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JORNAL 100PORCENTOAGRO - Ano 2 - Ed. n. 8 - Janeiro/Fevereiro, 2024

Chegamos ao Ano 2 do 100POR-CENTOAGRO e à oitava edição do nosso jornal, um dos produtos mais queridos pelo público. Já contabilizamos 8 mil exemplares produzidos e, na versão online, registramos cerca de 130 mil acessos. Estamos cada vez mais alinhados com os preceitos elementares da sustentabilidade, um dos pilares da atividade agrícola no mundo. Tanto isso é evidente que, nesta edição, as reportagens e análises convergem para biodiversidade, economia verde e energias renováveis. Biodiversidade e sustentabilidade são interdependentes, pois as espécies existentes no planeta interagem entre si e proporcionam todos os benefícios necessários à sobrevivência humana e das demais espécies. Essencial para a sustentabilidade da agricultura, cria um equilíbrio para a produção de alimentos, sendo igualmente importante para o crescimento sustentável. A fabricação de alimentos, medicamentos, cosméticos, vestimentas e até habitação depende da disponibilidade de recursos naturais e de matéria-prima. O agro está cada vez mais sustentável, aumentando a segurança alimentar a custos mais baixos, aprimorando o uso da terra e preservando o ambiente. Além disso, reduz a poluição graças a novas tecnologias e metodologias sustentáveis. Nesta edição, abordamos aspectos econômicos relacionados à reutilização de recursos, fontes renováveis de energia, integração lavoura-pecuária-floresta e utilização de microrganismos benéficos. É muito mais do que garantir a sobrevivência da atividade; é assegurar a sobrevivência humana. Aproveite a leitura!

Chegamos ao Ano 2 do 100POR-CENTOAGRO e à oitava edição do nosso jornal, um dos produtos mais queridos pelo público. Já contabilizamos 8 mil exemplares produzidos e, na versão online, registramos cerca de 130 mil acessos. Estamos cada vez mais alinhados com os preceitos elementares da sustentabilidade, um dos pilares da atividade agrícola no mundo. Tanto isso é evidente que, nesta edição, as reportagens e análises convergem para biodiversidade, economia verde e energias renováveis.

Biodiversidade e sustentabilidade são interdependentes, pois as espécies existentes no planeta interagem entre si e proporcionam todos os benefícios necessários à sobrevivência humana e das demais espécies. Essencial para a sustentabilidade da agricultura, cria um equilíbrio para a produção de alimentos, sendo igualmente importante para o crescimento sustentável. A fabricação de alimentos, medicamentos, cosméticos, vestimentas e até habitação depende da disponibilidade de recursos naturais e de matéria-prima.

O agro está cada vez mais sustentável, aumentando a segurança alimentar a custos mais baixos, aprimorando o uso da terra e preservando o ambiente. Além disso, reduz a poluição graças a novas tecnologias e metodologias sustentáveis.

Nesta edição, abordamos aspectos econômicos relacionados à reutilização de recursos, fontes renováveis de energia, integração lavoura-pecuária-floresta e utilização de microrganismos benéficos.

É muito mais do que garantir a sobrevivência da atividade; é assegurar a sobrevivência humana. Aproveite a leitura!

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Se é agro, a gente comunica — <strong>Ano</strong> 2 — <strong>Ed</strong>ição n. 8 — Minas Gerais — <strong>Janeiro</strong>/<strong>Fevereiro</strong>, <strong>2024</strong><br />

Investimento árabe de R$ 12 bi é história<br />

mirabolante sobre a macaúba ou dá pra acreditar?<br />

Em grande parte do Cerrado Mineiro, os mais céticos torcem o nariz<br />

diante do assunto, mas a macaúba, planta comum na região, está se destacando<br />

no agronegócio como potencial commodity brasileira. A empresa<br />

Acelen, controlada pelo fundo Mubadala Capital de Abu Dhabi, planeja<br />

investir R$ 12 bilhões para produzir 1 bilhão de litros de diesel verde<br />

e combustível sustentável de aviação anualmente na Bahia, utilizando a<br />

palmeira brasileira como matéria-prima. O ceticismo por aqui se explica<br />

pelas histórias mirabolantes em torno da macaúba, geralmente envolvendo<br />

estrangeiros com promessas faraônicas, mas, sem dúvida, o mundo<br />

vive um momento propício para investimentos em combustíveis verdes.<br />

Uma pesquisa de 2019 da Embrapa identificou a macaúba como a<br />

fonte mais promissora para a produção de óleo vegetal e biocombustíveis,<br />

parte de um estudo abrangente com mais de 10 anos. A planta é multipropósito,<br />

