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apresenta<br />
Peças de teatro educativo do projeto<br />
<strong>SESI</strong> JOVEM VIDA<br />
LUCIANANARCISO<br />
Este tempo é meu!<br />
Vamos celebrar a vida<br />
Alô, Alô, Brasil
<strong>SESI</strong> – Serviço Social da Indústria<br />
Departamento Regional do Paraná<br />
Presidente da FIEP<br />
Edson Campgnolo<br />
Diretor Superintendente <strong>SESI</strong> PR<br />
Jose Antonio Fares<br />
Os direitos de reprodução, de adaptação ou de tradução desta guia são<br />
reservados ao <strong>SESI</strong> - Departamento Regional do Paraná, inclusive a<br />
reprodução por procedimento mecânico ou eletrônico.<br />
Narciso, Luciana<br />
Este tempo é meu; Vamos celebrar a vida; Alô, alô Brasil. / Luciana<br />
Narciso – Curitiba : <strong>SESI</strong>/PR, 2011.<br />
184 p. ; 20 cm. – (Projeto <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong>).<br />
ISBN 978-85-61425-60-9<br />
1. Teatro (Literatura). 2. Teatro brasileiro. 3. Literatura paranaense.<br />
I. Narciso, Luciana. II. Título.<br />
Direitos Reservados:<br />
<strong>SESI</strong> – Serviço Social da Indústria<br />
Departamento Regional do Paraná<br />
Avenida Cândido de Abreu, 200<br />
CEP 80.530-902 – Curitiba – Paraná<br />
Telefone: (41) 3271 9000<br />
CDU 792
Sumário<br />
Prefácio 05<br />
Este tempo é meu! 09<br />
Vamos celebrar a vida 87<br />
Alô, Alô, Brasil 133
<strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong><br />
É senso comum que os jovens são o futuro do País. Máxima batida,<br />
mas verdadeira, pois sintetiza a ideia de que está na juventude o potencial<br />
da mudança, o vigor para fazer diferente, o desprendimento<br />
para ir além. É uma responsabilidade. Espera-se que o jovem faça<br />
melhor do que as gerações anteriores e que, além disso, ao se tornar<br />
adulto, garanta à geração seguinte um futuro melhor.<br />
A conclusão é que não é tarefa fácil ser jovem, ainda mais no mundo<br />
de hoje, de tanta complexidade e com tantos riscos. E me refiro em<br />
especial aos riscos que são mais direcionados aos jovens, aqueles que<br />
escapam à proteção familiar e o alcançam no momento e no espaço<br />
de convívio social, com a galera, nas baladas, na hora do namoro. É<br />
caso das drogas e do sexo sem proteção, cujas consequências, muitas<br />
vezes, mudam drasticamente a trajetória de uma vida.<br />
O <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong> atua com a ótica de que para riscos dessa natureza<br />
a melhor forma de enfrentamento é a informação e a conscientização<br />
do jovem, ou seja, capacitá-lo para perceber o perigo e evitá-lo.<br />
O programa começou em 2007, desenhado a partir dos debates e<br />
conclusões de uma outra iniciativa de nossa entidade, o Movimento<br />
Empresarial pela Saúde, que apontou a proteção à juventude como<br />
necessidade premente da sociedade.<br />
O foco das ações do <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong>, pensado já naquela ocasião, é a<br />
prevenção ao uso de drogas, à gravidez precoce, à AIDS e às Doenças<br />
Sexualmente Transmissíveis (DST). Já no primeiro ano, mais de 3.000<br />
rapazes e moças foram alcançados por palestras, oficinas e ações de<br />
protagonismo juvenil. Foi lançada uma coleção de cartilhas educativas,<br />
com conteúdo elaborado por especialistas e pessoas preparadas<br />
para o diálogo com os jovens.<br />
Em 2008, as ações do <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong> passaram a ter a coordenação<br />
da área da cultura, que por sua própria natureza tem fina sintonia<br />
com a juventude. Nesta abordagem, um dos principais caminhos para<br />
o diálogo com os jovens foi o teatro, com peças produzidas pelo Sesi-<br />
PR.<br />
7
Esse livro reúne os textos das três peças de teatro educativo produzidos<br />
pelo <strong>SESI</strong>. A publicação é fruto de um novo passo do programa,<br />
que é a ênfase à literatura, como mais um meio de falar aos jovens.<br />
Literatura de qualidade, de conteúdo ao mesmo tempo cultural e didático,<br />
que induz à reflexão e contribui para com a conscientização<br />
do jovem sobre o seu papel social e a necessidade de ele estar bem<br />
preparado para assumi-lo.<br />
Em “Esse Tempo é Meu”, atores jovens falam diretamente ao público<br />
de igual idade, tratando a questão da prevenção (contra o uso de drogas<br />
lícitas e ilícitas, gravidez precoce e DST/AIDS), de forma educativa<br />
e lúdica.<br />
“Alô, Alô, Brasil” é um chamado à importância do voto e ao exercício<br />
da cidadania, buscando conscientizar e estimular a participação<br />
do jovem como agente ativo das transformações da sociedade. Uma<br />
contribuição para prepará-lo a assumir a tarefa de construir um futuro<br />
melhor para si para e para os que virão.<br />
A peça “Vem Celebrar a <strong>Vida</strong>”, embora mais direcionada aos trabalhadores<br />
das indústrias (como parte de um programa maior que atende<br />
a esse público), trata de temática importante para o jovem, que é a<br />
promoção da saúde com ênfase na valorização de estilos de vida mais<br />
ativos e saudáveis.<br />
A sociedade precisa dividir com os jovens a responsabilidade de construir<br />
um Brasil saudável, justo, produtivo. O <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong> é a presença<br />
da nossa entidade neste esforço, que, afinal, se refletirá nas<br />
gerações de todas as idades.<br />
Que os textos aqui contidos, sejam montados por grupos de teatro<br />
amador, sejam de industriários ou de jovens estudantes, cumpram<br />
plenamente o nosso objetivo de educar e nortear a discussão sobre<br />
temas tão relevantes.<br />
José Antonio Fares<br />
Diretor Superintendente do <strong>SESI</strong> Paraná
LUCIANANARCISO<br />
Este tempo é meu!<br />
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FichaTécnica<br />
A peça “Este Tempo é Meu!”, atendeu em 60 espetáculos, mais de<br />
19500 jovens que se encantavam com a linguagem lúdica e cênica<br />
do teatro e aprendiam sobre atitudes essenciais para ter uma melhor<br />
qualidade de vida. A peça foi uma demanda da gerência de cultura e<br />
circulou pelas cidades São José dos Pinhais, Rio Branco do Sul, Curitiba,<br />
Pato Branco, Francisco Beltrão, Toledo, Cascavel, Foz do Iguaçu,<br />
Campo Largo, Colombo, Araucária, Londrina, Arapongas, Apucarana,<br />
Maringá, Paranavaí, Cianorte, Quatro Barras, Ponta Grossa, Bocaiúva<br />
do Sul, Contenda, Campina Grande do Sul e Almirante Tamandaré.<br />
Elenco:<br />
Alexandre Zampier<br />
Janaina Matter<br />
Otavio Linhares<br />
Sol Faganello<br />
Equipe Técnica:<br />
Texto: Luciana Narciso<br />
Direção: Fátima Ortiz<br />
Assistência de Direção: Maíra Lour<br />
Composição e Direção Musical: Rosy Greca<br />
Arranjos e Sonoplastia: Ervin Fast<br />
Cenário, Figurino e Adereço: Paulinho Maia<br />
Cenotécnico: Sérgio Richter<br />
Coreografia: Vanessa Corina<br />
Direção de Produção: Giselle Lima<br />
Assistência de produção e Operador de som: Geff Gonzalez<br />
Produção: Pé no Palco Atividades Artísticas Ltda<br />
Realização: <strong>SESI</strong> e Centro Cultural Teatro Guaíra<br />
Gerente de Cultura: Anna Zétola<br />
Gerência de Cultura: Neiane Andreata
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Prólogo<br />
Ouve-se um “mix” de sonoridades que nos reportam ao universo<br />
jovem/galera. O elenco entra com objetos de cena colocando<br />
adereços de cena no palco.
Estória 01<br />
CENA 01<br />
Entra no palco um adolescente com jeito de doidão. Chama-se<br />
Naftalina. Carrega uma mala de viagem, uma mochila e um<br />
skate, tem um estilo bem urbano. Está se mudando de cidade<br />
com a família. Apresenta-se ao público.<br />
NAFTALINA: (Para a platéia.) Ae! Sou o Naftalina. Que foi?<br />
Não gostou do nome? Naftalina, véio. Pelo menos é original...<br />
Nafta, para os íntimos. Nafta: parece nome de faraó egípcio,<br />
não parece? Coisa fina, aê. Tô chegando com minha família pra<br />
morar nessa cidade um tempo e já vi que vou gostar disso aqui,<br />
véio. Tá cheio de mulher bonita, só mulher boa, rapaz. Quero<br />
entrar de sola, arrepiando com as gatas, que é pra impor logo<br />
na chegada a minha moral, compreende? Minha reputação no<br />
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pedaço, afinal de contas, tenho um nome a zelar: e este nome é<br />
Naftalina. Fui, galera... (Sai andando de Skate)<br />
Enquanto Naftalina vai saindo do palco, entram ao mesmo<br />
tempo duas meninas que observam a maneira dele agir. Se<br />
entreolham e riem. As meninas estão trajadas casualmente, um<br />
pouco também no estilo grunge: calça jeans, tênis, etc.<br />
LUÍZA: Nossa, viu só que cara metido?<br />
PAULINHA: O cara tá se achando... Bonitinho, até... Nunca vi ele<br />
antes. E você?<br />
LUÍZA: Também não. Deve ser novo na área. Será que ele estava<br />
falando sozinho? Parecia, né?<br />
PAULINHA: Caraca. Quem fala sozinho é gente louca, né Luíza?<br />
Tem um cigarrinho aí?
LUÍZA: Nenhum,larguei do cigarro, sabia? O Henrique me falou<br />
que meu bafo fica horrível quando eu fumo. E que meus dentes<br />
estavam ficando amarelos... E que eu ia ficar cheia de celulite.<br />
Sabia que cigarro dá celulite? O Henrique que me contou...<br />
PAULINHA: Ah, já entendi, captei... O Henrique, hem? Ah, quer<br />
dizer que você tá pegando...<br />
LUÍZA: Tô ficando com ele. Desde a festa de despedida do<br />
Marcelo... Tá bom demais, tô ligada nele. Mó gatinho...<br />
PAULINHA: E você está se cuidando, usando camisinha?<br />
LUÍZA: A gente ainda nem transou, e eu ainda sou virgem... Ele<br />
vem vindo, disfarça.<br />
Henrique entra no palco.<br />
HENRIQUE: Oi Paulinha, oi Luíza, beleza? Então, vou jogar bola<br />
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que ninguém é de ferro, hoje é sábado, né? Vejo vocês na<br />
baladinha hoje de noite lá em casa?<br />
LUÍZA: Já é. É às dez horas mesmo?<br />
HENRIQUE: Dez horas!<br />
Henrique dá um beijo em Luíza, se despede das duas e sai. Entra<br />
Naftalina que sai da parte fechada do palco, segue para onde<br />
estão as meninas, dá uma disfarçada, olha para um lado, para<br />
o outro e enfim puxa papo.<br />
NAFTA: Hum, hum... É... desculpa aí, mas... Alguém tem fogo?<br />
As duas olham para ele de cima a baixo e se entreolham.<br />
Paulinha tem um isqueiro.<br />
PAULINHA: Tá na mão. Tem um cigarro pra me arrumar?
NAFTA: Da hora, gata, tá na mão. (Dá o cigarro para Paulinha,<br />
que o acende.) Mas, eu... Quer dizer... assim... Como é seu<br />
nome mesmo?<br />
PAULINHA: Paula. E essa é a Luíza, minha melhor amiga.<br />
LUÍZA: Tudo bem? (Nessa hora os dois dão ao mesmo tempo,<br />
sem querer, uma baforada de fumaça de cigarro na cara de<br />
Luíza, que dá uma tossida, se abana e diz.) Credo gente, pelo<br />
menos solta essa fumaça pra lá. Ninguém merece...<br />
PAULINHA: (Cutuca Luíza para ela parar de reclamar. Pergunta<br />
para Nafta) E você, qual o seu nome?<br />
NAFTA: Luis Afonso de Souza Moreira Gaspar Filho, vulgo<br />
Nafta!<br />
PAULINHA: Vulgo o que?<br />
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NAFTA: Nafta, gata. De Naftalina, sacou? Naftalina.<br />
LUÍZA: Naftalina? Isso não é aquela bolinha fedida que gente<br />
antiga coloca nas gavetas pra espantar bicho?<br />
NAFTA: É isso mesmo. Matou a pau, gata. Naftalina, a seu<br />
dispor!<br />
PAULINHA: Diferente seu apelido, né? Mas eu achei legal...<br />
Luíza olha “torto” pra amiga.<br />
PAULINHA: Você é novo aqui no bairro, né?<br />
NAFTA: Sou, cheguei faz poucos dias... Tô meio perdidão ainda,<br />
sem amigos, sem muita programação... Mas já estou descolando<br />
uns comparsas! A galera aqui é do bem!<br />
LUÍZA: É gente boa mesmo...
PAULINHA: Nafta, você quer ir numa baladinha hoje de noite?<br />
Lá você pode conhecer uma galera aqui do bairro.<br />
NAFTA: Uhu, que massa, véio. Quer dizer, claro que quero, tô<br />
dentro! Onde é o cafôfo, a casa?<br />
PAULINHA: (Cutucando Luíza.) É na rua de baixo, número 35,<br />
bloco H, apê 12. Tem que tocar o interfone da direita, beleza?<br />
Ah, e tem que levar o que for beber...<br />
NAFTA: Sussi, gata, sussi. Vou levar um goró no tubão que eu<br />
não sou mané pra passar necessidade em dia de festa! (Toca o<br />
celular de Nafta. Ele atende e se despede.) Valeu gatas, agora<br />
tenho que sair fora. Fui.<br />
LUÍZA: Tchau... Credo Paulinha, que cara mais metido que você<br />
convidou pra ir no apê do Henrique... Fala sério, Paula,<br />
PAULINHA: Falo sério sim. Tô sem namorado, esqueceu disso?<br />
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Você tá aí com o Henrique na maior pegação e eu vou passar a<br />
noite toda sozinha? Ninguém merece. Pelo menos assim levo<br />
um papo com o Nafta, quem sabe ele é legal, pelo menos é bem<br />
gatinho...<br />
LUÍZA: Tá bom tá bom... Vamos no mercado comprar as coisas<br />
pra festa? Trouxe a grana aí?<br />
PAULINHA: Tá na mão, vamos lá. Já é!
CENA 02<br />
Festa rolando. Música rolando. Henrique movimenta-se<br />
colocando objetos cenográficos e simulando atenções aos<br />
convidados. Toca a campainha e entra Nafta, bem “entrão”,<br />
dança e se exibe. Paulinha e Luíza chegam. Colocam umas coisas<br />
obre a mesa, se servem e conversam.<br />
PAULINHA: Olha só, o Naftalina já chegou. Que massa...<br />
LUÍZA: É mesmo, e o Henrique tá um gato com aquela blusa,<br />
né? Fala sério...<br />
PAULINHA: O Nafta vem vindo, o que eu faço?<br />
LUÍZA: Continua dançando, conversa qualquer coisa...<br />
Nafta se aproxima das meninas, Henrique vem junto. Os 4 se<br />
cumprimentam. Nafta vai acender um cigarro, Henrique pede<br />
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pra ele fumar na sacada.<br />
HENRIQUE: Nafta, peraí, brou. Será que você pode fumar esse<br />
cigarro lá fora na sacada? Aqui em casa ninguém mais fuma,<br />
fica o maior futum... De boa, cara...<br />
NAFTA: Sussi... Minha véia também não deixa fumar dentro de<br />
casa. E aí, Paulinha, vamos lá fumar um cigarrinho comigo?<br />
Paulinha e Nafta saem para fora e acendem seus cigarros.<br />
Começam a conversar.<br />
PAULINHA: Quero trabalhar na mesma loja que a minha mãe<br />
trabalha, num Shopping, tá ligado? Eu só quero ter uma graninha<br />
pra curtir a vida. E você?<br />
NAFTA: Eu? Eu o que? Eu gosto de estudar, vou bem na escola,<br />
tenho facilidade em matemática, entende, gata? Minha mãe<br />
disse que eu tenho que trabalhar, mas ainda não achei nenhum
trampo pra mim...<br />
PAULINHA: Ah, é difícil mesmo...<br />
NAFTA: Então, vamos voltar lá dentro e dançar um pouquinho?<br />
Henrique e Luíza dançam juntos num canto, na maior pegação.<br />
Nafta e Paulinha, aos poucos, vão “ficando” próximos também.<br />
Todos dançam e se divertem. Paulinha e Luíza se encontram na<br />
“pista”.<br />
LUÍZA: Paulinha, tô nervosa, o Henrique pediu pra eu dormir<br />
com ele aqui hoje porque a mãe dele foi pro interior... Que que<br />
eu faço?<br />
PAULINHA: Sei lá, fica sussi... O Henrique é gente boa... Quer<br />
dizer que é hoje então?<br />
LUÍZA: É hoje o quê?<br />
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26<br />
PAULINHA: Como o quê? (Faz um gesto que indica transar.)<br />
LUÍZA: Ah... Sei lá, acho que pode até rolar... Assim pelo menos<br />
eu deixo de ser virgem e a galera para de me encher o saco...<br />
PAULINHA: Dá-lhe amiga, até que enfim... Só não vai se<br />
esquecer de usar camisinha, tá ligada? Vou voltar ali antes que<br />
uma espertona pegue o Nafta... (Pega camisinha do bolso e dá<br />
pra Luíza, que olha e coloca no bolso rapidinho, com vergonha.<br />
Luíza segura no braço de Paulinha e diz.)<br />
LUÍZA: Bem que você podia dormir aqui também, né?<br />
PAULINHA: Como assim?<br />
LUÍZA: Com o Nafta...Vou falar com o Henrique... Dá essa<br />
força?<br />
Luíza vai para o lado de Henrique, começam a dançar e conversar.
Após, os dois vão saindo de mãos dadas para um canto do palco.<br />
Henrique faz um gesto para Naftalina dou outro lado da pista.<br />
Naftalina vai puxando Paulinha para o outro canto.<br />
PAULINHA: Só uma perguntinha, Nafta, onde a gente tá indo?<br />
NAFTA: Sei lá, Paulinha. A festa já tá meio caidaça, né? O dono<br />
da casa já se recolheu... O Henrique disse que a gente podia ficar<br />
mais à vontade ali na salinha de televisão, tá vendo a salinha?<br />
Sofazinho, DVD, o Henrique deixou até um cobertor e colocou<br />
um show maneiro pra gente assistir... A gente pode ficar aqui,<br />
quer dizer, fica comigo mais um pouquinho? Tá afim?<br />
PAULINHA: (Meio tímida.) Hum... Tá legal. (Mais tímida ainda.)<br />
Mas, quer dizer, você, é... você por acaso trouxe camisinha?<br />
NAFTA: (Puxa do bolso uma tira cheia de camisinhas.) Claro,<br />
gata, já te disse que sou um cara ligado na parada que circula<br />
por aí? Não dou bobeira não. Pego camisinha grátis lá no posto<br />
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de saúde, meu pai que me ensinou...<br />
Som continua rolando, os casais somem.
CENA 03<br />
Tempos depois...<br />
LUÍZA: Pô Paulinha, tô mal, cara, tô mal...<br />
PAULINHA: Qual é, Luíza? Que baixo astral é esse? Bem agora<br />
que nós duas conseguimos uns fiquétes?<br />
LUÍZA: Por isso mesmo, Paulinha...<br />
PAULINHA: Pô, Lu... Não entendi.<br />
LUÍZA: Paulinha, presta atenção: Lembra da festinha na casa do<br />
Henrique?<br />
PAULINHA: Claro.<br />
LUÍZA: Pois é... Aquele dia a gente...<br />
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PAULINHA: Transou, é claro, isso você já me contou faz tempo.<br />
E daí? Tava na hora, né Luíza? Uma hora ou outra isso tinha que<br />
rolar mesmo...<br />
LUÍZA: Cara, rolou mesmo, e continuou rolando, só que agora...<br />
(Cai no choro.)<br />
PAULINHA: Caraca... Ele terminou...<br />
LUÍZA: (Chorando.) Pior...<br />
PAULINHA: Arrumou outra...<br />
LUÍZA: (Chorando.) Pior...<br />
PAULINHA: Já sei: ele terminou com você e arrumou outra, não<br />
necessariamente nessa ordem, quer dizer, arrumou outra e<br />
terminou com você, quer dizer....
