Cartilha Capim Dourado e Buriti: Práticas para garantir a ... - Pequi
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<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
1
PEQUI<br />
SCLN 408 Bloco E Sala 201<br />
Brasília - DF<br />
CEP 70856-550<br />
Telefone e Fax: (61) 3037-7876<br />
E-mail: pequi@pequi.org.br<br />
www.pequi.org.br<br />
Organização e elaboração do conteúdo:<br />
Isabel Belloni Schmidt, Isabel Benedetti Figueiredo e Maurício Bonesso Sampaio<br />
Texto:<br />
Fábio Carvalho, Isabel Belloni Schimdt,<br />
Maurício Bonesso Sampaio e Isabel Benedetti Figueiredo<br />
Ilustração, arte e diagramação:<br />
Fábio Carvalho<br />
Fotografias:<br />
Isabel Belloni Schmidt, Isabel Benedetti Figueiredo,<br />
Maurício Bonesso Sampaio e Ísis Meri Medri<br />
Colaboração:<br />
Ana Palmira Silva, Angélica Beatriz Corrêa Gonçalves, Cassiana Solange Moreira,<br />
Gabriel Antunes Daldegan, Igor de Carvalho, Luis Carazza, Maurício José<br />
Alexandre de Araújo, Paulo Takeo Sano, Rinaldo Pinheiro de Farias<br />
C243<br />
FICHA CATALOGRÁFICA<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti: práticas <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a<br />
sustentabilidade do artesanato / Organização de<br />
Isabel Belloni Schmidt ; Isabel Benedetti<br />
Figueiredo ; Maurício Bonesso Sampaio ;<br />
Ilustração de Fábio S. H. de Carvalho. - Brasília :<br />
PEQUI - Pesquisa e Conservação do Cerrado,<br />
2007.<br />
32 p. : il. ; 21 cm.<br />
1. Meio ambiente – Cerrado. 2. Extrativismo<br />
sustentável. 3. Artesanato – produtos não madeireiros.<br />
4. Veredas. I. Schmidt, Isabel Belloni. II. Figueiredo,<br />
Isabel Benedetti. III. Sampaio, Maurício Bonesso.<br />
IV. Carvalho, Fábio S. H. de. V. Título.<br />
CDD 745.5098174<br />
CDU 334.712<br />
2 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato
Abril, 2007<br />
<strong>Capim</strong> dourado<br />
e<br />
buriti<br />
<strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong><br />
a sustentabilidade<br />
do artesanato<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
3
Índice<br />
Índice<br />
Apresentação .....................................................................5<br />
O Jalapão e o Cerrado .......................................................8<br />
O início do artesanato .......................................................13<br />
O capim dourado .............................................................16<br />
A colheita do capim dourado.............................................18<br />
O buriti .............................................................................20<br />
A colheita do olho do buriti................................................22<br />
O manejo com o fogo........................................................26<br />
Extrativismo sustentável .....................................................29<br />
Geração de renda..............................................................31<br />
Só pra lembrar....................................................................33<br />
4 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato
Apresentação<br />
Apresentação<br />
Esta cartilha chegou em suas mãos porque temos um<br />
problema <strong>para</strong> resolver e precisamos da colaboração de todos:<br />
precisamos <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato de capim<br />
dourado e seda de buriti na região do Jalapão!<br />
Boa parte da renda das comunidades do Jalapão é gerada<br />
pelo comércio deste artesanato. E <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a continuidade<br />
desta atividade é preciso respeitar o frágil ambiente, conservando<br />
o Cerrado da região, e respeitar o povo local, garantindo uma<br />
vida digna a todas as pessoas.<br />
E é justamente com este objetivo que esta cartilha aborda<br />
este assunto, trazendo informações e resultados de mais de três<br />
anos de pesquisa.<br />
Neste projeto, a PEQUI – Pesquisa e Conservação do<br />
Cerrado trabalha em conjunto com muitas instituições: a Diretoria<br />
de Floretas do Ibama, o Parque Estadual do Jalapão, o<br />
Naturatins (Instituto Natureza do Tocantins), a Estação Ecológica<br />
Serra Geral do Tocantins, o Ibama em Tocantins, a Embrapa<br />
Cenargen e a Universidade de Brasília. Além disto, contamos<br />
com o importantíssimo apoio da Associação <strong>Capim</strong> <strong>Dourado</strong><br />
do Povoado da Mumbuca, que solicitou a realização de<br />
pesquisas e participou de seu planejamento e execução. Também<br />
temos o valioso apoio de extrativistas e associações de outras<br />
comunidades do Jalapão.<br />
Ao longo deste caminho, contamos com recursos financeiros<br />
