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Revista 100PORCENTOAGRO - Ano 1 - Número 2 - Julho, 2024

Esta edição da Revista 100PORCENTOAGRO surge em um momento desafiador para o agronegócio em 2024. Com a pressão da baixa nos valores das commodities e os impactos dos problemas climáticos sobre a produção, tanto produtores quanto outros participantes do mercado enfrentam uma crise de liquidez generalizada. No entanto, o setor, conhecido por sua resiliência cíclica, se prepara para enfrentar esses desafios, refletindo sobre estratégias de sustentabilidade financeira e operacional. Apesar dos cortes de orçamento em marketing, o lançamento desta edição representa um ato de perseverança e compromisso com o futuro do agronegócio regional. Acreditando no poder da comunicação para superar fronteiras geográficas, a revista promove exemplos inspiradores e práticas exemplares que visam não apenas mitigar as dificuldades atuais, mas também inspirar inovações que fortaleçam o mercado de produtos regionais. Esta nova edição da revista traz matérias, artigos, análises e reflexões destinados a transformar a gestão agrícola, financeira, administrativa e estratégica dos negócios ligados ao agro. Em um momento em que a profissionalização se torna crucial, as temáticas abordadas visam capacitar produtores e empreendedores a ajustar suas trajetórias, reorganizar operações e buscar apoio especializado, consolidando assim um futuro mais promissor para o setor.

Esta edição da Revista 100PORCENTOAGRO surge em um momento desafiador para o agronegócio em 2024. Com a pressão da baixa nos valores das commodities e os impactos dos problemas climáticos sobre a produção, tanto produtores quanto outros participantes do mercado enfrentam uma crise de liquidez generalizada. No entanto, o setor, conhecido por sua resiliência cíclica, se prepara para enfrentar esses desafios, refletindo sobre estratégias de sustentabilidade financeira e operacional.

Apesar dos cortes de orçamento em marketing, o lançamento desta edição representa um ato de perseverança e compromisso com o futuro do agronegócio regional. Acreditando no poder da comunicação para superar fronteiras geográficas, a revista promove exemplos inspiradores e práticas exemplares que visam não apenas mitigar as dificuldades atuais, mas também inspirar inovações que fortaleçam o mercado de produtos regionais.

Esta nova edição da revista traz matérias, artigos, análises e reflexões destinados a transformar a gestão agrícola, financeira, administrativa e estratégica dos negócios ligados ao agro. Em um momento em que a profissionalização se torna crucial, as temáticas abordadas visam capacitar produtores e empreendedores a ajustar suas trajetórias, reorganizar operações e buscar apoio especializado, consolidando assim um futuro mais promissor para o setor.

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SE É AGRO, A GENTE COMUNICA! - PUBLICAÇÃO SEMESTRAL - JULHO, <strong>2024</strong><br />

EUDES BRAGA<br />

Com genética de<br />

excelência e Queijo Minas<br />

Artesanal premiado,<br />

produtor vira referência<br />

de profissionalização


A RESULT AGRO nasceu para transformar a sua fazenda,<br />

pequeno e médio produtor, em um negócio seguro e<br />

lucrativo. Uma parceria de sucesso que garante a<br />

sustentabilidade e longevidade da sua empresa.<br />

Produtor Rural, preocupe-se com o que realmente<br />

importa: a sua produção. Enquanto nós cuidamos de<br />

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a escrituração livro-caixa, planejamento tributário,<br />

assessoria societária, gestão econômica e financeira.<br />

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Patos de Minas-MG (34) 99818-9303<br />

Vila Velha-ES (27) 99837-5809


IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA<br />

EQUALE PHOS


<strong>Revista</strong> 100Porcentoagro<br />

<strong>Ano</strong> 1 • Edição <strong>Número</strong> 2 • <strong>Julho</strong>, 24<br />

Publicação semestral de:<br />

100Porcentoagro Comunicação no<br />

Agronegócio Ltda<br />

www.100porcentoagro.com.br<br />

DIRETORIA:<br />

Pauliane Oliveira (Executiva)<br />

pauliane.oliveira@100porcentoagro.com.br<br />

Rodolfo de Souza (Jornalismo)<br />

rodolfo.souza@100porcentoagro.com.br<br />

Hellen Mendes (Administrativa)<br />

hellen.mendes@100porcentoagro.com.br<br />

Bruna Juber (Marketing)<br />

bruna.juber@100porcentoagro.com.br<br />

CRÉDITOS DAS FOTOGRAFIAS<br />

PUBLICADAS NESTA EDIÇÃO<br />

Amipa: Pág 95<br />

Ana Karolinny Rodrigues Oliveira: Pág 49<br />

Any Lane/Pexels: Pág 56<br />

Arquivos pessoais: Págs 10, 16, 21, 22, 33, 46, 70, 85, 91 e 93<br />

Auma Agronegócios/Regera: Págs 24, 25 e 26<br />

Brett Sayles/Pexels: Pág 88<br />

Bruna Juber/<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Pág 82<br />

Comunicação Suinco: Pág 38<br />

Daniel Ferreira Benetório: Pág 12<br />

Ecossisistemas de Inovação... (Reprodução): Págs 75 e 76<br />

Elias Rafael: Pág 40<br />

Iágo Alberto: Capa e págs 50, 53 e 55<br />

Jéssica Aélio/Studio JA: Pág 44<br />

Luciana Sekita: Págs 17 e 21<br />

Nehort CESG: Págs 42 e 43<br />

Paula Rabelo: Págs 62<br />

Região do Cerrado Mineiro: Pág 80<br />

Steve Buissine/Pixabay: Pág 69<br />

Wenderson Araújo/CNA: Págs 10, 15, 22, 30, 34, 37, 39, 66, 72,<br />

87 e 94<br />

ILUSTRAÇÕES<br />

Bruna Juber: Pág 36 • Mariana Cecília Melo: Pág 31<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

@orodolfodesouza | (34) 99954 9282<br />

<strong>2024</strong> está testando os players do<br />

agronegócio, seja pela baixa no valor<br />

das commodities, seja pelos problemas<br />

climáticos afetando a produção, seja pelo<br />

contexto dos últimos anos resultando em<br />

alta alavancagem dos produtores rurais<br />

e outros players do mercado. É fato! O<br />

produtor está sem caixa, mas não só ele<br />

está sofrendo com a falta de recursos.<br />

Sendo o agro um setor interligado e<br />

sistêmico, a falta de caixa é praticamente<br />

geral para outros players também. No<br />

entanto, é importante lembrar: o agro é<br />

cíclico e cabe aos seus atores a resiliência.<br />

E na mais profunda apropriação da<br />

resiliência, nasce a segunda edição da<br />

<strong>Revista</strong> <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />

Em meio aos cortes de orçamento<br />

destinados ao marketing, o lançamento<br />

desta edição poderia ser a própria definição<br />

de teimosia, não fosse o que nos move.<br />

Acreditamos firmemente que as sementes<br />

plantadas através da comunicação levarão o<br />

agronegócio regional a inspirações positivas<br />

mútuas, que irão transpor as barreiras<br />

geográficas e reverberar para os mercados<br />

que buscam os produtos regionais.<br />

Em razão disso, essa edição vem recheada<br />

de grandes exemplos e boas práticas,<br />

além de “insights” e reflexões que podem<br />

transformar a gestão agrícola, financeira,<br />

administrativa e estratégica de vários<br />

negócios ligados ao agro. A gestão no<br />

agro nunca foi tão determinante, e trazer<br />

temáticas que podem ser a inspiração<br />

necessária para que produtores e<br />

empreendedores possam readequar a<br />

rota, reorganizar os negócios, buscar<br />

suporte profissional e, efetivamente, se<br />

profissionalizar é, sem dúvidas, gratificante.<br />

Esperamos que aproveitem a leitura.


MATÉRIA DE CAPA<br />

SE É AGRO, A GENTE COMUNICA! - PUBLICAÇÃO SEMESTRAL - JULHO, <strong>2024</strong><br />

EUDES BRAGA<br />

Com genética de<br />

excelência e Queijo Minas<br />

Artesanal premiado,<br />

produtor vira referência<br />

de profissionalização<br />

Eudes Braga, produtor de leite em Carmo do Paranaíba,<br />

Minas Gerais, destaca-se pela alta produtividade de sua<br />

fazenda. Desde 2001, ele transformou sua operação<br />

através de manejo nutricional preciso, cuidados<br />

veterinários constantes e tecnologias modernas de<br />

gestão. Braga enfatiza a importância da atualização com<br />

as melhores práticas e do investimento em tecnologia,<br />

além da educação contínua e busca por conhecimento.<br />

Seu sucesso exemplifica a profissionalização no<br />

agronegócio do Cerrado Mineiro<br />

PÁGINA 50<br />

DESTAQUES<br />

BRASIL: desafios no agronegócio<br />

16 pela dependência de insumos 72<br />

AGRICULTURA IRRIGADA: Alto<br />

30 74<br />

ALIMENTOS: Triângulo Mineiro,<br />

34 82<br />

41<br />

56<br />

62<br />

importados. PNF impulsiona<br />

segurança Alimentar<br />

Paranaíba se destaca na produção<br />

nacional<br />

Alto Paranaíba e Noroeste de<br />

Minas: pilares da produção<br />

agrícola em Minas Gerais<br />

DESAFIOS: mulheres ampliam<br />

presença no mercado de trabalho,<br />

mas cenário ainda pode melhorar<br />

ABACATES: associação de<br />

produtores rebate reportagem da<br />

BBC sobre produção brasileira<br />

PECUÁRIA: queda nos insumos e<br />

clima impulsionam confinamento<br />

de gado. Pecuaristas do Alto<br />

Paranaíba analisam<br />

88<br />

95<br />

GESTÃO FINANCEIRA<br />

E ENDIVIDAMENTO NO<br />

AGRONEGÓCIO: setor enfrenta<br />

desafios e busca soluções<br />

SAÚDE HUMANA: a importância da<br />

tipologia do solo para<br />

a agricultura<br />

TECNOLOGIA E<br />

INFRAESTRUTURA: os desafios e<br />

AS oportunidades do agronegócio<br />

brasileiro. Um recorte sobre o<br />

Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba<br />

e Noroeste de Minas<br />

SEGURO AGRÍCOLA: acesso<br />

ao serviço é de 80% nos EUA,<br />

enquanto no Brasil é de apenas<br />

20% no Brasil. Triângulo Mineiro,<br />

Alto Paranaíba e Noroeste de<br />

Minas vivem desafios e impactos<br />

ALGODÃO: parceria sustentável<br />

impulsiona produção em Patos<br />

de Minas


MUDANÇAS CLIMÁTICAS<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

10 10<br />

Aliança entre plantas e<br />

micro-organismos para uma<br />

agricultura resiliente<br />

KARLA VILAÇA, Engenheira agrônoma, mestre e<br />

doutora em Fitotecnia: “estudos relatam que plantas<br />

tratadas com micro-organismos promotores de<br />

crescimento potencializaram a atividade de enzimas<br />

antioxidantes”<br />

I<br />

niciamos o inverno brasileiro e as previsões<br />

climáticas divergem entre os estados. Acumulados<br />

de chuva que podem ultrapassar<br />

60 mm, massa de ar frio que pode levar as<br />

temperaturas para menos de 10°C, pancadas<br />

de chuva acompanhadas de ventos fortes e<br />

queda de granizo e temperaturas máximas que<br />

podem superar 36°C, são previsões climáticas<br />

para as diferentes regiões do Brasil.<br />

As adversidades climáticas como temperaturas<br />

extremas, secas, inundações, geadas,<br />

dentre outros, causam nas plantas o que chamamos<br />

de estresse abiótico. Tais condições<br />

ambientais adversas influenciam negativamente<br />

a produtividade dos sistemas agrícolas<br />

ameaçando a segurança alimentar em todo o<br />

mundo.<br />

E como proteger as lavouras garantindo<br />

uma maior tolerância das plantas às adversidades<br />

climáticas? A forma como conduzimos<br />

as culturas pode contribuir para minimizar as<br />

perdas de produtividade e desta forma, a nutrição<br />

mineral aliada à interação das plantas<br />

com os micro-organismos é um manejo promissor<br />

para a atividade<br />

agrícola sustentável.<br />

Micro-organismos benéficos<br />

incluem, principalmente,<br />

bactérias, fun-<br />

-gos, archaeas, protistas<br />

e virus. As interações<br />

benéficas de micro-orga-<br />

-nismos e plantas estão<br />

relacionadas ao estímulo<br />

do crescimento da planta,<br />

atuando na mobilização e<br />

transporte de nutrientes<br />

para a planta pela fixação<br />

de nitrogênio e solubilização<br />

ou mineralização de<br />

fósforo ou pela produção<br />

de hormônios e metabólitos<br />

secundários. Os micro-organismos<br />

que interagem<br />

com as plantas são<br />

capazes ainda de aliviar os estresses abióticos aos<br />

quais as plantas estão sujeitas, por meio de diversos<br />

mecanismos.<br />

Um dos mecanismos de maior resiliência


das culturas aos estresses abióticos é o aumento<br />

do crescimento radicular e a formação<br />

de raízes laterais e pêlos radiculares. Os micro-organismos<br />

promotores de crescimento<br />

produzem hormônios que auxiliam no desenvolvimento<br />

vegetal. Entre eles se destaca<br />

a produção de auxina, hormônio responsável<br />

pelo maior crescimento de raízes, resultando<br />

em maior absorção de água e nutrientes pelas<br />

culturas.<br />

Outra estratégia microbiana para mitigar os<br />

estresses abióticos em plantas é a produção do<br />

biofilme. A formação de biofilme próximo a<br />

superfície das raízes é uma proteção quando<br />

ocorre baixa disponibilidade de água, aliviando<br />

a deficiência hídrica e o estresse salino.<br />

Um outro mecanismo de tolerância das<br />

plantas aos estresses abióticos, principalmente<br />

ao déficit hídrico, envolve o acúmulo de compostos<br />

osmoprotetores como glicina betaína<br />

e prolina. Esses compostos mantêm o turgor<br />

celular e tornam as plantas mais vigorosas. Na<br />

literatura, é possível encontrar trabalhos que<br />

comprovam o aumento dos níveis intracelulares<br />

de prolina em plantas inoculadas com micro-organismos<br />

promotores de crescimento.<br />

As pesquisas sobre a interação de micro-<br />

-organismos e plantas apontam inúmeras<br />

oportunidades para aplicações na agricultura<br />

principalmente visando proporcionar maior<br />

tolerância aos estresses. Entretanto, muitos<br />

desafios precisam ser explorados visando a<br />

busca constante do desenvolvimento agrícola<br />

sustentável.<br />

Os produtos biológicos podem ser aplicados<br />

nas sementes, no solo ou mesmo em<br />

pulverizações aéreas. Para garantir a máxima<br />

eficiência da aplicação é importante que<br />

todos os produtores adotem boas práticas<br />

recomendadas pela pesquisa, tais como usar<br />

apenas inoculantes registrados para a cultura<br />

da soja no MAPA, utilizar o inoculante dentro<br />

do prazo de validade, estabelecido na embalagem,<br />

assegurar-se de que o produto tenha<br />

sido transportado e armazenado em local protegido<br />

do sol e com temperaturas inferiores a<br />

30°C e aplicar em dose adequada conforme a<br />

condição e a modalidade de uso.<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

SAIBA MAIS:<br />

“Mitigação dos estresses abióticos na agricultura<br />

mediada pela interação de microrganismos e plantas”,<br />

da Embrapa Arroz e Feijão, 2021<br />

Temperaturas extremas estão entre as principais causas da<br />

perda de produção. Estudos evidenciam efeitos benéficos da<br />

interação de micro-organismos e plantas para potencializar a<br />

tolerância, como a soja, inoculada com<br />

Serratia proteamaculans<br />

11


CIÊNCIA NO AGRO<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

O futuro do agro: uma colisão<br />

fértil entre tecnologia e tradição<br />

12<br />

HÉLIO LEMES, PhD: “a verdadeira revolução da IA no<br />

agro não se limita à tecnologia em si”<br />

I<br />

magine um “jardim de corais” digital, onde cada<br />

pólipo é um sensor, um drone, um algoritmo,<br />

todos trabalhando em conjunto para nutrir e<br />

proteger a rica biodiversidade do agronegócio brasileiro.<br />

Essa não é uma visão distante, mas a realidade<br />

emergente da inteligência artificial (IA) no campo,<br />

um caldeirão borbulhante de inovação onde o<br />

antigo e o novo se encontram para criar um futuro<br />

mais próspero e sustentável.<br />

No Cerrado, a startup brasileira Agrosmart utiliza<br />

IA para monitorar a umidade do solo e prever<br />

a necessidade de irrigação, economizando água e<br />

energia. Na região cafeeira de Minas Gerais, drones<br />

equipados com visão computacional identificam<br />

pragas e doenças nas plantações, permitindo intervenções<br />

precisas e reduzindo o uso de agrotóxicos.<br />

Em fazendas de soja no Mato Grosso, algoritmos<br />

de aprendizado de máquina otimizam a aplicação<br />

de fertilizantes, maximizando a produtividade e minimizando<br />

o impacto ambiental.<br />

Henrique Nomura, da Solinftec, compara o potencial<br />

da IA no agro à invenção do microscópio,<br />

uma ferramenta que revelou um universo invisível<br />

a olho nu, repleto de possibilidades. “A IA está<br />

nos dando uma nova lente para enxergar o campo,<br />

revelando padrões e conexões que antes eram<br />

inacessíveis”, diz ele em uma entrevista ao UOL.<br />

“Isso está democratizando o acesso à tecnologia,<br />

colocando ferramentas poderosas nas mãos de pequenos<br />

agricultores e cooperativas, que agora podem<br />

competir em pé de igualdade com os grandes<br />

players do mercado.”<br />

Mas, a verdadeira revolução da IA no agro não<br />

se limita à tecnologia em si. Ela reside na criação<br />

de um ecossistema de inovação, onde agricultores,<br />

engenheiros, agrônomos, pesquisadores e empreendedores<br />

se conectam e colaboram, trocando<br />

ideias e experiências, testando novas soluções e<br />

aprendendo com os erros e acertos. É um ambiente<br />

onde a curiosidade e a criatividade florescem,<br />

impulsionadas pela paixão compartilhada por um<br />

futuro melhor para o campo.<br />

Para essa revolução florescer, é crucial contar<br />

suas histórias, celebrar suas conquistas e debater<br />

seus desafios abertamente; criar uma narrativa que<br />

inspire os jovens, mostrando que o agro não é apenas<br />

o passado, mas também o futuro, repleto de<br />

oportunidades para quem tem a coragem de inovar<br />

e a paixão de construir um mundo melhor.<br />

A IA no agro não é sobre aumentar a produtividade<br />

ou reduzir custos. É sobre criar um futuro<br />

mais justo, equitativo e sustentável para todos, um<br />

futuro em que a tecnologia e a tradição se unem<br />

para nutrir o solo, alimentar as pessoas e proteger<br />

o planeta. Esse encontro está acontecendo nos diversos<br />

hubs de inovação em todo o país, reunindo<br />

pessoas e empresas, financiados por governos e<br />

corporações e que promovem a compartilhamento<br />

do conhecimento tradicional e de alta tecnologia.


De Olho no Material Escolar completa três anos na<br />

defesa da educação de qualidade e na superação<br />

dos desafios estruturais do setor<br />

Criada a partir de um movimento da sociedade<br />

civil para revisar os conteúdos desatualizados<br />

sobre o agronegócio nos livros didáticos, trazendo<br />

dados científicos, públicos e fontes qualificadas,<br />

a associação De Olho no Material Escolar está<br />

completando três anos com muitos resultados.<br />

E ampliou sua atuação institucional para ajudar o<br />

País a enfrentar os desafios estruturais do setor<br />

educacional, único caminho para o País e o agro<br />

seguirem competitivos num cenário cada vez mais<br />

complexo.<br />

Hoje a DONME é o maior movimento do tipo no Brasil, tem presença nacional,<br />

apoio de mais de 40 grandes empresas, curadoria técnica de instituições<br />

científicas; participa dos principais eventos do agronegócio, já sensibilizou mais<br />

de 30 mil alunos e professores no programa “Vivenciando a Prática”; lançou uma<br />

Agroteca com mais de 300 conteúdos online; tem relacionamento com os<br />

principais atores e decisores de políticas públicas, além de editoras que alcançam<br />

um universo potencial de mais de 30 milhões de alunos.<br />

Que tal conhecer nosso trabalho, se associar e nos apoiar?<br />

Saiba mais em https://deolhonomaterialescolar.com.br<br />

ou nas nossas redes sociais (Insta, Face, Youtube, LinkedIn e Tik Tok).


IRRIGAÇÃO E DRENAGEM<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

A agricultura irrigada do século<br />

XXI demanda profissionais 5.0<br />

14<br />

MARIA EMÍLIA BORGES ALVES, Engenheira<br />

Agrícola, MsC e Dra. Pesquisadora na Embrapa<br />

Cerrados: “mercado tem oferecido melhores<br />

oportunidades e salários do que a 20, 30 anos atrás”<br />

A<br />

agricultura irrigada vem evoluindo ao<br />

longo da sua existência se tornando,<br />

hoje, uma prática cada vez mais tecnificada,<br />

que oferece muito mais do que o<br />

‘mero’ suprimento das necessidades hídricas<br />

das culturas.<br />

Por meio da prática da irrigação e seu manejo<br />

adequado é possível aplicar fertilizantes<br />

e defensivos de forma precisa e localizada,<br />

manejar determinados tipos de cultivo a fim<br />

de induzir ou retardar seu desenvolvimento e,<br />

assim, uniformizar a colheita, por exemplo. É<br />

possível, ainda, reduzir riscos climáticos, produzir<br />

três safras anuais e, sobretudo, suprir as<br />

necessidades hídricas das culturas (sua função<br />

primordial) com eficiência.<br />

Diante de tantas possibilidades, o interesse<br />

pela irrigação cresce a olhos vistos e, com isto,<br />

a área irrigada teve um acréscimo nos últimos<br />

dois anos na ordem de 400.000 ha ao ano,<br />

conforme indica o levantamento da Câmara<br />

Setorial de Equipamentos de Irrigação da Associação<br />

Brasileira da Indústria de Máquinas e<br />

Equipamentos. Praticamente o dobro do crescimento<br />

anual observado entre os anos 2010<br />

a 2020.<br />

A agricultura irrigada avança tecnologicamente<br />

no que diz respeito a equipamentos e<br />

a técnicas de monitoramento e manejo. Nesse<br />

compasso, o mercado de trabalho busca por<br />

profissionais que acompanhem esta evolução.<br />

É seguro afirmar que este mercado tem<br />

oferecido melhores oportunidades e salários<br />

do que a 20, 30 anos atrás, respondendo, naturalmente,<br />

à clássica ‘lei da oferta e da procura’:<br />

necessita-se não apenas de um número maior<br />

de profissionais, uma vez que o interesse pela<br />

irrigação tem aumentado, mas também cresce<br />

a demanda por profissionais bem preparados<br />

para atuar em todas as fases que abrangem<br />

desde a implantação até a condução e manejo<br />

de um projeto de irrigação.<br />

A adoção da irrigação implica em custos<br />

financeiros consideráveis e a mitigação desses<br />

custos pode ser alcançada por meio das boas<br />

práticas. Além disso, é fundamental, por óbvio,<br />

levar em conta o principal insumo que<br />

viabiliza a agricultura irrigada que é a água.<br />

Toda tecnologia desenvolvida converge para<br />

o uso responsável dos recursos hídricos e isto<br />

requer profissionais especializados.<br />

Em uma rápida busca é possível identificar<br />

que há oferta de vagas, em diversas regiões<br />

do país, para montadores, projetistas, vendedores,<br />

técnicos agrícolas com experiência em<br />

operação de sistemas de irrigação, agrônomos<br />

e engenheiros agrícolas com especialização<br />

relacionada a agricultura irrigada e assim por<br />

diante.<br />

A pergunta é:<br />

– Temos profissionais qualificados para<br />

atender essa demanda?<br />

E a resposta é:<br />

– Temos, mas não o suficiente.<br />

Profissionais capacitados e a procura de<br />

uma colocação sim, há muitos. Mas a qualificação<br />

para atender as peculiaridades da agricultura irrigada<br />

moderna e sustentável muitas vezes fica a cargo<br />

da empresa que contrata este profissional, que vai<br />

treiná-lo seja com seu próprio corpo técnico, seja<br />

propiciando a realização de cursos e treinamentos<br />

específicos.<br />

A formação acadêmica é a base, que dire-


ciona ou desperta o interesse daquele, então<br />

estudante, para área que deseja atuar. A partir<br />

daí, vem a qualificação que faz desse profissional<br />

um especialista.<br />

Há formações específicas para os diversos<br />

tipos de profissionais que compõem esta cadeia<br />

que envolve a agricultura irrigada, sejam<br />

profissionais graduados, sejam profissionais<br />

de nível técnico. Dependendo do momento<br />

em que o profissional atua nesta cadeia, ele<br />

necessita entender sobre determinado tema<br />

com maior ou menor profundidade, desde a<br />

hidráulica, leitura de projetos, elaboração de<br />

projetos e as ferramentas existentes para tal,<br />

passando pelo entendimento das relações entre<br />

a planta, o solo e o clima, recursos hídricos,<br />

fisiologia vegetal, e ainda, aspectos como a logística,<br />

a política e mercado agrícola. Não esquecendo<br />

das especificidades de cada região.<br />

Não é pouca coisa...<br />

A mensagem para todo e qualquer profissional,<br />

de qualquer área, é: qualifique-se!<br />

Esta recomendação não é diferente para<br />

a agricultura irrigada. Existem inúmeras possibilidades<br />

de treinamentos e capacitações<br />

oferecidas por instituições conhecidas, por<br />

empresas privadas ou por profissionais independentes,<br />

presenciais e a distância, para as<br />

diversas categorias profissionais que atuam no<br />

setor.<br />

Há vagas! Esteja pronto para ser um profissional<br />

da agricultura irrigada.<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

TECNOLOGIA desenvolvida<br />

converge para o uso<br />

responsável dos recursos<br />

hídricos e isto requer<br />

profissionais especializados<br />

15 15


SEGURANÇA ALIMENTAR<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

Soberania nacional: o poder dos<br />

insumos “made in Brazil”<br />

16<br />

PAULIANE OLIVEIRA, Advogada e Diretora Executiva<br />

do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>: “Em vez de competir no<br />