LUÍZA: (Aos prantos.) Nãããããããõ. Pára com isso, pára. É que...<br />
(Pega do bolso um papel tipo resultado de exame.) Paulinha, eu<br />
tô grávida. Eu tô grááááááávida... (Cai no choro desesperada.)<br />
PAULINHA: (Perplexa.) Luíza... Tem certeza... E agora? (Vê o<br />
exame.) Caraca, e as camisinhas que eu te dei? Nem tomou<br />
pílula?<br />
LUÍZA: Eu não usei camisinha... E eu também não tomei pílula...<br />
Eu sou uma anta... (Chora compulsivamente.)<br />
PAULINHA: Cara, você marcou... Marcou bobeira feio dessa<br />
vez... Que situação...<br />
LUÍZA: Eu fiquei com vergonha de falar de camisinha pro<br />
Henrique e ele nunca falava nada também,,, E eu era virgem,<br />
lembra? Achei que virgem não engravidava assim logo de<br />
cara...<br />
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PAULINHA: (Indignada com o descuido de Luíza.) Pô Luíza, sem<br />
pílula e sem camisinha só podia dar nisso, né?<br />
LUÍZA: (Desesperada.) Eu sou uma tosca mesmo... O que eu<br />
faço agora?<br />
PAULINHA: Procure um médico, demorou. E o Henrique, ele já<br />
sabe?<br />
Entra Henrique cabisbaixo, Paulinha sai.<br />
LUÍZA: (Para a platéia.) O Henrique escutou tudo quieto, depois<br />
saiu batido pra casa quando viu o resultado, disse que ia falar<br />
com a mãe dele...<br />
Sai Henrique. Luíza ainda para a platéia.<br />
LUÍZA: Putz... Tenho que procurar um médico. A única pessoa<br />
que pode nos dizer o que fazer agora... Será que a Paulinha vai<br />
comigo?
Neste instante Paulinha aparece no lado direito do palco. A atriz<br />
coloca uma peruca + óculos, fazendo papel de mãe do Henrique.<br />
Luíza permanece sozinha, cabisbaixa, no centro do palco. Do<br />
lado esquerdo do palco está Henrique levando uma mala, indo<br />
embora. Luíza está no palco mais atrás, cabisbaixa e sozinha,<br />
situada entre os dois. Mãe de Henrique fala para o filho:<br />
MÃE: Moleque sem vergonha, abusado, e ainda por cima burro.<br />
Eu criei um filho descuidado. Que burrice, meu filho, que falta<br />
de responsabilidade.<br />
HENRIQUE: Mas, mãe... Eu...<br />
MÃE: (Muito nervosa.) Eu o que? Um desmiolado, é isso:<br />
irresponsável e desmiolado. Não sabia que podia engravidar<br />
a menina? Não sabia que isso podia acontecer? Você não é<br />
criança, filho. É homem pra transar, mas não é homem pra<br />
se cuidar? Como assim? E a camisinha? Ca-mi-si-nha... Nunca<br />
ouviu falar? Desculpe, mas foi irresponsabilidade, sim.<br />
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34<br />
HENRIQUE: Mas mãe...<br />
MÃE: (Estressadíssima.) Mas mãe, mas mãe o quê? Mas mãe o<br />
quê, moleque? Agora vai ter que trabalhar, entendeu? Vai ter<br />
que dar duro porque o senhor agora tem um filho pra sustentar...<br />
Você agora é pai, Henrique. Vai pro interior, pra casa de seu pai<br />
trabalhar na loja, que ele tá precisando de mão de obra.<br />
HENRIQUE: Eu? Pro interior? Morar com o pai? E com a chata<br />
da mulher dele? Mas mãe...<br />
MÃE: Ué. Fazer o que? A menina é menor de idade, Henrique,<br />
tem 15 anos. Eu não tenho condições de criar você, seu irmão<br />
e ainda sustentar mais um neto e uma nora. Você vai ter que<br />
trabalhar pra ajudar a menina criar esse nenê, e lá no interior<br />
com seu pai você tem trabalho... Acabou a festa, Henrique. Tem<br />
pensão pra pagar agora, se vira filho.<br />
HENRIQUE: Mas mãe...
MÃE: (Irritada com o filho.) Mas mãe o quê? O quê? Porque<br />
não me pediu conselho antes, moleque? Me pedisse que eu<br />
te dava camisinha, melhor gastar com camisinha do que ser<br />
avó com essa idade... Eu, avó com essa idade, eu não merecia<br />
isso... (Mais irritada ainda.) Uma simples camisinha poderia ter<br />
evitado tudo isso, mas agora é tarde, filho... Você vai ter que ir,<br />
já falei com o seu pai.<br />
HENRIQUE: Mas mãe...<br />
MÃE: (Acabada, super triste) É assim, filho... Vai ter que ser.<br />
Saem ambos chorando, cada um em uma direção. Luíza<br />
permanece ali sozinha, cabisbaixa.<br />
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36<br />
Cena 04<br />
Após Henrique e a mãe saírem, aparece a figura de um médico<br />
(ator que faz Nafta.), Luíza leva o maior susto, a luz se acende<br />
e ele diz:<br />
MÉDICO: E você, senhorita Luíza, lembre-se que usando pílula<br />
anticoncepcional e uma simples camisinha você estaria livre<br />
dessa situação...<br />
LUÍZA: Mas como que eu ia saber disso?<br />
MÉDICO: Você deveria ter me procurado no posto de saúde<br />
antes de tudo começar a acontecer.<br />
LUÍZA: No posto de saúde, Doutor?<br />
MÉDICO: Sim, nos postos de saúde disponibilizamos consultas,<br />
exames, pílulas anticoncepcionais e preservativos grátis para<br />
vocês.
LUÍZA: Grátis?<br />
MÉDICO: E mais, senhorita: você também estava se arriscando<br />
a pegar uma doença sexualmente transmissível como a AIDS. A<br />
camisinha não protege somente da gravidez, mas também das<br />
doenças indesejadas, como a AIDS.<br />
LUÍZA: AIDS? Nossa...<br />
MÉDICO: Se dê por satisfeita senhorita, por não ter contraído<br />
uma doença sexualmente transmissível, que a estas alturas<br />
poderia ser fatal para você e o bebê.<br />
LUÍZA: (Responde ao doutor.) Mas Doutor, eu era virgem, e não<br />
sabia que na primeira vez já engravidava... (Fica cabisbaixa.)<br />
MÉDICO: (Vai até Luíza.) As meninas podem engravidar ou<br />
pegar doença na primeira relação.<br />
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38<br />
LUÍZA: Muito menos sabia que já pegava doença assim logo de<br />
cara, até AIDS... E também eu tinha vergonha de pegar camisinha<br />
no posto, de comprar na farmácia e de pedir pro Henrique usar<br />
camisinha, sei lá...<br />
MÉDICO: Esta vergonha de usar camisinha é uma bobagem nos<br />
dias de hoje, Luíza, o mais importante é a gente se proteger das<br />
doenças e da gravidez indesejada. Não podemos ter vergonha<br />
de querer proteger a nossa vida e a dos outros, né?<br />
LUÍZA: Eu tinha medo de parecer oferecida, de parecer piranha...<br />
E eu era virgem (Cai no choro.)<br />
MÉDICO: Pois é... Mas agora teremos que tocar o barco.<br />
LUÍZA: O barco?<br />
MÉDICO: Em função da sua gravidez e da sua idade, teremos<br />
que fazer alguns exames... Acho melhor a gente agendar
uma horinha aqui no consultório pra marcarmos os exames!<br />
Enquanto isso você fala com sua mãe sobre o assunto porque<br />
ela precisa saber.<br />
LUÍZA: (Olha para o médico.) Minha mãe? Tem certeza que ela<br />
precisa saber?<br />
DOUTOR: Você é menor de idade, Luíza...<br />
LUÍZA: (Para a platéia.) Caraca, minha mãe não vai acreditar. Vai<br />
me estrangular, me enforcar, me esculachar, vai me matar e no<br />
fim vai se suicidar... E meu pai, então? Ele estava tão orgulhoso<br />
que eu queria fazer faculdade... Ia ter um diploma... Acho que<br />
ele vai ter um ataque, um derrame, um infarto, um piripaque, e<br />
no fim... No fim vai se matar... AAAAAAAAAi... Tô frita, Doutor...<br />
(Cai no choro.)<br />
DOUTOR: Não Luíza, eles não vão te matar... E você provavelmente<br />
terá que contar com a ajuda deles para criar este filho...<br />
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40<br />
LUÍZA: Como é que isso foi acontecer comigo?<br />
DOUTOR: Isso aconteceu porque você não estava bem informada<br />
a respeito de prevenção.<br />
LUÍZA: Prevenção de quê?<br />
DOUTOR: De gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis,<br />
que acontecem através das relações sexuais.<br />
LUÍZA: É mesmo, eu jamais ia adivinhar que qualquer mulher<br />
pode engravidar na primeira transa; assim como pegar qualquer<br />
doença.<br />
DOUTOR: É isso mesmo, e lembre-se de que não precisa nem<br />
de penetração pra acontecer estas coisas. Existem muitas<br />
doenças sexualmente transmissíveis, sendo a AIDS a mais grave<br />
de todas. Numa simples e única relação sexual a pessoa pode<br />
contrair algo que vai prejudicá-la para o resto da vida.
LUÍZA: Numa única vez, Doutor?<br />
DOUTOR: Sim, numa única relação... Além do mais, muitas<br />
outras meninas engravidam na 1 ª relação sexual por acharem<br />
que a virgindade as protege de alguma maneira.<br />
LUÍZA: É mesmo... Eu deveria ter procurado o senhor antes,<br />
ter usado camisinha, ter tomado pílula, ter tomado cuidado,<br />
tomado noção...<br />
MÉDICO: Pois é, Luíza. Você e todas os jovens que tiverem<br />
dúvida sobre prevenção de gravidez e doenças, ou qualquer<br />
dúvida relacionada a sexo, devem procurar um médico para se<br />
informar e evitar doenças e gravidez indesejadas...<br />
LUÍZA: E vocês nunca contam nada pra ninguém? Quem é que<br />
garante que vocês não vão contar nada pros nossos pais?<br />
MÉDICO: O que conversarmos aqui no consultório é segredo<br />
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42<br />
profissional. Isso se chama “sigilo profissional”... É para isso<br />
que nós servimos, para vocês recorrerem a nós sempre que<br />
estiverem em uma situação difícil ou confusa, entendeu?<br />
LUÍZA: Puxa, doutor... Mas o senhor me ajuda a contar pra<br />
minha mãe? Eu não tenho coragem...<br />
Doutor afirma com a cabeça que ajudará Luíza a contar para a<br />
mãe, coloca a mão sobre o ombro dela e saem confiantes.
ESTÓRIA 02<br />
Cena 01<br />
Duas adolescentes vestidas com uniforme e com pastas escolares<br />
no colo estão sentadas num banco tipo de praça, conversando e<br />
comendo alguma coisa tipo pipoca ou amendoim.<br />
JULIA: HPV.<br />
PALOMA: Como é?<br />
JULIA: HPV.<br />
PALOMA: Nunca ouvi falar. Isso é AIDS?<br />
JULIA: Não, AIDS é HIV. HPV é outra coisa, a médica falou.<br />
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44<br />
PALOMA: Credo, e pega como?<br />
JULIA: Transando, tipo DST, entende?<br />
PALOMA: DS o quê?<br />
JULIA: DST...<br />
PALOMA: Que que é isso?<br />
JULIA: Doença Sexualmente Transmissível. Tem um monte,<br />
olha só: Hepatite C, hepatite B, HIV que é AIDS, HPV, clamídia,<br />
gonorréia, sífilis...<br />
PALOMA: (Interrompendo Julia.) Credo, Julia, que nojo. Isso<br />
tudo a gente pega transando?<br />
JULIA: Pega, se não usar camisinha e se a outra pessoa estiver<br />
infectada.
PALOMA: Credo... e porque você estava falando do tal do hp,<br />
hp o quê mesmo?<br />
JULIA: V. HPV. Eu ia te contar que a Letícia da nossa sala teve que<br />
tirar o útero por causa desse HPV, a irmã dela me contou ontem<br />
no mercado. Por isso que ela não está indo fazer as provas.<br />
PALOMA: O útero? Ela teve que tirar o útero?<br />
JULIA: O tal do fungo, o HPV, dá câncer de útero, sabia?<br />
PALOMA: Eu não. Quer dizer, nem imaginava que esse HPV era<br />
assim tão sério.<br />
JULIA: Nem eu. Perigoso, né? Daí contei pra minha mãe e ela<br />
me levou imediatamente numa ginecologista... Lá que eu fiquei<br />
sabendo de todas essas doenças sexualmente transmissíveis...<br />
Daí a médica me mandou fazer um monte de exame, mas eu<br />
fiquei sussi, porque o Tuco e eu só transamos de camisinha. Tô<br />
sussi... Vou pegar os resultados amanhã.<br />
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46<br />
PALOMA: (Com a maior cara de preocupação.) Xííííí´... Será que<br />
você pode me dar o telefone dessa médica? Acho que vou lá<br />
também... Melhor garantir, sei lá...<br />
JULIA: Claro, a médica falou que se a Letícia tivesse descoberto<br />
o HPV no começo, talvez tivesse até cura.<br />
PALOMA: Ai... (Preocupada e afobada.) Então eu quero ir mais<br />
logo ainda.<br />
JULIA: Vamos lá em casa que eu vou pegar o telefone dela na<br />
agenda da minha mãe. Ah, quer almoçar com a gente lá em<br />
casa?<br />
PALOMA: Hum, eu quero. Adoro a comida da sua casa. Vou avisar<br />
a minha mãe então. (As duas se levantam e saem caminhando.<br />
Paloma pega o celular e liga para a mãe, sai do palco avisando<br />
a mãe que vai almoçar na casa da Julia. Fim.)
ESTÓRIA 03<br />
Cena 01<br />
Dois meninos sentados batendo papo. Um deles está arrasado,<br />
com um exame na mão. O outro, preocupado, escuta o amigo.<br />
Marinho, que descobre estar com AIDS é bem hetero. O amigo<br />
também, mas com um ar mais louquinho, embora seja ela o<br />
mais careta e responsável.<br />
MARINHO: Pois é, cara, eu confesso que nunca fui chegado em<br />
camisinha, não...<br />
PAULO: Como assim, não era chegado? E quem disse que tem<br />
que ser chegado?<br />
MARINHO: Sei lá, né? Eu sempre fui um cara espada, macho,<br />
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só ficava com mulher bacana, só princesa... Nunca usei drogas<br />
injetáveis... Como é que eu ia adivinhar?<br />
PAULO: Como assim, adivinhar? Adivinhar o que?<br />
MARINHO: Que a gente que é espada também pega AIDS, pô...<br />
PAULO: Pô digo eu, véio. Você é meio doido? Não lembra que é<br />
todo mundo feito do mesmo material?<br />
MARINHO: Como assim, mesmo material?<br />
PAULO: Cara, tanto faz. Hetero, gay, bissexual, homem, mulher,<br />
pobre, rico, casado, solteiro, novo, velho, playboy, todo mundo<br />
pega AIDS se vacilar, entendeu?<br />
MARINHO: Pois é...<br />
PAULO: AIDS passa pelo sangue e pelas relações sexuais. Por
isso que os viciados em droga injetável também pegam AIDS se<br />
compartilharem a mesma seringa.<br />
MARINHO: Mas eu não uso drogas... Sou espada, cara, espada...<br />
E só pego princesa, você me conhece, brou... Justo agora que<br />
eu estava pensando em namorar sério... Pô, cara, como é que<br />
pode isso? (Mostra mais uma vez o exame ao amigo.)<br />
PAULO: É que os heterossexuais também pegam AIDS se não<br />
usarem camisinha, não tá vendo aqui nesse exame? É um vírus,<br />
cara. Homem, mulher, todo mundo pega se vacilar...<br />
MARINHO: Vírus? É vírus, é? Tipo gripe?<br />
PAULO: É, tipo gripe, que qualquer pessoa pode pegar. Só que<br />
AIDS não tem cura, entende?<br />
MARINHO: O médico me falou isso mesmo... Tô ferrado.<br />
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50<br />
PAULO: Você controla a doença, mas passa a ter o vírus pro<br />
resto da vida, é isso que dizem os médicos...<br />
MARINHO: Putz... Tô ferrado... Pensava que sendo espada eu<br />
não pegaria isso nunca... Pô cara, que mal... Vacilei feio...<br />
PAULO: Caramba, Marinho... Você vacilou feio mesmo...<br />
Neste momento entram duas enfermeiras bem bonitinhas no<br />
palco, com seringas e camisinhas nas mãos.<br />
ENFERMEIRA 01: Pois é, Marinho! Todas as pessoas devem usar<br />
camisinha para manter relações sexuais, seja lá com quem for,<br />
porque ninguém está livre de ter o vírus da AIDS... É tão fácil de<br />
usar...<br />
ENFERMEIRA 02: E mais: não se deve compartilhar seringas<br />
em hipótese nenhuma, jamais... (A enfermeira joga todas as<br />
seringas no lixo.) Aliás, esse negócio de usar drogas também não
está com nada... A gente tem que se cuidar... Vamos, enfermeira<br />
um, ainda temos que passar em outros lugares...<br />
As enfermeiras saem do palco. Os dois meninos se entreolham.<br />
MARINHO: De onde essas duas surgiram? (Paulo faz um gesto<br />
de “sei lá”.) Será que eu tô vendo coisa? Bonitinhas, né? (Paulo<br />
consente com a cabeça. Pausa breve. Marinho demonstra<br />
preocupação.) E agora, que é que eu vou fazer? (Muito triste.)<br />
PAULO: Agora você tem que cuidar da sua saúde e cuidar muito<br />
pra não passar esse negócio pra ninguém... Daqui pra frente,<br />
meu chapa, é só de camisinha mesmo...<br />
MARINHO: É, foi o que o médico me disse. E também disse que<br />
eu também vou ter que tomar vários remédios pro resto da<br />
vida, tipo um coquetel de remédio... (Marinho está arrasado,<br />
murchinho, destruído.) Pô cara, que droga... Eu não esperava<br />
por isso...<br />
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52<br />
PAULO: Ninguém esperava, amigo... (Olhando desolado para<br />
o exame do Marinho. Paulo resolve então levantar o astral do<br />
amigo.) Bom, que tal a gente ir jogar uma bola pra você esfriar<br />
a cabeça? Tem jogo hoje, vamos?<br />
MARINHO: Jogar bola? Sei não, tô meio desanimado, cara... Tô<br />
fora...<br />
PAULO: Pô Marinho, a vida continua, né? Vamos encontrar a<br />
galera e esfriar a cabeça. Nós, os seus amigos, estaremos sempre<br />
junto, sempre do seu lado, qual é? A gente é amigo ou não é?<br />
MARINHO: Valeu, Paulão, valeu mesmo, mas eu tô meio sem<br />
vontade...<br />
PAULÃO: Qualé, vamos?<br />
MARINHO: Tá legal, eu vou. Vou lá em casa trocar de roupa e<br />
pegar minha chuteira... Vou começar a cuidar melhor da minha
saúde! (Joga um maço de cigarro no lixo.)<br />
PAULO: Tô gostando de ver... (Se referindo ao cigarro que<br />
Marinho jogou no lixo.) Então te vejo na quadra em meia hora,<br />
tá?<br />
MARINHO: Já é. Tô indo, guarda lugar pra mim no seu time, tá<br />
legal?<br />
PAULO: Fica tranqüilo! Meia hora, tá?<br />
MARINHO: Valeu, mano!<br />
Paulo sai. Marinho dá mais uma olhada no exame e pensa um<br />
pouco. Guarda o exame no bolso. Levanta a cabeça. Fala para<br />
si mesmo.<br />
MARINHO: Putz... Ainda bem que minha família, meu médico e<br />
meus amigos são legais e estão me dando essa força! (Alguém<br />
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da coxia joga uma bola de futebol para Marinho.) O negócio<br />
é rolar a bola pra frente e me cuidar... Fazer o quê? (Para a<br />
platéia.) Fui, galera!<br />
Sai pelo outro lado do palco
ESTÓRIA 04<br />
Três amigos estão juntos conversando numa sala. Estão chocados<br />
como destino de Flávio, colega de turma que está seriamente<br />
envolvido com drogas.<br />
HUGO: Chocante, cara... Dava pra perceber que ele estava usando<br />
alguma coisa esquisita, mas crack... Isso eu não imaginava...<br />
TINA: Realmente, crack é dureza... Mas me disseram que ele já<br />
está usando Oxi, sabia?<br />
VIVI: Crack é o fim da linha... Oxi então, sem condições. Puxa<br />
vida, o Flávio era tão atlético, jogava bola, nadava, andava de<br />
skate...<br />
HUGO: Pois é... Não entendo como o cara foi cair nessa de<br />
usar droga... Parou de andar com a gente, mudou de turma,<br />
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56<br />
tomou pau na escola, largou o estágio... Só pensava em fumar<br />
maconha...<br />
VIVI: Foi depois que ele terminou com a Lelê, nessa época<br />
ele se envolveu com aquela galera do Ricardão, aqueles caras<br />
estranhos, povo sinistro...<br />
HUGO: Verdade. Saí uma vez com o Flávio uma vez e essa<br />
galera chegou na balada onde a gente estava. Eles secaram uma<br />
garrafa de uísque em menos de dez minutos. Iam toda hora no<br />
banheiro de bando e voltavam fungando, de nariz pingando,<br />
parecia que estavam cheirando cocaína, crentes que eu não<br />
estava percebendo nada...<br />
TINA: Eles se acham os espertos mas todo mundo flagra os<br />
caras...<br />
VIVI: Eu nem vou mais no bar que essa turma frequenta, mó<br />
sujeira... Vai que chega a polícia, que alguém morre de over
dose, sei lá...<br />
HUGO: Esses caras que usam e que vendem droga estão em<br />
todos os lugares, Vivi. A gente é que tem que saber como se<br />
impor, entendeu? Qualquer barzinho, rave, balada, praia, show,<br />
em todo lugar rola droga...<br />
TINA: Concordo, Hugo... As drogas estão em todos os lugares,<br />
a gente é que tem que sair fora... Até na escola tem gente que<br />
leva e tem gente que usa, que vende, que compra, todo mundo<br />
sabe...<br />
VIVI: Eu nem chego perto desse povo... Prefiro ficar na minha...<br />
Não quero confusão... Basta meu irmão que fumava maconha<br />
feito um doido o dia inteiro, largou o estágio, a escola, ficou<br />
cabeludo, barrigudo, quase matou minha mãe do coração, sou<br />
traumatizada com isso... O clima em casa era horrível nessa<br />
época.<br />
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HUGO: Mas ele agora tá legal, né?<br />
VIVI: Agora sim, até que enfim... Mas deu um trabalho danado<br />
pra minha mãe, ela teve que pagar psicólogo, remédio, um<br />
monte de coisa. Porque na verdade ele não fumava só maconha,<br />
ele também cheirava pó e tomava extasy nas baladas pra ficar<br />
ligadão... Minha mãe achou tudo isso um dia dentro de um<br />
sapato dele...<br />
TINA: Ainda bem que ele se livrou dessas porcarias, está<br />
fazendo faculdade e trabalhando... Já o Flávio... Sei não... Esse<br />
tal de crack é a pior de todas as drogas, dá dependência química<br />
muito rápido, dizem que é incontrolável.<br />
HUGO: O irmão do Flávio me falou que ele está até roubando<br />
em casa... Até o cachorro puddle da mãe dele o Flávio trocou<br />
por crack, ou por oxi, sei lá; parece que ele tentou vender a<br />
moto do pai dele pra trocar por droga, não entendi direito a<br />
confusão. Rolou até polícia na jogada.
