Revista Grid - 8ª edição
20 de julho de 2024
20 de julho de 2024
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PILOTO GRID
Um maluco
no pedaço!
Daniel Kelemen rompe o padrão, concretiza as
promessas feitas nas primeiras visitas a um autódromo
e se torna referência no ambiente das corridas
Luc Monteiro
Rodrigo Ruiz
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Quem convive com o automobilismo de alguma
forma e tem algum tempo de pista já sabe: não
raro aparece algum maluco anunciando mundos e
fundos em nome de uma pretensa revolução. Via
de regra acompanhadas de promessas mirabolantes,
tais bravatas costumam ter um ponto em
comum: não passam de conversa furada jogada
ao vento. A constatação é recorrente, mas não alcança
a condição de ciência exata. Alguns desses
personagens são realmente malucos, a ponto de
cometerem o absurdo de cumprirem o prometido.
Tomamos a liberdade de trazer à introdução do
assunto o tom descontraído com que o abordamos
com o “Piloto Grid” da vez. A trajetória de
Daniel Paulo Kelemen destoa bastante do caminho
trilhado no automobilismo por outros nomes
que já ocuparam este espaço na Revista Grid,
como Rubens Barrichello, Tony Kanaan ou Max
Wilson. Aos 47 anos, sete deles compartilhados
com as corridas, ele já experimentou as mais variadas
funções. Organizador de categorias, coach,
dono de equipe, gestor de carreira, patrocinador.
Ah, claro, também é piloto.
O lido com carros não era exatamente uma novidade
para Daniel Kelemen, que é sócio de redes
de concessionárias e presidente da Associação
Brasileira dos Concessionários Hyundai. A guinada
nos rumos deu-se em 2017, quando percorreu
algumas voltas em Interlagos em um Gol de competição
fabricado nos anos 80, experiência sugerida
pelo também piloto Marcelo Zebra. “Foi aí
que as engrenagens começaram a girar na minha
cabeça”, revela. A primeira decisão, e mais óbvia,
foi tomada naquela tarde: a de se tornar piloto.
A compra de um Opala para disputar a Old
Stock Race poderia ser seu passo seguinte. Antes
disso, Kelemen tomou a decisão de manter
no automobilismo o vínculo que já tinha com a
Hyundai em seu ofício. Tratou de recrutar dois
profissionais de gabarito – o preparador Alexandre
Rheinlander e o piloto e consultor Fabiano
Cardoso, ambos gaúchos – para os primeiros
passos da criação de um campeonato monomarca.
Esse start deu-se a partir da montagem
de dois HB20, que foram inscritos no campeonato
de 2018 da Turismo Nacional.
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Aos 47 anos, Kelemen já experimentou praticamente todos os lados possíveis do “balcão”
O uso da TN como laboratório para a formatação
da categoria foi mais positivo que o esperado:
o modelo Rspec alcançou 12 vitórias em 24
corridas – foram 11 de Cardoso e uma de Rafael
Lopes. Mais que isso, o trabalho resultou na coleta
de todos os pontos de aplicação técnica nos
carros. O carro campeão da TN foi exibido no estande
da Hyundai no Salão Internacional do Automóvel
daquele ano, ilustrando o anúncio formal
do surgimento da Copa HB20 para 2019, com a
preparação de todos os carros a cargo da então
recém criada H Racing.
No primeiro campeonato as etapas integravam
o evento da Copa Truck. A etapa inaugural, em
Campo Grande, reuniu 22 carros. “Vamos parar
nos 25”, dizia Kelemen. Nisso, não amealhou tanta
confiança: todos ali sabiam que o grid iria bastante
além. Ao término de 2022, quando o modelo
Rspec saiu de cena para dar lugar ao Novo
HB20, já eram 45 carros no maior grid monomarca
da América Latina. O modelo foi realocado na
HB20 Racing Cup, formatada para absorver nos
eventos do Campeonato Paulista os carros substituídos
no Brasileiro.
A formatação e o crescimento da Copa HB20
entre o fim da década passada e o início da atual
demandaram a configuração de uma estrutura
de competição à altura de tamanha demanda.
Assim nasceu a HRacing, incumbida do gerenciamento
de absolutamente tudo que diga respeito
à Copa HB20, em termos técnicos, logísticos,
desportivos, comerciais e até estéticos.
Uma organização que, conforme sugerem as
proporções alcançadas pelo campeonato, hoje
é formada por um batalhão de mais de uma centena
de profissionais.
Sabemos que estas páginas são dedicadas a
Daniel Kelemen, e não à Copa HB20. Mas é impossível
dissociar os dois contextos, apesar de
esta ser uma meta do próprio piloto, que manteve-se
na ativa com o Opala na Old Stock Race
e em algumas etapas da Gold Classic. Também
participou do Mercedes-Benz Challenge em 2019,
conquistando vitórias e disputando o título até
a etapa final. O trabalho próximo da Copa Truck
nos eventos levou-o a se lançar ao desafio mais
ousado de sua trajetória até então: o de também
pilotar caminhões.
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Daniel Kelemen criou sua própria
equipe na Copa Truck,
a D+ Motorsport, pela qual também
corre o experiente Adalberto Jardim
Integrante da Elite, para pilotos menos experientes, Kelemen soma duas vitórias em 2024
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A Copa HB20, que cumpre sua sexta temporada, foi idealizada por Daniel Kelemen
Kelemen disputou o Mercedes-Benz
Challenge pela Sambaíba Racing Team
A paixão pelo Opala levou Kelemen ao
grid (e ao comando) da Old Stock Race
A estreia ocorreu na etapa final de 2019
pela PP Motorsport, onde correu também
em 2020. Em 2021 migrou para a AM Motorsport
e, nos dois anos seguintes, fez parte
da ASG Motorsport, sempre com caminhão
próprio. A experiência que trouxe das equipes
dos também pilotos Pedro Paulo Fernandes,
André Marques e Roberval Andrade
levou-o a criar também sua própria equipe
na Copa Truck – a D+ Motorsport. O time,
em sua primeira temporada, tem o próprio
Kelemen como piloto na classe Elite, além do
experiente Adalberto Jardim na Pro.
Kelemen parece ter fôlego acima da média.
Obteve duas vitórias nas quatro primeiras
etapas da Copa Truck em 2024. Ao mesmo
tempo em que deu início à sexta temporada
da Copa HB20 e à segunda edição da
HB20 Racing Cup, assumiu o gerenciamento
da Old Stock Race. “Sempre fui apaixonado
pelo Opala”, justifica. Quando perguntamos
se a agenda automobilística já carregada
para por aí, ele rebate propondo reflexões:
“O que mais me fascina no automobilismo
são os desafios”. Será que há mais novidades
para os próximos capítulos?
8
Carta do editor
Luc Monteiro
Pimenta, que foi quem nos apresentou,
é parceiro inseparável de Kelemen
Era fim de 2018, etapa do Campeonato Paulista
em Interlagos, quando fui apresentado a Daniel Kelemen
pelo piloto Pedro Pimenta. Interceptado por
algum chamado ao telefone, Pimenta teve tempo
apenas para fazer com que a gentileza protocolar
fosse acompanhada da informação de que Kelemen
estava prestes a anunciar um novo campeonato
de automobilismo. E saiu.
Kelemen e eu somos despachados e o fato de
nunca termos nos visto até então não impediu que
a conversa fluísse. Ele tomou como gancho o que
Pimenta já havia mencionado, a tal nova categoria.
E sacou o telefone celular do bolso, para me mostrar
um vídeo onde o narrador e o comentarista
da Cascavel de Ouro antecipavam a formatação da
Copa Hyundai HB20 para 2019.
“Olha só o que o narrador da Cascavel de Ouro
falou do nosso campeonato”, estufou o peito. Vimos
juntos o vídeo de pouco mais de um minuto. Falei que o tal narrador devia ser muito amigo dele,
que reagiu: “Eu não faço a menor ideia de quem seja o cara”. Estendi-lhe a mão e repeti o que lhe havia
dito alguns instantes antes, ainda na presença de Pimenta: “Muito prazer, Luc Monteiro”.
Era eu o narrador daquela Cascavel de Ouro, ao vivo pelo BandSports. Eduardo Homem de Mello,
escalado como comentarista, era na verdade quem estava mais a par da novidade que se aproximava,
e fez questão de me deixar a par de tudo antes de entrarmos no ar. Os dois HB20 Rspec que haviam
integrado o grid da Turismo Nacional naquele ano estavam no grid cascavelense, inclusive.
Aquele aperto de mão precedeu um nível não tão comum de parceria e de amizade com Daniel Kelemen.
Que em seguida me convidou para acompanhar no Salão do Automóvel, no estande da Hyundai,
a apresentação do carro e da categoria. Fui escalado de improviso, no evento, para narrar uma disputa
imaginária entre dois dos pilotos presentes à ocasião – Witold Ramasauskas e Pedro Pimenta.
Não foi grande surpresa minha escalação, também, para narrar as corridas da Copa HB20 nas transmissões
de televisão, no mesmo BandSports do vídeo que Kelemen guardava orgulhoso no aparelho
celular. Partiu dele o pedido para que eu indicasse um comentarista para as transmissões. “Sei de um
cara que fala bem e conhece tudo da categoria”, respondi. E indiquei o próprio Daniel Kelemen.
Ele passou uma temporada aos microfones, enquanto seus pilotos disputavam troféus e memórias na
pista. Na terceira etapa veio o convite para eu experimentar o carro da Copa HB20 em Curvelo. Convite
aceito, igualmente, para sessões de voltas que me fizeram ver a categoria com mais fidelidade. A ponto
de minha inscrição nas etapas, para treinar às sextas-feiras, também virar regra.
Daniel Kelemen usa de um senso de praticidade que chama atenção. Não o acompanho de perto nos
negócios, mas nas várias funções que chamou para si no automobilismo. Até tento copiá-lo, sem eufemismos,
sobretudo no que diz respeito à organização de corridas. Esse baixote é um sujeito diferenciado
e nós, os de pouca estatura, costumamos nos entender bem.
Em família
O convívio em família é um ponto até corriqueiro para os
pilotos de automobilismo em fim de semana de corrida. No
caso de Daniel Kelemen, a companhia da esposa Lucimara e
das filhas Letícia e Gabriella, de 19 e 15 anos. Letícia cursa o
segundo ano de Medicina na São Leopoldo Mandic, em Campinas,
e desde o ano passado integra como “trainee” a equipe
médica designada pela Confederação Brasileira de Automobilismo
para atuar nas etapas do campeonato da Copa Truck.
9
SENNA
30 ANOS
Momentos
marcantes
Os dez anos de atuação na
Fórmula 1 renderam momentos
memoráveis ao piloto e à sua
imensa legião de torcedores
Rodrigo Mattar
Ayrton Senna da Silva partiu da vida e entrou
para a história - e para a eternidade – num fatídico
1º de maio, há 30 anos. A dilacerante dor
da perda de um dos maiores pilotos de todos
os tempos no automobilismo ainda é sentida
e ecoa a cada ano em que nos damos conta
de que todo aquele fim de semana do GP de
San Marino, em 1994, foi marcado não só pela
perda da referência maior do esporte a motor
no país, mas também por outros acidentes e
incidentes que mudariam para o bem – e também
para o mal – toda a Fórmula 1 e a visão do
público brasileiro.
Consideremos que não temos um piloto do
país no grid a tempo inteiro desde a retirada
de Felipe Massa da categoria e a última vitória,
a última vez em que se entoou o Hino
Nacional num pódio, foi há quase 15 anos, no
triunfo de Rubens Barrichello no GP da Itália.
É uma marca tão redonda quanto triste, que
será atingida no próximo dia 13 de setembro.
Voltando a Senna e à perda monumental,
nos 30 anos de sua partida é praticamente
impossível esquecer de seus feitos e dos grandes
momentos do piloto na categoria máxima
ao longo de uma década, com 161 GPs disputados,
uma pororoca de poles, num recorde
superado apenas em 2006 por Michael Schumacher,
41 vitórias e três títulos mundiais.
10
O recital
no Estoril
Ayrton comemorou depois da bandeirada,
mas 1984 não marcaria sua primeira vitória
A estreia atrevida
pela Toleman
“Arrume um carro para eu subir no pódio. Estou
pronto para isso”. A frase de Ayrton Senna
para Alex Hawkridge, diretor da Toleman Motorsport,
após a conquista do primeiro ponto
da carreira, podia soar petulante para quem
não conhecia o potencial assombroso daquele
rapaz que varrera tudo na base e chegava à F-1
em 1984 vindo da F-3 britânica com o recorde
absoluto de vitórias que só Jan Magnussen –
vejam vocês – quebraria anos mais tarde.
Mesmo numa equipe mediana, Senna tinha
uma autoconfiança fora do comum e, graças
a um projeto muito bem executado pelo designer
Rory Byrne, afora as hábeis mãos de
Brian Hart, que com esmero e poucos recursos
montou um motor muito engenhoso com o cabeçote
fundido no bloco, Senna conquistou os
pódios que tanto almejava. O primeiro foi logo
em Mônaco, apresentando o cartão de visitas
do futuro sucessor de Graham Hill, com um segundo
lugar que lhe valeu três pontos porque
a corrida não chegou ao mínimo de 75% da
distância. Ayrton ainda foi terceiro em Brands
Hatch e no Estoril, quando já estava de contrato
assinado com a Lotus. A equipe britânica,
que originaria a Benetton, era pequena demais
para o enorme talento do brasileiro.
Menos de um ano após o terceiro pódio
na carreira e em seu 16º GP no currículo,
Senna largaria num chuvoso 21 de abril de
1985 no Estoril para uma corrida dominante
onde ninguém conseguiu sequer chegar
perto de seu ritmo numa pista perigosamente
encharcada. Apesar de parecer o
senhor absoluto da situação, Senna disse
abertamente em várias ocasiões que se
“cagou de medo” e quase perdeu o controle
da Lotus-Renault em muitos momentos
da corrida.
Enquanto muitos pilotos consagrados
perdiam o controle e batiam, o brasileiro
permanecia como se nada o assustasse. A
vantagem de 1min02s978 ao fim de duas
horas e 67 voltas percorridas consagrava
um novo “Rei da Chuva” na Fórmula 1.
Aquele dia seria de múltiplas emoções.
Enquanto em Portugal, Senna comemorava
e levava todo o estafe da Lotus à loucura
– a partir dali a FIA inclusive proibiria
as invasões de pista ao estilo Colin Chapman
nas comemorações, por segurança
–, o presidente Tancredo Neves enfrentava
seus últimos momentos de agonia no Instituto
do Coração, falecendo às 22h20 daquela
noite em que o Brasil inteiro chorou.
O show no Estoril foi coroado com a
primeira pole e a primeira vitória
11
SENNA
30 ANOS
A vingança pela
derrota na Copa
Norio Koike
Em paralelo com o Mundial de Fórmula 1 de 1986, a
Copa do Mundo do México seguia a todo vapor e quis
o destino que Brasil e França se enfrentassem numa
tórrida partida disputada no lendário Estádio Guadalajara,
em Jalisco, por uma passagem às semifinais da
competição do “violento esporte bretão”, como se dizia
no passado.
No paddock de Detroit, na capital mundial do automóvel,
onde aconteceria o GP dos EUA, Senna assistia
à partida cercado de grande parte dos mecânicos da
Lotus, que eram britânicos, mas com muitos técnicos
da Renault, francesa e fornecedora dos motores da
equipe. A partida, sensacional, acabou empatada por
1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, depois de
Zico perder um pênalti que poderia ter impedido os
minutos suplementares e a disputa por penalidades,
onde o Brasil seria eliminado por 5 a 4.
Senna foi sacaneado pela francesada, que caiu em
sua pele. A ele, pole-position com 1min38s301, restava
fazer sua parte na pista. De fato, liderou no início, foi
superado por Nigel Mansell, recuperou a ponta e em
dado momento a Ligier chegou a dominar a disputa
com os veteranos René Arnoux e Jacques Laffite. Aí,
pensou Senna, seria demais: ver o Brasil eliminado no
futebol e uma dobradinha francesa no pódio seria a
gota d’água.
Mas aconteceu que os carros equipados com pneus
Pirelli não resistiram ao calor e precisaram parar para
O gesto na comemoração em Detroit
se tornaria marca das vitórias de Senna
montar pneus novos. Nelson Piquet assumiu
a dianteira, mas errou e bateu. A liderança
foi herdada por Ayrton, que foi impecável
e venceu num traçado que ainda
assistiria até 1988 mais dois triunfos seus.
Na volta da vitória, Ayrton conseguira
enxergar um torcedor na arquibancada
com a bandeira brasileira e pediu-a para
começar, no domingo, 22 de junho de
1986, uma comemoração que se tornaria
uma doce rotina a cada vitória ou título
conquistado na F-1.
O novo Mister Mônaco
Graham Hill era o Mister Mônaco. Bicampeão mundial em 1962 e 1968, único Tríplice Coroado da história
do automobilismo mundial, ele morreu em 1975 como o maior especialista do circuito urbano de Monte
Carlo. No principado de Ranier e Grace Kelly, o simpático, debochado, bem-humorado e competente
Graham enfileirou triunfos. Venceu cinco vezes, a última delas em 1969, perto de completar 40 anos.
Ayrton Senna já apresentara suas credenciais em 1984 e precisava responder aos investimentos. Não
só da Honda, que apostara nele, mas também da Lotus, que mesmo com um carro apenas razoável
tinha como novidade para 1987 uma suspensão ativa, comandada por amortecedores eletrônicos que
tornavam as pistas imperfeitas verdadeiros tapetes, facilitando a pilotagem.
Com a Lotus 99T Honda amarela e patrocinada pelos cigarros Camel, aposentando o visual icônico de
outra marca, a John Player Special, Senna talvez não soubesse o quanto significou não só ganhar em
Mônaco pela primeira vez, como depois em Detroit – esses triunfos lhe deram a liderança do Mundial de
Pilotos. Aquelas conquistas foram as últimas da história da outrora pujante Lotus, que se enterraria em
dívidas até encerrar suas atividades no fim do fatídico ano de 1994.
Ao molhar – suprema audácia – os tailleurs das princesas Caroline e Stéphanie e os ternos bem-cortados
de Ranier e seu filho Albert, Senna, ladeado por Nelson Piquet e Michele Alboreto, iniciava ali uma festa que
se repetiria mais cinco vezes até seu último triunfo naquelas ruas que de que se tornou tão íntimo, em 1993.
12
Angelo Orsi
O susto na largada não freou a tarde inspirada de Senna, que venceu e se tornou campeão
Suzuka, 1988
O dia 30 de outubro de 1988 é celebrado até
hoje como um dos momentos de pura magia de
Ayrton Senna da Silva ao volante de um carro de
Fórmula 1. Naquela madrugada para o público
brasileiro que ansiosamente esperava pela decisão
de um título ferrenhamente disputado com o
rival e companheiro de equipe Alain Prost, a tensão
podia se sentir a quilômetros e quilômetros
de distância.
Senna deixou o carro engasopar na largada, foi
engolido por metade do pelotão, quase foi abalroado
e chegou à primeira curva em 16º lugar.
Fechou a primeira volta passando cinco carros,
mas cruzando em nono - porque os compatriotas
Derek Warwick e Nigel Mansell se estranharam.
A partir dali, foram 27 voltas de furiosa recuperação
que o levaram a alcançar e superar Alain
Prost, com uma ultrapassagem a todo risco, in-
clusive com a presença de dois retardatários muito
próximos, o velho amigo Maurício Gugelmin
e o sempre imprevisível Andrea de Cesaris. Era
vencer ou perecer e Senna, que nas três corridas
anteriores sofrera, primeiro com um acidente em
Monza com o retardatário Jean-Louis Schlesser
e, depois, em Portugal e Espanha, em decorrência
de falhas técnicas, sabia que aquela conquista
tão aguardada, tão perseguida, não poderia escapar-lhe
entre os dedos.
Foi uma aula: Senna, em sua 14ª vitória da carreira,
com 13s363 sobre o “cerebral” e bicampeão
Alain Prost, emocionava o país, os mais de 100
mil torcedores em Suzuka e o mundo todo, ao
derramar lágrimas e mais lágrimas sob o capacete.
A expressão emocionada na volta consagradora
antes do pódio denunciou todo o sentimento
de Ayrton. Missão cumprida.
Sobrou até para a Realeza na festa do champanhe; hoje o protocolo é bem diferente
13
SENNA
30 ANOS
Levou mais de seis anos para Senna enfim vencer em Monza, o que repetiria em 1992
O fim da maldição de Monza
Senna teve algumas “pedras no sapato” ao longo
de sua trajetória na F-1, mesmo que talvez isso
fosse irrelevante, mas o fato é que o piloto nunca
venceu na terra de Prost, por exemplo. Tinha
também frustrações por não triunfar diante de
sua torcida e, tampouco, num dos templos sagrados
do automobilismo: Monza.
Na lendária pista italiana, Senna ficou sem carro
e sem credencial em 1984, quando a Toleman o
colocou de “castigo” por descobrir seu contrato
de gaveta com a Lotus, através de um vazamento
do anúncio na imprensa. Em 1985, um terceiro lugar.
