Pedagogia da natação: um mergulho para além dos ... - Profedf.ufpr.br
Pedagogia da natação: um mergulho para além dos ... - Profedf.ufpr.br
Pedagogia da natação: um mergulho para além dos ... - Profedf.ufpr.br
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
<strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong>: <strong>um</strong> <strong>mergulho</strong> <strong>para</strong> <strong>além</strong> <strong>dos</strong> quatro estilos<<strong>br</strong> />
CDD. 20.ed. 796.01<<strong>br</strong> />
797.2<<strong>br</strong> />
Res<strong>um</strong>o<<strong>br</strong> />
Introdução<<strong>br</strong> />
Josiane Regina Pejon FERNANDES *<<strong>br</strong> />
Paula Hentschel LOBO DA COSTA *<<strong>br</strong> />
Este ensaio tem o objetivo de discutir <strong>um</strong>a possibili<strong>da</strong>de <strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> a partir de <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
perspectiva que supere o “aprendizado do saber fazer”. São levanta<strong>dos</strong> alguns aspectos <strong>da</strong> pesquisa em<<strong>br</strong> />
Educação Física que poderiam subsidiar propostas pe<strong>da</strong>gógicas alternativas ao modelo desportivo <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. Destaque é <strong>da</strong>do à necessi<strong>da</strong>de de produção de conhecimento pe<strong>da</strong>gógico em<<strong>br</strong> />
Educação Física, a fim de que este subsidie a ¨ciência do ensinar¨ em <strong>natação</strong>. O ponto de parti<strong>da</strong> é <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
avaliação <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> encontra<strong>dos</strong> na literatura e <strong>dos</strong> pressupostos pe<strong>da</strong>gógicos que têm orientado as<<strong>br</strong> />
diferentes escolas. Em segui<strong>da</strong>, apresenta-se <strong>um</strong>a proposta basea<strong>da</strong> na interação dinâmica entre organismo,<<strong>br</strong> />
ambiente e tarefa como possibili<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica <strong>para</strong> a sistematização de <strong>um</strong> ensino em <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
que valorize os quatro estilos de nado como conteú<strong>dos</strong> e não como metas do processo, sugerindo<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a alternativa ao modelo desportivo. A proposta apresenta<strong>da</strong> indica que o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> possa<<strong>br</strong> />
ser pautado por <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia que enfatize a diversi<strong>da</strong>de na relação do homem com o meio líquido, ao<<strong>br</strong> />
invés do domínio técnico <strong>dos</strong> quatro estilos de nado.<<strong>br</strong> />
UNITERMOS: Natação; <strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong>: Interação dinâmica.<<strong>br</strong> />
O ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> tem se caracterizado pela<<strong>br</strong> />
sistematização de rotinas <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s ¨seqüências<<strong>br</strong> />
pe<strong>da</strong>gógicas¨ compostas por conteú<strong>dos</strong> prédetermina<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o aprendizado técnico <strong>dos</strong> quatro<<strong>br</strong> />
estilos <strong>da</strong> <strong>natação</strong> competitiva. Quando o ensino é<<strong>br</strong> />
focado no produto, aspectos como a etapa de<<strong>br</strong> />
desenvolvimento <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de do na<strong>da</strong>r em que o<<strong>br</strong> />
aluno se encontra, sua faixa etária, seus interesses e<<strong>br</strong> />
possibili<strong>da</strong>des físicas particulares não são<<strong>br</strong> />
considera<strong>dos</strong>, o que pode tornar a aprendizagem<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong> <strong>um</strong> processo monótono e sem<<strong>br</strong> />
significado <strong>para</strong> quem aprende e repetitivo e<<strong>br</strong> />
desinteressante <strong>para</strong> quem ensina. A fim de alterar<<strong>br</strong> />
esta situação, é fun<strong>da</strong>mental que o foco do ensino<<strong>br</strong> />
passe a ser o processo do aprender a na<strong>da</strong>r e não o<<strong>br</strong> />
seu produto, qual seja, o domínio mecânico <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
estilos consagra<strong>dos</strong> de nado. Os fatores que<<strong>br</strong> />
interferem na aprendizagem <strong>da</strong> <strong>natação</strong> podem<<strong>br</strong> />
envolver o indivíduo, o ambiente ou a tarefa e esses<<strong>br</strong> />
aspectos poderiam ser investiga<strong>dos</strong> e conheci<strong>dos</strong> em<<strong>br</strong> />
benefício <strong>da</strong> aprendizagem, o que se pretende<<strong>br</strong> />
valorizar aqui enquanto pesquisa pe<strong>da</strong>gógica.<<strong>br</strong> />
Este ensaio busca discutir a possibili<strong>da</strong>de de <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> que oriente <strong>para</strong> esta mu<strong>da</strong>nça<<strong>br</strong> />
de <strong>para</strong>digma de ensino, entendido aqui como <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
rede conceitual (KUHN, 1987, p.137) que envolve<<strong>br</strong> />
teoria, méto<strong>dos</strong> e padrões lógicos que são indissociáveis<<strong>br</strong> />
e conduzem o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> e, ao mesmo tempo,<<strong>br</strong> />
a <strong>um</strong>a <strong>da</strong><strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong>.<<strong>br</strong> />
Há <strong>um</strong> relativo consenso de que os conhecimentos<<strong>br</strong> />
envolvendo a seqüência de Desenvolvimento<<strong>br</strong> />
Motor podem subsidiar a sistematização de muitos<<strong>br</strong> />
programas de Educação Física. Por outro lado, a<<strong>br</strong> />
área <strong>da</strong> Aprendizagem Motora orienta o professor<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a valorização do processo envolvido na aquisição<<strong>br</strong> />
de novas habili<strong>da</strong>des motoras, reconhecendo a<<strong>br</strong> />
importância do papel ativo de quem aprende <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
o sucesso desse processo. A Biomecânica, por sua<<strong>br</strong> />
vez, pode contribuir <strong>para</strong> a compreensão <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
interação do corpo h<strong>um</strong>ano com o meio líquido,<<strong>br</strong> />
estando ele em repouso ou em movimento, valorizando,<<strong>br</strong> />
ao longo <strong>da</strong> aprendizagem, a experiência do<<strong>br</strong> />
aluno com o meio líquido e fazendo-o identificar<<strong>br</strong> />
as características dessa interação.<<strong>br</strong> />
*Departamento de<<strong>br</strong> />
Educação Física, Universi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />
Federal de<<strong>br</strong> />
São Carlos.<<strong>br</strong> />
Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006 • 5
FERNANDES, J.R.P. & LOBO DA COSTA, P.H.<<strong>br</strong> />
Há, contudo, <strong>um</strong>a dificul<strong>da</strong>de em se aplicar estes<<strong>br</strong> />
conhecimentos nos programas que cerceiam o ensino<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong>. Talvez pela pesquisa nessas áreas não ter se<<strong>br</strong> />
voltado <strong>para</strong> o contexto pe<strong>da</strong>gógico, talvez pelo<<strong>br</strong> />
desconhecimento <strong>dos</strong> professores so<strong>br</strong>e como essas<<strong>br</strong> />
áreas poderiam lhes orientar na prática do ensino <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>, talvez pelas deficiências <strong>dos</strong> currículos que<<strong>br</strong> />
formam os professores de Educação Física. Em<<strong>br</strong> />
qualquer caso, não cabe buscar causas, mas sim, a partir<<strong>br</strong> />
do reconhecimento <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des, traçar novos<<strong>br</strong> />
caminhos <strong>para</strong> a superação destas, identificando alguns<<strong>br</strong> />
pressupostos teóricos <strong>para</strong> que o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
supere o “aprendizado do saber fazer”.<<strong>br</strong> />
Este ensaio conceitua a <strong>natação</strong> como <strong>um</strong> conjunto<<strong>br</strong> />
de habili<strong>da</strong>des motoras que proporcionem o<<strong>br</strong> />
deslocamento autônomo, independente, seguro e<<strong>br</strong> />
prazeroso no meio líquido, sendo a oportuni<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />
6 • Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006<<strong>br</strong> />
de vivenciar experiências corporais aquáticas e de<<strong>br</strong> />
perceber que a água é mais que <strong>um</strong>a superfície de<<strong>br</strong> />
apoio e <strong>um</strong>a dimensão, é <strong>um</strong> espaço <strong>para</strong> emoções,<<strong>br</strong> />
aprendiza<strong>dos</strong> e relacionamentos com o outro, consigo<<strong>br</strong> />
e com a natureza. Nesse sentido, o processo<<strong>br</strong> />
que leva a essa experiência e a esse aprendizado é<<strong>br</strong> />
chamado aqui de ensino-aprendizagem <strong>da</strong> <strong>natação</strong>,<<strong>br</strong> />
no qual os quatro estilos <strong>da</strong> <strong>natação</strong> competitiva<<strong>br</strong> />
são <strong>um</strong> <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> a serem desenvolvi<strong>dos</strong> e não<<strong>br</strong> />
as metas do processo. Nesse caso, o meio líquido é<<strong>br</strong> />
visto como <strong>um</strong> mundo com várias possibili<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />
de ação e movimentos, abandonando-se a visão<<strong>br</strong> />
puramente utilitária, segundo a qual é preciso aprender<<strong>br</strong> />
a salvar-se ou a salvar vi<strong>da</strong>s na água, bem como<<strong>br</strong> />
