COMUNICAÇÕES 247 - PEDRO DOMINGUINHOS O GUARDIÃO DO PRR
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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />
REGULAÇÃO VERSUS INOVAÇÃO<br />
PORTUGAL DIGITAL<br />
REDE DE TEST BEDS APOIA PME’S<br />
CIBERSEGURANÇA<br />
SOCORRO, PRECISAMOS DE GENTE!<br />
N.º <strong>247</strong> • SETEMBRO 2023 | ANO 36 • PORTUGAL • 3,25€<br />
<strong>PEDRO</strong> <strong><strong>DO</strong>MINGUINHOS</strong>,<br />
O <strong>GUARDIÃO</strong> <strong>DO</strong> <strong>PRR</strong>
Conheça os grandes vencedores da 8ª Edição,<br />
no dia 29 de novembro acompanhe em livestream.<br />
Os Portugal Digital Awards ® celebram aqueles que estão na linha da frente<br />
da transformação, através de um compromisso inabalável com a excelência<br />
digital, que reconhecemos como o motor de inovação, ef iciência e crescimento.<br />
Assista à entrega de prémios em:<br />
www.portugaldigitalawards.pt
edit orial<br />
Eduardo Fitas eduardo.fitas@accenture.com<br />
As dúvidas da inteligência<br />
Claramente, não existe tema mais discutido<br />
no mundo dos negócios nos últimos<br />
meses do que o do impacto da inteligência<br />
artificial generativa no mercado, nos<br />
resultados das empresas e mesmo na sociedade.<br />
Apesar das bases estarem a ser trabalhadas há<br />
décadas em laboratório, o tema só veio a debate<br />
público com o lançamento do ChatGPT, em novembro<br />
do ano passado. A partir daí, passou a ser<br />
o principal tema de discussão. E, apesar de haver<br />
muito mais dúvidas que certezas, todos estão<br />
conscientes de que não é algo que se possa ignorar.<br />
Pode custar a acreditar, mas há impactos da<br />
IA generativa que foram antecipados já em<br />
quatro décadas, tendo em conta a velocidade<br />
a que as capacidades estão a evoluir. E<br />
se a distribuição dos casos de uso de aplicação<br />
ainda não é hoje abrangente, é fácil antecipar<br />
que não haverá área que não venha a<br />
ser, direta ou indiretamente, transformada.<br />
A maior parte das entidades está numa fase de<br />
compreender os conceitos, de realizar pilotos e<br />
perceber as implicações da sua utilização, mas<br />
há algumas que avançaram já bastante na concretização,<br />
com a captura de valor criada pela<br />
utilização de plataformas de IA nos seus processos.<br />
E há já mesmo indústrias que estão a passar<br />
por revoluções, como o desenvolvimento de<br />
software, meios de comunicação ou agências de<br />
publicidade e gestão de meios, onde a produção<br />
de conteúdos é o core do negócio. E há o recente<br />
exemplo mediático, com direito ao Prémio<br />
Nobel da Medicina deste ano, da utilização de<br />
capacidades de IA para o desenvolvimento e teste<br />
de produtos, no caso de uma vacina em tempo<br />
recorde, para combater uma pandemia global.<br />
O poder transformacional da IA está apenas a<br />
começar e poucas vezes vimos uma capacidade<br />
tecnológica gerar tanto entusiasmo e criar<br />
tantas expetativas sobre a sua aplicação. Mas<br />
surgiram também muitas dúvidas sobre o que<br />
fazer, como fazer e garantir o controle efetivo<br />
do que se faz. Apesar de não estarmos completamente<br />
conscientes do impacto associado,<br />
temos de definir que regulação e que controlo<br />
deve ser aplicado à sua utilização, para se<br />
manter a confiança e privacidade nas plataformas<br />
desenvolvidas, sem comprometer as<br />
vantagens competitivas que daí resultam.<br />
Em resumo, quando a maior parte das empresas<br />
ainda não terminaram os seus processos de<br />
transformação digital, os seus programas de<br />
migração para a nuvem ou as suas iniciativas de<br />
automatização de atividades operacionais, junta-se<br />
agora mais uma nova e disruptiva dimensão,<br />
sobre a qual têm de evoluir e definir estratégias.<br />
E o mais frustrante? Não se pode pedir a um<br />
ChatGPT ou a um Bard uma resposta para estes<br />
desafios…•<br />
3
sumario<br />
FICHA TÉCNICA<br />
<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>247</strong><br />
Propriedade e Edição<br />
APDC – Associação Portuguesa<br />
para o Desenvolvimento das<br />
Comunicações<br />
A ABRIR 6<br />
5 PERGUNTAS 12<br />
Nuno Saramago, diretor-geral da SAP<br />
Portugal<br />
À CONVERSA 14<br />
Pedro Dominguinhos está no terreno para<br />
controlar 22,2 mil milhões<br />
EM DESTAQUE 28<br />
O AI Act é a iniciativa legislativa que está<br />
a dar que falar<br />
NEGÓCIOS 38<br />
Não há profissionais que cheguem para<br />
responder ao aumento de ciberataques<br />
I TECH 42<br />
Guilherme Dias, sales director do SAS<br />
Portugal<br />
REPORTAGEM 44<br />
E eis que foram conhecidos os vencedores<br />
da 2ª edição do Prémio Cidades &<br />
Territórios do Futuro, iniciativa da APDC<br />
PORTUGAL DIGITAL 50<br />
A Rede Nacional de Test Beds está a fazer<br />
a diferença<br />
CIDADANIA DIGITAL 62<br />
Casa do Impacto, uma referência do<br />
empreendedorismo social e ambiental<br />
ÚLTIMAS 64<br />
14<br />
28<br />
38<br />
44<br />
Diretora executiva<br />
Sandra Fazenda Almeida<br />
sandra.almeida@apdc.pt<br />
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1000-304 Lisboa<br />
Tel.: 213 129 670<br />
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NIPC: 501 607 749<br />
Diretor<br />
Eduardo Fitas<br />
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Chefe de redação<br />
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Secretária de redação<br />
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Conselho editorial<br />
Abel Costa; Alexandre Silveira; Bernardo<br />
Correia; Bruno Santos; Carlos Leite; Diogo<br />
Madeira; Eduardo Fitas; Filipa Carvalho;<br />
Francisco Maria Balsemão; Guilherme<br />
Dias; Helena Féria; Manuel Maria Correia;<br />
Marina Ramos; Miguel Almeida; Nuno<br />
Saramago; Olivia Mira; Pedro Faustino;<br />
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Carapuça; Sérgio Catalão; Vicente Huertas<br />
Edição<br />
Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />
Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D<br />
1050-052 Lisboa<br />
Coordenação editorial<br />
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Edição<br />
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marioeditorial.com<br />
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Trimestral<br />
Tiragem<br />
3.000 exemplares<br />
Preço de capa<br />
3,25 €<br />
Depósito legal<br />
2028/83<br />
Registo internacional<br />
ISSN 0870-4449<br />
ICS N.º 110 928<br />
4
a abrir<br />
COMPETÊNCIAS<br />
DIGITAIS SÃO<br />
PRIORITÁRIAS NAS<br />
ESCOLAS<br />
OS PAIS PORTUGUESES são dos que<br />
mais defendem o ensino de competências<br />
digitais nas escolas. São ainda<br />
os mais otimistas em relação ao seu<br />
potencial de utilização. Entendem<br />
que a literacia digital<br />
deve ser um objetivochave<br />
de educação<br />
e querem uma<br />
uniformização<br />
de standards na<br />
Europa, para o<br />
uso e ensino<br />
de tecnologias<br />
digitais na<br />
educação. A<br />
conclusão é do<br />
“21st Century<br />
Parents”,<br />
um inquérito<br />
realizado pela<br />
Ipsos Germany<br />
para a Fundação<br />
Vodafone junto de dez mil pessoas<br />
em dez países. Mostra ainda que<br />
os portugueses são dos maiores<br />
defensores de mais financiamento<br />
das escolas para este fim, bem como<br />
de mais formação dos professores.<br />
Consideram que a oferta de ensino<br />
online é reduzida e reconhecem que,<br />
em casa, não têm nenhum programa<br />
para controlar o consumo de conteúdos<br />
pelos seus filhos e são dos que<br />
mais denunciam a falta de empenho<br />
das escolas neste combate.•<br />
Os pais portugueses<br />
são os mais otimistas<br />
em relação ao<br />
potencial do ensino<br />
das competências<br />
digitais nas escolas<br />
ALINHAR CIBERSEGURANÇA COM<br />
NEGÓCIO AUMENTA RECEITAS<br />
AS ORGANIZAÇÕES que alinham as suas estratégias de<br />
cibersegurança com os objetivos de negócio têm 18% mais<br />
probabilidades de atingir o crescimento das receitas e da<br />
quota de mercado, assim como de melhorar a satisfação<br />
dos clientes. E têm 26% mais probabilidades de reduzir o<br />
custo inerente aos ataques cibernéticos. As conclusões são<br />
do estudo da Accenture, “State of Cybersecurity Resilience<br />
2023”, que identifica as organizações que estão a liderar os<br />
seus esforços de cibersegurança. Representam 30%<br />
dos inquiridos que conseguem um equilíbrio<br />
entre a excelência na resiliência cibernética e<br />
o alinhamento com a estratégia de negócio.<br />
Distinguem-se face às restantes empresas<br />
por quatro características: são excelentes<br />
na integração da cibersegurança e da<br />
gestão de riscos; integram uma estrutura<br />
baseada no risco cibernético no seu programa<br />
de gestão do risco empresarial;<br />
fazem com que as suas operações de<br />
cibersegurança e a liderança executiva<br />
concordem com a prioridade dos ativos<br />
e operações a proteger; e consideram<br />
o risco de cibersegurança em grande<br />
medida quando avaliam o risco global da<br />
empresa. Têm ainda mais tendência a utilizar<br />
fornecedores de serviços que possam<br />
gerir as operações de cibersegurança e estão<br />
mais empenhadas em proteger o seu ecossistema.•<br />
CURIOSIDADE<br />
MAQUILHAGEM VIRTUAL NO MICROSOFT<br />
TEAMS<br />
O Microsoft Teams passou a disponibilizar filtros de maquilhagem e os<br />
utilizadores podem escolher o que mais se adequa ao seu estilo pessoal.<br />
Basta selecionar o melhor look antes da<br />
reunião e deixar que a magia aconteça. Tudo<br />
graças a uma parceria da Microsoft com a<br />
Maybelline New York. A nova ferramenta<br />
destina-se a democratizar a maquilhagem<br />
e mostrar que esta pode ser um aliado<br />
para fortalecer a confiança das pessoas em<br />
contexto laboral. Foi desenvolvida pela<br />
Modiface AI, em colaboração com o Geena<br />
Davis Institute, garantindo a representação de<br />
uma população diversificada. Inclui 12 looks,<br />
à distância de um clique. Basta ter a licença<br />
corporativa do programa.•
CURIOSIDADE<br />
CARREGA<strong>DO</strong>R ELÉTRICO CONTROLA<br />
FATURA E EMISSÕES<br />
É o primeiro carregador de veículos elétricos do<br />
mundo que permite controlar a fatura de energia<br />
e as emissões de CO2. O EVlink Home Smart,<br />
lançado pela Schneider Electric, permite gerir o<br />
carregamento de veículos elétricos em casa e dar<br />
prioridade às fontes de energia renováveis. Através<br />
da aplicação Wiser by SE, é possível controlar o<br />
consumo de energia em tempo real, aceder ao<br />
histórico de carga, ver todos os carregamentos<br />
efetuados, data e hora de início dos mesmos, a hora<br />
a que terminaram e o custo total em euros. Podem<br />
comparar-se os tempos de carregamentos em anos,<br />
meses ou dias e analisar o custo da energia.•<br />
ESTRATÉGIAS-CHAVE PARA<br />
COMBATER ATAQUES CIBERNÉTICOS<br />
TEN<strong>DO</strong> EM CONTA as tendências de fraude em pagamentos digitais<br />
em todo o mundo, há oito estratégias-chave para combater ataques<br />
cibernéticos, revela um estudo do SAS e da Javelin, que mostra<br />
ainda que as tecnologias que incluem IA, machine learning ou biometria<br />
são essenciais para detetar e prevenir tentativas de fraude.<br />
O relatório “Tendências Mundiais sobre Fraude Digital” destaca<br />
oito recomendações: autenticação multifatorial; fortes controles<br />
de autenticação do cliente em todos os pontos de acesso digitais;<br />
estratégias antifraude digitalmente inclusivas; incorporar o protocolo<br />
3DS para reduzir fraudes no e-commerce; aproveitar a norma ISO<br />
20022 para prevenção de fraudes e combate à lavagem de dinheiro;<br />
educar os titulares de contas a reconhecer e denunciar táticas<br />
fraudulentas; consolidar as práticas de supervisão anti lavagem de<br />
dinheiro e know-your-customer numa única plataforma; e desenvolver<br />
um protocolo de avaliação de ameaças multicanal. A confiança<br />
dos consumidores é essencial e<br />
depende das empresas fazerem<br />
um uso eficaz de autenticação<br />
avançada de clientes e tecnologias<br />
antifraude, incluindo IA, machine<br />
learning e biometria, para<br />
detetar e prevenir ataques.•<br />
As tecnologias que<br />
incluem IA, ML<br />
ou biometria são<br />
essenciais para<br />
detetar e prevenir<br />
tentativas de fraude<br />
ILUSTRAÇÕES MIDJOURNEY<br />
TI PORTUGUESAS<br />
AUMENTAM<br />
EQUIPAS NO 4°<br />
TRIMESTRE<br />
MAIS DE METADE das empresas de<br />
Tecnologias da Informação do mercado<br />
nacional preveem aumentar as<br />
suas equipas no último trimestre de<br />
2023. Apesar da incerteza que marca<br />
o panorama económico, os empregadores<br />
do setor revelam otimismo no<br />
que respeita às perspetivas de contratação,<br />
de forma a dar resposta à<br />
transformação digital e à maior automatização<br />
das empresas e modelos<br />
de negócio. Todas têm a necessidade<br />
de reforçar as suas equipas com<br />
perfis especializados, para responder<br />
às oportunidades do mercado<br />
e alavancar o seu crescimento. As<br />
conclusões são do “Experis Tech Talent<br />
Outlook: 4º trimestre de 2023”. O<br />
trabalho revela que a Projeção para<br />
a Criação Líquida de Emprego no<br />
setor das Tecnologias da Informação<br />
(TI) em Portugal é forte, com +47%,<br />
crescendo 3 pontos percentuais face<br />
ao trimestre anterior. O país destaca-se<br />
como 7º a nível global com<br />
as previsões de contratação mais<br />
otimistas neste setor, situando-se 8<br />
pontos percentuais acima da média<br />
global. 55% das empresas preveem<br />
aumentar as suas equipas,<br />
8% antevê reduzir e 31%<br />
manter. A Projeção para a<br />
Criação Líquida de Emprego<br />
no setor tecnológico a nível<br />
global apresenta-se com<br />
um valor positivo de +39%,<br />
mantendo as perspetivas<br />
do 3º trimestre. Ainda<br />
assim, quando comparada<br />
com o período homólogo<br />
de 2022, esta projeção reflete<br />
uma descida moderada<br />
de 5 pontos percentuais.<br />
Mas em todos os 41 países<br />
e territórios inquiridos,<br />
foram apresentadas projeções<br />
positivas.•<br />
7
a abrir<br />
8<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Em vez de usarmos a tecnologia<br />
para ficarmos com mais<br />
tempo livre e para pensarmos<br />
melhor, andamos numa correria<br />
porque passámos a acompanhar<br />
o ritmo desumano da<br />
máquina. Nós andamos a servir<br />
a máquina, e não o inverso”<br />
Henrique Raposo, Expresso,<br />
2023/09/20<br />
“Para onde queremos ir? Qual<br />
é a estratégia? Tenho um sério<br />
problema com esta pressa de<br />
gastar dinheiro que gera um certo<br />
dinamismo de curto prazo,<br />
mas estagnação de longo prazo.<br />
Importa garantir que os fundos<br />
são usados de forma estratégica<br />
para dinamizar a economia portuguesa<br />
de forma mais sustentável<br />
e resiliente. Se a Irlanda<br />
conseguiu, por que Portugal não<br />
conseguirá?”<br />
Andrés Rodríguez-Pose,<br />
Expresso, 2023/08/25<br />
“Precisamos de um regulador<br />
que consiga equilibrar a concorrência,<br />
a sustentabilidade<br />
do investimento e o interesse<br />
dos consumidores. Numa área<br />
que é muito inovadora e entrega<br />
muita tecnologia, é essencial ter<br />
condições de estabilidade no investimento”<br />
Pedro Mota Soares, Expresso,<br />
2023/08/04<br />
“Temos hoje a geração mais<br />
qualificada de sempre, mas é<br />
evidente a incapacidade enquanto<br />
país de atrair e reter este<br />
talento, que parte à procura de<br />
melhores condições de vida. (…)<br />
Chegou o momento de encarar<br />
o problema e de promover medidas<br />
concretas que fixem o talento<br />
jovem no nosso país”<br />
Vasco de Mello, Dinheiro Vivo,<br />
2023/07/08<br />
EUROPA PREJUDICADA POR DÉFICE<br />
TECNOLÓGICO <strong>DO</strong>S LÍDERES<br />
AS EMPRESAS europeias poderiam gerar quase 3 mil milhões<br />
de euros em receitas adicionais até 2024 se conseguissem<br />
colmatar o défice tecnológico em cargos C-Level. É<br />
urgente melhorarem a experiência tecnológica nas suas administrações,<br />
acelerar o investimento em I&D que permita o<br />
desenvolvimento de novos modelos de negócio e tirar partido<br />
dos pontos fortes em termos de competências. O estudo<br />
da Accenture, “Innovate or Fade”, concluiu que só 14,4% dos<br />
membros dos conselhos de administração (CA) das empresas<br />
europeias analisadas têm experiência em tecnologia, em<br />
comparação com 21,6% das empresas da América do Norte.<br />
As dos Países Baixos, Irlanda e Reino Unido são as que têm<br />
mais experiência tecnológica nos CA, enquanto a Noruega,<br />
Áustria e Portugal se situam abaixo dos 10%. Cerca de 33%<br />
não têm qualquer membro do CA com experiência em<br />
tecnologia, em comparação com apenas 19% na América do<br />
Norte. Mas, as empresas europeias estão mais empenhadas<br />
em melhorar as competências tecnológicas dos seus colaboradores:<br />
28% dos inquiridos afirmaram ter um programa<br />
tecnológico em toda a empresa, enquanto apenas 18% das<br />
empresas americanas o fazem.•<br />
IA GENERATIVA: EMPRESAS TÊM<br />
FALTA DE COMPETÊNCIAS…<br />
APESAR da IA generativa poder ajudar no desenvolvimento<br />
das carreiras profissionais, os trabalhadores e os líderes das<br />
empresas estão com dúvidas sobre se têm as competências<br />
para usar a tecnologia da forma mais eficaz e segura. A conclusão<br />
é de um estudo da Salesforce. O “Generative AI Snapshot<br />
Research Series” mostra que, embora 54% dos inquiridos acredite<br />
que a IA generativa ajudará no desenvolvimento das suas<br />
carreiras, 62% diz que não ter as competências necessárias<br />
para a usar. Acreditam que a IA generativa vai transformar o<br />
seu papel: 62% diz que exigirá um novo conjunto de competências;<br />
56% que a tecnologia vai transformar completamente<br />
o seu papel; e 65% que permitirá que se concentrem num<br />
trabalho mais estratégico. Por isso, os colaboradores querem<br />
aprender e procuram orientação nas suas empresas, mas os<br />
empregadores não estão a acompanhar. Dois em cada três<br />
trabalhadores (67%) espera que o seu empregador ofereça<br />
oportunidades para aprender a usar IA generativa, mas 66%<br />
diz que o seu empregador não oferece formação. Isto apesar<br />
de os líderes considerarem que haverá uma economia de<br />
custos: 82% diz que a IA generativa irá reduzir os custos gerais<br />
dos negócios; 80% afirma que aumentará as receitas.•<br />
Só 14,4% dos<br />
membros dos<br />
conselhos de<br />
administração<br />
das empresas<br />
europeias têm<br />
experiência em<br />
tecnologia<br />
62% dos inquiridos<br />
diz ainda não<br />
ter as competências<br />
necessárias<br />
para usar a IA<br />
generativa
A consciência do<br />
consumidor sobre<br />
as questões éticas<br />
envolvidas com<br />
a utilização da<br />
IA generativa é<br />
diminuta<br />
… 73% <strong>DO</strong>S CONSUMI<strong>DO</strong>RES<br />
CONFIA NA TECNOLOGIA…<br />
A A<strong>DO</strong>ÇÃO de ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa<br />
de primeira vaga tem sido fortemente consistente em todas as<br />
faixas etárias e geografias. Os consumidores confiam na tecnologia<br />
para os ajudar no planeamento financeiro, nos diagnósticos<br />
médicos e no aconselhamento sobre relações pessoais. Conclusões<br />
do novo estudo do Research Institute da Capgemini, o “Why<br />
consumers love generative AI”, que revela que a maioria (51%) dos<br />
consumidores está a par das últimas tendências da IA generativa<br />
e já explorou estas ferramentas. Apesar dos que usam a IA generativa<br />
com frequência estarem particularmente satisfeitos com a<br />
sua utilização nos chatbots, nos jogos e com os casos de uso nas<br />
suas pesquisas, as plataformas também estão a ser utilizadas<br />
para atividades quotidianas e pessoais. Têm, no entanto, pouco<br />
conhecimento sobre as questões éticas que envolvem a IA generativa<br />
e sobre os problemas que podem advir de uma utilização<br />
indevida, apesar do aumento dos ciberataques e das deepfakes.<br />
Quase metade (49%) dos consumidores não está preocupada com<br />
a perspetiva de a IA generativa ser usada para criar notícias falsas<br />
e apenas 34% estão preocupados com os possíveis ataques de<br />
phishing. A consciência do consumidor sobre as questões éticas<br />
envolvidas com a utilização da IA generativa também é diminuta.<br />
Apenas 33% se revelaram preocupados com os direitos de autor<br />
e ainda menos (27%) com a possível utilização dos algoritmos de<br />
IA generativa para copiar o design ou<br />
fórmulas de produtos<br />
da concorrência.•<br />
ILUSTRAÇÃO MIDJOURNEY<br />
NUMEROS<br />
15,7 BILIÕES<br />
É o valor, em dólares, com que a IA poderá<br />
contribuir para a economia mundial em<br />
2030, pelas contas da PwC. É mais do que<br />
a produção atual da China e da Índia juntas<br />
e revela que a revolução da inteligência<br />
artificial está a chegar em força ao mercado.<br />
A euforia é tanta que o Nasdaq-100 já<br />
registava um aumento de 38% até meados<br />
de julho, no acumulado do ano. Só a Nvidia<br />
disparou 195%.<br />
3 BILIÕES<br />
É o novo recorde, em dólares, obtido<br />
pela Apple no início de julho, sendo a<br />
1ª empresa do mundo a alcançar esse<br />
valor. Só este ano, a capitalização bolsista<br />
disparou quase 1 bilião. O interesse<br />
crescente na nova vaga de poderosas<br />
ferramentas de IA está a impulsionar as<br />
tecnológicas na Wall Street e a Apple não<br />
é exceção. Já vale quase 500 mil milhões<br />
