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Livro SESI Jovem Vida

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apresenta<br />

Peças de teatro educativo do projeto<br />

<strong>SESI</strong> JOVEM VIDA<br />

LUCIANANARCISO<br />

Este tempo é meu!<br />

Vamos celebrar a vida<br />

Alô, Alô, Brasil


<strong>SESI</strong> – Serviço Social da Indústria<br />

Departamento Regional do Paraná<br />

Presidente da FIEP<br />

Edson Campgnolo<br />

Diretor Superintendente <strong>SESI</strong> PR<br />

Jose Antonio Fares<br />

Os direitos de reprodução, de adaptação ou de tradução desta guia são<br />

reservados ao <strong>SESI</strong> - Departamento Regional do Paraná, inclusive a<br />

reprodução por procedimento mecânico ou eletrônico.<br />

Narciso, Luciana<br />

Este tempo é meu; Vamos celebrar a vida; Alô, alô Brasil. / Luciana<br />

Narciso – Curitiba : <strong>SESI</strong>/PR, 2011.<br />

184 p. ; 20 cm. – (Projeto <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong>).<br />

ISBN 978-85-61425-60-9<br />

1. Teatro (Literatura). 2. Teatro brasileiro. 3. Literatura paranaense.<br />

I. Narciso, Luciana. II. Título.<br />

Direitos Reservados:<br />

<strong>SESI</strong> – Serviço Social da Indústria<br />

Departamento Regional do Paraná<br />

Avenida Cândido de Abreu, 200<br />

CEP 80.530-902 – Curitiba – Paraná<br />

Telefone: (41) 3271 9000<br />

CDU 792


Sumário<br />

Prefácio 05<br />

Este tempo é meu! 09<br />

Vamos celebrar a vida 87<br />

Alô, Alô, Brasil 133


<strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong><br />

É senso comum que os jovens são o futuro do País. Máxima batida,<br />

mas verdadeira, pois sintetiza a ideia de que está na juventude o potencial<br />

da mudança, o vigor para fazer diferente, o desprendimento<br />

para ir além. É uma responsabilidade. Espera-se que o jovem faça<br />

melhor do que as gerações anteriores e que, além disso, ao se tornar<br />

adulto, garanta à geração seguinte um futuro melhor.<br />

A conclusão é que não é tarefa fácil ser jovem, ainda mais no mundo<br />

de hoje, de tanta complexidade e com tantos riscos. E me refiro em<br />

especial aos riscos que são mais direcionados aos jovens, aqueles que<br />

escapam à proteção familiar e o alcançam no momento e no espaço<br />

de convívio social, com a galera, nas baladas, na hora do namoro. É<br />

caso das drogas e do sexo sem proteção, cujas consequências, muitas<br />

vezes, mudam drasticamente a trajetória de uma vida.<br />

O <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong> atua com a ótica de que para riscos dessa natureza<br />

a melhor forma de enfrentamento é a informação e a conscientização<br />

do jovem, ou seja, capacitá-lo para perceber o perigo e evitá-lo.<br />

O programa começou em 2007, desenhado a partir dos debates e<br />

conclusões de uma outra iniciativa de nossa entidade, o Movimento<br />

Empresarial pela Saúde, que apontou a proteção à juventude como<br />

necessidade premente da sociedade.<br />

O foco das ações do <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong>, pensado já naquela ocasião, é a<br />

prevenção ao uso de drogas, à gravidez precoce, à AIDS e às Doenças<br />

Sexualmente Transmissíveis (DST). Já no primeiro ano, mais de 3.000<br />

rapazes e moças foram alcançados por palestras, oficinas e ações de<br />

protagonismo juvenil. Foi lançada uma coleção de cartilhas educativas,<br />

com conteúdo elaborado por especialistas e pessoas preparadas<br />

para o diálogo com os jovens.<br />

Em 2008, as ações do <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong> passaram a ter a coordenação<br />

da área da cultura, que por sua própria natureza tem fina sintonia<br />

com a juventude. Nesta abordagem, um dos principais caminhos para<br />

o diálogo com os jovens foi o teatro, com peças produzidas pelo Sesi-<br />

PR.<br />

7


Esse livro reúne os textos das três peças de teatro educativo produzidos<br />

pelo <strong>SESI</strong>. A publicação é fruto de um novo passo do programa,<br />

que é a ênfase à literatura, como mais um meio de falar aos jovens.<br />

Literatura de qualidade, de conteúdo ao mesmo tempo cultural e didático,<br />

que induz à reflexão e contribui para com a conscientização<br />

do jovem sobre o seu papel social e a necessidade de ele estar bem<br />

preparado para assumi-lo.<br />

Em “Esse Tempo é Meu”, atores jovens falam diretamente ao público<br />

de igual idade, tratando a questão da prevenção (contra o uso de drogas<br />

lícitas e ilícitas, gravidez precoce e DST/AIDS), de forma educativa<br />

e lúdica.<br />

“Alô, Alô, Brasil” é um chamado à importância do voto e ao exercício<br />

da cidadania, buscando conscientizar e estimular a participação<br />

do jovem como agente ativo das transformações da sociedade. Uma<br />

contribuição para prepará-lo a assumir a tarefa de construir um futuro<br />

melhor para si para e para os que virão.<br />

A peça “Vem Celebrar a <strong>Vida</strong>”, embora mais direcionada aos trabalhadores<br />

das indústrias (como parte de um programa maior que atende<br />

a esse público), trata de temática importante para o jovem, que é a<br />

promoção da saúde com ênfase na valorização de estilos de vida mais<br />

ativos e saudáveis.<br />

A sociedade precisa dividir com os jovens a responsabilidade de construir<br />

um Brasil saudável, justo, produtivo. O <strong>SESI</strong> <strong>Jovem</strong> <strong>Vida</strong> é a presença<br />

da nossa entidade neste esforço, que, afinal, se refletirá nas<br />

gerações de todas as idades.<br />

Que os textos aqui contidos, sejam montados por grupos de teatro<br />

amador, sejam de industriários ou de jovens estudantes, cumpram<br />

plenamente o nosso objetivo de educar e nortear a discussão sobre<br />

temas tão relevantes.<br />

José Antonio Fares<br />

Diretor Superintendente do <strong>SESI</strong> Paraná


LUCIANANARCISO<br />

Este tempo é meu!<br />

11


FichaTécnica<br />

A peça “Este Tempo é Meu!”, atendeu em 60 espetáculos, mais de<br />

19500 jovens que se encantavam com a linguagem lúdica e cênica<br />

do teatro e aprendiam sobre atitudes essenciais para ter uma melhor<br />

qualidade de vida. A peça foi uma demanda da gerência de cultura e<br />

circulou pelas cidades São José dos Pinhais, Rio Branco do Sul, Curitiba,<br />

Pato Branco, Francisco Beltrão, Toledo, Cascavel, Foz do Iguaçu,<br />

Campo Largo, Colombo, Araucária, Londrina, Arapongas, Apucarana,<br />

Maringá, Paranavaí, Cianorte, Quatro Barras, Ponta Grossa, Bocaiúva<br />

do Sul, Contenda, Campina Grande do Sul e Almirante Tamandaré.<br />

Elenco:<br />

Alexandre Zampier<br />

Janaina Matter<br />

Otavio Linhares<br />

Sol Faganello<br />

Equipe Técnica:<br />

Texto: Luciana Narciso<br />

Direção: Fátima Ortiz<br />

Assistência de Direção: Maíra Lour<br />

Composição e Direção Musical: Rosy Greca<br />

Arranjos e Sonoplastia: Ervin Fast<br />

Cenário, Figurino e Adereço: Paulinho Maia<br />

Cenotécnico: Sérgio Richter<br />

Coreografia: Vanessa Corina<br />

Direção de Produção: Giselle Lima<br />

Assistência de produção e Operador de som: Geff Gonzalez<br />

Produção: Pé no Palco Atividades Artísticas Ltda<br />

Realização: <strong>SESI</strong> e Centro Cultural Teatro Guaíra<br />

Gerente de Cultura: Anna Zétola<br />

Gerência de Cultura: Neiane Andreata


14<br />

Prólogo<br />

Ouve-se um “mix” de sonoridades que nos reportam ao universo<br />

jovem/galera. O elenco entra com objetos de cena colocando<br />

adereços de cena no palco.


Estória 01<br />

CENA 01<br />

Entra no palco um adolescente com jeito de doidão. Chama-se<br />

Naftalina. Carrega uma mala de viagem, uma mochila e um<br />

skate, tem um estilo bem urbano. Está se mudando de cidade<br />

com a família. Apresenta-se ao público.<br />

NAFTALINA: (Para a platéia.) Ae! Sou o Naftalina. Que foi?<br />

Não gostou do nome? Naftalina, véio. Pelo menos é original...<br />

Nafta, para os íntimos. Nafta: parece nome de faraó egípcio,<br />

não parece? Coisa fina, aê. Tô chegando com minha família pra<br />

morar nessa cidade um tempo e já vi que vou gostar disso aqui,<br />

véio. Tá cheio de mulher bonita, só mulher boa, rapaz. Quero<br />

entrar de sola, arrepiando com as gatas, que é pra impor logo<br />

na chegada a minha moral, compreende? Minha reputação no<br />

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16<br />

pedaço, afinal de contas, tenho um nome a zelar: e este nome é<br />

Naftalina. Fui, galera... (Sai andando de Skate)<br />

Enquanto Naftalina vai saindo do palco, entram ao mesmo<br />

tempo duas meninas que observam a maneira dele agir. Se<br />

entreolham e riem. As meninas estão trajadas casualmente, um<br />

pouco também no estilo grunge: calça jeans, tênis, etc.<br />

LUÍZA: Nossa, viu só que cara metido?<br />

PAULINHA: O cara tá se achando... Bonitinho, até... Nunca vi ele<br />

antes. E você?<br />

LUÍZA: Também não. Deve ser novo na área. Será que ele estava<br />

falando sozinho? Parecia, né?<br />

PAULINHA: Caraca. Quem fala sozinho é gente louca, né Luíza?<br />

Tem um cigarrinho aí?


LUÍZA: Nenhum,larguei do cigarro, sabia? O Henrique me falou<br />

que meu bafo fica horrível quando eu fumo. E que meus dentes<br />

estavam ficando amarelos... E que eu ia ficar cheia de celulite.<br />

Sabia que cigarro dá celulite? O Henrique que me contou...<br />

PAULINHA: Ah, já entendi, captei... O Henrique, hem? Ah, quer<br />

dizer que você tá pegando...<br />

LUÍZA: Tô ficando com ele. Desde a festa de despedida do<br />

Marcelo... Tá bom demais, tô ligada nele. Mó gatinho...<br />

PAULINHA: E você está se cuidando, usando camisinha?<br />

LUÍZA: A gente ainda nem transou, e eu ainda sou virgem... Ele<br />

vem vindo, disfarça.<br />

Henrique entra no palco.<br />

HENRIQUE: Oi Paulinha, oi Luíza, beleza? Então, vou jogar bola<br />

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18<br />

que ninguém é de ferro, hoje é sábado, né? Vejo vocês na<br />

baladinha hoje de noite lá em casa?<br />

LUÍZA: Já é. É às dez horas mesmo?<br />

HENRIQUE: Dez horas!<br />

Henrique dá um beijo em Luíza, se despede das duas e sai. Entra<br />

Naftalina que sai da parte fechada do palco, segue para onde<br />

estão as meninas, dá uma disfarçada, olha para um lado, para<br />

o outro e enfim puxa papo.<br />

NAFTA: Hum, hum... É... desculpa aí, mas... Alguém tem fogo?<br />

As duas olham para ele de cima a baixo e se entreolham.<br />

Paulinha tem um isqueiro.<br />

PAULINHA: Tá na mão. Tem um cigarro pra me arrumar?


NAFTA: Da hora, gata, tá na mão. (Dá o cigarro para Paulinha,<br />

que o acende.) Mas, eu... Quer dizer... assim... Como é seu<br />

nome mesmo?<br />

PAULINHA: Paula. E essa é a Luíza, minha melhor amiga.<br />

LUÍZA: Tudo bem? (Nessa hora os dois dão ao mesmo tempo,<br />

sem querer, uma baforada de fumaça de cigarro na cara de<br />

Luíza, que dá uma tossida, se abana e diz.) Credo gente, pelo<br />

menos solta essa fumaça pra lá. Ninguém merece...<br />

PAULINHA: (Cutuca Luíza para ela parar de reclamar. Pergunta<br />

para Nafta) E você, qual o seu nome?<br />

NAFTA: Luis Afonso de Souza Moreira Gaspar Filho, vulgo<br />

Nafta!<br />

PAULINHA: Vulgo o que?<br />

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20<br />

NAFTA: Nafta, gata. De Naftalina, sacou? Naftalina.<br />

LUÍZA: Naftalina? Isso não é aquela bolinha fedida que gente<br />

antiga coloca nas gavetas pra espantar bicho?<br />

NAFTA: É isso mesmo. Matou a pau, gata. Naftalina, a seu<br />

dispor!<br />

PAULINHA: Diferente seu apelido, né? Mas eu achei legal...<br />

Luíza olha “torto” pra amiga.<br />

PAULINHA: Você é novo aqui no bairro, né?<br />

NAFTA: Sou, cheguei faz poucos dias... Tô meio perdidão ainda,<br />

sem amigos, sem muita programação... Mas já estou descolando<br />

uns comparsas! A galera aqui é do bem!<br />

LUÍZA: É gente boa mesmo...


PAULINHA: Nafta, você quer ir numa baladinha hoje de noite?<br />

Lá você pode conhecer uma galera aqui do bairro.<br />

NAFTA: Uhu, que massa, véio. Quer dizer, claro que quero, tô<br />

dentro! Onde é o cafôfo, a casa?<br />

PAULINHA: (Cutucando Luíza.) É na rua de baixo, número 35,<br />

bloco H, apê 12. Tem que tocar o interfone da direita, beleza?<br />

Ah, e tem que levar o que for beber...<br />

NAFTA: Sussi, gata, sussi. Vou levar um goró no tubão que eu<br />

não sou mané pra passar necessidade em dia de festa! (Toca o<br />

celular de Nafta. Ele atende e se despede.) Valeu gatas, agora<br />

tenho que sair fora. Fui.<br />

LUÍZA: Tchau... Credo Paulinha, que cara mais metido que você<br />

convidou pra ir no apê do Henrique... Fala sério, Paula,<br />

PAULINHA: Falo sério sim. Tô sem namorado, esqueceu disso?<br />

21


22<br />

Você tá aí com o Henrique na maior pegação e eu vou passar a<br />

noite toda sozinha? Ninguém merece. Pelo menos assim levo<br />

um papo com o Nafta, quem sabe ele é legal, pelo menos é bem<br />

gatinho...<br />

LUÍZA: Tá bom tá bom... Vamos no mercado comprar as coisas<br />

pra festa? Trouxe a grana aí?<br />

PAULINHA: Tá na mão, vamos lá. Já é!


CENA 02<br />

Festa rolando. Música rolando. Henrique movimenta-se<br />

colocando objetos cenográficos e simulando atenções aos<br />

convidados. Toca a campainha e entra Nafta, bem “entrão”,<br />

dança e se exibe. Paulinha e Luíza chegam. Colocam umas coisas<br />

obre a mesa, se servem e conversam.<br />

PAULINHA: Olha só, o Naftalina já chegou. Que massa...<br />

LUÍZA: É mesmo, e o Henrique tá um gato com aquela blusa,<br />

né? Fala sério...<br />

PAULINHA: O Nafta vem vindo, o que eu faço?<br />

LUÍZA: Continua dançando, conversa qualquer coisa...<br />

Nafta se aproxima das meninas, Henrique vem junto. Os 4 se<br />

cumprimentam. Nafta vai acender um cigarro, Henrique pede<br />

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pra ele fumar na sacada.<br />

HENRIQUE: Nafta, peraí, brou. Será que você pode fumar esse<br />

cigarro lá fora na sacada? Aqui em casa ninguém mais fuma,<br />

fica o maior futum... De boa, cara...<br />

NAFTA: Sussi... Minha véia também não deixa fumar dentro de<br />

casa. E aí, Paulinha, vamos lá fumar um cigarrinho comigo?<br />

Paulinha e Nafta saem para fora e acendem seus cigarros.<br />

Começam a conversar.<br />

PAULINHA: Quero trabalhar na mesma loja que a minha mãe<br />

trabalha, num Shopping, tá ligado? Eu só quero ter uma graninha<br />

pra curtir a vida. E você?<br />

NAFTA: Eu? Eu o que? Eu gosto de estudar, vou bem na escola,<br />

tenho facilidade em matemática, entende, gata? Minha mãe<br />

disse que eu tenho que trabalhar, mas ainda não achei nenhum


trampo pra mim...<br />

PAULINHA: Ah, é difícil mesmo...<br />

NAFTA: Então, vamos voltar lá dentro e dançar um pouquinho?<br />

Henrique e Luíza dançam juntos num canto, na maior pegação.<br />

Nafta e Paulinha, aos poucos, vão “ficando” próximos também.<br />

Todos dançam e se divertem. Paulinha e Luíza se encontram na<br />

“pista”.<br />

LUÍZA: Paulinha, tô nervosa, o Henrique pediu pra eu dormir<br />

com ele aqui hoje porque a mãe dele foi pro interior... Que que<br />

eu faço?<br />

PAULINHA: Sei lá, fica sussi... O Henrique é gente boa... Quer<br />

dizer que é hoje então?<br />

LUÍZA: É hoje o quê?<br />

25


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PAULINHA: Como o quê? (Faz um gesto que indica transar.)<br />

LUÍZA: Ah... Sei lá, acho que pode até rolar... Assim pelo menos<br />

eu deixo de ser virgem e a galera para de me encher o saco...<br />

PAULINHA: Dá-lhe amiga, até que enfim... Só não vai se<br />

esquecer de usar camisinha, tá ligada? Vou voltar ali antes que<br />

uma espertona pegue o Nafta... (Pega camisinha do bolso e dá<br />

pra Luíza, que olha e coloca no bolso rapidinho, com vergonha.<br />

Luíza segura no braço de Paulinha e diz.)<br />

LUÍZA: Bem que você podia dormir aqui também, né?<br />

PAULINHA: Como assim?<br />

LUÍZA: Com o Nafta...Vou falar com o Henrique... Dá essa<br />

força?<br />

Luíza vai para o lado de Henrique, começam a dançar e conversar.


Após, os dois vão saindo de mãos dadas para um canto do palco.<br />

Henrique faz um gesto para Naftalina dou outro lado da pista.<br />

Naftalina vai puxando Paulinha para o outro canto.<br />

PAULINHA: Só uma perguntinha, Nafta, onde a gente tá indo?<br />

NAFTA: Sei lá, Paulinha. A festa já tá meio caidaça, né? O dono<br />

da casa já se recolheu... O Henrique disse que a gente podia ficar<br />

mais à vontade ali na salinha de televisão, tá vendo a salinha?<br />

Sofazinho, DVD, o Henrique deixou até um cobertor e colocou<br />

um show maneiro pra gente assistir... A gente pode ficar aqui,<br />

quer dizer, fica comigo mais um pouquinho? Tá afim?<br />

PAULINHA: (Meio tímida.) Hum... Tá legal. (Mais tímida ainda.)<br />

Mas, quer dizer, você, é... você por acaso trouxe camisinha?<br />

NAFTA: (Puxa do bolso uma tira cheia de camisinhas.) Claro,<br />

gata, já te disse que sou um cara ligado na parada que circula<br />

por aí? Não dou bobeira não. Pego camisinha grátis lá no posto<br />

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28<br />

de saúde, meu pai que me ensinou...<br />

Som continua rolando, os casais somem.


CENA 03<br />

Tempos depois...<br />

LUÍZA: Pô Paulinha, tô mal, cara, tô mal...<br />

PAULINHA: Qual é, Luíza? Que baixo astral é esse? Bem agora<br />

que nós duas conseguimos uns fiquétes?<br />

LUÍZA: Por isso mesmo, Paulinha...<br />

PAULINHA: Pô, Lu... Não entendi.<br />

LUÍZA: Paulinha, presta atenção: Lembra da festinha na casa do<br />

Henrique?<br />

PAULINHA: Claro.<br />

LUÍZA: Pois é... Aquele dia a gente...<br />

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30<br />

PAULINHA: Transou, é claro, isso você já me contou faz tempo.<br />

E daí? Tava na hora, né Luíza? Uma hora ou outra isso tinha que<br />

rolar mesmo...<br />

LUÍZA: Cara, rolou mesmo, e continuou rolando, só que agora...<br />

(Cai no choro.)<br />

PAULINHA: Caraca... Ele terminou...<br />

LUÍZA: (Chorando.) Pior...<br />

PAULINHA: Arrumou outra...<br />

LUÍZA: (Chorando.) Pior...<br />

PAULINHA: Já sei: ele terminou com você e arrumou outra, não<br />

necessariamente nessa ordem, quer dizer, arrumou outra e<br />

terminou com você, quer dizer....


