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COMUNICAÇÕES 252 - MARGARIDA BALSEIRO LOPES MAIS DIGITAL PARA SIMPLIFICAR

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL O NOVO

ACELERADOR DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

UNICORN FACTORY LISBOA

QUER GANHAR O MUNDO

BRAGA UM RETRATO DA CIDADE

INOVADORA EM ASCENSÃO

N.º 252 • DEZEMBRO 2024 | ANO 37 • PORTUGAL • 3,25€

MARGARIDA

BALSEIRO LOPES

MAIS DIGITAL

PARA SIMPLIFICAR


ESTÁ A CONTAR

Fibra e 5G

Vivemos um tempo em que o tempo é crucial, onde cada milissegundo

conta para as empresas que querem inovar e evoluir. Conte com as soluções

inovadoras de cibersegurança e cloud da MEO Empresas, assentes

na melhor e mais robusta rede móvel e na maior rede de fibra do país,

garantindo alta fiabilidade para quando nada pode falhar.

empresas

meoempresas.pt


edit orial

Sandra Fazenda Almeida sandra.almeida@apdc.pt

Alinhar esforços

para acelerar

Com o fim de mais um ano e o arranque

de 2025, é tempo de refletir sobre as profundas

transformações que têm marcado

a sociedade e economia, impulsionadas

por tecnologias disruptivas como a IA. A

ascensão da IA generativa (GenAI) ilustra bem

a mudança de paradigma que estamos a viver.

Este progresso foi demonstrado na 3ª edição

do EVOLVE AI, onde casos concretos de

empresas a utilizar IA para criar valor e obter

vantagens competitivas sublinharam uma

mensagem clara: a transformação digital está

em marcha em Portugal. Contudo, esta jornada

não está isenta de desafios. A adoção da IA

enfrenta barreiras, como a baixa literacia digital

dos colaboradores, a necessidade de modernização

das infraestruturas tecnológicas e as

preocupações com a privacidade dos dados e o

retorno do investimento.

Reconhecendo esses desafios, a APDC, em

parceria com a Google Portugal, lançou o IM-

PULSO IA, um programa de formação para

capacitar profissionais na utilização de IA,

enfatizando a urgência de requalificação para

acompanhar a velocidade da mudança tecnológica.

Iniciativas como esta são cruciais para

garantir que as empresas não apenas adotem

estas tecnologias, mas também as integrem de

forma eficaz nas suas operações.

Em paralelo, a Estratégia Digital Nacional,

recentemente apresentada pelo governo, oferece

um conjunto de medidas relevantes. É, no

entanto, necessário um maior enfoque numa

visão de longo prazo, que alinhe esforços entre

todos os stakeholders. Exemplos como a Unicorn

Factory Lisboa, que fomenta um ecossistema

de inovação em expansão, destacam a

importância de promover a colaboração para

impulsionar o crescimento e posicionar Portugal

como referência internacional.

A APDC, que comemorou 40 anos de existência,

tem desempenhado um papel fundamental

no desenvolvimento das TIC e dos media, criando

um espaço único de inovação e colaboração.

O futuro apresenta desafios e oportunidades e a

associação continuará a ser um agente ativo na

construção de uma economia digital robusta e

inovadora, promovendo o diálogo e a colaboração

entre os diferentes atores do ecossistema.

A mensagem só poderá ser de otimismo e

confiança no potencial do país para se afirmar

como líder na era digital. Apostar na inovação,

capacitar as pessoas e fomentar um ecossistema

colaborativo são elementos fundamentais

para assegurar um futuro próspero e inclusivo

para todos! Boas leituras!•

3


sumario

FICHA TÉCNICA

COMUNICAÇÕES 252

A ABRIR 6

5 PERGUNTAS 12

Dennis Teixeira, managing director da HPE

Portugal

À CONVERSA 14

Depois de apresentar a Estratégia Digital

Nacional, Margarida Balseiro Lopes

prepara-se para concretizar medidas

EM DESTAQUE 24

Na 3ª edição do EVOLVE esteve em

foco o papel da IA como acelerador da

transformação digital

I TECH 38

Pedro Tavares, partner da Deloitte

NEGÓCIOS 40

A Unicorn Factory Lisboa, o ecossistema

de inovação da capital, quer chegar à

Europa e ao mundo

PORTUGAL DIGITAL 48

Distinguida com o Prémio Europeu da

Cidade Inovadora em Ascensão, Braga

acelera no digital e não só

CIDADANIA DIGITAL 72

Tozi, a app da Fundação Vodafone

e da APAV que combate o cyberbullying

APDC NEWS 54

ÚLTIMAS 74

14

24

40

48

Propriedade e Edição

APDC – Associação Portuguesa

para o Desenvolvimento das

Comunicações

Diretora executiva

Sandra Fazenda Almeida

sandra.almeida@apdc.pt

Av. João XXI, 78

1000-304 Lisboa

Tel.: 213 129 670

Fax: 213 129 688

Email: geral@apdc.pt

NIPC: 501 607 749

Chefe de redação

Isabel Travessa

isabel.travessa@apdc.pt

Secretária de redação

Laura Silva

laura.silva@apdc.pt

Publicidade

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isabel.viana@apdc.pt

Conselho editorial

Abel Costa; Bernardo Correia; Carlos

Correia; Dennis Teixeira; Diogo Madeira;

Fernando Braz; Fernando Marta; Filipa

Carvalho; Francisco Maria Balsemão; José

Manuel Paraíso; Manuel Maria Correia;

Marina Ramos; Miguel Almeida; Olivia

Mira; Paolo Favaro; Paulo Filipe; Pedro

Coelho; Pedro Faustino; Pedro Gonçalves;

Pedro Tavares; Rodrigo Cordeiro; Rogério

Carapuça; Sérgio Catalão; Tiago Barroso;

Vasco Almeida.

Edição

Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda

Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D

1050-052 Lisboa

Coordenação editorial

Ana Rita Ramos

anarr@haveaniceday.pt

Edição

Teresa Ribeiro

teresaribeiro@haveaniceday.pt

Design

Mário C. Pedro

marioeditorial.com

Fotografia

Vítor Gordo/Syncview

Periodicidade

Trimestral

Tiragem

3.000 exemplares

Preço de capa

3,25 €

Depósito legal

2028/83

Registo internacional

ISSN 0870-4449

ICS N.º 110 928

4


HÁ 8 ANOS EM PORTUGAL

The best of ICT with a human touch

Oferecemos a combinação ideal de tecnologia

e serviços de IT para ajudar os nossos clientes

a superar os seus desafios de negócio.


a abrir

6

INDÚSTRIA REFORÇA

APOSTA EM IA...

O IMPACTO DA IA é crescente. E pelo

menos 67% das empresas industriais

estão a aplicá-la no fabrico de

produtos, otimização da produção,

redução de custos e segurança dos

colaboradores. A conclusão

é do relatório Ascendant,

da Minsait.

Denominado “IA: raio-

-x de uma revolução

em curso”, mostra

que seis em cada

dez empresas utilizam

IA para melhorar

a qualidade

dos produtos

e a segurança dos

colaboradores.

Também utilizam

a IA na gestão da

cadeia de fornecimento,

permitindo

prever bloqueios logísticos

e gerir stocks em tempo real.

Entre as motivações para a adoção

da tecnologia estão a otimização das

operações e a redução de custos.

Assim como a tomada de decisões

estratégicas com base em dados e

capacidade de identificar tendências.•

A IA ajuda a prever

bloqueios logísticos,

a gerir stocks em

tempo real e a

cuidar da segurança

física dos colaboradores

...QUE MELHORA RELAÇÕES

DE TRABALHO

APENAS 28% dos knowledge workers têm uma relação

saudável com o trabalho, mas os que utilizam IA estão mais

satisfeitos do que os restantes. Dois terços dos knowledge

workers querem experiências de trabalho personalizadas e

87% estão dispostos a abdicar de uma parte do seu salário

para o conseguir. O 2º Índice de Relações de Trabalho

(WRI) anual da HP com efeito revela

uma grande necessidade universal

dos knowledge workers: experiências

de trabalho personalizadas.

O que incluiu espaços de

trabalho adaptados, acesso

às tecnologias preferidas e

ambientes de trabalho flexíveis.

Mais de 64% afirmam

que se o trabalho fosse

adaptado ou personalizado

de acordo com as suas

necessidades e preferências

pessoais, investiriam mais no

crescimento da sua empresa.•

CURIOSIDADE

DETETOR DE ALUCINAÇÕES DE GENAI

Chama-se ‘HallucinationsDetector’ e é exatamente o que o nome diz: um

detetor de alucinações, que identifica e reduz a produção de conteúdos

incorretos ou enganosos gerados por modelos de IA generativa. O sistema

foi concebido pela bracarense Automaise para aumentar a segurança

dos assistentes conversacionais, que estão a ser cada vez mais utilizados

pelas empresas para otimizar

a relação com o cliente. Assim,

evitam-se respostas inesperadas

quer via chat, quer por telefone,

que podem causar danos

reputacionais e/ou financeiros

às empresas. A solução está

integrada com grandes sistemas

de software e tem como clientes

empresas na área da banca e

seguros, distribuição, contact

centers e indústria.•

ILUSTRAÇÕES FREEPIK


CURIOSIDADE

EL CAPITAN, O MAIS RÁPIDO DE SEMPRE

Chama-se El Capitan e é o supercomputador mais rápido do mundo. Foi

construído pela HPE e colocou os Estados Unidos na liderança mundial,

ao conquistar o 1º lugar na lista TOP500 de 2024. Vai contribuir para

os avanços em áreas como a investigação nuclear, IA e energia e está

a ser operado pelo

Laboratório Nacional

Lawrence Livermore

(LLNL). Em paralelo,

tornou-se oficialmente

no 3º sistema a

atingir a computação

exascale, depois do

Frontier e do Aurora.•

QUASE METADE DAS EMPRESAS

ESTÃO VULNERÁVEIS

OS LÍDERES EMPRESARIAIS confiam nas áreas de TI para reduzir os

riscos, desenvolver talento e tirar partido de novas ferramentas.

Mas, apesar de 94% afirmarem que a modernização tecnológica

é uma prioridade, 44% das infraestruturas de TI de missão crítica

estão a aproximar-se ou já estão em fim de vida útil, o que aumenta

a vulnerabilidade e levanta barreiras à modernização. Por isso, os

decisores dizem que precisam de ajuda na tomada de decisões e

no desenvolvimento de talento, revela o Kyndryl Readiness Report

2024. Constata-se ainda que embora 76% das empresas estejam a

investir na IA tradicional e em machine learning, apenas 42% verifica

um retorno positivo do investimento. Sendo que os maiores obstáculos

à adoção da inteligências artificial continuam a ser as preocupações

com a privacidade dos dados (31%), ROI

incerto (30%) e desafios de compliance (26%).

O report da Kyndryl

revela que 44% das

infraestruturas de

TI de missão crítica

estão a aproximarse

ou já estão em

fim de vida útil

!

ORGANIZAÇÕES

GLOBAIS POUCO

CIBERSEGURAS

APESAR DE 94% das organizações

mundiais se sentirem preparadas

para responder aos ciberataques,

71% acreditam que é provável

sofrerem um incidente em 2025,

com impacto no seu desempenho

financeiro. Este desfasamento entre

a perceção e a verdadeira capacidade

de resposta cibernética realça a

necessidade de uma maior sensibilização

e de medidas concretas para

lidar com as cada vez mais sofisticadas

ameaças online. A conclusão é do

Global Cyber Gauge 2024: Navigating

the complex cybersecurity landscape,

realizado pela Kyndryl e pela AWS. O

trabalho revela que 52% dos líderes

de TI estão a enfrentar desafios

operacionais quanto à preparação

para ameaças emergentes, como

ataques ao nível do Estado-nação e

de IA generativa. Em 2024, 54% das

grandes organizações relataram ter

sofrido um ciberataque.

Regista-se ainda um

apoio executivo

inadequado e falta

de alinhamento na

preparação para a

regulamentação e

constrangimentos

organizacionais .•

Alert!

7


a abrir

SOUND BITES :-b

“A implosão da UE como a conhecemos

pode acontecer, sendo

a probabilidade tanto maior

quanto mais tempo se demorar

a enfrentar o constrangimento

político que impede as necessárias

reformas económicas e

sociais”

António Nogueira Leite, Jornal

de Negócios, 10/12/2024

“Trump é o sintoma de uma

doença, não é a doença. A doença

é causada por um vírus, o uso

e abuso das redes sociais e os

avanços tecnológicos na comunicação

direta e sem filtro. As

redes socais, de que o X de Musk

é o avatar político, são um fator

geral de apodrecimento do cérebro

humano. (…) Sobretudo da

Humanidade ocidental, mais

servida de telemóveis e computadores,

mais servida de dinheiro

e poder de consumo”

Clara Ferreira Alves, Expresso,

02/12/2024

“Se o PRR fosse um navio, estaríamos

a navegar num mar

revolto com o motor a tossir e

metade da tripulação a perguntar

quem está ao leme. Ainda

há tempo para ajustar o curso

e atracar em porto seguro, mas

precisamos de um plano e de o

seguir como se a nossa sobrevivência

futura dependesse disso.

A verdade é que em parte depende

mesmo!”

Carlos Hernandez Jerónimo,

Observador, 29/11/2024

“Crescer na casa dos 3% deveria

ser um desígnio nacional. Tratase

de uma meta facilmente monitorizável

e indutora de uma

maior pressão sobre as políticas

públicas e a adoção de reformas

urgentes”

Óscar Afonso, ECO, 27/11/2024

PONTOS CHAVE PARA FIDELIZAR

CONSUMIDORES

A EXPERIÊNCIA de atendimento ao cliente e a qualidade dos

agentes de IA são cruciais para a fidelização dos consumidores.

E as empresas terão de reforçar nestas áreas, já que

a confiança que os consumidores têm nas empresas está

no nível mínimo, enquanto a IA aumenta os riscos para as

marcas. Os dados são da mais recente pesquisa da Salesforce,

que revela que 72% dos consumidores confiam menos

nas empresas do que há um ano e 65% acreditam que são

imprudentes com os seus dados. Acresce que esperam interações

consistentes entre departamentos (69%) e preferem

utilizar menos pontos de contacto para obter informações,

ou concluir tarefas (60%). Só na época natalícia espera-se

que sejam realizadas online vendas de mais de 200 mil

milhões de dólares, que serão influenciadas pela IA. Pelo

que as marcas terão de apostar em agentes de IA confiáveis,

baseados na transparência e em dados corretos. Tal

permitirá a oferta de experiências consistentes e personalizadas

aos compradores em todos os canais – aprofundando

a fidelização do cliente e, em última análise, impulsionando

mais vendas.•

IA VAI DOMINAR TENDÊNCIAS

TECNOLÓGICAS EM 2025…

A IA E IA GENERATIVA (GenAI) estão no topo do radar dos

líderes empresariais e dos investidores e vão ter um impacto

significativo noutras tecnologias-chave suscetíveis de atingir

a maturidade ou de alcançar um avanço em 2025. A robótica,

as cadeias de abastecimento ou o mix energético do futuro

estão entre elas, avança a 2ª edição do ‘TechnoVision Top 5

Tech Trends to Watch in 2025’, da Capgemini. A GenAI, que

está a evoluir da simples capacidade de realizar tarefas isoladas,

para a fase dos agentes especializados e interligados,

começará a funcionar de forma mais autónoma, passando

a assumir cada vez mais tarefas nas cadeias de abastecimento

ou/e de manutenção preditiva, sem necessidade

de supervisão humana constante. O passo seguinte será

a criação e lançamento de um superagente, que funcione

como um orquestrador dos vários sistemas de IA, otimizando

as suas interações. Espera-se que estes avanços acelerem

já em 2025.•

Tendências:

consumidores

confiam menos

nas empresas e

acreditam que

são imprudentes

com os dados dos

clientes

8


… E SERÁ FOCO ESTRATÉGICO EM

TODAS AS EMPRESAS

A GENAI VAI PROVOCAR uma mudança de paradigma das organizações

nos próximos dois anos, com potencial para melhorar

fatores como produtividade, eficiência, sustentabilidade, conformidade

regulamentar e segurança dos colaboradores. Com o arranque

de um ciclo de consolidação e integração das tecnologias

de IA generativa, a experimentação fragmentada nas empresas

será substituída por planos de investimento específicos. A conclusão

é do “Global GenAI Report: How organizations are mastering

their GenAI destiny in 2025”, da NTT DATA. O trabalho revela que

97% dos CEO antecipam um impacto significativo da tecnologia;

70% que a mudança será rápida e com um impacto substancial

em 2025; e 83% dizem já ter uma estratégia de IA Generativa bem

definida. Até agora, os principais casos de aplicação de GenAI são

em recomendação de serviços personalizados, gestão do conhecimento,

controlo de qualidade e investigação e desenvolvimento

(I&D). Mas o rápido avanço tecnológico obrigará as empresas

a reavaliar e ajustar constantemente as suas

estratégias e modelos operacionais, sendo

que entre os entraves identificados

estão a infraestrutura herdada e

a falta de talento.•

Os principais

entraves ao avanço

tecnológico

reportados são:

a infraestrutura

herdada e a falta

de talento

NUMEROS

3,4 MIL BILIÕES

É o valor recorde, em dólares, alcançado

pela NVidia a 4 de novembro, na Wall

Street. A valorização bolsista da fabricante

de chips que domina no desenvolvimento

da IA generativa colocou-a de novo como

a empresa mais valiosa do mundo,

ultrapassando a Apple. Os ganhos da NVidia

têm vindo a explodir desde 2023, tendo

triplicado a sua capitalização no mercado já

este ano.

350 MIL MILHÕES

É a avaliação recorde em dólares que a

SpaceX alcançou em dezembro, tornando-

-se na startup mais valiosa do mundo. O

que é atribuído à valorização do universo

das empresas de Elon Musk, graças à

sua ligação a Trump e ao potencial de

capitalização desta relação no futuro. A

avaliação subiu na sequência de uma

operação interna de compra de ações

pelos seus investidores e coloca o projeto

espacial a valer mais do que muitas das

grandes empresas cotadas em Wall Street.

Tem contratos com entidades públicas

como a NASA ou o Pentágono, liderando a

corrida privada ao espaço, usando os seus

foguetões para transportar satélites, carga

e pessoas.

133 MIL MILHÕES

É o montante, em dólares, que os gastos

com inteligência artificial deverão alcançar,

em 2028, na Europa. O crescimento anual

esperado até lá será superior a 30%, diz

a IDC. Pelo menos 40% das empresas

europeias já estão a realizar investimentos

significativos em GenAI, com planos de

investir em formação, software e serviços

de consultoria nos próximos 18 meses. E

cerca de 30% já implementaram aplicações

e serviços assentes na GenAI em ambientes

de produção.

9


a abrir

10

SOUND BITES :-b

“Há desafios que é importante

serem ultrapassados, um deles

é a forte fragmentação no tecido

interno europeu. As diferenças

nos níveis de desenvolvimento

digital entre os Estados-membros

dificultam a criação de uma

abordagem uniforme. (…) A IA

veio para ficar (…) e tem um milhão

de potencialidades. Não se

pode perder este comboio, que

só irá agravar a forte dependência

que a Europa já sente”

Inês Pina, Observador,

24/11/2024

“A IA está a mudar o mundo,

mas não está relacionada com a

administração Trump. Há muita

gente que vai ter essas intenções

(de usar a IA para ameaçar

a democracia), mas acho que o

mundo, coletivamente, vai colocar

as salvaguardas necessárias

para não acontecer isso”

Daniela Braga, Expresso,

15/11/2024

“As empresas e a economia

portuguesa devem continuar

a inovar e a tentar novos caminhos

que se abrem também

no contexto destas alterações

significativas, seja devido à IA,

à sustentabilidade, ou à reorganização

das cadeias de valor,

porque todas essas dimensões

oferecem novas oportunidades”

Francisco Veloso, ECO,

24/10/2024

“Portugal enfrenta o desafio de

aproveitar as vantagens competitivas

que a IA pode oferecer. O

país possui talento e a ambição

de implementar uma Estratégia

Digital Nacional eficaz e competitiva.