da Diretoria de Florestas do Ibama e do Programa de<br />
Pequenos Projetos Ecossociais – PPP-ECOS GEF/PNUD.<br />
Para contribuir com a sustentabilidade ambiental e<br />
econômica do extrativismo buscamos informações sobre:<br />
a) como os extrativistas exploram e manejam as plantas;<br />
b) aspectos da vida das plantas, como crescimento e reprodução;<br />
c) e os impactos do extrativismo sobre as plantas utilizadas.<br />
Com estas informações, podemos propor práticas de manejo<br />
<strong>para</strong> o extrativismo sustentável.<br />
As pesquisas foram feitas próximo à Mumbuca, mas as<br />
recomendações da cartilha são válidas <strong>para</strong> todo o Jalapão e seus<br />
extrativistas.<br />
Sendo assim, boa leitura!<br />
PEQUI<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
5<br />
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O capim dourado<br />
tá que nem artista de televisão,<br />
cada dia mais famoso.<br />
E fama, a gente sabe, acontece assim:<br />
um comentário aqui, outro ali,<br />
uma prosa lá, outra acolá,<br />
e de repente tem um mundo de gente<br />
falando e querendo saber mais<br />
sobre o assunto.<br />
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6 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato
Mas quando o assunto é capim dourado,<br />
é preciso falar, logo de início, que o artesanato<br />
é feito com a seda de buriti também.<br />
E é preciso falar sobre várias outras coisas.<br />
Já que a fama desperta a curiosidade<br />
das pessoas, a gente quer é que todo mundo saiba ainda<br />
mais sobre o que acontece antes, durante e depois<br />
do capim dourado e da seda de buriti virarem<br />
artesanato e viajarem <strong>para</strong> vários cantos do Brasil<br />
e até mesmo <strong>para</strong> outros países.<br />
E <strong>para</strong> ajudar a passar<br />
todo este conhecimento nesta cartilha,<br />
criamos quatro personagens.<br />
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Este é o Zé do <strong>Capim</strong>, esta é a Maria Dourada,<br />
esta é a Ana Vereda<br />
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e este é o João Fogão.<br />
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O O Jalapão Jalapão e e o o Cerrado<br />
Cerrado<br />
Jalapão é a região onde começou a fama<br />
do artesanato de capim dourado e seda de buriti.<br />
O Jalapão fica no leste do Estado do Tocantins,<br />
na divisa com a Bahia, o Piauí e o Maranhão.<br />
E dá pra ver no mapa que,<br />
assim como várias outras regiões<br />
do Brasil, o Jalapão também está no Cerrado.<br />
Mas, infelizmente, o Jalapão é um dos poucos<br />
locais que tem uma boa área de Cerrado conservada.<br />
Na maioria dos outros lugares,<br />
o Cerrado vem sendo destruído por conta<br />
das grandes lavouras e das grandes criações de gado.<br />
8 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
8 <strong>Capim</strong> dourado e buriti: práticas <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
gua<br />
Rio Ara ia<br />
Palmas<br />
Rio<br />
Estado do<br />
Tocantins<br />
Toca ns<br />
nti<br />
Jalapão
O Cerrado apresenta,<br />
de uma forma geral,<br />
6 tipos de vegetação, que são:<br />
campo limpo, campo sujo,<br />
cerrado sentido restrito (ou propriamente dito),<br />
cerradão, mata ciliar e vereda.<br />
Além destes 6 tipos de vegetação,<br />
no Jalapão se vê ainda<br />
impressionantes dunas de areia.<br />
Apesar disto, não podemos dizer<br />
que a região é um deserto,<br />
pois, além de outros fatores,<br />
nela existem muitas nascentes,<br />
muitos córregos, rios e riachos.<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti: práticas <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
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mata ciliar<br />
campo úmido<br />
Pois é...<br />
Até onde eu sei, os buritis<br />
nascem nas veredas e no<br />
meio das matas ciliares.<br />
Mas e o capim dourado,<br />
nasce a onde?<br />
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Falo,<br />
falo sim.<br />
10 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
O capim dourado,<br />
João, nasce nos campos úmidos,<br />
que são um tipo de campo limpo, com<br />
vegetação rasteira, sem arbustos e sem árvores.<br />
Os campos úmidos ficam encharcados<br />
durante as chuvas e com menos água<br />
durante o período de seca.<br />
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É, e os<br />
campos úmidos<br />
ficam, geralmente,<br />
ao lado<br />
das matas ciliares<br />
ou das veredas.<br />
Sempre perto de<br />
onde tem água.<br />
Você podia falar<br />
um pouco<br />
sobre isso,<br />
né Ana?
