o discipulado em uma perspectiva missionária - Igreja Metodista de ...
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ANTONIO CESIMAR FERREIRA<br />
O DISCIPULADO<br />
EM UMA PERSPECTIVA MISSIONÁRIA:<br />
UMA PROPOSTA PASTORAL PARA A REMNE<br />
Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso, com vista à<br />
obtenção <strong>de</strong> grau <strong>em</strong> bacharelado, apresentado<br />
ao Colegiado do Curso <strong>de</strong> Teologia da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> -<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />
São Bernardo do Campo - Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2004
FOLHA DE APROVAÇÃO<br />
A Comissão tendo examinado o presente trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso o consi<strong>de</strong>ra:<br />
Conceito: _____________________________<br />
Orientador: ____________________________<br />
Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva<br />
Leitor: ______________________________<br />
Prof. Dr. Rui <strong>de</strong> Souza Josgrilberg
Dedicatória<br />
Ao meu eterno Deus-Pastor-Pai,<br />
por me chamar, vocacionar, sus-<br />
tentar, apoiar e confiar a mim o<br />
exercício do ministério pasto-<br />
ral, que será exercido na <strong>Igreja</strong><br />
<strong>Metodista</strong>, <strong>em</strong> especial na R<strong>em</strong>ne.<br />
Aos meus pais – Damiana Maria<br />
Ferreira, pelos momentos <strong>de</strong> ca-<br />
rinho, <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação e amor e <strong>em</strong><br />
especial ao meu pai<br />
Antonio Vicente Ferreira, por<br />
acreditar <strong>em</strong> mim e por ser <strong>em</strong><br />
minha vida um gran<strong>de</strong> amigo.
Ao amor da minha vida – “a me-<br />
nina dos meus olhos” –<br />
Priscilla Gomes <strong>de</strong> Souza Ferrei-<br />
ra, minha esposa que esteve ao<br />
meu lado durante toda essa cami-<br />
nhada acadêmica e por ser a mu-<br />
lher que estará me auxiliando,<br />
animando e fortalecendo <strong>em</strong> meu<br />
ministério pastoral e na minha<br />
vida, hoje e para s<strong>em</strong>pre.<br />
4
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
À Deus o meu Senhor, por me<br />
abençoar e fortalecer, <strong>de</strong>rraman-<br />
do sobre mim a Sua graça e Seu<br />
amor.<br />
À minha família que durante o<br />
meu período <strong>de</strong> formação acadêmi-<br />
ca e pastoral, ajudou-me a per-<br />
severar e nunca <strong>de</strong>sistir.<br />
Em especial, à minha amada espo-<br />
sa, que esteve s<strong>em</strong>pre ao meu la-<br />
do, me amando e apoiando.<br />
À <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> Na-<br />
tal/RN, por reconhecer <strong>em</strong> mim a<br />
vocação pastoral.
À Região Missionária do Nor-<br />
<strong>de</strong>ste – R<strong>em</strong>ne, por acreditar no<br />
meu chamado e vocação pastoral<br />
<strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas.<br />
À <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> Vicente<br />
<strong>de</strong> Carvalho - Baixada<br />
Santista/SP, por me acolher no<br />
meu primeiro ano na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Teologia.<br />
À <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> Tucuruvi<br />
– Zona Norte/SP, por<br />
ajudar <strong>em</strong> minha formação pasto-<br />
ral e pelos momentos <strong>de</strong> suporte,<br />
cuidado e carinho, <strong>de</strong>dicados a<br />
mim e à minha esposa Priscilla.<br />
6
Ao Ponto Missionário <strong>em</strong> Jardim<br />
Tr<strong>em</strong><strong>em</strong>bé – parte da<br />
<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> Tucuruvi,<br />
por me acolher como pastor,<br />
<strong>discipulado</strong>r e conselheiro du-<br />
rante quase três anos <strong>de</strong> compro-<br />
misso missionário.<br />
Ao meu professor, tutor, ori-<br />
entador e amigo o<br />
Rev. Geoval Jacinto da Silva,<br />
por me acompanhar durante os<br />
quatro anos vividos na acad<strong>em</strong>ia<br />
e pelos momentos <strong>de</strong> orientação e<br />
conversas.<br />
À Revdª. Maria Monteiro por<br />
ter acreditado no meu chamado<br />
7
pastoral e por ser <strong>em</strong> minha vida<br />
<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> amiga, pastora, con-<br />
selheira e <strong>discipulado</strong>ra.<br />
Ao Rev. Dílson Júlio e família<br />
pela amiza<strong>de</strong>, carinho e pelos<br />
momentos <strong>de</strong> comunhão, alegria e<br />
festa.<br />
À Chicão, Vânia e família, pe-<br />
los diversos momentos <strong>de</strong> alegri-<br />
a, <strong>de</strong> celebração e <strong>de</strong> compromis-<br />
so missionário no Ponto Missio-<br />
nário <strong>em</strong> Jardim Tr<strong>em</strong><strong>em</strong>bé.<br />
À Dalete, Sérgio e família,<br />
como também a Miriam e<br />
Lílian Parron pelo acolhimento,<br />
carinho e pela amiza<strong>de</strong>.<br />
8
À Carlos Pedro Gouveia (Cacá)<br />
e família pela <strong>de</strong>dicação, com-<br />
promisso, amiza<strong>de</strong> e pela “carne<br />
seca na moranga”.<br />
À Salvador, Gláucia e família<br />
pela atenção e carinho <strong>de</strong>dicado<br />
a nós.<br />
À família Vasquez pelo jeito<br />
carinhoso <strong>de</strong> nos acolher.<br />
À Geni e família, pois foi a<br />
primeira pessoa que nos acolheu<br />
<strong>em</strong> Tucuruvi, nos oferecendo seu<br />
carinho e atenção.<br />
9
Aos meus amigos/as e colegas<br />
pelos diversos momentos compar-<br />
tilhados e vivenciados na Facul-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia entre 2001 e<br />
2004.<br />
Aos amigos e amigas do Otília<br />
Chaves, que s<strong>em</strong>pre estiveram<br />
presentes nos momentos <strong>de</strong> difi-<br />
culda<strong>de</strong>s, quanto nos momentos <strong>de</strong><br />
alegria e festa. Especialmente a<br />
Eliazer e família, Carlos Eduar-<br />
do (Cadu) e família, Izaías e<br />
família, Marcelo e família, e<br />
Gilberto e família.<br />
À turma da R<strong>em</strong>ne que está aqui<br />
na Fateo, pelos encontros e pe-<br />
10
las trocas <strong>de</strong> experiências, s<strong>em</strong><br />
falar das “cuscuzadas” promovi-<br />
das durante os quatro anos. Es-<br />
pecialmente Luiz Carlos, João<br />
Batista, Ricardo, Emanuel, Samu-<br />
el e Izaías.<br />
11
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 14<br />
CAPÍTULO I _____________________________________________________________ 17<br />
O DISCIPULADO COMO MARCA DA TRADIÇÃO CRISTÃ ____________________ 18<br />
1. O Discipulado na Tradição Cristã _________________________________________ 20<br />
1.1. O Discipulado _____________________________________________________ 20<br />
1.2. Tradição Cristã ____________________________________________________ 37<br />
2. O Discipulado na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> ________________________________________ 42<br />
2.1. Os Objetivos do Discipulado _________________________________________ 43<br />
2.2. O Discipulado como Proposta <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Nova Vida ________________________ 44<br />
CAPÍTULO II ____________________________________________________________ 46<br />
O DISCIPULADO COMO MARCA DA TRADIÇÃO WESLEYANA ______________ 47<br />
1. O Discipulado na Vida <strong>de</strong> John Wesley ____________________________________ 47<br />
1.1. A Família <strong>de</strong> John Wesley ___________________________________________ 50<br />
1.2. John Wesley e os Pequenos Grupos ____________________________________ 54<br />
2. A Teologia <strong>de</strong> John Wesley no Discipulado _________________________________ 64
2.1. A Bíblia __________________________________________________________ 68<br />
2.2. A Experiência _____________________________________________________ 71<br />
2.3. A Razão __________________________________________________________ 73<br />
2.4. A Tradição________________________________________________________ 75<br />
2.5. A Criação ________________________________________________________ 77<br />
CAPÍTULO III ____________________________________________________________ 83<br />
A PRÁTICA DO DISCIPULADO CRISTÃO: UMA PROPOSTA PASTORAL PARA<br />
REMNE _________________________________________________________________ 84<br />
1. Discipulado: Método <strong>de</strong> Pastoreio_________________________________________ 85<br />
1.1. Na Missão ________________________________________________________ 88<br />
1.2. Na Evangelização __________________________________________________ 91<br />
2. Discipulado: Desenvolvendo Relacionamentos ______________________________ 94<br />
2.1. Gera Comunhão ___________________________________________________ 97<br />
2.2. Fortalece a Unida<strong>de</strong> _______________________________________________ 100<br />
3. Discipulado: Ensino e Formação <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança______________________________ 101<br />
3.1. A Escola Dominical _______________________________________________ 102<br />
3.2. Formação <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança_____________________________________________ 104<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________ 108<br />
ANEXO 1: Aspectos Históricos do Trabalho <strong>Metodista</strong> no Nor<strong>de</strong>ste _______________ 113<br />
ANEXO 2: Quadro Estatístico ______________________________________________ 122<br />
ANEXO 3: Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre o G-12 _____________________ 131<br />
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA___________________________________________ 137<br />
13
INTRODUÇÃO<br />
O <strong>discipulado</strong> cristão é fruto do pensamento e da prática transformadora <strong>de</strong> Jesus <strong>em</strong><br />
Seu t<strong>em</strong>po. Então, pod<strong>em</strong>os afirmar que o <strong>discipulado</strong> é vida, pois o próprio Jesus disse:<br />
“Eu sou o caminho a verda<strong>de</strong> e a vida”. E afirmou ainda que Ele veio “para nos dar vida e<br />
vida <strong>em</strong> abundância”.<br />
O <strong>discipulado</strong> como <strong>uma</strong> proposta pastoral é o t<strong>em</strong>a central <strong>de</strong>sta pesquisa acadêmica,<br />
fruto <strong>de</strong> minha experiência <strong>em</strong> vivenciar a fé <strong>em</strong> pequenos grupos e da minha compreensão<br />
bíblica, teológica e pastoral acerca dos movimentos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> 1 <strong>de</strong>ntro da <strong>Igreja</strong> Meto-<br />
dista, <strong>em</strong> especial no Nor<strong>de</strong>ste.<br />
Portanto, acho necessário fazer alguns esclarecimentos. O termo pastoral t<strong>em</strong> a ver<br />
com a expressão “pastor”. É na imag<strong>em</strong> bíblica do pastor que se encontra a orig<strong>em</strong> teológica<br />
do termo pastoral.<br />
No Antigo Testamento, freqüent<strong>em</strong>ente Deus é o pastor <strong>de</strong> Seu povo. (cf. Gn 49,24; Sl<br />
23,1; Sl 28,8, Mq 7,14; Zc 10,3; etc.) e que este é o rebanho <strong>de</strong> Deus (cf. Sl 79,13; Sl 95,7;<br />
1 A expressão “movimentos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>” significa afirmar que, não há um único mo<strong>de</strong>lo ou forma <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>,<br />
pois <strong>discipulado</strong> são todas as expressões <strong>de</strong> fé, compromisso, fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, comunhão e proclamação do<br />
Evangelho da salvação. Portanto, <strong>discipulado</strong> po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser entendido como, por ex<strong>em</strong>plo, os encontros da<br />
escola dominical, as pregações, os estudos bíblicos, encontros <strong>de</strong> pequenos grupos familiares e todo mover e<br />
agir <strong>de</strong> Deus na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.
etc.). No Novo Testamento, esta dupla afirmação se transfere para Jesus (cf. Jo 10,1-16) e,<br />
nos dois testamentos, os ministros <strong>de</strong> Deus são chamados <strong>de</strong> pastores. (cf. Is 63,11; Jo<br />
21,16; At 20,28; etc.).<br />
Assim, o ministério pastoral provém do Senhor e é diante dEle que os(as) pastores(as)<br />
são responsáveis pelo rebanho que lhes é comissionado. 2 Contudo, a teologia pastoral não<br />
t<strong>em</strong> a tarefa <strong>de</strong> resolver os probl<strong>em</strong>as das pessoas ou torná-las felizes e sim, o <strong>de</strong> ajudá-las a<br />
ver e experimentar a graça <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> suas vidas.<br />
A objetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda ação pastoral é que Cristo seja formado, ou seja, que Cristo<br />
permeie toda a vida das pessoas <strong>em</strong> seus múltiplos relacionamentos: com Deus, com o pró-<br />
ximo, com a natureza e com elas mesmas. O exercício do ministério pastoral é o conjunto<br />
do modo <strong>de</strong> ser discípulo <strong>de</strong> Jesus Cristo, por isso, <strong>discipulado</strong> como método <strong>de</strong> pastoreio é<br />
na verda<strong>de</strong> a aplicabilida<strong>de</strong> das ações pastorais na vida da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
Portanto, o termo pastoral é a ação que procura relacionar o Evangelho às situações<br />
concretas da vida <strong>de</strong> cada dia. A missão do ministério pastoral é relacionar o test<strong>em</strong>unho<br />
cristão com as diversas situações que aflig<strong>em</strong> o ser h<strong>uma</strong>no cont<strong>em</strong>porâneo.<br />
Nesse sentido, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho acadêmico é: observar e analisar, o conceito<br />
<strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> a partir do mundo jesuânico e sua aplicabilida<strong>de</strong> na “Vida e Missão” do mo-<br />
vimento metodista <strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong>. Com isso, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os i<strong>de</strong>ntificar, o que a <strong>Igreja</strong> Metodis-<br />
ta brasileira ganhou como herança <strong>de</strong>sse movimento do século XVIII e, assim, po<strong>de</strong>r enten-<br />
<strong>de</strong>r o conceito <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e seus resultados na vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> e na prática evange-<br />
lizadora e <strong>missionária</strong> da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas. E mais, o resultado <strong>de</strong>sta<br />
pesquisa po<strong>de</strong>rá e <strong>de</strong>verá ser usado como um instrumento norteador contra as práticas do<br />
movimento G-12. 3<br />
2 Sobre o t<strong>em</strong>a, ver: ALLMEN, Jean-Jacques Van. Vocabulário Bíblico. Publicado sob a direção <strong>de</strong> Jean-Jacques<br />
Van Allmen. Trad. Afonso Zimmermann, São Paulo, Aste, 2001, pp. 430-431.<br />
3 Sobre o t<strong>em</strong>a do G-12 (Cf. anexo 3), o Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> elaborou <strong>uma</strong> carta pastoral orientando<br />
a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> com relação às práticas <strong>de</strong>ste movimento contrário à ação do Espírito <strong>de</strong> Deus.<br />
15
No primeiro capítulo, observo que o <strong>discipulado</strong> adotado por Jesus é resultado <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />
vida <strong>de</strong>dicada e compromissada com outro. A dimensão do <strong>discipulado</strong> praticado por Jesus<br />
está baseado <strong>em</strong> um aspecto mais relacional, mais comunitário, promovendo e gerando a-<br />
mor, alegria, esperança e compromisso com a vida e com o Reino <strong>de</strong> Deus. O <strong>discipulado</strong> é<br />
a teoria que se transforma <strong>em</strong> vivência e que t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> preparar os(as) seguido-<br />
res(as) <strong>de</strong> Jesus para o cumprimento da missão <strong>de</strong> Deus.<br />
Já no segundo capítulo, apresento <strong>uma</strong> tese sobre o conceito <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>em</strong><br />
Wesley. Pois, o <strong>discipulado</strong> vivenciado por ele, t<strong>em</strong> como orig<strong>em</strong> a vida <strong>em</strong> família. É na<br />
família que Wesley encontra toda fundamentação para a prática pastoral <strong>em</strong> pequenos gru-<br />
pos e para a sua prática <strong>missionária</strong>. Esse princípio é fortalecido quando, ele passa a fre-<br />
qüentar outros ambientes, como, a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford. Formando os grupos <strong>de</strong> estu-<br />
dantes para o estudo e aprofundamento dos conceitos bíblicos, teológicos e para comparti-<br />
lhar a fé e promover a comunhão plena com Deus.<br />
Enfim, no terceiro capítulo, faço <strong>uma</strong> proposta para <strong>uma</strong> pastoral do <strong>discipulado</strong> vol-<br />
tado para a Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste – REMNE. Consi<strong>de</strong>rando os aspectos históricos<br />
e sua prática evangelizadora, como resultado dos objetivos encontrados no “Plano para a<br />
Vida e Missão”. A proposta <strong>de</strong>ssa pastoral t<strong>em</strong> três dimensões, a saber: o <strong>discipulado</strong> que<br />
promove o pastoreio mútuo, que fortalece os relacionamentos e que possibilita o processo<br />
<strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> novos lí<strong>de</strong>res e discípulos(as).<br />
O <strong>discipulado</strong> é um estilo <strong>de</strong> vida que promove e gera vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> e na vida<br />
pessoal. O cristão que passa pelo processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> t<strong>em</strong> consciência <strong>missionária</strong> <strong>de</strong><br />
que ele faz parte do Reino <strong>de</strong> Deus, como agente transformador e gerador <strong>de</strong> vidas.<br />
Rogo a Deus, que esse pensamento se torne <strong>uma</strong> prática constante e que seja<br />
vivenciada e experimentada por toda a REMNE.<br />
16
CAPÍTULO I
O DISCIPULADO<br />
COMO MARCA DA TRADIÇÃO CRISTÃ<br />
“I<strong>de</strong>, portanto, fazei discípulos <strong>de</strong> todas as nações, batizando-os <strong>em</strong> nome do<br />
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas<br />
que vos tenho or<strong>de</strong>nado. E eis que estou convosco todos os dias até à cons<strong>uma</strong>ção<br />
do século”. (Jesus Cristo)<br />
Para melhor compreen<strong>de</strong>r o t<strong>em</strong>a proposto nesta pesquisa, será apresentado no <strong>de</strong>cor-<br />
rer <strong>de</strong>ste trabalho, referenciais bíblicos, teológicos e pastorais acerca dos el<strong>em</strong>entos que,<br />
norteiam o <strong>discipulado</strong> cristão <strong>de</strong>ntro da herança da tradição cristã.<br />
Antes <strong>de</strong> discorrer sobre o t<strong>em</strong>a do <strong>discipulado</strong> e sua utilização como dinâmica <strong>de</strong> pas-<br />
toreio na capacitação do laicato, gostaria <strong>de</strong> tratar mais especificamente sobre os principais<br />
conceitos bíblicos e teológicos que nortearão esta pesquisa.<br />
O <strong>discipulado</strong> adotado por Jesus <strong>de</strong> Nazaré, segue <strong>uma</strong> metodologia muito simples e,<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po, muito complexa, pois Ele é o nosso referencial <strong>de</strong> vida. O Seu ensino é<br />
para os ju<strong>de</strong>us <strong>uma</strong> revolução e para nós <strong>uma</strong> lição <strong>de</strong> amor. Esses ensinamentos têm como<br />
base o conceito <strong>de</strong> adoração, <strong>de</strong> comunhão, as Escrituras Sagradas como Palavra <strong>de</strong> Deus e<br />
<strong>de</strong> evangelização. Eles são conseqüência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vida marcada pela obediência à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Deus e para nós frutos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vida relacional, entre Jesus Cristo e Seus discípulos(as).<br />
Para alcançar o objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa, que é <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as dimensões bíblicas,<br />
teológicas e pastorais do <strong>discipulado</strong>, será necessário analisar o que a tradição cristã apre-<br />
senta como <strong>de</strong>finição e significado, o conceito <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>em</strong> Jesus Cristo. Conceitos
estes que foram apresentados e vivenciados pelo próprio mestre – Jesus. Tais conceitos es-<br />
tão associados diretamente a um estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>terminante, diferente e marcante.<br />
Jesus propõe <strong>uma</strong> estrutura <strong>de</strong> aprendizado diferenciada do que era ensinado <strong>em</strong> Seu<br />
t<strong>em</strong>po. A base <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino é Sua própria vida e o conteúdo <strong>de</strong> Sua mensag<strong>em</strong> é<br />
a proclamação da Boa-Nova do Reino <strong>de</strong> Deus 4 . Portanto, Jesus conviveu e se relacionou <strong>de</strong><br />
tal forma com os discípulos, que possibilitou a Seus seguidores viver<strong>em</strong> sob a graça dos<br />
propósitos <strong>de</strong> Deus para a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>.<br />
<strong>de</strong>:<br />
O “Plano para a Vida e a Missão” da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> diz que, o propósito <strong>de</strong> Deus é<br />
[...] reconciliar consigo mesmo o ser h<strong>uma</strong>no, libertando-o <strong>de</strong> todas as coisas<br />
que o escravizam, conce<strong>de</strong>ndo-lhe <strong>uma</strong> nova vida à imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Jesus Cristo,<br />
através da ação e po<strong>de</strong>r do Espírito Santo, a fim <strong>de</strong> que, como <strong>Igreja</strong>, constitua<br />
neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino <strong>de</strong><br />
Deus. 5<br />
Nesse sentido, <strong>discipulado</strong> é a teoria transformadora <strong>em</strong> vivência e convicção e esse<br />
processo acontecia <strong>em</strong> todas as situações da vida. 6 Com isso, a vida ao lado <strong>de</strong> Jesus, passa<br />
a ser <strong>uma</strong> vida <strong>em</strong> comum, como <strong>uma</strong> família que t<strong>em</strong> propósitos e objetivos, assumindo e<br />
participando da construção e da proclamação da Boa-Nova do Reino <strong>de</strong> Deus.<br />
4 Marcos 9,1<br />
5 IGREJA METODISTA. Plano para “Vida e Missão”: Decisão do XIII Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e<br />
Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Editora Unimep. 1982, p. 12.<br />
6 LAVOURA, Sergio Gama. Discipulado. São Paulo: Frutos da Luz Produções. 2001, p. 19.<br />
19
1. O Discipulado na Tradição Cristã<br />
Por <strong>discipulado</strong> na herança da tradição cristã, entendo que é a transmissão dos ensi-<br />
namentos <strong>de</strong> Cristo e a continuida<strong>de</strong> das experiências da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé 7 que foram dis-<br />
cipulados por Jesus e que professam a fé <strong>em</strong> Deus. Tendo como pressuposto esse pensamen-<br />
to, vejo que é necessário aprofundar mais nessa questão, até mesmo para que o termo disci-<br />
pulado seja compreendido bíblico e teologicamente.<br />
1.1. O Discipulado<br />
Por <strong>discipulado</strong>, 8 entendo que é o processo <strong>de</strong> vida e comunhão e não apenas <strong>uma</strong> re-<br />
ceita que visa ao crescimento numérico da igreja. Esse processo <strong>de</strong> vida t<strong>em</strong> como objetivo<br />
inicial o fortalecimento, a capacitação e o aperfeiçoamento da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé. Nesse sen-<br />
tido, ser discípulo(a) significa estar vinculado a Jesus e cumprir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus (cf. Mt<br />
12,45-50; Mc 3,31-35). Para enten<strong>de</strong>r o <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong> Jesus, é importante reconhecer que o<br />
chamado para ser discípulo(a), está diretamente ligado ao chamado para o serviço 9 e servir a<br />
Jesus é obe<strong>de</strong>cer e fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
Discipulado é vida com e <strong>em</strong> Jesus, e essa vida t<strong>em</strong> como base e princípio o amor, que<br />
é a mais pura expressão da graça maravilhosa <strong>de</strong> Deus, pois cr<strong>em</strong>os que Deus ama o ser<br />
7 Cf. O Dicionário Pastoral afirma que: “A <strong>Igreja</strong> é essencialmente comunida<strong>de</strong>. Neste sentido, o Vaticano II diz<br />
o seguinte: “A todos aqueles que olham com fé para Jesus, como autor da salvação e principio da unida<strong>de</strong> e<br />
da paz, Deus convocou-os e constitui com eles a <strong>Igreja</strong>, a fim <strong>de</strong> que ela seja para todos e cada um o sacramento<br />
visível <strong>de</strong>sta unida<strong>de</strong> salvífica”. Neste texto não se <strong>em</strong>prega a palavra comunida<strong>de</strong>, mas está nele implícita,<br />
visto que se trata da junção <strong>de</strong> todos os crentes, unidos como um só povo, com a mesma fé e a mesma<br />
forma <strong>de</strong> presença no mundo, para ser<strong>em</strong> sacramento <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> entre os homens. Ora, isso é a comunida<strong>de</strong>.<br />
O ser comunitário da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>riva da mensag<strong>em</strong> e da ação do Jesus histórico. Com efeito, sab<strong>em</strong>os que a<br />
primeira coisa que Jesus fez, no Seu ministério apostólico, foi reunir <strong>uma</strong> pequena comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discípulos,<br />
que viveu com Ele e como Ele. Assim, Jesus ofereceu <strong>uma</strong> alternativa ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> convivência e <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os. Em contrastes com a convivência e a socieda<strong>de</strong> baseadas no ter, no po<strong>de</strong>r e no subir,<br />
Jesus oferece a alternativa da comunida<strong>de</strong> cristã, baseada na partilha, no serviço e na solidarieda<strong>de</strong>.”, p. 103.<br />
8 No Novo Testamento, as palavras que se vinculam com o <strong>discipulado</strong> se aplicam, mormente aos seguidores <strong>de</strong><br />
Jesus e <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> a vida da fé. Akaloutéo que significa - “Seguir” indica a ação <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> que respon<strong>de</strong><br />
à chamada <strong>de</strong> Jesus, e cuja vida recebe novas diretrizes <strong>em</strong> obediência. Mathetés é a palavra do grego, que<br />
significa “discípulo”, que é alguém que ouviu a chamada <strong>de</strong> Jesus e se torna seu seguidor.<br />
9 FOUILLOUX, Danielle. LORGLON, Anne. MAOGNÈ, Alicele. SPIESS, Françoise. THIBAULT, Madileine.<br />
TRÉBUCHAN, Renée. Dicionário Cultural da Bíblia. Edições Loyola. São Paulo. 1998.<br />
20
h<strong>uma</strong>no e a criação, que lhes entregou e lhes abre o caminho para a salvação, para que o<br />
encontre e a Ele volte. 10<br />
O amor <strong>de</strong> Deus é a base do <strong>discipulado</strong> que leva a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé ao <strong>de</strong>spertamen-<br />
to espiritual, tanto individual quanto comunitário. O amor não se expressa por meio <strong>de</strong> sen-<br />
timentos porque amar não é sentir, amar é se expressar por meio <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e práticas <strong>de</strong><br />
justiça. Por isso, pod<strong>em</strong>os afirmar que o amor não reconhece barreiras e não se nega a nin-<br />
guém 11 pois:<br />
Qu<strong>em</strong> possui a carida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Cristo cumpra o mandamento do Cristo. [...] A<br />
carida<strong>de</strong> nos une estreitamente a Deus, a carida<strong>de</strong> cobre a multidão <strong>de</strong> pecados,<br />
a carida<strong>de</strong> tudo suporta, é paciente. Na carida<strong>de</strong> não há baixeza n<strong>em</strong> soberba;<br />
ela não fomenta divisões, não é sediciosa, a carida<strong>de</strong> faz tudo na concórdia.<br />
Na carida<strong>de</strong> foram aperfeiçoados os eleitos <strong>de</strong> Deus. S<strong>em</strong> a carida<strong>de</strong><br />
nada é agradável a Deus. Na carida<strong>de</strong> nos acolheu o Senhor. Foi por carida<strong>de</strong><br />
para conosco que Jesus Cristo, Senhor nosso, dócil à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, entregou<br />
por nós seu sangue, sua carne por nossa carne, sua vida por nossas vidas.<br />
12<br />
Isso leva a comunida<strong>de</strong> ao amadurecimento espiritual, pois a fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />
<strong>em</strong> amor, estamos resgatando a imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nós, por meio do discipu-<br />
lado. Portanto, o amor é essencial para a vida cristã e para o fortalecimento da comunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fé que, por conseguinte, torna-se <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> evangelizante. Nessa mesma linha <strong>de</strong><br />
pensamento, concordo com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que diz:<br />
O <strong>discipulado</strong> é o <strong>de</strong>safio que Deus nos faz no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar as coisas velhas<br />
<strong>de</strong> <strong>uma</strong> natureza pecaminosa e resgatar a imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong><br />
Deus, através do aprendizado “Daquele que é a imag<strong>em</strong> do Deus invisível” –<br />
Jesus Cristo (cf. Cl 1,15). 13<br />
Na Bíblia, que é a nossa regra <strong>de</strong> fé e prática, encontramos conceitos que fundamen-<br />
tam e confirmam esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. Mo<strong>de</strong>lo esse que perceb<strong>em</strong>os também na his-<br />
10 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus: Um Compêndio <strong>de</strong> Teologia <strong>Metodista</strong>.<br />
Walter Klaiber e Manfred Marquardt; Tradução: Helmuth Alfredo Simon. São Bernardo do Campo, Editeo,<br />
1999, p. 07.<br />
11 STOKES, Mack B. As Crenças Fundamentais dos <strong>Metodista</strong>s. Coleção Metodismo – Imprensa <strong>Metodista</strong>. São<br />
Paulo. 1992, p. 94.<br />
12 C. F. Gomes. Antologia dos Santos Padres: páginas seletas dos antigos escritores eclesiásticos. São Paulo,<br />
Edições Paulinas, 1979, p. 24.<br />
13 LAVOURA, Sergio Gama. Discipulado. São Paulo: Frutos da Luz Produções. 2001, p. 18.<br />
21
tória do Metodismo, <strong>em</strong> especial nos movimentos <strong>de</strong> pequenos grupos <strong>de</strong> pessoas, que ti-<br />
nham como objetivo a fundamentação da fé comunitária e pessoal.<br />
1.1.1. Conceito <strong>de</strong> Adoração<br />
O conceito básico <strong>de</strong> adoração na Bíblia é o <strong>de</strong> “serviço”. 14 As palavras abhôdhâ (he-<br />
braico) e lateia (grego) têm como significado original o trabalho dos escravos ou <strong>em</strong>prega-<br />
dos. Os senhores recebiam “adoração” <strong>de</strong> seus servos quando estes se prostravam diante<br />
<strong>de</strong>les e reconheciam sua superiorida<strong>de</strong>.<br />
Adorar a Deus, porém, leva a adoração a seus limites extr<strong>em</strong>os, pois a verda<strong>de</strong>ira ado-<br />
ração cristã nos conclama a <strong>de</strong>clarar a superiorida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong> Deus e, por conseqüência,<br />
a superiorida<strong>de</strong> relativa <strong>de</strong> qualquer outra coisa ou pessoa.<br />
Um dos episódios <strong>de</strong> adoração encontrados na Bíblia é o relato <strong>em</strong> Apocalipse 5,11-<br />
12, <strong>em</strong> que João vê <strong>uma</strong> cena que <strong>de</strong>screve a adoração eterna <strong>de</strong> Cristo no céu:<br />
Vi, e ouvi <strong>uma</strong> voz <strong>de</strong> muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e<br />
dos anciãos, cujo número era <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> milhões e milhares <strong>de</strong> milhares,<br />
proclamando <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> voz: Digno é o Cor<strong>de</strong>iro, que foi morto, <strong>de</strong> receber<br />
o po<strong>de</strong>r, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor.<br />
Isso mostra o que Deus espera <strong>de</strong> nós na adoração cristã: que exalt<strong>em</strong>os o Senhor que<br />
ressurgiu como o único a qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os tudo o que somos e o que t<strong>em</strong>os.<br />
Em última análise, a adoração é um mistério. Pois ela envolve não apenas a nossa ex-<br />
periência h<strong>uma</strong>na, mas também o próprio caráter e a natureza <strong>de</strong> Deus. Portanto, não se po-<br />
<strong>de</strong> tentar <strong>de</strong>fini-la com apenas alg<strong>uma</strong>s palavras. Uma das formas <strong>de</strong> começar a enten<strong>de</strong>r<br />
seu significado é refletir sobre as tentativas <strong>de</strong> alguns pensadores cristãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir adora-<br />
ção.<br />
A verda<strong>de</strong>ira adoração é aquele exercício do espírito h<strong>uma</strong>no que nos confronta<br />
com os mistérios e as maravilhas <strong>de</strong> Deus, <strong>em</strong> cuja presença a mais<br />
apropriada e salutar reação é o amor expresso na adoração. (Raph P. Martin)<br />
14 DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. Tradução <strong>de</strong> João Bentes. 2ª Edição. São Paulo. Vida Nova.<br />
1995.<br />
22
Adoração é um encontro pessoal com Deus no qual glorificamos, magnificamos<br />
e cantamos ao Senhor por sua pessoa e seus atos [...] Adoramos a<br />
Deus simplesmente porque Ele é Deus. (Robert. E. Webber)<br />
A adoração é a alegre resposta dos cristãos ao amor santo e re<strong>de</strong>ntor <strong>de</strong><br />
Deus, revelado a nós por meio <strong>de</strong> Jesus Cristo. (Horton Davies)<br />
Adorar é... Avivar a consciência através da santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, alimentar a<br />
mente com a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, purificar a imaginação com a beleza <strong>de</strong> Deus,<br />
abrir o coração ao amor <strong>de</strong> Deus, ren<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong> aos propósitos <strong>de</strong> Deus. 15<br />
(William T<strong>em</strong>ple)<br />
Essas <strong>de</strong>finições revelam um pouco da majesta<strong>de</strong> e da maravilha da adoração cristã.<br />
Porém, nenh<strong>uma</strong> <strong>de</strong>ssas frases chega perto <strong>de</strong> esgotar seu significado, pois ela é profunda e<br />
misteriosa, ampla e variada, complexa e significativa d<strong>em</strong>ais para ser reduzida a <strong>uma</strong> sim-<br />
ples <strong>de</strong>finição.<br />
A Bíblia é a regra <strong>de</strong> fé e prática para os cristãos. Isso quer dizer que precisamos bus-<br />
car nas Escrituras a fonte básica <strong>de</strong> conhecimentos sobre adoração. O relato bíblico nos<br />
mostra que a adoração é fundamentalmente a reação <strong>de</strong> um indivíduo ou grupo <strong>de</strong> pessoas a<br />
um ato po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> Deus. O padrão que v<strong>em</strong>os nas Escrituras é s<strong>em</strong>elhante a este:<br />
� Deus age po<strong>de</strong>rosamente <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> Seu povo;<br />
� O povo respon<strong>de</strong> com gratidão e louvor;<br />
� Deus aceita os atos <strong>de</strong> adoração <strong>de</strong> Seu povo.<br />
Esse padrão se repete por toda a Bíblia e aponta para <strong>uma</strong> verda<strong>de</strong> central: o processo<br />
<strong>de</strong> adoração é s<strong>em</strong>pre iniciado por Deus. 16 A adoração é <strong>uma</strong> resposta à iniciativa divina.<br />
Esse padrão po<strong>de</strong> ser observado tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Para Jesus,<br />
adorar é reconhecer a soberania <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> todos os momentos da vida, sejam eles tristes<br />
ou alegres, estando sozinho ou acompanhado, na riqueza ou na pobreza, na saú<strong>de</strong> ou na do-<br />
ença. Com isso, a vida entre Jesus e Seus discípulos e Suas discípulas se tornou o começo<br />
<strong>de</strong> <strong>uma</strong> nova comunhão com Deus.<br />
15 BASDEN, Paul. Estilos <strong>de</strong> Louvor: Descubra a Melhor Forma <strong>de</strong> Adoração Para a Sua <strong>Igreja</strong> /Paul Bas<strong>de</strong>n;<br />
tradução <strong>de</strong> Emirson Justino. São Paulo. Mundo Cristão. 2000, p. 22.<br />
16 BASDEN, Paul. Estilos <strong>de</strong> Louvor, p. 22.<br />
23
1.1.2. Conceito <strong>de</strong> Comunhão<br />
Comunhão é a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> abrir nossas vidas para nossos irmãos e irmãs e amá-los(as).<br />
A comunhão é a entrega total <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vida à outra, mesmo sabendo que po<strong>de</strong> ser traído. 17 A<br />
comunhão é um fator importante para o povo <strong>de</strong> Deus, para o cristianismo, e é importante<br />
para qualquer outra religião, pois <strong>uma</strong> das dimensões essenciais da ativida<strong>de</strong> salvífica <strong>de</strong><br />
Deus é a capacitação dos homens e mulheres à comunhão. 18<br />
E para ser um discípulo, <strong>uma</strong> discípula <strong>de</strong> Jesus é necessário ter <strong>uma</strong> vida <strong>em</strong> perfeita<br />
comunhão com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Esse ensinamento é um dos impera-<br />
tivos absolutos para seguir a Cristo como Seu discípulo e discípula.<br />
No texto do livro <strong>de</strong> Atos dos Apóstolos 2,42-47 diz que:<br />
“ v. 42: E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir<br />
do pão e nas orações. v. 43: Em cada alma havia t<strong>em</strong>or; e muitos prodígios e<br />
sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. v. 44: Todos os que creram<br />
estavam juntos e tinham tudo <strong>em</strong> comum. v.45: Vendiam as suas proprieda<strong>de</strong>s<br />
e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha<br />
necessida<strong>de</strong>. v.46: Diariamente perseveravam unânimes no t<strong>em</strong>plo, partiam<br />
pão <strong>de</strong> casa <strong>em</strong> casa, e tomavam suas refeições com alegria e singeleza <strong>de</strong><br />
coração, v.47 louvando a Deus, e contando com a simpatia <strong>de</strong> todo o povo.<br />
Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.”<br />
Esse texto diz que os primeiros discípulos “perseveravam (...) na comunhão, no partir<br />
do pão” (v. 42) e o versículo 46 nos diz que eles tinham tudo <strong>em</strong> comunhão diária “partin-<br />
do o pão <strong>em</strong> casa” e “comiam juntos com alegria e singeleza <strong>de</strong> coração”. Obe<strong>de</strong>cendo,<br />
portanto, os ensinamentos <strong>de</strong> Jesus, quando este falava sobre os dois maiores mandamentos<br />
<strong>de</strong> Deus, que é “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. 19<br />
A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> Atos dos Apóstolos nos ensina que <strong>uma</strong> igreja <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />
<strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong>, quando esta <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> praticar os mandamentos que Jesus nos apresentou.<br />
Com isso, a igreja torna-se <strong>uma</strong> organização. Essa é conhecida por seus programas, sua mú-<br />
17 Estou me referindo a traição <strong>de</strong> Judas Iscariotes <strong>em</strong> relação a Jesus.<br />
18 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus: Um Compêndio <strong>de</strong> Teologia <strong>Metodista</strong>.<br />
Walter Klaiber e Manfred Marquardt; Tradução: Helmuth Alfredo Simon. São Bernardo do Campo, Editeo,<br />
1999, p. 187.<br />
19 Marcos 12,29-31<br />
24
sica, sua pregação, ou por algum outro aspecto social, mas <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser conhecida pela qua-<br />
lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus relacionamentos.<br />
O propósito <strong>de</strong> Deus para Sua igreja, não era para ser meramente <strong>uma</strong> organização,<br />
mas um organismo vivo, <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> que pulsa e respira vida e amor. A igreja <strong>de</strong> Deus<br />
é conhecida pelo amor, porque Deus é amor. 20<br />
Quando Jesus foi levado à cruz, que estava <strong>de</strong>stinada para nós, Ele possibilitou <strong>uma</strong><br />
nova oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivermos <strong>uma</strong> vida <strong>em</strong> abundância, <strong>uma</strong> vida com propósitos e metas,<br />
pois:<br />
Cristo resgata o significado da vida h<strong>uma</strong>na e lhe conce<strong>de</strong> propósitos e metas.<br />
Pois o propósito <strong>de</strong> Deus para o ser h<strong>uma</strong>no é que este viva abundant<strong>em</strong>ente<br />
<strong>em</strong> comunhão com Deus, consigo, com o próximo e com o cosmos, e<br />
para isso nos <strong>de</strong>safia a seguir o mo<strong>de</strong>lo Daquele que viveu e d<strong>em</strong>onstrou isso<br />
na prática. 21<br />
Nosso test<strong>em</strong>unho e serviço necessariamente <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser feitos <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> nos<br />
envia, a saber: Jesus Cristo, o autor e cons<strong>uma</strong>dor <strong>de</strong> nossa fé. 22<br />
A comunhão que esperamos, a partir <strong>de</strong> um <strong>discipulado</strong>, passa pelo Evangelho <strong>de</strong><br />
Cristo. O <strong>discipulado</strong> não po<strong>de</strong> ser expressão <strong>de</strong> um grupo, mas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> igreja, corpo vivo<br />
<strong>de</strong> Cristo e, no nosso caso, da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Deve ainda levar alegria e esperança a um<br />
mundo diferente. O Evangelho é o responsável por tudo o que cr<strong>em</strong>os e não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ixa-<br />
do <strong>de</strong> lado.<br />
Portanto, t<strong>em</strong>os <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, pois o Evangelho não po<strong>de</strong> ser usado<br />
para justificar nossas ações ou pensamentos egocêntricos. Buscar a maneira <strong>de</strong> interpretar o<br />
Evangelho <strong>de</strong>ve ser realmente nossa regra <strong>de</strong> vida, fé e test<strong>em</strong>unho.<br />
Para isso, precisamos <strong>de</strong> um novo paradigma <strong>de</strong> convivência, um novo estilo <strong>de</strong> vida<br />
que nos aju<strong>de</strong> a fortalecer nossos relacionamentos pessoais, familiares, profissionais, espiri-<br />
20 1 João 4,7-21<br />
21 LAVOURA, Sérgio Gama. Discipulado. Frutos da Luz. São Paulo, p. 18.<br />
22 Hebreus 12,2<br />
25
tuais e que inaugure um novo pacto social entre os povos no sentido <strong>de</strong> respeito e <strong>de</strong> preser-<br />
vação <strong>de</strong> tudo o que existe e vive.<br />
A h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> vive hoje um tipo <strong>de</strong> crise civilizacional 23 já constatado há décadas por<br />
sérios analistas e pensadores cont<strong>em</strong>porâneos; é um gran<strong>de</strong> mal-estar da civilização. Conhe-<br />
cido também como o fenômeno do <strong>de</strong>scuido, do <strong>de</strong>scaso e do abandono.<br />
O Rollo May <strong>em</strong> seus estudos psicoterápicos, afirma que o probl<strong>em</strong>a fundamental do<br />
hom<strong>em</strong> é o vazio. 24<br />
Leonardo Boff <strong>em</strong> seu livro “saber cuidar”, segue esse mesmo pensamento i<strong>de</strong>ntifi-<br />
cando e apresentando fatos importantes à cerca do mal-estar gerado ao longo dos t<strong>em</strong>pos.<br />
Com isso, ele nos faz um alerta e, nos lança um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio, que é o <strong>de</strong> saber cuidar. Ele<br />
diz que:<br />
Há um <strong>de</strong>scuido e um <strong>de</strong>scaso pela vida inocente <strong>de</strong> crianças usadas como<br />
combustível na produção para o mercado mundial. (...) Não causa admiração<br />
se são assassinadas por esquadrões <strong>de</strong> extermínio nas gran<strong>de</strong>s metrópoles da<br />
América Latina e da Ásia. Há um <strong>de</strong>scuido e um <strong>de</strong>scaso manifesto pelo <strong>de</strong>stino<br />
dos pobres e marginalizados da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, flagelados pela fome crônica,<br />