mercado global, o Brasil pode inovar e se destacar<br />

criando produtos únicos e sustentáveis”<br />

O<br />

Brasil, um dos líderes do agronegócio,<br />

enfrenta desafios significativos devido<br />

à sua dependência de insumos importados.<br />

Com solos cuja fertilidade natural é baixa,<br />

o Brasil, capitaneado pelo eterno Ministro<br />

Alysson Paolinelli, operou o milagre do Cerrado,<br />

transformando um país importador em<br />

um dos maiores exportadores de alimentos da<br />

atualidade.<br />

Nosso país possui clima favorável, água e<br />

grande disponibilidade de áreas, mas seu solo<br />

é naturalmente pobre em NPK – Nitrogênio<br />

(N), Fósforo (P) e Potássio (K). Para manter<br />

a produtividade, os nutrientes retirados a cada<br />

colheita devem ser repostos com fontes e tecnologias<br />

reconhecidas.<br />

O significativo crescimento da produção<br />

agrícola brasileira nas últimas décadas se deu,<br />

portanto, devido principalmente aos ganhos<br />

de produtividade obtidos com o uso intensivo<br />

de fertilizantes.<br />

O Brasil é “a potência agroambiental mundial”,<br />

desde que os fertilizantes sejam utilizados<br />

de forma intensiva, o que, pelos fatores de<br />

dependência externa, nos coloca em condição<br />

de vulnerabilidade.<br />

Brasil, gigante com pés de<br />

barro<br />

José Carlos Polidoro, pesquisador da Embrapa<br />

Solos, descreve o Brasil como um “gigante<br />

com pés de barro”, destacando o cenário<br />

em que, apesar do tamanho e da importância<br />

do setor agrícola brasileiro, as bases não estão<br />

sólidas, o que torna essa situação como uma<br />

questão de soberania nacional.<br />

Aliada à necessidade de proteção dos interesses<br />

do Brasil, fato é que o crescimento<br />

da produção nacional de alimentos terá que<br />

ser da ordem de 40% para atender a demanda<br />

global, considerando um incremento previsto<br />

de mais 2 bilhões de pessoas até 2050, de acordo<br />

com o 2022 Revision of World Population<br />

Prospects, publicado pelo Departamento de<br />

Assuntos Econômicos e Sociais, das Nações<br />

Unidas. Fertilizantes são, portanto, insumos<br />

estratégicos na produção agrícola brasileira.<br />

Para isso, precisamos superar desafios, especialmente<br />

a dependência externa, que é quase<br />

90%, segundo dados de 2021 da ANDA,<br />

Sixcomex, Simprifert e de 2022 do INPI.<br />

Alguns outros números e dados chocam.<br />

O Brasil é o quarto maior consumidor de


fertilizantes no mundo, mas o primeiro em<br />

dependência de importação. Atualmente não<br />

existe isonomia tributária, visto que há isenção<br />

para importação, mas não há para quem produz<br />

fertilizantes no nosso próprio país.<br />

A falta de uma política para o setor tornou<br />

o Brasil extremamente dependente de importação<br />

de produtos e tecnologias, fazendo a<br />

indústria nacional decrescer e as importações<br />

aumentarem ano após ano.<br />

A instabilidade gerada pela dependência externa<br />

acarreta, pelo próprio movimento mercadológico,<br />

eventuais aumentos nos preços<br />

dos insumos, o que, por via de consequência,<br />

impacta negativamente nas exportações do<br />

agronegócio brasileiro, tornando os produtos<br />

agrícolas nacionais menos competitivos, uma<br />

vez que a maior parte do custo de produção<br />

deriva do preço do fertilizante importado.<br />

Além disso, a situação é tão grave que, ainda<br />

que se pensasse num cenário de permanência<br />

de importação dos insumos, alguns números<br />

divulgados pelo pesquisador José Carlos<br />

Polidoro, da Embrapa Solos, demonstram<br />

que hoje o Brasil não dispõe de estrutura adequada<br />

para importar a quantidade de toneladas<br />

de fertilizantes necessários para atender a<br />

demanda futura de produção de alimentos, o<br />

que também demandaria em termos de investimentos<br />

futuros em infraestrutura.<br />

Um plano nacional para alterar essa realidade,<br />

bem como os desafios com questões ligadas<br />

ao licenciamento ambiental, alto custo com<br />

financiamento, falta de apoio ao desenvolvimento<br />

de cadeias emergentes, pesquisa geológica, e outros,<br />

era, de fato, necessário.<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

OS SOLOS BRASILEIROS, por conta de sua elevada atividade<br />

microbiana e das chuvas intensas, perdem muitos nutrientes<br />

adicionados por fertilizantes. Isso reduz a eficiência do<br />

uso desses fertilizantes, resultando em um aproveitamento<br />

incompleto dos nutrientes pelas plantas.<br />

17 17


revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

18<br />

PNF fortalece segurança<br />

alimentar do Brasil e<br />

gera oportunidades<br />

para empreendedores e<br />

investidores<br />

Em resposta aos desafios de produção agrícola<br />

brasileira, foi criado o Plano Nacional de<br />

Fertilizantes (PNF), cuja filosofia consiste em<br />

aumentar a produção nacional de fertilizantes,<br />

fornecendo novas tecnologias e melhorando<br />

os sistemas agroambientais de produção de<br />

alimentos, pautando-se em inovação e sustentabilidade.<br />

O PNF tem como meta para 2050 a produção<br />

nacional capaz de atender entre 45% e<br />

50% da demanda interna do Brasil, com geração<br />

de aproximadamente 50 mil postos de<br />

trabalhos diretos e 500 mil indiretos.<br />

Em termos de objetivos, o PNF é claro: visa<br />

reduzir a dependência externa de insumos, resolver<br />

problemas de infraestrutura e armazenamento, e<br />

enfrentar questões tecnológicas, regulatórias, tributárias<br />

e ambientais. O plano também busca elevar<br />

o conhecimento geológico do país, estimulando investimentos<br />

na pesquisa mineral e na descoberta de<br />

novas jazidas.<br />

Num mercado com tamanho potencial, é<br />

certo que existe um mar de oportunidades a<br />

explorar, especialmente quando as diretrizes<br />

são claras e promissoras. Empreendedores e<br />

investidores podem mirar nas potencialidades<br />

geradas pelo PNF, eis que serão demandados<br />

conhecimento e expertise variados.<br />

As diretrizes do Plano passam pela modernização,<br />

reativação e ampliação das plantas<br />

industriais e projetos de fertilizantes existentes<br />

no país, pela melhoria do ambiente de<br />

negócios para atrair investimentos na cadeia<br />

de produção e distribuição de fertilizantes e<br />

insumos para nutrição de plantas. Há diretriz<br />

focada em promover vantagens competitivas<br />

para o Brasil na cadeia mundial de produção<br />

de fertilizantes e na ampliação dos investimentos<br />

em pesquisa, desenvolvimento, inovação<br />

e aperfeiçoamento da cadeia de produção<br />

e distribuição. E, por fim, considerando a necessidade<br />

de adequação da infraestrutura para<br />

integrar polos logísticos e viabilizar novos empreendimentos,<br />

é certo que aqueles que buscarem<br />

gerar oportunidades de negócio alinhadas<br />

com as diretrizes não só poderão obter lucros,<br />

mas também poderão atuar pela transformação<br />

do agronegócio brasileiro.<br />

O oceano azul dos insumos<br />

agrícolas made in Brazil<br />

Inspirando-se nos insights do livro “A Estratégia<br />

do Oceano Azul”, de W. Chan Kim e Renée<br />

Mauborgne, que incentiva a criação de novos espaços<br />

de mercado inexplorados e a diferenciação<br />

estratégica, podemos enxergar a produção nacional<br />

de fertilizantes como um imenso oceano azul de<br />

oportunidades. Em vez de competir no saturado<br />

mercado global, o Brasil pode inovar e se destacar<br />

criando produtos únicos e sustentáveis que atendam<br />

às necessidades específicas do nosso solo e<br />

clima.<br />

A cadeia de fertilizantes é complexa, pois<br />

interage com diversos setores, como produção<br />

de alimentos, energia, indústrias química,<br />

de mineração, de óleo e gás, além do comércio<br />

exterior. A produção de fertilizantes está diretamente<br />

ligada à produção agrícola e à disponibilidade<br />

de matérias-primas a custos viáveis.<br />

A história conta que a invenção dos fertilizantes<br />

minerais permitiu a industrialização da<br />

agricultura, começando na Europa e América<br />

do Norte, e depois se expandindo para países<br />

em desenvolvimento. A Revolução Verde levou<br />

práticas agrícolas ocidentais para outras<br />

regiões, criando um mercado global bilionário<br />

de fertilizantes.<br />

No Brasil, a transferência dessas práticas<br />

de fertilização de países de clima temperado


para o clima tropical revelou-se inapropriada.<br />

Os solos brasileiros, devido à sua alta atividade<br />

microbiana e grandes volumes de chuva,<br />

perdem muitos nutrientes aplicados via fertilizantes.<br />

Isso faz com que a eficiência do uso<br />

desses fertilizantes seja menor do que o ideal,<br />

resultando em um aproveitamento incompleto<br />

dos nutrientes pelas plantas.<br />

Portanto, criar e testar fertilizantes feitos<br />

com matérias-primas brasileiras, adaptados<br />

para nossos sistemas de produção tropical,<br />

pode trazer enormes benefícios. Além disso, a<br />

inovação tecnológica pode tornar a agricultura<br />

mais sustentável, reduzindo as emissões de<br />

gases de efeito estufa e minimizando outros<br />

impactos ambientais dos fertilizantes.<br />

Claro que para isso é essencial quebrar padrões<br />

culturais arraigados entre os produtores,<br />

adaptar a legislação e superar uma série<br />

de outros desafios que ainda dificultam o pleno<br />

desenvolvimento da produção de insumos<br />

agrícolas nacionais.<br />

Também é fundamental que o Brasil desenvolva<br />

e promova seu próprio discurso ambiental,<br />

refletindo nosso compromisso com<br />

a sustentabilidade e a inovação. Ao cumprir<br />

metas globais de redução de GEE (Gases de<br />

Efeito Estufa) e aprimorar a imagem da agricultura<br />

brasileira, tanto nacionalmente quanto<br />

internacionalmente, o Brasil demonstrará sua<br />

liderança e pioneirismo em práticas agrícolas<br />

sustentáveis.<br />

Ao adotar uma abordagem de oceano azul,<br />

o Brasil pode se destacar criando um mercado<br />

de fertilizantes que não só atende às necessidades<br />

locais, mas também estabelece novos<br />

padrões de sustentabilidade e eficiência.<br />

As tecnologias de cadeias<br />

emergentes e a combinação<br />

de inovação e valor<br />

O Plano Nacional de Fertilizantes tem um<br />

objetivo claro: valorizar e desenvolver tecnologias<br />

emergentes com potencial de descarbonização.<br />

Essas tecnologias inovadoras<br />

incluem fertilizantes organominerais, co-produtos<br />

e resíduos de potencial agrícola, agrominerais<br />

e remineralizadores, bioinsumos, nanotecnologia<br />

de liberação lenta (slow release) e<br />

agricultura digital. Juntas, essas soluções estão<br />

ganhando espaço e transformando o mercado<br />

de insumos made in Brazil.<br />

As tecnologias de cadeias emergentes no<br />

agronegócio brasileiro são um exemplo perfeito<br />

da estratégia do oceano azul, que busca<br />

criar novos espaços de mercado em vez de<br />

competir nos já existentes. Ao desenvolver essas<br />

tecnologias, o Brasil está combinando inovação<br />

e valor de maneiras que rompem com<br />

as práticas agrícolas tradicionais.<br />

INOVAÇÃO: As novas tecnologias, como<br />

fertilizantes organominerais, bioinsumos e nanotecnologia<br />

de liberação lenta, introduzem<br />

soluções avançadas e mais eficientes para a<br />

agricultura. Essas inovações oferecem maneiras<br />

novas e melhoradas de nutrir e proteger as<br />

plantas, adaptando-se especificamente às necessidades<br />

e condições dos solos brasileiros.<br />

VALOR: Ao mesmo tempo, essas tecnologias<br />

trazem um valor significativo para os<br />

agricultores. Elas não apenas melhoram a produtividade<br />

das colheitas, mas também promovem<br />

a sustentabilidade ambiental ao reduzir a<br />

necessidade de insumos químicos tradicionais<br />

e minimizar os impactos negativos no meio<br />

ambiente.<br />

Essas tecnologias emergentes oferecem:<br />

Eficiência nutricional – otimizam a disponibilização<br />

e a absorção de nutrientes pelas<br />

plantas.<br />

Sustentabilidade ambiental – reduzem o<br />

impacto ambiental e promovem práticas agrícolas<br />

mais sustentáveis.<br />

Personalização e especificidade – atendem<br />

às necessidades específicas de culturas, solos e<br />

condições climáticas.<br />

revista<br />

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porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

19 19


revista<br />

100<br />

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agro<br />

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20<br />

Inovação tecnológica – incorporam avanços<br />

tecnológicos e científicos para melhorar a<br />

produtividade e a saúde das plantas.<br />

As tecnologias emergentes são mais específicas<br />

e, portanto, visam se adaptar à natureza<br />

de cada produtor e à natureza de sua produção,<br />

seguindo princípios como nutrição equilibrada,<br />

auxiliando as plantas a alcançar seu<br />

máximo potencial genético, absorção gradual<br />

dos nutrientes, integração com a natureza ao<br />

redor, conservação e recuperação do solo, otimização<br />

dos processos fisiológicos das plantas<br />

e minimização de perdas no manejo.<br />

Ao combinar inovação com valor e considerar<br />

essas especificidades, as tecnologias<br />

emergentes criam um novo espaço de mercado,<br />

em que os agricultores podem se beneficiar<br />

de práticas mais modernas, eficientes e<br />

sustentáveis.<br />

Essa abordagem não só melhora a competitividade<br />

da agricultura brasileira, mas também<br />

contribui para a construção de um setor<br />

agrícola mais resiliente e ecologicamente responsável.<br />

Além de tudo, considerando um cenário<br />

de ampla implementação, estima-se que o<br />

PNF, através das cadeias emergentes, poderá<br />

reduzir a dependência externa do Brasil nos<br />

seguintes percentuais:<br />

TIPO DE TECNOLOGIA<br />

Fertilizantes Organominerais<br />

Co-produtos e resíduos com<br />

potencial agrícola<br />

Agrominerais e<br />

Remineralizadores<br />

Bioinsumos<br />

Nanotecnologia “slow release” e<br />

agricultura digital<br />

25% NPK<br />

25% P<br />

10% K<br />

Fonte: José Carlos Polidoro, MAPA, Embrapa<br />

DESCRIÇÃO<br />

10% N 10% P<br />

-10%<br />

Claro que, devido a rapidez com que esse<br />

mercado se transforma e evolui, são dados estimados.<br />

Na prática, a depender da adesão e<br />

como essas tecnologias ganham espaço, esses<br />

números deverão ser revisitados e contemporizados<br />

com a realidade do mercado agrícola.<br />

Recorte de análise de<br />

mercado<br />

Considerando a ausência de dados do setor,<br />

a título ilustrativo, o <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />

traz os últimos dados divulgados pela Associação<br />

Brasileira das Indústrias de Tecnologia em<br />

Nutrição Vegetal (Abisolo), em maio de <strong>2024</strong>.<br />

Para tanto, foi feita a análise do mercado<br />

de fertilizantes especiais, atendido pelos associados<br />

Abisolo, que, no fim de 2023, contava<br />

com 150 empresas do segmento.<br />

Para efeitos da pesquisa foram considerados<br />

fertilizantes especiais: fertilizantes orgânicos,<br />

fertilizantes organominerais, substratos<br />

para plantas, condicionadores de solo e biofertilizantes.<br />

Dentre os dados levantados, a pesquisa revelou<br />

que Minas Gerais é o maior consumidor<br />

de fertilizantes especiais no Brasil, representando<br />

cerca de 20% do mercado nacional, seguido<br />

pelos estados de São Paulo com quase<br />

17% e Mato Grosso com aproximadamente<br />

15%.<br />

Em termos de venda por cultura, a soja lidera<br />

como a cultura que mais utiliza fertilizantes<br />

especiais, seguida do milho e café.<br />

No que se refere aos tipos de clientes, em<br />

2023, 66,9% das vendas de fertilizantes especiais<br />

foram B2B (Business to Business), enquanto<br />

33,1% foram B2C (Business to Consumer),<br />

ou seja, diretamente para o produtor<br />

rural.<br />

A pesquisa ainda revelou que o setor espera<br />

um crescimento médio de 11% para <strong>2024</strong>,<br />

o que é considerado um crescimento tímido,<br />

mas justificável devido a fatores econômicos,<br />

geopolíticos e técnico agronômicos.<br />

Com a relevância que tem ganhado o mercado<br />

de bionsumos, recentemente a Kynetec


VOZES DO MERCADO<br />

Brasil, empresa de pesquisas de mercado, divulgou<br />

que ainda em <strong>2024</strong> irá lançar um estudo<br />

exclusivo centrado no entendimento dos<br />

desafios e das tendências desse mercado e ancorado<br />

na visão de produtores, consultores,<br />

especialistas e distribuidores, sendo importante<br />

o acompanhamento da evolução do mercado<br />

pelos players e investidores interessados.<br />

Perspectivas promissoras para<br />

bioinsumos e fertilizantes<br />

especiais no Brasil<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

Novo padrão, por que não?<br />

Saímos de um ponto de irrelevante produção<br />

nos solos tropicais para nos destacar como<br />

um dos principais produtores agrícolas mundiais.<br />

Então, por que não podemos avançar<br />

e ter nosso próprio discurso ambiental? Por<br />

que não podemos diversificar e experimentar<br />

novos padrões de consumo de insumos?<br />

Será que não há um oceano azul aguardando<br />

o nosso deleite? Ao explorar e adotar tecnologias<br />

emergentes, podemos criar um mercado<br />

mais sustentável e inovador. Esta jornada não<br />

só demonstra a capacidade do Brasil de se reinventar,<br />

mas também posiciona o país como<br />

uma potência agroambiental, pronta para liderar<br />

o futuro da agricultura global com criatividade<br />

e responsabilidade ambiental.<br />

ANDRÉ HOLZHACKER, Cofundador e Diretor do<br />

Grupo Regera<br />

Nossa percepção em relação às potencialidades<br />

do mercado de bionsumos e fertilizantes<br />

especiais é extremamente positiva e promissora.<br />

Estamos passando por uma evolução<br />

na agricultura, de um modelo estabelecido pela<br />

revolução verde, baseado em uso de químicos,<br />

mecanização e variedades de plantas de alto<br />

rendimento, que foram passos fundamentais<br />

para atingir o alto nível que chegamos, para<br />

uma visão holística, dando protagonismo para<br />

o solo além da planta e integrando ao meio<br />

ambiente.<br />

Apesar do Brasil ser uma potência agrícola<br />

mundial, ainda é extremamente dependente<br />

da importação de fertilizantes químicos e tecnologia,<br />

que contribui para a volatilidade e in-<br />

21


revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

22<br />

segurança que estamos acostumados no setor<br />

e temos visto extremos cada vez maiores.<br />

Quando falamos de sustentabilidade, entendemos<br />

no sentido de durabilidade e consistência,<br />

alguns pilares fundamentais são:<br />

eficiência agronômica e econômica, previsibilidade<br />

de fornecimento e preços, baixa pegada<br />

de carbono e redução de impactos ambientais.<br />

Os fertilizantes especiais e bioinsumos<br />

cumprem um papel importante nessa evolução,<br />

fortalecendo os pilares mencionados<br />

acima, com seu mercado crescendo de 30% a<br />

40% por ano.<br />

A necessidade mais importante para o desenvolvimento<br />

desse mercado é a tangibilização<br />

de resultados e disseminação do conhecimento,<br />

tanto no aspecto agronômico, que<br />

deve gerar segurança para o agricultor, mas<br />

também na evolução das regulações, financiamentos<br />

com condições especiais que já começaram<br />

a ser aplicadas, assim como a valoração<br />

de atributos ambientais que esse tipo de produto<br />

traz.<br />

Como qualquer novo mercado, existe o desafio<br />

de “separar o joio do trigo”, ou seja, há<br />

muita narrativa e oportunismo que pode prejudicar<br />

a imagem do setor e atrasar sua consolidação,<br />

por isso é fundamental termos dados<br />

e resultados concretos.<br />

Seguindo a tendência de crescimento dos<br />

últimos anos junto com políticas públicas<br />

como o PNF e a exigência do mercado consumidor<br />

global por produtos com rastreabilidade<br />

e baixa intensidade de carbono, o setor<br />

deve amadurecer ainda mais e se consolidar,<br />

com novos produtos, regulatório mais claro,<br />

linhas de financiamento com condições atrativas<br />

para bioinsumos e biofertilizantes, já sendo<br />

consideradas pelo BNDES como exemplo.<br />

A Regera, grupo do qual a Reager faz parte,<br />

está focada na transformação de resíduos e<br />

biomassa em produtos de valor agregado, desenvolvendo<br />

e consolidando o que chamamos<br />

de economia circular. Produzimos de forma<br />

descentralizada produtos como biometano<br />

(gás natural renovável), fertilizante renovável<br />

com altos teores de nutrientes e baixa pegada<br />

de carbono, além dos próprios créditos de<br />

carbono.<br />

Temos a inovação em nosso DNA e enxergamos<br />

ainda infinitas possibilidades nesse<br />

segmento, onde o Brasil deve ser protagonista<br />

e ainda está apenas engatinhando.<br />

O Brasil tem um potencial de produzir<br />

70% do seu consumo de diesel a partir do biometano,<br />

50% do consumo de NPK a partir da<br />

recuperação de nutrientes de resíduos, além<br />

de ser protagonista na transição para a economia<br />

de baixo carbono, e a Regera está inserida<br />

nesse contexto, participando dessa evolução,<br />

através de inovação constante, implementação<br />

de novas plantas de transformação e levando<br />

produtos inovadores e de qualidade para o<br />

mercado.<br />

CAIO FERRAZ, Gerente Comercial Vigorfert<br />

Se o produtor não usou, ele vai usar bioinsumos<br />

e fertilizantes especiais. O produtor já<br />

percebeu que, além da pegada sustentável, a<br />

tecnologia entrega muito desempenho e muita<br />

produtividade. As taxas de crescimento da


linha de especiais ultrapassam dois dígitos. Acredito<br />

que nós vamos continuar vendo o crescimento<br />

tanto dos fertilizantes especiais quanto<br />

dos biológicos nos próximos anos. As empresas<br />

do setor têm aperfeiçoados as tecnologias<br />

na produção e têm cada vez mais aumentado<br />

a qualidade dos produtos, o que irá corroborar<br />

para o crescimento dessas linhas.<br />

O desafio era entender como o produto<br />

funcionava e agora está muito consolidado esse<br />

entendimento, a real eficiência do produto, a<br />

tecnologia realmente entrega muito, desde que<br />

bem posicionada.<br />

E o outro desafio é padronizar o produto,<br />

uma vez que trabalha com matéria orgânica.<br />

A necessidade é que tivéssemos um produto<br />

padrão, uniforme o ano inteiro e isso foi um<br />

grande problema do setor nos últimos anos,<br />

mas as empresas se aperfeiçoaram na tecnologia,<br />

investiram dentro das fábricas, qualificaram<br />

os profissionais, entenderam como funciona<br />

o processo produtivo e agora isso vem se resolvendo<br />

e as empresas que estão no mercado<br />

estão trabalhando com a qualidade melhor, o<br />

que tem influenciado muito no crescimento da<br />

tecnologia.<br />

Por fim, um gargalo importante é o crédito.<br />

As revendas e os produtores demandam crédito<br />

e não há linhas específicas para isso, além das<br />

altas taxas como as praticadas no Brasil.<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

TECNOLOGIAS EMERGENTES criam um novo espaço de mercado, em que os<br />

agricultores podem se beneficiar de práticas mais modernas, eficientes e sustentáveis<br />

23 23


ENERGIA RENOVÁVEL<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

Produção de biogás: viabilidade<br />

técnica, econômica e ambiental<br />

24<br />

JOSÉ BENEVIDES ROMANO, engenheiro agrônomo:<br />

“mudança de consciência para uma economia<br />

circular deve ser um compromisso de todos, com<br />

o presente de nosso planeta e com o futuro das<br />

gerações futuras”<br />

À<br />

medida que o mundo se industrializa<br />

e a população se torna cada vez mais<br />

urbana, maiores são os desafios em relação<br />

à geração de energia mais limpa e renovável.<br />

E o Brasil é um dos líderes mundiais na<br />

produção de energia limpa e sustentável, com<br />

inúmeras fontes de energia como a eólica, a<br />

solar e a biomassa, posicionando nosso país<br />

num seleto grupo mundial em termos de energia<br />

renovável. Quando falamos em sustentabilidade<br />

energética, cerca de 48% da matriz<br />

energética brasileira é renovável, enquanto a<br />

média mundial é de apenas 14%. E não existe<br />

perspectiva de longevidade para as empresas e<br />

propriedades rurais que não se conscientizarem<br />

da importância de um desenvolvimento<br />

sustentável, em que todas as atividades operacionais<br />

e produtivas tenham o menor impacto<br />

ambiental possível, gerando assim uma produção<br />

com qualidade e sustentabilidade.<br />

Nesse contexto, as empresas do agro estão<br />

cada vez mais investindo em inovações que<br />

tenham essa visão ambiental e maximizem a<br />

eficiência dos processos produtivos e menos<br />

poluentes. Outra tendência muito positiva<br />

tem sido a adoção de práticas que contribuam<br />

para o gerenciamento da água e da energia nos<br />

processos de produção. Processos de reutilização<br />

de água e resíduos são hoje uma maneira<br />

inteligente e eficaz de contribuir com o meio<br />

ambiente, gerando economia de recursos. No<br />

caso de agroindústrias, como, por exemplo,<br />

frigoríficos e laticínios, que geram grande volume<br />

de dejetos poluentes, hoje existem soluções<br />

tecnológicas que transformam esse passivo<br />

ambiental em bioenergia.<br />

A cada dia mais, a produção de bioenergia<br />

tem sido uma das alternativas mais promissoras<br />

para solucionar os problemas de emissão<br />

de gases de efeito estufa. As fontes de matéria-prima<br />

renováveis englobam materiais orgânicos,<br />

conhecidos como biomassa, que têm<br />

grande importância para o setor do agronegócio,<br />

tais como resíduos da produção animal,<br />

como dejetos de suínos e bovinos, além de<br />

outros subprodutos do processamento da cana-de-açúcar<br />

e de outras culturas como cascas<br />

de arroz, de café e de eucalipto. Os biocombustíveis<br />

representam a bioenergia utilizada<br />

como combustível para veículos, substituindo<br />

ou somando-se aos combustíveis fósseis,<br />

como gasolina, diesel e gás.<br />

Quando falamos em bioeletricidade, temos<br />

como principais produtos o biogás, a eletricidade<br />

da biomassa, a solar, a eólica, produzida<br />

pelo vento, e a hidrelétrica, que corresponde a<br />

51% da energia produzida no país. Interessan-


te observarmos esse movimento do agronegócio<br />

em buscar uma produção cada vez mais<br />

sustentável, envolvendo também a produção<br />

de bioenergia, para tornar as empresas e propriedades<br />

rurais cada vez mais autossuficientes<br />

na geração da própria energia, diminuindo<br />

custos e riscos de segurança energética.<br />

Cada vez mais acessíveis, os investimentos<br />

na produção da energia via biogás, por exemplo,<br />

têm sido uma excelente solução para suinocultores<br />

e pecuaristas de corte e leite, que,<br />

ao fazerem a gestão do passivo ambiental gerado<br />

pelos dejetos animais, desenvolvem um<br />

projeto com viabilidade técnica, econômica e<br />

com sustentabilidade ambiental. A bioenergia<br />

já está presente em nosso dia a dia, mas seguindo<br />

com novos investimentos em tecnologia<br />

e inovação, teremos a possibilidade de um<br />

futuro mais seguro e sustentável.<br />

Em tempo: existem recursos públicos disponíveis<br />

para quem aposta em sustentabilidade.<br />

O Banco Nacional de Desenvolvimento<br />

Econômico e Social (BNDES) financia projetos<br />

de usinas de biogás com recursos do Fundo<br />

Clima, cujo objetivo é apoiar projetos que<br />

visem a mitigação das mudanças climáticas:<br />

Em novembro de 2023, o BNDES financiou<br />

uma usina de biometano em Triunfo, no<br />

Rio Grande do Sul, com R$ 157 milhões, sendo<br />

R$ 79,8 milhões do Fundo Clima. A usina,<br />

da Bioo Holding S.A., produzirá gás natural<br />

renovável a partir de resíduos industriais e<br />

deve evitar 14 mil toneladas de CO 2 por ano<br />

na atmosfera.<br />

Em dezembro de 2023, o BNDES financiou<br />

projetos de biometano com R$ 230 mi-<br />

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100<br />

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USINA RECANTO 1, parceria da Auma Agronegócios com a Regera, em Patos<br />

de Minas, é uma das referências de sustentabilidade no Cerrado Mineiro<br />

25 25


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100<br />

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lhões, sendo R$ 53,7 milhões do Fundo Clima.<br />

O projeto deve evitar a emissão de 43.068<br />

toneladas de CO 2 equivalente por ano.<br />

Estes são apenas alguns exemplos, mas<br />

existem outros tantos casos de sucesso.<br />

Portanto, mais que modismo ou pressão<br />

ambiental, a mudança de consciência para<br />

uma economia circular, que reaproveite os resíduos<br />

orgânicos transformando-os em energia,<br />

deve ser um compromisso de todos, com<br />

o presente de nosso planeta e com o futuro<br />

das gerações futuras.<br />

BIOCOMBUSTÍVEIS representam a bioenergia<br />

utilizada como combustível para veículos,<br />

substituindo ou somando-se aos combustíveis<br />

fósseis, como gasolina, diesel e gás<br />

FUNDO CLIMA apoia projetos, estudos e<br />

empreendimentos para reduzir mudanças climáticas<br />

26<br />

O Fundo Clima é um dos instrumentos<br />

da Política Nacional sobre Mudança<br />

do Clima e se constitui em um fundo<br />

de natureza contábil, vinculado ao<br />

Ministério do Meio Ambiente com<br />

a finalidade de garantir recursos<br />

para apoio a projetos ou estudos e<br />

financiamento de empreendimentos<br />

que tenham como objetivo a mitigação<br />

das mudanças climáticas.<br />

Entre as modalides disponíveis,<br />

a oferta de crédito para projetos<br />

envolvendo florestas nativas e<br />

recursos hídricos visa apoiar a<br />

conservação, recuperação e gestão<br />

responsável de florestas e promover a<br />

mitigação climática, a sustentabilidade<br />

ambiental, a disponibilidade de<br />

água, a proteção e uso sustentável<br />

da biodiversidade e a resiliência às<br />

mudanças climáticas.<br />

SAIBA MAIS


AGRONEGÓCIO<br />

BRASILEIRO<br />

PRESERVA O MEIO AMBIENTE<br />

GERA EMPREGO E RENDA<br />

IMPULSIONA O DESENVOLVIMENTO<br />

SUSTENTÁVEL<br />

No Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba<br />

e Noroeste de Minas, cada produtor<br />

fortalece o Brasil como líder mundial<br />

SE É AGRO, A GENTE COMUNICA!