a abor<strong>da</strong>gem puramente desportiva, fragmentando<<strong>br</strong> />
movimentos e exigindo <strong>um</strong>a ação volta<strong>da</strong> <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
domínio mecânico <strong>dos</strong> quatro estilos de nado.<<strong>br</strong> />
Modelos <strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>: <strong>um</strong>a revisão bibliográfica<<strong>br</strong> />
É interessante notar que, enquanto a aplicação<<strong>br</strong> />
de conhecimentos so<strong>br</strong>e o Desenvolvimento Motor<<strong>br</strong> />
e Aprendizagem Motora no ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> é<<strong>br</strong> />
incipiente, o mesmo não se pode dizer <strong>da</strong>s áreas de<<strong>br</strong> />
Biomecânica e, principalmente, <strong>da</strong> Fisiologia do<<strong>br</strong> />
Exercício, que têm exercido <strong>um</strong> papel importante<<strong>br</strong> />
no desenvolvimento <strong>da</strong> Ciência <strong>da</strong> Natação. Também<<strong>br</strong> />
é notória a ausência de modelos teóricos que<<strong>br</strong> />
dêem sustentação a <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. Por<<strong>br</strong> />
exemplo, a insistência na utilização de bóias, pranchas,<<strong>br</strong> />
cavaletes e tudo mais que facilite e auxilie na<<strong>br</strong> />
flutuação nos estágios iniciais <strong>da</strong> aprendizagem não<<strong>br</strong> />
se baseia em nenh<strong>um</strong> estudo so<strong>br</strong>e o papel destes<<strong>br</strong> />
na aquisição do na<strong>da</strong>r ou mesmo so<strong>br</strong>e o controle<<strong>br</strong> />
postural h<strong>um</strong>ano no meio líquido, ao contrário,<<strong>br</strong> />
parece basear-se na noção de que o corpo h<strong>um</strong>ano<<strong>br</strong> />
é incapaz de controlar seus movimentos no meio<<strong>br</strong> />
liquido, a menos que ele já domine <strong>um</strong> <strong>dos</strong> quatro<<strong>br</strong> />
estilos, <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia que ignora princípios <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
hidrostática e <strong>da</strong> hidrodinâmica. Pode-se considerar<<strong>br</strong> />
que o uso freqüente desses a<strong>para</strong>tos inclusive<<strong>br</strong> />
prejudicaria o controle postural e o equilí<strong>br</strong>io dinâmico<<strong>br</strong> />
no meio líquido por mascarar as percepções<<strong>br</strong> />
do aluno.<<strong>br</strong> />
De maneira geral, a maioria <strong>dos</strong> compêndios de<<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> sugere que o aprendiz deva passar inicialmente<<strong>br</strong> />
por <strong>um</strong>a a<strong>da</strong>ptação ao meio líquido. Em segui<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />
tem início <strong>um</strong>a seqüência pré-determina<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
de tarefas, comuns a to<strong>dos</strong> os indivíduos que, ao<<strong>br</strong> />
final, leva ao aprendizado de <strong>um</strong> ou mais estilos <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> competitiva. A revisão bibliográfica apresenta<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
a seguir objetiva identificar os pressupostos<<strong>br</strong> />
teóricos <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> de ensino, entendi<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
como o aspecto prático <strong>da</strong> empreita<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gógica,<<strong>br</strong> />
reporta<strong>dos</strong> <strong>para</strong> o aprendizado <strong>da</strong> <strong>natação</strong> através<<strong>br</strong> />
<strong>dos</strong> tempos, utilizando <strong>um</strong>a pesquisa de natureza<<strong>br</strong> />
exploratória. A discussão feita a seguir propõe-se a<<strong>br</strong> />
superar o modelo hegemônico, orientando <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> cientificamente<<strong>br</strong> />
referencia<strong>da</strong> e foca<strong>da</strong> no processo ensino-aprendizagem<<strong>br</strong> />
de habili<strong>da</strong>des motoras.<<strong>br</strong> />
Como fenômeno esportivo, segundo a<<strong>br</strong> />
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS<<strong>br</strong> />
AQUÁTICOS - CBDA (2004), a <strong>natação</strong> começou a<<strong>br</strong> />
ser organiza<strong>da</strong> em 1837, na Inglaterra, com as<<strong>br</strong> />
primeiras competições e a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />
Britânica de Natação. No início, o estilo adotado<<strong>br</strong> />
pelos atletas era o nado peito, ou clássico. Ain<strong>da</strong>, a<<strong>br</strong> />
CBDA afirma que na déca<strong>da</strong> de 1870, J. Arthur<<strong>br</strong> />
Trudgeon, <strong>um</strong> instrutor inglês de <strong>natação</strong>, viajou<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a América do Sul e observou <strong>um</strong> estilo<<strong>br</strong> />
alternativo de na<strong>da</strong>r. Ele levou o novo estilo <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
Inglaterra, onde era chamado nado “trudgeon”,<<strong>br</strong> />
hoje, conhecido como nado “crawl” com perna<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
de tesoura. No Brasil, embora os rios, os lagos e os<<strong>br</strong> />
mares constituíssem cenários permanentes nos quais<<strong>br</strong> />
se exibiam grandes na<strong>da</strong>dores, somente em 1898,<<strong>br</strong> />
após a fun<strong>da</strong>ção <strong>dos</strong> primeiros clubes, foi instituído<<strong>br</strong> />
o primeiro campeonato <strong>br</strong>asileiro de <strong>natação</strong>,<<strong>br</strong> />
constituído de <strong>um</strong>a única prova (1.500 metros),
disputa<strong>da</strong> em águas abertas no Rio de Janeiro com<<strong>br</strong> />
regulari<strong>da</strong>de até 1912. Em 1914 foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a<<strong>br</strong> />
Confederação Brasileira de Desportos que desde<<strong>br</strong> />
então passou a promover a <strong>natação</strong> esportiva.<<strong>br</strong> />
Já como prática corporal, é impossível precisar<<strong>br</strong> />
as origens <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. BONACELLI (2004) relata que<<strong>br</strong> />
no século XIII a.C. japoneses e chineses praticavam<<strong>br</strong> />
exercícios físicos aquáticos como práticas médicas,<<strong>br</strong> />
aos moldes <strong>da</strong>s hidroterapias e <strong>da</strong>s massagens.<<strong>br</strong> />
Pinturas rupestres <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s de 9000 a.C. revelam<<strong>br</strong> />
que as origens dessa prática se confundem com as<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> civilização (CATTEAU & GAROFF, 1990). Romanos,<<strong>br</strong> />
por volta de 310 a.C. já tinham o hábito de<<strong>br</strong> />
na<strong>da</strong>r nos lagos e nos rios e foi no mesmo período<<strong>br</strong> />
que surgiram as piscinas dentro <strong>da</strong>s termas. Os romanos<<strong>br</strong> />
tinham em tal conta a <strong>natação</strong> que quando<<strong>br</strong> />
queriam referir-se à falta de educação de alguém<<strong>br</strong> />
diziam: “não sabe ler nem na<strong>da</strong>r” (GRANDE ENCI-<<strong>br</strong> />
CLOPÉDIA DELTA LAROUSSE, 1973). Já na Grécia, as<<strong>br</strong> />
piscinas se localizavam dentro de ginásios e os gregos<<strong>br</strong> />
viam a <strong>natação</strong> como o caminho <strong>para</strong> a elegância<<strong>br</strong> />
e o desenvolvimento harmônico do corpo. Já os<<strong>br</strong> />
povos germânicos mergulhavam seus filhos em<<strong>br</strong> />
águas gela<strong>da</strong>s <strong>para</strong> que os mesmos ganhassem resistência.<<strong>br</strong> />
Assírios, babilônios, egípcios, fenícios, pescadores<<strong>br</strong> />
do golfo Pérsico e do Ceilão, mulheres de<<strong>br</strong> />
Java, indígenas <strong>da</strong> América - to<strong>dos</strong> foram bons na<strong>da</strong>dores.<<strong>br</strong> />
WILKE (1990) relata que durante a I<strong>da</strong>de Média<<strong>br</strong> />
a prática <strong>da</strong> <strong>natação</strong> foi restrita à no<strong>br</strong>eza e aos militares.<<strong>br</strong> />
Afirma que o primeiro manual de <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>ta de 1538, escrito em latim por Nikolaus<<strong>br</strong> />
Wynmann e reeditado em 1968 pelo Instituto Nacional<<strong>br</strong> />
de Educação Física de Madri. Wynmann<<strong>br</strong> />
destacava que o homem não dominava naturalmente<<strong>br</strong> />
a “arte de na<strong>da</strong>r” e, portanto, necessitava de <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
mestre que o orientasse, devido aos perigos do afogamento.<<strong>br</strong> />
Partia do pressuposto de que o homem<<strong>br</strong> />
só seria capaz de se manter na superfície, caso realizasse<<strong>br</strong> />
movimentos específicos <strong>para</strong> a sua sustentação.<<strong>br</strong> />
Os movimentos eram inicialmente aprendi<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
em terra e depois repeti<strong>dos</strong> na água. Por medi<strong>da</strong> de<<strong>br</strong> />
segurança, to<strong>dos</strong> os alunos usavam cintas de junco<<strong>br</strong> />
quando se exercitavam na água (WILKE, 1990).<<strong>br</strong> />
BONACELLI (2004), CATTEAU e GAROFF (1990)<<strong>br</strong> />
afirmam que no século XVII ressurgiu o interesse<<strong>br</strong> />
pela <strong>natação</strong>, que difundiu-se com o surgimento<<strong>br</strong> />
de processos como o do Doutor Blatin e de<<strong>br</strong> />
Chevalier, que utilizavam aparelhos especialmente<<strong>br</strong> />
construí<strong>dos</strong> <strong>para</strong> que os movimentos do nado, <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