LUÍZA: (Aos prantos.) Nãããããããõ. Pára com isso, pára. É que...<br />

(Pega do bolso um papel tipo resultado de exame.) Paulinha, eu<br />

tô grávida. Eu tô grááááááávida... (Cai no choro desesperada.)<br />

PAULINHA: (Perplexa.) Luíza... Tem certeza... E agora? (Vê o<br />

exame.) Caraca, e as camisinhas que eu te dei? Nem tomou<br />

pílula?<br />

LUÍZA: Eu não usei camisinha... E eu também não tomei pílula...<br />

Eu sou uma anta... (Chora compulsivamente.)<br />

PAULINHA: Cara, você marcou... Marcou bobeira feio dessa<br />

vez... Que situação...<br />

LUÍZA: Eu fiquei com vergonha de falar de camisinha pro<br />

Henrique e ele nunca falava nada também,,, E eu era virgem,<br />

lembra? Achei que virgem não engravidava assim logo de<br />

cara...<br />

31


32<br />

PAULINHA: (Indignada com o descuido de Luíza.) Pô Luíza, sem<br />

pílula e sem camisinha só podia dar nisso, né?<br />

LUÍZA: (Desesperada.) Eu sou uma tosca mesmo... O que eu<br />

faço agora?<br />

PAULINHA: Procure um médico, demorou. E o Henrique, ele já<br />

sabe?<br />

Entra Henrique cabisbaixo, Paulinha sai.<br />

LUÍZA: (Para a platéia.) O Henrique escutou tudo quieto, depois<br />

saiu batido pra casa quando viu o resultado, disse que ia falar<br />

com a mãe dele...<br />

Sai Henrique. Luíza ainda para a platéia.<br />

LUÍZA: Putz... Tenho que procurar um médico. A única pessoa<br />

que pode nos dizer o que fazer agora... Será que a Paulinha vai<br />

comigo?


Neste instante Paulinha aparece no lado direito do palco. A atriz<br />

coloca uma peruca + óculos, fazendo papel de mãe do Henrique.<br />

Luíza permanece sozinha, cabisbaixa, no centro do palco. Do<br />

lado esquerdo do palco está Henrique levando uma mala, indo<br />

embora. Luíza está no palco mais atrás, cabisbaixa e sozinha,<br />

situada entre os dois. Mãe de Henrique fala para o filho:<br />

MÃE: Moleque sem vergonha, abusado, e ainda por cima burro.<br />

Eu criei um filho descuidado. Que burrice, meu filho, que falta<br />

de responsabilidade.<br />

HENRIQUE: Mas, mãe... Eu...<br />

MÃE: (Muito nervosa.) Eu o que? Um desmiolado, é isso:<br />

irresponsável e desmiolado. Não sabia que podia engravidar<br />

a menina? Não sabia que isso podia acontecer? Você não é<br />

criança, filho. É homem pra transar, mas não é homem pra<br />

se cuidar? Como assim? E a camisinha? Ca-mi-si-nha... Nunca<br />

ouviu falar? Desculpe, mas foi irresponsabilidade, sim.<br />

33


34<br />

HENRIQUE: Mas mãe...<br />

MÃE: (Estressadíssima.) Mas mãe, mas mãe o quê? Mas mãe o<br />

quê, moleque? Agora vai ter que trabalhar, entendeu? Vai ter<br />

que dar duro porque o senhor agora tem um filho pra sustentar...<br />

Você agora é pai, Henrique. Vai pro interior, pra casa de seu pai<br />

trabalhar na loja, que ele tá precisando de mão de obra.<br />

HENRIQUE: Eu? Pro interior? Morar com o pai? E com a chata<br />

da mulher dele? Mas mãe...<br />

MÃE: Ué. Fazer o que? A menina é menor de idade, Henrique,<br />

tem 15 anos. Eu não tenho condições de criar você, seu irmão<br />

e ainda sustentar mais um neto e uma nora. Você vai ter que<br />

trabalhar pra ajudar a menina criar esse nenê, e lá no interior<br />

com seu pai você tem trabalho... Acabou a festa, Henrique. Tem<br />

pensão pra pagar agora, se vira filho.<br />

HENRIQUE: Mas mãe...


MÃE: (Irritada com o filho.) Mas mãe o quê? O quê? Porque<br />

não me pediu conselho antes, moleque? Me pedisse que eu<br />

te dava camisinha, melhor gastar com camisinha do que ser<br />

avó com essa idade... Eu, avó com essa idade, eu não merecia<br />

isso... (Mais irritada ainda.) Uma simples camisinha poderia ter<br />

evitado tudo isso, mas agora é tarde, filho... Você vai ter que ir,<br />

já falei com o seu pai.<br />

HENRIQUE: Mas mãe...<br />

MÃE: (Acabada, super triste) É assim, filho... Vai ter que ser.<br />

Saem ambos chorando, cada um em uma direção. Luíza<br />

permanece ali sozinha, cabisbaixa.<br />

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36<br />

Cena 04<br />

Após Henrique e a mãe saírem, aparece a figura de um médico<br />

(ator que faz Nafta.), Luíza leva o maior susto, a luz se acende<br />

e ele diz:<br />

MÉDICO: E você, senhorita Luíza, lembre-se que usando pílula<br />

anticoncepcional e uma simples camisinha você estaria livre<br />

dessa situação...<br />

LUÍZA: Mas como que eu ia saber disso?<br />

MÉDICO: Você deveria ter me procurado no posto de saúde<br />

antes de tudo começar a acontecer.<br />

LUÍZA: No posto de saúde, Doutor?<br />

MÉDICO: Sim, nos postos de saúde disponibilizamos consultas,<br />

exames, pílulas anticoncepcionais e preservativos grátis para<br />

vocês.


LUÍZA: Grátis?<br />

MÉDICO: E mais, senhorita: você também estava se arriscando<br />

a pegar uma doença sexualmente transmissível como a AIDS. A<br />

camisinha não protege somente da gravidez, mas também das<br />

doenças indesejadas, como a AIDS.<br />

LUÍZA: AIDS? Nossa...<br />

MÉDICO: Se dê por satisfeita senhorita, por não ter contraído<br />

uma doença sexualmente transmissível, que a estas alturas<br />

poderia ser fatal para você e o bebê.<br />

LUÍZA: (Responde ao doutor.) Mas Doutor, eu era virgem, e não<br />

sabia que na primeira vez já engravidava... (Fica cabisbaixa.)<br />

MÉDICO: (Vai até Luíza.) As meninas podem engravidar ou<br />

pegar doença na primeira relação.<br />

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38<br />

LUÍZA: Muito menos sabia que já pegava doença assim logo de<br />

cara, até AIDS... E também eu tinha vergonha de pegar camisinha<br />

no posto, de comprar na farmácia e de pedir pro Henrique usar<br />

camisinha, sei lá...<br />

MÉDICO: Esta vergonha de usar camisinha é uma bobagem nos<br />

dias de hoje, Luíza, o mais importante é a gente se proteger das<br />

doenças e da gravidez indesejada. Não podemos ter vergonha<br />

de querer proteger a nossa vida e a dos outros, né?<br />

LUÍZA: Eu tinha medo de parecer oferecida, de parecer piranha...<br />

E eu era virgem (Cai no choro.)<br />

MÉDICO: Pois é... Mas agora teremos que tocar o barco.<br />

LUÍZA: O barco?<br />

MÉDICO: Em função da sua gravidez e da sua idade, teremos<br />

que fazer alguns exames... Acho melhor a gente agendar


uma horinha aqui no consultório pra marcarmos os exames!<br />

Enquanto isso você fala com sua mãe sobre o assunto porque<br />

ela precisa saber.<br />

LUÍZA: (Olha para o médico.) Minha mãe? Tem certeza que ela<br />

precisa saber?<br />

DOUTOR: Você é menor de idade, Luíza...<br />

LUÍZA: (Para a platéia.) Caraca, minha mãe não vai acreditar. Vai<br />

me estrangular, me enforcar, me esculachar, vai me matar e no<br />

fim vai se suicidar... E meu pai, então? Ele estava tão orgulhoso<br />

que eu queria fazer faculdade... Ia ter um diploma... Acho que<br />

ele vai ter um ataque, um derrame, um infarto, um piripaque, e<br />

no fim... No fim vai se matar... AAAAAAAAAi... Tô frita, Doutor...<br />

(Cai no choro.)<br />

DOUTOR: Não Luíza, eles não vão te matar... E você provavelmente<br />

terá que contar com a ajuda deles para criar este filho...<br />

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40<br />

LUÍZA: Como é que isso foi acontecer comigo?<br />

DOUTOR: Isso aconteceu porque você não estava bem informada<br />

a respeito de prevenção.<br />

LUÍZA: Prevenção de quê?<br />

DOUTOR: De gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis,<br />

que acontecem através das relações sexuais.<br />

LUÍZA: É mesmo, eu jamais ia adivinhar que qualquer mulher<br />

pode engravidar na primeira transa; assim como pegar qualquer<br />

doença.<br />

DOUTOR: É isso mesmo, e lembre-se de que não precisa nem<br />

de penetração pra acontecer estas coisas. Existem muitas<br />

doenças sexualmente transmissíveis, sendo a AIDS a mais grave<br />

de todas. Numa simples e única relação sexual a pessoa pode<br />

contrair algo que vai prejudicá-la para o resto da vida.


LUÍZA: Numa única vez, Doutor?<br />

DOUTOR: Sim, numa única relação... Além do mais, muitas<br />

outras meninas engravidam na 1 ª relação sexual por acharem<br />

que a virgindade as protege de alguma maneira.<br />

LUÍZA: É mesmo... Eu deveria ter procurado o senhor antes,<br />

ter usado camisinha, ter tomado pílula, ter tomado cuidado,<br />

tomado noção...<br />

MÉDICO: Pois é, Luíza. Você e todas os jovens que tiverem<br />

dúvida sobre prevenção de gravidez e doenças, ou qualquer<br />

dúvida relacionada a sexo, devem procurar um médico para se<br />

informar e evitar doenças e gravidez indesejadas...<br />

LUÍZA: E vocês nunca contam nada pra ninguém? Quem é que<br />

garante que vocês não vão contar nada pros nossos pais?<br />

MÉDICO: O que conversarmos aqui no consultório é segredo<br />

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42<br />

profissional. Isso se chama “sigilo profissional”... É para isso<br />

que nós servimos, para vocês recorrerem a nós sempre que<br />

estiverem em uma situação difícil ou confusa, entendeu?<br />

LUÍZA: Puxa, doutor... Mas o senhor me ajuda a contar pra<br />

minha mãe? Eu não tenho coragem...<br />

Doutor afirma com a cabeça que ajudará Luíza a contar para a<br />

mãe, coloca a mão sobre o ombro dela e saem confiantes.


ESTÓRIA 02<br />

Cena 01<br />

Duas adolescentes vestidas com uniforme e com pastas escolares<br />

no colo estão sentadas num banco tipo de praça, conversando e<br />

comendo alguma coisa tipo pipoca ou amendoim.<br />

JULIA: HPV.<br />

PALOMA: Como é?<br />

JULIA: HPV.<br />

PALOMA: Nunca ouvi falar. Isso é AIDS?<br />

JULIA: Não, AIDS é HIV. HPV é outra coisa, a médica falou.<br />

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PALOMA: Credo, e pega como?<br />

JULIA: Transando, tipo DST, entende?<br />

PALOMA: DS o quê?<br />

JULIA: DST...<br />

PALOMA: Que que é isso?<br />

JULIA: Doença Sexualmente Transmissível. Tem um monte,<br />

olha só: Hepatite C, hepatite B, HIV que é AIDS, HPV, clamídia,<br />

gonorréia, sífilis...<br />

PALOMA: (Interrompendo Julia.) Credo, Julia, que nojo. Isso<br />

tudo a gente pega transando?<br />

JULIA: Pega, se não usar camisinha e se a outra pessoa estiver<br />

infectada.


PALOMA: Credo... e porque você estava falando do tal do hp,<br />

hp o quê mesmo?<br />

JULIA: V. HPV. Eu ia te contar que a Letícia da nossa sala teve que<br />

tirar o útero por causa desse HPV, a irmã dela me contou ontem<br />

no mercado. Por isso que ela não está indo fazer as provas.<br />

PALOMA: O útero? Ela teve que tirar o útero?<br />

JULIA: O tal do fungo, o HPV, dá câncer de útero, sabia?<br />

PALOMA: Eu não. Quer dizer, nem imaginava que esse HPV era<br />

assim tão sério.<br />

JULIA: Nem eu. Perigoso, né? Daí contei pra minha mãe e ela<br />

me levou imediatamente numa ginecologista... Lá que eu fiquei<br />

sabendo de todas essas doenças sexualmente transmissíveis...<br />

Daí a médica me mandou fazer um monte de exame, mas eu<br />

fiquei sussi, porque o Tuco e eu só transamos de camisinha. Tô<br />

sussi... Vou pegar os resultados amanhã.<br />

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PALOMA: (Com a maior cara de preocupação.) Xííííí´... Será que<br />

você pode me dar o telefone dessa médica? Acho que vou lá<br />

também... Melhor garantir, sei lá...<br />

JULIA: Claro, a médica falou que se a Letícia tivesse descoberto<br />

o HPV no começo, talvez tivesse até cura.<br />

PALOMA: Ai... (Preocupada e afobada.) Então eu quero ir mais<br />

logo ainda.<br />

JULIA: Vamos lá em casa que eu vou pegar o telefone dela na<br />

agenda da minha mãe. Ah, quer almoçar com a gente lá em<br />

casa?<br />

PALOMA: Hum, eu quero. Adoro a comida da sua casa. Vou avisar<br />

a minha mãe então. (As duas se levantam e saem caminhando.<br />

Paloma pega o celular e liga para a mãe, sai do palco avisando<br />

a mãe que vai almoçar na casa da Julia. Fim.)


ESTÓRIA 03<br />

Cena 01<br />

Dois meninos sentados batendo papo. Um deles está arrasado,<br />

com um exame na mão. O outro, preocupado, escuta o amigo.<br />

Marinho, que descobre estar com AIDS é bem hetero. O amigo<br />

também, mas com um ar mais louquinho, embora seja ela o<br />

mais careta e responsável.<br />

MARINHO: Pois é, cara, eu confesso que nunca fui chegado em<br />

camisinha, não...<br />

PAULO: Como assim, não era chegado? E quem disse que tem<br />

que ser chegado?<br />

MARINHO: Sei lá, né? Eu sempre fui um cara espada, macho,<br />

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só ficava com mulher bacana, só princesa... Nunca usei drogas<br />

injetáveis... Como é que eu ia adivinhar?<br />

PAULO: Como assim, adivinhar? Adivinhar o que?<br />

MARINHO: Que a gente que é espada também pega AIDS, pô...<br />

PAULO: Pô digo eu, véio. Você é meio doido? Não lembra que é<br />

todo mundo feito do mesmo material?<br />

MARINHO: Como assim, mesmo material?<br />

PAULO: Cara, tanto faz. Hetero, gay, bissexual, homem, mulher,<br />

pobre, rico, casado, solteiro, novo, velho, playboy, todo mundo<br />

pega AIDS se vacilar, entendeu?<br />

MARINHO: Pois é...<br />

PAULO: AIDS passa pelo sangue e pelas relações sexuais. Por


isso que os viciados em droga injetável também pegam AIDS se<br />

compartilharem a mesma seringa.<br />

MARINHO: Mas eu não uso drogas... Sou espada, cara, espada...<br />

E só pego princesa, você me conhece, brou... Justo agora que<br />

eu estava pensando em namorar sério... Pô, cara, como é que<br />

pode isso? (Mostra mais uma vez o exame ao amigo.)<br />

PAULO: É que os heterossexuais também pegam AIDS se não<br />

usarem camisinha, não tá vendo aqui nesse exame? É um vírus,<br />

cara. Homem, mulher, todo mundo pega se vacilar...<br />

MARINHO: Vírus? É vírus, é? Tipo gripe?<br />

PAULO: É, tipo gripe, que qualquer pessoa pode pegar. Só que<br />

AIDS não tem cura, entende?<br />

MARINHO: O médico me falou isso mesmo... Tô ferrado.<br />

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PAULO: Você controla a doença, mas passa a ter o vírus pro<br />

resto da vida, é isso que dizem os médicos...<br />

MARINHO: Putz... Tô ferrado... Pensava que sendo espada eu<br />

não pegaria isso nunca... Pô cara, que mal... Vacilei feio...<br />

PAULO: Caramba, Marinho... Você vacilou feio mesmo...<br />

Neste momento entram duas enfermeiras bem bonitinhas no<br />

palco, com seringas e camisinhas nas mãos.<br />

ENFERMEIRA 01: Pois é, Marinho! Todas as pessoas devem usar<br />

camisinha para manter relações sexuais, seja lá com quem for,<br />

porque ninguém está livre de ter o vírus da AIDS... É tão fácil de<br />

usar...<br />

ENFERMEIRA 02: E mais: não se deve compartilhar seringas<br />

em hipótese nenhuma, jamais... (A enfermeira joga todas as<br />

seringas no lixo.) Aliás, esse negócio de usar drogas também não


está com nada... A gente tem que se cuidar... Vamos, enfermeira<br />

um, ainda temos que passar em outros lugares...<br />

As enfermeiras saem do palco. Os dois meninos se entreolham.<br />

MARINHO: De onde essas duas surgiram? (Paulo faz um gesto<br />

de “sei lá”.) Será que eu tô vendo coisa? Bonitinhas, né? (Paulo<br />

consente com a cabeça. Pausa breve. Marinho demonstra<br />

preocupação.) E agora, que é que eu vou fazer? (Muito triste.)<br />

PAULO: Agora você tem que cuidar da sua saúde e cuidar muito<br />

pra não passar esse negócio pra ninguém... Daqui pra frente,<br />

meu chapa, é só de camisinha mesmo...<br />

MARINHO: É, foi o que o médico me disse. E também disse que<br />

eu também vou ter que tomar vários remédios pro resto da<br />

vida, tipo um coquetel de remédio... (Marinho está arrasado,<br />

murchinho, destruído.) Pô cara, que droga... Eu não esperava<br />

por isso...<br />

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PAULO: Ninguém esperava, amigo... (Olhando desolado para<br />

o exame do Marinho. Paulo resolve então levantar o astral do<br />

amigo.) Bom, que tal a gente ir jogar uma bola pra você esfriar<br />

a cabeça? Tem jogo hoje, vamos?<br />

MARINHO: Jogar bola? Sei não, tô meio desanimado, cara... Tô<br />

fora...<br />

PAULO: Pô Marinho, a vida continua, né? Vamos encontrar a<br />

galera e esfriar a cabeça. Nós, os seus amigos, estaremos sempre<br />

junto, sempre do seu lado, qual é? A gente é amigo ou não é?<br />

MARINHO: Valeu, Paulão, valeu mesmo, mas eu tô meio sem<br />

vontade...<br />

PAULÃO: Qualé, vamos?<br />

MARINHO: Tá legal, eu vou. Vou lá em casa trocar de roupa e<br />

pegar minha chuteira... Vou começar a cuidar melhor da minha


saúde! (Joga um maço de cigarro no lixo.)<br />

PAULO: Tô gostando de ver... (Se referindo ao cigarro que<br />

Marinho jogou no lixo.) Então te vejo na quadra em meia hora,<br />

tá?<br />

MARINHO: Já é. Tô indo, guarda lugar pra mim no seu time, tá<br />

legal?<br />

PAULO: Fica tranqüilo! Meia hora, tá?<br />

MARINHO: Valeu, mano!<br />

Paulo sai. Marinho dá mais uma olhada no exame e pensa um<br />

pouco. Guarda o exame no bolso. Levanta a cabeça. Fala para<br />

si mesmo.<br />

MARINHO: Putz... Ainda bem que minha família, meu médico e<br />

meus amigos são legais e estão me dando essa força! (Alguém<br />

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da coxia joga uma bola de futebol para Marinho.) O negócio<br />

é rolar a bola pra frente e me cuidar... Fazer o quê? (Para a<br />

platéia.) Fui, galera!<br />

Sai pelo outro lado do palco


ESTÓRIA 04<br />

Três amigos estão juntos conversando numa sala. Estão chocados<br />

como destino de Flávio, colega de turma que está seriamente<br />

envolvido com drogas.<br />

HUGO: Chocante, cara... Dava pra perceber que ele estava usando<br />

alguma coisa esquisita, mas crack... Isso eu não imaginava...<br />

TINA: Realmente, crack é dureza... Mas me disseram que ele já<br />

está usando Oxi, sabia?<br />

VIVI: Crack é o fim da linha... Oxi então, sem condições. Puxa<br />

vida, o Flávio era tão atlético, jogava bola, nadava, andava de<br />

skate...<br />

HUGO: Pois é... Não entendo como o cara foi cair nessa de<br />

usar droga... Parou de andar com a gente, mudou de turma,<br />

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tomou pau na escola, largou o estágio... Só pensava em fumar<br />

maconha...<br />

VIVI: Foi depois que ele terminou com a Lelê, nessa época<br />

ele se envolveu com aquela galera do Ricardão, aqueles caras<br />

estranhos, povo sinistro...<br />

HUGO: Verdade. Saí uma vez com o Flávio uma vez e essa<br />

galera chegou na balada onde a gente estava. Eles secaram uma<br />

garrafa de uísque em menos de dez minutos. Iam toda hora no<br />

banheiro de bando e voltavam fungando, de nariz pingando,<br />

parecia que estavam cheirando cocaína, crentes que eu não<br />

estava percebendo nada...<br />

TINA: Eles se acham os espertos mas todo mundo flagra os<br />

caras...<br />

VIVI: Eu nem vou mais no bar que essa turma frequenta, mó<br />

sujeira... Vai que chega a polícia, que alguém morre de over


dose, sei lá...<br />

HUGO: Esses caras que usam e que vendem droga estão em<br />

todos os lugares, Vivi. A gente é que tem que saber como se<br />

impor, entendeu? Qualquer barzinho, rave, balada, praia, show,<br />

em todo lugar rola droga...<br />

TINA: Concordo, Hugo... As drogas estão em todos os lugares,<br />

a gente é que tem que sair fora... Até na escola tem gente que<br />

leva e tem gente que usa, que vende, que compra, todo mundo<br />

sabe...<br />

VIVI: Eu nem chego perto desse povo... Prefiro ficar na minha...<br />

Não quero confusão... Basta meu irmão que fumava maconha<br />

feito um doido o dia inteiro, largou o estágio, a escola, ficou<br />

cabeludo, barrigudo, quase matou minha mãe do coração, sou<br />

traumatizada com isso... O clima em casa era horrível nessa<br />

época.<br />

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HUGO: Mas ele agora tá legal, né?<br />

VIVI: Agora sim, até que enfim... Mas deu um trabalho danado<br />

pra minha mãe, ela teve que pagar psicólogo, remédio, um<br />

monte de coisa. Porque na verdade ele não fumava só maconha,<br />

ele também cheirava pó e tomava extasy nas baladas pra ficar<br />

ligadão... Minha mãe achou tudo isso um dia dentro de um<br />

sapato dele...<br />

TINA: Ainda bem que ele se livrou dessas porcarias, está<br />

fazendo faculdade e trabalhando... Já o Flávio... Sei não... Esse<br />

tal de crack é a pior de todas as drogas, dá dependência química<br />

muito rápido, dizem que é incontrolável.<br />

HUGO: O irmão do Flávio me falou que ele está até roubando<br />

em casa... Até o cachorro puddle da mãe dele o Flávio trocou<br />

por crack, ou por oxi, sei lá; parece que ele tentou vender a<br />

moto do pai dele pra trocar por droga, não entendi direito a<br />

confusão. Rolou até polícia na jogada.


