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O Universo Lúdico das Crianças Indígenas - Centro Cultural dos ...

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CENTRO CULTURAL DOS POVOS DA AMAZÔNIA - CCPA<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

Ilustrador Israel Gusmão<br />

Manaus - AM<br />

Fevereiro/2006


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

SUMÁRIO<br />

Apresentação................................................................................................ 04<br />

Etnia Bororo.................................................................................................. 06<br />

• Contra os Maribon<strong>dos</strong>.........................................................................<br />

• Jogo do Moinho.................................................................................. 08<br />

Etnia Maioruna............................................................................................... 09<br />

• Campeonato de Bincatê.....................................................................<br />

• Rastro da Sucuri.................................................................................<br />

• Diversão com o Zunidor..................................................................... 13<br />

Etnia Manchineri............................................................................................ 15<br />

• Bolinhas de Barro...............................................................................<br />

• Briga de Galo...................................................................................... 18<br />

Etnia Pareci................................................................................................... 20<br />

• Jogo do Adugo.......................................................................................... 20<br />

• Jogo do Tidymure...................................................................................... 22<br />

• Rifa ........................................................................................................... 25<br />

Etnia Tikuna<br />

• Pirarucu Fugitivo........................................................................................ 27<br />

• Esvaziando Garrafas ................................................................................ 29<br />

• Mamãezinha e o Passarinho Sabiá .......................................................... 31<br />

• Onça Danada ........................................................................................... 34<br />

• Diversão com Bolinhas de barro .............................................................. 37<br />

• Competição com Zarabatana ................................................................... 39<br />

• Jogo do Gavião ........................................................................................ 41<br />

• Campeonato de Bilboquê ......................................................................... 44<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

06<br />

09<br />

12<br />

15<br />

1


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

• Competição com Cama de Gato .............................................................. 46<br />

• Luta entre a Onça e o Tamanduá ............................................................. 49<br />

• Brincando com Arco e Flecha .................................................................. 51<br />

Etnia Tukano ....................................................................................................... 53<br />

• Divertido Casamento................................................................................. 53<br />

• Pescaria Divertida .................................................................................... 56<br />

Etnia Yanomami .................................................................................................. 59<br />

• A Festa da Bicharada Peluda ................................................................... 59<br />

• Cabra Cega............................................................................................... 61<br />

• O Baile da Jibóia....................................................................................... 63<br />

Referências.......................................................................................................... 66<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

2


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

RESUMO<br />

O presente trabalho, fruto <strong>das</strong> primeiras pesquisas sobre a Ludicidade <strong>das</strong><br />

<strong>Crianças</strong> da Amazônia busca trazer contribuições para o conhecimento <strong>das</strong><br />

atividades lúdicas desenvolvi<strong>das</strong> nas sociedades indígenas. Percebe-se através<br />

deste documento que a brincadeira, para as crianças nestas sociedades, não é um<br />

mero passatempo, ela ajuda no processo de maturação e desenvolvimento,<br />

promovendo processos de socialização e descoberta do mundo. Adultos e crianças<br />

dançam, cantam, imitam animais, cultivam suas atividades e trabalham para a sua<br />

subsistência. Mesmo os comportamentos descritos como brincadeiras ou jogos<br />

infantis são, muitas vezes, formas de conduta de toda a tribo, pois trazem<br />

ensinamentos necessários à vida em coletividade. Neste particular, as atividades da<br />

criança estão diretamente relaciona<strong>das</strong> com a afirmação do seu “eu” e, assim sendo,<br />

essa atividade é de suma importância para o processo de desenvolvimento e<br />

aprendizagem. Portanto, nessa compilação sobre O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong><br />

<strong>Indígenas</strong> planeja-se demonstrar que a motivação característica <strong>das</strong> brincadeiras,<br />

para as etnias Bororo, Maioruna, Manchineri, Pareci, Tikuna, Tukano, Yanomami, é<br />

extrair através de situações prazerosas, aprendizagens múltiplas e significativas<br />

para a vida cotidiana e, sobretudo, para a reafirmação da identidade indígena.<br />

Palavras-chaves: atividades lúdicas, socialização, identidade indígena.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

3


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

ABSTRACT<br />

The present work, searched to bring contributions for the knowledge of the<br />

playful activities developed by the aboriginal societies. It was perceived through this<br />

document that the trick for the aboriginal societies is not a mere pastime, it aid in the<br />

maturation process and development, promoting processes of socialization and<br />

discovery of the world. Adults and children dance, sing, imitate animals, cultivate its<br />

activities and work for its subsistence. Exactly the described behaviors as infantile<br />

tricks or games are, many times, forms of behavior of all the tribe, therefore they<br />

bring necessary teachings to the life in collective. Therefore, the activities of the child<br />

directly are related with its self-esteem, being thus, this activity is of utmost<br />

importance for the process of development and learning. Therefore, in this<br />

compilation on the Playful Activities of the Children, one searched to demonstrate<br />

that the characteristic motivation of the tricks for ethnic groups: Bororo, Maioruna,<br />

Manchineri, Pareci, Tukano and Yanomami, it is to extract through pleasant<br />

situations multiple and significant learning for the daily life, and over all for the<br />

reaffirmation of the Tikuna identity.<br />

Key-words: playful activities, socialization, identity ethnic groups<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

4


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

APRESENTAÇÃO<br />

O presente trabalho, fruto <strong>das</strong> primeiras pesquisas sobre a Ludicidade <strong>das</strong><br />

<strong>Crianças</strong> da Amazônia visa desvelar o universo lúdico <strong>das</strong> crianças indígenas dessa<br />

região. Nesse sentido, o trabalho consiste na descrição de uma série de brincadeiras<br />

que fazem parte do cotidiano <strong>das</strong> tribos Bororo, Maioruna, Manchineri, Pareci,<br />

Tikuna, Tukano e Yanomami.<br />

Merece destaque, neste particular, que as crianças, quando brincam, estão<br />

contextualizando e elaborando o espaço social em que vivem. Isto significa que é<br />

possível equacionar os aspectos do cotidiano e da atividade lúdica através da<br />

constatação de que a brincadeira faz parte do dia-a-dia e se presta a resulta<strong>dos</strong><br />

reais. Além disso, com este trabalho pretende-se evidenciar as dimensões da cultura<br />

e da vida social, como tempo e espaço, presentes nestas atividades.<br />

Nesse sentido, a pesquisa bibliográfica demonstra da<strong>dos</strong> importantes sobre<br />

a alegria com que os índios brincam nas aldeias, promovendo uma grande interação<br />

entre as diferentes faixas etárias. Qualquer coisa vira brincadeira entre as crianças<br />

indígenas. A brincadeira e o jogo constituem, portanto, uma forma normal de se<br />

educar nas sociedades indígenas.<br />

Diante de tal afirmativa, torna-se inevitável fazer uma comparação entre as<br />

brincadeiras indígenas e as brincadeiras da sociedade não indígena, isto porque as<br />

brincadeiras <strong>das</strong> sociedades indígenas, em geral, são muito competitivas; nelas<br />

to<strong>dos</strong> querem ganhar e isto faz com que o lúdico, muitas vezes, fique de fora. Mas, o<br />

objetivo <strong>dos</strong> índios não é ganhar. As brincadeiras representam estratégias de<br />

sobrevivência. Ou seja, as brincadeiras preparam para a vida. Assim, elas trabalham<br />

habilidade, criatividade, força, coragem, família, sexualidade, entre outros aspectos<br />

que estão inseri<strong>dos</strong> no contexto da brincadeira, a fim de que estas sejam<br />

eminentemente práticas e educativas.<br />

Durante as brincadeiras, há sempre o que aprender e, na concepção <strong>dos</strong><br />

indígenas, durante a vida toda se aprende. Desse modo, percebe-se claramente que<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

5


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

o universo lúdico <strong>das</strong> crianças possibilita a compreensão de que a cultura é vista<br />

como algo em perene constituição. Afinal, não são apenas as crianças que<br />

aprendem, mas to<strong>dos</strong> os sujeitos sociais, inclusive os adultos e i<strong>dos</strong>os.<br />