Cultivando<br />

conexões<br />

Unindo pessoas e histórias<br />

para gerar informação.<br />

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PESQUISA ACADÊMICA<br />

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PIVÔ EM CAMPO DE TRIGO<br />

na região de Brasília<br />

30<br />

Alto Paranaíba: agricultura<br />

irrigada e avanços tecnológicos<br />

A<br />

microrregião do Alto Paranaíba destaca-se<br />

na produção de alimentos em<br />

âmbito nacional, com uma crescente<br />

importância da agricultura irrigada. A informação<br />

faz parte do artigo “Georreferenciamento<br />

de Pivôs Centrais na Microrregião do<br />

Alto Paranaíba - MG”. Assinado pela professora<br />

mestre e doutora Mariana Cecília Melo,<br />

coordenadora do curso de Agronomia do<br />

Centro de Estudos Superiores de São Gotardo<br />

(CESG); e pelos acadêmicos da Instituição<br />

Fernando Salviano Gomes, Aluísio Ferreira<br />

Lima e Itamar Garcia Rodrigues, o artigo foi<br />

publicado pela <strong>Revista</strong> Brasileira de Gestão e<br />

Engenharia, edição especial de 2023.<br />

O artigo aponta que a diversidade de cultivos,<br />

alta produtividade, estabilidade na produção,<br />

uso eficiente da água e aumento do<br />

número de safras anuais são fatores que contribuem<br />

para a segurança alimentar e a qualidade<br />

de vida frente às crescentes demandas<br />

por alimentos.<br />

Entre os métodos de irrigação utilizados<br />

no Alto Paranaíba, os sistemas por aspersão<br />

do tipo pivô central se sobressaem. O georreferenciamento<br />

atualizado desses pivôs contribui<br />

para uma determinação mais precisa das<br />

áreas irrigadas, status de uso (ativo ou não),<br />

posicionamento em relação às áreas de preservação,<br />

concentração em microbacias hidrográficas,<br />

formulação de políticas públicas<br />

e necessidades de suprimento de energia elétrica.<br />

Além disso, permite um gerenciamento<br />

adequado dos recursos hídricos, especialmen-


te em regiões com potenciais conflitos pelo<br />

uso da água.<br />

De acordo com o estudo, apesar do aumento<br />

expressivo na utilização dos recursos<br />

hídricos, ainda existem lacunas de conhecimento<br />

sobre as áreas efetivamente irrigadas.<br />

Assim, é essencial produzir e atualizar informações,<br />

não apenas sobre o balanço hídrico<br />

quantitativo da região, mas também fornecer<br />

uma base técnica consistente para o planejamento<br />

e avaliação de riscos setoriais.<br />

O estudo teve como objetivo georreferenciar<br />

os pivôs centrais na microrregião do<br />

Alto Paranaíba, fornecendo subsídios para o<br />

planejamento e gerenciamento dos recursos<br />

hídricos.<br />

O georreferenciamento e levantamento<br />

quantitativo dos pivôs centrais na microrregião<br />

do Alto Paranaíba foram realizados por<br />

meio das imagens do satélite Sentinel – 2A,<br />

com resolução espacial de 10 m. As imagens,<br />

capturadas em 03/09/2023, permitiram a<br />

composição das bandas 04-03-02 (RGB). A<br />

partir disso, foram marcados os pontos (georreferenciamento)<br />

obtendo-se o quantitativo<br />

de pivôs por município. A marcação foi baseada<br />

na observação da torre e do rastro das<br />

rodas dos pivôs. As imagens também permitiram<br />

gerar polígonos sobre os pontos nos<br />

municípios de Rio Paranaíba e São Gotardo<br />

para determinação da área irrigada. Os dados<br />

foram submetidos a uma análise estatística<br />

descritiva, discutindo os resultados em termos<br />

regionais e nacionais.<br />

Esse estudo, com georreferenciamento<br />

dos pivôs na mesorregião do Alto Paranaíba,<br />

abrange uma área de 1.140.738,127 ha, composta<br />

por 10 municípios: Arapuá, Carmo do<br />

Paranaíba, Guimarânia, Lagoa Formosa, Matutina,<br />

Patos de Minas, Rio Paranaíba, São<br />

Gotardo, Santa Rosa da Serra e Tiros. As imagens<br />

identificaram 781 pivôs centrais em ati-<br />

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ESTUDO ENVOLVEU Arapuá,<br />

Carmo do Paranaíba,<br />

Guimarânia, Lagoa Formosa,<br />

Matutina, Patos de Minas,<br />

Rio Paranaíba, São Gotardo,<br />

Santa Rosa da Serra e Tiros<br />

(Crédito: CESG)<br />

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32<br />

vidade. O município de Rio Paranaíba possui<br />

o maior percentual, com 428 pivôs (54,81%<br />

do total). São Gotardo contabiliza 90 pivôs<br />

centrais. Juntos, esses municípios representam<br />

66,33% da agricultura irrigada por pivôs<br />

centrais na mesorregião, evidenciando grande<br />

desenvolvimento e investimento no setor.<br />

Em 2020, Rio Paranaíba tinha 386 pivôs<br />

centrais ocupando 16.507,00 ha. Em 2023, o<br />

município contava com 428 pivôs, ocupando<br />

17.731,50 ha, um aumento de 10,9% no número<br />

de pivôs e 7,41% em novas áreas irrigadas.<br />

No Brasil, em 2020, os pivôs centrais<br />

ocupavam uma área de 1.612.617,3 ha, distribuídos<br />

em 25.292 pivôs instalados. Minas Gerais<br />

liderava com 8.541 equipamentos e uma<br />

área irrigada de 501.183,6 ha. Rio Paranaíba<br />

e São Gotardo representam 1,25% e 4,01%<br />

da área nacional e estadual irrigada por pivôs,<br />

respectivamente. Em termos quantitativos, à<br />

época do estudo a irrigação por pivôs nesses<br />

municípios representa 2,05% nacionalmente e<br />

6,06% no estado.<br />

A metodologia utilizada permitiu um levantamento<br />

quantitativo preciso dos pivôs centrais<br />

na microrregião do Alto Paranaíba para<br />

2023, mostrando a expansão da área irrigada e<br />

contribuindo para avaliações hídricas e implementações<br />

de técnicas agrícolas de precisão.<br />

Estudos mais amplos são<br />

realizados pela ANA e<br />

Embrapa<br />

Em nível nacional, os levantamentos da<br />

agricultura irrigada do Brasil são realizados em<br />

parceria da Embrapa (Empresa Brasileira de<br />

Pesquisa Agropecuária) com a ANA (Agência<br />

Nacional de Águas).<br />

A agricultura irrigada é a maior consumidora<br />

de água retirada dos recursos hídricos.<br />

Esses levantamentos são essenciais para garantir<br />

a sustentabilidade do uso da água para a<br />

manutenção da biodiversidade, consumo humano<br />

e animal, uso industrial e produção de<br />

alimentos.<br />

Os levantamentos por bacias hidrográficas<br />

permitem a definição de outorgas visando a<br />

racionalização desses recursos e evitar a escassez<br />

ou conflitos pelo uso da água.<br />

A agricultura irrigada permite aumentos<br />

expressivos na produtividade e a obtenção de<br />

duas ou três safras por ano, fato estratégico<br />

para a humanidade, pois o Brasil será cada vez<br />

mais demandado como produtor de alimentos<br />

para atender a crescente demanda mundial.<br />

As mudanças climáticas estão causando<br />

danos expressivos na produção de alimentos,<br />

principalmente pela falta de água no solo<br />

(estiagem) ou pelo excesso de chuvas, como<br />

ocorreu no Rio Grande do Sul, recentemente.<br />

Aliás, é altamente recomendado<br />

ampliar conhecimetos<br />

sobre o tema por meio do<br />

Atlas Águas. Desenvolvida<br />

pela ANA, em colaboração<br />

com prestadores de serviço<br />

de abastecimento de água<br />

e parceiros institucionais,<br />

a publicação atualiza o Atlas Brasil de 2010.<br />

Este novo Atlas, lançado em 2021, incorpora<br />

conceitos e ferramentas do Plano Nacional<br />

de Segurança Hídrica, e avança no diagnóstico<br />

e planejamento da segurança hídrica para o<br />

abastecimento urbano no Brasil.<br />

O Atlas Águas avalia todos os mananciais e<br />

sistemas de abastecimento urbano, oferecendo<br />

soluções para atender às demandas presentes<br />

e futuras das 5.570 sedes urbanas até 2035.<br />

O conteúdo detalha os investimentos necessários<br />

para garantir o atendimento de 100%<br />

da população urbana do país, cobrindo desde<br />

a captação até o tratamento e distribuição de<br />

água.<br />

A ANA fez o último levantamento nacional<br />

em 2022 em parceria com o INPE (Instituto


Nacional de Pesquisas Espaciais). O levantamento<br />

de <strong>2024</strong> está em fase final, devendo ser<br />

publicado em breve.<br />

Alto Paranaíba é referência<br />

em irrigação, diz<br />

especialista<br />

Daniel Ávila, sócio fundador e head comercial<br />

da iCrop, ressalta que a região do Alto Paranaíba,<br />

em Minas Gerais, é um grande destaque mundial na<br />

produção de alimentos, tanto em quantidade quanto<br />

em qualidade. Segundo ele, “o agronegócio local<br />

foi muito impulsionado pelo crescimento da agricultura<br />

irrigada, mas outros fatores como o alto nível<br />

tecnológico no campo, a gestão e conhecimento<br />

dos produtores e o aumento de investimentos no<br />

setor fizeram toda diferença”.<br />

Ávila aponta que a região é favorecida pelo tipo<br />

de solo e clima, com um inverno bem definido, topografia<br />

e altitude excelentes para a produção de culturas<br />

de alto valor agregado, como hortifruti e café.<br />

Isso contribui para a grande diversificação e rotação<br />

de culturas, altas produtividades e aumento de renda<br />

e emprego no campo.<br />

Apesar dos números já mostrarem a grandeza<br />

desse polo irrigado, Daniel Ávila acredita que ainda<br />

há muito potencial de expansão. Um ponto forte<br />

destacado por Ávila é a crescente atenção das fazendas<br />

irrigadas com a sustentabilidade e otimização<br />

dos recursos hídricos e energéticos. “A maioria<br />

já utiliza ferramentas tecnológicas de gestão do<br />

consumo de água e energia, e consequentemente irrigam<br />

de forma eficiente e racional, o que gera economia<br />

e aumento da produtividade, aumentando a<br />

precisão e a segurança nas decisões”, afirma Ávila.<br />

Esses fatos reforçam ainda mais a importância<br />

do agro brasileiro para suprir a crescente demanda<br />

por alimentos da população mundial. Ávila observa<br />

que 17% da área agricultável mundial é irrigada,<br />

sendo responsável por 40% da produção de alimentos<br />

no mundo. Ele alerta que, sem irrigação, a<br />

população mundial não teria alimento de qualidade<br />

na mesa.<br />

Atualmente, o Brasil ocupa a sétima posição no<br />

ranking dos maiores países irrigados, com aproximadamente<br />

8,5 milhões de hectares irrigados. No<br />

entanto, Daniel Ávila vê um grande potencial para<br />

o país alcançar a terceira posição, com 30 milhões<br />

de hectares irrigados. Para isso, o especialista destaca<br />

a necessidade de fomentar o aumento do nível<br />

tecnológico, políticas de incentivo ao crescimento<br />

sustentável da irrigação e a disseminação do conhecimento<br />

e qualificação das pessoas no campo.<br />

A avaliação de Daniel Ávila sublinha a importância<br />

de investir em tecnologia e gestão eficientes<br />

para continuar a expansão e fortalecimento do<br />

agronegócio brasileiro, com foco na sustentabilidade<br />

e na otimização dos recursos naturais.<br />

DANIEL ÁVILA: favorecida pelo tipo de solo e clima,<br />

com um inverno bem definido, topografia e altitude<br />

excelentes para a produção de culturas de alto valor<br />

agregado<br />

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SUGESTÃO DO LEITOR<br />

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Dia após dia, Minas Gerais<br />

garante mesa farta, emprego<br />

e renda para milhões<br />

de brasileiros<br />

34 34


R<br />

ecentemente, lançamos uma<br />

caixa de perguntas no perfil<br />

do <strong>100PORCENTOAGRO</strong> no<br />

Instagram, pedindo sugestões de pautas<br />

sobre o setor. Um dos seguidores<br />

sugeriu esta reportagem especial sobre<br />

os alimentos produzidos no Triângulo<br />

Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de<br />

Minas.<br />

No extenso território brasileiro, o<br />

agronegócio se destaca como um dos<br />

pilares fundamentais da economia.<br />

Cinco estados são os motores dessa<br />

máquina, impulsionando a produção e<br />

as exportações. Minas Gerais aparece<br />

como um dos estados mais importantes<br />

na produção agropecuária do Brasil,<br />

reconhecido pela produção de café, leite,<br />

mel, alho, proteína animal, feijão, soja e<br />

milho. A variedade de culturas cultivadas<br />

em Minas reflete as condições climáticas<br />

favoráveis e a expertise dos agricultores<br />

locais. Nosso estado é um grande<br />

produtor, e possui cadeias produtivas e<br />

de serviços relacionados ao agronegócio<br />

muito bem estruturada. Desta forma,<br />

produtores rurais e trabalhadores do<br />

agronegócio garantem a segurança<br />

alimentar da população e contribuem<br />

para a economia do estado.<br />

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Minas é top 5 na produção<br />

de alimentos<br />

Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Rio<br />

Grande do Sul e Minas Gerais representam<br />

mais de 70% da produção agrícola nacional,<br />

contribuindo significativamente para o PIB<br />

brasileiro. Com produção diversificada e eficiente,<br />

garantem o abastecimento interno<br />

e impulsionam exportações, fortalecendo a<br />

posição do Brasil como um dos principais<br />

players globais no mercado agrícola. Esses<br />

estados são estratégicos para a segurança alimentar<br />

não apenas do Brasil, mas também<br />

de várias partes do mundo. Juntos, geram<br />

milhões de empregos diretos e indiretos,<br />

reduzindo desigualdades regionais e melhorando<br />

as condições de vida da população.<br />

Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e<br />

Noroeste de Minas possuem cadeias produtivas<br />

robustas de alho, café e outros grãos,<br />

cana-de-açúcar, pecuária e mel, além de serem<br />

referência na suinocultura e contribuírem<br />

também com outros produtos.<br />

O alho é um dos protagonistas. O mais<br />

recente levantamento do Hortifruti/Cepea<br />

revelou dados significativos sobre a produção<br />

no Brasil. O estudo apresentou detalhes<br />

importantes sobre as áreas de cultivo e regiões<br />

destacadas na produção da hortaliça.<br />

Minas Gerais se destaca como principal produtor<br />

nacional, com 34% da área plantada<br />

no país. A análise indica cultivo concentrado<br />

principalmente em Minas Gerais, Goiás,<br />

Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul,<br />

estados que somam cerca de 90% da área<br />

plantada no Brasil. Em Minas Gerais, Triângulo<br />

e Alto Paranaíba são as áreas mais produtivas,<br />

responsáveis por grande parte da<br />

produção estadual. Além de concentrarem<br />

a produção mineira, possuem infraestrutura<br />

e condições climáticas ideais para o cultivo<br />

da hortaliça, reforçando sua importância no<br />

cenário nacional. Segundo o levantamento,<br />

o Brasil cultivou alho em 11,2<br />

mil hectares em 2021, com produção<br />

de aproximadamente 119<br />

mil toneladas. Os números revelam<br />

um mercado robusto e em<br />

expansão, com Minas Gerais<br />

liderando o crescimento. A região<br />

é responsável por 90% da<br />

produção estadual, com destaque<br />

para Rio Paranaíba (37.950<br />

toneladas), Campos Altos (9.000<br />

toneladas), São Gotardo (7.625<br />

toneladas), Sacramento (6.600<br />

toneladas) e Santa Juliana (2.560<br />

toneladas), conforme dados do<br />

governo mineiro.<br />

Café do Cerrado<br />

Mineiro<br />

A Região do Cerrado Mineiro (RCM) inclui<br />

55 municípios e mais de 4,5 mil cafeicultores<br />

no Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de<br />

Minas, onde os cafés especiais são fundamentais<br />

para a economia local. São 255 mil hectares<br />

de lavouras, responsáveis por 12,7% da<br />

produção brasileira e 25,4% da produção mineira,<br />

com média de 6 milhões de sacas produzidas<br />

anualmente. Até março deste ano, mais<br />

de 8 mil hectares de café foram certificados<br />

em Agricultura Regenerativa. Os cafés da região<br />

são cultivados em território com estações<br />

climáticas definidas: verão quente e úmido e<br />

inverno ameno e seco. Os grãos são cultivados<br />

em áreas com altitudes entre 800 e 1,3 mil<br />

metros, resultando em bebida de sabor único<br />

e alta qualidade.<br />

O Cerrado foi a primeira região no mundo<br />

a obter a certificação ISO 9001 e a estampar a<br />

marca coletiva nas sacas de grãos.<br />

Na produção de outros grãos, Triângulo<br />

Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas<br />

também se destacam e são fundamentais


PRODUÇÃO FARTA de alimentos, com variedade de<br />

culturas, é característica forte do Triângulo Mineiro,<br />

Alto Paranaíba e Noroeste de Minas<br />

para a agricultura mineira, apesar das leves<br />

quedas observadas recentemente. A produção<br />

mineira alcançou 18,70 milhões de toneladas<br />

na safra 2022/23, segundo a Companhia<br />

Nacional de Abastecimento (CONAB). Soja<br />

e milho são os principais produtos, somando<br />

16,28 milhões de toneladas. A produção<br />

brasileira de soja alcançou 154.605,90 mil toneladas<br />

na safra 2022/23, com estimativa de<br />

crescimento para 160.177,20 mil toneladas na<br />

safra 2023/24, um aumento de 3,6%. A área<br />

cultivada em Minas Gerais aumentou de 2,17<br />

milhões de hectares para 2,24 milhões de hectares,<br />

incremento de 3,6%, devido à substituição<br />

de áreas de pastagem, feijão e milho de<br />

primeira safra pela soja.<br />

Na safra 2022/2023, Minas Gerais se destacou<br />

nacionalmente na produção de feijão,<br />

alcançando 556,7 mil toneladas, um aumento<br />

de 14,8% em relação à safra anterior de 484,9<br />

mil toneladas. A Conab relatou um acréscimo<br />

geral de 1,7% na safra nacional de feijão, totalizando<br />

3,04 milhões de toneladas. O bom de-<br />

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CAFÉS DO CERRADO MINEIRO garantem bebida<br />

de sabor único e alta qualidade<br />

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38<br />

sempenho das lavouras mineiras foi atribuído<br />

à produtividade média elevada e às condições<br />

climáticas favoráveis. A segunda safra registrou<br />

ampliação da área plantada em comparação<br />

ao período anterior, contribuindo para o<br />

resultado positivo da produção estadual.<br />

Os cinco maiores produtores de feijão do<br />

estado são da nossa região: Paracatu, Unaí,<br />

Guarda-Mor e Buritis (Noroeste) e Perdizes<br />

(Alto Paranaíba).<br />

Já a produção de milho atingiu 7,52 milhões<br />

de toneladas em Minas Gerais até novembro<br />

de 2023, queda de 5,4% em comparação<br />

à safra anterior, com área colhida reduzida<br />

em 4,1%, totalizando 1,23 milhão de hectares.<br />

Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste<br />

de Minas, tradicionalmente grandes produtoras<br />

de milho, foram diretamente impactadas<br />

pela redução. A busca por alternativas mais lucrativas<br />

alterou significativamente a dinâmica<br />

agrícola local.<br />

Na pecuária de corte e de leite, Minas<br />

Gerais se mantém em quarto lugar no ranking<br />

nacional de rebanho bovino, com 23 milhões<br />

de cabeças, 9,8% do total nacional. Triângulo<br />

Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas<br />

abrigam as maiores populações bovinas do estado,<br />

com 23,6% do total. Na pecuária de leite,<br />

as importações recordes de lácteos, principalmente<br />

da Argentina e Uruguai, aumentaram a<br />

oferta no mercado, causando desequilíbrio na<br />

cadeia. Até outubro de 2023, foram internalizadas<br />

228,2 mil toneladas de derivados, equivalendo<br />

a 1,7 bilhão de litros, alta de 77% em<br />

relação ao ano anterior. Segundo dados prévios<br />

do IBGE, a captação formal de leite no<br />

país cresceu 1,5% até o terceiro trimestre de<br />

2023, enquanto em Minas Gerais houve redução<br />

de 4,1% no primeiro semestre, fechando<br />

com média de 469 milhões de litros mensais<br />

no Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste<br />

de Minas, impactando a economia local<br />

fortemente dependente da produção leiteira.<br />

WEBER VAZ DE MELO, Diretor da Suinco<br />

Na suinocultura, nosso estado, especialmente<br />

o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba,<br />

aparece em destaque no cenário nacional.<br />

O “Retrato da Suinocultura Brasileira <strong>2024</strong>”,<br />

publicado pela Associação Brasileira dos Criadores<br />

de Suínos (ABCS), apresenta um panorama<br />

detalhado do setor. Segundo a ABCS, a<br />

suinocultura brasileira cresceu em várias áreas<br />

em 2023, incluindo produção, exportação e<br />

consumo doméstico. A produção nacional<br />

de suínos atingiu um recorde de 5,16 milhões<br />

de toneladas, representando 4% da produção<br />

mundial. O Brasil tornou-se o quarto maior<br />

produtor global de suínos, atrás da China,<br />

União Europeia e Estados Unidos.<br />

Uma das referências no segmento é a Suinco,<br />

localizada em Patos de Minas. A cooperativa<br />

processadora de carne suína foi fundada<br />

em 2003 por 36 produtores do Alto Paranaíba<br />

e do Triângulo Mineiro para agregar valor à<br />

produção das famílias cooperadas e industrializar<br />

a produção de suas granjas. Atualmente, a<br />

Suinco é a maior cooperativa processadora de


carne suína de Minas Gerais, referência nacional<br />

em tecnologia e processamento de carnes<br />

e derivados. Weber Vaz de Melo, Diretor Comercial<br />

e Industrial da Suinco, avaliou a publicação<br />

com exclusividade para o 100POR-<br />

CENTOAGRO. “O Retrato da Suinocultura<br />

Brasileira <strong>2024</strong> enfatiza a necessidade de investimentos<br />

contínuos em tecnologia, automação<br />

e infraestrutura para manter o crescimento<br />

sustentável do setor em Minas Gerais.<br />

A suinocultura no Alto Paranaíba, com destaque<br />

para Patos de Minas, segue como referência<br />

em eficiência produtiva e sustentabilidade,<br />

contribuindo significativamente para o posicionamento<br />

do estado como um dos líderes<br />

na produção de carne suína no Brasil”, disse.<br />

Outra riqueza de Minas Gerais, o mel e<br />

seus derivados conferem posição privilegiada<br />

para o Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e<br />

Noroeste de Minas. Conforme dados de 2022<br />

do IBGE, a produção total do estado alcançou<br />

6.165 toneladas, subindo duas posições<br />

no ranking nacional em relação a 2021, com<br />

um aumento significativo de 1.581 toneladas.<br />

A cidade de Formiga lidera a produção estadual,<br />

registrando 252 toneladas de mel. No cenário<br />

internacional, as exportações brasileiras<br />

de mel em 2022 atingiram 36 mil toneladas,<br />

gerando um faturamento de US$ 137 milhões,<br />

com um preço médio de US$ 3,74 por quilograma,<br />

segundo a Associação Brasileira dos<br />

Exportadores de Mel (ABEMEL).<br />

Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste<br />

de Minas são unanimidade nacional<br />

quando o assunto é produtividade agrícola.<br />

A presença de tecnologia avançada e uma infraestrutura<br />

logística desenvolvida contribuem<br />

para a eficiência e produtividade das atividades<br />

agrícolas, garantindo que o estado continue a<br />

contribuir de forma significativa para o desenvolvimento<br />

econômico do país. São a melhor<br />

parte do país pra produzir, com áreas menores<br />

quando comparadas ao Mato Grosso, por<br />

exemplo, porém mais rica e diversificada.<br />

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FORMIGA lidera a produção<br />