Todo mundo<br />
sabe que sem água não<br />
há vida e sem vida não há nada.<br />
Por isso, toda e qualquer área<br />
úmida é considerada, no Código Florestal<br />
Brasileiro, como Área Área de de P PPreserva<br />
P reserva<br />
ção ção P PPermanente<br />
P ermanente ermanente, ermanente ou seja, as áreas úmidas<br />
são protegidas por lei. Isso significa que<br />
que elas não podem ser devastadas.<br />
Isto porque a conservação e a qualidade<br />
da água de um ambiente<br />
dependem de suas<br />
áreas úmidas.<br />
Assim,<br />
se quisermos conservar<br />
o nosso querido capim dourado,<br />
a gente tem que conservar as áreas<br />
úmidas como um todo. Isto é, todas<br />
as outras plantas nativas, todos os<br />
animais que vivem e passam por<br />
ali e, principalmente, as nascentes,<br />
os córregos<br />
e os rios.<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti: buriti - práticas <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a a sustentabilidade do do artesanato<br />
11<br />
11
O O início início do do artesanato<br />
artesanato<br />
Contam as pessoas mais antigas<br />
que o artesanato feito com capim dourado<br />
e seda de buriti começou no Jalapão,<br />
há mais ou menos 80 anos.<br />
Pois, então.<br />
Essa história teve<br />
início no povoado<br />
da Mumbuca, quando<br />
os índios Xerente, que<br />
vinham lá do lado do<br />
Araguaia, ensinaram<br />
o Seu Firmino a costurar<br />
capim dourado<br />
com seda<br />
de buriti.<br />
12 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
É... E você<br />
sabe, né Maria, que<br />
foi o Seu Firmino quem ensinou<br />
as suas sobrinhas. Dentre elas, a<br />
Dona Laurina, que é mãe da Dona<br />
Miúda e da Dona Laurentina.<br />
E foi com a Dona Miúda<br />
que o artesanato<br />
se popularizou...<br />
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Mas algumas<br />
outras mulheres,<br />
como a Dona Inocência<br />
e a Dona<br />
Severa, de Mateiros,<br />
também faziam e<br />
ensinavam a fazer<br />
artesanato de<br />
capim dourado...
No início, o que mais<br />
se fazia eram chapéus e cestos.<br />
Mais <strong>para</strong> usar do que <strong>para</strong> vender.<br />
Então, lá pelos anos 96, 97, 98,<br />
o governo de Tocantins e algumas prefeituras,<br />
principalmente a da cidade de<br />
Mateiros, passaram a ajudar na divulgação<br />
do artesanato de capim<br />
dourado e seda de buriti.<br />
Além disso, nessa mesma época,<br />
a região passou a ser muito visitada<br />
por turistas interessados no ecoturismo.<br />
Até porque, lá foram criadas três Unidades<br />
de Conservação de proteção integral<br />
e duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs).<br />
Veja o mapa na página seguinte.<br />
Unidades de Conservação de Proteção Integral:<br />
- Parque Estadual do Jalapão<br />
- Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins<br />
- Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba<br />
Áreas de Proteção Ambiental (APAs):<br />
- APA Jalapão<br />
- APA Serra da Tabatinga<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
13
Região do Jalapão<br />
14 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato
Pra vocês<br />
verem: no final dos<br />
anos 90, aumentou tanto<br />
o número de pessoas envolvidas<br />
com o artesanato que<br />
muitos homens trocaram de<br />
trabalho e começaram<br />
a costurar capim dourado<br />
também.<br />
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É, e a procura<br />
foi tanta que a atividade<br />
começou a se espalhar por quase<br />
toda a região: Mateiros, São Félix,<br />
Ponte Alta, Novo Acordo, Rio Novo,<br />
Carrapato, Formiga, Galheiros, Prata,<br />
Boa Esperança, Borá, Mumbuquinha,<br />
Fazenda Nova<br />
e tantas outras...<br />
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E tem mais:<br />
a partir do ano<br />
2000, várias associações<br />
de coletores<br />
e artesões foram fundadas.<br />
Hoje, já são<br />
mais de 15 espalhadas<br />
pela região. Isso<br />
significa mais de<br />
600 artesões cadastrados.<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
15
16 <strong>Capim</strong> dourado e buriti: buriti - práticas <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> <strong>garantir</strong> a a sustentabilidade do do artesanato<br />
16<br />
O O capim capim dourado<br />
dourado<br />
Quase todas as plantas<br />
conhecidas têm um<br />
ou mais de um nome popular.<br />
Depende de cada região.<br />
E quase todas as plantas<br />
também têm<br />
um nome científico.<br />
No entanto, o nome científico<br />
não depende da região.<br />
O nome científico é igual<br />
em qualquer lugar do mundo<br />
e é escrito em latim.<br />
Assim, o nome científico<br />
do capim dourado<br />
é Syngonanthus nitens.<br />
Nitens, em latim,<br />
significa brilho.<br />
O curioso é que<br />
o capim dourado<br />
não é uma gramínea<br />
como os outros capins.<br />
O capim dourado,<br />
na verdade, é uma<br />
sempre-viva da família<br />
das Eriocauláceas.