TINA: Acho que o Flávio está completamente viciado nessas<br />
porcarias...<br />
Toca a campainha. Hugo vai abrir a porta. É Flávio destruído,<br />
sujo, mal vestido, cabisbaixo, baixo astral total. Entra para<br />
conversar com os amigos. Diz em tom de brincadeira.<br />
FLAVIO: Ahá! Estavam falando de mim, hem? Escutei pelo outro<br />
lado da porta!<br />
HUGO: Pô Flavio, desculpa, é que...<br />
FLÁVIO: (Perde o tom de brincadeira e assume um ar sério, triste<br />
e preocupado.) É que eu tô ferrado mesmo, mano...<br />
As meninas penalizadas se entreolham caladas.<br />
HUGO: Mas como é que foi rolar isso? Que onda... Faz tempo,<br />
cara?<br />
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60<br />
FLÁVIO: Faz... Quer dizer, mais ou menos... Eu sempre fui sussi,<br />
fumava meu baseado, meu cigarrinho, tomava minha bera...<br />
Nas baladas às vezes rolava um pó, um extasy, um doce, mas<br />
nada de mais, entende?<br />
VIVI: Nada de mais? Eu acho tudo demais: cigarro, maconha,<br />
álcool, cocaína, extasy, LSD... Uma farmácia...<br />
FLÁVIO: Eu achava bem normal... Só que um dia eu tava boladão,<br />
já tinha tomado umas oito latas, já tinha fumado um baseado e<br />
o Ricardão me convidou pra fumar com ele.<br />
TINA: O Ricardão, aquele...<br />
FLÁVIO: É, aquele, escuta só a parada... Olha só o que rolou. Ele<br />
falou...<br />
VOZ EM OFF DO RICARDÃO: Aê, brou. Larga esse baseadinho de<br />
mocinha e vem fumar isso aqui, isso aqui sim é que bate legal
na cabeça, brou...<br />
FLÁVIO: No começo me deu medo mas daí ele me desafiou...<br />
VOZ EM OFF DO RICARDÃO: Que é isso, mano? Vai bancar o<br />
boiola? Até as minas estão fumando, isso aqui não dá nada. E<br />
ainda por cima é bem mais barato que o pó, doce, bala...<br />
FLÁVIO: Eu fiquei em dúvida, já tinha ouvido falar que crack<br />
viciava rápido, mas daí não resisti...<br />
VOZ EM OFF DO RICARDÃO: Taí, véio. Preparei essa latinha com<br />
minha melhor pedrinha especialmente pra sua estréia.<br />
FLÁVIO: Daí eu experimentei o crack.<br />
HUGO: Se você estivesse sóbrio jamais teria entrado nessa de<br />
experimentar crack, aposto... Viu no que dá andar bêbado e<br />
chapado por aí na balada com gente da pesada? Que vacilo...<br />
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62<br />
FLÁVIO: Coloca vacilo nisso, véio, tô quebrado... No começo<br />
era barato, depois eu tinha que fumar o dia todo por causa da<br />
fissura, daí ficou caro pra caramba. Muito caro.<br />
VIVI: É o que todo mundo diz: o crack parece que custa barato<br />
mas custa caro demais, porque a pessoa tem que fumar o dia<br />
todo. Ninguém consegue sustentar esse vício.<br />
FLÁVIO: É verdade, Vivi... Comecei a pegar grana escondido da<br />
minha mãe, vendi minha bicicleta, meu skate, meu som, minha<br />
TV, meu computador, jaquetas, CDs, DVDs, calça jeans, tênis,<br />
tudo que eu tinha... Vendi o DVD da minha mãe, o cachorrinho<br />
dela que ela adorava eu troquei por pedra, vendi o vídeo game<br />
do meu irmão, até a moto do meu pai eu coloquei no prego e<br />
disse pra ele que tinham roubado...<br />
TINA: Pegou pesado, hem?<br />
FLÁVIO: Peguei. Foi aí que o meu pai descobriu tudo e agora
foi-se...<br />
HUGO: Como assim “agora foi-se”? Ele vai mandar te prender?<br />
FLÁVIO: Não, é que... Na verdade eu tô passando aqui pra<br />
me despedir de vocês, vou pra outro lugar, uma clínica de<br />
desintoxicação passar dois meses, tá tudo decidido...<br />
VIVI: Clínica de desintoxicação? Dois meses? E a escola?<br />
FLÁVIO: Ah, sei lá... Já levei pau em quase todas as matérias<br />
e nas que ainda tenho nota boa, não tenho presença, rodei<br />
por falta... Também larguei o estágio na fábrica... Tô ferrado...<br />
Tô sujo no pedaço, na escola, na minha casa, é melhor vazar,<br />
dar um tempo, me recuperar e me livrar desse vício que tá me<br />
acabando com a vida.<br />
TINA: Puxa, Flávio... A gente vai ficar torcendo por você e te<br />
esperando na volta pra comemorar sua recuperação...<br />
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64<br />
FLÁVIO: Eu vou me esforçar pra ficar bom logo e poder voltar a<br />
estudar e a fazer estágio... Não agüento mais essa vida...<br />
VIVI: Isso mesmo! Faremos uma festa daquelas pra te receber<br />
na volta.<br />
FLÁVIO: Valeu, valeu... Vocês estavam certos quando me diziam<br />
pra largar a maconha, o pó, as balas, os doces e parar de andar<br />
com aquela galera...<br />
VIVI: Mas você dizia que a gente era careta e não te entendia...<br />
E ainda olhava pra gente com cara de desprezo...<br />
FLÁVIO: Eu sei, eu sei... Tava meio iludido,entende? Fora do ar,<br />
alienado mesmo... Olha, não sou uma cara invejoso, mas dá<br />
vontade de poder ficar aqui como vocês, que são pessoas livres,<br />
podem ir pra escola, namorar, ir nas baladas, nos parques, nos<br />
shows... Mas eu... Bom... Eu vou nessa. Às cinco horas vou<br />
encontrar minha mãe pra ir pra clínica.
HUGO: Boa sorte, cara. Tamo aqui na maior torcida te<br />
esperando...<br />
VIVI: Boa sorte, Flavinho...<br />
TINA: Ai amigo, dá um abraço aqui que eu já fiquei com<br />
saudade...<br />
Flávio abraça os amigos, todos estão emocionados. Clima de<br />
despedida.<br />
FLÁVIO: Aí, fui.<br />
Flávio sai do palco, mais confiante do que entrou. Os três amigos<br />
ficam ali parados, perplexos.<br />
VIVI: Puxa... Essa história me deixou meio triste, me lembrou<br />
tudo que a gente passou lá em casa até meu irmão largar as<br />
drogas... Acho que vou pra academia suar um pouco pra tentar<br />
levantar meu astral.<br />
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TINA: Eu vou pra casa estudar pra prova e cuidar da minha irmã<br />
mais nova porque minha mãe resolveu voltar pra faculdade<br />
depois de velha. Tem cabimento a minha mãe fazer isso? Pô,<br />
tomara que o Flávio saia dessa...<br />
HUGO: Tomara mesmo, o cara é muito gente boa. Não combina<br />
com ele andar com aquela gente noiada e ficar roubando, o<br />
Flávio sempre foi um cara honesto, é nosso brother de infância,<br />
se meteu com o crack de besta. Mas ele vai sair dessa, vocês<br />
vão ver só!<br />
VIVI: Droga é uma doença mesmo, Deus me livre... Tadinho do<br />
Flavinho...<br />
HUGO: Pode crer... É isso aí, gatas. Vou pra escola treinar que<br />
hoje é dia de basquete e eu quero dar um pau naqueles babacas<br />
arrogantes da oitava série. Depois vou pegar a guitarra e ensaiar<br />
com a minha banda! Fui.
Os três se despedem. Depois desta estória pode entrar a estória<br />
da bebida, onde acabam todos bem, felizes e livres dos vícios na<br />
Ilha do Mel...<br />
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68<br />
ESTÓRIA 05<br />
CENA 01<br />
Grupo de jovens reunidos fumando, bebendo, tocando um som<br />
num barzinho. Pagode rolando. Carolina, Bruno, Gabriela e<br />
Murilo. Todos cantam, bebem, mas apenas um deles, o Murilo,<br />
fica bêbado. Estilo da turma: eclético, mas todos de cabelo<br />
comprido. Carolina é loira.<br />
BRUNO: Então, vamos tentar passar um fim de semana na Ilha<br />
do Mel? Dizem que é o bicho, morro de vontade de conhecer.<br />
CAROLINA: Conheci um cara que tinha um camping na Ilha, ele<br />
falou que cobra por dia, lembra Gabriela?
GABRIELA: Aquele cara mais velho que tinha uma irmã alta e<br />
loira?<br />
MURILO: (Já bebum.) Loira? Sabe por que caixão de defunto de<br />
loira é em formato de “Ypsilon”?<br />
GABRIELA: Lá vem você. Murilo...<br />
MURILO: Pra ela ser enterrada com as pernas abertas.<br />
Entenderam? É tão piranha que não fecha as pernas nem<br />
quando morre. Entenderam? (Cai na gargalhada sozinho. Os<br />
outros amigos ficam sem graça por causa de Carolina, que é<br />
loira. Voltam ao assunto)<br />
GABRIELA: Foi mal...<br />
MURILO: (Fica rindo sozinho da piada infame.) Caixão em forma<br />
de “Y”, é de matar... Entenderam?<br />
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BRUNO: Mas, a Ilha do Mel então. Alguém aí tem o telefone do<br />
cara?<br />
CAROLINA: A gente tem o telefone da irmã dele...<br />
MURILO: (Inconveniente, entornando a garrafa.) Deixa que eu<br />
ligo pra loiraça gostosa... Será que ela vai saber ler o telefone do<br />
irmão? Loira sabe ler número de telefone? (Cai na gargalhada<br />
de novo.) Entenderam? A loira deve ser tão burra que não sabe<br />
nem contar até dez... (Cai na gargalhada sozinho, de novo.)<br />
GABRIELA: Pô, Murilo, que mala, sai fora com essas piadas de<br />
loira que já perderam a graça faz tempo, cara. E você é um<br />
grosso, não tá enxergando não? Qual é de ficar zoando com a<br />
nossa cara? Não tá vendo que a Carolina é loira, tosco...<br />
MURILO: (Murilo se toca. Se dirige à Carolina que está<br />
indignada. Fala repetidamente, como bêbado.) Foi mal, foi<br />
mal... Aí, foi mal, desculpa Carol... Olha Carol, eu juro que te
acho inteligentíssima, inteligentésima, praticamente um gênio<br />
Carol, é isso: você é um verdadeiro gênio... Apesar de você ser<br />
loira, né Carolzinha? Você me perdoa, Carol? Me desculpa aí,<br />
mana véia, Einstein...<br />
CAROLINA: Tá bom Murilo, tá bom... Chega desse papo...<br />
MURILO: (Ao garçom.) Traz mais uma béra aí, véio, pra<br />
comemorar que eu fiz as pazes com a Carolzinha gênio da<br />
turma. Bem geladinha faz favor.<br />
BRUNO: Pra mim já deu, Murilo. Vou parar de beber porque<br />
amanhã tenho que ralar.<br />
CAROLINA: Eu também já estou legal, não sou muito de tomar<br />
cerveja...<br />
GABRIELA: Suspende aí a cerva, Murilo, já deu pra cabeça. Além<br />
de tudo você já provocou aqueles caras da mesa de trás, vamos<br />
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72<br />
sair fora... Quer morrer, cara?<br />
MURILO: Tô inteiraço, Gabi. E aqueles caras da mesa de trás<br />
são uns boiolas... Eu sou forte pra bebida, não sou do tipo de<br />
vocês...<br />
BRUNO: Que tipo, Murilo?<br />
MURILO: Desse tipinho antigo que não bebe, não fuma...<br />
BRUNO: Eu gasto minha grana com coisa melhor do que cigarro.<br />
E já bebi bastante pra quem vai ter que trabalhar amanhã o<br />
dia todo e ainda ir pra aula de noite, entendeu? Vou deixar aí<br />
minha parte da conta, tá? (Bruno deixa um dinheiro na mesa.<br />
As meninas fazem o mesmo, se despedem de Murilo que fica no<br />
bar bebendo sozinho, animado com o pagode que tá rolando.<br />
Quando o garçom - ator que fazia Bruno – entra em cena e diz<br />
que vai fechar o bar, Murilo levanta-se trôpego da mesa, fala<br />
alguma coisa ininteligível pra mesa de trás e sai. Sonoplastia de
iga e confusão tipo: Pega esse babaca, Puta cara chato, vai<br />
sair correndo, Vamos dau um pau nesse mala pra ele deixar de<br />
ser pentelho... Coisas assim...)<br />
GARÇOM: (Arrumando a mesa e falando para si mesmo.) Putz...<br />
Qualquer dia esse menino vai se dar mal enchendo a cara e<br />
arrumando briga desse jeito... Beber pra ficar nesse estado?<br />
Mané...<br />
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74<br />
CENA 02<br />
Carolina e Gabriela estão juntas conversando numa lanchonete.<br />
Pode-se utilizar o mesmo cenário do bar, mudando-se as roupas<br />
das meninas. Elas têm cadernos e apostilas nas mãos.<br />
GABRIELA: Sabe o que eu acho mais incrível?<br />
CAROLINA: O que, Gabi?<br />
GABRIELA: Que o Murilo é tão legal quando não bebe, né?<br />
Educado, inteligente, divertido... Mas bêbado ele é insuportável<br />
mesmo...<br />
CAROLINA: Me desculpe, Gabi, mas ultimamente ele vive<br />
bêbado, logo vive insuportável. Pelo menos em todas as<br />
baladas, botecos, raves, em tudo quanto é coisa que rola ele tá<br />
enchendo a cara. Difícil aguentar, né?
GABRIELA: É... E eu sou uma mané, mesmo. Fiquei com ele na<br />
balada e no outro dia ele nem lembrava, sabia? De tanto que<br />
ele já tinha bebido... Pior é que eu acho que tô ficando a fim<br />
dele... Ai que saco... Ninguém merece...<br />
CAROLINA: Ninguém merece mesmo... Acho que você tem que<br />
descolar outro ficante... O Murilo é furada, ele só quer zoar com<br />
a gente, só se mete em briga e em confusão depois que bebe,<br />
implica com todo mundo... Isso não vai dar certo, Gabi...<br />
GABRIELA: Mas ele é tão gente boa sóbrio, tão educadinho, tão<br />
bonitinho... Ih, disfarça que ele vem vindo...<br />
Murilo chega com um olho roxo e pede para se sentar com as<br />
meninas.<br />
MURILO: Oi Carol, oi Gabi. Posso sentar com vocês um<br />
pouquinho?<br />
75
76<br />
GABRIELA: Claro... Senta aí...<br />
CAROLINA: E aí, Murilo, tudo beleza?<br />
MURILO: Mais beleza agora que eu vou tomar meu goró ao<br />
lado dessas duas princesas na melhor hora do dia: a hora da<br />
cerveja...<br />
CAROLINA: O que é isso no seu olho?<br />
MURILO: No meu olho? Ah, conjuntivite, bobagem... (Para<br />
o garçom.) Traz uma gelada cumpadi que hoje eu vou me<br />
divertir.<br />
CAROLINA: Pô, Murilo, parece até que você não sabe mais se<br />
divertir sem beber...<br />
MURILO: Qual é, Carol? Qual é? Tô te incomodando com minha<br />
cervejinha?
GABRIELA: (Cutuca Carolina). Que nada Murilo, fica sussi... Vou<br />
tomar uma com você pra te acompanhar...<br />
CAROLINA: E eu vou pra academia porque não quero ficar<br />
barriguda pro verão... Cerveja dá uma barriga danada. Quero<br />
ficar sarada pra ir pra piscina da casa da minha tia no Natal... Ela<br />
construiu uma piscina e nas férias eu vou pra casa dela.<br />
MURILO: (Remedando Carolina.) “Quero ficar sarada pra ir pra<br />
piscina da minha tia no Natal”... Pô Carol, o Natal tá meio longe,<br />
né?<br />
CAROLINA: Sai pra lá com essa cerveja barriguda, Murilo... Aí,<br />
galera, fui.<br />
GABRIELA: Beijo, Carol. Te ligo amanhã.<br />
MURILO: Pô Gabi, a Carol é legal, mas é meio chatinha, né?<br />
Meio caretinha, cheia de repressão, né? E agora ainda vai virar<br />
77
78<br />
atleta, que insuportável...<br />
GABRIELA: Que atleta nada, ela só foi pra academia malhar um<br />
pouco. Na real ela acha que você bebe demais...<br />
MURILO: Eu?<br />
GABRIELA: Quer dizer... não é só a Carol que fala isso de<br />
você......<br />
MURILO: Que eu bebo demais? Eu bebo demais? Todo mundo<br />
bebe demais. Todo mundo que eu conheço toma todas, eu não<br />
sou o único... Olha só em volta, todo mundo que está nesse bar<br />
está bebendo...<br />
GABRIELA: É real... Mas nem todo o mundo está dentro desse<br />
bar bebendo, né Murilo?<br />
MURILO: Como assim?
GABRIELA: Ah, sei lá... Tem gente andando de skate, de bicicleta,<br />
jogando bola, indo pra escola estudar, tocando guitarra, vendo<br />
TV, tem gente fazendo teatro, indo ao cinema, à ginástica... Nem<br />
todo mundo tá dentro desse bar enchendo a cara, entendeu?<br />
MURILO: Ainda bem, né gata? Porque se o mundo inteiro<br />
estivesse aqui enchendo a cara não ia sobrar cerveja pra nós,<br />
ia? Ahá, nessa te peguei...<br />
GABRIELA: Fala sério, Murilo... Você não tem vontade de ir ao<br />
cinema, ler um livro maneiro, namorar, fazer um som irado,<br />
surfar, nada? Com você é só beber, beber, beber até ficar<br />
bebum? Olha, tô perguntando de boa, hem?<br />
MURILO: Que papo é esse, Gabi? Eu acho divertido sim, até<br />
curto um cineminha, um namorinho, mas sei lá... Quando vejo<br />
já foi, entende? Já entornei o caneco, já tô nervoso...<br />
GABRIELA: (Fala docemente.) É, sei lá... Cada um na sua. Só que<br />
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80<br />
eu acho que no mundo tem mais gente pra fora do que pra<br />
dentro do bar, sabia? E eu tenho vontade de conhecer gente<br />
de todo tipo, ir num monte de lugar, conhecer o Brasil inteiro,<br />
sei lá... Acho meio limitado vir sempre no mesmo lugar ver as<br />
mesmas pessoas e fazer a mesma coisa... E ainda achar divertido,<br />
entende? (Ofendida.) E pior, nem lembrar como se divertiu, de<br />
tão bêbado que estava...<br />
MURILO: Pô, Gabi, pegou pesado, né? Manera, gata... Caraca,<br />
véio... Assim eu fico me sentindo um babaca...<br />
GABRIELA: (Levanta-se.) Então pensa nisso, tá? Agora fui,<br />
amanhã tenho aula.<br />
MURILO: (Já meio bebum fala para Gabi que vai saindo. Ele<br />
fica, como sempre, sozinho no bar.) Não vai tomar a saideira?<br />
(Gabi nem responde, sai batido. Murilo pede para o garçom.)<br />
Garçom, a saideira, faz favor. (Fala para si mesmo) Caraca,<br />
justo agora que eu achei que ia pegar a gata de novo... Me
disseram que a gente ficou junto na balada que rolou... Mó<br />
gostosa a Gabizinha, mó filé... Pô, pena que eu não lembro de<br />
nada, rapaz... Gata maneira essa, tô ficando a fim dessa mina...<br />
(Termina a cerva e olha pra mesa ao lado.) Que foi aí, cambada<br />
de tosco? Tão olhando o quê? Nunca viram? Vai encarar aí, ô<br />
boiola de blusinha laranjinha? (Vai saindo do palco. Novamente<br />
som de confusão.)<br />
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82<br />
CENA 03<br />
Entram no palco Gabriela, Bruno e Carolina. Esperam por Murilo<br />
que está atrasado. Todos carregam bagagem, prancha de surf,<br />
barracas, ou seja, equipamentos para acamparem na Ilha do<br />
Mel. Murilo chega atrasado – o olho já está normal.<br />
MURILO: Aê, cheguei!<br />
BRUNO: Caraca, Murilo, a gente achou que ia perder a hora do<br />
ônibus, onde é que você tinha se metido?<br />
MURILO: Tava com a minha coroa, fui levar ela na missa...<br />
BRUNO: Missa hoje? Mas nem é domingo.<br />
MURILO: Ela não sai mais da igreja... Tá pagando uma<br />
promessa...
