Feliz Revés de Natal (The Portuguese Edition of Christmas Switcheroo)
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<strong>Portuguese</strong><br />
EDITION<br />
FELIZ REVÉS DE NATAL<br />
Tuula Pere • Outi Rautkallio<br />
W<br />
ickWick
FELIZ REVÉS DE NATAL
<strong>Feliz</strong> <strong>Revés</strong> <strong>de</strong> <strong>Natal</strong><br />
História <strong>de</strong> Tuula Pere<br />
Ilustrações <strong>de</strong> Outi Rautkallio<br />
Layout <strong>de</strong> Peter Stone<br />
Traduzido ao Português por Tiago Gomes<br />
ISBN 978-952-357-388-8 (Hardcover)<br />
ISBN 978-952-357-389-5 (Paperback)<br />
ISBN 978-952-357-390-1 (ePub)<br />
Primeira Edição<br />
Copyright © 2014-2021 Wickwick Ltd<br />
Publicado em 2021 por Wickwick Ltd<br />
Helsinque, Finlândia<br />
<strong>Christmas</strong> <strong>Switcheroo</strong>, <strong>Portuguese</strong> Translation<br />
Story by Tuula Pere<br />
Illustrations by Outi Rautkallio<br />
Layout by Peter Stone<br />
<strong>Portuguese</strong> translation by Tiago Gomes<br />
ISBN 978-952-357-388-8 (Hardcover)<br />
ISBN 978-952-357-389-5 (Paperback)<br />
ISBN 978-952-357-390-1 (ePub)<br />
First edition<br />
Copyright © 2014-2021 Wickwick Ltd<br />
Published 2021 by Wickwick Ltd<br />
Helsinki, Finland<br />
Originally published in Finland by Wickwick Ltd in 2014<br />
Finnish “Kummat lahjat”, ISBN 978-952-5878-13-4 (Hardcover)<br />
English “<strong>Christmas</strong> <strong>Switcheroo</strong>”, ISBN 978-952-5878-22-6 (Hardcover)<br />
All rights reserved. No part <strong>of</strong> this publication may be reproduced, stored in a retrieval system, or transmitted<br />
in any form or by any means, mechanical, electronic, photocopying, recording, or otherwise, without the prior<br />
written permission <strong>of</strong> the publisher Wickwick Ltd. <strong>The</strong> only exception is brief quotations in printed articles<br />
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as well as fundraising or educational use. Special editions can also be created to specification. For <strong>de</strong>tails,<br />
contact specialsales@wickwick.fi.
<strong>Portuguese</strong><br />
EDITION<br />
FELIZ REVÉS DE NATAL<br />
Tuula Pere • Outi Rautkallio<br />
W<br />
ickWick<br />
Children’s Books from the Heart<br />
1
O<br />
<strong>Natal</strong> é uma época festiva a família Pereira leva<br />
muito a sério. Os preparativos começam muito<br />
antes das primeiras neves. A mãe, em particular,<br />
adora o <strong>Natal</strong>. Durante o verão e o outono, ela planta<br />
ver<strong>de</strong>s e bagas secas para as <strong>de</strong>corações.<br />
“Estas darão ótimas grinaldas <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>,” disse a<br />
mãe, espalhando os seus tesouros sobre a mesa<br />
<strong>de</strong> jantar.<br />
2
O<br />
resto da família não estava tão excitada com<br />
as grinaldas. Ou com o facto <strong>de</strong>, <strong>de</strong> outubro até<br />
<strong>de</strong>zembro, a mesa <strong>de</strong> jantar estar empilhada com os<br />
utensílios para os enfeites <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> da mãe.<br />
Mas a família gostava <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> ouvir os cânticos<br />
<strong>de</strong> <strong>Natal</strong> e <strong>de</strong> comer bolachas <strong>de</strong> gengibre, mesmo<br />
que ainda faltasse muito para as folhas caírem das<br />
árvores.<br />
3
4
