Revista 100PORCENTOAGRO - Ano 1 - Número 2 - Julho, 2024
Esta edição da Revista 100PORCENTOAGRO surge em um momento desafiador para o agronegócio em 2024. Com a pressão da baixa nos valores das commodities e os impactos dos problemas climáticos sobre a produção, tanto produtores quanto outros participantes do mercado enfrentam uma crise de liquidez generalizada. No entanto, o setor, conhecido por sua resiliência cíclica, se prepara para enfrentar esses desafios, refletindo sobre estratégias de sustentabilidade financeira e operacional. Apesar dos cortes de orçamento em marketing, o lançamento desta edição representa um ato de perseverança e compromisso com o futuro do agronegócio regional. Acreditando no poder da comunicação para superar fronteiras geográficas, a revista promove exemplos inspiradores e práticas exemplares que visam não apenas mitigar as dificuldades atuais, mas também inspirar inovações que fortaleçam o mercado de produtos regionais. Esta nova edição da revista traz matérias, artigos, análises e reflexões destinados a transformar a gestão agrícola, financeira, administrativa e estratégica dos negócios ligados ao agro. Em um momento em que a profissionalização se torna crucial, as temáticas abordadas visam capacitar produtores e empreendedores a ajustar suas trajetórias, reorganizar operações e buscar apoio especializado, consolidando assim um futuro mais promissor para o setor.
Esta edição da Revista 100PORCENTOAGRO surge em um momento desafiador para o agronegócio em 2024. Com a pressão da baixa nos valores das commodities e os impactos dos problemas climáticos sobre a produção, tanto produtores quanto outros participantes do mercado enfrentam uma crise de liquidez generalizada. No entanto, o setor, conhecido por sua resiliência cíclica, se prepara para enfrentar esses desafios, refletindo sobre estratégias de sustentabilidade financeira e operacional.
Apesar dos cortes de orçamento em marketing, o lançamento desta edição representa um ato de perseverança e compromisso com o futuro do agronegócio regional. Acreditando no poder da comunicação para superar fronteiras geográficas, a revista promove exemplos inspiradores e práticas exemplares que visam não apenas mitigar as dificuldades atuais, mas também inspirar inovações que fortaleçam o mercado de produtos regionais.
Esta nova edição da revista traz matérias, artigos, análises e reflexões destinados a transformar a gestão agrícola, financeira, administrativa e estratégica dos negócios ligados ao agro. Em um momento em que a profissionalização se torna crucial, as temáticas abordadas visam capacitar produtores e empreendedores a ajustar suas trajetórias, reorganizar operações e buscar apoio especializado, consolidando assim um futuro mais promissor para o setor.
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SE É AGRO, A GENTE COMUNICA! - PUBLICAÇÃO SEMESTRAL - JULHO, <strong>2024</strong><br />
EUDES BRAGA<br />
Com genética de<br />
excelência e Queijo Minas<br />
Artesanal premiado,<br />
produtor vira referência<br />
de profissionalização
A RESULT AGRO nasceu para transformar a sua fazenda,<br />
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IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA<br />
EQUALE PHOS
<strong>Revista</strong> 100Porcentoagro<br />
<strong>Ano</strong> 1 • Edição <strong>Número</strong> 2 • <strong>Julho</strong>, 24<br />
Publicação semestral de:<br />
100Porcentoagro Comunicação no<br />
Agronegócio Ltda<br />
www.100porcentoagro.com.br<br />
DIRETORIA:<br />
Pauliane Oliveira (Executiva)<br />
pauliane.oliveira@100porcentoagro.com.br<br />
Rodolfo de Souza (Jornalismo)<br />
rodolfo.souza@100porcentoagro.com.br<br />
Hellen Mendes (Administrativa)<br />
hellen.mendes@100porcentoagro.com.br<br />
Bruna Juber (Marketing)<br />
bruna.juber@100porcentoagro.com.br<br />
CRÉDITOS DAS FOTOGRAFIAS<br />
PUBLICADAS NESTA EDIÇÃO<br />
Amipa: Pág 95<br />
Ana Karolinny Rodrigues Oliveira: Pág 49<br />
Any Lane/Pexels: Pág 56<br />
Arquivos pessoais: Págs 10, 16, 21, 22, 33, 46, 70, 85, 91 e 93<br />
Auma Agronegócios/Regera: Págs 24, 25 e 26<br />
Brett Sayles/Pexels: Pág 88<br />
Bruna Juber/<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Pág 82<br />
Comunicação Suinco: Pág 38<br />
Daniel Ferreira Benetório: Pág 12<br />
Ecossisistemas de Inovação... (Reprodução): Págs 75 e 76<br />
Elias Rafael: Pág 40<br />
Iágo Alberto: Capa e págs 50, 53 e 55<br />
Jéssica Aélio/Studio JA: Pág 44<br />
Luciana Sekita: Págs 17 e 21<br />
Nehort CESG: Págs 42 e 43<br />
Paula Rabelo: Págs 62<br />
Região do Cerrado Mineiro: Pág 80<br />
Steve Buissine/Pixabay: Pág 69<br />
Wenderson Araújo/CNA: Págs 10, 15, 22, 30, 34, 37, 39, 66, 72,<br />
87 e 94<br />
ILUSTRAÇÕES<br />
Bruna Juber: Pág 36 • Mariana Cecília Melo: Pág 31<br />
PROJETO GRÁFICO<br />
@orodolfodesouza | (34) 99954 9282<br />
<strong>2024</strong> está testando os players do<br />
agronegócio, seja pela baixa no valor<br />
das commodities, seja pelos problemas<br />
climáticos afetando a produção, seja pelo<br />
contexto dos últimos anos resultando em<br />
alta alavancagem dos produtores rurais<br />
e outros players do mercado. É fato! O<br />
produtor está sem caixa, mas não só ele<br />
está sofrendo com a falta de recursos.<br />
Sendo o agro um setor interligado e<br />
sistêmico, a falta de caixa é praticamente<br />
geral para outros players também. No<br />
entanto, é importante lembrar: o agro é<br />
cíclico e cabe aos seus atores a resiliência.<br />
E na mais profunda apropriação da<br />
resiliência, nasce a segunda edição da<br />
<strong>Revista</strong> <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />
Em meio aos cortes de orçamento<br />
destinados ao marketing, o lançamento<br />
desta edição poderia ser a própria definição<br />
de teimosia, não fosse o que nos move.<br />
Acreditamos firmemente que as sementes<br />
plantadas através da comunicação levarão o<br />
agronegócio regional a inspirações positivas<br />
mútuas, que irão transpor as barreiras<br />
geográficas e reverberar para os mercados<br />
que buscam os produtos regionais.<br />
Em razão disso, essa edição vem recheada<br />
de grandes exemplos e boas práticas,<br />
além de “insights” e reflexões que podem<br />
transformar a gestão agrícola, financeira,<br />
administrativa e estratégica de vários<br />
negócios ligados ao agro. A gestão no<br />
agro nunca foi tão determinante, e trazer<br />
temáticas que podem ser a inspiração<br />
necessária para que produtores e<br />
empreendedores possam readequar a<br />
rota, reorganizar os negócios, buscar<br />
suporte profissional e, efetivamente, se<br />
profissionalizar é, sem dúvidas, gratificante.<br />
Esperamos que aproveitem a leitura.
MATÉRIA DE CAPA<br />
SE É AGRO, A GENTE COMUNICA! - PUBLICAÇÃO SEMESTRAL - JULHO, <strong>2024</strong><br />
EUDES BRAGA<br />
Com genética de<br />
excelência e Queijo Minas<br />
Artesanal premiado,<br />
produtor vira referência<br />
de profissionalização<br />
Eudes Braga, produtor de leite em Carmo do Paranaíba,<br />
Minas Gerais, destaca-se pela alta produtividade de sua<br />
fazenda. Desde 2001, ele transformou sua operação<br />
através de manejo nutricional preciso, cuidados<br />
veterinários constantes e tecnologias modernas de<br />
gestão. Braga enfatiza a importância da atualização com<br />
as melhores práticas e do investimento em tecnologia,<br />
além da educação contínua e busca por conhecimento.<br />
Seu sucesso exemplifica a profissionalização no<br />
agronegócio do Cerrado Mineiro<br />
PÁGINA 50<br />
DESTAQUES<br />
BRASIL: desafios no agronegócio<br />
16 pela dependência de insumos 72<br />
AGRICULTURA IRRIGADA: Alto<br />
30 74<br />
ALIMENTOS: Triângulo Mineiro,<br />
34 82<br />
41<br />
56<br />
62<br />
importados. PNF impulsiona<br />
segurança Alimentar<br />
Paranaíba se destaca na produção<br />
nacional<br />
Alto Paranaíba e Noroeste de<br />
Minas: pilares da produção<br />
agrícola em Minas Gerais<br />
DESAFIOS: mulheres ampliam<br />
presença no mercado de trabalho,<br />
mas cenário ainda pode melhorar<br />
ABACATES: associação de<br />
produtores rebate reportagem da<br />
BBC sobre produção brasileira<br />
PECUÁRIA: queda nos insumos e<br />
clima impulsionam confinamento<br />
de gado. Pecuaristas do Alto<br />
Paranaíba analisam<br />
88<br />
95<br />
GESTÃO FINANCEIRA<br />
E ENDIVIDAMENTO NO<br />
AGRONEGÓCIO: setor enfrenta<br />
desafios e busca soluções<br />
SAÚDE HUMANA: a importância da<br />
tipologia do solo para<br />
a agricultura<br />
TECNOLOGIA E<br />
INFRAESTRUTURA: os desafios e<br />
AS oportunidades do agronegócio<br />
brasileiro. Um recorte sobre o<br />
Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba<br />
e Noroeste de Minas<br />
SEGURO AGRÍCOLA: acesso<br />
ao serviço é de 80% nos EUA,<br />
enquanto no Brasil é de apenas<br />
20% no Brasil. Triângulo Mineiro,<br />
Alto Paranaíba e Noroeste de<br />
Minas vivem desafios e impactos<br />
ALGODÃO: parceria sustentável<br />
impulsiona produção em Patos<br />
de Minas
MUDANÇAS CLIMÁTICAS<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
10 10<br />
Aliança entre plantas e<br />
micro-organismos para uma<br />
agricultura resiliente<br />
KARLA VILAÇA, Engenheira agrônoma, mestre e<br />
doutora em Fitotecnia: “estudos relatam que plantas<br />
tratadas com micro-organismos promotores de<br />
crescimento potencializaram a atividade de enzimas<br />
antioxidantes”<br />
I<br />
niciamos o inverno brasileiro e as previsões<br />
climáticas divergem entre os estados. Acumulados<br />
de chuva que podem ultrapassar<br />
60 mm, massa de ar frio que pode levar as<br />
temperaturas para menos de 10°C, pancadas<br />
de chuva acompanhadas de ventos fortes e<br />
queda de granizo e temperaturas máximas que<br />
podem superar 36°C, são previsões climáticas<br />
para as diferentes regiões do Brasil.<br />
As adversidades climáticas como temperaturas<br />
extremas, secas, inundações, geadas,<br />
dentre outros, causam nas plantas o que chamamos<br />
de estresse abiótico. Tais condições<br />
ambientais adversas influenciam negativamente<br />
a produtividade dos sistemas agrícolas<br />
ameaçando a segurança alimentar em todo o<br />
mundo.<br />
E como proteger as lavouras garantindo<br />
uma maior tolerância das plantas às adversidades<br />
climáticas? A forma como conduzimos<br />
as culturas pode contribuir para minimizar as<br />
perdas de produtividade e desta forma, a nutrição<br />
mineral aliada à interação das plantas<br />
com os micro-organismos é um manejo promissor<br />
para a atividade<br />
agrícola sustentável.<br />
Micro-organismos benéficos<br />
incluem, principalmente,<br />
bactérias, fun-<br />
-gos, archaeas, protistas<br />
e virus. As interações<br />
benéficas de micro-orga-<br />
-nismos e plantas estão<br />
relacionadas ao estímulo<br />
do crescimento da planta,<br />
atuando na mobilização e<br />
transporte de nutrientes<br />
para a planta pela fixação<br />
de nitrogênio e solubilização<br />
ou mineralização de<br />
fósforo ou pela produção<br />
de hormônios e metabólitos<br />
secundários. Os micro-organismos<br />
que interagem<br />
com as plantas são<br />
capazes ainda de aliviar os estresses abióticos aos<br />
quais as plantas estão sujeitas, por meio de diversos<br />
mecanismos.<br />
Um dos mecanismos de maior resiliência
das culturas aos estresses abióticos é o aumento<br />
do crescimento radicular e a formação<br />
de raízes laterais e pêlos radiculares. Os micro-organismos<br />
promotores de crescimento<br />
produzem hormônios que auxiliam no desenvolvimento<br />
vegetal. Entre eles se destaca<br />
a produção de auxina, hormônio responsável<br />
pelo maior crescimento de raízes, resultando<br />
em maior absorção de água e nutrientes pelas<br />
culturas.<br />
Outra estratégia microbiana para mitigar os<br />
estresses abióticos em plantas é a produção do<br />
biofilme. A formação de biofilme próximo a<br />
superfície das raízes é uma proteção quando<br />
ocorre baixa disponibilidade de água, aliviando<br />
a deficiência hídrica e o estresse salino.<br />
Um outro mecanismo de tolerância das<br />
plantas aos estresses abióticos, principalmente<br />
ao déficit hídrico, envolve o acúmulo de compostos<br />
osmoprotetores como glicina betaína<br />
e prolina. Esses compostos mantêm o turgor<br />
celular e tornam as plantas mais vigorosas. Na<br />
literatura, é possível encontrar trabalhos que<br />
comprovam o aumento dos níveis intracelulares<br />
de prolina em plantas inoculadas com micro-organismos<br />
promotores de crescimento.<br />
As pesquisas sobre a interação de micro-<br />
-organismos e plantas apontam inúmeras<br />
oportunidades para aplicações na agricultura<br />
principalmente visando proporcionar maior<br />
tolerância aos estresses. Entretanto, muitos<br />
desafios precisam ser explorados visando a<br />
busca constante do desenvolvimento agrícola<br />
sustentável.<br />
Os produtos biológicos podem ser aplicados<br />
nas sementes, no solo ou mesmo em<br />
pulverizações aéreas. Para garantir a máxima<br />
eficiência da aplicação é importante que<br />
todos os produtores adotem boas práticas<br />
recomendadas pela pesquisa, tais como usar<br />
apenas inoculantes registrados para a cultura<br />
da soja no MAPA, utilizar o inoculante dentro<br />
do prazo de validade, estabelecido na embalagem,<br />
assegurar-se de que o produto tenha<br />
sido transportado e armazenado em local protegido<br />
do sol e com temperaturas inferiores a<br />
30°C e aplicar em dose adequada conforme a<br />
condição e a modalidade de uso.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
SAIBA MAIS:<br />
“Mitigação dos estresses abióticos na agricultura<br />
mediada pela interação de microrganismos e plantas”,<br />
da Embrapa Arroz e Feijão, 2021<br />
Temperaturas extremas estão entre as principais causas da<br />
perda de produção. Estudos evidenciam efeitos benéficos da<br />
interação de micro-organismos e plantas para potencializar a<br />
tolerância, como a soja, inoculada com<br />
Serratia proteamaculans<br />
11
CIÊNCIA NO AGRO<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
O futuro do agro: uma colisão<br />
fértil entre tecnologia e tradição<br />
12<br />
HÉLIO LEMES, PhD: “a verdadeira revolução da IA no<br />
agro não se limita à tecnologia em si”<br />
I<br />
magine um “jardim de corais” digital, onde cada<br />
pólipo é um sensor, um drone, um algoritmo,<br />
todos trabalhando em conjunto para nutrir e<br />
proteger a rica biodiversidade do agronegócio brasileiro.<br />
Essa não é uma visão distante, mas a realidade<br />
emergente da inteligência artificial (IA) no campo,<br />
um caldeirão borbulhante de inovação onde o<br />
antigo e o novo se encontram para criar um futuro<br />
mais próspero e sustentável.<br />
No Cerrado, a startup brasileira Agrosmart utiliza<br />
IA para monitorar a umidade do solo e prever<br />
a necessidade de irrigação, economizando água e<br />
energia. Na região cafeeira de Minas Gerais, drones<br />
equipados com visão computacional identificam<br />
pragas e doenças nas plantações, permitindo intervenções<br />
precisas e reduzindo o uso de agrotóxicos.<br />
Em fazendas de soja no Mato Grosso, algoritmos<br />
de aprendizado de máquina otimizam a aplicação<br />
de fertilizantes, maximizando a produtividade e minimizando<br />
o impacto ambiental.<br />
Henrique Nomura, da Solinftec, compara o potencial<br />
da IA no agro à invenção do microscópio,<br />
uma ferramenta que revelou um universo invisível<br />
a olho nu, repleto de possibilidades. “A IA está<br />
nos dando uma nova lente para enxergar o campo,<br />
revelando padrões e conexões que antes eram<br />
inacessíveis”, diz ele em uma entrevista ao UOL.<br />
“Isso está democratizando o acesso à tecnologia,<br />
colocando ferramentas poderosas nas mãos de pequenos<br />
agricultores e cooperativas, que agora podem<br />
competir em pé de igualdade com os grandes<br />
players do mercado.”<br />
Mas, a verdadeira revolução da IA no agro não<br />
se limita à tecnologia em si. Ela reside na criação<br />
de um ecossistema de inovação, onde agricultores,<br />
engenheiros, agrônomos, pesquisadores e empreendedores<br />
se conectam e colaboram, trocando<br />
ideias e experiências, testando novas soluções e<br />
aprendendo com os erros e acertos. É um ambiente<br />
onde a curiosidade e a criatividade florescem,<br />
impulsionadas pela paixão compartilhada por um<br />
futuro melhor para o campo.<br />
Para essa revolução florescer, é crucial contar<br />
suas histórias, celebrar suas conquistas e debater<br />
seus desafios abertamente; criar uma narrativa que<br />
inspire os jovens, mostrando que o agro não é apenas<br />
o passado, mas também o futuro, repleto de<br />
oportunidades para quem tem a coragem de inovar<br />
e a paixão de construir um mundo melhor.<br />
A IA no agro não é sobre aumentar a produtividade<br />
ou reduzir custos. É sobre criar um futuro<br />
mais justo, equitativo e sustentável para todos, um<br />
futuro em que a tecnologia e a tradição se unem<br />
para nutrir o solo, alimentar as pessoas e proteger<br />
o planeta. Esse encontro está acontecendo nos diversos<br />
hubs de inovação em todo o país, reunindo<br />
pessoas e empresas, financiados por governos e<br />
corporações e que promovem a compartilhamento<br />
do conhecimento tradicional e de alta tecnologia.
De Olho no Material Escolar completa três anos na<br />
defesa da educação de qualidade e na superação<br />
dos desafios estruturais do setor<br />
Criada a partir de um movimento da sociedade<br />
civil para revisar os conteúdos desatualizados<br />
sobre o agronegócio nos livros didáticos, trazendo<br />
dados científicos, públicos e fontes qualificadas,<br />
a associação De Olho no Material Escolar está<br />
completando três anos com muitos resultados.<br />
E ampliou sua atuação institucional para ajudar o<br />
País a enfrentar os desafios estruturais do setor<br />
educacional, único caminho para o País e o agro<br />
seguirem competitivos num cenário cada vez mais<br />
complexo.<br />
Hoje a DONME é o maior movimento do tipo no Brasil, tem presença nacional,<br />
apoio de mais de 40 grandes empresas, curadoria técnica de instituições<br />
científicas; participa dos principais eventos do agronegócio, já sensibilizou mais<br />
de 30 mil alunos e professores no programa “Vivenciando a Prática”; lançou uma<br />
Agroteca com mais de 300 conteúdos online; tem relacionamento com os<br />
principais atores e decisores de políticas públicas, além de editoras que alcançam<br />
um universo potencial de mais de 30 milhões de alunos.<br />
Que tal conhecer nosso trabalho, se associar e nos apoiar?<br />
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IRRIGAÇÃO E DRENAGEM<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
A agricultura irrigada do século<br />
XXI demanda profissionais 5.0<br />
14<br />
MARIA EMÍLIA BORGES ALVES, Engenheira<br />
Agrícola, MsC e Dra. Pesquisadora na Embrapa<br />
Cerrados: “mercado tem oferecido melhores<br />
oportunidades e salários do que a 20, 30 anos atrás”<br />
A<br />
agricultura irrigada vem evoluindo ao<br />
longo da sua existência se tornando,<br />
hoje, uma prática cada vez mais tecnificada,<br />
que oferece muito mais do que o<br />
‘mero’ suprimento das necessidades hídricas<br />
das culturas.<br />
Por meio da prática da irrigação e seu manejo<br />
adequado é possível aplicar fertilizantes<br />
e defensivos de forma precisa e localizada,<br />
manejar determinados tipos de cultivo a fim<br />
de induzir ou retardar seu desenvolvimento e,<br />
assim, uniformizar a colheita, por exemplo. É<br />
possível, ainda, reduzir riscos climáticos, produzir<br />
três safras anuais e, sobretudo, suprir as<br />
necessidades hídricas das culturas (sua função<br />
primordial) com eficiência.<br />
Diante de tantas possibilidades, o interesse<br />
pela irrigação cresce a olhos vistos e, com isto,<br />
a área irrigada teve um acréscimo nos últimos<br />
dois anos na ordem de 400.000 ha ao ano,<br />
conforme indica o levantamento da Câmara<br />
Setorial de Equipamentos de Irrigação da Associação<br />
Brasileira da Indústria de Máquinas e<br />
Equipamentos. Praticamente o dobro do crescimento<br />
anual observado entre os anos 2010<br />
a 2020.<br />
A agricultura irrigada avança tecnologicamente<br />
no que diz respeito a equipamentos e<br />
a técnicas de monitoramento e manejo. Nesse<br />
compasso, o mercado de trabalho busca por<br />
profissionais que acompanhem esta evolução.<br />
É seguro afirmar que este mercado tem<br />
oferecido melhores oportunidades e salários<br />
do que a 20, 30 anos atrás, respondendo, naturalmente,<br />
à clássica ‘lei da oferta e da procura’:<br />
necessita-se não apenas de um número maior<br />
de profissionais, uma vez que o interesse pela<br />
irrigação tem aumentado, mas também cresce<br />
a demanda por profissionais bem preparados<br />
para atuar em todas as fases que abrangem<br />
desde a implantação até a condução e manejo<br />
de um projeto de irrigação.<br />
A adoção da irrigação implica em custos<br />
financeiros consideráveis e a mitigação desses<br />
custos pode ser alcançada por meio das boas<br />
práticas. Além disso, é fundamental, por óbvio,<br />
levar em conta o principal insumo que<br />
viabiliza a agricultura irrigada que é a água.<br />
Toda tecnologia desenvolvida converge para<br />
o uso responsável dos recursos hídricos e isto<br />
requer profissionais especializados.<br />
Em uma rápida busca é possível identificar<br />
que há oferta de vagas, em diversas regiões<br />
do país, para montadores, projetistas, vendedores,<br />
técnicos agrícolas com experiência em<br />
operação de sistemas de irrigação, agrônomos<br />
e engenheiros agrícolas com especialização<br />
relacionada a agricultura irrigada e assim por<br />
diante.<br />
A pergunta é:<br />
– Temos profissionais qualificados para<br />
atender essa demanda?<br />
E a resposta é:<br />
– Temos, mas não o suficiente.<br />
Profissionais capacitados e a procura de<br />
uma colocação sim, há muitos. Mas a qualificação<br />
para atender as peculiaridades da agricultura irrigada<br />
moderna e sustentável muitas vezes fica a cargo<br />
da empresa que contrata este profissional, que vai<br />
treiná-lo seja com seu próprio corpo técnico, seja<br />
propiciando a realização de cursos e treinamentos<br />
específicos.<br />
A formação acadêmica é a base, que dire-
ciona ou desperta o interesse daquele, então<br />
estudante, para área que deseja atuar. A partir<br />
daí, vem a qualificação que faz desse profissional<br />
um especialista.<br />
Há formações específicas para os diversos<br />
tipos de profissionais que compõem esta cadeia<br />
que envolve a agricultura irrigada, sejam<br />
profissionais graduados, sejam profissionais<br />
de nível técnico. Dependendo do momento<br />
em que o profissional atua nesta cadeia, ele<br />
necessita entender sobre determinado tema<br />
com maior ou menor profundidade, desde a<br />
hidráulica, leitura de projetos, elaboração de<br />
projetos e as ferramentas existentes para tal,<br />
passando pelo entendimento das relações entre<br />
a planta, o solo e o clima, recursos hídricos,<br />
fisiologia vegetal, e ainda, aspectos como a logística,<br />
a política e mercado agrícola. Não esquecendo<br />
das especificidades de cada região.<br />
Não é pouca coisa...<br />
A mensagem para todo e qualquer profissional,<br />
de qualquer área, é: qualifique-se!<br />
Esta recomendação não é diferente para<br />
a agricultura irrigada. Existem inúmeras possibilidades<br />
de treinamentos e capacitações<br />
oferecidas por instituições conhecidas, por<br />
empresas privadas ou por profissionais independentes,<br />
presenciais e a distância, para as<br />
diversas categorias profissionais que atuam no<br />
setor.<br />
Há vagas! Esteja pronto para ser um profissional<br />
da agricultura irrigada.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
TECNOLOGIA desenvolvida<br />
converge para o uso<br />
responsável dos recursos<br />
hídricos e isto requer<br />
profissionais especializados<br />
15 15
SEGURANÇA ALIMENTAR<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Soberania nacional: o poder dos<br />
insumos “made in Brazil”<br />
16<br />
PAULIANE OLIVEIRA, Advogada e Diretora Executiva<br />
do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>: “Em vez de competir no<br />
mercado global, o Brasil pode inovar e se destacar<br />
criando produtos únicos e sustentáveis”<br />
O<br />
Brasil, um dos líderes do agronegócio,<br />
enfrenta desafios significativos devido<br />
à sua dependência de insumos importados.<br />
Com solos cuja fertilidade natural é baixa,<br />
o Brasil, capitaneado pelo eterno Ministro<br />
Alysson Paolinelli, operou o milagre do Cerrado,<br />
transformando um país importador em<br />
um dos maiores exportadores de alimentos da<br />
atualidade.<br />
Nosso país possui clima favorável, água e<br />
grande disponibilidade de áreas, mas seu solo<br />
é naturalmente pobre em NPK – Nitrogênio<br />
(N), Fósforo (P) e Potássio (K). Para manter<br />
a produtividade, os nutrientes retirados a cada<br />
colheita devem ser repostos com fontes e tecnologias<br />
reconhecidas.<br />
O significativo crescimento da produção<br />
agrícola brasileira nas últimas décadas se deu,<br />
portanto, devido principalmente aos ganhos<br />
de produtividade obtidos com o uso intensivo<br />
de fertilizantes.<br />
O Brasil é “a potência agroambiental mundial”,<br />
desde que os fertilizantes sejam utilizados<br />
de forma intensiva, o que, pelos fatores de<br />
dependência externa, nos coloca em condição<br />
de vulnerabilidade.<br />
Brasil, gigante com pés de<br />
barro<br />
José Carlos Polidoro, pesquisador da Embrapa<br />
Solos, descreve o Brasil como um “gigante<br />
com pés de barro”, destacando o cenário<br />
em que, apesar do tamanho e da importância<br />
do setor agrícola brasileiro, as bases não estão<br />
sólidas, o que torna essa situação como uma<br />
questão de soberania nacional.<br />
Aliada à necessidade de proteção dos interesses<br />
do Brasil, fato é que o crescimento<br />
da produção nacional de alimentos terá que<br />
ser da ordem de 40% para atender a demanda<br />
global, considerando um incremento previsto<br />
de mais 2 bilhões de pessoas até 2050, de acordo<br />
com o 2022 Revision of World Population<br />
Prospects, publicado pelo Departamento de<br />
Assuntos Econômicos e Sociais, das Nações<br />
Unidas. Fertilizantes são, portanto, insumos<br />
estratégicos na produção agrícola brasileira.<br />
Para isso, precisamos superar desafios, especialmente<br />
a dependência externa, que é quase<br />
90%, segundo dados de 2021 da ANDA,<br />
Sixcomex, Simprifert e de 2022 do INPI.<br />
Alguns outros números e dados chocam.<br />
O Brasil é o quarto maior consumidor de