GABRIELA: Promessa?<br />
MURILO: É, promessa, nunca ouviram falar?<br />
GABRIELA: Promessa pra quê, Murilo?<br />
MURILO: Ah, ela fez uma promessa que se eu parasse de beber<br />
ela iria pra Igreja toda noite durante seis meses direto, pra<br />
agradecer... Ela dizia que eu tava sofrendo de alcoolismo, que<br />
eu ia virar um bêbado, aquelas coisas dramáticas de mãe. Agora<br />
tem que pagar a promessa...<br />
CAROLINA: E quanto tempo ainda falta?<br />
MURILO: Bom... Dois meses que eu e a Gabi estamos ficando...<br />
Um mês e meio que eu parei de encher a cara pra não perder<br />
a gata...<br />
BRUNO: É... Ainda falta muita missa pra sua véia ir rezar, né?<br />
83
84<br />
Vai faltar vela na venda do seu Maneco... Vai faltar parafina no<br />
pedaço.<br />
CAROLINA: Seis meses indo à igreja todo dia agradecer... Ela<br />
devia estar desesperada com o seu alcoolismo, coitada...<br />
GABRIELA: Coitada nada. Ela está tão feliz agora que já agradeceu<br />
até pra mim, olha só a moral da Gabizinha aqui. Foi lá em casa,<br />
conversou comigo, com a minha mãe, foi massa... A coroa tá<br />
orgulhosa do Murilo...<br />
MURILO: É real, dá gosto de ver, a véia tá empolgada, rapá!<br />
Parou até de me encher o saco... Agora a véia me respeita!<br />
BRUNO: E nós também, Murilão... Tava difícil te agüentar no fim<br />
das bebedeiras, sabia brou? Você fica muito pentelho quando<br />
exagera... E ainda por cima arruma briga e confusão, um mala<br />
sem alça!
CAROLINA: É Murilo, você boladão fica muito chato...<br />
GABRIELA: Mas sóbrio ele não é lindo? Não é tudo de bom?<br />
(Começa a dar uns beijinhos no Murilo.)<br />
Voz de mulher avisando da partida de um ônibus: “Pontal do<br />
Sul, ônibus da 20:30 horas. Portão C. Senhores passageiros, o<br />
ônibus já está estacionado no Portão C, Pontal do Sul, 20:30<br />
horas...”<br />
MURILO: Aê, vamos nessa pra não perder o buzão... Quero<br />
surfar muito nessa Ilha, meu...<br />
BRUNO: Pode crer véio, olhei na internet e nesse fim de semana<br />
vai rolar muita onda lá...<br />
GABRIELA: E muito sol, muito som maneiro, muita lua cheia,<br />
muito beijo na boca... (Gabriela tira uma cartelinha de camisinhas<br />
do bolso, dá uma conferida discreta e guarda na bolsa.)<br />
85
86<br />
CAROLINA: Corre galera, o portão C é do outro lado, caraca, a<br />
gente vai perder o buzão...<br />
Saem correndo e gritando aloprados para pegar o ônibus.<br />
FIM
LUCIANANARCISO<br />
Vamoscelebraravida<br />
89
FichaTécnica<br />
A peça “Vamos Celebrar a <strong>Vida</strong>”, direcionada aos trabalhadores<br />
da indústria atendeu a 6000 trabalhadores em 20 espetáculos,<br />
estreando na empresa Landis+Gyr, no dia 23/10/2009 em<br />
Curitiba. O texto escrito por Luciana Narciso e produzido pela<br />
empresa Pé no Palco foi uma demanda da Gerência de Esporte<br />
e Lazer que em parceria com a Gerência de Cultura desenvolveu<br />
um espetáculo fundamentado nos princípios do Programa<br />
<strong>SESI</strong> Lazer Ativo que visa à promoção da saúde com ênfase na<br />
valorização de estilos de vida mais ativos e saudáveis. A peça<br />
circulou pelas cidades Curitiba, Guarapuava, Irati, São Mateus<br />
do Sul, Ponta Grossa, Campo Largo, São José dos Pinhais, Quatro<br />
Barras, Rio Branco do Sul, Foz do Iguaçu, Marechal Cândido<br />
Rondon, Toledo, Cascavel, Francisco Beltrão, Pato Branco, Maringá,<br />
Paranavaí, Cianorte, Umuarama e Campo Mourão.<br />
Elenco:<br />
Alexandre Bonin<br />
Julyana Spriscigo<br />
Maíra Lour<br />
Pedro Bonacin<br />
Vanessa Corina<br />
Equipe Técnica:<br />
Texto: Luciana Narciso<br />
Direção: Fátima Ortiz<br />
Direção de Produção: Giselle Lima<br />
Composição e Direção Musical: Rosy Greca<br />
Sonoplastia: Alexandre Bonin<br />
Arranjos: Ervin Fast<br />
91
92<br />
Operador de Som: Joacir Lima<br />
Cenário, Figurino e Adereço: Paola Burkot<br />
Cenotécnico: Bira Paes<br />
Coreografia: Juliana Adur<br />
Produção: Pé no Palco Atividades Artísticas<br />
Realização: <strong>SESI</strong> PR<br />
Gerente de Esporte e Lazer: Debora Desirre De Lara
CENA 01.<br />
Esta cena não conterá falas. Os atores se comunicarão através<br />
de gestos, expressão corporal e de elementos cênicos - adere-<br />
ços - para transmitir a ideia central do trabalho.<br />
A cena teve como trilha sonora a música de Rosi Greca que<br />
abordava de maneira poética a temática dos cinco elementos<br />
– lazer ativo.<br />
Situação “A”: Os 5 atores estão andando rapidamente como se<br />
anda numa cidade: 2 vão para um lado, 3 vão para outro. Dois<br />
atores que andam em direções opostas se esbarram no cami-<br />
nho. Um deles ainda dá um soquinho no outro, sai xingando e<br />
esbravejando. O outro para, pede desculpas e fica olhando com<br />
cara de quem não entendeu a grosseria, enquanto o mal hu-<br />
morado sai esbravejando cegamente. Os adereços deverão ser<br />
escolhidos pela direção + produção. Sugere-se balõezinhos de<br />
93
94<br />
diálogos, nuvenzinha negra sobre a cabeça do mal humorado,<br />
assim por diante.<br />
Situação “B”: Os atores se colocam em fila como que esperan-<br />
do um ônibus. Um rapaz educado dá seu lugar na fila para uma<br />
senhora idosa que chega, aumentando a fila em um lugar. O de<br />
trás começa a xingar, achando ruim. Quando o ônibus chega,<br />
este ator de trás fura a fila, passa na frente de todo mundo e<br />
derruba a senhora que estava entrando no ônibus. As pessoas<br />
ficam indignadas com ele, que sai insultando a todos e entra<br />
no ônibus que sai, deixando a senhora e os demais para trás<br />
parados no ponto.<br />
Situação “C”: Rapaz 01 está parado num canto, numa postu-<br />
ra péssima, fumando um cigarro e bebendo cerveja. Nisso ele<br />
vê duas garotas correndo, cuidando da saúde. Ajeita o cabelo,<br />
faz pose, faz de tudo para chamar a atenção delas, que pas-<br />
sam sem nem olhar para ele. Logo adiante as duas encontram<br />
rapaz 02 fazendo exercício e os três personagens saudáveis se
cumprimentam, batem um papinho e saem juntos correndo<br />
alegremente. O rapaz 01 apaga o cigarro, cheira sua mão, acha<br />
fedida. Joga a cerveja no lixo. Esboça vontade de fazer algum<br />
exercício, ajeita a postura, começa a levantar os braços, abaixar<br />
até o chão, alongar o pescoço, etc, como quem percebe que<br />
sua conduta não faz mais sucesso e que precisa fazer algo para<br />
mudar. Sai correndo desajeitadamente...<br />
Situação “D”: Escritório. Quatro atores trabalham desanima-<br />
damente, com postura de gente derrotada, sem se comunica-<br />
rem ou se comunicando rispidamente, sem colaboração recí-<br />
proca. Entra na sala uma funcionária nova, animada, cheia de<br />
vida. Senta-se em sua mesa e com o passar das horas, sai de lá<br />
tão desanimada e derrotada quanto os demais, pois o clima de<br />
hostilidade e de desânimo é absorvido por ela também. No dia<br />
seguinte, a mesma coisa. No terceiro dia ela chega com flores,<br />
acende as luzes, abre as janelas, coloca uma música, joga a su-<br />
jeira no lixo, coloca todo mundo numa situação mais positiva e<br />
ao final, todos saem animados e vitoriosos do ambiente de tra-<br />
95
96<br />
balho. OBS: Nesta cena pode-se recorrer até mesmo à troca de<br />
figurino por parte dos atores. Também ao uso de balõezinhos<br />
de diálogos ou de pensamento; nuvenzinhas negras, e demais<br />
elementos que demonstrem a negatividade de antes e a positi-<br />
vidade de depois.<br />
Situação “E”: Moça bem gorda pega da mala roupas que não<br />
servem nela, enquanto duas moças magrinhas passam anima-<br />
das conversando. Entre uma roupa e outra que pega para olhar,<br />
ela sofre, come alguma coisa bem calórica tipo bombom, bola-<br />
cha, etc. Sugere-se fazer adereços em forma de sorvete, bom-<br />
bom, croissants, refrigerantes, Milk shakes, hambúrgueres, en-<br />
tre outros para esta cena. Moça resolve, depois de muito sofrer,<br />
fechar a boca (pode ser com um “X”de esparadrapo), desligar<br />
a TV (Também a TV deverá ser adereço feito para a cena.), e<br />
passa a tirar da mala alimentos saudáveis (adereços) e também<br />
adereços em forma de elementos de ginástica – maiô, óculos<br />
de natação, raquete, bola, tênis, pesos, etc. (Estes adereços po-<br />
dem ser confeccionados para a cena.). Faz exercícios. Emagre-
ce. Aparece toda feliz depois, mais magra e mais saudável, ao<br />
lado da galera.<br />
97
98<br />
CENA 02.<br />
ESPORTES/TEMPO PARA SI MESMO<br />
Nesta cena mostraremos como as pessoas podem usar seu<br />
tempo livre para se cuidarem e curtirem a vida saudavelmen-<br />
te. Duas amigas estão fazendo ginástica no gramado de um<br />
parque. Uma faz ioga, a outra faz algum outro tipo de alonga-<br />
mento. Estão de alto astral entretidas na sua atividade física:<br />
respiram fundo, sentem-se bem, cada uma na sua “onda”. De<br />
repente chegam dois amigos que param atrás das duas e come-<br />
çam a olhar intrigados, achando esquisito. Eles fumam cigarros<br />
e bebem cerveja long neck. São meio desleixados, começam a<br />
imitar os movimentos e a caçoar das meninas.<br />
RAPAZ 01: Caramba, olha isso rapaz. Contorcionismo. (Tenta<br />
imitar uma posição de ioga mas quase cai no chão. Não tem<br />
preparo físico.)
RAPAZ 02: Exibicionismo, isso sim. Olha só que posição mais es-<br />
tranha... Que mulherada assanhada, bumbum pra cima, credo.<br />
(Imita grotescamente um exercício.)<br />
RAPAZ 01: (Para a moça 01) Oi, você aí, gata. Não vai ficar com<br />
torcicolo ou lombalgia?<br />
RAPAZ 02: Entraram pra alguma seita? Parecem malucas... (Elas<br />
nem olham, estão concentradas. Então rapaz 02 dá um grito<br />
desagradável no ouvido de uma delas.) Oi garotas, chegamos!<br />
As meninas levam um susto, se desconcentram dos exercícios e<br />
voltam-se para os rapazes.<br />
MOÇA 01: Ah, só podiam ser vocês mesmo... Que saco.<br />
MOÇA 02: Pelo menos estão dando uma volta no parque, cur-<br />
tindo a natureza. Já é alguma coisa, que bom. Quem sabe se<br />
acalmam respirando um ar puro das plantas...<br />
99
100<br />
RAPAZ 01: Ar puro? Plantas? Quero mais é fumar meu cigarro<br />
na paz... (Apaga o cigarro no chão e pisa, sujando o ambiente.<br />
Amassa a latinha de cerveja e também joga no chão.)<br />
RAPAZ 02: A gente veio aqui pra fazer um programa de domin-<br />
go, entende? Um programa decente, de homem. Beber cerveja,<br />
comer umas porções mistas de mandioquinha frita, batatinha,<br />
calabresa e torresmo; fumar nosso cigarro em paz e beber até<br />
esquecer da vida. A gente chega no parque e vai direto pro bo-<br />
teco. Sem essa de curtir natureza, gata.<br />
RAPAZ 01: Exatamente. Esse negócio de ficar curtindo florzinha,<br />
plantinha, passarinho, abelhinha, ficar olhando pra nuvenzinha,<br />
borboleta e bem te vi não é com a gente não.<br />
RAPAZ 02: Muito menos ficar no meio de um local público fazen-<br />
do essas posições esdrúxulas vestindo roupinhas justinhas, in-<br />
decentes... Nosso programa de domingo é decente, ouviram?
RAPAZ 01: Decente e divertido.<br />
MOÇA 01: Pois saibam vocês que meu programa de domingo<br />
também é divertido: curtir a natureza, caminhar pelo parque,<br />
fazer alongamento, curtir o som dos pássaros... Volto pra minha<br />
casa de cabeça fresca e curto minha família. Depois encontro<br />
amigos, conversamos, colocamos as novidades em dia, fazemos<br />
alguma coisa diferente...<br />
MOÇA 02: Eu também adoro fazer exercício nas minhas horas<br />
livres...<br />
MOÇA 01: E por falar em horas livres, acho que vou indo... O<br />
pessoal está me esperando pro almoço...<br />
Moça 02: Eu também vou. Combinei com a galera de fazer um<br />
peixe assado lá em casa. (Para os rapazes.) Vocês querem ir? Vai<br />
bastante gente...<br />
101
102<br />
RAPAZ 01: (Interrompendo.) Muito obrigado, mas a gente pre-<br />
fere comer calabresa, batatinha, mandioca, torresminho e to-<br />
mar cerveja. Muita cerveja.<br />
RAPAZ 02: Exatamente, muito obrigado, mas no boteco a gente<br />
fica mais à vontade.<br />
MOÇA 02: Então tá legal. Bom domingo pessoal...<br />
MOÇA 01: Bom domingo... Tchau.<br />
Rapazes observam as moças saindo.<br />
RAPAZ 01: Ajeitadinhas, né? Bem saradinhas... Podiam ir pro<br />
boteco tomar umas com a gente, aproveitar o domingo decen-<br />
temente, uma pena que sejam tão chatas...<br />
RAPAZ 02: Pena mesmo, não sabem curtir a vida, são umas ca-<br />
retas... Então, vamos encher a cara? É nosso dia livre.
RAPAZ 01: Pra já. (Fala para o ar.) Garçom, mais uma gelada, faz<br />
favor. Ah, e traz uma batatinha frita, um cinzeiro limpo e mais<br />
um maço de cigarros, filtro amarelo dessa vez...<br />
Sentam-se à uma mesa e começam a beber. Neste momento<br />
chega no bar uma garota que reproduz o comportamento dos<br />
dois rapazes: fuma, bebe no gargalo, joga a bituca do cigarro no<br />
chão, etc. Dirige-se aos dois:<br />
MOÇA: Oi meninos, cheguei. Hoje tirei o dia pra encher a cara,<br />
legal que vocês também estão aí... Tô de saco cheio daquele blá<br />
blá blá lá em casa, quero mais é me afundar num engradado<br />
de cerveja gelada sem ninguém pra me encher o saco, sacou...<br />
Garçom, traz uma gelada e um maço de cigarro, faz favor...<br />
Os dois começam a observar o comportamento da garota e per-<br />
cebem o quanto é deselegante. Saem de fininho, meio trôpe-<br />
gos.<br />
103
104<br />
CENA 03.<br />
RELACIONAMENTOS<br />
Dois casais sentados separadamente numa lanchonete. Esta<br />
cena terá como foco a questão dos relacionamentos interpes-<br />
soais e de como os maus relacionamentos acabam se alastran-<br />
do para todas as esferas da vida da pessoa e para todos que<br />
estão à sua volta. Um dos casais parece feliz e equilibrado, o<br />
outro casal é bastante mal educado e ríspido.<br />
MARIA: O que vamos pedir hoje?<br />
JOÃO: Que tal aquela pizza mista com calabresa e um chope<br />
bem geladinho?<br />
MARIA: Acho legal, mas vou tomar um suco pra voltar dirigindo,
pode tomar seu chope que eu dirijo. Olha ali, não é o Carlos seu<br />
colega de trabalho sentado com a esposa naquela mesa?<br />
JOÃO: O próprio, mas disfarça, melhor ele não vir aqui, o cara<br />
anda uma pilha de nervos, xinga tudo que vê pela frente e hoje<br />
estou a fim de curtir minha esposinha querida na paz de Deus,<br />
comendo minha pizza e tomando meu chope sem esquentar a<br />
cabeça. O Carlos anda insuportável. (Muda de assunto.) Escuta<br />
só esse som do Robertão que tá tocando, adoro essa música...<br />
(Chama educadamente a garçonete.) Moça, por favor...<br />
A garçonete vai até a mesa do casa 01. Começam a fazer o pe-<br />
dido para a moça que os atende atenciosamente e anota tudo<br />
num papel. Enquanto isso Carlos, da outra mesa, fica gritando<br />
para a garçonete que está evidentemente ocupada atendendo<br />
Maria e João.<br />
CARLOS: Êta mulherzinha surda essa que colocaram pra traba-<br />
lhar nessa espelunca. Lanchonete caída - garçonete caída; im-<br />
105
106<br />
pressionante... (Grita para a garçonete.) Ô fofura do avental, é<br />
surda ou é preguiçosa mesmo?<br />
CARLA: Credo Carlos, não vê que a moça está ocupada? En-<br />
quanto ela não vem vamos escolher alguma coisa pra comer? O<br />
que você vai querer?<br />
CARLOS: Escolhe você qualquer gororoba aí, pra mim tanto faz.<br />
Quero só tomar meu conhaque e ficar boladão pra depois assis-<br />
tir o jogo do timaço na TV com o Parafina e a turma da Toca da<br />
Onça. (Grita pra garçonete.) Ô surda, traz um conhaque duplo<br />
pro papai aqui...<br />
CARLA: Gororoba? Jogo de futebol? Toca da onça? Conhaque<br />
duplo em pleno domingo? (Ofendida.) Não gosto desse Para-<br />
fina nem dessa turma. (Super chateada.) Nós tínhamos combi-<br />
nado de jantar fora e depois assistir aquele DVD novo com as<br />
crianças...
