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Revista de Administração do Gestor - Universidade Gama Filho

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ISSN 2236-8167<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-203, jul. 2011


FICHA CATALOGRÁFICA<br />

(Cataloga<strong>do</strong> na fonte pela Biblioteca Central da Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong>)<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong> : RAG / Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong>. –<br />

Vol. 1, n. 1 (jul. 2011) - . – Rio <strong>de</strong> Janeiro : Editora <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong>, 2011-<br />

v.: 21 cm<br />

Semestral.<br />

Periódico sob coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Graduação em <strong>Administração</strong>.<br />

ISSN 2236-8167<br />

1. <strong>Administração</strong> – Periódicos. I. Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong>.<br />

CDD – 658.005 (20. ed.)


REITORIA<br />

Reitor<br />

prof. Marcio andré Men<strong>de</strong>s costa<br />

Pró-Reitor <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> e Desenvolvimento<br />

prof. sergio norbert<br />

Pró-Reitor <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s e Ciências Sociais<br />

prof. paulo césar dahia ducos<br />

Pró-Reitor <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

prof. gilberto chaves<br />

Pró-Reitor <strong>de</strong> Exatas e Tecnologia<br />

prof. paulo césar dahia ducos<br />

Editor<br />

dante gastal<strong>do</strong>ni<br />

Programa<strong>do</strong>r Visual<br />

andré luiz santos


Editor Chefe<br />

Prof. Gilberto Jorge da Cruz Araújo, Dr. (UGF/RJ)<br />

Editor Científi co<br />

Prof. Jefferson Leal Bueno, msc. (UGF/RJ)<br />

Conselho Editorial<br />

Prof. Gilberto Jorge da Cruz Araújo, Dr. (UGF/RJ)<br />

Prof. Lansana Seydi, Dr. ( UGF/RJ)<br />

Profª Elisa maria R. Sharland, Dra. (FGV/RJ)<br />

Prof. Ronal<strong>do</strong> <strong>de</strong> Souza Leite Shantaignier, Dr. (FGV/RJ)<br />

Profª. Luci Ruas Pereira, Dra. (UGF/RJ)<br />

Prof. Norman Roland madarasz, Dr. (UGF/RJ)<br />

Profª. Christina Thereza Bassani Teixeira, Drª (UGF/RJ)<br />

Corpo <strong>de</strong> Pareceristas<br />

Prof. Luiz Flávio Autran monteiro Gomes, PhD. (IBmEC/RJ)<br />

Profª. marina Brocha<strong>do</strong> Rodrigues, Ph.D (CEFET/RJ)<br />

Prof. Roberto marcos da Silva montezano, Dr. (IBmEC/RJ)<br />

Profª Deborah moraes zouain, Drª (FGV/EBAPE/RJ)<br />

Prof. mário manhães mosso, Dr. (CEFET/RJ)<br />

Prof. Cleber Almeida <strong>de</strong> Oliveira, Dr. (UGF/RJ)<br />

Prof. Paulo Caruso <strong>Filho</strong>, msc. (UNIGRANRIO/RJ)<br />

Prof. Pablo Bielschowsky, msc. (UCB/RJ)<br />

Prof. marcio Suzano, msc. (UGF/RJ)<br />

Prof. João Alfre<strong>do</strong> Lagoa, m.Sc. (UGF/RJ)


EDITORIAL<br />

A <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong>, é uma publicação em<br />

multimídia, impressa com edição reduzida <strong>de</strong> exemplares, <strong>do</strong><br />

Curso <strong>de</strong> Graduação em <strong>Administração</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong><br />

<strong>Filho</strong> a qual, está aberta, preferencialmente, à comunida<strong>de</strong><br />

universitária e pesquisa<strong>do</strong>res externos; Destina-se à publicação<br />

<strong>de</strong> trabalhos que, pelo seu conteú<strong>do</strong>, possam contribuir para<br />

a socialização <strong>do</strong> conhecimento científico nas diferentes<br />

especialida<strong>de</strong>s da <strong>Administração</strong> e seus campos interdisciplinares.<br />

O calendário <strong>de</strong> publicação <strong>de</strong>ssa <strong>Revista</strong>, bem como as datas<br />

<strong>de</strong> fechamento <strong>de</strong> cada edição, é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pelo seu Conselho<br />

Editorial.<br />

A <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong> é dirigida por um Conselho<br />

Editorial, composto <strong>de</strong> no mínimo, seis <strong>do</strong>utores das seguintes<br />

áreas: <strong>Administração</strong>, Engenharia, Letras e Filosofia.<br />

Gilberto Jorge da Cruz Araújo<br />

Editor Chefe


SUmÁRIO<br />

11 mIx DE mARkETING E SEUS FATORES<br />

DIFERENCIAIS: Um ESTUDO DE CASO<br />

ExPLORATóRIO SOBRE A GESTãO COmPETITIVA<br />

NO SETOR VAREJISTA FARmACêUTICO<br />

Jefferson Leal Bueno<br />

Rogério Ramalho da Silva<br />

Gilberto Jorge da Cruz Araújo<br />

33 ANÁLISE DE DESEmPENHO DE INVESTImENTOS –<br />

UmA AVALIAçãO DOS GESTORES DE FUNDOS DE<br />

AçõES ATIVOS NO BRASIL<br />

Antônio Marcos Duarte Jr.<br />

Fernan<strong>do</strong> Manuel Pereira Afonso Ribeiro<br />

55 O PROCESSO DE INTERNACIONALIzAçãO -<br />

ESTRATéGIAS APLICADAS àS EmPRESAS DA<br />

INDúSTRIA DE PETRóLEO E GÁS PARA O BRASIL<br />

Paulo Del Peloso Carneiro<br />

Licia Regina Me<strong>de</strong>iros Rocha<br />

79 A PERCEPçãO DA UNIVERSIDADE CORPORATIVA:<br />

CIDADANIA CORPORATIVA, ESTRUTURA<br />

CONTExTUAL E COmPETêNCIAS ESSENCIAIS<br />

Marcelo Vivas<br />

99 OS DISCURSOS DA éTICA NA ADmINISTRAçãO –<br />

DESAFIO CONTEmPORâNEO<br />

Jorge Atilio Silva Iulianelli


SUmÁRIO<br />

119 A RELAçãO DA SOCIEDADE COm AS<br />

ORGANIzAçõES NO PROCESSO DE GESTãO<br />

ESTRATéGICA<br />

Daniella Guimarães Bergamini <strong>de</strong> Sá<br />

Marcelo Lopes da Rosa Lisboa Luz<br />

Marcus Vinícius Vianna Castro<br />

145 mENSURANDO OBJETIVOS ESTRATéGICOS<br />

ORGANIzACIONAIS: A CRíTICA à CONSTRUçãO DE<br />

INDICADORES DO BALANCE SCORECARD<br />

Steven Dutt Ross<br />

Breno <strong>de</strong> Paula Andra<strong>de</strong> Cruz<br />

167 GESTãO ESTRATéGICA Em<br />

SERVIçOS DE SAúDE<br />

Alessandro Menezes Paiva<br />

191 FORmAS E APLICAçõES DE<br />

UmA GESTãO AmBIENTAL INTEGRADA:<br />

A IDEALIzAçãO DE AçõES PROATIVAS<br />

DAS ORGANIzAçõES<br />

Márcio Alves Suzano


mix <strong>de</strong> marketing e<br />

seus Fatores Diferenciais:<br />

um Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Caso<br />

Exploratório sobre a Gestão<br />

Competitiva no Setor<br />

Varejista Farmacêutico<br />

Jeffefrson leal bueno, M. sc.<br />

rogério raMalho da silva, M. sc.<br />

gilberto Jorge da cruz araúJo, dr.<br />

Resumo. Este trabalho visa enten<strong>de</strong>r, através <strong>de</strong><br />

um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso, como se configura aplicação<br />

<strong>do</strong> mix <strong>de</strong> marketing a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela empresa Boa<br />

Saú<strong>de</strong>, re<strong>de</strong> associativista <strong>de</strong> varejo farmacêutico<br />

e quais fatores são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s relevantes para<br />

que se tornem diferenciais competitivos em seu<br />

merca<strong>do</strong> atuante. A coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s foi realizada<br />

através <strong>de</strong> entrevista com o gestor proprietário da<br />

marca. Os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa <strong>de</strong>monstram que<br />

o elemento distribuição em relação aos elementos<br />

preço, promoção e produtos, apresenta maior<br />

relevância estratégica no processo <strong>de</strong> negociação<br />

para o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio <strong>de</strong> uma farmácia.<br />

PalavRas-Chave: mix <strong>de</strong> marketing, Varejo<br />

Farmacêutico, Gestão Competitiva.<br />

abstRaCt. This paper aims to un<strong>de</strong>rstand, through<br />

a case study, how the implementation of the<br />

11


IntRodução<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

marketing mix a<strong>do</strong>pted by the company Boa Saú<strong>de</strong><br />

– associative network pharmacy retail – it sets, and<br />

what factors are most important to make them some<br />

competitive advantages in their active market. Data<br />

collection was conducted through interviews with<br />

the owner manager of the brand. The survey results<br />

show that the element distribution in relation to the<br />

elements price, promotion and products, has a<br />

higher strategic relevance in the negotiation process<br />

for the pharmacy retail business.<br />

KeywoRds: marketing mix, Pharmaceutical Retail,<br />

Competitive management.<br />

O varejo farmacêutico no Brasil se apresenta como um <strong>do</strong>s mais<br />

competitivos no mun<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> A ImS Helth as vendas em<br />

dólares nas farmácias brasileiras alcançaram US$ 5,4 bilhões<br />

nos últimos 12 meses encerra<strong>do</strong>s em abril <strong>de</strong> 2005, alocan<strong>do</strong> o<br />

Brasil como o 10° maior merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> medicamentos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

(CATRO e SANTOS, 2007). O número <strong>de</strong> farmácias no Brasil<br />

chega a 55 mil estabelecimentos, o que dá uma média <strong>de</strong> uma<br />

farmácia para aten<strong>de</strong>r 3,2 mil habitantes.<br />

Desta forma, o mix <strong>de</strong> marketing passa a ter para o setor<br />

gran<strong>de</strong> importância, e dá o tom nos processos <strong>de</strong> negociação<br />

entre fornece<strong>do</strong>res e varejistas, que buscam permanentemente<br />

vantagens competitivas para seus negócios.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é i<strong>de</strong>ntificar qual componente <strong>do</strong> mix <strong>de</strong><br />

marketing possui maior relevância no setor varejista farmacêutico<br />

e como o gestor <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> farmácias observa e utiliza estes<br />

componentes <strong>de</strong> marketing em seu negócio.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

12


mIx <strong>de</strong> maRKetIng<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Segun<strong>do</strong> mcCarthy e Perreaut (1997) o mix <strong>de</strong> marketing trata<br />

<strong>do</strong> composto <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> interesse, para os quais as<br />

organizações <strong>de</strong>vem estar atentas se almejam buscar seus<br />

objetivos <strong>de</strong> marketing. Quatro tópicos divi<strong>de</strong>m este composto que<br />

são trata<strong>do</strong>s com freqüência como 4Ps, constituí<strong>do</strong>s pelo Produto,<br />

Praça/distribuição, Promoção e Preço. Para Rocha e Christensen<br />

(1999) o mix <strong>de</strong> marketing ainda é reconheci<strong>do</strong> como composto<br />

merca<strong>do</strong>lógico e para estes <strong>de</strong>vem ser leva<strong>do</strong>s em consi<strong>de</strong>ração<br />

as seguintes variáveis:<br />

a) Produto: Características, qualida<strong>de</strong>, marca, <strong>de</strong>sign,<br />

embalagem e grupo <strong>de</strong> benefícios.<br />

b) Preço: Preço básico, <strong>de</strong>scontos, prazos <strong>de</strong> pagamento<br />

etc.<br />

c) Praça: Canais <strong>de</strong> distribuição, distribuição física,<br />

transporte, armazenagem etc.<br />

d) Promoção: venda pessoal, propaganda, promoção, <strong>de</strong><br />

vendas, publicida<strong>de</strong>, relações públicas etc.<br />

Rocha e Christensen (1999) complementam que é <strong>de</strong> suma<br />

importância que haja consistência e coerência entre os vários<br />

elementos <strong>do</strong> mix, para que a empresa tenha sucesso nos seus<br />

objetivos <strong>de</strong> marketing.<br />

PReço<br />

Segun<strong>do</strong> Assef (1997) apud Sales et al. (2006) é fundamental<br />

para a sustentabilida<strong>de</strong> da empresa, que a eficiência na formação<br />

<strong>de</strong> preços seja alcançada. Somente com uma boa política <strong>de</strong><br />

engenharia <strong>de</strong> preços a empresa terá condições <strong>de</strong> lograr êxito<br />

em seus objetivos <strong>de</strong> lucro, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seu pessoal e<br />

relacionamento sustentável com seus consumi<strong>do</strong>res. O preço<br />

é o elemento pelo qual ven<strong>de</strong><strong>do</strong>r e compra<strong>do</strong>r se motivam<br />

a estabelecer alguma relação <strong>de</strong> troca. Segun<strong>do</strong> Rocha e<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

13


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Christensen (1999) estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s sobre o tema preço,<br />

vem testan<strong>do</strong> sua relação direta com o quesito qualida<strong>de</strong>.<br />

Sinteticamente os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>monstram que:<br />

• O preço é um <strong>do</strong>s atributos usa<strong>do</strong>s que o consumi<strong>do</strong>r<br />

usa para avaliar a qualida<strong>de</strong>.<br />

• Quan<strong>do</strong> a única informação disponível é o preço, esse<br />

elemento é utiliza<strong>do</strong> para inferir a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto.<br />

Quan<strong>do</strong> há outras informações, o preço per<strong>de</strong> sua função<br />

<strong>de</strong> atribuir valor a qualida<strong>de</strong>.<br />

• Quan<strong>do</strong> a marca é pouco conhecida, o preço é mais<br />

usa<strong>do</strong> para inferir a qualida<strong>de</strong>.<br />

• Somente para alguns produtos po<strong>de</strong>-se perceber a<br />

associação entre preço e qualida<strong>de</strong>, para a gran<strong>de</strong><br />

maioria essa associação é pouco significativa.<br />

• Os consumi<strong>do</strong>res que tem a percepção <strong>do</strong> preço<br />

como indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>m a buscar menos<br />

informações sobre o preço <strong>do</strong> que os que possuem<br />

percepção negativa.<br />

• O preço é essencial na avaliação da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

produto em situações percebidas como <strong>de</strong> alto risco<br />

em que o cliente <strong>de</strong>sconfia da própria capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> julgamento. No entanto, conforme aumenta o seu<br />

grau <strong>de</strong> conhecimento, o consumi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> passar a<br />

consi<strong>de</strong>rar menos importante o preço, como indica<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Parente (2009) comenta que <strong>de</strong> todas<br />

as variáveis que compõe o marketing mix a que mais<br />

influencia a competitivida<strong>de</strong> entre as empresas assim<br />

como o volume <strong>de</strong> vendas, margens e a lucrativida<strong>de</strong>,<br />

é o preço. Este mesmo autor conclui, que <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

facilida<strong>de</strong> nas mudanças na política <strong>de</strong> preços, muitas<br />

empresas varejistas se posicionam fortemente através<br />

<strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> competitiva, respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> imediato<br />

às constantes oscilações <strong>de</strong> preços a<strong>do</strong>tadas pelos<br />

concorrentes.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

14


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Parente (2009) <strong>de</strong>staca que uma vez que os objetivos tenham si<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s, os varejistas implementam ações mediante uma gama<br />

<strong>de</strong> planos táticos <strong>de</strong> preço conforme figura apresentada.<br />

Preço<br />

Alto-baixo<br />

Preço<br />

Baixo to<strong>do</strong><br />

dia<br />

figura 1. Táticas <strong>de</strong> preço Figura 1 táticas <strong>de</strong> preço<br />

Alinhamento<br />

<strong>de</strong> preço<br />

Preço<br />

único<br />

Preço<br />

flexível<br />

Fonte: Adaptada <strong>de</strong> (Parente) 2009.<br />

Táticas <strong>de</strong> preço no varejo<br />

Preço<br />

variável<br />

Preço<br />

constumeiro<br />

Preço<br />

múltiplo<br />

Preço<br />

<strong>de</strong> pacote<br />

Preço<br />

psicológico<br />

Preço<br />

lí<strong>de</strong>r<br />

Preço <strong>de</strong><br />

referência<br />

Preço da<br />

concorrência<br />

marca<br />

própria<br />

A figura 1 po<strong>de</strong> ser conceituada, segun<strong>do</strong> Parente (2009) da<br />

seguinte forma:<br />

a) Preço alto/baixo: Alguns produtos anuncia<strong>do</strong>s<br />

recebem <strong>de</strong>scontos, mas <strong>de</strong>pois retornam ao preço<br />

normal.<br />

b) Preço baixo to<strong>do</strong>s os dias: Pratica <strong>de</strong> preços baixos<br />

permanentemente.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

15


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

c) Alinhamento <strong>de</strong> preços: Os preços se alinham ao nível<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto <strong>de</strong> certas categorias.<br />

d) Preço único: Quan<strong>do</strong> o preço é o mesmo para to<strong>do</strong>s<br />

os consumi<strong>do</strong>res, e não permite a prática <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontos.<br />

e) Preço flexível: o varejista permite que os clientes<br />

negociem a cada preço.<br />

f) Preço variável: quan<strong>do</strong> os preços não po<strong>de</strong>m ser fixos<br />

porque os custos assim como a <strong>de</strong>manda variam.<br />

g) Preço costumeiro: os varejistas procuram manter por<br />

um longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo, tais como jornal, revistas<br />

e cardápios <strong>de</strong> restaurantes.<br />

h) Preço múltiplo: Quan<strong>do</strong> o volume <strong>de</strong> compra é gran<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>scontos são pratica<strong>do</strong>s e o preço <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

volume <strong>de</strong> vendas é menor <strong>do</strong> que o custo <strong>do</strong> mesmo<br />

produto vendi<strong>do</strong> isoladamente.<br />

i) Preço <strong>de</strong> pacote: Quan<strong>do</strong> o cliente adquire diferentes<br />

itens no processo da compra, são ofereci<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scontos<br />

e o preço se torna diferencia<strong>do</strong>.<br />

j) Preço psicológico: sugere que o preço <strong>de</strong> R$29,99<br />

causa uma impressão <strong>de</strong> preço menor <strong>do</strong> que R$30,00.<br />

Desta forma usa-se números que terminam em dígitos<br />

ímpares 9 e 5.<br />

k) Preço lí<strong>de</strong>r: O produto lí<strong>de</strong>r é coloca<strong>do</strong> em oferta por<br />

um preço muito baixo, com o objetivo <strong>de</strong> gerar tráfego<br />

<strong>de</strong> clientes no interior da loja.<br />

l) Preço <strong>de</strong> referência: O preço <strong>de</strong> um produto em oferta<br />

é anuncia<strong>do</strong> juntamente com o preço normal <strong>do</strong> produto,<br />

<strong>de</strong> forma que o consumi<strong>do</strong>r possa visualizar o nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconto pratica<strong>do</strong> pelo varejista.<br />

m) Cobrir o preço da concorrência: o varejista nesse<br />

instante se prontifica em cobrir o preço <strong>do</strong> concorrente<br />

ou o menor preço anuncia<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong>.<br />

n) Marca própria: normalmente, são preços menores que<br />

os produtos equivalentes. São inferiores aos das outras<br />

marcas e potencializam maiores margens.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

16


PRomoção<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

As comunicações <strong>de</strong> marketing que são <strong>de</strong>senvolvidas por meio<br />

<strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong> composto <strong>de</strong> promoção se <strong>de</strong>senvolveram<br />

com o objetivo <strong>de</strong> perpetuar os vínculos <strong>do</strong> fabricante com o<br />

cliente, atual ou potencial. O composto <strong>de</strong> promoção utiliza os<br />

instrumentos <strong>de</strong> marketing para informar o cliente atual ou o<br />

potencial cliente, sobre as ofertas da empresa, motiva-los a<br />

consi<strong>de</strong>rar tais ofertas como alternativas <strong>de</strong> compra e a adquirir o<br />

produto ou serviço da empresa fazen<strong>do</strong>-o enxergar como a melhor<br />

alternativa para a realização <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong>s<br />

(ROCHA e CHRISTENSEN, 1999). Para os autores, duas táticas<br />

potencias po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidas pelas empresas, a Push (que<br />

significa empurrar) que se caracteriza quan<strong>do</strong> o fabricante impele<br />

o produto para o distribui<strong>do</strong>r ou intermediário, que por sua vez o<br />

impulsiona para o consumi<strong>do</strong>r. E a tática pull, direcionada para<br />

o consumi<strong>do</strong>r, e este por sua vez se motiva a comprar mediante<br />

os estímulos <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s pelas empresas.<br />

dIstRIbuIção<br />

Segun<strong>do</strong> Churchill e Peter (2008) o canal <strong>de</strong> distribuição po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> o sistema integra<strong>do</strong> e estrutura<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

organizações que possuem funções fundamentais para levar<br />

o produto <strong>do</strong> fabricante até o consumi<strong>do</strong>r final. Kotler (2008)<br />

comenta que no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong>s canais <strong>de</strong> distribuição<br />

ocorrem compromissos <strong>de</strong> longo prazo entre os integrantes <strong>de</strong>sse<br />

canal. As vantagens oferecidas pelos canais <strong>de</strong> distribuição são:<br />

a otimização <strong>do</strong>s esforços <strong>do</strong> fabricante para levar seu produto<br />

ao consumi<strong>do</strong>r e o alcance da economia <strong>de</strong> escala, pelo fato <strong>de</strong><br />

utilizarem agentes especialistas em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s processos <strong>de</strong><br />

distribuição (LAS CASAS, 2009). Os elementos que compõe um<br />

canal <strong>de</strong> distribuição são; os fabricantes, os agentes, atacadistas,<br />

varejistas e consumi<strong>do</strong>res, e as empresas que por sua vez, po<strong>de</strong>m<br />

a<strong>do</strong>tar diversas políticas <strong>de</strong> distribuição tais como: política <strong>de</strong><br />

distribuição exclusiva, política <strong>de</strong> distribuição seletiva ou limitada,<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

17


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

política <strong>de</strong> distribuição intensiva concentrada em uma classe <strong>de</strong><br />

estabelecimentos e política <strong>de</strong> distribuição intensiva (ROCHA e<br />

CHRISTENSEN, 2008).<br />

F<br />

A<br />

B<br />

R<br />

I<br />

C<br />

A<br />

N<br />

T<br />

E<br />

figura 2. Canal <strong>de</strong> distribuição<br />

Fonte: Adaptada <strong>de</strong> Rocha e Christensen 2008<br />

PRoduto<br />

Agente<br />

Atacadista<br />

Varejista<br />

Segun<strong>do</strong> Rocha e Christensen (1999) qualquer coisa que possa<br />

ser um objeto <strong>de</strong> troca entre organizações e indivíduos po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um produto. Jerome mcCarthy (1960) enten<strong>de</strong><br />

produto como um bem oferta<strong>do</strong> que aten<strong>de</strong> a uma necessida<strong>de</strong>.<br />

Ao citarmos o elemento produto no contexto <strong>do</strong> mix <strong>de</strong> marketing,<br />

está se falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> algo que vai além das características físicas<br />

<strong>do</strong> produto que o consumi<strong>do</strong>r irá utilizar, na verda<strong>de</strong>, está se<br />

falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> características tangíveis e intangíveis<br />

que contribuem para a concepção <strong>de</strong> valor <strong>do</strong> produto tais<br />

como: embalagem, garantias, acessórios e serviços (ROCHA<br />

e CHRISTENSEN, 1999). Segun<strong>do</strong> Parente (2009) para um<br />

varejista as <strong>de</strong>cisões sobre produtos são significativas, pois estas<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> diferencial competitivo que a empresa preten<strong>de</strong><br />

a<strong>do</strong>tar tais como a sofisticação ou exclusivida<strong>de</strong>, outras po<strong>de</strong>m<br />

optar por linhas <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> baixo custo, outras po<strong>de</strong>m se<br />

C<br />

L<br />

I<br />

E<br />

N<br />

T<br />

E<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

18


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

<strong>de</strong>finir por linhas <strong>de</strong> produtos mais amplas e, ou mais compactas.<br />

No entanto, quan<strong>do</strong> o varejista está se <strong>de</strong>cidin<strong>do</strong> pela composição<br />

<strong>de</strong> seu mix <strong>de</strong> produtos, alguns fatores <strong>de</strong>vem ser leva<strong>do</strong>s em<br />

conta, tais como: a substitutibilida<strong>de</strong>, a complementarida<strong>de</strong>, os<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho da linha <strong>de</strong> produtos, o ciclo <strong>de</strong> vida,<br />

o ciclo da moda, necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s clientes-alvos, limitações <strong>de</strong><br />

espaço, equipamentos e recursos e o posicionamento tecnológico<br />

da empresa (PARENTE, 2009). Este autor completa <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong><br />

que as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tática para o mix produto po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong> exclusão ou aumento <strong>de</strong> suas varieda<strong>de</strong>s.<br />

o vaRejo<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> varejo segun<strong>do</strong> Stern et al. (1996) e Rosembloom<br />

(1999) diz que esta é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio que comercializam<br />

serviços e produtos para uso pessoal, familiar ou resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong><br />

seus consumi<strong>do</strong>res. Lopes, Neves, Cônsoli e marchetto (2004)<br />

comentam que o segmento varejista apresenta formatos diversos<br />

<strong>de</strong> lojas, e que estas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> foco, tamanho e quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> produtos que oferece e sua especialização. Parente (2000)<br />

<strong>de</strong>staca que os mo<strong>de</strong>los mais significativos <strong>de</strong> varejistas são<br />

os hipermerca<strong>do</strong>s, supermerca<strong>do</strong>s, lojas <strong>de</strong> conveniência, <strong>de</strong><br />

especialida<strong>de</strong>s tais como varejões, padarias, mercearias e<br />

outros formatos <strong>de</strong> varejo. Berman (1996) argumenta que os<br />

varejistas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes são proprietários e gerenciam uma loja,<br />

e apresentam a vantagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver estratégias com mais<br />

flexibilida<strong>de</strong> e velocida<strong>de</strong>, agregan<strong>do</strong> valores com apresentação<br />

<strong>de</strong> serviços pessoais. Tanto no mun<strong>do</strong> como no Brasil, o varejo<br />

vem apresentan<strong>do</strong> uma significativa importância para a economia,<br />

no entanto ao longo das últimas décadas, vem atravessan<strong>do</strong><br />

um intenso ritmo <strong>de</strong> transformações (PARENTE, 2009). Tais<br />

mudanças vêm sen<strong>do</strong> influenciadas pelas condições econômicas,<br />

tecnológicas e sociais <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> negócios em que as<br />

empresas varejistas operam, além também, <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, que<br />

se mostra mais exigente e acaba por influenciar as características<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

<strong>do</strong> preço e consequentemente sobre as margens <strong>de</strong> lucro, assim<br />

como a pressão <strong>do</strong>s custos <strong>de</strong> manutenção <strong>do</strong>s estoques em<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> juros elevadas uma vez que a inflação<br />

se apresenta em níveis estáveis (CASTRO e SANTOS, 2007).<br />

A posição escolhida pelo varejista influencia significativamente sua<br />

competitivida<strong>de</strong> e suas <strong>de</strong>cisões são baseadas nas características<br />

<strong>de</strong> suas empresas, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> seus custos e <strong>de</strong>manda. Lopes,<br />

Neves, Cônsoli e marchetto apud Coughlan et al. (2002) <strong>de</strong>stacam<br />

que no que concerne os custos, os objetivos se concentram nas<br />

margens <strong>de</strong> rotativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> estoque, enquanto a <strong>de</strong>manda escolhe<br />

os serviços que serão oferta<strong>do</strong>s aos companheiros:<br />

• Divisão <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s: aqueles que oferecem mais<br />

serviços po<strong>de</strong>m comprar em gran<strong>de</strong>s lotes <strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>res<br />

e oferecer ao consumi<strong>do</strong>r em pequenas quantida<strong>de</strong>s.<br />

• Conveniência espacial: bens <strong>de</strong> conveniência <strong>de</strong>vem<br />

exigir pouco esforço para ser obti<strong>do</strong>.<br />

• Tempo <strong>de</strong> espera: os consumi<strong>do</strong>res variam em sua<br />

disposição para tolerar produtos esgota<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong><br />

fazem compras.<br />

• Varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produto: a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>screve as classes <strong>de</strong><br />

produtos genericamente diferentes que formam a oferta<br />

<strong>de</strong> produto, ou seja, a amplitu<strong>de</strong> das linhas <strong>de</strong> produto.<br />

• Serviço aos clientes: consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que os serviços<br />

impulsionam as vendas <strong>de</strong>ntro das lojas, o serviço ao<br />

cliente que o ajudam no processo <strong>de</strong> localiza, comprar<br />

e selecionar po<strong>de</strong> trazer benefícios substancias aos<br />

varejistas.<br />

De uma forma geral, o varejo está passan<strong>do</strong> por transformações<br />

significativas no contexto mundial. A “quitanda da esquina” evolui<br />

para um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio mais sofistica<strong>do</strong>, a Wal-Mart assim<br />

como o mc Donald´s estão presentes em to<strong>do</strong>s os cantos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, e alguns <strong>do</strong>s maiores varejistas <strong>de</strong> alimentos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, como a A&P, Food Lion, Stop & Shop, Shaw´s e 7 Eleven,<br />

possuem outras empresas varejistas cujos escritórios centrais se<br />

localizam no Japão e Europa (LEVY e WEITZ, 2000).<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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o vaRejo FaRmaCêutICo<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Se compara<strong>do</strong> a outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> varejo, o farmacêutico<br />

apresenta características muito peculiares, pois trata da área <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, ven<strong>de</strong> produtos e presta serviços necessitan<strong>do</strong> assim <strong>de</strong><br />

colabora<strong>do</strong>res qualifica<strong>do</strong>s para ven<strong>de</strong>r produtos especializa<strong>do</strong>s,<br />

aplicar injeções, verificar pressão arterial e outras ativida<strong>de</strong>s<br />

específicas da área. Comumente, trata-se <strong>de</strong> um comércio<br />

que não aten<strong>de</strong> apenas um tipo <strong>de</strong> público como acontece no<br />

segmento <strong>de</strong> vestuário infantil, por exemplo. Ou seja, qualquer um<br />

po<strong>de</strong> ser um cliente potencial <strong>de</strong> uma farmácia (CORRêA, 2004).<br />

Segun<strong>do</strong> Santos (2004), o segmento <strong>de</strong> varejo farmacêutico é<br />

responsável por 80% das vendas <strong>de</strong> medicamentos no país e<br />

faturou R$ 16,7 bilhões em 2003. A ImS Helth anunciou que as<br />

vendas em dólares nas farmácias brasileiras alcançaram US$<br />

5,4 bilhões nos últimos 12 meses encerra<strong>do</strong>s em abril <strong>de</strong> 2005,<br />

alocan<strong>do</strong> o Brasil como o 10° maior merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> medicamentos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (CASTRO e SANTOS, 2007). Atualmente há cerca <strong>de</strong><br />

55 mil estabelecimentos no pais, o que dá uma média <strong>de</strong> uma<br />

farmácia para aten<strong>de</strong>r a 3,2 mil habitantes. Segun<strong>do</strong> Ribeiro, zilber<br />

e Pietro (2009) o Brasil possui o maior número <strong>de</strong> farmácias <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, o que acaba por gerar forte competitivida<strong>de</strong> no<br />

setor. Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, por exemplo, 3,5 mil pessoas<br />

po<strong>de</strong>m ser atendidas por apenas uma farmácia, diferente da<br />

Inglaterra on<strong>de</strong> a proporção é <strong>de</strong> um estabelecimento para 15<br />

mil habitantes (SANTOS, 2004). Este mesmo autor <strong>de</strong>staca que<br />

a gran<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> lojas se concentra nas farmácias<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, totalizan<strong>do</strong> 96% <strong>do</strong>s estabelecimentos, sen<strong>do</strong> o<br />

restante <strong>de</strong> lojas pertencentes as re<strong>de</strong>s próprias que respon<strong>de</strong>m<br />

por cerca <strong>de</strong> 30 % <strong>do</strong> faturamento contra 70% das farmácias<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. A concentração <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vendas aponta<br />

que as regiões Su<strong>de</strong>ste e Sul possuem juntas 36,6 mil pontos<br />

<strong>de</strong> vendas, que correspon<strong>de</strong> a aproximadamente 67% <strong>do</strong> total<br />

(SANTOS, 2004).<br />

As re<strong>de</strong>s próprias, segun<strong>do</strong> a Abrafarma, apresentaram os<br />

seguintes índices <strong>de</strong> participação:<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

tabela 1. índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho e participação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong><br />

Índices Abrafarma Jan – jun / 07 Jan – jun /08 Var %<br />

Vendas totais 3.637.141,641 4.391.340,604 20,74%<br />

Vendas em<br />

medicamentos<br />

Vendas não<br />

medicamentos<br />

Vendas medicamentos<br />

genéricos<br />

Vendas entrega em<br />

<strong>do</strong>micílio<br />

Programa Farmácia<br />

popular<br />

2.722.529,613 3.281.583,467 20,53%<br />

914.612,028 1.109.957,137 21,34%<br />

373.839,421 480.103,829 28,43%<br />

227.290,708 264.180,640 16,23%<br />

26.650,520 75.172,502 182,07%<br />

Clientes atendi<strong>do</strong>s 146.458,974 163.818,917 12,13%<br />

Clientes atendi<strong>do</strong>s em<br />

<strong>do</strong>micilio<br />

4.458,974 4.874,309 9,36%<br />

Índices Abrafarma Jan – jun / 07 Jan – jun /08 Var %<br />

Clientes atendi<strong>do</strong>s<br />

programa farmácia popular<br />

979,967 3.274,192 234,11%<br />

Unida<strong>de</strong>s vendidas 395.131,610 445.833,895 12,83%<br />

Unida<strong>de</strong>s vendidas no<br />

programa farmácia popular<br />

Fonte: Portal Abrafarma<br />

<strong>de</strong>sCRIção <strong>do</strong> PesquIsa<strong>do</strong>:<br />

Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> assoCIa<strong>do</strong>s boa saú<strong>de</strong><br />

2.465,094 7.219,014 192,85%<br />

A Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> farmácias Boa Saú<strong>de</strong> se caracteriza por uma empresa<br />

que a<strong>do</strong>ta o mo<strong>de</strong>lo associativista para angariar associa<strong>do</strong>s<br />

com intenção <strong>de</strong> utilização da sua marca. A empresa nasceu na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis há mais <strong>de</strong> duas décadas e está presente<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

em quase to<strong>do</strong> o território regional <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Seus associa<strong>do</strong>s estão aloca<strong>do</strong>s nas regiões da zona sul, zona<br />

Oeste, zona Norte, Baixada Fluminense, Niterói, São Gonçalo,<br />

Região <strong>do</strong>s Lagos, Região Serrana e Norte Fluminense. A<br />

empresa preza pela comercialização <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

que são forneci<strong>do</strong>s por empresas <strong>de</strong> ponta e classifica<strong>do</strong>s nos<br />

segmentos <strong>de</strong> medicamentos em geral, Produtos <strong>de</strong> perfumaria,<br />

higiene pessoal, produtos naturais e correlatos e produtos <strong>de</strong><br />

marca própria.<br />

Os stakehol<strong>de</strong>rs que interagem diretamente com o segmento<br />

farmacêutico e que influenciam o negócio, assim como to<strong>do</strong> o<br />

canal <strong>de</strong> distribuição são a Anvisa, o CRF (Conselho Regional<br />

<strong>de</strong> Farmácias), CFF (Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Farmácias), órgãos<br />

governamentais, indústrias e distribui<strong>do</strong>res, concorrência, os<br />

consumi<strong>do</strong>res e os associa<strong>do</strong>s da re<strong>de</strong>.<br />

figura 3. Estrutura <strong>de</strong> gestão da empresa:<br />

Diretoria<br />

Cons. empresarial Supervisão <strong>de</strong> re<strong>de</strong> Cons. jurídica<br />

Fonte: Desenvolvida pelo autor<br />

Associa<strong>do</strong>s<br />

Missão <strong>do</strong> grupo: Ven<strong>de</strong>r e comercializar produtos e serviços,<br />

contribuin<strong>do</strong> para o perfeito equilíbrio da saú<strong>de</strong>, beleza e bem<br />

estar da população.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Visão <strong>do</strong> grupo: Em três anos, se tornar o principal grupo <strong>de</strong><br />

associa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> segmento farmacêutico <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, buscan<strong>do</strong> e manten<strong>do</strong> um crescimento sustentável para<br />

nossos associa<strong>do</strong>s.<br />

Valores <strong>do</strong> grupo:<br />

• Integrida<strong>de</strong>: porque acreditamos no valor das relações<br />

sustentáveis<br />

• Respeito: Aos nossos associa<strong>do</strong>s, fornece<strong>do</strong>res e<br />

consumi<strong>do</strong>res, porque vicemos em função <strong>de</strong> atendê-los.<br />

• Trabalho em equipe: porque só, ninguém vai muito longe,<br />

e o caminho até on<strong>de</strong> queremos chegar, é árduo e longo.<br />

• Profissionalismo: porque é isso e somente isso que<br />

sabemos fazer. Então, queremos ser os melhores.<br />

Os fatores críticos <strong>de</strong> sucesso para uma operação <strong>de</strong> varejo<br />

farmacêutico com mo<strong>de</strong>lo associativista, segun<strong>do</strong> a visão da<br />

direção da re<strong>de</strong> Boa Saú<strong>de</strong> são: rigorosa seleção <strong>de</strong> novos<br />

associa<strong>do</strong>s, plano <strong>de</strong> comunicação e marketing para atrair novos<br />

associa<strong>do</strong>s, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação junto aos fornece<strong>do</strong>res<br />

e indústria, imagem institucional, flexibilida<strong>de</strong> e transparência na<br />

relação com associa<strong>do</strong>s.<br />

meto<strong>do</strong>logIa<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se o critério <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> pesquisa,<br />

apresenta<strong>do</strong> por Vergara (2010), este estu<strong>do</strong> qualifica-se<br />

meto<strong>do</strong>logicamente quanto aos fins e aos meios.<br />

Em relação aos fins, esta é uma pesquisa exploratória e explicativa.<br />

Exploratória porque visa enten<strong>de</strong>r um ramo específico <strong>do</strong> varejo<br />

fluminense pouco explora<strong>do</strong> tanto em literaturas acadêmicas<br />

quanto em literaturas voltadas para áreas <strong>de</strong> gestão empresarial.<br />

Esta pesquisa também se configura como explicativa, pois procura<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

não somente enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s fatores merca<strong>do</strong>lógicos,<br />

mas explicar, conforme observações <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s,<br />

qual componente <strong>do</strong> mix <strong>de</strong> marketing se apresenta como mais<br />

relevante para o ramo varejista farmacêutico observa<strong>do</strong> por esta<br />

pesquisa, e porque ele se configura <strong>de</strong>sta forma.<br />

Em relação aos meios, esta pesquisa se apresenta como um<br />

estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso e bibliográfica. Bibliográfica porque realiza e expõe<br />

um levantamento teórico sobre os fatores <strong>do</strong> mix <strong>de</strong> marketing e<br />

suas variáveis diretamente ligadas a ele. Esta pesquisa também se<br />

configura como um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso, pois observa in loco, através<br />

<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> campo <strong>do</strong>s autores e entrevista com um gestor<br />

responsável por farmácias no Rio <strong>de</strong> Janeiro e região Fluminense,<br />

fatores merca<strong>do</strong>lógicos positivos e negativos, que confronta<strong>do</strong><br />

com a pesquisa bibliográfica exposta, visa i<strong>de</strong>ntificar os fatores<br />

<strong>de</strong>terminantes – <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> mix <strong>de</strong> marketing – se apresentam<br />

como diferenciais no ramo pesquisa<strong>do</strong>.<br />

CaPtação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

Um <strong>do</strong>s autores <strong>de</strong>sta pesquisa pô<strong>de</strong> contribuir significativamente<br />

para a melhor observação <strong>de</strong>ste cenário pesquisa<strong>do</strong> pela sua<br />

atuação como consultor da área varejista farmacêutica há <strong>de</strong>z anos,<br />

observan<strong>do</strong> assim, seus fatores específicos. Desta forma, além <strong>de</strong><br />

observação <strong>de</strong> campo, também foi realizada uma entrevista com<br />

o gestor <strong>de</strong> negociação da re<strong>de</strong> Boa Saú<strong>de</strong> (re<strong>de</strong> associativista<br />

<strong>de</strong> varejo farmacêutico), o qual através <strong>de</strong> um questionário –<br />

previamente elabora<strong>do</strong> – colaborou com informações gerenciais<br />

as quais não seria possível, <strong>de</strong> nenhuma outra forma, captá-las.<br />

A entrevista ocorreu no mês <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2010 no local<br />

<strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> gestor, com agendamento prévio realiza<strong>do</strong> pelo<br />

entrevista<strong>do</strong> – para maior comodida<strong>de</strong> <strong>do</strong> respon<strong>de</strong>nte – e teve<br />

duração <strong>de</strong> aproximadamente 2 (duas) horas.<br />

Através <strong>de</strong>stes da<strong>do</strong>s – tão diretamente liga<strong>do</strong>s a este tipo<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e gestão – foi possível enten<strong>de</strong>r, por análise e<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

consequência <strong>de</strong> pesquisa, como se apresentam os fatores <strong>do</strong> mix<br />

<strong>de</strong> marketing no varejo farmacêutico, assim como o entendimento<br />

<strong>de</strong> qual componente merca<strong>do</strong>lógico se apresenta como mais<br />

relevante, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> ramo pesquisa<strong>do</strong>.<br />

unIveRso da amostRa<br />

Para uma melhor compreensão <strong>de</strong> qual fator merca<strong>do</strong>lógico<br />

se apresenta como mais relevante para uma <strong>de</strong>terminada área<br />

<strong>de</strong> gestão, o universo pesquisa<strong>do</strong> foi o varejo farmacêutico da<br />

região <strong>do</strong> Gran<strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. A amostra, caracterizada como<br />

não probabilística, foi selecionada pelo critério <strong>de</strong> tipicida<strong>de</strong><br />

que, segun<strong>do</strong> Vergara (2010), é constituída pela seleção <strong>de</strong><br />

elementos que o pesquisa<strong>do</strong>r consi<strong>de</strong>re representativos da<br />

população amostral alvo, requeren<strong>do</strong> este tipo <strong>de</strong> critério, profun<strong>do</strong><br />

conhecimento <strong>de</strong>ssa população. Esta amostra é representada pela<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> farmácias Boa Saú<strong>de</strong>, com filiais localizadas na cida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e região fluminense.<br />

tRatamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

Ao se coletar os da<strong>do</strong>s, uma fase que <strong>de</strong>ve ter gran<strong>de</strong> atenção é<br />

a <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>stes da<strong>do</strong>s. Transformar da<strong>do</strong>s em informação<br />

relevante é o intuito fundamental <strong>de</strong> to<strong>do</strong> trabalho científico.<br />

Nesta pesquisa, será realizada uma análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s pelo questionário aplica<strong>do</strong>. A gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise<br />

será <strong>do</strong> tipo mista e sua unida<strong>de</strong> observacional escolhida será a<br />

palavra e a frase (VERGARA, 2010). Além, anotações <strong>de</strong> campo<br />

realizadas pelo pesquisa<strong>do</strong>r, assim como sua reflexão e análise<br />

sobre <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s fatores merca<strong>do</strong>lógicos também servirão<br />

como apoio para a composição da base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, auxilian<strong>do</strong><br />

as observações e conclusões obtidas neste artigo, advindas <strong>de</strong><br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

sua experiência em campo, como consultor, e acadêmica, como<br />

professor universitário.<br />

Resulta<strong>do</strong>s da PesquIsa<br />

Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s através da coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s potencializam<br />

análises diversas sobre a forma como o mix <strong>de</strong> marketing po<strong>de</strong><br />

ser utiliza<strong>do</strong> em uma organização <strong>de</strong> varejo farmacêutico, assim<br />

como seus possíveis resulta<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> nesse contexto a<br />

operação <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> associativista.<br />

Percebe-se que o gestor <strong>do</strong> grupo, quan<strong>do</strong> negocia com<br />

fornece<strong>do</strong>res, procura dar ênfase as características <strong>do</strong><br />

faturamento global, não ignoran<strong>do</strong> que o mix <strong>de</strong> marketing<br />

apresenta <strong>de</strong>sempenho distinto quan<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> pelo ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> localização <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> vendas. A escala <strong>de</strong> Likert<br />

utilizada em parte <strong>do</strong> questionário <strong>de</strong>monstra que na visão <strong>do</strong><br />

negocia<strong>do</strong>r, características específicas sobre o potencial <strong>de</strong><br />

consumo <strong>de</strong> cada região <strong>de</strong>vem ser respeitadas, e isso pô<strong>de</strong> ser<br />

observa<strong>do</strong>, uma vez que foi possível i<strong>de</strong>ntificar que no processo<br />

<strong>de</strong> negociação com fornece<strong>do</strong>res as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> preço,<br />

promoção, distribuição e produtos <strong>de</strong> cada ponto <strong>de</strong> venda, são<br />

levadas em consi<strong>de</strong>ração.<br />

No que diz respeito ao elemento produto, os <strong>de</strong> marca reconhecida<br />

com eleva<strong>do</strong> valor agrega<strong>do</strong> são normalmente negocia<strong>do</strong>s e<br />

estrategicamente pensa<strong>do</strong>s para aten<strong>de</strong>r principalmente as lojas<br />

da zona sul, e da mesma forma, a falta <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias mais<br />

populares é uma variável que gera maiores impactos negativos<br />

nas unida<strong>de</strong>s da zona norte.<br />

As questões que buscaram analisar o elemento promoção nos<br />

relatam que na visão <strong>do</strong> negocia<strong>do</strong>r, as promoções po<strong>de</strong>m vir<br />

a aten<strong>de</strong>r as expectativas <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res da zona sul. No<br />

entanto, as lojas situadas nas zonas norte e baixada, respon<strong>de</strong>m<br />

imediatamente quan<strong>do</strong> percebem oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compra<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

através <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong>. Para o negocia<strong>do</strong>r, o item preço não<br />

interfere na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res da zona sul,<br />

mas, em relação à zona norte, esse item é fundamental para que<br />

o consumi<strong>do</strong>r efetue a compra.<br />

O processo logístico que aten<strong>de</strong> o canal <strong>de</strong> distribuição <strong>do</strong> setor<br />

farmacêutico é bastante eficiente, uma vez que em sua gran<strong>de</strong><br />

maioria, os agentes distribui<strong>do</strong>res que compõe o elenco <strong>de</strong> atores<br />

<strong>de</strong>sse canal têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar entregas até duas vezes<br />

ao dia, minimizan<strong>do</strong> assim a falta <strong>de</strong> produtos e potencializan<strong>do</strong><br />

a acessibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r em relação aos seus <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

compra.<br />

Na segunda parte <strong>do</strong> questionário, que sugeriu ao negocia<strong>do</strong>r<br />

a classificação por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong> mix<br />

<strong>de</strong> marketing para cada região, observamos que para as regiões<br />

da zona sul e oeste, o mix <strong>de</strong> produtos aparece como atributo<br />

<strong>de</strong> maior relevância. Preço, distribuição e promoção, aparecem<br />

nessa or<strong>de</strong>m quan<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista estratégico<br />

competitivo.<br />

Preço e promoção segun<strong>do</strong> o negocia<strong>do</strong>r, são fatores críticos <strong>de</strong><br />

sucesso para a operação das unida<strong>de</strong>s localizadas nas zonas<br />

norte e baixada. Nessas unida<strong>de</strong>s, os elementos produto e<br />

distribuição aparecem com menor peso. Já para as unida<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

grupo que se concentram nas regiões norte fluminense e serrana,<br />

o mix <strong>de</strong> produtos assim como a distribuição, são componentes<br />

que se complementam para a conquista <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. O preço<br />

e a promoção ficam em segun<strong>do</strong> plano.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar, que parte <strong>do</strong> questionário tentou levantar também<br />

os recursos pelo qual o negocia<strong>do</strong>r lança mão para se manter<br />

informa<strong>do</strong> em relação aos seus consumi<strong>do</strong>res, uma vez que<br />

conhecer o perfil <strong>do</strong> usuário, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra<br />

assim como os motivos pelo qual ele compra, são recursos<br />

fundamentais que o negocia<strong>do</strong>r não po<strong>de</strong> abrir mão quan<strong>do</strong><br />

negocia a favor <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> varejo altamente pulverizada.<br />

Pesquisa <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> em órgãos <strong>do</strong> setor, informes econômicos<br />

encontra<strong>do</strong>s em fontes oficiais, opiniões <strong>de</strong> pares <strong>do</strong> setor, são<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

recursos <strong>do</strong> qual este gestor se aproveita para pensar <strong>de</strong> forma<br />

estratégica o seu papel na empresa.<br />

Por atuar no merca<strong>do</strong> há mais <strong>de</strong> 30 anos, sua vivência e<br />

experiências acumuladas, contam bastante também. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s finais encontra<strong>do</strong>s nessa pesquisa apontam ainda<br />

que o negocia<strong>do</strong>r reconheça como principal atributo para a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> o elemento distribuição, que também<br />

é o que recebe maior atenção no momento <strong>de</strong> negociação com<br />

fornece<strong>do</strong>res.<br />

dIsCRePânCIa <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s: teoRIa x RealIda<strong>de</strong><br />

é comum observar, na literatura <strong>de</strong> marketing, que em merca<strong>do</strong>s<br />

com classes consi<strong>de</strong>radas como média e alta, o consumo <strong>de</strong><br />

produtos e serviços ocorre <strong>de</strong> maneira mais frequente, trazen<strong>do</strong><br />

maiores lucros para os investi<strong>do</strong>res locais. Contradizen<strong>do</strong> a lógica<br />

merca<strong>do</strong>lógica comum, é possível observar nos da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s que<br />

as filiais instaladas em áreas consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> classe baixa trazem<br />

maiores rendimentos ao investi<strong>do</strong>r observa<strong>do</strong>. é interessante<br />

observar que através das questões realizadas pela pesquisa, em<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento, o respon<strong>de</strong>nte reconhece que a região sul<br />

(zona sul) e região oeste (zona oeste) <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro possui<br />

uma renda per capta maior, com maiores concentrações <strong>de</strong> classe<br />

alta e média alta. Entretanto, as regiões Serrana, baixada e norte<br />

Fluminense, as quais ele classifica como <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> um perfil<br />

econômico baixo ou muito baixo, são classificadas pelo gestor,<br />

nesta mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância, como as mais lucrativas e<br />

que geram maior retorno financeiro em seus estabelecimentos<br />

comerciais.<br />

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ConsI<strong>de</strong>Rações FInaIs<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

As consi<strong>de</strong>rações finais <strong>de</strong>sse projeto <strong>de</strong> pesquisa estão centradas<br />

basicamente em duas vertentes: a primeira é que no setor <strong>de</strong><br />

varejo farmacêutico a competitivida<strong>de</strong> é significativa conforme<br />

aponta Ribeiro, zilber e Pietro (2009) ao comentar que no Brasil<br />

o número <strong>de</strong> farmácias é o maior em relação ao restante <strong>de</strong> to<strong>do</strong><br />

o mun<strong>do</strong>, o que acaba por gerar forte competitivida<strong>de</strong> no setor.<br />

A segunda, é que em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> altamente<br />

pulverizada, o canal <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong>sse setor <strong>de</strong>ve ser eficiente<br />

para aten<strong>de</strong>r todas as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição e oferta <strong>de</strong><br />

produtos, uma vez que as tendências <strong>de</strong> crescimento para esse<br />

merca<strong>do</strong> são bastante positivas se levarmos em consi<strong>de</strong>ração o<br />

crescimento percentual que o setor sofreu, observa<strong>do</strong> na tabela 1.<br />

ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

ASSEF, Roberto. Guia <strong>de</strong> Fomação <strong>de</strong> Preços: Aspectos merca<strong>do</strong>lógicos,<br />

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Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

30


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

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Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

31


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

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__________. Méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Pesquisa em <strong>Administração</strong>. 3ª edição. São<br />

Paulo: Atlas, 2008.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 11-32, jun. 2011<br />

32


Análise <strong>de</strong> Desempenho<br />

<strong>de</strong> Investimentos –<br />

uma Avaliação <strong>do</strong>s<br />

<strong>Gestor</strong>es <strong>de</strong> Fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

Ações Ativos no Brasil<br />

antônio Marcos duarte Jr. dr.<br />

fernan<strong>do</strong> Manuel pereira afonso ribeiro, M. sc.<br />

Resumo. Entre os maiores agentes atuantes no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais brasileiro, <strong>de</strong>stacam-se os<br />

gestores ativos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimentos em<br />

ações, que administram recursos superiores a R$<br />

8,5 bilhões. Na pesquisa objeto <strong>de</strong>ste trabalho,<br />

procuramos verificar se a gestão ativa <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

tem si<strong>do</strong> positiva e se tem recompensa<strong>do</strong> os<br />

investi<strong>do</strong>res. Estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s no exterior<br />

comprovaram que a gestão ativa não tem agrega<strong>do</strong><br />

valor às carteiras, comparativamente a uma gestão<br />

passiva, isto é , uma administração <strong>de</strong> ativos que<br />

não se disponha a superar um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> padrão<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, ou benchmark, <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>,<br />

mas tão somente acompanhá-lo. A meto<strong>do</strong>logia<br />

da pesquisa procurou selecionar os fun<strong>do</strong>s em<br />

duas etapas: a primeira diz respeito ao porte <strong>do</strong><br />

fun<strong>do</strong>, seu tempo <strong>de</strong> existência no merca<strong>do</strong> e<br />

a característica <strong>de</strong> acesso aberto ao público. A<br />

segunda etapa <strong>de</strong> seleção, visou i<strong>de</strong>ntificar os<br />

fun<strong>do</strong>s que efetivamente apresentaram consistência<br />

superior na gestão, segun<strong>do</strong> a aplicação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> performance basea<strong>do</strong> no retorno<br />

