Boletim Warming 014
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 014 Dezembro 2023
https://doi.org/10.6084/m9.figshare.25251676 Foto: Tiago Fernandes
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 014 Dezembro 2023
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração - Campos Rupestres e Serra do Cipó
Coordenação do PELD-CRSC:
Geraldo Wilson Fernandes (Coordenador)
Frederico de Siqueira Neves (Vice-coordenador)
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Boletim 014 Dezembro 2023
Índice
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Editorial...............................................................................................
Como fungos podem ser aliados no combate ao aquecimento global? ......
Fenocâmeras na Serra do Cipó...............................................................
Reprodução de uma planta endêmica dos campos rupestres
mineiros...............................................................................................
Ilhas florestais no topo da Serra.............................................................
A ciência que eu faço
Cientista: Dr. Patrícia C. Morellato................................................
3
4
6
8
10
14
7. Produção Científica do Peld-CRSC em 2023 ........................................... 15
Você tem novidades ou informações científicas sobre o nosso campo rupestre?
Então compartilhe em nossos boletins, entre em contato escaneando ao lado.
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
Dezembro 2023
Foto: Otávio Alves
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
1. Editorial
A
14ª edição do boletim Warming traz para o público
resumos de importantes contribuições para
a conservação da biodiversidade do projeto de
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração. O Peld-CRSC
descreve a ecologia de fungos no solo, os insetos que
vivem no alto das montanhas e da ecologia do fogo da
base até o topo das montanhas. Além disso, em cada
edição, o Peld-CRSC apresenta um dos cientistas vinculados
ao projeto de longa duração que estudam o campo
rupestre.
O Peld-CRSC está vinculado a diversos projetos de
pesquisas que apoiam medidas mitigatórias das mudanças
climáticas, sobretudo de estudos que investigam o
papel de grupos pouco conhecidos, como os fungos. Um
grupo de cientistas vinculados ao Peld-CRSC, reforçam
a importância dos fungos que possuem relações harmoniosas
com plantas no sequestro de gás carbônico, um
dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa. Essa
matéria é apresentada em nossa primeira matéria.
Como sabemos, o fogo continua assolando os campos,
queimando veredas e florestas e o Peld-CRSC tem
produzido muitos estudos sobre a relação entre plantas
e o fogo. Embora esse seja um assunto em alta, poucos
estudos se propõem a monitorar o efeito do fogo na comunidade
de plantas do topo das montanhas. Em nossa
segunda matéria apresentamos a importância do uso de
câmeras fenológicas no monitoramento da recuperação
da vegetação após queimadas. Confira!
O campo rupestre é um berço de espécies de plantas
únicas. Em nossa terceira matéria é apresentada uma espécie
de planta endêmica do campo rupestre, a Microlicia
laniflora. Além disso, apresentamos as características
ambientais e bióticas que definem a reprodução dessa
planta única.
O Peld-CRSC tem produzido uma infinidade de novas
informações sobre a vida e monitoramento de insetos
que vivem nos ambientes montanos. E dessa vez traz resultados
importantes sobre o deslocamento de formigas,
vespas, abelhas e borboletas que vivem em ilhas florestais
no topo das montanhas da Serra do Cipó. Essa ideia
é apresentada em nossa quarta matéria.
Em nosso quadro “A Ciência que Eu Faço”, trouxemos
uma entrevista com umas das mais importantes pesquisadoras
do Peld-CRSC, a cientista Dra. Patrícia Morellato.
Por fim, mas não menos importante, apresentamos a produção
científica do Peld-CRSC no ano de 2023.
Esses são os destaques da nossa edição 14.
Boa leitura!
Dezembro 2023
Página 03
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
2. Como fungos podem ser aliados no combate ao aquecimento global?
A união oportuna entre raízes e fungos que retém gás carbônico no solo
A
associação entre fungos e plantas
tem evoluído por milhões de anos.
Em alguns casos, a associação é
tão forte que um depende do outro para
sobreviver, por exemplo, em associações
de simbiose. Neste caso, há uma vantagem
enorme tanto para os fungos quanto para as
plantas. Muitas vezes essas associações resultam
em características adicionais que tornaram
as espécies mais aptas a sobreviver
em ambientes com as condições mais hostis
do planeta.
Uma das relações simbióticas entre microrganismos
e plantas mais conhecidas
são as associações micorrízicas (do grego
mico= fungo e riza= raiz), ou simplesmente,
to, como uma pequena árvore), encontradas
em quase todos os ecossistemas do planeta.
Os fungos micorrízicos arbusculares são considerados
o tipo mais antigo entre as micorrizas,
datando de mais de 450 milhões de anos.