mal sobrevivendo da tribulação <strong>de</strong> mil doenças que são hoje consi<strong>de</strong>radas<br />
erradicadas e atualmente retornando com redobrada virulência. Há um<br />
<strong>de</strong>scuido e um <strong>de</strong>scaso imenso pela sorte dos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados e aposentados,<br />
sobretudo dos milhões e milhões <strong>de</strong> excluídos do processo <strong>de</strong> produção, tidos<br />
como <strong>de</strong>scartáveis e zeros econômicos. Há um <strong>de</strong>scuido e um abandono<br />
dos sonhos <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>, agravados pela heg<strong>em</strong>onia do neoliberalismo<br />
com o individualismo e a exaltação da proprieda<strong>de</strong> privada que comporta.<br />
Menospreza-se a tradição da solidarieda<strong>de</strong>. Há um <strong>de</strong>scuido e um abandono<br />
crescente da sociabilida<strong>de</strong> nas cida<strong>de</strong>s. A maioria dos habitantes sent<strong>em</strong>-se<br />
<strong>de</strong>senraizados culturalmente e alienados socialmente. Há <strong>de</strong>scuido e <strong>de</strong>scaso<br />
pela dimensão espiritual do ser h<strong>uma</strong>no, pelo espírito <strong>de</strong> finesse (espírito <strong>de</strong><br />
gentileza) que cultiva a lógica do coração e do enternecimento por tudo o<br />
que existe e vive. Há um <strong>de</strong>scuido e um <strong>de</strong>scaso pela coisa pública. (...) Há<br />
um <strong>de</strong>scuido vergonhoso pelo nível moral da vida pública marcada pela corrupção<br />
e pelo jogo explícito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> grupos, chafurdados no pantanal <strong>de</strong><br />
interesses corporativos. Há um abandono da reverência, indispensável para<br />
cuidar da vida e <strong>de</strong> sua fragilida<strong>de</strong>. Há um <strong>de</strong>scuido e um <strong>de</strong>scaso na salvaguarda<br />
<strong>de</strong> nossa casa comum, o planeta Terra. 25<br />
23 Sobre este t<strong>em</strong>a ver a obra <strong>de</strong> Rollo May, “O Hom<strong>em</strong> à Procura <strong>de</strong> Si Mesmo”.<br />
24 MAY, Rollo. O Hom<strong>em</strong> à Procura <strong>de</strong> Si Mesmo. Petrópolis – RJ. Vozes. 1986, p. 14.<br />
25 BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do H<strong>uma</strong>no – Compaixão pela Terra. Petrópolis, RJ. Vozes. 1999, p.<br />
19-20.<br />
26
Como resultado do <strong>de</strong>scuido, do <strong>de</strong>scaso e do abandono, o ser h<strong>uma</strong>no per<strong>de</strong>u sua es-<br />
perança. Outros per<strong>de</strong>ram a fé na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regeneração do ser h<strong>uma</strong>no e <strong>de</strong> projeção<br />
<strong>de</strong> um futuro melhor. 26 Boff <strong>em</strong> <strong>uma</strong> pequena frase justifica, ao mesmo t<strong>em</strong>po, pergunta<br />
dizendo:<br />
Depois da vida há coisa pior do que per<strong>de</strong>r o brilho da vida? Outros têm fé e<br />
esperança. Mas propõ<strong>em</strong> r<strong>em</strong>édios ina<strong>de</strong>quados aos sintomas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> doença<br />
coletiva. Não vão à causa real das mazelas. Tratam apenas dos sinais. 27<br />
Com isso, o ser h<strong>uma</strong>no da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> não precisa <strong>de</strong> Deus para legitimar e justifi-<br />
car os pactos sociais, pois o ser h<strong>uma</strong>no mo<strong>de</strong>rno criou um “complexo <strong>de</strong> Deus”. 28 Para tan-<br />
to, é necessário o surgimento <strong>de</strong> um novo paradigma. Fruto <strong>de</strong> <strong>uma</strong> espiritualida<strong>de</strong> renovada<br />
e fortalecida que religa, liga e integra.<br />
Leonardo Boff nos faz <strong>uma</strong> sugestão, que direcionará a um <strong>discipulado</strong> que vise ao<br />
surgimento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> nova espiritualida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> espiritualida<strong>de</strong> mais madura, mais firme.<br />
Ele propõe que ao “complexo <strong>de</strong> Deus” <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os propor “o nascimento <strong>de</strong> Deus” <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
cada pessoa e da história da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, e sua epifania no universo.<br />
A proposta <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>em</strong> Jesus frente ao <strong>de</strong>scuido, ao <strong>de</strong>scaso e ao abandono é o<br />
cuidado com o ser integral, pois s<strong>em</strong> o cuidado, o ser h<strong>uma</strong>no <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir. Se não rece-<br />
be cuidado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento até a morte, o ser h<strong>uma</strong>no <strong>de</strong>sestrutura-se, <strong>de</strong>finha, per<strong>de</strong><br />
sentido e morre. 29 Por isso, cuidar é mais que um ato é <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong>. Assim, é muito mais<br />
que um momento <strong>de</strong> atenção, <strong>de</strong> zelo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelo, representa <strong>uma</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocupação,<br />
preocupação, responsabilida<strong>de</strong> e envolvimento afetivo com o outro.<br />
Jesus é a Pessoa que po<strong>de</strong> dar ao ser h<strong>uma</strong>no razão para viver. Nele, a distância<br />
in<strong>de</strong>scritível que separa o ser h<strong>uma</strong>no pecador da Santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é<br />
eliminada. Cristo se torna h<strong>uma</strong>no para dar solução ao maior pecado da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong><br />
– o distanciamento <strong>de</strong> Deus. Esse é o fato que gera conseqüências<br />
terríveis, ou seja, produz a separação. 30<br />
26 BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, p. 20.<br />
27 BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, p. 21.<br />
28 BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, p. 21.<br />
29 BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, p. 34.<br />
30 LAVOURA, Sergio Gama. Discipulado. São Paulo: Frutos da Luz Produções. 2001. Pg. 17<br />
27
O filósofo Martin Hei<strong>de</strong>gger (1889-1976) <strong>em</strong> seu famoso “Ser e T<strong>em</strong>po”, diz que do<br />
ponto <strong>de</strong> vista existencial, o cuidado se acha a priori, antes <strong>de</strong> toda atitu<strong>de</strong> e situação do ser<br />
h<strong>uma</strong>no. Isso s<strong>em</strong>pre significa dizer que ele se acha <strong>em</strong> toda atitu<strong>de</strong> e situação <strong>de</strong> fato. 31<br />
Conclui-se que o cuidado se encontra na raiz primeira do ser h<strong>uma</strong>no, antes que ele<br />
faça qualquer coisa. Significa reconhecer o cuidado como um estilo <strong>de</strong> vida, um modo <strong>de</strong><br />
ser diferente, mas essencial e <strong>de</strong>terminante na vida <strong>de</strong> um discípulo e <strong>de</strong> <strong>uma</strong> discípula.<br />
31 HEIDEGGER, Martin. Ser e T<strong>em</strong>po, Parte I. Tradução <strong>de</strong> Márcia <strong>de</strong> Sá Cavalcante. Petrópolis. Vozes. 1989,<br />
p. 245.<br />
28
1.2.3. O Conceito das Escrituras Sagradas<br />
Para sermos verda<strong>de</strong>iros discípulos e discípulas <strong>de</strong> Jesus, t<strong>em</strong>os que assumir o com-<br />
promisso com a Palavra <strong>de</strong> Deus, que é po<strong>de</strong>r para salvação daqueles que crê<strong>em</strong> 32 fonte <strong>de</strong><br />
todo o saber divino e nos possibilita conhecimento da mente <strong>de</strong> Deus. 33<br />
A Palavra <strong>de</strong> Deus é o meio pelo qual Deus se revela ao ser h<strong>uma</strong>no e junto com a vi-<br />
da <strong>de</strong> Jesus torna-se, ao mesmo t<strong>em</strong>po, base e conteúdo <strong>de</strong> Sua mensag<strong>em</strong>. 34<br />
Revelação é exposição divina. É Deus expondo informações <strong>de</strong> si mesmo daquilo que<br />
ele <strong>de</strong>seja que a Sua criação conheça. Nesse sentido, segundo o livro “Viver a Graça”, a<br />
teologia fala <strong>de</strong> Deus e do agir <strong>de</strong> Deus no mundo e com os homens. 35<br />
Se pegarmos como base os documentos doutrinários básicos da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e sua<br />
compreensão do Evangelho como Palavra <strong>de</strong> Deus, pod<strong>em</strong>os fazer a seguinte <strong>de</strong>claração <strong>de</strong><br />
fé:<br />
Cr<strong>em</strong>os que Deus ama o ser h<strong>uma</strong>no e a criação, que lhe entregou, e lhe abre<br />
o caminho para a salvação, para que o possa encontrar e a Ele possa voltar.<br />
A salvação vale para todos os homens (e mulheres); todos, e cada indivíduo,<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> se apropriar <strong>de</strong>la pela fé e <strong>de</strong>ixar-se renovar totalmente por ela, a fim<br />
<strong>de</strong> que Deus possa levar à perfeição a sua criatura, <strong>de</strong>le afastada e ferida pelo<br />
pecado. 36<br />
Portanto, o <strong>discipulado</strong> é o <strong>de</strong>safio que Deus nos faz no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar as coisas ve-<br />
lhas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> natureza pecaminosa e resgatar a imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Deus, por meio do<br />
aprendizado “Daquele que é a imag<strong>em</strong> do Deus invisível” – Jesus Cristo (cf. Cl 1.15). 37<br />
Entretanto, o que entend<strong>em</strong>os por “revelação”?<br />
Revelação, segundo a <strong>de</strong>finição do “Dicionário Internacional <strong>de</strong> Teologia do Novo<br />
Testamento”, é a transmissão do conhecimento <strong>de</strong> Deus ao Seu povo. 38 Mas também po<strong>de</strong>-<br />
32 Romanos 1,16<br />
33 1 Coríntios 2,16<br />
34 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 02.<br />
35 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 07.<br />
36 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 07.<br />
37 LAVOURA, Sergio Gama. Discipulado, p. 18.<br />
29
mos afirmar que revelação, entre os cristãos, é a ação divina que comunica aos homens os<br />
<strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> Deus e a verda<strong>de</strong> que estes envolv<strong>em</strong>, sobretudo por meio da palavra consig-<br />
nada nos livros sagrados.<br />
Em outras palavras revelação é quando alg<strong>uma</strong> coisa oculta é <strong>de</strong>svendada ou manifes-<br />
tada. Walter Klaiber e Manfred Marquardt diz<strong>em</strong> que revelar significa criar acesso a algo<br />
oculto, tirar o véu <strong>de</strong> algo escondido (total ou parcialmente, direta ou indiretamente). 39 E<br />
afirma ainda que o fato <strong>de</strong> que Deus se revela aos homens é relatado na Bíblia <strong>de</strong> várias<br />
maneiras e formas. 40<br />
Para os autores do “Viver a Graça”, o ato <strong>de</strong> Deus se revelar ao hom<strong>em</strong> por meio <strong>de</strong><br />
Sua “Palavra” e por acontecimentos exteriores como: na t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> e no farfalhar das árvo-<br />
res (2 Sm 5,24); no ciciar do vento (1 Rs 19,12), significa dizer que, “Deus saiu do seu o-<br />
cultamento” 41 e que todas essas formas visam à manifestação do ser e da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />
ao povo <strong>de</strong> Israel e também aos povos <strong>de</strong> toda a terra. Pois é Deus qu<strong>em</strong> se volta para o ho-<br />
m<strong>em</strong> e para a mulher, como um Deus que é amor 42. Esta é a orig<strong>em</strong> e o conteúdo da revela-<br />
ção. 43<br />
Em Hebreus, constatamos o resumo da significação da pessoa e da história <strong>de</strong> Jesus,<br />
no que se refere à compreensão cristã da revelação <strong>de</strong> Deus a Seu povo. O relato <strong>de</strong> Hebreus<br />
1,1 diz que: “Havendo Deus outrora falado muitas vezes e <strong>de</strong> muitas maneiras, aos pais,<br />
pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho”. Nesse sentido, Jesus Cristo é o<br />
centro e o resumo final da ação reveladora <strong>de</strong> Deus, e assim tornando-se o padrão e o crité-<br />
rio <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> tudo o que preten<strong>de</strong> apresentar como ato revelatório <strong>de</strong> Deus.<br />
Deus falou no Filho, e por isso, no enten<strong>de</strong>r da Carta aos Hebreus, não somente<br />
as palavras <strong>de</strong> Jesus são qualificadas como Palavra <strong>de</strong> Deus, mas tam-<br />
38<br />
BROWN, Colin. COENEN, Lothar. Dicionário Internacional <strong>de</strong> Teologia do Novo Testamento. 2ª Edição.<br />
São Paulo. 2000.<br />
39<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 08.<br />
40<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 08.<br />
41<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 08.<br />
42<br />
1 João 4,7-21<br />
43<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 13.<br />
30
ém a sua pessoa, a sua vida e ativida<strong>de</strong>, a sua morte e ressurreição revelam<br />
a Deus. 44<br />
Para isso, o Novo Testamento e, <strong>em</strong> especial, as cartas paulinas <strong>de</strong>stacam a morte e a<br />
ressurreição <strong>de</strong> Jesus, como o centro da revelação <strong>de</strong> Deus ao Seu povo. 45 É este o ponto<br />
que caracteriza a revelação bíblica, pois:<br />
O fato <strong>de</strong> Deus se tornar manifesto é, conforme o test<strong>em</strong>unho bíblico, <strong>uma</strong><br />
história que Deus vive com os homens, na qual se une a eles nos acontecimentos<br />
[...] Revelação é [...] <strong>uma</strong> manifestação integradora: Deus v<strong>em</strong> ao<br />
hom<strong>em</strong>, não o abandona a si mesmo e não o <strong>de</strong>ixa sozinho, consigo mesmo,<br />
atirado no mundo. 46<br />
Para Walter Klaiber e Manfred Marquardt, Jesus Cristo é a palavra <strong>de</strong> Deus feita car-<br />
ne. A palavra <strong>de</strong> Deus se revela <strong>em</strong> Jesus, que é o Filho <strong>de</strong> Deus e que “acontece” na vida e<br />
no mundo (Gn 1,3; Sl 33,6; Is 55,10).<br />
Já para Karl Barth, no que se refere à palavra <strong>de</strong> Deus ou como ele diz “complexo fe-<br />
nômeno da palavra <strong>de</strong> Deus”, <strong>de</strong>fine e apresenta <strong>uma</strong> tripla caracterização, seguindo <strong>uma</strong><br />
estrutura conceitual:<br />
A palavra anunciada <strong>de</strong> Deus: <strong>em</strong> que Deus, pela pregação e nos sacramentos<br />
da <strong>Igreja</strong>, fala aos homens; A palavra escrita <strong>de</strong> Deus, a Sagrada Escritura,<br />
como m<strong>em</strong>ória da revelação acontecida; A palavra revelada <strong>de</strong> Deus, o<br />
evento mesmo da revelação, o qual é <strong>de</strong>scrito da maneira mais radical possível<br />
pela frase: “A Palavra se tornou carne”. Nessa tríplice forma <strong>de</strong> sua Palavra,<br />
Deus nos fala, e é importante apreen<strong>de</strong>r a profunda unida<strong>de</strong> e a mútua<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>ssas três formas do falar <strong>de</strong> Deus: a Palavra revelada <strong>de</strong> Deus<br />
conhec<strong>em</strong>os unicamente pela escrita e a Palavra escrita se nos manifestou na<br />
pregação concreta e atual. Inversamente, a Palavra anunciada tira suas raízes<br />
da Escritura e a Palavra escrita recebe sua autorida<strong>de</strong> da revelação <strong>de</strong> Deus<br />
que a test<strong>em</strong>unha. 47<br />
Walter Klaiber e Manfred Marquardt, seguindo a linha <strong>de</strong> pensamento <strong>de</strong> Karl Barth e<br />
lançando mão dos “fundamentos da doutrina e da tarefa teológica da <strong>Igreja</strong> Evangélico-<br />
<strong>Metodista</strong>”, afirmam que:<br />
Na Bíblia, o Deus vivo nos encontra na experiência da graça re<strong>de</strong>ntora. T<strong>em</strong>os<br />
a convicção <strong>de</strong> que Jesus Cristo é a Palavra viva <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nosso<br />
44<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 11.<br />
45<br />
Ver Colossenses 2,9<br />
46<br />
JOEST, W. Dogmatik I, 1984, pg. 17. In: Viver a Graça. KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt, p. 13.<br />
47<br />
BARTH, K. Kirchliche Dogmatik I, 1, pg. 89-128. In: Viver a Graça. KLAIBER, Walter e Manfred Mar-<br />
quardt. Op. Cit. Pg. 15.<br />
31
assim:<br />
meio e nele confiamos na vida e na morte. Os escritores bíblicos, iluminados<br />
pelo Espírito Santo, dão test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> que <strong>em</strong> Jesus Cristo o mundo está<br />
reconciliado com Deus. A Bíblia, <strong>de</strong> seu lado, atesta seguramente a automanifestação<br />
<strong>de</strong> Deus na vida, na morte e ressurreição <strong>de</strong> Jesus, b<strong>em</strong> como<br />
na sua ativida<strong>de</strong> como Criador, na peregrinação do povo <strong>de</strong> Israel e na continuida<strong>de</strong><br />
da operação do Espírito Santo na história h<strong>uma</strong>na. Quando abrimos<br />
coração e mente para a Palavra <strong>de</strong> Deus – a qual v<strong>em</strong> a nós <strong>em</strong> palavras h<strong>uma</strong>nas,<br />
inspiradas pelo Espírito Santo – nasce e cresce a nossa fé, aprofundase<br />
nosso entendimento e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação do mundo se ergu<strong>em</strong><br />
diante <strong>de</strong> nossos olhos. 48<br />
Eles apresentam ainda alg<strong>uma</strong>s teses sobre a relação entre a revelação e a Bíblia,<br />
1. A revelação <strong>de</strong> Deus prece<strong>de</strong> a Sagrada Escritura, pois a Escritura é test<strong>em</strong>unho<br />
da revelação acontecida. A revelação acontecida é narrada na Bíblia,<br />
atestada, guardada e transmitida, pois ela quer tornar-se novamente revelação.<br />
2. O traço característico da revelação é ser revelação <strong>de</strong> salvação. [...], pois<br />
ela quer simplesmente levar-nos ao conhecimento <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> nós mesmos,<br />
b<strong>em</strong> como da relação <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos com Deus.<br />
3. Revelação e Sagrada Escritura não são idênticas, mas também não pod<strong>em</strong><br />
ser separadas <strong>uma</strong> da outra. [...] A Sagrada Escritura, como documento da<br />
revelação acontecida, dá test<strong>em</strong>unho do agir <strong>de</strong> Deus, sobretudo, da <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />
revelação válida – a que se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> Jesus Cristo. Por isso, tanto Escritura<br />
como revelação <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser relacionadas entre si e nesse relacionamento<br />
recíproco são fonte e norma básica da teologia, para ensino e pregação da <strong>Igreja</strong>.<br />
A Sagrada Escritura, s<strong>em</strong> a revelação prece<strong>de</strong>nte, é letra morta (2 Co<br />
3,6); revelação s<strong>em</strong> Sagrada Escritura é possivelmente enganadora (autoilusão);<br />
na conexão estreita entre si, elas são “cânon”, linha diretriz para a<br />
nossa ativida<strong>de</strong> teológica e pastoral.<br />
4. Também a Palavra anunciada hoje por test<strong>em</strong>unhas cristãs, é Palavra <strong>de</strong><br />
Deus, pela qual Deus mesmo se dirige aos homens e neles produz a fé. Somente<br />
porque isto é verda<strong>de</strong>, t<strong>em</strong>os esperança fundamental <strong>de</strong> que nosso test<strong>em</strong>unho<br />
atinge os homens no seu mais íntimo e que através <strong>de</strong> fracas palavras<br />
h<strong>uma</strong>nas, eles se encontram com o Deus salvador e vivificador. 49<br />
John Wesley <strong>em</strong> sua “filosofia natural” <strong>de</strong>fine o conhecimento <strong>de</strong> Deus a partir da ex-<br />
periência e afirma que:<br />
“O mundo ao nosso redor é o po<strong>de</strong>roso livro <strong>em</strong> que Deus mesmo se explica.<br />
O livro da natureza está escrito <strong>em</strong> <strong>uma</strong> linguag<strong>em</strong> universal, que cada hom<strong>em</strong><br />
po<strong>de</strong> ler <strong>em</strong> sua própria língua”. “A perfeição e a gran<strong>de</strong>za, o po<strong>de</strong>r e a<br />
sabedoria do Criador, sua bonda<strong>de</strong>, mas também sua ira pod<strong>em</strong> ser lidos e<br />
48 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 16.<br />
49 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 16-17.<br />
32
entendidos a partir da natureza. Isto significa que cada parcela da natureza<br />
aponta para o Deus da natureza”. 50<br />
Seguindo a lógica do pensamento wesleyano, a criação seria um indício da vida infini-<br />
ta e inesgotável <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> Sua constância e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Sua glória, bonda<strong>de</strong> e sabedoria,<br />
mas também <strong>de</strong> Sua inexplicabilida<strong>de</strong>, pois, ao lado da manifestação <strong>de</strong> Deus na criação,<br />
está na natureza também aquilo que O encobre; ao lado da s<strong>em</strong>elhança com os seres, tam-<br />
bém o incomparável; ao lado do afirmativo também o contraditório. 51<br />
Essa afirmação po<strong>de</strong> ser encontrada na Bíblia, pois ela atesta o ato revelatório <strong>de</strong> Deus<br />
por meio <strong>de</strong> Sua criação – a natureza. Ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> um relato bíblico pod<strong>em</strong>os encontrar no<br />
livro <strong>de</strong> Jó que assim diz:<br />
Pergunta aos animais e eles te ensinarão; aos pássaros do céu e eles te dirão;<br />
aos avestruzes da terra e eles te instruirão; e aos peixes do mar, e eles te contarão.<br />
Qu<strong>em</strong> não reconheceria <strong>em</strong> tudo isso que a mão do Senhor o fez, que<br />
<strong>em</strong> sua mão está a alma <strong>de</strong> tudo que vive e o hálito vital <strong>de</strong> todos os homens.<br />
52<br />
Paulo, quando escreve aos Romanos e aos Coríntios, dá a enten<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> forma<br />
mais particular, que o hom<strong>em</strong> e a mulher po<strong>de</strong>riam e <strong>de</strong>veriam reconhecer o Criador <strong>em</strong> Sua<br />
ação criadora na natureza. 53<br />
1.1.4. O Conceito <strong>de</strong> Evangelização<br />
A evangelização t<strong>em</strong> como pressuposto o seguinte mandamento <strong>de</strong> Jesus para os Seus<br />
discípulos e discípulas:<br />
“Toda a autorida<strong>de</strong> me foi dada no céu e na terra. I<strong>de</strong>, portanto, fazei discípulos<br />
<strong>de</strong> todas as nações, batizando-os <strong>em</strong> nome do Pai, e do Filho, e do Espírito<br />
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho or<strong>de</strong>nado.<br />
E eis que estou convosco todos os dias até à cons<strong>uma</strong>ção dos séculos”. 54<br />
50<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 19.<br />
51<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 20.<br />
52<br />
Cf. Jó 12,7-10<br />
53<br />
Romanos 1,19-20<br />
54<br />
Mateus 28,18-20 – “A Gran<strong>de</strong> Comissão”<br />
33
Tendo como base as palavras <strong>de</strong> Jesus, po<strong>de</strong>ríamos dizer que evangelização é tornar<br />
conhecidas as Boas-Novas <strong>de</strong> Jesus a um mundo que está morrendo. 55 Mas também po<strong>de</strong>rí-<br />
amos dizer que é o anúncio ou a proclamação da nova vida <strong>em</strong> Deus. 56 Ou, até mesmo, que<br />
evangelização é o cumprimento da missão <strong>de</strong> Deus, pois:<br />
Missão significa envio para diss<strong>em</strong>inar a fé cristã, o envio <strong>de</strong> homens por<br />
Deus, a qu<strong>em</strong> Jesus Cristo revelou como o Deus que ama a todos os seres<br />
h<strong>uma</strong>nos. Por conseguinte, missão é antes e acima <strong>de</strong> tudo um ato <strong>de</strong> Deus,<br />
“o ato próprio do Deus da graça”. Em sentido <strong>de</strong>rivado, missão é a tarefa <strong>de</strong><br />
todos os cristãos, como resposta agra<strong>de</strong>cida ao que Deus fez e faz. 57<br />
José Comblin falando sobre o assunto diz que evangelizar diz respeito aos “evange-<br />
lhos” e <strong>de</strong>fine evangelização da seguinte maneira:<br />
“Evangelização” ou evangelizar é anunciar e publicar a mensag<strong>em</strong> dos “evangelhos”.<br />
Ora, a mensag<strong>em</strong> dos evangelhos consiste nisto: o anúncio <strong>de</strong><br />
Jesus Cristo. [...] Evangelizar consta assim <strong>de</strong> três graus: evangelizar é anunciar<br />
os evangelhos; os evangelhos anunciam Jesus Cristo; Jesus Cristo anuncia<br />
o advento do reino do Pai. Que é vida e liberda<strong>de</strong> dos homens. 58<br />
Nesse sentido, a igreja primitiva compreen<strong>de</strong>u o conceito <strong>de</strong> evangelização. Então,<br />
posso afirmar s<strong>em</strong> medo que a igreja primitiva foi um grupo <strong>de</strong> homens e mulheres que as-<br />
sumiram a missão <strong>de</strong> Deus e realizaram a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Seu Senhor, Jesus Cristo.<br />
A igreja primitiva foi <strong>missionária</strong>, pois a missão era a razão <strong>de</strong> sua existência,<br />
dirigindo-se aos homens <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po pela pregação dos apóstolos, pelo<br />
ex<strong>em</strong>plo da vida <strong>em</strong> comum e auxílio mútuo, e pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus m<strong>em</strong>bros<br />
.59<br />
O “Plano para Vida e Missão” <strong>de</strong>fine evangelização da seguinte maneira:<br />
A Evangelização, como parte da Missão, é encarnar o amor divino nas formas<br />
mais diversas da realida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na para que Jesus Cristo seja confessado<br />
como Senhor, Salvador, Libertador e Reconciliador. A Evangelização sinaliza<br />
e comunica o amor <strong>de</strong> Deus na vida h<strong>uma</strong>na e na socieda<strong>de</strong> através da<br />
adoração, proclamação, test<strong>em</strong>unho e serviço. 60<br />
55 Romanos 6,23<br />
56 Romanos 6,5<br />
57 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 371.<br />
58 COMBLIN, José. Evangelizar: Meditações Evangélicas VIII. Petrópolis. Editora Vozes, 1980, p. 07.<br />
59 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 371.<br />
60 IGREJA METODISTA. Plano para “Vida e Missão”: Decisão do XIII Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e<br />
Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Editora Unimep. 1982, p. 28.<br />
34
Por isso, <strong>uma</strong> das características do Metodismo é a paixão evangelística e isso nós po-<br />
d<strong>em</strong>os ver na herança wesleyana:<br />
O Metodismo caracteriza-se por sua paixão evangelística, procurando proclamar<br />
as boas-novas <strong>de</strong> salvação a todas as pessoas, <strong>de</strong> tal sorte que o amor<br />
e a misericórdia <strong>de</strong> Deus, revelados <strong>em</strong> Jesus Cristo, sejam proclamados e<br />
aceitos por todos os homens e mulheres (I Co 1,22-24). No po<strong>de</strong>r do Espírito<br />
Santo, através do test<strong>em</strong>unho e do serviço prestados pela <strong>Igreja</strong> ao mundo<br />
<strong>em</strong> nome <strong>de</strong> Deus, da maneira mais abrangente e persuasiva possíveis, os<br />
metodistas procuram anunciar a Cristo como Senhor e Salvador (I Co 9,16;<br />
Fp 1,12-14; At 7,55-58). 61<br />
A evangelização está relacionada à apresentação do evangelho, com o anúncio das<br />
Boas-Novas da morte, sepultamento e ressurreição <strong>de</strong> Jesus Cristo pelos nossos pecados. 62<br />
Assim, o <strong>discipulado</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>uma</strong> estratégia que possibilita o envolvi-<br />
mento dos m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> nossa igreja na missão <strong>de</strong> Deus. Afinal, a nossa missão é viver e<br />
anunciar as novas coisas que Deus fez e ainda está fazendo no mundo, por intermédio <strong>de</strong><br />
Jesus Cristo. 63<br />
Com isso, surge <strong>uma</strong> nova comunida<strong>de</strong>. Uma comunida<strong>de</strong> que, tendo recebido o <strong>de</strong>sa-<br />
fio do mestre, torna-se <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> evangelizante, <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> fortalecida pelo<br />
po<strong>de</strong>r do Espírito Santo 64 e que t<strong>em</strong> como princípio fundante, o amor recriador e salvífico<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Esta nova comunida<strong>de</strong> se enten<strong>de</strong> como a comunida<strong>de</strong> dos colaboradores e<br />
das colaboradoras <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> sua obra. [...] Comunida<strong>de</strong> que tenta viver segundo<br />
a ética do amor, e sua conduta segundo as normas do amor, recebe<br />
po<strong>de</strong>r pelos dons <strong>de</strong> Deus no culto divino, no uso dos meios <strong>de</strong> graça e na<br />
comunhão com outros cristãos – on<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> novo se renova a experiência<br />
da aceitação por Deus – on<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> novo receb<strong>em</strong> a incumbência <strong>de</strong><br />
celebrar o serviço divino no dia-a-dia, <strong>de</strong>ntro do mundo <strong>em</strong> que vive. 65<br />
Um organismo vivo que pulsa e respira o amor a Deus e ao próximo, e que une povos<br />
e nações, na celebração da vida <strong>em</strong> Jesus. Por isso é correto dizer que, a <strong>Igreja</strong> é o corpo <strong>de</strong><br />
61<br />
IGREJA METODISTA. Plano para Vida e Missão, p. 08.<br />
62<br />
1 Coríntios 15,1-4<br />
63<br />
ENGLISH, Donald. Discipulado Cristão. São Paulo. Imprensa <strong>Metodista</strong>. 1977, p. 14.<br />
64<br />
Cf. Atos 1,8<br />
65<br />
KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 346.<br />
35
Cristo, a comunida<strong>de</strong> que continua na história a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> salvação e que incorpora nes-<br />
se novo organismo todos os que se <strong>de</strong>ixam salvar. 66<br />
O “Plano para Vida e Missão”, que é um dos documentos produzidos pela <strong>Igreja</strong> Me-<br />
todista, apresenta a seguinte afirmação:<br />
[...] a <strong>Igreja</strong>, antes <strong>de</strong> ser organização, instituição ou grupo social, é um Corpo,<br />
um Organismo vivo, <strong>uma</strong> Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo (Ef 1,22-23; I Co<br />
12,27). Sua vivência <strong>de</strong>ve ser expressa como <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, adoração,<br />
crescimento, test<strong>em</strong>unho, amor, apoio e serviço (At 2,42-47; Rm 12,9-<br />
21). Nesta comunida<strong>de</strong> os metodistas são <strong>de</strong>spertados, alimentados, cresc<strong>em</strong>,<br />
compartilham, viv<strong>em</strong> juntos, expressam sua vivência e fé, edificam o Corpo<br />
<strong>de</strong> Cristo, são equipados para o serviço e o expressam junto das pessoas e<br />
das comunida<strong>de</strong>s (I Co 12,16-26; II Co 9,12-14; Ef 4,11-16). 67<br />
Uma comunida<strong>de</strong> evangelizante é um grupo <strong>de</strong> pessoas que, tendo passado pelo pro-<br />
cesso do <strong>discipulado</strong>, agora coloca <strong>em</strong> prática os ensinamentos apresentados e vivenciados<br />
por Jesus.<br />
Essa comunida<strong>de</strong>, <strong>uma</strong> vez que passa pelo processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, é <strong>de</strong>safiada a a-<br />
ten<strong>de</strong>r o chamado para ser test<strong>em</strong>unha <strong>de</strong> Jesus Cristo. Nesse sentido, o Colégio Episcopal<br />
da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, produziu um documento que visa a orientar o povo chamado metodista<br />
à assumir esse <strong>de</strong>safio rumo a evangelização, dizendo que, para cumprir essa vocação, são<br />
muito importantes: o estilo <strong>de</strong> vida, a forma <strong>de</strong> organizar-se e o modo <strong>de</strong> planejar, pois ser<br />
test<strong>em</strong>unha é <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> encarnar o Evangelho. 68<br />
Esse pensamento é a primeira tentativa <strong>de</strong> d<strong>em</strong>onstrar esse novo estilo <strong>de</strong> vida adqui-<br />
rido pelo processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que é o amadurecimento da fé. Esta parte <strong>de</strong> <strong>uma</strong> confis-<br />
são imediata e real da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> brasileira, no sentido <strong>de</strong> que, não t<strong>em</strong>os assumido o<br />
chamado <strong>de</strong> Jesus, como <strong>de</strong> fato era para acontecer, mas estamos voltando ao caminho cer-<br />
to, com ajuda da graça e do po<strong>de</strong>r libertador, restaurador e criativo <strong>de</strong> Deus.<br />
66 KLAIBER, Walter e Manfred Marquardt. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 347.<br />
67 IGREJA METODISTA. Plano para Vida e Missão, p. 11.<br />
68 IGREJA METODISTA. <strong>Igreja</strong>: Comunida<strong>de</strong> Missionária a Serviço do Povo. Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong><br />
<strong>Metodista</strong>, 1991, p. 09.<br />
36
A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> enten<strong>de</strong> que a confissão é um ato gerado pelo amadurecimento da<br />
fé. E, por isso, ela <strong>de</strong>clara que:<br />
Como <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> confessamos, com humilda<strong>de</strong>, que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong>os<br />
sido fiéis à nossa vocação divina, <strong>em</strong> meio aos homens e mulheres <strong>de</strong><br />
nosso t<strong>em</strong>po. Confessamos que, às vezes, os <strong>de</strong>safios que são colocados diante<br />
<strong>de</strong> nós parec<strong>em</strong>-nos gran<strong>de</strong>s d<strong>em</strong>ais e não t<strong>em</strong>os confiado <strong>em</strong> Deus e<br />
<strong>em</strong> sua presença. Confessamos que sucumbimos a estilos <strong>de</strong> vida que não<br />
são compatíveis como evangelho e com a missão. Confessamos que, <strong>em</strong><br />
t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> tanto sofrimento <strong>de</strong> nosso povo e corrupção dos po<strong>de</strong>res e sist<strong>em</strong>as,<br />
a nossa voz profética não t<strong>em</strong> sido clara e suficiente. Confessamos que<br />
a Instituição <strong>Metodista</strong> n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foi vista como instrumentos <strong>de</strong> participação<br />
na missão do Deus Trino. Por isso, confessamos os nossos pecados<br />
comuns e, confiados na abundante graça <strong>de</strong> Deus, dispomo-nos novamente<br />
para a nossa vocação e ministérios no corpo <strong>de</strong> Cristo. 69<br />
A tarefa <strong>missionária</strong> a ser <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhada por esta comunida<strong>de</strong> evangelizante, s<strong>em</strong>pre<br />
se constituiu um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio.<br />
Frente a essa realida<strong>de</strong>, surge para a igreja <strong>de</strong> Cristo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejar e <strong>de</strong>-<br />
senvolver mo<strong>de</strong>los missionários a ser<strong>em</strong> estudados e seguidos pelas nossas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
fé, na busca por <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar o seu papel <strong>de</strong> agente colaborador e evangelizador na procla-<br />
mação dos valores do Reino <strong>de</strong> Deus.<br />
Nesse sentido, evangelização é o princípio <strong>de</strong>terminante da ação da igreja. O seu sen-<br />
tido mais abrangente t<strong>em</strong> a ver com a pessoa, os eventos e a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Cristo para todo<br />
o mundo. Evangelizar quer dizer transformar e formar continuamente, no evangelho, pesso-<br />
as, comunida<strong>de</strong>s, socieda<strong>de</strong>s e a própria criação. Missão é envio; evangelização é o conteú-<br />
do do projeto contido no envio. 70<br />
1.2. Tradição Cristã<br />
Por tradição cristã, entendo que é a transmissão e proclamação do keriggma bíblico,<br />
que t<strong>em</strong> como ponto <strong>de</strong> partida a pregação dos discípulos e discípulas <strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong> Nazaré,<br />
69 IGREJA METODISTA. <strong>Igreja</strong>: Comunida<strong>de</strong> Missionária a Serviço do Povo, p. 09-10.<br />
70 FACULADE DE TEOLOGIA DA IGREJA METODISTA. Linhas <strong>de</strong> Vida e Missão na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teolo-<br />
gia, São Bernardo do Campo, p. 02.<br />
37
que O proclamam, Cristo e Senhor, num discurso muito simples e assim tomando a forma<br />
<strong>de</strong> um relato. Tradição cristã é a m<strong>em</strong>ória reflexiva da vida da igreja. Assim o evento Jesus<br />
cumpre as profecias das Sagradas Escrituras.<br />
Pod<strong>em</strong>os afirmar também que a tradição é a presença da palavra <strong>de</strong> Deus 71 , s<strong>em</strong>pre i-<br />
dêntica a si mesma, mas continuamente encarnada no hom<strong>em</strong> que se dispõe a ouvi-la num<br />
lugar preciso e na situação <strong>em</strong> que se encontra, no espaço e no t<strong>em</strong>po, no ambiente que o<br />
envolve nos condicionamentos econômicos, sociais, culturais que simultaneamente o encer-<br />
ram e o exaltam. 72<br />
Bernard Sesboüé, no primeiro capítulo do livro “O Deus da Salvação”, diz que há três<br />
tipos <strong>de</strong> discursos que são centrais na transmissão ou, como ele diz, “nas origens da literatu-<br />
ra cristã” <strong>em</strong> torno da interpretação do keriggma: o ju<strong>de</strong>u-cristianismo, o gnosticismo e os<br />
padres apostólicos.<br />
E afirma ainda que:<br />
1.2.1. O Ju<strong>de</strong>u-Cristianismo<br />
Esses três discursos se comunicam uns com os outros por meio <strong>de</strong> sutis fenômenos<br />
<strong>de</strong> osmose e, até mesmo, se sobrepõ<strong>em</strong> parcialmente. Mas a flexibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> suas fronteiras <strong>em</strong> nada elimina a distinção legítima <strong>de</strong> seus respectivos<br />
perfis. 73<br />
O termo ju<strong>de</strong>u-cristianismo abrange realida<strong>de</strong>s bastante diferentes. De fato, houve ju-<br />
<strong>de</strong>us-cristãos perfeitamente “ortodoxos” quanto à fé cristã e ju<strong>de</strong>us-cristãos, cuja cristologia<br />
adocianista 74 reconhecia <strong>em</strong> Jesus um profeta, mas não o Filho <strong>de</strong> Deus.<br />
71<br />
Cf. o Dicionário <strong>de</strong> Pastoral, <strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r da seguinte maneira: “Por palavra <strong>de</strong> Deus não <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>rse<br />
apenas <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> vocábulos pronunciados (ou escritos); é um conjunto <strong>de</strong> comunicações e <strong>de</strong> intercâmbios,<br />
<strong>de</strong> fatos, gestos, ações, comportamentos, olhares até mesmo silêncios que estabelec<strong>em</strong> entre Deus e os<br />
homens a comunhão <strong>de</strong> um diálogo, o qual nos conduz a <strong>uma</strong> relação psicológica irredutível a medidas conceituais,<br />
<strong>em</strong>bora repleta <strong>de</strong> inteligência.” , p. 545.<br />
72<br />
C. FLORISTÁN, J. J. TAMAYO, J. DE LA TORRE, A. HORTELANO. Dicionário <strong>de</strong> Pastoral. Editora Santuário<br />
– Aparecida – SP, p. 545.<br />
73<br />
SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação (Séculos I-VIII). História dos Dogmas dirigida por Bernard Sesboüé, SJ e<br />
Joseph Wolinski. Edições Loyola. São Paulo-SP, 2002, p. 29.<br />
74<br />
Heresia do séc. II, segundo a qual Jesus foi adotado como filho <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o batismo no Jordão, e que<br />
nega, assim, <strong>uma</strong> filiação divina <strong>em</strong> sentido próprio.<br />
38
Bernard Sesboüé apresenta <strong>uma</strong> <strong>de</strong>finição mais completa <strong>de</strong>sse termo, usando <strong>uma</strong> ci-<br />
tação feita por J. Daniélou assim:<br />
Po<strong>de</strong>-se [...] chamar <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u-cristianismo <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> pensamento cristão<br />
que não implica ligação com a comunida<strong>de</strong> judaica, mas que se exprime <strong>em</strong><br />
quadros <strong>em</strong>prestados do judaísmo. A palavra t<strong>em</strong> então um sentido muito<br />
mais amplo. [...] Ela compreen<strong>de</strong> também homens que romperam completamente<br />
com o meio ju<strong>de</strong>u, mas que continuam a pensar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas categorias.<br />
[...] Esse ju<strong>de</strong>u-cristianismo foi evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente o dos cristãos vindos do<br />
judaísmo, mas também <strong>de</strong> pagãos convertidos. 75<br />
Dessa forma, o quadro <strong>de</strong>sse pensamento ju<strong>de</strong>u é o da apocalíptica. Sesboüé <strong>de</strong>fine<br />
como “<strong>uma</strong> teologia visionária”. 76<br />
Os escritos ju<strong>de</strong>us-cristãos que chegaram até nós são relativamente numerosos. São<br />
originários da Síria, da Ásia Menor, do Egito, da Grécia e até mesmo <strong>de</strong> Roma, mas poucos<br />
provêm diretamente da Palestina. Esses escritos são o eco <strong>de</strong> <strong>uma</strong> larga expansão do cristia-<br />
nismo no mundo mediterrâneo após a dispersão forçada da primeira comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jerusa-<br />
lém, <strong>em</strong> particular a Antioquia, e após a <strong>de</strong>struição do T<strong>em</strong>plo <strong>em</strong> 70 d.C. dando orig<strong>em</strong> aos<br />
textos consi<strong>de</strong>rados apócrifos do Antigo e Novo Testamentos.<br />
Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sses escritos o próprio Sesboüé apresenta <strong>em</strong> sua pesquisa histórico-<br />
teológica. Vejamos os escritos que ele i<strong>de</strong>ntifica:<br />
Ascensão <strong>de</strong> Isaías e Testamentos dos Doze Patriarcas, um livro <strong>de</strong>signado<br />
como 2 Henoc, mas também sobretudo um “ciclo <strong>de</strong> Pedro” <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> antioquena,<br />
comportando um Evangelho, Atos e um Apocalipse (como no ciclo<br />
canônico <strong>de</strong> João na Ásia Menor), um Evangelho dos Nazarenos, um Evangelho<br />
dos Ebionitas, um Evangelho segundo os Hebreus, conservando a tradição<br />
evangélica dos ju<strong>de</strong>us-cristãos vindos da Palestina, um Evangelho dos<br />
Egípcios. 77<br />
Ele afirma que o modo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>sses escritos e seu conteúdo são, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po, próximos e diferentes dos escritos canônicos. J. Daniélou diz que:<br />
“Com efeito, foi por meio das categorias <strong>em</strong>prestadas do Antigo Testamento<br />
(que constituía o fundo <strong>de</strong> sua cultura teológica) que os primeiros escritores<br />
75 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação (Séculos I-VIII). História dos Dogmas dirigida por Bernard Sesboüé, SJ e<br />
Joseph Wolinski. Edições Loyola. São Paulo-SP, 2002, p. 30.<br />
76 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 30.<br />
77 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 30.<br />
39
cristãos, canônicos ou não-canônicos, expressaram o conteúdo teologal da<br />
vida <strong>de</strong> Jesus”. 78<br />
Sesboüé <strong>de</strong>staca ainda alguns documentos litúrgicos, como a Didaqué e as O<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Salomão. Certos escritos, tradicionalmente catalogados entre os padres apostólicos, apare-<br />
c<strong>em</strong> hoje como expressões do ju<strong>de</strong>u-cristianismo. Por ex<strong>em</strong>plo, “A Epístola aos Coríntios<br />
<strong>de</strong> Cl<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> Roma”, a “Epístola <strong>de</strong> Barnabé”, o “Pastor <strong>de</strong> Hermas” e mesmo, <strong>em</strong> cer-<br />
ta medida, as “Epístolas <strong>de</strong> Inácio <strong>de</strong> Antioquia”. 79<br />
Com isso, os ju<strong>de</strong>us-cristãos apresentaram os mistérios da fé segundo <strong>uma</strong> estrutura<br />
