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Resiliência e escola- identificação de fatores de proteção da evasão ...

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<strong>Resiliência</strong> e <strong>escola</strong>- <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> <strong>de</strong> <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na adolescência- 2008


<strong>Resiliência</strong> e <strong>escola</strong>- <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> <strong>de</strong> <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na<br />

adolescência.<br />

3


Coor<strong>de</strong>nação executiva<br />

Profª. Drª. Sílvia Pereira <strong>da</strong> Cruz Benetti<br />

Colaboradores:<br />

Profª. Drª. Carolina Lisboa<br />

Profª. Denise Falcke<br />

Prof. Maycoln Teodoro<br />

Psicóloga Michelle Scheiffel<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> se<strong>de</strong> do projeto: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS,<br />

São Leopoldo, RS.<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação: Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia, Mestrado<br />

Acadêmico em Psicologia.<br />

Linha <strong>de</strong> Pesquisa a qual se vincula o projeto: Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Adolescência.<br />

Projeto EDUCAS<br />

Bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Científica:<br />

Raíssa <strong>de</strong> Azevedo Hass<br />

Cristian Baqui Schwartz<br />

Bolsista do projeto<br />

Vera Melo<br />

Responsável pela Oficina <strong>de</strong> Bonecos: Grupo Pregando Peça<br />

4


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

Em especial a Vera Melo e também<br />

Raissa Hass, Janice Ribas,<br />

Germana Osterman , Cristian Schwartz,<br />

e Juliana Sbicigo<br />

5


INTRODUÇÃO<br />

Este relatório apresenta os principais resultados <strong>da</strong> investigação sobre<br />

<strong>Resiliência</strong> e Evasão Escolar <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s interfaces do Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em Psicologia e do Projeto <strong>de</strong> Ação Social EDUCAS, ambos <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil. O<br />

trabalho foi possível através do apoio <strong>da</strong> UNESCO/OREALC, Red INNOVEMOS e <strong>da</strong><br />

Organização dos Estados Iberoamericanos, OEI.<br />

As ações inovadoras construí<strong>da</strong>s e origina<strong>da</strong>s no interesse <strong>de</strong>stes programas <strong>de</strong><br />

agir diretamente nos contextos promotores <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong> grupos vulneráveis,<br />

especificamente em relação aos jovens no universo <strong>escola</strong>r e a questão <strong>da</strong> permanência<br />

na <strong>escola</strong>, levaram-nos ao interesse em <strong>de</strong>senvolver o trabalho. Face ao gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> jovens que eva<strong>de</strong>m <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, queríamos respon<strong>de</strong>r a questão o que faz um jovem<br />

frente a situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e social a permanecer na <strong>escola</strong>?<br />

Com este intuito, passamos a conviver com um grupo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> uma <strong>escola</strong><br />

estadual do município <strong>de</strong> São Leopoldo, RS, Escola Villa Lobos, na tentativa <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r, agir e transformar uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> muitas vezes difícil e <strong>de</strong>safiadora.<br />

Porém, antes <strong>de</strong> discutir as diversas questões levanta<strong>da</strong>s, faz-se necessária uma<br />

compreensão mais abrangente do contexto social e institucional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

pesquisa.<br />

No Brasil, ain<strong>da</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s crianças tenha acesso à <strong>escola</strong>rização,<br />

através do ingresso nas séries iniciais do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, somente em torno <strong>de</strong><br />

60% alcança a 8ª. Série, sendo que esta taxa diminui mais ain<strong>da</strong> no Ensino Médio. A<br />

repetência e a <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r são, portanto, um problema grave. Estas questões <strong>de</strong><br />

ensino refletem as condições econômicas e sociais que apontam que 50% <strong>da</strong>s crianças<br />

brasileiras <strong>de</strong> até 6 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> estão em situação <strong>de</strong> pobreza, indicando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> atendimento às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong>sta faixa etária.<br />

Sensível a estas questões, a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS,<br />

<strong>de</strong>senvolve pesquisas e projetos sociais voltados para o atendimento <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s<br />

locais e regionais, <strong>de</strong>monstrando a preocupação e o compromisso social assumido pela<br />

universi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. No caso <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisas, o Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação em Psicologia, através <strong>de</strong> sua linha <strong>de</strong> pesquisa, Clínica <strong>da</strong> Infância e<br />

Adolescência, <strong>de</strong>senvolve estudos sobre a compreensão <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> adolescência<br />

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em diversos espaços e contextos, bem como o estudo <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção,<br />

prevenção, avaliação e intervenção psicoterápica frente às problemáticas relaciona<strong>da</strong>s à<br />

saú<strong>de</strong> mental <strong>da</strong> população infanto-juvenil.<br />

Da mesma forma, os diversos projetos <strong>de</strong> ação social são realizados junto a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e grupos em condições sócio-econômicas <strong>de</strong>sfavoráveis, envolvendo<br />

<strong>escola</strong>s <strong>da</strong> região do Vale do Sinos, organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, movimentos<br />

sociais e governos municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral. São propostas <strong>de</strong> atuação distribuí<strong>da</strong>s<br />

em sete áreas <strong>de</strong> ação social, entre outras, que resultam em um rico aprendizado, através<br />

do diálogo e problematizações levanta<strong>da</strong>s (www.unisinos.br). Dentre essas, <strong>de</strong>staca-se a<br />

experiência <strong>de</strong> trabalho com crianças e adolescentes com problemas <strong>de</strong> aprendizagem<br />

do projeto EDUCAS, o qual tem apontado a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações<br />

preventivas na própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r, envolvendo tanto os técnicos e professores,<br />

como também famílias e serviços públicos. Além disto, o projeto fun<strong>da</strong>menta-se na<br />

estratégias <strong>de</strong> expandir a compreensão para os <strong>fatores</strong> que favorecem a a<strong>de</strong>são à <strong>escola</strong>,<br />

numa perspectiva que se oriente para além <strong>da</strong>s questões <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s individuais.<br />

Em suma, nossa experiência inovadora está construí<strong>da</strong> e alicerça<strong>da</strong> no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações diretas na <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> parceria do projeto EDUCAS<br />

com o Programa <strong>de</strong> Pós- Graduação em Psicologia. Sobre estes aportes foi <strong>de</strong>senvolvido<br />

o projeto <strong>de</strong> pesquisa sustentado na metodologia <strong>da</strong> pesquisa intervenção a qual, além<br />

<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ao sujeito investigado preocupa-se com sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como<br />

a interação que se estabelece entre o pesquisador e o objeto <strong>de</strong> seu estudo. Portanto, a<br />

partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> resiliência, nosso foco <strong>de</strong> interesse foi conhecer as<br />

experiências <strong>de</strong> jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mantém nas trajetórias<br />

<strong>escola</strong>res e não <strong>de</strong>sertam.<br />

Através <strong>de</strong> uma pesquisa-intervenção que consistiu na implementação <strong>de</strong><br />

programas dirigidos tanto para o trabalho específico com os jovens como para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> professores , tentamos i<strong>de</strong>ntificar que aspectos do<br />

contexto ecológico <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> adolescentes em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social<br />

são <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> associados à permanência na <strong>escola</strong>. Participaram<br />

<strong>de</strong>ste projeto professores, profissionais e alunos do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação, do<br />

Projeto EDUCAS, <strong>da</strong> Escola Estadual Villa – Lobos e acadêmicos do curso <strong>de</strong><br />

Psicologia.<br />

7


MARCO CONCEPTUAL<br />

Neste projeto partimos <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> aspectos subjetivos e<br />

contextuais associados à questão <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r. Assim, algumas questões foram<br />

<strong>de</strong>linea<strong>da</strong>s para embasar a análise compreensiva dos aspectos <strong>de</strong> resiliência e<br />

permanência na <strong>escola</strong>.<br />

Dados <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> no Brasil<br />

Trinta e cinco milhões <strong>de</strong> adolescentes (faixa <strong>de</strong> 10-19 anos) foram i<strong>de</strong>ntificados<br />

no Censo Demográfico Brasileiro em 2000 (IBGE, 2000). Este número, acrescido <strong>da</strong><br />

população <strong>de</strong> 0-9 anos (33 milhões), dimensiona a magnitu<strong>de</strong> e a importância <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção a estas faixas etárias. As crianças na primeira infância<br />

representam 11% <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a população brasileira, o Brasil o país com a maior população<br />

<strong>de</strong> até 6 anos <strong>da</strong>s Américas. Entretanto, gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s crianças e adolescentes<br />

brasileiros vivem em situação <strong>de</strong> pobreza e enfrentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no atendimento <strong>de</strong><br />

suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s básicas. Por exemplo, <strong>da</strong>dos do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />

Estatística apontam que 50% <strong>da</strong>s crianças e adolescentes brasileiras vivem em famílias<br />

cuja ren<strong>da</strong> mensal está abaixo <strong>de</strong> ½ salário mínimo per capita por mês (IBGE/Pnad<br />

2006).<br />

Dentre os objetivos do Milênio (ONU, 2000), questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação,<br />

direitos humanos <strong>de</strong>vem se constituir como foco prioritário <strong>da</strong>s ações dos governos<br />

como estratégias <strong>de</strong> redução <strong>de</strong>stas situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, com especial <strong>de</strong>staque<br />

para as faixas etárias <strong>da</strong> infância e adolescência. Dentre os objetivos do Milênio, a meta<br />

<strong>de</strong> Educação Básica e <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> volta-se para a dimensão <strong>da</strong> Educação, apontando<br />

que esta é uma <strong>da</strong>s condições fun<strong>da</strong>mentais para o <strong>de</strong>senvolvimento saudável <strong>de</strong><br />

crianças e adolescentes e, principalmente, para a construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

responsável e ética, que garante os direitos <strong>de</strong> seus ci<strong>da</strong>dãos e preserve o meio<br />

ambiente.<br />

8


Evasão <strong>escola</strong>r<br />

Klein (2006) <strong>de</strong>fine a boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema educacional pelas<br />

características fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> que o ensino <strong>de</strong>ve proporcionar aprendizagem aos<br />

alunos e progressão nas séries. A avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino inclui a análise dos<br />

seguintes indicadores: atendimento (proporção <strong>da</strong> população em i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r<br />

matricula<strong>da</strong>), movimentação <strong>escola</strong>r (taxas <strong>de</strong> aprovação, reprovação e abandono<br />

durante o ano <strong>escola</strong>r) e fluxo <strong>escola</strong>r (taxas <strong>de</strong> promoção, repetência e <strong>evasão</strong> entre<br />

séries), taxas <strong>de</strong> acesso à <strong>escola</strong>, taxas <strong>de</strong> conclusão <strong>da</strong> 4ª série, do EF e do EM e<br />

indicadores <strong>de</strong> aprendizado baseados em escalas interpreta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> proficiências (p.141).<br />

A análise do atendimento e fluxo indica que as taxas <strong>de</strong> repetência vêm caindo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992 (31.81%), mas estavam em 2003 ain<strong>da</strong> no patamar <strong>de</strong> 20.60%. Em relação<br />

aos alunos que concluem as séries do Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio, observa-se que até<br />

a 8ª. Série, 98% <strong>da</strong>s crianças <strong>de</strong> 8 a 12 anos estava freqüentando a <strong>escola</strong> (<strong>da</strong>dos<br />

referentes ao ano <strong>de</strong> 2003). Entretanto, esta taxa cai para 67% aos 17 anos. Este valor,<br />

porém, reflete somente que o aluno está matriculado na <strong>escola</strong>. Se, ao contrário, a<br />

análise levar em conta se o aluno está na série correspon<strong>de</strong>nte a sua i<strong>da</strong><strong>de</strong>, verifica-se<br />

que a partir dos 14 anos a taxa que é <strong>de</strong> 43.2 cai progressivamente para 23.4 aos 17 anos<br />

e 4.8 aos 18 anos em relação à percentagem <strong>de</strong> alunos que estão freqüentando a série<br />

correspon<strong>de</strong>nte a sua i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dentre várias medi<strong>da</strong>s sugeri<strong>da</strong>s para uma melhor quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ensino, Klein (2006) <strong>de</strong>staca ser necessário que as taxas <strong>de</strong> aprovação sejam maiores<br />

que 95% em to<strong>da</strong>s as séries e as taxas <strong>de</strong> <strong>evasão</strong> entre séries menores que 1%, além<br />

disto, em relação ao jovem <strong>de</strong> 14 a 18 anos é necessário mantê-lo na <strong>escola</strong>.<br />

A Região Sul, mesmo tendo um alto nível educacional no país, apresentou uma<br />

taxa <strong>de</strong> <strong>evasão</strong> <strong>de</strong> 13% no Ensino Médio conforme a Sinopse Estatística do INEP do<br />

ano <strong>de</strong> 2006. No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, a taxa <strong>de</strong> aprovação geral no ensino médio foi <strong>de</strong><br />

65,9%, <strong>de</strong> reprovação <strong>de</strong> 19,9% e <strong>de</strong> abandono 14.2%, sendo que a maioria dos<br />

abandonos ocorre no primeiro ano do segundo grau.<br />

Em São Leopoldo há uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> 26 <strong>escola</strong>s estaduais <strong>da</strong>s quais 12 aten<strong>de</strong>m o<br />

Ensino Médio. O total <strong>de</strong> alunos no Ensino Médio era <strong>de</strong> 36.904 jovens (SEC, 2006).<br />

Com relação a reprovação e <strong>evasão</strong> as taxas variam conforme as <strong>escola</strong>s, sendo que em<br />

algumas po<strong>de</strong>m chegar até 30% <strong>de</strong> alunos evadidos. Estas taxas são muito altas e<br />

ocorrem principalmente no primeiro ano do Ensino Médio.<br />

9


Graeff-Martins e cols. (2006) mencionam somente 10 estudos voltados<br />

especificamente para a questão <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r, nenhum referente aos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, locais on<strong>de</strong> o problema é muito mais intenso. Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stes<br />

estudos volta-se para trabalhos e ações dirigi<strong>da</strong>s aos professores, alunos e familiares,<br />

incentivando o acompanhamento, participação e envolvimento com a <strong>escola</strong>.<br />

Principalmente, <strong>de</strong>staca-se que os resultados após as intervenções apontam para uma<br />

melhoria do sistema educacional e redução <strong>de</strong> abandono.<br />

Neste sentido, Graeff-Martins e cols. (2006) <strong>de</strong>senvolveram um programa<br />

voltado para a questão do abandono <strong>escola</strong>r numa <strong>escola</strong> do Sul do Brasil. Foram<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s como reuniões com professores, informativo sobre <strong>evasão</strong><br />

<strong>escola</strong>r para os pais, reuniões gerais <strong>da</strong> <strong>escola</strong> (pais e professores), modificações no<br />

ambiente <strong>escola</strong>r, implementação <strong>de</strong> um programa específico dirigido para a 7ª. Série.<br />

Além disto, os alunos evadidos foram visitados em casa e também foi disponibilizado<br />

atendimento psicológico para os alunos que apresentassem <strong>de</strong>man<strong>da</strong>. Apesar <strong>de</strong><br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> implementação do programa e avaliação dos resultados, foi possível<br />

i<strong>de</strong>ntificar uma redução do absenteísmo e <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r no último trimestre <strong>da</strong> <strong>escola</strong><br />

trabalha<strong>da</strong>, indicando a importância do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> intervenções na <strong>escola</strong>.<br />