CARLOS: Aquele DVD xarope daquele desenho meloso de bichi-<br />
nhos coloridos e falantes? Fala sério. Aquilo é coisa pra criança<br />
e pra mulherzinha. Além disso o Parafa tá me esperando com a<br />
turma na Toca, tá combinado e não posso furar com eles. Fiquei<br />
de levar uma vodca, inclusive, não posso esquecer...<br />
CARLA: Da última vez que você foi lá chegou tão tarde em casa<br />
que nem conseguiu levantar na segunda feira e ir pro serviço...<br />
Acordou atrasado, passou mal na empresa e ainda cortou a<br />
mão no trabalho porque tinha dormido pouco, estava de estô-<br />
mago vazio, sem concentração no que fazia, estava acabado...<br />
Sinceramente...<br />
CARLOS: Aquele trabalho xarope é todo dia a mesma coisa,<br />
tô cheio daquela monotonia, preciso de mais emoção... Olha<br />
aquele imbecil ali com a esposa. O mala trabalha no meu setor,<br />
perceba a cara de panaca do alegria... Eu, pelo contrário, já me<br />
posicionei: discuti com todo mundo naquela empresa de ara-<br />
que, porque só tem ignorante lá dentro então tive que colocar<br />
107
108<br />
os pingos nos ís. Nos is. Pingos, entende? Pin-gos. Nos ís. (A<br />
esposa faz cara de tédio, como quem não aguenta aquele papo.<br />
Carlos grita de novo para a garçonete.) Ô minha filha, você é<br />
paga pra atender, sabia? Eu tenho horário, queridinha... (Para a<br />
esposa, rispidamente.) E você? Já escolheu alguma coisa?<br />
CARLA: Não, é que...<br />
CARLOS: Então vai escolhendo rápido que o jogo tem hora para<br />
começar... E nada de escolher coisa cara, você tem mania de<br />
escolher coisa de gente granfina. Escolhe um sanduíche ou<br />
um pastel aí que tá louco de bom, entendido? Bobagem ficar<br />
gastando dinheiro com coisa de madame, e você também está<br />
meio gordinha pra ficar se empanturrando blá blá blá...<br />
Fim dos diálogos na cena. A garçonete chega à mesa e começa<br />
a anotar o pedido do casal 02. O casal continua discutindo após<br />
a saída da garçonete. A moça volta trazendo um copo d´água e<br />
um sanduíche modesto para a esposa de Carlos. Para ele uma
garrafa de conhaque, uma garrafa de vodca fechada para via-<br />
gem e um copo cheio de conhaque para Carlos. Carlos ainda<br />
está esbravejando com a esposa, que está com cara de triste<br />
e cansada a estas alturas. Na mesa 01 clima bom, harmonia.<br />
Na mesa 02, clima pesado de discussão e desarmonia. Carlos,<br />
em sua fúria e brigando com a esposa, não vê a garçonete se<br />
aproximando, dá uma braçada pra trás e esbarra na moça, que<br />
derruba todo o pedido no chão. Carlos se levanta indignado, ar-<br />
ranca violentamente a esposa da mesa e sai passando por cima<br />
das coisas e da garçonete que está no chão, abismada e depri-<br />
mida com os maus tratos. Carlos sai do local desacatando as<br />
pessoas e esbravejando. O outro casal fica incrédulo assistindo,<br />
sem palavras. Levantam-se e ajudam a garçonete, os 3 fazendo<br />
comentários sobre a grossura do cidadão. Fim de cena.<br />
109
110<br />
CENA 04.<br />
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL<br />
Duas mulheres fazendo compras. Uma delas está acompanhada<br />
de sua filha. A outra, de seus dois filhos. Os dois filhos da perso-<br />
nagem 02 estão sempre comendo alguma coisa. São gordinhos<br />
e desajeitados. Todos estão escolhendo os alimentos e colocan-<br />
do nas suas cestas de compras. Se encontram. A personagem 02<br />
só tem “venenão” na cesta: pães, doces, refrigerantes, cervejas,<br />
congelados, etc. A outra tem verduras, frutas, cereais e sucos.<br />
01 – Oi, tudo bem? Fazendo umas comprinhas?<br />
02 – Tem que fazer, né? As crianças não passam sem estas bola-<br />
chinhas cor de rosa... Tem que ter bolacha lá em casa todo dia.<br />
O meu caçula, esse fofinho aqui, fica o dia inteiro jogando vídeo<br />
game e comendo docinhos, um amor, nem me incomodo com<br />
ele...
01 – O dia inteiro jogando vídeo game, comendo docinhos e<br />
você não se incomoda? Puxa...<br />
02 – (Olha curiosa para a cesta da 01). Você comprou um coe-<br />
lho? Que exótico!!! Olhem meninos, ela comprou um coelho!!!<br />
01 – Um o quê? (Mãe e filha se entreolham.)<br />
02 – Um coelho... Não é por nada, é que esta quantidade de<br />
verdura deve ser pra alimentar um coelho...<br />
01 – Um coelho? Não... Essa verdura e estas frutas são para<br />
minha família comer, né filhinha?<br />
02 – E sua família come isso?<br />
01 – E a sua não come?<br />
02 – Jamais... Isso lá em casa não é comida, é mato... A gen-<br />
te curte pizza, macarrão, picanha, lasanha, pururuca, buchada,<br />
chocolate, sorvete, amendoim, enfim, coisas boas, entende?<br />
Coisas gostosas e saborosas... Não esses matinhos verdinhos<br />
sem gosto...<br />
01 – Mas lá em casa a gente também come coisas saborosas e<br />
também come lasanha, picanha, pizza, chocolate... Só que no<br />
dia a dia gosto de fazer coisas mais saudáveis pra turma, colocar<br />
111
112<br />
umas frutas na salada, fazer um suco de frutas pra acompanhar<br />
a refeição. Eles chegam mortos de fome da natação e haja co-<br />
mida...<br />
02 – Natação nesse frio? Não faz mal pra saúde? Deve dar dor<br />
de ouvido, de garganta, de cabeça. Pneumonia na certa, coita-<br />
dinhos...<br />
01 – Que nada, pra criançada é ótimo praticar esportes. Eles<br />
chegam mortos de fome, comem, fazem a tarefa da escola e<br />
vão direto pra cama. Só acordam no outro dia pra ir pra aula,<br />
uma beleza... Não me incomodam nadinha também...<br />
02 – E eles comem esse mato depois da natação nesse frio?<br />
Coitadas dessas crianças, tenho pena delas...<br />
01 – Pena porquê? Comem muito bem... É tudo uma questão<br />
de hábito, sabe como? Porque você não tenta? Criança acostu-<br />
ma com tudo, bobagem achar que não...<br />
02 – Olha que ia ser bom... O pessoal lá em casa está meio aci-<br />
ma do peso, chamam meu filho mais velho de Mister Bolota<br />
na escola.... Tá todo mundo meio gordinho na verdade, até o<br />
cachorro é gordinho lá em casa... Eu estou magra as custas de
muito remédio pra emagrecer, lipoaspiração abdominal, plás-<br />
tica de pescoço, aquelas coisas... Passo fome, muita fome para<br />
ser magra.<br />
01 – Então aproveite que as crianças ainda estão em fase de<br />
crescimento e as ensine a comerem coisas legais para a saúde.<br />
Daí você e seu marido fazem o mesmo para dar bom exemplo<br />
pros menores... Aproveitem pra fazerem juntos caminhadas, ir<br />
a parques, praças, é grátis, reúne a família, emagrece e faz bem<br />
pra saúde. A gente lá em casa comprou uma bicicleta pra cada<br />
um. No fim de semana vamos ao parque pedalando, passea-<br />
mos bastante, visitamos os amigos, é bem legal... Quem sabe<br />
seu filho ganha outro apelido se vocês começarem logo... Tão<br />
bonitinho que ele é, só emagrecer um pouquinho que fica um<br />
gatinho...<br />
(A menina dá uma boa olhada pro garoto e faz sinal de quem<br />
concorda com a mãe.)<br />
02 – Sabe que eu gostei da idéia? Acho que vou tentar. Esse<br />
negócio de passear de bicicleta parece bem divertido mesmo...<br />
FILHO 01: Mãe, eu vou ganhar uma bicicleta? Ôba...<br />
113
114<br />
FILHO 02: Mãe, você e o papai vão passear com a gente de bi-<br />
cicleta? Oba, oba, oba... (Joga os pirulitos e docinhos para cima<br />
de tanta alegria...)<br />
02 – Pelo jeito a sua idéia foi bem aceita pela minha família...<br />
01 – Que bom, espero que vocês curtam a vida juntos e de ma-<br />
neira saudável... Agora tenho que ir pra casa preparar o almoço<br />
da turma antes de ir trabalhar e depois do trabalho ainda vou<br />
tentar ir pra academia. Ah, e ainda vou deixar essa pirralhinha<br />
na natação... Vamos filha? Até mais.<br />
0a – Até mais... (Para a platéia.) Que disposição... Eu jurava,<br />
mas ju-ra-va que ela tinha comprado um coelho... Acho que<br />
vou comprar umas verduras, é mais barato do que remédio pra<br />
emagrecer... E vocês, meninos, vão largando esses pirulitos. Um<br />
pirulito depois do almoço é mais que suficiente... Ah, e vamos<br />
economizar em docinhos pra sobrar dinheiro porque temos que<br />
comprar quatro bicicletas, quatro bonés e quatro pares de tê-<br />
nis... Chega de moleza nessa família!<br />
MENINO 01 – Oba, bicicleta...<br />
MENINO 02 – Oba tênis... Mãe, você compra uma bola tam-<br />
bém?
CENA 05.<br />
CONTROLE DO STRESS<br />
Nesta cena mostraremos como as pessoas devem controlar seu<br />
stress, uma vez que é inevitável senti-lo nos dias de hoje. A cena<br />
se passa no trânsito de uma cidade, onde todos os dias assisti-<br />
mos a episódios de intolerância e stress. Um guarda de trânsito<br />
tenta colocar ordem na situação caótica que se instaura pelo<br />
fato de ter se quebrado um semáforo no horário do rush.<br />
No carro, um casal estressado. No ônibus duas amigas passam<br />
pelo engarrafamento conversando e ouvindo um som. Uma de-<br />
las faz tricô.<br />
CARRO 01.<br />
CARLOS: Caramba, só comigo mesmo, só comigo... Olha que<br />
desgraça que está esse trânsito. Só comigo...<br />
115
116<br />
CARLA: Só com você o quê? Só com você o quê dessa vez?<br />
CARLOS: Esse trânsito, esse trânsito, esse engarrafamento, hora<br />
do rush, sei lá. Só comigo essa desgraça acontece, que saco.<br />
CARLA: Só com você? E o restante das pessoas que estão en-<br />
garrafadas saíram de casa só pra engarrafar o trânsito pra você?<br />
Elas não têm mais nada pra fazer na vida do que engarrafar as<br />
ruas por onde você passa? Você é um convencido, chato e ego-<br />
cêntrico.<br />
CARLOS: Ego o quê? Olha o respeito. (Aponta para o guarda.)<br />
Olha lá, olha lá. Um imbecil de um guarda só pra atrapalhar<br />
mais ainda a vida da gente com aquele apito barulhento... Tô<br />
ferrado, não chego hoje... (Coloca a cabeça pra fora e começa a<br />
gritar para o ônibus.) Anda aí, anta... Vagabundo. Pra que dirigir<br />
um ônibus se é pra ir nessa velocidade? Devia ir a pé. A pé, tá<br />
escutando tartaruga?<br />
DENTRO DO ÔNIBUS<br />
MARIA: Puxa vida, parece que o semáforo quebrou.
PAULA: Deve ser por isso que hoje o trânsito está meiopara-<br />
do...<br />
MARIA: Bem parado...<br />
PAULA: Ah, comprei um CD novo, vamos escutar? A gente divi-<br />
de o fone de ouvido.<br />
MARIA: Coloca aí... (Maria pega o celular) Ah, vou avisar o pes-<br />
soal lá em casa que vou me atrasar, daí ninguém fica nervoso...<br />
Hoje em dia, com essa violência, é melhor a gente avisar... (Ma-<br />
ria faz a ligação. As duas começam a curtir o som e a cantar<br />
junto com o CD.)<br />
CARRO 01<br />
O casal está cada vez mais estressado. Carlos tenta puxar briga<br />
com o motorista do ônibus.<br />
CARLOS: Você mesmo, idiota. A pé. A pé. Tartaruga.<br />
CARLA: Para, amor, para. O cara está ficando irritado, ele está<br />
trabalhando.<br />
117
118<br />
CARLOS: Irritado tô ficando eu nessa muvuca. Tô atrasado. (Pro-<br />
cura nervosamente por alguma coisa.) Putz, esqueci o celular...<br />
CARLA: Também... Você saiu num stress tão grande que nem<br />
lembrou de pegar suas coisas...<br />
CARLOS: E não é pra ficar estressado? Uma desgraça de um<br />
trânsito, um time que perde o campeonato, pressão no traba-<br />
lho, pressão do gerente do banco, um filho de recuperação...<br />
Você acha que eu encontro dinheiro no lixo pra pagar o colégio<br />
daquele vagal? Você acha? Acha que é bom ter um filho va-<br />
gabundo? (Olha pro carro ao lado e grita.) E você, imbecil? Tá<br />
olhando o quê? Nunca viu? Nunca viu?<br />
CARLA: Nosso filho não é vagabundo, a professora disse que<br />
ele está muito estressado e por isso fica desconcentrado nas<br />
aulas...<br />
CARLOS: Estressado aquele pirralho? Estressado ando eu, que<br />
tenho que trabalhar, sustentar uma família, pagar contas, pagar<br />
escola de filho, bater cartão todo dia... Êta guardinha retardado,<br />
já mandou a gente parar de novo, ai meu saco, vou mandar esse<br />
guarda tomar noção... (Toca a buzina insistentemente.)
DENTRO DO ÔNIBUS<br />
MARIA: Deixa eu te contar, entrei na academia lá perto do tra-<br />
balho... O tempo que eu passo parada no trânsito dentro desse<br />
ônibus, vou passar na aula de ginástica me exercitando. Fiz as<br />
contas e vou chegar em casa quase na mesma hora de sempre<br />
porque perco um tempão parada no trânsito. O ônibus das oito<br />
horas vai bem mais rapidinho, entende?<br />
PAULA: Ótima ideia... Antes eu aproveitava esse tempo dentro<br />
do busão pra fazer crochê nos panos de prato que minha mãe<br />
vende, sabe? Mas agora decidi começar a estudar inglês. Como<br />
ando sem grana, baixei da internet umas aulas grátis, são bem<br />
legais... Gravo tudo no I-POD e ouço na hora do rush, porque<br />
também perco pelo menos uma hora dentro do ônibus pra vol-<br />
tar pra casa, então aproveito esse tempo pra estudar... Sabe<br />
que está funcionando? Outro dia entendi a letra de uma música<br />
nova do Elton John quase inteira...<br />
MARIA: Do Elton John? Sabe que eu gostei da ideia de apren-<br />
der inglês enquanto volta pra casa, esperta você... Eu faço meu<br />
119
120<br />
tricô no ônibus, assim relaxo e no fim do mês tenho uma roupa<br />
nova. Olha só, tô fazendo esse cachecol pra dar de aniversário<br />
pro Jorge... Mas ultimamente tenho saído de cabeça cheia do<br />
trabalho, então resolvi começar a fazer a aula de ginástica. Meu<br />
trabalho é muito estressante, tem muita cobrança, muita com-<br />
petitividade, um quer comer o fígado do outro... Na ginástica<br />
eu vou pra desligar, relaxar, ficar sarada e depois voltar mais<br />
tranqüila pra casa... Começo na semana que vem. (Aponta para<br />
o carro 02.) Menina, olha só aquilo lá em baixo, falando em<br />
stress, olha que casal mais nervoso...<br />
PAULA: O cara tá com a cabeça toda pra fora do carro gritando<br />
feito um maluco... Parece que está gritando pro guarda. Hum, o<br />
guarda é um gato, dá uma olhada.<br />
MARIA: Coloca gato nisso, um pedaço de mal caminho...<br />
CARRO 01<br />
CARLOS: Agora eu vou colocar ordem nesse pedaço, ninguém<br />
me segura, o que esse povinho está pensando? Que eu sou pa-
lhaço? Vou perguntar pra aquele guardinha idiota o que está<br />
acontecendo e quem sabe ele me deixa passar na frente desse<br />
bando de mané.<br />
CARLA: (Já estressada também, contaminada pelo baixo astral<br />
do marido.) Vai mesmo e aproveita pra dizer pra ele que isso<br />
aqui tá uma palhaçada, ninguém merece trabalhar o dia todo e<br />
cair numa muvuca dessas, diz pra ele que a gente paga imposto<br />
e que essa porcaria de sinaleiro tem que funcionar... Caramba.<br />
Sai do carro para falar com o guarda. Gesticula, aponta, esbra-<br />
veja. Volta para o carro furioso.<br />
CARLOS: Me dê a droga do documento do carro porque o imbe-<br />
cil do guarda não foi com a minha chapa. Eu sabia que era um<br />
ridículo esse guardinha. Não ir com a minha cara...<br />
CARLA: Por quê será? (Procura pelo documento) Cadê o docu-<br />
mento? Não está com você? Estava naquela bolsinha azul.<br />
CARLOS: (Alteradíssimo.) Bolsinha azul? Bolsinha? Azul? Vê se<br />
eu sou homem de carregar bolsinha azul? Cadê a porcaria do<br />
121
122<br />
documento, caramba?<br />
CARLA: (Muito nervosa.) Não sei, não sei... Acho que ficou em<br />
casa junto com o celular e a bolsinha...<br />
CARLOS: (Interrompendo bruscamente a mulher.) Ficou em<br />
casa? Sua incompetente. Em casa? Como assim ficou em casa?<br />
Que porcaria de bolsinha é essa?<br />
Carla e o marido começam a brigar. O guarda vem, interfere. O<br />
casal desacata o guarda. Ao final de muita discussão o guarda<br />
prende o veículo e autua o delito num bloquinho, obrigando os<br />
dois a assinarem um documento. O casal que sai a pé esbrave-<br />
jando pelo meio do trânsito.<br />
GUARDA DIZ: Da próxima vez os senhores serão presos em fla-<br />
grante por desacato a autoridade...<br />
DENTRO DO ÔNIBUS<br />
MARIA: Nossa, o que será que aconteceu com aquele casal? O
carro deles foi preso. E o guarda, hem? Cheio de atitude, gostei<br />
de ver o gato...<br />
PAULA: Gostei de ver também. Olha só, o carro do casal vai ser<br />
levado pelo guincho da polícia, que clima...<br />
MARIA: Menina, o guarda tá querendo falar alguma coisa pra<br />
nós, o que será?<br />
Do lado de fora, o guarda faz um gesto amistoso para as meni-<br />
nas pois percebeu que está sendo paquerado. Elas retribuem.<br />
PAULA: Vou te dizer, com um guarda bonito desse é até bom a<br />
gente ficar presa no trânsito... (Continuam trocando informa-<br />
ções com o guarda.)<br />
Continuam a conversar e saem de cena felizes da mesma forma<br />
como haviam entrado.<br />
123
124<br />
CENA 06<br />
COMPORTAMENTO PREVENTIVO<br />
João encontra-se com Carlos na rua. Carlos aparenta estar can-<br />
sado, desanimado e adoentado. Passa cabisbaixo, com pose de<br />
derrotado. João o vê e cumprimenta.<br />
Paralelamente a esta cena dos dois, Carla aparece desabafando<br />
com duas amigas de trabalho.<br />
HOMENS<br />
JOÃO: Carlos? É você? Como está, rapaz? Sumiu?<br />
CARLOS: Pois é... Me deram as contas no trabalho por isso que<br />
eu sumi...<br />
JOÃO: Ah, mas você deve estar satisfeito com isso, porque an-<br />
dava cansado daquele local, daquela vida e daquelas pessoas...<br />
Descansou?
CARLOS: Pois é... (Tosse bastante e coloca a mão no estômago.)<br />
Eu andava cansado mesmo, mas descobri que é por causa de<br />
outra coisa...<br />
JOÃO: Outra coisa? O que?<br />
CARLOS: Gastrite, pressão alta e úlcera.<br />
JOÃO: Tudo junto?<br />
CARLOS: Tudo começou com uma azia, sabe como é... Cerveja,<br />
conhaque, churrasco, stress, cigarros, refeições fora da hora,<br />
stress no trânsito... Estava me sentindo meio esquisito e fui ao<br />
médico. Ele me examinou e disse que eu tenho essas doenças<br />
e, pra completar, tenho que parar de fumar e começar a fazer<br />
exercícios. Veja se combina comigo: parar de fumar e fazer exer-<br />
cícios...<br />
JOÃO: É que pressão alta é fogo, tem que cuidar... Esse negócio<br />
de hipertensão mata.<br />
CARLOS: Pois é, rapaz... Cerveja, conhaque, churrasco, stress,<br />
tabagismo, refeições fora da hora, tudo tão gostoso, né? O dou-<br />
tor falou que tudo isso junto me afetou a saúde, sabe como? Eu<br />
não me cuidei...<br />
125
126<br />
JOÃO: Puxa vida, e a Carla, sua mulher? Ela deve estar preocu-<br />
pada...<br />
CARLOS: A Carla? Já era, me mandou pra fora de casa... Disse<br />
que eu andava muito grosso, estressado, bebendo muito, dan-<br />
do pouca atenção para a família e que dessa maneira ela prefe-<br />
ria ficar sozinha... “Antes só do que mal acompanhada”, disse a<br />
ingrata. Já era...<br />
Congela a cena.<br />
MULHERES<br />
Carla está com duas colegas de trabalho contando que se sepa-<br />
rou de Carlos. Está arrasada e preocupada. Uma das colegas dá<br />
um vasinho de flor para Carla tentando animá-la. Enquanto elas<br />
conversam, congela-se a cena dos 2 homens conversando.<br />
AMIGA 01: Carla, você anda tão estranha...<br />
AMIGA 02: Aconteceu alguma coisa com você?