s<strong>em</strong>ítica. Constituindo um elo entre a exegese judaica e a exegese cristã que seguirá lançan-<br />
do as bases da interpretação cristã das Escrituras.<br />
O ju<strong>de</strong>u-cristianismo é para nós cheio <strong>de</strong> ensinamento na medida <strong>em</strong> que atesta a pos-<br />
sibilida<strong>de</strong>, para a fé cristã, <strong>de</strong> se exprimir <strong>em</strong> culturas diferentes.<br />
1.2.2. O Gnosticismo<br />
Alguns el<strong>em</strong>entos do ju<strong>de</strong>u-cristianismo são próximos da gnose 80 . Contudo, o gnosti-<br />
cismo 81 levanta probl<strong>em</strong>as específicos à interpretação das origens cristãs. O gnosticismo<br />
cont<strong>em</strong>porâneo das origens cristãs é, portanto, um “conhecimento perfeito” 82 obtido por<br />
revelação e iluminação ao longo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiência interior. Sobre a questão da revelação,<br />
Sesboüé diz que:<br />
Essa revelação proporciona a salvação, entendida como <strong>uma</strong> regeneração ou<br />
como o retorno do gnóstico a seu eu original e ao princípio divino que o<br />
constitui, apesar <strong>de</strong> seu exílio no mundo material <strong>de</strong>caído que tenta apanhálo<br />
<strong>em</strong> sua armadilha. O gnóstico não é verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>ste mundo. Nele,<br />
só o hom<strong>em</strong> interior e espiritual é capaz <strong>de</strong> salvação, não o corpo n<strong>em</strong> a al-<br />
78 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 31.<br />
79 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 31.<br />
80 Designa <strong>uma</strong> tendência constante do espírito h<strong>uma</strong>no que busca o sentido da vida no conhecimento. Popularmente<br />
conhecido como conhecimento ou sabedoria.<br />
81 É o movimento histórico que se <strong>de</strong>senvolveu nos séculos II e III. O gnosticismo, portanto, é <strong>uma</strong> manifestação<br />
histórica da gnose. É um vasto movimento religioso cujo <strong>de</strong>senvolvimento é cont<strong>em</strong>porâneo das origens do<br />
cristianismo. O gnosticismo segundo Bernard Sesboüé é <strong>uma</strong> doutrina que <strong>de</strong>fine a salvação pelo conhecimento.<br />
82 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 38.<br />
40
ma inferior. Mas a gnose, entendida <strong>em</strong> sentido pleno, é <strong>uma</strong> tendência profunda<br />
e constante do espírito h<strong>uma</strong>no: po<strong>de</strong>-se falar, portanto, <strong>de</strong> “gnose eterna”.<br />
83<br />
O gnosticismo cristão surge do judaísmo, sobretudo helenístico. 84 E diante <strong>de</strong>sse mo-<br />
vimento, a fé cristã freqüent<strong>em</strong>ente se consi<strong>de</strong>rou como a “verda<strong>de</strong>ira gnose”. Esse termo<br />
t<strong>em</strong> lugar <strong>de</strong>stacado no pensamento paulino 85 que conhece duas trilogias, a da fé, esperança<br />
e conhecimento (gnose), e a da fé, esperança e carida<strong>de</strong>. 86<br />
1.2.3. O Discurso Cristão dos Padres Apostólicos<br />
Sesboüé diz que a primeira literatura patrística é pastoral e litúrgica. 87 São cartas que<br />
os bispos ou outros responsáveis das igrejas dirig<strong>em</strong> a suas comunida<strong>de</strong>s. Entre outros, ele<br />
registra as cartas <strong>de</strong> Cl<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> Roma, Inácio <strong>de</strong> Antioquia e Policarpo <strong>de</strong> Esmirna. São<br />
também homilias, como a homilia chamada antigamente “II Epístola <strong>de</strong> Cl<strong>em</strong>ente aos Co-<br />
ríntios”. Essas cartas são sucessoras diretas dos escritos do Novo Testamento.<br />
Esses documentos tinham um objetivo, <strong>de</strong>ntro do discurso cristão que, segundo Ses-<br />
boüé, é <strong>de</strong> que:<br />
Todos esses documentos são a expressão <strong>de</strong> <strong>uma</strong> preocupação ad intra: tratase<br />
<strong>de</strong> manter a boa ord<strong>em</strong> e a unida<strong>de</strong>; <strong>de</strong> ensiná-las e exortá-las [...]; e <strong>de</strong><br />
chamar à conversão todo aquele que não é fiel a seu compromisso cristão; <strong>de</strong><br />
zelar pela organização das comunida<strong>de</strong>s. 88<br />
Então, a partir <strong>de</strong> meados do século II, surge <strong>uma</strong> nova forma <strong>de</strong> literatura chamada<br />
apologética, que t<strong>em</strong> como objetivo a <strong>de</strong>fesa e a ilustração da fé cristã, primeiramente diante<br />
dos adversários externos - os ju<strong>de</strong>us e os pagãos - <strong>de</strong>pois contra adversários que se manifes-<br />
tam no interior da igreja - também conhecidos como os heréticos.<br />
83 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 38.<br />
84 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 39.<br />
85 Cf. 1 Coríntios 2, 7-8; 2 Coríntios 12, 2-4; Colossenses 2, 2-3<br />
86 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 39.<br />
87 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 43.<br />
88 SESBOÜÉ, B. O Deus da Salvação, p. 39.<br />
41
2. O Discipulado na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />
A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> enten<strong>de</strong> que a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para o mundo é estabelecer o Seu<br />
Reino. Participar da construção do Reino <strong>de</strong> Deus 89 <strong>em</strong> nosso mundo, pelo Espírito Santo,<br />
constitui-se na tarefa evangelizante da igreja. 90<br />
A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> enten<strong>de</strong> que o <strong>discipulado</strong>, antes <strong>de</strong> ser um método, um processo<br />
pedagógico e educativo, é <strong>uma</strong> “maneira <strong>de</strong> ser”, um “estilo <strong>de</strong> vida” evangélico e wesleya-<br />
no, à luz do Evangelho 91 . Por isso, entend<strong>em</strong>os que esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> é o mesmo<br />
que foi adotado por Jesus.<br />
Com isso <strong>de</strong>finimos <strong>discipulado</strong> da seguinte maneira:<br />
O <strong>discipulado</strong> é um modo <strong>de</strong> vida, o estilo que caracteriza a vida daqueles<br />
que estão comprometidos com o Reino <strong>de</strong> Deus, que faz<strong>em</strong> na Nova Justiça,<br />
ou seja, dos valores éticos e da justiça do Reino <strong>uma</strong> priorida<strong>de</strong> na sua vida e<br />
que se <strong>de</strong>dicam integralmente ao serviço cristão, ao evangelismo e ao test<strong>em</strong>unho,<br />
<strong>em</strong> cumprimento à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus Pai. 92<br />
O <strong>discipulado</strong> adotado na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> t<strong>em</strong> como objetivo a concretização <strong>de</strong> um<br />
“estilo <strong>de</strong> vida” segundo Jesus, e busca algo mais que um mero processo educativo, pois:<br />
Ele é um estilo <strong>de</strong> vida, <strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> ser <strong>em</strong> que as pessoas se relacionam,<br />
entram <strong>em</strong> comunhão, acolh<strong>em</strong> <strong>uma</strong>s ás outras, compartilham o que<br />
são, sent<strong>em</strong> e carec<strong>em</strong>; ora <strong>uma</strong>s pelas outras, louvam e adoram ao Senhor<br />
juntas, estudam a Palavra à luz da graça, da experiência e da razão da comunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fé. .93<br />
É na vivência da comunida<strong>de</strong> e no cumprimento <strong>de</strong> sua missão, que a dinâmica do<br />
<strong>discipulado</strong> é <strong>de</strong>senvolvida. Para isso, a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> reconhece o valor e a importância<br />
do <strong>discipulado</strong> cristão:<br />
89<br />
O Reino <strong>de</strong> Deus é o alvo do Deus Trino e significa o surgimento do novo mundo, da nova vida, do perfeito<br />
amor, da justiça plena, da autêntica liberda<strong>de</strong> e da completa paz. Tudo isto esta introduzido <strong>em</strong> nós e no<br />
mundo como s<strong>em</strong>ente que o Espírito Santo está fazendo brotar, como l<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Rm 8.23:nós t<strong>em</strong>os as primícias<br />
do Espírito, aguardando a adoção <strong>de</strong> filhos, ou ainda <strong>em</strong> II Co 7.21-22: “mas aquele que nos confirma<br />
convosco <strong>em</strong> Cristo, e nos ungiu, é Deus, que também nos selou e nos <strong>de</strong>u o penhor do Espírito <strong>em</strong> nossos<br />
corações”. Cf. o Plano para Vida e Missão.<br />
90<br />
IGREJA METODISTA. Plano para Vida e Missão, p. 08.<br />
91<br />
IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado: Série Discipulado 1. Biblioteca Vida e Missão. Colégio<br />
Episcopal. Editora Cedro, 2003, p. 09-10.<br />
92<br />
IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado: Série Discipulado 1, p. 17.<br />
93<br />
IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado: Série Discipulado 1, p. 18.<br />
42
2.1. Os Objetivos do Discipulado<br />
O <strong>discipulado</strong> está <strong>em</strong> relação direta com a dinâmica <strong>de</strong> Dons e Ministérios,<br />
que orienta os m<strong>em</strong>bros da igreja no cumprimento da missão, sobretudo da<br />
Gran<strong>de</strong> Comissão. [...] Cr<strong>em</strong>os que, <strong>em</strong> Jesus Cristo, t<strong>em</strong>os a expressão mais<br />
exata do <strong>discipulado</strong> ao examinar o seu ministério e a forma com que se relacionava<br />
com seus discípulos. Cr<strong>em</strong>os que o Discipulado é um estilo <strong>de</strong> vida<br />
(mais do que um método, plano ou programa) no qual a comunhão, a<br />
convivência, a intimida<strong>de</strong>, o relacionamento e a busca <strong>de</strong> caráter estão <strong>em</strong><br />
contínuo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. 94<br />
A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> i<strong>de</strong>ntifica e apresenta os principais objetivos, que nortearão a prá-<br />
tica do <strong>discipulado</strong> nas igrejas locais. Tendo como base o ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Jesus e a nossa heran-<br />
ça wesleyana, o Colégio Episcopal, <strong>em</strong> conjunto com a Câmara <strong>de</strong> Discipulado, afirmam<br />
que os objetivos são:<br />
Proporcionar ao discípulo “formação” e “crescimento” <strong>em</strong> sua vida cristã,<br />
capacitando-o para o exercício <strong>de</strong> seus ministérios. Conscientizar o discípulo<br />
<strong>de</strong> que, mais do que <strong>uma</strong> técnica educativa ou um programa <strong>de</strong> capacitação,<br />
o <strong>discipulado</strong> caracteriza <strong>uma</strong> nova maneira, um novo estilo <strong>de</strong> ser. Proporcionar<br />
ao discípulo condições <strong>de</strong> amadurecimento na e por meio da comunhão<br />
e serviço, com Deus e com o próximo. Conscientizar o discípulo sobre<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> abertura à comunida<strong>de</strong>, buscando não apenas o seu<br />
crescimento individual, mas também o crescimento <strong>de</strong> seu grupo (<strong>de</strong> Discipulado)<br />
e da sua comunida<strong>de</strong> (crescer na direção dos outros). Orientar o discípulo<br />
para que cresça na noção e prática <strong>de</strong> um ministério conjunto, ou seja,<br />
interação com outras pessoas, cada <strong>uma</strong> no exercício <strong>de</strong> seus dons e com suas<br />
características particulares. Estimular o discípulo à busca <strong>de</strong> maior autodisciplina<br />
na leitura e estudo da Bíblia, livros <strong>de</strong> apoio, na oração, na comunhão<br />
e no serviço. Desenvolver no discípulo a noção prática da criativida<strong>de</strong> e<br />
iniciativa na vida cristã, não sendo apenas um bom “executivo”, mas um criador<br />
<strong>de</strong> idéias e situações que propici<strong>em</strong> a ele e a outros o exercício <strong>de</strong> um<br />
ministério frutífero. Desenvolver no discípulo um espírito crítico sadio e<br />
construtivo, com o qual possa examinar sua vida e a realida<strong>de</strong> toda <strong>em</strong> que<br />
está inserido, <strong>de</strong> modo a dar sua contribuição, como um agente <strong>de</strong> transformação.<br />
Capacitá-lo para fazer novos discípulos, motivando-o a um test<strong>em</strong>unho<br />
evangelizante. 95<br />
Discipulado é vida <strong>em</strong> e com Jesus, e sua prática é a razão <strong>de</strong> ser da igreja que é <strong>de</strong><br />
evangelizar. Evangelizar no sentido <strong>de</strong> anunciar a vida nova que Jesus nos oferece <strong>de</strong> graça<br />
e pela graça.<br />
94 IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado: Série Discipulado 1, p. 21.<br />
95 IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado: Série Discipulado 1, p. 29.<br />
43
2.2. O Discipulado como Proposta <strong>de</strong> <strong>uma</strong> Nova Vida<br />
Jesus nos oferece a vida nova <strong>de</strong> graça e pela graça, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente estou me referin-<br />
do à graça preciosa <strong>de</strong> Deus e não à “graça barata”, que é inimiga mortal <strong>de</strong> nossa igreja. 96<br />
Segundo Dietrich Bonhoeffer, <strong>em</strong> sua obra literária, cujo título é o t<strong>em</strong>a central <strong>de</strong>sta<br />
pesquisa, ele afirma que:<br />
A graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado,<br />
sacramento malbaratado; é graça como inesgotável tesouro da <strong>Igreja</strong>; a<br />
graça s<strong>em</strong> preço, s<strong>em</strong> custo. [...] a graça barata, é a negação da Palavra viva<br />
<strong>de</strong> Deus, a negação da encarnação do Verbo <strong>de</strong> Deus. Graça barata significa<br />
justificação dos pecados, e não do pecador. [...] A graça barata é a pregação<br />
do perdão s<strong>em</strong> arrependimento, é o batismo s<strong>em</strong> a disciplina <strong>de</strong> <strong>uma</strong> congregação,<br />
é a Ceia do Senhor s<strong>em</strong> confissão dos pecados, é a absolvição s<strong>em</strong><br />
confissão pessoal. A graça barata é graça s<strong>em</strong> <strong>discipulado</strong>, a graça s<strong>em</strong> a<br />
cruz, a graça s<strong>em</strong> Jesus Cristo vivo, encarnado. 97<br />
O chamado <strong>de</strong> Jesus ao <strong>discipulado</strong> é a graça <strong>de</strong> Deus acontecendo. É a graça precio-<br />
sa. Assim, o chamado ao <strong>discipulado</strong> e à graça estão completamente ligados e o resultado<br />
disso é o que Dietrich Bonhoeffer <strong>de</strong>fine por graça preciosa. 98<br />
A resposta a esse chamado não é apenas <strong>uma</strong> confissão <strong>de</strong> fé <strong>em</strong> Jesus, como Filho <strong>de</strong><br />
Deus, mas um ato <strong>de</strong> obediência. 99 Jesus chama ao <strong>discipulado</strong> não apenas como ensinador e<br />
ex<strong>em</strong>plo, chama principalmente, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, o Filho do Deus vivo e verda<strong>de</strong>iro.<br />
Nessa linha <strong>de</strong> pensamento, Bonhoeffer <strong>de</strong>fine o termo <strong>discipulado</strong>, como o comprometi-<br />
mento com Cristo e, por existir Cristo, t<strong>em</strong> <strong>de</strong> haver <strong>discipulado</strong>. 100<br />
Bonhoeffer termina seu pensamento, afirmando que o cristianismo s<strong>em</strong> Jesus Cristo<br />
vivo, permanece necessariamente um cristianismo s<strong>em</strong> <strong>discipulado</strong>. Porém, cristianismo<br />
s<strong>em</strong> <strong>discipulado</strong> é s<strong>em</strong>pre cristianismo s<strong>em</strong> Jesus, é <strong>uma</strong> idéia, um mito.<br />
Isso reforça a tese <strong>de</strong> que o <strong>discipulado</strong> apresentado por Bonhoeffer não é o mesmo<br />
que utilizado hoje. Tendo como pressuposto que o <strong>discipulado</strong> é a observância do chamado<br />
96 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Editora Sinodal. São Leopoldo – RS. 1980, p. 09.<br />
97 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado, p. 09-10.<br />
98 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado, p. 15.<br />
99 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado, p. 21.<br />
100 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado, p. 22.<br />
44
<strong>de</strong> Cristo para <strong>uma</strong> vida nova, hoje <strong>em</strong> dia, para muitas igrejas e lí<strong>de</strong>res, o <strong>discipulado</strong> tor-<br />
nou-se um modismo metodológico visando, <strong>em</strong> geral alcançar <strong>uma</strong> forma multiplicadora <strong>de</strong><br />
crescimento da igreja e <strong>uma</strong> maneira metodológica <strong>de</strong> tornar a igreja mais a<strong>de</strong>quada a seu<br />
t<strong>em</strong>po (<strong>em</strong> especial as megas-igrejas... dividindo-se <strong>em</strong> células familiares). Essa visão t<strong>em</strong><br />
seu maior e principal ponto negativo, a <strong>de</strong>svalorização do comprometimento com o Reino<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Em resposta a esse pensamento, o Bispo Nelson Luiz Campos Leite, falando sobre o<br />
t<strong>em</strong>a no “Congresso Nacional <strong>de</strong> Escola Dominial” <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2001, afirmou que:<br />
Discipulado é entendido não como um método, mas sim, um estilo <strong>de</strong> vida,<br />
<strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> ser, no expressar evangélico <strong>de</strong> nossa fé. Não visa <strong>de</strong> início<br />
ser um processo didático ou metodológico <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>. N<strong>em</strong> mesmo<br />
<strong>uma</strong> forma pragmática <strong>de</strong> crescimento da <strong>Igreja</strong>. É algo b<strong>em</strong> mais relacional,<br />
que busca à luz do próprio Cristo, fundamentar a comunhão, a convivência, a<br />
comunicação e a forma <strong>de</strong> caráter das pessoas relacionadas com o Senhor e<br />
com a sua Comunida<strong>de</strong>- a <strong>Igreja</strong>, Corpo Vivo <strong>de</strong> Cristo. Essa foi a maneira<br />
<strong>de</strong> ser do Senhor com a sua comunida<strong>de</strong> primitiva e da comunida<strong>de</strong> apostólica,<br />
b<strong>em</strong> como a convivência inspiradora, fraternal e comunal do povo chamado<br />
metodista, a partir <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong> expressão - João Wesley. 101<br />
O <strong>discipulado</strong>, portanto, <strong>de</strong>ve ser entendido como estilo <strong>de</strong> vida que caracteriza aque-<br />
les e aquelas que estão comprometidos(as) com a mensag<strong>em</strong> do Reino <strong>de</strong> Deus e Sua<br />
Justiça.<br />
101 Conceito apresentado pelo Bispo Nelson Luiz Campos Leite no “Congresso Nacional <strong>de</strong> Escola Dominical”,<br />
<strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2001.<br />
45
CAPÍTULO II
O DISCIPULADO<br />
COMO MARCA DA TRADIÇÃO WESLEYANA<br />
“Se tivesse vinte filhos, daria <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, todos eles a esse <strong>em</strong>preendimento,<br />
<strong>de</strong> proclamar as Boas-Novas do Reino <strong>em</strong> terra estrangeira, mesmo<br />
que eu nunca mais os visse”. (Susana Wesley)<br />
No primeiro capítulo foi consi<strong>de</strong>rado que o <strong>discipulado</strong> é a teoria transformadora <strong>em</strong><br />
vivência e convicção, e que isso significaria dizer também que o <strong>discipulado</strong> é um estilo <strong>de</strong><br />
vida que caracteriza aqueles e aquelas que estão comprometidos(as) com a mensag<strong>em</strong> do<br />
Reino <strong>de</strong> Deus. 102<br />
Neste segundo capítulo, será apresentado o conceito <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>em</strong> John Wesley,<br />
na sua teologia e no seu modo <strong>de</strong> vivenciar e expressar a vida cristã por meio do discipula-<br />
do.<br />
1. O Discipulado na Vida <strong>de</strong> John Wesley<br />
Por <strong>discipulado</strong> na herança da tradição wesleyana entendo não apenas o resultado <strong>de</strong><br />
um profundo momento <strong>de</strong> revelação espiritual, mas fruto da educação recebida por seus<br />
pais, principalmente <strong>de</strong> Susana Wesley, 103 sua mãe, que foi também professora, conselheira<br />
102 O Reino <strong>de</strong> Deus é, essencialmente, a experiência <strong>de</strong> vida plena e abundante anunciada por Jesus Cristo. Enquanto<br />
esperamos a cons<strong>uma</strong>ção final, já pod<strong>em</strong>os experimentar os sinais do Reino, mesmo vivendo num<br />
mundo violento, injusto e cruel. Antecipamos a experiência do Reino <strong>de</strong> Deus toda vez que promov<strong>em</strong>os os<br />
seus sinais, que são paz, justiça e amor.<br />
103 O Prof. Dr. Duncan Alexan<strong>de</strong>r Reily – (Doutor <strong>em</strong> Teologia. Foi professor <strong>de</strong> História Eclesiástica na Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Teologia na UMESP, do ano <strong>de</strong> 1969 a 1990) - afirma ainda que, o método <strong>de</strong> sua mãe <strong>em</strong> criar seus
e <strong>discipulado</strong>ra, proporcionando a seus filhos e filhas, <strong>uma</strong> boa educação e a possibilida<strong>de</strong><br />
da gran<strong>de</strong>za do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> fé genuína, resultado <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida diferente<br />
e marcante.<br />
Por isso, para melhor compreen<strong>de</strong>rmos essa afirmação é necessário e <strong>de</strong> vital impor-<br />
tância, observar e ter como pressuposto, a dimensão do conceito <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> como um<br />
estilo <strong>de</strong> vida diferente. A conceituação <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> para Wesley surge do amadureci-<br />
mento e <strong>de</strong>senvolvimento dos conceitos bíblicos, teológicos, pastorais e do relacionamento<br />
entre seus irmãos e irmãs e entre seu pai e sua mãe.<br />
Assim sendo, entendo que a família 104 <strong>de</strong> John Wesley po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finida hoje, como<br />
um pequeno grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. 105<br />
Acredito que, o sist<strong>em</strong>a educacional familiar propicia o crescimento do ser h<strong>uma</strong>no<br />
durante o período <strong>de</strong> formação da personalida<strong>de</strong> e do seu caráter, gerando assim, um indiví-<br />
duo mais integrado à socieda<strong>de</strong>, mais seguro e capaz <strong>de</strong> superar as dificulda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> adap-<br />
tar-se às mudanças e exigências do meio <strong>em</strong> que vive.<br />
É na família que se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver o processo fundamental da transmissão da reli-<br />
gião, dos costumes, das tradições e valores entre gerações e, daí, a atuação do grupo familiar<br />
como fator <strong>de</strong>cisivo no <strong>de</strong>senvolvimento do ser h<strong>uma</strong>no e no amadurecimento da fé.<br />
filhos e filhas, influenciou fort<strong>em</strong>ente o trabalho que Wesley realizou com crianças mais tar<strong>de</strong>.<br />
104 A família n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre teve a configuração que t<strong>em</strong> <strong>em</strong> nossos dias. Ela é <strong>de</strong>terminada histórica e culturalmente.<br />
Através dos t<strong>em</strong>pos, ela t<strong>em</strong> passado por transformações. O que pod<strong>em</strong>os afirmar como ponto comum<br />
é que as pessoas se reún<strong>em</strong> <strong>em</strong> grupos para garantir a sobrevivência da espécie. Não existe família perfeita.<br />
Pois, no seio familiar há probl<strong>em</strong>as, contradições e limites nas relações familiares. Para <strong>uma</strong> maior compreensão<br />
sobre o t<strong>em</strong>a acima, indico a leitura da revista “Caminhando”, <strong>de</strong> 1994 - nº 07, do livro “Compreen<strong>de</strong>ndo<br />
o que é Família” (também publicada pela Editeo e os organizadores foram o professor Ronaldo Sathler<br />
Rosa e Dagmar Silva Pinto <strong>de</strong> Castro) e a revista Kairós nº 1- Estudos Bíblicos Pastorais, produzido pela 4º<br />
Região Eclesiástica da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 1999, cujo t<strong>em</strong>a central dos textos apresentados, traz<strong>em</strong><br />
<strong>uma</strong> abordag<strong>em</strong> bíblico, teológica, pastoral e psicológica, sobre a família.<br />
105 Para mim, o <strong>discipulado</strong> cristão é fruto <strong>de</strong> um bom relacionamento, tendo <strong>em</strong> vista que somente pela comunhão<br />
plena <strong>de</strong> seus participantes é que será possível o crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento da fé pessoal e comunitária.<br />
48
A relação com a educação 106 caracteriza-se exatamente por ser esta a ponte entre a<br />
família e a socieda<strong>de</strong>, abarcando todos os processos ativos e interativos da construção <strong>de</strong><br />
conhecimento, <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>atizada.<br />
Nesse sentido, Pierre Furter 107 <strong>em</strong> sua obra “Educação e Vida”, apresenta seu pensa-<br />
mento sobre a educação, assim:<br />
A educação t<strong>em</strong>, entre outras funções, a <strong>de</strong> difundir, corrigir e contribuir para<br />
a edificação da ord<strong>em</strong> que pretend<strong>em</strong>os dar <strong>em</strong> nosso t<strong>em</strong>po ao mundo.<br />
Claro que esta função esten<strong>de</strong> a ação educativa além das fronteiras tradicionais<br />
dos sist<strong>em</strong>as escolares; por isso mesmo estamos hoje pensando n<strong>uma</strong> ativida<strong>de</strong><br />
educativa que siga continuamente a vida h<strong>uma</strong>na. 108<br />
Observo ainda que as crianças participantes <strong>de</strong> um contexto familiar equilibrado e sa-<br />
dio, que têm os seus pais amorosamente engajados e dispostos no investimento da sua edu-<br />
cação, são b<strong>em</strong>-sucedidas na escola, seguras no relacionamento com os outros, dotadas <strong>de</strong><br />
<strong>uma</strong> boa auto-estima, e cumpridoras dos seus <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> forma responsável e prazerosa.<br />
Ex<strong>em</strong>plo prático <strong>de</strong>ssa afirmação encontra-se no pensamento <strong>de</strong> Duncan Alexan<strong>de</strong>r<br />
Reily, no qual ele afirma que Wesley tinha <strong>uma</strong> boa relação com as crianças, por causa das<br />
experiências vividas no acolhedor ambiente da casa pastoral <strong>de</strong> Epworth 109 on<strong>de</strong> foi criado<br />
junto <strong>de</strong> seus irmãos e irmãs.<br />
É na família que resi<strong>de</strong> um papel educativo essencial, pois é nela que se constrói a es-<br />
trutura central da personalida<strong>de</strong> dos filhos e filhas, é nela que se constrói o quadro <strong>de</strong> refe-<br />
106<br />
A Educação dirige-se à formação integral da pessoa e, conseqüent<strong>em</strong>ente, ao b<strong>em</strong> da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o<br />
hom<strong>em</strong> faz parte integrante. O processo educativo é, e t<strong>em</strong> que ser cada vez mais, um processo interativo.<br />
Neste sentido, a educação <strong>de</strong>stina-se a proporcionar a cada um e a cada <strong>uma</strong>, a caminhada do individuo para<br />
o universal.<br />
107<br />
Pierre Furter nasceu <strong>em</strong> 1931, <strong>em</strong> Chaux-<strong>de</strong>-Fonds, na Suíça. Estudou filosofia e pedagogia nas Universida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Lausanne e Neuchâtel, licenciado-se <strong>em</strong> filosofia e <strong>em</strong> educação. Especializou-se <strong>em</strong> literatura comparada,<br />
<strong>em</strong> Lisboa, Zurique e Recife. Lecionou português, durante seis anos, no ensino secundário suíço. Depois<br />
<strong>de</strong> doutorar-se <strong>em</strong> filosofia da educação, trabalhou durante seis anos na América Latina. Primeiro no<br />
Brasil, realizando pesquisas no campo do analfabetismo e da cultura popular; <strong>de</strong>pois na Venezuela, avaliando<br />
a contribuição da educação <strong>de</strong> adultos para o <strong>de</strong>senvolvimento cultural nacional.<br />
108<br />
FURTER, Pierre. Educação e Vida. Coleção: Educação e T<strong>em</strong>po Presente. Vozes. 11ª Edição. Petrópolis, Rj<br />
– Brasil, 1996, p. 31.<br />
109<br />
REILY, Duncan Alexan<strong>de</strong>r. João Wesley e as Crianças. In: VV.AA Caminhando: Revista da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, v.8, n° 12, 2 o . S<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2003. São Bernardo do Campo, SP; Editeo / U-<br />
MESP, 2003, p. 11.<br />
49
ência primária para a prática educativa, é nela que começa a existência do hom<strong>em</strong> e é ela o<br />
meio natural e mais a<strong>de</strong>quado para o indivíduo se promover como pessoa .<br />
Assim, afirmo que é no contexto familiar que Wesley t<strong>em</strong> sua primeira experiência <strong>de</strong><br />
pequenos grupos, nesse caso, sua própria família Wesley.<br />
A pedagogia adotada no ensino, 110 foi um instrumento educativo da graça <strong>de</strong> Deus, na<br />
vida daquelas crianças. O mesmo po<strong>de</strong> ser dito a respeito do <strong>discipulado</strong>. O processo <strong>de</strong><br />
<strong>discipulado</strong> é um instrumento educativo da graça divina, no qual aquele ou aquela que está<br />
inserido(a) nesse processo, t<strong>em</strong> a certeza <strong>de</strong> receber e vivenciar a vida abundante encontrada<br />
<strong>em</strong> Jesus Cristo (João 10,10b).<br />
1.1. A Família <strong>de</strong> John Wesley<br />
O reverendo Samuel e Susana Wesley foram filhos <strong>de</strong> pastores “dissi<strong>de</strong>ntes”, que se<br />
separaram da <strong>Igreja</strong> oficial da Inglaterra, também conhecida como “<strong>Igreja</strong> Anglicana”, que<br />
era <strong>uma</strong> igreja muito moralista e rígida, herança da tradição do puritanismo. Quando Samuel<br />
e Susana se casaram, eles <strong>de</strong>cidiram conscient<strong>em</strong>ente fazer parte e servir à <strong>Igreja</strong> Anglica-<br />
na. 111<br />
A família <strong>de</strong> John Wesley s<strong>em</strong>pre teve <strong>de</strong>staque na socieda<strong>de</strong> inglesa, não só por ser<br />
<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> família, numericamente falando, mas pelo fato <strong>de</strong> ter um estilo <strong>de</strong> vida diferente<br />
110 Apesar <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> a idéia <strong>de</strong> que, a prática pedagógica adotada por Susana, não foi a mais apropriada,<br />
entendo que, o ato pedagógico não po<strong>de</strong> ser um ato unidirecional, mas um processo <strong>de</strong> múltiplas trocas<br />
e partilhas e, sobretudo <strong>de</strong> parceria e amiza<strong>de</strong>. E neste caso, entendo que Susana foi, mãe, pastora, conselheira,<br />
pedagoga, <strong>discipulado</strong>ra e acima <strong>de</strong> tudo, <strong>uma</strong> amiga que acompanhou Wesley por muitos anos.<br />
111 Esta <strong>Igreja</strong> Anglicana não foi o resultado <strong>de</strong> <strong>uma</strong> reforma espiritual como a reforma <strong>de</strong> Martinho Lutero, <strong>de</strong><br />
João Calvino e <strong>de</strong> Eurico Zwínglio no século XVI, e sim por razões políticas: o então Rei Henrique VII da<br />
Inglaterra queria se divorciar da sua esposa, mas o papa <strong>em</strong> Roma não concordou e, por isso, o Rei Henrique<br />
criou <strong>uma</strong> <strong>Igreja</strong> “nacional”. A <strong>Igreja</strong> Anglicana no Brasil também chamada “<strong>Igreja</strong> Episcopal” é <strong>uma</strong> igreja<br />
que se tornou protestante, sofrendo muita influência das doutrinas <strong>de</strong> Lutero e Zwínglio e com muitos el<strong>em</strong>entos<br />
doutrinários recebidos pela <strong>Igreja</strong> Católica no que se refere a prática piedosa, porém, claramente separada<br />
da <strong>Igreja</strong> Católica-Romana.<br />
50
das d<strong>em</strong>ais famílias. Reily <strong>de</strong>fine esse pensamento, apresentando um conceito bastante atual<br />
dizendo que, os Wesley eram <strong>uma</strong> família “fora <strong>de</strong> série”. 112<br />
O reverendo Samuel Wesley pastoreava a <strong>Igreja</strong> <strong>em</strong> Epworth, cida<strong>de</strong> rural no leste da<br />
Inglaterra, era <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> pobre e, por isso, s<strong>em</strong>pre teve um or<strong>de</strong>nado pequeno 113 . No<br />
entanto, isso não foi motivo para negar educação a seus filhos e filhas, muito pelo contrário,<br />
apesar das finanças limitadas, conseguiu dar a melhor educação possível, pois a casa pasto-<br />
ral era um ambiente on<strong>de</strong> se prestigiava a educação e o saber.<br />
Dessa maneira, o processo <strong>de</strong> educação envolve a vida <strong>em</strong> todos os aspectos. 114 Esta-<br />
mos permanent<strong>em</strong>ente apren<strong>de</strong>ndo, durante a vida inteira. Há qu<strong>em</strong> afirme que somos seres<br />
“inacabados”, <strong>em</strong> constante aperfeiçoamento, processo que não acontece por acaso, especi-<br />
almente consi<strong>de</strong>rando a família (o lar) como espaço formador do indivíduo.<br />
O Bispo Nelson Luiz Campos Leite, palestrante do “Congresso Nacional <strong>de</strong> Escola<br />
Dominical” que aconteceu no período <strong>de</strong> abril-maio <strong>de</strong> 2001, diz que:<br />
A Educação não lida apenas com informações e conceitos, mas com valores,<br />
apreciações, atitu<strong>de</strong>s, comportamentos... Num sentido mais amplo lida com a<br />
Vida. Desta forma a Educação é Vida. Vida implica num contínuo crescimento.<br />
Crescimento contínuo e progressivo. A educação cristã visa levar a<br />
pessoa à vida, através da graça divina encontrada na pessoa <strong>de</strong> Cristo. 115<br />
No contexto da família Wesley, a educação era privilégio dos ricos, Samuel e Susana<br />
não podiam pagar <strong>uma</strong> escola nobre e n<strong>em</strong> um tutor particular. Por isso, a casa pastoral, se<br />
tornou um ambiente que propiciou <strong>uma</strong> boa educação e <strong>de</strong>senvolvimento da formação do<br />
indivíduo.<br />
sim diz:<br />
Dagmar Silva Pinto <strong>de</strong> Castro, “compreen<strong>de</strong>ndo o significado do que é ‘família’”, as-<br />
112<br />
REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo. Coleção Metodismo. Imprensa <strong>Metodista</strong>. São Bernardo<br />
do Campo/SP. 1991, p. 11.<br />
113<br />
REILY, Duncan Alexan<strong>de</strong>r. João Wesley e as Crianças. Caminhando, p. 12.<br />
114<br />
FERNANDES, Fernando. O Prazer <strong>de</strong> Ensinar e apren<strong>de</strong>r: Métodos, Técnicas e Recursos <strong>de</strong> Ensino. Série<br />
Recriar: Coor<strong>de</strong>nação Nacional <strong>de</strong> Educação Cristã – CONEC - <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. São Paulo-SP. 2002, p. 08.<br />
115<br />
Fonte: http://www.metodista.org.br/ftp/<strong>discipulado</strong>.doc<br />
51
Na família, espera-se que sejam supridas as necessida<strong>de</strong>s fundamentais para<br />
que o ser h<strong>uma</strong>no sobreviva <strong>de</strong> alimentação, amor, abrigo etc. É <strong>em</strong> seu<br />
meio que o indivíduo se prepara estar <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>. É através do convívio<br />
com o grupo familiar que o ser h<strong>uma</strong>no é capaz <strong>de</strong> diferenciar-se e sentir-se<br />
indivíduo. 116<br />
Duncan Alexan<strong>de</strong>r Reily no artigo “João Wesley e as Crianças”, apresenta <strong>uma</strong> con-<br />
cepção sobre o mo<strong>de</strong>lo educacional na família <strong>de</strong> Wesley, assim:<br />
Chegando à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinco anos, cada criança era ensinada a ler; todos, menos<br />
Molly e Nancy, apren<strong>de</strong>ram o alfabeto <strong>em</strong> um só dia; estas requeriam<br />
um dia e meio. Sua cartilha <strong>de</strong> leitura era o primeiro capítulo <strong>de</strong> Gênesis.<br />
Samuel, por ex<strong>em</strong>plo, apren<strong>de</strong>u o alfabeto <strong>em</strong> poucas horas; no dia 11 <strong>de</strong> fevereiro<br />
até a Páscoa, já lia todo o primeiro capítulo <strong>de</strong> Gênesis corretamente.<br />
Hetty, geralmente consi<strong>de</strong>rada a mais brilhante da turma, apren<strong>de</strong>u o grego<br />
aos oito anos. Marta teve a infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casar-se com um hom<strong>em</strong> que veio<br />
a pregar e a praticar a poligamia; mesmo assim, pelo brilho do seu intelecto,<br />
fora convidada a fazer parte do círculo do Dr. Johnson, figura máxima da elite<br />
intelectual da Inglaterra da época. Era um lar no qual a religião foi tomada<br />
a sério e on<strong>de</strong> reinava a disciplina. Certamente não po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> outra forma.<br />
117<br />
E nada po<strong>de</strong>ria interromper ou atrapalhar o bom andamento <strong>de</strong>ssa família “fora <strong>de</strong> sé-<br />
rie” e a formação dos meninos e meninas, n<strong>em</strong> mesmo o famoso incêndio <strong>de</strong> 09 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1709, quando John Wesley foi salvo como um “tição tirado do fogo” 118 e, por conse-<br />
qüência disso, as crianças tiveram <strong>de</strong> passar alguns meses com outras famílias on<strong>de</strong> alguns<br />
dos bons hábitos ficaram <strong>em</strong> <strong>de</strong>suso por algum t<strong>em</strong>po. Porém, isso não foi suficiente, pois,<br />
segundo Reily, para corrigir essas faltas, um novo regime se instalou:<br />
Iniciou-se o costume <strong>de</strong> cantar salmos ao começar e ao encerrar a escola <strong>de</strong><br />
manhã e à tar<strong>de</strong>. Também o costume do retiro geral foi iniciado quando o<br />
maior se encarregava do menor, o segundo do penúltimo e assim sucessivamente<br />
lendo diariamente um Salmo ou um capítulo do Novo Testamento. De<br />
manhã, eram instruídos a ler<strong>em</strong> os salmos e um capítulo do Antigo Testamento.<br />
Depois disto tinham as suas orações particulares, antes <strong>de</strong> receber o<br />
seu <strong>de</strong>sjejum ou entrar no convívio familiar. A disciplina era rígida, tão rígida<br />
que alguns estudiosos da vida <strong>de</strong> Wesley tend<strong>em</strong> a crer que era completamente<br />
falho no el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> alegria. Porém, <strong>em</strong> <strong>uma</strong> carta, João expressa<br />
116 ROSA, Ronaldo Sathler. CASTRO, Dagmar Silva Pinto <strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>ndo o que é Família. Organizadores:<br />
Ronaldo Sathler Rosa e Dagmar Silva Pinto <strong>de</strong> Castro. Editeo. São Bernardo do Campo/SP. 1995, p. 10.<br />
117 REILY, Duncan A. Caminhando, p. 13 – Para aprofundar mais sobre o assunto, indico a leitura completa do<br />
artigo “João Wesley e as Crianças”, pp. 11-29.<br />
118 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo. Coleção Metodismo. Imprensa <strong>Metodista</strong>. São Ber-<br />
nardo do Campo/SP. 1991, p. 19.<br />
52
sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> casa dizendo: “Epworth, que ainda amo acima <strong>de</strong> todos os lugares<br />
no mundo”. 119<br />
Era realmente <strong>uma</strong> família “fora <strong>de</strong> série”, <strong>uma</strong> família cristã que buscava s<strong>em</strong>pre a<br />
melhor forma <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. Tanto que foram criadas alg<strong>uma</strong>s regras <strong>de</strong>n-<br />
tro do lar, as quais Reily chamou <strong>de</strong> “regulamento interno”, e tais regras constavam os se-<br />
guintes pontos: “Nenh<strong>uma</strong> ação pecaminosa como a mentira, pequeno roubo, brinca<strong>de</strong>ira na<br />
igreja ou no dia do Senhor, <strong>de</strong>sobediência, briga etc, passa-se s<strong>em</strong> castigo”. 120 Com isso, o<br />
nome <strong>de</strong> Deus tomado <strong>em</strong> vão, blasfêmias e juras, profanida<strong>de</strong>s, obscenida<strong>de</strong>, nomes ru<strong>de</strong>s<br />
e mal-educados nunca se ouviam entre as crianças da família Wesley.<br />
John Wesley transcreveu <strong>uma</strong> carta que sua mãe havia escrito ao marido e que mostra<br />
a forma e a prática <strong>de</strong> um <strong>discipulado</strong> autêntico e o cuidado <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mãe para com o filho,<br />
<strong>em</strong> que (Susana) cost<strong>uma</strong>va, <strong>uma</strong> vez por s<strong>em</strong>ana, conversar com cada um dos filhos sepa-<br />
radamente, concernente às coisas <strong>de</strong> Deus e a seus interesses espirituais. E dizia ainda:<br />
“Tomo tal proporção do t<strong>em</strong>po que posso todas as noites conversar com cada criança à par-<br />
te... na quinta-feira com Joãozinho”. 121<br />
O professor Duncan Alexan<strong>de</strong>r Reily, afirma ainda que o método <strong>de</strong> Susana Wesley<br />
criar seus filhos e filhas, influenciou o jov<strong>em</strong> John Wesley 122 no trabalho missionário junto<br />
às crianças 123 das diversas cida<strong>de</strong>s por on<strong>de</strong> este passasse anunciando, discipulando e pre-<br />
gando a palavra <strong>de</strong> Deus.<br />
119 REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, p. 14.<br />
120 REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, p. 15.<br />
121 REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, p. 15.<br />
122 S<strong>em</strong> Dúvida, a valorização da educação, tão evi<strong>de</strong>nte no lar, afetaria mais tar<strong>de</strong> a visão <strong>de</strong> John Wesley <strong>de</strong><br />
sua obra. Op. Cit. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 18.<br />
123 O professor Duncan Alexan<strong>de</strong>r Reily comenta e faz <strong>uma</strong> observação no que se refere há um <strong>de</strong>sses trabalhos<br />
missionários <strong>de</strong> Wesley, dizendo que: “Quando ele começou a orar, alg<strong>uma</strong>s das crianças começaram a clamar<br />
e pedir misericórdia. Parece que alguns <strong>de</strong>stes mantiveram-se firmes, mas outros se esfriaram, até a visita<br />
<strong>de</strong> Ralfo Mather <strong>em</strong> agosto <strong>de</strong> 1773, quando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus se manifestou novamente. Ver todo o comentário<br />
na Revista da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> – Caminhando Ano VIII, n°12, p. 21.<br />
53
1.2. John Wesley e os Pequenos Grupos<br />
A primeira experiência <strong>de</strong> John Wesley com os pequenos grupos <strong>de</strong> fato aconteceu <strong>em</strong><br />
sua própria família, porém, não foi a única, mas o inicio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> longa caminhada <strong>de</strong> fé,<br />
test<strong>em</strong>unho, serviço e <strong>de</strong>dicação à Palavra <strong>de</strong> Deus.<br />
Wesley viu nos pequenos grupos um po<strong>de</strong>roso método para o <strong>de</strong>senvolvimento da fé e<br />
meio pru<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> graça fundamental para a prática eclesial da santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coração e vida,<br />
mediante rigorosa co-responsabilida<strong>de</strong> comunitária no exercício das obras <strong>de</strong> misericórdia e<br />
obras <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>, 124 por meio do <strong>discipulado</strong> cristão. Assim, pod<strong>em</strong>os afirmar que a forma e<br />
o objetivo <strong>de</strong>sses pequenos grupos eram a necessida<strong>de</strong> do viver santo, que resultava <strong>em</strong> o-<br />
bras <strong>de</strong> misericórdia e <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>.<br />
Na década <strong>de</strong> 1670, a Inglaterra foi test<strong>em</strong>unha do surgimento <strong>de</strong> alguns mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
socieda<strong>de</strong>s religiosas, formadas por pequenos grupos <strong>de</strong> leigos que buscavam promover a<br />
“real santida<strong>de</strong> no coração e na vida”. De acordo com Heitzenrater:<br />
O projeto das socieda<strong>de</strong>s religiosas do início do século <strong>de</strong>zoito “para promover<br />
