Boletim_Warming_013
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 013 Novembro 2023
https://doi.org/10.6084/m9.figshare.24492532 Foto: Novais, S.
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 013 Novembro 2023
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração - Campos Rupestres e Serra do Cipó
Coordenação do PELD-CRSC:
Geraldo Wilson Fernandes (Coordenador)
Frederico de Siqueira Neves (Vice-coordenador)
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 013 Novembro 2023
Índice
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Editorial...............................................................................................
Disparidade de investimentos entre clima e conservação pode atrasar
resposta do planeta...............................................................................
O que dizem os insetos sobre onde vivem...............................................
Chegada da “Era do Fogo” põe em risco sobrevivência de espécies do
Cerrado..............................................................................................
O Paradoxo do Fogo e o Campo Rupestre.............................................
Peld-CRSC nos eventos:
3
4
6
8
10
6.1
PELD-CRSC na Conferência Mundial para a Restauração
Ecológica.................................................................................. 12
7.
A ciência que eu faço:
Dra. Tatiana Cornelissen..............................................................
14
8. Produção Científica Atualiazada do Peld-CRSC em 2023 (3º parte).......... 15
Você tem novidades ou informações científicas sobre o nosso campo rupestre?
Então compartilhe em nossos boletins, entre em contato escaneando ao lado.
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
Campo de Sempre-vivas na Serra do Cipó
Novembro 2023
Foto: Fernandes, G.W.
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
1. Editorial
A
13ª edição do boletim Warming
traz para o público resumos de
importantes contribuições para
a conservação da biodiversidade do
projeto de Pesquisas Ecológicas de
Longa Duração. O Peld-CRSC descreve
a ecologia de insetos que vivem no
alto das montanhas e da ecologia do
fogo da base até o topo das montanhas.
Além disso, apresentamos informações
sobre a participação da equipe
Peld-CRSC em um evento mundial
sobre restauração através de um dos
mais recentes Institutos Nacionais de
Ciência e Tecnologia (INCT), o Centro
de Conhecimento em Biodiversidade.
O Peld-CRSC está vinculado a diversos
projetos de pesquisas que
apoiam medidas mitigatórias das mudanças
climáticas, sobretudo quando
essas medidas estão vinculadas ao
aumento de investimentos na conservação
e recuperação da biodiversidade.
Um grupo de cientistas, a maioria
vinculada ao Peld-CRSC, reforçam
essa ideia em uma publicação recente
na prestigiada revista Science. Isso é
apresentado em nossa primeira matéria
desse volume.
O Peld-CRSC tem produzido uma
infinidade de novas informações sobre
a vida e monitoramento dos insetos
que vivem nos ambientes montanos. E
dessa vez traz resultados importantes
sobre a distribuição de formigas, vespas,
abelhas e borboletas que vivem
em ilhas florestais no topo das montanhas
da Serra do Cipó. Essa ideia
é apresentada em nossa segunda matéria.
Como sabemos, o fogo continua
assolando os campos, queimando veredas
e florestas e o Peld-CRSC tem
produzido muitos estudos sobre a relação
entre plantas e o fogo. Esta é
uma grande lacuna de conhecimento
que precisa ser preenchida. Em nossa
terceira e quarta matéria apresentamos
dois estudos que investigaram
essa estreita relação. A primeira delas
mostra o comportamento de rebrota
do barbatimão, após a passagem do
fogo. Essa espécie é uma pequena árvore
nativa presente no campo rupestre
e que possuiu longo histórico com
o fogo no Cerrado. O segundo estudo
mostra um paralelo entre algumas estruturas
das plantas que estão ligadas
à frequência das queimadas no alto
das montanhas.
A equipe Peld-CRSC continua engajada
em estreitar relações com grandes
instituições ao redor do mundo.
No quadro “Peld nos Eventos” trouxemos
um resumo do envolvimento da
nossa equipe em um importante evento
sobre restauração. Através do coordenador
do Peld-CRSC e do Centro
de Conhecimento em Biodiversidade,
apresentamos uma proposta de criação
das “Blue list” dos ecossistemas
brasileiros no II Congresso Mundial
de Restauração Ecológica (SER) em
Darwin na Austrália. Confira em nossa
penúltima matéria.