destacando-se na extração de óleos comestíveis, na indústria oleoquímica<br />

e na produção de biocombustíveis, além de gerar subprodutos<br />

como tortas alimentícias para animais e biomassa.Os estudos indicam que<br />

a macaúba pode produzir até oito toneladas de óleo por hectare, sendo<br />

oito vezes mais produtiva que a soja. Além dos benefícios econômicos, a<br />

macaúba pode impulsionar a economia local, gerando renda para comerciantes<br />

e trabalhadores envolvidos na colheita. A descoberta da Embrapa<br />

destaca a macaúba como uma alternativa promissora e importante commodity<br />

no cenário agroindustrial brasileiro.(Páginas 8, 9 e 10)<br />

Carbono negativo<br />

em cafezais do<br />

Cerrado Mineiro<br />

Estudo do Imaflora revelou que<br />

as plantações de café no Cerrado<br />

Mineiro estão gerando emissões<br />

negativas de carbono, equivalentes<br />

a um hectare por ano. Publicado no<br />

Global Coffee Report por Dominic<br />

Morrell, o estudo analisou 20<br />

propriedades associadas à Expocacer<br />

através da plataforma Carbon On<br />

Track, destacando um resultado<br />

notável de -0,2 tonelada de dióxido de<br />

carbono. Página 3<br />

Viveiro de Atitude<br />

é modelo de<br />

sustentabilidade<br />

Liderado por Régis Damásio<br />

Salles, o programa Viveiro de<br />

Atitude é realizado em Monte<br />

Carmelo (MG) e se dedica à<br />

proteção das matas, preservação<br />

da biodiversidade e dos recursos<br />

hídricos. Em uma entrevista<br />

exclusiva, Salles compartilhou os<br />

objetivos do Viveiro. A intenção<br />

de inspirar outras regiões do país a<br />

adotarem práticas sustentáveis no<br />

agronegócio. Página 4<br />

MG aposta em<br />

painéis solares com<br />

pastagens e HF<br />

Cemig e Epamig stá realizam<br />

experimento para avaliar a<br />

viabilidade de produzir energia solar<br />

em conjunto com cultivos agrícolas,<br />

incluindo pastagens e plantações de<br />

frutas, hortaliças e grãos nas regiões<br />

Norte e Centro-Oeste de Minas.<br />

O Projeto 671 busca a produção<br />

integrada de alimentos e energia<br />

elétrica em áreas agrícolas. O<br />

CPQD, de Campinas (SP) é parceiro<br />

da pesquisa. Página 6<br />

Marco Temporal e<br />

o cabo de guerra<br />

entre os 3 poderes<br />

Os povos indígenas têm o direito de<br />

ocupar apenas as terras que ocupavam<br />

ou já disputavam em 05/10/88 ou não?<br />

Numa clara disputa entre Executivo,<br />

Legislativo e Judiciário, este tema<br />

já transitou no STF, no Congresso<br />

Nacional e no Planalto, finalizando o<br />

ano de 2023 com vitória para o Poder<br />

Legislativo, definindo por meio de lei e<br />

derrubada de vetos, a favor do Marco<br />

Temporal. Em artigo exclusivo, Lúcio<br />

Freimann analisa. Página 14


DO EDITOR<br />

A pauta é<br />

sustentabilidade<br />

Chegamos ao <strong>Ano</strong> 2 do 100POR-<br />

CENTOAGRO e à oitava edição do<br />

nosso jornal, um dos produtos mais<br />

queridos pelo público. Já contabilizamos<br />

8 mil exemplares produzidos e,<br />

na versão online, registramos cerca<br />

de 130 mil acessos. Estamos cada vez<br />

mais alinhados com os preceitos elementares<br />

da sustentabilidade, um dos<br />

pilares da atividade agrícola no mundo.<br />

Tanto isso é evidente que, nesta<br />

edição, as reportagens e análises convergem<br />

para biodiversidade, economia<br />

verde e energias renováveis.<br />

Biodiversidade e sustentabilidade<br />

são interdependentes, pois as espécies<br />

existentes no planeta interagem<br />

entre si e proporcionam todos os<br />

benefícios necessários à sobrevivência<br />

humana e das demais espécies.<br />

Essencial para a sustentabilidade da<br />

agricultura, cria um equilíbrio para a<br />

produção de alimentos, sendo igualmente<br />

importante para o crescimento<br />

sustentável. A fabricação de alimentos,<br />

medicamentos, cosméticos,<br />

vestimentas e até habitação depende<br />

da disponibilidade de recursos naturais<br />

e de matéria-prima.<br />

O agro está cada vez mais sustentável,<br />

aumentando a segurança<br />

alimentar a custos mais baixos, aprimorando<br />

o uso da terra e preservando<br />

o ambiente. Além disso, reduz a<br />

poluição graças a novas tecnologias e<br />

metodologias sustentáveis.<br />

Nesta edição, abordamos aspectos<br />

econômicos relacionados à reutilização<br />

de recursos, fontes renováveis<br />

de energia, integração lavoura-pecuária-floresta<br />

e utilização de microrganismos<br />

benéficos.<br />

É muito mais do que garantir<br />

a sobrevivência da atividade; é assegurar<br />

a sobrevivência humana.<br />

Aproveite a leitura!<br />

ECONOMIA CIRCULAR<br />

Novo modelo de negócios na<br />

utilização dos recursos naturais<br />

Como contraponto à economia linear,<br />

muito se tem falado sobre economia<br />

circular, um conceito diferente de<br />

desenvolvimento econômico a partir<br />

de uma nova forma de utilizar os recursos<br />

naturais na produção, distribuição e<br />

comercialização, levando a novos modelos<br />

de negócios.<br />

Na economia linear, os recursos naturais<br />

são explorados basicamente como<br />

matéria-prima para gerar produtos comercializáveis,<br />

restando subprodutos<br />

ou resíduos. “Esses resíduos precisam<br />

ser tratados e dispostos no meio ambiente,<br />

levando a custos econômicos,<br />

ambientais e sociais”, explica André<br />

Holzhacker, cofundador e diretor do<br />

Grupo Regera, composto pela Reager<br />

Agroindústria e Regera, nova denominação<br />

da Auma Energia, em Patos de<br />

Minas (MG). “Quando a gente vai para<br />

a economia circular, o que é resíduo em<br />

uma produção vira matéria-prima para<br />

outra produção, gerando novos mercados.<br />

É um ciclo virtuoso infinito”.<br />

A mitigação de impactos ambientais<br />

é uma das grandes vantagens da<br />

economia circular, além dos ganhos<br />

econômicos e sociais. Um dos melhores<br />

exemplos de economia circular é o biogás,<br />

por ser uma composição de gases —<br />

metano e gás carbônico, principalmente<br />

–, proveniente da digestão anaeróbia de<br />

uma matéria orgânica. O que antes era<br />

descartado na natureza como passivo<br />

ambiental, como os rejeitos de frigoríficos,<br />

laticínios e indústria sucroalcooleira,<br />

por exemplo, é utilizado como matéria-<br />

-prima no processo de digestão. A partir<br />

do biogás é possível gerar energia elétrica<br />

e energia térmica, além de combustível<br />

veicular. “Temos o biometano, que é o<br />

biogás purificado, um gás natural renovável<br />

usado para substituir gasolina, etanol<br />

e diesel e o GLP [gás liquefeito de<br />

petróleo] nas indústrias”, diz André. Em<br />

outra fase, feita a separação do biogás,<br />

resta o CO2, que pode ser usado também<br />

como matéria-prima na indústria de<br />

alimentos.<br />

Segundo a Associação Brasileira do<br />

Biogás, o País ainda explora pouco desse<br />

enorme potencial. É possível substituir<br />

até 70% do diesel consumido atualmente<br />

e 35% da energia elétrica, mas sua<br />

utilização não passa de 4%. Há um mercado<br />

a ser mais explorado, e isso tem<br />

ocorrido em maior escala especialmente<br />

a partir de 2022, com o ingresso de novas<br />

empresas realizando grandes investimentos<br />

em transição energética, além<br />

do movimento pela descarbonização.<br />

O especialista cita um mapeamento<br />

realizado no Triângulo Mineiro e Alto<br />

Paranaíba indicando potencial superior<br />

a 800 mil metros cúbicos/dia de biometano<br />

a partir de resíduos gerados<br />

por frigoríficos, laticínios, cadeia sucroalcooleira,<br />

suínos, bovinos e aves.<br />

O potencial de investimento na região<br />

ultrapassa os R$ 2,5 bilhões, gerando<br />

receita anual de mais de R$ 800 milhões.<br />

“Estamos falando só do biometano,<br />

sem considerar o biofertilizante,<br />

gás carbônico e outras oportunidades”.<br />

Além do biogás, uma indústria de<br />

biodigestão produz digestado, resíduo<br />

estabilizado extremamente rico<br />

em nutrientes e em matéria orgânica<br />

estável, altamente valioso como fertilizante<br />

para a agricultura. Hoje, o Brasil<br />

importa mais de 80% dos fertilizantes<br />

para a sua atividade agrícola, um contrassenso,<br />

visto que 53% dos resíduos<br />

desperdiçados poderiam ser reaproveitados.<br />

André Holzhacker lembra que,<br />

quando se fala no Plano Nacional de<br />

Fertilizantes, existe a previsão de reduzir<br />

de 85% para 45% a importação de<br />

NPK — nitrogênio, fósforo potássio<br />

– até 2050, e uma das várias possibilidades<br />

é justamente a recuperação de<br />

nutrientes de resíduos para recolocá-<br />

-los na cadeia produtiva.<br />

A indústria do biogás pode ter<br />

como produto o crédito de carbono<br />

para ofertar a terceiros interessados<br />

em mitigar as emissões, tanto no mercado<br />

voluntário quanto no regulado.<br />

O Brasil possui o Renovabio, política<br />

nacional de biocombustíveis instituída<br />

em 2017 para expandir a produção de<br />

biocombustíveis, baseada na previsibilidade<br />

e na sustentabilidade ambiental,<br />

econômica e social. Recentemente, o<br />

Congresso Nacional aprovou o Mercado<br />

Regulado de Carbono, por enquanto<br />

sem a produção primária do agro, só<br />

agroindústria, o que, no entanto, tende<br />

a ser revertido no médio prazo.<br />

Um dos casos de sucesso é o da fazenda<br />

Recanto, em Patos de Minas. A<br />

Regera já participou de mais de 35 projetos<br />

de biogás e a projeção é investir pelo<br />

menos R$ 1,5 bilhão em plantas com<br />

parcerias de produtores de resíduos,<br />

nos próximos cinco anos. O ‘case’ emblemático<br />

é a primeira usina do Grupo<br />

Auma. “Lá, temos suinocultura, café e<br />

um complexo industrial. Com a usina<br />

de biogás, conseguimos tratar os dejetos<br />

da suinocultura e outros resíduos e produzir<br />

energia elétrica. São mais de 140<br />

mil quilowatts-hora/mês consumidos<br />

na própria fazenda com sobra de 30%<br />

que são exportados para a rede, gerando<br />

benefício para os colaboradores do<br />

grupo: todo colaborador pode consumir<br />

essa energia com desconto de 15% da<br />

tarifa em sua conta, consumindo energia<br />

renovável produzida pela empresa com<br />

custo menor”, relata André. A unidade<br />

também produz biometano equivalente<br />

a 9 mil litros de diesel, que abastece a<br />

frota interna de veículos, além de 600<br />

toneladas/mês de biofertilizante rico<br />

em fósforo, disponíveis no mercado<br />

através da Reager.<br />

Enquanto o mundo fala dos objetivos<br />

globais de redução de emissões, é estratégico<br />

aproveitar as oportunidades. Mercados como<br />

a Europa começam a taxar a intensidade de<br />

carbono, tornando mais difícil exportar produtos<br />

com alta intensidade. “Existem formas<br />

de gerar valor para o produto, para indústria,<br />

e o biogás é uma excelente alternativa”, conclui<br />

André Holzhacker.<br />

EXPEDIENTE<br />

Jornal <strong>100PORCENTOAGRO</strong>: <strong>Ano</strong> 2 — <strong>Ed</strong>ição n. 8 — Jan-Fev, <strong>2024</strong><br />

Produção gráfica: @100porcentogro — 100porcentoagro.com.br contato@100porcentoagro.com.br — +55 34 99915 5466<br />

DIRETORIA EXECUTIVA: Pauliane Oliveira (pauliane.oliveira@100porcentoagro.com.br) — Rodolfo de Souza (rodolfo.souza@100porcentoagro.com.br). CONSELHO<br />

EDITORIAL: Lucimar Silva (lucimar.silva@100porcentoagro.com.br), Pauliane Oliveira e Rodolfo de Souza — CONTEUDISTAS: Gilson Pereira (Cafeicultura), Hélio<br />

Lemes Costa Júnior (Ciência no Agro), Lucimar Silva (Agricultura Regenerativa), Lúcio Freimann (Gerais), Milena Caramori (Saneamento e Recursos Hídricos),<br />

Pauliane Oliveira (Gestão e Negócios) e Rodolfo de Souza (Comunicação e Marketing).<br />

ENTIDADES PARCEIRAS: Escola Cooperativa Terra Ideal e Associação Mineira dos Produtores de Alho (AMIPA). Opiniões emitidas em artigos não representam<br />

necessariamente o posicionamento do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />

