Por:
Letícia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Brasileira de Ciências.
Como citar:
Ramos L. 2023. Rede de parcerias do Peld-CRSC: a magnitude da China industrial
a caminho da sustentabilidade. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R.,
Siqueira, W. K. Warming 11:19. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
Março 2023
Página 19
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
10. A ciência que eu faço: Dr. Pablo Cuevas-Reyes
Figura 1. Dr. Pablo Cuevas-Reyes.
Editorial Warming (EW): Conte um pouco
sobre você.
Meu nome é Pablo Cuevas Reyes,
sou Biólogo formado pela Faculdade
de Ciências da Universidad Nacionar.
Geraldo Wilson Fernandes. Gosto de
me exercitar, vou à academia todos os
dias, adoro tatuagens e gosto de futebol,
mesmo que só assista, gosto de ver
filmes e comida mexicana, brasileira e
italiana. Sou casado e tenho dois filhos
lindos: Valentina e Emiliano.
EW: Porque você decidiu ser cientista?
Desde criança a biologia, e principalmente
os insetos, me chamavam
muito a atenção. Decidi ser pesquisador
porque é fascinante entender os processos
e mecanismos que dirigem os seres
vivos. Documentar processos biológicos
por meio de pesquisas é a coisa mais
maravilhosa do mundo, e entender a
biologia dos organismos e a divulga-
ção da ciência é algo que considero de
vital importância para a sociedade. Ser
pesquisador é a melhor coisa do mundo:
você se diverte e aprende.
EW: Porque escolheu estudar meteorologia?
Faz parte da minha natureza, a biologia
permite compreender a natureza,
a sua função e estrutura, bem como os
processos e mecanismos que mantêm e
produzem a biodiversidade. Sempre quis
salvar o mundo, então tento fazer algo
para salvar e manter os organismos
selvagens em seu habitat natural.
EW: O que você faz hoje em dia? Explica
um pouco sobre sua linha de pesquisa.
Atualmente desenvolvo diferentes
linhas de pesquisa:
(1) Ecologia de Interações Bióticas:
estudamos os processos e mecanismos
que afetam as interações biológicas
tanto em ambientes alterados quanto em
cenários de mudança climática global
para entender os padrões em diferentes
escalas espaço-temporais e os efeitos
das atividades antropogênicas nas interações
bióticas.
(2) Ecologia de Dossel, Bioindicadores
Terrestres, Cadeias tróficas: nós focamos
tanto no estudo da biodiversidade
do dossel e dos processos em comunidades
de plantas em sistemas temperados
e tropicais, quanto nos efeitos antrópicos
na diversidade de artrópodes. Procuramos
por bioindicadores de biodiversidade
que indiquem o estado de “saúde”
das comunidades e ecossistemas para
fazer um biomonitoramento da qualidade
dos habitats.
(3) Ecologia de ambientes antropizados:
estudamos os principais efeitos
da mudança no uso da terra para
agrossistemas, urbanização e, portanto,
fragmentação de florestas nas interações
biológicas, cadeias tróficas e mudanças
na composição de guildas e cadeias
tróficas. Identificamos o papel funcional
das principais interações bióticas, sua
importância ecológica para a conservação
das comunidades vegetais e animais
e as respostas morfofuncionais de plantas
e insetos.
(4) Ecologia Química: estudamos a
importância da química secundária de
plantas na incidência, estrutura e composição
de guildas de herbívoros em ambientes
degradados e complexos híbridos
de plantas.
EW: Como você enxerga o futuro dessa
área que você trabalha?
Promissor, totalmente na moda, e ele
continuará evoluindo de acordo com
as necessidades econômicas, políticas,
sociais e de uso de recursos da humanidade,
assim como os problemas ambientais,
a recuperação e restauração dos
ecossistemas.
Por:
Irene Gélvez Zúñiga
Bióloga, Doutora em
Ecologia pela UFMG,
Bolsista de Pós-doutorado
pelo CNPq.
Como citar:
Gélvez-Zúñiga I. 2023. A ciência que eu faço: Dr. Pablo Cuevas-Reyes. In:
Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Siqueira, W. K. Warming 10:20.
https://doi.org/10.6084/m9.figshare.23257652
Março 2023
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
11. Trabalhos científicos publicados no ano de 2022 pela equipe Peld-CRSC
Dissertações de mestrado
Jéssica Cunha-Blum. Ecossistemas de
referência para habitats de campo rupestre
quartzítico: composição florística e relações
do solo. 2022. Dissertação (Programa de
Pós- Graduação Biodiversidade e Uso dos
Recursos Naturais- PPG) - Universidade
Estadual de Montes Claros. Orientador:
Geraldo Wilson Fernandes
Artigos completos publicados em
periódicos
Barbosa et al. 2023. Experimental evidence for
a hidden network of higher-order interactions
in a diverse arthropod community. Current
biology 33: 381- 88 https://doi.org/10.1016/j.
cub.2022.11.057
Dias De Freitas, et al. 2022. Impacts of pests
and diseases on the decline of managed bees
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Março 2023 Página 21
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