Esses fungos, ou micorrizas, proporcionam
maior absorção de água e nutrientes do solo
pelas plantas e produzem a glomalina. A glomalina
é uma glicoproteína espessa e pegajosa
que se liga a íons metálicos e forma agregados
de solo estáveis que resistem à erosão e à
degradação por outros micróbios. Além disso,
a produção da glomalina requer carbono, um
dos elementos mais abundantes na atmosfera
(na forma de CO2) e um dos principais atores
responsáveis pelo aquecimento global. Esse
carbono é armazenado dentro das hifas (corpo
do fungo) e agregados junto com água e
nutrientes. Assim, a glomalina produzida pelas
micorrizas. Em especial, aquelas do tipo arbuscular
(em forma de arbúsculo ou arbusmicorrizas
contribui diretamente para capturar
e prender o carbono do solo. Em outras
palavras, ela é também importante para auxiliar
na luta contra as mudanças climáticas.
Estudos científicos recentes indicam que a
glomalina, além de armazenar carbono, estimula
o crescimento das raízes das plantas.
Isso permite que algumas espécies tenham
mais sucesso na aquisição de recursos,
como água e nutrientes, e maiores chances
de se desenvolver e sobreviver, particularmente
em ambientes extremos.
Este é o caso que nosso grupo de pesquisas
mostrou em artigo recentemente publicado
na conceituada revista científica Flora.
Embora os solos do campo rupestre sejam,
de modo geral, rasos e pobres em nutrientes,
há neles uma grande variedade de diferen-
Representação esquemática das principais contribuições da glomalina produzida por fungos micorrízicos arbusculares (linha em azul= hifa, elipse azul =
esporos). Esquema: Oki, Y.
Dezembro 2023
Página 04
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
VEJA
Rago, C., Negreiros, D., Oki, Y., Paiva, D. C.,
Gomes, V. M., Pierce, S., & Fernandes, G. W.
2023. Glomalin mediation of plant functional
traits unveiled in an extreme ecosystem. Flora,
305: 152337.
AUTORES
Yumi Oki
Bióloga, Mestre e Doutora
na área de Interações
ecológicas pela
USP, Pós-doc na área de
Ecologia de ecossistemas
pela UFMG.
Daniel Negreiros
Biólogo, Mestre e
Doutor em Ecologia
pela UFMG, Bolsista
do Centro de Conhecimento
em Biodiversidade.
Carla Rago
Algumas espécies de fungos micorrízicos arbusculares encontradas no campo rupestre. Imagens: Coutinho, E.
Bióloga pela Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG) e Mestre
em Biodiversidade e Uso
dos Recursos Naturais
pela Unimontes.
tes habitats, como os campos graminosos, os
porte e rápido crescimento. Em contraste,
campos pedregosos, a canga couraçada e a
nos campos de quartzo, a glomalina estimu-
nodular, dentre muitos outros. Para sobrevi-
lou o aumento de espécies maiores.
Geraldo W Fernandes
ver nesses ambientes diversos, que às vezes
existem lado a lado, as plantas precisam de
parcerias. A mais antiga, e talvez importante,
são as micorrizas.
A pesquisa desenvolvida na Serra do Cipó
Este estudo revelou, pela primeira vez, a
associação entre a história de vida das plantas
e a glicoproteína produzida por fungos
de solo. E que um dos fatores do funcionamento
destes habitats extremos está relacio-
Coordenador do Projeto
PELD Campos Rupestres
e Serra do Cipó, Prof.
Titular de Ecologia pela
UFMG e Membro Titular
da Academia Brasileira
de Ciências.
mostrou que os habitats do campo rupestre
nado a estes microorganismos. Percebemos
ferruginoso, por conterem maior proporção
de argila, concentram mais glomalina do que
no campo rupestre com rochas de quartzo.
Nos campos ferruginosos, a glomalina estimulou
o crescimento de plantas de pequeno
que o tipo de solo encontrado nesses habitats
exerce um papel relevante na conexão
entre a glomalina e as características das
plantas, que definem suas maneiras de sobreviver
nestes ambientes tão estressantes.
Como citar
Oki, Y., Negreiros, D., Rago, C., Fernandes, G. W. 2023. Como
fungos podem ser aliados no combate ao aquecimento global? A
união oportuna entre raízes e fungos que retém gás carbônico no solo.
In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W.
Warming 14:4-5. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.25251676.