fertilizantes no mundo, mas o primeiro em<br />
dependência de importação. Atualmente não<br />
existe isonomia tributária, visto que há isenção<br />
para importação, mas não há para quem produz<br />
fertilizantes no nosso próprio país.<br />
A falta de uma política para o setor tornou<br />
o Brasil extremamente dependente de importação<br />
de produtos e tecnologias, fazendo a<br />
indústria nacional decrescer e as importações<br />
aumentarem ano após ano.<br />
A instabilidade gerada pela dependência externa<br />
acarreta, pelo próprio movimento mercadológico,<br />
eventuais aumentos nos preços<br />
dos insumos, o que, por via de consequência,<br />
impacta negativamente nas exportações do<br />
agronegócio brasileiro, tornando os produtos<br />
agrícolas nacionais menos competitivos, uma<br />
vez que a maior parte do custo de produção<br />
deriva do preço do fertilizante importado.<br />
Além disso, a situação é tão grave que, ainda<br />
que se pensasse num cenário de permanência<br />
de importação dos insumos, alguns números<br />
divulgados pelo pesquisador José Carlos<br />
Polidoro, da Embrapa Solos, demonstram<br />
que hoje o Brasil não dispõe de estrutura adequada<br />
para importar a quantidade de toneladas<br />
de fertilizantes necessários para atender a<br />
demanda futura de produção de alimentos, o<br />
que também demandaria em termos de investimentos<br />
futuros em infraestrutura.<br />
Um plano nacional para alterar essa realidade,<br />
bem como os desafios com questões ligadas<br />
ao licenciamento ambiental, alto custo com<br />
financiamento, falta de apoio ao desenvolvimento<br />
de cadeias emergentes, pesquisa geológica, e outros,<br />
era, de fato, necessário.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
OS SOLOS BRASILEIROS, por conta de sua elevada atividade<br />
microbiana e das chuvas intensas, perdem muitos nutrientes<br />
adicionados por fertilizantes. Isso reduz a eficiência do<br />
uso desses fertilizantes, resultando em um aproveitamento<br />
incompleto dos nutrientes pelas plantas.<br />
17 17
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
18<br />
PNF fortalece segurança<br />
alimentar do Brasil e<br />
gera oportunidades<br />
para empreendedores e<br />
investidores<br />
Em resposta aos desafios de produção agrícola<br />
brasileira, foi criado o Plano Nacional de<br />
Fertilizantes (PNF), cuja filosofia consiste em<br />
aumentar a produção nacional de fertilizantes,<br />
fornecendo novas tecnologias e melhorando<br />
os sistemas agroambientais de produção de<br />
alimentos, pautando-se em inovação e sustentabilidade.<br />
O PNF tem como meta para 2050 a produção<br />
nacional capaz de atender entre 45% e<br />
50% da demanda interna do Brasil, com geração<br />
de aproximadamente 50 mil postos de<br />
trabalhos diretos e 500 mil indiretos.<br />
Em termos de objetivos, o PNF é claro: visa<br />
reduzir a dependência externa de insumos, resolver<br />
problemas de infraestrutura e armazenamento, e<br />
enfrentar questões tecnológicas, regulatórias, tributárias<br />
e ambientais. O plano também busca elevar<br />
o conhecimento geológico do país, estimulando investimentos<br />
na pesquisa mineral e na descoberta de<br />
novas jazidas.<br />
Num mercado com tamanho potencial, é<br />
certo que existe um mar de oportunidades a<br />
explorar, especialmente quando as diretrizes<br />
são claras e promissoras. Empreendedores e<br />
investidores podem mirar nas potencialidades<br />
geradas pelo PNF, eis que serão demandados<br />
conhecimento e expertise variados.<br />
As diretrizes do Plano passam pela modernização,<br />
reativação e ampliação das plantas<br />
industriais e projetos de fertilizantes existentes<br />
no país, pela melhoria do ambiente de<br />
negócios para atrair investimentos na cadeia<br />
de produção e distribuição de fertilizantes e<br />
insumos para nutrição de plantas. Há diretriz<br />
focada em promover vantagens competitivas<br />
para o Brasil na cadeia mundial de produção<br />
de fertilizantes e na ampliação dos investimentos<br />
em pesquisa, desenvolvimento, inovação<br />
e aperfeiçoamento da cadeia de produção<br />
e distribuição. E, por fim, considerando a necessidade<br />
de adequação da infraestrutura para<br />
integrar polos logísticos e viabilizar novos empreendimentos,<br />
é certo que aqueles que buscarem<br />
gerar oportunidades de negócio alinhadas<br />
com as diretrizes não só poderão obter lucros,<br />
mas também poderão atuar pela transformação<br />
do agronegócio brasileiro.<br />
O oceano azul dos insumos<br />
agrícolas made in Brazil<br />
Inspirando-se nos insights do livro “A Estratégia<br />
do Oceano Azul”, de W. Chan Kim e Renée<br />
Mauborgne, que incentiva a criação de novos espaços<br />
de mercado inexplorados e a diferenciação<br />
estratégica, podemos enxergar a produção nacional<br />
de fertilizantes como um imenso oceano azul de<br />
oportunidades. Em vez de competir no saturado<br />
mercado global, o Brasil pode inovar e se destacar<br />
criando produtos únicos e sustentáveis que atendam<br />
às necessidades específicas do nosso solo e<br />
clima.<br />
A cadeia de fertilizantes é complexa, pois<br />
interage com diversos setores, como produção<br />
de alimentos, energia, indústrias química,<br />
de mineração, de óleo e gás, além do comércio<br />
exterior. A produção de fertilizantes está diretamente<br />
ligada à produção agrícola e à disponibilidade<br />
de matérias-primas a custos viáveis.<br />
A história conta que a invenção dos fertilizantes<br />
minerais permitiu a industrialização da<br />
agricultura, começando na Europa e América<br />
do Norte, e depois se expandindo para países<br />
em desenvolvimento. A Revolução Verde levou<br />
práticas agrícolas ocidentais para outras<br />
regiões, criando um mercado global bilionário<br />
de fertilizantes.<br />
No Brasil, a transferência dessas práticas<br />
de fertilização de países de clima temperado
para o clima tropical revelou-se inapropriada.<br />
Os solos brasileiros, devido à sua alta atividade<br />
microbiana e grandes volumes de chuva,<br />
perdem muitos nutrientes aplicados via fertilizantes.<br />
Isso faz com que a eficiência do uso<br />
desses fertilizantes seja menor do que o ideal,<br />
resultando em um aproveitamento incompleto<br />
dos nutrientes pelas plantas.<br />
Portanto, criar e testar fertilizantes feitos<br />
com matérias-primas brasileiras, adaptados<br />
para nossos sistemas de produção tropical,<br />
pode trazer enormes benefícios. Além disso, a<br />
inovação tecnológica pode tornar a agricultura<br />
mais sustentável, reduzindo as emissões de<br />
gases de efeito estufa e minimizando outros<br />
impactos ambientais dos fertilizantes.<br />
Claro que para isso é essencial quebrar padrões<br />
culturais arraigados entre os produtores,<br />
adaptar a legislação e superar uma série<br />
de outros desafios que ainda dificultam o pleno<br />
desenvolvimento da produção de insumos<br />
agrícolas nacionais.<br />
Também é fundamental que o Brasil desenvolva<br />
e promova seu próprio discurso ambiental,<br />
refletindo nosso compromisso com<br />
a sustentabilidade e a inovação. Ao cumprir<br />
metas globais de redução de GEE (Gases de<br />
Efeito Estufa) e aprimorar a imagem da agricultura<br />
brasileira, tanto nacionalmente quanto<br />
internacionalmente, o Brasil demonstrará sua<br />
liderança e pioneirismo em práticas agrícolas<br />
sustentáveis.<br />
Ao adotar uma abordagem de oceano azul,<br />
o Brasil pode se destacar criando um mercado<br />
de fertilizantes que não só atende às necessidades<br />
locais, mas também estabelece novos<br />
padrões de sustentabilidade e eficiência.<br />
As tecnologias de cadeias<br />
emergentes e a combinação<br />
de inovação e valor<br />
O Plano Nacional de Fertilizantes tem um<br />
objetivo claro: valorizar e desenvolver tecnologias<br />
emergentes com potencial de descarbonização.<br />
Essas tecnologias inovadoras<br />
incluem fertilizantes organominerais, co-produtos<br />
e resíduos de potencial agrícola, agrominerais<br />
e remineralizadores, bioinsumos, nanotecnologia<br />
de liberação lenta (slow release) e<br />
agricultura digital. Juntas, essas soluções estão<br />
ganhando espaço e transformando o mercado<br />
de insumos made in Brazil.<br />
As tecnologias de cadeias emergentes no<br />
agronegócio brasileiro são um exemplo perfeito<br />
da estratégia do oceano azul, que busca<br />
criar novos espaços de mercado em vez de<br />
competir nos já existentes. Ao desenvolver essas<br />
tecnologias, o Brasil está combinando inovação<br />
e valor de maneiras que rompem com<br />
as práticas agrícolas tradicionais.<br />
INOVAÇÃO: As novas tecnologias, como<br />
fertilizantes organominerais, bioinsumos e nanotecnologia<br />
de liberação lenta, introduzem<br />
soluções avançadas e mais eficientes para a<br />
agricultura. Essas inovações oferecem maneiras<br />
novas e melhoradas de nutrir e proteger as<br />
plantas, adaptando-se especificamente às necessidades<br />
e condições dos solos brasileiros.<br />
VALOR: Ao mesmo tempo, essas tecnologias<br />
trazem um valor significativo para os<br />
agricultores. Elas não apenas melhoram a produtividade<br />
das colheitas, mas também promovem<br />
a sustentabilidade ambiental ao reduzir a<br />
necessidade de insumos químicos tradicionais<br />
e minimizar os impactos negativos no meio<br />
ambiente.<br />
Essas tecnologias emergentes oferecem:<br />
Eficiência nutricional – otimizam a disponibilização<br />
e a absorção de nutrientes pelas<br />
plantas.<br />
Sustentabilidade ambiental – reduzem o<br />
impacto ambiental e promovem práticas agrícolas<br />
mais sustentáveis.<br />
Personalização e especificidade – atendem<br />
às necessidades específicas de culturas, solos e<br />
condições climáticas.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
19 19
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
20<br />
Inovação tecnológica – incorporam avanços<br />
tecnológicos e científicos para melhorar a<br />
produtividade e a saúde das plantas.<br />
As tecnologias emergentes são mais específicas<br />
e, portanto, visam se adaptar à natureza<br />
de cada produtor e à natureza de sua produção,<br />
seguindo princípios como nutrição equilibrada,<br />
auxiliando as plantas a alcançar seu<br />
máximo potencial genético, absorção gradual<br />
dos nutrientes, integração com a natureza ao<br />
redor, conservação e recuperação do solo, otimização<br />
dos processos fisiológicos das plantas<br />
e minimização de perdas no manejo.<br />
Ao combinar inovação com valor e considerar<br />
essas especificidades, as tecnologias<br />
emergentes criam um novo espaço de mercado,<br />
em que os agricultores podem se beneficiar<br />
de práticas mais modernas, eficientes e<br />
sustentáveis.<br />
Essa abordagem não só melhora a competitividade<br />
da agricultura brasileira, mas também<br />
contribui para a construção de um setor<br />
agrícola mais resiliente e ecologicamente responsável.<br />
Além de tudo, considerando um cenário<br />
de ampla implementação, estima-se que o<br />
PNF, através das cadeias emergentes, poderá<br />
reduzir a dependência externa do Brasil nos<br />
seguintes percentuais:<br />
TIPO DE TECNOLOGIA<br />
Fertilizantes Organominerais<br />
Co-produtos e resíduos com<br />
potencial agrícola<br />
Agrominerais e<br />
Remineralizadores<br />
Bioinsumos<br />
Nanotecnologia “slow release” e<br />
agricultura digital<br />
25% NPK<br />
25% P<br />
10% K<br />
Fonte: José Carlos Polidoro, MAPA, Embrapa<br />
DESCRIÇÃO<br />
10% N 10% P<br />
-10%<br />
Claro que, devido a rapidez com que esse<br />
mercado se transforma e evolui, são dados estimados.<br />
Na prática, a depender da adesão e<br />
como essas tecnologias ganham espaço, esses<br />
números deverão ser revisitados e contemporizados<br />
com a realidade do mercado agrícola.<br />
Recorte de análise de<br />
mercado<br />
Considerando a ausência de dados do setor,<br />
a título ilustrativo, o <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />
traz os últimos dados divulgados pela Associação<br />
Brasileira das Indústrias de Tecnologia em<br />
Nutrição Vegetal (Abisolo), em maio de <strong>2024</strong>.<br />
Para tanto, foi feita a análise do mercado<br />
de fertilizantes especiais, atendido pelos associados<br />
Abisolo, que, no fim de 2023, contava<br />
com 150 empresas do segmento.<br />
Para efeitos da pesquisa foram considerados<br />
fertilizantes especiais: fertilizantes orgânicos,<br />
fertilizantes organominerais, substratos<br />
para plantas, condicionadores de solo e biofertilizantes.<br />
Dentre os dados levantados, a pesquisa revelou<br />
que Minas Gerais é o maior consumidor<br />
de fertilizantes especiais no Brasil, representando<br />
cerca de 20% do mercado nacional, seguido<br />
pelos estados de São Paulo com quase<br />
17% e Mato Grosso com aproximadamente<br />
15%.<br />
Em termos de venda por cultura, a soja lidera<br />
como a cultura que mais utiliza fertilizantes<br />
especiais, seguida do milho e café.<br />
No que se refere aos tipos de clientes, em<br />
2023, 66,9% das vendas de fertilizantes especiais<br />
foram B2B (Business to Business), enquanto<br />
33,1% foram B2C (Business to Consumer),<br />
ou seja, diretamente para o produtor<br />
rural.<br />
A pesquisa ainda revelou que o setor espera<br />
um crescimento médio de 11% para <strong>2024</strong>,<br />
o que é considerado um crescimento tímido,<br />
mas justificável devido a fatores econômicos,<br />
geopolíticos e técnico agronômicos.<br />
Com a relevância que tem ganhado o mercado<br />
de bionsumos, recentemente a Kynetec
VOZES DO MERCADO<br />
Brasil, empresa de pesquisas de mercado, divulgou<br />
que ainda em <strong>2024</strong> irá lançar um estudo<br />
exclusivo centrado no entendimento dos<br />
desafios e das tendências desse mercado e ancorado<br />
na visão de produtores, consultores,<br />
especialistas e distribuidores, sendo importante<br />
o acompanhamento da evolução do mercado<br />
pelos players e investidores interessados.<br />
Perspectivas promissoras para<br />
bioinsumos e fertilizantes<br />
especiais no Brasil<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Novo padrão, por que não?<br />
Saímos de um ponto de irrelevante produção<br />
nos solos tropicais para nos destacar como<br />
um dos principais produtores agrícolas mundiais.<br />
Então, por que não podemos avançar<br />
e ter nosso próprio discurso ambiental? Por<br />
que não podemos diversificar e experimentar<br />
novos padrões de consumo de insumos?<br />
Será que não há um oceano azul aguardando<br />
o nosso deleite? Ao explorar e adotar tecnologias<br />
emergentes, podemos criar um mercado<br />
mais sustentável e inovador. Esta jornada não<br />
só demonstra a capacidade do Brasil de se reinventar,<br />
mas também posiciona o país como<br />
uma potência agroambiental, pronta para liderar<br />
o futuro da agricultura global com criatividade<br />
e responsabilidade ambiental.<br />
ANDRÉ HOLZHACKER, Cofundador e Diretor do<br />
Grupo Regera<br />
Nossa percepção em relação às potencialidades<br />
do mercado de bionsumos e fertilizantes<br />
especiais é extremamente positiva e promissora.<br />
Estamos passando por uma evolução<br />
na agricultura, de um modelo estabelecido pela<br />
revolução verde, baseado em uso de químicos,<br />
mecanização e variedades de plantas de alto<br />
rendimento, que foram passos fundamentais<br />
para atingir o alto nível que chegamos, para<br />
uma visão holística, dando protagonismo para<br />
o solo além da planta e integrando ao meio<br />
ambiente.<br />
Apesar do Brasil ser uma potência agrícola<br />
mundial, ainda é extremamente dependente<br />
da importação de fertilizantes químicos e tecnologia,<br />
que contribui para a volatilidade e in-<br />
21
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
22<br />
segurança que estamos acostumados no setor<br />
e temos visto extremos cada vez maiores.<br />
Quando falamos de sustentabilidade, entendemos<br />
no sentido de durabilidade e consistência,<br />
alguns pilares fundamentais são:<br />
eficiência agronômica e econômica, previsibilidade<br />
de fornecimento e preços, baixa pegada<br />
de carbono e redução de impactos ambientais.<br />
Os fertilizantes especiais e bioinsumos<br />
cumprem um papel importante nessa evolução,<br />
fortalecendo os pilares mencionados<br />
acima, com seu mercado crescendo de 30% a<br />
40% por ano.<br />
A necessidade mais importante para o desenvolvimento<br />
desse mercado é a tangibilização<br />
de resultados e disseminação do conhecimento,<br />
tanto no aspecto agronômico, que<br />
deve gerar segurança para o agricultor, mas<br />
também na evolução das regulações, financiamentos<br />
com condições especiais que já começaram<br />
a ser aplicadas, assim como a valoração<br />
de atributos ambientais que esse tipo de produto<br />
traz.<br />
Como qualquer novo mercado, existe o desafio<br />
de “separar o joio do trigo”, ou seja, há<br />
muita narrativa e oportunismo que pode prejudicar<br />
a imagem do setor e atrasar sua consolidação,<br />
por isso é fundamental termos dados<br />
e resultados concretos.<br />
Seguindo a tendência de crescimento dos<br />
últimos anos junto com políticas públicas<br />
como o PNF e a exigência do mercado consumidor<br />
global por produtos com rastreabilidade<br />
e baixa intensidade de carbono, o setor<br />
deve amadurecer ainda mais e se consolidar,<br />
com novos produtos, regulatório mais claro,<br />
linhas de financiamento com condições atrativas<br />
para bioinsumos e biofertilizantes, já sendo<br />
consideradas pelo BNDES como exemplo.<br />
A Regera, grupo do qual a Reager faz parte,<br />
está focada na transformação de resíduos e<br />
biomassa em produtos de valor agregado, desenvolvendo<br />
e consolidando o que chamamos<br />
de economia circular. Produzimos de forma<br />
descentralizada produtos como biometano<br />
(gás natural renovável), fertilizante renovável<br />
com altos teores de nutrientes e baixa pegada<br />
de carbono, além dos próprios créditos de<br />
carbono.<br />
Temos a inovação em nosso DNA e enxergamos<br />
ainda infinitas possibilidades nesse<br />
segmento, onde o Brasil deve ser protagonista<br />
e ainda está apenas engatinhando.<br />
O Brasil tem um potencial de produzir<br />
70% do seu consumo de diesel a partir do biometano,<br />
50% do consumo de NPK a partir da<br />
recuperação de nutrientes de resíduos, além<br />
de ser protagonista na transição para a economia<br />
de baixo carbono, e a Regera está inserida<br />
nesse contexto, participando dessa evolução,<br />
através de inovação constante, implementação<br />
de novas plantas de transformação e levando<br />
produtos inovadores e de qualidade para o<br />
mercado.<br />
CAIO FERRAZ, Gerente Comercial Vigorfert<br />
Se o produtor não usou, ele vai usar bioinsumos<br />
e fertilizantes especiais. O produtor já<br />
percebeu que, além da pegada sustentável, a<br />
tecnologia entrega muito desempenho e muita<br />
produtividade. As taxas de crescimento da
linha de especiais ultrapassam dois dígitos. Acredito<br />
que nós vamos continuar vendo o crescimento<br />
tanto dos fertilizantes especiais quanto<br />
dos biológicos nos próximos anos. As empresas<br />
do setor têm aperfeiçoados as tecnologias<br />
na produção e têm cada vez mais aumentado<br />
a qualidade dos produtos, o que irá corroborar<br />
para o crescimento dessas linhas.<br />
O desafio era entender como o produto<br />
funcionava e agora está muito consolidado esse<br />
entendimento, a real eficiência do produto, a<br />
tecnologia realmente entrega muito, desde que<br />
bem posicionada.<br />
E o outro desafio é padronizar o produto,<br />
uma vez que trabalha com matéria orgânica.<br />
A necessidade é que tivéssemos um produto<br />
padrão, uniforme o ano inteiro e isso foi um<br />
grande problema do setor nos últimos anos,<br />
mas as empresas se aperfeiçoaram na tecnologia,<br />
investiram dentro das fábricas, qualificaram<br />
os profissionais, entenderam como funciona<br />
o processo produtivo e agora isso vem se resolvendo<br />
e as empresas que estão no mercado<br />
estão trabalhando com a qualidade melhor, o<br />
que tem influenciado muito no crescimento da<br />
tecnologia.<br />
Por fim, um gargalo importante é o crédito.<br />
As revendas e os produtores demandam crédito<br />
e não há linhas específicas para isso, além das<br />
altas taxas como as praticadas no Brasil.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
TECNOLOGIAS EMERGENTES criam um novo espaço de mercado, em que os<br />
agricultores podem se beneficiar de práticas mais modernas, eficientes e sustentáveis<br />
23 23
ENERGIA RENOVÁVEL<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Produção de biogás: viabilidade<br />
técnica, econômica e ambiental<br />
24<br />
JOSÉ BENEVIDES ROMANO, engenheiro agrônomo:<br />
“mudança de consciência para uma economia<br />
circular deve ser um compromisso de todos, com<br />
o presente de nosso planeta e com o futuro das<br />
gerações futuras”<br />
À<br />
medida que o mundo se industrializa<br />
e a população se torna cada vez mais<br />
urbana, maiores são os desafios em relação<br />
à geração de energia mais limpa e renovável.<br />
E o Brasil é um dos líderes mundiais na<br />
produção de energia limpa e sustentável, com<br />
inúmeras fontes de energia como a eólica, a<br />
solar e a biomassa, posicionando nosso país<br />
num seleto grupo mundial em termos de energia<br />
renovável. Quando falamos em sustentabilidade<br />
energética, cerca de 48% da matriz<br />
energética brasileira é renovável, enquanto a<br />
média mundial é de apenas 14%. E não existe<br />
perspectiva de longevidade para as empresas e<br />
propriedades rurais que não se conscientizarem<br />
da importância de um desenvolvimento<br />
sustentável, em que todas as atividades operacionais<br />
e produtivas tenham o menor impacto<br />
ambiental possível, gerando assim uma produção<br />
com qualidade e sustentabilidade.<br />
Nesse contexto, as empresas do agro estão<br />
cada vez mais investindo em inovações que<br />
tenham essa visão ambiental e maximizem a<br />
eficiência dos processos produtivos e menos<br />
poluentes. Outra tendência muito positiva<br />
tem sido a adoção de práticas que contribuam<br />
para o gerenciamento da água e da energia nos<br />
processos de produção. Processos de reutilização<br />
de água e resíduos são hoje uma maneira<br />
inteligente e eficaz de contribuir com o meio<br />
ambiente, gerando economia de recursos. No<br />
caso de agroindústrias, como, por exemplo,<br />
frigoríficos e laticínios, que geram grande volume<br />
de dejetos poluentes, hoje existem soluções<br />
tecnológicas que transformam esse passivo<br />
ambiental em bioenergia.<br />
A cada dia mais, a produção de bioenergia<br />
tem sido uma das alternativas mais promissoras<br />
para solucionar os problemas de emissão<br />
de gases de efeito estufa. As fontes de matéria-prima<br />
renováveis englobam materiais orgânicos,<br />
conhecidos como biomassa, que têm<br />
grande importância para o setor do agronegócio,<br />
tais como resíduos da produção animal,<br />
como dejetos de suínos e bovinos, além de<br />
outros subprodutos do processamento da cana-de-açúcar<br />
e de outras culturas como cascas<br />
de arroz, de café e de eucalipto. Os biocombustíveis<br />
representam a bioenergia utilizada<br />
como combustível para veículos, substituindo<br />
ou somando-se aos combustíveis fósseis,<br />
como gasolina, diesel e gás.<br />
Quando falamos em bioeletricidade, temos<br />
como principais produtos o biogás, a eletricidade<br />
da biomassa, a solar, a eólica, produzida<br />
pelo vento, e a hidrelétrica, que corresponde a<br />
51% da energia produzida no país. Interessan-
te observarmos esse movimento do agronegócio<br />
em buscar uma produção cada vez mais<br />
sustentável, envolvendo também a produção<br />
de bioenergia, para tornar as empresas e propriedades<br />
rurais cada vez mais autossuficientes<br />
na geração da própria energia, diminuindo<br />
custos e riscos de segurança energética.<br />
Cada vez mais acessíveis, os investimentos<br />
na produção da energia via biogás, por exemplo,<br />
têm sido uma excelente solução para suinocultores<br />
e pecuaristas de corte e leite, que,<br />
ao fazerem a gestão do passivo ambiental gerado<br />
pelos dejetos animais, desenvolvem um<br />
projeto com viabilidade técnica, econômica e<br />
com sustentabilidade ambiental. A bioenergia<br />
já está presente em nosso dia a dia, mas seguindo<br />
com novos investimentos em tecnologia<br />
e inovação, teremos a possibilidade de um<br />
futuro mais seguro e sustentável.<br />
Em tempo: existem recursos públicos disponíveis<br />
para quem aposta em sustentabilidade.<br />
O Banco Nacional de Desenvolvimento<br />
Econômico e Social (BNDES) financia projetos<br />
de usinas de biogás com recursos do Fundo<br />
Clima, cujo objetivo é apoiar projetos que<br />
visem a mitigação das mudanças climáticas:<br />
Em novembro de 2023, o BNDES financiou<br />
uma usina de biometano em Triunfo, no<br />
Rio Grande do Sul, com R$ 157 milhões, sendo<br />
R$ 79,8 milhões do Fundo Clima. A usina,<br />
da Bioo Holding S.A., produzirá gás natural<br />
renovável a partir de resíduos industriais e<br />
deve evitar 14 mil toneladas de CO 2 por ano<br />
na atmosfera.<br />
Em dezembro de 2023, o BNDES financiou<br />
projetos de biometano com R$ 230 mi-<br />
revista<br />
100<br />
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USINA RECANTO 1, parceria da Auma Agronegócios com a Regera, em Patos<br />
de Minas, é uma das referências de sustentabilidade no Cerrado Mineiro<br />
25 25
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lhões, sendo R$ 53,7 milhões do Fundo Clima.<br />
O projeto deve evitar a emissão de 43.068<br />
toneladas de CO 2 equivalente por ano.<br />
Estes são apenas alguns exemplos, mas<br />
existem outros tantos casos de sucesso.<br />
Portanto, mais que modismo ou pressão<br />
ambiental, a mudança de consciência para<br />
uma economia circular, que reaproveite os resíduos<br />
orgânicos transformando-os em energia,<br />
deve ser um compromisso de todos, com<br />
o presente de nosso planeta e com o futuro<br />
das gerações futuras.<br />
BIOCOMBUSTÍVEIS representam a bioenergia<br />
utilizada como combustível para veículos,<br />
substituindo ou somando-se aos combustíveis<br />
fósseis, como gasolina, diesel e gás<br />
FUNDO CLIMA apoia projetos, estudos e<br />
empreendimentos para reduzir mudanças climáticas<br />
26<br />
O Fundo Clima é um dos instrumentos<br />
da Política Nacional sobre Mudança<br />
do Clima e se constitui em um fundo<br />
de natureza contábil, vinculado ao<br />
Ministério do Meio Ambiente com<br />
