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Ano XX<br />
2012 - NÚMERO 119<br />
ISSN 1415 - 2460<br />
CPM 22<br />
Com mais maturidade,<br />
a banda se prepara para<br />
o álbum acústico<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
Rock Way of Life<br />
www.dynamite.com.br<br />
Marky raMone<br />
‘o mais importante é manter o<br />
legado dos ramones vivo’<br />
Maldita<br />
a primeira entrevista<br />
da banda após turnê<br />
na europa<br />
e mais: notícias, shows e lançamentos
Novembro-Dezembro/2012
Í N D I C E E X P E D I E N T E E D I T O R I A L<br />
04 Retrospectiva<br />
06 Shows<br />
18 Marky Ramone<br />
20 Evoke<br />
22 CPM 22<br />
26 Maldita<br />
21 Ears Up<br />
A revista Dynamite chega com tudo em<br />
dezembro, trazendo o que tem de melhor na<br />
cena independente brasileira e internacional!<br />
Esse mês, temos uma entrevista exclusiva<br />
com o Marky Ramone na capa. O lendário<br />
baterista dos Ramones bateu um papo com a<br />
gente sobre o retorno ao Brasil, tocando pela<br />
primeira vez com a banda Blitzkrieg. Também<br />
falou sobre seus projetos futuros e sua outra<br />
paixão que é a culinária.<br />
Conversamos com Badauí e o Heitor Gomes,<br />
ambos do CPM 22. Os caras falaram sobre<br />
a nova fase, comparando o independente<br />
de antes e o atual, também as expectativas<br />
para a gravação do disco acústico, a nova formação, entre outros<br />
assuntos.<br />
A banda Maldita retornou recentemente de sua turnê pela Europa.<br />
Os vocalistas, Erich e Fernando Dias, nos contou sobre essa<br />
experiência, além de falar também do polêmico álbum, “Montagem”,<br />
que traz a mistura do funk carioca com o rock.<br />
Ainda estivemos no evento da Evoke, onde conversamos com o<br />
pessoal da marca, além do papo com a banda carioca Iggy D. And The<br />
Traitors.<br />
E claro, tudo o que rolou no cenário independente, resenhas de CDs,<br />
resumo dos melhores shows e as notícias mais incendiárias do rock.<br />
Boa leitura, até 2013!<br />
Marcos Chapeleta - Editor<br />
Expediente DYNAMITE - Edição 119 – Novembro/Dezembro/2012<br />
Publisher e Jornalista Responsável: André “Pomba” Cagni MTB 34553 (pomba@dynamite.com.br)<br />
Editor: Marcos “Chapeleta” (online@dynamite.com.br)<br />
Diagramação: Rodrigo “Khall” Ramos (khall@dynamite.com.br)<br />
Rádio e TV Online: Marcelo Blanco Barreto (rtv@dynamite.com.br)<br />
Relações Públicas: André Gomes “Juquinha” (andrejuquinharp@dynamite.com.br)<br />
Colaboradores: Alexandre Cintra, Aloísio Ribeiro , Angélica Kernchen, Denis Zanin, Diego Fernando,<br />
Dum de Lucca Neto, Fabia Fuzeti, Fabio Mori, Fernando Menechelli, Fernando Montinho,“Flavio El<br />
Loco” Ferraz, Greg Tasso , Humberto Finatti, Ique Iahn, Jair Santana, Jeniffer Souza, Luciano “Carioca”<br />
Vitor, Maíra Hirose, Marcel Nadal Michelman, Marcelo Luis dos Santos Coleto, Marcelo Teixeira, Márcio<br />
Baraldi, Patrícia Cecatti, Paulo Ueno, Peete Neto e Rodrigo “Khall” Ramos.<br />
Contato:<br />
Tel/Fax: (11) 3064-1197<br />
R. 13 de Maio, 363 - Bela Vista - São Paulo/SP - CEP:01327-000<br />
Site: www.dynamite.com.br<br />
E-mail: online@dynamite.com.br<br />
Capa: Divulgação<br />
CPM 22<br />
Com mais maturidade,<br />
a banda se prepara para o álbum acústico<br />
Maldita<br />
a primeira entrevista da banda após turnê na Europa<br />
E mais: notícias, shows e lançamentos<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
A Revista Dynamite e o portal Dynamite Online são geridos pela Associação Cultural Dynamite,<br />
CNPJ 07.157.970/0001-44, através do projeto Pontos de Cultura da Secretaria de Estado da<br />
Cultura do Governo do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura do Governo Federal.<br />
Ano XX<br />
2012 - NÚMERO 119<br />
ISSN 1415 - 2460<br />
Rock Way of Life<br />
www.dynamite.com.br<br />
Marky raMone<br />
‘o mais importante é manter<br />
o legado dos ramones vivo’<br />
Novembro-Dezembro/2012 03
Após boatos, a organização<br />
do Festival<br />
Planeta Terra negou<br />
o seu cancelamento, inclusive<br />
cotas de patrocínio para a sétima<br />
edição já estão sendo negociadas<br />
e o evento acontecerá<br />
entre outubro e novembro de<br />
2013. M<br />
A<br />
banda inglesa de death<br />
metal Carcass, está<br />
confirmada para se<br />
apresentar no Brasil em 2013.<br />
O show acontece no dia 11 de<br />
abril no Carioca Club, em São<br />
Paulo. M<br />
04<br />
RETROSPECTIVA<br />
NEWS<br />
(Fotos: Divulgação)<br />
O<br />
próximo ano será de<br />
mudanças e novidades<br />
para o Tihuana.<br />
Começando pela formação<br />
atual, o percussionista Fernando<br />
Baía não faz mais parte<br />
da banda. O novo trabalho dos<br />
caras está previsto para chegar<br />
às lojas no início de 2013,<br />
com lançamento pela Building<br />
Records. M<br />
Adam Levine, vocalista<br />
do Maroon 5, disse em<br />
sua conta no Twitter<br />
que gostaria de tocar bateria no<br />
Peal Jam enquanto o músico<br />
Matt Cameron estiver em turnê<br />
com o Soundgarden. M<br />
A<br />
banda norte-americana<br />
Down, liderada pelo<br />
ex-vocalista do Pantera,<br />
Phil Anselmo, faz uma<br />
única apresentação no Brasil<br />
em 2013. O show acontece<br />
no dia 10 de abril, no Carioca<br />
Club, em São Paulo. M<br />
O<br />
primeiro vocalista do<br />
lendário Iron Maiden,<br />
Paul Di’Anno, vai<br />
encerrar a sua carreira como<br />
artista. De 27 de março até 27<br />
de abril de 2013, a Abstratti<br />
Produtora prepara a turnê<br />
nacional batizada de “The Last<br />
Tour”. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
Novembro-Dezembro/2012
Após três dias do anúncio<br />
oficial dos shows<br />
na América Latina<br />
para 2013, o grupo Coldplay<br />
publicou em seu site oficial<br />
um comunicado adiando a<br />
nova turnê, sem informar o<br />
motivo. M<br />
O<br />
festival Sónar anunciou<br />
as primeiras 10 atrações<br />
confirmadas para a sua<br />
próxima edição em 2013. Os<br />
artistas são: Pet Shop Boys,<br />
Paul Kalkbrenner, Explosions In<br />
The Sky, The Roots, Matmos,<br />
Jamie Liddel, Theo Parrish,<br />
além dos brasileiros Renato<br />
Ratier, Taksi (projeto do João<br />
Brasil e Domenico) e Mau<br />
Mau. O evento que acontece<br />
nos dias 24 e 25 de maio, no<br />
Anhembi, em São Paulo, terá<br />
mais de 30 artistas. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
O<br />
cantor e guitarrista<br />
Lenny Kravitz, vai<br />
interpretar no cinema<br />
um dos maiores representantes<br />
da soul music, Marvin Gaye.<br />
O filme irá mostrar os últimos<br />
anos de vida do músico,<br />
começando por 1981, quando<br />
ele morava em Londres e tentava<br />
se livrar da dependência<br />
do álcool. Ele acabou sendo<br />
assassinado pelo próprio pai,<br />
em 1984, em Los Angeles. M<br />
Em apenas 52 minutos,<br />
todos os 80 mil Rock in<br />
Rio Cards disponíveis,<br />
foram vendidos. O ingresso<br />
poderá ser escolhido para<br />
qualquer dia do evento. Em<br />
abril, as entradas poderão ser<br />
compradas novamente, com<br />
o mesmo valor de R$ 260,00<br />
(inteira). Até lá, a programação<br />
oficial do festival estará completa.<br />
M<br />
O<br />
guitarrista Johnny<br />
Marr, ex-Smiths, com<br />
30 anos de estrada,<br />
anunciou finalmente o seu<br />
primeiro disco solo, intitulado<br />
“The Messenger”. O álbum<br />
será lançado no dia 25 de<br />
fevereiro nos Estados Unidos<br />
e dia 26 no Reino Unido, pela<br />
Warner Bros. Por aqui, ainda<br />
não há previsão. M<br />
O<br />
vocalista do Guns<br />
N’ Roses, Axl Rose,<br />
concedeu sua primeira<br />
entrevista para TV depois de<br />
20 anos. A aparição ocorreu<br />
durante o programa do humorista<br />
Jimmy Kimmel, para promover<br />
a temporada de shows<br />
no Hard Rock Café, em Las<br />
Vegas. M<br />
05
SHOWS<br />
SHOWS<br />
O<br />
baixista CJ Ramone fez com propriedade<br />
um tributo ao seu antigo grupo no Hangar<br />
110, a casa mais punk rock de São Paulo.<br />
Claro que na sua apresentação também teve espaço<br />
para divulgar o seu atual álbum, “Reconquista”. Mas<br />
antes disso, duas bandas nacionais aqueceram<br />
ainda mais a noite quente na capital paulista.<br />
A primeira a subir no palco foi a de nome curioso,<br />
Aurélio e Seus Cometas. Pegando o público<br />
ainda chegando, o grupo misturou rock, swing e<br />
até bossa nova. Após uma temporada em Londres,<br />
os músicos aproveitaram para executar faixas do<br />
terceiro álbum, além de músicas dos discos anteriores,<br />
como “Clube dos Descontentes” e “Felizes<br />
Dias Tristes”.<br />
Em seguida foi a vez do Slot apresentar a sua<br />
nova formação. Com influências que vai de Clash<br />
à Screeching Weasel, os caras trouxeram o clima<br />
punk rock. Destaque para as faixas “Rocker” e<br />
“Good Old Song”.<br />
Já com o Hangar 110 lotado, CJ Ramone acompanhado<br />
de músicos competentes, entre eles Steve<br />
Soto (Adolescents), levou alegria para as centenas<br />
de fãs que gritavam “hey, ho, let’s go”. No melhor<br />
estilo dos Ramones, a contagem clássica – “one,<br />
06<br />
CJ faz tributo aos Ramones<br />
Hangar 110 – São Paulo (19/09/12)<br />
Texto e foto: Marcos Chapeleta<br />
two, three, four” – no início das músicas, prevaleceu<br />
durante toda a apresentação.<br />
Em forma de tributo, CJ executou uma seleção de<br />
clássicos da banda. Para se ter uma ideia, “Blitzkrieg<br />
Bop”, foi uma das primeiras músicas a serem<br />
tocadas. Sem receio de segurar os hit’s, continuou<br />
com “Psycho Therapy”, “Sheena Is A Punk Rocker”,<br />
“Beat On The Brat” e “I Wanna Be Sedated”.<br />
Todas as faixas cantadas pelo público frenético,<br />
com grandes rodas de pogo, e banhos de cerveja<br />
arremessados. Do ótimo álbum “Reconquista”, o<br />
músico tocou faixas como “What We Gonna Do<br />
Now?”, “You’re the Only One”, “Waitin’ For My Man”<br />
(versão do Velvet Underground) e “Three Angels”.<br />
Nessa última, o baixista ofereceu aos antigos amigos<br />
de grupo, Joey, Johnny e Dee Dee Ramone.<br />
A essa altura, muitos fãs já não se contentavam<br />
em apenas cantar, muitos subiam no palco para<br />
dividir o microfone com CJ. E os sucessos continuaram,<br />
com “I Wanna Be Your Boyfriend”, “Rockaway<br />
Beach”, “Strength To Endure”, “Commando”,<br />
e “R.A.M.O.N.E.S”, música que o Motorhead homenageou<br />
o quarteto punk rocker. A duração do show<br />
foi um pouco mais de 1h, curto e ao mesmo tempo<br />
marcante, assim como o som dos Ramones.M<br />
Novembro-Dezembro/2012
Richie Ramone relembra músicas de sua época<br />
Hangar 110 – São Paulo (18/10/12)<br />
Texto e foto: Marcos Chapeleta<br />
Nesta mesma noite estiveram dois integrantes<br />
do lendário Ramones em São Paulo. O<br />
baterista Marky Ramone dando autógrafos<br />
em uma loja de skate no bairro Jardins, e o primeiro<br />
show de Richie Ramone no Hangar 110, reduto importante<br />
do punk rock no Brasil.<br />
Mudando o costume da casa, dessa vez não<br />
rolou nenhuma banda de abertura. Enquanto não<br />
começava o show, bandas clássicas do estilo passava<br />
no telão como Toy Dolls e Vibrators. O público<br />
foi chegando aos poucos, mas não chegou a encher<br />
o local, talvez porque o baterista Richie não é<br />
tão popular.<br />
Richie Ramone entrou na banda após a saída<br />
de Marky, devido a problemas com álcool. O novo<br />
baterista na época chegou a gravar três álbuns. Ele<br />
foi muito importante para o momento conturbado<br />
entre os músicos, participando inclusive de algumas<br />
composições. Esteve no Brasil durante a primeira<br />
excursão pela América do Sul, em 1987. Talvez a<br />
geração mais nova desconheça sua importância,<br />
pelo menos foi o que pareceu com a presença de<br />
um público mais veterano no Hangar.<br />
Saindo um pouco dos convencionais tributos aos<br />
Ramones, a apresentação de Richie foi praticamente<br />
composta por músicas de sua fase, além<br />
de faixas inéditas do futuro disco solo. O baterista<br />
começou o show no seu instrumento tradicional,<br />
em seguida assumiu o vocal, e foi assim ao longo<br />
do tempo, alternando as baquetas com o guitarrista<br />
Ben Wah Reagan. A banda também era composta<br />
pelo baixista, e japonês loiro, Jiro Okabe, e o outro<br />
guitarrista Tommy Bolan.<br />
O seu maior sucesso quando esteve no Ramones<br />
foi tocada logo no início, a faixa “Somebody Put<br />
Something In My Drink”. O momento hardcore do<br />
grupo foi lembrado com “Animal Boy”. Mais faixas<br />
de sua época foram executadas como “I’m Not<br />
Jesus”, “Durango 95″ e “Humankind”. Também não<br />
poderia faltar o hino ramonico, “Blitzkrieg Bop”.<br />
Durante a apresentação, os músicos deram<br />
espaço ao solo do guitarrista Tommy Bolan. Sem<br />
dúvida isso foge totalmente do perfil dos Ramones,<br />
mas o músico veio de grupos de metal, um deles foi<br />
o Warlock, impossível não utilizar suas influências<br />
ao vivo.<br />
Logo depois do encerramento, Richie Ramone<br />
não se conteve e foi até o meio do público para<br />
uma sessão de autógrafos e fotos, mostrando a sua<br />
simplicidade. No dia seguinte ele ainda teve gás<br />
para discotecar ao lado do DJ Focka na Absolut<br />
Inn, nova casa noturna de São Paulo. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
07
Aconteceu em São Bernardo do Campo, região<br />
metropolitana de São Paulo, o festival Two<br />
Wheels Brazil 2012, voltado para o público<br />
amante das duas rodas. Durante os dois dias de festa,<br />
o público compareceu, mas talvez não como estava<br />
previsto, pois o local era enorme. Um dos motivos pode<br />
ter ocorrido pela dificuldade de chegar até o espaço.<br />
Mesmo o evento sendo focado nos motoqueiros, muitos<br />
estavam ali para conferir os shows de Marky Ramone,<br />
Michael Graves, Chrome Division, entre outros, e dependiam<br />
de transporte público. Na estrada onde rolou o<br />
