COMUNICAÇÕES 252 - MARGARIDA BALSEIRO LOPES MAIS DIGITAL PARA SIMPLIFICAR
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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL O NOVO
ACELERADOR DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
UNICORN FACTORY LISBOA
QUER GANHAR O MUNDO
BRAGA UM RETRATO DA CIDADE
INOVADORA EM ASCENSÃO
N.º 252 • DEZEMBRO 2024 | ANO 37 • PORTUGAL • 3,25€
MARGARIDA
BALSEIRO LOPES
MAIS DIGITAL
PARA SIMPLIFICAR
ESTÁ A CONTAR
Fibra e 5G
Vivemos um tempo em que o tempo é crucial, onde cada milissegundo
conta para as empresas que querem inovar e evoluir. Conte com as soluções
inovadoras de cibersegurança e cloud da MEO Empresas, assentes
na melhor e mais robusta rede móvel e na maior rede de fibra do país,
garantindo alta fiabilidade para quando nada pode falhar.
empresas
meoempresas.pt
edit orial
Sandra Fazenda Almeida sandra.almeida@apdc.pt
Alinhar esforços
para acelerar
Com o fim de mais um ano e o arranque
de 2025, é tempo de refletir sobre as profundas
transformações que têm marcado
a sociedade e economia, impulsionadas
por tecnologias disruptivas como a IA. A
ascensão da IA generativa (GenAI) ilustra bem
a mudança de paradigma que estamos a viver.
Este progresso foi demonstrado na 3ª edição
do EVOLVE AI, onde casos concretos de
empresas a utilizar IA para criar valor e obter
vantagens competitivas sublinharam uma
mensagem clara: a transformação digital está
em marcha em Portugal. Contudo, esta jornada
não está isenta de desafios. A adoção da IA
enfrenta barreiras, como a baixa literacia digital
dos colaboradores, a necessidade de modernização
das infraestruturas tecnológicas e as
preocupações com a privacidade dos dados e o
retorno do investimento.
Reconhecendo esses desafios, a APDC, em
parceria com a Google Portugal, lançou o IM-
PULSO IA, um programa de formação para
capacitar profissionais na utilização de IA,
enfatizando a urgência de requalificação para
acompanhar a velocidade da mudança tecnológica.
Iniciativas como esta são cruciais para
garantir que as empresas não apenas adotem
estas tecnologias, mas também as integrem de
forma eficaz nas suas operações.
Em paralelo, a Estratégia Digital Nacional,
recentemente apresentada pelo governo, oferece
um conjunto de medidas relevantes. É, no
entanto, necessário um maior enfoque numa
visão de longo prazo, que alinhe esforços entre
todos os stakeholders. Exemplos como a Unicorn
Factory Lisboa, que fomenta um ecossistema
de inovação em expansão, destacam a
importância de promover a colaboração para
impulsionar o crescimento e posicionar Portugal
como referência internacional.
A APDC, que comemorou 40 anos de existência,
tem desempenhado um papel fundamental
no desenvolvimento das TIC e dos media, criando
um espaço único de inovação e colaboração.
O futuro apresenta desafios e oportunidades e a
associação continuará a ser um agente ativo na
construção de uma economia digital robusta e
inovadora, promovendo o diálogo e a colaboração
entre os diferentes atores do ecossistema.
A mensagem só poderá ser de otimismo e
confiança no potencial do país para se afirmar
como líder na era digital. Apostar na inovação,
capacitar as pessoas e fomentar um ecossistema
colaborativo são elementos fundamentais
para assegurar um futuro próspero e inclusivo
para todos! Boas leituras!•
3
sumario
FICHA TÉCNICA
COMUNICAÇÕES 252
A ABRIR 6
5 PERGUNTAS 12
Dennis Teixeira, managing director da HPE
Portugal
À CONVERSA 14
Depois de apresentar a Estratégia Digital
Nacional, Margarida Balseiro Lopes
prepara-se para concretizar medidas
EM DESTAQUE 24
Na 3ª edição do EVOLVE esteve em
foco o papel da IA como acelerador da
transformação digital
I TECH 38
Pedro Tavares, partner da Deloitte
NEGÓCIOS 40
A Unicorn Factory Lisboa, o ecossistema
de inovação da capital, quer chegar à
Europa e ao mundo
PORTUGAL DIGITAL 48
Distinguida com o Prémio Europeu da
Cidade Inovadora em Ascensão, Braga
acelera no digital e não só
CIDADANIA DIGITAL 72
Tozi, a app da Fundação Vodafone
e da APAV que combate o cyberbullying
APDC NEWS 54
ÚLTIMAS 74
14
24
40
48
Propriedade e Edição
APDC – Associação Portuguesa
para o Desenvolvimento das
Comunicações
Diretora executiva
Sandra Fazenda Almeida
sandra.almeida@apdc.pt
Av. João XXI, 78
1000-304 Lisboa
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NIPC: 501 607 749
Chefe de redação
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Secretária de redação
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Publicidade
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Conselho editorial
Abel Costa; Bernardo Correia; Carlos
Correia; Dennis Teixeira; Diogo Madeira;
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Carvalho; Francisco Maria Balsemão; José
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Pedro Tavares; Rodrigo Cordeiro; Rogério
Carapuça; Sérgio Catalão; Tiago Barroso;
Vasco Almeida.
Edição
Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda
Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D
1050-052 Lisboa
Coordenação editorial
Ana Rita Ramos
anarr@haveaniceday.pt
Edição
Teresa Ribeiro
teresaribeiro@haveaniceday.pt
Design
Mário C. Pedro
marioeditorial.com
Fotografia
Vítor Gordo/Syncview
Periodicidade
Trimestral
Tiragem
3.000 exemplares
Preço de capa
3,25 €
Depósito legal
2028/83
Registo internacional
ISSN 0870-4449
ICS N.º 110 928
4
HÁ 8 ANOS EM PORTUGAL
The best of ICT with a human touch
Oferecemos a combinação ideal de tecnologia
e serviços de IT para ajudar os nossos clientes
a superar os seus desafios de negócio.
a abrir
6
INDÚSTRIA REFORÇA
APOSTA EM IA...
O IMPACTO DA IA é crescente. E pelo
menos 67% das empresas industriais
estão a aplicá-la no fabrico de
produtos, otimização da produção,
redução de custos e segurança dos
colaboradores. A conclusão
é do relatório Ascendant,
da Minsait.
Denominado “IA: raio-
-x de uma revolução
em curso”, mostra
que seis em cada
dez empresas utilizam
IA para melhorar
a qualidade
dos produtos
e a segurança dos
colaboradores.
Também utilizam
a IA na gestão da
cadeia de fornecimento,
permitindo
prever bloqueios logísticos
e gerir stocks em tempo real.
Entre as motivações para a adoção
da tecnologia estão a otimização das
operações e a redução de custos.
Assim como a tomada de decisões
estratégicas com base em dados e
capacidade de identificar tendências.•
A IA ajuda a prever
bloqueios logísticos,
a gerir stocks em
tempo real e a
cuidar da segurança
física dos colaboradores
...QUE MELHORA RELAÇÕES
DE TRABALHO
APENAS 28% dos knowledge workers têm uma relação
saudável com o trabalho, mas os que utilizam IA estão mais
satisfeitos do que os restantes. Dois terços dos knowledge
workers querem experiências de trabalho personalizadas e
87% estão dispostos a abdicar de uma parte do seu salário
para o conseguir. O 2º Índice de Relações de Trabalho
(WRI) anual da HP com efeito revela
uma grande necessidade universal
dos knowledge workers: experiências
de trabalho personalizadas.
O que incluiu espaços de
trabalho adaptados, acesso
às tecnologias preferidas e
ambientes de trabalho flexíveis.
Mais de 64% afirmam
que se o trabalho fosse
adaptado ou personalizado
de acordo com as suas
necessidades e preferências
pessoais, investiriam mais no
crescimento da sua empresa.•
CURIOSIDADE
DETETOR DE ALUCINAÇÕES DE GENAI
Chama-se ‘HallucinationsDetector’ e é exatamente o que o nome diz: um
detetor de alucinações, que identifica e reduz a produção de conteúdos
incorretos ou enganosos gerados por modelos de IA generativa. O sistema
foi concebido pela bracarense Automaise para aumentar a segurança
dos assistentes conversacionais, que estão a ser cada vez mais utilizados
pelas empresas para otimizar
a relação com o cliente. Assim,
evitam-se respostas inesperadas
quer via chat, quer por telefone,
que podem causar danos
reputacionais e/ou financeiros
às empresas. A solução está
integrada com grandes sistemas
de software e tem como clientes
empresas na área da banca e
seguros, distribuição, contact
centers e indústria.•
ILUSTRAÇÕES FREEPIK
CURIOSIDADE
EL CAPITAN, O MAIS RÁPIDO DE SEMPRE
Chama-se El Capitan e é o supercomputador mais rápido do mundo. Foi
construído pela HPE e colocou os Estados Unidos na liderança mundial,
ao conquistar o 1º lugar na lista TOP500 de 2024. Vai contribuir para
os avanços em áreas como a investigação nuclear, IA e energia e está
a ser operado pelo
Laboratório Nacional
Lawrence Livermore
(LLNL). Em paralelo,
tornou-se oficialmente
no 3º sistema a
atingir a computação
exascale, depois do
Frontier e do Aurora.•
QUASE METADE DAS EMPRESAS
ESTÃO VULNERÁVEIS
OS LÍDERES EMPRESARIAIS confiam nas áreas de TI para reduzir os
riscos, desenvolver talento e tirar partido de novas ferramentas.
Mas, apesar de 94% afirmarem que a modernização tecnológica
é uma prioridade, 44% das infraestruturas de TI de missão crítica
estão a aproximar-se ou já estão em fim de vida útil, o que aumenta
a vulnerabilidade e levanta barreiras à modernização. Por isso, os
decisores dizem que precisam de ajuda na tomada de decisões e
no desenvolvimento de talento, revela o Kyndryl Readiness Report
2024. Constata-se ainda que embora 76% das empresas estejam a
investir na IA tradicional e em machine learning, apenas 42% verifica
um retorno positivo do investimento. Sendo que os maiores obstáculos
à adoção da inteligências artificial continuam a ser as preocupações
com a privacidade dos dados (31%), ROI
incerto (30%) e desafios de compliance (26%).
O report da Kyndryl
revela que 44% das
infraestruturas de
TI de missão crítica
estão a aproximarse
ou já estão em
fim de vida útil
!
ORGANIZAÇÕES
GLOBAIS POUCO
CIBERSEGURAS
APESAR DE 94% das organizações
mundiais se sentirem preparadas
para responder aos ciberataques,
71% acreditam que é provável
sofrerem um incidente em 2025,
com impacto no seu desempenho
financeiro. Este desfasamento entre
a perceção e a verdadeira capacidade
de resposta cibernética realça a
necessidade de uma maior sensibilização
e de medidas concretas para
lidar com as cada vez mais sofisticadas
ameaças online. A conclusão é do
Global Cyber Gauge 2024: Navigating
the complex cybersecurity landscape,
realizado pela Kyndryl e pela AWS. O
trabalho revela que 52% dos líderes
de TI estão a enfrentar desafios
operacionais quanto à preparação
para ameaças emergentes, como
ataques ao nível do Estado-nação e
de IA generativa. Em 2024, 54% das
grandes organizações relataram ter
sofrido um ciberataque.
Regista-se ainda um
apoio executivo
inadequado e falta
de alinhamento na
preparação para a
regulamentação e
constrangimentos
organizacionais .•
Alert!
7
a abrir
SOUND BITES :-b
“A implosão da UE como a conhecemos
pode acontecer, sendo
a probabilidade tanto maior
quanto mais tempo se demorar
a enfrentar o constrangimento
político que impede as necessárias
reformas económicas e
sociais”
António Nogueira Leite, Jornal
de Negócios, 10/12/2024
“Trump é o sintoma de uma
doença, não é a doença. A doença
é causada por um vírus, o uso
e abuso das redes sociais e os
avanços tecnológicos na comunicação
direta e sem filtro. As
redes socais, de que o X de Musk
é o avatar político, são um fator
geral de apodrecimento do cérebro
humano. (…) Sobretudo da
Humanidade ocidental, mais
servida de telemóveis e computadores,
mais servida de dinheiro
e poder de consumo”
Clara Ferreira Alves, Expresso,
02/12/2024
“Se o PRR fosse um navio, estaríamos
a navegar num mar
revolto com o motor a tossir e
metade da tripulação a perguntar
quem está ao leme. Ainda
há tempo para ajustar o curso
e atracar em porto seguro, mas
precisamos de um plano e de o
seguir como se a nossa sobrevivência
futura dependesse disso.
A verdade é que em parte depende
mesmo!”
Carlos Hernandez Jerónimo,
Observador, 29/11/2024
“Crescer na casa dos 3% deveria
ser um desígnio nacional. Tratase
de uma meta facilmente monitorizável
e indutora de uma
maior pressão sobre as políticas
públicas e a adoção de reformas
urgentes”
Óscar Afonso, ECO, 27/11/2024
PONTOS CHAVE PARA FIDELIZAR
CONSUMIDORES
A EXPERIÊNCIA de atendimento ao cliente e a qualidade dos
agentes de IA são cruciais para a fidelização dos consumidores.
E as empresas terão de reforçar nestas áreas, já que
a confiança que os consumidores têm nas empresas está
no nível mínimo, enquanto a IA aumenta os riscos para as
marcas. Os dados são da mais recente pesquisa da Salesforce,
que revela que 72% dos consumidores confiam menos
nas empresas do que há um ano e 65% acreditam que são
imprudentes com os seus dados. Acresce que esperam interações
consistentes entre departamentos (69%) e preferem
utilizar menos pontos de contacto para obter informações,
ou concluir tarefas (60%). Só na época natalícia espera-se
que sejam realizadas online vendas de mais de 200 mil
milhões de dólares, que serão influenciadas pela IA. Pelo
que as marcas terão de apostar em agentes de IA confiáveis,
baseados na transparência e em dados corretos. Tal
permitirá a oferta de experiências consistentes e personalizadas
aos compradores em todos os canais – aprofundando
a fidelização do cliente e, em última análise, impulsionando
mais vendas.•
IA VAI DOMINAR TENDÊNCIAS
TECNOLÓGICAS EM 2025…
A IA E IA GENERATIVA (GenAI) estão no topo do radar dos
líderes empresariais e dos investidores e vão ter um impacto
significativo noutras tecnologias-chave suscetíveis de atingir
a maturidade ou de alcançar um avanço em 2025. A robótica,
as cadeias de abastecimento ou o mix energético do futuro
estão entre elas, avança a 2ª edição do ‘TechnoVision Top 5
Tech Trends to Watch in 2025’, da Capgemini. A GenAI, que
está a evoluir da simples capacidade de realizar tarefas isoladas,
para a fase dos agentes especializados e interligados,
começará a funcionar de forma mais autónoma, passando
a assumir cada vez mais tarefas nas cadeias de abastecimento
ou/e de manutenção preditiva, sem necessidade
de supervisão humana constante. O passo seguinte será
a criação e lançamento de um superagente, que funcione
como um orquestrador dos vários sistemas de IA, otimizando
as suas interações. Espera-se que estes avanços acelerem
já em 2025.•
Tendências:
consumidores
confiam menos
nas empresas e
acreditam que
são imprudentes
com os dados dos
clientes
8
… E SERÁ FOCO ESTRATÉGICO EM
TODAS AS EMPRESAS
A GENAI VAI PROVOCAR uma mudança de paradigma das organizações
nos próximos dois anos, com potencial para melhorar
fatores como produtividade, eficiência, sustentabilidade, conformidade
regulamentar e segurança dos colaboradores. Com o arranque
de um ciclo de consolidação e integração das tecnologias
de IA generativa, a experimentação fragmentada nas empresas
será substituída por planos de investimento específicos. A conclusão
é do “Global GenAI Report: How organizations are mastering
their GenAI destiny in 2025”, da NTT DATA. O trabalho revela que
97% dos CEO antecipam um impacto significativo da tecnologia;
70% que a mudança será rápida e com um impacto substancial
em 2025; e 83% dizem já ter uma estratégia de IA Generativa bem
definida. Até agora, os principais casos de aplicação de GenAI são
em recomendação de serviços personalizados, gestão do conhecimento,
controlo de qualidade e investigação e desenvolvimento
(I&D). Mas o rápido avanço tecnológico obrigará as empresas
a reavaliar e ajustar constantemente as suas
estratégias e modelos operacionais, sendo
que entre os entraves identificados
estão a infraestrutura herdada e
a falta de talento.•
Os principais
entraves ao avanço
tecnológico
reportados são:
a infraestrutura
herdada e a falta
de talento
NUMEROS
3,4 MIL BILIÕES
É o valor recorde, em dólares, alcançado
pela NVidia a 4 de novembro, na Wall
Street. A valorização bolsista da fabricante
de chips que domina no desenvolvimento
da IA generativa colocou-a de novo como
a empresa mais valiosa do mundo,
ultrapassando a Apple. Os ganhos da NVidia
têm vindo a explodir desde 2023, tendo
triplicado a sua capitalização no mercado já
este ano.
350 MIL MILHÕES
É a avaliação recorde em dólares que a
SpaceX alcançou em dezembro, tornando-
-se na startup mais valiosa do mundo. O
que é atribuído à valorização do universo
das empresas de Elon Musk, graças à
sua ligação a Trump e ao potencial de
capitalização desta relação no futuro. A
avaliação subiu na sequência de uma
operação interna de compra de ações
pelos seus investidores e coloca o projeto
espacial a valer mais do que muitas das
grandes empresas cotadas em Wall Street.
Tem contratos com entidades públicas
como a NASA ou o Pentágono, liderando a
corrida privada ao espaço, usando os seus
foguetões para transportar satélites, carga
e pessoas.
133 MIL MILHÕES
É o montante, em dólares, que os gastos
com inteligência artificial deverão alcançar,
em 2028, na Europa. O crescimento anual
esperado até lá será superior a 30%, diz
a IDC. Pelo menos 40% das empresas
europeias já estão a realizar investimentos
significativos em GenAI, com planos de
investir em formação, software e serviços
de consultoria nos próximos 18 meses. E
cerca de 30% já implementaram aplicações
e serviços assentes na GenAI em ambientes
de produção.
9
a abrir
10
SOUND BITES :-b
“Há desafios que é importante
serem ultrapassados, um deles
é a forte fragmentação no tecido
interno europeu. As diferenças
nos níveis de desenvolvimento
digital entre os Estados-membros
dificultam a criação de uma
abordagem uniforme. (…) A IA
veio para ficar (…) e tem um milhão
de potencialidades. Não se
pode perder este comboio, que
só irá agravar a forte dependência
que a Europa já sente”
Inês Pina, Observador,
24/11/2024
“A IA está a mudar o mundo,
mas não está relacionada com a
administração Trump. Há muita
gente que vai ter essas intenções
(de usar a IA para ameaçar
a democracia), mas acho que o
mundo, coletivamente, vai colocar
as salvaguardas necessárias
para não acontecer isso”
Daniela Braga, Expresso,
15/11/2024
“As empresas e a economia
portuguesa devem continuar
a inovar e a tentar novos caminhos
que se abrem também
no contexto destas alterações
significativas, seja devido à IA,
à sustentabilidade, ou à reorganização
das cadeias de valor,
porque todas essas dimensões
oferecem novas oportunidades”
Francisco Veloso, ECO,
24/10/2024
“Portugal enfrenta o desafio de
aproveitar as vantagens competitivas
que a IA pode oferecer. O
país possui talento e a ambição
de implementar uma Estratégia
Digital Nacional eficaz e competitiva.
(…) O modelo de governação
que adotar será crucial para
uma estratégia bem-sucedida”
Magda Cocco, Jornal de
Negócios, 07/11/2024
FALTA DE LITERACIA PREJUDICA
ADOÇÃO NAS EMPRESAS DA IA…
APESAR DE A IA estar a redefinir a dinâmica no local de
trabalho e as práticas de recursos humanos, esta é ainda
uma área complexa. É que a falta de literacia digital dos
colaboradores influencia as suas atitudes em relação à
tecnologia. A conclusão é do mais recente estudo da SAP.