2 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


MENOS CARBONO<br />

Estudo revela emissões negativas de carbono<br />

em plantações de café do Cerrado Mineiro<br />

As plantações de café na Região<br />

do Cerrado Mineiro têm produzido<br />

emissões negativas de carbono<br />

equivalentes a um hectare por ano,<br />

segundo estudo do Instituto de<br />

Manejo e Certificação Florestal<br />

e Agrícola (Imaflora). O feito foi<br />

tema de um artigo publicado recentemente<br />

por Dominic Morrell<br />

no Global Coffee Report. Lançada<br />

em 2011 pela Prime Creative<br />

Media, de Sidney, Austrália, a iniciativa<br />

se propõe a promover, fazer<br />

crescer e informar a indústria<br />

cafeeira global por meio de notícias<br />

relevantes e análises aprofundadas<br />

pelas vozes mais influentes<br />

do setor.<br />

No Cerrado Mineiro, o Imaflora<br />

avaliou 20 propriedades associadas<br />

à Expocacer (Cooperativa<br />

dos Cafeicultores do Cerrado) por<br />

meio da plataforma de serviços<br />

Carbon On Track. O programa<br />

do Imaflora visa elevar o perfil<br />

da agricultura brasileira de baixo<br />

carbono e da restauração florestal<br />

na agenda climática. Foi reportado<br />

um número negativo de emissões<br />

de -0,2 tonelada de dióxido de carbono.<br />

O fenômeno ocorre quando o<br />

sequestro de carbono do solo e<br />

das plantas é superior às emissões,<br />

e é verificado pela da análise das<br />

estimativas de emissões das explorações<br />

agrícolas.<br />

“Os cooperados da Expocacer<br />

Simão Pedro de Lima, Diretor Superintendente da Expocacer<br />

estão sempre na vanguarda<br />

da tecnologia,<br />

inovação e sustentabilidade.<br />

O balanço<br />

de carbono feito<br />

em parceria com o<br />

Imaflora comprova o<br />

trabalho sustentável<br />

que nossos cooperados<br />

têm feito há mais<br />

de 10 anos. Seguimos<br />

juntos, rumo a uma<br />

cafeicultura cada vez<br />

mais sustentável e<br />

de baixas emissões”,<br />

disse Farlla Gomes,<br />

Gerente Técnica em<br />

Sustentabilidade da<br />

Expocacer.<br />

O uso de fertilizantes<br />

orgânicos e resíduos vegetais<br />

nas fazendas analisadas foi<br />

decisivo na mitigação dos gases<br />

de efeito estufa, em detrimento da<br />

adição de nitrogênio químico.<br />

Outros aspectos também foram<br />

fundamentais, como o aumento<br />

da eficiência energética no<br />

uso das máquinas, com melhor<br />

rastreabilidade dos processos e<br />

tecnologia georreferenciada, levando<br />

à redução do consumo de<br />

diesel, com efeitos positivos na relação<br />

homem/máquina e na compactação<br />

do solo.<br />

A publicação de Dominic<br />

Morrell no Global Coffee Report,<br />

abre aspas para um dos coordenadores<br />

do projeto. “No setor cafeeiro,<br />

a ênfase permanece: fazendas<br />

com técnicas agrícolas mais sustentáveis<br />

​conseguem não apenas<br />

reduzir suas emissões, mas também<br />

contribuir para o sequestro<br />

de carbono”, afirma Alessandro<br />

Rodrigues, Coordenador de<br />

Projetos e Serviços da área de<br />

Clima e Emissões do Imaflora.<br />

A utilização de práticas sustentáveis<br />

​na região do Cerrado<br />

Mineiro auxilia na redução das<br />

emissões de gases de efeito estufa<br />

no longo prazo, pois elas tendem<br />

a melhorar a qualidade do solo e<br />

reduzir o uso de insumos externos<br />

como nitrogênio, fósforo e glifosato.<br />

“A nossa intenção é promover<br />

uma sustentabilidade real, em conformidade<br />

com o nosso propósito<br />

de inspirar, fomentar e nutrir uma<br />

cafeicultura de vanguarda atrelada<br />

ao impacto. Entendemos que o<br />

mercado está cada vez mais exigente<br />

e que nós temos que atender e<br />

acompanhar o movimento em prol<br />

de um meio ambiente saudável. Para<br />

tanto, possuímos um departamento<br />

exclusivo para assuntos ligados à<br />

sustentabilidade, onde orientamos<br />

e fomentamos as boas práticas<br />

também entre os cooperados”, afirma<br />

Simão Pedro de Lima, Diretor<br />

Superintendente da Expocacer.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 3


SUSTENTABILIDADE<br />

Cultivando o Futuro: Viveiro de Atitude<br />

e a sustentabilidade no Cerrado<br />

Viveiro de Atitude conta com mais de 100 espécies nativas e tem capacidade para produzir 60 mil<br />

mudas por ano (Foto: Divulgação)<br />

Enriquecer cada vez mais<br />

nossas matas, proteger a biodiversidade<br />

e os recursos hídricos<br />

são desafios que movem o<br />

Viveiro de Atitude em Monte<br />

Carmelo (MG), segundo Régis<br />

Damásio Salles, Produtor Rural,<br />

Administrador de Empresas<br />

e Diretor Superintendente da<br />

MonteCCer (Cooperativa dos<br />

Cafeicultores do Cerrado de<br />

Monte Carmelo). Em entrevista<br />

exclusiva para o podcast<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong>, Régis<br />

Salles falou sobre os propósitos<br />

do Viveiro de Atitude e revelou<br />

que uma das metas é inspirar outras<br />

regiões do país a desenvolverem<br />

ações de sustentabilidade<br />

no agronegócio.<br />

A iniciativa de criar o programa<br />

socioambiental surgiu<br />

em 2019 e envolve as fazendas<br />

cooperadas da MonteCCer, com<br />

o objetivo de desenvolver mudas<br />

nativas do Cerrado para serem<br />

plantadas nas áreas dos cooperados,<br />

em áreas vizinhas de não<br />

cooperados e na área urbana de<br />

Monte Carmelo.<br />

Ações sistematizadas e regulares<br />

de educação ambiental promovem<br />

a conservação do Bioma<br />

Cerrado. As mudas do Viveiro<br />

de Atitude são comercializadas<br />

por R$ 5 a unidade e estão disponíveis<br />

para toda a comunidade<br />

em qualquer quantidade. Toda a<br />

receita do programa é destinada<br />

à assistência social para crianças<br />

e idosos.<br />

Dessa forma, o programa<br />

busca gerar impacto e educar<br />

para conscientizar, agir para<br />

preservar. A intenção é conectar<br />

conscientização e atitude, agentes<br />

e ação, presente e futuro.<br />

O norte para as atividades<br />

do Viveiro de Atitude são os 17<br />

Objetivos de Desenvolvimento<br />

Sustentável das Nações Unidas.<br />

Estabelecidos em 2015, os ODS<br />

visam guiar a humanidade até<br />

2030 combatendo a pobreza e<br />

a fome, promovendo saúde e<br />

bem-estar, a educação de qualidade,<br />

o saneamento, preservando<br />

a água potável e estimulando<br />

o uso de energias limpas,<br />

dentre outros. O lema central é<br />

“Ninguém deixado para trás”.<br />

Régis Salles diz que o Viveiro de<br />

Atitude atende 11 dos 17 ODS.<br />

“Todo ano avaliamos objetivo<br />

por objetivo, o que realmente<br />

alcançamos e em que realmente<br />

avançamos”.<br />

O Diretor da MonteCCer<br />

destaca que o Viveiro de Atitude<br />

só existe devido ao apoio de 24<br />

entidades e instituições como<br />

universidades, clubes de serviço,<br />

Embrapa, Epamig, Emater, parceiros<br />

comerciais que compram<br />

café das fazendas dos cooperados:<br />

são 12 empresas multinacionais<br />

que aceitaram o convite de<br />

ingressar no programa há quatro<br />

anos ajudando a manter o programa.<br />

Régis Salles destaca, ainda,<br />

uma parceria iniciada há dois<br />

anos com o Sicoob Montecredi.<br />

Segundo ele, no início o grupo<br />

achava que plantar era o mais<br />

difícil, mas além de plantar era<br />

preciso fazer aquela mudinha<br />

se desenvolver, virar uma árvore.<br />

E aí entrou a assistência<br />

técnica para garantir orientação<br />

agronômica aos beneficiados<br />

pelo programa no sentido de<br />

acompanhar todo o processo e<br />

orientar qual é a espécie adequada<br />

para cada área. “É importante<br />

ter diversidade de espécies. Não<br />

é plantar o que gosta. Nós temos<br />

que imitar a natureza, para que<br />

o ato de florestar seja diverso,<br />

porque a natureza é assim”, explica.<br />

Graças ao convênio com o<br />

Sicoob Montecredi, foi possível<br />

contratar uma engenheira agrônoma<br />

para fazer esse importante<br />

papel. Ela vai até o campo,<br />

orienta, faz o projeto e monitora<br />

o plantio.<br />

A intenção é estender o programa<br />

para todos os municípios<br />

polo do Cerrado, pois o engajamento<br />

em rede é uma das estratégias<br />

para garantir a conservação<br />

desse bioma tão importante.<br />

Salles diz que isso já ocorre com<br />

a intercooperação com as cooperativas<br />

da Região do Cerrado<br />

Mineiro (RCM). A Expocacer,<br />

em Patrocínio, uma das mantenedoras<br />

do programa, compra<br />

mudas do Viveiro de Atitude e<br />

leva para plantar em Patrocínio.<br />

Outra mantenedora, a Coocacer,<br />

de Araguari, faz o mesmo. “Se<br />

uma cidade resolver montar seu<br />

Viveiro, nós daremos todo o<br />

apoio, todo o know-how, para<br />

isso acontecer. A atitude é fundamental<br />

para a conservação do<br />

Bioma Cerrado, essencial para o<br />

nosso futuro. E o futuro é hoje.<br />

Aliás, esse é o lema da nossa<br />

campanha 2023-<strong>2024</strong>: plante<br />

o futuro hoje!”, conclui Régis<br />

Salles.<br />

A estrutura possui mais de 100<br />

espécies nativas do Cerrado Mineiro.<br />

Sua capacidade de produção é de 60<br />

mil mudas por ano.<br />

A temporada de plantio do<br />

Viveiro de Atitude começou em<br />

novembro de 2023 e vai até março<br />

próximo.<br />

4 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


Vista parcial da sede do Viveiro de Atitude, na MontecCer, em Monte Carmelo: proposta do programa é gerar impacto e educar para<br />

conscientizar, agir para preservar (Foto: Divulgação)<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 5


ENERGIA LIMPA<br />

MG: painéis solares cobrem pastagens e<br />

plantações de frutas, grãos e hortaliças<br />

Produção de energia agrivoltaica em Piolenc, França (Foto: Antoine Bolcato/RPC)<br />