estadual de mel<br />

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IDENTIDADES FEMININAS<br />

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agro<br />

jul, 24<br />

As novas identidades<br />

profissionais de mulheres<br />

no agronegócio<br />

40<br />

RAQUEL SANTOS SOARES MENEZES: Professora<br />

na Universidade Federal de Viçosa. Fundadora da<br />

Startup WantU-Agro. Professora Conselheira do Time<br />

Enactus UFV-CRP. Coordenadora da Inovalto: Centro<br />

de Inovação e Empreendedorismo da UFV, Campus<br />

Rio Paranaíba.<br />

H<br />

á cerca de dez anos, ao concluir minha<br />

primeira pesquisa sobre mulheres<br />

gestoras no Agronegócio em Minas<br />

Gerais, identifiquei um fenômeno que<br />

chamei de “identidades ancoradas”. As<br />

mulheres que entrevistei, em uma pesquisa<br />

apoiada pelo CNPQ [Conselho Nacional<br />

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico],<br />

revelaram que grandes desafios de<br />

gênero e gestão ainda persistiam nas organi-<br />

zações agroindustriais, muitas vezes de forma<br />

mais evidente do que em outros setores.<br />

Elas eram “a mulher de”, a “filha de”, a<br />

“assistente ou secretária de...”. Naquela época,<br />

a figura da mulher no Agro estava normalmente<br />

ancorada em uma figura masculina. A<br />

partir dos resultados dessa e de outras pesquisas,<br />

participei de redes de mulheres, ministrei<br />

palestras, treinamentos e coordenei projetos<br />

que buscavam contribuir para a construção<br />

de identidades profissionais das mulheres no<br />

Agronegócio. Convivendo com centenas de<br />

mulheres, muitas delas líderes de alto potencial,<br />

mas que viviam na invisibilidade, despertamos<br />

para as possibilidades de impacto que o<br />

protagonismo gera. Juntas, a partir do autorreconhecimento<br />

do nosso potencial e valor,<br />

passamos a nos fortalecer e aumentar nossa<br />

contribuição nesse setor tão importante para<br />

a economia. Hoje, estamos contribuindo de<br />

forma expressiva para navegar pelas transformações<br />

do Agro, como mudanças climáticas,<br />

exigências de segurança alimentar e aumento<br />

da tecnificação em toda a cadeia produtiva,<br />

com inúmeras inovações e a urgência da sustentabilidade<br />

– uma preocupação do presente.<br />

Hoje, 10 anos depois, reflito sobre os avanços<br />

alcançados. Minhas pesquisas recentes<br />

mostram que o fenômeno de atrelar um papel<br />

social à mulher tem relação com o “duplo-<br />

-vínculo”, que ocorre quando um indivíduo<br />

está sujeito às “sequências insolúveis de expectativas”.<br />

Em situações assim, a pessoa recebe<br />

duas ou mais “imposições” sobre como<br />

se comportar, e estas imposições entram em<br />

conflito, impossibilitando o cumprimento de


ambas. Enquanto os homens são identificados<br />

pelo “que” fazem ou “onde trabalham”,<br />

as mulheres são conhecidas por “quem” elas<br />

estão vinculadas – o pai, o marido, o gestor.<br />

Considere uma situação hipotética: “Este é o<br />

João, da Cooperativa. E esta é a Maria, esposa<br />

do João”. De imediato, poucos irão pensar<br />

que Maria pode ser sócia de João e gestora<br />

financeira da fazenda. No entanto, cada vez<br />

mais “Marias” deixam de se identificar apenas<br />

como “a esposa que ajuda o João” para se<br />

comportarem, de fato, como líderes e tomadoras<br />

de decisões que impactam os negócios<br />

da família (ou de qualquer tipo de negócios<br />

em que trabalham: cooperativas, fornecedoras<br />

de insumos, agroindústria e afins).<br />

Retomando a metáfora das “âncoras”, podemos<br />

pensar em sua finalidade original: manter<br />

o navio parado no porto. Mas, para navegar,<br />

a âncora precisa ser içada, ou seja, puxada<br />

do fundo do mar e levada junto ao navio. E,<br />

quando necessário, podemos atracar nossos<br />

navios em portos seguros novamente: nossos<br />

pais, maridos, companheiros, empregadores.<br />

Mas, como disse o escritor francês André<br />

Gide, premiado com o Nobel de Literatura:<br />

“O ser humano é incapaz de desbravar novos<br />

oceanos se não tiver a coragem de perder de<br />

vista a terra firme”.<br />

Dentre todos os fatores que têm contribuído<br />

para a construção destas novas identidades<br />

das mulheres do agronegócio, destaco a importância<br />

das redes e grupos estruturados, na<br />

forma de projetos com objetivos claros e indicadores<br />

de resultados. Os grupos fortalecem<br />

as relações entre estas mulheres e as instituições<br />

com as quais estão envolvidas. Além disso,<br />

auxiliam no aumento da capacitação profissional<br />

destas mulheres, gerando resultados<br />

de curto prazo para o negócio, e ampliando<br />

as possibilidades estratégicas no longo prazo.<br />

Outro aspecto importante é a construção de<br />

laços afetivos entre as participantes, que criam<br />

relações de confiança, apoio e inspiração mútua.<br />

Ter mulheres como referências é uma dimensão<br />

crucial para que outras se desenvolvam,<br />

principalmente como líderes.<br />

Entretanto, alguns desafios ainda permanecem.<br />

Apesar de estarmos mais presentes<br />

em eventos do agro, participando de ações<br />

estratégicas em coletivos de mulheres e contribuindo<br />

para melhorar os negócios dos quais<br />

participamos, ainda temos uma baixa representação<br />

nas principais organizações do setor.<br />

O número de mulheres presentes nos Conselhos<br />

e Órgãos de Diretoria em Cooperativas<br />

Agropecuárias, Sindicatos de Produtores<br />

Rurais e Associações de Produtores ainda é<br />

muito baixo. Em pesquisas recentes, identifiquei<br />

que no Cerrado Mineiro, por exemplo, o<br />

número de conselheiras, diretoras e executivas<br />

das cooperativas, ainda é praticamente o<br />

mesmo de 2016, quando fizemos o primeiro<br />

mapeamento (Dornela e Menezes, 2018): cerca<br />

de 3% nas Diretorias, 4% nos Conselhos e<br />

36% nas gerências.<br />

É fato que encontramos grandes mulheres<br />

à frente destas organizações, e muitas outras<br />

liderando nos bastidores, mas considero que a<br />

liderança – tanto em termos comportamentais<br />

quanto em habilidades e ferramentas que gerem<br />

influência e impacto positivo para o agronegócio,<br />

precisa ser lapidada nestas mulheres<br />

de alto potencial.<br />

Portanto, está na hora de içarmos nossas<br />

âncoras e continuarmos desbravando esse<br />

mar de oportunidades que é o agro. Ao nosso<br />

lado, devemos ter não apenas homens em<br />

quem podemos nos ancorar, mas também outras<br />

mulheres corajosas que já aprenderam a<br />

navegar e conquistar seu espaço legítimo e sua<br />

identidade profissional própria e de sucesso<br />

nesse setor.<br />

O agro precisa de mais mulheres líderes,<br />

pois a diversidade e a inclusão são os melhores<br />

caminhos para aumentar a inovação e a sustentabilidade,<br />

elementos vitais para todos os<br />

setores na era em que vivemos.<br />

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MERCADO DE TRABALHO<br />

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Ainda longe do ideal, mulheres<br />

superam desafios históricos e<br />

ampliam presença no mercado<br />

de trabalho<br />

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O<br />

agronegócio é um setor em expansão,<br />

mas as mulheres enfrentam desafios<br />

significativos para se estabelecerem<br />

nele. A falta de infraestrutura, como creches<br />

e serviços de cuidado, dificulta a conciliação<br />

entre trabalho e vida familiar. Além disso, estereótipos<br />

de gênero persistentes limitam as<br />

oportunidades de ascensão profissional.<br />

Apesar desses obstáculos, há um horizonte<br />

promissor. A maior participação feminina no<br />

agronegócio é vista como uma oportunidade<br />

NOVA GERAÇÃO: alunos e alunas<br />

do curso de Agronomia do CESG em<br />

atividade prática no campo. Em São<br />

Gotardo, proporção de mulheres no<br />

curso é de 30%<br />

para o desenvolvimento sustentável do setor<br />

e do país. Diversos programas de capacitação<br />

visam qualificar mulheres para funções especializadas,<br />

enquanto campanhas e iniciativas<br />

promovem a igualdade de gênero. Programas<br />

de apoio ao empreendedorismo também oferecem<br />

crédito e suporte para mulheres que desejam<br />

iniciar seus próprios negócios no setor.<br />

Esta reportagem especial da <strong>Revista</strong><br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> explora os desafios<br />

e as oportunidades para as mulheres no mercado<br />

de trabalho do agronegócio, destacando<br />

ações concretas que estão moldando um futuro<br />

mais inclusivo e sustentável. E, para inspirar,<br />

conta histórias de mulheres atuantes em<br />

diferentes segmentos do agro, cada qual com<br />

seus sonhos, realizações, superação e muita<br />

alegria.<br />

Balde de água fria ou<br />

estímulo?<br />

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Elisa Martins, nome fictício de uma pessoa<br />

real, ouviu um conselho desanimador ao final<br />

de mais um dia exaustivo de trabalho: “Menina,<br />

não se iluda! Você está perdendo tempo<br />

estudando agronomia, porque mulher não<br />

tem vez no campo”. A rotina diária de Elisa,<br />

em São Gotardo, começa às 7h30 e termina às<br />

17h30, sem tempo para descanso, pois logo<br />

em seguida ela tem aulas na faculdade. Tudo<br />

com um objetivo claro: fazer carreira de sucesso<br />

no agronegócio. Por mais incrível que<br />

pareça, as palavras de desestímulo foram ditas<br />

por uma mulher vitoriosa no setor, o que<br />

fez Elisa chorar e quase desistir. Mas seria isso<br />

verdade?<br />

A resposta é simples: não. Apesar dos inúmeros<br />

obstáculos, a presença feminina no<br />

campo, nas redes de serviços ligadas ao agronegócio<br />

e nos departamentos administrativos<br />

de fazendas e agroindústrias está cada vez<br />

mais forte e evidente.<br />

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DYOVANA RESENDE: futura agrônoma diz que<br />

mudanças importantes estão acontecendo<br />

Nova geração forjada nos<br />

bancos escolares e no dia a<br />

dia no campo<br />

Assim como faz Elisa, milhares de jovens<br />

batalham diariamente por seu sonho de fazer<br />

carreira no agronegócio. No Alto Paranaíba, em<br />

Minas Gerais, a média de alunas em cursos de<br />

agronomia das principais instituições de ensino<br />

é de 33%.<br />

Uma dessas jovens que acordam todos os<br />

dias dispostas a entregarem seu melhor pela realização<br />

do sonho é Dyovana Resende de Araújo.<br />

Nascida em Patos de Minas, Dyovana tem<br />

uma rotina intensa. Acadêmica de Agronomia<br />

da Universidade Federal de Viçosa – Campus<br />

Rio Paranaíba (UFV-CRP), ela investe seu tempo<br />

nos estudos e nas atividades do projeto Mulheres<br />

Agro UFV-CRP, como Coordenadora<br />

de Gestão Estratégica. E ainda encontra tempo<br />

para estagiar na empresa Soil Domains.<br />

Ao contrário do perfil convencional, Dyovana<br />

não vem de uma família de produtores rurais.<br />

Seu pai é caminhoneiro e a mãe dedicou-se à família.<br />

Sua irmã mais nova é estudante de Direito.<br />

“Meu interesse pelo agronegócio surgiu das<br />

visitas a parentes que viviam na roça e das experiências<br />

no sítio do meu padrinho. No IFTM,<br />

descobri minha afinidade com o agronegócio<br />

através do curso Técnico em Mineração e de<br />

um professor que me incentivou a considerar a<br />

Agronomia como carreira”, conta. Participar de<br />

eventos sobre o agro consolidou sua escolha.<br />

A pergunta “por que não agronomia?” levou<br />

Dyovana Resende a refletir profundamente sobre<br />

o futuro e a motivou a explorar uma área<br />

inicialmente distante de sua realidade.<br />

A futura agrônoma reconhece os desafios<br />

enfrentados pelas mulheres no agronegócio,<br />

especialmente em um ambiente dominado por<br />

homens. “Aqui no Cerrado Mineiro, apesar dos<br />

avanços, ainda existem casos de machismo e<br />

assédio. Contudo, há um movimento crescente<br />

para integrar mais mulheres ao setor, com empresas<br />

criando comitês contra a violência e assédio,<br />

e provendo informações sobre a importância<br />

da participação feminina”, avalia.<br />

Dyovana destaca que, embora a presença<br />

feminina esteja aumentando, o preconceito e a<br />

discriminação ainda são obstáculos a serem superados.<br />

A resistência inicial está sendo substituída<br />

por iniciativas que promovem a igualdade<br />

de gênero. Empresas e fazendas estão adotando<br />

políticas de inclusão e criando espaços seguros<br />

para as mulheres trabalharem.<br />

Orgulhosa por estudar na UFV, a acadêmica<br />

elogia a estrutura da universidade, renomada no<br />

campo das agrárias por preparar alunos e alunas<br />

para os desafios do mercado de trabalho através<br />

de uma combinação de pesquisa e prática de<br />

campo.<br />

Sobre sua atuação no programa Mulheres<br />

Agro, Dyovana Resende considera a experiência


essencial para seu desenvolvimento em liderança<br />

e comunicação, além de oferecer um primeiro<br />

contato com o mercado de trabalho.<br />

Dyovana acredita que as oportunidades para<br />

mulheres no agronegócio estão crescendo, especialmente<br />

no Cerrado Mineiro. Programas de<br />

certificação e capacitação, como os oferecidos<br />

pelo SENAR, têm sido fundamentais para a inclusão<br />

feminina no setor. “As mulheres estão se<br />

destacando, especialmente no processamento de<br />

café especial, onde muitas fazendas gerenciadas<br />

por mulheres estão sendo premiadas. A capacitação<br />

contínua é essencial para as mulheres aproveitarem<br />

plenamente as oportunidades.”<br />

Entre suas aspirações para a carreira, Dyovana<br />

espera promover uma agricultura mais<br />

sustentável e deseja inspirar mais jovens e mulheres,<br />

organizando eventos e capacitações. “O<br />

agronegócio é um espaço inclusivo e acessível<br />

para quem deseja contribuir. Quero fazer a diferença”,<br />

conclui.<br />

A nova geração tem claros os desafios e se<br />

diferencia exatamente pelo desejo de impactar<br />

positivamente o futuro do agronegócio. É neste<br />

cenário que os principais cursos de graduação<br />

em agronomia se somam ao curso ofertado pela<br />

UFV-CRP para entregarem ao mercado novos<br />

profissionais, com visão mais holística e formação<br />

técnica diversificada.<br />

No Centro de Ensino Superior de São Gotardo<br />

(CESG), 30% dos alunos do curso de Agronomia<br />

são mulheres. A coordenadora, Professora<br />

Mariana Cecília Melo, destaca as experiências<br />

práticas realizadas no curso, aplicando conhecimentos<br />

adquiridos em sala de aula. Um dos casos<br />

de sucesso no curso é o Núcleo de Estudos<br />

em Horticultura (Nehort).<br />

Para a diretora de Marketing do Nehort, Ingryd<br />

Taynah Alves, aluna do quarto período,<br />

“entre os principais obstáculos estão a desigualdade<br />

de gênero, que resulta em menos oportunidades<br />

para mulheres em posições de liderança.<br />

Frequentemente, nosso trabalho não é devidamente<br />

reconhecido e valorizado, dificultando<br />

INGRYD TAYNAH: frequentemente, nosso trabalho<br />

não é devidamente reconhecido e valorizado,<br />

dificultando nossas contrições<br />

nossas contribuições para essa área tão importante”.<br />

Ingryd considera, ainda, que a participação<br />

das mulheres em decisões de campo é limitada,<br />

com a preferência muitas vezes dada a homens,<br />

sob a justificativa de que mulheres são mais adequadas<br />

para cargos administrativos ou de vendas<br />

devido a supostas habilidades superiores de<br />

persuasão. “Competimos em um setor vasto e<br />

cheio de oportunidades, mas frequentemente somos<br />

prejudicadas apenas por sermos mulheres.<br />

Penso que profissionalismo e competência não<br />

dependem de gênero”.<br />

Na UFV-CRP as mulheres ocupam 33% das<br />

vagas no curso de agronomia. O Centro Universitário<br />

de Patos de Minas (UNIPAM) informou<br />

que a proporção de alunas nos cursos de gronegócio<br />

da Instituição é de 38%. Na Faculdade<br />

Patos de Minas (FPM) e na Faculdade Cidade<br />

de João Pinheiro (FCJP), elas ocupam 32% das<br />

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carteiras. Nestas duas instituições: FPM e PCJP,<br />

o coordenador do curso é o professor Willyder<br />

Leandro Rocha Peres. Para Willyder, está havendo<br />

uma grande mudança de cenário, com empresas<br />

multinacionais incorporando companhias<br />

brasileiras de diferentes portes. “Essas empresas<br />

vêm com uma filosofia muito diferente. Não<br />

querem mais técnicos; querem engenheiros e<br />

engenheiras. Em tecnologia e desenvolvimento<br />

de produtos, buscam pessoas especializadas. Ou<br />

seja, com pós-graduação. E, na pós-graduação,<br />

o número de mulheres aumenta drasticamente<br />

em relação aos homens essa inserção da mulher<br />

no campo é natural”. O coordenador destaca um<br />

aumento crescente da proporção de alunas em<br />

relação ao número de alunos nos cursos que ele<br />

lidera, justamente em razão da percepção dessa<br />

mudança de cenário.<br />

As mulheres e as<br />

transformações no agro<br />

A frase “lugar de mulher é na cozinha e não<br />

no campo” marcou a adolescência de Sayonara<br />

Raquel Lopes de Oliveira. Aos 39 anos, Sayonara<br />

é sócia fundadora da Insight Consultoria Administrativa<br />

e Financeira. Desde cedo, enfrentou<br />

barreiras. Nascida em uma família humilde<br />

de São Gotardo, lutou para concluir o Ensino<br />

Médio. Sua trajetória no agro começou em 2012,<br />

como auxiliar na captação de leite, após trabalhar<br />

no comércio varejista, lidando diretamente com<br />

produtores rurais.<br />

Sayonara reconhece que a participação das<br />

mulheres na agropecuária sempre foi subestimada<br />

e invisibilizada, mas o cenário está melhorando.<br />

Durante dois anos participou de um projeto<br />

de criação de um módulo de sistema voltado a<br />

postos de captação de leite, na Zona da Mata.<br />

Ela considera este momento um ponto de virada<br />

em sua carreira como gestora no agronegócio.<br />

Conciliar vida familiar e trabalho é um desafio<br />

para Sayonara. Mãe, esposa e profissional,<br />

divide seu tempo entre tarefas domésticas e estudos<br />

constantes para se especializar. “É desafiador,<br />

mas desistir nunca foi opção. Embora<br />

atualmente haja avanços na oferta de educação<br />

e formação técnica, na minha época as opções<br />

eram limitadas em algumas regiões. Tive muita<br />

dificuldade financeira para me graduar sem comprometer<br />

a renda familiar”, comenta.<br />

Sayonara concorda que o trabalho das mulheres<br />

no agro muitas vezes não é devidamente<br />

reconhecido ou valorizado. “A capacidade<br />

das mulheres de assumir papéis de liderança é<br />

constantemente subestimada, e a discriminação<br />

dificulta o avanço na carreira”. Trabalhando em<br />

uma das empresas mais conceituadas do Padap<br />

(Programa de Assentamento Dirigido do Alto<br />

Paranaíba), desenvolveu-se significativamente.<br />

“Ali consegui ser vista como a profissional que<br />

sou hoje, graças à cultura organizacional da empresa,<br />

que valoriza e promove a participação feminina<br />

em cargos de liderança.”<br />

Sayonara enfatiza a importância de manter os<br />

esforços para promover a igualdade de gênero,<br />

SAYONARA LOPES: Promover a igualdade de gênero<br />

garante um futuro mais inclusivo e sustentável para<br />

o agronegócio


garantindo um futuro mais inclusivo e sustentável<br />

das mulheres no setor. Presença regular<br />

em eventos do agro, a gestora destaca o painel<br />

“Mulheres Empreendedoras”, promovido pela<br />

FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de<br />

Minas Gerais) em 2023. “Cada dia mais mulheres<br />

estão presentes. Venho acompanhando também<br />

a criação de escolas de liderança, com nomes importantes<br />

de São Gotardo atuando firmemente<br />

nessa base, além de programas de desenvolvimento<br />

de carreira e apoio à maternidade.”<br />

Mãe de uma garota autista, que deu novo<br />

significado ao equilíbrio entre vida familiar e<br />

carreira, Sayonara cita várias iniciativas no Alto<br />

Paranaíba destinadas a promover inclusão, capacitação<br />

e empoderamento das mulheres no<br />

agro. O Serviço Nacional de Aprendizagem<br />

Rural (SENAR), por exemplo, oferece cursos e<br />

treinamentos específicos para mulheres. Diversas<br />

cidades, associações e cooperativas realizam<br />

eventos e feiras para discutir a importância da<br />

atuação feminina no agronegócio, oferecendo<br />

oportunidades de aprendizado e networking.<br />

“Promover inclusão e igualdade de gênero no<br />

setor agropecuário requer uma abordagem multifacetada,<br />

envolvendo políticas empresariais,<br />

práticas de gestão e iniciativas de apoio, além de<br />

políticas de recrutamento e seleção mais inclusivas”,<br />

conclui Sayonara Lopes.<br />

Mulheres ocupam cada vez<br />

mais cargos de gestão<br />

Ana Flávia Veronezzi, Diretora de Gestão de<br />

Pessoas da Sekita Agronegócios, é outro exemplo<br />

inspirador de dedicação e paixão pelo agronegócio.<br />

Desde a infância, seu contato com a<br />

vida no campo foi intenso, alimentando um carinho<br />

especial por tudo relacionado ao setor.<br />

Em 2010, ao concluir seu curso em Serviço<br />

Social, Ana Flávia foi convidada a integrar a equipe<br />

da Sekita Agronegócios, em Rio Paranaíba. A<br />

proposta foi feita de forma inusitada: seu futuro<br />

gestor visitou a casa de Ana Flávia pessoalmente,<br />

demonstrando um respeito que marcou profundamente<br />

sua percepção sobre a empresa. Assim<br />

Flávia Veronezzi iniciou sua trajetória no departamento<br />

de Recursos Humanos, conduzindo<br />

processos de seleção, levantando necessidades<br />

de treinamento e apoiando eventos.<br />

Desde o início de sua carreira, Ana Flávia<br />

contou com um suporte significativo de seu gestor<br />

e de uma mentoria proporcionada por Márcia<br />

Chaves, uma especialista em gestão de pessoas.<br />

Márcia foi fundamental, inspirando Ana Flávia a<br />

investir constantemente em seu conhecimento.<br />

Com o crescimento da Sekita, a área de gestão<br />

de pessoas se expandiu, levando à criação de<br />

um departamento específico. Ana Flávia assumiu<br />

a gerência desse novo departamento, sob a<br />

orientação da diretora Ana Paula Sekita, que a<br />

ajudou a equilibrar a gestão de pessoas e processos.<br />

Quando Ana Paula se afastou por razões<br />

pessoais, Ana Flávia teve a oportunidade de assumir<br />

a diretoria, respondendo ao diretor executivo<br />

Eduardo Sekita. Atualmente, ela é responsável<br />

pelas áreas trabalhista, de saúde e segurança<br />

do trabalho, além de recursos humanos.<br />

Ao longo de sua trajetória, Ana Flávia enfrentou<br />

desafios significativos, especialmente no que<br />

diz respeito ao papel da mulher no agronegócio,<br />

um setor tradicionalmente dominado por homens.<br />

Inicialmente, ela tinha receio de expressar<br />

suas ideias, mas rapidamente percebeu que esse<br />

bloqueio era mais pessoal do que imposto pelo<br />

ambiente. A empresa sempre lhe deu voz, valorizando<br />

as contribuições de todos, independentemente<br />

de gênero.<br />

Recentemente, Ana Flávia tornou-se “mamãe<br />

de dois” – forma carinhosa escolhida por<br />

ela para falar de dois filhos que deram um novo<br />

significado à sua vida, e conciliar a rotina profissional<br />

com as responsabilidades domésticas<br />

tem sido desafiador. No entanto, com o apoio<br />

de uma rede incrível e a colaboração da Sekita,<br />

ela tem conseguido desempenhar seus múltiplos<br />

papéis com sucesso.<br />

As mulheres têm conquistado cada vez mais<br />

espaço no agronegócio, e esses marcos represen-<br />

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tam avanços não apenas individuais, mas também<br />