mais do que a 2ª mais valiosa do mundo, a<br />
Microsoft, com 2,5 biliões de dólares.<br />
800 MIL MILHÕES<br />
É o montante estimado, em euros, que os<br />
mundos virtuais deverão valer em 2030<br />
no mercado global, altura em que terão<br />
um potencial de criação de 860 mil novos<br />
postos de trabalho. Bruxelas antecipa que<br />
os mundos virtuais transformem os setores<br />
empresarial e do emprego na UE. Nesse<br />
sentido, já avançou com a estratégia para<br />
a Web 4.0 e para os mundos virtuais. Quer<br />
definir as regras para a próxima transição<br />
tecnológica, garantindo um ambiente digital<br />
aberto, seguro, fiável, justo e inclusivo<br />
para os cidadãos, as empresas e as<br />
administrações públicas.<br />
9
a abrir<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Não há profissão que não vá ser<br />
afetada pela IA. Continuamos a<br />
formar jovens para profissões<br />
que vão desaparecer ou transformar-se<br />
em nichos. Preparar o<br />
futuro começa na educação”<br />
Vicente Ferreira da Silva,<br />
Observador, 2023/08/01<br />
“Eis o aforismo dos nossos tempos:<br />
no pináculo do desenvolvimento<br />
científico e tecnológico<br />
da Inteligência Artificial, o homem<br />
mergulha na profundeza<br />
da sua animalidade. A história<br />
não vai acabar bem”<br />
Pedro Gomes Sanches,<br />
Expresso, 2023/07/24<br />
“O país precisa de criar uma estratégia<br />
de médio prazo para a<br />
inovação e o empreendedorismo<br />
tecnológico definida com<br />
base num acordo alargado entre<br />
policy makers, players do ecossistema<br />
early stage e o setor empresarial”<br />
Lurdes Gramaxo,<br />
ECO, 2023/07/11<br />
“Precisamos de acreditar no<br />
futuro e, acima de tudo, de prepará-lo.<br />
Se o mundo mudou, o<br />
ensino tem de mudar. Acredito<br />
que podemos voltar a ser uma<br />
luz de esperança para um mundo<br />
complexo, se executarmos<br />
uma visão de futuro para Portugal”<br />
Tim Vieira, Observador,<br />
2023/07/05<br />
“A organização social, económica<br />
e financeira vai sofrer um<br />
grande abalo devido à Inteligência<br />
Artificial. Vai haver revolta e<br />
necessidade de fazer um novo<br />
contrato social”<br />
Luís Moniz Pereira, Expresso,<br />
2023/06/20<br />
…CLIENTES <strong>DO</strong> RETALHO<br />
QUEREM EXPERIÊNCIAS,<br />
MAS AINDA TÊM ME<strong>DO</strong>…<br />
OS CONSUMI<strong>DO</strong>RES querem beneficiar da conveniência e do<br />
valor da IA, mas ainda têm dúvidas e medos. Perante este<br />
conflito entre benefícios e preocupações, esta é uma oportunidade<br />
para os retalhistas educarem e fidelizarem os seus<br />
clientes. A conclusão é de um estudo da SAP Emarsys. Com<br />
entrevistas a mais de 4 mil consumidores nos EUA, o trabalho<br />
indica que 51% dos compradores acredita que a IA está<br />
a ter um impacto positivo nas suas experiências de retalho.<br />
Mais de três quartos (77%) preferem marcas que ofereçam<br />
recomendações personalizadas, mas 86% assume que<br />
prefere interagir com humanos. Muitos estão preocupados<br />
com a utilização da recolha de dados por parte da<br />
IA: 63% querem que os retalhistas encontrem<br />
um melhor equilíbrio entre a recolha dos<br />
dados e a melhoria das experiências de<br />
compra. A transparência é fundamental,<br />
pelo que as marcas têm de explicar como<br />
é que os dados são usados e o que podem<br />
oferecer aos consumidores.•<br />
… E UM TERÇO DAS<br />
ORGANIZAÇÕES JÁ<br />
A UTILIZA<br />
CERCA de nove meses depois do<br />
lançamento do ChatGPT, um terço<br />
das organizações em todo o mundo<br />
já utiliza a IA generativa em pelo menos<br />
uma função e um quarto utiliza no seu<br />
próprio trabalho. Os dados são de um estudo<br />
da QuantumBlack, a unidade de IA da McKinsey. Em cada três<br />
empresas, a GenAI está a funcionar de forma produtiva em<br />
pelo menos uma área de negócio e, das empresas que já dependiam<br />
da IA, 60% estão agora intensamente envolvidas com<br />
a GenAI. O trabalho revela que as empresas que já tiveram de<br />
lidar com a aprendizagem automática e a profunda estão com<br />
um ritmo de inovação elevado, explorando as possibilidades<br />
da GenAI de forma mais sistemática do que as demais. As<br />
empresas esperam mudanças significativas nas suas forças<br />
de trabalho, dando como certas as reduções de pessoal em<br />
algumas áreas de negócio, pelo que serão necessários programas<br />
de formação e de aperfeiçoamento em grande escala,<br />
para que as oportunidades oferecidas pela GenAI possam ser<br />
utilizadas de forma consistente.•<br />
51% dos consumidores<br />
acredita<br />
que a IA está a<br />
ter um impacto<br />
positivo nas suas<br />
experiências de<br />
retalho<br />
Em cada três<br />
empresas, a<br />
GenAI está a funcionar<br />
de forma<br />
produtiva em pelo<br />
menos uma área<br />
de negócio<br />
ILUSTRAÇÃO MIDJOURNEY
ESTRATÉGIAS PARA UMA ECONOMIA<br />
DE BAIXO CARBONO<br />
Estudo revela que<br />
as empresas não<br />
estão preparadas<br />
para limitar o impacto<br />
ambiental<br />
da sua atividade<br />
APESAR do combate às alterações climáticas ser uma das prioridades das empresas, as<br />
organizações não estão necessariamente equipadas para responderem às expetativas<br />
do mercado. O desafio é agora saberem trabalhar mais estreitamente com parceiros<br />
e clientes para restaurarem a confiança neste debate e conduzirem todas as partes<br />
interessadas para uma economia de baixo carbono. Nesta luta contra<br />
as alterações climáticas, dois elementos farão a diferença: a avaliação<br />
científica e a colaboração entre todas as partes envolvidas. A conclusão<br />
é de um estudo da Capgemini com a Dassault Systèmes e a Bloom.<br />
Denominado “Social Intelligence for Climate Action”, mostra que<br />
na era das plataformas, podemos mobilizar novos recursos<br />
de colaboração, observação e comunicação, como as redes<br />
sociais, para ultrapassar os obstáculos ao desenvolvimento<br />
da ação climática. Isso permitirá que as indústrias inovem<br />
de forma diferente, mobilizando o imaginário coletivo. Este<br />
estudo, que decorreu em 2022, teve como principal objetivo<br />
compreender melhor quais os obstáculos ao desenvolvimento<br />
da ação climática e como podem as pessoas<br />
superá-los para limitarem o impacto do aquecimento<br />
global. O trabalho revela também que se o ceticismo<br />
sobre as alterações climáticas é agora marginal, o debate<br />
está focado sobre qual será a melhor forma de lidar com<br />
o problema, num ano marcado pelo agravamento das<br />
alterações climáticas.•<br />
5G DÁ OPORTUNIDADES DIFERENCIADAS<br />
DE CONETIVIDADE<br />
CERCA de 20% dos utilizadores de smartphones 5G estão dispostos a pagar um prémio<br />
de até mais 11% aos operadores para obterem uma qualidade de serviço diferenciada<br />
nas redes 5G. E os consumidores desta tecnologia móvel têm três vezes mais probabilidades<br />
de mudar de fornecedor de comunicações, se este não fornecer boas experiências<br />
de conetividade em locais importantes, como estádios, arenas e aeroportos.<br />
As conclusões são do mais recente estudo do ConsumerLab da Ericsson. Denominado<br />
“5G Value: Turning Performance into Value”, centra-se na satisfação e lealdade do<br />
utilizador e destaca o potencial de negócio do 5G para os fornecedores de serviços de<br />
comunicações, uma vez que um número crescente de subscritores em todo o mundo<br />
expressa está cada vez mais satisfeito com a nova tecnologia. O relatório reflete as opiniões<br />
de cerca de 1,5 mil milhões de consumidores em todo o mundo, incluindo cerca<br />
de 650 milhões de clientes 5G. E indica que os fatores que influenciam a satisfação do<br />
consumidor estão em transformação, passando a abranger métricas mais baseadas<br />
na experiência das aplicações, como qualidade do streaming de vídeo, experiência de<br />
jogos e videochamadas e consistência de velocidade. Um indicador claro de fidelidade<br />
do cliente 5G está relacionado às experiências com a conetividade em locais movimentados<br />
e de grandes eventos.•<br />
A fidelidade do<br />
cliente 5G passa<br />
pelo fornecimento<br />
de boas experiências<br />
ILUSTRAÇÃO STABLE DIFFUSION<br />
11
5 perguntas<br />
12<br />
NUNO SARAMAGO:<br />
Motivar equipas<br />
é a grande prioridade<br />
Com a meta de duplicar o número de pessoas no mercado nacional,<br />
o diretor-geral da SAP Portugal reconhece que a empresa<br />
vive a maior transformação estratégica da sua história. Motivar<br />
as equipas para esta etapa entusiasmante é o seu maior desafio.<br />
Texto de Isabel Travessa| Fotos cedidas<br />
Quais são as suas grandes metas<br />
para a SAP Portugal, que lidera<br />
desde abril?<br />
A motivação das pessoas é o fator<br />
mais crítico para o sucesso da<br />
SAP. Com tanta transformação e<br />
disrupção, motivar colaboradores<br />
- de diferentes gerações, variados<br />
percursos profissionais e diversidade<br />
cultural - é um desafio contínuo que<br />
requer atenção constante. Uma das<br />
grandes metas quantitativas passa<br />
por duplicar a nossa equipa em Portugal.<br />
Somos 662 pessoas em todas<br />
as áreas de negócio. E contamos<br />
com um ecossistema de parceiros de<br />
excelência e elevada capacidade tecnológica,<br />
que nos permite colocar,<br />
de forma célere, grande capilaridade<br />
e qualidade nas nossas inovações.<br />
Aumentaremos esta criação de valor<br />
através da forte aposta em aspetos<br />
decorrentes da transformação digital,<br />
por via da IA generativa, da cloud,<br />
da experiência de clientes, parceiros<br />
e colaboradores.<br />
Está no grupo desde 1999. Passar<br />
a diretor-geral da subsidiária foi<br />
uma consequência natural?<br />
Foi uma opção motivada pelos<br />
excelentes líderes que temos na<br />
SAP. Evoluí, como profissional, numa<br />
organização que sempre soube trazer<br />
os melhores, que exigiu pensar<br />
mais além, que procurou liderar e<br />
criar tendências e, ainda, que soube<br />
estimar as suas pessoas. Perante um<br />
cenário destes, como não aceitar o<br />
desafio de estar à frente da empresa?<br />
É um privilégio liderar a SAP<br />
Portugal num período em que a empresa<br />
passa pela maior transformação<br />
estratégica dos seus 51 anos de<br />
história: deixou de ser uma empresa<br />
de produto para ser uma empresa<br />
de serviços, algo tão entusiasmante<br />
que levará todos a uma nova etapa<br />
evolutiva.<br />
No SAP Sapphire 2023 anunciaram<br />
mais inovações, para capacitar as<br />
empresas para um futuro incerto.<br />
O mercado português está a beneficiar<br />
destas apostas?<br />
O mercado português é constituído<br />
por inúmeras empresas que se assumem<br />
na linha da frente do desenvolvimento<br />
tecnológico. São capazes de<br />
abrir as suas organizações ao que de<br />
mais disruptivo se assiste à escala<br />
global. Em alguns casos, estamos<br />
perante organizações que merecem<br />
ser divulgadas como best cases na<br />
implementação dos mais variados<br />
cenários digitais. As empresas nacionais<br />
já podem beneficiar da evolução<br />
para uma IA generativa ou da<br />
extraordinária inovação que a IA de<br />
negócio da SAP vem trazer ao mundo<br />
empresarial. A IA é um desafio,<br />
mas também um suporte, não um<br />
encargo ou um perigo, para a forma<br />
como vivemos o mundo. Deixa-me<br />
muito otimista verificar que o tecido<br />
empresarial português quer assumir<br />
uma posição de vanguarda, através<br />
de resultados práticos. Só assim é<br />
possível ao país responder aos desafios<br />
que se levantam.<br />
O nosso processo de transformação<br />
para o digital já está ao nível<br />
dos outros mercados europeus?<br />
Estamos ao mesmo nível e, em alguns<br />
casos, até mais avançados. Claro<br />
que a massa crítica nacional pode<br />
trazer algumas limitações. Temos<br />
uma dimensão pequena, em território<br />
e população e, também por isso,<br />
há necessidade de encontrarmos<br />
soluções que respondam aos desafios<br />
empresariais que se levantam<br />
e termos a agilidade para as adotar<br />
rapidamente. O diálogo que a SAP<br />
tem com os seus parceiros e clientes<br />
é sempre muito produtivo, por todos<br />
estarem cientes da necessidade de<br />
implementar estratégias robustas e<br />
diferenciadoras e de alavancar estas<br />
organizações também nos mercados<br />
externos, pois a internacionalização<br />
é um aspeto fundamental para o<br />
nosso sucesso económico.<br />
Os fundos europeus são uma oportunidade<br />
única?<br />
É isso que verificamos. Temos uma<br />
oportunidade, pelo que exortamos<br />
todos os agentes que intervêm<br />
nestes processos a irem mais além<br />
nesta revolução organizativa a<br />
que estamos a assistir. Tenho-me<br />
deparado com um discurso muito<br />
consistente, quanto ao papel crucial<br />
da transformação tecnológica. Sente-se<br />
no mercado uma aceleração<br />
na inovação, com um crescimento<br />
bastante sustentado. Estou muito<br />
otimista com a concreta aplicação<br />
destes fundos, para o desenvolvimento<br />
de uma economia de futuro,<br />
competitiva e capaz de enfrentar<br />
desafios complexos. •
No país, todas as organizações estão “cientes da necessidade de implementar estratégias robustas<br />
e diferenciadoras, no mais curto espaço de tempo”, que as alavanquem “não apenas no mercado<br />
nacional, mas também nos mercados externos, pois a internacionalização é um aspeto fundamental<br />
para o nosso sucesso económico”, assegura Nuno Saramago, diretor-geral da SAP Portugal<br />
13
a conversa<br />
14<br />
“Acredito muito mais em projetos integrados do que em gavetas onde as empresas vão à procura de fundos”
GESTOR DE<br />
RELAÇÕES<br />
Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão<br />
Nacional de Acompanhamento do <strong>PRR</strong>, já mostrou<br />
ser capaz de mobilizar relações, chegar às<br />
pessoas, aproximar territórios. O país espera que<br />
ele use este capital social para permitir utilizar<br />
os 22,2 mil milhões de euros do <strong>PRR</strong> da melhor<br />
forma possível.<br />
ENTREVISTA DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />
FOTOS DE VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/ SYNCVIEW<br />
15
a conversa<br />
16<br />
“O desafio do PPR cativa qualquer pessoa que tenha um percurso ligado ao terreno e ao território”
Esta entrevista revela um quadro social e político.<br />
Revela um homem ligado às raízes no Alentejo, mas a<br />
olhar para o futuro. Pedro Dominguinhos, presidente da<br />
Comissão Nacional de Acompanhamento do <strong>PRR</strong>, escolheu<br />
ser entrevistado na Escola Superior de Ciências<br />
Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, local<br />
onde se sente em casa, e fotografado na Chança, a sua<br />
aldeia natal. E isto diz muito sobre ele.<br />
Pedro Dominguinhos pertence a uma geração que acreditou<br />
que o futuro podia ser o que fizessem com ele.<br />
Esteve toda a vida ligado ao ensino politécnico e fez<br />
disso uma das suas causas. Foi convidado por António<br />
Costa para ser a cara do <strong>PRR</strong>. Mas não é só disso que<br />
se fala nesta entrevista.<br />
Do que se fala aqui? Do privilégio que foi crescer numa<br />
família que o incentivou a estudar numa aldeia no interior<br />
alentejano onde, ainda hoje, é difícil os jovens<br />
seguirem para o ensino superior. De um avô empreendedor<br />
e de uma avó cuidadora, que o marcaram para<br />
sempre. Da sua ligação ao ensino politécnico, uma espécie<br />
de fundamento social, e da sua dedicação à causa<br />
pública, que o levou a aceitar o desafio de suceder a<br />
António Costa e Silva como líder da CNA. Do privilégio<br />
de estar ligado ao desenvolvimento do território e do<br />
capital social que construiu ao longo de anos a correr o<br />
país.<br />
Pedro Dominguinhos recebeu-nos sem pressas, dando<br />
espaço a uma entrevista demorada e sumarenta. Para<br />
um homem que está sempre em trânsito, disponibilizar<br />
o seu tempo com esta generosidade é algo que assinalamos<br />
com admiração.<br />
17
a conversa<br />
“Vivi o verão quente,<br />
uma experiência muito<br />
forte. Assistimos a muitas<br />
ocupações de herdades no<br />
Alentejo. Houve situações<br />
extremas, de pessoas quase<br />
enforcadas.<br />
Do ponto de vista político,<br />
isso construiu, de forma<br />
muito vincada, a minha<br />
consciência, a minha noção<br />
de justiça social, a noção de<br />
propriedade privada”<br />
18
Porque aceitou o cargo de presidente da Comissão de<br />
Acompanhamento do <strong>PRR</strong>? A dedicação à causa pública<br />
explica toda a motivação, ou há algo mais?<br />
A dedicação à causa pública, sobretudo para um trabalhador<br />
em causas públicas como eu, é essencial. Por<br />
outro lado, o desafio do Plano de Recuperação e Resiliência<br />
(<strong>PRR</strong>) cativa qualquer pessoa que tenha um<br />
percurso ligado ao terreno e ao território. Enquanto<br />
presidente do Conselho Coordenador dos Institutos<br />
Superiores Politécnicos (CCISP) tive grande proximidade<br />
aos territórios, às comunidades locais.<br />
Estar ligado a um programa que quer ser realmente<br />
transformador da sociedade portuguesa motiva-o?<br />
Claro. Mas é bom sublinhar que o <strong>PRR</strong> não é uma panaceia.<br />
Um programa, por mais robusto que seja, de<br />
22,2 mil milhões de euros, não muda a realidade, não a<br />
muda totalmente. Mas tem grande potencial. É um desafio<br />
que continuo a abraçar porque me permite cumprir<br />
algo que faz parte do meu ADN: a proximidade ao<br />
terreno, estar próximo das instituição e das pessoas.<br />
Por outro lado, a oportunidade de começar projetos<br />
novos é extraordinária. Gosto muito de estar na fase<br />
de visão, de conceção dos projetos. Por exemplo, na<br />
escola onde estamos hoje a fazer esta entrevista (Escola<br />
Superior de Ciências Empresariais do Politécnico<br />
de Setúbal) muito do mobiliário que aqui está foi adquirido<br />
por mim e por vários colegas que participaram<br />
em tudo desde o início, começando pela definição dos<br />
cadernos de encargos até à aquisição final. É a sensação<br />
de ter aqui um filho.<br />
Uma grande responsabilidade…<br />
Sim! A Comissão Nacional de Acompanhamento do<br />
<strong>PRR</strong> (CNA) estava a dar os seus primeiros passos, já<br />
com a credibilidade que o professor Costa e Silva imprimiu.<br />
Eu entro numa fase em que beneficio do trabalho<br />
já feito, e consigo ir mais para o terreno.<br />
Este desafio do <strong>PRR</strong> não é um desvio da sua rota? É colocar-se<br />
na boca de cena, no meio do holofotes…<br />
É a minha primeira mudança de emprego, porque eu<br />
entrei no Politécnico de Setúbal em 1995.<br />
O convite inquietou-o?<br />
Senti-o como um desafio. Mas a primeira vez que pensei<br />
a sério no convite perguntei a mim mesmo: “Onde<br />
é que eu me estou a meter?”. Houve uma mudança, ao<br />
nível das funções, muito drástica, porque eu era muito<br />
executivo, tinha uma carga burocrática e administrativa<br />
muito forte e esta carga desapareceu. Sinto o peso<br />
de responsabilidade. Passei a ter uma função mais estratégica.<br />
Isto significa uma capacidade de reflexão, de<br />
fazer ligações entre as diferentes áreas.<br />
Sentiu medo?<br />
Não é medo, é sobretudo a noção de que, até pela independência<br />
exigida à CNA, represento os portugueses<br />
e as portuguesas. Tudo o que digo e não digo é lido<br />
pela sociedade. A responsabilidade de execução não<br />
é da Comissão Nacional de Acompanhamento, mas<br />
esta independência é fundamental. Nós representamos<br />
a sociedade civil organizada. O Estado português<br />
delegou na CNA a missão de acompanhar a execução<br />
do <strong>PRR</strong>, dando-lhe a possibilidade de emitir pareceres<br />
e recomendações. Por isso imprimi desde muito cedo<br />
uma lógica de proximidade ao terreno....<br />
Está sempre em viagem…<br />
Sim. Temos de fazer a triangulação, porque acompanhar<br />
as movimentações num gabinete é impossível.<br />
Precisamos de falar com as pessoas que estão no terreno<br />
a executar os projetos, que sentem dificuldades<br />
mas também conquistas diárias, e triangular com os<br />
vários ministérios ou responsáveis governamentais<br />
que podem imprimir maior celeridade, autorizar a<br />
contratação e a despesa, fazer as alterações legislativas.<br />
No fundo, está a aproximar todas as partes para criar<br />
valor, indo para o terreno sempre que possível.<br />
Aquilo que aprendi desde muito cedo é que, quando<br />
falamos uns com os outros, conseguimos resolver a<br />
maioria das dificuldades e dos problemas que enfrentamos.<br />
Por outro lado, sendo eu alentejano, desde muito<br />
cedo percebi que a questão do território é essencial<br />
e que precisamos de dar voz às pessoas. Fazer política<br />
a partir de um gabinete, de um relatório, é inviável. A<br />
minha chefe de gabinete, Dra. Sandra Pinto, costuma<br />
dizer que, em muitos dos organismos em Portugal, falta<br />
uma função essencial: a pessoa que faz a ligação entre<br />
os vários pontos. Connecting the dots – em inglês soa<br />
melhor! Um gestor de relações.<br />
É uma espécie de capital social…<br />
Não num sentido financeiro, mas na capacidade de<br />
mobilizar relações, fruto da credibilidade.<br />
Acha que foi por isso que foi escolhido para este lugar?<br />
Não sei, só o Primeiro Ministro poderá dizer.<br />
Voltando atrás, para recomeçar esta conversa pelo<br />
princípio. Como foram os seus tempos primordiais<br />
no Alentejo?<br />