Um experimento da Cemig com<br />

a Epamig vai testar a viabilidade de<br />

produzir energia solar em consórcio<br />

com pastagens e plantações de<br />

frutas, hortaliças e grãos. Os locais<br />

escolhidos são o Norte e o Centro-<br />

Oeste de Minas Gerais.<br />

A Empresa de Pesquisa Agropecuária<br />

de Minas Gerais entregou<br />

mais uma etapa do Projeto 671.<br />

Tendo como meta a produção<br />

consorciada de alimentos e energia<br />

elétrica, o Projeto prevê a instalação<br />

e monitoramento de painéis solares<br />

fotovoltaicos em áreas de cultivos<br />

agrícolas. Também está envolvido<br />

no experimento o Centro de<br />

Pesquisa e Desenvolvimento em<br />

Telecomunicações (CPQD), de<br />

Campinas (SP).<br />

Comprovada a viabilidade e<br />

adaptabilidade do Projeto, os pesquisadores<br />

definiram as culturas a<br />

serem trabalhadas: melão, morango,<br />

feijão e alface. O local dos estudos<br />

será o Campo Experimental<br />

Mocambinho, em Jaíba, no Norte<br />

de Minas, no caso das frutas e<br />

da alface. Já nas pastagens para<br />

bovinos, os testes ocorrerão no<br />

Campo Experimental Santa Rita,<br />

em Prudente de Morais, na região<br />

Central.<br />

Aprovado em agosto de 2023,<br />

o Projeto 671 terá 30 meses de duração,<br />

envolvendo avaliações agronômicas<br />

de produtividade, ciclo de<br />

cada cultura, ocorrência de pragas<br />

e doenças, uso eficiente da água e<br />

qualidade final dos alimentos produzidos.<br />

Serão quatro módulos: áreas<br />

produtivas de aproximadamente<br />

300 a 400 metros quadrados cada<br />

por cultura, onde serão testadas<br />

placas fotovoltaicas monocristalinas<br />

e bifaciais – capazes de captar<br />

energia de ambos os lados, em<br />

sistemas “fixo” e “tracker”, com<br />

placas móveis que acompanham o<br />

movimento do sol ao longo do dia.<br />

A implantação das unidades-piloto<br />

do Projeto 671 é executada pela<br />

Fraunhofer-Gesellschaft, organização<br />

alemã de pesquisas aplicadas<br />

sem fins-lucrativos. O financiamento<br />

foi aprovado pela Secretaria de<br />

Desenvolvimento Econômico de<br />

Minas Gerais Fundação de Amparo<br />

à Pesquisa do estado (Fapemig).<br />

Polyanna Mara de Oliveira, pesquisadora<br />

da Epamig, explica que<br />

as culturas escolhidas são ideais<br />

porque têm ciclos rápidos de produção<br />

e representam muito bem as<br />

regiões onde os experimentos serão<br />

conduzidos. “Vamos comparar os<br />

índices de produção vegetal e animal<br />

de sistemas agrivoltaicos com<br />

aqueles de cultivos tradicionais,<br />

sem as placas fotovoltaicas, para<br />

avaliarmos com precisão os resultados<br />

dessa prática inovadora”.<br />

Os cálculos estruturais estão<br />

prontos e os pesquisadores dimensionaram<br />

o tamanho de cada<br />

unidade-piloto, a distância entre as<br />

fileiras e a posição de cada componente.<br />

Na fase seguinte, serão adquiridas<br />

as placas fotovoltaicas sementes,<br />

adubos e demais materiais<br />

necessários.<br />

Em meados de maio, os experimentos<br />

já deverão estar montados<br />

em campo.<br />

“É um projeto com grande impacto<br />

ambiental e social, pois ele<br />

vai criar protocolos para que o produtor<br />

não precise trocar a atividade<br />

agrícola pela produção de energia<br />

fotovoltaica, podendo conciliar ambas.<br />

Esperamos que Minas Gerais<br />

se torne um espelho para o restante<br />

do Brasil no que concerne à produção<br />

de energia agrivoltaica”, conclui<br />

Polyanna Mara.<br />

6 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


Associação Mineira dos Produtores de<br />

Alho: impulsionando a cadeia produtiva<br />

MÍRIAN DELGADO,<br />

DIRETORA CIENTÍFICA DA<br />

AMIPA<br />

Em 2017, surgiu em Minas<br />

Gerais uma associação comprometida<br />

com o fortalecimento da<br />

cadeia produtiva do alho. Essa entidade,<br />

composta por produtores<br />

rurais, tem como objetivo central<br />

impulsionar a produção, comercialização<br />

e desenvolvimento da<br />

cadeia produtiva do alho, introduzindo<br />

inovações e melhorias para<br />

os agricultores.<br />

A associação reúne indivíduos<br />

de diferentes áreas, incentivando a<br />

colaboração e a troca de conhecimentos.<br />

Através de reuniões, giros<br />

técnicos e eventos, os membros<br />

compartilham práticas agrícolas<br />

eficazes, técnicas de cultivo inovadoras<br />

e experiências que contribuem<br />

para o aprimoramento da<br />

produção de alho.<br />

Um dos pilares fundamentais<br />

da associação é oferecer capacitação<br />

aos produtores, proporcionando<br />

acesso a informações sobre o<br />

andamento de pesquisas, métodos<br />

de cultivo mais eficientes, manejo<br />

de pragas e doenças, uso racional<br />

de insumos, e técnicas de colheita<br />

e armazenamento que visam<br />

melhorar a qualidade do produto<br />

final.<br />

A busca por inovação e tecnologia<br />

é uma constante na associação.<br />

Ela incentiva a adoção de novas<br />

tecnologias no processo produtivo,<br />

como o uso de maquinários<br />

modernos, sistemas de irrigação<br />

ALHO BRASILEIRO<br />

eficientes e a implementação de<br />

técnicas de automação para otimizar<br />

a produção e reduzir custos.<br />

Apesar dos esforços, a associação<br />

enfrenta desafios. No entanto,<br />

mantém uma perspectiva<br />

otimista, buscando soluções coletivas<br />

para superar tais obstáculos.<br />

Realizar ações técnicas para o<br />

setor é crucial por diversos motivos.<br />

Primeiramente, essas ações<br />

ajudam a potencializar a produtividade,<br />

possibilitando colheitas mais<br />

abundantes e de melhor qualidade.<br />

Além disso, técnicas agrícolas aprimoradas<br />

permitem o uso mais eficiente<br />

dos recursos naturais, como<br />

água e solo, contribuindo para a<br />

sustentabilidade ambiental. Essas<br />

práticas também podem reduzir<br />

os riscos de perdas devido a doenças,<br />

pragas e condições climáticas<br />

adversas, proporcionando maior<br />

segurança alimentar. Ademais,<br />

ao implementar métodos técnicos<br />

modernos, a agricultura pode<br />

se tornar mais lucrativa para os<br />

agricultores, ajudando a impulsionar<br />

a economia rural e a garantir<br />

a continuidade do setor agrícola.<br />

A Associação dos Produtores de<br />

Alho de Minas Gerais desempenha<br />

um papel crucial no desenvolvimento<br />

e fortalecimento da<br />

cadeia produtiva do alho no estado.<br />

Ao unir esforços, promover a<br />

troca de conhecimentos e buscar<br />

inovações, a associação visa não<br />

apenas o crescimento econômico<br />

dos produtores, mas também o<br />

desenvolvimento sustentável da<br />

região, consolidando-se como um<br />

exemplo de cooperação e progresso<br />

no setor agrícola.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 7


MATÉRIA DE CAPA<br />

R$ 12 bi: árabes anunciam empreendimento de co<br />

verde na Bahia usando planta comum no Alto Par<br />

Macaúba ocorre em todo o território brasileiro, mas é mais comum no Pará, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do<br />

Sul, Tocantins e Rio de <strong>Janeiro</strong>, principalmente na tranSsição entre o Cerrado e a Mata Atlântica (Foto: P H Souza/100Porcentoagro)<br />