As brincadeiras ocorrem em to<strong>dos</strong> os lugares, na terra, na água, na mata e<br />

dentro da oca, sempre com uma ligação forte com os animais e a natureza, de um<br />

modo geral.<br />

Assim sendo, através dessa compilação pretende-se demonstrar que<br />

mesmo atividades simples trazem em si aprendizagens múltiplas para as crianças<br />

indígenas, pois o fundamento encontrado nestas atividades são os valores para a<br />

convivência em coletividade e inúmeras estratégias de sobrevivência de maneira<br />

dinâmica, envolvente e divertida.<br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA BORORO<br />

BRINCADEIRA: CONTRA OS MARIBONDOS 1<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas. Não há limites para o número de<br />

participantes. No entanto, há separação em dois grandes grupos: o de<br />

meninos e o de meninas.<br />

METODOLOGIA<br />

1 Esta brincadeira também é muita apreciada entre os índios Kamaiurá, sendo, na língua destes, chamada de Kap.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

6


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Este é um <strong>dos</strong> passatempos preferi<strong>dos</strong> entre as crianças da etnia Bororo.<br />

Em primeiro lugar, faz-se necessário separar as crianças em dois grandes<br />

grupos: o de meninos e o de meninas. Forma<strong>dos</strong> os grupos, estes devem ficar<br />

separa<strong>dos</strong> por uma distância mínima de 10 metros.<br />

Um grupo deve representar a comunidade e o outro os maribon<strong>dos</strong>.<br />

O grupo número um deve simular a vida na aldeia (a caça, a pesca, a<br />

confecção do artesanato, entre outras atividades) enquanto o outro grupo deve, na<br />

areia, construir a casa do marimbondo, imitando seu zumbido característico.<br />

Após alguns minutos, cabe aos membros do primeiro grupo descobrir a casa<br />

de marimbondo e tentar destruí-la. No entanto, esta não representa uma tarefa muito<br />

fácil, pois os maribon<strong>dos</strong> reagem, atacando o grupo. Nesse momento, as crianças<br />

se divertem muito, pois na luta entre as crianças e os maribon<strong>dos</strong> acontecem muitos<br />

tombos, muitas crianças rolam na terra.<br />

Cabe às crianças que representam a comunidade imobilizar os maribon<strong>dos</strong><br />

e levá-los para o território inicial. Se conseguirem, vencem a guerra. Caso não<br />

consigam sair da casa <strong>dos</strong> maribon<strong>dos</strong>, estes saem vitoriosos da brincadeira, pois<br />

esta acaba quando um <strong>dos</strong> grupos consegue apreender mais participantes do grupo<br />

adversário.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão 20/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA BORORO<br />

BRINCADEIRA: JOGO DO MOINHO 1<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Uma dupla de crianças por partida.<br />

METODOLOGIA<br />

Segundo Maurício Lima 2 , trata-se de um jogo de tabuleiro tradicional de<br />

origem européia, ensinado aos Bororos, provavelmente, pelos padres salesianos.<br />

Consiste em um jogo de estratégia, para dois jogadores, cujo objetivo é<br />

conseguir alinhar três peças numa mesma linha, horizontal, vertical ou diagonal.<br />

Desenha-se na terra batida um tabuleiro que contenha linhas horizontais,<br />

verticais e diagonais. Cabe aos jogadores colocarem uma peça por vez. Em<br />

algumas variantes, podem ser utiliza<strong>das</strong> até nove peças, em outras são três ou<br />

cinco. Após a colocação <strong>das</strong> peças, podem movimentá-las, uma por vez, até uma<br />

intersecção de linhas. Ganha quem colocar suas peças em linha, seja na horizontal,<br />

vertical ou diagonal.<br />

1 Jogo praticado no Oriente com o nome de "jogo de três caminhos".<br />

2 Coordenador do Projeto Jogos <strong>Indígenas</strong> do Brasil<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão 20/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA MAIORUNA<br />

BRINCADEIRA: CAMPEONATO DE BINCATÊ<br />

OBJETIVOS:<br />

• Estabelecer momentos de integração entre as crianças, a partir de uma<br />

atividade que desenvolve a habilidade de colher frutos em árvores muito altas.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças e outro de adultos indígenas. Não há limites para o<br />

número de participantes.<br />

• Homens e mulheres participam do referido campeonato. O casal mais antigo<br />

da aldeia organiza o campeonato.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Bincatê – objeto que se constitui numa mistura de bumerangue e hélice. É um<br />

objeto feito do caule de uma planta nativa amazônica. A hélice, com uns 20<br />

cm de comprimento, é encaixada na ponta de uma vara feita do mesmo caule,<br />

que funciona como um arremessador.<br />

• Dois cestos de cipó confecciona<strong>dos</strong> pela senhora mais i<strong>dos</strong>a da aldeia<br />

METODOLOGIA<br />

O campeonato de bincatê é muito esperado entre os índios Maioruna. É<br />

desenvolvido de três em três meses e tem a finalidade de integrar a comunidade<br />

indígena a partir de uma atividade que possibilita o desenvolvimento da habilidade<br />

de colher frutos.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

11


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Em primeiro lugar, o casal de indígenas mais i<strong>dos</strong>os da aldeia, organiza a<br />

competição entre as crianças. Os demais participantes do campeonato atuam na<br />

condição de espectadores.<br />

Inicialmente, cabe às crianças lançarem seus bincatês nas árvores na<br />

tentativa de colher fruto. Cada criança, sob os olhares atentos <strong>dos</strong> organizadores e<br />

espectadores, tem três tentativas.<br />

As frutas colhi<strong>das</strong> por to<strong>das</strong> as crianças são coloca<strong>das</strong> em um cesto, que<br />

será o prêmio para a criança que, em seus três arremessos, conseguir atingir o<br />

maior número de frutas.<br />

Posteriormente, os adultos dão prosseguimento ao campeonato conforme a<br />

descrição acima.<br />

Em caso de empate entre os participantes, o casal de i<strong>dos</strong>os deve escolher<br />

uma <strong>das</strong> seguintes opções: dividir a cesta com frutas entre os jogadores empata<strong>dos</strong><br />

ou solicitar que realizem novas tentativas com o bincatê, até que se designe um<br />

novo vencedor.<br />

Após o resultado final, o casal de i<strong>dos</strong>os deve entregar as cestas com as<br />

frutas colhi<strong>das</strong> durante a brincadeira ao vencedor da categoria infantil e ao adulto<br />

que tiver se destacado com o bincatê.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão 20/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA MAIORUNA<br />

BRINCADEIRA: RASTRO DA COBRA SUCURI 1<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Uma dupla de crianças por partida.<br />

METODOLOGIA<br />

A brincadeira denominada “Rastro da cobra sucuri” é muito simples e muito<br />

apreciada entre as crianças Maioruna, pois envolve a to<strong>dos</strong>, meninos e meninas,<br />

independente da idade, em uma atividade muito dinâmica e prazerosa.<br />

Para operacionalizar tal brincadeira, é necessário fazer um grande traçado<br />

no chão, em ziguezague, para simbolizar o rastro da cobra. Depois, as crianças<br />

devem formar uma fila e percorrer todo o traçado numa perna só.<br />

Sai vitoriosa a criança que conseguir percorrer todo o traçado sem encostar<br />

a outra perna no chão.<br />

1 Esta atividade também faz parte do universo lúdico <strong>dos</strong> índios Bororo, no entanto chama-se Rastro<br />

da Jure, pois é assim que é chamada a cobra sucuri entre estes.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão 20/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA MAIORUNA<br />

