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antologia comentada

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O R G A N I Z A Ç Ã O :<br />

M H A R I O L I N C O L N<br />

A C A D E M I A P O É T I C A B R A S I L E I R A<br />

Volume 2<br />

José de Oliveira Ramos<br />

(MA), Lilian Abreu (MA),<br />

Bruno Black Silva (RJ),<br />

Rita Delamari (PR),<br />

Luciana Improta (MG)<br />

Marcio Gleide (PR)<br />

Pedro Du Bois (SC)<br />

<strong>antologia</strong> <strong>comentada</strong><br />

A


José de Oliveira Ramos<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

POETA E PROSADOR CONVIDADO:<br />

JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS<br />

ABAT-JOURS E LENÇÓIS<br />

Ar controlado, por ser condicionado,<br />

Abat-jour quase apagado.<br />

Lençóis desalinhados – corações disparados<br />

Intimidades e corpos preparados.<br />

Bocas amassadas, beijadas.<br />

Mãos trêmulas, entrelaçadas<br />

Partes intumescidas,<br />

Eretas e umedecidas.<br />

Ar controlado, sem efeito por ser condicionado<br />

Abat-jour quase aceso<br />

Lençóis desalinhados – molhados<br />

Corações acalmados, realizados.


José de Oliveira Ramos<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

"Fazer amor é tocar um instrumento numa grande<br />

Orquestra. Ouvir atentamente a harmonia do todo,<br />

antes de ser o único solista..." (#domeulivro ML).<br />

Mhario Lincoln: Como é bom ter José<br />

de Oliveira Ramos aqui nesta página da<br />

Academia Poética Brasileira. Arisco,<br />

fugitivo dos holofotes, resguardo de<br />

parto, depois de parir mil letras em textos<br />

graciosos e sinceros, J'OR (que é<br />

também grande jornalista de campo e<br />

cronista), vez por outra escreve poesia.<br />

Uma delas é essa. Repito, graciosa,<br />

embalada com pitadas de um erotismo<br />

discreto, bem parecido com as cenas que<br />

assistíamos ávidos, lá pela década de<br />

60, nos filmes italianos.<br />

J'OR é assim. Calado. Mas quando quer<br />

fazer barulho, o faz arrumando<br />

milimetricamente cada verso para retratar<br />

seu lado, tipo, erótico-discreto. Aliás esse<br />

tipo de poesia é clássica mesmo. Os<br />

versos da poeta inglesa Denise Levertov<br />

(1923-1997), por exemplo, é assim:<br />

"Nossos corpos, ainda novos sob/ a<br />

ansiedade gravada de nossas/ caras, e<br />

inocentemente/ mais expressivos que<br />

caras (...)". Ou seja, para bom


José de Oliveira Ramos<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

J'OR, por sua vez, é merecedor de aplausos por<br />

essa construção poética simples, porém de uma<br />

grandeza realista incrível: "Ar controlado, sem efeito<br />

por ser condicionado/ Abat-jour quase aceso/<br />

Lençóis desalinhados – molhados/ Corações<br />

acalmados, realizados."<br />

Portanto, há visível percepção do ato, na<br />

construção do poético. Essa é a similitude com o<br />

verso anterior de Denise - o erotismo discreto,<br />

igualmente usado algumas vezes por ninguém<br />

menos que Manuel Bandeira. Veja:<br />

"Alumbramento". Eis o erotismo de relance numa<br />

poesia estupendamente brilhante com via-láctea,<br />

sol, lua, Céu, mar e rastros do Senhor. Bandeira diz:<br />

"(...) E vi a Via-Láctea ardente…/ Vi comunhões…<br />

capelas… véus…/ Súbito… alucinadamente/ Vi<br />

carros triunfais… troféus…/ Pérolas grandes como a<br />

lua…/ Eu vi os céus! Eu vi os céus! – Eu vi-a nua…<br />

toda nua!". Repito: Para bom entendedor...<br />

José de Oliveira Ramos é assim bem íntimo em<br />

suas vertentes: "Lençóis desalinhados – corações<br />

disparados/ Intimidades e corpos preparados.(...)".<br />

Ele com certeza sente esse insigth poderoso da<br />

libido poética, quando escreve. E nós, daqui deste<br />

lado, também imaginamos todo aquele cenário onde<br />

a luz do abat-jour é o holofote da exteriorização do<br />

ato. Por isso, tem luz fraca e discreta.


