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<strong>Guerrilhas</strong> ressuscita também assuntos fadados<br />
ao silêncio, como o momento obscuro da política<br />
maranhense, nos anos 20 do século passado.<br />
Com base no livro Neurose do Medo (Nascimento<br />
de Moraes, 1923), resgata uma história com direito<br />
a governador neurótico, juiz arruaceiro, assassinato<br />
e suicídio. Um verdadeiro circo de horrores,<br />
retrato da república em terra tupiniquim.<br />
Quase 100 anos depois, mais um capítulo<br />
da barbárie política do Maranhão é revisto, agora<br />
sobre a troca de governadores do estado, decidida<br />
pelo TSE em 2009 (“O Nó-Cego da Política Maranhense”).<br />
Aqui ele aponta o dedo aos que sempre<br />
estão posando para a foto no baile dos vencedores.<br />
Mais adiante, no artigo em que saúda o primeiro<br />
aniversário do jornal Vias de Fato, (“Vias de Fato:<br />
um ano memorável”), retrata onde estamos metidos,<br />
imersos num jornalismo distante da comunidade,<br />
ressonando uma estrutura apodrecida.<br />
Os primeiros nove textos de <strong>Guerrilhas</strong> são,<br />
portanto, uma radiografia de como a estrutura<br />
política dos últimos 100 anos nos obrigou a ler o<br />
Maranhão à sua maneira. Em seguida, o autor escreve<br />
sobre a violência urbana. E o Maranhão está<br />
ali também, como um “estado onde a moldura do<br />
poder oligárquico conseguiu atravessar o século<br />
sem grandes alterações, as polícias militar e civil<br />
sempre estiveram perpassadas por interesses<br />
políticos e prontas a se submeterem às vinganças<br />
privadas que passam ao largo do sistema judiciário.”<br />
(Crime e Cinismo).<br />
4 5<br />
Mais à frente, em artigo sobre “Litania da<br />
Velha”, poema de Arlete Nogueira da Cruz, toma<br />
por referência o filósofo Walter Benjamin e encara<br />
o poema como “ladainha do fim dos tempos modernos”.<br />
Poema do grotesco, prenúncio da nova<br />
barbárie, faz a descrição crua da miséria de uma<br />
velha na ‘cidade que se desfaz em salitre’. É a deixa<br />
para a retomada do primeiro assunto do livro.<br />
Como um boi triste e furioso, o autor continua ruminando<br />
o mito da fundação da cidade, tema que<br />
perpassa todo o livro. Nasce aí, talvez, o mais importante<br />
texto da coletânea: “A Saga do Monstro<br />
Souza”, sobre a obra de Bruno Azevêdo e Gabriel<br />
Girnos.<br />
Nesta análise, consolida algo que me parece<br />
fundamental em <strong>Guerrilhas</strong>, um desejo de recontar<br />
a história numa busca obsessiva pela cidade<br />
real, não a de azulejinhos e boizinhos de butique,<br />
embalagem ideal para os turistas de pacote e o desenvolvimento<br />
de campanhas publicitárias, que<br />
alimentam a insossa cultura do elogio. Um Não à<br />
“Ó minha cidade, deixa-me viver...”, de Bandeira<br />
Tribuzi ou à Ilha Magnética de César Nascimento,<br />
mas um viva a São Luís de “Eh, Ponta D’areia, há<br />
muito tempo que eu não te vejo”, de Chico Maranhão.<br />
Flávio acompanha a trajetória do personagem<br />
principal, um cachorro-quente serial killer,<br />
inserindo colagens e notícias de jornais retiradas<br />
do próprio livro de Bruno e Gabriel.<br />
A discussão sobre identidade reaparece<br />
através da música. O assunto trazido à tona é o