a real santida<strong>de</strong> do coração e da vida” foi caracterizado por <strong>uma</strong> religiosida<strong>de</strong><br />
da “high-Church”, que exigia e <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> um intenso estudo das<br />
Escrituras e <strong>de</strong> outras obras <strong>de</strong> teologia prática, que exigia <strong>uma</strong> disciplina<br />
moral pessoal, e que se expressava <strong>em</strong> atos <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> para com as pessoas<br />
<strong>de</strong>sprotegidas da socieda<strong>de</strong>. 125<br />
Portanto, eram grupos pequenos, que consistiam basicamente <strong>de</strong> pessoas organizadas,<br />
que buscavam “certas tendências pietistas e místicas que se conheciam no continente euro-<br />
peu” 126 e, que foram moldados e transformados, pelo modo <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> existir e <strong>de</strong> pensar da<br />
igreja da Inglaterra.<br />
A formação <strong>de</strong> pequenos grupos ou socieda<strong>de</strong>s religiosas surge das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
pensar, <strong>de</strong>senvolver e aperfeiçoar a fé, estimulando a vida cristã rumo à perfeição cristã, e<br />
124<br />
MATTOS, Paulo Ayres Caminhando, p. 145 – In: MATTOS, Paulo Ayres. Wesley e os Encontros <strong>de</strong> Pequenos<br />
Grupos.<br />
125<br />
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>. Richard P. Heitzenrater; [Tradução:<br />
Clei<strong>de</strong> Zerlotti Wolf]. São Bernardo do Campo, Editeo; Rio <strong>de</strong> Janeiro, Pastoral Bennett, 1996, p. 30.<br />
126<br />
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 21.<br />
54
<strong>de</strong> anunciar o Reino <strong>de</strong> Deus e sua justiça ao mundo. Nesse sentido, o propósito das socie-<br />
da<strong>de</strong>s era o <strong>de</strong> promover a “verda<strong>de</strong>ira santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coração e <strong>de</strong> vida”.<br />
Segundo Heitzenrater, <strong>em</strong> “Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>”, esses movimentos<br />
<strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s religiosas foram:<br />
Iniciadas por Anthony Horneck na década <strong>de</strong> 1670, as socieda<strong>de</strong>s religiosas<br />
eram também formadas <strong>de</strong> pequenos grupos <strong>de</strong> leigos, que representavam<br />
<strong>uma</strong> fusão quase espontânea <strong>de</strong> moralismo e <strong>de</strong>voção, zelosos <strong>de</strong> promover<strong>em</strong><br />
a “real santida<strong>de</strong> no coração e na vida”. 127<br />
E Heitzenrater completa seu pensamento, afirmando ainda que, “<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vinte anos,<br />
esta forma <strong>de</strong> organização religiosa havia se estabelecido <strong>de</strong>ntro da estrutura da igreja da<br />
Inglaterra como <strong>uma</strong> expressão viável da pieda<strong>de</strong> cristã e da preocupação social”. 128 Tendo<br />
orig<strong>em</strong> durante o século XVIII, a “Socieda<strong>de</strong> para a promoção do conhecimento cristão”<br />
(Society for Promoting Christian Knowledge – SPCK), 129 do qual Samuel Wesley, pastor <strong>de</strong><br />
Epworth e o próprio John Wesley faziam parte.<br />
De acordo Heitzenrater, esse grupo tinha as seguintes intenções: “primeiro, orar a<br />
Deus; segundo, ler as Sagradas Escrituras e discorrer sobre assuntos religiosos para a edifi-<br />
cação mútua; e terceiro, <strong>de</strong>liberar sobre a edificação do nosso vizinho”. 130<br />
Para Wesley esses pequenos grupos se tornam o lugar no qual um indivíduo po<strong>de</strong> en-<br />
contrar os ingredientes fundamentais para <strong>uma</strong> vida cristã b<strong>em</strong>-sucedida. Wesley treinava<br />
cada grupo enquanto ministrava individualmente aos respectivos m<strong>em</strong>bros.<br />
Os grupos formavam o centro da vida <strong>de</strong>vocional, estudo da Bíblia e oração. Eram<br />
também as bases dos cuidados pastorais. Seus m<strong>em</strong>bros partilhavam mutuamente suas afli-<br />
ções e angústias; fracassos e vitórias; doenças e esperança <strong>de</strong> cura; agonia da pobreza, injus-<br />
tiça social e, <strong>em</strong> alguns lugares, opressão política. Encorajamento e auxílio práticos eram<br />
127 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 21.<br />
128 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 21.<br />
129 As socieda<strong>de</strong>s religiosas atacaram o probl<strong>em</strong>a da imoralida<strong>de</strong> n<strong>uma</strong> base pessoal e individualista. Os seus<br />
m<strong>em</strong>bros não tinham um programa social para reformar a Inglaterra <strong>de</strong> um só golpe. A intenção, pelo contrário,<br />
era trabalhar para a transformação da socieda<strong>de</strong> mudando <strong>uma</strong> pessoa <strong>de</strong> cada vez. Id<strong>em</strong>, p.21.<br />
130 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p.. 27.<br />
55
provi<strong>de</strong>nciados quando necessários. Dessa forma, além <strong>de</strong> centro para estudo da Bíblia, ora-<br />
ção e serviços cristãos, os grupos também eram centros <strong>de</strong> reformação moral e social.<br />
Pensar <strong>em</strong> pequenos grupos no contexto wesleyano é pensar <strong>em</strong> crescimento, edifica-<br />
ção e fortalecimento da fé e da vida cristã, sobretudo, quando i<strong>de</strong>ntificamos a espiritualida-<br />
<strong>de</strong> dos irmãos Charles e John Wesley, como conseqüência direta dos constantes encontros<br />
<strong>de</strong>sses pequenos grupos, característica peculiar do Metodismo primitivo.<br />
1.2.1. O Clube Santo – O Metodismo <strong>de</strong> Oxford<br />
A história do Metodismo <strong>em</strong> Oxford é corretamente citada pelo próprio Wesley como<br />
o “primeiro surgimento do metodismo”. 131 Portanto, o “Clube Santo” 132 t<strong>em</strong> seu início no<br />
começo <strong>de</strong> 1729 com Charles Wesley, consi<strong>de</strong>rado por alguns historiadores como “o pri-<br />
meiro metodista” 133 134 e <strong>em</strong> seguida com John Wesley.<br />
John Wesley foi introduzido no “Metodismo <strong>de</strong> Oxford” quando, no período<br />
<strong>de</strong> verão <strong>de</strong> 1729, ficou dois meses <strong>em</strong> Oxford, on<strong>de</strong> passou boa parte do<br />
t<strong>em</strong>po com esse pequeno grupo. Quando voltou, para assumir novamente suas<br />
funções na Universida<strong>de</strong> (nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1729), sendo o mais velho que o<br />
irmão e professor assumiu a li<strong>de</strong>rança do grupo que havia nascido dos esforços<br />
<strong>de</strong> Charles. 135<br />
Na verda<strong>de</strong>, o “Clube Santo” era um grupo <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> Oxford 136 e que tinha en-<br />
contros sist<strong>em</strong>áticos e freqüentes. 137<br />
131 Porém, <strong>em</strong> suas muitas reflexões sobre a orig<strong>em</strong> e o crescimento do metodismo, Wesley s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>u ênfase à<br />
espontaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas origens e à imprevisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento. Em sua opinião, Deus levantou<br />
um povo chamado metodista para um propósito que era específico e apropriado, mas <strong>de</strong> um modo que<br />
não era necessariamente previsível ou pre<strong>de</strong>terminado. Op. Cit. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>. Pg. 33<br />
132 O grupo consistia <strong>de</strong> um pequeno número <strong>de</strong> estudantes, todos m<strong>em</strong>bros da <strong>Igreja</strong> da Inglaterra (pois Oxford<br />
não admitia “dissi<strong>de</strong>ntes”) que queriam participar ativa e inteligent<strong>em</strong>ente da adoração <strong>em</strong> sua <strong>Igreja</strong> e viver<br />
a sua vida cristã com serieda<strong>de</strong> e propósito. Op. Cit. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 25.<br />
133 Esse título segundo Richard P. Heitzenrater é atribuído também a William Morgam. Ver: HEITZENRATER,<br />
Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>. Richard P. Heitzenrater; [Tradução: Clei<strong>de</strong> Zerlotti Wolf].<br />
São Bernardo do Campo, Editeo; Rio <strong>de</strong> Janeiro, Pastoral Bennett, 1996, p. 33.<br />
134 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 25.<br />
135 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 25.<br />
136 A maioria dos alunos <strong>de</strong> Oxford estava se preparando para <strong>uma</strong> posição no governo, para a medicina, direito<br />
ou para a <strong>Igreja</strong>. Ver: HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>. Richard P. Heitzenrater;<br />
[Tradução: Clei<strong>de</strong> Zerlotti Wolf]. São Bernardo do Campo, Editeo; Rio <strong>de</strong> Janeiro, Pastoral Bennett,<br />
1996, p. 34.<br />
137 Nas reuniões freqüentes, nos aposentos <strong>de</strong> Wesley ou <strong>de</strong> outro m<strong>em</strong>bro do grupo, além da Bíblia, liam tam-<br />
56
Os m<strong>em</strong>bros do grupo levavam a sério sua vida <strong>de</strong>vocional e litúrgicas, fazendo<br />
tudo com disciplina e método. Porém, o metodismo <strong>de</strong> Oxford nunca<br />
foi um <strong>em</strong>preendimento solitário, mas grupal e comunitário. Liam, comungavam,<br />
adoravam, estudavam juntos. Era <strong>uma</strong> busca e <strong>uma</strong> caminhada <strong>de</strong><br />
um grupo muito intimo. 138<br />
Segundo o professor Reily, John Wesley formou o grupo <strong>em</strong> <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> com <strong>uma</strong><br />
finalida<strong>de</strong> que era:<br />
“... para que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>, <strong>de</strong> maneira mais regular e sist<strong>em</strong>ática, promover, um<br />
do outro, o melhoramento intelectual, moral e espiritual. Resolveram passar<br />
3 ou 4 noites por s<strong>em</strong>ana juntos, lendo o Novo Testamento <strong>em</strong> grego e os<br />
clássicos gregos e latinos. Aos domingos, liam teologia”. 139<br />
Veja foto ilustrativa <strong>de</strong> um dos encontros do “Clube Santo”. 140<br />
Por Marshall Claxton.<br />
E esses encontros s<strong>em</strong>anais levaram o grupo a <strong>de</strong>scobrir, outros motivos e formas <strong>de</strong><br />
expressar a fé, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto social e isso foi o começo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ação positiva na<br />
socieda<strong>de</strong> inglesa, pois não só buscavam crescer na fé, mas, acima <strong>de</strong> tudo, praticar o amor<br />
bém literatura clássica. Dominicalmente assistiam ao culto da <strong>Igreja</strong> da Inglaterra e comungavam. Imitando<br />
prática antiga da <strong>Igreja</strong>, jejuavam nas quartas e nas sextas-feiras. Freqüent<strong>em</strong>ente examinavam sua vida íntima<br />
para avaliá-la. O próprio Wesley preparou orações apropriadas para orientar seus alunos <strong>em</strong> suas <strong>de</strong>voções<br />
diárias. Mais tar<strong>de</strong>, <strong>uma</strong> coleção foi publicada <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> livro <strong>de</strong>vocional. Op. Cit. Momentos Decisivos<br />
do Metodismo, p. 26.<br />
138 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 26.<br />
139 REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, pp. 15-16.<br />
140 O Clube Santo, por Marshall Claxton – Fotografia da versão que se encontra no Museu do Metodismo, <strong>em</strong><br />
City Road, Londres.<br />
57
<strong>de</strong> Deus aos pobres, aos que se encontravam encarcerados procuravam levar solidarieda<strong>de</strong>,<br />
consolação e esperança, 141 na educação das crianças, e no ato <strong>de</strong> revelar a salvação <strong>em</strong><br />
Cristo - Jesus. 142<br />
Segundo Heitzenrater é importante <strong>de</strong>stacar que:<br />
A maneira pela qual Wesley e seu grupo <strong>de</strong> amigos <strong>em</strong> Oxford agiram nessa<br />
busca, e os métodos que <strong>de</strong>senvolveram durante esses primeiros anos, foram<br />
importantes para ajudar a <strong>de</strong>terminar, mais tar<strong>de</strong>, a forma do movimento<br />
wesleyano. 143<br />
Portanto, assim como havia regras na casa pastoral <strong>em</strong> Epworth, Wesley adotou algu-<br />
mas regras <strong>de</strong>ntro do “Clube Santo” 144 com a elaboração <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s perguntas a seus<br />
m<strong>em</strong>bros:<br />
Será que não pod<strong>em</strong>os tentar fazer o b<strong>em</strong> para os que estão famintos? Não<br />
pod<strong>em</strong>os contribuir o pouco que t<strong>em</strong>os para que seus filhos tenham roupa e<br />
sejam ensinados a ler? Não pod<strong>em</strong>os ver se são ensinadas, s<strong>em</strong> catecismo, as<br />
orações curtas para a manhã e a noite? 145<br />
É necessário dizer que os métodos e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> John Wesley, talvez melhor ca-<br />
racterizados como pieda<strong>de</strong> meditativa, 146 tinham todos a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a “santida-<br />
<strong>de</strong> do coração e da vida <strong>em</strong> si mesmo e também nos outros, afirma Heitzenrater e diz ainda<br />
que”:<br />
É preciso ser l<strong>em</strong>brado que Wesley estava profundamente engajado na busca<br />
da “situação da alma”. Conseqüent<strong>em</strong>ente seu método não era um esqu<strong>em</strong>a<br />
estático, estabelecido, mas sim um caminho para a vida que crescia, se <strong>de</strong>senvolvia<br />
e mudava à medida <strong>em</strong> que ele enfrentava <strong>uma</strong> nova crise, tinha<br />
mais compreensão e encontrava novos amigos. O reconhecimento da li<strong>de</strong>rança<br />
<strong>de</strong> João <strong>de</strong>ntro do movimento veio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> englobar es-<br />
141 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 26.<br />
142 Essas ativida<strong>de</strong>s, na realida<strong>de</strong>, não foram criadas por John Wesley; tinham orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> experiências já <strong>de</strong>senvolvidas<br />
por outros. Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> 1730, quando William Morgan – recém integrado ao grupo – foi visitar<br />
os presos na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Oxford, percebeu que eles estavam ansiosos por visitas <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>. Op. Cit.<br />
Momentos Decisivos do Metodismo, p. 26.<br />
143 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 31.<br />
144 Além <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s mais esporádicas, os metodistas <strong>de</strong> Oxford estabeleceram <strong>uma</strong> escola para crianças<br />
pobres. Com o seu dinheiro e com alg<strong>uma</strong> ajuda <strong>de</strong> fora, pagavam a professora, e até ajudavam a vestir as<br />
crianças. N<strong>uma</strong> época, quando não existiam escolas públicas e quando os pobres eram esquecidos pela <strong>Igreja</strong>,<br />
Wesley e os seus companheiros se mobilizaram para ensinar as primeiras letras para os pobres da redon<strong>de</strong>za,<br />
proporcionando-lhes também os rudimentos da religião, como então a compreendiam. Ver texto completo <strong>em</strong><br />
REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, p. 17.<br />
145 REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, p. 16.<br />
146 A pieda<strong>de</strong> meditativa entre os metodistas começou a ser vista, pelos seus colegas, como a legalista justificação<br />
pelas obras. Afirma Heitzenrater <strong>em</strong> sua obra “Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>” , p. 43.<br />
58
sas várias ativida<strong>de</strong>s junto com um senso <strong>de</strong> propósito, que <strong>de</strong>u direção e<br />
impulso espiritual à busca dos metodistas pela salvação. Captar a essência do<br />
metodismo <strong>em</strong> Oxford é reconhecer este impulso, assim como o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida que ele trouxe à tona. 147<br />
Com o surgimento do movimento <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> Oxford, também surge um novo estilo<br />
<strong>de</strong> vida. Estilo <strong>de</strong> vida que é marcado pela <strong>de</strong>voção, pela busca <strong>de</strong> <strong>uma</strong> espiritualida<strong>de</strong> com-<br />
promissada com o Reino <strong>de</strong> Deus e com sua mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> salvação integral. Uma vida san-<br />
tificada, mas não alienalista, <strong>uma</strong> busca comprometida com Deus, consigo mesmo e com o<br />
outro.<br />
Com isso, as ativida<strong>de</strong>s do “Clube Santo” não se resumiu apenas a Oxford, mas atra-<br />
vessou fronteiras, chegando à Geórgia <strong>em</strong> 14 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1735, com os irmãos<br />
Wesley, Benjamim Ingham e Carlos D<strong>em</strong>otte, fundando <strong>uma</strong> filial no Novo Mundo, segun-<br />
do Reily. 148 A missão na Geórgia 149 po<strong>de</strong> então, ser consi<strong>de</strong>rada como <strong>uma</strong> segunda fase das<br />
ativida<strong>de</strong>s do “Clube Santo”.<br />
1.2.2. O Clube Santo – O Metodismo na Geórgia<br />
Segundo Reily, “Geórgia era a última das ‘Trezes Colônias’ dos Estados Unidos, foi<br />
fundada pelo general James Oglethorpe, <strong>em</strong> 1733, como asilo para pessoas presas por dívi-<br />
das e para <strong>de</strong>ter a expansão espanhola, da Flórida”. 150<br />
John e Charles Wesley chegara à Geórgia <strong>em</strong> 06 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1736, logo após a<br />
morte do pai, o reverendo Samuel Wesley. 151 Encorajados pela mãe, Susana, que, estava<br />
entusiasmada pelo ardor missionário e afirma que “se tivesse vinte filhos, daria, <strong>de</strong> boa<br />
147<br />
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 42.<br />
148<br />
REILY, Duncan A. Caminhando, artigo “João Wesley e as Crianças”, p. 17.<br />
149<br />
Em Geórgia, John Wesley foi pastor <strong>em</strong> Savannah e, por algum t<strong>em</strong>po, teve a responsabilida<strong>de</strong> do cuidado<br />
espiritual <strong>de</strong> todas as almas da colônia.<br />
150<br />
REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 29.<br />
151<br />
Samuel Wesley morreu no dia 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1735<br />
59
mente, todos eles a esse <strong>em</strong>preendimento” 152 <strong>de</strong> proclamar as Boas-Novas do Reino entre os<br />
selvícolas. Uma pergunta, porém, fica na minha mente: Será este realmente o único motivo?<br />
Paul Eugene Buyers, observando trechos do diário <strong>de</strong> Wesley, apresenta <strong>uma</strong> parte<br />
dos relatos que diz:<br />
O motivo que nos levou a <strong>de</strong>ixar a nossa terra natal, não era fugir a privações<br />
(Deus nos havia dado bastantes bênçãos materiais), n<strong>em</strong> ganhar o refúgio <strong>de</strong><br />
riquezas ou <strong>de</strong> honras, mas simplesmente isto – salvar a nossa alma: para vivermos<br />
exclusivamente para a honra e glória <strong>de</strong> Deus. À tar<strong>de</strong> encontramos<br />
o navio Simommonds, e <strong>em</strong>barcamos imediatamente. (Terça-feira, 14 <strong>de</strong> outubro<br />
<strong>de</strong> 1735). 153<br />
Outra razão para consi<strong>de</strong>ramos a Geórgia como o segundo surgimento do ‘Clube San-<br />
to’ foi a organização <strong>de</strong> <strong>uma</strong> pequena socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da paróquia <strong>de</strong> Savana. Nesse se-<br />
gundo surgimento, já se percebe fort<strong>em</strong>ente a influência pietista, 154 e o conceito <strong>de</strong> “<strong>uma</strong><br />
pequena <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>ntro da gran<strong>de</strong> <strong>Igreja</strong>”, ou seja, pequenos grupos <strong>de</strong>ntro da congregação<br />
para a reforma da igreja <strong>em</strong> geral. 155<br />
Quando John Wesley chegou à Geórgia, fez um gran<strong>de</strong> amigo e esse amigo veio a se<br />
tornar o seu <strong>discipulado</strong>r, Reily prefere chamar <strong>de</strong> “mentor espiritual”, 156 esse amigo era o<br />
bispo Spangenburg.<br />
Durante a sua estada na Geórgia, Wesley <strong>de</strong>senvolveu conceitos que observou dos<br />
morávios durante a viag<strong>em</strong> para o novo mundo e durante as conversas com o bispo Span-<br />
genburg.<br />
Segundo Reily:<br />
As maiores lições que ele apren<strong>de</strong>u dos morávios lhe vieram ao observar sua<br />
confiança <strong>em</strong> Deus, sua vida comunitária, a natureza do seu culto e a vivência<br />
diária <strong>de</strong> sua religião. Nas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses humil<strong>de</strong>s al<strong>em</strong>ães, Wesley<br />
percebeu mais claramente os seus próprios <strong>de</strong>feitos. As conseqüências <strong>de</strong>s-<br />
152 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 29.<br />
153 BUYERS, Paul Eugene. Trechos do Diário <strong>de</strong> João Wesley. Traduzido por Paul Eugene Buyers. Publicação<br />
da Junta Geral <strong>de</strong> Educação Cristã da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. São Paulo/SP. 1965, p. 15.<br />
154 Segundo Reily, esta influencia se dá pelo fato <strong>de</strong> que durante a viag<strong>em</strong> para a Geórgia, Wesley teve como<br />
leitura as obras <strong>de</strong> Francke, propagador do pietismo na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Halle, Al<strong>em</strong>anha, seu centro <strong>de</strong> irradiação.<br />
Ver as notas do Reily <strong>em</strong> “Momentos Decisivos do Metodismo” , p. 31.<br />
155 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 31.<br />
156 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 30.<br />
60
sas experiências foram se tornando mais evi<strong>de</strong>ntes quando <strong>de</strong> seu regresso à<br />
Inglaterra (01 <strong>de</strong> fevereiro, 1738). 157<br />
Apesar <strong>de</strong> John Wesley sentir-se frustrado <strong>em</strong> alcançar o seu objetivo central, que era<br />
o <strong>de</strong> evangelizar os índios, durante um ano e <strong>de</strong>z meses, ele realizou diversos encontros para<br />
tentar cumprir sua meta pessoal. Segundo Reily, Wesley “partiu da América sob a acusação<br />
<strong>de</strong> má administração eclesiástica”, 158 porém, esse momento é i<strong>de</strong>ntificado por Reily como<br />
um “momento <strong>de</strong>cisivo” 159 para a expansão e <strong>de</strong>senvolvimento do Metodismo.<br />
E para Reily, <strong>uma</strong> das razões para fazer tal afirmação, “foi a organização <strong>de</strong> <strong>uma</strong> pe-<br />
quena socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da paróquia <strong>de</strong> Savana”. 160 Porém, Wesley teve pouco contato com<br />
os índios, pois o seu trabalho ficou restrito ao cuidado pastoral dos ingleses da Colônia. De-<br />
dicando-se ao culto, visitação e edificação <strong>de</strong> seu rebanho, <strong>em</strong> outros termos, pod<strong>em</strong>os dizer<br />
também que, Wesley <strong>de</strong>senvolveu seu conceito <strong>de</strong> vida cristã, baseado na formação <strong>de</strong> pe-<br />
quenos grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. E para ele, o “segundo surgimento do Metodismo”. 161<br />
1.2.3. O Clube Santo – O Metodismo <strong>em</strong> Londres<br />
O retorno <strong>de</strong> Wesley para Londres foi motivo <strong>de</strong> muita surpresa para aqueles que o<br />
enviaram à missão na Geórgia, mas principalmente para o seu irmão Charles.<br />
Heitzenrater afirma que as intenções <strong>de</strong> Wesley naquele momento eram ambíguas. Es-<br />
sa afirmação se completa e se concretiza no dia que Wesley chega a Londres, pois durante<br />
as primeiras s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua volta à Inglaterra, sua atenção estava dividida entre os<br />
velhos interesses e novos planos.<br />
157 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 30.<br />
158 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 29.<br />
159 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 29.<br />
160 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 31.<br />
161 REILY, Duncan A. Momentos Decisivos do Metodismo, p. 31.<br />
61
Um dos novos projetos foi a participação ativa <strong>em</strong> novos grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, que<br />
eram formados por seus novos amigos e, <strong>em</strong> especial, pelos morávios al<strong>em</strong>ães que haviam<br />
chegado recent<strong>em</strong>ente a Londres. 162<br />
Wesley também teve <strong>uma</strong> surpresa quando ficou sabendo da expansão do “Clube San-<br />
to”, trabalho começado <strong>em</strong> Oxford, fruto do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho pessoal <strong>de</strong> Charles Wesley. Entre-<br />
tanto para que a expansão do “Clube Santo” acontecesse <strong>de</strong> fato, foi necessário encorajar os<br />
diversos metodistas a “retomar<strong>em</strong> todas as suas regras para um viver santo” e a <strong>de</strong>senvolve-<br />
r<strong>em</strong> encontros s<strong>em</strong>anais com pequenos grupos, agora <strong>em</strong> outros lugares.<br />
Seguindo esse pensamento e afirmação, Heitzenrater diz que:<br />
Wesley iria <strong>de</strong>scobrir, também que muitos <strong>de</strong> seus antigos amigos estavam<br />
ocupados <strong>em</strong> outras partes do reino. Uma dúzia ou mais <strong>de</strong> “metodistas <strong>de</strong><br />
Londres e Oxford” estavam se reunindo na casa <strong>de</strong> James Hutton <strong>em</strong> Londres,<br />
para “cantar os salmos <strong>de</strong> maneira audível, <strong>em</strong> contraste com o silêncio<br />
e a paz das vizinhanças”. Uma pessoa <strong>de</strong>sse grupo era George Whitefield,<br />
que havia, durante a ausência <strong>de</strong> Wesley, começado a proclamar as boas novas<br />
<strong>de</strong> maneira zelosa e evangélica entre as socieda<strong>de</strong>s religiosas <strong>em</strong> Londres<br />
e <strong>em</strong> outras partes. [...] Whitefield, durante esse período, havia provado<br />
um <strong>de</strong>spertamento espiritual e estava pregando as boas novas da salvação<br />
por toda Londres e <strong>em</strong> muitas partes do reino. 163<br />
Nesse sentido, pod<strong>em</strong>os afirmar que o estilo <strong>de</strong> vida, conseqüência do modo <strong>de</strong> viver e<br />
<strong>de</strong> se relacionar <strong>em</strong> pequenos grupos, cujo objetivo era o “viver santo” foi marca diferencial<br />
da Inglaterra do século XVIII e, na busca contínua pela renovação espiritual, no qual<br />
Wesley havia sido um dos pioneiros, sentia que precisava ter um novo momento <strong>em</strong> seu<br />
modo <strong>de</strong> viver, que lhe <strong>de</strong>sse <strong>uma</strong> certeza e segurança <strong>em</strong> sua vida espiritual.<br />
Segundo Heitzenrater:<br />
Diante da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se afogar no meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> no Atlântico,<br />
Wesley percebeu que não estava pronto para se encontrar com seu Criador.<br />
A sua primeira reação foi assumir que a sua fé era <strong>de</strong>ficiente, não era suficient<strong>em</strong>ente<br />
forte para vencer tal medo. 164<br />
162 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 75.<br />
163 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 75.<br />
164 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 77.<br />
62
Por outro lado, o “Clube Santo” toma outras dimensões <strong>em</strong> Londres, resultado da re-<br />
novação espiritual motivada por seus novos lí<strong>de</strong>res, <strong>em</strong> especial George Whitefield que ti-<br />
nha assumido o compromisso durante a ausência <strong>de</strong> Wesley, quando este estava na Geórgia,<br />
e Peter Böhler, ministro luterano que apresentou novos mo<strong>de</strong>los para a renovação espiritual<br />
e para a estruturação e <strong>de</strong>senvolvimento organizacional do Metodismo.<br />
63
2. A Teologia <strong>de</strong> John Wesley no Discipulado<br />
A teologia fala <strong>de</strong> Deus e do agir <strong>de</strong> Deus no mundo e com os homens e as mulheres.<br />
Por isso, quando penso <strong>em</strong> teologia <strong>de</strong> Wesley, penso <strong>em</strong> <strong>discipulado</strong>, penso <strong>em</strong> pequenos<br />
grupos b<strong>em</strong> disciplinados. Mas também penso <strong>em</strong> busca espiritual, <strong>em</strong> avivamento da alma<br />
e do espírito, penso <strong>em</strong> vida no altar, <strong>em</strong> santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coração e vida, penso <strong>em</strong> perfeição<br />
cristã, penso também <strong>em</strong> amadurecimento e certeza da fé; logo penso <strong>em</strong> mim, penso <strong>em</strong><br />
Deus e <strong>de</strong> como Ele me amou oferecendo o perdão para os meus pecados e a salvação por<br />
meio do Seu filho, Jesus Cristo.<br />
Parafraseando o filósofo Decartes: “penso, logo existo”. E se existo é porque assim<br />
Deus quer, logo penso <strong>em</strong> fazer algo para retribuir a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e, assim pregar o<br />
Evangelho que é o próprio amor <strong>de</strong> Deus. Amor que dá vida, que dá alegria e certeza da<br />
salvação.<br />
Dessa forma, pensar <strong>em</strong> teologia e na mensag<strong>em</strong> cristã, que são base do <strong>discipulado</strong><br />
cristão é, <strong>em</strong> primeiro lugar, assumir o compromisso com o próprio Deus e, <strong>em</strong> segundo<br />
lugar, ter responsabilida<strong>de</strong> com o ‘outro’ na transmissão correta dos conceitos <strong>de</strong> fé, que nos<br />
levam à salvação <strong>em</strong> Jesus.<br />
Walter Klaiber e Manfred Marquardt afirmam que:<br />
A mensag<strong>em</strong> e a teologia cristãs estão, portanto, diante <strong>de</strong> <strong>uma</strong> dupla responsabilida<strong>de</strong>:<br />
respon<strong>de</strong>r à sua tarefa fundamental e àquele que impôs esta<br />
tarefa, Jesus Cristo, cuja palavra e vida são, ao mesmo t<strong>em</strong>po, base e conteúdo<br />
<strong>de</strong> sua mensag<strong>em</strong>. Por causa do ser h<strong>uma</strong>no questionante – que não espera<br />
da <strong>Igreja</strong> que simplesmente repita o que todos diz<strong>em</strong>, mas que dê resposta<br />
própria – é importante que a <strong>Igreja</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> novo tome consciência e se interrogue<br />
se a sua mensag<strong>em</strong> ainda é idêntica com a sua missão original. 165<br />
A teologia wesleyana é <strong>uma</strong> teologia da graça, por isso, pensar <strong>em</strong> teologia no contex-<br />
to wesleyano é, pensar <strong>em</strong> <strong>uma</strong> teologia que está baseada na busca espiritual <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> coração. Heitzenrater pensando sobre o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão afirma que:<br />
165 KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 02.<br />
64
Esta busca espiritual da santida<strong>de</strong> nos dá o foco da teologia <strong>de</strong> Wesley. Ele<br />
já tinha alg<strong>uma</strong>s convicções que iriam dar forma à sua estrutura teológica e<br />
fornecer um ímpeto espiritual para toda a vida. Ele estava convencido, já <strong>em</strong><br />
1725, <strong>de</strong> que <strong>uma</strong> pessoa po<strong>de</strong>ria com certeza ser capaz <strong>de</strong> sentir o perdão <strong>de</strong><br />
Deus; isto se tornou base <strong>de</strong> sua preocupação para <strong>uma</strong> segurança perceptível<br />
da salvação (Letters 25:174-175). Do mesmo modo, ele estava convencido<br />
<strong>de</strong> que tal certeza <strong>de</strong> perdão não era <strong>uma</strong> garantia <strong>de</strong> que o pecado não<br />
surgiria outra vez; esta é a base <strong>de</strong> sua constante preocupação com a apostasia<br />
(e <strong>em</strong> parte, <strong>de</strong> sua antipatia com a pre<strong>de</strong>stinação). 166<br />
O próprio Wesley apresenta um resumo <strong>de</strong> sua teologia <strong>de</strong>ntro das doutrinas constru-<br />
ídas afirmando que: “Nossas principais doutrinas, que inclu<strong>em</strong> todo o resto, são três – as do<br />
arrependimento, da fé e da santida<strong>de</strong>. A primeira nós consi<strong>de</strong>ramos como se fosse a varanda<br />
da religião; a seguinte, a porta; e a terceira, a própria religião”. 167<br />
José Carlos <strong>de</strong> Souza 168 no artigo “Criação, Nova Criação e o Método Teológico na<br />
Perspectiva Wesleyana”, que constitui parte da obra teológica, “Meio Ambiente e Missão: A<br />
Responsabilida<strong>de</strong> Ecológica das <strong>Igreja</strong>s”, publicada pela editora da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia,<br />
conhecida como “Editeo” afirma que:<br />
Por essa razão, gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obras a respeito da teologia wesleyana<br />
concentra-se sobre o campo da soteriologia. A teologia posterior, especialmente<br />
à luz do reavivamento religioso, centraliza-se ainda mais na doutrina<br />
da salvação, <strong>em</strong> particular sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversão pessoal ou novo<br />
nascimento. 169<br />
A esperança da salvação, para Wesley, estava firmada na confiança da sincerida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
seu próprio <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter <strong>uma</strong> vida cristã e confiança nas promessas <strong>de</strong> Deus como ele as<br />
entendia. Por isso, Heitzenrater afirma que, a segurança da salvação baseava-se sobre o que<br />
166 KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 02.<br />
167 The Principles of a Methodist Father Explained. In: The Methodist Societies: History, Nature, and Design,<br />
ed. Rupert Davies, The Bicentennial Edition of Works of John Wesley. Vol. 9, Nashille: Abingdon Press,<br />
1989, , p. 227. In: CASTRO, Clovis Pinto <strong>de</strong>. Meio Ambiente e Missão: A Responsabilida<strong>de</strong> Ecológica das<br />
<strong>Igreja</strong>s. Clovis Pinto <strong>de</strong> Castro – Organizador. São Bernardo do Campo. Editeo. 2003. , p. 71.<br />
168 Teólogo, geógrafo, mestre <strong>em</strong> ciências da religião pela UMESP, doutorando na área <strong>de</strong> teologia e história da<br />
pós-graduação da UMESP e professor da área <strong>de</strong> história e teologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />
da UMESP.<br />
169 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Criação, Nova Criação e o Método Teológico na Perspectiva Wesleyana. In:<br />
VV.AA. Meio Ambiente e Missão: A Responsabilida<strong>de</strong> Ecológica das <strong>Igreja</strong>s. Clovis Pinto <strong>de</strong> Castro – Organizador.<br />
São Bernardo do Campo. Editeo. 2003, p. 71.<br />
65
ele <strong>de</strong>finia como “a segurança <strong>de</strong> nosso chamado: para saber que nossa esperança é a since-<br />
rida<strong>de</strong>, não a perfeição; não agir b<strong>em</strong>, mas o melhor possível” (Letter 25: 318). 170<br />
Heitzenrater diz ainda que:<br />
A vida e o pensamento dos wesleyanos <strong>de</strong> Oxford manifestavam <strong>uma</strong> teologia<br />
e <strong>uma</strong> prática que equivalia à metodologia arminiana, que era expressa<br />
<strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo complexo <strong>de</strong> regras e expectativas. O estilo <strong>de</strong> vida wesleyano<br />
estava <strong>de</strong> acordo com um tipo <strong>de</strong> teologia arminiana que exigia contínua<br />
obediência à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus mesmo <strong>de</strong>ntro do contexto da Nova Aliança.<br />
171<br />
Segundo Heitzenrater, a conseqüência teológica mais significativa da influência pietis-<br />
ta foi a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Wesley <strong>de</strong> que a santida<strong>de</strong> era <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> interior – “que a verda-<br />
<strong>de</strong>ira religião estava assentada no coração, e que a lei <strong>de</strong> Deus se estendia por todos os nos-<br />
sos pensamentos assim como pelas palavras e ações”. 172<br />
A santificação, estritamente falando, é tarefa exclusiva do Deus Santo. A santificação<br />
t<strong>em</strong> isso <strong>em</strong> comum com justificação e novo nascimento: somente Deus po<strong>de</strong> realizá-los. 173<br />
Manfred Marquardt <strong>em</strong> “Re<strong>de</strong>scobrindo o Sagrado”, apresenta o seguinte pensamento<br />
wesleyano sobre o t<strong>em</strong>a da santificação dizendo que:<br />
Ninguém está apto a santificar a si mesmo ou a si mesma. Apenas quando<br />
paramos <strong>de</strong> agir por nós mesmos é que a graça <strong>de</strong> Deus po<strong>de</strong> nos transformar.<br />
Enquanto tentamos formar e mo<strong>de</strong>lar a nós mesmos, pod<strong>em</strong>os conseguir<br />
alcançar algum aperfeiçoamento moral, intelectual ou físico, mas jamais<br />
conseguir<strong>em</strong>os nos tornar mais santos. 174<br />
Com isso, é importante <strong>de</strong>stacar também que o pensamento teológico <strong>de</strong> Wesley abra-<br />
çava outras dimensões da vida, como a luta contra o preconceito racial, os <strong>de</strong>safios das <strong>de</strong>-<br />
sigualda<strong>de</strong>s e injustiças sociais e os <strong>de</strong>bates <strong>em</strong> torno da <strong>de</strong>fesa da natureza.<br />
José Carlos <strong>de</strong> Souza diz que:<br />
A teologia <strong>de</strong>ve inspirar e refletir engajamento ético. O próprio Wesley opôs-se,<br />
com firmeza, à cruelda<strong>de</strong> exercida contra os animais; insistiu na ne-<br />
170<br />
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 43.<br />
171<br />
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 45.<br />
172<br />
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 36.<br />
173<br />
MARQUARDT, Manfred. Re<strong>de</strong>scobrindo o Sagrado. Manfred Marquardt. São Bernardo do Campo, Editeo,<br />
2000, p. 57.<br />
174<br />
MARQUARDT, Manfred. Re<strong>de</strong>scobrindo o Sagrado, p. 57.<br />
66
cessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educar para a benevolência e a compaixão relativamente a todas<br />
as formas <strong>de</strong> vida; con<strong>de</strong>nou ve<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ente a escravidão; <strong>de</strong>senvolveu alternativas<br />
criativas para respon<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>safio da pobreza; e, <strong>em</strong>bora não tenha<br />
percebido, <strong>em</strong> toda a sua extensão, o caráter estrutural das mudanças <strong>em</strong><br />
processo, <strong>de</strong>nunciou a injustiça e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais latentes e visíveis<br />
na <strong>em</strong>ergente socieda<strong>de</strong> industrial. 175<br />
A experiência na Geórgia também foi um episódio importante na peregrinação espiri-<br />
tual <strong>de</strong> Wesley e teve assim um papel significativo no seu <strong>de</strong>senvolvimento teológico. 176<br />
Até este momento foram apresentados, diversos conceitos <strong>de</strong> fé, baseados <strong>em</strong> <strong>uma</strong><br />
construção do pensar teológico wesleyano. Todavia, o <strong>de</strong>senvolvimento do pensamento teo-<br />
lógico é resultado <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vida <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> <strong>uma</strong> espiritualida<strong>de</strong> segundo a tradição, a razão,<br />
a própria fé no processo <strong>de</strong> ganhar experiência e, acima <strong>de</strong> tudo, <strong>uma</strong> espiritualida<strong>de</strong> basea-<br />
da nas Sagradas Escrituras, que é fonte do pensamento teológico <strong>de</strong> todo o cristianismo.<br />
Os t<strong>em</strong>as teológicos aqui apresentados, não esgotam a totalida<strong>de</strong> do pensamento teo-<br />
lógico <strong>de</strong> John Wesley e n<strong>em</strong> da continuida<strong>de</strong> do movimento <strong>Metodista</strong> que, para mim foi<br />
fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> meio às transformações políticas, éticas, religiosas e sociais da<br />
Inglaterra. Portanto, faz<strong>em</strong>os teologia s<strong>em</strong>pre que procuramos enten<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />
para o nosso t<strong>em</strong>po e lugar. Pois teologia é a reflexão elaborada no horizonte da fé e da vida<br />
cristã, sobre a prática <strong>missionária</strong> da <strong>Igreja</strong>. Não é simples coleção <strong>de</strong> pensamentos, frases<br />
<strong>de</strong> efeitos e opiniões pessoais.<br />
Por isso, como expressão da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé ou <strong>de</strong> um movimento religioso, a teo-<br />
logia obe<strong>de</strong>ce a critérios próprios e pressupõe o respeito a certos marcos referenciais, a sa-<br />
ber, as chamadas fontes do conhecimento teológico. Assim, os el<strong>em</strong>entos principais do pen-<br />
samento teológico wesleyano, que nortearão toda a pesquisa <strong>em</strong> torno da teologia<br />
wesleyana são conhecidos entre o povo metodista como a Bíblia, a tradição, a experiência, a<br />
razão e a criação. 177<br />
175 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Criação, Nova Criação e o Método Teológico na Perspectiva Wesleyana, p. 83.<br />
176 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 59.<br />
177 Todos já conhec<strong>em</strong> o quadrilátero wesleyano, porém o t<strong>em</strong>a da criação é <strong>de</strong>fendido pelo teólogo José Carlos<br />
67
Segundo José Carlos <strong>de</strong> Souza, as fontes do saber teológico não pod<strong>em</strong> ser dissociadas<br />
<strong>uma</strong>s das outras. Dev<strong>em</strong> ser vistas <strong>em</strong> sua mútua correlação e inter<strong>de</strong>pendência. 178<br />
2.1. A Bíblia<br />
TRADIÇÃO<br />
O pensamento teológico <strong>de</strong> Wesley t<strong>em</strong> como ponto <strong>de</strong> partida, suas consi<strong>de</strong>rações e<br />
seus comentários do conteúdo bíblico. A Bíblia é a referência fundante para qualquer teolo-<br />
gia cristã. Tendo isso como pressuposto básico, pass<strong>em</strong>os a consi<strong>de</strong>rar o pensamento<br />
wesleyano <strong>de</strong>ntro do contexto bíblico e teológico.<br />
Para a fé cristã, os livros canônicos são escritos pela auto-manifestação <strong>de</strong> Deus, na<br />
sua ação na história <strong>de</strong> Israel e na vida <strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong> Nazaré. Com isso, a Bíblia d<strong>em</strong>onstrou<br />
ser, através dos séculos, salvadora, auxiliadora e consoladora, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou revoluções e<br />
forneceu ao hom<strong>em</strong> a base para a sua vida. 179<br />
BÍBLIA<br />
EXPERIÊNCIA<br />
RAZÃO CRIAÇÃO<br />
De acordo com José Carlos <strong>de</strong> Souza, a Bíblia é a regra <strong>de</strong>finitiva, constante e central<br />
<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> fé e prática. Através <strong>de</strong>la conhec<strong>em</strong>os a revelação <strong>de</strong> Deus na história. Vale,<br />
portanto, o princípio da Reforma: “Seja eu o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> um só livro”. (cf. 2 Tm 3, 16-17). 180<br />
<strong>de</strong> Souza, professor <strong>de</strong> teologia wesleyana na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
178 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Apostila <strong>de</strong> Teologia Wesleyana. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, 2003.<br />
179 KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 39.<br />
180 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Apostila <strong>de</strong> Teologia Wesleyana. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, 2003.<br />
68
A compreensão da Bíblia para Wesley está muito próxima da dos pietistas, <strong>de</strong>ssa for-<br />
ma a total confiança na verda<strong>de</strong> das Sagradas Escrituras está a serviço da busca da salvação.<br />
A Bíblia é para Wesley a constante e última fonte <strong>de</strong> conhecimento e autorida<strong>de</strong>. Esta<br />