(…) O modelo de governação

que adotar será crucial para

uma estratégia bem-sucedida”

Magda Cocco, Jornal de

Negócios, 07/11/2024

FALTA DE LITERACIA PREJUDICA

ADOÇÃO NAS EMPRESAS DA IA…

APESAR DE A IA estar a redefinir a dinâmica no local de

trabalho e as práticas de recursos humanos, esta é ainda

uma área complexa. É que a falta de literacia digital dos

colaboradores influencia as suas atitudes em relação à

tecnologia. A conclusão é do mais recente estudo da SAP.

Em comparação com as pessoas com conhecimento, as que

apresentam baixa literacia têm seis vezes mais probabilidade

de se sentirem apreensivas, sete vezes mais probabilidade

de sentirem medo e mais de oito vezes de probabilidade

de se sentirem angustiadas em relação à utilização da IA no

trabalho. Os resultados do estudo revelam que organizações

e colaboradores atravessam um momento complexo,

com a adaptação a esta tecnologia disruptiva, que implica

novos conhecimentos e atitudes. E que à medida que a

IA se torna uma ferramenta mais utilizada no trabalho, as

organizações devem concentrar-se e investir na literacia em

IA para ajudar os colaboradores a compreenderem a nova

tecnologia. Os aspetos mais importantes da educação em IA

para alterar estas reservas são: saber como utilizar a IA para

os objetivos serem alcançados, perceber como se facilitam

as tarefas e ser capaz de detetar a utilização de IA.•

… MAS UTILIZAÇÃO

DA TECNOLOGIA GERA OTIMISMO

AS ORGANIZAÇÕES de média dimensão estão a adotar a IA

com confiança e a maioria antecipa alcançar retornos até

quatro vezes superiores em 12 meses. Mas quase metade

estão a ser travadas pelas lacunas na preparação da força

de trabalho, a gestão dos dados e infraestruturas tecnológicas

legacy, que constituem os principais obstáculos aos

retornos sustentáveis. A conclusão é do ‘Avanade Trendlines:

Relatório sobre o valor da IA 2025’, que mostra um

forte entusiasmo pelo potencial da IA, sendo o principal

objetivo para 2025 a utilização de ferramentas de IA, como

o Microsoft Copilot, para gerar novas receitas e, ao mesmo

tempo, construir uma cultura colaborativa no local de trabalho.

Assim, 53% das empresas esperam aumentar os seus

orçamentos para projetos de geração de IA até 25%. E 85%

manifestam preocupação com a perda de terreno competitivo

sem a rápida adoção da IA, pelo que a implementação

acelerada é uma prioridade máxima para dar resposta às

pressões competitivas. Mas o trabalho de base essencial

para a IA está ainda por fazer: quase metade das empresas

ainda estão presas na fase de caso de negócio (48%) ou de

prova de conceito (44%).•

As reservas em

relação à adoção

de IA no trabalho,

são tanto maiores

quanto menor é

a iliteracia digital

dos colaboradores

Para dar resposta

às pressões

competitivas, a

adoção de IA é

uma prioridade

para cerca de 85%

das empresas

consultadas


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5 perguntas

12

DENNIS TEIXEIRA

Fazer crescer o negócio

Inovação, digitalização, sustentabilidade, expansão e mais

talento são apostas do novo managing director da HPE Portugal.

À frente da tecnológica desde novembro, Dennis Teixeira quer

reforçar o papel da empresa no mercado.

Texto de Isabel Travessa| Fotos de Vítor Gordo/ Syncview

Começou na HP em 1998 e está

na HPE desde a sua criação, em

2015. Conhecer a fundo o projeto é

uma vantagem, agora que lidera a

operação nacional?

Tenho mais de 25 anos de experiência

na empresa, o que demonstra o

compromisso da HPE com o desenvolvimento

da carreira profissional

dos colaboradores. Exemplo

claro disso é o nosso CEO, Antonio

Neri, que também tem uma longa

trajetória na empresa. Permite-nos

conhecer profundamente os clientes,

parceiros e colegas, o que é uma

grande vantagem.

Quais são as suas grandes metas

para o negócio?

As minhas metas focam-se em várias

áreas estratégicas. A começar pela

inovação e digitalização, para continuar

a impulsionar a transformação

digital. Segue-se a sustentabilidade,

implementando práticas mais sustentáveis

em todas as operações e

trabalhando para apoiar os clientes a

atingirem as suas metas de sustentabilidade,

com soluções tecnológicas

disruptivas e eficientes. A expansão

de mercado, explorando novas oportunidades

de negócio e fortalecendo

as relações com parceiros e clientes,

é outra área. Queremos manter-nos

líderes ou ser líderes nas áreas de

cloud híbrida, redes e IA, apoiando

os nossos parceiros e clientes na

transformação e disrupção dos

seus negócios. Outras metas são o

desenvolvimento de talentos, investindo

no desenvolvimento contínuo

dos colaboradores, e a diversidade

e inclusão, com a promoção de um

ambiente de trabalho onde todos se

sintam valorizados e respeitados.

Estão a reforçar na IA e cloud e a

comprar a Juniper. Qual o impacto

em Portugal?

Anunciámos recentemente os nossos

resultados anuais e podemos

afirmar que, através da inovação

orgânica, aquisições estratégicas

e investimentos importantes em

experiências que ajudam os clientes

a resolver os seus maiores desafios,

nos tornámos num parceiro tecnológico

ainda mais relevante para as

organizações. O nosso portefólio

diferenciado em cloud híbrida, IA e

redes será ainda mais reforçado com

a aquisição pendente da Juniper Networks,

que deverá ser concluída no

início de 2025. Acreditamos que a capacidade

combinada de competir e

inovar, melhorará fundamentalmente

o setor das redes. Em Portugal,

tudo isto será possível através das

soluções que estamos a desenvolver

a nível central e, mais importante, de

uma equipa local altamente qualificada

e dedicada.

Olhando para as empresas portuguesas,

quais são os maiores

desafios que enfrentam?

Tal como outros países, Portugal

está numa fase de transformação

significativa. Os principais desafios

incluem a transição para a utilização

da IA, retenção de talento, sustentabilidade

e necessidade de adaptação

a novos modelos de negócio.

O país tem grandes valências que

pode aproveitar, como jovens mais

qualificados, facilidade nas línguas e

talento académico. A sustentabilidade

é um grande desafio e Portugal

é um país muito consciente da sua

importância. A HPE também partilha

este compromisso: a tecnologia

pode ajudar a alcançar um mundo

mais sustentável e a cuidar melhor

do planeta.

O PRR criou muitas expetativas de

mudança estrutural, mas as metas

de execução ainda não estão nos

50%. Teremos capacidade para,

efetivamente, ter sucesso enquanto

país?

Para termos sucesso enquanto país,

é crucial um esforço conjunto entre

governo, setor privado e sociedade

civil. A colaboração e a coordenação

eficazes são fundamentais

para acelerar a implementação

dos projetos do PRR. Além disso, é

necessário garantir que os recursos

sejam utilizados de forma eficiente e

transparente. Portugal tem capacidade

e potencial para alcançar as

metas estabelecidas, mas isso exigirá

um compromisso renovado e uma

abordagem proativa para superar os

obstáculos atuais. A aposta na inovação,

digitalização e sustentabilidade,

bem como o desenvolvimento de talento,

são chave para impulsionar o

progresso. Com uma estratégia bem

definida e a mobilização de todos os

setores, acredito que Portugal pode

ter sucesso e alcançar as mudanças

estruturais desejadas.•


“Anunciámos recentemente os nossos resultados anuais e

podemos afirmar que, através da inovação orgânica, aquisições

estratégicas e investimentos importantes em experiências que

ajudam os clientes a resolver os seus maiores desafios, nos

tornámos num parceiro tecnológico ainda mais relevante”

13


a conversa

14

“O que nós tínhamos era uma estratégia para os dados, para a web.3, para a IA, para o digital. Isto não é compaginável com o objetivo

de termos de facto as coisas a acontecer. Para isso, têm de estar coordenadas, de ser coerentes entre si”


NO

CONCRETIZAR

É QUE ESTÁ

O DESAFIO

Tutela três áreas distintas: Juventude, Igualdade e

Modernização. Mas foi sobre a última que se focou, na

sequência do anúncio da Estratégia Digital Nacional. Revela

a ambição de fazer acontecer, com dois princípios que diz

serem para si basilares, a transparência e a prestação de

contas. O seu foco está agora na execução das ações em

concreto já definidas para 2025 e 2026, para que cidadãos e

empresas sintam, de facto, os benefícios do digital.

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW

15


a conversa

16

“Temos apenas 56% da população portuguesa com competências digitais. Temos, a nível europeu, de caminhar para 80%. Isto obriga a

que saibamos como vamos chegar lá”


Ciente de que a modernização administrativa para ser

efetiva tem de resultar de um trabalho de concertação,

Margarida Balseiro Lopes está apostada em mobilizar as

diferentes áreas da governação em torno deste desígnio.

É que os procedimentos só devem ser digitais se isso

simplificar e trouxer ganhos para os cidadãos. E isso só

se consegue com o compromisso ao nível do topo.

A ministra da Juventude e Modernização apresentou,

em dezembro, a Estratégia Nacional Digital. Neste À

CONVERSA, dado pouco depois deste anúncio, mostrou-

-se convicta que dela vão sair importantes medidas com

impacto positivo na vida dos cidadãos e das empresas.

Mas ressalva que “mais importante do que anunciar uma

estratégia é saber concretizá-la”, através de um plano

de ação que a transforme em realidade. Essa é a agenda

que tem para estes próximos dois anos, através das 49

ações a concretizar, distribuídas por 16 iniciativas estratégicas,

para as quais serão canalizados 355 milhões de

euros. Entretanto, prepara-se para lançar, ainda no 1°

trimestre, a Agenda Nacional de Inteligência Artificial.

Com uma experiência de intervenção pública que começou

nos bancos da escola, passou pela juventude

partidária – como líder da JSD – que depois a levou ao

parlamento, nas funções de deputada. Diz que sem esta

“mochila” de vivências e saberes não teria a mesma

capacidade para interpretar o mundo e corresponder às

expetativas dos portugueses.

17


a conversa

“Fizemos um levantamento

das estratégias e dos planos

de ação que atualmente

já existem em dez países,

com os quais queremos

ombrear. Não precisamos

de inventar a roda, por isso

fizemos o benchmarketing.

Quisemos aprender com os

bons exemplos”

18


Começou muito jovem a ter uma experiência enquanto

dirigente associativa – foi presidente da associação

de estudantes na escola secundária. Em que é que isso

determinou o seu percurso posterior?

Todas as experiências que temos de alguma forma impactam

o exercício das nossas funções. No meu caso

foi ter tido experiência associativa, experiência profissional

na atividade privada e na atividade pública,

enquanto estive no parlamento. A nível académico

suspendi o doutoramento quando vim para o governo,

mas também considero essa vertente altamente

enriquecedora. Essas dimensões contribuem para que

tenhamos uma melhor compreensão do mundo e, dessa

forma, tenhamos uma maior capacidade de dar resposta

às questões que se colocam às pessoas.

O que lhe traz essa experiência anterior em termos

de conhecimento específico, para desempenhar este

cargo, em que tem três áreas de tutela bem distintas:

Juventude, Igualdade e Modernização?

Há uma vantagem de ter estado seis anos no parlamento,

que é compreender desde logo a complexidade do

processo legislativo e de já ter estado do outro lado.

Essa visão que tenho do parlamento – a de que é normal

e expectável prestar contas relativamente às decisões

que tomo – é consubstanciada nessa experiência

que tive.

Prestar contas é um princípio basilar para si?

Transparência e prestar contas são dois princípios basilares

para mim. Exemplo: em todas as audições dou

números sobre pessoas impactadas, sobre prazos, sobre

o follow up da execução que as medidas estão a ter.

Porque durante demasiado tempo, em várias áreas

governativas, houve compromissos assumidos publicamente

que nunca se materializaram numa realidade

que não fosse a que já existia antes do anúncio. Isso

preocupa-me, porque uma das razões para as pessoas

estarem hoje em dia descrentes relativamente à política

tem a ver com essa dissonância entre o discurso e

depois o que acontece na vida das pessoas. Outra preocupação

que tenho é, quando me fazem uma pergunta,

procurar saber exatamente o que posso dizer. Se estiver

em condições de dizer exatamente que esta área vai ser

trabalhada, falarei sobre isso. É importante dar os passos

certos que sabemos estar em condições de dar.

Que marca gostaria de deixar, durante o seu mandato,

no âmbito da modernização da Administração Pública

(AP)?

No caso da modernização da AP, são de facto muitos os

problemas que se colocam. Esta área tem a característica

de ser transversal. Impacta todas as outras áreas

governativas. Daí que o trabalho que tenho para desenvolver

seja também o de uma permanente articulação

com os outros setores governativos para conseguir – e

é esse o grande propósito da Modernização – durante o

meu mandato, simplificar as interações entre o Estado

e as pessoas (empresas e cidadãos).

Cumpriu uma das metas a que se tinha prometido,

que foi lançar a Estratégia Digital Nacional até final

do ano. Efetivamente lançou-a. Missão cumprida ou o

trabalho começa todo agora?

Foi um marco importante, na medida em que de facto

era um compromisso, mas era um compromisso que

era uma necessidade. Nós estávamos há muito tempo

sem uma estratégia digital, o que é mau desde logo porque

a nível europeu temos um conjunto de compromissos

e de objetivos a atingir. Se não tivermos definido,

a nível nacional, que ações vamos fazer para ir ao

encontro desses compromissos, não estamos a dar os

passos necessários para alcançarmos esses objetivos.

A aceleração que fizemos, desde o dia 2 de abril, com

a auscultação que levámos a efeito, foi importante.

Ouvimos mais de 60 entidades da Administração Pública,

mais de 50 empresas em Lisboa e não só, porque

as regiões do país e o tecido empresarial são muito diferentes

entre si. Reunimos com associações empresariais

e empresas, ouvimos também 25 especialistas na

área do digital e isso permitiu chegarmos a dezembro e

apresentarmos a estratégia. Mas tão importante como

a estratégia é o plano de ação, que nos diz que ações

vamos desenvolver, qual o pacote financeiro que cada

uma dessas ações tem e quais as entidades responsáveis.

O dia mais importante não é o dia da apresentação

da estratégia. O mais importante agora é a execução

que vamos fazer da estratégia. O nosso foco em

2025 vai ser garantir que essas ações acontecem.

Temos apenas 56% da população portuguesa com competências

digitais. Temos, a nível europeu, de caminhar

para 80%. Isto obriga a que saibamos como vamos

chegar lá.

Nas quatro vertentes da Estratégia Digital Nacional -

Pessoas, Empresas, Estado e Infraestruturas - tiveram

de partir de uma base. Foram ao terreno, havia já estudos?

De onde partiram?

Não começámos do zero e o mais importante são os dados.

A nossa base foi antes de tudo a realidade e os dados.

Temos vários indicadores. O Digital Economy and

Society Index (DESI) da CE é um desses instrumentos.

Fizemos também um levantamento das estratégias e

planos de ação que atualmente já existem em dez paí-

19


a conversa

“Há um conjunto de iniciativas já desenvolvidas pela sociedade civil a que queremos dar mais destaque, colocando-as a concorrer

para o mesmo objetivo. A Estratégia Digital Nacional não é a estratégia digital do Estado”

20

ses com os quais queremos ombrear. Não precisamos de

inventar a roda, por isso fizemos o benchmarketing, quisemos

aprender com os bons exemplos. Mas também

temos muitos bons exemplos para dar. Cada vez mais é

uma das noções que ganho na minha participação nos

foruns internacionais. Tivemos, há muito pouco tempo,

o Council das Telecomunicações e um dos tópicos era a

década digital, porque a década digital está em curso

e os países foram dizendo se achavam que devia haver

reavaliação de algumas daquelas metas, como estavam

a fazer para cumprir essas metas e o ministro irlandês

pediu uma reunião bilateral. A dada altura começámos

a falar da carteira digital e mostrei-lhe o id.gov.pt (que

dentro de alguns dias passará a ser o gov.pt) e ele ficou

fascinado. Ou seja, temos muitas coisas a aprender,

mas também já damos cartas em muitos projetos que

estão em curso na Administração Pública, no âmbito

do digital. E isso também é importante ressaltar.

Uma das apostas da estratégia é a promoção da igualdade

de género no digital...

O que foi apresentado no plano de ação 2025-2026

contempla 49 ações, distribuídas por 16 iniciativas.

Uma dessas iniciativas é o Programa Nacional das Raparigas

nas STEM. O nosso ponto de partida face à Europa

é muito baixo. Temos uma mulher em cada cinco

especialistas em TIC e uma em cada três especialistas

nas STEM. E isso é preocupante. Se não conseguirmos

mitigar o gap, vamos acentuar desigualdades. Na construção,

utilização e desenho da tecnologia é importante

contar com mulheres. Vamos apresentar este programa

o primeiro trimestre de 2025 e o nosso objetivo é

poder contar com iniciativas da sociedade civil. Queremos

garantir pelo menos 30% de mulheres a trabalhar

nestas áreas e sabemos que isto não se faz apenas com

entidades públicas. Há um conjunto de iniciativas já

desenvolvidas pela sociedade civil a que queremos dar

mais destaque, colocando-as a concorrer para o mesmo

objetivo. Porque a Estratégia Digital Nacional não

é a estratégia digital do Estado.

Mas, tendo em conta que o programa prevê uma intervenção

em três áreas distintas - Educação, Ensino

Superior e Mercado de Trabalho - são processos que

demoram tempo, sobretudo no caso da Educação, serão

necessárias outras ferramentas para atrair as mu-


lheres para o digital. Está a negociar iniciativas com a

sociedade civil?

No primeiro trimestre de 2025 vamos apresentar um

programa.

Sente que a opção pela realização de reuniões do Conselho

de Ministros dedicados exclusivamente à transição

digital e modernização fazem, de facto, a diferença

para uma tomada de decisão mais rápida e assertiva?

Sim. E por várias razões. Uma delas é que a modernização

é transversal. Apesar de estar sob a tutela deste ministério,

tem de estar em todas as áreas governativas.

Só é possível implementar o princípio ‘only once’ se trabalharmos

em conjunto. Em segundo lugar, a partir do

momento em que a discussão se faz ao nível de ministros

e não apenas ao nível de secretários de Estado, que

era o que antes - já havia um conselho inter- -ministerial

que era presidido na altura pelo anterior secretário

de Estado, Mário Campolargo - o nível de envolvimento

é muito maior. A nossa

preocupação é que isto se

faça ao nível dos secretários

de Estado – todos os

meses temos uma reunião

– mas também ao nível de

ministros. Por exemplo,

temos mais de mil portais

de AP e, normalmente associado

a uma ideia vêm

sempre pelo menos dois

portais, o que é um problema.

Porque os cidadãos

e as empresas não têm de ter um conhecimento da AP

que lhes exija que, além de saberem qual é o serviço e

a entidade, têm de se lembrar qual o portal onde vão

tratar determinado assunto. Não queremos mais portais

e aplicações mas sim caminhar no sentido oposto,

de integrar todos os serviços no gov.pt. Integrar – agora

também com o lançamento da app em 2025 – as respostas

num único sítio. Para isso, o compromisso tem

de ser ao nível de topo do Governo.

“Temos muitas coisas a

aprender, mas também já

damos cartas em muitos

projetos em curso da AP, no

âmbito do digital”

No fundo é consciencializar, o que também é importante

para determinadas tutelas…

É verdade. Também há uma alteração de cultura ao nível

organizacional.

Há quem defenda que com a digitalização da Administração

Pública, apenas se mudou de canal. Que a

burocratização dos processos se mantém, só que em

vez de se resolverem os assuntos através de papéis, se

resolvem online. Concorda que ainda é assim?

É para combater isso que trabalhamos todos os dias.