estilo do tipo ¨clássico¨, ou seja, nado de <strong>br</strong>uços<<strong>br</strong> />
com coordenação simultânea de mem<strong>br</strong>os inferiores<<strong>br</strong> />
e superiores, fossem imita<strong>dos</strong> fora <strong>da</strong> água.<<strong>br</strong> />
BONACELLI (2004) destaca que em 1797 o italiano<<strong>br</strong> />
De Bernardi mudou a visão <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>, voltando seus estu<strong>dos</strong> à flutuação,<<strong>br</strong> />
afirmando que os artefatos utiliza<strong>dos</strong> como auxílio<<strong>br</strong> />
na flutuação e no aprendizado <strong>dos</strong> gestos<<strong>br</strong> />
desestimulavam os aprendizes.<<strong>br</strong> />
Em 1798, o alemão Guts Muths insistia no uso de<<strong>br</strong> />
artefatos <strong>para</strong> a flutuação. Seu método era dividido<<strong>br</strong> />
em três partes: a<strong>da</strong>ptação geral à água, exercícios em<<strong>br</strong> />
seco no banco de <strong>natação</strong> e exercícios sustenta<strong>dos</strong> na<<strong>br</strong> />
água com cinta de <strong>natação</strong>. Predominava o estilo de<<strong>br</strong> />
nado ¨clássico¨ (nado peito) e os alunos<<strong>br</strong> />
movimentavam-se sob a voz de comando do professor,<<strong>br</strong> />
provavelmente pela origem militar deste. Guts Muths<<strong>br</strong> />
popularizou o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, já que a<strong>da</strong>ptou seu<<strong>br</strong> />
método <strong>para</strong> que <strong>um</strong> professor acompanhasse vários<<strong>br</strong> />
alunos simultaneamente, através de <strong>um</strong> sistema de<<strong>br</strong> />
varais com cabos que sustentavam os alunos na<<strong>br</strong> />
superfície <strong>da</strong> água. Nesse período, militares e<<strong>br</strong> />
trabalhadores de salinas aposenta<strong>dos</strong> eram os<<strong>br</strong> />
responsáveis pelo ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> (WILKE, 1990).<<strong>br</strong> />
Em 1914, Hermann Ladebeck descreveu <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
metodologia <strong>para</strong> iniciantes com o objetivo de<<strong>br</strong> />
a<strong>da</strong>ptá-los à água (WILKE, 1990). Eram realiza<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
saltos, saí<strong>da</strong>s, movimentos de perna<strong>da</strong>s em decúbito<<strong>br</strong> />
dorsal, antes <strong>da</strong> aprendizagem <strong>dos</strong> estilos de nado.<<strong>br</strong> />
Em 1925, a <strong>natação</strong> apareceu nas aulas de Educação<<strong>br</strong> />
Física Escolar, introduzi<strong>da</strong> na Alemanha por<<strong>br</strong> />
Kurt Wiessner, que pode ser considerado como <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
<strong>dos</strong> precursores de <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia mais moderna,<<strong>br</strong> />
basea<strong>da</strong> na compreensão <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de natural do<<strong>br</strong> />
corpo em se sustentar na água. Seu ensino era feito<<strong>br</strong> />
sem aparelhos sustentadores, diretamente na água,<<strong>br</strong> />
usando <strong>um</strong> método global de ensino.<<strong>br</strong> />
CATTEAU e GAROFF (1990) desenvolveram <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
método fortemente influenciado pela<<strong>br</strong> />
psicomotrici<strong>da</strong>de, com claras preocupações utilitárias.<<strong>br</strong> />
Estes autores classificaram as diferentes correntes<<strong>br</strong> />
pe<strong>da</strong>gógicas surgi<strong>da</strong>s através <strong>dos</strong> tempos <strong>para</strong> o ensino<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong>: corrente global, analítica e moderna. A<<strong>br</strong> />
corrente global é a mais antiga, o aprendizado não é<<strong>br</strong> />
sistematizado em <strong>um</strong> método, mas ocorre na medi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>de do sujeito com a água e do confronto<<strong>br</strong> />
individual com as dificul<strong>da</strong>des que lhe são impostas<<strong>br</strong> />
no contato com este meio. A corrente analítica, oposta<<strong>br</strong> />
à global, representa a tentativa de racionalizar a<<strong>br</strong> />
aprendizagem. Nesta, os movimentos são fraciona<strong>dos</strong>,<<strong>br</strong> />
conduzi<strong>dos</strong> passo a passo pelo professor e predomina<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a etapa de <strong>natação</strong> em seco, muitas vezes com o<<strong>br</strong> />
¨auxílio¨ de engenhocas que, de acordo com o autores<<strong>br</strong> />
cita<strong>dos</strong>, conduziam à época de suas invenções ao<<strong>br</strong> />
<strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006 • 7
FERNANDES, J.R.P. & LOBO DA COSTA, P.H.<<strong>br</strong> />
suicídio pe<strong>da</strong>gógico (<strong>para</strong> mais detalhes so<strong>br</strong>e esses<<strong>br</strong> />
a<strong>para</strong>tos, os leitores são incentiva<strong>dos</strong> a consultar em<<strong>br</strong> />
CATTEAU & GAROFF, 1990). A concepção analítica<<strong>br</strong> />
foi muito aceita nos meios militares e também<<strong>br</strong> />
influenciou fortemente, <strong>além</strong> do ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, a<<strong>br</strong> />
Educação Física Escolar no Brasil. Por último, a<<strong>br</strong> />
corrente moderna, <strong>um</strong>a reação contra a fragmentação<<strong>br</strong> />
e o mecanicismo <strong>da</strong> corrente analítica. A corrente<<strong>br</strong> />
moderna parte do aprendizado diretamente feito na<<strong>br</strong> />
água e adota elementos comuns entre to<strong>da</strong>s as formas<<strong>br</strong> />
de nado como a base do aprendizado: as uni<strong>da</strong>des de<<strong>br</strong> />
equilí<strong>br</strong>io, de respiração e de propulsão.<<strong>br</strong> />
So<strong>br</strong>e <strong>um</strong>a possível pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
Ora, se pe<strong>da</strong>gogia é a reflexão so<strong>br</strong>e <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />
educativa, <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> deve elaborar<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong> conjunto de pressupostos teóricos que<<strong>br</strong> />
vão orientar <strong>para</strong> <strong>um</strong>a <strong>da</strong><strong>da</strong> metodologia de ensino<<strong>br</strong> />
correspondente. Assim, pode-se perguntar: quais as<<strong>br</strong> />
bases teóricas <strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong> de ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
aqui apresenta<strong>dos</strong>? Para se falar em pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> é necessário ass<strong>um</strong>ir que o aprendizado <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> tenha componentes educativos, entendi<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
aqui como aqueles de natureza procedimental,<<strong>br</strong> />
conceitual e atitudinal presentes nos conteú<strong>dos</strong> de<<strong>br</strong> />
ensino (FERRAZ, 1996). Por exemplo, conhecer a<<strong>br</strong> />
história <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, as regras e as provas de competição,<<strong>br</strong> />
as normas de segurança em piscinas, praias<<strong>br</strong> />
e rios podem representar a natureza conceitual <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
conteú<strong>dos</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, enquanto que ser<<strong>br</strong> />
colaborativo com os colegas com mais dificul<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />
na água, respeitar o meio ambiente cui<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
limpeza <strong>da</strong>s praias e águas de rios, não empurrar<<strong>br</strong> />
colegas na água podem exemplificar a natureza<<strong>br</strong> />
atitudinal <strong>dos</strong> conteú<strong>dos</strong> de ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>.<<strong>br</strong> />
Conseqüentemente, é óbvio que a Educação Física<<strong>br</strong> />
enquanto área de estudo deve alimentar e subsidiar<<strong>br</strong> />
esta elaboração. Quando os componentes<<strong>br</strong> />
educativos <strong>da</strong> aprendizagem <strong>da</strong> <strong>natação</strong> não são reconheci<strong>dos</strong>,<<strong>br</strong> />
aprender a na<strong>da</strong>r se limita ao domínio<<strong>br</strong> />
técnico <strong>dos</strong> quatro estilos de nado, orientação que<<strong>br</strong> />
parece predominar na maioria <strong>da</strong>s concepções de<<strong>br</strong> />
ensino de <strong>natação</strong> apresenta<strong>da</strong>s.<<strong>br</strong> />
No Brasil, <strong>um</strong>a visão <strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
começou a se estabelecer no ano de 1978, quando<<strong>br</strong> />
o professor David C. MACHADO publicou o livro<<strong>br</strong> />
“Metodologia <strong>da</strong> Natação”, incluindo <strong>um</strong>a etapa<<strong>br</strong> />
de a<strong>da</strong>ptação ao meio líquido, até então ignora<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
na aprendizagem. Anos mais tarde, a tradução <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
8 • Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006<<strong>br</strong> />
Em sua o<strong>br</strong>a, LOTUFO (s.d.), por sua vez,<<strong>br</strong> />
menciona diversos sistemas de ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>:<<strong>br</strong> />
Sistema Brink, Método de Kallenberg, Método <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Confiança de Cubbon, Método Handley entre<<strong>br</strong> />
outros. Avaliando ca<strong>da</strong> <strong>um</strong> deles sob o ponto de<<strong>br</strong> />
vista <strong>da</strong> busca de claros referenciais pe<strong>da</strong>gógicos,<<strong>br</strong> />
ou seja, de pressupostos teóricos que subsidiem os<<strong>br</strong> />