33


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

acumula<strong>do</strong> e testes estatísticos não-paramétricos.<br />

A pesquisa permitiu avaliar os melhores gestores no<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1997 a fevereiro <strong>de</strong> 2004. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s confirmam a expectativa inicial <strong>de</strong> que<br />

a gestão ativa não agregou valor na administração<br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimento, tal qual ocorre em<br />

outros países, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a média global da<br />

indústria. No entanto, a análise mais aprofundada<br />

das informações nos permite verificar que alguns<br />

gestores alcançaram resulta<strong>do</strong>s excepcionais na<br />

gestão das carteiras. Nossa contribuição com este<br />

estu<strong>do</strong> é exatamente no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> apresentar<br />

estas informações aos potenciais investi<strong>do</strong>res, <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> que estes tenham em mãos um instrumento<br />

que permita realizar um processo <strong>de</strong> seleção das<br />

alternativas existentes no merca<strong>do</strong> e optar pelos<br />

gestores mais capacita<strong>do</strong>s.<br />

PalavRas-Chave: Investimentos, Performance,<br />

Fun<strong>do</strong>s<br />

abstRaCt. The stock mutual funds are important<br />

players in the Brazilian capital market, with more than<br />

R$ 8,5 billion un<strong>de</strong>r management. In this research,<br />

we intend to verify if active management of stock<br />

mutual funds in Brazil has been positive for investors.<br />

Other researches ma<strong>de</strong> abroad proved that active<br />

management has not ad<strong>de</strong>d value to the portfolios,<br />

comparing to a passive management. Using this<br />

research metho<strong>do</strong>logy, we have selected funds in two<br />

turns: firstly, consi<strong>de</strong>ring the funds’ size, his lifetime in<br />

market, and his characteristics of open access to the<br />

people. In the second turn, we applied a metho<strong>do</strong>logy<br />

to i<strong>de</strong>ntify funds that perform superior consistence<br />

in management. We used a mo<strong>de</strong>l of performance<br />

analysis, based on cumulative return and nonparametric<br />

statistics tests, which permit us to rank the<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

34


1. IntRodução<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

best managers of stock funds in the january/1997 to<br />

february/2004 period. The obtained results confirm the<br />

initial expectation that active management in Brazil has<br />

not ad<strong>de</strong>d value to the funds, the same way it occurs in<br />

other countries, consi<strong>de</strong>ring global average of industry.<br />

Otherwise, more <strong>de</strong>tailed analysis permitted us verify<br />

that some managers have achieved exceptional results<br />

in the portfolio management. Our contribution with this<br />

work is to show these information to potential investors,<br />

permitting they can make a process in or<strong>de</strong>r to choice<br />

the best managers in market. In addiction, we hope be<br />

contributing for the general improvement of this market<br />

sector, consi<strong>de</strong>ring that information is essential raw<br />

material for the investment process in capital market.<br />

KeywoRds: Investment, Performance, Funds<br />

A indústria <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimento tem conquista<strong>do</strong> espaço<br />

relevante no merca<strong>do</strong> financeiro e <strong>de</strong> capitais brasileiro ao longo<br />

<strong>do</strong>s últimos anos, ten<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> a marca <strong>de</strong> R$ 520 bilhões em<br />

recursos administra<strong>do</strong>s (posição em fevereiro <strong>de</strong> 2004, segun<strong>do</strong><br />

a Associação Nacional <strong>do</strong>s Bancos <strong>de</strong> Investimentos - ANBID).<br />

Os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimento em títulos e valores mobiliários (FITVm)<br />

apresentavam em fevereiro <strong>de</strong> 2004, um patrimônio líqui<strong>do</strong> total<br />

da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 34 bilhões. Segun<strong>do</strong> a classificação da ANBID,<br />

<strong>de</strong>sse montante 75% referem-se a fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações com gestão<br />

passiva, isto é, tais gestores limitam-se a replicar um índice <strong>de</strong><br />

benchmark <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, a exemplo <strong>do</strong> Ibovespa ou IBx-50, ambos<br />

calcula<strong>do</strong>s pela Bolsa <strong>de</strong> Valores <strong>de</strong> São Paulo (Bovespa).<br />

Já os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações com gestão ativa, apresentavam um<br />

patrimônio líqui<strong>do</strong> total aproxima<strong>do</strong> <strong>de</strong> R$ 8,5 bilhões. Os<br />

gestores <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> investimento buscam superar<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

35


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> benchmark, utilizan<strong>do</strong> diversas técnicas <strong>de</strong><br />

gestão <strong>de</strong> portfólio, tais como: market-timing, seleção <strong>de</strong> ativos e<br />

seletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> setores econômicos. Tais técnicas em geral estão<br />

associadas a projeções <strong>de</strong> retorno diferenciadas proporcionadas<br />

pelo ativos transaciona<strong>do</strong>s.<br />

No entanto, diversos estu<strong>do</strong>s e pesquisas conduzi<strong>do</strong>s<br />

principalmente nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América, indicam que<br />

a gestão ativa <strong>de</strong> portfólios tem produzi<strong>do</strong> menor rentabilida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> que a esperada, proporcionan<strong>do</strong> retornos iguais ou inferiores<br />

àqueles gera<strong>do</strong>s por carteiras com gestão passiva.<br />

Segun<strong>do</strong> Elton e Gruber (1995), “Embora fun<strong>do</strong>s in<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>s<br />

tenham performa<strong>do</strong> melhor <strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>res<br />

ativos, muitos <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res que contratam administra<strong>do</strong>res<br />

ativos acreditam que eles po<strong>de</strong>m ocupar o lugar <strong>do</strong> gestor que irá<br />

superar o índice. Essa crença persiste indiferentemente ao fato<br />

<strong>de</strong> que há poucas evidências <strong>de</strong> que uma performance superior<br />

é previsível.” (p.693). 1<br />

Este trabalho consistiu na aplicação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise<br />

<strong>de</strong> performance <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s em âmbito<br />

internacional por consagra<strong>do</strong>s acadêmicos, para verificar se,<br />

e em que medida, a gestão ativa <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações no Brasil<br />

tem agrega<strong>do</strong> valor ao portfólio <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res. Os da<strong>do</strong>s<br />

necessários serão coleta<strong>do</strong>s junto à Quantum Axis, empresa<br />

privada <strong>de</strong> consultoria em investimentos que gerencia um amplo<br />

banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre a rentabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s diversos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

investimentos administra<strong>do</strong>s no País.<br />

No segun<strong>do</strong> capítulo, faremos uma breve recapitulação<br />

sobre as teorias e estu<strong>do</strong>s que dão embasamento a este<br />

trabalho, procuran<strong>do</strong> enfocar principalmente a mo<strong>de</strong>rna teoria<br />

da administração <strong>de</strong> portfólios e os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise <strong>de</strong><br />

performance <strong>de</strong> investimentos. Adicionalmente, apresentaremos<br />

a base teórica relativa aos principais testes <strong>de</strong> estatística nãoparamétrica<br />

que serão utiliza<strong>do</strong>s para validar os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s<br />

através da análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s levanta<strong>do</strong>s na pesquisa.<br />

1 Tradução livre <strong>do</strong> autor.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

36


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

O terceiro capítulo apresenta o <strong>de</strong>talhamento da pesquisa objeto<br />

<strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, abordan<strong>do</strong> todas as etapas <strong>do</strong> trabalho, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, os critérios <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, o tratamento<br />

das informações e a análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s.<br />

As conclusões <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> são apresentadas no capítulo 4. Com<br />

este trabalho, esperamos estar contribuin<strong>do</strong> para a disseminação<br />

<strong>de</strong> conhecimentos relaciona<strong>do</strong>s ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais,<br />

propician<strong>do</strong> assim uma melhor divulgação das informações<br />

relativas aos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimentos administra<strong>do</strong>s no Brasil.<br />

2. ReFeRenCIal teóRICo<br />

2.1. Teoria Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> Portfólio<br />

2.1.1. Teoria da Fronteira Eficiente<br />

markowitz (1952) lançou as bases para a otimização <strong>de</strong> portfólios,<br />

consistin<strong>do</strong> na aplicação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> programação quadrática<br />

sobre da<strong>do</strong>s relativos a séries históricas <strong>do</strong> retorno <strong>de</strong> ativos, que<br />

permitem obter o retorno espera<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada ativo, sua variância<br />

ou <strong>de</strong>svio-padrão e a covariância entre to<strong>do</strong>s os pares <strong>de</strong> ativos<br />

analisa<strong>do</strong>s.<br />

O mo<strong>de</strong>lo sugeria que as variáveis relevantes para os investi<strong>do</strong>res<br />

seriam o retorno espera<strong>do</strong> e o risco <strong>do</strong>s ativos, expresso pela<br />

variância <strong>de</strong>sses retornos. Adicionalmente, presumia que to<strong>do</strong><br />

investi<strong>do</strong>r é avesso ao risco, estan<strong>do</strong> propenso a escolher,<br />

<strong>de</strong>ntre um conjunto <strong>de</strong> carteiras <strong>de</strong> ativos, o portfólio que ofereça<br />

o máximo retorno espera<strong>do</strong> para diferentes níveis <strong>de</strong> risco ou<br />

aquele que ofereça o mínimo risco para diferentes níveis <strong>de</strong><br />

retorno espera<strong>do</strong>.<br />

Os estu<strong>do</strong>s relativos à composição da carteira eficiente<br />

<strong>de</strong>monstraram que através da diversificação <strong>do</strong>s ativos se po<strong>de</strong>ria<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

37


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

obter uma redução <strong>do</strong> risco total da carteira. Tal efeito ocorre em<br />

função da correlação existente entre os diversos ativos, conforme<br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> por Elton e Gruber (1995, p. 128).<br />

Posteriormente, Tobin (1958) contribuiu para o aprimoramento <strong>do</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo, ao acrescentar à carteira ótima um ativo livre <strong>de</strong> risco,<br />

isto é, um título <strong>de</strong> renda fixa <strong>de</strong> emissão governamental, por<br />

exemplo, cuja rentabilida<strong>de</strong> esperada é 100% certa.<br />

2.1.2. Teorias <strong>de</strong> Finanças -<br />

A Hipótese da Eficiência <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>s<br />

Basea<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s sobre o comportamento <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s,<br />

Fama (1970) e, posteriormente, Copeland & Weston (1992),<br />

<strong>de</strong>senvolveram conceitos que presumem que os preços <strong>do</strong>s ativos<br />

transaciona<strong>do</strong>s em merca<strong>do</strong> embutem todas as informações<br />

disponíveis, e que estas são <strong>de</strong> conhecimento público.<br />

Segun<strong>do</strong> Brealey e Myers (1992, p. 289), em merca<strong>do</strong>s eficientes<br />

a compra ou venda <strong>de</strong> qualquer título ao preço vigente no merca<strong>do</strong><br />

nunca será uma transação com valor presente líqui<strong>do</strong> positivo.<br />

Ross et al. (1995) <strong>de</strong>senvolveram meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> teste para as<br />

formas <strong>de</strong> eficiência <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s. Tais estu<strong>do</strong>s visam observar<br />

empiricamente se <strong>de</strong> fato existe eficiência, sobretu<strong>do</strong> analisan<strong>do</strong><br />

momentos pré e pós divulgação <strong>de</strong> informações relevantes ao<br />

merca<strong>do</strong>.<br />

2.1.3. CAPm – Capital Asset Pricing mo<strong>de</strong>l<br />

Segun<strong>do</strong> Sharpe et al. (1995), o CAPm originou-se <strong>do</strong>s trabalhos<br />

apresenta<strong>do</strong>s por Sharpe (1964), Lintner (1965) e mossin (1966).<br />

O CAPm baseou-se nos estu<strong>do</strong>s relativos à Teoria da Fronteira<br />

Eficiente e consi<strong>de</strong>ra que os merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais atuam em<br />

equilíbrio. Segun<strong>do</strong> o mo<strong>de</strong>lo, qualquer investi<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> aplicar<br />

to<strong>do</strong>s os seus recursos em ativos livres <strong>de</strong> risco, alavancar<br />

(captar recursos à taxas livres <strong>de</strong> risco para investir em ativos <strong>de</strong><br />

risco) ou escolher portfólios que combinem ativos livres <strong>de</strong> risco<br />

e ativos <strong>de</strong> risco.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

38


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

O mo<strong>de</strong>lo presume que o retorno espera<strong>do</strong> <strong>de</strong> um portfólio<br />

diversifica<strong>do</strong> correspon<strong>de</strong> ao retorno <strong>de</strong> uma taxa livre <strong>de</strong> risco<br />

acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong> um prêmio pelo risco incorri<strong>do</strong> (beta). Quanto maior<br />

o risco <strong>do</strong> ativo, maior o retorno espera<strong>do</strong>. O merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais,<br />

eficiente, trataria <strong>de</strong> organizar as forças <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong><br />

ativos segun<strong>do</strong> essa premissa.<br />

2.2. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Performance <strong>de</strong> Investimentos<br />

Para o investi<strong>do</strong>r, tão importante quanto gerar lucros e acumular<br />

capital é avaliar se esses recursos estão sen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>s com<br />

eficácia nos merca<strong>do</strong>s financeiros e <strong>de</strong> capitais. Para isso,<br />

é necessário aplicar técnicas <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> performance <strong>de</strong><br />

investimentos que permitam comparar os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pelo<br />

gestor com o benchmark, que po<strong>de</strong> ser um índice padrão aceito<br />

pelo merca<strong>do</strong> ou até mesmo o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um administra<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> carteiras concorrente.<br />

Relacionamos abaixo as principais teorias e mo<strong>de</strong>los utiliza<strong>do</strong>s<br />

para a análise <strong>de</strong> performance <strong>de</strong> investimentos, que servem <strong>de</strong><br />

base para a aplicação <strong>de</strong> testes com vistas a verificar a eficácia<br />

<strong>do</strong>s gestores <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações ativos no merca<strong>do</strong> brasileiro.<br />

• Retorno Acumula<strong>do</strong> / Volatilida<strong>de</strong><br />

• Análise <strong>de</strong> Estilo Baseada no Retorno<br />

• Índice <strong>de</strong> Sharpe<br />

• Gráfico <strong>de</strong> Balzer (snail trails)<br />

• Análise <strong>de</strong> Farrar<br />

• Teste <strong>de</strong> Treynor e Mazuy<br />

• Razão <strong>de</strong> Sortino<br />

• Medida <strong>de</strong> Jensen<br />

• Índice <strong>de</strong> Valor Adiciona<strong>do</strong> (IVA)<br />

• Índice M2 <strong>de</strong> Modigliani<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

39


3. PesquIsa sobRe a PeRFoRmanCe <strong>do</strong>s<br />

Fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> InvestImentos em ações Com<br />

gestão atIva no bRasIl<br />

3.1. Meto<strong>do</strong>logia da Pesquisa<br />

3.1.1. Objetivo da Pesquisa<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

O objetivo da pesquisa é verificar se os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimentos<br />

em ações com gestão ativa no merca<strong>do</strong> brasileiro, têm supera<strong>do</strong><br />

o benchmark com consistência estatística. Por consistência<br />

estatística entenda-se a aplicação <strong>de</strong> testes e a obtenção <strong>de</strong><br />

parâmetros (estatística z e p-value) que apresentem evidências<br />

que possam levar à rejeição da hipótese <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong> ou<br />

nulida<strong>de</strong>. A rejeição da hipótese <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> nos permite inferir<br />

que o fun<strong>do</strong> sob análise apresentou performance diferenciada<br />

em relação ao benchmark. Este fato associa<strong>do</strong> à superação <strong>do</strong><br />

benchmark no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, nos levaria a concluir que o<br />

fun<strong>do</strong> especifica<strong>do</strong> apresentou performance consistentemente<br />

superior no perío<strong>do</strong>.<br />

3.1.2. Tipo <strong>de</strong> Pesquisa<br />

A pesquisa objeto <strong>de</strong>ste trabalho consiste na coleta <strong>de</strong> informações<br />

junto ao banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da Quantum Axis, sistema gerencia<strong>do</strong><br />

pela empresa <strong>de</strong> consultoria Quantum, disponível no laboratório <strong>de</strong><br />

informática <strong>do</strong> IBmEC RJ. O sistema permite o acesso a um amplo<br />

banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre a indústria <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimentos no<br />

Brasil. No módulo <strong>de</strong> pesquisa, o sistema disponibiliza informações<br />

cadastrais sobre os administra<strong>do</strong>res e o histórico <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s,<br />

composto por índices <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong> e risco.<br />

Foi <strong>de</strong>senvolvida uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva nesse banco <strong>de</strong><br />

da<strong>do</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> processar as informações e apresentar<br />

avaliação quantitativa sobre a performance <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações<br />

com gestão ativa.<br />

To<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s necessários nesta pesquisa estão disponíveis<br />

na base da Quantum. Utilizamos a base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s atualizada em<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

40


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

17.03.04, constituída por informações relativas a 4.632 fun<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> investimentos.<br />

Segun<strong>do</strong> meto<strong>do</strong>logia da Quantum, a rentabilida<strong>de</strong> diária <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>do</strong>s é obtida mediante o cálculo da variação das cotas diárias,<br />

líquidas da taxa <strong>de</strong> administração. A rentabilida<strong>de</strong> mensal <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>do</strong>s é calculada pela variação das cotas diárias entre o último<br />

dia útil <strong>do</strong> mês, em relação ao último dia útil <strong>do</strong> mês anterior.<br />

As cotas são calculadas pelo administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>, conforme<br />

normas <strong>do</strong> Banco Central <strong>do</strong> Brasil e da Comissão <strong>de</strong> Valores<br />

mobiliários – CVm. Os indica<strong>do</strong>res diários <strong>do</strong> benchmark,<br />

Ibovespa ou IBx, são obti<strong>do</strong>s junto à Bolsa <strong>de</strong> Valores <strong>de</strong> São<br />

Paulo e representam o índice médio <strong>do</strong> dia.<br />

O processamento <strong>do</strong>s testes estatísticos foi efetua<strong>do</strong> pelo software<br />

STATISTICA for Win<strong>do</strong>ws, Kernel release 5.5 A, produzi<strong>do</strong> pela<br />

StatSoft, inc. e disponível nas <strong>de</strong>pendências da Diretoria <strong>de</strong><br />

Finanças <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil S.A., no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

3.1.3. Critérios para a Pré-Seleção <strong>de</strong> Fun<strong>do</strong>s<br />

Na base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da Quantum existem informações sobre<br />

milhares <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s atuantes no merca<strong>do</strong> brasileiro. Neste<br />

estu<strong>do</strong> iremos selecionar os da<strong>do</strong>s relativos aos fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações<br />

ativos – Ibovespa, Ibovespa com alavancagem, IBx e IBx com<br />

alavancagem, segun<strong>do</strong> classificação da Quantum Axis. Os<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>verão estar classifica<strong>do</strong>s como “fun<strong>do</strong>s abertos a to<strong>do</strong>s<br />

os investi<strong>do</strong>res”, segun<strong>do</strong> meto<strong>do</strong>logia utilizada pela Quantum<br />

Axis, que retira da amostra os fun<strong>do</strong>s fecha<strong>do</strong>s para captação<br />

e os exclusivos.<br />

Os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>verão estar ativos no merca<strong>do</strong> há pelo menos três<br />

anos e possuir patrimônio líqui<strong>do</strong> (base fevereiro/2004) superior<br />

a R$ 10 milhões. A análise compreen<strong>de</strong>rá o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1997 a fevereiro <strong>de</strong> 2004 (85 meses).<br />

Aplican<strong>do</strong> os critérios acima à base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da Quantum, foram<br />

pré-seleciona<strong>do</strong>s, conforme tabela n. 4, 15 fun<strong>do</strong>s Ibovespa<br />

Ativo <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 127 fun<strong>do</strong>s; 9 fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo com<br />

Alavancagem <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 67 fun<strong>do</strong>s e 4 fun<strong>do</strong>s IBx Ativo <strong>de</strong> um<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

41


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

total <strong>de</strong> 56 fun<strong>do</strong>s. Nenhum fun<strong>do</strong> IBx Ativo com Alavancagem<br />

foi seleciona<strong>do</strong>, em um universo <strong>de</strong> 7 fun<strong>do</strong>s.<br />

tabela n. 4. Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fun<strong>do</strong>s Pré-Seleciona<strong>do</strong>s<br />

Classes <strong>de</strong> Fun<strong>do</strong>s Total Seleciona<strong>do</strong>s % s/ total<br />

Ibovespa Ativo 127 15 12%<br />

Ibovespa Ativo com<br />

Alavancagem<br />

67 9 13%<br />

IBx Ativo 56 4 7%<br />

IBx Ativo com Alavancagem 7 0 -<br />

Total 257 28 11%<br />

3.1.4. Aplicação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Análise da Performance<br />

Uma vez seleciona<strong>do</strong>s os fun<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> os critérios<br />

elenca<strong>do</strong>s no item anterior, iniciamos o processamento <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s junto à base da Quantum. Foram calcula<strong>do</strong>s o<br />

índice <strong>de</strong> aproveitamento diário (IAD), índice <strong>de</strong> aproveitamento<br />

mensal (IAm), o índice <strong>de</strong> retorno acumula<strong>do</strong> (Rent), o índice <strong>do</strong><br />

benchmark acumula<strong>do</strong> no mesmo perío<strong>do</strong> e o índice <strong>de</strong> superação<br />

<strong>do</strong> benchmark (ISB) <strong>de</strong> cada fun<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> sob análise.<br />

Os índices <strong>de</strong> aproveitamento são calcula<strong>do</strong>s levan<strong>do</strong> em<br />

consi<strong>de</strong>ração o percentual <strong>de</strong> ocorrências em que o fun<strong>do</strong><br />

apresentou performance superior ao benchmark, seja em bases<br />

diárias ou mensais. O índice <strong>de</strong> superação <strong>do</strong> benchmark é a<br />

razão entre o retorno acumula<strong>do</strong> <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> sob análise<br />

e o retorno acumula<strong>do</strong> <strong>do</strong> benchmark no mesmo perío<strong>do</strong>.<br />

Os índices <strong>de</strong> aproveitamento diário e mensal visam i<strong>de</strong>ntificar se<br />

a performance <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> é usualmente diferenciada em relação<br />

ao seu benchmark. Com estes índices é possível traçar um<br />

perfil superficial da atuação <strong>do</strong>s gestores. Índices eleva<strong>do</strong>s, ou<br />

seja, superiores a 50%, indicam que o fun<strong>do</strong> freqüentemente tem<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

42


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

sucesso em suas estratégias <strong>de</strong> atuação. Já índices reduzi<strong>do</strong>s<br />

(inferiores a 50%), indicam que o fun<strong>do</strong> com freqüência apresenta<br />

baixa performance em sua atuação no merca<strong>do</strong>.<br />

O índice <strong>de</strong> superação <strong>do</strong> benchmark (ISB), quan<strong>do</strong> superior a 1<br />

(um) indica tendência <strong>de</strong> médio e longo prazo <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> em realizar<br />

estratégias <strong>de</strong> sucesso no merca<strong>do</strong>. Ao contrário, fun<strong>do</strong>s que<br />

apresentam ISB menor que 1, são sérios candidatos à exclusão<br />

<strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> melhores gestores.<br />

é importante salientar que a meto<strong>do</strong>logia utilizada calcula o<br />

ISB <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> apuração em relação ao<br />

benchmark. Caso não utilizássemos este critério, estaríamos<br />

incorren<strong>do</strong> na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distorcer os resulta<strong>do</strong>s da análise.<br />

3.1.5. Aplicação <strong>de</strong> Testes Estatísticos<br />

Em uma segunda fase, os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s após o processamento<br />

da base da Quantum, compostos pelos indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> retorno<br />

diário e mensal <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s seleciona<strong>do</strong>s e respectivos benchmark,<br />

foram exporta<strong>do</strong>s para planilha Excel e então importa<strong>do</strong>s pelo<br />

software STATISTICA. O programa disponibiliza diversas funções<br />

estatísticas. Neste estu<strong>do</strong>, utilizamos as funções relativas ao<br />

processamento <strong>do</strong>s testes não-paramétricos cita<strong>do</strong>s no capítulo 4.3.<br />

Os testes estatísticos visam i<strong>de</strong>ntificar a consistência estatística<br />

relativa à performance <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Os parâmetros calcula<strong>do</strong>s são<br />

compara<strong>do</strong>s aos índices pertencentes à região crítica e permitem<br />

obter informações que serão utilizadas no processo <strong>de</strong> análise<br />

da performance.<br />

3.1.6. Critérios para a Aprovação da<br />

Performance <strong>de</strong> Fun<strong>do</strong>s<br />

Para ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> investimento cuja gestão ativa<br />

agregou valor ao patrimônio <strong>do</strong>s cotistas e, portanto, apresentou<br />

performance superior ao benchmark com consistência estatística,<br />

o fun<strong>do</strong> atingiu, cumulativamente, os seguintes indica<strong>do</strong>res:<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

43


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

a) O fun<strong>do</strong> apresentou IAD e IAm superior a 50%.<br />

b) O fun<strong>do</strong> superou o benchmark no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> análise,<br />

isto é, o fun<strong>do</strong> alcançou ISB maior que 1 (um).<br />

c) Na aplicação <strong>do</strong>s testes estatísticos, Sign Test e<br />

Wilcoxon Matched Pairs Test, em bases diárias e<br />

mensais, o fun<strong>do</strong> apresentou, em ao menos um<br />

<strong>do</strong>s testes, parâmetro z situa<strong>do</strong> na região crítica <strong>de</strong><br />

uma distribuição aproximada à normal, com 5% <strong>de</strong><br />

significância, e<br />

d) Na aplicação <strong>do</strong>s mesmos testes estatísticos, o fun<strong>do</strong><br />

apresentou, em ao menos um <strong>do</strong>s testes, parâmetro<br />

p-value, <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significância, inferior a 0,05.<br />

3.2. Avaliação <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s<br />

3.2.1. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo<br />

Em termos <strong>de</strong> retorno acumula<strong>do</strong>, a média <strong>de</strong>ste grupo, 223,94%<br />

- superou o benchmark, que atingiu 186,30% <strong>de</strong> valorização<br />

média no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>. O <strong>de</strong>staque coube aos fun<strong>do</strong>s<br />

SUL AméRICA FOCUS FIA, que atingiu ISB <strong>de</strong> 3,62 e FATOR<br />

PLURAL FIA LIVRE, que alcançou retorno acumula<strong>do</strong> <strong>de</strong> 529,39%<br />

no perío<strong>do</strong>.<br />

Utilizan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s processa<strong>do</strong>s em bases diárias, verificamos<br />

que o índice <strong>de</strong> aproveitamento diário - IAD médio <strong>do</strong> grupo<br />

atingiu 49,12%, o que <strong>de</strong>nota um <strong>de</strong>sempenho relativamente fraco<br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Cinco <strong>do</strong>s quinze fun<strong>do</strong>s superaram o benchmark<br />

e obtiveram IAD superior a 50%. Já sete <strong>de</strong> quinze, não<br />

conseguiram superar o benchmark e também não alcançaram<br />

IAD maior que 50%. O <strong>de</strong>staque neste quesito foi o fun<strong>do</strong> HG<br />

STRATEGY II FIA, que atingiu IAD <strong>de</strong> 52,94%.<br />

Para aferir maior confiança estatística, aplicamos os testes Sign<br />

e Wilcoxon em bases diárias e verificamos que o HG STRATEGY<br />

II FIA e o SUL AméRICA FOCUS FIA, além <strong>de</strong> superarem o<br />

benchmark, apresentaram evidências que po<strong>de</strong>m levar à rejeição<br />

da hipótese <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong>. A análise <strong>do</strong>s p-value relativos a<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

44


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

este grupo, em bases diárias, revelou que o FATOR PLURAL<br />

FIA LIVRE e SUL AméRICA FOCUS FIA também superaram<br />

o benchmark e apresentaram indícios que permitem rejeitar a<br />

hipótese <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong>.<br />

Agora utilizan<strong>do</strong> as informações em base mensal, notamos que o<br />

índice <strong>de</strong> aproveitamento mensal – IAm médio <strong>do</strong> grupo alcançou<br />

48,71%, resulta<strong>do</strong> também insuficiente. Seis <strong>do</strong>s quinze fun<strong>do</strong>s<br />

superaram o benchmark e atingiram IAm maior que 50%. Outros<br />

seis não superaram o benchmark e não atingiram o IAm <strong>de</strong> 50%.<br />

Cabe <strong>de</strong>stacar o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> SUL AméRICA FOCUS FIA,<br />

que atingiu IAm <strong>de</strong> 59,65%.<br />

Na aplicação <strong>do</strong>s testes estatísticos, em bases mensais,<br />

observamos que FATOR PLURAL FIA LIVRE e SUL AméRICA<br />

FOCUS FIA, revelaram evidências que po<strong>de</strong>m levar à rejeição da<br />

hipótese <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> apura<strong>do</strong>s os p-value, SUL<br />

AméRICA FOCUS FIA e HG STRATEGY II FIA, apresentaram<br />

índice inferior a 0,05, o que <strong>de</strong>nota tendência à rejeição da<br />

hipótese <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong>.<br />

Em resumo, po<strong>de</strong>mos afirmar que no grupo <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s Ibovespa<br />

Ativo, em média, os gestores não agregaram valor ao patrimônio<br />

<strong>do</strong>s cotistas com consistência estatística. Aplican<strong>do</strong> os critérios<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s para aprovação <strong>de</strong> performance <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, concluímos<br />

que apenas os fun<strong>do</strong>s FATOR PLURAL FIA LIVRE, SUL<br />

AméRICA FOCUS FIA e HG STRATEGY II FIA, cumpriram os<br />

requisitos <strong>de</strong> performance exigi<strong>do</strong>s.<br />

Na tabela n. 5, apresentamos os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> performance<br />

relativos aos fun<strong>do</strong>s ibovespa ativos aprova<strong>do</strong>s. A tabela n. 6 traz<br />

os resulta<strong>do</strong>s da aplicação <strong>do</strong>s testes estatísticos – estatística z.<br />

A tabela n. 7 apresenta as informações relativas ao p-value <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>do</strong>s aprova<strong>do</strong>s nesta categoria.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

45


tabela n. 5. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo Aprova<strong>do</strong>s:<br />

Indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Performance.<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

IAD IAM Rent. Benchmark ISB<br />

Fator Plural 50,70 58,14 529,39 207,56 2,55<br />

Sul América 51,54 59,65 352,28 97,19 3,62<br />

HG Strategy 52,94 57,69 220,70 84,01 2,63<br />

Benchmark/<br />

média <strong>do</strong> Grupo<br />

49,12 48,71 223,94 186,30 1,36<br />

tabela n. 6. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo Aprova<strong>do</strong>s:<br />

Testes Estatísticos (z).<br />

WMPT(d) WMPT(m) ST(d) ST(m)<br />

Fator Plural 1,7082 2,1853 0,5687 1,4018<br />

Sul América 2,2109 2,1730 1,0388 1,3245<br />

HG Strategy 2,1604 1,3660 1,8927 0,9707<br />

Benchmark/<br />

média <strong>do</strong> Grupo<br />

1,3256 1,2784 1,3346 1,0272<br />

tabela n. 7. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo Aprova<strong>do</strong>s:<br />

Testes Estatísticos (p-value).<br />

WMPT(d) WMPT(m) ST(d) ST(m)<br />

Fator Plural 0,0289 0,0876 0,1610 0,5696<br />

Sul América 0,0298 0,0270 0,1853 0,2989<br />

HG Strategy 0,1719 0,0307 0,3317 0,0584<br />

Benchmark/<br />

média <strong>do</strong> Grupo<br />

0,3605 0,3301 0,4463 0,3624<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

46


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

3.2.2. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo com Alavancagem<br />

No que se refere ao índice <strong>de</strong> retorno acumula<strong>do</strong>, a média <strong>de</strong>ste<br />

grupo, 260,15% - superou o benchmark, que atingiu 141,03% <strong>de</strong><br />

valorização média no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>. O <strong>de</strong>staque coube aos<br />

fun<strong>do</strong>s LYONNAIS SELECTION CASPIA FIA que atingiu ISB<br />

<strong>de</strong> 4,65 (o maior, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os grupos analisa<strong>do</strong>s) e<br />

OPPORTUNITY LóGICA II FIA, que alcançou retorno acumula<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> 852,07% no perío<strong>do</strong> (também o maior <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os fun<strong>do</strong>s<br />

pré-seleciona<strong>do</strong>s).<br />

é interessante notar que esta categoria apresentou um resulta<strong>do</strong><br />

médio superior se compara<strong>do</strong> com o grupo Ibovespa Ativo, tanto em<br />

termos <strong>de</strong> índices <strong>de</strong> aproveitamento e superação <strong>do</strong> benchmark,<br />

quanto em retorno acumula<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong>. Este fato indica que a<br />

maior exposição ao risco propicia<strong>do</strong> pela alavancagem foi premiada<br />

com um melhor retorno no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>.<br />

Com base nos da<strong>do</strong>s processa<strong>do</strong>s em bases diárias, verificamos<br />

que o índice <strong>de</strong> aproveitamento diário - IAD médio <strong>do</strong> grupo atingiu<br />

49,66%, o que <strong>de</strong>monstra um <strong>de</strong>sempenho inferior <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

analisa<strong>do</strong>s. Três <strong>do</strong>s nove fun<strong>do</strong>s superaram o benchmark e<br />

obtiveram IAD superior a 50%. Já cinco <strong>de</strong> nove, não conseguiram<br />

superar o benchmark e também não alcançaram IAD maior que<br />

50%. O <strong>de</strong>staque neste grupo foi o fun<strong>do</strong> LYONNAIS SELECTION<br />

CASPIA FIA, que alcançou IAD <strong>de</strong> 54,10%.<br />

Com vistas a obter maior confiança estatística, aplicamos os<br />

testes Sign e Wilcoxon em bases diárias e verificamos que os<br />

fun<strong>do</strong>s LYONNAIS SELECTION CASPIA FIA, OPPORTUNITY<br />

LóGICA II FIA e FATOR PLURAL JAGUAR, além <strong>de</strong> superarem<br />

o benchmark, apresentaram evidências que po<strong>de</strong>m levar à<br />

rejeição da hipótese <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong>. A análise <strong>do</strong>s p-value relativos<br />

a este grupo, em bases diárias, confirmou que os três fun<strong>do</strong>s<br />

apresentaram indícios que permitem rejeitar a hipótese <strong>de</strong><br />

nulida<strong>de</strong>.<br />

Utilizan<strong>do</strong> as informações em base mensal, notamos que o<br />

índice <strong>de</strong> aproveitamento mensal – IAm médio <strong>do</strong> grupo alcançou<br />

52,38%, resulta<strong>do</strong> satisfatório. Três <strong>do</strong>s nove fun<strong>do</strong>s superaram<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

47


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

o benchmark e atingiram IAm maior que 50%. Outros cinco<br />

não superaram o benchmark e não atingiram o IAm <strong>de</strong> 50%.<br />

Destacamos, mais uma vez, o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> LYONNAIS<br />

SELECTION CASPIA FIA, que atingiu IAm <strong>de</strong> 67,57%.<br />

Na aplicação <strong>do</strong>s testes estatísticos, com referência à estatística<br />

z e p-value, em bases mensais, observamos que os fun<strong>do</strong>s<br />

LYONNAIS SELECTION CASPIA FIA, OPPORTUNITY<br />

LóGICA II FIA e FATOR PLURAL JAGUAR, mais uma vez,<br />

apresentaram evidências que po<strong>de</strong>m levar à rejeição da hipótese<br />

<strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>.<br />

Concluin<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mos afirmar que no grupo <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s Ibovespa<br />

Ativo com Alavancagem, em média, os gestores não agregaram<br />

valor ao patrimônio <strong>do</strong>s cotistas com consistência estatística.<br />

Observa-se que o resulta<strong>do</strong> médio alcança<strong>do</strong> pelo grupo foi<br />

fortemente sensibiliza<strong>do</strong> pela ótima performance <strong>do</strong>s três fun<strong>do</strong>s<br />

cita<strong>do</strong>s no parágrafo anterior. Aplican<strong>do</strong> os critérios <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s<br />

para aprovação da performance <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, i<strong>de</strong>ntificamos que<br />

os fun<strong>do</strong>s LYONNAIS SELECTION CASPIA FIA, OPPORTUNITY<br />

LóGICA II FIA e FATOR PLURAL JAGUAR, cumpriram os<br />

requisitos <strong>de</strong> performance exigi<strong>do</strong>s.<br />

Na tabela n. 8, apresentamos os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> performance<br />

relativos aos fun<strong>do</strong>s ibovespa ativos com alavancagem aprova<strong>do</strong>s.<br />

A tabela n. 9 traz os resulta<strong>do</strong>s da aplicação <strong>do</strong>s testes estatísticos<br />

– estatística z. A tabela n. 10 apresenta as informações relativas<br />

ao p-value <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s aprova<strong>do</strong>s nesta categoria.<br />

tabela n. 8. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo com Alavancagem Aprova<strong>do</strong>s:<br />

Indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Performance.<br />

IAD IAM Rent. Benchmark ISB<br />

LYONNAIS SEL. 54,10 67,57 100,00 21,49 4,65<br />

OPP.LóGICA II 50,73 62,79 852,07 207,56 4,11<br />

FATOR P.JAGUAR 51,77 62,34 255,73 84,11 3,04<br />

Benchmark/<br />

média <strong>do</strong> Grupo<br />

49,66 52,38 251,55 141,03 2,16<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

48


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

tabela n. 9. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo com Alavancagem Aprova<strong>do</strong>s:<br />

Testes Estatísticos (z).<br />

WMPT(d) WMPT(m) ST(d) ST(m)<br />

LYONNAIS SEL. 3,05 2,66 2,23 1,97<br />

OPP.LóGICA II 2,2232 2,2822 0,5939 2,2645<br />

FATOR P.JAGUAR 2,1533 2,5514 1,3952 2,0513<br />

Benchmark/<br />

média <strong>do</strong> Grupo<br />

1,6410 1,2680 1,3766 1,2392<br />

tabela n. 10. Fun<strong>do</strong>s Ibovespa Ativo com Alavancagem Aprova<strong>do</strong>s:<br />

Testes Estatísticos (p-value).<br />

WMPT(d) WMPT(m) ST(d) ST(m)<br />

LYONNAIS SEL. 0,0023 0,0078 0,0254 0,0485<br />

OPP.LóGICA II 0,0262 0,0225 0,5526 0,0235<br />

FATOR P.JAGUAR 0,0313 0,0107 0,1629 0,0402<br />

Benchmark/<br />

média <strong>do</strong> Grupo<br />

3.2.3. Fun<strong>do</strong>s IBx Ativo<br />

0,1902 0,3042 0,2847 0,2980<br />

Em termos <strong>de</strong> retorno acumula<strong>do</strong>, a média <strong>de</strong>ste grupo, 333,12%<br />

- superou o benchmark, que atingiu 271,72% <strong>de</strong> valorização<br />

média no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>. O <strong>de</strong>staque coube aos fun<strong>do</strong>s<br />

SCHRODER BRASIL ABSOLUTO FIA que atingiu ISB <strong>de</strong> 1,90 e<br />

SCHRODER BRASIL FIA, que alcançou retorno acumula<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

507,53% no perío<strong>do</strong>.<br />

Utilizan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s processa<strong>do</strong>s em bases diárias, verificamos<br />

que o índice <strong>de</strong> aproveitamento diário - IAD médio <strong>do</strong> grupo atingiu<br />

49,56%, o que <strong>de</strong>nota um <strong>de</strong>sempenho fraco <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s. Apenas<br />

<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s quatro fun<strong>do</strong>s seleciona<strong>do</strong>s superaram o benchmark e<br />

obtiveram IAD superior a 50%. Por outro la<strong>do</strong>, um fun<strong>do</strong> não<br />

conseguiu superar o benchmark e também não alcançou IAD<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

49


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

maior que 50%. O <strong>de</strong>staque neste quesito foi o fun<strong>do</strong> SCHRODER<br />

BRASIL FIA, que atingiu IAD <strong>de</strong> 50,31%.<br />

Agora utilizan<strong>do</strong> as informações em base mensal, notamos<br />

que o índice <strong>de</strong> aproveitamento mensal – IAm médio <strong>do</strong> grupo<br />

alcançou 49,42%, resulta<strong>do</strong> também insuficiente. Novamente <strong>do</strong>is<br />

fun<strong>do</strong>s superaram e outro não superou os indica<strong>do</strong>res médios <strong>de</strong><br />

performance. Cabe <strong>de</strong>stacar, mais uma vez, o <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong><br />

SCHRODER BRASIL FIA, que atingiu IAm <strong>de</strong> 54,84%.<br />

Para auferir maior confiança estatística, aplicamos os testes Sign<br />

e Wilcoxon em bases diárias e mensais e verificamos que nenhum<br />

fun<strong>do</strong> apresentou evidências que pu<strong>de</strong>ssem levar à rejeição da<br />

hipótese <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong>. Tampouco as informações relativas aos<br />

p-value <strong>de</strong>monstraram essa possibilida<strong>de</strong>.<br />

Em resumo, po<strong>de</strong>mos afirmar que no grupo <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s IBX<br />

Ativo, em média, os gestores não agregaram valor ao patrimônio<br />

<strong>do</strong>s cotistas com consistência estatística. Aplican<strong>do</strong> os critérios<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s para aprovação da performance <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, concluímos<br />

que nenhum fun<strong>do</strong> cumpriu os requisitos <strong>de</strong> performance exigi<strong>do</strong>s,<br />

embora os fun<strong>do</strong>s SCHRODER BRASIL FIA e SCHRODER<br />

BRASIL ABSOLUTO FIA tenham obti<strong>do</strong> performance superior<br />

em relação aos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> seu grupo.<br />

3.3. Limitações <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong><br />

A pesquisa utiliza um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> empresa privada que<br />

por sua vez coleta as informações disponibilizadas direta ou<br />

indiretamente pelos próprios administra<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

investimentos, estan<strong>do</strong>, portanto, sujeita a erros e omissões.<br />

Uma segunda limitação da pesquisa está relacionada com a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os resulta<strong>do</strong>s apura<strong>do</strong>s estarem viesa<strong>do</strong>s para<br />

além da performance real, por conta da ocorrência <strong>de</strong> década<br />

<strong>de</strong> ganhos no merca<strong>do</strong>”, publicada no jornal fechamento <strong>de</strong><br />

fun<strong>do</strong>s com baixo <strong>de</strong>sempenho no perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong><br />

a matéria “Uma Valor Econômico <strong>do</strong> dia 10.04.03, que analisou<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

50


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

o <strong>de</strong>sempenho recente da indústria <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s no Brasil, “A<br />

conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> é que os fun<strong>do</strong>s com <strong>de</strong>sempenho pior<br />

acabam <strong>de</strong>saparecen<strong>do</strong> numa espécie <strong>de</strong> seleção natural <strong>de</strong>ntro<br />

da indústria, e que é importante analisar se o fun<strong>do</strong>s conseguem<br />

superar seus ‘benchmarks’ (referenciais) <strong>de</strong> forma consistente”.<br />

Este fenômeno é chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> survivorship bias, e é aborda<strong>do</strong><br />

com <strong>de</strong>talhes em Varga (2001).<br />

Outra limitação se refere ao fato <strong>de</strong> que os fun<strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>s<br />

nesta pesquisa apresentam taxas <strong>de</strong> administração diversas,<br />

com mínima <strong>de</strong> 0,01% a.a. e máxima <strong>de</strong> 6% a.a. Consi<strong>de</strong>ramos<br />

que as instituições que cobram maior taxa <strong>de</strong> administração,<br />

em tese, alocam maiores recursos ao processo <strong>de</strong> gestão ativa<br />

das carteiras <strong>de</strong> forma a compensar, na rentabilida<strong>de</strong> final, este<br />

custo adicional. Sen<strong>do</strong> assim, utilizamos as cotas líquidas da<br />

taxa <strong>de</strong> administração, conforme divulgadas, nos absten<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

fazer qualquer inferência sobre os efeitos <strong>de</strong>sta na rentabilida<strong>de</strong><br />

apresentada pelos fun<strong>do</strong>s<br />

4. ConClusão<br />

A pesquisa realizada partiu <strong>de</strong> uma base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s composta por<br />

informações relativas a 4.632 fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimento, <strong>do</strong>s quais<br />

257 pertencem à categoria <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações com gestão ativa.<br />

Destes, 28 (11%) foram pré-seleciona<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> critérios que<br />

objetivaram escolher uma amostra representativa <strong>do</strong>s maiores e<br />

mais competitivos administra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s abertos ao público,<br />

priman<strong>do</strong>, também, pela seleção <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s com consistência da<br />

série histórica <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s.<br />

Ao grupo pré-seleciona<strong>do</strong>, aplicamos cálculos relativos às suas<br />

rentabilida<strong>de</strong>s e efetuamos testes estatísticos que objetivaram<br />

apurar a consistência técnica da análise.<br />

Os raros casos <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s aprova<strong>do</strong>s – 6, indicam que, tal qual<br />

ocorre nos merca<strong>do</strong>s norte-americano e europeu, também<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

51


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

no Brasil essa categoria <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimentos não tem<br />

agrega<strong>do</strong> valor à gestão <strong>do</strong> patrimônio <strong>do</strong>s cotistas.<br />

Os fun<strong>do</strong>s aprova<strong>do</strong>s representam 21% da amostra <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

pré-seleciona<strong>do</strong>s na pesquisa, ou 2% da amostra total <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> ações ativos no Brasil, o que caracteriza a pouca significância<br />

<strong>do</strong> grupo aprova<strong>do</strong> em relação ao total <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ações com<br />

gestão ativa.<br />

Os fun<strong>do</strong>s cuja gestão foi aprovada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a meto<strong>do</strong>logia<br />

<strong>de</strong> pesquisa a<strong>do</strong>tada neste trabalho <strong>de</strong>stacam-se no merca<strong>do</strong><br />

por sua alta performance, sen<strong>do</strong> os gestores reconheci<strong>do</strong>s<br />

merecidamente como instituições top <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro.<br />

Foi possível observar que aquele seleto grupo <strong>de</strong> gestores<br />

aprova<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> nossa meto<strong>do</strong>logia, atingiu performance<br />

tão superior que conseguiu elevar o padrão médio da indústria<br />

a níveis <strong>de</strong> razoável <strong>de</strong>sempenho. Se excluirmos tais fun<strong>do</strong>s da<br />

amostra, os resulta<strong>do</strong>s seriam ainda mais mo<strong>de</strong>stos.<br />

A literatura <strong>de</strong>dicada ao assunto tem procura<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificar as<br />

causas <strong>de</strong>sse mau <strong>de</strong>sempenho. Em geral, são observadas<br />

carências em termos da cultura financeira da maioria da população<br />

que, salvo exceções, normalmente não consegue diferenciar o<br />

que seja um fun<strong>do</strong> ativo ou passivo. Ao não exigir performance<br />

<strong>do</strong>s gestores, o investi<strong>do</strong>r está contribuin<strong>do</strong>, inconscientemente,<br />

para a pouca qualida<strong>de</strong> da prestação <strong>do</strong> serviço.<br />

Merca<strong>do</strong>s mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s têm i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> melhorar a regulação e fiscalização sobre o merca<strong>do</strong> e os<br />

administra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> recursos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a aumentar a transparência<br />

da administração <strong>do</strong>s recursos, reduzin<strong>do</strong> assim a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> má gestão e a incidência <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong> risco operacional.<br />

Também tem si<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificada a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprimoramento<br />

profissional <strong>do</strong>s indivíduos que atuam no merca<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fase<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> produtos até os gestores <strong>de</strong> portfólio. Com<br />

isto, o pequeno investi<strong>do</strong>r teria um melhor atendimento às suas<br />

necessida<strong>de</strong>s individuais, com melhor nível <strong>de</strong> aconselhamento.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

52


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Os gestores <strong>de</strong> sucesso se <strong>de</strong>stacam pelo maior rigor na seleção<br />

<strong>de</strong> profissionais no merca<strong>do</strong>, bem como pela performance<br />

alcançada com a utilização <strong>de</strong> técnicas avançadas <strong>de</strong> gestão,<br />

como o market-timing ou alocação dinâmica <strong>de</strong> ativos. é visível<br />

no merca<strong>do</strong> que a competição entre as instituições financeiras tem<br />

leva<strong>do</strong> a um aprimoramento na qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s.<br />

Aos investi<strong>do</strong>res mais exigentes resta a opção <strong>de</strong> utilizar<br />

meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> gestores antes <strong>de</strong> entregar a estes<br />

os seus recursos. mediante técnicas <strong>de</strong> avaliação qualitativa<br />

e quantitativa <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ativos, já disponíveis no<br />

merca<strong>do</strong>, o investi<strong>do</strong>r qualifica<strong>do</strong> po<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a uma seleção<br />

<strong>de</strong> gestores que lhe traga maior segurança na hora <strong>de</strong> alocar os<br />

seus investimentos.<br />

To<strong>do</strong> esse processo revela a contínua sofisticação da indústria<br />

<strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimentos no País e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior<br />

transparência, supervisão e profissionalismo <strong>do</strong>s agentes<br />

envolvi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a resultar em um merca<strong>do</strong> on<strong>de</strong> o capital<br />

possa ser aloca<strong>do</strong> com maior eficiência, propician<strong>do</strong> condições<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento à socieda<strong>de</strong>.<br />

ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

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53


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Vol. 1, n. 1, pág. 33-54, jun. 2011<br />

54


O Processo <strong>de</strong><br />

Internacionalização -<br />

Estratégias Aplicadas às<br />

Empresas da Indústria <strong>de</strong><br />

Petróleo e Gás para o Brasil<br />

paulo <strong>de</strong>l peloso carneiro, M. sc<br />

licia regina Me<strong>de</strong>iros rocha<br />

Resumo. Este artigo visa analisar algumas teorias<br />

<strong>de</strong> internacionalização <strong>de</strong> empresas, buscan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>terminar os principais meios <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong><br />

empresas internacionais no Brasil, assim como<br />

a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> barreiras e o cenário atual <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> petróleo e gás. Com o intuito <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />

o sucesso da internacionalização <strong>de</strong> empresas para<br />

o Brasil, será possível também enten<strong>de</strong>r quais<br />

são as barreiras <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e como vencê-las. A<br />

partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> entrada em<br />

novos merca<strong>do</strong>s, este artigo po<strong>de</strong>rá servir como<br />

fonte <strong>de</strong> informação e consulta para empresas<br />

internacionais que objetivem entrar especificamente<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> petróleo e gás brasileiro. De forma<br />

empírica, as questões abordadas por este estu<strong>do</strong><br />

estão diretamente relacionadas ao processo <strong>de</strong><br />

internacionalização <strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> bens e<br />

serviços. O objetivo principal <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> é verificar<br />

a aplicabilida<strong>de</strong> das principais teorias estratégicas<br />

<strong>de</strong> internacionalização no Brasil.<br />

PalavRas-Chaves: internacionalização, estratégia,<br />

Petróleo e Gás, Brasil.<br />

55


1. IntRodução<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

abstRaCt. This paper aims to examine some theories<br />

of internationalisation of companies, seeking to<br />

<strong>de</strong>termine the main ways of entry of international<br />

companies in Brazil, as well as i<strong>de</strong>ntifying local<br />

barriers and setting the current market for oil<br />

and gas. Aiming to un<strong>de</strong>rstand the success of<br />

the internationalization of firms in Brazil, it is also<br />

possible to un<strong>de</strong>rstand the market barriers and<br />

how to overcome them. From the i<strong>de</strong>ntification of<br />

strategies for entering new markets, this article may<br />

serve as an information and consultation source and<br />

for international companies that aim specifically to<br />

enter the market of oil and gas in Brazil. Empirically,<br />

the issues addressed by this study are directly<br />

related to the internationalisation process of<br />

suppliers of goods and services. The main objective<br />

is to study the applicability of the main theories of<br />

internationalization strategies in Brazil.<br />

A indústria <strong>de</strong> Petróleo e Gás no Brasil sofreu muitas modificações<br />

ao longo <strong>do</strong>s anos. Com as recentes <strong>de</strong>scobertas no Pré-Sal, o<br />

país necessitará <strong>de</strong> inovações tecnológicas e apoio internacional<br />

para realização da exploração e produção <strong>do</strong>s novos campos. A<br />

Petrobras – National Oil Company (NOC) - enfrentará <strong>de</strong>safios,<br />

principalmente nas áreas <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> reservatórios, poços,<br />

logística <strong>de</strong> escoamento e aproveitamento <strong>de</strong> gás, unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

produção, recursos críticos e engenharia submarina. A empresa<br />

conta com o CENPES (Centro <strong>de</strong> Pesquisas e Desenvolvimento<br />

Leopol<strong>do</strong> Américo miguez <strong>de</strong> mello) – Centro <strong>de</strong> Pesquisas<br />

da Petrobras - que tem como principal objetivo <strong>de</strong>senvolver e<br />

disseminar tecnologias para incorporar reservas e <strong>de</strong>senvolver a<br />

produção das recentes <strong>de</strong>scobertas <strong>do</strong> Pré-Sal. As tecnologias<br />

<strong>de</strong>senvolvidas no CENPES fazem da Petrobras a empresa que<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

56


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

mais gera patentes no Brasil e no Exterior. mesmo assim, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

à gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovações tecnológicas, haverá gran<strong>de</strong><br />

espaço para a entrada <strong>de</strong> empresas internacionais <strong>do</strong> setor no país.<br />

A internacionalização <strong>de</strong> empresas é caracterizada pelo ato <strong>de</strong><br />

uma empresa sediada em um país <strong>de</strong> investir no exterior e juntas<br />

formarem um empresa multinacional (mNC). Este investimento<br />

é classifica<strong>do</strong> como IED (Investimento estrangeiro direto); em<br />

inglês é conheci<strong>do</strong> como FDI (Foreign direct investment). O que<br />

motiva a expansão das empresas para outros países são <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

barreiras tarifárias ou falta <strong>de</strong> incentivos fiscais, impostas pelo<br />

governo local, à taxação <strong>de</strong> produtos importa<strong>do</strong>s ou até mesmo<br />

o contrário: a garantia <strong>de</strong> matéria prima escassa ou mão <strong>de</strong> obra<br />

barata que leva o fabricante a se <strong>de</strong>slocar para o país fornece<strong>do</strong>r<br />

a fim <strong>de</strong> se estabelecer no merca<strong>do</strong> local. No caso <strong>do</strong> setor <strong>de</strong><br />