afirmação nos revela o grau <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Wesley e a Bíblia, e isso é percebido <strong>em</strong> suas<br />
obras e <strong>em</strong> seus sermões.<br />
Em um dos seus sermões, Wesley afirma que:<br />
A Bíblia é lâmpada para os pés do cristão b<strong>em</strong> como luz para todos os seus<br />
caminhos. Ele a recebe como a sua única regra <strong>de</strong> que é justo e <strong>de</strong> que é errado,<br />
<strong>de</strong> tudo aquilo que é realmente bom ou mau. Ele nada t<strong>em</strong> como bom<br />
senão aquilo que nela se contém, quer diretamente ou por simples conseqüência.<br />
Nada t<strong>em</strong> como mau senão o que ela proíbe quer claramente ou por<br />
inferência inegável. Tudo que a Escritura não proíbe n<strong>em</strong> or<strong>de</strong>na quer diretamente<br />
ou por simples conseqüência, ele crê que seja <strong>de</strong> natureza indiferente,<br />
n<strong>em</strong> bom n<strong>em</strong> mau <strong>em</strong> si mesmo. Esta é a regra total e única pela qual a<br />
sua conseqüência é dirigida <strong>em</strong> todas as coisas. 181<br />
No prefácio aos Sermões, Wesley faz alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações e conclui com <strong>uma</strong><br />
afirmação dizendo que:<br />
Quero saber <strong>uma</strong> coisa – o caminho para o céu; como <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcar-me com<br />
segurança naquela praia feliz. O próprio Deus con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u <strong>em</strong> ensinar o<br />
caminho; para este fim, ele veio do céu. Ele o escreveu <strong>em</strong> um livro. Oh!<br />
Dá-me esse livro! Por qualquer preço, dá-me o livro <strong>de</strong> Deus! Eu o tenho.<br />
Aqui há conhecimento suficiente para mim. Seja eu o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> um livro.<br />
De modo que estou distante dos costumes atarefados dos homens. Eu me assento<br />
a sós: somente Deus está aqui. Em sua presença abro e leio o seu livro;<br />
para este fim achar o caminho do céu. [...] E então medito com toda a atenção<br />
e sincerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que é capaz a minha mente. Se ainda persiste alg<strong>uma</strong><br />
dúvida, consulto aqueles que são quase mortos, ainda falam. E o que assim<br />
aprendo, isso ensino. 182<br />
Wesley tinha um jeito próprio <strong>de</strong> estudar a Bíblia, que mostra certas afinida<strong>de</strong>s com os<br />
estudiosos do seu t<strong>em</strong>po. Por isso, consi<strong>de</strong>ro importante <strong>de</strong>stacar que Wesley foi biblicista,<br />
especializado <strong>em</strong> Novo Testamento e professor da matéria. Qu<strong>em</strong> se aprofunda na pesquisa<br />
bíblica, apaixona-se por ela. Certamente isso ocorreu com Wesley, pois gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua<br />
obra escrita foi <strong>de</strong>dicada à interpretação da Bíblia.<br />
181 IGREJA METODISTA. Em Marcha – Metodismo: Orig<strong>em</strong> e Desenvolvimento. Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong><br />
<strong>Metodista</strong>. Editora Cedro, 2° Quadrimestre. 1999, p. 44.<br />
182 BURTNER, Robert W., CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia <strong>de</strong> João Wesley. Compilação <strong>de</strong> Robert<br />
W Burtner e Robert E. Chiles. Tradução <strong>de</strong> Messias Freire, 2ª Edição, Rio <strong>de</strong> Janeiro. <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, Colégio<br />
Episcopal, 1995, p. 18.<br />
69
Wesley viveu n<strong>uma</strong> Inglaterra influenciada pelo pensamento racionalista 183 e, com<br />
gran<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>, enfrentou essa realida<strong>de</strong>. Não negou a importância da razão, tampouco<br />
supervalorizou a experiência. Enfrentando exageros <strong>de</strong> ambos os lados e convicto <strong>de</strong> que<br />
experiência e razão pod<strong>em</strong> contribuir para o b<strong>em</strong>-estar das pessoas e, particularmente, para<br />
o estudo bíblico, ele escreveu: “Vamos unir estas duas há tanto t<strong>em</strong>po separadas: ciência e<br />
pieda<strong>de</strong> vital”.<br />
O resultado <strong>de</strong>ssa união entre razão e fé é <strong>uma</strong> interpretação bíblica clara, verda<strong>de</strong>ira e<br />
voltada para um aprendizado profundo do propósito <strong>de</strong> Deus. É <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> lógica<br />
(razão) do coração (amor) que atinge a <strong>em</strong>oção e provoca no hom<strong>em</strong> e na mulher <strong>uma</strong> nova<br />
vitalida<strong>de</strong> no test<strong>em</strong>unho. Foi com esse jeito <strong>de</strong> interpretar que Wesley revolucionou o<br />
modo <strong>de</strong> pensar da Inglaterra daquele t<strong>em</strong>po e nos legou <strong>uma</strong> contribuição <strong>de</strong> valor para a<br />
interpretação bíblica.<br />
Wesley interpreta a Bíblia a partir da realida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na, pois ele está preocupado <strong>em</strong><br />
tirar lições dos textos para lançar luzes sobre a realida<strong>de</strong> distorcida e complicada, encon-<br />
trando as orientações necessárias para animar o povo e para apresentar a vida plena e abun-<br />
dante. 184<br />
Para Wesley, a Bíblia é a única regra <strong>de</strong> fé e prática, pois ele diz que “meu fundamen-<br />
to é a Bíblia, sigo-a <strong>em</strong> todas as coisas, gran<strong>de</strong>s ou pequenas”, isso porque ela é a própria<br />
palavra <strong>de</strong> Deus, fonte <strong>de</strong> conhecimento e do saber teológico, ponto <strong>de</strong> partida para <strong>uma</strong><br />
vida santificada e justificada. Wesley i<strong>de</strong>ntificava na Bíblia a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus aos ho-<br />
mens. É a revelação do propósito <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> restaurar tudo e todos, criatura e criação, por<br />
intermédio <strong>de</strong> Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Ele reconhecia que Deus inspirou a-<br />
queles que escreveram, assim como também inspira aqueles e aquelas que a lê<strong>em</strong>. Por isso,<br />
183 Um racionalista é <strong>uma</strong> pessoa que acredita nas soluções vindas das idéias, da razão, e nunca da experiência.<br />
Isso significa que um racionalista nega qualquer autorida<strong>de</strong> ou credibilida<strong>de</strong> à fé religiosa.<br />
184 João 10,10b<br />
70
ele aconselhava a meditação constante nas Escrituras para o entendimento melhor da vonta-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para a vida pessoal, familiar e comunitária.<br />
No sermão “A Nova Criação” (sobre o texto <strong>de</strong> Ap. 21,5), ele nos diz que a Escritura<br />
<strong>de</strong>ve ser interpretada pela própria Escritura e <strong>de</strong> acordo com a analogia da fé. A analogia da<br />
fé significa que as verda<strong>de</strong>s da fé estão implicadas <strong>uma</strong>s nas outras, <strong>de</strong> tal forma que <strong>uma</strong> é<br />
entendida pela outra. 185<br />
Pensando assim, apesar <strong>de</strong> confessarmos a priorida<strong>de</strong> da Bíblia na nossa reflexão teo-<br />
lógica, s<strong>em</strong>pre incluímos a importância da tradição, da experiência e da razão, quando que-<br />
r<strong>em</strong>os compreen<strong>de</strong>r o seu conteúdo.<br />
2.2. A Experiência<br />
Wesley lia a Bíblia como fonte segura para o conhecimento <strong>de</strong> Deus e do pensar teo-<br />
lógico. No entanto, reconhecia na experiência pessoal do cristão <strong>uma</strong> oportunida<strong>de</strong> legítima<br />
<strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>ste mesmo Deus e da construção do saber teológico. Ambas se refor-<br />
çam. Na medida <strong>em</strong> que se medita na Palavra, buscando enten<strong>de</strong>r e perceber a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Deus, mais possibilida<strong>de</strong>s são criadas para se ter <strong>uma</strong> experiência pessoal com Ele, por<br />
meio da fé. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, a experiência <strong>de</strong> fé leva o cristão a fazer <strong>uma</strong> releitura da<br />
Bíblia, com base na fé e, agora, por sua experiência pessoal.<br />
O sentido da fé não é alcançado somente pela interpretação intelectual ou teórica do<br />
ensino cristão, senão através <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação viva com Deus. O test<strong>em</strong>unho interno do<br />
Espírito é, pois, indispensável! Porém, não existe experiência que seja normativa. Isolada<br />
dos d<strong>em</strong>ais referenciais, a experiência como normativa conduz ao subjetivismo e ao fana-<br />
tismo [Jo 3,3; Jo 9,25; Rm 8,16; 1 Pe 2,3]. 186<br />
185 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Criação, Nova Criação e o Método Teológico na Perspectiva Wesleyana, p. 91.<br />
186 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Apostila <strong>de</strong> Teologia Wesleyana. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, 2003.<br />
71
É indiscutível a primazia da Bíblia na busca do conhecimento da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus pa-<br />
ra a vida do cristão, mas esse fator não exclui e n<strong>em</strong> diminui a relevância <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiên-<br />
cia pessoal. É possível saber e citar diferentes passagens bíblicas e ainda permanecer indife-<br />
rente à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus. O cristão toma conhecimento <strong>de</strong> Deus, da Sua vonta<strong>de</strong> por meio da<br />
comunhão íntima <strong>em</strong> que o Espírito testifica com o nosso espírito <strong>de</strong> que somos filhos(as)<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Wesley passou muito t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiência pessoal <strong>de</strong> fé. Sua narrati-<br />
va dos acontecimentos do dia 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1738, na Rua Al<strong>de</strong>rsgate, <strong>em</strong> Londres, na In-<br />
glaterra reflete sua visão da direção provi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> Deus nesse <strong>de</strong>senvolvimento da fé. Tu-<br />
do começou pela manhã, durante a leitura da Bíblia e nos cânticos na Catedral <strong>de</strong> São Paulo,<br />
à tar<strong>de</strong>, e a reunião da socieda<strong>de</strong> no final do dia. O próprio Wesley <strong>de</strong>screve sua experiência<br />
dizendo que:<br />
À noite eu fui <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> à socieda<strong>de</strong> na Rua Al<strong>de</strong>rsgate, on<strong>de</strong> alguém<br />
estava lendo o prefácio <strong>de</strong> Lutero para a Epístola aos Romanos. Cerca <strong>de</strong> um<br />
quarto para as nove, enquanto ele estava <strong>de</strong>screvendo a mudança que Deus<br />
opera no coração pela fé <strong>em</strong> Cristo, eu senti meu coração estranhamente aquecido,<br />
senti que acreditava <strong>em</strong> Cristo, apenas <strong>em</strong> Cristo para a salvação, e<br />
<strong>uma</strong> segurança me foi dada que Ele havia levado meus pecados, sim os<br />
meus, e me salvado da lei do pecado e da morte. (J&D, 18:249-250) 187<br />
Wesley ora e test<strong>em</strong>unha aos presentes na reunião a sua experiência. Mais tar<strong>de</strong> afir-<br />
ma: “Lutava, sim, pelejava com todas as minhas forças <strong>de</strong>baixo da lei como <strong>de</strong>baixo da gra-<br />
ça. Mas, então, era às vezes, senão freqüent<strong>em</strong>ente, vencido. Agora, era s<strong>em</strong>pre vence-<br />
dor”. 188<br />
187 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 80.<br />
188 Op. Cit. Em Marcha – Metodismo: Orig<strong>em</strong> e Desenvolvimento, p. 50.<br />
72
2.3. A Razão<br />
Wesley <strong>de</strong>fendia o uso da razão 189 <strong>em</strong> conjunto com a Bíblia e a experiência pessoal<br />
como oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conhecimento e autorida<strong>de</strong> cristã.<br />
Por isso que para Wesley a razão é um princípio fundamental, pois “renunciar à razão<br />
é renunciar à religião, que a religião e a razão caminham <strong>de</strong> mãos dadas e que toda a religi-<br />
ão s<strong>em</strong> a razão é falsa”. 190 Afinal, n<strong>em</strong> a razão contradiz a revelação divina, n<strong>em</strong> esta exige<br />
a nossa concordância com aquilo que fere ao bom senso. Realmente, iluminada pelo Espíri-<br />
to Santo, a razão nos auxilia na compreensão da vonta<strong>de</strong> divina, mas por outro lado, é inca-<br />
paz <strong>de</strong> nos conce<strong>de</strong>r a fé, a esperança ou o amor. A disciplina intelectual é necessária, con-<br />
tudo, separada dos outros critérios, <strong>de</strong>genera-se <strong>em</strong> puro racionalismo (1 Co 14,15;<br />
Rm 12,1). 191<br />
Segundo Heitzenrater, a razão fornecia os meios pelos quais as Escrituras e a tradição,<br />
pod<strong>em</strong> ser examinadas e entendidas por pessoas sensatas, a verda<strong>de</strong> revelada po<strong>de</strong>, às vezes,<br />
estar acima da razão, mas jamais estará contra a razão.<br />
A razão, sabendo que a informação ou revelação divina é <strong>de</strong> fato divina, já está con-<br />
vencida <strong>de</strong> que ela exce<strong>de</strong> toda certeza h<strong>uma</strong>na. Com isso, visto que Deus fez dos homens e<br />
das mulheres, instrumentos imediatos <strong>de</strong> toda a revelação, a fé evangélica <strong>de</strong>ve ser parte<br />
fundada sobre o test<strong>em</strong>unho h<strong>uma</strong>no. 192<br />
Wesley diz ainda que:<br />
Pod<strong>em</strong>os observar, <strong>em</strong> segundo lugar, que, visto que Deus fez dos homens<br />
os seus instrumentos imediatos <strong>de</strong> todas as suas revelações, Ele con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u<br />
<strong>em</strong> usar a linguag<strong>em</strong> h<strong>uma</strong>na, assim como as nossas concepções e idéias<br />
189<br />
Wesley era filho do século XVIII, o “século das luzes”. Era um século <strong>em</strong> que o saber h<strong>uma</strong>no era b<strong>em</strong> valorizado.<br />
Ele mesmo bebeu das fontes da cultura e do saber, estudando e lecionando na famosa Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Oxford. Mas n<strong>em</strong> por isso se consi<strong>de</strong>rou um intelectual privilegiado ou alguém que acreditasse ser sua sabedoria<br />
suficiente <strong>em</strong> si até o ponto <strong>de</strong> dispensar a fé da sua vida. O movimento metodista foi baseado <strong>em</strong> profundas<br />
<strong>em</strong>oções e experiências pessoais com o Deus vivo. A razão s<strong>em</strong>pre estava presente com as <strong>em</strong>oções e<br />
o entusiasmo na sua experiência <strong>de</strong> fé.<br />
190<br />
BURTNER, Robert W., CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia <strong>de</strong> João Wesley, p. 26.<br />
191<br />
Anotações retiradas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> apostila dada pelo professor Ms. José Carlos <strong>de</strong> Souza <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula na ocasião<br />
da disciplina <strong>de</strong> teologia wesleyana.<br />
192<br />
BURTNER, Robert W., CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia <strong>de</strong> João Wesley, p. 23.<br />
73
naturais para a representação clara e fácil das coisas sobrenaturais e <strong>de</strong> outro<br />
modo incompreensíveis... 193<br />
Relacionar o t<strong>em</strong>a da razão com Wesley só é possível quando Deus abre os nossos o-<br />
lhos e, então, perceb<strong>em</strong>os que estávamos s<strong>em</strong> Deus. Não tínhamos conhecimento <strong>de</strong> Deus,<br />
por isso, quando chegamos ao uso da razão, aprend<strong>em</strong>os “as coisas invisíveis <strong>de</strong> Deus, seu<br />
po<strong>de</strong>r eterno e sua li<strong>de</strong>rança das coisas que foram criadas”. 194<br />
Wesley afirma que:<br />
O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conhecimento é princípio universal no hom<strong>em</strong>, gravado na sua<br />
natureza mais íntima. Ele é invariável e constante <strong>em</strong> todas as criaturas racionais<br />
a menos que seja suspenso por algum <strong>de</strong>sejo mais forte. [...] O atual<br />
conhecimento do hom<strong>em</strong> é adaptado exatamente aos seus <strong>de</strong>sejos presentes.<br />
Ele é suficiente para avisar-nos e preservar-nos da maioria dos males a que<br />
estamos expostos no momento, e para prover-nos <strong>de</strong> tudo que nos é necessário<br />
neste estado infantil <strong>de</strong> nossa existência. 195<br />
Com a ajuda da razão, examinamos a correlação <strong>de</strong> nosso test<strong>em</strong>unho com a mensa-<br />
g<strong>em</strong> bíblica e com as tradições, pois somos assistidos pelo Espírito Santo que nos capacita a<br />
enten<strong>de</strong>r o que a Bíblia <strong>de</strong>clara a respeito do ser e dos atributos <strong>de</strong> Deus.<br />
Sobre essa afirmação, Wesley faz a seguinte consi<strong>de</strong>ração dizendo que:<br />
Não é a razão que, assistida pelo Espírito Santo, nos capacita a enten<strong>de</strong>r o<br />
que as Sagradas Escrituras <strong>de</strong>claram a respeito do ser e dos atributos <strong>de</strong><br />
Deus? Da sua eternida<strong>de</strong> e imensida<strong>de</strong>, do seu po<strong>de</strong>r, sabedoria e santida<strong>de</strong>?<br />
É pela razão que Deus nos capacita, até certo ponto, a compreen<strong>de</strong>rmos o<br />
seu método <strong>de</strong> tratar com os filhos dos homens a natureza <strong>de</strong> suas várias dispensações<br />
– da velha e da nova, da lei e do Evangelho. É por esta que nós<br />
entend<strong>em</strong>os que é pela fé que somos salvos, quais são a natureza e a condição<br />
da justificação e quais são os seus frutos imediatos e subseqüentes. Pela<br />
razão, aprend<strong>em</strong>os o que é o novo nascimento s<strong>em</strong> o qual não pod<strong>em</strong>os entrar<br />
no Reino do céu e a santida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> a qual ninguém po<strong>de</strong>rá ver o Senhor.<br />
Pelo uso <strong>de</strong>vido da razão, nós chegamos a conhecer os el<strong>em</strong>entos implícitos<br />
na santida<strong>de</strong> interior e o que significa se santo: <strong>em</strong> outras palavras: qual a<br />
mente que houve <strong>em</strong> Cristo e o que é andar como Cristo andou.” 196<br />
É pela razão que Deus nos capacita e nós <strong>em</strong>pregamos nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocínio<br />
para relacionar o nosso test<strong>em</strong>unho à ampla abrangência <strong>de</strong> conhecimento, experiência e<br />
serviços h<strong>uma</strong>nos. Porque toda verda<strong>de</strong> v<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus, por isso são úteis os esforços <strong>de</strong> esta-<br />
193 BURTNER, Robert W., CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia <strong>de</strong> João Wesley, p. 24.<br />
194 BURTNER, Robert W., CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia <strong>de</strong> João Wesley, p. 25.<br />
195 BURTNER, Robert W., CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia <strong>de</strong> João Wesley, p. 27.<br />
196 Op. Cit. Em Marcha – Metodismo: Orig<strong>em</strong> e Desenvolvimento, pp. 52-53.<br />
74
elecer as relações entre revelação e razão, fé e ciência, graça e natureza, para <strong>de</strong>senvolver<br />
<strong>uma</strong> doutrina confiável e comunicável. 197<br />
Para Wesley, não há separação entre o intelectual e o espiritual. Ele não viu conflito<br />
entre essas duas dimensões da vida, ele próprio aproveitou o saber h<strong>uma</strong>no acumulado len-<br />
do bons livros sobre diferentes assuntos e escrevendo sobre diferentes t<strong>em</strong>as.<br />
Por outro lado, Wesley entendia que a razão por ela mesma não produz fé, esperança e<br />
amor. Porém, compreen<strong>de</strong>u que Deus usa a razão para ser um veículo para o entendimento e<br />
o discernimento e, por isso, ela se torna tão necessária <strong>em</strong> nossos dias.<br />
Wesley usava sua própria razão e <strong>de</strong>ixava o outro usar a <strong>de</strong>le. Contudo, ele conseguia<br />
adotar essa posição liberal s<strong>em</strong> ser omisso, indiferente ou vacilante. Ele soube pensar e <strong>de</strong>i-<br />
xar pensar.<br />
2.4. A Tradição<br />
Wesley consi<strong>de</strong>ra os ensinos da <strong>Igreja</strong> como ponto <strong>de</strong> referência ao conhecimento <strong>de</strong><br />
Deus revelado na Bíblia, pela experiência pessoal e pela razão.<br />
O próprio Wesley assim diz:<br />
Nunca é d<strong>em</strong>ais fazermos um exame da nossa religião se o fizermos à luz<br />
dos mais antigos documentos do cristianismo. Saber como nasceu a <strong>Igreja</strong><br />
Cristã, nossa própria <strong>Igreja</strong>, b<strong>em</strong> como saber como viviam nossos irmãos no<br />
passado, saber sobre a fé <strong>em</strong> Jesus Cristo, saber à respeito da <strong>Igreja</strong> <strong>em</strong> seus<br />
primórdios, seus costumes, princípios, doutrinas, saber o porque da existência<br />
da <strong>Igreja</strong>, sua razão <strong>de</strong> ser ajuda para superar ou diminuir dificulda<strong>de</strong>s<br />
que imped<strong>em</strong> a compreensão do que somos, nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> particular como<br />
grupo, nossa disponibilida<strong>de</strong> a Deus – o nosso serviço. 198<br />
A tarefa teológica não começa do nada <strong>em</strong> cada período ou com cada ser h<strong>uma</strong>no. O<br />
cristianismo não salta do Novo Testamento para o presente, como se não tivéss<strong>em</strong>os nada<br />
para apren<strong>de</strong>r com a “nuv<strong>em</strong> <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unhas” existente nesse meio t<strong>em</strong>po. 199<br />
197 KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 470.<br />
198 Op. Cit. Em Marcha – Metodismo: Orig<strong>em</strong> e Desenvolvimento, p. 56.<br />
199 KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 469.<br />
75
A igreja primitiva organizava-se e crescia <strong>em</strong> torno da Palavra <strong>de</strong> Jesus e dos test<strong>em</strong>u-<br />
nhos dos(as) discípulos(as). 200 E aos poucos, à medida que cresciam <strong>em</strong> números e expandi-<br />
am, os(as) cristãs(ãs) eram exortados(as) a preservar, cuidar e zelar pelas suas tradições. 201<br />
R<strong>em</strong><strong>em</strong>orar as tradições tinha a intenção <strong>de</strong> manter a unida<strong>de</strong> da fé (Ef 4,11-14), valo-<br />
rizar a santida<strong>de</strong> cristã <strong>em</strong> oposição à <strong>de</strong>sord<strong>em</strong> e à dissolução (Ef 4,17-24), focalizar os<br />
ministérios e serviços que os cristãos po<strong>de</strong>riam prestar aos outros como parte do seu teste-<br />
munho (Rm 12,3-8), fundamentar a pregação da Palavra nos lugares on<strong>de</strong> os cristãos reuni-<br />
am-se (At 11,19-26) e a incentivar a comunida<strong>de</strong> cristã a <strong>uma</strong> vida <strong>de</strong> oração, meditação e<br />
vivência cristã (At 2,42-47).<br />
A experiência continuada da igreja através dos séculos auxilia na correta interpretação<br />
da Bíblia e orienta a compreensão dos assuntos a ela não relacionados diretamente. Wesley<br />
valoriza, sobretudo os pais da igreja, os Credos e Concílios Ecumênicos, os Reformadores,<br />
o Livro <strong>de</strong> Oração Comum e as Homilias da <strong>Igreja</strong> Anglicana. Consi<strong>de</strong>rada <strong>em</strong> si mesma, no<br />
entanto, a tradição po<strong>de</strong> levar ao formalismo e ao tradicionalismo (cf. 1 Co 11,2;<br />
1 Co 11,23s; 1 Co 15,1-3 e Ts 2,15]. 202<br />
A tradição não era usada como faziam os católicos romanos, mas <strong>de</strong> acordo com o en-<br />
tendimento <strong>de</strong> Wesley, ela proporcionava um modo <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> pensamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os pri-<br />
meiros séculos do cristianismo muito perto da pureza dos test<strong>em</strong>unhos apostólicos, b<strong>em</strong><br />
como era passível <strong>de</strong> ser <strong>uma</strong> autêntica reflexão e explicação do test<strong>em</strong>unho bíblico e exclu-<br />
sivamente limitado aos primeiros séculos da igreja cristã. 203<br />
Wesley estava convencido <strong>de</strong> que havia muitos ex<strong>em</strong>plos positivos no cristianismo<br />
primitivo para instituí-lo como padrão para a revitalização e a renovação da igreja <strong>em</strong> seu<br />
200 Atos 15:1-35<br />
201 1 Timóteo 1, 3-7.<br />
202 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Apostila <strong>de</strong> Teologia Wesleyana. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, 2003.<br />
203 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado <strong>Metodista</strong>, p. 10.<br />
76
t<strong>em</strong>po. Pois a teologia <strong>de</strong> Wesley é fundamentada nas Escrituras Sagradas e na experiência<br />
<strong>de</strong> fé que, por sua vez, tenta explicar a vida na presença <strong>de</strong> Deus.<br />
Nesse sentido, a tradição é chave hermenêutica para <strong>uma</strong> boa compreensão do pensa-<br />
mento wesleyano. Afinal, é na história da igreja primitiva que Wesley procura viver <strong>uma</strong><br />
realida<strong>de</strong> marcante e diferenciada, ele adota um estilo <strong>de</strong> vida que busca vivenciar o amor<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
2.5. A Criação<br />
A Bíblia, a experiência pessoal, a razão e a tradição cristã são fontes do conhecimento<br />
<strong>de</strong> Deus e da autorida<strong>de</strong> cristã. Cada qual se relaciona com o outro. No entanto, Wesley<br />
acrescenta ainda <strong>uma</strong> outra fonte: a natureza feita pelo Deus Criador. Nela há expressão<br />
ve<strong>em</strong>ente da presença e do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Deus. Nela há um retrato da sabedoria divina e do cui-<br />
dado amoroso. Nela há <strong>uma</strong> imag<strong>em</strong> da perfeição do po<strong>de</strong>r divino do Senhor.<br />
Segundo José Carlos <strong>de</strong> Souza, situar Wesley entre os ‘ecologistas’ é, realmente, um<br />
anacronismo. Contudo, pod<strong>em</strong>os reconhecer a Glória <strong>de</strong> Deus e mesmo obter, por analogia,<br />
algum conhecimento <strong>de</strong> seus propósitos através da observação da natureza “o mundo ao<br />
redor <strong>de</strong> nós é o po<strong>de</strong>roso volume on<strong>de</strong> Deus se revelou”. Esse conhecimento, entretanto,<br />
não esgota a revelação divina. Conseqüent<strong>em</strong>ente, o naturalismo, como único caminho para<br />
alcançar a verda<strong>de</strong> teológica, <strong>de</strong>ve ser rejeitado (cf. Sl 19,1; Sl 104). 204<br />
De acordo com Souza, o t<strong>em</strong>a da criação para Wesley era o mesmo da igreja primiti-<br />
va. A ênfase da teologia wesleyana era a salvação, contudo, Wesley nunca negou que o uni-<br />
verso é <strong>uma</strong> obra divina n<strong>em</strong> situou a criação <strong>em</strong> lugar menos relevante. Ao contrário disso,<br />
ele consi<strong>de</strong>rava a ativida<strong>de</strong> criadora, como <strong>uma</strong> plena manifestação da Graça <strong>de</strong> Deus afir-<br />
mando que:<br />
204 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Apostila <strong>de</strong> Teologia Wesleyana. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, 2003.<br />
77
O Deus eterno, todo-po<strong>de</strong>roso, onisciente e cheio <strong>de</strong> graça é o Criador do<br />
céu e da terra. Ele, por sua palavra po<strong>de</strong>rosa, chamou do nada todo o universo,<br />
tudo que existe. “Assim o céu e a terra foram criados, b<strong>em</strong> como todos os<br />
seus exércitos.” E <strong>de</strong>pois que Ele or<strong>de</strong>nou todas as d<strong>em</strong>ais coisas – as plantas<br />
segundo as suas espécies, os peixes e as aves, as bestas e os répteis segundo<br />
as suas espécies, “Ele criou o ser h<strong>uma</strong>no segundo a sua própria imag<strong>em</strong>”.<br />
E o Senhor viu que cada parte distinta do universo era boa. Porém,<br />
quando viu tudo quanto tinha feito, cada coisa <strong>em</strong> conexão com as outras,<br />
“eis que tudo era muito bom”. 205<br />
Souza afirma ainda que existe <strong>uma</strong> correlação inevitável entre Deus como Criador e o<br />
cosmo. “O mundo não é Deus, mas é <strong>de</strong> Deus, e Deus está <strong>em</strong> seu mundo.” 206<br />
Por isso, acho necessário afirmar que Deus criou o universo não por necessida<strong>de</strong> ou<br />
solidão, mas chama todas as coisas à existência como prova <strong>de</strong> Seu amor e po<strong>de</strong>r. E para<br />
i<strong>de</strong>ntificar o propósito <strong>de</strong> Deus para a criação, é necessário reconhecer o agir <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong><br />
amor como nosso sustentador e provedor. Wesley tenta evi<strong>de</strong>nciar que, todas as coisas cria-<br />
das serviam a um propósito ou ocupavam um lugar central na ord<strong>em</strong> total da criação.<br />
O ponto central da teologia wesleyana sobre o t<strong>em</strong>a da criação é o ser h<strong>uma</strong>no. Ho-<br />
m<strong>em</strong> e mulher criados à imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus. Wesley enten<strong>de</strong> a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus, <strong>em</strong> um senti-<br />
do mais relacional, não tanto como algo que o ser h<strong>uma</strong>no possui, mas o modo como ele se<br />
relaciona com Deus e vive essa relação no mundo. 207<br />
Assim, Wesley <strong>de</strong>screve o ser h<strong>uma</strong>no como Imago Dei 208 – (Imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus) sob<br />
três aspectos: natural, político e moral.<br />
2.5.1. Imag<strong>em</strong> Natural<br />
Esta resumi-se naqueles dons ou qualida<strong>de</strong>s com as quais a criatura é abençoada e que<br />
a tornam “capazes <strong>de</strong> Deus”, capaz <strong>de</strong> ter um relacionamento e conviver com Deus. Theo-<br />
205 Op. Cit Meio Ambiente e Missão: A Responsabilida<strong>de</strong> Ecológica das <strong>Igreja</strong>s, p. 72 – Para maior compreensão<br />
do t<strong>em</strong>a, indico a leitura do artigo “Criação, Nova Criação e o Método Teológico na Perspectiva Wesleyana”,<br />
do professor José Carlos <strong>de</strong> Souza, pp. 67-88.<br />
206 KLAIBER, Walter e MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça <strong>de</strong> Deus, p. 82.<br />
207 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Criação, Nova Criação e o Método Teológico na Perspectiva Wesleyana, p. 76.<br />
208 Essa era a compreensão da imag<strong>em</strong> encontrada especialmente na tradição dos padres do Oriente, os padres<br />
gregos e sírios dos cinco primeiros séculos da era cristã, que exerceram, importante influência sobre a teologia<br />
<strong>de</strong> John Wesley.<br />
78
dore Runyon diz ainda que, assim como Deus é Espírito, igualmente o é a sua imag<strong>em</strong>. E,<br />
como espírito, a imag<strong>em</strong> é dotada <strong>de</strong> entendimento (razão) – que é o termo usado para <strong>de</strong>s-<br />
crever o atributo que separa os seres h<strong>uma</strong>nos dos outros animais, vonta<strong>de</strong> (volição) e liber-<br />
da<strong>de</strong> (livre-arbítrio para agir). 209<br />
O entendimento ou razão abrange três dimensões relevantes para o pensar teológico.<br />
Theodore Runyon faz a seguinte <strong>de</strong>finição dizendo que a primeira dimensão é:<br />
...percepção, “conceber algo na mente”; no juízo, comparando percepções<br />
<strong>uma</strong>s com as outras; e no discurso, o “avanço da mente <strong>de</strong> um juízo a outro”.<br />
A razão, portanto, nos capacita a compreen<strong>de</strong>r, num nível limitado como as<br />
coisas funcionam juntas, o que nos possibilita discernir ord<strong>em</strong> e relacionamentos<br />
e fazer julgamentos corretos. 210<br />
Theodore Runyon diz ainda que s<strong>em</strong> a razão seria impossível explicar os princípios<br />
básicos da fé, por isso, a razão po<strong>de</strong> beneficiar-se positivamente a fé religiosa. Runyon nos<br />
l<strong>em</strong>bra ainda <strong>de</strong> que para Wesley existiam limites para o papel da razão na religião, mas ele<br />
se preocupava <strong>em</strong> preservar a contribuição funcional (<strong>em</strong> vez da contribuição mitológica) da<br />
razão. 211<br />
As duas outras dimensões da imag<strong>em</strong> natural são a verda<strong>de</strong> e a liberda<strong>de</strong>. Ambas an-<br />
dam <strong>de</strong> “mãos dadas” na compreensão <strong>de</strong> Wesley. Isso porque ele reconhece que a vonta<strong>de</strong><br />
h<strong>uma</strong>na foi corrompida pelo pecado.<br />
Runyon afirma que:<br />
A <strong>de</strong>sobediência h<strong>uma</strong>na rompeu o relacionamento entre a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus,<br />
<strong>de</strong> modo que a tendência natural do ser h<strong>uma</strong>no é ser egoísta e se autopromover;<br />
<strong>em</strong> outras palavras, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>caída é escrava das forças do pecado.<br />
No entanto, se essa escravidão for total e a vonta<strong>de</strong> não tiver qualquer liberda<strong>de</strong>,<br />
ela não po<strong>de</strong>rá ser moralmente responsabilizada. Portanto, para que<br />
o julgamento <strong>de</strong> Deus seja justo, é necessário um certo grau <strong>de</strong> livrearbítrio.<br />
212<br />
209 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje. Theodore Runyon [Tradução <strong>de</strong><br />
Cristina Paixão Lopes]. São Bernardo do Campo-SP: Editeo, 2002, p. 24.<br />
210 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 25.<br />
211 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 26.<br />
212 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 26.<br />
79
Portanto, a razão ou entendimento, a volição (vonta<strong>de</strong>) e a liberda<strong>de</strong> (livre-arbítrio pa-<br />
ra agir) são características básicas do ser espiritual que traz consigo a imag<strong>em</strong> natural <strong>de</strong><br />
Deus.<br />
2.5.2. Imag<strong>em</strong> Política<br />
Sobre a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> política, Runyon diz que o ser h<strong>uma</strong>no é dotado com a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e administração para ser o “regente sobre a terra, o príncipe e go-<br />
vernador <strong>de</strong>ste mundo mais baixo”, mas prefiro pensar que Deus coloca o ser h<strong>uma</strong>no como<br />
o “cuidador” 213 da obra criada – a terra. O cuidado é <strong>uma</strong> característica existencial do ser<br />
h<strong>uma</strong>no. O cuidado é um modo <strong>de</strong> ser essencial. Portanto, a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> recebeu <strong>uma</strong> posi-<br />
ção privilegiada e <strong>de</strong> especial responsabilida<strong>de</strong> para com o resto da criação.<br />
De acordo com Runyon, foi dada à h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> a responsabilida<strong>de</strong> especial <strong>de</strong> ser “o<br />
canal <strong>de</strong> comunicação” entre o Criador e o resto da criação.<br />
Ele afirma ainda que:<br />
A h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> é a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus na medida <strong>em</strong> que a benevolência <strong>de</strong><br />
Deus é refletida nas ações h<strong>uma</strong>nas para com o resto da criação. Esse papel<br />
<strong>de</strong> mordomo e cuidador da criação pressupõe <strong>uma</strong> contínua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à ord<strong>em</strong><br />
do Criador, e somente baseada nesse princípio é que a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />
esperar manter a ord<strong>em</strong> do mundo sob a sua administração. 214<br />
Wesley, porém, consi<strong>de</strong>rava um outro el<strong>em</strong>ento central para a compreensão da ima-<br />
g<strong>em</strong> política, que era a <strong>de</strong>pendência da qualida<strong>de</strong> do relacionamento do mordomo, do cui-<br />
dador ou, como Runyon diz, “príncipe e governador” com o Criador. Isso nos leva à terceira<br />
dimensão da imago Dei.<br />
213 Termo usado pelo teólogo, filósofo, Doutor <strong>em</strong> Ciências da Religião pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Strasbourg, França<br />
e Reitor e Professor da Área <strong>de</strong> Teologia Sist<strong>em</strong>ática na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da UMESP, no artigo “A<br />
Preocupação Ecológica na Tradição Wesleyana” – In: Meio Ambiente e Missão: A Responsabilida<strong>de</strong> Ecológica<br />
das <strong>Igreja</strong>s, p. 99.<br />
214 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 28.<br />
80
2.5.3. Imag<strong>em</strong> Moral<br />
Runyon afirmar que a imag<strong>em</strong> moral é a principal marca do relacionamento h<strong>uma</strong>no<br />
com Deus, <strong>de</strong> acordo com Wesley, mas também a mais facilmente distorcida. Ele <strong>de</strong>staca<br />
ainda que:<br />
A imag<strong>em</strong> natural consiste <strong>de</strong> dons, a maioria dos quais é retida na h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong><br />
após o pecado, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong> forma adulterada. A imag<strong>em</strong> política é aquela<br />
que a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong> continua a exercer, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong> modo corrompido, refletindo<br />
orgulho, o egoísmo e a insegurança da condição h<strong>uma</strong>na num mundo<br />
<strong>de</strong>caído. Mas a imag<strong>em</strong> moral consiste <strong>em</strong> um relacionamento no qual a<br />
criatura recebe continuamente do criador, e passa adiante, como mediadora,<br />
aquilo que recebeu. “Deus é amor”: conseqüent<strong>em</strong>ente, o hom<strong>em</strong> ao ser criado,<br />
estava cheio <strong>de</strong> amor, que era o princípio essencial <strong>de</strong> todas as suas índoles,<br />
pensamentos, palavras e atos. Deus é cheio <strong>de</strong> justiça, misericórdia e<br />
verda<strong>de</strong>: assim era o hom<strong>em</strong> ao sair das mãos <strong>de</strong> seu criador”. 215<br />
Significa dizer que a imag<strong>em</strong> moral consiste <strong>de</strong> todas as dádivas que permit<strong>em</strong> à pes-<br />
soa h<strong>uma</strong>na refletir o caráter <strong>de</strong> Deus no mundo, ou seja, qualida<strong>de</strong>s como “justiça e verda-<br />
<strong>de</strong>ira santida<strong>de</strong>” (Ef 4,24), amor, retidão, misericórdia, verda<strong>de</strong> e pureza. 216 Essas dádivas<br />
são resultado do perfeito relacionamento do cuidador com o Criador. Wesley chama isso <strong>de</strong><br />
“respiração espiritual”.<br />
E ainda diz assim:<br />
O sopro <strong>de</strong> Deus na alma e a respiração da alma retribuindo o que primeiro<br />
recebeu <strong>de</strong> Deus implicam n<strong>uma</strong> contínua ação <strong>de</strong> Deus sobre a alma e n<strong>uma</strong><br />
reação da alma para com Deus; implicam na incessante presença <strong>de</strong><br />
Deus, do Deus que ama e perdoa, revelada ao coração e apreendida pela fé;<br />
implicam n<strong>uma</strong> constante retribuição <strong>de</strong> amor, louvor, e oração, oferecendo<br />
todos os pensamentos <strong>de</strong> nosso coração, todas as palavras <strong>de</strong> nossos lábios,<br />
todas as obras <strong>de</strong> nossas mãos, todo nosso corpo, alma e espírito para ser<strong>em</strong><br />
um sacrifício santo, aceitável a Deus <strong>em</strong> Cristo Jesus. 217<br />
Ser a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus é dom gratuito para todos os homens e mulheres e, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po, a particular <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> suas vidas. Walter Klaiber e Manfred Marquardt faz<strong>em</strong> as<br />
seguintes observações:<br />
Todos os homens (e mulheres) são imagens <strong>de</strong> Deus; não exist<strong>em</strong> como seres<br />
s<strong>em</strong> relação, mas estão <strong>em</strong> comunhão com Deus e sua criação; sua digni-<br />
215 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 29.<br />
216 SOUZA, José Carlos <strong>de</strong>. Criação, Nova Criação e o Método Teológico na Perspectiva Wesleyana, p. 76.<br />
217 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 30.<br />
81
da<strong>de</strong> é imperdível, <strong>em</strong>bora não invulnerável; qu<strong>em</strong> fere um hom<strong>em</strong> (ou mulher)<br />
na sua dignida<strong>de</strong>, fere, atinge, ao mesmo t<strong>em</strong>po, seu Criador. 218<br />
Deus criou o hom<strong>em</strong> à sua imag<strong>em</strong> natural como ser espiritual, dotado <strong>de</strong> inteligência,<br />
vonta<strong>de</strong> livre e sentimento; como imag<strong>em</strong> política o fez regente e cuidador do mundo cria-<br />
do; e como imag<strong>em</strong> moral o criou cheio <strong>de</strong> amor, justiça, pureza e santida<strong>de</strong>.<br />
Porém, a criação <strong>de</strong> Deus ainda não está concluída afirmam Walter Klaiber e Manfred<br />
Marquardt: Deus prossegue o Seu caminhar com a Criação e o Seu criar continua. Mesmo o<br />
comportamento culposo do hom<strong>em</strong> e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>struidor do mal não <strong>de</strong>struíram a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Deus com a Sua criação, na qual conserva Seu po<strong>de</strong>r criador e as condições básicas da<br />
vida. (Gn 8,22). 219<br />
Desta maneira, o drama cósmico da renovação da criação começa, portanto, com a re-<br />
novação da imago Dei na h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, esta é a chave indispensável para toda a soteriologia<br />
<strong>de</strong> Wesley. E o t<strong>em</strong>a da salvação, baseado na teologia wesleyana, torna-se mola propulsora<br />
para a prática <strong>missionária</strong> da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no Brasil, especialmente <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>sti-<br />
nas, alvo <strong>de</strong> nossa proposta pastoral.<br />
218 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 96.<br />
219 RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A Teologia <strong>de</strong> João Wesley Hoje, p. 104.<br />
82
CAPÍTULO III
A PRÁTICA DO DISCIPULADO CRISTÃO:<br />
UMA PROPOSTA PASTORAL PARA REMNE<br />
A caminhada <strong>missionária</strong> da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no nor<strong>de</strong>ste t<strong>em</strong> como característica<br />
principal, o “Ardor pela Missão”. É nessa linha <strong>de</strong> pensamento e afirmação que faço <strong>uma</strong><br />
proposta pastoral do <strong>discipulado</strong>, baseado na “Vida e Missão” da Região Missionária do<br />
Nor<strong>de</strong>ste. 220<br />
A história 221 documental 222 da REMNE é resultado do avanço missionário da <strong>Igreja</strong><br />
<strong>Metodista</strong> e isso nos <strong>de</strong>safia a pensar, planejar e projetar a nossa autonomia,<br />
auto-proclamação e auto-sustento, como priorida<strong>de</strong> administrativa e, principalmente, mis-<br />
sionária. Conquistar a autonomia é um dos objetivos da REMNE e esse projeto <strong>de</strong>safiador<br />
está impregnado na “Vida e Missão” da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas.<br />
É como resposta a esse <strong>de</strong>safio, que o <strong>discipulado</strong> preten<strong>de</strong> fortalecer a igreja e o cor-<br />
po pastoral da REMNE, fazendo com que todos(as) particip<strong>em</strong> plenamente do avanço mis-<br />
sionário <strong>de</strong> nossa Região.<br />
220 Daqui <strong>em</strong> diante adotarei a sigla “REMNE” – Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste.<br />
221 Outro texto que apresenta <strong>uma</strong> boa base histórica da REMNE é o trabalho monográfico produzido por Mara<br />
Ferreira <strong>de</strong> Araújo Pedro, cujo título é “História do Metodismo no Nor<strong>de</strong>ste: Das Origens à Criação da<br />
REMNE”.<br />
222 Ver Anexo 1 – MAIA, Adriel <strong>de</strong> Souza. Relatório do Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia ao XII Concílio Regional<br />
da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste – REMNE.