Muita gente acha que<br />
o capim dourado é só um filetinho<br />
de palha e pronto. Mas não é, não!<br />
Na base tem uma roseta de folhas,<br />
também conhecida como sapata<br />
ou pé. E lá na ponta do<br />
haste tem as flores.<br />
4 cm<br />
1 mm<br />
No Jalapão, as flores<br />
do capim dourado se abrem entre julho<br />
e agosto. Depois de serem polinizadas, elas<br />
produzem as sementes, que ficam maduras só<br />
a partir de setembro. É nesta época que as<br />
hastes ficam secas. As hastes secas é que<br />
são brilhosas e boas <strong>para</strong> fazer<br />
o artesanato.<br />
Resultados das pesquisas<br />
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- Cada flor de capim dourado pode produzir até 250 sementes (em<br />
média, produz 60 sementes);<br />
- Quase todas as sementes germinam (a cada 100 observadas, mais<br />
de 90 germinaram);<br />
- O capim dourado pode dar flor no primeiro ano de vida e florescer<br />
várias vezes durante sua vida;<br />
- Cada planta produz 1 ou 2 hastes por floração.<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
17
A A colheita colheita do do capim capim dourado<br />
dourado<br />
Já que as sementes amadurecem<br />
e as hastes secam na metade de setembro,<br />
é só a partir desta época que a gente deve<br />
fazer a colheita.Isto até virou lei!!!<br />
O Naturatins, por meio do Parque Estadual<br />
do Jalapão, criou uma “lei <strong>para</strong> a colheita<br />
do capim dourado” (Portaria n° 092/2005).<br />
Esta lei diz que o capim dourado só pode ser colhido<br />
depois do dia 20 de setembro e que, além disso,<br />
no momento da colheita, as flores devem ser cortadas<br />
e jogadas no campo úmido onde foram colhidas.<br />
A lei diz ainda que o capim dourado não pode ser<br />
comercializado in natura (antes de virar artesanato)<br />
<strong>para</strong> fora do Jalapão.<br />
Isso é sério, pessoal.<br />
É preciso esperar o capim<br />
dourado produzir a semente<br />
pra depois colher.<br />
18 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
E o melhor:<br />
se na hora da colheita<br />
a gente jogar as sementes no<br />
chão, nós vamos <strong>garantir</strong><br />
a dispersão e o nascimento delas.<br />
Se não fizermos isso, se não cortarmos<br />
as “cabecinhas”, iremos levar<br />
as sementes pra casa. E na<br />
nossa casa as sementes<br />
não vão nascer!
Resultados das pesquisas<br />
- Colher após 20 de setembro, não prejudica o capim dourado;<br />
- Colher hastes verdes pode arrancar a roseta. No ritmo de<br />
colheita do capim dourado, pode ser desenterrada mais de<br />
uma roseta por minuto. Assim, em uma hora, podem morrer<br />
até 100 plantas adultas!<br />
Vocês sabem<br />
da história das sempre-vivas<br />
sempre-vivas<br />
mineiras mineiras? mineiras Lá em Minas Gerais, na<br />
região de Diamantina, há muitos anos o<br />
povo já faz arranjo de sempre-vivas <strong>para</strong><br />
vender. E de tanto colherem as hastes<br />
ainda em flor, isto é, antes das plantas<br />
produzirem sementes, muitas<br />
espécies de sempre-vivas<br />
desapareceram!<br />
Por isso,<br />
mesmo o capim<br />
dourado sendo muito<br />
comum nos campos úmidos<br />
do Jalapão, se a<br />
gente não cuidar ele<br />
pode acabar!<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
19
20 <strong>Capim</strong> dourado 20e buriti <strong>Capim</strong> - <strong>Práticas</strong> dourado <strong>para</strong> e buriti: <strong>garantir</strong> práticas a sustentabilidade <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> do a artesanato sustentabilidade do artesanato<br />
20<br />
20<br />
O O buriti<br />
buriti<br />
Para fazer o artesanato<br />
de capim dourado é preciso<br />
uma linha <strong>para</strong> costurar.<br />
Essa linha é tirada do buriti:<br />
é a seda de buriti.<br />
Por isso, assim como o capim dourado,<br />
o buriti também merece muito<br />
a nossa atenção.
