Resiliência e escola- identificação de fatores de proteção da evasão ...
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<strong>Resiliência</strong> e <strong>escola</strong>- <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> <strong>de</strong> <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na adolescência- 2008
<strong>Resiliência</strong> e <strong>escola</strong>- <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> <strong>de</strong> <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na<br />
adolescência.<br />
3
Coor<strong>de</strong>nação executiva<br />
Profª. Drª. Sílvia Pereira <strong>da</strong> Cruz Benetti<br />
Colaboradores:<br />
Profª. Drª. Carolina Lisboa<br />
Profª. Denise Falcke<br />
Prof. Maycoln Teodoro<br />
Psicóloga Michelle Scheiffel<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> se<strong>de</strong> do projeto: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS,<br />
São Leopoldo, RS.<br />
Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação: Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia, Mestrado<br />
Acadêmico em Psicologia.<br />
Linha <strong>de</strong> Pesquisa a qual se vincula o projeto: Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Adolescência.<br />
Projeto EDUCAS<br />
Bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Científica:<br />
Raíssa <strong>de</strong> Azevedo Hass<br />
Cristian Baqui Schwartz<br />
Bolsista do projeto<br />
Vera Melo<br />
Responsável pela Oficina <strong>de</strong> Bonecos: Grupo Pregando Peça<br />
4
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
Em especial a Vera Melo e também<br />
Raissa Hass, Janice Ribas,<br />
Germana Osterman , Cristian Schwartz,<br />
e Juliana Sbicigo<br />
5
INTRODUÇÃO<br />
Este relatório apresenta os principais resultados <strong>da</strong> investigação sobre<br />
<strong>Resiliência</strong> e Evasão Escolar <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s interfaces do Programa <strong>de</strong> Pós-<br />
Graduação em Psicologia e do Projeto <strong>de</strong> Ação Social EDUCAS, ambos <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil. O<br />
trabalho foi possível através do apoio <strong>da</strong> UNESCO/OREALC, Red INNOVEMOS e <strong>da</strong><br />
Organização dos Estados Iberoamericanos, OEI.<br />
As ações inovadoras construí<strong>da</strong>s e origina<strong>da</strong>s no interesse <strong>de</strong>stes programas <strong>de</strong><br />
agir diretamente nos contextos promotores <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong> grupos vulneráveis,<br />
especificamente em relação aos jovens no universo <strong>escola</strong>r e a questão <strong>da</strong> permanência<br />
na <strong>escola</strong>, levaram-nos ao interesse em <strong>de</strong>senvolver o trabalho. Face ao gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> jovens que eva<strong>de</strong>m <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, queríamos respon<strong>de</strong>r a questão o que faz um jovem<br />
frente a situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e social a permanecer na <strong>escola</strong>?<br />
Com este intuito, passamos a conviver com um grupo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> uma <strong>escola</strong><br />
estadual do município <strong>de</strong> São Leopoldo, RS, Escola Villa Lobos, na tentativa <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r, agir e transformar uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> muitas vezes difícil e <strong>de</strong>safiadora.<br />
Porém, antes <strong>de</strong> discutir as diversas questões levanta<strong>da</strong>s, faz-se necessária uma<br />
compreensão mais abrangente do contexto social e institucional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />
pesquisa.<br />
No Brasil, ain<strong>da</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s crianças tenha acesso à <strong>escola</strong>rização,<br />
através do ingresso nas séries iniciais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, somente em torno <strong>de</strong><br />
60% alcança a 8ª. Série, sendo que esta taxa diminui mais ain<strong>da</strong> no Ensino Médio. A<br />
repetência e a <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r são, portanto, um problema grave. Estas questões <strong>de</strong><br />
ensino refletem as condições econômicas e sociais que apontam que 50% <strong>da</strong>s crianças<br />
brasileiras <strong>de</strong> até 6 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> estão em situação <strong>de</strong> pobreza, indicando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> atendimento às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong>sta faixa etária.<br />
Sensível a estas questões, a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS,<br />
<strong>de</strong>senvolve pesquisas e projetos sociais voltados para o atendimento <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s<br />
locais e regionais, <strong>de</strong>monstrando a preocupação e o compromisso social assumido pela<br />
universi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. No caso <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisas, o Programa <strong>de</strong><br />
Pós-Graduação em Psicologia, através <strong>de</strong> sua linha <strong>de</strong> pesquisa, Clínica <strong>da</strong> Infância e<br />
Adolescência, <strong>de</strong>senvolve estudos sobre a compreensão <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> adolescência<br />
6
em diversos espaços e contextos, bem como o estudo <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção,<br />
prevenção, avaliação e intervenção psicoterápica frente às problemáticas relaciona<strong>da</strong>s à<br />
saú<strong>de</strong> mental <strong>da</strong> população infanto-juvenil.<br />
Da mesma forma, os diversos projetos <strong>de</strong> ação social são realizados junto a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e grupos em condições sócio-econômicas <strong>de</strong>sfavoráveis, envolvendo<br />
<strong>escola</strong>s <strong>da</strong> região do Vale do Sinos, organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, movimentos<br />
sociais e governos municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral. São propostas <strong>de</strong> atuação distribuí<strong>da</strong>s<br />
em sete áreas <strong>de</strong> ação social, entre outras, que resultam em um rico aprendizado, através<br />
do diálogo e problematizações levanta<strong>da</strong>s (www.unisinos.br). Dentre essas, <strong>de</strong>staca-se a<br />
experiência <strong>de</strong> trabalho com crianças e adolescentes com problemas <strong>de</strong> aprendizagem<br />
do projeto EDUCAS, o qual tem apontado a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações<br />
preventivas na própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r, envolvendo tanto os técnicos e professores,<br />
como também famílias e serviços públicos. Além disto, o projeto fun<strong>da</strong>menta-se na<br />
estratégias <strong>de</strong> expandir a compreensão para os <strong>fatores</strong> que favorecem a a<strong>de</strong>são à <strong>escola</strong>,<br />
numa perspectiva que se oriente para além <strong>da</strong>s questões <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais.<br />
Em suma, nossa experiência inovadora está construí<strong>da</strong> e alicerça<strong>da</strong> no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações diretas na <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> parceria do projeto EDUCAS<br />
com o Programa <strong>de</strong> Pós- Graduação em Psicologia. Sobre estes aportes foi <strong>de</strong>senvolvido<br />
o projeto <strong>de</strong> pesquisa sustentado na metodologia <strong>da</strong> pesquisa intervenção a qual, além<br />
<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ao sujeito investigado preocupa-se com sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como<br />
a interação que se estabelece entre o pesquisador e o objeto <strong>de</strong> seu estudo. Portanto, a<br />
partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> resiliência, nosso foco <strong>de</strong> interesse foi conhecer as<br />
experiências <strong>de</strong> jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mantém nas trajetórias<br />
<strong>escola</strong>res e não <strong>de</strong>sertam.<br />
Através <strong>de</strong> uma pesquisa-intervenção que consistiu na implementação <strong>de</strong><br />
programas dirigidos tanto para o trabalho específico com os jovens como para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> professores , tentamos i<strong>de</strong>ntificar que aspectos do<br />
contexto ecológico <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> adolescentes em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />
são <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> associados à permanência na <strong>escola</strong>. Participaram<br />
<strong>de</strong>ste projeto professores, profissionais e alunos do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação, do<br />
Projeto EDUCAS, <strong>da</strong> Escola Estadual Villa – Lobos e acadêmicos do curso <strong>de</strong><br />
Psicologia.<br />
7
MARCO CONCEPTUAL<br />
Neste projeto partimos <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> aspectos subjetivos e<br />
contextuais associados à questão <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r. Assim, algumas questões foram<br />
<strong>de</strong>linea<strong>da</strong>s para embasar a análise compreensiva dos aspectos <strong>de</strong> resiliência e<br />
permanência na <strong>escola</strong>.<br />
Dados <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> no Brasil<br />
Trinta e cinco milhões <strong>de</strong> adolescentes (faixa <strong>de</strong> 10-19 anos) foram i<strong>de</strong>ntificados<br />
no Censo Demográfico Brasileiro em 2000 (IBGE, 2000). Este número, acrescido <strong>da</strong><br />
população <strong>de</strong> 0-9 anos (33 milhões), dimensiona a magnitu<strong>de</strong> e a importância <strong>da</strong><br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção a estas faixas etárias. As crianças na primeira infância<br />
representam 11% <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a população brasileira, o Brasil o país com a maior população<br />
<strong>de</strong> até 6 anos <strong>da</strong>s Américas. Entretanto, gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s crianças e adolescentes<br />
brasileiros vivem em situação <strong>de</strong> pobreza e enfrentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no atendimento <strong>de</strong><br />
suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas. Por exemplo, <strong>da</strong>dos do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />
Estatística apontam que 50% <strong>da</strong>s crianças e adolescentes brasileiras vivem em famílias<br />
cuja ren<strong>da</strong> mensal está abaixo <strong>de</strong> ½ salário mínimo per capita por mês (IBGE/Pnad<br />
2006).<br />
Dentre os objetivos do Milênio (ONU, 2000), questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação,<br />
direitos humanos <strong>de</strong>vem se constituir como foco prioritário <strong>da</strong>s ações dos governos<br />
como estratégias <strong>de</strong> redução <strong>de</strong>stas situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, com especial <strong>de</strong>staque<br />
para as faixas etárias <strong>da</strong> infância e adolescência. Dentre os objetivos do Milênio, a meta<br />
<strong>de</strong> Educação Básica e <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> volta-se para a dimensão <strong>da</strong> Educação, apontando<br />
que esta é uma <strong>da</strong>s condições fun<strong>da</strong>mentais para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>de</strong><br />
crianças e adolescentes e, principalmente, para a construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
responsável e ética, que garante os direitos <strong>de</strong> seus ci<strong>da</strong>dãos e preserve o meio<br />
ambiente.<br />
8
Evasão <strong>escola</strong>r<br />
Klein (2006) <strong>de</strong>fine a boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema educacional pelas<br />
características fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> que o ensino <strong>de</strong>ve proporcionar aprendizagem aos<br />
alunos e progressão nas séries. A avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino inclui a análise dos<br />
seguintes indicadores: atendimento (proporção <strong>da</strong> população em i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r<br />
matricula<strong>da</strong>), movimentação <strong>escola</strong>r (taxas <strong>de</strong> aprovação, reprovação e abandono<br />
durante o ano <strong>escola</strong>r) e fluxo <strong>escola</strong>r (taxas <strong>de</strong> promoção, repetência e <strong>evasão</strong> entre<br />
séries), taxas <strong>de</strong> acesso à <strong>escola</strong>, taxas <strong>de</strong> conclusão <strong>da</strong> 4ª série, do EF e do EM e<br />
indicadores <strong>de</strong> aprendizado baseados em escalas interpreta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> proficiências (p.141).<br />
A análise do atendimento e fluxo indica que as taxas <strong>de</strong> repetência vêm caindo<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992 (31.81%), mas estavam em 2003 ain<strong>da</strong> no patamar <strong>de</strong> 20.60%. Em relação<br />
aos alunos que concluem as séries do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, observa-se que até<br />
a 8ª. Série, 98% <strong>da</strong>s crianças <strong>de</strong> 8 a 12 anos estava freqüentando a <strong>escola</strong> (<strong>da</strong>dos<br />
referentes ao ano <strong>de</strong> 2003). Entretanto, esta taxa cai para 67% aos 17 anos. Este valor,<br />
porém, reflete somente que o aluno está matriculado na <strong>escola</strong>. Se, ao contrário, a<br />
análise levar em conta se o aluno está na série correspon<strong>de</strong>nte a sua i<strong>da</strong><strong>de</strong>, verifica-se<br />
que a partir dos 14 anos a taxa que é <strong>de</strong> 43.2 cai progressivamente para 23.4 aos 17 anos<br />
e 4.8 aos 18 anos em relação à percentagem <strong>de</strong> alunos que estão freqüentando a série<br />
correspon<strong>de</strong>nte a sua i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dentre várias medi<strong>da</strong>s sugeri<strong>da</strong>s para uma melhor quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ensino, Klein (2006) <strong>de</strong>staca ser necessário que as taxas <strong>de</strong> aprovação sejam maiores<br />
que 95% em to<strong>da</strong>s as séries e as taxas <strong>de</strong> <strong>evasão</strong> entre séries menores que 1%, além<br />
disto, em relação ao jovem <strong>de</strong> 14 a 18 anos é necessário mantê-lo na <strong>escola</strong>.<br />
A Região Sul, mesmo tendo um alto nível educacional no país, apresentou uma<br />
taxa <strong>de</strong> <strong>evasão</strong> <strong>de</strong> 13% no Ensino Médio conforme a Sinopse Estatística do INEP do<br />
ano <strong>de</strong> 2006. No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, a taxa <strong>de</strong> aprovação geral no ensino médio foi <strong>de</strong><br />
65,9%, <strong>de</strong> reprovação <strong>de</strong> 19,9% e <strong>de</strong> abandono 14.2%, sendo que a maioria dos<br />
abandonos ocorre no primeiro ano do segundo grau.<br />
Em São Leopoldo há uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> 26 <strong>escola</strong>s estaduais <strong>da</strong>s quais 12 aten<strong>de</strong>m o<br />
Ensino Médio. O total <strong>de</strong> alunos no Ensino Médio era <strong>de</strong> 36.904 jovens (SEC, 2006).<br />
Com relação a reprovação e <strong>evasão</strong> as taxas variam conforme as <strong>escola</strong>s, sendo que em<br />
algumas po<strong>de</strong>m chegar até 30% <strong>de</strong> alunos evadidos. Estas taxas são muito altas e<br />
ocorrem principalmente no primeiro ano do Ensino Médio.<br />
9
Graeff-Martins e cols. (2006) mencionam somente 10 estudos voltados<br />
especificamente para a questão <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r, nenhum referente aos países em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, locais on<strong>de</strong> o problema é muito mais intenso. Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes<br />
estudos volta-se para trabalhos e ações dirigi<strong>da</strong>s aos professores, alunos e familiares,<br />
incentivando o acompanhamento, participação e envolvimento com a <strong>escola</strong>.<br />
Principalmente, <strong>de</strong>staca-se que os resultados após as intervenções apontam para uma<br />
melhoria do sistema educacional e redução <strong>de</strong> abandono.<br />
Neste sentido, Graeff-Martins e cols. (2006) <strong>de</strong>senvolveram um programa<br />
voltado para a questão do abandono <strong>escola</strong>r numa <strong>escola</strong> do Sul do Brasil. Foram<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s como reuniões com professores, informativo sobre <strong>evasão</strong><br />