Dezembro 2023
Página 05
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
3. Fenocâmeras na Serra do Cipó
Monitorando de perto as queimadas nos campos rupestres da Serra do Cipó
Queimadas muito frequentes no
campo rupestre podem ter efeitos
devastadores para a saúde dessa
vegetação, como a perda de espécies, a degradação
do solo e alterações nos padrões
de crescimento das plantas. Além disso, as
queimadas contribuem para a emissão de
gases do efeito estufa, acentuando os impactos
do aquecimento global. Entendermos
como se dá o crescimento da vegetação
após a passagem do fogo é fundamental
para promovermos práticas sustentáveis de
recuperação da vegetação e que minimizem
os efeitos negativos desses eventos.
As imagens de satélite são as ferramentas
mais comuns para o monitoramento das
vegetações queimadas. Porém, o monitoramento
remoto do fogo no campo rupestre
pode enfrentar duas limitações bem importantes:
a primeira é a resolução espacial. Em
outras palavras significa que não há um detalhamento
fino da vegetação na imagem, o que
impossibilita uma separação dos diferentes
tipos de vegetação que compõem o mosaico
do campo rupestre. A segunda é a resolução
temporal, que significa que existe um atraso
nas imagens, o que prejudica o acompanhamento
imediato e frequente da área queimada.
Com isso, se a vegetação cresce rápido
após a passagem do fogo, perdemos essas
informações.
Monitorar de perto e continuamente as
áreas queimadas pode ser uma forma efetiva
de resolver esse problema. A instalação de câmeras
digitais para monitorar a vegetação já
vem sendo utilizada com resultados bastante
promissores. Essas câmeras são chamadas de
fenocâmeras, porque monitoram a fenologia
das plantas, ou seja, o ciclo de vida
desses organismos. O foco desse monitoramento
está no desenvolvimento foliar, no
crescimento e nas trocas de folhas da vegetação.
Um estudo realizado na Serra do Cipó,
instalou fenocâmeras um dia após a passagem
de um fogo em diversas áreas, o
que permitiu olharmos com detalhes para
a recuperação pós-fogo dessa vegetação,
dia após dia. Em uma única imagem digital
capturada, é possível selecionar e analisar
cada tipo de vegetação do campo rupestre
separadamente e comparar as taxas de
crescimento pós-fogo.
As vegetações com maior acesso e disponibilidade
de água no local, como os cam-
Fotografia que destaca o mosaico de diferentes tipos de vegetação que compõem os campos rupestres. Serra do Cipó, Minas Gerais. Foto: Camargo, M.G.
Dezembro 2023
Página 06
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
pos úmidos e as turfeiras, se recuperaram
mais rapidamente do fogo, em comparação
com os campos pedregosos e afloramentos
rochosos. Além disso, após três anos de monitoramento
pós-fogo, verificamos que todos
os tipos de vegetação cresceram da mesma
forma, apresentando características semelhantes
às que tinham antes do fogo.
Essas informações são muito importantes
para mostrar a resiliência do campo rupestre
após a passagem do fogo e para orientar
as práticas de manejo e conservação deste
ecossistema. A aplicação das fenocâmeras
no monitoramento pós-fogo foi inédita nesse
tipo de estudo e foi publicada em uma
importante revista sobre trabalhos que integram
ecologia e ciências da informação, a
Ecological Informatics.
As mudanças no clima, com o aumento
da temperatura, estão se intensificando, e
seus efeitos já podem ser percebidos. O aumento
da estiagem já vem acontecendo e
tem consequências diretas no aumento das
chances de queimadas. Certamente, manter
este monitoramento contínuo da vegetação
será crucial para acompanharmos os efeitos
iminentes das mudanças climáticas que o
campo rupestre irá sofrer. E para estarmos
preparados para minimizar os seus danos e
intensificarmos o manejo correto e a conservação
deste valioso ecossistema.
Instalação de uma fenocâmera logo após a passagem
do fogo (esquerda), e uma fenocâmera já instalada
sobre um afloramento rochoso (direita). Serra
do Cipó, Minas Gerais. Foto: Morellato, L.P.C.
VEJA
Alberton, B., Alvarado, S. T., Torres, R. S.,
Fernandes, G. W. e L. & Morellato, L. P.
C. 2023. Monitoring immediate post-fire
vegetation dynamics of tropical mountain
grasslands using phenocameras. Ecological
Informatics, 78: 102341.
AUTORES
Bruna Alberton
Pós-doc do Laboratório
de Fenologia, Departamento
de Biodiversidade
do Instituto de
Biociências pela UNESP.
Patrícia C. Morellato
Professora do Departamento
de Biodiversidade,
Lab. de Fenologia
e Diretora do Centro
de Pesquisa em Biodiversidade
e Mudanças
Climáticas – UNESP.
Passagem do fogo registrada por uma fenocâmera que ocorreu em outubro de
2014 e que mostra o avanço da queimada e o retorno do crescimento da vegetação
numa área de campo rupestre. Serra do Cipó, Minas Gerais. Imagens: Morellato, L.P.C.