BRINCADEIRA: DIVERSÃO COM O ZUNIDOR<br />

OBJETIVOS:<br />

• Promover momentos descontração entre as crianças da aldeia.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças. Não há nenhuma regra para a brincadeira.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• O único recurso material para esta brincadeira é o zunidor, que é um cordão<br />

com um pedaço de madeira amarrado na ponta – lembrando o formato de um<br />

peixe -, confeccionado pelas próprias crianças.<br />

METODOLOGIA<br />

A vida em coletividade é muito marcante nas aldeias indígenas. Nesse<br />

sentido, mesmo as brincadeiras mais simples são realiza<strong>das</strong> em grupo, ainda que<br />

haja independência entre os participantes.<br />

A diversão com o zunidor é uma brincadeira clássica entre os Maioruna.<br />

Para brincar com esse objeto, basta que as crianças girem o cordão rapidamente e o<br />

atrito do ar provocará a rotação da madeira, que por sua vez produzirá um som.<br />

Como se percebe, é uma brincadeira muito simples, mas contribui para<br />

estreitar as relações entre as crianças da aldeia, pois no momento da confecção do<br />

zunidor as crianças ajudam-se mutuamente.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA MANCHINERI<br />

BRINCADEIRA: BOLINHAS DE BARRO<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

• Acertar as bolinhas que ficam dispostas num triângulo desenhado no chão,<br />

deslocando-as.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas. Não há limites para o número de<br />

participantes. Apesar <strong>das</strong> meninas também jogarem, é uma brincadeira muito<br />

mais presente no universo <strong>dos</strong> meninos da aldeia.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Bolinhas feitas de barro pelas próprias crianças.<br />

• Uma arma de impulsão feita de bambu feita, também, pelas próprias crianças.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é um jogo semelhante ao jogo de bolinhas de gude, mas que tem as<br />

suas peculiaridades, pois além de usarem as bolinhas de barro, as crianças jogam<br />

com a ajuda de uma arma de impulsão feita de bambu.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Para operacionalizar tal brincadeira, faz-se necessário desenhar um<br />

triângulo isósceles na terra batida e colocar uma bolinha de barro em cada uma de<br />

suas pontas. Deve-se colocar também uma bolinha no meio da linha da base.<br />

Em seguida, as crianças devem decidir quem será o primeiro jogador e<br />

formar uma grande fila, indicando a seqüência <strong>dos</strong> jogadores. Realiza<strong>das</strong> essas<br />

etapas, o jogo deve ser iniciado.<br />

O jogador, munido de seu lançador de bambu que deve estar carregado com<br />

uma bolinha, precisa acertar aquelas, dispostas previamente no triângulo, tentando<br />

deslocá-las. Cada bolinha deslocada é conquistada pelo atirador, junto com outra<br />

bolinha do monte do próximo jogador.<br />

Quando o jogador não consegue deslocar nenhuma <strong>das</strong> bolas, deve se<br />

dirigir ao final da fila, a fim de dar aos demais jogadores a oportunidade de capturar<br />

as bolinhas.<br />

A disputa termina quando, depois de várias roda<strong>das</strong>, um <strong>dos</strong> jogadores<br />

captura o maior número de bolinhas demonstrando, assim, sua habilidade com a<br />

arma de bambu.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA MANCHINERI<br />

BRINCADEIRA: BRIGA DE GALO<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Inúmeras crianças manifestam o desejo de participar desta brincadeira. No<br />

entanto, são necessárias apenas duas crianças por rodada. As demais<br />

participam na condição de torcedores, até a chegada de sua vez.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é um jogo muito apreciado entre os meninos indígenas, sobretudo entre<br />

os Manchineri.<br />

Em primeiro lugar, as crianças devem escolher um líder da brincadeira.<br />

Cabe ao líder determinar a ordem <strong>dos</strong> participantes. Os espectadores, por sua vez,<br />

devem atuar como torcedores para aqueles que disputam.<br />

O líder deve escolher uma criança para ser sua adversária na brincadeira.<br />

Então, os dois (líder e seu escolhido) são chama<strong>dos</strong> de grandes galos e devem<br />

iniciar a competição.<br />

Com as mãos amarra<strong>das</strong> por baixo <strong>das</strong> pernas, as crianças devem lutar até<br />

que uma consiga derrubar a outra. O vencedor de cada partida deve dar<br />

continuidade à brincadeira, seguindo a seqüência determinada pelo líder.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Ainda que o líder tenha sido derrotado logo no início, a última partida é<br />

disputada com ele. A vitória nesta última rodada determina o novo líder para a<br />

próxima vez que as crianças se reunirem para a Briga de Galo.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA PARECI<br />

BRINCADEIRA: JOGO DO ADUGO 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Proporcionar momentos de descontração entre as crianças, favorecendo o<br />

raciocínio lógico através de uma atividade estimulante.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Para este jogo são necessárias apenas duas crianças em cada partida, sendo<br />

que uma delas representará a onça e a outra, o cachorro.<br />

RECURSOS MATERIAIS<br />

• Quatorze pedrinhas semelhantes entre si.<br />

• Uma pedra com formato totalmente diferente <strong>das</strong> demais utiliza<strong>das</strong> no<br />

referido jogo.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é um jogo de estratégia muito interessante que, segundo Maurício<br />

Lima2, só existe no Brasil e possui características muito semelhantes a uma<br />

brincadeira <strong>dos</strong> Incas, – antiga civilização que viveu nos Andes, no Peru.<br />

É uma atividade realizada no chão, pois o tabuleiro é traçado na areia<br />

batida.<br />

1 Em outras comunidades indígenas é conhecido como Jogo da Onça e do Cachorro.<br />

2 Coordenador do Projeto Jogos <strong>Indígenas</strong> do Brasil - Pesquisa de iniciativa da Origem Jogos e<br />

Objetos, que é uma empresa brasileira fundada há 14 anos, especializada na pesquisa, adaptação<br />

e comercialização de jogos de tabuleiro e objetos lúdicos.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Tudo o que as crianças necessitam para realizar tal atividade são quinze<br />

pedras. Uma peça representará a onça e as demais, que devem ser semelhantes<br />

entre si, representarão os cachorros.<br />

Com as peças devidamente coloca<strong>das</strong> sobre o tabuleiro, o jogador que<br />

representa a onça inicia a partida movendo sua peça em qualquer direção.<br />

Posteriormente, o jogador que representa os cachorros move qualquer uma de suas<br />

peças tentando impedir a movimentação da onça.<br />

Assim, o jogo prossegue e cada participante deve refletir sobre o movimento<br />

de suas peças, a fim de atingir o seu objetivo.<br />

Cabe à criança que representa a onça tentar capturar as peças do<br />

adversário. A captura de um cachorro é realizada quando a onça salta sobre ele<br />

para uma casa vazia. Neste contexto, é possível capturar mais de um cachorro<br />

(como no Jogo de Damas).<br />

A partida é definida quando o jogador que representa os cachorros impede<br />

qualquer novo movimento da onça ou quando o jogador que representa a onça<br />

consegue capturar, pelo menos, cinco cachorros.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

25


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA PARECI<br />

BRINCADEIRA: JOGO DO TIDYMURE 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Proporcionar momentos de descontração entre as meninas da aldeia,<br />

desenvolvendo a pontaria e a atividade física.<br />

• Derrubar o maior número de pinos (varetas de bambu) através do lançamento<br />

de uma bola.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Duas duplas de mulheres indígenas por partida.<br />