TINA: Acho que o Flávio está completamente viciado nessas<br />

porcarias...<br />

Toca a campainha. Hugo vai abrir a porta. É Flávio destruído,<br />

sujo, mal vestido, cabisbaixo, baixo astral total. Entra para<br />

conversar com os amigos. Diz em tom de brincadeira.<br />

FLAVIO: Ahá! Estavam falando de mim, hem? Escutei pelo outro<br />

lado da porta!<br />

HUGO: Pô Flavio, desculpa, é que...<br />

FLÁVIO: (Perde o tom de brincadeira e assume um ar sério, triste<br />

e preocupado.) É que eu tô ferrado mesmo, mano...<br />

As meninas penalizadas se entreolham caladas.<br />

HUGO: Mas como é que foi rolar isso? Que onda... Faz tempo,<br />

cara?<br />

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FLÁVIO: Faz... Quer dizer, mais ou menos... Eu sempre fui sussi,<br />

fumava meu baseado, meu cigarrinho, tomava minha bera...<br />

Nas baladas às vezes rolava um pó, um extasy, um doce, mas<br />

nada de mais, entende?<br />

VIVI: Nada de mais? Eu acho tudo demais: cigarro, maconha,<br />

álcool, cocaína, extasy, LSD... Uma farmácia...<br />

FLÁVIO: Eu achava bem normal... Só que um dia eu tava boladão,<br />

já tinha tomado umas oito latas, já tinha fumado um baseado e<br />

o Ricardão me convidou pra fumar com ele.<br />

TINA: O Ricardão, aquele...<br />

FLÁVIO: É, aquele, escuta só a parada... Olha só o que rolou. Ele<br />

falou...<br />

VOZ EM OFF DO RICARDÃO: Aê, brou. Larga esse baseadinho de<br />

mocinha e vem fumar isso aqui, isso aqui sim é que bate legal


na cabeça, brou...<br />

FLÁVIO: No começo me deu medo mas daí ele me desafiou...<br />

VOZ EM OFF DO RICARDÃO: Que é isso, mano? Vai bancar o<br />

boiola? Até as minas estão fumando, isso aqui não dá nada. E<br />

ainda por cima é bem mais barato que o pó, doce, bala...<br />

FLÁVIO: Eu fiquei em dúvida, já tinha ouvido falar que crack<br />

viciava rápido, mas daí não resisti...<br />

VOZ EM OFF DO RICARDÃO: Taí, véio. Preparei essa latinha com<br />

minha melhor pedrinha especialmente pra sua estréia.<br />

FLÁVIO: Daí eu experimentei o crack.<br />

HUGO: Se você estivesse sóbrio jamais teria entrado nessa de<br />

experimentar crack, aposto... Viu no que dá andar bêbado e<br />

chapado por aí na balada com gente da pesada? Que vacilo...<br />

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FLÁVIO: Coloca vacilo nisso, véio, tô quebrado... No começo<br />

era barato, depois eu tinha que fumar o dia todo por causa da<br />

fissura, daí ficou caro pra caramba. Muito caro.<br />

VIVI: É o que todo mundo diz: o crack parece que custa barato<br />

mas custa caro demais, porque a pessoa tem que fumar o dia<br />

todo. Ninguém consegue sustentar esse vício.<br />

FLÁVIO: É verdade, Vivi... Comecei a pegar grana escondido da<br />

minha mãe, vendi minha bicicleta, meu skate, meu som, minha<br />

TV, meu computador, jaquetas, CDs, DVDs, calça jeans, tênis,<br />

tudo que eu tinha... Vendi o DVD da minha mãe, o cachorrinho<br />

dela que ela adorava eu troquei por pedra, vendi o vídeo game<br />

do meu irmão, até a moto do meu pai eu coloquei no prego e<br />

disse pra ele que tinham roubado...<br />

TINA: Pegou pesado, hem?<br />

FLÁVIO: Peguei. Foi aí que o meu pai descobriu tudo e agora


foi-se...<br />

HUGO: Como assim “agora foi-se”? Ele vai mandar te prender?<br />

FLÁVIO: Não, é que... Na verdade eu tô passando aqui pra<br />

me despedir de vocês, vou pra outro lugar, uma clínica de<br />

desintoxicação passar dois meses, tá tudo decidido...<br />

VIVI: Clínica de desintoxicação? Dois meses? E a escola?<br />

FLÁVIO: Ah, sei lá... Já levei pau em quase todas as matérias<br />

e nas que ainda tenho nota boa, não tenho presença, rodei<br />

por falta... Também larguei o estágio na fábrica... Tô ferrado...<br />

Tô sujo no pedaço, na escola, na minha casa, é melhor vazar,<br />

dar um tempo, me recuperar e me livrar desse vício que tá me<br />

acabando com a vida.<br />

TINA: Puxa, Flávio... A gente vai ficar torcendo por você e te<br />

esperando na volta pra comemorar sua recuperação...<br />

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FLÁVIO: Eu vou me esforçar pra ficar bom logo e poder voltar a<br />

estudar e a fazer estágio... Não agüento mais essa vida...<br />

VIVI: Isso mesmo! Faremos uma festa daquelas pra te receber<br />

na volta.<br />

FLÁVIO: Valeu, valeu... Vocês estavam certos quando me diziam<br />

pra largar a maconha, o pó, as balas, os doces e parar de andar<br />

com aquela galera...<br />

VIVI: Mas você dizia que a gente era careta e não te entendia...<br />

E ainda olhava pra gente com cara de desprezo...<br />

FLÁVIO: Eu sei, eu sei... Tava meio iludido,entende? Fora do ar,<br />

alienado mesmo... Olha, não sou uma cara invejoso, mas dá<br />

vontade de poder ficar aqui como vocês, que são pessoas livres,<br />

podem ir pra escola, namorar, ir nas baladas, nos parques, nos<br />

shows... Mas eu... Bom... Eu vou nessa. Às cinco horas vou<br />

encontrar minha mãe pra ir pra clínica.


HUGO: Boa sorte, cara. Tamo aqui na maior torcida te<br />

esperando...<br />

VIVI: Boa sorte, Flavinho...<br />

TINA: Ai amigo, dá um abraço aqui que eu já fiquei com<br />

saudade...<br />

Flávio abraça os amigos, todos estão emocionados. Clima de<br />

despedida.<br />

FLÁVIO: Aí, fui.<br />

Flávio sai do palco, mais confiante do que entrou. Os três amigos<br />

ficam ali parados, perplexos.<br />

VIVI: Puxa... Essa história me deixou meio triste, me lembrou<br />

tudo que a gente passou lá em casa até meu irmão largar as<br />

drogas... Acho que vou pra academia suar um pouco pra tentar<br />

levantar meu astral.<br />

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TINA: Eu vou pra casa estudar pra prova e cuidar da minha irmã<br />

mais nova porque minha mãe resolveu voltar pra faculdade<br />

depois de velha. Tem cabimento a minha mãe fazer isso? Pô,<br />

tomara que o Flávio saia dessa...<br />

HUGO: Tomara mesmo, o cara é muito gente boa. Não combina<br />

com ele andar com aquela gente noiada e ficar roubando, o<br />

Flávio sempre foi um cara honesto, é nosso brother de infância,<br />

se meteu com o crack de besta. Mas ele vai sair dessa, vocês<br />

vão ver só!<br />

VIVI: Droga é uma doença mesmo, Deus me livre... Tadinho do<br />

Flavinho...<br />

HUGO: Pode crer... É isso aí, gatas. Vou pra escola treinar que<br />

hoje é dia de basquete e eu quero dar um pau naqueles babacas<br />

arrogantes da oitava série. Depois vou pegar a guitarra e ensaiar<br />

com a minha banda! Fui.


Os três se despedem. Depois desta estória pode entrar a estória<br />

da bebida, onde acabam todos bem, felizes e livres dos vícios na<br />

Ilha do Mel...<br />

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ESTÓRIA 05<br />

CENA 01<br />

Grupo de jovens reunidos fumando, bebendo, tocando um som<br />

num barzinho. Pagode rolando. Carolina, Bruno, Gabriela e<br />

Murilo. Todos cantam, bebem, mas apenas um deles, o Murilo,<br />

fica bêbado. Estilo da turma: eclético, mas todos de cabelo<br />

comprido. Carolina é loira.<br />

BRUNO: Então, vamos tentar passar um fim de semana na Ilha<br />

do Mel? Dizem que é o bicho, morro de vontade de conhecer.<br />

CAROLINA: Conheci um cara que tinha um camping na Ilha, ele<br />

falou que cobra por dia, lembra Gabriela?


GABRIELA: Aquele cara mais velho que tinha uma irmã alta e<br />

loira?<br />

MURILO: (Já bebum.) Loira? Sabe por que caixão de defunto de<br />

loira é em formato de “Ypsilon”?<br />

GABRIELA: Lá vem você. Murilo...<br />

MURILO: Pra ela ser enterrada com as pernas abertas.<br />

Entenderam? É tão piranha que não fecha as pernas nem<br />

quando morre. Entenderam? (Cai na gargalhada sozinho. Os<br />

outros amigos ficam sem graça por causa de Carolina, que é<br />

loira. Voltam ao assunto)<br />

GABRIELA: Foi mal...<br />

MURILO: (Fica rindo sozinho da piada infame.) Caixão em forma<br />

de “Y”, é de matar... Entenderam?<br />

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BRUNO: Mas, a Ilha do Mel então. Alguém aí tem o telefone do<br />

cara?<br />

CAROLINA: A gente tem o telefone da irmã dele...<br />

MURILO: (Inconveniente, entornando a garrafa.) Deixa que eu<br />

ligo pra loiraça gostosa... Será que ela vai saber ler o telefone do<br />

irmão? Loira sabe ler número de telefone? (Cai na gargalhada<br />

de novo.) Entenderam? A loira deve ser tão burra que não sabe<br />

nem contar até dez... (Cai na gargalhada sozinho, de novo.)<br />

GABRIELA: Pô, Murilo, que mala, sai fora com essas piadas de<br />

loira que já perderam a graça faz tempo, cara. E você é um<br />

grosso, não tá enxergando não? Qual é de ficar zoando com a<br />

nossa cara? Não tá vendo que a Carolina é loira, tosco...<br />

MURILO: (Murilo se toca. Se dirige à Carolina que está<br />

indignada. Fala repetidamente, como bêbado.) Foi mal, foi<br />

mal... Aí, foi mal, desculpa Carol... Olha Carol, eu juro que te


acho inteligentíssima, inteligentésima, praticamente um gênio<br />

Carol, é isso: você é um verdadeiro gênio... Apesar de você ser<br />

loira, né Carolzinha? Você me perdoa, Carol? Me desculpa aí,<br />

mana véia, Einstein...<br />

CAROLINA: Tá bom Murilo, tá bom... Chega desse papo...<br />

MURILO: (Ao garçom.) Traz mais uma béra aí, véio, pra<br />

comemorar que eu fiz as pazes com a Carolzinha gênio da<br />

turma. Bem geladinha faz favor.<br />

BRUNO: Pra mim já deu, Murilo. Vou parar de beber porque<br />

amanhã tenho que ralar.<br />

CAROLINA: Eu também já estou legal, não sou muito de tomar<br />

cerveja...<br />

GABRIELA: Suspende aí a cerva, Murilo, já deu pra cabeça. Além<br />

de tudo você já provocou aqueles caras da mesa de trás, vamos<br />

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sair fora... Quer morrer, cara?<br />

MURILO: Tô inteiraço, Gabi. E aqueles caras da mesa de trás<br />

são uns boiolas... Eu sou forte pra bebida, não sou do tipo de<br />

vocês...<br />

BRUNO: Que tipo, Murilo?<br />

MURILO: Desse tipinho antigo que não bebe, não fuma...<br />

BRUNO: Eu gasto minha grana com coisa melhor do que cigarro.<br />

E já bebi bastante pra quem vai ter que trabalhar amanhã o<br />

dia todo e ainda ir pra aula de noite, entendeu? Vou deixar aí<br />

minha parte da conta, tá? (Bruno deixa um dinheiro na mesa.<br />

As meninas fazem o mesmo, se despedem de Murilo que fica no<br />

bar bebendo sozinho, animado com o pagode que tá rolando.<br />

Quando o garçom - ator que fazia Bruno – entra em cena e diz<br />

que vai fechar o bar, Murilo levanta-se trôpego da mesa, fala<br />

alguma coisa ininteligível pra mesa de trás e sai. Sonoplastia de


iga e confusão tipo: Pega esse babaca, Puta cara chato, vai<br />

sair correndo, Vamos dau um pau nesse mala pra ele deixar de<br />

ser pentelho... Coisas assim...)<br />

GARÇOM: (Arrumando a mesa e falando para si mesmo.) Putz...<br />

Qualquer dia esse menino vai se dar mal enchendo a cara e<br />

arrumando briga desse jeito... Beber pra ficar nesse estado?<br />

Mané...<br />

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CENA 02<br />

Carolina e Gabriela estão juntas conversando numa lanchonete.<br />

Pode-se utilizar o mesmo cenário do bar, mudando-se as roupas<br />

das meninas. Elas têm cadernos e apostilas nas mãos.<br />

GABRIELA: Sabe o que eu acho mais incrível?<br />

CAROLINA: O que, Gabi?<br />

GABRIELA: Que o Murilo é tão legal quando não bebe, né?<br />

Educado, inteligente, divertido... Mas bêbado ele é insuportável<br />

mesmo...<br />

CAROLINA: Me desculpe, Gabi, mas ultimamente ele vive<br />

bêbado, logo vive insuportável. Pelo menos em todas as<br />

baladas, botecos, raves, em tudo quanto é coisa que rola ele tá<br />

enchendo a cara. Difícil aguentar, né?


GABRIELA: É... E eu sou uma mané, mesmo. Fiquei com ele na<br />

balada e no outro dia ele nem lembrava, sabia? De tanto que<br />

ele já tinha bebido... Pior é que eu acho que tô ficando a fim<br />

dele... Ai que saco... Ninguém merece...<br />

CAROLINA: Ninguém merece mesmo... Acho que você tem que<br />

descolar outro ficante... O Murilo é furada, ele só quer zoar com<br />

a gente, só se mete em briga e em confusão depois que bebe,<br />

implica com todo mundo... Isso não vai dar certo, Gabi...<br />

GABRIELA: Mas ele é tão gente boa sóbrio, tão educadinho, tão<br />

bonitinho... Ih, disfarça que ele vem vindo...<br />

Murilo chega com um olho roxo e pede para se sentar com as<br />

meninas.<br />

MURILO: Oi Carol, oi Gabi. Posso sentar com vocês um<br />

pouquinho?<br />

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76<br />

GABRIELA: Claro... Senta aí...<br />

CAROLINA: E aí, Murilo, tudo beleza?<br />

MURILO: Mais beleza agora que eu vou tomar meu goró ao<br />

lado dessas duas princesas na melhor hora do dia: a hora da<br />

cerveja...<br />

CAROLINA: O que é isso no seu olho?<br />

MURILO: No meu olho? Ah, conjuntivite, bobagem... (Para<br />

o garçom.) Traz uma gelada cumpadi que hoje eu vou me<br />

divertir.<br />

CAROLINA: Pô, Murilo, parece até que você não sabe mais se<br />

divertir sem beber...<br />

MURILO: Qual é, Carol? Qual é? Tô te incomodando com minha<br />

cervejinha?


GABRIELA: (Cutuca Carolina). Que nada Murilo, fica sussi... Vou<br />

tomar uma com você pra te acompanhar...<br />

CAROLINA: E eu vou pra academia porque não quero ficar<br />

barriguda pro verão... Cerveja dá uma barriga danada. Quero<br />

ficar sarada pra ir pra piscina da casa da minha tia no Natal... Ela<br />

construiu uma piscina e nas férias eu vou pra casa dela.<br />

MURILO: (Remedando Carolina.) “Quero ficar sarada pra ir pra<br />

piscina da minha tia no Natal”... Pô Carol, o Natal tá meio longe,<br />

né?<br />

CAROLINA: Sai pra lá com essa cerveja barriguda, Murilo... Aí,<br />

galera, fui.<br />

GABRIELA: Beijo, Carol. Te ligo amanhã.<br />

MURILO: Pô Gabi, a Carol é legal, mas é meio chatinha, né?<br />

Meio caretinha, cheia de repressão, né? E agora ainda vai virar<br />

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78<br />

atleta, que insuportável...<br />

GABRIELA: Que atleta nada, ela só foi pra academia malhar um<br />

pouco. Na real ela acha que você bebe demais...<br />

MURILO: Eu?<br />

GABRIELA: Quer dizer... não é só a Carol que fala isso de<br />

você......<br />

MURILO: Que eu bebo demais? Eu bebo demais? Todo mundo<br />

bebe demais. Todo mundo que eu conheço toma todas, eu não<br />

sou o único... Olha só em volta, todo mundo que está nesse bar<br />

está bebendo...<br />

GABRIELA: É real... Mas nem todo o mundo está dentro desse<br />

bar bebendo, né Murilo?<br />

MURILO: Como assim?


GABRIELA: Ah, sei lá... Tem gente andando de skate, de bicicleta,<br />

jogando bola, indo pra escola estudar, tocando guitarra, vendo<br />

TV, tem gente fazendo teatro, indo ao cinema, à ginástica... Nem<br />

todo mundo tá dentro desse bar enchendo a cara, entendeu?<br />

MURILO: Ainda bem, né gata? Porque se o mundo inteiro<br />

estivesse aqui enchendo a cara não ia sobrar cerveja pra nós,<br />

ia? Ahá, nessa te peguei...<br />

GABRIELA: Fala sério, Murilo... Você não tem vontade de ir ao<br />

cinema, ler um livro maneiro, namorar, fazer um som irado,<br />

surfar, nada? Com você é só beber, beber, beber até ficar<br />

bebum? Olha, tô perguntando de boa, hem?<br />

MURILO: Que papo é esse, Gabi? Eu acho divertido sim, até<br />

curto um cineminha, um namorinho, mas sei lá... Quando vejo<br />

já foi, entende? Já entornei o caneco, já tô nervoso...<br />

GABRIELA: (Fala docemente.) É, sei lá... Cada um na sua. Só que<br />

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80<br />

eu acho que no mundo tem mais gente pra fora do que pra<br />

dentro do bar, sabia? E eu tenho vontade de conhecer gente<br />

de todo tipo, ir num monte de lugar, conhecer o Brasil inteiro,<br />

sei lá... Acho meio limitado vir sempre no mesmo lugar ver as<br />

mesmas pessoas e fazer a mesma coisa... E ainda achar divertido,<br />

entende? (Ofendida.) E pior, nem lembrar como se divertiu, de<br />

tão bêbado que estava...<br />

MURILO: Pô, Gabi, pegou pesado, né? Manera, gata... Caraca,<br />

véio... Assim eu fico me sentindo um babaca...<br />

GABRIELA: (Levanta-se.) Então pensa nisso, tá? Agora fui,<br />

amanhã tenho aula.<br />

MURILO: (Já meio bebum fala para Gabi que vai saindo. Ele<br />

fica, como sempre, sozinho no bar.) Não vai tomar a saideira?<br />

(Gabi nem responde, sai batido. Murilo pede para o garçom.)<br />

Garçom, a saideira, faz favor. (Fala para si mesmo) Caraca,<br />

justo agora que eu achei que ia pegar a gata de novo... Me


disseram que a gente ficou junto na balada que rolou... Mó<br />

gostosa a Gabizinha, mó filé... Pô, pena que eu não lembro de<br />

nada, rapaz... Gata maneira essa, tô ficando a fim dessa mina...<br />

(Termina a cerva e olha pra mesa ao lado.) Que foi aí, cambada<br />

de tosco? Tão olhando o quê? Nunca viram? Vai encarar aí, ô<br />

boiola de blusinha laranjinha? (Vai saindo do palco. Novamente<br />

som de confusão.)<br />

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82<br />

CENA 03<br />

Entram no palco Gabriela, Bruno e Carolina. Esperam por Murilo<br />

que está atrasado. Todos carregam bagagem, prancha de surf,<br />

barracas, ou seja, equipamentos para acamparem na Ilha do<br />

Mel. Murilo chega atrasado – o olho já está normal.<br />

MURILO: Aê, cheguei!<br />

BRUNO: Caraca, Murilo, a gente achou que ia perder a hora do<br />

ônibus, onde é que você tinha se metido?<br />

MURILO: Tava com a minha coroa, fui levar ela na missa...<br />

BRUNO: Missa hoje? Mas nem é domingo.<br />

MURILO: Ela não sai mais da igreja... Tá pagando uma<br />

promessa...