Finalmente, os autores <strong>de</strong>stacam a importância e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções<br />

preventivas nas <strong>escola</strong>s associa<strong>da</strong>s ao trabalho em saú<strong>de</strong> mental, visto que várias <strong>da</strong>s<br />

situações <strong>de</strong>terminantes <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res estão relaciona<strong>da</strong>s aos transtornos<br />

emocionais ou dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares.<br />

Adolescência, <strong>escola</strong> e saú<strong>de</strong><br />

Assim como to<strong>da</strong>s as etapas vitais, o indivíduo em seu <strong>de</strong>senvolvimento está<br />

inserido em e relaciona-se com diferentes contextos. Seguindo esta perspectiva, a<br />

abor<strong>da</strong>gem ecológica <strong>de</strong> Bronfenbrenner (1979/2002) leva em conta as múltiplas<br />

influências do ambiente sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo durante seu tempo <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Consi<strong>de</strong>ra que a interação com o meio ambiente o transforma, possibilitando-lhe<br />

novas respostas a<strong>da</strong>ptativas aos contextos sociais. A teoria privilegia a compreensão do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano no contexto, levando em conta os aspectos relativos à pessoa<br />

(características físicas, biológicas e emocionais), ao processo (como a experiência é<br />

vivencia<strong>da</strong>) e o tempo (meio-ambiente). Dessa maneira, na abor<strong>da</strong>gem ecológica o<br />

10


<strong>de</strong>senvolvimento humano é conceptualizado em pressupostos que vão além do enfoque<br />

nos vínculos diádicos e nas disposições individuais, focalizando os processos nos<br />

diferentes contextos sociais e ao longo do tempo.<br />

Fun<strong>da</strong>mentalmente, a adolescência é um período evolutivo caracterizado pelo<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição pessoal e inserção social resultante <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do jovem <strong>de</strong><br />

alcançar uma segun<strong>da</strong> individuação, uma tarefa que, por sua vez, mobiliza processos <strong>de</strong><br />

exploração do contexto, diferenciação do sistema familiar e busca <strong>de</strong> um sentimento <strong>de</strong><br />

pertença e sentido pessoal <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> (Benetti & Castro, 2006). Portanto, a partir do<br />

enfoque ecológico, observa-se que gradualmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, além <strong>da</strong> família a<br />

<strong>escola</strong> se insere como um local fun<strong>da</strong>mental para o <strong>de</strong>senvolvimento e socialização<br />

infantil. Na adolescência, a <strong>escola</strong> se reveste mais ain<strong>da</strong> como um sistema que permite a<br />

exploração <strong>de</strong> contextos <strong>de</strong> forma autônoma, ao mesmo tempo em que permite o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> valores e inserção autônoma do jovem no mundo adulto. Esta<br />

trajetória, porém, é interrompi<strong>da</strong> nos grupos vulneráveis econômica e socialmente. E,<br />

neste sentido, são vários os jovens no Brasil que <strong>de</strong>ixam a <strong>escola</strong> por inúmeros motivos.<br />

A compreensão do fenômeno <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r é complexa e envolve diversos<br />

elementos que variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> questões culturais e econômicas a aspectos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. No<br />

Brasil, vários jovens <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para trabalhar ou, <strong>de</strong>vido à repetência e<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res simplesmente abandonam os estudos. Outras questões associa<strong>da</strong>s<br />

à <strong>evasão</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s como presentes em estudos <strong>de</strong> diferentes procedências são a<br />

pobreza, maus-tratos, violência familiar e na <strong>escola</strong> (Aguilar & Viniegra, 1999),<br />

problemas familiares, ambiente <strong>escola</strong>r não satisfatório (Azevedo, 1996), nutrição<br />

(Grantham-McGregor, S. & Walker, 1998), transtornos emocionais (Asbar, 2004) e/ou<br />

na família e gravi<strong>de</strong>z na adolescência (Chalem e cols., 2007, Klein, 2006, Tramontina e<br />

cols., 2002). Por exemplo, crianças que haviam sofrido algum tipo <strong>de</strong> maus-tratos na<br />

infância apresentaram, num estudo longitudinal até a vi<strong>da</strong> adulta, maiores índices <strong>de</strong><br />

problemas emocionais, abandono <strong>escola</strong>r, e baixa auto-estima (Nomura e cols., 2007). O<br />

mais grave, porém, é que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s causas, a <strong>evasão</strong> e repetência <strong>escola</strong>r estão<br />

associa<strong>da</strong>s a trajetórias <strong>de</strong> <strong>de</strong>linqüência (Oliveira, 2002, Rodriguez, Salgueiro & Caro,<br />

1995) e uso <strong>de</strong> substâncias (Aguilar & Viniegra, 1999), indicando que ao <strong>de</strong>ixar a<br />

<strong>escola</strong>, a criança ou o jovem tem muito maiores chances <strong>de</strong> engajar-se em situações <strong>de</strong><br />

risco.<br />

11


Verifica-se, assim, que a <strong>escola</strong>, ao mesmo tempo em que ocupa um espaço<br />

provilegiado no processo <strong>de</strong> socialização <strong>de</strong> crianças e adolescentes po<strong>de</strong> ser um lócus<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> exclusão, principalmente <strong>da</strong>queles grupos mais vulneráveis econômica e<br />

socialmente. Desta maneira, <strong>de</strong>ve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> atenção para o currículo <strong>escola</strong>r como<br />

produtor <strong>de</strong> ações inclusivas ou exclusivas, focalizando-se, principalmente, as práticas<br />

<strong>escola</strong>res que venham a possibilitar a permanência do jovem no sistema educativo. Para<br />

tal é necessário conhecer o universo <strong>escola</strong>r, i<strong>de</strong>ntificar suas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>senvolver<br />

ações sensíveis aos grupos e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma que se aten<strong>da</strong>m as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

todos os alunos, reconhecendo as crianças e os adolescentes como sujeitos capazes <strong>de</strong><br />

transformação e crescimento, através <strong>de</strong> múltiplas e diversas aprendizagens.<br />

Outra fonte importante <strong>de</strong> informação sobre a situação <strong>escola</strong>r refere-se aos<br />

<strong>da</strong>dos sobre os motivos <strong>de</strong> consulta <strong>de</strong> crianças e adolescentes nas clínicas-<strong>escola</strong> <strong>de</strong><br />

psicologia. É gran<strong>de</strong> a procura no Brasil <strong>de</strong> atendimento psicológico na faixa etária <strong>da</strong><br />

infância, i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r e adolescente, principalmente nas clínicas-<strong>escola</strong>s <strong>de</strong> psicologia<br />

associados a queixas <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> aprendizagem, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento na<br />

<strong>escola</strong> e ou abandono <strong>escola</strong>r (Linhares, Parreira, Maturano, & Santa'anna, 1993). Esta<br />

característica do elevado número <strong>de</strong> encaminhamentos <strong>de</strong> crianças e adolescentes para<br />

avaliação e atendimento psicológico em função <strong>de</strong> atraso <strong>escola</strong>r, muitas vezes, não<br />

reflete uma <strong>de</strong>man<strong>da</strong> <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m cognitiva e, sim, aspectos familiares e comunitários que<br />

não são compreendidos na <strong>escola</strong>. Portanto, a <strong>escola</strong> passa a ser um fator <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong><br />

crianças que apresentem situações <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> diferenciados <strong>da</strong>s trajetórias não tradicionais<br />

<strong>de</strong> aprendizagem. Cabe a <strong>escola</strong> também realizar um trabalho <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong> suas<br />

experiências e transformá-las em processos criativos e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Tomando como referência estes aspectos, observa-se que a <strong>escola</strong> possibilita à<br />

criança e ao adolescente experiências relacionais com professores e colegas, além <strong>de</strong><br />

contato com diferentes situações <strong>de</strong> aprendizagem e mo<strong>de</strong>los. Adolescentes que<br />

vivenciam o contexto <strong>escola</strong>r como oferecendo pouco apoio e suporte, ten<strong>de</strong>m a exibir<br />

maior sofrimento emocional (Eamon, 2006). Ao contrário, experiências <strong>de</strong> apoio no<br />

contexto e presença <strong>de</strong> relações significativas com pares e/ou professores são situações<br />

associa<strong>da</strong>s à maior resiliência.<br />

Assim, a <strong>escola</strong> se constitui como um espaço fun<strong>da</strong>mental no processo <strong>de</strong><br />

socialização do adolescente o qual tem oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ter experiências para além <strong>da</strong>s<br />

relações familiares, estabelecendo vínculos com colegas e professores. Estas novas<br />

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possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação são partes formadoras do processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do jovem. Portanto, que a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s experiências no contexto <strong>escola</strong>r,<br />

incluindo tanto o ensino como o clima <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, são condições necessárias para um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento a<strong>de</strong>quado. Adolescentes que vivenciam o contexto <strong>escola</strong>r como<br />

oferecendo pouco apoio e suporte, ten<strong>de</strong>m a exibir maior sofrimento emocional<br />

(Eamon, 2006). Ao contrário, experiências <strong>de</strong> apoio no contexto e presença <strong>de</strong> relações<br />

significativas com pares e/ou professores são situações associa<strong>da</strong>s à maior resiliência.<br />

<strong>Resiliência</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

Dentre os vários aspectos investigados no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

psicológico <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong> adolescência, estudos sobre resiliência têm recebido<br />

<strong>de</strong>staque nas últimas déca<strong>da</strong>s, visto que procuram i<strong>de</strong>ntificar os <strong>fatores</strong> individuais e<br />

contextuais que atuariam como promotores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, mesmo quando em<br />

situação adversa. Masten e Garmezy (1990) i<strong>de</strong>ntificaram três níveis <strong>de</strong> <strong>fatores</strong><br />

associados a maior <strong>proteção</strong> e resiliência como: as características disposicionais <strong>da</strong><br />

criança, tais como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, autonomia, positiva orientação social e auto-estima; as<br />

características familiares, como coesão familiar, ausência <strong>de</strong> conflitos, e maus-tratos; e<br />

características do contexto social, como a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio social<br />

<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>. Além <strong>de</strong>stes <strong>fatores</strong>, Rutter (1993) salienta a importância <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar o<br />

momento evolutivo <strong>da</strong> criança e a fonte <strong>de</strong> origem <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> adversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Junqueira (2003) realça que o conceito <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong>ve ser compreendido a<br />

partir <strong>de</strong> uma perspectiva dinâmica, pois o indivíduo po<strong>de</strong> ser resiliente em <strong>de</strong>termina<strong>da</strong><br />

situação e não em outra. Portanto, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar a noção <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

individual <strong>de</strong> maior resiliência em alguns momentos ou situações ao invés <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />

um indivíduo como sendo resiliente num sentido único. Da mesma forma, o conceito <strong>de</strong><br />

resiliência não se refere unicamente a uma a<strong>da</strong>ptação à situação adversa ou a uma<br />

superação <strong>de</strong> seus efeitos e, sim, a um processo mais complexo que envolve diferentes<br />

elementos.<br />

A resiliência resultaria <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> individual <strong>de</strong> negociar com sucesso as<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s do <strong>de</strong>senvolvimento, apesar do cumulativo efeito <strong>da</strong> adversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> ou potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento seria mantido em função <strong>de</strong> características<br />

individuais ou contextuais que protegeriam o indivíduo <strong>de</strong> maiores <strong>da</strong>nos. Algumas<br />

13


<strong>de</strong>stas características referem-se à inteligência, habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e resolução<br />

<strong>de</strong> tarefas, facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> relações interpessoais, capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-regulação afetiva, <strong>de</strong><br />

planejamento e organização pessoal, presença <strong>de</strong> figuras <strong>de</strong> suporte ou re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio,<br />

<strong>de</strong>ntre outras.<br />

Pesce (2005, p. 436) sintetiza o conceito <strong>de</strong> resiliência como “o conjunto <strong>de</strong><br />

processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam o <strong>de</strong>senvolvimento saudável do<br />

indivíduo” e também i<strong>de</strong>ntifica três situações como promotoras <strong>de</strong> maior resiliência. O<br />

primeiro envolvendo características <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o segundo coesão e bom<br />

relacionamento na família, e o terceiro presença <strong>de</strong> suporte externo promovendo<br />

estratégias <strong>de</strong> coping <strong>da</strong> criança, principalmente do grupo <strong>de</strong> pares, <strong>escola</strong> e<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Observa-se que em todos a to<strong>da</strong> a conceituação <strong>de</strong> resiliência está presente um<br />

elemento fun<strong>da</strong>mental que é a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio disponível ao indivíduo em seu processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Logo, pensando-se em todos os aspectos discutidos em relação à<br />

inserção e <strong>de</strong>sempenho na <strong>escola</strong> e, especificamente, às situações associa<strong>da</strong>s à <strong>evasão</strong><br />

<strong>escola</strong>r, torna-se importante i<strong>de</strong>ntificar que <strong>fatores</strong> ao nível <strong>da</strong> dimensão <strong>escola</strong>r<br />

constituem-se como situações protetoras <strong>da</strong> <strong>evasão</strong>. Foi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta concepção que se<br />

procurou <strong>de</strong>senvolver um trabalho tendo como foco a investigação <strong>da</strong>s situações <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e resiliência na trajetória <strong>de</strong> adolescentes alunos do Ensino Médio <strong>de</strong><br />

<strong>escola</strong>s estaduais do Município <strong>de</strong> São Leopoldo.<br />

14


Contexto educativo e social<br />

Desenvolvimento do projeto<br />

A UNISINOS, através do projeto EDUCAS, <strong>de</strong>senvolve um programa <strong>de</strong> ação<br />

social que reúne diferentes cursos <strong>de</strong> graduação e pós-graduação, e acadêmicos <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, tendo como foco <strong>de</strong> ação as <strong>escola</strong>s municipais,<br />

estaduais e outras instituições públicas <strong>de</strong> educação que buscam garantir a permanência<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s aprendizagens <strong>de</strong> seus alunos na <strong>escola</strong>. Envolve, portanto, to<strong>da</strong><br />

a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r: pais, mães, responsáveis, professores, crianças, jovens e pessoas<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que compõem estes espaços <strong>de</strong> educação selecionados para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos projetos que comporão este programa (Bemvenutti, 2006, Fabris e<br />

Sal<strong>da</strong>nha, 2000).<br />

Assim, por meio <strong>de</strong> pesquisas, estudos e projetos aten<strong>de</strong> a re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong><br />

ensino <strong>de</strong> São Leopoldo, buscando fortalecer as políticas públicas do município. O<br />

fracasso <strong>escola</strong>r impe<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e está associado a um julgamento <strong>de</strong><br />

valor. Geralmente, o fracasso <strong>escola</strong>r está associado à trajetória <strong>de</strong> crianças e<br />

adolescentes pobres e <strong>de</strong> bairros <strong>da</strong> periferia urbana. A intervenção nestas situações<br />

aten<strong>de</strong> não somente ao caráter educativo, mas se insere numa dimensão <strong>de</strong> construção<br />

<strong>de</strong> civili<strong>da</strong><strong>de</strong> e ética <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O projeto originou-se <strong>de</strong> ações propostas em 1991, quando foi estabeleci<strong>da</strong> uma<br />

parceria com a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> São Leopoldo com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

verificar como eram entendidos e encaminhados os casos <strong>de</strong> crianças consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

difícil aprendizagem. Inicialmente criou-se um programa com caráter <strong>de</strong> extensão<br />

universitária, que ao mesmo tempo em que realizava avaliação psicope<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>s<br />

crianças envolvia os professores numa discussão mais ampla sobre “problemas <strong>de</strong><br />

aprendizagem”. Posteriormente, o programa foi <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> EDUCAS,<br />

estabelecendo-se parcerias com <strong>escola</strong>s e realiza<strong>da</strong>s acessórias com outras, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>. No ano <strong>de</strong> 2007, já sob a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> projeto EDUCAS foram<br />

realizados 1000 atendimentos que envolveram em torno <strong>de</strong> 60 crianças e 50 familiares<br />

(Dazzi, 2007).<br />

Elementos <strong>de</strong> transformação<br />

O programa <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> intensa procura por serviços <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> aprendizagem e<br />

baseia-se no pressuposto <strong>de</strong> que os próprios agentes <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>vem assumir e<br />