Um projeto de R$ 12 bilhões,<br />

ainda em negociação, deverá<br />

produzir biocombustível a partir<br />

da macaúba, em uma refinaria<br />

na Bahia. Após a decisão, a<br />

ser anunciada no máximo em<br />

seis meses, o empreendimento<br />

contará com 200 mil hectares<br />

da palmeira nativa do Brasil<br />

plantada em áreas degradadas.<br />

À frente das articulações está a<br />

Acelen, empresa controlada pelo<br />

fundo Mubadala Capital, de Abu<br />

Dhabi. A meta é alta: produzir 1<br />

bilhão de litros de diesel verde<br />

e combustível sustentável para<br />

aviação (SAF), por ano.<br />

O projeto considera construir<br />

uma refinaria verde onde hoje<br />

estão as instalações da Refinaria<br />

Mataripe, que era da Petrobras<br />

e foi vendida à Acelen. Em setembro<br />

de 2023, Petrobras e<br />

Mubadala assinaram um memorando<br />

de entendimento para<br />

uma possível participação da<br />

estatal brasileira no projeto. A<br />

refinaria de Mataripe pertencia à<br />

estatal e foi privatizada em 2019.<br />

O plantio da macaúba deverá se<br />

estender por áreas degradadas<br />

entre a Bahia e o Norte de Minas<br />

Gerais.<br />

As duas frentes correm em<br />

paralelo, de acordo com Luiz<br />

Mendonça, CEO da Acelen. A<br />

empresa atuará no aproveitamento<br />

do potencial econômico<br />

da macaúba em toda a sua cadeia<br />

produtiva por meio de um centro<br />

de tecnologia a ser implantado<br />

em Montes Claros (MG),<br />

onde haverá também um banco<br />

de viveiros. Em seguida, serão<br />

implantadas fazendas-piloto<br />

com foco no pequeno produtor.<br />

Simultaneamente, uma unidade<br />

produtiva começará a ser<br />

construída na Bahia. A Acelen<br />

explica que tanto o diesel verde<br />

quanto o SAF têm potencial<br />

para substituir seus equivalentes<br />

fósseis sem a necessidade de<br />

adaptar motores, com apenas<br />

20% da pegada de carbono.<br />

A empresa projeta para o final<br />

de 2026 o início da produção<br />

industrial tendo o óleo de soja<br />

como insumo, na primeira fase,<br />

devido ao fato de a macaúba demorar<br />

cinco anos para dar frutos.<br />

A ideia é realizar a transição<br />

de forma gradual.<br />

Como o Brasil vem se tornando<br />

cada vez mais competitivo na<br />

agricultura e diante do potencial<br />

de crescimento do mercado de<br />

combustíveis verdes, o empreendimento<br />

poderá ter quatro fases<br />

adicionais, do mesmo tamanho.<br />

Ou seja, outras frentes poderão<br />

ser abertas em diferentes<br />

regiões do País, pois a demanda<br />

por SAF e diesel renovável<br />

é quase ilimitada. E aí entra o<br />

potencial do Alto Paranaíba e,<br />

particularmente, da região de<br />

São Gotardo, embora exista um<br />

grande ceticismo entre os mais<br />

conservadores, pois já houve<br />

acontecimentos desabonadores<br />

sobre o tema, no passado (leia<br />

mais na página 10).<br />

PESQUISAS: A macaúba voltou<br />

ao noticiário junto com a<br />

onda mundial pela busca de<br />

fontes alternativas de energia<br />

8 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


mbustível<br />

anaíba<br />

Macaúba: da agricultura<br />

familiar para a indústria<br />

ou, melhor dizendo, energia<br />

limpa e renovável. A palmeira<br />

brasileira é objeto de amplos<br />

estudos na Universidade Federal<br />

de Viçosa (UFV), onde funciona<br />

a Rede Macaúba de Pesquisa<br />

(REMAPE), desde 2019. A Rede<br />

é uma aliança da UFV com institutos<br />

de pesquisa e empresas<br />

públicas e privadas. Além de<br />

estudar o potencial da palmeira<br />

nativa do Brasil, a REMAPE<br />

promove a aplicação prática do<br />

conhecimento científico envolvendo<br />

profissionais das mais diversas<br />

áreas para tornar a produção<br />

de macaúba uma realidade<br />

no atual cenário agroenergético<br />

nacional.<br />

A plataforma REMAPE busca<br />

visibilizar e tornar públicos<br />

os trabalhos de seus integrantes,<br />

assim como promover o diálogo<br />

entre os diversos segmentos interessados.<br />

Um dos pesquisadores da Rede<br />

é o Professor Sérgio Yoshimitsu<br />

Motoike, da UFV. Motoike é PhD<br />

em Recursos Naturais e Ciências<br />

Ambientais, e considera a macaúba<br />

o novo ouro brasileiro. O pesquisador<br />

de Viçosa diz que a palmeira<br />

representa sustentabilidade.<br />

Outro que não economiza<br />

adjetivos sobre a macaúba é<br />

Johannes Zimpel, fundador da<br />

INOCAS, empresa sediada em<br />

Patos de Minas. Uma das qualidades<br />

da planta é sua invejável<br />

pegada de carbono. “Se, há uma<br />

década, o mercado de carbono<br />

era visto como cabeça de bacalhau<br />

– diz que tem, mas ninguém<br />

viu –, hoje ele é o principal incentivo<br />

para a exploração comercial<br />

da macaúba, pelo menos<br />

no nosso negócio”, diz.<br />

A INOCAS atua na integração<br />

da macaúba a pastagens com<br />

o propósito de recuperar solos<br />

degradados. A consequência<br />

natural é a geração de receitas<br />

adicionais para pequenos agricultores<br />

e pecuaristas familiares<br />

(box ao lado).<br />

MILENA CARAMORI:<br />

ENGENHEIRA FLORESTAL,<br />

MSC EM SANEAMENTO<br />

E RECURSOS<br />

HÍDRICOS. ANALISTA<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />

A macaúba, palmeira da espécie<br />

“Acrocomia aculeata”, apresenta<br />

grande potencial econômico para<br />

diversos usos, com a possibilidade<br />

de aproveitamento integral. Tanto<br />

a polpa quanto a farinha retiradas<br />

de seus frutos podem ser utilizadas<br />

na fabricação de suco, sorvete,<br />

bolos, pães e doces. As folhas são<br />

aproveitáveis na confecção de redes<br />

e linhas de pescaria. Originária<br />

da região de São Gotardo, a macaúba<br />

desempenhou papel histórico<br />

para agricultores familiares,<br />

sendo o fuste utilizado como calha<br />

de água ou ripas em construções,<br />

e o palmito, retirado do topo<br />

do fuste, integrando a cultura alimentar.<br />

Da castanha e da polpa do<br />

coco se extrai óleo, matéria-prima<br />

para diversos fins, incluindo a produção<br />

de biodiesel. Na região do<br />

Borrachudo, ainda é empregado<br />

na fabricação de sabão-de-coco,<br />

tradicional fonte de renda para<br />

diversas famílias locais.<br />

A agricultora familiar Maria<br />

Aparecida Alves da Silva aprendeu<br />

com sua mãe, Floripes Conceição<br />

Alves, a fabricação do sabão de<br />

coco, processo demorado e trabalhoso<br />

que envolve a extração do<br />

óleo. Após a colheita, os cocos são<br />

deixados à sombra por mais de<br />

um mês, seguido pela quebra da<br />

casca e extração da polpa. Maria<br />

Aparecida destaca a importância<br />

de socar os cocos para extrair a<br />

polpa, que depois é coada e apurada<br />

no tacho em fogo baixo. O<br />

óleo, essencial para a fabricação<br />

do sabão, é retirado quando a massa<br />

ferve. Maria Aparecida lamenta<br />

que a fábrica que comprava as<br />

castanhas para produção de óleo<br />

não exista mais, pois o processo<br />

é demorado e trabalhoso. Mesmo<br />

assim, ela continua produzindo<br />

seu sabão de coco, enfatizando a<br />

satisfação em manter essa tradição.<br />

BIODIESEL: A macaúba também<br />

desperta interesse como alternativa<br />

para a produção de biodiesel. A<br />

Embrapa Cerrados realiza estudos<br />

abrangentes desde 2006, incluindo<br />

melhoramento genético, desenvolvimento<br />

de sistemas de produção, qualidade<br />

da matéria-prima e processamento.<br />

A palmeira pode produzir até oito<br />

toneladas de óleo por hectare, além de<br />

gerar tortas alimentícias para animais e<br />

biomassa para carvão vegetal.<br />

Em entrevista exclusiva, a pesquisadora<br />

Simone Fávaro (foto) destaca<br />

o potencial da macaúba em relação<br />

a outras culturas. “A macaúba é até<br />

6 vezes mais eficiente na produção<br />

de óleo por hectare do que a soja e<br />

resistente a altas temperaturas, com<br />

menor demanda hídrica e nutricional”,<br />

explica. Simone ressalta, ainda,<br />

as vantagens ambientais da macaúba,<br />

como a produção de água e solo de<br />

qualidade, participação em programas<br />

de Pagamento por Serviços<br />

Ambientais e a redução da pegada de<br />

carbono.<br />

Apesar dos avanços nas pesquisas,<br />

há desafios a serem superados,<br />

segundo Simone. Um deles é a busca<br />

por melhor material genético, conservação<br />

da diversidade genética e<br />

superação de limitações tecnológicas<br />

para o cultivo em escala. Em parceria<br />

com empresas públicas e privadas,<br />

a Embrapa pretende superar esses<br />

desafios. A S. Oleum, por exemplo,<br />

planeja plantar 150<br />

mil hectares em sistema<br />

agroflorestal até<br />

2027, visando escala<br />

comercial e indústrias<br />

de extração e cogeração<br />

de energia. A empresa<br />

também projeta<br />

expandir para a produção<br />

de hidrogênio<br />

verde e outros produtos<br />

em larga escala.<br />

POTÊNCIA RE-<br />

GIONAL: No Alto<br />

Paranaíba, a macaúba<br />

demonstrou seu<br />

potencial produtivo<br />

em projetos como o<br />

da INOCAS.<br />

Com investimentos<br />

de R$ 12 milhões<br />

LEIA MAIS NA PÁGINA 10:<br />

É mais uma fábula sobre a<br />

macaúba ou dá pra acreditar?<br />

em um projeto piloto, a empresa<br />

buscou criar um modelo de negócios<br />

replicável, escalável e lucrativo,<br />

envolvendo agricultores familiares. A<br />

INOCAS já implantou 2000 hectares<br />

de macaúba em sistema silvipastoril<br />

na região, com a produção de óleo<br />

da polpa utilizado em cosméticos e<br />

biocombustíveis, e óleo da amêndoa<br />

empregado na produção de ração<br />

animal. A empresa está em expansão,<br />

investindo em diferentes biomas brasileiros.<br />

As vantagens do Alto Paranaíba<br />

incluem a adaptabilidade da<br />

macaúba para extrativismo e usos<br />

diversos, além da preservação do<br />

germoplasma. Estudos adicionais<br />

estão em andamento, abordando a<br />

qualidade do óleo, tratos culturais,<br />

irrigação, integração lavoura-pecuária-floresta<br />

e ponto ideal de<br />

colheita dos frutos. Além de investir<br />

no Vale do Paraíba e no Pará, a<br />

INOCAS está acelerando o plantio<br />

de 5 mil hectares de macaúba no<br />

nordeste do Pará, um investimento<br />

de R$ 25 milhões. O Projeto<br />

Macaúbas do INOCAS, validado<br />

pela Embrapa, com 301 agricultores<br />

envolvidos, já é realidade.<br />