GABRIELA: Promessa?<br />

MURILO: É, promessa, nunca ouviram falar?<br />

GABRIELA: Promessa pra quê, Murilo?<br />

MURILO: Ah, ela fez uma promessa que se eu parasse de beber<br />

ela iria pra Igreja toda noite durante seis meses direto, pra<br />

agradecer... Ela dizia que eu tava sofrendo de alcoolismo, que<br />

eu ia virar um bêbado, aquelas coisas dramáticas de mãe. Agora<br />

tem que pagar a promessa...<br />

CAROLINA: E quanto tempo ainda falta?<br />

MURILO: Bom... Dois meses que eu e a Gabi estamos ficando...<br />

Um mês e meio que eu parei de encher a cara pra não perder<br />

a gata...<br />

BRUNO: É... Ainda falta muita missa pra sua véia ir rezar, né?<br />

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Vai faltar vela na venda do seu Maneco... Vai faltar parafina no<br />

pedaço.<br />

CAROLINA: Seis meses indo à igreja todo dia agradecer... Ela<br />

devia estar desesperada com o seu alcoolismo, coitada...<br />

GABRIELA: Coitada nada. Ela está tão feliz agora que já agradeceu<br />

até pra mim, olha só a moral da Gabizinha aqui. Foi lá em casa,<br />

conversou comigo, com a minha mãe, foi massa... A coroa tá<br />

orgulhosa do Murilo...<br />

MURILO: É real, dá gosto de ver, a véia tá empolgada, rapá!<br />

Parou até de me encher o saco... Agora a véia me respeita!<br />

BRUNO: E nós também, Murilão... Tava difícil te agüentar no fim<br />

das bebedeiras, sabia brou? Você fica muito pentelho quando<br />

exagera... E ainda por cima arruma briga e confusão, um mala<br />

sem alça!


CAROLINA: É Murilo, você boladão fica muito chato...<br />

GABRIELA: Mas sóbrio ele não é lindo? Não é tudo de bom?<br />

(Começa a dar uns beijinhos no Murilo.)<br />

Voz de mulher avisando da partida de um ônibus: “Pontal do<br />

Sul, ônibus da 20:30 horas. Portão C. Senhores passageiros, o<br />

ônibus já está estacionado no Portão C, Pontal do Sul, 20:30<br />

horas...”<br />

MURILO: Aê, vamos nessa pra não perder o buzão... Quero<br />

surfar muito nessa Ilha, meu...<br />

BRUNO: Pode crer véio, olhei na internet e nesse fim de semana<br />

vai rolar muita onda lá...<br />

GABRIELA: E muito sol, muito som maneiro, muita lua cheia,<br />

muito beijo na boca... (Gabriela tira uma cartelinha de camisinhas<br />

do bolso, dá uma conferida discreta e guarda na bolsa.)<br />

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86<br />

CAROLINA: Corre galera, o portão C é do outro lado, caraca, a<br />

gente vai perder o buzão...<br />

Saem correndo e gritando aloprados para pegar o ônibus.<br />

FIM


LUCIANANARCISO<br />

Vamoscelebraravida<br />

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FichaTécnica<br />

A peça “Vamos Celebrar a <strong>Vida</strong>”, direcionada aos trabalhadores<br />

da indústria atendeu a 6000 trabalhadores em 20 espetáculos,<br />

estreando na empresa Landis+Gyr, no dia 23/10/2009 em<br />

Curitiba. O texto escrito por Luciana Narciso e produzido pela<br />

empresa Pé no Palco foi uma demanda da Gerência de Esporte<br />

e Lazer que em parceria com a Gerência de Cultura desenvolveu<br />

um espetáculo fundamentado nos princípios do Programa<br />

<strong>SESI</strong> Lazer Ativo que visa à promoção da saúde com ênfase na<br />

valorização de estilos de vida mais ativos e saudáveis. A peça<br />

circulou pelas cidades Curitiba, Guarapuava, Irati, São Mateus<br />

do Sul, Ponta Grossa, Campo Largo, São José dos Pinhais, Quatro<br />

Barras, Rio Branco do Sul, Foz do Iguaçu, Marechal Cândido<br />

Rondon, Toledo, Cascavel, Francisco Beltrão, Pato Branco, Maringá,<br />

Paranavaí, Cianorte, Umuarama e Campo Mourão.<br />

Elenco:<br />

Alexandre Bonin<br />

Julyana Spriscigo<br />

Maíra Lour<br />

Pedro Bonacin<br />

Vanessa Corina<br />

Equipe Técnica:<br />

Texto: Luciana Narciso<br />

Direção: Fátima Ortiz<br />

Direção de Produção: Giselle Lima<br />

Composição e Direção Musical: Rosy Greca<br />

Sonoplastia: Alexandre Bonin<br />

Arranjos: Ervin Fast<br />

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Operador de Som: Joacir Lima<br />

Cenário, Figurino e Adereço: Paola Burkot<br />

Cenotécnico: Bira Paes<br />

Coreografia: Juliana Adur<br />

Produção: Pé no Palco Atividades Artísticas<br />

Realização: <strong>SESI</strong> PR<br />

Gerente de Esporte e Lazer: Debora Desirre De Lara


CENA 01.<br />

Esta cena não conterá falas. Os atores se comunicarão através<br />

de gestos, expressão corporal e de elementos cênicos - adere-<br />

ços - para transmitir a ideia central do trabalho.<br />

A cena teve como trilha sonora a música de Rosi Greca que<br />

abordava de maneira poética a temática dos cinco elementos<br />

– lazer ativo.<br />

Situação “A”: Os 5 atores estão andando rapidamente como se<br />

anda numa cidade: 2 vão para um lado, 3 vão para outro. Dois<br />

atores que andam em direções opostas se esbarram no cami-<br />

nho. Um deles ainda dá um soquinho no outro, sai xingando e<br />

esbravejando. O outro para, pede desculpas e fica olhando com<br />

cara de quem não entendeu a grosseria, enquanto o mal hu-<br />

morado sai esbravejando cegamente. Os adereços deverão ser<br />

escolhidos pela direção + produção. Sugere-se balõezinhos de<br />

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94<br />

diálogos, nuvenzinha negra sobre a cabeça do mal humorado,<br />

assim por diante.<br />

Situação “B”: Os atores se colocam em fila como que esperan-<br />

do um ônibus. Um rapaz educado dá seu lugar na fila para uma<br />

senhora idosa que chega, aumentando a fila em um lugar. O de<br />

trás começa a xingar, achando ruim. Quando o ônibus chega,<br />

este ator de trás fura a fila, passa na frente de todo mundo e<br />

derruba a senhora que estava entrando no ônibus. As pessoas<br />

ficam indignadas com ele, que sai insultando a todos e entra<br />

no ônibus que sai, deixando a senhora e os demais para trás<br />

parados no ponto.<br />

Situação “C”: Rapaz 01 está parado num canto, numa postu-<br />

ra péssima, fumando um cigarro e bebendo cerveja. Nisso ele<br />

vê duas garotas correndo, cuidando da saúde. Ajeita o cabelo,<br />

faz pose, faz de tudo para chamar a atenção delas, que pas-<br />

sam sem nem olhar para ele. Logo adiante as duas encontram<br />

rapaz 02 fazendo exercício e os três personagens saudáveis se


cumprimentam, batem um papinho e saem juntos correndo<br />

alegremente. O rapaz 01 apaga o cigarro, cheira sua mão, acha<br />

fedida. Joga a cerveja no lixo. Esboça vontade de fazer algum<br />

exercício, ajeita a postura, começa a levantar os braços, abaixar<br />

até o chão, alongar o pescoço, etc, como quem percebe que<br />

sua conduta não faz mais sucesso e que precisa fazer algo para<br />

mudar. Sai correndo desajeitadamente...<br />

Situação “D”: Escritório. Quatro atores trabalham desanima-<br />

damente, com postura de gente derrotada, sem se comunica-<br />

rem ou se comunicando rispidamente, sem colaboração recí-<br />

proca. Entra na sala uma funcionária nova, animada, cheia de<br />

vida. Senta-se em sua mesa e com o passar das horas, sai de lá<br />

tão desanimada e derrotada quanto os demais, pois o clima de<br />

hostilidade e de desânimo é absorvido por ela também. No dia<br />

seguinte, a mesma coisa. No terceiro dia ela chega com flores,<br />

acende as luzes, abre as janelas, coloca uma música, joga a su-<br />

jeira no lixo, coloca todo mundo numa situação mais positiva e<br />

ao final, todos saem animados e vitoriosos do ambiente de tra-<br />

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96<br />

balho. OBS: Nesta cena pode-se recorrer até mesmo à troca de<br />

figurino por parte dos atores. Também ao uso de balõezinhos<br />

de diálogos ou de pensamento; nuvenzinhas negras, e demais<br />

elementos que demonstrem a negatividade de antes e a positi-<br />

vidade de depois.<br />

Situação “E”: Moça bem gorda pega da mala roupas que não<br />

servem nela, enquanto duas moças magrinhas passam anima-<br />

das conversando. Entre uma roupa e outra que pega para olhar,<br />

ela sofre, come alguma coisa bem calórica tipo bombom, bola-<br />

cha, etc. Sugere-se fazer adereços em forma de sorvete, bom-<br />

bom, croissants, refrigerantes, Milk shakes, hambúrgueres, en-<br />

tre outros para esta cena. Moça resolve, depois de muito sofrer,<br />

fechar a boca (pode ser com um “X”de esparadrapo), desligar<br />

a TV (Também a TV deverá ser adereço feito para a cena.), e<br />

passa a tirar da mala alimentos saudáveis (adereços) e também<br />

adereços em forma de elementos de ginástica – maiô, óculos<br />

de natação, raquete, bola, tênis, pesos, etc. (Estes adereços po-<br />

dem ser confeccionados para a cena.). Faz exercícios. Emagre-


ce. Aparece toda feliz depois, mais magra e mais saudável, ao<br />

lado da galera.<br />

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98<br />

CENA 02.<br />

ESPORTES/TEMPO PARA SI MESMO<br />

Nesta cena mostraremos como as pessoas podem usar seu<br />

tempo livre para se cuidarem e curtirem a vida saudavelmen-<br />

te. Duas amigas estão fazendo ginástica no gramado de um<br />

parque. Uma faz ioga, a outra faz algum outro tipo de alonga-<br />

mento. Estão de alto astral entretidas na sua atividade física:<br />

respiram fundo, sentem-se bem, cada uma na sua “onda”. De<br />

repente chegam dois amigos que param atrás das duas e come-<br />

çam a olhar intrigados, achando esquisito. Eles fumam cigarros<br />

e bebem cerveja long neck. São meio desleixados, começam a<br />

imitar os movimentos e a caçoar das meninas.<br />

RAPAZ 01: Caramba, olha isso rapaz. Contorcionismo. (Tenta<br />

imitar uma posição de ioga mas quase cai no chão. Não tem<br />

preparo físico.)


RAPAZ 02: Exibicionismo, isso sim. Olha só que posição mais es-<br />

tranha... Que mulherada assanhada, bumbum pra cima, credo.<br />

(Imita grotescamente um exercício.)<br />

RAPAZ 01: (Para a moça 01) Oi, você aí, gata. Não vai ficar com<br />

torcicolo ou lombalgia?<br />

RAPAZ 02: Entraram pra alguma seita? Parecem malucas... (Elas<br />

nem olham, estão concentradas. Então rapaz 02 dá um grito<br />

desagradável no ouvido de uma delas.) Oi garotas, chegamos!<br />

As meninas levam um susto, se desconcentram dos exercícios e<br />

voltam-se para os rapazes.<br />

MOÇA 01: Ah, só podiam ser vocês mesmo... Que saco.<br />

MOÇA 02: Pelo menos estão dando uma volta no parque, cur-<br />

tindo a natureza. Já é alguma coisa, que bom. Quem sabe se<br />

acalmam respirando um ar puro das plantas...<br />

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RAPAZ 01: Ar puro? Plantas? Quero mais é fumar meu cigarro<br />

na paz... (Apaga o cigarro no chão e pisa, sujando o ambiente.<br />

Amassa a latinha de cerveja e também joga no chão.)<br />

RAPAZ 02: A gente veio aqui pra fazer um programa de domin-<br />

go, entende? Um programa decente, de homem. Beber cerveja,<br />

comer umas porções mistas de mandioquinha frita, batatinha,<br />

calabresa e torresmo; fumar nosso cigarro em paz e beber até<br />

esquecer da vida. A gente chega no parque e vai direto pro bo-<br />

teco. Sem essa de curtir natureza, gata.<br />

RAPAZ 01: Exatamente. Esse negócio de ficar curtindo florzinha,<br />

plantinha, passarinho, abelhinha, ficar olhando pra nuvenzinha,<br />

borboleta e bem te vi não é com a gente não.<br />

RAPAZ 02: Muito menos ficar no meio de um local público fazen-<br />

do essas posições esdrúxulas vestindo roupinhas justinhas, in-<br />

decentes... Nosso programa de domingo é decente, ouviram?


RAPAZ 01: Decente e divertido.<br />

MOÇA 01: Pois saibam vocês que meu programa de domingo<br />

também é divertido: curtir a natureza, caminhar pelo parque,<br />

fazer alongamento, curtir o som dos pássaros... Volto pra minha<br />

casa de cabeça fresca e curto minha família. Depois encontro<br />

amigos, conversamos, colocamos as novidades em dia, fazemos<br />

alguma coisa diferente...<br />

MOÇA 02: Eu também adoro fazer exercício nas minhas horas<br />

livres...<br />

MOÇA 01: E por falar em horas livres, acho que vou indo... O<br />

pessoal está me esperando pro almoço...<br />

Moça 02: Eu também vou. Combinei com a galera de fazer um<br />

peixe assado lá em casa. (Para os rapazes.) Vocês querem ir? Vai<br />

bastante gente...<br />

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RAPAZ 01: (Interrompendo.) Muito obrigado, mas a gente pre-<br />

fere comer calabresa, batatinha, mandioca, torresminho e to-<br />

mar cerveja. Muita cerveja.<br />

RAPAZ 02: Exatamente, muito obrigado, mas no boteco a gente<br />

fica mais à vontade.<br />

MOÇA 02: Então tá legal. Bom domingo pessoal...<br />

MOÇA 01: Bom domingo... Tchau.<br />

Rapazes observam as moças saindo.<br />

RAPAZ 01: Ajeitadinhas, né? Bem saradinhas... Podiam ir pro<br />

boteco tomar umas com a gente, aproveitar o domingo decen-<br />

temente, uma pena que sejam tão chatas...<br />

RAPAZ 02: Pena mesmo, não sabem curtir a vida, são umas ca-<br />

retas... Então, vamos encher a cara? É nosso dia livre.


RAPAZ 01: Pra já. (Fala para o ar.) Garçom, mais uma gelada, faz<br />

favor. Ah, e traz uma batatinha frita, um cinzeiro limpo e mais<br />

um maço de cigarros, filtro amarelo dessa vez...<br />

Sentam-se à uma mesa e começam a beber. Neste momento<br />

chega no bar uma garota que reproduz o comportamento dos<br />

dois rapazes: fuma, bebe no gargalo, joga a bituca do cigarro no<br />

chão, etc. Dirige-se aos dois:<br />

MOÇA: Oi meninos, cheguei. Hoje tirei o dia pra encher a cara,<br />

legal que vocês também estão aí... Tô de saco cheio daquele blá<br />

blá blá lá em casa, quero mais é me afundar num engradado<br />

de cerveja gelada sem ninguém pra me encher o saco, sacou...<br />

Garçom, traz uma gelada e um maço de cigarro, faz favor...<br />

Os dois começam a observar o comportamento da garota e per-<br />

cebem o quanto é deselegante. Saem de fininho, meio trôpe-<br />

gos.<br />

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104<br />

CENA 03.<br />

RELACIONAMENTOS<br />

Dois casais sentados separadamente numa lanchonete. Esta<br />

cena terá como foco a questão dos relacionamentos interpes-<br />

soais e de como os maus relacionamentos acabam se alastran-<br />

do para todas as esferas da vida da pessoa e para todos que<br />

estão à sua volta. Um dos casais parece feliz e equilibrado, o<br />

outro casal é bastante mal educado e ríspido.<br />

MARIA: O que vamos pedir hoje?<br />

JOÃO: Que tal aquela pizza mista com calabresa e um chope<br />

bem geladinho?<br />

MARIA: Acho legal, mas vou tomar um suco pra voltar dirigindo,


pode tomar seu chope que eu dirijo. Olha ali, não é o Carlos seu<br />

colega de trabalho sentado com a esposa naquela mesa?<br />

JOÃO: O próprio, mas disfarça, melhor ele não vir aqui, o cara<br />

anda uma pilha de nervos, xinga tudo que vê pela frente e hoje<br />

estou a fim de curtir minha esposinha querida na paz de Deus,<br />

comendo minha pizza e tomando meu chope sem esquentar a<br />

cabeça. O Carlos anda insuportável. (Muda de assunto.) Escuta<br />

só esse som do Robertão que tá tocando, adoro essa música...<br />

(Chama educadamente a garçonete.) Moça, por favor...<br />

A garçonete vai até a mesa do casa 01. Começam a fazer o pe-<br />

dido para a moça que os atende atenciosamente e anota tudo<br />

num papel. Enquanto isso Carlos, da outra mesa, fica gritando<br />

para a garçonete que está evidentemente ocupada atendendo<br />

Maria e João.<br />

CARLOS: Êta mulherzinha surda essa que colocaram pra traba-<br />

lhar nessa espelunca. Lanchonete caída - garçonete caída; im-<br />

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106<br />

pressionante... (Grita para a garçonete.) Ô fofura do avental, é<br />

surda ou é preguiçosa mesmo?<br />

CARLA: Credo Carlos, não vê que a moça está ocupada? En-<br />

quanto ela não vem vamos escolher alguma coisa pra comer? O<br />

que você vai querer?<br />

CARLOS: Escolhe você qualquer gororoba aí, pra mim tanto faz.<br />

Quero só tomar meu conhaque e ficar boladão pra depois assis-<br />

tir o jogo do timaço na TV com o Parafina e a turma da Toca da<br />

Onça. (Grita pra garçonete.) Ô surda, traz um conhaque duplo<br />

pro papai aqui...<br />

CARLA: Gororoba? Jogo de futebol? Toca da onça? Conhaque<br />

duplo em pleno domingo? (Ofendida.) Não gosto desse Para-<br />

fina nem dessa turma. (Super chateada.) Nós tínhamos combi-<br />

nado de jantar fora e depois assistir aquele DVD novo com as<br />

crianças...