coletivos, promovendo um ambiente mais<br />

inclusivo e diversificado. Movimentos e organizações<br />

têm apoiado as mulheres no agronegócio,<br />

destacando suas conquistas e incentivando outras<br />

a seguirem esse caminho.<br />

Ana Flávia acredita firmemente no potencial<br />

das mulheres no agronegócio do Cerrado Mineiro.<br />

Ela encoraja todas que consideram uma<br />

carreira no setor a investirem continuamente<br />

em educação e capacitação, a construírem uma<br />

rede de contatos sólida e a serem perseverantes<br />

e resilientes. Compreender o setor de forma holística<br />

e buscar mentores que realmente queiram<br />

seu crescimento são passos essenciais para uma<br />

trajetória de sucesso.<br />

A história de Ana Flávia Veronezzi comprova:<br />

com dedicação, apoio e resiliência, é possível<br />

superar desafios e alcançar grandes conquistas<br />

no agronegócio.<br />

Em <strong>2024</strong>, o projeto “Women in Business”, da<br />

Grant Thornton, celebra 20 anos de pesquisas e análises<br />

sobre a participação das mulheres no ambiente<br />

corporativo. O estudo mais recente revela<br />

dados importantes sobre o avanço<br />

feminino nas empresas e destaca a necessidade<br />

de mais ações para alcançar a<br />

igualdade de gênero.<br />

De acordo com o relatório, 85% das<br />

empresas no Brasil têm pelo menos uma mulher em<br />

posições de liderança. Esse número é significativo,<br />

mas ainda revela desafios, considerando a meta de<br />

igualdade de gênero em todas as áreas e níveis hierárquicos.<br />

O estudo destaca que a proporção de mulheres<br />

em cargos de alta liderança permanece em 32%.<br />

A pesquisa também aponta uma leve queda na<br />

quantidade de empresas que têm uma mulher no<br />

cargo de CEO, de 20% em 2022 para 19% em 2023.<br />

Esse dado sublinha a necessidade de continuar promovendo<br />

o empoderamento feminino e a quebra de<br />

barreiras no mercado de trabalho.<br />

Além disso, o relatório observa que 50% das<br />

empresas afirmam que melhorar a diversidade de<br />

gênero é uma prioridade estratégica. No entanto,<br />

a implementação efetiva dessas estratégias requer<br />

comprometimento e ações concretas por parte das<br />

lideranças empresariais.<br />

O projeto “Women in Business” destaca também:<br />

para promover mudanças reais, é essencial<br />

investir em programas de desenvolvimento de liderança<br />

feminina e criar ambientes de trabalho mais inclusivos.<br />

Essas ações não apenas beneficiam as mulheres,<br />

mas também contribuem para o crescimento<br />

e a inovação dentro das organizações.<br />

No geral, o relatório de <strong>2024</strong> celebra os avanços<br />

alcançados nas últimas duas décadas, mas reforça<br />

que ainda há um longo caminho a ser percorrido<br />

para alcançar a verdadeira igualdade de gênero no<br />

mercado de trabalho.<br />

AIBA +<br />

48<br />

E os outros segmentos, como<br />

contratam as mulheres?<br />

De Patos à Federal de Goiás:<br />

a trajetória de Naiara Caixeta<br />

Naiara Caixeta passou a infância no campo. A fazenda<br />

de seus pais, especializada em pecuária leiteira,<br />

era o palco de suas primeiras aventuras e descobertas.<br />

Localizada em uma comunidade rural no município<br />

de Patos de Minas, a fazenda era um lugar onde<br />

trabalho e família se entrelaçavam. Ali Naiara sentiu,<br />

desde cedo, uma conexão profunda com o agro.<br />

Desde pequena, observava seus pais trabalhando<br />

para manter a fazenda produtiva. As madrugadas, o<br />

aroma do leite fresco e o cuidado com os animais<br />

eram parte de sua rotina diária. A vida na fazenda<br />

não apenas moldou seu caráter, mas também despertou<br />

nela um desejo de contribuir para a melhoria das<br />

práticas agrícolas e pecuárias. Ainda menina, sonhava<br />

em ajudar sua família e a comunidade a produzir<br />

de forma mais eficiente e sustentável.<br />

Determinada a transformar esse sonho em realidade,<br />

Naiara decidiu que a educação seria o caminho.<br />

Ingressou na faculdade de Zootecnia, onde rapida-


mente se destacou. Como monitora de laboratório,<br />

mergulhou nas práticas científicas que a fascinavam.<br />

Sua curiosidade e dedicação a levaram a se envolver<br />

em projetos de iniciação científica, onde pôde<br />

explorar mais a fundo suas áreas de interesse. Além<br />

disso, atuou como professora na Escola Agrícola,<br />

compartilhando seus conhecimentos e aprendendo<br />

a importância da educação na transformação da vida<br />

das pessoas.<br />

O desejo de aprofundar seus conhecimentos a<br />

conduziu à pós-graduação. O mestrado na Universidade<br />

Federal de Lavras [UFLA] foi uma fase desafiadora,<br />

mas também extremamente enriquecedora.<br />

Naiara enfrentou dificuldades e obstáculos, mas<br />

cada desafio superado era uma lição aprendida. A<br />

experiência a preparou para os rigores do doutorado<br />

na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus<br />

Jaboticabal, onde mais uma vez demonstrou sua resiliência<br />

e paixão pela pesquisa.<br />

Nos estudos, Naiara aprendeu a importância<br />

da perseverança. Os desafios eram muitos, mas ela<br />

nunca considerou desistir. Cada obstáculo vencido<br />

a fortalecia como mulher e como profissional. Sua<br />

determinação e o amor pelo que fazia culminaram<br />

na conquista do cargo de professora na área de Forragicultura<br />

e Pastagens na Universidade Federal de<br />

Goiás (UFG).<br />

Naiara acredita que, através da educação, pode<br />

contribuir para a formação humana e social de toda a<br />

sociedade, e tem uma mensagem especial para aqueles<br />

que sonham com uma carreira na área de agrárias.<br />

Ela aconselha a serem perseverantes, constantes<br />

e proativos. “É essencial aprender a se relacionar<br />

bem com as pessoas e a manejar ferramentas tecnológicas.<br />

Manter os valores pessoais é fundamental.<br />

Para as mulheres que têm medo de seguir nessa<br />

área, o conselho é buscar a excelência profissional e<br />

se destacar da maioria”. Segundo Naiara, com essas<br />

qualidades, as oportunidades de bons empregos não<br />

faltarão.<br />

As histórias de Naiara Caixeta e de cada uma<br />

das mulheres citadas nesta reportagem representam<br />

testemunhos de como a paixão, a determinação e o<br />

compromisso com a educação podem transformar<br />

vidas e comunidades. A trajetória delas inspira não<br />

apenas futuros profissionais das agrárias, mas todos<br />

que acreditam no poder do conhecimento e da perseverança.<br />

NAIARA CAIXETA em campo com<br />

alunos e alunas da Universidade<br />

Federal de Goiás<br />

49


50


CAPA PROFISSIONALIZAÇÃO<br />

Eudes Braga:<br />

exemplo de<br />

dedicação<br />

e gestão<br />

cuidadosa<br />

na pecuária<br />

leiteira<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

E<br />

m Carmo do Paranaíba, Minas<br />

Gerais, o produtor de leite Eudes<br />

Braga tem se destacado por sua<br />

capacidade de aumentar a produtividade de<br />

sua fazenda. Braga começou sua carreira na<br />

pecuária leiteira em 2001 e, hoje, administra<br />

uma operação muito maior e mais eficiente.<br />

Entre as razões de sucesso do<br />

empreendimento estão o manejo nutricional<br />

preciso, cuidados veterinários constantes e a<br />

utilização de tecnologias modernas de gestão<br />

da propriedade.<br />

A fazenda de Eudes Braga é um exemplo<br />

de como a inovação e a gestão profissional<br />

podem transformar uma operação de<br />

pecuária leiteira. Braga enfatiza a importância<br />

de se manter atualizado com as melhores<br />

práticas do setor e de investir em tecnologias<br />

que otimizem a produção.<br />

Além disso, ele acredita que a educação<br />

contínua e a busca por conhecimento são<br />

fundamentais para o sucesso no campo.<br />

O caso de Eudes Braga é a nossa<br />

matéria de capa sobre profissionalização no<br />

agronegócio do Cerrado Mineiro.<br />

51


revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

52<br />

“Eudes Braga, nascido em 13 do 7 do 77<br />

— dito assim mesmo!, no município de Carmo<br />

do Paranaíba, onde resido até hoje. Casado<br />

em 2004 com Késsya Ferreira, pai da Andressa<br />

e Júlia”. Desta forma Eudes começou o<br />

bate-papo virtual com o 100PORCENTOA-<br />

GRO para esta reportagem sobre profissionalização<br />

no agronegócio. Em seu segmento,<br />

Braga é uma das referências entre os produtores<br />

do Alto Paranaíba.<br />

Um dos grandes desafios do setor é a profissionalização<br />

de trabalhadores e de produtores.<br />

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural<br />

(SENAR) entendeu o cenário já há alguns anos<br />

e vem investindo em capacitações adequadas<br />

aos diferentes perfis Brasil adentro. Em 2023,<br />

foram 898.172 participantes em 66.985 turmas.<br />

Destaque para o programa “Negócio Certo Rural”,<br />

destinado a produtores rurais com ações<br />

de empreendedorismo e gestão. Um vigoroso<br />

sistema de ensino a distância oferta 172 cursos<br />

de formação inicial e continuada. E a formação<br />

técnica profissionalizante, focada prioritariamente<br />

no produtor, seus dependentes e colaboradores,<br />

somou 8.862 matrículas no período.<br />

O Senar proporciona também a Assistência<br />

Técnica e Gerencial (ATeG), tendo registrado<br />

65 mil atendimentos em 2023, totalizando 1,3<br />

milhão de visitas.<br />

E é exatamente na busca do conhecimento<br />

que está fundamentado o progresso de Eudes<br />

Braga. Na atividade desde 2001, tendo começado<br />

ao lado do pai, João Batista, Eudes partiu<br />

de uma pequena produção de leite. Mesmo<br />

ajudando nas tarefas de casa, não abriu mão<br />

dos estudos.<br />

“Em 2001, eu comprava queijo de leite cru<br />

na região e vendia em Belo Horizonte. Mas, o<br />

meu sonho era produzir meu próprio queijo.<br />

Em 2004, comprei uma bezerra, e não parei<br />

mais”, conta. Em 2005, já eram 30 bezerras.<br />

Passaram-se três anos até a aquisição da<br />

primeira propriedade, onde teve início a produção.<br />

Em 2009, Eudes Braga já havia conquistado<br />

sua certificação e começou a vender<br />

seus queijos no mercado da capital mineira.<br />

Hoje, seu produto chega à mesa de consumidores<br />

exigentes não apenas em Belo Horizonte,<br />

mas nas principais cidades do Triângulo<br />

Mineiro, São Paulo e Rio de Janeiro.<br />

Um dos aprendizados mais valorizados<br />

pelo produtor é a importância de investir em<br />

genética, conforto e bem-estar dos animais. É<br />

neste cenário que ele produz 12 mil litros de<br />

leite/dia. O plano é audacioso: chegar aos 25<br />

mil litros/dia em 2026.<br />

Especificamente sobre bem-estar animal,<br />

o produtor entende: “Vaca precisa ser tratada<br />

igual a ser humano; ela gosta de rotina, de<br />

comida de qualidade, água limpa, temperatura<br />

confortável”. O manejo deve ser feito por<br />

gente especializada e bem capacitada.<br />

PLANEJANDO FICA MAIS FÁCIL: Tudo parte<br />

de um sonho, mas é fundamental planejar antes<br />

de realizar. Olhando para o início, Braga<br />

avalia que as chances de sucesso do negócio<br />

eram de apenas 1%, exatamente porque faltou<br />

planejar mais e se informar melhor. “A diferença<br />

é que eu trouxe as pessoas certas para<br />

caminharem comigo, e apostei bastante em<br />

assistência técnica. Os resultados de hoje são<br />

frutos dessas parcerias”.<br />

Braga conta que, no começo, a estrutura<br />

era bem precária. A primeira novilha era ordenhada<br />

na mão pelo pai dele. Sua mãe, Maria<br />

Aparecida, fez o primeiro queijo apoiada<br />

sobre um fogão a lenha, em um tabuleiro de<br />

assar bolo. “Por mais que houvesse esse fator<br />

afetivo do primeiro queijo, para o mercado era<br />

só mais um queijo. Hoje, passa um filme na<br />

cabeça. Eu lembro da luta para não ser apenas<br />

mais um queijo, mas para ser ‘o queijo’. Nós<br />

conseguimos, e valeu a pena tanto esforço”.<br />

A IMPORTÂNCIA DO TERROIR: A produção<br />

do Queijo Minas Artesanal está 100% ligada<br />

ao terroir. Onde ele é produzido. “A fazen-


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100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

da está dentro do bioma Cerrado, altitude de<br />

1.030, lençol freático bem raso, com água boa<br />

a 20 m de profundidade. Nossa temperatura é<br />

amena, e varia dos 20 aos 28 graus. Tudo isso<br />

confere ao queijo produzido por nós características<br />

bem próprias: suave, sabor adocicado<br />

e amanteigado, lembrando muito algumas frutas<br />

cítricas, com teor de proteínas bem alto”,<br />

explica.<br />

Os animais são da raça holandesa, de genética<br />

privilegiada, capazes de entregar bastante<br />

sólidos, com alto volume de leite. São realizadas<br />

três ordenhas ao dia. A ordenha da manhã<br />

é direcionada à produção do queijo. “Vai<br />

direto da ordenha mecânica para a queijaria.<br />

Não é laticínio, é queijaria, porque é leite cru.<br />

São 400 litros de leite em oito minutos, sem<br />

contato humano. Mede-se diariamente o pH<br />

do leite e, estando em nível adequado, entra<br />

no processo de adequação à receita exclusiva<br />

da fazenda”. O detalhe é que a prensagem do<br />

queijo é realizada, obrigatoriamente, por pessoas,<br />

sem uso de qualquer máquina. O processo<br />

todo, entre a captação do leite e a preparação<br />

do queijo para a comercialização, dura 22<br />

dias. Neste momento, o queijo é embalado a<br />

GENÉTICA: fazenda oferta genética da raça<br />

holandesa, atendendo clientes do Brasil todo e<br />

até no exterior<br />

vácuo e destinado à câmara fria, onde permanece<br />

monitorado até ser comercializado.<br />

VALOR DAS CERTIFICAÇÕES: Nada nos processos<br />

de produção dos queijos Eudes Braga é<br />

feito simplesmente para passar na fiscalização<br />

ou em uma auditoria. Já existe incorporada na<br />

cultura da fazenda a preocupação com qualidade<br />

e rastreabilidade. A regulamentação é<br />

vista como essencial pelo produtor.<br />

“Toda e qualquer certificação está fundamentada<br />

em boas práticas, porque estamos<br />

falando de um alimento”, conta. A fazenda<br />

nunca perdeu nenhuma certificação desde a<br />

primeira conquistada, em 2009.<br />

Outro ponto vital no empreendimento é<br />

que lá não se pergunta quanto custa e, sim,<br />

quanto entrega. A fazenda não abre mão de<br />

tecnologia e de conhecimento para sempre<br />

aperfeiçoar a fabricação de queijos.<br />

DIVERSIFICAÇÃO: Eudes Braga conseguiu alcançar<br />

um nível genético de excelência e, por<br />

conta disso, consegue ofertar no mercado, o<br />

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jul, 24<br />

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ano todo, animais de qualidade reconhecida e valorizada,<br />

sejam machos reprodutores ou fêmeas leiteiras.<br />

O queijo é somente um dos quatro centros de<br />

custo da fazenda, compondo com a venda de animais<br />

os principais itens de sustentação financeira<br />

do empreendimento.<br />

Outra vertente é a genética da raça holandesa,<br />

atendendo clientes do Brasil todo e até no exterior.<br />

CONSELHOS DE QUEM ENTENDE: O futuro do<br />

queijo depende do produtor. Eudes Braga considera<br />

essencial buscar a profissionalização da atividade,<br />

investindo em gestão de processos. Precisa<br />

preparar o terreno para realizar uma boa sucessão.<br />

“Eu vejo muitos pequenos produtores deixando a<br />

atividade no futuro porque se descuidam da sucessão.<br />

E o contrário é verdadeiro: quem está fazendo<br />

tudo certinho e pensando na sucessão está com o<br />

futuro mais tranquilo”.<br />

Em relação à gestão, a dica de ouro é ter atenção<br />

aos números. Qualquer negócio deve olhar sempre<br />

com cuidado redobrado para os dados. “A produção<br />

de queijo é viável? A produção de leite é viável?<br />

Sim, desde que se tenha uma base forte. E essa base<br />

forte chama-se gestão. Muitos sabem quanto entra<br />

no caixa, mas desconhecem quanto custa. Pra começar,<br />

precisa ter caderno, papel, lápis e borracha<br />

em cima de uma mesa, planejando. Os números dizem<br />

para onde devemos ir e em qual velocidade”,<br />

ensina Eudes Braga.<br />

Um dos maiores estímulos para seguir no empreendimento<br />

e torná-lo cada vez mais próspero,<br />

são as pessoas envolvidas. Atualmente, junto com<br />

Eudes e a esposa, outras 18 pessoas trabalham diretamente<br />

no negócio. “Temos o nosso papel social,<br />

de dar a essas pessoas a oportunidade de terem um<br />

lugar para trabalhar, onde possam ser reconhecidas<br />

e valorizadas”.<br />

Quando fala de sustentabilidade econômica,<br />

Eudes Braga também coloca as pessoas no centro<br />

porque é da fazenda que cada um tira seu sustento.<br />

“E sustento não é apenas o pão na mesa. Quero<br />

educar meus filhos adequadamente, e desejo isso<br />

também para os colaboradores”, conclui.<br />

QUALIDADE: Não se usa<br />

máquinas na prensagem do<br />

queijo, realizada, exclusivamente<br />

por pessoas treinadas. Desde<br />

a captação do leite até a<br />

preparação do queijo para a<br />

comercialização, o professo dura<br />

22 dias.Os queijos chegam a<br />

consumidores de Belo Horizonte<br />

e das principais cidades do<br />

Triângulo Mineiro, São Paulo e<br />

Rio de Janeiro


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ABACATES DO BRASIL<br />

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BBC diz que Brasil tem<br />

desafios ambientais na<br />

produção de abacates.<br />

ABPA se posiciona<br />

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A<br />

produção de abacates no Brasil<br />

enfrenta desafios ambientais,<br />

como desmatamento e uso<br />

intensivo de água. A informação foi<br />

tema de uma reportagem publicada<br />

pela BBC Brasil em seu site no dia<br />

27 de julho. Com o título “Por que o<br />

cultivo de abacate virou ameaça ao<br />

meio ambiente”, o texto, assinado por<br />

Thomas Davies, pesquisador honorário<br />

do Centro Ambiental da Universidade<br />

de Lancaster, no Reino Unido, foi<br />

publicado originalmente em inglês<br />

no site de notícias acadêmicas “The<br />

Conversation”.<br />

Associação Abacates do Brasil<br />

(ABPA) em São Gotardo, o produtor<br />

Hugo Shimada. Hugo é tesoureiro da<br />

ABPA e informou que a Associação<br />

demonstrou estranheza em relação<br />

à matéria da BBC. E, em entrevista<br />

exclusiva, o presidente da entidade,<br />

Adilson Luis Penariol, disse que<br />

respeitam a posição do pesquisador,<br />

porém entende que Thomas Davies<br />

apresentou uma visão sobre a<br />

produção mexicana, e caberia aos<br />

mexicanos responder.<br />

No início, quando a reportagem foi<br />

publicada, o <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />

ouviu um dos representantes da<br />

57 57


revista<br />

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jul, 24<br />

58<br />

Segundo a reportagem da BBC, a expansão<br />

dos pomares de abacate está ligada ao desmatamento<br />

e ao uso excessivo de recursos hídricos.<br />

A Associação Brasileira dos Produtores<br />

de Abacate (ABPA) se posicionou rapidamente.<br />

Na matéria, a BBC relata que os agricultores<br />

têm utilizado métodos intensivos de irrigação<br />

para manter a produtividade, levando<br />

ao uso insustentável da água. Além disso, “a<br />

expansão das áreas cultivadas tem sido associada<br />

ao desmatamento, uma vez que novos<br />

pomares são frequentemente estabelecidos<br />

em áreas anteriormente ocupadas por florestas<br />

nativas”, diz o texto.<br />

A produção de abacate no Brasil cresceu<br />

53% entre 2017 e 2022, de acordo com dados<br />

da BBC Brasil, passando de 7.257 para 11.125<br />

hectares. Este aumento é impulsionado pela<br />

demanda internacional, especialmente dos<br />

mercados dos Estados Unidos e da Europa.<br />

Esse crescimento reflete uma tendência global,<br />

onde o consumo de abacates se torna cada<br />

vez mais popular devido aos benefícios nutricionais<br />

da fruta, rica em vitaminas e gorduras<br />

saudáveis.<br />

Os problemas ambientais estariam gerando<br />

preocupações entre ambientalistas e especialistas.<br />

A produção de um único abacate consome<br />

cerca de 70 litros de água, um volume considerável<br />

em regiões com escassez hídrica. O<br />

uso excessivo de água na agricultura tem sido<br />

um tema recorrente em debates sobre sustentabilidade,<br />

especialmente em países com recursos<br />

hídricos limitados.<br />

Em resposta às alegações da matéria, a<br />

ABPA defende que os pomares permanentes<br />

capturam carbono, contribuindo para a mitigação<br />

das mudanças climáticas. A cultura do<br />

abacate e do avocado envolve pomares permanentes<br />

com vida útil de 40 anos, segundo<br />

a ABPA. Aliás, avocado é um termo utilizado<br />

para a variedade Hass – significa abacate em<br />

inglês, destinada mais para o mercado externo<br />

por questões culturais. Já o abacate tropical,<br />

mais conhecido no Brasil, possui diversas variedades<br />

e é produzido o ano todo no país. Os<br />

produtores têm compromisso com a sustentabilidade<br />

a longo prazo.<br />

Especialistas mencionados na matéria da<br />

BBC Brasil enfatizam a necessidade de políticas<br />

públicas mais eficazes para regular a expansão<br />

dos pomares e proteger os recursos<br />

naturais. “É essencial encontrar um equilíbrio<br />

entre o crescimento econômico e a conservação<br />

ambiental”, pontua o autor da matéria. A<br />

falta de regulamentação adequada pode levar<br />

a práticas agrícolas insustentáveis, comprometendo<br />

não apenas o meio ambiente, mas também<br />

a viabilidade econômica da produção a<br />

longo prazo.<br />

As iniciativas para aumentar a sustentabilidade<br />

incluem tecnologias mais eficientes de<br />

irrigação e práticas agrícolas que minimizem<br />

o impacto ambiental. Alguns produtores buscam<br />

certificações ambientais, demonstrando<br />

compromisso com a sustentabilidade. A adoção<br />

de sistemas de irrigação por gotejamento,<br />

por exemplo, pode reduzir significativamente<br />

o consumo de água, garantindo que a produção<br />

de abacate seja mais eficiente e sustentável.<br />

A matéria da BBC também menciona esforços<br />

de alguns produtores para obter certificações<br />

ambientais, demonstrando um compromisso<br />

crescente com a sustentabilidade no<br />

setor. Essas certificações podem abrir novos<br />

mercados e agregar valor ao produto brasileiro,<br />

destacando a responsabilidade ambiental<br />

dos produtores.<br />

CONTEXTO REGIONAL: De acordo com o<br />

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />

(IBGE), os maiores produtores de abacate no<br />

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba são: Rio<br />

Paranaíba, com uma produção de 15.930 toneladas;<br />

Sacramento (6.500 toneladas); Monte<br />

Carmelo (4.186 toneladas) e Uberaba (3.780


toneladas).<br />

Esses municípios têm contribuído significativamente<br />

para a produção de abacate na região,<br />

e o cultivo dessa fruta tem sido lucrativo<br />

para os agricultores.<br />

O abacate é uma cultura com grande potencial<br />

de consórcio com outras espécies, como o<br />

café, proporcionando um bom complemento<br />

de renda para os produtores em Minas Gerais.<br />

Essa prática é tão forte na região a ponto de ser<br />

tema de um evento regional promovido anualmente<br />

pela Associação de Apoio aos Produtores Rurais<br />

da Região de São Gotardo (Assogotardo). Durante<br />

um dia, dois encontros simultâneos reúnem produtores<br />

de café e de abacate no Parque de Exposições<br />

de São Gotardo.<br />

“Atualmente utilizamos inimigos naturais<br />

conhecidos como tricogramas, espalhados via<br />

drones nas lavouras de abacate e avocado para<br />

combater a broca”, explica Hugo Shimada, tesoureiro<br />

da ABPA e produtor rural no Alto<br />

Paranaíba. Shimada cita, ainda, o importante<br />

trabalho realizado pela Associação de Irrigantes<br />

com o objetivo de profissionalizar a gestão<br />

dos recursos hídricos. “A construção de barramentos<br />

ajuda a represar a água no período das<br />

chuvas e armazenar essa água em piscinões,<br />

contribuindo para o fluxo normal dos rios”.<br />

No Alto Paranaíba, há predominância das<br />

variedades Margarida e Breda, pelo fato de a<br />

colheita ser realizada no período de menor<br />

oferta no mercado nacional. Os principais<br />

produtores regionais são os cooperados da<br />

Cooperativa de Agronegócios do Cerrado<br />

Brasileiro (Coopacer), Cooperativa Agropecuária<br />

do Alto Paranaíba (Coopadap) e Assogotardo.<br />

A controvérsia em torno da produção de<br />

abacate no Brasil destaca a complexidade de<br />

equilibrar desenvolvimento agrícola com a<br />

preservação ambiental. Enquanto a demanda<br />

internacional por abacate continua a crescer, é<br />

imperativo que produtores e autoridades trabalhem<br />

juntos para garantir que a expansão<br />

dos pomares seja feita de maneira sustentável,<br />

protegendo os recursos naturais e promoven-<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

TECNOLOGIA NO ALTO PARANAÍBA: em<br />

uma das plantações da Shimada Agronegócios,<br />

cuidado começa antes de plantio<br />

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agro<br />

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60<br />

do práticas agrícolas responsáveis.<br />

ENTREVISTA EXCLUSIVA: Para o presidente<br />

da ABPA, o autor do artigo, Thomas<br />

Davies, está se referindo à produção mexicana<br />

de abacates e não ao Brasil. Penariol começou<br />

no setor em 2020, como CEO de um grupo<br />

de fazendas no Sul de Minas. A partir de abril<br />

de 2022, tornou-se sócio e gestor de um novo<br />

empreendimento, com plantios de avocados<br />

Hass, na Serra da Mantiqueira. Em março deste<br />

ano, assumiu a presidência da ABPA, com<br />

mandato de 2 anos.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Como o senhor<br />

situa Minas Gerais, no geral, e o Alto<br />

Paranaíba, em particular, no cenário atual da<br />

produção brasileira de abacates?<br />

Adilson Penariol: O estado de Minas Gerais<br />

é o segundo maior produtor de abacates<br />

do Brasil, atrás somente de São Paulo, porém,<br />

com forte crescimento da área plantada, podendo<br />

tornar-se, em breve, o maior produtor<br />

do país. O Alto Paranaíba é um tradicional<br />

produtor, com mais de 30 anos no segmento,<br />

com destaque para Rio Paranaíba, maior produtor<br />

nacional.<br />

De início, falou-se em uma nota de<br />

repúdio da ABPA. O senhor poderia<br />

explicar o posicionamento da entidade<br />

em relação à matéria da BBC Brasil?<br />

A ABPA prefere não tratar o assunto como<br />

uma nota de repúdio e, sim, falar das virtudes<br />

e potencialidades do setor. Respeitamos a posição<br />

do pesquisador, porém entendemos que<br />

foi uma visão sobre a produção mexicana, e<br />

eles [os mexicanos], sim, devem responder sobre<br />

o tema.<br />

Quais são os argumentos principais<br />

da ABPA em defesa dos produtores<br />

brasileiros de abacate?<br />

A produção de abacates do Brasil respeita<br />

a legislação do país. Além de utilizar outras<br />

técnicas e manejo, temos uma produtividade<br />

elevada, com qualidade. A sustentabilidade é o<br />

nosso foco. Destacamos o uso de produtos de<br />

origem biológica, utilizamos manejo integrado<br />

de pragas, adubação com organomineirais<br />

e irrigação, nas regiões onde ela seja necessária,<br />

com equipamentos modernos que geram<br />

baixo consumo de água por hectare.<br />

Em relação à sustentabilidade na<br />

produção de abacate, a matéria da BBC<br />

menciona preocupações ambientais<br />

significativas, como desmatamento e<br />

uso intensivo de água. Como a ABPA<br />

responde a essas preocupações?<br />

O Brasil ocupa hoje a sétima posição entre<br />

os maiores produtores de abacates do mundo,<br />

com produção em torno de 320 mil tonela-<br />

ADILSON LUIS PENARIOL: Presidente da ABPA


das/ano, e não necessita desmatar nenhum<br />

hectare para se tornar um produtor ainda mais<br />

relevante no setor. Temos áreas disponíveis<br />

para aumentar nosso cultivo, sejam elas no<br />

Sudeste ou no Nordeste, o que demonstra<br />

nosso potencial. Já em relação ao uso da água,<br />

temos diversas regiões de produção, onde não<br />

é necessário o uso da irrigação suplementar.<br />

Na maioria delas, basta uma irrigação complementar.<br />

Em países como Peru, Chile e algumas<br />

regiões do México, o uso da água é necessário<br />

em todo o ciclo da cultura.<br />

Quais são as práticas sustentáveis que<br />

a ABPA está promovendo entre seus<br />

associados para minimizar o impacto<br />

ambiental da produção de abacate?<br />

Adoção de manejo integrado de pragas,<br />

uso de produtos biológicos no manejo da<br />

produção, uso racional da água em irrigação<br />

suplementar, utilização de fertilizantes organominerais,<br />

dentre outras.<br />

Certificações e Tecnologias Sustentáveis: a<br />

matéria também menciona esforços de alguns<br />

produtores para obter certificações ambientais<br />

e implementar tecnologias mais eficientes<br />

de irrigação. Como a ABPA apoia essas<br />

iniciativas entre seus membros?<br />

Nós atuamos para os produtores poderem<br />

exportar parte de nossa produção de abacates,<br />

pois o maior consumo da produção se concentra<br />

no mercado interno, e nossa produção<br />

voltada à exportação necessita de certificações<br />

específicas de cada país, sempre determinadas<br />

pelos nossos compradores. É através da parceria<br />

entre exportador e importador que se estabelecem<br />

as regras de certificação. Por exemplo,<br />

para chegarmos com nossos produtos ao<br />

mercado europeu, precisamos ter, no mínimo,<br />

a certificação Global Gap, e cada comprador<br />

pode ou não estabelecer a necessidade de mais<br />

certificações, como Rain Forest.<br />

A ABPA está envolvida em iniciativas<br />

para influenciar ou colaborar na criação<br />

de políticas públicas que equilibrem<br />

o crescimento econômico com a<br />

conservação ambiental?<br />

Sim. A ABPA, juntamente com a Abrafrutas<br />

[Associação Brasileira dos Produtores e<br />

Exportadores de Frutas e Derivados], entidade<br />

da qual somos membros, participa ativamente<br />

das discussões setoriais, com entidades<br />

governamentais e privadas, sempre em busca<br />

de um equilíbrio entre manter a cadeia gerando<br />

riqueza para os participantes, bem como<br />

preservando e mantendo o uso da água e o<br />

meio ambiente preservado. Temos que tomar<br />

um grande cuidado nestas tratativas, pois, se<br />

os produtores envolvidos nesta cadeia não tiverem<br />

a remuneração adequada ao risco e ao<br />

capital aportados na cultura, vão deixar a produção<br />

e buscar alternativas mais viáveis.<br />

Com o aumento da demanda internacional<br />

por abacates brasileiros, como a ABPA planeja<br />

garantir que essa expansão seja sustentável no<br />

longo prazo?<br />

A associação está finalizando seu planejamento<br />

estratégico, debatendo com suas lideranças<br />

o futuro da entidade no curto e médio<br />

prazos. Ou seja, como ela poderá ajudar<br />

seus associados a obterem lucro na atividade,<br />

produzindo um alimento de qualidade, hoje<br />

considerado o mais completo que existe, com<br />

responsabilidade social e ambiental. Somente<br />

neste formato, poderemos crescer ainda mais<br />

e colocar alimentos saudáveis na mesa dos<br />

consumidores locais e mundiais.<br />

LEIA O ORIGINAL NA ÍNTEGRA:<br />

What actually makes avocados<br />

bad for the environment?<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

61


PECUÁRIA DE CORTE<br />

revista<br />

100<br />

orcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

Pecuária brasileira<br />

ganha fôlego com alta no<br />

confinamento de gado,<br />

queda nos insumos e clima<br />

62 62<br />

VISTA AÉREA de confinamento da L2 em Tiros (MG),<br />

com capacidade estática para 4500 bois e abate<br />

aproximadamente 12mil cabeças anualmente


A<br />

queda nos preços do milho e do<br />

farelo de soja, juntamente com<br />

condições climáticas adversas, está<br />

impulsionando o aumento do confinamento<br />

de gado no Alto Paranaíba. Léo Boiadeiro<br />

e Guilherme Lessim, pecuaristas da região,<br />

confirmam essa tendência e destacam a<br />

adoção de estratégias para lidar com a<br />

alta oferta de carne e pressão sobre os<br />

preços. A redução no envio de fêmeas para<br />

confinamento pode sinalizar uma retomada<br />

do ciclo pecuário, afetando a produção e os<br />

preços locais.<br />

revista<br />

100<br />

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agro<br />

jul, 24<br />

revista<br />

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agro<br />

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A queda nos preços do milho e do farelo<br />

