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A hermenêutica de schleiermacher e a questão da individualidade

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Buscar compreen<strong>de</strong>r é <strong>de</strong>ixar vir à<br />

tona uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, que está presente no<br />

texto, mas que diz respeito àquele que o<br />

produziu, bem como a nós mesmos. O esforço<br />

pelo encontro <strong>da</strong> compreensão a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>,<br />

fez com que Schleiermacher isolasse<br />

o procedimento do compreen<strong>de</strong>r e buscasse<br />

para ele uma “metodologia” própria. É<br />

acerca <strong>de</strong>ssa “metodologia”, alia<strong>da</strong> aos elementos<br />

inovadores <strong>de</strong> seu pensamento, que<br />

discorreremos adiante.<br />

As contribuições <strong>da</strong><br />

“<strong>hermenêutica</strong> psicológica” <strong>de</strong><br />

<strong>schleiermacher</strong><br />

Schleiermacher <strong>de</strong>senvolveu uma ciência<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver as condições <strong>da</strong><br />

compreensão em qualquer diálogo, o que<br />

não havia sido feito pelos seus precursores<br />

(SCHLEIERMACHER, 2005, p. 91). O resultado<br />

disso foi a elaboração <strong>de</strong> uma <strong>hermenêutica</strong><br />

geral (allgemeineHermeneutik), <strong>de</strong><br />

“um corpo geral <strong>de</strong> princípios metodológicos<br />

que subjazem à interpretação”(PALMER,<br />

1986, p.55). Nesse sentido, ele partiu do<br />

pressuposto <strong>de</strong> que existe uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental entre todos os textos, a saber,<br />

<strong>de</strong> que todos eles exprimem uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

um autor, o qual se utilizou <strong>de</strong> uma língua e,<br />

consequentemente, <strong>de</strong> uma gramática para<br />

expressá-la.<br />

Portanto, conforme Schleiermacher, a<br />

tarefa <strong>da</strong> <strong>hermenêutica</strong> é reconhecer que há<br />

essa uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e tentar compreen<strong>de</strong>r corretamente<br />

a i<strong>de</strong>ia do texto. Porém, isso só po<strong>de</strong>ria<br />

ser feito, segundo esse autor, realizando<br />

uma análise <strong>da</strong> linguagem e, simultaneamente,<br />

captando o pensamento do autor<br />

mediante um retorno até o momento <strong>de</strong> produção,<br />

ou melhor, do surgimento do texto,<br />

<strong>de</strong> sua gênese. Ele se utilizou, assim, <strong>de</strong><br />

dois “métodos” <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> texto, a<br />

saber, um gramatical (comparativo) e outro<br />

psicológico (divinatório). E é neste último<br />

“que se encontra sua contribuição mais genuína.”<br />

(GADAMER, 1990, p. 190).<br />

Por essa razão po<strong>de</strong>mos falar que Schleiermacher<br />

<strong>de</strong>senvolveu uma “<strong>hermenêutica</strong><br />

psicológica” orienta<strong>da</strong> pelo comporta-<br />

246<br />

Argumentos, Ano 4, N°. 8 - 2012<br />

mento divinatório <strong>da</strong>quele que interpreta,<br />

na medi<strong>da</strong> em que este procura uma “reformulação<br />

do ato criador” (GADAMER, 1990,<br />

p. 191). Cabe ao intérprete, em outras palavras,<br />

apreen<strong>de</strong>r a origem interna <strong>da</strong> produção<br />

<strong>da</strong> obra, a qual, como um momento <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, só po<strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro do processo<br />

vital <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do autor.<br />

Schleiermacher percebeu que apenas<br />

se servir <strong>de</strong> regras <strong>de</strong> interpretação não era<br />

suficiente para alcançar a compreensão correta<br />

dos textos, porque apesar <strong>da</strong> importância<br />

do “método” gramatical e <strong>da</strong> busca por<br />

aquilo que é familiar (comum), sempre<br />

acaba existindo um elemento que é peculiar<br />

à individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> outro (estranho) e que<br />

só po<strong>de</strong>rá ser revelado mediante a adivinhação,<br />

a compreensão psicológica do texto<br />

por parte <strong>da</strong>quele que interpreta.<br />

Por isso, segundo Ga<strong>da</strong>mer, a <strong>hermenêutica</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por Schleiermacher<br />

era uma “metafísica estética <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>.”<br />

(GADAMER, 1990, p. 193), isto é,<br />

ela buscava um fun<strong>da</strong>mento para a compreensão<br />

<strong>de</strong> todo tipo <strong>de</strong> texto a partir <strong>da</strong><br />

reflexão sobre a individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> criadora.<br />

Em outros termos, Schleiermacher procurou<br />

enten<strong>de</strong>r ca<strong>da</strong> momento <strong>de</strong> produção<br />

livre, voltando-se para os textos ou partes<br />

que compõem a produção do autor, com o<br />

objetivo maior <strong>de</strong> captar um modo <strong>de</strong> comportamento<br />

do sujeito.<br />

Schleiermacher ain<strong>da</strong> estava sendo<br />

influenciado pela i<strong>de</strong>ia do Romantismo <strong>da</strong><br />

existência <strong>de</strong> um espírito (Geist) – <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do ser <strong>de</strong> uma época que po<strong>de</strong> se manifestar<br />

nas produções <strong>de</strong> um indivíduo –,<br />

mas sua pretensão maior era mostrar a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> “experimentar os processos<br />

mentais do autor do texto.” (PALMER, 1986,<br />

p. 93) na interpretação, para eliminar a sensação<br />

<strong>de</strong> estranheza que nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar<br />

uma compreensão correta do mesmo.<br />

To<strong>da</strong>via, como esse elemento singular<br />

só po<strong>de</strong>ria ser apreendido a partir do todo,<br />

qualquer compreensão, segundo Schleiermacher,<br />

consistiria “em dois momentos:<br />

compreen<strong>de</strong>r o discurso enquanto extraído<br />

<strong>da</strong> linguagem e compreendê-lo enquanto<br />

fato naquele que pensa.” (SCHLEIERMA-<br />

CHER, 2005, p. 95).

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