Por fim, mas não menos importante,
em nossa última matéria do boletim,
o quadro “A ciência que Eu Faço”,
trouxemos uma entrevista com umas
das mais importantes pesquisadoras
do Peld-CRSC, a cientista Dra. Tatiana
Cornelissen.
Esses são os destaques da nossa
edição 13. Boa leitura!
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
2. Disparidade de investimentos entre clima e conservação pode atrasar resposta do planeta
Vegetação de Campo Rupestre na Serra do Cipó (MG). Foto: Fernandes, G.W.
As mudanças climáticas podem acelerar
a perda de biodiversidade. A
perda de biodiversidade associada
a degradação do ecossistema prejudica a
capacidade do ecossistema a reabsorver o
carbono. Essa falha na reabsorção de carbono,
por sua vez, reflete na redução da
mitigação das mudanças climáticas. Isso é
o que alguns cientistas argumentam em uma
publicação na prestigiada revista Science:
“Hope for funding biodiversity efforts”.
Embora sinergicamente interligadas, mudanças
climáticas e biodiversidade, os tomadores
de decisão e o público dedicam mais
atenção às mudanças climáticas. Existe uma
grande disparidade entre os recursos alocados
para a mitigação das mudanças climáticas
e os alocados para a conservação e
restauração da biodiversidade. A União Europeia
(UE) gastou cerca de 201 bilhões de
Euros (mais de 1 trilhão de Reais) entre 2014
e 2020 na mitigação das mudanças climáticas
e planeja investir outros 118 bilhões de Euros
(mais de 624 bilhões de Reais) entre 2021 e
2027, uma média de quase 23 bilhões de Euros
(mais de 120 bilhões de Reais) por ano. Essa
soma excede em muito o valor gasto em biodiversidade
por toda a comunidade internacional,
estimado entre 4 e 10 bilhões de Dólares
por ano (cerca de 50 bilhões de Reais por ano).
Ao financiar os esforços de biodiversidade, bem
como as soluções para as mudanças climáticas,
as cooperações internacionais podem oferecer
uma resposta mais eficaz a ambos os desafios.
Recentemente, a comunidade internacional
tomou medidas para melhorar o financiamento
dos esforços para a conservação e restauração
da biodiversidade. Na Sétima Assembleia do
“Global Environment Facility” (Fundo Global
para o Meio Ambiente) em Vancouver, Cana-
dá, em 2023, 186 países concordaram em
criar o “Global Biodiversity Framework Fund”
(Fundo do Quadro Global de Biodiversidade)
para aumentar o investimento na restauração
e renovação da natureza. O Canadá
e o Reino Unido se comprometeram com
contribuições iniciais de 200 milhões de Dólares
canadenses (742 milhões de Reais) e 10
milhões de Libras (mais de 650 milhões de
Reais), respectivamente. O fundo promete
mobilizar recursos de fontes públicas, privadas
e filantrópicas, com foco na biodiversidade
e na sustentabilidade dos ecossistemas.
Esse fundo de biodiversidade permitirá o
investimento na proteção essencial dos ecossistemas
naturais, que também servirá como
uma forma economicamente eficaz de mitigar
as mudanças climáticas. Por exemplo, o
aumento de investimento para a conservação
de ecossistemas altamente biodiversos como
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o campo rupestre proporcionam importantes
benefícios climáticos ao assegurar serviços de
estoques de carbono e a reciclagem de água.
Embora o objetivo imediato seja proteger os
estoques de carbono existentes em ecossistemas
intactos, a vegetação terrestre global
pode sequestrar mais 13,7 Gigatoneladas de
carbono por ano se forem adotadas práticas
adicionais de gestão. Além disso, os animais
selvagens e suas funções no ecossistema são
componentes essenciais das soluções climáticas
naturais que podem sequestrar 6,5 Gigatoneladas
de carbono por ano.