Em comparação com as pessoas com conhecimento, as que
apresentam baixa literacia têm seis vezes mais probabilidade
de se sentirem apreensivas, sete vezes mais probabilidade
de sentirem medo e mais de oito vezes de probabilidade
de se sentirem angustiadas em relação à utilização da IA no
trabalho. Os resultados do estudo revelam que organizações
e colaboradores atravessam um momento complexo,
com a adaptação a esta tecnologia disruptiva, que implica
novos conhecimentos e atitudes. E que à medida que a
IA se torna uma ferramenta mais utilizada no trabalho, as
organizações devem concentrar-se e investir na literacia em
IA para ajudar os colaboradores a compreenderem a nova
tecnologia. Os aspetos mais importantes da educação em IA
para alterar estas reservas são: saber como utilizar a IA para
os objetivos serem alcançados, perceber como se facilitam
as tarefas e ser capaz de detetar a utilização de IA.•
… MAS UTILIZAÇÃO
DA TECNOLOGIA GERA OTIMISMO
AS ORGANIZAÇÕES de média dimensão estão a adotar a IA
com confiança e a maioria antecipa alcançar retornos até
quatro vezes superiores em 12 meses. Mas quase metade
estão a ser travadas pelas lacunas na preparação da força
de trabalho, a gestão dos dados e infraestruturas tecnológicas
legacy, que constituem os principais obstáculos aos
retornos sustentáveis. A conclusão é do ‘Avanade Trendlines:
Relatório sobre o valor da IA 2025’, que mostra um
forte entusiasmo pelo potencial da IA, sendo o principal
objetivo para 2025 a utilização de ferramentas de IA, como
o Microsoft Copilot, para gerar novas receitas e, ao mesmo
tempo, construir uma cultura colaborativa no local de trabalho.
Assim, 53% das empresas esperam aumentar os seus
orçamentos para projetos de geração de IA até 25%. E 85%
manifestam preocupação com a perda de terreno competitivo
sem a rápida adoção da IA, pelo que a implementação
acelerada é uma prioridade máxima para dar resposta às
pressões competitivas. Mas o trabalho de base essencial
para a IA está ainda por fazer: quase metade das empresas
ainda estão presas na fase de caso de negócio (48%) ou de
prova de conceito (44%).•
As reservas em
relação à adoção
de IA no trabalho,
são tanto maiores
quanto menor é
a iliteracia digital
dos colaboradores
Para dar resposta
às pressões
competitivas, a
adoção de IA é
uma prioridade
para cerca de 85%
das empresas
consultadas
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O Futuro do Armazenamento de Energia
Líder da Indústria Hybrid Cooling C&I ESS
*Huawei FusionSolar C&I Smart String ESS 215kWh Series
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Segurança Garantida
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5 perguntas
12
DENNIS TEIXEIRA
Fazer crescer o negócio
Inovação, digitalização, sustentabilidade, expansão e mais
talento são apostas do novo managing director da HPE Portugal.
À frente da tecnológica desde novembro, Dennis Teixeira quer
reforçar o papel da empresa no mercado.
Texto de Isabel Travessa| Fotos de Vítor Gordo/ Syncview
Começou na HP em 1998 e está
na HPE desde a sua criação, em
2015. Conhecer a fundo o projeto é
uma vantagem, agora que lidera a
operação nacional?
Tenho mais de 25 anos de experiência
na empresa, o que demonstra o
compromisso da HPE com o desenvolvimento
da carreira profissional
dos colaboradores. Exemplo
claro disso é o nosso CEO, Antonio
Neri, que também tem uma longa
trajetória na empresa. Permite-nos
conhecer profundamente os clientes,
parceiros e colegas, o que é uma
grande vantagem.
Quais são as suas grandes metas
para o negócio?
As minhas metas focam-se em várias
áreas estratégicas. A começar pela
inovação e digitalização, para continuar
a impulsionar a transformação
digital. Segue-se a sustentabilidade,
implementando práticas mais sustentáveis
em todas as operações e
trabalhando para apoiar os clientes a
atingirem as suas metas de sustentabilidade,
com soluções tecnológicas
disruptivas e eficientes. A expansão
de mercado, explorando novas oportunidades
de negócio e fortalecendo
as relações com parceiros e clientes,
é outra área. Queremos manter-nos
líderes ou ser líderes nas áreas de
cloud híbrida, redes e IA, apoiando
os nossos parceiros e clientes na
transformação e disrupção dos
seus negócios. Outras metas são o
desenvolvimento de talentos, investindo
no desenvolvimento contínuo
dos colaboradores, e a diversidade
e inclusão, com a promoção de um
ambiente de trabalho onde todos se
sintam valorizados e respeitados.
Estão a reforçar na IA e cloud e a
comprar a Juniper. Qual o impacto
em Portugal?
Anunciámos recentemente os nossos
resultados anuais e podemos
afirmar que, através da inovação
orgânica, aquisições estratégicas
e investimentos importantes em
experiências que ajudam os clientes
a resolver os seus maiores desafios,
nos tornámos num parceiro tecnológico
ainda mais relevante para as
organizações. O nosso portefólio
diferenciado em cloud híbrida, IA e
redes será ainda mais reforçado com
a aquisição pendente da Juniper Networks,
que deverá ser concluída no
início de 2025. Acreditamos que a capacidade
combinada de competir e
inovar, melhorará fundamentalmente
o setor das redes. Em Portugal,
tudo isto será possível através das
soluções que estamos a desenvolver
a nível central e, mais importante, de
uma equipa local altamente qualificada
e dedicada.
Olhando para as empresas portuguesas,
quais são os maiores
desafios que enfrentam?
Tal como outros países, Portugal
está numa fase de transformação
significativa. Os principais desafios
incluem a transição para a utilização
da IA, retenção de talento, sustentabilidade
e necessidade de adaptação
a novos modelos de negócio.
O país tem grandes valências que
pode aproveitar, como jovens mais
qualificados, facilidade nas línguas e
talento académico. A sustentabilidade
é um grande desafio e Portugal
é um país muito consciente da sua
importância. A HPE também partilha
este compromisso: a tecnologia
pode ajudar a alcançar um mundo
mais sustentável e a cuidar melhor
do planeta.
O PRR criou muitas expetativas de
mudança estrutural, mas as metas
de execução ainda não estão nos
50%. Teremos capacidade para,
efetivamente, ter sucesso enquanto
país?
Para termos sucesso enquanto país,
é crucial um esforço conjunto entre
governo, setor privado e sociedade
civil. A colaboração e a coordenação
eficazes são fundamentais
para acelerar a implementação
dos projetos do PRR. Além disso, é
necessário garantir que os recursos
sejam utilizados de forma eficiente e
transparente. Portugal tem capacidade
e potencial para alcançar as
metas estabelecidas, mas isso exigirá
um compromisso renovado e uma
abordagem proativa para superar os
obstáculos atuais. A aposta na inovação,
digitalização e sustentabilidade,
bem como o desenvolvimento de talento,
são chave para impulsionar o
progresso. Com uma estratégia bem
definida e a mobilização de todos os
setores, acredito que Portugal pode
ter sucesso e alcançar as mudanças
estruturais desejadas.•
“Anunciámos recentemente os nossos resultados anuais e
podemos afirmar que, através da inovação orgânica, aquisições
estratégicas e investimentos importantes em experiências que
ajudam os clientes a resolver os seus maiores desafios, nos
tornámos num parceiro tecnológico ainda mais relevante”
13
a conversa
14
“O que nós tínhamos era uma estratégia para os dados, para a web.3, para a IA, para o digital. Isto não é compaginável com o objetivo
de termos de facto as coisas a acontecer. Para isso, têm de estar coordenadas, de ser coerentes entre si”
NO
CONCRETIZAR
É QUE ESTÁ
O DESAFIO
Tutela três áreas distintas: Juventude, Igualdade e
Modernização. Mas foi sobre a última que se focou, na
sequência do anúncio da Estratégia Digital Nacional. Revela
a ambição de fazer acontecer, com dois princípios que diz
serem para si basilares, a transparência e a prestação de
contas. O seu foco está agora na execução das ações em
concreto já definidas para 2025 e 2026, para que cidadãos e
empresas sintam, de facto, os benefícios do digital.
TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW
15
a conversa
16
“Temos apenas 56% da população portuguesa com competências digitais. Temos, a nível europeu, de caminhar para 80%. Isto obriga a
que saibamos como vamos chegar lá”
Ciente de que a modernização administrativa para ser
efetiva tem de resultar de um trabalho de concertação,
Margarida Balseiro Lopes está apostada em mobilizar as
diferentes áreas da governação em torno deste desígnio.
É que os procedimentos só devem ser digitais se isso
simplificar e trouxer ganhos para os cidadãos. E isso só
se consegue com o compromisso ao nível do topo.
A ministra da Juventude e Modernização apresentou,
em dezembro, a Estratégia Nacional Digital. Neste À
CONVERSA, dado pouco depois deste anúncio, mostrou-
-se convicta que dela vão sair importantes medidas com
impacto positivo na vida dos cidadãos e das empresas.
Mas ressalva que “mais importante do que anunciar uma
estratégia é saber concretizá-la”, através de um plano
de ação que a transforme em realidade. Essa é a agenda
que tem para estes próximos dois anos, através das 49
ações a concretizar, distribuídas por 16 iniciativas estratégicas,
para as quais serão canalizados 355 milhões de
euros. Entretanto, prepara-se para lançar, ainda no 1°
trimestre, a Agenda Nacional de Inteligência Artificial.
Com uma experiência de intervenção pública que começou
nos bancos da escola, passou pela juventude
partidária – como líder da JSD – que depois a levou ao
parlamento, nas funções de deputada. Diz que sem esta
“mochila” de vivências e saberes não teria a mesma
capacidade para interpretar o mundo e corresponder às
expetativas dos portugueses.
17
a conversa
“Fizemos um levantamento
das estratégias e dos planos
de ação que atualmente
já existem em dez países,
com os quais queremos
ombrear. Não precisamos
de inventar a roda, por isso
fizemos o benchmarketing.
Quisemos aprender com os
bons exemplos”
18
Começou muito jovem a ter uma experiência enquanto
dirigente associativa – foi presidente da associação
de estudantes na escola secundária. Em que é que isso
determinou o seu percurso posterior?
Todas as experiências que temos de alguma forma impactam
o exercício das nossas funções. No meu caso
foi ter tido experiência associativa, experiência profissional
na atividade privada e na atividade pública,
enquanto estive no parlamento. A nível académico
suspendi o doutoramento quando vim para o governo,
mas também considero essa vertente altamente
enriquecedora. Essas dimensões contribuem para que
tenhamos uma melhor compreensão do mundo e, dessa
forma, tenhamos uma maior capacidade de dar resposta
às questões que se colocam às pessoas.
O que lhe traz essa experiência anterior em termos
de conhecimento específico, para desempenhar este
cargo, em que tem três áreas de tutela bem distintas:
Juventude, Igualdade e Modernização?
Há uma vantagem de ter estado seis anos no parlamento,
que é compreender desde logo a complexidade do
processo legislativo e de já ter estado do outro lado.
Essa visão que tenho do parlamento – a de que é normal
e expectável prestar contas relativamente às decisões
que tomo – é consubstanciada nessa experiência
que tive.
Prestar contas é um princípio basilar para si?
Transparência e prestar contas são dois princípios basilares
para mim. Exemplo: em todas as audições dou
números sobre pessoas impactadas, sobre prazos, sobre
o follow up da execução que as medidas estão a ter.
Porque durante demasiado tempo, em várias áreas
governativas, houve compromissos assumidos publicamente
que nunca se materializaram numa realidade
que não fosse a que já existia antes do anúncio. Isso
preocupa-me, porque uma das razões para as pessoas
estarem hoje em dia descrentes relativamente à política
tem a ver com essa dissonância entre o discurso e
depois o que acontece na vida das pessoas. Outra preocupação
que tenho é, quando me fazem uma pergunta,
procurar saber exatamente o que posso dizer. Se estiver
em condições de dizer exatamente que esta área vai ser
trabalhada, falarei sobre isso. É importante dar os passos
certos que sabemos estar em condições de dar.
Que marca gostaria de deixar, durante o seu mandato,
no âmbito da modernização da Administração Pública
(AP)?
No caso da modernização da AP, são de facto muitos os
problemas que se colocam. Esta área tem a característica
de ser transversal. Impacta todas as outras áreas
governativas. Daí que o trabalho que tenho para desenvolver
seja também o de uma permanente articulação
com os outros setores governativos para conseguir – e
é esse o grande propósito da Modernização – durante o
meu mandato, simplificar as interações entre o Estado
e as pessoas (empresas e cidadãos).
Cumpriu uma das metas a que se tinha prometido,
que foi lançar a Estratégia Digital Nacional até final
do ano. Efetivamente lançou-a. Missão cumprida ou o
trabalho começa todo agora?
Foi um marco importante, na medida em que de facto
era um compromisso, mas era um compromisso que
era uma necessidade. Nós estávamos há muito tempo
sem uma estratégia digital, o que é mau desde logo porque
a nível europeu temos um conjunto de compromissos
e de objetivos a atingir. Se não tivermos definido,
a nível nacional, que ações vamos fazer para ir ao
encontro desses compromissos, não estamos a dar os
passos necessários para alcançarmos esses objetivos.
A aceleração que fizemos, desde o dia 2 de abril, com
a auscultação que levámos a efeito, foi importante.
Ouvimos mais de 60 entidades da Administração Pública,
mais de 50 empresas em Lisboa e não só, porque
as regiões do país e o tecido empresarial são muito diferentes
entre si. Reunimos com associações empresariais
e empresas, ouvimos também 25 especialistas na
área do digital e isso permitiu chegarmos a dezembro e
apresentarmos a estratégia. Mas tão importante como
a estratégia é o plano de ação, que nos diz que ações
vamos desenvolver, qual o pacote financeiro que cada
uma dessas ações tem e quais as entidades responsáveis.
O dia mais importante não é o dia da apresentação
da estratégia. O mais importante agora é a execução
que vamos fazer da estratégia. O nosso foco em
2025 vai ser garantir que essas ações acontecem.
Temos apenas 56% da população portuguesa com competências
digitais. Temos, a nível europeu, de caminhar
para 80%. Isto obriga a que saibamos como vamos
chegar lá.
Nas quatro vertentes da Estratégia Digital Nacional -
Pessoas, Empresas, Estado e Infraestruturas - tiveram
de partir de uma base. Foram ao terreno, havia já estudos?
De onde partiram?
Não começámos do zero e o mais importante são os dados.
A nossa base foi antes de tudo a realidade e os dados.
Temos vários indicadores. O Digital Economy and
Society Index (DESI) da CE é um desses instrumentos.
Fizemos também um levantamento das estratégias e
planos de ação que atualmente já existem em dez paí-
19
a conversa
“Há um conjunto de iniciativas já desenvolvidas pela sociedade civil a que queremos dar mais destaque, colocando-as a concorrer
para o mesmo objetivo. A Estratégia Digital Nacional não é a estratégia digital do Estado”
20
ses com os quais queremos ombrear. Não precisamos de
inventar a roda, por isso fizemos o benchmarketing, quisemos
aprender com os bons exemplos. Mas também
temos muitos bons exemplos para dar. Cada vez mais é
uma das noções que ganho na minha participação nos
foruns internacionais. Tivemos, há muito pouco tempo,
o Council das Telecomunicações e um dos tópicos era a
década digital, porque a década digital está em curso
e os países foram dizendo se achavam que devia haver
reavaliação de algumas daquelas metas, como estavam
a fazer para cumprir essas metas e o ministro irlandês
pediu uma reunião bilateral. A dada altura começámos
a falar da carteira digital e mostrei-lhe o id.gov.pt (que
dentro de alguns dias passará a ser o gov.pt) e ele ficou
fascinado. Ou seja, temos muitas coisas a aprender,
mas também já damos cartas em muitos projetos que
estão em curso na Administração Pública, no âmbito
do digital. E isso também é importante ressaltar.
Uma das apostas da estratégia é a promoção da igualdade
de género no digital...
O que foi apresentado no plano de ação 2025-2026
contempla 49 ações, distribuídas por 16 iniciativas.
Uma dessas iniciativas é o Programa Nacional das Raparigas
nas STEM. O nosso ponto de partida face à Europa
é muito baixo. Temos uma mulher em cada cinco
especialistas em TIC e uma em cada três especialistas
nas STEM. E isso é preocupante. Se não conseguirmos
mitigar o gap, vamos acentuar desigualdades. Na construção,
utilização e desenho da tecnologia é importante
contar com mulheres. Vamos apresentar este programa
o primeiro trimestre de 2025 e o nosso objetivo é
poder contar com iniciativas da sociedade civil. Queremos
garantir pelo menos 30% de mulheres a trabalhar
nestas áreas e sabemos que isto não se faz apenas com
entidades públicas. Há um conjunto de iniciativas já
desenvolvidas pela sociedade civil a que queremos dar
mais destaque, colocando-as a concorrer para o mesmo
objetivo. Porque a Estratégia Digital Nacional não
é a estratégia digital do Estado.
Mas, tendo em conta que o programa prevê uma intervenção
em três áreas distintas - Educação, Ensino
Superior e Mercado de Trabalho - são processos que
demoram tempo, sobretudo no caso da Educação, serão
necessárias outras ferramentas para atrair as mu-
lheres para o digital. Está a negociar iniciativas com a
sociedade civil?
No primeiro trimestre de 2025 vamos apresentar um
programa.
Sente que a opção pela realização de reuniões do Conselho
de Ministros dedicados exclusivamente à transição
digital e modernização fazem, de facto, a diferença
para uma tomada de decisão mais rápida e assertiva?
Sim. E por várias razões. Uma delas é que a modernização
é transversal. Apesar de estar sob a tutela deste ministério,
tem de estar em todas as áreas governativas.
Só é possível implementar o princípio ‘only once’ se trabalharmos
em conjunto. Em segundo lugar, a partir do
momento em que a discussão se faz ao nível de ministros
e não apenas ao nível de secretários de Estado, que
era o que antes - já havia um conselho inter- -ministerial
que era presidido na altura pelo anterior secretário
de Estado, Mário Campolargo - o nível de envolvimento
é muito maior. A nossa
preocupação é que isto se
faça ao nível dos secretários
de Estado – todos os
meses temos uma reunião
– mas também ao nível de
ministros. Por exemplo,
temos mais de mil portais
de AP e, normalmente associado
a uma ideia vêm
sempre pelo menos dois
portais, o que é um problema.
Porque os cidadãos
e as empresas não têm de ter um conhecimento da AP
que lhes exija que, além de saberem qual é o serviço e
a entidade, têm de se lembrar qual o portal onde vão
tratar determinado assunto. Não queremos mais portais
e aplicações mas sim caminhar no sentido oposto,
de integrar todos os serviços no gov.pt. Integrar – agora
também com o lançamento da app em 2025 – as respostas
num único sítio. Para isso, o compromisso tem
de ser ao nível de topo do Governo.
“Temos muitas coisas a
aprender, mas também já
damos cartas em muitos
projetos em curso da AP, no
âmbito do digital”
No fundo é consciencializar, o que também é importante
para determinadas tutelas…
É verdade. Também há uma alteração de cultura ao nível
organizacional.
Há quem defenda que com a digitalização da Administração
Pública, apenas se mudou de canal. Que a
burocratização dos processos se mantém, só que em
vez de se resolverem os assuntos através de papéis, se
resolvem online. Concorda que ainda é assim?
É para combater isso que trabalhamos todos os dias.
Apresentámos 15 medidas de simplificação em julho.