No ano seguinte, sua corrida não durara uma
única volta. Em 1987, um erro na curva Parabólica
lhe custaria o triunfo. Em 1988 houve Schlesser
em seu caminho. Em 1989, um raro defeito de
motor em sua McLaren-Honda o fez rodar de tal
forma que o público urrava de alegria – porque
Prost, no outro carro da equipe britânica, já de
contrato assinado com a Ferrari, cruzaria na frente
e venceria a prova.
Com aquilo tudo entalado na garganta e necessitando
responder à altura tudo o que fora feito
contra si na temporada de 1989, Ayrton encarou
o GP da Itália de 1990 com um gosto de vingança
daqueles que se saboreiam com prazer. Na qualificação,
bateu Prost por 0s402 e foi soberano,
imperial, absoluto. Dominou a corrida de ponta a
ponta, com Gerhard Berger o escudando no início
e o francês, mesmo com todo o favoritismo
e os tifosi a favor – e entupindo Monza com suas
bandeiras vermelhas –, teve de aturar mais uma
obra-prima de Ayrton, que cruzou a linha de chegada
com seis segundos de vantagem.
É um dos triunfos menos falados de todos os 41
do brasileiro. Mas, possivelmente, o mais importante
de todo aquele campeonato decidido em
outra colisão, de novo em Suzuka.
14
Sérgio Sanderson
O carro preso a uma única marcha deu dramaticidade à primeira vitória em seu país
A sexta marcha
Bicampeão do mundo, faltava a Ayrton a joia da
coroa pessoal: o triunfo no GP do Brasil, que insistia,
assim como outras corridas ou momentos, em lhe
escapar como se fosse inalcançável. Em diversas
vezes o piloto largara na frente e não vencia: por
incidentes como os de 1989 e 1990, pela desclassificação
em 1988, por falhas mecânicas em 1985
e 1987. O segundo lugar de 1986 no Rio de Janeiro
era seu único pódio diante de seus torcedores.
Ele sabia que, naqueles tempos em que o país
fracassava nas Copas do Mundo, a esperança
de vitórias e de alívio num país cheio de crises
repousava em seus ombros. Parecia que o peso
da responsabilidade imprensaria ainda mais suas
costas. Mas Ayrton, resiliente, não se entregou e
mostrou que por mais que as circunstâncias fossem
adversas, nada poderia sair errado naquele
dia 24 de março de 1991.
Partindo da pole, seu habitat natural no grid de
largada, marchou para a primeira curva da batalha
de 71 voltas, suportando uma pressão inclemente
das Williams de Nigel Mansell e Riccardo
Patrese, que naquela temporada e na seguinte
seria o chamado “carro de outro planeta”, até que
a truculência de Mansell na condução de um carro
tão sensível lhe custaria caro.
O que quase ninguém em Interlagos sabia
e talvez só Ayrton e a equipe soubessem – e
poucos privilegiados de ouvido – é que o brasileiro
perdia progressivamente as marchas de
seu carro e, nas voltas finais, só tinha a sexta
marcha. Senna se entendia tão bem com o
McLaren MP4/6 Honda que, mesmo diante de
uma situação que faria qualquer piloto desistir,
conseguia manter o carro em regime de rotações
mais baixas nas curvas lentas, sem fazer
Patrese perceber que o líder tinha problemas.
Detalhe: o italiano também tinha um câmbio
prestes a quebrar.
Para piorar (ou não...), começou a chover. Desesperado,
Senna pedia o fim da corrida. Não foi
atendido, mas as comportas dos céus se abriram
como que para saudar um triunfo tão histórico
quanto redentor. O áudio do rádio de Senna, com
um urro de alívio e um bastante audível “puta que
pariu, eu não acredito!”, é a amostra do quão lhe
fora difícil terminar aquela batalha – a mais saborosa
de todas. Interlagos em delírio e sob uma
chuva torrencial das famosas “Águas de Março”
de Antônio Carlos Jobim viveu um de seus momentos
mais mágicos e eternos em 84 anos de
história.
15
SENNA
30 ANOS
Edu Garcia/AE
Reprodução/Rede Globo
Ayrton bem que esboçou a comemoração com a bandeira, mas parou em meio à torcida
Nos braços do povo
Dois anos depois daquela conquista épica, Senna
não tinha na temporada de 1993 um carro que
lhe pudesse fazer tetracampeão do mundo. Perdidos
os motores Honda, Ron Dennis e a McLaren
contariam para aquele ano com motores Ford
HB, versão cliente, com especificações técnicas
piores que a dos fornecidos à emergente Benetton,
de um petulante alemão chamado Michael
Schumacher. Se prestaram atenção no texto, era
a equipe que herdara a estrutura da Toleman e
vinha numa crescente que incomodava os “garagistas”
britânicos e a Ferrari.
Ayrton se incomodava, mas sabia que, com três
títulos no currículo, ainda podia fazer a diferença
se preciso fosse. Na abertura daquele campeonato,
brigara de igual para igual com o velho rival
e ainda desafeto Alain Prost, por 24 voltas,
em Kyalami. Se os deuses do automobilismo ajudassem,
talvez viessem algumas vitórias, quem
sabe...
E elas vieram.
A primeira delas, logo onde? Em Interlagos, 28
de março. Diria o filósofo que “a chuva vem da
represa”, mas daquela vez, se veio dos lados de
Guarapiranga, próxima ao circuito paulistano, ela
veio para valer e em proporções mais bíblicas
que em 1991. Tão bíblicas que os já ensopados
torcedores que assistiam ao sonolento domínio
de Alain Prost naquela oportunidade foram acordados
pela batida de uma Williams aquaplanando
de pneus lisos, qual pombo sem asa, na Minardi
de Christian Fittipaldi.
Caos instaurado, Safety Car na pista, relargada,
pista secando e Senna, faca entre os dentes, veio
de forma alucinada para cima de Damon, sobrenome
Hill, que estava apenas em sua quarta corrida
de F-1 e num carro igual ao de Prost. Aquele
rapaz, que anos mais tarde seria campeão em
nome do próprio pai, tragicamente desaparecido,
não seria páreo para um drible que estetas da
bola como Maradona, Messi, Ronaldo Fenômeno
e Romário assinariam.
Aquele drible levantou Interlagos e Senna, inabalável,
foi de novo vencedor. De novo, também, a
euforia e o delírio da multidão. A invasão de pista.
Senna nos braços do povo. Uma cena histórica.
16
A maior primeira volta da história
Dizer o que de 7 de abril de 1993, na única vez
em que a Fórmula 1 disputou em toda sua história
uma corrida oficial no circuito britânico de Donington
Park? Todo mundo sabe, de cor e salteado,
que naquele domingo, Ayrton Senna trucidou,
humilhou, fez gato e sapato da concorrência e só
não ganhou com uma volta inteira de vantagem
sobre todo mundo porque pelo menos com Damon
Hill a Williams não errou tanto na estratégia
e não fez tantas besteiras e trapalhadas como as
que aconteceram com o velho rival Alain Prost.
Tudo aquilo aconteceu porque aquela primeira
volta é do estilo quem viu, viu. É claro que na chamada
Era Digital, qualquer mortal já viu a cena
à exaustão. Nunca é demais lembrar que tudo
começa num arranque não muito bom de Senna,
mas o piloto brasileiro, de forma endiabrada,
emulando tudo o que aprendera na Grã-Bretanha
nas Fórmulas Ford 1600 e 2000 e também na
F-3, encontrou naquele asfalto molhado – como
não? – uma aderência que nenhum outro piloto
encontraria naquele primeiro giro mágico. Rubens
Barrichello, então na terceira corrida, vindo
de 12º para quarto, talvez?
Mas nada como o que Senna fez diante dos nossos
olhos, suplantando com audácia a Benetton
de Schumacher e se impondo diante da Sauber
de Wendlinger. Em menos de meia volta, já acossava
Hill, que logo cairia na armadilha. A lendária
tomada do Hairpin, câmera montada num ponto
absolutamente privilegiado, mostra Senna, o Senhor
das Pistas, o “Rei da Chuva”, numa manobra
que até hoje Prost procura entender como foi ultrapassado
e, pior, como Ayrton seria tão dominante
e inalcançável da forma como foi naquela
tarde típica dos dias ingleses.
O horroroso troféu recebido no pódio, com a
personagem Sonic dos videogames da Sega, ironicamente
patrocinadora da Williams, não fez jus
à aula de pilotagem que todos presenciamos e
que se tornou o maior momento da carreira de
Ayrton Senna da Silva.
A primeira volta apontada
como melhor da história
conduziu Senna à vitória
no GP da Europa
A temporada de 1993
Por mais que Senna conquistasse títulos incontestáveis
nos anos de 1988, 1990 e 1991 – e estivesse
próximo de outra glória em 1989, nos anos
frutíferos da parceria entre McLaren e Honda -
não é exagero algum dizer que o auge da carreira
do piloto é exatamente no ano anterior à perda
monumental: a temporada de 1993.
Não só pela vitória no Brasil e pelo épico de
Donington, muito menos pela 6ª conquista em
Mônaco, superando a marca de Graham Hill. Mas
pelo conjunto da obra. Com um carro inferior em
relação às Williams, Ayrton liderou o campeonato
até o GP do Canadá, faria outras excelentes
provas, mesmo quando o equipamento não lhe
possibilitava andar ao mesmo nível de Prost e Hill
– e até mesmo de Schumacher – mas os triunfos
no Japão, onde era idolatrado e Austrália,
onde viu Tina Turner lhe dedicar a canção “The
Best”, que parecia feita sob medida para Ayrton
– deram a medida exata do que fora aquele ano
em que, com cinco vitórias e aos 33 anos, com o
vice-campeonato, ele parecia pronto para ser o
maior piloto de toda a sua geração.
Como Jim Clark, outro gênio que partiu de forma
precoce, Senna deixou sempre a impressão
de uma obra inacabada enquanto piloto e muitos
“e se?” sobre sua sequência de carreira. Até
hoje questionamos se Ayrton seria campeão na
Williams, se alcançaria as glórias que Schumacher
obteve na Ferrari ou, até mesmo, se o brasileiro
se consagraria noutros campeonatos fora da F-1.
Desde 1º de maio de 1994, todas as perguntas sobre
o futuro de Ayrton Senna da Silva no automobilismo
perderam qualquer sentido vago de razão.
17
SENNA
30 ANOS
Gênio
também
na mídia
Em era de comunicação hoje vista como
“primitiva”, Ayrton teve habilidade para
lidar com a mídia e trazê-la a seu favor
Rodrigo França
Imagine a cena. Você é um fotógrafo em começo de carreira e um jovem
piloto estrangeiro vê você trabalhando e pergunta: “Você pode fazer as fotos
do meu carro? Preciso enviar material para a imprensa do meu país”. Foi
o que aconteceu com o inglês Keith Sutton, que se tornaria um dos mais
renomados fotógrafos de esporte a motor no mundo. E o jovem piloto? Um
então desconhecido Ayrton Senna da Silva.
A preocupação do brasileiro era justificada. Afinal, de que adiantava ele
estraçalhar recordes e conquistar dezenas de vitórias na Europa se, em uma
época pré-internet, ninguém no Brasil ficasse sabendo? Como justificar o
investimento de milhares de dólares em sua carreira por empresas que queriam
aparecer sendo que nenhuma corrida era transmitida – nesta época,
lembrem-se, também não havia Youtube.
O banco já não existe faz décadas, mas o boné do Nacional é
até hoje um dos mais requisitados pelos fãs do automobilismo
18
Mark Wohlwender/Action Images
Desde a base Ayrton se preocupava com
uma boa exposição de mídia no Brasil
Senna demonstrou habilidade para o lido
com a mídia disponível nos anos 80 e 90
O senso de “relações públicas” sempre esteve
presente em Ayrton Senna. Inclusive ao acatar a
decisão do amigo Chico Serra em usar o sobrenome
Senna da mãe, dona Neyde, ao invés do
Silva, do pai Milton. Nos primeiros anos de sua
carreira na Inglaterra, inclusive, “da Silva” rendeu
vários trocadilhos com suas vitórias no mais tradicional
tempo inglês da velocidade, “Silvastone”.
Ayrton percebeu que Senna seria uma marca
ainda mais forte e diferenciada. E o investimento
em ter um fotógrafo registrando as imagens de
suas vitórias garantiu a sua sequência de carreira
na Europa. Mesmo campeão da Fórmula Ford,
chegou a parar a carreira e voltar ao Brasil e só
conseguiu ter a sequência de sua brilhante trajetória
no automobilismo porque empresas brasileiras
como a Pool Jeans decidiram apostar no
jovem talento.
“Era ele mesmo que trazia na redação os press
releases e as fotos”, relembra Castilho de Andrade,
jornalista responsável pela comunicação
do GP de São Paulo de F-1, que era o editor
de esportes do Estadão e do Jornal da Tarde
nos anos 1980. O investimento em profissionais
de assessoria de imprensa é outro diferencial
de Senna em seu início de carreira, bem como
a lealdade às marcas que o apoiaram desde o
começo.
Mesmo tendo ofertas milionárias para trocar de
“boné”, manteve-se fiel em toda sua vida ao Banco
Nacional. Com o banco tendo sido absorvido
pelo Unibanco e depois Itaú, agora a marca virou
mesmo oficial de Senna.
Na F-1, Senna também sabia usar como ninguém
o poder da imprensa. Mas se engana quem pensa
que ele foi um produto da mídia ou da Rede Globo.
Basta ver a idolatria de fãs do mundo inteiro, do
Japão à Itália, de Portugal até a Austrália, para ver
que seu carisma extrapolou as fronteiras do Brasil.
Na verdade, ao fazer uma pesquisa de três
ano em um mestrado na USP em jornalismo justamente
sobre a relação entre Senna e a mídia
esportiva – que depois se tornou o livro “Ayrton
Senna e a Mídia Esportiva”, da editora AutoMotor,
de Reginaldo Leme –, descobri baseado em muitas
leituras e entrevistas que tal carisma extrapolou
também as fronteiras do esporte.
As entrevistas dele parecem impressionantes
mesmo hoje, 30 anos depois. É como se, intuitivamente,
soubesse que suas palavras seriam
eternas. Que seriam lembradas mesmo depois
daquela corrida ou da próxima temporada. Senna
sabia falar com a câmera como se estivesse
falando com cada um de nós.
Para isso não existe media training que se fabrique
ou que seja artificial. É um talento natural,
como se realmente para ele fosse simples passar
sua mensagem. Lembre-se: ele foi o primeiro piloto
a levantar a bandeira de seu país no carro e
dividir a sua conquista pessoal com uma nação inteira
– justamente quando ela estava triste pela eliminação
na Copa do Mundo de futebol, em 1986.
Senna queria dividir com a gente suas conquistas
e mostrar que, se você sonhar e lutar por este sonho,
um dia você chega lá. O que mostra que ele foi
tão genial fora das pistas quanto pilotando um F-1.
19
SENNA
30 ANOS
O inimigo
mora ao lado
Rivalidade com Alain Prost marcou carreira do
tricampeão em (quase) toda sua trajetória na F-1
Fred Sabino
A rivalidade move o esporte. Mexe com as paixões.
Muhammad Ali x Joe Frazier, John McEnroe
x Björn Borg, Corinthians x Palmeiras, Lakers x
Celtics são alguns dos embates mais acirrados.
No esporte a motor, foram muitas as rivalidades.
Ayrton Senna versus Alain Prost é até hoje a
maior de todas.
De um lado, um francês frio e calculista, que tirava
o máximo do carro sem aparentar isso, tamanha
a suavidade da condução. Do outro, um
brasileiro determinado e arrojado, que buscava o
limite numa tocada espetacular.
Prost chegou à Fórmula 1 em 1980, pela McLaren,
foi para a Renault em busca de ser o primeiro
francês campeão mundial. Fracassou e voltou
para a McLaren em 1984. Naquele mesmo ano,
Senna estreou pela modesta Toleman: “É um carro
pra subir no pódio”.
O primeiro duelo não tardaria a acontecer. E não
foi na F-1… Quando Prost buscou Senna no aeroporto
de Frankfurt em maio de 1984 para dar-lhe
uma carona a Nürburgring, onde seria disputada
uma corrida de celebridades para o lançamento
da Mercedes 190E, o francês encontrou um sujeito
muito tímido, introspectivo.
Na pista a timidez ficou de lado. Assim como o
carro de Prost, após contato com Senna na primeira
volta. Ayrton não só superou Alain como
outros campeões como Niki Lauda, James Hunt,
Alan Jones e Keke Rosberg para vencer.
Um mês depois, Senna deu show na chuva de
Mônaco. Arrancou de 13º para segundo passando
os adversários um a um. Era questão de tempo
deixar para trás o líder Prost, que tinha problemas
de freios. O pé d’água era violento. Tão violento
que o diretor de prova Jacky Ickx, ironicamente
Os episódios que decidiram no Japão os títulos mundiais de 1989 e 1990 apimentaram a relação de
20
No último ano de Prost na F-1 a relação
já parecia ser de novo de descontração
O primeiro pódio compartilhado, numa
corrida de desfecho atípico e até polêmico
chamado de Rei da Chuva quando pilotava, encerrou
a corrida antes que alguém se machucasse.
Como ainda não tinham sido superados os
três quartos de prova, a pontuação foi dada pela
metade. Vitória do francês, com o brasileiro em
segundo.
Bom para Prost, só que não. Se a prova tivesse
seguido, e ele ficado com os seis pontos de um
eventual segundo lugar em vez dos 4,5 da vitória,
teria batido Niki Lauda no fim da temporada,
que terminou com diferença de meio ponto entre
os dois. Para Ayrton, mesmo com o segundo lugar,
tinha sido ótimo quase vencer. Ele saiu bem
maior de Monte Carlo.
Em 1985, com Senna na Lotus, os duelos foram
frequentes. Em Imola e Silverstone, eles brigaram
freada a freada pela vitória. Nas duas vezes, o
brasileiro ficou sem gasolina por falha na leitura
de sensores, que elevaram o consumo. Prost
venceu ambas na pista, sendo desclassificado em
Imola por estar abaixo do peso mínimo. Mas no
fim do ano, finalmente se tornou campeão.
Senna, na Lotus, esteve sempre em desvantagem
técnica contra Prost numa McLaren mais eficiente.
Nas classificações, não havia o problema
de consumo do motor Renault – então, enfileirava
poles. Nas corridas, Prost tinha um conjunto mais
confiável.
Em 1987, a Lotus pegou os motores Honda, mas
o chassi com suspensão ativa tinha problemas. E
a McLaren com motores TAG-Porsche já não era
dominante. Senna e Prost não tiveram a mínima
chance contra a Williams-Honda de Nelson Piquet
e Nigel Mansell.
Naquele ano, Ayrton construiu uma relação sólida
com os engenheiros e mecânicos da Honda.
Tão sólida que costurou o acordo da montadora
com a McLaren, para onde ele também queria ir.
Deu certo. Estava montado o cenário para o embate
direto entre Senna e Prost. Em carros iguais.
Prometia ser histórico. E foi.
Desde o começo de 1988 ficou claro o DNA de
ambos. Senna era o ás das classificações. Prost
justificava o apelido de Professor nas corridas.
Mas nos bastidores jogava um verde: “Não consigo
ser rápido como Ayrton nas classificações.
Talvez eu esteja ficando velho”.
rivalidade entre Ayrton Senna e Alain Prost
21
SENNA
30 ANOS
A rivalidade entre Ayrton e Alain é tida até os dias de hoje como a mais intensa da história
Num campeonato em que só os dois tinham
carro para brigar pelo título, quem vencesse mais
corridas seria o campeão. E deu Senna, por 8
a 7. O título veio numa exibição antológica em
Suzuka, onde caiu para 14º na largada e venceu
passando Prost.
Mas a harmonia inicial do “Time dos Sonhos” da
McLaren começou a ser quebrada em 25 de setembro
de 1988. Após ser espremido na grama
por Prost na largada, Senna deu o troco na volta
seguinte a 300 km/h, rente ao muro dos boxes
do Estoril. “Vê-los a poucos centímetros das nossas
cabeças foi o momento mais emocionante
da temporada”, ironizou Peter Warr, ex-chefe de
Senna na Lotus, após campeonato medíocre de
sua equipe.
Prost estava desmoralizado não só dentro, mas
também fora da pista. Os mecânicos e engenheiros
da Honda amavam Senna. O francês desconfiava
que o rival era favorecido na escolha dos
motores, que passaram a ser sorteados.
Em Imola, no dia 25 de abril de 1989, o caldo entornou.
Os dois tinham um pacto de não-agressão
na primeira volta. Quando Gerhard Berger
bateu na curva Tamburello, e a Ferrari virou uma
bola de fogo, houve uma segunda largada. E Sen-
na, após perder a ponta, deu o troco duas curvas
depois. Prost ficou furioso. Senna alegou que o
acordo não valia para uma segunda largada.
Três meses depois, Prost anunciou a ida para
a Ferrari. Mas ainda queria ganhar um título em
cima de Senna na McLaren. Num misto de falhas
mecânicas e erros do brasileiro, o francês abriu
boa vantagem. Mas o clima seguia péssimo. “Esse
francês não é fácil e quer briga”, dizia Senna.