José de Oliveira Ramos<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Mesmo assim, tentando rebuscar segredos e surpresas<br />

nesse encontro. Já o leitor aflito, lendo cada verso,<br />

assume sua condição de partícipe.. até de 'voyeur'; só que<br />

essa condição, é claro, não doentia, mas extremamente<br />

prazerosa em ver essa construção poética - quase pueril -<br />

diante de alucinações horrendas e palavrões<br />

desconcertantes, cheios de orgia e vícios - que alguns<br />

acham escrever para se denominarem "Poetas Eróticos".<br />

Nada a ver, sem dúvida. Nem mesmo o maior deles, aqui<br />

no Brasil, Gregório de Matos - o Boca do Inferno -<br />

ultrapassou o momento poético ao extravasar sua própria<br />

angústia humana.


José de Oliveira Ramos<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Vide:<br />

"(...)<br />

Descarto-me da tronga, que me chupa,<br />

Corro por um conchego todo o mapa,<br />

O ar da feia me arrebata a capa,<br />

O gadanho da limpa até a garupa.<br />

Busco uma freira, que me desentupa<br />

A via, que o desuso às vezes tapa,<br />

Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,<br />

Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.<br />

Que hei de fazer, se sou de boa cepa,<br />

E na hora de ver repleta a tripa,<br />

'Darei por quem mo vase toda Europa?' (*)<br />

Amigo, quem se alimpa da carepa,<br />

Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,<br />

Ou faz da mão sua cachopa. (...)"<br />

Destarte, o que me chama a atenção nisso tudo é a<br />

certeza de que essa leitura - que passa também por<br />

Manuel Bandeira e Denise Levertov - traz pra mim<br />

excelentes momentos em que li, aqui mesmo no<br />

Facebook, poesias eróticas, ricas, emocionantes,<br />

carismáticas, até, de grandes poetas que povoam<br />

estes lados de cá.<br />

Parabéns José de Oliveira Ramos.<br />

Seja bem-vindo, sempre!


Lilian Abreu<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

POETA CONVIDADA:<br />

LILIAN ABREU<br />

Ah, esse poeta<br />

Que fala com o coração<br />

Que ama sem preconceito<br />

Incondicionalmente sem razão<br />

Ah, pobre poeta<br />

Alguém devia te avisar<br />

Que essa história de amor<br />

Às vezes, pode machucar<br />

Ah, forte poeta<br />

Sentindo tudo mais intenso<br />

Quando ama, ama sem culpa<br />

Amor forte, quente e lento<br />

Ah, triste poeta<br />

Quando não és correspondido<br />

Apenas se põe a escrever<br />

A tristeza do que não foi vivido<br />

Ah, lindo poeta<br />

Dera-me eu ser teus dilemas<br />

Pois seria eternizada<br />

Em versos, rimas e poemas<br />

Por fim, nobre poeta<br />

Que expõe sua alma ao mundo<br />

Há de viver um dia<br />

Esse amor tão grande e profundo


Lilian Abreu<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Mhario Lincoln: A suavidade da pena da poeta Lilian<br />

Abreu é algo até comum em certas poesias<br />

angustiantes. Mas a maneira como Lilian coloca essa<br />

angústia diante de uma verdade poética, é raro.<br />

Ela se coloca no meio desse turbilhão de versos e se<br />

entrega ao conteúdo, dando-lhe forma consistente:<br />

........................................................<br />

Ah, lindo poeta<br />

Dera-me eu ser teus dilemas<br />

Pois seria eternizada<br />

Em versos, rimas e poemas<br />

.........................................................<br />

Soa agradável aos ouvidos; imerge e vai rebuscar<br />

nossos sentimento nas profundezas d'alma. Uma<br />

construção poética em definição, claro, mas<br />

acertadamente correta quando busca explicar não só o<br />

ato de poetar, as razões de poetar, mas as<br />

consequências de poetar, humanizando ou<br />

desumanizando a figura (incólume) do poeta.<br />

...........................................................<br />

Ah, esse poeta<br />

Que fala com o coração<br />

Que ama sem preconceito<br />

Incondicionalmente sem razão(...)<br />

............................................................


Lilian Abreu<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Nada mais justo e perfeito. Verdade nua.<br />

Definição amparada pelo próprio sentimento<br />

pessoal de Lilian Abreu. E ela, através de um<br />

personagem criado, esparramando-o pelo<br />

papel, tenta descrever sua própria angústia de<br />

poetar. E acerta nisso. Como bem acertou<br />

nosso conterrâneo, o maranhense trovador<br />

emérito, Catulo da Paixão Cearense, quando<br />

definiu o anel do poeta.<br />

"Qual seria o anel do poeta,<br />

se o poeta fosse doutor?<br />

Uma saudade engastada,<br />

na cravação de uma dor..." (Catulo).<br />

São dois momentos angustiantes. Mas<br />

singelos. Então analisar uma poesia<br />

angustiante que, ao mesmo tempo é singela,<br />

leve e uníssona, é algo raro na poética<br />

nacional - até o momento de ler outros<br />

exemplos, claro.<br />

Mas nesse momento, fico feliz com Lilian<br />

Abreu por me presentar com linda composição<br />

poética de sua lavra. E ela tem muitas outras<br />

em sua página:<br />

https://www.facebook.com/fragmentosdaaguia/<br />

Impossível não ler.<br />

Lilian Abreu, obrigado.