Podíamos ter apresentado 100. Mas preferimos privilegiar
medidas que tivessem grande impacto no cidadão
e nas empresas, na lógica da simplificação. Medidas
que fossem executadas no
espaço de um ano. Porque
não vou conseguir granjear
a confiança das pessoas
se disser: em 2030,
vou conseguir fazer isto.
Estas medidas procuram
simplificar processos. Nas
próximas semanas vão entrar
em vigor, ou seja, as
pessoas vão poder aceder
ao que anunciámos em
julho. Um cidadão estrangeiro,
que neste momento tem de ir para a porta da Segurança
Social, da Autoridade Tributária ou para a Loja
do Cidadão, com senhas e com horas e listas de espera,
porque precisa de ter acesso a três números de identificação
em três serviços diferentes da AP, nas próximas
semanas poderá ter acesso, com um único pedido, a
três números de identificação. Isto é facilitar a vida das
pessoas. Só que este é um processo que não se faz de
um dia para o outro e nós temos de ter a noção disso.
21
a conversa
22
Anunciámos isto em julho e nos últimos meses temos
trabalhado com várias áreas governativas, com várias
entidades, porque isto envolve um grande esforço de
articulação com a Autoridade Tributária, com o IRN,
com a Segurança Social, com a AIMA e com a AMA,
que é a entidade pivot desta transformação. Isto é um
dos exemplos que vai tirar papéis, vai poupar tempo
e vai, sobretudo, melhorar a vida dos cidadãos. Não é
o digital pelo digital. Não quero que um procedimento
seja digital se ele estiver mal feito. O procedimento
deve ser digital se isso tiver um ganho para as pessoas.
Se simplifica, então faz sentido digitalizar.
Como é feita a coordenação do digital do gov.pt com os
espaços físicos, como as Lojas do Cidadão?
Não é fácil, mas é um processo que se faz. Há um órgão,
o Conselho Consultivo da AMA, com que reunimos em
setembro pela primeira vez, que não reunia há mais de
dez anos. Vamos voltar a falar em janeiro. Vamos procurar
manter esse caráter regular. Para quê? Em todas
as áreas governativas que
têm as Lojas do Cidadão
vamos conversar e alinhar
estratégias de comportamentos,
de prazos, de
horários. Identificámos
alguns problemas para
garantir que funcionamos
a uma só voz nas lojas e
no gov.pt. Temos hoje no
gov.pt mais serviços do
que estavam antes, mas é
um processo. O nosso objetivo é que os cidadãos que
têm um problema para tratar, podem começar a tratar
numa loja, mas conseguem fazer o follow up desse processo
no gov.pt ou na linha (que, diga-se, só está em
inglês desde 1 de outubro).
Só é possível implementar
o objetivo only once se
trabalharmos com todas as
áreas governativas
AMA - Agência para a Modernização Administrativa,
assume um papel central em todo este plano. Há necessidade
de reforçar esta entidade, em termos de recursos
humanos?
A previsão de pessoal que vem refletido no orçamento
da AMA para 2025 está em linha com as responsabilidades
atribuídas. De facto, a AMA tem um papel muito
transversal, mas há muito trabalho que é desenvolvido
pelas várias entidades da Administração Pública. Isso
também é importante destacar.
Há muito que é reconhecida a necessidade de uma
mudança de cultura na AP, mas sempre se admitiu ser
muito difícil, porque é o Estado funcionava em silos e
as pessoas não queriam mudar. Sente que tem havido
uma mudança a esse nível?
Nos oito meses de mandato que tenho, vejo que a Administração
Pública está muito disponível para colaborar.
Mas acho que o exemplo também tem de vir
de cima. Isto é, se as áreas
governativas não dialogarem,
qual é a autoridade
que têm para depois pedirem
às entidades tuteladas
que o façam? Portanto,
acho que há uma
marca deste governo que
é este trabalho em equipa.
No âmbito do anterior governo,
tinham sido criados
três grupos de trabalho, liderados por Arlindo
Oliveira, para propostas de estratégias e de planos de
ação para a IA, os dados e a Web 3.0. Estão a aproveitar
este trabalho, cujas propostas foram entregues também
ao vosso Executivo?
As estratégias não são suficientes. O professor Arlindo
Oliveira tem colaborado connosco e muito em breve
será público mais um exemplo dessa colaboração que
temos tido. Mas as estratégias têm de ter envelopes financeiros
para as ações. Têm de ter planos de ação. E foi
isso que fizemos, nos últimos meses. Vamos continuar,
até final do primeiro trimestre, a fazer a auscultação
que já iniciámos no âmbito da Agenda Nacional de IA.
Houve muitas sessões de auscultação a especialistas
do digital, alguns deles também de IA, que obviamente
vamos otimizar e que já concorrem para a Agenda Nacional
de IA. O que nós fizemos nos últimos meses foi
rever a estratégia digital, o plano de ação. Se apresentamos
quatro estratégias, nada é estratégico. Isto é uma
orientação política: há uma estratégia para o digital e
dentro dessa estratégia, a centralidade da IA fez com
que tivéssemos tomado a decisão de autonomizar uma
agenda própria, que vamos apresentar no primeiro trimestre
de 2025, mas alinhada com a estratégia digital.
O que nós tínhamos era uma estratégia para os dados,
para a web3, para a IA, para o digital. Isto não é compaginável
com o objetivo de termos de facto as coisas a
acontecer. Para isso têm de estar coordenadas, de ser
coerentes entre si. E temos de garantir que sabemos
exatamente que ações vamos fazer, quanto custam,
quem vai fazer e qual o prazo de execução. Por isso é
que há pouco dizia que tão importante como a estratégia
é ter um plano de ação com os termos em que vamos
concretizá-la.
Na Web Summit, o primeiro-ministro apresentou o
projeto AMÁLIA, um modelo de linguagem em grande
escala para a língua portuguesa...
O primeiro-ministro não apresentou o AMÁLIA, ele
antecipou aquela que é uma das ações da nossa Agenda
Nacional de IA. E antecipou porque é uma iniciativa
muito importante, central na nossa agenda de IA
e quisemos aproveitar, naquele que é o maior evento
do mundo, para sinalizar que em Portugal estamos a
desenvolver projetos que nos diferenciam não só no
contexto europeu, mas no contexto mundial. Tenho
participado em vários fóruns, um dos mais recentes foi
a Cimeira do Digital, em Talin, e isto é público: o vídeo
do painel onde participei foi muito elogiado, concretamente
foi elogiada a decisão de Portugal desenvolver o
seu LLM. Porque, de facto, há um conjunto de potencialidades
que daqui resultam e foi essa a ação que fez com
que antecipássemos uma das ações da Agenda Nacional
da IA que apresentaremos no primeiro trimestre de
2025.
A APDC veio a público defender que é essencial para a
transformação digital da AP a adoção urgente do princípio
only once. Estamos a caminhar nesse sentido,
pelo que me diz…
Estamos, claro.
Que tipo de papel é que podem, no âmbito da Estratégia
Digital Nacional, desempenhar associações como
a APDC, que já têm na área do talento e da literacia
digital várias iniciativas em parceria com grandes empresas?
Como é que vai envolver a sociedade civil?
Não só estamos a envolver, como temos um exemplo
muito recente. A APDC participou numa consulta pública.
Foi uma das 43 participações que registámos e
que foram apreciadas de igual forma. E tivemos os contributos
da APDC em consideração quando desenhámos
o nosso plano de ação. Certamente não ficaremos
por aqui.•
23
em destaque
CRIAR
VANTAGEM
COMPETITIVA:
EIS O SEGREDO
Da energia à saúde, do turismo ao
setor tecnológico, passando pela
área jurídica, retalho, controlo de
espécies aquáticas ou produção de
pão… A IA está em todo o lado. Com
claras vantagens, como a automação,
costumização, personalização, eficácia,
rapidez, produtividade, qualidade,
sustentabilidade ou a redução de custos.
Competitividade é a palavra-chave.
TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW
24
25
em destaque
26
A
IA já está a impactar positivamente as empresas
nos mais variados setores de atividade. Embora
o caminho a percorrer ainda seja longo, os
exemplos de utilização da tecnologia multiplicam-se,
comprovando que os seus benefícios são múltiplos.
Com a necessidade de aceleração dos processos
de transformação digital das organizações, abre-se
todo um potencial de criação de valor desta nova ferramenta
disruptiva. A 3ª edição do EVOLVE, dedicada
exclusivamente a casos concretos de mudança através
da IA, já em implementação, teve como objetivo partilhar
conhecimento e inspirar. Afinal, estamos a entrar
num novo paradigma e não há tempo a perder.
Tal como nas edições anteriores, este EVOLVE AI
– Digital Transformation Summit, que decorreu em
Lisboa a 9 de outubro, teve como objetivo trazer exemplos
de transformação digital. A meta foi mostrar casos
concretos de empresas que já utilizam tecnologias de
inteligência artificial (IA) e que evidenciam que a mudança
está em marcha no país, para inspirar as demais
organizações a avançarem com os respetivos processos.
“A transformação digital vai recorrer cada vez mais
a ferramentas de IA. Esta tecnologia vai estar presente
em todos os processos, pelo que este foi o primeiro,
mas também o último EVOLVE dedicado apenas
à IA”, referiu na abertura
do evento o presidente da
APDC. Não tendo dúvidas
de que a IA tem um potencial
enorme, avisa: “Se
quisermos que a Europa
não seja, como alguém já
disse, aquele museu onde
os americanos e os chineses
vêm nas férias para ver
como era o passado, então
temos de inovar e de pôr a inovação na primeira linha.
E temos de perder a ideia de que, quando surge uma
coisa nova, temos logo de pensar como a podemos
proibir”.
Rogério Carapuça referia-se ao nível elevado de regulação
que existe na União Europeia, que é aprovada
mesmo antes das tecnologias se desenvolverem e sem
se perceber o que é que se pode, efetivamente, regular.
“A regulação serve para manter as tecnologias dentro
de um plano ético, o level playing field do mercado. Mas
não pode servir como um mecanismo para proibir e
para nos atrasar”, considera.
Por isso, “a melhor forma de ter uma imagem positiva
das coisas é ver o que os outros estão a fazer, o
A transformação digital
vai recorrer, cada vez
mais, a ferramentas de
inteligência artificial
que resulta e como é que pode funcionar no futuro. Os
riscos existem e vamo-nos apercebendo deles ao longo
do tempo. Há coisas que só se vão conseguir resolver
com tratados internacionais e não propriamente com
regulação local numa determinada região”. E há um
risco que “está nas nossas mãos conseguir evitar: o de
não sermos suficientemente competitivos e avançados
como europeus para podermos concorrer com o resto
do mundo”.
PESSOAS NA BASE DE TUDO
À semelhança da web, a IA já existe há bastantes anos.
Então porque só agora é que está a ser utilizada e a
fazer a diferença? A resposta está, na perspetiva do
coordenador científico do EVOLVE, na forma como
se usa a tecnologia, não só para criar valor, mas para
ter sucesso. A IA só passou a ser utilizada quando surgiu
o ChatGPT, que veio demonstrar que era simples,
que comunica com as pessoas de forma natural e que
usa dados estruturados, a partir de uma base de informação.
Mas como é que se pode criar conhecimento a
partir daí? A resposta está
no processo de aprendizagem,
que passará sempre
pelas pessoas. Só estas poderão
criar valor e retirar
daí uma verdadeira vantagem
competitiva, sendo
isto que fará a diferença,
na sua perspetiva.
“Olhando para a transformação
digital, de que
é que estamos a falar? O que é que muda primeiro?
Muda a relação da pessoa com a máquina, muda a atividade,
muda a função, muda o processo. O caminho
é conhecido, pois já fazemos transformação digital há
muito tempo. A única diferença é que com a IA terá
de haver uma nova abordagem do que significa saber
aprender”, explica Paulo Cardoso do Amaral. Por isso,
recomenda que todas as organizações tentem obter o
melhor processo de aprendizagem, que “crie conhecimento
específico e que não possa ser copiado, para
haver uma vantagem competitiva”.
O também docente da Católica-Lisbon considera
a IA generativa “uma nova ferramenta absolutamente
incrível”, que está agora democratizada. Ainda estão
Paulo Cardoso do Amaral, coordenador científico do EVOLVE, diz
que a IA generativa “é uma ferramenta absolutamente incrível”
Rogério Carapuça defende que “a regulação não pode servir
como um mecanismo para proibir e para atrasar a Europa”
O coordenador desta 3ª edição do EVOLVE, com os hosts e o líder
e a diretora da APDC
Pedro Santos Guerreiro (diretor executivo da CNN Portugal e
TVI) e Ana Sofia Cardoso (CNN Portugal) foram os hosts
O novo EVOLVE centrou-se exclusivamente em casos
de transformação que usam IA
27
em destaque
Os vários projetos apresentados nesta edição do EVOLVE, que decorreu no Pavilhão do Conhecimento, mostram como é que a
inteligência artificial pode acelerar a transformação digital, num processo que implica riscos, mas também oportunidades
28
a ser dados os primeiros passos, com a sua utilização
para a criação de valor, mas, a prazo, terá de pensar-
-se em “qual será o equilíbrio competitivo relacionado
com o conhecimento que cada entidade terá de ter
para ser bem-sucedida”.
Os casos de estudo apresentados neste EVOLVE
AI, que foi dinamizado pelos jornalistas Pedro Santos
Guerreiro (diretor executivo da CNN Portugal e da TVI)
e Ana Sofia Cardoso (CNN Portugal) mostram que a
tecnologia já está em todos os setores. Estes exemplos,
nas mais variadas áreas, e com empresas totalmente
distintas, mostram que a IA generativa representa
uma verdadeira mudança de paradigma. Como diz Pedro
Santos Guerreiro, “a IA é um gatilho económico de
criação de valor, mas também parte de uma sociedade
que se pretende mais justa, inclusiva e próspera”.
Os exemplos apresentados mostram como é que
a IA pode acelerar a transformação digital, num processo
que implica riscos, mas também oportunidades.
Implica saber gerir informação, capacidade de investir,
transformar informação em conhecimento, ter equipas
disciplinares, apostar na formação de pessoas e estabelecer
as parcerias ganhadoras. Mas traz poupanças
de custos, mais qualidade de serviço e da oferta, inovação,
novos processos, mais competências e maior
competitividade.
Afinal, como afirmou o jornalista e diretor executivo
da CNN Portugal no final do evento, “a IA vai ser
uma ferramenta básica. É a palavra-chave. Não é um
bónus ou uma possibilidade, nem futurologia. E foi
isso que vimos em tantos casos, em que a IA tanto
permite evitar apagões de redes elétricas, como saber
qual é o momento certo para acender um forno e ter
pão quente a tempo e horas. Ou soluções que permitem
salvar peixes nos ecossistemas de barragens, mas
também salvar pessoas que tiveram hemorragias cerebrais.
Foi dito que o impossível só precisa de um pouco
mais de tempo. Mas também precisa de outras coisas,
como trabalho de equipa, parcerias e IA. E isto vai ser
básico”.•
CASOS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL:
DISRUPÇÃO
ESTÁ EM MARCHA
CASO 1
NOS | CALL REASON PREDICTOR
operador, o projeto foi diferenciador: “Foram eliminados
os tempos de espera dos clientes, agora com acesso à
informação de que necessitam de forma automatizada.
Ficámos mais eficientes e com poupanças não despicientes.
Tem de se trabalhar de forma diferente e tem de
se mudar muita coisa”. A ambição é agora “continuar a
evoluir, crescendo na capacidade conversacional automatizada”,
e já se está a trabalhar nas soluções de chatboots,
já que a capacidade de atendimento crescentemente
automatizada e conversacional se assume como um verdadeiro
game changer.
CASO 2
DXC TECHNOLOGY & MEO |
CHATGPT FOR LEGAL DOCUMENTS
PARA POUPAR TEMPO e reduzir custos operacionais no
serviço ao cliente e atendimento, apostou-se na criação
de formatos de resolução automática. Como explica
Maria Francisca Pinho, AI Project Management da NOS,
“o projeto partiu da constatação de que havia um volume
de chamadas de clientes meramente informativo, que
não requeriam interação com um humano para serem
resolvidas. Com esta premissa, trabalhámos em duas dimensões:
uma de analítica, com o desenvolvimento com
IA para prever a necessidade do cliente; outra, com a criação
de mecanismos de resolução automáticos”. A solução
acabou por ter impactos de várias naturezas: permite
uma previsão proativa do motivo de contacto do cliente,
implementando formatos de resolução automática, para
promover a rápida solução dos problemas, eliminando
a necessidade de intervenção humana. Segundo Pedro
Brandão, diretor de Market & Customer Intelligence do
DAR RESPOSTA AO DESAFIO da equipa jurídica da Altice na
intensa e complexa atividade que resulta da forte regulação
do setor das telecomunicações foi a base do projeto.
A solução encontrada, assente em IA generativa sobre
29
em destaque
30
um repositório de dados privados, permite não só uma
análise mais completa, como poupanças de tempo e de
esforços. Nuno Moura Pinheiro, head of Data & AI na DXC
Technology Portugal, explica que o desafio exigiu cuidados
adicionais: “Falamos de documentos legais, informação
confidencial e restrita. Trabalhámos com todos os
requisitos de segurança e com a equipa legal, assim como
com uma equipa de analistas, para conseguir colocar a IA
a identificar as necessidades, definir as ações e a partir
daí permitir perguntas e respostas”. Júlio César Ribeiro,
Applications & Solutions Architecture da MEO, acrescenta
que se tentou o melhor use case possível, “que reunisse
todas as capacidades do ChatGPT. Por isso trouxemos a
solução para a área jurídica, que implica um enorme esforço
humano na análise, compilação de texto e geração
de soluções”. Resultado, reduziu-se significativamente
o “esforço humano nesta tarefa de análise de textos e
produção dos mesmos. A prova de conceito rapidamente
se transformou numa prova de valor. Percebemos que a
totalidade dos utilizadores avaliavam a solução como algo
que resolveria problemas do dia a dia, com poupanças
de tempo que podem chegar aos 50%”. Agora, e tendo
em conta as aprendizagens, a MEO está a “construir uma
plataforma de referência para criar novos use cases”. As
premissas: proximidade entre o use case e as equipas que
vão utilizar; parceria estratégia tecnológica com quem
sabe; e usar o conhecimento para construir uma arquitetura
de referência que permita agilizar a implementação”.
É que “não existe um ‘one size fits all’. Tem de se saber o
que se pretende. Não é só tecnologia”.
Cientes de que não existe um
“one size feets all”, as diversas
equipas que têm explorado as
potencialidades da tecnologia
que se encontra agora ao
alcance de todos, apresentaram
diversos use cases, muito
diferentes entre si
CASO 3
E-REDES | IA AO SERVIÇO
DO OPERADOR DE REDES DE
DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
A OPÇÃO DA E-REDES FOI avançar in-house com a sua
transformação digital, através da utilização de ferramentas
de IA. E já tem dois casos concretos: o PREDIS 3.0,
solução que permite a previsão de séries temporais de
energia em grande escala, para perceber e antecipar
os fluxos de potência na rede e identificar se a tensão
se mantém dentro dos limites regulamentares; e o ARC
– Assistente para Respostas ao Cliente, um assistente
virtual conversacional suportado em IA generativa, para
melhorar, uniformizar e capacitar a rede de atendimento,
reduzindo tempo de resposta e custos. Catarina Calhau,
Data Management and Analytics manager da empresa
do universo EDP, adianta que neste segundo exemplo
“optámos por avançar com um assistente de resposta ao
cliente, suportado em IA generativa. Utilizámos os modelos
da OpenAI e aprendemos a trabalhar esta tecnologia,
com um grande investimento na parte do negócio”. Os
impactos diretos foram imediatos: garantir uma análise
mais completa num tempo mais curto, via assistente
conversacional; resposta com uma maior qualidade e
consistência, com redução do número de reincidências;
alavancagem do conhecimento para as novas iniciativas.
Já o PREDIS 3.0 está na sua 3ª geração. “É um modelo
crítico para a empresa, porque permite antecipar o que
vai acontecer na rede e ter ferramentas para resolver.