Como citar
Alberton, B., Morellato, L. P. C. 2023. Fenocâmeras na Serra do
Cipó: Monitorando de perto as queimadas nos campos rupestres
da Serra do Cipó. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R.,
Kenedy-Siqueira, W. Warming 14:6-7. https://doi.org/10.6084/
m9.figshare.25251676.
Dezembro 2023 Página 07
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
4. Reprodução de uma planta endêmica dos campos rupestres mineiros
Sobrevivendo nos afloramentos
Microlicia laniflora (Microliceae), espécie de ocorrência restrita aos afloramentos de rochas da porção mineira da Cadeia do Espinhaço. Foto: Morellato, L.P.C.
O
campo rupestre é um ecossistema
que abriga uma enorme diversidade
de organismos, animais e vegetais,
e suas interações ecológicas. Dentro
desta rica biodiversidade, chama a atenção
a grande proporção de espécies endêmicas,
ou seja, de organismos exclusivos, somente
encontrados em certos tipos de vegetação
dos campos rupestres. Entre as plantas, a
família Melastomataceae, famosa pelos manacás
da serra, é considerada como uma
boa representante, tanto da alta diversidade,
como do elevado grau de endemismos.
Isto porque, as melastomatáceas compõem
uma das famílias mais ricas em espécies dos
campos rupestres, sendo representada principalmente
por gêneros endêmicos como
Cambessedesia, Chaetostoma e Lavoisiera.
Um exemplo da diversificada e exclusiva
riqueza de espécies de Melastomataceae,
presente nos campos rupestres, é a Microlicia
laniflora (Microliceae). Uma espécie cuja ocorrência
está restrita aos afloramentos de rochas
da porção mineira da Cadeia do Espinhaço. A
Microlicia laniflora apresenta flores grandes e
brancas, que destoam do padrão de coloração
vibrante, frequentemente púrpura, observado
para a maioria de suas parentes próximas.
As flores dessas espécies são chamadas
de “flores de pólen”, pois oferecem apenas
o pólen a seus polinizadores. Nessas flores,
a liberação do pólen é possível apenas pela
ação de algumas abelhas capazes de vibrar as
estruturas florais e extrair os grãos de pólen.
Este grupo específico de abelhas realiza um
tipo especial de polinização, conhecido como
polinização vibrátil (buzz pollination), notável
pelo barulho que as abelhas especializadas
fazem ao vibrar as anteras para que o pólen
seja expelido pelos seus poros.
Diversos aspectos florais como coloração,
tamanho, forma estão associados à atração
de polinizadores, ou ao sucesso reprodutivo
das plantas. Além disso, fatores ambientais,
como temperatura e as chuvas, também influenciam
o sucesso reprodutivo. Por exemplo,
indivíduos de plantas submetidos a diferentes
condições de temperatura podem
diferir em suas épocas de floração e atrair
diferentes polinizadores.
Nós amostramos indivíduos de Microlicia
laniflora de três populações em baixa
(1101m), média (1255m) e alta-altitude
(1303m) da Serra do Cipó, Minas Gerais.
Nós avaliamos a fenologia reprodutiva
Dezembro 2023
Página 08
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
(época e duração da floração e frutificação),
a biologia floral (período de abertura
e duração da flor), e polinização ( visitas e
diversidade de polinizadores) dos diferentes
indivíduos selecionados. Além disso, obtivemos
dados microclimáticos (temperatura,
precipitação, umidade relativa) para cada
área de estudo, a partir das estações climatológicas
do PELD.
Os pesquisadores mostraram que a Microlicia
laniflora abre suas flores principalmente
à noite e durante as primeiras horas
da manhã. Este comportamento floral é
intimamente associado ao comportamento
dos seus principais polinizadores. Nós observamos
que espécies de abelhas grandes,
principalmente do gênero Xylocopa, com
capacidade de vibrar as estruturas florais e
com um comportamento crepusculares (menor
luminosidade), são os principais polinizadores
de Microlicia laniflora. Além disso,
vimos que a espécie floresce durante a estação
mais fria e seca do ano e frutifica principalmente
após o início da estação chuvosa,
favorecendo tanto a polinização por grandes
abelhas, como a dispersão de suas minúsculas
sementes.
Observamos que as plantas localizadas
nas altitudes média e alta (ambientes com
menor temperatura) apresentaram maior
duração da floração e maior diversidade de
interações com os polinizadores.