A macaúba, portanto, se destaca<br />

como uma cultura versátil<br />

e promissora, proporcionando<br />

benefícios econômicos, sociais<br />

e ambientais para as regiões em<br />

que é cultivada.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 9


MATÉRIA DE CAPA<br />

Ponto: gato escaldado<br />

tem medo dessa história<br />

RODOLFO DE SOUZA<br />

Muitas vezes o Alto Paranaíba<br />

ouviu narrativas mirabolantes envolvendo<br />

promessas de investimentos<br />

bilionários que colocariam<br />

a macaúba em seu nobre lugar na<br />

cadeia produtiva dos combustíveis<br />

ecologicamente sustentáveis, os<br />

denominados combustíveis verdes.<br />

Alguns críticos lembram das promessas<br />

de um casal de alemães para<br />

prefeitos da região, em Patos de<br />

Minas. Aquela foi apenas mais uma<br />

das muitas fábulas que alimentam<br />

o ceticismo regional em torno da<br />

macaúba.<br />

O ano era 2012, tendo como<br />

cenário uma reunião em Patos de<br />

Minas sobre a implantação de um<br />

frigorífico. Em dado momento, foi<br />

dada a palavra a um casal de alemães<br />

e os dois falaram sobre outro<br />

empreendimento, bem melhor.<br />

Citando uma grande companhia<br />

aérea alemã interessada em substituir<br />

totalmente o combustível fóssil<br />

por SFA, em curto prazo, o casal<br />

revelou que a meta era fazer essa<br />

transição gradualmente, até atingir<br />

100% de combustível renovável. As<br />

aeronaves da tal companhia usavam,<br />

então, combustível à base de óleo de<br />

dendê produzido em um país asiático.<br />

Como lá não havia terras suficientes,<br />

os fabricantes começaram a<br />

desmatar para plantar o dendezeiro.<br />

Pressionada pela opinião pública, a<br />

companhia voltou seus olhares para<br />

o Brasil, onde a macaúba sobra e há<br />

terras a perder de vista. Um cenário<br />

tão bom que poderiam ser utilizadas<br />

até mesmo pastagens degradadas,<br />

favorecendo a recuperação. Era,<br />

portanto, a oportunidade de faturar<br />

bilhões de dólares.<br />

Os dois alemães perguntaram se<br />

algum dos presentes teria interesse.<br />

Para surpresa de muitos, houve um<br />

silêncio total.<br />

Por qual motivo ninguém quis<br />

aproveitar uma oportunidade como<br />

aquela? Era a chance, inclusive, de<br />

plantar em reserva legal, dando<br />

destinação econômica à área. E a<br />

resposta dos mais experientes foi<br />

retumbante. Propostas como aquela<br />

eram comuns. Narrativas sobre<br />

a macaúba são várias, sempre com<br />

pessoal de fora prometendo investimentos<br />

faraônicos. E, realmente,<br />

os alemães nunca mais apareceram.<br />

Os céticos dizem que isso até virou<br />

piada no Alto Paranaíba.<br />

Contraponto: superando o<br />

ceticismo com a macaúba<br />

MILENA CARAMORI<br />

O ceticismo, impulsionado pelo<br />

receio do desconhecido e pela<br />

busca por resultados instantâneos,<br />

pode comprometer a identificação<br />

de oportunidades valiosas. Na ciência,<br />

equívocos são partes essenciais<br />

no processo de descoberta, sendo<br />

fundamental aceitar experimentações,<br />

reconhecendo que os resultados<br />

nem sempre são imediatos.<br />

Grandes conquistas frequentemente<br />

surgiram de ideias inicialmente<br />

contestadas, demandando tempo<br />

para se concretizarem.<br />

Ao abordar o ceticismo em relação<br />

à macaúba, é preciso contextualizar.<br />

O melhoramento genético<br />

dessa cultura começou em 2006,<br />

menos de 20 anos, comparado aos<br />

90 dedicados à soja e ao milho.<br />

Esperar resultados rápidos em pesquisas<br />

com culturas perenes, como<br />

a macaúba, não é realista. Ela não<br />

segue o ciclo anual típico dessas<br />

commodities, exigindo uma abordagem<br />

diferenciada. Uma década<br />

para uma cultura perene é insuficiente,<br />

evidenciando disparidades<br />

significativas na pesquisa entre cul-<br />

turas perenes e anuais.<br />

A ciência, intrinsecamente ligada<br />

à experimentação, demanda tempo.<br />

A busca por resultados rápidos<br />

muitas vezes não se alinha com a<br />

natureza da pesquisa, especialmente<br />

no contexto de espécies perenes.<br />

Além disso, o cultivo de espécies<br />

anuais oferece resultados rápidos<br />

para a pesquisa, mas limita a perspectiva<br />

de soluções sustentáveis e<br />

de longo prazo.<br />

A macaúba, por outro lado, representa<br />

a possibilidade de conciliar produção<br />

e lucro com a preservação da<br />

água, proteção do solo e manutenção<br />

da biodiversidade, através da integração<br />

lavoura-pecuária-floresta. Esses benefícios,<br />

embora nem sempre contabilizados<br />

como lucro, são essenciais para a<br />

produção agrícola. A água, como recurso<br />

essencial, exige abordagens inovadoras,<br />

mesmo que não seja imediatamente<br />

tangível ou lucrativa. Ignorar essa oportunidade<br />

devido ao ceticismo pode resultar<br />

na perda de uma solução valiosa<br />

para desafios ambientais e econômicos.<br />

E é bom reforçar! O Projeto Macaúbas<br />

do INOCAS (pág 9), validado pela<br />

Embrapa, com 301 agricultores envolvidos,<br />

já é realidade. É um convite para<br />

superar o ceticismo e abraçar a oportunidade<br />

de inovação.<br />

10 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


AQUI TEM GERÊNCIA<br />

Navegando com Precisão na Agricultura:<br />

Planejando com Hoshin Kanri<br />

HENRIQUE MARQUES<br />

E FELIPE ZUMKELLER,<br />

ESCOLA COOPERATIVA<br />

TERRA IDEAL<br />

Imagine a fazenda como um barco<br />

sem uma rota definida, cada rajada<br />

de vento que bate muda sua direção.<br />

Igualmente, sem um plano cada oportunidade<br />

que aparece joga a empresa de<br />

um lado para o outro sem uma direção<br />

clara. Nada melhor do que iniciar o ano<br />

com um planejamento bem feito, para<br />

isso podemos usar o Hoshin Kanri, uma<br />

metodologia japonesa de planejamento<br />

estratégico utilizada pela Toyota. Hoshin<br />

significa ‘direção’ ou ‘bússola’, e Kanri<br />

significa ‘gestão’. Simplificando, é como<br />

definir a direção para sua fazenda e gerenciar<br />

o caminho até lá.<br />

Engana-se quem pensa que esse é<br />

um método apenas para grandes operações,<br />

todo e qualquer negócio agrícola<br />

deveria realizar o seu planejamento,<br />

mesmo que seja de forma simples, papel<br />

e lápis (ou uma pequena lousa) é tudo<br />

que você precisa.<br />

Definindo o Norte Verdadeiro<br />

O Hoshin Kanri, começa com a definição<br />

clara de um “norte verdadeiro”,<br />

a visão de longo prazo da propriedade.<br />

Assim como os antigos navegantes se<br />

guiavam pela bússola mostrando qual era<br />

o Norte Verdadeiro da terra, para um gestor<br />

agrícola, isso pode significar definir<br />

onde se pretende chegar nos próximos<br />

5, 10 , 15 anos, é importante conseguir<br />

fechar os olhos e imaginar onde você gostaria<br />

que o seu negócio estivesse. Onde<br />

você gostaria de estar com relação ao aumento<br />

de eficiência da produção, melhorar<br />

a gestão e os processos, capacitação<br />

e desenvolvimento das pessoas, novas<br />

estratégias de mercado, melhorar a qualidade,<br />

condições financeiras, sucessão,<br />

entre outros? Essa visão deve ser clara<br />

orientando todas as decisões futuras.<br />

Traçando Objetivos de curto prazo<br />

Após estabelecer uma visão, o próximo<br />

passo é definir objetivos de médio<br />

e curto prazo, ou seja, onde se pretende<br />

chegar no próximo ano. Estes objetivos<br />

funcionam como marcos no caminho<br />

para alcançar o norte verdadeiro. Por<br />

exemplo, se o Norte é ter um negócio de<br />

alta eficiência operacional, um objetivo de<br />

médio prazo pode ser aumentar a eficiência<br />

produtiva de uma determina cultura,<br />

já o objetivo para esse ano pode ser a<br />

melhoria do processo de plantio, aumentando<br />

a uniformidade, reduzindo falhas e<br />

plantas duplas.<br />

Projetos Estratégicos<br />

A partir dos objetivos para o próximo<br />

ano é preciso pensar em quais serão os<br />

projetos e planos que precisarão ser colocados<br />

em prática para atingi-los. Projetos<br />

estratégicos anuais são as ações concretas<br />

com responsáveis claros e com resultados<br />

claros. Seguindo o nosso exemplo,<br />

um projeto estratégico é o Projeto de<br />

Melhoria do Plantio.<br />

Envolver, acompanhar, ajustar e melhorar<br />

O próximo passo é envolver sua equipe.<br />

No Hoshin Kanri, todos participam<br />

do planejamento. Cada pessoa na sua fazenda<br />

deve entender como seu trabalho<br />

contribui para o objetivo maior. Isso cria<br />

um senso de propósito e direção. Por<br />

tanto uma vez que os projetos estão definidos<br />

e as equipes envolvidas é hora de<br />

colocar a mão na massa.<br />

Acompanhar e gerir projetos estratégicos<br />

com disciplina e método é fundamental<br />

para o sucesso. A gestão disciplinada<br />

permite identificar rapidamente desvios<br />

ou obstáculos, possibilitando ajustes ágeis<br />

e precisos. Esteja pronto para ajustar seus<br />

planos conforme os aprendizados vão<br />

sendo gerados. O Hoshin Kanri deve ser<br />

dinâmico. Celebre os sucessos e aprenda<br />

com os desafios. Isso não só mantém sua<br />

fazenda no caminho certo, mas também<br />

motiva a equipe.<br />

Isso pode parecer algo novo para<br />

você, mas sua essência é tão antiga<br />

quanto a agricultura: planejar, executar,<br />

revisar e melhorar. Com uma visão<br />

clara, objetivos bem definidos, projetos<br />

estratégicos focados e monitoramento<br />

constante para guiar sua fazenda rumo<br />

ao sucesso.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 11


CIÊNCIA NO AGRO<br />

Inovação no campo: o que o carro de boi<br />

tem a ver com a Tesla?<br />

HÉLIO LEMES, PhD<br />

O rústico e tradicional carro de boi e os<br />

sofisticados veículos elétricos e autônomos<br />

da Tesla parecem estar tão distantes um<br />

do outro, mas fazem parte de uma linha<br />

evolutiva, que passa por ciência, tecnologia,<br />

inovação e empreendedorismo. Vamos<br />

tentar entender as oportunidades e ameaças<br />

que surgem no caminho de empresas e<br />

empreendedores no processo de evolução e<br />

revoluções tecnológicas.<br />

A revolução chinesa no setor automobilístico<br />

ecoa nos corredores da indústria tradicional<br />

como um estrondo ensurdecedor.<br />

O reinado das gigantes fabricantes de automóveis,<br />

como Toyota, Ford, Volkswagen<br />

e Chevrolet, está sob ameaça de uma nova<br />