Bruno Black<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

MESMO FORTE,<br />

A SUAVIDADE DA POESIA<br />

DE BRUNO BLACK, É VISÍVEL<br />

Mhario Lincoln: Já famoso por sua frase "Se tens<br />

um dom, seja", Bruno (Black) Silva é um poeta e<br />

ativista cultural no Rio de Janeiro. Livre e liberto de<br />

amarras, percorre o Rio levando não só a sua<br />

mensagem poética, mas envolvendo todas as<br />

pessoas que lhe cercam nessa mesma aventura.<br />

Pela primeira vez leio um poema dele, nesse<br />

diapasão. (Ele tem um clássico-lírico chamado<br />

BEIJO ROUBADO, apresentado a Maria Betânia).<br />

Mas, todo poeta, quando eclético ou com<br />

sentimentos pulsantes dentro do peito, acaba<br />

dando esse grito. Seria uma denúncia? Não só!<br />

Mas um desabafo pessoal sobre os dilemas<br />

pessoais que cada um brasileiro, seja qual for, vem<br />

enfrentando nesses momentos.<br />

" (...) O sol nasce<br />

Os pipocos na favela comem<br />

Comem nossos ouvidos<br />

Comem nossas forças<br />

E o medo nos invade<br />

Mas o que fazer?<br />

Temos que trabalhar<br />

Para trazer o pão de cada dia para casa! (...)"


Bruno Black<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

E como poesia é um quase pedido de socorro. Bruno<br />

Black consegue ultrapassar suas próprias barreiras<br />

líricas ao compor essa canção-grito:<br />

"(...) O sol vai embora<br />

E o trabalhador agora briga com o tempo<br />

E pede outra trégua<br />

Para pode chegar em casa<br />

Ele corre entre brilhos agitados<br />

Ele corre para salvar a própria carne<br />

E quando chega em casa<br />

Encontra a sua parece furada<br />

Seus filhos estraçalhados (...)."<br />

Na verdade, essa poesia tende a ser incluída no que<br />

especialistas chamam de poesia social, muito usada<br />

por Thiago de Mello e Afonso Romano de Sant’Ana,<br />

numa época brasileira não tão distante. Esses<br />

grandes poetas conseguiram restabelecer o lirismo,<br />

mesmo nessas construções fortes, fazendo desse<br />

grito, um instrumento de denúncia social.<br />

E, mesmo assim, as habilidades de Bruno Black<br />

restabelece, também, uma certa lírica nesse seu<br />

poema ora analisado.


Bruno Black<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Essa ânsia de escrever, de<br />

compor, de fazer poesia<br />

ultrapassa suas barreiras. E<br />

numa entrevista que li<br />

recentemente, Bruno Black<br />

disse: "Aos poucos procuro<br />

espalhar a arte por toda a<br />

parte e quero conquistar meu<br />

espaço no cenário cultural, de<br />

um jeito único, de forma<br />

simples e mágica, com uma<br />

pitada divina de carisma,<br />

talento, dedicação e amor<br />

tudo pode dar certo e<br />

perseverar. Soma-se a isso o<br />

uso de novidades, mesmo<br />

como o áudio-visual e a áudiodescrição<br />

para que a poesia<br />

nunca seja esquecida e<br />

chegue ao conhecimento de<br />

todos. Primeiro porque a arte<br />

é universal, jamais a poesia<br />

será esquecida. O que ela<br />

precisa é de uma nova<br />

linguagem."<br />

Acho que isso vale. Parabéns,<br />

amigo. "Se tens um dom,<br />

seja". (BS).<br />

Seja sempre bem-vindo.


Bruno Black<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

A POESIA DE BLACK:<br />

CALA A BOCA<br />

TRABALHADOR<br />

Bruno (Black) Silva<br />

O sol nasce<br />

Os pipocos na favela comem<br />

Comem nossos ouvidos<br />

Comem nossas forças<br />

E o medo nos invade<br />

Mas o que fazer?<br />

Temos que trabalhar<br />

Para trazer o pão de cada dia para casa!<br />

O sol continua se pondo<br />

Só os tiros parecem iluminar o céu<br />

Policiais, inexistentes<br />

E o trabalhador começa a sonhar com a trégua da<br />

guerra<br />

Que não é no Iraque<br />

Para então não perder a fonte de cidadania que o<br />

faz alimentar sua família.<br />

A trégua aconteceu<br />

Mas apenas por um minuto<br />

E quem ficou<br />

Ficou


Bruno Black<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Ficou a deriva de balas que procuram vingar as<br />