A minha vida no Alentejo foi muito saudável, sem<br />
19
a conversa<br />
dificuldades significativas. Os meus avós maternos<br />
tinham uma queijaria na Chança, onde nasci. O meu<br />
avô sempre foi muito empreendedor. Era uma pessoa<br />
que tinha uma consciência política muito forte. Chegou<br />
a ser detido pela PIDE e tinha um enraizamento<br />
muito forte no Alentejo. Era um comunista puro, defendia<br />
verdadeiramente os valores em que acreditava.<br />
Quando se constituíram as cooperativas, ele doou parte<br />
significativa dos seus bens à cooperativa. Foi a conviver<br />
com ele e com os meus tios que ganhei consciência<br />
política, ainda muito pequeno.<br />
Sendo tão pequeno, é extraordinário que tenha guardado<br />
isso na memória…<br />
Brincávamos na rua. A minha aldeia tem um largo<br />
enorme, é talvez das aldeias que eu conheço com<br />
maior vivência no largo. Tínhamos um ringue (hoje é<br />
um polidesportivo), onde jogávamos à bola. Num dia,<br />
em 1977, estava a haver uma manifestação de trabalhadores<br />
e passa um delegado da UGT da nossa terra.<br />
Centenas de pessoas no ringue começaram a chamar<br />
fascista ao delegado da UGT. A questão política ficoume<br />
muito marcada.<br />
20<br />
Eram outros tempos…<br />
Sim. Eu fiz a escola primária numa altura em que existiam<br />
ainda quatro turmas na Chança, éramos quase 80<br />
alunos. Hoje, já não existe escola primária.<br />
Na sua infância e adolescência<br />
alguma vez teve a<br />
noção de que era um menino<br />
privilegiado? É também<br />
uma maneira de perguntar<br />
pelos destinos que<br />
lhe foram traçando e que<br />
foi traçando para si. Falenos<br />
mais dessas origens…<br />
Não éramos propriamente<br />
privilegiados, mas nunca<br />
senti carências. Os meus<br />
pais trabalhavam. O meu<br />
pai na CP, a minha mãe na<br />
queijaria. Até inícios dos<br />
anos 80 tive uma infância normalíssima. Mas houve<br />
algo que me marcou: assisti ao Verão de 75 e aos anos<br />
que se seguiram, assisti a todas as ocupações. Eu tenho<br />
uma imagem na minha cabeça que nunca mais esquecerei.<br />
Que idade tinha?<br />
Quatro, cinco, seis anos. Mas ainda tenho imagens<br />
desse tempo. Na altura, nós morávamos na Estrada<br />
Nacional e os verões eram muito quentes. Não havia<br />
ar condicionado e dormíamos a sesta. Recordo-me de<br />
estar à janela com a minha mãe e ela dizer: “Fecha-te,<br />
porque pode haver problemas”. Estava a passar um<br />
trator cheio de trabalhadores rurais com machados,<br />
picaretas, enxadas, a caminharem para a ocupação de<br />
uma herdade. Foi algo que me toldou, que construiu a<br />
minha própria consciência política. Qual o sentido de<br />
justiça de alguém ocupar herdades de outras pessoas?<br />
Houve situações extremas, de pessoas quase enforcadas…<br />
“Sendo eu alentejano,<br />
desde muito cedo<br />
percebi que a questão do<br />
território é essencial e que<br />
precisamos de dar voz às<br />
pessoas”<br />
Apesar de ser muito novinho.<br />
As coisas não nos escapavam. Os nossos pais não nos<br />
podiam proteger destas questões. Eu vivi o verão quente,<br />
uma experiência muito forte, assistimos a muitas<br />
ocupações de herdades no Alentejo. Do ponto de vista<br />
político, isso construiu<br />
de forma muito vincada<br />
a minha consciência, a<br />
minha noção de justiça<br />
social, a noção de propriedade<br />
privada. Assisti<br />
também ao desenrolar da<br />
cooperativa. Os ideais são<br />
muito importantes, mas<br />
depois quando as pessoas<br />
implementam os ideais as<br />
coisas descambam, sobretudo<br />
quando não se regem<br />
por princípios éticos e<br />
morais.<br />
Assistiu à desilusão do seu avô?<br />
Sim. Muito grande. O meu avô teve uma desilusão<br />
muito forte porque acreditava verdadeiramente nos<br />
ideais e lutou por eles, na sua terra, em Tolosa. Lutou<br />
para que os baldios fossem de todos e não apenas, à<br />
data, dos ricos. E isso foi muito penalizado, reprimido.<br />
Felizmente, ele tinha um amigo que era juiz e que disse<br />
à GNR, antes do 25 de Abril, que não era comunista –<br />
embora fosse. Ele defendia os interesses da população.<br />
Houve muitos radicalismos no calor do momento.<br />
Eu sou um democrata, não tolero excessos. Isto marcou-me<br />
politicamente. Mas outras coisas também me<br />
marcaram. O meu pai sempre teve atividade cívica, foi<br />
membro das assembleias de freguesia durante muitos<br />
anos. Foi presidente de mesa das eleições durante mais<br />
de duas décadas e eu assisti a tudo isso, na altura em<br />
que os boletins de voto iam para casa dos presidentes<br />
de mesa. Portanto, foi natural esta questão da política<br />
e, sobretudo, da consciencialização cívica e de servidor
“Ainda hoje não é normal as pessoas irem para o ensino superior”<br />
21
a conversa<br />
22<br />
da causa pública. Longe de mim pensar que, mais tarde,<br />
seria um trabalhador em funções públicas.<br />
O seu pai deve estar muito orgulhoso.<br />
Sim, está. Até porque a minha família ficou marcada,<br />
no passado, por uma situação particularmente triste.<br />
Que situação foi essa?<br />
A minha irmã nasceu em 1974 e em 1982 foi-lhe diagnosticada<br />
uma leucemia. Foram dois anos muito complicados,<br />
e infelizmente não sobreviveu.<br />
Isso marca uma família para o resto da vida.<br />
Naturalmente. A situação durou cerca de dois anos,<br />
com idas e vindas constantes para o Hospital de Santa<br />
Maria, em Lisboa. A minha mãe dedicou-se a acompanhar<br />
a minha irmã. Hoje é diferente, mas naquela<br />
altura, sobretudo a 200 km de distância, era muito<br />
complicado. À época, os meus avós desempenharam<br />
um papel fundamental,<br />
porque a minha mãe passava<br />
semanas em Lisboa e<br />
o meu pai vinha ter com<br />
ela ao fim-de-semana. E a<br />
minha avó materna, a avó<br />
Maria do Carmo, esteve<br />
sempre lá.<br />
É uma das pessoas da sua<br />
vida?<br />
Sem dúvida. É a minha<br />
referência. A vida dela daria<br />
um livro ou um filme.<br />
Quando se casou com o<br />
meu avô, ele já tinha cinco<br />
filhos. Era casado com a sua irmã, que morreu. A minha<br />
avó casou muito nova, com 17 anos. A filha mais<br />
velha do meu avô era apenas dez anos mais nova do que<br />
ela. Um exemplo de alguém que viveu uma vida inteira<br />
para os outros.<br />
Teve filhos biológicos?<br />
Teve a minha mãe.<br />
Esse contacto forjou a sua personalidade?<br />
Não tenho a mínima dúvida. Ela nunca fez distinção<br />
entre os seus filhos. Isso uniu a família para sempre.<br />
Nos verões, quando nos juntávamos – a casa era pequena,<br />
era onde a minha avó fazia os queijos e onde moravam<br />
– cabíamos todos. Éramos mais de 20. Esta questão<br />
da família é extremamente relevante para mim.<br />
“Com as desigualdades,<br />
ir estudar para fora é<br />
quase impossível e hoje<br />
ainda mais, com a crise da<br />
habitação. A questão da<br />
proximidade é basilar”<br />
Teve o melhor dos dois mundos: um avô empreendedor<br />
e uma avó carregada de bondade.<br />
Exatamente. O meu avô teve algumas dificuldades, alguns<br />
negócios que faliram, mas conseguiu sempre dar<br />
a volta por cima.<br />
Ainda continua a ter uma ligação umbilical ao Alentejo?<br />
Sim, tenho lá a família. Casei com uma pessoa da<br />
Chança. Os meus filhos passam os verões ali, sobretudo<br />
os mais novos, que são gémeos. Um deles tem<br />
a noção muito clara de que quer ser engenheiro agrónomo<br />
ou zootécnico, e quer voltar para o Alentejo. Há<br />
esta ligação que os meus pais também cultivaram. Vou<br />
praticamente todos os meses ao Alentejo e continuo a<br />
passar férias lá. Este vínculo constitui um pilar fundamental<br />
da minha vida.<br />
Foi natural ir para a universidade, quando chegou a<br />
altura?<br />
Sim, desde muito cedo<br />
ambicionei isso. Tenho de<br />
agradecer infinitamente<br />
aos meus pais terem percebido<br />
que a educação era<br />
a melhor herança que me<br />
podiam dar. No Alentejo e<br />
em Chança isto ainda não<br />
era normal. Ainda hoje<br />
não é normal as pessoas<br />
irem para o ensino superior.<br />
Como começou a ligação<br />
aos politécnicos? Isto vem<br />
de onde?<br />
Eu terminei o curso e, recordo-me, enviei quatro cartas<br />
de emprego, uma delas para a então Escola Superior de<br />
Ciências Empresariais, onde estamos neste momento<br />
sentados a conversar, que estava a iniciar o projeto.<br />
Um dia a minha mãe telefona-me, eufórica, a dizer que<br />
eu tinha recebido uma carta registada a dizer que tinha<br />
ficado em primeiro lugar no concurso para assistente<br />
do primeiro triénio. Esse foi o meu primeiro emprego.<br />
Esteve na génese deste projeto do Politécnico de Setúbal…<br />
Sim. Aquilo que me cativou foi construir algo de raiz.<br />
Na realidade, foi como fazer crescer um filho. Desde a<br />
criação do curso, a construção de novos currículos, o<br />
sonho de querer sempre mais… A participação na esco-
la permitiu-me desempenhar um<br />
conjunto de cargos – o único que<br />
não desempenhei foi o de presidente<br />
do conselho técnico-científico,<br />
que também não me motivava propriamente.<br />
Fui desde coordenador<br />
de departamento, coordenador de<br />
curso, até responsável pelo núcleo<br />
de relações exteriores de ligação às<br />
empresas. Portanto, tive a oportunidade<br />
de desempenhar os vários<br />
cargos e de conhecer a escola de fio<br />
a pavio.<br />
E de perceber a importância do ensino<br />
politécnico.<br />
À data, em 1995, o meu conhecimento<br />
sobre o ensino politécnico<br />
era muito residual. Eu estudei<br />
numa universidade. Só depois me<br />
apercebi da sua relevância. Foi um<br />
caminho duro de se fazer. No início<br />
só havia bacharelatos. Lutámos<br />
pela possibilidade dos mestrados.<br />
Passei por todo este processo de<br />
afirmação do ensino, sempre na<br />
lógica da exigência, rigor e qualidade.<br />
Costumávamos dizer: “A nós<br />
ninguém nos deu nada, tivemos<br />
de mostrar o que éramos enquanto<br />
ensino politécnico”. Ainda hoje<br />
me lembro do nome e do número<br />
dos meus primeiros alunos, que<br />
é uma coisa que ficou para a vida.<br />
Em 2009 fui convidado para vice<br />
-presidente, com responsabilidade<br />
pela área financeira. O Politécnico<br />
de Setúbal tem hoje uma situação financeira, com saldos<br />
significativos, que lhe permite fazer investimentos<br />
nos próximos anos de uma forma muito confortável.<br />
Isto é fruto do rigor na gestão que todos os presidentes<br />
imprimiram desde muito cedo. Fiquei com dois desafios<br />
adicionais em mãos: a inserção na vida ativa e a<br />
relação com as empresas, o empreendedorismo. Isso<br />
permitiu-me ter uma forte projeção, falar com as empresas<br />
e criar um conjunto de projetos que ainda hoje<br />
se mantêm.<br />
“Passei por todo este processo de afirmação do ensino (politécnico), sempre na lógica da<br />
exigência, rigor e qualidade”<br />
Daí até assumir a presidência do CSISP foi um passo…<br />
A sua grande ligação às empresas e ao território vem<br />
desse tempo.<br />
Sim, exatamente. Para nós, a questão da partilha sempre<br />
foi algo muito relevante. Partilhamos ideias, caminhos,<br />
boas práticas. Se há uma boa prática, por que<br />
não implementá-la, adaptada às condições locais?<br />
É um homem de causas e uma das missões do ensino<br />
politécnico é incrementar a inclusão, nomeadamente<br />
das famílias desfavorecidas. Isso também foi relevante<br />
para o seu caminho?<br />
Foi fundamental. Repare, hoje temos um sistema de<br />
ensino superior muito capilar. Temos um conjunto<br />
significativo de regiões, de comunidades intermunicipais<br />
e até de concelhos que têm ensino superior. Com<br />
as desigualdades, ir estudar para fora é quase impossível,<br />
e hoje ainda mais com a crise da habitação. Portanto,<br />
a questão da proximidade é basilar. A razão que<br />
23
a conversa<br />
“Se olharmos para rankings internacionais, Portugal não está pior do que muitos países desenvolvidos na produção de conhecimento.<br />
Onde estamos mal é na capacidade de partilha e transferência de conhecimento entre centros de saber e empresas”<br />
24<br />
está sempre no top três para a escolha de determinado<br />
curso ou instituição é a proximidade. Esta capilaridade<br />
é elementar. Portugal quase teve um retrocesso relativamente<br />
ao ensino superior – e eu fui muito crítico,<br />
sobretudo em 2013 – porque, na altura, sobretudo o secretário<br />
de Estado do Ensino Superior tinha uma ideia<br />
muito clara de elitização e de uma certa segregação do<br />
ensino. Felizmente, na altura o CSISP teve capacidade<br />
de resposta e a sociedade entendeu. Assistimos a uma<br />
verdadeira democratização do ensino superior. Em<br />
2009, escrevemos o documento “Um Ensino Superior<br />
Para Todos”, com um conjunto de propostas nas quais<br />
continuo a acreditar profundamente.<br />
Como sociedade, devemos aspirar a que todas as pessoas<br />
tenham acesso ao ensino superior?<br />
Sim. Isso significa para o país ter outras capacidades.<br />
Os dados são muito claros: as pessoas com ensino superior<br />
permanecem menos tempo no desemprego,<br />
conseguem salários mais elevados, adquirem maior<br />
mobilidade no mercado de trabalho. E acredito que<br />
o ensino politécnico contribui, sim, para uma maior<br />
equidade social. Só com pessoas mais qualificadas é<br />
que aumentamos a produtividade, atingimos níveis de<br />
inovação mais elevados e conseguimos maior partilha<br />
de conhecimento entre as empresas, as instituições de<br />
ensino superior, os centros de investigação e os territórios.<br />
Se olharmos para rankings internacionais, Portugal<br />
não está pior do que muitos países desenvolvidos<br />
na produção de conhecimento. Onde estamos mal é na<br />
capacidade de partilha e transferência de conhecimento<br />
entre os centros de saber e empresas, para não falar<br />
na inovação e nos modelos de negócio das próprias empresas.<br />
Lá está, gestão de relacionamentos…<br />
Sim, connecting the dots e, sobretudo, níveis superiores<br />
de conhecimento, modelos de negócio mais exigentes<br />
e mais internacionalizados.<br />
E isso faz-se como? Como se constroem os tais ecossistemas<br />
colaborativos? Mudar cabeças nas PME portuguesas<br />
deve ser complexo.<br />
Temos algumas experiências em setores industriais<br />
onde a capacidade associativa foi essencial para escalar<br />
essa cadeia de valor. Portanto, a capacidade de agregar<br />
valor entre os diferentes players e de ter estratégias devidamente<br />
adequadas ao tecido empresarial até existe.<br />
A lógica é esta: a produção pode ser muito boa mas<br />
se o marketing não coexistir, ficamos incompletos na<br />
capacidade de atuar. E vice-versa. Hoje, estamos a viver<br />
uma profunda revolução motivada pela transição
verde, que obriga a um conjunto de novos materiais –<br />
precisamos da ligação ao conhecimento. Além da importância<br />
da diáspora, dos quadros com experiência<br />
internacional. O mercado nacional é exíguo e, por mais<br />
resilientes que sejam as empresas, chega a uma altura<br />
em que estão limitadas em termos de crescimento.<br />
Como lidar com isso?<br />
Precisamos de crescer de várias formas. E de juntar<br />
esforços entre várias empresas, de ter empresas que<br />
se associem, que se fundam, umas a adquirir outras,<br />
para ter maior capacidade e robustez para atuar nos<br />
mercados internacionais. Precisamos de massa crítica.<br />
Quando olhamos para a produtividade, temos 10% ou<br />
20% das empresas que se comparam bem com as melhores<br />
empresas internacionais. O problema são todas<br />
as outras. Como a massa é muito grande, faz puxar<br />
para baixo a produtividade média. Nalguns casos, temos<br />
muitas empresas zombie que não deveriam estar<br />
no mercado. É preciso assumir<br />
isto, naturalmente<br />
com os impactos que pode<br />
ter ao nível do emprego.<br />
Mas para isso é que existe<br />
a política pública.<br />
Interessante essa noção<br />
das empresas zombie…<br />
Essas empresas lutam pelos<br />
mesmos recursos de<br />
todas as outras. Se continuam<br />
a ter crédito, por<br />
exemplo, significa que<br />
o investimento está a ir<br />
para projetos menos interessantes<br />
e não para os mais inovadores, que podem<br />
ter maior crescimento. Ter um tecido empresarial mais<br />
robusto não significa que as pequenas e médias empresas<br />
não sejam relevantes. Temos é de criar um maior<br />
número de grandes empresas que atuem nos mercados<br />
internacionais porque, nos ecossistemas, há um<br />
efeito de arrastamento de outras companhias. Basta<br />
olhar para as agendas mobilizadoras para perceber que<br />
a maior percentagem de empresas que participa são<br />
pequenas e médias. Esta lógica de ecossistema é cada<br />
vez mais relevante, porque essas PME têm um conjunto<br />
de competências específicas que são essenciais para<br />
construir soluções de produtos, serviços, processos,<br />
que ajudam as grandes empresas a nível global.<br />
As agendas mobilizadoras são um ensaio?<br />
Sim, são uma experiência muito relevante. A própria<br />
“Temos muitas empresas<br />
zombie que não deveriam<br />
estar no mercado. É preciso<br />
assumir isto, naturalmente<br />
com os impactos que pode<br />
ter ao nível do emprego”<br />
União Europeia está a olhar com muita atenção para as<br />
agendas mobilizadoras em Portugal, vistas como uma<br />
boa prática. Pela primeira vez temos um programa que<br />
olha de forma global para toda cadeia de valor, desde<br />
a investigação e desenvolvimento, até à produção e<br />
ao marketing. Claro que as agendas mobilizadoras têm<br />
o grande desafio do modelo de governação, sobretudo<br />
alguns consórcios com mais de 100 entidades.<br />
Está otimista com o aumento de mais de mil milhões<br />
de euros para as agendas mobilizadoras?<br />
A reprogramação é a concretização de um objetivo que<br />
o senhor Primeiro Ministro já tinha apoiado. O que a<br />
reprogramação faz é concretizar, do ponto de vista financeiro,<br />
aquilo que tinha sido um objetivo político.<br />
Há aqui uma assunção e uma coerência de financiamento<br />
para as agendas mobilizadoras que mostraram<br />
mérito – e são 53.<br />
Junho de 2026 é o timing<br />
limite definido pela Comissão<br />
Europeia.<br />
Da execução física, sim.<br />
Acha que este timing é<br />
possível, tendo em conta<br />
todos os atrasos? Nós até<br />
somos dos mais avançados,<br />
mas a Europa, como<br />
um todo, está muito atrasada.<br />
Por exemplo, a Comissão<br />
Europeia pediu a<br />
Portugal mais umas semanas<br />
para analisar a nossa<br />
reprogramação e dar-lhe o<br />
ok. Acha que poderá ser ponderado, em termos europeus,<br />
um delay do processo? Porque é muito dinheiro,<br />
são muitos projetos e muito pouco tempo.<br />
Ponto número 1: temos de nos concentrar em executar<br />
o que já está aprovado. É uma mensagem que tenho de<br />
transmitir: vamos continuar a executar o que está no<br />
nosso controlo e o que nos comprometemos. A própria<br />
programação prevê um aumento da comparticipação<br />
de muitos projetos fruto do aumento de custos.<br />
Por causa da guerra.<br />
Exatamente. E da inflação, das cadeias de abastecimento<br />
que ficaram com disrupções. Ponto número<br />
dois: a própria reprogramação para os projetos que estão<br />
a decorrer prevê alterações das metas e dos marcos.<br />
Ou seja, um deslizamento – não é em todos os projetos,<br />
não é todos os componentes, não é todos os in-<br />
25
a conversa<br />
26<br />
vestimentos – para aqueles que se identificaram como<br />
sendo de maior risco. Desse ponto de vista, a nossa primeira<br />
preocupação, neste momento, é executar aquilo<br />
que está aprovado e não começar a dizer que não se<br />
executa. Eu compreendo que haja entidades que, não<br />
tendo a certeza de um aumento da comparticipação,<br />
motivado pelo aumento de custos, sobretudo as que<br />
têm maior debilidade financeira, como as IPSS e algumas<br />
pequenas e médias empresas, tivessem dificuldade<br />
em avançar…<br />
Houve aqui algumas mudanças inesperadas.<br />
São todas essas mudanças que têm de ser devidamente<br />
encaixadas num puzzle que não é meramente económico,<br />
é de custos, de prazos. Também tem de ser enquadrado<br />
numa situação geopolítica, que é particularmente<br />
exigente neste momento ao nível da União<br />
Europeia. Reparem, mesmo no novo quadro comunitário<br />
há alguns receios que as regiões possam perder<br />
fundos motivados por<br />
esse novo mosaico geopolítico<br />
que está em cima da<br />
mesa, pela invasão russa<br />
da Ucrânia e pelo potencial<br />
alargamento a partir<br />
de 2030, porque o dinheiro<br />
não é elástico. Ou nós<br />
encontramos novas formas<br />
de financiamento do<br />
orçamento da União Europeia<br />
ou então torna-se<br />
difícil satisfazer as diferentes necessidades com o atual<br />
orçamento. No caso português, se o dinheiro do <strong>PRR</strong><br />
for insuficiente, alguns projetos terão de ser financiados<br />
ou complementados com o orçamento de Estado<br />
ou com outras fontes de financiamento.<br />
Tem sido um defensor acérrimo de se criarem mecanismos<br />
eficazes de acompanhamento dos projetos,<br />
não só em termos financeiros, mas do projeto em si e<br />
da criação de valor. O que é que já foi feito?<br />
Este tipo de mecanismo é novo para a Comissão Europeia<br />
e para a própria União Europeia. Tínhamos um<br />
modelo muito baseado na validação da despesa, em<br />
