O Regime Jurídico do Contrato de Consumo: O Direito à Informação
RSA LP Moçambique
RSA LP Moçambique
Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!
Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.
SOCIEDADE DE ADVOGADOS<br />
Law Firm<br />
O REGIME JURIDICO<br />
DO CONTRATO<br />
DE CONSUMO: O DIREITO<br />
À INFORMAÇÃO<br />
LEGAL ALERT SETEMBRO 2023<br />
O <strong>Contrato</strong> <strong>de</strong> <strong>Consumo</strong> é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong><br />
pelo Decreto-Lei nº. 3/2022 <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong><br />
Maio (que aprova o <strong>Regime</strong> <strong>Jurídico</strong><br />
<strong>do</strong>s <strong>Contrato</strong>s Comerciais “RJCC”)<br />
como um contrato que consiste na<br />
convenção mediante a qual o consumi<strong>do</strong>r<br />
adquire, para fins pessoais,<br />
bens ou serviços ofereci<strong>do</strong>s por um<br />
empresário.<br />
Este mesmo Decreto remete o regime<br />
jurídico específico que é regula<strong>do</strong><br />
pela Lei <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r (a<br />
Lei nº. 22/2009 <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Setembro).<br />
O que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r da análise<br />
<strong>de</strong> ambos diplomas é que este contrato<br />
tanto po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> livre estipulação, na<br />
medida em que as partes negoceiam<br />
livremente as suas clausulas e como<br />
também po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> mera a<strong>de</strong>são, na<br />
medida em que as cláusulas tenham<br />
si<strong>do</strong> aprovadas pela autorida<strong>de</strong> competente<br />
ou estabelecidas unilateralmente<br />
por uma parte, sem que a outra<br />
possa contestar ou modificar substancialmente<br />
o seu conteú<strong>do</strong> (Vi<strong>de</strong> regras<br />
gerais contida no artigo 24º <strong>do</strong> <strong>Regime</strong><br />
<strong>Jurídico</strong> <strong>do</strong>s <strong>Contrato</strong>s Comerciais conjuga<strong>do</strong><br />
com artigo 27º da Lei <strong>de</strong> Defesa<br />
<strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r).<br />
Mais ainda, ressalta da análise <strong>do</strong>s normativos<br />
legais supracita<strong>do</strong>s, que ao<br />
celebrar este contrato as partes ficam<br />
adstritas a obrigação <strong>de</strong> cumprimento<br />
<strong>de</strong> uma prestação <strong>de</strong> coisa e/ou <strong>de</strong><br />
facto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> caso, e cujo valor<br />
seja pecuniário, nos termos <strong>do</strong> Código<br />
Civil Vigente em Moçambique.<br />
Diferentemente <strong>do</strong> que se estabelece<br />
no Código Civil sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
a prestação po<strong>de</strong>r ser confiada a ter-<br />
PORTUGAL - ANGOLA - BRASIL - CABO VERDE - GUINÉ BISSAU - MOÇAMBIQUE
2<br />
Confiança<br />
Experiência<br />
Partilha<br />
Trust<br />
Experience<br />
Sharing<br />
ceiro, neste contrato, essa possibilida<strong>de</strong><br />
torna a clausula nula, por ser consi<strong>de</strong>rada<br />
abusiva (conforme al. c) artigo. 22º<br />
da Lei <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r).<br />
Quer isto dizer que a regra supletiva<br />
que se pren<strong>de</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terceiro<br />
interessa<strong>do</strong> ou não no cumprimento<br />
da prestação, apresentada pelo Código<br />
civil (conforme nº.1 artigo 767º CC) não<br />
é aplicável a este tipo <strong>de</strong> contrato, não<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os <strong>de</strong>veres e direitos que pen<strong>de</strong>m<br />
sobre fornece<strong>do</strong>r/ presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />
serviços, serem transferi<strong>do</strong>s a outrem<br />
que não seja ele. Ainda neste senti<strong>do</strong>,<br />
este contrato po<strong>de</strong>rá ser caracteriza<strong>do</strong><br />
como sen<strong>do</strong> um contrato intuitu personae.<br />