Petróleo e Gás, o que motiva a internacionalização po<strong>de</strong> ser o<br />

<strong>de</strong>clínio da produção <strong>de</strong> petróleo (mar <strong>do</strong> Norte), oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

negócios e novas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo e gás como no Brasil.<br />

Segun<strong>do</strong> teoria <strong>do</strong> Paradigma Eclético <strong>de</strong> Dunning (1980), a<br />

lógica <strong>do</strong>s IEDs nos dias atuais está diretamente ligada à busca<br />

<strong>de</strong> eficiência <strong>de</strong> fatores avança<strong>do</strong>s e ao fato da tecnologia<br />

satisfazer merca<strong>do</strong>s emergentes. A estratégia das empresas<br />

é buscar eficiência em fatores avança<strong>do</strong>s <strong>de</strong> produção e<br />

estabelecer plataformas globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos.<br />

(AmmATUCCI; AVRICHIR, 2007)<br />

Há diversas maneiras <strong>de</strong> realizar o IED, <strong>de</strong>ntre as principais estão:<br />

• Greenfield (construção <strong>de</strong> instalações no exterior a partir<br />

<strong>do</strong> zero - inteiramente nova)<br />

• Joint-Ventures (associação <strong>de</strong> empresas, parceria ou<br />

consórcio – alianças estratégicas).<br />

• Aquisições e Fusões<br />

• Agentes, distribui<strong>do</strong>res ou representantes comerciais.<br />

Dentre as diversas teorias sobre o processo <strong>de</strong> internacionalização<br />

<strong>de</strong> empresas, <strong>de</strong>stacam-se as seguintes teorias: o Paradigma<br />

Eclético ou OLI (DUNNING, 1980) e Escola <strong>de</strong> Uppsala<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

57


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

(JOHANSSON; VAHLNE, 1977). Os meios e motivos <strong>de</strong><br />

internacionalização <strong>de</strong> empresas para o Brasil serão analisa<strong>do</strong>s<br />

e <strong>de</strong>bati<strong>do</strong>s neste artigo. As teorias utilizadas neste estu<strong>do</strong><br />

foram listadas no Quadro 1 (AmmATUCCI; AVRICHIR, 2007),<br />

juntamente com os principais argumentos <strong>de</strong> cada uma.<br />

Quadro 1. Teoria <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> raízes teóricas.<br />

Teoria Argumento Estratégia<br />

Paradigma<br />

Eclético ou<br />

OLI<br />

J. DUNNING<br />

(1980)<br />

Escola <strong>de</strong><br />

Uppsala<br />

J. JOHANSON<br />

& J.E. VAHLNE<br />

(1977)<br />

A internacionalização das<br />

empresas é explicada por<br />

três fatores conjuga<strong>do</strong>s:<br />

a) Ownership como em<br />

Hymer.<br />

b) Internalização como em<br />

Buckley e Casson.<br />

c) Localização: a empresa<br />

internacionaliza-se <strong>de</strong><br />

maneira a angariar<br />

vantagens <strong>de</strong> fatores locais<br />

(elementos <strong>do</strong> diamante <strong>de</strong><br />

Porter).<br />

a) As empresas<br />

internacionalizar-se-ão<br />

gradualmente <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com a sequência: vendas<br />

através <strong>de</strong> agentes,<br />

subsidiárias <strong>de</strong> vendas e<br />

subsidiárias <strong>de</strong> produção.<br />

b) O gradualismo seguirá<br />

a distância psíquica<br />

entre o país <strong>de</strong> origem<br />

e os sucessivos países<br />

hospe<strong>de</strong>iros.<br />

Eliminar a<br />

concorrência<br />

exporta<strong>do</strong>ra e<br />

explorar imperfeições<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong>,<br />

integrar funções<br />

intermediárias para<br />

transpor imperfeições<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e<br />

explorar vantagens<br />

específicas <strong>de</strong><br />

localização.<br />

Internalizar ativida<strong>de</strong><br />

para aumentar<br />

a eficiência da<br />

transferência <strong>de</strong><br />

conhecimento.<br />

Fonte: A autora baseada no estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ammatucci e Avrichir (2007).<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

58


2. meto<strong>do</strong>logIa<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Para a realização <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>, utilizou-se a meto<strong>do</strong>logia<br />

da pesquisa <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação entre referenciais teóricos<br />

e da<strong>do</strong>s históricos. A pesquisa <strong>de</strong>screve os caminhos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

pelas organizações da indústria <strong>de</strong> petróleo e gás após i<strong>de</strong>ntificar<br />

os padrões relata<strong>do</strong>s pelas teorias apresentadas durante o<br />

referencial teórico. As duas abordagens utilizadas foram o mo<strong>de</strong>lo<br />

da escola <strong>de</strong> Uppsala proposto Johanson and Vahlne, (1977, 1990)<br />

e o mo<strong>de</strong>lo econômico <strong>do</strong> paradigma eclético <strong>de</strong> Dunning (1980,<br />

1988) para sua análise. Da<strong>do</strong>s já investiga<strong>do</strong>s em teses e artigos<br />

acadêmicos foram observa<strong>do</strong>s, assim como, levantamentos<br />

realiza<strong>do</strong>s por entida<strong>de</strong>s públicas e privadas, além da utilização<br />

<strong>de</strong> da<strong>do</strong>s secundários da literatura sobre internacionalização <strong>de</strong><br />

empresas. Este estu<strong>do</strong> sistematiza<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com base<br />

em material publica<strong>do</strong> em livros, artigos científicos, <strong>do</strong>cumentos<br />

públicos <strong>de</strong> empresas, agências <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> organismos<br />

internacionais, bem como jornais e revistas especializadas e<br />

é necessariamente bibliográfico e analítico (textual, temático e<br />

interpretativo). Privilegia as intervenções e valoriza a experiência<br />

teórica <strong>do</strong>s atores <strong>do</strong> processo, na <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los teóricos<br />

já referencia<strong>do</strong>s.<br />

2.1. Coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

Os da<strong>do</strong>s serão coleta<strong>do</strong>s através <strong>do</strong>s seguintes méto<strong>do</strong>s:<br />

A pesquisa <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s secundários se dará na internet buscan<strong>do</strong><br />

referências bibliográficas e contato com especialistas da área. A<br />

pesquisa bibliográfica se dará em livros, revistas, artigos científicos<br />

sobre o tema, além <strong>de</strong> outros periódicos.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

59


3. <strong>de</strong>senvolvImento<br />

3.1. Objetivos<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é analisar e aplicar as principais teorias <strong>de</strong><br />

negócios internacionais frente aos movimentos <strong>de</strong> IEDs no Brasil,<br />

especificamente no setor <strong>de</strong> petróleo e gás, buscan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificar: a)<br />

o histórico <strong>de</strong> internacionalização no Brasil; b) os meios <strong>de</strong> entrada<br />

<strong>de</strong> empresas internacionais no Brasil; c) as barreiras encontradas e<br />

como vencê-las. A meto<strong>do</strong>logia utilizada no estu<strong>do</strong> será <strong>de</strong> pesquisa<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação entre referenciais teóricos e da<strong>do</strong>s históricos e<br />

é necessariamente bibliográfica e analítica, com a utilização <strong>de</strong><br />

alguns <strong>do</strong>cumentos públicos <strong>de</strong> empresas, agências <strong>de</strong> pesquisa<br />

e <strong>de</strong> organismos internacionais, bem como jornais e agências <strong>de</strong><br />

notícias para os <strong>de</strong>senvolvimentos mais recentes.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o sucesso da internacionalização <strong>de</strong><br />

empresas para o Brasil, será possível também enten<strong>de</strong>r quais<br />

são as barreiras <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e como vencê-las. A partir da<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> entrada em novos merca<strong>do</strong>s, este<br />

artigo po<strong>de</strong>rá servir como fonte <strong>de</strong> informação e consulta para<br />

empresas internacionais que objetivem entrar especificamente<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> petróleo e gás brasileiro. O objetivo principal<br />

<strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> é verificar a aplicabilida<strong>de</strong> das principais teorias<br />

estratégicas <strong>de</strong> internacionalização no Brasil.<br />

3.2. O Histórico da Internacionalização no Brasil<br />

Empresas multinacionais estabeleceram-se, principalmente, no<br />

Brasil ao longo <strong>do</strong>s séculos xIx e xx (algumas antes), e em<br />

cada fase, com um propósito e impulsionadas por uma lógica<br />

diferente. No setor energético, algumas empresas marcaram a<br />

história da internacionalização no Brasil. Inicialmente, em 1899,<br />

uma empresa financeira cana<strong>de</strong>nse <strong>de</strong> asset management se<br />

instalou no país e sucessivamente, através <strong>de</strong> fusões ao longo<br />

<strong>do</strong>s anos, <strong>de</strong>u origem a Light and Power Company, em 1912.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

60


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

As empresas operaram no Brasil até o momento em que o<br />

crescimento <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong>mandava investimentos vultosos no setor<br />

energético. No entanto, as empresas per<strong>de</strong>ram o interesse nestes<br />

investimentos e o setor foi gradativamente passan<strong>do</strong> ao governo<br />

brasileiro, que buscou financiamento no exterior para adquiri-las.<br />

(AmmATUCCI; AVRICHIR, 2007)<br />

Após a Primeira Guerra Mundial, o afluxo <strong>de</strong> investimentos<br />

estrangeiros aumentou: em 1923, a Inglaterra investiu o<br />

equivalente a 500 milhões <strong>de</strong> dólares, e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, em<br />

1929, 193 milhões <strong>de</strong> dólares no país. Na década <strong>de</strong> 1930, o<br />

Brasil recebia, anualmente, cerca <strong>de</strong> 70 milhões em investimentos<br />

estrangeiros. (BOCCHI, 2000)<br />

Até 1945 as empresas visavam “garantir seus merca<strong>do</strong>s<br />

internacionais para exportação, instalan<strong>do</strong> escritórios <strong>de</strong> vendas<br />

e oficinas <strong>de</strong> assistência técnica e <strong>de</strong> montagem nos <strong>de</strong>mais<br />

países centrais e nos periféricos”. (BRESSER-PEREIRA, 1978)<br />

O autor também enfatiza que nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na Europa<br />

as empresas passaram pela revolução taylorista, o que refletiu<br />

no aumento da produtivida<strong>de</strong>, fez os preços baixarem, além <strong>de</strong><br />

inundar o merca<strong>do</strong> com uma gama <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias, impulsionan<strong>do</strong><br />

a busca por novos produtos.<br />

Após a Segunda Guerra mundial (1945), muitos merca<strong>do</strong>s<br />

emergentes aprofundaram seus processos <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong><br />

importações por meio <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da indústria local.<br />

No Brasil, eclodiu a consciência <strong>de</strong> que seu futuro não po<strong>de</strong>ria<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r unicamente da exportação <strong>de</strong> produtos primários.<br />

(AmmATUCCI; AVRICHIR, 2007)<br />

Desta forma o governo passou a encarar a industrialização <strong>de</strong> uma<br />

maneira mais ativa, retoman<strong>do</strong> a aplicação da “Lei <strong>do</strong>s Similares”<br />

que proibia a importação <strong>de</strong> produtos que tivessem similares<br />

produzi<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> local. Segun<strong>do</strong> o autor, a lei concedia<br />

proteção tarifária para os produtos cadastra<strong>do</strong>s como similares<br />

pelo empresário interessa<strong>do</strong>. Atualmente, além das tarifas, a<br />

taxa <strong>de</strong> câmbio funciona como estimula<strong>do</strong>ra das exportações<br />

brasileiras.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

61


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Ainda no raciocínio <strong>de</strong> Ammatucci e Avrichir (2007), esta medida<br />

“incrementou o processo <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong> importações tanto por<br />

parte <strong>do</strong>s empresários brasileiros quanto por parte das empresas<br />

estrangeiras que exportavam para o Brasil”. Esta mudança<br />

provocou a verticalização <strong>do</strong>s setores, através <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>res locais <strong>de</strong> peças e partes.<br />

A partir <strong>do</strong> final da década <strong>de</strong> 1950, com o governo <strong>de</strong><br />

Kubitschek e seu plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento nacional – “Plano<br />

<strong>de</strong> Metas” – o crescimento econômico e a inserção <strong>do</strong> país<br />

na economia internacional foram <strong>de</strong>finitivos. As vendas das<br />

empresas multinacionais através da exportação passaram a<br />

exigir investimentos massivos para garantir sua presença no<br />

merca<strong>do</strong>. Com isso, o merca<strong>do</strong> brasileiro passou a crescer com<br />

taxas invejáveis.<br />

De 1957 a 1961, avançou mais <strong>de</strong> 8% ao ano, o que resultou<br />

no crescimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 5% na renda per capita <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>.<br />

Estes fatores representaram um bom atrativo para investimentos<br />

estrangeiros. Segun<strong>do</strong> Bocchi (2000), esta atrativida<strong>de</strong> resultou<br />

no acirramento da concorrência internacional entre as próprias<br />

empresas multinacionais, que passaram a disputar cada vez mais<br />

os merca<strong>do</strong>s em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Durante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> “Milagre Econômico Brasileiro” (fim da<br />

década <strong>de</strong> 1960 e início <strong>de</strong> 1970) com abertura <strong>do</strong> país ao capital<br />

estrangeiro, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> empresas multinacionais se instalaram<br />

no Brasil e os gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros passaram a produzir para<br />

exportação. Segun<strong>do</strong> Bresser-Pereira (1978) as empresas foram<br />

motivadas pelo baixo custo <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra, pela extensão <strong>do</strong> ciclo<br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong> produtos e pelo acesso ao merca<strong>do</strong> interno brasileiro.<br />

Para Ammatucci e Avrichir (2007), o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> milagre brasileiro<br />

terminou com o “Choque <strong>do</strong> Petróleo” <strong>de</strong> 1973-1979 e fez com<br />

que a década <strong>de</strong> 1980 fosse <strong>de</strong> baixo crescimento, resultan<strong>do</strong> no<br />

<strong>de</strong>sinvestimento das empresas.<br />

O primeiro “Choque <strong>do</strong> Petróleo” ocorreu em 1973, e se <strong>de</strong>u pelo<br />

fato <strong>do</strong> Oriente médio <strong>de</strong>scobrir que o petróleo é um bem não<br />

renovável e que por isso um dia teria fim. Com isso, os produtores<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

mundiais resolveram diminuir a produção, o que fez elevar o<br />

preço <strong>do</strong> barril <strong>de</strong> US$ 2,90 para US$ 11,65, cerca <strong>de</strong> 300% em<br />

apenas três meses. Abaixo é possível observar um gráfi co com<br />

o histórico <strong>do</strong> preço mundial <strong>do</strong> barril da época.<br />

gráfico 1. Histórico <strong>do</strong> Preço médio Anual <strong>do</strong> Petróleo<br />

Histórico <strong>do</strong> preço médio Anual <strong>do</strong> Petróleo (Barril/US$)*<br />

*Infl aciona<strong>do</strong> pelo preço ao consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s EUA.<br />

Fonte: a autora com base nos estu<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s pela Folha Online<br />

Segun<strong>do</strong> moreira (1999), a década <strong>de</strong> 1990 marca novamente<br />

a abertura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> brasileiro, separan<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong> protegi<strong>do</strong> com crescimento basea<strong>do</strong> em substituição <strong>de</strong><br />

importações, <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> seguinte on<strong>de</strong> os impostos <strong>de</strong> importação<br />

são menores. As empresas tiveram que enfrentar a concorrência<br />

<strong>do</strong>s importa<strong>do</strong>s, per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e ten<strong>do</strong> que lidar<br />

com a economia <strong>de</strong> escala.<br />

O autor <strong>de</strong>monstra através <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Imposto <strong>de</strong><br />

Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e <strong>do</strong> SECEx (Serviços <strong>de</strong> Comercio<br />

Exterior <strong>do</strong> <strong>de</strong>partamento <strong>do</strong> ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento)<br />

<strong>de</strong> 1995 a 1997 que a propensão a exportar das empresas<br />

multinacionais é superior à das empresas nacionais. Na média<br />

geral <strong>do</strong>s três anos em to<strong>do</strong>s os setores as mNCs tiveram<br />

propensão a exportar 2,71 vezes o índice <strong>de</strong> empresas nacionais.<br />

Para o autor, nesta época, houve muitas imperfeições <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>,<br />

que acabou por atrair mais players <strong>do</strong> que a <strong>de</strong>manda justifi caria.<br />

De acor<strong>do</strong> com um estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pelo Banco Central <strong>do</strong> Brasil<br />

(BACEN), na primeira década <strong>de</strong> 2000 o IED no Brasil teve seu<br />

auge em 2008, on<strong>de</strong> foram investi<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 45 bilhões <strong>de</strong><br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

dólares. Em 2010, <strong>de</strong> janeiro a abril, foram investi<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 8<br />

bilhões <strong>de</strong> dólares no país.<br />

gráfico 2. Investimento Direto Estrangeiro no Brasil<br />

Fonte: BACEN – Junho <strong>de</strong> 2010<br />

3.3. Referencial Teórico<br />

Investimento Direto Estrangeiro no Brasil<br />

2000/2010 (bilhões <strong>de</strong> dólares)<br />

Dentre as diversas teorias sobre o processo <strong>de</strong> internacionalização<br />

<strong>de</strong> empresas, <strong>de</strong>stacam-se as seguintes: O Paradigma Eclético<br />

ou OLI (DUNNING, 1980) e Escola <strong>de</strong> Uppsala (JOHANSSON;<br />

VAHLNE, 1977). A citação das principais conclusões a que esses<br />

autores chegaram, permite salientar a contribuição da pesquisa<br />

realizada, <strong>de</strong>monstrar contradições ou reafirmar comportamentos<br />

e atitu<strong>de</strong>s.<br />

3.3.1. A Teoria <strong>de</strong> Uppsala<br />

A Teoria <strong>de</strong> Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1977) propõe<br />

algumas medidas para melhorar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> internacionalização,<br />

pois é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um processo <strong>de</strong> aprendizagem. Ela <strong>de</strong>screve<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

quatro fases <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> uma empresa no merca<strong>do</strong><br />

internacional.<br />

Fase 1: Não há ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exportação regulares;<br />

Fase 2: Exportação através <strong>de</strong> representantes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

(agentes e/ou distribui<strong>do</strong>res);<br />

Fase 3: Estabelecimento <strong>de</strong> uma filial <strong>de</strong> vendas no exterior;<br />

Fase 4: Produção/Fabricação <strong>de</strong> produtos no exterior.<br />

A Teoria <strong>de</strong> Uppsala é baseada na abordagem comportamental<br />

e trata a internacionalização como um processo, enfatizan<strong>do</strong> a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> constante aprendiza<strong>do</strong>. O processo é visto como<br />

cíclico causal, on<strong>de</strong> as causas são cíclicas e não são influenciadas<br />

por fatores <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e/ou <strong>de</strong> concorrência. A teoria <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

que para enten<strong>de</strong>r melhor o processo <strong>de</strong> internacionalização é<br />

importante pensar na distinção entre o “comprometimento com<br />

o merca<strong>do</strong>” e “mudança”.<br />

O “comprometimento com o merca<strong>do</strong>” refere-se ao quanto se sabe<br />

sobre o merca<strong>do</strong> foco e suas operações. O quesito “mudança”<br />

refere-se às <strong>de</strong>cisões a serem tomadas pela empresa sobre<br />

os recursos e leva em consi<strong>de</strong>ração o <strong>de</strong>sempenho obti<strong>do</strong> nos<br />

negócios já existentes. Segun<strong>do</strong> Johanson e Vahlne (1977), os<br />

negócios já existentes são as fontes principais <strong>de</strong> experiência.<br />

Po<strong>de</strong>-se assumir que o conhecimento e comprometimento <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong> afetam a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e que estas po<strong>de</strong>m<br />

influenciar na mudança <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e<br />

no comprometimento. Ativida<strong>de</strong>s internacionais requerem<br />

conhecimentos gerais e conhecimento específico <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Conhecimento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como uma dimensão <strong>de</strong><br />

recursos humanos e conseqüentemente quanto mais profun<strong>do</strong><br />

o conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, mais valiosos são os recursos e<br />

assim o comprometimento com o merca<strong>do</strong>. (ANDERSEN, 1993)<br />

No início das ativida<strong>de</strong>s, negócios <strong>de</strong> baixo risco são realiza<strong>do</strong>s<br />

em merca<strong>do</strong>s fisicamente mais próximos e, à medida que se<br />

adquire experiência com as ativida<strong>de</strong>s internacionais, negócios<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

que envolvem maior comprometimento <strong>de</strong> recursos são realiza<strong>do</strong>s<br />

em merca<strong>do</strong>s estrangeiros mais distantes.<br />

à medida que se adquire maior experiência internacional,<br />

as empresas ten<strong>de</strong>m a se expor a merca<strong>do</strong>s mais diversos,<br />

culturalmente, intensifican<strong>do</strong> relacionamentos mais profun<strong>do</strong>s.<br />

(HONóRIO, 2009) De volta à teoria <strong>de</strong> Uppsala, empresas<br />

nestas condições têm maior aptidão para ajustar seus recursos<br />

estabelecen<strong>do</strong> seu posicionamento numa re<strong>de</strong> bem estruturada.<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Uppsala afirma que o conhecimento <strong>de</strong> merca<strong>do</strong><br />

da empresa (ou a falta <strong>de</strong>le) seria a força motriz <strong>de</strong> seu caminho<br />

para a internacionalização. (ROCHA; SILVA, 2008) Gradualmente,<br />

com a experiência <strong>de</strong> crescimento, seja ele alcança<strong>do</strong> pela própria<br />

empresa ou através <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> coletivo, a sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prever e planejar melhora. Portanto, os erros<br />

cometi<strong>do</strong>s pela empresa local ou outros no passa<strong>do</strong> não tem<br />

que ser cometi<strong>do</strong>s novamente, permitin<strong>do</strong> assim que os novos<br />

entrantes embarquem na experiência <strong>do</strong>s pioneiros. (PUCk;<br />

NINAN, 2010)<br />

Essencialmente, a teoria <strong>de</strong> Uppsala <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que uma vez que<br />

a empresa tem a experiência da internacionalização, ela passa<br />

a <strong>de</strong>ter o conhecimento e assim investe recursos <strong>de</strong> maneira<br />

gradual. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a visão da matriz da empresa sobre<br />

as operações estrangeiras. Gradativamente, a matriz reduz sua<br />

incerteza sobre as operações estrangeiras e começa a liberar<br />

maiores investimentos (financeiros e estratégicos).<br />

No entanto a teoria <strong>de</strong> Uppsala não explica o porquê ou como<br />

o processo se inicia, ela apenas constata que o conhecimento<br />

(constante) sobre o merca<strong>do</strong>-alvo levará ao comprometimento<br />

com o merca<strong>do</strong> e vice-versa. (ANDERSEN, 1993) A teoria<br />

também ignora que a sequência e a velocida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />

internacionalização são diferentes em cada merca<strong>do</strong>.<br />

Após o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Uppsala, foi i<strong>de</strong>ntificada a evolução <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> entrada que passaram a incluir licenciamento, acor<strong>do</strong>s e joint<br />

ventures. (ANDERSEN, 1993)<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

3.3.2 A Teoria <strong>do</strong> Paradigma Eclético ou OLI<br />

Basean<strong>do</strong>-se na teoria <strong>do</strong> Paradigma Eclético ou OLI<br />

(Dunning,1980) é possível afirmar que a <strong>de</strong>cisão pela entrada<br />

no merca<strong>do</strong> internacional e a escolha <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vantagens específicas <strong>de</strong> posse (ownership-specific) assim como<br />

<strong>de</strong> vantagens <strong>do</strong> local – “Localização”. Desta forma, a opção pelo<br />

merca<strong>do</strong> brasileiro <strong>de</strong> Petróleo e Gás por empresas estrangeiras<br />

po<strong>de</strong> ser explicada pelas vantajosas condições atuais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

e os benefícios que ele tem a oferecer.<br />

Essencialmente, a teoria <strong>de</strong> Dunning (1980) po<strong>de</strong> ser dividida em<br />

três vantagens resultantes <strong>de</strong> operações diretas ou parcerias. A<br />

primeira vantagem seria o ownership, on<strong>de</strong> a empresa ao entrar<br />

e operar em merca<strong>do</strong>s estrangeiros está apta a se utilizar <strong>de</strong><br />

suas competências essenciais como um diferencial frente aos<br />

novos competi<strong>do</strong>res. Estas competências seriam <strong>de</strong>senvolvidas<br />

na matriz e passada às subsidiárias.<br />

A segunda vantagem seria sobre os fatores <strong>de</strong> Localização e<br />

estão diretamente relaciona<strong>do</strong>s a preços mais baixos <strong>de</strong> matériaprima<br />

e mão <strong>de</strong> obra e maior integração ao merca<strong>do</strong> estrangeiro<br />

reduzin<strong>do</strong> a distância física. Aumentan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio da língua<br />

e cultura estrangeiras, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar o potencial <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> cresce paralelamente.<br />

A terceira vantagem i<strong>de</strong>ntificada é auferida quan<strong>do</strong> a empresa<br />

<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> por se internacionalizar e assim encara a redução <strong>de</strong><br />

incertezas uma vez que é <strong>de</strong>tentora da informação, <strong>do</strong> maior<br />

controle da oferta e <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s e conseqüentemente, da<br />

crescente possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>s e geração <strong>de</strong> negócios.<br />

Ao se comparar as duas teorias (Uppsala e o Paradigma Eclético),<br />

é interessante consi<strong>de</strong>rar a teoria <strong>de</strong> Porter (1986) para enten<strong>de</strong>r<br />

a importância da estratégia e objetivos da empresa que está se<br />

internacionalizan<strong>do</strong>.<br />

Porter (1986) criou o mo<strong>de</strong>lo das cinco forças que visa analisar<br />

a competição entre empresas. O mo<strong>de</strong>lo consi<strong>de</strong>ra cinco<br />

fatores: novos entrantes, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

<strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r, bens substitutos e a rivalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>. O<br />

objetivo final das forças <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo é que se resulte em uma<br />

estratégia empresarial eficiente. Porter consi<strong>de</strong>ra estas forças<br />

como microambiente, oposto ao macro ambiente.·.<br />

3.4. Meios <strong>de</strong> Entrada <strong>de</strong><br />

Empresas Internacionais no Brasil<br />

O quadro 2 a seguir sintetiza as vantagens e <strong>de</strong>svantagens das<br />

principais formas <strong>de</strong> entrada no Brasil, no setor <strong>de</strong> petróleo e gás,<br />

<strong>de</strong> empresas estrangeiras.<br />

Quadro 2. Síntese das Vantagens e Desvantagens <strong>do</strong>s meios<br />

<strong>de</strong> Entrada<br />

Meios <strong>de</strong> entrada Vantagens Desvantagens<br />

Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Licenciamento<br />

Agente <strong>de</strong><br />

Distribuição<br />

Estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma empresa<br />

(Greenfield)<br />

Exportação Direta<br />

Exportação<br />

Intermediada<br />

Fusões e<br />

Aquisições<br />

Joint Ventures<br />

(Alianças,<br />

consórcios e<br />

parcerias).<br />

Baixo investimento<br />

Baixo investimento<br />

Alto controle, alto<br />

potencial <strong>de</strong> retorno.<br />

Baixo risco,<br />

flexibilida<strong>de</strong>.<br />

Rápida absorção<br />

<strong>de</strong> conhecimento<br />

comercial<br />

Alto controle, alto<br />

potencial <strong>de</strong> retorno.<br />

Alto controle,<br />

compartilhamento<br />

<strong>de</strong> custos,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

novas capacida<strong>de</strong>s.<br />

Baixo controle <strong>de</strong> risco<br />

da perda <strong>de</strong> know-how<br />

Pouco know-how, não<br />

há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exclusivida<strong>de</strong>, risco <strong>de</strong><br />

conflito <strong>de</strong> interesse.<br />

Alto investimento, riscos<br />

maximiza<strong>do</strong>s.<br />

Alto investimento em<br />

logística, altos custos<br />

<strong>de</strong> importação e longo<br />

tempo <strong>de</strong> entrega.<br />

Baixo controle sobre<br />

produtos e processos<br />

Riscos maximiza<strong>do</strong>s,<br />

entrada complexa.<br />

Risco <strong>de</strong> conflitos e <strong>de</strong><br />

perda <strong>de</strong> know-how<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Meios <strong>de</strong> entrada Vantagens Desvantagens<br />

Representação<br />

Comercial<br />

Conhecimento <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong>, baixo<br />

investimento<br />

(comissão <strong>de</strong> venda).<br />

Risco <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong><br />

interesse<br />

Fonte: A autora com base em estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Ferreira, Gião e Oliveira (2008).<br />

3.5. Barreiras <strong>de</strong> Entrada Encontradas por<br />

Empresas <strong>de</strong> Petróleo e Gás no Brasil<br />

Dentre as principais barreiras frequentemente encontradas por<br />

empresas fornece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> bens e serviços para a indústria<br />

<strong>de</strong> Petróleo e Gás ao se estabelecer no merca<strong>do</strong> local estão:<br />

a lei <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> local, a falta <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>sconhecimento sobre requisitos <strong>do</strong> cadastro <strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>res<br />

da Petrobras, alfân<strong>de</strong>ga e importação, concorrência e costumes<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> local, custos <strong>de</strong> se estabelecer e administrar empresa<br />

no merca<strong>do</strong>, cultura, sistema político, nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

industrial e a língua. Cada uma das barreiras citadas será<br />

explicada a seguir.<br />

A aquisição <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>-alvo permite que<br />

a empresa conheça as necessida<strong>de</strong>s e peculiarida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />

clientes locais e os passos da concorrência, o que viabiliza o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas capacida<strong>de</strong>s internas da organização<br />

com a mesma finalida<strong>de</strong>. (LU; BEAMISH, 2001)<br />

Quanto às leis <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> local, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r que é o<br />

percentual mínimo, exigi<strong>do</strong> pela Agência Nacional <strong>do</strong> Petróleo,<br />

Gás Natural e Combustível (ANP), <strong>de</strong> participação das empresas<br />

estabelecidas no Brasil, fornece<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> bens, sistemas e<br />

serviços nas ativida<strong>de</strong>s econômicas relacionadas às ativida<strong>de</strong>s<br />

previstas no Contrato. Este percentual é <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> para cada<br />

projeto específico, assim como nos editais que prece<strong>de</strong>m as<br />

Rodadas <strong>de</strong> Licitação, além <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> nos Contratos <strong>de</strong><br />

Concessão. Caso a empresa estrangeira não se estabeleça no<br />

Brasil e prefira optar por um agente <strong>de</strong> representação comercial,<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

ela não po<strong>de</strong>rá se enquadrar como conteú<strong>do</strong> local, uma vez que<br />

não terá ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fabricação ou montagem no país.<br />

Este é um <strong>do</strong>s fatores que po<strong>de</strong>m dificultar a entrada <strong>de</strong> empresas<br />

estrangeiras. A média <strong>do</strong> percentual <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> local exigi<strong>do</strong><br />

nos projetos é <strong>de</strong> 65%, no entanto, há exceções, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> equipamento/material necessário. A mesma prática<br />

governamental já foi utilizada em outros países, como na Escócia.<br />

Nos anos 80, auge da exploração e <strong>de</strong>scobertas petrolíferas, um<br />

percentual <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> local também era exigi<strong>do</strong>.<br />

A falta <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, também po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada uma barreira <strong>de</strong> entrada para empresas estrangeiras.<br />

O fato das empresas serem novas no merca<strong>do</strong> implica na falta<br />

<strong>de</strong> relacionamento com parceiros, agências governamentais e<br />

fornece<strong>do</strong>res – stakehol<strong>de</strong>rs. As empresas estrangeiras diferem<br />

<strong>de</strong> empresas locais, pois não tem o tempo <strong>de</strong> conhecimento e<br />

o networking (inclusive contatos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s ao longo da vida<br />

e nas relações com família/amigos) e o conhecimento sobre<br />

os costumes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> local (cultura), o que po<strong>de</strong> dificultar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> negócios. O <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> assuntos como o<br />

sistema político, o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial específico<br />

<strong>do</strong> subsetor da empresa e a língua também são fatores <strong>de</strong>cisivos<br />

para o sucesso <strong>de</strong> uma empresa estrangeira no Brasil.<br />

Segun<strong>do</strong> Rock e Ahmed (2008) exportar para países ainda<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento no novo cenário internacional envolve<br />

dificulda<strong>de</strong>s, principalmente pelas vantagens competitivas que<br />

as empresas locais já possuem.<br />

A empresa estrangeira também precisa conhecer bem o<br />

funcionamento da alfân<strong>de</strong>ga e regras <strong>de</strong> importação brasileiras<br />

com o intuito <strong>de</strong> facilitar os processos. Há por exemplo o regime<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> REPETRO - Regime Aduaneiro Especial <strong>de</strong><br />

Importação e Exportação <strong>de</strong> Bens Destina<strong>do</strong>s à Pesquisa e Lavra<br />

<strong>de</strong> Petróleo e Gás - que se <strong>de</strong>stina a incentivar o ingresso <strong>de</strong><br />

ativos estrangeiros no Brasil oferecen<strong>do</strong> suspensão ou isenção<br />

<strong>de</strong> tributos.<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

As faltas <strong>de</strong> conhecimento sobre requisitos <strong>do</strong> cadastro <strong>de</strong><br />

fornece<strong>do</strong>res da Petrobras, mais conheci<strong>do</strong> como CRCC, po<strong>de</strong>m<br />

fazer com que as empresas levem mais tempo para se tornarem<br />

aptas a fornecer diretamente para a opera<strong>do</strong>ra. No entanto, muitos<br />

representantes comerciais e empresas especializadas já prestam<br />

este serviço e po<strong>de</strong>m agilizar os processos.<br />

A concorrência local, assim como os custos <strong>de</strong> se estabelecer e<br />

administrar empresa no merca<strong>do</strong> também é potenciais barreiras.<br />

é necessário conhecer bem o merca<strong>do</strong> antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir se<br />

estabelecer, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma <strong>de</strong> entrada escolhida.<br />

Segun<strong>do</strong> Porter (1986) as empresas buscam o po<strong>de</strong>r monopolístico<br />

e tentam restringir o número <strong>de</strong> players (rivais) crian<strong>do</strong> barreiras<br />

<strong>de</strong> entrada ao merca<strong>do</strong>. Barreiras <strong>de</strong> entrada po<strong>de</strong>m ser criadas<br />

por gran<strong>de</strong>s economias <strong>de</strong> escala que dificultam a entrada<br />

<strong>de</strong> pequenas empresas, além <strong>de</strong> restrições governamentais<br />

e retaliação <strong>do</strong> competi<strong>do</strong>r. No entanto, joint ventures po<strong>de</strong>m<br />

facilitar o processo.<br />

A partir das barreiras explicitadas acima, fica claro que uma<br />

empresa antes <strong>de</strong> tentar se estabelecer no merca<strong>do</strong> brasileiro<br />

<strong>de</strong>ve buscar agregar o máximo <strong>de</strong> conhecimento sobre o merca<strong>do</strong><br />

para que não seja impactada ou ao menos esteja preparada para<br />

lidar com as barreiras <strong>de</strong> entrada. Para tal, a busca por relatórios<br />

<strong>de</strong> setor e contato com organizações, associações <strong>de</strong> comércio e<br />

embaixadas, além <strong>de</strong> agências governamentais e fornece<strong>do</strong>res<br />

é essencial para o preparo da entrada <strong>de</strong> empresas estrangeiras<br />

no Brasil. A <strong>de</strong>cisão por se internacionalizar <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada<br />

como uma inovação para a empresa.<br />

Segun<strong>do</strong> Porter (1986), ao se analisar as alternativas <strong>de</strong><br />

entrada em um novo merca<strong>do</strong>, é muito importante consi<strong>de</strong>rar<br />

os objetivos da empresa e sua estratégia multi<strong>do</strong>méstica. Ou os<br />

produtos e ações <strong>de</strong> marketing se diferem para cada merca<strong>do</strong><br />

ou se estabelece uma estratégia global, quan<strong>do</strong> há tendência <strong>de</strong><br />

padronização da oferta.<br />

Devi<strong>do</strong> à globalização, cada vez mais empresas estão se tornan<strong>do</strong><br />

novos entrantes através <strong>de</strong> fusões e aquisições. Com isso o<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

número <strong>de</strong> bens substitutos e processos estão aumentan<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

a <strong>de</strong>senvolvimentos tecnológicos. é neste cenário que pequenas<br />

empresas se encaixam. (PORTER, 1986)<br />

Com o processo da globalização, a rivalida<strong>de</strong> entre competi<strong>do</strong>res<br />

da indústria e fornece<strong>do</strong>res também está se intensifican<strong>do</strong>,<br />

pois há maior competitivida<strong>de</strong> entre os players no merca<strong>do</strong> e o<br />

aumento <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha <strong>do</strong> cliente. Os clientes, <strong>de</strong>pois<br />

da globalização e das novas tecnologias, passam a ter acesso<br />

a uma vasta quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação na internet. Há inclusive<br />

uma ampla gama <strong>de</strong> opções <strong>de</strong> bens e serviços disponíveis, o<br />

que resulta numa maior expectativa <strong>do</strong> cliente.<br />

O aumento da competitivida<strong>de</strong> e as inovações tecnológicas<br />

fizeram com que a retenção <strong>do</strong> cliente e a previsão <strong>de</strong> vendas<br />

se tornassem mais difíceis. O planejamento e as pesquisas <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong> são essenciais para novos entrantes.<br />

4. ConClusões<br />

A indústria <strong>de</strong> Petróleo e Gás no Brasil sofreu muitas modificações<br />

ao longo <strong>do</strong>s anos. Com as recentes <strong>de</strong>scobertas no Pré-Sal, o<br />

país necessitará <strong>de</strong> inovações tecnológicas e apoio internacional<br />

para a realização da exploração e produção <strong>do</strong>s novos campos.<br />

Surgiram muitas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios para empresas<br />

internacionais <strong>do</strong> setor e o interesse pelo merca<strong>do</strong> local tem<br />

cresci<strong>do</strong> gradualmente. No entanto, barreiras locais <strong>de</strong> entrada e<br />

dúvidas sobre a melhor estratégia <strong>de</strong> entrada a ser a<strong>do</strong>tada tem<br />

surgi<strong>do</strong> entre as empresas.<br />

Após enten<strong>de</strong>r o histórico <strong>de</strong> internacionalização no Brasil e<br />

analisar alguns <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> empresas internacionais,<br />

analisamos também as barreiras encontradas e como vencê-las.<br />

Ao se examinar o estu<strong>do</strong> referente à Escola <strong>de</strong> Uppsala<br />

(JOHANSON; VAHLNE, 1977), fica claro que o potencial <strong>de</strong><br />

internacionalização <strong>de</strong> uma empresa po<strong>de</strong> ser medi<strong>do</strong> pela sua<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

72


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir relacionamentos técnicos, administrativos,<br />

legais e sociais com outras organizações estrangeiras. Ou seja,<br />

uma firma internacionalizada está bem posicionada em uma<br />

re<strong>de</strong> estrangeira, <strong>de</strong>sfrutan<strong>do</strong> <strong>de</strong> relacionamentos com muitos<br />

parceiros estrangeiros.<br />

A Teoria <strong>de</strong> Uppsala é baseada na abordagem comportamental<br />

e trata a internacionalização como um processo, enfatizan<strong>do</strong><br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> constante aprendiza<strong>do</strong>. Essencialmente, a<br />

teoria <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que uma vez que a empresa tem a experiência<br />

da internacionalização, ela passa a <strong>de</strong>ter o conhecimento e<br />

assim investe recursos <strong>de</strong> maneira gradual. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

a visão da matriz da empresa sobre as operações estrangeiras.<br />

Gradativamente, a matriz reduz sua incerteza sobre as operações<br />

estrangeiras e começa a liberar maiores investimentos (financeiros<br />

e estratégicos).<br />

Em relação ao Paradigma Eclético (DUNNING, 1988), estabelecer<br />

fábricas no país agrega vantagem <strong>de</strong> ownership contra os<br />

concorrentes exporta<strong>do</strong>res. Segun<strong>do</strong> o autor, sempre em algum<br />

local, haverá alguma vantagem específica. As vantagens <strong>de</strong><br />

ownership estão associadas ao conhecimento <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><br />

produção mais eficientes. Ou seja, para Dunning (1988), a lógica<br />

<strong>do</strong>s investimentos estrangeiros diretos nos dias atuais está<br />

diretamente ligada à busca <strong>de</strong> eficiência <strong>de</strong> fatores avança<strong>do</strong>s e ao<br />

fato da tecnologia satisfazer merca<strong>do</strong>s emergentes. A estratégia<br />

das empresas é buscar eficiência em fatores avança<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

produção e estabelecer plataformas globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> produtos, contornan<strong>do</strong> barreiras tarifárias, aproveitan<strong>do</strong><br />

incentivos governamentais ou até mesmo compran<strong>do</strong> um cliente<br />

fali<strong>do</strong>.<br />

Ao se analisar o merca<strong>do</strong> para escolher a melhor estratégia<br />

<strong>de</strong> entrada, é importante lembrar o papel <strong>do</strong>s incentivos<br />

governamentais como atrativos aos investimentos. Para os<br />

autores Ammatucci e Avrichir (2007), “as vantagens locacionais<br />

estão ligadas à eficiência <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong> produção – custo da<br />

tecnologia, da mão <strong>de</strong> obra e acesso às matérias-primas”.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

73


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

No Brasil, é necessário lembrar que não é possível alcançar<br />

produtivida<strong>de</strong> internacional com mão <strong>de</strong> obra barata, e sim com<br />

mão <strong>de</strong> obra especializada barata. As vantagens <strong>de</strong> se estabelecer<br />

localmente estão relacionadas à proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecnologia, <strong>de</strong><br />

mão <strong>de</strong> obra qualificada e <strong>de</strong> clientes. A preocupação com a<br />

matéria-prima <strong>de</strong>ve ficar em segun<strong>do</strong> plano uma vez que seu<br />

transporte tem custo inferior ao da expatriação da mão <strong>de</strong> obra,<br />

por exemplo.<br />

é importante consi<strong>de</strong>rar que os mo<strong>de</strong>los fabrica<strong>do</strong>s ou serviços<br />

presta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser adapta<strong>do</strong>s ao merca<strong>do</strong> e às condições<br />

<strong>de</strong> produção local. muitas empresas não levam tais fatores em<br />

consi<strong>de</strong>ração e acabam produzin<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los que não estão<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a cultura, lei <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> local, condições<br />

atmosféricas e parâmetros brasileiros.<br />

A construção <strong>de</strong> estratégias internacionais <strong>de</strong>ve ser feita através<br />

<strong>de</strong> análises rigorosas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, da utilização <strong>de</strong> planos <strong>de</strong><br />

ação e <strong>de</strong> marketing formais e <strong>de</strong>talha<strong>do</strong>s, da avaliação constante<br />

<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> implementação e da aplicação <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e<br />

competências no processo <strong>de</strong> preferência por uma <strong>de</strong>terminada<br />

estratégia. Evidências anteriores constataram que o tamanho da<br />

firma exerce influência sobre o processo <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> estratégias<br />

internacionais em termos <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> da estratégia <strong>de</strong> entrada<br />

e <strong>do</strong> número <strong>de</strong> parceiros internacionais. (HONóRIO, 2009).<br />

Uma empresa antes <strong>de</strong> tentar se estabelecer no merca<strong>do</strong><br />

brasileiro <strong>de</strong> petróleo e gás <strong>de</strong>ve buscar agregar o máximo <strong>de</strong><br />

conhecimento sobre o merca<strong>do</strong> para que não seja impactada<br />

ou ao menos esteja preparada para lidar com as barreiras <strong>de</strong><br />

entrada. Para tal, a busca por relatórios <strong>de</strong> setor, contato com<br />

organizações, associações <strong>de</strong> comércio e embaixadas, além <strong>de</strong><br />

agências governamentais e fornece<strong>do</strong>res são essenciais para o<br />

preparo da entrada <strong>de</strong> empresas estrangeiras no Brasil. A <strong>de</strong>cisão<br />

por internacionalizar <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada como uma inovação<br />

para a empresa. O planejamento e as pesquisas <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> são<br />

essenciais para novos entrantes e <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s antes<br />

da <strong>de</strong>cisão pela internacionalização.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

74


5. ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

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Apresentação interna: Brazil-Uk Business Opportunities – Brazilian<br />

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n.28, p 234-248, jul./set. 2008.<br />

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76


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

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Vol. 1, n. 1, pág. 55-77, jun. 2011<br />

77


A percepção da<br />

Universida<strong>de</strong> Corporativa:<br />

Cidadania Corporativa,<br />

Estrutura Contextual e<br />

Competências Essenciais<br />

Marcelo vivas, M. sc.<br />

Resumo. O presente artigo apresenta uma reflexão<br />

<strong>de</strong> como as Universida<strong>de</strong>s Corporativas po<strong>de</strong>m<br />

ser uma opção para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s<br />

que as organizações têm na formação <strong>do</strong> perfil<br />

<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r capacitan<strong>do</strong>-o com condições <strong>de</strong><br />

contribuir com analises criticas, ajudan<strong>do</strong>-o a<br />

construir ou modifican<strong>do</strong> a realida<strong>de</strong> organizacional<br />

<strong>de</strong> sua empresa, substituin<strong>do</strong> aquele trabalha<strong>do</strong>r<br />

que é um mero executor <strong>de</strong> tarefas por outro mais<br />

prepara<strong>do</strong> aca<strong>de</strong>micamente. Com as mudanças<br />

prementes <strong>do</strong>s dias <strong>de</strong> hoje, muitas organizações<br />

precisam repensar as suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> treinar<br />

os seus funcionários manten<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong><br />

educação continuada. é também apresenta<strong>do</strong> um<br />

estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso da Universida<strong>de</strong> Corporativa Amil,<br />

mostran<strong>do</strong> a sua importância estratégica para a<br />

Empresa.<br />

PalavRas-Chave: Universida<strong>de</strong> Corportativa,<br />

educação continuada, estratégia.<br />

79


1. IntRodução<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

abstRaCt. The present article presents a reflection of<br />

as the Corporate Universities they can be an option<br />

to assist the needs that the organizations have in<br />

the formation of the worker’s profile qualifying him<br />

with conditions of contributing with you analyze<br />

criticize, helping him to build or modifying the<br />

organizational reality of his company, substituting<br />

that worker that is a mere executioner of tasks for<br />

other more prepared aca<strong>de</strong>mically. With the pressing<br />

changes of the days today, a lot of organizations<br />

need to rethink their needs to train their employees<br />

maintaining the process of continuous education. It<br />

is also presented a study of case of the Corporate<br />

University Amil, showing his/her strategic importance<br />

for the Company.<br />

KeywoRds: Corporative University, continuous<br />

education, strategy.<br />

A <strong>de</strong>manda por mão-<strong>de</strong>-obra qualificada vem aumentan<strong>do</strong> no<br />

país em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s efeitos da globalização, das inovações<br />

tecnológicas e das novas formas <strong>de</strong> organização <strong>do</strong> trabalho<br />

resultantes <strong>de</strong> uma nova economia. Esse fato po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong><br />

pelo progresso científico, o avanço tecnológico e elementos<br />

fundamentais <strong>de</strong> um processo sem volta que não acarreta apenas<br />

o aumento quantitativo <strong>do</strong>s conhecimentos e sua constante<br />

renovação, mas altera também, a estrutura <strong>de</strong> empregos e a<br />

distribuição <strong>de</strong> profissionais.<br />

Com isso, a <strong>de</strong>manda mais intensa por profissionais capacita<strong>do</strong>s<br />

por parte das organizações, acaba obrigan<strong>do</strong> as empresas a<br />

investirem constantemente em seu capital humano <strong>de</strong> forma que,<br />

seus funcionários estejam prepara<strong>do</strong>s para <strong>de</strong>sempenharem suas<br />

funções. Uma das estratégias mais conhecidas para a formação<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

80


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

e atualização são os programas <strong>de</strong> educação profissional. Estes<br />

programas po<strong>de</strong>m ser ofereci<strong>do</strong>s por instituições públicas ou<br />

privadas, presencialmente ou a distância.<br />

Uma alternativa <strong>de</strong> formação é a universida<strong>de</strong> corporativa (UC),<br />

cujo papel primordial é garantir que o repasse <strong>de</strong> experiências<br />

e a troca <strong>de</strong> conhecimento entre as pessoas possam fluir<br />

permanentemente como ação intencional e institucionalizada,<br />

objetivan<strong>do</strong> a maximização <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s empresariais.<br />

é um processo <strong>de</strong> educação in company on<strong>de</strong> os cursos<br />

são essencialmente direciona<strong>do</strong>s para aten<strong>de</strong>r objetivos<br />

organizacionais.<br />

A educação profissional po<strong>de</strong> contribuir para uma maior<br />

capacitação funcional, <strong>de</strong> forma a aumentar o moral, a eficiência,<br />

a produtivida<strong>de</strong> e a melhoria <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> trabalho visto que<br />

a falta <strong>de</strong> elementos motivacionais ten<strong>de</strong>m a acarretar prejuízos<br />

para as empresas tais como: aci<strong>de</strong>ntes no trabalho, <strong>de</strong>sperdício<br />

<strong>de</strong> material, máquinas e equipamentos danifica<strong>do</strong>s, conflitos e<br />

<strong>de</strong>sentendimento com colegas e chefes, produtos ou serviços<br />

<strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>, quantida<strong>de</strong> insuficiente <strong>de</strong> produção, custos<br />

altos e reclamações variadas.<br />

Problema <strong>de</strong> Pesquisa<br />

Trata-se <strong>de</strong> um conceito recente, existem poucos estu<strong>do</strong>s ou<br />

evidências concretas <strong>de</strong> que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong> Corporativa<br />

seja <strong>de</strong> fato uma solução. Diante <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações iniciais, o<br />

problema <strong>de</strong> pesquisa a ser investiga<strong>do</strong> é: Quais são os fatores<br />

relevantes para a Universida<strong>de</strong> Corporativa que viabilizam a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> da marca a qual ela está vinculada?<br />

Estrutura <strong>do</strong> Artigo<br />

O presente estu<strong>do</strong> aborda, à luz da teoria <strong>de</strong> diversos autores<br />

acerca <strong>do</strong> tema Universida<strong>de</strong> Corporativa, processo <strong>de</strong><br />

mudança organizacional ocorri<strong>do</strong> na década <strong>de</strong> 90. Em seguida,<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

81


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

estudaremos o caso da Universida<strong>de</strong> Corporativa da Amil<br />

como um exemplo tipico da Universida<strong>de</strong> Corporativa. Para<br />

tanto, utilizaremos um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> análise fatorial para fixar-se-á<br />

atenção no estabelecimento da configuração que <strong>de</strong>termina as<br />

características essenciais <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> corporativa.<br />

Justificativa<br />

Concordan<strong>do</strong> com Blecher (1998) , as empresas precisam<br />

<strong>de</strong>sesperadamente <strong>de</strong> gente <strong>de</strong> primeira para sobreviver e<br />

prosperar. Nada é tão vital nas agendas das empresas quanto<br />

o talento. Um <strong>do</strong>s principais argumentos corporativos é que as<br />

universida<strong>de</strong>s tradicionais não acompanham e, muito menos,<br />

antecipam-se à velocida<strong>de</strong> das mudanças nos ambientes <strong>do</strong>s<br />

negócios e das inovações tecnológicas.<br />

As empresas necessitam da teoria e da prática integradas e <strong>de</strong><br />

forma rápida e permanente. A finalização <strong>de</strong> um curso universitário<br />

não garante ao forman<strong>do</strong> a competência para lidar com as<br />

mudanças <strong>de</strong> sua empresa. Assim, é fundamental o aprendiza<strong>do</strong><br />

contínuo, capaz <strong>de</strong> qualificar o funcionário para estratégias<br />

arrojadas e pró-ativas, para a realização <strong>de</strong> seu potencial criativo,<br />

para <strong>do</strong>minar suas habilida<strong>de</strong>s e informações aproveitan<strong>do</strong> as<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alocação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e realocação<br />

na mesma empresa<br />

2. ReFeRenCIal teóRICo<br />

O foco <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo da universida<strong>de</strong> corporativa é a aprendizagem<br />

contínua, imperativa para a inserção competitiva das empresas<br />

no merca<strong>do</strong> global. Embora não se possa afirmar que a<br />

aprendizagem organizacional seja o somatório da aprendizagem<br />

<strong>de</strong> seus funcionários, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que esta última é <strong>de</strong><br />

fundamental importância para que<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

82


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

a primeira ocorra. Portanto, programas estrutura<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

aprendizagem são os pilares <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> corporativa.<br />

Surgimento das Universida<strong>de</strong>s corporativas<br />

No Brasil, o surgimento das universida<strong>de</strong>s corporativas se <strong>de</strong>u<br />

apenas na década <strong>de</strong> 90, quan<strong>do</strong> o treinamento não oferecia<br />

nada mais além <strong>do</strong> que algumas qualificações. A universida<strong>de</strong><br />

se preocupa não somente com o fator “qualificar”, mas também<br />

com a apresentação <strong>de</strong> uma maneira totalmente nova <strong>de</strong> pensar<br />

e trabalhar, para que os colabora<strong>do</strong>res das organizações possam<br />

<strong>de</strong>sempenhar papéis muito mais amplos no seu ambiente <strong>de</strong><br />

trabalho.<br />

A universida<strong>de</strong> corporativa se constitui em um fortíssimo pólo<br />