RECURSOS MATERIAIS<br />

• Varetas de bambu com uma semente de milho na ponta.<br />

• Frutas de marmeleiro utiliza<strong>das</strong> como bola.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é um jogo bastante praticado entre as meninas e mulheres Pareci, que<br />

o consideram, segundo Maurício Lima 1 , uma atividade muito divertida, pois é uma<br />

disputa que permite desenvolver a pontaria para atingir os pinos e a velocidade para<br />

pegar as bolas. É um jogo com regras semelhantes às do boliche, embora possua<br />

certas peculiaridades quanto ao seu desenvolvimento.<br />

1 Coordenador do Projeto Jogos <strong>Indígenas</strong> do Brasil - Pesquisa de iniciativa da Origem Jogos e<br />

Objetos, que é uma empresa brasileira fundada há 14 anos, especializada na pesquisa, adaptação<br />

e comercialização de jogos de tabuleiro e objetos lúdicos.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Em primeiro lugar, cabe às participantes construírem na areia uma pista<br />

retangular com cerca de quinze metros de comprimento distribuindo nas<br />

extremidades, de cada lado, duas pequenas varetas de bambu com uma semente<br />

de milho na ponta de cada uma. Estas varetas funcionarão como os pinos do<br />

boliche.<br />

Cada dupla deve ficar de um lado da grande área desenhada na terra.<br />

O jogo consiste em derrubar os pinos da dupla adversária. Como as duplas<br />

lançam suas bolas simultaneamente, há uma grande probabilidade <strong>das</strong> bolas se<br />

tocarem no meio do campo. Quando isso acontece, as jogadoras devem correr para<br />

pegar as frutas que representam as bolas. Nesse momento, uma <strong>das</strong> duplas pode<br />

pegar to<strong>das</strong> as bolas que se encontram no meio do campo. Quando isso acontece,<br />

significa uma vitória cheia de glórias para a dupla que pegou to<strong>das</strong> as frutas, pois<br />

esta tem a oportunidade de, em um tempo menor, derrubar to<strong>dos</strong> os pinos da dupla<br />

adversária.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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BRINCADEIRA: RIFA<br />

OBJETIVO:<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA PARECI<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas. Não existem limites para o número de<br />

participantes. Geralmente, a partida se inicia com três jogadores. A cada<br />

rodada sai um vencedor, que não pode mais competir.<br />

RECURSOS MATERIAIS<br />

• Um dado, confeccionado pelas próprias crianças indígenas, em formato de<br />

pião.<br />

• Frutas, que servem como prêmios para os vencedores a cada rodada.<br />

• Pequenos cestos de cipó feitos pelas crianças para colocarem as frutas que<br />

serão entregues aos vencedores.<br />

METODOLOGIA<br />

Esta é uma brincadeira muito presente entre as crianças Pareci. Em primeiro<br />

lugar, elas escolhem os prêmios para a brincadeira. Geralmente, optam por frutas.<br />

Cada participante deve trazer a sua contribuição para a atividade.<br />

Dependendo do número de participantes, são monta<strong>dos</strong> pequenos cestos de<br />

frutas para agraciar os vencedores de cada partida.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Verifica-se, então, qual é a criança mais velha entre os participantes, pois<br />

ela assumirá a liderança da brincadeira. Na condição de líder, tem o direito de<br />

escolher mais duas crianças para iniciar a competição.<br />

Mesmo não sendo vitorioso na partida de abertura, o líder organiza as<br />

demais disputas e fica com esse título até encerrarem definitivamente o jogo.<br />

A Rifa é um jogo de apostas que utiliza um dado em formato de pião, com<br />

quatro faces, sendo que apenas uma é marcada com um X.<br />

Cabe aos jogadores se revezarem para jogar o pião. Em cada partida, sai<br />

vitoriosa a criança que jogar o pião e conseguir tirar o X.<br />

Compete ao líder fazer a entrega <strong>dos</strong> cestos com frutas aos vencedores da<br />

brincadeira.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: PIRARUCU FUGITIVO 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Promover momentos de integração e descontração entre as crianças da<br />

aldeia.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas. Não há limites para o número de<br />

participantes.<br />

METODOLOGIA<br />

Para dar início a esta brincadeira é necessário que as crianças façam uma<br />

roda e elejam uma pessoa para representar o Pirarucu. Este, por sua vez, deve ficar<br />

dentro do círculo.<br />

As crianças que formam o círculo devem ficar de mãos da<strong>das</strong>, de maneira<br />

firme, e cantar a seguinte canção: “O pirarucu não pode fugir, o pirarucu não vai sair<br />

daqui”.<br />

Cabe à criança que representa o pirarucu tentar romper a barreira para<br />

concretizar a fuga, contrariando assim a canção.<br />

Quando o pirarucu consegue fugir, as demais crianças devem soltar as<br />

mãos, desfazer a barreira e imediatamente tentar capturá-lo.<br />

É uma brincadeira muito apreciada entre as crianças tikuna, haja vista que<br />

to<strong>das</strong> desejam representar o pirarucu, mas esse lugar de destaque só é alcançado<br />

1 Brincadeira descrita pela Sra. Maria Terezinha Fernandes – Tikuna – Diretora da Escola Ebenezer<br />

durante entrevista concedida em Pesquisa de Campo na Comunidade de Filadélfia - Benjamin<br />

Constant – Amazonas – Brasil.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

pela primeira criança que tocar o pirarucu fugitivo. A cada rodada, o pirarucu é<br />

representado por uma criança diferente. Geralmente, essa brincadeira propicia<br />

muitas horas de diversão na aldeia.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: ESVAZIANDO GARRAFAS 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Derrubar as garrafas com uma bola e então tirar delas toda a areia que está<br />

dentro.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Duas duplas de jovens indígenas, sendo uma atacante e a outra defensora.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Uma bola e garrafas com terra.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é um jogo com regras semelhantes às da queimada. Consiste na<br />

tentativa, por arte do atacante, de derrubar as garrafas com uma bola e então tirar<br />

delas toda a areia que está dentro.<br />

Os defensores devem evitar que a bola toque a garrafa, mas caso isso<br />

aconteça, cabe aos atacantes atirarem a bola para bem distante da garrafa, a fim de<br />

que tenham tempo para tirar toda a areia de dentro dela.<br />

Nesse sentido, todo esforço deve estar concentrado para evitar que a bola<br />

possa cair nas mãos <strong>dos</strong> defensores que, por sua vez, quando estão com a posse<br />

da bola, reagem para queimar os atacantes. O atacante queimado é eliminado da<br />

1 Brincadeira descrita pela Sra. Maria Terezinha Fernandes – Tikuna – Diretora da Escola Ebenezer<br />

durante entrevista concedida em Pesquisa de Campo na Comunidade de Filadélfia - Benjamin<br />

Constant – Amazonas - Brasil<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

brincadeira. Caso os dois atacantes sejam queima<strong>dos</strong>, os defensores vencem. Se os<br />

atacantes conseguem esvaziar a garrafa, o triunfo é para os que souberam atacar.<br />

Mais que indicar perdedores e vencedores, a brincadeira visa à preparação<br />

física <strong>dos</strong> jovens indígenas através de uma atividade divertida.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: MAMÃEZINHA E O PASSARINHO SABIÁ 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Favorecer momentos de aprendizado sobre a vida cotidiana no que diz<br />

respeito aos cuida<strong>dos</strong> com os bebês, principalmente na hora de fazê-los<br />

dormir.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas, em geral, meninas. As maiores representam<br />

as mães, as crianças menores representam as filhas.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Eventualmente são utiliza<strong>das</strong> algumas bonecas de pano confecciona<strong>das</strong><br />

pelas próprias crianças, para representar alguns “filhinhos”, principalmente<br />

quando o número de participantes não supre a necessidade para se<br />

estabelecer a relação mãe e filha.<br />

• Redes correspondentes ao número de participantes. Caso não seja possível,<br />

grandes folhas de bananeira representarão redes para algumas crianças.<br />

METODOLOGIA<br />

1 Brincadeira descrita pela Sra. Hilda Pinto Félix – Vice Coordenadora da Associação <strong>das</strong> Mulheres<br />

Artesãs Tikuna durante entrevista concedida em Pesquisa de Campo na Comunidade de Bom<br />