Outro facto que se po<strong>de</strong> verificar, é que<br />
se evi<strong>de</strong>ncia a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar<br />
e comunicar com clareza junto<br />
<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res informação sobre<br />
os bens ou serviços a serem presta<strong>do</strong>s.<br />
Esta obrigação consubstancia um direito<br />
<strong>do</strong> próprio consumi<strong>do</strong>r, atribuí<strong>do</strong> e<br />
consagra<strong>do</strong> pela Lei <strong>de</strong> Defesa ao Consumi<strong>do</strong>r.<br />
De referir que a obrigação <strong>de</strong> prestar<br />
informações, não cabe apenas ao fornece<strong>do</strong>r<br />
<strong>de</strong> bens e/ou ao presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />
serviços (quer na fase das negociações<br />
como na fase da celebração <strong>do</strong> contrato),<br />
mas também ao Esta<strong>do</strong> e as autarquias<br />
locais, e para fortalecer esta posição/<br />
direito <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, nos termos<br />
<strong>do</strong> artigo. 26 <strong>do</strong> RJCC - Decreto-Lei nº.<br />
3/2022, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Maio, em caso <strong>de</strong> dúvida,<br />
as cláusulas <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> consumo<br />
serão interpretadas <strong>de</strong> maneira<br />
mais favorável ao consumi<strong>do</strong>r.<br />
Aqui, se po<strong>de</strong> verificar que ao consumi<strong>do</strong>r<br />
é da<strong>do</strong> um tratamento preferencial,<br />
para os casos <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> informação ou<br />
<strong>de</strong> informação ambígua. Na falta <strong>de</strong><br />
informação, informação insuficiente,<br />
ilegível ou ambígua que comprometa<br />
a utilização a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong> bem ou <strong>do</strong><br />
serviço, o consumi<strong>do</strong>r goza <strong>do</strong> direito<br />
<strong>de</strong> retractação <strong>do</strong> contrato no prazo <strong>de</strong><br />
sete dias úteis a contar da data <strong>de</strong> recepção<br />
<strong>do</strong> bem ou da data <strong>de</strong> celebração<br />
<strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços<br />
(conforme n.º4 <strong>do</strong> artigo 10º Lei <strong>de</strong><br />
Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r).<br />
Relativamente <strong>à</strong>s informações gerais<br />
que <strong>de</strong>vem ser prestadas pelo Esta<strong>do</strong>,<br />
as que estejam contidas nas<br />
mensagens publicitárias <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />
bem, serviço ou direito consi<strong>de</strong>ram-<br />
-se integradas no conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s contratos<br />
que se venham a ser celebra<strong>do</strong>s<br />
após a sua efetivida<strong>de</strong> ten<strong>do</strong>-se por não<br />
escritas as cláusulas contratuais em<br />
contrário.<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecer informação<br />
correta a respeito <strong>do</strong> produto ou serviço<br />
a ser presta<strong>do</strong>, está intimamente ligada<br />
ao ónus da prova que, pelo que se verifica<br />
ao longo da lei, não caberá ao consumi<strong>do</strong>r<br />
(o que não quer dizer que este<br />
não possa fazer uso <strong>de</strong>sta faculda<strong>de</strong>) e<br />
mas sim ao fornece<strong>do</strong>r.<br />
Outro ponto que é evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> neste<br />
regime é a nulida<strong>de</strong> das cláusulas<br />
que limitem os direitos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />
elenca<strong>do</strong>s pela Lei <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r,<br />
<strong>de</strong>ven<strong>do</strong> o fornece<strong>do</strong>r estar<br />
sempre aten<strong>do</strong> a eles (quer por si, ou<br />
por interposta pessoa que faça parte da<br />
sua ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> distribuição), sob pena<br />
<strong>de</strong> ser sanciona<strong>do</strong> nos termos <strong>de</strong>ssa<br />
mesma Lei.<br />