A biodiversidade e a funções dos ecossistemas
devem ser incluídas nas respostas às
mudanças climáticas, inclusive nas discussões
sobre alocação de recursos durante a COP
Clima 28, que começa em 30 de novembro
deste ano, bem como na COP Biodiversidade
16 e na COP Clima 29, ambas programadas
para 2024. É imprescindível concentrar-
-se igualmente nessas questões para garantir
uma distribuição equilibrada dos recursos
econômicos, refletindo sua importância e impacto
equivalentes sobre a humanidade.
VEJA
Pereira, C.C. et al. 2023. Hope for funding
biodiversity efforts. Science 382 (6669): 383-384.
Pereira, C.C., et al. 2023. Esperança para os
esforços de financiamento da biodiversidade.
Amazônia Real, 01 de novembro de 2023.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Campos Rupestres
e Serra do Cipó, Prof.
Titular de Ecologia pela
UFMG e Membro Titular
da Academia Brasileira
de Ciências.
AUTORES
Cássio Cardoso Pereira
Doutorando em Ecologia,
Conservação e Manejo da
Vida Silvestre pela UFMG,
Centro de Síntese Ecológica
e Conservação (CSEC).
Daniel Negreiros
Biólogo, Mestre e Doutor
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do Centro
de Conhecimento em
Biodiversidade.
Walisson Kenedy Siqueira
Biólogo e Mestre em
Ciências Biológicas pela
Unimontes, Doutor em
Ecologia pela UFMG,
Bolsista do programa
PELD-CRSC.
Stephannie Fernandes
Graduada em Direito pela
Milton Campos, Mestre em
Ciências Ambientais e Políticas
pela Northern Arizona
University e Doutoranda em
Estudos Globais e Sociais
com ênfase em Geografia
pela Florida International
University.
Philip Martin Fearnside
Pesquisador titular do
Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia
(Inpa) e Membro Titular
da Academia Brasileira
de Ciências.
Como citar:
Pereira, C. C., Fernandes, G. W., Negreiros, D., Kenedy-Siqueira, W.,
Fernandes, S., Fearnside, P. M. 2023. 2. Disparidade de investimentos entre
clima e conservação pode atrasar resposta do planeta. In: Fernandes, G. W.,
Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W. Warming 13:4-5. https://doi.
org/10.6084/m9.figshare.24492532
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3. O que dizem os insetos sobre onde vivem
Ilha de vegetação no topo da montanha da Serra do Cipó, MG. Foto: Camarota, F.
Estudos que tentam entender como
as espécies ocorrem em ilhas tem
encantado os cientistas há muitos anos.
De fato, desde há milênios os cientistas
têm coletado animais e plantas em ilhas
oceânicas. Esses estudos serviram como
os primeiros passos para entendermos
aspectos da anatomia dos diferentes tipos de
organismos e da classificação dos seres vivos.
Nas regiões mais altas das montanhas
da Serra do Espinhaço existem várias ilhas,
mas de matas! Essas verdadeiras ilhas são
formadas por florestas com alta umidade, e o
seu conjunto formam um arquipélago florestal
cercado por campos. Essas ilhas, conhecidas
como capões de mata, não são fragmentos
de florestas que sobraram numa paisagem
transformada pelo homem. Elas são ilhas
naturais que já estão presentes nessas serras
muito antes da chegada do homem. Por
isso, elas têm contribuído bastante para a
formação da enorme biodiversidade dessas
montanhas, incorporando ainda mais
complexidade a um sistema incrível, antigo
e complexo de diferentes tipos de ambientes.
Estas florestas estão separadas entre si
pelo campo natural, que pode constituir uma
barreira para a passagem de animais entre
uma ilha e outra. Essa barreira pode ser maior
ou menor, dependendo do tipo de animal
que estamos considerando. Por exemplo,
animais maiores podem ter mais facilidade
em se movimentar entre as ilhas. Animais
voadores podem se locomover melhor e mais
rapidamente entre as diferentes ilhas.
Para entender o movimento das espécies
e quem são as espécies que habitam essas
ilhas na Serra do Cipó, nós estudamos insetos
de diferentes grupos em 11 ilhas. Essas ilhas
possuem diferentes tamanhos e formatos.