dores de vagabundos<br />

E fica quicando de um lado para o outro<br />

Quicando sem parar<br />

Sem parar até furar alguém.<br />

O sol vai embora<br />

E o trabalhador agora briga com o tempo<br />

E pede outra trégua<br />

Para pode chegar em casa<br />

Ele corre entre brilhos agitados<br />

Ele corre para salvar a própria carne<br />

E quando chega em casa<br />

Encontra a sua parece furada<br />

Seus filhos estraçalhados<br />

Sua mulher morta e com a cabeça arrebentada<br />

E o pão sobre a mesa a sua espera<br />

Em silêncio E as escuras<br />

Ele junta suas forças<br />

E vela a morte dos seus<br />

Como se ele fosse um padre.<br />

Nada mais ele podia fazer<br />

Quem iria chamar?<br />

Os cúmplices?<br />

Os assassinos?<br />

Quem?<br />

Então a voz da razão disse:<br />

Cala a boca trabalhador!


Bruno Black<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Ficou a deriva de balas que procuram vingar as<br />

dores de vagabundos<br />

E fica quicando de um lado para o outro<br />

Quicando sem parar<br />

Sem parar até furar alguém.<br />

O sol vai embora<br />

E o trabalhador agora briga com o tempo<br />

E pede outra trégua<br />

Para pode chegar em casa<br />

Ele corre entre brilhos agitados<br />

Ele corre para salvar a própria carne<br />

E quando chega em casa<br />

Encontra a sua parece furada<br />

Seus filhos estraçalhados<br />

Sua mulher morta e com a cabeça arrebentada<br />

E o pão sobre a mesa a sua espera<br />

Em silêncio E as escuras<br />

Ele junta suas forças<br />

E vela a morte dos seus<br />

Como se ele fosse um padre.<br />

Nada mais ele podia fazer<br />

Quem iria chamar?<br />

Os cúmplices?<br />

Os assassinos?<br />

Quem?<br />

Então a voz da razão disse:<br />

Cala a boca trabalhador!


Rita Delamari<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

POETA CONVIDADA:<br />

RITA DELAMARI<br />

Análise poética.<br />

O Poema de Rita Delamari que li<br />

atentamente e está abaixo<br />

reproduzido me trouxe mais uma<br />

vez algo muito similar ao uso da arte<br />

como forma de mostrar e denunciar<br />

momentos e entraves da vida em<br />

sociedade, seja no Brasil ou em<br />

qualquer que sejam países democratas ou não.<br />

O imenso Mário Quintana também teve incursão<br />

nessa área - do poeminha do contra - quando<br />

publicou seu "Eu passarinho". Uma crítica<br />

contundente feita exclusivamente para os "bons<br />

entendedores...".<br />

"Todos esses que aí estão<br />

Atravancando o meu caminho,<br />

Eles passarão…<br />

Eu passarinho!<br />

(Mario Quintana)"<br />

Fruto de uma percepção inteligentíssima de como<br />

colocar as coisas, as palavras, os sons, em seus<br />

devidos lugares para continuar impactante.


Rita Delamari<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

A forma de escrever numa espécie de narrativa<br />

alegórica, colocando de forma indireta cada<br />

angústia poética, é algo não tão fácil, quanto fácil<br />

parece ser traduzida cada palavra que compõe o<br />

verso.<br />

Numa poética desse tipo, urge atenção sentimental,<br />

pois, se a emoção social lhe tomar as rédias da<br />

escrita, a poesia perde o seu conceito. (Assim<br />

entendo, fato que não é a verdade de muitos).<br />

Quando Rita Delamari compõe essa sequência<br />

abaixo de versos, há uma pluralidade de<br />

consciências. Não obrigatoriamente os maus<br />

contra os do bem. Pode - e certamente acontece -<br />

que os do bem se sintam em situação inversa e<br />

apelem para esse grito que ela explicita:<br />

"(...) A guerra é agora<br />

Nas ruas da cidade<br />

No dia a dia<br />

Uma luta de mil cores<br />

Que grito é este?<br />

Uma defesa, uma busca de integridade? Não entro<br />

nos detalhes. Mas sei que é também um grito. Um<br />

grito forte. Tão forte que ainda insinua:<br />

"(...) Seria utopia<br />

Cair nos braços do Morfeu? (...)".