auditorias e em verificação no terreno. Há um estudo<br />
muito recente de uma fundação, liderado pela professora<br />
Maria João Rodrigues, que chama atenção para a<br />
smart monitorization, que é ter mecanismos de acompanhamento<br />
que antecipem eventuais riscos. Claro que<br />
há o cumprimento dos objetivos, e isto é fundamental,<br />
mas é ir mais além. Para nós não nos interessa apenas<br />
“É preciso criar uma<br />
cultura baseada nos<br />
resultados e não na<br />
execução financeira”<br />
a execução financeira. Não podemos correr o risco de<br />
chegar ao fim, não alcançar os resultados e não termos<br />
feito alertas. É preciso criar uma cultura baseada nos<br />
resultados e não na execução financeira. Porque rapidamente<br />
eu consigo encontrar despesas para justificar<br />
aquele montante financeiro. Mas isso é insuficiente se<br />
eu não alcançar os resultados.<br />
São as próprias entidades que percebem que o seu<br />
foco deve ser na execução e nos resultados a que se<br />
comprometeram?<br />
Precisamente. Isto é apenas um processo, um caminho<br />
para chegarmos a algo mais relevante: os resultados e<br />
os impactos que queremos alcançar. O que é preciso<br />
nos projetos é que provoquem impacto. Dito de outra<br />
forma: aquilo que quero com a digitalização da saúde<br />
é que as pessoas mais facilmente tenham acesso a<br />
um conjunto de meios de diagnóstico, que demorem<br />
menos tempo, que diminuam os custos associados a<br />
esse tipo de marcação e<br />
que aumentem, em última<br />
mais para a frente.<br />
análise, a satisfação dos<br />
utentes. O investimento<br />
deve conduzir a estes resultados.<br />
Por isso é preciso<br />
definir um conjunto de indicadores,<br />
porque alguns<br />
só conseguirão ser medidos<br />
daqui a três ou quatro<br />
anos e outros, em termos<br />
macroeconómicos, só<br />
O vosso roteiro de proximidade da comissão vem, de<br />
alguma forma, encaixar-se nessa visão que tem do<br />
acompanhamento?<br />
Sem dúvida alguma. Nós já fizemos mais de 100 reuniões<br />
com as entidades.<br />
Com os beneficiários finais?<br />
Com os beneficiários finais. Já estivemos em 20 Comunidades<br />
Intermunicipais (CIM). Até ao final do<br />
ano estaremos em todas e o nosso objetivo é, todos<br />
os anos, visitar todas as CIM. Este roteiro permite<br />
apropriarmo-nos daquilo que é o desenvolvimento do<br />
terreno, das dificuldades. Em cada roteiro ou em cada<br />
reunião, sempre que existe alguma dificuldade – da<br />
mais simples, como o atraso de um pagamento, ou da<br />
mais complexa, como a alteração da legislação – pego<br />
no telefone e falo ou com o beneficiário intermediário<br />
ou com o membro do governo responsável, para tentar
esolver a situação. Não estamos à espera dos relatórios<br />
semestrais para fazer as recomendações. Há uma fluidez<br />
de contacto com os membros do governo que é essencial<br />
para desbloquear os problemas e devo dar nota<br />
de que, na quase totalidade das situações, há intervenções<br />
para desbloquearmos os problemas. Tem havido<br />
forte abertura para a mudança, até porque baseamos<br />
todas as nossas recomendações na evidência. Não ligamos<br />
o “achómetro”, baseamo-nos na evidência e na<br />
triangulação de informação.<br />
No fundo, o <strong>PRR</strong> representa um processo de aprendizagem<br />
de como fazer depressa e bem. A Comissão de<br />
Acompanhamento vai ter um papel crítico neste processo?<br />
Olhando para o adágio popular, acho que o <strong>PRR</strong> pode<br />
desafiar o “depressa e bem não há quem”. O <strong>PRR</strong> tem<br />
este desafio de fazer depressa<br />
e bem. “Depressa”,<br />
naturalmente motivado<br />
pelo calendário negociado<br />
com a Comissão Europeia.<br />
“Bem”, porque é crucial<br />
para um processo transformacional<br />
em alguns<br />
dos setores da economia,<br />
da sociedade, da cultura.<br />
É um desafio para as centenas<br />
de entidades que<br />
estão no terreno. O <strong>PRR</strong><br />
não é apenas da responsabilidade<br />
do governo, dos<br />
beneficiários diretos, dos intermediários e da estrutura<br />
da Missão Recuperar Portugal. Com as condições adequadas,<br />
muito do sucesso de implementação do <strong>PRR</strong><br />
depende dos beneficiários finais que estão a implementar<br />
os milhares de projetos que estão no terreno.<br />
Quando temos um conjunto de creches, de habitações<br />
colaborativas, elas estão a ser implementadas por IPSS,<br />
por misericórdias, por autarquias.<br />
Tem alertado que, se 2022 foi um ano muito exigente,<br />
2023 será muito mais, em termos de contratações.<br />
Que avaliação faz até agora?<br />
Previ que seria possível pagar pelo menos 700 milhões<br />
de euros às empresas. Acho que tenho de fazer um update<br />
da previsão: se chegarmos aos 1.000 milhões seria<br />
extremamente importante. Há muitos investimentos<br />
que, apesar de terem sido aprovados, ainda estão na<br />
fase de assinatura dos contratos e dos termos de aceitação.<br />
“Tem havido forte abertura<br />
para a mudança, até<br />
porque baseamos as<br />
nossas recomendações na<br />
evidência. Não ligamos o<br />
‘achómetro’”<br />
Uma última pergunta: teremos, de facto, condições<br />
para nos assumirmos em termos internacionais como<br />
um player relevante – se aplicarmos bem os dinheiros<br />
do <strong>PRR</strong>, do PT2030 e o que resta ainda do PT2020?<br />
Não acredito em atuações messiânicas, porque isso é<br />
demasiado fácil. Não é um estalar de dedos, que desvaloriza<br />
processos, pessoas, trabalho e a atuação humana<br />
no contexto. Os resultados vêm de um esforço<br />
do trabalho de equipas competentes e de visão estratégica.<br />
Acredito que podemos transformar a nossa realidade<br />
e que os fundos que temos ao nosso dispor são<br />
instrumentos muito relevantes daquilo que é a nossa<br />
capacidade de atuar. O projeto europeu é essencial,<br />
porque permite que países e regiões com maior dificuldade<br />
possam aceder a um conjunto de instrumentos<br />
para melhorar. Rogério Carapuça costuma dizer – e eu<br />
concordo com ele – que mais do que transições, precisamos<br />
de transformações.<br />
A transformação pressupõe<br />
mudar o mapa mental<br />
e o modelo de negócio<br />
e encontrar um conjunto<br />
de recursos e competências<br />
para responder a esse<br />
desafio. Não era natural<br />
que nós, em termos de<br />
inteligência artificial ou<br />
de mercados financeiros,<br />
tivéssemos players que<br />
concorressem com os melhores<br />
a níveis mundiais.<br />
Se olharmos para muitos<br />
dos nossos unicórnios, estamos a falar de articulação<br />
de conhecimento, de capacidade de empreendedorismo.<br />
Por exemplo, muitas dessas empresas participaram<br />
em programas de aceleração tecnológica ou de<br />
empreendedorismo entre Portugal e as universidades<br />
norte-americanas. Portanto, a questão de uma articulação<br />
global entre as diferentes dimensões, desde a<br />
investigação e desenvolvimento à própria produção de<br />
bens ou serviços e ao marketing nos mercados internacionais,<br />
é essencial. Depois, precisamos de fazer uma<br />
transformação profunda dos nossos modelos de negócio.<br />
E isto é talvez das coisas mais complexas de fazer.<br />
Os fundos europeus têm aqui um potencial significativo<br />
de serem catalisadores dessa transformação digital.<br />
Acredito muito mais em projetos integrados do que em<br />
gavetas onde as empresas vão à procura de fundos.•<br />
27
em destaque<br />
28
ATÉ ONDE CHEGARÁ<br />
O PODER DA<br />
INTELIGÊNCIA<br />
ARTIFICIAL?<br />
Regulação vs inovação: encontrar o equilíbrio certo,<br />
que crie confiança e potencie soluções é o desafio.<br />
Bruxelas está na fase crítica de aprovação do AI Act, que<br />
permitirá à UE assumir uma posição pioneira mundial.<br />
Mas o verdadeiro teste será a sua aplicação, a partir de<br />
2025. Para já, a febre em torno da inteligência artificial<br />
está ao rubro.<br />
TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS ISTOCK E CEDIDAS<br />
29
em destaque<br />
30<br />
A CE quer liderar um<br />
novo quadro global da IA,<br />
assente em três pilares:<br />
controlo, governação e<br />
inovação<br />
A<br />
tecnologia não é nova. Aliás, já tem décadas.<br />
Mas o tema ganhou uma nova urgência em<br />
novembro do ano passado, quando a OpenAI<br />
lançou a plataforma ChatGPT, que veio mostrar<br />
o imenso o potencial da inteligência artificial (IA)<br />
generativa. O boom de utilizadores que a experimentou<br />
– um milhão em apenas cinco dias e mais de 100<br />
milhões dois meses depois – deixou uma certeza: nada<br />
seria como antes.<br />
Numa ascensão meteórica, que muitos comparam<br />
ao lançamento dos smartphones, das redes sociais e até<br />
da internet, a IA está hoje no centro de todas as atenções<br />
e estratégias. Assiste-se a uma clara aceleração de todo<br />
o tipo de soluções, vindas das mais variadas empresas,<br />
desde startups a gigantes tecnológicas. Em paralelo, governos<br />
e organizações mundiais estão numa verdadeira<br />
corrida para regulamentar<br />
as ferramentas de IA,<br />
numa tentativa de travar<br />
as ameaças e potenciar as<br />
oportunidades.<br />
Na Europa, o processo<br />
de regulação da IA já tinha<br />
arrancado há algum tempo.<br />
Foi em abril de 2021<br />
que a Comissão Europeia<br />
(CE) avançou com uma<br />
proposta, que chamou de<br />
AI Act, anunciando a ambição<br />
de a União Europeia (UE) ser a primeira região<br />
do mundo a criar um quadro jurídico para o desenvolvimento<br />
e a utilização da tecnologia. Desde então, o<br />
projeto foi objeto de alterações cada vez mais rigorosas,<br />
até chegar à versão final aprovada a 14 de junho<br />
deste ano pelo Parlamento Europeu (PE).<br />
O texto está agora na fase final de negociação, no<br />
âmbito dos trílogos entre Parlamento Europeu, Conselho<br />
da Europa (que representa os governos europeus)e<br />
a CE. Espera-se que os decisores políticos europeus<br />
cheguem a acordo sobre algumas das partes mais<br />
controversas do texto, nomeadamente as relacionadas<br />
com as medidas de inovação e a implementação das<br />
chamadas sandboxes. A expetativa é que seja alcançado<br />
um consenso até final deste ano, permitindo que o AI<br />
Act entre em vigor em 2025, decorrido o respetivo período<br />
de transição, e os apelos nesse sentido não têm<br />
parado.<br />
No seu discurso do Estado da União no Parlamento<br />
Europeu, a 13 de setembro, o último antes das eleições<br />
europeias, marcadas para junho de 2024, a presidente<br />
da CE apelou para a urgência de uma decisão e anunciou<br />
o reforço dos investimentos europeus na tecnologia,<br />
para manter a UE na pole position em termos de<br />
inovação e regulamentação.<br />
“Temos uma janela de oportunidade cada vez mais<br />
estreita para orientar esta tecnologia de forma responsável.<br />
Acredito que a Europa, em conjunto com os seus<br />
parceiros, deve liderar o caminho para um novo quadro<br />
global para a IA, assente em três pilares: controlo,<br />
governação e inovação”, destacou Ursula von der Leyen.<br />
Considerando que esta será a “primeira lei abrangente<br />
pró inovação do mundo”, ela apelou ainda às<br />
entidades reguladoras mundiais para adotarem regras<br />
similares. É que, tal como outras instâncias mundiais<br />
têm vindo a defender, também a líder da CE entende<br />
que só uma abordagem de<br />
governação global para a<br />
IA garantirá o desenvolvimento<br />
de uma “resposta<br />
rápida e coordenada a nível<br />
mundial”.<br />
A presidente da CE assumiu<br />
ainda o compromisso<br />
de abrir o diálogo<br />
com os criadores de IA,<br />
para que se comprometam<br />
com uma salvaguarda<br />
voluntária, semelhante<br />
aos acordos similares já alcançados nos Estados Unidos.<br />
“Trabalharemos com as empresas de IA para que<br />
se comprometam voluntariamente com os princípios<br />
da Lei da IA, antes da sua entrada em vigor. E teremos<br />
de estabelecer normas globais mínimas para uma utilização<br />
segura e ética”, destacou.<br />
REGULAR PARA CONFIAR<br />
Apesar dos apelos, já se começa a admitir que o IA Act<br />
possa ser aprovado apenas em 2024. No final de setembro,<br />
a Reuters avançava que um dos temas que continuava<br />
a gerar desacordo nas negociações era a vigilância<br />
biométrica, nomeadamente o reconhecimento<br />
facial. E dava como certo que o processo negocial ainda<br />
terá “um longo caminho a percorrer”.<br />
O próprio relator da Lei da IA, Brando Benifei, que
“Promote Regulation of Artificial Intelligence” foi o tema de um debate organizado pela APDC na 10ª edição da Iniciativa Portuguesa<br />
do Fórum da Governação da Internet. Rogério Carapuça (APDC), à esquerda, moderou a discussão entre Arlindo Oliveira (INESC),<br />
Helena Martins (Google), Paulo Dimas (Unbabel) e Magda Cocco (VdA)<br />
A versão do AI Act, que<br />
está em negociação,<br />
regulamenta uses cases e<br />
não a tecnologia em si, o<br />
que é vital para a inovação<br />
está a coliderar as negociações, já veio pedir aos Estados-membros<br />
que encontrem um compromisso em<br />
áreas-chave. “Precisamos de uma Europa mais unida<br />
também em matéria de tecnologia, se quisermos ser<br />
competitivos. Este regulamento é, até certo ponto, um<br />
‘teste de stress’”, referiu, destacando a importância da<br />
regulação.<br />
“Se há coisa que aprendemos ao longo dos anos é<br />
que a regulação dá confiança<br />
no uso de determinados<br />
produtos e serviços.<br />
Claramente, é importante<br />
para criar a confiança nas<br />
utilizações da tecnologia”,<br />
considera Magda Cocco, a<br />
sócia da VdA responsável<br />
pela área Comunicações,<br />
Proteção de dados & Tecnologia<br />
e de Digital Frontiers,<br />
comentando a iniciativa<br />
de Bruxelas. Para<br />
esta jurista, na sua versão inicial, o IA Act “regulamentava<br />
de facto a tecnologia em si. Havia uma definição,<br />
extremamente perigosa, do que é que se entendia por<br />
IA. O que vimos nos últimos meses é que, tal como outras<br />
tecnologias, evoluiu a uma rapidez enorme. Mas a<br />
versão aprovada pelo Parlamento Europeu já tem um<br />
conceito de IA muito abrangente, mais próximo do da<br />
OCDE, que permite incluir um conjunto de realidades.<br />
Não se regulamenta a tecnologia, mas sim use cases.<br />
Isso obrigará a uma interação e um dinamismo muito<br />
maiores, mas também será muito menos inibidor da<br />
evolução tecnológica”.<br />
Esta opinião é partilhada<br />
por Arlindo Oliveira,<br />
presidente do INESC<br />
e professor do Instituto<br />
Superior Técnico: “Faz<br />
muito mais sentido regulamentar<br />
as aplicações<br />
de inteligência artificial<br />
do que a tecnologia em si.<br />
Porque são coisas que têm<br />
um impacto prático e direto<br />
na vida das pessoas e,<br />
ao mesmo tempo, não se<br />
condiciona o desenvolvimento da IA. Fiquei satisfeito<br />
com a versão final do IA Act, apesar de elaborada num<br />
contexto muito especial, com o aparecimento do ChatGPT<br />
e toda a excitação com os modelos de linguagem<br />
31
em destaque<br />
e os modelos fundacionais”.<br />
Já a head of Government Affairs and Public Policy<br />
da Google Portugal, Helena Martins, avança que, na visão<br />
da tecnológica, a proposta inicial da CE “era muito<br />
razoável, indo ao encontro das necessidades da indústria<br />
e das questões colocadas pela sociedade”. Com as<br />
discussões no Conselho e no PE e “o boom mais recente<br />
em torno da IA generativa, o documento começou a<br />
ser mais baseado no medo do que na utilização da IA”.<br />
Resultado: a mais recente versão “está a gerar dúvidas<br />
na indústria. O nosso trabalho tem sido manter o diálogo<br />
na Europa e tentar trazer clareza para alguns dos<br />
conceitos. A indústria precisa de ter certeza jurídica<br />
de como se pode desenvolver uma IA que é inovadora,<br />
mas também responsável”.<br />
Helena Martins destaca ainda que a regulação da<br />
IA “é um tema que tem sido discutido a nível de indústria<br />
e com os governos há já alguns anos. Há algumas<br />
questões que não podem ser decididas por empresas e<br />
acreditamos que a regulação é muito importante. Existe<br />
um certo consenso de que a IA deve ser regulada a<br />
partir do seu uso e tem havido alguma discussão em<br />
torno de regulamentação por áreas de atividade. Em<br />
muitos países ainda é uma questão em aberto, mas a<br />
UE optou por uma regulação mais ampla, focada na<br />
utilização da tecnologia”.<br />
E qual a perspetiva de uma startup que desenvolve<br />
atividade nesta área? Paulo Dimas, vice-presidente<br />
para a inovação da portuguesa Unbabel, começa por<br />
admitir que “há sempre uma tensão entre inovação e<br />
regulação: quanto menos regulação, mais inovação.<br />
Mas tudo tem de ser equilibrado com os valores da sociedade.<br />
Os resultados que se alcançaram no AI Act são<br />
muito positivos, até porque endereçam uma grande<br />
questão, da IA generativa, que teve um grande avanço<br />
e está apenas no poder de alguns. Essa é uma outra<br />
questão, nada linear, que é: até onde deveremos ir em<br />
termos de regulação?”. Para o empreendedor, “é importante<br />
regular os uses cases, mas também haver<br />
regulação ao nível das plataformas, que são<br />
transversais”.<br />
REGRAS À PROVA <strong>DO</strong> FUTURO?<br />
Estes responsáveis falavam no âmbito da 10ª edição<br />
da Iniciativa Portuguesa do Fórum da Governação da<br />
Internet, numa sessão organizada pela APDC, sobre<br />
“Promote regulation of Artificial Intelligence”, onde o<br />
tema central foi o IA Act. Neste debate, ficou claro que<br />
uma das questões onde não há certezas é saber se esta<br />
regulação será “à prova de futuro”.<br />
Segundo Arlindo Oliveira, “se a evolução continuar<br />
a ser a das últimas décadas, vamos ter problemas com-<br />
Há dúvidas de que a<br />
regulação de Bruxelas para<br />
a IA seja à prova de futuro,<br />
uma vez que a tecnologia<br />
não pára de avançar<br />
32
pletamente diferentes com questões muito distintas.<br />
O AI Act está focado na tecnologia e nas questões essenciais<br />
como são vistas agora, pelo que corre o risco de<br />
ficar rapidamente desadaptado da realidade. Temos de<br />
ter noção de que está longe de ser uma coisa perfeita.<br />
Mas também não tenho solução para isto”, admite o<br />
especialista em IA. “Olhando para os vários textos do<br />
AI Act, eles refletem exatamente a evolução da tecnologia.<br />
Teremos de ver se, de facto, esta regulação é ‘future<br />
proof’. É verdade que nos últimos meses, com o ChatGPT,<br />
o Bard e outras ferramentas, foi alcançado um<br />
nível de<br />
democratização<br />
do acesso<br />
a estes modelos,<br />
que já não eram novos. Estamos<br />
numa fase de experimentação e a<br />
regulação é importante. Mas as normas definidas<br />
têm de ser adaptáveis e flexíveis, para se continuar a<br />
inovar de forma responsável”, defende Helena Martins.<br />
“Se calhar não é totalmente à prova de futuro, mas<br />
existe muita flexibilidade, assim a versão final fique<br />
como está”, assegura Magda Cocco. Mais, garante que<br />
o documento “reconhece que ainda não se sabe bem<br />
como regular a IA. Nos próprios considerandos, diz-se<br />
que é essencial uma coordenação entre governos, empresas,<br />
academia e centros de pesquisa e que se trata<br />
de um processo contínuo. E prevê-se a possibilidade de<br />
revisões regulares”.<br />
Para já, e enquanto a regulação europeia não estiver<br />
em vigor, o que só acontecerá, numa perspetiva<br />
otimista, em 2025, o mercado terá de continuar a funcionar<br />
com as regras atuais. Para a responsável da VdA,<br />
“tendo em conta que as empresas estão a desenvolver<br />
produtos a uma velocidade enorme, é fundamental<br />
criar mecanismos de autorregulação”, num processo<br />
que considera ser “bidirecional”, juntando indústria,<br />
centros de I&D, reguladores e entidades públicas. Só<br />
esta interação essencial permitirá “perceber qual é a<br />
melhor forma de regular. Acho que é isso que já se está<br />
a fazer, porque a indústria está preocupada em ter uma<br />
IA responsável”.<br />
Além disso, já existe um vasto conjunto de legislação<br />
europeia, como o RGPD, o Data Act, o Digital<br />
Services Act ou o Digital Markets Act, que é aplicável<br />
a qualquer solução assente em IA. “Temos uma carga<br />
regulatória na CE que é de enorme exigência acompanhar.<br />
Agora imaginem uma startup ou uma PME olharem<br />
para esta confusão de regulação”, acrescenta.<br />
Paulo Dimas diz que este horizonte temporal de<br />
dois anos surge como “oportunidade de inovação. Podemos<br />
começar a trabalhar nos produtos da IA do futuro,<br />
que estarão já ao abrigo da nova regulação. Para a<br />
Unbabel, o timing de 2025 é ótimo, porque nos permite<br />
integrar já as regras nos nossos produtos. Há tempo<br />
para planear e de ir mais longe, no sentido da IA res-<br />
33
em destaque<br />
34<br />
ponsável. Todas as empresas deveriam praticar isto de<br />
forma transversal, independentemente de haver, ou<br />
não, regulação”.<br />
Já Arlindo Oliveira assegura que, do ponto de vista<br />
dos investigadores, “não se pensa muito no tema da<br />
regulação. A tecnologia vai evoluir e vamos focar-nos<br />
em tornar os sistemas mais fiáveis, explicáveis e auditáveis<br />
e garantir fairness e respeito da privacidade. Este<br />
é o foco de quem desenvolve, quer exista ou não, o regulamento”.<br />
URGENTE: COMO GANHAR KNOW-HOW?<br />
No entanto, Magda Cocco alerta que a atual versão do<br />