Num contexto de transição elétrica, com um aumento de
consumo de energia e um aumento de produção muito
distribuída e de fontes renováveis, ter a capacidade de
saber o que vai acontecer é crítico. O desafio, mais do
que a componente de machine learning, foi o big data.
Estamos a falar de mais de 14 biliões de dados”, destaca a
responsável, que diz que em termos de perdas da rede já
há uma redução de 10%”
CASO 4
HPE & SENSEI | A MUDAR A
FORMA COMO O MUNDO COMPRA
ATRAVÉS DA IA
CASO 5
CGI | AI HEAD ANALYSIS
A SENSEI APOSTOU NUMA revolução no retalho, com a
criação de lojas automatizadas, tanto em Portugal como
noutros mercados, sem caixas e impulsionadas por dados,
através da implementação de soluções avançadas de visão
computacional, adaptadas especificamente para o retalho.
Para processar a informação nas lojas, fez uma parceria
com a HPE. Para Rita Ribeirinho, Marketing manager da
HPE, a solução tecnológica encontrada não foi simples. Até
porque “não é um caso comum, é um negócio completo
que foi baseado em IA e em engenharia portuguesa, com
criatividade”. O segredo do sucesso assentou na equipa da
Sensei e no trabalho em conjunto, numa “verdadeira relação
de parceria”. É que se trata de “assegurar computação
superpotente e resiliente, baseada em processamento gráfico,
com baixa latência e soberania e privacidade dos dados.
Perante estes requisitos, a solução passa por cada loja
autónoma ter o seu data center dedicado, com conetividade
feita pela HPE”. Na perspetiva de Vasco Portugal, CEO e cofounder
da Sensei, o que se fez foi “criar uma tecnologia que
permita ao retalho ser autónomo”. Diz mesmo que “o que
a IA comporta é uma mudança de paradigma. Trouxe duas
coisas: visão computacional, que permite às máquinas conseguirem
interpretar e tomar decisões sobre coisas do dia a
dia; e a introdução dos LLMs, para processar uma quantidade
infinita de dados e a comunicação com as máquinas em
linguagem natural. É a tecnologia ubíqua dentro do nosso
contexto. Estamos a falar de tecnologia que funciona por si
só”. A melhoria da experiência de compra dos clientes, com
pagamentos sem atritos, precisão de cesto de compras superior
a 99% e total visibilidade das atividades dos clientes
em loja, bem como o aumento da eficiência das operações,
através da monitorização em tempo real do stock nas prateleiras,
foram já resultados alcançados.
AS HEMORRAGIAS CEREBRAIS são acidentes vasculares
cerebrais potencialmente fatais, que requerem tratamento
imediato. E os desafios atuais no diagnóstico incluem
a interpretação complexa das imagens e a escassez de
recursos de radiologia, especialmente em emergências.
Para endereçar o problema, o HUS Helsinki University
Hospital juntou-se à CGI e à Planmeca. “A solução encontrada,
única e revolucionária, envolve o tratamento dos
dados e a aprendizagem do algoritmo de IA, o que é um
processo longo e com um vasto ciclo de testes. A plataforma
que foi implementada pretende ter um diagnóstico
rápido e correto deste tipo de problema. Porque existem
casos que, se não forem detetados rapidamente, provocam
a morte do paciente. É fundamental ter o apoio ao
diagnóstico”, comenta Paulo Pena, director consulting
da CGI. Assim a AI Head Analysis é uma ferramenta de
IA que permite analisar as TAC (tomografias computorizadas)
da cabeça em tempo real, para detetar os tipos
mais comuns de hemorragias cerebrais não traumáticas.
O gestor explica que já deteta três das cinco tipologias
destas hemorragias, “correspondendo a 99% das hemorragias
cerebrais agudas não traumáticas. Olhando para a
solução como um todo, tem um grau de precisão de 98%
nesta fase, uma deteção de negativos quase a 100% e
um grau de sensibilidade superior a 87%”. Adianta ainda
que “nesta fase, está a correr um piloto de usabilidade no
Hospital de Helsínquia. O próximo passo será a comercialização
aos hospitais e fabricantes de equipamentos. Mas
destaca que o “tempo de desenvolvimento de projetos de
IA na área médica é bastante prolongado, pela necessidade
de aprendizagem e correção dos algoritmos e pelo
tratamento de dados feita in-house, que são submetidos a
um processo de anonimização e de despersonalização”.
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em destaque
CASO 6
NOS & ACCENTURE & PESTANA|
INOVAÇÃO EM HOTELARIA E
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
paralelo, foram revistos e otimizados os processos, com
integração entre front/middle offices e implementado um
Value Realization Office para instalação e monitorização
de iniciativas de melhoria contínua. À NOS, segundo o seu
administrador, Manuel Eanes, cabe “integrar as diversas
componentes da solução: infraestruturas, comunicações,
plataforma e serviços. Garantimos que estas diferentes
peças funcionam em conjunto”. E não tem dúvidas de que
“estamos perante uma revolução gigante. Com a IA generativa
podemos perspetivar uma mudança dramática das
interfaces, passando a ter assistentes que nos vão ajudar
na nossa vida. Para as empresas é um desafio e uma
oportunidade gigante”. Uma perspetiva partilhada por
Vasco Costa, managing director da Accenture: “A IA vai ter
um impacto significativo na forma de fazer negócios, na
sociedade e no trabalho. Já temos mais de mil projetos
em GenAI e a área de contact center e de serviço ao cliente
é aquela que tem maior maturidade para avançar com a
tecnologia”.
CASO 7
GOOGLE CLOUD & CUF | MEDLM
- GENERATIVE AI IMPACT ON
HEALTHCARE
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O GRUPO PESTANA ESTÁ PRESENTE em 16 países, detendo
mais de 100 hotéis, divididos em quatro marcas
distintas. Com a enorme transformação nos últimos 20
anos e a transição do analógico para o digital, tudo está a
mudar. João Machado, executive committee member do
grupo, diz que “cerca de 70% das reservas do setor vêm
de canais online, seja através de plataformas mundiais,
seja dos canais diretos do grupo”, realidade que “obrigou
a uma alteração completa na forma de trabalhar.
Temos necessidade de ter competências tecnológicas
muito vincadas e de trabalhar as mesmas variáveis que
as grandes plataformas de turismo, conseguindo taxas
de conversão para aumentar as receitas”. Acresce a nova
dinâmica dos preços, cada vez mais last minute e em
constante mudança, em função da oferta e da procura.
Para transformar o núcleo de atendimento ao cliente e
vendas, através de uma co-parceria da Accenture com a
NOS e a Talkdesk, implementaram uma nova plataforma
omnicanal de atendimento ao cliente (IVR/telefonia,
e-mail, chat) suportada por uma arquitetura de dados. Em
AGREGAR A INFORMAÇÃO DISPERSA por vários sistemas
corporativos e os dados dos HR (electronic health records)
dos pacientes, assim como assegurar uma melhor gestão
da elevada carga administrativa e da fadiga do pessoal
clínico, eram desafios a endereçar na CUF. Que pretendia
ainda assegurar um suporte inteligente à tomada de
decisão. Feito o diagnóstico, foi desenvolvida uma solução
que utiliza o modelo de IA generativa da Google, o
MedLM. De acordo com Ana Seabra Brito, care solutions
lead and specialist da CUF, o grupo “tem vindo a fazer
um projeto grande de transformação, para passar a ter
novas ferramentas que são “colegas” dos médicos e dos
profissionais da CUF. Destaco os projetos para arrumar a
casa, que foram muito importantes neste processo. Com
fichas únicas dos clientes, um arquivo único e a migração
do histórico clínico para um formato que permite a
utilização de algoritmos de IA”. Mais: era fundamental ter
um “algoritmo em constante atualização. A lógica é descobrir,
criar em conjunto, prototipar e entrar em produção.
Dando aos médicos ferramentas muito potentes para
ajudar nas consultas. Fomos à procura de parceiros e
soluções que nos garantissem a obtenção dos resultados.
Este tipo de ferramentas traz mais eficiência, exatidão
e detalhe clínico”. Renato Gomes, account executive da
Google Cloud Portugal, explica que “a iniciativa-chapéu
Google Health visa pensar a saúde como um todo. É uma
das áreas que será mais impactada pela IA generativa.
Temo-nos aperfeiçoado nos dois últimos anos e criado
modelos altamente especializados de saúde, porque têm
um impacto brutal. Tudo se baseia em modelos precisos,
baseados em dados que são relevantes no tempo. O que
é que vem a seguir? O facto de serem modelos multi-modais
permite uma vasta gama de aplicações”.
CASO 8
AWS & OUTSYSTEMS | SALES.
AI - ACTIONABLE SALES INSIGHTS
GENERATED IN CRM THRU GEN AI
AUMENTAR A PRODUTIVIDADE das equipas de vendas,
ajudando a identificar melhor as oportunidades e a criar
uma maior interação com os clientes, era o objetivo da
Outsystems. “Temos um ecossistema gigante de software
na empresa, o que torna difícil saber tudo o que se
passa internamente. Para endereçar o problema criámos
o myOutsystems: permite pedir ajuda, com o sistema a
fornecer toda a informação disponível, para o vendedor
dar uma resposta o mais certa e rápida possível. É um
dos casos que estamos agora a experimentar com cerca
de 100 pessoas”, explica Rodrigo Sousa Coutinho – AI
product manager da Outsystems. A implementação do
Sales.AI trouxe “personalização e costumização. Garantindo
uma experiência única ao cliente, baseada nas
suas preferências. Para tudo isto funcionar, é impossível
assentar apenas em pessoas. Temos de ter os mais avançados
mecanismos de IA para assegurar a automatização”,
acrescenta André Rodrigues, country lead Portugal
da AWS. Para quem a aprendizagem retirada dos “clientes
que usam tecnologia de IA em cima da AWS é a de que
todos pedem escolha. Não há um modelo único que
enderece todos os use cases”. A Outsystems usa a IA para
use cases internos, mas também para dotar os seus produtos
de IA de forma embebida. Depois de implementada
a solução, que foi incorporada nos processos de venda da
tecnológica, já é visível uma melhoria da qualidade dos
dados, estando entre 70% e 90% das oportunidades centralizadas
e com informações de alta qualidade. Agora, a
Ousystems está a experimentar a IA em várias áreas, com
os modelos da AWS.
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em destaque
CASO 9
SALESFORCE & PORTA DA
FRENTE (CHRISTIES) | OTIMIZAR
GESTÃO DE CLIENTES E PROCESSOS
Salesforce foi fundamental para assegurar uma resposta
muito rápida. Diz que a solução tornou “as campanhas
de marketing mais eficientes, ao detalhar tudo a todo o
momento. Somos muito mais rápidos e eficazes em chegar
ao cliente e a transformar a lead em negócio”. Tiago
Machado, sales manager da Salesforce, adianta que a
imobiliária já adota as soluções da empresa: “A contribuição
que fazemos tem a ver com a possibilidade de vender
mais e de forma mais eficiente, para terem uma maior
margem”. Sendo que “um projeto de transformação exige
tecnologia, processos e pessoas. Os processos têm de ser
muito orientados ao negócio e as pessoas têm de estar
treinadas em tecnologia. A gestão da mudança é muito
importante e ainda persiste alguma entropia, relacionada
com o mindset”.
CASO 10
CAPGEMINI & E-REDES|
METADATA COLLECTOR – PVNO
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O OBJETIVO DA PORTA DA FRENTE, imobiliária com um
serviço personalizado, foi otimizar a gestão de clientes
e os processos internos. Recorreu à Salesforce para encontrar
uma solução para uma integração mais eficiente
entre as diferentes áreas, melhorando comunicação e
gestão de dados. Esta visão unificada permitiu obter um
impacto significativo na forma de lidar com clientes e na
gestão de imóveis, além do reforço da eficiência operacional.
“O projeto tem três anos e já está implementado.
Implicou uma transformação cultural e processual que
ainda está a decorrer. Estamos a meio do processo,
tendo em conta todo o potencial de coisas que podemos
fazer em cima desta solução. Há custos de mudança, pois
as próprias lideranças têm medo e falta de informação,
quando o processo tem de ser liderado por elas e ser
estratégico”, refere João Cília, CEO da Porta da Frente
(Christies). Num mercado altamente competitivo e com
clientes mais exigentes, “é fundamental as mediadoras
serem as primeiras a chegar ao cliente. É aí que se
centra a competição”, acrescenta, assegurando que a
O DESAFIO ERA ULTRAPASSAR as ineficiências e falhas nas
comunicações que impactam negativamente o abastecimento
de energia elétrica e reforçar a digitalização da
cadeia de valor do Sistema Elétrico Nacional. Para João
Galamba Oliveira, mission critical platform advisor da
E-REDES, “a resiliência da rede elétrica é cada vez mais
essencial, para garantir o equilíbrio entre produção e
consumo. E já é possível, com redes inteligentes com
capacidade para gerir a situação. São sistemas que falam
entre si para permitir uma gestão equilibrada de um
sistema de gestão avançado e conectado”. Assim, foi
criado um PVNO (Private Virtual Network Operator), num
modelo inclusivo, que permite a participação simultânea
dos operadores nacionais do serviço móvel terrestre. “A
verdade é que as redes elétricas e de telecomunicações
estão profundamente interligadas. Com a transição que
queremos fazer para o 5G também estão envolvidos com
este caso de uso muito particular, que é a gestão da rede
elétrica. Queremos uma rede para ambientes industriais,
tudo a funcionar em 5G, com garantia de fiabilidade de
resiliência”, acrescenta o responsável da E-REDES. Para
Pedro Corista, technical coordinator for energy and utilities
da Capgemini, o que se construiu foi uma plataforma
aberta para “fazer a monitorização de todos os insights
que chegam à rede elétrica. O que implica colocar uma
camada analítica em cima dos dados e saber como
endereçar um grande volume de dados. Utilizamos IA e
algoritmos de machine learning sem nenhuma interação
humana, que detetam padrões de mudança e problemas
na rede. Este é um sistema resiliente, que garante que
tudo funciona corretamente. Conseguimos saber o que
está bem e mal, dando a informação às equipas do terreno
para os resolver”.
CASO 11
AXIANS & PANIKE | INDÚSTRIA
4.0 POWERED BY IA
A SOLUÇÃO DE MANUTENÇÃO PREDITIVA, assente em IA,
identifica pontos de melhoria, sustentabilidade, qualidade
do produto e menos paragens na produção, nas linhas da
Panike. Daniel Teixeira, operations director da empresa
que fabrica produtos de padaria e pastelaria congelada,
destaca que num cenário de um mercado altamente
competitivo, foram realizados investimentos em linhas de
produção automáticas e em sistemas de monitorização.
“Já temos uma plataforma a nível de dados muito fiável
e importante, com controlo da gestão e da operação.
A parceria com a Axians deu-nos a oportunidade de ir
mais longe: através da IA, analisar toda a informação
recolhida online para entender melhor as oportunidades
de melhoria que nos escapam. O projeto foca-se essencialmente
em linhas de produção, para ganhar qualidade
e garantir menos consumo energético”. Nuno Antunes,
account manager manufacturing and services da Axians,
considera que “a Panike simboliza o que é a inovação na
indústria. Tudo se deve ao investimento que tem vindo a
fazer nas linhas de produção e na inovação nos processos.
Renovou o mercado do pão, com a necessária capacitação
em tecnologias”. Sobre o projeto em concreto,
João Domingues, Innovation lead da Axians, explica que
tudo começou com a linha de produção que tinha mais
maturidade: “Identificámos que havia 42 dias onde não se
produzia. Olhando para os dados e trabalhando com modelos,
conseguiu-se um aumento de capacidade produtiva
de 15%. Estamos a falar de uma linha e a Panike tem
15”. Foi também criado “um digital twin para, em ambiente
de simulação, ser usado diariamente em iniciativas de
poupança energética. E identificámos a necessidade de
ter uma visão holística da performance das linhas, sendo
desenvolvida uma aplicação que mede em tempo real
a informação, para avaliar a sua performance, produção
e centros de trabalho. Trará uma grande capacidade de
decisão em tempo real”.
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em destaque
CASO 12
NTT DATA & EDP | IDENTIFYING
FISH WITH DEEP LEARNING IN
PORTUGUESE DAMS
dados em si, muito variados, as diferentes câmaras que
existiam e as características de cada barragem. A análise
por IA tornava-se muito complexa. O projeto funcionou
com dados específicos fechados, para os quais foi criado
um robô que os converteu, seguido de um processo de
preparação. O passo seguinte foi encontrar o modelo correto
e treiná-lo, porque havia que processar muitas horas
de vídeo. Depois, passou-se à implementação do modelo
no ecossistema e ao treino das equipas. A solução está já
em três barragens, com o objetivo de catalogar e identificar
peixes e ver se está tudo bem. A IA é usada como
analítica de vídeo, sendo altamente exponencial a sua
utilização para escalar para outras barragens. É uma solução
que nos dá asas, para encontrar outras utilizações”,
remata o responsável da EDP.
CASO 13
MEO EMPRESAS &
UNIVERSIDADE LUSÓFONA
| ASSISTENTES VIRTUAIS NO
ATENDIMENTO
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DIGITALIZAR O PROCESSO DE monitorização da passagem
de espécies aquáticas que anualmente sobem o rio Douro
e atravessam barragens já é uma realidade, através
do FishNet. O projeto utiliza aprendizagem automática e
algoritmos de IA para detetar e contar automaticamente
cada espécie e reportar as populações aquáticas que
vivem no rio e está alinhado com o compromisso de
promover soluções inovadoras e sustentáveis. “Fomos
desafiados a desenvolver a solução pela EDP Produção,
que detém dentro do grupo EDP as barragens. Estas
têm as eclusas de peixes, mecanismo que assegura que
a biodiversidade de todo o ecossistema está garantida.
A empresa tem a obrigação legal de monitorizar e de
reportar que tudo está a funcionar, sendo que o trabalho
era feito por biólogos de forma manual, a partir de vídeos
de muitas horas do fundo das barragens, que implicava
ainda categorização de espécies”, explica Tiago Moura
Antunes, head of Global Digital Factory da EDP. Mas como
é que se iria olhar para os dados, automatizar o processo
e torná-lo eficiente? Para José Varela, AI evangelist da NTT
DATA Portugal, “um dos desafios foi a dificuldade dos
LIBERTAR OS ASSISTENTES HUMANOS de algumas tarefas,
reduzir custos e disponibilizar atendimento 24/dia aos
alunos foi a visão que a MEO Empresas apresentou à
Universidade Lusófona. “Todos os players estão a desenvolver
com a IA conceitos e análises, para trazer ao país
mais-valias e competitividade. E colocar a tecnologia ao
serviço dos clientes. Desafiámos proativamente a Lusófona
para uma prova de conceito com assistentes virtuais,
para ganhar maior capacidade de resposta em atividades
rotineiras”, explica Rui Felício, diretor comercial da MEO
Empresas. “O desafio da MEO surgiu numa altura de
reorganização de serviços. Percebemos que perdíamos
muitas chamadas em certas alturas do ano, mesmo com
reforço da equipa. Era complicado dar resposta a candidatos
e alunos. A escolha foi óbvia, com a implementação
do use case de informação de candidaturas. Libertámos
os operadores para outras tarefas mais complexas que
requerem a intervenção humana. O boot facilita muito,
liberta-nos e dá uma resposta muito mais rápida. Há 40%
de taxa de sucesso”, explica Rita Freitas da Costa, coordenadora
do SIGA (Serviço Integrado de Gestão de Alunos)
da universidade. Agora, “estamos no caminho para usar
o use case na otimização de outros processos. Ainda estamos
numa fase muito embrionária, pois foi uma prova
de conceito. Mas já temos uma equipa multidisciplinar.
O grande objetivo vai ser a MEO ensinar-nos a treinar
os boots de atendimento. Será um processo longo e de
forma faseada, seja no canal de voz, seja para avançar
para o chatboot, com uma ligação através de APIs à nossa
central de ajuda”, acrescenta.