O brasileiro precisava de três vitórias nas últimas
três corridas para ser bicampeão. A Prost bastava
impedir sua vitória em uma das provas. E assim fez
em Suzuka, ao jogar o carro contra o do adversário
na chicane. Senna ainda voltou, venceu na pista,
mas foi excluído por cortar a chicane. A punição
teve as digitais do então presidente da Federação
Internacional de Automobilismo, Jean Marie Balestre,
um ex-agente da SS francesa e amigo de Prost.
Senna ameaçou deixar a F-1, mas foi convencido
pelo chefe da McLaren, Ron Dennis, a rever sua
posição. E, em 1990, fez justiça com as próprias
mãos. Ou melhor, com os pés. “Eu me confundi,
queria apertar o pedal do freio, mas apertei
o do acelerador…”, ironizou, após atropelar Prost
na largada da penúltima corrida do ano, também
em Suzuka, para levar o bi.
22
Dois títulos decididos com manobras antidesportivas,
e os dois rivais com a imagem arranhada. Para
1991, esperava-se um novo duelo Senna x Prost,
mas com o temor de um novo acidente decidindo
o título. Nada disso. Senna levou o tri ao superar
Nigel Mansell, enquanto Prost naufragou numa das
históricas crises internas da Ferrari, a ponto de ser
demitido antes da última corrida do ano.
Com Prost abatido, o que poderia parar Senna
em 1992? A resposta era um carro cheio de eletrônica
embarcada com um Mansell sedento por
um título. Pior nem foi isso: nos bastidores, Prost
articulou a ida para a poderosa Williams em 93. E
mais: com um veto explícito a Senna, que o chamou
de “covarde”.
Se o tetra do francês seria inevitável, o brasileiro
deixou marcas em seu capacete com algumas das
atuações mais antológicas da carreira. Na vitória
em Donington Park, por exemplo, passou quatro
carros, incluindo o do próprio Prost, para tomar
a ponta na primeira volta. Na coletiva, quando o
francês reclamou da chuva, do carro, dos pit stops,
Senna ironizou: “Troca de carro comigo! Pinta o
seu carro de vermelho e branco e dá para mim,
que eu pinto o meu de azul, amarelo e branco”.
No fim de 93 Frank Williams finalmente assinou
com Senna e aceitou pagar o salário milionário de
Prost em 94 para se livrar dele. Sem que o francês
tivesse que andar nenhum metro na pista pela equipe.
Na Austrália, onde Prost se despediu da F-1 de
Senna se despediu da McLaren, o brasileiro ergueu
a bandeira branca da paz e o braço do francês.
Ironicamente, parece que para Ayrton houve
uma quebra. Sem o maior rival, perdia-se o referencial,
o contraponto. Nos meses seguintes até
o fatídico 1º de maio, os dois conversaram por
telefone longas vezes. E no dia do acidente, enquanto
pilotava a Williams, o brasileiro disse pelo
rádio enquanto descrevia a volta para a TV francesa
TF-1: “Alain, sinto a sua falta”.
Quatro dias depois, Prost era um dos pilotos que
carregavam o caixão de Ayrton no funeral do tricampeão
no Cemitério do Morumbi, em São Paulo.
O começo da
convivência na
então imbatível
McLaren foi
saudável. Bastou
um acordo não
cumprido na
largada em Ímola
para o clima
se tornar
insustentável
23
SENNA
30 ANOS
Quase a Indy?
Insatisfeito com a McLaren de 1992, Ayrton
aceitou o convite de Emerson e foi testar a Penske,
que venceria oito corridas no ano seguinte
Jackson Lincoln Lopes
Reprodução/Band
A temporada de 1992 da Fórmula 1 terminou
junto com uma das parcerias mais vitoriosas da
história da categoria – a da McLaren com a Honda.
Em cinco temporadas do conjunto, o pacote
rendeu quatro títulos mundiais de pilotos e de
construtores. O título só não veio exatamente no
último ano, quando Nigel Mansell foi campeão
com a Williams “de outro planeta”, segundo as
palavras de Ayrton Senna. O inglês assegurou a
taça e anunciou que estava se debandando para
a Fórmula Indy, num movimento que estremeceu
os bastidores das corridas.
O fim de 1992 reservava outro barulho estrondoso
dentro e fora das pistas: o flerte de Senna com
a Indy, tendo inclusive testado o carro da Penske
num pequeno circuito do Arizona. Emerson Fittipaldi
era um dos grandes nomes da categoria à
época e detinha os direitos de transmissão para o
Brasil. As corridas estavam sendo transferidas da
Rede Bandeirantes para a TV Manchete e era de
total interesse do campeão que um nome como
o de Senna, principal ídolo do esporte brasileiro,
fizesse a viagem de volta à América e estivesse
no grid da Indy.
O patrocinador principal da Penske na Indy era
o mesmo da McLaren na F-1, a Marlboro. Também
em comum surgia a Goodyear como fornecedora
dos pneus nas duas estruturas. Senna não vinha
nem um pouco satisfeito com o desempenho de
sua equipe na F-1 e sofria por antecipação com a
incógnita em torno dos motores Ford que McLaren
utilizaria a partir de 1993. Somando a isso a
fase dominante da Williams, viu no teste uma
oportunidade de, no mínimo, valorizar seu passe
diante da FIA e da F-1, que acabava de perder
Mansell para a série de raiz americana.
Assim, o dia 20 de dezembro de 1992 entrou
para a história como data do primeiro – seria o
único – teste de Ayrton Senna com um Fórmula
Indy. O Firebird International Raceway, nos arredores
de Phoenix, era um dos pouquíssimos circuitos
que não estavam cobertos pela neve do
Emerson costurou a realização de um teste com Ayrton na Indy. Poderia ter dado certo...
24
Ayrton Senna no cockpit do Penske para o teste no Firebird, que duraria breves 27 voltas
inverno norte-americano. O treino aconteceu
com o Penske PC21, modelo com que Fittipaldi,
Rick Mears e Paul Tracy haviam disputado a Indy
naquele ano. Foram 27 voltas com o Penske-Chevrolet,
a mais rápida em 49s09, meio segundo
mais rápido que Fittipaldi no mesmo dia.
O flerte sequer virou namoro. Em janeiro a
Penske anunciou Fittipaldi e Tracy como dupla
para 1993, Mears se aposentou e Senna ficou
na F-1, impondo a renovação do contrato com
a McLaren corrida após corrida, em tese tendo
como condição o rendimento dos motores Ford
de geração inferior à dos que empurravam os
Benetton de Michael Schumacher e Riccardo
Patrese. Em seu último ano pelo time de Ron
Dennis o brasileiro venceu cinco GPs e foi vice-
-campeão. Na Indy, a Penske venceu oito corridas,
inclusive as 500 Milhas de Indianápolis, com
Fittipaldi.
Os fãs brasileiros acompanharam atentos, pela TV, a possível ida de Senna para a Indy
25
SENNA
30 ANOS
O início, o fim
e o meio
Equipe inglesa marcou trajetória do piloto brasileiro,
apesar de união ter durado apenas três largadas
Erick Gabriel
A carreira de Ayrton Senna na Fórmula
1 é fortemente ligada à McLaren, dentre
vários outros motivos pelos três títulos
que conquistou no Japão e pelas duas
vitórias no GP do Brasil em Interlagos.
Mas o destino reservou que sua trágica
morte fosse a bordo de uma Williams,
equipe que havia dominado a categoria
após o período vitorioso da McLaren
e que sempre esteve acompanhando a
história do brasileiro.
Foi na Williams que Senna teve sua
primeira oportunidade na F-1. No dia 19
de julho de 1983, ele testou um carro do
time no circuito de Donington Park, que
10 anos depois veria uma das maiores
atuações de um piloto na F-1. Relatos
dos que presenciaram o teste dizem
que o então novato fez tempos de volta
melhores que pilotos regulares da categoria,
dando seu cartão de visitas de
maneira consistente, sob os olhares de
Frank Williams. Senna ainda faria testes
com a Brabham, McLaren e também
com a Toleman, time que defendeu em
sua primeira temporada.
A Williams sempre foi uma pedra no
sapato de Senna, desde a Lotus e especialmente
na McLaren. Ninguém esquece
a ultrapassagem que sofreu a bordo
de sua Lotus, com a clássica pintura
preta e dourada, de Nelson Piquet, com
a Williams, no GP da Hungria de 1986.
Aquela foi considerada uma das manobras
mais impressionantes da história
da F-1, evidenciando a genialidade dos
dois brasileiros.
Ao longo da carreira, momentos difíceis com a
Williams, como a pressão de Mansell em Mônaco
26
LAT Images
Frank Williams parecia não acreditar na façanha do jovem de 23 anos em Donington Park
Em 1991, McLaren e Williams, por conta de Senna
e Nigel Mansell, travaram uma das batalhas
mais intensas da história, com o FW14 dando
demonstrações que teria condições de bater o
MP4/6 se não fosse a genialidade do brasileiro. O
título, em Suzuka, veio quando o inglês “passou
reto”, como retratou o narrador Galvão Bueno, e
abandonou. O tricampeonato do brasileiro estava
matematicamente garantido.
Em 1992 não teve jeito. A Williams chocou
o mundo da F-1 ao trazer um carro muito mais
competitivo que os da concorrência, com a novidade
da suspensão ativa. Nos noticiários da época,
a explicação para o alto desempenho da equipe
com a demonstração de como agia o sistema,
com uma “dança” do carro nos boxes do time. O
dispositivo foi banido pela F-1 após esta meteórica
aparição. Mansell venceu aquele campeonato
com extrema facilidade.
Julian Jakobi, ex-agente de Senna, admitiu ao
podcast “Beyond the Grid” que o piloto teve
em mãos uma possibilidade de se mudar para a
Williams em 1992, e que só não se transferiu pela
lealdade que tinha à Honda. A Williams também
venceria o campeonato seguinte, dando a Alain
Prost o tetracampeonato, também com facilidade,
mas sem tanta tranquilidade como na temporada
anterior. Senna foi vice-campeão com
cinco triunfos, sendo na Austrália o último de
sua vida.
Mike Hewitt/Getty Images
Os carros da Williams marcaram os primeiros e os últimos momentos de Ayrton Senna na F-1
27
SENNA
30 ANOS
Ainda sob influência dos Jogos Olímpicos
de Barcelona em 1992, a F-1 vivia clima de
“Dream Team” no paddock. Tudo porque a
Williams, que destruiu a concorrência nas
temporadas anteriores, finalmente trazia Ayrton
Senna. Mas o carro projetado por Adrian
Newey trazia alguns problemas, que iam desde
a imprevisibilidade ao guiar, o volante menor
e a posição mais confinada do cockpit até
a questão aerodinâmica do carro, que perdia
rendimento em pistas mais onduladas.
Nos GPs do Brasil, do Pacífico e de San Marino,
Senna conquistou a pole position, feito
que é atribuído ao “braço”. Quis o destino que
os problemas aerodinâmicos do FW16 fossem
resolvidos apenas após a morte do brasileiro,
com Damon Hill conseguindo disputar o título
com Michael Schumacher até a última corrida,
em Adelaide.
Além de 1994, Hill foi vice de Schumacher
em 1995 e campeão em 1996. Jacques Villeneuve
conquistou a coroa da F-1 em 1997 com
a Williams. Somando os potenciais da equipe
britânica, mais o talento de Senna, daria facilmente
para imaginar o brasileiro no topo do
mundo nessas outras quatro ocasiões, mesmo
com uma estrela em ascensão como Schumacher
na época. Alguém duvida que isso teria
mudado drasticamente a história da F-1?
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SENNA
30 ANOS
A lista negra
Ninguém gosta de falar dos erros e azares de Senna, mas criamos
coragem e separamos um top 20 de grandes enrascadas
Bruno Vicaria
@baudovicaria
Para o fã de automobilismo, Ayrton Senna é um
dos três maiores de todos os tempos, se não for
o primeirão da lista. Para o fã brasileiro, ele é um
deus em sua máxima definição. Nos 30 anos que
marcam sua passagem, em um dos momentos
mais tristes do país e mais chocantes do esporte
em geral naquele maio de 1994, muito se falou
sobre o tricampeão de F-1 de 1988, 1990 e 1991.
Difícil é achar algo diferente para falar ou listar.
Passadas três décadas, o assunto foi mais que
dissecado e o que mais vemos por aí são os mesmos
materiais sendo repetidos e recondicionados
incansavelmente. São muito raras, quase inexistentes,
as vezes em que se aborda algo inédito.
Isso sem contar as teorias da conspiração que
surgem por aí - a mais absurda de todas elas é
a de que Senna teria sido “assassinado” por um
sniper (!), que o acertou com precisão milimétrica
pouco antes de ele entrar na Tamburello. Mais
surpreendente ainda, há quem acredite em balelas
como essa.
Esportivamente, Senna pode ser perfeito para
quem não o conhece e fez uma rápida pesquisa
no Google. Mas, para a surpresa de muitos, o brasileiro
foi uma pessoa normal, que errou bastante
e viveu muitos momentos “humanos” na carreira.
Coube a nós elencar 20 situações vividas por ele
nos dez anos em que esteve na F-1 para relembrarmos
que até os deuses tinham e têm seus
dias para esquecer.
Deixamos de fora os dois lances mais óbvios e
conhecidos, os de Suzuka em 1989 e 1990, que,
por si só, mereceriam uma edição inteira, tamanha
a variedade de opiniões. Tem gente que acha
que Senna foi o culpado dos dois lances; tem
gente que divide a culpa de 1989 entre os dois
e há até quem considera a batida um lance normal
de corrida, mas ninguém isenta o brasileiro
do episódio de 1990. Nesse caso não tem nem o
que dizer.
E nossa intenção com essa “capivara” não é
diminuir ninguém. Pelo contrário, é contar uma
parte da história que ninguém quis ou pensou
em contar. E, em sua maioria, os lances listados
aqui são muito interessantes, alguns polêmicos
(foi erro ou não?) e podem ser encontrados facilmente
no YouTube. Algo bem na linha da trend
do Iceberg, que é nada mais que uma lista dos
momentos mais famosos aos mais obscuros. Um
debate diferente e interessante em cima de um
tema bem desgastado.
Vamos fazer assim: a gente pesquisa, elenca e
descreve, você lê, vê as imagens e tira a conclusão
em cima de cada uma, fechado? Mas uma
coisa é certa: você não imaginava que sairia tanta
coisa desse baú!
30
1984, GP dos EUA, Dallas
Começamos com um erro que não foi um
erro. Explicamos; ou melhor, Pat Symonds
(aquele do lance do Nelsinho Piquet em
Cingapura), que era membro da Toleman,
equipe de Senna na época, conta: “Durante
a prova, ele acertou o muro interno de uma
das curvas e, ao chegar nos boxes, ele tinha
certeza que o bloco de concreto que servia
de muro tinha mudado de lugar. Após
a prova, ele nos levou para ver a curva e foi
comprovado que o muro realmente mudou
de lugar por alguns milímetros após alguém
ter dado uma ralada nele. Isso mostra o
quão precisa era sua pilotagem”.
1985, GP dos EUA, Detroit
O muro dos campeões original não fica em Montreal, e
sim em Detroit. Ele ficava na curva 2, que era uma quina
de 90 graus e era rodeado de pneus. Foi ali que três
campeões abandonaram a prova exatamente do mesmo
jeito: pregados na barreira. Foram eles: Alain Prost, Nigel
Mansell e... Ayrton Senna, que foi o último dos três a bater
ao se atrapalhar com a Ferrari de Michele Alboreto. Como
a pista saiu do calendário, Montreal herdou o apelido indigesto
após Michael Schumacher, Damon Hill e Jacques
Villeneuve estamparem o muro da curva final – Ricardo
Zonta também o fez, na mesma corrida.
1985, GP da Australia, Adelaide
Depois de fazer uma pole espetacular, Senna patinou na largada, perdeu a ponta para Keke Rosberg
e os dois iniciaram uma briga feroz, que havia começado no GP da Inglaterra daquele ano após uma
fechada do brasileiro. Na busca ao finlandês, Senna começou a abanar e escapar nas curvas, atingindo
o rival na última curva após perder o ponto de freada e quebrar o bico. O brasileiro insistiu na pista,
andando mais que o carro, e escapou na mesma curva, terminando de quebrar a asa. Voltas depois, o
motor de seu Lotus cansou de brincar.
31
SENNA
30 ANOS
1986, GP da França,
Paul Ricard
Esta é polêmica pois uns consideram erro,
outros não. Foi a pancada mais forte de todas
essas que registramos. Ao percorrer a longa
reta Mistral, o Renault da Lotus de Senna começou
a soltar óleo e uma fumaça visível a
olho nu. Não se importando com isso, o brasileiro,
que liderava, fincou o pé no acelerador
e, ao entrar na curva seguinte, a mais de 300
km/h, o óleo, claro, foi derramado em cima do
pneu e ele virou passageiro. Uns dizem que
faltou prudência. A ele, sabemos, nada importava
além do primeiro lugar.
1987, GP da Áustria,
Österreichring
Esse é um lance que não foi registrado em imagens
– existe só a cena do brasileiro entrando nos
boxes para a troca do bico. Senna já estava mordido
com Michele Alboreto após perder um duelo espetacular
que ambos tiveram corridas antes, em Imola,
que vale a pena ser visto na internet. Na verdade, os
dois já tinham um histórico de faíscas. Na Áustria,
ao tentar passar na marra, Senna teve a porta fechada
e sua asa dianteira foi para o espaço. No fim, foi
o quinto, a duas voltas do vencedor Nigel Mansell.
1987, GP da Bélgica,
Spa-Francorchamps
Esse é lance bom e polêmico para discutir.
Senna defendia a liderança, mas
Mansell saiu da Pouhon mais rápido
e tentou por fora na curva seguinte,
a Fagnes. Pela câmera traseira, a única
que existe, as imagens não ajudam
muito Senna: Mansell entrou na curva
com um carro e meio à frente do brasileiro,
que, para piorar, escorregou um
pouco, o que facilitou o toque. Mas só
esse ângulo talvez não seja o suficiente
para fazer um julgamento melhor. Se
pudesse escolher mais uma câmera, a
gente iria querer ela nos boxes da Lotus
na hora que os dois quase trocaram
sopapos!
32
1988, GP do Brasil, Jacarepaguá
Esse foi uma falha bem boba, mas que custou a corrida toda e criou a lenda em torno do GP do Brasil
para Senna: ele simplesmente deixou o carro apagar após a volta de aquecimento. E, ao invés de ligar
e sair, trocou para o reserva, o que, naquele momento, era proibido. Resultado: uma corrida de recuperação
espetacular que não valeu nada, pois acabou desclassificado.
1988, GP de Mônaco,
Monte Carlo
Esse é o acidente folclórico onde ele bateu
sozinho estando quase um minuto à frente de
Alain Prost a 12 voltas da bandeirada e voltou
direto para seu apartamento, sendo encontrado
pela governanta se lamentando enquanto
ela achava que ele estava correndo. Foi um
momento transformador e situação parecida
nunca mais aconteceu. Mas o ano de 1988 ainda
estava longe de acabar.
1988, GP da Itália, Monza
Essa era a corrida da redenção. Por conta do regulamento
que previa descarte de cinco resultados, se Senna
vencesse na Itália, seria campeão com quatro corridas de
antecipação. Ele fez a pole e liderava com considerável
vantagem até a penúltima volta, quando resolveu aplicar
uma volta na primeira chicane em cima do retardatário e
estreante Jean Louis Schlesser, que substituía um Nigel
Mansell com catapora. Não havia espaço para os dois e o
choque foi inevitável, com Senna abandonando a prova e
iniciando uma má fase que foi encerrada em Suzuka. Se
ele tivesse esperado mais duas curvas… E, graças a isso,
a Ferrari fez dobradinha em casa duas semanas após a
morte de Enzo Ferrari.
33
SENNA
30 ANOS
1989, GP da Inglaterra,
Silverstone
Senna liderava com pouca vantagem para
Prost e Mansell e ambos os pilotos da McLaren
não estavam se dando muito bem com
a nova caixa de câmbio do time, naquela
época operada de forma manual. Ao tentar
encaixar a terceira marcha na Becketts, ele
perdeu o controle, rodou e atolou na brita,
abandonando. Prost, com o mesmo problema,
venceu.
1989,
GP da Austrália,
Adelaide
Caía um temporal em Adelaide,
mas Senna estava cego de raiva.
Enquanto alguns não queriam nem
o começo da prova, ele não estava
nem aí. Havia sido desclassificado
de Suzuka e estava em pé de guerra
com a FIA, então podia chover
canivete que ele estaria ali, alinhado
no grid, irredutível. A corrida
rolou, Senna já havia escapado de
uma rodada espetacular, girando
cinco vezes no asfalto molhado.
No fim, sem enxergar, atropelou o
Brabham de Martin Brundle, abandonando
a prova.