AI Act impõe aos Estados-membros a criação de uma<br />
autoridade reguladora nacional independente de IA,<br />
que regulamente e supervisione a tecnologia, assim<br />
como o maior número possível de entidades certificadoras<br />
e a constituição de uma regulatory sandbox pública,<br />
de acesso gratuito às startups e a um conjunto de<br />
empresas. Em Portugal, reconhece que haverá dificuldades<br />
neste processo, uma vez que exige um conjunto<br />
de competências que não existem no país.<br />
“Há grande falta de conhecimento dos domínios da<br />
IA, quer da área técnica, por parte dos juristas, policy<br />
makers e em geral. É essencial criar know-how e literacia<br />
nesta área e o país deveria focar-se nisso. Terá de se<br />
pensar estrategicamente na IA, em como se dão competências<br />
às empresas e às entidades públicas. O grande<br />
problema do AI Act será a sua aplicação e enforcement.<br />
Este é um problema também dos países europeus<br />
em geral e até noutras geografias: não há pessoas com<br />
os conhecimentos necessários para regular de forma<br />
inteligente. Regular é uma coisa muito séria, pois pode<br />
prejudicar a economia”, acrescenta.<br />
Um dos caminhos para tentar combater este grave<br />
constrangimento, que existe não apenas em relação à<br />
IA, mas em todos os temas ligados ao digital é, na perspetiva<br />
da responsável da Google, o estabelecimento de<br />
“canais de diálogo com a indústria e com a sociedade.<br />
Independentemente de ter de se criar uma autoridade,<br />
manter este canal aberto é essencial. Porque não<br />
sabemos o quão future proof é esta regulação e haverá<br />
situações que só através de diálogo poderão ser solucionados”.<br />
Arlindo Oliveira destaca ainda o tema da total falta<br />
de competitividade ao nível do digital em termos<br />
de talento. “Estamos a perder pessoas aos milhares<br />
para o norte da Europa, onde os salários são mais altos.<br />
Dentro do país, o Estado é desastroso em relação<br />
a este aspeto. Neste momento, com as carreiras que<br />
existem, tem capacidade nula de fixar as pessoas mais<br />
competentes. É preciso ter competências fortes na<br />
Administração Pública. Vamos ter enormes dificuldades<br />
em criar um regulador de IA com as competências<br />
suficientes para interagir com a indústria e sociedade.<br />
Não as temos, nem temos a capacidade para as criar no<br />
curto-prazo”, alerta.<br />
“O Estado tem de simplificar e deixar a indústria<br />
avançar e organizar-se. Estamos num mercado competitivo,<br />
pelo que não se devem colocar muitas barreiras.<br />
Em todos os países a literacia em IA é muito baixa nas<br />
instituições públicas. Têm de se definir e criar as competências<br />
que serão importantes”, acrescenta Paulo<br />
Dimas, salientando que isso deve ser tido em conta na<br />
definição, que está em curso, da nova Estratégia Nacional<br />
para a IA. Aqui, recorde-se que o executivo já avançou<br />
que uma das bases do trabalho serão as orientações<br />
do AI Act, a par de uma adaptação às necessidades e<br />
interesses das tecnológicas portuguesas.<br />
E porque “todos os temas de investigação são oportunidades<br />
de inovação, devemos olhar para eles com<br />
atenção, colocando Portugal na vanguarda. É isso que<br />
estamos a fazer”, explica o responsável da Unbabel,<br />
referindo-se ao consórcio Center for Responsible AI,<br />
liderado pela tecnológica, que junta 24 parceiros, en-<br />
A necessidade<br />
crescente de uma<br />
convergência<br />
regulatória entre<br />
os vários blocos<br />
geográficos, pois<br />
a IA dá imenso<br />
poder a privados<br />
e a Estados,<br />
tem levado ao<br />
anúncio de<br />
várias iniciativas
tre startups, centros de investigação, líderes da indústria<br />
e a VdA (sendo Magda Cocco a responsável), com<br />
o objetivo de até 2025 criar 21 produtos com IA, e até<br />
2030 gerar 250 milhões de euros em exportações e 215<br />
postos de trabalho. O projeto, num investimento de 78<br />
milhões de euros, criado no âmbito do <strong>PRR</strong>, apresentou<br />
no início de julho 16 novos produtos baseados em<br />
IA para as áreas da saúde, turismo, retalho e apoio ao<br />
cliente.<br />
Mas há mais projetos com IA no mercado nacional,<br />
como o consórcio AcceleratAI, coordenado pela Defined.Ai,<br />
que tem um financiamento de 34,5 milhões<br />
de euros para desenvolver IA conversacional. A IA está<br />
também a chegar em força à AP, como o provam casos<br />
como o Guia Prático da Justiça, ainda em versão beta,<br />
que usa ferramentas de machine learning baseadas no<br />
GPT da Open AI para dar resposta, para já, sobre casamentos<br />
e divórcios, no Portal da Justiça. Outro caso é<br />
o do assistente digital do ePortugal, que responde apenas<br />
aos temas ligados à Chave Móvel Digital, embora a<br />
meta seja alargar o seu âmbito.<br />
REGULAÇÃO GLOBAL:<br />
VOLUNTÁRIA OU OBRIGATÓRIA?<br />
Certo é que a IA é já considerada a maior revolução<br />
vivida pela Humanidade. O processo ainda agora começou,<br />
mas o impacto esperado é tão grande que, pela<br />
primeira vez na história, os principais players tecnológicos<br />
mundiais têm vindo a defender publicamente a<br />
necessidade urgente de regulação. Mas não nos termos<br />
que a UE pretende, já que se teme que seja demasiado<br />
restritiva e que possa travar a inovação. Por isso,<br />
muitos líderes de grandes empresas têm vindo a apelar<br />
para Bruxelas agir com mais cautela, quando se trata<br />
de regulamentar a IA. Argumentam que a Europa tem<br />
de estudar a tecnologia, para saber como equilibrar as<br />
oportunidades com os riscos.<br />
Ao nível global, a crescente consciência sobre a necessidade<br />
de uma clara convergência regulatória entre<br />
os vários blocos, já que os sistemas de IA dão um enorme<br />
poder a privados e a Estados, tem levado ao anúncio<br />
de várias iniciativas. O Fórum Económico Mundial,<br />
por exemplo, lançou em junho a Aliança de Governação<br />
da IA, com o objetivo de unir líderes da indústria,<br />
governos, instituições académicas e organizações da<br />
sociedade civil, na conceção de uma IA global responsável<br />
e no lançamento de sistemas transparentes<br />
e inclusivos. Poucos dias antes, a CE e o governo norte-americano<br />
tinham também anunciado um acordo<br />
para a elaboração do projeto de um código de conduta<br />
comum da IA, aberto a todos os países democráticos e<br />
de aplicação voluntária aos players.<br />
Em maio, os líderes do G7 reunidos na cimeira de<br />
Horishima, no Japão, reconheceram a necessidade de<br />
governação da IA e das tecnologias imersivas. Ficou<br />
acordado que os ministros debateriam a tecnologia,<br />
comunicando os resultados até final de 2023. Também<br />
os líderes do G20, reunidos em setembro, em Nova<br />
Deli, na India, reiteraram o objetivo de utilizar a IA de<br />
forma responsável, considerando-a uma ferramenta<br />
para a prosperidade e expansão da economia digital<br />
global. Por isso, vão trabalhar em conjunto para promover<br />
a cooperação internacional e aprofundar os debates<br />
sobre a governação internacional da IA.<br />
Na mais recente Assembleia Geral das Nações Unidas,<br />
a IA também esteve em destaque, com o presidente<br />
norte-americano, Joe Biden, a falar do seu plano<br />
para trabalhar com “concorrentes” do mundo inteiro e<br />
garantir uma IA responsável. António Guterres, secretário-geral<br />
da ONU, não tem parado de alertar, nos últimos<br />
meses, para os riscos da IA e para a necessidade<br />
de se criar uma agência internacional para monitorizar<br />
e supervisionar a utilização da tecnologia.<br />
Ao nível dos governos, há também movimentos<br />
similares. Incluindo na China e nos Estados Unidos.<br />
35
em destaque<br />
36<br />
Washington já avançou com linhas orientadoras para<br />
o desenvolvimento de políticas e regras para testar os<br />
sistemas de IA, muitas das quais se enquadram mesmo<br />
no espírito da proposta do regulamento europeu de IA.<br />
E tem conseguido obter das big tech um compromisso<br />
no sentido de um desenvolvimento seguro e transparente<br />
da IA, assente no que considera serem os três<br />
princípios essenciais para o futuro desta tecnologia:<br />
segurança, proteção e confiança.<br />
É que a realidade mostra que a IA está cada vez mais<br />
presente em tudo, integrada nas ferramentas, soluções<br />
e nos sistemas operativos dos dispositivos. As mais recentes<br />
previsões da consultora Forrester indicam que<br />
a IA generativa terá um crescimento anual de 36% até<br />
2030, num reforço sem precedentes impulsionado pela<br />
procura, quer para aplicações especializadas, quer para<br />
casos de utilização generalizada. Antecipa ainda que<br />
este boom deverá abrir novas oportunidades de receitas,<br />
mesmo para empresas que não estejam a utilizar a<br />
IA generativa para a automação ou o desenvolvimento<br />
de produtos.<br />
No mercado, multiplicam-se<br />
os anúncios de novas<br />
ofertas, cada vez mais<br />
personalizadas. Como as<br />
notícias recentes da gigante<br />
Microsoft, que apostou<br />
forte na OpenAI e tem vindo<br />
a trabalhar com a criadora<br />
do ChatGPT no seu<br />
desenvolvimento. Assim,<br />
lançou mundialmente o<br />
seu assistente de IA generativa,<br />
o Copilot, disponibilizado<br />
sem custos com a atualização do Windows 11,<br />
e tem cerca de 150 novas ferramentas que garante que<br />
vão mudar a forma como os utilizadores interagem as<br />
aplicações de produtividade do seu sistema operativo.<br />
Dias antes, a Google tinha anunciado uma nova<br />
versão do Bard, que passou a contemplar mais de 40<br />
idiomas. Esta nova versão faz ainda ligação ao Gmail,<br />
Maps, Youtube e Google Flights e Hotels, num modelo<br />
de IA generativa que ‘aprende’ com os utilizadores e<br />
evolui de acordo com as suas necessidades. Já disponível<br />
sem limitações, tem como objetivo ser um “instrumento<br />
de verdadeira colaboração”.<br />
Mas outras grandes concorrentes estão prestes a<br />
lançar as suas próprias plataformas de IA generativa. A<br />
Amazon fez um investimento até 4 mil milhões de dólares<br />
na Anthropic, fundada por ex-colaboradores da<br />
OpenAI, que vai usar os serviços cloud da Amazon para<br />
Na corrida global ao<br />
desenvolvimento de<br />
soluções e plataformas de<br />
IA, os investimentos são<br />
massivos<br />
treinar os seus modelos de IA. A Meta também está a<br />
trabalhar numa poderosa plataforma de IA, a lançar<br />
em 2024, assente num novo modelo de linguagem, que<br />
rivalizará com a tecnologia mais avançada da OpenAI.<br />
Esta, por sua vez, anunciou uma grande atualização<br />
no ChatGPT, que vai passar a ter chatbot para conversações<br />
de voz com os utilizadores e funcionalidades de<br />
imagens. A alemã SAP tornou público o seu novo assistente<br />
de IA generativa, o ‘Joule’, um copiloto para os<br />
negócios, incorporado, a partir de novembro, em todas<br />
as aplicações do grupo.<br />
O investimento em IA é também prioritário para<br />
muitas outras gigantes. Incluindo as denominadas ‘big<br />
five’ de consultoria. A EY foi a primeira tornar pública,<br />
a 15 de setembro, a sua plataforma de IA, que chamou<br />
de ‘EY.ai EYQ’, depois de um investimento de 1,4 mil<br />
milhões de dólares nos últimos 18 meses. Como adiantou<br />
o seu CEO e presidente, “o momento da IA é agora.<br />
Todas as empresas estão a considerar a forma como<br />
será integrada nas operações e o seu impacto no futuro”.<br />
Outras concorrentes<br />
estão a avançar: a KPMG<br />
tem em curso um investimento<br />
de dois mil milhões<br />
de dólares em serviços de<br />
IA e cloud a cinco anos; a<br />
Accenture avançou com<br />
3 mil milhões de dólares<br />
para ajudar os clientes a<br />
reinventarem-se com a IA;<br />
a PwC está a investir três<br />
mil milhões de dólares a<br />
três anos; e, em dezembro<br />
do ano passado, a Deloitte já tinha anunciado estar a<br />
desenvolver, com 1,4 mil milhões de dólares, novos<br />
serviços baseados em IA.<br />
Há muito dinheiro a ser investido. É o caso recente<br />
da Capgemini, que tem dois mil milhões de euros a três<br />
anos para acelerar a sua transição com a IA generativa.<br />
Sem falar das compras de outras empresas e dos anúncios<br />
de parcerias, que todos os dias se multiplicam.<br />
Afinal, como antecipava há semanas o líder da Google,<br />
numa carta aberta a comemorar os 25 anos da gigante,<br />
espera-se que a IA traga uma revolução maior que<br />
a chegada da internet, sendo o maior desafio futuro do<br />
mundo. Os próximos tempos o dirão.•
DIFERENTES REGRAS PARA DIFERENTES NÍVEIS DE RISCO<br />
A VERSÃO FINAL do AI Act, aprovada no início de<br />
junho pelo Parlamento Europeu, teve como prioridade<br />
assegurar que os sistemas de IA usados no espaço<br />
comunitário são seguros, transparentes, rastreáveis e<br />
não discriminatórios, além de respeitarem o ambiente.<br />
Devem ainda ser supervisionados por pessoas e não<br />
por automação, evitando desta forma eventuais resultados<br />
prejudiciais. Pretendeu-se ainda estabelecer<br />
uma definição uniforme e neutra em termos tecnológicos<br />
para a IA, que possa ser aplicada a futuros<br />
sistemas que sejam criados.<br />
Na altura da aprovação do documento, o PE explicava<br />
que a regulamentação define obrigações para fornecedores<br />
e utilizadores de acordo com o nível de risco de<br />
cada solução assente em IA.<br />
No topo da pirâmide está o ‘risco inaceitável’, o que<br />
abrange sistemas de IA que são considerados uma<br />
ameaça para as pessoas e, por isso, proibidos. E cita<br />
casos de sistemas de manipulação cognitivo-comportamental<br />
de pessoas ou grupos vulneráveis específicos;<br />
classificação social; ou identificação biométrica em<br />
tempo real e à distância. Mas há exceções permitidas,<br />
nomeadamente para crimes graves, mas sempre depois<br />
da aprovação do tribunal.<br />
Já no ‘alto risco’ incluem-se os sistemas de IA que<br />
afetam negativamente a segurança<br />
ou os direitos fundamentais. São<br />
classificados em duas categorias:<br />
sistemas de IA utilizados em produtos<br />
abrangidos pela legislação<br />
da UE em matéria de segurança<br />
dos produtos (como brinquedos,<br />
aviação, automóveis, dispositivos<br />
médicos e elevadores); e<br />
sistemas de IA que se enquadram<br />
em oito áreas específicas<br />
que terão de ser registados<br />
numa base de dados da<br />
UE - identificação biométrica<br />
e categorização de pessoas<br />
singulares, gestão e funcionamento<br />
de infraestruturas<br />
críticas, educação<br />
e formação profissional,<br />
emprego, gestão dos<br />
trabalhadores e acesso ao trabalho independente,<br />
acesso e usufruto de serviços privados essenciais e de<br />
serviços e benefícios públicos, aplicação da lei, gestão<br />
da migração, do asilo e do controlo das fronteiras e assistência<br />
na interpretação jurídica e na aplicação da lei.<br />
Todos têm de ser avaliados antes de serem colocados<br />
no mercado e ao longo do seu ciclo de vida.<br />
Na categoria de ‘risco limitado’ estão todos os sistemas<br />
de IA que tenham de cumprir requisitos mínimos<br />
de transparência, para que os utilizadores tomem<br />
decisões informadas. Assim, devem ser alertados para<br />
o facto de estarem a interagir com a IA, o que inclui<br />
sistemas que geram ou manipulam conteúdos de imagem,<br />
áudio ou vídeo, como as deepfakes.<br />
Relativamente à IA generativa, os sistemas terão de<br />
cumprir requisitos de transparência, nomeadamente:<br />
revelar que o conteúdo foi gerado pela IA; conceber o<br />
modelo para evitar que este gere conteúdos ilegais, e<br />
publicar resumos dos dados protegidos por direitos de<br />
autor utilizados para a formação.<br />
Em paralelo, e porque se reconhece a necessidade de<br />
impulsionar a inovação nesta tecnologia, está prevista<br />
a criação de sandboxes regulatórias e medidas de<br />
apoio às startups. A proposta preconiza ainda a criação<br />
de um Comité Europeu da Inteligência Artificial, que<br />
supervisionará a aplicação do regulamento e<br />
garantirá uma aplicação<br />
uniforme em toda a UE.<br />
Este organismo emitirá<br />
pareceres e recomendações<br />
e fornecerá orientações<br />
às autoridades<br />
nacionais.<br />
Estão também previstas<br />
penalidades pesadas por<br />
não conformidade. Para<br />
as empresas, as coimas<br />
poderão atingir 30 milhões<br />
de euros ou 6% das<br />
receitas globais. Sendo<br />
que a apresentação de<br />
documentação falsa ou<br />
enganosa aos reguladores<br />
também pode<br />
resultar em coimas.•<br />
37
itech<br />
38<br />
GUILHERME DIAS:<br />
Banda sonora<br />
original<br />
Num caminho nada linear, Guilherme Dias sempre usou a<br />
tecnologia ao serviço das suas variadas paixões. Ao seu ritmo,<br />
com o tom certo, compõe o seu percurso, aproveitando o melhor<br />
que o progresso lhe oferece.<br />
Texto de Ana Sofia Rodrigues | Fotos de Vítor Gordo/Syncview<br />
Com formação em engenharia<br />
informática e uma carreira<br />
ligada à área das tecnologias<br />
de informação, o mais óbvio seria<br />
pensar que Guilherme Dias teria<br />
iniciado a sua ligação à tecnologia<br />
através de um primeiro computador<br />
que tivesse em casa. Mas, nada<br />
disso. Desde sempre que o atual<br />
Sales Director do SAS Portugal nunca<br />
quis ser só uma coisa. Para se sentir<br />
inteiro, precisou sempre de “experiências<br />
paralelas”, pelo que foi<br />
pela música que começou por ser<br />
conquistado.<br />
“Tinha uns 11 anos quando o meu<br />
pai comprou um sistema integrado,<br />
com rádio, leitor de cassetes, gira<br />
discos, amplificador e colunas. Foi<br />
o primeiro equipamento eletrónico<br />
que me recordo de ver lá em casa<br />
e causou um impacto incomparável<br />
na minha vida”. A partir daí, apaixonou-se<br />
pela música.<br />
Em Mangualde, além de estudante<br />
aplicado, era escuteiro, não perdia<br />
os jogos de futebol com os amigos e<br />
fazia... um programa de rádio. “Tive<br />
a sorte de se ter aberto o espectro<br />
radiofónico para as rádios locais”.<br />
Com mais quatro amigos, candidatou-se,<br />
“acharam-nos piada” e<br />
começaram a fazer um programa<br />
semanal, o Palácio da Aventura, ao<br />
sábado à noite, “em que só passávamos<br />
música”.<br />
Esta paixão inicial manteve-se e,<br />
hoje, Guilherme Dias não consegue<br />
“estar em casa, fazer uma viagem<br />
ou trabalhar sem música”. Não é<br />
de estranhar a escolha dos seus<br />
gadgets favoritos: “Os equipamentos<br />
associados à música fascinam-me:<br />
headphones, colunas, amplificadores...”,<br />
não excluindo, como é óbvio,<br />
o acesso imediato no seu telemóvel.<br />
Logo atrás do uso para chamadas e<br />
e-mail, a aplicação que mais utiliza<br />
no seu iPhone 12 é a plataforma<br />
Spotify. “É um espetáculo! Não só<br />
me permite ter acesso imediato à<br />
minha música, como a descoberta<br />
de novos artistas é maravilhosa”.<br />
Outro dos seus interesses surgiu<br />
também bastante cedo. No 9º ano<br />
de escolaridade, face à necessidade<br />
de escolher uma opção, inscreveuse<br />
numa disciplina nova na escola:<br />
Informática. “Definiu o meu caminho<br />
profissional. Percebi que era<br />
algo verdadeiramente transformador.<br />
Achei muita piada ao output<br />
que conseguia obter com poucas<br />
linhas de código”. Sem computador<br />
em casa, recorria aos dos amigos e<br />
da escola, onde se lembra de “fazer<br />
os primeiros programas em CO-<br />
BOL”. Com 18 anos, rumou a Lisboa<br />
e escolheu um curso ainda “em fase<br />
experimental”: Engenharia Informática.<br />
“No Instituto Superior Técnico,<br />
o que aprendi de mais importante<br />
foi a olhar para um problema, dissecá-lo<br />
e arranjar soluções. Ganhei<br />
essa matriz de pensamento, que me<br />
ajudou muito na vida profissional e<br />
pessoal”.<br />
Do Técnico saiu para a IBM, para<br />
a área de marketing e venda de<br />
computadores pessoais, passando<br />
depois por empresas de referência<br />
como Unisys, Novabase e CA Technologies.<br />
“Estive sempre mais ligado<br />
à área comercial. A última linha de<br />
código que escrevi foi no meu projeto<br />
de fim de curso”.<br />
A tecnologia sempre o acompanhou<br />
e explorou ao máximo todas as suas<br />
potencialidades. No dia a dia, usa<br />
o telemóvel, o iPad e o laptop. “A<br />
plataforma operativa do iPad ainda<br />
não é suficientemente ágil para<br />
substituir um laptop, mas há de<br />
chegar o dia em que me vou livrar<br />
deste terceiro equipamento”. Apologista<br />
de “usarmos o mínimo de<br />
dispositivos, até do ponto de vista<br />
ecológico, pois o custo de reciclagem<br />
é brutal”, aposta na economia<br />
circular. “No final do contrato do<br />
telemóvel, fico com ele, passo-o à<br />
minha mulher e depois fica para o<br />
nosso filho. Este aqui tem quatro<br />
anos e, enquanto não for vítima da<br />
obsolescência do sistema operativo,<br />
continuarei a usá-lo”. E termina, falando-nos<br />
de outro prazer tecnológico.<br />
“Sabe que ainda tenho o meu<br />
primeiro carro com 22 anos? Funciona<br />
e continuo a andar com ele todos<br />
os meses”. Quando começou a trabalhar,<br />
descobriu esta nova paixão<br />
pelos veículos todo-o-terreno. Fora<br />
de estrada, ficou a conhecer todo o<br />
país e a encantar-se com as “zonas<br />
fantásticas que Portugal tem”.<br />
Caminhos alternativos que sempre<br />
adorou explorar e que o levam, sem<br />
dúvida, mais longe.
