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UnicaPhoto julho 2024

Revista do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco

Revista do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco

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Unicaphoto

#

23

“SÓ A VIDA EXISTE”

Entre viventes e sobreviventes, veja a vida pelos olhos de Adhemar Duro, Carlos Drummond de Andrade, Carolina Dantas de Figueiredo, Darya Kava, Francesca

Woodman, Filipe Falcão, Gisele Carvallo, Gustavo Bettini, Ivan da Costa Alecrim Neto, Jorge Luis Borges, José Afonso Silva Júnior, Leopoldo Conrado Nunes,

Lucas Emanuel, Marcelino Freire, Marcelo Pérez, Olavo Bilac, Paulo André, Renata Victor, Roberto Mapplethorpe e Rodrigo Andolfato, nesta edição especial


editorial

aprender a viver

é que é o viver

Robert Mapplethorpe

Lindsay Key (1985)

ARTIST ROOMS Tate and

National Galleries of Scotland

© Robert Mapplethorpe

Foundation

A ideia de morrer e viver tem sido um tema central na

filosofia e na arte, explorada por grandes teóricos como

Heidegger (1899-1976), que considerava a morte como

o horizonte que dá sentido à existência, e Sartre (1905-

1980), que via a vida como um projeto inacabado. Na

fotografia, artistas como Robert Mapplethorpe (1946-

1989) e Francesca Woodman (1958-1981), em seus

espelhos de videmorte. Ambos capturaram a dualidade

entre a vida e a morte, revelando a fragilidade e a

transitoriedade da existência humana.

A fotografia, como um instante içado no tempo, serve

como poderoso lembrete da finitude da vida, mas também

da persistência da memória após a morte. Se é que ela

existe, como diz o escritor argentino Jorge Luís Borges

(1889-1986), no seu poema ao cemitério da Ricoleta, em

Buenos Aires, para onde o fotógrafo Filipe Falcão viajou

e trouxe excelentes fotos. A elas, fizemos acompanhar

o artigo do cineasta argentino Marcelo Perez, atento a

esses paradoxos da mortevida. Perez também assina a

tradução do poema de Borges exclusiva para esta edição.

Mas porque viver é muito perigoso, nos disse Guimarães

Rosa, e “porque aprender a viver é que é o viver,

mesmo” — ele repete —, o escritor Marcelino Freire

resolveu nos contar a quantas anda a vida em São Paulo.

E, no mote, ganhamos o espetacular ensaio de Renata

Victor, que tem com a cidade sua própria relação de

espantos e espelhos.

E assim, neste Dia Nacional da Fotografia, sua

Unicaphoto comemora a vida, na nossa solitária viagem

pelo cosmo. Talvez bem tão solitária assim, a depender

do olhar dos astrofotógrafos nesta edição, buscando

ouvir estrelas, como no poema de Olavo Bilac (1865-

1918), que brilha aqui, também. Viver é extremamente

perigoso no Recife, se você olhar bem para o ensaio de

Paulo André. Ainda sobre espelhos, os retratos feitos por

Lucas Emanuel falam dessa vida fractual, quebradiça,

o mundo em pedaços, na era da subjetividade, onde um

rosto é vário e infinito, cuja fração é mais real que o todo.

Sobre essa simulação ou fingimento do real, leia o

artigo de Ivan da Costa Alecrim Neto, José Afonso

Silva Junior e Carolina Dantas de Figueirêdo, uma

visão bastante peculiar sobre o fotojornalismo, mais

especialmente o objeto fotografado: incognoscível.

inapreensível. Infotografável. Ou será a vida

superfotografável, e somente isto, penso aqui comigo,

e que realmente vemos aqui, no ensaio de Leopoldo

Conrado Nunes, é justo o que não está? Contudo, ali

está a beleza, quer seja na vida religiosa ou na vida elamesma,

dura, do homem. Do trabalho. Da luta contra

a natureza, para quem, fatalmente, perderemos. É um

ensaio sobre a indefensável solidão-de-todo-lugar, como

um grande sertão, diria, de novo, Guimarães Rosa.

E há, ainda, a vida universitária, acadêmica, do nosso

curso de Fotografia, no “Aconteceu”, em um semestre

muito rico em experiências. De vida.

Celebremos pois os vivos, sempre: Salve-salve, Alcir

Lacerda. Nesta edição do prêmio, Giselle Carvallo e

Gustavo Bertini são os vencedores. Ela, entrevistada por

Renata Victor; ele, por Filipe Falcão, apresentam uma

síntese do seu trabalho e de suas aspirações na vida, de

fotógrafos.

De todo modo, Fotografar é apostar no novo. Talvez esta

fotografia de Carlos Drummond de Andrade (1902-

1987) nos diga mais:

Não serei o poeta de um mundo caduco. /Também não

cantarei o mundo futuro. /Estou preso à vida e olho

meus companheiros /Estão taciturnos mas nutrem

grandes esperanças. /Entre eles, considere a enorme

realidade. /O presente é tão grande, não nos afastemos.

/Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. /Não

serei o cantor de uma mulher, de uma história. /não

direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela /

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida /

não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. /

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens

presentes, a vida presente.



©Francesca Woodman. 1978. ©Francesca Woodman. 1978.



COORDENAÇÃO-GERAL

Renata Victor

EDITOR

Sidney Rocha

CONSELHO EDITORIAL

Filipe Falcão, Renata Victor e Sidney Rocha

IMAGEM DA CAPA

Darya Kawa Mirza/Reprodução

FOTO DA QUARTA CAPA

Filipe Falcão

QUEM É QUEM NESTA EDIÇÃO

Adhemar Duro é fotógrafo e professor

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) foi cronista e poeta brasileiro

viver em são paulo

por Marcelino Freire

& Renata Victor

rettarteo

por Lucas Emanuel

8

18

74

“sob este pesado manto,

eu tenho companheiros

com os quais estou

enterrado.”

por Paulo André

Carolina Dantas de Figueiredo é professora

do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco

Darya Kava é astrofotógrafo curdo

Francesca Woodman (1958-1981) foi fotógrafa americana

Filipe Falcão é professor da Universidade Católica de Pernambuco

Gisele Carvallo é fotógrafa

Gustavo Bettini é fotógrafo

Ivan da Costa Alecrim Neto é mestre em Comunicação

pela Universidade Federal de Pernambuco

Jorge Luis Borges (1899-1986) foi escritor argentino

José Afonso Silva Júnior é professor

do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco

Leopoldo Conrado Nunes é músico e fotógrafo

Lucas Emanuel é fotógrafo

Marcelino Freire é escritor

Marcelo Pérez é cineasta argentino

Olavo Bilac (1895-1918) foi poeta brasileiro

fotojornalismo

pós-indicial

Ivan da Costa Alecrim Neto

José Afonso Silva Junior

Carolina Dantas de Figueirêdo

prêmio

alcir lacerda 2024

por Filipe Falcão

ora, direis

ouvir estrelas

por Olavo Bilac e

redação Unicaphoto

26

30

60

86

110

130

morrer em buenos aires

por Filipe Falcão,

Jorge Luis Borges

e Marcelo Perez

vida:

drama & tragédia

por Leopoldo

Conrado Nunes

aconteceu:

fotografia

o tempo todo

Abril a junho

de 2024

Paulo André é estudante do curso de Fotografia da Unicap e fotojornalista

Renata Victor é fotógrafa e coordenadora do curso de Fotografia e Jornalismo da Unicap

Roberto Mapplethorpe foi fotógrafo americano

Rodrigo Andolfato é astrofotógrafo brasileiro

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Artigos e os seus comentários publicados não refletem necessariamente a opinião da revista.

Unicaphoto é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia da Universidade

Católica de Pernambuco, de objetivos unicamente educacionais e sem nenhum ânimo financeiro.

Esforçamo-nos ao máximo para identificar e contatar todos os detentores dos direitos de imagem,

e continuamos empenhados em garantir o devido reconhecimento a cada um.

Esta sua 23 a edição vem a público em 19 de agosto de 2024 (ISSN 2357 8793)



ensaio

sobre

viver em

são paulo

Marcelino Freire & Renata Victor

8

9



33 anos. Em 2024 faço 33 anos como morador de São

Paulo. A idade de Cristo Redentor. Aquele da Cidade

Maravilhosa aqui perto. Cristo vive de braços abertos,

mas quem abraça mesmo é São Paulo. A Terra das

Oportunidades. Onde o sol brilha mais alto por cima

dos prédios. E a gente nem vê. A metrópole-cinza-decigarro.

Em São Paulo plantam-se guimbas. Nunca vi tanta

fumaça espalhada pelo chão. A saudade já estava aqui

quando cheguei. E os pombos também. Nunca vi tantos

pombos em um único canto. Ratos no ar. E um infinito

número de estátuas em cada esquina, lugar. O homem

faz estátuas porque jamais conseguirá fazer árvores.

Ave! Já foi por terra a impressão que eu tinha de que

São Paulo não tem verde. Tem sim. Parques da cor do

dinheiro. Já senti, juro, cheiro de minha infância pelos

jardins. São Paulo está repleta de jardins. A exemplo

do Jardim Aricanduva, na zona Leste, o meu primeiro

endereço. Sou retirante desde 1991.

A rua em que morei se chama Luiz Gonzaga. Eta cidade

mais nordestina! Por que tamanha judiação? Quem

me deu sotaque foi São Paulo. Quando abro a boca e

falo, até hoje vêm e me indagam: de onde você é? Da

periferia do Brasil, mano. Oxente! Tá ligado?

Tem gente que vem e diz: você já é paulistano. Você

já perdeu sua raiz. Mentira! Respiramos por meio das

raízes que carregamos. Sustentamos com elas a nossa

existência. São Paulo, se a gente deixar, atropela.

Sufoca. PauloiSão pelos ares. Olhar para os edifícios

sem abaixar a cabeça. Esqueça. Silvio Santos não

vem aí. Melhor abrir aos chutes o Baú da Felicidade.

Anhangabaú da Felicidade. Wisnik. Tom Zé já me

mostrou como tudo é. Muito antes de eu pôr o pé

neste asfalto. A sua mais completa tradução: Augusto

de Campos. E Rita Lee e Lygia e Maurício Pereira.