a finalidade de garantir recursos<br />
para apoio a projetos ou estudos e<br />
financiamento de empreendimentos<br />
que tenham como objetivo a mitigação<br />
das mudanças climáticas.<br />
Entre as modalides disponíveis,<br />
a oferta de crédito para projetos<br />
envolvendo florestas nativas e<br />
recursos hídricos visa apoiar a<br />
conservação, recuperação e gestão<br />
responsável de florestas e promover a<br />
mitigação climática, a sustentabilidade<br />
ambiental, a disponibilidade de<br />
água, a proteção e uso sustentável<br />
da biodiversidade e a resiliência às<br />
mudanças climáticas.<br />
SAIBA MAIS
AGRONEGÓCIO<br />
BRASILEIRO<br />
PRESERVA O MEIO AMBIENTE<br />
GERA EMPREGO E RENDA<br />
IMPULSIONA O DESENVOLVIMENTO<br />
SUSTENTÁVEL<br />
No Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba<br />
e Noroeste de Minas, cada produtor<br />
fortalece o Brasil como líder mundial<br />
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Unindo pessoas e histórias<br />
para gerar informação.<br />
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PIVÔ EM CAMPO DE TRIGO<br />
na região de Brasília<br />
30<br />
Alto Paranaíba: agricultura<br />
irrigada e avanços tecnológicos<br />
A<br />
microrregião do Alto Paranaíba destaca-se<br />
na produção de alimentos em<br />
âmbito nacional, com uma crescente<br />
importância da agricultura irrigada. A informação<br />
faz parte do artigo “Georreferenciamento<br />
de Pivôs Centrais na Microrregião do<br />
Alto Paranaíba - MG”. Assinado pela professora<br />
mestre e doutora Mariana Cecília Melo,<br />
coordenadora do curso de Agronomia do<br />
Centro de Estudos Superiores de São Gotardo<br />
(CESG); e pelos acadêmicos da Instituição<br />
Fernando Salviano Gomes, Aluísio Ferreira<br />
Lima e Itamar Garcia Rodrigues, o artigo foi<br />
publicado pela <strong>Revista</strong> Brasileira de Gestão e<br />
Engenharia, edição especial de 2023.<br />
O artigo aponta que a diversidade de cultivos,<br />
alta produtividade, estabilidade na produção,<br />
uso eficiente da água e aumento do<br />
número de safras anuais são fatores que contribuem<br />
para a segurança alimentar e a qualidade<br />
de vida frente às crescentes demandas<br />
por alimentos.<br />
Entre os métodos de irrigação utilizados<br />
no Alto Paranaíba, os sistemas por aspersão<br />
do tipo pivô central se sobressaem. O georreferenciamento<br />
atualizado desses pivôs contribui<br />
para uma determinação mais precisa das<br />
áreas irrigadas, status de uso (ativo ou não),<br />
posicionamento em relação às áreas de preservação,<br />
concentração em microbacias hidrográficas,<br />
formulação de políticas públicas<br />
e necessidades de suprimento de energia elétrica.<br />
Além disso, permite um gerenciamento<br />
adequado dos recursos hídricos, especialmen-
te em regiões com potenciais conflitos pelo<br />
uso da água.<br />
De acordo com o estudo, apesar do aumento<br />
expressivo na utilização dos recursos<br />
hídricos, ainda existem lacunas de conhecimento<br />
sobre as áreas efetivamente irrigadas.<br />
Assim, é essencial produzir e atualizar informações,<br />
não apenas sobre o balanço hídrico<br />
quantitativo da região, mas também fornecer<br />
uma base técnica consistente para o planejamento<br />
e avaliação de riscos setoriais.<br />
O estudo teve como objetivo georreferenciar<br />
os pivôs centrais na microrregião do<br />
Alto Paranaíba, fornecendo subsídios para o<br />
planejamento e gerenciamento dos recursos<br />
hídricos.<br />
O georreferenciamento e levantamento<br />
quantitativo dos pivôs centrais na microrregião<br />
do Alto Paranaíba foram realizados por<br />
meio das imagens do satélite Sentinel – 2A,<br />
com resolução espacial de 10 m. As imagens,<br />
capturadas em 03/09/2023, permitiram a<br />
composição das bandas 04-03-02 (RGB). A<br />
partir disso, foram marcados os pontos (georreferenciamento)<br />
obtendo-se o quantitativo<br />
de pivôs por município. A marcação foi baseada<br />
na observação da torre e do rastro das<br />
rodas dos pivôs. As imagens também permitiram<br />
gerar polígonos sobre os pontos nos<br />
municípios de Rio Paranaíba e São Gotardo<br />
para determinação da área irrigada. Os dados<br />
foram submetidos a uma análise estatística<br />
descritiva, discutindo os resultados em termos<br />
regionais e nacionais.<br />
Esse estudo, com georreferenciamento<br />
dos pivôs na mesorregião do Alto Paranaíba,<br />
abrange uma área de 1.140.738,127 ha, composta<br />
por 10 municípios: Arapuá, Carmo do<br />
Paranaíba, Guimarânia, Lagoa Formosa, Matutina,<br />
Patos de Minas, Rio Paranaíba, São<br />
Gotardo, Santa Rosa da Serra e Tiros. As imagens<br />
identificaram 781 pivôs centrais em ati-<br />
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ESTUDO ENVOLVEU Arapuá,<br />
Carmo do Paranaíba,<br />
Guimarânia, Lagoa Formosa,<br />
Matutina, Patos de Minas,<br />
Rio Paranaíba, São Gotardo,<br />
Santa Rosa da Serra e Tiros<br />
(Crédito: CESG)<br />
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vidade. O município de Rio Paranaíba possui<br />
o maior percentual, com 428 pivôs (54,81%<br />
do total). São Gotardo contabiliza 90 pivôs<br />
centrais. Juntos, esses municípios representam<br />
66,33% da agricultura irrigada por pivôs<br />
centrais na mesorregião, evidenciando grande<br />
desenvolvimento e investimento no setor.<br />
Em 2020, Rio Paranaíba tinha 386 pivôs<br />
centrais ocupando 16.507,00 ha. Em 2023, o<br />
município contava com 428 pivôs, ocupando<br />
17.731,50 ha, um aumento de 10,9% no número<br />
de pivôs e 7,41% em novas áreas irrigadas.<br />
No Brasil, em 2020, os pivôs centrais<br />
ocupavam uma área de 1.612.617,3 ha, distribuídos<br />
em 25.292 pivôs instalados. Minas Gerais<br />
liderava com 8.541 equipamentos e uma<br />
área irrigada de 501.183,6 ha. Rio Paranaíba<br />
e São Gotardo representam 1,25% e 4,01%<br />
da área nacional e estadual irrigada por pivôs,<br />
respectivamente. Em termos quantitativos, à<br />
época do estudo a irrigação por pivôs nesses<br />
municípios representa 2,05% nacionalmente e<br />
6,06% no estado.<br />
A metodologia utilizada permitiu um levantamento<br />
quantitativo preciso dos pivôs centrais<br />
na microrregião do Alto Paranaíba para<br />
2023, mostrando a expansão da área irrigada e<br />
contribuindo para avaliações hídricas e implementações<br />
de técnicas agrícolas de precisão.<br />
Estudos mais amplos são<br />
realizados pela ANA e<br />
Embrapa<br />
Em nível nacional, os levantamentos da<br />
agricultura irrigada do Brasil são realizados em<br />
parceria da Embrapa (Empresa Brasileira de<br />
Pesquisa Agropecuária) com a ANA (Agência<br />
Nacional de Águas).<br />
A agricultura irrigada é a maior consumidora<br />
de água retirada dos recursos hídricos.<br />
Esses levantamentos são essenciais para garantir<br />
a sustentabilidade do uso da água para a<br />
manutenção da biodiversidade, consumo humano<br />
e animal, uso industrial e produção de<br />
alimentos.<br />
Os levantamentos por bacias hidrográficas<br />
permitem a definição de outorgas visando a<br />
racionalização desses recursos e evitar a escassez<br />
ou conflitos pelo uso da água.<br />
A agricultura irrigada permite aumentos<br />
expressivos na produtividade e a obtenção de<br />
duas ou três safras por ano, fato estratégico<br />
para a humanidade, pois o Brasil será cada vez<br />
mais demandado como produtor de alimentos<br />
para atender a crescente demanda mundial.<br />
As mudanças climáticas estão causando<br />
danos expressivos na produção de alimentos,<br />
principalmente pela falta de água no solo<br />
(estiagem) ou pelo excesso de chuvas, como<br />
ocorreu no Rio Grande do Sul, recentemente.<br />
Aliás, é altamente recomendado<br />
ampliar conhecimetos<br />
sobre o tema por meio do<br />
Atlas Águas. Desenvolvida<br />
pela ANA, em colaboração<br />
com prestadores de serviço<br />
de abastecimento de água<br />
e parceiros institucionais,<br />
a publicação atualiza o Atlas Brasil de 2010.<br />
Este novo Atlas, lançado em 2021, incorpora<br />
conceitos e ferramentas do Plano Nacional<br />
de Segurança Hídrica, e avança no diagnóstico<br />
e planejamento da segurança hídrica para o<br />
abastecimento urbano no Brasil.<br />
O Atlas Águas avalia todos os mananciais e<br />
sistemas de abastecimento urbano, oferecendo<br />
soluções para atender às demandas presentes<br />
e futuras das 5.570 sedes urbanas até 2035.<br />
O conteúdo detalha os investimentos necessários<br />
para garantir o atendimento de 100%<br />
da população urbana do país, cobrindo desde<br />
a captação até o tratamento e distribuição de<br />
água.<br />
A ANA fez o último levantamento nacional<br />
em 2022 em parceria com o INPE (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais). O levantamento<br />
de <strong>2024</strong> está em fase final, devendo ser<br />
publicado em breve.<br />
Alto Paranaíba é referência<br />
em irrigação, diz<br />
especialista<br />
Daniel Ávila, sócio fundador e head comercial<br />
da iCrop, ressalta que a região do Alto Paranaíba,<br />
em Minas Gerais, é um grande destaque mundial na<br />
produção de alimentos, tanto em quantidade quanto<br />
em qualidade. Segundo ele, “o agronegócio local<br />
foi muito impulsionado pelo crescimento da agricultura<br />
irrigada, mas outros fatores como o alto nível<br />
tecnológico no campo, a gestão e conhecimento<br />
dos produtores e o aumento de investimentos no<br />
setor fizeram toda diferença”.<br />
Ávila aponta que a região é favorecida pelo tipo<br />
de solo e clima, com um inverno bem definido, topografia<br />
e altitude excelentes para a produção de culturas<br />
de alto valor agregado, como hortifruti e café.<br />
Isso contribui para a grande diversificação e rotação<br />
de culturas, altas produtividades e aumento de renda<br />
e emprego no campo.<br />
Apesar dos números já mostrarem a grandeza<br />
desse polo irrigado, Daniel Ávila acredita que ainda<br />
há muito potencial de expansão. Um ponto forte<br />
destacado por Ávila é a crescente atenção das fazendas<br />
irrigadas com a sustentabilidade e otimização<br />
dos recursos hídricos e energéticos. “A maioria<br />
já utiliza ferramentas tecnológicas de gestão do<br />
consumo de água e energia, e consequentemente irrigam<br />
de forma eficiente e racional, o que gera economia<br />
e aumento da produtividade, aumentando a<br />
precisão e a segurança nas decisões”, afirma Ávila.<br />
Esses fatos reforçam ainda mais a importância<br />
do agro brasileiro para suprir a crescente demanda<br />
por alimentos da população mundial. Ávila observa<br />
que 17% da área agricultável mundial é irrigada,<br />
sendo responsável por 40% da produção de alimentos<br />
no mundo. Ele alerta que, sem irrigação, a<br />
população mundial não teria alimento de qualidade<br />
na mesa.<br />
Atualmente, o Brasil ocupa a sétima posição no<br />
ranking dos maiores países irrigados, com aproximadamente<br />
8,5 milhões de hectares irrigados. No<br />
entanto, Daniel Ávila vê um grande potencial para<br />
o país alcançar a terceira posição, com 30 milhões<br />
de hectares irrigados. Para isso, o especialista destaca<br />
a necessidade de fomentar o aumento do nível<br />
tecnológico, políticas de incentivo ao crescimento<br />
sustentável da irrigação e a disseminação do conhecimento<br />
e qualificação das pessoas no campo.<br />
A avaliação de Daniel Ávila sublinha a importância<br />
de investir em tecnologia e gestão eficientes<br />
para continuar a expansão e fortalecimento do<br />
agronegócio brasileiro, com foco na sustentabilidade<br />
e na otimização dos recursos naturais.<br />
DANIEL ÁVILA: favorecida pelo tipo de solo e clima,<br />
com um inverno bem definido, topografia e altitude<br />
excelentes para a produção de culturas de alto valor<br />
agregado<br />
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SUGESTÃO DO LEITOR<br />
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Dia após dia, Minas Gerais<br />
garante mesa farta, emprego<br />
e renda para milhões<br />
de brasileiros<br />
34 34
R<br />
ecentemente, lançamos uma<br />
caixa de perguntas no perfil<br />
do <strong>100PORCENTOAGRO</strong> no<br />
Instagram, pedindo sugestões de pautas<br />
sobre o setor. Um dos seguidores<br />
sugeriu esta reportagem especial sobre<br />
os alimentos produzidos no Triângulo<br />
Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de<br />
Minas.<br />
No extenso território brasileiro, o<br />
agronegócio se destaca como um dos<br />
pilares fundamentais da economia.<br />
Cinco estados são os motores dessa<br />
máquina, impulsionando a produção e<br />
as exportações. Minas Gerais aparece<br />
como um dos estados mais importantes<br />
na produção agropecuária do Brasil,<br />
reconhecido pela produção de café, leite,<br />
mel, alho, proteína animal, feijão, soja e<br />
milho. A variedade de culturas cultivadas<br />
em Minas reflete as condições climáticas<br />
favoráveis e a expertise dos agricultores<br />
locais. Nosso estado é um grande<br />
produtor, e possui cadeias produtivas e<br />
de serviços relacionados ao agronegócio<br />
muito bem estruturada. Desta forma,<br />
produtores rurais e trabalhadores do<br />
agronegócio garantem a segurança<br />
alimentar da população e contribuem<br />
para a economia do estado.<br />
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Minas é top 5 na produção<br />
de alimentos<br />
Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Rio<br />
Grande do Sul e Minas Gerais representam<br />
mais de 70% da produção agrícola nacional,<br />
contribuindo significativamente para o PIB<br />
brasileiro. Com produção diversificada e eficiente,<br />
garantem o abastecimento interno<br />
e impulsionam exportações, fortalecendo a<br />
posição do Brasil como um dos principais<br />
players globais no mercado agrícola. Esses<br />
estados são estratégicos para a segurança alimentar<br />
não apenas do Brasil, mas também<br />
de várias partes do mundo. Juntos, geram<br />
milhões de empregos diretos e indiretos,<br />
reduzindo desigualdades regionais e melhorando<br />
as condições de vida da população.<br />
Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e<br />
Noroeste de Minas possuem cadeias produtivas<br />
robustas de alho, café e outros grãos,<br />
cana-de-açúcar, pecuária e mel, além de serem<br />
referência na suinocultura e contribuírem<br />
também com outros produtos.<br />
O alho é um dos protagonistas. O mais<br />
recente levantamento do Hortifruti/Cepea<br />
revelou dados significativos sobre a produção<br />
no Brasil. O estudo apresentou detalhes<br />
importantes sobre as áreas de cultivo e regiões<br />
destacadas na produção da hortaliça.<br />
Minas Gerais se destaca como principal produtor<br />
nacional, com 34% da área plantada<br />
no país. A análise indica cultivo concentrado<br />
principalmente em Minas Gerais, Goiás,<br />
Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul,<br />
estados que somam cerca de 90% da área<br />
plantada no Brasil. Em Minas Gerais, Triângulo<br />
e Alto Paranaíba são as áreas mais produtivas,<br />
responsáveis por grande parte da<br />
produção estadual. Além de concentrarem<br />
a produção mineira, possuem infraestrutura<br />
e condições climáticas ideais para o cultivo<br />
da hortaliça, reforçando sua importância no<br />
cenário nacional. Segundo o levantamento,<br />
o Brasil cultivou alho em 11,2<br />
mil hectares em 2021, com produção<br />
de aproximadamente 119<br />
mil toneladas. Os números revelam<br />
um mercado robusto e em<br />
expansão, com Minas Gerais<br />
liderando o crescimento. A região<br />
é responsável por 90% da<br />
produção estadual, com destaque<br />
para Rio Paranaíba (37.950<br />
toneladas), Campos Altos (9.000<br />
toneladas), São Gotardo (7.625<br />
toneladas), Sacramento (6.600<br />
toneladas) e Santa Juliana (2.560<br />
toneladas), conforme dados do<br />
governo mineiro.<br />
Café do Cerrado<br />
Mineiro<br />
A Região do Cerrado Mineiro (RCM) inclui<br />
55 municípios e mais de 4,5 mil cafeicultores<br />
no Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de<br />
Minas, onde os cafés especiais são fundamentais<br />
para a economia local. São 255 mil hectares<br />
de lavouras, responsáveis por 12,7% da<br />
produção brasileira e 25,4% da produção mineira,<br />
com média de 6 milhões de sacas produzidas<br />
anualmente. Até março deste ano, mais<br />
de 8 mil hectares de café foram certificados<br />
em Agricultura Regenerativa. Os cafés da região<br />
são cultivados em território com estações<br />
climáticas definidas: verão quente e úmido e<br />
inverno ameno e seco. Os grãos são cultivados<br />
em áreas com altitudes entre 800 e 1,3 mil<br />
metros, resultando em bebida de sabor único<br />
e alta qualidade.<br />
O Cerrado foi a primeira região no mundo<br />
a obter a certificação ISO 9001 e a estampar a<br />
marca coletiva nas sacas de grãos.<br />
Na produção de outros grãos, Triângulo<br />
Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas<br />
também se destacam e são fundamentais
PRODUÇÃO FARTA de alimentos, com variedade de<br />
culturas, é característica forte do Triângulo Mineiro,<br />
Alto Paranaíba e Noroeste de Minas<br />
para a agricultura mineira, apesar das leves<br />
quedas observadas recentemente. A produção<br />
mineira alcançou 18,70 milhões de toneladas<br />
na safra 2022/23, segundo a Companhia<br />
Nacional de Abastecimento (CONAB). Soja<br />
e milho são os principais produtos, somando<br />
16,28 milhões de toneladas. A produção<br />
brasileira de soja alcançou 154.605,90 mil toneladas<br />
na safra 2022/23, com estimativa de<br />
crescimento para 160.177,20 mil toneladas na<br />
safra 2023/24, um aumento de 3,6%. A área<br />
cultivada em Minas Gerais aumentou de 2,17<br />
milhões de hectares para 2,24 milhões de hectares,<br />
incremento de 3,6%, devido à substituição<br />
de áreas de pastagem, feijão e milho de<br />
primeira safra pela soja.<br />
Na safra 2022/2023, Minas Gerais se destacou<br />
nacionalmente na produção de feijão,<br />
alcançando 556,7 mil toneladas, um aumento<br />
de 14,8% em relação à safra anterior de 484,9<br />
mil toneladas. A Conab relatou um acréscimo<br />
geral de 1,7% na safra nacional de feijão, totalizando<br />
3,04 milhões de toneladas. O bom de-<br />
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CAFÉS DO CERRADO MINEIRO garantem bebida<br />
de sabor único e alta qualidade<br />
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38<br />
sempenho das lavouras mineiras foi atribuído<br />
à produtividade média elevada e às condições<br />
climáticas favoráveis. A segunda safra registrou<br />
ampliação da área plantada em comparação<br />
ao período anterior, contribuindo para o<br />
resultado positivo da produção estadual.<br />
Os cinco maiores produtores de feijão do<br />
estado são da nossa região: Paracatu, Unaí,<br />
Guarda-Mor e Buritis (Noroeste) e Perdizes<br />
(Alto Paranaíba).<br />
Já a produção de milho atingiu 7,52 milhões<br />
de toneladas em Minas Gerais até novembro<br />
de 2023, queda de 5,4% em comparação<br />
à safra anterior, com área colhida reduzida<br />
em 4,1%, totalizando 1,23 milhão de hectares.<br />
Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste<br />
de Minas, tradicionalmente grandes produtoras<br />
de milho, foram diretamente impactadas<br />
pela redução. A busca por alternativas mais lucrativas<br />
alterou significativamente a dinâmica<br />
agrícola local.<br />
Na pecuária de corte e de leite, Minas<br />
Gerais se mantém em quarto lugar no ranking<br />
nacional de rebanho bovino, com 23 milhões<br />
de cabeças, 9,8% do total nacional. Triângulo<br />
Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas<br />
abrigam as maiores populações bovinas do estado,<br />
com 23,6% do total. Na pecuária de leite,<br />
as importações recordes de lácteos, principalmente<br />
da Argentina e Uruguai, aumentaram a<br />
oferta no mercado, causando desequilíbrio na<br />
cadeia. Até outubro de 2023, foram internalizadas<br />
228,2 mil toneladas de derivados, equivalendo<br />
a 1,7 bilhão de litros, alta de 77% em<br />
relação ao ano anterior. Segundo dados prévios<br />
do IBGE, a captação formal de leite no<br />
país cresceu 1,5% até o terceiro trimestre de<br />
2023, enquanto em Minas Gerais houve redução<br />
de 4,1% no primeiro semestre, fechando<br />
com média de 469 milhões de litros mensais<br />
no Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste<br />
de Minas, impactando a economia local<br />
fortemente dependente da produção leiteira.<br />
WEBER VAZ DE MELO, Diretor da Suinco<br />
Na suinocultura, nosso estado, especialmente<br />
o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba,<br />
aparece em destaque no cenário nacional.<br />
O “Retrato da Suinocultura Brasileira <strong>2024</strong>”,<br />
publicado pela Associação Brasileira dos Criadores<br />
de Suínos (ABCS), apresenta um panorama<br />
detalhado do setor. Segundo a ABCS, a<br />
suinocultura brasileira cresceu em várias áreas<br />
em 2023, incluindo produção, exportação e<br />
consumo doméstico. A produção nacional<br />
de suínos atingiu um recorde de 5,16 milhões<br />
de toneladas, representando 4% da produção<br />
mundial. O Brasil tornou-se o quarto maior<br />
produtor global de suínos, atrás da China,<br />
União Europeia e Estados Unidos.<br />
Uma das referências no segmento é a Suinco,<br />
localizada em Patos de Minas. A cooperativa<br />
processadora de carne suína foi fundada<br />
em 2003 por 36 produtores do Alto Paranaíba<br />
e do Triângulo Mineiro para agregar valor à<br />
produção das famílias cooperadas e industrializar<br />
a produção de suas granjas. Atualmente, a<br />
Suinco é a maior cooperativa processadora de
carne suína de Minas Gerais, referência nacional<br />
em tecnologia e processamento de carnes<br />
e derivados. Weber Vaz de Melo, Diretor Comercial<br />
e Industrial da Suinco, avaliou a publicação<br />
com exclusividade para o 100POR-<br />
CENTOAGRO. “O Retrato da Suinocultura<br />
Brasileira <strong>2024</strong> enfatiza a necessidade de investimentos<br />
contínuos em tecnologia, automação<br />
e infraestrutura para manter o crescimento<br />
sustentável do setor em Minas Gerais.<br />
A suinocultura no Alto Paranaíba, com destaque<br />
para Patos de Minas, segue como referência<br />
em eficiência produtiva e sustentabilidade,<br />
contribuindo significativamente para o posicionamento<br />
do estado como um dos líderes<br />
na produção de carne suína no Brasil”, disse.<br />
Outra riqueza de Minas Gerais, o mel e<br />
seus derivados conferem posição privilegiada<br />
para o Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e<br />
Noroeste de Minas. Conforme dados de 2022<br />
do IBGE, a produção total do estado alcançou<br />
6.165 toneladas, subindo duas posições<br />
no ranking nacional em relação a 2021, com<br />
um aumento significativo de 1.581 toneladas.<br />
A cidade de Formiga lidera a produção estadual,<br />
registrando 252 toneladas de mel. No cenário<br />
internacional, as exportações brasileiras<br />
de mel em 2022 atingiram 36 mil toneladas,<br />
gerando um faturamento de US$ 137 milhões,<br />
com um preço médio de US$ 3,74 por quilograma,<br />
segundo a Associação Brasileira dos<br />
Exportadores de Mel (ABEMEL).<br />
Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste<br />
de Minas são unanimidade nacional<br />
quando o assunto é produtividade agrícola.<br />
A presença de tecnologia avançada e uma infraestrutura<br />
logística desenvolvida contribuem<br />
para a eficiência e produtividade das atividades<br />
agrícolas, garantindo que o estado continue a<br />
contribuir de forma significativa para o desenvolvimento<br />
econômico do país. São a melhor<br />
parte do país pra produzir, com áreas menores<br />
quando comparadas ao Mato Grosso, por<br />
exemplo, porém mais rica e diversificada.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
FORMIGA lidera a produção<br />
estadual de mel<br />
39 39
IDENTIDADES FEMININAS<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
As novas identidades<br />
profissionais de mulheres<br />
no agronegócio<br />
40<br />
RAQUEL SANTOS SOARES MENEZES: Professora<br />
na Universidade Federal de Viçosa. Fundadora da<br />
Startup WantU-Agro. Professora Conselheira do Time<br />
Enactus UFV-CRP. Coordenadora da Inovalto: Centro<br />
de Inovação e Empreendedorismo da UFV, Campus<br />
Rio Paranaíba.<br />
H<br />
á cerca de dez anos, ao concluir minha<br />
primeira pesquisa sobre mulheres<br />
gestoras no Agronegócio em Minas<br />
Gerais, identifiquei um fenômeno que<br />
chamei de “identidades ancoradas”. As<br />
mulheres que entrevistei, em uma pesquisa<br />
apoiada pelo CNPQ [Conselho Nacional<br />
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico],<br />
revelaram que grandes desafios de<br />
gênero e gestão ainda persistiam nas organi-<br />
zações agroindustriais, muitas vezes de forma<br />
mais evidente do que em outros setores.<br />
Elas eram “a mulher de”, a “filha de”, a<br />
“assistente ou secretária de...”. Naquela época,<br />
a figura da mulher no Agro estava normalmente<br />
ancorada em uma figura masculina. A<br />
partir dos resultados dessa e de outras pesquisas,<br />
participei de redes de mulheres, ministrei<br />
palestras, treinamentos e coordenei projetos<br />
que buscavam contribuir para a construção<br />
de identidades profissionais das mulheres no<br />
Agronegócio. Convivendo com centenas de<br />
mulheres, muitas delas líderes de alto potencial,<br />
mas que viviam na invisibilidade, despertamos<br />
para as possibilidades de impacto que o<br />
protagonismo gera. Juntas, a partir do autorreconhecimento<br />
do nosso potencial e valor,<br />
passamos a nos fortalecer e aumentar nossa<br />
contribuição nesse setor tão importante para<br />
a economia. Hoje, estamos contribuindo de<br />
forma expressiva para navegar pelas transformações<br />
do Agro, como mudanças climáticas,<br />
exigências de segurança alimentar e aumento<br />
da tecnificação em toda a cadeia produtiva,<br />
com inúmeras inovações e a urgência da sustentabilidade<br />
– uma preocupação do presente.<br />
Hoje, 10 anos depois, reflito sobre os avanços<br />
alcançados. Minhas pesquisas recentes<br />
mostram que o fenômeno de atrelar um papel<br />
social à mulher tem relação com o “duplo-<br />
-vínculo”, que ocorre quando um indivíduo<br />
está sujeito às “sequências insolúveis de expectativas”.<br />
Em situações assim, a pessoa recebe<br />
duas ou mais “imposições” sobre como<br />
se comportar, e estas imposições entram em<br />
conflito, impossibilitando o cumprimento de
ambas. Enquanto os homens são identificados<br />
pelo “que” fazem ou “onde trabalham”,<br />
