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as <strong>aventuras</strong> do<br />
as <strong>aventuras</strong> do<br />
RICHARD<br />
Histórias, bastidores e curiosida<strong>de</strong>s do selvagem<br />
mais famoso da tv
32<br />
Cânion do Itaimbezinho.
Uma câmera<br />
na mão e uma<br />
i<strong>de</strong>ia na cabeça<br />
a Formas alternativas <strong>de</strong><br />
enxergar a natureza.<br />
Enquanto caminhávamos para o m do criadouro e todas essas transformações<br />
ocorriam, fui procurado por um pessoal <strong>de</strong> uma produtora especializada<br />
em microcâmeras que, sabendo da Casa da Tartaruga, queria gravar alguns<br />
animais utilizando suas câmeras especiais. A equipe combinou comigo uma<br />
visita e foi até o criadouro. Na época, essa produtora trabalhava para diversas<br />
emissoras. Com a chegada da equipe, fui tirando diversos animais <strong>de</strong> seus recintos,<br />
em especial as serpentes, e explicando, entusiasmado, as características<br />
<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les. Eu já havia passado várias vezes por situações semelhantes.<br />
Queria que as pessoas pu<strong>de</strong>ssem olhar para esses animais, como serpentes e<br />
caranguejeiras, <strong>de</strong> forma diferente, sem medo, mas com admiração e respeito.<br />
Os caras adoraram o que viram e não sabiam por on<strong>de</strong> começar a instalar as<br />
câmeras. Iniciaram pelos escorpiões africanos gigantes, colocando uma microcâmera<br />
no recinto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les, que eu acabara <strong>de</strong> alimentar. Fiquei fascinado<br />
com as imagens. Apesar <strong>de</strong> ser um consumidor <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os contumaz do National<br />
Geographic e do Discovery Channel, ver tão <strong>de</strong> perto, com “tecnologia acessível”,<br />
uma imagem mostrando nitidamente as pinças ou quelas do escorpião<br />
segurando o alimento enquanto dilacerava pedaços da carne foi inesquecível.<br />
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Tive <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r rápido<br />
sobre o mundo da<br />
televisão: aqui uma lição<br />
<strong>de</strong> câmera com o mestre<br />
Claudião.<br />
34<br />
Ao nal das lmagens, um dos proprietários da produtora, ao elogiar a maneira<br />
didática e clara com a qual eu explicava as características <strong>de</strong> cada animal, quis<br />
saber se eu tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer TV. Então, em menos <strong>de</strong> dois meses, estávamos<br />
viajando para o estado do Espírito Santo, mais exatamente para Guarapari,<br />
on<strong>de</strong> gravamos por aproximadamente uma semana os animais do Parque Estadual<br />
ta Paulo César Vinha. Foram encontros inesquecíveis:<br />
qu com uma jiboia juvenil, um ouriço-preto<br />
bem be ranzinza, uma perereca em uma bromélia <strong>de</strong><br />
folhas fo cortantes e uma cobra-corre-campo bem na<br />
hora ho do nosso almoço. Para o pessoal da produtora,<br />
ra esses bichos e minha intimida<strong>de</strong> com eles eram<br />
novida<strong>de</strong>, no assim como o era para mim a questão da<br />
postura po e do posicionamento diante das câmeras.<br />
Nas Na passagens que eu tinha <strong>de</strong> gravar com texto<br />
<strong>de</strong>corado, <strong>de</strong> passávamos horas refazendo o material.<br />
Até At<br />
hoje tenho muita diculda<strong>de</strong> em realizar aberturas<br />
e passagens <strong>de</strong> texto <strong>de</strong>coradas, em especial
se o texto não foi escrito por mim, com minhas próprias ias<br />
palavras. Consi<strong>de</strong>ro essa experiência e o tempo que trababalhei com a equipe da produtora fundamentais para o meu eu<br />
aprendizado <strong>de</strong>ssa nova prossão, e só posso agra<strong>de</strong>cer a<br />
eles a oportunida<strong>de</strong>.<br />
Naquela época, eu tentava, é claro, espelhar-me nos programas<br />
já reconhecidos internacionalmente. Em meu<br />
tempo livre, assistia todos os dias aos canais Animal<br />
Planet, Discovery Channel e National Geographic, buscando<br />
minha própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> enquanto lidava com o<br />
criadouro. No entanto, nada daquilo que eu assistia continha a fórmula que<br />
eu acreditava ser i<strong>de</strong>al. Todos os caras eram bons à sua maneira, mas sempre<br />
faltava algo. Steve Irwin tinha aquela paixão e entusiasmo, porém era muito<br />
sensacionalista e não abordava a questão ecológica do planeta, tão importante<br />
nos dias <strong>de</strong> hoje. Austin Stevens transformava suas <strong>aventuras</strong> em histórias<br />
cinematográcas claramente montadas e acabava <strong>de</strong>sviando a atenção do<br />
principal: a natureza. Jeff Corwin tinha um estilo <strong>de</strong>scontraído, divertido, mas<br />
pouco envolvimento emocional nas gravações com os animais e <strong>de</strong>monstrava<br />
até certo receio na interação com eles. <strong>As</strong>sim, a<br />
melhor recomendação que recebi <strong>de</strong> um dos sócios<br />
da produtora foi: <strong>Richard</strong>, seja você mesmo!<br />
E, a partir daquele momento, fui!<br />
Parte da última formação:<br />
Claudião e Carlão, uma equipe<br />
sempre sorri<strong>de</strong>nte.<br />
ntinha fór la Parte da primeira equipe:<br />
Cláudio à esquerda<br />
e Wal<strong>de</strong>mar à direita.<br />