méto<strong>dos</strong> de ensino propostos, tais sistemas parecem<<strong>br</strong> />
mais tratar-se de conjuntos de ativi<strong>da</strong>des ordena<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
de acordo com certos critérios de importância,<<strong>br</strong> />
estabeleci<strong>dos</strong> com base na experiência prática de<<strong>br</strong> />
ca<strong>da</strong> autor.<<strong>br</strong> />
o português <strong>da</strong> o<strong>br</strong>a ¨A Natação: ciência e técnica<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a pre<strong>para</strong>ção de campeões¨ de James E.<<strong>br</strong> />
COUNSILMAN no ano de 1980, o original <strong>da</strong>ta de 1968,<<strong>br</strong> />
representou <strong>um</strong> grande avanço tanto no aspecto ¨do<<strong>br</strong> />
que ensinar¨, já que trazia descrições detalha<strong>da</strong>s à época<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> mecânica <strong>dos</strong> quatro estilos de nado, quanto na<<strong>br</strong> />
proposta <strong>para</strong> o ensino. Apesar de “Doc Counsilman”<<strong>br</strong> />
ser considerado o Pai <strong>da</strong> Ciência <strong>da</strong> Natação<<strong>br</strong> />
(MAGLISHO, 1993) é preciso reconhecer também sua<<strong>br</strong> />
grande contribuição <strong>para</strong> a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong>,<<strong>br</strong> />
introduzindo conceitos <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong> aprendizagem<<strong>br</strong> />
na sistematização do ensino. Ambas as o<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />
fortemente influenciaram o ensino e o treinamento<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong> no Brasil desde então.<<strong>br</strong> />
Atualmente, parece ain<strong>da</strong> predominar no meio<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> Educação Física <strong>um</strong> ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> de forte<<strong>br</strong> />
orientação desportiva, restringindo-se ao ensino <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
quatro estilos formais de <strong>natação</strong> (XAVIER FILHO &<<strong>br</strong> />
MANOEL, 2002). Isso muito provavelmente deve-se<<strong>br</strong> />
ao fato de que os professores <strong>dos</strong> atuais professores<<strong>br</strong> />
alimentaram-se nas fontes de MACHADO (1978) e<<strong>br</strong> />
COUNSILMAN (1980) cita<strong>da</strong>s acima, que são fortes<<strong>br</strong> />
representantes <strong>da</strong> tendência desportiva. Ou seja,<<strong>br</strong> />
muito pouca pe<strong>da</strong>gogia foi discuti<strong>da</strong> em <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
desde então. Parece que ain<strong>da</strong> predomina nas escolas,<<strong>br</strong> />
clubes e academias <strong>um</strong> ensino que poderia ser<<strong>br</strong> />
classificado como de natureza analítica-progressiva,<<strong>br</strong> />
com fragmentação <strong>dos</strong> movimentos de acordo<<strong>br</strong> />
com o estilo de nado a ser aprendido e sistematização<<strong>br</strong> />
de seqüências pe<strong>da</strong>gógicas com graus progressivos<<strong>br</strong> />
de dificul<strong>da</strong>de. A etapa <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação ao meio<<strong>br</strong> />
líquido está sempre presente, alguns elementos são<<strong>br</strong> />
demonstra<strong>dos</strong> fora <strong>da</strong> água e há contínuo<<strong>br</strong> />
monitoramento do professor, a fim de eliminar<<strong>br</strong> />
movimentos inadequa<strong>dos</strong> tecnicamente, tendo
como modelo a execução basea<strong>da</strong> em preceitos<<strong>br</strong> />
biomecânicos rigorosos. Tal modelo parece ser<<strong>br</strong> />
muito bem sucedido, haja vista a proliferação de<<strong>br</strong> />
escolas de <strong>natação</strong> pelo país e a enorme procura<<strong>br</strong> />
por profissionais <strong>para</strong> atuarem nessa área.<<strong>br</strong> />
Convivem na atuali<strong>da</strong>de várias correntes que<<strong>br</strong> />
orientam o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. A falta de bases teóricas<<strong>br</strong> />
consistentes, ou seja, de <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>, levou muitos professores a adotarem méto<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
próprios. Mesmo assim, não é possível ensinar<<strong>br</strong> />
na<strong>da</strong> sem que se parta de <strong>um</strong>a idéia de como as<<strong>br</strong> />
aprendizagens são produzi<strong>da</strong>s (NEIRA, 2003). Conseqüentemente,<<strong>br</strong> />
mesmo não levando em consideração<<strong>br</strong> />
as contribuições <strong>da</strong>s teorias so<strong>br</strong>e como ocorre<<strong>br</strong> />
a aprendizagem de movimentos, <strong>um</strong> professor de<<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> sempre se utiliza de <strong>um</strong>a determina<strong>da</strong> concepção.<<strong>br</strong> />
Assim, a to<strong>da</strong> atuação de <strong>um</strong> educador<<strong>br</strong> />
corresponde <strong>um</strong>a determina<strong>da</strong> concepção.<<strong>br</strong> />
Mesmo sem consenso entre as correntes, NEIRA<<strong>br</strong> />
(2003) destaca que não se pode perder de vista a<<strong>br</strong> />
existência de <strong>um</strong>a série de princípios com os quais as<<strong>br</strong> />
diferentes correntes de ensino deveriam estar de acordo:<<strong>br</strong> />
as aprendizagens dependem <strong>da</strong>s características<<strong>br</strong> />
singulares de ca<strong>da</strong> indivíduo e estas correspondem,<<strong>br</strong> />
em parte, às experiências que ca<strong>da</strong> <strong>um</strong> viveu desde o<<strong>br</strong> />
nascimento, o modo como se aprende e os ritmos <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
aprendizagens variam segundo as capaci<strong>da</strong>des,<<strong>br</strong> />
motivações e interesses de ca<strong>da</strong> indivíduo, enfim, a<<strong>br</strong> />
maneira como se produzem as aprendizagens é o<<strong>br</strong> />
resultado de processos singulares e pessoais.<<strong>br</strong> />
Quando se pretende ir <strong>além</strong> do nível sensoriomotor<<strong>br</strong> />
do ato, deve-se pensar <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia que valorize a<<strong>br</strong> />
¨consciência de si mesmo na ação¨, <strong>para</strong> citar CATTEAU<<strong>br</strong> />
e GAROFF (1990). Uma possibili<strong>da</strong>de seria partir de<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a abor<strong>da</strong>gem que privilegie a interação dinâmica<<strong>br</strong> />
entre os elementos organismo-ambiente-tarefa,<<strong>br</strong> />
sugeri<strong>da</strong> por NEWELL (1986).<<strong>br</strong> />
Ao se apropriar <strong>da</strong> visão acima, é possível pensar<<strong>br</strong> />
em <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> que supere o modelo<<strong>br</strong> />
focado no c<strong>um</strong>primento de tarefas que levem<<strong>br</strong> />
aos quatro estilos de nado. Para tanto, o ensino precisa<<strong>br</strong> />
ser organizado de tal forma a se considerar que<<strong>br</strong> />
as características do indivíduo (organismo) mu<strong>da</strong>m<<strong>br</strong> />
(pois este cresce, desenvolve-se), <strong>além</strong> disso, fatores<<strong>br</strong> />
externos aos quais o corpo h<strong>um</strong>ano estava mais<<strong>br</strong> />
habituado (ambiente), quais sejam, aqueles que o<<strong>br</strong> />
afetam no ambiente terrestre, mu<strong>da</strong>m quando este<<strong>br</strong> />
mesmo corpo está imerso em água. Adicionalmente,<<strong>br</strong> />
an<strong>da</strong>r e correr são formas de locomoção apropria<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o ambiente terrestre (tarefa), porém o<<strong>br</strong> />
na<strong>da</strong>r é a forma de locomoção mais eficiente no<<strong>br</strong> />
meio líquido. Uma abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> como essa a<strong>br</strong>e a possibili<strong>da</strong>de <strong>para</strong> que o<<strong>br</strong> />
ensino passe a privilegiar o que o aluno já sabia, a<<strong>br</strong> />
enfatizar a diversificação de habili<strong>da</strong>des básicas e a<<strong>br</strong> />
explorar a equivalência motora com vistas à aquisição<<strong>br</strong> />
<strong>dos</strong> estilos <strong>da</strong> <strong>natação</strong> competitiva.<<strong>br</strong> />
Assim, relativamente às características do<<strong>br</strong> />
ambiente, aspectos como o local <strong>da</strong> aula (piscina<<strong>br</strong> />
fun<strong>da</strong> ou rasa, rio, mar, outros), o tipo de instrução<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong><strong>da</strong> (demonstração, instrução verbal), o método<<strong>br</strong> />
de ensino (por exploração, descoberta guia<strong>da</strong>,<<strong>br</strong> />
comando) entre outros poderiam ser manipula<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
pelo professor. Já quanto à tarefa, características de<<strong>br</strong> />
espaço (direção, níveis de profundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> piscina,<<strong>br</strong> />
planos de movimento), do tempo (lento, rápido,<<strong>br</strong> />
acelerando ou desacelerando), do nível de esforço<<strong>br</strong> />
(alto, médio, baixo), do uso ou não de objetos<<strong>br</strong> />
(pranchas, na<strong>da</strong>deiras, arcos, bolas, flutuadores), <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
relacionamentos (tarefas em duplas, trios ou em<<strong>br</strong> />
grupos maiores), também podem ser varia<strong>dos</strong> a fim<<strong>br</strong> />
de se proporcionar diversi<strong>da</strong>de de experiências na<<strong>br</strong> />
água.<<strong>br</strong> />
Dessa maneira, a <strong>natação</strong> passa a ser compreendi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