Caminho - Benjamin Constant – Amazonas - Brasil<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O cenário da brincadeira é a área próxima às casas <strong>das</strong> crianças, onde seja<br />

possível armar as redes para dar seguimento à brincadeira.<br />

As crianças maiores representam as mães e como tais, precisam realizar<br />

algumas atividades que são inerentes a essa condição, entre as quais, dar banho<br />

nas crianças menores preparando-as para algumas horas de sono, que pode ser<br />

real ou simulado.<br />

Após o banho, as supostas mães cuidam <strong>das</strong> crianças, pintando-as com<br />

jenipapo para protegê-las e para garantir bom sono. Em seguida, cada mãe leva sua<br />

criança para a rede e, em coro, cantam a seguinte música: “Lá vem o sabiá, é hora<br />

de dormir, ele vai cantar pro bebê dormir”. Ao embalar a rede e cantarolar é possível<br />

que algumas crianças realmente venham a dormir.<br />

Em algumas situações, as supostas mães também dormem. Outras vezes,<br />

nenhuma <strong>das</strong> crianças consegue essa façanha, mas to<strong>dos</strong>, indiscutivelmente,<br />

passam algumas horas muito quietos, como se estivessem apreciando a natureza e<br />

recebendo dela muitos ensinamentos para o ofício de mãe.<br />

De fato, a brincadeira, muito realizada entre as crianças, tem uma finalidade<br />

extremamente educativa, pois sensibiliza as crianças, tanto as maiores quanto as<br />

menores, para os cuida<strong>dos</strong> com os bebês, preparando-as desde cedo para os<br />

desafios da maternidade.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: ONÇA DANADA 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Estabelecer momentos de integração e descontração entre as crianças da<br />

aldeia.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas. Quanto mais crianças, mais divertida fica a<br />

brincadeira.<br />

METODOLOGIA<br />

O primeiro passo é escolher uma criança para representar a onça danada.<br />

Realizada esta escolha, as demais crianças devem formar uma grande roda e a<br />

onça danada deve caminhar para uma área distante da roda pelo menos uns 10<br />

metros.<br />

Após estes procedimentos, as crianças devem cantar a seguinte música:<br />

"Yo’i caçou uma onça, uma onça pintada, uma onça bonita, uma onça danada”.<br />

Após a música as crianças devem sentar-se no chão simulando um sono profundo.<br />

Nesse momento, a onça danada que, até então, estava distante deve se aproximar<br />

lentamente <strong>das</strong> crianças que formam a roda.<br />

Ao adentrar no círculo, a onça deve ranger os dentes, acordando assim as<br />

crianças que estão na roda. Estas, por sua vez, devem levantar-se imediatamente e<br />

segurar firmemente as mãos <strong>das</strong> crianças que estão ao seu lado fechando a roda.<br />

1 Brincadeira descrita pelo Sr. Bernardo de Sousa Agostinho – Tikuna do <strong>Centro</strong> de Artesanato<br />

AMATU durante entrevista concedida em Pesquisa de Campo na Comunidade de Bom Caminho -<br />

Benjamin Constant – Amazonas - Brasil<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Nesse momento, a onça deve manifestar sua vontade de comer, revelando<br />

que entre as crianças que lá estão, haverá uma que saciará sua fome.<br />

As crianças saltam e gritam sempre de mãos da<strong>das</strong> e a onça vai<br />

percorrendo o círculo atrás de sua presa favorita.<br />

De repente, a onça aleatoriamente escolhe uma criança, segura em um de<br />

seus braços e pergunta: “Que braço é esse?”. De imediato, a criança deve<br />

responder: “Esse braço é de murapiranga 1 ”. Sempre a primeira criança escolhida é a<br />

que tem o braço de murapiranga. A onça danada como é, dá um salto para outra<br />

parte da roda e revela que se recusa a comer murapiranga.<br />

Nesse contexto, cabe ao felino ir em busca de outro alimento. Ao escolher<br />

uma outra criança, a onça faz a mesma pergunta: “Que braço é esse?”. Cabe à<br />

criança revelar por qual alimento é constituído seu braço. Os braços mais utiliza<strong>dos</strong><br />

nessa brincadeira são: braço de açaí, de banana, de mulateiro, de cachinguba, de<br />

paracuba, de peixe, de pirão, de farinha.<br />

A onça danada vai perguntando, criança por criança, até que encontre<br />

alguma que satisfaça o seu desejo de comer. Ao escolher a criança que lhe servirá<br />

de alimento, a onça a joga no chão e simula de fato comer a criança. E, depois,<br />

corre para fugir <strong>dos</strong> familiares da criança que foi atacada.<br />

Nesse momento, to<strong>das</strong> as outras crianças que compõem a roda devem<br />

correr atrás da onça e tentar capturá-la. Ao realizar esta façanha, com galhos de<br />

árvores devem simular que estão matando a onça.<br />

Enfim, vingaram a morte da criança que serviu de alimento para a onça<br />

então, é hora de fazer da felina, alimento para to<strong>das</strong> as famílias da aldeia. Assim,<br />

simulam dividir a carne da onça entre os participantes da brincadeira que estão<br />

representando, cada qual, uma família.<br />

1<br />

Murapiranga é a denominação <strong>dos</strong> Tikuna para uma planta de raiz fortíssima utilizada em banhos<br />

para curar coceiras.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Feita a divisão da carne da onça, finalizam a brincadeira simulando o retorno<br />

as suas casas, com a carne da onça nas mãos e cantando a música: "Yo’i caçou<br />

uma onça, uma onça pintada, uma onça bonita, uma onça danada”.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: DIVERSÃO COM BOLINHAS DE BARRO 1<br />

OBJETIVO:<br />

• Capturar as bolinhas de barro, desenvolvendo a percepção lógico-dedutiva.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Duas duplas oponentes de jovens indígenas.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• 45 bolinhas de barro.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é um jogo semelhante ao de bolinha de gude.<br />

Em primeiro lugar, faz-se necessário desenhar uma grande estrela na terra<br />

batida. Em seguida, devem ser distribuí<strong>das</strong> quarenta e uma bolinhas sobre as linhas<br />

da estrela. Cada jogador, por sua vez, deve ficar com uma bolinha na mão.<br />

Em seguida, é imprescindível a escolha da dupla que iniciará a brincadeira.<br />

Muitas vezes, inicia-se pela dupla cujos jogadores tenham mais idade.<br />

Então, o jogador iniciante deve arremessar sua bolinha, objetivando tirar as<br />

demais de cima do traçado da estrela. A brincadeira prossegue sempre nesse<br />

sentido, os jogadores se revezam nas joga<strong>das</strong> arremessando suas bolinhas na<br />

estrela, tentando deslocá-las de cima <strong>das</strong> linhas. Quando consegue isso, o jogador<br />

1 Brincadeira descrita pela Sr. Valdino Moçambite Martins – Presidente da Organização Geral <strong>dos</strong><br />

Professores Bilíngüe Tikuna – OGPTB durante entrevista concedida em Pesquisa de Campo em<br />

Benjamin Constant – Amazonas – Brasil.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

captura as bolinhas que deslocou. Mas, se a bolinha arremessada parar em cima<br />

<strong>das</strong> linhas desenha<strong>das</strong> o jogador fica impedido de jogar até que sua bolinha seja<br />

deslocada da linha por um lance de qualquer outro, do seu time ou do time<br />

adversário. Vence a partida a dupla que tiver capturado mais bolinhas.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: COMPETIÇÃO COM ZARABATANA 1<br />

OBJETIVOS:<br />

• Propiciar momentos de descontração entre as crianças no grupo indígena.<br />

• Atingir o alvo o maior número de vezes, exercitando a prática do bom<br />

guerreiro.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Uma melancia, um tripé e a Zarabatana, que é uma arma artesanal<br />

semelhante a um cano longo, com aproximadamente 2,5 m de comprimento,<br />

feita de madeira, com um orifício onde se introduz uma pequena seta, de<br />

aproximadamente 15 cm.<br />

METODOLOGIA<br />

A Zarabatana é uma arma muito utilizada pelos índios amazônicos para<br />

caçar aves e animais, por ser silenciosa e precisa.<br />

Organiza-se uma fila com os participantes da brincadeira, que consiste em<br />

uma demonstração individual realizada nas tribos.<br />

1 Brincadeira descrita pela Sr. Valdino Moçambite Martins – Presidente da Organização Geral <strong>dos</strong><br />

Professores Bilíngüe Tikuna – OGPTB durante entrevista concedida em Pesquisa de Campo em<br />