as mulheres são conhecidas por “quem” elas<br />
estão vinculadas – o pai, o marido, o gestor.<br />
Considere uma situação hipotética: “Este é o<br />
João, da Cooperativa. E esta é a Maria, esposa<br />
do João”. De imediato, poucos irão pensar<br />
que Maria pode ser sócia de João e gestora<br />
financeira da fazenda. No entanto, cada vez<br />
mais “Marias” deixam de se identificar apenas<br />
como “a esposa que ajuda o João” para se<br />
comportarem, de fato, como líderes e tomadoras<br />
de decisões que impactam os negócios<br />
da família (ou de qualquer tipo de negócios<br />
em que trabalham: cooperativas, fornecedoras<br />
de insumos, agroindústria e afins).<br />
Retomando a metáfora das “âncoras”, podemos<br />
pensar em sua finalidade original: manter<br />
o navio parado no porto. Mas, para navegar,<br />
a âncora precisa ser içada, ou seja, puxada<br />
do fundo do mar e levada junto ao navio. E,<br />
quando necessário, podemos atracar nossos<br />
navios em portos seguros novamente: nossos<br />
pais, maridos, companheiros, empregadores.<br />
Mas, como disse o escritor francês André<br />
Gide, premiado com o Nobel de Literatura:<br />
“O ser humano é incapaz de desbravar novos<br />
oceanos se não tiver a coragem de perder de<br />
vista a terra firme”.<br />
Dentre todos os fatores que têm contribuído<br />
para a construção destas novas identidades<br />
das mulheres do agronegócio, destaco a importância<br />
das redes e grupos estruturados, na<br />
forma de projetos com objetivos claros e indicadores<br />
de resultados. Os grupos fortalecem<br />
as relações entre estas mulheres e as instituições<br />
com as quais estão envolvidas. Além disso,<br />
auxiliam no aumento da capacitação profissional<br />
destas mulheres, gerando resultados<br />
de curto prazo para o negócio, e ampliando<br />
as possibilidades estratégicas no longo prazo.<br />
Outro aspecto importante é a construção de<br />
laços afetivos entre as participantes, que criam<br />
relações de confiança, apoio e inspiração mútua.<br />
Ter mulheres como referências é uma dimensão<br />
crucial para que outras se desenvolvam,<br />
principalmente como líderes.<br />
Entretanto, alguns desafios ainda permanecem.<br />
Apesar de estarmos mais presentes<br />
em eventos do agro, participando de ações<br />
estratégicas em coletivos de mulheres e contribuindo<br />
para melhorar os negócios dos quais<br />
participamos, ainda temos uma baixa representação<br />
nas principais organizações do setor.<br />
O número de mulheres presentes nos Conselhos<br />
e Órgãos de Diretoria em Cooperativas<br />
Agropecuárias, Sindicatos de Produtores<br />
Rurais e Associações de Produtores ainda é<br />
muito baixo. Em pesquisas recentes, identifiquei<br />
que no Cerrado Mineiro, por exemplo, o<br />
número de conselheiras, diretoras e executivas<br />
das cooperativas, ainda é praticamente o<br />
mesmo de 2016, quando fizemos o primeiro<br />
mapeamento (Dornela e Menezes, 2018): cerca<br />
de 3% nas Diretorias, 4% nos Conselhos e<br />
36% nas gerências.<br />
É fato que encontramos grandes mulheres<br />
à frente destas organizações, e muitas outras<br />
liderando nos bastidores, mas considero que a<br />
liderança – tanto em termos comportamentais<br />
quanto em habilidades e ferramentas que gerem<br />
influência e impacto positivo para o agronegócio,<br />
precisa ser lapidada nestas mulheres<br />
de alto potencial.<br />
Portanto, está na hora de içarmos nossas<br />
âncoras e continuarmos desbravando esse<br />
mar de oportunidades que é o agro. Ao nosso<br />
lado, devemos ter não apenas homens em<br />
quem podemos nos ancorar, mas também outras<br />
mulheres corajosas que já aprenderam a<br />
navegar e conquistar seu espaço legítimo e sua<br />
identidade profissional própria e de sucesso<br />
nesse setor.<br />
O agro precisa de mais mulheres líderes,<br />
pois a diversidade e a inclusão são os melhores<br />
caminhos para aumentar a inovação e a sustentabilidade,<br />
elementos vitais para todos os<br />
setores na era em que vivemos.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
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MERCADO DE TRABALHO<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Ainda longe do ideal, mulheres<br />
superam desafios históricos e<br />
ampliam presença no mercado<br />
de trabalho<br />
42
O<br />
agronegócio é um setor em expansão,<br />
mas as mulheres enfrentam desafios<br />
significativos para se estabelecerem<br />
nele. A falta de infraestrutura, como creches<br />
e serviços de cuidado, dificulta a conciliação<br />
entre trabalho e vida familiar. Além disso, estereótipos<br />
de gênero persistentes limitam as<br />
oportunidades de ascensão profissional.<br />
Apesar desses obstáculos, há um horizonte<br />
promissor. A maior participação feminina no<br />
agronegócio é vista como uma oportunidade<br />
NOVA GERAÇÃO: alunos e alunas<br />
do curso de Agronomia do CESG em<br />
atividade prática no campo. Em São<br />
Gotardo, proporção de mulheres no<br />
curso é de 30%<br />
para o desenvolvimento sustentável do setor<br />
e do país. Diversos programas de capacitação<br />
visam qualificar mulheres para funções especializadas,<br />
enquanto campanhas e iniciativas<br />
promovem a igualdade de gênero. Programas<br />
de apoio ao empreendedorismo também oferecem<br />
crédito e suporte para mulheres que desejam<br />
iniciar seus próprios negócios no setor.<br />
Esta reportagem especial da <strong>Revista</strong><br />
<strong>100PORCENTOAGRO</strong> explora os desafios<br />
e as oportunidades para as mulheres no mercado<br />
de trabalho do agronegócio, destacando<br />
ações concretas que estão moldando um futuro<br />
mais inclusivo e sustentável. E, para inspirar,<br />
conta histórias de mulheres atuantes em<br />
diferentes segmentos do agro, cada qual com<br />
seus sonhos, realizações, superação e muita<br />
alegria.<br />
Balde de água fria ou<br />
estímulo?<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Elisa Martins, nome fictício de uma pessoa<br />
real, ouviu um conselho desanimador ao final<br />
de mais um dia exaustivo de trabalho: “Menina,<br />
não se iluda! Você está perdendo tempo<br />
estudando agronomia, porque mulher não<br />
tem vez no campo”. A rotina diária de Elisa,<br />
em São Gotardo, começa às 7h30 e termina às<br />
17h30, sem tempo para descanso, pois logo<br />
em seguida ela tem aulas na faculdade. Tudo<br />
com um objetivo claro: fazer carreira de sucesso<br />
no agronegócio. Por mais incrível que<br />
pareça, as palavras de desestímulo foram ditas<br />
por uma mulher vitoriosa no setor, o que<br />
fez Elisa chorar e quase desistir. Mas seria isso<br />
verdade?<br />
A resposta é simples: não. Apesar dos inúmeros<br />
obstáculos, a presença feminina no<br />
campo, nas redes de serviços ligadas ao agronegócio<br />
e nos departamentos administrativos<br />
de fazendas e agroindústrias está cada vez<br />
mais forte e evidente.<br />
43
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agro<br />
jul, 24<br />
44<br />
DYOVANA RESENDE: futura agrônoma diz que<br />
mudanças importantes estão acontecendo<br />
Nova geração forjada nos<br />
bancos escolares e no dia a<br />
dia no campo<br />
Assim como faz Elisa, milhares de jovens<br />
batalham diariamente por seu sonho de fazer<br />
carreira no agronegócio. No Alto Paranaíba, em<br />
Minas Gerais, a média de alunas em cursos de<br />
agronomia das principais instituições de ensino<br />
é de 33%.<br />
Uma dessas jovens que acordam todos os<br />
dias dispostas a entregarem seu melhor pela realização<br />
do sonho é Dyovana Resende de Araújo.<br />
Nascida em Patos de Minas, Dyovana tem<br />
uma rotina intensa. Acadêmica de Agronomia<br />
da Universidade Federal de Viçosa – Campus<br />
Rio Paranaíba (UFV-CRP), ela investe seu tempo<br />
nos estudos e nas atividades do projeto Mulheres<br />
Agro UFV-CRP, como Coordenadora<br />
de Gestão Estratégica. E ainda encontra tempo<br />
para estagiar na empresa Soil Domains.<br />
Ao contrário do perfil convencional, Dyovana<br />
não vem de uma família de produtores rurais.<br />
Seu pai é caminhoneiro e a mãe dedicou-se à família.<br />
Sua irmã mais nova é estudante de Direito.<br />
“Meu interesse pelo agronegócio surgiu das<br />
visitas a parentes que viviam na roça e das experiências<br />
no sítio do meu padrinho. No IFTM,<br />
descobri minha afinidade com o agronegócio<br />
através do curso Técnico em Mineração e de<br />
um professor que me incentivou a considerar a<br />
Agronomia como carreira”, conta. Participar de<br />
eventos sobre o agro consolidou sua escolha.<br />
A pergunta “por que não agronomia?” levou<br />
Dyovana Resende a refletir profundamente sobre<br />
o futuro e a motivou a explorar uma área<br />
inicialmente distante de sua realidade.<br />
A futura agrônoma reconhece os desafios<br />
enfrentados pelas mulheres no agronegócio,<br />
especialmente em um ambiente dominado por<br />
homens. “Aqui no Cerrado Mineiro, apesar dos<br />
avanços, ainda existem casos de machismo e<br />
assédio. Contudo, há um movimento crescente<br />
para integrar mais mulheres ao setor, com empresas<br />
criando comitês contra a violência e assédio,<br />
e provendo informações sobre a importância<br />
da participação feminina”, avalia.<br />
Dyovana destaca que, embora a presença<br />
feminina esteja aumentando, o preconceito e a<br />
discriminação ainda são obstáculos a serem superados.<br />
A resistência inicial está sendo substituída<br />
por iniciativas que promovem a igualdade<br />
de gênero. Empresas e fazendas estão adotando<br />
políticas de inclusão e criando espaços seguros<br />
para as mulheres trabalharem.<br />
Orgulhosa por estudar na UFV, a acadêmica<br />
elogia a estrutura da universidade, renomada no<br />
campo das agrárias por preparar alunos e alunas<br />
para os desafios do mercado de trabalho através<br />
de uma combinação de pesquisa e prática de<br />
campo.<br />
Sobre sua atuação no programa Mulheres<br />
Agro, Dyovana Resende considera a experiência
essencial para seu desenvolvimento em liderança<br />
e comunicação, além de oferecer um primeiro<br />
contato com o mercado de trabalho.<br />
Dyovana acredita que as oportunidades para<br />
mulheres no agronegócio estão crescendo, especialmente<br />
no Cerrado Mineiro. Programas de<br />
certificação e capacitação, como os oferecidos<br />
pelo SENAR, têm sido fundamentais para a inclusão<br />
feminina no setor. “As mulheres estão se<br />
destacando, especialmente no processamento de<br />
café especial, onde muitas fazendas gerenciadas<br />
por mulheres estão sendo premiadas. A capacitação<br />
contínua é essencial para as mulheres aproveitarem<br />
plenamente as oportunidades.”<br />
Entre suas aspirações para a carreira, Dyovana<br />
espera promover uma agricultura mais<br />
sustentável e deseja inspirar mais jovens e mulheres,<br />
organizando eventos e capacitações. “O<br />
agronegócio é um espaço inclusivo e acessível<br />
para quem deseja contribuir. Quero fazer a diferença”,<br />
conclui.<br />
A nova geração tem claros os desafios e se<br />
diferencia exatamente pelo desejo de impactar<br />
positivamente o futuro do agronegócio. É neste<br />
cenário que os principais cursos de graduação<br />
em agronomia se somam ao curso ofertado pela<br />
UFV-CRP para entregarem ao mercado novos<br />
profissionais, com visão mais holística e formação<br />
técnica diversificada.<br />
No Centro de Ensino Superior de São Gotardo<br />
(CESG), 30% dos alunos do curso de Agronomia<br />
são mulheres. A coordenadora, Professora<br />
Mariana Cecília Melo, destaca as experiências<br />
práticas realizadas no curso, aplicando conhecimentos<br />
adquiridos em sala de aula. Um dos casos<br />
de sucesso no curso é o Núcleo de Estudos<br />
em Horticultura (Nehort).<br />
Para a diretora de Marketing do Nehort, Ingryd<br />
Taynah Alves, aluna do quarto período,<br />
“entre os principais obstáculos estão a desigualdade<br />
de gênero, que resulta em menos oportunidades<br />
para mulheres em posições de liderança.<br />
Frequentemente, nosso trabalho não é devidamente<br />
reconhecido e valorizado, dificultando<br />
INGRYD TAYNAH: frequentemente, nosso trabalho<br />
não é devidamente reconhecido e valorizado,<br />
dificultando nossas contrições<br />
nossas contribuições para essa área tão importante”.<br />
Ingryd considera, ainda, que a participação<br />
das mulheres em decisões de campo é limitada,<br />
com a preferência muitas vezes dada a homens,<br />
sob a justificativa de que mulheres são mais adequadas<br />
para cargos administrativos ou de vendas<br />
devido a supostas habilidades superiores de<br />
persuasão. “Competimos em um setor vasto e<br />
cheio de oportunidades, mas frequentemente somos<br />
prejudicadas apenas por sermos mulheres.<br />
Penso que profissionalismo e competência não<br />
dependem de gênero”.<br />
Na UFV-CRP as mulheres ocupam 33% das<br />
vagas no curso de agronomia. O Centro Universitário<br />
de Patos de Minas (UNIPAM) informou<br />
que a proporção de alunas nos cursos de gronegócio<br />
da Instituição é de 38%. Na Faculdade<br />
Patos de Minas (FPM) e na Faculdade Cidade<br />
de João Pinheiro (FCJP), elas ocupam 32% das<br />
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carteiras. Nestas duas instituições: FPM e PCJP,<br />
o coordenador do curso é o professor Willyder<br />
Leandro Rocha Peres. Para Willyder, está havendo<br />
uma grande mudança de cenário, com empresas<br />
multinacionais incorporando companhias<br />
brasileiras de diferentes portes. “Essas empresas<br />
vêm com uma filosofia muito diferente. Não<br />
querem mais técnicos; querem engenheiros e<br />
engenheiras. Em tecnologia e desenvolvimento<br />
de produtos, buscam pessoas especializadas. Ou<br />
seja, com pós-graduação. E, na pós-graduação,<br />
o número de mulheres aumenta drasticamente<br />
em relação aos homens essa inserção da mulher<br />
no campo é natural”. O coordenador destaca um<br />
aumento crescente da proporção de alunas em<br />
relação ao número de alunos nos cursos que ele<br />
lidera, justamente em razão da percepção dessa<br />
mudança de cenário.<br />
As mulheres e as<br />
transformações no agro<br />
A frase “lugar de mulher é na cozinha e não<br />
no campo” marcou a adolescência de Sayonara<br />
Raquel Lopes de Oliveira. Aos 39 anos, Sayonara<br />
é sócia fundadora da Insight Consultoria Administrativa<br />
e Financeira. Desde cedo, enfrentou<br />
barreiras. Nascida em uma família humilde<br />
de São Gotardo, lutou para concluir o Ensino<br />
Médio. Sua trajetória no agro começou em 2012,<br />
como auxiliar na captação de leite, após trabalhar<br />
no comércio varejista, lidando diretamente com<br />
produtores rurais.<br />
Sayonara reconhece que a participação das<br />
mulheres na agropecuária sempre foi subestimada<br />
e invisibilizada, mas o cenário está melhorando.<br />
Durante dois anos participou de um projeto<br />
de criação de um módulo de sistema voltado a<br />
postos de captação de leite, na Zona da Mata.<br />
Ela considera este momento um ponto de virada<br />
em sua carreira como gestora no agronegócio.<br />
Conciliar vida familiar e trabalho é um desafio<br />
para Sayonara. Mãe, esposa e profissional,<br />
divide seu tempo entre tarefas domésticas e estudos<br />
constantes para se especializar. “É desafiador,<br />
mas desistir nunca foi opção. Embora<br />
atualmente haja avanços na oferta de educação<br />
e formação técnica, na minha época as opções<br />
eram limitadas em algumas regiões. Tive muita<br />
dificuldade financeira para me graduar sem comprometer<br />
a renda familiar”, comenta.<br />
Sayonara concorda que o trabalho das mulheres<br />
no agro muitas vezes não é devidamente<br />
reconhecido ou valorizado. “A capacidade<br />
das mulheres de assumir papéis de liderança é<br />
constantemente subestimada, e a discriminação<br />
dificulta o avanço na carreira”. Trabalhando em<br />
uma das empresas mais conceituadas do Padap<br />
(Programa de Assentamento Dirigido do Alto<br />
Paranaíba), desenvolveu-se significativamente.<br />
“Ali consegui ser vista como a profissional que<br />
sou hoje, graças à cultura organizacional da empresa,<br />
que valoriza e promove a participação feminina<br />
em cargos de liderança.”<br />
Sayonara enfatiza a importância de manter os<br />
esforços para promover a igualdade de gênero,<br />
SAYONARA LOPES: Promover a igualdade de gênero<br />
garante um futuro mais inclusivo e sustentável para<br />
o agronegócio
garantindo um futuro mais inclusivo e sustentável<br />
das mulheres no setor. Presença regular<br />
em eventos do agro, a gestora destaca o painel<br />
“Mulheres Empreendedoras”, promovido pela<br />
FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de<br />
Minas Gerais) em 2023. “Cada dia mais mulheres<br />
estão presentes. Venho acompanhando também<br />
a criação de escolas de liderança, com nomes importantes<br />
de São Gotardo atuando firmemente<br />
nessa base, além de programas de desenvolvimento<br />
de carreira e apoio à maternidade.”<br />
Mãe de uma garota autista, que deu novo<br />
significado ao equilíbrio entre vida familiar e<br />
carreira, Sayonara cita várias iniciativas no Alto<br />
Paranaíba destinadas a promover inclusão, capacitação<br />
e empoderamento das mulheres no<br />
agro. O Serviço Nacional de Aprendizagem<br />
Rural (SENAR), por exemplo, oferece cursos e<br />
treinamentos específicos para mulheres. Diversas<br />
cidades, associações e cooperativas realizam<br />
eventos e feiras para discutir a importância da<br />
atuação feminina no agronegócio, oferecendo<br />
oportunidades de aprendizado e networking.<br />
“Promover inclusão e igualdade de gênero no<br />
setor agropecuário requer uma abordagem multifacetada,<br />
envolvendo políticas empresariais,<br />
práticas de gestão e iniciativas de apoio, além de<br />
políticas de recrutamento e seleção mais inclusivas”,<br />
conclui Sayonara Lopes.<br />
Mulheres ocupam cada vez<br />
mais cargos de gestão<br />
Ana Flávia Veronezzi, Diretora de Gestão de<br />
Pessoas da Sekita Agronegócios, é outro exemplo<br />
inspirador de dedicação e paixão pelo agronegócio.<br />
Desde a infância, seu contato com a<br />
vida no campo foi intenso, alimentando um carinho<br />
especial por tudo relacionado ao setor.<br />
Em 2010, ao concluir seu curso em Serviço<br />
Social, Ana Flávia foi convidada a integrar a equipe<br />
da Sekita Agronegócios, em Rio Paranaíba. A<br />
proposta foi feita de forma inusitada: seu futuro<br />
gestor visitou a casa de Ana Flávia pessoalmente,<br />
demonstrando um respeito que marcou profundamente<br />
sua percepção sobre a empresa. Assim<br />
Flávia Veronezzi iniciou sua trajetória no departamento<br />
de Recursos Humanos, conduzindo<br />
processos de seleção, levantando necessidades<br />
de treinamento e apoiando eventos.<br />
Desde o início de sua carreira, Ana Flávia<br />
contou com um suporte significativo de seu gestor<br />
e de uma mentoria proporcionada por Márcia<br />
Chaves, uma especialista em gestão de pessoas.<br />
Márcia foi fundamental, inspirando Ana Flávia a<br />
investir constantemente em seu conhecimento.<br />
Com o crescimento da Sekita, a área de gestão<br />
de pessoas se expandiu, levando à criação de<br />
um departamento específico. Ana Flávia assumiu<br />
a gerência desse novo departamento, sob a<br />
orientação da diretora Ana Paula Sekita, que a<br />
ajudou a equilibrar a gestão de pessoas e processos.<br />
Quando Ana Paula se afastou por razões<br />
pessoais, Ana Flávia teve a oportunidade de assumir<br />
a diretoria, respondendo ao diretor executivo<br />
Eduardo Sekita. Atualmente, ela é responsável<br />
pelas áreas trabalhista, de saúde e segurança<br />
do trabalho, além de recursos humanos.<br />
Ao longo de sua trajetória, Ana Flávia enfrentou<br />
desafios significativos, especialmente no que<br />
diz respeito ao papel da mulher no agronegócio,<br />
um setor tradicionalmente dominado por homens.<br />
Inicialmente, ela tinha receio de expressar<br />
suas ideias, mas rapidamente percebeu que esse<br />
bloqueio era mais pessoal do que imposto pelo<br />
ambiente. A empresa sempre lhe deu voz, valorizando<br />
as contribuições de todos, independentemente<br />
de gênero.<br />
Recentemente, Ana Flávia tornou-se “mamãe<br />
de dois” – forma carinhosa escolhida por<br />
ela para falar de dois filhos que deram um novo<br />
significado à sua vida, e conciliar a rotina profissional<br />
com as responsabilidades domésticas<br />
tem sido desafiador. No entanto, com o apoio<br />
de uma rede incrível e a colaboração da Sekita,<br />
ela tem conseguido desempenhar seus múltiplos<br />
papéis com sucesso.<br />
As mulheres têm conquistado cada vez mais<br />
espaço no agronegócio, e esses marcos represen-<br />
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tam avanços não apenas individuais, mas também<br />
coletivos, promovendo um ambiente mais<br />
inclusivo e diversificado. Movimentos e organizações<br />
têm apoiado as mulheres no agronegócio,<br />
destacando suas conquistas e incentivando outras<br />
a seguirem esse caminho.<br />
Ana Flávia acredita firmemente no potencial<br />
das mulheres no agronegócio do Cerrado Mineiro.<br />
Ela encoraja todas que consideram uma<br />
carreira no setor a investirem continuamente<br />
em educação e capacitação, a construírem uma<br />
rede de contatos sólida e a serem perseverantes<br />
e resilientes. Compreender o setor de forma holística<br />
e buscar mentores que realmente queiram<br />
seu crescimento são passos essenciais para uma<br />
trajetória de sucesso.<br />
A história de Ana Flávia Veronezzi comprova:<br />
com dedicação, apoio e resiliência, é possível<br />
superar desafios e alcançar grandes conquistas<br />
no agronegócio.<br />
Em <strong>2024</strong>, o projeto “Women in Business”, da<br />
Grant Thornton, celebra 20 anos de pesquisas e análises<br />
sobre a participação das mulheres no ambiente<br />
corporativo. O estudo mais recente revela<br />
dados importantes sobre o avanço<br />
feminino nas empresas e destaca a necessidade<br />
de mais ações para alcançar a<br />
igualdade de gênero.<br />
De acordo com o relatório, 85% das<br />
empresas no Brasil têm pelo menos uma mulher em<br />
posições de liderança. Esse número é significativo,<br />
mas ainda revela desafios, considerando a meta de<br />
igualdade de gênero em todas as áreas e níveis hierárquicos.<br />
O estudo destaca que a proporção de mulheres<br />
em cargos de alta liderança permanece em 32%.<br />
A pesquisa também aponta uma leve queda na<br />
quantidade de empresas que têm uma mulher no<br />
cargo de CEO, de 20% em 2022 para 19% em 2023.<br />
Esse dado sublinha a necessidade de continuar promovendo<br />
o empoderamento feminino e a quebra de<br />
barreiras no mercado de trabalho.<br />
Além disso, o relatório observa que 50% das<br />
empresas afirmam que melhorar a diversidade de<br />
gênero é uma prioridade estratégica. No entanto,<br />
a implementação efetiva dessas estratégias requer<br />
comprometimento e ações concretas por parte das<br />
lideranças empresariais.<br />
O projeto “Women in Business” destaca também:<br />
para promover mudanças reais, é essencial<br />
investir em programas de desenvolvimento de liderança<br />
feminina e criar ambientes de trabalho mais inclusivos.<br />
Essas ações não apenas beneficiam as mulheres,<br />
mas também contribuem para o crescimento<br />
e a inovação dentro das organizações.<br />
No geral, o relatório de <strong>2024</strong> celebra os avanços<br />
alcançados nas últimas duas décadas, mas reforça<br />
que ainda há um longo caminho a ser percorrido<br />
para alcançar a verdadeira igualdade de gênero no<br />
mercado de trabalho.<br />
AIBA +<br />
48<br />
E os outros segmentos, como<br />
contratam as mulheres?<br />
De Patos à Federal de Goiás:<br />
a trajetória de Naiara Caixeta<br />
Naiara Caixeta passou a infância no campo. A fazenda<br />
de seus pais, especializada em pecuária leiteira,<br />
era o palco de suas primeiras aventuras e descobertas.<br />
Localizada em uma comunidade rural no município<br />
de Patos de Minas, a fazenda era um lugar onde<br />
trabalho e família se entrelaçavam. Ali Naiara sentiu,<br />
desde cedo, uma conexão profunda com o agro.<br />
Desde pequena, observava seus pais trabalhando<br />
para manter a fazenda produtiva. As madrugadas, o<br />
aroma do leite fresco e o cuidado com os animais<br />
eram parte de sua rotina diária. A vida na fazenda<br />
não apenas moldou seu caráter, mas também despertou<br />
nela um desejo de contribuir para a melhoria das<br />
práticas agrícolas e pecuárias. Ainda menina, sonhava<br />
em ajudar sua família e a comunidade a produzir<br />
de forma mais eficiente e sustentável.<br />
Determinada a transformar esse sonho em realidade,<br />
Naiara decidiu que a educação seria o caminho.<br />
Ingressou na faculdade de Zootecnia, onde rapida-
mente se destacou. Como monitora de laboratório,<br />
mergulhou nas práticas científicas que a fascinavam.<br />
Sua curiosidade e dedicação a levaram a se envolver<br />
em projetos de iniciação científica, onde pôde<br />
explorar mais a fundo suas áreas de interesse. Além<br />
disso, atuou como professora na Escola Agrícola,<br />
compartilhando seus conhecimentos e aprendendo<br />
a importância da educação na transformação da vida<br />
das pessoas.<br />
O desejo de aprofundar seus conhecimentos a<br />
conduziu à pós-graduação. O mestrado na Universidade<br />
Federal de Lavras [UFLA] foi uma fase desafiadora,<br />
mas também extremamente enriquecedora.<br />
Naiara enfrentou dificuldades e obstáculos, mas<br />
cada desafio superado era uma lição aprendida. A<br />
experiência a preparou para os rigores do doutorado<br />
na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus<br />
Jaboticabal, onde mais uma vez demonstrou sua resiliência<br />
e paixão pela pesquisa.<br />
Nos estudos, Naiara aprendeu a importância<br />
da perseverança. Os desafios eram muitos, mas ela<br />
nunca considerou desistir. Cada obstáculo vencido<br />
a fortalecia como mulher e como profissional. Sua<br />
determinação e o amor pelo que fazia culminaram<br />
na conquista do cargo de professora na área de Forragicultura<br />
e Pastagens na Universidade Federal de<br />
Goiás (UFG).<br />
Naiara acredita que, através da educação, pode<br />
contribuir para a formação humana e social de toda a<br />
sociedade, e tem uma mensagem especial para aqueles<br />
que sonham com uma carreira na área de agrárias.<br />
Ela aconselha a serem perseverantes, constantes<br />
e proativos. “É essencial aprender a se relacionar<br />
bem com as pessoas e a manejar ferramentas tecnológicas.<br />
Manter os valores pessoais é fundamental.<br />
Para as mulheres que têm medo de seguir nessa<br />