<strong>escola</strong>r para os pais, reuniões gerais <strong>da</strong> <strong>escola</strong> (pais e professores), modificações no<br />
ambiente <strong>escola</strong>r, implementação <strong>de</strong> um programa específico dirigido para a 7ª. Série.<br />
Além disto, os alunos evadidos foram visitados em casa e também foi disponibilizado<br />
atendimento psicológico para os alunos que apresentassem <strong>de</strong>man<strong>da</strong>. Apesar <strong>de</strong><br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> implementação do programa e avaliação dos resultados, foi possível<br />
i<strong>de</strong>ntificar uma redução do absenteísmo e <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r no último trimestre <strong>da</strong> <strong>escola</strong><br />
trabalha<strong>da</strong>, indicando a importância do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> intervenções na <strong>escola</strong>.<br />
Finalmente, os autores <strong>de</strong>stacam a importância e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções<br />
preventivas nas <strong>escola</strong>s associa<strong>da</strong>s ao trabalho em saú<strong>de</strong> mental, visto que várias <strong>da</strong>s<br />
situações <strong>de</strong>terminantes <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res estão relaciona<strong>da</strong>s aos transtornos<br />
emocionais ou dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares.<br />
Adolescência, <strong>escola</strong> e saú<strong>de</strong><br />
Assim como to<strong>da</strong>s as etapas vitais, o indivíduo em seu <strong>de</strong>senvolvimento está<br />
inserido em e relaciona-se com diferentes contextos. Seguindo esta perspectiva, a<br />
abor<strong>da</strong>gem ecológica <strong>de</strong> Bronfenbrenner (1979/2002) leva em conta as múltiplas<br />
influências do ambiente sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo durante seu tempo <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong>. Consi<strong>de</strong>ra que a interação com o meio ambiente o transforma, possibilitando-lhe<br />
novas respostas a<strong>da</strong>ptativas aos contextos sociais. A teoria privilegia a compreensão do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento humano no contexto, levando em conta os aspectos relativos à pessoa<br />
(características físicas, biológicas e emocionais), ao processo (como a experiência é<br />
vivencia<strong>da</strong>) e o tempo (meio-ambiente). Dessa maneira, na abor<strong>da</strong>gem ecológica o<br />
10
<strong>de</strong>senvolvimento humano é conceptualizado em pressupostos que vão além do enfoque<br />
nos vínculos diádicos e nas disposições individuais, focalizando os processos nos<br />
diferentes contextos sociais e ao longo do tempo.<br />
Fun<strong>da</strong>mentalmente, a adolescência é um período evolutivo caracterizado pelo<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição pessoal e inserção social resultante <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do jovem <strong>de</strong><br />
alcançar uma segun<strong>da</strong> individuação, uma tarefa que, por sua vez, mobiliza processos <strong>de</strong><br />
exploração do contexto, diferenciação do sistema familiar e busca <strong>de</strong> um sentimento <strong>de</strong><br />
pertença e sentido pessoal <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> (Benetti & Castro, 2006). Portanto, a partir do<br />
enfoque ecológico, observa-se que gradualmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, além <strong>da</strong> família a<br />
<strong>escola</strong> se insere como um local fun<strong>da</strong>mental para o <strong>de</strong>senvolvimento e socialização<br />
infantil. Na adolescência, a <strong>escola</strong> se reveste mais ain<strong>da</strong> como um sistema que permite a<br />
exploração <strong>de</strong> contextos <strong>de</strong> forma autônoma, ao mesmo tempo em que permite o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> valores e inserção autônoma do jovem no mundo adulto. Esta<br />
trajetória, porém, é interrompi<strong>da</strong> nos grupos vulneráveis econômica e socialmente. E,<br />
neste sentido, são vários os jovens no Brasil que <strong>de</strong>ixam a <strong>escola</strong> por inúmeros motivos.<br />
A compreensão do fenômeno <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r é complexa e envolve diversos<br />
elementos que variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> questões culturais e econômicas a aspectos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. No<br />
Brasil, vários jovens <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para trabalhar ou, <strong>de</strong>vido à repetência e<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res simplesmente abandonam os estudos. Outras questões associa<strong>da</strong>s<br />
à <strong>evasão</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s como presentes em estudos <strong>de</strong> diferentes procedências são a<br />
pobreza, maus-tratos, violência familiar e na <strong>escola</strong> (Aguilar & Viniegra, 1999),<br />
problemas familiares, ambiente <strong>escola</strong>r não satisfatório (Azevedo, 1996), nutrição<br />
(Grantham-McGregor, S. & Walker, 1998), transtornos emocionais (Asbar, 2004) e/ou<br />
na família e gravi<strong>de</strong>z na adolescência (Chalem e cols., 2007, Klein, 2006, Tramontina e<br />
cols., 2002). Por exemplo, crianças que haviam sofrido algum tipo <strong>de</strong> maus-tratos na<br />
infância apresentaram, num estudo longitudinal até a vi<strong>da</strong> adulta, maiores índices <strong>de</strong><br />
problemas emocionais, abandono <strong>escola</strong>r, e baixa auto-estima (Nomura e cols., 2007). O<br />
mais grave, porém, é que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s causas, a <strong>evasão</strong> e repetência <strong>escola</strong>r estão<br />
associa<strong>da</strong>s a trajetórias <strong>de</strong> <strong>de</strong>linqüência (Oliveira, 2002, Rodriguez, Salgueiro & Caro,<br />
1995) e uso <strong>de</strong> substâncias (Aguilar & Viniegra, 1999), indicando que ao <strong>de</strong>ixar a<br />
<strong>escola</strong>, a criança ou o jovem tem muito maiores chances <strong>de</strong> engajar-se em situações <strong>de</strong><br />
risco.<br />
11
Verifica-se, assim, que a <strong>escola</strong>, ao mesmo tempo em que ocupa um espaço<br />
provilegiado no processo <strong>de</strong> socialização <strong>de</strong> crianças e adolescentes po<strong>de</strong> ser um lócus<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> exclusão, principalmente <strong>da</strong>queles grupos mais vulneráveis econômica e<br />
socialmente. Desta maneira, <strong>de</strong>ve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> atenção para o currículo <strong>escola</strong>r como<br />
produtor <strong>de</strong> ações inclusivas ou exclusivas, focalizando-se, principalmente, as práticas<br />
<strong>escola</strong>res que venham a possibilitar a permanência do jovem no sistema educativo. Para<br />
tal é necessário conhecer o universo <strong>escola</strong>r, i<strong>de</strong>ntificar suas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>senvolver<br />
ações sensíveis aos grupos e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma que se aten<strong>da</strong>m as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
todos os alunos, reconhecendo as crianças e os adolescentes como sujeitos capazes <strong>de</strong><br />
transformação e crescimento, através <strong>de</strong> múltiplas e diversas aprendizagens.<br />
Outra fonte importante <strong>de</strong> informação sobre a situação <strong>escola</strong>r refere-se aos<br />
<strong>da</strong>dos sobre os motivos <strong>de</strong> consulta <strong>de</strong> crianças e adolescentes nas clínicas-<strong>escola</strong> <strong>de</strong><br />
psicologia. É gran<strong>de</strong> a procura no Brasil <strong>de</strong> atendimento psicológico na faixa etária <strong>da</strong><br />
infância, i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r e adolescente, principalmente nas clínicas-<strong>escola</strong>s <strong>de</strong> psicologia<br />
associados a queixas <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> aprendizagem, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento na<br />
<strong>escola</strong> e ou abandono <strong>escola</strong>r (Linhares, Parreira, Maturano, & Santa'anna, 1993). Esta<br />
característica do elevado número <strong>de</strong> encaminhamentos <strong>de</strong> crianças e adolescentes para<br />
avaliação e atendimento psicológico em função <strong>de</strong> atraso <strong>escola</strong>r, muitas vezes, não<br />
reflete uma <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m cognitiva e, sim, aspectos familiares e comunitários que<br />
não são compreendidos na <strong>escola</strong>. Portanto, a <strong>escola</strong> passa a ser um fator <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong><br />
crianças que apresentem situações <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> diferenciados <strong>da</strong>s trajetórias não tradicionais<br />
<strong>de</strong> aprendizagem. Cabe a <strong>escola</strong> também realizar um trabalho <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong> suas<br />
experiências e transformá-las em processos criativos e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Tomando como referência estes aspectos, observa-se que a <strong>escola</strong> possibilita à<br />
criança e ao adolescente experiências relacionais com professores e colegas, além <strong>de</strong><br />
contato com diferentes situações <strong>de</strong> aprendizagem e mo<strong>de</strong>los. Adolescentes que<br />
vivenciam o contexto <strong>escola</strong>r como oferecendo pouco apoio e suporte, ten<strong>de</strong>m a exibir<br />
maior sofrimento emocional (Eamon, 2006). Ao contrário, experiências <strong>de</strong> apoio no<br />
contexto e presença <strong>de</strong> relações significativas com pares e/ou professores são situações<br />
associa<strong>da</strong>s à maior resiliência.<br />
Assim, a <strong>escola</strong> se constitui como um espaço fun<strong>da</strong>mental no processo <strong>de</strong><br />
socialização do adolescente o qual tem oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ter experiências para além <strong>da</strong>s<br />
relações familiares, estabelecendo vínculos com colegas e professores. Estas novas<br />
12
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação são partes formadoras do processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do jovem. Portanto, que a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s experiências no contexto <strong>escola</strong>r,<br />
incluindo tanto o ensino como o clima <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, são condições necessárias para um<br />
<strong>de</strong>senvolvimento a<strong>de</strong>quado. Adolescentes que vivenciam o contexto <strong>escola</strong>r como<br />
oferecendo pouco apoio e suporte, ten<strong>de</strong>m a exibir maior sofrimento emocional<br />
(Eamon, 2006). Ao contrário, experiências <strong>de</strong> apoio no contexto e presença <strong>de</strong> relações<br />
significativas com pares e/ou professores são situações associa<strong>da</strong>s à maior resiliência.<br />
<strong>Resiliência</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
Dentre os vários aspectos investigados no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
psicológico <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> adolescência, estudos sobre resiliência têm recebido<br />
<strong>de</strong>staque nas últimas déca<strong>da</strong>s, visto que procuram i<strong>de</strong>ntificar os <strong>fatores</strong> individuais e<br />
contextuais que atuariam como promotores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, mesmo quando em<br />
situação adversa. Masten e Garmezy (1990) i<strong>de</strong>ntificaram três níveis <strong>de</strong> <strong>fatores</strong><br />
associados a maior <strong>proteção</strong> e resiliência como: as características disposicionais <strong>da</strong><br />
criança, tais como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, autonomia, positiva orientação social e auto-estima; as<br />
características familiares, como coesão familiar, ausência <strong>de</strong> conflitos, e maus-tratos; e<br />
características do contexto social, como a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio social<br />
<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>. Além <strong>de</strong>stes <strong>fatores</strong>, Rutter (1993) salienta a importância <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar o<br />
momento evolutivo <strong>da</strong> criança e a fonte <strong>de</strong> origem <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> adversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Junqueira (2003) realça que o conceito <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong>ve ser compreendido a<br />
partir <strong>de</strong> uma perspectiva dinâmica, pois o indivíduo po<strong>de</strong> ser resiliente em <strong>de</strong>termina<strong>da</strong><br />
situação e não em outra. Portanto, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar a noção <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
individual <strong>de</strong> maior resiliência em alguns momentos ou situações ao invés <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />
um indivíduo como sendo resiliente num sentido único. Da mesma forma, o conceito <strong>de</strong><br />
resiliência não se refere unicamente a uma a<strong>da</strong>ptação à situação adversa ou a uma<br />
superação <strong>de</strong> seus efeitos e, sim, a um processo mais complexo que envolve diferentes<br />
elementos.<br />
A resiliência resultaria <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> individual <strong>de</strong> negociar com sucesso as<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s do <strong>de</strong>senvolvimento, apesar do cumulativo efeito <strong>da</strong> adversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento seria mantido em função <strong>de</strong> características<br />
individuais ou contextuais que protegeriam o indivíduo <strong>de</strong> maiores <strong>da</strong>nos. Algumas<br />
13
<strong>de</strong>stas características referem-se à inteligência, habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e resolução<br />
<strong>de</strong> tarefas, facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> relações interpessoais, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-regulação afetiva, <strong>de</strong><br />
planejamento e organização pessoal, presença <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> suporte ou re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio,<br />
<strong>de</strong>ntre outras.<br />
Pesce (2005, p. 436) sintetiza o conceito <strong>de</strong> resiliência como “o conjunto <strong>de</strong><br />
processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam o <strong>de</strong>senvolvimento saudável do<br />
indivíduo” e também i<strong>de</strong>ntifica três situações como promotoras <strong>de</strong> maior resiliência. O<br />
primeiro envolvendo características <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o segundo coesão e bom<br />
relacionamento na família, e o terceiro presença <strong>de</strong> suporte externo promovendo<br />
estratégias <strong>de</strong> coping <strong>da</strong> criança, principalmente do grupo <strong>de</strong> pares, <strong>escola</strong> e<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Observa-se que em todos a to<strong>da</strong> a conceituação <strong>de</strong> resiliência está presente um<br />
elemento fun<strong>da</strong>mental que é a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio disponível ao indivíduo em seu processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento. Logo, pensando-se em todos os aspectos discutidos em relação à<br />
inserção e <strong>de</strong>sempenho na <strong>escola</strong> e, especificamente, às situações associa<strong>da</strong>s à <strong>evasão</strong><br />
<strong>escola</strong>r, torna-se importante i<strong>de</strong>ntificar que <strong>fatores</strong> ao nível <strong>da</strong> dimensão <strong>escola</strong>r<br />
constituem-se como situações protetoras <strong>da</strong> <strong>evasão</strong>. Foi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta concepção que se<br />
procurou <strong>de</strong>senvolver um trabalho tendo como foco a investigação <strong>da</strong>s situações <strong>de</strong><br />
vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e resiliência na trajetória <strong>de</strong> adolescentes alunos do Ensino Médio <strong>de</strong><br />
<strong>escola</strong>s estaduais do Município <strong>de</strong> São Leopoldo.<br />
14
Contexto educativo e social<br />
Desenvolvimento do projeto<br />
A UNISINOS, através do projeto EDUCAS, <strong>de</strong>senvolve um programa <strong>de</strong> ação<br />
social que reúne diferentes cursos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação, e acadêmicos <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, tendo como foco <strong>de</strong> ação as <strong>escola</strong>s municipais,<br />