<strong>de</strong> irradiação e consolidação da cultura empresarial, motivo pelo<br />

qual direta e indiretamente <strong>de</strong>verão fazer parte <strong>do</strong> seu currículo<br />

as ativida<strong>de</strong>s ligadas aos princípios, às crenças e aos valores da<br />

organização, que funcionem com forte estímulo à consolidação<br />

da motivação <strong>do</strong>s seus colabora<strong>do</strong>res.<br />

é o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> uso mais comum da aplicação <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong><br />

educação corporativa, atuan<strong>do</strong> como uma unida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> negócios, vinculan<strong>do</strong> as metas <strong>de</strong> educação, treinamento<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s integrantes da ca<strong>de</strong>ia produtiva e <strong>de</strong><br />

relacionamento da organização aos seus resulta<strong>do</strong>s estratégicos,<br />

preven<strong>do</strong> o retorno financeiro <strong>do</strong>s investimentos, ou seja,<br />

sustentar-se e gerar lucros como as <strong>de</strong>mais unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios<br />

da organização.<br />

As universida<strong>de</strong>s corporativas surgiram em momentos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s mudanças na socieda<strong>de</strong>, na educação e na busca <strong>de</strong><br />

qualificação profissional. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, nos anos 50, 60<br />

e 70, as gran<strong>de</strong>s e pequenas empresas formaram grupos para<br />

ensinar aos trabalha<strong>do</strong>res profissionais como fazer melhor o<br />

seu trabalho. Essas infra-estruturas educacionais, <strong>de</strong>ntro das<br />

organizações, proliferaram em to<strong>do</strong> o país e ficaram conhecidas<br />

como universida<strong>de</strong>s, institutos ou faculda<strong>de</strong>s corporativas. Tinham<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

83


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

como objetivo que os profissionais estivessem a par ou adiante<br />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os acontecimentos.<br />

Segun<strong>do</strong> meister (1999), universida<strong>de</strong> corporativa po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>finida como um guarda-chuva estratégico para <strong>de</strong>senvolver e<br />

educar funcionários, clientes, fornece<strong>do</strong>res e comunida<strong>de</strong>, a fim<br />

<strong>de</strong> cumprir as estratégias empresariais da organização. Para Eboli<br />

(2002), é um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pessoas pauta<strong>do</strong><br />

pela gestão por competências.<br />

Alperstedt (2003) explica que, na expressão “universida<strong>de</strong><br />

corporativa”, o uso <strong>do</strong> termo “corporativo” significa que a<br />

universida<strong>de</strong> é vinculada a uma corporação e que serviços<br />

educacionais não constituem seu principal objetivo. Já o termo<br />

“universida<strong>de</strong>” não <strong>de</strong>ve ser entendi<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong><br />

sistema <strong>de</strong> ensino superior, no qual <strong>de</strong>signa a educação <strong>de</strong><br />

estudantes e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisa em várias áreas <strong>do</strong><br />

conhecimento, uma vez que “universida<strong>de</strong> corporativa” oferece<br />

instrução específica, sempre relacionada à área <strong>de</strong> negócio da<br />

própria organização. Portanto, segun<strong>do</strong> a autora, “universida<strong>de</strong>”<br />

para essas empresas é basicamente um artifício <strong>de</strong> marketing,<br />

Apesar disso, os programas implanta<strong>do</strong>s pelas universida<strong>de</strong>s<br />

corporativas são, em muitos aspectos, similares aos das<br />

instituições <strong>de</strong> ensino superior.<br />

As universida<strong>de</strong>s corporativas não estão sujeitas a cre<strong>de</strong>nciamento<br />

pelo po<strong>de</strong>r público nem o diploma por elas expedi<strong>do</strong> necessita <strong>de</strong><br />

reconhecimento oficial para ser aceito pelo mun<strong>do</strong> empresarial.<br />

Os conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cursos e programas das universida<strong>de</strong>s<br />

corporativas são múltiplos e diversifica<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> a natureza da<br />

organização, suas características, sua categoria econômica, nível<br />

<strong>de</strong> abrangência, porte e cultura organizacional, etc. A duração<br />

<strong>do</strong>s cursos é, também, bastante diferenciada, varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com o aprofundamento e a natureza <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s. Os cursos <strong>de</strong><br />

conteú<strong>do</strong> e duração mais <strong>de</strong>nsos são os <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à formação<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento gerencial, sen<strong>do</strong> os mais comuns os mBAs<br />

(master Business Administration).<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

84


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

As universida<strong>de</strong>s corporativas po<strong>de</strong>m oferecer cursos e<br />

programas com características da educação formal, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a um público específico e visan<strong>do</strong> à migração<br />

<strong>de</strong> créditos, ou seja, ao aproveitamento <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s<br />

no ambiente da educação corporativa para a educação formal.<br />

Po<strong>de</strong>m, ainda, atuar na área da especialização profissional,<br />

em cursos e programas <strong>de</strong> pós-graduação (especialização ou<br />

mestra<strong>do</strong> profissional) ou <strong>de</strong> formação profissional, em nível<br />

médio ou superior, ao abrigo da Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da<br />

Educação Nacional - LDB e das normas editadas pelo ministério<br />

da Educação e <strong>do</strong> Desporto - mEC, incluin<strong>do</strong> ensino a distância.<br />

Os Constructos da Universida<strong>de</strong> Corporativa<br />

Meister (1999) i<strong>de</strong>ntifica três áreas em que os programas <strong>de</strong><br />

aprendizagem <strong>de</strong>senvolvem-se nas universida<strong>de</strong>s corporativas:<br />

cidadania corporativa, estrutura contextual e competências<br />

básicas <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> negócios. A autora, <strong>de</strong>nomina-os como<br />

os 3 C’s <strong>do</strong> currículo básico <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> corporativa.<br />

a) Cidadania Corporativa: os programas <strong>de</strong> aprendizagem<br />

<strong>de</strong> cidadania corporativa “incute em to<strong>do</strong>s os níveis da<br />

empresa a cultura, os valores, as tradições e a visão<br />

da empresa”. A cidadania corporativa implica uma forte<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> funcionário com a empresa em que<br />

trabalha e seus valores centrais.<br />

b) Estrutura Contextual: Os programas <strong>de</strong> aprendizagem<br />

sobre estrutura contextual ofereci<strong>do</strong>s pelas<br />

universida<strong>de</strong>s corporativas visam <strong>de</strong>senvolver<br />

conhecimentos sobre a empresa, o setor, clientes,<br />

fornece<strong>do</strong>res e concorrentes. Para Ulrich (1998), um <strong>do</strong>s<br />

atuais <strong>de</strong>safios empresariais é a criação e operação <strong>de</strong><br />

organizações que sejam mais sensíveis ao consumi<strong>do</strong>r,<br />

<strong>de</strong>safio este que se reflete nas áreas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong><br />

pessoas que vêem –se impelidas a dar contribuições<br />

mais efetivas para o alcance <strong>do</strong>s objetivos empresariais.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

85


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conhecimentos sobre a estrutura<br />

contextual proporciona aos emprega<strong>do</strong>s possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sempenhos aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às<br />

exigências <strong>do</strong>s clientes e <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

c) Competências Essenciais: Para Prahalad & Hamel<br />

(1990) o conceito <strong>de</strong> competências essenciais<br />

tornou-se um referencial central para a estratégia<br />

empresarial. No artigo, os autores fazem criticas aos<br />

mo<strong>de</strong>los tradicionais <strong>de</strong> estratégia e propõem que o<br />

elemento básico da estratégia empresarial seja a sua<br />

“competência essencial” (core competence). Uma<br />

competência essencial é a combinação <strong>de</strong> tecnologias<br />

individuais e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção que servem como<br />

base a uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> uma<br />

empresa e que lhe conferem urna vantagem competitiva<br />

em relação aos concorrentes. A i<strong>de</strong>ntificação e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências essenciais tornou-se<br />

um objetivo estratégico das organizações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.<br />

Para Eboli (2003), a crença <strong>de</strong> que as competências, habilida<strong>de</strong>s<br />

e o conhecimento formam a base <strong>de</strong> vantagem competitiva reforça<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intensificar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s funcionários<br />

nesses âmbitos e justifica, portanto, a existência da universida<strong>de</strong><br />

corporativa.<br />

De acor<strong>do</strong> com a figura 1, po<strong>de</strong>mos observar a estrutura teorica<br />

da Percepção da marca da Universida<strong>de</strong> Corporativa<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

86


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

figura 1. Percepção da marca da Universida<strong>de</strong> Corporativa<br />

CIDADANIA<br />

CORPORATIVA<br />

Percepção da<br />

marca da Universida<strong>de</strong><br />

Corporativa<br />

ESTRUTURA<br />

CONTExTUAL<br />

Na verda<strong>de</strong>, as universida<strong>de</strong>s corporativas personificam a filosofia<br />

<strong>de</strong> aprendizagem da organização, cuja meta é oferecer, a to<strong>do</strong>s os<br />

funcionários, o conhecimento e as competências necessárias para<br />

que os objetivos estratégicos sejam alcança<strong>do</strong>s. Elas também<br />

percorrem o processo <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> parceiros <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

que envolvem profissionais <strong>de</strong> treinamento, consultores e<br />

instituições <strong>de</strong> educação superior.<br />

Com isso está surgin<strong>do</strong> um novo perfil <strong>de</strong> empresa: “A Empresa que<br />

Apren<strong>de</strong>” (Learning Organization, Senge, 1998). A aprendizagem<br />

nas organizações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da interação autêntica entre as<br />

pessoas, que <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral é <strong>de</strong>sestimulada em nossa cultura.<br />

A própria educação, apesar <strong>de</strong> realizada em grupo, enfatiza o<br />

<strong>de</strong>sempenho individual e a competição entre os indivíduos. Em<br />

tempos <strong>de</strong> globalização, no qual a competitivida<strong>de</strong> das empresas<br />

é impulsionada pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar resulta<strong>do</strong>s inova<strong>do</strong>res,<br />

as competências estão em alta.<br />

Universida<strong>de</strong> Corporativa Amil<br />

COmPETêNCIAS<br />

ESSENCIAIS<br />

Item A1 Item A2 Item A3 Item A4 Item B1 Item B2 Item B3 Item B4 Item C1 Item C2 Item C3 Item C4<br />

O projeto nasceu em 1990 com o nome <strong>de</strong> Escola Amil <strong>de</strong><br />

<strong>Administração</strong> e em 2001 foi rebatiza<strong>do</strong> como Amil Universida<strong>de</strong><br />

Corporativa. Des<strong>de</strong> então, o conceito <strong>de</strong> capacitação contínua,<br />

típico <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s corporativas, passou a fazer parte da<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

87


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

filosofia da empresa. Em 2001, a empresa alcançou a média <strong>de</strong><br />

60 horas <strong>de</strong> treinamento por colabora<strong>do</strong>r.<br />

A Amil Universida<strong>de</strong> Corporativa funciona <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s escritórios<br />

centrais que a empresa mantém em São Paulo e no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, em salas específicas, usadas para treinamento.<br />

Os cursos da Amil Universida<strong>de</strong> Corporativa são abertos a to<strong>do</strong>s<br />

os funcionários. Há três níveis <strong>de</strong> treinamentos: estratégicos,<br />

táticos e operacionais, volta<strong>do</strong>s para áreas específicas da<br />

empresa.<br />

Funcionários da área <strong>de</strong> Vendas, por exemplo, participam <strong>de</strong><br />

cursos como “Técnica <strong>de</strong> Vendas” e “Postura <strong>de</strong> Vendas”,<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s estratégicos. Já o curso “Finanças para nãofinanceiro”,<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> tático, é volta<strong>do</strong> para colabora<strong>do</strong>res que<br />

não são da área Financeira, mas que querem ter noções sobre o<br />

assunto. Há também cursos sobre o core business da empresa,<br />

como o Sistema Amil <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Os executivos da empresa também participam <strong>de</strong> treinamentos<br />

da universida<strong>de</strong> corporativa. O curso volta<strong>do</strong> para executivos é<br />

chama<strong>do</strong> Amil Business Administration (ABA) e seu objetivo é<br />

<strong>de</strong>senvolver competências relacionadas a marketing e estratégia<br />

<strong>de</strong> negócios.<br />

Os programas que, em sua maioria, são elabora<strong>do</strong>s pelos 16<br />

integrantes da Universida<strong>de</strong>, são realiza<strong>do</strong>s, pre<strong>do</strong>minantemente,<br />

no formato presencial. Esse méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> ensino está em sintonia<br />

com o objetivo <strong>do</strong> negócio em que a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> relacionamento<br />

interpessoal é valorizada como um fator <strong>de</strong>cisivo para a satisfação<br />

<strong>do</strong> cliente.<br />

Visão global<br />

Além <strong>de</strong> treinar seus profissionais, a Amil procura incentivar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma visão global da empresa em to<strong>do</strong>s<br />

os seus funcionários. Três vezes por ano, por exemplo, to<strong>do</strong>s<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

88


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

os lí<strong>de</strong>res da companhia no Brasil se reúnem em um encontro<br />

chama<strong>do</strong> Amil 2020.<br />

O evento faz parte das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nível estratégico da Amil<br />

Universida<strong>de</strong> Corporativa e seu principal objetivo é <strong>de</strong>senvolver<br />

uma visão <strong>de</strong> futuro a<strong>de</strong>quada à filosofia da companhia. Mas, além<br />

disso, o encontro é uma boa maneira <strong>de</strong> promover a integração<br />

entre os funcionários da empresa.<br />

Observa-se que, a presidência da Amil preocupa-se com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e retenção <strong>de</strong> talentos, ten<strong>do</strong> como objetivo<br />

uma política <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> pessoas caracterizada por possibilitar<br />

o crescimento <strong>de</strong> seus profissionais. Po<strong>de</strong>-se perceber o<br />

comprometimento da li<strong>de</strong>rança, quan<strong>do</strong> esta expressa que a<br />

manutenção <strong>do</strong> capital humano é um <strong>do</strong>s motivos da sobrevivência<br />

da empresa.<br />

3. meto<strong>do</strong>logIa<br />

Méto<strong>do</strong> e Variáveis<br />

A meto<strong>do</strong>logia tem como objetivo esclarecer quais fatores<br />

contribuem para a ocorrência <strong>do</strong> sucesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

fenômeno. Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática<br />

dirigi<strong>do</strong>s à solução <strong>de</strong> problemas específicos. Envolve verda<strong>de</strong>s<br />

e interesses locais. A Universida<strong>de</strong> Corporativa Amil segue as<br />

linhas, princípios e objetivos <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo conceitual <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />

por (mEISTER,1999). Neste trabalho procura-se <strong>de</strong>screver as<br />

informações pesquisadas, suas inter-relações, a escala utilizada<br />

e a técnica <strong>de</strong> Análise Fatorial.<br />

No que diz respeito aos objetivos classifica-se como pesquisa<br />

exploratória, em que foi apresenta<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo padrão <strong>de</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Corporativa com as orientações acadêmicas, a<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

89


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

partir <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> referencial teórico disponível e a apresentação<br />

e análise <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso da Universida<strong>de</strong> Corporativa Amil.<br />

O objetivo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> é verificar empiricamente a percepção <strong>do</strong>s<br />

funcionários da Universida<strong>de</strong> Corporativa da Amil. Isso se faz<br />

necessário para testar a teoria <strong>de</strong> que esse constructo po<strong>de</strong> ser<br />

dividi<strong>do</strong> em três fatores latentes.A hipótese <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> é:<br />

H 1 : A percepção da Universida<strong>de</strong> Corporativa é composta<br />

por três variáveis latentes: Cidadania Corporativa, Estrutura<br />

Contextual, e Competências Essenciais<br />

Para o tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e teste <strong>de</strong>ssa hipótese foi utilizada a<br />

técnica <strong>de</strong> Análise Fatorial. Se essa hipótese for verificada, então<br />

vale a pena <strong>de</strong>stacar qual <strong>de</strong>sses constructos tem maior peso na<br />

composição da Universida<strong>de</strong> Corporativa.<br />

O questionário foi elabora<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> meister<br />

(1999), e visa capturar as três componentes que geram a<br />

percepção da Universida<strong>de</strong> Corporativa (Cidadania Corporativa,<br />

Estrutura Contextual, e Competências Essenciais).<br />

Com base na <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> constructo, foram estabelecidas duas<br />

premissas <strong>de</strong> pesquisa para a construção <strong>do</strong> questionário:<br />

• <strong>de</strong>veriam ser incluídas questões relacionadas as três<br />

dimensões analisadas; e<br />

• as medidas da Universida<strong>de</strong> Corporativa e <strong>de</strong> cada<br />

dimensão <strong>de</strong>veriam ser capturadas através <strong>de</strong> um<br />

questionário <strong>de</strong> múltiplos itens (escala <strong>de</strong> Likert).<br />

As escalas multi-itens reduzem a pobreza <strong>de</strong> medida <strong>de</strong> capturar<br />

um componente não observável com apenas uma pergunta.<br />

Consequentemente, a confiabilida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a aumentar e os erros<br />

<strong>de</strong> medição ten<strong>de</strong>m a diminuir, na medida em que se aumenta<br />

o número <strong>de</strong> itens.<br />

A primeira versão <strong>do</strong> questionário foi submeti<strong>do</strong> a três alunos<br />

<strong>do</strong> curso <strong>de</strong> pós-graduação da EBAPE. Após o preenchimento,<br />

os alunos foram convida<strong>do</strong>s a comentar sobre as dificulda<strong>de</strong>s<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

90


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

<strong>de</strong> interpretação e <strong>de</strong> preenchimento. Uma nova versão <strong>do</strong><br />

questionário foi elaborada com a modificação <strong>de</strong> duas perguntas.<br />

A variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que é a percepção da Universida<strong>de</strong><br />

Corporativa foi medida a partir <strong>do</strong>s factor scores <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Análise Fatorial a partir <strong>do</strong>s itens da escala em anexo. To<strong>do</strong>s foram<br />

mensura<strong>do</strong>s por escalas <strong>de</strong> Likert <strong>de</strong> sete pontos (1 – Discor<strong>do</strong><br />

Totalmente; 7 – Concor<strong>do</strong> Totalmente).<br />

Coleta <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s<br />

O número <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ntes foi <strong>de</strong> 116 pessoas retiradas por<br />

conveniência <strong>de</strong> três turmas <strong>do</strong> curso corporativo da Amil entre<br />

os meses <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007 e janeiro <strong>de</strong> 2008.<br />

Quatro questionários não tinham si<strong>do</strong> completamente analisa<strong>do</strong>s,<br />

e por esse motivo foram <strong>de</strong>scarta<strong>do</strong>s. O tamanho da amostra foi<br />

<strong>de</strong> 112 observações.<br />

Decidiu-se pela amostragem por conveniência, dada a dificulda<strong>de</strong><br />

e custo que inviabilizariam a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> uma amostragem<br />

probabilística. No entanto, cabe <strong>de</strong>stacar que duas características<br />

<strong>de</strong>mográficas apresentam uma homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong>ssa<br />

amostra, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a tabela 1.<br />

tabela 1. Distribuição da amostra <strong>de</strong> alunos da Universida<strong>de</strong><br />

Corporativa por gênero e faixa <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

Homens Mulheres<br />

menos <strong>de</strong> 20 anos 3 1<br />

De 20 a 29 anos 14 19<br />

De 30 a 39 anos 28 22<br />

De 40a 49 anos 12 13<br />

50 anos ou mais 0 0<br />

Total 57 55<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

91


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Após a <strong>de</strong>volução <strong>do</strong> questionário, foi realizada também uma<br />

sondagem com 5 respon<strong>de</strong>ntes para verificar a percepção <strong>do</strong><br />

questionário e das respostas para diminuir o erro <strong>de</strong> resposta.<br />

Finalmente, <strong>de</strong>staca-se que a codificação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s foi realizada<br />

no Excel e o software utiliza<strong>do</strong> para análise foi o SPSS.<br />

4. análIse <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s<br />

Nesta etapa buscou-se i<strong>de</strong>ntificar empiricamente os constructos<br />

apresenta<strong>do</strong>s na teoria. Conduziu-se uma análise fatorial, com<br />

rotação Varimax, para <strong>de</strong>terminar a dimensionalida<strong>de</strong> da escala.<br />

O teste kmO apresentou resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 0,826, indican<strong>do</strong> uma boa<br />

a<strong>de</strong>quação da amostra à análise fatorial.<br />

Para a extração <strong>do</strong>s fatores foi utilizada a análise <strong>do</strong> gráfico<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>clive (scree plot) (malhotra, 2001). Assim, apesar <strong>de</strong><br />

inicialmente, serem extraí<strong>do</strong>s quatro fatores, que apresentavam<br />

pouco significa<strong>do</strong> teórico, a análise <strong>do</strong> scree plot (gráfico<br />

1) sugeria a extração <strong>de</strong> apenas 3 fatores. Os três fatores<br />

extraí<strong>do</strong>s, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a 74,85% da variância total (Tabela<br />

3), apresentaram consistência teórica e são apresenta<strong>do</strong>s na<br />

tabela 2.<br />

tabela 3. Percentual <strong>de</strong> Variância Explicada<br />

Componentes Total % da Variância<br />

% <strong>de</strong> Variância<br />

Acumulada<br />

1 3,513 49,279 49,279<br />

2 2,015 16,788 66,067<br />

3 1,053 8,778 74,845<br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Extração: Análise <strong>de</strong> Componentes Principais<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

92


tabela 2. matrix <strong>de</strong> Componentes<br />

Gerir pessoas é um ato complexo, e<br />

mais difícil ainda é enten<strong>de</strong>r a mente <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r, pois nesse milênio o <strong>de</strong>safio nr. 1<br />

das organizações será estar mais próximo ao<br />

cliente materializan<strong>do</strong> as suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

A propagação <strong>do</strong> conhecimento via<br />

Universida<strong>de</strong> Corporativa gera benefícios<br />

imediatos para o funcionário, que ao adquirir<br />

maior informação , trabalhará mais foca<strong>do</strong><br />

e com atenção nas tarefas que lhe forem<br />

confiadas.<br />

Cada vez mais as Universida<strong>de</strong>s<br />

Corporativas estudam o cliente, fornece<strong>do</strong>res<br />

e a concorrência <strong>de</strong> forma real, com casos<br />

recentes <strong>de</strong> sucesso , in<strong>do</strong> a campo e<br />

interagin<strong>do</strong> para promover o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> idéias.<br />

Para as organizações é fundamental enten<strong>de</strong>r<br />

o contexto <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r , suas atitu<strong>de</strong>s e<br />

hábitos, para assim personalizar mais seus<br />

produtos e serviços.<br />

A Universida<strong>de</strong> Corporativa através da sua<br />

meto<strong>do</strong>logia voltada ao merca<strong>do</strong> , possibilita<br />

o funcionário potencializar suas competências<br />

essenciais.<br />

Faz parte da Estratégia Organizacional<br />

<strong>de</strong> uma empresa ter funcionários com<br />

competências <strong>de</strong>finidas , para assim terem<br />

vantagem competitiva no seu setor <strong>de</strong><br />

atuação.<br />

Ser treina<strong>do</strong> por uma Universida<strong>de</strong><br />

Corporativa e <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>terminada<br />

habilida<strong>de</strong> gera além <strong>de</strong> uma competência , a<br />

garantia <strong>de</strong> empregabilida<strong>de</strong> em um merca<strong>do</strong><br />

com tanta concorrência.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Componentes<br />

1 2 3<br />

0,10 0,80 -0,02<br />

0,18 0,84 0,02<br />

0,14 0,76 0,03<br />

0,81 0,10 -0,03<br />

0,78 0,16 -0,01<br />

0,88 0,10 0,02<br />

0,84 0,06 0,00<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

93


A produtivida<strong>de</strong> aumenta significativamente<br />

quan<strong>do</strong> o funcionário é estimula<strong>do</strong> pela<br />

organização na sua cultura e valores sociais<br />

Os valores, tradições e a própria visão da<br />

empresa repercutem a implantação da<br />

Cidadania Corporativa em to<strong>do</strong> o seu nível<br />

organizacional.<br />

Programas <strong>de</strong> aprendizagem aprimoram e<br />

agregam valor ao indivíduo para reforçar seu<br />

comprometimento com a organização.<br />

O espelho <strong>de</strong> uma empresa são seus<br />

funcionários, que refletem esta imagem para<br />

o ambiente externo causan<strong>do</strong> boa aceitação<br />

ou não.<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Componentes<br />

1 2 3<br />

-0,04 0,03 0,67<br />

0,03 0,00 0,26<br />

0,03 0,02 0,37<br />

-0,04 0,02 0,63<br />

méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Extração: Análise <strong>de</strong> Componentes Principais. méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Rotação:<br />

Varimax<br />

Rotação convergiu em 4 interações<br />

gráfico 1. Scree Plot<br />

Eigenvalue<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Scree Plot<br />

4<br />

5<br />

Component Number<br />

6<br />

7<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

8<br />

94


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

A interpretação <strong>do</strong>s fatores é facilitada pela i<strong>de</strong>ntificação das<br />

variáveis que apresentam gran<strong>de</strong>s cargas sobre o mesmo fator.<br />

O fator po<strong>de</strong> ser interpreta<strong>do</strong> em relação as variáveis associadas<br />

a ele (malhotra, 2001).Desse mo<strong>do</strong>, os fatores foram interpreta<strong>do</strong>s<br />

a luz da teoria apresentada.<br />

Fator 1<br />

O primeiro fator, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS,<br />

apresentou-se como o mais relevante (49,28% da variância total),<br />

sen<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> com as variáveis pertinente aos consumi<strong>do</strong>res.<br />

Fator 2<br />

O segun<strong>do</strong> fator extraí<strong>do</strong>, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> ESTRUTURA<br />

CONTEXTUAL contribuiu com 16,79% para a variância total<br />

e reuniu variáveis que mensuravam o contexto <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,<br />

o entendimentoda mente <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r e a propagação <strong>do</strong><br />

conhecimento.<br />

Fator 3<br />

O último fator, chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> CIDADANIA CORPORATIVA,<br />

contribuiu com 8,78% da variância total e agregou as quatro<br />

variáveis que mensuravam os valores, tradições e a própria visão<br />

da empresa.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, as competências essenciais são consi<strong>de</strong>radas<br />

como as mais importantes (com maior peso) para a percepção<br />

da imagem corporativa. Em seguida vem a estrutura contextual<br />

com um peso intermediario e por ultimo a cidadania corporativa<br />

com o menor <strong>do</strong>s pesos.<br />

5. ConsI<strong>de</strong>Rações FInaIs<br />

O ítem Competências Essenciais gera um fato bem relevante no<br />

entendimento <strong>de</strong>ste artigo: A <strong>de</strong>manda por melhoria e aquisição<br />

<strong>de</strong> conhecimento é latente, e a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma marca,<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

95


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

junto com a prestação <strong>de</strong> um serviço que atenda às expectativas<br />

<strong>do</strong> público ao qual a Universida<strong>de</strong> Corporativa concentra seus<br />

esforços, produz um Capital Intelectual(pessoas) diferencia<strong>do</strong>.<br />

Isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da percepção <strong>de</strong>sta junto ao merca<strong>do</strong>, para gerar<br />

vantagem competitiva e criar espaço para “novas idéias” buscan<strong>do</strong><br />

assim o novo, aquilo que precisa ser <strong>de</strong>scoberto e lapida<strong>do</strong> aos<br />

mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> ávida por conhecimento, mas que<br />

precisa <strong>de</strong> estímulo e incentivo.<br />

A literatura nos conta experiências passadas, nos faz refletir,<br />

ensina as técnicas aprendidas, porém não nos prepara para o<br />

novo, a vanguarda, aquilo que está por vir. A criativida<strong>de</strong> e a<br />

personalização serão a tônica <strong>de</strong>ste milênio, principalmente para<br />

as Universida<strong>de</strong>s Corporativas capacitan<strong>do</strong> e especializan<strong>do</strong> seus<br />

funcionários para o seu negócio fim.<br />

mesmo consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> todas estas condicionantes, percebese<br />

a valida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo como um po<strong>de</strong>roso instrumento <strong>de</strong><br />

aprendizagem organizacional. Aliás, muito se tem fala<strong>do</strong> em<br />

organizações <strong>de</strong> aprendizagem. Nessa direção, as universida<strong>de</strong>s<br />

corporativas incorporam a essência <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organizações<br />

<strong>de</strong> aprendizagem sustenta<strong>do</strong> por PETER SENGE, (1998).<br />

Implicações Gerenciais e Contribuição para a Pesquisa<br />

As organizações mo<strong>de</strong>rnas apareceram no início <strong>do</strong> século sob a<br />

visão mecanicista <strong>do</strong>s engenheiros, evoluin<strong>do</strong> para um <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>do</strong>s psicólogos e sociólogos, os quais empregaram uma visão<br />

humanista, tanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista individual quanto social.<br />

Chegan<strong>do</strong> aos tempos atuais, <strong>do</strong>minadas pelos burocratas,<br />

foca<strong>do</strong>s em seus processos, sistemas, metas e indica<strong>do</strong>res,quem<br />

sabe, numa especulação ousada, não estaríamos, por intermédio<br />

das universida<strong>de</strong>s corporativas, inauguran<strong>do</strong> a era das<br />

organizações <strong>de</strong> aprendizagem, ten<strong>do</strong> na li<strong>de</strong>rança educa<strong>do</strong>ra a<br />

linha condutora da gestão.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

96


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Limitações e Sugestões para Pesquisas Futuras<br />

Entre as limitações apresentadas a mais importante esta<br />

relacionada com o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso e com a amostra. Esse artigo<br />

está basea<strong>do</strong> em apenas uma universida<strong>de</strong> corporativa e com<br />

uma amostragem feita por conveniência. Portanto, o presente<br />

artigo possui limites em sua valida<strong>de</strong> externa.<br />

O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo é razoável, mas ainda abaixo<br />

<strong>do</strong>s 75%, sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> com um relativo grau <strong>de</strong> variação<br />

não explicada.<br />

Também <strong>de</strong>stacamos que a falta <strong>de</strong> uma escala testada<br />

especifica para a universida<strong>de</strong> corporativa gerou a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> construção <strong>do</strong> questionário, mas mesmo assim se apresenta<br />

tanto como uma limitação como uma proposta <strong>de</strong> pesquisa futura.<br />

6. ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

ALPERSTEDT, Cristiane. As universida<strong>de</strong>s corporativas: no contexto<br />

<strong>do</strong> ensino superior. São Paulo: FEA/USP, 2003.<br />

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97


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Alegre: Bookman, 2001.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 79-98, jun. 2011<br />

98


Os discursos da ética<br />

na administração –<br />

<strong>de</strong>safio contemporâneo<br />

Jorge atilio silva iulianelli, dr.<br />

Resumo. é possível uma ética da administração em<br />

socieda<strong>de</strong>s complexas e <strong>de</strong>mocráticas? A resposta<br />

a esta questão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações sobre o<br />

papel da ética, as diferentes éticas para os diferentes<br />

âmbitos da administração, e o papel da ética aplicada<br />

na socieda<strong>de</strong> contemporânea. O autor i<strong>de</strong>ntifica<br />

uma corrente hegemônica no tratamento da ética<br />

empresarial, afeito às dimensões microeconômicas,<br />

e assinala a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior articulação com<br />

as pressões éticas socioambientais.<br />

PalavRas-Chave: ética, ética cognitivista, ética<br />

aplicada, ética empresarial.<br />

abstRaCt. What is the possibility of an ethics of<br />

administration in <strong>de</strong>mocratic and complex societies?<br />

The answer to this question <strong>de</strong>pends on consi<strong>de</strong>rations<br />

about the role of ethics, ethics for the different<br />

scopes of management and the role of applied ethics<br />

in contemporary society. The author i<strong>de</strong>ntifies a<br />

mainstream trend in the treatment of business ethics,<br />

namely attached to the microeconomic dimensions,<br />

and highlights the need for interaction with the societal<br />

and environmental ethical <strong>de</strong>mands.<br />

KeywoRds: Ethics, ethical cognitivist, applied ethics,<br />

business ethics.<br />

99


PaRa Começo <strong>de</strong> ConveRsa...<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

ética muitas vezes está vinculada a um moralismo socialmente<br />

recorrente, o que é muito comum nas discussões sobre corrupção.<br />

Ordinário é o uso <strong>do</strong> discurso supostamente ético que afirma<br />

<strong>de</strong>terminadas condutas, aceitas socialmente, ou ao menos<br />

convencionadas por um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo ou classe social,<br />

como uma das formas <strong>de</strong> assegurar a própria reprodução social<br />

daquele grupo ou classe. Essas noções moralistas são úteis<br />

a orientações i<strong>de</strong>ológicas que têm por finalida<strong>de</strong> fazer valer<br />

um comportamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> ao status quo ante. Trata-se <strong>do</strong><br />

vetusto temor às mudanças. Nada mais distante da ética que<br />

tais consi<strong>de</strong>rações. E essas consi<strong>de</strong>rações fazem parte <strong>de</strong> um<br />

arsenal que busca legitimar comportamentos, atitu<strong>de</strong>s, valores<br />

e idéias que permitem que tu<strong>do</strong> permaneça como d’antes no<br />

quartel <strong>de</strong> Abranches.<br />

A ética tem que ver com as condutas, comportamentos, valores e<br />

idéias que são socialmente produzidas. Na verda<strong>de</strong>, a etimologia da<br />

palavra aten<strong>de</strong> a essa concepção. ética vem <strong>do</strong> termo grego ethos,<br />

que po<strong>de</strong> ter duas acepções. Se escrito com épsilon (ε), significa<br />

comportamento, atitu<strong>de</strong>, daí a noção <strong>de</strong> correção/incorreção. Se<br />

escrito com eta (η), significa moradia, daí a noção <strong>de</strong> caráter, o<br />

que é próprio <strong>de</strong> – e se diz, ter ética é ter caráter bom/mau. Ambas<br />

signifcações estão incorporadas na configuração <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong><br />

ética. Há uma história oci<strong>de</strong>ntal da construção das concepções<br />

éticas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens <strong>do</strong> pensamento filosófico na Grécia.<br />

Des<strong>de</strong> aquela época as questões sobre a fundamentação racional<br />

da correção das condutas humanas é apresentada, receben<strong>do</strong><br />

diferentes respostas. Existe a afirmação <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> alguma<br />

racionalida<strong>de</strong> que permita explicar as ações humanas, como<br />

capazes <strong>de</strong> serem corretas ou não (cognitivismo moral/ético). E,<br />

também, a afirmação da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar qualquer<br />

fundamentação racional para as condutas humanas, <strong>de</strong> tal maneira<br />

que apenas po<strong>de</strong>mos suspen<strong>de</strong>r o juízo acerca da correção ou<br />

incorreção das condutas humanas (ceticismo moral/ético).<br />

Em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma ética cognitivista argumentoscomo os <strong>de</strong><br />

Habermas parecem suficientes e necessários:<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

100


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Na vida quotidiana, associamos aos enuncia<strong>do</strong>s<br />

normativos pretensões <strong>de</strong> vali<strong>de</strong>z que estamos<br />

prontos a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r contra a crítica. Discutimos<br />

questões práticas <strong>do</strong> tipo: “o que <strong>de</strong>vo/<strong>de</strong>vemos<br />

fazer?”, na pressuposição <strong>de</strong> que a resposta não<br />

possa ser qualquer uma; nós nos acreditamos capazes<br />

em princípio <strong>de</strong> distinguir as normas e mandamentos<br />

corretos e incorretos (Habermas: 1989, 77).<br />

A força <strong>de</strong>ste argumento consiste no horizonte intuitivo, temos a<br />

intuição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos distinguir entre o certo e o erra<strong>do</strong>. A distinção<br />

entre enuncia<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scritivos e normativos estabelece a analogia<br />

necessária à racionalida<strong>de</strong> embutida em tal intuição. Descrições<br />

são verda<strong>de</strong>iras ou falsas, normas possibilitam correção ou<br />

incorreção. Há uma analogia entre proposições <strong>de</strong>scritivas e<br />

normativas, ambas se referem a esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> coisas. Porém,<br />

<strong>de</strong>scrições têm a direção mun<strong>do</strong>-mente, ou seja, o conteú<strong>do</strong><br />

proposicional advém <strong>de</strong> nossa ambiência. Normas dirigem nossa<br />

ação no mun<strong>do</strong>, o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> interferir com pessoas, processos,<br />

relações sociais, projetos políticos, <strong>de</strong>ntre outros elementos. Por<br />

isso, as normas têm a direção mente-mun<strong>do</strong>, interferem com a<br />

realida<strong>de</strong>. Elas têm a pretensão <strong>de</strong> alterar esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> coisas;<br />

possuem uma dimensão transforma<strong>do</strong>ra da realida<strong>de</strong>.<br />

Há outros elementos que os cognitivistas éticos tomam em<br />

consi<strong>de</strong>ração para a construção da argumentação ética (e, por<br />

conseguinte, para nos oferecer critérios éticos para a avaliação <strong>de</strong><br />

nossas práticas sociais). Os discursos éticos não se estabelecem<br />

como normas <strong>de</strong> uma vez para sempre, eles são contextualiza<strong>do</strong>s<br />

sociohistoricamente. Participamos da construção da ética em<br />

primeira pessoa, o que significa que não estamos à mercê <strong>de</strong><br />

algum padrão normativo, senão que o construímos coletivamente.<br />

Os sujeitos que agem comunicativamente, interagin<strong>do</strong>, se orientam<br />

por pretensões <strong>de</strong> vali<strong>de</strong>z assetóricas (<strong>de</strong>scritivas) e normativas.<br />

A corresponsabilida<strong>de</strong> e a imputação <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> estão<br />

inscritas nesta intersubjetivida<strong>de</strong>.<br />

Há <strong>do</strong>is princípios que os cognitivistas partilham no que tange<br />

à procedência <strong>do</strong> discurso ético, a saber, a universalida<strong>de</strong> e<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

101


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

a imparcialida<strong>de</strong>. Se o discurso ético é correto ele se aplica a<br />

todas as situações similares ou análogas em qualquer região, ou<br />

lugar, para to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, existem normas<br />

controversas e por isso elas permanecem num campo <strong>de</strong> disputa<br />

ético-política. E <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> convencimento argumentativo, <strong>do</strong><br />

discurso, no qual to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s buscam o entendimento<br />

mútuo (como um telos inerente à própria ação comunicativa).<br />

Além da universalida<strong>de</strong>, o discurso ético avoca a imparcialida<strong>de</strong>,<br />

ou seja, não privilegia nenhum <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s num dilema ético,<br />

busca a justa medida para a solução <strong>de</strong> problemas, a saber, a<br />

solução mais razoável diante da situação problemática. Estes<br />

são elementos que tornam a norma exalada <strong>de</strong> um consenso<br />

normativo aceitável por to<strong>do</strong>s os concerni<strong>do</strong>s.<br />

Tais observações têm que ver com o campo da fundamentação<br />

das normas éticas. Este é um aspecto relevante se consi<strong>de</strong>ramos<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> convencimento <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, e <strong>do</strong>s que<br />

eventualmente po<strong>de</strong>riam se opor às normas. A inexistência<br />

<strong>de</strong> fundamentação das normas éticas as <strong>de</strong>ixaria num campo<br />

hipotético, sem ter assim força <strong>de</strong> convencimento. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

uma norma que se apresentasse apenas como força coercitiva<br />

heterônoma, ou seja, um coman<strong>do</strong> externo, não implicaria em<br />

solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s como agentes racionais.<br />

E a inexistência <strong>de</strong> assentimento racional levaria a corrosão da<br />

norma. Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fundamentação <strong>de</strong> regras nos leva a<br />

estarmos vincula<strong>do</strong>s às mesmas, sem condições <strong>de</strong> retroce<strong>de</strong>r<br />

justificadamente em relação a elas.<br />

mais recentemente temos assisti<strong>do</strong> ao que tem si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> ethical turn. Segun<strong>do</strong> Pizzi, esta guinada ética “salienta a<br />

preocupação com os casos concretos, ou seja, com aquelas<br />

situações específicas que <strong>de</strong>mandam <strong>de</strong>liberações justificadas<br />

normativamente” (Pizzi: 2006, 16). As mudanças ocorridas no<br />

campo da pesquisa e produção <strong>de</strong> conhecimento, em áreas<br />

como a genética, telecomunicações, informática, <strong>de</strong>ntre outras,<br />

<strong>de</strong>monstraram a permeabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s saberes. O termo ética<br />

aplicada e seu sinônimo ética prática tem si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> na medida<br />

em que filósofos e outros intelectuais dirigem atenção às pressões<br />

morais emergentes no novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> pós-industrial.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

102


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

muitos <strong>do</strong>s temas discuti<strong>do</strong>s sob o título <strong>de</strong> ética aplicada foram<br />

aborda<strong>do</strong>s ao longo da tradição oci<strong>de</strong>ntal <strong>do</strong> pensamento ético<br />

e filosófico.<br />

A novida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s a nos <strong>de</strong> 1970 (Pizzi: 2006, 26; Beauchamp:<br />

2003, 1) é que estes temas emergem <strong>de</strong> <strong>do</strong>is campos, o da<br />

atuação profissional, interessada em discutir direitos individuais<br />

e coletivos, e o <strong>do</strong>s movimentos sociais por direitos (étnicos,<br />

<strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> geração, <strong>do</strong>s animais, <strong>do</strong> meio-ambiente, etc).<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a ética aplicada é ainda um projeto em<br />

construção, uma das distinções (fracas) entre a teoria ética, em<br />

geral, e a ética aplicada é que aquela busca prover elementos<br />

normativos que se apresentam como normas gerais, ao passo<br />

que a ética aplicada se <strong>de</strong>dica a i<strong>de</strong>ntificar como qualquer<br />

uso <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s filosóficos para abordagem <strong>de</strong> problemas<br />

morais, prática, e políticas emergentes no campo profissional,<br />

tecnológico, governamental, e similares (Beachamp In Wellman<br />

(ed): 2003, 3).<br />

O limite para a abordagem filosófica <strong>de</strong> controvérsias<br />

emergentes em distintos campos profissionais tem que ver<br />

com a habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> diálogo com os envolvi<strong>do</strong>s e a abertura<br />

<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s em buscar soluções razoáveis. Porém, mais<br />

que isso, muitas vezes a origem da controvérsia está na<br />

a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> posturas ético-filosóficas concorrentes, e nesse<br />

caso o discurso filosófico po<strong>de</strong> ser útil (Singer: 2002, 1). As<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> dia-a-dia estão eivadas <strong>de</strong> questões sobre a<br />

correção da construção <strong>de</strong> nossas <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong> nossas<br />

condutas. O discurso filosófico da ética trata <strong>de</strong>sta dimensão<br />

<strong>de</strong> nossa existência humana. Como as <strong>de</strong>mais dimensões<br />

humanas, a ética tem que ver com o fato <strong>de</strong> convivermos<br />

e nos comunicarmos. Geraremos diversos mal-entendi<strong>do</strong>s<br />

e injustiças, se <strong>de</strong>scurarmos <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> nossa interação,<br />

inerente ao nosso mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser. A linguagem é nossa principal<br />

ferramenta na busca <strong>de</strong> entendimento mútuo que possibilite a<br />

construção <strong>de</strong> interações que aperfeiçoem nossa convivência.<br />

Nas socieda<strong>de</strong>s complexas <strong>do</strong> Capitalismo avança<strong>do</strong> esta<br />

não é uma questão simples. A<strong>de</strong>mais, somos pressiona<strong>do</strong>s<br />

a ter competências intelectuais, afetivas, comunicativas que<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

103


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

nos facultem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma interação satisfatória<br />

tanto na perspectiva da autorealização, quanto naquela da<br />

condução <strong>do</strong>s assuntos públicos, <strong>do</strong>s negócios e da política,<br />

que não tragam prejuízo aos nossos concidadãos planetários<br />

e ao planeta como tal. Essa pressão é propriamente o campo<br />

da ética. 1<br />

Emerge um campo <strong>de</strong> reflexão sobre as práticas possíveis com<br />

vistas à correção moral, à coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> ações individuais e<br />

coletivas para a afirmação <strong>do</strong> melhor. A<strong>de</strong>le Cortina retoma a<br />

noção aristotélica que afirma ser a ética um saber prático, com<br />

isso se enten<strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> saberes normativos, que constroem<br />

ou interpretam regras da interação humana. Participariam<br />

<strong>de</strong> tal saber prático a ética, a polítiica e a economia. A ética,<br />

na perspectiva mo<strong>de</strong>rna, tem que ver com os <strong>de</strong>veres que<br />

erguemos para orientar a conduta humana, com vistas a uma<br />

convivência justa, em paz e liberda<strong>de</strong>. Trata-se da vida humana<br />

em ação, nas nossas construções das relações interpessoais,<br />

políticas, econômicas. Com isso se constitui uma maior<br />

abrangência <strong>do</strong> saber prático em nossa época.<br />

tabela 1. Âmbitos contemporâneos da filosofia prática<br />

Âmbitos da Filosofia prática em nossos dias<br />

Ética ou<br />

filosofia<br />

moral (inclui<br />

elementos<br />

<strong>de</strong> economia<br />

normativa)<br />

Filosofia<br />

Política<br />

Fonte: Cortina e martinez: 2005, 12.<br />

Filosofia <strong>do</strong><br />

Direito<br />

Filosofia da<br />

Religião (Em<br />

perspectiva<br />

ética)<br />

1 Alasdair macIntyre não consi<strong>de</strong>ra a ética aplicada um campo próprio da ética,<br />

ao contrário, para ele há um conjunto <strong>de</strong> contradições, sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

concordância, se apresentan<strong>do</strong> como um esforço inútil (macIntyre, Three<br />

Rival Versions of moral Inquiry, NY: Oxford University Press, 1988, 12).<br />

Segun<strong>do</strong> Pizzi, MacIntyre i<strong>de</strong>ntifica no calei<strong>do</strong>scópio da ética aplicada uma<br />

fragmentação, uma incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com a totalida<strong>de</strong> ética (categoria<br />

aristotética e hegeliana, a um só tempo). Segun<strong>do</strong> macIntyre a ética aplicada<br />

não logra permitir consensos éticos porque não se funda em acor<strong>do</strong>s prévios,<br />

sua investigação seria, por isso, estéril.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

104


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Os âmbitos <strong>do</strong> saber prático na contemporaneida<strong>de</strong> têm uma<br />

abrangência mais ampla que no pensamento tradicional. Não por<br />

um acaso este saber prático terá um diálogo mais intenso com as<br />

distintas práticas sociais. E será um questionamento advin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

diferentes campos profissionais que erguerão a necessida<strong>de</strong> da ética<br />

aplicada. é necessário advertir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início que a ética aplicada<br />

não se confun<strong>de</strong>, conquanto dialogue, com a ética profissional, ou<br />

<strong>de</strong>ontologia profissional. Não se traduz como sen<strong>do</strong> o conjunto<br />

das regras que normatizam a atuação <strong>do</strong>s diferfentes agentes<br />

profissionais. Porém, ela i<strong>de</strong>ntifica os eixos normativos pelos quais<br />

os agentes profissionais <strong>de</strong>verão avaliar suas práticas efetivas.<br />

ÉtICa aPlICada e admInIstRação:<br />

CamPo teóRICo a seR esClaReCI<strong>do</strong><br />

Observemos as mudanças na socieda<strong>de</strong> brasileira e suas<br />

conseqüências para a discussão sobre ética na administração.<br />

Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1970, Daniel Bell indicava a mudança na<br />

organização <strong>do</strong> trabalho e da produção. Se afirmava, então, que<br />

as socieda<strong>de</strong>s passaram da organização <strong>do</strong> trabalho centra<strong>do</strong> na<br />

ativida<strong>de</strong> agrícola, para um centramento na ativida<strong>de</strong> industrial e<br />

em seguida para uma maior inserção nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviços.<br />

Essa última fase seria específica das socieda<strong>de</strong>s pós-industriais.<br />

márcio Pochman observa que há coerência nesta <strong>de</strong>scrição, porém<br />

a ativida<strong>de</strong> laboral foi ainda mais modificada com o avanço das<br />

novas tecnologias, emergin<strong>do</strong> nessas circunstâncias o que ele<br />

<strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> trabalho imaterial. O trabalho imaterial ocorre em<br />

qualquer espaço, não necessariamente na fábrica ou no escritório, e<br />

a qualquer tempo. Porém, essas mudanças são mais significativas<br />

nos países centrais <strong>do</strong> Capitalismo, nas zonas periféricas estas<br />

transformações não ocorreram, ao menos não naquele ritmo. Essas<br />

alterações trazem <strong>de</strong>safios para o Brasil, <strong>de</strong>ntre os quais:<br />

O fordismo é tardio porque a industrialização foi tardia<br />

no Brasil. Nós começamos a construir automóveis<br />

na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1950, quan<strong>do</strong> o<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

105


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

homem se preparava para ir à lua. Percebe-se que<br />

parte significativa <strong>do</strong> setor produtivo brasileiro se<br />

encontra numa fase pré-fordista e, sobretu<strong>do</strong>, as<br />

micro e pequenas empresas que não têm acesso a<br />

crédito, à tecnologia. Por outro la<strong>do</strong>, o principal centro<br />

<strong>de</strong> condução industrial, ou seja, a região Su<strong>de</strong>ste está<br />

muito i<strong>de</strong>ntificada com o tipo <strong>de</strong> produção tardia. Por<br />

isso, é necessário estimular que as ativida<strong>de</strong>s préfordistas<br />

realizadas em muitas regiões brasileiras<br />

não passem <strong>do</strong> pré-fordismo para o fordismo e<br />

posteriormente para o pós-fordismo. O nosso <strong>de</strong>safio<br />

é construir uma ponte entre o pré-fordismo e as novas<br />

formas <strong>de</strong> organização da produção. Isso implica<br />

um conjunto <strong>de</strong> políticas públicas <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista<br />

industrial, comercial, tecnológico (Pochman: 2008).<br />

A análise <strong>de</strong> Pochman indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a<br />

complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Capitalismo no Brasil. Efetivamente há quem<br />

postule a relação política e econômica entre três setores: Esta<strong>do</strong>,<br />

merca<strong>do</strong> e Organizações da Socieda<strong>de</strong> Civil. Isso termina por<br />

impor a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexões sobre as diferentes formas <strong>de</strong><br />

gestão <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público, <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong> e das organizações<br />

não-governamentais e associações congêneres. Essas diferentes<br />

formas <strong>de</strong> organização trazem diferentes dilemas éticos,<br />

referentes aos campos específicos <strong>de</strong> gestão. Tal conseqüência<br />

indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens específicas para cada um<br />

<strong>do</strong>s campos da administração? Ou haveria <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> conjunto<br />

<strong>de</strong> temas éticos comuns? mesmo consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> exclusivamente<br />

um <strong>do</strong>s setores, o priva<strong>do</strong>, os temas <strong>de</strong> ética aplicada vincula<strong>do</strong>s à<br />

administração seriam os mesmos para corporações transnacionais<br />

e pequenas e médias empresas?<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens éticas que possibilitem reflexões <strong>de</strong><br />

ética aplicada ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios públicos, em socieda<strong>de</strong>s<br />

complexas, possui distintos campos <strong>de</strong> aplicação. Esta<strong>do</strong>, merca<strong>do</strong><br />

e Socieda<strong>de</strong> Civil (ou terceiro setor, ou mais especificamente o<br />

campo das organizações não-governamentais) trazem temas que<br />

interagem, porém possuem singularida<strong>de</strong>s. Po<strong>de</strong>mos ter um quadro<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

106


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

<strong>do</strong> tratamento diferencia<strong>do</strong> da ética na administração consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong><br />

as diferentes institucionalida<strong>de</strong>s em jogo:<br />

tabela 2. ética aplicada e institucionalida<strong>de</strong>s administrativas<br />

Âmbito<br />

Institucional<br />

Âmbito da<br />

Ética<br />

Questões<br />

éticas<br />

emergentes<br />

Fontes <strong>de</strong><br />

avaliação<br />

das condutas<br />

éticas<br />

Respostas<br />

éticas<br />

emergentes<br />

Esta<strong>do</strong> Merca<strong>do</strong><br />

Suborno<br />

Falta <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong> com o<br />

meio-ambiente<br />

Etc<br />

Doutrinas<br />

éticas<br />

cognitivistas,<br />

utilitaristas,<br />

virtu<strong>de</strong>s<br />

Código<br />

legal (direito<br />

constitucional,<br />

direito<br />

administrativo)<br />

Boa<br />

governança<br />

malversação <strong>de</strong><br />

recursos públicos<br />

Baixa fiscalização<br />

ecológica<br />

etc<br />

Doutrinas éticas<br />

cognitivistas,<br />

utilitaristas,<br />

virtu<strong>de</strong>s<br />

Responsabilida<strong>de</strong><br />

social das<br />

empresas<br />

Não-<br />

Governamental<br />

Não transparência<br />

das fontes<br />

Baixo<br />

compromisso<br />

com as causas<br />

ecológicas<br />

etc<br />

Doutrinas éticas<br />

cognitivistas,<br />

utilitaristas,<br />

virtu<strong>de</strong>s<br />

Parcerias (com<br />

o Esta<strong>do</strong> e o<br />

merca<strong>do</strong>)<br />

O tema da ética na administração aborda<strong>do</strong> em sua relação com<br />

a ativida<strong>de</strong> estatal é referi<strong>do</strong> como ética na administração pública.<br />

Talvez, porque a cidadania mo<strong>de</strong>rna exija o controle sobre as<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Ou ainda <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> controle das ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar<br />

o serviço público melhor. Numa ou noutra acepção, que não<br />

são exclu<strong>de</strong>ntes, observamos que o interesse pela ética está<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

vincula<strong>do</strong> à normativida<strong>de</strong>, excelência <strong>do</strong> serviço, capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> relação entre cidadãos e agentes públicos estatais, <strong>de</strong>ntre<br />

outras questões. Po<strong>de</strong>mos observar, por exemplo, alguns cursos,<br />

como os ofereci<strong>do</strong>s pelo IPEA, sobre ética na administração<br />

pública (Cf.IPEA: 2010). Nesse curso a abordagem <strong>de</strong>senvolvida<br />

oferece conteú<strong>do</strong>s normativos, por meio da apresentação das<br />

três principais abordagens em ética, a saber, a ética das virtu<strong>de</strong>s,<br />

ética <strong>de</strong>ontológica e ética utilitarista; combinada com os princípios<br />

jurídicos que regulamentam a administração pública.<br />

muito embora muitos <strong>do</strong>s princípios que regem a administração<br />

pública sejam pertinentes ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios priva<strong>do</strong>s, é <strong>de</strong><br />

outra seara este campo. Textos sobre ética na administração <strong>do</strong>s<br />

negócios priva<strong>do</strong>s também tem essa estrutura básica: discussão<br />

das teorias normativas comparadas às regulamentações legais <strong>do</strong><br />

setor. Outros temas ainda regem as discussões sobre a ética na<br />

administração <strong>do</strong> terceiro setor. Questões referentes às relações<br />

com voluntaria<strong>do</strong>, o respeito às reais <strong>de</strong>mandas das comunida<strong>de</strong>s<br />

com que interage, e a transparência no trato <strong>do</strong>s recursos, são<br />

mais afeitos a este setor.<br />

Há, porém, uma diferença. A abordagem relativa às práticas<br />

admitidas como injustas ou ina<strong>de</strong>quadas aos padrões morais aceitos<br />

na socieda<strong>de</strong> tem ti<strong>do</strong> maior implicação nas reflexões sobre a ética<br />

na administração das corporações <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Práticas tais como:<br />