34
1990, GP da Inglaterra, Silverstone
Um raro erro enquanto liderava: na veloz curva Copse –
aquela onde Max Verstappen bateu em 2021 depois do enrosco
com Lewis Hamilton –, ele deixou o carro escorregar
demais, subir na zebra alta da saída da curva e rodar em alta
velocidade, caindo para terceiro, posição que ocupou até a
bandeirada.
1990, GP da Austrália, Adelaide
Já bicampeão do mundo, Senna perdeu o ponto de freada
na curva 13, quando liderava, bateu de frente e por lá ficou.
Simples assim.
1991, GP do México,
Cidade do México
Dias antes, Senna havia sofrido um acidente de
jet-ski e levado uns pontos na cuca. Na classificação,
domando um carro arisco, entrou com
tudo na Peraltada, famosa curva final, que era
levemente inclinada, e o McLaren teve uma instabilidade
dianteira por conta das ondulações.
Ao tentar controlar, Senna rodou e capotou, num
raro momento de azar em sua carreira.
1992, GP do México,
Cidade do México
Mais um lance que entra para a categoria
dos azares, pois também teve a ver com
uma ondulação na pista que gerou uma
situação parecida com a do ano anterior.
A diferença é que não tinha brita onde ele
escapou: o carro não catapultou, mas bateu
forte e seco no muro, com Senna precisando
de ajuda médica e ficando dolorido
por uns bons dias.
1992, GP da Espanha,
Barcelona
Um dos poucos erros cometidos por Senna na
chuva em sua carreira. A água era tanta que nem
o maior de todos conseguiu controlar seu carro no
aguaceiro, rodou e abandonou. A sorte dele é que
a corrida seguinte foi em Mônaco e ninguém mais
lembrou desse momento.
1992, GP da Australia,
Adelaide
De todos os momentos da lista, esse foi o mais besta.
Em uma situação parecida com a vivida com Rosberg
em 1985, Senna simplesmente acertou Mansell
antes da última curva e tirou os dois da prova.
35
SENNA
30 ANOS
1993, GP de San Marino,
Imola
Correndo com contrato válido por etapa, Senna
chegou a Imola em cima da hora, após a vitória
gloriosa no Brasil e fazendo charme para ganhar
mais dinheiro da McLaren, e rodou duas vezes na
classificação, sendo que a segunda rendeu um
choque no guard-rail.
1993, GP da Itália,
Monza
Essa corrida viu um combo de
erros. O primeiro na largada, se
enroscando com Damon Hill, e,
voltas depois, atropelando a Ligier
de Martin Brundle, tirando
ambos da prova.
1994, GP do Brasil,
Interlagos
Na tentativa de chegar em Michael
Schumacher após ter sido ultrapassado
nos boxes (hoje sabemos que
a Benetton trapaceou no abastecimento
ao não usar um filtro obrigatório
na mangueira...), Senna tentou
andar mais que o carro, mas não
deu certo e ele cometeu um raro
erro pilotando sozinho na Junção,
encerrando essa lista.
36
37
FORMULA 1
Charles Leclerc reagiu tanto
no ambiente interno da Ferrari
quanto no campeonato,
alcançando a vice-liderança
38
Está valendo
o ingresso!
Turbilhão de acontecimentos dentro e
fora da pista espanta toda a chatice que
marcou as duas últimas temporadas
Bruno Vicaria
Pirelli Media
39
Tem acontecido de tudo. Leclerc e Norris desbancaram o tricampeão em dois GPs seguidos
Só o que aconteceu no primeiro semestre de 2024
da Fórmula 1 já valeu pelas duas últimas temporadas
completas. E o Mundial está longe de acabar.
Alguns mistérios importantes já acabaram. Yuki
Tsunoda teve sua renovação anunciada com a Racing
Bulls, tal qual Sergio Pérez com a Red Bull.
Nico Hulkenberg vai para a Kick Sauber e Alex Albon
prorrogou seu acordo com a Williams. Restam
saber os destinos de Carlos Sainz, Daniel Ricciardo,
Logan Sargeant e, também, quem será o
titular do segundo carro da Mercedes, que pode
ser ocupado no ano que vem pelo jovem italiano
Andrea Kimi Antonelli.
Para selar esta agitada primeira metade de
temporada, o novo regulamento para a temporada
2026 foi anunciado com mudanças
no tamanho dos carros, na parte aerodinâmica,
nos auxílios de pilotagem – DRS e botão
de ultrapassagem – e nos motores, entre outros
detalhes. Mudanças que ainda não estão
100% aprovadas por todos os envolvidos, mas
que representam mais um passo importante na
evolução da F-1.
Lógico que até o fim do ano teremos muitas
vitórias e provavelmente mais um título de Max
Verstappen, mas a gente não vai ligar para isso
se o segundo semestre for tão divertido quanto
o primeiro! O domínio pode ainda estar nas mãos
do holandês da Red Bull, mas a coisa está bem
mais democrática dentro da pista e, fora dela, o
barulho que está sendo feito é bem maior que os
dos carros com mudanças bombásticas e confusões
homéricas.
Uma primeira olhada nos resultados das primeiras
provas do ano evidencia, logo de cara, algo
bem diferente dos últimos dois: já são quatro
vencedores diferentes até o momento – Lando
Norris, Charles Leclerc, Carlos Sainz e o próprio
Verstappen. Uma mudança muito bem-vinda
para os promotores da categoria, que já estavam
vendo uma queda no crescimento de popularidade
com o domínio da Red Bull.
O mais legal disso tudo é que as vitórias que
não foram do holandês estavam repletas de histórias
importantes por trás. Sem vaga para o ano
que vem, Sainz foi forçado a ficar de fora do GP
da Arábia Saudita em cima da hora por conta de
uma apendicite aguda. No GP seguinte, em Melbourne,
o espanhol liderou a dobradinha da Ferrari
após quebra de Max.
40
Nico Hulkenberg deixa de fazer figuração com a Haas e está de saída para a Audi-Sauber
Verstappen abriu boa vantagem na fase inicial da temporada. Será suficiente para o tetra?
41
Campeão de simpatia, o japonês Tsunoda está
garantido por mais um ano na Racing Bulls
Já a conquista de Norris no GP de Miami veio para encerrar um jejum
e uma pressão que só aumentava em cima do jovem inglês, ainda mais
com a chegada de Oscar Piastri à McLaren com direito a vitória em uma
corrida sprint no ano passado. Lando enterrou a estatística de ser o piloto
com mais pódios sem vitórias na F-1 (15) após 110 GPs disputados, 952
dias depois de perder uma vitória certa na Rússia, em 2021.
Por fim, o triunfo de Charles Leclerc em Mônaco, sua terra natal, além
de ter uma enorme carga pessoal e intimista, tornou-o o primeiro monegasco
a vencer o GP desde que a F-1 foi criada, em 1950. Mais: um representante
da casa não triunfava diante da família real há 74 anos - o que
explica a emoção do Principe Albert no pódio.
O que explica tantas vitórias diferentes? O nosso próximo ponto: Adrian
Newey, que já anunciou sua saída da Red Bull ao fim do ano, está cada
vez mais distante do projeto. Com isso, alguns problemas começaram a
aparecer, como na Austrália, ou o carro não rendeu como o esperado,
caso de Mônaco, de onde Verstappen sacou um mirrado sexto lugar. Já
em Miami, quando Max foi segundo para Norris, houve mais mérito da
McLaren do que uma falha da concorrente.
A saída de Newey divide os holofotes com a transferência bombástica
de Lewis Hamilton para a Ferrari. O dia do anúncio da mudança vem
sendo o ponto alto de mais um ano difícil para o heptacampeão, que
não consegue render e vê seu companheiro George Russell somar pole
e pódio, como no Canadá. Nem seu estilo marcante de se vestir chama
atenção como antes.
Monotonia, por sua vez, é algo que está longe de acontecer na equipe
Alpine. Além de um carro mal concebido, que provocou grandes mudanças
internas após as primeiras corridas desastrosas, seus pilotos, já
desafetos antes da F-1, não conseguiram mais segurar a emoção. Entre
outras faíscas, Pierre Gasly e Esteban Ocon tiveram como ponto alto da
rixa um acidente que poderia ter tido graves proporções em Mônaco, o
que fez a equipe francesa anunciar que não renovará com Ocon para o
ano que vem.
42
O desinteresse do anúncio precoce
de mudança de equipe pesa sobre
os ombros de Lewis Hamilton
43
44
Na etapa de pintura especial em
homenagem a Ayrton Senna,
Oscar Piastri levou a McLaren
ao pódio em Mônaco
Sainz, apesar do bom trabalho na Ferrari,
não tem emprego garantido para 2025
Nada como um bom empresário, não é?
Pérez renovou com a Red Bull...
Outra guerra interessante de destacar acontece
fora das pistas entre as equipes e a Andretti. O
time norte-americano liderado por Michael Andretti
– que nunca foi bem tratado na F-1 – viu seu
pedido de ingressar no campeonato aprovado
pela FIA, mas reprovado pela própria categoria,
com a desrespeitosa desculpa de que a Andretti
“não agregaria valor” ao campeonato.
Isso forçou até a intervenção do Congresso dos
EUA, que solicitou uma investigação sobre o assunto.
Lembremos sempre que a F-1 agora é de
propriedade de um grupo norte-americano, a Liberty
Media. Essa guerra, que visa a estreia da
equipe na temporada 2026, está longe do fim.
Na parte da dança dos pilotos, além de Hamilton,
existem outras movimentações muito interessantes.
A vaga do heptacampeão está praticamente
garantida nas mãos do italiano sensação Andrea
Kimi Antonelli. Sem espaço na Ferrari, Sainz briga
pela vaga de Logan Sargeant na Williams, após a
Audi-Sauber surpreender ao anunciar o inoxidável
Nico Hulkenberg. A Haas, seu time atual, deve
trocar os dois pilotos, com Oliver Bearman já
confirmado e podendo ter como vizinho de box
o dispensado Ocon. A vaga deixada pelo francês
na Alpine é o espaço do momento. A vaga tende
a ser ainda mais valorizada se o time realmente
confirmar o rumor do retorno de Flavio Briatore.
Com tudo isso que está acontecendo, a gente
não queria era estar na pele de quem produz e
edita a série “Drive to Survive” para a Netflix. Se
depender do andamento das coisas, para contar
tudo o que vai acontecer até o fim do ano, vão
precisar lançar uma temporada dupla!
Definição indigesta: a Alpine já avisou que
o contrato de Ocon não será renovado
A vaga de Sargeant na Williams começa a
parecer bom negócio para um grupo grande
45
RUMO A F-1
Festa dos
desconhecidos
Em temporada que destaca o equilíbrio, novos expoentes ditam o
ritmo na Fórmula 2 e italianos dominam topo da tabela na Fórmula 3
Bruno Vicaria
Principal porta de acesso à Fórmula 1, mesmo
essas portas estando fechadas para a maioria dos
pilotos, a Fórmula 2 vem apresentando uma ótima
temporada. Um dos pontos mais altos: os então
considerados favoritos estão comendo na mão
dos desconhecidos, mas não menos experientes.
Foram oito vencedores diferentes em dez corridas
realizadas. Não é só isso: dos 22 pilotos do
grid, 14 já subiram ao pódio em algum momento.
O mais interessante de tudo isso é o fato do líder
do primeiro terço da temporada, o estoniano
Paul Aron, da equipe Hitech, não ter triunfado nenhuma
vez neste ano.
O desconhecido piloto de 20 anos, em sua primeira
temporada completa na categoria, vale-se
da regularidade, com cinco pódios em dez corridas
e 80 pontos, somente dois à frente do francês
de nome árabe Isack Hadjar, maior vencedor
com dois triunfos, assim como o terceiro na tabela,
Zane Maloney, de Barbados.
Os grandes figurões aparecem só do quarto lugar
para trás. O primeiro deles, Dennis Hauger,
campeão da F-3 em 2021, tem uma vitória. Gabriel
Bortoleto, piloto da academia da McLaren,
bateu na trave algumas vezes, e Andrea Kimi Antonelli,
futuro titular da Mercedes na F-1, sequer
subiu ao pódio. O outro brasileiro da categoria,
Enzo Fittipaldi, mesmo com um ótimo início de
ano e uma vitória na etapa árabe de Jeddah, estagnou
na décima posição do campeonato.
Sem brasileiros no grid, a F-3 se tornou uma ilustre
desconhecida do grande público do país. Se por
aqui ela não atrai tanto interesse, para os italianos
vem sendo um prato cheio. Além da esperança em
Antonelli, eles têm em Gabriele Mini e Leonardo
Fornaroli suas duas novas joias a serem lapidadas.
Dutch Photo Agency
Com pole e pódios, Gabriel Bortoleto desponta como um dos principais nomes da F-2
46
Dutch Photo Agency
Enzo Fittipaldi teve um início de campeonato promissor, mas estagnou na pontuação
Os dois são primeiro e terceiro no campeonato,
fazendo um sanduíche prensado do inglês Luke
Browning, com oito pontos separando os três após
o primeiro terço do campeonato. E o equilíbrio é
tão grande quanto o da F-2: das oito corridas disputadas,
nenhuma repetição entre os vencedores.
Todo esse cenário vem fazendo das corridas
da F-2 e da F-3 batalhas bastante competitivas,
equilibradas e divertidas de assistir, já que vem
sendo uma temporada onde não será o melhor
carro que vencerá, mas, sim, o piloto mais regular.
Sorte de quem tem F1TV e BandSports em casa!
Formula Motorsport Ltd.
O estoniano Paul Aron lidera a F-2
sem ter vencido uma única corrida
Gabriele Mini, líder da Fórmula 3, é mais
uma promessa do automobilismo italiano
47
FORMULA E
Rowland, numa sucessão de pódios com a Nissan, é uma das surpresas positivas da temporada
Vem aí um
novo campeão
Nick Cassidy, Pascal Wehrlein, Mitch Evans e Oliver Rowland
são os favoritos à taça inédita para todos eles na temporada 10
Renata Correia
FIA Formula E
A temporada 10 da Fórmula E vai chegando ao
seu clímax. E quatro corridas, distribuídas nas
rodadas duplas de junho em Portland e julho em
Londres, vão apontar o campeão. Os 12 primeiros
e-Prix tiveram nada menos que sete pilotos
no topo do pódio – o rodízio absoluto foi mantido
até a sexta prova, de depois de oito já se
contabilizavam os sete da lista.
Que são, sem pretensas ordens: Pascal Wehrlein
e António Félix da Costa, da Porsche, Jake
Dennis, da Andretti, Nick Cassidy e Mitch Evans,
da Jaguar, Maximilian Gunther, da Maserati, e
Oliver Rowland, da Nissan. Tamanha paridade,
apesar de reforçar uma disputa imprevisível, já
começa a destacar os principais favoritos ao título
mundial de 2024.
Cassidy lidera com 167 pontos. Tem praticamente
uma corrida de vantagem sobre Wehrlein,
vice com 142. Evans, com 132, Rowland, com 131,
e Dennis, com 113, vêm a seguir. Quem imaginou
ver Cassidy atuando como “escudo” para Evans
na disputa pelo título errou. A amizade mantida
pelos neozelandeses desde as categorias de
base torna a rivalidade mais intensa.
Mitch Evans é o “menino dos olhos” da Jaguar,
onde corre desde 2016. Em sua segunda temporada
conseguiu o primeiro pódio da equipe em
Hong Kong e uma pole em Zurique, superando
o companheiro de equipe Nelsinho Piquet no
campeonato. Na temporada 5, assim que o brasileiro
saiu, o neozelandês cravou em Roma sua
primeira vitória pela equipe.
48
Preferido da Jaguar, Evans acabou ofuscado
pela boa fase do companheiro de equipe
Wehrlein vê a maior chance de
conquistar seu primeiro título
Wehrlein tem duas vitórias até agora, uma no
México e outra na segunda corrida de Misano, e
a chance mais evidente de chegar ao título desde
que estreou na categoria, ainda na temporada
5. Com bem mais que o dobro de pontos de
Félix da Costa, seu companheiro de equipe, tem
sobre seus ombros toda a esperança da Porsche
de conquista do título na Fórmula E.
O desempenho surpreendente na temporada
fez com que Rowland passasse de coadjuvante
a um dos principais nomes da categoria. Levou a
Nissan a uma vitória significativa na abertura da
rodada dupla de Misano, onde liderou a segunda
corrida até a última volta. Entre as etapas de São
Paulo e Berlim, atingiu a notável marca de cinco
aparições no pódio.
Dennis, depois do título no ano passado, não
tem feito uma temporada das mais proveitosas
com a Andretti. Ainda assim, no grupo dos cinco
primeiros, é o único que tem chance de igualar
o bicampeonato de Jean-Eric Vergne, da DS
Penske, o sexto na pontuação. A chance de um
novo nome ser inscrito na galeria de campeões
da Fórmula E é gigantesca.
A liderança de Cassidy foi construída
com oito pódios nas 12 primeiras corridas
Dennis venceu a segunda corrida do ano,
mas sua caça ao bicampeonato ficou nisso
49
FORMULA E
Mais
rápido
que um
F-1!
O novo elétrico
começará a temporada
11 em São Paulo com
um desempenho ainda
melhor que o atual
GEN 3
Renata Correia
FIA Formula E
A Fórmula E segue a tendência de atualização
e aprimoramento dos carros e
está pronta para introduzir sua nova versão
nas pistas. O grid das temporadas
11 e 12 terá em cena o GEN 3 Evo, cuja
primeira aparição em pista é aguardada
para os testes de pré-temporada de
novembro próximo em Valência, na Espanha.
A primeira etapa da temporada
11 será disputada no Brasil, com o e-Prix
de São Paulo já anunciado para 7 de dezembro
de 2024.
Apresentado em Mônaco, o GEN 3 Evo
representa a primeira atualização de
um modelo vigente. Haveria uma versão
Evo do GEN 2, que acabou abortada por
conta da pandemia. As melhorias vêm
em atenção à manifestação de pilotos
e equipes sobre o desempenho do carro,
considerado aquém do esperado. Na
nova fase, a aceleração de 0 a 100 km/h
será possível em impressionante 1s86,
36% mais veloz que o GEN 3 e 30% mais
veloz que um Fórmula 1 atual.
50
O GEN 3 Evo, curiosamente, nasceu a partir
do GEN Beta, testado na Excel London Arena
em julho do ano passado. Lucas di Grassi
e Jake Hughes participaram da competição
na ocasião e o britânico da McLaren levou a
melhor sobre o brasileiro, então na Mahindra
e hoje na ABT-Cupra, para figurar no Guiness
Book atingindo a maior velocidade em ambientes
fechados. O recorde de velocidade em
solo indoor veio dentro de um edifício a 218,71
km/h de final.
O carro apresenta um design mais enxuto e
agressivo, com um novo kit de carroceria mais
robusto e com mais recursos aerodinâmicos, o
que tende a resultar em disputas mais intensas
durante as corridas. Uma inovação importante
é a tração integral, que estará disponível nos
duelos de qualificação, nas largadas e durante
o acionamento do modo de ataque – os 50 kW
extras de potência neste modo virão acompanhados
de melhor tração e dirigibilidade.
Haverá, ainda, um novo composto de pneus
desenvolvido pela Hankook, projetado para
todas as condições climáticas, aumentando a
aderência em entre 5% e 10%. A construção
desses pneus observará 35% de materiais reciclados
e sustentáveis, um aumento de 9% em
relação ao GEN 3. Outra curiosidade sobre esses
pneus: serão mais macios, proporcionando
uma melhoria estimada entre 1s e 1s5 nos
tempos de volta na maioria dos circuitos da
Fórmula E.
E como fica o GEN 4?
A Fórmula E deve lançar o GEN 4 na temporada 13, a de 2026/2027. Os fornecedores serão
confirmados em outubro próximo. Segundo o site especializado “The Race”, o novo carro terá
regeneração máxima de 700 kW, liberação máxima de potência de 600 kW e um sistema de eixo
dianteiro ativo. Haverá duas homologações: uma para o mesmo três de força na frente e na traseira
e outra com sistemas separados para cada eixo. MGU e MCU, respectivamente as unidades
motor-geradora e de controle do motor, terão extremidades comuns. Caixa de câmbio e diferencial
com um pacote específico de eixo também podem surgir como propostas do novo projeto.
Outra novidade pode ser a instrução de pneus slick ou cut slick, com um conjunto focado em
performance e outro para condições mistas.
51
WEC
Agora é em
São Paulo!
Passada a festa da Ferrari nas 24h de Le Mans, Brasil
volta a receber etapa do Mundial no dia 14 de julho
Rodrigo Mattar
DPPI
52
O Campeonato Mundial de Endurance fecha a
primeira metade de seu calendário de oito etapas
com um equilíbrio poucas vezes visto em sua história
recente. Se o fã brasileiro precisava de motivos
para lotar as dependências de Interlagos na
primeira corrida no país depois de uma década,
a classificação do campeonato na Hypercar e na
LMGT3 é uma amostra em cores vivas do grande
momento da competição de longa duração.