Escolhemos cinco grupos de insetos que
possuem diferenças marcantes na capacidade
de se locomover entre uma ilha e outra:
formigas, besouros rola-bosta, borboletas,
abelhas e vespas. Por exemplo, enquanto as
formigas só voam durante a reprodução e
raramente a longas distâncias, muitas das
espécies de borboletas podem voar vários
quilômetros em um mesmo dia.
Os resultados foram surpreendentes.
Embora tenhamos avaliado grupos de insetos
muito diferentes em relação à mobilidade e
história de vida, todos os insetos estudados
tiveram um padrão de distribuição muito
similar. As espécies que foram encontradas
nas ilhas menos diversas também foram
encontradas nas ilhas mais diversas.
Curiosamente, nem o tamanho e nem o tanto
que uma ilha está distante da sua vizinha mais
próxima, influenciou nos insetos estudados.
Claro que alguns tipos de insetos apresentam
mais variações do que outros, mas era
algo esperado já pelos pesquisadores. Por
exemplo, as formigas variaram bastante, e
enquanto algumas espécies se movimentavam
mais entre as ilhas, algumas espécies quase
não se deslocavam entre as diferentes ilhas
florestais. Em contraste, animais que voam
com mais frequência, como as vespas, eram
encontradas quase que em todas as ilhas.
Mas porque será que tipos tão diferentes
de insetos em sua história natural e forma
de deslocar não são influenciados pelo
tamanho e forma das ilhas e nem mesmo
pela distância de uma ilha a outra? A
hipótese inicial dos pesquisadores era que
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
Veja
Camarota F, Dáttilo, W., Silva, P. G. et al. 2023.
The spatial distribution of insect communities of a
mountaintop forest archipelago is not correlated with
landscape structure: A multitaxa approach. Insect
Conservation and Diversity. Early view.
AUTORES
Flavio Camarota
A esquerda, mapa do alto da montanha onde estão inseridas as 11 ilhas de vegetação investigadas.
A direita, em destaque, a representação do grupo de insetos estudados: formigas, besouros, vespas,
borboletas e abelhas. Mapa: Camarota, F.
Biólogo, Mestre e Doutor
em Ecologia pela
Univerisdade Federal de
Uberlândia (UFU), Pesquisador
da Rede Montanhas
e Bolsista do
Projeto Insecta.
as espécies mais ágeis se locomoverem
melhor do que aquelas menos ágeis! A
resposta pode ser mais simples do que parece
e remete ao começo do nosso texto: não
estamos falando de ilhas separadas entre si
por um oceano, mas sim por uma matriz de
gramíneas nativas, o campo. Estas gramíneas
podem conter elementos que favoreçam a
permanência de algumas espécies, mesmo
que temporariamente, como alimentos e
locais para construção de ninhos.
No entanto, ainda falta muito para
entendermos melhor como os diferentes
insetos usam as ilhas florestais nos topos das
montanhas da Cadeia do Espinhaço. Os futuros
estudos precisam entender melhor como é a vida
destes insetos nas diferentes ilhas, avaliando a
importância da competição entre espécies e
a presença de inimigos naturais. Apenas com
mais estudos poderemos entender melhor
este sistema de ilhas florestais que, apesar de
incrível, está cada vez mais ameaçado.
Frederico S Neves
Vice Coordenador do
Projeto PELD Serra do
Cipó, Prof. Titular de
Ecologia pela Universidade
Federal de Minas
Como citar:
Gerais (UFMG).
Camarota, F. Neves, F. S. 2023. O que dizem os insetos sobre onde
vivem. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira,
W. Warming 13:6-7. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.24492532
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4. Chegada da “Era do Fogo” põe em risco sobrevivência de espécies do Cerrado
Paisagem em processo de regeneração após a passagem do fogo. Foto: Fernandes, G.W.
Um dos maiores desafios da atualidade
é o aumento global de focos e intensidades
dos incêndios em todo o mundo.
Esse aumento tem levado a comunidade científica
a alertar a chegada de um novo período,
denominado piroceno, ou era do fogo. Nessa
perspectiva preocupante, pesquisadores da
Universidade Federal de Minas Gerais vêm
estudando o impacto desses incêndios em ambientes
mais propensos ao fogo, como o Cerrado,
para entender a capacidade de tolerância
das espécies vegetais.
