Revista eMOBILIDADE+ Nº 7
A revista eMobilidade + dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
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www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />
N.º7<br />
julho/agosto/setembro | 2024<br />
Diretora: Cátia Mogo<br />
SMART<br />
CITIES<br />
Como se mede<br />
a sustentabilidade<br />
das nossas cidades?<br />
BARÓMETRO DOS TRANSPORTES<br />
O VII Barómetro dos Transportes<br />
revela o sentimento dos atores do<br />
setor rodoviário de mercadorias<br />
e ainda que se perspetive<br />
pessimismo para a atividade no<br />
próximo ano quando comparada<br />
a 2023, este é menor que o<br />
expresso nas respostas de 2022.<br />
EFICIÊNCIA E SEGURANÇA DOS TVDE<br />
A monitorização em tempo real dos tempos<br />
de condução e descanso dos condutores<br />
TVDE em Portugal é uma das principais<br />
funcionalidades da solução da Tecmic, que<br />
permite que os condutores estejam sempre<br />
cientes do tempo que passaram ao volante<br />
e do tempo de descanso necessário para<br />
cumprir com a legislação.<br />
PADRÕES DE MOBILIDADE<br />
A forma como as pessoas se deslocam é<br />
distinta consoante fatores como a idade,<br />
o género, as atividades de cuidado a<br />
seu cargo, a perceção de segurança do<br />
espaço público, ou mesmo capacidade<br />
financeira. Aqui se aprofunda como a<br />
forma de mobilidade varia de acordo<br />
com o fator género.
THE FUTURE<br />
OF MOBILITY<br />
CONTACT<br />
Câmara de Comércio e Indústria<br />
Luso-Alemã / Delegação Porto<br />
Ms. Mónica Colaço<br />
T +351 224 100 031<br />
monica-colaco@ccila-portugal.com
REVISTA <strong>Nº</strong>7<br />
JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2024<br />
EDIÇÃO TRIMESTRAL<br />
FALE CONNOSCO<br />
emobilidademais@invesporte.pt<br />
+351 215 914 293<br />
CARLOS BRANCO<br />
INTELIGÊNCIA<br />
E SUSTENTABILIDADE<br />
P<br />
or ser cada vez mais corrente falar-se de Smart Cities (Cidades<br />
Inteligentes), há muito boa gente convencida que a construção<br />
de quilómetros de ciclovias haverá de acrescentar “Inteligência” à<br />
sua cidade. Ora, se estas são bem-vindas, de “Smart” só encerram<br />
o facto de melhorarem a mobilidade individual e o ambiente de<br />
todos, que a saúde coletiva agradece.<br />
Apenas à laia de mera introdução, aqui abrimos um fólio, que<br />
internacionalmente já tem uma generosa expressão, pois é assunto que é<br />
levado muito a sério por algumas das grandes metrópoles mundiais. Tentamos<br />
explicar, com a ajuda da Academia espanhola de Navarra, o “que é isso”<br />
de Smart Cities, e como se mede a sustentabilidade destas, desde que os<br />
políticos que as governam decidiram que era momento de atuar. Também<br />
sucintamente, digamos que derivam da inovação, de uma boa governança,<br />
de gestão e planeamento, de tecnologia bem aplicada, de bom acesso - e<br />
partilha - à informação. Têm como fim único a sustentabilidade futura das<br />
cidades, e pelo caminho devem proporcionar aos cidadãos um estilo de vida<br />
mais saudável. Têm muito que se lhe diga. O contributo da <strong>eMOBILIDADE+</strong> é<br />
assumidamente humilde, como que uma nota introdutória, mas que já deverá<br />
servir para colocar as pessoas a pensar no que se vai fazendo nas suas terras, a<br />
começar nas comunidades locais (freguesias), extrapolando depois para todo<br />
o perímetro urbano. Atente no que aqui pode ler e depois compare.<br />
--------------------------------------------------------------------------------------<br />
DIRETORA<br />
Cátia Mogo<br />
--------------------------------------------------------------------------------------<br />
EDITOR<br />
Eduardo de Carvalho<br />
----------------------------------------------------------------------------------------<br />
REDAÇÃO<br />
Ana Filipe<br />
Carlos Branco<br />
Márcia Dores<br />
--------------------------------------------------------------------------------------<br />
COLABORADORES<br />
António Macedo, Filipe Carvalho<br />
e Acácio Pires<br />
--------------------------------------------------------------------------------------<br />
DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING<br />
Nuno Francisco<br />
---------------------------------------------------------------------------------------<br />
PUBLICIDADE<br />
Margarida Nascimento<br />
Rui Garrett<br />
--------------------------------------------------------------------------------------<br />
PAGINAÇÃO<br />
Rogério Grilho<br />
---------------------------------------------------------------------------------------<br />
ASSINATURAS<br />
Fernanda Teixeira<br />
--------------------------------------------------------------------------------------<br />
Registo ERC N.º 127896<br />
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PROPRIEDADE<br />
Eduardo de Carvalho<br />
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INVESPORTE<br />
EDITORA DE PUBLICAÇÕES, LDA<br />
Contribuinte N.º 505 500 086<br />
Edição, Redação e Administração<br />
R. António Albino Machado, 35 G<br />
1600-259 Lisboa<br />
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dos artigos, fotografias, ilustrações e<br />
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os pontos de vista da Direção da <strong>Revista</strong>,<br />
do Conselho Editorial ou do Editor.<br />
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ESTATUTO EDITORIAL:<br />
https://www.eurotransporte.pt/noticia/38/5193/<br />
estatuto-editorial-e-lei-da-transparencia/<br />
www.emobilidademais.pt<br />
www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/
REVISTA <strong>Nº</strong> 7<br />
JUL/AGO/SET 2024<br />
6<br />
SMART CITIES – O QUE É ISSO?<br />
QUE TIPO DE INDICADORES DE QUALIDADE FORNECEM AS CIDADES E QUAIS<br />
OS CAMINHOS A TRILHAR PARA SER UMA CIDADE DE DESTAQUE. COM A AJUDA<br />
DA ACADEMIA, AQUI FICA UMA INTRODUÇÃO AO TEMA SMART CITIES.<br />
14 MOBILIDADE SUSTENTÁVEL<br />
O CEO da Siemens Mobility Portugal<br />
diz-nos que a adoção de alternativas<br />
de transporte coletivo torna-se crucial<br />
para a descarbonização do setor dos<br />
transportes.<br />
28<br />
18 ATIVIDADE PORTUÁRIA<br />
Há ineficiências burocráticas que<br />
contrariam a boa operacionalidade<br />
dos portos, limitando sua capacidade<br />
de gerar valor e empregos e apoiar a<br />
economia de forma flexível e eficaz. É a<br />
opinião de Vítor Caldeirinha, professor,<br />
investigador e consultor portuário.<br />
28 CATIVAR/CONQUISTAR<br />
PASSAGEIROS<br />
Uma boa comunicação, dita fiável,<br />
correta, consistente e atualizada<br />
pode ajudar a conquistar passageiros.<br />
Um artigo de Sandra Lameiras,<br />
administradora da OPT.<br />
36 TIC(S) DE MOBILIDADE<br />
Não é difícil imaginar veículos com<br />
condução autónoma e geridos<br />
centralmente, a rolar coladinhos uns aos<br />
outros, a velocidades hoje totalmente<br />
inimagináveis, mesmo nos cruzamentos.<br />
Um artigo de Manuel Relvas.<br />
56<br />
56 TECNOLOGIAS<br />
DE INFORMAÇÃO<br />
Os gémeos digitais na logística foi um<br />
conceito introduzido pela NASA para<br />
a simulação do voo das suas naves<br />
espaciais. Filipe Carvalho, CEO da<br />
Wide Scope, conta-nos como este foi<br />
transferido para a vida empresarial.<br />
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4 e-MOBILIDADE<br />
+
TEMA DE CAPA<br />
Smart Cities<br />
o que é isso?<br />
Como se mede a sustentabilidade<br />
das nossas cidades?<br />
É mais um anglicismo que já entrou no léxico do português falado, e que embora ainda não tenha entrada no<br />
dicionário é sofrivelmente entendível pela maioria das pessoas como Cidades Inteligentes, ou Cidades Sustentáveis.<br />
Mas Smart Cities são muito mais que isso, cujo significado não se limita a obras de construção de ciclovias<br />
em perímetros urbanos. São muito mais complexas. Derivam da inovação, de uma boa governança, de gestão<br />
e planeamento, de tecnologia bem aplicada, de bom acesso - e partilha - à informação. Têm como fim único a<br />
sustentabilidade futura das cidades, e pelo caminho devem proporcionar aos cidadãos um estilo de vida mais saudável.<br />
Muitas das nossas cidades dizem-se já ser Smart Cities. Será mesmo assim? Sem outras pretensões, lemos o que a<br />
Academia tem escrito sobre o assunto e a forma como medir, avaliar e elaborar uma classificação, dita de ranking.<br />
6 e-MOBILIDADE
Do compromisso assumido<br />
pelos Estados com a<br />
transição energética, com<br />
a transformação digital e<br />
pela redução drástica da<br />
má qualidade do ar, cidades de todos<br />
o mundo estão a inovar, quer pela<br />
inteligência das medidas adotadas, quer<br />
pela melhor mobilidade de pessoas e<br />
dos bens que necessitam no seu quotidiano,<br />
em busca da melhoria da sua<br />
própria sustentabilidade. E há quem se<br />
dedique a medi-la e a classificá-la. O<br />
Index Cities in Motion, elaborado pelo<br />
Centro de Globalização e Estratégia da<br />
IESE Business School (Universidade de<br />
Navarra, Espanha), classifica as cidades<br />
de acordo com mais de uma centena de<br />
indicadores.<br />
Ano após ano, Londres, Nova Iorque<br />
e Paris têm uma pontuação elevada<br />
numa série de indicadores-chave no<br />
Índice de Cidades em Movimento do<br />
IESE. O Index Cities in Motion 2024<br />
pode ser acedido aqui. Trata-se de um<br />
índice mundial de cidades inteligentes<br />
e sustentáveis elaborado pelo Centro<br />
de Globalização e Estratégia da IESE<br />
Business School da Universidade de<br />
Navarra e nesta edição adicionou novos<br />
indicadores de saúde das cidades, como<br />
o número de startups unicórnios ou<br />
corporações listadas na Fortune Global<br />
500 em cada cidade.<br />
ANÁLISES DE SUCESSO<br />
De Edimburgo, liderando em coesão social,<br />
a Hong Kong, dominando a tecnologia,<br />
a lista mostra as muitas maneiras<br />
diferentes pelas quais uma cidade pode<br />
ter sucesso.<br />
As cidades são organismos complexos e<br />
O RANKING DAS<br />
SMART CITIES<br />
1. Londres<br />
2. Nova Iorque<br />
3. Paris<br />
4. Tóquio<br />
5. Berlim<br />
6. Singapura<br />
7. Oslo<br />
8. Amesterdão<br />
9. São Francisco<br />
10. Chicago<br />
76. Lisboa<br />
105. Porto<br />
e-MOBILIDADE 7
TEMA DE CAPA<br />
Smart Cities<br />
Que tipo de indicadores de<br />
qualidade fornecem as cidades<br />
Pesquisas sugerem que cidades de alta qualidade são boas não apenas por serem<br />
lugares agradáveis para se viver, mas também são boas para negócios. Então, o<br />
que fazer com que uma cidade seja dita de qualidade, ou “inteligente”?<br />
Cada centro urbano é único, e onde um triunfará em termos de governança ou<br />
economia, outro pode ser um líder mundial em infraestrutura de transporte. O IESE<br />
Cities in Motion Index classifica as cidades de acordo com 114 indicadores que<br />
alimentam as seguintes nove dimensões-chave.<br />
Capital humano<br />
Os indicadores incluem o nível de escolaridade da população e seu acesso à<br />
cultura.<br />
Coesão social<br />
Informado por indicadores como proteção a grupos vulneráveis, desenvolvimento<br />
comunitário e saúde.<br />
Economia<br />
Mencionado o PIB atual e estimado, atividades de inovação e, pela primeira vez<br />
no índice deste ano, o número de empresas unicórnios e empresas na lista Fortune<br />
Global 500.<br />
Governança<br />
Inclui a qualidade das intervenções estatais.<br />
Meio ambiente<br />
Incluindo níveis de poluição, qualidade da água e outros indicadores de vitalidade<br />
dos ecossistemas e vulnerabilidade climática.<br />
Mobilidade e transporte<br />
Facilidade de locomoção e acesso aos serviços públicos. Os indicadores também<br />
incluem as taxas de posse de bicicletas e a extensão das linhas de meto, que<br />
indicam o investimento de uma cidade em seus cidadãos.<br />
Planeamento urbano<br />
São referidas as infraestruturas de saúde, serviços de saneamento e política<br />
habitacional, mas também projetos de inteligência artificial que promovam o<br />
crescimento urbano e o bem-estar.<br />
Perfil internacional<br />
Branding e divulgação turística estratégica, incluindo a realização de conferências<br />
internacionais, ofertas hoteleiras e o índice de preços de restaurantes.<br />
Tecnologia<br />
Utilizações inteligentes das tecnologias TIC, disponibilidade de banda larga e<br />
percentagens de agregados familiares com computadores/telemóveis.<br />
Os resultados mais recentes podem ser explorados em um mapa online, onde é<br />
possível comparar cidades e detalhar para ver pontuações dentro de cada uma das<br />
nove dimensões. A calculadora IESE Cities in Motion é uma ferramenta que permite<br />
aos usuários inserirem dados de indicadores para uma cidade e descubram como<br />
ela seria classificada com base nessa entrada. A calculadora também pode ser<br />
usada para mostrar como a classificação de uma cidade pode mudar.<br />
dinâmicos e, embora a maioria dos cidadãos<br />
conheça uma cidade de sucesso<br />
quando nela circula, identificar o que<br />
a torna ótima – seja para negócios ou<br />
habitabilidade – nem sempre é fácil.<br />
Há nove anos, o IESE compila o Índice<br />
Cidades em Movimento, liderado pelos<br />
professores Pascual Berrone (Professor<br />
da Cadeira de Sustentabilidade e Estratégia<br />
de Negócios da Schneider Electric<br />
e codiretor Académico do IESE Cidades<br />
em Movimento) e Joan Enric Ricart<br />
(Professor da Cátedra Carl Schroeder de<br />
Gestão Estratégica e codiretor Académico<br />
do IESE Cidades em Movimento).<br />
No relatório mais recente, eles analisam<br />
183 cidades em 92 países, sendo 85<br />
capitais.<br />
O objetivo é identificar o que realmente<br />
precisa acontecer para se construir uma<br />
cidade de classe mundial, desde atrair<br />
e reter os melhores talentos até promover<br />
o desenvolvimento económico e a<br />
proteção ambiental. Todos esses indicadores<br />
contribuem para a criação de<br />
cidades sustentáveis, justas e habitáveis,<br />
capazes de resistir a choques económicos<br />
e climáticos.<br />
Nos últimos resultados, Europa e América<br />
do Norte dominam. Cinco cidades no<br />
top 10 são europeias: Londres (1ª), Paris<br />
(3ª), Berlim (5ª), Oslo (7ª) e Amesterdão<br />
(8ª). Três estão nos Estados Unidos:<br />
Nova Iorque (2º), São Francisco (9º) e<br />
Chicago (10º). Completando o top 10<br />
estão Tóquio (4º) e Singapura (6º).<br />
Além do top 10, a Europa respondeu por<br />
mais da metade (26) das cidades no top<br />
50, enquanto a América do Norte foi o<br />
lar de mais 14. O restante estava localizado<br />
na Ásia (Tóquio, Singapura, Seul,<br />
Pequim, Taipei, Hong Kong e Xangai) e<br />
Austrália (Melbourne, Sydney e Canberra).<br />
Lisboa e Porto são as únicas cidades<br />
portuguesas que integram este Index e<br />
foram classificadas, respetivamente nas<br />
76ª e 105ª posições.<br />
Enquanto isso, os países em desenvolvimento<br />
do mundo continuam a lutar<br />
para chegar aos primeiros lugares. Entre<br />
as cidades latino-americanas, a mais<br />
bem colocada é Santiago (91ª), seguida<br />
por Buenos Aires (115ª) e Montevideu<br />
(119ª). A Cidade do Cabo (141ª) tem a<br />
melhor posição da África.<br />
8 e-MOBILIDADE
DIVERSIDADE<br />
As cidades são organismos<br />
complexos e dinâmicos e,<br />
embora a maioria dos cidadãos<br />
conheça uma cidade de<br />
sucesso quando nela circula,<br />
identificar o que a torna<br />
ótima nem sempre é<br />
fácil<br />
Que caminhos trilhar para ser<br />
uma cidade de destaque<br />
As cidades são grandes organismos,<br />
compreendendo espaços públicos e<br />
privados, e acolhendo e servindo uma<br />
gama diversificada de moradores e<br />
visitantes. É relativamente fácil errar.<br />
Mas também há muitas áreas em que as<br />
cidades estão a aplicar abordagens inovadoras<br />
para melhorar a habitabilidade<br />
e o tecido urbano.<br />
Cada um desses casos de estudo<br />
demonstra o fator humano que afeta<br />
cada cidade: os autores (Pascual Berrone<br />
e Joan Enric Ricart) destacam que<br />
muitas cidades podem ser inteligentes,<br />
mas é preciso estratégia e uma sociedade<br />
participativa ativa para torná-las sábias.<br />
E embora reconheçam que as cidades<br />
devem “desenhar seu próprio plano,<br />
definir suas próprias prioridades e ser<br />
flexíveis o suficiente para se adaptarem<br />
às mudanças”, há certas melhores<br />
práticas generalizáveis. Que incluem:<br />
priorizar a inovação tecnológica e a<br />
adoção para enfrentar os desafios;<br />
resolução de problemas económicos,<br />
como a inflação e o aumento dos custos<br />
da energia; procurar o equilíbrio entre<br />
crescimento económico, justiça social e<br />
sustentabilidade;<br />
Há uma miríade de projetos urbanos<br />
bem-sucedidos em todo o mundo e<br />
uma riqueza de experiência que pode<br />
ser adaptada às realidades locais.<br />
e-MOBILIDADE 9
TEMA DE CAPA<br />
Smart Cities<br />
Líderes de categoria (global)<br />
Cidade do Cabo, #1 em África<br />
Embora a segunda maior cidade da África do Sul ocupe a 141ª posição no índice<br />
geral, ela demonstra um compromisso em melhorar a habitabilidade dos cidadãos,<br />
facilitando o acesso à informação, fornecendo Wi-Fi gratuito nos transportes<br />
públicos urbanos e usando dados em tempo real para apoiar serviços de resposta a<br />
emergências e vigilância.<br />
Edimburgo, #1 em Coesão Social<br />
Apesar de uma população crescente, a capital escocesa continua a ser altamente<br />
classificada por considerações sociais. Também tem uma série de novos projetos de<br />
inovação, incluindo um centro de operações que gere os dados em tempo real da<br />
cidade 24 horas por dia, melhorando tudo, desde a gestão do tráfego e resposta a<br />
desastres até à pegada de carbono da cidade.<br />
Hong Kong, #1 em Tecnologia<br />
A cidade exibe um compromisso duradouro com a transformação digital, e iniciativas<br />
como o iAM Smart e os aplicativos de rastreio COVID-19 mostram como a<br />
tecnologia inteligente pode ter efeitos tangíveis na vida quotidiana dos cidadãos.<br />
Melbourne, #1 na Oceânia<br />
A segunda cidade da Austrália é líder em design urbano biofísico, que integra a natureza<br />
ao tecido da vida urbana, criando oásis de biodiversidade no meio da selva<br />
urbana. A atualizar esta política para a era das cidades inteligentes estão iniciativas<br />
como o Data in the Park, que analisa interações e comportamentos no espaço público<br />
para melhorar a gestão, manutenção e design futuro de espaços verdes.<br />
Santiago (Chile), #1 na América Latina<br />
Depois de uma iniciativa de 2017 para converter um quarto de sua frota de autocarros<br />
públicos para veículos elétricos, a capital chilena cumpriu e superou a sua meta,<br />
com quase 7.000 veículos (30% da frota) elétricos até ao momento. Essa e outras<br />
iniciativas verdes também resultaram em uma redução de 70% no número de dias<br />
com má qualidade do ar nos últimos 10 anos.<br />
Há uma miríade de projetos<br />
urbanos bem-sucedidos<br />
em todo o mundo e uma<br />
riqueza de experiência<br />
que pode ser adaptada às<br />
realidades locais<br />
10 e-MOBILIDADE
CLASSIFICAÇÃO<br />
O Index Cities in Motion,<br />
elaborado pelo Centro de<br />
Globalização e Estratégia da IESE<br />
Business School (Universidade<br />
de Navarra, Espanha), classifica<br />
as cidades de acordo com<br />
mais de uma centena de<br />
indicadores<br />
e-MOBILIDADE 11
TEMA DE CAPA<br />
Smart Cities<br />
[Síntese de] introdução<br />
ao conceito de Smart Cities<br />
As entidades públicas têm procurado<br />
novas formas de preparar as cidades<br />
para o futuro e têm encontrado no<br />
conceito de cidades inteligentes uma<br />
possível solução. Fazendo uso de diversas<br />
novidades tecnológicas, pretende-se<br />