Rita Delamari<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Ou seja, no meu entendimento, o poeta, diante de<br />

tantas involuções sociais, simplesmente não pode<br />

ficar à parte desses acontecimento sem se<br />

manifestar de maneira alguma. E Rita Delamari se<br />

manifesta e o faz a sua maneira. Cada poeta tem<br />

uma marca registrada. Uma digital. Um modo de<br />

olhar as coisas.<br />

Pascácios são aqueles que acham que a poesia<br />

deveria ser da maneira como acham que deve ser,<br />

numa métrica imaginária que eles mesmos<br />

construíram e a elegeram como 'forma correta de<br />

se fazer poesia'. Tristes, esses estultos. Aliás, isso<br />

é combatido há muito no Brasil, principalmente.<br />

Eu acredito que essa reação às poesias<br />

milimetricamente perfeitas, com rimas e<br />

matematicamente construídas para embelezar a<br />

escrita (com adereços visivelmente forçados, extraalma<br />

e extra-espírito do poeta), acabou gerando um<br />

movimento chamado de Poesia Concreta, na<br />

verdade, um movimento internacional que continua<br />

influenciando milhares de pessoas até hoje. Esse<br />

Concretismo Poético acabou abocanhando nomes<br />

interessante como os do próprio poeta conterrâneo<br />

Ferreira Gullar, cuja crítica lhe outorgou o honroso<br />

título de Poeta Brasileiro do Século XX.


Rita Delamari<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Daí, começaram a surgir no país formas poéticas,<br />

tipo "o poema/processo", "a poesia-práxis" e a<br />

inimaginável essência da 'poesia reduzida" de<br />

Paulo Leminski.<br />

Os irmão Augusto e Haroldo de Campos também<br />

foram monstruosos representantes dessa poesia<br />

concreta, sem dúvida, enriquecendo a poética<br />

nacional.<br />

Ora, ao se ler rapidamente o que escreve aqui Rita<br />

Delamari (especificamente neste poema), se chega<br />

bem perto da sua auto-intenção pragmática: Gritar<br />

e gritar, igualmente!<br />

E isso é perfeitamente lógico. Perfeitamente<br />

aceitável num mundo em que a maioria dos<br />

cidadãos de bem sai as ruas, sob chuva de balas,<br />

para defender o que acham ser direitos individuais<br />

ou legais.<br />

Parabéns Rita Delamari. Seja sempre bem-vinda.<br />

MHARIO LINCOLN<br />

Editor-sênior da Revista Poética Brasileira<br />

Presidente da Academia Poética Brasileira<br />

www.revistapoeticabrasileira.com.br


Rita Delamari<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

O POEMA<br />

Rita Delamari<br />

Que som é este?<br />

Atabaques<br />

Nos céus a ecoar<br />

Que nos remete<br />

Ao repique dos tambores<br />

A guerra é agora<br />

Nas ruas da cidade<br />

No dia a dia<br />

Uma luta de mil cores<br />

Que grito é este?<br />

Que clama por igualdade<br />

Perverso preconceito<br />

Que repercute em demasia<br />

O negro sou eu<br />

É você<br />

Seria utopia<br />

Cair nos braços do Morfeu?<br />

Sonho uma existência<br />

Em harmonia<br />

Retratar isto só num dia?<br />

Inseridos na fração de um todo<br />

Decerto, diferem-se as crenças<br />

E suas convicções<br />

Intuímos a paz<br />

Construímos o conflito<br />

Na utilização das ditas armas<br />

Cada um usa a que possui<br />

É exercitar sem mais<br />

A nossa própria consciência!