Apesar das plantas do Cerrado apresentarem
características físicas favoráveis, como
casca grossa e a capacidade de rebrotar após
o fogo, a alta intensidade e frequência desses
eventos pode ameaçar a resistência dessas espécies
e causar a perda de biodiversidade em
grandes áreas.
Para melhor compreender os mecanismos
que influenciam a recuperação das espécies
vegetais, os pesquisadores avaliaram o Barbatimão,
espécie de planta que ocorre em todo o
Cerrado brasileiro. Popular por suas propriedades
medicinais, o barbatimão tem características
antibacterianas, anti-inflamatórias, antissépticas,
adstringentes e cicatrizantes.
O estudo avaliou a dinâmica de rebrota do
barbatimão após um incêndio intenso ocorrido
no período de estiagem em uma área de Cerrado;
e acompanhou sua recuperação por mais de
um ano. O fogo queimou o tronco e as folhas,
toda a parte da planta acima do solo. Nos primeiros
três meses após o fogo, os pesquisadores
observaram uma alta rebrota das plantas.
Elas se desenvolveram até seis meses após o
fogo, mas pouco depois começaram a morrer
devido a falta de nutrientes do solo.
A partir de modelos estatísticos, identificou-se
que as rebrotas, apesar de numerosas,
não tinham capacidade de se desenvolver e
morriam. Somente as rebrotas mais competitivas
e maiores conseguiram sobreviver. O
estudo faz um alerta sobre como a frequência
dos incêndios pode reduzir a persistência de
espécies até então tolerantes ao fogo, como
o barbatimão, e contribui para estratégias de
manejo do fogo.
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Veja
Ferreira, B. S. S., Oki, Y., Figueira, J. E. C.,
Aguilar, R., Baggio, V. A., & Fernandes, G.
W. (2023). Effects of fire on mortality and
resprouting patterns of Stryphnodendron
adstringens (Fabaceae). Brazilian Journal of
Botany, 46:705-714.
Fernandes, G.W., Pedroni, F., Sanchez, M.,
Scariot, A., Aguiar, L.M.S., Ferreira, G., Machado,
R., Ferreira M.E., Diniz, S., Pinheiro, R., Costa,
J.A.S. (2016) Cerrado: em busca de soluções
sustentáveis. Editora Vozes, Rio de Janeiro.
AUTORES
Yumi Oki
Bióloga, Mestre e Doutora
na área de Interações
ecológicas pela
USP, Pós-doc na área
de Ecologia de ecossistemas
pela UFMG.
Barbara S Ferreira
Bióloga pela Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG) e artista
Circense.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Campos Rupestres
e Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Brasileira de Ciências.
Em destaque um Barbatimão com frutos e ao fundo um dos tipos de rebrota dessa planta, alguns
meses após a passagem do fogo. Fotos: Fernandes, G.W. e Oki, Y.
Como citar:
Oki, Y., Ferreira, B.S., Fernandes, G. W. 2023. Chegada da “Era
do Fogo” põe em risco sobrevivência de espécies do Cerrado. In:
Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W.
Warming 13:8-9. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.24492532
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5. O Paradoxo do Fogo e o Campo Rupestre
Em destaque, ação de supressão aérea do fogo, ao fundo, devastação causada por queimada na Serra do Cipó. Fotos: Lamounier, A.
O
fogo é um distúrbio natural que há
milhões de anos desempenha um
papel fundamental na vida das plantas
em muitos ecossistemas ao redor do mundo.
clos de fogo varia consideravelmente, afetando
fatores como a facilidade com que podem pegar
fogo (flamabilidade) e suas estratégias para
sobreviver, crescer e reproduzir. Nos últimos 20
anos, houve um aumento significativo nas pesquisas
sobre como as plantas funcionam no ambiente,
principalmente pelo grupo de pesquisas
do PELD-CRSC. Assim, os estudos começaram a
entender qual o período que elas crescem, quando
florescem e produzem frutos, assim como suas
estratégias para persistir em ecossistemas cada
vez mais afetados por distúrbios causados pelo
ser humano, tais como mineração, o uso da terra
para a agropecuária e as queimadas.