que esta nova geração de cidades<br />
seja promotora de um estilo de vida<br />
mais saudável para os seus cidadãos e<br />
que permita a adoção de práticas mais<br />
sustentáveis.<br />
Mas o que as caracteriza? Que conceito<br />
é esse? Segundo a definição da União<br />
Europeia, Smart Cities é um conjunto<br />
de sistemas e de pessoas que interagem<br />
de forma inteligente usando energia,<br />
materiais, serviços e recursos de forma<br />
sustentável de forma a beneficiar<br />
os cidadãos e os negócios. Ou seja,<br />
uma Smart City trabalha de forma<br />
integrada com os seus cidadãos com o<br />
objetivo de melhorar os vários domínios<br />
das cidades (segurança, saúde,<br />
limpeza, transportes, iluminação pública<br />
e mobilidade, entre outros). Para<br />
isso, recorre à tecnologia e inovação<br />
para melhorar a qualidade de vida dos<br />
seus habitantes, aumentar o valor económico<br />
gerado naquela comunidade e<br />
promover a sustentabilidade ambiental.<br />
Com o avançar da tecnologia, são<br />
hoje cada vez mais as inovações que<br />
contribuem para o crescimento do<br />
conceito de Smart Cities e que podem<br />
ser aplicados no quotidiano dos<br />
cidadãos. Segundo o índice IESE Cities<br />
in Motion, para que uma cidade seja<br />
considerada inteligente, é importante<br />
que utilize um grande número destas<br />
soluções, ou pressupostos:<br />
» Utilização das tecnologias de informação<br />
e comunicação (TIC)<br />
» Automatização e controlo de edifícios<br />
» Planeamento urbano eficiente<br />
» Mobilidade urbana e transportes<br />
públicos sustentáveis<br />
» Gestão inteligente dos resíduos<br />
sólidos<br />
» Melhoria da sustentabilidade ambiental<br />
» Preocupação com o ambiente social<br />
» Tecnologias aplicadas à educação<br />
» Tecnologias aplicadas à saúde<br />
» Sistema de comércio eletrónico<br />
» Transparência entre governos e<br />
cidadãos<br />
» Dados compartilhados em Open Data<br />
(fonte aberta)<br />
Através de tecnologias como o IoT<br />
(Internet das Coisas), open data, inteligência<br />
artificial ou analytics, as Smart<br />
Cities têm assim uma maior capacidade<br />
para monitorizar e promover uma melhor<br />
interação com os seus cidadãos,<br />
através da disponibilização de informação<br />
útil em tempo real (como os horários<br />
de transportes, as alterações no<br />
trânsito, os contratos públicos, entre<br />
outros) e da simplificação de processos<br />
do quotidiano das cidades.<br />
Atualmente, já é possível observar nas<br />
principais Smart Cities tecnologias<br />
como os sensores nos postes de eletricidade<br />
para medir a qualidade do ar, a<br />
instalação de painéis solares em semáforos<br />
ou sinais de trânsito, medidores<br />
inteligentes de consumo de água e luz<br />
ou mesmo o incentivo à utilização de<br />
veículos elétricos.<br />
12 e-MOBILIDADE
Os 4 pilares<br />
das Smart Cities<br />
As Smart Cities são avaliadas com base no sucesso em torno de quatro<br />
pilares: social, gestão, tecnologia e sustentabilidade. Um centro urbano é<br />
considerado mais inteligente à medida que tais pilares se equilibram para<br />
manter comunidades eficientes, conectadas e sustentáveis.<br />
1-Social<br />
As Smart Cities colocam os cidadãos no centro do<br />
planeamento urbano. Esse pilar visa melhorar a<br />
qualidade de vida, promover a inclusão social e garantir o bem-estar dos<br />
habitantes.<br />
São essenciais as iniciativas que fortalecem a participação comunitária,<br />
oferecem acesso igualitário a serviços públicos, promovem a diversidade e<br />
garantem a segurança.<br />
A tecnologia também é empregue para criar canais de comunicação<br />
direta entre governantes e cidadãos, permitindo feedback instantâneo e<br />
participação ativa na construção do ambiente urbano.<br />
2-Gestão<br />
A eficiência na gestão pública é vital para<br />
o sucesso de uma cidade inteligente. A<br />
implementação de sistemas inteligentes de governança, que utilizam dados<br />
em tempo real para otimizar processos, melhora a tomada de decisões e<br />
reduzir a burocracia.<br />
A automação de serviços públicos, a monitorização de indicadores urbanos<br />
e a integração de setores administrativos contribuem para uma gestão mais<br />
eficaz, ágil e alinhada às necessidades locais.<br />
3-Tecnologia<br />
A tecnologia é o alicerce das<br />
Smart Cities. Este pilar abrange<br />
a implementação de infraestruturas avançadas, como redes de sensores,<br />
Internet das Coisas (IoT) e conectividade de alta velocidade.<br />
Além disso, a adoção de soluções inovadoras, como big data, inteligência<br />
artificial e blockchain, é essencial para impulsionar a eficiência operacional,<br />
a segurança e a conectividade inteligente entre sistemas urbanos.<br />
4-Sustentabilidade<br />
A busca por soluções<br />
sustentáveis é um<br />
elemento chave das Smart Cities. Elas devem favorecer práticas que visam a<br />
preservação do meio ambiente, eficiência energética, gestão responsável de<br />
resíduos e a criação de espaços urbanos ecologicamente equilibrados.<br />
A implementação de fontes de energia renovável, a promoção da mobilidade<br />
sustentável e o planeamento urbano voltado para a preservação ambiental<br />
são componentes essenciais desse pilar.<br />
FUTURO<br />
Fazendo uso de diversas<br />
novidades tecnológicas,<br />
pretende-se que esta nova<br />
geração de cidades seja<br />
promotora de um estilo<br />
de vida mais saudável<br />
e-MOBILIDADE 13
OPINIÃO<br />
Tornar<br />
a mobilidade<br />
sustentável<br />
uma realidade<br />
Num momento em que a<br />
necessidade de combater e mitigar<br />
as alterações climáticas é inegável<br />
e está no topo das prioridades a<br />
nível global, o setor dos transportes<br />
desempenha um papel fundamental.<br />
Sendo um dos setores que mais tem<br />
contribuído para as emissões de<br />
gases com efeito de estufa, tornase<br />
crucial a sua descarbonização<br />
através da adoção de alternativas<br />
de transporte coletivo, como<br />
transportes públicos eficientes e<br />
sustentáveis. Mais do que um mero<br />
desejo, a mobilidade sustentável é<br />
agora uma necessidade imperativa.<br />
LUÍS CANDEIAS<br />
CEO Siemens Mobility Portugal<br />
Os objetivos da União<br />
Europeia para este setor<br />
são claros: as emissões de<br />
dióxido de carbono terão<br />
de reduzir em 55% até<br />
2030 e em 90% até 2050, em comparação<br />
com os níveis de 1990. Estas são<br />
metas a que os países do bloco europeu<br />
se comprometeram, no âmbito do Acordo<br />
de Paris, e que nos colocam a todos<br />
sob uma espécie de relógio em contagem<br />
decrescente. É agora o momento de agir<br />
e, para o cumprimento dos objetivos<br />
climáticos, é essencial o continuar a investir<br />
no setor ferroviário eficiente, o que<br />
significa um aumento em soluções de digitalização<br />
e inovadoras em que Portugal<br />
tem competências demonstradas.<br />
Uma ferrovia robusta surge como alternativa<br />
ao transporte rodoviário, que é<br />
responsável pela maior fatia de emissões<br />
que o setor dos transportes produz,<br />
sendo fundamental para dar resposta a<br />
um dos grandes desafios da sociedade<br />
e por conseguinte do setor: a urbanização,<br />
cuja tendência de crescimento está<br />
prevista continuar. O investimento em<br />
infraestruturas ferroviárias quer de alta<br />
velocidade (neste momento já consen-<br />
14 e-MOBILIDADE
sual no país) ou de linhas convencionais<br />
para passageiros e/ou carga é, por isso,<br />
uma estratégia vital para impulsionar a<br />
descarbonização do setor e o desenvolvimento<br />
económico. Contudo, está longe<br />
de ser a única forma de combate.<br />
Embora os sistemas de transporte sustentáveis<br />
sejam a espinha dorsal de uma<br />
economia próspera, é essencial que os esforços<br />
vão além de estratégias e soluções<br />
cujo objetivo é única e exclusivamente o<br />
combate às alterações climáticas. É crucial<br />
perceber os impactos na sociedade,<br />
assim como a segurança e fiabilidade dos<br />
É agora o momento de agir e, para o cumprimento dos<br />
objetivos climáticos, é essencial o continuar a investir<br />
no setor ferroviário eficiente, o que significa um<br />
aumento em soluções de digitalização e inovadoras em<br />
que Portugal tem competências demonstradas<br />
transportes e isto só é possível através de<br />
um ecossistema de mobilidade integrado,<br />
que permite às cidades uma gestão<br />
abrangente.<br />
Estes impactos na sociedade têm um efeito<br />
profundo na vida dos cidadãos, como<br />
pude comprovar ao participar como responsável<br />
pela Sinalização e Comunicações<br />
no projeto de Alta Velocidade do Egito,<br />
antes de assumir as funções de CEO em<br />
Portugal. Este projeto é um exemplo claro.<br />
Com o objetivo de tornar-se uma das<br />
30 maiores economias do mundo, o Egito<br />
enfrenta o desafio estabelecer uma rede de<br />
transporte de passageiros e mercadorias<br />
eficiente e segura, capaz de acompanhar<br />
o crescimento populacional e económico<br />
e-MOBILIDADE 15
OPINIÃO<br />
Luís Candeias<br />
desejado. A solução passa<br />
pela transformação da<br />
vida quotidiana, através<br />
da implementação de<br />
sistemas de transportes<br />
tecnologicamente avançados,<br />
com a construção de<br />
uma rede ferrovia de 2.000 quilómetros a<br />
partir do zero, ligando os pontos críticos<br />
económicos e de desenvolvimento do<br />
país. Este tipo de soluções tem um impacto<br />
positivo tanto na economia quanto<br />
na qualidade de vida dos cidadãos no<br />
Egito, uma vez que 90% da população<br />
terá acesso ao transporte ferroviário após<br />
conclusão deste projeto.<br />
E é exatamente este tipo de transformação<br />
que a Siemens Mobility tem<br />
procurado promover a nível mundial. A<br />
introdução de padrões de sustentabilidade<br />
que permitam a descarbonização<br />
e a desmaterialização de toda a cadeia<br />
de valor da mobilidade é um dos nossos<br />
principais objetivos. Temos também<br />
trilhado esse caminho em Portugal,<br />
contribuindo ativamente para o desenvolvimento<br />
do país, com a modernização<br />
do setor dos transportes e participação<br />
ativa em vários projetos do sistema de<br />
transportes nacional.<br />
Ao longo das últimas décadas a Siemens<br />
Mobility em Portugal tem estado envolvida<br />
em diferentes áreas de mobilidade,<br />
com o nosso portefólio dividido em seis<br />
categorias: soluções digitais e software,<br />
infraestruturas ferroviárias, serviços<br />
ferroviários, material circulante, componentes<br />
e sistemas de material circulante e<br />
projetos chave na mão.<br />
O fornecimento de material<br />
circulante para a CP<br />
e o Metro de Lisboa, assim<br />
como o projeto chave-na-<br />
-mão do Metro Sul do Tejo,<br />
em que desenvolvemos o<br />
projeto global e fornecemos<br />
o material circulante, as telecomunicações,<br />
a sinalização e os sistemas de tração,<br />
permitiu-nos estabelecer uma relação de<br />
confiança com os parceiros portugueses,<br />
que até hoje se mantém e que em determinados<br />
projetos internacionais têm sido<br />
fundamentais.<br />
A nossa principal prioridade é promover<br />
uma mobilidade integrada, digital<br />
e conectada. Isso reflete-se no nosso<br />
investimento na capacidade de engenharia<br />
em território nacional, o que<br />
se tem traduzido em vários projetos<br />
de desenvolvimento da infraestrutura<br />
de transportes digital e inteligente em<br />
projetos de manutenção para material<br />
circulante e sinalização, assegurando<br />
uma prestação de serviço com elevados<br />
níveis de fiabilidade e disponibilidade.<br />
A Siemens Mobility em Portugal tem<br />
vindo a adquirir conhecimento específico<br />
ao longo dos anos, destacando-se<br />
pela sua capacidade de inovação impulsionada<br />
pela digitalização. Um exemplo<br />
disso é o Centro de Competências de<br />
Software em Aveiro, que desenvolve<br />
novas soluções para transporte público.<br />
Estas soluções melhoram a experiência<br />
Siemens Mobility Portugal<br />
Engineering | Project | Sales<br />
Digital Services<br />
CoC Activities<br />
RS Obsolescence management<br />
dos passageiros, potenciam um aumento<br />
de uso aos operadores e capacitam a<br />
transformação através da digitalização<br />
inteligente.<br />
A utilização racional de recursos é fundamental<br />
para a sustentabilidade, sendo<br />
que a extensão da vida útil dos equipamentos<br />
desempenha um papel crucial<br />
nesse sentido. O projeto “SIBAS16 2.0”,<br />
desenvolvido pelo Departamento de<br />
Inovação da Siemens Mobility Portugal,<br />
é a nossa contribuição mais recente. O<br />
objetivo é prolongar o período de vida<br />
útil do material circulante em operação,<br />
entre 10 e 15 anos. Esta solução permite<br />
aos operadores responder à crescente<br />
procura de transportes reduzindo custos<br />
operacionais.<br />
Neste momento estamos a exportar<br />
esta solução para o Metro de Munique,<br />
destacando-nos como o Centro de<br />
Competências mundial da Siemens para<br />
o “SIBAS16 2.0”.<br />
O tempo de mudança é agora e nós,<br />
como parceiros duradouros, estamos<br />
preparados para acompanhar esta mudança<br />
na ferrovia portuguesa e contribuir<br />
para um futuro mais sustentável.<br />
16 e-MOBILIDADE
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OPINIÃO<br />
Portos<br />
Burocracia paralisante vs autonomia<br />
Há que explorar as ineficiências burocráticas que impactam negativamente os objetivos operacionais dos portos,<br />
limitando sua capacidade de gerar valor e empregos e apoiar a economia de forma flexível e eficaz. Há que<br />
olhar para o modelo hanseático adotado no norte da Europa, que mostra menos burocracia e maior autonomia<br />
operacional, resultando numa gestão mais dinâmica e menos suscetível a atrasos burocráticos.<br />
VÍTOR CALDEIRINHA<br />
Assessor do Conselho de Administração da<br />
APSS, Professor, Investigador e Consultor<br />
portuário<br />
Os portos são vitais para o<br />
comércio global, funcionando<br />
como portas<br />
essenciais para a entrada<br />
e saída de bens em uma<br />
economia e para a sua competitividade.<br />
No entanto, a eficiência dessas infraestruturas<br />
críticas frequentemente sofre<br />
devido a complexas camadas de burocracia<br />
governamental a nível mundial,<br />
questões legais e regulatórias arraigadas,<br />
e a falta de recursos humanos e financeiros<br />
adequados. Há que explorar essas<br />
ineficiências burocráticas que impactam<br />
negativamente os objetivos operacionais<br />
dos portos, limitando sua capacidade de<br />
gerar valor e empregos e apoiar a economia<br />
de forma flexível e eficaz.<br />
Diversos modelos de gestão portuária<br />
são adotados no mundo, com diferenças<br />
significativas em termos de eficácia e<br />
agilidade. No norte da Europa, o modelo<br />
hanseático oferece um exemplo de gestão<br />
menos burocrática e mais autónoma,<br />
proporcionando um contraponto interessante<br />
aos modelos latinos, onde a gestão<br />
é frequentemente emaranhada em uma<br />
teia de regulamentações ambientais e<br />
dependências financeiras e de pequenas<br />
decisões do estado. Essas diferenças não<br />
apenas moldam a operação dos portos,<br />
mas também influenciam diretamente<br />
a competitividade regional e a eficácia<br />
com que os portos podem responder às<br />
necessidades do comércio global.<br />
Há que discutir detalhadamente como a<br />
burocracia excessiva pode desviar o foco<br />
dos portos de suas operações principais,<br />
usando exemplos específicos para ilustrar<br />
os desafios enfrentados e explorando<br />
18 e-MOBILIDADE
Há que explorar<br />
essas ineficiências<br />
burocráticas<br />
que impactam<br />
negativamente os<br />
objetivos operacionais<br />
dos portos, limitando<br />
sua capacidade de gerar<br />
valor e empregos e<br />
apoiar a economia de<br />
forma flexível e eficaz<br />
possíveis soluções para mitigar esses<br />
problemas, incluindo a consideração de<br />
reformas no modelo de gestão e privatização<br />
de portos.<br />
A inércia burocrática nos portos manifesta-se<br />
em várias formas e afeta diferentes<br />
aspetos da operação portuária. Esses problemas<br />
devem categorizados por tipos,<br />
para entender como cada um contribui<br />
para a redução da eficiência e eficácia<br />
operacional.<br />
Complexidade e Rigidez – Em muitos<br />
países, os portos enfrentam um ambiente<br />
regulatório que é não apenas complexo,<br />
mas também extremamente rígido. Isso<br />
inclui regulamentações ambientais estritas<br />
que, embora criadas para proteger o<br />
meio ambiente, muitas vezes resultam<br />
em atrasos significativos nos projetos de<br />
expansão e modernização portuária devido<br />
à necessidade de extensas revisões e<br />
aprovações ambientais.<br />
Dependência Financeira do Estado<br />
– Os portos operando sob modelos<br />
de gestão burocráticos frequentemente<br />
dependem de fundos ou decisões estatais<br />
para qualquer despesa ou investimento<br />
significativo, sem qualquer autonomia<br />
de gestão ágil. Isso pode criar um ciclo<br />
de ineficiência onde os portos, que<br />
vivem em mercados muito competitivos,<br />
são incapazes de agir rapidamente<br />
face a oportunidades ou necessidades<br />
de modernização devido à necessidade<br />
de aprovações orçamentais detalhadas e<br />
muitas vezes inflexíveis.<br />
Processos de Contratação Prolongados<br />
– Mesmo após a transformação<br />
de algumas autoridades portuárias em<br />
empresas com o objetivo de aumentar a<br />
e-MOBILIDADE 19
OPINIÃO<br />
Vítor Caldeirinha<br />
Contrastando com os modelos latinos, o modelo<br />
hanseático adotado no norte da Europa mostra<br />
menos burocracia e maior autonomia operacional,<br />
resultando numa gestão mais dinâmica e menos<br />
suscetível a atrasos burocráticos<br />
20 e-MOBILIDADE
agilidade na contratação, muitos portos<br />
mundiais ainda enfrentam uma burocracia<br />
extensiva no processo de contratação<br />
pública. Isso inclui a obrigação de seguir<br />
protocolos públicos detalhados que<br />
podem atrasar a implementação de novas<br />
tecnologias ou a construção de infraestrutura<br />
essencial.<br />
Restrições na Seleção de Fornecedores<br />
– A necessidade de aderir estritamente<br />
aos procedimentos de licitação pública<br />
pode limitar a capacidade dos portos de<br />
escolher os fornecedores mais eficientes<br />
ou inovadores, muitas vezes favorecendo<br />
o menor preço em detrimento da qualidade<br />
ou eficácia.<br />
Impasses no Desenvolvimento Portuário<br />
– As relações complexas e às vezes<br />
conflituosas entre autoridades portuárias<br />
e governos municipais ou regionais<br />
podem resultar em impasses significativos.<br />
Tal, frequentemente atrasa projetos<br />
cruciais de expansão ou reestruturação<br />
necessários para acomodar navios modernos<br />
de maior porte ou para expandir<br />
a capacidade de armazenamento e<br />
logística.<br />
Questões de Expansão e Compensação<br />
Ambiental – Projetos de expansão<br />
portuária são muitas vezes alvos de<br />
contestações públicas e políticas, que<br />
falham em preparar, especialmente quando<br />
envolvem questões de compensação<br />
ambiental. Essas disputas podem atrasar<br />
durante anos projetos críticos, enquanto<br />
os processos legais e de compensação são<br />
negociados e implementados.<br />
Resistência Interna à Mudança - Em<br />
muitos portos, especialmente aqueles<br />
com longas tradições em práticas e hierarquias<br />
específicas, pode haver uma resistência<br />
significativa à mudança interna.<br />
Isso dificulta a agilidade e a implementação<br />
de novas tecnologias<br />