Nossos estudos demonstraram a importante
relação entre os caracteres florais
das espécies e a maior atratividade de seus
polinizadores específicos. Confirmamos o
papel relevante das espécies endêmicas na
manutenção da biodiversidade dos campos
rupestres, demonstrando que Microlicia laniflora
é uma fonte essencial de recurso
para abelhas crepusculares e seus demais
visitantes florais, principalmente nos períodos
de menor disponibilidade de recursos,
como ao longo da estação seca. Também
alertamos para os efeitos das baixas temperaturas,
associados à duração da floração.
A diversidade de respostas reprodutivas
das populações de Microlicia laniflora às
diferentes condições de temperatura ambiental
é especialmente interessante dentro
do cenário atual de mudanças do clima e
do uso da terra. Nossos estudos confirmam
que compreender as respostas reprodutivas
das espécies, e entre seus indivíduos e populações,
é fundamental para avaliarmos os
impactos atuais e futuros das mudanças climáticas
na conservação e preservação dos
ecossistemas naturais e de suas interações
ecológicas.
Polinização por vibração. Foto: Morellato, L.P.C.
VEJA
Soares, N.C. & Morellato, L. P. C. 2023. Intraspecific
variation in phenology and reproductive success of
Microlicia laniflora: a narrow-endemic species,
naturally isolated on rocky outcrops. International
Journal of Plant Sciences 184:7, 56
Soares, N. C. et al. 2021. The role of individual
variation in flowering and pollination in the
reproductive success of a crepuscular buzzpollinated
plant. Annals of Botany 127:213–222.
Soares, N.C. & Morellato, L. P. C. 2018.
Crepuscular pollination and reproductive ecology
of Trembleya laniflora (Melastomataceae), an
endemic species in mountain rupestrian grasslands.
Flora 238:138– 147.
AUTORES
Natalia Costa Soares
Pesquisadora pós doutoral
do Grupo de Ecología
de la Polinización
(EcoPol), Universidad
Nacional del Comahue
(INIBIOMA/CONICET),
Río Negro, Argentina.
Patrícia C. Morellato
Professora do Departamento
de Biodiversidade,
Lab. de Fenologia
e Diretora do Centro
de Pesquisa em Biodiversidade
e Mudanças
Climáticas – UNESP.
Indíviduo e, em destaque, flor da espécie endêmica Microlicia laniflora. Imagens: Morellato, L.P.C.
Como citar
Soares, N. C., Morellato, L. P. C. 2023. Reprodução de
uma planta endêmica dos campos rupestres mineiros:
sobrevivendo nos afloramentos. In: Fernandes, G. W.,
Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W. Warming
14:8-9. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.25251676.
Dezembro 2023 Página 09
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
5. Ilhas florestais no topo da Serra
Como os insetos se deslocam entre os capões de mata do Espinhaço
Nas regiões mais altas das montanhas
que nascem no meio do estado de
Minas Gerais e se expandem até o
meio da Bahia (a Cadeia do Espinhaço), são
comuns ilhas florestais conhecidas como os
“capões de mata”, muitas delas localizadas
no topo da Serra do Cipó.
Essas ilhas fazem parte de verdadeiros
arquipélagos florestais cercados por campos
de gramíneas, pequenos arbustos e ervas
que compõem os campos rupestres. Esses
campos que cercam as ilhas podem funcionar
como barreiras para espécies de animais que
dependem das condições ou dos recursos
fornecidos somente pelas ilhas de floresta.
Muitos desses animais são pequenos insetos,
como besouros, formigas, borboletas,
abelhas, vespas, dentre muitos outros.
Na ecologia o termo “ilhas” é amplo
e geralmente se refere a áreas de habitat
isoladas e distintas, cercadas por um
ambiente diferente que impede ou dificulta
a movimentação de organismos entre uma
ilha e outra. A ecologia de ilhas é uma
área de estudo que examina os efeitos que
o isolamento e o tamanho das ilhas em
ambientes fragmentados pode ter na chegada
de novas espécies ou desaparecimento de
outras que ali existiam.
Com o intuito de entender melhor como
os processos atuam ao longo do tempo para
manter a diversidade de insetos em ilhas
florestais, nós avaliamos a perda e ganho da
diversidade de insetos em um arquipélago
florestal a partir dos efeitos do tamanho da ilha
florestal, do isolamento e da área de floresta
na paisagem, ao decorrer de seis anos.
Hipóteses recentes apontam que a
quantidade de floresta pode ter um efeito
ainda maior na perda ou ganho de espécies
do que o isolamento e o tamanho das ilhas
juntos. Em outras palavras, quanto maior a
quantidade de floresta, maior será o impacto
positivo sobre a diversidade.