estaduais e outras instituições públicas <strong>de</strong> educação que buscam garantir a permanência<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s aprendizagens <strong>de</strong> seus alunos na <strong>escola</strong>. Envolve, portanto, to<strong>da</strong><br />
a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r: pais, mães, responsáveis, professores, crianças, jovens e pessoas<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que compõem estes espaços <strong>de</strong> educação selecionados para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento dos projetos que comporão este programa (Bemvenutti, 2006, Fabris e<br />
Sal<strong>da</strong>nha, 2000).<br />
Assim, por meio <strong>de</strong> pesquisas, estudos e projetos aten<strong>de</strong> a re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong><br />
ensino <strong>de</strong> São Leopoldo, buscando fortalecer as políticas públicas do município. O<br />
fracasso <strong>escola</strong>r impe<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e está associado a um julgamento <strong>de</strong><br />
valor. Geralmente, o fracasso <strong>escola</strong>r está associado à trajetória <strong>de</strong> crianças e<br />
adolescentes pobres e <strong>de</strong> bairros <strong>da</strong> periferia urbana. A intervenção nestas situações<br />
aten<strong>de</strong> não somente ao caráter educativo, mas se insere numa dimensão <strong>de</strong> construção<br />
<strong>de</strong> civili<strong>da</strong><strong>de</strong> e ética <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
O projeto originou-se <strong>de</strong> ações propostas em 1991, quando foi estabeleci<strong>da</strong> uma<br />
parceria com a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> São Leopoldo com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
verificar como eram entendidos e encaminhados os casos <strong>de</strong> crianças consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
difícil aprendizagem. Inicialmente criou-se um programa com caráter <strong>de</strong> extensão<br />
universitária, que ao mesmo tempo em que realizava avaliação psicope<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>s<br />
crianças envolvia os professores numa discussão mais ampla sobre “problemas <strong>de</strong><br />
aprendizagem”. Posteriormente, o programa foi <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> EDUCAS,<br />
estabelecendo-se parcerias com <strong>escola</strong>s e realiza<strong>da</strong>s acessórias com outras, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
<strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>. No ano <strong>de</strong> 2007, já sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> projeto EDUCAS foram<br />
realizados 1000 atendimentos que envolveram em torno <strong>de</strong> 60 crianças e 50 familiares<br />
(Dazzi, 2007).<br />
Elementos <strong>de</strong> transformação<br />
O programa <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> intensa procura por serviços <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> aprendizagem e<br />
baseia-se no pressuposto <strong>de</strong> que os próprios agentes <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>vem assumir e<br />
15
<strong>de</strong>senvolver ações volta<strong>da</strong>s para as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong> crianças com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />
pe<strong>da</strong>gógico. O serviço também respon<strong>de</strong> a uma intensa procura por assessoria e<br />
atendimento por parte <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s e <strong>da</strong>s Secretarias <strong>de</strong> Educação, vincula<strong>da</strong> aos sujeitos<br />
que são atendidos no EDUCAS. São trabalha<strong>da</strong>s, então, questões do fracasso <strong>escola</strong>r,<br />
repetências e a <strong>evasão</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> participação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> distintas<br />
áreas, pe<strong>da</strong>gogia, psicologia, serviço social procura-se compreen<strong>de</strong>r este sujeito sob<br />
uma ótica transdisciplinar. Esta abor<strong>da</strong>gem possibilita uma visão mais complexa <strong>da</strong><br />
situação <strong>da</strong> criança e adolescente com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Os conceitos básicos do programa referem-se ao ensino e aprendizagem, inclusão,<br />
diferença, currículo, conceitos <strong>de</strong>finidos pela noção <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> educação é<br />
construído pela toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência, pelo <strong>de</strong>sejo e pela conscientização <strong>da</strong>s<br />
contradições sociais existentes e <strong>da</strong> luta para a construção <strong>de</strong> um projeto diferente <strong>de</strong><br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A criança <strong>de</strong> classes populares ou aquela que apresenta reais dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />
seu <strong>de</strong>senvolvimento, não é incapaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, mas sim está (por alguma razão)<br />
limita<strong>da</strong> em um processo <strong>de</strong> aprendizagem resultante <strong>de</strong> sua relação com o meio no qual<br />
vive (Dazzi, 2007).<br />
O Programa tem como objetivos principais:<br />
1. Prestar assessoria institucional às organizações e grupos ligados a educação<br />
formal e informal, bem como a gestores <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s, professores, pais e alunos.<br />
2. Realizar intervenções interdisciplinares com grupos <strong>de</strong> crianças e <strong>de</strong><br />
adolescentes narrados como não apren<strong>de</strong>ntes, com grupos <strong>de</strong> professores e <strong>de</strong><br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no programa incluem ações volta<strong>da</strong>s para a Escola,<br />
Famílias e formação <strong>de</strong> alunos <strong>da</strong> re<strong>de</strong> <strong>escola</strong>r do município <strong>de</strong> São Leopoldo. Os<br />
alunos são encaminhados pela <strong>escola</strong> e são atendidos em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s grupais/individuais<br />
e também é feito um trabalho com as professoras e equipe diretiva <strong>da</strong> <strong>escola</strong> visando a<br />
construção <strong>de</strong> uma nova forma <strong>de</strong> visão do aluno, não se restringindo à noção <strong>de</strong> que o<br />
problema está somente no aluno. O programa proporciona ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />
pe<strong>da</strong>gógico e psicológico aos professores e gestores <strong>de</strong> instituições educativas,<br />
<strong>de</strong>senvolve o processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem numa perspectiva cultural, visando a<br />
qualificação do aluno e produção <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Em relação às famílias, o programa tenta estabelecer vínculos que permitam a<br />
divulgação <strong>de</strong> informação sobre a educação dos filhos e inclusão no processo educativo<br />
16
como um todo, promovendo <strong>de</strong>bates sobre temas voltados para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
cognitivo, social, emocional e cultural dos filhos. Em relação às <strong>escola</strong>s, o programa<br />
promove o assessoramento quanto à política pe<strong>da</strong>gógica focalizando no<br />
autogerenciamento dos professores. As discussões curriculares são dirigi<strong>da</strong>s para<br />
questões <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, promovendo trocas pe<strong>da</strong>gógicas e <strong>de</strong> informações<br />
sobre o processo educativo dos alunos. O trabalho com crianças e adolescentes com<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>escola</strong>, seja pela dimensão cognitiva ou por questões interpessoais <strong>de</strong><br />
relacionamento e condutas violentas tem indicado que é necessária uma abor<strong>da</strong>gem<br />
complexa <strong>da</strong> compreensão dos diferentes <strong>fatores</strong> envolvidos no processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento individual. Assim, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as questões associa<strong>da</strong>s as<br />
crianças e adolescentes com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, é importante<br />
expandir nossa visão para a compreensão <strong>da</strong>quelas trajetórias <strong>de</strong> resiliência.<br />
Um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para o trabalho com crianças e adolescentes com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>escola</strong>res é que muitos <strong>de</strong>les terminam por abandonar a <strong>escola</strong>, principalmente ao redor<br />
do término <strong>da</strong> Etapa Fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> Ensino- em torno do início <strong>da</strong> adolescência. Desta<br />
maneira, tomando como foco um dos pontos do Projeto EDUCAS <strong>de</strong> incluir outras<br />
dimensões <strong>de</strong> inserção <strong>da</strong>s crianças e adolescentes com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res,<br />
trabalhando também a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r, este projeto focalizou na questão <strong>da</strong> prevenção<br />
do fracasso e <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r. Logo, a partir <strong>de</strong> uma parceria com o Programa <strong>de</strong> Pós-<br />
Graduação em Psicologia <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> elaborou-se o projeto <strong>de</strong> intervenção<br />
focalizando os aspectos <strong>de</strong> permanência dos alunos na <strong>escola</strong>.<br />
Contexto <strong>da</strong> pesquisa<br />
O Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia tem como área <strong>de</strong> concentração<br />
Psicologia Clínica. Organiza-se em duas Linhas <strong>de</strong> Pesquisa: “Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong><br />
Adolescência” e “Subjetivação Contemporânea e Práticas Clínicas”.<br />
Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Adolescência - Focaliza a compreensão <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong><br />
adolescência em diversos espaços e contextos, tais como o familiar, o <strong>escola</strong>r, o clínico,<br />
o jurídico, o <strong>da</strong>s políticas públicas, bem como o estudo <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção,<br />
prevenção, avaliação e intervenção psicoterápica frente às problemáticas relaciona<strong>da</strong>s à<br />
saú<strong>de</strong> mental <strong>da</strong> população infanto-juvenil.<br />
Subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Saú<strong>de</strong> Mental e Estados Psicopatológicos - Abrange o estudo<br />
do sofrimento psíquico e dos processos saú<strong>de</strong>-doença, <strong>de</strong> suas manifestações na<br />
contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, as vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>í <strong>de</strong>correntes, com base em diferentes<br />
17
concepções <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e em distintos referenciais teóricos e contextos <strong>de</strong><br />
intervenção.<br />
A concepção <strong>de</strong> “clínica” que sustenta o Programa e suas linhas <strong>de</strong> pesquisa é<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> uma perspectiva amplia<strong>da</strong>, não no sentido <strong>de</strong> uma subárea <strong>da</strong><br />
Psicologia, <strong>de</strong> uma especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> sua, mas no sentido <strong>de</strong> “clínica” como uma forma <strong>de</strong><br />
pensar, <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o comportamento e as manifestações <strong>de</strong><br />
vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e sofrimento psíquico, nos mais diversos âmbitos, e também enquanto<br />
forma <strong>de</strong> intervenção (Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico, 2005).<br />
Portanto, a experiência inovadora construí<strong>da</strong> e alicerça<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
ações diretas na <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> parceria do projeto EDUCAS com o Programa <strong>de</strong><br />
Pós- Graduação em Psicologia justificou o <strong>de</strong>senvolvido do projeto <strong>de</strong> pesquisa. A<br />
partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> resiliência, nosso foco <strong>de</strong> interesse foi conhecer as<br />
experiências <strong>de</strong> jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mantém nas trajetórias<br />
<strong>escola</strong>res e não <strong>de</strong>sertam.<br />
É importante <strong>de</strong>stacar que este projeto se insere na continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ações<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelo Projeto e o PPG em Psicologia. Esta possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> investigação<br />
realiza<strong>da</strong> na Escola Villa Lobos foi estabeleci<strong>da</strong> sobre um trabalho em re<strong>de</strong> que facilitou<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> intervenção na <strong>escola</strong>.<br />
Objetivos:<br />
• Desenvolver um programa <strong>de</strong> intervenção na <strong>escola</strong> dirigido à prevenção <strong>da</strong> <strong>evasão</strong><br />
<strong>escola</strong>r.<br />
• I<strong>de</strong>ntificar os <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> e <strong>de</strong> risco <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na faixa etária <strong>da</strong><br />
adolescência, consi<strong>de</strong>rando as características individuais dos jovens, as relações<br />
familiares, as relações na <strong>escola</strong> e as características do contexto <strong>escola</strong>r e<br />
comunitário.<br />
• Ampliar as ações educativas através do estabelecimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa<br />
focalizando a <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r.<br />
• Fortalecer o trabalho em equipe entre as diferentes instituições envolvi<strong>da</strong>s,<br />
incluindo a <strong>escola</strong>, os serviços estaduais e municipais e a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> (projeto<br />
EDUCAS).<br />
18
Cui<strong>da</strong>dos Éticos<br />
Além <strong>da</strong> autorização <strong>da</strong> <strong>escola</strong> para a realização do trabalho, a participação no estudo<br />
foi condiciona<strong>da</strong> ao consentimento dos pais ou responsável do adolescente obti<strong>da</strong><br />
através <strong>da</strong> assinatura do Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)<br />
elaborado conforme as diretrizes regulamentadoras <strong>de</strong> pesquisa envolvendo seres<br />
humanos, Resolução nº 196/96 do CNS, e aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>da</strong><br />
UNISINOS. Desta forma, os adolescentes e familiares foram informados do objetivo do<br />
trabalho e respeitados quanto ao interesse <strong>de</strong> participação na pesquisa, na<br />
confi<strong>de</strong>nciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s. No caso <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> <strong>de</strong> situação que<br />
envolva <strong>da</strong>no, risco ou <strong>de</strong>man<strong>de</strong> atendimento psicológico, os adolescentes serão<br />
encaminhados para o PAAS ou será acionado órgão responsável (Escola, Conselho<br />
Tutelar).<br />
ATIVIDADES<br />
Ao término dos 6 meses <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, realizamos ações em três contextos<br />
associados à promoção <strong>de</strong> inserção educacional e prevenção <strong>da</strong> <strong>evasão</strong>- PROJETO<br />
EDUCAS, PROJETO PAAS E ESCOLA VILA LOBOS. Ao estabelecermos uma<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> contato e ação entre diferentes organizações – universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>escola</strong> e serviços<br />
do município estamos <strong>de</strong>senvolvendo novas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção que se dão<br />
(1) tanto na dimensão <strong>da</strong> escuta <strong>da</strong>s diferentes situações envolvendo os profissionais<br />
<strong>de</strong>stas instituições (2) no estabelecimento <strong>de</strong> ações profissionais valorativas dos papéis<br />
pe<strong>da</strong>gógicas e (3) no rompimento <strong>de</strong> estereótipos <strong>de</strong> que alunos problemáticos não<br />
po<strong>de</strong>m modificar suas trajetórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Primeira Etapa<br />
Na primeira etapa do trabalho foram inicia<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nos três contextos <strong>de</strong><br />