Guilherme Dias prefere a plataforma iOS<br />
da Apple, pela facilidade de utilização e<br />
automação. “Só tenho de me preocupar<br />
em fazer as atualizações pedidas”.<br />
O iPad é o seu “caderno” e, nas<br />
reuniões, não o dispensa para tomar<br />
notas com o seu Apple Pencil.<br />
Ao longo do dia, perde a conta às vezes<br />
que usa o Spotify para ouvir as suas<br />
músicas preferidas e descobrir novos<br />
artistas.<br />
39
negocios<br />
40
MAIS TALENTO<br />
QUALIFICA<strong>DO</strong> EM<br />
CIBERSEGURANÇA<br />
Miguel Almeida, diretor-geral da Cisco Portugal,<br />
é perentório: ser alvo de um ciberataque é uma<br />
inevitabilidade no mundo atual. A questão que se<br />
coloca já não passa pela forma como se será atacado,<br />
mas sim quando acontecerá. Ainda vamos a tempo de<br />
alterar este malfadado destino?<br />
TEXTO DE MARIA JOÃO ALVES<br />
ILUSTRAÇÃO (Ab.) MIDJOURNEY FOTO DE VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/SYNCVIEW<br />
41
negocios<br />
42<br />
Dados revelados recentemente no relatório<br />
“Threat Landscape Report”, da empresa de serviços<br />
de cibersegurança S21sec, comprovam as<br />
piores suspeitas para Portugal: nos primeiros<br />
seis meses de 2023, 11 empresas portuguesas foram<br />
alvo de ciberataques graves. Uma realidade igualmente<br />
patente no “Relatório Cibersegurança em Portugal<br />
– Riscos & Conflitos”, do Centro Nacional de Cibersegurança<br />
(CNCS), que deixa claro que há uma perceção<br />
elevada de risco de cibersegurança em Portugal. Estará<br />
o país preparado para lidar com esta nova realidade?<br />
Temos profissionais munidos das competências necessárias<br />
para enfrentar este desafio hercúleo? O mercado<br />
parece dizer que não.<br />
O diretor-geral da Cisco Portugal, Miguel Almeida<br />
olha com preocupação para a escassez de recursos<br />
humanos na área da cibersegurança do nosso país. “A<br />
pandemia trouxe uma enorme mudança no paradigma<br />
da cibersegurança, em termos das suas ofertas e implementações,<br />
mas também levou a um salto exponencial<br />
de ataques”, contextualiza. “Hoje há uma maior<br />
preocupação com esta temática, que caminha lado a<br />
lado com uma enorme escassez de recursos humanos<br />
especializados em segurança.<br />
Os profissionais<br />
que temos são claramente<br />
insuficientes para as necessidades<br />
do mercado”,<br />
lamenta o responsável da<br />
Cisco. Com olhos postos<br />
no futuro, a empresa líder<br />
em Tecnologias de Informação<br />
a nível mundial<br />
acaba de lançar a Cisco<br />
Cybersecurity Academy,<br />
que promete ser uma<br />
enorme mais-valia para a<br />
criação de um pipeline de especialistas em cibersegurança<br />
no país.<br />
Ao longo de seis meses, 18 alunos terão acesso a um<br />
curriculum diversificado, elaborado com um ecossistema<br />
variado de organizações, incluindo universidades<br />
técnicas e parceiros-chave na área da cibersegurança.<br />
A formação será vital para preparar as certificações<br />
exigidas pelo mercado, como CCNA (Cisco Certified<br />
Networking Associate), CyberOps Associate & Security<br />
Networking com Cisco Firepower, entre outras. “Além<br />
do conhecimento adquirido em aula, é igualmente vital<br />
a partilha de conhecimentos dos players do mercado<br />
em contexto real, bem como a aprendizagem de soft<br />
“Os atuais profissionais<br />
de cibersegurança são<br />
claramente insuficientes<br />
para as necessidades do<br />
mercado português”<br />
skils ou a audição de TED talks dos melhores profissionais<br />
do setor”, elucida Miguel Almeida. “Tenho a certeza<br />
de que daremos ao mercado profissionais altamente<br />
capacitados para defender o país na área da cibersegurança”,<br />
afirma, com entusiasmo.<br />
AINDA HÁ UM LONGO CAMINHO A PERCORRER<br />
Se não restam dúvidas de que mais profissionais qualificados<br />
são uma necessidade urgente para o setor,<br />
outras questões de resolução mais complexa teimam<br />
em permanecer, na altura de resolver a complexa equação<br />
da cibersegurança em Portugal e no mundo. E se<br />
é verdade que estamos num caminho mais estratificado,<br />
com conhecimento cada vez mais especializado na<br />
área, a ideia de que esta realidade “só acontece aos outros”<br />
continua a persistir tanto na esfera empresarial e<br />
estatal, como na privada. “É vital criar awareness para<br />
este tema. É urgente quebrar esta ideia de ‘isso não é<br />
um problema para mim, não me afeta’, porque sabemos<br />
hoje que nada pode estar mais longe da verdade.<br />
Esta questão afetar-nos-á. Só não sabemos quando”,<br />
afirma Miguel Almeida, convictamente.<br />
E é essa inevitabilidade do ataque que parece estar<br />
a surtir efeito na crescente preocupação das empresas<br />
e organismos públicos em Portugal. O estudo “A visão<br />
das empresas portuguesas sobre os riscos”, lançado<br />
recentemente pela consultora<br />
Marsh Portugal,<br />
e que ouviu mais de 130<br />
líderes nacionais, assim o<br />
comprova: os ataques cibernéticos<br />
são a principal<br />
preocupação dos gestores<br />
(46%), superando a instabilidade<br />
política ou social<br />
(45%) e a inflação (39%).<br />
“A tal ideia de que só acontece<br />
aos outros vai adiando<br />
investimentos, por força<br />
de outras prioridades,<br />
mas a verdade é que se olharmos para as empresas de<br />
média dimensão há uma crescente preocupação com<br />
a segurança e isso é bom sinal”, diz Miguel Almeida.<br />
Duas razões parecem destacar-se para este acréscimo:<br />
a necessária proteção de dados de clientes, informação<br />
vital para qualquer empresa, e a maior consciência do<br />
tremendo impacto negativo que um simples ataque<br />
pode provocar no negócio.<br />
Os números parecem dar razão aos que olham para<br />
a cibersegurança como uma prioridade imediata. 2022<br />
ficou marcado como o ano com maior número de ataques<br />
cibernéticos alguma vez registados em Portugal,<br />
em vários setores da economia, banca, media, saúde e
transportes. Terão os organismos<br />
públicos, o tecido empresarial<br />
e o cidadão comum ferramentas<br />
para travar esta luta? O<br />
primeiro passo para este esforço<br />
conjunto foi dado recentemente<br />
pelo Estado, com o Secretário<br />
de Estado da Digitalização, Mário<br />
Campolargo, a anunciar que<br />
a Nova Estratégia Nacional de<br />
Segurança do Ciberespaço está<br />
em fase de elaboração. “A cooperação<br />
feita hoje entre o tecido<br />
empresarial, as entidades estatais<br />
– caso do Centro Nacional<br />
de Segurança ou do Ministério<br />
da Defesa –, e das universidades<br />
públicas, é a prova de que só<br />
com uma estratégia conjunta é<br />
possível cerrar fileiras contra os<br />
ataques que, sejamos realistas,<br />
farão cada vez mais parte da<br />
nossa realidade. Se a isto juntarmos<br />
especialistas habilitados e<br />
capacitados para salvaguardar<br />
as infraestruturas que são vitais<br />
para o país, temos uma enorme<br />
mais-valia para o bem comum”,<br />
conclui Miguel Almeida.•<br />
Miguel Almeida encara com entusiasmo o recente lançamento da Cisco Cibersecurity<br />
Academy. Está convicto que será uma enorme mais-valia para a formação de<br />
profissionais altamente capacitados para defender o país na área da cibersegurança<br />
NOVA OFERTA FORMATIVA<br />
A transformação digital, seus benefícios e vantagens,<br />
mas também os enormes desafios que<br />
acarreta, é uma realidade cada vez mais presente<br />
no tecido empresarial português. Empenhada<br />
na procura de soluções efetivas e duradoras em<br />
cibersegurança, a Competitive Intelligence & Information<br />
Warfare Association (CIIWA) criou uma<br />
formação para garantir talento especializado e<br />
qualificado nesta área.<br />
Com uma oferta formativa inovadora, o curso<br />
abordará o tema da cibersegurança numa<br />
perspetiva de gestão e centrada no fator humano.<br />
Para além da completa componente técnica<br />
lecionada por um corpo docente de elevada<br />
experiência e domínio técnico, os diferentes<br />
módulos abordam a cibersegurança numa visão<br />
integradora, reunindo boas práticas, profissionais<br />
experientes e um método ativo de formação.<br />
Associados APDC contam com preços especiais.<br />
•<br />
43
eportagem<br />
44
INOVAÇÃO,<br />
O ELO QUE LIGA<br />
AS CIDADES<br />
<strong>DO</strong> FUTURO<br />
Que cidades e territórios queremos para o futuro?<br />
Como podemos transformá-las em espaços mais<br />
habitáveis, sustentáveis e economicamente viáveis?<br />
Foi na senda de respostas a estas perguntas que<br />
foram conhecidos os vencedores da 2ª edição do<br />
Prémio Cidades & Territórios do Futuro, no Digital<br />
Business Congress 2023 da APDC.<br />
TEXTO DE MARIA JOÃO ALVES ILUSTRAÇÕES DE MIDJOURNEY<br />
Desenvolvidos nas categorias de mobilidade e logística; relacionamento com o cidadão<br />
e participação; desenvolvimento económico; sustentabilidade, economia circular e<br />
descarbonização; igualdade e inclusão e qualificações; e saúde e bem-estar, estes projetos<br />
são a prova de que é possível criar soluções inovadores para as nossas cidades,<br />
tendo sempre a sustentabilidade da economia, sociedade e ambiente como bússola. Vencedores<br />
da 2ª edição do Prémio Cidades & Territórios do Futuro, apresentaram as suas inovações<br />
no Digital with Purpose Global Summit 2023, que teve lugar em setembro no Altice<br />
Arena, em Lisboa. Fomos conhecer estas iniciativas ligadas por um elo comum: inovação.<br />
45
eportagem<br />
46<br />
MOBILIDADE E LOGÍSTICA<br />
Kiosk Guerin<br />
Do sofá à mobilidade<br />
Para o projeto Kiosk Guerin,<br />
os tempos em que alugar um<br />
carro à saída do aeroporto<br />
significava quase sempre<br />
longas horas numa fila<br />
interminável e uma valente<br />
dor de cabeça pertencem<br />
definitivamente ao passado.<br />
Hoje, basta uma ligação à<br />
internet, alguns cliques e um<br />
processo simples, e tudo fica<br />
resolvido numa questão<br />
de minutos.<br />
A ideia surgiu em 2020,<br />
quando a pandemia<br />
obrigou a Guerin a repensar<br />
o seu modelo de<br />
negócio num mercado<br />
altamente competitivo.<br />
Inovadores, encontraram<br />
uma solução que<br />
eleva a experiência<br />
oferecida: o processo<br />
burocrático imposto por<br />
lei foi simplificado para<br />
ser preenchido intuitivamente<br />
pelo cliente e<br />
a celeridade com que<br />
tudo fica resolvido tornou-<br />
-se realidade. “Durante anos,<br />
os clientes eram obrigados<br />
a ceder-nos longos minutos<br />
do seu precioso tempo em<br />
processos burocráticos penosos<br />
e datados. Hoje, o tempo<br />
é um ‘bem’ valioso e tudo<br />
fazemos para respeitar ao<br />
máximo essa noção”, garante<br />
Delfina Acácio, diretora-geral<br />
da Guérin.<br />
Agora, é a empresa que se<br />
adapta ao cliente, não o contrário.<br />
E isso significa que ele<br />
decide como, quando e onde<br />
quer agilizar o seu processo<br />
de aluguer. Seja no conforto<br />
do sofá, numa esplanada à<br />
beira-mar ou antes de entrar<br />
numa reunião. Basta ter<br />
acesso à internet, dispensar<br />
alguns minutos no preenchimento<br />
da documentação<br />
e estará pronto para seguir<br />
viagem.<br />
Para já, é possível encontrar<br />
11 Kiosks Guerin no aeroporto<br />
de Lisboa, lado a lado com<br />
outros três postos de atendimento<br />
mais tradicionais.<br />
Ligação à internet<br />
e alguns cliques.<br />
Estes projetos<br />
simplificam ao<br />
máximo processos<br />
até agora<br />
demorados e<br />
burocráticos<br />
RELACIONAMENTO COM O<br />
CIDADÃO E PARTICIPAÇÃO<br />
Mobicab<br />
Flexível<br />
O poder das ligações na<br />
comunidade<br />
Um projeto inclusivo, que<br />
promove a igualdade, é amigo<br />
do ambiente e dinamizador<br />
da economia local: assim<br />
é o Mobicab Flexível, uma iniciativa<br />
com cunho da Câmara<br />
Municipal de Castelo Branco<br />
e um exemplo de como<br />
as ligações (de mobilidade,<br />
sociais e económicas)<br />
são fundamentais<br />
em comunidade.<br />
A celebrar um ano de<br />
atividade, o Mobicab<br />
foi pensado para minimizar<br />
o isolamento<br />
de algumas franjas da<br />
população albicastrense,<br />
maioritariamente<br />
idosos, a viver em locais<br />
onde a rede pública de<br />
transportes não servia<br />
as suas reais necessidades.<br />
“A Mobicab veio trazer<br />
inclusão, igualdade,<br />
potenciar a economia local<br />
e ainda é amigo do ambiente”,<br />
afirma com entusiasmo<br />
Hélder Henriques, vice-presidente<br />
da Câmara Municipal<br />
de Castelo Branco.<br />
Para usar o Mobicab basta<br />
ligar para o número gratuito<br />
da câmara municipal<br />
(800 272 000) até às 15h00<br />
horas do dia anterior, requisitando<br />
o serviço. A partir<br />
daí a Mobicab trabalha em<br />
articulação com os operado-
es locais (táxis) e, na hora<br />
agendada, lá está o veículo<br />
que o deixará perto de um<br />
ponto da rede pública de<br />
transportes da cidade. Sem<br />
necessidade de papelada,<br />
aplicações complicadas ou<br />
custos extra associados.<br />
Os números do projeto<br />
confirmam o seu sucesso:<br />
lançado a 1 de julho de 2022,<br />
a Mobicab conta com mais<br />
de 1.000 pedidos feitos pelos<br />
munícipes. E isso traduziu-se<br />
num aumento significativo<br />
da utilização da rede pública<br />
de transportes, com mais 12<br />
mil viagens em relação ao<br />
período homologo.<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
ECONÓMICO<br />
Plataforma<br />
de Gestão<br />
Inteligente<br />
de Lisboa<br />
A informação ao serviço da<br />
cidade<br />
Com mais de 100 km² e perto<br />
de 548 mil habitantes, Lisboa<br />
tem uma complexa teia de<br />
infraestruturas, serviços e<br />
inúmeras comunidades.<br />
Criada em 2015 (mas totalmente<br />
operacional a partir<br />
de 2018), a Plataforma de<br />
Gestão Inteligente de Lisboa<br />
é uma poderosa ferramenta<br />
para garantir que tudo corre<br />
de feição na capital do país.<br />
Intuitiva, é uma engenhosa<br />
solução tecnológica para<br />
concentrar num único espaço<br />
toda a informação vital<br />
da cidade, até então diluída<br />
pelos diferentes serviços e<br />
infraestruturas da capital.<br />
Com alta capacidade de<br />
processamento, permite a<br />
monitorização, gestão operacional<br />
e realização de análise<br />
sobre os dados gerados por<br />
todo o ecossistema urbano.<br />
Diariamente, recebe e trata<br />
um grande volume de dados,<br />
provenientes de câmaras de<br />
vídeo, sensores, sistemas<br />
de informação da CML e de<br />
parceiros externos. “Não<br />
queremos substituir nenhum<br />
dos sistemas de informação<br />
já existentes – e com provas<br />
dadas –, mas sim beber desse<br />
conhecimento, para uma<br />
visão o mais fiel possível da<br />
cidade”, explica Célia Aguiar,<br />
diretora do Centro de Gestão<br />
e Inteligência Urbana de<br />
Lisboa.<br />
Um trabalho complexo –<br />
inclui mais de 250 sistemas e<br />
camadas de informação diferentes,<br />
integrando entidades<br />
como Epal, EDP, Turismo de<br />
Lisboa, Infraestruturas de<br />
Portugal, Carris, entre tantas<br />
outras – e que é partilhado<br />
com a comunidade através<br />
do Portal de Dados Abertos<br />
de Lisboa e da app Lisboa.24.<br />
Engenhosas<br />
soluções<br />
tecnológicas<br />
tornam as cidades<br />
verdadeiramente<br />
mais sustentáveis<br />
SUSTENTABILIDADE,<br />
ECONOMIA CIRCULAR<br />
E DESCARBONIZAÇÃO<br />
Recolha<br />
seletiva de<br />
biorresíduos<br />
em Cascais<br />
Verde é a cor da esperança<br />
A partir de 1 de janeiro de<br />
2024, é imperativo que todas<br />
as cidades europeias façam a<br />
recolha, separação e reaproveitamento<br />
dos restos<br />
orgânicos produzidos pelos<br />
seus munícipes. Estarão as<br />
cidades portuguesas prontas<br />
para alcançar estas metas?<br />
Cascais está certa de que<br />
cumprirá esta diretiva europeia,<br />
graças a um projeto<br />
inovador de recolha seletiva<br />
de biorresíduos que está a<br />
implementar na região. Mas<br />
desengane-se quem pensa<br />
que esta inovação se traduz<br />
em investimentos e gastos<br />
avultados para o município.<br />
Nada disso. Com apenas um<br />
pequeno saco de plástico<br />
verde e um leitor ótico o<br />
impacto é tremendo.<br />
Mas como funciona o projeto<br />
na prática? “Em poucas palavras,<br />
separa-se no contentor<br />
o que agora está completamente<br />
misturado!”, explica<br />
Luís Almeida, presidente do<br />
conselho de administração<br />
da Cascais Ambiente. Cada<br />
munícipe recebe gratuitamente<br />
um rolo de sacos<br />
verdes com até sete litros,<br />
que deverão usar para des-<br />
47
eportagem<br />
48<br />
cartar os restos de comida,<br />
colocando posteriormente<br />
o saco no contentor de lixo<br />
comum. É na unidade de<br />
tratamento de resíduos que<br />
a grande diferença acontece:<br />
um leitor ótico reconhece os<br />
sacos verdes por entre o lixo<br />
comum e encaminha-os para<br />
outra unidade, onde darão<br />
origem a biogás e diversos<br />
compostos.<br />
O projeto é já um enorme sucesso<br />
entre os cascalenses,<br />
superando em larga escala<br />
as expetativas iniciais. “A taxa<br />
de satisfação de quem aderiu<br />
a este projeto é de 96%, ou<br />
seja, as pessoas gostam realmente<br />
deste modelo. É-lhes<br />
prático, simples e conveniente.<br />
Temos diariamente pessoas<br />
a perguntar-nos quando<br />
é que o sistema chega às<br />
suas ruas, tal é a vontade de<br />
participar!”.<br />
IGUALDADE E INCLUSÃO<br />
E QUALIFICAÇÕES<br />
As Raparigas<br />
do Código<br />
Quebrar o ciclo<br />
da invisibilidade<br />
“Ainda há pouca visibilidade<br />
para as mulheres na ciência,<br />
em especial nas áreas das<br />
engenharias. Conta-se pelos<br />
dedos de uma mão o número<br />
de mulheres catedráticas<br />
nestas áreas nas nossas<br />
universidades”, quem o diz<br />
é Miriam Santos, a mentora<br />
do As Raparigas do Código,<br />
um projeto que promove a<br />
inclusão digital e a igualdade<br />
de género, através do ensino<br />
da programação a mulheres<br />
e raparigas em idade escolar.<br />
“De forma despretensiosa e<br />
tranquila quis quebrar este<br />
ciclo, desmistificando o papel<br />
da mulher na tecnologia”, conta<br />
Miriam, de sorriso no rosto.<br />
Criado em 2020, o projeto<br />
Raparigas do Código começou<br />
com uma iniciativa informal<br />
onde, pontualmente, se<br />
organizavam workshops de<br />
introdução à programação<br />
para mulheres. Volvidos três<br />
anos, a comunidade evoluiu<br />
para organização sem fins<br />
lucrativos (Associação Geração<br />
Ambiciosa) e conta com<br />
mais de 25 mentores, de<br />
áreas STEM, mas também de<br />
design, gestão de carreiras,<br />
entre outras. “Temos mentores<br />
de várias áreas, porque<br />
ninguém sabe tudo, e receber<br />
conhecimento de inúmeras<br />
e tão diferentes valências<br />
só pode ser uma mais-valia<br />
para estas mulheres”, diz,<br />
com orgulho Miriam.<br />
Apadrinhadas pela Amazon,<br />
Microsoft e Outsystems,<br />
entre outras grandes empresas,<br />
as Raparigas do Código<br />
apoiam e capacitam mulheres<br />
que procuram programas<br />
de qualificação ou requalificação<br />
das suas competências,<br />
bem como para o<br />
desenvolvimento de projetos<br />
pessoais de empreendedorismo.<br />
SAÚDE E BEM-ESTAR<br />
LISBOA 65+<br />
Um plano de saúde<br />
verdadeiramente inclusivo<br />
As condições de acesso ao<br />
Lisboa 65+ são simples:<br />
ter 65 ou mais anos e ser<br />
