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Dicionário Sefaradi de Sobrenomes - Arquivo Histórico Judaico ...

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Rabino Jacob Mazaltov:<br />

Um pioneiro inovador e criativo<br />

Nasceu em Istambul, às margens<br />

do Golfo do Corno<br />

<strong>de</strong> Ouro, em 1883, no bairro<br />

ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Hasköy, Jacob Mazaltov.<br />

Na época Hasköy era um<br />

bairro on<strong>de</strong> se refugiaram ju<strong>de</strong>us<br />

fugidos da Inquisição e<br />

que lá viviam tranquilos com<br />

as suas famílias. Era acerca <strong>de</strong><br />

10 mil sefaradis, que se serviam<br />

<strong>de</strong> doze sinagogas e alguns<br />

locais <strong>de</strong> oração <strong>de</strong> pequenos<br />

grupos. A única língua<br />

falada era o ladino, na família,<br />

nas ruas, na sinagoga e quem<br />

vindo <strong>de</strong> fora quisesse negociar<br />

ou ter algum interccâmbio<br />

com seus moradores era obrigado<br />

a apren<strong>de</strong>r o ladino para<br />

faze-lo.<br />

Rabino Jacob Mazaltov<br />

Jacob Mazaltov veio <strong>de</strong> uma<br />

família <strong>de</strong> rabinos e seu pai querendo que o seu filho seguisse a<br />

tradição o fez ir para Alexandria para estudar. Terminando os estudos<br />

<strong>de</strong> rabinato e contrariando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> seu pai veio para o Brasil para<br />

trabalhar no comércio. No Rio <strong>de</strong> Janeiro conheceu Dora Hazan,<br />

nascida em Urlá nas cercanias <strong>de</strong> Ismirna com quem se casou. Em<br />

pouco tempo ficou <strong>de</strong>mostrado que a ativida<strong>de</strong> comercial não era a<br />

área a que <strong>de</strong>via se <strong>de</strong>dicar. Assim o casal partiu para Buenos Aires<br />

on<strong>de</strong> começou a exercer o rabinato, para o qual segundo profecia <strong>de</strong><br />

seu pai fora talhado. Contratado por uma sinagoga <strong>de</strong> Montevi<strong>de</strong>o,<br />

nessa cida<strong>de</strong> viveu nos anos <strong>de</strong> 1922 e 1923, vindo a seguir para o<br />

Brasil. Em S. Paulo, foi morar na parte superior <strong>de</strong> um sobrado na<br />

Rua Major Diogo, pela proximida<strong>de</strong> da sinogoga da Rua Abolição,<br />

para qual fora chamado.<br />

Sua passagem pela Sinagoga Israelita Sefardi <strong>de</strong> S. Paulo também<br />

chamada do Rito Português, <strong>de</strong>ixou provas <strong>de</strong> seu pioneirismo e<br />

da amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> visão sempre <strong>de</strong>ntro do espírito religioso, respeitando<br />

a Halahá (legislação judaica) ou adpatando conhecimentos ao momento<br />

que vivia e as necessida<strong>de</strong>s que se lhe apresentavam. Traduziu<br />

para o português o ritual <strong>de</strong> orações para as festas <strong>de</strong> Rosh Hashaná e<br />

Yom Kippur conforme o rito sefaradi e escreveu “O Guia da Juventu<strong>de</strong><br />

Isrealita”, este prefaciado e corrigido pelo catedrático Professor<br />

Silveira Bueno, que muito o admirava como pessoa, por sua obra e <strong>de</strong><br />

quem era amigo fraterno.<br />

São <strong>de</strong>les estas palavras em 1937 :<br />

“É gran<strong>de</strong>mente elogiosa e digna <strong>de</strong> aplauso a obra intensamente<br />

religiosa que o Reverendo Rabino, Sr. Jacob Mazaltov vem<br />

<strong>de</strong>senvolvendo em S. Paulo. Não podia escapar, portanto a sagacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua inteligência, a falta <strong>de</strong> instrução religiosa em S. Paulo. O primeiro<br />

meio <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria lançar mão tinha <strong>de</strong> ser o livro: escreveu-o e<br />