trabalho. Ca<strong>da</strong> contexto manteve seu enfoque <strong>de</strong> ação, porém foram aprimora<strong>da</strong>s as<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s através <strong>da</strong> inclusão <strong>de</strong> propostas alternativas <strong>de</strong> ação educativa, tais como<br />
reuniões <strong>de</strong> trabalho coletivas que permitiram o planejamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Também<br />
foram propostas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais com o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto a ênfase <strong>da</strong>s<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s centrou-se no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> experiências educativas potencializadoras<br />
<strong>de</strong> novos aprendizados, inclusão e participação dos alunos.<br />
19
• No Projeto EDUCAS foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística cultural com<br />
alunos encaminhados por <strong>escola</strong>s do município com problemas <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong><br />
diversas or<strong>de</strong>ns. Esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> consistiu na realização <strong>de</strong> Oficinas <strong>de</strong> Criação <strong>de</strong><br />
Bonecos, as quais se <strong>de</strong>senrolaram por todo o semestre, semanalmente, envolvendo<br />
alunos e familiares, além <strong>da</strong> equipe muldisciplinar <strong>de</strong> trabalho (pe<strong>da</strong>goga, psicóloga).<br />
Ao todo foram realizados 10 encontros semanais com o grupo <strong>de</strong> crianças (média <strong>de</strong> 7 –<br />
10 alunos participantes). Estas oficinas ocorreram durante a tar<strong>de</strong>, em turno oposto ao<br />
<strong>escola</strong>r.<br />
A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> pelo Grupo <strong>de</strong> Teatro Criando Peça<br />
(www.criandopeca.com.br), o qual <strong>de</strong>senvolve peças <strong>de</strong> teatro infantis nas quais são<br />
utilizados bonecos na representação <strong>da</strong> história. Durante as oficinas, os alunos pu<strong>de</strong>ram<br />
ter a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer os bonecos pessoalmente, sendo orientados pelos integrantes<br />
do grupo. As etapas do trabalho incluíram o <strong>de</strong>senho, preparação do material e execução<br />
dos bonecos.<br />
A confecção dos bonecos teve um impacto muito gran<strong>de</strong> nas crianças que<br />
participaram com muito entusiasmo no projeto. Segundo a coor<strong>de</strong>nadora do programa, a<br />
proposta se caracterizou por uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oferecer às crianças a experiência <strong>de</strong><br />
um trabalho em conjunto, colaborativo e criativo. Experiências como estas transformam<br />
as trajetórias <strong>escola</strong>res dos alunos, ao permitir que alcancem com êxito a realização <strong>de</strong><br />
uma proposta.<br />
A pe<strong>da</strong>goga e psicóloga que acompanharam o <strong>de</strong>senvolvimento dos encontros<br />
observaram que a integração <strong>da</strong>s crianças foi muito boa e também a participação dos<br />
pais, trazendo os alunos para os encontros. Quando do último encontro, ao serem<br />
apresentados os bonecos, o grupo Pregandopeça sugeriu que em 2009 fosse realiza<strong>da</strong><br />
uma peça <strong>de</strong> teatro, monta<strong>da</strong> com os alunos.<br />
20
O registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s através <strong>da</strong>s fotos foi feito durante os grupos <strong>de</strong> trabalho e<br />
exemplificam o trabalho manual dos alunos e o resultado final dos bonecos.<br />
21
• No Projeto PAAS foram recebidos os alunos <strong>da</strong> Escola Vila Lobos que<br />
possuem história <strong>de</strong> violência familiar ou outras dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s emocionais. O<br />
atendimento no local consiste <strong>de</strong> avaliações psicológicas e encaminhamento para<br />
atendimento psicoterápico. Ao todo seis alunos foram encaminhados para o projeto.<br />
• Finalmente, na Escola Vila Lobos foram realiza<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com a direção, os<br />
professores, pais e familiares e os alunos, consistindo, este momento do projeto como a<br />
segun<strong>da</strong> etapa do trabalho. A Escola Estadual Villa Lobos está situa<strong>da</strong> em zona urbana<br />
do município <strong>de</strong> São Leopoldo/RS, funciona em dois prédios <strong>de</strong> alvenaria, com 12 salas<br />
<strong>de</strong> aula, sala <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, sala <strong>de</strong> informática, biblioteca, sala <strong>da</strong> direção, sala <strong>de</strong> supervisão<br />
pe<strong>da</strong>gógica, sala <strong>da</strong> secretaria, bar, refeitório, um palco aberto e local para jogos e<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas. Nesta <strong>escola</strong> constam 950 alunos matriculados, em parte provenientes<br />
<strong>de</strong> famílias em vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, distribuídos em três turnos, com cerca <strong>de</strong> 70<br />
24
professores, apresentando conteúdos educativos para o ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> séries<br />
iniciais e finais, ensino médio regular e na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> EJA.<br />
Segun<strong>da</strong> etapa<br />
Com objetivo <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ação direta na <strong>escola</strong> e para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do projeto investigativo, realizamos na <strong>escola</strong> Villa-Lobos as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisaintervenção<br />
volta<strong>da</strong>s para a compreensão <strong>da</strong>s trajetórias dos jovens em situação <strong>de</strong><br />
vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social a partir <strong>da</strong> visão <strong>de</strong> diferentes atores- Direção, equipe <strong>de</strong><br />
professores e técnicos e os alunos <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s realiza<strong>da</strong>s nestes três contextos correspon<strong>de</strong>ram às ações <strong>de</strong>linea<strong>da</strong>s<br />
pelos objetivos <strong>de</strong> trabalho conforme o <strong>de</strong>talhamento abaixo:<br />
• - Desenvolver um programa <strong>de</strong> intervenção dirigido à prevenção <strong>da</strong> <strong>evasão</strong><br />
<strong>escola</strong>r - as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s incluíram:<br />
1. reuniões com professores e técnicos <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Foram realiza<strong>da</strong>s oito reuniões com<br />
direção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e professores individualmente e duas reuniões gerais envolvendo<br />
to<strong>da</strong> a equipe, abor<strong>da</strong>ndo as temáticas relativas ao processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem,<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e vivências colaborativas <strong>da</strong> equipe na solução <strong>de</strong> problemas.<br />
A realização do projeto na <strong>escola</strong> envolveu um convívio semanal durante os seis<br />
meses <strong>de</strong> trabalho. Assim, durante dois dias na semana realizamos as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
acompanhamento dos alunos, reuniões <strong>de</strong> pais e professores e <strong>de</strong>mais encontros.<br />
Nos contatos com a equipe diretiva (diretor e vices-diretores) i<strong>de</strong>ntificamos nas<br />
falas sobre o processo educativo em geral que gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s<br />
restringem-se a resolver questões imediatas e urgentes sobre a administração <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />
Em função <strong>da</strong>s precárias condições do ensino, falta <strong>de</strong> professores, problemas <strong>de</strong> infraestrutura,<br />
gran<strong>de</strong> parte do trabalho orienta-se para a solução <strong>de</strong> problemas imediatos.<br />
“Hoje, estamos com falta <strong>de</strong> professores em várias turmas e não temos<br />
infraestrutura para aten<strong>de</strong>r aos alunos <strong>de</strong>stas turmas, teremos que liberá-los para<br />
retornar para casa. Me preocupa que irão sozinhos para casa, passando por bairros<br />
perigosos (administrador)”.<br />
Nas reuniões com os professores, observamos pouco apoio institucional,<br />
financeiro, e <strong>de</strong> suporte emocional aos docentes. O relato coletivo nas reuniões refere-se<br />
25
às dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s em sala <strong>de</strong> aula para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos maiores<br />
ou modificações no ambiente basea<strong>da</strong>s em ações planeja<strong>da</strong>s pelo grupo.<br />
Ain<strong>da</strong> assim, foi possível i<strong>de</strong>ntificar iniciativas individuais <strong>da</strong> direção, como<br />
formar parcerias para vencer alguns dos obstáculos vivenciados ( falta <strong>de</strong> alimentação<br />
no domicílio do aluno, falta <strong>de</strong> dinheiro para passagem, falta <strong>de</strong> material <strong>escola</strong>r básico,<br />
ausencia ocasional <strong>de</strong> professores e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço psicológico), soma<strong>da</strong>s a<br />
participação <strong>de</strong> alguns professores. Estas iniciativas permitiam ao aluno ter um senso <strong>de</strong><br />
<strong>proteção</strong> e acolhi<strong>da</strong> no ambiente <strong>escola</strong>r, que estão além do processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagem.<br />
Exemplificando- Uma professora do Ensinos Fun<strong>da</strong>mental fez convites aos pais e<br />
responsáveis <strong>de</strong> alunos <strong>da</strong> 3ª. e 4ª. série do ensino fun<strong>da</strong>mental para participarem na sala<br />
<strong>de</strong> aula, incentivando e aju<strong>da</strong>ndo seus filhos em suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e felicitando-os pelos<br />
seus sucessos. Segundo ela, a importância <strong>da</strong><strong>da</strong> ao ensino pelos pais fortalece o vínculo<br />
do aluno com a <strong>escola</strong> e funciona como fator <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> a <strong>evasão</strong>. A proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />
pais com a <strong>escola</strong> evita que a situação do aluno se torne crítica, pois as intervenções são<br />
imediatas.<br />
Por que iniciativas como esta não são dissemina<strong>da</strong>s em outras séries?<br />
Nas reuniões com os professores, observamos que o espaço <strong>de</strong> trabalho volta-se<br />
essencialmente para a exposição <strong>de</strong> suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Isto é, as reuniões funcionam<br />
como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> extravasar os problemas, sem que haja um direcionamento para<br />
um planejamento organizado do que po<strong>de</strong>ria ser feito. Durante as reuniões, ocorrem<br />
inúmeras interrupções <strong>de</strong> funcionários e outros professores que trazem situações<br />
urgentes que necessitam ser resolvi<strong>da</strong>s e que acabam divergindo o an<strong>da</strong>mento do<br />
trabalho. Predomina, portanto, uma atmosfera <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo insitucional que abarca<br />
todo o discurso dos participantes, engolfando-os numa atmosfera <strong>de</strong> estar travando uma<br />
batalha interminável.<br />
Algumas <strong>da</strong>s verbalizações dos professores sintetizam a percepção sobre o papel<br />
<strong>da</strong> <strong>escola</strong> e as condições <strong>de</strong> trabalho.<br />
“Não temos como competir com a rua, eles têm uma vi<strong>da</strong> muito difícil, convivem<br />
com a violência, passam necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s...Quando chegam na aula, é complicado, não<br />
respeitam, falam, fazem bagunça...é difícil <strong>de</strong> controlar...”<br />
26
“ Faço o que posso, tento <strong>da</strong>r aula e me esforço, mas a tarefa é muito<br />
cansativa..”<br />
“ Nós, os professores, não somos valorizados pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ganhamos pouco e<br />
as <strong>escola</strong>s não recebem na<strong>da</strong> <strong>de</strong> apoio. Quando tentamos que os pais venham, só<br />
aparecem uns poucos...Eles não se interessam pelos filhos, a <strong>escola</strong> é que educa as<br />
crianças e não os pais...”<br />
Qual lugar que a <strong>escola</strong> ocupa na vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>les, eles po<strong>de</strong>m se envolver com drogas<br />
e vão ter mais dinheiro que empregos?<br />
Ain<strong>da</strong> assim, foi interessante notar que existem ações pro-ativas e que passam sem<br />
a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> valorização. Por exemplo, sempre que o aluno não comparece à aula, um<br />
serviço realizado pela <strong>escola</strong> <strong>de</strong> consulta à família dos motivos <strong>de</strong>sta ausência é<br />
acionado. A <strong>escola</strong> <strong>de</strong>monstra preocupação com o aluno face a violência urbana, <strong>de</strong><br />
modo que notifica a família, caso o aluno tenha saído <strong>de</strong> casa e não esteja na <strong>escola</strong>. Da<br />
mesma foram, em questão <strong>de</strong> segurança, sempre que necessário (briga <strong>de</strong> gangues) a<br />
<strong>escola</strong> solicita a Briga<strong>da</strong> Militar um guar<strong>da</strong>, com carater apenas ostensivo, para <strong>proteção</strong><br />
dos alunos na saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />
Outra situação marcante foi o envolvimento com a gravi<strong>de</strong>z precoce <strong>de</strong> uma<br />
aluna <strong>de</strong> 13 anos cuja família estava envolvi<strong>da</strong>s com tráfico <strong>de</strong> drogas. A menina<br />
procurou a <strong>escola</strong> temendo pela reação dos pais. Através <strong>de</strong> iniciativas individuais foi<br />
possível aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s do caso, ain<strong>da</strong> que a <strong>escola</strong> careça <strong>de</strong> um planejamento e<br />
suporte do sistema <strong>de</strong> assistência social do munícipio, nestes casos.<br />
27
Verificamos, neste sentido, que os professores e a equipe diretiva realizam<br />
constantemente ações cotidianas não formais, as quais não são reconheci<strong>da</strong>s com o<br />
<strong>de</strong>vido valor. Estas ações envolveram, como mencionado anteriormente,<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos com os alunos, envolvimento com os pais e atenção às<br />
situações <strong>de</strong> maior vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nossa intervenção na <strong>escola</strong> através <strong>da</strong> presença dos<br />
técnicos e do trabalho com os alunos foi percebi<strong>da</strong> como uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão<br />
sobre estas questões.<br />
O envolvimento <strong>da</strong> equipe diretiva com as ações do projeto e as verbalizações<br />
acerca <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> inovadora realiza<strong>da</strong> indicaram que as intervenções trouxeram um<br />
auxílio importante para o trabalho educativo. Especificamente, este apoio manifestou-se<br />
pela organização espontanea <strong>de</strong> uma sala reserva<strong>da</strong> para a execução do projeto, a<br />
presença em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> equipe diretiva e por verbalizações sobre a<br />
importância e o impacto positivo que o trabalho alcançou junto aos alunos.<br />
1. reuniões gerais <strong>da</strong> <strong>escola</strong> (pais e professores). Foram realiza<strong>da</strong>s três<br />
reuniões <strong>de</strong> pais e professores, quando foram também <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />
dinâmicas <strong>de</strong> integração e discussão.<br />
Acolhi<strong>da</strong> e Dinâmica <strong>de</strong> Integração e Senso <strong>de</strong> Coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Numa <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com os pais e alunos, <strong>de</strong>senvolvemos uma dinâmica <strong>de</strong><br />
integração conforme a <strong>de</strong>scrição abaixo.<br />
28
As mães (22) e um pai (1), com alunos (22) <strong>da</strong> 3ª, 4ª, 5ª e 6ª séries do Ensino<br />
Fun<strong>da</strong>mental, turno <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, foram acolhidos pelo diretor, vice-diretora e pela estágiária<br />
<strong>de</strong> psicologia <strong>da</strong> UNISINOS. Foi coloca<strong>da</strong> a importância <strong>da</strong> presença dos pais e <strong>da</strong><br />
experiência <strong>de</strong> integração com a <strong>escola</strong>, bem como <strong>da</strong> expectativa <strong>de</strong> melhorias no<br />
aproveitamento <strong>escola</strong>r dos alunos com esta iniciativa. A seguir, foram apresenta<strong>da</strong>s as<br />
colaboradoras nesta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, três alunas <strong>da</strong> UNISINOS e a palestrante.<br />