Para testar essas hipóteses, nós coletamos
amostras de diferentes grupos de insetos para
representar a taxa de deslocamento desses
insetos entre ilhas. Utilizamos os seguintes
grupos de insetos: formigas, rola-bostas,
abelhas, vespas e borboletas frugívoras (que
se alimentam de néctar de flores).
Consideramos as formigas o grupo com
menor capacidade de deslocamento, pois a
maioria das espécies só tem asas por um curto
período. No outro extremo, as borboletas
são o grupo com maior capacidade de
deslocamento, já que algumas espécies
podem migrar por centenas de quilômetros.
Os demais grupos – rola-bostas, abelhas e
vespas – têm capacidade de deslocamento
intermediário. Os insetos foram coletados em
14 ilhas da Serra do Cipó durante a estação
chuvosa entre 2014 e 2020, com métodos
padronizados para cada grupo.
E o que nós observamos é que as
formigas são as que mais sofreram perdas
(desaparecimento ou extinção) ao longo
dos anos, tanto em espécies raras como as
mais comuns. As borboletas ganharam mais
espécies ao longo do período de pesquisa,
predominando espécies mais comuns, o
Ilha de vegetação no topo da montanha da Serra do Cipó, MG. Foto: Solar, R.
Dezembro 2023
Página 10
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
que tornou mais homogênea a população de
borboletas. E a principal causa dessa mudança
na composição dos grupos de insetos ao longo
do tempo é o isolamento entre ilhas, ou seja, a
distância entre ilhas florestais vizinhas.
Essas descobertas fornecem informações
valiosas sobre as interações complexas entre as
características das ilhas florestais, os atributos
da paisagem e as capacidades de deslocamento
que moldam a variação da diversidade de
insetos nos topos das montanhas. Assim,
conservar a quantidade de floresta na paisagem
e manter a conexão florestal entre ilhas florestais
(capões de mata) são necessários porque a
variação temporal de colonização (ganho) e
desaparecimento (perda) local das espécies
de insetos pode depender da capacidade de
deslocamento desses organismos.
Veja
Confira uma versão extendida desse texto: Clique aqui.
Da Silva, P. G. et al. 2023. Isolation drives species gains
and losses of insect metacommunities over time in a
mountaintop forest archipelago. Journal of Biogeography
50(12): 2069-2083.
AUTORES
Pedro Giovâni da Silva
Prof. Visitante na Universidade
de Brasília e
Prof. Colaborador do
PPG Ecologia, Conservação
e Manejo da
Vida Silvestre na Universidade
Federal de Minas
Gerais.
Frederico S Neves
Vice Coordenador do
Projeto PELD Serra do
Cipó, Prof. Titular de
Ecologia pela Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG).
Como citar
da Silva, P. G., Neves, F. S. 2023. Isolamento das ilhas florestais
determina a composição de insetos ao longo do tempo no topo
da Serra do Cipó. In: Fernandes, G. W., Ramos L., Saloméa, R.,
Kenedy-Siqueira, W. Warming 13:10-11. https://doi.org/10.6084/
m9.figshare.25251676.
Dezembro 2023
Página 11
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
6. A ciência que eu faço
Cientista: Dr. Patrícia C. Morellato
Dra. Patrícia C. Morellato.
Editorial Warming (EW): Conte um pouco
sobre você.
Eu sou Patricia Morellato uma mulher
brasileira, mãe de Alice e André, pesquisadora
que ama fazer ciência, a natureza, a
vida em família, os amigos e ensinar. Adoro
cozinhar, viajar, ver o mar e as montanhas.
Cresci indo à praia, descendo a Serra do
Mar através da neblina e tendo a vista
espetacular da floresta atlântica e do mar se
descortinando aos meus olhos. Já mais tarde,
quando me formei, conheci os campos rupestres
e me apaixonei por essas montanhas
e paisagem espetacular aonde voltei para
pesquisar anos depois, já como professora
universitária.
EW: Por que você decidiu ser cientista? Por
que escolheu estudar Biologia?
Quando tinha entre 13 e 14 anos, eu
adorava programas e livros que falavam de
pesquisa em geral, especialmente da natureza
e decidi que faria o curso de Biologia na USP.
Inicialmente pensei que queria as áreas de Zoologia
ou Biologia Marinha. Mas ao longo do
curso de Biologia me apaixonei pelas plantas e
sua Ecologia e Evolução. Acho que um fascínio
pela natureza e seus mistérios. Como evoluíram
as plantas e animais e suas interações. Por
que as florestas são tão diversas e o que determina
essa riqueza de espécies? Como conservar
a natureza? Como é quem são os animais
e plantas que vivem nas diferentes regiões da
terra e por quê? Essas inquietações e perguntas
é que me levaram a estudar Biologia.