15


<strong>de</strong>senvolver ações volta<strong>da</strong>s para as <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong> crianças com necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

pe<strong>da</strong>gógico. O serviço também respon<strong>de</strong> a uma intensa procura por assessoria e<br />

atendimento por parte <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s e <strong>da</strong>s Secretarias <strong>de</strong> Educação, vincula<strong>da</strong> aos sujeitos<br />

que são atendidos no EDUCAS. São trabalha<strong>da</strong>s, então, questões do fracasso <strong>escola</strong>r,<br />

repetências e a <strong>evasão</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> participação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> distintas<br />

áreas, pe<strong>da</strong>gogia, psicologia, serviço social procura-se compreen<strong>de</strong>r este sujeito sob<br />

uma ótica transdisciplinar. Esta abor<strong>da</strong>gem possibilita uma visão mais complexa <strong>da</strong><br />

situação <strong>da</strong> criança e adolescente com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Os conceitos básicos do programa referem-se ao ensino e aprendizagem, inclusão,<br />

diferença, currículo, conceitos <strong>de</strong>finidos pela noção <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> educação é<br />

construído pela toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência, pelo <strong>de</strong>sejo e pela conscientização <strong>da</strong>s<br />

contradições sociais existentes e <strong>da</strong> luta para a construção <strong>de</strong> um projeto diferente <strong>de</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A criança <strong>de</strong> classes populares ou aquela que apresenta reais dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />

seu <strong>de</strong>senvolvimento, não é incapaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, mas sim está (por alguma razão)<br />

limita<strong>da</strong> em um processo <strong>de</strong> aprendizagem resultante <strong>de</strong> sua relação com o meio no qual<br />

vive (Dazzi, 2007).<br />

O Programa tem como objetivos principais:<br />

1. Prestar assessoria institucional às organizações e grupos ligados a educação<br />

formal e informal, bem como a gestores <strong>de</strong> <strong>escola</strong>s, professores, pais e alunos.<br />

2. Realizar intervenções interdisciplinares com grupos <strong>de</strong> crianças e <strong>de</strong><br />

adolescentes narrados como não apren<strong>de</strong>ntes, com grupos <strong>de</strong> professores e <strong>de</strong><br />

As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no programa incluem ações volta<strong>da</strong>s para a Escola,<br />

Famílias e formação <strong>de</strong> alunos <strong>da</strong> re<strong>de</strong> <strong>escola</strong>r do município <strong>de</strong> São Leopoldo. Os<br />

alunos são encaminhados pela <strong>escola</strong> e são atendidos em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s grupais/individuais<br />

e também é feito um trabalho com as professoras e equipe diretiva <strong>da</strong> <strong>escola</strong> visando a<br />

construção <strong>de</strong> uma nova forma <strong>de</strong> visão do aluno, não se restringindo à noção <strong>de</strong> que o<br />

problema está somente no aluno. O programa proporciona ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

pe<strong>da</strong>gógico e psicológico aos professores e gestores <strong>de</strong> instituições educativas,<br />

<strong>de</strong>senvolve o processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem numa perspectiva cultural, visando a<br />

qualificação do aluno e produção <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Em relação às famílias, o programa tenta estabelecer vínculos que permitam a<br />

divulgação <strong>de</strong> informação sobre a educação dos filhos e inclusão no processo educativo<br />

16


como um todo, promovendo <strong>de</strong>bates sobre temas voltados para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cognitivo, social, emocional e cultural dos filhos. Em relação às <strong>escola</strong>s, o programa<br />

promove o assessoramento quanto à política pe<strong>da</strong>gógica focalizando no<br />

autogerenciamento dos professores. As discussões curriculares são dirigi<strong>da</strong>s para<br />

questões <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, promovendo trocas pe<strong>da</strong>gógicas e <strong>de</strong> informações<br />

sobre o processo educativo dos alunos. O trabalho com crianças e adolescentes com<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>escola</strong>, seja pela dimensão cognitiva ou por questões interpessoais <strong>de</strong><br />

relacionamento e condutas violentas tem indicado que é necessária uma abor<strong>da</strong>gem<br />

complexa <strong>da</strong> compreensão dos diferentes <strong>fatores</strong> envolvidos no processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento individual. Assim, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as questões associa<strong>da</strong>s as<br />

crianças e adolescentes com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, é importante<br />

expandir nossa visão para a compreensão <strong>da</strong>quelas trajetórias <strong>de</strong> resiliência.<br />

Um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para o trabalho com crianças e adolescentes com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>escola</strong>res é que muitos <strong>de</strong>les terminam por abandonar a <strong>escola</strong>, principalmente ao redor<br />

do término <strong>da</strong> Etapa Fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> Ensino- em torno do início <strong>da</strong> adolescência. Desta<br />

maneira, tomando como foco um dos pontos do Projeto EDUCAS <strong>de</strong> incluir outras<br />

dimensões <strong>de</strong> inserção <strong>da</strong>s crianças e adolescentes com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res,<br />

trabalhando também a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>escola</strong>r, este projeto focalizou na questão <strong>da</strong> prevenção<br />

do fracasso e <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r. Logo, a partir <strong>de</strong> uma parceria com o Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em Psicologia <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> elaborou-se o projeto <strong>de</strong> intervenção<br />

focalizando os aspectos <strong>de</strong> permanência dos alunos na <strong>escola</strong>.<br />

Contexto <strong>da</strong> pesquisa<br />

O Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia tem como área <strong>de</strong> concentração<br />

Psicologia Clínica. Organiza-se em duas Linhas <strong>de</strong> Pesquisa: “Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong><br />

Adolescência” e “Subjetivação Contemporânea e Práticas Clínicas”.<br />

Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Adolescência - Focaliza a compreensão <strong>da</strong> infância e <strong>da</strong><br />

adolescência em diversos espaços e contextos, tais como o familiar, o <strong>escola</strong>r, o clínico,<br />

o jurídico, o <strong>da</strong>s políticas públicas, bem como o estudo <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> promoção,<br />

prevenção, avaliação e intervenção psicoterápica frente às problemáticas relaciona<strong>da</strong>s à<br />

saú<strong>de</strong> mental <strong>da</strong> população infanto-juvenil.<br />

Subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Saú<strong>de</strong> Mental e Estados Psicopatológicos - Abrange o estudo<br />

do sofrimento psíquico e dos processos saú<strong>de</strong>-doença, <strong>de</strong> suas manifestações na<br />

contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, as vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>í <strong>de</strong>correntes, com base em diferentes<br />

17


concepções <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e em distintos referenciais teóricos e contextos <strong>de</strong><br />

intervenção.<br />

A concepção <strong>de</strong> “clínica” que sustenta o Programa e suas linhas <strong>de</strong> pesquisa é<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> uma perspectiva amplia<strong>da</strong>, não no sentido <strong>de</strong> uma subárea <strong>da</strong><br />

Psicologia, <strong>de</strong> uma especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> sua, mas no sentido <strong>de</strong> “clínica” como uma forma <strong>de</strong><br />

pensar, <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o comportamento e as manifestações <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e sofrimento psíquico, nos mais diversos âmbitos, e também enquanto<br />

forma <strong>de</strong> intervenção (Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico, 2005).<br />

Portanto, a experiência inovadora construí<strong>da</strong> e alicerça<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ações diretas na <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> parceria do projeto EDUCAS com o Programa <strong>de</strong><br />

Pós- Graduação em Psicologia justificou o <strong>de</strong>senvolvido do projeto <strong>de</strong> pesquisa. A<br />

partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> resiliência, nosso foco <strong>de</strong> interesse foi conhecer as<br />

experiências <strong>de</strong> jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mantém nas trajetórias<br />

<strong>escola</strong>res e não <strong>de</strong>sertam.<br />

É importante <strong>de</strong>stacar que este projeto se insere na continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ações<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelo Projeto e o PPG em Psicologia. Esta possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> investigação<br />

realiza<strong>da</strong> na Escola Villa Lobos foi estabeleci<strong>da</strong> sobre um trabalho em re<strong>de</strong> que facilitou<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> intervenção na <strong>escola</strong>.<br />

Objetivos:<br />

• Desenvolver um programa <strong>de</strong> intervenção na <strong>escola</strong> dirigido à prevenção <strong>da</strong> <strong>evasão</strong><br />

<strong>escola</strong>r.<br />

• I<strong>de</strong>ntificar os <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> e <strong>de</strong> risco <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na faixa etária <strong>da</strong><br />

adolescência, consi<strong>de</strong>rando as características individuais dos jovens, as relações<br />

familiares, as relações na <strong>escola</strong> e as características do contexto <strong>escola</strong>r e<br />

comunitário.<br />

• Ampliar as ações educativas através do estabelecimento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa<br />

focalizando a <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r.<br />

• Fortalecer o trabalho em equipe entre as diferentes instituições envolvi<strong>da</strong>s,<br />

incluindo a <strong>escola</strong>, os serviços estaduais e municipais e a Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> (projeto<br />

EDUCAS).<br />

18


Cui<strong>da</strong>dos Éticos<br />

Além <strong>da</strong> autorização <strong>da</strong> <strong>escola</strong> para a realização do trabalho, a participação no estudo<br />

foi condiciona<strong>da</strong> ao consentimento dos pais ou responsável do adolescente obti<strong>da</strong><br />

através <strong>da</strong> assinatura do Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)<br />

elaborado conforme as diretrizes regulamentadoras <strong>de</strong> pesquisa envolvendo seres<br />

humanos, Resolução nº 196/96 do CNS, e aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>da</strong><br />

UNISINOS. Desta forma, os adolescentes e familiares foram informados do objetivo do<br />

trabalho e respeitados quanto ao interesse <strong>de</strong> participação na pesquisa, na<br />

confi<strong>de</strong>nciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s. No caso <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> <strong>de</strong> situação que<br />

envolva <strong>da</strong>no, risco ou <strong>de</strong>man<strong>de</strong> atendimento psicológico, os adolescentes serão<br />

encaminhados para o PAAS ou será acionado órgão responsável (Escola, Conselho<br />

Tutelar).<br />

ATIVIDADES<br />

Ao término dos 6 meses <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, realizamos ações em três contextos<br />

associados à promoção <strong>de</strong> inserção educacional e prevenção <strong>da</strong> <strong>evasão</strong>- PROJETO<br />

EDUCAS, PROJETO PAAS E ESCOLA VILA LOBOS. Ao estabelecermos uma<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> contato e ação entre diferentes organizações – universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>escola</strong> e serviços<br />

do município estamos <strong>de</strong>senvolvendo novas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção que se dão<br />

(1) tanto na dimensão <strong>da</strong> escuta <strong>da</strong>s diferentes situações envolvendo os profissionais<br />

<strong>de</strong>stas instituições (2) no estabelecimento <strong>de</strong> ações profissionais valorativas dos papéis<br />

pe<strong>da</strong>gógicas e (3) no rompimento <strong>de</strong> estereótipos <strong>de</strong> que alunos problemáticos não<br />

po<strong>de</strong>m modificar suas trajetórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Primeira Etapa<br />

Na primeira etapa do trabalho foram inicia<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nos três contextos <strong>de</strong><br />

trabalho. Ca<strong>da</strong> contexto manteve seu enfoque <strong>de</strong> ação, porém foram aprimora<strong>da</strong>s as<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s através <strong>da</strong> inclusão <strong>de</strong> propostas alternativas <strong>de</strong> ação educativa, tais como<br />

reuniões <strong>de</strong> trabalho coletivas que permitiram o planejamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Também<br />

foram propostas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais com o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto a ênfase <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s centrou-se no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> experiências educativas potencializadoras<br />

<strong>de</strong> novos aprendizados, inclusão e participação dos alunos.<br />

19


• No Projeto EDUCAS foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística cultural com<br />

alunos encaminhados por <strong>escola</strong>s do município com problemas <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong><br />

diversas or<strong>de</strong>ns. Esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> consistiu na realização <strong>de</strong> Oficinas <strong>de</strong> Criação <strong>de</strong><br />

Bonecos, as quais se <strong>de</strong>senrolaram por todo o semestre, semanalmente, envolvendo<br />

alunos e familiares, além <strong>da</strong> equipe muldisciplinar <strong>de</strong> trabalho (pe<strong>da</strong>goga, psicóloga).<br />

Ao todo foram realizados 10 encontros semanais com o grupo <strong>de</strong> crianças (média <strong>de</strong> 7 –<br />

10 alunos participantes). Estas oficinas ocorreram durante a tar<strong>de</strong>, em turno oposto ao<br />

<strong>escola</strong>r.<br />

A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> pelo Grupo <strong>de</strong> Teatro Criando Peça<br />

(www.criandopeca.com.br), o qual <strong>de</strong>senvolve peças <strong>de</strong> teatro infantis nas quais são<br />

utilizados bonecos na representação <strong>da</strong> história. Durante as oficinas, os alunos pu<strong>de</strong>ram<br />

ter a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer os bonecos pessoalmente, sendo orientados pelos integrantes<br />

do grupo. As etapas do trabalho incluíram o <strong>de</strong>senho, preparação do material e execução<br />

dos bonecos.<br />

A confecção dos bonecos teve um impacto muito gran<strong>de</strong> nas crianças que<br />

participaram com muito entusiasmo no projeto. Segundo a coor<strong>de</strong>nadora do programa, a<br />

proposta se caracterizou por uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oferecer às crianças a experiência <strong>de</strong><br />

um trabalho em conjunto, colaborativo e criativo. Experiências como estas transformam<br />

as trajetórias <strong>escola</strong>res dos alunos, ao permitir que alcancem com êxito a realização <strong>de</strong><br />

uma proposta.<br />

A pe<strong>da</strong>goga e psicóloga que acompanharam o <strong>de</strong>senvolvimento dos encontros<br />

observaram que a integração <strong>da</strong>s crianças foi muito boa e também a participação dos<br />

pais, trazendo os alunos para os encontros. Quando do último encontro, ao serem<br />

apresentados os bonecos, o grupo Pregandopeça sugeriu que em 2009 fosse realiza<strong>da</strong><br />

uma peça <strong>de</strong> teatro, monta<strong>da</strong> com os alunos.<br />

20


O registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s através <strong>da</strong>s fotos foi feito durante os grupos <strong>de</strong> trabalho e<br />

exemplificam o trabalho manual dos alunos e o resultado final dos bonecos.<br />

21


• No Projeto PAAS foram recebidos os alunos <strong>da</strong> Escola Vila Lobos que<br />

possuem história <strong>de</strong> violência familiar ou outras dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s emocionais. O<br />

atendimento no local consiste <strong>de</strong> avaliações psicológicas e encaminhamento para<br />

atendimento psicoterápico. Ao todo seis alunos foram encaminhados para o projeto.<br />

• Finalmente, na Escola Vila Lobos foram realiza<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com a direção, os<br />

professores, pais e familiares e os alunos, consistindo, este momento do projeto como a<br />

segun<strong>da</strong> etapa do trabalho. A Escola Estadual Villa Lobos está situa<strong>da</strong> em zona urbana<br />

do município <strong>de</strong> São Leopoldo/RS, funciona em dois prédios <strong>de</strong> alvenaria, com 12 salas<br />

<strong>de</strong> aula, sala <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, sala <strong>de</strong> informática, biblioteca, sala <strong>da</strong> direção, sala <strong>de</strong> supervisão<br />

pe<strong>da</strong>gógica, sala <strong>da</strong> secretaria, bar, refeitório, um palco aberto e local para jogos e<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas. Nesta <strong>escola</strong> constam 950 alunos matriculados, em parte provenientes<br />

<strong>de</strong> famílias em vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social, distribuídos em três turnos, com cerca <strong>de</strong> 70<br />

24


professores, apresentando conteúdos educativos para o ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> séries<br />

iniciais e finais, ensino médio regular e na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> EJA.<br />