TWB, era visível alguns clones dos Ramones andando<br />
até o local.<br />
Na entrada podíamos ouvir os roncos dos motores<br />
das mais variadas motos, muitas delas customizadas,<br />
realmente chamavam a atenção também pelo visual.<br />
Devido ao dia chuvoso, alguns caminhos lá dentro<br />
tinham virado lama.<br />
Antes de começar os shows principais, algumas<br />
bandas tocavam o melhor do classic rock. Sem atrasos,<br />
o Toyshop subiu no palco com todo o gás tocando<br />
músicas do álbum de estreia, “Party Up”, como “Follow<br />
Me”, “I Wanna See You”, “Runaway”, entre outras.<br />
Também apresentaram em primeira mão músicas do<br />
novo CD que está em fase de gravação. As novas<br />
faixas “Back To You e “All Away” mostram o amadurecimento<br />
do grupo, mas sem perder o seu estilo bubblegum.<br />
Falando nisso, a vocalista Natacha está bem<br />
à vontade no palco e cantando super bem. No final do<br />
show a banda fez uma homenagem ao Misfits tocando<br />
08<br />
Confira o que rolou durante os dois dias do Two Wheels Brazil 2012<br />
Riacho Grande - São Bernardo do Campo (20 e 21/10/12)<br />
Texto e fotos: Marcos Chapeleta<br />
“Shining”, nesse momento o baterista Guilherme Martin<br />
jogou o seu cabelo para frente no estilo característico<br />
dos mascarados.<br />
Após o show dos caras, fui bater um papo com o<br />
Guilherme e pude ver a chegada de Marky Ramone<br />
até o palco. Foi surreal a sua parada na escada para<br />
tirar a lama dos pés.<br />
No melhor estilo “Loco Live”, a banda Marky Ramone’s<br />
Blitzkrieg, tendo à frente o ex-Misfits Michael<br />
Graves, tocou as melhores músicas dos Ramones,<br />
uma atrás da outra. Sem tempo de respirar, foram<br />
executadas faixas como “Rockaway Beach”, “I Don’t<br />
Care”, “Sheena Is A Punk Rocker”, “Judy Is A Punk”,<br />
“The KKK Took My Baby Away”, “I Wanna Be Sedated”,<br />
“Pet Sematary”, “Blitzkrieg Bop” entre muitas<br />
outras. Rodas de pogo eram frequentes durante toda<br />
a apresentação.<br />
O vocalista Michael Graves não parou em nenhum<br />
minuto, pulando, girando, cuspindo, e até simulando<br />
lutas de boxe no palco. O público também não se<br />
cansava cantando todas as canções. O grupo só<br />
parou para a pausa no bis, de repente veio o silêncio<br />
e gritos de quero mais. Em seguida, aparece Marky<br />
novamente e a destruição voltou, no bom sentido,<br />
para os ouvidos dos presentes. A surpresa do setlist<br />
foi com a lembrança do trabalho solo de Joey Ramone,<br />
quando tocaram a versão de “What a Wonderful<br />
World”. O legado dos Ramones sempre vai existir,<br />
um dos motivos foi à presença do público jovem se<br />
renovando.<br />
Novembro-Dezembro/2012
Muito sol no segundo dia do evento<br />
No seguindo dia, o clima estava bem quente, a<br />
lama que atrapalhou antes, estava completamente<br />
seca. Com mais calma, andei pelo local para ver os<br />
carros antigos expostos, e encontrei com os caras<br />
dos Raimundos por lá fazendo a mesma coisa. Nos<br />
demais espaços tinham também tatuadores, grafites<br />
em capacetes, rampa de skate e até caricaturas do<br />
público feita em camisetas no stand de um dos patrocinadores.<br />
Com o sol rachando, Michael Graves subiu no palco<br />
apenas com seu violão para fazer um set acústico tocando<br />
os sucessos dos Misfits. Compareceram muitos<br />
fãs usando camisetas do grupo, tatuagens, e até com<br />
rostos pintados com a caveira clássica.<br />
As versões nesse formato ficaram ótimas, próximo<br />
à grade era possível ver alguns fãs emocionados com<br />
a voz do cantor, destaque para “Scream”, “Dig Up Her<br />
Bones” e “Saturday Night” cantada em coro por todos.<br />
Também teve espaço para músicas de outros projetos<br />
como “If and When” do Marky Ramone’s Blitzkrieg e<br />
até um cover de “No Rain” do Blind Melon.<br />
Em seguida o apresentador do programa Stay<br />
Heavy, Vinícius Neves, anunciou o Chrome Division<br />
como “a banda que toca mais alto do que o Motorhead”.<br />
Então sobem no palco todos os músicos com jaquetas<br />
pretas no melhor estilo dos motoqueiros presentes,<br />
acompanhado do vocalista Shady Blue, tragando seu<br />
charuto. Os caras mostraram uma ótima presença de<br />
palco com guitarras pesadas, alternando com solos.<br />
No setlist rolaram as músicas “Fight”, “Trouble With<br />
The Law”, “Zombies & Monsters”, entre outras. Como<br />
um bom show de metal, rolou um solo de bateria de<br />
Tony White no final de “Life Of A Fighter”.<br />
No meio da apresentação dos noruegueses, foram<br />
convidadas ao palco cinco garotas para dançar ao<br />
som dos caras, distribuindo sensualidade. Encerraram<br />
o show levantando a bandeira do Brasil, e tocando o<br />
cover de “Whole Lotta Rosie” do AC/DC.<br />
A próxima banda a entrar era os Raimundos, devido<br />
à agenda, a equipe precisou passar o som antes do<br />
show, isso acabou atrasando e fez uma parte do público<br />
ir embora. Aproveitando o intervalo, a produção<br />
anunciou a nova Hot Biker Girl, concurso que elegeu a<br />
gata TWB.<br />
Após uma vinheta com músicas bregas dos anos 90,<br />
o grupo sobe no palco e Digão brinca: “Vamos fazer a<br />
nossa festa particular”. A apresentação foi especial,<br />
tocando na íntegra o álbum “Lavô Tá Novo”, de 1995.<br />
Faixas como “Tora Tora”, “Eu Quero Ver o Oco”, “Esporrei<br />
na Manivela”, “O Pão da Minha Prima” e “I Saw<br />
You Saying” estiveram presentes no setlist.<br />
Ao acabar a execução do disco, Digão brincou<br />
mais uma vez: “Acabou o disco, vamos ligar o iPod”.<br />
Aproveitaram alguns pedidos do público para tocar<br />
sucessos antigos como “Palhas do Coqueiro” e “Nega<br />
Jurema”. Subiu no palco a cantora Vivi Ramone para<br />
cantar com os Raimundos, “Blitzkrieg Bop” dos Ramones.<br />
No bis, o vocalista Digão pede para a galera acelerar<br />
suas motos Harley Davidson e fez um trocadilho<br />
com a música “Holiday” de Madonna: “Eu comprei<br />
uma Harleydays”. Encerraram o show com “Deixa eu<br />
Falar”, “Marujo” e “Puteiro em João Pessoa”.<br />
A proposta do Two Wheels Brazil é bem positiva,<br />
trazendo várias formas de atrações além dos shows,<br />
acredito que se estivesse em um local mais acessível,<br />
facilitaria para o público. Quem sabe isso pode acontecer<br />
na próxima edição. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
09
Cobertura do festival Planeta Terra 2012<br />
Jockey Club – São Paulo (20/10/12)<br />
Texto: Humberto Finatti – Zap N’ Roll - Foto: Zanone Fraissat<br />
Não teve Jack White e nem Kasabian (este,<br />
cancelado na última hora por problemas de<br />
saúde do guitarrista Sergio Pizzorno, que impediram<br />
o músico de embarcar para o Brasil)? Sem<br />
problema, ninguém sentiu falta: Garbage, Suede e<br />
Gossip foram os grandes vitoriosos da noite e garantiram<br />
a qualidade em alto nível da sexta edição do<br />
já tradicional Planeta Terra Festival.<br />
Um evento que vai se firmando, além dos bons<br />
shows, pela também boa estrutura oferecida ao<br />
público, e que funciona cada vez melhor. Neste ano<br />
os ingressos não se esgotaram; logo, havia menos<br />
gente do que o esperado no Jockey Club. Isso evitou<br />
tumultos e filas em banheiros e nos caixas para comprar<br />
comes e bebes. A entrada e saída do público<br />
também foi tranquila. E o clima foi o melhor possível:<br />
chuva rápida no final da tarde para amenizar o calor<br />
e depois, temperatura amena à noite e até o final do<br />
último show.<br />
Temperatura que subiu bastante no palco quando<br />
se apresentaram as três melhores bandas do Terra<br />
2012. O Suede entrou em cena com o jogo ganho: já<br />
disparou “She” logo de cara e depois foi atacando um<br />
hit atrás do outro (“Animal Nitrate”, “Film Star”, “The<br />
Wild Ones”, “Beautiful Ones” etc, etc) para delírio da<br />
galera fã do britpop noventista – incluso o autor deste<br />
texto. Brett Anderson, a bichaça linda que enlouqueceu<br />
machos e fêmeas nos anos 90, está magérrimo<br />
e com forma e disposição invejáveis. Todo de<br />
preto (assim como os demais integrantes da banda),<br />
comandou uma gig explosiva e que se manteve assim<br />
até a última música.<br />
O mesmo aconteceu em seguida, com o Garbage:<br />
ótimo e preciso musicalmente no palco, o quarteto<br />
americano do baterista e superprodutor Butch Vig e<br />
da vocalista musa (de Zap’n’roll e do nosso querido<br />
Publisher e “editador” André Pomba) talvez só não<br />
despertou a mesma animação na pirralhada presente<br />
ao Jockey porque esta desconhece bastante o<br />
repertório do grupo. Mas isso não foi problema para<br />
a lindaça e ainda bocetuda Shirley Manson, uma<br />
diliça de quarenta e seis anos de idade que nem em<br />
sonho aparenta ter tudo isso: magra, de vestidinho<br />
preto com as costas à mostra e botona preto de cano<br />
alto, ela se mostrou soberana ao comandar a gig<br />
que teve pouco material do último disco e todos os<br />
hits que celebrizaram o Garbage – entre eles, óbvio,<br />
“Stupid Girl”, “Push It” e “Only Happy When it Rains”.<br />
Showzaço.<br />
10<br />
Novembro-Dezembro/2012
Que só foi superado mesmo pelo Gossip, que<br />
finalmente deu as caras no Brasil após dois cancelamentos<br />
de turnês anteriormente programadas por<br />
aqui. Pois valeu a pena esperar e o próprio blog, que<br />
nunca foi nenhum fã devotado da banda, chapou ao<br />
final da apresentação. Quem esteve lá, pôde sacar<br />
total: o Gossip não é nenhuma maravilhosa, musicalmente<br />
falando. Faz um electro/punk/rock correto,<br />
eficiente, mas sem nada de excepcional. Porém o<br />
grupo tem uma gorda loca nos vocais e a performance<br />
dela faz toda a diferença no palco: Beth Ditto<br />
deitou e rolou, não parou um segundo, interagiu horrores<br />
com o público, bebeu, beijou fãs na boca, fez<br />
uma cover fodona do clássico “What’s Love Got to<br />
Do With It” (de Tina Turner), cantarolou o “oi oi oi” da<br />
novela “Avenida Brasil” e ainda terminou tudo cantando<br />
“We Are The Champions”, do Queen, à capella.<br />
A mulher é monstro e faz jus ao seu peso (uia!). Foi<br />
de longe o melhor show do Terra e sério candidato a<br />
melhor gig gringa de 2012 no Brasil.<br />
O resto foi o resto, claro. Na ala nacional quem se<br />
destacou mesmo foi o duo Madrid, apesar do repertório<br />
melancólico de seu disco de estreia. A pentelha<br />
Mallu Magalhães teve problemas com o som<br />
em seu set, chorou e passou vergonha alheia. Na<br />
ala gringa The Drums mostrou que é mesmo mais<br />
uma grande e logo esquecível empulhação do novo<br />
indie rock planetário e o Kings Of Leon… vejam bem,<br />
estamos falando do headliner do palco principal do<br />
festival: assim como nos shows anteriores no Brasil<br />
(em 2005 no finado Tim Festival, em 2010 no SWU),<br />
o conjunto dos irmãos Followill mostrou a mesma<br />
apatia de sempre, sem conseguir empolgar o público.<br />
Ao vivo a banda se arrasta como um mamute, incapaz<br />
de reproduzir a boa qualidade que exibe nas<br />
canções de estúdio. Parece que sobe ao palco com<br />
preguiça e pavor do mesmo, e só toca ali por estar<br />
sob a mira de um fuzil imaginário. Foi por isso que<br />
estas linhas online só assistiram umas três músicas<br />
do Kol; quando o Gossip subiu no palco indie, o blog<br />
se mandou para lá e deu tchau para um quarteto<br />
que, definitivamente, precisa repensar seriamente<br />
sua atuação ao vivo, em grandes festivais.<br />
Mas no conjunto geral o Planeta Terra se mostrou<br />
muito bom. Se continuar assim em 2013, está ótimo! M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
11
Pela quinta vez em sua história, O Kiss retornou<br />
ao Brasil, agora tocando para 25 mil<br />
pessoas na Arena Anhembi, em São Paulo.<br />
Em se tratando dos quatro mascarados, o público<br />
presente sabia que iria assistir a um grande espetáculo<br />
e com certeza saíram satisfeitos. Antes na fila,<br />
era possível sentir o clima do show, com diversos<br />
fãs pintando os rostos iguais aos músicos da banda,<br />
fazendo uma verdadeira festa.<br />
A parte da tarde foi programada para alguns sortudos<br />
participarem do Meet & Greet com o grupo. Os<br />
privilegiados além de conseguirem pegar autógrafos<br />
e fotos com os artistas, ainda assistiram a um show<br />
exclusivo acústico. Tudo isso aconteceu ao lado da<br />
sala de imprensa, pelo menos consegui ouvir. Pelos<br />
arredores, encontrei com o Nando e o Flavio, ambos<br />
da equipe do Viper, que demonstraram satisfação em<br />
poder participar do evento.<br />
Às 20h30, o grupo formado por Andre Matos (vocal),<br />
Felipe Machado e Hugo Mariutti (guitarras),<br />
Pit Passarell (baixo) e Guilherme Martin (bateria),<br />
sobe ao palco para aquecer o público. O Viper fez<br />
um set curto, mas bem selecionado. Com músicas<br />
bem conhecidas, a banda teve uma ótima recepção.<br />
“Living For The Night”, que na minha opinião é o hino<br />
12<br />
Arena Anhembi presencia mais um grande espetáculo do Kiss<br />
Anhembi – São Paulo (17/11/12)<br />
Texto: Marcos Chapeleta - Foto: Renan Facciolo<br />
desse retorno, foi cantada em coro. Andre aproveitou<br />
o espaço e falou sobre a turnê “To Live Again”,<br />
que comemorou os 25 anos do álbum “Soldiers of<br />
Sunrise”, convidando os presentes para o show de<br />
encerramento dessa reunião no Via Marquês, em<br />
São Paulo.<br />
Terminaram a apresentação com a versão de “We<br />
Will Rock You” do Queen, com Pit agradecendo “a<br />
geração que cresceu ouvindo Kiss” e jogou uma bola<br />
de futebol na galera.<br />
A movimentação acontecia mais uma vez entre os<br />
fãs do Meet & Greet, organizando filas ali nos bastidores,<br />
e não era por menos, tinha chegado o momento<br />
para tirar fotos com os músicos novamente, só<br />
que agora todos mascarados. Por volta das 21h45,<br />
foi colocado o enorme pano preto com o logotipo<br />