Entretanto, o pai <strong>de</strong>dicava o seu tempo livre<br />
aos enfeites elétricos para o <strong>Natal</strong>. Ele tratara<br />
da configuração das luzes <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>, inventara um<br />
aquecedor para o comedouro do pássaro e reparara<br />
a bateria do elfo que cantava os cânticos <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>.<br />
Se batessem as mãos, o elfo começava a cantar<br />
audivelmente e sacudindo <strong>de</strong>scontroladamente.<br />
Todos os anos, o pai trazia mais e mais luzes <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>.<br />
Ele passava muitas noites ajustando-as e mudando as<br />
lâmpadas.<br />
“Espero que os fusíveis não queimem<br />
este ano!” Disse.<br />
5
O<br />
pai pendurava centenas <strong>de</strong> luzes cintilantes e coloridas por<br />
todo o telhado. Ele cobria a macieira com uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> luzes e,<br />
na caixa <strong>de</strong> correio, pendurava sinos que tiniam sempre que alguém<br />
passava. O pai tinha caminhava orgulhosamente pela casa, muito<br />
feliz com os seus feitos.<br />
Contudo, na opinião do Afonso e da Eva, aguardar expectantes<br />
pelo <strong>Natal</strong> tinha outro motivo: ele vinha com o início do<br />
inverno, quando a neve chegava. Eles adoravam construir<br />
fortes <strong>de</strong> neve – eles construíam fortalezas enormes!<br />
Juntamente com os seus amigos, erigiam pare<strong>de</strong>s e torres<br />
e cavavam passagens escondidas. Durante a noite,<br />
todos os construtores regressavam para suas casas<br />
com as luvas molhadas e estômagos esfomeados.<br />
6
7
A<br />
mãe era muito boa nas artes e <strong>of</strong>ícios. Ela tinha<br />
tirado pelo menos uma dúzia <strong>de</strong> diferentes<br />
cursos <strong>de</strong> costura. Ela sabia como fazer croché,<br />
renda, tricotar, est<strong>of</strong>ar e bordar. Este ano, a mãe<br />
tinha <strong>de</strong>cidido fazer belas coberturas em croché para<br />
as garrafas. Ela tinha a certeza que todos os seus<br />
familiares iriam adorá-las. A mesa <strong>de</strong> café estava<br />
preenchida com bolas <strong>de</strong> novelos <strong>de</strong> diferentes cores.<br />
“Adoro esperar pelo <strong>Natal</strong>.” Suspirava feliz a mãe<br />
enquanto fazia croché.<br />
8
Uma noite, o aroma do gengibre preenchia a casa<br />
dos Pereiras. A família sentou-se junta para<br />
fazer uma lista <strong>de</strong> presentes que ainda precisavam<br />
comprar.<br />
“Precisamos <strong>de</strong> mais quatro presentes,” disse o pai.<br />
“Ainda precisamos <strong>de</strong> presentes para o tio Edgar, para<br />
o primo Sérgio e para a tia Liliana. Além do mais,<br />
precisamos <strong>de</strong> algo para a tua avó, Fernanda.”<br />
“Vamos surpreendê-los com presentes engraçados,”<br />
disse Eva.<br />
Afonso sorriu. “Sim!”<br />
9
10
A<br />
família falou primeiro sobre o que <strong>de</strong>via comprar para o tio<br />
Edgar. O seu tio tinha estudado os pássaros durante tanto<br />
tempo que ele próprio se parecia com uma coruja. Os padrões no<br />
seu casaco favorito pareciam-se tal e qual com a plumagem <strong>de</strong><br />
uma coruja.<br />
A mãe dizia frequentemente que o tio Edgar era tão cabeça no ar<br />
que ele, por vezes, até se esquecia do seu próprio nome. Contudo,<br />
as crianças nunca acreditaram nisso. Afinal <strong>de</strong> contas, o tio<br />