Segun<strong>da</strong> etapa<br />

Com objetivo <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ação direta na <strong>escola</strong> e para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do projeto investigativo, realizamos na <strong>escola</strong> Villa-Lobos as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisaintervenção<br />

volta<strong>da</strong>s para a compreensão <strong>da</strong>s trajetórias dos jovens em situação <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social a partir <strong>da</strong> visão <strong>de</strong> diferentes atores- Direção, equipe <strong>de</strong><br />

professores e técnicos e os alunos <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s realiza<strong>da</strong>s nestes três contextos correspon<strong>de</strong>ram às ações <strong>de</strong>linea<strong>da</strong>s<br />

pelos objetivos <strong>de</strong> trabalho conforme o <strong>de</strong>talhamento abaixo:<br />

• - Desenvolver um programa <strong>de</strong> intervenção dirigido à prevenção <strong>da</strong> <strong>evasão</strong><br />

<strong>escola</strong>r - as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s incluíram:<br />

1. reuniões com professores e técnicos <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Foram realiza<strong>da</strong>s oito reuniões com<br />

direção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e professores individualmente e duas reuniões gerais envolvendo<br />

to<strong>da</strong> a equipe, abor<strong>da</strong>ndo as temáticas relativas ao processo <strong>de</strong> ensino aprendizagem,<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e vivências colaborativas <strong>da</strong> equipe na solução <strong>de</strong> problemas.<br />

A realização do projeto na <strong>escola</strong> envolveu um convívio semanal durante os seis<br />

meses <strong>de</strong> trabalho. Assim, durante dois dias na semana realizamos as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

acompanhamento dos alunos, reuniões <strong>de</strong> pais e professores e <strong>de</strong>mais encontros.<br />

Nos contatos com a equipe diretiva (diretor e vices-diretores) i<strong>de</strong>ntificamos nas<br />

falas sobre o processo educativo em geral que gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s ações <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s<br />

restringem-se a resolver questões imediatas e urgentes sobre a administração <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Em função <strong>da</strong>s precárias condições do ensino, falta <strong>de</strong> professores, problemas <strong>de</strong> infraestrutura,<br />

gran<strong>de</strong> parte do trabalho orienta-se para a solução <strong>de</strong> problemas imediatos.<br />

“Hoje, estamos com falta <strong>de</strong> professores em várias turmas e não temos<br />

infraestrutura para aten<strong>de</strong>r aos alunos <strong>de</strong>stas turmas, teremos que liberá-los para<br />

retornar para casa. Me preocupa que irão sozinhos para casa, passando por bairros<br />

perigosos (administrador)”.<br />

Nas reuniões com os professores, observamos pouco apoio institucional,<br />

financeiro, e <strong>de</strong> suporte emocional aos docentes. O relato coletivo nas reuniões refere-se<br />

25


às dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s encontra<strong>da</strong>s em sala <strong>de</strong> aula para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos maiores<br />

ou modificações no ambiente basea<strong>da</strong>s em ações planeja<strong>da</strong>s pelo grupo.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, foi possível i<strong>de</strong>ntificar iniciativas individuais <strong>da</strong> direção, como<br />

formar parcerias para vencer alguns dos obstáculos vivenciados ( falta <strong>de</strong> alimentação<br />

no domicílio do aluno, falta <strong>de</strong> dinheiro para passagem, falta <strong>de</strong> material <strong>escola</strong>r básico,<br />

ausencia ocasional <strong>de</strong> professores e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço psicológico), soma<strong>da</strong>s a<br />

participação <strong>de</strong> alguns professores. Estas iniciativas permitiam ao aluno ter um senso <strong>de</strong><br />

<strong>proteção</strong> e acolhi<strong>da</strong> no ambiente <strong>escola</strong>r, que estão além do processo <strong>de</strong> ensinoaprendizagem.<br />

Exemplificando- Uma professora do Ensinos Fun<strong>da</strong>mental fez convites aos pais e<br />

responsáveis <strong>de</strong> alunos <strong>da</strong> 3ª. e 4ª. série do ensino fun<strong>da</strong>mental para participarem na sala<br />

<strong>de</strong> aula, incentivando e aju<strong>da</strong>ndo seus filhos em suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e felicitando-os pelos<br />

seus sucessos. Segundo ela, a importância <strong>da</strong><strong>da</strong> ao ensino pelos pais fortalece o vínculo<br />

do aluno com a <strong>escola</strong> e funciona como fator <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> a <strong>evasão</strong>. A proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />

pais com a <strong>escola</strong> evita que a situação do aluno se torne crítica, pois as intervenções são<br />

imediatas.<br />

Por que iniciativas como esta não são dissemina<strong>da</strong>s em outras séries?<br />

Nas reuniões com os professores, observamos que o espaço <strong>de</strong> trabalho volta-se<br />

essencialmente para a exposição <strong>de</strong> suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Isto é, as reuniões funcionam<br />

como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> extravasar os problemas, sem que haja um direcionamento para<br />

um planejamento organizado do que po<strong>de</strong>ria ser feito. Durante as reuniões, ocorrem<br />

inúmeras interrupções <strong>de</strong> funcionários e outros professores que trazem situações<br />

urgentes que necessitam ser resolvi<strong>da</strong>s e que acabam divergindo o an<strong>da</strong>mento do<br />

trabalho. Predomina, portanto, uma atmosfera <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo insitucional que abarca<br />

todo o discurso dos participantes, engolfando-os numa atmosfera <strong>de</strong> estar travando uma<br />

batalha interminável.<br />

Algumas <strong>da</strong>s verbalizações dos professores sintetizam a percepção sobre o papel<br />

<strong>da</strong> <strong>escola</strong> e as condições <strong>de</strong> trabalho.<br />

“Não temos como competir com a rua, eles têm uma vi<strong>da</strong> muito difícil, convivem<br />

com a violência, passam necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s...Quando chegam na aula, é complicado, não<br />

respeitam, falam, fazem bagunça...é difícil <strong>de</strong> controlar...”<br />

26


“ Faço o que posso, tento <strong>da</strong>r aula e me esforço, mas a tarefa é muito<br />

cansativa..”<br />

“ Nós, os professores, não somos valorizados pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ganhamos pouco e<br />

as <strong>escola</strong>s não recebem na<strong>da</strong> <strong>de</strong> apoio. Quando tentamos que os pais venham, só<br />

aparecem uns poucos...Eles não se interessam pelos filhos, a <strong>escola</strong> é que educa as<br />

crianças e não os pais...”<br />

Qual lugar que a <strong>escola</strong> ocupa na vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>les, eles po<strong>de</strong>m se envolver com drogas<br />

e vão ter mais dinheiro que empregos?<br />

Ain<strong>da</strong> assim, foi interessante notar que existem ações pro-ativas e que passam sem<br />

a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> valorização. Por exemplo, sempre que o aluno não comparece à aula, um<br />

serviço realizado pela <strong>escola</strong> <strong>de</strong> consulta à família dos motivos <strong>de</strong>sta ausência é<br />

acionado. A <strong>escola</strong> <strong>de</strong>monstra preocupação com o aluno face a violência urbana, <strong>de</strong><br />

modo que notifica a família, caso o aluno tenha saído <strong>de</strong> casa e não esteja na <strong>escola</strong>. Da<br />

mesma foram, em questão <strong>de</strong> segurança, sempre que necessário (briga <strong>de</strong> gangues) a<br />

<strong>escola</strong> solicita a Briga<strong>da</strong> Militar um guar<strong>da</strong>, com carater apenas ostensivo, para <strong>proteção</strong><br />

dos alunos na saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Outra situação marcante foi o envolvimento com a gravi<strong>de</strong>z precoce <strong>de</strong> uma<br />

aluna <strong>de</strong> 13 anos cuja família estava envolvi<strong>da</strong>s com tráfico <strong>de</strong> drogas. A menina<br />

procurou a <strong>escola</strong> temendo pela reação dos pais. Através <strong>de</strong> iniciativas individuais foi<br />

possível aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s do caso, ain<strong>da</strong> que a <strong>escola</strong> careça <strong>de</strong> um planejamento e<br />

suporte do sistema <strong>de</strong> assistência social do munícipio, nestes casos.<br />

27


Verificamos, neste sentido, que os professores e a equipe diretiva realizam<br />

constantemente ações cotidianas não formais, as quais não são reconheci<strong>da</strong>s com o<br />

<strong>de</strong>vido valor. Estas ações envolveram, como mencionado anteriormente,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos com os alunos, envolvimento com os pais e atenção às<br />

situações <strong>de</strong> maior vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nossa intervenção na <strong>escola</strong> através <strong>da</strong> presença dos<br />

técnicos e do trabalho com os alunos foi percebi<strong>da</strong> como uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão<br />

sobre estas questões.<br />

O envolvimento <strong>da</strong> equipe diretiva com as ações do projeto e as verbalizações<br />

acerca <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> inovadora realiza<strong>da</strong> indicaram que as intervenções trouxeram um<br />

auxílio importante para o trabalho educativo. Especificamente, este apoio manifestou-se<br />

pela organização espontanea <strong>de</strong> uma sala reserva<strong>da</strong> para a execução do projeto, a<br />

presença em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> equipe diretiva e por verbalizações sobre a<br />

importância e o impacto positivo que o trabalho alcançou junto aos alunos.<br />

1. reuniões gerais <strong>da</strong> <strong>escola</strong> (pais e professores). Foram realiza<strong>da</strong>s três<br />

reuniões <strong>de</strong> pais e professores, quando foram também <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

dinâmicas <strong>de</strong> integração e discussão.<br />

Acolhi<strong>da</strong> e Dinâmica <strong>de</strong> Integração e Senso <strong>de</strong> Coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Numa <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com os pais e alunos, <strong>de</strong>senvolvemos uma dinâmica <strong>de</strong><br />

integração conforme a <strong>de</strong>scrição abaixo.<br />

28


As mães (22) e um pai (1), com alunos (22) <strong>da</strong> 3ª, 4ª, 5ª e 6ª séries do Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental, turno <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, foram acolhidos pelo diretor, vice-diretora e pela estágiária<br />

<strong>de</strong> psicologia <strong>da</strong> UNISINOS. Foi coloca<strong>da</strong> a importância <strong>da</strong> presença dos pais e <strong>da</strong><br />

experiência <strong>de</strong> integração com a <strong>escola</strong>, bem como <strong>da</strong> expectativa <strong>de</strong> melhorias no<br />

aproveitamento <strong>escola</strong>r dos alunos com esta iniciativa. A seguir, foram apresenta<strong>da</strong>s as<br />

colaboradoras nesta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, três alunas <strong>da</strong> UNISINOS e a palestrante.<br />

A dinâmica teve o seguinte <strong>de</strong>senvolvimento; estando reunidos, mães, pai, alunos<br />

e colaboradoras foi solicitado que, voluntariamente, se apresentassem para a dinâmica,<br />

dois representantes com seus filhos, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> série, num total <strong>de</strong> 16 pessoas.<br />

Instruções: Dispostos em círculo, lado a lado, na mão direita ca<strong>da</strong> pessoa<br />

segurou um bastão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Dado um sinal, ca<strong>da</strong> um soltará seu bastão, e tentará<br />

pegar o bastão <strong>da</strong> pessoa a sua direita antes que este caia no chão. Foi feita uma<br />

<strong>de</strong>monstração e em segui<strong>da</strong> começou a dinâmica.<br />

Na primeira oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, vários bastões caíram no chão. Na segun<strong>da</strong> e terceira o<br />

esforço foi maior, mesmo assim houve que<strong>da</strong> dos bastões. Como po<strong>de</strong>ria ter melhor<br />

aproveitamento para não <strong>de</strong>ixarem os bastões cair ao chão? As respostas foram:<br />

conversar, mu<strong>da</strong>r a posição do bastão, controlar melhor, não largar <strong>de</strong> qualquer jeito o<br />

bastão, pedir gentilmente o bastão do colega ao lado, se concentrar. Mais duas<br />

repetições e, todos do grupo conseguiram alcançar o bastão ao lado, com o grupo<br />

aproximando-se um pouco mais.<br />

Lançou-se para grupo que realizou a dinâmica e para o grupo que assistiu uma<br />

pergunta sobre o que esta tarefa significou para eles? Para o grupo <strong>da</strong> dinâmica a<br />

preocupação foi mais com a tarefa, como organizar-se para não <strong>de</strong>ixar cair o bastão. O<br />

grupo assistente percebeu que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos um do outro para alcançar nossos objetivos.<br />

Foi, então, complementado pela coor<strong>de</strong>nação a importância <strong>da</strong> comunicação no grupo,<br />

enfatizando-se que o aprendizado é um esforço conjunto. Esta é a razão do convite aos<br />

pais, juntos po<strong>de</strong>remos produzir melhores resultados nas relações <strong>escola</strong>res e familiares,<br />

bem como melhor aproveitamento <strong>escola</strong>r e menor <strong>evasão</strong>, um dos problemas mais<br />

sérios <strong>de</strong> nosso sistema educacional.<br />

Palestra sobre Práticas Parentais<br />

Na seqüência, foram separados os alunos e iniciou-se a palestra <strong>da</strong> Dra Juliana<br />

sobre: Estilos parentais e sua associação ao <strong>de</strong>sempenho <strong>escola</strong>r do aluno. A palestra<br />

29


teve como enfoque o envolvimento dos pais, a violência na <strong>escola</strong>, situação <strong>de</strong> <strong>evasão</strong><br />

<strong>escola</strong>r e o <strong>de</strong>sempenho acadêmico dos alunos.<br />

A atenção com que os pais acompanharam esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, através <strong>de</strong> perguntas,<br />

tais como “Não bato no meu filho mas coloco num canto para pensar sobre o que fez,<br />

isto está certo?” ou “ Meu filho não me obe<strong>de</strong>ce? “ <strong>de</strong>monstraram a empatia com o<br />

tema e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ratificar ou corrigir algumas práticas realiza<strong>da</strong>s.<br />

Uma mãe relatou, durante a palestra, que utiliza o castigo para educar. Coloca a<br />

filha <strong>de</strong> 3 anos na ca<strong>de</strong>irinha para pensar e com o filho adolescente ela retira passeios e<br />

coisas que ele gosta <strong>de</strong> fazer. A Dra Juliana aproveitou esta verbalização para ressaltar<br />

que jamais se usa força física e que o filho espera carinho e amor todos os dias<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos seus comportamentos, concor<strong>da</strong>ndo com a prática <strong>da</strong> mãe em privar<br />

os filhos quando algo não está correto. Enfatizou a importância do envolvimento dos<br />

pais nas tarefas <strong>escola</strong>res do filho, insistindo que este é um processo contínuo,<br />

resultando em melhor aproveitamento <strong>escola</strong>r e diminuindo a <strong>evasão</strong>.<br />

Pelas perguntas dos pais foi possível perceber que o “o papel parental” per<strong>de</strong>u a<br />

referência no sentido <strong>de</strong> que os pais sentem-se ineficientes perante as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />

relacionamento com os filhos. Uma análise mais particulariza<strong>da</strong> indica que as funções<br />

parentais são percebi<strong>da</strong>s como ineficazes frente às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos filhos adolescentes.<br />

“Como fazer para cui<strong>da</strong>r dos filhos?” Entretanto, há um espaço importante <strong>de</strong><br />

motivação e interesse pelo grupo <strong>de</strong> pais em apreen<strong>de</strong>r. Neste sentido, os participantes<br />

avaliaram a reunião positivamente e sugeriram a criação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> pais para<br />

po<strong>de</strong>rem dispor <strong>de</strong> um local on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem levar suas dúvi<strong>da</strong>s. Havia um sentimento<br />

geral <strong>de</strong> que necessitavam <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> apoio.<br />