CASO 14
CTT | ASSISTENTE VIRTUAL
HELENA
Oliveira, diretor de Transformação do operador postal.
“Queríamos ser os primeiros na IA generativa. É um novo
paradigma que se abre, com um assistente que permite
mais produtividade. O desafio foi saber como testar a solução,
pois tínhamos milhares de perguntas formuladas
e respostas, e de saber como dar resposta a clientes que
fazem questões muito incompletas”, acrescenta. Cláudia
Serra, diretora de Apoio e Voz do Cliente dos CTT, não
tem dúvidas de que “a Helena veio marcar a diferença
no volume de procura por parte dos clientes. Há mais de
2,5 mil interações por dia de assistência virtual. Tivemos
ainda melhorias imensas em termos de satisfação dos
clientes. E internamente, nas equipas, houve ganhos
enormes. Até recorrem à Helena para darem respostas
mais completas aos clientes, tornando mais célere o
atendimento humano”. Agora, garante que “queremos
que vá muito além, com novos serviços. Dando a mesma
experiência aos clientes nos vários canais. Começámos
pelo chatboot, mas não por voz. Queremos avançar
para a voz e expandir ao Facebook e Instagram, pois já
estamos no WhatsApp. Há um potencial enorme e muito
caminho pela frente”, assegura. Diogo Oliveira remata:
“Nos CTT, queremos apostar muito em IA. Este ano, definimos
uma estratégia para construir as fundações, como
ter uma arquitetura de referência e garantir a qualidade
dos dados, pois não há IA sem dados. Estamos também
com a componente das novas regras do IA Act, para o
qual temos de nos preparar. E a apostar na capacitação
das pessoas, para terem um pensamento mais disruptivo,
para tirarem todo o proveito da tecnologia”.•
CHAMA-SE HELENA E É O NOVO assistente virtual dos CTT.
É ainda um “caso de uso, live há 11 meses, para apoio
direto ao cliente final. A solução tem quatro componentes:
recurso ao ChatGPT, um knowledge base específico,
promping e orquestração, para garantir a transacionalidade,
com pesquisa aos sistemas na resposta”, afirma Diogo
REPORTAGEM:
https://www.apdc.pt/iniciativas/agenda-apdc/evolve-ai---
digital-transformation-summit
VÍDEO:
https://www.youtube.com/watch?v=cPNhBcZ4Hio&t=8s
FOTOS:
https://www.flickr.com/photos/apdc/albums/72177720321038492/
37
itech
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PEDRO TAVARES:
Como o ar
que respira
Não teve a disciplina na escola, nem pessoas na família que
o influenciassem, ou sequer um amigo próximo que o puxasse
para as telecomunicações. Simplesmente aconteceu interessar-
-se por tudo o que tivesse a ver com essa área. No secundário,
Pedro Tavares já sabia o que queria ser quando fosse grande.
Texto de Teresa Ribeiro | Fotos Vítor Gordo/ Syncview
Como é que o lead partner EMEA
Telecom Engineering Centre of
Excellence da Deloitte explica
uma tão clara vocação que aparentemente
lhe nasce de geração espontânea?
Diz que tudo tem a ver com
o gosto pela comunicação: “Sempre
gostei de comunicar, de falar com as
pessoas. A partir do momento em
que comecei a perceber que havia
formas de o fazer para universos
bem mais distantes do que o meu
grupo de amigos ou a minha sala de
aulas, apaixonei-me”. Auto-diagnostica-se
com a firmeza de quem sabe
do que está a falar: “Até hoje mantenho-me
completamente apaixonado
por redes de cabos submarinos, que
permitem ligar continentes, e redes
de comunicação via satélite que,
inclusivé, permitem comunicar para
outros planetas”.
Claro que quando chegou a hora
de escolher o curso, no início dos
anos 90, inscreveu-se em Engenharia
Eletrónica e de Telecomunicações
da Universidade de Aveiro. Porque
além de querer saber, desejava, mais
que tudo, aprender a fazer: “Era um
doer. Ainda hoje sou. Gosto muito de
power points, mas gosto ainda mais
de fazer acontecer”.
Em miúdo uma das primeiras coisas
que fez, foi um sistema de receção
de rádio FM. Podia ter comprado
uma telefonia na loja, mas dava-lhe
muito mais prazer fazê-la, por isso
adquiria os kits e depois era só seguir
as instruções. Soldava as peças,
sintonizava e o milagre acontecia:
“Ouvi muitos relatos de futebol em
dispositivos que fui eu que fiz”, descreve
com a naturalidade de quem já
contou a história muitas vezes.
Quando entrou na faculdade, as telecomunicações
faziam-se por fibra
ótica, com velocidades muito baixas,
mas para quem estava habituado
a ouvir falar de telecomunicações
por cabos de cobre, muito grossos e
difíceis de trabalhar, ter a capacidade
de transmitir informação através
de luz e por cabos com o diâmetro
de um fio de cabelo, era fascinante.
Lembra-se da euforia que foi quando
concluiu, com colegas, uma ligação
de dois megabites entre Lisboa e
Madrid.
Hoje, que tem acesso a tecnologia de
ponta, vive intensamente aquilo que
faz: “Acho que não trabalho. Acho
que estou permanentemente em
férias, porque gosto tanto daquilo
que faço, que não sinto o trabalho
como uma obrigação. O ‘não me
apetece trabalhar’ é um estado de
espírito que praticamente não existe
na minha vida”.
Há coisas que o distraem do trabalho?
Sim. Nas férias gosta de viajar
para os locais – ainda restam alguns
– que não conhece, imergir em
culturas diferentes, fazer experiências
empolgantes, como foi a de
subir a montanha da ilha do Pico:
“Ter a possibilidade de acordar com
os primeiros raios de sol, sob um frio
louco e perceber que apesar de ter
50 anos ainda há muito para viver…”,
comenta, ao reviver esses momentos.
Apesar de ser um defensor convicto
da transformação tecnológica, por
tudo o que traz de positivo à vida
das pessoas e à sociedade em geral,
Pedro Tavares admite que chegámos
a uma etapa do desenvolvimento
onde é legítimo colocar algumas
interrogações: “Porque conheço as
tecnologias, algumas com muito
detalhe, sei qual é o impacto das
mesmas se usadas de forma descontrolada.
Assistimos recentemente
ao lançamento do processador
quantum da Google, o Willow, que
consegue resolver em cinco minutos
um problema que por outra via demoraria
a resolver mais tempo que a
idade do universo. Isto pode implicar
capacidades de desencriptação de
chaves que utilizamos para aceder,
por exemplo, a silos nucleares”…
Nesta fase do conhecimento ainda
temos “the man in the middle”, mas
isso vai deixar de acontecer mais
breve do que se pensa, acredita
Pedro Tavares. Quando essa for a
realidade, ficaremos mais vulneráveis
face ao potencial das novas
tecnologias, nomeadamente da IA.
Preocupante? Certamente. Mas o
partner da Deloitte é um otimista e
confia que a inteligência humana vai
estar à altura destes desafios.•
A brincar com carrinhos? Não. Esta é
apenas a face visível de um projeto
que está a desenvolver para o 5G,
no Telecom Engineering Centre of
Excellence da Deloitte, em Lisboa
Usa o Thinkpad desde sempre. Gosta
dele por ser leve e ter uma bateria
com elevada autonomia, duas grandes
vantagens para quem viaja muito
Admirador da Apple desde o tempo em
que Steve Jobs reinava, tem-se mantido
fiel ao iPhone. Neste momento tem o 15.
Em regra salta uma geração, por nunca
lhe reconhecer vantagens incrementais
suficientes. Por isso não tem dúvidas
de que se tornará um early adopter do
iPhone 17
39
negocios
PROJETO
DE MUNDO
De ambição em ambição,
o projeto foi crescendo. Nos
últimos dois anos, já como
Unicorn Factory Lisboa,
conheceu um desenvolvimento
sem paralelo. Agora, este
ecossistema de inovação
da cidade e do país quer ganhar
asas. Para a Europa e para
o mundo.
TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW
40
41
negocios
42
Começou em 2012, como incubadora de empresas,
e desempenhou um papel central na dinamização
do ecossistema de empreendedorismo
lisboeta. Numa década, a Startup Lisboa deu
origem a mais de 400 startups, que criaram 4.500 postos
de trabalho e levantaram 340 milhões de euros de investimentos.
O projeto foi redefinido em 2022, como
Unicorn Factory Lisboa, e ganhou uma nova ambição:
tornar-se num pilar do ecossistema empreendedor nacional
e posicionar a cidade e o país como um centro
europeu de inovação.
Dois anos volvidos, os resultados estão à vista.
Alargou atividades muito além das startups, abrangendo
o apoio às scaleups
na sua expansão internacional,
a captação de
empresas estrangeiras, o
empreendedorismo jovem
e três innovation districts,
onde já criou quatro centros
de inovação em áreas
de elevado potencial, incluindo
a IA. O futuro?
Crescer ainda mais, entrar
em mais áreas e começar a
funcionar em rede ao nível
europeu, abrindo caminho a uma verdadeira internacionalização
da inovação portuguesa.
Gil Azevedo foi desafiado pelo presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, que lidera o novo executivo camarário
desde outubro de 2021, a encabeçar a “nova”
Unicorn Factory Lisboa. A visão foi a cidade “poder
afirmar-se como um dos grandes centros de inovação
ao nível internacional”, passando de um programa de
incubação de startups numa fase inicial, que apoiava
entre 50 a 70 projetos por ano, para um “um projeto
de mundo”.
Foi esta ambição de uma nova escala que convenceu
o gestor a aceitar o cargo de diretor executivo, que
assumiu em maio de 2022. Também ele um homem do
mundo – era desde setembro de 2015 senior vice president
e head of Consummer Banking do Emirates Isla-
A visão é posicionar
a cidade como um
dos grandes centros
de inovação ao nível
internacional
mic e antes disso esteve cerca de 11 anos ligado à Mckinsey,
onde chegou a associate principal – acreditou
desde o início que se tratava de um projeto que “ajudaria
o país como um todo” e abriria novos horizontes.
E nestes menos de dois anos, já “foram dados passos
importantes. As comunidades internacionais que
andamos a trazer e a atrair para Portugal têm-nos ajudado
a ter outras perspetivas. Temos de ser capazes de
olhar mais para fora e, com isso, beneficiar cá dentro.
Não nos podemos fechar e acharmos que fazemos tudo
melhor”, afirma Gil Azevedo. Para quem a “grande
missão da Unicorn Factory Lisboa é posicionar a cidade
e Portugal – porque somos muito pequenos como
um todo e não nos podemos dividir – como um dos
motores de inovação ao nível internacional. Ao mesmo
tempo, fazer com que a inovação seja também um motor
para o país e a cidade. Há um duplo papel positivo
que a inovação pode ter”.
DA INCUBAÇÃO AO
ECOSSISTEMA
Hoje, o projeto tem pelo
menos cinco áreas distintas
de atuação e em 2025
deverá avançar para uma
sexta, a da inovação social,
apostando-se na forma
como se poderá usar
a inovação para também
resolver os problemas da
sociedade. Mas nestes últimos
dois anos, esteve a acelerar em todas as frentes.
A começar pela área que “herdou” da Startup Portugal,
a incubação de projetos numa fase inicial. Este programa
foi objeto de um grande reforço, no sentido de ganhar
cada vez mais capacidade e os resultados estão à
vista: em 2024, foram apoiados cerca de 260 projetos,
quando dois anos antes se apoiavam entre 50 a 70 projetos
por ano.
Foi também criado um programa de scaleups, para
startups já em fase de expansão internacional. “Criámos
o que é o único programa em Portugal para estas
empresas, que já têm um produto, uma equipa, receitas,
financiamento e que estão a iniciar ou já iniciaram
a sua expansão internacional. A meta é ajudarmos nesse
passo, para terem um crescimento acelerado, mas
também mais sustentado”, explica Gil Azevedo.
A terceira área onde, entretanto,
se avançou foi a internacional,
destinada a apoiar projetos
estrangeiros a instalarem-se
em Lisboa. A missão passa por
ajudar estas empresas nas múltiplas
áreas, desde a burocracia,
a integrarem-se num ecossistema,
até encontrarem um espaço
físico. No total, a Unicorn Factory
já ajudou 70 startups internacionais
desde 2022, das quais
15 são unicórnios. Juntas, são
responsáveis pela criação de cerca
de 15 mil postos de trabalho.
Na perspetiva do gestor, há
pelo menos três razões para as
empresas internacionais se instalarem
em Portugal. A começar
pelo talento e pela capacidade das camadas mais
jovens de falar inglês e interagir, passando pela cultura
portuguesa, muito aberta e recetiva a outras culturas,
e pela presença de um número significativo de projetos
relevantes e com escala no país. Mas destaca que
há também pelo menos dois problemas ao nível nacional
que terão de ser resolvidos, “para se perceber se,
de facto, a inovação é ou não estratégica para o país.
E é essencial e será cada vez mais o motor das economias”.
O primeiro reside, na sua ótica, numa “falta de
alinhamento entre poder central e local, entre governo
Gil Azevedo aponta a “falta de alinhamento entre o poder central e local, entre
governo e autarquias sobre a estratégia de inovação, que está hoje repartida entre três
ministérios” como algo que compromete o desígnio nacional
e autarquias, sobre a estratégia de inovação, que está
hoje repartida entre três ministérios e vários secretários
de Estado. Temos de ser capazes, se de facto queremos
apostar na inovação, de alinhar estrategicamente
o nosso poder político e de ter a capacidade de pensar a
uma só voz ao nível nacional”.
O segundo problema “tem a ver com a legislação
de atração de talento e de atração e desenvolvimento
de startups. Em Portugal, caímos muitas vezes no erro
das meias medidas, o que não nos permite crescer nem
expandir, porque não se resolvem os problemas. Quan-
43
negocios
“Ainda não se olha para a inovação como um todo”, lamenta o líder da Unicorn Factory Lisboa
44
do falamos no residente não habitual, em benefícios
fiscais para o investimento na inovação ou em vistos,
temos de ser capazes de fazer a aposta completa. Não
podemos continuar com meias apostas e navegar ao
sabor do vento”, alerta, garantindo que “se há área
consensual é esta. No arco da governação, todos olham
para a inovação e entendem que é essencial. Temos de
ser capazes de criar aqui um alinhamento que dê estabilidade
e ambição”.
Isso não acontece, por exemplo, na Estratégia Digital
Nacional anunciada recentemente pelo governo.
Para Gil Azevedo, há “algumas medidas relevantes e
positivas, mas ainda não se olha para a inovação como
um todo. Falta um corpo comum, necessário para nos
transformarmos num motor de inovação à escala internacional”.
Defende, por isso, que “temos de ser
mais ambiciosos, sendo capazes de consensualizar,
de encontrar uma plataforma que coloque a inovação
como um dos pilares de crescimento. O que significa
que, em vez de pensar em medidas soltas, tem de se
pensar em qual é a ambição e em quais as medidas necessárias
para a concretizar, numa lógica de longo-prazo
e não limitadas no tempo”.
MULTIPLICAR EMPREENDEDORES
A área do empreendedorismo jovem é uma aposta mais
recente, que resultou de um diagnóstico que mostrava
uma redução acentuada dos projetos empreendedores
nacionais, na sequência da pandemia e do pleno
emprego na área tecnológica. Assim, para “começar a
desenvolver uma mentalidade mais empreendedora
e inovadora”, foram lançados um conjunto de pro-
gramas destinados aos alunos do ensino secundário e
universitário. Permitem pôr os alunos entre os 14 e os
mais de 20 anos a “experimentar serem empreendedores”.
Um dos exemplos foi a criação de campos de férias
de Verão para alunos das escolas secundárias. Neles,
“fazem todo o percurso que faz um empreendedor,
desde identificar uma ideia, até estar à frente de investidores
e de parceiros a apresentar a sua ideia”.
Ao nível universitário, foi criada em 2024 uma Academia
Digital, com o objetivo de fazer chegar a milhares
de estudantes uma experiência empreendedora,
que começa num desafio, pensar uma ideia, estruturá-la,
validá-la e apresentá-la. Depois, completando a
Academia Digital, os melhores projetos são convidados
a participar em hackatons, onde num fim-de-semana
intensivo começam a desenvolver um protótipo
com a ajuda da Unicorn Factory Lisboa. Destes saem
os projetos que integram um programa de aceleração,
o Future Innovators Program.
A meta é agora, segundo
Gil Azevedo, aumentar
a dimensão destas iniciativas,
uma vez que a recetividade
“tem sido fantástica.
Em 2024 já chegámos
a 1.400 alunos e queremos
chegar a muito mais”, até
porque dados de Bruxelas
“mostram que 59% dos
alunos universitários portugueses
gostavam de lançar
a sua ideia de negócio,
mas que pela pressão de procurar um trabalho, da cultura
portuguesa em si, tradicional e conservadora, e do
medo de errar, não avançam”.
Nesta área, a Unicorn Factory Lisboa lançou também
em 2024 um programa de teste nas escolas primárias,
para pôr os alunos a trabalhar, em conjunto com
as famílias, a pensar em ideias e como é que podem
inovar. “Fizemos um programa com duas escolas públicas
do Beato, com os terceiros e quartos anos, em
que os desafiámos a pensar em como é que podem inovar
na escola. Juntaram-se em equipas, com os professores,
fizeram projetos e depois promovemos um Dia
da Família, em que cada grupo pôde apresentar o seu
projeto. Conseguimos pôr crianças de oito e nove anos,
A criação de hubs em
áreas promissoras de
grande investimento ao
nível internacional é uma
grande aposta
a falar em inovação, algo que é extraordinário. Para
2025, vamos reforçar muito também este programa,
com mais escolas e mais alunos no que chamamos ‘A
Minha Primeira Startup’”, salienta o gestor.
INOVAR COM POTENCIAL
Uma área central que foi, entretanto, também criada é
a rede de bairros e de hubs de inovação. Neste âmbito, e
além da localização inicial do projeto, no Beato, foram
criados outros dois bairros de inovação, em Alvalade e
no Saldanha. É neles que se situam os quatro hubs de
inovação já criados: o de
gaming (GamingHub), que
arrancou ainda em 2023,
e os de web3 (Web3Hub),
sustentabilidade (GreenHub)
e inteligência artificial
(AIHub), lançados já
em 2024.
Todos resultam de uma
aposta em áreas estratégicas
e o seu número poderá
aumentar já em 2025. Gil
Azevedo refere que “temos
de olhar para o futuro e os hubs vêm trazer visibilidade
em segmentos de elevado crescimento e investimento.
Podem assegurar que temos o posicionamento para
sermos uma referência a nível internacional. São setores
que já definem a tecnologia e que a vão definir, cada
vez mais, no futuro. Portugal, para se afirmar como
um grande player ao nível internacional, tem, de facto,
de ter uma presença forte nessas áreas e daí esta lógica
dos hubs verticais. Não temos a escala da Alemanha
ou da Inglaterra, já para não falar dos Estados Unidos.
Temos de ser capazes de dar visibilidade aos melhores
projetos e às áreas de maior potencial”.
Estes hubs visam impulsionar a inovação, acelerar
o crescimento, apoiar as startups e scaleups, promover
45
negocios
46
parcerias colaborativas e construir uma comunidade
cada vez mais vibrante. E não é por acaso que todos
contam com parceiros de referência. No GamingHub
participam a Fortis Games, APVP (Portuguese Game
Developer Association) e a Maleo, enquanto o Web3Hub
conta com a 3Comma Capital, Cuatrecasas,
Gaimin, Poolside, CV Labs e O Sítio. Já o GreenHub
tem como parceiros a Critical Software, Grupo Brisa,
Mota-Engil Renewing, Cleantech For Iberia, CML e a
MEO. E o AIHub, anunciado na Web Summit, em novembro,
conta com a Portugal AI Innovation Factory
(da Microsoft, Accenture e Avanade), Google, MEO e o
Center for Responsible AI.