Subornos para dirigir licitações públicas; <strong>de</strong>svios<br />

<strong>de</strong> somas altas <strong>do</strong> erário público; sonegação<br />

fiscal; espionagem industrial e econômica;<br />

falsificação <strong>de</strong> medicamentos, <strong>de</strong> alimentos,<br />

roupas; “<strong>do</strong>ações” para financiar campanhas<br />

políticas a candidatos que ofereçam alguma<br />

contrapartida a empresários; exploração<br />

<strong>do</strong> trabalho infantil ou assalaria<strong>do</strong>; falta <strong>de</strong><br />

incorporação da qualida<strong>de</strong> real nos produtos<br />

apresenta<strong>do</strong>s à população; não apresentar<br />

ou ocultar informações que dizem respeito à<br />

saú<strong>de</strong> pública da socieda<strong>de</strong> e danos ambientais<br />

causa<strong>do</strong>s (CAVALCANTE JúNIOR, 2004).<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Como nota Júnior, tal lista, que não é exaustiva, faz parte<br />

<strong>de</strong> uma agenda moralista proposta pelas socieda<strong>de</strong>s e têm<br />

conseqüências para a prática social das empresas. O contexto<br />

atual indica que a adminstração estatal, merca<strong>do</strong>lógica ou da<br />

socieda<strong>de</strong> civil, tem que lidar com os dilemas da sociabilida<strong>de</strong>,<br />

que incluem nosso relacionamento com o meio ambiente. As<br />

pressões socioambientais conferem exigências <strong>de</strong> orientação<br />

<strong>de</strong> condutas pessoais e corporativas que sejam promotoras <strong>de</strong><br />

justiça e eqüida<strong>de</strong>, ou ainda mais, que não promovam a injustiça<br />

e a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Esta pequena afirmação não é simples.<br />

A questão que nos atine é compreen<strong>de</strong>r como em socieda<strong>de</strong>s<br />

complexas valores como a manutenção <strong>do</strong> bem comum po<strong>de</strong>m<br />

ainda fazer algum senti<strong>do</strong>, ou dito <strong>de</strong> uma maneira bastante distinta:<br />

como produzir relações <strong>de</strong> socialização, entre cidadãos capazes<br />

<strong>de</strong> articular discursos, participantes <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala,<br />

que não sejam obstrutores da liberda<strong>de</strong> ética? Socializações que<br />

facultem a (auto) imputação <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

critérios universais e imparciais, assim como a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

juízo crítico diante <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> terceiros? Há uma dinâmica que<br />

exige que sejamos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> direitos e<br />

produtores <strong>de</strong> direitos na socieda<strong>de</strong>, sem que isso se vilipendie<br />

em privilégios.<br />

As questões da ética na administração, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as diferentes<br />

esferas organizativas das políticas públicas, <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e da<br />

socieda<strong>de</strong> civil organizada, têm uma distinção no horizonte das<br />

socieda<strong>de</strong>s complexas e <strong>de</strong>mocráticas. Este é propriamente o<br />

campo que Habermas <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r comumunicativamente<br />

diluí<strong>do</strong> (2003, p. 170). O campo específico da ética aplicada aos<br />

negócios, ao serviço público e às ações cidadãs da socieda<strong>de</strong><br />

civil, no que tange à suas constituições administrativas, é o da<br />

coor<strong>de</strong>nação política. Trata-se da construção das ações em<br />

favor, ou contra, os meios específicos pelos quais as socieda<strong>de</strong>s<br />

complexas organizam seus mecanismos <strong>de</strong> co-participação.<br />

Como tal, este será um campo <strong>de</strong> disputas <strong>de</strong> interesses, <strong>de</strong> lutas<br />

i<strong>de</strong>ológicas, <strong>de</strong> passos e contrapassos.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

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um olhaR PaRa a ÉtICa da<br />

admInIstRação Como ÉtICa <strong>do</strong>s negóCIos –<br />

algumas IndICações<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

No Brasil, o mun<strong>do</strong> empresarial fez surgir organizações como<br />

a Fundação Instituto <strong>de</strong> Desenvolvimento Empresarial e Social<br />

(FIFDES), e o Instituto Ethos, ambos cria<strong>do</strong>s na segunda meta<strong>de</strong><br />

da década <strong>de</strong> 1980, sob a égi<strong>de</strong> <strong>do</strong> tema da sustentabilida<strong>de</strong> e da<br />

ética corporativa, ou boa governança. No entanto, o tema da ética<br />

empresarial é repercuti<strong>do</strong> no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1940, quan<strong>do</strong><br />

foi integra<strong>do</strong> ao currículo da graduação em administração, a disciplina<br />

<strong>de</strong> ética, na Escola Superior <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> Negócios, em<br />

São Paulo. Há uma trajetória da abordagem da ética nos negócios<br />

priva<strong>do</strong>s, numa perspectiva <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, que merece apreciação. Sem<br />

preten<strong>de</strong>r um tratamento exaustivo <strong>de</strong>sejamos apenas fazer algumas<br />

consi<strong>de</strong>rações sobre as tensões criativas neste campo temático.<br />

Segun<strong>do</strong> Arruda (2008), na década <strong>de</strong> 1990 o Brasil assistiu uma<br />

ampliação da preocupação com a ética nos negócios. Isto seria<br />

efeito da maior presença no País das corporações transnacionais,<br />

que ela <strong>de</strong>nomina multinacionais (Ibi<strong>de</strong>m, p.4). ética passou a ser<br />

um ingrediente das políticas empresariais. Foi <strong>de</strong>senvolvida uma<br />

pesquisa com o objetivo <strong>de</strong> avaliar a presença <strong>de</strong> políticas éticas<br />

nas empresas, com o pressuposto <strong>de</strong> ser a ética uma preocupação<br />

secundária na prática empresarial. Segun<strong>do</strong> a pesquisa, o primeiro<br />

livro publica<strong>do</strong> em português, no Brasil, que oferece uma abordagem<br />

sistemática <strong>do</strong> tema ética empresarial foi a tradução da obra <strong>de</strong> Laura<br />

Nash, Ética nas empresas: <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> as boas intenções. No<br />

ano <strong>de</strong> sua publicação, 1992, houve o 1º seminário internacional<br />

sobre ética empresarial, promovi<strong>do</strong> pela FIDES. Outros eventos se<br />

suce<strong>de</strong>ram, também promovi<strong>do</strong>s pelo Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s em ética<br />

<strong>do</strong>s Negócios (CENE-EAESP-FGV).<br />

O panorama atual difere daquele da década <strong>de</strong> 1970, quan<strong>do</strong> Friedman<br />

(1970) afirmava que a responsabilida<strong>de</strong> social das empresas era o<br />

lucro. A argumentação <strong>de</strong> milton Friedman tinha que ver com a questão<br />

da liberda<strong>de</strong> <strong>do</strong> Capital numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>. Tratava-se <strong>de</strong><br />

não ter barreiras estatais ao livre comércio e <strong>de</strong> incentivar o <strong>de</strong>sejo,<br />

ou a ganância, pelo lucro. Cuidar <strong>do</strong>s negócios, <strong>de</strong> maneira ética, era<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

administrar os conflitos sem permitir que eles comprometessem a<br />

principal finalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> negócio, a saber, conferir lucro ao proprietário<br />

<strong>do</strong> Capital e seus acionistas. Nada além disso. Um objetivo social <strong>do</strong><br />

empreendimento, como, por exemplo, contingenciamento <strong>de</strong> preços<br />

em favor <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> contenção da inflação, não po<strong>de</strong> estar<br />

acima <strong>do</strong> interesse primário da empresa: obter lucro. Para Friedman<br />

isto é mais verda<strong>de</strong> em relação aos diretores <strong>de</strong> corporações,<br />

que estão a serviço <strong>do</strong>s acionistas e <strong>do</strong>s proprietários. Eles são<br />

emprega<strong>do</strong>s, e têm que aten<strong>de</strong>r aos interesses <strong>do</strong>s patrões.<br />

Laura Nash (1990) indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra orientação. Ela<br />

reconhece que é da natureza <strong>do</strong> Capitalismo a condução <strong>do</strong>s<br />

empreendimentos com vistas ao autointeresse <strong>do</strong> empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r,<br />

no mais, uma máxima admitida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Adam Smith. O filósofo e<br />

economista escocês jpa havia esclareci<strong>do</strong> que o pa<strong>de</strong>iro não fabrica<br />

o pão preocupa<strong>do</strong> em satisfazer a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s famintos, senão<br />

em fazer dinheiro com o pão à venda. Para ela, a questão ética que<br />

emerge na década <strong>de</strong> 1990 é <strong>de</strong> outro cariz. Ela diz que “o ethos da<br />

empresa familiar <strong>do</strong> livre merca<strong>do</strong> se tornou ingerenciável” (Nash:<br />

1990, 14). A distância entre produtores e consumi<strong>do</strong>res, diretores<br />

e emprega<strong>do</strong>res, faz com que as relações <strong>de</strong> confiança necessitem<br />

<strong>de</strong> outros parâmetros. Os novos tempos estariam exigin<strong>do</strong> uma<br />

abordagem mais centrada na cooperação que no autointeresse,<br />

como ingrediente motivacional básico.<br />

A questão, segun<strong>do</strong> ela, é que a abordagem centrada no lucro é<br />

referida a um curto prazo nas relações que não se sustenta, e nem<br />

sustenta a perspectiva <strong>de</strong> negócios que são extensos no espaço e<br />

no tempo. Uma perspectiva <strong>de</strong> longo prazo tem que estar fundada<br />

numa ética contratual, na qual há retorno, em termos <strong>de</strong> valores, para<br />

to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s. Isso não significa que todas as corporações<br />

<strong>de</strong>veriam ter uma estrutura <strong>de</strong>cisional orientada <strong>de</strong>mocraticamente,<br />

ainda que estruturas <strong>de</strong>cisionais <strong>de</strong>ste tipo possam ser relevantes<br />

para a construção <strong>de</strong> valores morais que orientem a ação coletiva.<br />

O que é fundamental, ainda que seja difícil numa corporação avaliar<br />

a interação entre <strong>de</strong>sempenho pessoal e eficácia da ativida<strong>de</strong><br />

empresarial, é que aquele que gerencia seja capaz <strong>de</strong> motivar a<br />

cooperação <strong>do</strong>s agentes envolvi<strong>do</strong>s num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> curso <strong>de</strong> ação.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

111


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

A construção <strong>de</strong> um ambiente corporativo cooperativo permitiria,<br />

segun<strong>do</strong> Nash, uma melhor compreensão <strong>do</strong> papel das empresas em<br />

relação à socieda<strong>de</strong>. Elas também estariam comprometidas a construir<br />

ações que ensejassem a melhoria das condições socioambientais<br />

gerais – na verda<strong>de</strong>, as refl exões <strong>de</strong> Nash são mais atinentes ao<br />

<strong>do</strong>mínio micro-econômico, ela não aborda, por exemplo, a temática<br />

ambiental. Porém, é uma inferência possível das refl exões que ela<br />

<strong>de</strong>senvolve. Ela, porém, indica claramente que as empresas <strong>de</strong>vem,<br />

na formulação <strong>de</strong> seus objetivos, indicar seus horizontes <strong>de</strong> valores,<br />

suas orientações éticas. muitas vezes o que é expresso é sua<br />

funcionalida<strong>de</strong>. Não se <strong>de</strong>fi ne a excelência <strong>do</strong> negócio em relação à<br />

cooperação que traz a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida para a excelência da vida<br />

em socieda<strong>de</strong>. Ao fi m e ao cabo, a questão para os administra<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> negócios é o quantum <strong>de</strong> justiça ou injustiça que as <strong>de</strong>cisões que<br />

toma acarretam para to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s. Trata-se <strong>de</strong> notar que as<br />

empresas são parte da socieda<strong>de</strong> na qual estão inseridas.<br />

Há uma reverberação <strong>de</strong>ssa análise para a construção da li<strong>de</strong>rança<br />

coroporativa. Grafi camente isso po<strong>de</strong> ser representa<strong>do</strong> da seguinte<br />

maneira:<br />

Processo <strong>de</strong> ética Empresarial<br />

Fonte: Aguilar, 1996, 30<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Segun<strong>do</strong> Aguilar (1996, 32), ética na empresa é uma ativida<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>ve ser conduzida pela alta administração <strong>de</strong> forma permanente.<br />

Sua argumentação é em favor <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s cooperativas, que<br />

coor<strong>de</strong>nem ações ten<strong>do</strong> em vista o atendimento da eqüida<strong>de</strong> para<br />

to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s (p. 42). Aguilar sempre se refere à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> serem segui<strong>do</strong>s altos padrões <strong>de</strong> conduta ética (e.g. 43). Indica<br />

haver no mun<strong>do</strong> empresarial um temor aos temas morais, por<br />

<strong>de</strong>sconhecimento das filosofias morais, por terem dificulda<strong>de</strong> em<br />

administrar dilemas éticos, e pro promoverem a mu<strong>de</strong>z moral.<br />

Daí, como conseqüência, observa a necessida<strong>de</strong> da promoção <strong>de</strong><br />

uma sensibilização ética. Pois, isso geraria um mecanismo capaz<br />

<strong>de</strong> fazer alavancar um comportamento (conduta) ético. Com isso,<br />

as empresas estariam aptas a constituir relações sociais focadas<br />

no cliente e na valorização <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma permanente.<br />

Disso ele não oferece ilações para outros campos <strong>de</strong> cooperação<br />

entre a empresa e a socieda<strong>de</strong>, por exemplo.<br />

A pesquisa <strong>de</strong> Arruda (2008), sobre o esta<strong>do</strong> da arte da ética nos<br />

negócios, preocupou-se em averiguar a existência <strong>de</strong> (conduta)<br />

ética nas empresas brasileiras. A década <strong>de</strong> 1990 fez com que os<br />

temas da corrupção, li<strong>de</strong>rança e responsabilida<strong>de</strong>s corporativas<br />

passassem a ser o prato principal. Foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com base<br />

a mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> congruência e clima ético nas<br />

empresas um gradiente <strong>de</strong> avaliação das empresas brasileiras.<br />

Tal gradiente não se afasta muito da análise proposta por Aguillar,<br />

embora tenha outros referenciais teóricos. O que é avalia<strong>do</strong> é a<br />

relação lli<strong>de</strong>rança-emprega<strong>do</strong>s-clientes-finalida<strong>de</strong> ou missão da<br />

empresa. Trata-se <strong>de</strong> uma reflexão ao re<strong>do</strong>r das componentes<br />

microeconômicas. 2<br />

O limite que se apresenta a essas reflexões é o da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

esten<strong>de</strong>r a reflexão ética para as relações sociais e socioambientais.<br />

2 Conquanto os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa sejam insignificantes para nossa<br />

argumentação, <strong>de</strong>stacamos alguns. A pesquisa investigou as 500 maiores<br />

empresas que operam no Brasil. 77% das empresas possuem <strong>do</strong>cumentos<br />

<strong>de</strong> ética empresarial. As empresas que possuem tais <strong>do</strong>cumentos os<br />

difun<strong>de</strong>m para consolidar a cultura corporativa. Sobre o clima ético, a<br />

pesquisa foi reduzida a um pouco mas que uma centena <strong>de</strong> indústrias<br />

e i<strong>de</strong>ntificou vários abusos e violações <strong>de</strong> direitos aos emprega<strong>do</strong>s, em<br />

especial em relação às questões <strong>de</strong> gênero.<br />

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113


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

No limite, como nos recorda Boaventura <strong>de</strong> Souza Santos (1999), se<br />

há algum papel para o discurso ético este será o <strong>de</strong> nos orientar a<br />

não sucumbir ao fascimo societal. Diferente <strong>do</strong> fascismo estatal <strong>do</strong>s<br />

anos <strong>de</strong> 1930 e 1940, esta nova face <strong>do</strong> fascismo se faz presente<br />

pela apartação social, por meio <strong>de</strong> zonas controla<strong>do</strong>s por esta<strong>do</strong>s<br />

paralelos, por meio da <strong>de</strong>sregulamentação <strong>do</strong> trabalho, e sobretu<strong>do</strong><br />

por um fascismo financeiro. O fascismo financeiro conjuga o tempo<br />

<strong>de</strong> duas formas, por um la<strong>do</strong> temos o tempo instantâneo, no qual as<br />

transações se dão Just in time, e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das coor<strong>de</strong>nadas<br />

espaciais. Por outro la<strong>do</strong>, temos o tempo glacial, em que as relações<br />

sociais ocorrem numa sempiternida<strong>de</strong>, nas <strong>de</strong>cisões das gran<strong>de</strong>s<br />

corporações (transnacionais). Ou ainda, como nos faz pensar<br />

Jung mo Sung (2002) e Hugo Assmann, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a <strong>de</strong>sumanida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Capitalismo. Ele é um sistema<br />

autoregula<strong>do</strong>r, que prescin<strong>de</strong> das <strong>de</strong>liberações <strong>do</strong>s indivíduos.<br />

Como sistema ele está <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> a seguir sua lógica da competição,<br />

da eficácia. De que maneira, então, conjugar a consciência social<br />

e o sujeito ético com a autoregulação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>?<br />

Cortina (2005, 166) consi<strong>de</strong>ra que a ética empresrial não <strong>de</strong>ve<br />

afastar a conduta ética <strong>do</strong> empenho com a eficácia <strong>do</strong> negócio e<br />

sua lucrativida<strong>de</strong>, sob pena <strong>de</strong> ser inefetiva. A ética <strong>do</strong> negócio, a<br />

ética empresarial, ela permite que exista um entremeamento, uma<br />

trama, entre a política interna e externa da empresa. Ela i<strong>de</strong>ntifica a<br />

empresa com um elemento cooperativo com a socieda<strong>de</strong> e com o<br />

Esta<strong>do</strong>. Isso permitirá, segun<strong>do</strong> ela, a emergência <strong>de</strong> um novo ethos<br />

empresarial. As empresas estarão efetivamente comprometidas<br />

com o seu futuro e, assim, também, com o futuro da socieda<strong>de</strong>.<br />

Serão mais personifica<strong>do</strong>ras e mais promotoras <strong>de</strong> confiança,<br />

entre os seus membros e com os seus clientes, e <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s com a<br />

socieda<strong>de</strong>. Não está claro em que limite uma ética empresarial se<br />

encontra com relação à coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> ações com vistas ao futuro<br />

da coletivida<strong>de</strong> e da Humanida<strong>de</strong>. Sem dúvida, há que se pon<strong>de</strong>rar<br />

sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> articular os <strong>de</strong>veres das corporações com<br />

os <strong>do</strong>s outros atores sociais, a saber, o Esta<strong>do</strong> e a socieda<strong>de</strong><br />

civil. A lógica cooperativa, ou o agir comunicativo, não po<strong>de</strong> estar<br />

restrito a um único ator como aquele responsável pela coletivida<strong>de</strong>.<br />

Porém, cada um <strong>do</strong>s atores <strong>de</strong>ve se compreen<strong>de</strong>r responsável por<br />

to<strong>do</strong>s, na medida em que assume sua responsabilida<strong>de</strong> específica<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

e compartilhada. No limite, a tensão entre merca<strong>do</strong> e <strong>de</strong>mocracia<br />

está estabelecida e não po<strong>de</strong> ser diluída.<br />

ConsI<strong>de</strong>Rações FInaIs<br />

O crescente interesse pelo tema da ética empresarial como uma<br />

das esferas da ética aplicada por parte <strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong> talvez<br />

possa ser mensura<strong>do</strong>, também, pelo crescimento das publicações<br />

<strong>de</strong>dicadas ao tema. Livros sobre empresas sustentáveis, sobre<br />

procedimentos <strong>de</strong> boa governança e superação da corrupção não<br />

<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> chegar ao merca<strong>do</strong> livreiro. As abordagens indicam que<br />

há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior diálogo entre filósofos <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s a refletir<br />

sobre a ética e estes outros setores da socieda<strong>de</strong>. Efetivamente,<br />

não compartilho <strong>do</strong> juízo <strong>de</strong> macIntyre. Consi<strong>de</strong>ro que há, sim,<br />

valor na ética aplicada, conquanto possibilite que o juízo prático<br />

seja exercita<strong>do</strong> para a solução <strong>de</strong> dilemas que afetam a to<strong>do</strong>s.<br />

Os dilemas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> corporativo não serão <strong>de</strong> to<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong>s<br />

por filósofos se estes escaparem ao diálogo. Por outro la<strong>do</strong>, a busca<br />

<strong>de</strong> soluções para tais dilemas, por parte <strong>do</strong>s dirigentes empresariais<br />

não terá maior esclarecimento se estes se refugiarem no solipsismo<br />

da exclusivida<strong>de</strong> daqueles que <strong>de</strong>têm, efetivamente, o po<strong>de</strong>r. O<br />

po<strong>de</strong>r é uma ferramenta da ilusão e <strong>do</strong> autoengano. é muito fácil<br />

crer-se correto e inerrante quan<strong>do</strong> se é impeli<strong>do</strong> a <strong>de</strong>liberar sobre<br />

processos gerais e efetivas conseqüências para a vida <strong>de</strong> sujeitos<br />

– que se transformam em objetos. O dilema é cruel. As respostas<br />

aos mesmos po<strong>de</strong>m não ser tão cruéis assim.<br />

O esforço cooperativo é próprio <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s que participamos da<br />

esfera pública. A tarefa <strong>de</strong> sermos participantes é exigente. Ela<br />

nos insere numa corresponsabilida<strong>de</strong> contínua, permanente.<br />

Ao aceitarmos essa intersubjetivida<strong>de</strong> originária, que <strong>de</strong> forma<br />

in<strong>de</strong>lével orienta toda socialização, somos compeli<strong>do</strong>s a participar<br />

como autores, autolegisla<strong>do</strong>res, <strong>de</strong> nossa própria solidarieda<strong>de</strong>.<br />

A reinvenção diária da vida <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> disso. Não<br />

haverá uma socieda<strong>de</strong> justa sem inclusão e cuida<strong>do</strong> com o meio<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

115


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

ambiente, sabemos isso. Porém, jamais po<strong>de</strong>remos cooperar com<br />

tal possibilida<strong>de</strong> se nos <strong>de</strong>ixarmos enredar sobre as crenças já<br />

estabelecidas. Também nossas crenças precisam ser criticadas e<br />

apuradas na construção <strong>do</strong> entendimento mútuo possível.<br />

ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

AGUILAR, Francis J. Maximizan<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> uma conduta<br />

ética. RJ: Jorge zahar Editores, 1996.<br />

ARRUDA, maria Cecília C. O esta<strong>do</strong> da arte da ética nos negócios.<br />

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BEAUCHAMP, Tom L. “The Nature of Applied Ethics” In WELLMAN,<br />

Christopher H.(ed.) A companion to applied ethics. Uk: Blackwell,<br />

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CAVALCANTE JúNIOR, Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Farias. “Ética e administração:<br />

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CORTINA, A<strong>de</strong>le e Navarro, Emilio m. Ética. SP: Loyola, 2005.<br />

HABERmAS, J. Consciência moral e agir comunicativo, trad. Gui<strong>do</strong><br />

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PIzzI, Jovino. Ética e éticas aplicadas: a reconfiguração <strong>do</strong> âmbito<br />

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POCHmAN, márcio: Trabalho imateria e redução da jornada <strong>do</strong> trabalho<br />

(Entrevista), disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/in<strong>de</strong>x.<br />

php?option=com_content&view=article&id=1755&secao=256,<br />

acessa<strong>do</strong> em 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2011.<br />

SINGER, Peter. Ética aplicada. SP: martins Fontes, 2002.<br />

SOUZA SANTOS, Boaventura. “Reinventar a <strong>de</strong>mocracia: entre o<br />

pré-contratualismo e o pós-contratualismo”. In VV.AA. A crise <strong>do</strong>s<br />

paradigmas em ciências sociais e os <strong>de</strong>safios para o século XXI.<br />

RJ: Contraponto, 1999. p. 33-76.<br />

SUNG, Jung Mo. “Ética e economia”. In VV. AA. Utopia Urgente. SP:<br />

Casa Amarela & EDUC, 2002, p. 85-99.<br />

WELLMAN, Christopher H.(ed.) A companion to applied ethics. Uk:<br />

Blackwell, 2003.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 99-117, jun. 2011<br />

117


A Relação da Socieda<strong>de</strong><br />

com as Organizações<br />

no Processo <strong>de</strong> Gestão<br />

Estratégica<br />

daniella guiMarães bergaMini <strong>de</strong> sá, M. sc.<br />

Marcelo lopes da rosa lisboa luz, M. sc.<br />

Marcus vinícius vianna castro, M.sc.<br />

Resumo. A aplicação da gestão estratégica <strong>de</strong><br />

pessoas nas organizações contemporâneas<br />

constitui-se em um diferencial competitivo, na<br />

medida em que se valoriza o capital intelectual,<br />

aumentan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>, a eficiência e eficácia<br />

da organização. Esse sistema sofreu uma relevante<br />

expansão e diversificação nas últimas décadas. O<br />

objetivo <strong>de</strong>ste artigo é um estu<strong>do</strong> analítico e reflexivo<br />

sobre a Gestão Estratégica e Competências<br />

Essenciais, que se caracteriza pela abordagem<br />

<strong>de</strong> assuntos relaciona<strong>do</strong>s a: globalização e<br />

capitalismo; educação com responsabilida<strong>de</strong><br />

em busca <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> livre; li<strong>de</strong>rança<br />

baseada em princípios e valorização da inteligência<br />

emocional; metacompetência; gestão estratégica<br />

das competências <strong>de</strong> Recursos Humanos; e<br />

aspirações estratégicas nas organizações.<br />

Observa-se que o treinamento e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da capacitação profissional, a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelas<br />

organizações, contribuíram para o aperfeiçoamento<br />

<strong>do</strong> alinhamento pessoal com o organizacional. Por<br />

fim, verificou-se que as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> RH foram<br />

integradas ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> competências da empresa<br />

119


IntRodução<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

e a gestão por competências po<strong>de</strong> proporcionar ao<br />

RH a sua dimensão estratégica.<br />

PalavRas Chave: pessoas; estratégia; organização;<br />

competências.<br />

abstRaCt. The implementation of the strategic<br />

management of people in contemporary organizations<br />

is a competitive differentiator, as it values the<br />

intellectual capital, thereby increasing efficiency<br />

and effectiveness of the organization. This system<br />

un<strong>de</strong>rwent a significant expansion and diversification<br />

in recent <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s. This article is a reflective and<br />

analytical study on the strategic management<br />

and key competences, which is characterized by<br />

addressing issues related to: globalization and<br />

capitalism; education with responsibility in pursuit<br />

of a free society; principle-based lea<strong>de</strong>rship and<br />

valuing emotional intelligence; strategic management<br />

of human resources competencies; and strategic<br />

aspirations in organizations. Noted that the training<br />

and <strong>de</strong>velopment of professional training, a<strong>do</strong>pted by<br />

the organizations, contributed to the improvement of<br />

staff with the organizational alignment. Finally, the HR<br />

activities were integrated into the company’s mo<strong>de</strong>l<br />

of competencies and competency management can<br />

provi<strong>de</strong> the HR strategic dimension.<br />

KeywoRds: people; strategy; organization; skill<br />

é comum na vida cotidiana nos encontrarmos diante <strong>de</strong> várias<br />

escolhas a serem feitas. Tomar a <strong>de</strong>cisão correta implica em<br />

planejamento e no aprimoramento <strong>de</strong> diversas características<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

120


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

pessoais <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que possamos nos tornar pessoas mais próeficientes.<br />

O estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste trabalho, refere-se a análises e reflexões: <strong>do</strong><br />

panorama da globalização e evolução capitalista; <strong>do</strong>s objetivos<br />

que conduzam à satisfação evolutiva, tanto no campo psíquico,<br />

mental espiritual e cultural através <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> livre e<br />

responsável; da li<strong>de</strong>rança baseada em princípios; da inteligência<br />

emocional; da utilização <strong>de</strong> hábito que conduza à eficácia; e das<br />

competências essenciais das pessoas para gerir as organizações<br />

<strong>de</strong> forma estratégica. Além <strong>de</strong> valorização das pessoas<br />

metacompetentes, que realmente sabem o que querem baseadas<br />

em sua própria essência e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s.<br />

O sucesso profissional e pessoal parece estar sempre liga<strong>do</strong> a<br />

alegria e ao entusiasmo. Em muitos casos, a satisfação pessoal<br />

vem antes da realização profissional. Por isso, torna-se relevante<br />

saber especificamente o que se quer conseguir e fixar-se as metas<br />

e objetivos que se quer alcançar.<br />

A meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada para este estu<strong>do</strong>, que é <strong>do</strong> tipo qualitativa,<br />

hipotético-<strong>de</strong>dutiva, utilizou-se <strong>de</strong> consulta bibliográfica a apostilas,<br />

artigos, revistas e livros; além <strong>de</strong> informações obtidas através da<br />

Internet que tratam <strong>de</strong> assuntos relaciona<strong>do</strong>s a gestão estratégica,<br />

competências essenciais e organizações globalizadas.<br />

Com o avanço tecnológico e a globalização da economia, fez-se<br />

necessário alterar os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> gestão, para que<br />

novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão garantam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> competição<br />

atual e futura. Neste cenário, a Gestão por Competências, surge<br />

como mo<strong>de</strong>lo estratégico volta<strong>do</strong> para gestão <strong>de</strong> pessoas e da<br />

organização, cujo objetivo é mostrar como esse méto<strong>do</strong> po<strong>de</strong><br />

ser uma fonte <strong>de</strong> informação para aten<strong>de</strong>r a área <strong>de</strong> Recursos<br />

Humanos.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

121


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

eduCação Com ResPonsabIlIda<strong>de</strong> e soCIeda<strong>de</strong> lIvRe<br />

Segun<strong>do</strong> Werneck (2003), uma socieda<strong>de</strong> livre só se constrói com<br />

responsabilida<strong>de</strong>. Com isso, uma educação voltada para a formação<br />

<strong>do</strong> caráter responsável é uma imposição <strong>de</strong>ssa mesma socieda<strong>de</strong>.<br />

Partin<strong>do</strong> da afirmação <strong>de</strong> Werneck, percebe-se que há uma<br />

sinergia entre responsabilida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong>. No entanto, a<br />

educação hoje está dividida em processos cognitivos e <strong>de</strong><br />

formação da personalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo levan<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem a uma realida<strong>de</strong> ultrapassada.<br />

A educação po<strong>de</strong> contribuir na formação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

livre e responsável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja divida em vários aspectos<br />

e tratá-los <strong>de</strong> maneira uniforme e <strong>de</strong> igual importância, como:<br />

moral e ética; estímulo ao conhecimento; adaptação <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s e interesses; conscientização; reconhecimento<br />

e valorização <strong>do</strong> ser e <strong>do</strong> universo; i<strong>de</strong>ntificação, apresentação<br />

e implementação <strong>de</strong> um sistema coerente com a realida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>; disseminação da <strong>de</strong>mocracia em seu real senti<strong>do</strong>;<br />

aplicação <strong>do</strong> termo responsabilida<strong>de</strong> como meio importante <strong>de</strong><br />

socialização e melhoria da convivência; encorajamento na busca<br />

<strong>de</strong> suas realizações, <strong>de</strong>scobertas e reconhecimento <strong>de</strong> seus<br />

me<strong>do</strong>s e erros.<br />

A razão <strong>de</strong> ser da educação liberta<strong>do</strong>ra está no seu impulso inicial<br />

concilia<strong>do</strong>r. Daí que tal forma <strong>de</strong> educação implique na superação<br />

da contradição educa<strong>do</strong>r-educan<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> tal maneira que se façam,<br />

ambos, simultaneamente, educa<strong>do</strong>res e educan<strong>do</strong>s.<br />

O melhor ensino não surgirá a partir <strong>de</strong> melhores meios para<br />

o professor instruir, mas ao dar ao estudante as melhores<br />

oportunida<strong>de</strong>s para construir, inventar, inovar e <strong>de</strong>scobrir.<br />

Como já se viu, o professor, em relação ao aluno, <strong>de</strong>ve ser um<br />

orienta<strong>do</strong>r que contribua com uma educação voltada para a<br />

formação <strong>do</strong> caráter responsável perante a socieda<strong>de</strong>. Isso requer<br />

<strong>do</strong> país uma melhor revisão <strong>do</strong> seu processo <strong>de</strong> educação, pois<br />

são os alunos <strong>de</strong> hoje que constituirão as plenárias das câmaras<br />

e das assembléias como representantes da socieda<strong>de</strong>.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

122


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Não se <strong>de</strong>ve repetir os mo<strong>de</strong>los <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, nos mol<strong>de</strong>s arcaicos<br />

<strong>de</strong> uma educação antidialógica, pois se não teremos os mesmos<br />

tipos inesquecíveis <strong>de</strong> nossa história.<br />

Se as carteiras escolares não permitem trabalhos em grupo e<br />

o diálogo, as pessoas não serão <strong>de</strong>mocráticas no futuro, serão<br />

aquele grupo humano sempre esperan<strong>do</strong> que alguém tome as<br />

medidas e dê as soluções prontas como o professor.<br />

A educação para a liberda<strong>de</strong> passará sempre pela responsabilida<strong>de</strong>,<br />

enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se claramente responsabilida<strong>de</strong> como meio<br />

importante <strong>de</strong> socialização e melhoria da convivência humana.<br />

A responsabilida<strong>de</strong> social é indispensável, sobretu<strong>do</strong> num país<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> ou em <strong>de</strong>senvolvimento, on<strong>de</strong> as carências<br />

tornam os acessos cada vez mais difíceis.<br />

A escola é um elemento importante na formação da consciência<br />

<strong>do</strong> povo; se ela trabalha na direção <strong>de</strong>mocrática, po<strong>de</strong>rá haver<br />

um aumento na conscientização e, até mesmo, mudança <strong>de</strong>ste<br />

comportamento. Não se faz uma <strong>de</strong>mocracia sem <strong>de</strong>mocratas,<br />

portanto as escolas, forman<strong>do</strong> consciências abertas à participação,<br />

po<strong>de</strong>rão contribuir com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta partilha contínua,<br />

marca das <strong>de</strong>mocracias e diferença fundamental entre elas e as<br />

<strong>de</strong>mais propostas.<br />

lI<strong>de</strong>Rança baseada em PRInCíPIos e<br />

IntelIgênCIa emoCIonal<br />

Essa li<strong>de</strong>rança apresenta características e ferramentas que são<br />

indispensáveis aos notáveis lí<strong>de</strong>res. Segun<strong>do</strong> Covey (2002), as<br />

principais características da li<strong>de</strong>rança baseada em princípios são<br />

estar sempre apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong>. As pessoas que pautam suas vidas em<br />

princípios são continuamente instruídas por suas experiências;<br />

estar volta<strong>do</strong>s para o serviço. Aqueles que se esforçam para<br />

pautar suas ações em princípios encaram a vida como uma missão<br />

e não como uma carreira; irradiar energia positiva. As pessoas<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

123


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

baseadas em princípios tem uma aparência alegre, agradável<br />

e feliz; acreditar nas outras pessoas. As pessoas baseadas<br />

em princípios não reagem exageradamente a comportamentos<br />

negativos, a críticas ou fraquezas humanas; vidas equilibradas.<br />

Estas pessoas lêem a melhor literatura e as melhores revistas<br />

e mantêm-se atualizadas em relação aos assuntos e eventos<br />

mais recentes; encarar a vida como uma aventura. As pessoas<br />

baseadas em princípios saboreiam a vida; ser sinérgico. São<br />

catalisa<strong>do</strong>res <strong>de</strong> mudanças, melhoram qualquer situação em<br />

que se envolvem; e exercitar-se pela auto-renovação. Exercitam<br />

regularmente as quatro dimensões da personalida<strong>de</strong> humana:<br />

física, mental, emocional e espiritual.<br />

Covey (2002) <strong>de</strong>staca, também, as ferramentas <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

irão aumentar o prestígio <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r, tais como Persuasão -<br />

compartilhar razões e fundamentos, valorizar sua posição ou<br />

seu <strong>de</strong>sejo, manten<strong>do</strong> um verda<strong>de</strong>iro respeito para com as<br />

idéias e perspectivas <strong>do</strong>s segui<strong>do</strong>res; Paciência - para com o<br />

processo e a pessoa; mantenha uma perspectiva a longo prazo<br />

e o compromisso com os seus objetivos diante <strong>de</strong> obstáculos a<br />

curto prazo e resistência; Cavalheirismo - nada <strong>de</strong> severida<strong>de</strong>,<br />

inflexibilida<strong>de</strong> ou força ao lidar com as vulnerabilida<strong>de</strong>s, que os<br />

segui<strong>do</strong>res possam expressar; Aprendiza<strong>do</strong> - o que significa<br />

trabalhar partin<strong>do</strong> da hipótese <strong>de</strong> que você não possui todas<br />

as respostas; Aceitação - absten<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> fazer julgamentos;<br />

Gentileza - sensibilida<strong>de</strong>, bonda<strong>de</strong>, atenção; Abertura - obten<strong>do</strong><br />

informações e perspectivas precisas sobre o que os segui<strong>do</strong>res<br />

po<strong>de</strong>m vir a ser; Confronto compassivo - reconhecen<strong>do</strong> erros<br />

e a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s segui<strong>do</strong>res fazerem ‘correções <strong>de</strong> curso’;<br />

Consistência - <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que o seu estilo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança não seja<br />

uma técnica <strong>de</strong> manipulação, mas um conjunto <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong><br />

quem você é e quem você está se tornan<strong>do</strong>; e I<strong>do</strong>neida<strong>de</strong> -<br />

harmonizan<strong>do</strong> honestamente as palavras e os sentimentos com<br />

os pensamentos e as ações, sem qualquer outro <strong>de</strong>sejo a não<br />

ser o bem <strong>do</strong>s outros.<br />

Esse estu<strong>do</strong> nos leva a refletir sobre o que realmente precisa-se<br />

para alcançar o sucesso não apenas no segmento social, mas<br />

também num processo mais abrangente chama<strong>do</strong> vida.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

124


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

O controle das emoções é fator essencial para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da inteligência <strong>do</strong> indivíduo. Inteligência Emocional é um grito <strong>de</strong><br />

alerta aos que ainda pensam que a razão é a única responsável<br />

por nosso <strong>de</strong>stino. Se <strong>de</strong>rmos mais atenção sistemática à<br />

inteligência emocional - ao aumento da autoconsciência, a lidar<br />

mais eficientemente com nossos sentimentos aflitivos, manter o<br />

otimismo e a perseverança apesar das frustrações, aumentar a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empatia e envolvimento, <strong>de</strong> cooperação e ligação<br />

social, o futuro po<strong>de</strong> ser mais esperançoso.<br />

As lições emocionais que apren<strong>de</strong>mos na infância, em casa e<br />

na escola, mo<strong>de</strong>lam os circuitos emocionais, tornan<strong>do</strong>-nos mais<br />

aptos - ou inaptos – nos fundamentos da inteligência emocional.<br />

Conjunto fundamental da inteligência emocional: talentos como<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivar-se e persistir diante <strong>de</strong> frustrações;<br />

controlar impulsos e adiar a satisfação; regular o próprio esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> espírito e impedir que a aflição invada a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar;<br />

criar empatia e esperar.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> quociente <strong>de</strong> inteligência (QI), com seus quase<br />

cem anos <strong>de</strong> história <strong>de</strong> pesquisa com milhares <strong>de</strong> pessoas, a<br />

inteligência emocional é um conceito novo. Ninguém po<strong>de</strong> ainda<br />

dizer exatamente até on<strong>de</strong> respon<strong>de</strong> pela variação <strong>de</strong> pessoa para<br />

pessoa no curso da vida. mas os da<strong>do</strong>s que existem sugerem<br />

que ela po<strong>de</strong> ser tão po<strong>de</strong>rosa - e às vezes mais - quanto o QI.<br />

E embora haja quem argumente que não se po<strong>de</strong> mudar muito<br />

o QI com a experiência ou educação, as aptidões emocionais<br />

<strong>de</strong>cisivas na verda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser aprendidas e melhoradas. A<br />

aptidão emocional é uma metacapacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> até<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos usar bem quaisquer outras aptidões que tenhamos,<br />

incluin<strong>do</strong> o intelecto bruto. muitos indícios atestam que as pessoas<br />

emocionalmente competentes - que conhecem e lidam bem com<br />

os próprios sentimentos, e lêem e consi<strong>de</strong>ram os sentimentos das<br />

outras - levam vantagem em qualquer campo da vida, seja nas<br />

relações amorosas e íntimas, seja assimilan<strong>do</strong> as regras tácitas<br />

que governam o sucesso na política organizacional. As pessoas<br />

com prática emocional bem <strong>de</strong>senvolvida têm mais probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se sentirem satisfeitas e serem eficientes em suas vidas,<br />

<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> os hábitos mentais que fomentam sua produtivida<strong>de</strong>.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

125


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

A maior contribuição isolada que a educação po<strong>de</strong> dar ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma criança é ajudá-la a encaminhar-se para<br />

um campo on<strong>de</strong> seus talentos se adaptem melhor, on<strong>de</strong> ela será<br />

feliz e competente. As pessoas <strong>de</strong> maior certeza sobre os próprios<br />

sentimentos são melhores pilotos <strong>de</strong> suas vidas, ten<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong><br />

mais preciso <strong>de</strong> como se sentem em relação a <strong>de</strong>cisões pessoais,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> com quem se casar a que emprego aceitar.<br />

Segun<strong>do</strong> Cooper & Sawaf (1997), os homens <strong>de</strong> alta inteligência<br />

emocional são socialmente equilibra<strong>do</strong>s, comunicativos e<br />

anima<strong>do</strong>s, não inclina<strong>do</strong>s a receios ou ruminações preocupadas.<br />

Têm uma notável capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> engajamento com pessoas ou<br />

causas, <strong>de</strong> assumir responsabilida<strong>de</strong>s e ter uma visão ética; são<br />

solidários e atenciosos em seus relacionamentos. Sentem-se à<br />

vonta<strong>de</strong> consigo mesmo, com os outros e com o universo social<br />

em que vivem.<br />

Os gran<strong>de</strong>s pensa<strong>do</strong>res são unânimes em afirmar que o<br />

pensamento acredita<strong>do</strong> se materializa. Segun<strong>do</strong> Claret (1995),<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> que se fala pressupõe conhecimento da língua.<br />

Uma boa mensagem não <strong>de</strong>ve ser revestida <strong>de</strong> andrajos. As<br />

pessoas eficazes não vivem voltadas para os problemas, elas<br />

vivem voltadas para as oportunida<strong>de</strong>s. A pessoa realmente eficaz<br />

tem a humilda<strong>de</strong> e a reverência para reconhecer suas limitações<br />

perceptivas e para reconhecer os imensos recursos disponíveis<br />

na interação com os corações e mentes <strong>de</strong> outros seres humanos.<br />

Segun<strong>do</strong> Covey (1999), quanto mais você se aprimora em hábitos<br />

que levam à in<strong>de</strong>pendência, mais eficaz será em situações<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. O autor afirma, ainda, que a renovação é o<br />

processo <strong>de</strong> revitalizar to<strong>do</strong>s os outros hábitos, caracterizan<strong>do</strong>-se<br />

como um princípio - e um processo - que nos dá a força necessária<br />

para nos movermos em uma espécie <strong>de</strong> “espiral ascen<strong>de</strong>nte” <strong>de</strong><br />

crescimento e mudança, <strong>de</strong> melhoria contínua. O movimento ao<br />

longo <strong>de</strong>ssa “espiral ascen<strong>de</strong>nte” exige aprendiza<strong>do</strong>, <strong>de</strong>dicação<br />

e ação em planos cada vez mais eleva<strong>do</strong>s.<br />

Assim, é possível perceber que, para conseguirmos alcançar<br />

melhores resulta<strong>do</strong>s em nossas vidas, temos que começar <strong>de</strong><br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

126


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

<strong>de</strong>ntro para fora. Além disso, observa-se, então, que não po<strong>de</strong>mos<br />

motivar as outras pessoas, mas sim alertá-las e incentivá-las pois,<br />

a motivação é pessoal ou seja, é intrínseca.<br />

Covey (1999) afirma que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha abrange os<br />

<strong>do</strong>ns que nos tornam humanos, distintos <strong>do</strong>s outros animais.<br />

A habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer sim ou não às situações que aparecem<br />

rotineiramente po<strong>de</strong> mudar o <strong>de</strong>stino que traçamos em nossas<br />

vidas. A partir <strong>do</strong> momento que nos fechamos para o novo,<br />

diminuímos as chances <strong>de</strong> encontrar a felicida<strong>de</strong>. Apesar <strong>de</strong><br />

situações diferentes serem muitas vezes ameaça<strong>do</strong>ras, elas<br />

po<strong>de</strong>m ser encaradas como <strong>de</strong>safios pessoais. E mesmo quan<strong>do</strong><br />

se toma uma <strong>de</strong>cisão errada, o aprendiza<strong>do</strong> não foi em vão. Não<br />

adianta se prostrar diante <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão errada. O importante<br />

nesse momento é pensar numa forma <strong>de</strong> reverter a situação.<br />

Pessoas pró-ativas são aquelas pessoas que <strong>de</strong>senvolvem em<br />

si o potencial <strong>de</strong> viver da maneira que lhe traga mais felicida<strong>de</strong>,<br />

visto que possuem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar e pon<strong>de</strong>rar suas<br />

<strong>de</strong>cisões baseadas em seus valores.<br />

Segun<strong>do</strong> Covey (1999), a vitória interna prece<strong>de</strong> a vitória em<br />

público. Esta é uma frase compreensível, porém difícil <strong>de</strong> ser<br />

colocada em prática. Estar em harmonia consigo mesmo e com a<br />

ambiente em que se vive, talvez seja um caminho para conseguir<br />

colocar em prática a mensagem que é passada através <strong>de</strong>ssa<br />

frase.<br />

As novas empresas são valorizadas pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

adquirir, gerar, distribuir e aplicar conhecimento estratégica e<br />

operacionalmente (Toffler, 1998). A produção em massa já não<br />

é uma meta essencial, pois todas as empresas já dispõem <strong>de</strong>ssa<br />

capacida<strong>de</strong>. O importante é a criativida<strong>de</strong> para gerar novos<br />

produtos inova<strong>do</strong>res capazes <strong>de</strong> agregar valor.<br />

A verda<strong>de</strong> é que as empresas estão se tornan<strong>do</strong> cada vez<br />

mais intelectualizadas, e portanto valorizan<strong>do</strong> profissionais com<br />

conhecimento não apenas sobre o seu setor na empresa, mas<br />

que tenha uma visão geral <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o processo da produção.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

127


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

metaComPetênCIa e estRatÉgIa oRganIzaCIonal<br />

Segun<strong>do</strong> mussak (2003), nos dias <strong>de</strong> hoje, busca-se menos<br />

produtivida<strong>de</strong> e mais competitivida<strong>de</strong>, menos informação e<br />

mais conhecimento, menos treinamento e mais educação.<br />

Assim, flexibilida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong>, informação, comunicação,<br />

responsabilida<strong>de</strong>, empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo, sociabilização, tecnologiam<br />

po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas características <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> século<br />

XXI que nos direcionam para uma profunda reflexão sobre nós<br />

mesmos:<br />

mussak (2003), <strong>de</strong>staca que as principais características da<br />

metacompetência são:<br />

Planejamento - Atingir o objetivo exige mais <strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolver<br />

habilida<strong>de</strong> para alcançá-lo. Por isso, ter uma meto<strong>do</strong>logia ou<br />

planejamento é fundamental para conseguir atingir as expectativas<br />

sem se per<strong>de</strong>r pelo caminho ou ficar fazen<strong>do</strong> ro<strong>de</strong>ios. Um bom<br />

planejamento está intimamente liga<strong>do</strong> ao autoconhecimento, pois<br />

só assim é possível saber o que realmente buscar alcançar e quais<br />

são as ferramentas necessárias para tal proeza.<br />

Encontrar o objetivo é o primeiro passo <strong>do</strong> planejamento.<br />

Entretanto apenas encontrar o objetivo não basta, <strong>de</strong>vemos nos<br />

empenhar em não <strong>de</strong>sviar a atenção <strong>de</strong> tal objetivo, pois muitas<br />

vezes acontece da pessoa saber seu objetivo e não atingi-lo<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à comodida<strong>de</strong> e falta <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s.<br />

Saber o porquê remete ao conhecimento <strong>do</strong> que realmente é<br />

essencial para encontrar a satisfação. Ter consciência daquilo<br />

que realmente irá nos satisfazer permite excluir a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tomarmos o caminho erra<strong>do</strong> por causa da influência <strong>de</strong> outras<br />

pessoas.<br />

Saber como alcançar o objetivo é outra importante etapa <strong>do</strong><br />

planejamento. Afinal, só po<strong>de</strong>mos colocar nossos planos em<br />

prática quan<strong>do</strong> sabemos quais ferramentas iremos utilizar.<br />

Uma etapa que normalmente é a causa da não realização <strong>do</strong><br />

planeja<strong>do</strong> é o tempo previsto para a execução <strong>do</strong> plano. Uma<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

128


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

coisa que observo, ao menos em mim, é que muitas vezes vou<br />

adian<strong>do</strong> a data final da realização <strong>de</strong> alguns planos por me<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

não conseguir atingi-lo, por motivos diversos, e por conseqüência<br />

acabar me frustran<strong>do</strong>.<br />

A última etapa é saber quanto e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> virão os recursos. A má<br />

elaboração <strong>de</strong>ssa etapa po<strong>de</strong> ser motivo <strong>de</strong> insucesso. Devemos<br />

ter a consciência <strong>do</strong> que po<strong>de</strong>mos alcançar, objetivar algo que<br />

foge nosso alcance só po<strong>de</strong> trazer frustração. Assim, é muito<br />

normal vermos nas pessoas humil<strong>de</strong>s os maiores índices <strong>de</strong><br />

alcance <strong>de</strong> suas metas. Normalmente percebemos que as fontes<br />

<strong>de</strong> satisfação verda<strong>de</strong>ira estão em nós mesmos e nas pessoas<br />

que nos circundam. Depositar satisfação em bens materiais gera<br />

uma busca cíclica que, provavelmente, nunca será alcançada.<br />

Principalmente no contexto em que vivemos atualmente, on<strong>de</strong><br />

a cada dia novas coisas são inventadas e que o sistema sócioeconômico<br />

nos incentiva a querer sempre mais.<br />

Comunicação - é uma característica que precisa constantemente<br />

ser revista. Empenhar-se em melhorar a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicarse<br />

representa uma garantia <strong>de</strong> que as outras pessoas tenham<br />

o conhecimento <strong>de</strong> quem você é e aon<strong>de</strong> você quer chegar,<br />

permitin<strong>do</strong> assim, que se tenha uma melhor compreensão.<br />

O ser humano tem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se relacionar. Expressarse<br />

<strong>de</strong> maneira integra, isto é, condizente com o que realmente a<br />

pessoa é, é a melhor forma <strong>de</strong> atingir o sucesso. Caso a pessoa<br />

não atinja as expectativas da socieda<strong>de</strong>, saberá on<strong>de</strong> terá que<br />

mudar, caso atinja, será automaticamente reconhecida. Dessa<br />

forma, a dissimulação, não leva a lugares muito promissores.<br />

Po<strong>de</strong>mos nos expressar <strong>de</strong> diversas formas. A expressão<br />

corporal, normalmente, é menos consi<strong>de</strong>rada que a expressão<br />

oral, entretanto ela po<strong>de</strong> ter gran<strong>de</strong> repercussão no meio social.<br />

Em certas ocasiões, até mais que a forma <strong>de</strong> expressão falada.<br />

Assim, atitu<strong>de</strong>s corporais corretas como manter a coluna ereta, os<br />

ombros para trás, a cabeça erguida, como manda a natureza, e<br />

manter um sorriso fácil no rosto, são garantias <strong>de</strong> obter um ótimo<br />

esta<strong>do</strong> mental e <strong>de</strong>monstrar as pessoas que estão ao re<strong>do</strong>r que<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

se está viven<strong>do</strong> bem. Tal atitu<strong>de</strong> nos permite transmitir serenida<strong>de</strong><br />

e bem estar a outras pessoas.<br />

Criativida<strong>de</strong> - Acredita-se que ser criativo é até mais importante<br />

<strong>do</strong> que ser bem informa<strong>do</strong>, e a explicação é <strong>de</strong> que uma pessoa<br />

sem informação mas com criativida<strong>de</strong> tem condições <strong>de</strong> buscar<br />

informação – e, além disso, saberá o que fazer com ela. E há<br />

pelo menos três justificativas para o fato <strong>de</strong> a criativida<strong>de</strong> estar<br />

sen<strong>do</strong> tão valorizada no mun<strong>do</strong> profissional contemporâneo:<br />

a competitivida<strong>de</strong> cada vez maior, a gran<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> das<br />

transformações e a valorização <strong>do</strong> empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo.<br />

A gran<strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> é uma das principais marcas registradas<br />

