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Francisco Cândido Xavier - <strong>Nosso</strong> <strong>Lar</strong> - pelo Espírito <strong>André</strong> <strong>Luiz</strong><br />
soma considerável. A pobrezinha chorava, levando o lenço aos<br />
olhos. Pedia mora, implorava concessões justas. Humilhava-se,<br />
dirigindo olhares doridos à minha mãe, como a rogar entendimento<br />
e socorro no coração de outra mulher. Recordei que minha mãe<br />
intercedeu, atenciosa, e pediu a meu pai esquecesse os documentos<br />
assinados, abstendo-se de qualquer ação judicial. Meu genitor,<br />
porém, habituado a transações de vulto e favorecido pela sorte,<br />
não podia compreender a condição do retalhista. Manteve-se<br />
irredutível. Declarou que lamentava as ocorrências, que ajudaria o<br />
cliente e amigo, de outro modo, frisando, porém, que, no tocante<br />
aos débitos reconhecidos, não via outra alternativa que a de cumprir<br />
religiosamente os dispositivos legais. Não podia, afirmava,<br />
quebrar as normas e precedentes do seu estabelecimento comercial.<br />
As promissórias teriam efeito legal. E consolava a esposa<br />
aflita, comentando a situação de outros clientes que, a seu ver, se<br />
encontravam em piores condições que o Silveira. Lembrei os<br />
olhares de simpatia que minha mãe lançou à desventurada postulante<br />
afogada em lágrimas. Meu pai guardara profunda indiferença<br />
a todas as súplicas e, quando a pobre mulher se despediu,<br />
repreendeu minha mãe austeramente, proibindo-lhe qualquer<br />
intromissão na esfera dos negócios comerciais. A pobre família<br />
houve de arcar com a ruína financeira completa. Relembrava,<br />
perfeitamente, o instante em que o próprio piano da senhorita<br />
Silveira foi retirado da residência para satisfazer às últimas exigências<br />
do credor implacável.<br />
Queria desculpar-me e todavia não encontrava frases justas,<br />
porque, na ocasião, também encorajara meu pai a consumar o<br />
iníquo atentado; considerava minha mãe excessivamente sentimentalista<br />
e induzira-o a prosseguir na ação, até ao fim. Muito<br />
jovem ainda, a vaidade apossara-se de mim. Não queria saber se<br />
outros sofriam, não conseguia enxergar as necessidades alheias.<br />
Via, apenas, os direitos de minha casa, nada mais. E, nesse ponto,<br />
tinha sido inexorável. Inútil qualquer argumentação materna.<br />
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