de soja, juntamente com condições climáticas<br />

adversas, está impulsionando o aumento do<br />

confinamento de gado no Alto Paranaíba. Léo<br />

Boiadeiro e Guilherme Lessin, pecuaristas da<br />

região, confirmam essa tendência e destacam<br />

a adoção de estratégias para lidar com a alta<br />

oferta de carne e pressão sobre os preços. A<br />

redução no envio de fêmeas para confinamento<br />

pode sinalizar uma retomada do ciclo pecuário,<br />

afetando a produção e os preços locais<br />

A Consultoria Agromove aponta um crescimento<br />

no confinamento de gado no Brasil,<br />

impulsionado pela queda nos preços do milho<br />

e do farelo de soja, além das condições climáticas<br />

adversas. Mato Grosso, com o maior rebanho<br />

do país, registrou 724,90 mil animais<br />

em confinamento, um aumento de 1,09% em<br />

relação a 2023, segundo o Imea. Alberto Pessina,<br />

CEO da Agromove, destaca: “O aumento<br />

nas intenções de confinamento se deve ao<br />

maior poder de compra dos confinadores e à<br />

melhora na relação de troca dos insumos”. No<br />

Alto Paranaíba, a realidade é bem semelhante,<br />

na avaliação de dois pecuaristas importantes:<br />

Léo Boiadeiro (L2 Agronegócios, de São Gotardo)<br />

e Guilherme Lessin (Confina Agronegócios,<br />

de Patos de Minas).<br />

De acordo com o Instituto Mato-grossense<br />

de Pesquisa Agropecuária (Imea), 57,27% dos<br />

63 63


revista<br />

100<br />

porcento<br />

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jul, 24<br />

64<br />

animais confinados em <strong>2024</strong> serão abatidos<br />

no segundo semestre. A redução no envio de<br />

fêmeas para confinamento sinaliza uma retomada<br />

do ciclo pecuário prevista para o final<br />

de <strong>2024</strong>. Entretanto, a oferta elevada de carne<br />

continuava a pressionar os preços do boi gordo,<br />

com uma média de R$ 209,35/@ em maio<br />

de <strong>2024</strong>. A produção de carne bovina deve alcançar<br />

11,21 milhões de toneladas em <strong>2024</strong>,<br />

um aumento de 2,37% em relação a 2023,<br />

com exportações crescendo 1,14%, segundo<br />

o Departamento de Agricultura dos Estados<br />

Unidos (USDA).<br />

A oferta interna de carne aumentou 14,33%<br />

até maio de <strong>2024</strong>, e as exportações cresceram<br />

36,6% no mesmo período, ajudando a aliviar<br />

a pressão sobre o mercado interno. Alberto<br />

Pessina recomenda cautela: “O produtor deve<br />

proteger suas negociações, pois qualquer alteração<br />

na demanda pode impactar os preços”.<br />

Ele conclui que a estratégia é fundamental<br />

para passar por esta fase com tranquilidade<br />

PECUARISTAS DO ALTO PARANAÍBA ANALI-<br />

SAM O CENÁRIO: A queda nos preços do milho<br />

e do farelo de soja, juntamente com condições<br />

climáticas adversas, está impulsionando<br />

o aumento do confinamento de gado no Alto<br />

Paranaíba. Léo Boiadeiro e Guilherme Lessin,<br />

pecuaristas da região, confirmam essa tendência<br />

e destacam a adoção de estratégias para lidar<br />

com a alta oferta de carne e pressão sobre<br />

os preços. A redução no envio de fêmeas para<br />

confinamento pode sinalizar uma retomada<br />

do ciclo pecuário, afetando a produção e os<br />

preços locais.<br />

Lessin atua no mercado pecuário desde<br />

2006. Iniciou sua trajetória no ramo de nutrição<br />

animal e se dedica a entregar soluções para<br />

seus clientes. Em 2010, avançou para a comercialização<br />

da linha de pastagem e equipamentos<br />

voltados especialmente para a pecuária de<br />

corte.<br />

Por sua vez, Léo Boiadeiro fundou a L2<br />

Agronegócios em 2007, inspirado pelo pai,<br />

produtor rural. Apostando na rotação de culturas,<br />

Léo optou pelo plantio de cereais, necessários<br />

também para a bovinocultura, que<br />

permanece até hoje como um dos pilares da<br />

L2. Após a colheita da segunda safra de batata,<br />

Léo adquiriu a Fazenda Boi Gordo, que<br />

se tornou a sede administrativa da L2, abrigando<br />

toda a estrutura de beneficiamento,<br />

áreas de plantio e o confinamento de gado.<br />

Em 2010, Bruna, esposa de Léo, passou a<br />

apoiar as atividades administrativas e financeiras<br />

da empresa, atuando até hoje como<br />

Diretora Administrativa. Atualmente, o confinamento<br />

de gado da L2 Agronegócios tem<br />

capacidade estática para 4.500 bois e abate<br />

aproximadamente 12 mil cabeças anualmente.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Em sua opinião, quais<br />

os principais fatores que impulsionam o aumento<br />

do confinamento na região, como a<br />

queda nos preços do milho e do farelo de soja<br />

e as condições climáticas adversas?<br />

GUILHERME LESSIN: A região em que Patos<br />

de Minas está localizada é pujante na produção<br />

leiteira, assim como grande produtora de<br />

grãos e produtos de HF. Como consequência<br />

são gerados subprodutos dessas culturas utilizadas<br />

na alimentação animal, especialmente<br />

em animais de corte, alavancando os confinamentos<br />

da região. Atrelado a isso, percebemos<br />

a migração de alguns produtores de leite para<br />

o corte, onde a principal atividade é a recria de<br />

machos e fêmeas e isso leva a necessidade de<br />

confiná-los para melhor obtenção de acabamento<br />

desses animais. Com menores índices<br />

pluviométricos e, consequentemente, maior<br />

degradação das pastagens , o pecuarista se vê<br />

obrigado a confinar seu rebanho para terminação<br />

desses animais evitando sua perda de<br />

peso. Com o enfrentamento da baixa de ciclo<br />

pecuário e com o preço da arroba retraído,<br />

o produtor precisa de um animal com valor


agregado, assim como a antecipação do abate.<br />

E isso ele consegue com eficiência, por meio<br />

do confinamento.<br />

Com a redução no envio de fêmeas<br />

para confinamento, como o sr. avalia a<br />

retomada do ciclo pecuário prevista para<br />

o final de <strong>2024</strong>?<br />

A redução de fêmeas para abate em final<br />

de ciclo é um evento natural, uma vez que<br />

ocorreu um grande volume de abate dessas<br />

matrizes ,em função do baixo valor dos bezerros,<br />

que é a principal fonte de renda do pecuarista<br />

de cria. Com esse alto índice de abate<br />

e a necessidade de fêmeas voltadas para a reprodução,<br />

teremos para a estação de monta<br />

em <strong>2024</strong>/2025 um volume de matrizes muito<br />

abaixo do necessário para suprir a demanda<br />

de bezerros, assim como sua reposição para<br />

os próximos anos. Portanto, acredito em uma<br />

retomada, incialmente, no valor de reposição<br />

(bezerros) bastante acentuada (2025/2026) e,<br />

logo após, a tendência é que o valor do boi<br />

acabado acompanhe esse posicionamento pa-<br />

-ra manter o poder de compra dessa reposição.<br />

Outro fator que influenciará na alta dessa<br />

arroba é justamente a menor oferta de fêmeas<br />

no mercado. O grande concorrente do preço<br />

da arroba do boi é a arroba da vaca. Com menos<br />

fêmea a tendência é que a arroba do boi<br />

seja elevada, ou seja, com o valor de bezerro<br />

elevado, as fêmeas que seriam destinadas para<br />

o confinamento, são levadas para o sistema de<br />

reprodução. Com isso a diminuição da oferta<br />

para o abate.<br />

Diante da oferta elevada de carne e da<br />

pressão sobre os preços do boi gordo,<br />

quais estratégias o sr. recomenda aos<br />

produtores para enfrentar este cenário?<br />

Diante desse cenário, a adequada compra<br />

e utilização de insumos precisa ser levada em<br />

consideração para a tomada de decisão. Além<br />

disso, no momento em que esses animais forem<br />

fechados para confinamento, faz-se necessário<br />

que o pecuarista consiga uma garantia<br />

de venda, seja trava ou boi a termo para conseguir<br />

custear a operação.<br />

Qual a sua perspectiva para o futuro do<br />

mercado de carne bovina, considerando o<br />

aumento da produção e das exportações,<br />

e quais os desafios e oportunidades que<br />

o sr. identifica para os produtores da<br />

região?<br />

Nesse contexto, faz-se mister que o produtor<br />

vinculado à cadeia de produção de carne,<br />

esteja bem posicionado em <strong>2024</strong> para que<br />

no próximo ano comece a colher bons resultados<br />

na alta do ciclo. Estoque de animais,<br />

estrutura funcional da propriedade (pasto e<br />

confinamento), são bons exemplos desse posicionamento<br />

e assim obter o melhor resultado<br />

nesse período. A pecuária é uma atividade<br />

de longo ciclo e possui contextos de altas e<br />

baixas de aproximadamente cinco anos. Sendo<br />

assim, na alta é importante obter o máximo<br />

de resultado para suprir os momentos de<br />

baixa. O mercado pecuário deve ser avaliado<br />

pelo ciclo e não pelo ano.<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong>: Como você vê<br />

o impacto da queda nos preços dos<br />

insumos, como milho e farelo de soja, no<br />

aumento da intenção de confinamento na<br />

região do Alto Paranaíba?<br />

LÉO BOIADEIRO: Acredito que não terá esse<br />

aumento na região do Alto Paranaíba.<br />

As condições climáticas, especialmente<br />

a estação seca e fria, têm levado os<br />

pecuaristas da região a adotar mais<br />

o confinamento? Pode explicar essa<br />

dinâmica?<br />

Sim. Hoje, devido a essa adversidade climática<br />

que estamos enfrentando, o pecuarista<br />

precisa adotar estratégias de confinamento e<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

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revista<br />

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parcerias (boitel) para diminuir a carga de gado<br />

da fazenda, tirando o boi e repondo bezerro.<br />

Quais estratégias você e outros<br />

pecuaristas do Alto Paranaíba estão<br />

adotando para lidar com a alta oferta de<br />

carne e a pressão sobre os preços do boi<br />

gordo?<br />

Atualmente fazemos trava na bolsa para<br />

assegurar o preço da @ e garantir uma rentabilidade<br />

na operação. Mas, infelizmente, não<br />

é uma realidade do mercado, devido à falta de<br />

conhecimento ou abertura do próprio pecuarista<br />

para aprender a operar. Assim, a grande<br />

maioria dos pecuaristas fica refém do mercado.<br />

O Imea indicou um aumento no<br />

confinamento em Mato Grosso. Você<br />

percebe um movimento semelhante na<br />

nossa região? Se sim, a que atribui esse<br />

crescimento?<br />

Não percebo esse movimento no Alto Paranaíba.<br />

A redução no envio de fêmeas para<br />

o confinamento pode sinalizar uma<br />

retomada do ciclo pecuário. Você acredita<br />

que essa tendência se aplica ao Alto<br />

Paranaíba? Como isso impacta os preços<br />

e a produção local?<br />

Sim. O ciclo pecuário acontece na cadeia<br />

nacional com a redução no abate de fêmeas<br />

e oferta de bezerros. O primeiro impacto é a<br />

valorização do bezerro e a retenção de fêmeas<br />

para cria.<br />

66<br />

Ciência a favor da<br />

pecuária<br />

A Embrapa Gado de Corte desenvolve<br />

tecnologias para aumentar a produtividade<br />

da pecuária de corte no Brasil de forma<br />

sustentável. O setor de Pesquisa e<br />

Desenvolvimento está dividido em três


revista<br />

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porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

grupos: Produção Vegetal,<br />

Produção Animal e Sistemas<br />

de Produção, com equipes<br />

especializadas em cada<br />

área.<br />

CONFINAMENTO é um sistema de criação de<br />

gado de corte onde os animais ficam em áreas<br />

limitadas para otimizar o ganho de peso e a<br />

qualidade da carne. No Brasil, essa prática é<br />

cada vez mais comum na fase final de engorda<br />

dos animais<br />

67


SUCESSÃO NO AGRO<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

O perfil do sucessor no<br />

agronegócio do Cerrado: a<br />

realidade pede um perfil arrojado,<br />

humilde, curioso e corajoso<br />

70<br />

PATRÍCIA BARROSO, Gestão Estratégica de<br />

Pessoas: A exigência de um perfil arrojado expõe<br />

com clareza as regras do jogo da sucessão familiar<br />

no agronegócio do Cerrado”<br />

A<br />

região do Cerrado mineiro, especialmente<br />

em regiões como Patos de Minas, destaca-se<br />

como um polo dinâmico e produtivo<br />

do agronegócio nacional. A diversidade de<br />

culturas, incluindo café, soja, milho, feijão e até<br />

tomate industrial em pivôs centrais, juntamente<br />

com a força da pecuária leiteira, reflete a complexidade<br />

e a riqueza do cenário agrícola local. Nesse<br />

contexto, o perfil de gestão para o sucessor na<br />

agricultura do Cerrado mineiro precisa ser arrojado,<br />

integrando competências essenciais como<br />

a gestão de riscos, conhecimento técnico e a capacidade<br />

de implementar práticas sustentáveis.<br />

As novas gerações devem estar preparadas para<br />

lidar com os desafios contemporâneos e manter a<br />

competitividade em um mercado globalizado.<br />

O sucessor no agronegócio do Cerrado deve<br />

desenvolver uma combinação única de habilidades<br />

e competências para enfrentar os desafios e<br />

aproveitar a potencialidade da região. A gestão de<br />

riscos, por exemplo, é crucial para lidar com as<br />

incertezas climáticas e de mercado que afetam a<br />

produção agrícola e pecuária. Analisar a viabilidade<br />

financeira da safrinha como estratégia de negócio<br />

é um dos exemplos que exige um conhecimento<br />

profundo sobre práticas agrícolas eficientes e a<br />

capacidade de assumir riscos calculados em prol<br />

de iniciativas mais lucrativas. O escopo de competências<br />

exigido é amplo, complexo e dinâmico.<br />

Nesse cenário, recomendo o investimento em um<br />

plano de desenvolvimento individual que contemple<br />

atividades de benchmarking e pesquisas.<br />

Visitas técnicas também são fundamentais para o<br />

desenvolvimento contínuo e a adaptação às novas<br />

tecnologias e práticas de mercado. A integração de<br />

complexos agroindustriais, o conhecimento sobre<br />

tecnologia de ponta e a promoção de um ambiente<br />

“agro-sócio-sustentável” são aspectos cruciais<br />

para a formação do perfil ideal de sucessão, bem<br />

como práticas vitais para um desenvolvimento<br />

sustentável e competitivo do setor. A exigência de<br />

um perfil arrojado expõe com clareza as regras do<br />

jogo da sucessão familiar no agronegócio do Cerrado.<br />

Assumir o papel de sucessor é mais do que<br />

uma questão de família; trata-se de assumir uma<br />

responsabilidade que envolve conhecimento den-


tro e fora das porteiras. A dimensão da responsabilidade<br />

deve ser acompanhada pela humildade<br />

em aprender, pela curiosidade de querer saber e<br />

pela coragem de executar.<br />

Para serem bem-sucedidos, esses jovens líderes<br />

devem estar atentos às tendências de novas<br />

tecnologias, às mudanças político-econômicas a<br />

nível nacional e internacional, e às exigências legais,<br />

bem como às adequações do setor às práticas<br />

sustentáveis. A implementação de práticas<br />

de ESG (ambiental, social e governança) não só<br />

garante a sustentabilidade social, ambiental e financeira,<br />

mas também melhora a reputação da<br />

empresa no mercado. Além disso, o desenvolvimento<br />

de competências em tecnologia digital,<br />

como o uso de drones para monitoramento de<br />

culturas e a aplicação de inteligência artificial na<br />

análise de dados agrícolas, são essenciais para otimizar<br />

a produção e reduzir custos. O sucessor<br />

deve entender de gestão de pessoas tanto quanto<br />

entende de finanças. O ambiente do agronegócio<br />

impõe uma demanda por mão de obra altamente<br />

qualificada e aderente ao ambiente agroindustrial.<br />

Nesse contexto, não basta ser da família, precisa<br />

querer ser um gestor de ponta. O sucessor no<br />

agronegócio do Cerrado deve ser um líder visionário,<br />

capaz de aliar tradição e inovação. A implementação<br />

de práticas de ESG (ambiental, social e<br />

governança) e a adoção de tecnologias avançadas<br />

são imperativos para garantir a sustentabilidade e<br />

a competitividade a longo prazo. Ser reconhecido<br />

por gerar valor e praticar uma agricultura que potencializa<br />

resultados econômicos e sustentáveis é<br />

o objetivo maior. Gosto de resumir o novo perfil<br />

do sucessor do agronegócio em três fortes e importantes<br />

características: humildade, curiosidade<br />

e coragem.<br />

Portanto, o perfil arrojado do sucessor no<br />

Cerrado não é apenas desejável, mas essencial<br />

para a perpetuação e o sucesso do agronegócio<br />

nesta região vital do Brasil. A formação contínua<br />

e o envolvimento em redes de colaboração e inovação<br />

serão diferenciais para aqueles que desejam<br />

liderar o futuro do agronegócio no Cerrado.<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

71


GESTÃO & MERCADO<br />

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100<br />

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jul, 24<br />

Do campo ao banco: como o<br />

produtor rural pode assumir o<br />

protagonismo?<br />

72<br />

PAULIANE OLIVEIRA, Advogada e Diretora Executiva<br />

do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>: “É urgente refletirmos sobre<br />

a abordagem passiva dos produtores rurais”<br />

A<br />

gestão financeira é, sem dúvidas, um dos<br />

maiores desafios enfrentados pelo produtor<br />

rural. É comum encontrar produtores<br />

com dívidas acumuladas por não conseguirem<br />

sincronizar o fluxo de caixa com as obrigações<br />

financeiras, ou por realizarem investimentos<br />

considerando o momento de alta e desconsiderando<br />

a oscilação do mercado, ou até mesmo o<br />

endividamento gerado pela oferta de crédito em<br />

excesso. Esses são exemplos comuns que vimos<br />

acontecer nos últimos dez anos.<br />

Por outro lado, é usual que as instituições<br />

bancárias exijam garantias de forma desproporcional<br />

ao crédito levantado, como, por exemplo,<br />

alienação fiduciária de propriedades rurais inteiras<br />

e hipotecas sucessivas sobre a mesma propriedade,<br />

restringindo, nestes casos, a capacidade<br />

de o produtor rural obter novos financiamentos.<br />

A maior parte dos produtores ainda segue as regras<br />

impostas pelos bancos e financiadores, fornecendo<br />

garantias conforme solicitado, sem avaliar<br />

corretamente qual a demanda total de capital<br />

a ser financiado, de modo a fazer uma boa gestão<br />

da necessidade de captação de recursos.<br />

É urgente refletirmos sobre essa abordagem<br />

passiva dos produtores rurais. Com o conhecimento<br />

certo sobre os ativos e poder que possuem,<br />

eles podem oferecer garantias e opções de<br />

financiamento que beneficiem tanto eles quanto<br />

as instituições financeiras ou parceiros, sem ficarem<br />

amarrados a um único financiador.<br />

É urgente refletirmos sobre essa abordagem<br />

passiva dos produtores rurais. Com o conhecimento<br />

certo sobre os ativos e poder que possuem,<br />

eles podem oferecer garantias e opções<br />

de financiamento que beneficiem tanto eles<br />

quanto as instituições financeiras ou parceiros,<br />

sem ficarem amarrados a um único financiador.<br />

É válido lembrar que ano após ano, eles renovam<br />

operações mal planejadas, sem conseguir quitar<br />

dívidas ou liberar garantias oferecidas. Isso cria<br />

um ciclo de dependência e comprometimento<br />

crescente com os bancos. Além disso, a renovação<br />

dessas dívidas geralmente implica em taxas<br />

de juros mais altas e condições mais rígidas,<br />

como por exemplo o reforço de garantia com<br />

ativos essenciais para a produção rural.<br />

A falta de diversificação nas fontes de financiamento<br />

impede que o produtor aproveite<br />

condições mais favoráveis oferecidas por outras<br />

instituições, como cooperativas de crédito,<br />

indústrias e distribuidoras de insumos. Sem explorar<br />

essas alternativas, o produtor continua dependente<br />

de um único banco, que dita as regras e<br />

condições dos financiamentos. Isso reforça ainda<br />

mais o ciclo de dependência e dificulta a implementação<br />

de uma gestão financeira mais eficiente<br />

e estratégica.<br />

Uma parte da solução está na legislação de<br />

crédito e financiamento no agronegócio, a qual<br />

evoluiu significativamente nos últimos anos.<br />

Desde a Lei da CPR até as mais recentes Leis do<br />

Agro, surgiram novas oportunidades tanto para<br />

produtores quanto para financiadores, motivadas<br />

pelo fato de que não são apenas os bancos que<br />

financiam o agronegócio, mas também cooperativas,<br />

indústrias e distribuidores de insumos. Esse


movimento de desbancarização permite que os<br />

produtores negociem com diversas entidades,<br />

como cooperativas de crédito, indústrias, distribuidoras<br />

de insumos, bancos e até fintechs. Um<br />

exemplo prático é a CPR física, que fortaleceu<br />

as operações de barter – operação que o produtor<br />

paga com sua própria produção. Além disso,<br />

contratos de venda agrícola passaram a poder ser<br />

usados como garantia em operações financeiras,<br />

e o Patrimônio Rural em Afetação (PRA) permitiu<br />

oferecer apenas uma parte da propriedade<br />

rural como garantia, facilitando negociações com<br />

múltiplos financiadores.<br />

Para aproveitar essas oportunidades, o produtor<br />

rural precisa entender o valor dos seus ativos.<br />

Ele não é refém do banco se souber como utilizar<br />

garantias de forma estratégica e sistêmica. Por<br />

exemplo, um produtor com 500 hectares, produzindo<br />

no ano safra, soja, milho e feijão pode<br />

desmembrar sua propriedade em partes menores<br />

usando o PRA como garantia para operações financeiras,<br />

isso é, sem abrir novas matrículas, através<br />

de requerimento simples no CRI. Numa análise<br />

hipotética, que cada hectare valha R$60 mil, ele<br />

poderia dividir a fazenda em áreas de 50 hectares,<br />

oferecendo um ativo de R$3 milhões como garantia,<br />

ou mesmo em áreas de 100 hectares, o que<br />

geraria um ativo de garantia de R$6 milhões. Realizada<br />

a análise de endividamento, risco de crédito<br />

e outros pela instituição financeira, isso permitiria<br />

levantar capital sem comprometer grandes partes<br />

do imóvel. Sem prejuízo das operações de barter,<br />

em que ele não utilizaria o ativo “terra”, mas sim<br />

o ativo “produção”, hipótese que o produtor poderia<br />

separar 100 hectares para garantir o custo de<br />

produção de soja, financiando insumos agrícolas<br />

de forma segura. Vale lembrar que normalmente<br />

as instituições financeiras solicitam entre 120% a<br />

150% do valor levantado como garantia, mas em<br />

qualquer destes exemplos, o produtor rural mantém<br />

a flexibilidade e não fica dependente de uma<br />

única instituição financeira ou parceiro.<br />

Os produtores rurais possuem<br />

diversas ferramentas e<br />

oportunidades para melhorar a<br />

gestão financeira e a captação<br />

de recursos. Ao entender<br />

o valor dos seus ativos e<br />

explorar novas opções de<br />

financiamento, eles podem<br />

evitar a dependência excessiva<br />

de bancos específicos<br />

e negociar termos mais<br />

vantajosos. A chave está em<br />

adotar uma postura proativa,<br />

buscando conhecimento e<br />

avaliando cuidadosamente<br />

as opções disponíveis de<br />

uma maneira sistêmica e<br />

estratégica. Com uma gestão<br />

financeira bem estruturada,<br />

o produtor rural assume uma<br />

postura protagonista e colabora<br />

para a sustentabilidade e o<br />

crescimento do seu negócio.<br />

73


SAÚDE DA TERRA<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

A Importância da tipologia para<br />

pessoas e solo: os “alelos” da terra<br />

74 74<br />

RODOLFO DE SOUZA, jornalista, gestor de marketing<br />

no agronegócio e Diretor de Jornalismo do<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />

R<br />

ecentemente, o engenheiro agrônomo<br />

Diego Siqueira, publicou, em seu perfil<br />

no LinkedIn, o artigo “A Importância da<br />

tipologia para pessoas e solo: os ‘alelos’ da terra”.<br />

A convite do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>, Siqueira<br />

comentou o artigo e trouxe alguns dados<br />

novos. Cientista do Solo, Embaixador do Fundo<br />

Prospera UNESP [Universidade Estadual<br />

de São Paulo], Professor do SolloAgro/ESALq<br />

[Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz],<br />

Diego Siqueira é também diretor na deeptech<br />

Quanticum. Diego conta que essa tecnologia<br />

se transformou no primeiro filme brasileiro<br />

de soluções geradas dentro da Universidade. O<br />

documentário já foi exibido no Brasil e no exterior,<br />

inclusive aqui no Triângulo Mineiro.<br />

O artigo começa questionando o leitor sobre<br />

a tipologia sanguínea e a tipologia do solo:<br />

“Você já se perguntou qual é o seu tipo de sangue<br />

em algum momento da vida? Como é o solo<br />

da sua horta, chácara, praça da sua cidade, construção<br />

ou fazenda?”<br />

O texto destaca a importância do conhecimento<br />

sobre esses aspectos, tanto para a saúde<br />

humana quanto para a agricultura. A tipagem<br />

sanguínea tem sido marcada por várias descobertas<br />

importantes ao longo do tempo. Em<br />

1901, foram identificados os tipos A, B e O. Em<br />

1902, o fator Rh foi descoberto, dividindo os<br />

tipos em positivo e negativo. Entre 1927 e 1951,<br />

os sistemas Kell, Duffy e Kidd foram estabelecidos.<br />

Segundo Siqueira, a tipologia sanguínea<br />

permitiu identificar doadores com sangue raro,<br />

essencial para pacientes com necessidades específicas,<br />

além de aumentar a segurança nas transfusões<br />

e contribuir para a pesquisa científica.<br />

No Brasil, são realizadas cerca de 4 milhões de<br />

transfusões de sangue por ano e mais de 40 mil<br />

transplantes.<br />

O pesquisador compara a tipologia sanguínea<br />

à tipologia do solo. Ele ressalta que, na agricultura,<br />

silvicultura e engenharia civil, muitas<br />

decisões são baseadas na textura ou quantidade<br />

de argila do solo. Siqueira faz uma analogia:<br />

“Imagine se os médicos e hospitais tomassem as<br />

decisões de todos os transplantes e transfusões<br />

do Brasil com base na quantidade de sangue que<br />

o doador tem e na quantidade de sangue que o<br />

receptor precisa, sem levar em conta a tipologia<br />

do sangue. É isso que temos feito nas práticas<br />

agrícolas mundiais há décadas.”<br />

Diego Siqueira explica que, embora muitos<br />

técnicos agrupem a tipologia da argila em óxidos<br />

de ferro, alumínio, 2:2 e 2:1, na prática, não é tão<br />

simples. Existem mais de 200 tipos diferentes de<br />

argila que se formam no solo, incluindo cerca de<br />

20 tipos de óxidos de ferro e cerca de 10 tipos<br />

de óxidos de alumínio. “No Brasil, cultivamos<br />

anualmente cerca de 420 milhões de hectares<br />

com diferentes cultivos para alimentação, plantamos<br />

quase 8 milhões de hectares de florestas<br />

para produzir fibras para hospitais e vestuário,<br />

preservamos cerca de 490 milhões de hectares<br />

de biomas nativos e projetamos o crescimento<br />

de 13,4 milhões de hectares em áreas urbanas,<br />

assumindo que o ‘sangue da terra’, ou seja, a tipologia<br />

da argila, seja igual, mas não é!”, afirma.<br />

Siqueira observa que o conhecimento sobre<br />

a tipologia do solo é vital para uma ampla gama<br />

de atividades humanas. Na agricultura, a escolha<br />

do tipo de cultivo e as práticas de manejo<br />

dependem diretamente da composição do solo.