O diretor executivo da
Unicorn Factory acredita
O próximo passo será a
internacionalização da
Unicorn Factory Lisboa. A
meta é começar a funcionar
em rede, ao nível europeu
que ainda há espaço para
criar pelo menos mais
dois hubs, tendo em conta
a dimensão da cidade.
Sendo que terão de reunir
três requisitos essenciais
para avançarem: serem
áreas muito promissoras,
de grande transformação
e investimento ao nível
internacional; onde exista
já um setor empresarial relevante;
e que tenham projetos de empreendedorismo
que queiram crescer. Áreas como a Saúde, Alimentar,
Segurança e até a Construção são as que apresentam
um maior potencial, na sua perspetiva, e onde o país
tem capacidade.
Mas, além destes “ingredientes”, terão ainda de se
encontrar os parceiros certos. “Se conseguimos ter este
entendimento com outras organizações que queiram
também co-investir connosco, vamos lançar. Portanto,
fica aberto o desafio ao mundo empresarial. Tem de
existir um encontro das partes, todas com o mesmo
objetivo”, acrescenta.
ESCALA PARA INTERNACIONALIZAR
Uma das apostas da equipa de Gil Azevedo é a conjugação
de esforços destes hubs com outros projetos similares,
de forma a aproveitar sinergias e ganhar escala
nacional. E dá o exemplo do gaming, onde já existem
outros polos, como o da Madeira e o do Porto. “Do nosso
lado, temos vindo a falar para ver como é que podemos
juntar esforços. Não queremos que Lisboa seja
o centro do gaming, queremos é funcionar à escala nacional
e em rede”, especifica, deixando claro que, “se
aumentou a consciencialização de que há que pensar
como um todo e não como uma pequena parte. Somos
um país que não tem escala para se dividir”.
Ainda assim e “perante o crescimento fantástico”
do projeto nos últimos anos, que apresenta agora uma
“dimensão muito interessante
ao nível nacional”,
o próximo passo será a internacionalização
da Unicorn
Factory Lisboa, num
“salto além-fronteiras”,
para ganhar uma escala
global.
“Quando me perguntam
como é que conseguimos
ter tantas áreas
ao mesmo tempo, tudo se
resume a conseguir criar
um ecossistema que tenha
escala internacional. Para isso, temos de abranger diferentes
áreas de atuação e criar as condições para o setor
privado conseguir desenvolver-se e afirmar-se. É esse
o nosso papel. Acima de tudo, apoiamos quem quer
inovar e aproximamos e agregamos a comunidade: investidores,
startups, empresas, universidades, multinacionais.
Juntamos todas partes, que têm cada uma um
objetivo diferente, mas que se complementam e fazem
um ecossistema. Essa é a nossa grande missão”.
Gil Azevedo tem ainda como meta para 2025 “começar
a funcionar também em rede a nível europeu.
Se existem fábricas de unicórnios ou organizações semelhantes
noutros países, como é que podemos trabalhar
em conjunto para facilitar a vida das startups e das
empresas que estão à procura de inovação? Este é um
modelo em que toda a gente ganha, porque a empresa
tem acesso à inovação feita noutros países, a startup
tem acesso facilitado a outros mercados e os investidores
têm acesso a mais startups e mais oportunidades
de investimento. Nada nos impede de começarmos a
trabalhar a nível operacional mais em rede”.
Mas este é, na sua perspetiva, um dos desafios com
que a União Europeia se confronta neste momento. É
que o ‘velho continente’, apesar de todos os esforços,
ainda continua com mercados distintos e fragmentados,
que são entre si muito diferentes, quer em cultura,
quer em língua e até mesmo em regulação.
“Uma empresa portuguesa ou uma startup, com um
projeto já testado e que funciona, que se queira expandir
para outros mercados tem muitas vezes de quase
começar do zero. Isso é voltar vários passos atrás. Nos
EUA ou na China isso não acontece. Tem de se caminhar
para um mercado único ao nível europeu”, comenta,
adiantando que já existe essa consciência por
parte da Comissão Europeia, mas que o problema é garantir
velocidade de implementação. O que acontece,
por exemplo, no mercado de capitais, onde “a Europa
está há mais de uma década a tentar criar regras comuns
e não o tem conseguido. Temos este desafio. Entendemos
todos o problema, mas temos de ser capazes
de identificar o que tem de ser feito e num tempo útil,
eficaz, que permita trazer resultados”.
Sobre o relatório de Mario Draghi sobre a competitividade
da UE, apresentado em setembro último, o
gestor está moderadamente otimista: “Tendo em conta
que não conheço ninguém que tenha dito que não
concorda com ele. Não temos capacidade de competir
a nível de inovação sozinhos, como países, com os EUA
ou a China. A única forma de criarmos um bloco inovador
à escala mundial é em conjunto”.
Acresce o problema do excesso de regulação que,
na sua opinião, “é um pau de dois bicos. Por um lado,
pode ajudar a desenvolver inovação. Mas, por outro,
acaba por restringir a capacidade de testar e a capacidade
de desenvolver novas ideias. Como na IA, que é
uma área muito sensível. Há receios, fundados, da Europa
regular sozinha. O que vai fazer com que as outras
geografias sejam produtoras de inovação e a UE consumidora
de inovação, porque os melhores projetos vão
para outras geografias com mais liberdade e mais graus
de desenvolvimento”.
Aliás, diz mesmo que “atualmente, a Europa já é
um consumidor de inovação. Temos o nosso Spotify,
temos a nossa SAP, mas as grandes empresas globais
são todas americanas e estão a aparecer mais chinesas.
Portanto, a Europa tem de avançar para a facilitação
responsável. Tem de criar linhas vermelhas, mas tem
de deixar a inovação acontecer, ir monitorizando e
vendo o que é necessário fazer para assegurar que não
há riscos desnecessários”.
A Unicorn Factory Lisboa é uma associação privada
sem fins lucrativos que tem como fundadores a Câmara
de Lisboa (CML), o Montepio e o IAPMEI. Em 2019,
juntaram-se a Delta, a Católica Lisbon e a Roland Berger.
O projeto tem hoje três grandes fontes de financiamento.
A principal resulta das parcerias realizadas
para os diferentes programas. Só no caso do Programa
Scaling Up existem oito parceiros estratégicos, além
dos parceiros específicos para cada um dos hubs de
inovação. Trata-se, como destaca o líder do projeto, de
“organizações líderes que vêem a importância da inovação
e de ter um ecossistema forte”. A CML, que até
2022 era o grande financiador, surge agora na segunda
posição, até porque “se estão a desenvolver capacidades
críticas para a cidade”. Depois, vêm as receitas dos
fees cobrados às startups envolvidas, já quase 300, assim
como dos espaços físicos para a instalação de projetos.•
47
BRAGA
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O
prémio europeu da Cidade Inovadora em Ascensão
celebra as cidades europeias que estão a
emergir como líderes em inovação, destacando
iniciativas que impulsionam o crescimento económico,
promovem o bem-estar social e criam soluções
sustentáveis para os desafios urbanos. Em Braga, projetos
como o Human Power Hub, um centro pioneiro
de apoio ao empreendedorismo social, e a dinamização
promovida pela Startup Braga foram dois dos fatores
decisivos para criar no município um ambiente onde
a inovação é algo que se respira: “A Startup Braga foi
recentemente reconhecida pelo Financial Times como
a sétima melhor incubadora da Europa, atraindo mais
de 400 milhões de euros em investimentos privados”,
frisa Ricardo Rio, com a ênfase de quem sabe que os
factos falam por si.
Além dos projetos de vanguarda, o autarca explica
que a governança colaborativa e o foco estratégico,
tanto no desenvolvimento
sustentável como na
internacionalização, fizeram
o resto, criando do
município uma imagem
que se começou a destacar
nos últimos anos: “Braga
já tinha sido semifinalista
em 2020, e esta distinção
acaba por coroar o percurso
que a cidade fez sobretudo
ao longo dos últimos
anos, de se assumir como
bastante pioneira em diversos domínios, de ser uma
das mais qualificadas em termos de estímulo ao desenvolvimento
económico e ao empreendedorismo a
nível nacional”.
Neste percurso, a principal chave para o sucesso de
Braga foi, frisa Ricardo Rio, o modelo de governança
colaborativa, transversal a todas as áreas: “Aquilo que
mais foi considerado como inovador foi a capacidade
que tivemos de construir um modelo em que todos
contribuem com as suas esferas de responsabilidade
para que os objetivos coletivos sejam atingidos”. Este
modelo inclui conselhos consultivos setoriais que reúnem
representantes da academia, do setor empresarial
Braga já tinha sido
semifinalista em 2020.
A recente distinção é
o reconhecimento da
evolução da cidade
e de organizações locais, promovendo um planeamento
estratégico conjunto e a articulação de diferentes
áreas. Uma forma de queimar etapas e alcançar resultados
que beneficiam todo o município nas mais diversas
vertentes.
Como nada se pode fazer sem talento, a evolução de
Braga para uma cidade inovadora é também resultado
de décadas de investimento em recursos humanos locais
e internacionais. A colaboração entre a academia,
os centros de investigação e as empresas possibilitou
este progresso: “A Universidade do Minho, por exemplo,
tem desempenhado um papel crucial desde a década
de 80, formando profissionais que hoje lideram
empresas de tecnologia
e impulsionando parcerias
com indústrias como
a Bosch Car Multimedia.
Esta última transformou-
-se num centro de investigação
e desenvolvimento,
empregando centenas de
mestres e doutorados em
tecnologias avançadas”,
refere o presidente da câmara.
Neste momento encontra-se
em desenvolvimento um outro projeto para
a criação de um novo centro tecnológico especializado
na área da Biotecnologia e Ciências da Vida, ligado à
Universidade do Minho, mas também ao Laboratório
Ibérico de Nanotecnologia (INL), importante referência
do pólo tecnológico de Braga.
Nos últimos anos o município viu chegar ao seu
território empresas como a ForVito, a Accenture, WebHelp,
Mercedes Benz IO, Nestlé Business Services,
Deloitte e naturalmente empresas tecnológicas como
a Edigma, a F3M e a Eticadata.
A criação da Invest Braga, a primeira agência de dinamização
económica de base local que surgiu no país,
Um momento que fica para a história da cidade: aquele em que é entregue a Ricardo Rio o prémio europeu há muito desejado
não foi alheia à aposta de muitas empresas naquela
região minhota: “Já tínhamos vários municípios a trabalhar,
de uma forma relativamente informal, a componente
do apoio à atração
de investimento, mas
acho que a Invest Braga foi
a primeira estrutura totalmente
profissionalizada
para apoiar as empresas
e atraí-las para determinado
território”, partilha
Ricardo Rio.
Isso fez toda a diferença,
porque ajudou a criar,
segundo o autarca, cerca
de dois mil postos de trabalho
por ano. Condição que abriu, como nunca antes,
a região ao mundo.
Com uma população jovem
e diversificada, Braga
tornou-se um destino
atrativo para investidores,
profissionais e estudantes
CIDADE JOVEM
Com uma população jovem e diversificada, que inclui
130 nacionalidades diferentes, a cidade de Braga tornou-se
um destino atrativo para investidores, profissionais
e estudantes: “Conseguimos entrar no radar
global e hoje somos um destino para investir, trabalhar
e viver com qualidade.
Cerca de 13 a 15% da nossa
população são cidadãos
migrantes. Formamos
uma comunidade muito
eclética, que abrange os
profissionais mais indiferenciados,
mas também
altos quadros técnicos, investidores
e profissionais
liberais”, afirma Rio. Essa
diversidade tem também
enriquecido a dinâmica da
cidade, uma das mais jovens do país, com 40% dos habitantes
com idade inferior a 30 anos.
Como não podia deixar de ser, o digital tem tido
um papel determinante no desenvolvimento do município:
“Temos os serviços municipais praticamente
todos digitalizados. Somos uma câmara em que, por
51
portugal digital
“Aquilo que foi considerado como inovador foi a capacidade que tivemos de construir um modelo em que todos contribuem com as suas esferas de
responsabilidade para que os objetivos coletivos sejam atingidos”, sublinha Ricardo Rio
52
exemplo, qualquer processo urbanístico é tramitado
integralmente por via digital. Há dez anos víamos
aqui carrinhos de compras com processos que eram
autênticas pilhas de papel
a circular nos corredores
(risos)”.
O projeto Bairros Comerciais
Digitais, que visa
promover a digitalização
da economia através da
adoção tecnológica por
parte dos operadores comerciais
recebeu a melhor
classificação de candidatura
a nível nacional: “Este
é um dos nossos projetos
mais impactantes, quer
do ponto de vista do tecido comercial, quer do ponto
de vista da articulação com várias outras entidades públicas
e mesmo do ponto de vista do apoio ao empreen-
O projeto Bairros
Comerciais Digitais
é um dos que mais tem
impactado a economia
local
dedorismo. Um dos verticais fundamentais da Startup
Braga sempre foi o das tecnologias da informação”,
comenta o presidente da Câmara Municipal de Braga.
A comunicação com
os cidadãos também está,
cada vez mais, alicerçada
no digital: “Hoje, qualquer
cidadão pode aceder às
nossas plataformas digitais
e tratar praticamente
todos os assuntos diretamente”,
confirma Ricardo
Rio. Projetos específicos
fortalecem esta relação.
Um exemplo é a iniciativa
que permite monitorar a
frequência de limpeza das
ruas e a recolha de lixos, promovendo maior transparência
nos serviços públicos. Desenvolvida por uma
startup local, esta solução reflete o compromisso da
A Startup Braga e a InvestBraga abriram o município
ao mundo, apoiando a inovação e atraindo talento
e investimento. Em cima, à direita, a imagem do
edifício do Laboratório Ibérico de Nanotecnologia, uma
referência no polo tecnológico da cidade
cidade em trabalhar com empresas inovadoras para resolver
desafios urbanos.
PROJETOS SUCEDEM-SE
Com a distinção europeia, as responsabilidades também
aumentam. Braga planeia diversificar a sua economia.
Projetos na área de eficiência energética e mobilidade
são prioridades, com iniciativas que otimizam
o consumo e a distribuição de energia. Além disso, a cidade
está a investir em soluções tecnológicas para melhorar
a qualidade de vida dos moradores, mantendo
um compromisso com a sustentabilidade e a inovação.
Na área da mobilidade, o município investiu em
transportes sustentáveis. Neste momento 70% da frota
já é movida a energia elétrica. Além disso, a cidade
tem expandido as ciclovias e os espaços pedonais, estimulando
alternativas de mobilidade. Mas em 2025
será lançado o novo sistema de transportes públicos,
com vias dedicadas. Financiado em 100 milhões de
euros pelo PRR, o projeto visa transformar a forma
como os cidadãos se deslocam. “Braga, infelizmente,
é uma cidade em que os cidadãos ainda usam o carro
como meio de transporte prioritário, mas nós queremos
ultrapassar o preconceito cultural em relação aos
transportes públicos, promovendo soluções que sejam
atrativas e sustentáveis”, explica Rio.
O caso de Braga demonstra como uma abordagem
integrada e colaborativa pode transformar uma cidade
num modelo de inovação: “Tornámo-nos um exemplo
reconhecido internacionalmente”, comenta o autarca,
com evidente satisfação. “Mostrámos como é possível
aliar tradição e modernidade para criar um futuro
sustentável e próspero”, sublinha.
Com iniciativas pioneiras, parcerias estratégicas e
um compromisso com a qualidade de vida, Braga continua
a trilhar um caminho de sucesso, inspirando outras
cidades ao redor do mundo.•
53
apdc news
JANTAR RESERVADO | MINISTRO DAS INFRAESTRUTURAS E DA HABITAÇÃO
Criar plataformas
de colaboração
A estratégia para as telecomunicações e o setor postal passa por ouvir todo o mercado e apostar na criação de
plataformas de colaboração. A mensagem foi do ministro das Infraestruturas e da Habitação, o orador convidado
de um Jantar Reservado APDC que decorreu a 2 de outubro.
Texto de Isabel Travessa
54
Fotos:
https://www.flickr.com/
photos/apdc/albums/
72177720320826774/
Neste encontro, Miguel Pinto Luz
também fez um balanço dos
últimos meses
O investimento no setor
ferroviário e os cabos
submarinos que ligam
o continente aos Açores
e Madeira foram temas
abordados
de governação, nomeadamente
sobre
as medidas que está
a desenvolver para
estas duas áreas
sob a sua tutela. O
trabalho que está a
ser feito nos setores
ferroviário e aéreo nacionais, assim
como o novo aeroporto de Alcochete
e as obras no atual aeroporto
Humberto Delgado estiveram em
debate. Assim como
a necessidade de
substituição dos cabos
submarinos que
ligam o continente
aos arquipélagos
dos Açores e da Madeira,
uma vez que
os atuais já chegaram
ao seu fim de vida útil.
Temas como a flexibilização e agili-
zação de processos e procedimentos
no âmbito do Estado e da economia,
o reforço do investimento estrangeiro
e o futuro da Europa num cenário
global de enormes mudanças, seja
ao nível político, seja económico ou
até mesmo social, também foram
abordados. Este formato de evento
Flexibilização
e agilização de
processos no Estado
e na economia é um
objetivo assumido como
fundamental
visa fomentar a partilha de ideias e
o estreitamento de relações, através
de um diálogo aberto e enriquecedor.
O objetivo é o reforço da colaboração
entre os intervenientes do
ecossistema. Foi o primeiro encontro
já realizado nas novas instalações da
APDC.•
55
apdc news
JANTAR RESERVADO | PRESIDENTE DA ANACOM
Mercado exige “regulação
ágil e dinâmica”
No âmbito das novas competências do regulador, definidas por Bruxelas, e tendo em conta a transformação
do mercado, as abordagens regulatórias têm de ser adaptativas e antecipatórias. Só isso assegura “regulação
ágil e dinâmica”. A garantia foi dada pela presidente da ANACOM, num Jantar Reservado APDC.
Texto de Isabel Travessa
Fotos:
https://www.flickr.com/
photos/apdc/albums/
72177720322489030/
Sandra Maximiano considera
ainda essencial assegurar que
os reguladores tenham as
funções, poderes,
A promoção do diálogo
contínuo com os
diferentes players é um
dos desígnios assumidos
pela presidente da
ANACOM
competências e os
recursos adequados.
Regular implica,
também, a promoção
de um “diálogo
contínuo com os
diferentes intervenientes,
essencial
para garantir que
as políticas adotadas acompanham
as necessidades e expetativas de
um mercado em constante transformação”.
Por isso, a presidente
da ANACOM - Autoridade Nacional
das Comunicações defende como
imprescindível “uma
abordagem colaborativa,
que envolva
as diferentes partes
interessadas, incluindo
o governo,
o meio académico
e a sociedade civil”.
Neste encontro reservado,
onde foi a
oradora convidada, salientou o papel
essencial que as comunicações assumem
no desenvolvimento económi-
56
co e social, num contexto de forte
transformação digital. Trata-se de
um setor que “fomenta a inovação
tecnológica e a criação de oportunidades
para empresas e cidadãos”.
Apresentando a sua visão sobre o
presente e o futuro do mercado, a
nova líder do regulador das comunicações
deixou claro que a ANACOM
está atenta aos desafios no domínio
das tecnologias. Tendo uma atuação
“fundamental para assegurar o bom
funcionamento dos mercados”, o
regulador favorece “o desenvolvimento
do ecossistema, fomentando
a conectividade gigabit e a inovação,
a segurança e a acessibilidade dos
serviços. E promove uma adequada
concorrência e o reforço dos direitos
dos consumidores”. Contribui
ainda, segundo a presidente da
ANACOM, para a coesão económica
e social do país, evitando a fratura
digital, quer ao nível da oferta e da
procura, quer das redes e serviços
de comunicações.•
57
apdc news
APDC & VDA | DIGITAL UNION: DESAFIOS DA GESTÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL
Avançar e depressa!