Edgar conseguia lembrar-se dos nomes <strong>de</strong> todos os pássaros –<br />
em latim!<br />
O tio Edgar também reconhecia todos os pássaros, mesmo <strong>de</strong><br />
olhos fechados. Ele conhecia-os pelo seu cantar.<br />
“Vamos dar um pássaro <strong>de</strong> estimação ao Edgar,” disse Eva.<br />
“E que tal um papagaio?”.<br />
“Que boa i<strong>de</strong>ia,” disse a mãe. “Aposto que o Edgar consegue<br />
ensiná-lo a falar!”<br />
11
A<br />
avó das crianças, Fernanda, era a melhor amiga da mãe. Ou assim<br />
parecia para as crianças, porque a mãe estava sempre com ela ao<br />
telefone! As crianças tinham visto fotos da mãe e da avó Fernanda<br />
quando elas eram mais pequenas. Nessa altura, elas pareciam-se<br />
praticamente idênticas. Mas agora, eram bastante diferentes.<br />
A mãe gostava <strong>de</strong> dizer que a avó Fernanda se tinha transformado<br />
numa “artista visual”, enquanto ela própria passou a ser uma “artista<br />
da vida.” A avó Fernanda tinha o cabelo preto com franjas tão retas<br />
como uma seta, enquanto o cabelo da mãe era ruivo com caracóis<br />
selvagens.<br />
12
Tudo na casa da avó Fernanda era preto<br />
e branco, e agradavelmente organizado.<br />
Por sua vez, a casa dos Pereiras estava repleta<br />
<strong>de</strong> cores, coisas e ruído. Por vezes, a avó<br />
Fernanda dizia que a sua cabeça ficava à roda<br />
com a confusão da casa dos Pereiras.<br />
“O que <strong>de</strong>veríamos comprar para avó<br />
Fernanda neste <strong>Natal</strong>?” Interrogou-se a mãe<br />
em voz alta. “Ela não quer mais nada.”<br />
“Compremos-lhe outro daqueles casacos <strong>de</strong><br />
autor com bolsos coloridos,” sugeriu o pai.<br />
“Já passaram pelo menos cinco anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que lhe <strong>de</strong>mos o último.”<br />
13
“Quem se segue?” Perguntou Afonso.<br />
“O Sérgio,” respon<strong>de</strong>u Eva.<br />
A Eva e o Afonso pensavam que o seu primo<br />
andava bastante estranho ultimamente. Ele<br />
nunca queria construir um forte <strong>de</strong> neve ou<br />
conversar com o resto da família. Ao invés,<br />
tudo o que queria era sentar-se no seu<br />
quarto com os seus fones na cabeça.<br />
14
“Não é nada <strong>de</strong> perigoso,” assegurou-lhes a mãe. “Ele está<br />
simplesmente a entrar nos anos da adolescência.”<br />
A Eva e o Afonso não compreendiam muito bem.<br />
“Nunca quero entrar nessa ida<strong>de</strong>,” <strong>de</strong>clarou Afonso. “O Sérgio<br />
ficou um chato.”<br />
“Não te preocupes. Irá passar-lhe,” tranquilizou-o a mãe.<br />
“Compremos uma bateria eletrónica para o Sérgio,” disse o<br />
pai, excitado. “Adoraria ter tido uma quando era adolescente.”<br />
15
16
Seguia-se o presente da tia Liliana. Ela era um osso<br />
duro <strong>de</strong> roer. Tinha opiniões fortes sobre tudo o<br />
que existisse sob o sol e não tinha qualquer embaraço<br />
em partilhá-las.<br />
“Nada nunca muda nessa tua cabeça,” dissera<br />
outrora o pai à sua tia. “Nem sequer essas franjas<br />
encaracoladas!”<br />
<strong>Feliz</strong>mente, a sua querela passara rapidamente. No<br />
final, o pai e a tia Liliana davam-se muito bem. Não<br />
havia forma <strong>de</strong> mudar a sua opinião sobre o facto<br />
da máquina <strong>de</strong> café e <strong>de</strong> lavar serem as melhores<br />
tecnologias alguma vez inventadas. Portanto, o pai<br />
sabia que não tinha qualquer esperança em excitar a<br />