prateado, criando uma grande expectativa na plateia.<br />
Ao som de “Rock N’ Roll” do Led Zeppelin, ainda<br />
com a cortina, Paul, Gene, Tommy e Eric, sobem no<br />
palco, se posicionando no elevador.<br />
O tradicional locutor dos shows do Kiss anunciou<br />
“You Wanted The Best, You Got The Best”, em seguida<br />
caiu o pano e surgiu os caras lá do alto acompanhados<br />
de muitos fogos. A abertura não poderia ter<br />
sido melhor com o clássico “Detroit Rock City”. Sem<br />
Novembro-Dezembro/2012
medo de segurar os hits, dão sequência à apresentação<br />
com “Shout It Out Loud” e “Calling Dr. Love”.<br />
Com esse início apoteótico, Paul Stanley anunciou<br />
a próxima música, a nova “Hell Or Hallelujah”, do<br />
recém-lançado “Monster”. Essa faixa é daqueles casos<br />
que em pouco tempo já virou hit. “I Love It Loud”<br />
foi outro momento marcante, sendo cantada por toda<br />
a Arena Anhembi.<br />
De repente Tommy Thayer fica sozinho no palco,<br />
chegou a hora do solo do guitarrista. Nesse momento,<br />
sua guitarra solta explosões, como nos shows<br />
clássicos. Agora ao lado de Eric Singer, com sua<br />
bateria brilhante, os dois levitam, deixando o público<br />
extasiado. No final, Eric sacou uma bazuca (de<br />
mentira) e atirou, derrubando uma iluminação cinematográfica.<br />
Os dois músicos atuais fazem muito bem o papel<br />
de Ace Frehley e Peter Criss. Eric está na banda<br />
desde o início dos anos 90. Deixou o grupo no final<br />
da década antes da turnê de reunião com a formação<br />
original, retornando no início dos anos 2000. Já<br />
Tommy entrou na banda oficialmente em 2002, mas<br />
antes, ajudou Ace com os instrumentais da turnê de<br />
reunião, e gravou os solos no álbum Psycho Circus,<br />
de 1998.<br />
Voltando à apresentação, era a vez de Gene Simmons<br />
fazer o seu show. Com a luz baixa e muita<br />
fumaça, Gene mostra seu solo de baixo, que na<br />
verdade é um ato mais teatral, e “cospe sangue”.<br />
Através de ganchos ligados em sua “armadura”, o<br />
baixista “voou” até onde fica a iluminação no alto do<br />
palco, cantando e tocando com a banda, “God of<br />
Thunder”.<br />
Após “Psycho Circus ” e “War Machine”, chegou<br />
o momento de Paul Stanley. O vocalista elogiou<br />
o público brasileiro dizendo que o grupo passou<br />
pela Argentina, Chile e Paraguai, mas que o seu<br />
coração era de São Paulo. Em uma tirolesa, o<br />
músico atravessou pela plateia até chegar no alto<br />
da mesa de som, onde cantou a música “Love<br />
Gun”. Após retornar ao palco, Paul iniciou a música<br />
“Black Diamond” que em seguida foi cantada por<br />
Eric Singer.<br />
Uma pausa para o bis, a galera queria mais, e<br />
claro, os quatro mascarados retornam ao palco<br />
mandando uma sequência matadora, no melhor dos<br />
sentidos, com “Lick It Up”, “I Was Made for Lovin’<br />
You” e “Rock and Roll All Nite”, com a famosa chuva<br />
de papel picado. Depois de tudo isso, a apresentação<br />
encerrou com uma queima de fogos.<br />
O Kiss trouxe um repertório certeiro, foi aquele<br />
show onde não se percebe o tempo passar. Se não<br />
foi a melhor passagem da banda pelo Brasil, com<br />
certeza, foi uma das melhores. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
13
Semana conturbada para os entusiastas do<br />
metal. A começar pela mudança de local e<br />
posteriormente o cancelamento do evento.<br />
Pausa dramática: o clima de derrota reinou por<br />
algumas horas até a confirmação de que o show<br />
aconteceria no dia seguinte, no Cine Jóia, mas sem o<br />
Ratos de Porão, Krisiun e Korzus, infelizmente.<br />
Domingo, bairro da Liberdade, região central de<br />
São Paulo, Praça Carlos Gomes agitada, Cine Jóia<br />
lotado e uma surpresa, uma banda de abertura:<br />
Worst, hardcore/metal de primeira linha, escola Nova<br />
York, com vocais em português.<br />
O quarteto capitaneado pelo experiente batera<br />
Fernando Shaefer (Pavilhão 9/Korzus/Paura/ The<br />
Silence) conta também com o baixista do Musica<br />
Diablo: Ricardo Brigas; o do guitarrista do One True<br />
Reason, Douglas Melchiades e vocais de Thiago<br />
Monstrinho, o mesmo também ocupa a posição de<br />
baterista nas bandas: Chorume, Presto! e Medellin.<br />
Só macaco velho! Representaram, aquecimento em<br />
grande estilo.<br />
Expectativa no ar, marcado para às 22h, o show<br />
do Cavalera Conspiracy começou com 15 minutos<br />
de atraso. “Warlord” do “Blunt Force Trauma” abriu a<br />
14<br />
Cavalera Conspiracy toca clássicos do Sepultura<br />
Cine Joia – São Paulo (18/11/12)<br />
Texto: Paulo Ueno - Foto: Patrícia Laroca<br />
noite, seguido das pedradas: “Torture”,<br />
“Inflikted” o primeiro hit que<br />
curiosamente chegou a ser usado<br />
como nome para banda, “Refuse<br />
Resist” relembrando os bons tempos<br />
de Sepultura; “Sanctuary”…<br />
Comunicativo, um pouco mais<br />
gordo e com alguns dentes a<br />
menos, Max Cavalera comandava<br />
a plateia em uníssono. O público<br />
estava em polvorosa e queria mais;<br />
“Terrorizer” e outro clássico do Sepultura,<br />
“Territory”. Todos foram ao<br />
delírio, a emoção tomou conta do<br />
antigo cinema.<br />
Com excessão ao Iggor, foi à<br />
segunda vez que Max tocou em<br />
São Paulo esse ano com os mesmos<br />
musicos: Marc Rizzo(Guitarra)<br />
“Soulfly” e Tony Campos, (Baixo)<br />
“Asesino”. O Iggor continua com<br />
a mesma pegada rústica e ultra<br />
violenta.<br />
O hit “Killing Inside” e a faixa<br />
título do ultimo disco “Blunt Force<br />
Trauma” vieram como um soco no<br />
estômago, a “Black Ark” puxou os<br />
filhos de Max e Iggor para o palco e a explosão para<br />
os mais saudosistas estava chegando, um revival<br />
dos anos 90: “Arise”, uma do “Nailbomb”, “Desperate<br />
Cry” e “Propaghanda” não deixou um balzaquiano<br />
sossegado e ainda teve mais: “I Speak Hate” e outro<br />
petardo “ATTITUDE” de repente, Max pergunta para<br />
o irmão em que ano eles haviam composto a “Troops<br />
of Doom”, resposta: 1984, “Troops of Doom”!<br />
Bem Humorado, Max chama Brann Dailor, baterista<br />
do Mastodon, banda que dividia o mesmo pacote<br />
com o Slayer e quase tocou aqui para mandar<br />
um cover do Black Flag, “SIX PACK” e ainda disse<br />
que ele vai passar uns dias na casa do Iggor, com<br />
certeza, um dos momentos altos do concerto, na<br />
sequência “Inner Self” e fazendo jus à cabeleira vermelha,<br />
encerrando o baile, de 1996: “Roots”, o Cine<br />
Jóia tremeu!<br />
Acredito que a grande maioria do público, inclusive<br />
esse escriba, gostariam de ter visto as três bandas<br />
citadas no início. Naquele clima de nostalgia, uma<br />
participação do Ratos seria incrível, afinal eles escreveram<br />
juntos vários capítulos do metal nacional.<br />
Mesmo depois de tantos problemas, eles provaram<br />
porque são tão importantes M<br />
Novembro-Dezembro/2012
The Cribs impõe fúria no Beco<br />
Beco 203 – São Paulo (29/11/12)<br />
Texto e foto: Fernando Montinho<br />
Isso mesmo, com fúria, o disco lançado<br />
em maio desse ano rendeu aos irmãos<br />
“Jarman” mais uma turnê que favoreceu<br />
São Paulo no clube Beco 203.<br />
A banda que se apresentou por aqui no ano<br />
passado estava com guitarras mais afiadas,<br />
porém esse novo The Cribs, sem Johnny Marr,<br />
ficou ainda melhor e mais autêntico.<br />
A Pegada rock de moleques sujos que fazem<br />
os garotos se atentarem aos riff’s furiosos e as<br />
garotas se derreterem pelos bad indie boys no<br />
palco, mais que isso, o The Cribs é uma das<br />
poucas bandas que sobreviveu a onda do rock<br />
inglês do inicio dos anos 2000. Com cinco discos<br />
na mochila, o reportório no Beco foi bem<br />
misturado o que agradou e resplandeceu aos<br />
amantes do indie rock.<br />
Favorecidos pelo recém lançado, “In the Belly<br />
of the Brazen Bull”, e o espetacular “Men’s<br />
Needs, Women’s Needs, Whatever”, o set<br />
equilibrou com ”Cheat on Me”, “We Share the<br />
Same Skies”, “Another Number”, “You Were<br />
Always the One” e muito guitarrada na cara da<br />
molecada.<br />
Já disse no ano passado e volto a repetir,<br />
The Cribs tem mais uns 15 discos pela frente<br />
e milhares de seguidores que amam essa<br />
pegada de rock sujo e de garotos bonitos, pois<br />
a qualidade dos garotos vai além e deixa muita<br />
banda velha no escanteio. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
15
16<br />
A fada negra do rock Amy Lee e sua banda Evanescence<br />
Espaço das Américas - São Paulo (07/10/12)<br />
Texto e Foto: Fernando Montinho<br />
Abanda não tocava em São Paulo desde<br />
2009, quando foi atração no último dia do<br />
Maquinária Festival. O Evanescence por si<br />
é mais empolgação do que rock ou atitude, celebrada<br />
por jovens da era emo gótico. É difícil não agradar<br />
com uma vocalista bonita, letras amargas e tristes,<br />
também ao contar pelo número de crianças no Espaço<br />
das Américas, o rock de peso dos anos 2000<br />
está ali representando por uma fatia de jovens, que<br />
representam o rock em sua forma fria e triste.<br />
Nunca fui fã do grupo, mas posso garantir que<br />
mesmo com toda a robotização utilizada na banda, o<br />
Evanescence/Amy Lee funciona muito bem ao vivo, a<br />
banda possui uma cartela de hits que agradam e eles<br />
foram despejados em doses intercaladas entre uma<br />
música e outra do novo disco.<br />
“What You Want” abriu a noite em clima dance rock,<br />
fazendo geral pular e gritar cada palavra da letra, esmagando<br />
os demônios, “Going Under” deu sequência<br />
ao que chamo de ritmo de setlist pré-aprovado, e<br />
assim a noite seguiu sem alterações ao que já havia<br />
sido apresentado pela banda na tour que roda o<br />
Brasil.<br />
Em sua simpatia extrema, Amy, EMOcionou os fãs<br />
ao dizer que “não existe no mundo fãs, como os fãs<br />
do Brasil”. Acho que a surpresa da noite foi quando<br />
eles tocaram “Imaginary” na versão do disco “Origin”<br />
e um b-side chamado “If You Dont Mind”.<br />
O clichê às vezes é bom, e com chuva de confetes,<br />
Amy Lee reproduziu sua bela voz em “My Immortal”<br />
dando fim e paz aos fãs desesperados que passaram<br />
a semana inteira acampados na porta do Espaço das<br />
Américas. M<br />
Novembro-Dezembro/2012
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o lendário<br />
Marky raMone<br />
Por: Marcos Chapeleta<br />
Fotos: Divulgação<br />
em sua atual passagem pelo Brasil, o baterista<br />
Marky Ramone tocou pela primeira<br />
vez com a sua nova banda Blitzkrieg,<br />
que tem à frente o ex-Misfits, Michael Graves.<br />
A apresentação aconteceu durante o festival<br />
Two Wheels Brazil. Aproveitando a vinda, o ex-<br />
Ramones também atacou como DJ em uma das<br />
edições da festa Ruby Tuesday, no Bar Secreto,<br />
em São Paulo.<br />
Com a casa cheia, Marky tocou o melhor do<br />
punk rock para o público ali presente, muitos<br />
queriam ver de perto o artista. Nós da Dynamite<br />
tivemos um encontro com o músico. Entre suas<br />
histórias de vida, Marky revelou os futuros proje-<br />
18<br />
tos, entre eles, trazer seu projeto gastronômico<br />
para o Brasil e tocar no próximo Rock in Rio.<br />
Dynamite: Vamos começar a falar sobre o<br />
último show que você fez por aqui. Primeira<br />
apresentação no Brasil com a sua banda<br />
Blitzkrieg, qual foi à impressão que teve com<br />
o público?<br />
Marky Ramone: Me sinto muito orgulhoso de<br />
que os fãs sentem que ainda mantenho o legado<br />
dos Ramones. Todos os membros de todas as<br />
formações se sentem muito orgulhosos de saber<br />
que continuo mantendo isso vivo. Tocamos pela<br />
primeira nesse festival para mais de duas mil,<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
Novembro-Dezembro/2012
cinco mil pessoas, fiquei<br />
muito feliz e empolgado,<br />
mas acima de tudo, o que é<br />
mais importante é manter o<br />
legado dos Ramones vivo.<br />
Dynamite: Era visível na apresentação<br />
um público bem<br />
mais jovem, se renovando, o<br />
que você acha disso?<br />
Marky Ramone: Fico muito<br />
grato por isso, à juventude<br />
precisa desse tipo de coisa<br />
dessa novidade e os Ramones<br />
sempre teve essa<br />
pré-disposição de trazer o<br />
novo. É muito bacana saber<br />
que as novas gerações<br />
ainda tem essa ansiedade,<br />
igual ao público dos anos 80<br />
e 90 tinha quando a banda<br />
estava em atividade.<br />
Dynamite: A banda atual<br />
tem à frente o ex-Misfits,<br />
Michal Graves, vocês pensam em gravar algum<br />
álbum?<br />
Marky Ramone: Lançamos dois singles, a<br />
ideia não é lançar um disco e sim gravar vários<br />
singles, vários bons singles, se dedicar a cada<br />
música, e manter esses singles saindo. É o<br />
nosso foco.<br />
Dynamite: Nesse show do Two Wheels Brazil<br />
você tocou a versão de “What A Wonderful<br />
World” do Louis Armstrong, gravada no<br />
álbum solo de Joey Ramone. Esse momento<br />
foi uma homenagem ao antigo companheiro<br />
de banda?<br />
Marky Ramone: Essa música sempre foi muito<br />
especial para os Ramones, para mim em especial<br />
foi à última gravação junto com o Joey. Sempre<br />
que existe uma oportunidade nós tocamos,<br />
mas não é uma coisa preparada, simplesmente<br />
é do momento e não deixa de ser uma homenagem<br />
para ele.<br />
Dynamite: O punk rock atualmente faz parte<br />
do mainstream, o que você acha da cena e das<br />
bandas atuais?<br />
Marky Ramone: Hoje o que as bandas falam é<br />
o que os Ramones falavam, a base que eles têm<br />
é o que a gente também tinha. Não acho que as<br />
pessoas mudam, a tecnologia muda e ela pode<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
mudar as pessoas. A essência<br />
dessa nova geração é a<br />
mesma, nós inclusive temos<br />
contato com essas bandas.<br />
Dynamite: Quanto ao seu<br />
projeto gastronômico,<br />
você pensa em trazê-lo<br />
para o Brasil e como surgiu<br />
essa paixão?<br />
Marky Ramone: Existe sim<br />