Se a gestão da propriedade intelectual já era um tema difícil, a aceleração tecnológica e as grandes mudanças
do mercado trouxeram novas camadas de complexidade. Há múltiplos desafios a endereçar e muitas dúvidas
por esclarecer.
Texto de Isabel Travessa
Reportagem:
https://www.apdc.pt/
iniciativas/agenda-apdc/
desafios-da-gestao-dapropriedade-intelectual
Vídeo:
https://www.youtube.com/
watch?v=8ZOuZ3dwZdg
Nos anos mais recentes, tudo se
alterou em torno do tema da
propriedade intelectual. É que
a inovação é agora o fator competitivo
e diferenciador
A Propriedade
Intelectual é um
ativo valioso e
importante fator de
competitividade das
empresas
e está a criar ativos
muito valiosos, que
as empresas precisam
de defender
através da propriedade
intelectual.
Num cenário em
que ninguém sabe
qual será o impacto
da IA e onde o flagelo da pirataria
precisa de novas ferramentas de
combate, fica claro que este é um
tema complexo e com muitas nuances.
Ainda assim, há que avançar e
depressa, como ficou claro na 10ª
sessão do Digital Union, uma parceria
da APDC com a VdA.
Para responder a
estas novas tendências,
tecnológicas e
de mercado, assim
como aos novos
modelos de negócio
que estão a surgir,
tem-se registado um
esforço adicional em
termos regulatórios.
Sobretudo ao nível comunitário, para
“que o direito não fique demasiado
atrás destas realidades”, como
refere David Paula - associado sénior
58
Fernando Resina da Silva,
Sócio da Área Comunicações, Proteção de Dados
& Tecnologia, Sócio Responsável da Área PI
Transacional, VdA
David Paula,
Associado sénior Comunicações, Proteção de
Dados & Tecnologia, VdA - Apresentação
Paulo Santos,
Diretor geral, GEDIPE
Sandra Fazenda Almeida,
Diretora executiva, APDC
Luís Gomes Silva,
Head of SAP Innovation FabLab, Inetum
Pedro Mota Soares,
Secretário geral, APRITEL - Apresentação
Tiago Bessa,
Sócio da Área de Comunicações, Proteção de
Dados & Tecnologia e da Área de PI Transacional,
VdA
Comunicações, Proteção de Dados &
Tecnologia da VdA, que fez o enquadramento
do tema deste webinar,
que decorreu a 22 de outubro.
Sendo o conceito de propriedade
intelectual (PI) abrangente – das
patentes às marcas, passando pelos
direitos de autor focados nos vários
domínios das artes, incluindo no
digital, e ainda o software – refere
que este último é um dos principais,
senão o principal, foco de preocupação
das empresas em matéria
digital. Podendo dar origem a muitos
litígios, nomeadamente os resultantes
da pirataria. Daí que tenha sido
criado o que o responsável da VdA
considera ser um “um ecossistema
regulatório muito forte, há quem
diga demasiado forte. Mas a verdade
é que com tantos problemas que
estas novas tendências e modelos
de negócio vieram
trazer, a Europa não
poderia deixar de
tratar o tema de forma
robusta. Sempre
tendo como pano
de fundo a máxima
da proteção dos direitos
dos cidadãos
europeus”. É o caso
da Diretiva dos Direitos de Autor e
Portabilidade dos Conteúdos, que
veio atualizar as regras dos direitos
de autor e dos direitos conexos para
A evolução tecnológica
avassaladora exige dos
legisladores rapidez e
robustez na criação de
soluções que defendam
direitos de autor
o mercado europeu, sendo que uma
das preocupações é endereçar as
plataformas de partilha de conteúdos,
por causa dos user generater
contents. Ou do
Digital Markets Act,
sobre a disputabilidade
e equidade
nos mercados
digitais. E acrescem
temas emergentes,
resultantes da IoT,
do metaverso e da
IA. Tudo tecnologias
com um “impacto brutal” na PI. E
há ainda que coordenar toda esta
panóplia com as regulamentações
nacionais.
59
apdc news
Mas, “sendo nos
contratos que está
a primeira linha de
defesa das empresas
e dos criadores”,
recomenda
a adoção de três
passos distintos de
criação e comercialização
da PI:
na fase de criação,
documentar o estado
das inovações;
definir cláusulas de
confidencialidade;
e fazer acordos
de PI.
PIRATARIA
E ESTRATÉGIAS
DE COMBATE
No debate que se
seguiu, moderado
por Tiago Bessa,
sócio da Área de
Comunicações,
Proteção de Dados
& Tecnologia e da
Área de PI Transacional
da VdA, o tema da pirataria e
o seu impacto no mercado esteve
em destaque. Tal como as estratégias
que estão a ser adotadas pelas
empresas que operam no mercado
nacional e as opções de futuro para
dar resposta a uma realidade em
permanente evolução.
Pedro Mota Soares, secretário-geral
da Apritel, destaca que se estima
que existam pelo menos um milhão
de pessoas em Portugal com acesso
indevido a conteúdos. O que coloca
não só problemas para quem detém
a respetiva PI desses conteúdos, mas
expõe os utilizadores a sites de pirataria
que podem colocar em risco
os seus devices de acesso, nomeadamente
malware.
As perdas geradas por estas utilizações
indevidas são da ordem dos
250 milhões de euros anuais. O que
significa menos receitas fiscais, num
fenómeno que afeta
todos os envolvidos
na cadeia de valor.
Por isso, defende
a aplicação do
conceito adotado
por Bruxelas de que
“tudo o que é ilegal
offline tem de ser
considerado ilegal
online”. O que passa por ganhar
capacidade de combater a pirataria
digital no mercado nacional.
À frente do SAP Innovation FabLab
da Inetum, Luís Gomes Silva deixa
claro que muito
mudou na última
década e ainda
mais no último ano,
com a IA. A empresa
está hoje a criar
valor e propriedade
intelectual, com casos
de uso para os
clientes, assentes
na IA generativa, o
que “torna ainda
mais desafiante” a
operação. Acresce
a legislação da UE
e o AI Act, que “embora
traga algumas
guidelines positivas,
nesta fase cria mais
restrições”, impedindo
às empresas
inovar, quando
a China e os EUA
“avançam à velocidade
da luz”.
Em representação
da GEDIPE - Associação
para a
Gestão Coletiva de
Direitos de Autor e de Produtores
Cinematográficos e Audiovisuais,
Paulo Santos considera que “não
há inovação sem proteção e os
números falam por
si. A proteção é
Estima-se que em fundamental para
Portugal existam pelo proteger os investimentos,
porque a
menos um milhão de
pessoas com acesso partir do momento
indevido a conteúdos em que as utilizações
abusivas, vulgo
pirataria, põem
em causa a normal
exploração das obras, elas não conseguem
ser rentáveis. A seguir, não
se vai investir”.•
60
APDC & VDA | DIGITAL UNION: A REGULAÇÃO DOS DADOS NA ERA DIGITAL
Entre riscos, desafios
e oportunidades
Os dados são o motor da economia digital e há que tirar partido deles para criar valor e ganhar competitividade.
O processo de ajustamento será tudo menos fácil, mas as empresas já se estão a preparar. Será que a
Europa conseguirá fazer a diferença numa área com um potencial inimaginável?
Texto de Isabel Travessa
Reportagem:
https://www.apdc.pt/
iniciativas/agenda-apdc/
a-regulacao-dos-dados-naera-digital-2
Vídeo:
https://www.youtube.com/
watch?v=t5MvZY9onS0
A
‘avalanche regulatória’ de Bruxelas
nos dados é reconhecida
por todos. E vai trazer enormes
desafios de implementação.
Mas ao criar um mercado único de
dados, com regras standard aplicáveis
a todos os players em todas as
atividades, representará também
um mundo de potenciais novas
oportunidades. Nesta sessão do
Digital Union, uma parceria entre a
APDC e a VdA, que decorreu a 20 de
novembro, debateu-se o ativo mais
valioso do momento para empresas
e entidades públicas. E é incontornável,
porque toda a inovação do
mundo digital assenta nos dados.
Para Maria de Lurdes Gonçalves,
associada coordenadora Comunicações,
Proteção de Dados & Tecnologia
da VdA, que fez o enquadramento
do tema, os dados têm impacto
não só no desenvolvimento de novos
produtos e serviços, mas ao nível da
tomada de decisões estratégicas. E,
sejam pessoais ou não pessoais, “estão
presentes em todas as tecnologias.
A IA alimenta-se de dados, a IoT
61
apdc news
Maria de Lurdes Gonçalves,
Associada coordenadora Comunicações, Proteção
de Dados & Tecnologia, VdA
João Ferreira Pinto,
DPO, SIBS
Sandra Fazenda Almeida,
Diretora executiva, APDC
Sara Louro,
Senior legal counsel, Nokia Portugal
Sofia Couto da Rocha,
Head of Innovation & Head Virtual Client, Lusíadas
Saúde
Tiago Bessa,
Sócio da Área de Comunicações, Proteção de
Dados & Tecnologia e da Área de PI Transacional,
VdA
gera dados, a blockchain armazena
dados e o 5G acelera as transferências
de dados. São o denominador
comum”, num mundo que produz
cada vez mais dados.
Mas há que dar resposta aos riscos e
desafios, nomeadamente de privacidade
e proteção de dados pessoais,
pelo potencial intrusivo que a utilização
massiva pode ter para os direitos
fundamentais
dos cidadãos. Assim
como os desafios de
cibersegurança e os
riscos que decorrem
da concentração
do poder digital em
algumas tecnológicas,
que “detêm a
maioria dos dados
disponíveis e que não estão propriamente
interessadas em criar
soluções de interoperabilidade para
o acesso a esses dados”.
Estamos perante uma
enorme complexidade,
atual e futura, do
ecossistema regulatório
dos dados
REGULAR PARA CRIAR CONDIÇÕES
IGUAIS
A resposta de Bruxelas tem sido a regulação.
E a complexidade desta não
pára de crescer, já que à regulação
dos dados acresce a regulação de
uma série de outras matérias, como
os serviços digitais, comunicações
eletrónicas, cibersegurança, IA e
outras tecnologias
emergentes, serviços
audiovisuais,
conteúdos ilegais
e direito de autor
e direitos conexos.
Mais: o “ritmo
legislativo não está
propriamente a
abrandar”, diz a
responsável da VdA.
Centrando-se na análise de três
diplomas que surgem no âmbito da
Estratégia Europeia para os Dados,
aprovada em 2020, para criar um
verdadeiro mercado único dos
dados - Data Governance Act, Data
Act e Common Data Spaces – diz que
com eles a UE pretende assumir-se
como líder na economia mundial
dos dados, contrariando a tendência
de estes serem dominados por um
pequeno grupo de tecnológicas.
“Estamos perante uma enorme
complexidade, atual e futura, do
ecossistema regulatório dos dados.
Que começa desde logo pela
dificuldade de conhecer e enquadrar
os muitos players desta economia.
Os diplomas são muito densos,
para além de extensos”, diz. E alerta
para a existência de um conjunto de
desafios na articulação destes novos
diplomas com o RGPD. Ainda assim,
a legislação deve ser olhada como
uma oportunidade. Há que saber
reconhecer os dados como um ativo
e saber tirar partido deles em ter-
62
mos de inovação. O que passa pela
adoção de uma estratégia de dados,
“que pode ter um poder realmente
transformador para uma empresa. É
crucial para o crescimento e a competitividade”.
No debate que se
Os players, nas áreas
das telcos, financeira
e saúde, já se estão a
preparar para o novo
enquadramento
seguiu, moderado
por Sandra Fazenda
Almeida e Tiago Bessa,
ficou claro que
os players do mercado
– das áreas das
telcos, financeira e
saúde – se estão a
preparar para este novo enquadramento
e a tentar retirar dele todos
os benefícios possíveis. Ainda que
as dúvidas e receios sejam muitos,
olham-no como uma oportunidade
de criar um verdadeiro mercado
único de dados no espaço comunitário,
com todos os benefícios que
isso poderá trazer aos respetivos
negócios.
A Nokia aguarda com expetativa o
que vai acontecer na UE. Sara Louro,
senior legal counsel, diz que “com
as dificuldades que são muitas, com
esta avalanche de regulamentos,
está a ser feito o caminho para que
a Europa consiga atingir os objetivos
de ter um mercado de circulação de
dados livre entre os Estados-membros,
setores, empresas e investigadores”.
Ainda que destaque as vozes
críticas no grupo, que consideram
que este não é o caminho e que a
regulação é excessiva, criando entraves
às empresas, sobretudo às PME,
e ao desenvolvimento tecnológico.
Mas, tendo em conta que o mercado
europeu compete com blocos
gigantescos como os EUA ou a China,
tem mesmo de ser feito este caminho.
Para o DPO da SIBS, “um dos
objetivos de Bruxelas foi identificar
um conjunto de burocracias, ineficiências
e ineficácias que matavam a
competitividade da economia digital
europeia, pela falta de uniformização.
Portanto, vejo com muita alegria
todos estes diplomas e a uniformização
de regras. É
uma excelente ferramenta
de competitividade”,
assegura
João Ferreira Pinto.
A head of Innovation
& Head Virtual
Client da Lusíadas
Saúde concorda que
a standardização
facilita a vida das empresas, sobretudo
quem trabalha com tecnologias
exponenciais. “Tal como as tecnologias,
os dados também têm de ser
exponenciados em quantidade e
qualidade. Isso é o desafio, talvez o
maior. Precisamos de um mercado
menos fragmentado e que seja mais
uníssono na estrutura e na permissão
de utilização”, defende. Ainda
assim, Sofia Couto da Rocha diz que
para que os novos diplomas “sejam
trampolins e não prisões”, terão
ainda de se clarificar e definir muitos
detalhes. E essa deverá ser a componente
mais complexa.•
63
apdc news
APDC & GOOGLE | IMPULSO IA
A urgência de capacitar em IA
A velocidade da mudança tecnológica é imparável. Especialmente na IA. Por isso, os profissionais não podem
perder tempo a requalificar-se. Há uma nova iniciativa em parceria que tem como meta formar pelo menos mil
pessoas até março de 2025.
Texto de Isabel Travessa
64
SAIBA MAIS:
https://www.apdc.pt/
iniciativas/impulso-ia/
FOTOS:
https://www.flickr.com/
photos/apdc/albums/
Chama-se IMPULSO IA e é a
mais recente iniciativa na área
da formação, agora sobre
um tema essencial: a utilização das
ferramentas de inteligência artificial
(IA). Resultou de uma parceria da
APDC com a Google Portugal e tem
como meta capacitar os profissionais
dos diversos setores para a
utilização da tecnologia no seu dia a
dia, aumentando a produtividade e
facilitando a adaptação à era digital.
De forma gratuita, disponibiliza uma
experiência acessível e inclusiva. Já
contou com três sessões presenciais
e vai prosseguir até março de 2025
com mais cursos, de acordo com
os interesses e necessidades dos
participantes.
O arranque deste programa decorreu
a 30 de outubro, com uma
formação presencial na Faculdade
de Ciências da Universidade de
Lisboa, que contou com uma sessão
de abertura onde participou a ministra
da Juventude e Modernização.
Margarida Balseiro Lopes considerou
o IMPULSO IA um “extraordinário
exemplo de trabalho em rede, que
se foca no tema do momento, a IA, e
se centra nas pessoas. A preocupação
do governo é apoiar o máximo
de iniciativas como esta, para conseguirmos
que a IA não seja apenas
a ferramenta para alguns, mas uma
oportunidade para todos”. Pelo que
iniciativas como estas são, na sua
ótica, “essenciais”.
Abranger o maior número possível
de mulheres é um dos objetivos
desta iniciativa de formação em IA,
como avançou Sofia Marta, country
manager da Google Cloud. No total,
a meta é formar pelo menos mil pessoas,
já que perante o acelerado ritmo
de evolução da tecnologia, todos
teremos de “aprender a aprender,
para saber usar as novas ferramentas”.
Ainda mais quando o “potencial
da IA representa uma oportunidade
de voltar a colocar Portugal como
pioneiro nesta era da inovação”,
uma vez que tem um ecossistema
de inovação muito desenvolvido e
infraestruturas digitais de qualidade.
Esta é “uma oportunidade que não
podemos desperdiçar”.
O sentido de urgência na requalificação
para a IA foi também salientado
pelo presidente da APDC, Rogério
Carapuça, tendo em conta a velocidade
da mudança, que obrigará
a uma adaptação muito rápida das
pessoas. “Não podemos esperar. O
aumento de produtividade previsto
é muito grande – há quem diga que
será o maior na história da Humanidade
– e todos temos de nos
adaptar. Quem já está no mercado
de trabalho, quem está a preparar-se
para ele e até quem já saiu”,
garante, salientando que a meta do
IMPULSO IA é “fazer
chegar o programa
a todo o país, para
que todos ganhem
ferramentas de
produtividade”.
Depois desta formação
em Lisboa,
sobre “Boost Your
Productivity with
AI”, decorreram outras duas sobre o
mesmo tema: a 5 de novembro, no
Porto, onde esteve presente Ricardo
Valente, vereador dos pelouros de
Economia, Emprego e Empreendedorismo
e das Finanças, Ativida-
O potencial da IA
representa uma
oportunidade para
Portugal se colocar de
novo como pioneiro no
mercado da inovação
des Económicas e Fiscalização, da
Câmara Municipal do Porto; 2 a 28
de novembro, de novo em Lisboa,
dado o elevado nível de inscrições
registado.
Está previsto que o IMPULSO IA
disponibilize até março de 2025 uma
combinação de sessões presenciais
e online, a fim de proporcionar as
ferramentas necessárias para que
os profissionais utilizem a IA de
forma eficaz e estratégica no local de
trabalho. Presencialmente,
será ainda
realizada formação
sobre Understand
Machine Learning.
E em formato online
as formações em:
Decision Making
with Data; Introduction
to the Cloud;
Telling Stories with Data Visualization;
Leadership for the Digital
Age; Marketing Strategy and AI; e
Engaging Audiences with Short-Form
Video.•
65
apdc news
APDC & TIKTOK: PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS NO MUNDO DIGITAL
A chave está na literacia
e cidadania
O trabalho em ecossistema e em colaboração é crítico quando se fala de proteção das crianças e jovens no
mundo digital. As plataformas estão a fazer o seu caminho e a regulação na Europa é essencial para garantir
que todos cumpram as mesmas regras.
Texto de Isabel Travessa
66
REPORTAGEM:
https://www.apdc.pt/
iniciativas/agenda-apdc/
protecao-das-criancas-nomundo-digital-educar-prevenir-e-regular
VÍDEO:
https://www.youtube.com/
watch?v=KcxTRvGd_WY
FOTOS:
https://www.flickr.
com/photos/apdc/albums/72177720322365085/
with/54184206755
No espaço comunitário, os
dados são das pessoas e é isso
que faz a diferença. Por isso,
é preciso regular para proteger as
crianças e jovens das ameaças do
mundo online. Mas há muito por
fazer numa realidade virtual em
constante mudança, onde novos
perigos se multiplicam todos os dias.
A aposta na literacia digital e em
formar verdadeiros cidadãos digitais
são os grandes caminhos apontados
no Executive Breakfast APDC, em
parceria com a TikTok, sobre “Proteção
das crianças no mundo digital:
Educar, Prevenir e Regular”.
“Todas as tecnologias têm coisas
boas e dificuldades e isso é verdade
desde que o homem começou
a inventá-las. Podem ser bem ou
mal-usadas e compete-nos saber
como as utilizar. A resposta não é
evitar usar a tecnologia, porque é imparável,
mas sim saber como usá-la.
Por isso, educar e formar as pessoas
é imprescindível”. O mote foi dado
pelo presidente da APDC, Rogério
Carapuça, na abertura do evento,
realizado a 4 de dezembro.