munícipe ou estar recenseado<br />
em Lisboa. Não é preciso<br />
preencher papeladas intermináveis,<br />
com pré-requisitos<br />
complexos ou informações<br />
pouco claras escritas em<br />
letras miudinhas. Basta fazer<br />
a inscrição na plataforma<br />
online do projeto ou nas farmácias<br />
aderentes de Lisboa,<br />
e pouco depois o idoso pode<br />
beneficiar de um plano de<br />
saúde gratuito, que inclui<br />
teleconsultas de medicina<br />
geral e familiar, assistência<br />
médica ao domicílio em caso<br />
de necessidade, e transporte<br />
em ambulância sempre que<br />
o médico ao domicílio<br />
assim determinar.<br />
Sendo acessível a todos os<br />
lisboetas com mais de 65<br />
anos, o plano Lisboa 65+<br />
tem especial atenção com os<br />
munícipes mais vulneráveis,<br />
ou seja, os beneficiários do<br />
complemento solidário para<br />
idosos (CSI). Em parceria com<br />
a Santa Casa da Misericórdia<br />
de Lisboa, estes munícipes<br />
têm acesso a um programa<br />
reforçado, que inclui médico<br />
assistente, oftalmologia,<br />
optometria e fornecimento<br />
de óculos graduados, materiais<br />
de incontinência urinária,<br />
higiene oral e medicina<br />
dentária e próteses.•
Navigate digital disruption<br />
with help from a global<br />
digital leader.<br />
dxc.com
portugal digital<br />
50
ENSAIAR<br />
O FUTURO<br />
No caminho da transição<br />
digital, são bem-vindos todos os<br />
instrumentos que potenciem a<br />
sua aceleração. A Rede Nacional<br />
de Test Beds é um deles e<br />
promete criar grande impacto na<br />
capacidade de desenvolvimento<br />
de novos produtos e serviços<br />
por parte das pequenas e médias<br />
empresas portuguesas.<br />
“<br />
TEXTO DE ANA SOFIA RODRIGUES FOTOS iSTOCK E CEDIDAS<br />
Campos de experimentação”. Foi assim que o<br />
primeiro-ministro traduziu e simplificou a expressão<br />
tecnológica “test beds”, aquando da<br />
apresentação oficial da sua Rede Nacional. De<br />
facto, expressa bem a ideia fundamental desta iniciativa,<br />
que prevê ser um empurrão para a transição digital de um<br />
número crescente de empresas. Test Beds são entidades<br />
que detêm capacidade instalada para o desenvolvimento<br />
de produtos e a prestação de serviços inovadores a PME e<br />
startups. Verdadeiros polos de inovação, recorrem a tecnologias<br />
como o 5G, a Internet das Coisas ou a Inteligência<br />
51
portugal digital<br />
A Rede Nacional de Test Beds foi oficialmente apresentada, no final do mês de março, na Universidade de Aveiro, numa cerimónia<br />
que contou com a presença do Presidente da República, do primeiro-ministro e de vários membros do Governo<br />
52<br />
Artificial, para apoiar as empresas no desenvolvimento<br />
de produtos e serviços-piloto, acelerando a sua produção,<br />
industrialização e comercialização. Através de<br />
laboratórios físicos ou virtuais, permitem às empresas<br />
mais pequenas e recentes testar a qualidade, a segurança,<br />
a escalabilidade e o desempenho dos seus produtos<br />
e serviços, num ambiente seguro e controlado, antes<br />
de serem lançados no mercado<br />
ou implementados<br />
em operações de grande<br />
escala. Segundo o Secretário<br />
de Estado da Digitalização<br />
e da Modernização<br />
Administrativa, Mário<br />
Campolargo, “o apoio que<br />
as equipas experientes das<br />
test beds irão conceder<br />
em matéria de capacidade<br />
tecnológica, equipamento<br />
e partilha de conhecimento<br />
vai permitir que as<br />
organizações mais pequenas ou em crescimento sejam<br />
munidas com novas capacidades e ferramentas para<br />
se adaptarem e inovarem num mercado cada vez mais<br />
competitivo e digital”.<br />
APOSTA ESTRATÉGICA<br />
Após a abertura de três concursos para desenvolvimento<br />
de projetos, a iniciativa Rede Nacional de Test<br />
Até ao terceiro trimestre<br />
de 2025, espera-se que<br />
sejam desenvolvidos 2.415<br />
produtos-piloto<br />
Beds, coordenada pela Estrutura de Missão Portugal<br />
Digital, com o apoio do IAPMEI, ANI, Compete, DGAE<br />
e Startup Portugal, recebeu um total de 54 candidaturas.<br />
Concluída a avaliação das propostas, consideraram-se<br />
30 elegíveis. Espera-se que os 30 consórcios<br />
selecionados desenvolvam, até ao terceiro trimestre<br />
de 2025, 2.415 produtos-piloto. Para tal, a Rede Nacional<br />
de Test Beds conta<br />
com um financiamento<br />
de 150 milhões de euros<br />
do Plano de Recuperação<br />
e Resiliência (<strong>PRR</strong>), um<br />
investimento que, segundo<br />
António Costa, “é uma<br />
pequena amostra do que é<br />
o potencial transformador<br />
do <strong>PRR</strong> para a economia<br />
portuguesa”.<br />
No final do mês de<br />
março, a Rede Nacional<br />
foi oficialmente apresentada<br />
na Universidade de Aveiro, numa cerimónia que<br />
contou com a presença do Presidente da República,<br />
primeiro-ministro, ministra do Estado e da Presidência,<br />
ministra de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,<br />
ministro da Economia e do Mar e do secretário de Estado<br />
da Digitalização e da Modernização Administrativa,<br />
revelando a importância estratégica desta iniciativa.
REDE DE ESPECIALISTAS<br />
A Rede Nacional de Test Beds pretende cobrir vários<br />
pontos do país e é constituída pelos mais recentes polos<br />
de inovação. Face à heterogeneidade dos setores e<br />
das áreas temáticas, as Test Beds foram agrupadas em<br />
três categorias: “Líder” – são operadas por empresas<br />
com práticas de inovação e têm de desenvolver, no mínimo,<br />
40 produtos-piloto;<br />
“Excelência” – caracterizam-se<br />
pela sua elevada<br />
capacidade de experimentação<br />
e testagem, tendo<br />
de desenvolver, no mínimo,<br />
60 produtos-piloto;<br />
e “Excelência Europa” –<br />
integradas em consórcios<br />
europeus, pertencem à<br />
rede europeia de Test and<br />
Experimentation Facilities<br />
(TEF) e devem desenvolver<br />
um mínimo de 100<br />
produtos-piloto.<br />
Pela complexidade e diversidade do apoio prestado,<br />
as Test Beds selecionadas apresentam-se sob a forma<br />
de consórcios de empresas, funcionando numa lógica<br />
colaborativa e oferecendo um conjunto de serviços<br />
muito completo.<br />
As test beds são polos<br />
de inovação, que irão<br />
acelerar a transição digital<br />
das pequenas e médias<br />
empresas portuguesas<br />
O APOIO CERTO<br />
O que se pode, então, esperar de uma test bed? Capacidade<br />
tecnológica, disponibilização de infraestruturas<br />
e equipamentos físicos ou virtuais/digitais, serviços<br />
de demonstração, experimentação, simulação e teste<br />
a produtos e serviços com forte componente digital e<br />
elevada maturidade tecnológica, mas também capacitação,<br />
partilha de conhecimento<br />
e de experiência<br />
e orientação para a viabilidade<br />
comercial dos produtos<br />
e serviços e para acelerar<br />
o seu ciclo de inovação.<br />
As PME e startups interessadas<br />
podem consultar,<br />
no site do IAPMEI, todas<br />
as test beds disponíveis,<br />
em função da área temática,<br />
do setor de atividade<br />
e da distribuição geográfica.<br />
O percurso que leva ao<br />
lançamento de um novo produto ou serviço comercialmente<br />
viável é longo e envolve muitos riscos, especialmente<br />
para aqueles que estão menos preparados, que<br />
são mais jovens ou mais pequenos. Neste caso, não é<br />
preciso avançarem sozinhos. Com o equipamento certo,<br />
na companhia certa, tudo se torna mais fácil, mais<br />
rápido e aumentam as probabilidades de sucesso. É<br />
essa a filosofia da Rede Nacional de Test Beds.•<br />
53
portugal digital<br />
TEST BEDS EM DISCURSO DIRETO<br />
Vodafone Boost Lab e NOS HUB 5G são dois dos consórcios que fazem parte da Rede Nacional<br />
de Test Beds. Conheça-os melhor, na voz de Paulino Corrêa, Chief Network Officer da Vodafone<br />
Portugal, e de Judite Reis, Diretora de Mobile Engineering Network & Services da NOS.<br />
VODAFONE BOOST LAB<br />
O que os levou a candidatarem-se à Rede<br />
Nacional de Test Beds?<br />
A apresentação da candidatura, liderada pela<br />
Vodafone e em colaboração com a Ericsson<br />
e Capgemini, partiu do entendimento de que<br />
as empresas que compõem este consórcio<br />
são as mais bem capacitadas para aproveitar<br />
e desenvolver soluções 5G e contribuir para a<br />
transformação digital do tecido económico do<br />
país, sobretudo numa altura de disrupção tecnológica<br />
trazida pelas novas gerações de redes<br />
de telecomunicações e que coincide, também,<br />
com as transições digital e verde preconizadas<br />
no <strong>PRR</strong>.<br />
Como foi constituído esse consórcio e quais<br />
os principais desafios que ultrapassaram<br />
nesse trabalho conjunto de candidatura?<br />
O facto de já termos trabalhado com estes<br />
parceiros no desenvolvimento de demonstrações<br />
reais das potencialidades do 5G no<br />
passado levou a que a constituição da equipa<br />
tenha sido bastante orgânica, sendo a óbvia<br />
e certa para esta tarefa. As diferentes valências<br />
das três empresas – seja a capacidade da<br />
Vodafone de chegar ao cliente final com uma<br />
oferta estruturada de produtos e um profundo<br />
conhecimento do potencial das redes<br />
para a digitalização; seja a Ericsson como<br />
uma empresa líder na área de tecnologias de<br />
telecomunicações e em especial no 5G; seja a<br />
Capgemini com a sua experiência e capacidade<br />
de desenvolver produtos não só na área de<br />
5G como noutras tecnologias de ponta – concorreram<br />
em complementaridade na preparação<br />
de uma candidatura sólida e completa. As<br />
sinergias e os interesses de chegar ao objetivo<br />
final eram tão claros para as três empresas<br />
que nos fizeram decidir entrar de forma conjunta<br />
no concurso.<br />
Qual o papel de cada empresa do consórcio?<br />
Cabe à Vodafone garantir a integração das<br />
soluções e o acesso à rede e a dinamização,<br />
promoção e scouting destes pilotos, ajudando<br />
no final à criação de um produto (ao invés de<br />
apenas uma tecnologia) que faça sentido comercialmente<br />
ao utilizador final. Por seu lado, a<br />
Ericsson suporta a cobertura de rádio e integração<br />
com a rede 5G, enquanto a Capgemini<br />
assegura, através de uma plataforma aberta,<br />
a disponibilização de micro-serviços e outras<br />
ferramentas tecnológicas que permitam às<br />
empresas aderentes desenvolver ou melhorar<br />
os seus serviços com funcionalidades disponibilizadas<br />
já off the shelf. É importante referir que<br />
54
os três membros do consórcio têm a mesma<br />
perspetiva, que é a de estarem abertos a construir<br />
a solução em conjunto com os parceiros<br />
com quem viermos a trabalhar.<br />
Que características destacaria, que o tornaram<br />
um projeto vencedor?<br />
A elevada complementaridade das valências<br />
que cada uma das partes aporta a este test lab e<br />
a possibilidade de ter essas capacidades disponíveis<br />
num único lugar, ao dispor da generalidade<br />
das empresas para que possam desenvolver<br />
produtos e serviços inovadores e disruptivos,<br />
é, no nosso entender, a vantagem mais diferenciadora<br />
deste projeto. Em paralelo, o Vodafone<br />
Boost Lab está aberto a ideias em vários<br />
estágios de desenvolvimento, desde as que só<br />
precisam de uma base estruturada para teste<br />
e scale-up, até às que pouco mais trazem do<br />
que um conjunto de componentes funcionais<br />
básicas, ou mesmo parcialmente especificadas,<br />
e para as quais os parceiros saberão mobilizar-<br />
-se para acelerar e potenciar o seu desenvolvimento.<br />
Em que áreas fundamentais pretendem centralizar<br />
o apoio do Vodafone Boost Lab?<br />
O compromisso do Vodafone Boost Lab é<br />
apoiar a chegada ao mercado de um conjunto<br />
diversificado de produtos e serviços-piloto, em<br />
áreas como as da Saúde Digital, Media e Entretenimento<br />
e Futuro da Mobilidade. Em todos<br />
estes domínios o papel do Vodafone Boost Lab<br />
será o de alavancar o conhecimento dos parceiros<br />
para transformar ideias e conceitos em<br />
soluções funcionais e converter soluções em<br />
produtos, com as integrações e a escala adequadas<br />
para que os use cases propostos façam<br />
a diferença.<br />
NOS HUB 5G<br />
O que os levou a candidatarem-se à Rede<br />
Nacional de Test Beds?<br />
A NOS acredita que o 5G é a tecnologia-chave<br />
para construir um futuro mais digital, inteligente,<br />
conectado, inclusivo e sustentável, absolutamente<br />
crítico para dar resposta aos desafios<br />
das empresas e das cidades portuguesas, pelo<br />
que assumiu o compromisso de acelerar a<br />
transformação digital do país através da última<br />
geração de rede móvel. Por isso, tem liderado<br />
o 5G desde o primeiro momento, tendo sido a<br />
operadora que mais espetro adquiriu. Também<br />
nesse sentido, tem investido milhões não só<br />
na expansão da rede móvel 5G, mas também<br />
na promoção da inovação alavancada por esta<br />
tecnologia. Por outro lado, a NOS tem apostado<br />
em investir numa série de atividades de I&D<br />
como fator de diferenciação e geração de valor,<br />
tendo sido uma das empresas portuguesas<br />
com maior investimento em I&D e pedido de<br />
patentes, em 2022. Numa lógica de inovação<br />
aberta, lançou o Fundo NOS 5G que apoia<br />
startups que possuam tecnologias e modelos de<br />
negócio que sejam potenciados e alavanquem<br />
a tecnologia 5G, e, no ano passado, criou o NOS<br />
HUB 5G enquanto espaço de cocriação e ideação<br />
para promover esta tecnologia.<br />
Com a Test Bed, as competências do NOS HUB<br />
5G foram expandidas no sentido de oferecer<br />
suporte técnico no desenvolvimento e teste de<br />
soluções, e infraestrutura suportada por apoio<br />
55
portugal digital<br />
técnico, tanto em laboratórios quanto em ambientes<br />
próximos da realidade. Adicionalmente,<br />
permitirá um foco na funcionalidade da solução<br />
e orientação para o mercado, disponibilizando<br />
condições mais orientadas à ideação e ao<br />
desenvolvimento de produto.<br />
A NOS candidatou-se no âmbito de um<br />
consórcio. Como foi constituído e quais os<br />
principais desafios que ultrapassaram nesse<br />
trabalho conjunto de candidatura?<br />
O consórcio foi criado tendo na base um conceito<br />
de multidisciplinaridade e complementaridade<br />
das várias competências necessárias<br />
para suportar as PME a que ele recorram. É<br />
constituído por um eixo transversal, liderado<br />
pela NOS, e que contará com a participação<br />
da Ericsson e do INESC TEC, que abarca toda a<br />
infraestrutura de suporte de conectividade e<br />
todos os serviços conexos à mesma, e por quatro<br />
eixos verticais que endereçarão a aplicação<br />
prática das tecnologias de conectividade de<br />
nova geração, em soluções concretas e orientadas<br />
a setores e áreas de negócio específicos,<br />
mais concretamente o setor da Indústria, o<br />
setor do Retalho, as soluções para a Saúde e<br />
ainda as Smart Cities e Sustentabilidade. Cada<br />
um desses eixos é dinamizado por entidades<br />
de referência: INESC TEC, a MC (SONAE), a Wells<br />
e o CEiiA.<br />
A base de complementaridade deste consórcio<br />
permitiu que fosse alinhado de forma fácil e<br />
eficiente, com elevada motivação, experiência e<br />
entendimento entre todas as entidades envolvidas.<br />
Todos estavam alinhados com o propósito<br />
da candidatura e com o seu papel no consórcio,<br />
tendo o processo de candidatura sido desenvolvido<br />
num ambiente de colaboração.<br />
Qual o papel de cada empresa do consórcio?<br />
Cada empresa desempenha um papel específico<br />
para alcançar os objetivos da candidatura.<br />
Contamos com quatro entidades copromotoras,<br />
mais concretamente a NOS Comunicações<br />
como empresa líder do consórcio, a NOS Technology<br />
e a MC e a Wells. Conta também com os<br />
parceiros-core INESC TEC e o CEiiA, assim como<br />
a Ericsson como parceiro de formação. Estas<br />
entidades colaboram ativamente no cumprimento<br />
da estratégia e objetivos, oferecendo<br />
condições e serviços da sua área de especialização<br />
para suporte ao teste de novos produtos.<br />
Contribuem também com condições de laboratório<br />
e testes em ambiente quase real altamente<br />
especializados.<br />
Que características destacaria, que o tornaram<br />
um projeto vencedor?<br />
Por um lado, a Test Bed assenta em tecnologias<br />
de comunicação e computação avançadas, alavancadas<br />
pelo 5G, que contribuirão de forma<br />
sólida para a transformação digital. As empresas<br />
participantes terão facilidade em selecionar<br />
e adotar as tecnologias de comunicação e<br />
tecnologias complementares mais adequadas<br />
para a criação dos seus produtos, de forma a<br />
alcançarem uma posição de vantagem competitiva.<br />
Por outro lado, o consórcio abrange<br />
setores variados, criteriosamente selecionados,<br />
promovendo uma multidisciplinaridade, versatilidade<br />
e abrangência nas condições de desenvolvimento<br />
e de testes.<br />
Os membros do consórcio têm elevado know<br />
-how, experiência e liderança nas respetivas<br />
áreas de atuação. Contribuem com conhecimentos<br />
especializados, recursos e experiência<br />
que alavancam a abordagem colaborativa do<br />
consórcio e consequentemente o seu valor no<br />
apoio ao desenvolvimento e testes dos novos<br />
produtos. A Test Bed ganha ainda especial<br />
dimensão e valência pela disponibilização de<br />
ambientes de teste em ambientes quase reais.<br />
É um fator de sucesso significativo, uma vez<br />
que permite que as empresas desenvolvam,<br />
testem e validem as suas soluções em cenários<br />
muito próximos da realidade, aumentando a<br />
confiança e eficácia dos produtos finais.<br />
Em que áreas fundamentais pretendem centralizar<br />
o apoio da vossa test bed?<br />
Temos como objetivo apoiar 165 pilotos 5G até<br />
2025, distribuídos em quatro domínios: Indústria,<br />
Retalho, Saúde, e Smart Cities & Sustentabilidade,<br />
demonstrando, de forma muito clara,<br />
a versatilidade e aplicabilidade das tecnologias<br />
5G na transformação digital nos diversos setores.•<br />
56
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apdc news<br />
JANTAR RESERVA<strong>DO</strong> – COM <strong>PEDRO</strong> TAVARES<br />
Trabalhar numa lógica<br />
diferenciada<br />
Criar serviços que respondam e antecipem necessidades de cidadãos e empresas é o objetivo da transformação<br />
da Justiça, numa lógica integrada, simples e eficiente. A revolução está em curso e o seu sucesso dependerá<br />
do nível de colaboração e do trabalho em ecossistema, seja dentro da AP seja com o setor privado.<br />
Texto de Isabel Travessa Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />
Neste evento, reservado a patrocinadores anuais da APDC e membros da Direção, foi debatido o tema da digitalização da Justiça e o<br />
papel que as empresas das TIC podem e devem desempenhar num processo que é tudo menos simples<br />
58<br />
Reportagem fotográfica:<br />
https://www.flickr.<br />
com/photos/apdc/<br />
sets/72177720311198002/<br />
with/53187933985/<br />
“TEMOS de ter capacidade de arriscar,<br />
inovar, fazer diferente, concretizar,<br />
envolver e trabalhar em conjunto<br />
com o setor privado. A APDC pode<br />
ajudar-nos a que isto seja possível”.<br />
A mensagem é do Secretário de<br />
Estado da Justiça, orador convidado<br />
de um jantar reservado da Associação,<br />
que decorreu a 14 de setembro,<br />
onde defendeu a importância de<br />
“aprender uns com os outros. É<br />