A dinâmica teve o seguinte <strong>de</strong>senvolvimento; estando reunidos, mães, pai, alunos<br />
e colaboradoras foi solicitado que, voluntariamente, se apresentassem para a dinâmica,<br />
dois representantes com seus filhos, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> série, num total <strong>de</strong> 16 pessoas.<br />
Instruções: Dispostos em círculo, lado a lado, na mão direita ca<strong>da</strong> pessoa<br />
segurou um bastão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Dado um sinal, ca<strong>da</strong> um soltará seu bastão, e tentará<br />
pegar o bastão <strong>da</strong> pessoa a sua direita antes que este caia no chão. Foi feita uma<br />
<strong>de</strong>monstração e em segui<strong>da</strong> começou a dinâmica.<br />
Na primeira oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, vários bastões caíram no chão. Na segun<strong>da</strong> e terceira o<br />
esforço foi maior, mesmo assim houve que<strong>da</strong> dos bastões. Como po<strong>de</strong>ria ter melhor<br />
aproveitamento para não <strong>de</strong>ixarem os bastões cair ao chão? As respostas foram:<br />
conversar, mu<strong>da</strong>r a posição do bastão, controlar melhor, não largar <strong>de</strong> qualquer jeito o<br />
bastão, pedir gentilmente o bastão do colega ao lado, se concentrar. Mais duas<br />
repetições e, todos do grupo conseguiram alcançar o bastão ao lado, com o grupo<br />
aproximando-se um pouco mais.<br />
Lançou-se para grupo que realizou a dinâmica e para o grupo que assistiu uma<br />
pergunta sobre o que esta tarefa significou para eles? Para o grupo <strong>da</strong> dinâmica a<br />
preocupação foi mais com a tarefa, como organizar-se para não <strong>de</strong>ixar cair o bastão. O<br />
grupo assistente percebeu que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos um do outro para alcançar nossos objetivos.<br />
Foi, então, complementado pela coor<strong>de</strong>nação a importância <strong>da</strong> comunicação no grupo,<br />
enfatizando-se que o aprendizado é um esforço conjunto. Esta é a razão do convite aos<br />
pais, juntos po<strong>de</strong>remos produzir melhores resultados nas relações <strong>escola</strong>res e familiares,<br />
bem como melhor aproveitamento <strong>escola</strong>r e menor <strong>evasão</strong>, um dos problemas mais<br />
sérios <strong>de</strong> nosso sistema educacional.<br />
Palestra sobre Práticas Parentais<br />
Na seqüência, foram separados os alunos e iniciou-se a palestra <strong>da</strong> Dra Juliana<br />
sobre: Estilos parentais e sua associação ao <strong>de</strong>sempenho <strong>escola</strong>r do aluno. A palestra<br />
29
teve como enfoque o envolvimento dos pais, a violência na <strong>escola</strong>, situação <strong>de</strong> <strong>evasão</strong><br />
<strong>escola</strong>r e o <strong>de</strong>sempenho acadêmico dos alunos.<br />
A atenção com que os pais acompanharam esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, através <strong>de</strong> perguntas,<br />
tais como “Não bato no meu filho mas coloco num canto para pensar sobre o que fez,<br />
isto está certo?” ou “ Meu filho não me obe<strong>de</strong>ce? “ <strong>de</strong>monstraram a empatia com o<br />
tema e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ratificar ou corrigir algumas práticas realiza<strong>da</strong>s.<br />
Uma mãe relatou, durante a palestra, que utiliza o castigo para educar. Coloca a<br />
filha <strong>de</strong> 3 anos na ca<strong>de</strong>irinha para pensar e com o filho adolescente ela retira passeios e<br />
coisas que ele gosta <strong>de</strong> fazer. A Dra Juliana aproveitou esta verbalização para ressaltar<br />
que jamais se usa força física e que o filho espera carinho e amor todos os dias<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos seus comportamentos, concor<strong>da</strong>ndo com a prática <strong>da</strong> mãe em privar<br />
os filhos quando algo não está correto. Enfatizou a importância do envolvimento dos<br />
pais nas tarefas <strong>escola</strong>res do filho, insistindo que este é um processo contínuo,<br />
resultando em melhor aproveitamento <strong>escola</strong>r e diminuindo a <strong>evasão</strong>.<br />
Pelas perguntas dos pais foi possível perceber que o “o papel parental” per<strong>de</strong>u a<br />
referência no sentido <strong>de</strong> que os pais sentem-se ineficientes perante as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />
relacionamento com os filhos. Uma análise mais particulariza<strong>da</strong> indica que as funções<br />
parentais são percebi<strong>da</strong>s como ineficazes frente às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos filhos adolescentes.<br />
“Como fazer para cui<strong>da</strong>r dos filhos?” Entretanto, há um espaço importante <strong>de</strong><br />
motivação e interesse pelo grupo <strong>de</strong> pais em apreen<strong>de</strong>r. Neste sentido, os participantes<br />
avaliaram a reunião positivamente e sugeriram a criação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> pais para<br />
po<strong>de</strong>rem dispor <strong>de</strong> um local on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem levar suas dúvi<strong>da</strong>s. Havia um sentimento<br />
geral <strong>de</strong> que necessitavam <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> apoio.<br />
Ao final <strong>da</strong> palestra, agra<strong>de</strong>ceu-se a presença dos pais e <strong>de</strong>stacou-se a idéia <strong>de</strong><br />
realizar um trabalho compartilhado na educação dos filhos entre a família, o aluno e a<br />
<strong>escola</strong>, reafirmando a importância <strong>de</strong> continuar o trabalho no próximo ano. Algumas<br />
mães já manifestaram interesse para participação no ano <strong>de</strong> 2009, do grupo <strong>de</strong><br />
familiares dos alunos. Uma salva <strong>de</strong> palmas foi a maneira gentil <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a<br />
participação <strong>da</strong> palestrante e <strong>de</strong>mais colaboradoras. Após os participantes foram<br />
confraternizar, <strong>de</strong>sfrutando <strong>de</strong> um singelo lanche.<br />
2. modificações no ambiente <strong>escola</strong>r, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> teatro, música e<br />
filmagem envolvendo todos os alunos. Esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi realiza<strong>da</strong> através <strong>de</strong> dinâmicas<br />
<strong>de</strong> discussão e <strong>de</strong>bates entre os alunos, além <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> bonecos <strong>de</strong> teatro.<br />
30
-confraternizações: Nos encontros com pais, alunos e professores realizamos<br />
momentos <strong>de</strong> confraternização. Diversos pais e responsáveis mantinham uma atitu<strong>de</strong><br />
colaborativa, discutindo os comportamentos e atitu<strong>de</strong>s apropria<strong>da</strong>s para seus filhos.<br />
Vários, além <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>r a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, solicitava a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stes eventos.<br />
- posters com frases: Para recepção dos alunos no novo semestre foram<br />
elaborados posters <strong>de</strong> motivação e perseverança na <strong>escola</strong>, alusivos aos 50 anos do<br />
Villa Lobos.<br />
- pintura <strong>da</strong> parte interna: Os corredores <strong>de</strong> tijolo à vista, eram escuros,<br />
<strong>de</strong>ixando o lugar lúgubre. Para iluminar o ambiente e colori-lo foram usa<strong>da</strong>s tinta<br />
laranja claro e azul, melhorando consi<strong>de</strong>ravelmete o bem estar.<br />
- Elaboração <strong>de</strong> slogan: Em uma <strong>da</strong>s reuniões com professores e alunos foi<br />
proposto a escolha <strong>de</strong> um slogan para a <strong>escola</strong> que comemorava 50 anos. Foram<br />
organizados 6 grupos <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 20 alunos do Ensino Médio, divididos por<br />
cores. Ca<strong>da</strong> grupo discutiu e elaborou um slogan. As seis frases foram apresenta<strong>da</strong>s aos<br />
<strong>de</strong>mais alunos em salas <strong>de</strong> aula, no turno <strong>da</strong> manhã e tar<strong>de</strong>, sendo a mais vota<strong>da</strong><br />
escolhi<strong>da</strong> para o slogan. O slogam escolhido foi “ Villa Lobos, 50 anos Educando<br />
Gerações”.<br />
Além <strong>de</strong> marcar e solenizar o aniversário <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, as frases compostas<br />
<strong>de</strong>monstravam que os alunos tinham apego ao ambiente <strong>escola</strong>r.<br />
3. disponibilização <strong>de</strong> atendimento psicológico para os alunos que<br />
apresentassem <strong>de</strong>man<strong>da</strong> na clínica-<strong>escola</strong> <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>- PAAS.<br />
A <strong>escola</strong>, em parceria com o projeto Evasão e <strong>Resiliência</strong> <strong>escola</strong>r, ofereceu<br />
durante este período a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> entrevista <strong>de</strong> acolhimento com bolsista do<br />
projeto e caso algum aluno apresentasse sintomas que pu<strong>de</strong>ssem ser consi<strong>de</strong>rados<br />
psicopatológicos eram, então, enviados para psicodiagnóstico e tratamento na clínica<strong>escola</strong><br />
<strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>- PAAS. Alguns dos casos foram <strong>de</strong> um aluno (dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprendizado e possível <strong>de</strong>pressão) e uma aluna (grávi<strong>da</strong>, 15 anos, alterações <strong>de</strong> humor e<br />
agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />
semestre.<br />
4. Estabelecimento <strong>de</strong> contato com os alunos que abandonarem o<br />
31
Foram realiza<strong>da</strong>s 60 entrevistas com alunos em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e com<br />
10 alunos em vias <strong>de</strong> abandono e fracasso <strong>escola</strong>r, durante o primeiro semestre na<br />
Escola Villa Lobos. Estes alunos eram encaminhados pelos professores/direção, ou por<br />
procura espontanea. As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s foram basicamente <strong>de</strong> escuta,<br />
organização, orientação e em alguns casos <strong>de</strong> encaminhamento para atendimento<br />
psicológico. Na maioria <strong>da</strong>s vezes, a entrevista com ocorria somente com o aluno e em<br />
alguns casos com um familiar, numa média <strong>de</strong> três encontros.<br />
Deste grupo, 26 alunos em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e em vias <strong>de</strong> abandono e<br />
fracasso <strong>escola</strong>r apresentavam um aproveitamento abaixo <strong>da</strong> média (com 5 ou mais<br />
disciplinas não atingindo a média necessária). Ao final do ano, <strong>de</strong>stes 26 alunos,<br />
<strong>de</strong>zessete conseguiram reverter a situação e obtiveram aprovação final, perfazendo um<br />
percentual <strong>de</strong> 65,38% <strong>de</strong> aproveitamento. Nove alunos foram reprovados (34,6%).<br />
Alguns comentários relatos durante as entrevistas com os alunos:<br />
“Não tenho fome, tomo um café bebido, e venho à <strong>escola</strong>” “Não consigo estu<strong>da</strong>r<br />
em casa, só durmo” ( aluno, 13 anos)<br />
“Diz que os pais brigam muito, ele tem dor <strong>de</strong> cabeça e quer ficar em casa”.<br />
“Tem medo que eles se separem”(aluno, 11 anos).<br />
“A mãe e o pai trabalham fora e eu preciso cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> minha irmã (4 anos),<br />
limpar e cozinhar( aluno com 15 anos).<br />
“ Vou na psicóloga e já estou melhorando” Não posso ver meus pais com<br />
tamanho sofrimento” (aluna, 14 anos participação em Torci<strong>da</strong> e colegas drogados)<br />
anos)<br />
“Foi legal conversar contigo, posso indicar a minha colega <strong>de</strong> sala” (aluna, 14<br />
“Não gosto <strong>de</strong> como os colegas me chamam” “Ninguém quer brincar<br />
comigo”(aluno, 13 anos).<br />
“Agora ela está me intimando para briga, diz que vai me fazer sair <strong>da</strong> <strong>escola</strong>”<br />
(aluna, 12 anos).<br />
“Todo mundo faz o que eu faço, só <strong>de</strong> mim a professora reclama” (aluno, 16<br />
anos).<br />
32
“Minha mãe, na frente dos outros, parece um anjo, mas é muito falsa” (aluna, 16<br />
anos).<br />
“ Meu pai é agressivo, batia na mãe, estão separados” “Hoje a mãe tem muitos<br />
namorados, a gente sai durante a semana para <strong>da</strong>nçar” (aluna,16 anos).<br />
Nas entrevistas com os pais i<strong>de</strong>ntificamos problemas associados a conflitos<br />
familiares, situações <strong>de</strong> violência, abuso <strong>de</strong> substância e problemas econômicos graves.<br />
Estas questões impactavam diretamente na manutenção <strong>de</strong> uma coesão familiar, sendo<br />
os papeis parentais quase ausentes. Em geral, os pais entrevistados relataram que vêem<br />
muito pouco aos filhos, pois trabalham o dia inteiro. Somente à noite conversam um<br />
pouco, porém não há possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um acompanhamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos filhos<br />
tanto na <strong>escola</strong> como em casa. Esta falta <strong>de</strong> organização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> familiar era evi<strong>de</strong>nte<br />
pelo estresse dos pais.<br />
• I<strong>de</strong>ntificar os <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> e <strong>de</strong> risco <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na faixa etária <strong>da</strong><br />
adolescência, consi<strong>de</strong>rando as características individuais dos jovens, as relações<br />
familiares, as relações na <strong>escola</strong> e as características do contexto <strong>escola</strong>r e comunitário.<br />
Foram realizados 5 grupos focais com os jovens discutindo a questão Por que<br />
venho à <strong>escola</strong>? Os grupos foram formados com alunos do Ensino Médio que<br />
freqüentam regularmente a <strong>escola</strong>, sendo compostos por 12- 15 alunos. Ca<strong>da</strong> integrante<br />
do grupo expressou livremente sua opinião sobre porque permaneciam na <strong>escola</strong>. A<br />
partir <strong>da</strong>s falas dos alunos, estabelecemos categorias básicas <strong>de</strong> análise referentes às<br />
situações i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s como promotoras ou <strong>de</strong> risco para a permanência do jovem na<br />
<strong>escola</strong>. O quadro abaixo apresenta as “uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s” mais freqüentes em ca<strong>da</strong> grupo.<br />
Segundo Flick (2004), após a obtenção <strong>da</strong> narrativa, realiza-se a subdivisão do texto em<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s experimentais ou função-chave, que posteriormente permitirão a interpretação<br />
dos <strong>da</strong>dos. Estas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>m à forma espontânea dos jovens <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver<br />
suas crenças e opiniões sobre a vin<strong>da</strong> à <strong>escola</strong>.<br />
33
Quadro 1- Síntese <strong>da</strong>s narrativas<br />
Fatores <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> Fatores <strong>de</strong> risco<br />
Grupo 1 Futuro melhor<br />
Parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para<br />
Ser diferente dos outros trabalhar.<br />
(que pararam <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r) Vários colegas pararam<br />
Indignação com famílias<br />
que fazem os filhos<br />
trabalhar<br />
Facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r por problemas<br />
financeiros<br />
Grupo 2 Ser alguém na vi<strong>da</strong><br />
Obrigado a vir pelos pais<br />
Estu<strong>da</strong>r<br />
Futuro melhor<br />
Vem porque quer<br />
Grupo 3 Dúvi<strong>da</strong>s quanto ao<br />
continuar a estu<strong>da</strong>r<br />
Fazer facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Futuro melhor<br />
Ser diferente <strong>da</strong>s pessoas<br />
Grupo 4 Vir pela meren<strong>da</strong><br />
Obrigado a vir pelos pais<br />
Namorado<br />
Futuro melhor<br />
Jogar futebol<br />
Para não ficar em casa<br />
com os pais<br />
Grupo 5 Futuro melhor<br />
Ser alguém na vi<strong>da</strong><br />
Conseguir um emprego<br />
Garotas<br />
34<br />
Amigos pararam <strong>de</strong><br />
estu<strong>da</strong>r para trabalhar<br />
Cansativo trabalhar e<br />
estu<strong>da</strong>r<br />
Falta <strong>de</strong> interesse<br />
Parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para<br />
trabalhar<br />
Três adolescentes com<br />
irmão que pararam <strong>de</strong><br />
estu<strong>da</strong>r<br />
Ro<strong>da</strong>r <strong>de</strong> ano<br />
A permanência na <strong>escola</strong> está vincula<strong>da</strong> à obtenção <strong>de</strong> um emprego-futuro<br />
melhor. A noção <strong>de</strong>ste futuro atrela-se fun<strong>da</strong>mentalmente à noção <strong>de</strong> emprego/trabalho.