onda, impulsionada por jovens e inovadoras<br />

empresas americanas e, principalmente,<br />

chinesas, que têm moldado o mercado com<br />

veículos elétricos revolucionários. É uma<br />

batalha onde a tradição enfrenta a ousadia,<br />

a experiência confronta a agilidade, e a inovação<br />

desafia o status quo.<br />

Assim como nesse embate automotivo,<br />

o setor da pecuária e a cadeia do agronegócio<br />

em geral se preparam para um terremoto<br />

de proporções semelhantes. A<br />

recente aprovação no Brasil pela ANVISA<br />

– Agência Nacional de Vigilância Sanitária<br />

(Resolução RDC 839, de dezembro de<br />

2023), para produção e comercialização de<br />

carne cultivada em laboratório, assemelha-<br />

-se a um divisor de águas no setor agropecuário.<br />

Os pilares do agronegócio, fundamentados<br />

na criação tradicional de animais,<br />

agora se deparam com a ascensão de uma<br />

alternativa disruptiva e tecnológica: a carne<br />

que não depende do abate de animais.<br />

A ciência e a tecnologia têm sido catalisadoras<br />

dessas mudanças poderosas, tanto<br />

na indústria automobilística quanto no<br />

agronegócio. A eletrificação dos veículos<br />

automotores desencadeou uma metamorfose<br />

na concepção de mobilidade, ecoando<br />

preocupações ambientais e impulsionando<br />

uma corrida pela inovação sustentável,<br />

mesmo que haja bastante polêmica sobre<br />

isso. Paralelamente, a fabricação de carne<br />

cultivada em laboratório reflete a busca por<br />

soluções alimentares mais eficientes e sustentáveis,<br />

respondendo aos desafios globais<br />

de escassez de recursos naturais, demanda<br />

por alimentos e impacto ambiental da pecuária,<br />

o que ainda vai causar muita controvérsia,<br />

igualmente.<br />

Nessa nova ordem, a agilidade das<br />

jovens fabricantes chinesas de veículos<br />

elétricos encontra um paralelo nos visionários<br />

empreendedores do setor de proteínas<br />

alternativas. A capacidade de se adaptar às<br />

demandas do mercado, aliada à flexibilidade<br />

para abraçar a inovação, torna-se a moeda<br />

de valorização. Enquanto os titãs tradicionais<br />

se veem desafiados a repensar suas estratégias,<br />

as startups e empresas emergentes<br />

se impulsionam como agentes de mudança,<br />

dispostas a desafiar o estabelecido.<br />

A revolução na indústria automotiva e<br />

as transformações iminentes no mercado<br />

do agro são sinais claros de que a era da<br />

inovação disruptiva é inevitável. Aqueles<br />

que resistirem à mudança correm o risco<br />

de ficar à margem do progresso, enquanto<br />

os que abraçarem a tecnologia e a ciência<br />

como aliadas encontrarão espaço para<br />

liderar uma nova era de eficiência, sustentabilidade<br />

e progresso na cadeia produtiva<br />

do agronegócio. A batalha já começou,<br />

e a vitória pertencerá àqueles que melhor<br />

souberem conjugar tradição e vanguarda,<br />

experiência e audácia, em uma sinfonia de<br />

progresso e inovação.<br />

Ainda não temos uma gigante na produção<br />

de carne cultivada em laboratório,<br />

nem no Brasil nem no nível global. Não<br />

estamos vendo os grandes e tradicionais<br />

players deste mercado se movimentando<br />

para serem os pioneiros da nova tecnologia.<br />

Isso mostra como há oportunidade para<br />

que haja, no futuro, grandes novos nomes<br />

nesta indústria, que ainda nem existem, assim<br />

como começamos a ouvir muito recentemente<br />

sobre as fabricantes de automóveis<br />

Tesla, BYD e GWM.<br />

A expectativa natural era de que a indústria<br />

e os nomes mais tradicionais liderassem<br />

o avanço tecnológico a assumissem a dianteira<br />

na transformação do automóvel, mas<br />

parece que elas foram pegas de surpresa e<br />

agora lutam para não perderem suas preciosas<br />

fatias neste imenso mercado mundial. E<br />

o que vai acontecer com o nosso bife? No<br />

futuro, quem vai levar a proteína animal até<br />

a sua mesa? Você já pensou em como isso<br />

pode afetar sua vida e seus negócios?<br />

12 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 13


ANÁLISE<br />

Marco Temporal e o cabo de guerra<br />

entre os Três Poderes<br />

LÚCIO FREIMANN<br />

Cabo de guerra. Este é o nome de um<br />

jogo que costumamos disputar na infância,<br />

no qual duas equipes opostas competem<br />

para ver quem consegue puxar uma corda<br />

para o seu próprio lado, ultrapassando<br />

um ponto central. O objetivo é fazer com<br />

que a outra equipe perca o equilíbrio, caia<br />

ou ceda terreno, resultando na vitória da<br />

equipe que conseguir puxar a corda para o<br />

seu lado. É um jogo que exige força física,<br />

estratégia e coordenação de equipe.<br />

Cabo de guerra de três pontas. Este<br />

seria um bom nome para definir o vai e<br />

volta de definições sobre a tese: os povos<br />

indígenas têm o direito de ocupar apenas<br />

as terras que ocupavam ou já disputavam<br />

em 5 de outubro de 1988, data de promulgação<br />

da Constituição Federal?<br />

Se a resposta é positiva, o Marco<br />

Temporal tem seu lugar e vice-versa. A<br />

questão é que o cabo de guerra não tem<br />

fim, exigindo, além de tudo, muita resistência<br />

de quem está na ponta das cordas.<br />

Numa clara disputa entre os Três<br />

Poderes (Executivo, Legislativo e<br />

Judiciário), o tema já transitou no Supremo<br />

Tribunal Federal (STF), no Congresso<br />

Nacional e no Planalto, finalizando o<br />

ano de 2023 com vitória para o Poder<br />

Legislativo, definindo por meio de lei e<br />

derrubada de vetos, a favor do Marco<br />

Temporal. Porém, a Tríade continua em<br />

disputa e, ao que tudo indica, há chances<br />

de revanche em <strong>2024</strong>.<br />

Contextualizando, a tese do Marco<br />

Temporal surgiu em 2009, em parecer da<br />

Advocacia-Geral da União sobre a demarcação<br />

da reserva Raposa-Serra do Sol,<br />

em Roraima, quando o critério da data de<br />

promulgação da Constituição Federal foi<br />

utilizado.<br />

Em 2003, foi criada a Terra Indígena<br />

Ibirama-Laklãnõ, mas uma parte dela,<br />

ocupada pelos indígenas Xokleng e disputada<br />

por agricultores, estava sendo requerida<br />

pelo governo de Santa Catarina<br />

no Supremo Tribunal Federal (STF). O<br />

argumento é que essa área, de aproximadamente<br />

80 mil m², não estava ocupada em 5<br />

de outubro de 1988. Os Xokleng, por sua<br />

vez, argumentam que a terra estava desocupada<br />

na ocasião porque eles haviam sido<br />

expulsos de lá.<br />

Em Setembro de 2023, o Supremo<br />

Tribunal Federal julgou a tese e não acatou<br />

o Marco Temporal. Já em Outubro de<br />

2023, Câmara dos Deputados e Senado<br />

Federal aprovaram a retomada da tese por<br />

meio de nova lei, parcialmente vetada pelo<br />

Presidente Lula.<br />

Em Dezembro, o Congresso Nacional<br />

derruba os vetos por grande maioria.<br />

Assim, ingressamos em <strong>2024</strong> com o<br />

Marco Temporal ativo, ou seja, a nova lei<br />

considera terras tradicionalmente ocupadas<br />

pelos indígenas brasileiros aquelas que,<br />

na data da promulgação da Constituição<br />

Federal, eram, simultaneamente: habitadas<br />

por eles em caráter permanente; utilizadas<br />

para suas atividades produtivas; imprescindíveis<br />

à preservação dos recursos ambientais<br />

necessários a seu bem-estar; e necessárias<br />

à sua reprodução física e cultural,<br />

segundo seus usos, costumes e tradições.<br />

Agora, já se tem notícia que a<br />

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil<br />

(Apib) e alguns partidos políticos como PT,<br />

PCdoB, PV, recorreram ao STF pedindo a<br />

nulidade de vários trechos da legislação.<br />

Como o STF já se manifestou sobre a<br />

temática, é esperada mais uma reviravolta<br />

no caso e que a Suprema Corte se manifeste<br />

nos mesmos moldes que a última<br />

decisão, ou seja, desfavorável ao Marco<br />

Temporal.<br />

Enquanto isso, parte dos Congressistas<br />

trabalham em redações de PECs (Proposta<br />

de Emenda à Constituição) visando constitucionalizar<br />

a questão, porém, numa linha<br />

de argumentos contrários, a temática dos<br />

povos indígenas seria interpretada e/ou<br />

enquadrada como cláusula pétrea e, portanto,<br />

não passível de alteração, nem mesmo<br />

por PEC.<br />

Pontos e contrapontos. Como superar<br />

a celeuma? Existe forma objetiva de encarar<br />

a questão quando tudo pode ser interpretado,<br />

sem limites para a abrangência<br />

dessa interpretação?<br />

De modo simplista aprendemos que o<br />

Legislativo faz as leis, o Executivo as executa,<br />

e o Judiciário as interpreta - assim é a<br />

Tríade do poder: devem ser independentes<br />

e harmônicos entre si.<br />

Mas a pauta do Marco Temporal se tornou<br />

apenas o palco pra disputa. Isso porque,<br />

ora a questão é vista do ponto de vista<br />

ideológico, ora é vista do ponto de vista<br />

pragmático e a Tríade apenas se utiliza das<br />

ferramentas que possui para ir para um lado<br />

ou para o outro sem se ater aos seus papéis<br />

de legislar, interpretar e executar.<br />

Do ponto de vista ideológico, o que<br />

está em xeque são os direitos dos povos<br />

tradicionais, no caso, os indígenas. A defesa<br />

é a de que não se trata de uma ocupação<br />

física, mas uma ocupação originária e tradicional.<br />

Nesta linha, aborda-se que seria<br />

um direito anterior à criação do Estado<br />

brasileiro e que, portanto, se trata de um<br />

direito declarado e não constituído. É importante<br />

mencionar que a Constituição<br />

Federal traz no Art. 231 o seguinte teor:<br />

“as terras tradicionalmente ocupadas pelos<br />

índios destinam-se a sua posse permanente,<br />

cabendo-lhes o usufruto exclusivo das<br />

riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas<br />

existentes.”<br />

Por outro lado, de forma pragmática,<br />

tem-se que a falta de um marco temporal<br />

dá o direito aos povos indígenas de questionar,<br />

em qualquer tempo, a propriedade<br />

de qualquer área no território nacional.<br />

Essa interpretação vem da Constituição<br />

Federal que reconhece aos índios os direitos<br />

originários sobre as terras que tradicionalmente<br />

ocupam, mediante concessão de<br />

usufruto.<br />

Para tanto, essas terras necessitam ser<br />

habitadas em caráter permanente, utilizadas<br />

para atividades produtivas, imprescindíveis<br />

à preservação dos recursos ambientais<br />