Mhario Lincoln: Poemas e poetas<br />

muitas vezes pensam inversamente<br />

proporcional ao que escrevem. A ao<br />

fazê-lo, o poeta geralmente escreve com emoção,<br />

coração, razão; não importa. Mas, algumas vezes, tudo<br />

misturado entra no peso da composição poética,<br />

harmonizando o conteúdo de forma a dar ao texto pura<br />

emoção.<br />

Desta vez consegui vislumbrar isso nos versos de<br />

Luciana Tinoco Bianchini Improta, abaixo:<br />

"Eu<br />

Deram-me amor e eu retribui,<br />

Me veleja dia e noite a passeio.<br />

Traz a coragem, a bravura das águias.<br />

Tenho dores, alegrias e momentos ligeiros.<br />

Momentos passageiros que são incrivelmente meus<br />

(...)".<br />

Há nesse lirismo quase juvenil, uma ânsia de verdade.<br />

Auto-verdades expostas de forma graciosa e íntimas.<br />

Gradualmente influentes nessa maneira de falar de si,<br />

poeticamente. Os poetas que falam de si, verdades<br />

verdadeiras ou verdades poéticas (há grande diferença<br />

nisso) são raros. Ou exageram na poética; ou,<br />

exageram na auto-verdade, descolorindo - em<br />

determinadas construções - o fato a ser narrado com<br />

poesia e lirismo.<br />

Luciana Improta<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

POETA CONVIDADA:<br />

Luciana Tinoco Bianchini Improta


Neste caso, há claras evidências do equilíbrio probo.<br />

De uma linha razão/coração bem perto da equação<br />

genérica do Ser. Florbela Espanca, por exemplo, traçou<br />

poemas que atingiam esse limite. Todavia, um pouco<br />

mais para a tristeza do amor quase amado. Do objetivo<br />

amoroso quase atingido; a dois:<br />

"Teus olhos têm uma cor/ de uma expressão tão divina,/<br />

tão misteriosa e triste./ Como foi a minha sina!!!/ Mas<br />

nem negros nem azuis/ são teus olhos meu amor.../<br />

Seriam da cor da mágoa,/ se a mágoa tivesse cor."<br />

Como se vê, quem navega nesse mar poético dos<br />

últimos séculos pode destacar claramente o que há de<br />

ilusão, desilusão, precaução, intimidação, mas, e antes<br />

de tudo, há amor, sejam eles de quaisquer que sejam as<br />

formas ou paraísos. Sempre há alguém morrendo e<br />

ressuscitando (poeticamente) por amor.<br />

Desde Victor Hugo: "Vós, que sofreis, porque amais,<br />

amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele...",<br />

passando por Gonçalves Dias, "Se se morre de amor! –<br />

Não, não se morre,/ Quando é fascinação que nos<br />

surpreende (...)", até chegar em Luciana Tinoco Bianchini<br />

Improta, quando diz, mais em baixo:<br />

" Sei voar e me olhar em tempos ruins.<br />

Doo amor facilmente, é só escorar (...)".<br />

Muito bom. Fico bastante feliz quando consigo-me<br />

imaginar passeando em nuvens brancas, sob o calor de<br />

um por-do-sol do Saara. Assim me senti lendo "EU",<br />

dessa poeta de Uberada-MG. Volta sempre. Você será<br />

sempre bem-vinda.<br />

Luciana Improta<br />

Organização: Mhario Lincoln


Marcio Gleide<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

POETA<br />

CONVIDADO:<br />

Marcio Gleide<br />

Nunes dos Santos<br />

Mhario Lincoln: Cada vez mais vou achando<br />

extraordinários os insights poéticos que misturam ficção e<br />

realidade. Grandes poetas souberam como nunca colocarse<br />

em diversas situações de sua história de vida,<br />

emprestando passagens surpreendentes ao texto.<br />

Claro que é um insigth baseado obviamente no espírito<br />

lírico, ou de prosa, já lidas. Contudo, há pitadas reais de<br />

vivência no que o poeta escreve, numa liberação<br />

apaixonante, quando se trata de amor reprimido. Um amor<br />

esquecido é um amor reprimido.<br />

O escritor Paulo de Tarso Lima foi muito feliz ao falar de<br />

amores reprimidos de forma simples:<br />

"Tem sentimento que é estranho: surge sem que se crie,<br />

cresce sem que se alimente, perdura sem que se<br />

explique!"<br />

No caso do poema abaixo, "Nossos Crisântemos", logo de<br />

cara o poeta Marcio Gleide quebra a espinha dorsal do<br />

desentendimento e exala algo estupendo: O Perdão.


O perdoar-se, mais liricamente. Ou o tentar perdoar-se!<br />

Há, sem dúvida, nesse cenário de um amor reprimido e de<br />

amor abandonado, um relicário próprio de personagens<br />

românticos, a começar por Gonçalves Dias, Florbela<br />

Espanca (esses, assumidamente personagens reais da<br />

trama) e mais fortemente as produções poética<br />

emblemáticas de Guimarães Rosa: "É preciso sofrer<br />

depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter<br />

amado (...)".<br />

E muito mais fortemente os versos íntimos de quem sabia<br />

usar personagens com pitadas (íntimas, repito), num<br />

balouçar de palavras tão cativantes que soam nos ouvidos<br />

como música, apesar de insistirem em fazer barulho<br />

sísmico literal: "Olha: o amor pulou o muro/ o amor subiu<br />

na árvore/ em tempo de se estrepar./ Pronto, o amor se<br />

estrepou (...)".<br />

Marcio Gleide Nunes dos Santos, por sua vez, ao dedilhar<br />

a digital, transcreve de seu íntimo, às vezes penso ser<br />

real, outras vezes não, algo infinitamente maduro, versos<br />

que o qualificam como um dos bons engenheiros da<br />

palavra:<br />

"(...) Flores das que você mais gosta.<br />

Você sabia que o ciúme me controla.<br />

Mas te aviso, não pode me deixar.<br />

Sem você não vivo e não vou te perder (...)".<br />

Imagina, agora, a cena. Perfeito entrave entre o Real, a<br />

Ficção e o Íntimo, qualificando o poder de 'imagem<br />

construída/desconstruída' pelo poeta Marcio Gleide.<br />

Marcio Gleide<br />

Organização: Mhario Lincoln


Marcio Gleide<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Imagina, ainda, a versatilidade em quatro versos apenas,<br />