CARLOS: Aquele DVD xarope daquele desenho meloso de bichi-<br />

nhos coloridos e falantes? Fala sério. Aquilo é coisa pra criança<br />

e pra mulherzinha. Além disso o Parafa tá me esperando com a<br />

turma na Toca, tá combinado e não posso furar com eles. Fiquei<br />

de levar uma vodca, inclusive, não posso esquecer...<br />

CARLA: Da última vez que você foi lá chegou tão tarde em casa<br />

que nem conseguiu levantar na segunda feira e ir pro serviço...<br />

Acordou atrasado, passou mal na empresa e ainda cortou a<br />

mão no trabalho porque tinha dormido pouco, estava de estô-<br />

mago vazio, sem concentração no que fazia, estava acabado...<br />

Sinceramente...<br />

CARLOS: Aquele trabalho xarope é todo dia a mesma coisa,<br />

tô cheio daquela monotonia, preciso de mais emoção... Olha<br />

aquele imbecil ali com a esposa. O mala trabalha no meu setor,<br />

perceba a cara de panaca do alegria... Eu, pelo contrário, já me<br />

posicionei: discuti com todo mundo naquela empresa de ara-<br />

que, porque só tem ignorante lá dentro então tive que colocar<br />

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108<br />

os pingos nos ís. Nos is. Pingos, entende? Pin-gos. Nos ís. (A<br />

esposa faz cara de tédio, como quem não aguenta aquele papo.<br />

Carlos grita de novo para a garçonete.) Ô minha filha, você é<br />

paga pra atender, sabia? Eu tenho horário, queridinha... (Para a<br />

esposa, rispidamente.) E você? Já escolheu alguma coisa?<br />

CARLA: Não, é que...<br />

CARLOS: Então vai escolhendo rápido que o jogo tem hora para<br />

começar... E nada de escolher coisa cara, você tem mania de<br />

escolher coisa de gente granfina. Escolhe um sanduíche ou<br />

um pastel aí que tá louco de bom, entendido? Bobagem ficar<br />

gastando dinheiro com coisa de madame, e você também está<br />

meio gordinha pra ficar se empanturrando blá blá blá...<br />

Fim dos diálogos na cena. A garçonete chega à mesa e começa<br />

a anotar o pedido do casal 02. O casal continua discutindo após<br />

a saída da garçonete. A moça volta trazendo um copo d´água e<br />

um sanduíche modesto para a esposa de Carlos. Para ele uma


garrafa de conhaque, uma garrafa de vodca fechada para via-<br />

gem e um copo cheio de conhaque para Carlos. Carlos ainda<br />

está esbravejando com a esposa, que está com cara de triste<br />

e cansada a estas alturas. Na mesa 01 clima bom, harmonia.<br />

Na mesa 02, clima pesado de discussão e desarmonia. Carlos,<br />

em sua fúria e brigando com a esposa, não vê a garçonete se<br />

aproximando, dá uma braçada pra trás e esbarra na moça, que<br />

derruba todo o pedido no chão. Carlos se levanta indignado, ar-<br />

ranca violentamente a esposa da mesa e sai passando por cima<br />

das coisas e da garçonete que está no chão, abismada e depri-<br />

mida com os maus tratos. Carlos sai do local desacatando as<br />

pessoas e esbravejando. O outro casal fica incrédulo assistindo,<br />

sem palavras. Levantam-se e ajudam a garçonete, os 3 fazendo<br />

comentários sobre a grossura do cidadão. Fim de cena.<br />

109


110<br />

CENA 04.<br />

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL<br />

Duas mulheres fazendo compras. Uma delas está acompanhada<br />

de sua filha. A outra, de seus dois filhos. Os dois filhos da perso-<br />

nagem 02 estão sempre comendo alguma coisa. São gordinhos<br />

e desajeitados. Todos estão escolhendo os alimentos e colocan-<br />

do nas suas cestas de compras. Se encontram. A personagem 02<br />

só tem “venenão” na cesta: pães, doces, refrigerantes, cervejas,<br />

congelados, etc. A outra tem verduras, frutas, cereais e sucos.<br />

01 – Oi, tudo bem? Fazendo umas comprinhas?<br />

02 – Tem que fazer, né? As crianças não passam sem estas bola-<br />

chinhas cor de rosa... Tem que ter bolacha lá em casa todo dia.<br />

O meu caçula, esse fofinho aqui, fica o dia inteiro jogando vídeo<br />

game e comendo docinhos, um amor, nem me incomodo com<br />

ele...


01 – O dia inteiro jogando vídeo game, comendo docinhos e<br />

você não se incomoda? Puxa...<br />

02 – (Olha curiosa para a cesta da 01). Você comprou um coe-<br />

lho? Que exótico!!! Olhem meninos, ela comprou um coelho!!!<br />

01 – Um o quê? (Mãe e filha se entreolham.)<br />

02 – Um coelho... Não é por nada, é que esta quantidade de<br />

verdura deve ser pra alimentar um coelho...<br />

01 – Um coelho? Não... Essa verdura e estas frutas são para<br />

minha família comer, né filhinha?<br />

02 – E sua família come isso?<br />

01 – E a sua não come?<br />

02 – Jamais... Isso lá em casa não é comida, é mato... A gen-<br />

te curte pizza, macarrão, picanha, lasanha, pururuca, buchada,<br />

chocolate, sorvete, amendoim, enfim, coisas boas, entende?<br />

Coisas gostosas e saborosas... Não esses matinhos verdinhos<br />

sem gosto...<br />

01 – Mas lá em casa a gente também come coisas saborosas e<br />

também come lasanha, picanha, pizza, chocolate... Só que no<br />

dia a dia gosto de fazer coisas mais saudáveis pra turma, colocar<br />

111


112<br />

umas frutas na salada, fazer um suco de frutas pra acompanhar<br />

a refeição. Eles chegam mortos de fome da natação e haja co-<br />

mida...<br />

02 – Natação nesse frio? Não faz mal pra saúde? Deve dar dor<br />

de ouvido, de garganta, de cabeça. Pneumonia na certa, coita-<br />

dinhos...<br />

01 – Que nada, pra criançada é ótimo praticar esportes. Eles<br />

chegam mortos de fome, comem, fazem a tarefa da escola e<br />

vão direto pra cama. Só acordam no outro dia pra ir pra aula,<br />

uma beleza... Não me incomodam nadinha também...<br />

02 – E eles comem esse mato depois da natação nesse frio?<br />

Coitadas dessas crianças, tenho pena delas...<br />

01 – Pena porquê? Comem muito bem... É tudo uma questão<br />

de hábito, sabe como? Porque você não tenta? Criança acostu-<br />

ma com tudo, bobagem achar que não...<br />

02 – Olha que ia ser bom... O pessoal lá em casa está meio aci-<br />

ma do peso, chamam meu filho mais velho de Mister Bolota<br />

na escola.... Tá todo mundo meio gordinho na verdade, até o<br />

cachorro é gordinho lá em casa... Eu estou magra as custas de


muito remédio pra emagrecer, lipoaspiração abdominal, plás-<br />

tica de pescoço, aquelas coisas... Passo fome, muita fome para<br />

ser magra.<br />

01 – Então aproveite que as crianças ainda estão em fase de<br />

crescimento e as ensine a comerem coisas legais para a saúde.<br />

Daí você e seu marido fazem o mesmo para dar bom exemplo<br />

pros menores... Aproveitem pra fazerem juntos caminhadas, ir<br />

a parques, praças, é grátis, reúne a família, emagrece e faz bem<br />

pra saúde. A gente lá em casa comprou uma bicicleta pra cada<br />

um. No fim de semana vamos ao parque pedalando, passea-<br />

mos bastante, visitamos os amigos, é bem legal... Quem sabe<br />

seu filho ganha outro apelido se vocês começarem logo... Tão<br />

bonitinho que ele é, só emagrecer um pouquinho que fica um<br />

gatinho...<br />

(A menina dá uma boa olhada pro garoto e faz sinal de quem<br />

concorda com a mãe.)<br />

02 – Sabe que eu gostei da idéia? Acho que vou tentar. Esse<br />

negócio de passear de bicicleta parece bem divertido mesmo...<br />

FILHO 01: Mãe, eu vou ganhar uma bicicleta? Ôba...<br />

113


114<br />

FILHO 02: Mãe, você e o papai vão passear com a gente de bi-<br />

cicleta? Oba, oba, oba... (Joga os pirulitos e docinhos para cima<br />

de tanta alegria...)<br />

02 – Pelo jeito a sua idéia foi bem aceita pela minha família...<br />

01 – Que bom, espero que vocês curtam a vida juntos e de ma-<br />

neira saudável... Agora tenho que ir pra casa preparar o almoço<br />

da turma antes de ir trabalhar e depois do trabalho ainda vou<br />

tentar ir pra academia. Ah, e ainda vou deixar essa pirralhinha<br />

na natação... Vamos filha? Até mais.<br />

0a – Até mais... (Para a platéia.) Que disposição... Eu jurava,<br />

mas ju-ra-va que ela tinha comprado um coelho... Acho que<br />

vou comprar umas verduras, é mais barato do que remédio pra<br />

emagrecer... E vocês, meninos, vão largando esses pirulitos. Um<br />

pirulito depois do almoço é mais que suficiente... Ah, e vamos<br />

economizar em docinhos pra sobrar dinheiro porque temos que<br />

comprar quatro bicicletas, quatro bonés e quatro pares de tê-<br />

nis... Chega de moleza nessa família!<br />

MENINO 01 – Oba, bicicleta...<br />

MENINO 02 – Oba tênis... Mãe, você compra uma bola tam-<br />

bém?


CENA 05.<br />

CONTROLE DO STRESS<br />

Nesta cena mostraremos como as pessoas devem controlar seu<br />

stress, uma vez que é inevitável senti-lo nos dias de hoje. A cena<br />

se passa no trânsito de uma cidade, onde todos os dias assisti-<br />

mos a episódios de intolerância e stress. Um guarda de trânsito<br />

tenta colocar ordem na situação caótica que se instaura pelo<br />

fato de ter se quebrado um semáforo no horário do rush.<br />

No carro, um casal estressado. No ônibus duas amigas passam<br />

pelo engarrafamento conversando e ouvindo um som. Uma de-<br />

las faz tricô.<br />

CARRO 01.<br />

CARLOS: Caramba, só comigo mesmo, só comigo... Olha que<br />

desgraça que está esse trânsito. Só comigo...<br />

115


116<br />

CARLA: Só com você o quê? Só com você o quê dessa vez?<br />

CARLOS: Esse trânsito, esse trânsito, esse engarrafamento, hora<br />

do rush, sei lá. Só comigo essa desgraça acontece, que saco.<br />

CARLA: Só com você? E o restante das pessoas que estão en-<br />

garrafadas saíram de casa só pra engarrafar o trânsito pra você?<br />

Elas não têm mais nada pra fazer na vida do que engarrafar as<br />

ruas por onde você passa? Você é um convencido, chato e ego-<br />

cêntrico.<br />

CARLOS: Ego o quê? Olha o respeito. (Aponta para o guarda.)<br />

Olha lá, olha lá. Um imbecil de um guarda só pra atrapalhar<br />

mais ainda a vida da gente com aquele apito barulhento... Tô<br />

ferrado, não chego hoje... (Coloca a cabeça pra fora e começa a<br />

gritar para o ônibus.) Anda aí, anta... Vagabundo. Pra que dirigir<br />

um ônibus se é pra ir nessa velocidade? Devia ir a pé. A pé, tá<br />

escutando tartaruga?<br />

DENTRO DO ÔNIBUS<br />

MARIA: Puxa vida, parece que o semáforo quebrou.


PAULA: Deve ser por isso que hoje o trânsito está meiopara-<br />

do...<br />

MARIA: Bem parado...<br />

PAULA: Ah, comprei um CD novo, vamos escutar? A gente divi-<br />

de o fone de ouvido.<br />

MARIA: Coloca aí... (Maria pega o celular) Ah, vou avisar o pes-<br />

soal lá em casa que vou me atrasar, daí ninguém fica nervoso...<br />

Hoje em dia, com essa violência, é melhor a gente avisar... (Ma-<br />

ria faz a ligação. As duas começam a curtir o som e a cantar<br />

junto com o CD.)<br />

CARRO 01<br />

O casal está cada vez mais estressado. Carlos tenta puxar briga<br />

com o motorista do ônibus.<br />

CARLOS: Você mesmo, idiota. A pé. A pé. Tartaruga.<br />

CARLA: Para, amor, para. O cara está ficando irritado, ele está<br />

trabalhando.<br />

117


118<br />

CARLOS: Irritado tô ficando eu nessa muvuca. Tô atrasado. (Pro-<br />

cura nervosamente por alguma coisa.) Putz, esqueci o celular...<br />

CARLA: Também... Você saiu num stress tão grande que nem<br />

lembrou de pegar suas coisas...<br />

CARLOS: E não é pra ficar estressado? Uma desgraça de um<br />

trânsito, um time que perde o campeonato, pressão no traba-<br />

lho, pressão do gerente do banco, um filho de recuperação...<br />

Você acha que eu encontro dinheiro no lixo pra pagar o colégio<br />

daquele vagal? Você acha? Acha que é bom ter um filho va-<br />

gabundo? (Olha pro carro ao lado e grita.) E você, imbecil? Tá<br />

olhando o quê? Nunca viu? Nunca viu?<br />

CARLA: Nosso filho não é vagabundo, a professora disse que<br />

ele está muito estressado e por isso fica desconcentrado nas<br />

aulas...<br />

CARLOS: Estressado aquele pirralho? Estressado ando eu, que<br />

tenho que trabalhar, sustentar uma família, pagar contas, pagar<br />

escola de filho, bater cartão todo dia... Êta guardinha retardado,<br />

já mandou a gente parar de novo, ai meu saco, vou mandar esse<br />

guarda tomar noção... (Toca a buzina insistentemente.)


DENTRO DO ÔNIBUS<br />

MARIA: Deixa eu te contar, entrei na academia lá perto do tra-<br />

balho... O tempo que eu passo parada no trânsito dentro desse<br />

ônibus, vou passar na aula de ginástica me exercitando. Fiz as<br />

contas e vou chegar em casa quase na mesma hora de sempre<br />

porque perco um tempão parada no trânsito. O ônibus das oito<br />

horas vai bem mais rapidinho, entende?<br />

PAULA: Ótima ideia... Antes eu aproveitava esse tempo dentro<br />

do busão pra fazer crochê nos panos de prato que minha mãe<br />

vende, sabe? Mas agora decidi começar a estudar inglês. Como<br />

ando sem grana, baixei da internet umas aulas grátis, são bem<br />

legais... Gravo tudo no I-POD e ouço na hora do rush, porque<br />

também perco pelo menos uma hora dentro do ônibus pra vol-<br />

tar pra casa, então aproveito esse tempo pra estudar... Sabe<br />

que está funcionando? Outro dia entendi a letra de uma música<br />

nova do Elton John quase inteira...<br />

MARIA: Do Elton John? Sabe que eu gostei da ideia de apren-<br />

der inglês enquanto volta pra casa, esperta você... Eu faço meu<br />

119


120<br />

tricô no ônibus, assim relaxo e no fim do mês tenho uma roupa<br />

nova. Olha só, tô fazendo esse cachecol pra dar de aniversário<br />

pro Jorge... Mas ultimamente tenho saído de cabeça cheia do<br />

trabalho, então resolvi começar a fazer a aula de ginástica. Meu<br />

trabalho é muito estressante, tem muita cobrança, muita com-<br />

petitividade, um quer comer o fígado do outro... Na ginástica<br />

eu vou pra desligar, relaxar, ficar sarada e depois voltar mais<br />

tranqüila pra casa... Começo na semana que vem. (Aponta para<br />

o carro 02.) Menina, olha só aquilo lá em baixo, falando em<br />

stress, olha que casal mais nervoso...<br />

PAULA: O cara tá com a cabeça toda pra fora do carro gritando<br />

feito um maluco... Parece que está gritando pro guarda. Hum, o<br />

guarda é um gato, dá uma olhada.<br />

MARIA: Coloca gato nisso, um pedaço de mal caminho...<br />

CARRO 01<br />

CARLOS: Agora eu vou colocar ordem nesse pedaço, ninguém<br />

me segura, o que esse povinho está pensando? Que eu sou pa-


lhaço? Vou perguntar pra aquele guardinha idiota o que está<br />

acontecendo e quem sabe ele me deixa passar na frente desse<br />

bando de mané.<br />

CARLA: (Já estressada também, contaminada pelo baixo astral<br />

do marido.) Vai mesmo e aproveita pra dizer pra ele que isso<br />

aqui tá uma palhaçada, ninguém merece trabalhar o dia todo e<br />

cair numa muvuca dessas, diz pra ele que a gente paga imposto<br />

e que essa porcaria de sinaleiro tem que funcionar... Caramba.<br />

Sai do carro para falar com o guarda. Gesticula, aponta, esbra-<br />

veja. Volta para o carro furioso.<br />

CARLOS: Me dê a droga do documento do carro porque o imbe-<br />

cil do guarda não foi com a minha chapa. Eu sabia que era um<br />

ridículo esse guardinha. Não ir com a minha cara...<br />

CARLA: Por quê será? (Procura pelo documento) Cadê o docu-<br />

mento? Não está com você? Estava naquela bolsinha azul.<br />

CARLOS: (Alteradíssimo.) Bolsinha azul? Bolsinha? Azul? Vê se<br />

eu sou homem de carregar bolsinha azul? Cadê a porcaria do<br />

121


122<br />

documento, caramba?<br />

CARLA: (Muito nervosa.) Não sei, não sei... Acho que ficou em<br />

casa junto com o celular e a bolsinha...<br />

CARLOS: (Interrompendo bruscamente a mulher.) Ficou em<br />

casa? Sua incompetente. Em casa? Como assim ficou em casa?<br />

Que porcaria de bolsinha é essa?<br />

Carla e o marido começam a brigar. O guarda vem, interfere. O<br />

casal desacata o guarda. Ao final de muita discussão o guarda<br />

prende o veículo e autua o delito num bloquinho, obrigando os<br />

dois a assinarem um documento. O casal que sai a pé esbrave-<br />

jando pelo meio do trânsito.<br />

GUARDA DIZ: Da próxima vez os senhores serão presos em fla-<br />

grante por desacato a autoridade...<br />

DENTRO DO ÔNIBUS<br />

MARIA: Nossa, o que será que aconteceu com aquele casal? O


carro deles foi preso. E o guarda, hem? Cheio de atitude, gostei<br />

de ver o gato...<br />

PAULA: Gostei de ver também. Olha só, o carro do casal vai ser<br />

levado pelo guincho da polícia, que clima...<br />

MARIA: Menina, o guarda tá querendo falar alguma coisa pra<br />

nós, o que será?<br />

Do lado de fora, o guarda faz um gesto amistoso para as meni-<br />

nas pois percebeu que está sendo paquerado. Elas retribuem.<br />

PAULA: Vou te dizer, com um guarda bonito desse é até bom a<br />

gente ficar presa no trânsito... (Continuam trocando informa-<br />

ções com o guarda.)<br />

Continuam a conversar e saem de cena felizes da mesma forma<br />

como haviam entrado.<br />

123


124<br />

CENA 06<br />

COMPORTAMENTO PREVENTIVO<br />

João encontra-se com Carlos na rua. Carlos aparenta estar can-<br />

sado, desanimado e adoentado. Passa cabisbaixo, com pose de<br />

derrotado. João o vê e cumprimenta.<br />

Paralelamente a esta cena dos dois, Carla aparece desabafando<br />

com duas amigas de trabalho.<br />

HOMENS<br />

JOÃO: Carlos? É você? Como está, rapaz? Sumiu?<br />

CARLOS: Pois é... Me deram as contas no trabalho por isso que<br />

eu sumi...<br />

JOÃO: Ah, mas você deve estar satisfeito com isso, porque an-<br />

dava cansado daquele local, daquela vida e daquelas pessoas...<br />

Descansou?


CARLOS: Pois é... (Tosse bastante e coloca a mão no estômago.)<br />

Eu andava cansado mesmo, mas descobri que é por causa de<br />

outra coisa...<br />

JOÃO: Outra coisa? O que?<br />

CARLOS: Gastrite, pressão alta e úlcera.<br />

JOÃO: Tudo junto?<br />

CARLOS: Tudo começou com uma azia, sabe como é... Cerveja,<br />

conhaque, churrasco, stress, cigarros, refeições fora da hora,<br />

stress no trânsito... Estava me sentindo meio esquisito e fui ao<br />

médico. Ele me examinou e disse que eu tenho essas doenças<br />

e, pra completar, tenho que parar de fumar e começar a fazer<br />

exercícios. Veja se combina comigo: parar de fumar e fazer exer-<br />

cícios...<br />

JOÃO: É que pressão alta é fogo, tem que cuidar... Esse negócio<br />

de hipertensão mata.<br />

CARLOS: Pois é, rapaz... Cerveja, conhaque, churrasco, stress,<br />

tabagismo, refeições fora da hora, tudo tão gostoso, né? O dou-<br />

tor falou que tudo isso junto me afetou a saúde, sabe como? Eu<br />

não me cuidei...<br />

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JOÃO: Puxa vida, e a Carla, sua mulher? Ela deve estar preocu-<br />

pada...<br />

CARLOS: A Carla? Já era, me mandou pra fora de casa... Disse<br />

que eu andava muito grosso, estressado, bebendo muito, dan-<br />

do pouca atenção para a família e que dessa maneira ela prefe-<br />

ria ficar sozinha... “Antes só do que mal acompanhada”, disse a<br />

ingrata. Já era...<br />

Congela a cena.<br />

MULHERES<br />

Carla está com duas colegas de trabalho contando que se sepa-<br />

rou de Carlos. Está arrasada e preocupada. Uma das colegas dá<br />

um vasinho de flor para Carla tentando animá-la. Enquanto elas<br />

conversam, congela-se a cena dos 2 homens conversando.<br />

AMIGA 01: Carla, você anda tão estranha...<br />

AMIGA 02: Aconteceu alguma coisa com você?