Vocês sabem,<br />
né, que existem buritis<br />
machos e buritis fêmeas?<br />
Pois, é. Mas só as<br />
fêmeas produzem frutos<br />
e cada cacho pode ter<br />
até 4 mil frutos!<br />
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E o nome científico<br />
do buriti que é Mauritia<br />
flexuosa! Mas o apelido dele é<br />
“árvore da vida”, pois do buriti dá<br />
pra aproveitar tudo. Com a polpa<br />
do fruto dá pra fazer suco, doce,<br />
geléia, licor, bolo etc. Do caroço<br />
do fruto é tirado o óleo, que<br />
serve pra cozinhar, fazer<br />
sabão...<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
E o tronco,<br />
que serve pra<br />
construir casas e outras<br />
coisas! As folhas verdes<br />
servem <strong>para</strong> fazer telhado,<br />
cestos e etc. O talo<br />
das folhas é usado pra<br />
fazer móveis e até<br />
brinquedo...<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
21
A A colheita colheita do do olho olho do do buriti<br />
buriti<br />
Dele é retirada<br />
a seda de buriti,<br />
que só depois de seca<br />
é utilizada <strong>para</strong> costurar<br />
o capim dourado.<br />
O olho é colhido<br />
dos buritis jovens,<br />
aqueles que têm entre<br />
4 e 10 metros de altura<br />
e que ainda não produziram<br />
flores nem frutos.<br />
Os melhores buritis<br />
<strong>para</strong> fazer a colheita<br />
são os que têm muitas folhas<br />
grandes e verdes.<br />
Olho do buriti é a folha nova<br />
que ainda não abriu.<br />
22 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato
Os buritis jovens podem<br />
produzir de 1a 5 olhos por ano.<br />
E a gente sabe muito bem que,<br />
como todas as plantas, o buriti<br />
precisa das folhas <strong>para</strong> viver.<br />
Quem entende do assunto diz<br />
que nós não devemos<br />
colher dois olhos seguidos<br />
de um mesmo pé de buriti.<br />
E é bom escutar<br />
quem entende...<br />
Na hora de colher,<br />
tem que chegar no pé<br />
e ver se tem um talo<br />
cortado, que foi do<br />
último olho colhido.<br />
Se tiver o talo e não tiver<br />
outra folha mais nova<br />
que esse talo, ainda não<br />
deu tempo do buriti<br />
guardar uma folha pra ele.<br />
Então, não podemos colher<br />
o olho deste buriti.<br />
Assim, fica uma boa parceria:<br />
uma folha <strong>para</strong> o buriti<br />
e outra <strong>para</strong> o extrativista!<br />
23<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti: práticas <strong>Capim</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> dourado a e sustentabilidade buriti - <strong>Práticas</strong> do <strong>para</strong> artesanato<br />
<strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
23
Se os buritis jovens<br />
produzem de 1a 5 olhos<br />
por ano, nós podemos tirar<br />
uma média e dizer que eles produzem<br />
3 olhos por ano, certo?<br />
Então, isso significa que, de uma<br />
forma geral, o buriti demora<br />
4 meses <strong>para</strong> produzir<br />
um olho!<br />
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1234<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
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1234567890123456789<br />
1234567890<br />
1234567890<br />
1234567890123456789<br />
1234567890<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
24 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
Isso tudo??!!!<br />
Você tá brincando, João!<br />
Então, se nós não podemos colher 2<br />
olhos seguidos de um mesmo buriti, isso<br />
quer dizer que a gente só pode colher<br />
1 olho a cada 8 meses??!!!<br />
Não acredito!!!<br />
Mas pode<br />
acreditar, Maria,<br />
porque é isso mesmo.<br />
E tem mais: quando a<br />
gente colhe muitos<br />
olhos ou muitas folhas<br />
de um buriti sem dar<br />
o tempo certo<br />
da colheita, esse buriti<br />
fica, como o povo diz,<br />
“acanhado”, pois<br />
passa a produzir<br />
menos folhas<br />
e folhas menores<br />
e pode até<br />
morrer.