Em um estudo inédito, nós exploramos a relação
entre o fogo e as características das plantas
O fogo foi, e ainda é, crucial para a formação
e manutenção de diversos biomas campestres e
arbustivos que conhecemos hoje, como o Cerrado
brasileiro e as savanas africanas. Contudo,
as queimadas antes naturais e concentradas
na estação chuvosa têm se tornado cada vez
mais frequentes e intensas, alavancadas pelas
mudanças climáticas que resultam em estações
secas prolongadas e alterações nos padrões de
queimadas em todo o globo, causando danos
econômicos e à saúde das pessoas.
A resposta das plantas a esses novos cido
campo rupestre. O aumento preocupante
na frequência de fogo no campo rupestre nos
últimos 40 anos nos motivou a investigar como
essa frequência crescente afeta as características
da vegetação, como a capacidade de
pegar fogo e a velocidade de crescimento das
plantas, bem como a forma como alocam seus
recursos.
O estudo concentrou-se em arbustos e
ervas e foi conduzido em três áreas com diferentes
frequências de incêndios: baixa, média
e alta. O estudo mediu várias características
destas plantas relacionadas à flamabilidade e
às estratégias de crescimento, como biomassa
das folhas e ramos, a espessura da casca, a
altura das plantas, entre outras.
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Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
O estudo mostrou que nas áreas com alta
frequência de queimadas, as plantas passaram
a crescer mais rapidamente, o que levou a uma
grande mudança na produção de folhas. Essas
alterações afetaram a maneira como as plantas
nos lugares com muitos incêndios acumulam
combustível, crescem e queimam. Nas áreas
em que as plantas tradicionalmente cresciam
lentamente, a maioria das espécies desenvolveram
folhas que queimam mais rapidamente,
mas geram menos calor durante a queima.
Essas mudanças nas características das
plantas, resultantes do aumento na frequência
de incêndios nas últimas décadas, tendem a
repercutir negativamente nas relações ecológicas
que existiam originalmente entre a
fauna e flora, influenciando na estabilidade
das comunidades de animais que se alimentam
de material vegetais – os herbívoros - e
com grande possibilidade de algumas espécies
dominarem o ambiente em detrimento de
outras, como um efeito em cascata. Portanto,
compreender como a frequência de incêndios
afeta as características das plantas é crucial
para o manejo de ecossistemas propensos a
incêndios e para a proteção da biodiversidade
nesses locais.
Veja
Lamounier Moura, A., Negreiros, D.,
& Fernandes, G. W. (2023). Effects of
Fire Frequency Regimes on Flammability
and Leaf Economics of Non-Graminoid
Vegetation. Fire 6:265.
Fernandes, G.W., Pedroni, F., Sanchez,
M., Scariot, A., Aguiar, L.M.S., Ferreira,
G., Machado, R., Ferreira M.E., Diniz, S.,
Pinheiro, R., Costa, J.A.S. (2016) Cerrado:
em busca de soluções sustentáveis. Editora
Vozes, Rio de Janeiro.
AUTORES
Arthur Lamounier Moura
Graduado em Ciências
Biológicas e Mestre
pela Universidade Federal
de Minas Gerais,
Doutorando pela
Auburn University nos
EUA.
Daniel Negreiros
Biólogo, Mestre e Doutor
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
Centro de Conhecimento
em Biodiversidade.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Campos Rupestres
e Serra do Cipó,
Prof. Titular de Ecologia
pela UFMG e Membro
Titular da Academia
Brasileira de Ciências.
Alguns dos atributos amostrados dos arbustos relacionados ao fogo (de cima para baixo, da esquerda para a
direita): Altura da planta, espessura da casca, tamanho da área da folha, dureza da folha, biomassa da folha,
biomassa do broto e número de ramificações. Ilustração: Kenedy-Siqueira, W.