área, o conselho é buscar a excelência profissional e<br />
se destacar da maioria”. Segundo Naiara, com essas<br />
qualidades, as oportunidades de bons empregos não<br />
faltarão.<br />
As histórias de Naiara Caixeta e de cada uma<br />
das mulheres citadas nesta reportagem representam<br />
testemunhos de como a paixão, a determinação e o<br />
compromisso com a educação podem transformar<br />
vidas e comunidades. A trajetória delas inspira não<br />
apenas futuros profissionais das agrárias, mas todos<br />
que acreditam no poder do conhecimento e da perseverança.<br />
NAIARA CAIXETA em campo com<br />
alunos e alunas da Universidade<br />
Federal de Goiás<br />
49
50
CAPA PROFISSIONALIZAÇÃO<br />
Eudes Braga:<br />
exemplo de<br />
dedicação<br />
e gestão<br />
cuidadosa<br />
na pecuária<br />
leiteira<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
E<br />
m Carmo do Paranaíba, Minas<br />
Gerais, o produtor de leite Eudes<br />
Braga tem se destacado por sua<br />
capacidade de aumentar a produtividade de<br />
sua fazenda. Braga começou sua carreira na<br />
pecuária leiteira em 2001 e, hoje, administra<br />
uma operação muito maior e mais eficiente.<br />
Entre as razões de sucesso do<br />
empreendimento estão o manejo nutricional<br />
preciso, cuidados veterinários constantes e a<br />
utilização de tecnologias modernas de gestão<br />
da propriedade.<br />
A fazenda de Eudes Braga é um exemplo<br />
de como a inovação e a gestão profissional<br />
podem transformar uma operação de<br />
pecuária leiteira. Braga enfatiza a importância<br />
de se manter atualizado com as melhores<br />
práticas do setor e de investir em tecnologias<br />
que otimizem a produção.<br />
Além disso, ele acredita que a educação<br />
contínua e a busca por conhecimento são<br />
fundamentais para o sucesso no campo.<br />
O caso de Eudes Braga é a nossa<br />
matéria de capa sobre profissionalização no<br />
agronegócio do Cerrado Mineiro.<br />
51
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
52<br />
“Eudes Braga, nascido em 13 do 7 do 77<br />
— dito assim mesmo!, no município de Carmo<br />
do Paranaíba, onde resido até hoje. Casado<br />
em 2004 com Késsya Ferreira, pai da Andressa<br />
e Júlia”. Desta forma Eudes começou o<br />
bate-papo virtual com o 100PORCENTOA-<br />
GRO para esta reportagem sobre profissionalização<br />
no agronegócio. Em seu segmento,<br />
Braga é uma das referências entre os produtores<br />
do Alto Paranaíba.<br />
Um dos grandes desafios do setor é a profissionalização<br />
de trabalhadores e de produtores.<br />
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural<br />
(SENAR) entendeu o cenário já há alguns anos<br />
e vem investindo em capacitações adequadas<br />
aos diferentes perfis Brasil adentro. Em 2023,<br />
foram 898.172 participantes em 66.985 turmas.<br />
Destaque para o programa “Negócio Certo Rural”,<br />
destinado a produtores rurais com ações<br />
de empreendedorismo e gestão. Um vigoroso<br />
sistema de ensino a distância oferta 172 cursos<br />
de formação inicial e continuada. E a formação<br />
técnica profissionalizante, focada prioritariamente<br />
no produtor, seus dependentes e colaboradores,<br />
somou 8.862 matrículas no período.<br />
O Senar proporciona também a Assistência<br />
Técnica e Gerencial (ATeG), tendo registrado<br />
65 mil atendimentos em 2023, totalizando 1,3<br />
milhão de visitas.<br />
E é exatamente na busca do conhecimento<br />
que está fundamentado o progresso de Eudes<br />
Braga. Na atividade desde 2001, tendo começado<br />
ao lado do pai, João Batista, Eudes partiu<br />
de uma pequena produção de leite. Mesmo<br />
ajudando nas tarefas de casa, não abriu mão<br />
dos estudos.<br />
“Em 2001, eu comprava queijo de leite cru<br />
na região e vendia em Belo Horizonte. Mas, o<br />
meu sonho era produzir meu próprio queijo.<br />
Em 2004, comprei uma bezerra, e não parei<br />
mais”, conta. Em 2005, já eram 30 bezerras.<br />
Passaram-se três anos até a aquisição da<br />
primeira propriedade, onde teve início a produção.<br />
Em 2009, Eudes Braga já havia conquistado<br />
sua certificação e começou a vender<br />
seus queijos no mercado da capital mineira.<br />
Hoje, seu produto chega à mesa de consumidores<br />
exigentes não apenas em Belo Horizonte,<br />
mas nas principais cidades do Triângulo<br />
Mineiro, São Paulo e Rio de Janeiro.<br />
Um dos aprendizados mais valorizados<br />
pelo produtor é a importância de investir em<br />
genética, conforto e bem-estar dos animais. É<br />
neste cenário que ele produz 12 mil litros de<br />
leite/dia. O plano é audacioso: chegar aos 25<br />
mil litros/dia em 2026.<br />
Especificamente sobre bem-estar animal,<br />
o produtor entende: “Vaca precisa ser tratada<br />
igual a ser humano; ela gosta de rotina, de<br />
comida de qualidade, água limpa, temperatura<br />
confortável”. O manejo deve ser feito por<br />
gente especializada e bem capacitada.<br />
PLANEJANDO FICA MAIS FÁCIL: Tudo parte<br />
de um sonho, mas é fundamental planejar antes<br />
de realizar. Olhando para o início, Braga<br />
avalia que as chances de sucesso do negócio<br />
eram de apenas 1%, exatamente porque faltou<br />
planejar mais e se informar melhor. “A diferença<br />
é que eu trouxe as pessoas certas para<br />
caminharem comigo, e apostei bastante em<br />
assistência técnica. Os resultados de hoje são<br />
frutos dessas parcerias”.<br />
Braga conta que, no começo, a estrutura<br />
era bem precária. A primeira novilha era ordenhada<br />
na mão pelo pai dele. Sua mãe, Maria<br />
Aparecida, fez o primeiro queijo apoiada<br />
sobre um fogão a lenha, em um tabuleiro de<br />
assar bolo. “Por mais que houvesse esse fator<br />
afetivo do primeiro queijo, para o mercado era<br />
só mais um queijo. Hoje, passa um filme na<br />
cabeça. Eu lembro da luta para não ser apenas<br />
mais um queijo, mas para ser ‘o queijo’. Nós<br />
conseguimos, e valeu a pena tanto esforço”.<br />
A IMPORTÂNCIA DO TERROIR: A produção<br />
do Queijo Minas Artesanal está 100% ligada<br />
ao terroir. Onde ele é produzido. “A fazen-
evista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
da está dentro do bioma Cerrado, altitude de<br />
1.030, lençol freático bem raso, com água boa<br />
a 20 m de profundidade. Nossa temperatura é<br />
amena, e varia dos 20 aos 28 graus. Tudo isso<br />
confere ao queijo produzido por nós características<br />
bem próprias: suave, sabor adocicado<br />
e amanteigado, lembrando muito algumas frutas<br />
cítricas, com teor de proteínas bem alto”,<br />
explica.<br />
Os animais são da raça holandesa, de genética<br />
privilegiada, capazes de entregar bastante<br />
sólidos, com alto volume de leite. São realizadas<br />
três ordenhas ao dia. A ordenha da manhã<br />
é direcionada à produção do queijo. “Vai<br />
direto da ordenha mecânica para a queijaria.<br />
Não é laticínio, é queijaria, porque é leite cru.<br />
São 400 litros de leite em oito minutos, sem<br />
contato humano. Mede-se diariamente o pH<br />
do leite e, estando em nível adequado, entra<br />
no processo de adequação à receita exclusiva<br />
da fazenda”. O detalhe é que a prensagem do<br />
queijo é realizada, obrigatoriamente, por pessoas,<br />
sem uso de qualquer máquina. O processo<br />
todo, entre a captação do leite e a preparação<br />
do queijo para a comercialização, dura 22<br />
dias. Neste momento, o queijo é embalado a<br />
GENÉTICA: fazenda oferta genética da raça<br />
holandesa, atendendo clientes do Brasil todo e<br />
até no exterior<br />
vácuo e destinado à câmara fria, onde permanece<br />
monitorado até ser comercializado.<br />
VALOR DAS CERTIFICAÇÕES: Nada nos processos<br />
de produção dos queijos Eudes Braga é<br />
feito simplesmente para passar na fiscalização<br />
ou em uma auditoria. Já existe incorporada na<br />
cultura da fazenda a preocupação com qualidade<br />
e rastreabilidade. A regulamentação é<br />
vista como essencial pelo produtor.<br />
“Toda e qualquer certificação está fundamentada<br />
em boas práticas, porque estamos<br />
falando de um alimento”, conta. A fazenda<br />
nunca perdeu nenhuma certificação desde a<br />
primeira conquistada, em 2009.<br />
Outro ponto vital no empreendimento é<br />
que lá não se pergunta quanto custa e, sim,<br />
quanto entrega. A fazenda não abre mão de<br />
tecnologia e de conhecimento para sempre<br />
aperfeiçoar a fabricação de queijos.<br />
DIVERSIFICAÇÃO: Eudes Braga conseguiu alcançar<br />
um nível genético de excelência e, por<br />
conta disso, consegue ofertar no mercado, o<br />
53
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
54<br />
ano todo, animais de qualidade reconhecida e valorizada,<br />
sejam machos reprodutores ou fêmeas leiteiras.<br />
O queijo é somente um dos quatro centros de<br />
custo da fazenda, compondo com a venda de animais<br />
os principais itens de sustentação financeira<br />
do empreendimento.<br />
Outra vertente é a genética da raça holandesa,<br />
atendendo clientes do Brasil todo e até no exterior.<br />
CONSELHOS DE QUEM ENTENDE: O futuro do<br />
queijo depende do produtor. Eudes Braga considera<br />
essencial buscar a profissionalização da atividade,<br />
investindo em gestão de processos. Precisa<br />
preparar o terreno para realizar uma boa sucessão.<br />
“Eu vejo muitos pequenos produtores deixando a<br />
atividade no futuro porque se descuidam da sucessão.<br />
E o contrário é verdadeiro: quem está fazendo<br />
tudo certinho e pensando na sucessão está com o<br />
futuro mais tranquilo”.<br />
Em relação à gestão, a dica de ouro é ter atenção<br />
aos números. Qualquer negócio deve olhar sempre<br />
com cuidado redobrado para os dados. “A produção<br />
de queijo é viável? A produção de leite é viável?<br />
Sim, desde que se tenha uma base forte. E essa base<br />
forte chama-se gestão. Muitos sabem quanto entra<br />
no caixa, mas desconhecem quanto custa. Pra começar,<br />
precisa ter caderno, papel, lápis e borracha<br />
em cima de uma mesa, planejando. Os números dizem<br />
para onde devemos ir e em qual velocidade”,<br />
ensina Eudes Braga.<br />
Um dos maiores estímulos para seguir no empreendimento<br />
e torná-lo cada vez mais próspero,<br />
são as pessoas envolvidas. Atualmente, junto com<br />
Eudes e a esposa, outras 18 pessoas trabalham diretamente<br />
no negócio. “Temos o nosso papel social,<br />
de dar a essas pessoas a oportunidade de terem um<br />
lugar para trabalhar, onde possam ser reconhecidas<br />
e valorizadas”.<br />
Quando fala de sustentabilidade econômica,<br />
Eudes Braga também coloca as pessoas no centro<br />
porque é da fazenda que cada um tira seu sustento.<br />
“E sustento não é apenas o pão na mesa. Quero<br />
educar meus filhos adequadamente, e desejo isso<br />
também para os colaboradores”, conclui.<br />
QUALIDADE: Não se usa<br />
máquinas na prensagem do<br />
queijo, realizada, exclusivamente<br />
por pessoas treinadas. Desde<br />
a captação do leite até a<br />
preparação do queijo para a<br />
comercialização, o professo dura<br />
22 dias.Os queijos chegam a<br />
consumidores de Belo Horizonte<br />
e das principais cidades do<br />
Triângulo Mineiro, São Paulo e<br />
Rio de Janeiro
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
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ABACATES DO BRASIL<br />
revista<br />
100<br />
orcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
BBC diz que Brasil tem<br />
desafios ambientais na<br />
produção de abacates.<br />
ABPA se posiciona<br />
56 56
evista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
A<br />
produção de abacates no Brasil<br />
enfrenta desafios ambientais,<br />
como desmatamento e uso<br />
intensivo de água. A informação foi<br />
tema de uma reportagem publicada<br />
pela BBC Brasil em seu site no dia<br />
27 de julho. Com o título “Por que o<br />
cultivo de abacate virou ameaça ao<br />
meio ambiente”, o texto, assinado por<br />
Thomas Davies, pesquisador honorário<br />
do Centro Ambiental da Universidade<br />
de Lancaster, no Reino Unido, foi<br />
publicado originalmente em inglês<br />
no site de notícias acadêmicas “The<br />
Conversation”.<br />
Associação Abacates do Brasil<br />
(ABPA) em São Gotardo, o produtor<br />
Hugo Shimada. Hugo é tesoureiro da<br />
ABPA e informou que a Associação<br />
demonstrou estranheza em relação<br />
à matéria da BBC. E, em entrevista<br />
exclusiva, o presidente da entidade,<br />
Adilson Luis Penariol, disse que<br />
respeitam a posição do pesquisador,<br />
porém entende que Thomas Davies<br />
apresentou uma visão sobre a<br />
produção mexicana, e caberia aos<br />
mexicanos responder.<br />
No início, quando a reportagem foi<br />
publicada, o <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />
ouviu um dos representantes da<br />
57 57
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
58<br />
Segundo a reportagem da BBC, a expansão<br />
dos pomares de abacate está ligada ao desmatamento<br />
e ao uso excessivo de recursos hídricos.<br />
A Associação Brasileira dos Produtores<br />
de Abacate (ABPA) se posicionou rapidamente.<br />
Na matéria, a BBC relata que os agricultores<br />
têm utilizado métodos intensivos de irrigação<br />
para manter a produtividade, levando<br />
ao uso insustentável da água. Além disso, “a<br />
expansão das áreas cultivadas tem sido associada<br />
ao desmatamento, uma vez que novos<br />
pomares são frequentemente estabelecidos<br />
em áreas anteriormente ocupadas por florestas<br />
nativas”, diz o texto.<br />
A produção de abacate no Brasil cresceu<br />
53% entre 2017 e 2022, de acordo com dados<br />
da BBC Brasil, passando de 7.257 para 11.125<br />
hectares. Este aumento é impulsionado pela<br />
demanda internacional, especialmente dos<br />
mercados dos Estados Unidos e da Europa.<br />
Esse crescimento reflete uma tendência global,<br />
onde o consumo de abacates se torna cada<br />
vez mais popular devido aos benefícios nutricionais<br />
da fruta, rica em vitaminas e gorduras<br />
saudáveis.<br />
Os problemas ambientais estariam gerando<br />
preocupações entre ambientalistas e especialistas.<br />
A produção de um único abacate consome<br />
cerca de 70 litros de água, um volume considerável<br />
em regiões com escassez hídrica. O<br />
uso excessivo de água na agricultura tem sido<br />
um tema recorrente em debates sobre sustentabilidade,<br />
especialmente em países com recursos<br />
hídricos limitados.<br />
Em resposta às alegações da matéria, a<br />
ABPA defende que os pomares permanentes<br />
capturam carbono, contribuindo para a mitigação<br />
das mudanças climáticas. A cultura do<br />
abacate e do avocado envolve pomares permanentes<br />
com vida útil de 40 anos, segundo<br />
a ABPA. Aliás, avocado é um termo utilizado<br />
para a variedade Hass – significa abacate em<br />
inglês, destinada mais para o mercado externo<br />
por questões culturais. Já o abacate tropical,<br />
mais conhecido no Brasil, possui diversas variedades<br />
e é produzido o ano todo no país. Os<br />
produtores têm compromisso com a sustentabilidade<br />
a longo prazo.<br />
Especialistas mencionados na matéria da<br />
BBC Brasil enfatizam a necessidade de políticas<br />
públicas mais eficazes para regular a expansão<br />
dos pomares e proteger os recursos<br />
naturais. “É essencial encontrar um equilíbrio<br />
entre o crescimento econômico e a conservação<br />
ambiental”, pontua o autor da matéria. A<br />
falta de regulamentação adequada pode levar<br />
a práticas agrícolas insustentáveis, comprometendo<br />
não apenas o meio ambiente, mas também<br />
a viabilidade econômica da produção a<br />
longo prazo.<br />
As iniciativas para aumentar a sustentabilidade<br />
incluem tecnologias mais eficientes de<br />
irrigação e práticas agrícolas que minimizem<br />
o impacto ambiental. Alguns produtores buscam<br />
certificações ambientais, demonstrando<br />
compromisso com a sustentabilidade. A adoção<br />
de sistemas de irrigação por gotejamento,<br />
por exemplo, pode reduzir significativamente<br />
o consumo de água, garantindo que a produção<br />
de abacate seja mais eficiente e sustentável.<br />
A matéria da BBC também menciona esforços<br />
de alguns produtores para obter certificações<br />
ambientais, demonstrando um compromisso<br />
crescente com a sustentabilidade no<br />
setor. Essas certificações podem abrir novos<br />
mercados e agregar valor ao produto brasileiro,<br />
destacando a responsabilidade ambiental<br />
dos produtores.<br />
CONTEXTO REGIONAL: De acordo com o<br />
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
(IBGE), os maiores produtores de abacate no<br />
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba são: Rio<br />
Paranaíba, com uma produção de 15.930 toneladas;<br />
Sacramento (6.500 toneladas); Monte<br />
Carmelo (4.186 toneladas) e Uberaba (3.780
toneladas).<br />
Esses municípios têm contribuído significativamente<br />
para a produção de abacate na região,<br />
e o cultivo dessa fruta tem sido lucrativo<br />
para os agricultores.<br />
O abacate é uma cultura com grande potencial<br />
de consórcio com outras espécies, como o<br />
café, proporcionando um bom complemento<br />
de renda para os produtores em Minas Gerais.<br />
Essa prática é tão forte na região a ponto de ser<br />
tema de um evento regional promovido anualmente<br />
pela Associação de Apoio aos Produtores Rurais<br />
da Região de São Gotardo (Assogotardo). Durante<br />
um dia, dois encontros simultâneos reúnem produtores<br />
de café e de abacate no Parque de Exposições<br />
de São Gotardo.<br />
“Atualmente utilizamos inimigos naturais<br />
conhecidos como tricogramas, espalhados via<br />
drones nas lavouras de abacate e avocado para<br />
combater a broca”, explica Hugo Shimada, tesoureiro<br />
da ABPA e produtor rural no Alto<br />
Paranaíba. Shimada cita, ainda, o importante<br />
trabalho realizado pela Associação de Irrigantes<br />
com o objetivo de profissionalizar a gestão<br />
dos recursos hídricos. “A construção de barramentos<br />
ajuda a represar a água no período das<br />
chuvas e armazenar essa água em piscinões,<br />
contribuindo para o fluxo normal dos rios”.<br />
No Alto Paranaíba, há predominância das<br />
variedades Margarida e Breda, pelo fato de a<br />
colheita ser realizada no período de menor<br />
oferta no mercado nacional. Os principais<br />
produtores regionais são os cooperados da<br />
Cooperativa de Agronegócios do Cerrado<br />
Brasileiro (Coopacer), Cooperativa Agropecuária<br />
do Alto Paranaíba (Coopadap) e Assogotardo.<br />
A controvérsia em torno da produção de<br />
abacate no Brasil destaca a complexidade de<br />
equilibrar desenvolvimento agrícola com a<br />
preservação ambiental. Enquanto a demanda<br />
internacional por abacate continua a crescer, é<br />
imperativo que produtores e autoridades trabalhem<br />
juntos para garantir que a expansão<br />
dos pomares seja feita de maneira sustentável,<br />
protegendo os recursos naturais e promoven-<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
TECNOLOGIA NO ALTO PARANAÍBA: em<br />
uma das plantações da Shimada Agronegócios,<br />
cuidado começa antes de plantio<br />
59
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
60<br />
do práticas agrícolas responsáveis.<br />
ENTREVISTA EXCLUSIVA: Para o presidente<br />
da ABPA, o autor do artigo, Thomas<br />
Davies, está se referindo à produção mexicana<br />
de abacates e não ao Brasil. Penariol começou<br />
no setor em 2020, como CEO de um grupo<br />
de fazendas no Sul de Minas. A partir de abril<br />
de 2022, tornou-se sócio e gestor de um novo<br />
empreendimento, com plantios de avocados<br />
Hass, na Serra da Mantiqueira. Em março deste<br />
ano, assumiu a presidência da ABPA, com<br />
mandato de 2 anos.<br />
<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Como o senhor<br />
situa Minas Gerais, no geral, e o Alto<br />
Paranaíba, em particular, no cenário atual da<br />
produção brasileira de abacates?<br />
Adilson Penariol: O estado de Minas Gerais<br />
é o segundo maior produtor de abacates<br />
do Brasil, atrás somente de São Paulo, porém,<br />
com forte crescimento da área plantada, podendo<br />
tornar-se, em breve, o maior produtor<br />
do país. O Alto Paranaíba é um tradicional<br />
produtor, com mais de 30 anos no segmento,<br />
com destaque para Rio Paranaíba, maior produtor<br />
nacional.<br />
De início, falou-se em uma nota de<br />
repúdio da ABPA. O senhor poderia<br />
explicar o posicionamento da entidade<br />
em relação à matéria da BBC Brasil?<br />
A ABPA prefere não tratar o assunto como<br />
uma nota de repúdio e, sim, falar das virtudes<br />
e potencialidades do setor. Respeitamos a posição<br />
do pesquisador, porém entendemos que<br />
foi uma visão sobre a produção mexicana, e<br />
eles [os mexicanos], sim, devem responder sobre<br />
o tema.<br />
Quais são os argumentos principais<br />
da ABPA em defesa dos produtores<br />
brasileiros de abacate?<br />
A produção de abacates do Brasil respeita<br />
a legislação do país. Além de utilizar outras<br />
técnicas e manejo, temos uma produtividade<br />
elevada, com qualidade. A sustentabilidade é o<br />
nosso foco. Destacamos o uso de produtos de<br />
origem biológica, utilizamos manejo integrado<br />
de pragas, adubação com organomineirais<br />
e irrigação, nas regiões onde ela seja necessária,<br />
com equipamentos modernos que geram<br />
baixo consumo de água por hectare.<br />
Em relação à sustentabilidade na<br />
produção de abacate, a matéria da BBC<br />
menciona preocupações ambientais<br />
significativas, como desmatamento e<br />
uso intensivo de água. Como a ABPA<br />
responde a essas preocupações?<br />
O Brasil ocupa hoje a sétima posição entre<br />
os maiores produtores de abacates do mundo,<br />
com produção em torno de 320 mil tonela-<br />
ADILSON LUIS PENARIOL: Presidente da ABPA
das/ano, e não necessita desmatar nenhum<br />
hectare para se tornar um produtor ainda mais<br />
relevante no setor. Temos áreas disponíveis<br />
para aumentar nosso cultivo, sejam elas no<br />
Sudeste ou no Nordeste, o que demonstra<br />
nosso potencial. Já em relação ao uso da água,<br />
temos diversas regiões de produção, onde não<br />
é necessário o uso da irrigação suplementar.<br />
Na maioria delas, basta uma irrigação complementar.<br />
Em países como Peru, Chile e algumas<br />
regiões do México, o uso da água é necessário<br />
em todo o ciclo da cultura.<br />
Quais são as práticas sustentáveis que<br />
a ABPA está promovendo entre seus<br />
associados para minimizar o impacto<br />
ambiental da produção de abacate?<br />
Adoção de manejo integrado de pragas,<br />
uso de produtos biológicos no manejo da<br />
produção, uso racional da água em irrigação<br />
suplementar, utilização de fertilizantes organominerais,<br />
dentre outras.<br />
Certificações e Tecnologias Sustentáveis: a<br />
matéria também menciona esforços de alguns<br />
produtores para obter certificações ambientais<br />
e implementar tecnologias mais eficientes<br />
de irrigação. Como a ABPA apoia essas<br />
iniciativas entre seus membros?<br />
Nós atuamos para os produtores poderem<br />
exportar parte de nossa produção de abacates,<br />
pois o maior consumo da produção se concentra<br />
no mercado interno, e nossa produção<br />
voltada à exportação necessita de certificações<br />
específicas de cada país, sempre determinadas<br />
pelos nossos compradores. É através da parceria<br />
entre exportador e importador que se estabelecem<br />
as regras de certificação. Por exemplo,<br />
para chegarmos com nossos produtos ao<br />
mercado europeu, precisamos ter, no mínimo,<br />
a certificação Global Gap, e cada comprador<br />
pode ou não estabelecer a necessidade de mais<br />
certificações, como Rain Forest.<br />
A ABPA está envolvida em iniciativas<br />
para influenciar ou colaborar na criação<br />
de políticas públicas que equilibrem<br />
o crescimento econômico com a<br />
conservação ambiental?<br />
Sim. A ABPA, juntamente com a Abrafrutas<br />
[Associação Brasileira dos Produtores e<br />
Exportadores de Frutas e Derivados], entidade<br />
da qual somos membros, participa ativamente<br />
das discussões setoriais, com entidades<br />
governamentais e privadas, sempre em busca<br />
de um equilíbrio entre manter a cadeia gerando<br />
riqueza para os participantes, bem como<br />
preservando e mantendo o uso da água e o<br />
meio ambiente preservado. Temos que tomar<br />
um grande cuidado nestas tratativas, pois, se<br />
os produtores envolvidos nesta cadeia não tiverem<br />
a remuneração adequada ao risco e ao<br />
capital aportados na cultura, vão deixar a produção<br />
e buscar alternativas mais viáveis.<br />
Com o aumento da demanda internacional<br />
por abacates brasileiros, como a ABPA planeja<br />
garantir que essa expansão seja sustentável no<br />
longo prazo?<br />
A associação está finalizando seu planejamento<br />
estratégico, debatendo com suas lideranças<br />
o futuro da entidade no curto e médio<br />
prazos. Ou seja, como ela poderá ajudar<br />
seus associados a obterem lucro na atividade,<br />
produzindo um alimento de qualidade, hoje<br />
considerado o mais completo que existe, com<br />
responsabilidade social e ambiental. Somente<br />
neste formato, poderemos crescer ainda mais<br />
e colocar alimentos saudáveis na mesa dos<br />
consumidores locais e mundiais.<br />
LEIA O ORIGINAL NA ÍNTEGRA:<br />
What actually makes avocados<br />
bad for the environment?<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
61
PECUÁRIA DE CORTE<br />
revista<br />
100<br />
orcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Pecuária brasileira<br />
ganha fôlego com alta no<br />
confinamento de gado,<br />
queda nos insumos e clima<br />
62 62<br />
VISTA AÉREA de confinamento da L2 em Tiros (MG),<br />
com capacidade estática para 4500 bois e abate<br />
aproximadamente 12mil cabeças anualmente
A<br />
queda nos preços do milho e do<br />
farelo de soja, juntamente com<br />
condições climáticas adversas, está<br />
impulsionando o aumento do confinamento<br />
de gado no Alto Paranaíba. Léo Boiadeiro<br />
e Guilherme Lessim, pecuaristas da região,<br />
confirmam essa tendência e destacam a<br />
adoção de estratégias para lidar com a<br />
alta oferta de carne e pressão sobre os<br />
preços. A redução no envio de fêmeas para<br />
confinamento pode sinalizar uma retomada<br />
do ciclo pecuário, afetando a produção e os<br />
preços locais.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
A queda nos preços do milho e do farelo<br />
de soja, juntamente com condições climáticas<br />
adversas, está impulsionando o aumento do<br />
confinamento de gado no Alto Paranaíba. Léo<br />
Boiadeiro e Guilherme Lessin, pecuaristas da<br />
região, confirmam essa tendência e destacam<br />
a adoção de estratégias para lidar com a alta<br />
oferta de carne e pressão sobre os preços. A<br />