A gente tem que vir à <strong>escola</strong> se quiser ter um emprego melhor. Se começar a<br />
trabalhar agora, é muito difícil conseguir alguma coisa melhor. Tem muita gente que<br />
parou no ano passado porque teve que ganhar dinheiro (estu<strong>da</strong>nte).<br />
Eu acho que para ser alguém na vi<strong>da</strong>, tem que estu<strong>da</strong>r. (Alguém, como assim?)<br />
Para po<strong>de</strong>r ter uma casa, um emprego e po<strong>de</strong>r trabalhar...não ficar fazendo bicos e<br />
qualquer coisa....(estu<strong>da</strong>nte).<br />
Poucos alunos falaram em <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao estudo e entrar na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eu<br />
não sei o que fazer, mas queria ir para a facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, para a Unisinos (estu<strong>da</strong>nte).<br />
Surgiram também manifestações <strong>de</strong> vir à <strong>escola</strong> por obrigação- os pais man<strong>da</strong>m<br />
ou obrigam o adolescente a continuar os estudos, ain<strong>da</strong> que eles próprios não tenham<br />
bem claro o porquê.<br />
“Meus pais fazem eu vir e não querem que eu pare, é só por obrigação”<br />
Finalmente, em menor freqüência, porém presentes, alguns alunos manifestaram<br />
vir à <strong>escola</strong> pela alimentação e pela oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> socialização. É o lugar para a<br />
gente comer, não?!<br />
Em relação à <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r, o ingresso no mundo do trabalho por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
financeiras foi a manifestação presente em quase todos os grupos.<br />
“ O meu amigo parou <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r no ano passado para trabalhar <strong>de</strong> dia e aju<strong>da</strong>r<br />
em casa, ...ele precisava, né, ...Depois, ele po<strong>de</strong> tentar <strong>de</strong> novo, quando as coisas<br />
melhorarem..”<br />
“ A minha irmã parou porque ela queria coisas para ela, comprar as<br />
coisas...Achou que era melhor, porque ela estava muito atrasa<strong>da</strong> na <strong>escola</strong>...”<br />
35
Discussão dos <strong>da</strong>dos<br />
Para a compreensão do material i<strong>de</strong>ntificado no período <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>stacamos as<br />
principais situações i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s nas falas e manifestações ocorri<strong>da</strong>s durante o trabalho.<br />
Tomando como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> a intervenção realiza<strong>da</strong> na <strong>escola</strong>, incluímos uma<br />
avaliação <strong>da</strong> principal contribuição <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> realiza<strong>da</strong>, culminando a análise<br />
pela focalização nas falas dos alunos realiza<strong>da</strong>s no grupo focal.<br />
Assim, para a organização <strong>de</strong>ste material, agrupamos a contribuição <strong>de</strong> três<br />
contextos – ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNOS e <strong>de</strong>stacamos as principais contribuições<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um. A seguir, os <strong>da</strong>dos observados nestes três contextos foram categorizados<br />
nos níveis ecológicos <strong>de</strong> inserção e influências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano, mo<strong>de</strong>lo<br />
proposto por Bronfenbrenner. Este mo<strong>de</strong>lo ecológico leva em conta as múltiplas<br />
influências do ambiente sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo durante seu tempo <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong> (Bronfenbrenner, 2002), levando em conta os aspectos relativos à pessoa<br />
(características físicas, biológicas e emocionais), ao processo (como a experiência é<br />
vivencia<strong>da</strong>) e o tempo (meio-ambiente). Esta análise do contexto se dá através <strong>de</strong><br />
sistemas que se sobrepõem: a) Microssistema: é um padrão <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, papéis e<br />
relações interpessoais, num ambiente específico; b) Mesossistema: inclui as interrelações<br />
entre dois ou mais ambientes no qual a pessoa em <strong>de</strong>senvolvimento participa<br />
ativamente (<strong>escola</strong>, amigos, trabalho e vi<strong>da</strong> social); c) Exossistema: refere-se a um ou<br />
mais ambientes que não envolve a pessoa em <strong>de</strong>senvolvimento como um participante<br />
ativo (trabalho dos pais, amigos dos pais); e d) Macrossistema: cultura, crenças e<br />
i<strong>de</strong>ologias.<br />
Neste sentido, uma análise ecológica do <strong>de</strong>senvolvimento emocional <strong>de</strong>ve levar<br />
em consi<strong>de</strong>ração as características <strong>da</strong>s pessoas (características biológicas,<br />
comportamentos sociais e cognições), do contexto e a dinamici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça ao<br />
longo do tempo. Esta dinamici<strong>da</strong><strong>de</strong> faz com que as interações sociais, bem como<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> professores e <strong>de</strong> outros pares na <strong>escola</strong>, afetem o senso <strong>de</strong> pertencimento e<br />
<strong>de</strong> equilíbrio social <strong>da</strong>s pessoas, sua visão <strong>da</strong>s normas grupais e seu auto-conceito.<br />
37
ESCOLA<br />
O que disseram professores, a equipe diretiva e os alunos nestes seis meses <strong>de</strong><br />
convivência? Ain<strong>da</strong> que apresentassem especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as falas expressas pelos<br />
professores po<strong>de</strong>riam ser compreendi<strong>da</strong>s como questões relativas a dúvi<strong>da</strong>s sobre a<br />
própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa e conseqüente capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> transformativa <strong>da</strong>s trajetórias<br />
dos alunos em geral.<br />
Que lugar ocupamos na vi<strong>da</strong> dos nossos alunos? As verbalizações dos<br />
professores acerca <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> ensino eram fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em sentimentos <strong>de</strong> que a sala<br />
<strong>de</strong> aula é um <strong>de</strong>safio para o qual eles sentem-se freqüentemente <strong>de</strong>spreparados e<br />
<strong>de</strong>sapoiados para enfrentar. Percebem que a <strong>escola</strong> enfrenta dilemas face à precarie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> recursos e à impotência <strong>de</strong> transformar tanto o espaço educativo como a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong> dos alunos. Percebem-se como tendo sido preparados para um projeto educativo<br />
que se tornou obsoleto para aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos alunos, principalmente <strong>da</strong>queles<br />
alunos em situação <strong>de</strong> pobreza. Como fazer frente ao tráfico <strong>de</strong> drogas, à violência e<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares? Em função disto, o professor ingressa no discurso <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>samparo e reproduz em suas práticas diárias este processo. Há uma repetição <strong>de</strong><br />
frases e comentários sobre o não aprendizado dos alunos, sobre a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
transformar o ensino, sobre o fracasso <strong>escola</strong>r, <strong>de</strong>ntre outros.<br />
Ain<strong>da</strong> assim, observamos que apesar <strong>de</strong> expressarem uma percepção <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>spreparo os professores mantinham-se presentes, estavam lá, planejando, conversando<br />
e discutindo as situações que se apresentavam. O que fazer com a aluna que está<br />
grávi<strong>da</strong> e só tem 13 anos? Como falar com a família se o pai é traficante e ameaça a<br />
menina? Estas questões se fossem únicas já causariam espanto, entretanto, eram<br />
corriqueiras. Desafiavam a escuta <strong>de</strong> todos, mas clamavam uma resposta. E apesar <strong>de</strong><br />
to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a <strong>escola</strong> conseguiu se organizar através do apoio <strong>da</strong>do a um<br />
professor o qual, por sua vez, estabeleceu uma relação com a família. Portanto, uma<br />
resposta foi <strong>da</strong><strong>da</strong>, uma transformação foi feita e uma menina foi acolhi<strong>da</strong> em sua<br />
situação <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Este exemplo <strong>de</strong>monstra a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa <strong>de</strong> professores que<br />
li<strong>da</strong>m com situações <strong>de</strong> extrema vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>vem utilizar-se, muitas vezes, <strong>de</strong><br />
recursos criativos para manter uma postura ética e respeitosa frente a si mesmos, suas<br />
crenças e frente a seus alunos.<br />
O processo educativo com grupos vulneráveis, com pouco apoio e suporte público<br />
coloca <strong>de</strong>safios importantes para o trabalho pe<strong>da</strong>gógico. A figura do professor-<br />
38
educador, além <strong>de</strong> ser modifica<strong>da</strong> por transformações contemporâneas na própria<br />
concepção sobre o processo <strong>de</strong> aprendizagem em geral, sobre o lugar <strong>da</strong> <strong>escola</strong> na<br />
contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e nas relações humanas em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s marca<strong>da</strong>s pelo incentivo ao<br />
consumo rápido e imediato é cobra<strong>da</strong> para aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s muitas vezes aquém <strong>de</strong><br />
suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais vulneráveis econômica e socialmente, há<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> carências <strong>de</strong> investimentos na educação como um todo. Isto<br />
torna o processo educativo ain<strong>da</strong> mais complexo e difícil para todos os envolvidos.<br />
No sistema <strong>escola</strong>r em geral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> situações políticas com mu<strong>da</strong>nças nas<br />
diretrizes educativas conforme a Administração do período, o pouco investimento<br />
fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, as falhas graves <strong>de</strong> infra-estrutura nas <strong>escola</strong>s (material<br />
pe<strong>da</strong>gógico, recursos em geral, condições dos prédios) são elementos que contribuem<br />
para as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no trabalho. No microcosmo <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, estes aspectos reverberam<br />
trazendo uma sobrecarga na equipe diretiva que se vê frente à tarefa <strong>de</strong> administrar<br />
recursos humanos e financeiros precários. Por último, na sala <strong>de</strong> aula, o professor se<br />
<strong>de</strong>screve como “<strong>de</strong>samparado”. Observa-se, assim, o surgimento <strong>de</strong> um círculo vicioso<br />
no qual todo o sistema funciona responsabilizando a outro componente do processo<br />
como origem <strong>de</strong> suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e neste enca<strong>de</strong>amento o elo final é o aluno que<br />
termina numa posição mais frágil.<br />
Entretanto, verificamos que dos 60 alunos atendidos em entrevistas individuais<br />
em uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Projeto e que haviam sido i<strong>de</strong>ntificados como em situação <strong>de</strong><br />
extrema vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para o abandono, 26 <strong>de</strong>les encontravam-se com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>escola</strong>res importantes quando do início do trabalho na <strong>escola</strong>. Através do<br />
acompanhamento realizado durante o projeto fizemos uma comparação entre as médias<br />
obti<strong>da</strong>s no segundo semestre e as médias no terceiro (ao final <strong>da</strong> intervenção) neste<br />
grupo <strong>de</strong> alunos. Observamos que somente 9 alunos que iniciaram o acompanhamento<br />
permaneceram com as médias insuficientes, sendo que os <strong>de</strong>mais recuperaram seu<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>escola</strong>r!<br />
Ain<strong>da</strong> que cientes <strong>da</strong>s limitações <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem quantitativa <strong>de</strong> avaliação,<br />
utilizamos este critério para compreen<strong>de</strong>r como os alunos i<strong>de</strong>ntificados como mais<br />
problemáticos pelos professores seriam impactados pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ofereci<strong>da</strong> <strong>de</strong> um<br />
espaço <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong> suas histórias e <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>s. Para nossa surpresa, os alunos não<br />
faltavam aos encontros e até houve busca espontânea. Isto é, alguns alunos vieram<br />
solicitar encontros, porque que queriam conversar.<br />
39
Na nossa perspectiva questionamo-nos por que é necessária a criação <strong>de</strong> um<br />
espaço privado <strong>de</strong> escuta? Por que estas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diálogo não po<strong>de</strong>m ser construí<strong>da</strong>s<br />
no cotidiano <strong>de</strong> interação entre o professor-aluno? Sem dúvi<strong>da</strong>, que vários casos<br />
necessitavam <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> atendimento psicológico por razões específicas <strong>da</strong><br />
situação pessoal <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Porém, vários <strong>de</strong>les apresentavam simplesmente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> serem escutados. É preciso, pois, criar espaços alternativos e inovadores, vinculados<br />
a distintas formas <strong>de</strong> trabalho para que os adolescentes expressem sua voz e possam ser<br />
compreendidos em suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Da mesma forma, o trabalho com a equipe docente possibilitou a constatação <strong>da</strong><br />
falta <strong>de</strong> reconhecimento pelos professores <strong>de</strong> suas ações cotidianas no trabalho com os<br />
alunos. Ao contrário, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre o processo foi um elemento<br />
importante e transformador <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> impotência e incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
gerenciar o ensino e to<strong>da</strong>s as implicações associa<strong>da</strong>s. O projeto, portanto, ao nível <strong>da</strong><br />
equipe <strong>de</strong> trabalho docente e diretiva teve um impacto importante na <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> dos<br />
aspectos <strong>de</strong> trabalho com os alunos.<br />
O esquema abaixo sintetiza os principais elementos i<strong>de</strong>ntificados.<br />
40
EQUIPE/PROFESSORES/DIREÇÃO:<br />
ESCOLA<br />
DIREÇÃO: isolamento, pouco suporte institucional, sentimentos <strong>de</strong> incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> frente à tarefa <strong>de</strong> realizar trabalho pe<strong>da</strong>gógico,<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança.<br />
PROFESSORES: trabalho educativo percebido como <strong>de</strong>svalorizado pelas instituições em geral; plano pe<strong>da</strong>gógico sem sustentação em<br />
ações e intervenções pertinentes às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos jovens, pouco suporte material e <strong>de</strong> infra-estrutura, violência na <strong>escola</strong>, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
manejo com os alunos, pouca integração na <strong>escola</strong> e na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
FATORES DE PROTEÇÃO<br />
-Possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> articulação com o<br />
PROJETO UNISINOS como lócus <strong>de</strong><br />
transformação,<br />
-Escuta <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e trabalho em<br />
equipe intra-institucional e inter-agências<br />
como suporte para os casos difíceis.<br />
41
ALUNOS<br />
Escutamos aos alunos em nossa convivência diária e nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas<br />
realiza<strong>da</strong>s, como o acompanhamento individual. A análise <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s<br />
no acompanhamento individual sugeriu que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r e <strong>de</strong> permanecer na<br />
<strong>escola</strong> é sobrepuja<strong>da</strong> por situações caóticas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> familiar, por questões financeiras e<br />
instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> geral que precisam ser expressas em um foro privilegiado que respeite os<br />
sentimentos e espaço vital dos adolescentes. A escuta psicológica, portanto, não se dá a<br />
partir <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> um sujeito patológico, mas, sim, <strong>de</strong> um sujeito com direitos<br />
<strong>de</strong> expressar suas vicissitu<strong>de</strong>s para compreendê-las e <strong>de</strong>ste modo apo<strong>de</strong>rar-se <strong>de</strong> sua<br />
história, narrando-a. Não simplesmente ser narrado por eventos percebidos como aquém<br />
<strong>de</strong> sua possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autoria pessoal e transformativa.<br />
Ao contrário, através <strong>de</strong> Grupos Focais com os alunos, i<strong>de</strong>ntificamos que a<br />
permanência na <strong>escola</strong> está associa<strong>da</strong> à conquista <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal vincula<strong>da</strong><br />
ao trabalho, a transcen<strong>de</strong>r a posição social que ocupam e “ser alguém na vi<strong>da</strong>”.<br />
Portanto, os jovens que permanecem no Ensino Médio, apresentam projetos <strong>de</strong> estudo<br />
vinculados ao trabalho.<br />
Desta forma, i<strong>de</strong>ntificamos que o objetivo <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r esteve presente em to<strong>da</strong>s as<br />
manifestações dos jovens associado a diferentes aspectos. A análise <strong>da</strong>s falas dos alunos<br />
permitiu i<strong>de</strong>ntificar as seguintes categorias associa<strong>da</strong>s à resposta Por que venho à<br />
<strong>escola</strong>?<br />
1. A <strong>escola</strong> como profissionalização- Nos cinco grupos investigados vir à <strong>escola</strong> foi<br />
<strong>de</strong>scrito como a forma <strong>de</strong> ter uma profissão e po<strong>de</strong>r trabalhar no futuro.<br />
Entretanto, vários colegas foram <strong>de</strong>scritos como abandonando a <strong>escola</strong> para<br />
começar a trabalhar imediatamente. O apelo financeiro <strong>de</strong> possuir uma ren<strong>da</strong><br />
própria e <strong>de</strong>svincular-se <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pobreza vivi<strong>da</strong> era percebido como uma<br />
solução imediata. Vários, porém, diziam, Vou terminar o Ensino Médio, não vou<br />
largar! É melhor aguar<strong>da</strong>r do que ter dinheiro agora.<br />
2. A <strong>escola</strong> como fonte <strong>de</strong> socialização- Ter amigos, ir para algum lugar, conhecer<br />
pessoas, namorar foram as situações menciona<strong>da</strong>s pelos jovens como a melhor<br />
parte do convívio <strong>escola</strong>r. Para vários, o espaço <strong>escola</strong>r era o local on<strong>de</strong> era<br />
possível socializar e conviver com pessoas diferentes <strong>de</strong> seu bairro.<br />
42
3. A <strong>escola</strong> como fonte <strong>de</strong> sustento- Em menor número, vir à <strong>escola</strong> para alimentarse<br />
foi uma <strong>da</strong>s situações coloca<strong>da</strong>s nos grupos. Dito com ironia, ain<strong>da</strong> assim foi<br />
verbalizado É o lugar para a gente comer, não?!<br />
Chama a atenção que as principais manifestações traduzem projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />
baseados em objetivos imediatos- trabalho, vi<strong>da</strong> social, sustento. Não surgiram<br />
verbalizações associa<strong>da</strong>s a projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> profissional. Assim, é importante prestar-se<br />
atenção não somente ao que foi dito pelos jovens. Isto é, percebe-se que as perspectivas<br />
e planos pessoais fun<strong>da</strong>mentam-se em projetos futuros calcados na noção do emprego,<br />