A Porsche é o construtor com mais vitórias, com
duas na classe principal e três na classe de GTs,
mas a distância da marca de Weissach para as
adversárias em ambas as disciplinas não chega
a ser gigantesca. Tudo fruto dos parâmetros de
Balanço de Performance ajustados a cada evento
para buscar um equilíbrio entre fabricantes, equipes,
pilotos e construtores. Até aqui a balança
pende para um salto muito positivo, principalmente
na Hypercar, onde a exigência de vitórias é
muito maior pelo investimento dos construtores
e pela maciça participação de times de fábrica.
Por outro lado, foi muito bacana ver a performance
da Hertz Team Jota nas 6h de Spa-Francorchamps,
conquistando um triunfo inédito para
o time na turma de cima e principalmente por ter
representado a primeira vitória de um time não-
-oficial desde 1989, quando a competição ainda
era o extinto World SportsCar Championship. Os
modelos de três décadas e meia passadas eram
os Esporte-Protótipos Grupo C. Em tempo: essa
escuderia era a laureada Joest Racing e o carro
em questão, só para variar, um Porsche.
Porsche, Ferrari e Toyota deram as cartas em
2023, com os japoneses superiores por terem
maior expertise do regulamento Hypercar em relação
às demais marcas. A Ferrari não tinha equipe
de fábrica em Protótipos havia meio século e
a Porsche estava fora desde 2017, optando por
assumir o regulamento de convergência ACO/
FIA com a IMSA, dos EUA, e optando pela plataforma
de chassis LMP2 “vestidos” com aerodinâmica
própria, mecânica de qualquer procedência,
mas com motor elétrico e sistema de transmissão
e câmbio padrão, numa parceria Williams Technologies-Bosch-X-Trac.
O ponto alto da primeira metade da temporada é a disputa entre Porsche, Ferrari e Toyota
53
Fuoco, Nielsen e Molina levaram a Ferrari a uma vitória história nas 24 Horas de Le Mans
Some-se a isso o fato da Porsche ter como
grande aliado ninguém menos que o “capitão”
Roger Penske, que do alto de seus 82 anos comanda
seu império de empresas como poucos e
ainda toma conta da Fórmula Indy e supervisiona
as operações do FIA WEC e da IMSA. Nas duas
competições, o homem de confiança de Penske
junto à fábrica alemã é Jonathan Diuguid, que se
reporta a ele. Urs Kuratle e Thomas Laudenbach
fazem o papel que no passado, quando a marca
alinhava na extinta LMP1, pertenceu a Fritz Enzinger
e Andreas Seidl – este último, agora, vinculado
ao programa da Audi na Fórmula 1.
A presença de Valentino Rossi no grid é
um dos atrativos para o público brasileiro
Até agora a parceria Porsche-Penske não venceu
a prova mais importante do calendário, as
24h de Le Mans, da qual a AF Corse Ferrari é
a atual bicampeã. Mas a marca germânica comanda
a classificação de Construtores com 108
pontos somados na primeira metade do campeonato,
contra 99 da Ferrari e 96 da Toyota, com
os demais fabricantes vendo o “trio de ferro” do
WEC de binóculos.
Entre os pilotos, com uma vitória e mais dois
pódios, Kévin Estre, André Lotterer e Laurens
Vanthoor comandam a classificação após o fim
da primeira fase da temporada com 99 pontos,
contra 90 do trio campeão de Le Mans, formado
por Antonio Fuoco, Nicklas Nielsen e Miguel Molina,
e 82 de Kamui Kobayashi e Nyck de Vries.
Com 127 pontos em jogo na segunda metade do
certame, tudo indefinido e segue o baile.
Na LMGT3, quem está no páreo e em busca de
um título histórico é o brasileiro Augusto Farfus.
Com vitória em Imola, pódio em Le Mans e uma
boa performance em Losail, não fosse o acidente
da BMW em Spa-Francorchamps e talvez a história
fosse diferente para a trinca formada pelo
piloto de fábrica do construtor da Baviera junto a
Sean Gelael e Darren Leung.
54
Estre, Vanthoor e Lotterer, da Porsche Penske Motorsport, são os líderes do campeonato
A LMGT3 tem no Balanço de Performance um dos pontos cruciais para a reta final da disputa
55
Mesmo assim, o trio soma 73 pontos, dois a
menos que as trincas da equipe Manthey. Morris
Schuring, Yasser Shahin e Richard Lietz passaram
as primeiras duas provas em branco e já emplacaram
duas conquistas seguidas. “Do neida”, como
se diz por aí, foram do zero absoluto ao total de
75 unidades, mesmo total dos colegas de equipe
Joel Sturm, Alexander Malykhin e Klaus Bachler.
Para o público brasileiro, entretanto, a grande
atração das 6h de São Paulo será a participação
do “Doutor” Valentino Rossi. A lenda viva da Moto-
GP, que completou 45 anos em 2024, nunca correu
no templo sagrado de Interlagos e, podem apostar,
muita gente comprou ingresso só para vê-lo
em ação no carro com o dorsal 46 junto ao omani
Ahmad Al-Harthy e ao belga Maxime Martin.
Se na LMGT3 o equilíbrio entre os construtores
não é tão marcante, pelo menos três formações
de pilotos se apresentam fortes para o
título. O Balanço de Performance é que poderá
fazer a diferença em cada pista na reta final da
temporada, de acordo com as características
dos modelos, a altitude – um fator que ajuda
os motores turbo em São Paulo – e o lastro de
sucesso, ausente em Le Mans e de volta nas
próximas corridas. Principalmente porque os
Porsche da Manthey teriam que alinhar com o
lastro máximo. Mais peso do conjunto significa
mudança de regulagens de suspensão, de barra
estabilizadora e, em especial, maior cuidado
com os pneus, com jogos limitados em todas as
classes do FIA WEC.
Sturm, Malykhin e Bachler formam uma das trincas da Manthey que lideram a LMGT3
56
57
WEC
O carioca Nicolas Costa teve uma estreia
marcante em Le Mans, até um problema
mecânico na McLaren tirá-lo da disputa
Brasileiros
andam forte
Ana Oliveira
DPPI
58
O Brasil deixou sua marca na 92ª
edição das 24 Horas de Le Mans.
Augusto Farfus garantiu o melhor
resultado para o país, liderando a
BMW #31 ao lado de Sean Gelael e
Darren Leung na disputa pela vitória,
terminando com o segundo lugar na
LGMT3.
Outro bom momento foi marcado
pelo desempenho de Nicolas Costa,
que fez sua estreia na GT3 conduzindo
a McLaren #59 da United Autosports
na frente do pelotão, até que
contratempos mecânicos interromperam
sua jornada junto a Grégoire
Saucy e James Cottingham. Enquanto
isso, Daniel Serra, pilotando a Ferrari
#296 da equipe GR Racing, fez
uma largada impressionante do fundo
do grid e chegou a ocupar o quarto
lugar na GT3. A busca por um resultado
de expressão terminou com
um problema a meia hora da bandeirada
final.
Felipe Drugovich, mais um novato
na prova, acumulou experiência ao
lado de Pipo Derani na Whelen Cadillac
Racing, embora um incidente
tenha relegado a dupla ao 16º lugar
na Hypercar. Felipe Nasr, ao volante
do Porsche 963 #4 da equipe Porsche
Penske, mostrou velocidade. Parceiro
de Matthieu Jaminet e Nick Tandy,
acabou impedido de completar a
prova devido a uma falha mecânica.
Felipe Nasr foi um dos pilotos da Porsche
Penske e sucumbiu a uma falha mecânica
Augusto Farfus levou o Brasil ao pódio integrando
o trio vice-campeão da corrida na LMGT3
A participação de Derani e Drugovich na
Hypercar acabou esbarrando em um incidente
59
NASCAR
Transmissão
bilionária
Erick Gabriel
O ano de 2025 para o fã da NASCAR nos
Estados Unidos será diferente. Pela primeira
vez, um serviço de streaming ganhará uma fatia
do bolo das transmissões das corridas na
terra do Tio Sam.
Recentemente, a maior categoria do esporte
a motor das Américas anunciou que terá a
partir do próximo ano, e até 2031, nada menos
do que cinco parceiros de mídia para levar
os três principais campeonatos nacionais ao
vivo.
Oficialmente os valores não foram anunciados,
mas os mais respeitados jornalistas que
cobrem a categoria falam em US$ 7,7 bilhões
(cerca de R$ 41 bilhões) em sete anos, para a
Cup Series, Xfinity Series e Truck Series.
Fox, NBC, Prime Video e Warner Bros. Discovery
terão uma fatia da Cup Series, cada.
A primeira parte do campeonato, composta
por 14 provas e incluindo a Daytona 500, será
da Fox, que também utilizará o seu canal de
esportes na TV por assinatura, o Fox Sports 1.
Na sequência, a Amazon Prime terá cinco
etapas com exclusividade. Em seguida, com o
mesmo número de provas, a Warner com a TNT
Sports e seus streamings correspondentes.
A NBC fechará o ano com as últimas 14 corridas
da Cup, também utilizando o canal a cabo
USA, além de seu serviço de streaming Peacock.
A Xfinity Series será do canal CW, que tem
poucas transmissões esportivas em seu portfólio
e também transmitirá os treinos. Na
Truck Series, a cobertura permanece 100% do
FS1.
Vale lembrar que Prime Video e Warner dividirão
os treinos livres e classificatórios durante
todo o ano, mesmo não transmitindo a
maioria das corridas, exceto a Daytona 500 e
as duas etapas festivas – Clash e All-Star, que
seguirá com a Fox.
Getty Imagens
O anúncio do novo pacote de transmissões foi
feito pelo presidente da NASCAR, Steve Phelps
Getty Imagens
60
NASCAR Media
Os eventos da Nascar auferiram 36 das 37 maiores audiências do automobilismo nos EUA em 2023
AINDA UM GRANDE NEGÓCIO
Os números impressionam, até porque a
categoria ainda ganhará pelas negociações
de direitos fora dos Estados Unidos. O fato é
que a NASCAR continua sendo o evento esportivo
mais assistido em um fim de semana
americano, exceto quando a categoria conflita
com a temporada de futebol americano
e as finais de outros esportes, como a NBA.
O mercado publicitário olha com bons olhos
para estes números.
Quando se fala apenas no âmbito do esporte
a motor, vira covardia. O exemplo disso
é o ano de 2023. Para se ter uma ideia,
das 37 maiores audiências de automobilismo
na TV americana no ano passado, 36 foram
de eventos da NASCAR Cup Series. A única
exceção foi a tradicional 500 Milhas de Indianápolis,
na segunda posição do ranking,
atrás da Daytona 500.
Outro aspecto importante é a comparação
com o acordo anterior. Entre 2015 e 2024, o
contrato com Fox e NBC chegou a US$ 8,2
bilhões, mas diluído em 10 temporadas, com
cada uma valendo US$ 820 milhões. A partir
de 2025, cada temporada valerá US$ 1,1 bilhão,
cerca de 34% a mais.
ENQUANTO ISSO, NO BRASIL
Atualmente as três principais
categorias da NASCAR são
transmitidas pelo BandSports
em um contrato que foi iniciado
em 2022 e que expira ao final da
atual temporada. Os valores dos direitos
de transmissão são guardados a sete
chaves, mas sabe-se que são bem mais
baixos, se comparados com o patamar
dos Estados Unidos.
A NASCAR já passou por diversos canais
fechados desde a chegada desse tipo de
transmissão por aqui. ESPN, SporTV, Speed
Channel, Fox Sports e uma outra passagem
anterior no Bandsports fazem a história televisiva
da categoria.
Na TV aberta, programas com melhores momentos
já chegaram a estar na TV Cultura em
São Paulo, na Record News, na Rede TV! e nas
extintas Manchete e OM Brasil. Atualmente, a
Band passa um VT na madrugada de domingo
para segunda-feira. Além disso, o Canal 21,
também considerado aberto, serve de apoio
quando o BandSports não consegue transmitir
na TV fechada, além do canal “Esporte na
Band” do YouTube, com exibição gratuita.
61
NASCAR BRASIL
Metade do
caminho
Em temporada cheia de alternativas,
categoria mantém DNA de formatos
diferentes e inova na disputa pelas poles
Erick Gabriel
Luciano Santos
62
A primeira metade da temporada 2024 da Nascar
Brasil contou com uma estreia, a consolidação
de uma tradição e muita solidariedade, além
de um jovem que vem desafiando até mesmo um
certo bicampeão da Stock Car. A série de novidades
do campeonato começou pelo nome: saiu
o “Sprint Race” e entrou o “Series” como complemento,
sobretudo para se alinhar aos outros
campeonatos internacionais da Nascar no Canadá,
no México e na Europa.
Campo Grande foi o palco da primeira etapa e
fez sua estreia na categoria. O “oval” de Goiânia e
o Night Challenge em Londrina se consolidaram
e Potenza recebeu o GP Santa Cruz do Sul, com a
renda totalmente revertida às pessoas da cidade,
que seria palco da etapa pelo calendário original,
que ainda sofrem com as consequências das enchentes
no Rio Grande do Sul.
63
Potiguar de residência gaúcha, Cayan Chianca tem surpreendido em 2024 e venceu a Night Challenge
No formato, um sistema de classificação com
a chamada Superpole, em que os seis primeiros
colocados do quali para a segunda corrida se enfrentam
para definir as três primeiras filas. Este
sistema foi alterado apenas na quarta etapa, justamente
a do Potenza, em que os seis primeiros
se enfrentaram em uma pequena corrida de cinco
voltas.
Com um grid recheado de nomes de peso como
Gabriel Casagrande, Vitor Genz, Beto Monteiro e
Valdeno Brito, entre outros, quem mais se destacou
foi Léo Reis, que terminou a primeira metade
do campeonato na liderança. Com duas vitórias e
a primazia de ser o primeiro superpole, além de
ter vencido a sprint race mineira, Léo colocou 26
pontos de vantagem sobre Gabriel Casagrande,
que neste ano forma dupla com Alex Seid.
Além disso, no campeonato de novatos, ele
também se sobressai sobre Cayan Chianca, que
configura o típico caso do piloto que beira o autodidatismo.
Sua decolagem na categoria iniciou
justamente quando começou a competir sozinho,
na metade do ano passado. Aos poucos, sua evolução
o fez brigar por vitórias, tendo o seu ponto
alto no Night Challenge, prova noturna de Londrina,
em que superou Casagrande.
Chianca ainda fez bonito na primeira corrida em
Potenza, superando um convidado dos mais respeitáveis:
Cacá Bueno, pentacampeão da Stock
Car e que esteve na Nascar Brasil como primeiro
compromisso após a lesão na vértebra que sofreu
em um acidente na Stock Car em Interlagos.
Marques, criador e mentor da Nascar Brasil,
nunca disputou uma corrida da categoria
64
A Copa
dos filhos
Martelli teve a campanha mais eficiente da temporada até aqui
Jorge Martelli vem sendo o principal nome da Challenge.
Em Goiânia, no traçado que mais se assemelha a um oval na
Nascar Brasil, ele surpreendeu a todos e triunfou na geral. Em
Minas Gerais, ele recebeu como par o experiente Rodrigo Sperafico.
Apesar do domínio inicial, a primeira metade do campeonato
teve um novato que tem sangue de campeão e que
certamente desafiará Martelli.
Victor Andrade, filho do piloto da Copa Truck Roberval Andrade,
começou sua jornada na Nascar Brasil já com uma vitória em
Campo Grande e finalizou a primeira metade do campeonato
novamente na frente. Apenas sete pontos o separam de Martelli.
Não é só Victor Andrade
que traz em seu DNA
a alma de competir. Neste
ano, a Nascar Brasil tem
em seu grid três filhos de
pilotos da Copa Truck, que
sempre acompanha os
eventos da categoria de
carros. Além das jornadas
duplas de Roberval e Victor,
Felipinho Tozzo é filho
de Felipe Tozzo e Luan Lopes
é filho de Luiz Lopes.
Ainda sobre a competição
dos “brutos”, Beto Monteiro
vem repetindo sua maratona
a cada fim de semana,
competindo com os caminhões
e com os carros.
A etapa noturna, sempre realizada na pista de Londrina, é uma das principais tradições da categoria
65
FORMULA INDY
Indy 500 para
lavar a alma
Depois dos perrengues da Penske no início da temporada,
Josef Newgarden chega à glória com a segunda vitória
consecutiva na corrida mais importante do mundo
Jackson Lincoln Lopes
Paul Hurley
O’Ward abriu a volta final liderando as 500 Milhas, mas não foi desta vez que chegou à vitória
66
Joe Skibinski
Karl Zemlin
Newgarden alcançou a segunda vitória consecutiva, coisa que não acontecia havia 22 anos
O início de ano na Fórmula Indy foi tumultuado
para a Penske, que protagonizou em St. Petersburg
um escândalo a partir do uso incorreto do
push to pass, dispositivo eletrônico que atribui
mais cavalos de potência aos motores. A consequência
foi a desclassificação da equipe. E Josef
Newgarden, que perdeu sua vitória nas ruas da
Flórida, pode enfim comemorar em 2024. O ídolo
norte-americano entrou no ano passado para o
seleto clube dos vencedores das 500 Milhas de
Indianápolis. Agora, subiu definitivamente de patamar
com a segunda vitória consecutiva, feito
alcançado pela última vez até então por Helio
Castroneves em 2001 e 2002.
Chuva e treinos reduzidos marcaram as semanas
que antecederam a 108ª edição das 500
Milhas. O dia da corrida não foi diferente: com a
chuva de minutos antes dos cerimoniais de abertura,
a direção da categoria adiou o evento por
cinco horas. Passada a chuva, a prova aconteceu
de forma completa e espetacular, fazendo jus a
toda sua pompa de evento mais importante do
automobilismo, com mais de 350 mil pessoas
lotando as dependências do Indianapolis Motor
Speedway. Foram 596 ultrapassagens valendo
posições, 48 delas marcando trocas de liderança.
Foram 16 os pilotos que lideraram pelo menos
uma das 200 voltas.
A ultrapassagem mais importante aconteceu na
última das 500 milhas do percurso. Newgarden
ficou com o lado de fora na curva três e fez a manobra
mais importante de sua carreira, passando
pelo McLaren do mexicano Patrício O’Ward para
ratificar a vitória. Foi uma corrida marcada por
muitos acidentes. Com a pista lavada pela chuva,
toda a borracha deixada pelos carros nos dias
anteriores foi embora, o que levou a um número
grande de erros – principalmente por parte dos
novatos. O Pace Car foi acionado oito vezes e
quase um quarto da Indy 500 transcorreu sob
bandeira amarela. Foram exatas 47 voltas de neutralização
da disputa.
Foi uma edição marcada pela frustração para os
pilotos brasileiros. Helio Castroneves, em busca
do inédito pentacampeonato da Indy 500, perdeu
tempo demais no último pit stop no box da
Meyer Shank. Se naquele momento sua luta era
para se manter no grupo dos dez primeiros, o reabastecimento
demorado acabou fazendo com
que cruzasse a linha de chegada apenas na vigésima
posição. Pietro Fittipaldi, em sua segunda
participação na corrida, saiu da festa ainda no
início. Logo na largada o piloto da RLL teve seu
carro atingido pelo de Tom Blonqvist, companheiro
de equipe de Castroneves, e abandonou
sem sequer completar a primeira volta.
67
FORMULA INDY
Campeão de
volta ao topo
Jackson Lincoln Lopes
Chris Owens
Em busca do tri, Will Power alcançou a liderança do campeonato à base da regularidade
Após um longo inverno nos Estados Unidos e
quase sete meses sem corridas, a IndyCar voltou
em março, fez uma nova pausa pela saída
do Texas Motor Speedway do calendário e retomou
sua temporada sob um ritmo frenético, que
depois de sete corridas apresenta o australiano
Will Power, campeão em 2014 e 2022, liderando
a pontuação com a Penske.
Em St. Petersburg os Penske de Scott McLaughlin
e Josef Newgarden foram desclassificados
por irregularidade no sistema de ultrapassagens
do push to pass e a vitória caiu no colo de Patrício
O’Ward, com Power em segundo e Colton
Herta em terceiro.
68
Karl Hemlin
Scott Dixon mostra alta performance aos 43 anos e já soma duas vitórias na temporada
Na etapa seguinte, a vitória Scott Dixon em
Long Beach mostrou que, mesmo com 43 anos
nas costas, o neozelandês segue como um dos
pilotos mais completos da Fórmula Indy. Herta
voltou ao pódio em segundo, com Alex Palou,
parceiro de Dixon na Ganassi, em terceiro.
No Alabama, enfim, McLaughlin viu validada
sua vitória, à frente de Power. Foi o início da recuperação
do time do “capitão” Roger Penske.
Chegou maio e, antes da Indy 500, o misto de
Indianápolis viu nova vitória de Palou no IndyGP,
com Power, em segundo, chegando ao terceiro
pódio no ano.
As 500 Milhas de Indianápolis foram excelentes
para a Penske, com direito a trinca no grid de largada
– McLaughlin na pole, à frente de Power e
Newgarden. Mais regular piloto do time, Power
bateu na corrida e teve seu pior resultado no ano,
o 24º lugar. Newgarden ganhou.