Apresentámos 15 medidas de simplificação em julho.

Podíamos ter apresentado 100. Mas preferimos privilegiar

medidas que tivessem grande impacto no cidadão

e nas empresas, na lógica da simplificação. Medidas

que fossem executadas no

espaço de um ano. Porque

não vou conseguir granjear

a confiança das pessoas

se disser: em 2030,

vou conseguir fazer isto.

Estas medidas procuram

simplificar processos. Nas

próximas semanas vão entrar

em vigor, ou seja, as

pessoas vão poder aceder

ao que anunciámos em

julho. Um cidadão estrangeiro,

que neste momento tem de ir para a porta da Segurança

Social, da Autoridade Tributária ou para a Loja

do Cidadão, com senhas e com horas e listas de espera,

porque precisa de ter acesso a três números de identificação

em três serviços diferentes da AP, nas próximas

semanas poderá ter acesso, com um único pedido, a

três números de identificação. Isto é facilitar a vida das

pessoas. Só que este é um processo que não se faz de

um dia para o outro e nós temos de ter a noção disso.

21


a conversa

22

Anunciámos isto em julho e nos últimos meses temos

trabalhado com várias áreas governativas, com várias

entidades, porque isto envolve um grande esforço de

articulação com a Autoridade Tributária, com o IRN,

com a Segurança Social, com a AIMA e com a AMA,

que é a entidade pivot desta transformação. Isto é um

dos exemplos que vai tirar papéis, vai poupar tempo

e vai, sobretudo, melhorar a vida dos cidadãos. Não é

o digital pelo digital. Não quero que um procedimento

seja digital se ele estiver mal feito. O procedimento

deve ser digital se isso tiver um ganho para as pessoas.

Se simplifica, então faz sentido digitalizar.

Como é feita a coordenação do digital do gov.pt com os

espaços físicos, como as Lojas do Cidadão?

Não é fácil, mas é um processo que se faz. Há um órgão,

o Conselho Consultivo da AMA, com que reunimos em

setembro pela primeira vez, que não reunia há mais de

dez anos. Vamos voltar a falar em janeiro. Vamos procurar

manter esse caráter regular. Para quê? Em todas

as áreas governativas que

têm as Lojas do Cidadão

vamos conversar e alinhar

estratégias de comportamentos,

de prazos, de

horários. Identificámos

alguns problemas para

garantir que funcionamos

a uma só voz nas lojas e

no gov.pt. Temos hoje no

gov.pt mais serviços do

que estavam antes, mas é

um processo. O nosso objetivo é que os cidadãos que

têm um problema para tratar, podem começar a tratar

numa loja, mas conseguem fazer o follow up desse processo

no gov.pt ou na linha (que, diga-se, só está em

inglês desde 1 de outubro).

Só é possível implementar

o objetivo only once se

trabalharmos com todas as

áreas governativas

AMA - Agência para a Modernização Administrativa,

assume um papel central em todo este plano. Há necessidade

de reforçar esta entidade, em termos de recursos

humanos?

A previsão de pessoal que vem refletido no orçamento

da AMA para 2025 está em linha com as responsabilidades

atribuídas. De facto, a AMA tem um papel muito

transversal, mas há muito trabalho que é desenvolvido

pelas várias entidades da Administração Pública. Isso

também é importante destacar.

Há muito que é reconhecida a necessidade de uma

mudança de cultura na AP, mas sempre se admitiu ser

muito difícil, porque é o Estado funcionava em silos e

as pessoas não queriam mudar. Sente que tem havido

uma mudança a esse nível?

Nos oito meses de mandato que tenho, vejo que a Administração

Pública está muito disponível para colaborar.

Mas acho que o exemplo também tem de vir

de cima. Isto é, se as áreas

governativas não dialogarem,

qual é a autoridade

que têm para depois pedirem

às entidades tuteladas

que o façam? Portanto,

acho que há uma

marca deste governo que

é este trabalho em equipa.

No âmbito do anterior governo,

tinham sido criados

três grupos de trabalho, liderados por Arlindo

Oliveira, para propostas de estratégias e de planos de

ação para a IA, os dados e a Web 3.0. Estão a aproveitar

este trabalho, cujas propostas foram entregues também

ao vosso Executivo?

As estratégias não são suficientes. O professor Arlindo

Oliveira tem colaborado connosco e muito em breve

será público mais um exemplo dessa colaboração que

temos tido. Mas as estratégias têm de ter envelopes financeiros

para as ações. Têm de ter planos de ação. E foi

isso que fizemos, nos últimos meses. Vamos continuar,

até final do primeiro trimestre, a fazer a auscultação


que já iniciámos no âmbito da Agenda Nacional de IA.

Houve muitas sessões de auscultação a especialistas

do digital, alguns deles também de IA, que obviamente

vamos otimizar e que já concorrem para a Agenda Nacional

de IA. O que nós fizemos nos últimos meses foi

rever a estratégia digital, o plano de ação. Se apresentamos

quatro estratégias, nada é estratégico. Isto é uma

orientação política: há uma estratégia para o digital e

dentro dessa estratégia, a centralidade da IA fez com

que tivéssemos tomado a decisão de autonomizar uma

agenda própria, que vamos apresentar no primeiro trimestre

de 2025, mas alinhada com a estratégia digital.

O que nós tínhamos era uma estratégia para os dados,

para a web3, para a IA, para o digital. Isto não é compaginável

com o objetivo de termos de facto as coisas a

acontecer. Para isso têm de estar coordenadas, de ser

coerentes entre si. E temos de garantir que sabemos

exatamente que ações vamos fazer, quanto custam,

quem vai fazer e qual o prazo de execução. Por isso é

que há pouco dizia que tão importante como a estratégia

é ter um plano de ação com os termos em que vamos

concretizá-la.

Na Web Summit, o primeiro-ministro apresentou o

projeto AMÁLIA, um modelo de linguagem em grande

escala para a língua portuguesa...

O primeiro-ministro não apresentou o AMÁLIA, ele

antecipou aquela que é uma das ações da nossa Agenda

Nacional de IA. E antecipou porque é uma iniciativa

muito importante, central na nossa agenda de IA

e quisemos aproveitar, naquele que é o maior evento

do mundo, para sinalizar que em Portugal estamos a

desenvolver projetos que nos diferenciam não só no

contexto europeu, mas no contexto mundial. Tenho

participado em vários fóruns, um dos mais recentes foi

a Cimeira do Digital, em Talin, e isto é público: o vídeo

do painel onde participei foi muito elogiado, concretamente

foi elogiada a decisão de Portugal desenvolver o

seu LLM. Porque, de facto, há um conjunto de potencialidades

que daqui resultam e foi essa a ação que fez com

que antecipássemos uma das ações da Agenda Nacional

da IA que apresentaremos no primeiro trimestre de

2025.

A APDC veio a público defender que é essencial para a

transformação digital da AP a adoção urgente do princípio

only once. Estamos a caminhar nesse sentido,

pelo que me diz…

Estamos, claro.

Que tipo de papel é que podem, no âmbito da Estratégia

Digital Nacional, desempenhar associações como

a APDC, que já têm na área do talento e da literacia

digital várias iniciativas em parceria com grandes empresas?

Como é que vai envolver a sociedade civil?

Não só estamos a envolver, como temos um exemplo

muito recente. A APDC participou numa consulta pública.

Foi uma das 43 participações que registámos e

que foram apreciadas de igual forma. E tivemos os contributos

da APDC em consideração quando desenhámos

o nosso plano de ação. Certamente não ficaremos

por aqui.•

23


em destaque

CRIAR

VANTAGEM

COMPETITIVA:

EIS O SEGREDO

Da energia à saúde, do turismo ao

setor tecnológico, passando pela

área jurídica, retalho, controlo de

espécies aquáticas ou produção de

pão… A IA está em todo o lado. Com

claras vantagens, como a automação,

costumização, personalização, eficácia,

rapidez, produtividade, qualidade,

sustentabilidade ou a redução de custos.

Competitividade é a palavra-chave.

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW

24


25


em destaque

26

A

IA já está a impactar positivamente as empresas

nos mais variados setores de atividade. Embora

o caminho a percorrer ainda seja longo, os

exemplos de utilização da tecnologia multiplicam-se,

comprovando que os seus benefícios são múltiplos.

Com a necessidade de aceleração dos processos

de transformação digital das organizações, abre-se

todo um potencial de criação de valor desta nova ferramenta

disruptiva. A 3ª edição do EVOLVE, dedicada

exclusivamente a casos concretos de mudança através

da IA, já em implementação, teve como objetivo partilhar

conhecimento e inspirar. Afinal, estamos a entrar

num novo paradigma e não há tempo a perder.

Tal como nas edições anteriores, este EVOLVE AI

– Digital Transformation Summit, que decorreu em

Lisboa a 9 de outubro, teve como objetivo trazer exemplos

de transformação digital. A meta foi mostrar casos

concretos de empresas que já utilizam tecnologias de

inteligência artificial (IA) e que evidenciam que a mudança

está em marcha no país, para inspirar as demais

organizações a avançarem com os respetivos processos.

“A transformação digital vai recorrer cada vez mais

a ferramentas de IA. Esta tecnologia vai estar presente

em todos os processos, pelo que este foi o primeiro,

mas também o último EVOLVE dedicado apenas

à IA”, referiu na abertura

do evento o presidente da

APDC. Não tendo dúvidas

de que a IA tem um potencial

enorme, avisa: “Se

quisermos que a Europa

não seja, como alguém já

disse, aquele museu onde

os americanos e os chineses

vêm nas férias para ver

como era o passado, então

temos de inovar e de pôr a inovação na primeira linha.

E temos de perder a ideia de que, quando surge uma

coisa nova, temos logo de pensar como a podemos

proibir”.

Rogério Carapuça referia-se ao nível elevado de regulação

que existe na União Europeia, que é aprovada

mesmo antes das tecnologias se desenvolverem e sem

se perceber o que é que se pode, efetivamente, regular.

“A regulação serve para manter as tecnologias dentro

de um plano ético, o level playing field do mercado. Mas

não pode servir como um mecanismo para proibir e

para nos atrasar”, considera.

Por isso, “a melhor forma de ter uma imagem positiva

das coisas é ver o que os outros estão a fazer, o

A transformação digital

vai recorrer, cada vez

mais, a ferramentas de

inteligência artificial

que resulta e como é que pode funcionar no futuro. Os

riscos existem e vamo-nos apercebendo deles ao longo

do tempo. Há coisas que só se vão conseguir resolver

com tratados internacionais e não propriamente com

regulação local numa determinada região”. E há um

risco que “está nas nossas mãos conseguir evitar: o de

não sermos suficientemente competitivos e avançados

como europeus para podermos concorrer com o resto

do mundo”.

PESSOAS NA BASE DE TUDO

À semelhança da web, a IA já existe há bastantes anos.

Então porque só agora é que está a ser utilizada e a

fazer a diferença? A resposta está, na perspetiva do

coordenador científico do EVOLVE, na forma como

se usa a tecnologia, não só para criar valor, mas para

ter sucesso. A IA só passou a ser utilizada quando surgiu

o ChatGPT, que veio demonstrar que era simples,

que comunica com as pessoas de forma natural e que

usa dados estruturados, a partir de uma base de informação.

Mas como é que se pode criar conhecimento a

partir daí? A resposta está

no processo de aprendizagem,

que passará sempre

pelas pessoas. Só estas poderão

criar valor e retirar

daí uma verdadeira vantagem

competitiva, sendo

isto que fará a diferença,

na sua perspetiva.

“Olhando para a transformação

digital, de que

é que estamos a falar? O que é que muda primeiro?

Muda a relação da pessoa com a máquina, muda a atividade,

muda a função, muda o processo. O caminho

é conhecido, pois já fazemos transformação digital há

muito tempo. A única diferença é que com a IA terá

de haver uma nova abordagem do que significa saber

aprender”, explica Paulo Cardoso do Amaral. Por isso,

recomenda que todas as organizações tentem obter o

melhor processo de aprendizagem, que “crie conhecimento

específico e que não possa ser copiado, para

haver uma vantagem competitiva”.

O também docente da Católica-Lisbon considera

a IA generativa “uma nova ferramenta absolutamente

incrível”, que está agora democratizada. Ainda estão


Paulo Cardoso do Amaral, coordenador científico do EVOLVE, diz

que a IA generativa “é uma ferramenta absolutamente incrível”

Rogério Carapuça defende que “a regulação não pode servir

como um mecanismo para proibir e para atrasar a Europa”

O coordenador desta 3ª edição do EVOLVE, com os hosts e o líder

e a diretora da APDC

Pedro Santos Guerreiro (diretor executivo da CNN Portugal e

TVI) e Ana Sofia Cardoso (CNN Portugal) foram os hosts

O novo EVOLVE centrou-se exclusivamente em casos

de transformação que usam IA

27


em destaque

Os vários projetos apresentados nesta edição do EVOLVE, que decorreu no Pavilhão do Conhecimento, mostram como é que a

inteligência artificial pode acelerar a transformação digital, num processo que implica riscos, mas também oportunidades

28

a ser dados os primeiros passos, com a sua utilização

para a criação de valor, mas, a prazo, terá de pensar-

-se em “qual será o equilíbrio competitivo relacionado

com o conhecimento que cada entidade terá de ter

para ser bem-sucedida”.

Os casos de estudo apresentados neste EVOLVE

AI, que foi dinamizado pelos jornalistas Pedro Santos

Guerreiro (diretor executivo da CNN Portugal e da TVI)

e Ana Sofia Cardoso (CNN Portugal) mostram que a

tecnologia já está em todos os setores. Estes exemplos,

nas mais variadas áreas, e com empresas totalmente

distintas, mostram que a IA generativa representa

uma verdadeira mudança de paradigma. Como diz Pedro

Santos Guerreiro, “a IA é um gatilho económico de

criação de valor, mas também parte de uma sociedade

que se pretende mais justa, inclusiva e próspera”.

Os exemplos apresentados mostram como é que

a IA pode acelerar a transformação digital, num processo

que implica riscos, mas também oportunidades.

Implica saber gerir informação, capacidade de investir,

transformar informação em conhecimento, ter equipas

disciplinares, apostar na formação de pessoas e estabelecer

as parcerias ganhadoras. Mas traz poupanças

de custos, mais qualidade de serviço e da oferta, inovação,

novos processos, mais competências e maior

competitividade.

Afinal, como afirmou o jornalista e diretor executivo

da CNN Portugal no final do evento, “a IA vai ser

uma ferramenta básica. É a palavra-chave. Não é um

bónus ou uma possibilidade, nem futurologia. E foi

isso que vimos em tantos casos, em que a IA tanto

permite evitar apagões de redes elétricas, como saber

qual é o momento certo para acender um forno e ter

pão quente a tempo e horas. Ou soluções que permitem

salvar peixes nos ecossistemas de barragens, mas

também salvar pessoas que tiveram hemorragias cerebrais.

Foi dito que o impossível só precisa de um pouco

mais de tempo. Mas também precisa de outras coisas,

como trabalho de equipa, parcerias e IA. E isto vai ser

básico”.•


CASOS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL:

DISRUPÇÃO

ESTÁ EM MARCHA

CASO 1

NOS | CALL REASON PREDICTOR

operador, o projeto foi diferenciador: “Foram eliminados

os tempos de espera dos clientes, agora com acesso à

informação de que necessitam de forma automatizada.

Ficámos mais eficientes e com poupanças não despicientes.

Tem de se trabalhar de forma diferente e tem de

se mudar muita coisa”. A ambição é agora “continuar a

evoluir, crescendo na capacidade conversacional automatizada”,

e já se está a trabalhar nas soluções de chatboots,

já que a capacidade de atendimento crescentemente

automatizada e conversacional se assume como um verdadeiro

game changer.

CASO 2

DXC TECHNOLOGY & MEO |

CHATGPT FOR LEGAL DOCUMENTS

PARA POUPAR TEMPO e reduzir custos operacionais no

serviço ao cliente e atendimento, apostou-se na criação

de formatos de resolução automática. Como explica

Maria Francisca Pinho, AI Project Management da NOS,

“o projeto partiu da constatação de que havia um volume

de chamadas de clientes meramente informativo, que

não requeriam interação com um humano para serem

resolvidas. Com esta premissa, trabalhámos em duas dimensões:

uma de analítica, com o desenvolvimento com

IA para prever a necessidade do cliente; outra, com a criação

de mecanismos de resolução automáticos”. A solução

acabou por ter impactos de várias naturezas: permite

uma previsão proativa do motivo de contacto do cliente,

implementando formatos de resolução automática, para

promover a rápida solução dos problemas, eliminando

a necessidade de intervenção humana. Segundo Pedro

Brandão, diretor de Market & Customer Intelligence do

DAR RESPOSTA AO DESAFIO da equipa jurídica da Altice na

intensa e complexa atividade que resulta da forte regulação

do setor das telecomunicações foi a base do projeto.

A solução encontrada, assente em IA generativa sobre

29


em destaque

30

um repositório de dados privados, permite não só uma

análise mais completa, como poupanças de tempo e de

esforços. Nuno Moura Pinheiro, head of Data & AI na DXC

Technology Portugal, explica que o desafio exigiu cuidados

adicionais: “Falamos de documentos legais, informação

confidencial e restrita. Trabalhámos com todos os

requisitos de segurança e com a equipa legal, assim como

com uma equipa de analistas, para conseguir colocar a IA

a identificar as necessidades, definir as ações e a partir

daí permitir perguntas e respostas”. Júlio César Ribeiro,

Applications & Solutions Architecture da MEO, acrescenta

que se tentou o melhor use case possível, “que reunisse

todas as capacidades do ChatGPT. Por isso trouxemos a

solução para a área jurídica, que implica um enorme esforço

humano na análise, compilação de texto e geração

de soluções”. Resultado, reduziu-se significativamente

o “esforço humano nesta tarefa de análise de textos e

produção dos mesmos. A prova de conceito rapidamente

se transformou numa prova de valor. Percebemos que a

totalidade dos utilizadores avaliavam a solução como algo

que resolveria problemas do dia a dia, com poupanças

de tempo que podem chegar aos 50%”. Agora, e tendo

em conta as aprendizagens, a MEO está a “construir uma

plataforma de referência para criar novos use cases”. As

premissas: proximidade entre o use case e as equipas que

vão utilizar; parceria estratégia tecnológica com quem

sabe; e usar o conhecimento para construir uma arquitetura

de referência que permita agilizar a implementação”.

É que “não existe um ‘one size fits all’. Tem de se saber o

que se pretende. Não é só tecnologia”.

Cientes de que não existe um

“one size feets all”, as diversas

equipas que têm explorado as

potencialidades da tecnologia

que se encontra agora ao

alcance de todos, apresentaram

diversos use cases, muito

diferentes entre si

CASO 3

E-REDES | IA AO SERVIÇO

DO OPERADOR DE REDES DE

DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA

A OPÇÃO DA E-REDES FOI avançar in-house com a sua

transformação digital, através da utilização de ferramentas

de IA. E já tem dois casos concretos: o PREDIS 3.0,

solução que permite a previsão de séries temporais de

energia em grande escala, para perceber e antecipar

os fluxos de potência na rede e identificar se a tensão

se mantém dentro dos limites regulamentares; e o ARC

– Assistente para Respostas ao Cliente, um assistente

virtual conversacional suportado em IA generativa, para

melhorar, uniformizar e capacitar a rede de atendimento,

reduzindo tempo de resposta e custos. Catarina Calhau,

Data Management and Analytics manager da empresa

do universo EDP, adianta que neste segundo exemplo

“optámos por avançar com um assistente de resposta ao

cliente, suportado em IA generativa. Utilizámos os modelos

da OpenAI e aprendemos a trabalhar esta tecnologia,

com um grande investimento na parte do negócio”. Os

impactos diretos foram imediatos: garantir uma análise

mais completa num tempo mais curto, via assistente

conversacional; resposta com uma maior qualidade e

consistência, com redução do número de reincidências;

alavancagem do conhecimento para as novas iniciativas.