Benjamin Constant – Amazonas - Brasil.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Cada índio tenta superar os outros e a si mesmo. Na apresentação<br />

posiciona-se, a cinco ou dez metros do alvo adaptado, uma melancia pendurada em<br />

um tripé. A prova consiste em atingir o alvo o maior número de vezes.<br />

O índio que conseguir furar a melancia mais vezes num tempo determinado,<br />

respeitando a ordem estabelecida entre os participantes, será considerado líder a<br />

partir de então, sendo que a cada brincadeira essa liderança poderá ser renovada<br />

ou não.<br />

Na condição de líder, é ele quem decide quando o grupo irá novamente<br />

brincar com a zarabatana. Em hipótese nenhuma a brincadeira será considerada<br />

oficial, caso não seja organizada pelo índio que conquistou a liderança na<br />

brincadeira anterior.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

45


O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: JOGO DO GAVIÃO<br />

OBJETIVO:<br />

• Estabelecer uma relação de harmonia e descontração entre as crianças.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas de ambos os sexos. A quantidade de<br />

participantes é livre.<br />

METODOLOGIA<br />

Escolhe-se um menino, preferencialmente o maior, para liderar a brincadeira<br />

e representar o gavião.<br />

Em seguida, forma-se uma grande fila com meninos e meninas, cada um<br />

segurando o da frente pela cintura.<br />

O gavião posiciona-se diante da fila e emite o seguinte som: “Piu”, que<br />

significa que o gavião está com fome.<br />

Cabe à primeira criança da fila estender o braço esquerdo e em seguida o<br />

direito, expressando a seguinte frase: “Tu senam síni?”, que significa “Quer isto?”.<br />

Logo o gavião dá a resposta: “É péla”, que quer dizer: “Não! Não quero isto”.<br />

Nesse momento, o participante que ofereceu seus braços ao gavião deve<br />

posicionar-se à direita, dando a vez ao 2º da fila que, imediatamente, deve oferecer<br />

uma <strong>das</strong> partes de seu corpo à ave faminta.<br />

O gavião, por sua vez, novamente revela que não quer o que lhe é<br />

oferecido. E desta forma, vai rejeitando um a um até o penúltimo da fila.<br />

Quando o gavião se depara com o último da fila, que deve lhe oferecer<br />

qualquer uma <strong>das</strong> partes de seu corpo, o gavião expressa um ar de felicidade, pois<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

irá saciar sua vontade de comer uma carne deliciosa. Quando a última criança<br />

pergunta “Quer isto?”, o gavião responde: “Iná”, que significa “Sim” e, então, sai<br />

correndo atrás dela.<br />

Cabe aos demais participantes do grupo, abraça<strong>dos</strong>, formarem uma grande<br />

barreira na tentativa de cercar a ave, impedindo-a de levar a criança escolhida para<br />

o seu ninho.<br />

Nesse momento o gavião fica enfurecido e então a guerra é decretada para<br />

to<strong>dos</strong> os participantes. O gavião decide que pegará primeiramente os menores para<br />

saciar sua fome. Então, estes devem fugir <strong>das</strong> proximidades do ninho do gavião e<br />

descobrir esconderijos seguros. Aos mais altos cabe o dever de proteger os mais<br />

frágeis da brincadeira.<br />

O jogo continua até que o gavião consiga capturar pelo menos a metade do<br />

número de participantes da brincadeira.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

47


Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

48


Israel Gusmão - 25/08/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: CAMPEONATO DE BILBOQUÊ<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças. Não há limites para o número de participantes.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Quantidade de bilboquês suficiente para o número de participantes.<br />

• Um cesto de cipó com frutas para o vencedor do campeonato.<br />

METODOLOGIA<br />

Para realizar o campeonato, é necessário escolher o líder, a quem cabe<br />

determinar o início da brincadeira, bem como a premiação do vencedor.<br />

To<strong>dos</strong> os competidores devem lançar seu bilboquê no momento<br />

determinado pelo líder. O objetivo de cada participante é lançar seus objetos, que<br />

são presos a um cordão e encaixá-los num pino – que está amarrado na ponta<br />

oposta do cordão.<br />

Sai vitorioso o competidor que alcançar seu objetivo em menor tempo. Para<br />

o vitorioso, os aplausos incessantes <strong>dos</strong> demais participantes e os cumprimentos do<br />

líder, que alegremente entrega o cesto de frutas, representando o troféu do<br />

vencedor.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 25/09/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

Etnia Tikuna<br />

BRINCADEIRA: COMPETIÇÃO COMO CAMA DE GATO 1<br />

OBJETIVO:<br />

• Possibilitar que os participantes façam representações criativas sobre a<br />

realidade que os cerca, através de desenhos inspira<strong>dos</strong> na cultura de seu<br />

povo.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Esta é uma atividade que atrai crianças, adultos e i<strong>dos</strong>os. Não há limites para<br />

o número de participantes.<br />

RECURSOS MATERIAIS<br />

• Fios ou Barbante 2 (em cada localidade há uma variação para o tipo de fio.)<br />

Comumente, entre os tikuna, faz-se cama de gato com fios de tururi ou da<br />

polpa de buriti.<br />

• Uma fruta (previamente combinada) como prêmio para o vencedor da<br />

competição.<br />

METODOLOGIA<br />

Em primeiro lugar, são escolhi<strong>das</strong> cinco pessoas para atuarem como<br />

jura<strong>dos</strong>. Geralmente, os mais i<strong>dos</strong>os da aldeia.<br />

Cama de gato é o nome dado à atividade que consiste em enlaçar um fio<br />

(barbante) nos de<strong>dos</strong>, torcendo-o para dar a forma desejada. Nesse sentido, o jogo<br />

consiste em representar com o fio (barbante) desenhos e estruturas da cultura da<br />

2 Nos centros urbanos faz-se com barbante de nylon.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

aldeia, ou ainda possibilitar a criação de desenhos de acordo com a imaginação e a<br />

criatividade <strong>dos</strong> participantes do jogo.<br />

Para facilitar o entendimento de como representar um desenho com o fio<br />

entrelaçado nos de<strong>dos</strong>, consideremos que os de<strong>dos</strong> são designa<strong>dos</strong> de um a cinco,<br />

a partir do polegar e que a mão direita será representada pela letra D e a esquerda<br />

pela letra E.<br />

Vejamos um <strong>dos</strong> desenhos mais demonstra<strong>dos</strong> através do 'cama de gato'<br />

entre os Tikuna: A Evasão <strong>dos</strong> De<strong>dos</strong>.<br />

O primeiro passo para to<strong>das</strong> as figuras é formar uma espécie de anel. Para<br />

tanto, usa-se o fio com 1 m a 1,50 m de comprimento e atam-se as duas<br />

extremidades.<br />

Em seguida devem-se realizar as seguintes orientações:<br />

• Passar o anel por detrás de E1. Cruzar o cordel na sua direção (mão<br />

perpendicular ao corpo, palma voltada para a direita).<br />

• Introduzir E2 sob o anel restante, depois do cruzamento.<br />

• Cruzar de novo o cordel em direção a si e introduzir E3 sob o anel<br />

restante, depois do cruzamento.<br />

• Fazer o mesmo com E4 e E5.<br />

• Fazer girar a mão um quarto de volta; o anel coloca-se então do lado<br />

<strong>das</strong> costas da mão.<br />

• Cruzar o anel para o exterior (da direita para a esquerda) e fazer<br />

passar E4 por baixo depois do cruzamento.<br />

• Puxar o anel para o lado da palma; cruzar o anel para o exterior e<br />

introduzir aí E3, por baixo, depois do cruzamento.<br />

• Puxar o anel para o lado <strong>das</strong> costas; cruzar para o exterior e introduzir<br />

E2 por baixo.<br />

• Puxar o anel para o lado da palma; cruzar para o exterior e introduzir<br />

E1 por baixo.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 10/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