CARLA: (Muito triste.) Aconteceu... Me separei do Carlos. O Car-<br />
los está super doente e não se cuida, está com gastrite, úlcera<br />
e pressão alta... Fora o eterno mal humor, isso é o pior. Ou eu<br />
me separava, ou ia ficar neurótica também, aliás, eu acho que<br />
já estava ficando meio neurótica e meio doente também, acre-<br />
ditam? Foi uma questão de sobrevivência...<br />
Congela a cena.<br />
HOMENS<br />
JOÃO: Que pena essa situação com sua esposa... Mas você não<br />
percebeu que tudo isso poderia acontecer?<br />
CARLOS: Como assim, perceber? Acha que eu sou pai de santo<br />
pra prever o futuro? Tá me estranhando, rapaz? Eu estava era<br />
curtindo a vida...<br />
JOÃO: Eu sei, não é isso, mas é que...<br />
CARLOS: O que?<br />
JOÃO: Sei lá, todo mundo sabe que a gente tem que ter um<br />
127
128<br />
comportamento preventivo para evitar doenças tipo stress,<br />
pressão alta, diabetes, problemas de coluna, obesidade, etc.<br />
Comportamento preventivo, nunca ouviu falar disso?<br />
CARLOS: Comportamento o quê?<br />
JOÃO: Preventivo. De prevenir, entende? Evitar comer certas<br />
coisas em determinados horários, evitar o abuso de álcool, não<br />
fumar, praticar exercícios físicos regularmente, dar atenção aos<br />
familiares, ter bons amigos, ser gentil no trabalho... Sabe como<br />
é, se a gente não se cuida o trem descarrilha e daí é dureza en-<br />
trar na linha de novo...<br />
CARLOS: Pois o meu trem descarrilhou, é isso... Tô com gastri-<br />
te, úlcera, pressão alta, tenho que parar de fumar e não consi-<br />
go, tenho que fazer exercício, tenho que me alimentar decen-<br />
temente, arrumar outro emprego e ainda tentar reconquistar<br />
minha patroa e meus filhos... Olha que trabalheira que eu fui<br />
arrumar... Tô danado sem minha patroa, João.<br />
Congela a cena.
MULHERES<br />
CARLA: E ainda por cima ele me chamava de patroa, ninguém<br />
merece... Eu só levava patada, mal humor, aquilo estava fazen-<br />
do mal pras crianças... Mas pra falar a verdade, estou preocupa-<br />
da com ele, sabia? Não sei se ele vai se cuidar...<br />
AMIGA 02: Imagino, imagino...<br />
AMIGA 01: Quem sabe agora que ele levou um susto... Vai ver<br />
ele toma noção e começa a dar valor pra vida que ele tinha an-<br />
tes, pra você, pras crianças, pro trabalho... Daí ele começa a se<br />
cuidar, para de beber e de fumar, começa a ter uma vida mais<br />
legal...<br />
Congela a cena<br />
HOMENS<br />
JOÃO: Realmente, se você tivesse começado a pensar nisso an-<br />
tes sua vida estaria mais fácil...<br />
129
130<br />
CARLOS: Tô danado, tô ferrado... Tô acabado. É isso: eu sou um<br />
trem descarrilhado. (Chora.)<br />
JOÃO: Pô Carlos, nada é impossível, você tem que levantar essa<br />
moral, esse astral, olhar pra frente e não pra trás. Comece e<br />
pensar no que o médico te falou, ainda dá tempo de recomeçar<br />
e reverter essa situação. (Olha no relógio.) Tá na minha hora.<br />
Estou indo até a casa do compadre jogar uma bola. Topa jogar<br />
com a gente?<br />
CARLOS: Será? Tô meio fora de forma, acho que não vou enca-<br />
rar...<br />
JOÃO: Que nada, a gente joga pra se divertir, esfriar a cabeça,<br />
relaxar e estar com os amigos, sabe como é... Ninguém ali joga<br />
pra ganhar...<br />
CARLOS: Será, o pessoal da Toca...<br />
JOÃO: Uma hora você vai ter que começar a se cuidar...<br />
CARLOS: Acho que então eu vou tentar bater essa bolinha... Faz<br />
tempo que não jogo bola... Futebol, nos últimos anos, só pela<br />
televisão, com a cerva do lado e o cigarro na mão... Até rimou,<br />
rapaz!
JOÃO: Vamos lá, Carlão, que você está necessitando de um<br />
exercício, olha só essa pança, pelo amor de Deus. E por favor,<br />
apaga esse mata rato, você vai enfartar se continuar fumando<br />
esse negócio fedorento véio...<br />
Congela a cena<br />
MULHERES<br />
CARLA: Se ele endireitasse eu voltava correndo... Adoro meu<br />
maridinho, mesmo ele sendo assim tão desajeitado, meio bar-<br />
rigudo e meio grosso às vezes...<br />
AMIGA 01: Sinceramente, o Carlos é esquentado mas é muito<br />
gente boa, acho que ele vai refletir e vai mudar. Mas você não<br />
pode ficar assim tão triste, tem que se animar um pouco, conti-<br />
nuar a viver, entende?<br />
AMIGA 02: (Animando o ambiente.) Tive uma ideia. Hoje tem<br />
espetinho na lanchonete Dona Margarida, que tal a gente ir?<br />
Sempre rola um pagode, um povo animado, vamos Carla? Você<br />
131
132<br />
precisa se divertir um pouco...<br />
CARLA: Será? Faz tanto tempo que eu não me divirto de verda-<br />
de... (Pensa um pouco.) Sabe que não é má ideia?<br />
AMIGA 01: Então combinado, a gente sai daqui, toma um ba-<br />
nho rapidinho e vai direto pro pagode, que tal?<br />
CARLA: Beleza!<br />
AMIGA 02: Combinado.<br />
Congela a cena<br />
Carlos apaga o cigarro joga o maço no lixo. Os dois saem juntos,<br />
Carlos está aparentemente mais animado. Saem conversando e<br />
se divertindo.<br />
Carla se arruma feliz da vida para o churrasco. FIM.
CENA FINAL<br />
Para a finalização do espetáculo, pode-se utilizar a cena 01.<br />
A cena 01 tem, portanto, duas funções: a primeira consiste em<br />
abrir as apresentações que não contenham toda a estória (05<br />
cenas completas.). Isto porque a cena faz referência aos 05<br />
temas abordados pelo Lazer Ativo do <strong>SESI</strong>, configurando uma<br />
maneira de abordagem, mesmo que breve, sobre o conteúdo<br />
geral.<br />
A segunda função é de finalizar o espetáculo quando este for<br />
apresentado integralmente, uma vez que a cena irá fortalecer<br />
as mensagens anteriormente transmitidas.<br />
133
134
LUCIANANARCISO<br />
Alô, Alô, Brasil<br />
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136
FichaTécnica<br />
A peça “Alô, alô, Brasil!” foi um projeto sócio educativo do <strong>SESI</strong><br />
Paraná dirigido ao público adolescente e produzido junto com a<br />
Fundação de Estudos Sociais do Paraná – FESP, que estreou no<br />
dia 07 de setembro de 2006 no teatro do SEST/SESNAT, realizando<br />
60 apresentações levando mais de 15 mil jovens aos teatros<br />
das cidades Curitiba, Ponta Grossa, Lapa, Rio Negro, Castro, Tibagi,<br />
Maringá e Pato Branco.<br />
texto de Luciana Narciso e Anna Zétola<br />
direção geral de Anna Zétola<br />
direção de movimento de Mauren Esmanhotto<br />
figurinos e preparação de elenco de Álvaro Bittencourt<br />
cenários de Paulinho Maia<br />
design gráfico e animação de vídeos de Guilherme Caldas<br />
iluminação de Anry Aider<br />
trilha sonora de Edson Borth<br />
produção executiva de Zétola atelier de artes<br />
assistência de produção de Silvia Tabaca<br />
realização <strong>SESI</strong> PR<br />
coordenadora de projetos estratégicos Maria Cristhina de<br />
Souza Rocha<br />
equipe gestora Daniele Farfus e Maria Schirley Cherobim<br />
Figueiredo<br />
coordenação e produção FESP<br />
coordenador de cultura FESP Mauro Dacol<br />
elenco: Adolfo Pimentel, Rafael Magaldi, Fabiana Pifer, Aline<br />
Troiani e Johny Nogueira *<br />
*(elenco da estreia da peça)<br />
137
138<br />
CENÁRIO<br />
A peça tem a linguagem estética de uma história em quadri-<br />
nhos virtual animada.<br />
Para tanto o cenário contará com um telão “Rosco” - marca de<br />
telas especiais para projeções em teatro, abrangendo toda a<br />
boca de cena da plateia.<br />
No telão serão projetadas imagens animadas em formato de<br />
história em quadrinhos durante todo o espetáculo, intercaladas<br />
com as cenas em tempo real que se passam no palco atrás do<br />
telão.<br />
O começo de cada cena se dará com a projeção de uma tela<br />
preta com o número e o nome da cena escritos em branco.
CENA 01 caos urbano<br />
ZÉ ENTRA EM CENA, FICA NO CENTRO DO PALCO, ESTÁ TODO<br />
ESTROPIADO: UMA PERNA E UM BRAÇO ENGESSADOS, UM<br />
CURATIVO NA TESTA; RODEADO DE MALAS E CAIXAS COMO BA-<br />
GAGEM. EM PARALELO AO QUE ZÉ ESTÁ CONTANDO, PROJETA-<br />
SE NO TELÃO ANIMAÇÃO ILUSTRANDO TODO O OCORRIDO.<br />
ZÉ: Cansei dessa bagunça, essa cidade não tem mais jeito. O ser<br />
humano é uma desilusão... Estava voltando à noite do trabalho<br />
para casa. Tinha recebido em dinheiro meu salário. No caminho<br />
pro ponto de ônibus fui assaltado e os assaltantes levaram toda<br />
minha grana. Ainda me deram umas coronhadas com revólver<br />
na cabeça (mostra os curativos) e me deram um minuto pra sair<br />
correndo. Saí. Fui. Virando a esquina caí num buraco que tinha<br />
no meio da rua, um buraco imenso no asfalto... Não enxerguei<br />
o buraco porque a luz do único poste que tinha na rua estava<br />
139
140<br />
queimada. Os ladrões levaram meu celular. Depois de tentar li-<br />
gar de cinco telefones públicos destruídos por vandalismo, con-<br />
segui chamar uma ambulância. Que chegou ao local três horas<br />
depois e me largou num hospital onde finalmente fui atendido.<br />
Seis horas depois de chegar lá, é claro. Depois disso tudo, não<br />
consegui trabalhar no dia seguinte e quando retornei ao traba-<br />
lho fui despedido sumariamente. Como eu não era registrado<br />
em carteira mesmo, meu patrão me deu uns dinheiros e é por<br />
isso que eu vou embora daqui. Vou pra uma ilha deserta. Fui.<br />
APAGA FOCO<br />
NO TELÃO IMAGENS DE UMA ILHA PARADISÍACA, INTACTA. VAI<br />
SUMINDO A IMAGEM DA ILHA E ENTRANDO LENTAMENTE A<br />
LUZ DENTRO DO PALCO, DESVENDANDO ZÉ CHEGANDO NA<br />
ILHA PARA SE INSTALAR E MONTAR SUA BARRACA.<br />
ZÉ: Que maravilha! Livre de todos, numa ilha só pra mim, véio.<br />
Quando comprei esse terreno me senti o próprio Pedro Álvares
Cabral descobrindo o Brasil. Tudo de bom!!! O vendedor me<br />
disse que não mora ninguém aqui, que a viúva do coronel pro-<br />
prietária do PARADISUM ILHUM CONDOMINIUM GOLDEN PLA-<br />
TINUM cansou de ser dona desse Paradise e resolveu vender<br />
tudinho só para mim! arrasador.<br />
Ah, lote 1500, é aqui, essa é a indicação do meu contrato. Vou<br />
armar minha barraca aqui. Beleza, vou ser o próprio Tarzan, o<br />
rei da selva, um verdadeiro herói, ou melhor, vou ser .....espera<br />
aí será que o meu celular novo pega aqui? Como é que eu vou<br />
fazer pra pedir uma pizza? (ENQUANTO FALAVA MONTOU SUA<br />
BARRACA). Cara que emocionante, sou dono de uma ilha, eu<br />
mando nesse lugar, eu faço as regras. Tudo de bom. Barraca<br />
montada, ok.<br />
Sou um homem livre. Livre das regras, das leis, livre de ter que<br />
trabalhar, livre dos horários e principalmente livre dos outros!!!!<br />
Que sono, caraca. Vou tirar um merecido ronco, sonhar com a<br />
minha Jujuzinha e ....será que um dia ela vem me visitar? Não,<br />
não quero. Depois da última que ela me aprontou, resolvi: sou<br />
um homem livre, solteiro, desimpedido....(olha para os lados)...<br />
141
142<br />
e sozinho. (ENTRA NA BARRACA )<br />
A LUZ VAI DIMINUINDO DANDO A IMPRESSÃO DE FIM DO DIA,<br />
ATÉ CHEGAR AO BLACK OUT TOTAL.<br />
NO TELÃO VÃO SE MULTIPLICANDO MILHÕES DE BARRACAS E<br />
REDES DE LUZ NO HORIZONTE DOS MORROS DA ILHA. É A MUL-<br />
TIPLICAÇÃO DE PESSOAS NA ILHA, TODOS DONOS DE LOTES<br />
IGUAIS AO DE ZÉ.<br />
DENTRO DO PALCO A LUZ VAI LEVANTANDO COMO SE FOSSE O<br />
SOL, PERCEBE-SE QUE EXISTEM MAIS QUATRO BARRACAS AO<br />
LADO DA BARRACA DE ZÉ.<br />
TAMBÉM PODE SE VER UM MONTE DE FIOS QUE CRUZAM O<br />
PALCO PARA DAR A IMPRESSÃO DE REDES DE LUZ.<br />
UM VIZINHO DA BARRACA AO LADO FICA JOGANDO LATAS<br />
USADAS DE REFRI NOS ARREDORES DA BARRACA DE ZÉ, QUE<br />
APESAR DE DESNORTEADO PELO SONO SEM ENTENDER O QUE<br />
ESTÁ ACONTECENDO PERCEBE UM NOVO VIZINHO ENTRANDO<br />
NO SEU LOTE.
CENA 02 lei de Gerson<br />
ZÉ: Caraca, que zona... Que qué isso aí, cumpadi? Que desor-<br />
ganização. De onde surgiu essa gente toda? COMEÇA A ESBRA-<br />
VEJAR DEVOLVENDO AS LATINHAS: Aí, sem noção. Tá sujando<br />
minha ilha, meu paraíso particular. Quem são vocês afinal?<br />
JOÃO SAI DE UMA BARRACA E DIZ: Prazer, meu nome é João.<br />
Comprei o lote número 1389 da mulher do coronel Bezerra da<br />
Silva, somos vizinhos, meu chapa.<br />
ZÉ: Vizinhos? Eu não tenho vizinhos. O cara que me vendeu ga-<br />
rantiu que eu seria o único dono no pedaço.<br />
PEDRO SAI DE OUTRA BARRACA BOCEJANDO TRANQUILAMEN-<br />
TE: Bom dia vizinhança. FALA COM ZÉ: Depois de você aparece-<br />
ram mais 1499 pessoas interessadas, sacou... Agora já era. Você<br />
tem 1499 vizinhos. Entendeu ou quer que eu desenhe?<br />
ZÉ: Peraí, estou te reconhecendo, você é o cara que me vendeu<br />
o lote não foi?<br />
PEDRO: Demorou hem... Eu mesmo, Pedro Francisco Garcez a<br />
143
144<br />
seu dispor. Então, isso aqui não é o paraíso? O nome do condo-<br />
mínio foi invenção minha, gostou? Paradisum Ilhum Condomi-<br />
nium Golden Platinum, chique! Chiquíssimo!<br />
ZÉ: Que cara de pau a sua. Seu mentiroso. Você me disse que<br />
a ilha era deserta, foi só por isso que comprei um lote. Se eu<br />
soubesse que isso aqui ia ser um condomínio, ou melhor, uma<br />
favela... Sim porque esse lugar tá parecendo uma favela...<br />
PEDRO: Olha o preconceito. E tu vivia num lugar melhor que<br />
esse? Vivia? Duvido. O senhor por acaso tem o contrato de<br />
compra e venda?<br />
ZÉ: Mas é pra já. Agüenta aí que eu volto já. (ENTRA DENTRO DA<br />
BARRACA, PROCURA LÁ DENTRO DEPOIS SAI COM UM PAPEL<br />
NA MÃO)<br />
PEDRO: Deixa eu ver. (LENDO). Ah, aqui: por esse instrumento<br />
fica averbado o lote HUM MIL E QUINHENTOS para o senhor<br />
José fulano de tal. Lote 1500, significa que existem no mínimo<br />
mais 1499 lotes. Não vejo como você pode se sentir enganado.<br />
Acho que faltou escola pro senhor, faltou aula de matemática.<br />
(VAI SAINDO PARA SUA BARRACA)
ZÉ (CONFUSO) Então porque você disse que não tinha vendido<br />
nenhum lote antes do meu, se meu lote é o 1500?<br />
PEDRO: Promoção lá da imobiliária, resolvemos que os últimos<br />
seriam os primeiros. (ENTRA NA BARRACA, SAI COM UM PAPEL<br />
NA MÃO) Toma, isso lhe pertence.<br />
ZÉ: (LENDO) Uma multa?<br />
PEDRO: Por sujar o meio ambiente. Sua barraca está cheia de<br />
lixo em volta. Você tem uma semana para recorrer caso con-<br />
trário a multa será enviada ao seu endereço, ou melhor, à sua<br />
barraca.<br />
ZÉ: Mas aonde e como eu posso apelar... Ei, pensando bem, es-<br />
sas latas não são minhas, não fui eu que joguei esse lixo aí....<br />
PEDRO: A parte da apelação você pode fazer na minha própria<br />
barraca das 8 h às 10:30 h da manhã, a Srta Amanda irá atendê-<br />
lo. Tenha em mãos seus documentos, RG, CPF, a escritura do<br />
lote e a reclamação feita por escrito.<br />
Zé: Como assim na sua própria barraca?<br />
PEDRO: Muito simples, meu amigo. Sou eu quem administro<br />
essa ilha. Eu mando em tudo e todo mundo me obedece, en-<br />
145
146<br />
tendeu? Quer reclamar? Reclama comigo. Quer apelar? Apela<br />
pra mim. Eu multo, eu cobro, eu resolvo, eu recebo. Aqui é as-<br />
sim que funciona. (SAI DE CENA)<br />
ZÉ: Como é que uma coisa dessas pode funcionar?<br />
APAGA FOCO
CENA 03 contrabando / imposto / corrupção / sonegação<br />
PROJEÇÃO DE IMAGEM DE SHOW DE ROCK/HIP HOP EM ANI-<br />
MAÇÃO COM TRILHA SONORA DE UM ROCK/ HIP HOP QUE<br />
FALE DE CORRUPÇÃO.<br />
ENTRA GERAL, E SE VE ZÉ OBSERVANDO A BARRACA DE CARLÃO<br />
CHEIA DE COISAS PENDURADAS. CARLÃO SENTADO FAZENDO<br />
ANOTAÇÕES NUM BLOCO DE NOTAS.<br />
ZÉ: Ae beleza, tudo bem?<br />
CARLÃO: Ae véio, meu nome é Carlão. Tem fogo?<br />
ZÉ: Não fumo. Prazer sou o Zé! (APERTOS DE MÃO)<br />
CARLÃO: (ANOTA NUM PAPEL) Isqueiros made in China, cigar-<br />
ros Paraguaios, máquina calculadora para o Pedroca, só coisa<br />
fina... E aí Zé, precisa que eu traga alguma coisa pra você na<br />
semana que vem?<br />
ZE: Como assim?<br />
CARLÃO: Seguinte, meu chapa. Eu sempre trago umas coisinhas<br />
147
148<br />
pra abastecer a turma, sabe como? Coisinhas baratinhas, nada<br />
de mais. O que o freguês necessitar, meu camarada. E só cobro<br />
na chegada, com o produto na mão.<br />
ZÉ: Não acredito, já tem até camelô na ilha?<br />
CARLÃO: Camelô? Ó o respeito aí. Isso é coisa do passado, hoje<br />
em dia a gente tá bem organizado, eu vendo de tudo aqui no<br />
meu 1,99. (PENDURA A PLACA DE 1,99). Se bem que tivemos<br />
alguns probleminhas de percurso por conta do nosso venerado<br />
chefinho XumXumXim ter sido preso, mas a mercadoria tá ga-<br />
rantida.<br />
ZÉ: Carlos, deixa ver se eu entendi: isso q você traz é tudo pro-<br />
duto contrabandeado, não é não?<br />
CARLÃO: Esperto o garoto!<br />
ZÉ: Caraca, Carlos. Você não se toca que isso é contravenção?<br />
Você não tem medo de ir preso, sujar seu nome pro resto da<br />
vida?<br />
CARLÃO: Preso? É só lavar a mão dos fiscais, Zé. Na fronteira é<br />
a mesma coisa, é só lavar a mão do pessoal da fronteira e tudo<br />
sussi, véio. Normal!
