iii FEBRE REUMÁTICA
iii FEBRE REUMÁTICA
iii FEBRE REUMÁTICA
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TERRERI MTRA e col.<br />
Diagnóstico clínico da<br />
febre reumática: os<br />
critérios de Jones<br />
continuam adequados?<br />
pudessem ser utilizados<br />
em todas as populações.<br />
Como todas as inovações<br />
científicas, os critérios não<br />
eram perfeitos e, desde<br />
então, cinco revisões foram<br />
feitas pela Associação<br />
Americana de Cardiologia,<br />
tendo a última sido em<br />
2002 (3-7) . A presença de<br />
dois critérios maiores ou<br />
um maior e dois menores,<br />
associada à evidência de infecção estreptocócica recente,<br />
leva ao diagnóstico da doença. É importante<br />
enfatizar que um grupo grande de pacientes não preenche<br />
esses critérios na apresentação da doença e<br />
outras doenças que preenchem esses critérios precisam<br />
ser excluídas antes do diagnóstico definitivo de<br />
febre reumática. Na presença de coréia isolada ou cardite<br />
insidiosa, o diagnóstico pode ser feito sem haver o<br />
preenchimento de outros critérios (6) .<br />
A primeira descrição dos critérios de Jones é de<br />
1944, quando as manifestações da doença foram separadas<br />
em maiores e menores (Tab. 1) (2) . As maiores,<br />
quando presentes, levavam a maior probabilidade de<br />
diagnóstico certo e incluíam, naquela época, cardite,<br />
alterações articulares, nódulos subcutâneos e coréia,<br />
além de história de febre reumática ou doença cardíaca<br />
reumática. As manifestações menores eram consideradas<br />
sugestivas da febre reumática, mas não específicas,<br />
ou seja, comuns a outras doenças e incluíam<br />
febre, eritema marginado e alteração de provas de fase<br />
aguda, entre outras. Embora Jones tenha descrito o<br />
comprometimento articular como artralgia, ele considerou<br />
sob essa denominação o quadro de poliartrite<br />
migratória. Naquela época, a associação entre febre<br />
reumática e infecção estreptocócica não foi considerada<br />
suficientemente importante para incluir a infecção<br />
nos critérios diagnósticos (8) . Jones reconheceu que alguns<br />
erros diagnósticos poderiam ocorrer e que mudanças<br />
nos seus critérios deveriam ser necessárias à<br />
medida que maiores conhecimentos sobre a doença<br />
surgissem.<br />
Para melhorar a especificidade dos critérios de Jones,<br />
mudanças significativas foram realizadas em 1956<br />
(Tab. 2) (3) . Estas incluíram o eritema marginado como<br />
quinto critério maior, substituindo a febre reumática<br />
prévia ou a doença cardíaca reumática, que se tornaram<br />
um critério menor. A denominação de poliartrite<br />
substituiu a artralgia como critério maior e esta passou<br />
a configurar como critério menor, não sendo considerada<br />
critério quando a artrite estivesse presente. O mais<br />
importante foi que a evidência de faringite estreptocócica<br />
precedente passou a ser critério menor. Alguns<br />
critérios menores foram retirados e o prolongamento<br />
do intervalo PR foi acrescentado como critério menor,<br />
não sendo considerado quando a cardite estivesse presente<br />
como critério maior.<br />
Em uma tentativa de evitar os excessivos diagnósticos<br />
falsos positivos, uma nova revisão dos critérios de<br />
Jones foi realizada em 1965 (Tab. 3) (4) . A evidência de<br />
infecção estreptocócica prévia foi retirada dos critérios<br />
e considerada essencial para o diagnóstico da febre<br />
Tabela 1. Critérios de Jones (originais) — 1944. (2)<br />
Critérios maiores Critérios menores<br />
Cardite Febre<br />
Artralgia (poliartrite Dor abdominal<br />
migratória)<br />
Coréia Dor precordial<br />
Nódulos subcutâneos Eritema marginado<br />
História prévia de Epistaxe<br />
febre reumática<br />
definitiva ou doença<br />
cardíaca reumática<br />
Achados pulmonares<br />
Achados laboratoriais<br />
Alterações no ECG<br />
Anemia microcítica<br />
Elevação de VHS<br />
Leucocitose<br />
ECG = eletrocardiograma; VHS =<br />
velocidade de hemossedimentação.<br />
Tabela 2. Critérios de Jones (primeira revisão) —<br />
1956. (3)<br />
Critérios maiores Critérios menores<br />
Cardite Artralgia<br />
Poliartrite Febre<br />
Coréia História de febre<br />
reumática<br />
Nódulos subcutâneos Evidência de infecção<br />
estreptocócica<br />
precedente<br />
Eritema marginado Alterações<br />
laboratoriais como<br />
elevação de VHS,<br />
PCR e leucocitose<br />
Prolongamento do<br />
intervalo PR no ECG<br />
ECG = eletrocardiograma; VHS = velocidade de hemossedimentação;<br />
PCR = proteína C-reativa.<br />
Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 15 — N o 1 — Janeiro/Fevereiro de 2005 29