sua tia com os seus dispositivos e invenções.<br />
“Aposto que a tia Liliana adoraria um ferro <strong>de</strong><br />
encaracolar,” disse a mãe. “Com ele, ela po<strong>de</strong><br />
encaracolar as suas franjas muito rapidamente.”<br />
17
Era altura <strong>de</strong> ir às compras. O pai pren<strong>de</strong>u o<br />
atrelado ao carro.<br />
A mãe sorriu. “Para que é que precisamos do<br />
atrelado?” Ela perguntou. “Só precisamos <strong>de</strong> mais<br />
quatro presentes!”<br />
“Esta manhã vi um anúncio <strong>de</strong> um abrigo para veículo<br />
aquecido. Achei que daria um bom presente para toda<br />
a família,” explicou o pai.<br />
18
As crianças olharam uma para a outra e sorriram.<br />
Quão típico do pai, pensaram. No último <strong>Natal</strong><br />
o presente da família tinha sido uma máquina<br />
automática <strong>de</strong> jatos <strong>de</strong> água para a sua sauna. Ela<br />
avariou-se na sua primeira utilização. Todos tiveram<br />
<strong>de</strong> sair a correr da sauna quando a máquina não<br />
parava <strong>de</strong> atirar jatos <strong>de</strong> água como se não houvesse<br />
amanhã!<br />
19
20
A<br />
cida<strong>de</strong> estava muito movimentada.<br />
Parecia que todos tinham <strong>de</strong>cidido<br />
fazer as compras <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> ao mesmo tempo.<br />
O parque <strong>de</strong> estacionamento estava repleto<br />
<strong>de</strong> carros.<br />
Com gotas <strong>de</strong> suor na sua testa, o pai<br />
conduziu em círculos, procurando um lugar<br />
para estacionar, suficientemente gran<strong>de</strong><br />
para o carro e para o atrelado. Finalmente,<br />
encontrou um, e a família foi às compras. A<br />
mãe e o pai <strong>de</strong>cidiram ir ao centro comercial,<br />
enquanto as crianças foram para o passeio e<br />
para o mercado <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>.<br />
21
22
Havia um pequeno café no correr do passeio. Ele<br />
vendia o chocolate quente mais <strong>de</strong>licioso no<br />
mundo. As crianças sorveram alegremente as suas<br />
bebidas <strong>de</strong> chocolate enquanto admiravam os doces<br />
numa montra <strong>de</strong> vidro.<br />
“Depois <strong>de</strong> limpares esse bigo<strong>de</strong> <strong>de</strong> chocolate do teu<br />
rosto, podíamos ir até à biblioteca,” sugeriu Eva ao<br />
Afonso.<br />
23
A<br />
biblioteca era o local favorito das crianças<br />
na cida<strong>de</strong>. Eles sempre acharam os livros<br />
fascinantes no canto das crianças.<br />
Contudo, <strong>de</strong>sta vez, eles não foram ler nenhum livro –<br />
estava a <strong>de</strong>correr um programa <strong>de</strong> trabalhos manuais<br />
<strong>de</strong> <strong>Natal</strong>. Num instante, Afonso e Eva tinham as suas<br />
estrelas em papel para levar para casa e colar numa<br />
janela.<br />
24
“Vamos ficar aqui mais um pouco,” sussurrou Eva,<br />
feliz.<br />
Afonso acenou. “É tão tranquilo aqui — não há<br />
pessoas a comprar nem multidões!”<br />
“Que pena que o pai e a mãe estejam <strong>de</strong>masiado<br />
ocupados para também <strong>de</strong>sfrutarem disto,” disse Eva<br />
com um suspiro.<br />
25
À<br />
medida que o <strong>Natal</strong> se aproximava, a atmosfera na casa dos Pereiras ficava<br />
mais tensa. Tanto, que já havia queimado três fornadas <strong>de</strong> bolo <strong>de</strong> gengibre,<br />