Pergunta:<br />
Se em uma comunidade tem 50 pessoas fazendo artesanato<br />
e cada pessoa precisa de 1 olho por mês, quantos pés de<br />
buriti jovem são necessários <strong>para</strong> não faltar seda em 2 anos de<br />
trabalho?<br />
Resposta:<br />
Para não faltar seda em um comunidade com 50 pessoas<br />
fazendo artesanato são necessários 400 pés de buriti jovem<br />
em 2 anos de trabalho!<br />
Veja as contas:<br />
- Quantos olhos em 2 anos são utilizados?<br />
50 pessoas x 1olho por mês = 50 olhos por mês<br />
50 olhos por mês x 24 meses = 1200 olhos em 2 anos<br />
- Quantos olhos de um só buriti pode tirar em 2 anos?<br />
a cada 8 meses 1 olho<br />
a cada 24 meses X olhos<br />
X = 24 dividido por 8<br />
X = 3 olhos em 2 anos<br />
- Quantos buritis são necessários em 2 anos?<br />
3 olhos 1 pé buriti<br />
1200 olhos Y pés de buritis<br />
Y = 12OO dividido por 3<br />
Y = 400 pés de buritis em 2 anos<br />
Observação:<br />
É bom lembrar que estas contas foram feitas considerando<br />
a produção anual média de 3 olhos por buriti. Mas existem buritis<br />
que podem produzir até 5 olhos e outros que produzem só 1. Essa<br />
conta é só pra gente saber que precisa de muitos buritis!<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
25
O O manejo manejo com com o o fogo<br />
fogo<br />
No Jalapão,<br />
o fogo é muito utilizado <strong>para</strong> fazer rebrotar o pasto,<br />
fazer roça e, também, <strong>para</strong> manejar as áreas<br />
de colheita de capim dourado.<br />
Isso porque o fogo “limpa” a área<br />
e, como o povo diz, “desabafa” o capim dourado.<br />
Há também quem acredite que as cinzas adubam o solo<br />
e estimulam o crescimento das plantas.<br />
É, mas aí tem um<br />
problema! Quando o fogo<br />
passa muitas vezes na mesma<br />
área, o solo fica exposto ao sol,<br />
os nutrientes vão embora<br />
e as plantas enfraquecem!<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
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1234<br />
1234<br />
26 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
Por isso,<br />
queimar a mesma<br />
área muitas vezes seguidas<br />
pode desequilibrar o<br />
ambiente e prejudicar,<br />
inclusive, o capim<br />
dourado.
Além do mais,<br />
por várias vezes, o fogo já se espalhou<br />
pelo Cerrado a fora, queimando<br />
o que se pretendia e o que não devia.<br />
Por isso, quem for fazer uma queimada,<br />
não pode deixar o fogo chegar nas veredas,<br />
no topo das serras e nem nas matas,<br />
principalmente nas matas na beirada dos rios,<br />
córregos e nascentes.<br />
Isso é muito sério!<br />
Sem vegetação, caem os<br />
barrancos, assoreando os rios<br />
e córregos, os brejos ficam<br />
secos, morrem as nascentes<br />
e todos nós ficamos<br />
sem água!<br />
O fogo pode<br />
até ajudar na colheita do<br />
capim dourado. Mas deve ser<br />
usado com sabedoria pra não<br />
virar um grande incêndio. E pra<br />
não perder o controle do fogo,<br />
é preciso seguir algumas<br />
orientações.<br />
Vejam só:<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
12<br />
123<br />
123<br />
123<br />
123<br />
123<br />
123<br />
123<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
27
28 <strong>Capim</strong> dourado e e buriti buriti: - práticas <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
28<br />
QUEIMADA CONTROLADA<br />
Antes de começar a queimada:<br />
1) Avise o pessoal da comunidade e organize um mutirão.<br />
Tente juntar o maior número de pessoas possível;<br />
2) Veja se a brigada de incêndio do seu município pode ajudar;<br />
3) Faça aceiros ao redor da área que se pretende queimar;<br />
4) Faça a queimada em horários de menor calor e menos<br />
vento, de preferência no final da tarde;<br />
5) Use luvas e botas e tenha sempre em mãos abafadores de fogo;<br />
6)Distribua o pessoal ao redor da área que vai ser queimada;<br />
7) Vá queimando por partes e contra o vento. A queima contra<br />
o vento é muito importante. Quando o fogo tiver avançando<br />
de um lado da área, coloque fogo do outro lado, fazendo o<br />
contrafogo.<br />
8) Se preciso, solicite ao IBAMA e ao Naturatins treinamento e<br />
equipamento <strong>para</strong> fazer a queimada controlada.<br />
Fonte: IBAMA - PREVFOGO
Extrativismo Extrativismo sustentável<br />
sustentável<br />
Sabemos que extrativismo sustentável<br />
significa tirar da natureza<br />
os recursos que ela tem disponível,<br />
atendendo as necessidades do presente<br />
sem comprometer o futuro.<br />