CARLA: (Muito triste.) Aconteceu... Me separei do Carlos. O Car-<br />

los está super doente e não se cuida, está com gastrite, úlcera<br />

e pressão alta... Fora o eterno mal humor, isso é o pior. Ou eu<br />

me separava, ou ia ficar neurótica também, aliás, eu acho que<br />

já estava ficando meio neurótica e meio doente também, acre-<br />

ditam? Foi uma questão de sobrevivência...<br />

Congela a cena.<br />

HOMENS<br />

JOÃO: Que pena essa situação com sua esposa... Mas você não<br />

percebeu que tudo isso poderia acontecer?<br />

CARLOS: Como assim, perceber? Acha que eu sou pai de santo<br />

pra prever o futuro? Tá me estranhando, rapaz? Eu estava era<br />

curtindo a vida...<br />

JOÃO: Eu sei, não é isso, mas é que...<br />

CARLOS: O que?<br />

JOÃO: Sei lá, todo mundo sabe que a gente tem que ter um<br />

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128<br />

comportamento preventivo para evitar doenças tipo stress,<br />

pressão alta, diabetes, problemas de coluna, obesidade, etc.<br />

Comportamento preventivo, nunca ouviu falar disso?<br />

CARLOS: Comportamento o quê?<br />

JOÃO: Preventivo. De prevenir, entende? Evitar comer certas<br />

coisas em determinados horários, evitar o abuso de álcool, não<br />

fumar, praticar exercícios físicos regularmente, dar atenção aos<br />

familiares, ter bons amigos, ser gentil no trabalho... Sabe como<br />

é, se a gente não se cuida o trem descarrilha e daí é dureza en-<br />

trar na linha de novo...<br />

CARLOS: Pois o meu trem descarrilhou, é isso... Tô com gastri-<br />

te, úlcera, pressão alta, tenho que parar de fumar e não consi-<br />

go, tenho que fazer exercício, tenho que me alimentar decen-<br />

temente, arrumar outro emprego e ainda tentar reconquistar<br />

minha patroa e meus filhos... Olha que trabalheira que eu fui<br />

arrumar... Tô danado sem minha patroa, João.<br />

Congela a cena.


MULHERES<br />

CARLA: E ainda por cima ele me chamava de patroa, ninguém<br />

merece... Eu só levava patada, mal humor, aquilo estava fazen-<br />

do mal pras crianças... Mas pra falar a verdade, estou preocupa-<br />

da com ele, sabia? Não sei se ele vai se cuidar...<br />

AMIGA 02: Imagino, imagino...<br />

AMIGA 01: Quem sabe agora que ele levou um susto... Vai ver<br />

ele toma noção e começa a dar valor pra vida que ele tinha an-<br />

tes, pra você, pras crianças, pro trabalho... Daí ele começa a se<br />

cuidar, para de beber e de fumar, começa a ter uma vida mais<br />

legal...<br />

Congela a cena<br />

HOMENS<br />

JOÃO: Realmente, se você tivesse começado a pensar nisso an-<br />

tes sua vida estaria mais fácil...<br />

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130<br />

CARLOS: Tô danado, tô ferrado... Tô acabado. É isso: eu sou um<br />

trem descarrilhado. (Chora.)<br />

JOÃO: Pô Carlos, nada é impossível, você tem que levantar essa<br />

moral, esse astral, olhar pra frente e não pra trás. Comece e<br />

pensar no que o médico te falou, ainda dá tempo de recomeçar<br />

e reverter essa situação. (Olha no relógio.) Tá na minha hora.<br />

Estou indo até a casa do compadre jogar uma bola. Topa jogar<br />

com a gente?<br />

CARLOS: Será? Tô meio fora de forma, acho que não vou enca-<br />

rar...<br />

JOÃO: Que nada, a gente joga pra se divertir, esfriar a cabeça,<br />

relaxar e estar com os amigos, sabe como é... Ninguém ali joga<br />

pra ganhar...<br />

CARLOS: Será, o pessoal da Toca...<br />

JOÃO: Uma hora você vai ter que começar a se cuidar...<br />

CARLOS: Acho que então eu vou tentar bater essa bolinha... Faz<br />

tempo que não jogo bola... Futebol, nos últimos anos, só pela<br />

televisão, com a cerva do lado e o cigarro na mão... Até rimou,<br />

rapaz!


JOÃO: Vamos lá, Carlão, que você está necessitando de um<br />

exercício, olha só essa pança, pelo amor de Deus. E por favor,<br />

apaga esse mata rato, você vai enfartar se continuar fumando<br />

esse negócio fedorento véio...<br />

Congela a cena<br />

MULHERES<br />

CARLA: Se ele endireitasse eu voltava correndo... Adoro meu<br />

maridinho, mesmo ele sendo assim tão desajeitado, meio bar-<br />

rigudo e meio grosso às vezes...<br />

AMIGA 01: Sinceramente, o Carlos é esquentado mas é muito<br />

gente boa, acho que ele vai refletir e vai mudar. Mas você não<br />

pode ficar assim tão triste, tem que se animar um pouco, conti-<br />

nuar a viver, entende?<br />

AMIGA 02: (Animando o ambiente.) Tive uma ideia. Hoje tem<br />

espetinho na lanchonete Dona Margarida, que tal a gente ir?<br />

Sempre rola um pagode, um povo animado, vamos Carla? Você<br />

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precisa se divertir um pouco...<br />

CARLA: Será? Faz tanto tempo que eu não me divirto de verda-<br />

de... (Pensa um pouco.) Sabe que não é má ideia?<br />

AMIGA 01: Então combinado, a gente sai daqui, toma um ba-<br />

nho rapidinho e vai direto pro pagode, que tal?<br />

CARLA: Beleza!<br />

AMIGA 02: Combinado.<br />

Congela a cena<br />

Carlos apaga o cigarro joga o maço no lixo. Os dois saem juntos,<br />

Carlos está aparentemente mais animado. Saem conversando e<br />

se divertindo.<br />

Carla se arruma feliz da vida para o churrasco. FIM.


CENA FINAL<br />

Para a finalização do espetáculo, pode-se utilizar a cena 01.<br />

A cena 01 tem, portanto, duas funções: a primeira consiste em<br />

abrir as apresentações que não contenham toda a estória (05<br />

cenas completas.). Isto porque a cena faz referência aos 05<br />

temas abordados pelo Lazer Ativo do <strong>SESI</strong>, configurando uma<br />

maneira de abordagem, mesmo que breve, sobre o conteúdo<br />

geral.<br />

A segunda função é de finalizar o espetáculo quando este for<br />

apresentado integralmente, uma vez que a cena irá fortalecer<br />

as mensagens anteriormente transmitidas.<br />

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LUCIANANARCISO<br />

Alô, Alô, Brasil<br />

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FichaTécnica<br />

A peça “Alô, alô, Brasil!” foi um projeto sócio educativo do <strong>SESI</strong><br />

Paraná dirigido ao público adolescente e produzido junto com a<br />

Fundação de Estudos Sociais do Paraná – FESP, que estreou no<br />

dia 07 de setembro de 2006 no teatro do SEST/SESNAT, realizando<br />

60 apresentações levando mais de 15 mil jovens aos teatros<br />

das cidades Curitiba, Ponta Grossa, Lapa, Rio Negro, Castro, Tibagi,<br />

Maringá e Pato Branco.<br />

texto de Luciana Narciso e Anna Zétola<br />

direção geral de Anna Zétola<br />

direção de movimento de Mauren Esmanhotto<br />

figurinos e preparação de elenco de Álvaro Bittencourt<br />

cenários de Paulinho Maia<br />

design gráfico e animação de vídeos de Guilherme Caldas<br />

iluminação de Anry Aider<br />

trilha sonora de Edson Borth<br />

produção executiva de Zétola atelier de artes<br />

assistência de produção de Silvia Tabaca<br />

realização <strong>SESI</strong> PR<br />

coordenadora de projetos estratégicos Maria Cristhina de<br />

Souza Rocha<br />

equipe gestora Daniele Farfus e Maria Schirley Cherobim<br />

Figueiredo<br />

coordenação e produção FESP<br />

coordenador de cultura FESP Mauro Dacol<br />

elenco: Adolfo Pimentel, Rafael Magaldi, Fabiana Pifer, Aline<br />

Troiani e Johny Nogueira *<br />

*(elenco da estreia da peça)<br />

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CENÁRIO<br />

A peça tem a linguagem estética de uma história em quadri-<br />

nhos virtual animada.<br />

Para tanto o cenário contará com um telão “Rosco” - marca de<br />

telas especiais para projeções em teatro, abrangendo toda a<br />

boca de cena da plateia.<br />

No telão serão projetadas imagens animadas em formato de<br />

história em quadrinhos durante todo o espetáculo, intercaladas<br />

com as cenas em tempo real que se passam no palco atrás do<br />

telão.<br />

O começo de cada cena se dará com a projeção de uma tela<br />

preta com o número e o nome da cena escritos em branco.


CENA 01 caos urbano<br />

ZÉ ENTRA EM CENA, FICA NO CENTRO DO PALCO, ESTÁ TODO<br />

ESTROPIADO: UMA PERNA E UM BRAÇO ENGESSADOS, UM<br />

CURATIVO NA TESTA; RODEADO DE MALAS E CAIXAS COMO BA-<br />

GAGEM. EM PARALELO AO QUE ZÉ ESTÁ CONTANDO, PROJETA-<br />

SE NO TELÃO ANIMAÇÃO ILUSTRANDO TODO O OCORRIDO.<br />

ZÉ: Cansei dessa bagunça, essa cidade não tem mais jeito. O ser<br />

humano é uma desilusão... Estava voltando à noite do trabalho<br />

para casa. Tinha recebido em dinheiro meu salário. No caminho<br />

pro ponto de ônibus fui assaltado e os assaltantes levaram toda<br />

minha grana. Ainda me deram umas coronhadas com revólver<br />

na cabeça (mostra os curativos) e me deram um minuto pra sair<br />

correndo. Saí. Fui. Virando a esquina caí num buraco que tinha<br />

no meio da rua, um buraco imenso no asfalto... Não enxerguei<br />

o buraco porque a luz do único poste que tinha na rua estava<br />

139


140<br />

queimada. Os ladrões levaram meu celular. Depois de tentar li-<br />

gar de cinco telefones públicos destruídos por vandalismo, con-<br />

segui chamar uma ambulância. Que chegou ao local três horas<br />

depois e me largou num hospital onde finalmente fui atendido.<br />

Seis horas depois de chegar lá, é claro. Depois disso tudo, não<br />

consegui trabalhar no dia seguinte e quando retornei ao traba-<br />

lho fui despedido sumariamente. Como eu não era registrado<br />

em carteira mesmo, meu patrão me deu uns dinheiros e é por<br />

isso que eu vou embora daqui. Vou pra uma ilha deserta. Fui.<br />

APAGA FOCO<br />

NO TELÃO IMAGENS DE UMA ILHA PARADISÍACA, INTACTA. VAI<br />

SUMINDO A IMAGEM DA ILHA E ENTRANDO LENTAMENTE A<br />

LUZ DENTRO DO PALCO, DESVENDANDO ZÉ CHEGANDO NA<br />

ILHA PARA SE INSTALAR E MONTAR SUA BARRACA.<br />

ZÉ: Que maravilha! Livre de todos, numa ilha só pra mim, véio.<br />

Quando comprei esse terreno me senti o próprio Pedro Álvares


Cabral descobrindo o Brasil. Tudo de bom!!! O vendedor me<br />

disse que não mora ninguém aqui, que a viúva do coronel pro-<br />

prietária do PARADISUM ILHUM CONDOMINIUM GOLDEN PLA-<br />

TINUM cansou de ser dona desse Paradise e resolveu vender<br />

tudinho só para mim! arrasador.<br />

Ah, lote 1500, é aqui, essa é a indicação do meu contrato. Vou<br />

armar minha barraca aqui. Beleza, vou ser o próprio Tarzan, o<br />

rei da selva, um verdadeiro herói, ou melhor, vou ser .....espera<br />

aí será que o meu celular novo pega aqui? Como é que eu vou<br />

fazer pra pedir uma pizza? (ENQUANTO FALAVA MONTOU SUA<br />

BARRACA). Cara que emocionante, sou dono de uma ilha, eu<br />

mando nesse lugar, eu faço as regras. Tudo de bom. Barraca<br />

montada, ok.<br />

Sou um homem livre. Livre das regras, das leis, livre de ter que<br />

trabalhar, livre dos horários e principalmente livre dos outros!!!!<br />

Que sono, caraca. Vou tirar um merecido ronco, sonhar com a<br />

minha Jujuzinha e ....será que um dia ela vem me visitar? Não,<br />

não quero. Depois da última que ela me aprontou, resolvi: sou<br />

um homem livre, solteiro, desimpedido....(olha para os lados)...<br />

141


142<br />

e sozinho. (ENTRA NA BARRACA )<br />

A LUZ VAI DIMINUINDO DANDO A IMPRESSÃO DE FIM DO DIA,<br />

ATÉ CHEGAR AO BLACK OUT TOTAL.<br />

NO TELÃO VÃO SE MULTIPLICANDO MILHÕES DE BARRACAS E<br />

REDES DE LUZ NO HORIZONTE DOS MORROS DA ILHA. É A MUL-<br />

TIPLICAÇÃO DE PESSOAS NA ILHA, TODOS DONOS DE LOTES<br />

IGUAIS AO DE ZÉ.<br />

DENTRO DO PALCO A LUZ VAI LEVANTANDO COMO SE FOSSE O<br />

SOL, PERCEBE-SE QUE EXISTEM MAIS QUATRO BARRACAS AO<br />

LADO DA BARRACA DE ZÉ.<br />

TAMBÉM PODE SE VER UM MONTE DE FIOS QUE CRUZAM O<br />

PALCO PARA DAR A IMPRESSÃO DE REDES DE LUZ.<br />

UM VIZINHO DA BARRACA AO LADO FICA JOGANDO LATAS<br />

USADAS DE REFRI NOS ARREDORES DA BARRACA DE ZÉ, QUE<br />

APESAR DE DESNORTEADO PELO SONO SEM ENTENDER O QUE<br />

ESTÁ ACONTECENDO PERCEBE UM NOVO VIZINHO ENTRANDO<br />

NO SEU LOTE.


CENA 02 lei de Gerson<br />

ZÉ: Caraca, que zona... Que qué isso aí, cumpadi? Que desor-<br />

ganização. De onde surgiu essa gente toda? COMEÇA A ESBRA-<br />

VEJAR DEVOLVENDO AS LATINHAS: Aí, sem noção. Tá sujando<br />

minha ilha, meu paraíso particular. Quem são vocês afinal?<br />

JOÃO SAI DE UMA BARRACA E DIZ: Prazer, meu nome é João.<br />

Comprei o lote número 1389 da mulher do coronel Bezerra da<br />

Silva, somos vizinhos, meu chapa.<br />

ZÉ: Vizinhos? Eu não tenho vizinhos. O cara que me vendeu ga-<br />

rantiu que eu seria o único dono no pedaço.<br />

PEDRO SAI DE OUTRA BARRACA BOCEJANDO TRANQUILAMEN-<br />

TE: Bom dia vizinhança. FALA COM ZÉ: Depois de você aparece-<br />

ram mais 1499 pessoas interessadas, sacou... Agora já era. Você<br />

tem 1499 vizinhos. Entendeu ou quer que eu desenhe?<br />

ZÉ: Peraí, estou te reconhecendo, você é o cara que me vendeu<br />

o lote não foi?<br />

PEDRO: Demorou hem... Eu mesmo, Pedro Francisco Garcez a<br />

143


144<br />

seu dispor. Então, isso aqui não é o paraíso? O nome do condo-<br />

mínio foi invenção minha, gostou? Paradisum Ilhum Condomi-<br />

nium Golden Platinum, chique! Chiquíssimo!<br />

ZÉ: Que cara de pau a sua. Seu mentiroso. Você me disse que<br />

a ilha era deserta, foi só por isso que comprei um lote. Se eu<br />

soubesse que isso aqui ia ser um condomínio, ou melhor, uma<br />

favela... Sim porque esse lugar tá parecendo uma favela...<br />

PEDRO: Olha o preconceito. E tu vivia num lugar melhor que<br />

esse? Vivia? Duvido. O senhor por acaso tem o contrato de<br />

compra e venda?<br />

ZÉ: Mas é pra já. Agüenta aí que eu volto já. (ENTRA DENTRO DA<br />

BARRACA, PROCURA LÁ DENTRO DEPOIS SAI COM UM PAPEL<br />

NA MÃO)<br />

PEDRO: Deixa eu ver. (LENDO). Ah, aqui: por esse instrumento<br />

fica averbado o lote HUM MIL E QUINHENTOS para o senhor<br />

José fulano de tal. Lote 1500, significa que existem no mínimo<br />

mais 1499 lotes. Não vejo como você pode se sentir enganado.<br />

Acho que faltou escola pro senhor, faltou aula de matemática.<br />

(VAI SAINDO PARA SUA BARRACA)


ZÉ (CONFUSO) Então porque você disse que não tinha vendido<br />

nenhum lote antes do meu, se meu lote é o 1500?<br />

PEDRO: Promoção lá da imobiliária, resolvemos que os últimos<br />

seriam os primeiros. (ENTRA NA BARRACA, SAI COM UM PAPEL<br />

NA MÃO) Toma, isso lhe pertence.<br />

ZÉ: (LENDO) Uma multa?<br />

PEDRO: Por sujar o meio ambiente. Sua barraca está cheia de<br />

lixo em volta. Você tem uma semana para recorrer caso con-<br />

trário a multa será enviada ao seu endereço, ou melhor, à sua<br />

barraca.<br />

ZÉ: Mas aonde e como eu posso apelar... Ei, pensando bem, es-<br />

sas latas não são minhas, não fui eu que joguei esse lixo aí....<br />

PEDRO: A parte da apelação você pode fazer na minha própria<br />

barraca das 8 h às 10:30 h da manhã, a Srta Amanda irá atendê-<br />

lo. Tenha em mãos seus documentos, RG, CPF, a escritura do<br />

lote e a reclamação feita por escrito.<br />

Zé: Como assim na sua própria barraca?<br />

PEDRO: Muito simples, meu amigo. Sou eu quem administro<br />

essa ilha. Eu mando em tudo e todo mundo me obedece, en-<br />

145


146<br />

tendeu? Quer reclamar? Reclama comigo. Quer apelar? Apela<br />

pra mim. Eu multo, eu cobro, eu resolvo, eu recebo. Aqui é as-<br />

sim que funciona. (SAI DE CENA)<br />

ZÉ: Como é que uma coisa dessas pode funcionar?<br />

APAGA FOCO


CENA 03 contrabando / imposto / corrupção / sonegação<br />

PROJEÇÃO DE IMAGEM DE SHOW DE ROCK/HIP HOP EM ANI-<br />

MAÇÃO COM TRILHA SONORA DE UM ROCK/ HIP HOP QUE<br />

FALE DE CORRUPÇÃO.<br />

ENTRA GERAL, E SE VE ZÉ OBSERVANDO A BARRACA DE CARLÃO<br />

CHEIA DE COISAS PENDURADAS. CARLÃO SENTADO FAZENDO<br />

ANOTAÇÕES NUM BLOCO DE NOTAS.<br />

ZÉ: Ae beleza, tudo bem?<br />

CARLÃO: Ae véio, meu nome é Carlão. Tem fogo?<br />

ZÉ: Não fumo. Prazer sou o Zé! (APERTOS DE MÃO)<br />

CARLÃO: (ANOTA NUM PAPEL) Isqueiros made in China, cigar-<br />

ros Paraguaios, máquina calculadora para o Pedroca, só coisa<br />

fina... E aí Zé, precisa que eu traga alguma coisa pra você na<br />

semana que vem?<br />

ZE: Como assim?<br />

CARLÃO: Seguinte, meu chapa. Eu sempre trago umas coisinhas<br />

147


148<br />

pra abastecer a turma, sabe como? Coisinhas baratinhas, nada<br />

de mais. O que o freguês necessitar, meu camarada. E só cobro<br />

na chegada, com o produto na mão.<br />

ZÉ: Não acredito, já tem até camelô na ilha?<br />

CARLÃO: Camelô? Ó o respeito aí. Isso é coisa do passado, hoje<br />

em dia a gente tá bem organizado, eu vendo de tudo aqui no<br />

meu 1,99. (PENDURA A PLACA DE 1,99). Se bem que tivemos<br />

alguns probleminhas de percurso por conta do nosso venerado<br />

chefinho XumXumXim ter sido preso, mas a mercadoria tá ga-<br />

rantida.<br />

ZÉ: Carlos, deixa ver se eu entendi: isso q você traz é tudo pro-<br />

duto contrabandeado, não é não?<br />

CARLÃO: Esperto o garoto!<br />

ZÉ: Caraca, Carlos. Você não se toca que isso é contravenção?<br />

Você não tem medo de ir preso, sujar seu nome pro resto da<br />

vida?<br />

CARLÃO: Preso? É só lavar a mão dos fiscais, Zé. Na fronteira é<br />

a mesma coisa, é só lavar a mão do pessoal da fronteira e tudo<br />

sussi, véio. Normal!