Ao final <strong>da</strong> palestra, agra<strong>de</strong>ceu-se a presença dos pais e <strong>de</strong>stacou-se a idéia <strong>de</strong><br />

realizar um trabalho compartilhado na educação dos filhos entre a família, o aluno e a<br />

<strong>escola</strong>, reafirmando a importância <strong>de</strong> continuar o trabalho no próximo ano. Algumas<br />

mães já manifestaram interesse para participação no ano <strong>de</strong> 2009, do grupo <strong>de</strong><br />

familiares dos alunos. Uma salva <strong>de</strong> palmas foi a maneira gentil <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a<br />

participação <strong>da</strong> palestrante e <strong>de</strong>mais colaboradoras. Após os participantes foram<br />

confraternizar, <strong>de</strong>sfrutando <strong>de</strong> um singelo lanche.<br />

2. modificações no ambiente <strong>escola</strong>r, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> teatro, música e<br />

filmagem envolvendo todos os alunos. Esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> foi realiza<strong>da</strong> através <strong>de</strong> dinâmicas<br />

<strong>de</strong> discussão e <strong>de</strong>bates entre os alunos, além <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> bonecos <strong>de</strong> teatro.<br />

30


-confraternizações: Nos encontros com pais, alunos e professores realizamos<br />

momentos <strong>de</strong> confraternização. Diversos pais e responsáveis mantinham uma atitu<strong>de</strong><br />

colaborativa, discutindo os comportamentos e atitu<strong>de</strong>s apropria<strong>da</strong>s para seus filhos.<br />

Vários, além <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>r a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, solicitava a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stes eventos.<br />

- posters com frases: Para recepção dos alunos no novo semestre foram<br />

elaborados posters <strong>de</strong> motivação e perseverança na <strong>escola</strong>, alusivos aos 50 anos do<br />

Villa Lobos.<br />

- pintura <strong>da</strong> parte interna: Os corredores <strong>de</strong> tijolo à vista, eram escuros,<br />

<strong>de</strong>ixando o lugar lúgubre. Para iluminar o ambiente e colori-lo foram usa<strong>da</strong>s tinta<br />

laranja claro e azul, melhorando consi<strong>de</strong>ravelmete o bem estar.<br />

- Elaboração <strong>de</strong> slogan: Em uma <strong>da</strong>s reuniões com professores e alunos foi<br />

proposto a escolha <strong>de</strong> um slogan para a <strong>escola</strong> que comemorava 50 anos. Foram<br />

organizados 6 grupos <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 20 alunos do Ensino Médio, divididos por<br />

cores. Ca<strong>da</strong> grupo discutiu e elaborou um slogan. As seis frases foram apresenta<strong>da</strong>s aos<br />

<strong>de</strong>mais alunos em salas <strong>de</strong> aula, no turno <strong>da</strong> manhã e tar<strong>de</strong>, sendo a mais vota<strong>da</strong><br />

escolhi<strong>da</strong> para o slogan. O slogam escolhido foi “ Villa Lobos, 50 anos Educando<br />

Gerações”.<br />

Além <strong>de</strong> marcar e solenizar o aniversário <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, as frases compostas<br />

<strong>de</strong>monstravam que os alunos tinham apego ao ambiente <strong>escola</strong>r.<br />

3. disponibilização <strong>de</strong> atendimento psicológico para os alunos que<br />

apresentassem <strong>de</strong>man<strong>da</strong> na clínica-<strong>escola</strong> <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>- PAAS.<br />

A <strong>escola</strong>, em parceria com o projeto Evasão e <strong>Resiliência</strong> <strong>escola</strong>r, ofereceu<br />

durante este período a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> entrevista <strong>de</strong> acolhimento com bolsista do<br />

projeto e caso algum aluno apresentasse sintomas que pu<strong>de</strong>ssem ser consi<strong>de</strong>rados<br />

psicopatológicos eram, então, enviados para psicodiagnóstico e tratamento na clínica<strong>escola</strong><br />

<strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>- PAAS. Alguns dos casos foram <strong>de</strong> um aluno (dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizado e possível <strong>de</strong>pressão) e uma aluna (grávi<strong>da</strong>, 15 anos, alterações <strong>de</strong> humor e<br />

agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

semestre.<br />

4. Estabelecimento <strong>de</strong> contato com os alunos que abandonarem o<br />

31


Foram realiza<strong>da</strong>s 60 entrevistas com alunos em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e com<br />

10 alunos em vias <strong>de</strong> abandono e fracasso <strong>escola</strong>r, durante o primeiro semestre na<br />

Escola Villa Lobos. Estes alunos eram encaminhados pelos professores/direção, ou por<br />

procura espontanea. As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s foram basicamente <strong>de</strong> escuta,<br />

organização, orientação e em alguns casos <strong>de</strong> encaminhamento para atendimento<br />

psicológico. Na maioria <strong>da</strong>s vezes, a entrevista com ocorria somente com o aluno e em<br />

alguns casos com um familiar, numa média <strong>de</strong> três encontros.<br />

Deste grupo, 26 alunos em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e em vias <strong>de</strong> abandono e<br />

fracasso <strong>escola</strong>r apresentavam um aproveitamento abaixo <strong>da</strong> média (com 5 ou mais<br />

disciplinas não atingindo a média necessária). Ao final do ano, <strong>de</strong>stes 26 alunos,<br />

<strong>de</strong>zessete conseguiram reverter a situação e obtiveram aprovação final, perfazendo um<br />

percentual <strong>de</strong> 65,38% <strong>de</strong> aproveitamento. Nove alunos foram reprovados (34,6%).<br />

Alguns comentários relatos durante as entrevistas com os alunos:<br />

“Não tenho fome, tomo um café bebido, e venho à <strong>escola</strong>” “Não consigo estu<strong>da</strong>r<br />

em casa, só durmo” ( aluno, 13 anos)<br />

“Diz que os pais brigam muito, ele tem dor <strong>de</strong> cabeça e quer ficar em casa”.<br />

“Tem medo que eles se separem”(aluno, 11 anos).<br />

“A mãe e o pai trabalham fora e eu preciso cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> minha irmã (4 anos),<br />

limpar e cozinhar( aluno com 15 anos).<br />

“ Vou na psicóloga e já estou melhorando” Não posso ver meus pais com<br />

tamanho sofrimento” (aluna, 14 anos participação em Torci<strong>da</strong> e colegas drogados)<br />

anos)<br />

“Foi legal conversar contigo, posso indicar a minha colega <strong>de</strong> sala” (aluna, 14<br />

“Não gosto <strong>de</strong> como os colegas me chamam” “Ninguém quer brincar<br />

comigo”(aluno, 13 anos).<br />

“Agora ela está me intimando para briga, diz que vai me fazer sair <strong>da</strong> <strong>escola</strong>”<br />

(aluna, 12 anos).<br />

“Todo mundo faz o que eu faço, só <strong>de</strong> mim a professora reclama” (aluno, 16<br />

anos).<br />

32


“Minha mãe, na frente dos outros, parece um anjo, mas é muito falsa” (aluna, 16<br />

anos).<br />

“ Meu pai é agressivo, batia na mãe, estão separados” “Hoje a mãe tem muitos<br />

namorados, a gente sai durante a semana para <strong>da</strong>nçar” (aluna,16 anos).<br />

Nas entrevistas com os pais i<strong>de</strong>ntificamos problemas associados a conflitos<br />

familiares, situações <strong>de</strong> violência, abuso <strong>de</strong> substância e problemas econômicos graves.<br />

Estas questões impactavam diretamente na manutenção <strong>de</strong> uma coesão familiar, sendo<br />

os papeis parentais quase ausentes. Em geral, os pais entrevistados relataram que vêem<br />

muito pouco aos filhos, pois trabalham o dia inteiro. Somente à noite conversam um<br />

pouco, porém não há possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um acompanhamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos filhos<br />

tanto na <strong>escola</strong> como em casa. Esta falta <strong>de</strong> organização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> familiar era evi<strong>de</strong>nte<br />

pelo estresse dos pais.<br />

• I<strong>de</strong>ntificar os <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> e <strong>de</strong> risco <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r na faixa etária <strong>da</strong><br />

adolescência, consi<strong>de</strong>rando as características individuais dos jovens, as relações<br />

familiares, as relações na <strong>escola</strong> e as características do contexto <strong>escola</strong>r e comunitário.<br />

Foram realizados 5 grupos focais com os jovens discutindo a questão Por que<br />

venho à <strong>escola</strong>? Os grupos foram formados com alunos do Ensino Médio que<br />

freqüentam regularmente a <strong>escola</strong>, sendo compostos por 12- 15 alunos. Ca<strong>da</strong> integrante<br />

do grupo expressou livremente sua opinião sobre porque permaneciam na <strong>escola</strong>. A<br />

partir <strong>da</strong>s falas dos alunos, estabelecemos categorias básicas <strong>de</strong> análise referentes às<br />

situações i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s como promotoras ou <strong>de</strong> risco para a permanência do jovem na<br />

<strong>escola</strong>. O quadro abaixo apresenta as “uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s” mais freqüentes em ca<strong>da</strong> grupo.<br />

Segundo Flick (2004), após a obtenção <strong>da</strong> narrativa, realiza-se a subdivisão do texto em<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s experimentais ou função-chave, que posteriormente permitirão a interpretação<br />

dos <strong>da</strong>dos. Estas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>m à forma espontânea dos jovens <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver<br />

suas crenças e opiniões sobre a vin<strong>da</strong> à <strong>escola</strong>.<br />

33


Quadro 1- Síntese <strong>da</strong>s narrativas<br />

Fatores <strong>de</strong> <strong>proteção</strong> Fatores <strong>de</strong> risco<br />

Grupo 1 Futuro melhor<br />

Parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para<br />

Ser diferente dos outros trabalhar.<br />

(que pararam <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r) Vários colegas pararam<br />

Indignação com famílias<br />

que fazem os filhos<br />

trabalhar<br />

Facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r por problemas<br />

financeiros<br />

Grupo 2 Ser alguém na vi<strong>da</strong><br />

Obrigado a vir pelos pais<br />

Estu<strong>da</strong>r<br />

Futuro melhor<br />

Vem porque quer<br />

Grupo 3 Dúvi<strong>da</strong>s quanto ao<br />

continuar a estu<strong>da</strong>r<br />

Fazer facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Futuro melhor<br />

Ser diferente <strong>da</strong>s pessoas<br />

Grupo 4 Vir pela meren<strong>da</strong><br />

Obrigado a vir pelos pais<br />

Namorado<br />

Futuro melhor<br />

Jogar futebol<br />

Para não ficar em casa<br />

com os pais<br />

Grupo 5 Futuro melhor<br />

Ser alguém na vi<strong>da</strong><br />

Conseguir um emprego<br />

Garotas<br />

34<br />

Amigos pararam <strong>de</strong><br />

estu<strong>da</strong>r para trabalhar<br />

Cansativo trabalhar e<br />

estu<strong>da</strong>r<br />

Falta <strong>de</strong> interesse<br />

Parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r para<br />

trabalhar<br />

Três adolescentes com<br />

irmão que pararam <strong>de</strong><br />

estu<strong>da</strong>r<br />

Ro<strong>da</strong>r <strong>de</strong> ano<br />

A permanência na <strong>escola</strong> está vincula<strong>da</strong> à obtenção <strong>de</strong> um emprego-futuro<br />

melhor. A noção <strong>de</strong>ste futuro atrela-se fun<strong>da</strong>mentalmente à noção <strong>de</strong> emprego/trabalho.


A gente tem que vir à <strong>escola</strong> se quiser ter um emprego melhor. Se começar a<br />

trabalhar agora, é muito difícil conseguir alguma coisa melhor. Tem muita gente que<br />

parou no ano passado porque teve que ganhar dinheiro (estu<strong>da</strong>nte).<br />

Eu acho que para ser alguém na vi<strong>da</strong>, tem que estu<strong>da</strong>r. (Alguém, como assim?)<br />

Para po<strong>de</strong>r ter uma casa, um emprego e po<strong>de</strong>r trabalhar...não ficar fazendo bicos e<br />

qualquer coisa....(estu<strong>da</strong>nte).<br />

Poucos alunos falaram em <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao estudo e entrar na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eu<br />

não sei o que fazer, mas queria ir para a facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, para a Unisinos (estu<strong>da</strong>nte).<br />

Surgiram também manifestações <strong>de</strong> vir à <strong>escola</strong> por obrigação- os pais man<strong>da</strong>m<br />

ou obrigam o adolescente a continuar os estudos, ain<strong>da</strong> que eles próprios não tenham<br />

bem claro o porquê.<br />

“Meus pais fazem eu vir e não querem que eu pare, é só por obrigação”<br />

Finalmente, em menor freqüência, porém presentes, alguns alunos manifestaram<br />

vir à <strong>escola</strong> pela alimentação e pela oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> socialização. É o lugar para a<br />

gente comer, não?!<br />

Em relação à <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r, o ingresso no mundo do trabalho por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

financeiras foi a manifestação presente em quase todos os grupos.<br />

“ O meu amigo parou <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r no ano passado para trabalhar <strong>de</strong> dia e aju<strong>da</strong>r<br />

em casa, ...ele precisava, né, ...Depois, ele po<strong>de</strong> tentar <strong>de</strong> novo, quando as coisas<br />

melhorarem..”<br />

“ A minha irmã parou porque ela queria coisas para ela, comprar as<br />

coisas...Achou que era melhor, porque ela estava muito atrasa<strong>da</strong> na <strong>escola</strong>...”<br />

35


Discussão dos <strong>da</strong>dos<br />

Para a compreensão do material i<strong>de</strong>ntificado no período <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>stacamos as<br />

principais situações i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s nas falas e manifestações ocorri<strong>da</strong>s durante o trabalho.<br />

Tomando como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> a intervenção realiza<strong>da</strong> na <strong>escola</strong>, incluímos uma<br />

avaliação <strong>da</strong> principal contribuição <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> realiza<strong>da</strong>, culminando a análise<br />

pela focalização nas falas dos alunos realiza<strong>da</strong>s no grupo focal.<br />

Assim, para a organização <strong>de</strong>ste material, agrupamos a contribuição <strong>de</strong> três<br />

contextos – ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNOS e <strong>de</strong>stacamos as principais contribuições<br />

<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um. A seguir, os <strong>da</strong>dos observados nestes três contextos foram categorizados<br />

nos níveis ecológicos <strong>de</strong> inserção e influências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano, mo<strong>de</strong>lo<br />

proposto por Bronfenbrenner. Este mo<strong>de</strong>lo ecológico leva em conta as múltiplas<br />

influências do ambiente sobre o <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo durante seu tempo <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> (Bronfenbrenner, 2002), levando em conta os aspectos relativos à pessoa<br />

(características físicas, biológicas e emocionais), ao processo (como a experiência é<br />

vivencia<strong>da</strong>) e o tempo (meio-ambiente). Esta análise do contexto se dá através <strong>de</strong><br />

sistemas que se sobrepõem: a) Microssistema: é um padrão <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, papéis e<br />

relações interpessoais, num ambiente específico; b) Mesossistema: inclui as interrelações<br />

entre dois ou mais ambientes no qual a pessoa em <strong>de</strong>senvolvimento participa<br />

ativamente (<strong>escola</strong>, amigos, trabalho e vi<strong>da</strong> social); c) Exossistema: refere-se a um ou<br />

mais ambientes que não envolve a pessoa em <strong>de</strong>senvolvimento como um participante<br />

ativo (trabalho dos pais, amigos dos pais); e d) Macrossistema: cultura, crenças e<br />

i<strong>de</strong>ologias.<br />

Neste sentido, uma análise ecológica do <strong>de</strong>senvolvimento emocional <strong>de</strong>ve levar<br />

em consi<strong>de</strong>ração as características <strong>da</strong>s pessoas (características biológicas,<br />

comportamentos sociais e cognições), do contexto e a dinamici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça ao<br />

longo do tempo. Esta dinamici<strong>da</strong><strong>de</strong> faz com que as interações sociais, bem como<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> professores e <strong>de</strong> outros pares na <strong>escola</strong>, afetem o senso <strong>de</strong> pertencimento e<br />