essa possibilidade. A paixão<br />
pela gastronomia começou<br />
quando eu tinha 18 anos,<br />
saí de casa e precisei aprender<br />
a cozinhar. Meu pai foi<br />
chefe de cozinha em Nova<br />
York, e isso se desenvolveu<br />
de uma forma muito natural<br />
pela necessidade quando fui<br />
morar sozinho.<br />
Dynamite: Em 2013 sei<br />
que já tem alguns shows<br />
agendados no Brasil,<br />
inclusive vão tocar em um grande festival.<br />
Poderia adiantar um pouco sobre isso?<br />
Marky Ramone: No momento vamos tocar no<br />
Maquinária com Kiss, Slayer, Prodigy e outras<br />
bandas. No próximo ano vamos tocar no Manifesto<br />
em janeiro e também já estamos confirmados<br />
para tocar no Rock in Rio. M<br />
Agradecimentos: Thaís Pimenta, Leilane<br />
Costa, Alex Palaia e Marcelo Blanco.<br />
19
Festa roCk n’ roll da evoke<br />
se estende Pela Madrugada<br />
Por: Marcos Chapeleta<br />
Fotos: Divulgação<br />
aproveitando a vinda do lendário baterista<br />
Marky Ramone ao Brasil, a marca<br />
de óculos Evoke promoveu em novembro<br />
um evento com a presença do músico.<br />
Durante a festa, localizada em Pinheiros,<br />
rolou muita música com DJs e alguns convidados<br />
ilustres, como o vocalista do Sepultura,<br />
Derrick Green e o ex-DJ do Planet Hemp, hoje<br />
conhecido como DJ Zegon. A Evoke surgiu há<br />
mais de 10 anos quando entrou no mercado<br />
nacional. O objetivo sempre foi o público da<br />
arte, música e moda. “Temos uma raiz muito<br />
forte na música e na arte, foi um coisa espontânea,<br />
a gente fez simplesmente o que achava<br />
legal”, disse o representante da marca Gustavo<br />
Martins, conhecido como Gus.<br />
20<br />
Essa paixão pela música também é refletida<br />
dentro do escritório. Os integrantes da equipe,<br />
além de vestirem a camisa da marca, também<br />
são músicos. Quando dão uma estressada<br />
com o trabalho, eles simplesmente vão até o<br />
estúdio improvisado dentro do QG para fazer<br />
um som. “Quebramos alguns paradigmas no<br />
universo ótico, ao colocar no mercado um<br />
óculos assinado pelo grupo Sepultura. Nunca<br />
existiu uma marca que se associou com uma<br />
banda e fez uma colaboração dessa forma”,<br />
completou Gus.<br />
As séries especiais dos óculos de sol não<br />
pararam por aí. O grande convidado da festa,<br />
Marky Ramone, também teve seu nome em<br />
uma edição limitada. O modelo do artista,<br />
Novembro-Dezembro/2012
chamado Evoke Poncherello Aviador, foi produzido<br />
em pequena escala, apenas mil sortudos<br />
tiveram a chance de adquirir. O Gus falou<br />
mais sobre o modelo: “Alguns anos depois<br />
da série do Sepultura, fizemos também a do<br />
Marky Ramone. Foi uma honra para nós, fomos<br />
fãs dos Ramones, tocamos na nossa garagem<br />
inclusive, foi um sonho que se realizou.<br />
Fizemos uma releitura do modelo aviador<br />
clássico, o Marky nos ajudou na concepção e<br />
é um produto que tem feito muito sucesso”.<br />
Entre muitos bate-papos, o evento se prolongou<br />
até tarde da noite na casa noturna<br />
Bar Secreto. A festa carioca Ruby Tuesday,<br />
em parceria com o Hotel Fasano, promoveu a<br />
discotecagem de Marky Ramone. Mas antes,<br />
tiveram outros DJs, além da apresentação<br />
da banda carioca Iggy D. And The Traitors. O<br />
trio formado por Igor Diniz (vocal e guitarra),<br />
Glauco Caruso (bateria) e Joao Pedro Bonfa<br />
(baixo) vive na Favela do Vidigal, onde estão<br />
fazendo uma cena rock n’ roll por lá, e o álbum<br />
do grupo está a caminho: “A gente já gravou<br />
o disco, pensamos em lançar em dezembro<br />
em uma das festas Ruby Tuesday que é a<br />
nossa festa lá no Rio”, disse Igor.<br />
O projeto Ruby com residência no Hotel Fasano<br />
tem dado muito certo, a previsão é manter<br />
essa parceria até março de 2013. Igor conta<br />
mais sobre a proposta: “Esse foi o pretexto<br />
para ir ao Rio, fazer uma cena e montar uma<br />
festa para bombar a minha banda. O Fasano<br />
achou legal, comprou a história e uma vez por<br />
mês eu levo as pessoas que eu choro quando<br />
eu os vejo, como o Marky Ramone e também<br />
o Serguei”, brincou o músico londrinense. M<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
21
Para os caras do CPM 22, nestes 17 anos de<br />
estrada muitas coisas aconteceram, como por<br />
exemplo, mudanças de formação, estar em<br />
uma grande gravadora e retornar ao independente.<br />
Mas isso em nenhum momento fez o grupo abaixar<br />
a cabeça, pelo contrário. Atualmente formada por<br />
Fernando Badauí (vocal), Luciano Garcia (guitarra),<br />
Ricardo Japinha (bateria) e Heitor Gomes (baixo),<br />
a banda está mais madura e se prepara para outro<br />
grande desafio, que é gravar um álbum acústico.<br />
A Dynamite conversou com Badauí e o Heitor sobre<br />
o novo projeto, também falaram das novas sonoridades,<br />
carreira internacional, atual formação, internet<br />
e até de futebol.<br />
Dynamite: O CPM 22 está independente, como<br />
anda a banda este momento?<br />
Badauí: A gente lançou o disco “Depois de um longo<br />
inverno” quando saímos da Universal, esse foi o<br />
primeiro disco depois disso. Ele saiu independente,<br />
mas não foi lançado pela gente, saiu por uma gravadora<br />
independente do Rio de Janeiro chamada Performance<br />
Music, que deu uma certa estrutura, de clipes<br />
e divulgação em rádio, na medida do possível, na<br />
medida do orçamento deles, mas fizeram um trabalho<br />
bem digno com o disco. A gente conseguiu pela divulgação<br />
razoável assim depois de algum tempo, mas<br />
pode se dizer que é um disco independente.<br />
22<br />
CPM 22<br />
Novas sonoridades sem perder a essência<br />
Por: Marcos Chapeleta<br />
Fotos: Rafael Kent e Deork Daniel<br />
Dynamite: Ouvindo esse disco, ficou bem claro<br />
que a banda teve um amadurecimento, inclusive<br />
no som, com novas propostas, influências.<br />
Badauí: A gente passou por várias coisas, toda a burocracia<br />
ali que a gente teve para poder sair da Universal,<br />
com a liberação do disco “Cidade Cinza” que foi em 2007<br />
para cá, muitas coisas aconteceram com a gente e acabou<br />
refletindo no disco, que a gente mesmo produziu.<br />
Isso também acaba refletindo no som porque foi produzido<br />
pelo Fernandinho (Fernando Sanches), que é o nosso<br />
ex-baixista, que já produziu inúmeras bandas de punk<br />
rock e também pelo Luciano, o nosso guitarra. Então,<br />
os timbres e a sonoridade foram tirados por quem ouve<br />
realmente o que a gente gosta, sabe? Por isso que dá<br />
uma diferença meio que brutal pelos discos anteriores.<br />
Dynamite: Atualmente vocês estão trabalhando<br />
em um DVD acústico, não é isso?<br />
Badauí: Isso, vai ser gravado em janeiro se tudo der<br />
certo, estamos fazendo músicas inéditas que vão<br />
entrar no disco e no DVD. Estamos naquela fase<br />
de fechamento, de quem vai veicular, tem algumas<br />
gravadoras querendo lançar. A gente nunca escondeu<br />
que quer voltar para gravadora, para ter aquela estrutura<br />
que sempre teve desde que sejam propostas<br />
decentes, não as que a gente teve para esse disco aí.<br />
Dynamite: Vocês estão concorrendo ao Grammy<br />
mais uma vez, o que acham dessa exposição a<br />
nível internacional?<br />
Novembro-Dezembro/2012
Badauí: Não é fácil, acho que assim, se você tem<br />
opção de tocar em datas importantes no Brasil, eu<br />
prefiro tocar aqui do que ir lá e ganhar dinheiro só<br />
de camiseta vendida. Faria isso também se fosse à<br />
única opção, por isso que eu respeito muito, mas sei<br />
lá. Das vezes que a gente foi, rolou cachê, com uma<br />
estrutura legal, cachê reduzido, claro, mas não foi<br />
para passar roubada.<br />
Dynamite: Agora vou falar contigo Heitor, novo<br />
membro. Quer dizer, novo não mais, já faz um<br />
tempo que você está na banda. Como está a experiência<br />
de trabalhar com a rapaziada?<br />
Heitor Gomes: Cara, está demais, está sendo<br />
uma experiência muito produtiva, tenho aprendido<br />
Badauí: Cara, é um prêmio que veio em muita boa bastante, tenho vivido uma outra cultura do rock<br />
hora para a gente, porque esses prêmios que tem também, uma cultura mais clássica, punk rock. Eu já<br />
hoje em dia a gente não participou muito deles ulti- tinha um pouco dessas influências, mas aqui dentro<br />
mamente, e esse é um prêmio que ele é avaliado e do CPM eu pude me aprofundar mais, em bandas<br />
votado por pessoas do meio, por jornalistas, críticos do estilo, de skapunk, até de outros estilos, como<br />
e músicos, além de ter uma bandeira internacional, o rockabilly e tal. Enfim, estou escutando bastante<br />
muito importante que dá um know how grande para a coisa assim e a experiência com o público foi animal<br />
banda, porque a gente já teve essa experiência com cara, porque quando eu cheguei, eles me deram uma<br />
o “Cidade Cinza”. Nesse momento, com esse disco baita moral, eu soube lidar com isso, sendo grato,<br />
do jeito que foi, seria muito interessante ganhar esse trabalhando em cima, realizando shows com extrema<br />
prêmio. Ganhar um Grammy é melhor do que ganhar dedicação, com vontade, além de estar naquele mo-<br />
qualquer outro tipo de prêmio na música.<br />
mento fazendo e tal. Isso é importante, para consoli-<br />
Dynamite: Falando dessa carreira internacional, dar essa minha entrada e ao mesmo tempo, valorizar<br />
vocês fizeram uma turnê com o “Cidade Cinza”, toda essa moral que eles me deram. Foi bem legal a<br />
foram para a Europa e Estados Unidos?<br />
adaptação, a experiência está sendo animal e poder<br />
Badauí: A gente fez Estados Unidos duas vezes na estar pegando esse final de transição da banda. En-<br />
mesma turnê, emendando com a do disco ao vivo e a fim, o entendimento de que o projeto para 2013 seria<br />
do “Cidade Cinza”, depois a gente foi para Londres e o acústico e estar vendo isso acontecer lado a lado<br />
Portugal, já tinha tocado no Japão também. Po, legal, com o Badauí, com o Luciano, com o Japinha, com a<br />
uma experiência bem boa assim, a maior parte do banda, vendo essa atmosfera sendo gerada. Porque,<br />
público era de brasileiro, mas sempre vai um gringo por exemplo, “Depois de Um Longo Inverso” tem um<br />
ou outro, e também de repente a brasileirada que conceito que já é novo dentro do CPM, mas bem<br />
não vê muito o quê está acontecendo aqui de perto. conceitual, com bastante propriedade e agora nesse<br />
Mas Portugal foi legal porque tinha meio-a-meio, acústico, com certeza também vai dar uma renovada,<br />
bastante público português que veio de outros esta- vai ficar mais rica ainda a banda, musicalmente falandos<br />
e outras cidades.<br />
do e vocês vão ver, vai ser animal.<br />
Dynamite: E é a mesma língua também, isso Dynamite: Você também está participando da<br />
ajuda bastante.<br />
criação com o trabalho novo?<br />
Badauí: Sim, fizemos uma amizade legal com o Heitor Gomes: Participando, aprendendo muito com<br />
pessoal do Fitacola, que é uma banda que repre- o Badauí e com a galera da banda, escutando muito<br />
senta esse tipo de som lá. Então foi bem legal a os conselhos deles e as experiências. As criações<br />
experiência, além da diversão, o rolê né meu, você estão sendo muito boas também, está animal cara,<br />
poder viajar tocando. A gente poderia ter feito outras animal.<br />
turnês assim, mas é meio complicado você sacrifi- Badauí: É que ele entrou logo depois que a gente<br />
car shows importantes no Brasil com cachê melhor, lançou o disco, ele entrou acho que em maio ou<br />
com estrutura melhor no meio da turnê para tocar, junho do ano passado, a gente lançou o disco em<br />
simplesmente para falar que foi para a Europa sabe? abril.<br />
Respeito todas as bandas que tomam esse tipo de Heitor Gomes: Foi em agosto.<br />
atitude, mas sinceramente a gente não está a fim de Badauí: É, ele entrou em agosto. E a gente não<br />
passar roubada em outro país não.<br />
questionava a capacidade dele, a gente sabe que ele<br />
Dynamite: Porque não é fácil.<br />
é um dos melhores baixista do Brasil.<br />
Novembro-Dezembro/2012 23
Dynamite: Vocês já se conheciam?<br />
Badauí: Eu conhecia ele pouco como pessoa, eu e<br />
o Japinha já conhecia ele, por se encontrar e trocar<br />
ideia, mas a nossa preocupação era se ele se adaptaria<br />
na filosofia da banda. Tocar a gente sabia que<br />
ele ia tocar, o Charlie Brown Jr. que é a banda que<br />
ele veio, é diferente do CPM, mas está ali, todos<br />
os caras ouvem punk rock, tá ligado, já tem isso na<br />
mente, conhecem as bandas que a gente tem como<br />
influência, então a gente sabia que quanto a isso não<br />
teria problema. Era mais o lance de adaptação de<br />
pessoa mesmo. Aí o moleque, po, super simples e<br />
a gente está bem feliz com o resultado. A gente deu<br />
liberdade para ele, o Fernandinho também toca muito,<br />
tem a linha dele, o estilo dele e aí a gente falou:<br />
‘Po, faz a sua linha aí’. Ele mudou muita coisa, tá<br />
ligado, até para ele se sentir bem e o público abraçou<br />
a entrada dele.<br />
Dynamite: Inclusive, a saída do Fernando foi a<br />
mais pacífica possível, não é?<br />
Badauí: Ele que quis, a gente não esperava, ele<br />
pediu para sair, estava totalmente estafado com a estrada,<br />
porque com filho de um ano, o trabalho, a mãe<br />
não estava dando conta, o pai dele também, pois<br />
ele tem o Estúdio Rocha, o pai dele estava com uns<br />
problemas de saúde na época e agora está melhor,<br />
graças a Deus, o Sr. Claudio. E aí não estava dando<br />
conta de fazer tudo, ele falou: ‘Meu, estou afim de<br />
sair, não está dando mais para mim, mas eu fico até<br />
vocês arrumarem um baixista, se eu precisar ficar<br />
um ano, eu fico, mas eu quero que vocês saibam<br />
e comecem a procurar, porque eu estou realmente<br />
precisando parar, de sair da estrada mesmo’. Ele<br />
tem o Inimigo que faz um pouco menos de show,<br />