da singularidade real de um paradoxo real.<br />

Dentre eles, "Flores que você mais gosta (...)/ Mas te<br />

aviso...(...)". Afinal, estupefaz a passagem real, mesmo<br />

construída liricamente...ou de forma poética. Por isso, volto<br />

ao velho dilema filosófico tão discutidos que foi no século<br />

XX. "Ser ou não Ser. Eis a questão", a famosa frase<br />

pronunciada por Hamlet, na peça "A tragédia de Hamlet,<br />

príncipe da Dinamarca", segurando a caveira de Yorick.<br />

Imensurável William Shakespeare.<br />

Muito bom. Faz-me pensar inúmeras vezes na conclusão<br />

que tiro sobre essa peça literária. Seja bem-vindo sempre,<br />

Marcio Gleide Nunes dos Santos. Abaixo, o Poema:<br />

NOSSOS CRISÂNTEMOS<br />

Marcio Gleide Nunes dos Santos<br />

Buquê de rosas para você.<br />

Me perdoe eu imploro.<br />

Estava descontrolado eu juro...,<br />

Que não queria te bater, eu te amo.<br />

Flores das que você mais gosta.<br />

Você sabia que o ciúme me controla.<br />

Mas te aviso, não pode me deixar.<br />

Sem você não vivo e não vou te perder.<br />

Crisântemos lhe enviei.<br />

Mesmo aqui trancafiado.<br />

O ser doente que me tornei.<br />

Tirou o seu ar e meu desejo em viver.<br />

Curitiba-PR 29/09/2016


Pedro Du Bois<br />

POETA CONVIDADO:<br />

PEDRO DU BOIS<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Mhario Lincoln: A franqueza da escrita<br />

faz de Pedro Du Bois um poeta exuberante.<br />

Eu sempreintitulo esse tipo de poesia<br />

(e esse termo não é meu) de poesia interior com<br />

abundância de sentimentos íntimos, sem perder aquele<br />

viés característicos dos bons poetas: A terceirização da<br />

dor, do amor, da tragédia, do She e do We, levando um<br />

leitor ávido como eu a repensar: Os personagens de<br />

Pedro Du Bois estão amando ou simplesmente estão<br />

apaixonados? Aí vem a questão que dos seus versos<br />

emerge. Poderiam esses versos com um manto quase<br />

mistico, ser uma tentativa de resgatar o 'amor<br />

romântico', relembrando o fatídico (ou quase) “Tristão e<br />

Isolda”? E se fosse? Óbvio que para um homem<br />

estudioso (ou seus personagens) e leitor assíduo pode<br />

ter sofrido influencia desse "fenômeno psicológico tão<br />

arrasador que esmagou nossa psique coletiva a ponto<br />

de alterar nossa visão do mundo?" (Do livro WE).<br />

Bom, na verdade esses versos ultrapassam a linha do<br />

comum: "(...) Alugo o corpo ao personagem/ e sou<br />

incorporado ao discurso plástico /da inverdade. Sou<br />

deus e demônio/ personificados nas contradições./<br />

Besta e pomba./ Homem despossuído/ de razões./<br />

A aparente calmaria antecede/ a tormenta e a neve<br />

desce a montanha./ (...)".