<strong>de</strong> equilíbrio social <strong>da</strong>s pessoas, sua visão <strong>da</strong>s normas grupais e seu auto-conceito.<br />

37


ESCOLA<br />

O que disseram professores, a equipe diretiva e os alunos nestes seis meses <strong>de</strong><br />

convivência? Ain<strong>da</strong> que apresentassem especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as falas expressas pelos<br />

professores po<strong>de</strong>riam ser compreendi<strong>da</strong>s como questões relativas a dúvi<strong>da</strong>s sobre a<br />

própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa e conseqüente capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> transformativa <strong>da</strong>s trajetórias<br />

dos alunos em geral.<br />

Que lugar ocupamos na vi<strong>da</strong> dos nossos alunos? As verbalizações dos<br />

professores acerca <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> ensino eram fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em sentimentos <strong>de</strong> que a sala<br />

<strong>de</strong> aula é um <strong>de</strong>safio para o qual eles sentem-se freqüentemente <strong>de</strong>spreparados e<br />

<strong>de</strong>sapoiados para enfrentar. Percebem que a <strong>escola</strong> enfrenta dilemas face à precarie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recursos e à impotência <strong>de</strong> transformar tanto o espaço educativo como a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> dos alunos. Percebem-se como tendo sido preparados para um projeto educativo<br />

que se tornou obsoleto para aten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos alunos, principalmente <strong>da</strong>queles<br />

alunos em situação <strong>de</strong> pobreza. Como fazer frente ao tráfico <strong>de</strong> drogas, à violência e<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares? Em função disto, o professor ingressa no discurso <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>samparo e reproduz em suas práticas diárias este processo. Há uma repetição <strong>de</strong><br />

frases e comentários sobre o não aprendizado dos alunos, sobre a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transformar o ensino, sobre o fracasso <strong>escola</strong>r, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, observamos que apesar <strong>de</strong> expressarem uma percepção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spreparo os professores mantinham-se presentes, estavam lá, planejando, conversando<br />

e discutindo as situações que se apresentavam. O que fazer com a aluna que está<br />

grávi<strong>da</strong> e só tem 13 anos? Como falar com a família se o pai é traficante e ameaça a<br />

menina? Estas questões se fossem únicas já causariam espanto, entretanto, eram<br />

corriqueiras. Desafiavam a escuta <strong>de</strong> todos, mas clamavam uma resposta. E apesar <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a <strong>escola</strong> conseguiu se organizar através do apoio <strong>da</strong>do a um<br />

professor o qual, por sua vez, estabeleceu uma relação com a família. Portanto, uma<br />

resposta foi <strong>da</strong><strong>da</strong>, uma transformação foi feita e uma menina foi acolhi<strong>da</strong> em sua<br />

situação <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Este exemplo <strong>de</strong>monstra a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa <strong>de</strong> professores que<br />

li<strong>da</strong>m com situações <strong>de</strong> extrema vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>vem utilizar-se, muitas vezes, <strong>de</strong><br />

recursos criativos para manter uma postura ética e respeitosa frente a si mesmos, suas<br />

crenças e frente a seus alunos.<br />

O processo educativo com grupos vulneráveis, com pouco apoio e suporte público<br />

coloca <strong>de</strong>safios importantes para o trabalho pe<strong>da</strong>gógico. A figura do professor-<br />

38


educador, além <strong>de</strong> ser modifica<strong>da</strong> por transformações contemporâneas na própria<br />

concepção sobre o processo <strong>de</strong> aprendizagem em geral, sobre o lugar <strong>da</strong> <strong>escola</strong> na<br />

contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e nas relações humanas em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s marca<strong>da</strong>s pelo incentivo ao<br />

consumo rápido e imediato é cobra<strong>da</strong> para aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s muitas vezes aquém <strong>de</strong><br />

suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais vulneráveis econômica e socialmente, há<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> carências <strong>de</strong> investimentos na educação como um todo. Isto<br />

torna o processo educativo ain<strong>da</strong> mais complexo e difícil para todos os envolvidos.<br />

No sistema <strong>escola</strong>r em geral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> situações políticas com mu<strong>da</strong>nças nas<br />

diretrizes educativas conforme a Administração do período, o pouco investimento<br />

fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, as falhas graves <strong>de</strong> infra-estrutura nas <strong>escola</strong>s (material<br />

pe<strong>da</strong>gógico, recursos em geral, condições dos prédios) são elementos que contribuem<br />

para as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no trabalho. No microcosmo <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, estes aspectos reverberam<br />

trazendo uma sobrecarga na equipe diretiva que se vê frente à tarefa <strong>de</strong> administrar<br />

recursos humanos e financeiros precários. Por último, na sala <strong>de</strong> aula, o professor se<br />

<strong>de</strong>screve como “<strong>de</strong>samparado”. Observa-se, assim, o surgimento <strong>de</strong> um círculo vicioso<br />

no qual todo o sistema funciona responsabilizando a outro componente do processo<br />

como origem <strong>de</strong> suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e neste enca<strong>de</strong>amento o elo final é o aluno que<br />

termina numa posição mais frágil.<br />

Entretanto, verificamos que dos 60 alunos atendidos em entrevistas individuais<br />

em uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Projeto e que haviam sido i<strong>de</strong>ntificados como em situação <strong>de</strong><br />

extrema vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para o abandono, 26 <strong>de</strong>les encontravam-se com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>escola</strong>res importantes quando do início do trabalho na <strong>escola</strong>. Através do<br />

acompanhamento realizado durante o projeto fizemos uma comparação entre as médias<br />

obti<strong>da</strong>s no segundo semestre e as médias no terceiro (ao final <strong>da</strong> intervenção) neste<br />

grupo <strong>de</strong> alunos. Observamos que somente 9 alunos que iniciaram o acompanhamento<br />

permaneceram com as médias insuficientes, sendo que os <strong>de</strong>mais recuperaram seu<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>escola</strong>r!<br />

Ain<strong>da</strong> que cientes <strong>da</strong>s limitações <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem quantitativa <strong>de</strong> avaliação,<br />

utilizamos este critério para compreen<strong>de</strong>r como os alunos i<strong>de</strong>ntificados como mais<br />

problemáticos pelos professores seriam impactados pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ofereci<strong>da</strong> <strong>de</strong> um<br />

espaço <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong> suas histórias e <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>s. Para nossa surpresa, os alunos não<br />

faltavam aos encontros e até houve busca espontânea. Isto é, alguns alunos vieram<br />

solicitar encontros, porque que queriam conversar.<br />

39


Na nossa perspectiva questionamo-nos por que é necessária a criação <strong>de</strong> um<br />

espaço privado <strong>de</strong> escuta? Por que estas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diálogo não po<strong>de</strong>m ser construí<strong>da</strong>s<br />

no cotidiano <strong>de</strong> interação entre o professor-aluno? Sem dúvi<strong>da</strong>, que vários casos<br />

necessitavam <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> atendimento psicológico por razões específicas <strong>da</strong><br />

situação pessoal <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Porém, vários <strong>de</strong>les apresentavam simplesmente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> serem escutados. É preciso, pois, criar espaços alternativos e inovadores, vinculados<br />

a distintas formas <strong>de</strong> trabalho para que os adolescentes expressem sua voz e possam ser<br />

compreendidos em suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Da mesma forma, o trabalho com a equipe docente possibilitou a constatação <strong>da</strong><br />

falta <strong>de</strong> reconhecimento pelos professores <strong>de</strong> suas ações cotidianas no trabalho com os<br />

alunos. Ao contrário, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir sobre o processo foi um elemento<br />

importante e transformador <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> impotência e incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gerenciar o ensino e to<strong>da</strong>s as implicações associa<strong>da</strong>s. O projeto, portanto, ao nível <strong>da</strong><br />

equipe <strong>de</strong> trabalho docente e diretiva teve um impacto importante na <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> dos<br />

aspectos <strong>de</strong> trabalho com os alunos.<br />

O esquema abaixo sintetiza os principais elementos i<strong>de</strong>ntificados.<br />

40


EQUIPE/PROFESSORES/DIREÇÃO:<br />

ESCOLA<br />

DIREÇÃO: isolamento, pouco suporte institucional, sentimentos <strong>de</strong> incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> frente à tarefa <strong>de</strong> realizar trabalho pe<strong>da</strong>gógico,<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança.<br />

PROFESSORES: trabalho educativo percebido como <strong>de</strong>svalorizado pelas instituições em geral; plano pe<strong>da</strong>gógico sem sustentação em<br />

ações e intervenções pertinentes às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos jovens, pouco suporte material e <strong>de</strong> infra-estrutura, violência na <strong>escola</strong>, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

manejo com os alunos, pouca integração na <strong>escola</strong> e na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

FATORES DE PROTEÇÃO<br />

-Possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> articulação com o<br />

PROJETO UNISINOS como lócus <strong>de</strong><br />

transformação,<br />

-Escuta <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e trabalho em<br />

equipe intra-institucional e inter-agências<br />

como suporte para os casos difíceis.<br />

41


ALUNOS<br />

Escutamos aos alunos em nossa convivência diária e nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicas<br />

realiza<strong>da</strong>s, como o acompanhamento individual. A análise <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s<br />

no acompanhamento individual sugeriu que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r e <strong>de</strong> permanecer na<br />

<strong>escola</strong> é sobrepuja<strong>da</strong> por situações caóticas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> familiar, por questões financeiras e<br />

instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> geral que precisam ser expressas em um foro privilegiado que respeite os<br />

sentimentos e espaço vital dos adolescentes. A escuta psicológica, portanto, não se dá a<br />

partir <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> um sujeito patológico, mas, sim, <strong>de</strong> um sujeito com direitos<br />

<strong>de</strong> expressar suas vicissitu<strong>de</strong>s para compreendê-las e <strong>de</strong>ste modo apo<strong>de</strong>rar-se <strong>de</strong> sua<br />

história, narrando-a. Não simplesmente ser narrado por eventos percebidos como aquém<br />

<strong>de</strong> sua possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autoria pessoal e transformativa.<br />

Ao contrário, através <strong>de</strong> Grupos Focais com os alunos, i<strong>de</strong>ntificamos que a<br />

permanência na <strong>escola</strong> está associa<strong>da</strong> à conquista <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal vincula<strong>da</strong><br />

ao trabalho, a transcen<strong>de</strong>r a posição social que ocupam e “ser alguém na vi<strong>da</strong>”.<br />

Portanto, os jovens que permanecem no Ensino Médio, apresentam projetos <strong>de</strong> estudo<br />

vinculados ao trabalho.<br />

Desta forma, i<strong>de</strong>ntificamos que o objetivo <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r esteve presente em to<strong>da</strong>s as<br />

manifestações dos jovens associado a diferentes aspectos. A análise <strong>da</strong>s falas dos alunos<br />

permitiu i<strong>de</strong>ntificar as seguintes categorias associa<strong>da</strong>s à resposta Por que venho à<br />

<strong>escola</strong>?<br />

1. A <strong>escola</strong> como profissionalização- Nos cinco grupos investigados vir à <strong>escola</strong> foi<br />

<strong>de</strong>scrito como a forma <strong>de</strong> ter uma profissão e po<strong>de</strong>r trabalhar no futuro.<br />

Entretanto, vários colegas foram <strong>de</strong>scritos como abandonando a <strong>escola</strong> para<br />

começar a trabalhar imediatamente. O apelo financeiro <strong>de</strong> possuir uma ren<strong>da</strong><br />

própria e <strong>de</strong>svincular-se <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pobreza vivi<strong>da</strong> era percebido como uma<br />

solução imediata. Vários, porém, diziam, Vou terminar o Ensino Médio, não vou<br />

largar! É melhor aguar<strong>da</strong>r do que ter dinheiro agora.<br />

2. A <strong>escola</strong> como fonte <strong>de</strong> socialização- Ter amigos, ir para algum lugar, conhecer<br />

pessoas, namorar foram as situações menciona<strong>da</strong>s pelos jovens como a melhor<br />

parte do convívio <strong>escola</strong>r. Para vários, o espaço <strong>escola</strong>r era o local on<strong>de</strong> era<br />

possível socializar e conviver com pessoas diferentes <strong>de</strong> seu bairro.<br />

42


3. A <strong>escola</strong> como fonte <strong>de</strong> sustento- Em menor número, vir à <strong>escola</strong> para alimentarse<br />

foi uma <strong>da</strong>s situações coloca<strong>da</strong>s nos grupos. Dito com ironia, ain<strong>da</strong> assim foi<br />

verbalizado É o lugar para a gente comer, não?!<br />

Chama a atenção que as principais manifestações traduzem projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

baseados em objetivos imediatos- trabalho, vi<strong>da</strong> social, sustento. Não surgiram<br />

verbalizações associa<strong>da</strong>s a projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> profissional. Assim, é importante prestar-se<br />

atenção não somente ao que foi dito pelos jovens. Isto é, percebe-se que as perspectivas<br />

e planos pessoais fun<strong>da</strong>mentam-se em projetos futuros calcados na noção do emprego,<br />

sem que haja uma maior reflexão pessoal ou mesmo a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir um<br />

projeto <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> baseado em etapas. Restringem-se ao que ocorre naquela série ou<br />

naquele ano e sempre focalizando situações temporais restritas.<br />

Se, no entanto, consi<strong>de</strong>rarmos que os significados atribuídos referem-se ao<br />

entorno familiar e coletivo dos jovens, o “ser alguém na vi<strong>da</strong>” traduz a presença <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ascensão social, <strong>da</strong> aquisição <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> para além do universo do<br />

trabalhador não profissionalizado. Há a expectativa familiar- meus pais me obrigam- <strong>de</strong><br />

que a <strong>escola</strong> respon<strong>de</strong>rá a uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento futuro. Neste sentido, há<br />

presença nos sistema familiar <strong>de</strong> crenças e valores acerca <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

permanência no ensino, indicando que no entorno imediato dos jovens circulam crenças<br />

motivadores e <strong>de</strong> reconhecimento do processo educativo.<br />

Os jovens, entretanto, respeitam os colegas que tiveram que parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r<br />

para trabalhar, como que visualizando nas jorna<strong>da</strong>s dos companheiros a própria<br />

fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suas situações. Todos i<strong>de</strong>ntificaram algum companheiro que interrompera<br />

os estudos, manifestando em to<strong>da</strong>s as ocasiões razões ou justificativas para tal <strong>de</strong>cisão.<br />

Constata-se que o parar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r é uma opção presente, compreendi<strong>da</strong> não como um<br />

fracasso, mas como uma imposição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Outro ponto importante foi que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do grupo foi muito bem aceita pelos<br />

adolescentes, que manifestaram interesse na discussão. A Direção <strong>da</strong> <strong>escola</strong> manifestou,<br />

inicialmente, preocupação em relação à permanência dos alunos na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e foi<br />

surpreendi<strong>da</strong> pela alta a<strong>de</strong>são e participação. Percebe-se que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stas<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são recursos com um potencial importante para a construção <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal, através <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> expressão <strong>de</strong> idéias.<br />

43


JOVENS EM GERAL<br />

Escola como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia financeira<br />

e inserção social. ..Po<strong>de</strong>r ter amigos...Ter uma profissão...<br />

Fonte <strong>de</strong> alimentação: Venho para comer meren<strong>da</strong>.<br />

Evasão <strong>escola</strong>r- problemas econômicos e dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>escola</strong>res. Meus amigos param para trabalhar...<br />

Minha irmão rodou tanto que parou...<br />

Grupos <strong>de</strong> discussão como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão É importante falar sobre isto...<br />