Como citar:
Lamounier-Moura, A., Negreiros, D., Fernandes, G. W. 2023. O
paradoxo do fogo e o campo rupestre. In: Fernandes, G. W., Ramos
L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W. Warming 13:10-11. https://doi.
org/10.6084/m9.figshare.24492532
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
6. Peld nos eventos: PELD-CRSC na Conferência Mundial para a Restauração Ecológica
Apresentação dos palestrantes na X Conferência Mundial da Sociedade Internacional para a Restauração Ecológica (SER). Foto: Divulgação Centro de
Conhecimento em Biodiversidade.
Durante quatro dias a cidade de Darwin,
na Austrália, foi sede do maior encontro
sobre estratégias de restauração
aplicadas nos ecossistemas de todo o planeta,
a X Conferência Mundial da Sociedade Internacional
para a Restauração Ecológica (SER).
O Centro de Conhecimento em Biodiversidade,
no qual o Peld-CRSC também está integrado,
e diversas instituições brasileiras estiveram
presentes em sessões e debates, confirmando
o lugar do Brasil como potência mundial na
agenda.
Dentro da programação do evento, o coordenador
do Peld-CRSC Geraldo Wilson Fer-
nandes organizou um workshop para apresentar
o avanço das pesquisas sobre restauração dos
ecossistemas brasileiros. Na oportunidade, foi
lançada oficialmente uma chamada internacional
para a construção de uma coalizão em prol
do estabelecimento de ecossistemas de referência.
A iniciativa foi chamada de Blue List, que
vem de blueprint (do inglês, planta baixa), utilizada
para planejar a construção de edifícios.
Desse modo, as referências da Blue List serviriam
como guia para planejar atividades de restauração
ecológica. A coalizão chama a atenção
para que a largada seja dada em caráter urgente,
tendo em vista os esforços mundiais para a
restauração de enormes áreas em todos os continentes.
A ideia se conecta a um observatório
global com sede no Canadá que busca reunir
dados sobre a biodiversidade de todo o planeta.
O documento tem importância prática para
a manutenção da biodiversidade e dos serviços
ecossistêmicos, pelo fato de que em quase todo
o mundo as atividades de restauração priorizam
a utilização de poucas espécies de plantas. Uma
consequência disso é o que se conhece como
homogeneização biótica.
Março 2023
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
AUTORES
Raíra Saloméa
Jornalista e Mestre
em Comunicação
Científica pela UFMG,
Bolsista do Centro de
Conhecimento em Biodiversidade.
Tiago Shizen P Toma
Biólogo, Mestre e Doutor
em Ecologia pela
UFRS, Bolsista do programa
PPBio.
Como citar:
Apresentação dos palestrantes na X Conferência Mundial da Sociedade Internacional para a
Restauração Ecológica (SER). Foto: Divulgação Centro de Conhecimento em Biodiversidade.
Saloméa, R., Toma, T.S. 2023. PELD-CRSC na Conferência
Mundial para a Restauração Ecológica. In: Fernandes, G.
W., Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W. Warming
13:12-13. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.24492532
Março 2023 Página 13
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Uma Newsletter do PELD – CRSC
10. A ciência que eu faço: Dra. Tatiana Cornelissen
de vida me levou a caminhos muito interessantes,
antes inimagináveis!
EW: Porque você decidiu ser cientista? Porque
escolheu estudar Biologia?
A escolha de cursar Ciências Biológicas foi
uma opção muito consciente, mas a decisão de
ser cientista foi construída aos poucos. Sempre
gostei muito da ideia de poder ser curiosa, de
tentar responder perguntas. Ao ingressar no
Curso de Ciências Biológicas na UFMG, decidi
muito cedo que gostaria de fazer estágio em
um laboratório de pesquisa e muito rapidamente
me encantei pelo mundo dos insetos
galhadores. Com o auxílio do professor GW
Fernandes descobri que era a carreira que
queria seguir e atualmente atuo na grande
linha de pesquisa de Ecologia de Insetos.
Programa de Pós-Graduação em Ecologia da
UFMG com foco em projetos de pesquisa na
área de Ecologia de Insetos.
EW: Como você enxerga o futuro dessa área
que você trabalha?