como a a<strong>da</strong>ptação do homem ao elemento<<strong>br</strong> />
água, feita através de to<strong>da</strong>s as formas de movimento<<strong>br</strong> />
“junto com” (na<strong>da</strong>r em rios), “so<strong>br</strong>e” (na<strong>dos</strong> diversos)<<strong>br</strong> />
e “sob” (na<strong>dos</strong> submersos) a água, que<<strong>br</strong> />
produzam sustentação do corpo <strong>para</strong> o controle<<strong>br</strong> />
respiratório e a propulsão <strong>para</strong> o deslocamento. Essa<<strong>br</strong> />
a<strong>da</strong>ptação deve englobar o domínio de to<strong>da</strong>s as<<strong>br</strong> />
possibili<strong>da</strong>des de movimento no meio líquido, a<<strong>br</strong> />
fim de que o indivíduo possa desfrutar deste meio<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> seus interesses particulares, que podem estar<<strong>br</strong> />
no campo do lazer, <strong>da</strong> reabilitação, <strong>da</strong> saúde, <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
competição, <strong>da</strong> arte, entre outros. Conseqüentemente,<<strong>br</strong> />
a questão que se enfatiza aqui é a de que<<strong>br</strong> />
existem outros resulta<strong>dos</strong> no domínio psicomotor<<strong>br</strong> />
do comportamento que também podem ser<<strong>br</strong> />
enfatiza<strong>dos</strong> no ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> quando este tem<<strong>br</strong> />
por meta o domínio do meio líquido e não <strong>dos</strong> estilos<<strong>br</strong> />
de nado.<<strong>br</strong> />
Qualquer mu<strong>da</strong>nça que afete <strong>um</strong> <strong>dos</strong> elementos<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> tríade organismo-ambiente-tarefa afetará os demais<<strong>br</strong> />
e também a interação entre eles. Por exemplo,<<strong>br</strong> />
se o indivíduo cresce, ou se este passa a se deslocar<<strong>br</strong> />
no meio líquido, ou ain<strong>da</strong> se este não sabia e passa<<strong>br</strong> />
a saber, digamos, o nado ¨crawl¨, to<strong>da</strong> a interação<<strong>br</strong> />
entre os elementos mu<strong>da</strong>. Essa é <strong>um</strong>a visão complexa,<<strong>br</strong> />
que parte do pressuposto de que conhecer<<strong>br</strong> />
detalhes so<strong>br</strong>e a mecânica <strong>dos</strong> na<strong>dos</strong>, so<strong>br</strong>e o crescimento<<strong>br</strong> />
e desenvolvimento do ser h<strong>um</strong>ano e so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
as características do ambiente aquático, isola<strong>da</strong>mente,<<strong>br</strong> />
não é garantia de sucesso no ensino.<<strong>br</strong> />
<strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006 • 9
FERNANDES, J.R.P. & LOBO DA COSTA, P.H.<<strong>br</strong> />
A prática pe<strong>da</strong>gógica coloca desafios que não<<strong>br</strong> />
podem ser imagina<strong>dos</strong> ou ¨simula<strong>dos</strong>¨ em<<strong>br</strong> />
ambientes artificiais, de laboratório. Ela exige<<strong>br</strong> />
pesquisa de natureza pe<strong>da</strong>gógica, que, aí sim, fará<<strong>br</strong> />
uso do conhecimento ac<strong>um</strong>ulado nas áreas<<strong>br</strong> />
relaciona<strong>da</strong>s acima, e de tantas outras, <strong>para</strong> a busca<<strong>br</strong> />
de <strong>um</strong>a intervenção que seja fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
cientificamente e ca<strong>da</strong> vez mais eficaz. É interessante<<strong>br</strong> />
notar que CLARYS (1996), trazendo <strong>um</strong>a perspectiva<<strong>br</strong> />
histórica so<strong>br</strong>e a ciência <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, já alertou <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
a necessi<strong>da</strong>de de pesquisa de natureza pe<strong>da</strong>gógica.<<strong>br</strong> />
Este autor analisou 685 artigos publica<strong>dos</strong> entre<<strong>br</strong> />
1969 e 1995 em periódicos renoma<strong>dos</strong> e identificou<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a clara preferência <strong>dos</strong> pesquisadores por temas<<strong>br</strong> />
relaciona<strong>dos</strong> à Fisiologia e à Biomecânica <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Natação, sendo a área <strong>da</strong> Educação a que menos<<strong>br</strong> />
recebeu atenção. Após mais de 10 anos, não parece<<strong>br</strong> />
que a situação hoje seja muito diferente.<<strong>br</strong> />
Ao se reconhecer que, ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o ser<<strong>br</strong> />
h<strong>um</strong>ano apresenta inúmeras mu<strong>da</strong>nças em sua<<strong>br</strong> />
capaci<strong>da</strong>de de se mover e que tais mu<strong>da</strong>nças são de<<strong>br</strong> />
natureza progressiva, organiza<strong>da</strong> e interdependente,<<strong>br</strong> />
já se tem alguns elementos importantes <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
justificativa de <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia do movimento<<strong>br</strong> />
h<strong>um</strong>ano de maneira geral e <strong>da</strong> <strong>natação</strong> em<<strong>br</strong> />
particular. Aqui identifica-se claramente os<<strong>br</strong> />
conhecimentos <strong>da</strong> área do Desenvolvimento Motor,<<strong>br</strong> />
contribuindo de maneira potencial <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
formulação de <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong>.<<strong>br</strong> />
XAVIER FILHO e MANOEL (2002) apontam nessa<<strong>br</strong> />
direção, relatando que os padrões do na<strong>da</strong>r em<<strong>br</strong> />
desenvolvimento, desde o reflexo do na<strong>da</strong>r, não têm<<strong>br</strong> />
sido considera<strong>dos</strong> no ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> e que estes<<strong>br</strong> />
são freqüentemente trata<strong>dos</strong> como erros de<<strong>br</strong> />
performance, pois são constantemente com<strong>para</strong><strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
aos padrões tecnicamente estrutura<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> quatro<<strong>br</strong> />
estilos de nado. Para estes autores, a preocupação<<strong>br</strong> />
de <strong>um</strong>a abor<strong>da</strong>gem desportiva tem sido a de<<strong>br</strong> />
eliminar os erros de execução, que nestes casos, são<<strong>br</strong> />
confundi<strong>dos</strong> com padrões rudimentares que<<strong>br</strong> />
compõem etapas do desenvolvimento do na<strong>da</strong>r.<<strong>br</strong> />
Basea<strong>dos</strong> em pressupostos desenvolvimentais, estes<<strong>br</strong> />
autores também adotam a Competência Aquática<<strong>br</strong> />
como meta do ensino.<<strong>br</strong> />
Na tentativa de estabelecer <strong>um</strong>a relação entre<<strong>br</strong> />
subsídios teóricos e sistematização do ensino <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>, FREUDENHEIM, GAMA e CARRACEDO (2003)<<strong>br</strong> />
propõem questões norteadoras que, <strong>um</strong>a vez<<strong>br</strong> />
respondi<strong>da</strong>s pelas autoras, criam <strong>um</strong> referencial <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, segundo o qual: concebe<<strong>br</strong> />
a habili<strong>da</strong>de do na<strong>da</strong>r como organiza<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
hierarquicamente em componentes horizontais e<<strong>br</strong> />
10 • Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006<<strong>br</strong> />
verticais; possui três fases de ensino basea<strong>da</strong>s em<<strong>br</strong> />
pressupostos devenvolvimentais (fase de<<strong>br</strong> />
movimentos fun<strong>da</strong>mentais, fase de combinação de<<strong>br</strong> />
movimentos fun<strong>da</strong>mentais e fase de movimentos<<strong>br</strong> />
culturalmente determina<strong>dos</strong>); estabelece que na fase<<strong>br</strong> />
de movimentos culturalmente determina<strong>dos</strong> outras<<strong>br</strong> />
habili<strong>da</strong>des <strong>além</strong> <strong>dos</strong> estilos de nado podem ser<<strong>br</strong> />
ensina<strong>da</strong>s. Outro aspecto importante dessa proposta<<strong>br</strong> />
diz respeito ao reconhecimento de que <strong>além</strong> de<<strong>br</strong> />
deman<strong>da</strong>s motoras, aspectos afetivo-sociais e<<strong>br</strong> />
cognitivos também compõem as habili<strong>da</strong>des do<<strong>br</strong> />
na<strong>da</strong>r.<<strong>br</strong> />
Não é possível fazer a crítica a professores de<<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong> que não têm usado conhecimentos de <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
ou de outra área de pesquisa, sem que se avalie em<<strong>br</strong> />
que medi<strong>da</strong> estas mesmas áreas têm efetivamente<<strong>br</strong> />
respondido às questões levanta<strong>da</strong>s na prática<<strong>br</strong> />
pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. Enquanto a abor<strong>da</strong>gem<<strong>br</strong> />
desportiva responder adequa<strong>da</strong>mente as questões<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> <strong>natação</strong> (o que ensinar,<<strong>br</strong> />
como fazê-lo e <strong>para</strong> qual propósito), esta vai<<strong>br</strong> />
continuar prevalecendo. Vale, então, questionar: o<<strong>br</strong> />
que se sabe so<strong>br</strong>e o desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />
motoras em ambiente aquático? Estamos falando<<strong>br</strong> />
de ¨locomoção aquática¨ ou de ¨estilos de nado¨?<<strong>br</strong> />
Em qual medi<strong>da</strong> <strong>um</strong> é pré-requisito <strong>para</strong> a<<strong>br</strong> />
aprendizagem do outro? Exercitar-se em seco<<strong>br</strong> />
favorece a aprendizagem? Qual a importância <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