Já o PREDIS 3.0 está na sua 3ª geração. “É um modelo

crítico para a empresa, porque permite antecipar o que

vai acontecer na rede e ter ferramentas para resolver.

Num contexto de transição elétrica, com um aumento de

consumo de energia e um aumento de produção muito

distribuída e de fontes renováveis, ter a capacidade de

saber o que vai acontecer é crítico. O desafio, mais do

que a componente de machine learning, foi o big data.

Estamos a falar de mais de 14 biliões de dados”, destaca a

responsável, que diz que em termos de perdas da rede já

há uma redução de 10%”


CASO 4

HPE & SENSEI | A MUDAR A

FORMA COMO O MUNDO COMPRA

ATRAVÉS DA IA

CASO 5

CGI | AI HEAD ANALYSIS

A SENSEI APOSTOU NUMA revolução no retalho, com a

criação de lojas automatizadas, tanto em Portugal como

noutros mercados, sem caixas e impulsionadas por dados,

através da implementação de soluções avançadas de visão

computacional, adaptadas especificamente para o retalho.

Para processar a informação nas lojas, fez uma parceria

com a HPE. Para Rita Ribeirinho, Marketing manager da

HPE, a solução tecnológica encontrada não foi simples. Até

porque “não é um caso comum, é um negócio completo

que foi baseado em IA e em engenharia portuguesa, com

criatividade”. O segredo do sucesso assentou na equipa da

Sensei e no trabalho em conjunto, numa “verdadeira relação

de parceria”. É que se trata de “assegurar computação

superpotente e resiliente, baseada em processamento gráfico,

com baixa latência e soberania e privacidade dos dados.

Perante estes requisitos, a solução passa por cada loja

autónoma ter o seu data center dedicado, com conetividade

feita pela HPE”. Na perspetiva de Vasco Portugal, CEO e cofounder

da Sensei, o que se fez foi “criar uma tecnologia que

permita ao retalho ser autónomo”. Diz mesmo que “o que

a IA comporta é uma mudança de paradigma. Trouxe duas

coisas: visão computacional, que permite às máquinas conseguirem

interpretar e tomar decisões sobre coisas do dia a

dia; e a introdução dos LLMs, para processar uma quantidade

infinita de dados e a comunicação com as máquinas em

linguagem natural. É a tecnologia ubíqua dentro do nosso

contexto. Estamos a falar de tecnologia que funciona por si

só”. A melhoria da experiência de compra dos clientes, com

pagamentos sem atritos, precisão de cesto de compras superior

a 99% e total visibilidade das atividades dos clientes

em loja, bem como o aumento da eficiência das operações,

através da monitorização em tempo real do stock nas prateleiras,

foram já resultados alcançados.

AS HEMORRAGIAS CEREBRAIS são acidentes vasculares

cerebrais potencialmente fatais, que requerem tratamento

imediato. E os desafios atuais no diagnóstico incluem

a interpretação complexa das imagens e a escassez de

recursos de radiologia, especialmente em emergências.

Para endereçar o problema, o HUS Helsinki University

Hospital juntou-se à CGI e à Planmeca. “A solução encontrada,

única e revolucionária, envolve o tratamento dos

dados e a aprendizagem do algoritmo de IA, o que é um

processo longo e com um vasto ciclo de testes. A plataforma

que foi implementada pretende ter um diagnóstico

rápido e correto deste tipo de problema. Porque existem

casos que, se não forem detetados rapidamente, provocam

a morte do paciente. É fundamental ter o apoio ao

diagnóstico”, comenta Paulo Pena, director consulting

da CGI. Assim a AI Head Analysis é uma ferramenta de

IA que permite analisar as TAC (tomografias computorizadas)

da cabeça em tempo real, para detetar os tipos

mais comuns de hemorragias cerebrais não traumáticas.

O gestor explica que já deteta três das cinco tipologias

destas hemorragias, “correspondendo a 99% das hemorragias

cerebrais agudas não traumáticas. Olhando para a

solução como um todo, tem um grau de precisão de 98%

nesta fase, uma deteção de negativos quase a 100% e

um grau de sensibilidade superior a 87%”. Adianta ainda

que “nesta fase, está a correr um piloto de usabilidade no

Hospital de Helsínquia. O próximo passo será a comercialização

aos hospitais e fabricantes de equipamentos. Mas

destaca que o “tempo de desenvolvimento de projetos de

IA na área médica é bastante prolongado, pela necessidade

de aprendizagem e correção dos algoritmos e pelo

tratamento de dados feita in-house, que são submetidos a

um processo de anonimização e de despersonalização”.

31


em destaque

CASO 6

NOS & ACCENTURE & PESTANA|

INOVAÇÃO EM HOTELARIA E

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

paralelo, foram revistos e otimizados os processos, com

integração entre front/middle offices e implementado um

Value Realization Office para instalação e monitorização

de iniciativas de melhoria contínua. À NOS, segundo o seu

administrador, Manuel Eanes, cabe “integrar as diversas

componentes da solução: infraestruturas, comunicações,

plataforma e serviços. Garantimos que estas diferentes

peças funcionam em conjunto”. E não tem dúvidas de que

“estamos perante uma revolução gigante. Com a IA generativa

podemos perspetivar uma mudança dramática das

interfaces, passando a ter assistentes que nos vão ajudar

na nossa vida. Para as empresas é um desafio e uma

oportunidade gigante”. Uma perspetiva partilhada por

Vasco Costa, managing director da Accenture: “A IA vai ter

um impacto significativo na forma de fazer negócios, na

sociedade e no trabalho. Já temos mais de mil projetos

em GenAI e a área de contact center e de serviço ao cliente

é aquela que tem maior maturidade para avançar com a

tecnologia”.

CASO 7

GOOGLE CLOUD & CUF | MEDLM

- GENERATIVE AI IMPACT ON

HEALTHCARE

32

O GRUPO PESTANA ESTÁ PRESENTE em 16 países, detendo

mais de 100 hotéis, divididos em quatro marcas

distintas. Com a enorme transformação nos últimos 20

anos e a transição do analógico para o digital, tudo está a

mudar. João Machado, executive committee member do

grupo, diz que “cerca de 70% das reservas do setor vêm

de canais online, seja através de plataformas mundiais,

seja dos canais diretos do grupo”, realidade que “obrigou

a uma alteração completa na forma de trabalhar.

Temos necessidade de ter competências tecnológicas

muito vincadas e de trabalhar as mesmas variáveis que

as grandes plataformas de turismo, conseguindo taxas

de conversão para aumentar as receitas”. Acresce a nova

dinâmica dos preços, cada vez mais last minute e em

constante mudança, em função da oferta e da procura.

Para transformar o núcleo de atendimento ao cliente e

vendas, através de uma co-parceria da Accenture com a

NOS e a Talkdesk, implementaram uma nova plataforma

omnicanal de atendimento ao cliente (IVR/telefonia,

e-mail, chat) suportada por uma arquitetura de dados. Em

AGREGAR A INFORMAÇÃO DISPERSA por vários sistemas

corporativos e os dados dos HR (electronic health records)

dos pacientes, assim como assegurar uma melhor gestão

da elevada carga administrativa e da fadiga do pessoal

clínico, eram desafios a endereçar na CUF. Que pretendia

ainda assegurar um suporte inteligente à tomada de


decisão. Feito o diagnóstico, foi desenvolvida uma solução

que utiliza o modelo de IA generativa da Google, o

MedLM. De acordo com Ana Seabra Brito, care solutions

lead and specialist da CUF, o grupo “tem vindo a fazer

um projeto grande de transformação, para passar a ter

novas ferramentas que são “colegas” dos médicos e dos

profissionais da CUF. Destaco os projetos para arrumar a

casa, que foram muito importantes neste processo. Com

fichas únicas dos clientes, um arquivo único e a migração

do histórico clínico para um formato que permite a

utilização de algoritmos de IA”. Mais: era fundamental ter

um “algoritmo em constante atualização. A lógica é descobrir,

criar em conjunto, prototipar e entrar em produção.

Dando aos médicos ferramentas muito potentes para

ajudar nas consultas. Fomos à procura de parceiros e

soluções que nos garantissem a obtenção dos resultados.

Este tipo de ferramentas traz mais eficiência, exatidão

e detalhe clínico”. Renato Gomes, account executive da

Google Cloud Portugal, explica que “a iniciativa-chapéu

Google Health visa pensar a saúde como um todo. É uma

das áreas que será mais impactada pela IA generativa.

Temo-nos aperfeiçoado nos dois últimos anos e criado

modelos altamente especializados de saúde, porque têm

um impacto brutal. Tudo se baseia em modelos precisos,

baseados em dados que são relevantes no tempo. O que

é que vem a seguir? O facto de serem modelos multi-modais

permite uma vasta gama de aplicações”.

CASO 8

AWS & OUTSYSTEMS | SALES.

AI - ACTIONABLE SALES INSIGHTS

GENERATED IN CRM THRU GEN AI

AUMENTAR A PRODUTIVIDADE das equipas de vendas,

ajudando a identificar melhor as oportunidades e a criar

uma maior interação com os clientes, era o objetivo da

Outsystems. “Temos um ecossistema gigante de software

na empresa, o que torna difícil saber tudo o que se

passa internamente. Para endereçar o problema criámos

o myOutsystems: permite pedir ajuda, com o sistema a

fornecer toda a informação disponível, para o vendedor

dar uma resposta o mais certa e rápida possível. É um

dos casos que estamos agora a experimentar com cerca

de 100 pessoas”, explica Rodrigo Sousa Coutinho – AI

product manager da Outsystems. A implementação do

Sales.AI trouxe “personalização e costumização. Garantindo

uma experiência única ao cliente, baseada nas

suas preferências. Para tudo isto funcionar, é impossível

assentar apenas em pessoas. Temos de ter os mais avançados

mecanismos de IA para assegurar a automatização”,

acrescenta André Rodrigues, country lead Portugal

da AWS. Para quem a aprendizagem retirada dos “clientes

que usam tecnologia de IA em cima da AWS é a de que

todos pedem escolha. Não há um modelo único que

enderece todos os use cases”. A Outsystems usa a IA para

use cases internos, mas também para dotar os seus produtos

de IA de forma embebida. Depois de implementada

a solução, que foi incorporada nos processos de venda da

tecnológica, já é visível uma melhoria da qualidade dos

dados, estando entre 70% e 90% das oportunidades centralizadas

e com informações de alta qualidade. Agora, a

Ousystems está a experimentar a IA em várias áreas, com

os modelos da AWS.

33


em destaque

CASO 9

SALESFORCE & PORTA DA

FRENTE (CHRISTIES) | OTIMIZAR

GESTÃO DE CLIENTES E PROCESSOS

Salesforce foi fundamental para assegurar uma resposta

muito rápida. Diz que a solução tornou “as campanhas

de marketing mais eficientes, ao detalhar tudo a todo o

momento. Somos muito mais rápidos e eficazes em chegar

ao cliente e a transformar a lead em negócio”. Tiago

Machado, sales manager da Salesforce, adianta que a

imobiliária já adota as soluções da empresa: “A contribuição

que fazemos tem a ver com a possibilidade de vender

mais e de forma mais eficiente, para terem uma maior

margem”. Sendo que “um projeto de transformação exige

tecnologia, processos e pessoas. Os processos têm de ser

muito orientados ao negócio e as pessoas têm de estar

treinadas em tecnologia. A gestão da mudança é muito

importante e ainda persiste alguma entropia, relacionada

com o mindset”.

CASO 10

CAPGEMINI & E-REDES|

METADATA COLLECTOR – PVNO

34

O OBJETIVO DA PORTA DA FRENTE, imobiliária com um

serviço personalizado, foi otimizar a gestão de clientes

e os processos internos. Recorreu à Salesforce para encontrar

uma solução para uma integração mais eficiente

entre as diferentes áreas, melhorando comunicação e

gestão de dados. Esta visão unificada permitiu obter um

impacto significativo na forma de lidar com clientes e na

gestão de imóveis, além do reforço da eficiência operacional.

“O projeto tem três anos e já está implementado.

Implicou uma transformação cultural e processual que

ainda está a decorrer. Estamos a meio do processo,

tendo em conta todo o potencial de coisas que podemos

fazer em cima desta solução. Há custos de mudança, pois

as próprias lideranças têm medo e falta de informação,

quando o processo tem de ser liderado por elas e ser

estratégico”, refere João Cília, CEO da Porta da Frente

(Christies). Num mercado altamente competitivo e com

clientes mais exigentes, “é fundamental as mediadoras

serem as primeiras a chegar ao cliente. É aí que se

centra a competição”, acrescenta, assegurando que a

O DESAFIO ERA ULTRAPASSAR as ineficiências e falhas nas

comunicações que impactam negativamente o abastecimento

de energia elétrica e reforçar a digitalização da

cadeia de valor do Sistema Elétrico Nacional. Para João

Galamba Oliveira, mission critical platform advisor da

E-REDES, “a resiliência da rede elétrica é cada vez mais

essencial, para garantir o equilíbrio entre produção e

consumo. E já é possível, com redes inteligentes com

capacidade para gerir a situação. São sistemas que falam

entre si para permitir uma gestão equilibrada de um

sistema de gestão avançado e conectado”. Assim, foi

criado um PVNO (Private Virtual Network Operator), num


modelo inclusivo, que permite a participação simultânea

dos operadores nacionais do serviço móvel terrestre. “A

verdade é que as redes elétricas e de telecomunicações

estão profundamente interligadas. Com a transição que

queremos fazer para o 5G também estão envolvidos com

este caso de uso muito particular, que é a gestão da rede

elétrica. Queremos uma rede para ambientes industriais,

tudo a funcionar em 5G, com garantia de fiabilidade de

resiliência”, acrescenta o responsável da E-REDES. Para

Pedro Corista, technical coordinator for energy and utilities

da Capgemini, o que se construiu foi uma plataforma

aberta para “fazer a monitorização de todos os insights

que chegam à rede elétrica. O que implica colocar uma

camada analítica em cima dos dados e saber como

endereçar um grande volume de dados. Utilizamos IA e

algoritmos de machine learning sem nenhuma interação

humana, que detetam padrões de mudança e problemas

na rede. Este é um sistema resiliente, que garante que

tudo funciona corretamente. Conseguimos saber o que

está bem e mal, dando a informação às equipas do terreno

para os resolver”.

CASO 11

AXIANS & PANIKE | INDÚSTRIA

4.0 POWERED BY IA

A SOLUÇÃO DE MANUTENÇÃO PREDITIVA, assente em IA,

identifica pontos de melhoria, sustentabilidade, qualidade

do produto e menos paragens na produção, nas linhas da

Panike. Daniel Teixeira, operations director da empresa

que fabrica produtos de padaria e pastelaria congelada,

destaca que num cenário de um mercado altamente

competitivo, foram realizados investimentos em linhas de

produção automáticas e em sistemas de monitorização.

“Já temos uma plataforma a nível de dados muito fiável

e importante, com controlo da gestão e da operação.

A parceria com a Axians deu-nos a oportunidade de ir

mais longe: através da IA, analisar toda a informação

recolhida online para entender melhor as oportunidades

de melhoria que nos escapam. O projeto foca-se essencialmente

em linhas de produção, para ganhar qualidade

e garantir menos consumo energético”. Nuno Antunes,

account manager manufacturing and services da Axians,

considera que “a Panike simboliza o que é a inovação na

indústria. Tudo se deve ao investimento que tem vindo a

fazer nas linhas de produção e na inovação nos processos.

Renovou o mercado do pão, com a necessária capacitação

em tecnologias”. Sobre o projeto em concreto,

João Domingues, Innovation lead da Axians, explica que

tudo começou com a linha de produção que tinha mais

maturidade: “Identificámos que havia 42 dias onde não se

produzia. Olhando para os dados e trabalhando com modelos,

conseguiu-se um aumento de capacidade produtiva

de 15%. Estamos a falar de uma linha e a Panike tem

15”. Foi também criado “um digital twin para, em ambiente

de simulação, ser usado diariamente em iniciativas de

poupança energética. E identificámos a necessidade de

ter uma visão holística da performance das linhas, sendo

desenvolvida uma aplicação que mede em tempo real

a informação, para avaliar a sua performance, produção

e centros de trabalho. Trará uma grande capacidade de

decisão em tempo real”.

35


em destaque

CASO 12

NTT DATA & EDP | IDENTIFYING

FISH WITH DEEP LEARNING IN

PORTUGUESE DAMS

dados em si, muito variados, as diferentes câmaras que

existiam e as características de cada barragem. A análise

por IA tornava-se muito complexa. O projeto funcionou

com dados específicos fechados, para os quais foi criado

um robô que os converteu, seguido de um processo de

preparação. O passo seguinte foi encontrar o modelo correto

e treiná-lo, porque havia que processar muitas horas

de vídeo. Depois, passou-se à implementação do modelo

no ecossistema e ao treino das equipas. A solução está já

em três barragens, com o objetivo de catalogar e identificar

peixes e ver se está tudo bem. A IA é usada como

analítica de vídeo, sendo altamente exponencial a sua

utilização para escalar para outras barragens. É uma solução

que nos dá asas, para encontrar outras utilizações”,

remata o responsável da EDP.

CASO 13

MEO EMPRESAS &

UNIVERSIDADE LUSÓFONA

| ASSISTENTES VIRTUAIS NO

ATENDIMENTO

36

DIGITALIZAR O PROCESSO DE monitorização da passagem

de espécies aquáticas que anualmente sobem o rio Douro

e atravessam barragens já é uma realidade, através

do FishNet. O projeto utiliza aprendizagem automática e

algoritmos de IA para detetar e contar automaticamente

cada espécie e reportar as populações aquáticas que

vivem no rio e está alinhado com o compromisso de

promover soluções inovadoras e sustentáveis. “Fomos

desafiados a desenvolver a solução pela EDP Produção,

que detém dentro do grupo EDP as barragens. Estas

têm as eclusas de peixes, mecanismo que assegura que

a biodiversidade de todo o ecossistema está garantida.

A empresa tem a obrigação legal de monitorizar e de

reportar que tudo está a funcionar, sendo que o trabalho

era feito por biólogos de forma manual, a partir de vídeos

de muitas horas do fundo das barragens, que implicava

ainda categorização de espécies”, explica Tiago Moura

Antunes, head of Global Digital Factory da EDP. Mas como

é que se iria olhar para os dados, automatizar o processo

e torná-lo eficiente? Para José Varela, AI evangelist da NTT

DATA Portugal, “um dos desafios foi a dificuldade dos

LIBERTAR OS ASSISTENTES HUMANOS de algumas tarefas,

reduzir custos e disponibilizar atendimento 24/dia aos

alunos foi a visão que a MEO Empresas apresentou à

Universidade Lusófona. “Todos os players estão a desenvolver

com a IA conceitos e análises, para trazer ao país

mais-valias e competitividade. E colocar a tecnologia ao

serviço dos clientes. Desafiámos proativamente a Lusófona

para uma prova de conceito com assistentes virtuais,

para ganhar maior capacidade de resposta em atividades

rotineiras”, explica Rui Felício, diretor comercial da MEO

Empresas. “O desafio da MEO surgiu numa altura de


reorganização de serviços. Percebemos que perdíamos

muitas chamadas em certas alturas do ano, mesmo com

reforço da equipa. Era complicado dar resposta a candidatos

e alunos. A escolha foi óbvia, com a implementação

do use case de informação de candidaturas. Libertámos

os operadores para outras tarefas mais complexas que

requerem a intervenção humana. O boot facilita muito,

liberta-nos e dá uma resposta muito mais rápida. Há 40%

de taxa de sucesso”, explica Rita Freitas da Costa, coordenadora

do SIGA (Serviço Integrado de Gestão de Alunos)

da universidade. Agora, “estamos no caminho para usar

o use case na otimização de outros processos. Ainda estamos

numa fase muito embrionária, pois foi uma prova

de conceito. Mas já temos uma equipa multidisciplinar.