FATORES DE PROTEÇÃO<br />

- grupos <strong>de</strong> discussão,<br />

- acompanhamento dos casos,<br />

- busca espontânea pelo<br />

acompanhamento.<br />

JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE<br />

Relações familiares violentas:<br />

Gravi<strong>de</strong>z na adolescência:<br />

Maus-tratos, abuso sexual, negligência, violência física,<br />

Problemas <strong>de</strong> aprendizagem<br />

Agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, comportamento violento<br />

44


FAMÍLIA<br />

Em relação ao papel <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e as relações externas com a família e a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, verificou-se que há um hiato importante entre as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> inclusão<br />

familiar no contexto <strong>escola</strong>r e o que realmente é realizado. Foi gran<strong>de</strong> a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />

congregar familiares e incentivar a participação na vi<strong>da</strong> <strong>escola</strong>r foi uma constante em<br />

to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s com os familiares. Ain<strong>da</strong> assim, nos encontros<br />

<strong>de</strong>senvolvidos foi possível construir uma aliança gradual e crescente que culminou na<br />

última reunião realiza<strong>da</strong> em <strong>de</strong>zembro com o planejamento <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> familiares<br />

para o próximo ano.<br />

Nos encontros realizados com as famílias narram histórias <strong>de</strong> pobreza, <strong>de</strong><br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em diversos âmbitos, educação, saú<strong>de</strong>, vi<strong>da</strong> comunitária. É comum a to<strong>da</strong>s<br />

elas relatos <strong>de</strong> violência intrafamiliar e comunitária, convivência com situações<br />

dramáticas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e percepções <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>r dos filhos. A<br />

<strong>de</strong>sautorização familiar pareceu ser um dos maiores entraves ao processo <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do e<br />

<strong>de</strong> relacionamento com os filhos. Há uma vivência por parte dos pais que o único lugar<br />

que ocupam refere-se ao <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> punitiva e cerceadora. Não há espaço para<br />

relações mais igualitárias na família, mesmo que se mantenha o lugar mais responsável<br />

dos pais. O pouco tempo com os filhos, o trabalho, a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer e<br />

participar <strong>da</strong> <strong>escola</strong> foram os aspectos trazidos em todos os momentos.<br />

Como trazer os pais para a <strong>escola</strong>? Parece-nos que uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s seria<br />

o incremento <strong>de</strong> experiências coletivas, tanto <strong>de</strong> socialização como educativas. Ao<br />

mesmo tempo, possibilitar aos pais vivências na <strong>escola</strong> nas quais eles atuassem com<br />

maior autonomia e gerenciamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, proporcionando uma mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong><br />

posição passiva <strong>de</strong> ir até à <strong>escola</strong> para escutar os professores numa posição <strong>de</strong> nãosaber<br />

para ir até a <strong>escola</strong> discutir e <strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativas ao processo<br />

educativo <strong>de</strong> seus filhos.<br />

Os familiares que participaram <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s estavam engajados<br />

e participantes. Não <strong>de</strong>monstravam receio em trazer suas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s no<br />

relacionamento com os filhos e culminaram o trabalho solicitando a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

ações. Parece, portanto, que as relações família e <strong>escola</strong> permanecem como um espaço<br />

fecundo <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e investimento.<br />

Estas famílias claramente exibiam uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contingência importante<br />

que, muitas vezes, não era reconheci<strong>da</strong> pelos membros. Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, havia<br />

45


um senso <strong>de</strong> coesão interna, manifestado no interesse e na crença <strong>de</strong> que a <strong>escola</strong> tinha<br />

um lugar na vi<strong>da</strong> dos filhos. Propiciar que estas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s familiares sejam<br />

reconheci<strong>da</strong>s é uma estratégia importante para a resiliência <strong>de</strong>stas famílias, com<br />

conseqüências vitais para a permanência do jovem na <strong>escola</strong>.<br />

Síntese dos elementos-chave nos processos <strong>de</strong> resiliência<br />

No diagrama abaixo, esquematizamos as principais características dos sistemas<br />

envolvidos. Através <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s situações i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e no convívio<br />

com os professores, alunos e familiares, verificamos que :<br />

- A família exerce uma função organizadora dos alunos, através <strong>de</strong> vínculos tanto nas<br />

relações primárias como nas relações com a <strong>escola</strong>. As famílias que estavam presentes<br />

nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s exibiam interesse pelo <strong>de</strong>senvolvimento dos filhos.<br />

- Por sua vez, a <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> iniciativa <strong>de</strong> alguns professores e o constante<br />

empenho <strong>da</strong> equipe diretiva, alcançava vários alunos em suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Desta<br />

forma, eram <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s ações inclusivas, como no caso <strong>da</strong> iniciativa <strong>de</strong> professores<br />

<strong>de</strong> chamar os pais para participarem <strong>da</strong>s aulas.<br />

- A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> respondia a alguns apelos <strong>de</strong> policiamento e aju<strong>da</strong> no caso <strong>de</strong> episódios<br />

<strong>de</strong> brigas no entorno <strong>escola</strong>r. Ain<strong>da</strong> que esta manifestação se restrinja ao campo <strong>da</strong> lei,<br />

indica a importância dos agentes do meso sistema como elementos participativos <strong>da</strong><br />

trajetória <strong>escola</strong>r.<br />

46


FATORES DE PROTEÇÃO NA PERCEPÇÃO DOS JOVENS, DOS INTEGRANTES DA ESCOLA<br />

A PARTIR DAS ATIVIDADES REALIZADAS<br />

FAMÍLIA<br />

Coesão familiar<br />

Vínculos afetivos e <strong>de</strong><br />

suporte<br />

Ausência <strong>de</strong> violência<br />

ESCOLA<br />

Acompanhamento<br />

<strong>escola</strong>r,<br />

Acolhimento <strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s,<br />

Ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />

inclusivas.<br />

Trajetórias <strong>de</strong> permanência<br />

na <strong>escola</strong><br />

COMUNIDADE<br />

Trabalho em re<strong>de</strong>,<br />

Ações participativas e<br />

integra<strong>da</strong>s<br />

47


SÍNTESE DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE POR SISTEMA ECOLÓGICO<br />

A <strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r resulta <strong>de</strong> um longo processo na relação aluno-<strong>escola</strong>, quando<br />

fracassa o estabelecimento <strong>de</strong> um vínculo entre a instituição e o jovem e não se<br />

<strong>de</strong>senvolve um contexto criativo e facilitador <strong>da</strong> autonomia individual. Características<br />

pessoais <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes, associa<strong>da</strong>s principalmente a histórias<br />

familiares <strong>de</strong> exclusão e violência são repeti<strong>da</strong>s nas relações com outros contextos, no<br />

caso a <strong>escola</strong>. Esta instituição, por sua vez, em função <strong>de</strong> situações políticas e<br />

econômicas não consegue <strong>de</strong>senvolver ações educativas que estabeleçam uma<br />

“contenção <strong>da</strong>s experiências traumáticas <strong>de</strong>stas crianças”, estabelecendo-se um círculo<br />

<strong>de</strong> exclusão.<br />

O Quadro 2 sintetiza os principais elementos organizados por sistemas em<br />

relação à permanência na <strong>escola</strong>. A ca<strong>da</strong> nível correspon<strong>de</strong>m <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> risco para a<br />

<strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r e <strong>fatores</strong> protetivos, estes últimos compreendidos como ações dirigi<strong>da</strong>s<br />

tanto para a promoção como a prevenção <strong>da</strong> <strong>de</strong>serção.<br />

Ao nível do micro sistema, a <strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r resulta <strong>de</strong> um processo dinâmico<br />

<strong>de</strong> ação dos elementos <strong>de</strong> todos os sistemas, mas que basicamente originam trajetórias<br />

individuais, familiares, sociais e coletivas <strong>de</strong> exclusão e vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. No espaço<br />

<strong>escola</strong>r, estas vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s não encontram forma <strong>de</strong> expressão e acolhimento, seja<br />

pelo pouco suporte ao professor, seja por questões mais amplas <strong>de</strong> cunho <strong>da</strong>s políticas<br />

publicas e carência <strong>de</strong> projetos nacionais <strong>de</strong> educação. No nível imediato do jovem, a<br />

expressão maior <strong>de</strong>sta vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> se traduz pela opção <strong>de</strong> interromper os estudos<br />

para tentar, <strong>de</strong> outro modo, uma inserção produtiva no coletivo. Opção esta que neste<br />

trabalho foi aponta<strong>da</strong> pelo trabalhar, escolha fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em projetos <strong>de</strong> solução imediata e<br />

sem perspectiva <strong>de</strong> projetos futuros.<br />

No nosso convívio direto com os jovens, verificamos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ações<br />

inclusivas dirigi<strong>da</strong>s tanto para o aluno como para a família, <strong>de</strong> forma a vincular a<br />

permanência na <strong>escola</strong> como uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> viável <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um projeto<br />

pessoal. Desta forma, ações pe<strong>da</strong>gógicas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s numa missão <strong>escola</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, valorização do aluno e <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> vínculos com a família<br />

e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> permitiriam uma maior integração entre estes elementos e conseqüente<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos construtivos conjuntos.<br />

48


O projeto <strong>Resiliência</strong> e Evasão Escolar, neste sentido, ocupou um espaço <strong>de</strong><br />

ligação e comunicação entre os diversos atores envolvidos no processo educativo <strong>de</strong><br />

alunos em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social e econômica, constituindo-se, assim, como<br />

uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão e reflexão no espaço <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. As ações <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s,<br />

ain<strong>da</strong> que por um período limitado <strong>de</strong> tempo, tiveram impacto importante nas trajetórias<br />

<strong>de</strong> todos os envolvidos.<br />

Verificamos que os jovens que permanecem na <strong>escola</strong> ain<strong>da</strong> possuem crenças e<br />

valores associados à noção <strong>de</strong> que o processo educativo permite a construção <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> calca<strong>da</strong> na inserção social mais autônoma e, po<strong>de</strong>-se dizer, numa<br />

representação <strong>de</strong> um sujeito ci<strong>da</strong>dão. Há, no entorno <strong>de</strong>stes jovens, a presença <strong>de</strong><br />

valores que os sustentam no sentido <strong>de</strong> não optarem por uma rota <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência.<br />

I<strong>de</strong>ntificamos, neste trabalho, que estes valores aparecem mais freqüentemente<br />

vinculados à família, ain<strong>da</strong> que fosse interessante uma continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e acompanhamento<br />

<strong>de</strong>stes jovens, a fim <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r aprofun<strong>da</strong>r a compreensão <strong>de</strong> todos os elementos<br />

presentes na construção <strong>de</strong>stas representações. Portanto, a resiliência constitui-se como<br />

a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentamento <strong>da</strong>s situações adversas através <strong>da</strong> crença <strong>de</strong> que a <strong>escola</strong><br />

ain<strong>da</strong> se caracterizava por ser um espaço <strong>de</strong> transformação, aprendizagem e inserção<br />

social.<br />

A partir <strong>de</strong> uma reflexão sobre os elementos i<strong>de</strong>ntificados nas manifestações e<br />

narrativas dos diferentes atores participantes constatamos que as ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />

necessitam primordialmente reconhecer as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos jovens em situação <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, para uma efetiva compreensão <strong>de</strong>stas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s é<br />

preciso abrir espaços <strong>de</strong> escuta <strong>da</strong> voz dos jovens no espaço <strong>escola</strong>r. Esta ação <strong>de</strong><br />

escuta, em alguns grupos <strong>de</strong> alunos, po<strong>de</strong> assumir um caráter <strong>de</strong> uma clínica amplia<strong>da</strong>.<br />

Isto é, basea<strong>da</strong> na noção <strong>de</strong> que um sujeito total, escutado em to<strong>da</strong>s as suas dimensões<br />

vitais. Da mesma forma, a sustentação dos alunos resilientes que permanecem no<br />

Ensino Médio, é necessária.<br />

Ao nível do meso sistema, a ação integra<strong>da</strong> com outras agências e instituições é<br />

outro recurso importante para a potencialização do papel pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. A<br />

interlocução com outros áreas e serviços amplia o escopo <strong>de</strong> atuação <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, o que<br />

diretamente atinge ao atendimento do aluno. Em função <strong>de</strong> situações familiares <strong>de</strong><br />

extrema vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, principalmente associa<strong>da</strong>s à violência, drogas e maus-tratos,<br />

esta interlocução se faz necessária para o a<strong>de</strong>quado acolhimento dos jovens.<br />

49


Igualmente, o maior envolvimento com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tanto <strong>de</strong>slocando o aluno<br />

para o entorno <strong>da</strong> <strong>escola</strong> com o propósito <strong>de</strong> inserção no espaço comunitário, como do<br />

convite a uma maior participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> na <strong>escola</strong>, teria um impacto<br />

transformador nas trajetórias pessoais. Esta inserção, consequentemente, refletir-se-ia na<br />

subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno, através do laço social estabelecido, o que levaria também a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>i<strong>de</strong>ntificação</strong> com o coletivo e o conseqüente <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

projetos pessoais.<br />

Por conseguinte, programas <strong>de</strong> apoio educativo, ao nível <strong>da</strong>s políticas públicas<br />

municipais, estaduais e nacionais <strong>de</strong>vem priorizar estratégias priorizando a <strong>escola</strong> como<br />

lócus <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> inserção <strong>da</strong> criança e do adolescente em<br />

situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social num universo <strong>de</strong> convivência baseado nos valores <strong>de</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>de</strong>mocracia. Entretanto, somente metas a longo prazo, volta<strong>da</strong>s para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cultural <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>m transformar a marginali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />

exclusão.<br />

50


Quadro 2- Síntese dos elementos por categorias<br />

FATORES DE RISCO FATORES DE<br />

PROTEÇÃO<br />

MICRO SISTEMA Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Apoio educativo: missão<br />

aprendizagem e relacionais; <strong>escola</strong>r orienta<strong>da</strong> para o<br />

Falta <strong>de</strong> coesão familiar; Desenvolvimento;<br />

isolamento <strong>da</strong> <strong>escola</strong> Vínculos significativos<br />

Professores sem suporte<br />

familiares.<br />

institucional<br />

Projetos <strong>escola</strong>res<br />

Projetos educativos<br />

valorizantes<br />

ina<strong>de</strong>quados Projeto UNISINOS como<br />

Problemas econômicos. possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transformação<br />

MESO/EXO Escola: ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />

sem sustentação<br />

institucional, falta <strong>de</strong><br />

vinculação entre as agências,<br />

carência <strong>de</strong> planos a curto e<br />

longo prazo, pouco<br />

reconhecimento <strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos grupos<br />

vulneráveis.<br />

Família: Crenças no pouco<br />

valor do ensino, atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>svalorizativas <strong>da</strong>s<br />

exigências <strong>escola</strong>res<br />

Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>: Violência e<br />

drogas como projetos <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong><br />

MACROSISTEMA Ausência <strong>de</strong> políticas<br />

públicas dirigi<strong>da</strong>s para a<br />

permanência na <strong>escola</strong>.<br />

Ausência <strong>de</strong> Valores<br />

Educativos<br />

Desigual<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica<br />

51<br />

Reconhecimento dos<br />

processos educativos <strong>de</strong><br />

jovens em situação <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

Integração <strong>de</strong> agências<br />

governamentais, ações<br />

educativas proativas,<br />

caracterização dos papéis<br />

educativos e familiares no<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

dos jovens.<br />

Re<strong>de</strong> comunitária<br />

participativa na <strong>escola</strong>.<br />

Metas educativas a curto e<br />

longo prazo<br />

Políticas <strong>de</strong> inclusão social<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong><br />

programas <strong>de</strong> apoio educativo


LIÇOES APRENDIDAS<br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> ações educativas orienta<strong>da</strong>s para a inserção do jovem numa<br />

perspectiva transformadora, criativa e com objetivos e alcances em longo prazo;<br />