Acredito que entender as interações
entre insetos e plantas é crucial para avaliar
como novos cenários de mudanças globais
impactarão os processos que ocorrem nas
comunidades e os serviços prestados pelos
ecossistemas. Acredito na importância da
ciência básica e da formação de recursos
humanos qualificados, curiosos, éticos, para
que possamos lidar com as alterações que
ocorrem nos ambientes terrestres e pensar em
soluções para os problemas. Enquanto isso,
espero inspirar meus filhos e outras pessoas
que atitudes pequenas e positivas têm um
EW: O que você faz hoje em dia? Explica um
pouco sobre sua linha de pesquisa.
impacto enorme na nossa forma de enxergar
o mundo e a ciência.
Dra. Tatiana Cornelissen.
Editorial Warming (EW): Conte um pouco
sobre você.
Sou Tati Cornelissen, bióloga, educadora,
pesquisadora e mãe do Lucca e Bruno. Me
formei em Ciências Biológicas na UFMG,
onde continuei o mestrado em Ecologia,
Conservação e Manejo de Vida Silvestre e
finalizei a carreira acadêmica com o doutorado
em Ecologia e Evolução na University of
South Florida. Sou muito feliz com a escolha
de estar atuando na área de Ecologia e sou
muito grata às pessoas que tornaram isso
possível! Hoje, aos 48 anos, me sinto feliz em
perceber que a escolha da minha trajetória
Após 10 anos na Universidade Federal de
São João del Rei, onde ingressei na carreira
acadêmica, atuei na área de Ecologia e
iniciei a orientação de alunos e a experiência
didática, me transferi para a UFMG em 2019,
para co-fundar o Centro de Síntese em Ecologia
e Conservação, juntamente com colegas
maravilhosos de trabalho e de vida. Atuo na
grande linha de pesquisa Ecologia de Insetos
ao longo de gradientes ambientais com foco
particular nas interações positivas e negativas
entre insetos e plantas e as características que
governam tais interações em sistemas tropicais.
Atualmente, avaliamos interações entre insetos
e plantas ao longo de gradientes altitudinais
(PELD/CRSC, Rede Montanhas MG), gradientes
urbanos (URBIOCH/União Européia)
e gradientes de mudanças no uso da terra e
gradientes latitudinais (TropHerb). Oriento no
AUTORES
Letícia Ramos
Bióloga e Mestre em
Ciências Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Campos Rupestres
e Serra do Cipó, Prof.
Titular de Ecologia pela
UFMG e Membro Titular
da Academia Brasileira
de Ciências.
Como citar:
Ramos, L., Fernandes, G.W. 2023. A ciência que eu faço:
Dra. Tatiana Cornelissen. In: Fernandes, G. W., Ramos L.,
Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W. Warming 13:14. https://
doi.org/110.6084/m9.figshare.24049941
Novembro 2023
Página 14
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Produção Científica Atualiazada do Peld-CRSC em 2023 (3º parte)
Foto: Caminha, D.
Boscolo, D. Nobrega, R., Ferreira, P.A. et al. 2023.
Atlantic flower-invertebrate interactions: A data set of
occurrence and frequency of floral visits. Ecology 104:
3900.
Lamounier, A., Negreiros, D., Fernandes, G.W. 2023.
Effects of fire frequency regimes on flammability and leaf
economics of non-graminoid vegetation. Fire 6: 265.
Costa, F.V., Viana-Junior, A.B., Aguilar, R., et al. 2023.
Biodiversity and elevation gradients: insights on sampling
biases across worldwide mountains. Journal of
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Silva, P.G., Salomão, P., González-Tokman, R. et al.
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diversity in dung beetles inhabiting forest fragments and
pastures in Los Tuxtlas Biosphere Reserve, Mexico. Revista
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Santos, F.M., Soares, M.P., Guimarães, G.F. et al. 2023.
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case study for integrating theory and field observations
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metacommunities over time in a mountaintop forest
archipelago. Journal of Biogeography, 50:2069–2083
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no Espinhaço G. Wilson Fernandes. Monografia
(Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas
Gerais). Orientador: Fernandes, G.W. Co-orientador:
Rezende, F.
Novembro 2023 2023 Página 15
Warming
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