• Libertar E5. Puxar pelos dois fios que rodeiam E1: os de<strong>dos</strong> libertamse<br />

imediatamente.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: LUTA ENTRE A ONÇA E O TAMANDUÁ<br />

OBJETIVO:<br />

• Favorecer momentos de integração entre as crianças através de uma<br />

atividade divertida.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Uma dupla de crianças por partida.<br />

METODOLOGIA<br />

A brincadeira da Onça e do Tamanduá é uma <strong>das</strong> mais aprecia<strong>das</strong> entre as<br />

crianças tikuna, pois simula uma luta entre os dois animais.<br />

Muitas crianças manifestam o desejo de brincar. Então, quando isso ocorre,<br />

as crianças agrupam-se em duplas e imediatamente definem quem representará a<br />

onça e quem representará o tamanduá.<br />

O próximo passo é escolher o espaço para a brincadeira, pois como se trata<br />

de uma luta corporal, faz-se necessário que aconteça em um espaço que não<br />

ofereça risco de lesões aos participantes.<br />

Depois, escolhe-se a dupla que iniciará a brincadeira. Geralmente, as<br />

crianças menores, sob os olhares atentos <strong>dos</strong> demais participantes, iniciam a<br />

disputa na arena.<br />

Esta brincadeira consiste em uma disputa entre os dois animais. Vence a<br />

criança que conseguir imobilizar a outra, no mínimo por 15 segun<strong>dos</strong>. Aos demais<br />

participantes convém animar a disputa com a torcida pelos seus preferi<strong>dos</strong>.<br />

A atividade só é finalizada quando to<strong>dos</strong> os participantes inicialmente<br />

inscritos para a brincadeira duelam, pois isto representa respeito e prestígio pelas<br />

crianças. Essas são lições importantes na comunidade.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão – 08/10/05<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TIKUNA<br />

BRINCADEIRA: BRINCANDO COM ARCO E FLECHA<br />

OBJETIVOS:<br />

• Promover momentos descontração entre as crianças da aldeia, favorecendo<br />

também as habilidades de pontaria.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças. Embora seja uma atividade mais presente no universo<br />

masculino, entre os Tikuna é facultada a participação <strong>das</strong> meninas.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• O arco e a flecha.<br />

• Uma fruta para servir como alvo.<br />

METODOLOGIA<br />

Este é o jogo de arco e flecha <strong>dos</strong> Tikuna. Através dessa atividade eles<br />

mostram suas habilidades de pontaria.<br />

Para o referido jogo faz-se necessário que, a uma distância mínima de dez<br />

metros, seja colocada uma fruta que servirá como o alvo. Nela deve ser feito um<br />

círculo vermelho indicando exatamente o local onde os participantes devem atirar a<br />

flecha.<br />

Os jogadores, por sua vez, devem formar uma fila, obedecendo à ordem<br />

crescente e devem atirar suas flechas para atingir o alvo proposto. Ganha o<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão – 08/10/05<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

participante que conseguir acertar com precisão o alvo ou o que mais se aproximar<br />

dele.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TUKANO<br />

BRINCADEIRA: DIVERTIDO CASAMENTO<br />

OBJETIVO:<br />

• Simular um casamento entre pessoas de tribos diferentes, quando o homem<br />

não é o filho do Chefe da Tribo.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Dois grupos com quantidade de pessoas a ser combinada por ocasião da<br />

brincadeira.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Cuias (representando as bebi<strong>das</strong>), sementes de frutas varia<strong>das</strong><br />

(representando a variedade de comi<strong>das</strong> para festas de casamento), os<br />

instrumentos musicais utiliza<strong>dos</strong> pelos índios tukano para celebrar as festas,<br />

folhas e pedaços de pau (representando armas).<br />

METODOLOGIA<br />

Esta é uma divertida brincadeira realizada à noite, principalmente em noite<br />

de lua cheia.<br />

Formam-se dois grupos que devem ficar distantes, mais ou menos, uns<br />

cinqüenta metros um do outro. Cada grupo define a quantidade de participantes.<br />

Os dois grupos representam tribos diferentes.<br />

Em um grupo, define-se o índio que representará um solteiro que não pesca,<br />

não planta, e não colhe porque não tem esposa e filhos e que se lamenta por isso.<br />

Os demais membros deste grupo, ouvindo as lamentações do índio solteiro,<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

combinam de invadir a outra tribo (Grupo 2) a fim de roubar uma índia para casar-se<br />

com aquele que se lamenta.<br />

E então, o ataque acontece. Os índios do Grupo 1 invadem a aldeia do<br />

Grupo 2 e pegam aleatoriamente uma <strong>das</strong> índias que, ao ser carregada, grita, tenta<br />

fugir e desperta a atenção <strong>dos</strong> demais de sua tribo que, por sua vez, tentam impedir<br />

a sua captura.<br />

A decisão do desenrolar da brincadeira fica nas mãos do Grupo 2, pois cabe<br />

a este deixar ou não a índia ser capturada pelo outro grupo.<br />

Na hipótese da índia ser capturada pelo Grupo 1, esta é levada ao encontro<br />

do índio solteiro que oferece a ela uma cuia com água (simbolizando a bebida) ou<br />

sementes de frutas (simbolizando a comida). Se a índia aceitar o que o índio solteiro<br />

ofereceu, é sinal de que aceitou o casamento. Então, imediatamente, começa a<br />

festa e logo alguns <strong>dos</strong> índios vão até a tribo da qual a índia foi roubada para<br />

comunicar o casamento e convidá-los para a festa, que é muito animada. Finge-se<br />

beber, comer e dançar alegremente, comemorando o casamento realizado.<br />

Caso a índia não aceite o que foi oferecido pelo índio, ignorando-o ou<br />

tentando fugir, inicia-se uma guerra entre as tribos. Os dois grupos encontram-se<br />

arma<strong>dos</strong> e travam a guerra.<br />

A guerra também acontece caso o Grupo 1 não consiga roubar a índia do<br />

outro grupo.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005 Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA TUKANO<br />

BRINCADEIRA: PESCARIA DIVERTIDA - EM TEMPO DE PIRACEMA<br />

OBJETIVOS:<br />

• Simular situações do cotidiano <strong>dos</strong> índios adultos.<br />

• Descontrair-se com um grupo de crianças da mesma faixa etária, imitando os<br />

pais.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS:<br />

• Um grupo de crianças indígenas que queiram imitar as ações de seus pais<br />

por ocasião da pesca.<br />

RECURSOS MATERIAIS:<br />

• Vara, pedaços de pau e pedras que representarão os arcos e as flechas, bem<br />

como todo o arsenal de pesca.<br />

METODOLOGIA<br />

Escolhe-se uma pessoa para liderar a brincadeira. É ela quem convida os<br />

demais para saírem para o rio. Geralmente, esta pessoa é intitulada como "Chefe da<br />

Pescaria" ou é vista como o "Patriarca do Grupo".<br />

É ela quem seleciona to<strong>dos</strong> os objetos para a pescaria e designa o que cada<br />

índio fará durante a atividade.<br />

Simula-se que os índios tenham entrado em uma canoa, que pode ser<br />

representada por uma grande folha de palmeira, e finge-se remar.<br />

Após um tempo significativo, há uma exaltação <strong>das</strong> crianças que simulam ter<br />

conseguido pescar uma grande quantidade de peixes. Os peixes são representa<strong>dos</strong><br />

por galhos de árvores e por folhas grandes.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Então, é chegada a hora de voltar para casa e encontrar a esposa que<br />

cuidará <strong>dos</strong> peixes trazi<strong>dos</strong> pelo marido.<br />

Nesse momento, insere-se a importância <strong>das</strong> meninas no contexto da<br />

brincadeira. Enquanto os homens estão simulando a brincadeira no rio,<br />

paralelamente as meninas (representando as esposas <strong>dos</strong> pescadores) ficam em<br />

outro grupo confeccionando peças artesanais. Ressalta-se que para as meninas não<br />

existe simulação da brincadeira; elas de fato confeccionam colares, pulseiras,<br />

paneiros e demais utensílios utiliza<strong>dos</strong> pelas famílias indígenas. Esse é um<br />

momento importante para as mesmas, pois elas conversam, trocam idéias entre si e<br />

somam, no que diz respeito ao potencial criativo e na produção do artesanato.<br />