ou práticas<br />
operacionais que<br />
poderiam melhorar<br />
a eficiência.<br />
Infraestrutura<br />
Desatualizada<br />
– A demora nas<br />
aprovações para<br />
modernização,<br />
expansão ou em<br />
obter financiamento pode resultar em<br />
infraestrutura portuária que se torna<br />
obsoleta, sem capacidade de resposta<br />
atempada, ou mesmo sem utilidade. Isso<br />
não apenas reduz a eficácia operacional,<br />
mas também coloca o porto em desvantagem<br />
competitiva em relação a outros<br />
que podem operar mais eficientemente<br />
com equipamentos modernos.<br />
PROBLEMAS A RESOLVER<br />
As dificuldades em gerir custos e<br />
questões de compensação ambiental<br />
intensificam contestações públicas e<br />
estendem indefinidamente projetos<br />
de expansão, muitas vezes vistos<br />
negativamente pelas comunidades locais<br />
INÉRCIA BUROCRÁTICA<br />
Estes problemas de inércia burocrática,<br />
categorizados por tipos, destacam a<br />
necessidade de reformas profundas nos<br />
sistemas de gestão portuária mundial<br />
para que se possam adaptar mais rapidamente<br />
às flutuações das necessidades<br />
do comércio global e às expectativas<br />
ambientais e sociais contemporâneas.<br />
A ênfase excessiva em sustentabilidade<br />
ou na digitalização, desvinculada do objetivo<br />
central de eficiência operacional, e<br />
os impasses nas relações de longo prazo<br />
entre porto e cidade complicam, ou a<br />
dificuldade em aceitar<br />
compensações<br />
ambientais, podem<br />
atrasar a expansão e<br />
o desenvolvimento<br />
portuário. As dificuldades<br />
em gerir<br />
custos e questões<br />
de compensação<br />
ambiental intensificam<br />
contestações<br />
públicas e estendem indefinidamente<br />
projetos de expansão, muitas vezes<br />
vistos negativamente pelas comunidades<br />
locais.<br />
Contrastando com os modelos latinos,<br />
o modelo hanseático adotado no norte<br />
da Europa mostra menos burocracia e<br />
maior autonomia operacional, resultando<br />
numa gestão mais dinâmica e<br />
menos suscetível a atrasos burocráticos.<br />
Este modelo permite uma resposta mais<br />
rápida às mudanças do mercado e uma<br />
melhor capacidade de criar valor e empregos<br />
de forma eficaz. Neste modelo, as<br />
administrações possuem mandatos com<br />
forte autonomia de gestão orçamental e<br />
e-MOBILIDADE 21
OPINIÃO<br />
Vítor Caldeirinha<br />
de investimento (exceto para grandes investimentos)<br />
do acionista Estado central,<br />
regional ou municipal, sendo posteriormente<br />
avaliados (de forma positiva<br />
com prémios ou de forma negativa com<br />
a demissão ou outra responsabilização)<br />
sem ficarem enredados em orçamentos<br />
minuciosos rubrica a rubrica ao estilo de<br />
Direções Gerais, pedidos de autorização<br />
ao Estado para tudo e mais alguma coisa,<br />
e sem serem obrigados à teia burocrática<br />
da contratação pública que leva a longos,<br />
complexos e kafkianos procedimentos<br />
que impedem a operação e a eficiência/<br />
eficácia num setor em concorrência<br />
direta.<br />
OS TUP NO BRASIL<br />
A transformação de portos públicos em<br />
operações privatizadas tem emergido<br />
como uma estratégia<br />
promissora para<br />
superar ineficiências<br />
e revitalizar infraestruturas<br />
essenciais<br />
ao comércio global.<br />
A experiência bem-<br />
-sucedida de portos<br />
privados, como<br />
os Terminais de<br />
Uso Privado (TUP)<br />
no Brasil, oferece um modelo valioso<br />
significativo sobre como a privatização<br />
pode efetivamente transformar portos<br />
públicos que enfrentam desafios crónicos<br />
relacionados com a burocracia e subinvestimento.<br />
No Brasil, a privatização da gestão e das<br />
operações portuárias tem permitido uma<br />
maior flexibilidade e eficiência operacional.<br />
Os TUP, especificamente, são<br />
instalações portuárias que não são administradas<br />
diretamente pelas autoridades<br />
portuárias estatais, mas por empresas<br />
privadas que possuem e operam suas<br />
próprias instalações. Estes terminais têm<br />
demonstrado uma capacidade superior<br />
para adaptar-se rapidamente às mudanças<br />
no mercado global, investir em<br />
tecnologia de ponta, e gerir suas operações<br />
de forma mais eficaz e com maior<br />
orientação para o serviço ao cliente.<br />
Quando não é possível replicar o modelo<br />
do norte da Europa de gestão autónoma<br />
e ágil de autoridades portuárias, a chave<br />
pode ser replicar o sucesso dos TUP<br />
noutros contextos, por exemplo com a<br />
TERMINAIS DE USO PRIVADO<br />
A experiência bem-sucedida de portos<br />
privados, como os Terminais de Uso<br />
Privado (TUP) no Brasil, oferece um<br />
modelo valioso significativo sobre<br />
como a privatização pode efetivamente<br />
transformar portos públicos<br />
estruturação cuidadosa dos contratos de<br />
concessão de autoridades portuárias e<br />
privatização das mesmas. Estes contratos<br />
devem ser projetados para alinhar<br />
os incentivos do setor privado com os<br />
objetivos de longo<br />
prazo de eficiência<br />
e desenvolvimento<br />
económico nacional<br />
e regional.<br />
Incentivos Claros<br />
para Investimentos<br />
– os contratos<br />
de concessão das<br />
autoridades portuárias<br />
precisam de<br />
oferecer incentivos claros para investimentos<br />
em infraestrutura e tecnologia<br />
que aumentem a capacidade e eficiência<br />
do porto.<br />
Responsabilidades Definidas – É<br />
crucial que as responsabilidades dos<br />
operadores privados sejam claramente<br />
definidas, incluindo manutenção, segurança,<br />
expansão e gestão<br />
ambiental.<br />
Transparência e Prestação<br />
de Contas – Mecanismos<br />
robustos de<br />
transparência e prestação<br />
de contas devem<br />
ser incorporados aos<br />
contratos para assegurar<br />
que os operadores<br />
privados cumpram não<br />
apenas com as normas operacionais,<br />
mas também com as regulamentações<br />
ambientais e sociais.<br />
Mecanismos de Acompanhamento<br />
Efetivo – A implementação de sistemas<br />
de monitorização em tempo real e o uso<br />
de tecnologias de informação podem<br />
EUROPA<br />
Quando não é possível<br />
replicar o modelo do norte da<br />
Europa de gestão autónoma e<br />
ágil de autoridades portuárias,<br />
a chave pode ser replicar o<br />
sucesso dos TUP<br />
facilitar a supervisão das operações<br />
portuárias e garantir que os padrões de<br />
desempenho sejam mantidos.<br />
Para a implementação bem-sucedida<br />
da privatização, é vital que haja um<br />
entendimento claro dos desafios locais e<br />
regionais, bem como um compromisso<br />
político e social com a reforma dos portos.<br />
A privatização não é uma solução<br />
única para todos os problemas e deve<br />
ser adaptada para refletir as condições<br />
económicas, políticas e sociais específicas<br />
de cada país ou região.<br />
Adicionalmente, é fundamental que<br />
haja um diálogo contínuo entre o governo,<br />
a indústria e as comunidades locais<br />
para garantir que a transição para a<br />
gestão privada dos portos seja realizada<br />
de forma justa e que os benefícios da<br />
privatização sejam amplamente distribuídos.<br />
Exemplos de países como o<br />
Brasil, Grécia, Austrália, Nova Zelândia<br />
e Reino Unido podem ser um farol.<br />
No entanto, parece que a solução mais<br />
adequada seria passar<br />
pela replicação dos<br />
modelos hanseáticos de<br />
gestão de autoridades<br />
portuárias nos modelos<br />
latinos landlord um pouco<br />
por todo o mundo.<br />
Só em último caso, não<br />
existindo financiamento<br />
para os investimentos<br />
gerais do porto, ou<br />
caso não seja possível adotar o modelo<br />
hanseático, a privatização de autoridades<br />
portuárias terá de ser a solução para<br />
manter os portos num nível adequado<br />
de competitividade para servir a<br />
economia e as cadeias logísticas e não a<br />
máquina pública do Estado.<br />
22 e-MOBILIDADE
OPINIÃO<br />
Vida útil<br />
de um veículo<br />
1. INTRODUÇÃO<br />
A atempada renovação da frota de veículos<br />
de uma empresa de transporte é<br />
uma importante decisão atendendo ao<br />
elevado valor patrimonial dos mesmos<br />
e atendendo ainda aos meios humanos<br />
e materiais de que a empresa deve<br />
dispor para conseguir uma adequada<br />
disponibilidade dos veículos de modo<br />
a conseguir a satisfação das necessidades<br />
dos clientes.<br />
A empresa deverá estabelecer um<br />
plano de renovação que permita uma<br />
adequada previsão dos montantes<br />
anuais de investimento. No entanto,<br />
esse plano só pode ser estabelecido se<br />
for conhecido, para cada segmento da<br />
frota a sua vida útil económica.<br />
2. CONCEITO E CÁLCULO<br />
A vida útil de um veículo, ou de uma<br />
família de veículos, é a quantidade<br />
de quilómetros para a qual se verifica<br />
que o custo total, médio, acumulado e<br />
atualizado é mínimo.<br />
O custo é total porque se consideram<br />
os custos de investimento e os custos<br />
de manutenção.<br />
Investimento<br />
Manutenção<br />
Valor da aquisição<br />
Encargos financeiros<br />
Por custo médio entende-se o custo<br />
por quilómetro percorrido.<br />
O custo é acumulado pois se adicionam<br />
os custos desde o início da<br />
JOÃO REIS SIMÕES<br />
Engº Mecânico (IST - 1970)<br />
utilização do veículo.<br />
O custo é atualizado pois os valores<br />
a utilizar são os “custos constantes”,<br />
isto é, inflacionados ou deflacionados<br />
para o ano em curso.<br />
2.1. Investimento<br />
As grandezas a ter em consideração<br />
são as seguintes:<br />
• custo de aquisição de um veículo<br />
novo - CA<br />
• encargos financeiros – EF<br />
O valor dos encargos financeiros<br />
(EF) depende das condições<br />
negociadas com a instituição financeira,<br />
em particular a taxa de juros<br />
praticada e o prazo de reembolso.<br />
O valor do investimento a<br />
considerar é:<br />
I = CA + EF<br />
O custo médio acumulado atualizado<br />
correspondente ao investimento<br />
diminuirá permanentemente com a<br />
utilização do veículo (note-se que esta<br />
é uma amortização técnico-económica<br />
e não contabilística, e portanto não<br />
tem limite temporal):<br />
I maa = I u<br />
em que u é a utilização do veículo, isto<br />
é, a sua quilometragem acumulada.<br />
2.2.Manutenção<br />
Os custos de manutenção a considerar<br />
são os correspondentes aos<br />
24 e-MOBILIDADE
diversos tipos de manutenção:<br />
Preventiva<br />
Curativa<br />
Corretiva<br />
Sistemática<br />
Preditiva (diagnóstica)<br />
Paliativa<br />
Desempanagem<br />
Reparação<br />
Os custos de manutenção podem ser<br />
considerados em conjunto porque a<br />
sua evolução em função da utilização é<br />
semelhante, podendo ser representada<br />
por uma equação do tipo:<br />
M = a.u + b.u δ<br />
Além de parcelas de custo que se mantêm<br />
constantes ao longo da utilização,<br />
como é o caso da manutenção preventiva<br />
sistemática – valor acumulado<br />
variando linearmente com a utilização,<br />
a que corresponde o termo a.u da equação<br />
–, outras parcelas variam exponencialmente<br />
com a utilização – termo b.u δ .<br />
Note-se que o valor de δ é obtido na fase<br />
da construção da curva, pela correlação<br />
entre os valores dos custos anuais e as<br />
quilometragem nos respectivos anos.<br />
Uma das razões para este tipo de crescimento<br />
é o aparecimento de operações<br />
de manutenção preventiva e curativa<br />
(avarias) mais importantes, e portanto<br />
de reparação mais onerosa tanto na<br />
componente peças como na componente<br />
mão-de-obra.<br />
O custo médio, acumulado e atualizado<br />
da manutenção varia segundo a equação:<br />
A<br />
(δ - 1)<br />
M maa = a + b.u<br />
atempada renovação da<br />
frota de veículos de uma<br />
empresa de transporte é<br />
uma importante decisão<br />
atendendo ao elevado<br />
valor patrimonial dos<br />
mesmos e atendendo<br />
ainda aos meios humanos<br />
e materiais de que a<br />
empresa deve dispor para<br />
conseguir uma adequada<br />
disponibilidade dos<br />
veículos<br />
e-MOBILIDADE 25
OPINIÃO<br />
João Reis Simões<br />
Nalguns estudos da vida útil de<br />
veículos são considerados os custos<br />
relativos ao gasóleo, aos pneus,<br />
à reparação de abalroamentos e à<br />
reparação de órgãos rotáveis[ Motor,<br />
caixa de velocidades, diferencial, etc.],<br />
mas, se para os dois primeiros, tal é<br />
considerado inadequado, pois o consumo<br />
de combustível depende da taxa<br />
de ocupação e, portanto, da produção<br />
(tonelada-quilómetro) e o desgaste<br />
dos pneus depende essencialmente<br />
do tipo e condições dos pavimentos<br />
onde os veículos circulam, para os<br />
dois últimos a sua consideração deve<br />
ser efetuada de forma diferente da<br />
que é utilizada, pois a reparação de<br />
uma grande avaria, que ocorra a baixa<br />
quilometragem, isto é, totalmente<br />
inesperada, e a reparação de abalroamentos<br />
devem ser considerados como<br />
investimento.<br />
ma das razões para este tipo de crescimento é o aparecimento de operações de<br />
anutenção preventiva e curativa (avarias) mais importantes, e portanto de reparação<br />
ais onerosa tanto na componente peças como na componente mão-de-obra.<br />
custo médio, acumulado e actualizado da manutenção varia segundo a equação:<br />
M maa = a + b. u δ−1<br />
alguns estudos da vida útil de veículos são considerados os custos relativos ao gasóleo,<br />
s pneus, à reparação de abalroamentos e à reparação de órgãos rotáveis<br />
2.3.Custo total<br />
1 , mas, se para<br />
dois primeiros, tal é considerado inadequado, pois o consumo de combustível<br />
pende da taxa ocupação e, portanto, da produção (tonelada-quilómetro) e o<br />
sgaste dos pneus O custo dependetotal, essencialmente médio, do tipo acumulado e condições dose pavimentos atualizado<br />
onde os<br />
ículos circulam, para os<br />
evolui<br />
dois últimos<br />
segundo<br />
a sua consideração<br />
a equação<br />
deve ser<br />
(soma<br />
efectuada de forma<br />
ferente da que é utilizada, pois a reparação de uma grande avaria, que ocorra a baixa<br />
ilometragem, das isto é, duas totalmente anteriores):<br />
inesperada, e a reparação de abalroamentos devem ser<br />
nsiderados como investimento.<br />
3. Custo total<br />
custo total, médio, acumulado e actualizado evolui segundo a equação (soma das duas<br />
teriores):<br />
C tmaa =<br />
No Gráfico 1 estão representadas as curvas<br />
I correspondentes δ−1<br />
+ a + b. u ao investimento, à<br />
u<br />
manutenção e ao total.<br />
Pode, ainda, concluir-se que, para o<br />
período da vida útil, os custos médios,<br />
acumulados e atualizados são:<br />
• para a manutenção - 0,292 €/km<br />
• para o investimento - 0,132 €/km<br />
Isto é:<br />
o Gráfico 1 estão representadas as curvas correspondentes ao investimento, à<br />
anutenção e ao total.<br />
otor, caixa de velocidades, diferencial, etc.<br />
C tmaa = ( I (δ - 1)<br />
) + a + b.u<br />
u<br />
GRÁFICO 1 - DETERMINAÇÃO DA VIDA ÚTIL<br />
Para este caso concreto – correspondente<br />
a um Trator e semi-reboque – conclui-se<br />
que:<br />
• a vida útil é de 740.000 km<br />
• o custo total, médio, acumulado e<br />
atualizado mínimo é de 0,424 €/km<br />
• os custos acumulados da manutenção<br />
são cerca de 2,2 vezes superiores aos do<br />
investimento, o que demonstra:<br />
– a necessidade de adequada organização<br />
da manutenção,<br />
– que um pequeno aumento no investimento<br />
pode mostrar-se compensador se<br />
lhe corresponder uma melhor qualidade,<br />
contribuindo para uma redução do<br />
custo total mínimo.<br />
O prolongamento da utilização do<br />
veículo para lá da vida útil tem como<br />
consequência um aumento do custo<br />
médio 3 acumulado, pelo que deve ser<br />
evitado.<br />
Atingida a vida útil, se a Empresa<br />
decide não comprar outro veículo para<br />
fazer a substituição, o mesmo poderá<br />
continuar a ser utilizado, pois em princípio<br />
reúne ainda adequadas condições<br />
de segurança, no entanto essa utilização<br />
deverá apenas fazer-se para substituir<br />
outro veículo avariado ou para cumprir<br />
um serviço extra.<br />
2.4.Cálculo expedito<br />
Não sendo conhecida a expressão da<br />
evolução dos custos de manutenção<br />
com a utilização, o cálculo da vida útil<br />
terá de ser feito através do seguimento<br />
da evolução anual do custo total,<br />
médio, acumulado e atualizado, o que<br />
é possível inscrevendo numa folha de<br />
cálculo, no final de cada ano, os valores<br />
dos custos de manutenção correspondentes<br />
a esse ano e a respectiva quilometragem.<br />
A partir desses valores calculam-se ao<br />
valores atualizados anuais e constroi-se<br />
uma nova tabela, que permite, através<br />
de uma gráfico, uma ver observação<br />
visual do andamento dos valores do<br />
custo total e ter uma percepção sobre<br />
se a vida útil se aproxima, pois, como<br />
demonstra o Gráfico 1, de ano para<br />
ano a redução do custo total, médio,<br />
acumulado e atualizado vai sendo cada<br />
vez mais pequena.<br />
1<br />
Motor, caixa de velocidades, diferencial, etc.<br />
26 e-MOBILIDADE
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INFORMAÇÃO AO PÚBLICO<br />
Comunicar para conquistar<br />
passageiros<br />
Nos últimos anos, a utilidade da Informação ao Público nos Transportes tem ganho maior<br />
destaque, tendo sido identificada como um dos principais fatores que claramente influencia, e<br />
de forma decisiva, a atitude dos cidadãos relativamente à sua escolha de mobilidade.<br />
SANDRA VASCONCELOS LAMEIRAS<br />
Administradora da OPT<br />
Atualmente, as Tecnologias<br />
de Informação e Comunicação<br />
(TIC) permitem<br />
a disponibilização de<br />
sistemas de informação ao<br />
público fiáveis, com informação correta,<br />
consistente, atualizada e personalizada.<br />
Desta forma, podem ser identificados<br />
cinco grandes objetivos estratégicos:<br />
» Promover o serviço;<br />
» Motivar a utilização do serviço;<br />
» Apoiar a decisão, esclarecendo o conhecimento<br />
sobre a oferta disponível;<br />
» Melhorar a satisfação de clientes;<br />
» Educar novos e atuais clientes, promovendo<br />
uma mudança de comportamentos.<br />
Os serviços de informação ao público<br />
podem ser disponibilizados de diversas<br />
formas, desde papel, através de folhetos<br />
para distribuição ou material para<br />
ser fixado nas paragens, estações ou<br />
no interior das viaturas, mas também<br />
através de formatos digitais como Papel<br />
eletrónico: E-Papers, de painéis LCD ou<br />
telemóveis. Podem ainda existir mapas<br />
esquemáticos, horários de passagem dos<br />
transportes em cada paragem/estação.<br />
Os mapas esquemáticos simplificam a<br />
perceção da rede de transportes como<br />
um todo, são desenhados para serem<br />
disponibilizados na rua, os “Spider<br />
Maps” (ou Mapas em Aranha) apresentam<br />
uma zona de maior destaque (o<br />
Hub) que ocupa o centro do mapa e, a<br />
partir daí, todos os percursos de transporte<br />
público que se dirigem aos seus<br />
destinos finais. Podem ser impressos,<br />
ou disponibilizados num ecrã ou noutro<br />
suporte digital, no qual de forma interativa,<br />
o passageiro pode obter informação<br />
sobre quais os destinos que pode<br />
atingir através da rede de Transporte<br />
Público, do ponto em que se encontra.<br />
A tecnologia facilita a disponibilização<br />
de sistemas que permitem uma comunicação<br />
eficaz entre operadores de<br />
transporte público e passageiros. As<br />
28 e-MOBILIDADE
aplicações móveis são um dos exemplos,<br />
já que permitem aos passageiros<br />
ter acesso a informações em tempo real<br />