necessários ao bem-estar e necessárias<br />

a reprodução física e cultural dos indígenas,<br />

segundo seus usos, costumes e tradições. A<br />

Constituição Federal ainda diz que essas<br />

terras são inalienáveis e indisponíveis, e os<br />

direitos sobre elas, imprescritíveis.<br />

Por isso, lá atrás, a questão foi parar no<br />

STF. Justamente porque buscava-se avaliar<br />

a constitucionalidade desta disposição que<br />

poderia afetar o futuro indefinidamente.<br />

Será que o legislador ao escrever a Carta<br />

Magna quis mesmo deixar essa abertura?<br />

Como ficaria resguardado o direito de propriedade,<br />

previsto como direito e garantia<br />

fundamental na Constituição Federal,<br />

diante da constante possibilidade de uma<br />

terra ser requerida como terra de ocupação<br />

originária?<br />

Ambas as disposições estão na<br />

Constituição. Qual prevalece? Estamos<br />

diante de uma questão formal ou material?<br />

Salvo se os livros de história estiverem<br />

errados, o Brasil era ocupado por índios<br />

quando houve seu “descobrimento”. E se<br />

tudo estiver correto, os indígenas do Brasil<br />

são autóctones, ou seja, são nativos daqui.<br />

Os povos indígenas têm uma relação<br />

profunda com a terra e frequentemente<br />

dependem dela para sua subsistência física,<br />

cultural e espiritual. Eles têm conhecimentos<br />

tradicionais sobre a ecologia local,<br />

práticas agrícolas, medicina, ecossistemas<br />

naturais, entre outros aspectos.<br />

Mas o que é de fato assegurar os direitos<br />

dos povos tradicionais? Em muitos casos,<br />

há uma ênfase crescente nos direitos<br />

dos povos tradicionais à terra e aos recursos<br />

naturais, reconhecendo suas conexões<br />

históricas, culturais e espirituais com determinadas<br />

regiões geográficas, mas esses<br />

direitos são mais amplos e usar a identidade<br />

geográfica para resumir um conjunto<br />

pode ser muito simplista, com consequências<br />

inimagináveis. Para isto, basta pensar<br />

em outro país... Qualquer país. Quem tem<br />

o direito sobre as terras que hoje estão<br />

ocupadas? Quem são os povos originários<br />

daquela região? Devemos desocupar<br />

as áreas e devolvê-las aos descendentes<br />

de quem as ocupou lá atrás? Como seria<br />

nossa distribuição geográfica se isso ocorresse?<br />

E a geração atual? É descendente de<br />

quem? O povo brasileiro é ou não é fruto<br />

de miscinegação? O povo brasileiro não<br />

seria, pelo menos em parte, um povo tradicional?<br />

Os direitos dos povos tradicionais passa<br />

pelo direito à terra e recursos naturais,<br />

mas também pela preservação de sua cultura<br />

e identidade, protegendo a língua, as<br />

práticas espirituais e conhecimentos tradicionais<br />

e, especialmente pelo direito a não<br />

discriminação e igualdade, o que significa<br />

que esses grupos devem ser tratados com<br />

igualdade e respeito, sem discriminação<br />

com base em sua identidade cultural.<br />

Se pudermos fazer uma síntese deste<br />

assunto, as respostas para algumas perguntas<br />

são mandatárias:<br />

Há uma forma de coexistência dos direitos<br />

dos povos tradicionais e do direito<br />

à propriedade, ambos consagrados em<br />

nossa Constituição? O Marco Temporal<br />

simboliza essa coexistência?<br />

É importante saber que, atualmente,<br />

14, 1% do território brasileiro é destinado<br />

a terras indígenas, segundo a FUNAI. Já<br />

países como EUA tem 2,3% do seu território<br />

nacional de terras indígenas, enquanto<br />

o Canadá possui 6,3% e a África do Sul,<br />

7%, conforme trabalho apresentado pelo<br />

Observatório Jurídico Agro, em consulta a<br />

outros órgãos e entidades.<br />

Caso a tese do Marco Temporal não se<br />

sustente, há uma previsão de aumento das<br />

terras indígenas, podendo chegar a 27,8%<br />

do território nacional.<br />

O tempo aqui é curto. E o jogo é longo<br />

e está em curso. Esses são brevíssimos<br />

e superficiais comentários sobre um tema<br />

que vai testar a força, o equilíbrio e o trabalho<br />

em equipe do Congresso Nacional, do<br />

Planalto e do Supremo Tribunal Federal.<br />

Aguardemos o placar!<br />

14 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>


Tecnologia é vital no planejamento do uso<br />

correto da água na agricultura<br />

A irrigação é uma das tecnologias agrícolas<br />

mais antigas da história. Na Mesopotâmia,<br />

há seis mil anos, colonos construíam canais e<br />

desviavam as águas do rio Eufrates para produzir<br />

alimentos. A técnica transformou terras<br />

e sociedades em todo o planeta ao longo dos<br />

séculos, e vem se tornando mais moderna ano<br />

após ano, garantindo trabalho em diferentes<br />

atividades agrícolas e promovendo segurança<br />

alimentar.<br />

E é justamente a segurança alimentar<br />

uma das maiores preocupações da sociedade<br />

contemporânea, juntamente com a segurança<br />

hídrica, porque produzir alimentos<br />

requer muita água. Com o clima global passando<br />

por mudanças radicais, a agricultura<br />

de sequeiro é incerta, e a irrigação passa a<br />

ser estratégica.<br />

Se a água é um recurso essencial para a<br />

produção agrícola e a segurança alimentar<br />

e hídrica estão no centro das maiores preocupações<br />

da sociedade, a pauta é urgente e<br />

merece atenção redobrada.<br />

A agricultura irrigada representa 17%<br />

da agricultura e produz aproximadamente<br />

40% da produção de alimento do mundo.<br />

Estiagens e chuvas irregulares têm se<br />

Pivôs com alta tecnologia embarcada, gerenciados por sistemas<br />

modernos, entregam mais produtividade (Foto: Embrapa)<br />

tornado frequentes em diversas regiões, trazendo<br />

muitas incertezas para os produtores.<br />

Nesse cenário, torna-se essencial a utilização<br />

de uma plataforma de planejamento<br />

que possibilita ter a previsibilidade do uso<br />

da água necessária para a planta e dos momentos<br />

ideais para realizar essas irrigações.<br />

A tecnologia está desempenhando<br />

um papel fundamental para isso.<br />

Testemunhamos uma verdadeira revolução<br />

na agricultura, com inovações que tornam a<br />

produção mais eficiente e sustentável. Além<br />

disso, adotar práticas agrícolas mais amigáveis<br />

ao meio ambiente é essencial para o<br />

nosso futuro.<br />

Com um plano de uso da água, aliado a<br />

equipamentos de irrigação bem dimensionados,<br />

é possível diminuir o risco da falta<br />

de água na produção e garantir as melhores<br />

colheitas.<br />

Sustentabilidade é a preocupação central<br />

de qualquer ação envolvendo a atividade<br />

humana em todos os cantos do planeta.<br />

Manter todos os ecossistemas em equilíbrio<br />

é uma questão de sobrevivência da espécie.<br />

A crescente demanda mundial por alimentos<br />

de qualidade depende da agricultura irrigada,<br />

imperativa não só para a produção de<br />

alimentos, mas, também, para as indústrias<br />

de fibras e energia, nas suas mais variadas<br />

aplicações.<br />

A produção agrícola brasileira é cada<br />

vez mais ambientalmente sustentável, economicamente<br />

viável e socialmente justa.<br />

Sem dúvida alguma, a agricultura irrigada<br />

realizada com as melhores tecnologias é<br />

estratégica.<br />

CONSULTORIA E ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS<br />

PGR - PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCO<br />

PGTR - PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE<br />

RISCO DO TRABALHO RURAL<br />

LTCAT - LAUDO TÉCNICO DAS CONDIÇÕES<br />

AMBIENTAIS DO TRABALHO<br />

LAUDO DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE<br />

IMPLANTAÇÃO DO ESOCIAL<br />

TREINAMENTOS EM GERAL<br />

MEDICINA DO TRABALHO<br />

AVALIAÇÃO CLÍNICA<br />

EXAMES LABORATORIAIS<br />

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ESPIROMETRIA<br />

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ELETROENCÉFALOGRAMA<br />

ACUIDADE VISUAL<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> / Jan-Fev, <strong>2024</strong> 15


PECUÁRIA COM CIÊNCIA<br />

Produção brasileira de carne animal<br />

é cada vez mais sustentável<br />

Sem a necessidade de grandes<br />

estudos, apenas com algumas leituras<br />

mais selecionadas, qualquer um<br />

de nós pode aprender mais sobre o<br />

hábito humano de consumir carne.<br />

No entanto, quem tem interesse no<br />

tema e pretende ampliar seus conhecimentos<br />

conta, agora, com uma<br />

publicação da Empresa Brasileira de<br />

Pesquisa Agropecuária. A Embrapa<br />

lançou o livro eletrônico “Brasil em<br />

50 Alimentos”.<br />

A publicação cita estudos antropológicos<br />

sobre a evolução humana a<br />

partir da introdução da carne de caça<br />

na alimentação, há mais de 4 milhões<br />

de anos. E a razão é simples e direta:<br />

grande parte dos nutrientes essenciais<br />

está presente na carne, dentre os<br />

quais aminoácidos e ácidos graxos.<br />

Consumir carne regularmente reduz<br />

a presença de carboidratos na dieta,<br />

462_553_23_af_anuncio_jornal_100_agro_26x13.pdf 1 15/12/2023 19:43:49<br />

melhora em muito a absorção de<br />

ferro, zinco e outros minerais, além<br />

de nutrientes fundamentais para as<br />

funções metabólicas, como o ácido<br />

linoleico conjugado e o ômega-3.<br />

A pecuária brasileira vem se tornando<br />

ambientalmente mais sustentável<br />

a cada dia, resultado da pesquisa<br />

agropecuária. São diversas as<br />

tecnologias incorporadas à atividade:<br />

forrageiras mais produtivas, melhoramento<br />

genético, manejo sanitário,<br />

sistemas integrados de produção e<br />

bem-estar animal, dentre outras. A<br />

consequência dos avanços são ganhos<br />

expressivos de produtividade e<br />

qualidade da carne.<br />

E se o tema da vez é sustentabilidade,<br />

a pecuária brasileira apresenta<br />

excelentes resultados na conservação<br />

do solo, redução da pressão por<br />

abertura de novas áreas e diversificação<br />

da produção. A carne bovina<br />

é fundamental para a segurança alimentar,<br />

para a economia e, com a<br />

contribuição da ciência brasileira, o<br />

setor se desenvolve constantemente,<br />

preservando o meio ambiente.<br />

No Spotify:<br />

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Sua soja rende mais hoje e seu<br />

solo segue saudável por gerações.<br />

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16 <strong>100PORCENTOAGRO</strong> Jan-Fev, <strong>2024</strong>

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