O grande objetivo vai ser a MEO ensinar-nos a treinar

os boots de atendimento. Será um processo longo e de

forma faseada, seja no canal de voz, seja para avançar

para o chatboot, com uma ligação através de APIs à nossa

central de ajuda”, acrescenta.

CASO 14

CTT | ASSISTENTE VIRTUAL

HELENA

Oliveira, diretor de Transformação do operador postal.

“Queríamos ser os primeiros na IA generativa. É um novo

paradigma que se abre, com um assistente que permite

mais produtividade. O desafio foi saber como testar a solução,

pois tínhamos milhares de perguntas formuladas

e respostas, e de saber como dar resposta a clientes que

fazem questões muito incompletas”, acrescenta. Cláudia

Serra, diretora de Apoio e Voz do Cliente dos CTT, não

tem dúvidas de que “a Helena veio marcar a diferença

no volume de procura por parte dos clientes. Há mais de

2,5 mil interações por dia de assistência virtual. Tivemos

ainda melhorias imensas em termos de satisfação dos

clientes. E internamente, nas equipas, houve ganhos

enormes. Até recorrem à Helena para darem respostas

mais completas aos clientes, tornando mais célere o

atendimento humano”. Agora, garante que “queremos

que vá muito além, com novos serviços. Dando a mesma

experiência aos clientes nos vários canais. Começámos

pelo chatboot, mas não por voz. Queremos avançar

para a voz e expandir ao Facebook e Instagram, pois já

estamos no WhatsApp. Há um potencial enorme e muito

caminho pela frente”, assegura. Diogo Oliveira remata:

“Nos CTT, queremos apostar muito em IA. Este ano, definimos

uma estratégia para construir as fundações, como

ter uma arquitetura de referência e garantir a qualidade

dos dados, pois não há IA sem dados. Estamos também

com a componente das novas regras do IA Act, para o

qual temos de nos preparar. E a apostar na capacitação

das pessoas, para terem um pensamento mais disruptivo,

para tirarem todo o proveito da tecnologia”.•

CHAMA-SE HELENA E É O NOVO assistente virtual dos CTT.

É ainda um “caso de uso, live há 11 meses, para apoio

direto ao cliente final. A solução tem quatro componentes:

recurso ao ChatGPT, um knowledge base específico,

promping e orquestração, para garantir a transacionalidade,

com pesquisa aos sistemas na resposta”, afirma Diogo

REPORTAGEM:

https://www.apdc.pt/iniciativas/agenda-apdc/evolve-ai---

digital-transformation-summit

VÍDEO:

https://www.youtube.com/watch?v=cPNhBcZ4Hio&t=8s

FOTOS:

https://www.flickr.com/photos/apdc/albums/72177720321038492/

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itech

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PEDRO TAVARES:

Como o ar

que respira

Não teve a disciplina na escola, nem pessoas na família que

o influenciassem, ou sequer um amigo próximo que o puxasse

para as telecomunicações. Simplesmente aconteceu interessar-

-se por tudo o que tivesse a ver com essa área. No secundário,

Pedro Tavares já sabia o que queria ser quando fosse grande.

Texto de Teresa Ribeiro | Fotos Vítor Gordo/ Syncview

Como é que o lead partner EMEA

Telecom Engineering Centre of

Excellence da Deloitte explica

uma tão clara vocação que aparentemente

lhe nasce de geração espontânea?

Diz que tudo tem a ver com

o gosto pela comunicação: “Sempre

gostei de comunicar, de falar com as

pessoas. A partir do momento em

que comecei a perceber que havia

formas de o fazer para universos

bem mais distantes do que o meu

grupo de amigos ou a minha sala de

aulas, apaixonei-me”. Auto-diagnostica-se

com a firmeza de quem sabe

do que está a falar: “Até hoje mantenho-me

completamente apaixonado

por redes de cabos submarinos, que

permitem ligar continentes, e redes

de comunicação via satélite que,

inclusivé, permitem comunicar para

outros planetas”.

Claro que quando chegou a hora

de escolher o curso, no início dos

anos 90, inscreveu-se em Engenharia

Eletrónica e de Telecomunicações

da Universidade de Aveiro. Porque

além de querer saber, desejava, mais

que tudo, aprender a fazer: “Era um

doer. Ainda hoje sou. Gosto muito de

power points, mas gosto ainda mais

de fazer acontecer”.

Em miúdo uma das primeiras coisas

que fez, foi um sistema de receção

de rádio FM. Podia ter comprado

uma telefonia na loja, mas dava-lhe

muito mais prazer fazê-la, por isso

adquiria os kits e depois era só seguir

as instruções. Soldava as peças,

sintonizava e o milagre acontecia:

“Ouvi muitos relatos de futebol em

dispositivos que fui eu que fiz”, descreve

com a naturalidade de quem já

contou a história muitas vezes.

Quando entrou na faculdade, as telecomunicações

faziam-se por fibra

ótica, com velocidades muito baixas,

mas para quem estava habituado

a ouvir falar de telecomunicações

por cabos de cobre, muito grossos e

difíceis de trabalhar, ter a capacidade

de transmitir informação através

de luz e por cabos com o diâmetro

de um fio de cabelo, era fascinante.

Lembra-se da euforia que foi quando

concluiu, com colegas, uma ligação

de dois megabites entre Lisboa e

Madrid.

Hoje, que tem acesso a tecnologia de

ponta, vive intensamente aquilo que

faz: “Acho que não trabalho. Acho

que estou permanentemente em

férias, porque gosto tanto daquilo

que faço, que não sinto o trabalho

como uma obrigação. O ‘não me

apetece trabalhar’ é um estado de

espírito que praticamente não existe

na minha vida”.

Há coisas que o distraem do trabalho?

Sim. Nas férias gosta de viajar

para os locais – ainda restam alguns

– que não conhece, imergir em

culturas diferentes, fazer experiências

empolgantes, como foi a de

subir a montanha da ilha do Pico:

“Ter a possibilidade de acordar com

os primeiros raios de sol, sob um frio

louco e perceber que apesar de ter

50 anos ainda há muito para viver…”,

comenta, ao reviver esses momentos.

Apesar de ser um defensor convicto

da transformação tecnológica, por

tudo o que traz de positivo à vida

das pessoas e à sociedade em geral,

Pedro Tavares admite que chegámos

a uma etapa do desenvolvimento

onde é legítimo colocar algumas

interrogações: “Porque conheço as

tecnologias, algumas com muito

detalhe, sei qual é o impacto das

mesmas se usadas de forma descontrolada.

Assistimos recentemente

ao lançamento do processador

quantum da Google, o Willow, que

consegue resolver em cinco minutos

um problema que por outra via demoraria

a resolver mais tempo que a

idade do universo. Isto pode implicar

capacidades de desencriptação de

chaves que utilizamos para aceder,

por exemplo, a silos nucleares”…

Nesta fase do conhecimento ainda

temos “the man in the middle”, mas

isso vai deixar de acontecer mais

breve do que se pensa, acredita

Pedro Tavares. Quando essa for a

realidade, ficaremos mais vulneráveis

face ao potencial das novas

tecnologias, nomeadamente da IA.

Preocupante? Certamente. Mas o

partner da Deloitte é um otimista e

confia que a inteligência humana vai

estar à altura destes desafios.•


A brincar com carrinhos? Não. Esta é

apenas a face visível de um projeto

que está a desenvolver para o 5G,

no Telecom Engineering Centre of

Excellence da Deloitte, em Lisboa

Usa o Thinkpad desde sempre. Gosta

dele por ser leve e ter uma bateria

com elevada autonomia, duas grandes

vantagens para quem viaja muito

Admirador da Apple desde o tempo em

que Steve Jobs reinava, tem-se mantido

fiel ao iPhone. Neste momento tem o 15.

Em regra salta uma geração, por nunca

lhe reconhecer vantagens incrementais

suficientes. Por isso não tem dúvidas

de que se tornará um early adopter do

iPhone 17

39


negocios

PROJETO

DE MUNDO

De ambição em ambição,

o projeto foi crescendo. Nos

últimos dois anos, já como

Unicorn Factory Lisboa,

conheceu um desenvolvimento

sem paralelo. Agora, este

ecossistema de inovação

da cidade e do país quer ganhar

asas. Para a Europa e para

o mundo.

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW

40


41


negocios

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Começou em 2012, como incubadora de empresas,

e desempenhou um papel central na dinamização

do ecossistema de empreendedorismo

lisboeta. Numa década, a Startup Lisboa deu

origem a mais de 400 startups, que criaram 4.500 postos

de trabalho e levantaram 340 milhões de euros de investimentos.

O projeto foi redefinido em 2022, como

Unicorn Factory Lisboa, e ganhou uma nova ambição:

tornar-se num pilar do ecossistema empreendedor nacional

e posicionar a cidade e o país como um centro

europeu de inovação.

Dois anos volvidos, os resultados estão à vista.

Alargou atividades muito além das startups, abrangendo

o apoio às scaleups

na sua expansão internacional,

a captação de

empresas estrangeiras, o

empreendedorismo jovem

e três innovation districts,

onde já criou quatro centros

de inovação em áreas

de elevado potencial, incluindo

a IA. O futuro?

Crescer ainda mais, entrar

em mais áreas e começar a

funcionar em rede ao nível

europeu, abrindo caminho a uma verdadeira internacionalização

da inovação portuguesa.

Gil Azevedo foi desafiado pelo presidente da Câmara

Municipal de Lisboa, que lidera o novo executivo camarário

desde outubro de 2021, a encabeçar a “nova”

Unicorn Factory Lisboa. A visão foi a cidade “poder

afirmar-se como um dos grandes centros de inovação

ao nível internacional”, passando de um programa de

incubação de startups numa fase inicial, que apoiava

entre 50 a 70 projetos por ano, para um “um projeto

de mundo”.

Foi esta ambição de uma nova escala que convenceu

o gestor a aceitar o cargo de diretor executivo, que

assumiu em maio de 2022. Também ele um homem do

mundo – era desde setembro de 2015 senior vice president

e head of Consummer Banking do Emirates Isla-

A visão é posicionar

a cidade como um

dos grandes centros

de inovação ao nível

internacional

mic e antes disso esteve cerca de 11 anos ligado à Mckinsey,

onde chegou a associate principal – acreditou

desde o início que se tratava de um projeto que “ajudaria

o país como um todo” e abriria novos horizontes.

E nestes menos de dois anos, já “foram dados passos

importantes. As comunidades internacionais que

andamos a trazer e a atrair para Portugal têm-nos ajudado

a ter outras perspetivas. Temos de ser capazes de

olhar mais para fora e, com isso, beneficiar cá dentro.

Não nos podemos fechar e acharmos que fazemos tudo

melhor”, afirma Gil Azevedo. Para quem a “grande

missão da Unicorn Factory Lisboa é posicionar a cidade

e Portugal – porque somos muito pequenos como

um todo e não nos podemos dividir – como um dos

motores de inovação ao nível internacional. Ao mesmo

tempo, fazer com que a inovação seja também um motor

para o país e a cidade. Há um duplo papel positivo

que a inovação pode ter”.

DA INCUBAÇÃO AO

ECOSSISTEMA

Hoje, o projeto tem pelo

menos cinco áreas distintas

de atuação e em 2025

deverá avançar para uma

sexta, a da inovação social,

apostando-se na forma

como se poderá usar

a inovação para também

resolver os problemas da

sociedade. Mas nestes últimos

dois anos, esteve a acelerar em todas as frentes.

A começar pela área que “herdou” da Startup Portugal,

a incubação de projetos numa fase inicial. Este programa

foi objeto de um grande reforço, no sentido de ganhar

cada vez mais capacidade e os resultados estão à

vista: em 2024, foram apoiados cerca de 260 projetos,

quando dois anos antes se apoiavam entre 50 a 70 projetos

por ano.

Foi também criado um programa de scaleups, para

startups já em fase de expansão internacional. “Criámos

o que é o único programa em Portugal para estas

empresas, que já têm um produto, uma equipa, receitas,

financiamento e que estão a iniciar ou já iniciaram

a sua expansão internacional. A meta é ajudarmos nesse

passo, para terem um crescimento acelerado, mas

também mais sustentado”, explica Gil Azevedo.


A terceira área onde, entretanto,

se avançou foi a internacional,

destinada a apoiar projetos

estrangeiros a instalarem-se

em Lisboa. A missão passa por

ajudar estas empresas nas múltiplas

áreas, desde a burocracia,

a integrarem-se num ecossistema,

até encontrarem um espaço

físico. No total, a Unicorn Factory

já ajudou 70 startups internacionais

desde 2022, das quais

15 são unicórnios. Juntas, são

responsáveis pela criação de cerca

de 15 mil postos de trabalho.

Na perspetiva do gestor, há

pelo menos três razões para as

empresas internacionais se instalarem

em Portugal. A começar

pelo talento e pela capacidade das camadas mais

jovens de falar inglês e interagir, passando pela cultura

portuguesa, muito aberta e recetiva a outras culturas,

e pela presença de um número significativo de projetos

relevantes e com escala no país. Mas destaca que

há também pelo menos dois problemas ao nível nacional

que terão de ser resolvidos, “para se perceber se,

de facto, a inovação é ou não estratégica para o país.

E é essencial e será cada vez mais o motor das economias”.

O primeiro reside, na sua ótica, numa “falta de

alinhamento entre poder central e local, entre governo

Gil Azevedo aponta a “falta de alinhamento entre o poder central e local, entre

governo e autarquias sobre a estratégia de inovação, que está hoje repartida entre três

ministérios” como algo que compromete o desígnio nacional

e autarquias, sobre a estratégia de inovação, que está

hoje repartida entre três ministérios e vários secretários

de Estado. Temos de ser capazes, se de facto queremos

apostar na inovação, de alinhar estrategicamente

o nosso poder político e de ter a capacidade de pensar a

uma só voz ao nível nacional”.

O segundo problema “tem a ver com a legislação

de atração de talento e de atração e desenvolvimento

de startups. Em Portugal, caímos muitas vezes no erro

das meias medidas, o que não nos permite crescer nem

expandir, porque não se resolvem os problemas. Quan-

43


negocios

“Ainda não se olha para a inovação como um todo”, lamenta o líder da Unicorn Factory Lisboa

44

do falamos no residente não habitual, em benefícios

fiscais para o investimento na inovação ou em vistos,

temos de ser capazes de fazer a aposta completa. Não

podemos continuar com meias apostas e navegar ao

sabor do vento”, alerta, garantindo que “se há área

consensual é esta. No arco da governação, todos olham

para a inovação e entendem que é essencial. Temos de

ser capazes de criar aqui um alinhamento que dê estabilidade

e ambição”.

Isso não acontece, por exemplo, na Estratégia Digital

Nacional anunciada recentemente pelo governo.

Para Gil Azevedo, há “algumas medidas relevantes e

positivas, mas ainda não se olha para a inovação como

um todo. Falta um corpo comum, necessário para nos

transformarmos num motor de inovação à escala internacional”.

Defende, por isso, que “temos de ser

mais ambiciosos, sendo capazes de consensualizar,

de encontrar uma plataforma que coloque a inovação

como um dos pilares de crescimento. O que significa

que, em vez de pensar em medidas soltas, tem de se

pensar em qual é a ambição e em quais as medidas necessárias

para a concretizar, numa lógica de longo-prazo

e não limitadas no tempo”.

MULTIPLICAR EMPREENDEDORES

A área do empreendedorismo jovem é uma aposta mais

recente, que resultou de um diagnóstico que mostrava

uma redução acentuada dos projetos empreendedores

nacionais, na sequência da pandemia e do pleno

emprego na área tecnológica. Assim, para “começar a

desenvolver uma mentalidade mais empreendedora

e inovadora”, foram lançados um conjunto de pro-


gramas destinados aos alunos do ensino secundário e

universitário. Permitem pôr os alunos entre os 14 e os

mais de 20 anos a “experimentar serem empreendedores”.

Um dos exemplos foi a criação de campos de férias

de Verão para alunos das escolas secundárias. Neles,

“fazem todo o percurso que faz um empreendedor,

desde identificar uma ideia, até estar à frente de investidores

e de parceiros a apresentar a sua ideia”.

Ao nível universitário, foi criada em 2024 uma Academia

Digital, com o objetivo de fazer chegar a milhares

de estudantes uma experiência empreendedora,

que começa num desafio, pensar uma ideia, estruturá-la,

validá-la e apresentá-la. Depois, completando a

Academia Digital, os melhores projetos são convidados

a participar em hackatons, onde num fim-de-semana

intensivo começam a desenvolver um protótipo

com a ajuda da Unicorn Factory Lisboa. Destes saem

os projetos que integram um programa de aceleração,

o Future Innovators Program.

A meta é agora, segundo

Gil Azevedo, aumentar

a dimensão destas iniciativas,

uma vez que a recetividade

“tem sido fantástica.

Em 2024 já chegámos

a 1.400 alunos e queremos

chegar a muito mais”, até

porque dados de Bruxelas

“mostram que 59% dos

alunos universitários portugueses

gostavam de lançar

a sua ideia de negócio,

mas que pela pressão de procurar um trabalho, da cultura

portuguesa em si, tradicional e conservadora, e do

medo de errar, não avançam”.

Nesta área, a Unicorn Factory Lisboa lançou também

em 2024 um programa de teste nas escolas primárias,

para pôr os alunos a trabalhar, em conjunto com

as famílias, a pensar em ideias e como é que podem

inovar. “Fizemos um programa com duas escolas públicas

do Beato, com os terceiros e quartos anos, em

que os desafiámos a pensar em como é que podem inovar

na escola. Juntaram-se em equipas, com os professores,

fizeram projetos e depois promovemos um Dia

da Família, em que cada grupo pôde apresentar o seu

projeto. Conseguimos pôr crianças de oito e nove anos,

A criação de hubs em

áreas promissoras de

grande investimento ao

nível internacional é uma

grande aposta

a falar em inovação, algo que é extraordinário. Para

2025, vamos reforçar muito também este programa,

com mais escolas e mais alunos no que chamamos ‘A

Minha Primeira Startup’”, salienta o gestor.

INOVAR COM POTENCIAL

Uma área central que foi, entretanto, também criada é

a rede de bairros e de hubs de inovação. Neste âmbito, e

além da localização inicial do projeto, no Beato, foram

criados outros dois bairros de inovação, em Alvalade e

no Saldanha. É neles que se situam os quatro hubs de

inovação já criados: o de

gaming (GamingHub), que

arrancou ainda em 2023,

e os de web3 (Web3Hub),

sustentabilidade (GreenHub)

e inteligência artificial

(AIHub), lançados já

em 2024.

Todos resultam de uma

aposta em áreas estratégicas

e o seu número poderá

aumentar já em 2025. Gil

Azevedo refere que “temos

de olhar para o futuro e os hubs vêm trazer visibilidade

em segmentos de elevado crescimento e investimento.

Podem assegurar que temos o posicionamento para

sermos uma referência a nível internacional. São setores

que já definem a tecnologia e que a vão definir, cada

vez mais, no futuro. Portugal, para se afirmar como

um grande player ao nível internacional, tem, de facto,

de ter uma presença forte nessas áreas e daí esta lógica

dos hubs verticais. Não temos a escala da Alemanha

ou da Inglaterra, já para não falar dos Estados Unidos.

Temos de ser capazes de dar visibilidade aos melhores

projetos e às áreas de maior potencial”.

Estes hubs visam impulsionar a inovação, acelerar

o crescimento, apoiar as startups e scaleups, promover

45


negocios

46

parcerias colaborativas e construir uma comunidade

cada vez mais vibrante. E não é por acaso que todos

contam com parceiros de referência. No GamingHub

participam a Fortis Games, APVP (Portuguese Game

Developer Association) e a Maleo, enquanto o Web3Hub

conta com a 3Comma Capital, Cuatrecasas,

Gaimin, Poolside, CV Labs e O Sítio. Já o GreenHub

tem como parceiros a Critical Software, Grupo Brisa,

Mota-Engil Renewing, Cleantech For Iberia, CML e a

MEO. E o AIHub, anunciado na Web Summit, em novembro,

conta com a Portugal AI Innovation Factory

(da Microsoft, Accenture e Avanade), Google, MEO e o

Center for Responsible AI.