sobre horários, rotas, atrasos e interrupções<br />
no serviço. Podem também ser<br />
usadas para enviar notificações aos passageiros,<br />
mantendo-os informados sobre<br />
qualquer mudança no serviço. As redes<br />
sociais são também uma ferramenta poderosa<br />
para a comunicação com os passageiros.<br />
Os operadores de transporte<br />
podem usar plataformas como o X e o<br />
Facebook para fornecer atualizações em<br />
tempo real sobre o serviço, responder<br />
a perguntas dos passageiros e resolver<br />
problemas rapidamente.<br />
No planeamento dos sistemas de informação<br />
ao público devem ser consideradas<br />
todas estas formas de apresentação<br />
de informação, escolhendo-se<br />
para cada situação, a(s) que melhor se<br />
adaptar(em) ao respetivo público-alvo,<br />
para que todos os cidadãos se sintam<br />
incluídos. Não podemos deixar de fora<br />
os que não usam smartphones.<br />
Em Portugal, nos dias de hoje, ao<br />
contrário do cenário noutras cidades<br />
na Europa, ainda não existe um grande<br />
investimento na disponibilização de informação<br />
ao público sobre transportes.<br />
Com a entrada em Operação da Carris<br />
Metropolitana nos 18 municípios da<br />
AML, o que envolveu cerca de 12.000<br />
paragens, 2.000 percursos, 820 linhas<br />
(160 novas e 330 com oferta reforçada),<br />
17.000 circulações por dia, 300 painéis<br />
digitais de informação ao público, e<br />
mais de 1.500 autocarros, quase todos<br />
novos, assistimos a uma forte mudança<br />
de paradigma na qualidade do serviço<br />
de transporte público, o que se repercutiu<br />
também na disponibilização de<br />
informação aos passageiros. De destacar<br />
que a CARRIS, que detém a exclusividade<br />
da operação no Concelho de Lisboa<br />
e que atualmente pertence ao município<br />
de Lisboa, já há mais de 25 anos<br />
disponibiliza em todas as suas paragens<br />
esta informação. Tendo naturalmente,<br />
continuado a inovar ao longo dos<br />
e-MOBILIDADE 29
tempos, nomeadamente com E-papers<br />
e LCDs, que permitem a disponibilização<br />
da informação em tempo real aos<br />
passageiros. Assim, temos hoje na Área<br />
Metropolitana de Lisboa um cenário<br />
completamente diferente do resto do<br />
País, isto porque na AML, quem lançou<br />
o Concurso Público Internacional para<br />
a Concessão da operação em Transporte<br />
Público Rodoviário, obrigou em sede de<br />
caderno de encargos, os quatro novos<br />
operadores privados a incluírem nas<br />
suas propostas os sistemas que permitem<br />
esta divulgação e a considerarem<br />
nos seus custos a disponibilização da<br />
informação planeada em todas as paragens.<br />
Aos operadores da AML é também<br />
exigido que tenham um software de<br />
planeamento operacional, um sistema<br />
de apoio à exploração, ferramentas<br />
imprescindíveis para uma otimização da<br />
operação e para a disponibilização de<br />
informação ao público fidedigna.<br />
Fora da Área Metropolitana de Lisboa,<br />
com exceção dos operadores públicos<br />
rodoviários, STCP S.A. no Porto,<br />
SMTUC, em Coimbra, TUB, em Braga,<br />
Horários do Funchal no Funchal, e de<br />
algumas autarquias mais atentas a esta<br />
problemática, assistimos a uma situação<br />
de total ausência de informação nas<br />
paragens.<br />
Em 2019, o IMT conseguiu trazer para<br />
Portugal cerca de 31M€ de financiamento<br />
Comunitário, através de uma<br />
candidatura ao Projeto Cooperative<br />
Streets, que beneficiou várias autarquias,<br />
autoridades de transportes, além<br />
de empresas públicas e privadas do<br />
setor. Este Projeto permitiu promover<br />
a descarbonização, através do uso do<br />
transporte público e de soluções MaaS,<br />
e obrigava à definição da estrutura<br />
digital de dados de transporte em Portugal,<br />
estabelecendo assim os princípios<br />
fundamentais da multimodalidade, interoperabilidade,<br />
partilha de dados, digitalização<br />
da rede de transporte (camada<br />
física e digital). Assim, por exemplo na<br />
Área Metropolitana do Porto, Municípios<br />
como Gondomar, Valongo e Trofa,<br />
utilizaram estes fundos para investir em<br />
sistemas de informação ao público que<br />
hoje permitem dar resposta à lacuna<br />
existente na disponibilização de informação<br />
ao público aos passageiros que se<br />
verifica na AMP.<br />
Quando os passageiros têm uma<br />
experiência positiva com o sistema de<br />
transporte público, são mais propensos<br />
a utilizá-lo novamente no futuro.<br />
Uma comunicação eficaz pode, portanto,<br />
ajudar na fidelização de clientes,<br />
garantindo que eles continuem a utilizar<br />
o sistema de transporte regularmente.<br />
Com o avanço da tecnologia, as oportunidades<br />
para uma comunicação mais<br />
eficaz nunca foram tão abundantes, os<br />
passageiros estão cada vez mais exigentes<br />
e os operadores de transporte têm de<br />
incluir estas soluções nos seus investimentos<br />
se quiserem conquistar mais<br />
passageiros.<br />
30 e-MOBILIDADE
e-MOBILIDADE 31
FLEXIBILIDADE<br />
Devido à necessidade<br />
de conciliar várias viagens<br />
com diferentes propósitos, as<br />
mulheres tendem a optar por<br />
transportes que tenham<br />
flexibilidade<br />
32 e-MOBILIDADE
PERFIL DE UTILIZADORES DE TRANSPORTES<br />
Os padrões<br />
dehomens<br />
de mobilidade<br />
A forma como as pessoas<br />
se deslocam é distinta<br />
consoante factores como<br />
a idade, o género, as<br />
actividades de cuidado<br />
a seu cargo, a percepção<br />
de segurança do espaço<br />
público, ou mesmo<br />
capacidade financeira.<br />
Este artigo propõe-se a<br />
aprofundar de que forma a<br />
mobilidade varia de acordo<br />
com o factor género.<br />
e mulheres<br />
são diferentes<br />
INÊS SARTI PASCOAL<br />
insapa@hotmail.com<br />
Linkedin.com/in/inessartipascoal<br />
De forma geral, mulheres e<br />
homens têm no seu quotidiano<br />
perfis diferentes na<br />
utilização dos transportes,<br />
incluindo o meio de transporte,<br />
o tempo gasto em cada viagem<br />
ou o número de viagens por dia. Estas<br />
diferenças devem-se a aspectos relacionados<br />
com as actividades remuneradas<br />
(vulgo trabalho pago), mas também com<br />
as actividades domésticas e de cuidado<br />
(vulgo trabalho não pago). As actividades<br />
não remuneradas, como ir às compras,<br />
cuidar das crianças e levá-las à escola,<br />
cuidar de familiares idosos ou doentes,<br />
estão maioritariamente a cargo das mulheres.<br />
Não sendo tarefas exclusivas de<br />
mulheres ou dependentes de questões de<br />
género, estatisticamente são as mulheres<br />
que as realizam com maior frequência.<br />
Esta desigual distribuição de tarefas<br />
acaba por gerar uma desigualdade social,<br />
com implicações também na mobilidade<br />
urbana. Por exemplo, nos cuidados com<br />
a família, a existência ou inexistência de<br />
equipamentos como creches, escolas ou<br />
centros de dia, podem impedir, reduzir<br />
ou condicionar determinadas escolhas de<br />
mobilidade [2, 3, 5] .<br />
De forma geral, e sendo um fenómeno<br />
que acontece em vários países europeus,<br />
os padrões de viagens pendulares das<br />
mulheres são normalmente mais complexos<br />
e curtos, porque para além de se<br />
deslocarem entre a sua casa e o trabalho,<br />
inclui-se ainda o transporte das crianças,<br />
fazer compras ou cuidar de familiares.<br />
Embora as mulheres, em média, realizem<br />
um maior número de viagens por semana,<br />
os homens percorrem distâncias mais<br />
longas, em percursos tipicamente de casa<br />
para o trabalho. As mulheres percorrem<br />
por semana menores distâncias que os<br />
homens, têm um número médio de<br />
viagens por dia maior, têm distâncias<br />
médias e tempos de duração de cada rota<br />
inferiores. Temos dados recentes que nos<br />
indicam esta diferença nos padrões de<br />
deslocação, por exemplo, na Área Metropolitana<br />
de Lisboa (AML) [3, 5] .<br />
Na AML, para além das viagens casa-trabalho,<br />
as mulheres têm mais deslocações<br />
relacionadas com as tarefas domésticas<br />
e de cuidado de familiares do que os<br />
homens, enquanto os homens têm mais<br />
deslocações relacionadas com actividades<br />
sociais/lazer ou desporto, ilustrando os<br />
e-MOBILIDADE 33
OPINIÃO<br />
Inês Sarti Pascoal<br />
diferentes papéis de género que continuam<br />
a persistir na nossa sociedade [5] .<br />
O MEIO DE TRANSPORTE<br />
UTILIZADO<br />
Devido à necessidade de conciliar várias<br />
viagens com diferentes propósitos, as<br />
mulheres tendem a optar por transportes<br />
que tenham flexibilidade. No entanto,<br />
quando em desvantagem económica, as<br />
mulheres têm menor acesso a meios de<br />
transporte privados e mais eficientes,<br />
sendo que acabam por gastar mais tempo<br />
em transportes menos eficientes, ficando<br />
ainda mais penalizadas nas desigualdades<br />
sociais que já existiam. Soma-se<br />
ainda o facto de que lá em casa tendem<br />
a ser os homens a ter acesso ao meio de<br />
transporte mais apropriado, mais rápido<br />
ou mais caro [7] .<br />
De forma geral, pode afirmar-se que as<br />
mulheres caminham mais e usam mais<br />
os transportes públicos, enquanto os homens<br />
usam mais modos privados, como<br />
carro ou mota. Existem mais homens a<br />
possuir carta de condução e a ter acesso<br />
a um carro, enquanto as mulheres viajam<br />
mais como passageiras [6, 8, 9] .<br />
Importa ainda referir a problemática da<br />
sinistralidade na estrada. De acordo com<br />
o Relatório da Sinistralidade da Autoridade<br />
Nacional de Segurança Rodoviária<br />
(ANSR), enquanto passageiras em<br />
automóveis, as mulheres representavam<br />
64% das vítimas em sinistros rodoviários<br />
em 2018. A condução perigosa de quem<br />
conduz um automóvel afecta não apenas<br />
quem se desloca de automóvel, mas tam-<br />
De forma geral, pode afirmar-se que as mulheres<br />
caminham mais e usam mais os transportes públicos,<br />
enquanto os homens usam mais modos privados<br />
bém quem se desloca por outros meios,<br />
nomeadamente a pé ou de bicicleta.<br />
Enquanto peões, as mulheres representavam<br />
55% das pessoas atropeladas em<br />
2018. Aparentemente, os relatórios da<br />
ANSR de anos seguintes deixaram de ter<br />
desagregação por género [1] .<br />
É NECESSÁRIO UM PLANEAMENTO<br />
URBANO MAIS INCLUSIVO<br />
As cidades têm tido um planeamento<br />
urbano que favoreceu o desenvolvimento<br />
de subúrbios de baixa densidade,<br />
baseados em sistemas de mobilidade e<br />
infraestruturas rodoviárias, contribuindo<br />
para o declínio dos transportes públicos.<br />
A mobilidade do espaço urbano foi projectado<br />
para operar sobretudo durante<br />
as horas de ponta, nos percursos entre a<br />
casa e o trabalho, pois eram as necessidades<br />
que estavam a ser atendidas [5] .<br />
Como se poderá ter entendido, a mobilidade<br />
das mulheres necessita de uma<br />
organização maior do que as deslocações<br />
casa-trabalho, e com as infraestruturas<br />
urbanas existentes, nem sempre é possível<br />
utilizá-las nas condições de segurança<br />
e conforto. O planeamento urbano deve<br />
iniciar-se com a recolha de dados, e então<br />
poderiam ser utilizados os dados do<br />
Censos do Instituto Nacional de Estatística<br />
[4] . No entanto, os dados de mobilidade<br />
são recolhidos com as premissas:<br />
1. Principal meio de transporte utilizado:<br />
o que percorre a maior distância<br />
da viagem, sendo que no caso de ser<br />
diferente na ida e na volta, se opta pelo<br />
meio de transporte utilizado na ida.<br />
2. Movimento pendular: deslocação<br />
diária, entre a residência e o local de<br />
trabalho/estudo, efectuada pela população<br />
residente.<br />
Os dados que estão a ser recolhidos pelo<br />
INE não estão a estudar os padrões de<br />
mobilidade das mulheres. É necessário<br />
estabelecer mecanismos para recolha de<br />
dados de mobilidade desagregados por<br />
género, desde o inquérito dos Censos,<br />
passando pelos diferentes estudos<br />
de mobilidade e segurança, como os<br />
relatórios de sinistralidade rodoviária da<br />
ANSR, chegando finalmente à inclusão<br />
dessa informação nos planos de mobilidade<br />
locais, indo ao encontro das necessidades<br />
da população. O factor género<br />
deveria ser uma prioridade quando se<br />
planeia e desenha uma cidade. Oxalá as<br />
entidades tivessem disponibilidade para<br />
atender às necessidades de metade da<br />
população.<br />
REFERÊNCIAS<br />
[1]<br />
ANSR, 2018. Sinistralidade rodoviária: vítimas no local<br />
[2]<br />
Gamrani & Tribouillard, 2021. Guia prático e interseccional para cidades mais inclusivas.<br />
[3]<br />
Heffernan et al., 2022. A Feminist European Green Deal: Towards an Ecological and Gender Just Transition.<br />
Friedrich-Ebert-Stiftung. Politics for Europe.<br />
[4]<br />
INE, 2022. Censos 2021.<br />
[5]<br />
Queirós et al., 2019. Igualdade de Género nas Geografias Espácio -Temporais: Uma Análise a partir de<br />
Dispositivos Móveis.<br />
[6]<br />
Ramboll Smart Mobility, 2021. Gender and (smart) mobility: green paper 2021.<br />
[7]<br />
Singh, 2020. Is smart mobility also gender-smart?. Journal of Gender Studies, 29(7), 832-846<br />
[8]<br />
Souza, Bittencourt & Taco, 2018. Women’s perspective in pedestrian mobility planning: the case of Brasília.<br />
Transportation Research Procedia, 33(2018), 131-138.<br />
[9]<br />
Women in Mobility, 2022. Female mobility.<br />
34 e-MOBILIDADE
TIC(S) DE MOBILIDADE<br />
O telemóvel<br />
como bola<br />
de cristal?<br />
O transporte de pessoas, tal como<br />
qualquer outro transporte, requer<br />
uma infraestrutura. É assim com as<br />
mercadorias, a água, o saneamento, a<br />
eletricidade, e até a informação. Mas<br />
fixemo-nos neste último, o transporte<br />
de informação, em particular na<br />
era dos computadores. Isto porque<br />
tem a singular vantagem de se ter<br />
desenvolvido perante os nossos olhos,<br />
praticamente desde os seus primeiros<br />
passos até à maturidade hoje atingida.<br />
uando se sentiu a necessidade<br />
dos computadores<br />
comunicarem entre si,<br />
claro que se colocou o<br />
problema da infraestrutura<br />
que pudesse ser o veículo<br />
dessa comunicação. Nos anos 60, nada<br />
foi mais óbvio do que utilizar as linhas<br />
telefónicas, que já se tinham disseminado<br />
por todo o mundo nas décadas<br />
anteriores.<br />
Como os computadores convertem e<br />
tratam tudo como números, representados<br />
numa base binária de 0’s e 1’s, a<br />
solução foi enviar uma sequência de<br />
“apitos”, uns mais graves e outros mais<br />
MANUEL RELVAS<br />
https://www.linkedin.com/in/mrelvas/<br />
agudos, para representar, respetivamente,<br />
os 0’s e os 1’s. Dadas as características<br />
das linhas telefónicas, pensadas para<br />
a transmissão de voz, começou-se pelos<br />
45 “apitos” por segundo, chegando-se<br />
posteriormente até aos 300. É bastante<br />
impressionante para um humano assobiar,<br />
mas muito lento para as enormes<br />
quantidades de dados com que os<br />
computadores lidam. A imagem de uma<br />
fotografia banal, que hoje viaja de forma<br />
praticamente instantânea, demoraria<br />
36 e-MOBILIDADE
uns bons 10 minutos a ser transmitida<br />
nessa altura - uma velocidade claramente<br />
insuficiente!<br />
Foi então que entrou em campo<br />
o engenho e a engenharia. Com a<br />
sofisticação da tecnologia, jogou-se<br />
com mais tons, várias amplitudes e<br />
diferentes momentos de ocorrência dos<br />
tais “apitos”. Isto exigiu técnicas de<br />
deteção mais rápidas e fiáveis, se bem<br />
que baseadas em modelos matemáticos<br />
do século 18, mas implementados<br />
com base nas crescentes capacidades<br />
de processamento disponíveis. Daqui<br />
resultaram, no final dos anos 90,<br />
velocidades de comunicação 200 vezes<br />
superiores, utilizando exatamente as<br />
mesmas linhas telefónicas. Ora, passar<br />
a transmissão de uma imagem, de 10<br />
minutos para 3 segundos, é obra!<br />
E esta pode ser<br />
uma primeira<br />
pista para a<br />
analogia com a<br />
mobilidade: as<br />
redes viárias, que<br />
se foram desenvolvendo<br />
ao longo<br />
de muitos séculos,<br />
poderão ver a<br />
sua capacidade muito aumentada, se se<br />
libertarem das limitações da condução<br />
humana. Não é difícil imaginar veículos<br />
com condução autónoma e geridos<br />
centralmente, a rolar coladinhos uns aos<br />
outros, a velocidades hoje totalmente<br />
inimagináveis, mesmo nos cruzamentos -<br />
embora tal possa ser um pouco assustador<br />
ao princípio (talvez seja melhor estes<br />
veículos não terem vidros, mas sim ecrãs<br />
com bonitas paisagens...).<br />
Por outro lado, os nossos carros seriam<br />
como os telefones fixos em casa: sem<br />
utilização a maior parte do tempo, mas<br />
muito úteis quando necessários. E, neste<br />
paralelismo, os transportes públicos seriam<br />
como as cabines telefónicas: muito<br />
convenientes em certas circunstâncias, e<br />
essenciais para quem não tem condições<br />
CAPACIDADE AUMENTADA<br />
Não é difícil imaginar veículos com<br />
condução autónoma e geridos<br />
centralmente, a rolar coladinhos uns aos<br />
outros, a velocidades hoje totalmente<br />
inimagináveis, mesmo nos cruzamentos<br />
ou vontade de ter um veículo próprio.<br />
Mas a evolução das comunicações não<br />
parou aqui. Com a tecnologia das redes<br />
móveis, passou a ser apenas necessário<br />
colocar uma antena no topo de um edifício<br />
alto, para cobrir uma área de vários<br />
quilómetros. Deixou de ser necessário<br />
passar um fio a partir da casa de cada<br />
um, o que potenciou a concorrência, ao<br />
derrubar o monopólio natural da infraestrutura.<br />
E aí a evolução foi, e continua a<br />
ser, ainda mais notável, com os inevitáveis<br />
benefícios para os utilizadores, em<br />
termos de tarifários, funcionalidades,<br />
desempenho, equipamentos, etc. Esta<br />
analogia com a comunicação através do<br />
ar, talvez prenuncie a divulgação dos<br />
automóveis voadores, de que já se fala...<br />
Paralelamente, as redes fixas em fibra ótica,<br />
em que um cabo substituiu centenas<br />
dos antigos cabos<br />
telefónicos em cobre<br />
e de antenas de<br />
televisão, permitiram<br />
desempenhos<br />
ainda maiores: a<br />
mesma imagem<br />
pode ser agora<br />
transmitida em 2<br />
décimos de segundo.<br />
Vantagens e exigências de tráfego mínimo<br />
que podemos comparar à ferrovia,<br />
em particular a de alta velocidade.<br />
Mas ainda falta o derradeiro passo na<br />
história recente das comunicações: o telemóvel<br />
digital / smartphone. Este passo<br />
é uma verdadeira revolução na vida das<br />
pessoas à escala planetária, ao colocar na<br />
mão de mais de metade da população<br />
mundial um instrumento que permite<br />
aceder e partilhar conteúdos multi-média,<br />
de forma fácil e instantânea.<br />
Olhando para este instrumento, que<br />
praticamente exterminou as cabines telefónicas<br />
e, em grande medida, os telefones<br />
fixos, qual será o seu equivalente na<br />
mobilidade das pessoas? Provavelmente<br />
hoje ninguém o saberá ao certo, mas o<br />
certo é que ainda não apareceu!<br />
e-MOBILIDADE 37
DESENVOLVIMENTO REGIONAL<br />
Médio Tejo avança<br />
rumo a uma mobilidade mais<br />
sustentável e integrada<br />
A Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo apresentou, ontem, dia 27 de junho, em Vila<br />
Nova da Barquinha, o meioB, um inovador sistema de mobilidade sustentável que visa<br />
transformar a forma como as pessoas se deslocam na região do Médio Tejo.<br />
Manuel Jorge Valamatos,<br />
presidente da CIM<br />
Médio Tejo, abriu a<br />
sessão de lançamento,<br />
destacando a importância<br />