<strong>de</strong> nosso tempo. Deriva <strong>do</strong> aumento da concorrência, subproduto<br />

da globalização, e da evolução das competências das pessoas e<br />

das organizações, característica da socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Já vimos que competência é o pressuposto da competitivida<strong>de</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> há mais pessoas e empresas competentes, aumenta<br />

a competitivida<strong>de</strong> e isso se dá hoje em nível mundial. Para se<br />

manter no jogo da competitivida<strong>de</strong>, não é mais suficiente uma<br />

competência específica, por maior que ela seja; é preciso que<br />

venha acompanhada <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> – e aí entra o valor da<br />

criativida<strong>de</strong>, componente da metacompetência.<br />

As mudanças comportamentais, impostas especialmente<br />

pela evolução da tecnologia da comunicação e também para<br />

flexibilização <strong>do</strong>s costumes, exigem o exercício da criativida<strong>de</strong><br />

adaptativa. Dito <strong>de</strong> outra forma, para acompanhar as mudanças<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno, temos <strong>de</strong> ser criativos, estar sempre<br />

aprimoran<strong>do</strong> nosso mun<strong>do</strong> particular, tornan<strong>do</strong>-o adapta<strong>do</strong> e<br />

prepara<strong>do</strong> para o próximo salto evolutivo.<br />

Responsabilida<strong>de</strong> - O sucesso pessoal é proveniente da<br />

responsabilida<strong>de</strong> que o indivíduo possui em um grau eleva<strong>do</strong><br />

ou não, pois a responsabilida<strong>de</strong> é mais difícil <strong>de</strong> se ensinar, haja<br />

vista, que faz parte <strong>do</strong> caráter da pessoa. Nós somos animais<br />

capazes <strong>de</strong> discernir e refletir o grau <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />

indivíduo. Por isso, as empresas estão valorizan<strong>do</strong> cada vez mais<br />

essa qualida<strong>de</strong> nos seus profissionais e até mesmo estimulan<strong>do</strong> o<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

seu exercício através <strong>de</strong> uma estratégia chamada empowerment<br />

em que são <strong>de</strong>legadas novas funções aos trabalha<strong>do</strong>res como:<br />

controle da qualida<strong>de</strong>, fiscalização das condições <strong>de</strong> segurança<br />

e higiene, liberda<strong>de</strong> para sugerir inovações etc. é importante<br />

salientar que não é uma <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r mais acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>. Seja qual for o cargo <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r to<strong>do</strong>s<br />

tem a sua responsabilida<strong>de</strong> no mesmo nível <strong>de</strong> importância, pois<br />

to<strong>do</strong>s fazem parte da empresa e se uma unida<strong>de</strong> falhar to<strong>do</strong> o<br />

resto será comprometi<strong>do</strong>.<br />

Disciplina - Na vida, três fenômenos complementares estão<br />

sempre interagin<strong>do</strong>: o sentimento, o pensamento e a atitu<strong>de</strong>. Eles<br />

são inseparáveis, no entanto a or<strong>de</strong>m em que se apresentam po<strong>de</strong><br />

variar. A ação po<strong>de</strong>, e muitas vezes <strong>de</strong>ve, prece<strong>de</strong>r a emoção.<br />

Isso vale para tu<strong>do</strong> – fazer ginástica, trabalhar, estudar e coçar<br />

a cabeça. Comece que a vonta<strong>de</strong> chega. Pessoas disciplinadas<br />

são as que conseguem <strong>de</strong>finir com clareza o que <strong>de</strong>ve ser feito<br />

e não abrem mão <strong>do</strong> <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>, saben<strong>do</strong> que o resulta<strong>do</strong> sempre<br />

será compensa<strong>do</strong>r.<br />

Empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo - O ser humano é um empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r nato<br />

e isso po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong> nossa história. São<br />

qualida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r: superar limites, enfrentar situações<br />

novas, assumir responsabilida<strong>de</strong>s, ir além <strong>do</strong>s objetivos, contornar<br />

dificulda<strong>de</strong>s, conviver com diferenças e construir o novo. Tu<strong>do</strong><br />

isso, requer iniciativa, criativida<strong>de</strong>, ousadia e responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Inteligência - É <strong>de</strong>finida como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepção,<br />

compreensão, aprendiza<strong>do</strong> e adaptação, sen<strong>do</strong> a ultima<br />

característica a mais importante <strong>de</strong> todas e que atualmente é<br />

<strong>de</strong>sejável para um candidato a uma vaga em uma empresa, pois<br />

o mun<strong>do</strong> está em constante transformação e só as empresas que<br />

se adaptarem rapidamente as novas realida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> é que<br />

sobreviverão. Assim como só os profissionais que respon<strong>de</strong>rem<br />

melhor as novas exigências conseguirão manter-se atuante nas<br />

empresas.<br />

A cultura organizacional <strong>de</strong>fine as normas <strong>de</strong> conduta, o<br />

alinhamento <strong>do</strong>s valores, a percepção da missão da empresa. O<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

clima organizacional permite que tu<strong>do</strong> isso seja posto em prática,<br />

mas <strong>de</strong>manda investimento em relações interpessoais e em um<br />

valor subjacente, a qualida<strong>de</strong> da comunicação, e acabamos então<br />

voltan<strong>do</strong> à velha questão <strong>de</strong> que as pessoas não estão preparadas<br />

para se comunicar a<strong>de</strong>quadamente.<br />

Coerência da imagem pessoal com o comportamento - Para<br />

aten<strong>de</strong>r as exigências <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> é necessário ser bom e também<br />

parecer bom, ou seja, haver coerência entre a imagem pessoal<br />

e o comportamento. Isso vale tanto para o trabalha<strong>do</strong>r como<br />

para a empresa. O trabalha<strong>do</strong>r precisa passar uma boa imagem<br />

para seus colegas <strong>de</strong> trabalho e para seus chefes, assim como<br />

a empresa necessita que seus clientes realmente a vejam como<br />

a melhor opção em to<strong>do</strong>s os aspectos. Tu<strong>do</strong> vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da<br />

nossa postura no dia a dia. Ela é que transmitirá nossa imagem<br />

para o exterior. mostrar que somos seres humanos, através <strong>de</strong> um<br />

bom dia, já é um bom começo, pois não há como se <strong>de</strong>senvolver<br />

profissionalmente sem <strong>de</strong>senvolver o la<strong>do</strong> humano.<br />

A realização pessoal tem relação bastante estreita com a<br />

realização profissional. Afinal, não somos obriga<strong>do</strong>s a trabalhar,<br />

mas passamos a maior parte <strong>de</strong> nossa vida trabalhan<strong>do</strong>. Trabalhar<br />

é a nossa oportunida<strong>de</strong> se sentir útil à socieda<strong>de</strong>. é enten<strong>de</strong>r a<br />

importância da parte compon<strong>do</strong> o to<strong>do</strong>.<br />

Devemos <strong>de</strong>senvolver em nós capacida<strong>de</strong>s, tais como:<br />

entusiasmo, pois é ele que nos dá vitalida<strong>de</strong>, que dá brilho aos<br />

nossos olhos, coragem e perseverança; capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar<br />

mensagens, pois o ser humano não vê só fatos, mas valores;<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encantamento, ou seja, ter intuição, captar outras<br />

percepções <strong>de</strong> energias no ambiente; e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> olhar,<br />

ouvir e compreen<strong>de</strong>r as coisas e as pessoas como processos<br />

complementares <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s diferentes.<br />

A estratégia organizacional constitui o mecanismo através <strong>do</strong> qual<br />

a organização interage com o seu contexto ambiental. Ela <strong>de</strong>fine o<br />

comportamento da organização em um mun<strong>do</strong> mutável, dinâmico<br />

e competitivo (Paschoal, 2004). é condicionada pela missão<br />

organizacional, pela visão <strong>de</strong> futuro e pelos objetivos principais<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

da organização. On<strong>de</strong>, todas organizações têm uma missão a<br />

cumprir ou uma incumbência que envolve os objetivos essenciais<br />

<strong>do</strong> negócio e está geralmente focalizada fora da empresa.<br />

Ao <strong>de</strong>finir a missão organizacional <strong>de</strong>ve-se ter em mente: Quem<br />

somos? O que fazemos? E por que fazemos? A missão reflete<br />

a filosofia da organização e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s valores e crenças <strong>do</strong>s<br />

seus cria<strong>do</strong>res e lí<strong>de</strong>res. Ela <strong>de</strong>ve ser atualizada e ampliada<br />

continuamente. Seus principais valores são: crença no indivíduo,<br />

bons produtos e melhor serviço.<br />

A visão é a imagem que a organização tem a respeito <strong>de</strong> si mesma<br />

e <strong>do</strong> seu futuro. Ela está geralmente mais voltada para aquilo que<br />

a organização preten<strong>de</strong> ser, <strong>do</strong> que para aquilo que ela realmente<br />

é. Quan<strong>do</strong> as pessoas conhecem a visão pretendida, elas ficam<br />

saben<strong>do</strong> melhor para on<strong>de</strong> ir. A visão não <strong>de</strong>ve ser conserva<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong> “status quo”, mas <strong>de</strong>ve refletir uma postura não conformista<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> as constantes mudanças no cenário mundial. Com isso,<br />

a missão e a visão proporcionam os elementos para a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>do</strong>s objetivos organizacionais e para a formulação da estratégia<br />

organizacional.<br />

Os objetivos são resulta<strong>do</strong>s que se preten<strong>de</strong>m alcançar <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo. Para serem eficazes os<br />

objetivos organizacionais <strong>de</strong>vem ser:<br />

- Focaliza<strong>do</strong>s em um resulta<strong>do</strong> a ser atingi<strong>do</strong> e não em<br />

uma ativida<strong>de</strong>;<br />

- Consistentes (estar coerentemente liga<strong>do</strong>s uns aos<br />

outros <strong>de</strong>ntro da organização);<br />

- Específicos, mensuráveis e bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s;<br />

- Relaciona<strong>do</strong>s a um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo; e<br />

- Alcançáveis (<strong>de</strong>vem ser perfeitamente possíveis).<br />

A estratégia organizacional refere-se ao comportamento global<br />

e integra<strong>do</strong> da empresa em relação ao ambiente que a circunda.<br />

Essa estratégia apresenta aspectos fundamentais que envolvem<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

a organização, tais como: ser <strong>de</strong>finida pelo nível institucional com<br />

ampla participação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais níveis; ser projetada a longo prazo<br />

e <strong>de</strong>fine o futuro e o <strong>de</strong>stino da empresa; envolve a empresa como<br />

uma totalida<strong>de</strong> para obtenção <strong>de</strong> sinergia; e ser um mecanismo<br />

<strong>de</strong> aprendizagem organizacional para as pessoas (retroação).<br />

A <strong>de</strong>finição da estratégia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> análises:<br />

Análise <strong>do</strong> ambiente externo: para verificar e analisar as<br />

oportunida<strong>de</strong>s a serem aproveitadas e as ameaças a serem<br />

neutralizadas ou evitadas; e Análise <strong>do</strong> ambiente interno: para<br />

verificar os pontos fortes e fracos da organização (trata-se <strong>do</strong><br />

levantamento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s, capacida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, um <strong>do</strong>s maiores <strong>de</strong>safios da Gestão <strong>de</strong> Pessoas<br />

é fazer com que a estratégia organizacional seja corretamente<br />

entendida e compreendida por to<strong>do</strong>s os membros da organização,<br />

a fim <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s saibam o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> esforço e <strong>de</strong>dicação<br />

necessários para a organização atingir os fins a que se propõe.<br />

Assim, um <strong>do</strong>s aspectos mais importantes da estratégia<br />

organizacional é a sua amarração com a função <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong><br />

Pessoas, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se buscar a integração das funções<br />

com os objetivos globais da empresa. Com isso, o planejamento<br />

estratégico <strong>de</strong> recursos humanos refere-se à maneira pela qual<br />

a função <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Pessoas po<strong>de</strong> contribuir para o alcance<br />

<strong>do</strong>s objetivos organizacionais.<br />

Segun<strong>do</strong> Tachizawa (2001), ao se fazer o planejamento <strong>do</strong><br />

contingente <strong>de</strong> pessoal necessário em uma empresa <strong>de</strong>ve-se<br />

levar em consi<strong>de</strong>ração o índice <strong>de</strong> absenteísmo; o índice <strong>de</strong><br />

rotativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoal; as mudanças nos requisitos da força <strong>de</strong><br />

trabalho, com base na capacida<strong>de</strong> profissional <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s<br />

e na motivação para o trabalho; e os fatores internos e externos<br />

ao trabalho.<br />

A rotativida<strong>de</strong> não é uma causa, mas um efeito <strong>de</strong> fatores internos e<br />

externos (Tachizawa, 2001), tais como: Oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento<br />

na empresa; Relacionamento humano; Conjuntura econômica; Estilo<br />

gerencial; Política salarial; Condições físicas e psíquicas <strong>de</strong> trabalho;<br />

e Situação <strong>de</strong> oferta e procura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> RH.<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Quanto às mudanças nos requisitos da força <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às<br />

mudanças no cenário nacional e internacional, os requisitos da força<br />

<strong>de</strong> trabalho também estão mudan<strong>do</strong>. Mas, os novos profissionais<br />

não estão sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>vidamente prepara<strong>do</strong>s para ingressar nesse<br />

novo merca<strong>do</strong> e isso afeta diretamente o planejamento estratégico<br />

<strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Pessoas. Com isso, o planejamento estratégico da<br />

Gestão <strong>de</strong> Pessoas <strong>de</strong>ve oferecer bases para o recrutamento e<br />

seleção <strong>de</strong> pessoal; para a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho; para a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cargos e salários; para a elaboração <strong>do</strong>s programas<br />

<strong>do</strong> treinamento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pessoal; e para subsidiar a<br />

auditoria <strong>de</strong> recursos humanos. Em síntese, o planejamento po<strong>de</strong><br />

servir <strong>de</strong> base para a Gestão Estratégica <strong>de</strong> Pessoas.<br />

gestão estRatÉgICa das<br />

ComPetênCIas <strong>de</strong> ReCuRsos humanos<br />

Segun<strong>do</strong> Ruano (2003), a Gestão por Competências como<br />

um recurso estratégico <strong>de</strong> recursos humanos (RH), visa<br />

valorizar e recompensar diferenças individuais, motivan<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento profissional; preparar a empresa e as pessoas<br />

para um novo contexto organizacional; otimizar recursos em<br />

treinamento e recrutamento & seleção; e integrar ações <strong>de</strong> RH<br />

com as estratégias da empresa. Tem como premissas básicas:<br />

simplicida<strong>de</strong>, mostrar transparência, ser participativo e estar<br />

sintoniza<strong>do</strong> com o merca<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>.<br />

Dessa forma, a Gestão por Competências busca alcançar<br />

objetivos, tais como: salários superiores ou equipara<strong>do</strong>s com o<br />

valor <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>; crescimento das pessoas <strong>de</strong>ntro da empresa; e<br />

sintonia ou integração das metas pessoas com as organizacionais.<br />

Ruano (2003) afirma que não há um consenso entre a <strong>de</strong>finição<br />

das competências e suas área <strong>de</strong> atuação na organização.<br />

Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>staca o fato <strong>de</strong> que há uma relação entre elas, uma<br />

vez que as organizações não vivem sem o conhecimento das<br />

pessoas e vice-versa. A agregação <strong>de</strong> valor <strong>do</strong>s indivíduos é,<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

portanto, sua contribuição efetiva ao patrimônio <strong>de</strong> conhecimento<br />

da organização, o que lhe permite manter suas vantagens<br />

competitivas ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

O novo conceito <strong>de</strong> Gestão Estratégica <strong>de</strong> RH modifica as<br />

atribuições <strong>do</strong> profissional <strong>de</strong> RH, a saber: <strong>de</strong> operacional para<br />

estratégico; <strong>de</strong> administrativo para consultivo; <strong>de</strong> volta<strong>do</strong> para a<br />

função para volta<strong>do</strong> para o negócio; e <strong>de</strong> volta<strong>do</strong> para a empresa<br />

para volta<strong>do</strong> para o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Com isso, buscam<br />

aproximar a performance das pessoas às metas organizacionais<br />

visan<strong>do</strong> o alcance da rentabilida<strong>de</strong> da empresa.<br />

A operacionalização da meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada pela gestão<br />

estratégica para obter êxito <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar os <strong>de</strong>safios associa<strong>do</strong>s<br />

com seu <strong>de</strong>senvolvimento e instalação. Portanto, o <strong>de</strong>safio da<br />

competência requer participação; <strong>de</strong>senvolver medidas confiáveis<br />

e válidas; gerenciar feedback negativo; assegurar relação com os<br />

cargos; e utilizar a tecnologia para reduzir <strong>de</strong>spesas.<br />

Neste estu<strong>do</strong>, constatou-se que há uma zona <strong>de</strong> interseção<br />

que se confirma a inter-relação entre os conceitos da Gestão<br />

Estratégica <strong>de</strong> Pessoas com a Gestão por Competências.<br />

On<strong>de</strong> o Programa <strong>de</strong> Avaliação por Competências promove a<br />

auto-avaliação <strong>de</strong> conhecimento; incentiva os colabora<strong>do</strong>res a<br />

buscar o <strong>de</strong>senvolvimento contínuo; possibilita aos colabora<strong>do</strong>res<br />

um feedback <strong>de</strong> suas avaliações por parte <strong>do</strong>s gestores; e<br />

possibilita priorizar <strong>de</strong> forma simples as ações <strong>de</strong> capacitação <strong>do</strong>s<br />

colabora<strong>do</strong>res. Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um sistema <strong>de</strong> incentivos<br />

para compensar a remuneração e alinhar continuamente as<br />

competências funcionais com as estratégias da empresa.<br />

asPIRações estRatÉgICas e<br />

ComPetênCIas oRganIzaCIonaIs<br />

Hoje em dia fala-se muito <strong>de</strong> Intenção ou Aspiração Estratégica,<br />

ten<strong>do</strong> em vista a proposta atual ser mais flexível e adaptada<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

às gran<strong>de</strong>s transformações por que as empresas passam em<br />

curto espaço <strong>de</strong> tempo. Se a Aspiração Estratégica nos permite<br />

vislumbrar quem queremos ser e aon<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos chegar no<br />

futuro, a i<strong>de</strong>ntificação das Competências Organizacionais nos<br />

auxilia a <strong>de</strong>scobrir as capacida<strong>de</strong>s que temos ou que teremos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver na busca da competitivida<strong>de</strong>, já que essa<br />

competitivida<strong>de</strong> não se resume mais a comparar produtos e<br />

serviços.<br />

Uma das queixas que repetidamente ouvimos <strong>do</strong>s nossos clientes<br />

é: como po<strong>de</strong>mos implementar e acompanhar a evolução <strong>do</strong>s<br />

planos traça<strong>do</strong>s nas reuniões <strong>de</strong> Planejamento Estratégico, <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> que não se trate <strong>de</strong> mais um esforço realiza<strong>do</strong> apenas uma<br />

vez por ano e revisto no final <strong>do</strong> próximo quan<strong>do</strong> da elaboração<br />

<strong>do</strong> novo orçamento? E a questão: como sabemos que as<br />

Competências Organizacionais estão realmente sen<strong>do</strong> utilizadas<br />

e <strong>de</strong>senvolvidas?<br />

Uma das opções mais convincentes para respon<strong>de</strong>r a estas<br />

perguntas está no Sistema <strong>de</strong> Gestão Estratégica, também<br />

conheci<strong>do</strong> como Balanced Scorecard, proposto por Robert kaplan<br />

e David Norton em seu livro Estratégia em Ação.<br />

Por este sistema ser muitas das vezes confundi<strong>do</strong> ou simplesmente<br />

compreendi<strong>do</strong> como um conjunto <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res financeiros<br />

e não-financeiros. A primeira reação <strong>de</strong> muitos executivos é<br />

dizer: “Se esta é a proposta <strong>do</strong> Blanced Scorecard, nós já temos<br />

esses indica<strong>do</strong>res”. A questão não resi<strong>de</strong> em ter ou não ter os<br />

indica<strong>do</strong>res, e sim no uso que a empresa faz <strong>de</strong>les. E esse uso<br />

está liga<strong>do</strong> ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Performance que <strong>de</strong>ve ser estabeleci<strong>do</strong><br />

se queremos atingir a nossa Aspiração Estratégica.<br />

A formulação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo permite à empresa, no seu to<strong>do</strong>,<br />

visualizar o que se espera da interação entre as áreas, a relação<br />

causa-efeito entre as partes e a própria performance individual.<br />

Esta visualização permite à direção da empresa apresentar a<br />

estratégia <strong>de</strong> forma tangível a to<strong>do</strong>s os níveis da organização. Ao<br />

se falar das pessoas, pergunta-se: Com quem iremos caminhar<br />

em direção ao futuro? Quem irá aspirar conosco? O nosso famoso<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

“ativo mais importante”, o nosso “maior capital” normalmente fica<br />

<strong>de</strong> la<strong>do</strong> e não costuma ser integra<strong>do</strong> nos esforços estratégicos.<br />

Tanto a abordagem <strong>de</strong> Competências Essenciais proposta por<br />

Hamel e Prahalad, consultores e autores <strong>do</strong> livro “Competin<strong>do</strong><br />

pelo Futuro”, como o “Balanced Scorecard”, proposto por Kaplan<br />

e Norton, cita<strong>do</strong> por Nisembaum (2000), nos permitem integrar as<br />

ações ligadas a pessoas, <strong>de</strong> forma consistente ao nosso Plano<br />

<strong>de</strong> Aspiração Estratégica, e principalmente através <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

Performance e da i<strong>de</strong>ntificação das Competências Individuais,<br />

estabelecer que contribuições à empresa precisará <strong>do</strong>s seus<br />

colabora<strong>do</strong>res no futuro próximo assim como novas posições<br />

que <strong>de</strong>verão ser abertas. Isso retrata o alinhamento “indivíduo<br />

– organização”. On<strong>de</strong> as pessoas que conseguem assumir<br />

compromissos consigo mesmos tornam-se contribui<strong>do</strong>res mais<br />

eficazes, já que têm condições <strong>de</strong> alinhar o que <strong>de</strong>sejam com o<br />

que a organização precisa.<br />

Dentro da idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s planos <strong>de</strong> aspirações<br />

estratégicas foram apresenta<strong>do</strong>s, por Nisembaum (2000), cinco<br />

po<strong>de</strong>res necessários para vencer no futuro:<br />

Imaginação – sem ela, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar algo novo é<br />

restrita. A sua empresa e as pessoas têm <strong>de</strong> estar quinze<br />

minutos à frente das outras. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imaginar<br />

nos permite olhar para o futuro e analisar a capacida<strong>de</strong><br />

que nós, como empresa, temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar e influir na<br />

construção <strong>de</strong> cenários <strong>do</strong>s próximos anos.<br />

Voz – é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> manifestação<br />

das nossas idéias. “Se você po<strong>de</strong> sonhar e relatar o seu<br />

sonho, você po<strong>de</strong> realiza-lo”.<br />

Parceria – é a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma re<strong>de</strong>,<br />

tanto interna quanto externa, que nos permita ampliar<br />

conhecimento e as possibilida<strong>de</strong>s.<br />

Comprometimento – em épocas on<strong>de</strong> a “lealda<strong>de</strong>” à<br />

empresa é questionada, o que se propõe estabelecer é<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

um compromisso com alguma coisa que seja significativa<br />

para você.<br />

Contribuição – permite o intercâmbio entre as empresas<br />

e as pessoas, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a responsabilida<strong>de</strong> social <strong>de</strong><br />

ambos para com o meio.<br />

Para Nisembaum (2000), existem várias formas <strong>de</strong> se elaborar<br />

cenários que permitem às empresas:<br />

- Compreen<strong>de</strong>rem melhor os pontos <strong>de</strong> sua ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

valor e como a competitivida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser afetada pelos<br />

impulsiona<strong>do</strong>res escolhi<strong>do</strong>s.<br />

- Elaborarem mapas com os vários futuros <strong>de</strong>correntes<br />

das mudanças na atuação <strong>do</strong>s impulsiona<strong>do</strong>res.<br />

- Integrarem os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta análise para complementar<br />

sua visão e aspiração estratégica e fornecer elementos<br />

para a elaboração <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> ação.<br />

Observou- se ainda, que o Gerente possui um papel essencial na<br />

aprendizagem e i<strong>de</strong>ntificação das suas novas regras que transita<br />

com velocida<strong>de</strong>. muitas empresas investem em energia e esforço<br />

na <strong>de</strong>finição da visão, missão e valores fundamentais para criar<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Essa mudança <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo mental reflete-se em três<br />

aspectos: Na forma <strong>de</strong> pensar o mun<strong>do</strong>, “mudança imagem”; Na<br />

maneira como enten<strong>de</strong>mos os relacionamentos, “como respeitar<br />

e aceitar uns aos outros”; e Mudança na natureza <strong>do</strong>s nossos<br />

comprometimentos, “compromisso assumi<strong>do</strong> com quem nós<br />

queremos ser, seja como empresa seja como pessoas”.<br />

Nisembaum (2000) <strong>de</strong>stacou como principais competências<br />

organizacionais: as competências básicas – que são as<br />

capacida<strong>de</strong>s que a empresa precisa ter para trabalhar prérequisitos<br />

fundamentais para administrar com eficácia. Representa<br />

as condições necessárias, porém não suficientes, para que a<br />

empresa possa alcançar li<strong>de</strong>rança e diferenciação no merca<strong>do</strong>.<br />

Como exemplo, po<strong>de</strong>mos mencionar a gestão da qualida<strong>de</strong>,<br />

que já foi um diferencial competitivo e hoje passou a ser uma<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

139


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

exigência <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>; e as competências essenciais – que<br />

são consi<strong>de</strong>radas essenciais quan<strong>do</strong> preenchem os seguintes<br />

requisitos: tem valor percebi<strong>do</strong> pelos clientes – é a contribuição<br />

que a empresa trás aos benefícios que os clientes esperam <strong>de</strong> um<br />

produto ou serviço; contribui para diferenciação entre concorrentes<br />

– trabalhar na construção <strong>de</strong> competências organizacionais que<br />

terão forte contribuição para o sucesso da organização no futuro; e<br />

aumenta a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expansão – ampliação das capacida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>s produtos e serviços que já produzimos.<br />

De acor<strong>do</strong> com Fernan<strong>de</strong>s e Berton (2005) o balanced scorecard<br />

(BSC) é uma ferramenta que busca traduzir a visão da empresa<br />

em um conjunto coerente <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, como que<br />

estabelecen<strong>do</strong> o que se <strong>de</strong>ve fazer diariamente.<br />

O BSC explora os indica<strong>do</strong>res financeiros e inclui indica<strong>do</strong>res<br />

não-financeiros. Segun<strong>do</strong> Kaplan e Norton (1997), o BSC traduz<br />

a missão e a estratégia em objetivos e medidas, organizadas<br />

segun<strong>do</strong> quatro perspectivas diferentes: financeira, <strong>do</strong> cliente,<br />

<strong>do</strong>s processo internos e <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> e crescimento.<br />

Segun<strong>do</strong> kaplan (apud NISEmBAUm 2000), o BSC po<strong>de</strong><br />

ser utiliza<strong>do</strong> para: esclarecer e obter consenso em relação à<br />

estratégia; comunicar a estratégia a toda a empresa; alinhar metas<br />

<strong>de</strong>partamentais e pessoais à estratégia; associar os objetivos<br />

estratégicos com metas <strong>de</strong> longo prazo e orçamentos anuais;<br />

i<strong>de</strong>ntificar e alinhar iniciativas estratégicas; realizar revisões<br />

estratégicas periódicas e sistemáticas e obter feedback para<br />

aprofundar o conhecimento da estratégia e aperfeiçoá-la.<br />

Nisembaum (2000) afirma que o objetivo <strong>de</strong> qualquer sistema <strong>de</strong><br />

gestão <strong>de</strong> performance é o <strong>de</strong> motivar to<strong>do</strong>s os colabora<strong>do</strong>res a<br />

implementar os planos <strong>de</strong> negócios com sucesso, sen<strong>do</strong> o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> performance composto por: objetivos estratégicos nas quatro<br />

perspectivas: financeira, cliente, inovação/processos internos/pósvenda<br />

e aprendizagem/crescimento; metas e indica<strong>do</strong>res – tanto<br />

os <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s como os <strong>de</strong> avanço; principais relações <strong>de</strong> causaefeito<br />

entre esses indica<strong>do</strong>res; fatores internos (aprendizagem<br />

e ambiente/sistemas/processos) que impactam a performance;<br />

fatores externos que impactam a performance.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

140


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> performance <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com base no BSC<br />

reforça a gestão por projeto e permite estabelecer as relações<br />

entre áreas, <strong>de</strong>partamentos ou unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios por meio<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento <strong>de</strong> temas estratégicos,<br />

negociação <strong>do</strong> racional para alinhamento, fornecimento <strong>de</strong><br />

ferramentas <strong>de</strong> gestão, i<strong>de</strong>ntificação e promoção <strong>de</strong> sinergias,<br />

alocação <strong>de</strong> recursos e asseguramento da integrida<strong>de</strong> e da<br />

consistência.<br />

As competências individuais alinhadas aos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão<br />

estratégica tratam <strong>de</strong>: <strong>de</strong>screver a integração sinérgica <strong>de</strong><br />

conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s/comportamentos que<br />

produzem performance diferenciada, i<strong>de</strong>ntificar, com base nas<br />

competências essenciais e básicas, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> performance<br />

da organização, focar nos resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho que contribuam<br />

com a expectativa <strong>de</strong> alta performance em vez <strong>de</strong> apenas tarefas<br />

e/ou pessoas, indicar o que as pessoas <strong>de</strong>vem trazer ao papel<br />

para <strong>de</strong>sempenhá-lo no nível requeri<strong>do</strong> e utilizar indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho incluin<strong>do</strong> as quatro perspectivas: finanças, clientes,<br />

operação e aprendizagem, integran<strong>do</strong> gestão estratégica e gestão<br />

<strong>de</strong> performance.<br />

Segun<strong>do</strong> Nisembaum (2000), para que possam ser estabelecidas<br />

parcerias bem sucedidas entre o indivíduo e a organização falta<br />

um elemento na equação: o comprometimento: da organização<br />

com o indivíduo, <strong>do</strong> indivíduo com a organização e, principalmente,<br />

<strong>do</strong> indivíduo com sigo mesmo. Acredita-se portanto que, só assim,<br />

seja possível que empresas e pessoas evoluam.<br />

ConClusão<br />

Para alcançar os objetivos pretendi<strong>do</strong>s é necessário buscar a<br />

eficiência e um bom planejamento. Ouvir e compreen<strong>de</strong>r o que<br />

está sen<strong>do</strong> transmiti<strong>do</strong> é fundamental para se estar em harmonia<br />

com a natureza. A reflexão <strong>do</strong>s textos propostos neste trabalho<br />

trouxe além <strong>de</strong> informação e conhecimento, estímulo para colocá-<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

141


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

los em prática. muitas vezes sabemos on<strong>de</strong> mudar, no entanto a<br />

comodida<strong>de</strong> fala mais alto. Aproveitar os momentos <strong>de</strong> reflexão<br />

para encontrar ânimo e mudar, é um passo a mais a caminho da<br />

realização pessoal.<br />

Nossa performance não é baseada somente em habilida<strong>de</strong>.<br />

Sabemos isso por experiência própria. Em diferentes dias, mesmo<br />

que nossa habilida<strong>de</strong> não mu<strong>de</strong>, nossa performance po<strong>de</strong>rá variar<br />

<strong>de</strong> forma significativa. Essa diferença é causada basicamente pelo<br />

seu esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> espírito. Habilida<strong>de</strong> é importante mas temos que ser<br />

capazes <strong>de</strong> administrar as atitu<strong>de</strong>s em benefício da performance.<br />

O importante para se vencer na vida é estar entusiasma<strong>do</strong>,<br />

ter coragem para enfrentar os <strong>de</strong>safios, ser otimista, pró-ativo,<br />

ousa<strong>do</strong> e responsável. Um <strong>do</strong>s maiores <strong>de</strong>safios das empresas é<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s para enfrentar o futuro.<br />

E quais são os melhores instrumentos <strong>de</strong> gestão estratégica, que<br />

po<strong>de</strong>rão dar o suporte fundamental para os planos <strong>de</strong> ação no<br />

presente e no futuro? Os autores estuda<strong>do</strong>s nos mostram que não<br />

existe uma abordagem única ou exclusiva que atenda a todas as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse universo tão complexo que é uma empresa.<br />

Sua proposta é i<strong>de</strong>ntificar sistemas <strong>de</strong> gestão que permitam às<br />

organizações alocar e acompanhar a contribuição <strong>de</strong> cada área<br />

e <strong>de</strong> cada funcionário <strong>de</strong>ntro da organização, fazen<strong>do</strong> com que<br />

a estratégia seja um instrumento <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong> maior número<br />

possível <strong>de</strong> pessoas. Participar <strong>de</strong> forma ativa da gestação,<br />

implementação e a<strong>de</strong>quação das aspirações estratégicas cria<br />

condições para <strong>de</strong>senvolver as competências necessárias à<br />

empresa e aos indivíduos. Segun<strong>do</strong> Nisembaum (2000), este<br />

será um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res que, uma vez venci<strong>do</strong>,<br />

conduzirá to<strong>do</strong>s – li<strong>de</strong>res e colabora<strong>do</strong>res – a uma visão <strong>de</strong> futuro<br />

com motivação, soli<strong>de</strong>z e lucrativida<strong>de</strong>.<br />

Percebe-se, assim, que as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recursos humanos<br />

po<strong>de</strong>m ser integradas ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> competências da empresa e a<br />

gestão por competências, por sua vez, po<strong>de</strong> explorar a dimensão<br />

estratégica <strong>do</strong>s recursos humanos.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

142


ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

BERTON L. H., FERNANDES B. H. R. <strong>Administração</strong> estratégica:<br />

da competência empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>ra à avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. São<br />

Paulo: Saraiva, 2005.<br />

CLARET, martin. O Po<strong>de</strong>r da Palavra. São Paulo: martin Claret, 1995.<br />

COOPER, Robert & SAWAF, Ayman. Inteligência Emocional na<br />

Empresa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 1997.<br />

COVEY, Stephen R. Li<strong>de</strong>rança Baseada em Princípios. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Campus, 2002.<br />

__________. Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. São<br />

Paulo: Best Seller, 1999.<br />

kAPLAN, Robert S., NORTON, David P. A estratégia em ação: balanced<br />

scorecard. 24.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 1997.<br />

mUSSAk, Eugenio. Metacompetência: uma nova visão <strong>do</strong> trabalho e<br />

da realização pessoal. São Paulo: Gente, 2003.<br />

NISEmBAUm, Hugo. A Competência Essencial. São Paulo: Infinito,<br />

2000.<br />

PASCHOAL, José Wilson Armani. A Arte <strong>de</strong> Gerir Pessoas em<br />

Ambientes Criativos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2004.<br />

RUANO, Alessandra martinewski. Gestão por Competências: uma<br />

perspectiva para a consolidação da gestão estratégica <strong>de</strong> Recursos<br />

Humanos. São Paulo: ABRH-Nacional, 2003.<br />

TACHIZAWA. Planejamento Estratégico <strong>de</strong> Pessoal. São Paulo: Atlas,<br />

2001.<br />

TOFFLER, Alvin e Heidi. Crian<strong>do</strong> uma Nova Civilização: a política da<br />

terceira onda. São Paulo: Record, 1998.<br />

WERNECK, Hamilton. O Profissional <strong>do</strong> Século XXI. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Record, 2003.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 119-143, jun. 2011<br />

143


mensuran<strong>do</strong><br />

objetivos estratégicos<br />

organizacionais: a crítica à<br />

construção <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Balance Scorecard<br />

steven dutt ross, dr.<br />

breno <strong>de</strong> paula andra<strong>de</strong> cruz , M. sc.<br />

Resumo. Este artigo tem como objetivo analisar<br />

os indica<strong>do</strong>res que constituem um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho organizacional – o<br />

Balance Scorecard (BSC). Nesta perspectiva,<br />

o artigo aborda a questão da meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong><br />

escolha <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res que compõem esta<br />

ferramenta e evi<strong>de</strong>ncia que variáveis latentes<br />

não são consi<strong>de</strong>radas em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong><br />

variáveis lineares, ou seja, variáveis estratégicas<br />

como cultura organizacional, imagem <strong>de</strong> uma<br />

empresa na percepção <strong>de</strong> um consumi<strong>do</strong>r ou<br />

clima organizacional po<strong>de</strong>m ser esquecidas <strong>de</strong><br />

um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>sempenho em favor<br />

<strong>de</strong> variáveis lineares como lucro, gestão da<br />

informação ou resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> clientes. As duas<br />

críticas que o artigo propõe ao mo<strong>de</strong>lo BSC<br />

são: (i) a inter<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res<br />

na composição da análise <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

organizacional; e, (ii) a não utilização <strong>de</strong> variáveis<br />

não observáveis (variáveis latentes ou nãolineares).<br />

Para se chegar a estes resulta<strong>do</strong>s, são<br />

usa<strong>do</strong>s três mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

145


1. IntRodução<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

para exemplificar a utilização <strong>de</strong> variáveis<br />

lineares.<br />

PalavRas-Chaves: Balance Scorecard; Variáveis<br />

Latentes; Variáveis Lineares.<br />

abstRaCt. This paper has the i<strong>de</strong>a of un<strong>de</strong>rstanding<br />

the indicators that making the organizational<br />

performance evalution – Balance Scorecard (BSC)<br />

in Strategy’s field. In this way, this article questions<br />

the meto<strong>do</strong>logy’s choice of these indicators whose<br />

compose this theory and evi<strong>de</strong>nce that constructs<br />

<strong>do</strong> not participate of this evaluation process because<br />

there are anothers variables: linears variables (as<br />

profit and customers’ results). Thus, they are two<br />

problems in the BSC’s metho<strong>do</strong>logy: the first one<br />

is the indicators’ inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy between the<br />

variables and the second one is the use of only<br />

linears variables (the mo<strong>de</strong>l <strong>do</strong>es not use constructs<br />

as organizational culture, image or reputation).<br />

To arrive in these results, we have used three<br />

organizational of evaluation performance mo<strong>de</strong>l.<br />

Key-woRds: Balanced Scorecard; Constructs and<br />

Linears Variables.<br />

A competição acirrada entre organizações se tornou da<strong>do</strong> relevante<br />

em investigações científicas que procuraram compreen<strong>de</strong>r a<br />

dinâmica local e internacional <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> estratégia. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, o processo <strong>de</strong> estratégia e gestão das organizações<br />

evoluiu não somente para encontrar as melhores práticas, mas,<br />

também, para (re)avaliar sua eficiência. Especificamente, na área<br />

<strong>de</strong> estratégia, o mo<strong>de</strong>lo que controla operacionalmente e contribui<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

146


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

para que o foco estratégico (OLVE et al, 2001) seja manti<strong>do</strong> no curto<br />

e longo prazo é o Balanço Scored Card (BSC). Os indica<strong>do</strong>res são<br />

trata<strong>do</strong>s como instrumentos eficazes para a melhoria da gestão<br />

nas empresas (GALVãO, 2002). Entretanto, essa ferramenta po<strong>de</strong><br />

apresentar falhas ao permitir <strong>de</strong>pendência e utilização <strong>de</strong> variáveis<br />

não-observáveis na utilização <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo BSC.<br />

O objetivo <strong>de</strong> medir o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

uma empresa é buscar compreen<strong>de</strong>r sua eficiência, mediante<br />

as características <strong>do</strong> contexto interno e externo em que ela se<br />

insere, ten<strong>do</strong>, como objetivo final, constantes melhorias nas<br />

tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. O conjunto <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

é <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res. Rosa et al. (1995)<br />

consi<strong>de</strong>ram que os parâmetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho representam<br />

uma base <strong>de</strong> informações importante e necessária à gerência da<br />

competitivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sistema organizacional.<br />

Enquanto os indica<strong>do</strong>res tradicionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, em sua<br />

maioria, consi<strong>de</strong>ram seus esforços em indica<strong>do</strong>res financeiros,<br />

contábeis e <strong>de</strong> eficiência operacional (KIYAN, 2001), o BSC<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como uma tentativa <strong>de</strong> traduzir a missão e<br />

a estratégia <strong>de</strong> uma organização em medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho,<br />

organizadas segun<strong>do</strong> quatro dimensões diferentes – não somente<br />

a dimensão financeira. Assim, na proposta <strong>do</strong> BSC também são<br />

consi<strong>de</strong>radas as dimensões <strong>do</strong> cliente, <strong>do</strong>s processos internos e<br />

<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> (SERRA, 2005).<br />

De acor<strong>do</strong> com este último autor, a visão estratégica <strong>do</strong> BSC<br />

ocorre quan<strong>do</strong> se cria uma estrutura e uma linguagem para<br />

comunicar a missão e a estratégia da organização, sen<strong>do</strong> que,<br />

por meio <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> BSC, os funcionários são informa<strong>do</strong>s<br />

sobre os vetores <strong>do</strong> sucesso atual e futuro da organização.<br />

Assim, ao articular os objetivos da empresa com os vetores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho, espera-se canalizar as energias, as habilida<strong>de</strong>s<br />

e os conhecimentos específicos para alcançar as metas da<br />

organização.<br />

Se por um la<strong>do</strong> o BSC apresenta tais benefícios, por outro, a forma<br />

como são construí<strong>do</strong>s (agrega<strong>do</strong>s e pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s) não permite que<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

147


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

suas conclusões caracterizem um <strong>de</strong>sempenho satisfatório ou não<br />

para uma empresa. Isso se justifica pelo fato <strong>de</strong> que, em alguns<br />

casos, a omissão ou a inserção <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res semelhantes no<br />

processo <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho po<strong>de</strong>m distorcer o objetivo<br />

final <strong>do</strong> instrumento, que é servir como parâmetro <strong>de</strong> comparação<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Existe uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> em avaliar os fenômenos não<br />

observáveis como a estratégia ou as metas <strong>de</strong> longo prazo.<br />

Questões <strong>do</strong> tipo: ‘como os vários indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

se relacionam?’; ‘existe correlação entre os indica<strong>do</strong>res?’; ‘se<br />

essa correlação existir, po<strong>de</strong>-se medir o mesmo fenômeno<br />

duas vezes?’; ‘o que os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> performance <strong>do</strong> BSC<br />

<strong>de</strong>vem medir no curto prazo, a fim <strong>de</strong> obter êxito no longo<br />

prazo?; emergem <strong>de</strong> uma leitura e análise mais aprofundada da<br />

meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Balance Scorecard.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, tem-se como problema <strong>de</strong> pesquisa neste<br />

artigo: Quais os aspectos que influenciam na mensuração<br />

<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Balanced Scoredcard po<strong>de</strong>m influenciar<br />

o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho final <strong>de</strong> uma empresa? Assim,<br />

o objetivo geral <strong>de</strong>ste trabalho é verificar como as alterações<br />

<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Balanced Scoredcard po<strong>de</strong>m influenciar o<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho. Como objetivos específicos, preten<strong>de</strong>se:<br />

(a) apresentar os três mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> BSC; (b) apresentar a<br />

construção <strong>de</strong> alguns indica<strong>do</strong>res; e, (c) apresentar as limitações<br />

<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res.<br />

No que diz respeito aos aspectos meto<strong>do</strong>lógicos <strong>de</strong>ste trabalho,<br />

utilizou-se a perspectiva da pesquisa bibliográfica, necessária para<br />

questionar os indica<strong>do</strong>res que compõem o BSC. Nesta lógica da<br />

revisão bibliográfica, classifica-se tal pesquisa como exploratória,<br />

pois levanta insights sobre o tema aborda<strong>do</strong> e evi<strong>de</strong>ncia novas<br />

questões que surgem com a abordagem.<br />

Este primeiro item fez uma contextualização <strong>do</strong> tema e apresentou o<br />

problema da pesquisa e os objetivos geral e específicos. O próximo<br />

item apresenta as limitações na escolha <strong>do</strong>s pesos e a subjetivida<strong>de</strong><br />

encontrada no BSC. O terceiro item apresenta a crítica sobre o BSC.<br />

O quarto item apresenta as duas principais críticas ao mo<strong>de</strong>lo e<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

148


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

o quinto item apresenta diretrizes para utilização <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res.<br />

Por fim, o sexto item apresenta as consi<strong>de</strong>rações finais <strong>do</strong> trabalho,<br />

assim como implicações teóricas e gerenciais.<br />

2. as lImItações <strong>do</strong>s Pesos e<br />

a subjetIvIda<strong>de</strong> <strong>do</strong> bsC<br />

Lacunas meto<strong>do</strong>lógicas nos sistemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

foram i<strong>de</strong>ntificadas por alguns autores, o que evi<strong>de</strong>ncia uma<br />

preocupação crescente com a forma como os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho são construí<strong>do</strong>s, apresenta<strong>do</strong>s e efetiva<strong>do</strong>s nas<br />

empresas. Por exemplo, Armitage e Atkinson (1990, p. 94 apud<br />

kIYAN 2001, p. 33) relatam que existe um consenso na literatura<br />

<strong>de</strong> que medidas como as <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> total - que mensuram<br />

a eficiência da soma <strong>do</strong>s fatores <strong>de</strong> produção, fornecen<strong>do</strong><br />

informações agregadas - não funcionam na prática.<br />

De acor<strong>do</strong> com os autores, existe pouca discussão sobre os pesos<br />

e as dimensões consi<strong>de</strong>radas neste sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Os usuários enten<strong>de</strong>m que medidas <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> global<br />

são equívocas, irrelevantes e muito complexas para serem<br />

entendidas e terem o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong> em motivar o<br />

<strong>de</strong>sempenho. meyer (1994) apud kiyan (2001, p. 35) enten<strong>de</strong><br />

que se as mudanças organizacionais não forem acompanhadas<br />

por mudanças no sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, no futuro próximo<br />

esses sistemas serão ineficientes ou contraprodutivos.<br />

Existem vários tipos <strong>de</strong> sistemas para classificar os indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Os indica<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>m ser classifica<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com os critérios escolhi<strong>do</strong>s. A classificação mais comum<br />

é a divisão <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res segun<strong>do</strong> a área temática a que se<br />

referem. Olve et al (2001) mostram a existência <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res<br />

numa perspectiva financeira (lucro, rendimento e custos totais);<br />

os indica<strong>do</strong>res na perspectiva <strong>do</strong> cliente (relação custo cliente,<br />

participação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e índice <strong>de</strong> satisfação <strong>do</strong> cliente); os<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> processo (tempo médio <strong>de</strong> espera, capacida<strong>de</strong><br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

149


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

da Tecnologia <strong>de</strong> Informação (TI), percentual <strong>de</strong> entregas no<br />

prazo); os indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e da renovação<br />

(<strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> pesquisa e projetos, horas em pesquisas); e, os<br />

indica<strong>do</strong>res na perspectiva <strong>do</strong>s recursos humanos (índice<br />

<strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança). Existem classificações temáticas ainda mais<br />

específicas como os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> marketing, mas, neste<br />

trabalho, serão utilizadas as conceituadas por Olve et al.(2001).<br />

é intersubjetiva a preocupação com a utilização <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res<br />

para a <strong>de</strong>cisão estratégica nas organizações. Há uma dificulda<strong>de</strong><br />

inserida pelo méto<strong>do</strong> (1) <strong>de</strong> como os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong>vem ser<br />

agrega<strong>do</strong>s, (2) se esses indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong>vem ser agrega<strong>do</strong>s e<br />

(3) se eles realmente indicam os fenômenos a que se propõem.<br />

Segun<strong>do</strong> Carley (1985),<br />

(...) os indica<strong>do</strong>res são substitutos quantificáveis<br />

<strong>de</strong> outros fenômenos não-mensuráveis, mas po<strong>de</strong><br />

ser muito difícil estabelecer uma correlação entre<br />

o mensurável e o não-mensurável. Nesse ponto,<br />

po<strong>de</strong>r-se-ia indagar: por que não usar esses próprios<br />

indica<strong>do</strong>res ou julgamento subjetivos para formular<br />

os planos <strong>de</strong> ação? mas, por sua vez, a questão<br />

que surge é <strong>de</strong> quem serão os julgamentos usa<strong>do</strong>s<br />

e por quais méto<strong>do</strong>s serão agrega<strong>do</strong>s. E, embora<br />

tais julgamentos subjetivos possam contribuir para<br />

<strong>de</strong>stacar problemas e preocupações, eles raramente<br />

são precisos o bastante para serem usa<strong>do</strong>s na<br />

alocação <strong>de</strong> recursos escassos entre necessida<strong>de</strong>s<br />

competitivas entre si. (CARLEY, 1985, p. 14)<br />

Santos (2004), ao comparar um indica<strong>do</strong>r com um romance<br />

<strong>de</strong> Gustave Flaubert, mostra que a construção <strong>de</strong> um índice<br />

parte <strong>de</strong> algumas arbitrarieda<strong>de</strong>s, como por exemplo: (1) a <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cidir se o índice será unidimensional ou composto <strong>de</strong> várias<br />

dimensões; no último caso escolher quais as dimensões entrarão<br />

na composição <strong>do</strong> índice; (2) escolher quais as dimensões<br />

não entrarão na composição <strong>do</strong> índice; e, (3) dar pesos às<br />

dimensões selecionadas. To<strong>do</strong>s os passos são arbitrários pela<br />

razão <strong>de</strong> não existirem dimensões, pesos e índices naturais. Se<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

150


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

existisse consenso na construção <strong>de</strong>stes indica<strong>do</strong>res, to<strong>do</strong>s os<br />

estudiosos usariam os mesmos índices.<br />

Carley (1985) chega à mesma conclusão sobre o caráter<br />

normativo e a influência subjetiva <strong>do</strong> peso <strong>de</strong> cada variável.<br />

“A escolha <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res específicos que servem para<br />

dimensionar o problema reflete uma escolha <strong>do</strong> valor – muitas<br />

vezes, a <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r – quanto às dimensões que são<br />

importantes e as que não o são” (CARLEY, 1985, p. 103). Além<br />

disso, a alta correlação entre <strong>do</strong>is indica<strong>do</strong>res também po<strong>de</strong><br />

indicar duas vezes o mesmo fenômeno, dan<strong>do</strong> um peso maior<br />

– efeito não espera<strong>do</strong> e não controla<strong>do</strong> a uma dimensão. Por<br />

exemplo, Olve et al 2001 (p. 346), ao apresentarem um exemplo<br />

<strong>de</strong> medidas <strong>do</strong> BSC na perspectiva financeira, incorporam no<br />

mo<strong>de</strong>lo duas variáveis similares (Rendimento por Ativo Total<br />

e Rendimento por Emprega<strong>do</strong>s). Ou seja, utiliza uma mesma<br />

variável (Rendimento) que é pon<strong>de</strong>rada em relação a outras<br />

variáveis. Logo, existe certo grau <strong>de</strong>pendência linear entre as<br />

duas variáveis.<br />

Essas arbitrarieda<strong>de</strong>s apontadas são muito relevantes, pois<br />

indicam a subjetivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Assim, <strong>de</strong>ntro da perspectiva financeira, por exemplo, há uma<br />

forma quase i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre quais indica<strong>do</strong>res serão<br />

utiliza<strong>do</strong>s. Alguns usuários <strong>do</strong> Balance Scorecard optam por<br />

indica<strong>do</strong>res internos como lucro, rendimento e custos totais.<br />

Já outros usuários escolhem indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> como<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lucro, juros e o valor <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>. E, existem<br />

aqueles que a<strong>do</strong>tam uma perspectiva híbrida, utilizan<strong>do</strong><br />

indica<strong>do</strong>res internos e externos.<br />

De acor<strong>do</strong> com Ryten (2000) e Januzzi (2001), além da sua<br />

relevância para a estratégia da empresa, da confiabilida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s em sua construção, <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong> em<br />

representar o conceito indica<strong>do</strong>, um indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

<strong>de</strong>ve possuir um alto grau <strong>de</strong> cobertura, e, ao mesmo tempo,<br />

ser compreensível tanto para os gerentes quanto para os<br />

funcionários. Segun<strong>do</strong> os autores, não <strong>de</strong>ve ser rígi<strong>do</strong>, ao<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

contrário, <strong>de</strong>ve ser sensível a mudanças estratégicas, além <strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>sagregável em termos setoriais.<br />

mas todas as condições necessárias são difíceis <strong>de</strong> encontrar<br />

em um único indica<strong>do</strong>r. Dessa forma, o que geralmente ocorre é<br />

que o indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> maior valida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> não ser o mais confiável;<br />

nem sempre o mais confiável é o mais inteligível; ou o mais<br />

claro é o mais sensível. Há uma dificulda<strong>de</strong> em se encontrar<br />

um indica<strong>do</strong>r que reúna todas as qualida<strong>de</strong>s (JANUzzI, 2001).<br />

Desse mo<strong>do</strong>, ocorre um tra<strong>de</strong>-off entre os indica<strong>do</strong>res possíveis.<br />

Olve et al (2001,p. 277) também indagam sobre a medida <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> BSC. Sobre as combinações possíveis entre<br />

os indica<strong>do</strong>res, esses mesmos autores questionam como o<br />

sucesso <strong>de</strong> um BSC é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>; como atingir os níveis <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s<br />

em todas as medidas; ou se os tra<strong>de</strong>-off são permiti<strong>do</strong>s. Para os<br />

autores, um problema com o fato <strong>de</strong> recompensar a performance<br />

nos termos <strong>do</strong> Scorecard é que o equilíbrio dinâmico entre as<br />

diversas medidas diferentes po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> essas<br />

medidas são combinadas em um índice <strong>de</strong> benefício único.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> análise tem que ser <strong>de</strong>finida, pois a recompensa <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho será transformada em uma medida <strong>de</strong> apenas uma<br />

dimensão: dinheiro. Além disso, é difícil dispor <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res<br />

que gozem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os níveis <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>s, caben<strong>do</strong> ao analista<br />

avaliar os tra<strong>de</strong>-offs <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s diferentes indica<strong>do</strong>res. Tal<br />

operação <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res é uma tarefa <strong>de</strong>licada, pois<br />

não existe uma teoria formal que permita orientá-la com estrita<br />

objetivida<strong>de</strong> (OLVE et al, 2001, p. 277).<br />

é preciso garantir que existe, <strong>de</strong> fato, uma relação recíproca<br />

entre o conceito indica<strong>do</strong> e os indica<strong>do</strong>res propostos. Também<br />

é necessário certificar-se da confiabilida<strong>de</strong> para os valores<br />

calcula<strong>do</strong>s. Outra proprieda<strong>de</strong> importante é a garantia da<br />

transparência das <strong>de</strong>cisões tomadas em bases técnicas.<br />

Além disso, para um índice ser relevante, ele <strong>de</strong>ve ser o mais<br />

diferente possível <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais indica<strong>do</strong>res, ou seja, para não ser<br />

redundante, ele <strong>de</strong>ve ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais (RYTEN,<br />

2000; JANUzzI, 2001).<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

O próximo item <strong>de</strong>ste artigo apresenta os três mo<strong>de</strong>los <strong>do</strong> BSC<br />

mais utiliza<strong>do</strong>s: mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Malcom Baldrige, The European<br />