Só que <strong>para</strong> isso é preciso<br />
levar em consideração 4 coisas:<br />
1) os fatores ecológicos (os recursos naturais);<br />
2) os fatores sociais (as pessoas);<br />
3) os fatores políticos (a forma de organização das pessoas);<br />
4) e os fatores econômicos (a geração de renda).<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
29
Então,<br />
quer dizer<br />
que extrativismo<br />
sustentável significa<br />
tirar da natureza<br />
pra poder gerar<br />
renda?<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890<br />
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1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
30 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
Não é só isso, Maria.<br />
Para ser sustentável mesmo<br />
tem que saber duas coisas. Primeiro:<br />
tem que extrair os recursos<br />
naturais sem acabar com eles, isto<br />
é, conservando conservando a a natureza natureza. natureza E,<br />
segundo, tem tem tem que que gerar gerar renda<br />
renda<br />
sem sem explorar explorar as as pessoas.<br />
pessoas.<br />
A não exploração entre as<br />
pessoas é o que garante<br />
a igualdade social.<br />
Eu concordo.<br />
E acho ainda<br />
que uma forma<br />
de evitar a exploração<br />
entre as pessoas<br />
é a organização de<br />
associações e de<br />
cooperativas, sem sem<br />
sem<br />
patrão, patrão, nem nem<br />
nem<br />
empregado!<br />
empregado!
Geração Geração de de renda<br />
renda<br />
O Cerrado possui várias plantas nativas<br />
que podem virar produtos de qualidade<br />
e gerar renda <strong>para</strong> as famílias da região.<br />
O nosso grande exemplo é o artesanato<br />
de capim dourado e seda de buriti.<br />
Mas têm também inúmeras frutas que podem<br />
virar polpa, doces, sorvetes, etc. Têm folhas, cascas<br />
e raízes medicinais. Têm fibras, palhas, troncos e sementes<br />
que podem virar outros artesanatos. E tem mais...<br />
Dessa forma, o extrativismo sustentável pode ser sempre<br />
uma fonte de renda <strong>para</strong> os povos do Cerrado.<br />
Basta saber informações sobre a vida das plantas,<br />
as formas de manejo e de colheita.<br />
123456789012345678901<br />
123456789012345678901<br />
123456789012345678901<br />
123456789012<br />
123456789012345678901<br />
123456789012345678901<br />
123456789012<br />
123456789012<br />
123456789012345678901<br />
123456789012345678901<br />
123456789012345678901<br />
123456789012345678901<br />
O extrativismo<br />
sustentável no Jalapão é uma<br />
forma de gerar renda <strong>para</strong> as comunidades<br />
locais. Mas tão importante quanto<br />
isso, o o extrativismo extrativismo sustentável sustentável é é também<br />
também<br />
uma uma uma forma forma forma de de de conservar conservar conservar o o Cerrado Cerrado, Cerrado ao con-<br />
trário das grandes plantações e das grandes criações<br />
de gado, que destroem a vegetação, expulsam<br />
os animais silvestres, esgotam o solo, poluem<br />
e diminuem o volume das águas e praticamente<br />
não geram benefícios<br />
<strong>para</strong> o povo local.<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
31
Pois é, o negócio<br />
é fazer o que<br />
a Ana falou. Tem que<br />
organizar as associações<br />
e as cooperativas.<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
1234<br />
$<br />
No entanto, quando se fala em geração de renda,<br />
é bom lembrar de uma coisa:<br />
onde tem dinheiro sempre tem gente<br />
querendo tirar vantagem <strong>para</strong> se dar bem.<br />
Gente de todo tipo.<br />
Desde um morador da comunidade,<br />
até grandes empresários de fora.<br />
Seja explorando o trabalho das pessoas,<br />
querendo comprar o artesanato<br />
por um preço baixo pra vender por um preço alto.<br />
Seja prejudicando a natureza e o ciclo natural das plantas,<br />
desrespeitando as regras da colheita<br />
<strong>para</strong> adquirir cada vez mais matéria-prima.<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
12345678901<br />
12345678901<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
1234567890123456789<br />
32 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
É claro. Mesmo<br />
porque, com as associações<br />
organizadas, além de ter mais<br />
força pra <strong>garantir</strong> que o extrativismo<br />
seja sustentável, a gente consegue<br />
negociar direto com as<br />
lojas das cidades<br />
grandes.<br />
É isso aí,<br />
sem ter que aceitar<br />
qualquer preço imposto<br />
por alguns intermediários.