da iniciativa para a sustentabilidade<br />
ambiental e a qualidade de<br />
vida dos cidadãos. “Com o lançamento<br />
do meioB, sistema intermunicipal de<br />
bicicletas para uso público no Médio<br />
Tejo, estamos a demonstrar a nossa<br />
clara atenção para com as questões<br />
da sustentabilidade ambiental, como<br />
também estamos a dar passos evolutivos<br />
no domínio da mobilidade e dos transportes<br />
para com os nossos cidadãos e<br />
pelo garante da sua qualidade de vida”,<br />
afirmou o presidente.<br />
“A partir de agora, o território contará<br />
com mais de 60 estações e de 250 bicicletas,<br />
podendo ser utilizado em muitas<br />
opções de deslocação da nossa população”,<br />
adiantou o presidente desta CIM,<br />
acrescentando ainda que “este sistema,<br />
que representa um investimento de cerca<br />
1,5 milhões de euros, foi construído<br />
com o objetivo de promover a intermodalidade,<br />
tendo-se colocado estações<br />
de carregamento das bicicletas nas<br />
imediações dos terminais rodoviários<br />
e das estações ferroviárias, permitindo<br />
combinar o transporte público coletivo<br />
com a bicicleta elétrica”.<br />
Promovido em parceria com os municípios<br />
de Alcanena, Constância, Entroncamento,<br />
Ferreira do Zêzere, Mação,<br />
38 e-MOBILIDADE
O território contará com mais de 60 estações e de<br />
250 bicicletas, podendo ser utilizado em muitas<br />
opções de deslocação da população<br />
Ourém, Sertã, Tomar, Torres Novas,<br />
Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha,<br />
o meioB é um sistema comprometido<br />
em promover a mobilidade suave no<br />
quotidiano da população e em oferecer<br />
uma alternativa ecológica e saudável ao<br />
transporte motorizado na região.<br />
Este objetivo foi também reforçado por<br />
Miguel Pombeiro, primeiro secretário<br />
executivo da CIM Médio Tejo, que,<br />
durante a apresentação do meioB, sublinhou<br />
a necessidade urgente de “combater<br />
o monopólio da utilização automóvel”.<br />
Sempre com a sustentabilidade e a<br />
coesão territorial em vista, o responsável<br />
destacou que esta nova aposta na mobilidade<br />
suave é um marco importante na<br />
oferta de transportes sustentáveis da região<br />
do Médio Tejo. A iniciativa abrange<br />
11 municípios numa área de mais de<br />
2.500 km², facilitando deslocações<br />
quotidianas eficientes e sustentáveis por<br />
motivos de trabalho, estudo ou acesso<br />
ao comércio e serviços.<br />
Luís Filipe, vogal Executivo da Comissão<br />
Diretiva do Centro 2030, esteve<br />
também presente na sessão de apresentação,<br />
onde destacou a importância<br />
deste investimento no quadro das<br />
LOCALIZAÇÃO DAS ESTAÇÕES<br />
e-MOBILIDADE 39
DESENVOLVIMENTO REGIONAL<br />
Médio Tejo<br />
preocupações e das missões da política<br />
europeia no que diz respeito ao tema<br />
da mobilidade sustentável. “A adaptação<br />
do território às mudanças e a<br />
antecipação de tendências são cruciais<br />
para o nosso sucesso futuro,” afirmou.<br />
Assumindo que a transição verde é uma<br />
prioridade, o responsável defendeu<br />
que “só conseguiremos alcançá-la se<br />
trabalharmos em conjunto, valorizando<br />
a coesão territorial. É fundamental<br />
capacitar os territórios para que possam<br />
desenvolver projetos de interesse<br />
comum e com impacto significativo na<br />
população e no ambiente”.<br />
A sessão contou ainda com a presença<br />
de Francisco Sarmento, da CME, empresa<br />
parceira do meioB, que fez uma<br />
demonstração prática do funcionamento<br />
deste inovador sistema de bikesharing.<br />
“MEIOB - A TUA OPÇÃO A” –<br />
ASSINATURA REFLETE<br />
O OBJETIVO DA INICIATIVA<br />
Com uma rede de mais de 60 estações,<br />
distribuídas por 11 concelhos, e mais<br />
de 250 bicicletas elétricas, com autonomia<br />
para 50 quilómetros, o meioB<br />
começa a operar desde hoje sob o signo<br />
da assinatura “meioB - a tua opção<br />
A”. A iniciativa distingue-se de outros<br />
congéneres pela sua abrangência e<br />
intermunicipalidade, isto porque, ao<br />
contrário de outras iniciativas que se<br />
circunscrevem a uma única cidade, o<br />
meioB permite viajar entre concelhos,<br />
facilitando a interligação e o acesso a<br />
pontos estratégicos como serviços públicos,<br />
escolas, comércio, equipamentos<br />
de saúde e locais de interesse turístico.<br />
A localização das estações foi, de resto,<br />
criteriosamente planeada para responder<br />
às necessidades de deslocação<br />
MEIOB EM NÚMEROS<br />
» Investimento: 1,5 milhões de euros<br />
» Municípios: 11 concelhos da região<br />
» Extensão do território: superior a 2500 km²<br />
» Bicicletas: + de 250<br />
» Autonomia: cerca de 50 km<br />
» Estações: + de 60 distribuídas pela região<br />
» Tempo de carregamento: cerca de 4 horas<br />
casa-trabalho e lazer, encontrando-se,<br />
por isso, próximas a áreas de transporte<br />
intermodal, como estações de caminhos<br />
de ferro e terminais rodoviários.<br />
UTILIZAÇÃO FÁCIL, INTUITIVA<br />
E ECONÓMICA<br />
Para usufruir desta forma de mobilidade<br />
ecológica e suave, os utilizadores devem<br />
dirigir-se a uma estação, desbloquear<br />
uma bicicleta e seguir até outra estação<br />
próxima do destino desejado. A interação<br />
dos utilizadores com o serviço<br />
é facilitada através de uma aplicação,<br />
desenvolvida para o efeito, que se encontra<br />
disponível gratuitamente nas lojas<br />
Android e Apple. Basta abrir a aplicação,<br />
digitalizar o código QR correspondente<br />
e a bicicleta será desbloqueada automaticamente.<br />
A CIM Médio Tejo recomenda<br />
o uso de capacete para garantir maior<br />
segurança na utilização dos velocípedes.<br />
O meioB oferece diferentes planos<br />
tarifários – ocasional (até 72 horas),<br />
mensal e anual –, adaptados às necessidades<br />
dos utilizadores. Nos primeiros<br />
60 minutos de cada viagem, a utilização<br />
das bicicletas é gratuita,<br />
sendo que, após esse<br />
período, aplica-se uma<br />
tarifa de 0,01 euros por<br />
cada minuto adicional.<br />
Todas as informações<br />
sobre o sistema, incluindo<br />
o tarifário, podem<br />
ser consultadas em<br />
www.meiob.pt, disponível<br />
em português,<br />
francês e inglês.<br />
BENEFÍCIOS AMBIENTAIS E<br />
DESENVOLVIMENTO LOCAL<br />
O meioB promove a substituição de<br />
veículos motorizados por bicicletas<br />
elétricas, contribuindo assim para a<br />
redução das emissões de gases poluentes<br />
e alinhando-se com os objetivos de<br />
sustentabilidade ambiental. Além de<br />
incentivar um estilo de vida saudável,<br />
a iniciativa dinamiza a economia<br />
local, facilitando o acesso ao trabalho,<br />
serviços e comércio, e poderá dar um<br />
excelente contributo na dinamização<br />
turística do território.<br />
A CIM Médio Tejo acredita que a<br />
comunidade local é essencial para<br />
o sucesso do meioB. Estão, por<br />
isso, previstas ações com escolas e<br />
associações locais para promover o<br />
uso das bicicletas elétricas e estimular<br />
mudanças nos hábitos de deslocação,<br />
incentivando viagens casa-escola<br />
e casa-trabalho de bicicleta. Para<br />
monitorizar o sucesso da iniciativa,<br />
uma plataforma acompanhará a<br />
utilização do meioB e os percursos<br />
realizados, identificando também<br />
eventuais áreas de melhoria.<br />
Com o meioB, a região do Médio<br />
Tejo avança rumo a uma mobilidade<br />
mais sustentável e integrada, similar<br />
a grandes centros urbanos europeus.<br />
Este projeto, financiado pelo Fundo<br />
Europeu de Desenvolvimento Regional,<br />
através do Programa Operacional<br />
Regional Centro 2020, representa um<br />
investimento de cerca de 1,5 milhões<br />
de euros e pode servir de exemplo para<br />
outras regiões do país.<br />
40 e-MOBILIDADE
SUSTENTABILIDADE<br />
Teletransporte<br />
para o futuro:<br />
o que esperar da mobilidade<br />
em 2050?<br />
GUSTAVO MAGALHÃES<br />
Director na Beta-i<br />
A mobilidade é um dos temas<br />
que mais tem estado na<br />
agenda de sustentabilidade.<br />
Sendo o setor dos transportes<br />
dos mais poluentes, cada<br />
vez mais se fala de transição<br />
energética das cidades em<br />
smart cities, rumo às metas<br />
de neutralidade carbónica.<br />
Mas, se dermos um salto ainda<br />
maior e chegarmos a 2050,<br />
o que podemos realmente<br />
esperar da mobilidade?<br />
Em 2050, estima-se que a<br />
população mundial terá<br />
um aumento de cerca de<br />
dois mil milhões de pessoas<br />
em relação à atualidade,<br />
havendo portanto a expectativa de uma<br />
adaptação das infraestruturas de mobilidade,<br />
nomeadamente através do que<br />
Elon Musk já referiu serem as cidades<br />
3D: com carros voadores e/ou túneis<br />
subterrâneos. Ao transformarem-se em<br />
veículos movidos a energia elétrica e autónomos,<br />
espera-se que, nos carros do<br />
futuro, os passageiros possam usufruir<br />
mais do seu tempo da viagem, enquanto<br />
o carro os transporta por túneis que,<br />
por sua vez, maximizarão a eficiência da<br />
rede de transportes.<br />
A mobilidade urbana será, efetivamente,<br />
o grande alvo de impacto desta revolução<br />
tecnológica. As expectativas são de<br />
que, além do nível subterrâneo, já em<br />
fase de testes pela The Boring Company<br />
de Elon Musk, possamos também tirar<br />
partido da via aérea. Dessa forma, os táxis<br />
poderão no futuro vir a ser veículos<br />
voadores, bem como a entrega de enco-<br />
mendas que poderá vir a ser realizada<br />
por drones. EVTOL é a designação dos<br />
táxis elétricos que terão a capacidade de<br />
descolar e aterrar verticalmente, estando<br />
em desenvolvimento por empresas<br />
como a Uber e a Airbus.<br />
O transporte público também não fica<br />
de fora destas projeções, tendo já começado<br />
a surgir abordagens disruptivas,<br />
como por exemplo autocarros giroscópicos,<br />
capazes de se elevar das estradas<br />
sobre carris e ultrapassar o trânsito ao<br />
movimentarem-se acima do nível dos<br />
carros. Para complementar, no segmento<br />
da mobilidade ativa, as trotinetes e<br />
bicicletas elétricas partilhadas ocuparão<br />
ainda mais espaço nas ciclovias e nos<br />
passeios, promovendo assim a dinâmica<br />
de ecossistema na mobilidade urbana.<br />
Embora tudo isto possa parecer muito<br />
avançado e futurista, uma das transformações<br />
mais esperadas é a dos comboios<br />
de alta velocidade para longas<br />
distâncias. Com o avanço da tecnologia<br />
das infraestruturas dos carris, os comboios<br />
poderão atingir uma velocidade<br />
semelhante à dos aviões, sendo alimen-<br />
42 e-MOBILIDADE
A mobilidade urbana será,<br />
efetivamente, o grande alvo<br />
de impacto desta revolução<br />
tecnológica<br />
tados por energia elétrica e hidrogénio<br />
verde. No topo desta gama, temos já o<br />
hyperloop, uma cápsula equiparada a<br />
um comboio dentro de túneis que pode<br />
atingir velocidades superiores às dos<br />
aviões atuais, ultrapassando os 1100<br />
quilómetros por hora. Apesar de tal poder<br />
parecer impossível à perceção atual<br />
da população, a verdade é que esta já<br />
não é apenas uma ideia. Está a tornar-se<br />
cada vez mais real com a Virgin Hyperloop<br />
One, que está a realizar testes com<br />
humanos no deserto, com o objetivo de<br />
que haja um aumento substancial da<br />
eficácia da mobilidade. Com o hyperloop,<br />
a viagem entre<br />
Los Angeles e San Diego, que tem uma<br />
duração atual de três horas de carro (166<br />
minutos), será de 12 minutos e meio.<br />
Com a velocidade dos carros a assemelhar-se<br />
à dos comboios, e a dos<br />
comboios a aproximar-se da dos<br />
aviões, torna-se natural que também<br />
seja esperada uma grande evolução no<br />
transporte aéreo. Ao ser um dos meios<br />
que mais polui, o foco está agora em<br />
que se torne num meio mais sustentável,<br />
com menos emissões de gases com<br />
efeito de estufa. Neste sentido, estão<br />
a ser desenvolvidas várias soluções,<br />
nomeadamente em voos supersónicos<br />
que poderão encurtar a viagem entre<br />
Nova Iorque e Paris para 90 minutos.<br />
Em 2050, o hidrogénio e a eletricidade<br />
serão os novos combustíveis, com a<br />
Easyjet já a desenvolver aviões elétricos<br />
que se espera estarem operacionais em<br />
2030 para voos domésticos e de curtas<br />
distâncias. Já o hidrogénio poderá ser a<br />
solução para os voos intercontinentais,<br />
estando a Airbus a produzir três novos<br />
modelos deste tipo.<br />
Contudo, mudar apenas o combustível<br />
dos aviões não será suficiente para o<br />
aumento da sua eficiência e eficácia,<br />
sendo também necessário otimizar a<br />
sua anatomia. Nesse sentido, a KLM já<br />
está a projetar o The Flying V, que se<br />
estima estar pronto entre 2030 e 2040<br />
e que apresentará uma capacidade de<br />
ocupação otimizada, além do seu novo<br />
design, que vai permitir um corte de<br />
20% no combustível.<br />
Do céu para o mar, os barcos, utilizados<br />
nas atividades de logística e distribuição,<br />
sofrerão também uma transição energética.<br />
Na Noruega, o Yara Birkeland é o primeiro<br />
cargueiro elétrico completamente<br />
autónomo e que já nos veio colocar um<br />
passo mais perto do futuro. Os iates não<br />
ficarão impunes a esta revolução, a Silent<br />
Yachts e a Navier estão já a trabalhar na<br />
sua eletrificação, promovendo-se assim<br />
uma mobilidade marítima não só mais<br />
sustentável como mais silenciosa. Estas<br />
são algumas das soluções que provavelmente<br />
encontraremos em 2050, às quais<br />
se irão juntar ainda outras aplicações de<br />
utilização do espaço.<br />
É extremamente relevante que a mobilidade<br />
se encontre na ordem do dia, pelo<br />
que se torna imprescindível trazer para a<br />
discussão pública exemplos de projetos<br />
reais e concretos que já estão a ver a luz<br />
do dia e que, dessa forma, têm a capacidade<br />
de providenciar um vislumbre do<br />
futuro, criado pelas startups e pela inovação.<br />
Aproximar ainda mais o mundo e<br />
quebrar fronteiras é um dos objetivos<br />
da mobilidade em 2050, que será mais<br />
autónoma, confortável, segura e eficaz.<br />
e-MOBILIDADE 43
PLATAFORMAS DIGITAIS DE TRANSPORTE<br />
Equilibrar<br />
a segurança<br />
e a eficiência no setor<br />
dos TVDE em Portugal<br />
44 e-MOBILIDADE
Uma das principais funcionalidades da solução da Tecmic é um<br />
sistema de monitorização em tempo real dos tempos de condução e descanso dos condutores.<br />
Esta funcionalidade permite que os condutores estejam sempre cientes do tempo que passaram<br />
ao volante e do tempo de descanso necessário para cumprir com a legislação.<br />
Nos últimos anos, o setor<br />
dos Transportes em Veículos<br />
Descaracterizados<br />
a partir das Plataformas<br />
Eletrónicas (TVDE) em<br />
Portugal tem experimentado um crescimento<br />
exponencial. Com a ascensão das<br />
plataformas digitais de transporte, como<br />
Uber ou Bolt, cada vez mais condutores<br />
aderem a esta forma de trabalho flexível.<br />
No entanto, com este crescimento<br />
surgiram desafios regulatórios, nomeadamente<br />
no que diz respeito aos tempos<br />
de condução e descanso.<br />
Os tempos de condução e descanso são<br />
uma componente vital da segurança<br />
rodoviária, visando prevenir a fadiga<br />
dos condutores e reduzir o risco de<br />
acidentes. Em Portugal, a legislação<br />
estabelece limites rigorosos para estes<br />
tempos, com o objetivo de garantir<br />
a segurança dos passageiros e dos<br />
próprios condutores, porém, o cumprimento<br />
destas regras nem sempre é<br />
fácil, especialmente num setor onde a<br />
flexibilidade é fundamental.<br />
Neste contexto, a Tecmic aproveitou<br />
a sua vasta experiência no desenvolvimento<br />
e instalação de soluções inteligentes<br />
de mobilidade e gestão de frota,<br />
e em concreto nas soluções de controlo<br />
dos tempos de condução e descanso de<br />
empresas de transporte de mercadorias,<br />
nas quais recolhe as informações através<br />
do canbus do veículo e do tacógrafo<br />
digital, e desenvolveu uma solução<br />
inovadora que ajuda os condutores de<br />
TVDE a cumprir com a legislação, evitar<br />
multas e melhorar a sua atividade.<br />
Através da app Driver Mobile e da plataforma<br />
digital XTraN, oferecem ferramentas<br />
e funcionalidades que facilitam o<br />
cumprimento dos tempos de condução<br />
e descanso, garantindo ao mesmo tempo<br />
uma gestão eficiente da atividade.<br />
e-MOBILIDADE 45
PLATAFORMAS DIGITAIS DE TRANSPORTE<br />
TVDE em Portugal<br />
A Tecmic oferece soluções inovadoras e<br />
eficazes para ajudar os condutores a cumprir<br />
com a legislação, evitar multas e melhorar a<br />
atividade. Com esse apoio, as empresas de<br />
TVDE podem realizar uma atividade mais<br />
segura, eficiente e rentável<br />
Uma das principais funcionalidades da<br />
solução é um sistema de monitorização<br />
em tempo real dos tempos de condução<br />
e descanso dos condutores. Esta<br />
funcionalidade permite que os condutores<br />
estejam sempre cientes do tempo<br />
que passaram ao volante e do tempo de<br />
descanso necessário para cumprir com<br />
a legislação.<br />
Além da monitorização dos tempos<br />
de condução e descanso, a plataforma<br />
também oferece ferramentas de gestão<br />
de serviços e rotas, permitindo aos<br />
condutores otimizar a sua atividade de<br />
forma a cumprir com os limites legais<br />
sem comprometer a eficiência. Esta<br />
funcionalidade é especialmente útil<br />
num setor onde o tempo é dinheiro,<br />
permitindo aos condutores maximizar<br />
os seus rendimentos sem comprometer<br />
a segurança.<br />
Por fim, a Tecmic também oferece<br />
suporte comercial e informativo às empresas<br />
sobre a importância do cumprimento<br />
dos tempos de condução e descanso<br />
e sobre as melhores práticas para<br />
otimizar a sua atividade dentro dos<br />
limites legais, já que a empresa acredita<br />
que a educação e a sensibilização são<br />
fundamentais para garantir a segurança<br />
rodoviária e o sucesso a longo prazo do<br />
setor dos TVDE em Portugal.<br />
Em conclusão, os tempos de condução<br />
e descanso são uma questão crucial<br />
no setor dos TVDE, com implicações<br />
significativas para a segurança rodoviária<br />
e para a atividade dos condutores.<br />
A Tecmic oferece soluções inovadoras<br />
e eficazes para ajudar os condutores a<br />
cumprir com a legislação, evitar multas<br />
e melhorar a sua atividade. Com esse<br />
apoio, as empresas de TVDE podem<br />
realizar uma atividade mais segura,<br />
eficiente e rentável.<br />
Além do controlo dos tempos de condução<br />
e descanso, a plataforma XTraN<br />
proporciona aos gestores da frota de<br />
TVDE um amplo leque de funcionalidades,<br />
como a análise de tipo de condução<br />
(travagens bruscas, acelerações bruscas,…)<br />
com a respetiva alarmística; o<br />
controlo de quilómetros e consumos de<br />
combustível; alertas por kms (revisões,…)<br />
e por tempo (IPO, seguros;…);<br />
registo e avisos de entrada, saída e permanência<br />
em zonas geográficas (balizas<br />
virtuais).<br />
O sistema conta com diversos alarmes:<br />
excesso de velocidade, saída de área<br />
permitida, inatividade, identificação<br />
por chave ou cartão, que permite ao<br />
condutor autorizado colocar o veículo<br />
em funcionamento (o gestor de frota<br />
pode bloquear, desbloquear o veículo<br />
remotamente em determinadas<br />
condições) e conhecer o estado dos<br />
veículos: ativo, sinistrado, avariado,<br />
em manutenção, inativo. O sistema<br />
permite agrupar os veículos de modo<br />
a que cada gestor de frota tenha acesso<br />
unicamente aos seus.<br />
Em termos de controlo de custos o<br />