ZÉ: Impressionante achar isso normal....<br />

CARLÃO: Fora o imposto, né cara? A gente se livra de pagar essa<br />

porcaria de imposto fazendo assim do meu jeito.<br />

ZÉ: Mas com que grana o governo vai construir estrada, rua,<br />

poste de luz, escola, hospital se não tiver dinheiro dos impos-<br />

tos?<br />

CARLÃO: Até parece que eles fazem isso com nossa grana...<br />

Nunca ouviu falar da corrupção? Dinheiro nas Ilhas Caimmãs?<br />

CPI, Pizza? Mensalão? Ministro sendo demitido?<br />

ZÉ: Eu já vi esse filme...<br />

149


150<br />

CENA 04 contribuição fiscal / contraprestação estatal / repre-<br />

sentação política<br />

JUJU QUE ESTAVA DANDO UMA GERAL NA SUA BARRACA DU-<br />

RANTE TODO O DIÁLOGO DOS DOIS ENTRA NA CONVERSA.<br />

JUJU: Muita grana.<br />

ZÉ: Como?<br />

JUJU: A corrupção no Brasil custa muita grana por ano a cada<br />

cidadão brasileiro.<br />

CARLÃO: Como assim?<br />

JUJU: A corrupção cria um grande desperdício de verbas públi-<br />

cas, é o nosso dinheiro arrecadado dos impostos, que deveria<br />

ser usado para construir escolas, hospitais, etc, e tudo que o<br />

moço aí falou. É nosso dinheiro que vai pro ralo. Vai pro ralo<br />

dos corruptos.<br />

ZÉ: Desculpe, não entendi direito esse papo de ralo.<br />

JUJU: Quando o dinheiro público é mal administrado, sonegado,


ou desviado por políticos corruptos, nós é que saímos perden-<br />

do. Segundo o Ministério da Fazenda a sonegação pode chegar<br />

a 50%, isto quer dizer que metade dos impostos devidos nesse<br />

país deixam de ser pagos. Quer dizer: Metade do povo sone-<br />

ga!!!<br />

ZÉ: Peraí, só que o trabalhador de carteira assinada não sonega<br />

porque é descontado automaticamente do seu salário. E nos<br />

produtos também tem taxa de imposto, sabia? Comida, livro,<br />

computador, carro, caderno, roupa, tudo tem imposto embuti-<br />

do no preço que a gente paga, véio.<br />

CARLÃO: De graça a gente não tem nada nesse país. A gente<br />

paga 2 vezes por tudo... Paga taxa pra saúde, e depois tem que<br />

pagar médico. Paga taxa de educação, e tem que depois pagar<br />

pelos cursos que quiser fazer, paga taxa de segurança, e tem<br />

que colocar grade em casa, muro, cerca elétrica, cachorro, pa-<br />

gar seguro... Contabiliza isso, mano, e vê quanto é que dá.<br />

ZÉ: Concordo. O governo não tá fazendo a parte dele... Tá tudo<br />

largado...<br />

JUJU: Hahha, aí é que está o X da questão!!!!! E você faz a sua<br />

151


152<br />

parte quando vota neles?<br />

ZÉ: Eu não vou nem votar. Votar pra quê? Nesse bando de in-<br />

competente? Vou ficar na praia tomando um sol, e que se da-<br />

nem essas eleições.<br />

CARLÃO: Eu vou votar em branco. Não dou mole para esses sa-<br />

fados!!!! Pá e pum, meu voto não! Correto?<br />

JUJU: Errado! Se você não vota, como quer que as coisas mu-<br />

dem, e como vai cobrar depois do cara eleito? Quem ganha as<br />

eleições é quem vai cuidar das suas coisas...<br />

CARLÃO: Minhas coisas? Das minhas coisas cuido eu, fofura!<br />

ZÉ: Das coisas públicas, tosco. Coisas públicas são de todo mun-<br />

do, então são coisas suas, nossas e não só dos políticos.<br />

CARLÃO: Tá legal, tá legal... Tá querendo me dizer que o Parque<br />

Barigui é meu e não da Prefeitura?<br />

ZÉ: Isso aí. Ele foi construído com seu dinheiro e é mantido com<br />

o seu dinheiro, e não com o salário do prefeito, entende?<br />

CARLÃO: Claro! Eu sabia!!! Amanhã mesmo vou falar com o Pe-<br />

droca pra gente fazer um loteamento lá... Grande Zé, grande<br />

Juju... Vou tirar o pé da lama... Paradisum Arvoredum Golden


Platinum Park... É o progresso na mão do Carlão aqui galera!<br />

JUJU E ZÉ FICAM PASMOS COM A BURRICE DO CARLÃO, BLACK<br />

OUT.<br />

PROJEÇÃO NO TELÃO IMAGENS ANIMADAS QUE REFORÇARÃO<br />

AS INFORMAÇÕES DITAS PELA PERSONAGEM JUJU.<br />

153


154<br />

CENA 05<br />

PEDRO COM UMA ESCULTURA DE UM MACACO BABANDO NO<br />

CENTRO DO PALCO. JUJU ENTRA SEGURANDO O GANCHO DE<br />

UM TELEFONE PÚBLICO<br />

JUJU: Saco, como é que vou ligar pra minha mãe se todos os<br />

telefones públicos dessa ilha tão quebrados? (VÊ PEDRO E A ES-<br />

CULTURA) Pedro, o que é isso aí?<br />

PEDRO: Olha o protocolo, Vossa Excelência por favor. Como<br />

prefeito, governador e presidente dessa honrada, venerada,<br />

idolatrada, salve salve ilha, estou deixando a minha humilde<br />

contribuição para a posteridade. Essa linda escultura, imagem e<br />

semelhança dos nossos ancestrais.<br />

JUJU: Só se for dos teus ancestrais, porque esse macaco babão<br />

tá muito longe de ser meu parente. Você tá tirando uma da mi-<br />

nha cara?<br />

PEDRO: Que falta de cultura, esses ignorantes definitivamente


não sabem apreciar uma obra de arte. E Darwin? A teoria evo-<br />

lucionista darwiniana... Nunca ouviu falar?<br />

JUJU: Já, me poupe do seu blá blá blá. Posso saber quem é o<br />

artista que fez essa coisa?<br />

PEDRO: Eu.<br />

JUJU: (PARA A PLATÉIA) Agora deu pra entender o porque desta<br />

coisa horrível, quer dizer, desta escultura darwiniana... (PARA<br />

PEDRO) Você, quer dizer, Vossa Excelência poderia usar nosso<br />

dinheiro para mandar arrumar os telefones públicos da ilha?<br />

Quem sabe algum ancestral precisa telefonar...<br />

PEDRO: Infelizmente, gastei toda a verba do ano com essa inspi-<br />

rada escultura artística. Você terá que aguardar o ano que vem.<br />

O restante do orçamento destinei para a construção de um co-<br />

reto e pagamento de um cancioneiro que está compondo uma<br />

música para a inauguração da estátua.<br />

JUJU: Você não ia fazer uma reunião com os moradores para<br />

aprovar os gastos do orçamento anual da ilha? Gastar tudo com<br />

uma estátua dessas?<br />

PEDRO: Eu convoquei a todos. Como ninguém compareceu à<br />

155


156<br />

reunião eu mesmo tive que decidir em nome de todos.<br />

JUJU: Êpa, mas eu nem fiquei sabendo da reunião... Quando<br />

fomos convocados?<br />

PEDRO: Não soube porque não acompanha os meus programas<br />

das minhas rádios am/fm, onde falei a todos da reunião, em<br />

meio aos anúncios dos patrocinadores.<br />

JUJU: Ah isso não vale. Isso não tá certo.<br />

PEDRO: A parte da reclamação a senhorita pode fazer na minha<br />

própria barraca das 8h às 10:30h da manhã, com a Srta Aman-<br />

da. Tenha em mãos seus documentos, RG, CPF, a escritura do<br />

lote e a reclamação feita por escrito.<br />

JUJU: Mas quem é essa srta. Amanda?<br />

PEDRO: Minha prima.<br />

JUJU: Mas como que eu nunca vi essa tipa?<br />

PEDRO: Ela é uma personagem fantasma. Quer reclamar? Re-<br />

clama comigo. Eu multo, eu cobro, eu resolvo, eu recebo. Aqui<br />

é assim que funciona.<br />

DE REPENTE CAI UMA GRANA DO PEDRO NO CHÃO, JUJU PEGA


E DEVOLVE PARA PEDRO QUE COLOCA NA CUECA ABARROTADA<br />

DE DINHEIRO E SAI DE CENA SEM DIZER NADA. JUJU OLHA IN-<br />

DIGNADA PARA PLATÉIA.<br />

APAGA FOCO<br />

157


158<br />

CENA 06 cooperação social / meio ambiente / direito e deve-<br />

res<br />

IMAGENS DE DESPERDÍCIO DE ÁGUA: TORNEIRAS ABERTAS<br />

ESCORRENDO INETERRUPTAMENTE, MANGUEIRAS JOGANDO<br />

ÁGUA FORA ENQUANTO DUAS PESSOAS FALAM, MULHER LA-<br />

VANDO CALÇADA.<br />

JUJU ESTÁ SENTADA LENDO UM LIVRO E ENTRA CARLÃO CARRE-<br />

GANDO 2 BALDES DE ÁGUA NA MÃO.<br />

CARLÃO: Aí, gata! Tá sabendo que amanhã vai faltar água na<br />

ilha? Não chove há meses.<br />

JUJU: Também né Carlão, o pessoal não para de desmatar nossa<br />

Mata Atlântica. Não há meio ambiente que resista...<br />

CARLÃO: Eu tô ligado. Tô até participando do projeto ecológico<br />

do Pedro. Vamos queimar o morro pra plantar soja. Vai pular<br />

macaco...<br />

JUJU: Projeto Ecológico? Você e o Pedro se merecem. Será que


dá tempo de tomar um banho?<br />

CARLÃO: Eu já tomei um de 50 minutos pra aproveitar bem a<br />

água. E comprei esses baldes pra estocar uns litros, assim pos-<br />

so fazer uma grana vendendo água pro povo idiota que não se<br />

organizou.<br />

JUJU: Mas a ideia não é economizar para não faltar água?<br />

CARLÃO: Só os mané economizam. Não sou de bobeira, tô liga-<br />

do na parada que circula por aqui. Quando o povo se liga na es-<br />

cassez, já era, tá tudo seco, princesa. Eu não, eu sou rapidinho.<br />

É só falar com o mano aqui e trazer o dindim que eu garanto<br />

aquela ducha!!!<br />

JUJU: Você não tá nem aí pra a comunidade que vive à tua volta<br />

né? Cadê o seu senso de coletividade? Direitos e deveres, todos<br />

temdireitos e deveres! Cooperar é operar em conjunto, é todo<br />

mundo fazer uma pequena parte pro resultado final ser positi-<br />

vo. Francamente... Você é irritante, Carlão...<br />

CARLÃO: Calma ae, Juju, eu só tô de olho no meu futuro. O me-<br />

lhor é ser esperto, não é não?<br />

JUJU: Normalmente o cara metido a esperto nem é tão esperto<br />

159


160<br />

assim. Percebe onde vai dar a esperteza de uns e outros? No<br />

nosso bolso, cara.<br />

CARLÃO: Mas se outros também fazem tudo errado porque jus-<br />

to eu preciso fazer certo? Me sinto idiota fazendo tudo certi-<br />

nho, entende Juju?<br />

JUJU: Alguém tem que começar, senão a coisa nunca conserta.<br />

Caraca, Carlão... que lugar do mundo pode ir pra frente se as<br />

pessoas pensarem sempre como você?<br />

CARLÃO: Tá. Então, e se eu não cobrar água e emprestar pra<br />

quem não tem? Aí tá certo?<br />

JUJU: O certo seria usar comedidamente, simplesmente econo-<br />

mizando. Pronto, com certeza sobraria água para todo mundo<br />

da ilha. (CARLÃO VAI SAINDO COM OS BALDES) Ei, pêra aí, onde<br />

você vai?<br />

CARLÃO: Vou devolver a água pro poço, antes que eu me sinta<br />

mal, caia de cama, tenha febre, tremores e morra de câncer<br />

com tanta culpa na alma...<br />

APAGA FOCO


Cena 07 violência / tráfico / crime organizado<br />

APARECE NO TELÃO CENA DE ANIMAÇÃO COMPUTADORIZADA<br />

DE GUERRA ENTRE 2 MORROS. OS PERSONAGENS SE JOGAM<br />

PARA DENTRO DAS BARRACAS, SE FECHANDO, AS BARRACAS<br />

TREMEM.<br />

MAIS IMAGENS DA GUERRA ENTRE OS MORROS, QUE SERÃO<br />

INTERCALADAS COM NARRAÇÕES QUE FOCAM PERSONAGENS<br />

FALANDO DIRETAMENTE PARA A PLATÉIA. SOB O PRIMEIRO<br />

FOCO, FECHADO NO CANTO ESQUERDO, APARECE CLAUDINHO,<br />

MENINO DE RUA:<br />

CLAUDINHO: Aí. Sacou a situação? Guerra. De um lado o Sabiá,<br />

de outro o Urubú. Os hómi lá em baixo, eu aqui soltando pipa<br />

pra avisar quando eles vão embora... Pelo menos eu ganho uma<br />

grana e o Sabiá de lambuja protege a minha família...<br />

REPETEM-SE AS MESMAS CENAS DE GUERRA NOS MORROS,<br />

161


162<br />

SOB O SEGUNDO FOCO, FECHADO NO CANTO OPOSTO, APARE-<br />

CE A MÃE DO MENINO. ESTÁ PROCURANDO O FILHO NO MEIO<br />

DA CONFUSÃO.<br />

MÃE: Claudinho, meu filho, cadê você? Se esse moleque esti-<br />

vesse na escola nada disso estava acontecendo. Claudinho? Ô<br />

meu filho, tenha cuidado, pelo amor de Deus. Claudinho, onde<br />

você se meteu moleque?<br />

REPETEM-SE AS MESMAS CENAS DE GUERRA NOS MORROS,<br />

SOB O TERCEIRO FOCO, NO CENTRO ESQUERDO DO PALCO,<br />

APARECE O TRAFICANTE SABIÁ COM UMA MÁSCARA NEGRA<br />

NO ROSTO, METRALHADORA NA MÃO.<br />

SABIÁ: Cacete. Vou ter que meter bala nos hómi antes de aca-<br />

bar com o Urubú. Esse canalha molhou a mão dos hómi... Rapa-<br />

ziada, mete bala nesses filha da puta do cacete porra!!!!!<br />

REPETEM-SE AS MESMAS CENAS DE GUERRA NOS MORROS,


SOB O QUARTO FOCO, NO CENTRO DIREITO PALCO, APARECE<br />

POLICIAL COM UMA MÁSCARA NEGRA NO ROSTO, METRALHA-<br />

DORA NA MÃO.<br />

POLICIAL: Caramba, vou ter que meter fogo na favela pra achar<br />

o Sabiá... Aqui só tem vagabundo mesmo. Batalhão, mete bala<br />

nesses filha da puta do cacete porra!!!!<br />

VOLTA A CENA DA GUERRA ENTRE OS MORROS, GRITARIA.<br />

SOME A IMAGEM FICA TUDO BRANCO. VOLTA A LUZ PARA DEN-<br />

TRO DO TELÃO LENTAMENTE, OS ATORES VÃO SAINDO DEVA-<br />

GAR DE SUAS BARRACAS. ENTRA UM CORTEJO DE FUNERAL<br />

COM PEDRO ACOMPANHADO DE CARLÃO E UMA ATRIZ, TODOS<br />

DE PRETO.<br />

ZÉ: (PERGUNTANDO PARA JUJU) Ué, quem morreu, foi bala per-<br />

dida?<br />

JUJU: Não se preocupe, é o Pedro se aproveitando da situação<br />

pra enterrar a funcionária fantasma, a srta. Amanda, e pegar<br />

163


164<br />

uma verba extra para enterro de familiar de parlamentar.<br />

ZÉ: Agora ela virou laranja.<br />

JUJU: Sukita, porque tá enlatada.


CENA 08 preconceito/racismo/ discriminação social<br />

PEDRÃO EM FRENTE À SUA BARRACA AGUARDA CANDIDATOS<br />

À MESTRE DE OBRAS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM CORETO<br />

EM VOLTA DA ESTÁTUA DO MACACO BABÃO. PLACA FIXADA<br />

NA BARRACA “PROCURA-SE MESTRE DE OBRA PARA A CONS-<br />

TRUÇÃO DO CORETO”. CHEGA UM PERSONAGEM NEGRO COM<br />

POSTURA ASSUMIDAMENTE GAY PARA PEDIR EMPREGO.<br />

JORGE: Olá Seu Pedro.<br />

PEDRO: Vossa Excelentíssima Senhor Pedro, por favor.<br />

JORGE: Vossa Excelemtíssima Senhor Pedro meu nome é Jorge.<br />

Sou mestre de obras, tenho muitos anos de experiência e quero<br />

me candidatar para a vaga.<br />

PEDRO: Ahã... sei... sei... O senhor vai me desculpar, seu Jorge,<br />

mas a vaga já foi ocupada. Amanhã mesmo vou tirar essa pla-<br />

quinha daí.<br />

JORGE: De qualquer maneira gostaria de preencher uma ficha,<br />

165


166<br />

caso o senhor precise de alguém futuramente para a obra.<br />

PEDRO: Não, não tem ficha nenhuma não. Pode ir vazando seu<br />

Jorge, que aqui não tem vaga pro senhor não.<br />

CHEGA UM PERSONAGEM BRANCO. JORGE SAI CABISBAIXO...<br />

THIAGO: Bom dia, seu Pedro. Gostaria de me candidatar à vaga<br />

de mestre de obras.<br />

PEDRO: Tem experiência?<br />

Thiago: Tô começando... Tô fazendo uns reparos elétricos numa<br />

obra do outro lado da ilha...<br />

PEDRO: A vaga é sua, meu chapa! Começa hoje mesmo, são 26<br />

horas por dia sem descanso para conseguirmos finalizar a obra<br />

do coreto para o show de inauguração da estátua do macaco<br />

babão.<br />

ENTRA JUJU INDIGNADA COM JORGE AO LADO<br />

JUJU: Ué, Pedro! A vaga já não estava preenchida? Que história<br />

é essa?<br />

PEDRO: Estar não estava, né Juju. (NUM APARTE PARA ELA) Mas


como é que eu ia colocar um negão, boiola, pobre e desempre-<br />

gado pra trabalhar na minha obra?<br />

JUJU: Mas ele é o melhor pedreiro da ilha, Pedro.<br />

PEDRO: Já fechei com o tal do Thiago.<br />

JUJU: Tiago? Mas foi ele que quase botou fogo no outro lado<br />

da ilha porque resolveu fazer um gato. O cara não sabe nem o<br />

que é uma pá de cal...<br />

PEDRO: Na nossa administração não aceitamos veado. Além do<br />

mais, acho que todo crioulo é folgado.<br />

JUJU: Que conversa mais preconceituosa é essa Vossa Excelen-<br />

tíssima?<br />

PEDRO: A parte da reclamação pode fazer na minha própria bar-<br />

raca das 8h às 10:30 hda manhã, o Sr. Carlão poderá atendê-la.<br />

Tenha em mãos seus documentos, RG, CPF, a escritura do lote e<br />

a reclamação feita por escrito.<br />

JUJU: Como assim?<br />

PEDRO: Muito simples, minha querida. Sou eu quem administro<br />

essa ilha. Eu mando em tudo e todo mundo me obedece, en-<br />

tendeu? Quer reclamar? Reclama comigo. Eu multo, eu cobro,<br />

167


168<br />

eu resolvo, eu recebo. Aqui é assim que funciona.<br />

JUJU: V. Exa. o pessoal da ilha tá começando a ficar meio indig-<br />

nado com suas atitudes.<br />

PEDRO: (PARA TIAGO QUE ESCUTA TUDO) Sr. Tiago pode se re-<br />

tirar, essa moça requer uma audiência particular.<br />

JUJU: Não bastasse o que você faz com nossa grana, agora vem<br />

com esse papo de preconceito? Tanto faz se o cara é negro,<br />

branco, gay, analfabeto, se é doutor, rico, pobre... Perante a lei<br />

somos todos iguais.<br />

PEDRO: Então vou reformular o que eu disse: aquele afro des-<br />

cendente transexual umbandista não pode ficar com o empre-<br />

go porque o Tiago já está ocupando essa vaga. Que tal? Melho-<br />

rou?<br />

JUJU: Piorou! Porque agora senhor além de racista e precon-<br />

ceituoso com a sexualidade alheia, ainda é preconceituoso em<br />

relação a religião dos cidadãos!!!! Umbandista? Que baixaria.<br />

PEDRO: (CHAMANDO TIAGO DE VOLTA) Sr. Tiago volte aqui por<br />

favor!<br />

JUJU: Além de ser o rei do preconceito, é o rei da falcatrua.