Eis uma imagem contundente. A da dualidade muito<br />

bem questionada nestes versos primeiros. Porém, é<br />

explícita a terceirização dessa dualidade - Deus e o<br />

Demônio - não o autor, mas a situação em que é<br />

envolvido. Eis a diferença tênue nesses versos.<br />

Extraordinária diferença. Isso me enviou imediatamente<br />

a um livro que li há algum tempo do mestre Osho.<br />

Chama-se "A Ascensão do Ser Humano". Essa<br />

lembrança me trouxe a essa interpretação de Pedro Du<br />

Bois, no início de seus versos: " (...) O mal existe na sua<br />

interpretação,/ E não em si mesmo (...)". Eis a<br />

delicadeza da terceirização poética do autor ao compor<br />

esses versos acima. Perfeitamente entendido em "...<br />

alugo o corpo ao personagem/ e sou incorporado ao<br />

discurso plástico/ da inverdade (...)". É sem dúvida um<br />

grande poeta quem consegue traduzir em tão poucas<br />

linhas uma terceirização completa de autor/personagem.<br />

Na parte dois que também compõe esta análise, vejo a<br />

tática poética de Pedro Du Bois intercalar-se com um<br />

enredo cênico com personagem e autor bem definidos.<br />

Desta vez, numa terceirização decodificada.<br />

Ah! Podem até me chamar de louco. Mas nos versos<br />

desse tomo II (digo assim), há claras evidências de que<br />

o autor passeia de forma limpa e destemida por Jacob<br />

Levy Moreno (1889-1974), o criador da concepção de<br />

que podemos definir a alma humana através da ação. E<br />

a essa ação deu o nome de Psicodrama, isto é, na<br />

minha concepção pertinente aos versos lidos, uma<br />

maneira de investigar a alma humana pela ação.<br />

Pedro Du Bois<br />

Organização: Mhario Lincoln


Pedro Du Bois<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

"(...) A luz ilumina o palco/ com palavras/ apostas no papel<br />

(..)".<br />

Fica evidente a provocação poética da cena ao tentar<br />

socializar com um público aparentemente ilusório, no<br />

grande salão vermelho do teatro da vida. E quando ele<br />

escreve: "A aposta sobrevive ao instante/ da criação (...)",<br />

há uma apoteose analítica imensurável. Ora, esses versos<br />

atingem o clímax porque mexem com interpretações<br />

magníficas como as que permeias algumas teses<br />

levantadas por Freud (Justificação) e do matemático e<br />

filósofo francês Blaise Pascal, onde, ambos, mesmo sem<br />

expurgar a razoabilidade, decidiram admitir a existência<br />

de 'algo' que acaba por escapar tanto à verificação<br />

empírica quanto à dedução lógica.<br />

Eis o fenômeno embutido nesses dois versos de Du Bois.<br />

E por fim, uma construção poética excepcional:<br />

"O aplauso/ contém o ressentimento/ da realidade".<br />

Fechando o tomo III, Du Bois nos fornece lenha para<br />

aumentar o fogo da consciência ou inconsciência coletiva.<br />

Como se a platéia humana reagisse ao mostrado no palco<br />

da própria inconsciência. E aí, cada leitor imaginaria qual<br />

peça lhe foi transferida do palco à sua consciência. Que<br />

leitura fazer ao final do espetáculo.


Pedro Du Bois<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

Contudo, há de se atentar para um fato nas entrelinhas<br />

de toda a composição poética. O palco da vida sempre<br />

impõe distância entre os protagonistas e a realidade. E<br />

isso, fatalmente, desperta fantasias e interpretações.<br />

E quando o aplauso se enche de "ressentimentos da<br />

realidade", ecoa a inevitável fuga da realidade inerente<br />

às tentativas de amenizar nossas frustrações; diante de<br />

ilusório que agrada. Aí, volta Freud afirmando que<br />

sonhos e fantasias fazem parte do processos de<br />

avaliação de nossas angústias.<br />

Eis a perfeição dos versos de Pedro Du Bois.<br />

Inteligentes. Instigantes. Provocadores. Dilacerantes,<br />

até, quando a luz do palco se volta para nós mesmos.<br />

Mas eu vou seguindo a última estrofe de Du Bois e vou<br />

com ele:<br />

"(...) Retorno/ e aprofundo/ a vida/ em verdades (...).<br />

Seja sempre bem-vindo. A casa é sua.<br />

Eis os versos completos.<br />

Alugo o corpo ao personagem<br />

e sou incorporado ao discurso plástico<br />

da inverdade. Sou deus e demônio<br />

personificados nas contradições. Besta<br />

e pomba. Homem despossuído<br />

de razões. A aparente calmaria antecede<br />

a tormenta e a neve desce a montanha.<br />

Sou outras gentes. Gentios<br />

e crentes. A plateia estática na ação<br />

do palco. O finalizar da música<br />

no arrastar das cadeiras.


Pedro Du Bois<br />

Organização: Mhario Lincoln<br />

(II)<br />

Ser além do personagem<br />

o mito. História<br />

em sua criação na apropriação<br />

da ideia.<br />

A luz ilumina o palco<br />

com palavras<br />

apostas no papel.<br />

A aposta sobrevive ao instante<br />

da criação. A aposta se conforma<br />

ao espaço preenchido de oportunidades.<br />

(III)<br />

Repito o texto<br />

realizo o gesto<br />

materializo<br />

a palavra.<br />

Permaneço.<br />

(IV)<br />

Avesso ao comum<br />

imortalizo<br />

a cena. O aplauso<br />

contém o ressentimento<br />

da realidade.<br />

Retorno<br />

e aprofundo<br />

a vida<br />

em verdades.<br />

Este trabalho poético integra o livro "Poemas", de Pedro Du Bois.<br />

Os poemas ora analisados, fazem parte da seção "Personagem".<br />

Leia mais o autor: http://pedrodubois.blogspot.com.br/.

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