E outros tantos. Eunice Arruda, Fabiana Cozza, as

Pastoras do Rosário. Alzira E, Itamar, Minchoni, Arrigo

Barnabé. Zé Celso, Amara Moira, Erika Hilton, Noite

Ilustrada. Só a arte para a gente se sentir fazendo parte.

Deste latifúndio. Deste fim de mundo sinalizado por

placas imobiliárias.

A grande dificuldade de cara foi: conseguir fiador. Para

alugar um quarto, sala, ventilador. Morei em uns oito

apertados apartamentos. Dividi com outras pessoas o

mesmo beliche. Rua Santo Amaro, Guaianazes, 9 de

Julho. O resto sai na Rua Purpurina. O que não mata

é vitamina de abacate. Em São Paulo descobri o prazer

de tomar um mate. Comer berinjela. Prefiro coentro.

Toda pizza acaba em orégano. E na solidão de uma

janela olhando para uma outra janela para uma outra

janela.

Arranjei em São Paulo um trabalho como revisor

de textos. Em tempo: passo mais tempo revisando

um texto do que escrevendo. Pergunte para a turma

da Revista E. Estourei o prazo para a entrega deste

testamento delírico que, agora, você lê. Releio, reviso,

releio, reviso. Afunilo o ritmo. Rezo cada palavra em

voz alta. Escuto como está a buzina do meu verbo.

Nem em pensamento julgaria, um dia, acompanhar

o nascimento dos SLAMs. Roberta Estrela D’Alva, o

teatro. Gero Camilo, Hugo. O Grupo Clariô de Taboão

da Serra. Quantas amizades sinceras! Ninguém olha

para a cara de ninguém. Mas o coração vê. Existe amor

em SP.

Por favor, senhor revisor, o certo é saraus ou sarais?

Sarais, para rimar com Sérgio Vaz. E para rimar com

Binho, como faz? É só não deixar de fazer. O poeta não

sabe o que fazer, mas faz.

São Paulo não é. São Paulo são. Juro que estou são.

São Paulo tem fama de deixar todo mundo doente.

De fato, deixa. Minha frase pigarreia. Até hoje não me

acostumei com o frio. Mas gosto de edredom. Dormir

10

11



é bom. Dizem que São Paulo nunca

dorme. Dorme, sim, mas é sonâmbula.

Violenta República. Tanta família

largada na rua. Outros, mortos de

pancadas de chuva. Morro de vontade

de dar um banho, um dia, no Rio

Pinheiros. Enxugar os sovacos do

Tietê.

Eu conheci o Tietê desde a época em

que li, à margem do Rio Capibaribe, o

poema de Mário de Andrade. Aquele

poeta que morreu de tristeza profunda

na Barra Funda. Tula Pilar vive.

Hashtag Marco Pezão.

Nós é ponte e atravessa qualquer

rio. Com ou sem água. Aprendi que

“seca braba” é chamada aqui de “crise

hídrica”. Acorda, meu povo. E o povo

se levanta.

Passeatas históricas pela Paulista.

Professores, metalúrgicos, comunidade

artística, LGBTQIAPN+.

Quantas letras do alfabeto forem

necessárias. Lembro-me dos caraspintadas

(nada a ver com indígenas).

Lutar por todos os direitos. Tanto show

de graça. Daí parti para fazer baladas

literárias. Enquanto outras festas

são feitas com um milhão, a Balada

Literária desde 2006 é feita com

humilhação. Eu peço.

Tenho a proteção de Xangô. Estreitei

em São Paulo meus terreiros de

devoção. Eu não ando só. É toda uma

multidão. O povo, de cabeça baixa,

rezando no celular. Amém, saravá.

Uma procissão de filas. No meio do

caminho tem um Minhocão.

Minha santidade de devoção: Cauby

Peixoto, Célia, Elis. Tata Fernandes,

Lirinha, Otto, Cristine Takuá, Tiganá.

Adrienne Myrtes, Mutarelli, Ferréz,

Rubi. O cantor Rubi. A voz de Rubi.

Muitas riquezas que São Paulo me

deu. Tanta gente que se matou (e se

mata) de trabalhar para a Paulicéia

Desvairada prosperar. Em quê?

Economia Criativa parece nome de

festa patrocinada pela Vale Quanto

Pesa. Ou pela Bolsa de Valores.

A FeliZs é o acontecimento mais

afetuoso da literatura. Idem a Mostra

12

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É verdade que a gente encontra

tanto artista em São Paulo, Marcelino?

Há muitos talentos cuspindo fogo nos

semáforos. Não vê? Show de rock é muito

caro. Conheci uma maravilhosa travesti

chamada Lollapalooza. Amo. Em São Paulo

tem muita esquina e abandono.

Marcelino Freire

14 15



de Artes da Cooperifa. A Ria e

as outras livrarias de rua. Piva

vive. Hashtag Glauco Mattoso.

Conheci Miró da Muribeca

no Espaço Plínio Marcos.

Cruzei com Plínio em uma

encruzilhada. Também vi uma

vez, em passeio de rua, Caio

Fernando Abreu indo à feira

comprar Morangos Mofados.

É verdade que a gente encontra

tanto artista em São Paulo,

Marcelino? Há muitos talentos

cuspindo fogo nos semáforos.

Não vê? Show de rock é muito

caro. Conheci uma maravilhosa

travesti chamada Lollapalooza.

Amo. Em São Paulo tem muita

esquina e abandono.

Cachorro limpando a bosta

que o dono fez. Criançada

vendendo panos de prato, uma

casinha no campo, xadrez.

Vi um mendigo que sabia de

cor os adágios de Erasmo de

Rotterdam. Todo copo é de

cólera. A gente diz que ama São

Paulo, mas só quer sexo. Amo

João Silverio Trevisan. Adoro

Adoniran.

Conheci o amor da minha vida

subindo a escada rolante do

metrô. Eu de um lado, ele do

outro. A gente descobre que

subiu na vida quando encontra

uma escada rolante pelo

caminho.

Acho que terminei o texto.

Não vou revisar mais. Chega!

Ufa! Que demora. Sempre essa

correria.

São Paulo quando ficar pronta

vai ficar muito bonita.

Referências: música “Asa Branca”;

Rita Lee por Caetano Veloso; Criolo;

Feira Literária da Zona Sul; Evandro

Affonso Ferreira; Raduan Nassar;

a última frase desse texto eu ouvi da

cineasta paulistana Marcela Lordy.

16

17



ensaio

rettarteo

a convergência

de tecnologias e a

multiplicidade do

indivíduo

Lucas Emanuel

Rettrarteo é uma série de retratos desenvolvida pelo fotógrafo

Lucas Emanuel. Ela é criada utilizando um telefone celular com

tecnologia de ponta e um filtro prisma fabricado nas décadas

de 1970 e 1980 na então Alemanha Ocidental. A técnica

consiste em posicionar o filtro manualmente na frente da lente

do dispositivo móvel, permitindo que a imagem capturada

se revele e se modifique conforme o filtro é suavemente

movimentado. Esta abordagem combina equipamentos de

diferentes séculos, oferecendo uma proposta visual que explora

a multiplicidade do indivíduo retratado.

A arte do retrato tem evoluído constantemente, incorporando

novas tecnologias e técnicas para capturar a essência humana.

Rettrarteo propõe uma fusão interessante entre a tecnologia

contemporânea de smartphones e um artefato histórico, um

filtro prisma Prinz Mirage 49mm West-Germany/571, para

criar uma experiência visual única.

18

19



20

21



22

23



Para a criação das fotografias, o

filtro é posicionado manualmente

na frente da lente do smartphone,

sem qualquer tipo de fixação

permanente. A movimentação

suave do filtro permite que a

imagem capturada se transforme

continuamente, oferecendo

múltiplas perspectivas do mesmo

sujeito. Este processo não

apenas une tecnologias de épocas

distintas, mas também desafia a

percepção tradicional do retrato

como uma representação singular

e estática.

A técnica utilizada resulta

em imagens que nos trazem

a complexidade da identidade

humana. Embora cada fotografia

apresente apenas um retrato de

um indivíduo, ela sugere que cada

pessoa é, de fato, composta por

múltiplas facetas. Essa ideia é

fundamentada na premissa de que

nossas interações com os outros

criam diferentes apresentações

de nós mesmos. Por exemplo, um

indivíduo pode ser visto como filho

pelos seus pais e simultaneamente

como vizinho por aqueles que

vivem nas proximidades de sua

residência.

O ensaio, que segue em

execução por Lucas, oferece

uma outra perspectiva sobre

a arte do retrato, destacando

a multiplicidade inerente à

identidade humana. Todas

as fotografias da série

foram capturadas e editadas

exclusivamente com o uso de

um smartphone, demonstrando

o potencial das tecnologias

modernas em combinação com

técnicas tradicionais. Essa

abordagem não apenas celebra

a evolução tecnológica, mas

também convida à reflexão sobre

a multiplicidade da identidade

individual.[L.E]

24

25



fotojornalismo

fotojornalismo

pós-indicial

Ivan da Costa Alecrim Neto

José Afonso Silva Junior

Carolina Dantas de Figueirêdo

Em 25 de março de 2023 um novo produto sociotécnico

popularizou-se nas redes digitais ao ocupar as contas

dos veículos de jornalismo - as imagens hiper-realistas

geradas por Inteligência Artificial (IA) que têm intenção

de assemelhar-se ao que entendemos historicamente por

uma fotografia. Essa nova possibilidade, que nomeamos

de promptografia ou fotografia pós-indical, veio à baila

com imagem do Papa Francisco vestindo um casaco

puffer. Este foi o primeiro evento midiático significativo

envolvendo uma promptografia, apontando para novas

possibilidades.

Vale recuperar aqui a memória do próprio fotojornalismo.

Este emerge com ilustrações feitas a partir dos

daguerreótipos produzidos de um incêndio na cidade de

Hamburgo, 1842. O proto-fotojornalismo (Sousa, 2000).

Ilustradores, mesmo não estando diante do acontecimento,

debruçaram-se sobre as fotografias captadas e transferiram

as imagens para seus desenhos. Para além das limitações

dos parques de impressão dos jornais, que não tinham

tecnologia suficiente para imprimir fotografias, a cultura

visual do período era capaz de ancorar a “verdade” de um

fato, independente do estatuto de presença, nas imagens

feitas à mão que estampavam as páginas dos impressos

diários ou semanais.