Na silvicultura, a escolha das espécies de árvores<br />

a serem plantadas pode variar conforme a tipologia<br />

do solo. Na engenharia civil, a estabilidade<br />

das construções também está intimamente ligada<br />

ao tipo de solo.<br />

No Brasil, a agricultura moderna precisa levar<br />

em consideração esses fatores para otimizar<br />

a produtividade e a sustentabilidade, destaca o<br />

pesquisador. “Com quase 20 anos de experiência<br />

como engenheiro agrônomo e cientista do<br />

solo, acredito que podemos salvar muito mais<br />

vidas reconhecendo, admitindo e trabalhando<br />

com a tipologia das argilas do solo. Imagine, são<br />

mais de 200 tipos de argila. Quantas combinações,<br />

proporções e arranjos diferentes já estão<br />

ocorrendo sob nossos pés!”<br />

Diego Siqueira enfatiza que a aplicação de<br />

práticas agronômicas baseadas na tipologia da<br />

argila pode levar a um uso mais eficiente dos<br />

recursos naturais, reduzindo impactos ambientais<br />

e melhorando a saúde dos ecossistemas agrícolas.<br />

Ele defende que, assim como a tipologia<br />

sanguínea revolucionou a medicina, a tipologia<br />

do solo tem o potencial de revolucionar a agricultura<br />

e outras áreas relacionadas ao uso do<br />

solo.<br />

Siqueira conclui seu artigo com um apelo à<br />

comunidade científica e ao setor agrícola: “Gostaria<br />

que as pessoas que vivem, trabalham ou<br />

dependem do solo direta ou indiretamente também<br />

reconhecessem a tipologia das argilas para<br />

ajudar a salvar vidas”. Segundo ele, a adoção de<br />

uma abordagem mais detalhada e científica na<br />

análise e manejo do solo pode trazer benefícios<br />

significativos, contribuindo para um futuro mais<br />

sustentável e produtivo.<br />

Essa abordagem também pode ajudar a mitigar<br />

os efeitos das mudanças climáticas, uma vez<br />

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DIEGO SIQUEIRA:<br />

“A grande energia é a<br />

energia humana”<br />

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que solos bem manejados têm maior capacidade<br />

de sequestrar carbono e regular os ciclos hidrológicos,<br />

sustenta o pesquisador da UNESP. “A<br />

tipologia do solo é um elemento fundamental<br />

para entender e melhorar nossa interação com o<br />

meio ambiente. É um conhecimento que pode<br />

nos guiar para práticas mais sustentáveis e eficientes,<br />

beneficiando tanto a economia quanto<br />

a ecologia”.<br />

76<br />

Solução virou filme<br />

Diego Siqueira conta com orgulho que a<br />

tecnologia acabou fazendo parte do primeiro<br />

filme brasileiro de soluções geradas dentro da<br />

universidade. Lançado em 2003, o documentário<br />

“Ecossistemas de Inovação: A Revolução<br />

do Agro”, produzido pela Prosa Press, explora<br />

a crescente influência da tecnologia no setor<br />

agropecuário brasileiro. A produção aborda<br />

como inovações tecnológicas estão promovendo<br />

aumento de produtividade, redução do uso<br />

de recursos naturais e minimização de impactos<br />

ambientais no planeta.<br />

Dirigido por Beto Leme, o filme apresenta<br />

exemplos concretos do uso de drones, inteligência<br />

artificial e outras soluções digitais para<br />

monitorar o solo, prever o clima, otimizar o<br />

uso de insumos e fertilizantes, além de reduzir o<br />

desperdício de água. O filme também destaca a<br />

relevância da preservação da biodiversidade em<br />

áreas agrícolas e como práticas sustentáveis podem<br />

beneficiar ecossistemas locais.<br />

A obra percorreu várias cidades brasileiras,<br />

tendo passado inclusive por Uberlândia, aqui no<br />

Triângulo Mineiro, além de Piracicaba, Campinas,<br />

Ribeirão Preto (SP), Goiânia (GO), Luiz<br />

Eduardo Magalhães (BA), Londrina (PR) e Manaus<br />

(AM). O documentário entrevistou fundadores<br />

de startups, pesquisadores e especialistas<br />

em tecnologia agrícola, oferecendo uma visão<br />

abrangente sobre o tema.<br />

O filme conta com patrocínio da Bayer e da<br />

Green4T.<br />

VEJA O FILME no YouTube e<br />

leia a ficha técnica


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“EXISTEM MÉTODOS pra gente identificar as<br />

nanopartículas presentes no solo. Alguns desses<br />

métodos são ganhadores de Prêmio Nobel. São métodos<br />

com mais de 100 anos. O que a Quanticum fez foi<br />

sociabilizar essa ciência e desenvolver um procedimento<br />

pra que esas partículas fossem quantificadas de uma<br />

maneira mais rápida e mais precisa.” — Diego Siqueira, no<br />

documentário “Ecossistemas de Inovação:<br />

A Revolução do Agro”<br />

77


DEPOIMENTOS E PARCEIROS<br />

REVISTA <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />

CINTHIA MORAIS<br />

DIRETORA EXECUTIVA COLMEIA HUB DE NEGÓCIOS<br />

Precisamos sempre falar do agro<br />

com grande responsabilidade,<br />

não só para dentro do agro, mas<br />

também para fora.<br />

JOSÉ BENEVIDES ROMANO<br />

BENÉ ROMAMO, ENGENHEIRO AGRÔNOMO E<br />

COMUNICADOR NO AGRONEGÓCIO<br />

Vejo essa iniciativa como muito<br />

importante, porque, o que nós<br />

precisamos, cada vez mais, é de<br />

pessoas comunicando a verdade<br />

e valorizando o agronegócio.<br />

ARNALDO MELO<br />

DIRETOR GEAL DUOFÉRTIL<br />

Parabéns pelo lançamento da<br />

<strong>Revista</strong> <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />

Veículos de comunicação como o<br />

<strong>100PORCENTOAGRO</strong> ajudam a<br />

deixar claro para todos que o<br />

agro é a locomotiva do Brasil.<br />

MÍRIAN DELGADO<br />

DIRETORA CIENTÍFICA DA AMIPA: ASSOCIAÇÃO<br />

MINEIRA DOS PRODUTORES DE ALHO<br />

Um projeto que vi nascer, e que<br />

tem crescido cada dia mais. Uma<br />

honra estar aqui, ao lado de<br />

mulheres que representam o<br />

Agronegócio!<br />

SANDRA MORAES<br />

GERENTE DE CAFÉS ESPECIAIS NA EXPOCACCER<br />

COOPERATIVA DOS CAFEICULTORES DO CERRADO<br />

Muito emocionada pela menção<br />

ao meu trabalho feita pela<br />

<strong>Revista</strong> <strong>100PORCENTOAGRO</strong>.<br />

Assim sigo... com conhecimento e<br />

dedicação ao agronegócio e<br />

cafeicultura.


QUALIDADE GARANTIDA<br />

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Café do Cerrado Mineiro:<br />

autenticidade garantida pela<br />

Denominação de Origem<br />

80<br />

A<br />

utenticidade é algo puramente verdadeiro<br />

porque não sofreu mutações ou<br />

reproduções indevidas. No contexto<br />

dos cafés especiais, o autêntico café do Cerrado<br />

Mineiro destaca-se por seu processo oficial<br />

de garantia, sendo protegido pela Denominação<br />

de Origem (DO). A mensagem faz parte<br />

de uma publicação recente da Região do Cerrado<br />

Mineiro (RCM). Ao 100PORCENTOA-<br />

GRO, o Presidente da Federação dos Cafeicultores<br />

do Cerrado Mineiro, Juliano Tarabal,<br />

afirmou que a DO protege a reputação do<br />

café da Região, garantindo sua autenticidade.<br />

A RCM exporta para mais de 50 países.<br />

A utilização do nome Cerrado Mineiro para<br />

café verde ou café industrializado deve ser autorizada<br />

pela Federação. A entidade controla<br />

a Denominação de Origem, conforme especificado<br />

no site da Federação. A utilização indevida<br />

do nome, sem a necessária certificação de<br />

origem, contraria as normas da DO, registrada<br />

pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial<br />

(INPI).<br />

O café do Cerrado Mineiro possui características<br />

únicas devido às condições específicas<br />

de clima, solo e altitude da região, que abrange


REGIÃO DO CERRADO MINEIRO se<br />

destaca pela produção de café de alta<br />

qualidade. Com 4.500 produtores em 55<br />

municípios, ocupando 250 mil hectares, a<br />

RCM é responsável por 25,4% da produção<br />

de café em Minas Gerais e 12,7% da<br />

produção nacional<br />

55 municípios em uma área de 210 mil hectares.<br />

Essas condições proporcionam ao café<br />

um sabor singular, com notas frutadas e acidez<br />

balanceada, fatores fundamentais para seu<br />

reconhecimento internacional.<br />

Desde 2013, a Denominação de Origem<br />

do Cerrado Mineiro é reconhecida pelo INPI,<br />

reforçando a importância de proteger a autenticidade<br />

do produto. A certificação exige que<br />

o café seja produzido, beneficiado e industrializado<br />

dentro da área delimitada, seguindo critérios<br />

rigorosos de qualidade. O selo de DO<br />

garante que o café atenda a esses padrões.<br />

A proteção da autenticidade envolve o<br />

compromisso de todos os participantes da cadeia<br />

produtiva da cafeicultura na RCM, uma<br />

construção coletiva com mais de 50 anos de<br />

história e trabalho.<br />

A rastreabilidade desses cafés é fundamental.<br />

Cada lote de café certificado pode ser rastreado<br />

desde a fazenda onde foi produzido até<br />

o consumidor final. Esse sistema de rastreamento<br />

permite monitorar as etapas do processo<br />

produtivo.<br />

A Federação desempenha um papel fundamental<br />

nesse processo, oferecendo suporte<br />

técnico e orientação aos produtores, além de<br />

realizar auditorias periódicas para assegurar a<br />

conformidade com os critérios da Denominação<br />

de Origem. A entidade também promove<br />

iniciativas de valorização do café do Cerrado<br />

Mineiro.<br />

O reconhecimento e a proteção da DO do<br />

Cerrado Mineiro são resultado de décadas de<br />

trabalho árduo e dedicação dos cafeicultores<br />

da região. É muito mais que uma simples nomenclatura:<br />

elas envolvem a garantia de práticas<br />

sustentáveis na produção do café, com<br />

respeito ao meio ambiente e às condições de<br />

trabalho dos agricultores.<br />

O Cerrado Mineiro é a primeira região produtora<br />

de café no Brasil a obter a Denominação<br />

de Origem, um marco que eleva o patamar<br />

de qualidade e reconhecimento do café brasileiro<br />

no cenário global. A região é conhecida<br />

por sua produção de cafés de alta qualidade,<br />

e a DO serve como uma prova adicional de<br />

que esses cafés são autênticos e possuem um<br />

padrão de excelência.<br />

“A Denominação de Origem é um registro de<br />

grande relevância que assegura ao território a proteção<br />

da fama e notoriedade adquirida pela produção<br />

de determinado produto, no nosso caso o café.<br />

Portanto, nosso foco está muito concentrado em<br />

proteger esta autenticidade, já que, hoje, o Cerrado<br />

Mineiro possui presença em todos os continentes,<br />

em mais de 50 países”, diz Juliano Tarabal.<br />

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LOGÍSTICA E SUSTENTABILIDADE<br />

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Como os gargalos de<br />

logística impactam a<br />

sustentabilidade no<br />

agronegócio brasileiro<br />

82 82


N<br />

o setor do agronegócio brasileiro,<br />

a logística enfrenta alguns desafios<br />

significativos: complexidade da<br />

safra, ausência de desenvolvimento<br />

tecnológico, dependência do transporte<br />

rodoviário e infraestrutura precária. Nesta<br />

reportagem, vamos desvendar aspectos<br />

importantes contextualizados para o<br />

Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e<br />

Noroeste de Minas. Afinal, isso tem a ver<br />

com sustentabilidade? A resposta é sim,<br />

porque sustentabilidade tem a ver com o<br />

sucesso do negócio.<br />

Quando se fala em complexidade de<br />

safra, a cada ano a estratégia de safra<br />

precisa ser diferente, uma vez que ela é<br />

viva, imprevisível e está em constante<br />

mudança. As empresas compram as<br />

sacas e dependem do valor de mercado<br />

para vendê-las. Quando o valor sobe,<br />

as empresas precisam de agilidade nas<br />

vendas e, consequentemente, na entrega<br />

dos produtos. No entanto, muitas vezes,<br />

essas empresas não encontram frotas de<br />

caminhões disponíveis para suportar o<br />

transporte imediato dessas sacas.<br />

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84 84<br />

A falta de tecnologia no segmento agrícola pode<br />

resultar em uma perda de aproximadamente R$ 100<br />

bilhões para o agronegócio. Além disso, mais de<br />

70% das propriedades rurais do Brasil não possuem<br />

acesso à internet. O uso de soluções tecnológicas<br />

no setor poderia aumentar a produtividade, reduzir<br />

custos e melhorar o desempenho das fazendas.<br />

Outro aspecto sempre presente nos debates<br />

acerca do tema é a enorme dependência do transporte<br />

rodoviário somada à infraestrutura precária.<br />

O agronegócio brasileiro enfrenta desafios relacionados<br />

à longa distância entre as áreas produtoras<br />

e os centros de consumo, bem como à falta de<br />

infraestrutura adequada. O modal rodoviário é a<br />

principal via de acesso para o escoamento da produção,<br />

mas sua dependência aumenta o valor do<br />

frete e implica maiores custos logísticos.<br />

Para superar esses desafios, é essencial investir<br />

em tecnologia, melhorar a infraestrutura e buscar<br />

soluções inovadoras para otimizar a logística no<br />

agronegócio brasileiro.<br />

CONTEXTO REGIONAL: Minas Gerais tem a<br />

maior malha rodoviária do Brasil, equivalente a<br />

cerca de 16% do somatório de rodovias estaduais,<br />

federais e municipais de toda a malha viária existente<br />

no país. No estado, são 272.062,90 km de<br />

rodovias. Deste total, 9.205 km são de rodovias<br />

federais, 22.286 km de rodovias estaduais pavimentadas,<br />

e 240.571,90 km de rodovias municipais,<br />

na maioria não pavimentadas.<br />

No Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas<br />

existem várias rodovias importantes que conectam<br />

cidades e facilitam o transporte. As principais<br />

são: BR 050 (Uberaba, Araguari, Uberlândia<br />

e acesso aos estados de Goiás e São Paulo), BR<br />

153 (Frutal a Prata, no Triângulo Mineiro, funcionando<br />

como um corredor paralelo à BR 050 e<br />

auxiliando no transporte de cargas na região), BR<br />

365 (Uberlândia a Patrocínio, passando por diversas<br />

cidades da região) e estradas menores como a<br />

MG-190, LMG-812, LMG-798, MG-427, CMG-<br />

452 e BR-452.<br />

Para Wesley Nunes, consultor do Serviço Nacional<br />

de Aprendizagem Industrial (SENAI), em<br />

Patos de Minas, o agronegócio já possui novas<br />

tecnologias aplicadas ao maquinário. Contudo,<br />

faltam informação e mais treinamento de operadores<br />

e coordenadores. “Essas tecnologias ficam<br />

restritas a poucos produtores. Estamos fazendo<br />

um trabalho de apoio através de consultorias para<br />

melhoria do processo produtivo, visando aumentar<br />

a disponibilidade dos equipamentos, a capacitação<br />

dos operários e, consequentemente, ampliar<br />

a produção”.<br />

De acordo com Wesley, muitas fazendas não<br />

possuem o mínimo adequado de gestão administrativa.<br />

“Elas não controlam os custos operacionais<br />

e, muitas vezes, em propriedades com alguma<br />

prática de gestão, o foco é apenas na administração<br />

voltada para vendas. Essas fazendas deixam<br />

passar batido a manutenção dos equipamentos e<br />

a busca dessas novas tecnologias”.<br />

Por sua vez, Gustavo Santos, Superintendente<br />

da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado<br />

da Região de Carmo do Paranaíba (Carmocer), os<br />

pontos em destaque nesta reportagem são relevantes<br />

e crônicos no agronegócio como um todo,<br />

em especial no setor cafeeiro, onde tudo é muito<br />

rápido. “É preciso primeiramente o olhar político.<br />

Precisamos de mais alternativas para o escoamento<br />

da produção. O agro precisa de soluções<br />

como aconteceu com o transporte de pessoas por<br />

aplicativos, onde conseguimos um transporte rápido,<br />

seguro e com bom custo-benefício”. Santos<br />

entende que essa inovação, devidamente adaptada<br />

às necessidades do agronegócio como um todo<br />

e ao setor cafeeiro em especial, seria perfeita. “A<br />

solução mais rápida na minha opinião seria por<br />

meio da tecnologia. Somos a região mais tecnificada<br />

no agronegócio brasileiro e, por isso, temos<br />

condições de buscar soluções inovadoras e<br />

implantá-las de forma imediata”.<br />

Já a pesquisadora da Embrapa Cerrados e colunista<br />

do <strong>100PORCENTOAGRO</strong>, Maria Emília<br />

Borges Alves, engenheira agrícola com mestrado<br />

e doutorado, considera que não falta tecnologia,<br />

mas há problemas de acesso ou conhecimento.


O QUE FAZER<br />

“Existe bastante tecnologia, e muitos produtores,<br />

principalmente os grandes, usam tecnologia de<br />

ponta, desde máquinas até imagens de satélites.<br />

Quanto à falta de acesso à internet, isso sim é uma<br />

realidade, bem como a questão da energia elétrica,<br />

que não chega em todos os lugares e muitas vezes<br />

chega em baixa qualidade”.<br />

Naturalmente, a complexidade da safra, a<br />

ausência de desenvolvimento tecnológico, a dependência<br />

do transporte rodoviário e a infraestrutura<br />

precária são aspectos relacionados entre<br />

si. No entanto, a logística é o gargalo a ser atacado<br />

imediatamente porque desempenha papel<br />

essencial no sustento do crescimento. Estradas e<br />

vias inadequadas elevam os custos de transporte.<br />

A rastreabilidade ainda é um desafio, afetando a<br />

segurança dos embarques e desembarques. E a<br />

solução está exatamente na busca de inovações<br />

que melhorem a eficiência produtiva.<br />

MARIA EMÍLIA ALVES: a falta de acesso à internet é<br />

uma realidade, bem como a questão da energia elétrica,<br />

que não chega em todos os lugares e muitas vezes chega<br />

em baixa qualidade<br />

Gargalos passam pela<br />

sustentabilidade, e solução é<br />

agrofloresta<br />

MILENA CARAMORI, engenheia florestal, MsC em<br />

Saneamento e Recursos Hídricos. Colunista de<br />

Sustentabilidade no <strong>100PORCENTOAGRO</strong><br />

Diante dos desafios enfrentados pelo agronegócio<br />

brasileiro, a transição do modelo monocultural<br />

para a agrofloresta emerge como<br />

uma solução promissora. A complexidade<br />

sazonal das safras, caracterizada pela imprevisibilidade<br />

e variações constantes, é agravada<br />

pelas mudanças climáticas, sobrecarregando<br />

empresas dependentes da venda imediata e enfrentando<br />

dificuldades logísticas no transporte.<br />

A ausência de desenvolvimento tecnológico<br />

agrícola e o não uso de boas práticas de uso<br />

do solo podem acarretar problemas relacionados<br />

à fertilidade do solo e, consequentemente,<br />

à produção em curto, médio e longo prazo.<br />

A falta de acesso à internet também limita a<br />

produtividade e eficiência na produção e escoamento,<br />

resultando em perdas significativas<br />

para o setor. Além disso, a dependência do<br />

transporte rodoviário, com sua infraestrutura<br />

precária e custos elevados, agrava ainda mais<br />

os desafios enfrentados pelo agronegócio.<br />

Diante dessas questões, a adoção de sistemas<br />

agroflorestais, que integram culturas diversas<br />

e árvores perenes, não apenas mitigaria<br />

esses problemas estruturais, mas também promoveria<br />

sistemas mais resilientes e adaptáveis.<br />

A agrofloresta representa não apenas uma<br />

mudança nas práticas agrícolas, mas também<br />

um avanço em direção a modelos sustentáveis<br />

que melhoram a qualidade do solo, reduzem a<br />

pressão sobre recursos hídricos e favorecem<br />

uma produção mais distribuída e localizada.<br />

Esse investimento em tecnologias adaptativas<br />

e modelos de produção integrados é não apenas<br />

uma necessidade econômica, mas também<br />

um imperativo ambiental para o futuro do<br />

agronegócio brasileiro.<br />

Alguns desafios da produção agrícola,<br />

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como a necessidade permanente de controle<br />

de pragas e doenças, são intrínsecos à monocultura<br />

e podem representar gastos significativos<br />

com defensivos agrícolas. O modelo<br />

de produção em larga escala, dependente do<br />

valor de mercado para a venda imediata das<br />

sacas de produtos agronômicos, revela-se vulnerável<br />

à volatilidade e à escassez de mercado.<br />

Isso contrasta com o conceito de segurança<br />

alimentar e nutricional, onde a monocultura<br />

tende a encarecer e limitar a disponibilidade<br />

de produtos frescos e variados, incentivando<br />

o consumo de alimentos ultraprocessados,<br />

menos saudáveis e mais baratos, contribuindo<br />

para problemas de saúde pública como<br />

obesidade e doenças crônicas. Esse modelo,<br />

inicialmente considerado simples, revelou-se<br />

complexo, decadente e problemático, não<br />

somente para o meio ambiente, mas também<br />

para a saúde humana.<br />

Nos 350 milhões de anos de existência das<br />

florestas e nos 50 mil anos de Homo sapiens<br />

sapiens, nunca enfrentamos transformações<br />

tão drásticas no modelo de vida humano e alimentação<br />

como as que ocorreram no último<br />

século. A alteração na cobertura do solo e os<br />

impactos sobre a qualidade do ar, do solo, da<br />

água e da biodiversidade são evidentes. Desde<br />

a Revolução Verde nas décadas de 1950 e<br />

1960, houve profundas transformações nas<br />

relações entre o homem e o meio ambiente<br />

com a introdução do pacote tecnológico<br />

monocultural, inclusive com êxodo rural em<br />

massa, sendo que a partir da década de 70, a<br />

maioria da população passou a viver em áreas<br />

urbanas. Práticas tradicionais como rotação de<br />

cultivos, sistemas de pousio e adubação orgânica<br />

foram substituídas pela monocultura intensiva<br />

e pelo uso de insumos industrializados<br />

como pesticidas, adubos químicos, espécies<br />

melhoradas e, atualmente, geneticamente modificadas.<br />

Hoje, mais do que nunca, é necessário<br />

resgatar tecnologias antigas e explorar novos<br />

modelos de produção que transcendam a<br />

monocultura, minimizando o impacto dessas<br />

transformações.<br />

A transição ecológica tornou-se uma necessidade<br />

premente, embora enfrente resistências<br />

significativas. O investimento maciço<br />

em equipamentos e sistemas de irrigação projetados<br />

sem considerar a presença de árvores<br />

exemplifica o desafio que enfrentamos. É necessário<br />

estar disposto a revisitar e, muitas vezes,<br />

abandonar práticas consolidadas e conhecimentos<br />

estabelecidos. Obviamente, haverá<br />

resistência devido ao hábito e à necessidade<br />

de mecanização.<br />

Mas, há uma luz no fim do túnel. Um sistema<br />

agroflorestal idealizado pelo suíço Ernst<br />

Götsch, conhecido como agricultura sintrópica,<br />

é um modelo de produção que reduz<br />

riscos e garante uma série de benefícios. Este<br />

modelo, como todo o modelo agroflorestal,<br />

promove a diversidade de produção, assegurando<br />

colheitas ao longo do ano e diminuindo<br />

problemas com pragas e doenças. Além disso,<br />

melhora a infiltração de água no solo, aumenta<br />

a fertilidade do solo e promove a biodiversidade.<br />

Ao contrário do sistema monocultural, a<br />

agrofloresta, através de seu modelo diversificado<br />

de produção, oferece certa flexibilidade<br />

em relação à safra. Ao integrar diferentes culturas,<br />

árvores e sistemas de produção, reduz<br />

a dependência de uma única cultura e adapta-<br />

-se melhor às variações climáticas e sazonais.<br />

Isso pode ajudar na gestão mais eficiente da<br />

colheita e na redução da pressão por transporte<br />

imediato das sacas, pois há uma distribuição<br />

mais equilibrada ao longo do ano. Além<br />

disso, a diversidade de produtos pode reduzir<br />

a urgência na venda imediata, permitindo um<br />

planejamento logístico mais eficiente.<br />

A agrofloresta, ao promover a produção diversificada<br />

em escalas menores e distribuídas,<br />

pode reduzir a pressão sobre o transporte rodoviário<br />

de longa distância. Ao descentralizar<br />

a produção e favorecer sistemas mais locais e


regionais, ela pode diminuir a necessidade de<br />

grandes frotas de caminhões para transporte<br />

de safras concentradas em monoculturas.<br />

Além disso, ao integrar árvores e outras formas<br />

de vegetação, a agrofloresta pode contribuir<br />

para a melhoria da qualidade do solo e<br />

da água, reduzindo os impactos negativos da<br />

infraestrutura agrícola convencional.<br />

Embora tradicional em alguns aspectos,<br />

a agrofloresta pode incorporar tecnologias<br />

modernas para monitoramento, manejo e otimização<br />

da produção. Apesar de não ser exclusivamente<br />

dependente de alta tecnologia, a<br />

agrofloresta pode se beneficiar de inovações<br />

que não comprometem seu modelo ecológico<br />

integrado. Ernst Götsch propõe escalar a produção<br />

através da agricultura sintrópica, desenvolvendo<br />

inclusive protótipos de máquinas<br />

agrícolas adaptadas a esse modelo.<br />

Realizar uma mudança de modelo de produção<br />

pode ser complicado, mas a realidade é que<br />

a natureza está impondo um custo cada vez mais<br />

alto pela manutenção do status quo. A transição<br />

não será conduzida apenas pela consciência ambiental,<br />

mas por uma necessidade imperativa. O<br />

modelo de produção atual revela-se insustentável,<br />

com sinais alarmantes de desequilíbrios climáticos<br />

como secas severas, chuvas intensas e<br />

eventos extremos, além do aumento da incidência<br />

de pragas e doenças. O solo fértil está sendo<br />

erodido, elevando os custos de produção e exacerbando<br />

a escassez de água, tanto em quantidade<br />

quanto em qualidade.<br />

Questiona-se até quando os seguros rurais<br />

poderão assegurar a estabilidade econômica<br />

dos produtores diante dessas adversidades<br />

crescentes. A transição ecológica não é uma<br />

escolha, mas uma inevitabilidade, pois a natureza<br />

imporá suas próprias condições econômicas.<br />

A frase de Antuniasse, citada pelo meu<br />

querido professor da graduação, Edson Ribas,<br />

faz todo o sentido diante do contexto que estamos<br />

abordando: “A recusa na utilização dos<br />

insumos convencionais não significaria um retrocesso<br />

aos métodos de produção, mas sim<br />

um avanço”. Moura, pesquisador da área, em<br />

1979, já enxergava os problemas decorrentes<br />

da agricultura que estava sendo difundida<br />

e fez uma observação sensacional: “Quando<br />

consideramos que o ar e o solo são componentes<br />

de um mundo mais complexo no qual<br />

satisfazemos as necessidades alimentares,<br />

aperfeiçoamos progressivamente a qualidade<br />

de vida, desenvolvemos a pesquisa científica<br />

e as inovações tecnológicas, e afinal vivemos<br />

a vida na variedade de suas manifestações hedonísticas,<br />

chegamos à conclusão de que devemos<br />

preservar a Terra para suporte logístico<br />

de nossa existência, como seres portadores de<br />

inteligência e sensibilidade, que deverão estar<br />

permanentemente a serviço da humanidade.”<br />

Não se trata de uma causa privativista, mas de<br />

um interesse humano e universal. Podemos<br />

afirmar, portanto, que a mudança é necessária<br />

não apenas pensando em estratégias de produção<br />

lucrativa, escoamento, distribuição ou<br />

vendas, mas, como bem disse Moura, para garantir<br />

o “suporte logístico da nossa existência”<br />

e, parafraseando Leonardo Boff, “valorizando<br />

os sistemas integrados e não a simples soma<br />

de suas partes”.<br />

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SOLO ERODIDO é cada vez mais comum em<br />