O diretor executivo da

Unicorn Factory acredita

O próximo passo será a

internacionalização da

Unicorn Factory Lisboa. A

meta é começar a funcionar

em rede, ao nível europeu

que ainda há espaço para

criar pelo menos mais

dois hubs, tendo em conta

a dimensão da cidade.

Sendo que terão de reunir

três requisitos essenciais

para avançarem: serem

áreas muito promissoras,

de grande transformação

e investimento ao nível

internacional; onde exista

já um setor empresarial relevante;

e que tenham projetos de empreendedorismo

que queiram crescer. Áreas como a Saúde, Alimentar,

Segurança e até a Construção são as que apresentam

um maior potencial, na sua perspetiva, e onde o país

tem capacidade.

Mas, além destes “ingredientes”, terão ainda de se

encontrar os parceiros certos. “Se conseguimos ter este

entendimento com outras organizações que queiram

também co-investir connosco, vamos lançar. Portanto,

fica aberto o desafio ao mundo empresarial. Tem de

existir um encontro das partes, todas com o mesmo

objetivo”, acrescenta.

ESCALA PARA INTERNACIONALIZAR

Uma das apostas da equipa de Gil Azevedo é a conjugação

de esforços destes hubs com outros projetos similares,

de forma a aproveitar sinergias e ganhar escala

nacional. E dá o exemplo do gaming, onde já existem

outros polos, como o da Madeira e o do Porto. “Do nosso

lado, temos vindo a falar para ver como é que podemos

juntar esforços. Não queremos que Lisboa seja

o centro do gaming, queremos é funcionar à escala nacional

e em rede”, especifica, deixando claro que, “se

aumentou a consciencialização de que há que pensar

como um todo e não como uma pequena parte. Somos

um país que não tem escala para se dividir”.

Ainda assim e “perante o crescimento fantástico”

do projeto nos últimos anos, que apresenta agora uma

“dimensão muito interessante

ao nível nacional”,

o próximo passo será a internacionalização

da Unicorn

Factory Lisboa, num

“salto além-fronteiras”,

para ganhar uma escala

global.

“Quando me perguntam

como é que conseguimos

ter tantas áreas

ao mesmo tempo, tudo se

resume a conseguir criar

um ecossistema que tenha

escala internacional. Para isso, temos de abranger diferentes

áreas de atuação e criar as condições para o setor

privado conseguir desenvolver-se e afirmar-se. É esse

o nosso papel. Acima de tudo, apoiamos quem quer

inovar e aproximamos e agregamos a comunidade: investidores,

startups, empresas, universidades, multinacionais.

Juntamos todas partes, que têm cada uma um

objetivo diferente, mas que se complementam e fazem

um ecossistema. Essa é a nossa grande missão”.


Gil Azevedo tem ainda como meta para 2025 “começar

a funcionar também em rede a nível europeu.

Se existem fábricas de unicórnios ou organizações semelhantes

noutros países, como é que podemos trabalhar

em conjunto para facilitar a vida das startups e das

empresas que estão à procura de inovação? Este é um

modelo em que toda a gente ganha, porque a empresa

tem acesso à inovação feita noutros países, a startup

tem acesso facilitado a outros mercados e os investidores

têm acesso a mais startups e mais oportunidades

de investimento. Nada nos impede de começarmos a

trabalhar a nível operacional mais em rede”.

Mas este é, na sua perspetiva, um dos desafios com

que a União Europeia se confronta neste momento. É

que o ‘velho continente’, apesar de todos os esforços,

ainda continua com mercados distintos e fragmentados,

que são entre si muito diferentes, quer em cultura,

quer em língua e até mesmo em regulação.

“Uma empresa portuguesa ou uma startup, com um

projeto já testado e que funciona, que se queira expandir

para outros mercados tem muitas vezes de quase

começar do zero. Isso é voltar vários passos atrás. Nos

EUA ou na China isso não acontece. Tem de se caminhar

para um mercado único ao nível europeu”, comenta,

adiantando que já existe essa consciência por

parte da Comissão Europeia, mas que o problema é garantir

velocidade de implementação. O que acontece,

por exemplo, no mercado de capitais, onde “a Europa

está há mais de uma década a tentar criar regras comuns

e não o tem conseguido. Temos este desafio. Entendemos

todos o problema, mas temos de ser capazes

de identificar o que tem de ser feito e num tempo útil,

eficaz, que permita trazer resultados”.

Sobre o relatório de Mario Draghi sobre a competitividade

da UE, apresentado em setembro último, o

gestor está moderadamente otimista: “Tendo em conta

que não conheço ninguém que tenha dito que não

concorda com ele. Não temos capacidade de competir

a nível de inovação sozinhos, como países, com os EUA

ou a China. A única forma de criarmos um bloco inovador

à escala mundial é em conjunto”.

Acresce o problema do excesso de regulação que,

na sua opinião, “é um pau de dois bicos. Por um lado,

pode ajudar a desenvolver inovação. Mas, por outro,

acaba por restringir a capacidade de testar e a capacidade

de desenvolver novas ideias. Como na IA, que é

uma área muito sensível. Há receios, fundados, da Europa

regular sozinha. O que vai fazer com que as outras

geografias sejam produtoras de inovação e a UE consumidora

de inovação, porque os melhores projetos vão

para outras geografias com mais liberdade e mais graus

de desenvolvimento”.

Aliás, diz mesmo que “atualmente, a Europa já é

um consumidor de inovação. Temos o nosso Spotify,

temos a nossa SAP, mas as grandes empresas globais

são todas americanas e estão a aparecer mais chinesas.

Portanto, a Europa tem de avançar para a facilitação

responsável. Tem de criar linhas vermelhas, mas tem

de deixar a inovação acontecer, ir monitorizando e

vendo o que é necessário fazer para assegurar que não

há riscos desnecessários”.

A Unicorn Factory Lisboa é uma associação privada

sem fins lucrativos que tem como fundadores a Câmara

de Lisboa (CML), o Montepio e o IAPMEI. Em 2019,

juntaram-se a Delta, a Católica Lisbon e a Roland Berger.

O projeto tem hoje três grandes fontes de financiamento.

A principal resulta das parcerias realizadas

para os diferentes programas. Só no caso do Programa

Scaling Up existem oito parceiros estratégicos, além

dos parceiros específicos para cada um dos hubs de

inovação. Trata-se, como destaca o líder do projeto, de

“organizações líderes que vêem a importância da inovação

e de ter um ecossistema forte”. A CML, que até

2022 era o grande financiador, surge agora na segunda

posição, até porque “se estão a desenvolver capacidades

críticas para a cidade”. Depois, vêm as receitas dos

fees cobrados às startups envolvidas, já quase 300, assim

como dos espaços físicos para a instalação de projetos.•

47


BRAGA

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49


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O

prémio europeu da Cidade Inovadora em Ascensão

celebra as cidades europeias que estão a

emergir como líderes em inovação, destacando

iniciativas que impulsionam o crescimento económico,

promovem o bem-estar social e criam soluções

sustentáveis para os desafios urbanos. Em Braga, projetos

como o Human Power Hub, um centro pioneiro

de apoio ao empreendedorismo social, e a dinamização

promovida pela Startup Braga foram dois dos fatores

decisivos para criar no município um ambiente onde

a inovação é algo que se respira: “A Startup Braga foi

recentemente reconhecida pelo Financial Times como

a sétima melhor incubadora da Europa, atraindo mais

de 400 milhões de euros em investimentos privados”,

frisa Ricardo Rio, com a ênfase de quem sabe que os

factos falam por si.

Além dos projetos de vanguarda, o autarca explica

que a governança colaborativa e o foco estratégico,

tanto no desenvolvimento

sustentável como na

internacionalização, fizeram

o resto, criando do

município uma imagem

que se começou a destacar

nos últimos anos: “Braga

já tinha sido semifinalista

em 2020, e esta distinção

acaba por coroar o percurso

que a cidade fez sobretudo

ao longo dos últimos

anos, de se assumir como

bastante pioneira em diversos domínios, de ser uma

das mais qualificadas em termos de estímulo ao desenvolvimento

económico e ao empreendedorismo a

nível nacional”.

Neste percurso, a principal chave para o sucesso de

Braga foi, frisa Ricardo Rio, o modelo de governança

colaborativa, transversal a todas as áreas: “Aquilo que

mais foi considerado como inovador foi a capacidade

que tivemos de construir um modelo em que todos

contribuem com as suas esferas de responsabilidade

para que os objetivos coletivos sejam atingidos”. Este

modelo inclui conselhos consultivos setoriais que reúnem

representantes da academia, do setor empresarial

Braga já tinha sido

semifinalista em 2020.

A recente distinção é

o reconhecimento da

evolução da cidade

e de organizações locais, promovendo um planeamento

estratégico conjunto e a articulação de diferentes

áreas. Uma forma de queimar etapas e alcançar resultados

que beneficiam todo o município nas mais diversas

vertentes.

Como nada se pode fazer sem talento, a evolução de

Braga para uma cidade inovadora é também resultado

de décadas de investimento em recursos humanos locais

e internacionais. A colaboração entre a academia,

os centros de investigação e as empresas possibilitou

este progresso: “A Universidade do Minho, por exemplo,

tem desempenhado um papel crucial desde a década

de 80, formando profissionais que hoje lideram

empresas de tecnologia

e impulsionando parcerias

com indústrias como

a Bosch Car Multimedia.

Esta última transformou-

-se num centro de investigação

e desenvolvimento,

empregando centenas de

mestres e doutorados em

tecnologias avançadas”,

refere o presidente da câmara.

Neste momento encontra-se

em desenvolvimento um outro projeto para

a criação de um novo centro tecnológico especializado

na área da Biotecnologia e Ciências da Vida, ligado à

Universidade do Minho, mas também ao Laboratório

Ibérico de Nanotecnologia (INL), importante referência

do pólo tecnológico de Braga.

Nos últimos anos o município viu chegar ao seu

território empresas como a ForVito, a Accenture, WebHelp,

Mercedes Benz IO, Nestlé Business Services,

Deloitte e naturalmente empresas tecnológicas como

a Edigma, a F3M e a Eticadata.

A criação da Invest Braga, a primeira agência de dinamização

económica de base local que surgiu no país,


Um momento que fica para a história da cidade: aquele em que é entregue a Ricardo Rio o prémio europeu há muito desejado

não foi alheia à aposta de muitas empresas naquela

região minhota: “Já tínhamos vários municípios a trabalhar,

de uma forma relativamente informal, a componente

do apoio à atração

de investimento, mas

acho que a Invest Braga foi

a primeira estrutura totalmente

profissionalizada

para apoiar as empresas

e atraí-las para determinado

território”, partilha

Ricardo Rio.

Isso fez toda a diferença,

porque ajudou a criar,

segundo o autarca, cerca

de dois mil postos de trabalho

por ano. Condição que abriu, como nunca antes,

a região ao mundo.

Com uma população jovem

e diversificada, Braga

tornou-se um destino

atrativo para investidores,

profissionais e estudantes

CIDADE JOVEM

Com uma população jovem e diversificada, que inclui

130 nacionalidades diferentes, a cidade de Braga tornou-se

um destino atrativo para investidores, profissionais

e estudantes: “Conseguimos entrar no radar

global e hoje somos um destino para investir, trabalhar

e viver com qualidade.

Cerca de 13 a 15% da nossa

população são cidadãos

migrantes. Formamos

uma comunidade muito

eclética, que abrange os

profissionais mais indiferenciados,

mas também

altos quadros técnicos, investidores

e profissionais

liberais”, afirma Rio. Essa

diversidade tem também

enriquecido a dinâmica da

cidade, uma das mais jovens do país, com 40% dos habitantes

com idade inferior a 30 anos.

Como não podia deixar de ser, o digital tem tido

um papel determinante no desenvolvimento do município:

“Temos os serviços municipais praticamente

todos digitalizados. Somos uma câmara em que, por

51


portugal digital

“Aquilo que foi considerado como inovador foi a capacidade que tivemos de construir um modelo em que todos contribuem com as suas esferas de

responsabilidade para que os objetivos coletivos sejam atingidos”, sublinha Ricardo Rio

52

exemplo, qualquer processo urbanístico é tramitado

integralmente por via digital. Há dez anos víamos

aqui carrinhos de compras com processos que eram

autênticas pilhas de papel

a circular nos corredores

(risos)”.

O projeto Bairros Comerciais

Digitais, que visa

promover a digitalização

da economia através da

adoção tecnológica por

parte dos operadores comerciais

recebeu a melhor

classificação de candidatura

a nível nacional: “Este

é um dos nossos projetos

mais impactantes, quer

do ponto de vista do tecido comercial, quer do ponto

de vista da articulação com várias outras entidades públicas

e mesmo do ponto de vista do apoio ao empreen-

O projeto Bairros

Comerciais Digitais

é um dos que mais tem

impactado a economia

local

dedorismo. Um dos verticais fundamentais da Startup

Braga sempre foi o das tecnologias da informação”,

comenta o presidente da Câmara Municipal de Braga.

A comunicação com

os cidadãos também está,

cada vez mais, alicerçada

no digital: “Hoje, qualquer

cidadão pode aceder às

nossas plataformas digitais

e tratar praticamente

todos os assuntos diretamente”,

confirma Ricardo

Rio. Projetos específicos

fortalecem esta relação.

Um exemplo é a iniciativa

que permite monitorar a

frequência de limpeza das

ruas e a recolha de lixos, promovendo maior transparência

nos serviços públicos. Desenvolvida por uma

startup local, esta solução reflete o compromisso da


A Startup Braga e a InvestBraga abriram o município

ao mundo, apoiando a inovação e atraindo talento

e investimento. Em cima, à direita, a imagem do

edifício do Laboratório Ibérico de Nanotecnologia, uma

referência no polo tecnológico da cidade

cidade em trabalhar com empresas inovadoras para resolver

desafios urbanos.

PROJETOS SUCEDEM-SE

Com a distinção europeia, as responsabilidades também

aumentam. Braga planeia diversificar a sua economia.

Projetos na área de eficiência energética e mobilidade

são prioridades, com iniciativas que otimizam

o consumo e a distribuição de energia. Além disso, a cidade

está a investir em soluções tecnológicas para melhorar

a qualidade de vida dos moradores, mantendo

um compromisso com a sustentabilidade e a inovação.

Na área da mobilidade, o município investiu em

transportes sustentáveis. Neste momento 70% da frota

já é movida a energia elétrica. Além disso, a cidade

tem expandido as ciclovias e os espaços pedonais, estimulando

alternativas de mobilidade. Mas em 2025

será lançado o novo sistema de transportes públicos,

com vias dedicadas. Financiado em 100 milhões de

euros pelo PRR, o projeto visa transformar a forma

como os cidadãos se deslocam. “Braga, infelizmente,

é uma cidade em que os cidadãos ainda usam o carro

como meio de transporte prioritário, mas nós queremos

ultrapassar o preconceito cultural em relação aos

transportes públicos, promovendo soluções que sejam

atrativas e sustentáveis”, explica Rio.

O caso de Braga demonstra como uma abordagem

integrada e colaborativa pode transformar uma cidade

num modelo de inovação: “Tornámo-nos um exemplo

reconhecido internacionalmente”, comenta o autarca,

com evidente satisfação. “Mostrámos como é possível

aliar tradição e modernidade para criar um futuro

sustentável e próspero”, sublinha.

Com iniciativas pioneiras, parcerias estratégicas e

um compromisso com a qualidade de vida, Braga continua

a trilhar um caminho de sucesso, inspirando outras

cidades ao redor do mundo.•

53


apdc news

JANTAR RESERVADO | MINISTRO DAS INFRAESTRUTURAS E DA HABITAÇÃO

Criar plataformas

de colaboração

A estratégia para as telecomunicações e o setor postal passa por ouvir todo o mercado e apostar na criação de

plataformas de colaboração. A mensagem foi do ministro das Infraestruturas e da Habitação, o orador convidado

de um Jantar Reservado APDC que decorreu a 2 de outubro.

Texto de Isabel Travessa

54

Fotos:

https://www.flickr.com/

photos/apdc/albums/

72177720320826774/

Neste encontro, Miguel Pinto Luz

também fez um balanço dos

últimos meses

O investimento no setor

ferroviário e os cabos

submarinos que ligam

o continente aos Açores

e Madeira foram temas

abordados

de governação, nomeadamente

sobre

as medidas que está

a desenvolver para

estas duas áreas

sob a sua tutela. O

trabalho que está a

ser feito nos setores

ferroviário e aéreo nacionais, assim

como o novo aeroporto de Alcochete

e as obras no atual aeroporto

Humberto Delgado estiveram em

debate. Assim como

a necessidade de

substituição dos cabos

submarinos que

ligam o continente

aos arquipélagos

dos Açores e da Madeira,

uma vez que

os atuais já chegaram

ao seu fim de vida útil.

Temas como a flexibilização e agili-


zação de processos e procedimentos

no âmbito do Estado e da economia,

o reforço do investimento estrangeiro

e o futuro da Europa num cenário

global de enormes mudanças, seja

ao nível político, seja económico ou

até mesmo social, também foram

abordados. Este formato de evento

Flexibilização

e agilização de

processos no Estado

e na economia é um

objetivo assumido como

fundamental

visa fomentar a partilha de ideias e

o estreitamento de relações, através

de um diálogo aberto e enriquecedor.

O objetivo é o reforço da colaboração

entre os intervenientes do

ecossistema. Foi o primeiro encontro

já realizado nas novas instalações da

APDC.•

55


apdc news

JANTAR RESERVADO | PRESIDENTE DA ANACOM

Mercado exige “regulação

ágil e dinâmica”

No âmbito das novas competências do regulador, definidas por Bruxelas, e tendo em conta a transformação

do mercado, as abordagens regulatórias têm de ser adaptativas e antecipatórias. Só isso assegura “regulação

ágil e dinâmica”. A garantia foi dada pela presidente da ANACOM, num Jantar Reservado APDC.

Texto de Isabel Travessa

Fotos:

https://www.flickr.com/

photos/apdc/albums/

72177720322489030/

Sandra Maximiano considera

ainda essencial assegurar que

os reguladores tenham as

funções, poderes,

A promoção do diálogo

contínuo com os

diferentes players é um

dos desígnios assumidos

pela presidente da

ANACOM

competências e os

recursos adequados.

Regular implica,

também, a promoção

de um “diálogo

contínuo com os

diferentes intervenientes,

essencial

para garantir que

as políticas adotadas acompanham

as necessidades e expetativas de

um mercado em constante transformação”.

Por isso, a presidente

da ANACOM - Autoridade Nacional

das Comunicações defende como

imprescindível “uma

abordagem colaborativa,

que envolva

as diferentes partes

interessadas, incluindo

o governo,

o meio académico

e a sociedade civil”.

Neste encontro reservado,

onde foi a

oradora convidada, salientou o papel

essencial que as comunicações assumem

no desenvolvimento económi-

56


co e social, num contexto de forte

transformação digital. Trata-se de

um setor que “fomenta a inovação

tecnológica e a criação de oportunidades

para empresas e cidadãos”.

Apresentando a sua visão sobre o

presente e o futuro do mercado, a

nova líder do regulador das comunicações

deixou claro que a ANACOM

está atenta aos desafios no domínio

das tecnologias. Tendo uma atuação

“fundamental para assegurar o bom

funcionamento dos mercados”, o

regulador favorece “o desenvolvimento

do ecossistema, fomentando

a conectividade gigabit e a inovação,

a segurança e a acessibilidade dos

serviços. E promove uma adequada

concorrência e o reforço dos direitos

dos consumidores”. Contribui

ainda, segundo a presidente da

ANACOM, para a coesão económica

e social do país, evitando a fratura

digital, quer ao nível da oferta e da

procura, quer das redes e serviços

de comunicações.•

57


apdc news

APDC & VDA | DIGITAL UNION: DESAFIOS DA GESTÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

Avançar e depressa!