redução no envio de fêmeas para confinamento<br />
pode sinalizar uma retomada do ciclo pecuário,<br />
afetando a produção e os preços locais<br />
A Consultoria Agromove aponta um crescimento<br />
no confinamento de gado no Brasil,<br />
impulsionado pela queda nos preços do milho<br />
e do farelo de soja, além das condições climáticas<br />
adversas. Mato Grosso, com o maior rebanho<br />
do país, registrou 724,90 mil animais<br />
em confinamento, um aumento de 1,09% em<br />
relação a 2023, segundo o Imea. Alberto Pessina,<br />
CEO da Agromove, destaca: “O aumento<br />
nas intenções de confinamento se deve ao<br />
maior poder de compra dos confinadores e à<br />
melhora na relação de troca dos insumos”. No<br />
Alto Paranaíba, a realidade é bem semelhante,<br />
na avaliação de dois pecuaristas importantes:<br />
Léo Boiadeiro (L2 Agronegócios, de São Gotardo)<br />
e Guilherme Lessin (Confina Agronegócios,<br />
de Patos de Minas).<br />
De acordo com o Instituto Mato-grossense<br />
de Pesquisa Agropecuária (Imea), 57,27% dos<br />
63 63
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
64<br />
animais confinados em <strong>2024</strong> serão abatidos<br />
no segundo semestre. A redução no envio de<br />
fêmeas para confinamento sinaliza uma retomada<br />
do ciclo pecuário prevista para o final<br />
de <strong>2024</strong>. Entretanto, a oferta elevada de carne<br />
continuava a pressionar os preços do boi gordo,<br />
com uma média de R$ 209,35/@ em maio<br />
de <strong>2024</strong>. A produção de carne bovina deve alcançar<br />
11,21 milhões de toneladas em <strong>2024</strong>,<br />
um aumento de 2,37% em relação a 2023,<br />
com exportações crescendo 1,14%, segundo<br />
o Departamento de Agricultura dos Estados<br />
Unidos (USDA).<br />
A oferta interna de carne aumentou 14,33%<br />
até maio de <strong>2024</strong>, e as exportações cresceram<br />
36,6% no mesmo período, ajudando a aliviar<br />
a pressão sobre o mercado interno. Alberto<br />
Pessina recomenda cautela: “O produtor deve<br />
proteger suas negociações, pois qualquer alteração<br />
na demanda pode impactar os preços”.<br />
Ele conclui que a estratégia é fundamental<br />
para passar por esta fase com tranquilidade<br />
PECUARISTAS DO ALTO PARANAÍBA ANALI-<br />
SAM O CENÁRIO: A queda nos preços do milho<br />
e do farelo de soja, juntamente com condições<br />
climáticas adversas, está impulsionando<br />
o aumento do confinamento de gado no Alto<br />
Paranaíba. Léo Boiadeiro e Guilherme Lessin,<br />
pecuaristas da região, confirmam essa tendência<br />
e destacam a adoção de estratégias para lidar<br />
com a alta oferta de carne e pressão sobre<br />
os preços. A redução no envio de fêmeas para<br />
confinamento pode sinalizar uma retomada<br />
do ciclo pecuário, afetando a produção e os<br />
preços locais.<br />
Lessin atua no mercado pecuário desde<br />
2006. Iniciou sua trajetória no ramo de nutrição<br />
animal e se dedica a entregar soluções para<br />
seus clientes. Em 2010, avançou para a comercialização<br />
da linha de pastagem e equipamentos<br />
voltados especialmente para a pecuária de<br />
corte.<br />
Por sua vez, Léo Boiadeiro fundou a L2<br />
Agronegócios em 2007, inspirado pelo pai,<br />
produtor rural. Apostando na rotação de culturas,<br />
Léo optou pelo plantio de cereais, necessários<br />
também para a bovinocultura, que<br />
permanece até hoje como um dos pilares da<br />
L2. Após a colheita da segunda safra de batata,<br />
Léo adquiriu a Fazenda Boi Gordo, que<br />
se tornou a sede administrativa da L2, abrigando<br />
toda a estrutura de beneficiamento,<br />
áreas de plantio e o confinamento de gado.<br />
Em 2010, Bruna, esposa de Léo, passou a<br />
apoiar as atividades administrativas e financeiras<br />
da empresa, atuando até hoje como<br />
Diretora Administrativa. Atualmente, o confinamento<br />
de gado da L2 Agronegócios tem<br />
capacidade estática para 4.500 bois e abate<br />
aproximadamente 12 mil cabeças anualmente.<br />
<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Em sua opinião, quais<br />
os principais fatores que impulsionam o aumento<br />
do confinamento na região, como a<br />
queda nos preços do milho e do farelo de soja<br />
e as condições climáticas adversas?<br />
GUILHERME LESSIN: A região em que Patos<br />
de Minas está localizada é pujante na produção<br />
leiteira, assim como grande produtora de<br />
grãos e produtos de HF. Como consequência<br />
são gerados subprodutos dessas culturas utilizadas<br />
na alimentação animal, especialmente<br />
em animais de corte, alavancando os confinamentos<br />
da região. Atrelado a isso, percebemos<br />
a migração de alguns produtores de leite para<br />
o corte, onde a principal atividade é a recria de<br />
machos e fêmeas e isso leva a necessidade de<br />
confiná-los para melhor obtenção de acabamento<br />
desses animais. Com menores índices<br />
pluviométricos e, consequentemente, maior<br />
degradação das pastagens , o pecuarista se vê<br />
obrigado a confinar seu rebanho para terminação<br />
desses animais evitando sua perda de<br />
peso. Com o enfrentamento da baixa de ciclo<br />
pecuário e com o preço da arroba retraído,<br />
o produtor precisa de um animal com valor
agregado, assim como a antecipação do abate.<br />
E isso ele consegue com eficiência, por meio<br />
do confinamento.<br />
Com a redução no envio de fêmeas<br />
para confinamento, como o sr. avalia a<br />
retomada do ciclo pecuário prevista para<br />
o final de <strong>2024</strong>?<br />
A redução de fêmeas para abate em final<br />
de ciclo é um evento natural, uma vez que<br />
ocorreu um grande volume de abate dessas<br />
matrizes ,em função do baixo valor dos bezerros,<br />
que é a principal fonte de renda do pecuarista<br />
de cria. Com esse alto índice de abate<br />
e a necessidade de fêmeas voltadas para a reprodução,<br />
teremos para a estação de monta<br />
em <strong>2024</strong>/2025 um volume de matrizes muito<br />
abaixo do necessário para suprir a demanda<br />
de bezerros, assim como sua reposição para<br />
os próximos anos. Portanto, acredito em uma<br />
retomada, incialmente, no valor de reposição<br />
(bezerros) bastante acentuada (2025/2026) e,<br />
logo após, a tendência é que o valor do boi<br />
acabado acompanhe esse posicionamento pa-<br />
-ra manter o poder de compra dessa reposição.<br />
Outro fator que influenciará na alta dessa<br />
arroba é justamente a menor oferta de fêmeas<br />
no mercado. O grande concorrente do preço<br />
da arroba do boi é a arroba da vaca. Com menos<br />
fêmea a tendência é que a arroba do boi<br />
seja elevada, ou seja, com o valor de bezerro<br />
elevado, as fêmeas que seriam destinadas para<br />
o confinamento, são levadas para o sistema de<br />
reprodução. Com isso a diminuição da oferta<br />
para o abate.<br />
Diante da oferta elevada de carne e da<br />
pressão sobre os preços do boi gordo,<br />
quais estratégias o sr. recomenda aos<br />
produtores para enfrentar este cenário?<br />
Diante desse cenário, a adequada compra<br />
e utilização de insumos precisa ser levada em<br />
consideração para a tomada de decisão. Além<br />
disso, no momento em que esses animais forem<br />
fechados para confinamento, faz-se necessário<br />
que o pecuarista consiga uma garantia<br />
de venda, seja trava ou boi a termo para conseguir<br />
custear a operação.<br />
Qual a sua perspectiva para o futuro do<br />
mercado de carne bovina, considerando o<br />
aumento da produção e das exportações,<br />
e quais os desafios e oportunidades que<br />
o sr. identifica para os produtores da<br />
região?<br />
Nesse contexto, faz-se mister que o produtor<br />
vinculado à cadeia de produção de carne,<br />
esteja bem posicionado em <strong>2024</strong> para que<br />
no próximo ano comece a colher bons resultados<br />
na alta do ciclo. Estoque de animais,<br />
estrutura funcional da propriedade (pasto e<br />
confinamento), são bons exemplos desse posicionamento<br />
e assim obter o melhor resultado<br />
nesse período. A pecuária é uma atividade<br />
de longo ciclo e possui contextos de altas e<br />
baixas de aproximadamente cinco anos. Sendo<br />
assim, na alta é importante obter o máximo<br />
de resultado para suprir os momentos de<br />
baixa. O mercado pecuário deve ser avaliado<br />
pelo ciclo e não pelo ano.<br />
<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Como você vê<br />
o impacto da queda nos preços dos<br />
insumos, como milho e farelo de soja, no<br />
aumento da intenção de confinamento na<br />
região do Alto Paranaíba?<br />
LÉO BOIADEIRO: Acredito que não terá esse<br />
aumento na região do Alto Paranaíba.<br />
As condições climáticas, especialmente<br />
a estação seca e fria, têm levado os<br />
pecuaristas da região a adotar mais<br />
o confinamento? Pode explicar essa<br />
dinâmica?<br />
Sim. Hoje, devido a essa adversidade climática<br />
que estamos enfrentando, o pecuarista<br />
precisa adotar estratégias de confinamento e<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
65
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
parcerias (boitel) para diminuir a carga de gado<br />
da fazenda, tirando o boi e repondo bezerro.<br />
Quais estratégias você e outros<br />
pecuaristas do Alto Paranaíba estão<br />
adotando para lidar com a alta oferta de<br />
carne e a pressão sobre os preços do boi<br />
gordo?<br />
Atualmente fazemos trava na bolsa para<br />
assegurar o preço da @ e garantir uma rentabilidade<br />
na operação. Mas, infelizmente, não<br />
é uma realidade do mercado, devido à falta de<br />
conhecimento ou abertura do próprio pecuarista<br />
para aprender a operar. Assim, a grande<br />
maioria dos pecuaristas fica refém do mercado.<br />
O Imea indicou um aumento no<br />
confinamento em Mato Grosso. Você<br />
percebe um movimento semelhante na<br />
nossa região? Se sim, a que atribui esse<br />
crescimento?<br />
Não percebo esse movimento no Alto Paranaíba.<br />
A redução no envio de fêmeas para<br />
o confinamento pode sinalizar uma<br />
retomada do ciclo pecuário. Você acredita<br />
que essa tendência se aplica ao Alto<br />
Paranaíba? Como isso impacta os preços<br />
e a produção local?<br />
Sim. O ciclo pecuário acontece na cadeia<br />
nacional com a redução no abate de fêmeas<br />
e oferta de bezerros. O primeiro impacto é a<br />
valorização do bezerro e a retenção de fêmeas<br />
para cria.<br />
66<br />
Ciência a favor da<br />
pecuária<br />
A Embrapa Gado de Corte desenvolve<br />
tecnologias para aumentar a produtividade<br />
da pecuária de corte no Brasil de forma<br />
sustentável. O setor de Pesquisa e<br />
Desenvolvimento está dividido em três
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
grupos: Produção Vegetal,<br />
Produção Animal e Sistemas<br />
de Produção, com equipes<br />
especializadas em cada<br />
área.<br />
CONFINAMENTO é um sistema de criação de<br />
gado de corte onde os animais ficam em áreas<br />
limitadas para otimizar o ganho de peso e a<br />
qualidade da carne. No Brasil, essa prática é<br />
cada vez mais comum na fase final de engorda<br />
dos animais<br />
67
SUCESSÃO NO AGRO<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
O perfil do sucessor no<br />
agronegócio do Cerrado: a<br />
realidade pede um perfil arrojado,<br />
humilde, curioso e corajoso<br />
70<br />
PATRÍCIA BARROSO, Gestão Estratégica de<br />
Pessoas: A exigência de um perfil arrojado expõe<br />
com clareza as regras do jogo da sucessão familiar<br />
no agronegócio do Cerrado”<br />
A<br />
região do Cerrado mineiro, especialmente<br />
em regiões como Patos de Minas, destaca-se<br />
como um polo dinâmico e produtivo<br />
do agronegócio nacional. A diversidade de<br />
culturas, incluindo café, soja, milho, feijão e até<br />
tomate industrial em pivôs centrais, juntamente<br />
com a força da pecuária leiteira, reflete a complexidade<br />
e a riqueza do cenário agrícola local. Nesse<br />
contexto, o perfil de gestão para o sucessor na<br />
agricultura do Cerrado mineiro precisa ser arrojado,<br />
integrando competências essenciais como<br />
a gestão de riscos, conhecimento técnico e a capacidade<br />
de implementar práticas sustentáveis.<br />
As novas gerações devem estar preparadas para<br />
lidar com os desafios contemporâneos e manter a<br />
competitividade em um mercado globalizado.<br />
O sucessor no agronegócio do Cerrado deve<br />
desenvolver uma combinação única de habilidades<br />
e competências para enfrentar os desafios e<br />
aproveitar a potencialidade da região. A gestão de<br />
riscos, por exemplo, é crucial para lidar com as<br />
incertezas climáticas e de mercado que afetam a<br />
produção agrícola e pecuária. Analisar a viabilidade<br />
financeira da safrinha como estratégia de negócio<br />
é um dos exemplos que exige um conhecimento<br />
profundo sobre práticas agrícolas eficientes e a<br />
capacidade de assumir riscos calculados em prol<br />
de iniciativas mais lucrativas. O escopo de competências<br />
exigido é amplo, complexo e dinâmico.<br />
Nesse cenário, recomendo o investimento em um<br />
plano de desenvolvimento individual que contemple<br />
atividades de benchmarking e pesquisas.<br />
Visitas técnicas também são fundamentais para o<br />
desenvolvimento contínuo e a adaptação às novas<br />
tecnologias e práticas de mercado. A integração de<br />
complexos agroindustriais, o conhecimento sobre<br />
tecnologia de ponta e a promoção de um ambiente<br />
“agro-sócio-sustentável” são aspectos cruciais<br />
para a formação do perfil ideal de sucessão, bem<br />
como práticas vitais para um desenvolvimento<br />
sustentável e competitivo do setor. A exigência de<br />
um perfil arrojado expõe com clareza as regras do<br />
jogo da sucessão familiar no agronegócio do Cerrado.<br />
Assumir o papel de sucessor é mais do que<br />
uma questão de família; trata-se de assumir uma<br />
responsabilidade que envolve conhecimento den-
tro e fora das porteiras. A dimensão da responsabilidade<br />
deve ser acompanhada pela humildade<br />
em aprender, pela curiosidade de querer saber e<br />
pela coragem de executar.<br />
Para serem bem-sucedidos, esses jovens líderes<br />
devem estar atentos às tendências de novas<br />
tecnologias, às mudanças político-econômicas a<br />
nível nacional e internacional, e às exigências legais,<br />
bem como às adequações do setor às práticas<br />
sustentáveis. A implementação de práticas<br />
de ESG (ambiental, social e governança) não só<br />
garante a sustentabilidade social, ambiental e financeira,<br />
mas também melhora a reputação da<br />
empresa no mercado. Além disso, o desenvolvimento<br />
de competências em tecnologia digital,<br />
como o uso de drones para monitoramento de<br />
culturas e a aplicação de inteligência artificial na<br />
análise de dados agrícolas, são essenciais para otimizar<br />
a produção e reduzir custos. O sucessor<br />
deve entender de gestão de pessoas tanto quanto<br />
entende de finanças. O ambiente do agronegócio<br />
impõe uma demanda por mão de obra altamente<br />
qualificada e aderente ao ambiente agroindustrial.<br />
Nesse contexto, não basta ser da família, precisa<br />
querer ser um gestor de ponta. O sucessor no<br />
agronegócio do Cerrado deve ser um líder visionário,<br />
capaz de aliar tradição e inovação. A implementação<br />
de práticas de ESG (ambiental, social e<br />
governança) e a adoção de tecnologias avançadas<br />
são imperativos para garantir a sustentabilidade e<br />
a competitividade a longo prazo. Ser reconhecido<br />
por gerar valor e praticar uma agricultura que potencializa<br />
resultados econômicos e sustentáveis é<br />
o objetivo maior. Gosto de resumir o novo perfil<br />
do sucessor do agronegócio em três fortes e importantes<br />
características: humildade, curiosidade<br />
e coragem.<br />
Portanto, o perfil arrojado do sucessor no<br />
Cerrado não é apenas desejável, mas essencial<br />
para a perpetuação e o sucesso do agronegócio<br />
nesta região vital do Brasil. A formação contínua<br />
e o envolvimento em redes de colaboração e inovação<br />
serão diferenciais para aqueles que desejam<br />
liderar o futuro do agronegócio no Cerrado.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
71
GESTÃO & MERCADO<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Do campo ao banco: como o<br />
produtor rural pode assumir o<br />
protagonismo?<br />
72<br />
PAULIANE OLIVEIRA, Advogada e Diretora Executiva<br />
do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>: “É urgente refletirmos sobre<br />
a abordagem passiva dos produtores rurais”<br />
A<br />
gestão financeira é, sem dúvidas, um dos<br />
maiores desafios enfrentados pelo produtor<br />
rural. É comum encontrar produtores<br />
com dívidas acumuladas por não conseguirem<br />
sincronizar o fluxo de caixa com as obrigações<br />
financeiras, ou por realizarem investimentos<br />
considerando o momento de alta e desconsiderando<br />
a oscilação do mercado, ou até mesmo o<br />
endividamento gerado pela oferta de crédito em<br />
excesso. Esses são exemplos comuns que vimos<br />
acontecer nos últimos dez anos.<br />
Por outro lado, é usual que as instituições<br />
bancárias exijam garantias de forma desproporcional<br />
ao crédito levantado, como, por exemplo,<br />
alienação fiduciária de propriedades rurais inteiras<br />
e hipotecas sucessivas sobre a mesma propriedade,<br />
restringindo, nestes casos, a capacidade<br />
de o produtor rural obter novos financiamentos.<br />
A maior parte dos produtores ainda segue as regras<br />
impostas pelos bancos e financiadores, fornecendo<br />
garantias conforme solicitado, sem avaliar<br />
corretamente qual a demanda total de capital<br />
a ser financiado, de modo a fazer uma boa gestão<br />
da necessidade de captação de recursos.<br />
É urgente refletirmos sobre essa abordagem<br />
passiva dos produtores rurais. Com o conhecimento<br />
certo sobre os ativos e poder que possuem,<br />
eles podem oferecer garantias e opções de<br />
financiamento que beneficiem tanto eles quanto<br />
as instituições financeiras ou parceiros, sem ficarem<br />
amarrados a um único financiador.<br />
É urgente refletirmos sobre essa abordagem<br />
passiva dos produtores rurais. Com o conhecimento<br />
certo sobre os ativos e poder que possuem,<br />
eles podem oferecer garantias e opções<br />
de financiamento que beneficiem tanto eles<br />
quanto as instituições financeiras ou parceiros,<br />
sem ficarem amarrados a um único financiador.<br />
É válido lembrar que ano após ano, eles renovam<br />
operações mal planejadas, sem conseguir quitar<br />
dívidas ou liberar garantias oferecidas. Isso cria<br />
um ciclo de dependência e comprometimento<br />
crescente com os bancos. Além disso, a renovação<br />
dessas dívidas geralmente implica em taxas<br />
de juros mais altas e condições mais rígidas,<br />
como por exemplo o reforço de garantia com<br />
ativos essenciais para a produção rural.<br />
A falta de diversificação nas fontes de financiamento<br />
impede que o produtor aproveite<br />
condições mais favoráveis oferecidas por outras<br />
instituições, como cooperativas de crédito,<br />
indústrias e distribuidoras de insumos. Sem explorar<br />
essas alternativas, o produtor continua dependente<br />
de um único banco, que dita as regras e<br />
condições dos financiamentos. Isso reforça ainda<br />
mais o ciclo de dependência e dificulta a implementação<br />
de uma gestão financeira mais eficiente<br />
e estratégica.<br />
Uma parte da solução está na legislação de<br />
crédito e financiamento no agronegócio, a qual<br />
evoluiu significativamente nos últimos anos.<br />
Desde a Lei da CPR até as mais recentes Leis do<br />
Agro, surgiram novas oportunidades tanto para<br />
produtores quanto para financiadores, motivadas<br />
pelo fato de que não são apenas os bancos que<br />
financiam o agronegócio, mas também cooperativas,<br />
indústrias e distribuidores de insumos. Esse
movimento de desbancarização permite que os<br />
produtores negociem com diversas entidades,<br />
como cooperativas de crédito, indústrias, distribuidoras<br />
de insumos, bancos e até fintechs. Um<br />
exemplo prático é a CPR física, que fortaleceu<br />
as operações de barter – operação que o produtor<br />
paga com sua própria produção. Além disso,<br />
contratos de venda agrícola passaram a poder ser<br />
usados como garantia em operações financeiras,<br />
e o Patrimônio Rural em Afetação (PRA) permitiu<br />
oferecer apenas uma parte da propriedade<br />
rural como garantia, facilitando negociações com<br />
múltiplos financiadores.<br />
Para aproveitar essas oportunidades, o produtor<br />
rural precisa entender o valor dos seus ativos.<br />
Ele não é refém do banco se souber como utilizar<br />
garantias de forma estratégica e sistêmica. Por<br />
exemplo, um produtor com 500 hectares, produzindo<br />
no ano safra, soja, milho e feijão pode<br />
desmembrar sua propriedade em partes menores<br />
usando o PRA como garantia para operações financeiras,<br />
isso é, sem abrir novas matrículas, através<br />
de requerimento simples no CRI. Numa análise<br />
hipotética, que cada hectare valha R$60 mil, ele<br />
poderia dividir a fazenda em áreas de 50 hectares,<br />
oferecendo um ativo de R$3 milhões como garantia,<br />
ou mesmo em áreas de 100 hectares, o que<br />
geraria um ativo de garantia de R$6 milhões. Realizada<br />
a análise de endividamento, risco de crédito<br />
e outros pela instituição financeira, isso permitiria<br />
levantar capital sem comprometer grandes partes<br />
do imóvel. Sem prejuízo das operações de barter,<br />
em que ele não utilizaria o ativo “terra”, mas sim<br />
o ativo “produção”, hipótese que o produtor poderia<br />
separar 100 hectares para garantir o custo de<br />
produção de soja, financiando insumos agrícolas<br />
de forma segura. Vale lembrar que normalmente<br />
as instituições financeiras solicitam entre 120% a<br />
150% do valor levantado como garantia, mas em<br />
qualquer destes exemplos, o produtor rural mantém<br />
a flexibilidade e não fica dependente de uma<br />
única instituição financeira ou parceiro.<br />
Os produtores rurais possuem<br />
diversas ferramentas e<br />
oportunidades para melhorar a<br />
gestão financeira e a captação<br />
de recursos. Ao entender<br />
o valor dos seus ativos e<br />
explorar novas opções de<br />
financiamento, eles podem<br />
evitar a dependência excessiva<br />
de bancos específicos<br />
e negociar termos mais<br />
vantajosos. A chave está em<br />
adotar uma postura proativa,<br />
buscando conhecimento e<br />
avaliando cuidadosamente<br />
as opções disponíveis de<br />
uma maneira sistêmica e<br />
estratégica. Com uma gestão<br />
financeira bem estruturada,<br />
o produtor rural assume uma<br />
postura protagonista e colabora<br />
para a sustentabilidade e o<br />
crescimento do seu negócio.<br />
73
SAÚDE DA TERRA<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
A Importância da tipologia para<br />
pessoas e solo: os “alelos” da terra<br />
74 74<br />
RODOLFO DE SOUZA, jornalista, gestor de marketing<br />
no agronegócio e Diretor de Jornalismo do<br />
<strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />
R<br />
ecentemente, o engenheiro agrônomo<br />
Diego Siqueira, publicou, em seu perfil<br />
no LinkedIn, o artigo “A Importância da<br />
tipologia para pessoas e solo: os ‘alelos’ da terra”.<br />
A convite do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>, Siqueira<br />
comentou o artigo e trouxe alguns dados<br />
novos. Cientista do Solo, Embaixador do Fundo<br />
Prospera UNESP [Universidade Estadual<br />
de São Paulo], Professor do SolloAgro/ESALq<br />
[Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz],<br />
Diego Siqueira é também diretor na deeptech<br />
Quanticum. Diego conta que essa tecnologia<br />
se transformou no primeiro filme brasileiro<br />
de soluções geradas dentro da Universidade. O<br />
documentário já foi exibido no Brasil e no exterior,<br />
inclusive aqui no Triângulo Mineiro.<br />
O artigo começa questionando o leitor sobre<br />
a tipologia sanguínea e a tipologia do solo:<br />
“Você já se perguntou qual é o seu tipo de sangue<br />
em algum momento da vida? Como é o solo<br />
da sua horta, chácara, praça da sua cidade, construção<br />
ou fazenda?”<br />
O texto destaca a importância do conhecimento<br />
sobre esses aspectos, tanto para a saúde<br />
humana quanto para a agricultura. A tipagem<br />
sanguínea tem sido marcada por várias descobertas<br />
importantes ao longo do tempo. Em<br />
1901, foram identificados os tipos A, B e O. Em<br />
1902, o fator Rh foi descoberto, dividindo os<br />
tipos em positivo e negativo. Entre 1927 e 1951,<br />
os sistemas Kell, Duffy e Kidd foram estabelecidos.<br />
Segundo Siqueira, a tipologia sanguínea<br />
permitiu identificar doadores com sangue raro,<br />
essencial para pacientes com necessidades específicas,<br />
além de aumentar a segurança nas transfusões<br />
e contribuir para a pesquisa científica.<br />
No Brasil, são realizadas cerca de 4 milhões de<br />
transfusões de sangue por ano e mais de 40 mil<br />
transplantes.<br />
O pesquisador compara a tipologia sanguínea<br />
à tipologia do solo. Ele ressalta que, na agricultura,<br />
silvicultura e engenharia civil, muitas<br />
decisões são baseadas na textura ou quantidade<br />
de argila do solo. Siqueira faz uma analogia:<br />
“Imagine se os médicos e hospitais tomassem as<br />
decisões de todos os transplantes e transfusões<br />
do Brasil com base na quantidade de sangue que<br />
o doador tem e na quantidade de sangue que o<br />
receptor precisa, sem levar em conta a tipologia<br />
do sangue. É isso que temos feito nas práticas<br />
agrícolas mundiais há décadas.”<br />
Diego Siqueira explica que, embora muitos<br />
técnicos agrupem a tipologia da argila em óxidos<br />
de ferro, alumínio, 2:2 e 2:1, na prática, não é tão<br />
simples. Existem mais de 200 tipos diferentes de<br />
argila que se formam no solo, incluindo cerca de<br />
20 tipos de óxidos de ferro e cerca de 10 tipos<br />
de óxidos de alumínio. “No Brasil, cultivamos<br />
anualmente cerca de 420 milhões de hectares<br />
com diferentes cultivos para alimentação, plantamos<br />
quase 8 milhões de hectares de florestas<br />
para produzir fibras para hospitais e vestuário,<br />
preservamos cerca de 490 milhões de hectares<br />
de biomas nativos e projetamos o crescimento<br />
de 13,4 milhões de hectares em áreas urbanas,<br />
assumindo que o ‘sangue da terra’, ou seja, a tipologia<br />
da argila, seja igual, mas não é!”, afirma.<br />
Siqueira observa que o conhecimento sobre<br />
a tipologia do solo é vital para uma ampla gama<br />
de atividades humanas. Na agricultura, a escolha<br />
do tipo de cultivo e as práticas de manejo<br />
dependem diretamente da composição do solo.