A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> projetar-se no futuro com metas e objetivos alcançáveis a<br />

partir do que se está construindo no presente é uma condição imprescindível<br />

para a construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal e inserção coletiva na socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

como um sujeito ético, participativo e responsável. A incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />

trajetórias a longo prazo paralisa e <strong>de</strong>ixa o jovem a mercê do estabelecimento <strong>de</strong><br />

uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> frágil basea<strong>da</strong> em valores imediatistas <strong>de</strong> consumo. Nos grupos<br />

focais foi possível perceber a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se implantar foros <strong>de</strong> discussão<br />

sobre projetos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, planos e metas para aquém <strong>da</strong> ótica do<br />

emprego/consumo.<br />

A importância do reconhecimento <strong>da</strong>s experiências dos alunos através <strong>de</strong><br />

construções <strong>de</strong> espaços alternativos <strong>de</strong> expressão;<br />

Vivências traumáticas necessitam ser narra<strong>da</strong>s e escuta<strong>da</strong>s tanto pelo sujeito<br />

vítima do sofrimento como pelo mundo externo a fim <strong>de</strong> que as experiências<br />

sejam vali<strong>da</strong><strong>da</strong>s e seja possibilitado um maior sentido à experiência. Jovens em<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s violentas necessitam <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> escuta que às vezes<br />

necessita ser privado. Tal foi o caso <strong>da</strong> escuta <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> no acompanhamento<br />

individual dos alunos. Haviam histórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que necessitavam <strong>de</strong> um espaço<br />

mais intimo <strong>de</strong> expressão.<br />

Trabalho profissional em re<strong>de</strong> para potencializar e integrar as ações dos<br />

diferentes serviços envolvidos no processo educativo;<br />

A relação entre os profissionais possibilita discussões mais abrangentes que<br />

transformam a compreensão do problema <strong>da</strong> <strong>evasão</strong> <strong>escola</strong>r <strong>de</strong> uma perspectiva<br />

estática e particular a ca<strong>da</strong> serviço participante para uma visão dinâmica do<br />

problema na qual todos são partes do processo. Nas reuniões com professores e<br />

com os pais, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão facilitou que outros elementos fossem<br />

incorporados por ca<strong>da</strong> ator participante do trabalho. Isto é, o professor po<strong>de</strong><br />

refletir sobre as questões familiares, sobre o papel <strong>da</strong> direção e as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

enfrenta<strong>da</strong>s, etc.<br />

52


A educação como elo do ser humano em sua relação com os <strong>de</strong>mais e com o<br />

meio ambiente. A importância <strong>da</strong> valorização do professor e <strong>da</strong> <strong>escola</strong> como<br />

atores privilegiados na construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> humana e ética.<br />

A <strong>de</strong>svalorização do profissional educador é um entrave para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ações educativas eficazes e para a própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional do<br />

educador. O espaço educativo é um dos poucos lugares on<strong>de</strong> é possível reverte a<br />

auto-imagem <strong>de</strong> fracasso associa<strong>da</strong> ao professor.<br />

Proposições <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na <strong>escola</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s pelos diferentes atores do<br />

processo educativo - <strong>escola</strong>, família, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e serviços, visando favorecer a<br />

autonomia dos participantes;<br />

O planejamento <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas nas quais os diferentes atores<br />

envolvidos no processo <strong>de</strong> aprendizagem também assumam a li<strong>de</strong>rança do<br />

trabalho permite o <strong>de</strong>senvolvimento maior responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Troca-se, portanto,<br />

a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> passivi<strong>da</strong><strong>de</strong> frente às questões <strong>escola</strong>res por uma postura ativa e<br />

autônoma. Somente <strong>de</strong>sta maneira é possível estabelecer-se uma relação<br />

indivíduo x socie<strong>da</strong><strong>de</strong> basea<strong>da</strong> no reconhecimento dos direitos e na construção<br />

<strong>de</strong> sujeitos ativos no seu entorno <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Dar a voz aos pais na dinâmica<br />

realiza<strong>da</strong> foi um passo importante para que estes se tornassem porta-vozes <strong>de</strong><br />

suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e tomando a iniciativa <strong>de</strong> solicitar a criação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

pais na <strong>escola</strong>.<br />

A resiliência como construção resultante do estabelecimento <strong>de</strong> um sentimento<br />

<strong>de</strong> pertença e vinculação com o contexto presente e futuro.<br />

A resiliência emerge como um processo no qual a <strong>escola</strong> passa a ter sentido e<br />

significado numa trajetória que mesmo sendo pessoal projeta-se no coletivo no<br />

momento em que o jovem se percebe como fazendo parte <strong>de</strong>ste coletivo. Para<br />

que tal seja possível, os adultos que recebem este jovem em sua trajetória<br />

educativa <strong>de</strong>vem ter capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento <strong>de</strong> diferentes histórias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

53


RECOMENDAÇÕES<br />

Fun<strong>da</strong>mentalmente ampliar ações volta<strong>da</strong>s para o reconhecimento <strong>da</strong> <strong>escola</strong><br />

como um espaço para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ética e<br />

responsável, assegurando a permanência <strong>de</strong> crianças e adolescentes no processo<br />

educativo.<br />

Especificamente, <strong>da</strong>r apoio e subsídios econômicos, pe<strong>da</strong>gógicos e <strong>de</strong><br />

infraestrutura às <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> forma que possam ser <strong>de</strong>senvolvidos currículos<br />

sensíveis às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos alunos e, principalmente, facilitador do trabalho do<br />

educador;<br />

Desenvolver projetos educativos inclusivos <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>de</strong> alunos em situação<br />

<strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social e econômica através do treinamento e trabalho com os<br />

professores;<br />

Facilitar a inclusão <strong>da</strong>s famílias na <strong>escola</strong>, promovendo ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ofereçam<br />

condições <strong>de</strong> acolher necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que incluem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> crianças<br />

menores, alimentação e até transporte nos casos <strong>de</strong> maior necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

Estabelecer relações mais <strong>de</strong>mocráticas com os alunos, promovendo a<br />

autonomia e a participação em sala <strong>de</strong> aula num convívio mais igualitário.<br />

Plano <strong>de</strong> fortalecimento<br />

Em termos <strong>da</strong> intervenção realiza<strong>da</strong>, <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s inicia<strong>da</strong>s neste<br />

projeto é uma <strong>da</strong>s principais metas <strong>de</strong> fortalecimento <strong>da</strong> experiência.<br />

Na dimensão do aluno:<br />

− Promover a criação <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> escuta grupal, organizado em metas<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> narrativas pessoais e coletivas expressas por meios <strong>de</strong><br />

escrita, áudio-visual, artístico, <strong>de</strong>ntre outros. Este espaço se caracterizaria<br />

como uma Tutoria <strong>de</strong> <strong>Resiliência</strong>.<br />

− Desenvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s comunitárias volta<strong>da</strong>s para o entorno <strong>da</strong> <strong>escola</strong>,<br />

incluindo o ambiente físico (praças, locais públicos), como promoção<br />

cultural dirigi<strong>da</strong> à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

− Organizar uma Prefeitura Escolar- montar um esboço <strong>de</strong> funções<br />

administrativas <strong>de</strong> questões <strong>escola</strong>res, volta<strong>da</strong>s para <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. A<br />

54


Prefeitura <strong>escola</strong>r seria forma<strong>da</strong> pelos alunos e seria um espaço aberto <strong>de</strong><br />

discussão <strong>de</strong> problemas com o objetivo <strong>de</strong> inserir o aluno na dimensão ética<br />

<strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação do contexto.<br />

− Desenvolver um programa terapêutico voltado para os alunos em situação<br />

mais extrema.<br />

− Na dimensão familiar: Promover ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>escola</strong>res organiza<strong>da</strong>s,<br />

dirigi<strong>da</strong>s e manti<strong>da</strong>s por pais e ou responsáveis com o objetivo <strong>de</strong><br />

estreitar a vinculação com a <strong>escola</strong>. Estas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s se <strong>da</strong>riam no próprio<br />

espaço <strong>escola</strong>r e utilizando-se dos setores <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

− Na dimensão dos educadores: <strong>de</strong>senvolvimento e promoção <strong>de</strong> autonomia e<br />

valorização do papel do educador através <strong>de</strong> Seminários Integrativos <strong>de</strong><br />

discussão, aperfeiçoamento pessoal e integração com outras agências do<br />

município, estado.<br />

55


Sistema Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Tempo <strong>de</strong><br />

execução<br />

Aluno/<br />

Família<br />

Equipe <strong>de</strong><br />

professores e<br />

Direção<br />

Grupos <strong>de</strong> discussão<br />

quinzenais,<br />

Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s culturais (teatro,<br />

música.)<br />

Prefeitura <strong>escola</strong>r<br />

Envolvimento com programas<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Tutores/acompanhamento nas<br />

situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Seminários integradores,<br />

Assessoria pe<strong>da</strong>gógica<br />

especializa<strong>da</strong>.<br />

Atores envolvidos Meta Resultados<br />

esperados<br />

12 meses Alunos, familiares<br />

e professores<br />

12 meses Professores,<br />

Equipe Diretiva e<br />

Secretaria <strong>de</strong><br />

Educação do<br />

Município<br />

Desenvolver um espaço <strong>de</strong> escuta <strong>de</strong><br />

diferentes narrativas pessoais<br />

Desenvolver vínculo participativo na<br />

<strong>escola</strong> e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

Construção i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal e<br />

inserção coletiva na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como<br />

um sujeito ético, participativo e<br />

responsável<br />

Valorizar o apren<strong>de</strong>r tanto como<br />

forma <strong>de</strong> crescimento pessoal como<br />

<strong>de</strong> participação no<br />

coletivo/transformação<br />

56<br />

Incremento <strong>da</strong><br />

participação na<br />

<strong>escola</strong>,<br />

Diminuição dos<br />

índices <strong>de</strong> <strong>evasão</strong><br />

<strong>escola</strong>r no ano,<br />

Redução <strong>da</strong><br />

violência, pixação<br />

<strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Planejamento <strong>de</strong><br />

ações a curto e<br />

longo prazo


Resumo executivo<br />

Este relatório apresenta os principais resultados <strong>da</strong> investigação sobre <strong>Resiliência</strong> e<br />

Evasão Escolar <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s interfaces do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

em Psicologia e do Projeto <strong>de</strong> Ação Social EDUCAS, ambos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale<br />

do Rio dos Sinos, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil. O trabalho foi possível através<br />

do apoio <strong>da</strong> UNESCO/OREALC, Red INNOVEMOS e <strong>da</strong> Organização dos Estados<br />

Iberoamericanos, OEI. As ações inovadoras construí<strong>da</strong>s e origina<strong>da</strong>s no interesse <strong>de</strong>stes<br />

programas <strong>de</strong> agir diretamente nos contextos promotores <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong> grupos<br />

vulneráveis, especificamente em relação aos jovens no universo <strong>escola</strong>r e a questão <strong>da</strong><br />

permanência na <strong>escola</strong>, levaram-nos ao interesse em <strong>de</strong>senvolver o trabalho. Face ao<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> jovens que eva<strong>de</strong>m <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, queríamos respon<strong>de</strong>r a questão o que<br />

faz um jovem frente a situações <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e social a permanecer na<br />

<strong>escola</strong>? Com este intuito, passamos a conviver com um grupo <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> uma <strong>escola</strong><br />

estadual do município <strong>de</strong> São Leopoldo, RS, Escola Villa Lobos, na tentativa <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r, agir e transformar uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> muitas vezes difícil e <strong>de</strong>safiadora.<br />

Porém, antes <strong>de</strong> discutir as diversas questões levanta<strong>da</strong>s, faz-se necessária uma<br />

compreensão mais abrangente do contexto social e institucional <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

pesquisa. Nossa experiência inovadora está construí<strong>da</strong> e alicerça<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ações diretas na <strong>escola</strong>, através <strong>da</strong> parceria do projeto EDUCAS com o Programa <strong>de</strong><br />

Pós- Graduação em Psicologia. Sobre estes aportes foi <strong>de</strong>senvolvido o projeto <strong>de</strong><br />

pesquisa sustentado na metodologia <strong>da</strong> pesquisa intervenção a qual, além <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r ao sujeito investigado preocupa-se com sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como a<br />

interação que se estabelece entre o pesquisador e o objeto <strong>de</strong> seu estudo. Portanto, a<br />

partir <strong>de</strong> uma perspectiva <strong>de</strong> resiliência, nosso foco <strong>de</strong> interesse foi conhecer as<br />

experiências <strong>de</strong> jovens em situação <strong>de</strong> vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que se mantém nas trajetórias<br />

<strong>escola</strong>res e não <strong>de</strong>sertam. Através <strong>de</strong> uma pesquisa-intervenção que consistiu na<br />

implementação <strong>de</strong> programas dirigidos tanto para o trabalho específico com os jovens<br />

como para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> professores , tentamos i<strong>de</strong>ntificar que<br />

aspectos do contexto ecológico <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> adolescentes em situação <strong>de</strong><br />

vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> social são <strong>fatores</strong> <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> associados à permanência na<br />

<strong>escola</strong>. Participaram <strong>de</strong>ste projeto professores, profissionais e alunos do Programa <strong>de</strong><br />

Pós-Graduação, do Projeto EDUCAS, <strong>da</strong> Escola Estadual Villa – Lobos e acadêmicos<br />

58


do curso <strong>de</strong> Psicologia. I<strong>de</strong>ntificou-se que a <strong>de</strong>serção <strong>escola</strong>r resulta <strong>de</strong> um longo<br />

processo na relação aluno-<strong>escola</strong>, quando fracassa o estabelecimento <strong>de</strong> um vínculo<br />

entre a instituição e o jovem e não se <strong>de</strong>senvolve um contexto criativo e facilitador do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> autonomia individual. Características pessoais <strong>da</strong>s crianças e<br />

adolescentes, associa<strong>da</strong>s principalmente a histórias familiares <strong>de</strong> exclusão e violência<br />

são repeti<strong>da</strong>s nas relações com outros contextos, no caso a <strong>escola</strong>. Aponta-se a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar ações volta<strong>da</strong>s para o reconhecimento <strong>da</strong> <strong>escola</strong> como um<br />

espaço para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ética e responsável, assegurando a<br />

permanência <strong>de</strong> crianças e adolescentes no processo educativo. Especificamente, <strong>da</strong>r<br />

apoio e subsídios econômicos, pe<strong>da</strong>gógicos e <strong>de</strong> infraestrutura às <strong>escola</strong>s <strong>de</strong> forma que<br />

possam ser <strong>de</strong>senvolvidos currículos sensíveis às <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s dos alunos e,<br />

principalmente, facilitador do trabalho do educador.<br />

Coor<strong>de</strong>nação executiva<br />

Profª. Drª. Sílvia Pereira <strong>da</strong> Cruz Benetti<br />

Equipe <strong>de</strong> trabalho:<br />

Profª. Drª. Carolina Lisboa<br />

Profª. Denise Falcke<br />

Prof. Maycoln Teodoro<br />

Equipe consultiva<br />

Profª. Maria Cláudia<br />

Psicóloga Michelle Scheiffel<br />

59


Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> se<strong>de</strong> do projeto: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS,<br />

São Leopoldo, RS.<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação: Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia, Mestrado<br />

Acadêmico em Psicologia.<br />

Linha <strong>de</strong> Pesquisa a qual se vincula o projeto: Clínica <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Adolescência.<br />

Projeto EDUCAS<br />

Bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Científica:<br />

Raíssa <strong>de</strong> Azevedo Hass<br />

Cristian Baqui Schwartz<br />

Bolsista do projeto<br />

Vera Melo<br />

Responsável pela Oficina <strong>de</strong> Bonecos: Grupo Pregando Peça<br />

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62

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