A regularidade de Will Power voltou nas ruas
de Detroit. O australiano terminou em sexto e
passou a disputar a liderança do campeonato
com Dixon, que venceu mais uma vez. Power
desencantou no GP de Elkhart Lake, quebrando
um jejum de dois anos sem vitórias. O pódio foi
completo da Penske, que teve Newgarden em segundo
e McLaughlin em terceiro.
Estas sete primeiras etapas marcam praticamente
a primeira metade da temporada da Indy.
O campeão será conhecido nos próximos três
meses, já que o campeonato precisa acontecer
de março a setembro por conta da programação
das tevês norte-americanas, que prioriza a NFL.
Será o tempo para Will Power e a Penske manterem
a regularidade suficiente para permanecerem
no topo.
O pódio foi 100% da Penske em Elkhart
Lake, com Power, Newgarden e McLaughlin
O espanhol Alex Palou, da Ganassi, busca
seu terceiro título em quatro temporadas
Chris Owens
69
LUGAR DE MULHER
As 500 Milhas
são delas!
Histórico em Indianápolis ressalta a Fórmula Indy
como categoria mais acolhedora à participação
de mulheres no primeiro escalão do automobilismo
Jackson Lincoln Lopes
Janet Guthrie, primeira mulher a disputar as
500 Milhas, foi a nona colocada em 1978
Na Fórmula Indy as mulheres têm vez há mais
de meio século e é justamente na Indy 500, a
prova mais importante do automobilismo mundial,
que ocorrem mais aparições femininas. Num
esporte de ambiente historicamente quase todo
masculino, a Indy começou a abrir as portas para
as mulheres no século passado e atualmente é
uma referência em diversidades. Hoje há mulheres
em todas as áreas da categoria, do marketing
à engenharia, da mecânica à pilotagem.
E se há na Indy um lugar que todos os pilotos
tomam como favorito, este é o Indianapolis Motor
Speedway. A consagração máxima do automobilismo
americano representa, também, o
auge da carreira das mulheres que passaram pela
Indy. A primeira a conseguir correr na Indy 500
foi Janet Guthrie, nos já longínquos anos 70. Em
sua primeira tentativa, não conseguiu classificar
o carro para a prova de 1976, cravando seu nome
na história e no grid dos três anos seguintes. O
nono lugar em 1978 foi seu melhor resultado.
A sul-africana Desiré Wilson tentou sem sucesso
a classificação para duas edições da Indy 500
nos anos 80. O legado de Guthrie, no entanto, já
estava forjado e veríamos, nas décadas seguintes,
uma legião feminina em Indianápolis. Lyn
Saint James participou da prova sete vezes nos
anos 90, época que marcou a separação entre a
Cart e a IRL. O melhor resultado da norte-americana
veio antes da cisão, com o 11º lugar em 1992.
No início do novo século Sarah Fisher tornou-se
a mulher com mais participações em Indianápolis,
repetindo em 2002 o nono lugar de Guthrie.
Tornou-se, ainda, a primeira mulher a disputar
temporadas regulares na Fórmula Indy, não ficando
restrita às 500 Milhas. Disposta a fazer história,
ainda se tornaria proprietária de equipe na
Indy, a Sarah Fisher Racing.
Doug Mathews
70
A bela com maior sucesso na
categoria foi revelada em 2005.
Danica Patrick foi a primeira
mulher a conquistar uma vitória
– única, até hoje, fruto do
primeiro lugar no GP do Japão
de 2008. A prova em Motegi
marcou, inclusive, o fim da cisão
de 12 anos entre a Cart e a IRL.
Em se tratando de 500 Milhas
de Indianápolis, Danica também
foi a que obteve mais destaque,
tendo largado da segunda fila
e terminado a corrida de 2009
em terceiro lugar.
Depois de várias participações
de norte-americanas, os
anos 2000 marcaram a presença
das pilotos de outras nacionalidades.
A venezuelana Milka
Duno fez sua estreia no IMS em
2007 e fez três participações
consecutivas, sem feitos dignos
de nota. A primeira brasileira
da lista foi Ana Beatriz Figueiredo,
que disputou a Indy 500
de 2010 a 2013, tendo como
resultado mais expressivo o 12º
lugar de 2012. Bia também correu
duas temporadas completas
na Indy.
Danica Patrick foi a bela que obteve maior destaque em
Indianápolis, tendo terminado a edição de 2009 em terceiro lugar
Dana Garrett
Lyn St. James em aparições promocionais no evento
em 2023, com o carro que deu a vitória de 1998 a
Eddie Cheever, e neste ano, com um dos carros que
compuseram os primeiros momentos da história da
corrida mais de um século atrás
71
As profissionais dos mais variados segmentos da Indy 500. Esse mundo já foi dominado por homens
A suíça Simona de Silvestro, com seis participações
na Indy 500, estreou no mesmo ano de Bia
Figueiredo. Não teve tanto êxito em Indianápolis,
mas conquistou um pódio e ratificou uma série
de top-10 em sua carreira na Indy. Vale lembrar:
na Indy 500 de 2021, Simona defendeu a Paretta
Autosport, uma equipe que foi formada quase
que em sua totalidade por mulheres, desde as
mecânicas até a dona do time, Beth Paretta. Pippa
Mann, britânica, é da mesma geração de Milka
e Simona. Disputou a prova sete vezes, sem grandes
resultados. A última estreia feminina na Indy
500 foi a de Katherine Legge, também inglesa,
que neste ano chegou a quatro participações.
Seu acerto com a Dale Coyne Racing aconteceu
em abril. Largou em 31º e completou apenas 22
voltas, por conta de problemas mecânicos.
Ao longo das décadas a Fórmula Indy tem se
mostrado a categoria de alto nível mais acessível
à participação feminina. As mulheres chegam, e
se não for para disputarem um campeonato completo,
conseguem competir em maio nas 500 Milhas.
O mês de março reserva no calendário o Dia
Internacional da Mulher, sempre celebrado no dia
8. A partir do histórico das 500 Milhas de Indianápolis,
concluímos, por nossa conta, que maio é
o mês da mulher, pelo menos no automobilismo
norte-americano.
Walt Kuhn
Katherine Legge foi a última
mulher a disputar vaga no grid
de Indianápolis e, em 2024, fez
sua quarta participação
72
73
PORSCHE CUP
Luca Bassani
A etapa de Interlagos estabeleceu
novo recorde para o grid da Carrera
Cup, a classe principal do campeonato
As dores do
crescimento
Consolidada no cenário nacional, categoria
trata de lidar com os desafios que acompanham
seu crescimento e a sucessão de recordes
Guilherme Longo
Completando sua vigésima temporada de história,
a Porsche Cup Brasil está organizando uma série
de celebrações desde a primeira etapa de 2024,
realizada em março em Goiânia. Comemorações
que ganham ainda mais importância se consideradas
as marcas que o campeonato está atingindo.
A história teve seu início em 2005, de forma tímida,
com a categoria ocupando poucos boxes
de Interlagos dentro dos eventos do Campeonato
Paulista de Automobilismo – um cenário bem
diferente do atual. “No primeiro ano fomos super
bem recebidos no Paulista”, lembra Dener Pires,
CEO da categoria.
O voo solo começou em 2007. “Naquele momento
vimos que seria melhor dividir o espaço
entre nós mesmos. Por que não termos a categoria
de acesso, a intermediária e a profissional,
bem como uma experiência para outros usuários
de Porsche, como nos eventos de track day?”,
propõe. “Isso, hoje, preenche bem o nosso dia”.
74
Desde então, a Porsche Cup vem consolidando
seu papel no cenário nacional. De poucos boxes
em Interlagos, a categoria se credenciou para virar
o evento principal, ocupando todos os espaços
– às vezes até mais... – dos autódromos por
onde passa nos nove eventos que compõem o
calendário a cada temporada.
“Houve também um grande investimento do
nosso lado, tanto de esforço quanto financeiro,
além de outras coisas que fizeram o evento ganhar
esse tamanho que ele tem hoje”, observa Pires.
“Parte de mídia, estrutura, estamos ocupando
todos os espaços do autódromo”.
O cronograma atual apresenta três classes. Todas
usam o mesmo carro, o Porsche 911 GT3 Cup,
mas de gerações distintas. A Carrera Cup, mais
avançada, usa o modelo 992. A Sprint Challenge,
intermediária, tem na pista o 991/2. Já a Sprint
Trophy, novidade introduzida em 2023 como categoria-escola,
adota o 991/1.
Dener Pires gerencia todas as
áreas da Porsche Cup no Brasil
Rafael Gagliano
Luca Bassani
A vigésima temporada da categoria teve início em março no autódromo de Goiânia
75
Luca Bassani
A visitação aos boxes reúne cada vez mais torcedores nas etapas da Porsche Cup
Nas etapas do Velocitta, a segunda da temporada,
e de Interlagos, a terceira, a categoria bateu
recordes de carros alinhados em seus grids: 65 e
69, respectivamente. Com 31 pilotos para o fim
de semana em São Paulo, a classe Carrera Cup
se consolidou ainda como uma das maiores do
mundo do modelo Porsche Cup.
Três das nove etapas ocorrerão fora do Brasil.
Serão duas em Portugal, no Circuito Estoril, e
uma na Argentina, ainda sem anúncio oficial da
pista que receberá esta etapa. E a primeira etapa
Endurance do ano, no circuito português, marcará
grid recorde para o campeonato de longa duração,
com 41 carros inscritos.
O grande número de pilotos e o público numeroso
nas arquibancadas refletem-se no crescimento
da própria Porsche Cup, que começou em
2005 com apenas 15 funcionários, bem menos
que os cerca de 400 que movimenta em 2024.
A lista inclui mecânicos, engenheiros, staff, seguranças,
profissionais de mídia e mais.
Como em toda jornada de ascensão, surgem
também as dores do crescimento. No Velocitta
houve críticas da imprensa, não somente pelos
Luca Bassani
Werner Neugebauer lidera a Carrera Cup
com três vitórias em seis corridas
76
pedidos rejeitados de credenciais como também
pela organização do espaço de trabalho.
Com estrutura permanente limitada, os jornalistas
precisaram ser realocados ao Race Center,
distante do paddock, e em horários limitados,
depois das 15h. A justificativa da categoria, de
que o evento havia crescido demais, veio acompanhada
da promessa de que a situação não se
repetiria em Interlagos – de fato, não se repetiu.
O grande sucesso pode trazer outros problemas
não-intencionais. Os recordes de carros inscritos
mostram o ótimo momento da categoria. Porém,
há espaço para comportar essa expansão contínua?
Em autódromos como o Velocitta basta armar
tendas. E em pistas como Interlagos, onde o
paddock não tem como ser expandido?
Em meio aos desafios naturais da expansão,
são inegáveis o crescimento e a consolidação
da Porsche Cup no cenário nacional. A projeção
de Dener Pires é de manter esse ritmo. “A
Porsche Cup está muito feliz. Seguimos o nosso
caminho, animados com tudo que a gente está
fazendo. O objetivo é crescermos ainda mais”,
estipula.
O criador do campeonato dá dica de onde visualiza
esse crescimento: “Podemos buscar uma
qualidade ainda melhor dos eventos, para que
eles possam acolher todas as pessoas, pilotos,
patrocinadores, convidados, famílias e mais.
Sempre estaremos de olho nesse universo, buscando
melhores oportunidades, quem sabe mais
categorias ainda”.
Luca Bassani
A catarinense Antonella Bassani, 18 anos, busca o bicampeonato na classe Challenge
77
EQUILIBRIO NACIONAL
Rodrigo Ruiz
78
Leandro Totti (73) e Roberval
Andrade (15) integram a lista óctupla
de pilotos que venceram corridas na
divisão Pro da Copa Truck
Quem leva
a segunda?
Stock Car, Copa Truck e TCR ainda não
repetiram vencedores na temporada de 2024
Osires Junior
Por mais que muitos se esforcem para idolatrar
as categorias gringas, o automobilismo
nacional vive uma de suas temporadas
mais sensacionais, com corridas extremamente
disputadas, chegadas definidas nos
milésimos de segundo e, principalmente,
uma grande variedade de pilotos subindo
ao topo do pódio. A Revista Grid verificou
inúmeros dados do ano e constatou alguns
números que comprovam isso.
Entre as chegadas mais apertadas estão
a da Turismo Nacional, em Cascavel, com
0s017 entre o vencedor Guilherme Sirtoli e
o segundo colocado Juninho Berlanda, e do
Marcas Brasil Racing, em sua categoria de
entrada, com uma chegada em que Raphael
Futsuki terminou 0s010 à frente de Adriano
Barbosa em Interlagos.
Se o assunto forem poles e vitórias, Stock
Car, Copa Truck e TCR South America não
deixam a desejar: nenhuma das três repetiu
ganhadores nas etapas disputadas até a
metade de junho, além de poucos terem o
privilégio de repetirem uma pole. Equalização
é a palavra-chave para resumir o contexto
desta matéria. Todas as categorias
têm buscado, com notável êxito, formas
distintas de BOP, sigla em inglês para balanço
de performance.
Na Stock Car, Daniel Serra garantiu duas
poles em quatro etapas. No entanto, a categoria
atingiu um equilíbrio enorme a partir
de pequenas alterações nas medidas dos
carros, o que levou a sete vencedores diferentes
em sete corridas disputadas. A lista
destaca Rafael Suzuki e Felipe Baptista,
na abertura da temporada em Goiânia; Felipe
Massa, na prova 1 no Velocitta (a prova
2 não aconteceu por conta da chuva e
acabou transferida para o fim de junho, no
mesmo local, juntamente com as corridas
da quinta etapa); Gaetano di Mauro e Cesar
Ramos, em Interlagos; Bruno Baptista e
Dudu Barrichello, em Cascavel.
“Fizemos um trabalho intenso no ano
passado para encontrar o melhor balanço
de performance dentro das características
que temos de cada carro. Somado a parte
estrutural, temos um grande trabalho de
preparação de motores feito pela Audace
Tech, que leva equilíbrio para todos os
competidores”, celebra o CEO da categoria,
Fernando Julianelli. Os resultados também
mostram que a nova geração de pilotos da
Stock Car chega com maior consistência,
demonstrando que o futuro será de muita
competitividade.
Marcelo Machado de Melo
Massa ganhou no Velocitta e é um
dos favoritos ao título da Stock Car
79
EQUILIBRIO NACIONAL
Carsten Horst
Felipe Baptista conquistou na abertura da temporada, em Goiânia, sua segunda vitória
COPA TRUCK
A série dos caminhões também está dando
show de competitividade. Na divisão Pro, ninguém
repetiu pole-position ou vitória. Por pouco
as estatísticas não se repetem na Elite, onde Bia
Figueiredo e Daniel Kelemen conseguiram quebrar
a série. Bia tem duas poles e três vitórias,
enquanto Kelemen venceu duas vezes na temporada.
Entre os poles da Pro estão Danilo Dirani
e Leandro Totti, ambos com caminhões Iveco,
nas etapas de Campo Grande e do Potenza, Felipe
Giaffone e Beto Monteiro, que comandaram
os grids de Goiânia e Londrina a bordo de seus
Volkswagen.
A categoria também impressiona com oito vencedores
em oito corridas disputadas, mostrando
uma grande alternância de características de pilotos
para as características dos autódromos por
onde passou e o poder da inversão de grid entre
os brutos.
Wellington Cirino, de Iveco, é um dos
líderes do campeonato da Copa Truck
Rodrigo Ruiz
80
Marcelo Machado de Melo
A Stock Car experimenta sua temporada de maior competitividade nos últimos anos
A primeira etapa, em Campo Grande, viu vitórias
de Giaffone e de Wellington Cirino, outro piloto
de caminhão Iveco. Na segunda etapa, em
Goiânia, Roberval Andrade e Fábio Fogaça levaram
seus Mercedes-Benz ao primeiro lugar. Em
Londrina as vitórias foram de Monteiro e Paulo
Salustiano, que utilizam caminhões Volks. Totti e
Victor Franzoni, com Mercedes-Benz, alcançaram
no Potenza suas primeiras vitórias na Copa Truck.
Para Carlos Col é o CEO da Mais Brasil, empresa
que organiza a competição. Ele vê a competitividade
como a ponta mais visível de tudo o que
está se buscando para a categoria ao longo de
seus oito anos. “A Copa Truck vem trabalhado no
desafio de, ao mesmo tempo, controlar emissões
e melhorar a competitividade, para entregar boas
corridas aos fãs. Não é tarefa fácil pela característica
multimarca, raiz da categoria, onde competem
cinco marcas com projetos totalmente diferentes,
com arquiteturas de powertrain das mais
variadas e características específicas”, explica.
Em termos um pouco mais técnicos, o que se alcançou
foi o fornecimento da mesma quantidade
de ar para todos os motores através da adoção
de um turbo padrão e com pressão controlada.
“Dessa maneira a engenharia de cada equipe
teve que trabalhar na preparação e na calibração
dos motores, principalmente porque controlamos
também as emissões através de telemetria
on-line. O resultado foi uma redução de potência
final e muito parecida em todos os caminhões. As
quebras diminuíram bastante e a competitividade
melhorou”, exulta.
Depois da etapa disputada no traçado mineiro
da cidade de Lima Duarte, a classificação comprova
o equilíbrio. Cirino e Giaffone empatam
na liderança com 107 pontos, cada. Logo atrás,
com 106, aparece André Marques, piloto de um
Volkswagen. Salustiano subiu para quarto, com
102. “Esse equilíbrio é fruto do trabalho desde
a criação do campeonato, com o entendimento
das equipes do quanto isso pode ser benéfico
81
Vanderley Soares
Também líder da temporada, Felipe Giaffone busca o tricampeonato com seu Volkswagen
para pilotos e marcas. As questões de motorização,
turbina e inversão de grid são determinantes.
Quanto mais equilíbrio e competitividade,
mais disputas para o público que acompanha”,
afirma Cirino, o campeão de 2022.
“LIBERTADORES” VELOZ
Junte pilotos com títulos no Uruguai, no Brasil
e na Argentina, entregue a eles carros equalizados
mundialmente pelo conceito TCR e tenha
corridas sensacionais. A temporada 2024 do TCR
South America e do TCR Brasil completou sete
corridas no último dia 16 de junho, no Velocitta.
Já são três eventos este ano com três poles diferentes.
O uruguaio Juan Manuel Casella celebrou
em Interlagos, na prova Endurance, enquanto os
brasileiros Rodrigo Baptista e Pedro Cardoso foram
os mais rápidos do qualy em Cascavel e no
Velocitta, respectivamente.
As corridas também apresentaram características
distintas, mas não deixaram de comprovar o
equilíbrio prometido pela categoria. Em São Paulo,
a prova Endurance contou com pilotos convidados
e teve 80 minutos de duração. Raphael
Reis, em dupla com Lucas Foresti, foi o vencedor.
Depois, a categoria rumou para Cascavel,
para uma rodada dupla do campeonato Brasil,
totalizando quatro provas no fim de semana. Os
brasileiros Galid Osman e Digo Baptista e os argentinos
Juan Angel Rosso e Fabian Yannantuoni
foram os vencedores. Por fim, o argentino Leonel
Pernia e o brasileiro Rafael Suzuki ganharam as
corridas no Velocitta.
A categoria prepara-se, agora, para recebe os
pilotos que integram o circuito mundial. Interlagos
receberá nos dias 20 e 21 de julho a quarta
etapa do TCR World Tour, com um total de 30
carros no grid. No campeonato Brasil, Raphael
Reis e Pedro Cardoso estão separados por apenas
um ponto na liderança. Já no campeonato
sul-americano, o líder é o argentino Juan Angel
Rosso, cinco pontos à frente de Cardoso.
Hernan Capa
Duda Bairros
Em começo de temporada positivo, Rafael Suzuki já venceu no TCR e na Stock Car
82
Rodrigo Ruiz
Com três vitórias na temporada da divisão Elite, Bia “destoa” do padrão na Copa Truck
Reis (77) e Cardoso (43) são
líder e vice do TCR Brasil
e estão separados por um
ponto na tabela
Rafael Gagliano
83
ENDURANCE BRASIL
França faz
2 a 1 no Brasil
Com seis unidades no grid, protótipo Ligier
supera os nacionais AJR e Sigma em duas
das três primeiras etapas do campeonato
Geferson Kern
Bruno Terena
84
Sob a expectativa de ainda mais adesões ao grid,
a disputa entre protótipos nacionais e importados
marca o Império Endurance Brasil em 2024
Nunca, em quase uma década de história, o
Império Endurance Brasil teve uma disputa tão
intensa quanto a de 2024 entre máquinas europeias
e brasileiras pela liderança. Três novos
protótipos Ligier JS P320, construídos sob o regulamento
FIA LMP3, chegaram para o campeonato
deste ano, dobrando o número de carros
franceses que integraram o grid da temporada
passada. Eles se juntaram aos nacionalíssimos
AJR e Sigma na disputa pela condição de carro
mais rápido – e mais resistente – do campeonato
brasileiro, em que a estrela das novas máquinas
brilhou nas três primeiras etapas da competição.