Na silvicultura, a escolha das espécies de árvores<br />
a serem plantadas pode variar conforme a tipologia<br />
do solo. Na engenharia civil, a estabilidade<br />
das construções também está intimamente ligada<br />
ao tipo de solo.<br />
No Brasil, a agricultura moderna precisa levar<br />
em consideração esses fatores para otimizar<br />
a produtividade e a sustentabilidade, destaca o<br />
pesquisador. “Com quase 20 anos de experiência<br />
como engenheiro agrônomo e cientista do<br />
solo, acredito que podemos salvar muito mais<br />
vidas reconhecendo, admitindo e trabalhando<br />
com a tipologia das argilas do solo. Imagine, são<br />
mais de 200 tipos de argila. Quantas combinações,<br />
proporções e arranjos diferentes já estão<br />
ocorrendo sob nossos pés!”<br />
Diego Siqueira enfatiza que a aplicação de<br />
práticas agronômicas baseadas na tipologia da<br />
argila pode levar a um uso mais eficiente dos<br />
recursos naturais, reduzindo impactos ambientais<br />
e melhorando a saúde dos ecossistemas agrícolas.<br />
Ele defende que, assim como a tipologia<br />
sanguínea revolucionou a medicina, a tipologia<br />
do solo tem o potencial de revolucionar a agricultura<br />
e outras áreas relacionadas ao uso do<br />
solo.<br />
Siqueira conclui seu artigo com um apelo à<br />
comunidade científica e ao setor agrícola: “Gostaria<br />
que as pessoas que vivem, trabalham ou<br />
dependem do solo direta ou indiretamente também<br />
reconhecessem a tipologia das argilas para<br />
ajudar a salvar vidas”. Segundo ele, a adoção de<br />
uma abordagem mais detalhada e científica na<br />
análise e manejo do solo pode trazer benefícios<br />
significativos, contribuindo para um futuro mais<br />
sustentável e produtivo.<br />
Essa abordagem também pode ajudar a mitigar<br />
os efeitos das mudanças climáticas, uma vez<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
DIEGO SIQUEIRA:<br />
“A grande energia é a<br />
energia humana”<br />
75 75
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
que solos bem manejados têm maior capacidade<br />
de sequestrar carbono e regular os ciclos hidrológicos,<br />
sustenta o pesquisador da UNESP. “A<br />
tipologia do solo é um elemento fundamental<br />
para entender e melhorar nossa interação com o<br />
meio ambiente. É um conhecimento que pode<br />
nos guiar para práticas mais sustentáveis e eficientes,<br />
beneficiando tanto a economia quanto<br />
a ecologia”.<br />
76<br />
Solução virou filme<br />
Diego Siqueira conta com orgulho que a<br />
tecnologia acabou fazendo parte do primeiro<br />
filme brasileiro de soluções geradas dentro da<br />
universidade. Lançado em 2003, o documentário<br />
“Ecossistemas de Inovação: A Revolução<br />
do Agro”, produzido pela Prosa Press, explora<br />
a crescente influência da tecnologia no setor<br />
agropecuário brasileiro. A produção aborda<br />
como inovações tecnológicas estão promovendo<br />
aumento de produtividade, redução do uso<br />
de recursos naturais e minimização de impactos<br />
ambientais no planeta.<br />
Dirigido por Beto Leme, o filme apresenta<br />
exemplos concretos do uso de drones, inteligência<br />
artificial e outras soluções digitais para<br />
monitorar o solo, prever o clima, otimizar o<br />
uso de insumos e fertilizantes, além de reduzir o<br />
desperdício de água. O filme também destaca a<br />
relevância da preservação da biodiversidade em<br />
áreas agrícolas e como práticas sustentáveis podem<br />
beneficiar ecossistemas locais.<br />
A obra percorreu várias cidades brasileiras,<br />
tendo passado inclusive por Uberlândia, aqui no<br />
Triângulo Mineiro, além de Piracicaba, Campinas,<br />
Ribeirão Preto (SP), Goiânia (GO), Luiz<br />
Eduardo Magalhães (BA), Londrina (PR) e Manaus<br />
(AM). O documentário entrevistou fundadores<br />
de startups, pesquisadores e especialistas<br />
em tecnologia agrícola, oferecendo uma visão<br />
abrangente sobre o tema.<br />
O filme conta com patrocínio da Bayer e da<br />
Green4T.<br />
VEJA O FILME no YouTube e<br />
leia a ficha técnica
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
“EXISTEM MÉTODOS pra gente identificar as<br />
nanopartículas presentes no solo. Alguns desses<br />
métodos são ganhadores de Prêmio Nobel. São métodos<br />
com mais de 100 anos. O que a Quanticum fez foi<br />
sociabilizar essa ciência e desenvolver um procedimento<br />
pra que esas partículas fossem quantificadas de uma<br />
maneira mais rápida e mais precisa.” — Diego Siqueira, no<br />
documentário “Ecossistemas de Inovação:<br />
A Revolução do Agro”<br />
77
DEPOIMENTOS E PARCEIROS<br />
REVISTA <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />
CINTHIA MORAIS<br />
DIRETORA EXECUTIVA COLMEIA HUB DE NEGÓCIOS<br />
Precisamos sempre falar do agro<br />
com grande responsabilidade,<br />
não só para dentro do agro, mas<br />
também para fora.<br />
JOSÉ BENEVIDES ROMANO<br />
BENÉ ROMAMO, ENGENHEIRO AGRÔNOMO E<br />
COMUNICADOR NO AGRONEGÓCIO<br />
Vejo essa iniciativa como muito<br />
importante, porque, o que nós<br />
precisamos, cada vez mais, é de<br />
pessoas comunicando a verdade<br />
e valorizando o agronegócio.<br />
ARNALDO MELO<br />
DIRETOR GEAL DUOFÉRTIL<br />
Parabéns pelo lançamento da<br />
<strong>Revista</strong> <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />
Veículos de comunicação como o<br />
<strong>100PORCENTOAGRO</strong> ajudam a<br />
deixar claro para todos que o<br />
agro é a locomotiva do Brasil.<br />
MÍRIAN DELGADO<br />
DIRETORA CIENTÍFICA DA AMIPA: ASSOCIAÇÃO<br />
MINEIRA DOS PRODUTORES DE ALHO<br />
Um projeto que vi nascer, e que<br />
tem crescido cada dia mais. Uma<br />
honra estar aqui, ao lado de<br />
mulheres que representam o<br />
Agronegócio!<br />
SANDRA MORAES<br />
GERENTE DE CAFÉS ESPECIAIS NA EXPOCACCER<br />
COOPERATIVA DOS CAFEICULTORES DO CERRADO<br />
Muito emocionada pela menção<br />
ao meu trabalho feita pela<br />
<strong>Revista</strong> <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />
Assim sigo... com conhecimento e<br />
dedicação ao agronegócio e<br />
cafeicultura.
QUALIDADE GARANTIDA<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Café do Cerrado Mineiro:<br />
autenticidade garantida pela<br />
Denominação de Origem<br />
80<br />
A<br />
utenticidade é algo puramente verdadeiro<br />
porque não sofreu mutações ou<br />
reproduções indevidas. No contexto<br />
dos cafés especiais, o autêntico café do Cerrado<br />
Mineiro destaca-se por seu processo oficial<br />
de garantia, sendo protegido pela Denominação<br />
de Origem (DO). A mensagem faz parte<br />
de uma publicação recente da Região do Cerrado<br />
Mineiro (RCM). Ao 100PORCENTOA-<br />
GRO, o Presidente da Federação dos Cafeicultores<br />
do Cerrado Mineiro, Juliano Tarabal,<br />
afirmou que a DO protege a reputação do<br />
café da Região, garantindo sua autenticidade.<br />
A RCM exporta para mais de 50 países.<br />
A utilização do nome Cerrado Mineiro para<br />
café verde ou café industrializado deve ser autorizada<br />
pela Federação. A entidade controla<br />
a Denominação de Origem, conforme especificado<br />
no site da Federação. A utilização indevida<br />
do nome, sem a necessária certificação de<br />
origem, contraria as normas da DO, registrada<br />
pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial<br />
(INPI).<br />
O café do Cerrado Mineiro possui características<br />
únicas devido às condições específicas<br />
de clima, solo e altitude da região, que abrange
REGIÃO DO CERRADO MINEIRO se<br />
destaca pela produção de café de alta<br />
qualidade. Com 4.500 produtores em 55<br />
municípios, ocupando 250 mil hectares, a<br />
RCM é responsável por 25,4% da produção<br />
de café em Minas Gerais e 12,7% da<br />
produção nacional<br />
55 municípios em uma área de 210 mil hectares.<br />
Essas condições proporcionam ao café<br />
um sabor singular, com notas frutadas e acidez<br />
balanceada, fatores fundamentais para seu<br />
reconhecimento internacional.<br />
Desde 2013, a Denominação de Origem<br />
do Cerrado Mineiro é reconhecida pelo INPI,<br />
reforçando a importância de proteger a autenticidade<br />
do produto. A certificação exige que<br />
o café seja produzido, beneficiado e industrializado<br />
dentro da área delimitada, seguindo critérios<br />
rigorosos de qualidade. O selo de DO<br />
garante que o café atenda a esses padrões.<br />
A proteção da autenticidade envolve o<br />
compromisso de todos os participantes da cadeia<br />
produtiva da cafeicultura na RCM, uma<br />
construção coletiva com mais de 50 anos de<br />
história e trabalho.<br />
A rastreabilidade desses cafés é fundamental.<br />
Cada lote de café certificado pode ser rastreado<br />
desde a fazenda onde foi produzido até<br />
o consumidor final. Esse sistema de rastreamento<br />
permite monitorar as etapas do processo<br />
produtivo.<br />
A Federação desempenha um papel fundamental<br />
nesse processo, oferecendo suporte<br />
técnico e orientação aos produtores, além de<br />
realizar auditorias periódicas para assegurar a<br />
conformidade com os critérios da Denominação<br />
de Origem. A entidade também promove<br />
iniciativas de valorização do café do Cerrado<br />
Mineiro.<br />
O reconhecimento e a proteção da DO do<br />
Cerrado Mineiro são resultado de décadas de<br />
trabalho árduo e dedicação dos cafeicultores<br />
da região. É muito mais que uma simples nomenclatura:<br />
elas envolvem a garantia de práticas<br />
sustentáveis na produção do café, com<br />
respeito ao meio ambiente e às condições de<br />
trabalho dos agricultores.<br />
O Cerrado Mineiro é a primeira região produtora<br />
de café no Brasil a obter a Denominação<br />
de Origem, um marco que eleva o patamar<br />
de qualidade e reconhecimento do café brasileiro<br />
no cenário global. A região é conhecida<br />
por sua produção de cafés de alta qualidade,<br />
e a DO serve como uma prova adicional de<br />
que esses cafés são autênticos e possuem um<br />
padrão de excelência.<br />
“A Denominação de Origem é um registro de<br />
grande relevância que assegura ao território a proteção<br />
da fama e notoriedade adquirida pela produção<br />
de determinado produto, no nosso caso o café.<br />
Portanto, nosso foco está muito concentrado em<br />
proteger esta autenticidade, já que, hoje, o Cerrado<br />
Mineiro possui presença em todos os continentes,<br />
em mais de 50 países”, diz Juliano Tarabal.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
81
LOGÍSTICA E SUSTENTABILIDADE<br />
revista<br />
100<br />
orcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
Como os gargalos de<br />
logística impactam a<br />
sustentabilidade no<br />
agronegócio brasileiro<br />
82 82
N<br />
o setor do agronegócio brasileiro,<br />
a logística enfrenta alguns desafios<br />
significativos: complexidade da<br />
safra, ausência de desenvolvimento<br />
tecnológico, dependência do transporte<br />
rodoviário e infraestrutura precária. Nesta<br />
reportagem, vamos desvendar aspectos<br />
importantes contextualizados para o<br />
Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e<br />
Noroeste de Minas. Afinal, isso tem a ver<br />
com sustentabilidade? A resposta é sim,<br />
porque sustentabilidade tem a ver com o<br />
sucesso do negócio.<br />
Quando se fala em complexidade de<br />
safra, a cada ano a estratégia de safra<br />
precisa ser diferente, uma vez que ela é<br />
viva, imprevisível e está em constante<br />
mudança. As empresas compram as<br />
sacas e dependem do valor de mercado<br />
para vendê-las. Quando o valor sobe,<br />
as empresas precisam de agilidade nas<br />
vendas e, consequentemente, na entrega<br />
dos produtos. No entanto, muitas vezes,<br />
essas empresas não encontram frotas de<br />
caminhões disponíveis para suportar o<br />
transporte imediato dessas sacas.<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
revista<br />
100<br />
porcento<br />
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jul, 24<br />
83 83
revista<br />
100<br />
porcento<br />
agro<br />
jul, 24<br />
84 84<br />
A falta de tecnologia no segmento agrícola pode<br />
resultar em uma perda de aproximadamente R$ 100<br />
bilhões para o agronegócio. Além disso, mais de<br />
70% das propriedades rurais do Brasil não possuem<br />
acesso à internet. O uso de soluções tecnológicas<br />
no setor poderia aumentar a produtividade, reduzir<br />
custos e melhorar o desempenho das fazendas.<br />
Outro aspecto sempre presente nos debates<br />
acerca do tema é a enorme dependência do transporte<br />
rodoviário somada à infraestrutura precária.<br />
O agronegócio brasileiro enfrenta desafios relacionados<br />
à longa distância entre as áreas produtoras<br />
e os centros de consumo, bem como à falta de<br />
infraestrutura adequada. O modal rodoviário é a<br />
principal via de acesso para o escoamento da produção,<br />
mas sua dependência aumenta o valor do<br />
frete e implica maiores custos logísticos.<br />
Para superar esses desafios, é essencial investir<br />
em tecnologia, melhorar a infraestrutura e buscar<br />
soluções inovadoras para otimizar a logística no<br />
agronegócio brasileiro.<br />
CONTEXTO REGIONAL: Minas Gerais tem a<br />
maior malha rodoviária do Brasil, equivalente a<br />
cerca de 16% do somatório de rodovias estaduais,<br />
federais e municipais de toda a malha viária existente<br />
no país. No estado, são 272.062,90 km de<br />
rodovias. Deste total, 9.205 km são de rodovias<br />
federais, 22.286 km de rodovias estaduais pavimentadas,<br />
e 240.571,90 km de rodovias municipais,<br />
na maioria não pavimentadas.<br />
No Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas<br />
existem várias rodovias importantes que conectam<br />
cidades e facilitam o transporte. As principais<br />
são: BR 050 (Uberaba, Araguari, Uberlândia<br />
e acesso aos estados de Goiás e São Paulo), BR<br />
153 (Frutal a Prata, no Triângulo Mineiro, funcionando<br />
como um corredor paralelo à BR 050 e<br />
auxiliando no transporte de cargas na região), BR<br />
365 (Uberlândia a Patrocínio, passando por diversas<br />
cidades da região) e estradas menores como a<br />
MG-190, LMG-812, LMG-798, MG-427, CMG-<br />
452 e BR-452.<br />
Para Wesley Nunes, consultor do Serviço Nacional<br />
de Aprendizagem Industrial (SENAI), em<br />
Patos de Minas, o agronegócio já possui novas<br />
tecnologias aplicadas ao maquinário. Contudo,<br />
faltam informação e mais treinamento de operadores<br />
e coordenadores. “Essas tecnologias ficam<br />
restritas a poucos produtores. Estamos fazendo<br />
um trabalho de apoio através de consultorias para<br />
melhoria do processo produtivo, visando aumentar<br />
a disponibilidade dos equipamentos, a capacitação<br />
dos operários e, consequentemente, ampliar<br />
a produção”.<br />
De acordo com Wesley, muitas fazendas não<br />
possuem o mínimo adequado de gestão administrativa.<br />
“Elas não controlam os custos operacionais<br />
e, muitas vezes, em propriedades com alguma<br />
prática de gestão, o foco é apenas na administração<br />
voltada para vendas. Essas fazendas deixam<br />
passar batido a manutenção dos equipamentos e<br />
a busca dessas novas tecnologias”.<br />
Por sua vez, Gustavo Santos, Superintendente<br />
da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado<br />
da Região de Carmo do Paranaíba (Carmocer), os<br />
pontos em destaque nesta reportagem são relevantes<br />
e crônicos no agronegócio como um todo,<br />
em especial no setor cafeeiro, onde tudo é muito<br />
rápido. “É preciso primeiramente o olhar político.<br />
Precisamos de mais alternativas para o escoamento<br />
da produção. O agro precisa de soluções<br />
como aconteceu com o transporte de pessoas por<br />
aplicativos, onde conseguimos um transporte rápido,<br />
seguro e com bom custo-benefício”. Santos<br />
entende que essa inovação, devidamente adaptada<br />
às necessidades do agronegócio como um todo<br />
e ao setor cafeeiro em especial, seria perfeita. “A<br />
solução mais rápida na minha opinião seria por<br />
meio da tecnologia. Somos a região mais tecnificada<br />
no agronegócio brasileiro e, por isso, temos<br />
condições de buscar soluções inovadoras e<br />
implantá-las de forma imediata”.<br />
Já a pesquisadora da Embrapa Cerrados e colunista<br />
do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>, Maria Emília<br />
Borges Alves, engenheira agrícola com mestrado<br />
e doutorado, considera que não falta tecnologia,<br />
mas há problemas de acesso ou conhecimento.
O QUE FAZER<br />
“Existe bastante tecnologia, e muitos produtores,<br />
principalmente os grandes, usam tecnologia de<br />
ponta, desde máquinas até imagens de satélites.<br />
Quanto à falta de acesso à internet, isso sim é uma<br />
realidade, bem como a questão da energia elétrica,<br />
que não chega em todos os lugares e muitas vezes<br />
chega em baixa qualidade”.<br />
Naturalmente, a complexidade da safra, a<br />
ausência de desenvolvimento tecnológico, a dependência<br />
do transporte rodoviário e a infraestrutura<br />
precária são aspectos relacionados entre<br />
si. No entanto, a logística é o gargalo a ser atacado<br />
imediatamente porque desempenha papel<br />
essencial no sustento do crescimento. Estradas e<br />
vias inadequadas elevam os custos de transporte.<br />
A rastreabilidade ainda é um desafio, afetando a<br />
segurança dos embarques e desembarques. E a<br />
solução está exatamente na busca de inovações<br />
que melhorem a eficiência produtiva.<br />
MARIA EMÍLIA ALVES: a falta de acesso à internet é<br />
uma realidade, bem como a questão da energia elétrica,<br />
que não chega em todos os lugares e muitas vezes chega<br />
em baixa qualidade<br />
Gargalos passam pela<br />
sustentabilidade, e solução é<br />
agrofloresta<br />
MILENA CARAMORI, engenheia florestal, MsC em<br />
Saneamento e Recursos Hídricos. Colunista de<br />
Sustentabilidade no <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />
Diante dos desafios enfrentados pelo agronegócio<br />
brasileiro, a transição do modelo monocultural<br />
para a agrofloresta emerge como<br />
uma solução promissora. A complexidade<br />
sazonal das safras, caracterizada pela imprevisibilidade<br />
e variações constantes, é agravada<br />
pelas mudanças climáticas, sobrecarregando<br />
empresas dependentes da venda imediata e enfrentando<br />
dificuldades logísticas no transporte.<br />
A ausência de desenvolvimento tecnológico<br />
agrícola e o não uso de boas práticas de uso<br />
do solo podem acarretar problemas relacionados<br />
à fertilidade do solo e, consequentemente,<br />
à produção em curto, médio e longo prazo.<br />
A falta de acesso à internet também limita a<br />
produtividade e eficiência na produção e escoamento,<br />
resultando em perdas significativas<br />
para o setor. Além disso, a dependência do<br />
transporte rodoviário, com sua infraestrutura<br />
precária e custos elevados, agrava ainda mais<br />
os desafios enfrentados pelo agronegócio.<br />
Diante dessas questões, a adoção de sistemas<br />
agroflorestais, que integram culturas diversas<br />
e árvores perenes, não apenas mitigaria<br />
esses problemas estruturais, mas também promoveria<br />
sistemas mais resilientes e adaptáveis.<br />
A agrofloresta representa não apenas uma<br />
mudança nas práticas agrícolas, mas também<br />
um avanço em direção a modelos sustentáveis<br />
que melhoram a qualidade do solo, reduzem a<br />
pressão sobre recursos hídricos e favorecem<br />
uma produção mais distribuída e localizada.<br />
Esse investimento em tecnologias adaptativas<br />
e modelos de produção integrados é não apenas<br />
uma necessidade econômica, mas também<br />
um imperativo ambiental para o futuro do<br />
agronegócio brasileiro.<br />
Alguns desafios da produção agrícola,<br />
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como a necessidade permanente de controle<br />
de pragas e doenças, são intrínsecos à monocultura<br />
e podem representar gastos significativos<br />
com defensivos agrícolas. O modelo<br />
de produção em larga escala, dependente do<br />
valor de mercado para a venda imediata das<br />
sacas de produtos agronômicos, revela-se vulnerável<br />
à volatilidade e à escassez de mercado.<br />
Isso contrasta com o conceito de segurança<br />
alimentar e nutricional, onde a monocultura<br />
tende a encarecer e limitar a disponibilidade<br />
de produtos frescos e variados, incentivando<br />
o consumo de alimentos ultraprocessados,<br />
menos saudáveis e mais baratos, contribuindo<br />
para problemas de saúde pública como<br />
obesidade e doenças crônicas. Esse modelo,<br />
inicialmente considerado simples, revelou-se<br />
complexo, decadente e problemático, não<br />
somente para o meio ambiente, mas também<br />
para a saúde humana.<br />
Nos 350 milhões de anos de existência das<br />
florestas e nos 50 mil anos de Homo sapiens<br />
sapiens, nunca enfrentamos transformações<br />
tão drásticas no modelo de vida humano e alimentação<br />
como as que ocorreram no último<br />
século. A alteração na cobertura do solo e os<br />
impactos sobre a qualidade do ar, do solo, da<br />
água e da biodiversidade são evidentes. Desde<br />
a Revolução Verde nas décadas de 1950 e<br />
1960, houve profundas transformações nas<br />
relações entre o homem e o meio ambiente<br />
com a introdução do pacote tecnológico<br />
monocultural, inclusive com êxodo rural em<br />
massa, sendo que a partir da década de 70, a<br />
maioria da população passou a viver em áreas<br />
urbanas. Práticas tradicionais como rotação de<br />
cultivos, sistemas de pousio e adubação orgânica<br />
foram substituídas pela monocultura intensiva<br />
e pelo uso de insumos industrializados<br />
como pesticidas, adubos químicos, espécies<br />
melhoradas e, atualmente, geneticamente modificadas.<br />
Hoje, mais do que nunca, é necessário<br />
resgatar tecnologias antigas e explorar novos<br />
modelos de produção que transcendam a<br />
monocultura, minimizando o impacto dessas<br />
transformações.<br />
A transição ecológica tornou-se uma necessidade<br />
premente, embora enfrente resistências<br />
significativas. O investimento maciço<br />
em equipamentos e sistemas de irrigação projetados<br />
sem considerar a presença de árvores<br />
exemplifica o desafio que enfrentamos. É necessário<br />
estar disposto a revisitar e, muitas vezes,<br />
abandonar práticas consolidadas e conhecimentos<br />
estabelecidos. Obviamente, haverá<br />
resistência devido ao hábito e à necessidade<br />
de mecanização.<br />
Mas, há uma luz no fim do túnel. Um sistema<br />
agroflorestal idealizado pelo suíço Ernst<br />
Götsch, conhecido como agricultura sintrópica,<br />
é um modelo de produção que reduz<br />
riscos e garante uma série de benefícios. Este<br />
modelo, como todo o modelo agroflorestal,<br />
promove a diversidade de produção, assegurando<br />
colheitas ao longo do ano e diminuindo<br />
problemas com pragas e doenças. Além disso,<br />
melhora a infiltração de água no solo, aumenta<br />
a fertilidade do solo e promove a biodiversidade.<br />
Ao contrário do sistema monocultural, a<br />
agrofloresta, através de seu modelo diversificado<br />
de produção, oferece certa flexibilidade<br />
em relação à safra. Ao integrar diferentes culturas,<br />
árvores e sistemas de produção, reduz<br />
a dependência de uma única cultura e adapta-<br />
-se melhor às variações climáticas e sazonais.<br />
Isso pode ajudar na gestão mais eficiente da<br />
colheita e na redução da pressão por transporte<br />
imediato das sacas, pois há uma distribuição<br />
mais equilibrada ao longo do ano. Além<br />
disso, a diversidade de produtos pode reduzir<br />
a urgência na venda imediata, permitindo um<br />
planejamento logístico mais eficiente.<br />
A agrofloresta, ao promover a produção diversificada<br />
em escalas menores e distribuídas,<br />
pode reduzir a pressão sobre o transporte rodoviário<br />
de longa distância. Ao descentralizar<br />
a produção e favorecer sistemas mais locais e
regionais, ela pode diminuir a necessidade de<br />
grandes frotas de caminhões para transporte<br />
de safras concentradas em monoculturas.<br />
Além disso, ao integrar árvores e outras formas<br />
de vegetação, a agrofloresta pode contribuir<br />
para a melhoria da qualidade do solo e<br />
da água, reduzindo os impactos negativos da<br />
infraestrutura agrícola convencional.<br />
Embora tradicional em alguns aspectos,<br />
a agrofloresta pode incorporar tecnologias<br />
modernas para monitoramento, manejo e otimização<br />
da produção. Apesar de não ser exclusivamente<br />
dependente de alta tecnologia, a<br />
agrofloresta pode se beneficiar de inovações<br />
que não comprometem seu modelo ecológico<br />
integrado. Ernst Götsch propõe escalar a produção<br />
através da agricultura sintrópica, desenvolvendo<br />
inclusive protótipos de máquinas<br />
agrícolas adaptadas a esse modelo.<br />
Realizar uma mudança de modelo de produção<br />
pode ser complicado, mas a realidade é que<br />
a natureza está impondo um custo cada vez mais<br />
alto pela manutenção do status quo. A transição<br />
não será conduzida apenas pela consciência ambiental,<br />
mas por uma necessidade imperativa. O<br />
modelo de produção atual revela-se insustentável,<br />
com sinais alarmantes de desequilíbrios climáticos<br />
como secas severas, chuvas intensas e<br />
eventos extremos, além do aumento da incidência<br />
de pragas e doenças. O solo fértil está sendo<br />
erodido, elevando os custos de produção e exacerbando<br />
a escassez de água, tanto em quantidade<br />
quanto em qualidade.<br />
Questiona-se até quando os seguros rurais<br />
poderão assegurar a estabilidade econômica<br />
dos produtores diante dessas adversidades<br />
crescentes. A transição ecológica não é uma<br />
escolha, mas uma inevitabilidade, pois a natureza<br />
imporá suas próprias condições econômicas.<br />
A frase de Antuniasse, citada pelo meu<br />
querido professor da graduação, Edson Ribas,<br />
faz todo o sentido diante do contexto que estamos<br />
abordando: “A recusa na utilização dos<br />
insumos convencionais não significaria um retrocesso<br />
aos métodos de produção, mas sim<br />
um avanço”. Moura, pesquisador da área, em<br />
1979, já enxergava os problemas decorrentes<br />
da agricultura que estava sendo difundida<br />
e fez uma observação sensacional: “Quando<br />
consideramos que o ar e o solo são componentes<br />
de um mundo mais complexo no qual<br />
satisfazemos as necessidades alimentares,<br />
aperfeiçoamos progressivamente a qualidade<br />
de vida, desenvolvemos a pesquisa científica<br />
e as inovações tecnológicas, e afinal vivemos<br />
a vida na variedade de suas manifestações hedonísticas,<br />
chegamos à conclusão de que devemos<br />
preservar a Terra para suporte logístico<br />
de nossa existência, como seres portadores de<br />
inteligência e sensibilidade, que deverão estar<br />
permanentemente a serviço da humanidade.”<br />
Não se trata de uma causa privativista, mas de<br />
um interesse humano e universal. Podemos<br />
afirmar, portanto, que a mudança é necessária<br />
não apenas pensando em estratégias de produção<br />
lucrativa, escoamento, distribuição ou<br />
vendas, mas, como bem disse Moura, para garantir<br />
o “suporte logístico da nossa existência”<br />
e, parafraseando Leonardo Boff, “valorizando<br />