percepção <strong>da</strong>s forças que a água exerce so<strong>br</strong>e o corpo<<strong>br</strong> />
em movimento no domínio corporal nesse meio?<<strong>br</strong> />
Além dessas, muitas outras questões surgem quando<<strong>br</strong> />
se pretende elaborar <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia que supere o<<strong>br</strong> />
domínio <strong>dos</strong> quatro estilos de nado. Mesmo assim,<<strong>br</strong> />
ou seja, mesmo que essa pe<strong>da</strong>gogia ain<strong>da</strong> precise<<strong>br</strong> />
ser elabora<strong>da</strong>, é possível traçar <strong>um</strong> caminho até ela.<<strong>br</strong> />
Pode-se começar, lem<strong>br</strong>ando que as formas de<<strong>br</strong> />
locomoção aquática devem resultar <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
diversificação de padrões básicos de propulsão do<<strong>br</strong> />
corpo, que podem se valer principalmente <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
mem<strong>br</strong>os inferiores, <strong>dos</strong> superiores ou mesmo <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
movimentos ondulatórios do tronco, do controle<<strong>br</strong> />
respiratório, do equilí<strong>br</strong>io dinâmico, <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
flutuação. Contudo, é possível apenas especular<<strong>br</strong> />
que a diversificação dessas habili<strong>da</strong>des básicas<<strong>br</strong> />
seria <strong>um</strong>a condição <strong>para</strong> a aquisição do na<strong>da</strong>r nos<<strong>br</strong> />
estilos formais, pois ain<strong>da</strong> não se sabe como <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
coisa levaria à outra. Claro é que os quatro estilos<<strong>br</strong> />
de nado são construções h<strong>um</strong>anas e, como tais,<<strong>br</strong> />
requerem <strong>um</strong> processo de aprendizagem, ou seja,<<strong>br</strong> />
não são adquiri<strong>dos</strong> espontaneamente. Caso estes<<strong>br</strong> />
sejam <strong>um</strong>a meta significativa, é preciso <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
caminho <strong>para</strong> se atingí-la. Como, então,
diversificar as habili<strong>da</strong>des <strong>para</strong> se chegar ao<<strong>br</strong> />
movimento culturalmente determinado? Pode-se<<strong>br</strong> />
partir <strong>dos</strong> modelos conheci<strong>dos</strong> <strong>para</strong> a aquisição<<strong>br</strong> />
de habili<strong>da</strong>des motoras como o drible no basquete<<strong>br</strong> />
a partir <strong>da</strong> combinação do correr e do quicar<<strong>br</strong> />
fun<strong>da</strong>mentais, só <strong>para</strong> citar <strong>um</strong> exemplo? São<<strong>br</strong> />
questões que a área <strong>da</strong> Aprendizagem Motora<<strong>br</strong> />
(talvez aquática?) certamente responderia.<<strong>br</strong> />
FREUDENHEIM editou em 1995 <strong>um</strong>a o<strong>br</strong>a que<<strong>br</strong> />
adota o conceito do ¨na<strong>da</strong>r¨ como mais<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>angente que o de ¨<strong>natação</strong>¨, este último<<strong>br</strong> />
entendido como o fenômeno esportivo<<strong>br</strong> />
propriamente dito. Para os autores que<<strong>br</strong> />
colaboraram nesta o<strong>br</strong>a, ¨na<strong>da</strong>r¨ abor<strong>da</strong> to<strong>da</strong>s as<<strong>br</strong> />
possibili<strong>da</strong>des de flutuação e deslocamento na<<strong>br</strong> />
água de maneira autônoma e controla<strong>da</strong> que<<strong>br</strong> />
podem incluir os estilos <strong>da</strong> <strong>natação</strong> competitiva.<<strong>br</strong> />
Esta contribuição claramente a<strong>br</strong>e as portas <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
<strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> orienta<strong>da</strong> às diferentes<<strong>br</strong> />
dimensões do processo ensino-aprendizagem:<<strong>br</strong> />
biológica, psicológica e social. De grande<<strong>br</strong> />
importância é a discussão apresenta<strong>da</strong> por TANI<<strong>br</strong> />
(1995) que sugere que a aprendizagem do na<strong>da</strong>r<<strong>br</strong> />
seja encara<strong>da</strong> como <strong>um</strong> processo de solucionar<<strong>br</strong> />
problemas motores, o que leva a <strong>um</strong>a nova<<strong>br</strong> />
concepção so<strong>br</strong>e o papel <strong>dos</strong> erros de execução,<<strong>br</strong> />
do professor e <strong>da</strong> repetição. Erros, por exemplo,<<strong>br</strong> />
não são vistos como incompetência <strong>dos</strong> alunos e<<strong>br</strong> />
nem precisam ser elimina<strong>dos</strong> a qualquer custo<<strong>br</strong> />
pelo professor, pois são fontes de informação<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o desempenho e o aluno deve aprender a<<strong>br</strong> />
identificá-los com a aju<strong>da</strong> do professor. Nesse<<strong>br</strong> />
mesmo sentido, o professor não é aquele que<<strong>br</strong> />
corrige os erros, mas orienta <strong>para</strong> a percepção<<strong>br</strong> />
destes, legando aos alunos a ativa tarefa de avaliar<<strong>br</strong> />
seu desempenho. O aluno passa a ser agente de<<strong>br</strong> />
seu aprendizado. Certamente, o uso destes<<strong>br</strong> />
conhecimentos é capaz de transformar a maneira<<strong>br</strong> />
de se encarar o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>.<<strong>br</strong> />
Outra questão fun<strong>da</strong>mental a ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> é<<strong>br</strong> />
quanto às principais mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s quando<<strong>br</strong> />
o indivíduo troca o meio terrestre pelo meio<<strong>br</strong> />
aquático. Fica claro que a interação do corpo<<strong>br</strong> />
h<strong>um</strong>ano com a água se reflete em mu<strong>da</strong>nças<<strong>br</strong> />
fisiológicas e mecânicas distintas <strong>da</strong>s conheci<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o ambiente terrestre. Assim, <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> que considere tais<<strong>br</strong> />
mu<strong>da</strong>nças enfatizará estratégias que permitam<<strong>br</strong> />
que o aluno experimente tais mu<strong>da</strong>nças e utilizeas<<strong>br</strong> />
em favor de sua relação com a água, estando<<strong>br</strong> />
em repouso ou em movimento. O QUADRO 1<<strong>br</strong> />
busca orientar essa questão:<<strong>br</strong> />
QUADRO 1 - Mu<strong>da</strong>nças que afetam o corpo quando <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
passagem do ambiente terrestre <strong>para</strong> o<<strong>br</strong> />
aquático.<<strong>br</strong> />
Terra Água<<strong>br</strong> />
Equilí<strong>br</strong>io<<strong>br</strong> />
Mem<strong>br</strong>os<<strong>br</strong> />
superiores<<strong>br</strong> />
Mem<strong>br</strong>os<<strong>br</strong> />
inferiores<<strong>br</strong> />
Propulsão<<strong>br</strong> />
Mem<strong>br</strong>os<<strong>br</strong> />
inferiores<<strong>br</strong> />
Mem<strong>br</strong>os<<strong>br</strong> />
superiores<<strong>br</strong> />
Respiração Nasal Bucal<<strong>br</strong> />
Inspiração Reflexa Automatiza<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Expiração Passiva Ativa<<strong>br</strong> />
Superfície<<strong>br</strong> />
de<<strong>br</strong> />
apoio<<strong>br</strong> />
Rígi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
e estável<<strong>br</strong> />
Não<<strong>br</strong> />
rígi<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
e<<strong>br</strong> />
instável<<strong>br</strong> />
Efeito<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
força<<strong>br</strong> />
de<<strong>br</strong> />
reação<<strong>br</strong> />
do<<strong>br</strong> />
apoio<<strong>br</strong> />
Em<<strong>br</strong> />
repouso,<<strong>br</strong> />
o corpo<<strong>br</strong> />
fica<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong>do<<strong>br</strong> />
de<<strong>br</strong> />
pé<<strong>br</strong> />
Em<<strong>br</strong> />
repouso,<<strong>br</strong> />
o<<strong>br</strong> />
corpo<<strong>br</strong> />
gira<<strong>br</strong> />
PALMER (1990) descreve princípios básicos de<<strong>br</strong> />
hidrostática e hidrodinâmica em seu livro com<<strong>br</strong> />
exemplos de tarefas simples que poderiam ser utiliza<strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> identificá-los. Aqui também pode-se<<strong>br</strong> />
questionar: como os conhecimentos <strong>da</strong> hidrostática<<strong>br</strong> />
e hidrodinâmica têm favorecido a aprendizagem <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>? Parece óbvio que tal resposta é bem conheci<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a fase de ¨a<strong>da</strong>ptação ao meio líquido¨<<strong>br</strong> />
no início <strong>da</strong> aprendizagem, a<strong>br</strong>indo to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />
de exercício de criativi<strong>da</strong>de por parte <strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
professores. Porém, como responder isso <strong>para</strong> as<<strong>br</strong> />
etapas mais avança<strong>da</strong>s <strong>da</strong> aprendizagem? Já há conhecimento<<strong>br</strong> />
biomecânico detalhado acerca do efeito<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>s forças que o corpo produz na água so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
própria execução <strong>dos</strong> na<strong>dos</strong>. Ora, o problema que<<strong>br</strong> />
se coloca é como partir de todo esse conhecimento<<strong>br</strong> />
disponível <strong>para</strong> se ensinar a na<strong>da</strong>r? Talvez <strong>um</strong> caminho<<strong>br</strong> />
possa se fazer com que o aluno sempre foque<<strong>br</strong> />
sua atenção na resposta <strong>da</strong> água aos seus movimentos,<<strong>br</strong> />