1. Discipulado: Método <strong>de</strong> Pastoreio<br />
De acordo com Guilherme Cook, qualquer método válido t<strong>em</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser um<br />
instrumento po<strong>de</strong>roso nas mãos <strong>de</strong> Deus. Contudo, consi<strong>de</strong>ro importante afirmar que o dis-<br />
cipulado como método <strong>de</strong> pastoreio, não se constitui, <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo tecnocrático, <strong>em</strong> que<br />
o(a) pastor(a) procura soluções meramente técnicas e/ou racionais, <strong>de</strong>sprezando os aspectos<br />
h<strong>uma</strong>nos e sociais dos probl<strong>em</strong>as eclesiásticos.<br />
Cook afirma ainda que:<br />
O único fator metodológico constante é o estilo <strong>de</strong> vida das igrejas. Todos os<br />
métodos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar acompanhados <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong> vida que continuamente<br />
comunique, <strong>em</strong> palavra, vida e ação, “as virtu<strong>de</strong>s daquele que vos chamou<br />
das trevas para a sua luz maravilhosa” (1 Pe 2:9). 223<br />
Desta maneira, o conceito <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> para a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> é <strong>de</strong>finido como um<br />
estilo <strong>de</strong> vida, <strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> ser, no modo <strong>de</strong> expressar a fé <strong>em</strong> Jesus como Senhor e Sal-<br />
vador.<br />
O <strong>discipulado</strong> é o modo <strong>de</strong> vida, que caracteriza a vida daqueles que estão<br />
comprometidos com o Reino <strong>de</strong> Deus, que faz<strong>em</strong> da Nova Justiça, ou seja,<br />
dos valores éticos e da justiça do Reino <strong>uma</strong> priorida<strong>de</strong> na sua vida e que se<br />
<strong>de</strong>dicam integralmente ao serviço cristão, ao evangelismo e ao test<strong>em</strong>unho,<br />
<strong>em</strong> cumprimento à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus Pai. Discipulado busca algo mais do que<br />
um mero processo educativo. Ele é um estilo <strong>de</strong> vida, <strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> ser <strong>em</strong><br />
que as pessoas se relacionam, entram <strong>em</strong> comunhão, acolh<strong>em</strong> <strong>uma</strong>s às outras,<br />
compartilham o que são, sent<strong>em</strong> e carec<strong>em</strong>; oram <strong>uma</strong>s pelas outras,<br />
louvam e adoram ao Senhor juntas, estudam a Palavra à luz da graça, da experiência<br />
e da razão da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé. 224<br />
Na vida cristã, há diversos momentos e situações <strong>em</strong> que, o(a) cristão(ã) passa, que<br />
são compartilhados com o(a) pastor(a). Nesse sentido, o pastor e/ou a pastora da igreja lo-<br />
cal, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha um papel fundamental no processo <strong>de</strong> esclarecimentos das dúvidas e no<br />
sinalizar soluções para o dia-a-dia do(a) cristão(ã) e da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
Ronaldo Sathler Rosa diz que:<br />
223 COOK, Guilherme. Evangelização é Comunicação: Probl<strong>em</strong>as e Soluções para Despertar <strong>uma</strong><br />
Evangelização Mais Ativa <strong>em</strong> sua <strong>Igreja</strong>. Guilherme Cook, - Campinas, Sp: United Press, 1998, p. 183.<br />
224 IGREJA METODISTA. A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e Sua Organização: <strong>em</strong> Nível Local, Distrital, Regional e Geral.<br />
Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>: Editora Cedro, São Paulo/SP, agosto <strong>de</strong> 2002, p. 17-18.<br />
85
Os dramas e alegrias, as contradições próprias <strong>de</strong> seres infinitos, a civilização<br />
marcada por gran<strong>de</strong>s realizações da inteligência h<strong>uma</strong>na<br />
e,simultaneamente, por violências, guerras e aviltantes <strong>de</strong>sníveis sociais <strong>de</strong>senham<br />
os gran<strong>de</strong>s traços do contexto <strong>em</strong> que atuam homens e mulheres que<br />
tentam caminhar nas pegadas do Pastor Maior, Jesus Cristo. 225<br />
Com isso, o <strong>discipulado</strong> não só po<strong>de</strong>, mas, <strong>de</strong>ve ser usado como método <strong>de</strong><br />
pastoreio, 226 no qual o pastor e a pastora <strong>de</strong>dicam maior atenção aos pequenos grupos, pro-<br />
movendo, ajudando a construir e a fortalecer um relacionamento pessoal e comunitário, <strong>de</strong><br />
forma que, a diversas situações da vida não venham a se tornar <strong>uma</strong> constante dificulda<strong>de</strong><br />
no viver e expressar a fé no Deus Trino.<br />
A objetivida<strong>de</strong> do <strong>discipulado</strong> como método <strong>de</strong> pastoreio é eliminar a <strong>de</strong>sconfiança<br />
mútua e estabelecer <strong>uma</strong> sincera comunhão e <strong>uma</strong> fraternida<strong>de</strong> fortalecida pelo po<strong>de</strong>r da<br />
unida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Deus. De acordo com a carta pastoral do Colégio Episcopal sobre a “Aliança<br />
com Deus”, a unida<strong>de</strong> e a comunhão são <strong>de</strong> vital importância na vida (e aqui eu acrescento –<br />
missão) da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. 227<br />
Este documento afirma que:<br />
O fundamento <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> e comunhão, que <strong>de</strong>ve existir entre os fiéis, e,<br />
conseqüent<strong>em</strong>ente na <strong>Igreja</strong>, é, s<strong>em</strong> dúvida, a própria comunhão pessoal que<br />
todos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> manter com Jesus Cristo, pois foram chamados “filhos <strong>de</strong><br />
Deus” à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor. 228<br />
Essa comunhão e unida<strong>de</strong> na vida do cristão e da cristã são frutos <strong>de</strong> um profundo<br />
processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que é promovido pelo pastoreio mútuo entre os m<strong>em</strong>bros da comu-<br />
nida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé. Assim, os m<strong>em</strong>bros da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, tornam-se agentes pastorais 229 que,<br />
225<br />
ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológicopastoral.<br />
São Paulo: Aste, 2004, p. 15.<br />
226<br />
O Manual do Discipulado apenas afirma que “po<strong>de</strong>” ser usado como método <strong>de</strong> pastoreio, mas acredito que, o<br />
<strong>discipulado</strong> é <strong>uma</strong> forma legítima <strong>de</strong> pastorear sua comunida<strong>de</strong> <strong>em</strong> pequenos grupos. Uma alternativa usada<br />
pelo pastor ou pastora para acompanhar <strong>de</strong> perto a vida e o <strong>de</strong>senvolvimento da fé <strong>de</strong> cada um/<strong>uma</strong>.<br />
227<br />
IGREJA METODISTA. Carta Pastoral do Colégio Episcopal Sobre a Aliança com Deus: Orientações Pastorais<br />
para o Projeto “Renovando a Aliança com Deus”. Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, Biblioteca<br />
Vida e Missão: Pastorais – Nº 5, São Paulo/SP, janeiro <strong>de</strong> 2000, p. 17.<br />
228<br />
IGREJA METODISTA. Carta Pastoral a Aliança com Deu, p. 17.<br />
229<br />
ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica<br />
Teológico-pastoral, p. 15.<br />
86
tendo vivenciado o processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, agora, promov<strong>em</strong> a vida e ajudam o outro na<br />
busca pelo crescimento h<strong>uma</strong>no e na busca pela vida plena.<br />
No “Manual <strong>de</strong> Discipulado” encontramos a seguinte afirmação:<br />
O <strong>discipulado</strong> é o modo <strong>de</strong> vida, que caracteriza a vida daqueles que estão<br />
comprometidos com o Reino <strong>de</strong> Deus, que faz<strong>em</strong> da Nova Justiça, ou seja,<br />
dos valores éticos e da justiça do Reino <strong>uma</strong> priorida<strong>de</strong> na sua vida e que se<br />
<strong>de</strong>dicam integralmente ao serviço cristão, ao evangelismo e ao test<strong>em</strong>unho,<br />
<strong>em</strong> cumprimento à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus Pai. Discipulado busca algo mais do que<br />
um mero processo educativo. Ele é um estilo <strong>de</strong> vida, <strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> ser <strong>em</strong><br />
que as pessoas se relacionam, entram <strong>em</strong> comunhão, acolh<strong>em</strong> <strong>uma</strong>s às outras,<br />
compartilham o que são, sent<strong>em</strong> e carec<strong>em</strong>; oram <strong>uma</strong>s pelas outras,<br />
louvam e adoram ao Senhor juntas, estudam a Palavra à luz da graça, da experiência<br />
e da razão da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé. 230<br />
O resultado imediato da prática do <strong>discipulado</strong> como estilo <strong>de</strong> vida é <strong>de</strong> pastoreio mú-<br />
tuo, entre os m<strong>em</strong>bros da própria comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
O bispo Josué <strong>de</strong>clara o seguinte:<br />
O <strong>discipulado</strong> é importante também, porque oferece condições para os m<strong>em</strong>bros<br />
da igreja <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong>-se na vida cristã e vivenciar na socieda<strong>de</strong> os<br />
valores do Reino <strong>de</strong> Deus. Por outro lado, o <strong>discipulado</strong> elimina a <strong>de</strong>pendência<br />
que os m<strong>em</strong>bros têm do(a) pastor(a). 231<br />
O “Manual <strong>de</strong> Discipulado” afirma que ao <strong>de</strong>senvolver o pastoreio mútuo, 232 a <strong>Igreja</strong><br />
ensina sua m<strong>em</strong>bresia a valorizar os relacionamentos e a praticar o respeito <strong>de</strong> uns para com<br />
os outros 233 gerando unida<strong>de</strong>, serviço e compromisso, fortalecendo, portanto, o processo <strong>de</strong><br />
santificação pessoal e comunitária.<br />
Seguindo esse pensamento, assim afirma o plano para a “Vida e Missão”:<br />
O Metodismo procura <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada a doutrina do sacerdócio<br />
universal <strong>de</strong> todos os crentes (I Pe 2,9). Reconhece que todo o povo <strong>de</strong><br />
Deus é chamado a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar com eficácia, na <strong>Igreja</strong> e no mundo, ministérios<br />
através dos quais Deus realiza o seu propósito, ministérios essenciais<br />
230 IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado: O que é <strong>discipulado</strong>? Por que discipular? Como discipular?<br />
Biblioteca Vida e Missão: Série Discipulado, Vol. 1, 1ª Edição, Editora Cedro, São Paulo/SP, fevereiro<br />
<strong>de</strong> 2003 p. 17-18.<br />
231 LAZIER, Josué Adam. Kairós: Discipulado – Seguimento e Pastoreio <strong>em</strong> Pequenos Grupos. <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />
– 4ª Região Eclesiástica: Kairós – Estudos Bíblicos Pastorais, Belo Horizonte, outubro <strong>de</strong> 1999, p. 18.<br />
232 Pod<strong>em</strong>os dizer também que, este pensamento está muito próximo da doutrina do “sacerdócio universal <strong>de</strong><br />
todos os crentes”. Veja o “Plano para a Vida e Missão”, p. 10.<br />
233 IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado, p. 18.<br />
87
para a evangelização do mundo, para a assistência, nutrição e capacitação<br />
dos crentes, para o serviço e o test<strong>em</strong>unho no momento histórico <strong>em</strong> que<br />
Deus os vocaciona (I Co 12,7-11). 234<br />
Uma das funções atribuídas ao ministério pastoral é a <strong>de</strong> cuidar da comunida<strong>de</strong> mis-<br />
sionária como um todo, 235 nesse sentido, todos os m<strong>em</strong>bros da igreja são vocaciona-<br />
dos(as) 236 para servir a Deus mediante seus dons e ministérios.<br />
Isso <strong>de</strong>termina que todos os m<strong>em</strong>bros têm funções a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar, contribuindo para a<br />
edificação da própria igreja, que também é, <strong>de</strong>finida como, “Comunida<strong>de</strong> Missionária a<br />
Serviço do Povo”, promovendo a pregação da Palavra <strong>de</strong> Deus e o ensino das Escrituras<br />
Sagradas, gerando comunhão e estimulando <strong>uma</strong> vida <strong>de</strong> oração e serviço.<br />
O “Plano para a Vida e Missão”, 237 documento no qual encontramos <strong>em</strong> síntese os<br />
principais aspectos da herança wesleyana segundo a ótica da realida<strong>de</strong> social brasileira é<br />
resultado das <strong>de</strong>cisões do XIII Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> (18-28/07/1982) <strong>em</strong> Belo<br />
Horizonte; este documento nos apresenta a seguinte contribuição:<br />
O Metodismo d<strong>em</strong>onstra permanente compromisso com o b<strong>em</strong>-estar da pessoa<br />
total, não só espiritual, mas também <strong>em</strong> seus aspectos sociais (Lc 4.16-<br />
20). Este compromisso é parte integrante <strong>de</strong> sua experiência <strong>de</strong> santificação<br />
e se constitui <strong>em</strong> expressão convicta do seu crescimento na graça e no amor<br />
<strong>de</strong> Deus. 238<br />
O <strong>discipulado</strong> como método <strong>de</strong> pastoreio propõe <strong>uma</strong> vida <strong>de</strong> relacionamento genuíno,<br />
buscando a totalida<strong>de</strong> do ser h<strong>uma</strong>no. E isso se constitui <strong>em</strong> um fator <strong>de</strong>terminante para a<br />
realização da missão e da evangelização da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
1.1. Na Missão 239<br />
234 IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Decisões do XIII Concílio Geral<br />
da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> (18-28/07/1982). Editora Unimep, 2ª Edição, Piracicaba/SP, 1982, p. 10.<br />
235 IGREJA METODISTA. Plano Nacional – Objetivos e Metas. Editora Cedro, São Paulo/SP, 2002, p. 21.<br />
236 A vocação é para salvação, para a santificação, para o test<strong>em</strong>unho, para a vivência do <strong>discipulado</strong> cristão,<br />
para o serviço cristão e para o exercício <strong>de</strong> dons e ministérios. – Afirma o bispo Josué Adam Lazier: In: O<br />
Carisma do Ministério Pastoral, p. 14.<br />
237 O "Plano para a Vida e a Missão da <strong>Igreja</strong>" é continuação dos Planos Quadrienais <strong>de</strong> 1973 e 1978 e<br />
conseqüência direta da consulta nacional <strong>de</strong> 1981 sobre a Vida e a Missão da <strong>Igreja</strong>, principal evento da celebração<br />
<strong>de</strong> nosso 50º aniversário <strong>de</strong> autonomia.<br />
238 IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 09.<br />
239 A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> realiza a missão <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> diferentes áreas, a saber: na área <strong>de</strong> ação social, na<br />
comunicação cristã, na educação, no ministério cristão, na evangelização e na promoção da unida<strong>de</strong> cristã.<br />
88
A missão é <strong>uma</strong> extensão da unida<strong>de</strong> e da comunhão. 240 A razão <strong>de</strong> ser igreja é a mis-<br />
são divina que se expressa n<strong>uma</strong> ação <strong>missionária</strong> corajosa e <strong>de</strong>sprendida, na plenitu<strong>de</strong> da<br />
mensag<strong>em</strong> do Reino <strong>de</strong> Deus.<br />
Segundo Collin W. Williams <strong>em</strong> “<strong>Igreja</strong>, On<strong>de</strong> Estás?”, a missão da igreja é o mais<br />
importante acontecimento da história, ele ainda afirma que:<br />
É da própria natureza da <strong>Igreja</strong> que ela tenha <strong>uma</strong> missão para o mundo inteiro.<br />
Essa missão é nossa participação no trabalho <strong>de</strong> Deus, trabalho que<br />
t<strong>em</strong> lugar entre o advento <strong>de</strong> Jesus Cristo para inaugurar o Reino <strong>de</strong> Deus na<br />
terra, e sua segunda vinda <strong>em</strong> glória, a fim <strong>de</strong> trazer esse Reino à sua cons<strong>uma</strong>ção.<br />
O nosso trabalho até a segunda vinda é apenas o resultado <strong>de</strong> nossa<br />
participação na sua obra, a qual realiza <strong>em</strong> todos os t<strong>em</strong>pos e lugares. 241<br />
A missão é <strong>de</strong> Deus 242 e seu objetivo é construir o Seu Reino. E, para isso, é preciso<br />
enten<strong>de</strong>r a Sua vonta<strong>de</strong> 243 para o mundo, obra <strong>de</strong> Sua criação.<br />
O “Plano para a Vida e Missão”, documento norteador para a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, <strong>de</strong>fi-<br />
ne missão assim:<br />
Missão é a construção do Reino <strong>de</strong> Deus, sob o po<strong>de</strong>r do Espírito Santo, através<br />
da ação da comunida<strong>de</strong> cristã e <strong>de</strong> pessoas, visando surgimento da nova<br />
vida trazida por Jesus Cristo para renovação do ser h<strong>uma</strong>no e das estruturas<br />
sociais, marcados pelos sinais da morte. 244<br />
O povo metodista no Brasil estava sendo <strong>de</strong>safiado a ter <strong>uma</strong> nova percepção da mis-<br />
são e da vida da igreja, com isso, o <strong>discipulado</strong> tornou-se um instrumento da missão <strong>de</strong><br />
Deus, como resposta ao <strong>de</strong>safio apresentado, pois o <strong>discipulado</strong> promove <strong>uma</strong> nova maneira<br />
<strong>de</strong> viver e <strong>de</strong> expressar a fé.<br />
Para aprofundar cada it<strong>em</strong> relacionado, ver: Op. Cit. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p.<br />
18-32.<br />
240<br />
IGREJA METODISTA. Carta Pastoral Aliança com Deus: Orientações Pastorais para o Projeto<br />
“Renovando a Aliança com Deus”, p. 17.<br />
241<br />
WILLIAMS, Collin W. <strong>Igreja</strong>, On<strong>de</strong> Estás? (Formas Dinâmicas do Test<strong>em</strong>unho da <strong>Igreja</strong>) Tradutor: Gerson<br />
Soares Veiga, Publicação da Junta Geral <strong>de</strong> Ação Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, Imprensa <strong>Metodista</strong>,<br />
1968, p. 33.<br />
242<br />
IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 12.<br />
243<br />
O Plano para a Vida e Missão i<strong>de</strong>ntifica e apresenta à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para o mundo. Ver: Op. Cit. Vida e<br />
Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 11-13.<br />
244<br />
IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 18.<br />
89
Esse conceito, por sua vez, já faz parte da resposta a outro <strong>de</strong>safio, que é perceber as<br />
necessida<strong>de</strong>s e oportunida<strong>de</strong>s 245 que a missão vai <strong>de</strong>scobrir durante a caminhada. 246<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, entre outras necessida<strong>de</strong>s, o <strong>discipulado</strong> ajuda a igreja e ao pastor(a) a<br />
conhecer os m<strong>em</strong>bros da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, resultando na valorização do ser h<strong>uma</strong>no en-<br />
quanto indivíduo e ajudando na superação das tensões existentes entre pastores(as) e lei-<br />
gos(as).<br />
Assim, o <strong>discipulado</strong> aten<strong>de</strong> ao chamado missionário, afirmando que:<br />
A missão da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> sua natureza como corpo <strong>de</strong> Cristo, compartilhando<br />
do ministério <strong>de</strong> Cristo como mediador entre Deus e a criação. Essa<br />
missão <strong>de</strong> mediação <strong>em</strong> Cristo envolve dois movimentos integralmente relacionados<br />
– um <strong>de</strong> Deus para a criação, e outro da criação para Deus. A <strong>Igreja</strong><br />
manifesta o amor <strong>de</strong> Deus pelo mundo, <strong>em</strong> Cristo, através <strong>de</strong> palavras e obras,<br />
i<strong>de</strong>ntificando-se com toda a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, no serviço do amor e n<strong>uma</strong><br />
proclamação; nessa mesma i<strong>de</strong>ntificação com toda a h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, a <strong>Igreja</strong><br />
eleva a Deus sua dor e sofrimento, esperança e aspiração, alegria e gratidão<br />
através da oração intercessória e do culto eucarístico. 247<br />
A prática do <strong>discipulado</strong> cristão participa da missão <strong>de</strong> Deus como instrumento <strong>de</strong> li-<br />
gação, além <strong>de</strong> promover um novo estilo <strong>de</strong> vida, po<strong>de</strong> ser também <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> gerar <strong>uma</strong><br />
nova vida <strong>em</strong> Deus e, para a comunida<strong>de</strong> cristã, po<strong>de</strong> ser <strong>uma</strong> boa alternativa <strong>de</strong> servir a<br />
Deus e <strong>de</strong> relacionar uns com os outros.<br />
Por isso, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os inserir <strong>em</strong> nossos projetos missionários a prática do <strong>discipulado</strong><br />
como expressão <strong>de</strong> <strong>uma</strong> espiritualida<strong>de</strong> 248 na missão <strong>de</strong> Deus. É na vivência da comunida<strong>de</strong><br />
e no cumprimento <strong>de</strong> sua missão que a dinâmica do <strong>discipulado</strong> é <strong>de</strong>senvolvida.<br />
245 Veja: IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 13-14.<br />
246 Para ter <strong>uma</strong> visão mais holística da caminhada <strong>missionária</strong> no Brasil e especial no nor<strong>de</strong>ste, veja o ANEXO<br />
2 no final <strong>de</strong>ste trabalho acadêmico, que apresenta um quandro geral do crescimento percentual dos<br />
evangélicos no nor<strong>de</strong>ste.<br />
247 VV.AA. Missão E Evangelização: Um Guia Para Estudo e Discussão N<strong>uma</strong> Perspectiva Ecumênica. Produzido<br />
pela Comissão <strong>de</strong> Missão e Evangelização do CMI: Traduzido por Prócoro Velasques Filho, Imprensa<br />
<strong>Metodista</strong> & Programa Ecumênico <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Ciências da Religião, São Bernardo do Campo –<br />
SP, 1985, p.23.<br />
248 A espiritualida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> <strong>uma</strong> prática <strong>missionária</strong> ten<strong>de</strong> a per<strong>de</strong>r a sua essência cristã.<br />
90
1.2. Na Evangelização<br />
O crescimento da <strong>Igreja</strong> s<strong>em</strong>pre foi <strong>uma</strong> preocupação constante na “Vida e Missão” da<br />
<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e, <strong>em</strong> especial, na REMNE. Para que essa preocupação entrasse para a his-<br />
tória da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no nor<strong>de</strong>ste, surgiram vários métodos <strong>de</strong> evangelização.<br />
Porém, percebo que a maior dificulda<strong>de</strong> encontrada na REMNE, não é o método <strong>de</strong><br />
evangelização adotado <strong>em</strong> sua prática <strong>missionária</strong>, mas a permanência dos evangelizados na<br />
igreja e sua aproximação e integração com a missão <strong>de</strong> Deus. 249<br />
Seguindo esse pensamento, assim afirma o bispo Josué:<br />
O <strong>discipulado</strong> não vai resolver o probl<strong>em</strong>a do crescimento rápido da <strong>Igreja</strong>,<br />
mas possibilitará um crescimento s<strong>em</strong>pre crescente e permanente <strong>de</strong>stes evangelizados.<br />
O <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong>ve fazer parte do programa <strong>de</strong> evangelização<br />
<strong>de</strong> qualquer comunida<strong>de</strong>, pois oferece condições para o acompanhamento e<br />
aconselhamento dos novos m<strong>em</strong>bros. 250<br />
O <strong>discipulado</strong> como método <strong>de</strong> pastoreio procura <strong>de</strong>senvolver <strong>uma</strong> nova forma <strong>de</strong> “ser<br />
igreja”, e não apenas ser mais um método <strong>de</strong> evangelização ou <strong>de</strong> massificação <strong>de</strong> pessoas.<br />
A evangelização acontece <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> relações interpessoais, fruto <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro<br />
processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que, por sua vez, é movido pelo po<strong>de</strong>r do Espírito Santo, que vivi-<br />
fica a fé <strong>de</strong> cada participante <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
249 LAZIER, Josué Adam. Kairós: Discipulado, p. 17.<br />
250 LAZIER, Josué Adam. Kairós: Discipulado, p.18.<br />
91
O “Plano para a Vida e Missão” nos apresenta a seguinte <strong>de</strong>claração:<br />
O Metodismo caracteriza-se por sua paixão evangelística, procurando proclamar<br />
as boas-novas <strong>de</strong> salvação a todas as pessoas, <strong>de</strong> tal sorte que o amor<br />
e a misericórdia <strong>de</strong> Deus, revelados <strong>em</strong> Jesus Cristo, sejam proclamados e<br />
aceitos por todos os homens e mulheres (I Co 1,22-24). No po<strong>de</strong>r do Espírito<br />
Santo, através do test<strong>em</strong>unho e do serviço prestados pela <strong>Igreja</strong> ao mundo<br />
<strong>em</strong> nome <strong>de</strong> Deus, da maneira mais abrangente e persuasiva possíveis, os<br />
metodistas procuram anunciar a Cristo como Senhor e Salvador (I Co 9,16;<br />
Fp 1,12-14; At 7,55-58). 251<br />
Participar da construção do Reino <strong>de</strong> Deus <strong>em</strong> nosso mundo constitui-se na tarefa e-<br />
vangelizante da <strong>Igreja</strong>. E o processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, também se constitui <strong>em</strong> <strong>uma</strong> forma<br />
evangelizante, pois o <strong>discipulado</strong> t<strong>em</strong> como objetivo central anunciar o Reino <strong>de</strong> Deus a<br />
toda criatura. Não é somente estabelecer <strong>uma</strong> dimensão educativa do processo <strong>de</strong> discipula-<br />
do, mas, sobretudo, produzir um caráter resgatador, reconciliador e libertador.<br />
O “Plano para Vida e Missão”, assim <strong>de</strong>fine evangelização:<br />
A Evangelização, como parte da Missão, é encarnar o amor divino nas formas<br />
mais diversas da realida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na para que Jesus Cristo seja confessado<br />
como Senhor, Salvador, Libertador e Reconciliador. A Evangelização sinaliza<br />
e comunica o amor <strong>de</strong> Deus na vida h<strong>uma</strong>na e na socieda<strong>de</strong> através da<br />
adoração, proclamação, test<strong>em</strong>unho e serviço. 252<br />
Nesse sentido, o <strong>discipulado</strong> como prática evangelizante <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> “Dons e<br />
Ministérios” é a mais pura expressão do amor e da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus revelada na pessoa <strong>de</strong><br />
Jesus Cristo, o qual <strong>de</strong>safia a <strong>Igreja</strong> a viver o Evangelho <strong>em</strong> sua totalida<strong>de</strong>.<br />
“Dons e ministérios” não é um programa. É um movimento. Um movimento<br />
conduzido pelo Espírito, cujas raízes encontramos na Palavra <strong>de</strong> Deus. Esse<br />
movimento representa o caráter ministerial <strong>de</strong> toda a <strong>Igreja</strong>, na qual todos(as),<br />
pastores(as) e irmãos(ãs) leigos(as), participam do ministério total<br />
da <strong>Igreja</strong>. 253<br />
Esse documento afirma ainda que “Dons e Ministérios”, t<strong>em</strong> <strong>uma</strong> visão <strong>missionária</strong> 254<br />
e que nos leva a adotar <strong>uma</strong> prática evangelizante <strong>em</strong> todos os ministérios encontrados na<br />
comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
251 IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 09.<br />
252 IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 28.<br />
253 IGREJA METODISTA. Carta Pastoral Sobre Dons e Ministérios. Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>,<br />
Biblioteca Vida e Missão, Pastorais, n°9, Editora Cedro, 2ª Edição, nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001, São Paulo/SP, p. 07.<br />
254 IGREJA METODISTA. Carta Pastoral Sobre Dons e Ministérios, p. 07.<br />
92
Uma comunida<strong>de</strong> evangelizante é um grupo <strong>de</strong> pessoas que, tendo passado pelo pro-<br />
cesso do <strong>discipulado</strong>, agora coloca <strong>em</strong> prática os ensinamentos apresentados e vivenciados<br />
por Jesus.<br />
Portanto, nos encontros <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, o(a) cristão(ã) é confrontado(a) com a realida-<br />
<strong>de</strong> <strong>em</strong> que está inserido(a). Dessa maneira, não é simplesmente um momento <strong>de</strong> estudar a<br />
Palavra <strong>de</strong> Deus, mas, a partir da reflexão dos conceitos bíblicos, é que o cristão e a cristã<br />
estabelec<strong>em</strong> metas e mecanismos para a superação das dificulda<strong>de</strong>s, objetivando 255 <strong>em</strong> <strong>uma</strong><br />
transformação <strong>de</strong> toda a vida e, conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>, sob a luz da vonta-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />
A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé não po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a dimensão do caráter evangelístico, no qual a<br />
igreja está compromissada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua orig<strong>em</strong>. O <strong>discipulado</strong> como marca da tradição cristã<br />
e wesleyana, servirá como <strong>uma</strong> alternativa no processo <strong>de</strong> evangelização da “igreja como<br />
Comunida<strong>de</strong> a Serviço do Povo”.<br />
Assim, a história da igreja como povo missionário <strong>de</strong> Deus precisa continuar. Cada<br />
igreja local, cada cristão(ã) <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>safiado(a) a assumir sua responsabilida<strong>de</strong> na missão<br />
total da igreja. 256 O <strong>discipulado</strong> cristão é um po<strong>de</strong>roso instrumento <strong>de</strong> evangelização e <strong>de</strong><br />
transformação da vida e da socieda<strong>de</strong>.<br />
Para alcançar esse objetivo, é necessário <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado todo o individualismo e o per-<br />
sonalismo eclesiástico. A noção <strong>de</strong> “concorrência” ou <strong>de</strong> “competitivida<strong>de</strong>” 257 <strong>de</strong>ve estar<br />
longe do pensamento, do método e do processo <strong>de</strong> evangelização que a igreja local adota <strong>em</strong><br />
sua prática <strong>missionária</strong>.<br />
255 Para aprofundar o que a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> enten<strong>de</strong> por objetivos da evangelização, veja: Op. Cit. Vida e<br />
Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 28.<br />
256 VV.AA. Missão E Evangelização: Um Guia Para Estudo e Discussão N<strong>uma</strong> Perspectiva Ecumênica, p. 66.<br />
257 ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológico-<br />
pastoral, p. 24.<br />
93
Quando esses conceitos estão associados à “Vida e a Missão” da igreja, tudo se torna<br />
motivo <strong>de</strong> conflito, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança, <strong>de</strong> incerteza e <strong>de</strong> perplexida<strong>de</strong>. 258 E, nesse caso, conhe-<br />
cer aproximar-se e, até, relacionar-se com alguém, passa a ser <strong>uma</strong> tarefa cansativa e <strong>de</strong>s-<br />
gastante para qualquer grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> ou comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
Portanto, t<strong>em</strong>os <strong>de</strong> estar b<strong>em</strong> conscientes <strong>de</strong> que evangelizar é promover a vida e a<br />
dignida<strong>de</strong> do ser h<strong>uma</strong>no. É, também, possibilitar ao indivíduo <strong>uma</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar<br />
<strong>de</strong> vida, ou melhor, assumir um novo estilo <strong>de</strong> vida, segundo a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para a seu<br />
viver.<br />
Segundo a carta pastoral “Test<strong>em</strong>unhar o Ardor da Missão”:<br />
O maior fruto a ser alcançado, a partir do <strong>de</strong>safio Test<strong>em</strong>unhar o Ardor da<br />
Missão, é a vivência da fé <strong>em</strong> Jesus Cristo ressurreto, que fundou a <strong>Igreja</strong> e<br />
cuja presença é o centro <strong>de</strong> união entre os discípulos. Tal vivência promove<br />
zelo e ardor para anunciar a mensag<strong>em</strong> reconciliadora do Evangelho. 259<br />
Por isso, o <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong>ve fazer parte do programa <strong>de</strong> evangelização <strong>de</strong> qualquer<br />
comunida<strong>de</strong>, pois oferece condições para o acompanhamento, para o aconselhamento dos<br />
novos m<strong>em</strong>bros e para a promoção e <strong>de</strong>senvolvimento dos nossos relacionamentos comuni-<br />
tários. 260<br />
2. Discipulado: Desenvolvendo Relacionamentos<br />
Ronaldo Sathler Rosa nos apresenta <strong>uma</strong> preocupação <strong>em</strong>ergente, afirmado que as re-<br />
lações afetivas são rompidas como se os seres h<strong>uma</strong>nos não tivess<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar<br />
das dificulda<strong>de</strong>s próprias e <strong>de</strong> qualquer relacionamento próximo. 261<br />
Já Rub<strong>em</strong> Alves, conta <strong>uma</strong> história que apresenta duas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> relacionamen-<br />
tos: o primeiro tipo <strong>de</strong> relacionamento é s<strong>em</strong>elhante a um jogo <strong>de</strong> tênis, on<strong>de</strong> um adversário<br />
258<br />
ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica<br />
Teológico-pastoral, p. 24.<br />
259<br />
IGREJA METODISTA. Carta Pastoral Test<strong>em</strong>unhar o Ardor da Missão. Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong><br />
<strong>Metodista</strong>: Biblioteca Vida e Missão, Pastorais, n°12, 1ª Edição, Editora Cedro – Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, p. 05.<br />
260<br />
LAZIER, Josué Adam. Kairós: Discipulado, p.18.<br />
261<br />
ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica<br />
Teológico-pastoral, p. 19.<br />
94
tenta marcar ponto no erro do outro. Eu só ganho quando o outro erra! O outro tipo <strong>de</strong> rela-<br />
cionamento é comparado ao jogo <strong>de</strong> frescobol. Nesse jogo, o objetivo é permanecer o maior<br />
t<strong>em</strong>po possível com a bola no ar e quando o parceiro ou parceira erra, a outra pessoa por sua<br />
vez, se esforça ao máximo para corrigir e ajudar a colocar <strong>de</strong> volta a bola no jogo.<br />
A missão da igreja é s<strong>em</strong>elhante a <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> partida <strong>de</strong> frescobol, mas, para que isso<br />
aconteça, é necessário que a equipe 262 tenha um bom entrosamento e um bom relacionamen-<br />
to. E quando isso acontece ao contrário a igreja sofre, gerando <strong>de</strong>sentendimento, brigas,<br />
intrigas e acusações. 263 A igreja ficou doente!<br />
Segundo Geoval Jacinto da Silva 264 <strong>em</strong> um artigo:<br />
A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser composta por diversos el<strong>em</strong>entos que, o seu conjunto,<br />
possibilitasse ao ser h<strong>uma</strong>no encontrar espaço para se expressar com liberda<strong>de</strong><br />
e com segurança, entretanto, o que se t<strong>em</strong> visto é o surgimento <strong>de</strong><br />
fatores que não t<strong>em</strong> oferecido o <strong>de</strong>vido espaço <strong>de</strong> segurança ao indivíduo.<br />
Esta insegurança t<strong>em</strong> possibilitado o surgimento do individualismo, on<strong>de</strong> o<br />
viver <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> não t<strong>em</strong> sentido na criação <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> mútua ajuda.<br />
265<br />
O <strong>discipulado</strong> estimula o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nossos relacionamentos, seja entre ma-<br />
rido e mulher, entre irmãos(ãs) e entre amigos(as).<br />
No processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, os conflitos pessoais e as crises <strong>de</strong> cada indivíduo são su-<br />
perados pela fraternida<strong>de</strong> e pela busca <strong>de</strong> <strong>uma</strong> comunhão autêntica e genuína. A igreja rece-<br />
be a cura!<br />
Jean Vanier <strong>em</strong> sua obra “O Despertar do Ser” afirma que:<br />
Comunhão é confiança mútua, conexão mútua; é o movimento <strong>de</strong> vaivém do<br />
amor entre duas pessoas, <strong>em</strong> que cada <strong>uma</strong> dá e cada <strong>uma</strong> recebe. A comunhão<br />
não é <strong>uma</strong> condição estabelecida, é <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> constante crescimento<br />
e aprofundamento que po<strong>de</strong> se transformar <strong>em</strong> amargura se <strong>uma</strong><br />
pessoa tentar dominar a outra, impedindo assim seu crescimento. Comunhão<br />
é vulnerabilida<strong>de</strong> mútua e abertura <strong>de</strong> um <strong>em</strong> relação ao outro. É, na verda-<br />
262<br />
On<strong>de</strong> está escrito “equipe” leia-se: comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
263<br />
Gênesis 3:12-13 - Adão e Eva<br />
264<br />
Doutor <strong>em</strong> teologia e professor da área <strong>de</strong> Teologia Prática na Pós-Graduação e na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia –<br />
UMESP.<br />
265<br />
SILVA, Geoval Jacinto. Os Desafios do Ministério Pastoral n<strong>uma</strong> Socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> Processo <strong>de</strong> Globalização:<br />
Um Estudo a Partir da Implantação e <strong>de</strong>senvolvimento do Protestantismo no Brasil e sua Mediações<br />
Pastorais. In: VVAA. Caminhando: Revista da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, v.8, n° 11, 1º.<br />
S<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2003. São Bernardo do Campo, SP; Editeo / UMESP, 1982, p. 77.<br />
95
<strong>de</strong>, a libertação para ambos, <strong>em</strong> que ambos têm permissão para ser<strong>em</strong> eles<br />
mesmos, on<strong>de</strong> ambos são convocados a crescer <strong>em</strong> maior liberda<strong>de</strong> e abertura<br />
<strong>em</strong> relação aos outros e ao universo. 266<br />
John Wesley <strong>em</strong> um <strong>de</strong> seus sermões disse o seguinte: “... conheça a sua doença! Co-<br />
nheça a cura!”. 267<br />
O “Manual <strong>de</strong> Discipulado” aborda este t<strong>em</strong>a da seguinte maneira:<br />
Hoje o <strong>discipulado</strong> torna-se <strong>uma</strong> exigência sociológica. Na socieda<strong>de</strong> urbanizada,<br />
v<strong>em</strong>os o esfacelamento dos relacionamentos com seus reflexos na<br />
vida da família, no trabalho e na <strong>Igreja</strong>. O crescimento <strong>de</strong>sarticulado da socieda<strong>de</strong><br />
cria a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter-se espaços <strong>de</strong> comunhão, <strong>de</strong> relacionamentos,<br />
<strong>de</strong> acompanhamentos pessoais, psicológico, pastoral e grupal. 268<br />
David Kornfield, trabalhando no Brasil, atualmente com pequenos grupos e discipula-<br />
do, <strong>em</strong> seu artigo “Discipulado, a Verda<strong>de</strong>ira Gran<strong>de</strong> Comissão”, <strong>de</strong>fine <strong>discipulado</strong> como<br />
<strong>uma</strong> relação comprometida e pessoal <strong>em</strong> que um discípulo(a) mais maduro(a) ajuda a ou-<br />
tros(as) discípulos(as) <strong>de</strong> Jesus Cristo a se aproximar<strong>em</strong> mais Dele e, assim, se reproduzi-<br />
r<strong>em</strong>. Ele argumenta ainda que: “se o <strong>discipulado</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o relacionamento compro-<br />
metido e pessoal, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um <strong>discipulado</strong> bíblico”. A sua ênfase está no <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento <strong>de</strong> relacionamentos sadios e saudáveis.<br />
Na REMNE há quase que inconscient<strong>em</strong>ente <strong>uma</strong> <strong>de</strong>sconfiança entre os(as) pasto-<br />
res(as) com os m<strong>em</strong>bros da comunida<strong>de</strong> e vice-versa.<br />
Para que isso seja resolvido e superado, proponho um <strong>discipulado</strong> voltado para a res-<br />
tauração dos relacionamentos. Pois, é no relacionamento pessoal e social que se <strong>de</strong>scobre o<br />
verda<strong>de</strong>iro valor do <strong>discipulado</strong>. Se não há relacionamento interpessoal, então é impossível<br />
a realida<strong>de</strong> do <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong> Cristo na “Vida e Missão” da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
266<br />
VANIER, Jean. O Despertar do Ser. Jean Vanier; tradução Magda França Lopes, Campinas – SP, Editora<br />
Verus, 2002, p. 34.<br />
267<br />
Sermão: O Pecado Original. In: WESLEY, John. Sermões. Tradução <strong>de</strong> Duncan Alexan<strong>de</strong>r Reily, com a<br />
colaboração <strong>de</strong> Israel Belo <strong>de</strong> Azevedo. São Paulo: Imprensa <strong>Metodista</strong>, 1994, p. 37.<br />
268<br />
IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado, p. 44.<br />
96
O ser h<strong>uma</strong>no precisa ser encorajado a restaurar relacionamentos antigos e a construir<br />
novos relacionamentos, moldados pelo po<strong>de</strong>r do Espírito Santo, força motriz e vital para o<br />
cumprimento da missão <strong>de</strong> Deus.<br />
E é claro que o(a) pastor(a) também t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> encorajar cada cristão(ã), a <strong>de</strong>-<br />
senvolver seus relacionamentos, tanto na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, quanto nas relações do dia-a-<br />
dia e, principalmente, na família. Mas o grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> também po<strong>de</strong> ser <strong>uma</strong> alterna-<br />
tiva para o exercício do cuidado pastoral.<br />
Afinal, é no cuidado pastoral mútuo que cada participante encontrará pistas para que<br />
possa, no t<strong>em</strong>po certo, resolver seus probl<strong>em</strong>as pessoais e comunitários.<br />
Rosa abordando o t<strong>em</strong>a do cuidado pastoral afirma que:<br />
O cuidado pastoral consiste <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> ajuda realizados por representantes<br />
cristãos, voltados para curar, suster, guiar e reconciliar as pessoas <strong>em</strong> dificulda<strong>de</strong>s,<br />
cujos probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> no contexto <strong>de</strong> preocupações e significados<br />
últimos. 269<br />
Seguindo o pensamento teológico-pastoral <strong>de</strong> Rosa, acrescento mais um ponto para a<br />
nossa reflexão, sobre o <strong>discipulado</strong> como processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nossos relacio-<br />
namentos pessoais.<br />
Além <strong>de</strong> “curar, suster, guiar e reconciliar”, o cuidado pastoral associado ao discipu-<br />
lado cristão possibilitará ao cristão(ã) integrado(a) nesse processo, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
novos relacionamentos, baseados na comunhão e na unida<strong>de</strong> cristã.<br />
2.1. Gera Comunhão<br />
Ronaldo Sathler Rosa, inicia seu conceito <strong>de</strong> cuidado pastoral a partir da comunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fé assim:<br />
A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé é o ambiente vital para o cuidado pastoral. É, portanto,<br />
mo<strong>de</strong>lo alternativo ao individualismo <strong>em</strong> muitas socieda<strong>de</strong>s. A <strong>Igreja</strong>,<br />
269 ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológico-<br />
pastoral, p. 37.<br />
97
aseada na natureza relacional do amor <strong>de</strong> Deus é o “círculo <strong>de</strong> relacionamentos<br />
que se abre para incluir o mundo <strong>em</strong> seu abraço”. 270<br />
Porém, nas igrejas metodistas do nor<strong>de</strong>ste, o que encontramos são igrejas que não re-<br />
flet<strong>em</strong> perfeitamente 271 os relacionamentos divinos <strong>em</strong> seus próprios relacionamentos. 272<br />
Nesse sentido, o <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong>ve ser visto como instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
relações pessoais e comunitárias. O <strong>discipulado</strong> é algo b<strong>em</strong> mais relacional e, para ser um<br />
discípulo e <strong>uma</strong> discípula <strong>de</strong> Jesus é necessário ter <strong>uma</strong> vida <strong>em</strong> perfeita comunhão com<br />
Deus, com o próximo e consigo mesmo. Esse ensinamento é um dos imperativos absolutos<br />
para seguir a Cristo como discípulo(a) do Mestre.<br />
A comunhão que é gerada pelo processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> passa pelo Evangelho <strong>de</strong> Cris-<br />
to. O <strong>discipulado</strong> não po<strong>de</strong> ser expressão <strong>de</strong> um grupo dominante, mas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> igreja que<br />
busca viver <strong>uma</strong> relação baseada no compromisso com a missão <strong>de</strong> Deus e com o próprio<br />
Deus. Precisamos ser <strong>uma</strong> igreja que reflita o amor <strong>de</strong> Deus.<br />
Em <strong>uma</strong> concepção mais teológica da comunhão, Cláudio Ribeiro, 273 afirma que:<br />
Compreen<strong>de</strong>r também que a <strong>perspectiva</strong> teológica da <strong>Igreja</strong> enfatiza a comunhão<br />
<strong>em</strong>, pelo menos, três aspectos: como exigência do Evangelho – pois<br />
a <strong>Igreja</strong> não po<strong>de</strong> se transformar <strong>em</strong> <strong>em</strong>presa ou clube <strong>de</strong> lazer, como se t<strong>em</strong><br />
visto hoje-, como recurso pastoral para consolo mútuo, aperfeiçoamento comunitário<br />
da vida cristã e outras experiências <strong>de</strong> comunhão, e como visibilida<strong>de</strong><br />
<strong>missionária</strong>, na medida <strong>em</strong> que a vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> constitui-se <strong>em</strong><br />
si mesma missão da <strong>Igreja</strong>. 274<br />
O bispo Josué se expressa afirmando que:<br />
A ênfase dada nos grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong>ve ser a comunhão (Koinonia) e<br />
o serviço (Diakonia) entre os m<strong>em</strong>bros do grupo e para aten<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>safios<br />
270 ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológico-<br />
pastoral, p. 45.<br />
271 Apesar <strong>de</strong> usar a expressão “perfeitamente”, concordo com o Professor Dr. Ronaldo Sathler Rosa, quando<br />
afirma que seria irrealista pensar que é possível <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> perfeita, isenta <strong>de</strong> contradições, fragilida<strong>de</strong>s<br />
e pecados h<strong>uma</strong>nos. Cf. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológicopastoral,<br />
p. 45.<br />
272 ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológico-<br />
pastoral, p. 45.<br />
273 Doutor <strong>em</strong> teologia e professor <strong>de</strong> Teologia Sist<strong>em</strong>ática da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> –<br />
UMESP.<br />
274 RIBEIRO, Cláudio <strong>de</strong> Oliveira. Por <strong>uma</strong> Eclesiologia <strong>Metodista</strong> Brasileira. In: VVAA. Caminhando: Revista<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, v.9, n° 13, 1º. S<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2004. São Bernardo do Campo, SP;<br />
Editeo / UMESP, 1982, p. 44.<br />
98
que a missão apresenta à <strong>Igreja</strong>. Este sentido <strong>de</strong> comunhão e serviço é importante<br />
para que o programa <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> não gere <strong>uma</strong> <strong>de</strong>pendência. 275<br />
Portanto, o <strong>discipulado</strong> cumpre o seu papel na missão <strong>de</strong> Deus, quando o grupo <strong>de</strong><br />
<strong>discipulado</strong> cresce <strong>em</strong> graça e gera <strong>uma</strong> comunhão segundo o querer <strong>de</strong> Deus.<br />
Quando um indivíduo começa a fazer parte <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, é gerado <strong>em</strong><br />
sua consciência a noção <strong>de</strong> serviço. E, no momento <strong>em</strong> que dois cristãos serv<strong>em</strong> um ao ou-<br />
tro, ou seja, “lavam os pés”, seu relacionamento alcança um novo nível, ou melhor, um no-<br />
vo estilo <strong>de</strong> relacionamento. Deixam <strong>de</strong> ser apenas conhecidos para se tornar<strong>em</strong> parcei-<br />
ros(as) e acima <strong>de</strong> tudo, irmãos(ãs) que cuidam uns dos outros, ajudando uns aos outros a<br />
enfrentar e superar suas crises pessoais. 276<br />
Rosa coloca que:<br />
A personalida<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>na é formada, <strong>de</strong>formada e transformada <strong>em</strong> teias <strong>de</strong><br />
relacionamentos. Tanto a cura como o crescimento do ser <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> da qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> nossos relacionamentos. 277<br />
Quando a igreja integra <strong>em</strong> seus projetos missionários o <strong>discipulado</strong> cristão, cria-se<br />
um ambiente propício para que todos se ajud<strong>em</strong> mutuamente. Assim, quando os cristãos têm<br />
comunhão <strong>em</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>s, sua atenção se volta para o que Deus po<strong>de</strong> realizar,<br />
<strong>em</strong> vez <strong>de</strong> se ater<strong>em</strong> aos probl<strong>em</strong>as que os <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong>primidos.<br />
Acho importante <strong>de</strong>stacar que, não estou propondo <strong>uma</strong> vida <strong>de</strong> alienação, mas <strong>uma</strong><br />
vida conforme a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus para cada cristão(ã), e isso é para mim obe<strong>de</strong>cer ao cha-<br />
mado da igreja para ser test<strong>em</strong>unha <strong>de</strong> Jesus Cristo, cumprindo assim sua vocação missioná-<br />
ria. E mais, o cuidar do indivíduo <strong>em</strong> um grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que possibilita <strong>uma</strong> comu-<br />
nhão autêntica, não é suficiente. É preciso cuidar também, dos sist<strong>em</strong>as que estruturam a<br />
vida das pessoas na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé e na socieda<strong>de</strong>.<br />
275 LAZIER, Josué Adam. Kairós: Discipulado,, p.18.<br />
276 Ronaldo Sathler Rosa, afirma ainda que muitos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> pessoas, famílias, grupos e comunida<strong>de</strong>s são<br />
resultados <strong>de</strong> situações vividas no ambiente <strong>de</strong> trabalho. O mundo do trabalho é gerador <strong>de</strong> tensões, conflitos,<br />
dificulda<strong>de</strong>s no relacionamento interpessoal os quais repercut<strong>em</strong> nos convívios mais próximos e na saú<strong>de</strong>.<br />
277 ROSA, Ronaldo Sathler. Cuidado Pastoral <strong>em</strong> T<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> Insegurança: Uma Hermenêutica Teológico-<br />
pastoral, p. 46.<br />
99
2.2. Fortalece a Unida<strong>de</strong><br />
O <strong>discipulado</strong> também proporciona unida<strong>de</strong> da igreja por meio do bom relacionamen-<br />
to e comunhão gerados a partir dos encontros <strong>de</strong> pequenos grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>.<br />
E isso constitui-se <strong>em</strong> um el<strong>em</strong>ento fundante para o “Plano <strong>de</strong> Vida e Missão” da I-<br />
greja <strong>Metodista</strong>.<br />
O “Vida e Missão” 278 conceitua o t<strong>em</strong>a da unida<strong>de</strong>, da seguinte maneira:<br />
100<br />
A busca e vivência da unida<strong>de</strong> da <strong>Igreja</strong>, como parte da Missão, não é optativa,<br />
mas <strong>uma</strong> das expressões históricas do Reino <strong>de</strong> Deus. Ela proce<strong>de</strong> do<br />
Senhor Jesus e é realizada por meio do Espírito Santo através da rica diversida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> dons, ministérios, serviços e estruturas que possibilitam aos cristãos<br />
trabalhar<strong>em</strong> <strong>em</strong> amor na construção do Reino <strong>de</strong> Deus até a sua concretização<br />
plena (Jo 10,17; Jo 17,17-23; I Co 1,10-13; I Co 12,4-7, 12 e 13; Ef<br />
4,3-6; Fl 2,10-11). 279<br />
Com isso, <strong>de</strong>ntro da objetivida<strong>de</strong> do <strong>discipulado</strong> cristão, os encontros <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong><br />
geram unida<strong>de</strong> e proporcionam o fortalecimento da conexida<strong>de</strong> 280 metodista entre irmãos e<br />
irmãs das diversas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fé, espalhados no nor<strong>de</strong>ste, <strong>em</strong> todo o Brasil e no mun-<br />
do. Isso significa dizer também que, com a prática da conexida<strong>de</strong> entre as igrejas metodis-<br />
tas, a missão <strong>de</strong> Deus será beneficiada, pela força dos novos relacionamentos, resultantes da<br />
conexão entre as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fé. O sentir da igreja <strong>de</strong> “Dons e Ministérios”, presente<br />
<strong>em</strong> nossa <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> leva consigo a marca da conexida<strong>de</strong> 281 e busca constante da uni-<br />
da<strong>de</strong> cristã.<br />
Nesse sentido, o <strong>discipulado</strong> como parte do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> relacio-<br />
namentos, será um gran<strong>de</strong> instrumento da “Graça <strong>de</strong> Deus”, no qual o ser h<strong>uma</strong>no encontra-<br />
rá novos(as) amigos(as) e estes, por sua vez, se tornarão irmãos e irmãs <strong>em</strong> Cristo.<br />
278<br />
Para ter <strong>uma</strong> visão holística sobre o t<strong>em</strong>a da unida<strong>de</strong> metodista, consulte o “Plano para Vida e Missão da<br />
<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>”, p. 08-11.<br />
279<br />
IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 31.<br />
280<br />
IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 31.<br />
281<br />
SILVA, Geoval Jacinto. Cooperação Interinstitucional e a Missão da <strong>Igreja</strong>. In: VVAA. REVISTA DO CO-<br />
GEIME. Cooperação Interinstitucional. Conselho Geral das Instituições <strong>Metodista</strong>s <strong>de</strong> Ensino. Ano 3, n° 3,<br />
1994, p. 45.