sistema permite a inserção de dados de<br />
despesas de manutenção, portagens,<br />
abastecimentos, etc. e a análise rigorosa<br />
dos custos por veículo, departamento<br />
ou área.<br />
Todas as informações recolhidas automaticamente<br />
do equipamento instalado<br />
no veículo e na app Driver Mobile,<br />
permitem a elaboração de diversos<br />
relatórios de apoio à gestão, como<br />
períodos de trabalho com kms efetuados<br />
e combustível/bateria consumidos,<br />
por condutor, por veículo e totais; de<br />
alarmes (condução agressiva, excesso<br />
velocidade, etc…) ou tempos de veículo<br />
sem condutor inscrito ou num determinado<br />
estado. Os relatórios podem ser<br />
programados para envio aos responsáveis<br />
de forma automática.<br />
46 e-MOBILIDADE
PERSONALIZAÇÃO DE VEÍCULOS COMERCIAIS<br />
Som<br />
em mobilidade<br />
TRANSFORMAR UM VEÍCULO PODE SER UMA ARTE:<br />
A VAN “SONORA” DA RENAULT É UM DESSES EXEMPLOS<br />
48 e-MOBILIDADE
Ultrapassar os limites da<br />
personalização de veículos comerciais,<br />
transformando o modelo Master da<br />
Renault numa carrinha de som, um<br />
estúdio de gravação profissional, bem<br />
equipado, totalmente funcional, com<br />
a vantagem de se adequar à necessária<br />
mobilidade dos dias de hoje - foi este<br />
o desafio que a Renault e os seus<br />
parceiros enfrentaram no âmbito<br />
de uma iniciativa de RSE “Give Me<br />
5”, concebida para proporcionar um<br />
trampolim móvel de rap aos jovens e<br />
tornar a produção musical acessível ao<br />
maior número possível de pessoas.<br />
Há uma profissão para<br />
cada paixão e um veículo<br />
comercial específico para<br />
cada profissão. A criação<br />
musical não é exceção,<br />
como prova disso, eis a “van sonora”,<br />
criada no âmbito do programa Give Me<br />
5. Na primavera de 2023, uma iniciativa<br />
de trampolim móvel deu a cinco talentosos<br />
finalistas a oportunidade de gravar<br />
faixas musicais em condições profissionais<br />
- num estúdio de gravação móvel.<br />
Para desenvolver um veículo Master para<br />
este fim, a Renault trabalhou com dois<br />
parceiros, um especializado em acústica<br />
arquitetónica e o outro em carroçaria -<br />
Red House e Pro Car, respetivamente.<br />
Esta iniciativa de conversão única e altamente<br />
exigente resultou no Master “carro<br />
de som”, aclamado como um novo<br />
símbolo da inovação e da experiência da<br />
Renault no domínio da personalização<br />
de veículos comerciais.<br />
Fomos saber um pouco mais junto dos<br />
principais intervenientes no projeto para<br />
uma retrospetiva das etapas percorridas e<br />
dos desafios enfrentados na criação deste<br />
veículo à medida.<br />
UMA AVENTURA MUSICAL<br />
As equipas de veículos comerciais,<br />
design e marketing da Renault decidiram<br />
juntar os seus talentos para ajudar outras<br />
pessoas a mostrarem os seus. Antes<br />
de poderem transformar um Renault<br />
Master “básico” num estúdio de gravação<br />
móvel totalmente funcional (ou seja, um<br />
carro de som), precisavam de ter uma<br />
compreensão clara das necessidades e<br />
requisitos do projeto.<br />
“Tínhamos muitos requisitos relacionados<br />
com a construção do veículo, uma<br />
vez que este andaria em digressão por<br />
França. Tinha de albergar um estúdio de<br />
gravação profissional, pesar menos de<br />
3,5 toneladas para poder ser conduzido<br />
com uma carta de condução normal de<br />
categoria B, ser construído com materiais<br />
eco-responsáveis e, acima de tudo, estar<br />
alinhado com o ADN da marca”, afirma<br />
Annejela Royoux, diretora de imagem e<br />
parcerias de patrocínio no departamento<br />
de Marketing da Renault.<br />
Estas exigências eram um desafio em<br />
todas as frentes. Tecnicamente, tratava-se<br />
de garantir uma insonorização ótima,<br />
respeitando as limitações de peso e de<br />
dimensões do veículo. Para atingir este<br />
objetivo, a Renault recorreu não só à sua<br />
experiência na adaptação de veículos<br />
comerciais em função das necessidades<br />
específicas, mas também à experiência<br />
de parceiros especializados - o especialista<br />
em acústica arquitetónica Red House<br />
para a conceção acústica do estúdio de<br />
gravação, e a Pro Car, para a carroçaria<br />
do veículo.<br />
O PESO CERTO<br />
O primeiro desafio consistiu em encontrar<br />
o equilíbrio certo entre o peso<br />
do veículo de som e o seu desempenho<br />
acústico, como explica Olivier Guerry,<br />
chefe de conversão da Pro Car: “Uma<br />
boa acústica pode ser conseguida assegurando<br />
que os materiais se movem o<br />
menos possível. Se o fizermos, aumentamos<br />
o peso. No entanto, estávamos<br />
a lidar com um veículo comercial que<br />
tinha de ser conduzido com uma carta<br />
de categoria B e, por conseguinte, não<br />
pesar mais de 3,5 toneladas, pelo que<br />
tínhamos de controlar o seu peso.”<br />
Salientando que cada fase do processo<br />
de conversão incluiu verificações de<br />
peso, Lucas Medus, fundador e diretor<br />
artístico da Red House, afirma: “O peso<br />
foi monitorizado ao longo de todo o<br />
projeto, incluindo durante os processos<br />
de insonorização e tratamento de som<br />
e para os acabamentos e mobiliário.<br />
Planeámos tudo até ao último parafuso<br />
para evitar acrescentar três gramas a<br />
mais.” A restrição de peso, inerente a<br />
este grande projeto, significou que as<br />
equipas tiveram de realizar constante-<br />
ADAPTAÇÃO<br />
A Renault recorreu à sua<br />
experiência na adaptação de<br />
veículos comerciais em função<br />
das necessidades, mas também<br />
à experiência de parceiros<br />
especializados<br />
e-MOBILIDADE 49
PERSONALIZAÇÃO<br />
Há um veículo comercial específico para cada profissão<br />
Planeámos tudo até ao<br />
último parafuso para<br />
evitar acrescentar três<br />
gramas a mais<br />
mente testes, fazer cálculos e malabarismos<br />
com a seleção de materiais que<br />
iriam formar e equipar o carro de som.<br />
“Tudo o que entrava na carrinha era<br />
pesado e muito pensado para garantir<br />
o cumprimento das restrições de peso”,<br />
diz Julien Ravary, acústico associado<br />
e Designer de estúdio na Red House,<br />
antes de mencionar a natureza eco-responsável<br />
deste veículo cuidadosamente<br />
concebido: “Selecionámos os materiais<br />
em função da sua rigidez e peso e estudámos<br />
a forma de os adaptar às nossas<br />
necessidades. Escolhemos isolantes<br />
ecológicos para evitar a utilização de lã<br />
de rocha ou de lã de vidro. O resto é<br />
composto principalmente por madeira”.<br />
A equipa foi engenhosa na procura<br />
dos materiais certos e na criação de um<br />
layout inteligente.<br />
50 e-MOBILIDADE
isolar as vozes de outros sons, a carrinha<br />
está dividida em duas secções - de um<br />
lado há uma sala de controlo, onde estão<br />
o engenheiro de som e o computador, e<br />
do outro há um amplificador vocal, que<br />
ajuda a isolar o desempenho vocal.”<br />
ESPAÇO<br />
O objetivo era criar<br />
um estúdio de gravação<br />
profissional totalmente<br />
funcional nos nove metros<br />
cúbicos de espaço de<br />
carga disponíveis numa<br />
Master<br />
EM APENAS 9 M 3<br />
Além disso, o espaço limitado disponível<br />
foi um grande desafio para o projeto.<br />
O objetivo era criar um estúdio de gravação<br />
profissional totalmente funcional nos<br />
nove metros cúbicos de espaço de carga<br />
disponíveis numa Master (que tem 3.733<br />
mm de comprimento, 1.765 mm de largura<br />
e 2.048 mm de altura), assegurando<br />
simultaneamente dois espaços distintos<br />
(para além da cabina do condutor) para<br />
que o cantor não estivesse na sala de<br />
controlo. “O meu papel consistia em fazer<br />
caber um estúdio de gravação numa<br />
carrinha - um espaço fechado e limitado<br />
que não oferece a mesma liberdade que<br />
outros espaços”, continua Lucas.<br />
O seu colega Julien acrescenta: “Cada espaço<br />
tem menos de cinco metros quadrados,<br />
o que é minúsculo. Nunca tínhamos<br />
trabalhado em espaços tão pequenos. Foi<br />
necessária uma grande dose de adaptação<br />
e de conhecimentos técnicos para<br />
integrar tudo o que queríamos, tendo em<br />
conta as limitações do veículo”.<br />
Falando ainda sobre a disposição deste<br />
espaço restrito, diz Julien que “para<br />
REQUISITOS ÚNICOS<br />
Todos estes desafios técnicos exigiram<br />
conhecimentos especializados em<br />
vários domínios, como salienta Olivier:<br />
“Do nosso lado, 20 pessoas estiveram<br />
envolvidas na concretização deste projeto<br />
abrangente. Demos trabalho a metalúrgicos,<br />
transformadores, pintores, artistas<br />
plásticos, designers de interiores e eletricistas”,<br />
que concluíram tudo em tempo<br />
recorde. “Um projeto de conversão como<br />
este demora normalmente seis meses<br />
a um ano. As nossas equipas tiveram<br />
menos de seis meses para fazer o que<br />
tinham de fazer.”<br />
As propostas ergonómicas respondem<br />
plenamente às exigências do patrocinador<br />
do Give Me 5, Youssoupha, figura<br />
incontornável do mundo do rap, e da<br />
sua equipa musical, que pretendiam um<br />
espaço prático, simples e rapidamente<br />
utilizável.<br />
A sensação de volume e de otimização<br />
do espaço é acentuada por elementos de<br />
design únicos: cores escuras para a carroçaria,<br />
incluindo um azul profundo que<br />
estimula a imaginação, e uma mistura<br />
subtil de madeira clara e tecidos escuros<br />
quentes.<br />
Todos estes desafios técnicos foram<br />
transformados em excelentes oportunidades<br />
criativas graças a uma colaboração<br />
perfeita e harmoniosa entre as equipas<br />
Renault, Pro Car e Red House. A escolha<br />
dos parceiros certos foi vital para o sucesso<br />
do projeto, que exigiu uma grande<br />
flexibilidade.<br />
A desenvoltura demonstrada em todos os<br />
processos criativos foi fundamental para<br />
garantir que o veículo estivesse totalmente<br />
pronto em tempo recorde.<br />
O projeto foi um sucesso retumbante,<br />
reconhecido pelos jovens que puderam<br />
gravar no camião de som, bem como<br />
por Youssoupha, cuja primeira reação<br />
quando o viu foi: “Acho que a Renault<br />
tem um toque mágico!”<br />
e-MOBILIDADE 51
eCar Show<br />
MOBILIDADE MAIS INTELIGENTE<br />
ALÃO DO AUTOMÓVEL<br />
Qualquer salão automóvel encerra uma atração a que poucos<br />
são indiferentes. E particularmente os portugueses. Num país<br />
habituado a ocupar os lugares da cauda do pelotão dos Estadosmembros<br />
da UE nos mais variados itens de apreciação, no que se<br />
refere à posse de automóveis está na mediana de 651 veículos por<br />
mil habitantes e ocupa o 8º posto entre os 27 países. Daí que uma<br />
mostra de reluzentes automóveis novos seja sempre um sucesso.<br />
E melhor ainda quando há estreias absolutas para mostrar. E com<br />
superlativo se se disser que são novidades, total ou parcialmente<br />
descarbonizadas e cada vez mais inteligentes.<br />
Veículos novos, híbridos<br />
e elétricos, microcarros,<br />
bicicletas, motociclos e<br />
scooters, todos a bateria,<br />
soluções de carregamento<br />
doméstico, aplicações móveis, é um<br />
mundo novo que gira em torno da<br />
mobilidade, e com a possibilidade de se<br />
realizar um test-drive. E ainda colóquios<br />
e debates. A 5ª edição do eCar Show,<br />
uma organização da ZEST, Marketing e<br />
Eventos, realizada no espaço da Feira<br />
Internacional de Lisboa, entre 17 e 19<br />
de maio, teve de tudo um pouco, com<br />
o aliciante de mostrar produtos novos,<br />
alguns deles em estreia absoluta. Não só<br />
de modelos, mas também de marcas.<br />
É o caso da IM Motors, do universo<br />
MG - marca sob a asa da chinesa SAIC<br />
Motor - que revelou no certame os<br />
modelos LS6, a aguardar comercialização<br />
próxima, e o L7, apenas como<br />
show car para a Europa. Foi dito que<br />
IM é acrónimo de Intelligent Mobility,<br />
52 e-MOBILIDADE
HÍBRIDO E ELÉTRICO<br />
eCar Show teve de tudo um pouco, com<br />
o aliciante de mostrar produtos novos,<br />
alguns deles em estreia absoluta<br />
e-MOBILIDADE 53
inclusivamente com capacidade para<br />
condução autónoma, acima de nível<br />
3, com recurso a tecnologia LIDAR -<br />
outro acrónimo, de light detection and<br />
ranging -, tecnologia ótica de deteção<br />
remota que mede propriedades da luz<br />
refletida de modo a obter a distância e/<br />
ou outra informação a respeito de um<br />
determinado objeto distante. Daí as três<br />
bossas que apresenta no início do tejadilho,<br />
que dissimulam os dispositivos<br />
empregues. Mas a MG também mostrou<br />
outras novidades, no caso o MG3 e o<br />
Cyberster, este apenas como exemplar<br />
de design, para comemorar o centenário<br />
da marca, nascida em 1924 sob o nome<br />
de Morris Garages.<br />
O CARRO DO ANO E UM TEASER<br />
A Renault chamou a atenção com um<br />
teaser de realidade virtual, simulando<br />
um espaço ocupado com o novo<br />
Renault 5 E-Tech, que estará em breve<br />
para chegar, ainda que as encomendas<br />
só comecem em julho. A nova Scénic<br />
E-Tech, coroada com os louros do<br />
“Carro do Ano” internacional, marcou<br />
presença, tal como o Rafale. Mas também<br />
lá estiveram o novíssimo e ainda<br />
recentemente apresentado à imprensa,<br />
o Alfa-Romeo Júnior, os novos Hyundai<br />
Kauai EV e Hyundai Ioniq 5n, os BMW<br />
i5 Touring e BMW ix2, o Kia Niro EV, o<br />
Lexus LBX, o Polestar 4 - um SUV coupé<br />
que tem a particularidade de não ter<br />
vidro traseiro -, o Toyota C-HR Plug-in,<br />
ou o Volkswagen ID7.<br />
EM QUATRO OU EM DUAS RODAS<br />
As empresas que fornecem soluções de<br />
carregamento doméstico, através das<br />
wallboxes, tiveram presença notória,<br />
mas também foi dado idêntico realce<br />
para o quadriciclo Microlino, que faz<br />
lembrar o BMW Isetta, os Ligier, de<br />
quatro e três rodas elétricos, e também<br />
as variadas marcas de motociclos elétricos<br />
que começam a surgir em maior<br />
número. Permanecendo no segmento da<br />
mobilidade inteligente, mas mais suave,<br />
os velocípedes com auxílio de bateria<br />
elétrica despertaram muita atenção do<br />
público mais jovem, que tiveram a possibilidade<br />
de experimentar os modelos.<br />
A KTM tem-se destacado com modelos<br />
de design arrojado e tecnologicamente<br />
muito evoluídos, e mostrou várias<br />
gamas com auxílio elétrico, quer de<br />
passeio, quer para percursos sobre pisos<br />
de terra mais acidentados.<br />
VISTOSO E BIZARRO, EIS O CYBERTRUCK<br />
Numa altura em que a União Europeia precisa de multiplicar por oito o<br />
número de pontos de carregamento a instalar por ano, até 2030, se é que<br />
quer cumprir as metas de CO 2<br />
, diz-nos o último relatório da ACEA, a Associação<br />
de Construtores Europeus de Automóveis, a indústria não para de<br />
nos surpreender com novas propostas, inteligentes e vistosas.<br />
Do outro lado do Atlântico chegou o Cybertruck da Tesla, que por lhes<br />
estar bem próximo regateava atenções, ainda que não pela mais estética<br />
das razões. É um truck, uma pick up (muito) grande, pesado (brindado, por<br />
sinal), que não prima pela beleza de linhas, mas que supera os 300 km/h<br />
e tem longa<br />
autonomia elétrica<br />
(800 km). Não há<br />
notícia que seja<br />
para comercializar<br />
em Portugal. Pelo<br />
inverso, lá estava<br />
também o Model<br />
X do empório de<br />
Elon Musk.<br />
54 e-MOBILIDADE
Cepsa promove<br />
rede de carregamento<br />
elétrico ultrarrápido<br />
Enquanto comercializador de<br />
eletricidade para a mobilidade<br />
elétrica, a Cepsa esteve presente<br />
com um stand próprio, onde promoveu<br />
a sua rede de carregamento elétrico ultrarrápido,<br />
bem assim como a sua App<br />
Cepsa Gow, ferramenta de fidelização e<br />
de carregamento elétrico, cimentando<br />
um dos compromissos assumidos na<br />
sua estratégia Positive Motion, que é o<br />
de criar a maior rede de carga ultrarrápida<br />
da Península Ibérica, tendo em<br />
vista tornar-se no maior operador neste<br />
segmento.<br />
Os visitantes do stand da Cepsa tiveram<br />
a oportunidade, de entre outras ofertas,<br />
obter o novíssimo cartão Cepsa RFID<br />
para carregamento elétrico em toda a<br />
rede Mobi.E que é um desejado complemento<br />
à App Cepsa Gow.<br />
A este propósito, António Mogadouro,<br />
responsável pelo setor de e-Mobility da<br />
CEPSA, falou-nos destas novas apostas:<br />
“Com a Positive Motion temos como<br />
objetivo principal criar uma mobilidade,<br />
também feita de energias sustentáveis,<br />
que aportem valor para a<br />
nossa sociedade. Com o foco na parte<br />
da mobilidade elétrica, podemos dizer<br />
que, a nível ibérico, temos dois grandes<br />
objetivos e que nos diferenciam de<br />
outros operadores que já estão no mercado.<br />
Um tem a ver com a aposta num<br />
segmento de mercado de carregadores<br />
ultrarrápidos, ou seja, uma rede de<br />
carregadores rápidos ou normais nunca<br />
abaixo de 150 kWh de potência, pois<br />
queremos atuar no mercado on-the-go,<br />
e acreditamos que essa é uma vantagem<br />
que quem se desloca pretende usufruir.<br />
Acreditamos que dentro de poucos<br />
anos, no segmento on-the-go, que é<br />
onde estamos presentes, seja este o mais<br />
valorizado. E daí a aposta, de 150 a 300<br />
kWh. E queremos ter uma abrangência<br />
de 200 em 200 km, de uma rede ibérica<br />
que se pretende possa chegar a 2030<br />
com 1100 postos de abastecimento com<br />
carregadores elétricos especificamente<br />
on-the-go.”<br />
INTEROPERABILIDADE<br />
A capacidade de um sistema para interagir<br />
e comunicar com outro, dita<br />
de interoperabilidade, que existe em<br />
Portugal - é mesmo obrigatória - é uma<br />
das vantagens para o usuário CEPSA.<br />
Diz António Mogadouro que empresa<br />
está a realizar acordos nesse sentido<br />
com várias parceiros, seja a Mobi.E, ou<br />
a Ionity, e outros ainda em negociação, e<br />
que será uma alavanca de crescimento,<br />
que tem a ver com o usuário e com os<br />
serviços e ofertas que a CEPSA quer disponibilizar,<br />
não só multi-energia, mas<br />
também multicar, como também satisfazer<br />
outras necessidades para quem<br />
tem um veículo automóvel. “E para isso<br />
somos os primeiros em integrar, em<br />
Portugal, a integrar um contrato CEPSA<br />
num programa de fidelização, o Clube<br />
CEPSA Gow, que é um programa que<br />
na sua essência atribui saldo aos seus<br />
usuários, seja na compra de produtos<br />
de lojas, seja na compra de combustível,<br />
seja na compra de unidades de lavagem<br />
e também, e aqui isso é interessante,<br />
pode ser utilizado em toda a interoperabilidade<br />
da Mobi-E.”<br />
PONTOS DIFERENCIADORES<br />
“São vantagens importantes que nos<br />
diferencia. Se quisermos ir mais ao<br />
detalhe, estamos na primeira linha na<br />
certificação de pagamentos ad-hoc dos<br />
próprios carregadores, agora com a<br />
regulamentação europeia que é o AFIR,<br />
que obriga a integração do TPA num<br />
carregador elétrico, o usuário CEPSA<br />
agtravés do cartão RFID que pode<br />
carregar, um meio de pagamento que<br />
tem incorporado o cartão bancário ou<br />
o MBWay.<br />
Trabalhamos com a SIBS há mais de 6<br />
meses, estamos no processo de certificação<br />
do primeiro TPA, com meio de<br />
comunicação Android, para estar incorporado<br />
nos nossos carregadores. Creio<br />
que até final de junho vamos ter os<br />
carregadores que temos vindo a instalar,<br />
que já vêm com o TPA incorporado.<br />
Portanto, temos infraestrutura de alta<br />
potência, ultrarrápida, ocupação num<br />
programa de finalização Gow, para dar<br />
resposta ao que os usuários necessitam,<br />