sem que haja uma maior reflexão pessoal ou mesmo a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir um<br />
projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> baseado em etapas. Restringem-se ao que ocorre naquela série ou<br />
naquele ano e sempre focalizando situações temporais restritas.<br />
Se, no entanto, consi<strong>de</strong>rarmos que os significados atribuídos referem-se ao<br />
entorno familiar e coletivo dos jovens, o “ser alguém na vi<strong>da</strong>” traduz a presença <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ascensão social, <strong>da</strong> aquisição <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> para além do universo do<br />
trabalhador não profissionalizado. Há a expectativa familiar- meus pais me obrigam- <strong>de</strong><br />
que a <strong>escola</strong> respon<strong>de</strong>rá a uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento futuro. Neste sentido, há<br />
presença nos sistema familiar <strong>de</strong> crenças e valores acerca <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
permanência no ensino, indicando que no entorno imediato dos jovens circulam crenças<br />
motivadores e <strong>de</strong> reconhecimento do processo educativo.<br />
Os jovens, entretanto, respeitam os colegas que tiveram que parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r<br />
para trabalhar, como que visualizando nas jorna<strong>da</strong>s dos companheiros a própria<br />
fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suas situações. Todos i<strong>de</strong>ntificaram algum companheiro que interrompera<br />
os estudos, manifestando em to<strong>da</strong>s as ocasiões razões ou justificativas para tal <strong>de</strong>cisão.<br />
Constata-se que o parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r é uma opção presente, compreendi<strong>da</strong> não como um<br />
fracasso, mas como uma imposição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Outro ponto importante foi que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do grupo foi muito bem aceita pelos<br />
adolescentes, que manifestaram interesse na discussão. A Direção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> manifestou,<br />
inicialmente, preocupação em relação à permanência dos alunos na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e foi<br />
surpreendi<strong>da</strong> pela alta a<strong>de</strong>são e participação. Percebe-se que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são recursos com um potencial importante para a construção <strong>de</strong> uma<br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal, através <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> expressão <strong>de</strong> idéias.<br />
43
JOVENS EM GERAL<br />
Escola como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia financeira<br />
e inserção social. ..Po<strong>de</strong>r ter amigos...Ter uma profissão...<br />
Fonte <strong>de</strong> alimentação: Venho para comer meren<strong>da</strong>.<br />
Evasão <strong>escola</strong>r- problemas econômicos e dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>escola</strong>res. Meus amigos param para trabalhar...<br />
Minha irmão rodou tanto que parou...<br />
Grupos <strong>de</strong> discussão como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> expressão É importante falar sobre isto...<br />
FATORES DE PROTEÇÃO<br />
- grupos <strong>de</strong> discussão,<br />
- acompanhamento dos casos,<br />
- busca espontânea pelo<br />
acompanhamento.<br />
JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE<br />
Relações familiares violentas:<br />
Gravi<strong>de</strong>z na adolescência:<br />
Maus-tratos, abuso sexual, negligência, violência física,<br />
Problemas <strong>de</strong> aprendizagem<br />
Agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, comportamento violento<br />
44
FAMÍLIA<br />
Em relação ao papel <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e as relações externas com a família e a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, verificou-se que há um hiato importante entre as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> inclusão<br />
familiar no contexto <strong>escola</strong>r e o que realmente é realizado. Foi gran<strong>de</strong> a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />
congregar familiares e incentivar a participação na vi<strong>da</strong> <strong>escola</strong>r foi uma constante em<br />
to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s com os familiares. Ain<strong>da</strong> assim, nos encontros<br />
<strong>de</strong>senvolvidos foi possível construir uma aliança gradual e crescente que culminou na<br />
última reunião realiza<strong>da</strong> em <strong>de</strong>zembro com o planejamento <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> familiares<br />
para o próximo ano.<br />
Nos encontros realizados com as famílias narram histórias <strong>de</strong> pobreza, <strong>de</strong><br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em diversos âmbitos, educação, saú<strong>de</strong>, vi<strong>da</strong> comunitária. É comum a to<strong>da</strong>s<br />
elas relatos <strong>de</strong> violência intrafamiliar e comunitária, convivência com situações<br />
dramáticas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e percepções <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>r dos filhos. A<br />
<strong>de</strong>sautorização familiar pareceu ser um dos maiores entraves ao processo <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do e<br />
<strong>de</strong> relacionamento com os filhos. Há uma vivência por parte dos pais que o único lugar<br />
que ocupam refere-se ao <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> punitiva e cerceadora. Não há espaço para<br />
relações mais igualitárias na família, mesmo que se mantenha o lugar mais responsável<br />
dos pais. O pouco tempo com os filhos, o trabalho, a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer e<br />
participar <strong>da</strong> <strong>escola</strong> foram os aspectos trazidos em todos os momentos.<br />
Como trazer os pais para a <strong>escola</strong>? Parece-nos que uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s seria<br />
o incremento <strong>de</strong> experiências coletivas, tanto <strong>de</strong> socialização como educativas. Ao<br />
mesmo tempo, possibilitar aos pais vivências na <strong>escola</strong> nas quais eles atuassem com<br />
maior autonomia e gerenciamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, proporcionando uma mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong><br />
posição passiva <strong>de</strong> ir até à <strong>escola</strong> para escutar os professores numa posição <strong>de</strong> nãosaber<br />
para ir até a <strong>escola</strong> discutir e <strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativas ao processo<br />
educativo <strong>de</strong> seus filhos.<br />
Os familiares que participaram <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s estavam engajados<br />
e participantes. Não <strong>de</strong>monstravam receio em trazer suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />
relacionamento com os filhos e culminaram o trabalho solicitando a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
ações. Parece, portanto, que as relações família e <strong>escola</strong> permanecem como um espaço<br />
fecundo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e investimento.<br />
Estas famílias claramente exibiam uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contingência importante<br />
que, muitas vezes, não era reconheci<strong>da</strong> pelos membros. Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, havia<br />
45
um senso <strong>de</strong> coesão interna, manifestado no interesse e na crença <strong>de</strong> que a <strong>escola</strong> tinha<br />
um lugar na vi<strong>da</strong> dos filhos. Propiciar que estas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares sejam<br />
reconheci<strong>da</strong>s é uma estratégia importante para a resiliência <strong>de</strong>stas famílias, com<br />
conseqüências vitais para a permanência do jovem na <strong>escola</strong>.<br />
Síntese dos elementos-chave nos processos <strong>de</strong> resiliência<br />
No diagrama abaixo, esquematizamos as principais características dos sistemas<br />
envolvidos. Através <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s situações i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e no convívio<br />
com os professores, alunos e familiares, verificamos que :<br />
- A família exerce uma função organizadora dos alunos, através <strong>de</strong> vínculos tanto nas<br />
relações primárias como nas relações com a <strong>escola</strong>. As famílias que estavam presentes<br />
nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s exibiam interesse pelo <strong>de</strong>senvolvimento dos filhos.<br />
- Por sua vez, a <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> iniciativa <strong>de</strong> alguns professores e o constante<br />
empenho <strong>da</strong> equipe diretiva, alcançava vários alunos em suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Desta<br />
forma, eram <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ações inclusivas, como no caso <strong>da</strong> iniciativa <strong>de</strong> professores<br />
<strong>de</strong> chamar os pais para participarem <strong>da</strong>s aulas.<br />
- A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> respondia a alguns apelos <strong>de</strong> policiamento e aju<strong>da</strong> no caso <strong>de</strong> episódios<br />
<strong>de</strong> brigas no entorno <strong>escola</strong>r. Ain<strong>da</strong> que esta manifestação se restrinja ao campo <strong>da</strong> lei,<br />
indica a importância dos agentes do meso sistema como elementos participativos <strong>da</strong><br />
trajetória <strong>escola</strong>r.<br />
46
FATORES DE PROTEÇÃO NA PERCEPÇÃO DOS JOVENS, DOS INTEGRANTES DA ESCOLA<br />
A PARTIR DAS ATIVIDADES REALIZADAS<br />
FAMÍLIA<br />
Coesão familiar<br />
Vínculos afetivos e <strong>de</strong><br />
suporte<br />
Ausência <strong>de</strong> violência<br />
ESCOLA<br />
Acompanhamento<br />
<strong>escola</strong>r,<br />
Acolhimento <strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s,<br />
Ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />
inclusivas.<br />
Trajetórias <strong>de</strong> permanência<br />
na <strong>escola</strong><br />
COMUNIDADE<br />
Trabalho em re<strong>de</strong>,<br />
Ações participativas e<br />
integra<strong>da</strong>s<br />
47
SÍNTESE DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE POR SISTEMA ECOLÓGICO<br />
A <strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r resulta <strong>de</strong> um longo processo na relação aluno-<strong>escola</strong>, quando<br />
fracassa o estabelecimento <strong>de</strong> um vínculo entre a instituição e o jovem e não se<br />
<strong>de</strong>senvolve um contexto criativo e facilitador <strong>da</strong> autonomia individual. Características<br />
pessoais <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes, associa<strong>da</strong>s principalmente a histórias<br />
familiares <strong>de</strong> exclusão e violência são repeti<strong>da</strong>s nas relações com outros contextos, no<br />
caso a <strong>escola</strong>. Esta instituição, por sua vez, em função <strong>de</strong> situações políticas e<br />
econômicas não consegue <strong>de</strong>senvolver ações educativas que estabeleçam uma<br />
“contenção <strong>da</strong>s experiências traumáticas <strong>de</strong>stas crianças”, estabelecendo-se um círculo<br />
<strong>de</strong> exclusão.<br />
O Quadro 2 sintetiza os principais elementos organizados por sistemas em<br />
relação à permanência na <strong>escola</strong>. A ca<strong>da</strong> nível correspon<strong>de</strong>m <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> risco para a<br />
<strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r e <strong>fatores</strong> protetivos, estes últimos compreendidos como ações dirigi<strong>da</strong>s<br />
tanto para a promoção como a prevenção <strong>da</strong> <strong>de</strong>serção.<br />
Ao nível do micro sistema, a <strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r resulta <strong>de</strong> um processo dinâmico<br />
<strong>de</strong> ação dos elementos <strong>de</strong> todos os sistemas, mas que basicamente originam trajetórias<br />
individuais, familiares, sociais e coletivas <strong>de</strong> exclusão e vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. No espaço<br />
<strong>escola</strong>r, estas vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s não encontram forma <strong>de</strong> expressão e acolhimento, seja<br />
pelo pouco suporte ao professor, seja por questões mais amplas <strong>de</strong> cunho <strong>da</strong>s políticas<br />
publicas e carência <strong>de</strong> projetos nacionais <strong>de</strong> educação. No nível imediato do jovem, a<br />
expressão maior <strong>de</strong>sta vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> se traduz pela opção <strong>de</strong> interromper os estudos<br />
para tentar, <strong>de</strong> outro modo, uma inserção produtiva no coletivo. Opção esta que neste<br />
trabalho foi aponta<strong>da</strong> pelo trabalhar, escolha fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em projetos <strong>de</strong> solução imediata e<br />
sem perspectiva <strong>de</strong> projetos futuros.<br />
No nosso convívio direto com os jovens, verificamos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ações<br />
inclusivas dirigi<strong>da</strong>s tanto para o aluno como para a família, <strong>de</strong> forma a vincular a<br />
permanência na <strong>escola</strong> como uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> viável <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um projeto<br />
pessoal. Desta forma, ações pe<strong>da</strong>gógicas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s numa missão <strong>escola</strong>r <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento, valorização do aluno e <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> vínculos com a família<br />
e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> permitiriam uma maior integração entre estes elementos e conseqüente<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos construtivos conjuntos.<br />
48
O projeto <strong>Resiliência</strong> e Evasão Escolar, neste sentido, ocupou um espaço <strong>de</strong><br />
ligação e comunicação entre os diversos atores envolvidos no processo educativo <strong>de</strong><br />
alunos em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social e econômica, constituindo-se, assim, como<br />
uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão e reflexão no espaço <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. As ações <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s,<br />
ain<strong>da</strong> que por um período limitado <strong>de</strong> tempo, tiveram impacto importante nas trajetórias<br />
<strong>de</strong> todos os envolvidos.<br />
Verificamos que os jovens que permanecem na <strong>escola</strong> ain<strong>da</strong> possuem crenças e<br />
valores associados à noção <strong>de</strong> que o processo educativo permite a construção <strong>de</strong> uma<br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> calca<strong>da</strong> na inserção social mais autônoma e, po<strong>de</strong>-se dizer, numa<br />
representação <strong>de</strong> um sujeito ci<strong>da</strong>dão. Há, no entorno <strong>de</strong>stes jovens, a presença <strong>de</strong><br />
valores que os sustentam no sentido <strong>de</strong> não optarem por uma rota <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência.<br />
I<strong>de</strong>ntificamos, neste trabalho, que estes valores aparecem mais freqüentemente<br />
vinculados à família, ain<strong>da</strong> que fosse interessante uma continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e acompanhamento<br />
<strong>de</strong>stes jovens, a fim <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r aprofun<strong>da</strong>r a compreensão <strong>de</strong> todos os elementos<br />
presentes na construção <strong>de</strong>stas representações. Portanto, a resiliência constitui-se como<br />
a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentamento <strong>da</strong>s situações adversas através <strong>da</strong> crença <strong>de</strong> que a <strong>escola</strong><br />
ain<strong>da</strong> se caracterizava por ser um espaço <strong>de</strong> transformação, aprendizagem e inserção<br />
social.<br />
A partir <strong>de</strong> uma reflexão sobre os elementos i<strong>de</strong>ntificados nas manifestações e<br />
narrativas dos diferentes atores participantes constatamos que as ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />
necessitam primordialmente reconhecer as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos jovens em situação <strong>de</strong><br />
vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, para uma efetiva compreensão <strong>de</strong>stas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s é<br />
preciso abrir espaços <strong>de</strong> escuta <strong>da</strong> voz dos jovens no espaço <strong>escola</strong>r. Esta ação <strong>de</strong><br />
escuta, em alguns grupos <strong>de</strong> alunos, po<strong>de</strong> assumir um caráter <strong>de</strong> uma clínica amplia<strong>da</strong>.<br />
Isto é, basea<strong>da</strong> na noção <strong>de</strong> que um sujeito total, escutado em to<strong>da</strong>s as suas dimensões<br />
vitais. Da mesma forma, a sustentação dos alunos resilientes que permanecem no<br />
Ensino Médio, é necessária.<br />
Ao nível do meso sistema, a ação integra<strong>da</strong> com outras agências e instituições é<br />
outro recurso importante para a potencialização do papel pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. A<br />
interlocução com outros áreas e serviços amplia o escopo <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, o que<br />
diretamente atinge ao atendimento do aluno. Em função <strong>de</strong> situações familiares <strong>de</strong><br />
extrema vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, principalmente associa<strong>da</strong>s à violência, drogas e maus-tratos,<br />
esta interlocução se faz necessária para o a<strong>de</strong>quado acolhimento dos jovens.<br />
49
Igualmente, o maior envolvimento com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tanto <strong>de</strong>slocando o aluno<br />
para o entorno <strong>da</strong> <strong>escola</strong> com o propósito <strong>de</strong> inserção no espaço comunitário, como do<br />
convite a uma maior participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> na <strong>escola</strong>, teria um impacto<br />
transformador nas trajetórias pessoais. Esta inserção, consequentemente, refletir-se-ia na<br />
subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno, através do laço social estabelecido, o que levaria também a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> com o coletivo e o conseqüente <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
projetos pessoais.<br />
Por conseguinte, programas <strong>de</strong> apoio educativo, ao nível <strong>da</strong>s políticas públicas<br />
municipais, estaduais e nacionais <strong>de</strong>vem priorizar estratégias priorizando a <strong>escola</strong> como<br />
lócus <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> inserção <strong>da</strong> criança e do adolescente em<br />
situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social num universo <strong>de</strong> convivência baseado nos valores <strong>de</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>de</strong>mocracia. Entretanto, somente metas a longo prazo, volta<strong>da</strong>s para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cultural <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>m transformar a marginali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />
exclusão.<br />
50
Quadro 2- Síntese dos elementos por categorias<br />
FATORES DE RISCO FATORES DE<br />
PROTEÇÃO<br />
MICRO SISTEMA Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Apoio educativo: missão<br />
aprendizagem e relacionais; <strong>escola</strong>r orienta<strong>da</strong> para o<br />
Falta <strong>de</strong> coesão familiar; Desenvolvimento;<br />
isolamento <strong>da</strong> <strong>escola</strong> Vínculos significativos<br />
Professores sem suporte<br />
familiares.<br />
institucional<br />
Projetos <strong>escola</strong>res<br />
Projetos educativos<br />
valorizantes<br />
ina<strong>de</strong>quados Projeto UNISINOS como<br />
Problemas econômicos. possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