As novidades foram destaque já na abertura do
campeonato, em Goiânia. Pedro Queirolo e David
Muffato estrearam na TMG Racing anotando
a pole com o AJR número 35 – era, também, a
estreia da equipe entre os protótipos. Na corrida,
a vitória foi de Marco Pisani e Renan Guerra, dupla
campeã de 2022 na classe GT4, que estreava
na P1 com o Ligier da KTF Racing. Entre os GT,
domínio dos carros campeões de 2023. Marcel
Visconde, Marçal Müller e Ricardo Maurício levaram
a vitória da GT3 com o Porsche 911 GT3 R.
Jacques Quartiero venceu a GT4 ao lado de Alan
Hellmeister, substituto de Danilo Dirani.
85
David Muffato e Pedro Queirolo, com o protótipo gaúcho AJR, lideram o campeonato na classe P1
Em Interlagos, na segunda etapa, o espírito
de cooperação entre as equipes prevaleceu. As
equipes Mottin e FTR tiveram suas sedes inundadas
pela enchente no Rio Grande do Sul e
precisaram se ausentar. Emílio Padron, Henrique
Assunção e Fernando Ohashi só participaram da
corrida graças ao empréstimo de um Sigma P1
pela Sigma-Kraucher, com o transporte do carro
até a capital paulista feito por outro time do
Sul, a MC Tubarão. Durante o evento, em ações
orquestradas pela organização do campeonato
em conjunto com as equipes, a arrecadação de
donativos para repasse às vítimas ultrapassou as
20 toneladas.
Ricardo Baptista e Rafael Suzuki surgem na vice-liderança pilotando o Mercedes do Team RC
86
Na estreia do Ligier da KTF, Marco Pisani e
Renan Guerra conquistaram a vitória em Goiânia
Agora com Alan Hellmeister, o atual campeão
Jacques Quartiero é líder invicto da GT4
Na pista, a primeira vitória de Muffato e Queirolo
pelo time chefiado por Thiago Meneghel,
apesar do drama da última volta, em que o carro
apresentou falhas no sistema de ABS e panes elétricas.
Na GT3 a sorte esteve novamente ao lado
dos iniciantes, com triunfo do Mercedes AMG do
Team RC, com Ricardo Baptista e seu novo parceiro
Rafael Suzuki. A GT4 não teve novidades,
com Quartiero e Hellmeister recebendo a quadriculada
mais uma vez à frente dos rivais. A etapa
paulista marcou a estreia da dupla formada por
Marcelo Servidone e Andrew Maciel, que levaram
o Audi A3 Sport da Mamba Negra Racing ao
quarto lugar.
Marcel Visconde, Marçal Müller e Ricardo Maurício, com o Porsche da Stuttgart, comandam a GT3
87
Xandinho Negrão e Marcos Gomes enfrentaram problemas na última etapa
A terceira etapa ocorreu em um fim de semana
especial: o mesmo das 24 Horas de Le Mans,
maior clássico do Endurance mundial. O palco
da corrida foi o Velocitta, com vencedor repetido,
mas nem tanto: o Ligier da KTF, liderado
por Renan Guerra, venceu de novo, desta vez na
parceria com Gustavo Kiryla, que substituiu o lesionado
Pisani. Guilherme Figueirôa e Júlio Campos,
que estrearam na temporada tendo Werner
Neugebauer como parceiro, ratificaram a segunda
vitória de um Mercedes do Team RC. Na GT4,
Quartiero e Hellmeister firmaram-se como única
formação com 100% de aproveitamento a bordo
de seu Porsche 718 Cayman.
A temporada de 2024 do Império Endurance
Brasil prevê outras cinco etapas. A próxima levará
o grid dos carros mais velozes do país novamente
a Goiânia, no dia 10 de agosto, seguida de uma
rodada dupla em Interlagos, com uma corrida em
31 de agosto e outra em 1º de setembro. A experiência
não é inédita e submete pilotos e equipes
a um desafio ainda maior na busca por um dos
principais marcos da categoria, que é a durabilidade
dos carros associada às altas médias de
velocidade. O calendário determina, ainda, mais
visitas ao Velocitta, no dia 20 de outubro, e a Goiânia,
no dia 30 de novembro.
Victor Foresti é o líder da nova classe Legends
88
A Mamba Negra tomou parte do Império Endurance Brasil com Marcelo Servidone e Andrew Maciel
Guilherme Figueirôa, Júlio Campos e Werner Neugebauer levaram o Team RC à vitória na GT3
89
HIST0RIA
A Fórmula Chevrolet,
em dez temporadas
Categoria revelou ao mundo nomes como Kanaan, Castroneves,
Marques, Giaffone, Fontes e uma série de outros talentos
As categorias brasileiras de monopostos foram
sempre bom campo para formação de pilotos
que seguiram carreira internacional – ou que, no
mínimo, mantiveram sólida jornada nas corridas
do país. Desde os anos 70 categorias nasceram,
cresceram, revelaram talentos e encerraram seus
ciclos. Foi quando surgiram as fórmulas Vee e
Super Vee e também a Fórmula Ford, que atravessou
com sucesso os anos 80, que acolheram
o surgimento da Fórmula 2 e da Fórmula 3.
Essa base forte de categorias entregou ao automobilismo
mundial campeões e vencedores
da Fórmula 1, da Fórmula Indy e também das
chamadas classes de base, como a Fórmula
3000, a Fórmula Ford ou a Fórmula 3 da Europa,
sobretudo da Inglaterra. Sem contar, ainda,
os brasileiros que alcançaram sucesso em modalidades
como o Mundial de Esporte-Protótipos
e as categorias de turismo e gran-turismo
ao redor do mundo inteiro.
Djalma Fogaça, voltando de uma primeira tentativa de carreira na Europa, foi o primeiro campeão brasileiro
90
A primeira temporada marcou, entre outras histórias,
o início de carreira de Helio Castroneves
Tony Kanaan começou na F-Chevrolet para se tornar
um dos maiores nomes do Brasil no exterior
Era um cenário deslumbrante para os
jovens pilotos brasileiros do início dos
anos 90. Na Inglaterra, Rubens Barrichello
levou as taças da F-Opel em
1990 e da F-3 em 1991, título que Gil
de Ferran repetiu em 1992. Também
em 1991, Paulo Carcasci dominava a
F-3 japonesa, que tinha forte envolvimento
das fábricas do país, e Christian
Fittipaldi faturava a F-3000 internacional,
que tinha Roberto Pupo Moreno
como campeão de 1988.
A F-Ford seguia saudável no Brasil
do início dos anos 90, retomando
gradativamente a essência de categoria-escola
dissipada dez anos antes. A
F-3 brasileira e sul-americana vivia seu
auge. Foi esse o panorama que emoldurou
a criação da Fórmula Chevrolet,
em 1992. A base da categoria seria a
da F-Opel, que era disputada em diversos
países, sobretudo onde havia
fábricas das marcas controladas pela
General Motors, casos da própria Opel
e também da Vauxhall.
Felipe Giaffone começou sua carreira na F-Chevrolet
em 1993, um ano antes de conquistar o título
O grandalhão Ruben Fontes, na segunda temporada,
tornou-se o único goiano campeão
91
A F-Chevrolet revelou Ricardo Zonta ao mundo em
1993, e títulos importantes viriam na sequência
O gaúcho Pedro Bartelle foi campeão em 1995, numa
disputa interna contra o paulista Douglas Pitoli
Atingido pelo carro de Marcelo Tedesco em Curitiba,
Luiz Fernando Uva ficou com o título em 1996
A construção do chassi da F-Opel, atribuição
da Reynard, ocorreu no Brasil sob
licença da Techspeed, que também construía
os F-Ford. O processo empregava
materiais de qualidade, como o cromo-
-molibdênio, utilizado na composição do
chassi tubular, que aliado ao monocoque
de alumínio, conferia ao modelo um peso
de 488 quilos. O conjunto de suspensões
de competição, com braços triangulares
e amortecedores especiais, e a adoção de
aerofólios reguláveis proporcionavam ótimo
desenvolvimento de acertos.
O motor era o mesmo bloco C20xe da
Opel, um 2.0 de 16 válvulas que entregava
mais de 170 cavalos de potência. Os números
da época revelavam máximas de 220
km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 2,5
segundos. O câmbio Hewland de cinco velocidades
e os pneus slick da Bridgestone
eram importados. O custo do carro era de
55 mil dólares. Uma temporada completa
no Campeonato Brasileiro poderia consumir
algo em torno de 150 mil dólares.
Preparação, equalização e revisão de
motores antes da entrega para as equipes
eram atribuições do Instituto Mauá de Tecnologia,
com custo bancado pela Chevrolet
do Brasil. A primeira corrida, não válida
pelo campeonato, foi preliminar do GP do
Brasil de Fórmula 1 de 1992. Com 20 pilotos
no grid, foi Djalma Fogaça, já considerado
um veterano aos 29 anos, quem
valeu-se do conhecimento do carro (havia
disputado a F-Opel no ano anterior) para
vencer mais de 30s à frente de Flávio Douglas
Tito, o segundo.
O campeonato regular teve oito etapas, a
primeira delas em Brasília no mês de agosto,
com vitória do goiano Ruben Fontes.
Fogaça, com uma vitória, levou o título depois
de uma disputa nos tribunais com o
paranaense Tarso Marques, que foi ao topo
do pódio três vezes. O sorocabano abriu,
assim, a série de títulos da carioca Texaco-
-Petrópolis, que se mostraria imbatível nas
primeiras temporadas da F-Chevrolet.
Em 1993, com cacife da GM do Brasil, a
categoria passou a cumprir sua agenda
de provas em conjunto com a Stock Car,
que se despedida do Opala. Como efeito
da reclamação de parte dos pilotos e das
92
equipes, a organização da F-Chevrolet aumentou
para 300 dólares o prêmio por participação e o
Banco GM assumiu o financiamento total das revisões
dos motores. Nomes como Marques, Tony
Kanaan e Hélio Castroneves trataram da sequência
de suas carreiras, enquanto novos nomes chegavam
ao grid da F-Chevrolet, casos de Ricardo
Zonta, Douglas Pitoli e Ruben Fontes, goiano
que aos 17 anos deu o bicampeonato à equipe
de Mauro Vogel vencendo quatro das oito etapas
regulares, numa disputa polarizada com o companheiro
de equipe Felipe Giaffone.
Novos artifícios foram adotados para atrair mais
pilotos e equipes ao campeonato de 1994. Estipulou-se
um prêmio de largada de 13 mil dólares,
para rateio entre os participantes de cada etapa.
O campeão da temporada receberia um automóvel
Chevrolet e os três primeiros na pontuação
dividiriam uma quantia de 20 mil dólares. O pagamento
de taxas de inscrição foi banido e a GM
do Brasil passou a fornecer por sua conta 180 litros
de combustível para cada carro.
Também houve mudanças técnicas. Os carros
passaram a utilizar os mesmos compostos de
pneus que a Pirelli fornecia à Fórmula 3, em detrimento
dos Bridgestone utilizados até então.
Os Pirelli davam mais desempenho e custavam
menos. Jovens talentos como Felipe e Zequinha
Giaffone, Sérgio Paese, Giuliano Losacco e Max
Wilson mediram forças com pilotos experientes
como Alfredo Guaraná Menezes, Andreas Mattheis,
Ciro Aliperti e Djalma Fogaça. Felipe Giaffone
conquistou o título em um lance polêmico:
numa batida com Max Wilson em Interlagos, na
nona etapa. Era o terceiro título consecutivo da
Texaco-Petrópolis, que naquele ano foi liderada
por Jorginho Freitas.
Duda Pamplona levou o primeiro título da F-Chevrolet
para o Rio de Janeiro na temporada de 1997
Thiago Medeiros foi quem ganhou um carro zero
quilômetro da GM pelo título brasileiro de 1998
Vieram mais ações de incentivo em 1995, com
os concessionários GM colaborando com a premiação,
arrecadando e distribuindo 13 mil reais
para rateio entre os pilotos de cada etapa. O
combustível continuou subsidiado, em cotas de
200 litros por participante, além de apoio às
equipes nos custos de hospedagem. Em termos
técnicos, o campeonato marcou a adoção da injeção
eletrônica.
No campo desportivo, a novidade foi a inédita
realização de uma corrida de rua. A estrutura montada
para a pista capixaba de Vitória, onde Marcelo
Tedesco largou da pole e venceu, consumiu um investimento
de 600 mil reais. O título foi conquistado
pelo gaúcho Pedrinho Bartelle com uma etapa
de antecedência, em Interlagos, em uma disputa
contra o paulista Douglas Pitoli. Tedesco e Paese
foram os outros vencedores do ano.
O título de 1996 foi conquistado pelo paulista
Luiz Fernando Uva, que vinha participando nos
anos anteriores. O campeonato marcou a estreia
de pilotos que fariam sucesso nas pistas anos depois,
casos do paraibano Valdeno Brito, do catarinense
Leonardo Nienkotter, do carioca Duda
Pamplona e do paulista Airton Daré, um pentacampeão
brasileiro de moto aquática. Este foi o
ano que marcou a última temporada da Fórmula
Ford no Brasil, o que suscitou a expectativa da
Fórmula Chevrolet acolher na temporada seguinte
boa parte dos pilotos da categoria.
E em 1997, com os carros apresentando visual
diferente a partir da adoção de uma proteção
especial para a cabeça dos pilotos nas seções
superiores das laterais do cockpit, Pamplona se
sobrepôs ao paulista Alex Bachega e ao mineiro
Marcelo Carneiro para conquistar o título com
antecipação de duas etapas. Valdeno Brito foi
quem protagonizou o momento mais espetacular
da temporada, na etapa carioca: alcançou o
pódio completando a corrida com apenas três
rodas no carro, efeito de sua batida com Carneiro
numa tentativa de retorno depois de escapar da
pista em Jacarepaguá.
93
O primeiro título de Felipe Massa no automobilismo
ocorreu na temporada de 1999 da F-Chevrolet
O título de Roberto Streit Filho em 2001 marcou
o fim da história da Fórmula Chevrolet no Brasil
Em 1998 a duração das corridas caiu de 35 para
25 minutos, com exibição no programa “Hora da
Velocidade”, da Rede Bandeirantes. O pacote de
premiação oferecido pela GM trazia 18 mil reais por
etapa e dois automóveis zero quilômetro – um para
o campeão da temporada e outro para o piloto-revelação
que seria eleito por uma comissão de jornalistas
especializados. Thiago Medeiros e Karlos
Fernandes, campeão e vice, integravam a lista dos
estreantes, que incluía ainda Nilton Rossoni, Ângelo
Serafim, Fábio Carbone, André Grilo e Felipe Massa.
A implantação das categorias A e B foi a novidade
maior para 1999, sendo a B destinada a pilotos
com idade mínima de 16 anos que ainda não
tivessem disputado categorias de monopostos
superiores à própria Fórmula Chevrolet. Marcelo
Monteiro levou o título da B por ter mais vitórias
que Baltazar Júnior, já que os dois terminaram o
ano empatados em pontos. Juninho Fragnani, o
terceiro, ficou a apenas um ponto do campeão
e do vice.
Felipe, Zequinha, André e Sandro Giaffone
integraram o grid de 1993
O efeito
Giaffone
O campeonato de 1993 marcou a invasão do
grid da Fórmula Chevrolet pela família Giaffone,
que teve quatro integrantes disputando a temporada.
Felipe e Zequinha, filhos de Zeca Giaffone,
fizeram dobradinha na etapa de Brasília, onde o
primo André, filho de Affonso Giaffone, foi terceiro
– Sandro, irmão de André, terminou a corrida
em quinto. Era um ano sabático para Affonsinho
Giaffone, que vinha de boas participações na F-3
sul-americana e voltaria à ativa em 1995, na Indy
Lights. Franco, também filho de Affonso, era piloto
de autocross.
94
Com carenagens modificadas, a categoria viu Popó Bueno comemorar
o título de 2000 “em casa” e festejar com o pai Galvão Bueno
Felipe Massa, na classe principal, levou o título com
dois pontos de dianteira sobre Fábio Carbone, em um
título sacramentado apenas em janeiro do ano seguinte,
já que o tribunal desportivo tinha pendente a análise
acerca da desclassificação de Carbone em uma das etapas
de Interlagos.
A maior alteração visual da história da F-Chevrolet
ocorreu para 2000, com o chassi tubular sendo mantido
e a carenagem adotando linhas mais retas e agressivas.
Uma etapa extracampeonato em Curitiba fomentou a
adaptação de pilotos e equipes à novidade. Foi um ano
de títulos de pilotos cariocas. Alexandre Cunha venceu
o uruguaio Pedro Larriera na decisão do título da B, enquanto
na A o campeão foi Popó Bueno, filho do narrador
Galvão, que selou a conquista em Jacarepaguá. O pai
famoso acompanhou a conquista.
O ano de 2001 seria o último da história da F-Chevrolet,
que lamentava grids esvaziados, a descontinuação do
apoio da GM do Brasil e a necessidade de atualização
do equipamento. Até porque a Fórmula Renault tinha
confirmada sua chegada ao país na temporada seguinte,
com equipamento moderno e compatível ao utilizado em
campeonatos similares por todo o mapa-múndi. Roberto
Streit Filho, do Rio, levou o título da A superando o sul-
-mato-grossense Luciano Garcia, enquanto José Cardoso
ficou com o caneco da B.
Com o fim das atividades do campeonato, os carros da
antiga Fórmula Chevrolet foram destinados a outras tentativas
de formatação de campeonatos, em sua maioria
em âmbito regional. Nenhum deles vingou. O que não desmerece
a história da Fórmula Chevrolet na revelação de
talentos para o mundo e na formação, também, de pilotos
para o automobilismo nacional. Foram dez anos de bons
serviços prestados pela categoria, disso não há dúvida.
95
KART
E a base,
como está?
Algumas diretrizes utilizadas pela CBA
nos últimos anos estão mexendo com
a porta de entrada do automobilismo
Osires Junior
Fábio Oliveira
De olho na chegada de novos nomes ao cenário
do automobilismo, especialmente da Stock Series,
Fórmula 4 e Fórmula Delta, a Revista Grid
decidiu verificar como está o kart nacional. Afinal,
as últimas edições das competições nacionais
revelaram campeões de Norte a Sul do Brasil,
fomentaram a atividade até as categorias +60
e, principalmente, impulsionaram jovens pilotos
para os autódromos.
Conversamos com algumas figuras que frequentam
os kartódromos há muito tempo e colhemos
as impressões deles sobre o que de bom,
e de não tão bom, está rolando na modalidade.
Atualmente, a Confederação Brasileira de Automobilismo
tem como presidente da Comissão de
Kart o experiente Binho Carcasci, que se notabilizou
com a realização da Seletiva Petrobras. Hoje,
ele tem a missão de fomentar o kart em praças
não tão conhecidas, o que tem o lado bom e o
ruim – a conversa com ele está detalhada nas páginas
a seguir.
Nossos convidados para analisar o momento do
kart são Ricardo Gracia, proprietário do Speed
Park, em Birigui, que sediará uma das fases do
próximo Campeonato Brasileiro; o jornalista Erno
Drehmer, que há 22 anos comanda o site Kart Motor,
maior portal brasileiro especializado na modalidade;
e a fotógrafa e jornalista Eni Alves, presença
garantida em todos os kartódromos do país.
Números fornecidos pela CBA apontam, ao final
de 2023, um total de 2.332 pilotos de kart filiados.
A base das competições nacionais tem girado em
torno de 10% deste número. A entidade aposta
em trazer mais gente para a modalidade com a
organização de competições na região Nordeste.
O regional tem experimentado uma queda acentuada
na participação em suas três edições. Em
2021 foram 150 inscritos, contra 115 em 2022 e
apenas, 58 no ano passado.
A iniciativa fomentou praças como o Kartódromo
Emerson Fittipaldi, na capital sergipana
Aracaju, o Kartódromo Marcelino Thomaz, na
cearense Morada Nova, e o Circuito Internacional
Paladino, na paraibana Conde.
A primeira constatação positiva feita por nossos
entrevistados é que a abertura para a chegada de
equipamentos importados, especialmente chassis,
fez com que a evolução da pilotagem acontecesse
de forma acelerada. Além disso, também
forçou a indústria nacional a buscar evolução.
“Foi uma abertura muito importante, seja para
chassis, seja para motores. A homologação dos
importados para mais categorias trouxe maior
competitividade. Particularmente, eu também
esperava que isso fizesse os preços baixarem,
mas não foi o que aconteceu”, comenta Eni.
“O legal disso é que os chassis nacionais foram
forçados a evoluir, e hoje, nas competições
nacionais, vemos uma divisão dos títulos entre
nacionais e importados”, ressalta Erno. “O Brasil,
mesmo com a característica das categorias 4
tempos e 2 tempos, se destaca na formação de
pilotos, prova disso são os nossos pilotos correndo
na ponta dos campeonatos pela Europa”,
lembra Gracia.
As adaptações também fizeram com que os pilotos
brasileiros voltassem a disputar títulos. Em
2022, Matheus Morgatto conquistou o Mundial. Em
2023, Gabriel Gomez foi pole e liderou a prova decisiva
até ser tirado da pista a poucas voltas do fim.