Quality Award (EFQm), e o Premio Nacional da Qualida<strong>de</strong><br />

(FPNQ). Inicialmente faz a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> cada mo<strong>de</strong>lo,<br />

apresentan<strong>do</strong> suas características principais para <strong>de</strong>pois<br />

analisá-los.<br />

3. a CRítICa a tRês mo<strong>de</strong>los utIlIza<strong>do</strong>s no<br />

balanCed sCoReCaRd<br />

Exploram-se a seguir alguns mo<strong>de</strong>los para a avaliação <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho. Não se preten<strong>de</strong> explorar to<strong>do</strong>s os mo<strong>de</strong>los<br />

disponíveis, mas discutir apenas os três principais: mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

Malcom Baldrige, The European Quality Award (EFQm), e o<br />

Premio Nacional da Qualida<strong>de</strong> (FPNQ).<br />

3.1. Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Malcom Baldrige<br />

De acor<strong>do</strong> com o Programa Nacional <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong> Baldrige<br />

(2004), o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> malcolm Baldrige (BNQP) é uma parceria<br />

público-privada para melhorar o <strong>de</strong>sempenho das organizações<br />

americanas. O BNQP tem como principal característica<br />

provi<strong>de</strong>nciar a promoção <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> das pessoas inseridas<br />

em diversas organizações e compartilhar práticas e princípios<br />

<strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> empresas que obtiveram sucesso.<br />

Assim, a função <strong>do</strong> programa é <strong>de</strong>senvolver e disseminar o<br />

critério para uma atuação excelente – que é a base para um<br />

feedfback das aplicações, contribuin<strong>do</strong> para a auto-avaliação da<br />

organização.<br />

Como se po<strong>de</strong> observar na Tabela 01, neste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, a Li<strong>de</strong>rança e os Resulta<strong>do</strong>s são<br />

as variáveis mais importantes, uma vez que esses indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho são pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por um valor maior <strong>do</strong> que os<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

outros – há uma avaliação <strong>de</strong>sigual na importância individual<br />

das variáveis. Além disso, não existe como criar um indica<strong>do</strong>r<br />

objetivo para mensurar a variável conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

e clientes, sen<strong>do</strong> necessário, portanto, fazer uso <strong>de</strong> uma<br />

mensuração <strong>de</strong> uma variável não observável diretamente.<br />

Tabela 01. Pontuação <strong>do</strong> Prêmio malcom Baldrige<br />

Critérios Malcom Baldrige Pontos %<br />

Li<strong>de</strong>rança 120 12,0%<br />

Li<strong>de</strong>rança Organizacional 80 8,0%<br />

Responsabilida<strong>de</strong> Pública e Cidadania 40 4,0%<br />

Planejamento Estratégico 85 8,5%<br />

Desenvolvimento da Estratégia 40 4,0%<br />

Des<strong>do</strong>bramento da Estratégia 45 4,5%<br />

Foco no Cliente e no Merca<strong>do</strong> 85 8,5%<br />

Conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e Clientes 40 4,0%<br />

Relacionamento com o Cliente e Satisfação 45 4,5%<br />

Informação e Análise 90 9,0%<br />

medição e Análise <strong>do</strong> Desempenho<br />

Organizacional<br />

50 5,0%<br />

Gerenciamento da Informação 40 4,0%<br />

Foco nos Recursos Humanos 85 8,5%<br />

Sistemas <strong>de</strong> Trabalho 35 3,5%<br />

Educação, Treinamento e Desenvolvimento <strong>do</strong>s<br />

Emprega<strong>do</strong>s<br />

25 2,5%<br />

Bem-estar e satisfação <strong>do</strong> Emprega<strong>do</strong> 25 2,5%<br />

Gerenciamento <strong>do</strong>s Processos 85 8,5%<br />

Processos <strong>de</strong> Produto e Serviços 45 4,5%<br />

Processos <strong>de</strong> Negócios 25 2,5%<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Critérios Malcom Baldrige Pontos %<br />

Processos <strong>de</strong> Suporte 15 1,5%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Negócios 450 45,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Clientes 125 12,5%<br />

Resulta<strong>do</strong>s Financeiros e <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> 125 12,5%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Recursos Humanos 80 8,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Efetivida<strong>de</strong> Organizacional 120 12,0%<br />

TOTAL 1000 100,0%<br />

Fonte: moreira (2002)<br />

Num primeiro momento, é perfeitamente racional pensar que<br />

o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong>va ser avalia<strong>do</strong> com base<br />

nos seus resulta<strong>do</strong>s finais. Entretanto, a proposta <strong>do</strong> BSC é<br />

justamente avaliar o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> uma empresa levan<strong>do</strong> em<br />

consi<strong>de</strong>ração não somente seus resulta<strong>do</strong>s financeiros. Porém,<br />

essa forma <strong>de</strong> avaliar to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho não leva<br />

em consi<strong>de</strong>ração as diversas formas <strong>de</strong> se mensurar a avaliação<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> uma organização. A seguir, são apresenta<strong>do</strong>s<br />

outros <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los que auxiliam no entendimento <strong>de</strong> que cada<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho é construí<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> critérios <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> forma arbitrária.<br />

3.2. The European Quality Award (EFQM)<br />

O European Quality Award Mo<strong>de</strong>l - EFQm surgiu no início <strong>de</strong> 1992<br />

como uma estrutura (mo<strong>de</strong>lo) para qualificar as organizações<br />

a receberem o prêmio <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> européia. Esse méto<strong>do</strong><br />

é agora o mais usa<strong>do</strong> nas organizações européias e está se<br />

tornan<strong>do</strong> a base para a maioria <strong>do</strong>s prêmios regionais e nacionais<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s países europeus. Neste senti<strong>do</strong>, o EFQm é<br />

uma ferramenta prática que po<strong>de</strong> ser utilizada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

organização com vistas à busca <strong>de</strong> melhorias constantes no<br />

processo <strong>de</strong> gerenciamento das empresas.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

O EFQm é um mo<strong>de</strong>lo não prescritivo basea<strong>do</strong> em nove critérios<br />

(Tabela 02). Cinco <strong>de</strong>sses critérios são enablers e quatro são <strong>de</strong><br />

resulta<strong>do</strong>s. O critério enablers leva em conta aspectos internos<br />

da gestão que direcionam as ações da organização rumo a um<br />

objetivo específico. O critério <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s é responsável pelas<br />

saídas da organização. Resumin<strong>do</strong>, os resulta<strong>do</strong>s são causa<strong>do</strong>s<br />

pelos aspectos internos da organização e estas características são<br />

melhoradas (retro-alimentadas) pelas respostas <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.<br />

O EFQm reconhece que existem muitas aproximações para<br />

uma saída excelente e sustentável em to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho.<br />

Da mesma maneira que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Malcom Baldrige, este<br />

mo<strong>de</strong>lo é carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s na pon<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Conforme a Tabela 02, po<strong>de</strong>mse<br />

observar as diferenças entre os critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Balanced Scorecard a partir da calibração <strong>do</strong>s<br />

indica<strong>do</strong>res. Para verificar empiricamente essas subjetivida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>staca-se o indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança na composição <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

Enquanto que no mo<strong>de</strong>lo Malcom Baldrige a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>tém<br />

12% <strong>do</strong> total, no mo<strong>de</strong>lo EFQm esta mesma variável representa<br />

10% da pontuação. Além disso, a li<strong>de</strong>rança é conceituada <strong>de</strong><br />

forma completamente diferente nos <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los.<br />

Tabela 02. Pontuação <strong>do</strong> Prêmio EFQm<br />

Critérios EFQM %<br />

Li<strong>de</strong>rança 10,0%<br />

Políticas e Estratégias 8,0%<br />

Pessoas 9,0%<br />

Parcerias e Recursos 9,0%<br />

Processos 14,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Clientes 20,0%<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Critérios EFQM %<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Pessoas 9,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s da Socieda<strong>de</strong> 6,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s-Chave <strong>de</strong> Desempenho 15,0%<br />

TOTAL 100,0%<br />

Fonte: moreira (2002)<br />

Enquanto o mo<strong>de</strong>lo Malcom Baldrige tem um foco na li<strong>de</strong>rança<br />

organizacional e na responsabilida<strong>de</strong> pública e cidadania, o<br />

mo<strong>de</strong>lo EFQm tem um foco no <strong>de</strong>senvolvimento da missão, visão,<br />

valores, envolvimento com clientes e motivação (mOREIRA,<br />

2002). Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições diferentes <strong>de</strong> um mesmo indica<strong>do</strong>r,<br />

a li<strong>de</strong>rança tem um peso <strong>de</strong>sigual e representa dimensões<br />

diferentes <strong>do</strong> BSC, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> principalmente <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo que<br />

a empresa a<strong>do</strong>tar.<br />

Aqui foram compara<strong>do</strong>s alguns indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sempenho europeu e americano. A próxima análise é realizada<br />

no contexto nacional e, para tanto, utiliza-se o Prêmio Nacional<br />

da Qualida<strong>de</strong> (PNQ) aplica<strong>do</strong> nas organizações brasileiras,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> mensurar seu <strong>de</strong>sempenho. Isso não quer<br />

dizer que os mo<strong>de</strong>los anteriores não possam ser pratica<strong>do</strong>s no<br />

Brasil. A vantagem <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong> PNQ é que este possui suas<br />

<strong>de</strong>vidas contextualizações.<br />

3.3. Prêmio Nacional da Qualida<strong>de</strong> (PNQ)<br />

Os Critérios <strong>de</strong> Excelência da FNQ - Fundação Nacional da<br />

Qualida<strong>de</strong> constituem um mo<strong>de</strong>lo sistêmico da gestão a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong><br />

por inúmeras organizações. A incorporação <strong>do</strong>s fundamentos da<br />

excelência às práticas da organização <strong>de</strong> maneira continuada e<br />

em consonância com seu perfil e estratégias é enfatizada por<br />

esse mo<strong>de</strong>lo.<br />

O Brasil, a partir <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Excelência da Gestão da FNQ,<br />

tem si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s motores <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> fomento à excelência<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

da gestão, ten<strong>do</strong> em vista o estágio alcança<strong>do</strong> pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

avaliação utiliza<strong>do</strong> no País. O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Excelência da Gestão é<br />

concebi<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como base os fundamentos da excelência, sen<strong>do</strong><br />

constituí<strong>do</strong> por oito critérios: Li<strong>de</strong>rança; Estratégias e Planos;<br />

Clientes; Socieda<strong>de</strong>; Informações e Conhecimento; Pessoas;<br />

Processos; e Resulta<strong>do</strong>s (FNQ, 2009).<br />

No mo<strong>de</strong>lo, cada um <strong>do</strong>s critérios <strong>de</strong> excelência é <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento<br />

<strong>de</strong> um fundamento. Por exemplo, o critério Li<strong>de</strong>rança é<br />

expressão da essência <strong>do</strong> fundamento Li<strong>de</strong>rança e Constância<br />

<strong>de</strong> Propósitos; o critério Estratégias e Planos é expressão <strong>do</strong><br />

fundamento Visão <strong>de</strong> Futuro. Os fundamentos Visão Sistêmica,<br />

Aprendiza<strong>do</strong> Organizacional, Proativida<strong>de</strong> e Inovação referem-se<br />

ao <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo e são <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s em<br />

fatores <strong>de</strong> pontuação.<br />

Na tabela 03, novamente po<strong>de</strong>mos observar as diferenças entre<br />

os critérios <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração <strong>do</strong> BSC. No Prêmio Nacional da<br />

Qualida<strong>de</strong>, a proporção <strong>do</strong> total referente à li<strong>de</strong>rança é <strong>de</strong> 9%.<br />

Como apresenta<strong>do</strong> anteriormente no mo<strong>de</strong>lo Malcom Baldrige,<br />

a li<strong>de</strong>rança correspondia a 12% <strong>do</strong> total, e, no mo<strong>de</strong>lo EFQm,<br />

representa 10%. Dessa forma, no BSC, a li<strong>de</strong>rança representa<br />

algo entre 9% e 12% <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>. Além disso, a li<strong>de</strong>rança po<strong>de</strong><br />

ser medida por diferentes indica<strong>do</strong>res. Assim, a estratégia vista<br />

pelo foco <strong>do</strong> BSC <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários fatores: das dimensões<br />

consi<strong>de</strong>radas, <strong>do</strong>s pesos atribuí<strong>do</strong>s a cada dimensão <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

utiliza<strong>do</strong> e da métrica <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho utilizada. Esses fatores<br />

po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os mo<strong>de</strong>los estuda<strong>do</strong>s neste trabalho,<br />

e, com essa variação, existe a possibilida<strong>de</strong> da influência <strong>de</strong>sses<br />

fatores subjetivos na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> mudar ou não <strong>de</strong> estratégia.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

158


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Tabela 03. Pontuação <strong>do</strong> Prêmio Nacional da Qualida<strong>de</strong><br />

Critérios PNQ Pontos %<br />

Li<strong>de</strong>rança 90 9,0%<br />

Sistema <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança 30 3,0%<br />

Cultura da Excelência 30 3,0%<br />

Análise Crítica <strong>do</strong> Desempenho Global 30 3,0%<br />

Estratégias e Planos 90 9,0%<br />

Formulação das Estratégias 30 3,0%<br />

Des<strong>do</strong>bramento da Estratégia 30 3,0%<br />

Planejamento da medição <strong>do</strong> Desempenho 30 3,0%<br />

Foco no Cliente e no Merca<strong>do</strong> 90 9,0%<br />

Imagem e Conhecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> 30 3,0%<br />

Relacionamento com os Clientes 30 3,0%<br />

Interação com a Socieda<strong>de</strong> 30 3,0%<br />

Informação e Conhecimento 90 9,0%<br />

Gestão das Informações da Organização 30 3,0%<br />

Gestão das Informações Comparativas 30 3,0%<br />

Gestão <strong>do</strong> Capital Intelectual 30 3,0%<br />

Pessoas 90 9,0%<br />

Sistemas <strong>de</strong> Trabalho 30 3,0%<br />

Capacitação e Desenvolvimento 30 3,0%<br />

Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vida 30 3,0%<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Critérios PNQ Pontos %<br />

Processos 90 9,0%<br />

Gestão <strong>de</strong> Processos Relativos ao Produto 30 3,0%<br />

Gestão <strong>de</strong> Processos <strong>de</strong> Apoio 20 2,0%<br />

Gestão <strong>de</strong> Processos Relativos aos<br />

Fornece<strong>do</strong>res<br />

20 2,0%<br />

Gestão Financeira 20 2,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s 460 46,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Clientes e merca<strong>do</strong> 100 10,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s Financeiros 100 10,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s Relativos as Pessoas 60 6,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s Relativos aos Fornece<strong>do</strong>res 40 4,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Processos <strong>de</strong> Produtos 60 6,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s Relativos à Socieda<strong>de</strong> 40 4,0%<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Processos <strong>de</strong> Apoio 60 6,0%<br />

TOTAL 1000 100,0%<br />

Fonte: moreira (2002)<br />

4. CRítICas meto<strong>do</strong>lógICas ao Balanced Scorecard<br />

Uma das contribuições <strong>de</strong>ste artigo é justamente analisar<br />

algumas das limitações apresentadas pelo BSC, no que diz<br />

respeito à construção <strong>do</strong>s seus indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

organizacional alinha<strong>do</strong>s à estratégia. Assim, <strong>de</strong>staca-se<br />

que duas situações <strong>de</strong>vem ser repensadas na construção <strong>do</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo. A primeira <strong>de</strong>las é a <strong>de</strong>pendência entre os indica<strong>do</strong>res<br />

estratégicos, ou seja, um indica<strong>do</strong>r não <strong>de</strong>ve participar<br />

diretamente na construção <strong>de</strong> outro indica<strong>do</strong>r. E, a segunda<br />

limitação é que o mo<strong>de</strong>lo não observa objetivos estratégicos<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

160


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

não-observáveis, como, por exemplo, a cultura organizacional<br />

ou o grau <strong>de</strong> gestão social.<br />

4.1. Dependência entre os<br />

indica<strong>do</strong>res estratégicos <strong>do</strong> BSC<br />

O BSC <strong>de</strong>ve ter indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes uns <strong>do</strong>s<br />

outros. Ao utilizar indica<strong>do</strong>res correlaciona<strong>do</strong>s para mensuração<br />

<strong>de</strong> um objetivo estratégico, po<strong>de</strong>-se ter uma redundância <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res estratégicos. Se os indica<strong>do</strong>res forem pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s,<br />

como vimos nos três mo<strong>de</strong>los apresenta<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>mos ter uma<br />

superestimação <strong>de</strong> alguma dimensão <strong>do</strong> BSC. Por exemplo, a<br />

medida <strong>do</strong> BSC na perspectiva financeira incorpora no mo<strong>de</strong>lo<br />

duas variáveis similares (Rendimento por Ativo Total e Rendimento<br />

por Emprega<strong>do</strong>s). Ou seja, utiliza-se uma mesma variável<br />

(Rendimento) que é pon<strong>de</strong>rada em relação a outras variáveis.<br />

Dessa forma, existe um grau <strong>de</strong>pendência entre as variáveis e a<br />

pon<strong>de</strong>ração po<strong>de</strong>rá enviesar a mensuração <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho.<br />

4.2. Os objetivos estratégicos como<br />

variáveis não observáveis<br />

O BSC <strong>de</strong>ve ter indica<strong>do</strong>res que represente diretamente o<br />

objetivo estratégico. Quan<strong>do</strong> o objetivo estratégico não é<br />

observável diretamente, po<strong>de</strong>-se ter um distanciamento entre o<br />

objetivo estratégico e a sua mensuração. Em outras palavras,<br />

os indica<strong>do</strong>res estratégicos po<strong>de</strong>m não medir efetivamente<br />

o objetivo estratégico. Por exemplo, o Prêmio Nacional da<br />

Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine como critério a cultura da excelência. Todavia,<br />

cultura não é observável diretamente.<br />

Como medir a cultura? mesmo que se esteja medin<strong>do</strong>, esse<br />

indica<strong>do</strong>r tem qualida<strong>de</strong> ou representativida<strong>de</strong>? Os indica<strong>do</strong>res<br />

estratégicos <strong>do</strong> BSC precisam <strong>de</strong> estatísticas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> ajuste semelhantes ao alpha <strong>de</strong> Cronbach (α) que indica a<br />

fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um constructo latente.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

161


5. dIRetRIzes PaRa a uutIlIzação <strong>de</strong><br />

IndICa<strong>do</strong>Res <strong>de</strong> <strong>de</strong>semPenho.<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Os sistemas <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>m dispor <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong><br />

coleta <strong>de</strong> informação mais específica, por meio <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong><br />

campo <strong>de</strong> natureza qualitativa ou quantitativa, necessárias ao<br />

entendimento e correção <strong>do</strong>s <strong>de</strong>svios e falhas eventualmente<br />

<strong>de</strong>tectadas, ou necessárias para po<strong>de</strong>r captar efeitos e<br />

externalida<strong>de</strong>s potencialmente geradas pelos projetos.<br />

A natureza mais macro, meso ou micro <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolhas meto<strong>do</strong>lógicas não triviais.<br />

Como aponta Vaz (2009), o sistema tem características diferentes<br />

em função <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões quanto ao que <strong>de</strong>ve ser monitora<strong>do</strong>, ao<br />

tipo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> organizacional acompanhada, às fontes <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />

usadas, etc. O que é evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> aqui é que não se <strong>de</strong>ve pensar<br />

em um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> BSC que não seja adapta<strong>do</strong> ao contexto da<br />

empresa, <strong>do</strong> negócio ou <strong>do</strong>s stakehol<strong>de</strong>rs envolvi<strong>do</strong>s direta ou<br />

indiretamente com a empresa. O quadro 01 suscita questões que<br />

emergem na construção <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res no BSC.<br />

Quadro 01. Decisões meto<strong>do</strong>lógicas e operacionais envolvidas<br />

na especificação <strong>de</strong> um Sistema <strong>de</strong> Indica<strong>do</strong>res<br />

• O que <strong>de</strong>ve ser monitora<strong>do</strong>? Execução orçamentária, processos e<br />

ativida<strong>de</strong>s e/ou resulta<strong>do</strong>s?<br />

• Qual a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> monitoramento? Unida<strong>de</strong>s organizacionais (quem<br />

faz)? Programas (o que se faz)? Projetos (o que é mais prioritário)?<br />

• Qual o escopo <strong>do</strong> monitoramento? Gerencial ou Analítico?<br />

• Quais as fontes e a periodicida<strong>de</strong> das informações?<br />

• Como se divi<strong>de</strong>m as responsabilida<strong>de</strong>s para sua manutenção periódica?<br />

Qual o papel das unida<strong>de</strong>s organizacionais temáticas e da área <strong>de</strong><br />

informática?<br />

• Qual o nível <strong>de</strong> centralização e <strong>de</strong> acesso? Restrito, seletivo ou aberto<br />

ao público?<br />

• Qual o nível <strong>de</strong> articulação <strong>do</strong> sistema às rotinas <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão?<br />

Fonte: Elaboração <strong>do</strong>s autores<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

162


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Quaisquer que sejam as escolhas, vale ressaltar que um bom<br />

sistema <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res não é necessariamente composto <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação, mas sim um sistema em que a<br />

informação foi selecionada <strong>de</strong> diferentes fontes e está organizada<br />

<strong>de</strong> forma sintetizada e mais a<strong>de</strong>quada ao uso analítico pelos<br />

diferentes campos <strong>de</strong> uma organização.<br />

É preciso encontrar um ponto <strong>de</strong> equilíbrio entre o “caos<br />

informacional”, potencialmente gera<strong>do</strong> pela estruturação <strong>de</strong><br />

sistemas <strong>de</strong> monitoramento construí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> baixo para cima (em<br />

que participam inicialmente técnicos e gestores da base e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> níveis táticos e mais estratégicos), e a pobreza analítica das<br />

propostas <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> cima para baixo.<br />

Um sistema <strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> monitoramento não é um<br />

sistema <strong>de</strong> gestão operacional <strong>de</strong> um projeto, que provê acesso<br />

aos incontáveis registros diários e individuais <strong>de</strong> operação<br />

<strong>de</strong> convênios, prestação <strong>de</strong> serviços, recursos transferi<strong>do</strong>s,<br />

projetos e ativida<strong>de</strong>s concluídas. Um sistema <strong>de</strong> monitoramento<br />

vale-se <strong>do</strong>(s) sistema(s) <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong>s programas para buscar<br />

informações, integrá-las segun<strong>do</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> referência comum,<br />

sintetizá-las em indica<strong>do</strong>res e conferir-lhes significa<strong>do</strong> analítico.<br />

Trata-se <strong>de</strong> “dispor <strong>de</strong> uma fotografia da floresta, não <strong>de</strong> cada<br />

árvore lá plantada”.<br />

6. ConsI<strong>de</strong>Rações FInaIs<br />

O planejamento estratégico é relevante e necessário para a<br />

sobrevivência e <strong>de</strong>staque das organizações no atual cenário<br />

competitivo nacional e internacional. Enten<strong>de</strong>r e avaliar os<br />

processos internos permite à organização maior controle <strong>de</strong> suas<br />

ações. Nesse senti<strong>do</strong>, a proposta <strong>do</strong> BSC é permitir mensurar<br />

e avaliar o <strong>de</strong>sempenho das empresas. Entretanto, conforme<br />

apresenta<strong>do</strong> anteriormente, os índices não apresentam precisão,<br />

pois po<strong>de</strong>m estar enviesa<strong>do</strong>s ou não mesurar efetivamente o<br />

objetivo estratégico <strong>do</strong> BSC.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

163


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

O modismo na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> ferramentas ‘excelentes’ no processo<br />

<strong>de</strong> gerenciamento das empresas ainda está presente na gestão<br />

<strong>de</strong> muitas empresas. Talvez essa característica seja <strong>de</strong>rivada<br />

<strong>do</strong> pragmatismo na área <strong>de</strong> <strong>Administração</strong>. Assim, embora<br />

exista uma gran<strong>de</strong> preocupação das empresas na elaboração<br />

<strong>de</strong> indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho e na função <strong>de</strong>sses indica<strong>do</strong>res,<br />

existe pouca discussão sobre o que esses indica<strong>do</strong>res me<strong>de</strong>m e<br />

qual o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses indica<strong>do</strong>res para o BSC.<br />

Os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> BSC são construí<strong>do</strong>s com<br />

um alto grau <strong>de</strong> arbitrarieda<strong>de</strong> e subjetivida<strong>de</strong>, e, muitas vezes,<br />

a <strong>de</strong>cisão baseada nesses indica<strong>do</strong>res po<strong>de</strong> ser enviesada, pois<br />

os indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho são os principais responsáveis<br />

pela condução das <strong>de</strong>cisões estratégicas.<br />

Apesar <strong>de</strong> os índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho possuir a vantagem <strong>de</strong><br />

rápida comunicação, isso não ocorre sem a perda da objetivida<strong>de</strong><br />

da análise <strong>do</strong> fenômeno que se quer observar. Outra perda<br />

<strong>de</strong>riva da negligência das diferenças e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s internas<br />

das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> medidas. Além disso, existem os juízos <strong>de</strong> valor<br />

e escolhas arbitrárias <strong>do</strong>s pesos <strong>de</strong> cada medida. Entretanto,<br />

dada a força da mensagem que comunicam, índices, ainda que<br />

imperfeitos, comunicam as informações e necessida<strong>de</strong>s das<br />

estratégias formuladas (BRAGA et al, 2003).<br />

Este artigo apresenta implicações teóricas e práticas. As <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m teórica estão relacionadas à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um critério<br />

harmonioso e consensual na <strong>de</strong>finição das dimensões e <strong>do</strong>s pesos<br />

<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Dessa forma, é necessário (re)<br />

discutir os parâmetros utiliza<strong>do</strong>s na construção <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, <strong>de</strong> forma que haja uma convergência <strong>do</strong>s pesos<br />

e medidas para um mo<strong>de</strong>lo consistente teoricamente, como<br />

é o caso <strong>do</strong> índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH), que é<br />

universalmente aceito com suas três dimensões e com pesos<br />

iguais.<br />

As implicações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m gerenciais estão relacionadas ao<br />

processo estratégico <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão por meio da utilização<br />

<strong>do</strong> BSC. Logo, a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão baseada nesta ferramenta<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

164


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

<strong>de</strong>ve levar em consi<strong>de</strong>ração as possíveis subjetivida<strong>de</strong>s<br />

existentes. O resulta<strong>do</strong> final <strong>do</strong> BSC po<strong>de</strong> não representar a<br />

realida<strong>de</strong> da empresa, pois a pon<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res po<strong>de</strong><br />

mostrar um resulta<strong>do</strong> diferente <strong>do</strong> real, corroboran<strong>do</strong> para aquilo<br />

que Carley (1985, p. 14) consi<strong>de</strong>ra que os indica<strong>do</strong>res “são<br />

substitutos quantificáveis <strong>de</strong> outros fenômenos não-mensuráveis”.<br />

Quanto maior a distância entre os resulta<strong>do</strong>s quantificáveis <strong>do</strong><br />

BSC e a realida<strong>de</strong> da empresa, maior será a inviabilida<strong>de</strong> da<br />

utilização <strong>do</strong> BSC na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da empresa. Entretanto,<br />

não existe forma <strong>de</strong> avaliar essa distância.<br />

ReFeRênCIas bIblIogRáFICas<br />

BRAGA, Tânia moreira; FREITAS, Ana Paula; DUARTE, Gabriela;<br />

SOUSA, Júlio. Índices <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> municipal: o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />

mensurar. Texto para discussão n. 225. Belo Horizonte: UFmG/<br />

Ce<strong>de</strong>plar, 2003.<br />

CARLEY, michael Indica<strong>do</strong>res sociais: teoria e prática Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

zahar, 1985.<br />

GALVãO, L. L. Medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho organizacional em<br />

organizações públicas brasileiras IN: VII Congreso Internacional<br />

<strong>de</strong>l CLAD sobre la Reforma <strong>de</strong>l Esta<strong>do</strong> y <strong>de</strong> la Administración Pública,<br />

Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002.<br />

JANNUzzI, Paulo. martinho. Repensan<strong>do</strong> a prática <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

indica<strong>do</strong>res sociais na formulação e avaliação <strong>de</strong> políticas<br />

públicas municipais. In: Encontro Nacional da ANPAD, 25., 2001,<br />

Campinas. Anais. Campinas: ANPAD, 2001.<br />

kIYAN, F.m. Proposta para Desenvolvimento <strong>de</strong> Indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

Desempenho como Suporte Estratégico. São Carlos, 2001.<br />

Dissertação Escola Engenharia <strong>de</strong> São Carlos, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo.mimeo. 108f.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

165


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

mOREIRA, Paulo Fernan<strong>de</strong>s Pestana. Indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

e sua medição: contribuições <strong>do</strong> Balanced scorecard 2002<br />

Disssertação EAESP mimeo. 199f.<br />

OLVE, Nils-Göran, ROY, Jan, WETTER, Magnus Condutores da<br />

Performace: Um guia Prático para o uso <strong>do</strong> “Balanced Scorecard”<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Qualitymark Ed., 2001.<br />

RYTEN, Jacob. The Human Development In<strong>de</strong>x and Beyond: Which<br />

are the prerequisites for a consistent <strong>de</strong>sigh of Development<br />

indicators – Should there be a human <strong>de</strong>velopment in<strong>de</strong>x? In:<br />

Statistics, Development and Human Rights montreux, 2000.<br />

ROSA, E. B, PAmPLONA, E. O, ALmEIDA, D. A. Parâmetros <strong>de</strong><br />

Desempenho e a Competitivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Sistemas <strong>de</strong> Manufatura.<br />

xV Encontro Nacional <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Produção e First International<br />

Congress of Industrial Engineering, vol. I, p. 521. São Carlos - SP:<br />

Setembro <strong>de</strong> 1995. Disponível em: http://www.iem.efei.br/edson/<br />

<strong>do</strong>wnload/Artparam.<strong>do</strong>c Acessa<strong>do</strong> em 01/02/2006.<br />

SANTOS, Wan<strong>de</strong>rley Guilherme Censos, Cálculos, índices e Gustave<br />

Flaubert In: Jornal <strong>do</strong> Brasil 04/12/2004.<br />

SERRA, Laércio. Artigo: Desmistifican<strong>do</strong> o Balanced Scorecard<br />

(BSC). Disponível em www.itcom.com.br/pdf/030605.pdf. Acessa<strong>do</strong><br />

em 15/7/2005.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 145-166, jun. 2011<br />

166


Gestão Estratégica em<br />

Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

alessandro Menezes paiva, M. sc.<br />

Resumo. Este artigo tem o objetivo <strong>de</strong> explicitar a<br />

importância da gestão estratégica nas organizações,<br />

<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> algumas <strong>de</strong> suas ferramentas, e<br />

<strong>de</strong> apresentar como as organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>riam se apropriar <strong>de</strong>sses recursos no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas estratégias. Por meio<br />

<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da pesquisa bibliográfica, foram<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s os atributos necessários e os principais<br />

fatores organizacionais a serem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s em<br />

uma análise <strong>de</strong> gestão estratégica em instituições<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Parte-se <strong>do</strong> pressuposto <strong>de</strong> que,<br />

para serem efetivas, as mudanças <strong>de</strong>vem estar<br />

alinhadas à estratégia <strong>de</strong> negócios da organização,<br />

analisan<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong>s os elementos <strong>do</strong> ambiente<br />

interno e externo.<br />

abstRaCt. This article aims to explain the importance<br />

of strategic management in organizations<br />

highlighting some of its tools as well as posing<br />

health organizations could take possession of<br />

such i<strong>de</strong>as in <strong>de</strong>veloping their strategies. By the<br />

results of the research literature have i<strong>de</strong>ntified<br />

the required attributes and the main organizational<br />

factors to be consi<strong>de</strong>red in an analysis of strategic<br />

management in health institutions. It starts from the<br />

assumption that to be effective, the changes should<br />

be aligned with the organization’s business strategy<br />

167


IntRodução<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

by analyzing all elements of internal and external<br />

environment.<br />

As mudanças no cenário socioeconômico e ambiental impõem<br />

novas competências básicas e habilida<strong>de</strong>s para os trabalha<strong>do</strong>res<br />

da economia <strong>do</strong> conhecimento, sen<strong>do</strong> que as mais significativas<br />

consi<strong>de</strong>radas por Senge (2002) são: apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r,<br />

comunicação e colaboração, raciocínio criativo e resolução <strong>de</strong><br />

problemas, conhecimento tecnológico, conhecimento <strong>de</strong> negócios<br />

globais, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e autogerenciamento da<br />

carreira, formar e manter re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamentos, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Ao analisar o panorama mundial e as previsões <strong>de</strong> economistas,<br />

historia<strong>do</strong>res e cientistas políticos, po<strong>de</strong>m-se i<strong>de</strong>ntificar, segun<strong>do</strong><br />

Drucker (1999), as seguintes megatendências globais, para a<br />

próxima década: revolução digital, com avanço vertiginoso e<br />

continua<strong>do</strong> das tecnologias da informação e <strong>de</strong> comunicações,<br />

em ambiente <strong>de</strong> constantes inovações tecnológicas; globalização<br />

<strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s, com a eliminação <strong>de</strong> barreiras comerciais. As<br />

socieda<strong>de</strong>s civis sem fins lucrativos terão papel <strong>de</strong>cisivo no<br />

campo da ética e <strong>do</strong> exercício da cidadania; os processos <strong>de</strong><br />

gestão, com o aumento das organizações <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> serviços,<br />

vão construir organizações interdisciplinares não-hierárquicas,<br />

organizações horizontais, com estímulo para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> equipes. No setor <strong>de</strong> serviços, as ativida<strong>de</strong>s ligadas à saú<strong>de</strong>,<br />

terão relevo significativo, expandin<strong>do</strong>, extraordinariamente, o<br />

merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho; o aumento da expectativa <strong>de</strong> vida e o<br />

controle da natalida<strong>de</strong> farão pre<strong>do</strong>minar os valores e os i<strong>de</strong>ais<br />

<strong>do</strong> segmento mais i<strong>do</strong>so, direcionan<strong>do</strong> a oferta <strong>de</strong> serviços e<br />

produtos para a terceira ida<strong>de</strong>; a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, cada vez<br />

mais, será ponto significativo nas <strong>de</strong>cisões individuais e no<br />

estabelecimento <strong>de</strong> políticas, estratégias e ações governamentais<br />

e não-governamentais. As questões relativas ao meio ambiente,<br />

com a crescente preocupação ecológica e as normas para análise<br />

<strong>de</strong> impacto ambiental <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empreendimentos, passam a<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

168


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

ser <strong>de</strong> excepcional importância comercial, política, educacional<br />

e social na iniciativa privada.<br />

Para Porter (1989:44), “as empresas bem sucedidas não só<br />

reagem ao seu ambiente, como também procuram influenciá-lo<br />

a seu favor”. As formulações <strong>de</strong> estratégias competitivas ficam<br />

vinculadas ao conhecimento <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> <strong>do</strong> negócio e a cinco<br />

“forças competitivas”, que são: ameaça <strong>de</strong> outras empresas, po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> barganha <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res, rivalida<strong>de</strong> entre os competi<strong>do</strong>res<br />

existentes, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha <strong>do</strong>s compra<strong>do</strong>res e ameaça <strong>de</strong><br />

novos produtos e/ou serviços substitutos. Em continuida<strong>de</strong> aos<br />

conhecimentos <strong>de</strong> Porter (1989:51),<br />

as fontes <strong>de</strong> vantagem competitiva para as<br />

empresas concentram-se na eficiência com que<br />

as mesmas <strong>de</strong>sempenham suas ativida<strong>de</strong>s, sen<strong>do</strong><br />

consi<strong>de</strong>radas em <strong>do</strong>is grupos, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

e ativida<strong>de</strong>s primárias.<br />

Como ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio encontram-se: infra-estrutura da<br />

empresa; administração <strong>de</strong> recursos humanos; <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e tecnologia; e compras. Como ativida<strong>de</strong>s primárias figuram:<br />

logística <strong>de</strong> entrada; operações; logística <strong>de</strong> saída; marketing<br />

e vendas; e serviços <strong>de</strong> pós-venda. Este processo também é<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> “ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valores”. Das ativida<strong>de</strong>s apresentadas,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências básicas para a educação<br />

corporativa relaciona-se mais especificamente à infra-estrutura da<br />

empresa – missão, objetivos, valores e recursos; administração <strong>de</strong><br />

recursos humanos – treinamento, <strong>de</strong>senvolvimento e educação;<br />

e ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias, que necessariamente<br />

servem <strong>de</strong> guia para que a estratégia <strong>de</strong> educação corporativa<br />

possa ser implementada satisfatoriamente. Sen<strong>do</strong> assim, po<strong>de</strong>-se<br />

enten<strong>de</strong>r que a vantagem competitiva po<strong>de</strong> ser alcançada através<br />

<strong>de</strong> maneiras novas <strong>de</strong> se realizar as ativida<strong>de</strong>s, utilizan<strong>do</strong>-se<br />

<strong>de</strong> novos procedimentos, novas tecnologias ou novos insumos.<br />

Utilizan<strong>do</strong>-se da concepção holística, para Porter (1989:52)<br />

“uma empresa é mais <strong>do</strong> que a soma <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s (...)<br />

é uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s unidas por ligações”. A integração, a<br />

colaboração e o compartilhamento <strong>de</strong> informações re<strong>de</strong>senham<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

169


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

as instituições como verda<strong>de</strong>iras teias – re<strong>de</strong>s, interligadas <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> que qualquer movimento reflete no to<strong>do</strong> organizacional<br />

e que o estabelecimento <strong>de</strong> metas claras e <strong>de</strong>finidas torna-se<br />

fundamental para o <strong>de</strong>sempenho e resulta<strong>do</strong>s.<br />

meto<strong>do</strong>logIa<br />

O presente estu<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser classifica<strong>do</strong> como uma pesquisa<br />

bibliográfica que segun<strong>do</strong> Vergara (1999) é um estu<strong>do</strong><br />

sistematiza<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> material publica<strong>do</strong> em livros,<br />

revistas, jornais, re<strong>de</strong>s eletrônicas, ou seja, material acessível<br />

ao público interessa<strong>do</strong> em geral. Na revisão bibliográfica,<br />

buscou-se levantar to<strong>do</strong> o material referente ao tema, através<br />

<strong>de</strong> livros, dissertações, teses e artigos científicos. Observou-se<br />

que a temática gestão organizacional isoladamente, constitui<br />

um tema <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> com vasto referencial teórico e <strong>de</strong> interesse<br />

<strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res, sen<strong>do</strong> também encontradas abordagens<br />

individualizadas e superficiais <strong>de</strong> diferentes autores em estu<strong>do</strong>s<br />

liga<strong>do</strong>s à administração estratégica e ao planejamento estratégico.<br />

A pesquisa teve ainda um caráter <strong>de</strong>scritivo on<strong>de</strong> se procurou<br />

<strong>de</strong>screver as características <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Por fim, foi realizada uma analise <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> planejamento<br />

estratégico no atingimento <strong>do</strong>s objetivos e metas organizacionais<br />

através <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> plano <strong>de</strong> ação.<br />

ReFeRenCIal teóRICo<br />

A socieda<strong>de</strong> vem mudan<strong>do</strong> a sua forma <strong>de</strong> perceber a importância<br />

da Gestão para o <strong>de</strong>sempenho das empresas. Antes da década<br />

<strong>de</strong> 1930, poucos escritores e filósofos estudavam a administração<br />

e como um <strong>do</strong>s seus precursores encontra-se Fre<strong>de</strong>rick Winslow<br />

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170


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Taylor, no final <strong>do</strong> século XIX e terminan<strong>do</strong> com Chester Bernard,<br />

pouco antes da Segunda Guerra mundial (DRUCkER: 2002).<br />

Drucker (2002) apresenta alguns princípios para as organizações,<br />

sen<strong>do</strong>:<br />

• A organização tem que ser transparente: as pessoas<br />

têm <strong>de</strong> conhecer e enten<strong>de</strong>r a estrutura da organização<br />

on<strong>de</strong> vão trabalhar;<br />

• A organização <strong>de</strong>ve ter níveis formais <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>: tem<br />

que ter autorida<strong>de</strong> para tomar a <strong>de</strong>cisão final em cada<br />

área, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a sua estrutura organizacional, e<br />

<strong>de</strong>verá ter um lí<strong>de</strong>r responsável para estar claramente<br />

no coman<strong>do</strong> durante uma crise. A autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a responsabilida<strong>de</strong> outorgada, o que é<br />

também um sóli<strong>do</strong> princípio;<br />

• Outro princípio é o <strong>de</strong> que qualquer pessoa na<br />

organização <strong>de</strong>ve ter apenas um patrão. De acor<strong>do</strong> com<br />

o provérbio <strong>do</strong> Direito Romano, um escravo que tenha<br />

três <strong>do</strong>nos é um homem livre;<br />

• A organização <strong>de</strong>verá ter o mínimo <strong>de</strong> níveis possível,<br />

isto é, uma organização tão plana quanto possível, para<br />

que a informação possa percorrer em seus níveis sem<br />

distorções ou, pelo menos, com o mínimo <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>s<br />

possível (alinha<strong>do</strong> ao conceito <strong>de</strong> <strong>do</strong>wnsizing);<br />

• A organização <strong>de</strong>verá consi<strong>de</strong>rar as diferenças entre<br />

seus colabora<strong>do</strong>res e a<strong>do</strong>tar a seguinte premissa:<br />

pessoas diferentes <strong>de</strong>vem ser administradas <strong>de</strong> maneiras<br />

diferentes (MASLOW: 2000).<br />

Como a competitivida<strong>de</strong> cada vez mais acirrada, aumenta a<br />

entrada <strong>de</strong> novos grupos disputan<strong>do</strong> recursos no setor saú<strong>de</strong>,<br />

levan<strong>do</strong> à valorização <strong>de</strong> novas posturas gerenciais que permitam<br />

maximização na utilização <strong>do</strong>s recursos e respostas às <strong>de</strong>mandas<br />

sociais por serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Cabe consi<strong>de</strong>rar<br />

também o cenário internacional, o qual se reflete em nossa<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

171


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

realida<strong>de</strong>, guardadas as diferenças <strong>de</strong> contextos culturais, on<strong>de</strong> a<br />

elevada competitivida<strong>de</strong> e rápidas mudanças tecnológicas levam à<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação das organizações, sejam elas públicas<br />

ou privadas, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua a<strong>de</strong>quação às atuais exigências.<br />

Dar direção à organização através da <strong>de</strong>finição ou re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

objetivos e <strong>de</strong> estratégias para implementá-los, constitui-se numa<br />

das mais importantes funções gerenciais. Sem ter clareza sobre sua<br />

missão, nenhuma organização po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>finir metas e reestruturarse<br />

para respon<strong>de</strong>r com competência aos <strong>de</strong>safios a ela coloca<strong>do</strong>s.<br />

Drucker (2002) apresenta as dimensões da administração,<br />

relacionan<strong>do</strong>-as a três tarefas <strong>de</strong> igual importância, as quais a<br />

instituição <strong>de</strong>verá cuidar para que funcionem e contribuam para<br />

a socieda<strong>de</strong>, em to<strong>do</strong>s os níveis:<br />

• Atingir a finalida<strong>de</strong> e a missão específicas da instituição,<br />

seja uma empresa comercial, um hospital ou uma<br />

universida<strong>de</strong>;<br />

• Tornar o trabalho produtivo e transformar o trabalha<strong>do</strong>r<br />

em realiza<strong>do</strong>r;<br />

• Administrar os impactos sociais e as responsabilida<strong>de</strong>s<br />

sociais (conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>).<br />

Para dar início ao processo e i<strong>de</strong>ntificar qual é a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma organização, algumas questões <strong>de</strong>verão ser levantadas:<br />

• Qual é o nosso negócio?<br />

• Quem é o consumi<strong>do</strong>r/cliente?<br />

• On<strong>de</strong> está o consumi<strong>do</strong>r/cliente?<br />

• O que o consumi<strong>do</strong>r/cliente <strong>de</strong>seja?<br />

• O que o consumi<strong>do</strong>r/cliente compra?<br />

• Quanto está disposto a pagar?<br />

O Processo <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> Estratégica prevê alguns mo<strong>de</strong>los<br />

amplos, on<strong>de</strong> a busca <strong>de</strong> informações essenciais aos negócios são<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

permanentes e <strong>de</strong>vem ser realizadas observan<strong>do</strong>-se o Ambiente<br />

Interno e o Ambiente Externo. Wright, Kroll e Parnell (2010)<br />

<strong>de</strong>screvem a administração estratégica como uma série <strong>de</strong> passos<br />

que a alta administração <strong>de</strong>verá dar para buscar o crescimento e/<br />

ou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma organização, e são eles:<br />

1. Analisar as oportunida<strong>de</strong>s e ameaças ou limitações que<br />

existem no ambiente externo;<br />

2. Analisar os pontos fracos e fortes <strong>do</strong> seu ambiente<br />

interno;<br />

3. Estabelecer a missão organizacional e os objetivos<br />

gerais;<br />

4. Formular estratégias que permitam à organização<br />

combinar seus pontos fortes e fracos com as<br />

oportunida<strong>de</strong>s e ameaças <strong>do</strong> ambiente;<br />

5. Implementar estratégias;<br />

6. Realizar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle estratégico para<br />

assegurar o cumprimento <strong>do</strong>s objetivos.<br />

Com base nestes princípios, Wright, Kroll e Parnell (2010)<br />

apresentam um mo<strong>de</strong>lo que propicia um entendimento bastante<br />

claro <strong>do</strong>s processos da <strong>Administração</strong> Estratégica, representa<strong>do</strong><br />

pela figura a seguir:<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

173


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Figura 1. mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> Estratégica<br />

Oportunida<strong>de</strong>s e Ameaças <strong>do</strong> Ambiente Externo<br />

macroambiente Ambiente Setorial<br />

Ambiente Interno<br />

Recursos, missão Organizacional, Objetivos da Empresa<br />

Formulação <strong>de</strong> Estratégias<br />

Empresariais<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Negócio<br />

Funcionais<br />

Implementação <strong>de</strong> Estratégias<br />

Estrutura Organizacional<br />

Li<strong>de</strong>rança, Po<strong>de</strong>r e Cultura Organizacional<br />

Controle Estratégico<br />

Processo <strong>de</strong> Controle Estratégico e Desempenho<br />

Fonte: Wright, Kroll e Parnell (2010: 27) – adapta<strong>do</strong><br />

Estratégia é uma proposição unifica<strong>do</strong>ra que “traz coerência e<br />

direção às ações e <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> uma [...] organização” (Grant, 1999,<br />

p.3), com o objetivo <strong>de</strong> melhorar o <strong>de</strong>sempenho organizacional,<br />

por meio da sua visão, missão e valores organizacionais, sempre<br />

levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração os elementos <strong>do</strong> micro e macroambientes.<br />

“Uma estratégia po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada eficiente<br />

quan<strong>do</strong> neutraliza ameaças e explora oportunida<strong>de</strong>s, enquanto<br />

capitaliza as forças e evita ou repara as fraquezas” (Barney, 1997)<br />

Deve haver uma consistência na estratégia da organização com<br />

a análise <strong>do</strong>s seus objetivos, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se seus ambientes<br />

interno e externo, bem como seus recursos e valores (Hofer e<br />

Schen<strong>de</strong>l apud zajac, kraatz e Bresser, 2000).<br />

Venkatraman e Camillus (1984) <strong>de</strong>stacam que a gestão<br />

estratégica <strong>de</strong>ve ser analisada <strong>de</strong> forma abrangente levan<strong>do</strong>-se<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

174


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

em consi<strong>de</strong>ração to<strong>do</strong>s os seus elementos. Assim, a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> variáveis críticas a serem ajustadas é <strong>de</strong> crucial importância.<br />

Apesar da importância <strong>de</strong>ste conceito, zajac, kraatz e Bresser<br />

(2000) <strong>de</strong>stacam que as organizações enfrentam múltiplas<br />

contingências, tanto no nível organizacional, quanto no ambiental,<br />

sen<strong>do</strong> a a<strong>de</strong>quação estratégica um conceito <strong>de</strong> difícil mensuração,<br />

previsão e prescrição.<br />

mace<strong>do</strong>-Soares (2000) <strong>de</strong>senvolveu um mo<strong>de</strong>lo integrativo<br />

para auxiliar análises estratégicas, basean<strong>do</strong>-se nas premissas<br />

da escola sociotécnica (Cherns, 1976), nos resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> suas<br />

próprias pesquisas no Brasil (mace<strong>do</strong>-Soares e Chamone, 1994;<br />

mace<strong>do</strong>-Soares e Lucas, 1996) e nos Critérios <strong>de</strong> Excelência <strong>do</strong><br />

Prêmio Nacional <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong> (FPNQ, 1996).<br />

Nesse mo<strong>de</strong>lo existe um conjunto <strong>de</strong> variáveis que interferem no<br />

sucesso da estratégia:<br />

(1) variáveis principais <strong>de</strong>ntro da organização; e (2) variáveis<br />

secundárias, tanto <strong>de</strong>ntro quanto fora da organização, chamadas<br />

respectivamente <strong>de</strong> contingências estratégicas específicas e<br />

gerais, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Child (1987).<br />

1.1. Análise SWOT<br />

A Análise SWOT é uma das principais ferramentas <strong>do</strong><br />

Planejamento Estratégico e é através <strong>de</strong>la que as empresas são<br />

capazes se formular estratégias competitivas.<br />

A essência da Análise SWOT é a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s Pontos Fortes<br />

(Strenghts) e Pontos Fracos (Weakenesses) em relação aos<br />

seus concorrentes – correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a uma análise interna da<br />

empresa (variáveis controláveis), assim como das Oportunida<strong>de</strong>s<br />

(Opportunities) e das Ameaças (Threats) – correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a uma<br />

análise externa à empresa (variáveis incontroláveis).<br />

De acor<strong>do</strong> com Wright, Kroll e Parnell (2010: 85), “o propósito <strong>de</strong><br />

uma empresa é <strong>de</strong>linea<strong>do</strong> a fim <strong>de</strong> estrategicamente criar riqueza<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

175


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

para os acionistas, por meio da satisfação das necessida<strong>de</strong>s e<br />

expectativas <strong>de</strong> vários stakehol<strong>de</strong>rs”, e neste senti<strong>do</strong>, a Análise<br />

SWOT po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma ferramenta valiosa para auxiliar<br />

as empresas no atingimento <strong>do</strong> seu propósito.<br />

Figura 2.<br />

Análise SWOT<br />

Posicionamento estratégico: planejamento<br />

Condições<br />

ambientais e<br />

tendências<br />

Oportunida<strong>de</strong>s<br />

e Riscos<br />

(i<strong>de</strong>ntificação e<br />

avaliação)<br />

Análise<br />

Avaliação<br />

(opções e<br />

recursos)<br />

Estratégia<br />

(Produtos,<br />

Serviços e<br />

merca<strong>do</strong>s)<br />

- Oportunida<strong>de</strong>s a Ameaças <strong>do</strong> Ambiente Externo:<br />

Competência<br />

Diferencial<br />

(capacida<strong>de</strong>s,<br />

reputação e<br />

história)<br />

Recursos da<br />

Organização<br />

(avaliar<br />

oportunida<strong>de</strong>s<br />

e ameaças,<br />

i<strong>de</strong>ntificar pontos<br />

fortes e fracos,<br />

aumentar a<br />

capacida<strong>de</strong>)<br />

• O macroambiente é constituí<strong>do</strong> por um conjunto <strong>de</strong><br />

forças societais maiores que afetam as organizações,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s setores on<strong>de</strong> atuem. Estas forças são:<br />

o Político-legais: movimentos legislativos e jurídicos;<br />

o Econômicas: produto interno bruto, taxas <strong>de</strong> juros,<br />

taxas <strong>de</strong> inflação, valor <strong>do</strong> dólar e outras...;<br />

o Tecnológicas: inovações que po<strong>de</strong>m alavancar e/<br />

ou dizimar empresas existentes, ou até mesmo<br />

setores inteiros da economia;<br />

o Sociais: tradições, valores, comportamentos,<br />

costumes, tendências;<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

176


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

o Naturais: impactos <strong>do</strong> meio ambiente, clima,<br />

poluição, ...<br />

Estas são <strong>de</strong>nominadas variáveis externas e incontroláveis, já que<br />

não po<strong>de</strong>m ser controladas pelos empresários e sim acompanhadas,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser consi<strong>de</strong>radas oportunida<strong>de</strong>s ou ameaças.<br />

• Análise Setorial: compreen<strong>de</strong>m-se como as forças<br />

setoriais e são representadas pelas cinco forças<br />

competitivas <strong>de</strong> michael Porter, apresentadas a seguir:<br />

1. Ameaça <strong>de</strong> novos concorrentes no setor - novos<br />

entrantes;<br />

2. Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res;<br />

3. Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha <strong>do</strong>s clientes/compra<strong>do</strong>res;<br />

4. Ameaça <strong>de</strong> produtos ou serviços substitutos;<br />

5. Intensida<strong>de</strong> da rivalida<strong>de</strong> entre os concorrentes<br />

existentes - competição interna <strong>do</strong> setor.<br />

Segun<strong>do</strong> Porter (1989), o potencial <strong>de</strong> lucrativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um setor<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas cinco Forças:<br />

Fonte: Porter (1989)<br />

Figura 3. As Cinco Forças Competitivas<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

177


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

De acor<strong>do</strong> com Porter (2004), a ameaça <strong>de</strong> novos concorrentes<br />

no setor - novos entrantes - está relacionada a <strong>do</strong>is fatores:<br />

• As Barreiras <strong>de</strong> Entrada correspon<strong>de</strong>m aos possíveis<br />

obstáculos para o ingresso <strong>de</strong> uma nova empresa em<br />

um setor, em conjunto com as reações <strong>do</strong>s concorrentes<br />

já existentes. São elas:<br />

- Economias <strong>de</strong> escala que está relacionada à diminuição <strong>do</strong>s<br />

custos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um produto e/ou serviço;<br />