transformação<br />
MESO/EXO Escola: ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />
sem sustentação<br />
institucional, falta <strong>de</strong><br />
vinculação entre as agências,<br />
carência <strong>de</strong> planos a curto e<br />
longo prazo, pouco<br />
reconhecimento <strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos grupos<br />
vulneráveis.<br />
Família: Crenças no pouco<br />
valor do ensino, atitu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svalorizativas <strong>da</strong>s<br />
exigências <strong>escola</strong>res<br />
Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>: Violência e<br />
drogas como projetos <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong><br />
MACROSISTEMA Ausência <strong>de</strong> políticas<br />
públicas dirigi<strong>da</strong>s para a<br />
permanência na <strong>escola</strong>.<br />
Ausência <strong>de</strong> Valores<br />
Educativos<br />
Desigual<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica<br />
51<br />
Reconhecimento dos<br />
processos educativos <strong>de</strong><br />
jovens em situação <strong>de</strong><br />
vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
Integração <strong>de</strong> agências<br />
governamentais, ações<br />
educativas proativas,<br />
caracterização dos papéis<br />
educativos e familiares no<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
dos jovens.<br />
Re<strong>de</strong> comunitária<br />
participativa na <strong>escola</strong>.<br />
Metas educativas a curto e<br />
longo prazo<br />
Políticas <strong>de</strong> inclusão social<br />
Desenvolvimento <strong>de</strong><br />
programas <strong>de</strong> apoio educativo
LIÇOES APRENDIDAS<br />
Desenvolvimento <strong>de</strong> ações educativas orienta<strong>da</strong>s para a inserção do jovem numa<br />
perspectiva transformadora, criativa e com objetivos e alcances em longo prazo;<br />
A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> projetar-se no futuro com metas e objetivos alcançáveis a<br />
partir do que se está construindo no presente é uma condição imprescindível<br />
para a construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal e inserção coletiva na socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
como um sujeito ético, participativo e responsável. A incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />
trajetórias a longo prazo paralisa e <strong>de</strong>ixa o jovem a mercê do estabelecimento <strong>de</strong><br />
uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> frágil basea<strong>da</strong> em valores imediatistas <strong>de</strong> consumo. Nos grupos<br />
focais foi possível perceber a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se implantar foros <strong>de</strong> discussão<br />
sobre projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, planos e metas para aquém <strong>da</strong> ótica do<br />
emprego/consumo.<br />
A importância do reconhecimento <strong>da</strong>s experiências dos alunos através <strong>de</strong><br />
construções <strong>de</strong> espaços alternativos <strong>de</strong> expressão;<br />
Vivências traumáticas necessitam ser narra<strong>da</strong>s e escuta<strong>da</strong>s tanto pelo sujeito<br />
vítima do sofrimento como pelo mundo externo a fim <strong>de</strong> que as experiências<br />
sejam vali<strong>da</strong><strong>da</strong>s e seja possibilitado um maior sentido à experiência. Jovens em<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s violentas necessitam <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> escuta que às vezes<br />
necessita ser privado. Tal foi o caso <strong>da</strong> escuta <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> no acompanhamento<br />
individual dos alunos. Haviam histórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que necessitavam <strong>de</strong> um espaço<br />
mais intimo <strong>de</strong> expressão.<br />
Trabalho profissional em re<strong>de</strong> para potencializar e integrar as ações dos<br />
diferentes serviços envolvidos no processo educativo;<br />
A relação entre os profissionais possibilita discussões mais abrangentes que<br />
transformam a compreensão do problema <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r <strong>de</strong> uma perspectiva<br />
estática e particular a ca<strong>da</strong> serviço participante para uma visão dinâmica do<br />
problema na qual todos são partes do processo. Nas reuniões com professores e<br />
com os pais, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão facilitou que outros elementos fossem<br />
incorporados por ca<strong>da</strong> ator participante do trabalho. Isto é, o professor po<strong>de</strong><br />
refletir sobre as questões familiares, sobre o papel <strong>da</strong> direção e as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
enfrenta<strong>da</strong>s, etc.<br />
52
A educação como elo do ser humano em sua relação com os <strong>de</strong>mais e com o<br />
meio ambiente. A importância <strong>da</strong> valorização do professor e <strong>da</strong> <strong>escola</strong> como<br />
atores privilegiados na construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> humana e ética.<br />
A <strong>de</strong>svalorização do profissional educador é um entrave para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ações educativas eficazes e para a própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional do<br />
educador. O espaço educativo é um dos poucos lugares on<strong>de</strong> é possível reverte a<br />
auto-imagem <strong>de</strong> fracasso associa<strong>da</strong> ao professor.<br />
Proposições <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>escola</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s pelos diferentes atores do<br />
processo educativo - <strong>escola</strong>, família, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e serviços, visando favorecer a<br />
autonomia dos participantes;<br />
O planejamento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas nas quais os diferentes atores<br />
envolvidos no processo <strong>de</strong> aprendizagem também assumam a li<strong>de</strong>rança do<br />
trabalho permite o <strong>de</strong>senvolvimento maior responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Troca-se, portanto,<br />
a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> passivi<strong>da</strong><strong>de</strong> frente às questões <strong>escola</strong>res por uma postura ativa e<br />
autônoma. Somente <strong>de</strong>sta maneira é possível estabelecer-se uma relação<br />
indivíduo x socie<strong>da</strong><strong>de</strong> basea<strong>da</strong> no reconhecimento dos direitos e na construção<br />
<strong>de</strong> sujeitos ativos no seu entorno <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Dar a voz aos pais na dinâmica<br />
realiza<strong>da</strong> foi um passo importante para que estes se tornassem porta-vozes <strong>de</strong><br />
suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e tomando a iniciativa <strong>de</strong> solicitar a criação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />
pais na <strong>escola</strong>.<br />
A resiliência como construção resultante do estabelecimento <strong>de</strong> um sentimento<br />
<strong>de</strong> pertença e vinculação com o contexto presente e futuro.<br />
A resiliência emerge como um processo no qual a <strong>escola</strong> passa a ter sentido e<br />
significado numa trajetória que mesmo sendo pessoal projeta-se no coletivo no<br />
momento em que o jovem se percebe como fazendo parte <strong>de</strong>ste coletivo. Para<br />
que tal seja possível, os adultos que recebem este jovem em sua trajetória<br />
educativa <strong>de</strong>vem ter capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento <strong>de</strong> diferentes histórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
53
RECOMENDAÇÕES<br />
Fun<strong>da</strong>mentalmente ampliar ações volta<strong>da</strong>s para o reconhecimento <strong>da</strong> <strong>escola</strong><br />
como um espaço para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ética e<br />
responsável, assegurando a permanência <strong>de</strong> crianças e adolescentes no processo<br />
educativo.<br />
Especificamente, <strong>da</strong>r apoio e subsídios econômicos, pe<strong>da</strong>gógicos e <strong>de</strong><br />
infraestrutura às <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> forma que possam ser <strong>de</strong>senvolvidos currículos<br />
sensíveis às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos alunos e, principalmente, facilitador do trabalho do<br />
educador;<br />
Desenvolver projetos educativos inclusivos <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong> alunos em situação<br />
<strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social e econômica através do treinamento e trabalho com os<br />
professores;<br />
Facilitar a inclusão <strong>da</strong>s famílias na <strong>escola</strong>, promovendo ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ofereçam<br />
condições <strong>de</strong> acolher necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que incluem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> crianças<br />
menores, alimentação e até transporte nos casos <strong>de</strong> maior necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
Estabelecer relações mais <strong>de</strong>mocráticas com os alunos, promovendo a<br />
autonomia e a participação em sala <strong>de</strong> aula num convívio mais igualitário.<br />
Plano <strong>de</strong> fortalecimento<br />
Em termos <strong>da</strong> intervenção realiza<strong>da</strong>, <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s inicia<strong>da</strong>s neste<br />
projeto é uma <strong>da</strong>s principais metas <strong>de</strong> fortalecimento <strong>da</strong> experiência.<br />
Na dimensão do aluno:<br />
− Promover a criação <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> escuta grupal, organizado em metas<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> narrativas pessoais e coletivas expressas por meios <strong>de</strong><br />
escrita, áudio-visual, artístico, <strong>de</strong>ntre outros. Este espaço se caracterizaria<br />
como uma Tutoria <strong>de</strong> <strong>Resiliência</strong>.<br />
− Desenvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s comunitárias volta<strong>da</strong>s para o entorno <strong>da</strong> <strong>escola</strong>,<br />
incluindo o ambiente físico (praças, locais públicos), como promoção<br />
cultural dirigi<strong>da</strong> à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
− Organizar uma Prefeitura Escolar- montar um esboço <strong>de</strong> funções<br />
administrativas <strong>de</strong> questões <strong>escola</strong>res, volta<strong>da</strong>s para <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. A<br />
54
Prefeitura <strong>escola</strong>r seria forma<strong>da</strong> pelos alunos e seria um espaço aberto <strong>de</strong><br />
discussão <strong>de</strong> problemas com o objetivo <strong>de</strong> inserir o aluno na dimensão ética<br />
<strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação do contexto.<br />
− Desenvolver um programa terapêutico voltado para os alunos em situação<br />
mais extrema.<br />
− Na dimensão familiar: Promover ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res organiza<strong>da</strong>s,<br />
dirigi<strong>da</strong>s e manti<strong>da</strong>s por pais e ou responsáveis com o objetivo <strong>de</strong><br />
estreitar a vinculação com a <strong>escola</strong>. Estas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s se <strong>da</strong>riam no próprio<br />
espaço <strong>escola</strong>r e utilizando-se dos setores <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />
− Na dimensão dos educadores: <strong>de</strong>senvolvimento e promoção <strong>de</strong> autonomia e<br />
valorização do papel do educador através <strong>de</strong> Seminários Integrativos <strong>de</strong><br />
discussão, aperfeiçoamento pessoal e integração com outras agências do<br />
município, estado.<br />
55
Sistema Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Tempo <strong>de</strong><br />
execução<br />
Aluno/<br />
Família<br />
Equipe <strong>de</strong><br />
professores e<br />
Direção<br />
Grupos <strong>de</strong> discussão<br />
quinzenais,<br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais (teatro,<br />
música.)<br />
Prefeitura <strong>escola</strong>r<br />
Envolvimento com programas<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Tutores/acompanhamento nas<br />
situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Seminários integradores,<br />
Assessoria pe<strong>da</strong>gógica<br />
especializa<strong>da</strong>.<br />
Atores envolvidos Meta Resultados<br />
esperados<br />
12 meses Alunos, familiares<br />
e professores<br />
12 meses Professores,<br />
Equipe Diretiva e<br />
Secretaria <strong>de</strong><br />
Educação do<br />
Município<br />
Desenvolver um espaço <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong><br />
diferentes narrativas pessoais<br />
Desenvolver vínculo participativo na<br />
<strong>escola</strong> e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
Construção i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal e<br />
inserção coletiva na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como<br />
um sujeito ético, participativo e<br />
responsável<br />
Valorizar o apren<strong>de</strong>r tanto como<br />
forma <strong>de</strong> crescimento pessoal como<br />
<strong>de</strong> participação no<br />
coletivo/transformação<br />
56<br />
Incremento <strong>da</strong><br />
participação na<br />
<strong>escola</strong>,<br />
Diminuição dos<br />
índices <strong>de</strong> <strong>evasão</strong><br />
<strong>escola</strong>r no ano,<br />
Redução <strong>da</strong><br />
violência, pixação<br />
<strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />
Planejamento <strong>de</strong><br />
ações a curto e<br />
longo prazo
Resumo executivo<br />
Este relatório apresenta os principais resultados <strong>da</strong> investigação sobre <strong>Resiliência</strong> e<br />
Evasão Escolar <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s interfaces do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />
em Psicologia e do Projeto <strong>de</strong> Ação Social EDUCAS, ambos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale<br />
do Rio dos Sinos, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil. O trabalho foi possível através<br />
do apoio <strong>da</strong> UNESCO/OREALC, Red INNOVEMOS e <strong>da</strong> Organização dos Estados<br />
Iberoamericanos, OEI. As ações inovadoras construí<strong>da</strong>s e origina<strong>da</strong>s no interesse <strong>de</strong>stes<br />
programas <strong>de</strong> agir diretamente nos contextos promotores <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong> grupos<br />
vulneráveis, especificamente em relação aos jovens no universo <strong>escola</strong>r e a questão <strong>da</strong><br />
permanência na <strong>escola</strong>, levaram-nos ao interesse em <strong>de</strong>senvolver o trabalho. Face ao<br />
gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> jovens que eva<strong>de</strong>m <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, queríamos respon<strong>de</strong>r a questão o que<br />
faz um jovem frente a situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e social a permanecer na<br />
<strong>escola</strong>? Com este intuito, passamos a conviver com um grupo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> uma <strong>escola</strong><br />
estadual do município <strong>de</strong> São Leopoldo, RS, Escola Villa Lobos, na tentativa <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r, agir e transformar uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> muitas vezes difícil e <strong>de</strong>safiadora.<br />
Porém, antes <strong>de</strong> discutir as diversas questões levanta<strong>da</strong>s, faz-se necessária uma<br />
compreensão mais abrangente do contexto social e institucional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />
pesquisa. Nossa experiência inovadora está construí<strong>da</strong> e alicerça<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ações diretas na <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> parceria do projeto EDUCAS com o Programa <strong>de</strong><br />
Pós- Graduação em Psicologia. Sobre estes aportes foi <strong>de</strong>senvolvido o projeto <strong>de</strong><br />
pesquisa sustentado na metodologia <strong>da</strong> pesquisa intervenção a qual, além <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r ao sujeito investigado preocupa-se com sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como a<br />
interação que se estabelece entre o pesquisador e o objeto <strong>de</strong> seu estudo. Portanto, a<br />
partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> resiliência, nosso foco <strong>de</strong> interesse foi conhecer as<br />
experiências <strong>de</strong> jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mantém nas trajetórias<br />
<strong>escola</strong>res e não <strong>de</strong>sertam. Através <strong>de</strong> uma pesquisa-intervenção que consistiu na<br />
implementação <strong>de</strong> programas dirigidos tanto para o trabalho específico com os jovens<br />
como para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> professores , tentamos i<strong>de</strong>ntificar que<br />
aspectos do contexto ecológico <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> adolescentes em situação <strong>de</strong><br />
vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social são <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> associados à permanência na<br />
<strong>escola</strong>. Participaram <strong>de</strong>ste projeto professores, profissionais e alunos do Programa <strong>de</strong><br />
Pós-Graduação, do Projeto EDUCAS, <strong>da</strong> Escola Estadual Villa – Lobos e acadêmicos<br />
58
do curso <strong>de</strong> Psicologia. I<strong>de</strong>ntificou-se que a <strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r resulta <strong>de</strong> um longo<br />
processo na relação aluno-<strong>escola</strong>, quando fracassa o estabelecimento <strong>de</strong> um vínculo<br />
entre a instituição e o jovem e não se <strong>de</strong>senvolve um contexto criativo e facilitador do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> autonomia individual. Características pessoais <strong>da</strong>s crianças e<br />
adolescentes, associa<strong>da</strong>s principalmente a histórias familiares <strong>de</strong> exclusão e violência<br />
são repeti<strong>da</strong>s nas relações com outros contextos, no caso a <strong>escola</strong>. Aponta-se a<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar ações volta<strong>da</strong>s para o reconhecimento <strong>da</strong> <strong>escola</strong> como um<br />
espaço para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ética e responsável, assegurando a<br />
permanência <strong>de</strong> crianças e adolescentes no processo educativo. Especificamente, <strong>da</strong>r<br />
apoio e subsídios econômicos, pe<strong>da</strong>gógicos e <strong>de</strong> infraestrutura às <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> forma que<br />
possam ser <strong>de</strong>senvolvidos currículos sensíveis às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos alunos e,<br />
principalmente, facilitador do trabalho do educador.<br />
Coor<strong>de</strong>nação executiva<br />
Profª. Drª. Sílvia Pereira <strong>da</strong> Cruz Benetti<br />
Equipe <strong>de</strong> trabalho:<br />
Profª. Drª. Carolina Lisboa<br />
Profª. Denise Falcke<br />
Prof. Maycoln Teodoro<br />
Equipe consultiva<br />
Profª. Maria Cláudia<br />
Psicóloga Michelle Scheiffel<br />
59
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> se<strong>de</strong> do projeto: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS,<br />
São Leopoldo, RS.<br />
Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação: Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia, Mestrado<br />
Acadêmico em Psicologia.<br />
Linha <strong>de</strong> Pesquisa a qual se vincula o projeto: Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Adolescência.<br />
Projeto EDUCAS<br />
Bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Científica:<br />
Raíssa <strong>de</strong> Azevedo Hass<br />
Cristian Baqui Schwartz<br />
Bolsista do projeto<br />
Vera Melo<br />
Responsável pela Oficina <strong>de</strong> Bonecos: Grupo Pregando Peça<br />
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