Isto posto, o que faz a fotografia ser uma ferramenta do

jornalismo não é apenas a sua capacidade de representar

com grande semelhança um índice que ancore a provável

aparências dos acontecimentos. Para tanto, vamos

observar este pensamento de Baudrillard.

O real é produzido a partir de células miniaturizadas, de matrizes

e de memórias, de modelos de comando - e pode ser reproduzido

um número indefinido de vezes a partir daí. Já não tem de ser

racional, pois já não se compara com nenhuma instância, ideal

ou negativa. É apenas operacional. Na verdade, já não é o real,

pois já não está envolto em nenhum imaginário. É um hiperreal,

produto de síntese irradiando modelos combinatórios num

hiperespaço sem atmosfera (1991, p. 9).

Assim, entende-se que a imagem do fotojornalismo

pretende versar sobre “verdades”, no entanto, seguindo

na direção da hiper-realidade, de tal forma que já

não alcança-se nem o real e nem a verdade. “A era da

simulação inicia-se, pois, com uma liquidação de todos

os referenciais” (Baudrillard, 1991, p. 9). É justo nessa

capacidade de perceber a simulação nos acontecimentos,

que propomos observar a fotografia de atualidades.

Baudrillard explica:

Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é

fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma

presença, o segundo a uma ausência. Mas é mais

complicado, pois simular não é fingir: “Aquele que

finge uma doença pode simplesmente meter-se na cama

e fazer crer que está doente. Aquele que simula uma

doença determina em si próprio alguns dos respectivos

Uma das primeiras fotografias

premiadas (digidirect

photography competition) gerada

por IA do mundo, criada pela

empresa Absolutely.ai

26

27



sintomas” (Littré). Logo fingir, ou dissimular deixam

intactos o princípio da realidade: a diferença continua

a ser clara, está apenas disfarçada, enquanto que a

simulação põe em causa a diferença de “verdadeiro” e

do “falso”, do “real” e do “imaginário”. O simulador

está ou não doente, se produz “verdadeiros” sintomas?

Objetivamente não se pode tratá-lo nem como doente

nem como não-doente (1991, p. 9-10).

Outrossim, o fotojornalismo sustenta-se como

ferramenta da notícia por ancorar no simulacro (mundos

possíveis) sua capacidade de narrar um acontecimento.

Dialoga sobre um achatamento entre o campo do real

e o imaginário, criando um espaço de hiper-realidade

que desenvolve-se em um hiperespaço. O que há numa

fotografia, não há como afirmar que é verdadeiro ou

falso. É justo na pressão deste achatamento que surge

uma imagem possível para a fotografia de atualidades.

Uma foto que é capaz de fixar-se como representação

do factual, entendendo que o índice por si só não

ancora a verdade, e podemos assim enunciar um

fotojornalismopós-indicial.

Soulages (2010, p.99) escreve:

“a que se assemelha, pois uma fotografia? Em todo

caso, não ao objeto a ser fotografado, porque ele é

incognoscível, inapreensível e, portanto, infotografável,

Uma foto só se assemelha a uma outra foto, nem

mesmo ao fenômeno visual visado”. Em acréscimo,

Barthes (1980) nos faz entender que a fotografia é

uma articulação de três dimensões:

O Operator é o fotógrafo. O Spectator somos todos nós,

que compulsamos, nos jornais, nos livros, nos álbuns,

nos arquivos, coleções de fotos. E aquele ou aquela que

é fotografado, é o alvo, o referente, espécie de pequeno

simulacro, de eídolon emitido pelo objeto, que de bom

grado eu chamaria de Spectrum da Fotografia, porque

essa palavra mantém através de suas raiz, uma

relação com o “espetáculo” (1980, p. 20).

O próprio Barthes diz que “seja o que for o que ela dê a ver

e qualquer que seja a maneira, uma foto é sempre invisível:

não é ela que vemos” (1984, p. 16). Este desarranjo que

uma fotografia é capaz de causar, que nos impulsiona

a afirmar que enxergamos nela o objeto propriamente

inscrito, está no fato da imagem ser produzida diante do

índice e pelo contrato social firmado em seu surgimento

que “envolve a promessa de fornecer uma imagem mais

perfeita que a arte poderia produzir” (Afonso Júnior,

2021, p. 30). Isto posto, Berger nos esclarece:

[...] assim que uma fotografia é usada como meio de

comunicação, isso envolve a natureza da experiência

vivida, e então a verdade torna-se mais complexa.

[...] Em certo nível não há fotografia que possa ser

contestada. Todas elas têm o status de fato. O que

deve ser examinado é de que modo a fotografia pode

ou não dar significado aos fatos (2017, p. 98).

É fundante aqui elucidar que, segundo o autor, a

fotografia não pode mentir, mas também não pode

expor a verdade. Assim, “a verdade que ela diz, a

verdade que ela pode em si mesma defender, é uma

verdade limitada” (Berger, 2017, p.97). Entendemos

então que o fotojornalismo, para que sustente-se

enquanto a possível aparência dos acontecimentos,

necessita superar a ambiguidade da fotografia.

Pois, como afirma Berger “todas as fotografias

são ambíguas. Todas foram extraídas de uma

continuidade” (2023, p.91).

Se o acontecimento é um evento público, essa continuidade

é a história; se é pessoal, a continuidade que foi rompida

é a história de vida. Mesmo uma paisagem pura rompe

uma continuidade: a da luz a do tempo. A descontinuidade

sempre produz ambiguidade. Mas frequentemente

essa ambiguidade não é óbvia, pois assim, tão logo as

fotografias passam a ser usadas ao lado de palavras, elas

juntas produzem um efeito de certeza, ou até mesmo de

afirmação dogmática (ibidem 2013, p. 91-92).

Diante disso, podemos entender que o fotojornalismo

é resultado de um protocolo de encenação, um mundo

possível de ter acontecido da maneira como está sendo

apresentado. O fotojornalismo é feito de mundos

possíveis, mas que sustentam-se no conteúdo com o

objetivo de informação. Ancorar na imagem fotográfica

o estatuto de “verdade” é um resultado sociotécnico e

sociocultural. É a “fé” que rendemos ao fotojornalismo,

somado aos componentes formadores da notícia:

manchetes, texto jornalístico, legendas e tudo isso

embarcado no “sistema perito”.

A segunda, talvez mais significativa característica

dos Sistemas Peritos é que eles implicam, da parte

dos clientes ou consumidores, uma crença em sua

competência especializada. (Miguel, 1999, p. 198)

Estes entendimentos abrem terreno para que o

jornalismo possa absorver essa nova imagem emergente

como ferramenta - a promptografia. Para tanto, é

necessário propor que o universo do fotojornalismo deve

radicar-se no espaço da pós-indicialidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS,

AINDA QUE PROVISÓRIAS

Sem intenção de alongar, entendemos que o fotojornalismo

não localiza sua “verdade” na presença de seu índice

gerador. Ele tem a intenção da “verdade”, mas, situa a

mesma na soma das parcelas constituintes da notícia.

A manchete, o texto jornalístico, legendas e a própria

fotografia, tudo isso embarcado em um sistema perito.

Dentro da dimensão deontológica, a fotografia

pós-indicial, em sua suficiência técnica, convoca a

artificialização, mesmo escopo utilizado no protofotojornalismo,

para localizar a realidade em um regime

de imagens pré-indicial, feito por insuficiência técnica.

Essa imagem prismática, capaz de unir o primeiro

momento da fotografia de atualidades e o tempo presente,

como um ouroboros do fotojornalismo, torna-se possível

na medida que percebemos a fotografia como uma

operação de simulacros.

Mas, o que faz com que o fotojornalismo ainda não tenha

adotado a Inteligência Artificial como uma ferramenta?

A resposta reside em mindsetting. A imagem gerada por

Inteligência Artificial ainda não é uma tecnologia assentada

no escopo sociocultural, no entanto, a velocidade de

desenvolvimento tecnológico e a pressão econômica devem

fazer com que o fotojornalismo assuma esta tecnologia em

O filósofo francês

Rolland Barthes (1915-1980)

Uf Anderson/Divulgação

pouco tempo. É possível que, com a absorção da IA por

parte das redações, várias profissões percam seu sentido,

incluindo o fotojornalista, nos modelos que conhecemos até

hoje, mas outras tantas apareçam.

REFERÊNCIAS

AFONSO JÚNIOR, José. Instantâneos da fotografia contemporânea. 1.e.d.

- Curitiba: Appris, 2021.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’água,

1991.

BARTHES, Roland. A Câmara Clara: notas sobre a fotografia. 9.e.d. - Rio de

Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980.

BERGER, John. Para entender uma fotografia. São Paulo: Companhia das

Letras, 2017.

MIGUEL. Luiz Felipe. O Jornalismo como sistema perito. Tempo Social.

São Paulo, maio de 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/

XwvpYqjz4DpvNBbzsXRD4cn/?format=pdf&lang=pt . Acesso em: 15 de dez.

de 2023.

SOULAGES, François. Estética da Fotografia: Perdas e Permanências. São

Paulo: Editora Senac, 2010.

SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. 1.

ed. - Chapecó: Editora Grifos, 2000.

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prêmio alcir lacerda

prêmio

alcir

lacerda

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prêmio alcir lacerda | entrevista

“A mulher nasceu

para ser rio” [G.C.]

por Renata Victor

Sempre de olho na produção

contemporânea da fotografia,

sem esquecer as grandes

contribuições da tradição,

Gisele Carvallo vem

construindo um modo de ver

a fotografia e as imagens

produzidas por mulheres

no Brasil, especialmente em

Pernambuco. Interessada

nos grandes temas da vida

brasileira, a fotógrafa vem

arregimentando outras

artistas visuais em busca de

ocupar cada vez mais espaço

no indústria fotográfica

nacional, elevando as

discussões sobre temas

caros ao feminismo como

a desmistificação de

padrões e estereótipos na

representação do feminino,

na fotografia e nas demais

artes visuais, buscando mudar

a consciência mais comum

sobre a diversidade de formas

e identidades humanas,

sobretudo das minorias, mais

discriminadas pela violência

de gênero, a questão racial e a

visibilidade LGBTQIAPN+.