modos de pagamento numa primeira<br />
linha, em Portugal, com a SIBS, e nível<br />
de pontos que nos diferenciam.”<br />
Quer dizer que através da aplicação<br />
CEPSA Gow, o usuário pode chegar ao<br />
posto e sair de lá com tudo pago. É<br />
o que responde António Mogadouro:<br />
“Tanto em carregador elétrico como,<br />
inclusive, em bombas de combustível.<br />
A APP Gow tem a funcionalidade<br />
de identificar o custo, selecionar o<br />
serviço ou recarga, o combustível, e<br />
também o modo de faturação, que<br />
nem todos os operadores o têm, que é<br />
a faturação espontânea. Ou seja, assim<br />
que o usuário termina recebe a fatura<br />
digital no seu email que está associado<br />
ao programa Gow. Isto é um mundo<br />
digital de multi-energia que nós<br />
queremos que faça o futuro e estamos<br />
a apostar.<br />
e-MOBILIDADE 55
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO<br />
Os gémeos digitais<br />
na logística<br />
O conceito foi introduzido pela NASA<br />
para a simulação das suas naves espaciais<br />
Os gémeos digitais são uma representação precisa e de alto nível<br />
de um objeto, sistema ou processo físico, ao longo de todo o seu<br />
ciclo de vida. Estas réplicas virtuais sincronizam-se em tempo real<br />
com os seus homólogos físicos gerando um modelo fiel do seu<br />
comportamento e das suas características.<br />
Desde sempre que a civilização<br />
tentou criar modelos<br />
que representam a realidade<br />
para simplificar os seus<br />
processos. Por exemplo,<br />
um arquiteto cria uma maquete de um<br />
edifício para conseguir visualizar a sua<br />
aparência e simular a sua funcionalidade.<br />
Mas um modelo físico de outro objeto é<br />
ainda assim muito limitado e não passa<br />
de uma sua representação estática. Com<br />
a evolução tecnológica conseguimos ir<br />
mais além. O modelo passou a ser digital<br />
(como uma planta desenhada num<br />
software de CAD), mas principalmente<br />
passámos a conseguir saber as mudan-<br />
FILIPE CARVALHO<br />
CEO Wide Scope<br />
56 e-MOBILIDADE
ças de estado e atributos da contraparte<br />
física, por exemplo recolhendo continuamente<br />
dados a partir de sensores,<br />
em tempo real.<br />
Este avanço, proporcionado por tecnologias<br />
como Internet-of-Things (IoT)<br />
e Big Data, tem permitido monitorizar<br />
o ciclo de vida de produtos e sistemas<br />
à medida que acontecem, como se os<br />
estivéssemos a acompanhar numa torre<br />
de controlo. É assim que temos seguido<br />
em tempo real as posições de veículos<br />
equipados com localizadores por GPS,<br />
ou acompanhado as subidas e descidas<br />
de temperatura recolhidas por termómetros<br />
dentro de um contentor refrigerado<br />
enquanto percorre a sua rota.<br />
Ainda assim, esta visão é um mero<br />
reflexo do passado. Ou seja, temos uma<br />
representação dinâmica da realidade à<br />
medida que ela acontece e vai mudando,<br />
mas não passa de uma utilização reativa<br />
e estática da informação, uma análise histórica<br />
da sua performance. Por um lado,<br />
temos dados que nos permitem saber<br />
por que estradas um veículo passou, em<br />
que intervalo de tempo a temperatura<br />
dos produtos refrigerados esteve acima<br />
dos 14º, e assim por diante. Isto é muito<br />
útil para efeitos de rastreabilidade e para<br />
aferição de estatísticas e estudos com<br />
base na informação histórica. Mas não<br />
nos diz nada sobre o futuro.<br />
Com a evolução da Inteligência Artificial<br />
passámos a poder usar essa informação<br />
histórica e recolhida em tempo real para<br />
prever comportamentos futuros, submetendo<br />
o gémeo digital a uma variação da<br />
sua envolvência. Através da simulação<br />
de vários cenários futuros conseguimos<br />
antever o que vai acontecer caso tomemos<br />
algumas decisões, permitindo assim<br />
uma evolução eficaz e eficiente da gestão.<br />
Conseguimos, portanto, aliar os dados e<br />
as capacidades preditivas para criar um<br />
gémeo digital que é uma representação<br />
viva da realidade, e dele prever o impacto<br />
futuro de cenários que queremos<br />
testar ou que possam inadvertidamente<br />
acontecer.<br />
CASOS DE APLICAÇÃO<br />
DE GÉMEOS DIGITAIS<br />
O conceito de Gémeo Digital foi<br />
introduzido pela NASA para a simulação<br />
das suas naves espaciais. Foi mais<br />
tarde formalizado na área da produção<br />
industrial pelas publicações do académico<br />
norte-americano Michael Grieves.<br />
Mais recentemente tem sido associado<br />
ao popular Metaverso.<br />
Hoje em dia, os gémeos digitais são utilizados<br />
numa ampla gama de indústrias e<br />
aplicações. Desde a indústria aeronáutica<br />
com a simulação do efeito das condições<br />
atmosféricas em aeronaves, até à indústria<br />
médica no tratamento de doenças<br />
cardíacas, passando pela previsão do<br />
trajeto de furacões na meteorologia.<br />
Na área da supply-chain, a DHL implementou<br />
o conceito de Gémeo Digital<br />
na gestão de um armazém para reduzir<br />
ineficiências e minimizar o risco de<br />
colisões e acidentes.<br />
No entanto, uma das aplicações mais<br />
proeminentes é talvez a do mapeamento<br />
do estado de Singapura. Ou seja, todo<br />
o seu território, terreno e sua elevação,<br />
nível da água, edifícios e até a rede de<br />
cabos no subsolo foram mapeados para<br />
um gémeo digital do país inteiro. Isto<br />
permite imensos casos de uso como a<br />
previsão do impacto de chuvas fortes em<br />
inundações, a gestão de tráfego e redes<br />
viárias, a cobertura de redes de comunicações,<br />
etc.<br />
APLICAÇÕES EM TRANSPORTES<br />
E LOGÍSTICA<br />
Mais concretamente no setor do transporte<br />
e da logística, podemos ilustrar<br />
algumas das aplicações mais populares:<br />
Com o gémeo digital de um camião<br />
conseguimos antecipar quando este irá<br />
precisar de manutenção e quais as peças<br />
que irão mais rapidamente entrar em<br />
falência, tomando ações de manutenção<br />
preventiva.<br />
Com os gémeos digitais de uma frota<br />
e dos produtos transportados ao longo<br />
de um ano conseguimos simular se<br />
uma frota com outra dimensão e outras<br />
características teria permitido entregar<br />
tudo com a mesma qualidade e por<br />
menor custo, antecipando o que poderá<br />
ser a frota do ano seguinte.<br />
A representação digital de uma rede viária<br />
passou a incluir informação detalhada<br />
sobre velocidade do tráfego, estradas<br />
fechadas, acidentes, obras, restrições de<br />
estacionamento em tempo real. O gémeo<br />
digital da rede viária é fundamental<br />
para planear rotas e aferir os tempos de<br />
chegada com precisão.<br />
O gémeo digital da rede viária é também<br />
um instrumento fundamental na<br />
gestão de Smart Cities, permitindo a<br />
redefinição dos temporizadores dos<br />
semáforos ao longo do dia e em função<br />
Através da simulação de vários cenários futuros<br />
conseguimos antever o que vai acontecer caso<br />
tomemos algumas decisões, permitindo assim uma<br />
evolução eficaz e eficiente da gestão<br />
dos fluxos de tráfego, mudando-os<br />
dinamicamente com base na informação<br />
recolhida enquanto esta acontece.<br />
A tecnologia tem inúmeros benefícios e<br />
aplicações, mas também tem desafios.<br />
Para criar um modelo representativo da<br />
realidade é preciso um detalhe enorme<br />
de todas as suas características que por<br />
vezes é difícil de agregar, e em alguns<br />
casos ainda é impossível mesmo com<br />
a capacidade de supercomputação de<br />
hoje. No entanto, várias entidades têm<br />
colaborado na partilha de informação<br />
e desenvolvimento de mais e melhores<br />
algoritmos para continuar a evoluir o<br />
conceito.<br />
A tecnologia de Gémeos Digitais aplicada<br />
à área do transporte e da logística está<br />
ainda na sua infância, mas há já muitos<br />
benefícios de que é possível usufruir. E<br />
outros onde ainda é preciso continuar a<br />
trabalhar em colaboração e partilha de<br />
informação. Considerando o que acabou<br />
de ler, onde vê que pode melhorar a sua<br />
cadeia de abastecimento com recurso à<br />
implementação de Gémeos Digitais?<br />
e-MOBILIDADE 57
AUTOCARROS<br />
Scania Touring<br />
com variante a gás<br />
Funciona a gás natural, biogás,<br />
ou uma mistura de ambos<br />
A<br />
Scania é conhecida por<br />
sua ampla gama de<br />
opções de motorização<br />
de baixo carbono e<br />
agora reforça a aposta<br />
nesse caminho adicionando uma variante<br />
LBG/LNG do Scania Touring.<br />
Capaz de funcionar com gás natural<br />
e biogás, ou uma mistura dos dois,<br />
permite uma transição suave para o<br />
A nova variante vem com um motor a gás de 13 litros que fornece 410 cv e<br />
2000 Nm de binário, garantindo uma eficiência que permitirá aos gestores<br />
de frota reduzir os custos de combustível. Com a opção de tanque padrão,<br />
esta unidade terá uma autonomia superior a 1.000 km.<br />
biogás, criando uma solução circular<br />
e economicamente viável para<br />
o transporte sustentável de longa<br />
distância.<br />
Os autocarros a gás constituem<br />
uma opção muito interessante para<br />
muitos operadores de transportes,<br />
facilitando o desenvolvimento sustentável<br />
de uma forma que também<br />
tem em conta os aspetos económicos.<br />
“A nova variante LBG/GNL<br />
do Scania Touring é uma excelente<br />
opção para operadores de carreiras<br />
expresso e longa distância que<br />
desejam tornar-se mais sustentáveis<br />
sem um investimento massivo ou<br />
impacto negativo nas operações”, diz<br />
Carl-Johan Lööf, chefe de gestão de<br />
produtos de soluções de transporte<br />
de passageiros da Scania.<br />
58 e-MOBILIDADE
Através da produção local de combustível, as<br />
cidades e os municípios podem criar empregos<br />
locais e resolver problemas de resíduos, ao mesmo<br />
tempo que aumentam a segurança energética e<br />
sequestram carbono<br />
HISTÓRICO<br />
A Scania desenvolve motores<br />
a gás desde o início dos anos<br />
1900. Com a possibilidade<br />
de funcionar tanto com gás<br />
natural quanto com biogás,<br />
considerados a ferramenta<br />
perfeita na transição para o<br />
biogás mais sustentável<br />
A nova variante vem com um motor<br />
a gás de 13 litros que fornece 410 cv<br />
(302 kW) e 2000 Nm, e com uma<br />
eficiência que permite aos usuários reduzir<br />
os custos de combustível. Com<br />
a opção de tanque padrão, ele também<br />
oferece uma autonomia de mais de<br />
1.000 km. “Este produto oferece potência,<br />
binário e alcance equivalentes<br />
aos de uma unidade movida a gasóleo,<br />
ao mesmo tempo em que reduz os<br />
níveis de ruído e oferece custos operacionais<br />
mais baixos”, sublinha Lööf.<br />
O biogás tem sido usado há muito<br />
tempo na forma comprimida para<br />
alimentar autocarros urbanos e suburbanos.<br />
Nos últimos anos, os desenvolvimentos<br />
tecnológicos permitiram que<br />
o gás fosse arrefecido e transformado<br />
em líquido denso em energia – LBG/<br />
GNL – tornando-o uma solução<br />
mais viável para veículos comerciais<br />
pesados que operam rotas de longa<br />
distância.<br />
O PAPEL RELEVANTE DO BIOGÁS<br />
“O biogás pode desempenhar um papel<br />
fundamental na descarbonização<br />
do transporte pesado, particularmente<br />
em aplicações de longa distância. A<br />
infraestrutura para produção de combustível<br />
e postos de abastecimento<br />
continua em expansão, com grandes<br />
investimentos realizados na Europa”,<br />
diz Jonas Strömberg, gerente de<br />
negócios de transporte sustentável da<br />
Scania.<br />
O biogás é um combustível livre<br />
de fósseis e renovável que oferece<br />
reduções de emissões de CO 2<br />
de<br />
até 90% em comparação com o<br />
diesel e também fornece outros<br />
benefícios para o desenvolvimento<br />
sustentável. Através da produção<br />
local de combustível, as cidades e os<br />
municípios podem criar empregos<br />
locais e resolver problemas de<br />
resíduos, ao mesmo tempo que<br />
aumentam a segurança energética e<br />
sequestram carbono.<br />
“Estas soluções são verdadeiramente<br />
circulares e eu diria que a nossa motorização<br />
a gás de 13 litros é a opção<br />
mais sustentável e viável do mercado<br />
para operadores de longa distância.<br />
É melhor para o meio ambiente,<br />
silencioso, inteligente e, talvez agora<br />
o mais importante, permitindo que os<br />
operadores de longa distância dêem<br />
um grande passo em direção ao transporte<br />
sustentável”, conclui Strömberg.<br />
A Scania desenvolve motores a gás<br />
desde o início dos anos 1900. Com<br />
a possibilidade de funcionar tanto<br />
com gás natural quanto com biogás,<br />
considerados a ferramenta perfeita na<br />
transição para o biogás mais sustentável.<br />
Aumentando a flexibilidade, os<br />
motores também podem funcionar<br />
com gás liquefeito e gás comprimido.<br />
E como não necessitam de aditivos, os<br />
motores a gás da Scania não dependem<br />
da disponibilidade de aditivos.<br />
Esta nova opção para o Scania Touring<br />
acresce ao portfólio atual de gás da<br />
Scania para o segmento de longa distância,<br />
que inclui autocarros construídos<br />
com parceiros carroçadores externos,<br />
como o Scania Beulas DD LBG/<br />
LNG, bem como o Scania Irizar i6S<br />
Efficient LBG/LNG que foi apresentado<br />
na Busworld no ano passado.<br />
e-MOBILIDADE 59
ESTUDO<br />
Barómetro<br />
dos transportes<br />
A Grounded e o IPAM desenvolveram em conjunto com a revista<br />
Eurotransporte, a revista de referência em Portugal no setor dos<br />
transportes, e com o suporte da ANTRAM, um barómetro para o setor<br />
de transportes mais especificamente o do transporte rodoviário de<br />
mercadorias. O estudo, já com sete edições, tem como objetivo avaliar o<br />
sentimento do setor junto dos seus intervenientes ativos.<br />
Os participantes do estudo em 2024, e à semelhança<br />
de anos anteriores são todos aqueles<br />
que que têm um interesse direto na área de<br />
transportes de mercadorias e que constam da<br />
base de dados da <strong>Revista</strong> Eurotransporte e da<br />
ANTRAM.<br />
Foram enviados e-mails com o inquérito para as bases de<br />
dados da ANTRAM e da Eurotransporte. De um universo de<br />
15.000 participantes obtiveram-se 218 respostas válidas. Os<br />
dados foram recolhidos entre 26 de abril e 22 de maio 2024.<br />
1. O QUESTIONÁRIO<br />
O questionário avalia o sentimento dos operadores em duas<br />
vertentes. Uma primeira vertente ao nível do sentimento<br />
dos participantes relativamente ao setor de transportes de<br />
mercadorias. O sentimento é avaliado com recurso a quatro<br />
questões:<br />
» Perspetiva do setor de transportes de mercadorias rodoviário<br />
para o próximo ano.<br />
» Perguntou-se aos participantes do estudo se têm uma “muito<br />
boa”, “boa”, “má” ou “muito má” perspetiva relativamente<br />
ao setor para o próximo ano.<br />
» Perspetiva do setor de transportes de mercadorias rodoviário<br />
para os próximos 3 anos.<br />
» Perguntou-se aos participantes do estudo se têm uma “muito<br />
boa”, “boa”, “má” ou “muito má” perspetiva relativamente<br />
ao setor para o próximo ano.<br />
» Perspetivas de investimento no próximo ano.<br />
» Perguntou-se, apenas aos investidores ativos do setor dos<br />
transportes de mercadorias rodoviário, quais os seus planos<br />
de investimento para o próximo ano: aumento, manutenção<br />
ou redução de investimento. Questionou-se também a<br />
tipologia de investimento. Analisou-se o planeamento das<br />
organizações ao nível do investimento em novas tecnologias<br />
e em novas práticas sustentáveis.<br />
» Perspetiva de Longo Prazo.<br />
» Perguntou-se os participantes se recomendam o transporte<br />
rodoviário de mercadorias enquanto atividade profissional<br />
atrativa e de futuro. Esta questão foi baseada na metodologia<br />
Net Promoter Score (NPS). O inquirido dispõe de uma<br />
60 e-MOBILIDADE
CONCLUSÕES<br />
Não é lisongeiro o resultado da<br />
amostra para o setor no próximo ano,<br />
dado que a má perspetiva supera<br />
um panorama otimista, havendo<br />
mesmo quem o vaticine como muito<br />
mau. Ainda assim, os receios são<br />
menores que os expressos em 2022,<br />
mas novamente são as empresas de<br />
menor dimensão que mais temem os<br />
tempos vindouros, contrastando com<br />
as respostas de quem faz parte de<br />
grandes empresas.<br />
Também são as ditas PME que<br />
manifestam mais ceticismo num<br />
horizonte a três anos. No entanto,<br />
e relativamente ao investimento, a<br />
maioria admite que manterá o mesmo<br />
nível em 2024, e entre esta há quem<br />
deseje atribuir-lhe mais capital.<br />
escala de 0 a 10. Se responder com 10 ou 9 é classificado<br />
como promotor, 8 ou 7 é neutro/passivo. De 6 até zero é<br />
classificado como detrator. Alcança-se o valor de NPS subtraindo<br />
os detratores aos promotores.<br />
Uma segunda vertente do estudo visa identificar constrangimentos<br />
na operação na área de negócio dos transportes<br />
rodoviário de mercadorias. De vários possíveis cenários foram<br />
escolhidos oito fatores considerados relevantes para a área de<br />
negócio dos transportes rodoviário de mercadorias. Os fatores<br />
são diferentes entre si, mas todos poderão ter um impacto<br />
negativo no negócio das empresas. Os participantes avaliaram<br />
os seguintes fatores: aumento dos impostos, incerteza fiscal,<br />
aumento dos preços dos combustíveis, aumento do preço de<br />
outras matérias-primas, nova legislação mais restritiva, falta<br />
de mão-de-obra, evolução da economia, aumento da concorrência<br />
e o ambiente laboral.<br />
A avaliação de cada um dos fatores foi feita em função do seu<br />
impacto na qualidade do sono do participante. O participante<br />
podia escolher entre cinco opções em função do acontecimento:<br />
“Perco totalmente o sono”, “Durmo mal”, “Durmo OK”,<br />
“Durmo muito bem”, “Durmo que nem um anjo”. O fator<br />
seria relevante, e preocupante, se o participante afirmasse<br />
que estava a perder totalmente o seu sono ou a dormir mal ao<br />
pensar nesse mesmo fator. O fator não seria preocupante se o<br />
participante escolhesse as opções “Durmo ok”, “durmo muito<br />
bem” ou “durmo que nem um anjo”. Para facilidade de análise<br />
a escala foi redesenhada. Assim, comparam-se os valores<br />
somados do “Insónia” e “Durmo mal” com os valores somados<br />
do “Durmo OK”, “Durmo bem”, “Durmo que nem um anjo”.<br />
2. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA<br />
A maior parte da amostra, 71%, é constituída por Proprietários<br />
Gerente e Diretores de empresas de transporte representam.<br />
Os funcionários de empresas de transporte rodoviários<br />
representam 20%. O resto da amostra é constituída por<br />
consultores, 3%, fabricantes, importadores ou concessionários<br />
e professores, ambos com um peso de 1%. Os restantes 5%<br />
são compostos por professores/investigadores, funcionários do<br />
estado e ouras profissões. A amostra é composta por residentes<br />
de todos os distritos de Portugal continental. Porém, os<br />
e-MOBILIDADE 61
ESTUDO<br />
Barómetro dos transportes<br />
Relativamente ao nível das habilitações literárias, 47% da<br />
amostra não tem formação ao nível do ensino superior em<br />
comparação com 53% do restante da amostra que tem habilitações<br />
literárias ao nível do ensino superior. É de assinalar que<br />
11% do total da amostra tem mestrado ou doutoramento.<br />
residentes de Lisboa e Porto representam 44% da amostra.<br />
Os homens estão em maioria no estudo e representam 72%<br />
da amostra, as mulheres representam 28%. Relativamente a<br />
idades 59% da amostra tem entre 35 – 54 anos.<br />
Relativamente à dimensão das empresas, 40% trabalham os<br />