essencial estarmos perto das empresas<br />
e das organizações, para não<br />
ficarmos fechados numa redoma e<br />
sim trabalharmos em conjunto”.<br />
Para Pedro Tavares, a Administração<br />
Pública tem de “fazer o impossível<br />
e andar para a frente, numa lógica<br />
de pensar e trabalhar diferente”,<br />
disponibilizando uma experiência<br />
de serviço público que reflita as<br />
necessidades concretas de cidadãos<br />
e empresas. A aposta é pensar com<br />
inovação, “trabalhando numa lógica<br />
diferenciada”. O que admite ser um<br />
desafio, pois o processo “tem dores<br />
de crescimento, associadas a muito<br />
legacy ao nível tecnológico, dos pro-
cessos e da cultura”.<br />
Mas esta revolução já está a acontecer<br />
na Justiça e em várias frentes, até<br />
porque é um dos setores que beneficia<br />
dos fundos do <strong>PRR</strong>. O governante<br />
assegura que há já muitos serviços<br />
pensados e criados “numa lógica<br />
de prestação de serviço agregado e<br />
integrado”, dando exemplos como<br />
o Cartão do Cidadão ou a Empresa<br />
na Hora. Este é um caminho sem retorno,<br />
até porque os cidadãos estão<br />
muito mais exigentes.<br />
Por isso, o processo de digitalização<br />
da Justiça está a ser implementado<br />
tendo em conta várias áreas distintas,<br />
como o reforço da liderança<br />
estratégica, com a capacitação dos<br />
líderes, para que falem todos “a mesma<br />
língua e acrescentem valor”. Ou<br />
a aposta nas pessoas, imprimindo<br />
uma cultura de mudança dentro do<br />
setor e captando novo talento.<br />
A tecnologia, que não é “um fim<br />
em si mesma, mas um meio fulcral<br />
de conseguir endereçar” e garantir<br />
“boas soluções”, é também essencial.<br />
Através das soluções adotadas<br />
pretende-se garantir o aumento da<br />
eficiência, a gestão dos grandes volumes<br />
de informação e melhor serviço<br />
a cidadãos e empresas.<br />
Nos tribunais, o governante admite<br />
que a mudança é ainda mais complexa.<br />
Porque se há<br />
muito que tem de<br />
ser feito na simplificação<br />
legislativa,<br />
tudo tem a ver com<br />
“processos, muito<br />
focado em pessoas<br />
e tecnologia”. Uma<br />
das novidades<br />
é a adoção, até final do ano, de<br />
uma plataforma desenvolvida em<br />
Até final do ano, será<br />
adotada uma nova<br />
plataforma que vem<br />
substituir os sistemas<br />
CITIUS e SITAF<br />
“A execução do <strong>PRR</strong> não pode apenas ser financeira. Quando estamos a trabalhar numa<br />
reforma como esta, temos de ultrapassar esse paradigma. Tem de ser medida pelo<br />
impacto, pelo que tem de haver um conjunto de dimensões associadas à geração de<br />
impacto”, defende o Secretário de Estado da Justiça<br />
colaboração com os juízes, que vem<br />
substituir os sistemas CITIUS e SITAF.<br />
Assim como o Guia<br />
Prático da Justiça,<br />
que assenta em IA<br />
e usa técnicas de<br />
deep learning. Em<br />
termos de automatização<br />
de tarefas e<br />
interoperabilidade,<br />
já foram também<br />
dados muitos passos.<br />
E Pedro Tavares vai ainda mais<br />
longe na ambição, com o Programa<br />
Govtech da Justiça. O objetivo é desenvolver<br />
um conjunto de projetos<br />
de inovação em colaboração com<br />
universidades, centros de investigação<br />
e startups, para “criar o que<br />
serão as experiências do amanhã”.<br />
E remata com uma condição que<br />
considera ser essencial: a medição<br />
do impacto, o que vai muito além<br />
da execução financeira. Para isso, já<br />
tem uma parceria com o ISCTE e a<br />
Universidade de Coimbra.•<br />
59
apdc news<br />
JANTAR RESERVA<strong>DO</strong> APDC COM AXIANS | RICAR<strong>DO</strong> REIS<br />
“Ameaça de recessão<br />
não é culpa do BCE”<br />
Os juros na Europa só deverão voltar aos 2% no segundo trimestre de 2025. Até lá, há que controlar a inflação.<br />
Num cenário de novas relações entre blocos económicos, a China terá um papel determinante.<br />
Texto de Isabel Travessa Fotos cedidas<br />
“Voltar aos 2% (de juros na Europa) só será possível na segunda metade de 2025, mais de quatro anos depois do desvio inicial, o que<br />
me parece tarde”, antecipa Ricardo Reis<br />
60<br />
A AMEAÇA de recessão que paira<br />
sobre as economias europeias, que<br />
deverá ocorrer em 2024, não é culpa<br />
do BCE, mas sim da crise energética<br />
gerada pela invasão russa da<br />
Ucrânia e por todos os impactos<br />
subsequentes. Na sua origem estará<br />
também o pós-pandemia, porque<br />
a recuperação económica estava<br />
a acontecer de forma demasiado<br />
rápida. A perspetiva é do conhecido<br />
economista Ricardo Reis, que está<br />
otimista quanto ao recuo da inflação,<br />
mas não quanto aos juros.<br />
O professor na London School of<br />
Economics and Political Science,<br />
consultor académico do Banco de<br />
Inglaterra e da Reserva Federal de<br />
Richmond, e vencedor do prémio<br />
Yrjo Jahnsson, foi o orador convidado<br />
de um jantar reservado promovido<br />
pela APDC e pela Axians Portugal.<br />
Ricardo Reis, que também foi orador<br />
no 32º Digital Business Congress,<br />
desmistificou neste encontro preconceitos<br />
económicos e debateu<br />
estratégias de mudança.<br />
Assim, abordou temas como as tensões<br />
geopolíticas atuais, que condicionam<br />
cada vez mais a economia, a
quebra na confiança dos<br />
consumidores e empresas,<br />
a crise na habitação<br />
e a pressão salarial. E<br />
não tem dúvidas de que<br />
a posição geopolítica<br />
da China determinará o<br />
futuro das relações entre<br />
blocos económicos num<br />
cenário mundial.<br />
Relativamente à situação<br />
na Europa e perante<br />
cerca de 80 empresários<br />
que estiveram presentes,<br />
desmistificou a “culpa” do<br />
Banco Central Europeu<br />
na situação económica,<br />
com as suas sucessivas<br />
subidas das taxas diretoras para<br />
combater a alta inflação.<br />
Para Ricardo Reis, “quer queiramos<br />
quer não, esta será uma recessão<br />
ainda com origem no pós-pandemia.<br />
A recuperação foi demasiado rápida,<br />
a atuação do BCE demasiado lenta”,<br />
uma vez que só agiu em meados de<br />
2022, quando deveria ter começado<br />
a implementar medidas de contenção<br />
da inflação no<br />
último trimestre de<br />
2021.<br />
“Em 2024, quando<br />
a recessão chegar<br />
e for preciso baixar<br />
as taxas de juro, o<br />
BCE não o vai poder<br />
fazer pois ainda<br />
estará a combater<br />
a inflação, que cairá naturalmente.<br />
Voltar aos 2% só será possível na<br />
segunda metade de 2025, mais de<br />
quatro anos depois do desvio inicial,<br />
o que me parece tarde”, antecipa o<br />
economista.<br />
Numa conversa rica em múltiplos<br />
“A recuperação foi<br />
demasiado rápida<br />
e a atuação do BCE<br />
demasiado lenta”,<br />
considera o economista<br />
Ricardo Reis<br />
O economista com Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APC, Rogério<br />
Carapuça, Presidente da APDC, e Pedro Faustino, Managing Director da Axians Portugal<br />
insights económicos, considerou que<br />
a atual situação que se vive na Europa<br />
teve na sua origem uma sequência<br />
de fatores externos e sucessivos:<br />
pandemia, quebra nas cadeias logísticas,<br />
crise energética e guerra.<br />
O Presidente da APDC considerou<br />
este encontro “um<br />
grande contributo<br />
para perceber o<br />
contexto macroeconómico”.<br />
Para<br />
Rogério Carapuça,<br />
“vivemos tempos de<br />
profundas transformações<br />
e de<br />
enorme imprevisibilidade”,<br />
cenário em que “é essencial<br />
refletir sobre as políticas e estratégias<br />
que estão a ser implementadas,<br />
para garantir que temos empresas e<br />
economias mais resilientes e à ‘prova<br />
de futuro’ e maior qualidade de vida<br />
para os cidadãos”. Tendo um país<br />
“uma oportunidade sem precedentes<br />
de mudança estrutural”, todos temos<br />
de refletir para “tomar decisões<br />
esclarecidas, em colaboração e em<br />
ecossistema”.<br />
Também Pedro Faustino,<br />
Managing Director na Axians Portugal,<br />
considerou que “não há milagres<br />
e a situação estrutural da economia<br />
portuguesa só muda se o país criar<br />
mais riqueza. Isso faz-se nas empresas.<br />
São elas que têm um papel<br />
fundamental a desempenhar, com<br />
o seu espaço de influência e com o<br />
ativismo económico. Tem sido para<br />
nós, por isso, um enorme privilégio<br />
promover estes encontros-debate<br />
com reconhecidas personalidades do<br />
pensamento económico. Precisamos<br />
definitivamente de mais pragmatismo<br />
na decisão e de mais ambição e<br />
rigor na execução”, conclui o gestor.•<br />
61
62<br />
“O impacto social positivo, assente em modelos de negócio sustentáveis, pode ser lucrativo e escalável”, garante Inês Sequeira,<br />
fundadora e diretora da Casa do Impacto, uma lufada de ar fresco, desde 2015, na área do empreendedorismo social e ambiental
cidadania<br />
MUDAR<br />
O MUN<strong>DO</strong>,<br />
um projeto de cada vez<br />
Nem excessivamente sonhadores, nem incorrigíveis pessimistas. Na<br />
Casa do Impacto a vontade de fazer acontecer caminha lado a lado com<br />
o sonho de tornar o mundo melhor, através de projetos com impacto<br />
social positivo.<br />
TEXTO DE MARIA JOÃO ALVES FOTO VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/SYNCVIEW<br />
Mudar o mundo é para muitos uma utopia. Os<br />
pessimistas dirão que a lista de problemas que<br />
assola os nossos dias parece não ter fim e tentar<br />
resolvê-los é um trabalho inglório. Os mais<br />
positivos argumentarão que, com resiliência e idealismo<br />
q.b, o sonho pode tornar-se realidade. A Casa do<br />
Impacto é um meio termo perfeito entre as duas faces<br />
da moeda: são realistas com uma missão. “Queremos<br />
contribuir ativamente para a criação de impacto social<br />
positivo. Sabemos que não vamos resolver todos os<br />
problemas do mundo, mas diariamente fazemos um<br />
esforço ativo para o deixar um bocadinho melhor”, garante<br />
Inês Sequeira, fundadora e diretora desta Casa.<br />
Criada em 2015, em comunhão com os valores promovidos<br />
pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,<br />
a Casa do Impacto ambicionava ser uma lufada de ar<br />
fresco num setor onde a expressão “empreendedorismo<br />
social e ambiental” levantava mais dúvidas do que<br />
certezas. “Temos feito um longo caminho para desmistificar<br />
o impacto que o empreendedorismo social e ambiental<br />
pode ter. Só olhando com inovação para questões<br />
estruturais, encontraremos soluções duradouras a<br />
longo prazo”, declara Inês, com convicção.<br />
Empenhada em mostrar ao mundo que o impacto<br />
social positivo é o adubo para um futuro mais risonho,<br />
Inês é perentória ao afirmar que este caminho só fará<br />
sentido se partilhado pela sociedade civil e pelo tecido<br />
empresarial. “Os problemas sociais e ambientais que<br />
vivemos são demasiado grandes, complexos e afetam<br />
tantas pessoas que não faz sentido só algumas organizações<br />
se ocuparem deles. Enquanto cidadãos, mas<br />
também enquanto coletivo, temos de encontrar soluções<br />
rapidamente. Hoje, agora!”, afirma.<br />
Criar, estruturar e abraçar os projetos que chegam<br />
à Casa do Impacto, em sintonia com os Objetivos de<br />
Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização<br />
das Nações Unidas, é muito mais do que<br />
um mero formalismo para esta organização. É uma<br />
questão estruturante. Só assim lhes faz sentido. E isso<br />
passa também por uma sustentabilidade financeira,<br />
pouco considerada pelo setor. “Ainda há a ideia de que<br />
a resolução de problemas socais e ambientais não pode<br />
caminhar lado a lado com a saúde financeira. Como se<br />
só o bom coração fosse suficiente para guiar a pessoa<br />
na sua demanda, e o dinheiro não pudesse ser parte da<br />
equação”, lamenta. Iniciativas como Entrepreneurship<br />
Awards, RISE for Impact ou Fundo +PLUS, entre tantos outros<br />
projetos apadrinhados pela Casa do Impacto, são<br />
prova de que com a semente certa “o impacto social<br />
positivo, assente em modelos de negócios sustentáveis,<br />
pode ser lucrativo e escalável”, garante Inês.<br />
Hoje, o trabalho da Casa do Impacto já não é visto<br />
com a desconfiança de outrora e os números comprovam-no:<br />
desde 2015, mais de 70 startups ganharam ali<br />
vida e foram investidos mais de três milhões de euros<br />
em projetos ali desenvolvidos. As mentalidades estão a<br />
progredir, com um número crescente de players a procurarem<br />
ser agentes ativos de mudança. “Muitos dos<br />
programas da Casa do impacto já são hoje financiados<br />
por empresas, e isso é uma mudança de paradigma que<br />
me deixa muito orgulhosa”, confessa Inês, com notória<br />
satisfação. Afinal, o sonho era mesmo possível: o<br />
mundo pode ser um bocadinho melhor para todos.•<br />
63
ultimas<br />
PORTÁTEIS QUE IMPULSIONAM CRIATIVIDADE <strong>DO</strong>S UTILIZA<strong>DO</strong>RES<br />
SOLUÇÃO PIONEIRA DE INTERNET<br />
DE HIPERVELOCIDADE<br />
DISFRUTAR do entretenimento em casa, colaborar em tempo<br />
real no trabalho ou criar conteúdos em movimento é<br />
agora mais fácil, com os novos portáteis da gama Pavilion<br />
Plus, que passou ainda a ter, pela 1ª vez, um portátil de 16<br />
polegadas. A HP diz que os novos equipamentos - Pavilion<br />
Plus de 14 polegadas e Pavilion Plus de 16 polegadas -<br />
foram concebidos para impulsionar a criatividade sempre<br />
que a inspiração surgir. Foram concebidos tendo em conta<br />
o design e a sustentabilidade. E, para maior produtividade,<br />
foi também apresentado o novo Rato Bluetooth Programável<br />
HP 420/425. Os novos equipamentos dispõem de ferramentas<br />
intuitivas para comandar a sala virtual, incluindo<br />
uma câmara de 5 MP, um microfone de matriz dupla, e um<br />
obturador manual da câmara para maior tranquilidade nos<br />
dias “fora da câmara”. Inícios de sessão mais rápidos com<br />
a segurança acrescida do reconhecimento facial Windows<br />
Hello controlos de vídeo para uma melhor colaboração,<br />
através do HP Presence. Incluem os mais recentes processadores<br />
da Intel (modelos de 14 e 16 polegadas) e da AMD<br />
(apenas no modelo de 14 polegadas) para criar mais e<br />
mais depressa e descarregar conteúdos rapidamente com<br />
o Wi-Fi 6E.•<br />
64<br />
JÁ ESTÁ NO MERCA<strong>DO</strong> uma oferta de internet a 10 Gbps simétricos (download e upload),<br />
destinada aos segmentos de consumo e empresarial. Trata-se de uma solução pioneira<br />
de internet de hipervelocidade através de fibra, 10 vezes mais rápida do que as demais<br />
ofertas, lançada pela MEO, da Altice Portugal. Que garante que trouxe ao país “uma nova<br />
realidade tecnológica, com acesso a uma rede com velocidade, fiabilidade e estabilidade<br />
nunca alcançada”. Destina-se a famílias com diversos equipamentos conectados e a PME<br />
com necessidades de internet cada vez mais veloz, menor latência e maior fiabilidade, de<br />
forma a garantir a melhor experiência de serviço. Disponível em todas as capitais de distrito<br />
do país, vem responder a um contexto de crescente consumo de dados e necessidade<br />
de maior velocidade de acesso. Sob a umbrella Speed Edition, é materializada em vários<br />
novos pacotes.•
METRO TEM SISTEMA<br />
DE ACESSO MAIS AVANÇA<strong>DO</strong><br />
DA EUROPA<br />
JÁ É POSSÍVEL aos passageiros do Metropolitano de<br />
Lisboa aceder ao metro através do próprio telemóvel,<br />
cartão bancário ou smartwatch, sem necessidade de<br />
comprar previamente um bilhete ou cartão pré-pago.<br />
Este novo sistema de pagamento de última geração,<br />
mais inteligente, rápido e cómodo, foi possível através<br />
da aplicação da tecnologia universal de pagamento EMV<br />
(Europay-Mastercard-Visa), mantendo-se em paralelo<br />
os restantes modelos de pagamento existentes anteriormente.<br />
Com ele, a Indra converteu Lisboa numa das<br />
primeiras cidades da Europa com um sistema avançado.<br />
Este salto tecnológico implicou uma atualização do<br />
sistema de controlo de acessos com novos leitores para<br />
pagamento com cartão bancário físico ou cartão virtual,<br />
renovação do sistema de backoffice de bilhética, instalação<br />
do backoffice EMV e integração do ecossistema com<br />
a gateway de pagamentos financeiros. Visa e LittlePay<br />
foram parceiros.•<br />
CHAMADA 5G VIA SATÉLITE JÁ É UMA REALIDADE<br />
ACABA de ser concluída com êxito a primeira chamada de voz 5G através de conetividade por<br />
satélite. O ‘feito’, uma estreia mundial, foi realizado através de um smartphone 5G convencional,<br />
um Samsung Galaxy S22. A chamada decorreu entre Madrid e o no Maui, no Havai, zona sem<br />
ligação móvel de voz ou de dados, graças à parceria entre a Vodafone e a AST SpaceMobile. Foi<br />
ainda realizado um teste de download de<br />
dados, batendo-se o anterior recorde de<br />
transferência de dados de banda larga<br />
móvel via satélite, com um download rate<br />
de 14 Mbps. A experiência prova que as<br />
comunicações via satélite têm o potencial<br />
de conectar milhões de pessoas nas regiões<br />
mais remotas à internet, através de equipamentos<br />
móveis convencionais. Levando<br />
assim o acesso a milhões de pessoas,<br />
através da tecnologia espacial. A Vodafone<br />
espera que a infraestrutura terrestre da AST<br />
SpaceMobile em Espanha desempenhe um<br />
papel fundamental no estabelecimento de<br />
uma futura rede de satélites.•<br />
65
ultimas<br />
SOLUÇÃO DE ZAPPING CONQUISTA PATENTE NOS EUA<br />
UM SISTEMA inovador que usa os padrões de zapping<br />
dos utilizadores para melhorar a forma como estes mudam<br />
de canais de televisão nas suas boxes conquistou<br />
uma patente nos Estados Unidos. A solução, desenvolvida<br />
pela NOS, permite, com esta análise de padrões, fazer<br />
uma pré-sintonização do que será o “próximo canal”<br />
mais provável, aumentando a rapidez e melhorando a<br />
experiência do zapping. Sendo que toda a informação é<br />
anonimizada e confidencial. Para o operador, o projeto<br />
exemplifica a forma como a ciência de dados e a IA<br />
podem ajudar a melhorar performance dos produtos<br />
atuais e futuros. E diz estar a trabalhar em novas formar<br />
de usar as ferramentas tecnológicas para melhorar e<br />
criar produtos e serviços que vão ao encontro<br />
das necessidades dos clientes, desenvolvendo<br />
para isso um ecossistema<br />
inteligente.•<br />
PLATAFORMA MOSTRA<br />
COBERTURA DE REDES<br />
EM TEMPO REAL<br />
HÁ UM NOVO instrumento que permite aos portugueses<br />
conhecerem, em tempo real, a cobertura de redes<br />
de comunicações de todos os operadores no território<br />
nacional. Através dele, é possível avaliar a disponibilidade<br />
e qualidade dos serviços de comunicações e alertar para<br />
zonas onde haja necessidade de complementar a rede, o<br />
que ajudará na definição de políticas públicas para o setor.<br />
A plataforma GEO.Anacom, lançada pelo regulador das<br />
comunicações, em resultado de uma iniciativa legislativa<br />
conjunta das áreas governativas da Digitalização, da Coesão<br />
Territorial e das Infraestruturas, está já disponível em<br />
www.geo.anacom.pt e tem informação sobre as comunicações<br />
eletrónicas e as comunicações postais, fornecida pelos<br />
operadores nos termos da lei. Assume-se como um living<br />
atlas em constante evolução e uma ferramenta essencial<br />
para cidadãos e empresas.•<br />
66
Precisa<br />
de um sinal?<br />
O nosso<br />
é o mais<br />
forte<br />
Melhor<br />
internet móvel<br />
pela 3.ª vez<br />
consecutiva