Se a gestão da propriedade intelectual já era um tema difícil, a aceleração tecnológica e as grandes mudanças

do mercado trouxeram novas camadas de complexidade. Há múltiplos desafios a endereçar e muitas dúvidas

por esclarecer.

Texto de Isabel Travessa

Reportagem:

https://www.apdc.pt/

iniciativas/agenda-apdc/

desafios-da-gestao-dapropriedade-intelectual

Vídeo:

https://www.youtube.com/

watch?v=8ZOuZ3dwZdg

Nos anos mais recentes, tudo se

alterou em torno do tema da

propriedade intelectual. É que

a inovação é agora o fator competitivo

e diferenciador

A Propriedade

Intelectual é um

ativo valioso e

importante fator de

competitividade das

empresas

e está a criar ativos

muito valiosos, que

as empresas precisam

de defender

através da propriedade

intelectual.

Num cenário em

que ninguém sabe

qual será o impacto

da IA e onde o flagelo da pirataria

precisa de novas ferramentas de

combate, fica claro que este é um

tema complexo e com muitas nuances.

Ainda assim, há que avançar e

depressa, como ficou claro na 10ª

sessão do Digital Union, uma parceria

da APDC com a VdA.

Para responder a

estas novas tendências,

tecnológicas e

de mercado, assim

como aos novos

modelos de negócio

que estão a surgir,

tem-se registado um

esforço adicional em

termos regulatórios.

Sobretudo ao nível comunitário, para

“que o direito não fique demasiado

atrás destas realidades”, como

refere David Paula - associado sénior

58


Fernando Resina da Silva,

Sócio da Área Comunicações, Proteção de Dados

& Tecnologia, Sócio Responsável da Área PI

Transacional, VdA

David Paula,

Associado sénior Comunicações, Proteção de

Dados & Tecnologia, VdA - Apresentação

Paulo Santos,

Diretor geral, GEDIPE

Sandra Fazenda Almeida,

Diretora executiva, APDC

Luís Gomes Silva,

Head of SAP Innovation FabLab, Inetum

Pedro Mota Soares,

Secretário geral, APRITEL - Apresentação

Tiago Bessa,

Sócio da Área de Comunicações, Proteção de

Dados & Tecnologia e da Área de PI Transacional,

VdA

Comunicações, Proteção de Dados &

Tecnologia da VdA, que fez o enquadramento

do tema deste webinar,

que decorreu a 22 de outubro.

Sendo o conceito de propriedade

intelectual (PI) abrangente – das

patentes às marcas, passando pelos

direitos de autor focados nos vários

domínios das artes, incluindo no

digital, e ainda o software – refere

que este último é um dos principais,

senão o principal, foco de preocupação

das empresas em matéria

digital. Podendo dar origem a muitos

litígios, nomeadamente os resultantes

da pirataria. Daí que tenha sido

criado o que o responsável da VdA

considera ser um “um ecossistema

regulatório muito forte, há quem

diga demasiado forte. Mas a verdade

é que com tantos problemas que

estas novas tendências e modelos

de negócio vieram

trazer, a Europa não

poderia deixar de

tratar o tema de forma

robusta. Sempre

tendo como pano

de fundo a máxima

da proteção dos direitos

dos cidadãos

europeus”. É o caso

da Diretiva dos Direitos de Autor e

Portabilidade dos Conteúdos, que

veio atualizar as regras dos direitos

de autor e dos direitos conexos para

A evolução tecnológica

avassaladora exige dos

legisladores rapidez e

robustez na criação de

soluções que defendam

direitos de autor

o mercado europeu, sendo que uma

das preocupações é endereçar as

plataformas de partilha de conteúdos,

por causa dos user generater

contents. Ou do

Digital Markets Act,

sobre a disputabilidade

e equidade

nos mercados

digitais. E acrescem

temas emergentes,

resultantes da IoT,

do metaverso e da

IA. Tudo tecnologias

com um “impacto brutal” na PI. E

há ainda que coordenar toda esta

panóplia com as regulamentações

nacionais.

59


apdc news

Mas, “sendo nos

contratos que está

a primeira linha de

defesa das empresas

e dos criadores”,

recomenda

a adoção de três

passos distintos de

criação e comercialização

da PI:

na fase de criação,

documentar o estado

das inovações;

definir cláusulas de

confidencialidade;

e fazer acordos

de PI.

PIRATARIA

E ESTRATÉGIAS

DE COMBATE

No debate que se

seguiu, moderado

por Tiago Bessa,

sócio da Área de

Comunicações,

Proteção de Dados

& Tecnologia e da

Área de PI Transacional

da VdA, o tema da pirataria e

o seu impacto no mercado esteve

em destaque. Tal como as estratégias

que estão a ser adotadas pelas

empresas que operam no mercado

nacional e as opções de futuro para

dar resposta a uma realidade em

permanente evolução.

Pedro Mota Soares, secretário-geral

da Apritel, destaca que se estima

que existam pelo menos um milhão

de pessoas em Portugal com acesso

indevido a conteúdos. O que coloca

não só problemas para quem detém

a respetiva PI desses conteúdos, mas

expõe os utilizadores a sites de pirataria

que podem colocar em risco

os seus devices de acesso, nomeadamente

malware.

As perdas geradas por estas utilizações

indevidas são da ordem dos

250 milhões de euros anuais. O que

significa menos receitas fiscais, num

fenómeno que afeta

todos os envolvidos

na cadeia de valor.

Por isso, defende

a aplicação do

conceito adotado

por Bruxelas de que

“tudo o que é ilegal

offline tem de ser

considerado ilegal

online”. O que passa por ganhar

capacidade de combater a pirataria

digital no mercado nacional.

À frente do SAP Innovation FabLab

da Inetum, Luís Gomes Silva deixa

claro que muito

mudou na última

década e ainda

mais no último ano,

com a IA. A empresa

está hoje a criar

valor e propriedade

intelectual, com casos

de uso para os

clientes, assentes

na IA generativa, o

que “torna ainda

mais desafiante” a

operação. Acresce

a legislação da UE

e o AI Act, que “embora

traga algumas

guidelines positivas,

nesta fase cria mais

restrições”, impedindo

às empresas

inovar, quando

a China e os EUA

“avançam à velocidade

da luz”.

Em representação

da GEDIPE - Associação

para a

Gestão Coletiva de

Direitos de Autor e de Produtores

Cinematográficos e Audiovisuais,

Paulo Santos considera que “não

há inovação sem proteção e os

números falam por

si. A proteção é

Estima-se que em fundamental para

Portugal existam pelo proteger os investimentos,

porque a

menos um milhão de

pessoas com acesso partir do momento

indevido a conteúdos em que as utilizações

abusivas, vulgo

pirataria, põem

em causa a normal

exploração das obras, elas não conseguem

ser rentáveis. A seguir, não

se vai investir”.•

60


APDC & VDA | DIGITAL UNION: A REGULAÇÃO DOS DADOS NA ERA DIGITAL

Entre riscos, desafios

e oportunidades

Os dados são o motor da economia digital e há que tirar partido deles para criar valor e ganhar competitividade.

O processo de ajustamento será tudo menos fácil, mas as empresas já se estão a preparar. Será que a

Europa conseguirá fazer a diferença numa área com um potencial inimaginável?

Texto de Isabel Travessa

Reportagem:

https://www.apdc.pt/

iniciativas/agenda-apdc/

a-regulacao-dos-dados-naera-digital-2

Vídeo:

https://www.youtube.com/

watch?v=t5MvZY9onS0

A

‘avalanche regulatória’ de Bruxelas

nos dados é reconhecida

por todos. E vai trazer enormes

desafios de implementação.

Mas ao criar um mercado único de

dados, com regras standard aplicáveis

a todos os players em todas as

atividades, representará também

um mundo de potenciais novas

oportunidades. Nesta sessão do

Digital Union, uma parceria entre a

APDC e a VdA, que decorreu a 20 de

novembro, debateu-se o ativo mais

valioso do momento para empresas

e entidades públicas. E é incontornável,

porque toda a inovação do

mundo digital assenta nos dados.

Para Maria de Lurdes Gonçalves,

associada coordenadora Comunicações,

Proteção de Dados & Tecnologia

da VdA, que fez o enquadramento

do tema, os dados têm impacto

não só no desenvolvimento de novos

produtos e serviços, mas ao nível da

tomada de decisões estratégicas. E,

sejam pessoais ou não pessoais, “estão

presentes em todas as tecnologias.

A IA alimenta-se de dados, a IoT

61


apdc news

Maria de Lurdes Gonçalves,

Associada coordenadora Comunicações, Proteção

de Dados & Tecnologia, VdA

João Ferreira Pinto,

DPO, SIBS

Sandra Fazenda Almeida,

Diretora executiva, APDC

Sara Louro,

Senior legal counsel, Nokia Portugal

Sofia Couto da Rocha,

Head of Innovation & Head Virtual Client, Lusíadas

Saúde

Tiago Bessa,

Sócio da Área de Comunicações, Proteção de

Dados & Tecnologia e da Área de PI Transacional,

VdA

gera dados, a blockchain armazena

dados e o 5G acelera as transferências

de dados. São o denominador

comum”, num mundo que produz

cada vez mais dados.

Mas há que dar resposta aos riscos e

desafios, nomeadamente de privacidade

e proteção de dados pessoais,

pelo potencial intrusivo que a utilização

massiva pode ter para os direitos

fundamentais

dos cidadãos. Assim

como os desafios de

cibersegurança e os

riscos que decorrem

da concentração

do poder digital em

algumas tecnológicas,

que “detêm a

maioria dos dados

disponíveis e que não estão propriamente

interessadas em criar

soluções de interoperabilidade para

o acesso a esses dados”.

Estamos perante uma

enorme complexidade,

atual e futura, do

ecossistema regulatório

dos dados

REGULAR PARA CRIAR CONDIÇÕES

IGUAIS

A resposta de Bruxelas tem sido a regulação.

E a complexidade desta não

pára de crescer, já que à regulação

dos dados acresce a regulação de

uma série de outras matérias, como

os serviços digitais, comunicações

eletrónicas, cibersegurança, IA e

outras tecnologias

emergentes, serviços

audiovisuais,

conteúdos ilegais

e direito de autor

e direitos conexos.

Mais: o “ritmo

legislativo não está

propriamente a

abrandar”, diz a

responsável da VdA.

Centrando-se na análise de três

diplomas que surgem no âmbito da

Estratégia Europeia para os Dados,

aprovada em 2020, para criar um

verdadeiro mercado único dos

dados - Data Governance Act, Data

Act e Common Data Spaces – diz que

com eles a UE pretende assumir-se

como líder na economia mundial

dos dados, contrariando a tendência

de estes serem dominados por um

pequeno grupo de tecnológicas.

“Estamos perante uma enorme

complexidade, atual e futura, do

ecossistema regulatório dos dados.

Que começa desde logo pela

dificuldade de conhecer e enquadrar

os muitos players desta economia.

Os diplomas são muito densos,

para além de extensos”, diz. E alerta

para a existência de um conjunto de

desafios na articulação destes novos

diplomas com o RGPD. Ainda assim,

a legislação deve ser olhada como

uma oportunidade. Há que saber

reconhecer os dados como um ativo

e saber tirar partido deles em ter-

62


mos de inovação. O que passa pela

adoção de uma estratégia de dados,

“que pode ter um poder realmente

transformador para uma empresa. É

crucial para o crescimento e a competitividade”.

No debate que se

Os players, nas áreas

das telcos, financeira

e saúde, já se estão a

preparar para o novo

enquadramento

seguiu, moderado

por Sandra Fazenda

Almeida e Tiago Bessa,

ficou claro que

os players do mercado

– das áreas das

telcos, financeira e

saúde – se estão a

preparar para este novo enquadramento

e a tentar retirar dele todos

os benefícios possíveis. Ainda que

as dúvidas e receios sejam muitos,

olham-no como uma oportunidade

de criar um verdadeiro mercado

único de dados no espaço comunitário,

com todos os benefícios que

isso poderá trazer aos respetivos

negócios.

A Nokia aguarda com expetativa o

que vai acontecer na UE. Sara Louro,

senior legal counsel, diz que “com

as dificuldades que são muitas, com

esta avalanche de regulamentos,

está a ser feito o caminho para que

a Europa consiga atingir os objetivos

de ter um mercado de circulação de

dados livre entre os Estados-membros,

setores, empresas e investigadores”.

Ainda que destaque as vozes

críticas no grupo, que consideram

que este não é o caminho e que a

regulação é excessiva, criando entraves

às empresas, sobretudo às PME,

e ao desenvolvimento tecnológico.

Mas, tendo em conta que o mercado

europeu compete com blocos

gigantescos como os EUA ou a China,

tem mesmo de ser feito este caminho.

Para o DPO da SIBS, “um dos

objetivos de Bruxelas foi identificar

um conjunto de burocracias, ineficiências

e ineficácias que matavam a

competitividade da economia digital

europeia, pela falta de uniformização.

Portanto, vejo com muita alegria

todos estes diplomas e a uniformização

de regras. É

uma excelente ferramenta

de competitividade”,

assegura

João Ferreira Pinto.

A head of Innovation

& Head Virtual

Client da Lusíadas

Saúde concorda que

a standardização

facilita a vida das empresas, sobretudo

quem trabalha com tecnologias

exponenciais. “Tal como as tecnologias,

os dados também têm de ser

exponenciados em quantidade e

qualidade. Isso é o desafio, talvez o

maior. Precisamos de um mercado

menos fragmentado e que seja mais

uníssono na estrutura e na permissão

de utilização”, defende. Ainda

assim, Sofia Couto da Rocha diz que

para que os novos diplomas “sejam

trampolins e não prisões”, terão

ainda de se clarificar e definir muitos

detalhes. E essa deverá ser a componente

mais complexa.•

63


apdc news

APDC & GOOGLE | IMPULSO IA

A urgência de capacitar em IA

A velocidade da mudança tecnológica é imparável. Especialmente na IA. Por isso, os profissionais não podem

perder tempo a requalificar-se. Há uma nova iniciativa em parceria que tem como meta formar pelo menos mil

pessoas até março de 2025.

Texto de Isabel Travessa

64

SAIBA MAIS:

https://www.apdc.pt/

iniciativas/impulso-ia/

FOTOS:

https://www.flickr.com/

photos/apdc/albums/

Chama-se IMPULSO IA e é a

mais recente iniciativa na área

da formação, agora sobre

um tema essencial: a utilização das

ferramentas de inteligência artificial

(IA). Resultou de uma parceria da

APDC com a Google Portugal e tem

como meta capacitar os profissionais

dos diversos setores para a

utilização da tecnologia no seu dia a

dia, aumentando a produtividade e

facilitando a adaptação à era digital.

De forma gratuita, disponibiliza uma

experiência acessível e inclusiva. Já

contou com três sessões presenciais

e vai prosseguir até março de 2025

com mais cursos, de acordo com

os interesses e necessidades dos

participantes.

O arranque deste programa decorreu

a 30 de outubro, com uma

formação presencial na Faculdade

de Ciências da Universidade de

Lisboa, que contou com uma sessão

de abertura onde participou a ministra

da Juventude e Modernização.

Margarida Balseiro Lopes considerou

o IMPULSO IA um “extraordinário

exemplo de trabalho em rede, que

se foca no tema do momento, a IA, e

se centra nas pessoas. A preocupação

do governo é apoiar o máximo


de iniciativas como esta, para conseguirmos

que a IA não seja apenas

a ferramenta para alguns, mas uma

oportunidade para todos”. Pelo que

iniciativas como estas são, na sua

ótica, “essenciais”.

Abranger o maior número possível

de mulheres é um dos objetivos

desta iniciativa de formação em IA,

como avançou Sofia Marta, country

manager da Google Cloud. No total,

a meta é formar pelo menos mil pessoas,

já que perante o acelerado ritmo

de evolução da tecnologia, todos

teremos de “aprender a aprender,

para saber usar as novas ferramentas”.

Ainda mais quando o “potencial

da IA representa uma oportunidade

de voltar a colocar Portugal como

pioneiro nesta era da inovação”,

uma vez que tem um ecossistema

de inovação muito desenvolvido e

infraestruturas digitais de qualidade.

Esta é “uma oportunidade que não

podemos desperdiçar”.

O sentido de urgência na requalificação

para a IA foi também salientado

pelo presidente da APDC, Rogério

Carapuça, tendo em conta a velocidade

da mudança, que obrigará

a uma adaptação muito rápida das

pessoas. “Não podemos esperar. O

aumento de produtividade previsto

é muito grande – há quem diga que

será o maior na história da Humanidade

– e todos temos de nos

adaptar. Quem já está no mercado

de trabalho, quem está a preparar-se

para ele e até quem já saiu”,

garante, salientando que a meta do

IMPULSO IA é “fazer

chegar o programa

a todo o país, para

que todos ganhem

ferramentas de

produtividade”.

Depois desta formação

em Lisboa,

sobre “Boost Your

Productivity with

AI”, decorreram outras duas sobre o

mesmo tema: a 5 de novembro, no

Porto, onde esteve presente Ricardo

Valente, vereador dos pelouros de

Economia, Emprego e Empreendedorismo

e das Finanças, Ativida-

O potencial da IA

representa uma

oportunidade para

Portugal se colocar de

novo como pioneiro no

mercado da inovação

des Económicas e Fiscalização, da

Câmara Municipal do Porto; 2 a 28

de novembro, de novo em Lisboa,

dado o elevado nível de inscrições

registado.

Está previsto que o IMPULSO IA

disponibilize até março de 2025 uma

combinação de sessões presenciais

e online, a fim de proporcionar as

ferramentas necessárias para que

os profissionais utilizem a IA de

forma eficaz e estratégica no local de

trabalho. Presencialmente,

será ainda

realizada formação

sobre Understand

Machine Learning.

E em formato online

as formações em:

Decision Making

with Data; Introduction

to the Cloud;

Telling Stories with Data Visualization;

Leadership for the Digital

Age; Marketing Strategy and AI; e

Engaging Audiences with Short-Form

Video.•

65


apdc news

APDC & TIKTOK: PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS NO MUNDO DIGITAL

A chave está na literacia

e cidadania

O trabalho em ecossistema e em colaboração é crítico quando se fala de proteção das crianças e jovens no

mundo digital. As plataformas estão a fazer o seu caminho e a regulação na Europa é essencial para garantir

que todos cumpram as mesmas regras.

Texto de Isabel Travessa

66

REPORTAGEM:

https://www.apdc.pt/

iniciativas/agenda-apdc/

protecao-das-criancas-nomundo-digital-educar-prevenir-e-regular

VÍDEO:

https://www.youtube.com/

watch?v=KcxTRvGd_WY

FOTOS:

https://www.flickr.

com/photos/apdc/albums/72177720322365085/

with/54184206755

No espaço comunitário, os

dados são das pessoas e é isso

que faz a diferença. Por isso,

é preciso regular para proteger as

crianças e jovens das ameaças do

mundo online. Mas há muito por

fazer numa realidade virtual em

constante mudança, onde novos

perigos se multiplicam todos os dias.

A aposta na literacia digital e em

formar verdadeiros cidadãos digitais

são os grandes caminhos apontados

no Executive Breakfast APDC, em

parceria com a TikTok, sobre “Proteção

das crianças no mundo digital:

Educar, Prevenir e Regular”.

“Todas as tecnologias têm coisas

boas e dificuldades e isso é verdade

desde que o homem começou

a inventá-las. Podem ser bem ou

mal-usadas e compete-nos saber

como as utilizar. A resposta não é

evitar usar a tecnologia, porque é imparável,

mas sim saber como usá-la.

Por isso, educar e formar as pessoas

é imprescindível”. O mote foi dado

pelo presidente da APDC, Rogério

Carapuça, na abertura do evento,

realizado a 4 de dezembro.

