Revista Afirmativa edição 02
Lançada em novembro de 2014, a segunda edição da Afirmativa foi pras ruas mesmo sem recursos objetivos para isso. A luta foi muito grande, mas não desistimos do sonho de contar a verdadeira história sobre nós e nossos ancestrais. O sucesso foi garantido com ampliação da equipe, linha editorial e quantidade de páginas. Nesta edição, a Afirmativa apresentou a história do povo Tupinambá no Sul da Bahia, a crise no sistema carcerário, o impacto dos megaeventos esportivos no Brasil. E na reportagem de capa, uma chamada importante para a reflexão sobre o racismo religioso. Além disso, inauguramos nossa sessão literária.
Lançada em novembro de 2014, a segunda edição da Afirmativa foi pras ruas mesmo sem recursos objetivos para isso. A luta foi muito grande, mas não desistimos do sonho de contar a verdadeira história sobre nós e nossos ancestrais. O sucesso foi garantido com ampliação da equipe, linha editorial e quantidade de páginas.
Nesta edição, a Afirmativa apresentou a história do povo Tupinambá no Sul da Bahia, a crise no sistema carcerário, o impacto dos megaeventos esportivos no Brasil. E na reportagem de capa, uma chamada importante para a reflexão sobre o racismo religioso. Além disso, inauguramos nossa sessão literária.
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h Especial
O
CANDI
-DATO
Por Lande M. Onawale* (para Josafá Mota)
Não consegue dormir. A
cama parece mais estreita
e ele esbarra algumas
vezes na mulher, que ressona
profundamente. Como pode?! A
insônia dele o faz rolar até a infância,
trazendo o mesmo frio na barriga - o
temor de não ter seu desespero acolhido
por alguém que é acordado no meio
da noite. Fingia um sono agitado, mas
era, na verdade, um pedido de ajuda.
Pensa na reunião que ocorrera na
sede do partido, mais cedo. Tensa.
Ele praticamente só, se debatendo
em argumentos contra a sua própria
corrente política. A namorada também
fuzilava a resistência dele, seu
titubear. No carro, se disse nervoso
com a proximidade da Convenção. O
que era parte da verdade, pois embora
fosse um dos melhores quadros do
partido, um discurso naquela linha
nem de longe lhe acenava com um
começo. Certa da vitória, a mulher
lhe compreendeu e beijou sua face.
E é nos braços dessa certeza que ela
agora dorme o sono dos exaustos. Ele,
ao contrário, não está em paz com
a decisão do grupo, que lhe toca tão
intimamente, e no fundo ainda não é
sua. Com mais uma ou duas cutucadas,
acorda a mulher, que senta na
cama com um esforço sonolento. A
fala pausadamente irritada.
- O quê foi, Guilherme?
- Nada...
Deduzindo o que seria, a companheira
suspira e cruza os braços com
irritação. Ele tem o olhar preso no teto
e, constrangido, vacila:
- Sabe, amor... você tem certeza?
Com a impaciência, o cabelo da
mulher escorre das orelhas várias
vezes, e ela os recoloca rapidamente
no mesmo lugar, num gesto peculiar
de nervosismo. Busca os olhos dele, e
diz duramente:
- Guilherme, hoje conseguimos,
enfim, fechar uma posição quase unânime
em torno dessa proposta. Foram
horas, Guilherme, horas. Não há mais
o que discutir quanto a isso. Você é
negro, sim!
Não sabia como refutar os argu-
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