EW: O que você faz hoje em dia? Explica um
pouco sobre sua linha de pesquisa.
Hoje em dia eu sou Professora Titular do
Departamento de Biodiversidade da UNESP
(Universidade Estadual Paulista) em Rio Claro,
São Paulo. Sou também a Coordenadora/Diretora
do Centro de Pesquisa em Biodiversidade
e Mudanças do Clima - CBioClima, iniciado
em 2023, com financiamento da FAPESP (CE-
PID - Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão).
Minha principal linha de pesquisa estuda
as mudanças recorrentes no ciclo de vida
das plantas e animais ou Fenologia, mais
recentemente denominada Ecologia Temporal.
Nessa área que é a dinâmica temporal da
produção de folhas, flores, frutos e sementes
pelas plantas. Também estudo as interações
planta animal, principalmente a polinização.
Investigo a dinâmica dos ecossistemas,
especialmente aqueles sazonalmente secos,
como o cerrado e a caatinga. Tenho buscado
também agregar o entendimento da biologia
da conservação e dos impactos das Mudanças
Climáticas na fenologia, interações bióticas,
comunidades e ecossistemas. Eu também
estudo um pouco da evolução das espécies e
das limitações impostas pela filogenia, ecologia
Como citar
e alterações antrópicas. Gosto de dar aulas e
orientar estudantes e jovens pesquisadores, de
colaborar com diferentes grupos de pesquisa
no Brasil e pelo mundo e de divulgar a ciência
Geraldo W Fernandes
Coordenador do Projeto
PELD Campos Rupestres
e Serra do Cipó, Prof.
Titular de Ecologia pela
UFMG e Membro Titular
da Academia Brasileira
de Ciências.
Bióloga e Mestre em
Ciências
e sua importância.
EW: Como você enxerga o futuro dessa área
que você trabalha?
Um futuro promissor, pois temos muito a
entender sobre a Biologia e Diversidade do
mundo natural para poder conservar, restaurar
e entender tudo o que ela provê para
nós (serviços ecossistêmicos) e que é essencial
para vivermos em paz com a natureza,
saudáveis e com justiça e bem-estar para
toda a sociedade. Só assim alcançaremos
os objetivos do desenvolvimento sustentável
com saúde, paz, educação e igualdade para
ENTREVISTADORES
Letícia Ramos
Biológicas
pela Unimontes, Doutora
em Ecologia pela
UFMG, Bolsista do
programa PELD-CRSC.
todos!
Ramos, L., Fernandes, G.W. 2023. A ciência que eu
faço: Dra. Patricia C. Morellato. In: Fernandes, G. W.,
Ramos L., Saloméa, R., Kenedy-Siqueira, W. Warming
14:6-7. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.25251676.
Dezembro 2023
Página 12
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
7. Produção Científica do Peld-CRSC em 2023
Alberton, B., Alvarado, S., Torres, R.S., et
al. 2023. Monitoring immediate post-fire
vegetation dynamics of tropical mountain
grasslands using phenocameras. Ecological
Informatics 78:102341.
Alberton, B., Martin, T.C.M., Da Rocha, H.R.,
et al. (2023) Relationship between tropical leaf
phenology and ecosystem productivity using
phenocameras. Frontiers in Environmental
Science 11:1223219.
Barbosa, M., Fernandes, G.W., Moris, R. et
al. 2023. Experimental evidence for a hidden
network of higher-order interactions in a
diverse arthropod community. Current biology
33: 381- 88.
Bianca Lima. 2023 (Trabalho de conclusão de
curso). Mapeamento da regulação hídrica no
Espinhaço G. Wilson Fernandes. Monografia
(Ciências Biológicas, Universidade Federal de
Minas Gerais). Orientador: Fernandes, G.W.
Co-orientador: Rezende, F.
Boscolo, D. Nobrega, R., Ferreira, P.A. et al.
2023. Atlantic flower-invertebrate interactions:
A data set of occurrence and frequency of
floral visits. Ecology 104: 3900.
Camargo, M.G.G., Arista, M., Lunau, K. et
al. 2023. Flowering phenology of species
with similar flower colours in species-rich
communities. Flora (304): 152312.
Camarota, F., Dáttilo, W., Silva, P.G. et
al. 2023. The spatial distribution of insect
communities of a mountaintop forest
archipelago is not correlated with landscape
structure: A multitaxa approach. Insect
Conservation and Diversity. 16:790-800.
Costa, F.V., Viana-Junior, A.B., Aguilar, R., et
al. 2023. Biodiversity and elevation gradients:
insights on sampling biases across worldwide
mountains. Journal of Biogeography 1:1-11.
