The book of Paraisópolis

Temos saudade do parquinho que
virou uma horta comunitária e
temos saudade de todos os gatos que
sumiram. Temos saudade do menino
que morava na nossa rua, mas que se
mudou, e da sorveteria perto da escola.
Temos saudade da lanchonete e do
nosso tio que todo mundo gostava.
Temos saudade da antiga padaria e dos
dias em que podíamos jogar bola nas
ruas. Sentimos falta do respeito que as
pessoas tinham e de todos os parentes
que foram embora. Temos saudade da
nossa infância.
Mas lembramos de todos os shows nos
fins de semana e dos eventos no Dia
das Crianças. Lembramos de quando
o DJ Arana veio nos visitar e quando
um MC gravou um videoclipe na rua.
Lembramos do Natal em que o Papai
Noel veio falar “Oi” para as crianças.
Lembramos da Festa Junina, quando
preparamos um monte de comidas e
bebidas diferentes e tinha uma fogueira
bem legal no meio. Lembramos das
pinturas durante a Copa do Mundo,
do telão que transmitia os jogos e
das festas na Arena Palmeirinha. As
pessoas se fantasiaram e tocaram
percussão por quase duas semanas.
Lembramos de quando derrubaram
uma árvore e quando uma betoneira
passou pela nossa rua. Lembramos
da inauguração do mercado, do
camburão e das pessoas discutindo na
rua. Lembramos de pessoas fugindo
de outras pessoas. Lembramos das
doações de tomates e de todos os
festivais. Lembramos da época em que
as pessoas não se desrespeitavam.
Tem muitas coisas na nossa rua que
você provavelmente não perceberia.
Tipo moedas jogadas nas ruas. Wi-fi
e teias de aranha. Poluição. Insetos.
Pessoas conversando. Musgo e mofo.
Varais, canos velhos e uma montanha
absurda de fios elétricos. Uma carta na
porta. Um buraco no muro. Varandas.
Flores. O vento.
Essas são as ruas onde nós moramos.
As ruas de Paraisópolis.
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