Enfim, uma fotógrafa

brasileira que reivindica

o correto lugar da mulher

na pauta das discussões

contemporâneas.

A UnicaPhoto conversou com

Gisele sobre os principais

temas de seu trabalho e sua

aposta sempre no coletivo.

Como você vê o papel das mulheres na fotografia

contemporânea, especialmente dentro de coletivos

como o que você participa em Pernambuco?

Durante toda a história da arte, ser artista mulher foi

uma subversão e uma luta contra o silenciamento e a

invisibilidade. Diante do advento da fotografia, não foi

diferente para as fotógrafas. Se fizermos uma lista,

os “principais” nomes da fotografia são masculinos,

mesmo havendo mulheres fotógrafas que desenvolveram

trabalhos bastante significativos.

Na fotografia contemporânea, mesmo que ainda não é o

cenário ideal, vemos com satisfação esse movimento de

ocupação de novos espaços, de mulheres se destacando

nacional e internacionalmente. No entanto, nos dias

de hoje, ainda que em menor escala, continuamos

enfrentando as dificuldades de ser artista mulher numa

sociedade que dá prioridade aos nomes masculinos.

Quais desafios você enfrenta como fotógrafa mulher

na indústria fotográfica brasileira atual?

A indústria fotográfica brasileira atual ainda é um

espaço majoritariamente masculino. Para encontrar

mais referências de fotógrafas mulheres, precisamos

entrar em alguns nichos considerados “mais femininos”,

como ensaios e fotografia de família. No meu trabalho

fotográfico, que transita entre a fotografia de rua,

a fotografia de paisagem e a fotografia conceitual,

tenho enfrentado o desafio de ser levada a sério como

profissional e de ser reconhecida dentro dessa caixa de

concreto que abre mais espaço, mais visibilidade e mais

oportunidade para o trabalho dos fotógrafos homens.

Na nossa cidade, assim como no Brasil e no mundo,

os números de mulheres em exposições, prêmios, em

contemplação de editais, na presença em galerias e

museus sempre são significativamente menores.

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Como o seu trabalho e o das outras fotógrafas no coletivo

refletem as questões de gênero e feminismo na sociedade

brasileira?

Ao explorarmos temas como a desigualdade de gênero, a

identidade feminina e a resistência, usamos a fotografia como

uma ferramenta de expressão e de luta por direitos iguais.

As imagens capturadas e construídas não apenas registram

a realidade e a subjetividade do ser, mas também evocam

reflexões e debates sobre a força feminina e o papel ancestral

da mulher na sociedade. Portanto, nosso esforço coletivo ajuda

a dar visibilidade e a valorizar a perspectiva feminina na arte,

sendo isso especialmente importante em uma indústria que

historicamente tem favorecido a perspectiva masculina.

Dentro do coletivo, retratamos e mostramos mulheres em

papéis e contextos não tradicionais, desconstruindo narrativas

limitantes sobre o que significa ser mulher e garantindo que

suas vozes e experiências sejam ouvidas e vistas. Mulheres que

falam sobre mulheres.

Da mesma forma, trabalhando em um coletivo, demonstramos

a importância da solidariedade entre mulheres, criando um

senso de comunidade e apoio mútuo, o que é essencial para a

verdadeira luta feminista.

Desenvolvendo diferentes estilos fotográficos, desde a

fotografia documental até a fotografia conceitual, dentro

da história e vivência de cada uma, através de exposições,

oficinas, cursos e apresentações do nosso trabalho, também

trazemos à tona histórias de mulheres artistas que foram

esquecidas ou marginalizadas pela sociedade. Ao resgatar

essas narrativas, restauramos memórias e contribuímos para

“refazer” a história.

Qual a importância da representatividade feminina na

fotografia para você e para o coletivo ao qual pertence?

A história da arte e da fotografia foi predominantemente

escrita e documentada por homens. Nos livros de história da

arte e da fotografia, os nomes femininos são escassos. Isso

tem contribuído para a formação de gerações de artistas que,

em sua maioria, não têm muitas referências importantes

de artistas mulheres, resultando em uma visão distorcida e

incompleta da arte.

Buscar representatividade feminina na fotografia é

um processo duplo de resgate, que entrelaça passado e

presente. Envolve não apenas recuperar e dar visibilidade às

contribuições das mulheres no passado, mas também promover

ativamente a presença e o reconhecimento das fotógrafas

contemporâneas.

Esse movimento feminino na fotografia, além de nos

impulsionar, reverbera em sermos inspiração para outras

mulheres também reivindicarem seu espaço como artistas.

Essas mulheres, por sua vez, podem inspirar outras, criando

assim um ciclo contínuo de inspiração feminina dentro da arte.

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Em que aspectos você acredita que as mulheres fotógrafas

estão inovando ou trazendo perspectivas únicas para a cena

fotográfica brasileira?

As mulheres fotógrafas, dentro da pluralidade da linguagem

fotográfica, exploram uma diversidade de conceitos e

estéticas. Elas estão, por exemplo, desmitificando os padrões

estereotipados de representação do corpo feminino na

fotografia, indo de encontro com normas preestabelecidas,

valorizando a diversidade de formas e identidades corporais.

Outras têm adotado uma visão antropológica em seu trabalho,

utilizando a fotografia como uma ferramenta para descobrir

e documentar culturas, tradições e identidades de diferentes

comunidades. Narrativas sobre ancestralidade se tornam

muito mais fortes quando exploradas por mulheres, através de

imagens que conectam o passado com o presente, trazendo à

tona a força das raízes matriarcais.

Também emergem projetos fotográficos belíssimos que

exploram de forma sensível, profunda e potente questões

sociais, incluindo temas como violência de gênero,

discriminação racial e representação e visibilidade

LGBTQIAPN+.

As mulheres fotógrafas também têm criado intersecções

poderosas entre linguagens artísticas, combinando

referências de outras formas de arte, como pintura, escultura,

performance. Ao desafiar a ideia de uma fotografia “perfeita”,

algumas fotógrafas incorporam elementos de imperfeição

e experimentalismo em suas imagens, adotando técnicas

fotográficas experimentais e alternativas como pinhole,

cianotipia, antotipia, fitotipia, fotografia híbrida, entre outras,

mostrando narrativas que permitem a expansão dos limites da

criatividade e da expressão visual.

O esforço coletivo para dar

visibilidade e a valorizar

a perspectiva feminina na arte,

sobretudo na indústria que,

historicamente, tem favorecido

a perspectiva masculina.

“Dentro do coletivo, retratamos

e mostramos mulheres em papéis

e contextos não tradicionais,

desconstruindo narrativas

limitantes sobre o que significa

ser mulher e garantindo que suas

vozes e experiências sejam ouvidas

e vistas. Mulheres que falam sobre

mulheres”, reforça Giselle.

Na foto, o coletivo Fotógrafas em

Pernambco, em vernissage

de exposição recente, no Recife.

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Gisele Carvallo

Fotógrafa e coordenadora do

coletivo Fotógrafas em Pernambuco

Como vocês lidam com a questão

da diversidade dentro do coletivo,

considerando diferentes origens,

etnias e classes sociais das

fotógrafas?

Todos esses elementos, dentro

de um coletivo de quase 100

fotógrafas, contribuem para um dos

objetivos do grupo: a pluralidade e a

representação feminina. Realizamos

alguns eventos para enfatizar nossas

diferenças, como por exemplo

o “Café com Fotografia”, onde

algumas fotógrafas, de diferentes

origens, etnias, classes sociais

e faixa etária, são convidadas

a apresentar seu trabalho e seu

processo criativo em reuniões

informais seguidas de rodasde-conversa

que enriquecem a

perspectiva artística das outras

integrantes.

Quais temas ou questões sociais

você acha que as fotógrafas do seu

coletivo estão mais interessadas em

explorar através de suas imagens?

Questões de gênero, empoderamento

feminino, inclusão e crítica social, a

poesia da cidade dentro e fora de nós

e a subjetividade do ser.

Como a tecnologia tem influenciado

a produção de imagens dentro

do coletivo, e de que forma as

mulheres estão se adaptando ou

contribuindo para essas mudanças?

As tecnologias vêm trazendo novas

possibilidades e desafios que as

artistas têm abraçado de várias

maneiras. A democratização da

fotografia, através da fotografia de

celular, nos permite criar com mais

praticidade, pois estamos sempre

carregando nosso instrumento de

fazer arte. As facilidades que as

atualizações das ferramentas de

edição avançadas, como Adobe

Photoshop e Lightroom, têm

trazido, possibilitam a exploração de

novas estéticas e técnicas criativas.

Plataformas digitais e redes sociais

como Instagram nos proporcionam

visibilidade. Cursos online facilitam

o aprendizado contínuo, enquanto

ferramentas de colaboração virtual

possibilitam projetos com fotógrafas

de diversas regiões.

Ainda estamos tentando (falo

por mim!) acolher a inteligência

artificial, que é um assunto bastante

polémico dentro da fotografia.

Você percebe alguma mudança na

percepção da sociedade em relação

ao trabalho das fotógrafas mulheres

nos últimos anos? Se sim, quais?

Mesmo sabendo que ainda falta

muito por conquistar, observamos

que, nos últimos anos, a percepção

da sociedade em relação ao trabalho

das fotógrafas mulheres mudou

significativamente. Há mais

visibilidade e reconhecimento de

suas contribuições artísticas em

exposições, prêmios e publicações.

A sociedade também está valorizando

mais as narrativas diversas que as

artistas trazem. A conscientização

sobre a igualdade de gênero na arte

tem levado a esforços para promover

a paridade e reconhecer o trabalho

das mulheres. A formação de

coletivos e iniciativas femininas como

a nossa têm criado redes de apoio e

oportunidades, enquanto temas como

gênero, identidade, raça e inclusão

social abordados por fotógrafas

ganham maior destaque.

Gisele Carvallo:

A conscientização sobre a igualdade

de gênero na arte tem levado a

esforços para promover a paridade e

reconhecer o trabalho das mulheres.