são turnês mais definidas, em ficar um mês e para,<br />
faz um show ou outro. A gente tem uma rotina diária,<br />
então é complicado mesmo, mas por sorte, tinha um<br />
puta baixista aí que tinha acabado de sair também.<br />
E outra, ele já sabia como lidar com televisão, com<br />
rádio, com estrada, já estava no mesmo ritmo que<br />
a gente. Então foi uma transição muito fácil para a<br />
gente, graças a Deus, porque achar baixista bom e<br />
baterista é muito difícil.<br />
Heitor Gomes: Para mim foi um presente, mais um<br />
do universo, já me sentia realizado de estar tocando,<br />
de fazer parte de mainstream no Brasil e agora com<br />
o CPM está animal meu, estou muito feliz, sério.<br />
Dynamite: Vocês foram praticamente os representantes<br />
do cenário underground que assinaram<br />
o contrato com uma grande gravadora. Vocês<br />
tinham essa noção quando estavam com a demo<br />
encaminhada?<br />
Badauí: Cara, eu vou te falar, a gente tinha noção do<br />
que queria meu, a gente não queria levantar bandeira<br />
nenhuma, não queria arrastar banda nenhuma com<br />
24<br />
a gente, não queria ditar regras, não queria criar<br />
conceito nenhum. O que aconteceu depois, a gente<br />
não tem nada a ver com isso, nem por bem, nem por<br />
mal, que fique claro. A gente sabia o que queria para<br />
o CPM 22, a gente conseguiu boa parte dos nossos<br />
planos, com seus altos e baixos e estamos aqui com<br />
12 anos de carreira profissional e com 17 anos de<br />
banda, fazendo o que a gente realmente quis. Erramos<br />
algumas vezes com certeza, senão não teria<br />
graça também, a gente não amadureceria sem esses<br />
erros, mas não me sinto representante de underground<br />
nenhum cara, acho que a gente tinha uma<br />
proposta de fazer o CPM 22 virar uma banda profissional<br />
e era isso que tinha em mente. Se a gente ajudou<br />
alguém ou abriu a mente de alguns produtores,<br />
beleza, mas se a coisa distorceu não foi por causa<br />
nossa não (risos).<br />
Dynamite: Não nos comprometa né (risos).<br />
Badauí: Meu, assim como o Dead Fish, Garage<br />
Fuzz, o Hateen, fomos bandas da mesma geração no<br />
final dos anos 90, com influências do punk rock californiano,<br />
com bandas de hardcore do final dos anos<br />
80, são bandas que a gente ouve até hoje, ama essas<br />
bandas, são milhares de bandas, umas ficaram<br />
maiores do que outras, outras tentaram, cresceram e<br />
chegaram até onde acharam que estava bom. Cada<br />
um sabe do seu caminho e sabe o que quer para o<br />
CPM 22, nada mais do que isso. Mas a gente não<br />
imaginava que pudesse ganhar prêmios importantes<br />
na Globo, ganhar Grammy, isso com certeza foram<br />
coisas que a gente buscou realmente, mas não esperava<br />
que chegasse tão longe.<br />
Dynamite: Fazendo um apanhado de hoje no<br />
independente e daquela época, o que você vê de<br />
diferença?<br />
Badauí: Aquela época existia mais sentimento cara,<br />
existia mais vontade, mais união, não existia internet,<br />
estava começando a nascer à internet. A internet te<br />
deu milhares de benefícios, mas te deu também um<br />
milhão de idiotas sabe? Tipo, um monte de moleque<br />
que meu, não saiu nem da escola, moleque que não<br />
Novembro-Dezembro/2012
tem nenhuma experiência na vida, nunca trepou inteiro, mas tem a maior parte. Acho que o universo<br />
direito, nunca tomou um porre e caiu de cara, nunca do disco caiu para esse lado, a gente tinha passado<br />
saiu na mão, nunca apanhou da vida, entendeu? por muitas coisas, muitos problemas, a gente queria<br />
Acha que sabe tudo e distorceu a cena toda. Então, refletir isso de um efeito contrário, um disco para<br />
acho que a molecada tem que se ligar um pouco cima, mesmo tendo uma letra que refletisse tudo o<br />
nisso. Acho que as bandas da nossa geração con- que a gente viveu. Não sei se vai continuar tendo<br />
tinuam na mesma batalha, com o mesmo sentimento, ska ou não, sei lá, a gente está mais na pegada do<br />
sabe, independente de tocar para mil, para cem, acústico, com umas coisas mais folk mesmo, vamos<br />
ou para vinte mil pessoas, tipo, aquilo é a verdade ver cara, o futuro não sei te dizer. Agora a gente está<br />
ainda daquelas pessoas que estão ali, dessas ban- pensando somente no acústico, as músicas que a<br />
das que eu citei. Tem algumas poucas bandas novas gente está compondo são mais punk rock mesmo, só<br />
que se ligaram nisso e fazem o mesmo caminho, que tocando no violão elas ficam mais folk, quase um<br />
agora a maior parte, não só de bandas, mas a maior country americano. Está bem legal, estou gostando<br />
parte da juventude dos adolescentes de hoje, tipo, das músicas que tem saído, mas a gente também<br />
na hora que a vida cobrar mesmo, não vai saber se gostou da experiência do ska, talvez em um futuro<br />
virar. Acho que a internet é a moradia do covarde, próximo a gente possa voltar a fazer isso.<br />
todo mundo é valente, todo mundo sabe tudo, todo Dynamite: Essa música de trabalho “Vida ou<br />
mundo é foda, todo mundo é viajado, mas na hora Morte”, vocês fizeram o clipe com um clima super<br />
que a grana apertar ali, na hora que você tiver um astral, chamaram um monte de amigo, essa foi à<br />
filho, na hora que precisar pagar conta, sofrer um ideia mesmo?<br />
processo nas costas, quero ver se virar, entendeu? Badauí: Só amigo, não tinha nenhum figurante ali.<br />
A real é essa, a molecada tem que acordar nesse Estavam todos os nossos amigos, da nossa geração<br />
sentido aí. A gente não é mais que ninguém né meu, ali. Estava o Koala, Sacomã, Hospede, Poisé, Lamb,<br />
nem o CPM, nem eu, nem a nossa geração, mas a sei lá, muita gente, o Tadeu, Henrique do Oitão,<br />
nossa geração foi tão verdadeira quanto à passada, caras de outro tipo de hardcore também né meu,<br />
entendeu? A gente aprendeu com os erros, a gente hardcore mais pesado. Porque a gente anda junto,<br />
pegou um Brasil difícil, a gente pegou um final de frequenta os mesmos shows, não foi uma coisa for-<br />
uma ditadura, mesmo sendo moleque, entendeu? A çada, todo mundo já se conhece. A gente ficou super<br />
gente sabe como é ganhar e perder dinheiro, você feliz com o clipe, com o diretor Rodrigo Giannetto, foi<br />
ver seu pai quebrar. Eu trabalhei a minha vida inteira, no bar do Fralda, também um cara emblemático de<br />
acho que falta um pouco disso, um pouco de maturi- toda essa cena aí. Então, é essa união que eu acho<br />
dade da vida para essa molecada que está montando que falta sabe, tipo, você ter uma amizade à cima de<br />
banda hoje em dia. Até porque isso acaba refletindo qualquer coisa, hoje a molecada não tem muito isso<br />
no conteúdo das músicas.<br />
e dá um pouco de dó, é muito legal o que a gente<br />
Dynamite: Falando da sonoridade que vocês es- viveu. O clipe passou isso aí, o clima de amizade de<br />
tão buscando com coisas novas, como surgiu a tem tudo a ver com esse tipo de som, a linha mais<br />
ideia de colocar elementos de ska no som? inglesa do ska.<br />
Badauí: É uma ideia antiga já isso aí cara, boa parte Dynamite: E você, muito ligado ao futebol (o vo-<br />
das nossas influências já misturavam punk rock com calista é corintiano roxo), o que fala para o Lu-<br />
ska, Operation Ivy, Suicide Machines, NOFX, Ranciano (palmeirense) nesse momento?<br />
cid, até o próprio Clash que foi uma das primeiras a Badauí: O que eu falo é, a gente fala sobre coisa sé-<br />
fazer isso, Bad Brains. Era uma ideia antiga, pode ria sobre isso. Acho que o Palmeiras tem que acordar<br />
se dizer até de 2006, 2005, a gente depois do que para a vida, varrer aquela corja de político safado<br />
passou, depois do “Cidade Cinza”, um disco mais que tem lá dentro, um contra o outro, a oposição tem<br />
sisudo mesmo, com um teor de revolta no bom sen- que se entender com a situação, senão nada vai dar<br />
tido, não muito comercial, a gente falou: ‘Po, vamos certo e tem que estruturar o clube, porque hoje o<br />
fazer alguma coisa que a gente possa se reinventar clube moderno não tem mais como, é tudo empresa,<br />
ou então, trazer as influências que a gente quer, de não tem mais como você ter uma política ruim e ser<br />
repente esse é o momento’. Foi uma conversa assim bem sucedido, vai ter que encarar de novo essa situ-<br />
mesmo no começo do ano, depois das férias que ação provavelmente, mas tem que tirar lição de tudo<br />
a gente tirou, conversei mais com o Luciano sobre isso como o Corinthians tirou.<br />
isso, ele veio com a “Vida ou Morte”, achei animal e Dynamite: E dezembrão?<br />
falei: ‘Vamos nessa pegada aí, meter uns ska, botar Badauí: Dezembrão vamos ganhar essa porra aí!<br />
hammond no disco, botar instrumentos de sofro, um Dynamite: É isso aí, valeu pela entrevista e boa sorte.<br />
trio de metais, vai ficar bem legal’. Não é o disco Badauí: Valeu vocês! M<br />
Novembro-Dezembro/2012 25
Depois de fazer uma série de shows pela Europa,<br />
a banda Maldita retorna ao Brasil e nos<br />
conta suas experiências no velho continente.<br />
Sempre polêmico, o grupo falou com a Dynamite<br />
sobre o novo álbum “Montagem”, no qual acrescentaram<br />
elementos de funk carioca. Os vocalistas, Erich e<br />
Fernando Dias, também comentaram sobre os vídeo<br />
clipes da banda, a participação em grandes festivais,<br />
o atual rock brasileiro e responderam perguntas do<br />
fã-clube. Esteve também conosco, Joey Vice, vencedor<br />
da promoção para conhecer a banda.<br />
Dynamite: Esta é a primeira entrevista dos caras<br />
depois que eles voltaram da Europa e nada mais<br />
justo começar a entrevista falando sobre isso.<br />
Como foi a experiência, a recepção do público<br />
durante esse mês que vocês ficaram lá?<br />
Erich: Então, foi muito interessante, a galera lá já<br />
26<br />
Maldita<br />
Dando vida ao industrial carioca<br />
Por: Marcos Chapeleta<br />
Fotos: Divulgação<br />
tem uma bagagem muito antiga com o rock, com o<br />
som pesado, mas em alguns lugares o pessoal é<br />
meio durão, a gente sentiu que estava faltando um<br />
pouco de groove, swing, e a gente levou o CD novo<br />
da banda, “Montagem”, que é uma coisa bem excêntrica<br />
que a gente fez, exótica, que mistura a coisa do<br />
funk carioca que é a nosso industrial brasileiro. Então<br />
a gente levou o groove lá para os caras, e era bacana<br />
assim, que em alguns pontos, como por exemplo,<br />
na Finlândia, ficamos na terra de Vickings, eles<br />
ficavam olhando assim com a cerveja e lá na quinta<br />
música, você vê que o cara estava já sentindo.<br />
Dynamite: Se soltando?<br />
Erich: É, pois é, bem legal. Tinham umas mulheres<br />
também, um público feminino que ficavam bastante<br />
entusiasmadas porque é um ritmo diferente que a<br />
gente estava levando para eles lá.<br />
Dynamite: Novidade para eles que acabou contagiando...<br />
Novembro-Dezembro/2012
Erich: Exatamente, e no momento em que as mul- Erich: Teve muita gente que achou babaquice esse<br />
heres animam, os caras se animam também e de disco, mas a gente achou uma babaquice que eles<br />
repetente está todo mundo lá curtindo.<br />
acharam uma babaquice. Porque no final das contas,<br />
Dynamite: Tira a roupa (risos)<br />
a música é uma coisa que não tem limite. E só para<br />
Erich: É, acontece, depende do calor (risos).<br />
encerrar essa pauta, a Maldita sempre foi considera-<br />
Dynamite: Vocês registraram imagens? Pensam da uma banda de industrial e basicamente o que as<br />
em fazer de repente algum DVD, ou documentário bandas de industrial fazem, é aquilo que eu estava te<br />
com esse material?<br />
falando mais cedo, eles pegam ruídos urbanos e tor-<br />
Erich: Sim, o Fernando filmou bastante coisa, eu nam aquilo musical. Na Europa eles pegam sons de<br />
filmei também, a gente vai juntar tudo e vamos fazer máquina como fez o Rammstein, nos Estados Unidos<br />
um material, seja para gente guardar em casa, seja o Nine Inch Nails pegou sons de nave espacial, de<br />
para divulgar na internet. Isso vai depender muito do avião, de carro e eles fazem aquilo uma linguagem<br />
tipo de material, do resultado final.<br />
musical. A gente pegou essa linguagem tribal, urbana<br />
Dynamite: Falando do “Montagem”, essa mistura que é o funk carioca e assim a gente estaria dando<br />
diferente que vocês trouxeram agora, esse ama- vida ao industrial carioca.<br />
durecimento da banda, vamos dizer assim. Porque Dynamite: Então usaram a formula, mas trazendo<br />
vocês sempre misturaram vários estilos, mas para o nosso dia a dia?<br />
agora trazendo também essa coisa regional. Como Erich: Exato.<br />
que foi a reação do público no início, eu sei que Dynamite: Bom Erich, a Maldita começou contigo<br />
vocês tem fãs que curtem mesmo a banda, mas e você tem uma produtora de vídeo que fazia<br />
houve alguma rejeição, algum estranhamento? vídeos de terror.<br />
Fernando Dias: Posso falar com propriedade porque Erich: Tinham uns filmes meio pornográficos, chan-<br />
eu entrei no exato momento do processo dessa meschada, que não é pornô, é aquela coisa meio mal<br />
cla exótica, louca, gostosa, do funk com o rock por- feita, com terror. Assim, passava um gorila correndo<br />
rada. E foi bem legal assim, para mim foi um impacto e matava alguém, de qualidade muito duvidosa<br />
bem grande porque é muito diferente. Entrar já, botar (risos). E começou com essa brincadeira, que para<br />
a cara em um projeto desse com uma banda que mim não era uma brincadeira, vendi minha alma por<br />
já existe há 10 anos com outro tipo de trabalho que esses filmes e acabou se expandindo para uma coisa<br />
vinha fazendo e de repente você mesclar o funk. En- mais multimídia, mais áudio visual que foi à música,<br />
tão de repente tem muitas pessoas que tem a cabeça a banda, mas começou comigo fazendo esse tipo de<br />
com a mente fechada que realmente me mataram, coisa, filme, poesia.<br />
já estou morto (risos). Mas, eu dou a cara à tapa, eu Dynamite: As letras meio introspecta tem a ver<br />
