Revista Afirmativa edição 02
Lançada em novembro de 2014, a segunda edição da Afirmativa foi pras ruas mesmo sem recursos objetivos para isso. A luta foi muito grande, mas não desistimos do sonho de contar a verdadeira história sobre nós e nossos ancestrais. O sucesso foi garantido com ampliação da equipe, linha editorial e quantidade de páginas. Nesta edição, a Afirmativa apresentou a história do povo Tupinambá no Sul da Bahia, a crise no sistema carcerário, o impacto dos megaeventos esportivos no Brasil. E na reportagem de capa, uma chamada importante para a reflexão sobre o racismo religioso. Além disso, inauguramos nossa sessão literária.
Lançada em novembro de 2014, a segunda edição da Afirmativa foi pras ruas mesmo sem recursos objetivos para isso. A luta foi muito grande, mas não desistimos do sonho de contar a verdadeira história sobre nós e nossos ancestrais. O sucesso foi garantido com ampliação da equipe, linha editorial e quantidade de páginas.
Nesta edição, a Afirmativa apresentou a história do povo Tupinambá no Sul da Bahia, a crise no sistema carcerário, o impacto dos megaeventos esportivos no Brasil. E na reportagem de capa, uma chamada importante para a reflexão sobre o racismo religioso. Além disso, inauguramos nossa sessão literária.
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h Organização e luta
BRASIL
contra os
tupinambá
A luta secular
de um povo pelo
direito de existir
t
f
Alane Reis e Rose Cerqueira
David Aynan
ILUSTRAÇÃO CARLOS LATUFF
NEm março de 2014, cerca de
400 pessoas, representando
42 entidades do movimento
social do Brasil, América
Latina e Europa, estiveram presentes na
“Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata
Atlântica: Em defesa das terras sagradas
Tupinambá”. O destino foi à Aldeia
Tupinambá da Serra do Padeiro, município
de Buerarema, região Sul da Bahia. A
intenção dos 18 km de caminhada serra
a cima era demonstrar apoio ao povo
Tupinambá em luta por seu território
e, consequentemente, pela sobrevivência.
A recepção do Estado brasileiro
aos andantes não poderia ter sido mais
representativa. Um helicóptero de guerra
da Marinha do Brasil sobrevoou por três
vezes a aldeia em voos rasantes. Para entender
melhor os motivos da Marcha e da
bélica recepção do Estado, é importante
resgatar alguns capítulos dessa história.
Entre o final do século 19 e início do
século 20, o cultivo do cacau fez da
região, a mais importante fronteira agrícola
do estado. Neste período, inicia-se
um processo intenso de inserção de não
índios no território tradicionalmente
ocupado por Tupinambá, através dos
casamentos inter-raciais com mulheres
indígenas, e da violenta apropriação
das terras por grileiros.
Nas primeiras décadas do século 20, os
índios que não migraram para as zonas
urbanas tiveram que se manter em
pequenos pedaços de terras ou trabalhar
nas lavouras de cacau, em condições
análogas a escravidão. Fontes etnológicas
já davam os Tupinambá como extintos
desde o século 18. A paz foi forjada em
sangue indígena. Os fazendeiros dormiam
tranquilos com a certeza da posse
das terras que não lhes pertencem. “Os
sobrenomes dos supostos proprietários
de fazendas são os mesmos dos coronéis
dos anos 30. No sul da Bahia até
hoje tem coronel”, explica a jornalista,
antropóloga e pesquisadora na questão
Tupinambá, Daniela Alarcon.
Os Tupinambá, enquanto estiveram “invisíveis”,
não possuíam mais suas próprias
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