e as velas caseiras da mãe tinham ficado estranhamente coloridas e inclinadas.<br />
A mãe estava a ficar chateada. “Como é que vou terminar isto a tempo?”<br />
Resmungava. “Ainda tenha <strong>de</strong> embrulhar e enviar por correio os nossos presentes<br />
para todos os familiares.”<br />
26
“Nós po<strong>de</strong>mos ajudar,” prometeram as crianças.<br />
“Enquanto fazes casas com os bolos <strong>de</strong> gengibre, nós embrulhamos os<br />
presentes,” disse Afonso.<br />
Eva acenou. “Vamos embrulhá-los bem, e escrevemos as moradas com<br />
uma bela ortografia.”<br />
A mãe parecia aliviada. “Obrigada, crianças,” disse. “Aqui têm as<br />
etiquetas para as moradas e ali estão os presentes. Por favor, tenham<br />
cuidado.”<br />
27
As crianças embrulharam os presentes um a um<br />
com um adorável papel <strong>de</strong> embrulho. Pouco<br />
tempo <strong>de</strong>pois, só faltavam as etiquetas com os<br />
en<strong>de</strong>reços. Subitamente, com uma tigela <strong>de</strong> cobertura<br />
na sua mão, a mãe passou rapidamente por eles.<br />
Aci<strong>de</strong>ntalmente, ela pisou as etiquetas das moradas,<br />
estragando-as.<br />
“Oh não!” Gritou a mãe. “As<br />
vossas belas etiquetas!”<br />
“Não te preocupes, mãe,”<br />
disse Eva.<br />
“Nós conseguimos arranjálas<br />
rapidamente,” concordou<br />
Afonso. “Vai correr tudo bem.”<br />
28
As crianças voltaram ao trabalho, reescrevendo as<br />
etiquetas e pren<strong>de</strong>ndo-as nos embrulhos. Elas<br />
trabalharam rapidamente, antes da mãe ficar outra<br />
vez chateada.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, o pai olhou para os embrulhos. “Para o<br />
tio Edgar, Fernanda, Sérgio e para a tia Liliana,” leu<br />
em voz alta. Depois sorriu para as crianças. “Ótimo<br />
trabalho. Amanhã iremos juntos aos correios.”<br />
29
O<br />
tio Edgar tinha passado toda a manhã sentado<br />
com um livro sobre pássaros no seu colo. Ele<br />
estava tão compenetrado nos seus pensamentos, que<br />
o soar da campainha fê-lo saltar.<br />
“O que foi isto? O que está a acontecer? Oh, é apenas<br />
a campainha,” murmurou o tio Edgar.<br />
30
O<br />
tio Edgar não tinha qualquer dificulda<strong>de</strong> em<br />
permanecer tranquilo e imóvel durante horas a<br />
fio quando estava a observar pássaros. Mas com os<br />
presentes, ele não tinha nenhuma paciência!<br />
“Um embrulho liso. Hmm… Isto promete, um novo<br />
livro sobre pássaros, talvez,” pon<strong>de</strong>rou. Ele rasgou<br />
todos os pedaços <strong>de</strong> papel do embrulho. “Mas que<br />
raios?”<br />
É um casaco <strong>de</strong> autor — com pelo menos uma dúzia<br />
<strong>de</strong> bolsos coloridos.<br />
Ele contemplou-o durante alguns instantes.<br />
Depois, sorriu lentamente. “Isto na realida<strong>de</strong> é<br />
bastante útil. Tem imenso espaço para os meus<br />
binóculos e para os meus outros pertences.<br />
Não terei mais <strong>de</strong> procurar pelas minhas<br />
chaves e óculos a toda a hora. Que<br />
presente esplêndido!”<br />
31
32
A<br />
avó Fernanda tinha acabado <strong>de</strong> comer um saudável pequenoalmoço<br />
<strong>de</strong> cereais com maçã. Ela arrumou a cozinha <strong>de</strong> imediato,<br />
e em seguida dirigiu-se para o seu equipamento <strong>de</strong> pintura. Uma<br />
gran<strong>de</strong> tela branca aguardava convidativamente pelas pinceladas do<br />
seu pincel.<br />