entendo esse pessoal e muitas pessoas assim como com a sua infância, você tinha problemas de in-<br />
Joe (o fã presente) também que se amarra no rock n’ sônia. De repente isso foi um reflexo que acabou<br />
roll, ele gostou do trabalho por ser uma coisa difer- trazendo para a sua vida?<br />
ente, interessante. Eu acho que é isso, você tem que Erich: É, tinha a ver com o cotidiano, eu realmente<br />
se soltar mesmo, é como o Erich estava falando, na não tive uma infância difícil, meus pais nunca me<br />
Europa o pessoal mais bravo, com uma cara de mais maltrataram nem nada, tinha um vizinho ou outro<br />
brabão, do metal antigo, estava lá na frente amar- que queria me ameaçar, mas eu não tive exatamente<br />
radão, dançando a música com um toque de funk, uma infância difícil. Os meus transtornos eram mais<br />
entendeu? Não tem nada a ver isso, eu acho que esses de ordem psicológica mesmo, tipo insônia, um<br />
tem gente que curte, que não curte e outras pessoas pouco de distúrbios de ansiedade, você pode até ver<br />
que passaram hoje em dia a gostar do “Montagem”. que o meu pé não para. Mas eu acabei descobrindo<br />
Então isso é muito gratificante, muito bacana. que essa paranoia, porque isso, no final, tudo é uma<br />
Dynamite: Além disso vocês são do Rio, o funk é de paranoia, pode ser utilizada de forma reversa por<br />
lá, não é uma coisa para se vender, vocês conhecem uma expressão, por uma criatividade artística. Eu<br />
a raiz, inclusive tem um integrante da Rocinha né? acho que isso inclusive, faz parte da minha terapia.<br />
Fernando Dias: A gente pode tocar. Tem o Lereu Dynamite: Você acabou juntando com essas<br />
que é de lá e toca funk pra caramba e eu conheço letras e os filmes que você fazia, a gente pode ver<br />
há muitos anos, já toquei em outra banda e quem já isso nos clipes, com sangue, terror.<br />
participou junto comigo de shows, foi o Mr. Catra. O Erich: Isso, especialmente na primeira fase.<br />
cara é sangue bom pra caramba, ele recebeu o CD, Dynamite: Vamos falar dos shows que vocês<br />
gostou, várias pessoas do mundo do funk gostaram. fizeram, muito bacanas inclusive, abrindo para o<br />
Acho que é isso que importa, essa diversificação e Marilyn Manson, tocaram também no Maquinária.<br />
todo mundo fazendo contato, é o mais bacana. Como foi essa experiência?<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
27
Erich: Foi muito bom, quando você tem oportunidade<br />
de tocar com artistas influentes, porque geralmente<br />
você pega uma casa de show bacana, com uma<br />
infraestrutura boa. Isso infelizmente dentro desse<br />
cenário underground de música pesada brasileira, a<br />
nossa mpb, é difícil para as bandas conseguirem esse<br />
espaço. A gente está acostumado a tocar em lugares<br />
com P.A. ruim, tocar em lugares que não tem retorno e<br />
tal. Essa eu acho que é a principal, a melhor coisa. Mas<br />
tem que ralar muito, para conseguir uma oportunidade<br />
dessas, para algumas bandas de fato cai no colo, é<br />
uma questão astrológica, o cara tem uma conjuntura<br />
de saturno, que sei lá, e cai no colo. No nosso caso a<br />
gente teve que trabalhar muito para conquistar isso.<br />
Dynamite: E vocês estão aí, com quase 10 anos<br />
de batalha né cara, independente.<br />
Erich: Pois é, é um mérito, e legal, as bandas, elas<br />
não querem se comunicar muito né, a gente pensa:<br />
‘Legal vamos conhecer os caras e tal, tomar uma<br />
cerveja’. Mas a galera não quer conversar . O Marilyn<br />
Manson, eu puxei assim e ele olhou, a única<br />
coisa que eu falei foi ‘Backstreet Boys, you are my<br />
Backstreet Boys, ele não entendeu, eu quiz dizer o<br />
seguinte: ‘Eu cresci ouvindo você’. Era aquilo que eu<br />
ouvia quando era pequeno, a criançada ouvia Backstreet<br />
Boys e eu ouvia o Marilyn Manson (risos). Ele<br />
não gostou e foi embora, mas enfim, ele estava no<br />
lugar dele e eu no meu, ele como banda principal e<br />
eu como abertura. Tocamos também com o Faith No<br />
More no Maquinaria, em 2009, infraestrutura nota<br />
1000 do evento. É muito legal cara, a gente ganha<br />
habilidade quando faz isso, você sai um pouco mais<br />
cascudo, mais profissional, porque você pode observar<br />
como trabalha as pessoas que são profissionais.<br />
Dynamite: Você vê o outro lado, o lado de verdade<br />
do negócio.<br />
28<br />
Erich: É, do show business.<br />
Dynamite: Seria legal vocês falarem sobre o clipe<br />
de “Peixes”.<br />
Fernando Dias: A gente estava em uma reuniãozinha<br />
na casa até do meu irmão conversando sobre<br />
o clipe, sobre o próximo, qual seria e onde seria a<br />
locução e tal. O meu irmão por ter trabalhado na<br />
COMLURB, que recolhe lixo no Rio de Janeiro, ele<br />
deu a ideia do Jardim Gramacho que é o lixão que<br />
a gente chama lá. Foi uma ideia bem bacana assim,<br />
até porque quando a gente foi lá gravar éramos as<br />
últimas pessoas que poderiam conhecer lá o local.<br />
Depois que a gente filmou, fecharam o Jardim Gramacho<br />
e agora virou um cemitério de lixo. E foi bem<br />
bacana, foi muito legal, a gente conhecer lá o local, o<br />
cheiro estava uma delícia também (risos). Ficou uma<br />
estética bem bacana, eu achei o final do trabalho<br />
muito legal, falando sobre globalização, sobre o<br />
aquecimento global , sobre tudo. Ficou bem interessante<br />
o trabalho final de “Peixes”. Impactante, muitas<br />
menininhas, minha filha até de 11 anos falou ‘ah,<br />
chorei no final, o urso e tal’, mas no final o ursinho se<br />
salvou, foi bacana.<br />
Dynamite: Ainda há tempo, né?<br />
Fernando Dias: Isso aí, mensagem muito forte.<br />
Erich: Peixes na astrologia significa esperança, significa<br />
você se doar para o próximo e enquanto a gente<br />
não se doar para o planeta e ficar simplesmente<br />
fudendo a porra toda, o futuro, enfim, é incerto.<br />
Dynamite: A impressão que dá assistindo o clipe<br />
é como um tapa na cara da sociedade, porque<br />
você vê o que está acontecendo com o sistema, o<br />
mundo, esse negócio de aquecimento global. Ninguém<br />
se mexer é isso que vai acontecer mesmo.<br />
Erich: E é legal que a gente pôde participar, a gente<br />
participou da edição do clipe porque eu trabalho com<br />
áudio visual, então é muito bom para uma banda<br />
poder mexer em todas essas ferramentas, principalmente<br />
na hora de fazer um vídeo, porque a coisa fica<br />
exatamente da forma como você queria que fosse.<br />
Dynamite: Agora a gente tem aqui algumas<br />
perguntas, que o nosso amigo Adson de Porto<br />
Alegre, do fã-clube da Maldita, pegou da galera da<br />
região. Inclusive, um abraço e valeu pela força.<br />
Erich: Adson, tamu junto!<br />
Fernando Dias: Valeu Adson, irmão!<br />
Dynamite: Vamos lá. Como foi a experiência Erich<br />
de produzir o próprio disco, “Montagem”?<br />
Erich: Cara, foi legal, é uma pergunta meio complexa,<br />
foi o primeiro disco da Maldita que eu produzi,<br />
que eu assinei, e acaba que tem a haver com aquilo<br />
que eu falei do vídeo, é muito legal porque fica<br />
exatamente da forma que você queria que fosse. É<br />
um trabalho muito cansativo, trabalho de formiguinha,<br />
viram-se muitas noites no estúdio, o que eu<br />
Novembro-Dezembro/2012
Dynamite: Mas hoje<br />
em dia com esse<br />
poder da internet<br />
acaba ficando mais<br />
abrangente até, fica<br />
mais fácil trabalhar<br />
não tão independente.<br />
Erich: Fica mais<br />
acessível né, nascem<br />
vários monstrinhos,<br />
mas nascem várias<br />
coisas legais.<br />
Dynamite: Outra<br />
pergunta do pessoal<br />
do fã-clube. Vocês<br />
trabalharam nesse<br />
disco também com<br />
as faixas em inglês.<br />
Vocês pensam em<br />
trabalhar um novo<br />
disco só em inglês,<br />
achei legal, porque vira ali tomando uma cervejinha como seria essa ideia?<br />
e tal, conversando e tal e daqui a pouco são 6 da Fernando Dias: Pois é, esse disco eu principalmente<br />
manhã e a gente descobre que tudo que a gente fez comecei a gravar em inglês. A gente gravou em in-<br />
não serviu de nada naquele dia. No dia seguinte a glês ele, depois a gente gravou em português, isso o<br />
gente acorda e deixa ligado alguma coisa que captou pessoal, a maioria não sabe. E para o próximo disco<br />
um ruído que estragou tudo. Mas é um processo de a gente está pensando em gravar também primeiro<br />
construção, de criatividade intensa e o resultado é em inglês, logo depois em português. Aproveitar as<br />
sempre muito gostoso, é como Lacan diria ‘um gozo faixas todas gravadas e já meter a voz nas duas<br />
sem precedência’, você termina e fica ouvindo aquilo línguas que eu acho que abre mais portas, a gente<br />
que você criou, é maravilhoso. É quase que cuidar está querendo atingir uma abertura maior lá fora,<br />
de um filho, eu suponho. A gente fez não somente às então cantar em inglês é inevitável, abre muito mais<br />
músicas, mas também toda a concepção da arte do as portas.<br />
CD, a gente chamou uma tatuadora para desenhar Erich: Mesmo tendo o recolhecimento que a gente<br />
essas capetinhas gostosas, é uma tatuadora que tem teve lá fora, que a gente conseguiu pegar bons<br />
um estilo old school. Tem umas ilustrações aí que eu shows em boas casas de shows, ótimos recursos<br />
peguei na internet, nem sei se podia pegar, mas elas para você tocar, a gente não vai fazer essa vacilação<br />
eram datadas de muito tempo atrás, então acredito de fazer um disco só em inglês, a gente vai continuar<br />
que estejam no domínio público. Então é legal assim, fazendo em inglês e português e se eu soubesse<br />
como artista é uma realização você poder participar falar francês, também faria em francês, em alemão,<br />
de todo o processo de criação de uma nova obra. entendeu? Faria em vários idiomas que isso só<br />
Dynamite: Mas a banda sempre teve essa propos- soma.<br />
ta, até de falar o que ninguém quer falar, dos Dynamite: Vocês tem algum projeto de vídeo<br />
tabus, não vou dizer que é contra o sistema, mas clipe? Novo single?<br />
é contra as gravadoras, talvez?<br />
Erich: Não, ainda não. O que a gente tem em projeto<br />
Erich: É, não é convencial, a gente fala algumas coi- é de estar começando a gravar o quarto disco da<br />
sas que, justamente por ser um artista independente, Maldita. A gente está começando a fazer as pré-<br />
a gente tem a liberdade de falar. Então é claro que a produções, a coisa ainda não tomou uma forma, mas<br />
gente vai aproveitar muito dessa liberdade, porque então a gente a princípio decidiu que o “Montagem”<br />
uma gravadora pode ser muito boa em um aspecto, como é um EP, só vai ter o clipe de “Peixes”.<br />
mas muito ruim em outro. A gente vê a maioria das Dynamite: Pensa em aproveitar algumas faixas do<br />
bandas que são assinadas que estão falando de “Montagem” para esse novo disco?<br />
temas repetitivos, amor, amor, saudade, saudade, Erich: Não, o novo vai ser diferente, totalmente<br />
beijo, beijo.<br />
inédito.<br />
Novembro-Dezembro/2012<br />
29
Dynamite: Outro pergunta dos fãs. Erich, você<br />
pensa em escrever um livro, trabalhar com teatro,<br />
além da música?<br />
Erich: Na verdade eu tenho um livro que estou<br />
escrevendo, que é meio pretencioso dizer ser um<br />
livro, é um projeto, uma série de textos que eu estou<br />
escrevendo sobre uma nova ordem. Eu penso em<br />
escrever em conjunto com um amigo meu que ele<br />
é magista, ele é satanista e a gente pensa em um<br />
complementar a história do outro, mostrar sempre os<br />
dois pontos com vistas totalmente diferentes, o surrealismo<br />
que é essa nova ordem que se trata nesse<br />
livro. É um projeto que está em andamento, mas eu<br />
não posso virar para você e falar uma data de lançamento,<br />
até porque eu tenho outras prioridades e escrever<br />
um livro demora, é difícil. Eu não sou nenhum<br />
Jack Kerouac, nem um Monteiro Lobato que senta na<br />
escrivaninha e toma um negocinho, é um processo<br />
de construção muito lento, demora.<br />
Dynamite: Agora é com o Joey, fique a vontade<br />
com a sua pergunta.<br />
Joey Vice: Quem teve a ideia inicial de misturar o<br />
metal com o funk?<br />
Erich: Foi eu.<br />
Joey Vice: Parabéns cara, ficou foda.<br />
Erich: Que bom que você gostou. Foi uma ideia minha,<br />
eu tenho irmãos mais velhos e eles ouviam o funk.<br />
Quem era do rock na família era eu. Então, bem ou<br />
mal, eu cresci ouvindo sempre isso, sempre esteve<br />
próximo. Então eu não tenho nenhum preconceito<br />
com essa música, pelo contrário. Tive bons momentos<br />
da minha vida ouvindo, tanto o funk, quanto o rock,<br />
como diversos outros gêneros, mas eu achei que seria<br />
extremamente original essa miscigenação musical, eu<br />
imaginei que seria uma coisa quase que inédita, uma<br />
mata virgem, Colombo chegando à América. Uma coisa<br />
assim que de fato se você parar para pensar, na música<br />
tudo já foi feito, inclusive o funk com o rock, tem bandas<br />
aí como Comunidade Nin-jitsu, Defalla, Tihuana,<br />
a galera já tinha feito isso, mas geralmente com um<br />
30<br />
formato que era aquela coisa de pegar a guitarra e dobrar<br />
a batida do funk. No caso do “Montagem” a gente<br />
fez uma coisa que lembra mais um fusion, uma fusão<br />
dos ritmos e não ficou uma coisa de humor, geralmente<br />
quando você faz essa mistura já cai na coisa do humor.<br />
A Maldita não, a gente fez uma coisa mais, eu diria<br />
modesta parte, sofisticada e foi essa ideia cara. Fizemos<br />
porque a arte não tem limite, a gente achou que ia<br />
ficar legal, a gente é muito idiossincrático com o nosso<br />
som, então a gente simplesmente olhou e falou ‘cara, é<br />
bom, vamos fazer’, e decidiu e fez.<br />
Joey Vice: Porque não existe só música certa ou errada,<br />
existe música boa. Se a música é boa, é boa, não<br />
importa o estilo.<br />
Dynamite: Mais alguma pergunta Joey?<br />
Joey Vice: Sim, o que vocês acham das bandas nacionais<br />