O cumprimento <strong>de</strong>feituoso <strong>do</strong> contrato<br />
<strong>do</strong> consumo pelo fornece<strong>do</strong>r, acarretará<br />
responsabilida<strong>de</strong>s, sobre si salvo se<br />
pu<strong>de</strong>r provar que o consumi<strong>do</strong>r foi previamente<br />
informa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>feito ou vicio,<br />
antes da celebração <strong>do</strong> contrato.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, o cumprimento <strong>de</strong>feituoso<br />
<strong>do</strong> contrato dá ao consumi<strong>do</strong>r<br />
rsa-lp.com<br />
RSA - Advoga<strong>do</strong>s
O REGIME JURIDICO DO CONTRATO DE CONSUMO: O DIREITO A INFORMAÇÃO<br />
3<br />
o direito <strong>à</strong> reparação da coisa ou a sua<br />
substituição, a redução <strong>do</strong> preço ou a<br />
resolução <strong>do</strong> contrato.<br />
Note-se, porém, que o conhecimento<br />
da existência <strong>de</strong> um vício sobre o bem<br />
ou serviço a ser presta<strong>do</strong>, pelo consumi<strong>do</strong>r,<br />
muda toda uma dinâmica <strong>de</strong>ste<br />
contrato em caso <strong>de</strong> incumprimento,<br />
por parte <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r, uma vez que a<br />
responsabilida<strong>de</strong>, caso se verifique um<br />
cumprimento <strong>de</strong>feituoso, é transferida<br />
<strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r para o consumi<strong>do</strong>r, na<br />
medida em que este já tinha o conhecimento<br />
<strong>do</strong> <strong>de</strong>feito ou vício, antes ou no<br />
momento da celebração <strong>do</strong> contrato.<br />
Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> e consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a dinâmica<br />
e constância na celebração <strong>de</strong>ste tipo<br />
<strong>de</strong> contrato, é importante que os direitos<br />
e <strong>de</strong>veres inerentes <strong>à</strong>s partes, sejam<br />
mais amplamente divulga<strong>do</strong>s, dadas<br />
as consequências que os <strong>de</strong>sconhecimentos<br />
<strong>de</strong>stes regimes jurídicos po<strong>de</strong>m<br />
acarretar quer para o fornece<strong>do</strong>r<br />
quer para o consumi<strong>do</strong>r.<br />
A<strong>de</strong>mais, visto que para além <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res<br />
individuais, po<strong>de</strong>mos encontrar<br />
o Esta<strong>do</strong> (<strong>de</strong>spi<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu ius<br />
imperii) como parte nestes contratos,<br />
pese embora o tratamento não seja totalmente<br />
<strong>de</strong>sigual, a forma como a informação<br />
é divulgada ao consumi<strong>do</strong>r<br />
é diferente e é <strong>de</strong>ve ser tida em consi<strong>de</strong>ração,<br />
inclusive para a salvaguarda<br />
<strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong>ste e consequentemente<br />
uma melhor <strong>de</strong>senvoltura no que diz<br />
respeito a aplicação da própria lei para<br />
as partes.<br />
SOCIEDADE DE ADVOGADOS<br />
Law Firm<br />
Esta comunicação contém apenas informações gerais e, por conseguinte, não constitui aconselhamento<br />
profissional ou a prestação <strong>de</strong> serviços pela RSA LP, pelas suas empresas membros ou pelas<br />
entida<strong>de</strong>s com elas relacionadas. Antes <strong>de</strong> qualquer acto ou omissão que o possa afectar, <strong>de</strong>verá<br />
consultar um profissional qualifica<strong>do</strong>.<br />
Nenhuma entida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> RSA LP po<strong>de</strong>rá ser responsabilizada por quaisquer danos ou perdas sofri<strong>do</strong>s<br />
pelos resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>correntes da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões com base nesta comunicação.<br />
Para mais informações, contacte-nos:<br />
For more information contact us:<br />
Advogada Associada da CF&A <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2013<br />
Áurea Guinda<br />
aureaguinda@rsa-lp.com<br />
rsa-lp.com<br />
RSA - Advoga<strong>do</strong>s