PEDRO: Sr. Tiago foi promovido a chefe de meu gabinete. Livre-<br />

se imediatamente dessa mulher. (TIAGO CARREGA JUJU AOS<br />

BERROS PARA FORA DE CENA)<br />

JORGE FICA OLHANDO COM CARA FEIA PARA PEDRO, QUE PER-<br />

CEBE O PERIGO POIS FICOU SOZINHO COM O CARA, PEGA A<br />

PLACA E DÁ PARA JORGE<br />

PEDRO: Pronto, tá bom seu Jorge. A vaga de mestre de obra<br />

está de novo disponível, portanto agora ela é sua. Metade do<br />

seu primeiro salário vai ser enviado para o SODEJ - Sindicato<br />

dos Oprimidos Defendidos da Juju. Agora pode se retirar, vaza,<br />

vaza... (JORGE PEGA A PLACA E SAI ATORDOADO)<br />

APAGA FOCO<br />

ENTRA NO TELÃO ANIMAÇÃO COM TEXTO CONSTITUCIONAL<br />

SOBRE LIBERDADE DE EXPRESSÃO, LIBERDADE SEXUAL, RELI-<br />

GIOSA, E SOBRE PRECONCEITO RACIAL (Todos são iguais peran-<br />

te a lei....)<br />

169


170<br />

Cena 09 direitos do consumidor<br />

JUJU APARECE NUM TELEFONE PÚBLICO<br />

JUJU: (FALANDO PARA SI MESMA) Ainda bem que consertaram<br />

esse telefone, demorou. Agora vou poder reclamar do meu ce-<br />

lular, acho que já veio com defeito, não é possível. (DISCA DO<br />

ORELHÃO) Alô?<br />

VOZ DE GRAVAÇÃO EM OFF: Bem vindo ao serviço de telefonia<br />

celular Mimo. Se deseja falar sobre faturas atrasadas, digite 1.<br />

Sobre créditos, digite 2. Abertura de novas contas, digite 3. Ou<br />

aguarde na linha e fale com um de nossos atendentes. (TOCA<br />

UMA MUSIQUINHA IRRITANTE)<br />

JUJU: Ninguém merece, 15 minutos aqui e nada de ser atendi-<br />

da. (TOCA A MUSIQUINHA IRRITANTE)<br />

GRAVAÇÃO: Alô, boa tarde senhora! Aqui que fala é Mariana da<br />

Mimo, em que posso ajudar?<br />

JUJU: Seguinte: comprei um celular último tipo na sua loja há


duas semanas mas ele não funciona de jeito nenhum.<br />

GRAVAÇÃO: Duas semanas? Por que a senhora só está ligando<br />

agora?<br />

JUJU: Porque moro numa ilha e o único telefone público daqui<br />

estava estragado há nove meses. Agora que eu consegui ligar.<br />

Enfim, o celular está estragado.<br />

GRAVAÇÃO: A senhora disse que reside numa ilha? Tem certeza<br />

que o aparelho não caiu no mar?<br />

JUJU: Como caiu no mar? Só se o celular saiu da minha bolsa,<br />

colocou uma sunga, passou filtro solar e foi pegar uma praia.<br />

Não senhora, ele não caiu no mar, ele veio com defeito. E além<br />

disso, recebi uma conta pra mim de 600 reais e o meu telefone<br />

nem foi usado porque está com defeito.<br />

GRAVAÇÃO: Sinto muito senhora, estou transferindo a senhora<br />

para outro setor. Mimo agradece a atenção.<br />

JUJU: Ei, ei, espera, eu...<br />

GRAVAÇÃO: Bem vindo ao serviço de telefonia celular Mimo.<br />

Se deseja falar sobre faturas atrasadas, digite 1. Sobre seus cré-<br />

ditos, digite 2. Abertura de novas contas, disque 3. Ou então<br />

171


172<br />

aguarde e fale com um de nossos atendentes. (TOCA UMA MU-<br />

SIQUINHA IRRITANTE)<br />

JUJU: Ninguém merece, vou te que fazer tudo de novo.<br />

GRAVAÇÃO: Alô! Aqui que fala é Mariema da Mimo em que<br />

posso ajudar?<br />

JUJU: Vou repetir: comprei um celular último tipo há duas se-<br />

manas, ele não funciona, de jeito nenhum...<br />

GRAVAÇÃO: Duas semanas? Por que a senhora só está ligando<br />

agora?<br />

JUJU: Porque moro numa ilha, o telefone público tá estragado<br />

há 9 meses e o mais importante é que eu não consegui ligar<br />

porque a droga do celular que me venderam também não fun-<br />

ciona.<br />

GRAVAÇÃO: A senhora reside numa ilha? Tem certeza que o<br />

aparelho não caiu no mar?<br />

JUJU: Isso é uma gozação? Eu caí num trote? Não senhora, ele<br />

não caiu no mar, ele veio com defeito mesmo. E além disso, veio<br />

uma conta pra mim de 600 reais que não fui eu que fiz.<br />

GRAVAÇÃO: Como a senhora pode ter certeza de que não foi a


senhora que fez as ligações?<br />

JUJU: Porque estou dizendo que o celular veio com defeito.<br />

Pensando bem, acho que vou querer meu dinheiro de volta.<br />

GRAVAÇÃO: Sinto muito senhora, estou transferindo a senhora<br />

para outro setor. Mimo agradece a atenção.<br />

JUJU: Ei, ei, espera, eu...<br />

GRAVAÇÃO: Bem vindo ao serviço de telefonia celular Mimo.<br />

Se deseja falar sobre faturas atrasadas, digite 1. Sobre seus cré-<br />

ditos, digite 2. Abertura de novas contas, disque 3. Ou então<br />

aguarde e fale com um de nossos atendentes. (TOCA A MUSI-<br />

QUINHA IRRITANTE)<br />

JUJU: Eu vou desistir e jogar esse celular no lixo.<br />

GRAVAÇÃO: Alô! Aqui que fala é Maricreusa da Mimo em que<br />

posso ajudar?<br />

JUJU: Eu quero meu dinheiro de volta porque o celular da Mimo<br />

não funciona, e me recuso a pagar os 600 reais, há duas sema-<br />

nas que comprei e ele não funciona.<br />

GRAVAÇÃO: Duas semanas? Por que a senhora só está ligando<br />

agora?<br />

173


174<br />

JUJU: Porque moooooro numa ilha, saco, porque o teleeeee-<br />

fone público tá estragado, saco, porque a drooooga do celular<br />

que me venderam não funciona, sacoooooo.<br />

GRAVAÇÃO: A senhora reside numa ilha? Tem certeza que o<br />

aparelho não caiu no mar?<br />

JUJU: Tenho e se você me passar para uma outra atendente idio-<br />

ta eu vou até aí pra jogar o seu gerente no mar pessoalmente.<br />

GRAVAÇÃO: Compreendo senhora, a Mimo agradece mesmo<br />

assim. O problema é que a senhora deveria ter reclamado em<br />

48hs para a loja, agora a Mimo não pode fazer mais nada, a<br />

senhora terá que verificar com o fabricante para resolver seu<br />

problema. Quanto à conta, favor ligar para 0800 54 44 34 24 14<br />

04.<br />

MULHER: Fabricante? Vocêtem o telefone da fábrica?<br />

GRAVAÇÃO: Tenho mas não entendo muito bem o que está es-<br />

crito porque tá escrito em chinês.<br />

JUJU IRADA: Como em chinês?<br />

GRAVAÇÃO: Porque a fábrica fica na China, senhora. Mais algu-


ma coisa em que eu possa lhe ajudar? Uma excelente tarde e<br />

a Mimo telefonia celular agradece sua ligação. (TUNTUNTUN-<br />

TUN)<br />

MULHER: Como na China? Ah, mas essa mulherzinha me paga.<br />

Hoje mesmo vou pegar um barco pra cidade e vou direto pro<br />

PROCON. Tão pensando o quê? Quero ver ela mandar o promo-<br />

tor ligar pra China.... Vou reclamar meus direitos, hoje em dia<br />

ninguém mais fica no prejuízo se tiver com o produto e com a<br />

nota fiscal na mão. É nosso direito receber o que foi prometido,<br />

pra isso tem o Código de Defesa do Consumidor!!!! Que papo é<br />

esse de 48 hs pra reclamar se no certificado diz um ano? Como<br />

que meu celular foi pro mar? (FALA ENQUANTO SAI DE CENA<br />

ENLOUQUECIDA) E esse raio dessa fábrica, na China? Ah, mas<br />

eu vou hoje mesmo, nem que eu vá até a China nadando, ah se<br />

eu vou....<br />

175


176<br />

Cena 10 conceito de cidadão/ o estado é você/ voto respon-<br />

sável<br />

NO TELÃO CENAS DE IMAGENS REVOLTANTES QUE ACONTE-<br />

CERAM NO BRASIL NESSES ULTIMOS ANOS QUE TERÃO TRATA-<br />

MENTO COMPUTADORIZADO PARA QUE PAREÇAM DESENHOS.<br />

LEMBRAREMOS ESSES ACONTECIMENTOS AOS JOVENS ATRA-<br />

VÉS DA ÓTICA IRÔNICA DA LINGUAGEM DOS QUADRINHOS, EN-<br />

FATIZANDO DESTA FORMA UMA CRÍTICA À SITUAÇÃO SOCIAL<br />

BRASILEIRA.<br />

OS ATORES FORMARÃO UMA FILA VESTIDOS DE MÃES E PAIS,<br />

E DARÃO SEUS TEXTOS INTERCALADOS COM AS IMAGENS. PRI-<br />

MEIRO, JUNTAMENTE COM AS IMAGENS VEMOS A FILA FOR-<br />

MADA POR ATORES. DEPOIS, OS REFLETORES FOCARÃO UM A<br />

UM PARA QUE CADA ATOR FALE SEU TEXTO INDIVIDUALMENTE,<br />

INTERCALANDO-SE AS CENAS COM AS IMAGENS, SEMPRE QUE<br />

O FOCO SOBRE UM ATOR FOR ACESO.


MÃE FOCO1: Sinceramente, tô de saco cheio. É o segundo ano<br />

que meus moleques vão passar na rua fazendo bobagem por-<br />

que não consegui matricular nenhum deles na escola.<br />

PAI FOCO 2: O excelentíssimo Dr Pedro não usou direito o di-<br />

nheiro que arrecadou na ilha pra construir as escolas novas.<br />

Continuamos só com uma, que só vai até a quarta série. Dizem<br />

que ele aplicou a grana em outra ilha, parece que o nome é<br />

Caymmãs.<br />

MAE FOCO 3: O quê que os nossos meninos vão fazer se não<br />

estudarem? Já perdi o mais velho pro Urubú, rolou coisa feia<br />

com a polícia, sabe como é...<br />

PAI FOCO 4: Eu tô achando que assim não vai mais dar não...<br />

segundo dia que eu perco trabalho pra ficar nessa fila da esco-<br />

la tentando uma vaga pra minha filha... daqui a pouco perco o<br />

emprego, daí vai ser bonito...<br />

ENTRAM NA PLATÉIA ZÉ, JUJU, JUJU, JORGE E CARLÃO DISTRI-<br />

BUINDO PANFLETOS PARA UMA CONVOCAÇÃO GERAL DOS<br />

MORADORES DA ILHA. OS PANFLETOS SERÃO ENTREGUES AOS<br />

177


178<br />

ADOLESCENTES SENTADOS NA PLATÉIA.<br />

ZÉ: Compareçam, compareçam. Estaremos discutindo assuntos<br />

importantes para a ilha.<br />

JORGE: Avisem seus amigos por torpedo, telefone, e-mail, pom-<br />

bo correio, avisem a todos.<br />

JUJU: Vamos aproveitar que Vossa Excelência foi passar uns dias<br />

na cidade e vamos nos organizar. Compareçam, compareçam.<br />

CARLÃO: Vamos passar um abaixo assinado, onde exigiremos<br />

a saída do Sr Pedro do governo da ilha. Se mais de metade dos<br />

moradores assinarem, ele sai. Impeachment no Pedro.<br />

JUJU: Logo após, faremos eleições para escolher alguém que<br />

possa cuidar melhor de nossos interesses. Compareçam, com-<br />

pareçam.<br />

OS ATORES QUE ESTAVÃO NA PLATÉIA SOBEM NO PALCO EM<br />

FRENTE O TELÃO E DIRIGEM-SE À PLATÉIA COMO SE FOSSE O<br />

POVO DA ILHA.


CARLÃO: Estamos aqui para tentar mudar a vida desta ilha, pes-<br />

soal.<br />

JUJU: Tá todo mundo indignado. Sobra violência, falta esgoto,<br />

falta água, falta escola, falta transporte público, falta remédio,<br />

falta médico, falta segurança, falta teatro, falta cultura, falta es-<br />

porte, falta tudo.<br />

JORGE: A gente paga, paga, paga, trabalha, trabalha, trabalha e<br />

não tem nada em troca.<br />

JUJU: Enquanto isso o Excelência tá lá na cidade, longe dessa<br />

confusão. Foi de lancha último tipo, está hospedado num hotel<br />

5 estrelas, jantando com celebridades internacionais, vestindo<br />

ternos importados... isso tudo às nossas custas.<br />

ZÉ: Se metade da população da ilha assinar este abaixo assina-<br />

do, ele estará fora. Imediatamente faremos uma eleição onde<br />

poderemos escolher alguém digno de nossa confiança para ad-<br />

ministrar as coisas públicas.<br />

BLACK OUT, ATORES SAEM DE CENA<br />

179


180<br />

CENA 11 rede de comunicação entre os cidadãos<br />

IMAGENS NO TELÃO DE MULTIDÃO UNIDA. “CARAS PINTA-<br />

DAS” DE VERDE E AMARELO, DEPOIS CENAS DAS ELEIÇÕES POR<br />

TODO BRASIL. AOS POUCOS VÃO APARECENDO NO TELÃO AS<br />

MODIFICAÇÕES DECORRENTES DE UMA BOA ADMINISTRAÇÃO:<br />

VAI SUMINDO O LIXO, NO SEU LUGAR VÃO APARECENDO PAR-<br />

QUES, ESCOLAS E HOSPITAIS. CENAS DE SAÚDE E PROGRESSO<br />

SOCIAL. CENAS DE CRIANÇAS DE RUA SE TRANSFORMANDO EM<br />

CRIANÇAS SAUDÁVEIS. VÃO SAINDO AS IMAGENS DE VIOLÊN-<br />

CIA E ENTRANDO IMAGENS DE PROGRESSO E PAZ SOCIAL. SOM<br />

CONTEMPORÂNEO, COM O QUAL OS JOVENS SE IDENTIFICAM.<br />

IMAGENS BEM DINÂMICAS, COMO NUM CLIP.<br />

VÃO SAINDO AS IMAGENS. LUZ FOCANDO O PALCO/CENÁRIO<br />

A ILHA. PERSONAGENS REUNIDOS SENTADOS EM FRENTE AS<br />

SUAS BARRACAS.


CARLÃO: Juju parece que nosso povo tá cada vez mais satisfei-<br />

to...<br />

JUJU: Aos poucos eles vão aprendendo que essa ilha é deles, e<br />

que sem eles nada disso existiria. É o trabalho deles que cons-<br />

trói estas escolas, estes hospitais. Tenho muito orgulho do povo<br />

da ilha e do trabalho deles...<br />

ZÉ: Do trabalho e do voto, né? Se eles não tivessem tirado o<br />

Pedroca e colocado nossa equipe no lugar, isso aqui só teria pio-<br />

rado.<br />

ENTRA JUJU E JORGE AFOBADOS.<br />

JUJU: Zé, Zé. Aconteceu um imprevisto. Temos que comunicar<br />

a população imediatamente sobre o que está acontecendo em<br />

Brasília. Os deputados vão votar aquela lei que vai prejudicar<br />

toda a população da ilha.<br />

JORGE: Aquela lei que ninguém entende... Vai ser votada ama-<br />

nhã. Como que a gente faz pra avisar todo mundo tão depres-<br />

sa?<br />

JUJU: Sei lá, faz uma Rede!!!<br />

JORGE: Como assim, Juju?<br />

181


182<br />

ZÉ: Rede?<br />

JUJU: Rede. O que nós fizemos no impeachment do Pedro, só<br />

funcionou porque todos os moradores da ilha se comunicaram.<br />

Os panfletos eram poucos, não tínhamos a mídia do nosso lado.<br />

O único jeito foi o boca a boca. Pessoa para pessoa. Torpedo,<br />

e-mail, facebook, Orkut, vale tudo.<br />

ZÉ: Ah, tô entendendo.<br />

JORGE: Saquei: as pessoas se avisam como podem, certo?<br />

JUJU: Vale tudo: telefone, e-mail, blog, orkut, torpedo, sinal de<br />

fumaça... E ainda: pra todo mundo do trabalho, da família, da<br />

escola, do bairro, do futebol, da padaria, do bar, da esquina...<br />

JUJU: Assim formamos uma rede indestrutível de informação<br />

e comunicação. Já pensou quantas pessoas estão ligadas na in-<br />

ternet uma hora dessas? Já pensou quanta gente legal pode ter<br />

acesso às informações? Torpedos são rápidos, baratos e podem<br />

disparar informações importantes a qualquer instante.<br />

JORGE: Realmente, isso é bem esperto.<br />

JUJU: Podemos elaborar nosso próprio site sobre cidadania, in-<br />

formando às pessoas sobre o que os políticos andam fazendo.


Já notou que a maioria deles não cumpre o que promete?<br />

JORGE: Não cumpre porque a gente não cobra deles. Exemplo:<br />

você me contrata como pedreiro e me dá na mão a verba para<br />

eu construir uma casa p você. Aí, eu não apareço, não construo<br />

nada, não lhe dou satisfação, e ainda apareço, 4 anos depois,<br />

com uma casa linda no meu nome. O que você faria? Ficaria<br />

quieta? Você não iria reclamar?<br />

JUJU: Eu? Trocaria de pedreiro e ainda reclamaria na justiça<br />

meu dinheiro de volta!<br />

JUJU: Com os políticos tem que ser igual. A gente paga imposto<br />

pra ter dinheiro para as obras. Paga salário pra eles, e eles não<br />

fazem nada... O negócio é reclamar, trocar de “pedreiro”, en-<br />

tenderam? Tocar a obra...<br />

JORGE: Mas como?<br />

JUJU: A rede, pessoal. Se a gente estiver unido e se comunican-<br />

do em favor dos nossos interesses, esta pequena cúpula que<br />

está no poder às custas dos nossos votos vai ter que se sacudir<br />

pra permanecer lá.<br />

JUJU: Se a gente ficar quieto, eles continuam enchendo as cue-<br />

183


184<br />

cas de dinheiro, construindo casas paradisíacas em ilhas do go-<br />

verno...<br />

JORGE: E a gente fica aqui, assistindo a tudo calado.<br />

ZÉ: Voto responsável, a rede informando, cobrando, é como<br />

uma epidemia. Vamos desencadear e controlar uma epidemia<br />

positiva e política para mudar o Brasil.<br />

EM OFF: Alô, Alô, Brasil!!!!!!!!<br />

BLACK OUT<br />

ENTRA NO TELÃO UM CLIP EM FORMATO DE QUADRINHOS/<br />

GIBI DE PESSOAS SE COMUNICANDO E FORMANDO A REDE E AS<br />

DIVERSAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO IMEDIATA ENTRE PES-<br />

SOAS. EFEITO DOMINÓ. AO SOM DE UMA MÚSICA POP.<br />

TOCAM DIVERSOS CELULARES NO MEIO DA PLATÉIA NO TOM<br />

DE CHEGADA DE TORPEDOS. ISSO PODE SER FEITO COM A SO-<br />

NOPLASTIA E TB SER COLOCADO 20 CELULARES EM LUGARES<br />

ESTRATÉGICOS DENTRO DA PLATÉIA QUE ESTARÃO COM PRO-<br />

FESSORES E SERÁ PRÉVIAMENTE COMBINADO COM ELES.<br />

FIM


185


186<br />

LUCIANA NARCISO Iniciei minhas atividades de dramaturgia em<br />

1998 escrevendo peças dirigidas a operários e jovens em situação<br />

de risco social, por encomenda de instituições que visavam propagar<br />

idéias de segurança e prevenção para estas pessoas.<br />

Após, iniciei meus estudos em Dramaturgia ingressando na Especiali-<br />

zação em Dramaturgia e Teatro na UFTPR, ano de 2005 – 2006, tendo<br />

escrito várias peças desde então e feito traduções para o português<br />

de textos de autores espanhóis, argentinos e norte americanos.<br />

Atualmente exerço a profissão de advogada e produzo textos que re-<br />

únem a questão da prevenção de riscos com a noção de cidadania, di-<br />

reitos e deveres e acredito que os textos ora apresentados abordem<br />

esta temáticas de maneira acessível e divertida para todos.


FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARANÁ | FIEP<br />

Edson Campgnolo<br />

Presidente<br />

SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA | <strong>SESI</strong> | Depart. Reg. do Estado do Pr<br />

José Antonio Fares<br />

Diretor Superintendente<br />

Maria Cristhina de Souza Rocha | Gerente de Desenv. de Produtos<br />

Anna Paula Zétola | Gerente de Cultura<br />

Sergia Regina Chapelen Dubas Martins | Gerência de Cultura<br />

Neiane da Silva Azevedo Andreato | Gerência de Cultura<br />

Janaina Coelho Adão | Gerência de Cultura<br />

Foto Capa<br />

Acervo jornalístico <strong>SESI</strong><br />

Catalogação<br />

Pandita Marchioro<br />

Projeto Gráfico<br />

Maria Cristina Pacheco<br />

187

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