A nova pintura já estava bem <strong>de</strong>finida na sua mente. Ela sacudiu as<br />
suas longas tranças para fora da sua visão e fechou os olhos.<br />
“Vejo uma ampla linha preta no fundo e duas mais finas no topo. Uma<br />
bola lisa vermelha entre elas.”<br />
Alguém bateu à porta — tinha chegado um embrulho. Fernanda<br />
<strong>de</strong>cidiu abrir o pacote oblongo <strong>de</strong> imediato. Afinal, o seu trabalho na<br />
pintura já tinha sido interrompido <strong>de</strong> qualquer das formas.<br />
Fernanda piscou os olhos perante o presente <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong>la. “Mas que<br />
escolha tão peculiar da família Pereira,” disse, pegando no ferro <strong>de</strong><br />
encaracolar. “Bem, já agora posso experimentá-lo nas minhas franjas.<br />
Talvez <strong>de</strong>ssa forma consiga mantê-las fora da minha visão enquanto<br />
pinto.”<br />
Trinta minutos mais tar<strong>de</strong>, Fernanda contemplava a sua imagem com<br />
o cabelo encaracolado no espelho do corredor da entrada. Ela acenou<br />
para o seu reflexo, bastante agradada com o que via.<br />
33
O<br />
primo Sérgio estava <strong>de</strong>primido no seu quarto.<br />
Ele resmungou quando a sua mãe bateu na<br />
porta. Nem sequer queria agra<strong>de</strong>cer-lhe pela gran<strong>de</strong><br />
embalagem e envelope que apareceu no chão diante<br />
<strong>de</strong>le.<br />
“Não me apetece abrir esse presente,” resmungou<br />
Sérgio. “Os Pereiras dão-me sempre coisas para bebé.”<br />
Ele pegou no envelope. “Espero que tenha dinheiro lá<br />
<strong>de</strong>ntro.”<br />
Não, não havia dinheiro lá. Ao invés, ele encontrou<br />
um certificado <strong>de</strong> presente para uma loja <strong>de</strong> pássaros:<br />
No Valor <strong>de</strong> Um Papagaio.<br />
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Surpreso, Sérgio olhou para a embalagem e abriu-a.<br />
Era uma gran<strong>de</strong> gaiola!<br />
“On<strong>de</strong> vais com tanta pressa agora?” Perguntou a<br />
mãe do Sérgio enquanto ele passava a correr por ela.<br />
Mas ele não tinha tempo para respon<strong>de</strong>r. Estava com<br />
muita pressa para chegar à loja <strong>de</strong> pássaros.<br />
Que fixe! Pensou. Um papagaio só para mim. Nenhum<br />
dos meus amigos tem um!<br />
35
36
Frustrada, a tia Liliana permanecia na sua entrada junto<br />
a uma gran<strong>de</strong> caixa.<br />
“Que impru<strong>de</strong>nte enviar um presente tão gran<strong>de</strong>,”<br />
resmungou. “Tenho <strong>de</strong> ter tanto trabalho para o abrir.<br />
E o que é que <strong>de</strong>vo fazer com todo o cartão e papel <strong>de</strong><br />
embrulho?”<br />
O presente transformou-se numa verda<strong>de</strong>ira surpresa, ao<br />
ponto <strong>de</strong>, das poucas vezes na sua vida, ter <strong>de</strong>ixado a tia<br />
Liliana sem palavras. Ela foi retirando as peças da caixa –<br />
era uma bateria elétrica!<br />
Em breve, a bateria lá estava, pronta em toda a sua glória.<br />
Tudo o que restava era ligá-la.<br />
“Aqueles Pereiras adivinharam o meu sonho secreto!” Disse<br />
a tia Liliana, maravilhada. “Há setenta anos que tenho<br />
<strong>de</strong>masiada vergonha para dizer a seja quem for que adoraria<br />
tocar bateria.”<br />
A tia Liliana colocou os seus fones e libertou-se. Ela tocou<br />
o dia inteiro. Nessa noite, os seus ombros habitualmente<br />
contraídos estavam finalmente relaxados, e os loucos<br />