pequenas empresas, 16% em médias empresas, 28% trabalham<br />
em microempresas e 15% em grandes empresas e 1% no<br />
setor público.<br />
62 e-MOBILIDADE
3. RESULTADOS<br />
PERSPETIVA PARA O PRÓXIMO ANO<br />
A maioria dos participantes tem uma perspetiva negativa para<br />
o setor de transporte para o próximo ano. Perto de metade da<br />
amostra, 48% tem uma perspetiva má e 10% têm uma perspetiva<br />
muito má. Assim, 43% dos participantes têm uma perspetiva<br />
positiva para o próximo ano, 41% da amostra têm uma<br />
perspetiva boa e 2% têm uma perspetiva muito boa. Pode-se<br />
concluir que a maior parte do mercado tem uma perspetiva<br />
negativa para o próximo ano.<br />
Comparativamente a 2023 pode-se verificar que houve uma<br />
pioria nas expetativas a curto prazo. Em 2024 existem mais<br />
participantes com uma perspetiva negativa a curto prazo comparativamente<br />
a 2023. Os resultados em 2024 são melhores<br />
do que os de 2022, porém piores do que todos os resultados<br />
desde 2017, ano da primeira leitura.<br />
Porém as perspetivas relativamente ao próximo ano estão<br />
dependentes da dimensão das empresas. Participantes que<br />
trabalham em empresas mais pequenas estão mais negativos<br />
do que os das grandes empresas. De facto, 62% dos participantes<br />
de microempresas estão negativos relativamente ao<br />
próximo ano. Contrariamente, 52% dos participantes que<br />
trabalham em grandes empresas estão positivos relativamente<br />
ao próximo ano.<br />
e-MOBILIDADE 63
ESTUDO<br />
Barómetro dos transportes<br />
Assim, as expectativas do mercado, para o curto prazo, estão<br />
dependentes se os participantes trabalham numa microempresa,<br />
pequena empresa, média empresa ou grande empresa.<br />
PERSPETIVA A 3 ANOS<br />
Quando os participantes foram questionados relativamente<br />
a um horizonte temporal a 3 anos, a maior parte da amostra,<br />
53%, tem uma perspetiva negativa, dos quais 47% tem uma<br />
perspetiva má e 6% muito má. Assim, menos de metade da<br />
amostra, 47% tem uma perspetiva positiva, dos quais 44%<br />
tem uma perspetiva boa e 3% muito boa.<br />
Comparativamente com os anos anteriores verifica-se que<br />
apesar de uma queda de confiança relativamente a 2023, a<br />
tendência mantém-se, há uma divisão entre os que têm uma<br />
perspetiva positiva e aqueles que têm uma perspetiva negativa<br />
a 3 anos.<br />
Uma vez mais a dimensão da empresa tem um impacto relativamente<br />
à perspetiva da atividade a 3 anos. Participantes<br />
de pequenas empresas estão mais pessimistas dos que os de<br />
grandes empresas. Assim, 62% dos participantes de microempresas<br />
têm uma perspetiva negativa, porém 61% dos participantes<br />
de grandes empresas têm uma perspetiva positiva.<br />
Aparentemente o mercado de transporte rodoviário de mercadorias<br />
está a mais complicado para empresas de menor<br />
dimensão.<br />
Comparando as perspetivas de curto e médio prazo pode-se<br />
concluir que os participantes estão ligeiramente mais positivos<br />
a médio prazo. Do total da amostra 43% tem uma expectativa<br />
positiva para este ano, porém este valor sobe para 47% relativamente<br />
às expectativas a 3 anos.<br />
64 e-MOBILIDADE
NÍVEIS DE INVESTIMENTO<br />
Relativamente ao plano de investimento 37% dos participantes<br />
afirmam que as suas empresas irão diminuir os seus<br />
investimentos durante o ano 2024. Mais de metade, 52%,<br />
afirma que irá manter os seus investimentos e apenas 11%<br />
afirmam que irão aumentar os seus níveis de investimento.<br />
Comparativamente às intenções de investimento de 2023<br />
pode-se afirmar que há uma maior restrição ao investimento.<br />
Em 2023, 31% dos participantes afirmava que iriam diminuir<br />
os seus investimentos e 16% afirmavam que iriam aumentar.<br />
Essa propensão à baixa de investimento vem em linha com<br />
uma perspetiva mais negativa a curto e médio prazo.<br />
É também de se referir que as grandes empresas são aquelas<br />
que estarão mais propensas a aumentar os seus investimentos.<br />
Assim, existe uma vez mais um comportamento diferente<br />
dependente da dimensão das empresas. 24% dos participantes<br />
que trabalham em grandes empresas afirmam que as suas<br />
organizações irão aumentar os seus investimentos, porém<br />
apenas 10% que trabalham em microempresas e 8% que trabalham<br />
em pequenas empresas afirmam que as suas organizações<br />
vão aumentar os seus investimentos.<br />
Relativamente ao tipo de investimento é aparente o esforço<br />
a ser feito para desenvolver práticas sustentáveis. A maior<br />
parte dos participantes, 61%, afirmam que é provável ou<br />
extremamente provável que a suas empresas invistam em boas<br />
práticas sustentáveis. Apenas 13% dos participantes afirmam<br />
que as suas empresas não irão investir em boas práticas sustentáveis.<br />
Apesar da maior parte dos participantes considerarem provável<br />
o investimento em práticas sustentáveis, a apetência para o<br />
investimento em novas tecnologias é menor. Menos de metade<br />
da amostra, 45% afirma que é provável ou muito provável<br />
investir em novas tecnologias. 25% da amostra afirma que<br />
não irá investir em novas tecnologias.<br />
É de salientar que a propensão de investimento em cada uma<br />
das tipologias está também dependente da dimensão das<br />
empresas. De facto, 82% dos participantes que trabalham em<br />
grandes empresas afirmam que é parcialmente provável ou<br />
extremamente provável que as suas organizações invistam em<br />
e-MOBILIDADE 65
ESTUDO<br />
Barómetro dos transportes<br />
NPS<br />
O Net Promoter Score (NPS), que avalia a recomendação da<br />
atividade na área de transporte rodoviário enquanto profissão,<br />
tem um valor negativo e que o do ano passado. De acordo<br />
com os resultados, 82% dos inquiridos são detratores, ou seja,<br />
apresentam reservas na altura de recomendar um futuro profissional<br />
ligado ao setor de transporte rodoviário. Apenas 6%<br />
recomendaria uma profissão na área do transporte rodoviário<br />
como algo desejável e atraente. Assim, o valor do NPS é de<br />
-76%. Comparativamente a 2023 os valores do NPS pioraram,<br />
o que está em linha com as expectativas a curto e médio prazo<br />
que também pioram.<br />
práticas sustentáveis. Essa propensão para investir em práticas<br />
sustentáveis é de apenas 37% para as microempresas.<br />
Relativamente ao investimento em novas tecnologias a dimensão<br />
das empresas tem também um impacto nas decisões.<br />
82% dos participantes de empresas de grande dimensão<br />
afirmam que as suas organizações irão investir em novas<br />
tecnologias. Em contraste, apenas 27% dos participantes de<br />
microempresas afirmam que as suas organizações irão investir<br />
em novas tecnologias.<br />
Há claramente um contraste entre a atuação de grandes empresas<br />
e empresas de menor dimensão.<br />
Quando se avalia o NPS em função da dimensão de empresa<br />
verifica-se que existem perspetivas diferentes. Os participantes<br />
de empresas mais pequenas estão mais negativos do<br />
que os das empresas maiores. O NPS dos participantes das<br />
Microempresas é de -88% enquanto os das grandes empresas<br />
é de -48%.<br />
66 e-MOBILIDADE
Uma vez mais é possível verificar que existe uma maior<br />
pressão junto de empresas mais pequenas comparativamente<br />
a empresas de maior dimensão. Os participantes de empresas<br />
de maior dimensão estão mais optimistas comparativamente a<br />
participantes de empresas de menor dimensão.<br />
Tal como foi referido, foram medidos oito fatores de constrangimentos<br />
na operação na área de negócio dos transportes<br />
rodoviário de mercadorias. O fator que mais provoca preocupação<br />
nos participantes do estudo é o fator Aumento do<br />
Preço dos Combustíveis. Do total da amostra, 83%, afirma<br />
que dorme mal ou tem insónias devido ao potencial aumento<br />
do preço dos combustíveis. Apenas 17% diz que dorme OK,<br />
muito bem ou que nem um anjo quando pensa no potencial<br />
aumento do preço dos combustíveis. O segundo fator<br />
que mais preocupa os participantes do estudo é o potencial<br />
aumento do custo de outras matérias-primas. Este potencial<br />
aumento afeta o sono a 79% da amostra. De facto, ambos os<br />
fatores estão altamente correlacionados. Outros dois fatores<br />
que retiram o sono a 75% da amostra é a Incerteza Fiscal e<br />
o potencial Aumento dos Impostos. Ambos os fatores estão<br />
altamente correlacionados com o fator Aumento do Preço dos<br />
Combustíveis e Preço da Matérias-Primas. Um terceiro grupo<br />
de fatores que preocupa a maior parte dos participantes do<br />
estudo são: a Evolução da Economia, a Falta de-Mão-de-Obra<br />
e a criação de Nova Legislação mais Restritiva. Os fatores<br />
que retiram o sono a menos participantes são o Aumento da<br />
Concorrência e o Ambiente Laboral.<br />
Quando se comparam os resultados com anos anteriores verifica-se<br />
que há um agravamento de alguns fatores. Em 2024<br />
há mais participantes com a preocupação de um potencial aumento<br />
do preço dos combustíveis e um aumento do preço das<br />
matérias-primas. De facto, a preocupação com um potencial<br />
aumento do preço dos combustíveis nunca impactou tantos<br />
elementos da amostra. 83% da amostra afirma perder o sono<br />
o dorme mal por causa do potencial aumento do preço dos<br />
combustíveis. O aumento do preço de outras matérias primas<br />
afeta o sono a 79% da amostra. Este dois fatores têm tido uma<br />
evolução negativa desde 2017.<br />
FATORES DE CONSTRANGIMENTOS<br />
No segundo grupo de fatores de preocupação, o Aumento de<br />
Impostos e Incerteza Fiscal, verifica-se que os valores, ao longos<br />
dos anos têm oscilados dentro de uma mesma margem.<br />
Verifica-se que, mesmo com um novo governo em função os<br />
participantes ainda se preocupam com potenciais aumentos<br />
de impostos e com incerteza fiscal.<br />
No terceiro grupo de fatores, Nova Legislação mais Restritiva,<br />
Falta de Mão-de-Obra e Evolução da Economia verificar-se<br />
uma tendência de agravamento de preocupações ao longo<br />
dos anos. O fator Evolução da Economia é aquele que mais<br />
negativamente tem evoluído. Em 2017, 40% amostra preocupava-se<br />
com este fator, em 2024 já são 71% dos que se<br />
preocupam com a evolução<br />
da economia. Esta visão<br />
mais negativa da economia<br />
é uma explicação para os<br />
resultados piores relativamente<br />
às expectativas a<br />
curto e médio prazo. A fata<br />
de mão-de-obra também<br />
tem evoluído de uma forma<br />
negativa. Em 2024, 70% da<br />
amostra preocupa-se com<br />
a falta de mão-de-obra,<br />
em 2017, 55% da amostra<br />
mostrava-se preocupado<br />
com esse fator.<br />
No quatro grupo de fato-<br />
e-MOBILIDADE 67
ESTUDO<br />
Barómetro dos transportes<br />
está altamente correlacionado com a evolução da economia.<br />
Assim, em 2019 apenas 28% da amostra se preocupava com a<br />
concorrência, em 2024 esse valor subiu para 47%. Uma perspetiva<br />
mais negativa para a economia está a contribui para<br />
este sentimento mais negativo relativamente à concorrência.<br />
res, aqueles que menos afligem os participantes do estudo,<br />
verifica-se uma evolução positiva relativamente ao ambiente<br />
laboral. Desde a primeira medição, em 2019, o valor tem caído.<br />
Se em 2019 esse fator retirava o sono a mais de metade da<br />
amostra, 52%, em 2024 retira o sono a menos de metade da<br />
amostra, 43%. Contudo, o inverso se passa com o fator Aumento<br />
da Concorrência. Teve uma descida<br />
até 2019, a partir dessa data tem havido<br />
mais participantes preocupados com<br />
o aumento da concorrência. Este fator<br />
Quando se observam os resultados em função da dimensão<br />
da empresa verifica-se que os fatores afetam as empresas<br />
de forma distinta. Assim, a maior parte dos fatores têm um<br />
impacto mais negativo sobre os participantes das microempresas<br />
e pequenas empresas do que os das médias e grandes<br />
empresas. A únicas excepção é fator ligado à mão-de-obra. O<br />
fator Ambiente Laboral afeta mais negativamente os participantes<br />
de médias e grandes empresas comparativamente a<br />
micro e pequenas empresas. Assim, pode-se concluir que os<br />
participantes de média e grandes empresas têm mais recursos<br />
e instrumentos para fazerem face a um mercado volátil. Essa<br />
poderá ser também a razão para que estejam mais otimista a<br />
curto, médio e longo prazo.<br />
68 e-MOBILIDADE
ESPAÇOS PÚBLICOS PARTILHADOS<br />
Saia do carro<br />
e faça esta viagem comigo<br />
O conceito de espaço público partilhado está a ganhar grande destaque na mobilidade urbana,<br />
enquanto solução para promover a inclusão, a segurança e a sustentabilidade nas cidades. Este<br />
conceito envolve a criação de áreas urbanas onde diferentes modos de transporte, atividades<br />
e pessoas coexistem de maneira harmoniosa, sem a tradicional segregação rígida entre peões,<br />
bicicletas, micromobilidade e veículos maiores, tanto individuais como de transporte colectivo.<br />
70 e-MOBILIDADE
CONVITE<br />
Saia do carro, tranque as portas e faça<br />
comigo esta viagem até uma cidade mais<br />
feliz. Mais comunidade. Mais aldeia<br />
Este é o tema proposto para a<br />
Semana Europeia da Mobilidade<br />
deste ano que, como<br />
sempre, decorrerá de 16 a<br />
22 de Setembro. Na Ecomood<br />
Portugal estamos já a trabalhar<br />
com alguns municípios nesta edição, no<br />
seguimento do trabalho desenvolvido<br />
deste 2017, com diversas acções registadas<br />
e tendo já, na parceria com a Câmara<br />
Municipal da Amadora, conseguido<br />
chegar ao top dos melhores programas<br />
europeus. Sendo a integração intermodal<br />
a nossa principal bandeira na<br />
mobilidade, nenhum tema se integraria<br />
melhor nesse espírito. Portanto, saia do<br />
carro, tranque as portas e faça comigo<br />
esta viagem até uma cidade mais feliz.<br />
Mais comunidade. Mais aldeia.<br />
Comecemos pelos benefícios de uma<br />
boa partilha do espaço público:<br />
ANTÓNIO GONÇALVES PEREIRA<br />
Presidente do Ecomood Portugal, Associação<br />
para a Promoção Solidária da Sustentabilidade<br />
na Mobilidade Humana; Embaixador<br />
do Pacto Climático Europeu<br />
» Equidade Social: com a convivência<br />
mais próxima e segura promove-se<br />
a inclusão social, ao garantir que<br />
todas as pessoas, independentemente<br />
de seu modo de transporte, possam<br />
mover-se de forma segura e confortável.<br />
Isso é especialmente importante<br />
para peões e ciclistas, ajudando-os a<br />
ficarem menos vulneráveis no trânsito<br />
urbano. Mas também para os que<br />
são mais frequentemente esquecidos<br />
nestes planeamentos urbanos: os cidadãos<br />
de mobilidade mais reduzida<br />
ou portadores de deficiência;<br />
» Redução de Acidentes: diminuindo<br />
as barreiras físicas, dando ênfase<br />
a um comportamento cooperativo<br />
e atencioso entre todos os utentes<br />
do espaço público, leva-se a uma<br />
diminuição no número de acidentes.<br />
Quando todos compartilham o<br />
e-MOBILIDADE 71
mesmo espaço e vão variando a sua<br />
forma de o utilizar, vestindo várias<br />
peles, a velocidade dos veículos mais<br />
pesados tende a reduzir-se, aumentando<br />
assim a segurançade todos.<br />
Um condutor de autocarro que já<br />
experimentou andar de bicicleta entre<br />
autocarros sabe bem do que estou a<br />
falar;<br />
» Melhoria da Saúde Pública: ao<br />
incentivar o uso de modos de transporte<br />
mais suaves, como caminhar ou<br />
andar de bicicleta (ainda que elétrica),<br />
não só se incrementa o exercício<br />
físico como se reduzem as emissões<br />
tanto de gases como de ruído, melhorando<br />
a qualidade do ar e da vida<br />
urbana em geral. E a saúde pública. E<br />
a esperança de vida de todos;<br />
» Estímulo à Vida Comunitária e à<br />
Coesão Social: além da vertente de<br />
mobilidade, espaços públicos bem<br />
projectados e partilhados podem<br />
tornar-se locais de atividades comunitárias,<br />
promovendo interações sociais<br />
e um senso de comunidade entre os<br />
residentes;<br />
» Impulso Económico: zonas com<br />
menos automóveis e com mais circulação<br />
de baixa velocidade e pedonal,<br />
além de áreas de permanência,<br />
atraem empresas e turismo, levando à<br />
revitalização económica do comércio<br />
local.<br />
Se à primeira vista, dadas as mais-valias,<br />
o conceito parece de óbvia implementação,<br />
o certo é que, para tal, é necessária<br />
uma forte e eficaz campanha de<br />
sensibilização para algumas evoluções<br />
necessárias a montante. De mentalidades,<br />
culturais e, sobretudo, de comportamentos.<br />
O facto de termos ‘comprado’<br />
a ideia de que o automóvel é rei, de o<br />
encaramos como um bem de primeira<br />
necessidade e de, por isso, termos<br />
permitido, ou até exigido, que as nossas<br />
cidades se fossem reformulando em sua<br />
função, faz agora com que o caminho<br />
para um formato mais racional e feliz<br />
seja alvo de muitas resistências. E que<br />
implique também alterações estruturais<br />
de alguma monta.<br />
Em alguns casos, será até difícil encontrar<br />
o espaço necessário para que esta<br />
tão necessária evolução seja efectuada<br />
de forma harmoniosa, mesmo que faseada.<br />
Mas o certo é que, quando feita<br />
de forma consultiva e partilhada com<br />
os cidadãos nos seus vários estágios,<br />
até os mais renitentes têm passado da<br />
oposição para a defesa destas novas<br />
áreas urbanas. E os exemplos de sucesso<br />
vão-se multiplicando. Aqui ficam<br />
alguns.<br />
Em Barcelona vão surgindo cada vez<br />
mais zonas de velocidade de circulação<br />
reduzida (entre 30 e 10kms/h) e<br />
quarteirões zero trânsito. Uma rua emblemática<br />
é a famosa La Rambla, agora<br />
vigorosamente arborizada e partilhada<br />
por pedestres, artistas de rua e bancas<br />
de mercado.<br />
Copenhaga criou o ‘Plano dos 5 Dedos’<br />
em… 1947. As linhas de transporte<br />
colectivo espalham-se a partir do<br />
centro da cidade. A infraestrutura para<br />
circulação em bicicleta é tão abrangente<br />
que hoje em dia, em inglês, usa-se<br />
o termo ‘copenhagenize’ quando se vai<br />
implementar ou alargar a rede ciclável<br />
numa cidade. E é também considerada<br />
a cidade mais caminhável do mundo,<br />
sendo a sua Strøget uma das mais<br />
compridas ruas pedonais. E tudo isto<br />
polvilhado de pequenas áreas verdes e<br />
de espaços de reunião. De convívio.<br />
Até Nova Iorque, de que temos uma<br />
imagem completamente plena de carros<br />
(parados no trânsito), vai começando<br />
a ter áreas de partilha, de convívio,<br />
pedonais. Quem diria que a famosa<br />
Times Square teria o espaço para os<br />
automóveis drasticamente reduzido,<br />
dando agora prioridade ao pedonal e<br />
a zonas para apresentações públicas<br />
e instalações artísticas? E há ainda a<br />
High Line, uma desactivada linha de<br />
comboio elevada agora convertida para<br />
corredor verde pedonal, com espaços<br />
diversificados, cruzando a cidade.<br />
Também por cá se vão multiplicando<br />
espaços destes, sobretudo nas zonas<br />
mais tradicionais das cidades. E assim<br />
vamos não só partilhando o espaço,<br />
mas também a ideia, habituando os<br />
mais resistentes para que se prossiga<br />
com o alastramento a outras partes da<br />
cidade deste conceito de menos carro,<br />
mais comunidade. Menos trânsito,<br />
mais vida. Menos isolamento, mais<br />
‘bom dia, vizinha’.<br />
Nota: este artigo está escrito em português de<br />
Portugal, apenas com as evoluções do (des)<br />
acordo ortográfico que me fazem sentido.<br />
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