96
A CBA aposta em novos equipamentos e categorias
para elevar ainda mais o nível do kart nacional
MAIS LONGE X MAIS CARO
O objetivo de levar os campeonatos para praças
mais afastadas mexeu diretamente com o bolso.
Uma conversa informal com vários pilotos apontou
que o novo sistema de separação de fases
dos campeonatos nacionais em praças diferentes
faz com que uma participação não saia por menos
de R$ 25 mil.
A conta inclui uma viagem para disputar o
Open e conhecer a nova pista, além das questões
logísticas para mecânicos, preparadores e
os custos, considerados altos, de pneu, locação
de motor e inscrição. Não existem premiações
em dinheiro que amenizem o investimento de
pilotos e equipes.
Neste ano, por exemplo, o Campeonato Brasileiro
será dividido em três sedes. O grupo 1 será
disputado no Speed Park em outubro. O grupo 2,
no Kartódromo Luigi Borghesi, em Londrina, um
mês depois. O grupo 3, no Kartódromo San Marino,
em Paulínia, incluindo Campeonato Brasileiro
de Kart, Brasileiro de Kart Rotax e Brasileiro de
Kart Endurance.
97
KART
NACIONAL X ESTADUAL
Os números recentes apontam que a valorização
da Copa Brasil e do Campeonato Brasileiro sem um
critério de vagas desvalorizou os campeonatos regionais
ou estaduais. A última edição do Campeonato
Gaúcho, por exemplo, mal bateu os 50 inscritos,
enquanto o Sul-Brasileiro, chegou aos 130 participantes,
mais por conta do esforço dos organizadores
em Pato Branco. O número é quase metade da
edição anterior, quando a competição foi disputada
no Beto Carrero.
“Por isso é preciso voltar a valorizar os estaduais
como forma de garantir vaga nos nacionais. Hoje,
um piloto que nunca andou um regional ou um estadual
pode chegar em qualquer campeonato nacional
e sair como campeão. Não acho que isso seja
muito legal” comenta Eni Alves.
O Speed Park também tem se empenhado em
fortalecer as competições locais. Durante todos os
dias, o kartódromo tem atividades que abrangem
escolinha, indoor e atividades para os pilotos mais
experientes. Nomes como Felipe Sanches, Leonardo
Ramires, Henrique Gottems, Tiago Kastner, Thiago
Miranda e Miguel Subtil são presenças certas na pista
do interior paulista.
Fala
quem
manda!
Binho Carcasci é o presidente
da Comissão Nacional de Kart
desde que a gestão Giovanni
Guerra assumiu. Dentro do que
foi traçado no início, ele recebeu
carta-branca para implementar
mudanças. Revista Grid
conversou com Carcasci sobre
as principais iniciativas e os
resultados obtidos até agora
FORMAÇÃO
O kart segue sendo a grande porta de entrada e
formação para o automobilismo. Apesar de alguns
pilotos optarem por seguir no kart, muitos outros já
estão buscando os autódromos e se destacando em
monopostos ou turismo. “O kart não é uma categoria
solo. Ele é um link muito importante para quem
quer chegar bem no automobilismo”, pontua Drehmer.
Eni Alves destaca a criação de novas categorias
para a geração de mais pilotos. “As idades foram diminuídas
na escadinha das categorias. Então, os pilotos
chegam mais cedo na Junior e na Graduados.
Também foi criada a Mini 2T, que é uma evolução da
Cadete para a Junior Menor”, acrescenta.
Essa mudança na faixa etária também é apontada
por Ricardo Gracia como responsável pelo crescimento
na maioria dos grids das principais competições.
“Estamos tendo muita renovação de grid, especialmente
das categorias de base que são a Mirim,
a Cadete e a Junior Menor, que agora terão a oportunidade
de correr com os motores OK e OK Júnior
com igualdade de equipamentos nos campeonatos
europeus da FIA”, conta. O empresário fomenta em
seu kartódromo uma escolinha de kart que já vai revelando
os primeiros nomes como Nicolas Gomes e
Leonardo Bussolotti.
Revista Grid - Quais foram os principais
pontos de “ataque” que a CNK adotou
para fomentar mais ativamente a modalidade?
Binho Carcasci - Incrementamos a divulgação
das atividades de kart no Brasil,
em especial os campeonatos nacionais.
Pontualmente, criamos o Campeonato
Nordeste, região que não tinha havia tempo
um campeonato unindo as federações
locais, com supervisão da CBA. Melhoramos
nossos regulamentos, tornando as
disputas mais claras e justas, incluindo vistorias
técnicas mais eficazes, o que acaba
atraindo mais pilotos também. Buscamos
dar premiações importantes, como treinos
com carros da Fórmula 4 Brasil e da
TCR, damos isenção na taxa de inscrição
para os campeões nacionais em próximos
eventos, levamos pilotos do kart para o último
FIA Motorsport Games, demos inscrições
gratuitas para mulheres, entre outras
medidas.
98
Binho Carcasci, presidente do Conselho Nacional de Kart,
com Helio Castroneves, tetracampeão da Indy 500
Revista Grid - Hoje, são quase 3.000 pilotos
cadastrados, nas mais diversas idades. Mas o
kart ainda é visto como “escola”. Como isso tem
sido trabalhado para manter a chegada dos iniciantes
e a renovação dos grids das principais
categorias?
Binho Carcasci - A categoria Cadete tem sido
a principal porta de entrada do kart no Brasil há
anos. Cuidamos nesse tempo para não perdermos
isso, apenas criando um estágio intermediário
no passo seguinte, onde havia muita desistência,
especialmente por conta dos custos.
Criamos as categorias F4 Junior e a Mini 2T, alternativas
mais acessíveis, que têm servido para
manter um número maior de pilotos em atividade.
Nos Campeonatos Brasileiros do ano passado
somamos mais de 100 pilotos abaixo de 12
anos de idade, com destaque para a Mirim, entre
7 e 8 anos, com 28 no grid, número bem expressivo.
Também ajustamos as idades de algumas
categorias, acreditando que agora proporcionamos
uma melhor evolução na curva aprendizado
dos pilotos.
Revista Grid - Estamos bem servidos de pistas?
Como a CBA acompanha isso? Existe a possibilidade
de novas pistas surgirem?
Binho Carcasci - Sim, temos ótimos kartódromos
no Brasil, alguns com homologação FIA.
Alguns novos estão em construção e outros já
prontos, como um em Paragominas, no Pará.
Revista Grid - Quais os próximos passos da
CNK?
Binho Carcasci - Vamos colocar em pé a Regional
Cup, um campeonato com apoio da FIA, que
vai utilizar motores OK e OK Junior, o que há de
mais moderno no kart mundial. Serão quatro etapas
classificatórias e uma final, com os campeões
tendo ajuda de custo para disputar o campeonato
mundial de kart deste ano. Além disso, o trabalho
da CNK não para, 2024 é ano de homologação
de diversos equipamentos para kart, entre eles
de motores. Vamos evoluir, tirando os motores
MY dos campeonatos nacionais e adotando algo
mais moderno. Teremos novamente três grupos
no Campeonato Brasileiro e a volta do Endurance.
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SUPERACAO
Muito além
das pistas
Início de carreira no kart foi a “pílula mágica”
que salvou a vida de Douglas Mattos
Osires Junior
Projetax
Sonhos podem salvar vidas. O ensinamento que alcançou
o fluminense Douglas Mattos em curto espaço de tempo
prova que o esporte tem muito mais de inclusão do que
podemos imaginar. Diagnosticado com paralisia cerebral,
o que comprometeu completamente seu desenvolvimento,
o hoje piloto foi abençoado com a dedicação do pai
Jorge e da mãe Maria Regina, que entenderam a missão
divina a eles confiada.
Douglas foi criado para ser independente, mas só começou
a andar aos 14 anos, e com limitações de movimentos
que perduram até hoje. Nada que o impedisse de “correr”
atrás de seu sonho. “Correr era o meu sonho, mas minhas
pernas não permitiram. Depois de muitos anos encontrei
no automobilismo um jeito de acelerar. Foi paixão à
primeira pista!”, garante o cidadão que apresenta-se em
qualquer conversa como piloto profissional. O primeiro do
Brasil com paralisia cerebral.
Antes disso, Douglas formou-se em Tecnologia da Informação
e atuou como analista de suporte em uma multinacional.
Foi quando a velocidade surgiu como remédio. Aos
33 anos, Douglas sofreu burnout e entrou em depressão.
“Foi então que lembrei do meu sonho de infância e decidi
que, a partir daquele momento, daria asas à minha paixão,
me tornaria piloto e iria viver uma vida com propósito”,
testemunha.
Depois de um período de treinamentos e com o apoio
de amigos, Douglas decidiu que havia chegado a hora de
buscar as competições. Em 2023, disputou o Campeonato
Carioca na categoria Rental. Terminou em décimo lugar
e celebrou como campeão. “Competir com pessoas sem
deficiência, com um kart sem adaptações, foi algo que me
fez sentir poderoso e realizado”, garante o piloto nascido
em Petrópolis, que vive a perspectiva de uma carreira com
aceleradas mais forte.
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Com o apoio do empresário e amigo Felipe Martins, a carreira
de Douglas Mattos vai ganhando profissionalismo e o sonho
vai ficando cada vez maior. “Lembro da primeira pergunta que
ele me fez: ‘Qual seu maior sonho?’. São tantos, que demorei
alguns dias para conseguir responder”, relata, entre risos. “Minha
conclusão: quero ajudar a transformar a vida de pessoas
com deficiência através do esporte e da educação”.
O sonho seguinte já está se tornando realidade. Foi criado o
Instituto Douglas Mattos, que vai atuar como apoiador de projetos
de outros atletas sonhadores que sejam portadores de
alguma deficiência, para motivar jovens a irem em busca do
seu melhor. “Velocidade e Inclusão: Superação a Cada Volta”
é o projeto do instituto já aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte,
que está na fase de captação de recursos. Em resumo,
começa a busca por patrocinadores que tenham sinergia com
o propósito.
“Agora preciso conseguir patrocínios para continuar trabalhando,
desenvolvendo o projeto e o instituto, e crescendo
em minha carreira. O próximo sonho que pretendo realizar
é competir em alguma categoria nacional, como Copa HB20
ou AMG Cup, e vou trabalhar para alcançar este sonho em
2025. Estou trabalhando duro, malhando todos os dias, indo
às sessões de fisioterapia três vezes por semana, treinando e
fazendo tudo que está ao meu alcance para melhorar o desempenho
na pista”, assegura Mattos.
Douglas Mattos não esconde seu desejo de ver o trabalho
inspirando outras iniciativas. “Faço por mim, pela minha esposa
Juliana, por meus filhos Artur (8 anos) e Anthoni (2 anos),
por meus pais, meus amigos, meus 44 mil seguidores e fãs.
Faço por meus futuros netos, bisnetos e tantas gerações que
poderão se inspirar pelo legado que estou construindo. Vou
continuar trabalhando, ultrapassando limites, vencendo desafios,
carregando sempre a certeza de estar entregando o meu
melhor, trazendo sempre um sorriso no rosto e vontade de
fazer acontecer. Nunca foi fácil, mas sempre valeu a pena”.
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Pódio na seletiva FIA
Girls on Track Brasil
Studio One/CFA
A Mamba Negra Racing marcou presença na
seletiva de kart FIA Girls on Track Brasil. Bianca
Curcio Rodrigues, aos 8 anos, foi a representante
da equipe na disputa da categoria Cadete, que
confrontou parte das 38 kartistas inscritas na
competição realizada no dia 9 de junho no Kartódromo
Speed Park, em Birigui, cidade do interior
paulista. A primeira competição oficial da piloto
paulista rendeu, também, o primeiro troféu: foi ao
pódio em sexto lugar na classificação final.
Tendo em seu histórico recente de pista a participação
em menos de uma dezena de treinos nos
circuitos de Interlagos e Aldeia da Serra, Bianca,
que levou no kart número 10 os apoios de Revista
Grid, MRC Pay e Grupo Servidone, mediu forças
com as pilotos de várias partes do Brasil. Depois
de ter sido tirada da pista em uma das baterias
por uma adversária, acabou tendo de recorrer à
repescagem para seguir no evento. Saiu vencedora
da corrida de repescagem e, largando da
última posição, alcançou o pódio, em sexto.
CEO do Grupo Servidone e diretor geral da
Mamba Negra Racing, o piloto de automobilismo
Marcelo Servidone enalteceu a evolução alcançada
por Bianca na seletiva. “Revelar e desenvolver
novos talentos é um dos vários pilares dos nossos
propósitos como estrutura de competição,
e fiquei particularmente feliz com a garra que a
Bianca demonstrou mesmo diante de situações
adversas, como uma troca inesperada de chassi e
com o incidente que a tirou de uma das corridas”,
diz. “Tenho certeza que o talento dela vai nos trazer
muitas alegrias”, ele aposta.
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A campeã da seletiva na categoria Cadete foi a
paraibana Nicolle Nascimento. Na Júnior, o título
ficou com a paulista Fernanda Ribeiro Cerqueira.
E na categoria Graduadas a vencedora foi a catarinense
Maria Eduarda Nienkötter. A FIA Girls on
Track Brasil Seletiva de Kart foi uma realização
da Confederação Brasileira de Automobilismo,
da Comissão Feminina de Automobilismo e do
BRB, com patrocínio da Porto e conta com apoio
do Kartódromo Speed Park, da CNK, da Federação
de Automobilismo de São Paulo e do FIA
Sports Grant.
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Retorno
com pódio
Daniel Gomes
A passagem da Gold Turismo pelo autódromo
de Interlagos no fim de maio marcou o retorno
de Thiago Lopes ao grid da categoria. Piloto
regular da Copa HB20 e cumprindo participações
também na Nascar Brasil, o paulista voltou
a representar a Mamba Negra Racing na série
integrante da Gold Racing, desta vez integrando
sua classe principal, a Pro. O trabalho desempenhado
na etapa disputada em meio de
semana, numa véspera de feriado, foi premiado
com a aparição no pódio: Thiago foi o quinto
colocado.
Mostrando bom ritmo nos treinos com o VW
Gol número 147 da Mamba Negra Racing, Thiago
acabou não disputando a tomada de tempos
classificatória por conta de uma necessidade de
reparo no câmbio do carro. Largando do fim de
um grid formado por quase 40 carros, sabia que
sua tarefa não seria das mais fáceis. O desempenho
na primeira das quatro corridas foi digno
de aplauso: recebeu a bandeira quadriculada em
13º lugar na classificação geral, pontuando como
quinto colocado de sua categoria.
A evolução seguiu na corrida seguinte, com a
conquista do oitavo lugar geral, que valeu-lhe os
pontos do quarto lugar na classe Pro. Para a terceira
corrida, mais evolução: largando em oitavo,
levou o carro até a sexta posição geral, somando
um segundo lugar na Pro. Com a inversão de
posições para formação do último grid, Thiago
Lopes largou em terceiro para a corrida final, em
que cruzou a linha de chegada em 11º, marcando
os pontos do sexto lugar da Pro. Na soma de
pontos, ficou em quinto.
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Endurance Brasil,
nosso novo desafio
Daniel Gomes
A temporada automobilística de 2024 surgiu
com um novo desafio para a Mamba Negra Racing:
a primeira participação em um campeonato
brasileiro. É inegável que o bom desempenho de
janeiro no GP Cidade de São Paulo/1000 Milhas
Chevrolet Absoluta, com a conquista do segundo
lugar na categoria GT4 Light após 12 horas de
disputas, foi fator determinante para que a equipe
direcionasse seu foco às corridas de longa duração.
O palco para essa nova frente de trabalho
não poderia ser outro: a equipe paulista, hoje,
integra a relação de participantes do Império Endurance
Brasil.
O pódio nas 1000 Milhas foi conquistado e festejado
pelo trio que reuniu os paulistas Marcelo
Servidone e Enzo Sala e o canadense Andrew
Maciel no revezamento da pilotagem do Audi A3
Sport. É o mesmo carro que a equipe tratou de
levar ao grid do Império Endurance Brasil para
as corridas de longa duração que põem o título
nacional em disputa, com Servidone e Maciel
atuando em dupla. Por questões de agenda, a estreia
da equipe aconteceu na segunda etapa da
temporada, realizada em Interlagos. A segunda
participação aconteceu em Mogi Guaçu, no autódromo
Velocitta.
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“Eu já acompanhava o Endurance Brasil com
uma atenção especial havia algum tempo, tanto
na parte desportiva quanto no evento como um
todo, e por isso seria injusto dizer que estou surpreso
com a qualidade do evento, que entrega
um nível de excelência fora do comum”, assinala
Servidone. “Posso garantir sem medo de errar:
estamos absolutamente em casa na categoria, e
ali vamos permanecer por muito, muito tempo”,
acrescenta. “O ambiente das etapas tem muito
do que a Mamba Negra Racing se propõe a realizar
no automobilismo. A equipe e a categoria
têm uma sinergia ótima”.
Marcelo Servidone e Andrew Maciel, nas duas
primeiras participações, obtiveram pódios com
um quinto e um quarto lugar na categoria GT4.
“Em termos de pista, para nós, é o começo de
um trabalho e também de um aprendizado que
começou promissor. Estamos no grid dos carros
mais velozes do automobilismo brasileiro. Não é,
ainda, o caso do carro da Mamba Negra, mas já
temos novidades a caminho”, assegura o diretor
geral da equipe. “Os próximos meses serão de
muito trabalho, até para que possamos anunciar
e mostrar a todos o protótipo com que vamos
disputar as próximas temporadas. Estaremos no
time da ponta”, promete.
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PALAVRA DO PRESIDENTE
Verdadeira revolução
Giovanni Guerra
Caros amigos da Revista Grid! Nesta coluna,
quero falar para vocês do meu orgulho e satisfação
pelo atual momento do kartismo brasileiro.
Posso dizer, sem exageros, que estamos vivendo
algo histórico no nosso kartismo.
Desde o início de nossa gestão, nossos principais
objetivos para o kartismo foram ampliar a
prática da modalidade para todas as regiões do
Brasil e de oferecer as mesmas possibilidades
para que nossos kartistas pudessem ter acesso
aos mesmos equipamentos de campeonatos FIA,
como o Mundial e o Europeu, mas correndo inicialmente
no Brasil, pagando em reais e sem se
ausentar da casa dos pais.
Enquanto o Nordeste de Kart já é uma realidade,
revelando grandes talentos e gerando a
construção de novos kartódromos na região, a
equiparação do nosso modelo com o internacional
está sendo possível com a realização da primeira
edição da Regional Cup Brasil, competição
realizada com os mesmos motores utilizados na
Europa, os da geração OK. Esses motores foram
enviados pela própria FIA para impulsionar a Cup
não apenas no Brasil, mas também para impulsionar
as oportunidades aos pilotos de toda a América
do Sul.
Sempre buscando gerenciar os custos dentro
da realidade brasileira, a Cup é disputada no
formato de seletiva, com etapas classificatórias
ocorrendo nos campeonatos regionais. Os 44
kartistas (16 OK FIA; 16 OK JUNIOR; 12 MIMI 2T)
participarão da grande final que selecionará os
vencedores que disputarão o Mundial de Kart, em
setembro na Inglaterra, com uma gama enorme
de benefícios.
Mais uma vez, gostaria de agradecer ao presidente
da FIA, Mohammed Ben Sulayem; à Fabiana
Ecclestone, vice-presidente de esporte da
FIA para a América do Sul; ao Simone Perego, ao
Bruno Famin, que na época foi o grande incentivador
e assinou o investimento neste projeto
com o apoio do Felipe Massa, para dar ao Brasil e
à América do Sul a oportunidade de nossos pilotos
correrem em igualdade de condições com o
restante do mundo.
FIA Karting
Giovanni Guerra com representantes do Brasil
na etapa francesa do Europeu de Kart
Abraçamos essa grande oportunidade de fazer a
Regional Cup para demonstrar à FIA que o investimento
foi acertado e estamos aqui já exibindo
os resultados com grandes etapas classificatórias
e a premiação na Final, que irá levar quatro pilotos
para o Mundial OK e OK Júnior e a Copa do
Mundo de Kart OK N, em setembro, na Inglaterra.
Ter esses pilotos nos eventos internacionais, correndo
por uma grande equipe, é uma maneira de já
devolver à FIA os frutos deste grande aporte para
o nosso kartismo, lembrando que os pilotos premiados
irão correr pela equipe de fábrica italiana
Parolin, com os equipamentos, inscrição e motores,
entre outros benefícios, custeados pela CBA.
Com a anuência do Ricardo Gracia, responsável
pelos motores, vamos usá-los no Sul-Americano
para que os pilotos do continente possam disputar
o campeonato aqui com os mesmos equipamentos
e regras utilizados na Europa e, quem
sabe assim, mostrarmos para a FIA que da mesma
forma que existe um Europeu com a chancela
FIA, por que não um Sul-Americano também reconhecido
por eles?
Mas, antes, vamos trabalhar, fazer o nosso dever
de casa, mostrar resultados e entregar o que nos
propusemos, honrando esse investimento que a
FIA fez.
O autor é presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo
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