Nesse momento surge o papel do lí<strong>de</strong>r do grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. Ele será a ponte para<br />
que o indivíduo encontre e faça novos amigos(as) e passe a participar da gran<strong>de</strong> família <strong>de</strong><br />
Deus. Por isso, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> constante formação e capacitação <strong>de</strong> novos lí<strong>de</strong>res.<br />
A Escola Dominical t<strong>em</strong> a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar o cristão para viver no Espíri-<br />
to <strong>de</strong> Deus nas suas relações, anunciar o Evangelho e cumprir seu ministério no mundo. E<br />
levá-los a se integrar<strong>em</strong> na prática <strong>missionária</strong> à luz do Evangelho e da realida<strong>de</strong> social. 282<br />
3. Discipulado: Ensino e Formação <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança<br />
O ímpeto pela educação nasce com o próprio movimento metodista do século<br />
XVIII. 283 Geoval Jacinto da Silva afirma que, o movimento metodista, na medida <strong>em</strong> que foi<br />
sendo organizado, percebeu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar seu próprio fortalecimento, através do<br />
projeto educacional. 284<br />
Assim, o <strong>discipulado</strong>, integrado ao programa docente da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no nor<strong>de</strong>ste,<br />
po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>uma</strong> estratégia que promove o <strong>de</strong>senvolvimento da educação cristã e<br />
teológica <strong>de</strong> cada m<strong>em</strong>bro, possibilitando o envolvimento da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé na missão<br />
<strong>de</strong> Deus.<br />
Mas, para fazer essa relação entre o <strong>discipulado</strong> e a área docente da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>,<br />
será necessário, quebrar alguns paradigmas, apresentados por teólogos metodistas brasilei-<br />
ros e, <strong>em</strong> especial, quero <strong>de</strong>stacar o pensamento do bispo Paulo Ayres Mattos, 285 quando<br />
afirma:<br />
101<br />
A prática dos pequenos grupos no metodismo brasileiro – quer nas classes <strong>de</strong><br />
escola dominical, quer nos grupos societários ou outra forma qualquer <strong>de</strong>senvolvida<br />
ou proposta entre nós, inclusive a organização dos grupos <strong>de</strong> dis-<br />
282<br />
IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, Vida e Missão e Credo Social da<br />
<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 23.<br />
283<br />
SILVA, Geoval Jacinto. Pensando <strong>em</strong> Educação na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> na Última Década do Milênio, p. 23.<br />
284<br />
REVISTA DO COGEIME. Educação e Conjuntura Política, Econômica, e Social no Brasil Pós-eleições 94,<br />
p. 23.<br />
285<br />
Bispo Emérito da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e Mestre <strong>em</strong> Sagrada Teologia (Christian Thological S<strong>em</strong>inary, Indianapolis,<br />
EUA – 2002). É doutorando <strong>em</strong> Teologia na área <strong>de</strong> Estudos Wesleyano e Pentencostais (Drew University,<br />
Mandison, Nova Jersey, EUA).
102<br />
cipulado – nunca teve e não t<strong>em</strong> qualquer relação com as classes metodistas<br />
enquanto meio pru<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> graça fundamental para prática eclesial da santida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> coração e vida mediante rigorosa co-responsabilida<strong>de</strong> comunitária<br />
no exercício das obras <strong>de</strong> misericórdia e obras <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>. 286<br />
Como reação a esse pensamento, lançarei mão do pensamento do bispo Nelson Luiz<br />
Campos Leite 287 , na ocasião do “Congresso Nacional <strong>de</strong> Escola Dominical” <strong>em</strong> 2001, que<br />
abordava o t<strong>em</strong>a “A Escola Dominical e o Discipulado”.<br />
Estava presente também neste congresso o bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia, que palestrou<br />
sobre “O Papel da Escola Dominial no Metodismo Brasileiro”.<br />
O <strong>discipulado</strong> associado à “Escola Dominical” e à “Formação <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança”, no con-<br />
texto da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, torna-se parte do processo educativo da “Graça <strong>de</strong> Deus”, que<br />
mobilizará a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, a cumprir e assumir sua responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar da<br />
proclamação e anúncio do Reino <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> Sua graça maravilhosa.<br />
3.1. A Escola Dominical<br />
A Escola Dominical é parte do processo educativo da graça divina, testificado na his-<br />
tória do povo <strong>de</strong> Deus, portanto, o <strong>discipulado</strong> envolve convivência, acompanhamento, in-<br />
timida<strong>de</strong> e <strong>uma</strong> ação educadora, 288 afirmou o bispo Nelson <strong>em</strong> seu discurso no “Congresso<br />
Nacional <strong>de</strong> Escola Dominial”.<br />
Dessa forma, o mesmo po<strong>de</strong> ser dito sobre a prática do <strong>discipulado</strong>, pois este é tam-<br />
bém um instrumento educativo da “graça divina” que visa a nos fazer receber e vivenciar a<br />
vida abundante que Cristo oferece. (João 10,10).<br />
286 MATTOS, Paulo Ayres. Wesley e os encontros <strong>de</strong> pequenos grupos: Sua aplicação na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no<br />
Brasil – Breves observações. In: VVAA. Caminhando: Revista da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>,<br />
v.8, n° 12, 2º. S<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2003. São Bernardo do Campo, SP; Editeo / UMESP, 2003, p. 145.<br />
287 Bispo honorário da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
288 LEITE, Nelson Luiz Campos. A Escola Dominical e o Discipulado. Congresso Nacional <strong>de</strong> Escola Dominial<br />
– <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, 2001, p. 06.
Bispo Nelson afirma ainda que, tanto a “Escola Dominical” quanto o “<strong>discipulado</strong>”,<br />
tornam-se agentes da Educação Cristã. 289 Com isso, será necessário conhecer a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
Educação Cristã para a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
O “Plano para a Vida e Missão” nos apresenta a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />
103<br />
A educação cristã é processo dinâmico para a transformação, libertação e<br />
capacitação da pessoa e da comunida<strong>de</strong>. Ela se dá na caminhada da fé, e se<br />
<strong>de</strong>senvolve no confronto da realida<strong>de</strong> histórica do Reino <strong>de</strong> Deus, num compromisso<br />
com a missão <strong>de</strong> Deus no mundo, sob a ação do Espírito Santo,<br />
que revela Jesus Cristo segundo as Escrituras. 290<br />
Assim, a tarefa da Escola Dominical como agência <strong>de</strong> Educação Cristã é, portanto,<br />
ministerial. Nas “Diretrizes para a Educação da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>”, 291 a educação é consi<strong>de</strong>-<br />
rada um instrumento <strong>de</strong> transformação social e, como tal, é parte essencial do envolvimento<br />
da igreja no processo <strong>de</strong> implantação do Reino <strong>de</strong> Deus. 292<br />
A revista “O Melhor do Recriar a Escola Dominical”, afirma e <strong>de</strong>staca o seguinte:<br />
Este ministério é muito necessário e, por isso, <strong>de</strong>ve ser exercido com muita<br />
responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>dicação e planejamento, visando a edificar a <strong>Igreja</strong> e sinalizar<br />
o Reino <strong>de</strong> Deus, pela comunhão e crescimento do amor e da justiça.<br />
Levar o ensino e a educação cristã <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ao maior número <strong>de</strong> pessoas<br />
possível é um <strong>de</strong>safio que po<strong>de</strong> ser respondido <strong>de</strong> diversas formas, consi<strong>de</strong>rando-se<br />
as necessida<strong>de</strong>s, as li<strong>de</strong>ranças e, principalmente, o contexto da <strong>Igreja</strong><br />
local. 293<br />
A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> acredita piamente nesse projeto educacional, pois ela apresenta o<br />
“Manual <strong>de</strong> Discipulado”, como mo<strong>de</strong>lo orientador para que as igrejas locais <strong>de</strong>senvolvam<br />
sua prática <strong>missionária</strong> <strong>de</strong> acordo com o método <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, adotado por Jesus, propon-<br />
do à nação brasileira um novo modo <strong>de</strong> vida à luz do Evangelho <strong>de</strong> Cristo.<br />
O bispo João Alves <strong>de</strong> Oliveira Filho, atual presi<strong>de</strong>nte do Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong><br />
<strong>Metodista</strong>, <strong>de</strong>clara que:<br />
289 Id<strong>em</strong>, p. 06.<br />
290 IGREJA METODISTA. Vida e Missão e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, p. 22.<br />
291 IGREJA METODISTA. Cânones da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. São Paulo, Imprensa <strong>Metodista</strong>, 1992, p. 80.<br />
292 CONSTANTINO, Zélia Santos. A Educação Cristã na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>: Como Dinamizá-la. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
Ministério <strong>de</strong> Publicações da 1ª Região Eclesiástica; Setor <strong>de</strong> Publicações – Pastoral Bennett, 1997, p. 07.<br />
293 IGREJA METODISTA. O Melhor do Recriar a Escola Dominical. Coor<strong>de</strong>nação Nacional <strong>de</strong> Ação Docente<br />
da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>: São Paulo/SP, 2001, p. 12.
104<br />
Consciente da importância e do significado que há neste programa educacional,<br />
espero que o Manual estimule a organização dos grupos <strong>de</strong> Discipulado<br />
e aju<strong>de</strong> o povo metodista a aprofundar sua relação com Deus, a fim <strong>de</strong> que o<br />
estilo <strong>de</strong> Jesus seja notório <strong>em</strong> suas relações. 294<br />
Nesse sentido, não é errado afirmar que a Escola Dominical encontra seu objetivo no<br />
propósito para o qual existe a igreja. Portanto, a Escola Dominical <strong>em</strong> conjunto com o dis-<br />
cipulado faz<strong>em</strong> parte do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Educação Cristã vivenciado pela <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> para<br />
inclusive ajudar na formação <strong>de</strong> novas li<strong>de</strong>ranças e do próprio povo metodista.<br />
3.2. Formação <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança<br />
O pastor e a pastora da igreja local é o referencial, o espelho a ser refletido por sua li-<br />
<strong>de</strong>rança e esta, por sua vez, se tornará <strong>uma</strong> referência para aqueles(as) que faz<strong>em</strong> parte dos<br />
seus <strong>de</strong>vidos grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e <strong>de</strong> seus respectivos ministérios. Isso pressupõe que<br />
essa li<strong>de</strong>rança encarna novas formas <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> relacionar-se com o outro.<br />
Segundo Cook:<br />
A evangelização começa pela i<strong>de</strong>ntificação total dos lí<strong>de</strong>res com a vivência<br />
do povo. A mudança do estilo <strong>de</strong> vida da igreja começa com a mudança da<br />
vida dos lí<strong>de</strong>res. Como esclarece o apóstolo Paulo, sua conduta <strong>de</strong>ve ser reta,<br />
suas motivações puras (1 Ts 2, 1-5) e suas relações com os m<strong>em</strong>bros da congregação<br />
iguais ao terno amor <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mãe (v. 7), <strong>de</strong>sinteressadas como as<br />
<strong>de</strong> um irmão (v. 9) e ex<strong>em</strong>plares com as <strong>de</strong> um pai (v. 11). 295<br />
A função principal do(a) pastor(a) é discipular os lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> sua igreja. Contudo, eles<br />
não po<strong>de</strong>rão ser um(a) <strong>discipulado</strong>r(a) se antes, eles/elas mesmo não foram <strong>discipulado</strong>s(as)<br />
por alguém ou por algum grupo pastoral <strong>de</strong> reflexão. Acima <strong>de</strong> tudo, eles/elas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />
discípulos(as) <strong>de</strong> Cristo, que será seu mo<strong>de</strong>lo neste ministério. 296<br />
O pastor e os lí<strong>de</strong>res, ombro a ombro, comunicarão juntos sua paixão ao povo<br />
da congregação. Planejarão, coor<strong>de</strong>narão e avaliarão <strong>uma</strong> estratégia flexível<br />
e adaptável para toda a <strong>Igreja</strong>. 297<br />
294 IGREJA METODISTA. Manual do Discipulado, p. 05.<br />
295 COOK, Guilherme. Evangelização é Comunicação: Probl<strong>em</strong>as e Soluções para Despertar <strong>uma</strong><br />
Evangelização Mais Ativa <strong>em</strong> sua <strong>Igreja</strong>. Guilherme Cook, - Campinas, Sp: United Press, 1998, p. 182.<br />
296 COOK, Guilherme. Evangelização é Comunicação, p. 182.<br />
297 COOK, Guilherme. Evangelização é Comunicação, p. 182.
Essa dimensão do <strong>discipulado</strong> junto à prática pastoral, leva <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a pessoa<br />
como um ser total e a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua vida. Uma li<strong>de</strong>rança forte e que participa <strong>de</strong> um gru-<br />
po <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> como método <strong>de</strong> pastoreio, procura respon<strong>de</strong>r as realida<strong>de</strong>s e necessida-<br />
<strong>de</strong>s do próprio grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
O resultado é <strong>uma</strong> li<strong>de</strong>rança ativa e diversificada e a formação <strong>de</strong> todo o povo capaci-<br />
tado para a missão. Além disso, são fortalecidas as bases para ação <strong>missionária</strong> e ministeri-<br />
al, afirma Zélia Santos Constantino, <strong>em</strong> seu livro “A Educação Cristã na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>:<br />
Como Dinamizá-la”.<br />
Nesse sentido, o(a) lí<strong>de</strong>r é aquele(a) que vive um constante processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, e<br />
que é sensível às necessida<strong>de</strong>s do grupo, sabendo visualizar o caminho a ser percorrido e,<br />
com isso, conquista a confiança e o respeito <strong>de</strong> todo o grupo. Outra função do lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um<br />
grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>em</strong> harmonia com o(a) pastor(a) é, observar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança<br />
<strong>de</strong> outros m<strong>em</strong>bros do grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé.<br />
Um(a) lí<strong>de</strong>r que, tendo experimentado e vivido o processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> cristão, t<strong>em</strong><br />
a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitar um(a) novo(a) lí<strong>de</strong>r, e este(a) por sua vez, seja capaz <strong>de</strong><br />
formar outros lí<strong>de</strong>res.<br />
A figura do(a) pastor(a) é fundamental para a formação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> li<strong>de</strong>rança capaz e ca-<br />
pacitadora, pois <strong>uma</strong> das funções do(a) pastor(a) é equipar os(as) santos(as). Investir na<br />
formação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> boa li<strong>de</strong>rança é garantir o sucesso da igreja local e cumprir com sua voca-<br />
ção <strong>missionária</strong>.<br />
Portanto, a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>ve ser constant<strong>em</strong>ente revitalizada, receber do(a) pastor(a) no-<br />
vas orientações, a fim <strong>de</strong> contribuir para a formação <strong>de</strong> novos lí<strong>de</strong>res. E, nesse processo, o<br />
individualismo é completamente rejeitado, pois um(a) pastor(a) e um(a) lí<strong>de</strong>r centraliza-<br />
dor(a) compromete seu ministério, o grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e o futuro <strong>de</strong> sua própria igreja.<br />
105
Um(a) pastor(a) e um(a) lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que preten<strong>de</strong> levar a carga sozi-<br />
nho(a), não conseguirá ir muito longe.<br />
que:<br />
Cláudio Ribeiro <strong>em</strong> seu artigo “Por <strong>uma</strong> Eclesiologia <strong>Metodista</strong> Brasileira”, afirma<br />
106<br />
O individualismo hoje é cada vez maior e, lamentavelmente, até mesmo as<br />
experiências religiosas têm reforçado esta situação. Nesse sentido, reconhec<strong>em</strong>os<br />
ser <strong>de</strong>cisiva a recriação do metodismo <strong>em</strong> nosso meio, ao <strong>de</strong>stacar especialmente<br />
a vida comunitária, como o metodismo primitivo fez. 298<br />
Portanto, os lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> concentram seus esforços <strong>em</strong> capacitar<br />
outras pessoas para formar um novo grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. Lí<strong>de</strong>res capacitadores(as) for-<br />
mam colaboradores(as), e não meros “ajudantes” ou “marionetes” com o intuito <strong>de</strong> alcançar<br />
seus próprios interesses.<br />
O <strong>discipulado</strong> que gira <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> si mesmo está fadado ao fracasso. A preparação <strong>de</strong><br />
um(a) discípulo(a) que não t<strong>em</strong> como objetivo a formação <strong>de</strong> outros não é bíblica e não t<strong>em</strong><br />
fundamento na tradição wesleyana. Um(a) discípulo(a) <strong>de</strong>ve ser preparado(a) para discipu-<br />
lar e formar novos discípulos(as), que por sua vez darão continuida<strong>de</strong> à missão <strong>de</strong> Deus,<br />
formando novos(as) missionário(as).<br />
No processo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> o(a) lí<strong>de</strong>r do grupo, procura incentivar os m<strong>em</strong>bros do<br />
grupo a assumir<strong>em</strong> o compromisso com o reino <strong>de</strong> Deus (cf. Mt 6,33).<br />
Com isso, o(a) lí<strong>de</strong>r se caracteriza pela qualida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar o grupo a in-<br />
tegrar-se, unir-se, enten<strong>de</strong>r-se, perseverar e realizar seus projetos e objetivos. 299 Uma li<strong>de</strong>-<br />
rança forte, trata <strong>de</strong> valorizar todas as pessoas que faz<strong>em</strong> parte do grupo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>,<br />
integrando o grupo, apoiando s<strong>em</strong> impor, questionando e incentivando a comunicação e<br />
participação <strong>de</strong> cada um(a).<br />
298 RIBEIRO, Cláudio <strong>de</strong> Oliveira. Por <strong>uma</strong> Eclesiologia <strong>Metodista</strong> Brasileira. In: VVAA. Caminhando: Revista<br />
da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, v.9, n° 13, 1º. S<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2004. São Bernardo do Campo, SP;<br />
Editeo / UMESP, 1982, p. 47.<br />
299 O objetivo do <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong>ve permanecer b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finido na mente do(a) lí<strong>de</strong>r cristão(ã).
O <strong>discipulado</strong> no processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> li<strong>de</strong>rança forte é, <strong>em</strong> primeiro lugar,<br />
resultado da motivação da “graça divina”, visualizada e compreendida pelo(a) pastor(a). E<br />
<strong>em</strong> segundo lugar, é um mecanismo para o <strong>de</strong>scobrimento <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças.<br />
Portanto, o <strong>discipulado</strong> como método <strong>de</strong> pastoreio mútuo, que cura e <strong>de</strong>senvolve as re-<br />
lações pessoais, promovendo a educação cristã e a formação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> li<strong>de</strong>rança capaz e capa-<br />
citadora é, s<strong>em</strong> dúvida nenh<strong>uma</strong>, um projeto missionário <strong>de</strong>safiador. Principalmente, quan-<br />
do pensamos <strong>em</strong> um projeto voltado para a REMNE, que hoje passa por diversas dificulda-<br />
<strong>de</strong>s estruturais, mas, com ajuda <strong>de</strong> Deus e com força da unida<strong>de</strong> cristã, o <strong>discipulado</strong> possi-<br />
bilitará visualizar um <strong>de</strong>senvolvimento natural da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas. E<br />
que assim seja.<br />
107
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O propósito maior do <strong>discipulado</strong> é vida com Deus. O <strong>discipulado</strong> para a <strong>Igreja</strong> Meto-<br />
dista é entendido como um modo <strong>de</strong> vida à luz do Evangelho. Um estilo <strong>de</strong> vida diferente,<br />
marcante e que estimula a promoção da vida e do b<strong>em</strong>-estar do ser h<strong>uma</strong>no <strong>em</strong> sua totalida-<br />
<strong>de</strong>.<br />
Esse estilo <strong>de</strong> vida houve <strong>em</strong> Cristo Jesus e sua comunida<strong>de</strong> apostólica e Wesley vi-<br />
venciou essa mesma realida<strong>de</strong> na dinâmica da vida cristã, presente <strong>em</strong> sua comunida<strong>de</strong> pri-<br />
mitiva metodista. Dessa forma, o processo <strong>de</strong> santificação tornou-se <strong>de</strong> alcance relacional<br />
pessoal e social.<br />
O <strong>discipulado</strong> é <strong>de</strong>safiador, pois t<strong>em</strong> a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> à expressão na<br />
vida, nos relacionamentos, no pastoreio, na vivência da missão o mesmo estilo <strong>de</strong> vida que<br />
houve <strong>em</strong> Jesus.<br />
Nesse caso, a <strong>Igreja</strong> é consciente <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> com o próximo, com aque-<br />
le(a) que ainda não conhece os valores do Reino <strong>de</strong> Deus e que ainda não experimentou a<br />
graça da salvação, oferecida por Deus <strong>em</strong> Jesus Cristo, o Messias.<br />
Assim, como parte do povo <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os incorporar <strong>em</strong> nossas práticas pastorais,<br />
<strong>missionária</strong>s e evangelizantes, a marca <strong>de</strong> Cristo por meio do <strong>discipulado</strong> autêntico e genuí-
no. S<strong>em</strong> preocupações imediatas que visam apenas ao crescimento quantitativo da igreja e<br />
ao aumento <strong>de</strong> sua arrecadação. O programa <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> tenha, <strong>em</strong> primeiro lugar, o ob-<br />
jetivo <strong>de</strong> fazer o cristão, aprofundar sua relação com Deus, com a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé, com a<br />
socieda<strong>de</strong> e também com sua própria família.<br />
O <strong>discipulado</strong> não é um instrumento da graça <strong>de</strong> Deus para fazer a igreja crescer nu-<br />
mericamente, isso até po<strong>de</strong> ser conseqüência, mas o <strong>discipulado</strong> é um projeto <strong>de</strong>safiador que<br />
promove o <strong>de</strong>spertamento individual e comunitário para o cumprimento da missão <strong>de</strong> Deus,<br />
à luz <strong>de</strong> Sua Palavra.<br />
Nesse sentido, é necessário um compromisso intencional. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé <strong>de</strong>ve<br />
querer crescer, <strong>de</strong>cidir crescer, fazer esforço para crescer e persistir no crescimento, mas<br />
tudo voltado para o cumprimento da missão <strong>de</strong> Deus. O <strong>discipulado</strong> é <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong><br />
expressar a graça <strong>de</strong> Deus por meio do pastoreio mútuo.<br />
Hoje <strong>em</strong> dia para muitas igrejas e lí<strong>de</strong>res, o <strong>discipulado</strong> tornou-se um modismo meto-<br />
dológico visando, <strong>em</strong> geral, alcançar <strong>uma</strong> forma multiplicadora <strong>de</strong> crescimento da igreja e<br />
<strong>uma</strong> maneira metodológica <strong>de</strong> torná-la mais a<strong>de</strong>quada a seu t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> especial as megas<br />
igrejas que divid<strong>em</strong> <strong>em</strong> células familiares. Mas, a visão <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, <strong>de</strong>ve ter a sua cen-<br />
tralida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Jesus.<br />
O <strong>discipulado</strong> centrado <strong>em</strong> Jesus é um <strong>discipulado</strong> que t<strong>em</strong> como objetivo estimular a<br />
comunida<strong>de</strong> a <strong>uma</strong> convivência plena entre os m<strong>em</strong>bros, criando intimida<strong>de</strong>, gerando co-<br />
munhão, possibilitando o pastoreio mútuo e o fortalecimento dos relacionamentos pessoais,<br />
comunitários e familiares.<br />
Quando os primeiros discípulos(as) escolheram seguir a Jesus, eles e elas não entendi-<br />
am todas as implicações da sua <strong>de</strong>cisão. Eles e elas simplesmente respon<strong>de</strong>ram ao convite<br />
<strong>de</strong> Jesus ao <strong>discipulado</strong>. Isso é tudo que a igreja precisa para começar. Decidir tornar-se<br />
um(a) discípulo(a) <strong>de</strong> Jesus.<br />
109
Para alcançar esses objetivos, o Colégio Episcopal oferece o “Manual <strong>de</strong> Discipula-<br />
do” para orientar as igrejas locais, dando pistas que indicam o caminho para a organização<br />
<strong>de</strong> pequenos grupos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>, na <strong>perspectiva</strong> histórica da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Nesse ma-<br />
nual, encontramos a visão da igreja e o propósito, do “Programa <strong>de</strong> Discipulado”.<br />
Com isso, a objetivida<strong>de</strong> do “Programa <strong>de</strong> Discipulado” é <strong>de</strong> possibilitar aos m<strong>em</strong>bros<br />
da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé momentos <strong>de</strong> comunhão, convivência, pastoreio mútuo, estudo da<br />
Palavra <strong>de</strong> Deus, <strong>uma</strong> vida <strong>de</strong> oração e crescimento espiritual, segundo a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />
para o mundo e para <strong>uma</strong> <strong>Igreja</strong> <strong>missionária</strong> que está a serviço do povo.<br />
A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas – REMNE – <strong>de</strong>ve procurar estruturar e capa-<br />
citar sua li<strong>de</strong>rança para a implantação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse “projeto <strong>de</strong> Deus”. Portanto,<br />
o <strong>discipulado</strong> como modo <strong>de</strong> vida é um estilo que caracteriza a vida daqueles(as) que estão<br />
comprometidos(as) com o Reino <strong>de</strong> Deus, é <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, que o pastor ou a<br />
pastora t<strong>em</strong> para promover a comunhão, fortalecer a fé <strong>de</strong> cada um(a) e capacitar a igreja<br />
para o cumprimento da missão <strong>de</strong> Deus.<br />
O <strong>discipulado</strong> implantado e <strong>de</strong>senvolvido no nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ve buscar, à luz do próprio<br />
Cristo, fundamentar a comunhão, a convivência, o pastoreio mútuo e a formação do caráter<br />
das pessoas relacionadas com o Senhor e com Sua comunida<strong>de</strong>.<br />
Os grupos pequenos <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> são um grupo <strong>de</strong> pessoas que experimentou a gra-<br />
ça <strong>de</strong> Deus na pessoa <strong>de</strong> Jesus Cristo, creu nele, e agora, se compromete com Ele na trans-<br />
formação <strong>de</strong> valores da socieda<strong>de</strong> e do mundo.<br />
Por isso, entendo que o <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong>ve fazer parte do planejamento estratégico <strong>de</strong><br />
nossa Região (REMNE), pois é <strong>uma</strong> maneira <strong>de</strong> ser igreja como “Comunida<strong>de</strong> Missionária<br />
a Serviço do Povo” e um marco na “Vida e Missão” da <strong>Igreja</strong> no nor<strong>de</strong>ste. Discipulado é<br />
visto <strong>de</strong>ntro do contexto do “Plano para a Vida e Missão” e da configuração da igreja <strong>em</strong><br />
“Dons e Ministérios”.<br />
110
Nesse sentido, a figura do pastor ou pastora é fundamental no processo dos grupos <strong>de</strong><br />
<strong>discipulado</strong>. Ainda que reconheçamos ser esse um movimento <strong>de</strong> toda a igreja local e <strong>uma</strong><br />
valorização do ministério leigo, o(a) pasto(a) é o(a) gran<strong>de</strong> motivador(a), orientador(a) e<br />
estimulador(a) <strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong> implantação e <strong>de</strong>senvolvimento do “Programa <strong>de</strong> Dis-<br />
cipulado”.<br />
O <strong>discipulado</strong> nos <strong>de</strong>safia a um estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> maior intimida<strong>de</strong>, comunhão e con-<br />
vivência, através <strong>de</strong> grupos pequenos e da formação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> li<strong>de</strong>rança maior, que, <strong>de</strong> certa<br />
forma, está integrada num mesmo processo, sob a supervisão pastoral.<br />
A proposta apresentada no terceiro capítulo <strong>de</strong>ste trabalho t<strong>em</strong> como objetivo, auxiliar<br />
a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas, a implantação do programa <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />
forma particular e <strong>de</strong>cisiva para o processo <strong>de</strong> autonomia da REMNE e sua estruturação<br />
bíblica, teológica e pastoral. Percebo <strong>uma</strong> certa fragilida<strong>de</strong> e até mesmo <strong>uma</strong> ingenuida<strong>de</strong> na<br />
forma <strong>de</strong> ser igreja como “Comunida<strong>de</strong> Missionária a Serviço do Povo”.<br />
Para isso, apresento um <strong>discipulado</strong> voltado para a promoção da vida pessoal e comu-<br />
nitária, e não apenas institucional. O <strong>discipulado</strong> t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong> estimular e propor-<br />
cionar aos m<strong>em</strong>bros da REMNE, maior interação no processo missionário <strong>de</strong> nossa Região.<br />
Assim, o <strong>discipulado</strong> toma três dimensões <strong>em</strong> sua prática: a primeira é o <strong>discipulado</strong><br />
como método <strong>de</strong> pastoreio mútuo; a segunda é o <strong>discipulado</strong> que promove o <strong>de</strong>senvolvimen-<br />
to <strong>de</strong> relacionamentos; a terceira é o <strong>discipulado</strong> que gera novos dicipuladores, homens e<br />
mulheres comprometidos com o Reino <strong>de</strong> Deus e Sua missão.<br />
Veja o quadro ilustrativo <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> e sua funcionalida<strong>de</strong>:<br />
111
Que o Senhor, nosso Deus, nos aju<strong>de</strong> a colocar <strong>em</strong> prática, todas essas idéias e pen-<br />
samentos. E que a REMNE alcance a sua autonomia, sua auto-proclamação, auto-sustento,<br />
auto-governo e venha se tornar a futura 7ª Região Eclesiástica.<br />
E que assim seja.<br />
Amém.<br />
DISCIPULADO<br />
MÉTODO DE PASTO-<br />
REIO<br />
DESENVOLVENDO<br />
RELACIONAMENTOS<br />
ENSINO E FORMAÇÃO<br />
DE LIDERANÇA<br />
112
ANEXO 1:<br />
ASPECTOS HISTÓRICOS DO TRABALHO<br />
METODISTA NO NORDESTE 300<br />
300 História Documental da REMNE. In: MAIA, Adriel <strong>de</strong> Souza. Relatório do Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia ao<br />
XII Concílio Regional da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste – REMNE - 2001.
Introdução<br />
O trabalho da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no Nor<strong>de</strong>ste po<strong>de</strong> ser configurado <strong>em</strong> vários períodos.<br />
Nessa direção, aproveito alguns referenciais do Relatório da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste<br />
apresentado ao Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e, posteriormente, encaminhado ao<br />
15º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, realizado no ano <strong>de</strong> 1997, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Piracicaba,<br />
São Paulo:<br />
1. De 1960 a 1982<br />
Até o Concílio Geral <strong>de</strong> 1982, o Metodismo no Nor<strong>de</strong>ste se constituiu num Campo<br />
Missionário Geral, submetido ao Concílio Geral e administrado à distância pelo Conselho<br />
Geral. Nesse período se <strong>de</strong>u a chegada dos primeiros missionários e a formação das primeiras<br />
igrejas no Nor<strong>de</strong>ste (Recife/PE; Caixa d'Água, <strong>em</strong> Olinda/PE; Aracaju/SE, Natal/RN e<br />
Fortaleza/CE). É importante mencionar o fato <strong>de</strong> que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre as relações entre a li<strong>de</strong>rança<br />
da <strong>Igreja</strong> no Sul do País e os obreiros trabalhando no Nor<strong>de</strong>ste foram das mais tranqüilas.<br />
O trabalho se <strong>de</strong>senvolveu alternando momentos <strong>de</strong> paternalismo com momentos <strong>de</strong><br />
intolerância, ocasionando um isolamento altamente prejudicial à conexionalida<strong>de</strong> do Metodismo<br />
nor<strong>de</strong>stino. Procurando superar tais dificulda<strong>de</strong>s, os obreiros passaram a se reunir nos<br />
Encontros dos Obreiros <strong>Metodista</strong>s no Nor<strong>de</strong>ste (ENOMENE), visando a integração e expansão<br />
do Metodismo nor<strong>de</strong>stino. O X ECCOMENE, após a frustração da proposta da criação<br />
da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste pelo Concílio Geral <strong>de</strong> 1978, voltou a encaminhar<br />
ao Concílio Geral <strong>de</strong> 1982 proposta s<strong>em</strong>elhante. O Concílio Geral aten<strong>de</strong>u <strong>em</strong> parte as solicitações<br />
dos metodistas nor<strong>de</strong>stinos, estabelecendo a REMNE, s<strong>em</strong>, contudo <strong>de</strong>signar um<br />
bispo-resi<strong>de</strong>nte para a área.<br />
2. De 1983 a 1987<br />
Nesse período o Colégio Episcopal nomeou o Bispo Paulo Ayres Mattos, então <strong>de</strong>signado<br />
bispo da 1a Região Eclesiástica, como bispo-supervisor do trabalho metodista nor<strong>de</strong>stino.<br />
O Metodismo nor<strong>de</strong>stino passou a se organizar, <strong>de</strong>ntro do possível, como as d<strong>em</strong>ais<br />
Regiões Eclesiásticas, preocupando-se basicamente com a sua organização e expansão. A<br />
formação <strong>de</strong> presbíteros e evangelistas originários da própria REMNE passou a receber<br />
maior incentivo, pois se percebeu que os próprios nor<strong>de</strong>stinos <strong>de</strong>veriam ser os agentes fundamentais<br />
da expansão <strong>missionária</strong> da REMNE. Em 1986 se realizou a 2ª Consulta Missionária<br />
do Nor<strong>de</strong>ste, concomitant<strong>em</strong>ente ao seu III Concílio Regional. Dela participaram os<br />
segmentos mais significativos da <strong>Igreja</strong> do Nor<strong>de</strong>ste e do Brasil. Esta Consulta foi o marco<br />
do início do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> igreja mais i<strong>de</strong>ntificada com a cultura e<br />
a realida<strong>de</strong> nor<strong>de</strong>stinas. À luz das conclusões da Consulta Missionária <strong>de</strong> 1988, no IV Concílio<br />
Regional <strong>em</strong> 1987, a REMNE avaliou os resultados neste segundo período, concluindo<br />
que era necessário intensificar o processo <strong>de</strong> consolidação do Metodismo nor<strong>de</strong>stino e resolveu<br />
solicitar ao Concílio Geral <strong>de</strong> 1987 a reformulação da Proposta <strong>de</strong> Criação da REM-<br />
NE, aprovada <strong>em</strong> 1982. A solicitação recebeu o apoio e aprovação do 14º Concílio Geral,<br />
sendo <strong>de</strong>signado o Bispo Paulo Ayres Mattos para ser o primeiro bispo-resi<strong>de</strong>nte da REM-<br />
NE.<br />
3. De 1988 a 1991<br />
Em janeiro <strong>de</strong> 1988 chegou a Recife o Bispo resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>signado pelo Colégio Episcopal.<br />
Em julho <strong>de</strong> 1988 se realizou o V Concílio Regional que aprovou a organização da<br />
Região Missionária <strong>de</strong>ntro das orientações dos Dons e Ministérios. Em 1990 foi realizada a<br />
114
1ª Consulta <strong>de</strong> Educação Cristã da REMNE, que discutiu com os segmentos envolvidos, a<br />
prática da educação na vida da <strong>Igreja</strong>. A Consulta serviu para traçar as bases dos novos rumos<br />
da ação educativa da REMNE. Em março <strong>de</strong> 1991, o VI Concílio Regional avaliou a<br />
prática <strong>missionária</strong> da REMNE e concluiu que se fazia necessário aprofundar o processo <strong>de</strong><br />
contextualização da obra metodista no Nor<strong>de</strong>ste. Como resultado, o Concílio introduziu no<br />
Regulamento Regional as seguintes alterações principais:<br />
� Descentralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da administração regional, <strong>de</strong>legando diversas<br />
competências canônicas do Bispo da Região e do Concílio Regional à<br />
Mesa do Concílio Regional;<br />
� Fortalecimento dos Campos Missionários Regionais, atribuindo-lhes mais responsabilida<strong>de</strong><br />
à expansão da obra <strong>missionária</strong> <strong>em</strong> seus respectivos territórios;<br />
� Reformulação dos Ministérios Regionais e dos grupos societários e Fe<strong>de</strong>rações.<br />
O 15º Concílio Geral <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1991, a pedido do VI Concílio Regional da REMNE,<br />
aprovou as seguintes medidas ao trabalho da REMNE:<br />
� Reafirmação das <strong>de</strong>cisões tomadas <strong>em</strong> 1987 referentes ao processo <strong>de</strong> organização,<br />
consolidação e expansão do Metodismo nor<strong>de</strong>stino;<br />
� Decisão quanto a integração das <strong>Igreja</strong>s <strong>Metodista</strong>s da Bahia à REMNE;<br />
� Determinação sobre a realização <strong>de</strong> encontros entre representantes das seis Regiões<br />
Eclesiásticas e representantes da REMNE, com o intuito <strong>de</strong> elaborar um<br />
plano <strong>de</strong> cooperação e apoio à obra <strong>missionária</strong> no Nor<strong>de</strong>ste do País.<br />
4. De 1992 a 1997<br />
Para efeito <strong>de</strong>stas colocações históricas, o período <strong>de</strong> seis anos será dividido <strong>em</strong> dois<br />
sub-períodos: o biênio 1992-1993 e o quadriênio 1993-1997.<br />
4.1 De 1992 a 1993<br />
Ressalta-se neste período a importância da integração do Metodismo baiano à vida da<br />
REMNE. A experiência cinqüentenária <strong>de</strong> organização da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> na Bahia foi e<br />
está sendo muito útil para a consolidação do Metodismo <strong>em</strong> todo o Nor<strong>de</strong>ste do País. Por<br />
outro lado, o ardor pelo avanço missionário próprio do Metodismo nor<strong>de</strong>stino t<strong>em</strong> <strong>de</strong>safiado<br />
os metodistas baianos a crescer<strong>em</strong> e expandir<strong>em</strong>. Por todo este processo somos gratos ao<br />
nosso Deus por sua orientação e motivação <strong>missionária</strong>.<br />
Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> crises eclesiais ocorridas ao longo dos anos, nesse período ficaram<br />
evi<strong>de</strong>ntes os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> formação do Metodismo nos Estados do Ceará e Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Norte. Os probl<strong>em</strong>as tiveram suas causas tanto na ação pastoral <strong>de</strong>senvolvida, como também<br />
no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> igreja que foi implantado na área <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> sua li<strong>de</strong>rança leiga. O<br />
trabalho metodista no Estado do Ceará, outrora o pólo mais pujante do Metodismo nor<strong>de</strong>stino,<br />
mostrou a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua base leiga diante <strong>de</strong> graves probl<strong>em</strong>as pastorais. A fragilida<strong>de</strong><br />
constante do trabalho metodista no Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte começou a apresentar<br />
sinais <strong>de</strong> exaustão. O quadro geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>em</strong> ambos os Estados se tornou<br />
permanente preocupação da administração regional.<br />
Segundo o Relatório, diante da crise no final <strong>de</strong> 1992, alguns pastores, também, pressionados<br />
pela <strong>de</strong>cisão do 15º Concílio Geral <strong>em</strong> 1991 quanto ao processo <strong>de</strong> auto-sustento<br />
da REMNE a partir <strong>de</strong> 1993, passaram a buscar saídas pessoais para o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> seu sustento.<br />
Pastores e Pastoras que receberam da <strong>Igreja</strong> <strong>uma</strong> formação acadêmica que lhes possibilitou<br />
novas oportunida<strong>de</strong>s, resolveram optar por alternativas profissionais não articuladas<br />
com o projeto missionário do Metodismo nor<strong>de</strong>stino.<br />
115
4.2 De 1994 a 1997<br />
No período, a REMNE procurou mais do que abrir novas frentes <strong>de</strong> trabalho, assim<br />
fortalecendo as frentes estabelecidas no período anterior. Por outro lado, houve um maior<br />
incentivo à organização <strong>de</strong> frentes <strong>missionária</strong>s sob a responsabilida<strong>de</strong> direta dos trabalhos<br />
locais, tanto do ponto <strong>de</strong> vista evangelístico como administrativo. A maioria dos trabalhos<br />
locais já consolidados possu<strong>em</strong> <strong>uma</strong> ou mais frentes <strong>de</strong> evangelização, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> células<br />
familiares a congregações que estão <strong>em</strong> vias <strong>de</strong> se tornar<strong>em</strong> igrejas. O avanço missionário<br />
no Nor<strong>de</strong>ste nesse período se <strong>de</strong>u muito mais através dos trabalhos locais do que mediante<br />
a ação da administração regional.<br />
O quadro crítico vivido pelo Metodismo nos Estados do Ceará e Rio Gran<strong>de</strong> do Norte,<br />
já constatado no período <strong>de</strong> 92 e 94, continuou bastante grave, apesar <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s medidas<br />
tomadas pela administração regional. A situação no Ceará não piorou, mas também não melhorou<br />
substancialmente. No Rio Gran<strong>de</strong> do Norte a crise se agravou na <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Natal, o<br />
que obrigou a Mesa do Concílio Regional a fazer <strong>uma</strong> intervenção, suspen<strong>de</strong>ndo os po<strong>de</strong>res<br />
do seu Concílio Local. Ainda há razões suficientes para muita apreensão quanto ao futuro<br />
do Metodismo naqueles dois Estados nor<strong>de</strong>stinos. Em 1997 o quadro pastoral <strong>em</strong> ambos os<br />
Estados foi reforçado na esperança <strong>de</strong> que as novas li<strong>de</strong>ranças pastorais <strong>em</strong> ambas as áreas<br />
sob a graça <strong>de</strong> Deus contribuíss<strong>em</strong> para <strong>uma</strong> acentuada melhoria da obra metodista no Ceará<br />
e no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. Houve na ocasião, ainda, duas áreas no Nor<strong>de</strong>ste que <strong>de</strong>spertam<br />
especial atenção da administração regional da REMNE, que são o Estado <strong>de</strong> Alagoas e a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana, Bahia.<br />
O avanço missionário nor<strong>de</strong>stino continua a ter probl<strong>em</strong>as com a interiorização do<br />
Metodismo. A atração pelas capitais, tanto da parte do corpo pastoral como do laicato, compromete<br />
a implantação da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> nas áreas interioranas da Região. Outra dificulda<strong>de</strong><br />
que t<strong>em</strong>os é a evangelização da classe média. Não t<strong>em</strong>os conseguido <strong>de</strong>senvolver um<br />
programa <strong>de</strong> recrutamento e capacitação <strong>de</strong> evangelistas leigos voluntários para <strong>uma</strong> evangelização<br />
mais arrojada <strong>de</strong>ste setor social. Ainda nesse período, <strong>uma</strong> questão crucial mencionada<br />
no relato histórico estava na área social. “O agravamento da questão social <strong>em</strong> todo<br />
o país e a diminuição dos recursos para programas sociais, tanto da parte dos órgãos governamentais<br />
como das Juntas Missionárias das <strong>Igreja</strong>s irmãs no estrangeiro, não permitiram<br />
um maior envolvimento <strong>de</strong> muitas das nossas comunida<strong>de</strong>s metodistas <strong>em</strong> programas <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cidadania com dignida<strong>de</strong> (...) é importante notar que a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />
do Nor<strong>de</strong>ste está fazendo <strong>uma</strong> séria revisão <strong>de</strong> sua política <strong>de</strong> ação social, <strong>de</strong>sativando trabalhos<br />
institucionais que não tinham condições <strong>de</strong> gerência própria, procurando apoiar os<br />
programas que estão sendo capazes <strong>de</strong> estabelecer parcerias com órgãos governamentais e<br />
com organizações religiosas e seculares da socieda<strong>de</strong> civil. Esta política procura trabalhar o<br />
fortalecimento da compreensão <strong>de</strong> que na relação com os movimentos populares e classista,<br />
a <strong>Igreja</strong> não po<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r ser o carro chefe, mas ser <strong>uma</strong> comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé que apóia e<br />
caminha junto com os grupos que quer<strong>em</strong> se organizar. Dessa maneira, estamos procurando<br />
abandonar a visão dos trabalhos sociais institucionais mantidos pelas <strong>Igreja</strong>s”. O relatório<br />
apresentado ao Colégio Episcopal ressaltou o processo <strong>de</strong> formação e capacitação planejado<br />
do laicato da REMNE, começado no período 92-93 e se intensificou no quadriênio 94-97.<br />
5. De 1998 a 2001<br />
O 16º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, realizado na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Piracicaba <strong>em</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 1997, <strong>de</strong>liberou <strong>uma</strong> importante proposta, objetivando <strong>uma</strong> nova situação eclesiástica<br />
para a Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste (REMNE). A referida proposta foi encaminhada nos<br />
seguintes termos:<br />
116
“Consi<strong>de</strong>rando que o 16º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong>verá pronunciar-se sobre<br />
a situação eclesiástica da REMNE à luz das <strong>de</strong>cisões dos Concílios Gerais anteriores;<br />
Consi<strong>de</strong>rando o atual estágio das conversações da REMNE com o Colégio Episcopal sobre<br />