O tema da proteção das crianças e


A SEGURANÇA DOS JOVENS (INCLUINDO

BEM-ESTAR DIGITAL)

Tito de Morais, MíudosSegurosNaNet

Enrico Bellini, Head of Government Relations

for Southern Europe, TikTok

Filinto Lima, Presidente da ANDAEP

jovens é complexo, quando se fala

em garantir às crianças o direito

à participação e à livre expressão

e, ao mesmo tempo, segurança e

privacidade. Sendo nativas digitais

por definição, e interagindo permanentemente

online, como é que se

poderá encontrar o equilíbrio certo

entre liberdade digital das crianças

e a proteção que lhes é devida? No

debate sobre a ‘Segurança das Crianças

e Jovens”, tentou-se dar resposta

à questão.

Para Tito de Morais, do projeto MiudosSegurosNaNet,

qualquer decisão

que se tome em termos de controlo

ou de proibição terá de passar por

ouvir sempre as crianças e jovens: o

seu ponto de vista é essencial. Mas

isto não está a ser feito, nomeadamente

no atual debate em torno da

utilização do telemóvel nas escolas.

“Não faz sentido. Elas querem fazer

parte da solução e até têm soluções”,

assegura, defendendo que “o

lado mau da moeda anda de mãos

dadas com o lado bom”. Acrescem

os múltiplos temas a endereçar, que

afetam o bem-estar

físico, mental e

emocional, como a

utilização excessiva

das tecnologias, a

prevenção do cyber

bulling ou violência

sexual baseada em

imagens.

Filinto Lima, presidente

da ANDAEP - Associação Nacional

de Diretores de Agrupamentos

e Escolas Públicas, concorda que

o caminho passa pela sensibilização

As plataformas

oferecem muitas

oportunidades, por isso

o caminho não passa

por bani-las, mas por

regulação

para o bom uso, que envolva não

só jovens e crianças, mas também

pais e professores. Mas é também

urgente dotar as escolas de internet

fiável e de meios.

Mas as plataformas digitais oferecem

muitas oportunidades e o

caminho não passa

por bani-las, mas

por regulação.

Enrico Bellini, head

of Government Relations

for Southern

Europe da TikTok,

diz que o “temachave

é perceber

o contexto” e a

plataforma tem mesmo autorregulação

e muitos limites na presença

de crianças e jovens: “Trabalhamos

com as comunidades e partilhamos

67


apdc news

REGULAÇÃO E LEGISLAÇÃO

Carlos Zorrinho, Ex-membro do Parlamento Europeu (MEP)

Maria Manuel Leitão Marques, Ex-membro do Parlamento

Europeu (MEP)

Luís Alexandre Correia, Diretor-geral adjunto da Direção

Geral de Informação e Inovação, ANACOM

a aprendizagem. Tudo depende

do envolvimento e da interação e

esperamos ter mais algum tempo

para trabalhar em conjunto, porque

há muito por fazer e tem de haver

colaboração”.

REGULAR REALIDADE PREOCUPANTE

“Regulação e Legislação” foram o

tema em debate

no segundo painel,

onde ficou claro que

são imprescindíveis

para combater os

perigos do online,

mesmo que este

mundo esteja ainda

em desenvolvimento

e não se saiba

o que poderá acontecer no futuro.

É quase como olhar para a regulação

do online como se olha para a

A regulamentação é

hoje a única vantagem

competitiva da União

Europeia, quando

pensamos à escala

global

regulação do físico: tudo se resume a

proteger os consumidores/utilizadores,

sobretudo os mais vulneráveis,

como destaca Maria Manuel Leitão

Marques, ex-membro do Parlamento

Europeu (MEP).

Carlos Zorrinho partilha da mesma

visão. E se viveu em Bruxelas com

o “paradoxo da regulamentação”,

perante um “clamor

genérico de que é

um excesso, causa

burocracia, gera

custos de contexto

e asfixia”, a verdade

é que “a regulamentação

é hoje a única

vantagem competitiva

da UE quando

pensamos à escala global”. Para o

também ex-membro do PE, trata-se

de “uma vantagem conceptual na

defesa dos valores e propósito da

Europa, com um desenvolvimento

digital centrado nas pessoas. Os dados

na China são do Estado, nos EUA

são do mercado e na Europa são das

pessoas”.

Mas a aplicação das regras europeias

não é fácil. Luís Alexandre Correia,

diretor-geral adjunto da Direção

Geral de Informação e Inovação da

ANACOM, admite que se trata de

“um desafio enorme, sobretudo do

ponto de vista dos recursos financeiros

e humanos”, implicando ainda

um novo modelo de colaboração

entre um vasto conjunto de entidades.

Acresce que não há equilíbrio

entre o volume de investimento das

grandes plataformas e a capacidade

financeira dos Estados-membros na

supervisão destas tecnológicas.

Apesar de todas as estratégias, re-

68


PROGRAMAS DE LITERACIA DIGITAL

Francisca Magano, UNICEF Portugal

Manuel Garcia, Programa UPskill

Cristina Ponte, Professora, NOVA FCSH

gulamentações e apostas, a literacia

digital surge como verdadeiramente

determinante quando se fala de

proteção das crianças e jovens no

digital, como ficou claro no último

debate sobre “Programas

de Literacia

Digital”. Cristina

Ponte, professora da

NOVA FCSH, considera-a

mesmo basilar,

porque só ela permite

tirar partido dos benefícios

e evitar os danos

do digital. Porque não tendo a internet

sido criada a pensar nas crianças,

a realidade é que pelo menos um

terço dos utilizadores têm menos de

18 anos.

Mais do que literacia digital, Manuel

Garcia, gestor do Programa UPskill,

diz que o que se deve é assegurar

a cidadania digital das crianças e

jovens. Porque, de facto, se estão a

criar cidadãos para um mundo cada

vez mais online e em permanente

mudança. Por

isso, tem de se ir

além de apenas

explicar os perigos

e os impactos,

promovendo-se a

capacidade crítica.

A experiência da

UNICEF Portugal

no terreno mostra o muito que há

ainda a fazer e a situação complexa

e perigosa atual. Francisca Magano,

diretora de Políticas de Infância e

Juventude, diz que chegam à organização

muitos casos graves que

evidenciam o mau uso da internet. É

A literacia digital surge

como determinante

quando se fala da

proteção de crianças e

jovens no digital

por isso que o tema da literacia e cidadania

digital assume uma relevância

extrema: o sistema de proteção

tem de ser capaz de se reajustar e

responder a estas novas realidades,

defende. Mas ouvindo as crianças

e determinando o que podem os

adultos fazer.•

69


apdc news

JANTAR COMEMORATIVO

APDC celebrou

40º aniversário

A APDC assinalou a 13 de novembro os seus 40 anos de vida, com um Jantar Comemorativo. Neste encontro,

que contou com a presença e a intervenção do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz,

foram inauguradas oficialmente as novas instalações.

Texto de Isabel Travessa

CRONOLOGIA 40 ANOS APDC:

https://cronologia.apdc.pt/

VÍDEO MOMENTOS APDC:

https://www.flickr.com/

photos/apdc/albums/

72177720321914592/

FOTOS:

https://www.flickr.com/

photos/apdc/albums/

72177720321914592/

Criada por iniciativa de Gonçalo

Sequeira Braga e um grupo de

fundadores e organizada com

base num trabalho

conjunto, a APDC

tinha como objetivo

criar ligações entre

as pessoas e ajudar

a desenvolver o

mercado, sentando

à mesa os vários

atores das comunicações.

Algo que faz,

irrepreensivelmente, até hoje.

Nas últimas quatro décadas, tem

Ao longo das últimas

décadas a APDC tem

sido um agente ativo

no desenvolvimento

das TIC e dos media em

Portugal

sido um agente ativo no desenvolvimento

das TIC e dos media

em Portugal, contribuindo para a

construção de uma

economia digital

robusta e inovadora.

Durante este

percurso, a associação

reforçou o

ecossistema e criou

um espaço único de

inovação e colaboração,

reunindo os

protagonistas das TI, das comunicações

e dos media. Para assinalar

70


este percurso, foi apresentada uma

cronologia dos principais momentos

da APDC e do setor e um vídeo com

alguns dos momentos marcantes na

vida da associação.

No evento de comemoração, Miguel

Pinto Luz destacou que “a história

da APDC é rica e motivo de orgulho.

Uma história de que poucas organizações

desta natureza se podem

gabar. E ainda bem, pois é a prova

viva do entusiasmo e esforço dos

seus fundadores e atuais associados”.

Quanto ao futuro, antecipa que

a associação “continuará a ter um

papel muito relevante no apoio ao

desenvolvimento das comunicações

e na representação deste setor,

crucial para o futuro”.

Decorreu também uma conversa

com a atual diretora executiva da

APDC, Sandra Fazenda Almeida, e o

jornalista da RTP, João Adelino Faria.

Que moderou de seguida um debate

entre o atual presidente da associação,

Rogério Carapuça, o fundador

do projeto, Gonçalo Sequeira Braga,

um presidente de um congresso,

José Tribolet, e a presidente da ANA-

COM, Sandra Maximiano. •

71


72

Ana Mesquita Veríssimo: “Acreditamos que o reconhecimento que a app está a obter junto das várias comunidades envolvidas levará

a que esta ferramenta chegue ao máximo de jovens possível”


cidadania

Se fosse um super herói, usaria certamente uma daquelas capas esvoaçantes que

tanto impressionam os mais novos, mas a Tozi é uma aplicação para telemóveis. Não

voa, porém salva crianças e jovens vítimas de cyberbulling, partilhando conselhos e

estratégias, não ficando em nada a dever aos heróis que a BD consagrou.

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDAS

Lançada pela Fundação Vodafone e a Associação

Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a aplicação

Tozi tem como principais objetivos ajudar no

combate ao cyberbullying e promover a segurança

online entre os mais novos. Com um botão de acesso à

Linha de Apoio à Vítima, Tozi permite a eventuais vítimas

de cyberbullying estabelecer contacto com técnicos

capacitados para auxiliar nestes casos, o que representa

uma grande mais-valia, pois é sabido que muitas vezes

os jovens evitam denunciar este tipo de situações

quando ocorrem longe da vista dos adultos. A linha

também presta esclarecimentos sobre questões como

adição digital ou gestão de privacidade, temas que impactam

cada vez mais a vida dos jovens.

Ana Mesquita Veríssimo, manager da Fundação

Vodafone em Portugal diz que “a aplicação Tozi enquadra-se

num plano estratégico mais abrangente,

implementado nos últimos anos pela Vodafone e pela

sua fundação, para criar uma sociedade digital mais

inclusiva e segura”. A possibilidade de chegar de forma

direta a crianças e jovens através de uma app dotada

de “ferramentas e conhecimentos que os ajudam a navegar

no mundo digital de forma responsável, segura

e consciente” é, sublinha, concretizar um importante

desígnio: “A nossa motivação é, essencialmente, preventiva.

Acreditamos que a educação é a base para evitar

situações de risco e fomentar um ambiente online

mais seguro”, acrescenta.

Sabe-se que os fenómenos de assédio digital estão

a crescer. Segundo um estudo do Gabinete Regional da

Organização Mundial de Saúde, realizado entre 2018 e

2020, um em cada seis jovens europeus em idade escolar

são vítimas deste tipo de assédio, por isso é importante

lançar ferramentas como a Tozi, capazes de guiar

e apoiar esta camada da população.

A versão portuguesa da Tozi resulta da adaptação

da app desenvolvida pela Vodafone Ireland Foundation,

em parceria com o Dublin City University Anti-

-Bullying Centre e com a Childline by ISPCC, iniciativa

que se enquadra no desígnio da Vodafone Foundation

de promover a inclusão e integração das pessoas mais

vulneráveis nos vários mercados onde a Vodafone está

presente.

Durante o próximo ano, em parceria com a APAV,

serão realizadas em Portugal ações presenciais em escolas,

que abordarão temáticas como o bullying, o cyberbullying

e a segurança online. Esta campanha de sensibilização

“visa envolver diretamente alunos, professores

e encarregados de educação, criando um espaço de partilha

de conhecimento e discussão sobre boas práticas

digitais”, partilha Ana Mesquita Veríssimo. Confiante

de que a Tozi vai fazer a diferença, a manager da Fundação

Vodafone Portugal acredita que “o reconhecimento

que a app está a obter junto das várias comunidades

envolvidas levará a que esta ferramenta chegue ao máximo

de jovens possível, contribuindo para reduzir o

impacto deste tipo de fenómenos”.•

73


ultimas

PROTECÇÃO FÍSICA

COM CAPACIDADES ÚNICAS

ASSUME-SE COMO UM CONJUNTO único de capacidades de

segurança concebido para reforçar a proteção física dos

PCs de classe empresarial. Inclui medidas de segurança

multicamadas, concebidas para proteger o hardware e o

firmware dos PCs contra os ataques físicos direcionados,

proporcionando aos administradores de IT uma visibilidade

sem precedentes para detetar firmware não autorizado

e adulteração de componentes ao longo do ciclo de vida de

um dispositivo. O HP Enterprise Security Edition é a nova

oferta do grupo, que vem responder ao aumento do trabalho

híbrido e do Work from Anywhere (WFA), que apresentam

um elevado risco de comprometimento dos PCs por

atacantes com acesso físico temporário. Para combater

as ciberameaças físicas, o HP Enterprise Security Edition

equipa os PCs com capacidades de proteção em múltiplas

camadas: Firmware Lock, um bloqueio controlado pelo

utilizador, implementado a nível do firmware e utilizado em

conjunto com o HP Sure Admin; Platform Certificatesm,

certificados digitais que permitem aos clientes validar

que os componentes de hardware e firmware não foram

modificados desde o fabrico, como o disco, a memória, o

processador, a versão do BIOS/firmware ou os dispositivos

PCIe e o módulo de plataforma fiável; proteção de virtualização

Sure Start, uma proteção antes do arranque contra

hardware de terceiros malicioso ou comprometido que

seja, ligado a uma porta ThunderboltTM/USB C ou PCIe.•

NOVO RECORDE DE PATENTES ESSENCIAIS PARA 5G

SÃO SETE MIL FAMÍLIAS de patentes declaradas como essenciais para o 5G. Incluem inovações revolucionárias

na conceção do protocolo de rádio 5G, segurança 5G e tecnologias de interface que definem a forma

como os smartphones, automóveis conectados e outros dispositivos conectados interagem com as redes de

quinta geração. Este é o marco que a Nokia acaba de alcançar, com a fabricante

finlandesa a prometer ainda mais invenções no futuro. Esta carteira de patentes

baseia-se em mais de 150 mil milhões de euros investidos em I&D e normalização

desde 2000 e é composta por mais de 20 mil famílias de patentes (cada família

pode incluir várias patentes individuais). Qualquer dispositivo que se ligue a uma

rede móvel utiliza a tecnologia patenteada da marca e mais de 250 empresas obtiveram

licença para as suas tecnologias patenteadas. Constituem blocos de construção

essenciais para indústrias inteiras, incluindo dispositivos móveis, eletrónica de

consumo, veículos conectados, dispositivos e soluções IoT e streaming de vídeo.•

74


NOVA GERAÇÃO DE FOUNDATION MODELS

HÁ UMA NOVA GERAÇÃO de foundation models ou modelos base, que são capazes de, através da sua

inteligência de última geração, dar resposta a uma ampla gama de tarefas, e com um preço altamente

competitivo. Chama-se Amazon Nova e está disponível no Amazon Bedrock. A nova oferta inclui a

Amazon Nova Micro (um modelo texto-para-texto muito rápido), Amazon Nova Lite, Amazon Nova Pro e

Amazon Nova Premier (modelos multimodais que podem processar texto, imagens e vídeos para gerar

texto). Foram ainda lançados outros dois modelos adicionais: Amazon Nova Canvas (que gera imagens

de qualidade profissional) e Amazon Nova Reel (que

gera vídeos de qualidade profissional). A Amazon diz que

tem cerca de mil aplicações de IA generativa em desenvolvimento,

que estão alinhados com os desafios que os

programadores de aplicações enfrentam. As novas ofertas

destinam-se a ajudar os programadores, tanto internos

como externos, a entregar ferramentas de inteligência e

geração de conteúdo mais poderosos. Proporcionam ainda

progressos significativos em latência, custo-benefício, personalização,

geração aumentada por recuperação (Retrieval

Augmented Generation ou RAG) e capacidade de execução

autónoma.•

PARCERIA REFORÇA SERVIÇOS

DE CENTROS DE DADOS

IMPULSIONAR O CRESCIMENTO e a modernização dos centros de dados empresariais, apoiando iniciativas

estratégicas de transformação digital, é o objetivo de expansão da parceria entre a Kyndryl e a Nokia. Com

ela, os dois grupos vão expandir o portefólio de soluções para a oferta de serviços avançados de rede de

centros de dados a empresas de todo o mundo. Ao combinar

o conhecimento e experiência da Kyndryl na conceção,

desenvolvimento e gestão de ambientes de centros de

dados e cloud híbrida com a solução de infraestruturas

de rede de centros de dados de elevado desempenho e

segurança integrada da Nokia, ambas oferecem benefícios

significativos às organizações que procuram modernizar

e expandir as suas redes de centros de dados. É que este

mercado está em crescimento rápido, prevendo-se que

investimentos em redes aumentem com a crescente procura

de serviços na cloud. Além disso, o armazenamento de

dados de elevado volume realça a necessidade urgente de

soluções de rede robustas, escaláveis e seguras. A Kyndryl

pretende integrar a tecnologia EDA (Event-Driven Automation)

da Nokia, plataforma que utiliza dados em tempo

real e machine learning para automatizar totalmente as redes de centros de dados, com a Kyndryl Bridge,

plataforma empresarial de integração aberta alimentada por IA, que permite aos clientes gerirem e monitorizarem

todo o seu ambiente tecnológico.•

75


ultimas

MODELOS ADAPTADOS A TODAS AS INDÚSTRIAS

HÁ NOVOS MODELOS adaptados de IA, que respondem às

necessidades específicas de cada indústria. Foram lançados

pela Microsoft e estão disponíveis através do catálogo

de modelos de IA do Azure, onde os clientes podem aceder

a uma vasta gama de modelos de IA para criar soluções

personalizadas no Azure AI Studio, ou diretamente através

dos parceiros Microsoft. Os modelos disponíveis no catálogo

também podem ser utilizados para configurar agentes

no Microsoft Copilot Studio, uma plataforma que permite

aos utilizadores criar, personalizar e implementar agentes

com tecnologia de IA, que podem ser aplicados aos

principais use cases de um setor para responder às suas

necessidades mais prementes. Os novos modelos estão

a ser criados para as várias indústrias em parceria com a

Bayer, Cerence, Rockwell Automation, Saifr, uma RegTech

dentro da incubadora de inovação Fidelity Investments,

Fidelity Labs, Siemens Digital Industries Software e Sight

Machine, entre outras. Além disso, a Microsoft incentiva a

inovação no ecossistema de open-source e está a disponibilizar

cinco modelos Hugging Face que são aperfeiçoados

para a sumarização e análise de sentimentos de dados

financeiros.•

CONSTRUIR FORÇA DE TRABALHO SEM LIMITES

CHAMA-SE AGENTFORCE 2.0 e assume-se como uma plataforma que permite uma força de trabalho

ilimitada, através de agentes de IA, para qualquer departamento, criada através de uma

nova biblioteca de competências pré-construídas e descrições em linguagem

natural. Com ela, a IA autónoma faz parte de cada equipa e

capacita os profissionais no Slack com agentes autónomos de IA. Acaba

de ser lançada pela Salesforce, que garante que os novos desenvolvimentos

da plataforma apresentam um raciocínio e recuperação

melhorados, para fornecer respostas precisas e orquestrar ações em

resposta a perguntas complexas. Esta plataforma permite às equipas

escalar a sua força de trabalho com um Agentforce personalizado,

capaz de lidar com tarefas complexas, com uma precisão e exatidão

melhoradas. Empresas como a Accenture, The Adecco Group, Finnair,

IBM, Indeed, Saks Global e SharkNinja estão já a adotar o Agentforce

para ampliarem as suas equipas com mão-de-obra digital, simplificando

as operações de negócio e libertando novas capacidades de crescimento.•

76


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