ZÉ: Impressionante achar isso normal....<br />
CARLÃO: Fora o imposto, né cara? A gente se livra de pagar essa<br />
porcaria de imposto fazendo assim do meu jeito.<br />
ZÉ: Mas com que grana o governo vai construir estrada, rua,<br />
poste de luz, escola, hospital se não tiver dinheiro dos impos-<br />
tos?<br />
CARLÃO: Até parece que eles fazem isso com nossa grana...<br />
Nunca ouviu falar da corrupção? Dinheiro nas Ilhas Caimmãs?<br />
CPI, Pizza? Mensalão? Ministro sendo demitido?<br />
ZÉ: Eu já vi esse filme...<br />
149
150<br />
CENA 04 contribuição fiscal / contraprestação estatal / repre-<br />
sentação política<br />
JUJU QUE ESTAVA DANDO UMA GERAL NA SUA BARRACA DU-<br />
RANTE TODO O DIÁLOGO DOS DOIS ENTRA NA CONVERSA.<br />
JUJU: Muita grana.<br />
ZÉ: Como?<br />
JUJU: A corrupção no Brasil custa muita grana por ano a cada<br />
cidadão brasileiro.<br />
CARLÃO: Como assim?<br />
JUJU: A corrupção cria um grande desperdício de verbas públi-<br />
cas, é o nosso dinheiro arrecadado dos impostos, que deveria<br />
ser usado para construir escolas, hospitais, etc, e tudo que o<br />
moço aí falou. É nosso dinheiro que vai pro ralo. Vai pro ralo<br />
dos corruptos.<br />
ZÉ: Desculpe, não entendi direito esse papo de ralo.<br />
JUJU: Quando o dinheiro público é mal administrado, sonegado,
ou desviado por políticos corruptos, nós é que saímos perden-<br />
do. Segundo o Ministério da Fazenda a sonegação pode chegar<br />
a 50%, isto quer dizer que metade dos impostos devidos nesse<br />
país deixam de ser pagos. Quer dizer: Metade do povo sone-<br />
ga!!!<br />
ZÉ: Peraí, só que o trabalhador de carteira assinada não sonega<br />
porque é descontado automaticamente do seu salário. E nos<br />
produtos também tem taxa de imposto, sabia? Comida, livro,<br />
computador, carro, caderno, roupa, tudo tem imposto embuti-<br />
do no preço que a gente paga, véio.<br />
CARLÃO: De graça a gente não tem nada nesse país. A gente<br />
paga 2 vezes por tudo... Paga taxa pra saúde, e depois tem que<br />
pagar médico. Paga taxa de educação, e tem que depois pagar<br />
pelos cursos que quiser fazer, paga taxa de segurança, e tem<br />
que colocar grade em casa, muro, cerca elétrica, cachorro, pa-<br />
gar seguro... Contabiliza isso, mano, e vê quanto é que dá.<br />
ZÉ: Concordo. O governo não tá fazendo a parte dele... Tá tudo<br />
largado...<br />
JUJU: Hahha, aí é que está o X da questão!!!!! E você faz a sua<br />
151
152<br />
parte quando vota neles?<br />
ZÉ: Eu não vou nem votar. Votar pra quê? Nesse bando de in-<br />
competente? Vou ficar na praia tomando um sol, e que se da-<br />
nem essas eleições.<br />
CARLÃO: Eu vou votar em branco. Não dou mole para esses sa-<br />
fados!!!! Pá e pum, meu voto não! Correto?<br />
JUJU: Errado! Se você não vota, como quer que as coisas mu-<br />
dem, e como vai cobrar depois do cara eleito? Quem ganha as<br />
eleições é quem vai cuidar das suas coisas...<br />
CARLÃO: Minhas coisas? Das minhas coisas cuido eu, fofura!<br />
ZÉ: Das coisas públicas, tosco. Coisas públicas são de todo mun-<br />
do, então são coisas suas, nossas e não só dos políticos.<br />
CARLÃO: Tá legal, tá legal... Tá querendo me dizer que o Parque<br />
Barigui é meu e não da Prefeitura?<br />
ZÉ: Isso aí. Ele foi construído com seu dinheiro e é mantido com<br />
o seu dinheiro, e não com o salário do prefeito, entende?<br />
CARLÃO: Claro! Eu sabia!!! Amanhã mesmo vou falar com o Pe-<br />
droca pra gente fazer um loteamento lá... Grande Zé, grande<br />
Juju... Vou tirar o pé da lama... Paradisum Arvoredum Golden
Platinum Park... É o progresso na mão do Carlão aqui galera!<br />
JUJU E ZÉ FICAM PASMOS COM A BURRICE DO CARLÃO, BLACK<br />
OUT.<br />
PROJEÇÃO NO TELÃO IMAGENS ANIMADAS QUE REFORÇARÃO<br />
AS INFORMAÇÕES DITAS PELA PERSONAGEM JUJU.<br />
153
154<br />
CENA 05<br />
PEDRO COM UMA ESCULTURA DE UM MACACO BABANDO NO<br />
CENTRO DO PALCO. JUJU ENTRA SEGURANDO O GANCHO DE<br />
UM TELEFONE PÚBLICO<br />
JUJU: Saco, como é que vou ligar pra minha mãe se todos os<br />
telefones públicos dessa ilha tão quebrados? (VÊ PEDRO E A ES-<br />
CULTURA) Pedro, o que é isso aí?<br />
PEDRO: Olha o protocolo, Vossa Excelência por favor. Como<br />
prefeito, governador e presidente dessa honrada, venerada,<br />
idolatrada, salve salve ilha, estou deixando a minha humilde<br />
contribuição para a posteridade. Essa linda escultura, imagem e<br />
semelhança dos nossos ancestrais.<br />
JUJU: Só se for dos teus ancestrais, porque esse macaco babão<br />
tá muito longe de ser meu parente. Você tá tirando uma da mi-<br />
nha cara?<br />
PEDRO: Que falta de cultura, esses ignorantes definitivamente
não sabem apreciar uma obra de arte. E Darwin? A teoria evo-<br />
lucionista darwiniana... Nunca ouviu falar?<br />
JUJU: Já, me poupe do seu blá blá blá. Posso saber quem é o<br />
artista que fez essa coisa?<br />
PEDRO: Eu.<br />
JUJU: (PARA A PLATÉIA) Agora deu pra entender o porque desta<br />
coisa horrível, quer dizer, desta escultura darwiniana... (PARA<br />
PEDRO) Você, quer dizer, Vossa Excelência poderia usar nosso<br />
dinheiro para mandar arrumar os telefones públicos da ilha?<br />
Quem sabe algum ancestral precisa telefonar...<br />
PEDRO: Infelizmente, gastei toda a verba do ano com essa inspi-<br />
rada escultura artística. Você terá que aguardar o ano que vem.<br />
O restante do orçamento destinei para a construção de um co-<br />
reto e pagamento de um cancioneiro que está compondo uma<br />
música para a inauguração da estátua.<br />
JUJU: Você não ia fazer uma reunião com os moradores para<br />
aprovar os gastos do orçamento anual da ilha? Gastar tudo com<br />
uma estátua dessas?<br />
PEDRO: Eu convoquei a todos. Como ninguém compareceu à<br />
155
156<br />
reunião eu mesmo tive que decidir em nome de todos.<br />
JUJU: Êpa, mas eu nem fiquei sabendo da reunião... Quando<br />
fomos convocados?<br />
PEDRO: Não soube porque não acompanha os meus programas<br />
das minhas rádios am/fm, onde falei a todos da reunião, em<br />
meio aos anúncios dos patrocinadores.<br />
JUJU: Ah isso não vale. Isso não tá certo.<br />
PEDRO: A parte da reclamação a senhorita pode fazer na minha<br />
própria barraca das 8h às 10:30h da manhã, com a Srta Aman-<br />
da. Tenha em mãos seus documentos, RG, CPF, a escritura do<br />
lote e a reclamação feita por escrito.<br />
JUJU: Mas quem é essa srta. Amanda?<br />
PEDRO: Minha prima.<br />
JUJU: Mas como que eu nunca vi essa tipa?<br />
PEDRO: Ela é uma personagem fantasma. Quer reclamar? Re-<br />
clama comigo. Eu multo, eu cobro, eu resolvo, eu recebo. Aqui<br />
é assim que funciona.<br />
DE REPENTE CAI UMA GRANA DO PEDRO NO CHÃO, JUJU PEGA
E DEVOLVE PARA PEDRO QUE COLOCA NA CUECA ABARROTADA<br />
DE DINHEIRO E SAI DE CENA SEM DIZER NADA. JUJU OLHA IN-<br />
DIGNADA PARA PLATÉIA.<br />
APAGA FOCO<br />
157
158<br />
CENA 06 cooperação social / meio ambiente / direito e deve-<br />
res<br />
IMAGENS DE DESPERDÍCIO DE ÁGUA: TORNEIRAS ABERTAS<br />
ESCORRENDO INETERRUPTAMENTE, MANGUEIRAS JOGANDO<br />
ÁGUA FORA ENQUANTO DUAS PESSOAS FALAM, MULHER LA-<br />
VANDO CALÇADA.<br />
JUJU ESTÁ SENTADA LENDO UM LIVRO E ENTRA CARLÃO CARRE-<br />
GANDO 2 BALDES DE ÁGUA NA MÃO.<br />
CARLÃO: Aí, gata! Tá sabendo que amanhã vai faltar água na<br />
ilha? Não chove há meses.<br />
JUJU: Também né Carlão, o pessoal não para de desmatar nossa<br />
Mata Atlântica. Não há meio ambiente que resista...<br />
CARLÃO: Eu tô ligado. Tô até participando do projeto ecológico<br />
do Pedro. Vamos queimar o morro pra plantar soja. Vai pular<br />
macaco...<br />
JUJU: Projeto Ecológico? Você e o Pedro se merecem. Será que
dá tempo de tomar um banho?<br />
CARLÃO: Eu já tomei um de 50 minutos pra aproveitar bem a<br />
água. E comprei esses baldes pra estocar uns litros, assim pos-<br />
so fazer uma grana vendendo água pro povo idiota que não se<br />
organizou.<br />
JUJU: Mas a ideia não é economizar para não faltar água?<br />
CARLÃO: Só os mané economizam. Não sou de bobeira, tô liga-<br />
do na parada que circula por aqui. Quando o povo se liga na es-<br />
cassez, já era, tá tudo seco, princesa. Eu não, eu sou rapidinho.<br />
É só falar com o mano aqui e trazer o dindim que eu garanto<br />
aquela ducha!!!<br />
JUJU: Você não tá nem aí pra a comunidade que vive à tua volta<br />
né? Cadê o seu senso de coletividade? Direitos e deveres, todos<br />
temdireitos e deveres! Cooperar é operar em conjunto, é todo<br />
mundo fazer uma pequena parte pro resultado final ser positi-<br />
vo. Francamente... Você é irritante, Carlão...<br />
CARLÃO: Calma ae, Juju, eu só tô de olho no meu futuro. O me-<br />
lhor é ser esperto, não é não?<br />
JUJU: Normalmente o cara metido a esperto nem é tão esperto<br />
159
160<br />
assim. Percebe onde vai dar a esperteza de uns e outros? No<br />
nosso bolso, cara.<br />
CARLÃO: Mas se outros também fazem tudo errado porque jus-<br />
to eu preciso fazer certo? Me sinto idiota fazendo tudo certi-<br />
nho, entende Juju?<br />
JUJU: Alguém tem que começar, senão a coisa nunca conserta.<br />
Caraca, Carlão... que lugar do mundo pode ir pra frente se as<br />
pessoas pensarem sempre como você?<br />
CARLÃO: Tá. Então, e se eu não cobrar água e emprestar pra<br />
quem não tem? Aí tá certo?<br />
JUJU: O certo seria usar comedidamente, simplesmente econo-<br />
mizando. Pronto, com certeza sobraria água para todo mundo<br />
da ilha. (CARLÃO VAI SAINDO COM OS BALDES) Ei, pêra aí, onde<br />
você vai?<br />
CARLÃO: Vou devolver a água pro poço, antes que eu me sinta<br />
mal, caia de cama, tenha febre, tremores e morra de câncer<br />
com tanta culpa na alma...<br />
APAGA FOCO
Cena 07 violência / tráfico / crime organizado<br />
APARECE NO TELÃO CENA DE ANIMAÇÃO COMPUTADORIZADA<br />
DE GUERRA ENTRE 2 MORROS. OS PERSONAGENS SE JOGAM<br />
PARA DENTRO DAS BARRACAS, SE FECHANDO, AS BARRACAS<br />
TREMEM.<br />
MAIS IMAGENS DA GUERRA ENTRE OS MORROS, QUE SERÃO<br />
INTERCALADAS COM NARRAÇÕES QUE FOCAM PERSONAGENS<br />
FALANDO DIRETAMENTE PARA A PLATÉIA. SOB O PRIMEIRO<br />
FOCO, FECHADO NO CANTO ESQUERDO, APARECE CLAUDINHO,<br />
MENINO DE RUA:<br />
CLAUDINHO: Aí. Sacou a situação? Guerra. De um lado o Sabiá,<br />
de outro o Urubú. Os hómi lá em baixo, eu aqui soltando pipa<br />
pra avisar quando eles vão embora... Pelo menos eu ganho uma<br />
grana e o Sabiá de lambuja protege a minha família...<br />
REPETEM-SE AS MESMAS CENAS DE GUERRA NOS MORROS,<br />
161
162<br />
SOB O SEGUNDO FOCO, FECHADO NO CANTO OPOSTO, APARE-<br />
CE A MÃE DO MENINO. ESTÁ PROCURANDO O FILHO NO MEIO<br />
DA CONFUSÃO.<br />
MÃE: Claudinho, meu filho, cadê você? Se esse moleque esti-<br />
vesse na escola nada disso estava acontecendo. Claudinho? Ô<br />
meu filho, tenha cuidado, pelo amor de Deus. Claudinho, onde<br />
você se meteu moleque?<br />
REPETEM-SE AS MESMAS CENAS DE GUERRA NOS MORROS,<br />
SOB O TERCEIRO FOCO, NO CENTRO ESQUERDO DO PALCO,<br />
APARECE O TRAFICANTE SABIÁ COM UMA MÁSCARA NEGRA<br />
NO ROSTO, METRALHADORA NA MÃO.<br />
SABIÁ: Cacete. Vou ter que meter bala nos hómi antes de aca-<br />
bar com o Urubú. Esse canalha molhou a mão dos hómi... Rapa-<br />
ziada, mete bala nesses filha da puta do cacete porra!!!!!<br />
REPETEM-SE AS MESMAS CENAS DE GUERRA NOS MORROS,
SOB O QUARTO FOCO, NO CENTRO DIREITO PALCO, APARECE<br />
POLICIAL COM UMA MÁSCARA NEGRA NO ROSTO, METRALHA-<br />
DORA NA MÃO.<br />
POLICIAL: Caramba, vou ter que meter fogo na favela pra achar<br />
o Sabiá... Aqui só tem vagabundo mesmo. Batalhão, mete bala<br />
nesses filha da puta do cacete porra!!!!<br />
VOLTA A CENA DA GUERRA ENTRE OS MORROS, GRITARIA.<br />
SOME A IMAGEM FICA TUDO BRANCO. VOLTA A LUZ PARA DEN-<br />
TRO DO TELÃO LENTAMENTE, OS ATORES VÃO SAINDO DEVA-<br />
GAR DE SUAS BARRACAS. ENTRA UM CORTEJO DE FUNERAL<br />
COM PEDRO ACOMPANHADO DE CARLÃO E UMA ATRIZ, TODOS<br />
DE PRETO.<br />
ZÉ: (PERGUNTANDO PARA JUJU) Ué, quem morreu, foi bala per-<br />
dida?<br />
JUJU: Não se preocupe, é o Pedro se aproveitando da situação<br />
pra enterrar a funcionária fantasma, a srta. Amanda, e pegar<br />
163
164<br />
uma verba extra para enterro de familiar de parlamentar.<br />
ZÉ: Agora ela virou laranja.<br />
JUJU: Sukita, porque tá enlatada.
CENA 08 preconceito/racismo/ discriminação social<br />
PEDRÃO EM FRENTE À SUA BARRACA AGUARDA CANDIDATOS<br />
À MESTRE DE OBRAS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM CORETO<br />
EM VOLTA DA ESTÁTUA DO MACACO BABÃO. PLACA FIXADA<br />
NA BARRACA “PROCURA-SE MESTRE DE OBRA PARA A CONS-<br />
TRUÇÃO DO CORETO”. CHEGA UM PERSONAGEM NEGRO COM<br />
POSTURA ASSUMIDAMENTE GAY PARA PEDIR EMPREGO.<br />
JORGE: Olá Seu Pedro.<br />
PEDRO: Vossa Excelentíssima Senhor Pedro, por favor.<br />
JORGE: Vossa Excelemtíssima Senhor Pedro meu nome é Jorge.<br />
Sou mestre de obras, tenho muitos anos de experiência e quero<br />
me candidatar para a vaga.<br />
PEDRO: Ahã... sei... sei... O senhor vai me desculpar, seu Jorge,<br />
mas a vaga já foi ocupada. Amanhã mesmo vou tirar essa pla-<br />
quinha daí.<br />
JORGE: De qualquer maneira gostaria de preencher uma ficha,<br />
165
166<br />
caso o senhor precise de alguém futuramente para a obra.<br />
PEDRO: Não, não tem ficha nenhuma não. Pode ir vazando seu<br />
Jorge, que aqui não tem vaga pro senhor não.<br />
CHEGA UM PERSONAGEM BRANCO. JORGE SAI CABISBAIXO...<br />
THIAGO: Bom dia, seu Pedro. Gostaria de me candidatar à vaga<br />
de mestre de obras.<br />
PEDRO: Tem experiência?<br />
Thiago: Tô começando... Tô fazendo uns reparos elétricos numa<br />
obra do outro lado da ilha...<br />
PEDRO: A vaga é sua, meu chapa! Começa hoje mesmo, são 26<br />
horas por dia sem descanso para conseguirmos finalizar a obra<br />
do coreto para o show de inauguração da estátua do macaco<br />
babão.<br />
ENTRA JUJU INDIGNADA COM JORGE AO LADO<br />
JUJU: Ué, Pedro! A vaga já não estava preenchida? Que história<br />
é essa?<br />
PEDRO: Estar não estava, né Juju. (NUM APARTE PARA ELA) Mas
como é que eu ia colocar um negão, boiola, pobre e desempre-<br />
gado pra trabalhar na minha obra?<br />
JUJU: Mas ele é o melhor pedreiro da ilha, Pedro.<br />
PEDRO: Já fechei com o tal do Thiago.<br />
JUJU: Tiago? Mas foi ele que quase botou fogo no outro lado<br />
da ilha porque resolveu fazer um gato. O cara não sabe nem o<br />
que é uma pá de cal...<br />
PEDRO: Na nossa administração não aceitamos veado. Além do<br />
mais, acho que todo crioulo é folgado.<br />
JUJU: Que conversa mais preconceituosa é essa Vossa Excelen-<br />
tíssima?<br />
PEDRO: A parte da reclamação pode fazer na minha própria bar-<br />
raca das 8h às 10:30 hda manhã, o Sr. Carlão poderá atendê-la.<br />
Tenha em mãos seus documentos, RG, CPF, a escritura do lote e<br />
a reclamação feita por escrito.<br />
JUJU: Como assim?<br />
PEDRO: Muito simples, minha querida. Sou eu quem administro<br />
essa ilha. Eu mando em tudo e todo mundo me obedece, en-<br />
tendeu? Quer reclamar? Reclama comigo. Eu multo, eu cobro,<br />
167
168<br />
eu resolvo, eu recebo. Aqui é assim que funciona.<br />
JUJU: V. Exa. o pessoal da ilha tá começando a ficar meio indig-<br />
nado com suas atitudes.<br />
PEDRO: (PARA TIAGO QUE ESCUTA TUDO) Sr. Tiago pode se re-<br />
tirar, essa moça requer uma audiência particular.<br />
JUJU: Não bastasse o que você faz com nossa grana, agora vem<br />
com esse papo de preconceito? Tanto faz se o cara é negro,<br />
branco, gay, analfabeto, se é doutor, rico, pobre... Perante a lei<br />
somos todos iguais.<br />
PEDRO: Então vou reformular o que eu disse: aquele afro des-<br />
cendente transexual umbandista não pode ficar com o empre-<br />
go porque o Tiago já está ocupando essa vaga. Que tal? Melho-<br />
rou?<br />
JUJU: Piorou! Porque agora senhor além de racista e precon-<br />
ceituoso com a sexualidade alheia, ainda é preconceituoso em<br />
relação a religião dos cidadãos!!!! Umbandista? Que baixaria.<br />
PEDRO: (CHAMANDO TIAGO DE VOLTA) Sr. Tiago volte aqui por<br />
favor!<br />
JUJU: Além de ser o rei do preconceito, é o rei da falcatrua.