a situação administrativa da REMNE, conforme <strong>de</strong>cisões do IX Concílio Regional; consi<strong>de</strong>rando<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se superar os obstáculos que têm impedido o maior e melhor <strong>de</strong>senvolvimento<br />
administrativo da REMNE.”<br />
O Colégio Episcopal da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, a pedido da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste,<br />
propõe:<br />
A <strong>em</strong>ancipação administrativa da REMNE <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>uma</strong> nova <strong>perspectiva</strong> <strong>de</strong> cooperação<br />
<strong>missionária</strong>, com a superação da <strong>de</strong>pendência paternalista e o estabelecimento <strong>de</strong> parcerias<br />
<strong>missionária</strong>s, nos seguintes termos:<br />
Emancipação da REMNE com a transferência íntegra a seus órgãos competentes, a<br />
partir <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1998, das responsabilida<strong>de</strong>s da administração econômica-financeirapatrimonial<br />
da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no âmbito da Região do Nor<strong>de</strong>ste, nos mesmos termos da<br />
legislação canônica sobre as Regiões Eclesiásticas;<br />
Participação da Administração Geral, das Regiões Eclesiásticas e das <strong>Igreja</strong>s Cooperantes<br />
no sustento da obra <strong>missionária</strong> no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil através <strong>de</strong> convênios <strong>de</strong> parcerias<br />
<strong>missionária</strong>s negociados diretamente entre as partes envolvidas, <strong>de</strong> acordo com os critérios<br />
missionários e administrativos aprovados pelo 16º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.”<br />
A presente proposta foi aprovada. E, na verda<strong>de</strong>, estabeleceu <strong>uma</strong> nova configuração<br />
organizacional para a vida da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste. Ou ainda, um novo paradigma<br />
operacional com tr<strong>em</strong>endos <strong>de</strong>safios internos e externos. O citado Concílio Geral da<br />
<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> elegeu e reelegeu os Bispos: Adolfo Evaristo <strong>de</strong> Souza, Adriel <strong>de</strong> Souza<br />
Maia, Davi Ponciano Dias, Josué Adam Lazier, João Carlos Lopes, João Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />
Filho, Paulo Tarso <strong>de</strong> Oliveira Lockmann e Rozalino Domingos. O Bispo Paulo Ayres<br />
Mattos não concorreu à eleição e, na oportunida<strong>de</strong>, solicitou a sua aposentadoria. O Colégio<br />
Episcopal, à luz do quadro dos bispos eleitos, <strong>de</strong>signou o Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia para<br />
superinten<strong>de</strong>r a Região Missionária no quadriênio 1998/2001.<br />
O Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia assumiu a Presidência da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste,<br />
no dia 08.02.98 na cida<strong>de</strong> do Recife/PE. O Bispo Paulo Ayres Mattos, no momento<br />
da entrega do bastão episcopal ao Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia, expressou: “O Bispo Adriel<br />
Maia chega para colocar a Região num novo patamar missionário... levando-se <strong>em</strong> conta a<br />
caminhada percorrida até o presente momento.” Assim, o Bispo Adriel passou a ser o segundo<br />
bispo-resi<strong>de</strong>nte na REMNE. O Bispo Paulo <strong>de</strong>dicou 10 anos <strong>de</strong> episcopado residindo<br />
na REMNE.<br />
Uma das primeiras iniciativas do novo Bispo <strong>de</strong>signado para o Nor<strong>de</strong>ste foi a convocação<br />
do X Concílio Regional da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste, realizado na cida<strong>de</strong> do<br />
Recife, nos dias 18 a 21/04 <strong>de</strong> 1998.<br />
O Concílio Regional teve a gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar as coor<strong>de</strong>nadas pastorais,<br />
administrativas, financeiras e patrimoniais, consi<strong>de</strong>rando-se a nova proposta acolhida pelo<br />
16º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Nessa direção, o citado Concílio Regional elegeu a<br />
Coor<strong>de</strong>nação Regional <strong>de</strong> Ação Missionária (COREAM), órgão <strong>de</strong> administração criado<br />
pelo 16º Concílio Geral para administrar os interesses espirituais e materiais da Região no<br />
interregno do Concílio Regional. A primeira COREAM foi eleita composta <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros<br />
leigos/as e clérigos/as oriundos da própria REMNE. Foram eleitos e eleitas: André Luiz <strong>de</strong><br />
Carvalho Nunes, Maria Raimunda Lopes Monteiro, Tarciso Lopes Monteiro, Agenor Cefas<br />
Cavalcante Jatobá, Ana Cristina Rodrigues Alves Pereira, José Geraldo Cardoso e Nei<strong>de</strong><br />
Bastos Lopes. Essa Coor<strong>de</strong>nação teve a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar os primeiros passos no novo<br />
mo<strong>de</strong>lo administrativo aprovado pelo 16º Concílio Geral. Alg<strong>uma</strong>s priorida<strong>de</strong>s foram<br />
estabelecidas, por ex<strong>em</strong>plo:<br />
117
Área pastoral: organização do ministério pastoral, especialmente, a organização <strong>de</strong><br />
Cursos S<strong>em</strong>i-Extensivos <strong>em</strong> convênio com a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, objetivando regularizar<br />
a situação dos candidatos ao ministério pastoral <strong>em</strong> período probatório à Ord<strong>em</strong> Presbiteral<br />
e ao Pastorado, a partir das novas exigências da CONET. Programação <strong>de</strong> cursos e encontros<br />
pastorais e ministeriais, a fim <strong>de</strong> dar maior consistência ao novo momento pastoral e<br />
ministerial.<br />
Área econômica-financeira: saneamento das dívidas contraídas no passado da REM-<br />
NE, especialmente a eleição <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo administrativo, n<strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong> superar<br />
o mo<strong>de</strong>lo paternalista. Nessa direção, discutiu-se, amplamente, os <strong>de</strong>safios do auto-governo,<br />
auto-proclamação e auto-sustento. Decidiu-se melhorar a qualida<strong>de</strong> do ministério pastoral,<br />
proporcionando um subsídio compatível com as d<strong>em</strong>ais Regiões Eclesiásticas e aten<strong>de</strong>r <strong>uma</strong><br />
antiga reivindicação do Ministério Pastoral: o seguro saú<strong>de</strong>. O mesmo, posteriormente, foi<br />
impl<strong>em</strong>entado, na realida<strong>de</strong>, <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> vitória conquistada.<br />
Organização Ministerial: o Concílio cont<strong>em</strong>plou a organização dos grupos societários:<br />
Mulheres, Jovens e Juvenis. E, posteriormente, foram realizados os Congressos Constituintes<br />
<strong>de</strong>sses grupos societários. As Coor<strong>de</strong>nações Regionais foram eleitas pela COREAM:<br />
Expansão Missionária, Ação Social, Ação Docente e Administrativa. Foram <strong>de</strong>signados a<br />
Coor<strong>de</strong>nadora do Departamento <strong>de</strong> Crianças, Escola Dominical e Conselheira <strong>de</strong> Juvenis.<br />
Nesse caso, a REMNE iniciou um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>scentralizado <strong>de</strong> administração e, especialmente,<br />
um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> voluntariado. Na verda<strong>de</strong>, foi um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> adaptação a partir do novo<br />
mo<strong>de</strong>lo construído à luz da Legislação da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
Área Patrimonial: a COREAM <strong>de</strong>cidiu fazer um levantamento geral da qualida<strong>de</strong> das<br />
proprieda<strong>de</strong>s da REMNE. Um bom trabalho foi realizado <strong>em</strong> quase todas as proprieda<strong>de</strong>s da<br />
Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste. O presente trabalho apontou o quadro precário dos nossos<br />
patrimônios, b<strong>em</strong> como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> política administrativa para essa área na Região.<br />
Alg<strong>uma</strong>s iniciativas foram tomadas, por ex<strong>em</strong>plo: a construção da nova Se<strong>de</strong> Regional<br />
no bairro <strong>de</strong> Parnamirim, <strong>em</strong> Recife/PE. A nova Se<strong>de</strong> foi construída na casa episcopal da<br />
Região no bairro <strong>de</strong> Parnamirim que foi totalmente adaptada.<br />
Avanço Missionário: o Concílio apontou pistas, <strong>em</strong> especial a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> expansão<br />
<strong>missionária</strong> nas cida<strong>de</strong>s satélites da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste. Nessa <strong>perspectiva</strong>,<br />
novos trabalhos missionários foram abertos: Teresina/PI, Petrolina/PE, Agreste/PE<br />
(dinamização e reorganização do Campo), São Luís/MA, Propriá/SE, Itabuna/BA (com a<br />
parceria da <strong>Igreja</strong> Central <strong>de</strong> Vitória da Conquista/BA), entre outros.<br />
Na realida<strong>de</strong>, o biênio 98/99 foi <strong>de</strong> <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> movimentação, tendo-se <strong>em</strong> vista os<br />
novos <strong>de</strong>safios, os quais foram b<strong>em</strong> recebidos pelos pastores, pastoras, leigos e leigas.<br />
O ano <strong>de</strong> 2000, ou seja, nos dias 05 a 09/04/2000 foi realizado o XI Concílio Regional<br />
da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador, Bahia. O referido Concílio Regional<br />
avaliou os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos no biênio a partir do Relatório do Bispo Adriel <strong>de</strong><br />
Souza Maia e propostas da Coor<strong>de</strong>nação Regional <strong>de</strong> Ação Missionária. Na ocasião, o conclave<br />
regional reforçou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar prosseguimento às priorida<strong>de</strong>s estabelecidas<br />
<strong>em</strong> seu Plano <strong>de</strong> Ação Regional para o biênio 2000/2001.<br />
O Concílio Regional constituiu um momento histórico: elegeu o maior número <strong>de</strong><br />
presbíteros e pastores dos últimos <strong>de</strong>z anos, assim fortalecendo o quadro pastoral nativo da<br />
Região. Elegeu <strong>de</strong>legados/as ao 17º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Elegeu a segunda<br />
Coor<strong>de</strong>nação Regional <strong>de</strong> Ação Missionária (COREAM), constituída dos seguintes m<strong>em</strong>bros:<br />
Agenor Cefas Cavalcante Jatobá, Ana Cristina Rodrigues Alves Pereira, Antônio do<br />
Rego Monteiro, Calvino Pereira da Silva, Emanoel Rodrigues Almeida, Francisco Porto <strong>de</strong><br />
Almeida Jr. e José Geraldo Cardoso. Criou o Fundo Missionário do Nor<strong>de</strong>ste. Decidiu criar<br />
o S<strong>em</strong>inário <strong>Metodista</strong> do Nor<strong>de</strong>ste. Enfatizou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar prosseguimento ao processo<br />
<strong>de</strong> obtermos melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> supervisão administrativa e financeira da Região, a<br />
118
partir dos parâmetros estabelecidos pelo 16º Concílio Geral, fortalecendo a dinâmica do<br />
auto-governo, auto-proclamação e auto-sustento. Configuramos um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> evangelista<br />
na vida da REMNE. Estudo do quadro do ministério pastoral da REMNE e, conseqüent<strong>em</strong>ente,<br />
<strong>uma</strong> reavaliação do trabalho dos atuais missionários cedidos <strong>em</strong> Regime <strong>de</strong><br />
Comissionamento. A partir do Plano Regional: objetivos, metas e priorida<strong>de</strong>s estabelecidas<br />
pelo Concílio Regional <strong>em</strong> Salvador/BA, a Região, no último biênio do quadriênio eclesiástico,<br />
concentrou suas atenções pastorais, administrativas-financeiras-patrimoniais:<br />
Uma nova mentalida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> auto-sustento da Região: “Não há cafezinho <strong>de</strong><br />
graça”. Todos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> e precisam participar. Nessa direção, as diretrizes estabelecidas no<br />
ANO MARCO, na verda<strong>de</strong>, ajudaram na construção <strong>de</strong> <strong>uma</strong> nova mentalida<strong>de</strong>. O ANO<br />
MARCO <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus referencias teóricos enfatiza:<br />
Reafirmar o valor do sist<strong>em</strong>a conexional. No Metodismo o sist<strong>em</strong>a é característico e<br />
básico <strong>de</strong> sua existência. O Metodismo não é congregacional no seu governo. O referido<br />
sist<strong>em</strong>a permite a participação <strong>de</strong> todos os segmentos. Participam com suas dádivas espirituais,<br />
h<strong>uma</strong>nas, materiais, patrimoniais, financeiras etc. Somente <strong>uma</strong> unificação <strong>de</strong> esforços<br />
permitirá unir, consolidar e avançar missionariamente.<br />
Não pod<strong>em</strong>os ignorar a vida financeira da <strong>Igreja</strong>. O sist<strong>em</strong>a conexional é também alimentado<br />
a partir da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada igreja no contexto do plano <strong>de</strong> Deus. Os bispos enfatizam:<br />
“...ao doar, doamo-nos. Como será diferente a vida <strong>de</strong> nossas comunida<strong>de</strong>s locais<br />
quando isso ocorrer! Dízimos, ofertas, dons, serviços, vidas serão colocadas no altar com<br />
alegria, gratidão e fé. Precisamos mudar <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>. Deix<strong>em</strong>os o Senhor agir. Ofert<strong>em</strong>os<br />
os nossos dízimos e mais que o Senhor pedir. Façamos nossa oferta, não por imposição<br />
ou necessida<strong>de</strong>, mas com júbilo. Metodismo não é lei, é graça. É dádiva fiel!”<br />
2001 será consi<strong>de</strong>rado o ano marco, ou seja, <strong>uma</strong> nova metodologia <strong>de</strong> orçamento implantada<br />
na vida da Região, a fim <strong>de</strong> dar-lhe suporte, objetivando o processo <strong>de</strong> consolidação<br />
do auto-governo, auto-proclamação e auto-sustento financeiro, tendo-se <strong>em</strong> vista o caminhar<br />
seguro da REMNE na busca <strong>de</strong> sua autonomia. As igrejas locais não po<strong>de</strong>rão estar<br />
passivas no processo <strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> sustento próprio. Há igrejas na Região que estão completando<br />
várias décadas e ainda estão no estágio <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pendência”, o que <strong>em</strong> muitas igrejas<br />
t<strong>em</strong> sido sinônimo <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong>. Nessa direção, as igrejas serão <strong>de</strong>safiadas a organizar o<br />
seu Orçamento Programa para o sustento ministerial e pastoral (...) é importantíssimo observar<br />
o seguinte: houve comodismo, gerando um paternalismo que contraria a ação <strong>missionária</strong><br />
da <strong>Igreja</strong> para novos patamares <strong>de</strong> vida e missão.<br />
Cada igreja local <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>safiada a olhar para si mesma <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua potencialida<strong>de</strong><br />
ministerial. Uma mudança <strong>de</strong> eixo. A iniciativa é da igreja local. Ou seja, a igreja local<br />
precisa ter consciência do preço real da missão. Nessa caminhada, ela precisa ser <strong>de</strong>safiada<br />
<strong>em</strong> seu programa <strong>de</strong> auto-sustento.<br />
O ANO MARCO é um processo educativo que precisa interromper um estágio <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong>,<br />
gerador <strong>de</strong> um paternalismo que não confere com a dinâmica <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong><br />
Dons e Ministérios. Estamos caminhando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sses novos patamares. Na realida<strong>de</strong>, não<br />
é fácil a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> pessoal e eclesial. É <strong>uma</strong> caminhada que não po<strong>de</strong> ter retorno.<br />
Todos os esforços precisam ser canalizados para o fortalecimento da unida<strong>de</strong> principal:<br />
a igreja local. A igreja local é o nascedouro da obra <strong>missionária</strong> da <strong>Igreja</strong>. Portanto, se<br />
existe Região é porque existe igreja local. A Região não é igreja local. A Região é um suporte<br />
que possibilita dar cumprimento à d<strong>em</strong>anda <strong>missionária</strong> da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>ntro dos seus diferentes<br />
ministérios.<br />
A operacionalização do projeto do S<strong>em</strong>inário Regional passou a ser <strong>uma</strong> priorida<strong>de</strong>.<br />
Foi nomeado seu primeiro Diretor, Pr. Emanoel Rodrigues Almeida, foi elaborado seu primeiro<br />
Estatuto e aprovado pela COREAM e, conseqüent<strong>em</strong>ente, ocorreu a organização do<br />
Conselho Diretor, constituído das seguintes pessoas: André Luiz <strong>de</strong> Carvalho Nunes, Davi<br />
119
Stéfani Sousa, João Batista Nunes <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, Tarciso Lopes Monteiro, Vera Maria<br />
Trinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Freitas (titulares), Cícero Renylton da Silva Gomes, Dilson Soares Dias e Paulo<br />
Bezerra <strong>de</strong> Almeida (suplentes), e do Conselho Fiscal: Catarina Simplício Barros Silva,<br />
Inácio Luiz Bezerra, Milton Gomes da Cruz (titulares), Geraldo Ferreira Cavalcante e Iran<br />
Alves Pereira (suplentes).. No presente momento, as instalações da antiga Se<strong>de</strong> Regional<br />
estão sendo adaptadas para o funcionamento físico do S<strong>em</strong>inário <strong>Metodista</strong> no Nor<strong>de</strong>ste.<br />
Espera-se inaugurar as novas instalações no próximo mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2002. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente,<br />
especialmente na área geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> há um nível <strong>de</strong> tensão quando se fala<br />
<strong>em</strong> S<strong>em</strong>inário, levando-se <strong>em</strong> conta que quase todos os S<strong>em</strong>inários Regionais foram <strong>de</strong>sativados<br />
na área <strong>de</strong> preparação para o ministério pastoral or<strong>de</strong>nado da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Hoje,<br />
na realida<strong>de</strong>, a preparação teológica pastoral está quase toda sob a responsabilida<strong>de</strong> da Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, à luz das novas diretrizes estabelecidas pela <strong>Igreja</strong><br />
nos últimos anos. O espaço do S<strong>em</strong>inário na REMNE t<strong>em</strong> <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> finalida<strong>de</strong>: ser um<br />
espaço <strong>de</strong> capacitação do povo <strong>de</strong> Deus para a missão. Há <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> agenda para o S<strong>em</strong>inário<br />
no contexto geral da REMNE. Não há dúvida que o S<strong>em</strong>inário teve sua presença marcada<br />
a partir do ano <strong>de</strong> 1998 com a ministração <strong>de</strong> Cursos S<strong>em</strong>i-Extensivos <strong>em</strong> parceria<br />
com a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. O S<strong>em</strong>inário, na sua essência, no contexto<br />
da REMNE, vai além da ministração <strong>de</strong> Cursos Teológicos Pastorais. O básico <strong>de</strong> sua<br />
tarefa é ser instrumento <strong>de</strong> apoio à Região <strong>em</strong> suas diversas d<strong>em</strong>andas pastorais, docentes e<br />
<strong>missionária</strong>s. Preten<strong>de</strong>-se que o espaço do S<strong>em</strong>inário no bairro <strong>de</strong> Água Fria possa ser um<br />
espaço <strong>de</strong> serviço à comunida<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> projetos educacionais e sociais.<br />
O Centro Comunitário do Alto da Bonda<strong>de</strong>, Olinda/PE, foi organizado e teve aprovado<br />
o seu Estatuto Social, hoje, sob a presidência da diaconisa Jane Menezes Blackburn.<br />
Uma outra priorida<strong>de</strong> estabelecida pelo Concílio Regional foi a priorida<strong>de</strong> da Escola<br />
Dominical na vida da REMNE. Esforços foram canalizados, especialmente, através do projeto<br />
igrejas laboratórios e, posteriormente, o I Congresso Nor<strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Escolas Dominicais.<br />
A b<strong>em</strong> da verda<strong>de</strong>, foi um marco muito importante na vida da Região. Cerca <strong>de</strong> 100 pessoas<br />
participaram <strong>de</strong>sse evento.<br />
Dentro das diretrizes estabelecidas pelo Colégio Episcopal e Região, <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> ênfase<br />
foi dada ao programa <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. O encontro regional <strong>de</strong> pastores e pastoras foi um<br />
espaço para a discussão das linhas do projeto <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> estabelecido pela <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
O evento pastoral contou, além do Bispo da Região, com a colaboração pastoral do<br />
Bispo Nelson Luiz Campos Leite, Coor<strong>de</strong>nador Nacional <strong>de</strong> Discipulado e do Pr. José<br />
Pontes Sobrinho, Coor<strong>de</strong>nador Nacional <strong>de</strong> Ação Missionária. Tal conclave, a fim <strong>de</strong> dinamizar<br />
o projeto <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> na Região, <strong>de</strong>cidiu que os/a SD's <strong>de</strong>finiss<strong>em</strong> igrejas laboratórios.<br />
O que na verda<strong>de</strong> ocorreu. Posteriormente, foi organizado um curso <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong><br />
para essas igrejas selecionadas com suas li<strong>de</strong>ranças pastorais.<br />
Nesse período esforços foram feitos para o avanço <strong>de</strong> parcerias com a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />
na REMNE. Contatos foram feitos, b<strong>em</strong> como novas portas foram abertas através dos<br />
seguintes segmentos: Instituto Educacional Piracicabano, Universida<strong>de</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> Piracicaba,<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, Instituto <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> Ensino<br />
Superior/Universida<strong>de</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Coor<strong>de</strong>nadoria Ecumênica <strong>de</strong> Serviço (CE-<br />
SE), Diaconia, Visão Mundial- Brasil, etc.<br />
O 17º Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, realizado nos dias 7 a 14 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001,<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina/PR, elegeu os novos bispos e a primeira bispa para o pastoreio da<br />
<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no novo qüinqüênio eclesiástico. À luz do novo quadro episcopal, o Colégio<br />
Episcopal fez as novas <strong>de</strong>signações episcopais. A Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste<br />
(REMNE) foi surpreendida com a <strong>de</strong>signação do Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia para a Terceira<br />
Região Eclesiástica. Para a REMNE, <strong>em</strong> face da saída do Bispo Adriel Maia, foi <strong>de</strong>signada<br />
a Bispa Marisa <strong>de</strong> Freitas Ferreira Coutinho. A <strong>de</strong>legação da Região Missionária do Nor-<br />
120
<strong>de</strong>ste, por <strong>de</strong>cisão do Concílio Regional, encaminhou ao Bispo-Presi<strong>de</strong>nte do Colégio Episcopal<br />
da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, Paulo Tarso <strong>de</strong> Oliveira Lockmann, um documento firmado pelos<br />
principais segmentos da Região solicitando o retorno do Bispo Adriel Maia à REMNE.<br />
A partir <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2001 a Região começou a viver um novo momento <strong>de</strong> transição<br />
episcopal. A COREAM, b<strong>em</strong> como o Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia, organizaram <strong>uma</strong> agenda<br />
<strong>de</strong> transição, a fim <strong>de</strong> acolher, <strong>de</strong>ntro das possibilida<strong>de</strong>s da REMNE, a nova Bispa. Encontros<br />
foram realizados, por ex<strong>em</strong>plo: Encontro Regional <strong>de</strong> Pastores/as, I Congresso Nor<strong>de</strong>stino<br />
<strong>de</strong> Escolas Dominicais, Reunião com a Li<strong>de</strong>rança Regional: Coor<strong>de</strong>nação Regional <strong>de</strong><br />
Ação Missionária (COREAM) e Equipe Episcopal (SD's), Concentração <strong>de</strong> Acolhimento no<br />
Distrito Nor<strong>de</strong>ste II, na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> Central <strong>em</strong> Recife, entre outros. Por ocasião do XII<br />
Concílio Regional novas programações estão previstas: Culto <strong>de</strong> Posse da nova Bispa e<br />
Concentração <strong>de</strong> Acolhimento. Percebe-se que o programa traçado foi um gran<strong>de</strong> espaço <strong>de</strong><br />
introdução da nova Bispa na vida da REMNE, repassando a ela informações e encaminhamentos<br />
do dia-a-dia missionário da Região Missionária. A Bispa chega já com <strong>uma</strong> visão<br />
panorâmica do Metodismo no espaço do Nor<strong>de</strong>ste, tendo-se <strong>em</strong> vista os <strong>de</strong>safios e oportunida<strong>de</strong>s.<br />
6. De 2002...<br />
A partir do dia 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002, na cida<strong>de</strong> do Recife/PE, <strong>uma</strong> nova página será<br />
aberta na vida da REMNE com a instalação e posse da nova Bispa Marisa <strong>de</strong> Freitas Ferreira<br />
Coutinho, b<strong>em</strong> como, as <strong>de</strong>cisões que serão tomadas no contexto do XII Concílio Regional<br />
da Região Missionária do Nor<strong>de</strong>ste. Há, graças a Deus, <strong>uma</strong> boa <strong>perspectiva</strong> <strong>de</strong> progresso<br />
e consolidação da obra <strong>missionária</strong> <strong>em</strong> terras nor<strong>de</strong>stinas. O Concílio se realiza a partir<br />
das motivações <strong>de</strong> um novo Plano Nacional com seus enfoques e priorida<strong>de</strong>s. Na agenda<br />
programática a <strong>Igreja</strong> estará fortalecendo a dinâmica <strong>de</strong> sua eclesiologia <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>safio<br />
missionário: “Comunida<strong>de</strong> Missionária a Serviço do Povo: Espalhando a Santida<strong>de</strong> Bíblica”.<br />
No presente ano <strong>de</strong> 2002, a ênfase será: “Test<strong>em</strong>unhar a vitalida<strong>de</strong> do Evangelho” tendo<br />
como pano <strong>de</strong> fundo, e inspiração o Livro <strong>de</strong> Atos dos Apóstolos.<br />
121
ANEXO 2:<br />
QUADRO ESTATÍSTICO
123
14<br />
9<br />
4<br />
-1<br />
Taxa <strong>de</strong> Crescimento Anual (%)<br />
Evangélicos e População - Região Nor<strong>de</strong>ste<br />
Alagoas Bahia Ceará Maranhão Paraíba<br />
Pernambuc<br />
TCA (%) Evangélicos 11,75 7,48 9,62 7,96 10,67 8,43 8,96 10,31 8,79 7,43<br />
TCA (%) População 1,32 1,09 1,73 1,54 0,82 1,19 1,08 1,57 2,01 1,63<br />
o<br />
Piauí<br />
R.Gran<strong>de</strong><br />
Norte<br />
Sergipe BRASIL<br />
Fonte: Censos 1991 e 2000, IBGE<br />
124
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
Porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Evangélicos<br />
<strong>em</strong> 2000 - Região Nor<strong>de</strong>ste<br />
Alagoas Bahia Ceará Maranhão Paraíba<br />
Pernambuc<br />
% Evangélicos 9 11,2 8,2 11,5 8,8 13,5 6 8,9 7,3 15,4<br />
o<br />
Piauí<br />
R.Gran<strong>de</strong> do<br />
Norte<br />
Sergipe BRASIL<br />
125
126
127
128
129
130
ANEXO 3:<br />
CARTA PASTORAL DO COLÉGIO EPISCOPAL SOBRE<br />
O G-12 301<br />
301 Fonte: http://www.expositorcristao.org.br/ e http://www.metodista.org.br
Apresentação<br />
O Colégio Episcopal frente a um dos últimos movimentos doutrinários no meio Evan-<br />
gélico, chamado G-12, v<strong>em</strong> junto ao povo <strong>Metodista</strong> colocar, <strong>de</strong> modo breve, nossa visão<br />
doutrinária acerca <strong>de</strong>ste movimento, e reafirmar nossa herança bíblica e Wesleyana. Sabe-<br />
mos que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre pod<strong>em</strong>os dar resposta a todos os movimentos que surg<strong>em</strong> no meio<br />
evangélico brasileiro, mas este movimento afetou alg<strong>uma</strong>s <strong>de</strong> nossas igrejas e pastores/as,<br />
por isso sentimo-nos no <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> compartilhar esta carta pastoral.<br />
Nela tentamos ser justos, claros e firmes naquilo que, como Bispos e Bispa, enten<strong>de</strong>-<br />
mos ser a sã doutrina. “Obe<strong>de</strong>cei aos vossos guias e se<strong>de</strong> submissos para com eles; pois ve-<br />
lam por vossa alma, como qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve prestar contas, para que façam isto com alegria e não<br />
g<strong>em</strong>endo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Hb 13.17). “T<strong>em</strong> cuidado <strong>de</strong> ti mesmo e<br />
da doutrina. Continua nestes <strong>de</strong>veres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo co-<br />
mo aos teus ouvintes.” (1Tm 4.16).<br />
Orientação Pastoral sobre o G-12<br />
O termo G-12 é <strong>uma</strong> importação dos EUA, e tenta <strong>de</strong>signar <strong>uma</strong> igreja organizada <strong>em</strong><br />
células, ou grupos <strong>de</strong> 12 pessoas, orientadas por um lí<strong>de</strong>r. Há alguns anos este termo e mé-<br />
todo foi assumido na Colômbia pelo Pr. Cezar Castelano e sua esposa Cláudia Castelano, o<br />
qual, segundo <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong>les mesmos, tomou por base o programa da <strong>Igreja</strong> do Dr. Da-<br />
vid Y. Cho, ou seja, “<strong>Igreja</strong> <strong>em</strong> Células no Mo<strong>de</strong>lo dos Doze”. No entanto, esta metodologia<br />
<strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> t<strong>em</strong> trazido dificulda<strong>de</strong>s pastorais e <strong>de</strong>svios doutrinários, s<strong>em</strong>eando divisões<br />
<strong>em</strong> várias <strong>Igreja</strong>s que assimilaram tal programa.<br />
Entre os <strong>de</strong>svios doutrinários, que ensina o Pr. Cezar, através da proposta do G-12, os<br />
quais consi<strong>de</strong>ramos que contrariam as doutrinas bíblicas e wesleyanas estão os seguintes:<br />
A proposta está centrada n<strong>uma</strong> aparição do Senhor a ele, <strong>de</strong>signando-o como um ilu-<br />
minado e enviado <strong>de</strong> Deus para o governo dos 12. Des<strong>de</strong> aí criou a Missão Carismática In-<br />
ternacional. 302<br />
Preocupa-me o fato <strong>de</strong> que não diz <strong>em</strong> seu livro que alguém julgou a visão, conforme<br />
recomenda a Bíblia, n<strong>em</strong> nos dá qualquer indicação bíblica para que o reconheçamos como<br />
o mensageiro <strong>de</strong> Jesus Cristo para toda a <strong>Igreja</strong>. (cf. 1Co 14.29-33). Em nenhum momento,<br />
o Novo Testamento nos indica que surgiria um iluminado, recebendo diretamente <strong>de</strong> Jesus<br />
<strong>uma</strong> palavra para toda a <strong>Igreja</strong>.<br />
302 Dominguez, Cezar Castelhanos – Sonhas e ganharás o Mundo. Ed. Palavra da Fé.<br />
132
Todas as gran<strong>de</strong>s heresias nasceram <strong>de</strong>sse modo. Assim foi Joseph Smits, do movi-<br />
mento Mórmon.<br />
A outra distorção trata-se das três outras aberrações apresentadas por Cezar Castella-<br />
nos, ou seja, ele <strong>de</strong>screve como viu, <strong>em</strong> três experiências, seu espírito <strong>de</strong>ixar o corpo. Ele<br />
chamou e seu espírito teria voltado, pois ele não po<strong>de</strong>ria morrer. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiên-<br />
cia tida como normativa, mas s<strong>em</strong> base bíblica para se fundamentar. Tal relato é mais co-<br />
mum no espiritismo.<br />
Trabalha um conceito exegético com o qual nós <strong>Metodista</strong>s não concordamos, <strong>de</strong> que<br />
há na Bíblia a palavra Rh<strong>em</strong>a, e a palavra Logos. O Rh<strong>em</strong>a seria a palavra “revelada” dire-<br />
tamente <strong>de</strong> Deus, no caso o absurdo é que <strong>de</strong>clara ser 2 Crônicas 29, relativo a Ezequias,<br />
palavra Rh<strong>em</strong>a. Ora Rh<strong>em</strong>a é termo grego, completamente <strong>de</strong>sconhecido ao hebraico do<br />
livro <strong>de</strong> Crônicas. Aqui, a heresia dividiria as Escrituras <strong>em</strong> duas categorias, o que além <strong>de</strong><br />
ser herético, é histórica e exegeticamente um absurdo.<br />
Enfatiza a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo crente ter o seu Peniel, ou encontro com Deus. Deus<br />
po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser encontrado a cada dia, por todo cristão; não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> que cri<strong>em</strong>os condições<br />
especiais para encontrá-lo. “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todo o<br />
vosso coração.” (Jr 29.13). Nada contra retiros espirituais, pois eles são b<strong>em</strong>-vindos e ne-<br />
cessários. A distorção do Peniel está <strong>em</strong> menosprezar as experiências anteriores, e condi-<br />
cionar o encontro com Deus ao retiro. Seria um Deus muito pequeno! Os mo<strong>de</strong>los bíblicos<br />
<strong>de</strong> encontro com Deus vão muito além <strong>de</strong> Peniel. De maneira especial rejeitamos a idéia<br />
implícita para alguns <strong>de</strong> que s<strong>em</strong> o encontro o cristão está n<strong>uma</strong> categoria inferior <strong>de</strong> cris-<br />
tão. Isto divi<strong>de</strong> a <strong>Igreja</strong> do Senhor.<br />
A outra distorção do G12 é que não há espaço para a imensa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dons e<br />
ministérios, pois no grupo, <strong>em</strong> casas <strong>de</strong> família, não há muito espaço para o exercício como<br />
ministério <strong>de</strong> ação social, tão vital num país como o nosso. Tampouco não há espaço para a<br />
saudável experiência dos grupos societários, histórico espaço <strong>de</strong> treinamento e amadureci-<br />
mento na fé. Não há também espaço para ministérios proféticos como: a) luta contra o ra-<br />
cismo; b) menores infratores; c) pastoral carcerária. Enfim, não dá para conter nos grupos<br />
pequenos os inúmeros ministérios que o Espírito Santo t<strong>em</strong> suscitado no corpo <strong>de</strong> Cristo.<br />
Deste modo a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> é absolutamente incompatível com o sist<strong>em</strong>a da igreja<br />
<strong>em</strong> célula do G-12; isto porque a nossa visão <strong>de</strong> que a igreja local é <strong>uma</strong> parte do Corpo <strong>de</strong><br />
Cristo, ou seja, a dinâmica do Espírito Santo transcen<strong>de</strong> a igreja local. Pois as igrejas care-<br />
c<strong>em</strong> dos dons e ministérios <strong>uma</strong>s das outras, é esta a visão bíblica; vejamos: “Também, ir-<br />
mãos, vos faz<strong>em</strong>os conhecer a graça <strong>de</strong> Deus concedida às igrejas da Macedônia...” (2Co<br />
133
8.1). “Esforçando-vos diligent<strong>em</strong>ente por preservar a unida<strong>de</strong> do Espírito no vínculo da paz;<br />
há somente um corpo (a <strong>Igreja</strong>) e um Espírito...” (Ef 4.3-4ss).<br />
No entendimento do programa do G-12 nós teríamos que acabar com a infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ministérios que Deus t<strong>em</strong> levantado entre nós, os grupos societários, os Concílios, as<br />
CLAMs, CoDIAMs, COREAMs e COGEAM. Enfim, teria <strong>de</strong> acabar com a <strong>Igreja</strong> que so-<br />
mos, nossa herança, nossa vida e test<strong>em</strong>unho, e começar outra <strong>Igreja</strong>. Isto não po<strong>de</strong> ser o<br />
propósito <strong>de</strong> Deus para nós.<br />
O programa do G-12 cresceu <strong>em</strong> cima <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s críticas às <strong>Igreja</strong>s Evangélicas His-<br />
tóricas, e mesmo alg<strong>uma</strong>s Pentecostais Históricas. Há <strong>uma</strong> severa crítica às <strong>de</strong>nominações,<br />
<strong>de</strong>sconhecendo a herança cristã evangélica e o martírio que seus pioneiros <strong>de</strong>ram a Evange-<br />
lização do Brasil.<br />
Eles criticam as <strong>de</strong>nominações, viv<strong>em</strong> muito mais <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> sua manutenção, suas<br />
estruturas, comissões e <strong>de</strong>partamentos, do que <strong>em</strong> função da missão <strong>de</strong> ganhar vidas para o<br />
Reino. Reconhec<strong>em</strong>os que esta crítica é, <strong>em</strong> alguns casos, proce<strong>de</strong>nte, pois alg<strong>uma</strong>s <strong>de</strong>stas<br />
<strong>Igreja</strong>s têm perdido a visão <strong>missionária</strong>, não cresc<strong>em</strong>, e viv<strong>em</strong> muito <strong>em</strong> função <strong>de</strong> si mes-<br />
mas. Mas se é verda<strong>de</strong> que esta crítica é proce<strong>de</strong>nte, a solução encontrada <strong>de</strong> concentrar a<br />
vida da <strong>Igreja</strong> <strong>em</strong> células (grupos pequenos) <strong>de</strong>forma e diminui drasticamente o que a <strong>Igreja</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser e, principalmente, o alcance da missão. Trata-se aqui <strong>de</strong> um grave <strong>de</strong>svio doutriná-<br />
rio do t<strong>em</strong>a teológico, que é a eclesiologia, doutrina que trata da orig<strong>em</strong> e do modo <strong>de</strong> ser<br />
<strong>Igreja</strong> como Corpo <strong>de</strong> Cristo. Pois, <strong>uma</strong> <strong>Igreja</strong> restrita a células per<strong>de</strong> o alcance <strong>de</strong> impactar<br />
a socieda<strong>de</strong> com sua voz profética, diante das injustiças diversas cometidas <strong>em</strong> muitos casos<br />
até pelo Estado. O impacto que a <strong>Igreja</strong> Primitiva causou ao Estado Romano não foi somen-<br />
te pelas igrejas nas casas, foi pregação nas praças, areópago e outros lugares públicos, atra-<br />
vés <strong>de</strong> diferentes ministérios, orientados por <strong>uma</strong> pastoral dada por Paulo, Pedro, Tiago,<br />
enfim, eram ministérios diversos, mas sujeitos a um governo episcopal e conciliar. Confi-<br />
ram as referências bíblicas: Atos 3.11-12; 4.4; 6.1-7; 8.4-8; 15.1-9; 17.6-7; Romanos 13.1-2;<br />
16.1-2; 1Coríntios 16.1-4; Apocalipse 1.4-5.<br />
É necessário afirmar que nós metodistas t<strong>em</strong>os <strong>uma</strong> tradição <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong>. João<br />
Wesley apresentou <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> preocupação com a vida das pessoas que a<strong>de</strong>riam ao movi-<br />
mento metodista. Envolvia os m<strong>em</strong>bros do movimento <strong>em</strong> grupos menores chamados <strong>de</strong><br />
“socieda<strong>de</strong>s” ou classes”. Este método tornou-se <strong>uma</strong> das marcas do avivamento li<strong>de</strong>rado<br />
por João e Carlos Wesley. Nestas “socieda<strong>de</strong>s” ou “classes” os m<strong>em</strong>bros eram nutridos e<br />
ganhavam vitalida<strong>de</strong>, outra marca do metodismo. Havia entre os m<strong>em</strong>bros um sentimento<br />
<strong>de</strong> unida<strong>de</strong> e solidarieda<strong>de</strong>. João Wesley adquiriu este hábito, que transformou <strong>em</strong> <strong>uma</strong> das<br />
134
características do metodismo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> estudante <strong>em</strong> Oxford, on<strong>de</strong> alguns alunos<br />
se reuniam <strong>em</strong> grupos pequenos para estudo da Bíblia, oração e busca <strong>de</strong> <strong>uma</strong> verda<strong>de</strong>ira<br />
santida<strong>de</strong> do coração e da vida.<br />
Desta forma, a metodologia <strong>de</strong>senvolvida pelo G-12 não apresenta nada <strong>de</strong> novo, pois<br />
Jesus organizou um grupo <strong>de</strong> doze discípulos, outro <strong>de</strong> setenta, para passar a visão do Reino<br />
<strong>de</strong> Deus (Cf. Mc 3.13-19; Lc 10.1-4). Paulo também <strong>de</strong>senvolveu um programa <strong>de</strong> discipu-<br />
lado <strong>em</strong> seu ministério, preparando homens e mulheres para o pastoreio. (Cf. 2Tm 2.2).<br />
Em que pese os test<strong>em</strong>unhos <strong>de</strong> vários lí<strong>de</strong>res evangélicos a favor e contra o G-12,<br />
consi<strong>de</strong>rando os equívocos presentes neste método apresentado como programa <strong>de</strong> discipu-<br />
lado, damos a seguinte orientação ao povo metodista: Não entregu<strong>em</strong>os nossas ovelhas para<br />
ser<strong>em</strong> pastoreadas por terceiros. Pastores e pastoras e d<strong>em</strong>ais lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> ministérios nas igre-<br />
jas locais, são os responsáveis pelo rebanho, que está se<strong>de</strong>nto e <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> ser pastoreado e<br />
aprofundar suas experiências com Deus. Seguindo a tradição metodista, grupos <strong>de</strong> discipu-<br />
lado <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser organizados <strong>em</strong> nossas igrejas, sobretudo com a li<strong>de</strong>rança dos ministérios.<br />
Que nestes grupos seja aplicado o mo<strong>de</strong>lo wesleyano.<br />
L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que o Programa <strong>de</strong> Discipulado, <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> implantação <strong>em</strong> nossa <strong>Igreja</strong>,<br />
<strong>de</strong>fine <strong>discipulado</strong> como um estilo <strong>de</strong> vida que caracteriza a vida das pessoas alcançadas<br />
pela graça <strong>de</strong> Deus e comprometidas com o Reino <strong>de</strong> Deus; método <strong>de</strong> pastoreio através do<br />
qual e, <strong>em</strong> pequenos grupos, o pastoreio, a comunhão, a confraternização e a solidarieda<strong>de</strong><br />
são <strong>de</strong>senvolvidos para a maturida<strong>de</strong> cristã dos m<strong>em</strong>bros da <strong>Igreja</strong>; e <strong>uma</strong> estratégia para o<br />
cumprimento da missão, por meio da integração nos diversos dons e ministérios que visam<br />
o cumprimento da missão que a <strong>Igreja</strong> recebeu <strong>de</strong> Deus.<br />
Dev<strong>em</strong>os ter cuidado com os métodos e programas <strong>de</strong> <strong>discipulado</strong> que apresentam ou-<br />
tras conceituações que não as <strong>de</strong>finidas anteriormente e que constam do Manual do Discipu-<br />
lado, série Discipulado – nº 1. O Programa <strong>de</strong> Discipulado a ser implantado <strong>em</strong> nossas igre-<br />
jas é o que consta <strong>de</strong>ste Manual e os outros livros da série que estão sendo publicados.<br />
Assim sendo, o Colégio Episcopal, ao analisar as propostas do G-12 <strong>de</strong>clara que elas<br />
são incompatíveis com os documentos, doutrinas e caminhada da <strong>Igreja</strong> <strong>em</strong> dons e ministé-<br />
rios; e que pastores e pastoras não têm o direito <strong>de</strong> envolver a comunida<strong>de</strong> local <strong>em</strong> propos-<br />
tas que não foram avaliadas pelos respectivos Concílios, ou seja, Regional, Distrital e Local.<br />
O/a pastor/a que assim proce<strong>de</strong>r, estará contrariando a orientação a orientação doutrinal da<br />
<strong>Igreja</strong>, e atraindo para si toda responsabilida<strong>de</strong>. Desta forma, estará sujeito ao que prescreve<br />
os Cânones da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />
135
Encerramos esta orientação pastoral sobre o G-12 <strong>de</strong>stacando que na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />
a realização <strong>de</strong> encontros, retiros e acampamentos, que busqu<strong>em</strong> aprofundar a experiência<br />
com a Graça <strong>de</strong> Deus, crescimento na vida cristã e maturida<strong>de</strong> espiritual ou, <strong>em</strong> outras pala-<br />
vras, que busqu<strong>em</strong> um encontro com Deus, é legítima e necessária, faz parte da nossa tradi-<br />
ção <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>.<br />
Reafirmamos que, <strong>de</strong> acordo com as Sagradas Escrituras, é Deus qu<strong>em</strong> busca os seus<br />
filhos e filhas e age para abençoa-los/as. No segundo livro da série Discipulado – nº 04,<br />
intitulado Fundamentos da Fé – Pecado e Salvação, o Bispo Nelson Luis Campos Leite <strong>de</strong>s-<br />
taca que o nosso encontro com Deus acontece quando aceitamos esta busca divina e confi-<br />
amos no amor e na presença <strong>de</strong> Cristo <strong>em</strong> nossas vidas. Os retiros, encontros e acampamen-<br />
tos têm este objetivo, qual seja, alimentar a experiência do encontro com Deus.<br />
Pentecostes <strong>de</strong> 2004<br />
Bispo João Alves <strong>de</strong> Oliveira Filho – Presi<strong>de</strong>nte.<br />
Bispo João Carlos Lopes. Vice-Presi<strong>de</strong>nte<br />
Bispo Josué Adam Lazier – Secretário.<br />
Bispo Adolfo Evaristo <strong>de</strong> Souza;<br />
Bispo Adriel <strong>de</strong> Souza Maia;<br />
Bispo Luiz Vergílio Batista Rosa;<br />
Bispa Marisa <strong>de</strong> Freitas Ferreira Coutinho;<br />
Bispo Paulo Tarso <strong>de</strong> Oliveira Lockmann,<br />
136
Livros:<br />
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />
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Ensino. Ano 3, n° 3, 1994.<br />
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da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>: Biblioteca Vida e Missão, Pastorais, n°12, 1ª Edição, Editora Cedro<br />
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ja <strong>Metodista</strong> e Credo Social da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Editora Unimep. 1982.<br />
LAVOURA, Sergio Gama. Discipulado. São Paulo: Frutos da Luz Produções. 2001.<br />
LAZIER, Josué Adam. Kairós: Discipulado – Seguimento e Pastoreio <strong>em</strong> Pequenos Grupos.<br />
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140
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Dicionários:<br />
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BROWN, Colin. COENEN, Lothar. Dicionário Internacional <strong>de</strong> Teologia do Novo Testamen-<br />
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C. FLORISTÁN, J. J. TAMAYO, J. DE LA TORRE, A. HORTELANO. Dicionário <strong>de</strong> Pasto-<br />
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DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. Tradução <strong>de</strong> João Bentes. 2ª Edição. São<br />
Site:<br />
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http://www.metodista.org.br<br />
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