ritmos tinham dado cabo das suas franjas firmemente<br />
encaracoladas.<br />
“Que presente maravilhoso,” disse Liliana. “Tenho <strong>de</strong> ligar<br />
aos Pereiras agora mesmo e agra<strong>de</strong>cer-lhes.”<br />
37
A<br />
mãe pousou o telefone. Ela estava vermelha como um tomate<br />
maduro.<br />
“Nunca adivinharás o que aconteceu,” disse lentamente. “A tia<br />
Liliana recebeu aci<strong>de</strong>ntalmente a bateria – e está muito satisfeita<br />
com ela!”<br />
“Não me digas que o Sérgio recebeu a máquina <strong>de</strong> encaracolar da<br />
tia Liliana!” Exclamou Afonso.<br />
Um telefonema para a mãe do Sérgio revelou o seguinte feliz revés.<br />
A mãe do Sérgio disse que tinha passado todo o dia no seu quarto<br />
a falar com o seu novo papagaio!<br />
“O Sérgio tem estado a rir!” Reportou.<br />
A mãe ainda parecia chateada.<br />
“Não há motivo para te preocupares,” assegurou-lhe o pai.<br />
“Quer a Liliana como o Sérgio parecem estar<br />
excitadíssimos com os seus novos<br />
presentes.”<br />
“Interrogo-me sobre a Fernanda<br />
e o Edgar dirão sobre os seus<br />
presentes,” murmurou a mãe.<br />
Ela esfregou a cabeça. “Estou a<br />
ficar com uma dor <strong>de</strong> cabeça!”<br />
38
39
A<br />
mãe escapuliu-se para o s<strong>of</strong>á e escon<strong>de</strong>u-se<br />
<strong>de</strong>baixo do cobertor. Ela não aten<strong>de</strong>ria o telefone<br />
mais tar<strong>de</strong>, mesmo embora a avó Fernanda estivesse a<br />
ligar para lhe agra<strong>de</strong>cer o ferro <strong>de</strong> encaracolar.<br />
O pai escutou a excitada <strong>de</strong>scrição da Fernanda graças<br />
ao seu novo visual encaracolado. “A Fernanda também<br />
<strong>de</strong>cidiu mudar o estilo das suas pinturas” disse. “Ela<br />
diz que próxima obra terá linhas curvas!”<br />
“Mas ainda falta o tio Edgar. Não consigo imaginá-lo<br />
encantado com o casaco <strong>de</strong> autor,” lamentou sob o<br />
cobertor. “Por favor, liga-lhe.”<br />
40
<strong>Feliz</strong>mente, a mãe estava enganada. O tio Edgar<br />
caminhava feliz com o seu casaco com todos os<br />
seus bolsos. “Devia ter comprado um casaco como<br />
este há muito tempo atrás,” disse ao pai pelo telefone.<br />
“Nunca irei per<strong>de</strong>r novamente os meus pertences!”<br />
Ele bateu no bolso vermelho, on<strong>de</strong> tinha os seus<br />
binóculos. Assim que <strong>de</strong>sligasse o telefone ia observar<br />
pássaros no comedouro.<br />
41
O<br />
dia antes da véspera <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> foi difícil. As luzes<br />
exteriores <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> do pai começaram a falhar.<br />
A mãe ficou na cama com uma toalha fria na testa.<br />
“Isto não foi como o planeei,” queixou-se. “Era suposto<br />
ser um <strong>Natal</strong> perfeito!”<br />
42
As crianças conseguiam ver que os seus pais estavam a ficar muito chateados.<br />
“É altura <strong>de</strong> assumirmos o controlo, Afonso,” disse Eva.<br />
Afonso acenou. “Vamos a isso!”<br />
As crianças correram para a cozinha e vasculharam pelos armários e pelo<br />
frigorífico. Havia comida suficiente sim, mas eles não sabiam como preparar um<br />
jantar <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>.<br />
“Quem me <strong>de</strong>ra saber como preparar o bacalhau <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>,” disse Afonso. Eva<br />