Quando os pescadores voltam do “rio” elas fazem uma pausa na produção<br />

artesanal e simulam a preparação <strong>dos</strong> alimentos, o tratamento <strong>dos</strong> peixes trazi<strong>dos</strong><br />

pelos mari<strong>dos</strong>, enfim a comida que os alimentará.<br />

Nesse contexto, através da brincadeira, o grupo de crianças indígenas<br />

simula situações reais do dia-a-dia <strong>dos</strong> homens e mulheres da tribo.<br />

Encerra-se a brincadeira a critério do grupo.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 11/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA YANOMAMI<br />

BRINCADEIRA: A FESTA DA BICHARADA PELUDA<br />

OBJETIVO:<br />

• Promove uma relação de integração e descontração entre as crianças.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS<br />

• Um grupo de crianças indígenas de ambos os sexos, em faixa etária<br />

estabelecida.<br />

METODOLOGIA<br />

Na festa da bicharada peluda, um grupo de crianças deve se fantasiar<br />

conforme o bicho escolhido por cada um, fazendo máscaras, roupas, etc. O bicho<br />

deve ser escolhido de acordo com a preferência de cada um, como: macacos,<br />

onças, capivara, lobos, etc. Outro grupo não precisa se fantasiar.<br />

As crianças que usarão fantasias devem se preparar usando galhos de<br />

árvores e pinturas de diversas figuras de sentido geométrico, empregando diversas<br />

cores, criando fantasias bastante colori<strong>das</strong>, sem deixar de lembrar o bicho escolhido.<br />

Nesta brincadeira da festa da bicharada peluda, o grupo fantasiado faz uma<br />

fila e dançam com passos para frente e para trás, usando uma vara com guizos<br />

lembrando os de uma cascavel.<br />

Os brincantes dançam em filas, segurando por trás uns <strong>dos</strong> outros.<br />

O grupo se integra, com meninas e meninos dançando, segurando pelo<br />

ombro <strong>dos</strong> que estão fantasia<strong>dos</strong>.<br />

Outros participantes dançam em filas tocando tambor, marcando o ritmo da<br />

brincadeira.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão - 30/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA YANOMAMI<br />

BRINCADEIRA: CABRA-CEGA<br />

OBJETIVO:<br />

• Oportunizar momentos de descontração e harmonia entre as crianças.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS<br />

• Um grupo de 10 ou mais crianças indígenas de ambos os sexos, sem faixa<br />

etária estabelecida. É facultada também a participação de adultos.<br />

METODOLOGIA<br />

Nesta brincadeira os jogadores ficam de pé, juntos uns <strong>dos</strong> outros, formando<br />

um círculo.<br />

No centro da roda fica um voluntário para ser a cabra-cega, com os olhos<br />

cobertos por um pedaço de pano limpo.<br />

O grupo conta até três para que a cabra-cega comece a perseguir as<br />

crianças que fazem parte da roda, enquanto lhe gritam: Cabra-cega! Cabra-cega!<br />

Uma vez que agarra uma criança ele grita: Cabra-cega? E destapa os<br />

olhos.<br />

Aquele que foi agarrado responde: Sou eu.<br />

A criança agarrada é colocada no centro da roda e lhe tapam os olhos para,<br />

assim, dar continuidade ao jogo, até que to<strong>dos</strong> os participantes passem pelo papel<br />

de cabra-cega.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão 20/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

O UNIVERSO LÚDICO DAS CRIANÇAS INDÍGENAS<br />

ETNIA YANOMAMI<br />

BRINCADEIRA: O BAILE DA JIBÓIA<br />

OBJETIVO:<br />

• Oportunizar momentos de descontração e harmonia entre as crianças.<br />

SUJEITOS ENVOLVIDOS<br />

• Um grupo de meninas e meninos indígenas sem faixa etária estabelecida.<br />

METODOLOGIA<br />

Nesta brincadeira, algumas crianças imitam uma jibóia. Para tanto, faz-se<br />

necessário formar uma fila para representar o corpo da cobra. As crianças devem<br />

segurar nos ombros da criança que está à frente.<br />

A cabeça da cobra é representada por um menino, preferencialmente um<br />

que tenha força para puxar o grupo que vem atrás dele.<br />

Uma outra criança toca uma sanfona, emitindo sons da cobra quando ela<br />

está raivosa. Outras meninas tocam maracás.<br />

Para começar a brincadeira, o menino que representa a cabeça da cobra<br />

silva, imitando a jibóia em ziguezague.<br />

O grupo de crianças que forma o corpo da cobra dança de um lado para o<br />

outro, imitando seus movimentos, enquanto que as outras crianças que estão com<br />

maracás cantam: FIUUU/ GOUUU/ FIUUU/ GOUUU.<br />

O dirigente da brincadeira dá voltas, aliviando e acertando o passo,<br />

cruzando por várias partes da fila de dançantes para imitar os requebros que a cobra<br />

faz quando caça.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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Israel Gusmão 30/10/2005<br />

O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

É uma atividade muito apreciada entre os Yanomami, especialmente porque<br />

os instrumentos musicais utiliza<strong>dos</strong> dão um toque especial à brincadeira.<br />

REPRESENTAÇÃO DA BRINCADEIRA<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

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Comunidade Bom Caminho – Benjamin Constant. Período de 21 a 28 de Julho de<br />

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Museu Maguta – Benjamin Constant. Período de 21 a 28 de Julho de 2005<br />

DEHEINZELIN, Monique. O dia da criação entre os Ticuna. Em Aberto, Brasília:<br />

Inep, v. 14, n. 63, p. 160-71, jul. /set. 1994.<br />

FÉLIX, Hilda Pinto. Brincadeiras Tikuna. Pesquisa de Campo. Museu Maguta –<br />

Benjamin Constant. Período de 21 a 28 de Julho de 2005<br />

FERNANDES, Maria Terezinha. Brincadeiras Tikuna. Pesquisa de Campo.<br />

Comunidade Bom Caminho – Benjamin Constant. Período de 21 a 28 de Julho de<br />

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FERREIRA, Edmilson. Pesquisadores estudam jogos e brincadeiras indígenas.<br />

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23/06/2005<br />

Consulta realizada em<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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O <strong>Universo</strong> <strong>Lúdico</strong> <strong>das</strong> <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong><br />

KISHIMOTO, T. M. Brinque<strong>dos</strong> e brincadeiras indígenas. Artesanias de América,<br />

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Victor Civita, v. 9, n. 74, p. 22-3, abr. 1994.<br />

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LIMA, Maurício. Jogos <strong>Indígenas</strong> do Brasil. Disponível em:<br />

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MACEDO, A.V.L.S., NUNES, A. & SILVA, A.L. (org.) <strong>Crianças</strong> <strong>Indígenas</strong>: Ensaios<br />

Antropológicos. São Paulo: Global, 2002.<br />

MEDEIROS, Paula. Brincadeira de Índio. Disponível em MEDEIROS, Paula.<br />

Brincadeira de Índio. Disponível em<br />

http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao.htm.<br />

em 06/10/2005<br />

Consulta realizada<br />

MYASAKI, Nobue. Os Brinque<strong>dos</strong> e a Socialização da Criança Indígena. 2003.<br />

NIMUENDAJU, Curt. “Os índios Tucuna”. Boletim do Museu do Índio. Antropologia.<br />

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PEDUZI, Pedro. Modalidades <strong>dos</strong> Jogos <strong>dos</strong> Povos <strong>Indígenas</strong>. São Paulo: Scipione,<br />

2000.<br />

Artigo produzido por Kátia Cilene Lopes Calderaro<br />

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