ao invés de dirigir to<strong>da</strong> a sua atenção à maneira<<strong>br</strong> />
como <strong>um</strong> movimento deve ser executado, ou seja,<<strong>br</strong> />
as conseqüências do movimento devem ser<<strong>br</strong> />
enfatiza<strong>da</strong>s pelo professor e não a maneira de resolver<<strong>br</strong> />
o problema motor. A partir <strong>da</strong>í, pode-se trabalhar<<strong>br</strong> />
conceitos de eficiência, trabalho útil, menor<<strong>br</strong> />
resistência ao avanço, entre outros.<<strong>br</strong> />
Assim, a idéia aqui não é julgar concepções, mas<<strong>br</strong> />
fornecer caminhos teóricos <strong>para</strong> a elaboração de <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> que seja ca<strong>da</strong> vez melhor. O debate<<strong>br</strong> />
que se coloca é o de que a perspectiva sugeri<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, que integra as características<<strong>br</strong> />
<strong>dos</strong> elementos indivíduo, ambiente e tarefa,<<strong>br</strong> />
possa contribuir <strong>para</strong> a formulação de <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong> que faça com que esse ensino seja<<strong>br</strong> />
superior ao que é feito atualmente.<<strong>br</strong> />
<strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006 • 11
FERNANDES, J.R.P. & LOBO DA COSTA, P.H.<<strong>br</strong> />
Nesse sentido, é preciso <strong>um</strong>a concepção alternativa<<strong>br</strong> />
à predominante, do contrário, não haverá mu<strong>da</strong>nças.<<strong>br</strong> />
Mu<strong>da</strong>nças são necessárias pelo simples motivo de que<<strong>br</strong> />
este ensino precisa ser conhecido <strong>para</strong> então<<strong>br</strong> />
desenvolver-se a partir de claros referenciais teóricos e<<strong>br</strong> />
metodológicos. Isso é muito mais trabalhoso do que<<strong>br</strong> />
Considerações finais<<strong>br</strong> />
A aprendizagem <strong>da</strong> <strong>natação</strong> seguiu diferentes<<strong>br</strong> />
caminhos através <strong>dos</strong> tempos. É curioso notar como<<strong>br</strong> />
a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> tem sido pouco valoriza<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
nos livros didáticos so<strong>br</strong>e o assunto. O ensino<<strong>br</strong> />
outrora feito com alunos em bancos de <strong>natação</strong> e<<strong>br</strong> />
seguros por cor<strong>da</strong>s e mesmo com gravações do tipo<<strong>br</strong> />
“apren<strong>da</strong> a na<strong>da</strong>r” refletem <strong>um</strong>a pe<strong>da</strong>gogia que<<strong>br</strong> />
ignora a capaci<strong>da</strong>de natural do corpo h<strong>um</strong>ano em<<strong>br</strong> />
flutuar e li<strong>da</strong>r com o meio líquido. Por outro lado,<<strong>br</strong> />
a fragmentação <strong>dos</strong> movimentos tendo em vista <strong>um</strong><<strong>br</strong> />
<strong>da</strong>do estilo de nado, associa<strong>da</strong> à busca do<<strong>br</strong> />
movimento tecnicamente perfeito por parte do<<strong>br</strong> />
professor, mesmo que se tenha somado ao ensino a<<strong>br</strong> />
etapa <strong>da</strong> ¨A<strong>da</strong>ptação ao Meio¨, não faz desta<<strong>br</strong> />
pe<strong>da</strong>gogia algo menos ignorante, posto que<<strong>br</strong> />
considera o aluno <strong>um</strong> realizador de tarefas, bem<<strong>br</strong> />
como não incorpora possíveis avanços científicos<<strong>br</strong> />
nas diferentes áreas <strong>da</strong> Educação Física.<<strong>br</strong> />
Os maiores desafios enfrenta<strong>dos</strong> por ca<strong>da</strong> professor<<strong>br</strong> />
de <strong>natação</strong> são: superar a noção de que aprender<<strong>br</strong> />
a na<strong>da</strong>r se res<strong>um</strong>e ao domínio técnico <strong>dos</strong> quatro<<strong>br</strong> />
estilos; valorizar o aluno como alguém que já traz<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong> saber consigo; considerar o aluno mem<strong>br</strong>o ativo<<strong>br</strong> />
no processo de aprendizagem, mu<strong>da</strong>r sua postura<<strong>br</strong> />
diante <strong>dos</strong> objetivos a serem alcança<strong>dos</strong>. Para<<strong>br</strong> />
orientar nessa direção, sugeriu-se <strong>um</strong>a abor<strong>da</strong>gem<<strong>br</strong> />
dinâmica <strong>da</strong> interação entre indivíduo (organismo),<<strong>br</strong> />
ambiente e tarefa, que se pretende <strong>um</strong>a possibili<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> a incorporação de conhecimentos de natureza<<strong>br</strong> />
científica à prática pe<strong>da</strong>gógica. Nesse sentido,<<strong>br</strong> />
<strong>um</strong> longo caminho ain<strong>da</strong> precisa ser percorrido.<<strong>br</strong> />
Alg<strong>um</strong>as questões foram levanta<strong>da</strong>s exemplarmente,<<strong>br</strong> />
buscando identificar possíveis contribuições <strong>da</strong>s<<strong>br</strong> />
áreas <strong>da</strong> Biomecânica, do Desenvolvimento Motor<<strong>br</strong> />
e <strong>da</strong> Aprendizagem Motora, contudo é importante<<strong>br</strong> />
ressaltar que é preciso que haja empenho em pesquisas<<strong>br</strong> />
de caracter pe<strong>da</strong>gógico. Tais exemplos ilustram<<strong>br</strong> />
que já há conhecimento em diferentes áreas<<strong>br</strong> />
que podem ser aplica<strong>dos</strong> ao ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>, porém,<<strong>br</strong> />
é preciso enfatizar a necessi<strong>da</strong>de de pesquisa<<strong>br</strong> />
pe<strong>da</strong>gógica que integre conhecimento de diversas<<strong>br</strong> />
12 • Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006<<strong>br</strong> />
elaborar seqüências pe<strong>da</strong>gógicas e aplicá-las a <strong>um</strong> grupo<<strong>br</strong> />
de alunos, independentemente <strong>da</strong>s características e<<strong>br</strong> />
necessi<strong>da</strong>des destes. Fica aqui colocado o desafio <strong>para</strong><<strong>br</strong> />
aqueles que estão sentindo-se desmotiva<strong>dos</strong> pelas aulas<<strong>br</strong> />
de <strong>natação</strong> que têm ministrado, pois consideram-nas<<strong>br</strong> />
algo muito monótono de se fazer.<<strong>br</strong> />
áreas (incluindo Aprendizagem Motora, Desenvolvimento<<strong>br</strong> />
Motor, Controle Motor, Biomecânica, Fisiologia<<strong>br</strong> />
do Exercício, etc), com vistas a estu<strong>da</strong>r<<strong>br</strong> />
maneiras de se ensinar ca<strong>da</strong> vez melhor a <strong>natação</strong>,<<strong>br</strong> />
entendi<strong>da</strong> em seu amplo sentido. Qualquer na<strong>da</strong>dor<<strong>br</strong> />
é capaz de ensinar a na<strong>da</strong>r, o que queremos, no<<strong>br</strong> />
entanto, é ensinar bem e ensinar ca<strong>da</strong> vez melhor.<<strong>br</strong> />
A prática do ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong> levanta inúmeros<<strong>br</strong> />
problemas e a ¨beira <strong>da</strong> piscina¨ em si já é o<<strong>br</strong> />
local apropriado <strong>para</strong> que tais problemas sejam investiga<strong>dos</strong><<strong>br</strong> />
pelas diversas áreas de estudo <strong>da</strong> Educação<<strong>br</strong> />
Física. Uma <strong>da</strong>s primeiras questões que se pode<<strong>br</strong> />
levantar é: quais os problemas do ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
que não podem ser resolvi<strong>dos</strong> quando este é<<strong>br</strong> />
encarado sob <strong>um</strong>a perspectiva desportiva?<<strong>br</strong> />
Não se trata de aplicar conhecimentos<<strong>br</strong> />
desenvolvi<strong>dos</strong> nos ambientes controla<strong>dos</strong> de<<strong>br</strong> />
laboratórios e muito menos de se criar problemas<<strong>br</strong> />
<strong>para</strong> serem investiga<strong>dos</strong>, apesar desta poder ser <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
primeira etapa, mas sim de atacar com claros<<strong>br</strong> />
referencias científicos os problemas que têm afetado<<strong>br</strong> />
desde sempre o processo ensino-aprendizagem <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>. Nesse sentido, a utili<strong>da</strong>de do conhecimento<<strong>br</strong> />
científico na prática pe<strong>da</strong>gógica vai depender de<<strong>br</strong> />
quanto o aspecto pe<strong>da</strong>gógico tem sido encarado aos<<strong>br</strong> />
olhos <strong>da</strong> ciência. Sugere-se sim que tanto as<<strong>br</strong> />
contribuições quanto as limitações <strong>da</strong>s áreas <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Aprendizagem Motora, do Desenvolvimento<<strong>br</strong> />
Motor, <strong>da</strong> Biomecânica, entre outras, sejam<<strong>br</strong> />
reconheci<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o avanço <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
<strong>natação</strong>. Essa responsabili<strong>da</strong>de pode ser ass<strong>um</strong>i<strong>da</strong><<strong>br</strong> />
por centros de pesquisa, a fim de que a tarefa de<<strong>br</strong> />
ensinar a <strong>natação</strong> não continue a ser feita n<strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
¨zona de muita turbulência¨.<<strong>br</strong> />
A pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> <strong>natação</strong> de orientação desportiva<<strong>br</strong> />
não parece atender adequa<strong>da</strong>mente aos problemas<<strong>br</strong> />
atualmente levanta<strong>dos</strong> pelos professores que têm<<strong>br</strong> />
dúvi<strong>da</strong>s so<strong>br</strong>e a maneira de ensinar habili<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />
motoras. Dessa maneira, se há questões do ensino<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong> ain<strong>da</strong> sem solução, talvez seja hora de<<strong>br</strong> />
repensar a pe<strong>da</strong>gogia usa<strong>da</strong>.