hoje em dia? Vocês acham que eles têm proposta<br />
boa para fazer ou são um bando de bundões?<br />
Erich: Bundão é Carla Peres né, você falou de bundão<br />
já veio os anos 90, bundão, Nirvana, já fui lá para<br />
1994, vi o Bebeto fazendo assim (fez o gesto com as<br />
mãos do gol na Copa), eu vi o grupo É o Tchan (risos).<br />
Mas voltando para o presente, já que a sua pergunta<br />
é sobre o presente específico, eu acho que o rock no<br />
Brasil está um pouco confuso no momento, porque<br />
tem uma série de bandas aí, que eu não estou aqui<br />
para julgar, embora eu seja um contra ponto a elas,<br />
que são essas emos e Fresnos, o pessoal diz que isso<br />
é rock, dizem que o Restart é rock, se isso for rock eu<br />
acho que está bem confuso, está meio perdido no momento.<br />
A gente teve coisas muito boas nos anos 90,<br />
teve os Titãs lançando discos da pesada, eu lembro<br />
que ia nos shows pequeno e ficava horrorizado.<br />
Dynamite: Como o “Titanomaquia”.<br />
Erich: Sim, o Titanomaquia, maravilhoso, inclusive<br />
a Maldita fez um cover do disco no “Nero”, Raimundos<br />
que vinha muito bem, o Planet Hemp quando<br />
começou misturando a coisa do rap com o rock, mas<br />
no momento atual eu acho que é um pouco confuso,<br />
eu acho que as bandas que a gente tem aqui de<br />
expoentes que são o Krisiun, o Korzus.<br />
Dynamite: O Claustrofobia também, a gente tem<br />
uma galera da pesada.<br />
Erich: A gente tem, mas não está em evidencia, assim<br />
como a Maldita, acaba ficando um nicho um pouco<br />
mais underground, é para quem busca. Nesse sentido<br />
eu acho que a gente tem o rock, não é um movimento<br />
de muito exponencial, mas nós temos. Se o rock for<br />
o que estão dizendo aí, que é o Restart, a galera que<br />
pinta a unha de preto e faz uma tatuagem, toca três<br />
acordes e fala que é rock, aí eu acho que é como<br />
você falou ‘um bando de bundão’ mesmo, infelizmente<br />
porque isso que as gravadoras estão comprando, é<br />
isso que o público da internet está consumindo, mas<br />
enfim, estamos aí para tentar mudar isso. M<br />
Novembro-Dezembro/2012
EARS UP<br />
Fique por dentro dos últimos lançamentos de Cds.<br />
o site da revista (www.dynamite.Com.br) traz mais lançamentos.<br />
Cotação:<br />
MMMMM (Excelente);<br />
MMMM (Ótimo);<br />
MMM (Bom);<br />
MM (Regular);<br />
M (Fraco)<br />
the vaCCines<br />
Come of age<br />
(sony Music)<br />
Por: dum de lucca<br />
MMM<br />
Sem dúvida o The Vaccines é animado, fala das inquietações<br />
da juventude, mas também é descartável e supervalorizado,<br />
e usa bem o potencial de grande hype como<br />
o New Music Express sabe fabricar como ninguém. O<br />
amadurecimento realmente aconteceu, contudo, ainda falta<br />
algo a mais para se tornarem um grupo de rock com personalidade<br />
própria, como deseja Justin. Isso significa dizer<br />
que, para construírem uma imagem sólida calcada em uma<br />
música mais substanciosa, precisam ser identificados no<br />
primeiro acorde, como tantas grandes bandas de rock o são.<br />
Se tal realidade vai rolar, só esperando para ver. Porém, o<br />
que não dá para deixar de perceber, é que o Vaccines está<br />
nitidamente trilhando o caminho do aprimoramento.<br />
O novo disco do The Vac-<br />
Fiona aPPle<br />
the idler Wheel is Wiser<br />
than the driver of the<br />
cines, “Come of Age”, não é<br />
screw and Whipping Cords<br />
um álbum ruim, mas mostra<br />
Will serve you More than<br />
um grupo ainda sem identidade<br />
ropes Will ever do<br />
tentando ser o que não é. O<br />
(epic)<br />
próprio vocalista Justin Young, em recente entrevista ao The<br />
Por: dum de lucca<br />
Guardian confessou: “Nós não queremos ser uma banda<br />
indie mais, queremos ser uma banda de rock”. Ele, além<br />
MMMM<br />
de assinar e atestar o abissal poço existente entre o indie<br />
A talentosa, doce e às vezes<br />
rock e o rock & roll, confessa sua insatisfação com a banda. visceral americana Fiona Apple, nasceu para a música com<br />
Classificar tudo o que veio depois do pós-punk como indie “Tidal”, de 1996. Um disco sensacional que preconizava as<br />
é um equivoco enorme. Rock é feito de peso e guitarras alternâncias de climas, andamentos e melodias quebradas<br />
com solos como Eddie Van Halen, Black Country Commun- e jazzísticas que marca a alma da artista. Em 1999 usou<br />
ion, Queen of The Stone Age e Jack White, por exemplo, o como título do Cd um poema de 400 caracteres abreviado<br />
indie se resume a guitarristas econômicas e monocórdicas. como “When the Pawn”, e após um hiato enorme para tem-<br />
A ambição da banda em ser diferente do que realmente é pos tão urgentes e comestíveis lançou, forçosamente depois<br />
não funcionou. A sensação é clara, pois o resultado final do de uma briga com a gravadora, “Extraordinary Machine”, em<br />
trabalho, apesar de ser melhor do que a estreia, “What Did 2005. Após idas e vindas conturbadas ela lança “The Idler<br />
You Expect From The Vaccines?”, ainda soa como um grupo Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping<br />
alegre e adolescente. Nada de mais, se não fosse o desejo Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do”, uma<br />
explicito de seu vocalista.<br />
retomada pra lá de boa. Com sua voz gutural e pontuada,<br />
E, mesmo sendo praticamente a única banda de rock al- enveredou por uma trilha mais pessoal viajando por temas<br />
ternativa britânica que vende álbuns de forma consistente no como sentimentos, o amor, o arrependimento e o isolamen-<br />
Reino Unido, se perdeu ao tentar dar um peso que evidenteto. Não é um trabalho de fácil consumo. É intrínseco, cheio<br />
mente não tem. Isso fica óbvio logo na canção que abre o de sonoridades e nuances climáticas, e que mostra uma<br />
CD, “No Hope”, que após um breve início avassalador de artista que passou anos tentando se expressar de maneira<br />
bateria logo assume uma quase monocromática personali- diferente, original e sincera. E, parece que atingiu seu objedade<br />
pop. As melodias mantém um padrão quase uno em tivo ao se libertar de qualquer amarra ou restrição estética<br />
todas as canções, os riffs praticamente se repetem iguais ou conceitual.<br />
por todo disco. Parecem querer soar como Arctic Monkeys, São dez canções nas quais ela sozinha com sua voz,<br />
e tentam atingir sonoridades dos anos 1960. “Aftershave piano, e o percussionista Charley Dreiton, criam cortes<br />
Ocean” é uma vã tentativa de parecer um clássico pop dos sutilmente coloridos com harmonias, efeitos leves, ritmos<br />
60, e tem uma forte inspiração na slide guitar de George que se sobrepõem e teclados adicionais – mas sem nunca<br />
Harrison. “Bad Mood” é a melhor faixa, a que mais se<br />
mudar o foco dos vocais magnéticos, o elemento humano<br />
aproxima de rock & roll e tem uma boa nervosa guitarra. que nos puxa para dentro das músicas. Em termos de<br />
Apesar do álbum não ser ruim e nem arrogante para tentar sonoridade a semelhança com seus outros álbuns é nítida,<br />
salvar o rock, é muito confuso e incoerente. Se o desejo dos como na jazzística “Left Alone”, uma linda e sóbria canção<br />
ingleses com “Come of Age” era mudar a perspectiva da sua meio desconstruída, com uma batera e teclados que lem-<br />
música [como disse Justin Young] e alça-los ao patamar do bram Thelonius Monk. “Jonathan” fala de amor e delicadeza,<br />
rock & roll, não há um número suficiente de canções boas para mas é Fiona, então, sempre vem junto às surpresas, o fora<br />
justificar isso. Ou ainda manter os Vaccines como grandes do comum.<br />
vendedores de discos, sua posição atual no mercado. Dado o Ela é única e demonstra sua versatilidade absurda na<br />
sucesso comercial do primeiro álbum, isso é quase um desas- quase balada country paranoica “Werewolf”, sempre amtre,<br />
especialmente sabendo claramente que não é o que eles parada pelo teclado, que domina com leveza. “Valentine”<br />
tinham em mente ao tentar mudar sua imagem através do som. e “Regret” são quase irmãs. Intimistas e densas. Abraçam.<br />
E também, após ouvir Justin Young se lamentando em aspirar Nelas vejo os olhos de Fiona, agachada e sagaz. Sempre<br />
ser uma banda de rock & roll, dá para gentilmente sugerir que o piano, a percussão, a voz e o talento. “Regret” fala sobre<br />
às vezes você tem que se contentar em ser o que você é. Ou relacionamento e desaba em gritos primais. Pura ânsia e<br />
seja, o grupo, em seu segundo trabalho, parece perdido musi- vibração. A canção que abre o CD, “Every Single Day”, é<br />
calmente em relação a seu objetivo expresso.<br />
rica, como todo o disco. Nada é desperdiçado em arranjos,<br />
Novembro-Dezembro/2012 31
elementos, e na liga que une a alma a técnica. Determinação<br />
e coesão permeiam todo trabalho. Assim continua<br />
nas ótimas “Daredevil”, “Periphery”, “Anything You Want”,<br />
essa de uma densidade etérea, e ainda em “Hot Knife”, com<br />
percussão na base e um vocal agressivo pontuado por alguma<br />
atonalidade. Fiona Apple voltou e continua ótima. Um<br />
dos melhores lançamentos do ano.<br />
leela<br />
Música todo dia<br />
(Pisces records)<br />
Por: humberto Finatti<br />
MMM<br />
Banda ainda com grande<br />
aura “cult” no Rio De Janeiro<br />
(onde nasceu há mais de<br />
uma década, em 2000, das<br />
cinzas do grupo mezzo punk<br />
pop Pólux; hoje, o conjunto<br />
está radicado em Sampa), o Leela demorou muito a lançar<br />
“Música todo dia”, seu terceiro álbum de estúdio e o primeiro<br />
pelo selo Pisces Records. A demora – de cinco longos anos,<br />
já que “Pequenas Caixas”, o anterior, saiu em 2007 – se deu<br />
por conta de zilhões de tretas (entre elas o rompimento com<br />
as majors Emi e Universal, por onde o grupo editou seus<br />
dois primeiros trabalhos, e também com o produtor cafa Rick<br />
Bonadio, dono do selo Arsenal) e o novo CD chegou às lojas<br />
há algumas semanas – tempo que estas linhas bloggers<br />
honestas estão ouvindo, digerindo e tentando equacionar<br />
a seguinte questão: como falar que o novo álbum de uma<br />
banda não é exatamente um bom disco, sem ferir suscetibilidades.<br />
E ainda mais quando você conhece pessoalmente os<br />
músicos em questão e tem certa amizade com eles? Difícil,<br />
mas vamos tentar.<br />
O Leela tem um ótimo guitarrista e compositor, mr. Rodrigo<br />
Brandão (filho de uma lenda do rock brasileiro dos anos 80’,<br />
o baixista Arnaldo Brandão, que tocou com a humanidade e<br />
chegou a ter amizade com os Rolling Stones). Também tem<br />
uma vocalista loira lindona e gracinha, Bianca Jhordão (que<br />
além de cantar na banda é casada com Rodrigo, e também<br />
apresentadora de TV; atualmente ela pode ser vista em<br />
programas no canal pago Play TV). Com o casal, desde a<br />
fundação do grupo, está o baixista super boa praça Tchago.<br />
Ao longo dos anos o autor destas linhas online desenvolveu<br />
razoável amizade com a turma, pois todos são gente finíssima<br />
– Rodrigo, então, é um autêntico gentleman. Fora que<br />
o Leela tocou em um evento produzido pelo zapper rocker<br />
há quase uma década: foi em 2004, quando o blog realizou<br />
a segunda edição do Dynamite Independente Festival na<br />
chopperia do Sesc Pompéia, em Sampa. Em uma época em<br />
que ainda existia vida inteligente na indie scene paulistana<br />
e nacional e esta mesma cena estava no auge em termos<br />
de popularidade os grupos Leela, Gram e Ludov lotaram o<br />
espaço da chopperia (onde cabem oitocentas pessoas) em<br />
uma noite memorável. Isso, em plena quinta-feira!<br />
Isso foi em 2004, ano inclusive em que o Leela lançou seu<br />
primeiro disco e chegou a tocar razoavelmente nas rádios e<br />
também na MTV. O disco era bacana: canções pop ganchudas,<br />
mas com guitarras nervosas e riffs espertos. E Bianca<br />
mandando super bem nos vocais, sempre. Porém, algo<br />
de muito errado aconteceu entre o primeiro e o segundo<br />
trabalho do conjunto e o Leela, que poderia ter sido a nova<br />
bola da vez do pop/rock nacional, inexplicavelmente foi para<br />
a “geladeira”. E lá ficou por cinco longos anos, embora se<br />
mantendo sempre ativo nos palcos e fazendo shows com<br />
32<br />
regularidade.<br />
O que nos leva ao final de 2012 e a este “Música todo dia”,<br />
um CD que o blog, sem mentira nenhuma, está ouvindo há<br />
três semanas. O que o Leela sempre soube fazer está mais<br />
ou menos nas faixas do álbum. Mas talvez por isso mesmo<br />
as músicas soem, hã, datadas, deslocadas no tempo. Além<br />
disso há uma espécie de “calmaria” melódica que domina<br />
boa parte das faixas, o que as impede de decolar e animar o<br />
ouvinte. Isso fica muito claro na faixa-título, que poderia ser<br />
uma ode acelerada e inflamada ao fato de se viver de e na<br />
música (“Dançarinos dançam/Os músicos fazem som/Todo<br />
dia/Música todo dia”), mas que acaba se tornando quase um<br />
lamento melancólico em função de sua melodia arrastada e<br />
nada radiofônica.<br />
As letras escritas por Bianca sempre versaram sobre<br />
temas pop, de amor e sem a preocupação do rebuscamento<br />
textual – mas também sem apelar para o pieguismo<br />
que hoje domina as bandas horrendas do rock brazuca.<br />
Mas o que se nota, aqui, é que ela talvez tenha insistido<br />
em demasia nos mesmos assuntos ao longo das faixas do<br />
álbum. Então se escuta um “Bate um vazio no meu coração/<br />
Nenhum sorriso me chama atenção” em uma música (“Por<br />
um fio”), enquanto que na outra o tema surge recorrente e<br />
novamente: “Você se mandou/Fui em frente/Minha vida não<br />
parou” (em “Cidade sitiada”, que tem inclusive a participação<br />
do poeta e agitador multimídia carioca Fausto Fawcett, o<br />
que no final das contas pouco ou nada acrescenta ao disco<br />
ou irá dizer algo à garotada descerebrada e sem memória<br />
de hoje. Fausto foi muito conhecido na cena carioca há uns<br />
vinte anos, mas atualmente…). E assim o trabalho prossegue<br />