os sistemas integrados e não a simples soma<br />
de suas partes”.<br />
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SOLO ERODIDO é cada vez mais comum em<br />
várias regiões do Brasil, elevando os custos de<br />
produção e aumentando a escassez de água<br />
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SEGURO AGRÍCOLA<br />
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Seguro rural no Brasil:<br />
uma comparação<br />
desfavorável com os EUA<br />
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E<br />
m 25 de junho, o site Agribiz<br />
publicou matéria sobre a<br />
disparidade entre os sistemas de<br />
seguro rural do Brasil e dos Estados<br />
Unidos. O texto revela uma significativa<br />
desvantagem para os produtores<br />
brasileiros. Enquanto os Estados<br />
Unidos destinam cerca de US$ 8 bilhões<br />
anualmente para subsidiar seguros rurais,<br />
o Brasil aloca apenas R$ 1 bilhão.<br />
Nos EUA, o governo subsidia cerca de<br />
60% do prêmio do seguro, enquanto<br />
no Brasil essa média é de 40%. Essa<br />
diferença no nível de subsídios resulta<br />
em uma cobertura mais ampla e acessível<br />
para os produtores americanos, deixando<br />
os brasileiros em uma situação menos<br />
favorável.<br />
Nos Estados Unidos, os seguros rurais<br />
cobrem praticamente todas as culturas<br />
e tipos de risco, incluindo variações<br />
climáticas e de mercado. No Brasil,<br />
a cobertura é mais restrita e muitas<br />
vezes não inclui todos os tipos de risco<br />
enfrentados pelos produtores. Isso limita<br />
a capacidade dos agricultores brasileiros<br />
de se protegerem contra perdas<br />
significativas.<br />
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A diferença na penetração do seguro rural entre<br />
americanos e brasileiros também é marcante. Nos<br />
EUA, mais de 80% da área plantada está segurada,<br />
enquanto no Brasil o índice não passa de 20%.<br />
Essa discrepância revela uma adoção muito mais<br />
ampla e eficaz do seguro rural pelos produtores de<br />
lá, comparado aos daqui. Além disso, o processo<br />
de obtenção de seguro no Brasil é mais burocrático<br />
e demorado, desestimulando muitos produtores<br />
a buscarem essa forma de proteção. Nos Estados<br />
Unidos, o sistema é mais ágil e eficiente.<br />
As disparidades refletem o impacto direto das<br />
políticas públicas no desenvolvimento do setor<br />
agrícola. O apoio mais robusto ao seguro rural nos<br />
Estados Unidos proporciona uma maior estabilidade<br />
financeira para os produtores, incentivando<br />
a expansão e a inovação. No Brasil, a falta de um<br />
suporte equivalente coloca os agricultores em uma<br />
posição mais vulnerável.<br />
Para os agricultores brasileiros, essa falta de<br />
apoio se traduz em maior risco e menor segurança<br />
financeira. Em um país onde a agricultura desempenha<br />
papel elementar na economia, a ausência de<br />
um sistema de seguro rural eficaz pode ter consequências<br />
profundas. Os produtores são frequentemente<br />
expostos a riscos climáticos e de mercado,<br />
que podem resultar em perdas significativas e comprometer<br />
a sustentabilidade de suas operações.<br />
Mudar esse cenário depende de um aumento<br />
nos subsídios governamentais, simplificação dos<br />
processos burocráticos e ampliação da cobertura<br />
dos seguros rurais. Essas medidas poderiam incentivar<br />
mais produtores a aderirem ao seguro, proporcionando<br />
maior segurança e estabilidade ao setor<br />
agrícola brasileiro.<br />
A análise é especialmente importante em um<br />
cenário marcado por eventos climáticos cada vez<br />
mais intensos, e o agronegócio brasileiro enfrenta<br />
perdas significativas na cobertura contra esses fenômenos.<br />
Segundo matéria do Correio Braziliense,<br />
publicada em 19 de junho, a vulnerabilidade do<br />
setor tem se ampliado, impactando diretamente a<br />
produção e a economia rural do país.<br />
A incidência de secas e chuvas excessivas tem<br />
comprometido seriamente as colheitas em diversas<br />
regiões do Brasil. Especialistas citam que o aumento<br />
na frequência e na intensidade desses eventos<br />
extremos está desafiando as estratégias tradicionais<br />
de manejo e produção agrícola. Somente no último<br />
ano, as perdas financeiras associadas a esses eventos<br />
foram estimadas em R$ 5 bilhões.<br />
As mudanças climáticas têm alterado os padrões<br />
históricos de temperatura e precipitação, exigindo<br />
adaptações rápidas e eficazes por parte dos agricultores.<br />
Essa volatilidade climática não apenas afeta<br />
a quantidade e a qualidade das safras, mas também<br />
implica em riscos financeiros consideráveis para<br />
todo o setor.<br />
Em resposta, o governo tem sido pressionado<br />
a intensificar políticas de apoio e investimento em<br />
tecnologias adaptativas. Precisamos de mais investimentos<br />
em pesquisa e desenvolvimento de culturas<br />
resistentes às variações climáticas. A inovação<br />
tecnológica, como o uso de sistemas de monitoramento<br />
meteorológico avançado e práticas agrícolas<br />
sustentáveis, é vista como fundamental para mitigar<br />
os impactos negativos no agronegócio brasileiro.<br />
O artigo do Correio Braziliense citou que a necessidade<br />
de seguro agrícola acessível e eficiente<br />
nunca foi tão urgente. Muitos agricultores, especialmente<br />
os pequenos e médios produtores, sofrem<br />
perdas substanciais durante esses eventos<br />
extremos, o que coloca em risco não apenas suas<br />
atividades econômicas, mas também sua segurança<br />
alimentar.<br />
Por isto, a discussão sobre a adaptação do agronegócio<br />
às mudanças climáticas ganha cada vez<br />
mais relevância. O setor enfrenta uma encruzilhada<br />
onde a inovação tecnológica e políticas públicas<br />
eficazes podem ser determinantes para garantir sua<br />
resiliência e sustentabilidade no longo prazo.<br />
CONTEXTO REGIONAL: Considerando um recorte<br />
mais recente, em maio de <strong>2024</strong>, as chuvas abaixo<br />
da média em Minas Gerais resultaram no avanço da<br />
seca moderada no Triângulo Mineiro e da seca fraca<br />
no leste do estado, na divisa com o Rio de Janeiro.<br />
Segundo o Sistema de Meteorologia e Recursos
Hídricos de Minas Gerais (Simge), os impactos são<br />
de curto e longo prazo no nordeste, oeste e noroeste<br />
e de curto prazo nas demais áreas.<br />
Segundo o Simge, devido ao veranico de curto<br />
prazo, houve redução no plantio e crescimento de<br />
culturas ou pastagens. Em relação à saída da seca,<br />
foram observados alguns déficits hídricos prolongados,<br />
com pastagens e culturas não completamente<br />
recuperadas. As perdas de culturas ou pastagens<br />
foram consideradas prováveis, com escassez de<br />
água comum e restrições de água impostas. Situações<br />
mais graves incluíram perdas de culturas/pastagem<br />
e escassez de água generalizada ou restrições.<br />
Além disso, o relatório apontou alguns danos às<br />
culturas, pastagens, níveis baixos de córregos, reservatórios<br />
e poços, bem como desenvolvimento<br />
ou iminência de faltas de água. Restrições voluntárias<br />
de uso de água foram solicitadas. Em casos<br />
excepcionais, houve perdas de cultura/pastagem<br />
excepcionais e generalizadas e escassez de água nos<br />
reservatórios, córregos e poços de água, criando situações<br />
de emergência.<br />
Em 2023, o Cerrado Mineiro já havia enfrentado<br />
uma série de eventos climáticos extremos que<br />
tiveram impactos significativos na região. O último<br />
relatório climático da Organização das Nações<br />
Unidas (ONU) destacou que o aquecimento global<br />
afetou áreas do Cerrado, especialmente na região<br />
Central do Brasil, onde as temperaturas aumentaram<br />
cerca de 1°C acima da média global.<br />
Conhecido como o bioma das flores, o Cerrado<br />
é o segundo maior bioma brasileiro e abriga uma<br />
rica biodiversidade. No entanto, o aquecimento<br />
global está exacerbando os períodos de seca intensa<br />
em toda a área. Os eventos climáticos extremos<br />
de 2023 resultaram em um impacto econômico de<br />
US$ 23 bilhões no Brasil. As chuvas torrenciais representaram<br />
66% dos danos.<br />
Estudos propõem uma nova abordagem de mapeamento<br />
das unidades climáticas para o Triângulo<br />
Mineiro e Alto Paranaíba, considerando fatores<br />
como a temperatura média do mês mais frio, variação<br />
na precipitação pluviométrica, meses secos,<br />
passagens de frentes frias e possibilidade de geadas.<br />
PALAVRA DE QUEM ENTENDE<br />
Seguro agrícola no Brasil:<br />
redução de riscos em tempos de<br />
mudanças climáticas<br />
MARCOS MARINZEK, Especialista no Seguro<br />
Agro/Real Corretora de Seguros: “Nenhum produtor<br />
gestor do seu negócio deixa de contratar<br />
o seguro ao avaliar o custo-benefício que<br />
protegerá seu patrimônio”<br />
O seguro agrícola no Brasil cresce exponencialmente,<br />
mesmo de forma lenta, devido<br />
aos eventos climáticos que têm assolado<br />
diversas regiões. Atualmente, os agricultores<br />
conseguem enxergar a contratação do seguro<br />
rural como uma ferramenta de gestão de risco<br />
e não um custo.<br />
Recentemente, acompanhamos a catástrofe<br />
climática no Sul do país e como as indenizações<br />
foram essenciais para muitos produtores,<br />
além do aporte do governo de R$ 210 milhões<br />
a mais para fortalecer a contratação naquela<br />
região devido ao grande prejuízo naquela área.<br />
Somente no primeiro bimestre de <strong>2024</strong>, foram<br />
indenizados R$ 997,7 milhões em todo o<br />
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Brasil, 23,5% a mais do que o valor arrecadado<br />
pelas companhias de seguro. Ainda assim,<br />
se compararmos a contratação com os EUA,<br />
os brasileiros estão infinitamente mais tímidos.<br />
O seguro, hoje, é de uma importância inquestionável.<br />
Nenhum produtor gestor do seu<br />
negócio deixa de contratar o seguro ao avaliar<br />
o custo-benefício que protegerá seu patrimônio.<br />
No Alto Paranaíba, a contratação tem<br />
aumentado timidamente a cada ano, devido<br />
à seca, geada e granizo que estão ocorrendo<br />
em regiões onde não havia histórico, levando<br />
os produtores a questionarem suas perdas e<br />
contratar o seguro para manter seu patrimônio<br />
seguro”.<br />
MARIA EMÍLIA BORGES ALVES E FERNANDO<br />
ANTÔNIO MACENA DA SILVA, pesquisadores<br />
da Embrapa Cerrados: As mudanças climáticas<br />
globais vêm provocando uma série de alterações<br />
nos padrões climáticos em longo prazo.<br />
As consequências vêm sendo observadas e<br />
sentidas com mais frequência e intensidade<br />
nos últimos anos, seja no aumento das temperaturas,<br />
nas alterações do regime de chuvas<br />
ou na ocorrência de eventos climáticos extremos,<br />
como as chuvas intensas, chuvas de<br />
granizo ou secas severas. Tais eventos, além<br />
dos danos pontuais que provocam perdas de<br />
produção seja pelo excesso ou pela falta de<br />
chuvas, têm um dano mais amplo causado<br />
pelas altas temperaturas e pela mudança do<br />
regime de chuvas. Essas alterações, mais especificamente<br />
o atraso no início do período de<br />
chuvas normais, levam ao atraso do plantio da<br />
safra de verão, causando um “efeito dominó”,<br />
com o consequente atraso do plantio da 2ª safra<br />
e a possibilidade de uma eventual 3ª safra,<br />
podendo inclusive perder a janela de plantio<br />
ideal preconizada pelo Zoneamento Agrícola<br />
de Risco Climático (ZARC). Isso impacta no<br />
planejamento do produtor e pode impactar na<br />
produtividade e na qualidade do produto.<br />
Chuvas de granizo provocaram sérios danos<br />
às lavouras de café no Cerrado Mineiro,<br />
atingindo regiões pontuais, especialmente no<br />
final do ano de 2022. As chuvas intensas e<br />
com ventania, provocam danos físicos imediatos<br />
aos cultivos de maneira geral, além da<br />
perda de solo provocada pelo escoamento superficial<br />
e a pouca contribuição para o abastecimento<br />
dos volumes dos mananciais e a<br />
infiltração de água no solo, que serão sentidas<br />
a curto e médio prazo. O aumento das temperaturas<br />
afeta os ciclos das culturas, encurtando<br />
este ciclo e podendo afetar a qualidade, especialmente<br />
dos grãos.<br />
É possível afirmar que todas as culturas<br />
normalmente cultivadas na região do Cerrado<br />
Mineiro são afetadas em maior ou menor intensidade.<br />
Algumas são mais resilientes, como<br />
as culturas perenes. Já as culturas anuais,<br />
como soja, milho, feijão, entre outras, sofrem<br />
as consequências de forma mais imediata. As<br />
medidas adotadas para mitigar os impactos de<br />
eventos extremos são as práticas conservacionistas<br />
como o plantio direto, a rotação de<br />
culturas, manutenção da cobertura do solo e<br />
os sistemas de plantio integrados como ILPF<br />
(Integração Lavoura Pecuária Floresta). As<br />
instituições de pesquisa vêm trabalhando no<br />
sentido de aperfeiçoar as tecnologias de plantio<br />
integrado e dos sistemas de produção bem<br />
como o desenvolvimento de cultivares adaptadas<br />
e/ou resilientes por meio do melhoramento<br />
genético.<br />
Os governos estaduais e federal têm proposto<br />
programas e planos exclusivos voltados<br />
para o enfrentamento das mudanças climáticas<br />
que preveem a proposição de ações que<br />
envolvem os diversos setores como meio ambiente,<br />
energia, saúde, agricultura e indústria,<br />
entre outros, e, também, linhas de crédito específicas<br />
para fomentar a adoção de práticas<br />
para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.<br />
O seguro agrícola, em linhas gerais, cobre<br />
as explorações agrícolas contra perdas decor-
rentes principalmente de fenômenos meteorológicos.<br />
Ou seja, cobre basicamente o ciclo da<br />
planta, a partir da sua germinação/emergência<br />
até o ponto de colheita, contra a maioria dos<br />
riscos de origem de uma ou mais hipóteses<br />
de sinistro, tais como incêndio e raio, tromba<br />
d’água, ventos fortes, granizo, geada, chuvas<br />
excessivas, déficit hídrico e variação excessiva<br />
de temperatura.<br />
Portanto, o seguro rural se apresenta como<br />
um instrumento fundamental para a mitigação<br />
de riscos climáticos, que têm se tornado cada<br />
vez mais frequentes e intensos, especialmente<br />
diante desses eventos climáticos extremos.<br />
Assim, o seguro agrícola é uma ferramenta eficiente<br />
e importante para reduzir não só o risco<br />
para os produtores, mas também se tornar um<br />
instrumento-chave da política agrícola para<br />
estimular uma agropecuária mais sustentável,<br />
perene e resiliente às mudanças do clima.<br />
EUSIMIO FRAGA, professor, mestre e doutor.<br />
Coordenador do Centro de Inteligência em Cultivos<br />
Irrigados da Universidade Federal de Uberlândia,<br />
campus Monte Carmelo (CinCi/UFU), que<br />
desenvolve trabalhos de ensino, pesquisa e extensão<br />
no Cerrado Mineiro<br />
Apesar dos significativos avanços na disseminação<br />
das práticas agronômicas, compartilhamento<br />
de dados meteorológicos e<br />
implementação de gestão de processos nas<br />
propriedades agrícolas, ainda é comum observar<br />
prejuízos em cultivos anuais e perenes tanto<br />
em áreas de sequeiro quanto irrigadas. As<br />
mudanças climáticas terão impactos não apenas<br />
no Cerrado, mas globalmente, afetando<br />
áreas variadas como recursos hídricos, agricultura,<br />
energia, infraestrutura urbana e costeira,<br />
transporte e saúde, entre outras.<br />
Conforme o quinto relatório do Painel<br />
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas<br />
(IPCC), todos os modelos indicam um<br />
aumento na temperatura, com a mediana dos<br />
modelos projetando um aumento superior a<br />
1,2 vezes. Esse aumento de temperatura resultará<br />
em uma maior demanda hídrica nos<br />
cultivos, aumentando significativamente o<br />
risco de deficiência hídrica. A mediana dos<br />
modelos prevê um aumento na deficiência hídrica<br />
superior a 1,5 vezes, com a maioria dos<br />
resultados (percentis 25 a 75) indicando um<br />
incremento entre 1,4 a 1,7 vezes para o Bioma<br />
Cerrado, conforme anotado na produção<br />
científica “Efeito das mudanças climáticas na<br />
agricultura do Cerrado”, realizada por Eduardo<br />
Delgado Assad Daniel de Castro Victoria<br />
Santiago Vianna Cuadra Vanessa Silva Pugliero<br />
Marília Ribeiro Zanetti, publicada em 2020<br />
pela Embrapa.<br />
Os impactos climáticos têm intensificado<br />
a ocorrência de eventos extremos de variabilidade<br />
climática na produção de alimentos,<br />
algo que já se observa e gera preocupação.<br />
Um estudo publicado em 2020 pela Universidade<br />
de Brasília (UnB), revelou que no Bioma<br />
Cerrado, apesar de registrar perdas agrícolas<br />
menores em comparação a outros biomas, as<br />
culturas como trigo, arroz e milho foram severamente<br />
impactadas por eventos de estiagem,<br />
enquanto a cultura do café foi afetada por secas,<br />
geadas e chuvas de granizo. O estudo foi<br />
conduzido por André Luiz de Carvalho (Uni-<br />
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versidade Federal de Alagoas, UFAL), Diogo<br />
Victor Santos (Ministério da Ciência, Tecnologia<br />
e Inovações, MCTI), José Antônio Marengo<br />
(Centro Nacional de Monitoramento e<br />
Alertas de Desastres Naturais, Cemaden, São<br />
José dos Campos, SP), Sonia Maria Viggiani<br />
Coutinho (Universidade de São Paulo, USP,<br />
São Paulo) e Stoécio Malta Ferreira Maia (Instituto<br />
Federal de Alagoas, IFAL, Maceió, AL).<br />
É importante ressaltar que a produção<br />
dessas culturas no Cerrado é significativa, e<br />
perdas dessa magnitude podem acarretar impactos<br />
consideráveis tanto para produtores<br />
quanto para consumidores. O monitoramento<br />
climático local é extremamente útil para orientar<br />
as tomadas de decisões, planejamento e na<br />
implementação de práticas culturais, tais como<br />
adubação, manejo fitossanitário, manejo da irrigação<br />
e controle de plantas daninhas. Concomitantemente,<br />
é fundamental compreender<br />
e identificar os fatores ambientais que podem<br />
influenciar positiva ou negativamente os diferentes<br />
estágios fenológicos das lavouras.<br />
Essa abordagem é crucial para adaptar-se às<br />
condições climáticas em constante mudança<br />
e maximizar a resiliência, a produtividade e a<br />
rentabilidade das áreas de cultivo.<br />
EM MONTE CARMELO, Minas Gerais: o<br />
Viveiro de Atitude é um dos locais onde<br />
ocorrem iniciativas importantes para<br />
enriquecer nossas matas e proteger a<br />
biodiversidade nativa do Bioma Cerrado.<br />
Esta foto, foi feita por Wenderson Araújo<br />
(CNA), durante “Press Trip” ao Viveiro de<br />
Atitude, em 7 de novembro de 2023<br />
SAIBA +<br />
Efeito das mudanças<br />
climáticas na agricultura<br />
do Cerrado<br />
94<br />
Impacts of extreme<br />
climate events on Brazilian<br />
agricultural production
ALGODÃO COM SUSTENTABILIDADE<br />
Produção de algodão em Patos<br />
de Minas e Alto Paranaíba ganha<br />
reforço com parceria sustentável<br />
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agro<br />
jul, 24<br />
ASSINATURA DO ACORDO entre Emater-MG e Amipa: momento muito positivo<br />
para os produtores mineiros de algodão<br />
N<br />
o dia 4 de julho, a Emater-MG e a Associação<br />
Mineira dos Produtores de Algodão<br />
(Amipa) oficializaram uma parceria estratégica<br />
para promover práticas agrícolas sustentáveis<br />
e intensificar a pesquisa sobre controle biológico de<br />
pragas nas lavouras de algodão em Minas Gerais.<br />
O evento ocorreu durante o Dia de Campo, na Fazenda<br />
Experimental da Amipa, considerada uma<br />
referência no setor algodoeiro do estado.<br />
O acordo foi firmado pelo diretor-presidente<br />
da Emater-MG, Otávio Maia, e pelos líderes da<br />
Amipa: Daniel Bruxel (presidente) e Inácio Carlos<br />
Urban (vice-presidente). Estão previstas visitas técnicas<br />
aos produtores de algodão para coletar dados<br />
sobre os benefícios de sustentabilidade proporcionados<br />
pela técnica do controle biológico.<br />
Gelson Soares, diretor Técnico da Emater-MG,<br />
destacou a importância da colaboração: “A Amipa<br />
tem um trabalho muito bom na área de sustentabilidade<br />
das lavouras de algodão e possui uma biofábrica<br />
em Uberlândia, onde são produzidos insetos<br />
que atuam como inimigos naturais das principais<br />
pragas do algodão e de outras culturas. A associação<br />
buscou o auxílio da Emater-MG para validar<br />
os benefícios dessa tecnologia nas propriedades de<br />
algodão de Minas Gerais”.<br />
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revista<br />
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porcento<br />
agro<br />
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96<br />
A parceria entre Emater-MG e Amipa visa desenvolver<br />
uma metodologia conjunta para avaliar<br />
a sustentabilidade e a economia das propriedades<br />
que utilizam o controle biológico. Lício Sairre, diretor<br />
executivo da Amipa, explicou que atualmente<br />
80 mil hectares de área são tratados com inimigos<br />
naturais, e que essa área continuará se expandindo.<br />
Ele observou ainda: “O produtor diminui muito o<br />
uso de defensivo agrícolas, principalmente inseticidas.<br />
Além disso, os plásticos deixam de ir para a lavoura;<br />
há redução do consumo de óleo diesel, pois<br />
não precisa trator, e outros benefícios secundários.<br />
Temos alguns números desse trabalho que não são<br />
creditados e por isso que nós escolhemos a Emater<br />
para verificar e aferir esses dados”.<br />
A presença da Emater-MG em vários municípios<br />
mineiros, aliada à sua credibilidade e expertise,<br />
foi fundamental para essa parceria. Segundo Lício<br />
Sairre, “a Emater-MG faz o diagnóstico e a aferição<br />
para certificação das fazendas. Então a Emater-<br />
-MG surgiu como um parceiro natural e esperamos<br />
ter bastante sucesso nesse projeto”.<br />
A Amipa, uma entidade civil sem fins econômicos,<br />
atua há mais de duas décadas na promoção<br />
e fortalecimento da cotonicultura sustentável em<br />
Minas Gerais. Em <strong>2024</strong>, a associação prevê uma<br />
produção de 3,5 milhões de toneladas de algodão,<br />
um aumento de 12,2% em relação à safra anterior.<br />
No cenário nacional, as exportações de algodão<br />
do Brasil em maio apresentaram um aumento expressivo,<br />
totalizando 229,4 mil toneladas e gerando<br />
uma receita de US$ 488 milhões. Esses números<br />
representam um crescimento de 280% em comparação<br />
com o mesmo período do ano anterior. Em<br />
Minas Gerais, a área plantada foi de 32.106 hectares,<br />
24,21% maior que na safra anterior, e a produção<br />
total de fibra de algodão projetada é de 65 mil<br />
toneladas.<br />
Patos de Minas e o Alto Paranaíba são regiões<br />
estratégicas para a cotonicultura em Minas Gerais.<br />
A nova parceria entre Emater-MG e Amipa promete<br />
fortalecer ainda mais a produção local, garantindo<br />
práticas agrícolas mais sustentáveis e eficazes<br />
no controle de pragas, contribuindo assim para o<br />
crescimento contínuo da cotonicultura mineira.<br />
Os produtores locais se beneficiam diretamente<br />
dessas iniciativas, pois além de reduzirem custos<br />
com defensivos agrícolas, também garantem uma<br />
produção mais limpa e alinhada com as exigências<br />
dos mercados consumidores, cada vez mais atentos<br />
às questões ambientais e de sustentabilidade.<br />
A Emater-MG desempenha um papel estratégico<br />
no apoio ao produtor rural, oferecendo assistência<br />
técnica e extensão rural, promovendo capacitações<br />
e treinamentos que visam o aprimoramento<br />
das práticas agrícolas. Com essa parceria, os produtores<br />
de algodão do Alto Paranaíba terão acesso a<br />
tecnologias de ponta e poderão implementar o controle<br />
biológico de forma eficiente, potencializando<br />
seus resultados e contribuindo para a sustentabilidade<br />
da região.<br />
Com a expansão do controle biológico e a validação<br />
dos seus benefícios pela Emater-MG, espera-se<br />
que mais produtores adotem essa técnica,<br />
contribuindo para uma agricultura mais sustentável<br />
e competitiva. A parceria abre caminho para novas<br />
pesquisas e inovações que poderão ser aplicadas em<br />
outras culturas, ampliando os impactos positivos<br />
para a agricultura mineira como um todo.<br />
ENTREVISTA EXCLUSIVA: ao 100PORCENTOA-<br />
GRO, Daniel Bruxel falou sobre a importância da<br />
parceria.<br />
Como a parceria contribuirá para a promoção<br />
de práticas agrícolas sustentáveis na<br />
cotonicultura em Minas Gerais, especialmente<br />
em relação ao controle biológico de pragas?<br />
A Amipa já possui uma biofábrica, onde<br />
produz macroorganismos que ajudam no controle<br />
biológico de algumas pragas muito importantes<br />
para a cultura do algodão, da soja e do café. Essa<br />
parceria soma com as boas práticas agrícolas e de<br />
sustentabilidade que a Amipa já faz no dia a dia.<br />
A cooperação com a Emater visa buscar<br />
metodologias para mensurar o impacto positivo<br />
das atuais boas práticas rotineiras entre os<br />
associados da Amipa, especialmente no tocante
ao uso de ferramentas biológicas como por<br />
exemplo o uso de macroorganismos — insetos<br />
inimigos naturais – para o controle de pragas.<br />
Esperamos que essa cooperação traga luz a<br />
números importantes como a redução de uso de<br />
químicos, menor uso de óleo diesel, e quanto essas<br />
boas práticas reduzem a emissão de gases de efeito<br />
estufa e para o balanço de carbono da atividade.<br />
Considerando o aumento significativo na<br />
produção de algodão em Minas Gerais<br />
para <strong>2024</strong>, quais são os principais desafios<br />
enfrentados pelos produtores associados da<br />
Amipa e como esses desafios estão sendo<br />
abordados?<br />
A produção de algodão em Minas vem<br />
crescendo de forma consistente. A cultura de<br />
algodão tem alto custo; os investimentos para<br />
entrar nela são altos. Minas Gerais se consolidou<br />
justamente pela profissionalização do produtor de<br />
algodão. Os associados da Amipa contam com o<br />
apoio da entidade nos manejos de pragas e doenças,<br />
em projetos de sustentabilidade e certificações.<br />
Os desafios são aqueles do dia a dia, em busca<br />
de melhores práticas, aumento de produtividade<br />
e redução de custos. Essa troca de informações<br />
dentro da Amipa, entre produtores e técnicos<br />
ajuda a melhorar o cenário e obter uma melhor<br />
rentabilidade.<br />
Quais são os impactos econômicos e<br />
ambientais observados nas propriedades que<br />
adotaram o controle biológico de pragas?<br />
É algo fantástico ver esses impactos. A gente<br />
consegue notar nitidamente um melhor controle de<br />
pragas e insetos, bem mais efetivo, além de uma<br />
redução de custos. Com relação à sustentabilidade,<br />
isso nem se discute. Demora um certo tempo para<br />
ver os resultados, mas é algo bem benéfico. E a<br />
gente consegue os três pilares da sustentabilidade:<br />
melhor controle, custo menor e benefícios para o<br />
meio ambiente.<br />
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