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No século em que Roma perdeu o estatuto de capital para Constantinopla e em
que o Império se dividiu em Oriental e Ocidental, podemos distinguir três grandes
linhas que perpassaram com grande influência para os séculos V e seguintes. Numa
primeira análise foi a grande instabilidade política que nunca se conseguiu redimir dos
golpes iniciados em finais do século II e com grande popularidade do século III: as
ameaças militares externas, as revoltas internas e os variados períodos de guerra civil
vinham desmembrando um já de si frágil Império. A presença de tribos germanas
federadas em território romano, verificada com maior dimensão a partir de meados do
século IV, abriu caminho para o desmembramento progressivo da barreira de segurança
situada no limes do Reno/ Danúbio.
Depois, salienta-se o crescimento do número de seguidores do cristianismo, bem
como da sua importância junto das altas esferas do poder político, económico e da
sociedade, com especial destaque para as conquistas da liberdade religiosa com o édito
de Milão de 313 e a declaração teodosiana de religião oficial em finais do século. O
cristianismo viria a dar um novo fôlego à cultura romana durante os finais do século IV
e inícios do século V (ALMEIDA CAF 1993: 192).
Outro legado do século IV foi as alterações trazidas ao mundo rural, a base da
economia romana, através da associação da reforma fiscal de Diocleciano e a legislação
emanada pelo édito de 332, no qual o Imperador Constantino obrigou a fixação dos
trabalhadores aos seus lugares de origem. Apesar dos proventos fiscais trazidos para os
cofres do Estado com estas das medidas, o que ressaltou a longo prazo foi o abalo da
frágil independência de muitos pequenos proprietários e homens-livres. Como todos os
habitantes, novos e velhos, eram obrigados a pagar tributo, houvesse recursos ou não, e
como os colectores de impostos, numa primeira linha os grandes proprietários, pagavam
por simpatia, isto é, eram responsáveis pelo cumprimento das maquias estabelecidas,
começou-se a verificar um grande endividamento dos pequenos proprietários para com
os colectores de impostos, normalmente o seu vizinho latifundiário. Do endividamento à
servidão foi um instante, pelo que se assistiu ao aumento das grandes propriedades em
detrimento da escassez da pequena propriedade, tal como se verificou o engrossamento
da clientela dos grandes proprietários, quer de escravos, quer de servos, quer de
trabalhadores livres, mas dependentes deles (SALRACH i MARÉS 2002: 31-34).
O século V começa praticamente com as migrações germanas. Desde 375 que os
hunos, oriundos das estepes siberianas, progrediam rapidamente para ocidente,
desmembrando os reinos ostrogodo e tervíngio, confinantes com o Império no limes
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