até o final, onde Bianca canta (em “Mais beleza”) “Não,<br />
não, não quero mais/O inferno que você me traz/Me tira<br />
desse filme/Desse roteiro fraco/O que sabe sobre o amor?”.<br />
O disco é bem produzido (pela banda e pelo experiente<br />
produtor Fernando Sanchez). Foi gravado em um dos<br />
bons estúdios de São Paulo (o El Rocha). Há utilização de<br />
instrumentos inusitados, como o Theremin (o Leela, ao lado<br />
do Pato Fu, é uma das únicas bandas do país que domina<br />
sabiamente a utilização do Theremin). Ao vivo a banda<br />
continua mandando super bem (fizeram recentemente o<br />
show de lançamento do CD no StudioSP do baixo Augusta,<br />
e o blog estava lá e achou a performance no palco bastante<br />
satisfatória). O que há de errado, então, com este “Música<br />
todo dia”? Um material algo datado e que simplesmente<br />
não “gruda” na memória auditiva de quem o escuta. E dói a<br />
estas linhas online dizer isso (e talvez por dizer isso o blog<br />
ganhe a antipatia de músicos queridos, que ele considera de<br />
verdade). Talvez seja o caso de o Leela repensar sua música<br />
e já começar a trabalhar em novas composições para,<br />
em 2013, vir com um material realmente novo e empolgante.<br />
Condições para isso a banda possui.<br />
lotus Plaza<br />
spooky action at a distance<br />
(kranky)<br />
Por: humberto Finatti<br />
MMMMM<br />
Se o rock mainstream (ou o<br />
que resta dele) mundial anda<br />
pavoroso, com Killers e Muses<br />
da vida abarrotando estádios<br />
com sua música lixosa e imprestável,<br />
o udi grudi continua respirado e ainda mostrando<br />
bandas e artistas de ótima qualidade. Caso do americano<br />
Novembro-Dezembro/2012
Lotus Plaza, que o blog NÃO conhecia (jornalistas não são mais difícil surgir alguma novidade realmente digna de nota.<br />
obrigados a conhecer absolutamente tudo o tempo todo, E cada vez mais grupos que tiveram grande importância na<br />
néan?) e ficou conhecendo esta semana, meio que por história recente do rock se animam a voltar a tocar. Caso do<br />
acaso. E como sempre comentamos aqui, nunca é tarde Soundgarden: o gigante grunge ficou hibernado por década<br />
pra se falar de um ótimo disco, como é “Spooky Action at e meia. Começou a articular seu retorno – com a formação<br />
a Distance”, o segundo álbum do LP e que saiu em… abril original – em meados do ano passado. E agora esse come-<br />
deste ano. Sair em edição nacional ele não vai, pelo visto. back se concretiza com o lançamento deste “King Animal”.<br />
Mas você pode encontrá-lo facilmente na web.<br />
É um bom disco? Sim. Claro, não se equipara a obras<br />
Lotus Plaza é, na verdade, o projeto de um músico só. No fodásticas da banda (como “Badmotorfinger”, “Superunk-<br />
caso, o multiinstrumentista, vocalista e compositor amerinow” e “Down The Upside”), mas flagra o quarteto em ótima<br />
cano Lockett Pundt, fundador da banda Deerhunter. Não forma após ficar quinze anos sem gravar material inédito em<br />
satisfeito apenas em tocar no seu grupo, Pundt (que nasceu estúdio. Fora que um grupo que possui um vocalista como<br />
na Georgia e tem trinta anos de idade) foi dar vasão à sua Chris Cornell e um guitarrista como Kim Thayil, leva laaaaar-<br />
compulsão musical no Lotus Plaza. Uma compulsão que ga vantagem sobre a concorrência. Mesmo não sendo uma<br />
rendeu até o momento dois álbuns: “The Floodlight Collec- obra prima do além, “King Animal” simplesmente HUMILHA<br />
tive”, lançado em 2009 e o citado “Spooky Action…”. Ambos 90% do rock que se produz no mundo atualmente.<br />
foram lançados pelo ultra underground selo Kranky, que Trata-se de um trabalho que mostra como faz falta ter téc-<br />
estas linhas online também nunca tinham ouvido falar. nica, garra, criatividade e tesão para se tocar. Ou seja: tudo<br />
Pois o Lotus Plaza faz rock alternativo de guitarras como o que falta na maioria dos grupelhos atuais. O Soundgarden,<br />
quase não se ouve mais nos dias que correm. Com vocais mesmo o jovem leitorado zapper sabe, tinha tudo isso de<br />
dolentes, melodias divinais, ambiências oníricas e con- sobra e mais um pouco. Era um dos três gigantes do grunge<br />
templativas Lockett Pundt deixa explícito que ouviu muito de Seattle nos early 90’, ao lado de Pearl Jam e Nirvana (e<br />
shoegazer e seus expoentes (My Bloody Valentine, Lush, com todo respeito ao Mudhoney, ao Stone Temple Pilots,<br />
Ride) para formar sua estética sonora. Há canções belís- Screaming Trees e outros grandes nomes do movimento<br />
simas espalhadas por todo o cd, que abre com uma vinheta que devolveu o rock americano a um lugar de destaque na<br />
instrumental pra depois cair no rock acelerado de “Stran- música mundial, além de dar um chute na bunda da música<br />
gers”. Além dela há delírios de guitarras harmoniosas e com pop ordinária que infestava as paradas de então). Fazia rock<br />
riffs bem construídos, como em “Out Of Touch” (que é na pesado, quase heavy metal, com nuances psicodélicas e<br />
verdade conduzida por violões suaves e é uma das preferi- tendo um vocalista capaz de (como diria a imprensa musical<br />
das deste espaço virtual), em “Jet Out of the Tundra” ou da época) cantar até um catálogo telefônico com perfeição,<br />
ainda em “Remember Our Days”. Mas nada supera a beleza emoção e arrebatação. A parte instrumental também não<br />
abrasiva e melancólica da faixa que fecha o disco: “Black ficava atrás, com um guitarrista monstro (Kim) e uma seção<br />
Buzz”, de letra pesada, é uma balada que descreve a res- rítmica brutal e precisa (com o baixista Ben Shepherd e o<br />
saca pós loucura de drogas, vivida por uma garota junky. Foi batera Matt Cameron, que de tão bom acabou sendo tam-<br />
a faixa que fez estas linhas rockers curiosas descobrirem bém cooptado pelo Pearl Jam).<br />
o Lotus Plaza: por acaso assistindo ao programa Goo (um É óbvio que com tamanha qualidade sonora e tantos tal-<br />
dos poucos interessantes que restam na grade da MTV, por entos em um só grupo, rolaram os dois lados da parada. O<br />
apresentar quase que somente vídeos de artistas obscuros bom: a banda começou a vender horrores, mesmo fazendo<br />
e mais alternativos) em uma madrugada dessas qualquer, um som pesado e de difícil digestão para o mega populacho.<br />
Zap’n’roll deu de cara com o clip de “Black Buzz”. Se apa- O lado péssimo: começaram as inevitáveis enfiações de<br />
ixonou no ato pelas imagens e pela música, e foi atrás pra pé na lama em álcool e drugs, além de estourar a habitual<br />
saber de quem era aquilo.<br />
guerra de egos gigantes – no caso, os de Cornell e Kim<br />
Era o Lotus Plaza. Que, até onde pesquisamos, nenhum Thayil. Não demorou muito para o Soundgarden anunciar o<br />
portal, site ou blog de cultura pop da web brazuca comentou seu fim, no começo de 1997.<br />
algo. No problem: estas linhas zappers acabam de fazer Quinze anos se passaram, cada um continuou tocando<br />
isso pra você. E se vale a recomendação, vá atrás do disco. sua vida na música (Chris, por exemplo, foi vocalista do Au-<br />
Dá vontade de voltar correndo no tempo, e se imaginar em dioslave, que chegou a lançar dois bons discos, e também<br />
Sampa em 1995, na pista escura e esfumaçada do Espaço editou dois álbuns solo que são a vergonha alheia total),<br />
Retrô. Bons tempos… que só podem ser recordados quando até começarem as negociações para um retorno efetivo do<br />
ouvimos um álbum como este “Spooky Action at a Distance”. Soundgarden. Até que ele finalmente se concretiza agora. E<br />
“King Animal”, o novo álbum de estúdio, reedita os procedi-<br />
soundgarden<br />
mentos que celebrizaram o conjunto no auge do movimento<br />
king animal<br />
grunge. A guitarra de Kim dispara riffs enérgicos e acelera-<br />
(seven Four/republic dos, mas sem perder a elegância melódica. E Chris, que<br />
records)<br />
está com quarenta e oito anos de idade, continua com as<br />
Por: humberto Finatti inflexões vocais de um adolescente irado. Impressionante.<br />
MMMM<br />
Há faixas acachapantes espalhadas por todo o cd, como a<br />
esporrenta “Been Away Too Long”, que abre o disco e é o<br />
Não, não estamos em 1990. primeiro single de trabalho. Fora ela, dá pra chapar tranqüilo<br />
Mas é como se uma imag- os miolos com “By Crooked Steps” (que tem a participação<br />
inária máquina do tempo nos do batera Cameron em sua composição), “Attrition”, e “Black<br />
jogasse lá novamente, duas Saturday”. Curiosamente, em sua parte final, o trabalho<br />
décadas atrás. E esse “retorno desacelera um pouco e fica mais contido no quesito barulho.<br />
ao passado” não é nenhuma novidade nos tempos que cor- Mas, ainda assim, deixa o ouvinte altamente satisfeito e se<br />
rem, onde bandas de rock perderam total a capacidade de questionando: o que há com as merdas das bandas atuais,<br />
produzir grande música e grandes discos. Aí fica cada vez afinal? Por que elas não conseguem produzir um disco – ou<br />
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algumas faixas, que seja – como este que marca o retorno<br />
do Soundgarden?<br />
O já tiozão grunge agora vai cair na estrada, para promover<br />
o álbum. Eles seriam um dos headliners do festival SWU<br />
deste ano. Desistiram de vir para cuidar do lançamento<br />
de “King Animal” – e sua desistência, pasmem, provocou<br />
o cancelamento do SWU, que já estava com dificuldades<br />
para montar seu line de 2012. Sem problema: fica a torcida<br />
para que o velho Jardim Sonoro passe por aqui em 2013. E<br />
também fica o desejo de que as medíocres bandas de hoje<br />
ouçam o disco e aprendam algo que valha à pena com o<br />
experiente e ainda muito bom Soundgarden.<br />
taMe iMPala<br />
lonerism<br />
(Modular recordings)<br />
Por: humberto Finatti<br />
MMMMM<br />
Grupo ainda relativamente<br />
novo (foi formado em 2007,<br />
na cidade australiana de<br />
Perth) e pouco conhecido no<br />
Brasil (onde andou tocando, em<br />
Sampa) o quarteto Tame Impala mostra com o seu segundo<br />
álbum de estúdio, “Lonerism” (que foi lançado lá fora no<br />
último dia 5 de outubro e não tem previsão de ganhar uma<br />
edição nacional), que o rock’n’roll planetário do novo milênio<br />
ainda tem momentos de brilhantismo e qualidade, em meio<br />
a lixos mainstream.<br />
Zap’n’roll gosta muito do TI. Achou bacana a estreia da<br />
banda em “Innerspeaker” (editado em 2010) e onde o conjunto<br />
formado pelo vocalista e guitarrista Kevin Parker, pelo<br />
também guitarrista Dominic Simper, pelo baixista Nick Allbrook<br />
e pelo baterista Jay Watson centrava sua sonoridade<br />
em um mix de hard rock psicodélico e ambiências garageiras<br />
setentistas. Foi uma estreia promissora e que recebeu<br />
muitos elogios da rock press gringa, embora o CD não tenha<br />
sido nenhum estouro de vendas.<br />
A banda correu o mundo tocando em grandes festivais e<br />
se apresentando até por aqui, como dito acima. E entre um<br />
show e outro foi burilando pacientemente o material que<br />
seria gravado para o seu segundo disco de estúdio. Pois<br />
“Lonerism” amplia o conceito estético e sonoro mostrado<br />
pelo conjunto em sua estreia, e mergulha ainda mais fundo<br />
em direção à psicodelia e a chapação sônica. Longe de ser<br />
um disco “fácil” ou “radiofônico” em suas canções, envolve<br />
o ouvinte e derrete seus miolos com camadas e camadas<br />
de delírios sonoros construídos por guitarras embebidas em<br />
pedais fuzz, teclados com timbragem vintage e paisagens<br />
melódicas que desvelam mundos oníricos.<br />
Em um tempo onde tudo é muito veloz e voraz, “Lonerism”<br />
já foi bem esmiuçado por blogs e sites especializados em<br />
cultura pop na web brasuca. Estas linhas zappers preferiram<br />
esperar passar o oba-oba em torno do lançamento do álbum<br />
(e também em torno da pequena tour que o grupo fez no<br />
Brasil), para se deter melhor na audição do dito cujo. Pois<br />
o álbum roda quase sem parar há dois dias no notebook<br />
onde este blog é escrito semanalmente. E a cada audição<br />
o autor destas linhas online fica maravilhado (e chapado)<br />
com um trabalho que enfeixa momentos de intensa “viagem”<br />
sensorial, seja em uma faixa instrumental e bordada apenas<br />
com efeitos de teclados e percussão (“Nothing That Has<br />
Happened So Far Has Been Anything We Could Control”),<br />
seja em momentos onde a melodia surge menos complexa<br />
e mais acessível ao ouvinte (“Endors Toi” e “Apocalypse<br />
Dreams”, esta belíssima em seus eflúvios de power pop sixtie),<br />
seja no regate novamente de nuances hard/psicodélicas<br />
(“Mind Mischief”), seja na placidez e no bucolismo pastoral<br />
da lindíssima “Feels Like We Only Go Backwards”. Isso<br />
sem contar o escândalo que é a psicodelia melódica com<br />
guitarras mezzo saturadas em “Elephant”, o primeiro e nada<br />
radiofônico single do álbum, mas já com clipe promocional<br />
rodando à toda no YouTube.<br />
Há quem já considere Kevin Parker como um pequeno<br />
gênio loki do rock dos anos 2000. Pode ser. Sua mente algo<br />
difusa e certamente turbinada por chapações de maconha e<br />
ácido conferem às músicas do Tame Impala um delicioso sabor<br />
de psicodelismo à la anos 60’, como quase não se ouve<br />
mais no rock atual, poluído e infestado por lixos como Muse<br />
e que ainda por cima dominam as paradas de discos. Pois<br />
este “Lonerism” reafirma o TI como um dos grandes nomes<br />
do rock’n’roll de agora – e já é mais um título para o blog<br />
incluir em sua lista dos melhores de 2012. É som para ouvir<br />
em São Thomé Das Letras, ao pé da casa da Pirâmide,<br />
tomando um bom vinho, fumando uma ótima marijuana<br />
e contemplando a belíssima paisagem pastoral do lugar,<br />
enquanto se espera a chegada de algum disco voador que<br />
nos leve pra bem longe da idiotia que se instalou na música<br />
pop atual.<br />
Novembro-Dezembro/2012
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