PEDRO: Sr. Tiago foi promovido a chefe de meu gabinete. Livre-<br />
se imediatamente dessa mulher. (TIAGO CARREGA JUJU AOS<br />
BERROS PARA FORA DE CENA)<br />
JORGE FICA OLHANDO COM CARA FEIA PARA PEDRO, QUE PER-<br />
CEBE O PERIGO POIS FICOU SOZINHO COM O CARA, PEGA A<br />
PLACA E DÁ PARA JORGE<br />
PEDRO: Pronto, tá bom seu Jorge. A vaga de mestre de obra<br />
está de novo disponível, portanto agora ela é sua. Metade do<br />
seu primeiro salário vai ser enviado para o SODEJ - Sindicato<br />
dos Oprimidos Defendidos da Juju. Agora pode se retirar, vaza,<br />
vaza... (JORGE PEGA A PLACA E SAI ATORDOADO)<br />
APAGA FOCO<br />
ENTRA NO TELÃO ANIMAÇÃO COM TEXTO CONSTITUCIONAL<br />
SOBRE LIBERDADE DE EXPRESSÃO, LIBERDADE SEXUAL, RELI-<br />
GIOSA, E SOBRE PRECONCEITO RACIAL (Todos são iguais peran-<br />
te a lei....)<br />
169
170<br />
Cena 09 direitos do consumidor<br />
JUJU APARECE NUM TELEFONE PÚBLICO<br />
JUJU: (FALANDO PARA SI MESMA) Ainda bem que consertaram<br />
esse telefone, demorou. Agora vou poder reclamar do meu ce-<br />
lular, acho que já veio com defeito, não é possível. (DISCA DO<br />
ORELHÃO) Alô?<br />
VOZ DE GRAVAÇÃO EM OFF: Bem vindo ao serviço de telefonia<br />
celular Mimo. Se deseja falar sobre faturas atrasadas, digite 1.<br />
Sobre créditos, digite 2. Abertura de novas contas, digite 3. Ou<br />
aguarde na linha e fale com um de nossos atendentes. (TOCA<br />
UMA MUSIQUINHA IRRITANTE)<br />
JUJU: Ninguém merece, 15 minutos aqui e nada de ser atendi-<br />
da. (TOCA A MUSIQUINHA IRRITANTE)<br />
GRAVAÇÃO: Alô, boa tarde senhora! Aqui que fala é Mariana da<br />
Mimo, em que posso ajudar?<br />
JUJU: Seguinte: comprei um celular último tipo na sua loja há
duas semanas mas ele não funciona de jeito nenhum.<br />
GRAVAÇÃO: Duas semanas? Por que a senhora só está ligando<br />
agora?<br />
JUJU: Porque moro numa ilha e o único telefone público daqui<br />
estava estragado há nove meses. Agora que eu consegui ligar.<br />
Enfim, o celular está estragado.<br />
GRAVAÇÃO: A senhora disse que reside numa ilha? Tem certeza<br />
que o aparelho não caiu no mar?<br />
JUJU: Como caiu no mar? Só se o celular saiu da minha bolsa,<br />
colocou uma sunga, passou filtro solar e foi pegar uma praia.<br />
Não senhora, ele não caiu no mar, ele veio com defeito. E além<br />
disso, recebi uma conta pra mim de 600 reais e o meu telefone<br />
nem foi usado porque está com defeito.<br />
GRAVAÇÃO: Sinto muito senhora, estou transferindo a senhora<br />
para outro setor. Mimo agradece a atenção.<br />
JUJU: Ei, ei, espera, eu...<br />
GRAVAÇÃO: Bem vindo ao serviço de telefonia celular Mimo.<br />
Se deseja falar sobre faturas atrasadas, digite 1. Sobre seus cré-<br />
ditos, digite 2. Abertura de novas contas, disque 3. Ou então<br />
171
172<br />
aguarde e fale com um de nossos atendentes. (TOCA UMA MU-<br />
SIQUINHA IRRITANTE)<br />
JUJU: Ninguém merece, vou te que fazer tudo de novo.<br />
GRAVAÇÃO: Alô! Aqui que fala é Mariema da Mimo em que<br />
posso ajudar?<br />
JUJU: Vou repetir: comprei um celular último tipo há duas se-<br />
manas, ele não funciona, de jeito nenhum...<br />
GRAVAÇÃO: Duas semanas? Por que a senhora só está ligando<br />
agora?<br />
JUJU: Porque moro numa ilha, o telefone público tá estragado<br />
há 9 meses e o mais importante é que eu não consegui ligar<br />
porque a droga do celular que me venderam também não fun-<br />
ciona.<br />
GRAVAÇÃO: A senhora reside numa ilha? Tem certeza que o<br />
aparelho não caiu no mar?<br />
JUJU: Isso é uma gozação? Eu caí num trote? Não senhora, ele<br />
não caiu no mar, ele veio com defeito mesmo. E além disso, veio<br />
uma conta pra mim de 600 reais que não fui eu que fiz.<br />
GRAVAÇÃO: Como a senhora pode ter certeza de que não foi a
senhora que fez as ligações?<br />
JUJU: Porque estou dizendo que o celular veio com defeito.<br />
Pensando bem, acho que vou querer meu dinheiro de volta.<br />
GRAVAÇÃO: Sinto muito senhora, estou transferindo a senhora<br />
para outro setor. Mimo agradece a atenção.<br />
JUJU: Ei, ei, espera, eu...<br />
GRAVAÇÃO: Bem vindo ao serviço de telefonia celular Mimo.<br />
Se deseja falar sobre faturas atrasadas, digite 1. Sobre seus cré-<br />
ditos, digite 2. Abertura de novas contas, disque 3. Ou então<br />
aguarde e fale com um de nossos atendentes. (TOCA A MUSI-<br />
QUINHA IRRITANTE)<br />
JUJU: Eu vou desistir e jogar esse celular no lixo.<br />
GRAVAÇÃO: Alô! Aqui que fala é Maricreusa da Mimo em que<br />
posso ajudar?<br />
JUJU: Eu quero meu dinheiro de volta porque o celular da Mimo<br />
não funciona, e me recuso a pagar os 600 reais, há duas sema-<br />
nas que comprei e ele não funciona.<br />
GRAVAÇÃO: Duas semanas? Por que a senhora só está ligando<br />
agora?<br />
173
174<br />
JUJU: Porque moooooro numa ilha, saco, porque o teleeeee-<br />
fone público tá estragado, saco, porque a drooooga do celular<br />
que me venderam não funciona, sacoooooo.<br />
GRAVAÇÃO: A senhora reside numa ilha? Tem certeza que o<br />
aparelho não caiu no mar?<br />
JUJU: Tenho e se você me passar para uma outra atendente idio-<br />
ta eu vou até aí pra jogar o seu gerente no mar pessoalmente.<br />
GRAVAÇÃO: Compreendo senhora, a Mimo agradece mesmo<br />
assim. O problema é que a senhora deveria ter reclamado em<br />
48hs para a loja, agora a Mimo não pode fazer mais nada, a<br />
senhora terá que verificar com o fabricante para resolver seu<br />
problema. Quanto à conta, favor ligar para 0800 54 44 34 24 14<br />
04.<br />
MULHER: Fabricante? Vocêtem o telefone da fábrica?<br />
GRAVAÇÃO: Tenho mas não entendo muito bem o que está es-<br />
crito porque tá escrito em chinês.<br />
JUJU IRADA: Como em chinês?<br />
GRAVAÇÃO: Porque a fábrica fica na China, senhora. Mais algu-
ma coisa em que eu possa lhe ajudar? Uma excelente tarde e<br />
a Mimo telefonia celular agradece sua ligação. (TUNTUNTUN-<br />
TUN)<br />
MULHER: Como na China? Ah, mas essa mulherzinha me paga.<br />
Hoje mesmo vou pegar um barco pra cidade e vou direto pro<br />
PROCON. Tão pensando o quê? Quero ver ela mandar o promo-<br />
tor ligar pra China.... Vou reclamar meus direitos, hoje em dia<br />
ninguém mais fica no prejuízo se tiver com o produto e com a<br />
nota fiscal na mão. É nosso direito receber o que foi prometido,<br />
pra isso tem o Código de Defesa do Consumidor!!!! Que papo é<br />
esse de 48 hs pra reclamar se no certificado diz um ano? Como<br />
que meu celular foi pro mar? (FALA ENQUANTO SAI DE CENA<br />
ENLOUQUECIDA) E esse raio dessa fábrica, na China? Ah, mas<br />
eu vou hoje mesmo, nem que eu vá até a China nadando, ah se<br />
eu vou....<br />
175
176<br />
Cena 10 conceito de cidadão/ o estado é você/ voto respon-<br />
sável<br />
NO TELÃO CENAS DE IMAGENS REVOLTANTES QUE ACONTE-<br />
CERAM NO BRASIL NESSES ULTIMOS ANOS QUE TERÃO TRATA-<br />
MENTO COMPUTADORIZADO PARA QUE PAREÇAM DESENHOS.<br />
LEMBRAREMOS ESSES ACONTECIMENTOS AOS JOVENS ATRA-<br />
VÉS DA ÓTICA IRÔNICA DA LINGUAGEM DOS QUADRINHOS, EN-<br />
FATIZANDO DESTA FORMA UMA CRÍTICA À SITUAÇÃO SOCIAL<br />
BRASILEIRA.<br />
OS ATORES FORMARÃO UMA FILA VESTIDOS DE MÃES E PAIS,<br />
E DARÃO SEUS TEXTOS INTERCALADOS COM AS IMAGENS. PRI-<br />
MEIRO, JUNTAMENTE COM AS IMAGENS VEMOS A FILA FOR-<br />
MADA POR ATORES. DEPOIS, OS REFLETORES FOCARÃO UM A<br />
UM PARA QUE CADA ATOR FALE SEU TEXTO INDIVIDUALMENTE,<br />
INTERCALANDO-SE AS CENAS COM AS IMAGENS, SEMPRE QUE<br />
O FOCO SOBRE UM ATOR FOR ACESO.
MÃE FOCO1: Sinceramente, tô de saco cheio. É o segundo ano<br />
que meus moleques vão passar na rua fazendo bobagem por-<br />
que não consegui matricular nenhum deles na escola.<br />
PAI FOCO 2: O excelentíssimo Dr Pedro não usou direito o di-<br />
nheiro que arrecadou na ilha pra construir as escolas novas.<br />
Continuamos só com uma, que só vai até a quarta série. Dizem<br />
que ele aplicou a grana em outra ilha, parece que o nome é<br />
Caymmãs.<br />
MAE FOCO 3: O quê que os nossos meninos vão fazer se não<br />
estudarem? Já perdi o mais velho pro Urubú, rolou coisa feia<br />
com a polícia, sabe como é...<br />
PAI FOCO 4: Eu tô achando que assim não vai mais dar não...<br />
segundo dia que eu perco trabalho pra ficar nessa fila da esco-<br />
la tentando uma vaga pra minha filha... daqui a pouco perco o<br />
emprego, daí vai ser bonito...<br />
ENTRAM NA PLATÉIA ZÉ, JUJU, JUJU, JORGE E CARLÃO DISTRI-<br />
BUINDO PANFLETOS PARA UMA CONVOCAÇÃO GERAL DOS<br />
MORADORES DA ILHA. OS PANFLETOS SERÃO ENTREGUES AOS<br />
177
178<br />
ADOLESCENTES SENTADOS NA PLATÉIA.<br />
ZÉ: Compareçam, compareçam. Estaremos discutindo assuntos<br />
importantes para a ilha.<br />
JORGE: Avisem seus amigos por torpedo, telefone, e-mail, pom-<br />
bo correio, avisem a todos.<br />
JUJU: Vamos aproveitar que Vossa Excelência foi passar uns dias<br />
na cidade e vamos nos organizar. Compareçam, compareçam.<br />
CARLÃO: Vamos passar um abaixo assinado, onde exigiremos<br />
a saída do Sr Pedro do governo da ilha. Se mais de metade dos<br />
moradores assinarem, ele sai. Impeachment no Pedro.<br />
JUJU: Logo após, faremos eleições para escolher alguém que<br />
possa cuidar melhor de nossos interesses. Compareçam, com-<br />
pareçam.<br />
OS ATORES QUE ESTAVÃO NA PLATÉIA SOBEM NO PALCO EM<br />
FRENTE O TELÃO E DIRIGEM-SE À PLATÉIA COMO SE FOSSE O<br />
POVO DA ILHA.
CARLÃO: Estamos aqui para tentar mudar a vida desta ilha, pes-<br />
soal.<br />
JUJU: Tá todo mundo indignado. Sobra violência, falta esgoto,<br />
falta água, falta escola, falta transporte público, falta remédio,<br />
falta médico, falta segurança, falta teatro, falta cultura, falta es-<br />
porte, falta tudo.<br />
JORGE: A gente paga, paga, paga, trabalha, trabalha, trabalha e<br />
não tem nada em troca.<br />
JUJU: Enquanto isso o Excelência tá lá na cidade, longe dessa<br />
confusão. Foi de lancha último tipo, está hospedado num hotel<br />
5 estrelas, jantando com celebridades internacionais, vestindo<br />
ternos importados... isso tudo às nossas custas.<br />
ZÉ: Se metade da população da ilha assinar este abaixo assina-<br />
do, ele estará fora. Imediatamente faremos uma eleição onde<br />
poderemos escolher alguém digno de nossa confiança para ad-<br />
ministrar as coisas públicas.<br />
BLACK OUT, ATORES SAEM DE CENA<br />
179
180<br />
CENA 11 rede de comunicação entre os cidadãos<br />
IMAGENS NO TELÃO DE MULTIDÃO UNIDA. “CARAS PINTA-<br />
DAS” DE VERDE E AMARELO, DEPOIS CENAS DAS ELEIÇÕES POR<br />
TODO BRASIL. AOS POUCOS VÃO APARECENDO NO TELÃO AS<br />
MODIFICAÇÕES DECORRENTES DE UMA BOA ADMINISTRAÇÃO:<br />
VAI SUMINDO O LIXO, NO SEU LUGAR VÃO APARECENDO PAR-<br />
QUES, ESCOLAS E HOSPITAIS. CENAS DE SAÚDE E PROGRESSO<br />
SOCIAL. CENAS DE CRIANÇAS DE RUA SE TRANSFORMANDO EM<br />
CRIANÇAS SAUDÁVEIS. VÃO SAINDO AS IMAGENS DE VIOLÊN-<br />
CIA E ENTRANDO IMAGENS DE PROGRESSO E PAZ SOCIAL. SOM<br />
CONTEMPORÂNEO, COM O QUAL OS JOVENS SE IDENTIFICAM.<br />
IMAGENS BEM DINÂMICAS, COMO NUM CLIP.<br />
VÃO SAINDO AS IMAGENS. LUZ FOCANDO O PALCO/CENÁRIO<br />
A ILHA. PERSONAGENS REUNIDOS SENTADOS EM FRENTE AS<br />
SUAS BARRACAS.
CARLÃO: Juju parece que nosso povo tá cada vez mais satisfei-<br />
to...<br />
JUJU: Aos poucos eles vão aprendendo que essa ilha é deles, e<br />
que sem eles nada disso existiria. É o trabalho deles que cons-<br />
trói estas escolas, estes hospitais. Tenho muito orgulho do povo<br />
da ilha e do trabalho deles...<br />
ZÉ: Do trabalho e do voto, né? Se eles não tivessem tirado o<br />
Pedroca e colocado nossa equipe no lugar, isso aqui só teria pio-<br />
rado.<br />
ENTRA JUJU E JORGE AFOBADOS.<br />
JUJU: Zé, Zé. Aconteceu um imprevisto. Temos que comunicar<br />
a população imediatamente sobre o que está acontecendo em<br />
Brasília. Os deputados vão votar aquela lei que vai prejudicar<br />
toda a população da ilha.<br />
JORGE: Aquela lei que ninguém entende... Vai ser votada ama-<br />
nhã. Como que a gente faz pra avisar todo mundo tão depres-<br />
sa?<br />
JUJU: Sei lá, faz uma Rede!!!<br />
JORGE: Como assim, Juju?<br />
181
182<br />
ZÉ: Rede?<br />
JUJU: Rede. O que nós fizemos no impeachment do Pedro, só<br />
funcionou porque todos os moradores da ilha se comunicaram.<br />
Os panfletos eram poucos, não tínhamos a mídia do nosso lado.<br />
O único jeito foi o boca a boca. Pessoa para pessoa. Torpedo,<br />
e-mail, facebook, Orkut, vale tudo.<br />
ZÉ: Ah, tô entendendo.<br />
JORGE: Saquei: as pessoas se avisam como podem, certo?<br />
JUJU: Vale tudo: telefone, e-mail, blog, orkut, torpedo, sinal de<br />
fumaça... E ainda: pra todo mundo do trabalho, da família, da<br />
escola, do bairro, do futebol, da padaria, do bar, da esquina...<br />
JUJU: Assim formamos uma rede indestrutível de informação<br />
e comunicação. Já pensou quantas pessoas estão ligadas na in-<br />
ternet uma hora dessas? Já pensou quanta gente legal pode ter<br />
acesso às informações? Torpedos são rápidos, baratos e podem<br />
disparar informações importantes a qualquer instante.<br />
JORGE: Realmente, isso é bem esperto.<br />
JUJU: Podemos elaborar nosso próprio site sobre cidadania, in-<br />
formando às pessoas sobre o que os políticos andam fazendo.
Já notou que a maioria deles não cumpre o que promete?<br />
JORGE: Não cumpre porque a gente não cobra deles. Exemplo:<br />
você me contrata como pedreiro e me dá na mão a verba para<br />
eu construir uma casa p você. Aí, eu não apareço, não construo<br />
nada, não lhe dou satisfação, e ainda apareço, 4 anos depois,<br />
com uma casa linda no meu nome. O que você faria? Ficaria<br />
quieta? Você não iria reclamar?<br />
JUJU: Eu? Trocaria de pedreiro e ainda reclamaria na justiça<br />
meu dinheiro de volta!<br />
JUJU: Com os políticos tem que ser igual. A gente paga imposto<br />
pra ter dinheiro para as obras. Paga salário pra eles, e eles não<br />
fazem nada... O negócio é reclamar, trocar de “pedreiro”, en-<br />
tenderam? Tocar a obra...<br />
JORGE: Mas como?<br />
JUJU: A rede, pessoal. Se a gente estiver unido e se comunican-<br />
do em favor dos nossos interesses, esta pequena cúpula que<br />
está no poder às custas dos nossos votos vai ter que se sacudir<br />
pra permanecer lá.<br />
JUJU: Se a gente ficar quieto, eles continuam enchendo as cue-<br />
183
184<br />
cas de dinheiro, construindo casas paradisíacas em ilhas do go-<br />
verno...<br />
JORGE: E a gente fica aqui, assistindo a tudo calado.<br />
ZÉ: Voto responsável, a rede informando, cobrando, é como<br />
uma epidemia. Vamos desencadear e controlar uma epidemia<br />
positiva e política para mudar o Brasil.<br />
EM OFF: Alô, Alô, Brasil!!!!!!!!<br />
BLACK OUT<br />
ENTRA NO TELÃO UM CLIP EM FORMATO DE QUADRINHOS/<br />
GIBI DE PESSOAS SE COMUNICANDO E FORMANDO A REDE E AS<br />
DIVERSAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO IMEDIATA ENTRE PES-<br />
SOAS. EFEITO DOMINÓ. AO SOM DE UMA MÚSICA POP.<br />
TOCAM DIVERSOS CELULARES NO MEIO DA PLATÉIA NO TOM<br />
DE CHEGADA DE TORPEDOS. ISSO PODE SER FEITO COM A SO-<br />
NOPLASTIA E TB SER COLOCADO 20 CELULARES EM LUGARES<br />
ESTRATÉGICOS DENTRO DA PLATÉIA QUE ESTARÃO COM PRO-<br />
FESSORES E SERÁ PRÉVIAMENTE COMBINADO COM ELES.<br />
FIM
185
186<br />
LUCIANA NARCISO Iniciei minhas atividades de dramaturgia em<br />
1998 escrevendo peças dirigidas a operários e jovens em situação<br />
de risco social, por encomenda de instituições que visavam propagar<br />
idéias de segurança e prevenção para estas pessoas.<br />
Após, iniciei meus estudos em Dramaturgia ingressando na Especiali-<br />
zação em Dramaturgia e Teatro na UFTPR, ano de 2005 – 2006, tendo<br />
escrito várias peças desde então e feito traduções para o português<br />
de textos de autores espanhóis, argentinos e norte americanos.<br />
Atualmente exerço a profissão de advogada e produzo textos que re-<br />
únem a questão da prevenção de riscos com a noção de cidadania, di-<br />
reitos e deveres e acredito que os textos ora apresentados abordem<br />
esta temáticas de maneira acessível e divertida para todos.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARANÁ | FIEP<br />
Edson Campgnolo<br />
Presidente<br />
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA | <strong>SESI</strong> | Depart. Reg. do Estado do Pr<br />
José Antonio Fares<br />
Diretor Superintendente<br />
Maria Cristhina de Souza Rocha | Gerente de Desenv. de Produtos<br />
Anna Paula Zétola | Gerente de Cultura<br />
Sergia Regina Chapelen Dubas Martins | Gerência de Cultura<br />
Neiane da Silva Azevedo Andreato | Gerência de Cultura<br />
Janaina Coelho Adão | Gerência de Cultura<br />
Foto Capa<br />
Acervo jornalístico <strong>SESI</strong><br />
Catalogação<br />
Pandita Marchioro<br />
Projeto Gráfico<br />
Maria Cristina Pacheco<br />
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