<strong>de</strong>cidiu ligar para a avó Fernanda e para a tia Liliana. Talvez uma <strong>de</strong>las possa<br />
ajudar.<br />
43
Na manhã da véspera <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>, Afonso e Eva acordaram mais<br />
cedo. Eles estavam excitados por po<strong>de</strong>rem abrir os presentes,<br />
mas isso teria <strong>de</strong> ficar para mais tar<strong>de</strong>, primeiro eles tinham <strong>de</strong><br />
verificar algumas coisas.<br />
No andar inferior, eles já conseguiam <strong>de</strong>scortinar os ruídos vindos<br />
da cozinha. Sorrateiramente, passaram pelo quarto dos pais e<br />
foram para a cozinha. O seu plano tinha funcionado na perfeição.<br />
O cheiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar água na boca do bacalhau preenchia a divisão.<br />
44
A<br />
tia Liliana sorriu-lhes. “O bacalhau já está no fogão,” disse.<br />
“Estará pronto a tempo do jantar.”<br />
“Também cozinhamos pãezinhos,” disse Fernanda, mostrando-lhes<br />
um cesto.<br />
“O que é que po<strong>de</strong>mos fazer para ajudar?” Perguntou Afonso.<br />
A avó Fernanda e a tia Liliana <strong>de</strong>ram às crianças algumas instruções<br />
rápidas. Pouco <strong>de</strong>pois elas também estavam ocupadas, <strong>de</strong>scascando<br />
vegetais, limpando a loiça e colocando a mesa.<br />
45
46<br />
Ainda <strong>de</strong> roupão, a mãe entrou em bicos<br />
<strong>de</strong> pés na cozinha. Ela sorriu quando viu<br />
a magia que as suas ajudantes haviam criado.
47
Nessa noite, após todos abrirem os seus<br />
presentes e <strong>de</strong>sfrutado do <strong>de</strong>licioso<br />
jantar <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>, as crianças pediram a<br />
todos para se reunirem <strong>de</strong>fronte da janela.<br />
Elas tinham uma surpresa <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>:<br />
lanternas <strong>de</strong> neve <strong>de</strong> diferentes tamanhos<br />
iluminavam as árvores e arbustos do<br />
jardim.<br />
“Que bonito!” Disse a mãe.<br />
“Fantástico!” Concordou o pai,<br />
abraçando-as.<br />
A mãe começou tranquilamente<br />
a cantar cânticos <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> e em<br />
breve todos se juntaram a ela.<br />
Não interessava <strong>de</strong> nada<br />
que as luzes <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> do<br />
pai ainda estivessem com<br />
problemas. Era outro<br />
<strong>Natal</strong> perfeito na casa dos<br />
Pereiras.<br />
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Os Pereiras adoram simplesmente o <strong>Natal</strong> — especialmente<br />
a Mãe, que começa a preparar o <strong>Natal</strong> perfeito com<br />
muita antecedência, no outono. Por vezes, os seus planos são<br />
ambiciosos, embora ela fique sem fôlego ainda antes do <strong>Natal</strong><br />
chegar!<br />
Para o pai, o mais importante é ter o jardim <strong>de</strong>corado com<br />
imensas luzes <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> para se entreter a si e aos seus vizinhos.<br />
Mas os fusíveis queimam praticamente sempre que ele aparece<br />
com um novo arranjo <strong>de</strong> luzes!<br />
Este ano os Pereiras têm os presentes preparados<br />
num curto espaço <strong>de</strong> tempo. Mas as coisas não correm<br />
como planearam. Será que o <strong>Natal</strong> correrá bem apesar dos<br />
preparativos nada perfeitos <strong>de</strong>ste ano?<br />
wickwick.fi