H.G. et al. 2023. Hidden costs of Europe’s
deforestation policy. Science 379: 341-342
Freitas, C.D., Novais, S. Santos-Júnior, J.E.
et al. 2023. Distribution patterns of orchid
bees in xeric and mesic habitats on a tropical
mountaintop. Insect Conservation and
Diversity 16: 658-673.
Guimarães, G.F., Soares, M.P., Santos,
R.M. et al. 2023. Reproductive and
vegetative phenology of the micro endemic
Stachytarpheta cassiae (Verbenaceae).
Rodriguesia 74: 00412022.
Guzella M.S., Fernandes, G.W., Oki, Y. et al.
2023. The authentic Bee-Coin: A tokenized
financial instrument for revenue-generating
projects with social or environmental impact.
Revista Brasileira de Finanças: Brazilian
Finance Review 21:1-19.
Lamounier, A., Negreiros, D., Fernandes,
G.W. 2023. Effects of fire frequency regimes
on flammability and leaf economics of nongraminoid
vegetation. Fire 6: 265.
Loiola, P., Morellato, L.P.C., Camargo,
M.G.G., et al. 2023. The shared-role of
environment and plant life-form shaping plant
diversity in an old-tropical mountain hotspot.
Journal of Mountain Science 20: 1842–1853.
Luna, P., Villalobos, F., Escobar, F. et al.
2023. Temperature dissimilarity drives flowervisitor
interaction turnover across elevation
in the Mexican Transition Zone. Journal of
Biogeography 50: 1737-1748.
Maia, R., Arantes-Garcia, L., Pereira, E.
G. et al. 2023. Sunflower physiological
adjustments to elevated CO 2
and temperature
do not improve reproductive performance and
productivity. Environmental and Experimental
Botany 213: 105448.
Nagy, L., Eller, C.B., Mercado, L. et al. 2023.
South American mountain ecosystems and
global change – a case study for integrating
theory and field observations for land surface
modelling and ecosystem management. Plant
Ecology & Diversity e1-27.
Ordóñez-Parra, C., Dayrell, R.L.C. Negreiros,
D. et al. 2023. Rock n’ Seeds: A database
of seed functional traits and germination
experiments from Brazilian rock outcrop
vegetation Ecology 104: 3852.
Salomão, N.V., Silva, L. S., Fernandes, G.W.
et al. 2023. Criteria for the implementation
of ecological corridors in fragmented areas in
southern Brazil. Ciência florestal 33: e70337.
Santos, F.M., Soares, M.P., Guimarães, G.F.
et al. 2023. Floral biology and pollination
ecology of the micro-endemic Stachytarpheta
cassiae (S. Atkins) (Verbenaceae). Brazilian
Journal of Botany 46:177-187.
Silva, P.G., Salomão, P., González-Tokman, R.
et al. 2023. Temporal changes of taxonomic
and functional diversity in dung beetles
inhabiting forest fragments and pastures
in Los Tuxtlas Biosphere Reserve, Mexico.
Revista Mexicana de Biodiversidad, v. 94, p.
e945059.
Soares, N.C., Morellato, P. 2023. Intraspecific
variation in phenology and reproductive
success of Microlicia laniflora: a narrowendemic
species, naturally isolated on rocky
outcrops. International Journal of Plant
Sciences 184: 562–575.
Van der sande, Powers, J.S., Kuyper, T.W. et
al. 2023. Soil resistance and recovery during
neotropical forest succession. Philosophical
Transactions Of The Royal Society B-Biological.
Sciences 378: 20210074.
Fernandes, S., Couto T.B.A., Ferreira, M. et al.
2023. Conserving Brazil’s free-flowing rivers.
Science 379:887-887.
Fernandes, G.W., Hernani, H.F.M., Bergalho,
Medeiros, T.P., Morellato, L.P.C., Silva, T.S.F.
et al. 2023. Spatial distribution and temporal
variation of tropical mountaintop vegetation
through images obtained by drones. Frontiers
In Environmental Science 11: 1083328.
Wang, J., Song G., Lidell, M. et al. 2023. An
ecologically-constrained deep learning model
for tropical leaf phenology monitoring using
PlanetScope satellites. Remote sensing of
environment 286: 113429.
Dezembro 2023
Página 13
Warming
Uma Newsletter do PELD – CRSC
FINANCIADORES
SIGA O PELD-CRSC
EDITORAÇÃO
Geraldo Wilson
Fernandes
Coordenação
e redação
Letícia Ramos
Raíra Saloméa
Walisson Kenedy
Siqueira
Redação Revisão Diagramação
MATERIAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. VENDA PROIBIDA!
A CÓPIA E DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DESTE PRODUTO É APRECIADA E INCENTIVADA.
Dezembro 2023