várias regiões do Brasil, elevando os custos de<br />

produção e aumentando a escassez de água<br />

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Seguro rural no Brasil:<br />

uma comparação<br />

desfavorável com os EUA<br />

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E<br />

m 25 de junho, o site Agribiz<br />

publicou matéria sobre a<br />

disparidade entre os sistemas de<br />

seguro rural do Brasil e dos Estados<br />

Unidos. O texto revela uma significativa<br />

desvantagem para os produtores<br />

brasileiros. Enquanto os Estados<br />

Unidos destinam cerca de US$ 8 bilhões<br />

anualmente para subsidiar seguros rurais,<br />

o Brasil aloca apenas R$ 1 bilhão.<br />

Nos EUA, o governo subsidia cerca de<br />

60% do prêmio do seguro, enquanto<br />

no Brasil essa média é de 40%. Essa<br />

diferença no nível de subsídios resulta<br />

em uma cobertura mais ampla e acessível<br />

para os produtores americanos, deixando<br />

os brasileiros em uma situação menos<br />

favorável.<br />

Nos Estados Unidos, os seguros rurais<br />

cobrem praticamente todas as culturas<br />

e tipos de risco, incluindo variações<br />

climáticas e de mercado. No Brasil,<br />

a cobertura é mais restrita e muitas<br />

vezes não inclui todos os tipos de risco<br />

enfrentados pelos produtores. Isso limita<br />

a capacidade dos agricultores brasileiros<br />

de se protegerem contra perdas<br />

significativas.<br />

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A diferença na penetração do seguro rural entre<br />

americanos e brasileiros também é marcante. Nos<br />

EUA, mais de 80% da área plantada está segurada,<br />

enquanto no Brasil o índice não passa de 20%.<br />

Essa discrepância revela uma adoção muito mais<br />

ampla e eficaz do seguro rural pelos produtores de<br />

lá, comparado aos daqui. Além disso, o processo<br />

de obtenção de seguro no Brasil é mais burocrático<br />

e demorado, desestimulando muitos produtores<br />

a buscarem essa forma de proteção. Nos Estados<br />

Unidos, o sistema é mais ágil e eficiente.<br />

As disparidades refletem o impacto direto das<br />

políticas públicas no desenvolvimento do setor<br />

agrícola. O apoio mais robusto ao seguro rural nos<br />

Estados Unidos proporciona uma maior estabilidade<br />

financeira para os produtores, incentivando<br />

a expansão e a inovação. No Brasil, a falta de um<br />

suporte equivalente coloca os agricultores em uma<br />

posição mais vulnerável.<br />

Para os agricultores brasileiros, essa falta de<br />

apoio se traduz em maior risco e menor segurança<br />

financeira. Em um país onde a agricultura desempenha<br />

papel elementar na economia, a ausência de<br />

um sistema de seguro rural eficaz pode ter consequências<br />

profundas. Os produtores são frequentemente<br />

expostos a riscos climáticos e de mercado,<br />

que podem resultar em perdas significativas e comprometer<br />

a sustentabilidade de suas operações.<br />

Mudar esse cenário depende de um aumento<br />

nos subsídios governamentais, simplificação dos<br />

processos burocráticos e ampliação da cobertura<br />

dos seguros rurais. Essas medidas poderiam incentivar<br />

mais produtores a aderirem ao seguro, proporcionando<br />

maior segurança e estabilidade ao setor<br />

agrícola brasileiro.<br />

A análise é especialmente importante em um<br />

cenário marcado por eventos climáticos cada vez<br />

mais intensos, e o agronegócio brasileiro enfrenta<br />

perdas significativas na cobertura contra esses fenômenos.<br />

Segundo matéria do Correio Braziliense,<br />

publicada em 19 de junho, a vulnerabilidade do<br />

setor tem se ampliado, impactando diretamente a<br />

produção e a economia rural do país.<br />

A incidência de secas e chuvas excessivas tem<br />

comprometido seriamente as colheitas em diversas<br />

regiões do Brasil. Especialistas citam que o aumento<br />

na frequência e na intensidade desses eventos<br />

extremos está desafiando as estratégias tradicionais<br />

de manejo e produção agrícola. Somente no último<br />

ano, as perdas financeiras associadas a esses eventos<br />

foram estimadas em R$ 5 bilhões.<br />

As mudanças climáticas têm alterado os padrões<br />

históricos de temperatura e precipitação, exigindo<br />

adaptações rápidas e eficazes por parte dos agricultores.<br />

Essa volatilidade climática não apenas afeta<br />

a quantidade e a qualidade das safras, mas também<br />

implica em riscos financeiros consideráveis para<br />

todo o setor.<br />

Em resposta, o governo tem sido pressionado<br />

a intensificar políticas de apoio e investimento em<br />

tecnologias adaptativas. Precisamos de mais investimentos<br />

em pesquisa e desenvolvimento de culturas<br />

resistentes às variações climáticas. A inovação<br />

tecnológica, como o uso de sistemas de monitoramento<br />

meteorológico avançado e práticas agrícolas<br />

sustentáveis, é vista como fundamental para mitigar<br />

os impactos negativos no agronegócio brasileiro.<br />

O artigo do Correio Braziliense citou que a necessidade<br />

de seguro agrícola acessível e eficiente<br />

nunca foi tão urgente. Muitos agricultores, especialmente<br />

os pequenos e médios produtores, sofrem<br />

perdas substanciais durante esses eventos<br />

extremos, o que coloca em risco não apenas suas<br />

atividades econômicas, mas também sua segurança<br />

alimentar.<br />

Por isto, a discussão sobre a adaptação do agronegócio<br />

às mudanças climáticas ganha cada vez<br />

mais relevância. O setor enfrenta uma encruzilhada<br />

onde a inovação tecnológica e políticas públicas<br />

eficazes podem ser determinantes para garantir sua<br />

resiliência e sustentabilidade no longo prazo.<br />

CONTEXTO REGIONAL: Considerando um recorte<br />

mais recente, em maio de <strong>2024</strong>, as chuvas abaixo<br />

da média em Minas Gerais resultaram no avanço da<br />

seca moderada no Triângulo Mineiro e da seca fraca<br />

no leste do estado, na divisa com o Rio de Janeiro.<br />

Segundo o Sistema de Meteorologia e Recursos


Hídricos de Minas Gerais (Simge), os impactos são<br />

de curto e longo prazo no nordeste, oeste e noroeste<br />

e de curto prazo nas demais áreas.<br />

Segundo o Simge, devido ao veranico de curto<br />

prazo, houve redução no plantio e crescimento de<br />

culturas ou pastagens. Em relação à saída da seca,<br />

foram observados alguns déficits hídricos prolongados,<br />

com pastagens e culturas não completamente<br />

recuperadas. As perdas de culturas ou pastagens<br />

foram consideradas prováveis, com escassez de<br />

água comum e restrições de água impostas. Situações<br />

mais graves incluíram perdas de culturas/pastagem<br />

e escassez de água generalizada ou restrições.<br />

Além disso, o relatório apontou alguns danos às<br />

culturas, pastagens, níveis baixos de córregos, reservatórios<br />

e poços, bem como desenvolvimento<br />

ou iminência de faltas de água. Restrições voluntárias<br />

de uso de água foram solicitadas. Em casos<br />

excepcionais, houve perdas de cultura/pastagem<br />

excepcionais e generalizadas e escassez de água nos<br />

reservatórios, córregos e poços de água, criando situações<br />

de emergência.<br />

Em 2023, o Cerrado Mineiro já havia enfrentado<br />

uma série de eventos climáticos extremos que<br />

tiveram impactos significativos na região. O último<br />

relatório climático da Organização das Nações<br />

Unidas (ONU) destacou que o aquecimento global<br />

afetou áreas do Cerrado, especialmente na região<br />

Central do Brasil, onde as temperaturas aumentaram<br />

cerca de 1°C acima da média global.<br />

Conhecido como o bioma das flores, o Cerrado<br />

é o segundo maior bioma brasileiro e abriga uma<br />

rica biodiversidade. No entanto, o aquecimento<br />

global está exacerbando os períodos de seca intensa<br />

em toda a área. Os eventos climáticos extremos<br />

de 2023 resultaram em um impacto econômico de<br />

US$ 23 bilhões no Brasil. As chuvas torrenciais representaram<br />

66% dos danos.<br />

Estudos propõem uma nova abordagem de mapeamento<br />

das unidades climáticas para o Triângulo<br />

Mineiro e Alto Paranaíba, considerando fatores<br />

como a temperatura média do mês mais frio, variação<br />

na precipitação pluviométrica, meses secos,<br />

passagens de frentes frias e possibilidade de geadas.<br />

PALAVRA DE QUEM ENTENDE<br />

Seguro agrícola no Brasil:<br />

redução de riscos em tempos de<br />

mudanças climáticas<br />

MARCOS MARINZEK, Especialista no Seguro<br />

Agro/Real Corretora de Seguros: “Nenhum produtor<br />

gestor do seu negócio deixa de contratar<br />

o seguro ao avaliar o custo-benefício que<br />

protegerá seu patrimônio”<br />

O seguro agrícola no Brasil cresce exponencialmente,<br />

mesmo de forma lenta, devido<br />

aos eventos climáticos que têm assolado<br />

diversas regiões. Atualmente, os agricultores<br />

conseguem enxergar a contratação do seguro<br />

rural como uma ferramenta de gestão de risco<br />

e não um custo.<br />

Recentemente, acompanhamos a catástrofe<br />

climática no Sul do país e como as indenizações<br />

foram essenciais para muitos produtores,<br />

além do aporte do governo de R$ 210 milhões<br />

a mais para fortalecer a contratação naquela<br />

região devido ao grande prejuízo naquela área.<br />

Somente no primeiro bimestre de <strong>2024</strong>, foram<br />

indenizados R$ 997,7 milhões em todo o<br />

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Brasil, 23,5% a mais do que o valor arrecadado<br />

pelas companhias de seguro. Ainda assim,<br />

se compararmos a contratação com os EUA,<br />

os brasileiros estão infinitamente mais tímidos.<br />

O seguro, hoje, é de uma importância inquestionável.<br />

Nenhum produtor gestor do seu<br />

negócio deixa de contratar o seguro ao avaliar<br />

o custo-benefício que protegerá seu patrimônio.<br />

No Alto Paranaíba, a contratação tem<br />

aumentado timidamente a cada ano, devido<br />

à seca, geada e granizo que estão ocorrendo<br />

em regiões onde não havia histórico, levando<br />

os produtores a questionarem suas perdas e<br />

contratar o seguro para manter seu patrimônio<br />

seguro”.<br />

MARIA EMÍLIA BORGES ALVES E FERNANDO<br />

ANTÔNIO MACENA DA SILVA, pesquisadores<br />

da Embrapa Cerrados: As mudanças climáticas<br />

globais vêm provocando uma série de alterações<br />

nos padrões climáticos em longo prazo.<br />

As consequências vêm sendo observadas e<br />

sentidas com mais frequência e intensidade<br />

nos últimos anos, seja no aumento das temperaturas,<br />

nas alterações do regime de chuvas<br />

ou na ocorrência de eventos climáticos extremos,<br />

como as chuvas intensas, chuvas de<br />

granizo ou secas severas. Tais eventos, além<br />

dos danos pontuais que provocam perdas de<br />

produção seja pelo excesso ou pela falta de<br />

chuvas, têm um dano mais amplo causado<br />

pelas altas temperaturas e pela mudança do<br />

regime de chuvas. Essas alterações, mais especificamente<br />

o atraso no início do período de<br />

chuvas normais, levam ao atraso do plantio da<br />

safra de verão, causando um “efeito dominó”,<br />

com o consequente atraso do plantio da 2ª safra<br />

e a possibilidade de uma eventual 3ª safra,<br />

podendo inclusive perder a janela de plantio<br />

ideal preconizada pelo Zoneamento Agrícola<br />

de Risco Climático (ZARC). Isso impacta no<br />

planejamento do produtor e pode impactar na<br />

produtividade e na qualidade do produto.<br />

Chuvas de granizo provocaram sérios danos<br />

às lavouras de café no Cerrado Mineiro,<br />

atingindo regiões pontuais, especialmente no<br />

final do ano de 2022. As chuvas intensas e<br />

com ventania, provocam danos físicos imediatos<br />

aos cultivos de maneira geral, além da<br />

perda de solo provocada pelo escoamento superficial<br />

e a pouca contribuição para o abastecimento<br />

dos volumes dos mananciais e a<br />

infiltração de água no solo, que serão sentidas<br />

a curto e médio prazo. O aumento das temperaturas<br />

afeta os ciclos das culturas, encurtando<br />

este ciclo e podendo afetar a qualidade, especialmente<br />

dos grãos.<br />

É possível afirmar que todas as culturas<br />

normalmente cultivadas na região do Cerrado<br />

Mineiro são afetadas em maior ou menor intensidade.<br />

Algumas são mais resilientes, como<br />

as culturas perenes. Já as culturas anuais,<br />

como soja, milho, feijão, entre outras, sofrem<br />

as consequências de forma mais imediata. As<br />

medidas adotadas para mitigar os impactos de<br />

eventos extremos são as práticas conservacionistas<br />

como o plantio direto, a rotação de<br />

culturas, manutenção da cobertura do solo e<br />

os sistemas de plantio integrados como ILPF<br />

(Integração Lavoura Pecuária Floresta). As<br />

instituições de pesquisa vêm trabalhando no<br />

sentido de aperfeiçoar as tecnologias de plantio<br />

integrado e dos sistemas de produção bem<br />

como o desenvolvimento de cultivares adaptadas<br />

e/ou resilientes por meio do melhoramento<br />

genético.<br />

Os governos estaduais e federal têm proposto<br />

programas e planos exclusivos voltados<br />

para o enfrentamento das mudanças climáticas<br />

que preveem a proposição de ações que<br />

envolvem os diversos setores como meio ambiente,<br />

energia, saúde, agricultura e indústria,<br />

entre outros, e, também, linhas de crédito específicas<br />

para fomentar a adoção de práticas<br />

para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.<br />

O seguro agrícola, em linhas gerais, cobre<br />

as explorações agrícolas contra perdas decor-


rentes principalmente de fenômenos meteorológicos.<br />

Ou seja, cobre basicamente o ciclo da<br />

planta, a partir da sua germinação/emergência<br />

até o ponto de colheita, contra a maioria dos<br />

riscos de origem de uma ou mais hipóteses<br />

de sinistro, tais como incêndio e raio, tromba<br />

d’água, ventos fortes, granizo, geada, chuvas<br />

excessivas, déficit hídrico e variação excessiva<br />

de temperatura.<br />

Portanto, o seguro rural se apresenta como<br />

um instrumento fundamental para a mitigação<br />

de riscos climáticos, que têm se tornado cada<br />

vez mais frequentes e intensos, especialmente<br />

diante desses eventos climáticos extremos.<br />

Assim, o seguro agrícola é uma ferramenta eficiente<br />

e importante para reduzir não só o risco<br />

para os produtores, mas também se tornar um<br />

instrumento-chave da política agrícola para<br />

estimular uma agropecuária mais sustentável,<br />

perene e resiliente às mudanças do clima.<br />

EUSIMIO FRAGA, professor, mestre e doutor.<br />

Coordenador do Centro de Inteligência em Cultivos<br />

Irrigados da Universidade Federal de Uberlândia,<br />

campus Monte Carmelo (CinCi/UFU), que<br />

desenvolve trabalhos de ensino, pesquisa e extensão<br />

no Cerrado Mineiro<br />

Apesar dos significativos avanços na disseminação<br />

das práticas agronômicas, compartilhamento<br />

de dados meteorológicos e<br />

implementação de gestão de processos nas<br />

propriedades agrícolas, ainda é comum observar<br />

prejuízos em cultivos anuais e perenes tanto<br />

em áreas de sequeiro quanto irrigadas. As<br />

mudanças climáticas terão impactos não apenas<br />

no Cerrado, mas globalmente, afetando<br />

áreas variadas como recursos hídricos, agricultura,<br />

energia, infraestrutura urbana e costeira,<br />

transporte e saúde, entre outras.<br />

Conforme o quinto relatório do Painel<br />

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas<br />

(IPCC), todos os modelos indicam um<br />

aumento na temperatura, com a mediana dos<br />

modelos projetando um aumento superior a<br />

1,2 vezes. Esse aumento de temperatura resultará<br />

em uma maior demanda hídrica nos<br />

cultivos, aumentando significativamente o<br />

risco de deficiência hídrica. A mediana dos<br />

modelos prevê um aumento na deficiência hídrica<br />

superior a 1,5 vezes, com a maioria dos<br />

resultados (percentis 25 a 75) indicando um<br />

incremento entre 1,4 a 1,7 vezes para o Bioma<br />

Cerrado, conforme anotado na produção<br />

científica “Efeito das mudanças climáticas na<br />

agricultura do Cerrado”, realizada por Eduardo<br />

Delgado Assad Daniel de Castro Victoria<br />

Santiago Vianna Cuadra Vanessa Silva Pugliero<br />

Marília Ribeiro Zanetti, publicada em 2020<br />

pela Embrapa.<br />

Os impactos climáticos têm intensificado<br />

a ocorrência de eventos extremos de variabilidade<br />

climática na produção de alimentos,<br />

algo que já se observa e gera preocupação.<br />

Um estudo publicado em 2020 pela Universidade<br />

de Brasília (UnB), revelou que no Bioma<br />

Cerrado, apesar de registrar perdas agrícolas<br />

menores em comparação a outros biomas, as<br />

culturas como trigo, arroz e milho foram severamente<br />

impactadas por eventos de estiagem,<br />

enquanto a cultura do café foi afetada por secas,<br />

geadas e chuvas de granizo. O estudo foi<br />

conduzido por André Luiz de Carvalho (Uni-<br />

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versidade Federal de Alagoas, UFAL), Diogo<br />

Victor Santos (Ministério da Ciência, Tecnologia<br />

e Inovações, MCTI), José Antônio Marengo<br />

(Centro Nacional de Monitoramento e<br />

Alertas de Desastres Naturais, Cemaden, São<br />

José dos Campos, SP), Sonia Maria Viggiani<br />

Coutinho (Universidade de São Paulo, USP,<br />

São Paulo) e Stoécio Malta Ferreira Maia (Instituto<br />

Federal de Alagoas, IFAL, Maceió, AL).<br />

É importante ressaltar que a produção<br />

dessas culturas no Cerrado é significativa, e<br />

perdas dessa magnitude podem acarretar impactos<br />

consideráveis tanto para produtores<br />

quanto para consumidores. O monitoramento<br />

climático local é extremamente útil para orientar<br />

as tomadas de decisões, planejamento e na<br />

implementação de práticas culturais, tais como<br />

adubação, manejo fitossanitário, manejo da irrigação<br />

e controle de plantas daninhas. Concomitantemente,<br />

é fundamental compreender<br />

e identificar os fatores ambientais que podem<br />

influenciar positiva ou negativamente os diferentes<br />

estágios fenológicos das lavouras.<br />

Essa abordagem é crucial para adaptar-se às<br />

condições climáticas em constante mudança<br />

e maximizar a resiliência, a produtividade e a<br />

rentabilidade das áreas de cultivo.<br />

EM MONTE CARMELO, Minas Gerais: o<br />

Viveiro de Atitude é um dos locais onde<br />

ocorrem iniciativas importantes para<br />

enriquecer nossas matas e proteger a<br />

biodiversidade nativa do Bioma Cerrado.<br />

Esta foto, foi feita por Wenderson Araújo<br />

(CNA), durante “Press Trip” ao Viveiro de<br />

Atitude, em 7 de novembro de 2023<br />

SAIBA +<br />

Efeito das mudanças<br />

climáticas na agricultura<br />

do Cerrado<br />

94<br />

Impacts of extreme<br />

climate events on Brazilian<br />

agricultural production


ALGODÃO COM SUSTENTABILIDADE<br />

Produção de algodão em Patos<br />

de Minas e Alto Paranaíba ganha<br />

reforço com parceria sustentável<br />

revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

ASSINATURA DO ACORDO entre Emater-MG e Amipa: momento muito positivo<br />

para os produtores mineiros de algodão<br />

N<br />

o dia 4 de julho, a Emater-MG e a Associação<br />

Mineira dos Produtores de Algodão<br />

(Amipa) oficializaram uma parceria estratégica<br />

para promover práticas agrícolas sustentáveis<br />

e intensificar a pesquisa sobre controle biológico de<br />

pragas nas lavouras de algodão em Minas Gerais.<br />

O evento ocorreu durante o Dia de Campo, na Fazenda<br />

Experimental da Amipa, considerada uma<br />

referência no setor algodoeiro do estado.<br />

O acordo foi firmado pelo diretor-presidente<br />

da Emater-MG, Otávio Maia, e pelos líderes da<br />

Amipa: Daniel Bruxel (presidente) e Inácio Carlos<br />

Urban (vice-presidente). Estão previstas visitas técnicas<br />

aos produtores de algodão para coletar dados<br />

sobre os benefícios de sustentabilidade proporcionados<br />

pela técnica do controle biológico.<br />

Gelson Soares, diretor Técnico da Emater-MG,<br />

destacou a importância da colaboração: “A Amipa<br />

tem um trabalho muito bom na área de sustentabilidade<br />

das lavouras de algodão e possui uma biofábrica<br />

em Uberlândia, onde são produzidos insetos<br />

que atuam como inimigos naturais das principais<br />

pragas do algodão e de outras culturas. A associação<br />

buscou o auxílio da Emater-MG para validar<br />

os benefícios dessa tecnologia nas propriedades de<br />

algodão de Minas Gerais”.<br />

95


revista<br />

100<br />

porcento<br />

agro<br />

jul, 24<br />

96<br />

A parceria entre Emater-MG e Amipa visa desenvolver<br />

uma metodologia conjunta para avaliar<br />

a sustentabilidade e a economia das propriedades<br />

que utilizam o controle biológico. Lício Sairre, diretor<br />

executivo da Amipa, explicou que atualmente<br />

80 mil hectares de área são tratados com inimigos<br />

naturais, e que essa área continuará se expandindo.<br />

Ele observou ainda: “O produtor diminui muito o<br />

uso de defensivo agrícolas, principalmente inseticidas.<br />

Além disso, os plásticos deixam de ir para a lavoura;<br />

há redução do consumo de óleo diesel, pois<br />

não precisa trator, e outros benefícios secundários.<br />

Temos alguns números desse trabalho que não são<br />

creditados e por isso que nós escolhemos a Emater<br />

para verificar e aferir esses dados”.<br />

A presença da Emater-MG em vários municípios<br />

mineiros, aliada à sua credibilidade e expertise,<br />

foi fundamental para essa parceria. Segundo Lício<br />

Sairre, “a Emater-MG faz o diagnóstico e a aferição<br />

para certificação das fazendas. Então a Emater-<br />

-MG surgiu como um parceiro natural e esperamos<br />

ter bastante sucesso nesse projeto”.<br />

A Amipa, uma entidade civil sem fins econômicos,<br />

atua há mais de duas décadas na promoção<br />

e fortalecimento da cotonicultura sustentável em<br />

Minas Gerais. Em <strong>2024</strong>, a associação prevê uma<br />

produção de 3,5 milhões de toneladas de algodão,<br />

um aumento de 12,2% em relação à safra anterior.<br />

No cenário nacional, as exportações de algodão<br />

do Brasil em maio apresentaram um aumento expressivo,<br />

totalizando 229,4 mil toneladas e gerando<br />

uma receita de US$ 488 milhões. Esses números<br />

representam um crescimento de 280% em comparação<br />

com o mesmo período do ano anterior. Em<br />

Minas Gerais, a área plantada foi de 32.106 hectares,<br />

24,21% maior que na safra anterior, e a produção<br />

total de fibra de algodão projetada é de 65 mil<br />

toneladas.<br />

Patos de Minas e o Alto Paranaíba são regiões<br />

estratégicas para a cotonicultura em Minas Gerais.<br />

A nova parceria entre Emater-MG e Amipa promete<br />

fortalecer ainda mais a produção local, garantindo<br />

práticas agrícolas mais sustentáveis e eficazes<br />

no controle de pragas, contribuindo assim para o<br />

crescimento contínuo da cotonicultura mineira.<br />

Os produtores locais se beneficiam diretamente<br />

dessas iniciativas, pois além de reduzirem custos<br />

com defensivos agrícolas, também garantem uma<br />

produção mais limpa e alinhada com as exigências<br />

dos mercados consumidores, cada vez mais atentos<br />

às questões ambientais e de sustentabilidade.<br />

A Emater-MG desempenha um papel estratégico<br />

no apoio ao produtor rural, oferecendo assistência<br />

técnica e extensão rural, promovendo capacitações<br />

e treinamentos que visam o aprimoramento<br />

das práticas agrícolas. Com essa parceria, os produtores<br />

de algodão do Alto Paranaíba terão acesso a<br />

tecnologias de ponta e poderão implementar o controle<br />

biológico de forma eficiente, potencializando<br />

seus resultados e contribuindo para a sustentabilidade<br />

da região.<br />

Com a expansão do controle biológico e a validação<br />

dos seus benefícios pela Emater-MG, espera-se<br />

que mais produtores adotem essa técnica,<br />

contribuindo para uma agricultura mais sustentável<br />

e competitiva. A parceria abre caminho para novas<br />

pesquisas e inovações que poderão ser aplicadas em<br />

outras culturas, ampliando os impactos positivos<br />

para a agricultura mineira como um todo.<br />

ENTREVISTA EXCLUSIVA: ao 100PORCENTOA-<br />

GRO, Daniel Bruxel falou sobre a importância da<br />

parceria.<br />

Como a parceria contribuirá para a promoção<br />

de práticas agrícolas sustentáveis na<br />

cotonicultura em Minas Gerais, especialmente<br />

em relação ao controle biológico de pragas?<br />

A Amipa já possui uma biofábrica, onde<br />

produz macroorganismos que ajudam no controle<br />

biológico de algumas pragas muito importantes<br />

para a cultura do algodão, da soja e do café. Essa<br />

parceria soma com as boas práticas agrícolas e de<br />

sustentabilidade que a Amipa já faz no dia a dia.<br />

A cooperação com a Emater visa buscar<br />

metodologias para mensurar o impacto positivo<br />

das atuais boas práticas rotineiras entre os<br />

associados da Amipa, especialmente no tocante


ao uso de ferramentas biológicas como por<br />

exemplo o uso de macroorganismos — insetos<br />

inimigos naturais – para o controle de pragas.<br />

Esperamos que essa cooperação traga luz a<br />

números importantes como a redução de uso de<br />

químicos, menor uso de óleo diesel, e quanto essas<br />

boas práticas reduzem a emissão de gases de efeito<br />

estufa e para o balanço de carbono da atividade.<br />

Considerando o aumento significativo na<br />

produção de algodão em Minas Gerais<br />

para <strong>2024</strong>, quais são os principais desafios<br />

enfrentados pelos produtores associados da<br />

Amipa e como esses desafios estão sendo<br />

abordados?<br />

A produção de algodão em Minas vem<br />

crescendo de forma consistente. A cultura de<br />

algodão tem alto custo; os investimentos para<br />

entrar nela são altos. Minas Gerais se consolidou<br />

justamente pela profissionalização do produtor de<br />

algodão. Os associados da Amipa contam com o<br />

apoio da entidade nos manejos de pragas e doenças,<br />

em projetos de sustentabilidade e certificações.<br />

Os desafios são aqueles do dia a dia, em busca<br />

de melhores práticas, aumento de produtividade<br />

e redução de custos. Essa troca de informações<br />

dentro da Amipa, entre produtores e técnicos<br />

ajuda a melhorar o cenário e obter uma melhor<br />

rentabilidade.<br />

Quais são os impactos econômicos e<br />

ambientais observados nas propriedades que<br />

adotaram o controle biológico de pragas?<br />

É algo fantástico ver esses impactos. A gente<br />

consegue notar nitidamente um melhor controle de<br />

pragas e insetos, bem mais efetivo, além de uma<br />

redução de custos. Com relação à sustentabilidade,<br />

isso nem se discute. Demora um certo tempo para<br />

ver os resultados, mas é algo bem benéfico. E a<br />

gente consegue os três pilares da sustentabilidade:<br />

melhor controle, custo menor e benefícios para o<br />

meio ambiente.<br />

revista<br />

100<br />

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jul, 24<br />

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