- Diferenciação <strong>de</strong> produtos e serviços que está ligada ao<br />

estabelecimento <strong>de</strong> diferenciações reais, possíveis <strong>de</strong> serem<br />

percebidas pelos clientes, tanto nos produtos em si, como no<br />

atendimento aos clientes, publicida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com a marca,<br />

lealda<strong>de</strong>, ou seja, to<strong>do</strong>s os aspectos tangíveis e intangíveis;<br />

- Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capital que está relacionada à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos em recursos financeiros em<br />

infra-estrutura física, tecnológica, humana, pesquisa e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, marketing, logística, <strong>de</strong>ntre outros;<br />

- Custos da mudança: relaciona<strong>do</strong> aos custos relativos à mudança<br />

<strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>r, pois que em alguns casos exigem treinamentos,<br />

aquisição <strong>de</strong> equipamentos auxiliares, assistência técnica, ou<br />

seja, torna-se necessária uma avaliação criteriosa da relação<br />

custo/benefício da mudança, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> questões como<br />

custo e <strong>de</strong>sempenho;<br />

- Acesso a Canais <strong>de</strong> Distribuição: movimento <strong>de</strong> entrar em<br />

canais utiliza<strong>do</strong>s pelas empresas já existentes e que em<br />

alguns casos estabelecem relações estreitas e, até mesmo,<br />

<strong>de</strong> exclusivida<strong>de</strong>. Estas questões po<strong>de</strong>m trazer redução nos<br />

lucros, pois para po<strong>de</strong>r entrar a empresa <strong>de</strong>verá reduzir os<br />

preços <strong>de</strong> seus produtos, participar <strong>de</strong> campanhas publicitárias<br />

cooperativas, ações <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> vendas ou, em caso <strong>de</strong><br />

exclusivida<strong>de</strong>, abrir seus próprio canal <strong>de</strong> distribuição;<br />

- Desvantagens <strong>de</strong> Custos In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Escala: relacionada<br />

às vantagens que uma empresa po<strong>de</strong> ter, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>s<br />

custos <strong>de</strong> sua produção em escala, ou seja: tecnologias<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

178


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

exclusivas, localização favorável, acesso à matérias-primas<br />

e outros adquiri<strong>do</strong>s através da experiência na fabricação <strong>de</strong><br />

produtos e/ou da oferta <strong>de</strong> serviços;<br />

- Políticas Governamentais: está relacionada às exigências <strong>de</strong><br />

licenciamento e outras regulamentações feitas pelo governo.<br />

• A Retaliação Prevista: está relacionada às reações <strong>do</strong>s<br />

concorrentes estabeleci<strong>do</strong>s no setor ao novo entrante e<br />

po<strong>de</strong> ser representada através das seguintes condições:<br />

o Um passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> vigorosas retaliações – setor<br />

altamente competitivo e concentra<strong>do</strong>;<br />

o Empresas já estabelecidas, com excelente<br />

capacida<strong>de</strong> financeira e produtiva, e equilíbrio<br />

junto aos canais <strong>de</strong> distribuição e clientes;<br />

o Empresas com alto grau <strong>de</strong> comprometimento<br />

com a indústria;<br />

o O crescimento lento da indústria, como fator<br />

impeditivo para um novo entrante.<br />

- Pontos Fortes e Pontos Fracos <strong>do</strong> Ambiente Interno:<br />

A análise <strong>do</strong> Ambiente Interno, assim como a <strong>do</strong> Ambiente<br />

Externo, é uma das principais iniciativas das empresas que<br />

buscam competitivida<strong>de</strong>, pois que antece<strong>de</strong> ao estabelecimento<br />

da missão, visão, valores, objetivos, metas e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>do</strong> portfólio <strong>de</strong> produtos e serviços. Esta análise <strong>do</strong> ambiente<br />

interno consiste no estu<strong>do</strong> das variáveis internas, logo controláveis<br />

pelo empresário, que apresentam os recursos disponíveis pelas<br />

empresas, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> seus pontos fortes e fracos.<br />

Para Wright, Kroll e Parnell (2010), o objetivo da análise é o<br />

<strong>de</strong> possibilitar o posicionamento das empresas para po<strong>de</strong>r<br />

obter vantagem competitiva, maximizan<strong>do</strong> as oportunida<strong>de</strong>s,<br />

minimizan<strong>do</strong> as ameaças, reduzin<strong>do</strong> seus pontos fracos e<br />

fortalecen<strong>do</strong> os pontos fortes, permitin<strong>do</strong> que sejam elaboradas<br />

estratégias realistas para o cumprimento <strong>do</strong>s objetivos, ou seja,<br />

ao cumprimento <strong>do</strong> seu propósito.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

179


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Wright, Kroll e Parnell (2010) estabelecem que pontos fortes e<br />

fracos das empresas estão relaciona<strong>do</strong>s aos seguintes recursos:<br />

• Recursos Humanos: experiência, capacida<strong>de</strong>s,<br />

conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e julgamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

funcionários da empresa;<br />

• Recursos Organizacionais: sistemas e processos<br />

da empresa, inclusive suas estratégias, estrutura,<br />

cultura, administração <strong>de</strong> compras/materiais,<br />

produção/operações, bases financeiras, pesquisa e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, marketing, sistemas <strong>de</strong> informação e<br />

sistemas <strong>de</strong> controle;<br />

• Recursos Físicos: instalações e equipamentos,<br />

localização geográfica, acesso a matérias-primas, re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> distribuição e tecnologia.<br />

No campo da estratégia, Porter (1989) estabelece que no<br />

centro <strong>do</strong> posicionamento está a vantagem competitiva e que,<br />

a longo prazo, as empresas bem sucedidas são aquelas que<br />

obtêm vantagem competitiva sustentável em relação aos seus<br />

competi<strong>do</strong>res. Já a vantagem competitiva está fundamentada em<br />

<strong>do</strong>is tipos básicos: menor custo e diferenciação.<br />

O menor custo está relaciona<strong>do</strong> à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma empresa<br />

projetar, produzir e comercializar um produto ou um serviço,<br />

comparável aos <strong>de</strong> seus concorrentes, com mais eficiência.<br />

A diferenciação está relacionada à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcionar ao<br />

compra<strong>do</strong>r um valor superior (agrega<strong>do</strong>), em termos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> produto ou serviço, suas características, serviço <strong>de</strong> assistência,<br />

atendimento aos clientes, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

As vantagens competitivas <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong>vem permear a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> suas áreas <strong>de</strong> excelência, com o objetivo <strong>de</strong> priorizálas,<br />

e negociar com a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços o atendimento aos clientes<br />

não contempla<strong>do</strong>s por essas áreas.<br />

As fontes <strong>de</strong> vantagem competitivas são bastante diversificadas,<br />

respeitan<strong>do</strong> as características <strong>do</strong>s diferentes segmentos e cabe<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

180


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

a cada um <strong>de</strong>stes setores, inclusive o da Saú<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar quais<br />

são as suas vantagens competitivas sustentáveis.<br />

Porter (2004) apresenta as fontes <strong>de</strong> vantagem competitiva sob<br />

outra perspectiva: as Estratégias Competitivas Genéricas, ou seja, a<br />

diferenciação, que implicaria em <strong>de</strong>finir uma oferta única, exclusiva,<br />

diferenciada e percebida por to<strong>do</strong>s como superior qualitativamente,<br />

cujo acesso também po<strong>de</strong>ria ser diferencia<strong>do</strong>; a li<strong>de</strong>rança no custo<br />

total, que representa a diminuição <strong>do</strong>s custos para liberar recursos<br />

para outros segmentos, obten<strong>do</strong> retornos acima da média, sem<br />

comprometer a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus produtos e serviços, através da<br />

minimização <strong>do</strong> custo em áreas como pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

assistência, força <strong>de</strong> vendas, publicida<strong>de</strong>, etc, porém com intensa<br />

atenção administrativa no controle <strong>de</strong> custos, on<strong>de</strong> o custo baixo<br />

em relação aos concorrentes passa a ser o foco central <strong>de</strong>sta<br />

estratégia; o enfoque, que visa fixar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>-alvo,<br />

seja um grupo <strong>de</strong> compra<strong>do</strong>res, segmento <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> produtos<br />

ou um merca<strong>do</strong> geográfico, através <strong>de</strong> estratégias bem sucedidas<br />

a partir da diferenciação por buscar aten<strong>de</strong>r, mais especificamente,<br />

às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu alvo particular, aumentan<strong>do</strong> seu nível <strong>de</strong><br />

satisfação e redução <strong>de</strong> custos.<br />

Porter (2004) salienta que existem também os riscos das<br />

estratégias genéricas e são eles:<br />

• Riscos da Diferenciação: refere-se à redução da<br />

diferenciação em virtu<strong>de</strong> da capacida<strong>de</strong> da concorrência<br />

em imitar produtos e serviços, acentuada em merca<strong>do</strong>s<br />

mais maduros; o diferencial <strong>de</strong> custos entre os<br />

concorrentes que operam com baixo custo e a empresa<br />

diferenciada po<strong>de</strong> ser muito gran<strong>de</strong>, não fazen<strong>do</strong> senti<strong>do</strong><br />

para o consumi<strong>do</strong>r manter-se fiel à marca. Reduzir os<br />

custos <strong>de</strong> produção e a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços po<strong>de</strong><br />

colocar a imagem da empresa em risco; a mudança <strong>de</strong><br />

comportamento <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, no momento em que se<br />

tornam mais exigentes;<br />

• Riscos da Li<strong>de</strong>rança no Custo Total: mudança tecnológica,<br />

geran<strong>do</strong> como conseqüência a perda em investimentos<br />

na obtenção da tecnologia em si, assim como no<br />

aprendiza<strong>do</strong> (treinamento) necessário para utilizá-la;<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

181


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

permite aos concorrentes já existentes e/ou aos novos<br />

entrantes imitar suas práticas; impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver as<br />

mudanças necessárias em suas ações <strong>de</strong> marketing,<br />

assistência e outras, por focar na manutenção <strong>do</strong>s custos<br />

baixos; inflação em custos que diminuem a capacida<strong>de</strong><br />

da empresa manter o diferencial em preços baixos com<br />

relação aos seus concorrentes;<br />

• Riscos <strong>do</strong> Enfoque: ocorre quan<strong>do</strong> as diferenças nos<br />

produtos e serviços pretendi<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>-alvo,<br />

e o merca<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong>, reduzem; ocorre quan<strong>do</strong><br />

o diferencial <strong>de</strong> custos entre os concorrentes diminui,<br />

eliminan<strong>do</strong> as vantagens <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a um alvo menor;<br />

ocorre quan<strong>do</strong> os concorrentes encontram submerca<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>-alvo e <strong>de</strong>sfocalizam a empresa.<br />

Segun<strong>do</strong> Artmann (2002), no Setor <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, a diferenciação,<br />

em geral, po<strong>de</strong> se confundir com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<br />

competência médica específica, associada, em certos casos, ao<br />

controle <strong>de</strong> certas tecnologias. mesmo que o avanço tecnológico<br />

possa representar uma diferenciação, sabe-se também que a<br />

tecnologia, hoje, é consi<strong>de</strong>rada commodity e que no setor <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> – presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> serviço, existem outras formas realmente<br />

capazes <strong>de</strong> criar vantagens competitivas sustentáveis. Neste<br />

senti<strong>do</strong> a diferenciação po<strong>de</strong> operar:<br />

• Modifican<strong>do</strong> um ou vários elementos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor;<br />

• Exploran<strong>do</strong> as relações entre os elementos das ca<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> valor <strong>de</strong> <strong>do</strong>is segmentos que apresentam sinergias<br />

potenciais;<br />

• Modifican<strong>do</strong> a conexão e a coor<strong>de</strong>nação com os<br />

parceiros externos.<br />

To<strong>do</strong>s estes elementos po<strong>de</strong>m significar um papel <strong>de</strong>terminante<br />

na satisfação global <strong>do</strong> cliente/paciente.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

182


Fonte: Porter (1992) - adapta<strong>do</strong><br />

gestão hosPItalaR<br />

Figura 4. Análise Estratégica<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

A Gestão Hospitalar, assim como to<strong>do</strong>s os outros mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

gestão, vem passan<strong>do</strong> por constantes mudanças e caracterizase<br />

por envolver a união <strong>de</strong> recursos humanos e procedimentos<br />

muito diversifica<strong>do</strong>s.<br />

Segun<strong>do</strong> Gonçalves (2006), na década <strong>de</strong> 1940, Odair Pedroso<br />

publica os primeiros trabalhos sobre <strong>Administração</strong> Hospitalar.<br />

Três décadas <strong>de</strong>pois, em 1972, é cria<strong>do</strong> o Programa <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s<br />

Avança<strong>do</strong>s em <strong>Administração</strong> Hospitalar e <strong>de</strong> Sistemas <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> (Proahsa), que atua junto com o Hospital das Clínicas<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

(HCFmUSP) e com a Escola <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong><br />

São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). Com a<br />

expansão <strong>do</strong>s serviços a partir da década <strong>de</strong> 1960, foi possível<br />

aplicar aos serviços os mesmos padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> aplica<strong>do</strong>s<br />

aos produtos. Atualmente, premiações como o Prêmio Nacional<br />

da Qualida<strong>de</strong> (PNQ) e o Prêmio Nacional da Gestão em Saú<strong>de</strong><br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

183


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

(PNGS) vêm sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s pelas organizações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para<br />

compensar esforços neste senti<strong>do</strong>.<br />

Cabe à alta direção o importante papel <strong>de</strong> facilitar, propiciar e<br />

conduzir as transformações organizacionais, <strong>de</strong> buscar a melhoria<br />

da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e satisfação das pessoas envolvidas,<br />

inclusive as práticas da medicina, viabilizan<strong>do</strong> uma organização<br />

hospitalar auto-sustentável.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, vale ressaltar a principal razão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> um<br />

hospital: as pessoas. Portanto, elas <strong>de</strong>vem ser o foco <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os procedimentos da Gestão Hospitalar.<br />

Gonçalves (2006) apresenta um roteiro para auxiliar no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> planejamento hospitalar:<br />

• Realização <strong>de</strong> entrevistas entre a direção e os<br />

funcionários;<br />

• Coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>cumentos;<br />

• Elaboração <strong>de</strong> diagnóstico institucional básico e<br />

proposição <strong>de</strong> passos seguintes;<br />

• Validação <strong>do</strong> diagnóstico institucional e das ações<br />

propostas como passos seguintes;<br />

• Constituição <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> planejamento<br />

estratégico <strong>do</strong> Hospital;<br />

• Criação <strong>de</strong> escritório <strong>de</strong> planejamento e controle,<br />

objetivan<strong>do</strong> criar uma estrutura para centralizar as<br />

ações, coletan<strong>do</strong> informações e acompanhan<strong>do</strong> sua<br />

implementação;<br />

• Capacitação técnica <strong>do</strong> corpo diretivo, por meio <strong>de</strong><br />

palestras, entrevistas e reuniões sobre planejamento<br />

estratégico e operacional;<br />

• Elaboração da versão preliminar <strong>do</strong> planejamento<br />

estratégico, com a apresentação <strong>do</strong>s anuais cenários<br />

interno e externo;<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

184


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

• Submissão da versão preliminar à diretoria para<br />

discussão e parecer;<br />

• Revisão <strong>do</strong> planejamento estratégico;<br />

• Elaboração da versão final <strong>do</strong> planejamento estratégico<br />

e <strong>do</strong> manual <strong>de</strong> avaliação e controle <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s;<br />

• Apresentação <strong>do</strong> planejamento estratégico e <strong>do</strong> manual<br />

<strong>de</strong> avaliação e controle <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s ao corpo diretivo;<br />

• Implantação <strong>do</strong> planejamento estratégico e <strong>do</strong> manual <strong>de</strong><br />

avaliação e controle <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> grupo e<br />

<strong>do</strong> escritório <strong>de</strong> PE.<br />

Para o mapeamento da situação atual torna-se necessário:<br />

• I<strong>de</strong>ntificar o problema;<br />

• Estabelecer: O que?, Como?, On<strong>de</strong>?, Quan<strong>do</strong>? e Por<br />

que?<br />

o Plano estRatÉgICo em ação<br />

Os planos incluem os esforços para atuar sobre a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> médicos<br />

<strong>de</strong> consultório (que se referem a pacientes), para organizar<br />

associações, para formar médicos e pessoal paramédico, para<br />

adquirir novas tecnologias, para introduzir novos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

atenção e <strong>de</strong>mais procedimentos.<br />

O plano <strong>de</strong> ação é o que fazer para implementar a estratégia.<br />

Consistiria em um conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, tais como:<br />

• Formas <strong>de</strong> apropriação/<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s fatores<br />

críticos <strong>de</strong> sucesso, visan<strong>do</strong> a enfrentar os pontos fracos<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s na análise incorporação <strong>de</strong> tecnologias e<br />

<strong>de</strong> recursos humanos, treinamentos, <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, etc.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

185


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

• Ações <strong>de</strong> negociação e <strong>de</strong> comunicação no âmbito interno<br />

<strong>do</strong> hospital e com a re<strong>de</strong>, incluin<strong>do</strong> o estabelecimento <strong>de</strong><br />

sinergias e parcerias externas.<br />

• Ações visan<strong>do</strong> revalorizar um segmento, atuar sobre<br />

algum critério da análise <strong>do</strong> valor <strong>de</strong> baixo escore<br />

passível <strong>de</strong> intervenção (quan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>cisão política é <strong>de</strong><br />

buscar aumentar o valor).<br />

• Ações visan<strong>do</strong> modificar o mo<strong>de</strong>lo assistencial, as formas<br />

<strong>de</strong> atendimento que caracterizam um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

segmento, o perfil <strong>de</strong> tecnologias utilizadas.<br />

• Ações <strong>de</strong> natureza social e intersetorial.<br />

• Ações que <strong>de</strong>senvolvam objetivos tipicamente médicos,<br />

como <strong>de</strong>terminadas pesquisas.<br />

A consolidação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> ação é um contínuo retomar da<br />

análise estratégica <strong>do</strong> valor e da posição competitiva, visan<strong>do</strong> a<br />

aumentar o controle <strong>do</strong>s FCS e melhorar a posição estratégica<br />

geral. O plano culmina com a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

monitoramento das ações, para que seja possível acompanhar<br />

as mudanças propostas.<br />

melo (2006) apresenta um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Plano <strong>de</strong> Ação, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong><br />

os fatores a seguir:<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

186


Sistema <strong>de</strong> Valor<br />

Vetores Institucionais<br />

FATORES<br />

CRÍTICOS<br />

Po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

barganha<br />

das empresas <strong>de</strong><br />

planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

Atração <strong>de</strong><br />

pacientes<br />

Atração <strong>de</strong><br />

médicos<br />

usuários <strong>do</strong>s<br />

serviços<br />

hospitalares<br />

Relacionamento<br />

com os médicos<br />

usuários<br />

<strong>do</strong>s serviços<br />

hospitalares<br />

Gestão <strong>de</strong> infraestrutura<br />

Informatização,<br />

organização e<br />

profissionalização<br />

<strong>do</strong> setor<br />

administrativo<br />

Seleção e<br />

retenção<br />

<strong>de</strong> profissionais<br />

Oferecimento <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong><br />

Fonte: melo (2006)<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Plano <strong>de</strong> Ação<br />

Fator Humano<br />

Proporcionar<br />

uma boa<br />

experiência<br />

aos<br />

médicos<br />

usuários e<br />

pacientes<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

MODELO DE GESTÃO<br />

manter<br />

funcionários<br />

motiva<strong>do</strong>s e<br />

comprometi<strong>do</strong>s<br />

Arena<br />

Competitiva<br />

minimizar<br />

ameaças<br />

oferecidas<br />

pelo po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong><br />

barganha<br />

<strong>do</strong>s<br />

planos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong><br />

X<br />

Processos<br />

Internos<br />

Controlar<br />

custos e<br />

minimizar<br />

erros<br />

Oferecer<br />

serviços<br />

extras<br />

X X x X<br />

X X x X<br />

X X<br />

X<br />

X X x X<br />

x<br />

x<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

187


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

Outros fatores po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, principalmente levan<strong>do</strong>se<br />

em conta a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> hospital e as estratégias estabelecidas<br />

(metas, objetivos e resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s).<br />

Cabe ressaltar que na visão <strong>de</strong> Porter (2004) não se po<strong>de</strong> confundir<br />

estratégia com metas e objetivos. A estratégia não é um sonho e<br />

sim algo muito concreto, específico e claro. O autor afirma que a<br />

meta fundamental <strong>de</strong> uma empresa é obter um retorno superior<br />

<strong>do</strong> investimento no longo prazo e que o crescimento só é bom se<br />

permitir obter e manter um retorno superior <strong>do</strong> capital investi<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> que a lucrativida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> ser medida com realismo,<br />

ou seja, <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>ras e alcançáveis, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong>se<br />

o lucro efetivo da totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> investimento. Porter chama a<br />

atenção para o erro <strong>de</strong> se fixar metas irrealistas <strong>de</strong> lucrativida<strong>de</strong><br />

ou crescimento, que po<strong>de</strong>m prejudicar a estratégia da empresa.<br />

A análise <strong>do</strong>s ambientes internos e externos <strong>do</strong> Hospital é fator<br />

<strong>de</strong>terminante ao sucesso <strong>do</strong> Planejamento.<br />

ConClusão<br />

Com base no que foi apresenta<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se verificar que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estratégias bem <strong>de</strong>finidas po<strong>de</strong> ajudar e<br />

muito no <strong>de</strong>senvolvimento das organizações, à medida que elas<br />

auxiliam na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> caminhos, pois sua análise leva em<br />

conta to<strong>do</strong>s os elementos que impactam direta ou indiretamente<br />

o crescimento da empresa. Po<strong>de</strong>-se concluir também que existe<br />

um conjunto <strong>de</strong> estratégias e ações diferentes que po<strong>de</strong>m<br />

ser utilizadas no processo <strong>de</strong> gestão, caben<strong>do</strong> ao gestor<br />

i<strong>de</strong>ntificar qual ou quais ações teriam maior impacto, positiva ou<br />

negativamente, na organização. Essa análise <strong>de</strong>verá consi<strong>de</strong>rar<br />

uma série <strong>de</strong> questões, incluin<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> organização, perfil <strong>do</strong>s<br />

colabora<strong>do</strong>res, cultura organizacional e outros.<br />

O estu<strong>do</strong> mostra que as instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm um conjunto<br />

<strong>de</strong> características muito singulares, o que ressalta a importância<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

188


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

<strong>de</strong> se observar as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada uma na hora <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento das estratégias organizacionais.<br />

ReFeRenCIas bIblIogRáFICas<br />

ARTmANN, Elizabeth. Ar76d Gestão Stratégique (gestão estratégica<br />

hospitalar): um enfoque que busca mudança através da comunicação<br />

e da solidarieda<strong>de</strong> em re<strong>de</strong> / Elizabeth Artmann. Campinas, SP :<br />

[280p], 2002.<br />

Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas – ABNT (2000). NBR ISO<br />

9001. Sistemas <strong>de</strong> Gestão da Qualida<strong>de</strong> - Requisitos . Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

ABNT, 21 p.<br />

BARNEY, J. B. Gaining and sustaining competitive advantage.<br />

Reading, MA: Addison-Wesley, 1997.<br />

CHILD, J. Organizational <strong>de</strong>sign for advanced manufacturing<br />

technology. In: WALL, T. D.; CLEGG, C. W.; KEMP, N. J. (Eds.). The<br />

human si<strong>de</strong> of advanced manufacturing technology. New York:<br />

John Wiley & Sons, 1987. p. 101-133.<br />

FUNDAçãO PARA O PRêmIO NACIONAL DA QUALIDADE. Critérios<br />

<strong>de</strong> excelência. São Paulo: [s.n.], 1996.<br />

GONçALVES, Ernesto Lima, Org. Gestão Hospitalar: administran<strong>do</strong><br />

o hospital mo<strong>de</strong>rno. São Paulo: Saraiva, 2006.<br />

GRANT, R. m. Contemporary strategy analysis: concepts, techniques,<br />

applications. Oxford: Blackwell, 1999.<br />

mACEDO-SOARES, T. D. L. V. A.; LUCAS, D. C. Práticas gerenciais<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

das empresas lí<strong>de</strong>res no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Qualitymark, 1996.<br />

PORTER, michael E. A vantagem competitiva das nações. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Campus, 1989.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

189


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

_______. Vantagem Competitiva: crian<strong>do</strong> e sustentan<strong>do</strong> um<br />

<strong>de</strong>sempenho superior. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Campus, 1992.<br />

_______. Estratégia Competitiva: técnicas para análise <strong>de</strong> indústrias<br />

e da concorrência. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Campus, 2004.<br />

PORTER, m. Competitive strategy. New York: The Free Press, 1980<br />

SENGE, Peter m. A Quinta Disciplina. São Paulo: Editora Best Seller,<br />

2002.<br />

VENkATRAmAN, N.; CAmILLUS, J. C. Exploring the concept of ‘fit’<br />

in strategic management. Aca<strong>de</strong>my of management Review, v. 9,<br />

p. 513-525, 1984.<br />

WRIGHT, Peter, MARK J. Kroll, JONH Parnell. <strong>Administração</strong><br />

Estratégica: conceitos. 1ª ed. – 11ª reimp. - São Paulo: Atlas, 2010.<br />

zAJAC, E. J.; kRAATz, m. S.; BRESSER, R. k. F. Mo<strong>de</strong>ling the<br />

dynamics of strategic fit: a normative approach to strategic<br />

change. Strategic management Journal, v. 21, p. 429-453, 2000.<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 167-190, jun. 2011<br />

190


Formas e Aplicações <strong>de</strong> uma<br />

Gestão Ambiental Integrada:<br />

a I<strong>de</strong>alização <strong>de</strong> Ações<br />

Proativas das Organizações<br />

Márcio Alves suzAno, M. sc<br />

lAurA PriscilA DuArte Guércio<br />

MArcelo DA silvA Alves<br />

Graduan<strong>do</strong>s em <strong>Administração</strong> pela<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong> /UGF/RJ<br />

Resumo. O Tema aborda<strong>do</strong> é a responsabilida<strong>de</strong><br />

ambiental e gestão ambiental. O problema levanta<strong>do</strong><br />

foi se a gestão ambiental a<strong>do</strong>tada pelas empresas é<br />

meramente a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> normas ou se as empresas<br />

estão buscan<strong>do</strong> planos <strong>de</strong> ação e medidas corretivas<br />

mais efetivas. Ten<strong>do</strong> como objetivo principal <strong>de</strong>monstrar<br />

que as empresas que procuram <strong>de</strong>senvolver planos<br />

<strong>de</strong> ação mais eficazes, além das medidas exigidas<br />

pelos órgãos que as certificam, estão mais propicias a<br />

atingir a excelência ambiental. A pesquisa foi básica,<br />

<strong>de</strong> abordagem qualitativa, <strong>de</strong>scritiva por <strong>de</strong>screver as<br />

características da situação em questão e quanto aos<br />

procedimentos técnicos foi uma revisão bibliográfica,<br />

pois foi elaborada a partir <strong>de</strong> material já publica<strong>do</strong><br />

constituí<strong>do</strong> principalmente <strong>de</strong> livros, artigos e relatório<br />

anual. Os resulta<strong>do</strong>s principais, foi o conceito <strong>de</strong><br />

gestão ambiental, a aplicabilida<strong>de</strong> das empresas<br />

ambientalmente responsáveis, educação ambiental,<br />

como uma das principais ferramentas para a gestão<br />

ambiental: a integração <strong>do</strong> ser humano como forma<br />

<strong>de</strong> mobilizá-lo e se a<strong>de</strong>quação das atuais normas são<br />

191


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

suficientes para uma gestão ambiental com excelência.<br />

A partir disso foi concluí<strong>do</strong> que houve um progresso na<br />

área da gestão ambiental ainda um pouco lento e tími<strong>do</strong>,<br />

principalmente, no que se refere em ações pró-ativas<br />

por parte das organizações. Muitas buscam somente<br />

uma certificação por pressões externas e se aproveitam<br />

<strong>do</strong> marketing favorável <strong>de</strong>ssa situação, outras ainda<br />

nem começaram a implementação <strong>de</strong> um SGA. E<br />

algumas estão na vanguarda <strong>de</strong>sse contexto <strong>de</strong> gestão<br />

ambiental buscan<strong>do</strong> sempre ser pró-ativas ao invés <strong>de</strong><br />

reativas para assim atingirem a excelência ambiental.<br />

PalavRas chaves: responsabilida<strong>de</strong> ambiental,<br />

gestão ambiental, organizações proativas.<br />

abstRact. The topic addressed is the environmental<br />

responsibility and environmental management. The<br />

question raised was whether the environmental<br />

management a<strong>do</strong>pted by companies is purely suitability<br />

standards or if companies are looking for action plans<br />

and corrective measures more effective. Its main goal is<br />

to <strong>de</strong>monstrate that companies seeking to <strong>de</strong>velop more<br />

effective plans of action, beyond the measures required<br />

by the certifying bodies that are more conducive to<br />

achieving environmental excellence. The research was<br />

basic, qualitative approach, by <strong>de</strong>scribing the <strong>de</strong>scriptive<br />

characteristics of the situation in question and the<br />

technical procedures was a literature review, it was<br />

<strong>de</strong>veloped from previously published material consists<br />

mainly of books, articles and annual report. The main<br />

results was the concept of environmental management,<br />

the applicability of environmentally responsible<br />

companies, environmental education, as a major tool<br />

for environmental management: the integration of the<br />

human being as a way to mobilize them and a<strong>de</strong>quacy<br />

of current regulations are sufficient for an environmental<br />

management excellence. From this it was conclu<strong>de</strong>d<br />

that there was a progress in the area of environmental<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 191-203, jun. 2011<br />

192


1. IntRodução<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

management is still a bit slow and shy, especially with<br />

regard to proactive actions by both organizations. Many<br />

seek only certification by external pressures and take<br />

advantage of this favorable marketing position, others<br />

have not even begun to implement an EMS. And some<br />

are at the forefront of environmental management<br />

context always trying to be proactive rather than reactive<br />

so as to achieve environmental excellence.<br />

K e y w o R d s: environmental responsibility,<br />

environmental management, proactive organizations.<br />

Até a década <strong>de</strong> 60 as questões ambientais eram conhecida por<br />

poucos, apenas um pequeno grupo <strong>de</strong> ecologistas, e a percepção<br />

era voltada apenas em certas ativida<strong>de</strong>s. Em 1972 na Conferência<br />

<strong>de</strong> Estolcolmo sobre o meio ambiente, 113 países começaram<br />

a estruturar órgãos e legislações ambientais, focalizan<strong>do</strong> o<br />

controle da poluição ambiental. A partir da década <strong>de</strong> 80 o meio<br />

ambiente passa a ser encara<strong>do</strong> com uma visão diferente tanto pela<br />

socieda<strong>de</strong> quanto pelas organizações, a primeira visan<strong>do</strong> o bem<br />

estar social e a segunda a redução <strong>de</strong> custos, aumento <strong>do</strong>s lucros<br />

e manter uma boa imagem. Nesta mesma década ocorreram<br />

outros encontros, como protocolo <strong>de</strong> Montreal em 1987, década<br />

que iniciou e disseminação <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável. A<br />

década <strong>de</strong> 90 foi marcada pela Rio-92 e a Agenda 21, a difusão<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável passa a ser observada como<br />

beneficio, diante da atual realida<strong>de</strong> mundial, a percepção <strong>de</strong> novos<br />

valores e conceitos passam a ser absorvidas com mais facilida<strong>de</strong><br />

pela socieda<strong>de</strong> e pelas organizações (ZUIN; REIS; GIARDANO,<br />

2008; LEÃO;FALCÃO, 2002).<br />

A questão da responsabilida<strong>de</strong> ambiental ainda é tratada <strong>de</strong> forma<br />

muito superficial pelas organizações e instituições estan<strong>do</strong> muito<br />

aquém <strong>de</strong> ações efetivas e engajadas. Devi<strong>do</strong> a fortes pressões que<br />

as empresas sofrem, por parte <strong>de</strong> órgãos liga<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alguma forma a<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 191-203, jun. 2011<br />

193


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

questões <strong>do</strong> meio ambiente, por causarem danos ambientais, essas<br />

a<strong>do</strong>tam sistemas <strong>de</strong> gestão ambiental para adquirir certificações<br />

para que superficialmente sejam vistas como organizações que<br />

se preocupam com o meio ambiente (EPELBAUM, 2006). Essas<br />

ações a<strong>do</strong>tadas são em geral meramente ilustrativas aos olhos<br />

<strong>do</strong>s stakehol<strong>de</strong>rs que são “qualquer grupo ou pessoa que afeta a<br />

empresa ou é por ela afeta<strong>do</strong> em seus objetivos organizacionais”<br />

(FREEMAN, 1984, p.4, tradução livre) e proporcionam para as<br />

empresas a sensação “consciência tranquila”, pois elas buscam<br />

essas certificações como forma <strong>de</strong> melhorar sua imagem e ainda<br />

usufruir <strong>do</strong> Marketing que essa situação oferece promoven<strong>do</strong> assim<br />

uma maior lucrativida<strong>de</strong> (EPELBAUM, 2006).<br />

É necessário que as empresas <strong>de</strong>senvolvam ações que realmente<br />

contribuam para a preservação <strong>do</strong> meio ambiente e que essas ações<br />

se estendam aos que estão inseri<strong>do</strong>s no seu contexto <strong>de</strong> forma que<br />

to<strong>do</strong>s interajam e a<strong>do</strong>tem essas ações também fora <strong>de</strong>la.<br />

As empresas estarem em conformida<strong>de</strong> com as normas que as<br />

certificam não é suficiente para uma gestão ambiental eficiente,<br />

pois essas normas apresentam falhas às exigências feitas por elas,<br />

<strong>de</strong>veriam ser interpretadas pelas organizações como começo para<br />

futuros planos <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s por elas para que assim<br />

atinjam a verda<strong>de</strong>ira excelência ambiental. Para que isso aconteça e<br />

necessário também integrar e mobilizar to<strong>do</strong>s aqueles que atuam na<br />

empresa direta ou indiretamente essa mobilização exige estratégias<br />

e planos bem estrutura<strong>do</strong>s e interliga<strong>do</strong>s para que tenham um “efeito<br />

<strong>do</strong>minó” no qual uma pessoa transfira seu conhecimento para as<br />

outras pessoas <strong>de</strong> seu convívio tanto na organização quanto fora, <strong>de</strong><br />

forma natural e não por obrigação da rotina <strong>de</strong> trabalho. A partir <strong>de</strong>sse<br />

momento to<strong>do</strong>s passam a enten<strong>de</strong>r a real importância <strong>de</strong> sua ação, por<br />

menor que seja, mas que no contexto maior é <strong>de</strong> suma importância.<br />

Quan<strong>do</strong> o individuo enten<strong>de</strong> que sua ação tem influência sobre um<br />

bem maior ele se sente valoriza<strong>do</strong> e a faz <strong>de</strong> forma mais responsável e<br />

consciente (ZUIN; REIS; GIARDANO, 2008; MUNCK; SOUZA, 2009)<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 191-203, jun. 2011<br />

194


1.1. Problema<br />

<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

Será que a gestão ambiental a<strong>do</strong>tada pelas empresas e<br />

meramente a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> normas ou as empresas estão<br />

buscan<strong>do</strong> planos <strong>de</strong> ação e medidas corretivas mais efetivas?<br />

1.2. Suposição<br />

Diante <strong>de</strong> toda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se buscar alternativas que<br />

tratem da responsabilida<strong>de</strong> ambiental, poucas empresas,<br />

não é uma ação absoluta <strong>de</strong> todas as organizações, buscam<br />

efetivamente <strong>de</strong>senvolver e aplicar medidas que possam trazer<br />

resulta<strong>do</strong>s para a gestão ambiental e também que ofereçam<br />

ações compensatórias para <strong>de</strong>gradações anteriores, ou quan<strong>do</strong><br />

as emissões <strong>de</strong> poluentes não po<strong>de</strong>m ser reduzidas além <strong>do</strong><br />

que já está.<br />

Mas para que o problema levanta<strong>do</strong> por esse artigo seja<br />

soluciona<strong>do</strong> é necessário que haja um envolvimento <strong>de</strong> toda a<br />

organização começan<strong>do</strong> pelo planejamento da mais alta cúpula<br />

até o pessoal mais operacional da organização, conforme<br />

menciona<strong>do</strong> por Sanches (2000).<br />

1.3. Objetivos<br />

1.3.1. Objetivo geral<br />

Demonstrar que as empresas que procuram <strong>de</strong>senvolver planos<br />

<strong>de</strong> ação mais eficazes, além das medidas exigidas pelos órgãos<br />

que as certificam, estão mais propicias a atingir a excelência<br />

ambiental.<br />

1.3.2 Objetivos específicos<br />

• Definir o conceito <strong>de</strong> Gestão ambiental.<br />

• I<strong>de</strong>ntificar que as empresas que <strong>de</strong>senvolvem uma<br />

atitu<strong>de</strong> pró-ativa, ou seja, <strong>de</strong>senvolvem medidas<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 191-203, jun. 2011<br />

195


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

como complemento das exigidas pelos órgãos que as<br />

certificam, são as que realmente se preocupam com a<br />

responsabilida<strong>de</strong> ambiental.<br />

• Analisar como a educação ambiental é uma importante<br />

meto<strong>do</strong>logia como forma <strong>de</strong> conscientizar e mobilizar<br />

seus colabora<strong>do</strong>res.<br />

• Descrever que se a<strong>de</strong>quar as normas vigentes sobre<br />

Gestão Ambiental não é suficiente para atingir a<br />

excelência ambiental.<br />

1.4. Justificativa<br />

A pesquisa feita visa <strong>de</strong>monstrar que diante das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

uma gestão ambiental mais integrada e eficiente não basta apenas<br />

aten<strong>de</strong>r as normas existentes, já que elas apresentam falhas. É<br />

preciso que as empresas percebam que a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> normas<br />

seja um começo para se atingir a excelência ambiental e não um<br />

fim. Na maioria das organizações buscam adquirir certificações,<br />

como por exemplo: a ISO 14001, somente para adquirir maior<br />

vantagem competitiva, e não porque estão dispostas a <strong>de</strong>senvolver<br />

e aplicar um SGA (Sistema <strong>de</strong> Gestão Ambiental) integra<strong>do</strong> e<br />

eficiente a toda organização. Em contrapartida as organizações<br />

que estão em constante busca <strong>de</strong> medidas ambientalmente<br />

corretas estão mais sujeitas a atingir a excelência ambiental e<br />

serem melhor vista aos olhos <strong>do</strong>s stakehol<strong>de</strong>rs.<br />

1.5. Meto<strong>do</strong>logia<br />

A Pesquisa é classificada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a natureza <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

como básica, porque envolve verda<strong>de</strong>s e interesses universais<br />

e não envolve aplicação prática.Quanto ao problema aborda<strong>do</strong><br />

é qualitativa, pois não requer o uso <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s e técnicas<br />

estatísticas utilizan<strong>do</strong>-se somente da interpretação <strong>de</strong> fenômenos<br />

e a atribuição <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s. Quanto aos objetivos a pesquisa<br />

é <strong>de</strong>scritiva porque ela <strong>de</strong>screve as características da situação<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 191-203, jun. 2011<br />

196


<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> <strong>Administração</strong> <strong>do</strong> <strong>Gestor</strong><br />

em questão. Quanto aos procedimentos técnicos é uma pesquisa<br />

bibliográfica, pois ela foi elaborada a partir <strong>de</strong> material já publica<strong>do</strong><br />

constituí<strong>do</strong> principalmente livros, artigos e relatório anual.<br />

2. Resulta<strong>do</strong>s<br />

2.1. Conceitos <strong>de</strong> Gestão Ambiental<br />

Gestão ambiental “representa um conjunto <strong>de</strong> medidas e ativida<strong>de</strong>s<br />

que tem objetivo reduzir ou eliminar os danos e os problemas<br />

causa<strong>do</strong>s pelas ações <strong>do</strong> homem ou, ainda, evitar que eles surjam,<br />

obten<strong>do</strong> assim efeitos positivos sobre o meio” (BARBIERI, 2003, p.<br />

153). E <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Leão e Falcão (2002) significa sinônimo <strong>de</strong><br />

uma ação preventiva e <strong>de</strong> compromisso com a melhoria contínua<br />

e não só no momento da implementação da gestão ambiental.<br />

2.2. Aplicabilida<strong>de</strong> das empresas<br />

ambientalmente responsáveis<br />

Para que as empresas se posicionem <strong>de</strong> forma mais proativa é<br />

preciso que isso seje incorpora<strong>do</strong> em seu próprio ambiente interno<br />

e englobe a to<strong>do</strong>s conforme Sanches (2000, p. 79):<br />

[...] as empresas industriais que buscam uma<br />

postura proativa em relação às questões ambientais<br />

<strong>de</strong>param-se com necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudanças<br />

que começam por seu próprio ambiente interno,<br />

mudanças essas que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> diversos graus,<br />

conforme as especificida<strong>de</strong>s da organização e as<br />

pressões existentes para que se a<strong>do</strong>te uma postura<br />

diferenciada em relação ao meio ambiente.<br />

Em relação e esse aspecto po<strong>de</strong>-se começar citan<strong>do</strong> a empresa<br />

Mahle Metal Leve S.A., que não satisfeita somente com a<br />

Vol. 1, n. 1, pág. 191-203, jun. 2011<br />

197


Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> normas procurou <strong>de</strong>senvolver o Plano Diretor <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento com base em práticas industriais e legislações<br />

internacionais. Além <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> plano foram<br />

associadas metas, para que fossem norteadas tais ativida<strong>de</strong>s,<br />

pois assim os resulta<strong>do</strong>s seriam mensura<strong>do</strong>s e avalia<strong>do</strong>s<br />

posteriormente facilitan<strong>do</strong> sua validação e controle. (ZUIN; REIS;<br />

GIARDANO, 2008). O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse plano objetivou<br />

segun<strong>do</strong> Zuin; Reis e Giardano (2008, p. 131 e 132) “O que se<br />

buscou alcançar [...] novos procedimentos que permitam ainda<br />

mais, prevenir e evitar danos ao meio ambiente e exaustão <strong>de</strong><br />

recursos naturais, além das influências sociais e econômicas”.<br />

Tratan<strong>do</strong> a questão da educação ambiental no contexto<br />

empresarial, esse assunto ainda apresenta características<br />

pontual e superficial. Basea<strong>do</strong> na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma educação<br />

ambiental mais integrada ao SGA à empresa Fersol Indústria e<br />

Comércio Ltda, buscou <strong>de</strong>senvolver segun<strong>do</strong> Simons (2006, p.<br />

212) “uma ferramenta <strong>de</strong> empo<strong>de</strong>ramento para a ecoeficiência e<br />

o exercício <strong>de</strong> cidadania, começan<strong>do</strong> na própria empresa e para<br />

<strong>de</strong>pois se esten<strong>de</strong>r à comunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> entorno”. Por enten<strong>de</strong>r<br />

que a educação ambiental é uma ferramenta para implantação<br />

<strong>de</strong> SIG (Sistema Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Gestão) a empresa a<strong>do</strong>ta como<br />

resulta<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res que segun<strong>do</strong> Simons (2006) são subjetivoqualitativo<br />

no qual se baseia na análise <strong>do</strong>s comportamos <strong>de</strong><br />

seus participantes concluin<strong>do</strong> assim que <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao crescente<br />

envolvimento <strong>de</strong>les no programa eles observam uma relação <strong>de</strong><br />

admiração e afetivida<strong>de</strong> crescente pela natureza.<br />

No aspecto da preocupação da empresa em gerar valor ambiental,<br />

a Natura Cosméticos S.A. buscou assumir o compromisso com<br />

a questão ambiental marca<strong>do</strong> pela crença <strong>de</strong> que a perenida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seu negócio passa necessariamente pela redução <strong>de</strong> seus<br />

impactos e <strong>de</strong> toda a sua ca<strong>de</strong>ia produtiva. Buscan<strong>do</strong> assim traçar<br />

metas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> impactos tanto na produção quanto no ciclo<br />

<strong>de</strong> vida <strong>de</strong> seus produtos. Uma das formas <strong>de</strong>senvolvida por ela<br />

pra dar embasamento <strong>do</strong> seu compromisso foi o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e aplicação <strong>do</strong> Programa Carbono Neutro objetivan<strong>do</strong> a redução<br />

das emissões <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> efeito estufa em to<strong>do</strong> seu processo<br />

<strong>de</strong> produção e consumo. Levan<strong>do</strong>-se em consi<strong>de</strong>ração a<br />

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preocupação da empresa com o controle e redução <strong>de</strong> emissões<br />

geradas, aquelas que não po<strong>de</strong>m ser reduzidas são compensadas<br />

por projetos <strong>de</strong> compensação em to<strong>do</strong> Brasil e este projeto em<br />

particular funciona alia<strong>do</strong> ao Carbono Neutro. (RELATÓRIO<br />

ANUAL DA NATURA, 2009).<br />

2.3. Educação ambiental como uma das<br />

principais ferramentas para a gestão ambiental:<br />

a integração <strong>do</strong> ser humano como<br />

forma <strong>de</strong> mobilizá-lo.<br />

A Educação Ambiental é um processo participativo<br />

através <strong>do</strong> qual o indivíduo e a coletivida<strong>de</strong> constroem<br />

valores sociais, adquirem conhecimentos, atitu<strong>de</strong>s e<br />

competências voltadas para à conquistas e manutenção<br />

<strong>do</strong> direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibra<strong>do</strong>.<br />

(LEÃO; FALCÃO, 2002, p. 22)<br />

Conforme menciona<strong>do</strong> por Leão e Falcão a educação ambiental<br />

é tida como uma das ferramentas principais <strong>de</strong> sensibilização<br />

e integração <strong>do</strong>s indivíduos pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação<br />

pessoal gerada por ela.<br />

Reafirman<strong>do</strong> a importância da educação ambiental como forma <strong>de</strong><br />

transformação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> Aguiar e Araujo (2008, p. 148) afirmam<br />

que “Um processo educativo crítico volta<strong>do</strong> ao meio ambiente<br />

<strong>de</strong>ve visar à transformação, tanto individual quanto coletiva e,<br />

em conseqüência <strong>de</strong>sse ato, a da unida<strong>de</strong>.”<br />

A educação ambiental vem assumin<strong>do</strong> um importante papel <strong>de</strong>ntro<br />

das organizações em diferentes níveis, porém ainda esta longe<br />

<strong>do</strong> i<strong>de</strong>al, pois segun<strong>do</strong> Simons (2006) para que isso ocorra <strong>de</strong><br />

forma efetiva os programas <strong>de</strong> educação ambiental <strong>de</strong>vem estar<br />

enraiza<strong>do</strong>s na cultura organizacional, pois caso contrário eles são<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma parcial ou mesmo simplificada.<br />

Pensar em educação ambiental na empresa<br />

implica, então, não somente investir em informação<br />

e passiva transmissão <strong>de</strong> conhecimentos sobre<br />

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questões ambientais ou sobre a política ambiental da<br />

empresa, mas sensibilizar, promover senti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> coresponsabilida<strong>de</strong>,<br />

trabalhar pela valorização da vida<br />

em todas suas formas <strong>de</strong> expressão, trabalhar com a<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s em cada profissional<br />

em qualquer escalão hierárquico, criar espaços<br />

<strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong> percepção sistêmica da condição<br />

<strong>de</strong> interdisciplinarida<strong>de</strong> e intersetorialida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

processos envolvi<strong>do</strong>s, enten<strong>de</strong>r a estreita relação<br />

entre qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e práticas sustentáveis não<br />

somente no ambiente da empresa, mas também fora<br />

<strong>de</strong>la. (SIMONS, 2006, p. 208)<br />

Para Simons educação ambiental é muito mais abrangente e<br />

integrada por parte das organizações e já que é necessário<br />

envolver a to<strong>do</strong>s da organização, <strong>de</strong> todas as hierarquias para<br />

que assim haja sinergia na veiculação da idéia.<br />

Para que a educação ambiental seja disseminada entre to<strong>do</strong>s<br />

colabora<strong>do</strong>res da empresa é necessário que ela se preocupe<br />

com a consciência ambiental coletiva da empresa. Pois segun<strong>do</strong><br />

Aguiar e Araujo (2008) a falta <strong>de</strong>ssa consciência coletiva faz<br />

com que uma pequena parcela <strong>do</strong>s funcionários (geralmente<br />

os liga<strong>do</strong>s diretamente ao <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> meio ambiente e <strong>de</strong><br />

outros <strong>de</strong>partamentos, que apresentam consciência em relação<br />

às questões ambientais) se preocupam em contribuir <strong>de</strong> alguma<br />

forma para questões voltadas a <strong>de</strong>gradação ambiental.<br />

Para Leão e Falcão (2002) a educação ambiental passa pelo crivo<br />

<strong>do</strong>s parâmetros e índices <strong>de</strong> sucesso consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

recursos naturais e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Admitin<strong>do</strong>-se que a EA seja<br />

um <strong>do</strong>s instrumentos indutores <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

2.4. A<strong>de</strong>quações das atuais normas<br />

são suficientes para uma gestão ambiental<br />

com excelência?<br />

Segun<strong>do</strong> Zuin, Reis e Giardano (2008) as regulamentações que são<br />

implantadas nas organizações tratam apenas da poluição gerada<br />

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enquanto que <strong>de</strong>veriam promover a inovação e a produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

recursos o que favorece para que as empresas <strong>de</strong> posicionem <strong>de</strong><br />

forma meramente reativas as questões ambientais.<br />

Somente a implementação da ISO 14001 é uma atitu<strong>de</strong> meramente<br />

reativa, é necessário atitu<strong>de</strong>s mais engajadas das empresas<br />

conforme Epelbaum (2006, p. 143) “Para que as empresas otimizem<br />

os benefícios obti<strong>do</strong>s elas <strong>de</strong>verão a<strong>do</strong>tar políticas programas e<br />

procedimentos mais proativos <strong>do</strong> que o mínimo requeri<strong>do</strong> pelo<br />

norma ISO 14001,com medição <strong>de</strong> custo-benefício.”<br />

Segun<strong>do</strong> Zuin, Reis e Giardano (2008) a contínua <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong><br />

meio ambiente e uso <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos ambientais é a<br />

principal constatação <strong>de</strong> que somente a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong>ssas normas<br />

não é suficientes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às graves falhas apresentadas por elas.<br />

A cerificação <strong>de</strong>ve servir como um marco inicial a sustentabilida<strong>de</strong><br />

a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> políticas alia<strong>do</strong>s, a metas segun<strong>do</strong> Epelbaum (2006,<br />

p. 132):<br />

3. conclusão<br />

[...] que a certificação não é um fim, mas sim o<br />

início da caminhada para sustentabilida<strong>de</strong>; que a<br />

análise <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> ambiental <strong>de</strong> uma empresa<br />

não <strong>de</strong>veria se fazer pela obtenção <strong>do</strong> certifica<strong>do</strong>,<br />

mas sim pela sua política, por seus objetivos/metas<br />

e resulta<strong>do</strong>s ao <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho ao longo <strong>do</strong>s anos.<br />

Trata-se entrar em um consenso no que diz respeito<br />

a compromissos com prazos coerentes para atingir<br />

padrões mais eleva<strong>do</strong>s e que o caminho seja viável.<br />

Após pesquisas e análises feitas para a elaboração <strong>de</strong>ste artigo,<br />

foi percebi<strong>do</strong> que apesar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma responsabilida<strong>de</strong><br />

ambiental mais prática e menos teórica por parte das empresas,<br />

poucas enten<strong>de</strong>m sua verda<strong>de</strong>ira responsabilida<strong>de</strong> nesse<br />

contexto. As ações da maioria ainda são <strong>de</strong> forma muito pontual,<br />

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Universida<strong>de</strong> <strong>Gama</strong> <strong>Filho</strong><br />

pois elas não são <strong>de</strong> forma abrangente, integrada e efetiva. As<br />

empresas enten<strong>de</strong>m que adquirir certificações, como a ISO<br />

14001, já é mais <strong>do</strong> que suficiente para se apresentar como uma<br />

organização ambientalmente correta. Esse pensamento é vago,<br />

pois concluímos diante da leitura <strong>de</strong> autores especializa<strong>do</strong>s que<br />

o atual SGA, ten<strong>do</strong> como principal a ISO 14001, apresenta falhas<br />

o que contribui para que as empresas que a<strong>do</strong>tem essas ações<br />

como única, se digam ambientalmente responsáveis somente para<br />

“inglês ver”. A falta <strong>de</strong> um órgão maior, como fe<strong>de</strong>ral ou mundial,<br />

fiscaliza<strong>do</strong>r contribui até mesmo para que as que possuem as<br />

certificações <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> cumprir as metas e exigências estipuladas<br />

em tempo integral. Estimamos que todas as empresas busquem<br />

formas <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> e gestão ambiental <strong>de</strong> forma<br />

voluntária, consciente e responsável. As empresas que nos fazem<br />

perceber que essas ações são possíveis são, a Mahle Metal Leve<br />

S.A, Natura Cosméticos S.A., Fersol Indústria e Comércio Ltda.<br />

Entre outras, que buscam ações para além das certificações.<br />

Essas empresas visam a certificação como um meio e não um<br />

fim e comprovam que conseguem praticar gestão ambiental<br />

sem comprometer o rendimento da organização. Ao contrário<br />

das organizações reativas (a<strong>do</strong>tam uma postura pontual quanto<br />

ao problema ambiental) que vêem a gestão ambiental como<br />

custo a mais, as organizações pró-ativas buscam uma forma <strong>de</strong><br />

organizar a gestão ambiental para reduzir riscos além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar<br />

oportunida<strong>de</strong>s e consequentemente melhorar sua imagem.<br />

Po<strong>de</strong>-se notar um progresso na área da gestão ambiental ainda<br />

um pouco lento e tími<strong>do</strong>, principalmente no que se refere em ações<br />

pró-ativas por parte das organizações. Muitas buscam somente<br />

uma certificação por pressões externas e se aproveitam <strong>do</strong><br />

marketing favorável <strong>de</strong>ssa situação, outras ainda nem começaram<br />

a implementação <strong>de</strong> um SGA. E algumas estão na vanguarda<br />

<strong>de</strong>sse contexto <strong>de</strong> gestão ambiental buscan<strong>do</strong> sempre ser próativas<br />

ao invés <strong>de</strong> reativas para assim atingirem a excelência<br />

ambiental.<br />

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