A formação de coletivos e iniciativas

femininas como a nossa têm criado

redes de apoio e oportunidades

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ensaio

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prêmio alcir lacerda | entrevista

“Sou um fotógrafo

pernambucano”

por Filipe Falcão

Gustavo Bettini nasceu em São

Paulo, mas como o próprio

gosta de falar, logo se tornou

recifense, onde mora desde

o ano 2000. Foi na capital

pernambucana que conheceu

a esposa Claudia, teve os

filhos Lis e Theo e criou uma

sólida e respeitada carreira

como fotógrafo. Tudo começou

com o fotojornalismo que se

tornou a base de formação

de Bettini (como gosta de ser

chamado) entre os anos de

2003 e 2008. Na sequência

ele mergulhou em projetos

autorais com as exposições

Inframargem: margens de

um mundo infravermelho

(2008), Lusco-Fusco (2008),

Entremeios (2014), em

parceria com Lia Lubambo,

e Travessia (2017 - 2019).

Bettini faz parte do projeto

ADI - Atelier de Impressão,

empresa especializada em

impressão de fotografias com

padrão fineart.

Em 2006, foi selecionado para

expor na Bienal Internacional

de Fotografia na Espanha,

um dos principais eventos da

fotografia mundial.

A UnicaPhoto conversou com

Bettini sobre o começo da

sua trajetória e sua ligação

com a fotografia.

Como foi o seu começo na fotografia?

Eu sempre gostei de fotografia, desde quando eu

era criança. Eu me lembro de quando eu tinha oito,

nove anos, eu já fotografava coisas da casa, passeios

familiares, o meu cachorro. Eu ganhei uma câmera

muito simples de usar e quando tinha passeios da

escola eu sempre levava essa câmera e fotografava. Eu

gostava da ideia de na volta do passeio mostrar o que

eu fotografei. Às vezes essas fotos eram publicadas no

jornal da escola e saiam com o meu nome. Quando

eu vim morar no Recife, no ano 2000, eu até fiz um

curso de curtíssima duração com um fotógrafo. Na

época não tinha graduação em fotografia. Eu estudei

Turismo e Hotelaria na graduação, mas nesse curso eu

acabava pegando cadeiras que eram de Fotojornalismo,

Introdução à Fotografia, Fotografia Publicitária e um

professor notou isso e me inscreveu para fazer um

teste pra estagiário de fotojornalismo na Folha de

Pernambuco. Isso foi no ano de 2003 e eu passei no

teste. Eu deveria ter ficado dois ou três meses, mas eu

gostei tanto que acabei ficando cinco anos. .

Você trabalhou muitos anos como fotojornalista.

Como essa experiência ajudou você na fotografia

autoral?

Sem dúvida nenhuma começar com o fotojornalismo

me proporcionou conhecimentos e experiências que eu

precisaria talvez de muitos mais anos para desenvolver.

Eu acho que quem passa pelo fotojornalismo aprende

e ganha uma agilidade na solução de dificuldades. O

fotojornalismo te faz ter um olhar apurado que você vai

facilmente identificar como resolver uma dificuldade.

Você fotografa com várias condições de luz, com várias

situações onde você vai dirigir alguém ou que você não

pode dirigir. O fotojornalismo te dá esse lado criativo e

prático.

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Além da fotografia, quais são as referências que

ajudam você no seu trabalho criativo?

Eu vou falar de uma série que eu acho fantástica, que

quando alguém me pergunta qual série eu indico, eu

geralmente falo ela. Não é uma série de fotografias, é

uma série de gastronomia chamada Chef’s Table (2015

- seis temporadas) e eu acho que ela tem uma fotografia

primorosa. Eu acho que é uma aula de composição, de

luz e da maneira de contar a história. Outra coisa que eu

gosto muito e estou numa fase de consumir bastante é

o tipo de fotografia e direção de arte dos filmes do Wes

Anderson. “Asteroid City” (2023), por exemplo, me

encanta de uma maneira única pela maneira como ele

conta a história e as imagens fantásticas que ele cria.

São sensacionais. Gosto muito dos filmes do Jean Pierre

Jeunet, como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”

(2001).

Com relação ao seu trabalho autoral, como você

cria os seus ensaios?

Eu tenho uma premissa com todos os meus ensaios. Eu

crio as receitas, vamos dizer assim, as regras. Eu não

vou sair fotografando para depois ver como as fotos se

encaixam ou se juntar isso com isso vai dar uma história.

Eu penso em todos os detalhes previamente, qual história

eu pretendo contar com as fotos, qual estética eu vou

usar e muitas vezes até a paleta de cor que as fotos vão

ter. Então isso me ajuda a ter um norte e me ajuda a ser

fiel ao trabalho que estou desenvolvendo. Quando você

olha separadamente, eles são bem diferentes um do

outro, mas dentro do ensaio eles têm uma unidade muito

grande semelhante aos diretores que mencionei. Acho

que talvez os meus ensaios sejam quase como filmes

fotografados. Acho que eles têm uma história e eles têm

uma unidade.

E como surgiu a relação do Atelier de Impressão

com o seu conhecimento fotográfico?

Então, com relação ao Atelier, eu sempre gostei de

processos de aprender a fotografar com filme, pensar

na fotografia e na parte de impressão. Eu brinco que

antigamente a gente tinha um laboratorista fiel que

podíamos contar já que de modo geral não tínhamos

muito controle sobre a parte de impressão. A gente

chegava no laboratório, entregava o filme e pegava elas

reveladas. Quando você conhecia um laboratorista,

você podia minimamente pedir para ele deixar os tons

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mais contrastados, a imagem um pouquinho mais

saturada, enfim, você podia dizer o que você pretendia

e o cara do jeito dele tentaria fazer, mas você não tinha

controle absoluto. Então, quando o Fernando Neves

e o Clício Barroso vieram conversar comigo sobre a

proposta do Atelier, me fascinou. Sem dúvida nenhuma

é fundamental o fotógrafo ter controle sobre como a

fotografia vai ser impressa. Não adianta você fazer todo

o processo, ter todo um cuidado durante o ensaio e você

perder esse controle na última etapa. Então a impressão

fineart é o processo que o Atelier trabalha e permite ao

fotógrafo ter esse controle até o final e isso é fantástico.

Como surgiu este interesse pela impressão

fotográfica?

Na época do jornal eu lembro que às vezes a impressão

me frustrava. Eu olhava e pensava que aquela foto tinha

uma sombra contrastada, uma sombra mais forte, mais

profunda e não ficou do jeito que eu imaginava. E aí eu

comecei a ir no parque gráfico, ir no setor de arte onde

acontecia o tratamento da fotografia para entender porque

a foto não saiu daquele jeito. E eu comecei a entender um

pouco da latitude da impressão do jornal, de quanto de

tinta aquele jornal consegue receber para ter contraste

e entender quais eram as limitações. Eu passei a pensar

na fotografia ia se relacionar com essa impressão, então

fui tratar de entender como é que funcionava o processo

offset de impressão de jornal para poder garantir que

a minha fotografia fosse otimizada nesse processo. O

jornal ganhava, eu ganhava e ficava mais satisfeito com

o resultado. Então, foi o primeiro lugar que comecei a

me interessar pelo processo de impressão e ver que dava

para ter algum tipo de controle conhecendo as limitações.

Hoje no Atelier eu sei que os pilares da impressão são

a qualidade e a longevidade. São preceitos que a gente

busca o tempo todo. Então todo dia estão saindo técnicas

novas, materiais novos, maneiras novas de se manusear

e conservar essas impressões e isso me obriga a estar

constantemente atualizado.

E com uma relação tão próxima e abrangente

com a fotografia, como é para você receber o

Prêmio Alcir Lacerda?

Eu tive o privilégio de conhecer seu Alcir quando eu estava

buscando o meu desenvolvimento como fotógrafo. Eu

sempre tive um interesse muito grande, mesmo quando

já se falava do digital, na fotografia com negativo em preto

e branco. Eu queria entender esse processo, então eu ia

sempre levar os negativos para revelar com ele e quando

eu ia pegar as fotos era um grande privilégio receber os

comentários de seu Alcir. Era uma aula, ele me mostrava

o negativo, o que ficou bom, o que poderia ficar melhor.

Eu me lembro muito como ele tinha um prazer de abrir o

armário e mostrar os equipamentos, as lentes e dizer para

eu pegar tal lente e ir lá no jardim fotografar e ver qual

seria o resultado, ver o efeito que a lente provocava. Era um

grande aprendizado e eu sempre ficava muito feliz de ir lá

e receber essa aula. Seu Alcir faleceu e, alguns anos depois,

comecei a ser procurado pela família dele para revelar o

material dele. Eu faço com muito orgulho porque eu tento

retribuir o carinho e atenção que ele sempre teve comigo.

E ganhar esse prêmio, que é a maior honraria da fotografia

pernambucana, que leva o nome dele, é muito, muito, muito

prazeroso. E eu fico muito feliz de receber esse prêmio.

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astrofotografia

ora, direis

ouvir

estrelas

para gostar de astrofotografia

Egil Sjøholt

Fotografia de silhueta

de Oerson sob

o céu estrelado

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Alex Andrews

Foto de objeto

não-identificado

no céu profundo

Marco Milanesi

Vigo di Fassa, Trentino-Alto

Adige, Italia

Foto da montanha sob o céu

noturno estrelado

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A astrofotografia

no Brasil

Capaz de ver,

ouvir

e entender

as estrelas

Neste 20 de julho, enquanto

Unicaphoto preparava seu número

23,se comemoravam os 55 anos da

chegada do homem à Lua. Você já

deve ter ouvido todo tipo de teorias

da conspiração para negar o fato

científico. Mas imagens de Neil

Armstrong passeando no satélite

natural, a pé ou no módulo lunar,

entre outras imagens que davam fim

à competição entre as “estreças”! da

Guerra Fria, fazem parte, hoje, dos

livros de história e do imaginário da

humanidade. “A Terra é azul”, disse

o astronauta.

De lá para cá, o desejo estético e a

necessidade científica de registrar

estrelas e galáxias como tentativa

de entender o universo tem sido

uma ideia-fixa. Dos grandes

telescópios as mais modernas

lentes, há uma comunidade sem fim

de astrofotógrafos, profissionais e

amoadores, por aí.