Por outro lado, a pe<strong>da</strong>gogia de orientação desportiva<<strong>br</strong> />
pode perfeitamente atender as expectativas de <strong>um</strong>a<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong><strong>da</strong> concepção de ensino e de professor, ser muito<<strong>br</strong> />
bem feita e ir ao encontro <strong>dos</strong> interesses <strong>dos</strong> alunos.<<strong>br</strong> />
Abstract<<strong>br</strong> />
Swimming teaching: a proposal beyond the stroke techniques<<strong>br</strong> />
Nesse caso, seqüências pe<strong>da</strong>gógicas fixas e o modelo<<strong>br</strong> />
desportivo continuarão prevalecendo e não há como<<strong>br</strong> />
criticar quem está tentando fazer com que seus alunos<<strong>br</strong> />
atravessem a piscina.<<strong>br</strong> />
The aim of this study is to discuss a swimming teaching methodology which goes beyond learning the<<strong>br</strong> />
swimming strokes. A review of the known schools of swimming teaching is presented and its<<strong>br</strong> />
methodological backgrounds analyzed. An alternative approach to the sport oriented model is suggested,<<strong>br</strong> />
which is based on a dynamic interaction among organism, environment and task. This learning approach<<strong>br</strong> />
should emphasize the relationship between the subject and the water environment and not center on<<strong>br</strong> />
the technical mastering of the four swimming strokes.<<strong>br</strong> />
UNITERMS: Swimming; Pe<strong>da</strong>gogy; Dynamic interaction.<<strong>br</strong> />
Referências<<strong>br</strong> />
BONACELLI, M.C.L.M. A <strong>natação</strong> no deslizar aquático <strong>da</strong> corporei<strong>da</strong>de. 2004. Tese (Doutorado) - Facul<strong>da</strong>de de<<strong>br</strong> />
Educação Física, Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas, Campinas.<<strong>br</strong> />
CATTEAU, R.; GAROFF, G. O ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. 3.ed. São Paulo: Manole, 1990.<<strong>br</strong> />
CLARYS, J. The historical perspective of swimming science. In: TROUP, J.P.; HOLLANDER, A.P.; STRESSE, D.;<<strong>br</strong> />
TRAPPE, S.W.; CAPPAERT, J.M.; TRAPPE, T.A. (Eds.). Biomechanics and medicine in swimming VII. London: E<<strong>br</strong> />
& FN Spon, 1996.<<strong>br</strong> />
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS AQUÁTICOS. História <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. Disponível em: . Acesso em: 05 a<strong>br</strong>. 2004.<<strong>br</strong> />
COUNSILMAN, J. E. A <strong>natação</strong>: ciência e técnica <strong>para</strong> a pre<strong>para</strong>ção de campeões. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1980.<<strong>br</strong> />
FERRAZ, O.L. Educação física escolar: conhecimento e especifici<strong>da</strong>de, a questão <strong>da</strong> pré-escola. Revista Paulista de<<strong>br</strong> />
Educação Física, São Paulo, p.16-22, 1996. Suplemento 2.<<strong>br</strong> />
FREUDENHEIM, A. M. O na<strong>da</strong>r: <strong>um</strong>a habili<strong>da</strong>de motora revisita<strong>da</strong>. São Paulo: CEPEUSP, 1995.<<strong>br</strong> />
FREUDENHEIM, A.M.; GAMA, R.I.R.B.; CARRACEDO, V.A. Fun<strong>da</strong>mentos <strong>para</strong> a elaboração de programas de<<strong>br</strong> />
ensino do na<strong>da</strong>r <strong>para</strong> crianças. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.2, n.2, p.61-9, 2003.<<strong>br</strong> />
GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE. Rio de Janeiro: Delta, 1973. v.10.<<strong>br</strong> />
KUHN, T.S. A estrutura <strong>da</strong>s revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1987.<<strong>br</strong> />
LOTUFO, J.N. Ensinando a na<strong>da</strong>r. 8.ed. São Paulo: Brasipal, [s.d].<<strong>br</strong> />
MACHADO, D.C. Metodologia <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. São Paulo: EPU, 1978.<<strong>br</strong> />
MAGLISHO, E.W. Swimming even faster. Mountain View: Mayfield, 1993.<<strong>br</strong> />
NEIRA, M.G. Educação física: desenvolvendo competências. São Paulo: Phorte, 2003.<<strong>br</strong> />
NEWELL, K.M. Constraints on the development of coordination. In: WADE, M.G.; WHITING, H.T. (Eds.). Motor<<strong>br</strong> />
development in children: aspects of coordination and control. Boston: Martin Nighoff, 1986. p.341-60.<<strong>br</strong> />
PALMER, M.L. A ciência do ensino <strong>da</strong> <strong>natação</strong>. São Paulo: Manole, 1990.<<strong>br</strong> />
TANI, G. Aquisição <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de motora na<strong>da</strong>r: <strong>um</strong> processo de solução de problemas motores. In: FREUDENHEIM,<<strong>br</strong> />
A.M. O na<strong>da</strong>r: <strong>um</strong>a habili<strong>da</strong>de motora revisita<strong>da</strong>. São Paulo: CEPEUSP, 1995. p.53-60.<<strong>br</strong> />
WILKE, K. Anfängershwimmen. Reinbek bei Hamburg: Rowohlt Taschenbuch Verlag, 1990.<<strong>br</strong> />
XAVIER FILHO, E.; MANOEL, E.J. Desenvolvimento do comportamento motor aquático: implicações <strong>para</strong> a pe<strong>da</strong>gogia<<strong>br</strong> />
<strong>da</strong> <strong>natação</strong>. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v.10, n.2, p.85-94, 2002.<<strong>br</strong> />
<strong>Pe<strong>da</strong>gogia</strong> <strong>da</strong> <strong>natação</strong><<strong>br</strong> />
Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006 • 13
FERNANDES, J.R.P. & LOBO DA COSTA, P.H.<<strong>br</strong> />
ENDEREÇO<<strong>br</strong> />
Paula Hentschel Lobo <strong>da</strong> Costa<<strong>br</strong> />
Departamento de Educação Física<<strong>br</strong> />
Universi<strong>da</strong>de Federal de São Carlos<<strong>br</strong> />
Rod. Washington Luis, km 235<<strong>br</strong> />
13565-905 - São Carlos - SP - BRASIL<<strong>br</strong> />
e-mail: paulahlc@power.ufscar.<strong>br</strong><<strong>br</strong> />
14 • Rev. <strong>br</strong>as. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, n.1, p.5-14, jan./mar. 2006<<strong>br</strong> />
Recebido <strong>para</strong> publicação: 05/08/2005<<strong>br</strong> />
1a. Revisão: 20/03/2006<<strong>br</strong> />
2a. Revisão: 29/06/2006<<strong>br</strong> />
3a. Revisão: 04/07/2006<<strong>br</strong> />
Aceito: 20/07/2006