O tema da proteção das crianças e
A SEGURANÇA DOS JOVENS (INCLUINDO
BEM-ESTAR DIGITAL)
Tito de Morais, MíudosSegurosNaNet
Enrico Bellini, Head of Government Relations
for Southern Europe, TikTok
Filinto Lima, Presidente da ANDAEP
jovens é complexo, quando se fala
em garantir às crianças o direito
à participação e à livre expressão
e, ao mesmo tempo, segurança e
privacidade. Sendo nativas digitais
por definição, e interagindo permanentemente
online, como é que se
poderá encontrar o equilíbrio certo
entre liberdade digital das crianças
e a proteção que lhes é devida? No
debate sobre a ‘Segurança das Crianças
e Jovens”, tentou-se dar resposta
à questão.
Para Tito de Morais, do projeto MiudosSegurosNaNet,
qualquer decisão
que se tome em termos de controlo
ou de proibição terá de passar por
ouvir sempre as crianças e jovens: o
seu ponto de vista é essencial. Mas
isto não está a ser feito, nomeadamente
no atual debate em torno da
utilização do telemóvel nas escolas.
“Não faz sentido. Elas querem fazer
parte da solução e até têm soluções”,
assegura, defendendo que “o
lado mau da moeda anda de mãos
dadas com o lado bom”. Acrescem
os múltiplos temas a endereçar, que
afetam o bem-estar
físico, mental e
emocional, como a
utilização excessiva
das tecnologias, a
prevenção do cyber
bulling ou violência
sexual baseada em
imagens.
Filinto Lima, presidente
da ANDAEP - Associação Nacional
de Diretores de Agrupamentos
e Escolas Públicas, concorda que
o caminho passa pela sensibilização
As plataformas
oferecem muitas
oportunidades, por isso
o caminho não passa
por bani-las, mas por
regulação
para o bom uso, que envolva não
só jovens e crianças, mas também
pais e professores. Mas é também
urgente dotar as escolas de internet
fiável e de meios.
Mas as plataformas digitais oferecem
muitas oportunidades e o
caminho não passa
por bani-las, mas
por regulação.
Enrico Bellini, head
of Government Relations
for Southern
Europe da TikTok,
diz que o “temachave
é perceber
o contexto” e a
plataforma tem mesmo autorregulação
e muitos limites na presença
de crianças e jovens: “Trabalhamos
com as comunidades e partilhamos
67
apdc news
REGULAÇÃO E LEGISLAÇÃO
Carlos Zorrinho, Ex-membro do Parlamento Europeu (MEP)
Maria Manuel Leitão Marques, Ex-membro do Parlamento
Europeu (MEP)
Luís Alexandre Correia, Diretor-geral adjunto da Direção
Geral de Informação e Inovação, ANACOM
a aprendizagem. Tudo depende
do envolvimento e da interação e
esperamos ter mais algum tempo
para trabalhar em conjunto, porque
há muito por fazer e tem de haver
colaboração”.
REGULAR REALIDADE PREOCUPANTE
“Regulação e Legislação” foram o
tema em debate
no segundo painel,
onde ficou claro que
são imprescindíveis
para combater os
perigos do online,
mesmo que este
mundo esteja ainda
em desenvolvimento
e não se saiba
o que poderá acontecer no futuro.
É quase como olhar para a regulação
do online como se olha para a
A regulamentação é
hoje a única vantagem
competitiva da União
Europeia, quando
pensamos à escala
global
regulação do físico: tudo se resume a
proteger os consumidores/utilizadores,
sobretudo os mais vulneráveis,
como destaca Maria Manuel Leitão
Marques, ex-membro do Parlamento
Europeu (MEP).
Carlos Zorrinho partilha da mesma
visão. E se viveu em Bruxelas com
o “paradoxo da regulamentação”,
perante um “clamor
genérico de que é
um excesso, causa
burocracia, gera
custos de contexto
e asfixia”, a verdade
é que “a regulamentação
é hoje a única
vantagem competitiva
da UE quando
pensamos à escala global”. Para o
também ex-membro do PE, trata-se
de “uma vantagem conceptual na
defesa dos valores e propósito da
Europa, com um desenvolvimento
digital centrado nas pessoas. Os dados
na China são do Estado, nos EUA
são do mercado e na Europa são das
pessoas”.
Mas a aplicação das regras europeias
não é fácil. Luís Alexandre Correia,
diretor-geral adjunto da Direção
Geral de Informação e Inovação da
ANACOM, admite que se trata de
“um desafio enorme, sobretudo do
ponto de vista dos recursos financeiros
e humanos”, implicando ainda
um novo modelo de colaboração
entre um vasto conjunto de entidades.
Acresce que não há equilíbrio
entre o volume de investimento das
grandes plataformas e a capacidade
financeira dos Estados-membros na
supervisão destas tecnológicas.
Apesar de todas as estratégias, re-
68
PROGRAMAS DE LITERACIA DIGITAL
Francisca Magano, UNICEF Portugal
Manuel Garcia, Programa UPskill
Cristina Ponte, Professora, NOVA FCSH
gulamentações e apostas, a literacia
digital surge como verdadeiramente
determinante quando se fala de
proteção das crianças e jovens no
digital, como ficou claro no último
debate sobre “Programas
de Literacia
Digital”. Cristina
Ponte, professora da
NOVA FCSH, considera-a
mesmo basilar,
porque só ela permite
tirar partido dos benefícios
e evitar os danos
do digital. Porque não tendo a internet
sido criada a pensar nas crianças,
a realidade é que pelo menos um
terço dos utilizadores têm menos de
18 anos.
Mais do que literacia digital, Manuel
Garcia, gestor do Programa UPskill,
diz que o que se deve é assegurar
a cidadania digital das crianças e
jovens. Porque, de facto, se estão a
criar cidadãos para um mundo cada
vez mais online e em permanente
mudança. Por
isso, tem de se ir
além de apenas
explicar os perigos
e os impactos,
promovendo-se a
capacidade crítica.
A experiência da
UNICEF Portugal
no terreno mostra o muito que há
ainda a fazer e a situação complexa
e perigosa atual. Francisca Magano,
diretora de Políticas de Infância e
Juventude, diz que chegam à organização
muitos casos graves que
evidenciam o mau uso da internet. É
A literacia digital surge
como determinante
quando se fala da
proteção de crianças e
jovens no digital
por isso que o tema da literacia e cidadania
digital assume uma relevância
extrema: o sistema de proteção
tem de ser capaz de se reajustar e
responder a estas novas realidades,
defende. Mas ouvindo as crianças
e determinando o que podem os
adultos fazer.•
69
apdc news
JANTAR COMEMORATIVO
APDC celebrou
40º aniversário
A APDC assinalou a 13 de novembro os seus 40 anos de vida, com um Jantar Comemorativo. Neste encontro,
que contou com a presença e a intervenção do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz,
foram inauguradas oficialmente as novas instalações.
Texto de Isabel Travessa
CRONOLOGIA 40 ANOS APDC:
https://cronologia.apdc.pt/
VÍDEO MOMENTOS APDC:
https://www.flickr.com/
photos/apdc/albums/
72177720321914592/
FOTOS:
https://www.flickr.com/
photos/apdc/albums/
72177720321914592/
Criada por iniciativa de Gonçalo
Sequeira Braga e um grupo de
fundadores e organizada com
base num trabalho
conjunto, a APDC
tinha como objetivo
criar ligações entre
as pessoas e ajudar
a desenvolver o
mercado, sentando
à mesa os vários
atores das comunicações.
Algo que faz,
irrepreensivelmente, até hoje.
Nas últimas quatro décadas, tem
Ao longo das últimas
décadas a APDC tem
sido um agente ativo
no desenvolvimento
das TIC e dos media em
Portugal
sido um agente ativo no desenvolvimento
das TIC e dos media
em Portugal, contribuindo para a
construção de uma
economia digital
robusta e inovadora.
Durante este
percurso, a associação
reforçou o
ecossistema e criou
um espaço único de
inovação e colaboração,
reunindo os
protagonistas das TI, das comunicações
e dos media. Para assinalar
70
este percurso, foi apresentada uma
cronologia dos principais momentos
da APDC e do setor e um vídeo com
alguns dos momentos marcantes na
vida da associação.
No evento de comemoração, Miguel
Pinto Luz destacou que “a história
da APDC é rica e motivo de orgulho.
Uma história de que poucas organizações
desta natureza se podem
gabar. E ainda bem, pois é a prova
viva do entusiasmo e esforço dos
seus fundadores e atuais associados”.
Quanto ao futuro, antecipa que
a associação “continuará a ter um
papel muito relevante no apoio ao
desenvolvimento das comunicações
e na representação deste setor,
crucial para o futuro”.
Decorreu também uma conversa
com a atual diretora executiva da
APDC, Sandra Fazenda Almeida, e o
jornalista da RTP, João Adelino Faria.
Que moderou de seguida um debate
entre o atual presidente da associação,
Rogério Carapuça, o fundador
do projeto, Gonçalo Sequeira Braga,
um presidente de um congresso,
José Tribolet, e a presidente da ANA-
COM, Sandra Maximiano. •
71
72
Ana Mesquita Veríssimo: “Acreditamos que o reconhecimento que a app está a obter junto das várias comunidades envolvidas levará
a que esta ferramenta chegue ao máximo de jovens possível”
cidadania
Se fosse um super herói, usaria certamente uma daquelas capas esvoaçantes que
tanto impressionam os mais novos, mas a Tozi é uma aplicação para telemóveis. Não
voa, porém salva crianças e jovens vítimas de cyberbulling, partilhando conselhos e
estratégias, não ficando em nada a dever aos heróis que a BD consagrou.
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDAS
Lançada pela Fundação Vodafone e a Associação
Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), a aplicação
Tozi tem como principais objetivos ajudar no
combate ao cyberbullying e promover a segurança
online entre os mais novos. Com um botão de acesso à
Linha de Apoio à Vítima, Tozi permite a eventuais vítimas
de cyberbullying estabelecer contacto com técnicos
capacitados para auxiliar nestes casos, o que representa
uma grande mais-valia, pois é sabido que muitas vezes
os jovens evitam denunciar este tipo de situações
quando ocorrem longe da vista dos adultos. A linha
também presta esclarecimentos sobre questões como
adição digital ou gestão de privacidade, temas que impactam
cada vez mais a vida dos jovens.
Ana Mesquita Veríssimo, manager da Fundação
Vodafone em Portugal diz que “a aplicação Tozi enquadra-se
num plano estratégico mais abrangente,
implementado nos últimos anos pela Vodafone e pela
sua fundação, para criar uma sociedade digital mais
inclusiva e segura”. A possibilidade de chegar de forma
direta a crianças e jovens através de uma app dotada
de “ferramentas e conhecimentos que os ajudam a navegar
no mundo digital de forma responsável, segura
e consciente” é, sublinha, concretizar um importante
desígnio: “A nossa motivação é, essencialmente, preventiva.
Acreditamos que a educação é a base para evitar
situações de risco e fomentar um ambiente online
mais seguro”, acrescenta.
Sabe-se que os fenómenos de assédio digital estão
a crescer. Segundo um estudo do Gabinete Regional da
Organização Mundial de Saúde, realizado entre 2018 e
2020, um em cada seis jovens europeus em idade escolar
são vítimas deste tipo de assédio, por isso é importante
lançar ferramentas como a Tozi, capazes de guiar
e apoiar esta camada da população.
A versão portuguesa da Tozi resulta da adaptação
da app desenvolvida pela Vodafone Ireland Foundation,
em parceria com o Dublin City University Anti-
-Bullying Centre e com a Childline by ISPCC, iniciativa
que se enquadra no desígnio da Vodafone Foundation
de promover a inclusão e integração das pessoas mais
vulneráveis nos vários mercados onde a Vodafone está
presente.
Durante o próximo ano, em parceria com a APAV,
serão realizadas em Portugal ações presenciais em escolas,
que abordarão temáticas como o bullying, o cyberbullying
e a segurança online. Esta campanha de sensibilização
“visa envolver diretamente alunos, professores
e encarregados de educação, criando um espaço de partilha
de conhecimento e discussão sobre boas práticas
digitais”, partilha Ana Mesquita Veríssimo. Confiante
de que a Tozi vai fazer a diferença, a manager da Fundação
Vodafone Portugal acredita que “o reconhecimento
que a app está a obter junto das várias comunidades
envolvidas levará a que esta ferramenta chegue ao máximo
de jovens possível, contribuindo para reduzir o
impacto deste tipo de fenómenos”.•
73
ultimas
PROTECÇÃO FÍSICA
COM CAPACIDADES ÚNICAS
ASSUME-SE COMO UM CONJUNTO único de capacidades de
segurança concebido para reforçar a proteção física dos
PCs de classe empresarial. Inclui medidas de segurança
multicamadas, concebidas para proteger o hardware e o
firmware dos PCs contra os ataques físicos direcionados,
proporcionando aos administradores de IT uma visibilidade
sem precedentes para detetar firmware não autorizado
e adulteração de componentes ao longo do ciclo de vida de
um dispositivo. O HP Enterprise Security Edition é a nova
oferta do grupo, que vem responder ao aumento do trabalho
híbrido e do Work from Anywhere (WFA), que apresentam
um elevado risco de comprometimento dos PCs por
atacantes com acesso físico temporário. Para combater
as ciberameaças físicas, o HP Enterprise Security Edition
equipa os PCs com capacidades de proteção em múltiplas
camadas: Firmware Lock, um bloqueio controlado pelo
utilizador, implementado a nível do firmware e utilizado em
conjunto com o HP Sure Admin; Platform Certificatesm,
certificados digitais que permitem aos clientes validar
que os componentes de hardware e firmware não foram
modificados desde o fabrico, como o disco, a memória, o
processador, a versão do BIOS/firmware ou os dispositivos
PCIe e o módulo de plataforma fiável; proteção de virtualização
Sure Start, uma proteção antes do arranque contra
hardware de terceiros malicioso ou comprometido que
seja, ligado a uma porta ThunderboltTM/USB C ou PCIe.•
NOVO RECORDE DE PATENTES ESSENCIAIS PARA 5G
SÃO SETE MIL FAMÍLIAS de patentes declaradas como essenciais para o 5G. Incluem inovações revolucionárias
na conceção do protocolo de rádio 5G, segurança 5G e tecnologias de interface que definem a forma
como os smartphones, automóveis conectados e outros dispositivos conectados interagem com as redes de
quinta geração. Este é o marco que a Nokia acaba de alcançar, com a fabricante
finlandesa a prometer ainda mais invenções no futuro. Esta carteira de patentes
baseia-se em mais de 150 mil milhões de euros investidos em I&D e normalização
desde 2000 e é composta por mais de 20 mil famílias de patentes (cada família
pode incluir várias patentes individuais). Qualquer dispositivo que se ligue a uma
rede móvel utiliza a tecnologia patenteada da marca e mais de 250 empresas obtiveram
licença para as suas tecnologias patenteadas. Constituem blocos de construção
essenciais para indústrias inteiras, incluindo dispositivos móveis, eletrónica de
consumo, veículos conectados, dispositivos e soluções IoT e streaming de vídeo.•
74
NOVA GERAÇÃO DE FOUNDATION MODELS
HÁ UMA NOVA GERAÇÃO de foundation models ou modelos base, que são capazes de, através da sua
inteligência de última geração, dar resposta a uma ampla gama de tarefas, e com um preço altamente
competitivo. Chama-se Amazon Nova e está disponível no Amazon Bedrock. A nova oferta inclui a
Amazon Nova Micro (um modelo texto-para-texto muito rápido), Amazon Nova Lite, Amazon Nova Pro e
Amazon Nova Premier (modelos multimodais que podem processar texto, imagens e vídeos para gerar
texto). Foram ainda lançados outros dois modelos adicionais: Amazon Nova Canvas (que gera imagens
de qualidade profissional) e Amazon Nova Reel (que
gera vídeos de qualidade profissional). A Amazon diz que
tem cerca de mil aplicações de IA generativa em desenvolvimento,
que estão alinhados com os desafios que os
programadores de aplicações enfrentam. As novas ofertas
destinam-se a ajudar os programadores, tanto internos
como externos, a entregar ferramentas de inteligência e
geração de conteúdo mais poderosos. Proporcionam ainda
progressos significativos em latência, custo-benefício, personalização,
geração aumentada por recuperação (Retrieval
Augmented Generation ou RAG) e capacidade de execução
autónoma.•
PARCERIA REFORÇA SERVIÇOS
DE CENTROS DE DADOS
IMPULSIONAR O CRESCIMENTO e a modernização dos centros de dados empresariais, apoiando iniciativas
estratégicas de transformação digital, é o objetivo de expansão da parceria entre a Kyndryl e a Nokia. Com
ela, os dois grupos vão expandir o portefólio de soluções para a oferta de serviços avançados de rede de
centros de dados a empresas de todo o mundo. Ao combinar
o conhecimento e experiência da Kyndryl na conceção,
desenvolvimento e gestão de ambientes de centros de
dados e cloud híbrida com a solução de infraestruturas
de rede de centros de dados de elevado desempenho e
segurança integrada da Nokia, ambas oferecem benefícios
significativos às organizações que procuram modernizar
e expandir as suas redes de centros de dados. É que este
mercado está em crescimento rápido, prevendo-se que
investimentos em redes aumentem com a crescente procura
de serviços na cloud. Além disso, o armazenamento de
dados de elevado volume realça a necessidade urgente de
soluções de rede robustas, escaláveis e seguras. A Kyndryl
pretende integrar a tecnologia EDA (Event-Driven Automation)
da Nokia, plataforma que utiliza dados em tempo
real e machine learning para automatizar totalmente as redes de centros de dados, com a Kyndryl Bridge,
plataforma empresarial de integração aberta alimentada por IA, que permite aos clientes gerirem e monitorizarem
todo o seu ambiente tecnológico.•
75
ultimas
MODELOS ADAPTADOS A TODAS AS INDÚSTRIAS
HÁ NOVOS MODELOS adaptados de IA, que respondem às
necessidades específicas de cada indústria. Foram lançados
pela Microsoft e estão disponíveis através do catálogo
de modelos de IA do Azure, onde os clientes podem aceder
a uma vasta gama de modelos de IA para criar soluções
personalizadas no Azure AI Studio, ou diretamente através
dos parceiros Microsoft. Os modelos disponíveis no catálogo
também podem ser utilizados para configurar agentes
no Microsoft Copilot Studio, uma plataforma que permite
aos utilizadores criar, personalizar e implementar agentes
com tecnologia de IA, que podem ser aplicados aos
principais use cases de um setor para responder às suas
necessidades mais prementes. Os novos modelos estão
a ser criados para as várias indústrias em parceria com a
Bayer, Cerence, Rockwell Automation, Saifr, uma RegTech
dentro da incubadora de inovação Fidelity Investments,
Fidelity Labs, Siemens Digital Industries Software e Sight
Machine, entre outras. Além disso, a Microsoft incentiva a
inovação no ecossistema de open-source e está a disponibilizar
cinco modelos Hugging Face que são aperfeiçoados
para a sumarização e análise de sentimentos de dados
financeiros.•
CONSTRUIR FORÇA DE TRABALHO SEM LIMITES
CHAMA-SE AGENTFORCE 2.0 e assume-se como uma plataforma que permite uma força de trabalho
ilimitada, através de agentes de IA, para qualquer departamento, criada através de uma
nova biblioteca de competências pré-construídas e descrições em linguagem
natural. Com ela, a IA autónoma faz parte de cada equipa e
capacita os profissionais no Slack com agentes autónomos de IA. Acaba
de ser lançada pela Salesforce, que garante que os novos desenvolvimentos
da plataforma apresentam um raciocínio e recuperação
melhorados, para fornecer respostas precisas e orquestrar ações em
resposta a perguntas complexas. Esta plataforma permite às equipas
escalar a sua força de trabalho com um Agentforce personalizado,
capaz de lidar com tarefas complexas, com uma precisão e exatidão
melhoradas. Empresas como a Accenture, The Adecco Group, Finnair,
IBM, Indeed, Saks Global e SharkNinja estão já a adotar o Agentforce
para ampliarem as suas equipas com mão-de-obra digital, simplificando
as operações de negócio e libertando novas capacidades de crescimento.•
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