A astrofotografia é uma arte/

técnica que combina ciência e

criatividade, permitindo capturar

a beleza e o mistério do universo

através da luz. Da observação dos

planetas mais próximos às galáxias

distantes, a astrofotografia nos

oferece uma janela para o cosmos.

Unicaphoto tenta explorar um pouco

os primórdios desse segmento e sua

evolução e destaca grandes nomes

dessa área em torno do mundo,

incluindo fotógrafos brasileiros

excelentes. Esta matéria vai sugerir

fontes e livros para você que deseja

mergulhar mais profundamente

nesse fascinante campo das galáxias,

nebulosas, quasares, buracos negros,

cometas, supernovas, planetas e

pulsares.

TUDO COMEÇOU...

A astrofotografia tem suas raízes

no século XIX, com a invenção

da fotografia em 1839 por Louis

Daguerre. Em 1840, John William

Draper foi o primeiro a fotografar

a Lua, e, em 1845, Léon Foucault

e Hippolyte Fizeau capturaram a

primeira imagem do Sol. No entanto,

foi somente com a invenção de filmes

mais sensíveis e telescópios de

maior precisão que a astrofotografia

começou a florescer verdadeiramente.

A introdução de placas fotográficas

sensíveis permitiu que os astrônomos

capturassem imagens de estrelas e

nebulosas, revelando detalhes que

não podiam ser vistos a olho nu. A

partir do século 20, a astrofotografia

se expandiu rapidamente com o

avanço da tecnologia, incluindo o

uso de câmeras digitais e softwares

de processamento de imagem que

possibilitam fotografias mais nítidas

e detalhadas.

Ente os nomes que mais se destacam

nesse ramo, podemos citar:

Embora Ansel Adams (1902-1984)

seja mais conhecido por suas icônicas

fotografias de paisagens, ele também

foi pioneiro em técnicas de fotografia

que influenciaram a astrofotografia.

Sua abordagem meticulosa ao

controle de exposição e contraste

inspirou muitos astrofotógrafos a

experimentar técnicas similares na

captura do céu noturno.

David Malin é um astrônomo e

fotógrafo britânico-australiano que

revolucionou a astrofotografia ao

desenvolver técnicas de amplificação

de imagem que permitiram capturar

detalhes extremamente sutis em

fotografias astronômicas. Ele é

conhecido por suas imagens coloridas

de galáxias e nebulosas que revelam

a beleza e complexidade do cosmos.

Uma galáxia tem o seu nome, Malin

1, que ele descobriu em 1986 e que

é a maior galáxia espiral até agora

descoberta.

Robert Gendler é um astrofotógrafo

americano que produziu algumas

das imagens mais detalhadas e

impressionantes de galáxias e

nebulosas. Utilizando telescópios

de última geração e técnicas

de processamento de imagem,

Gendler criou uma biblioteca visual

do universo que é amplamente

reconhecida pela sua qualidade e

beleza. A Astronomy Magazine

citou suas imagens da galáxia de

Andrômeda (M31) como uma das

“mais belas imagens astronômicas

dos últimos trinta anos”.

Thierry Legault é um astrofotógrafo

francês amador conhecido por suas

fotografias de alta resolução de

eventos astronômicos, como eclipses

solares e trânsitos planetários.

Legault também é famoso por

capturar imagens do Telescópio

Espacial Hubble e da Estação

Espacial Internacional em trânsito

diante do Sol. É uma grande

referência na astrofografia amadora.

O Brasil, com seus céus claros e extensas regiões de baixa poluição luminosa, é um local privilegiado para a

astrofotografia. O país tem produzido astrofotógrafos talentosos que têm contribuído significativamente para a área.

Rodrigo Andolfato é um astrofotógrafo brasileiro

cujo trabalho se destaca pela qualidade e

atenção aos detalhes. Ele é especialmente

conhecido por suas imagens da Via Láctea e de

fenômenos astronômicos raros, que capturam

a imaginação e inspiram muitos a olhar para as

estrelas.

Kiko Fairbairn

Conjunção entre

Vênus e Marte

O professor Adhemar Duro, recebeu o

título de ‘Embaixador Fotográfico’ de uma

entidade internacional pelo trabalho com a

astrofotografia. Ele é o único brasileiro entre

os 19 fotógrafos nomeados embaixadores do

European Southern Observatory (ESO).

Carlos Fairbairn (Kiko), é formado em

administração e pós graduado em gestão de

meio ambiente, trabalha na área ambiental

e, há vários anos, dedica suas horas vagas

à fotografia astronômica. Já registrou o céu

estrelado de vários lugares do mundo, com

destaque para Brasil, Chile e Estados Unidos.

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os números da lua

4 dias

708 gigabytes

81.000 imagens

4 fases

159,7 megapixels

“O astrofotógrafo curdo Darya Kawa

capturou meticulosamente detalhes

intrigantes da superfície lunar.

Este projeto ambicioso envolveu

quatro dias consecutivos de observação

e fotografia contínuas da Lua,

culminando em um tamanho

de imagem de 708 gigabytes:

mais de 81.000 imagens empilhadas.

Ao mesclar engenhosamente quatro

fases lunares distintas e regiões

sombreadas, a imagem final revela

de forma requintada a cativante

topografia da superfície da lua.

A resolução da imagem é

impressionante, com 159,7

megapixels.”

Darya Kawa Mirza, 28 anos, de Erbil,

capital da região do Curdistão, no

Iraque, compartilha suas imagens de

astrofotografia no Instagram, onde

tem 131.000 seguidores.

Em uma entrevista recente, Darya

disse ao Newsflash: “Eu amo o céu

noturno, as estrelas e os planetas, e

explorar o desconhecido.”

Sobre como ele consegue fotos

perfeitamente cronometradas, Darya

disse: “A astrofotografia é diferente da

fotografia normal, e você tem que ser

paciente, calmo, esperando pelo melhor

momento. Às vezes, mesmo depois de

trabalhar em uma única imagem por

um mês, a maioria das fotos está longe

de ser perfeita e 95% acabam indo

para o lixo.”

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Se você está começando na

astrofotografia, aqui estão algumas

dicas para ajudar a capturar suas

primeiras imagens do cosmos:

Técnicas e

equipamentos na

astrofotografia

A astrofotografia requer uma

combinação de equipamentos

especializados e técnicas específicas

para capturar imagens claras

e detalhadas do céu noturno.

Aqui estão alguns dos elementos

essenciais:

Telescópios e lentes

Os telescópios são ferramentas

fundamentais para a astrofotografia,

permitindo aumentar a luz e os

detalhes de objetos celestiais

distantes. Telescópios refletores e

refratores são comumente usados,

dependendo do tipo de fotografia

desejada. Além disso, lentes de

câmera de longa exposição são

essenciais para capturar imagens do

céu profundo.

Câmeras digitais

As câmeras digitais modernas,

especialmente as DSLR e mirrorless,

são amplamente utilizadas na

astrofotografia devido à sua

capacidade de capturar imagens

em alta resolução e com baixo

ruído. As câmeras modificadas

para astrofotografia podem ser

especialmente eficazes para capturar

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comprimentos de onda específicos

de luz, como o hidrogênio alfa,

que é crucial para fotografar

nebulosas.

Montagens e

rastreamento

Montagens equatoriais e sistemas

de rastreamento são essenciais

para manter o telescópio ou

a câmera alinhados com o

movimento das estrelas. Isso

permite longas exposições sem

que as estrelas apareçam como

rastros, garantindo imagens

nítidas e focadas.

Software de

processamento de

imagem

O processamento de imagem é

uma etapa crítica e uma

das mais especializadas na

astrofotografia. Softwares

como Adobe Photoshop,

DeepSkyStacker e PixInsight

são amplamente usados para

empilhar, alinhar e ajustar

imagens, revelando detalhes e

cores ocultas no céu noturno.

Comece com equipamento básico

Não é necessário investir em

equipamentos caros imediatamente.

Uma câmera DSLR básica e uma

lente de 50 mm podem capturar

belas imagens da Via Láctea e de

constelações.

Escolha uma localização escura

Procure locais longe da poluição

luminosa para maximizar a

visibilidade das estrelas e outros

objetos celestiais.

Especialistas afirmam que o

deserto do Atacama, no Chile, é um

dos melhores lugares do planeta

para observar estrelas. Mas dá

para encontrar lugares bons para a

prática mais perto.

Experimente longas exposições

Use exposições longas para

capturar mais luz e revelar

detalhes que não são visíveis a olho

nu. Experimente diferentes tempos

de exposição.

Utilize um tripé estável

Um tripé robusto é essencial para

manter a câmera estável durante

longas exposições e evitar imagens

tremidas.

Aprenda sobre pós-produção

O pós-processamento é uma parte

vital da astrofotografia. Aprenda

a usar softwares de edição para

aprimorar suas imagens e destacar

os detalhes ocultos.

Paciência, sobretudo

a astrofotografia exige técnica

apurada e muita paciência. Para

a produção de uma única imagem,

pode-se tirar mais de mil fotos por

várias horas ou mesmo uma noite

inteira.

Harry Cunningham

Namíbia

Árvore sob

o céu estrelado

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Datas redondas.

Há 140 anos, nascia o poeta paraibano

Augusto dos Anjos, morto há 110 anos.

Poeta de difícil catalogação, até hoje,

pode-se dizer que seu interesse pela

natureza (o termo tem várias acepções

em sua obra) como, por exemplo,

nestes versos de “Tristezas de um

quarto minguante”: Pelos respiratórios

tênues tubos/ Dos poros vegetais, no

ato da entrega/ Do mato verde, a terra

resfolega/ Estrumada, feliz, cheia de

adubos.

“A árvore da Serra” é um dos seus

sonetos mais conhecidos.

Um poema “ecológico”, escrito

em um tempo onde ainda

não se falava de ecologia.

Bem a calhar nos lembrarmos

dele diante deste ensaio de

Girleide Germana.

“Ora (direis) ouvir estrelas!

Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

Soneto XIII Olavo Bilac, do livro ​“Via Láctea”

Tobias Bjørkli

Pessoa

Sob o céu

noturno

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dicas para iniciantes

em livros e recursos

para aprender mais

A astrofotografia é uma arte que

continua a evoluir, impulsionada

por avanços tecnológicos e pela

paixão dos fotógrafos em capturar

o universo. Desde os pioneiros que

abriram o caminho no século 19

até os mestres contemporâneos

que desafiam os limites do que

é possível, a astrofotografia

nos oferece uma visão única e

inspiradora do cosmos. Com os

recursos e conhecimentos certos,

qualquer pessoa pode explorar e

capturar a beleza do céu noturno,

conectando-nos ao infinito de

maneira profundamente pessoal e

visual.

Se você está começando sua jornada

na astrofotografia ou é um fotógrafo

experiente em busca de novas

inspirações, lembre-se de que o céu

noturno está sempre em constante

mudança, oferecendo infinitas

oportunidades para descobrir e

capturar sua beleza. Olhe para

as estrelas, ajuste suas lentes e

comece sua exploração do cosmos.

A aventura espera por você.

Para aqueles que desejam aprofundar seus

conhecimentos em astrofotografia, aqui

estão algumas recomendações de livros e

recursos:

“Astrophotography” por Thierry

Legault:

Um guia abrangente sobre técnicas

de astro-fotografia, cobrindo desde

o básico até técnicas avançadas

de captura e processamento de

imagem.

“The Deep Sky Imaging Primer”

por Charles Bracken:

Este livro é ideal para iniciantes e oferece

uma introdução clara e detalhada à

astrofotografia de céu profundo.

“The Astrophotography Manual”

por Chris Woodhouse:

Um manual detalhado que cobre

todos os aspectos da astrofotografia,

desde a escolha do equipamento até

o pro-cessamento de imagem.

“Astrophotography for the Amateur”

por Michael Covington: Este livro

clássico é uma excelente introdução

à astrofotografia, oferecendo dicas

práticas e técnicas para fotógrafos

amadores.

Sites e fóruns online

Participe de comunidades online,

como Cloudy Nights e AstroBin,

onde você pode aprender com outros

astrofotógrafos, compartilhar seu

trabalho e receber feedback.

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ensaio

“Sob este

pesado manto,

eu tenho

companheiros

com os

quais estou

enterrado.”

A divina comédia, canto VI, versos 37-38)

Paulo André

Recife, 01 de julho de 2023. Rua da Saudade com rua João Lira.

Boa Vista, Santo Amaro, ali onde a cidade se mistura.

O Movimento de Luta por Moradia de Pernambuco enfrenta o inferno da

desapropriação. A luta frequente. Uma cidade toda desigual.

Assim como no Inferno de Dante, onde se deve deixar a esperança

antes de se entrar, o movimento por casa e digni-dade se ergue em um tipo

de fé chamada luta. Diante do descumprimentos de direitos humanos

universais, além das promessas rompidas em muitos casos,

como naquele dia, o povo segue em meio a uma cidade escurecida.

As imagens são do fotógrafo Paulo André. Elas dispensam mais palavras.

Talvez mais uma: solidariedade.

Ela está no rosto de cada um desses e dessas lutadoras.

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ensaio & tradução

La recoleta

“sólo

a vida

existe”

fotos de Filipe Falcão

textos de Jorge Luis Borges

& Marcelo Pérez

Convencidos de caducidad

por tantas nobles certidumbres del polvo,

nos demoramos y bajamos la voz

entre las lentas filas de panteones,

cuya retórica de sombra y de mármol

promete o prefigura la deseable

dignidad de haber muerto.

Bellos son los sepulcros,

el desnudo latín y las trabadas fechas fatales,

la conjunción del mármol y de la flor

y las plazuelas con frescura de patio

y los muchos ayeres de a historia

hoy detenida y única.

Equivocamos esa paz con la muerte

y creemos anhelar nuestro fin

y anhelamos el sueño y la indiferencia.

Vibrante en las espadas y en la pasión

y dormida en la hiedra,

sólo la vida existe.

El espacio y el tiempo son normas suyas,

son instrumentos mágicos del alma,

y cuando ésta se apague,

se apagarán con ella el espacio, el tiempo y la muerte,

como al cesar la luz

caduca el simulacro de los espejos

que ya la tarde fue apagando.

Sombra benigna de los árboles,

viento con pájaros que sobre las ramas ondea,

alma que se dispersa entre otras almas,

fuera un milagro que alguna vez dejaran de ser,

milagro incomprensible,

aunque su imaginaria repetición

infame con horror nuestros días.

Estas cosas pensé en la Recoleta,

en el lugar de mi ceniza.

“Fervor de Buenos Aires”, 1923

Jorge Luis Borges | “Poesia Completa”, págs. 19 e 20

| Debolsillo, 3ª. edição, 2016

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A Recoleta

Convencidos de caduquez

por tantas nobres certidões do pó,

demoramo-nos e abaixamos a voz

entre as lentas fileiras de panteões,

cuja retórica de sombra e de mármore

promete o prefigura a desejável

dignidade de ter morrido.

Belos são os sepulcros,

o despido latim e as travadas datas fatais,

a conjunção do mármore e da flor

e as pracinhas com frescura de pátio

E os muitos ontens da história

hoje detida e única.

Equivocamos essa paz com a morte

e acreditamos anelar nosso fim

e anelamos o sonho e a indiferença.

vibrante nas espadas e na paixão

e dormida na hera,

só a vida existe.

O espaço e o tempo são formas suas,

são instrumentos mágicos da alma,

e quando esta se apague,

apagaram-se com ela o espaço e o tempo e a morte,

como ao cessar a luz

caduca o simulacro dos espelhos

que já a tarde foi apagando

Sombra benigna das árvores,

vento com pássaros que sobre os galhos ondeia,

Alma que se dispersa em outras almas,

Fosse um milagre que alguma vez deixassem de ser.

Milagre incompreensível,

Ainda que a sua imaginaria repetição

Infame com horror os nossos dias.

Estas coisas pensei em La Recoleta,

No lugar da minha cinza.

Fervor de Buenos Aires, 1923

Jorge Luis Borges | Poesia Completa,

Tradução de Marcelo Perez

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Recoleta-Borges

e os paradoxos

por Marcelo Pérez

Agências de turismo divulgam

La Recoleta como competidor

do Père-Lachaise de París,

como cemitério mais cobiçados

por viajantes. Hoje, são quase

5.000 mausoléus, nos 5,5

hectares do seu labirinto, traçado

originalmente pelo engenheiro

francês Próspero Catelin. Ali,

se hospedam, além dos restos

mortais de renomadas figuras da

vida pública da nação argentina,

uma inestimável riqueza em obras

de arte. Considerado o campo

santo com maior concentração de

esculturas, produzidas por artistas

franceses, italianos, espanhóis,

argentinos, seguindo estilos

clássicos e neoclássicos, belamente

ilustrado nestas páginas.

Primeiro paradoxo

Fundado como público, em 1822,

imbuído o governo de ideais de

secularização e profilaxia que

recomendaram: “enterratorios

ajenos a la jurisdicción

eclesiástica y que fueran lugares

de sanidad mortuoria más seguros

que las tumbas en el interior o en

los atrios de las iglesias.”; o local

escolhido foi a horta da igreja

dos ‘recoletos’ del Pilar, anexa

ao convento, na Zona Norte da

cidade. Particular por ser uma das

poucas partes ‘altas’ da região,

sobre as barrancas do Rio de la

Plata. Um jovem negro liberto e

uma jovem humilde foram seus

primeiros ‘moradores’ definitivos.

Segundo paradoxo

Foi o Aedes aegypti, vindo

nos barcos mercantes, ou seus

parentes de Paraguai, que

vieram vingar a triste Triple

Aliança os que causaram a quarta

epidemia da febre amarela em

Buenos Aires? Parentes dos

que inspiraram os túmulos do

Cemitério dos ingleses de Santo

Amaro das Salinas, no Recife,

com seus relógios travados em

1850, sob o epitáfio de ‘Yelow

fever’?

Aproximadamente um décimo

da população de Buenos Aires

morreu em 1871, na quarta

irrupção da peste. As famílias

mais ricas dos bairros centrais da

metrópoles procuraram, então,

os locais de menos densidade

populacional e mais ventilados,

transformando assim La Recoleta

e áreas vizinhas nos terrenos

mais valorizados da cidade.

Depois chegaram os próceres

da independência a habitar e

solenizar a necrópoles.

Terceiro paradoxo

A leitura dos sobrenomes no

frontispício dos túmulos nos

ilustra sobre a linhagem das

famílias da oligarquia nativa que

garantiram a sua morada em tão

privilegiado recanto.

Mas o selfiódromo principal do

local é justamente o que alberga

os restos da diva que muitos dos

seus vizinhos, se vivos fossem,

gostariam de expulsar. Eva

Perón. Evita. A abanderada de

los humildes. Derrotada por um

câncer em 1952, protagonizou um

funeral saído do realismo mágico.

Dezesseis dias de peregrinação

levaram dois milhões de pessoas

a desfilar frente ao seu féretro.

Importaram-se flores dos países

vizinhos e até do Japão.

A poucos metros do seu descanso,

no mausoléu da família Duarte,

repousam os restos do general

Aramburu, que depois do

sangrento golpe de estado em

1955, ordenou sequestrar o

cadáver embalsamado de Evita do

seu mausoléu, na Central General

del Trabajo. Durante 16 anos

seu paradeiro foi um mistério.

Finalmente foi devolvido ao seu

viúvo na Espanha. Sepultado

em pé, sob nome apócrifo num

mosteiro na Itália. O cadáver tinha

marcas de sevícia.

Em 1970, um grupo

revolucionário peronista,

Montoneros, sequestra e executa

o ex-presidente Aramburu, no

que denominaram ‘julgamento

revolucionário’, pelos fuzilamentos

ocorridos depois do seu putch.

Quatro anos mais tarde, o

mesmo grupo armado, numa

ação inspirada por sentido de

“marqueting”, sequestra agora

o ataúde de Aramburu, na

própria Recoleta, para forçar o

governo (peronista no momento),

a repatriar os restos da “Jefa

espiritual de la Nación”, título

que lhe fora outorgado meses

antes da sua morte.

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Quarto paradoxo

Borges pouco fala de amores nos

seus textos, mas os elementos

arquitetônicos, os espaços

metropolitanos estão retratados,

apreciados e incorporados ao seu

olhar existencial. O poema aqui

traduzido faz isso com o local que

inspira o presente artigo.