publicou-o!”<br />

No prefácio do “Guia da Juventu<strong>de</strong> Israelita”, Mazaltov explica<br />

que em seu livro reune : “ensinamentos que preparam gradualmente o<br />

espírito religioso das crianças para sentir o valor <strong>de</strong> nossas tradições e<br />

o significado <strong>de</strong> nossas preces aos meninos e meninas que <strong>de</strong>sconhecem<br />

o hebraico”.<br />

Clara Kochen<br />

É curioso observar que ele se refere a meninos e meninas, a<br />

leitores e leitoras direcionando assim sua visão já avançada para a<br />

época <strong>de</strong> conscientização do valor da mulher na religião, que ele<br />

reafirmou sempre com a realização da festa das sete can<strong>de</strong>las para<br />

fadar uma menina ao nascer e com o bat mitzvá, cerimônia da qual<br />

foi o precursor em S. Paulo e no Brasil, conforme atesta foto tirada<br />

em 1938 durante uma festivida<strong>de</strong> coletiva para as meninas. Foi<br />

Mazaltov o primeiro rabino a manter contato com a Cúria Metropolitana<br />

visando o entrosamento das religiões com diálogo inteligente<br />

e aberto. Nunca se negou a abençoar um casamento que trouxesse<br />

mais uma família para o seio do Judaísmo. De todos os Estados do<br />

Brasil era procurado para aconselhar e orientar pessoas que em<br />

situação aflitivas sabiam que nele encontrariam compreensão e a<br />

colhida paterna <strong>de</strong> suas palavras <strong>de</strong> sabedoria. Fez, sempre que necessário,<br />

ele mesmo, berit milá (circuncisão) em sua própria casa, quando<br />

circunstâncias adversas para a época faziam necessária certa dose<br />

<strong>de</strong> compreensão.<br />

A juventu<strong>de</strong> era a sua gran<strong>de</strong> preocupação e interesse. No Salão<br />

Ama<strong>de</strong>u Toledano sob a sinagoga fazia com que se reunissem e<br />

estimulava o encontro dos jovens por meio <strong>de</strong> comemorações <strong>de</strong> todas<br />

as festas do calendário religioso com gran<strong>de</strong> entusiasmo. A atenção<br />

especial que sempre <strong>de</strong>u a mocida<strong>de</strong>, resultou em diversos casamentos<br />

que com mais prazer ainda ele oficiava, com aparato e pompa, como nas<br />

velhas sinagogas da Turquia, como se fossem <strong>de</strong> filhos seus. Uma<br />

pecularieda<strong>de</strong> dos casamentos<br />

realisados na Rua Abolição<br />

era o fato <strong>de</strong> fazer a quebra<br />

do copo, com muita elegância,<br />

com um martelinho<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um estojo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<br />

mostrando até nesse<br />

<strong>de</strong>talhe seu espírito inovador<br />

e criativo. No rabinato da Sinagoga<br />

Sefardi <strong>de</strong> S. Paulo,<br />

ficou até 1948 aproximadamente,<br />

mas mesmo após essa<br />

data, lá ou em outros locais,<br />

realizava dcerimônias sempre<br />

que solicitado. O seu carisma<br />

marcou época em S.<br />

Paulo, especialmente pela<br />

atenção aos jovens, pela<br />

compreensão da vivência<br />

com a socieda<strong>de</strong> ampla e<br />

pelo intercâmbio com outras<br />

religiões, mas acima <strong>de</strong> tudo,<br />

Senhora Dora Hazan Mazaltov<br />

será sempre lembrado por sua bonda<strong>de</strong>, compreensão e atitu<strong>de</strong> inovadora.<br />

O casal Mazaltov não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, mas viveu com eles<br />

durante alguns anos seu sobrinho Sami Stamati casado com Nina<br />

Hazan Stamati , que tornaram-se os filhos que eles não tiveram e <strong>de</strong><br />

tal maneira a eles se afeiçoaram que por honra a eles seus filhos receberam<br />

os nomes <strong>de</strong> Jaques e Dora (por ellos foram nombrados).<br />

Clara Kochen, advogada e pesquisadora da cultura <strong>Sefaradi</strong>.<br />

5 • GERAÇÕES / BRASIL, Fevereiro 2004, vol. 12

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