Só Só pra pra lembrar<br />
lembrar<br />
Bom, chegamos ao fim desta cartilha.<br />
Como se viu, o objetivo aqui é divulgar informações<br />
<strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
de capim dourado e seda de buriti no Jalapão.<br />
E foi mostrado no decorrer destas páginas<br />
que <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
significa duas coisas:<br />
a) Zelar não só pela conservação destas<br />
duas plantas, mas, sim, pela conservação<br />
de todo o Cerrado.<br />
b) E assegurar que a relação entre as pessoas que<br />
estão envolvidas com o trabalho do artesanato<br />
não seja marcada pela exploração<br />
e, sim, pela dignidade.<br />
Mas, <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> estas duas coisas,<br />
é preciso estar sempre atento a 9 questões,<br />
descritas na página seguinte.<br />
Agradecemos as instituições e todas as pessoas<br />
que contribuiram com as pesquisas e, portanto,<br />
com a as informações apresentadas nesta cartilha.<br />
Um grande abraço da PEQUI!<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do do artesanato<br />
33<br />
33
1<br />
Colher capim dourado só depois do dia 20 de Setembro,<br />
pois só após esta data que as sementes estão maduras.<br />
2<br />
Na hora da colheita do capim dourado, cortar as flores e<br />
espalhá-las pelo campo úmido em que foram colhidas.<br />
3<br />
Não comprar capim dourado de quem não toma estes cuidados<br />
na hora da colheita. Nunca compre “capim verde”!<br />
4<br />
Não vender capim dourado in natura <strong>para</strong> fora da sua<br />
região. A lei do capim dourado diz isso. As outras regiões também<br />
deveriam seguir este exemplo, pois, assim, o capim dourado<br />
irá gerar renda na região em que foi colhido.<br />
5<br />
Não colher 2 olhos seguidos de um mesmo buriti e, sim,<br />
colher do mesmo pé, no máximo, 1 olho a cada 8 meses.<br />
6<br />
Colher olho do buriti nas veredas mais distantes também.<br />
Isso <strong>para</strong> não explorar demais e, assim, prejudicar as veredas<br />
mais próximas das comunidades.<br />
7<br />
Nunca compre seda de buriti de quem não toma estes<br />
cuidados na hora da colheita!<br />
8<br />
Tomar muito cuidado quando for fazer fogo. Faça queimada<br />
controlada pra não virar incêndio!<br />
9<br />
Fortalecer as associações <strong>para</strong> organizar o trabalho e<br />
gerar renda conservando a natureza!<br />
34 34 <strong>Capim</strong> <strong>Capim</strong> dourado dourado e buriti e buriti - <strong>Práticas</strong> - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> <strong>garantir</strong> a a sustentabilidade sustentabilidade do do artesanato artesanato<br />
34 34<br />
Lembrar sempre:
A PEQUI é uma organização não-governamental (OnG), sediada<br />
em Brasília, que tem por objetivos:<br />
1.Organizar e executar avaliações ecológicas <strong>para</strong> identificar,<br />
diagnosticar e propor a criação de áreas protegidas;<br />
2.Divulgar informações úteis à conservação do Cerrado;<br />
3.Conscientizar a opinião pública sobre a importância da<br />
conservação do meio ambiente, notadamente do Cerrado.<br />
A PEQUI atua na região do Jalapão desde 2001. Inicialmente,<br />
participou da elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual do<br />
Jalapão, elaborou o Plano de Utilização da Reserva Particular do Patrimônio<br />
Natural - RPPN Minehaha, localizada ao sul da Estação Ecológica Serra<br />
Geral do Tocantins e, atualmente, tem realizado pesquisas <strong>para</strong> contribuir<br />
com o manejo e conservação de capim dourado (Syngonanthus nitens) e<br />
buriti (Mauritia flexuosa).<br />
Desde o início dos trabalhos no Jalapão a PEQUI estabeleceu<br />
profícua parceria com o Ibama, o Naturatins e as unidades de conservação<br />
da região. A publicação desta cartilha é uma etapa do longo caminho<br />
necessário <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a conservação do Jalapão, região que abriga<br />
um dos maiores remanescentes de Cerrado no Brasil.<br />
<strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato<br />
35
Realização<br />
Financiamento<br />
Apoio<br />
36 <strong>Capim</strong> dourado e buriti - <strong>Práticas</strong> <strong>para</strong> <strong>garantir</strong> a sustentabilidade do artesanato