Seus versos finais, e outros,

como “yo estaba siempre (y

estaré) en Buenos Aires.” no

poema “Arrabal” , de Fervor de

Buenos Aires, sugerem que era

intenção do escritor perpetuar

sua transvida nos bairros em que

viveu, Recoleta e Palermo.

As palavras do seu amigo de

longas datas, Bioy Casares,

sugerem que não estava nos

planos originais do poeta ficar

para a eternidade no Plainpalais,

Genebra; onde fora, como ele

desejava com saudades, recuperar

a obscuridade. A cegueira tinha

lhe roubado esse cotidiano

fenômeno, duas décadas antes,

para sumi-lo numa permanente

galáxia amarela.

Nas horas certas, a mesma árvore

projeta sua sombra sobre o seu

túmulo e também sobre o de

Grisélidis [Marcelle Réal] famosa

mulher suíça, que escreveu

alguns livros, pintora feminista e

considerada uma das prostitutas

mais cobiçadas no seu país

e na Alemanha, em tempos

da Guerra Fria.

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O Borges do poema

Para os seus leitores este poema é manso,

porque mansa é a sua leitura da vida e da morte.

Não escapa à sua regra filosófica existencial, que

eu aprendera a decifrar, nas tardes longínquas

duma biblioteca anarquista em Mar del Plata.

Minha sorte foi ter chegado às minhas mãos,

naquele templo, antes que suas obras,

(a memória me roubou, se em revistas ou em

livro), entrevistas com ele. Numa delas, que me

deslumbrou, interrogado sobre a possibilidade

de alguma forma de além morte, explicou sua

crença e ‘esperança’ de que nada mais existisse,

considerando que de modo contrário seria

injusto, depois de toda uma vida, não ter o

direito a um apagamento total.

Está nesse poema toda a nada hermética

epistemologia borgeana. Essa amena descriçãocaricia

das simplíssimas (e surpreendentes)

coisas de todos os dias, a luz e seus matizes,

a ventania, como ‘almas’, os pássaros, a

harmonização do mineral com o vegetal,

a sua admiração pela inteligência humana,

capaz de elucubrar conceitos sobre fenômenos

inexistentes como o tempo e o espaço.

A futilidade das paixões humanas, porque

“equivocamos esa paz con la muerte”,

porque, ao fim das contas: “sólo la vida existe.”

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ensaio

Assim como na tragédia grega, o destino

frequentemente parece implacável. Ele

nos coloca frente a dilemas e sofrimentos

inevitáveis. Neste ensaio, Leopoldo

Conrado Nunes nos faz assimilar esses

golpes, através do drama diário, onde

cada um luta para encontrar sentido e

redenção, buscando luz em meio à luz

que há na escuridão. Estas fotos são uma

narrativa onde o destino de cada um se

apresenta, em todos seus paradoxos.

Lançados à sorte, em todo lugar, está

clara nossa trágica condição humana.

Paisagens solitárias onde pessoas

solitárias tentam se esconder. Se ali não

houvesse um fotógrafo como Leopoldo.

vida:

drama

& tragédia

Leopoldo Conrado Nunes

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aconteceu

aconteceu:

fotografia o

tempo todo

abril a junho de 2024

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ABRIL

03 a 30

Realiza-se a Exposição

Catavento: vivências artísticas

fruto do Projeto Catavento,

no hall da Biblioteca da

Universidade Católica de

Pernambuco

09

Bate-papo com o ex-aluno

Renato Menezes, sobre o

tema. Fotografia: mestrado e

doutorado.

13

A professora Eduarda

Andrade, e o seu orientador,

Dr. Dario Brito, pesquisadores

do Programa de Pós-

Graduação em Ciências da

Linguagem (PPGCL), estiveram

em uma atividade de extensão

realizada em parceria com

os cursos de jornalismo

(@jornalismounicap_)

e fotografia (@unicap_

fotografia) da Unicap. Como

parte do seu estágio de

docência, Eduarda está

coorientando os estudantes

de jornalismo na construção

da revista laboratório O Berro,

realizada semestralmente com

as turmas do sétimo período.

17

Formatura da 2ª turma do

nosso curso MBA em Cultura

Visual: fotografia e arte Latinoamericana.

Parabéns a todos

e todas, pela dedicação e pelos

trabalhos incríveis ao longo do

curso. Desejamos sucesso nas

novas jornadas!

18

Alunos do 3° módulo do curso

de fotografia da disciplina

de gerenciamento de cor e

impressão da professora

Mariana Nepomuceno foram

conhecer tudo sobre o

processo de impressão fine art

na ADI, Atelier de Impressao.

24

O curso de Fotografia recebe

o grupo Fotógrafas em

Pernambuco, para a Oficina

de laboratório químico preto e

branco.

MAIO

Na disciplina “Linguagem

Fotográfica II”, recebemos a

visita do nosso ex-aluno de

fotografia de moda @__uhgo ,

um dos fotógrafos mais bem

conceituados deste segmento

em nível nacional. Nessa noite

incrível, fruto da no projeto

da disciplina de Linguagem

Fotográfica II, do professor

João Guilherme Peixoto, Hugo

compartilhou um pouco da

sua trajetória e projetos que

vem realizando, mostrando

o seu processo de produção

com a turma. Neste semestre,

realizaremos parceria com

uma marca de Streetwear de

Pernambuco, com o intuito de

fazer com que teoria e prática

sejam vivenciadas de uma

maneira muito conectada pelos

nossos alunos do 3° módulo

do Curso de Fotografia. Para

enriquecer ainda mais os

projetos desse semestre, Hugo

estará conosco assinado a

direção criativa e de fotografia.

Nas realizações, a criação de um

ensaio fotográfico, e a produção

audiovisual, o “Fashion film”.

01

Estudantes de Fotografia

da Universidade Católica de

Pernambuco visitam o Instituto

Ricardo Brennand, um dos mais

visitados museus da América do

Sul.

04

Na tarde deste daquele sábado,

os estudantes do primeiro

módulo do curso puderam

aplicar na prática os conceitos

teóricos aprendidos em sala de

aula. Na disciplina de Processos

e Anatomia da Fotografia, os

estudantes fazem uma imersão

nos conceitos e funções que

envolvem uma câmera como

lentes, diafragmas, composições

e uso dos flashes.

Exibição do filme “Sem Coração”

de Nara Normande & Tião, no

Teatro do Parque, no Recife,

culminando no bate-papo com o

diretor, Tião. Na plateia, alunos

e professores de Fotografia

Unicap.

08

Anunciados os finalistas do

Expocom Nordeste 2024 e

Gts.: E teve gente nossa, da

Unicap e de Fotografia, entre

eles. Um trabalho acadêmico

desenvolvido pelos nossos

professores, orientadores

e estudantes. O curso de

fotografia da Unicap tem se

deixado sua marca no Expocom,

graças ao esforço de todos e

todas. A gente agradece.

25

Aconteceu a tradicionalíssima

e mais desafiadora competição

de fotografia e audiovisual em

linha reta: a Gincana do Saber

Fotográfico, em sua 8ª. edição.Na

competição, estudantes colocam

em prática todo o conhecimento

adquirido em sala de aula

através de uma série de

desafios práticos e teóricos

envolvendo tanto fotografia

quanto audiovisual.

27

A gestora e historiadora

Betânia Correa, diretora

do Museu da Cidade do

Recife, juntamente com

o pesquisador Sandro

Vasconcelos, historiador

do museu formalizaram

parceria com o Curso de

Fotografia da Unicap na

realização de concurso

fotográfico importante,

alusivo às comemorações

do bicentenário da

Confederação do Equador.

O concurso é aberto ao

público em geral, incluindo

fotógrafos e fotógrafas,

estudantes universitários,

pesquisadores,

historiadores e interessados

na história do Brasil. As

inscrições do “Concurso de

fotografia Confederação do

Equador vão até dia 15 de

julho e devem ser feitas pelo

e-mail museucidaderecife@

gmail.com

JUNHO / JULHO

03

A turma do primeiro módulo

de Fotografia da Unicap

recebeu um convite especial.

O Coordenador do Programa

de Ações de Cidadania da

Defensoria Pública,

@wilkerneves, convidou

nossos estudantes para

participar do casamento

comunitário promovido pela

instituição em 11 de junho no

Geraldão, no Recife.

Essa iniciativa tem como

objetivo proporcionar aos

estudantes uma experiência

cidadã valiosa. Juntamente

com a equipe de fotógrafos

da @defensoriape e

@bastidoresdopovo ,

os estudantes interessados

irão ajudar a eternizar esse

momento tão especial na

vida dos noivos.

Recebemos a visita do nosso

ex-aluno @oromulochico,

que nos presenteou com

um bate-papo inspirador.

Ele compartilhou conosco

seus projetos e realizações

em fotojornalismo,

traçando um panorama

desse mercado amplo e

diverso. Romulo também

destacou a importância do

aprendizado em sala de

aula para sua trajetória

profissional, mostrando como

o conhecimento adquirido no

curso tem contribuído para a

sua carreira.

04

Conversa muito franca e

produtiva com o fotógrafo

convidado Pedro Pereira,

tambpem ex-aluno, a turma

de Linguagem Fotográfica II,

ministrada pelo professor

João Guilherme Peixoto. O

fotógrafo compartilhou sua

experiência e insights valiosos

sobre o mercado de fotografia

de eventos, além de dicas

práticas para quem deseja

seguir esse nicho rentável e

cada vez mais profissional.

07 a 15

Trabalhos dos estudantes

de fotografia, jornalismo, e

publicidade e propaganda

compõem a Exposição

Interdisciplinar, na Biblioteca

Central da Unicap, uma das

culminâncias da disciplina

de fotografia dos Cursos de

Jornalismo e Publicidade e

Propaganda.

09

Som do Alto no Compaz: Nos

meses de maio (e junho),

os estudantes do Curso

de Fotografia da Unicap

estiveram no Compaz,

desenvolvendo uma ação de

extensão dadisciplina Projeto

Integrador I, sob coordenação

da professora Renata Victor.

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Thomaz Farkas/Acervo IMS

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