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A viagem que marcou<br />
a gran<strong>de</strong> mudança,<br />
a primeira sem diretor<br />
<strong>de</strong> externa: 40 dias<br />
em meio à Amazônia<br />
em terras indígenas<br />
do Acre.<br />
36<br />
Depois <strong>de</strong> pronto, o piloto <strong>de</strong> trinta minutos batizado <strong>de</strong> SELVAGEM começou a<br />
ser mostrado pelos produtores a todos os seus contatos na TV. Por aproximadamente<br />
dois anos, eles tentaram ven<strong>de</strong>r o projeto a todas as emissoras <strong>de</strong> sinal<br />
aberto e fechado do país e... nada! Ninguém estava interessado. Faltando cerca<br />
<strong>de</strong> quatro meses para terminar meu contrato com a produtora e já sem nenhuma<br />
esperança <strong>de</strong> que algo pu<strong>de</strong>sse acontecer, voltei-me totalmente à Casa da Tartaruga<br />
e ao curso <strong>de</strong> graduação em biologia.<br />
Enquanto aguardávamos o longo e burocrático processo <strong>de</strong> aprovação <strong>de</strong><br />
zoológico, recebendo alunos <strong>de</strong> diversas escolas, um produtor da TV Record<br />
me ligou pedindo que eu levasse alguns animais para o programa Tudo a Ver,<br />
comandado na época pelo jornalista Paulo Henrique Amorim. Paulo é daqueles<br />
caras que conseguem te envolver, e, assim que comecei a mostrar as serpentes,<br />
os escorpiões, os lagartos e as aranhas, ele, em vez <strong>de</strong> fazer as tradicionais pegadinhas,<br />
colocando medo nos outros – o que, em geral, se vê em TV quando<br />
há bichos envolvidos –, começou a fazer perguntas inteligentes e, mais importante,<br />
permitiu que eu as respon<strong>de</strong>sse. Isso po<strong>de</strong> parecer uma equação básica,<br />
óbvia e simples em um programa televisivo que leva um convidado ao estúdio,<br />
mas no mundo da TV e dos egos nem sempre é o que acontece.
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> jornalismo adotado por Paulo Henrique Amorim permitiu que eu <strong>de</strong>senvolvesse<br />
o tema, e, ao nal do programa, duas pessoas, entre elas o editor-chefe<br />
do Tudo a Ver, Paulo Nicolau, vieram falar comigo. Queriam que eu fosse ao programa<br />
uma vez por semana, levando animais ao estúdio. Sem dúvida a audiência<br />
do programa ao vivo havia subido. Era o meu momento. Então, saquei o piloto e<br />
disse: quero fazer isso aqui em vez <strong>de</strong> levar os animais ao estúdio; quero ir ao hábitat<br />
<strong>de</strong>les mostrar como vivem. Paulo Henrique, após almoçarmos juntos, chegou à<br />
conclusão com Paulo Nicolau <strong>de</strong> que o Tudo a Ver não tinha verba suciente para<br />
suportar um projeto <strong>de</strong>sse porte. Por sorte, Paulo Nicolau estava sendo transferido<br />
para um novo programa que acabara <strong>de</strong> estrear, o Domingo Espetacular, e eu tinha<br />
ganhado um padrinho <strong>de</strong> peso, Paulo Henrique Amorim.<br />
Após tratar com o diretor <strong>de</strong> jornalismo Douglas Tavolaro, Paulo Nicolau ofereceu-me<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher um <strong>de</strong>stino qualquer e colocou à minha<br />
disposição uma equipe para fazer um programa <strong>de</strong> quinze<br />
minutos. A Record não me pagaria nada por isso – seria<br />
por minha própria conta e risco. A produtora que havia<br />
montado o piloto comigo não concordou com minha ida<br />
para a emissora sem pagamento. Entendi seus argumentos,<br />
mas queria colocar um ponto nal nessa história <strong>de</strong><br />
lmagens. Aquela era uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar meu<br />
trabalho e, se não <strong>de</strong>sse certo, eu esqueceria essa história<br />
<strong>de</strong> TV para me <strong>de</strong>dicar apenas ao projeto da Casa da Tartaruga.<br />
Então, aceitei a oferta da Record e fomos gravar. O<br />
<strong>de</strong>stino que escolhi: Belém do Pará. Mas <strong>de</strong>ssa viagem falarei<br />
mais adiante. O importante foi que voltei da viagem<br />
com quatro matérias – e não apenas uma –, que foram<br />
exibidas a partir <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2005.<br />
Enquanto isso, entre a gravação e a exibição na Record, surgiu uma oportunida<strong>de</strong><br />
trazida pela produtora responsável pelo meu piloto: o canal Futura tinha<br />
interesse em coproduzir o Selvagem, em um contrato <strong>de</strong> um ano, com programas<br />
semanais. Antes, porém, queriam que fossem produzidos quatro progra-<br />
Copa do mundo vista do Pantanal<br />
na segunda formação: Carlão,<br />
eu, Claudião e An<strong>de</strong>rson – neste<br />
trabalho não existe feriado, final <strong>de</strong><br />
semana, aniversário e Dia dos Pais.<br />
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Micos <strong>de</strong> gravação:<br />
o importante é sempre<br />
se divertir!<br />
38<br />
mas para teste. Como eu ainda não tinha resposta da Record, topei o <strong>de</strong>sao<br />
e <strong>de</strong> novo fomos a Guarapari, no Espírito Santo, local do primeiro piloto, para<br />
gravar por cerca <strong>de</strong> vinte dias. O programa havia sido i<strong>de</strong>alizado pela direção<br />
da Futura para aten<strong>de</strong>r ao público infantil e, portanto, nossa linguagem <strong>de</strong>veria<br />
ser a<strong>de</strong>quada, mantendo os elementos originais do Selvagem, mas incluindo<br />
algumas brinca<strong>de</strong>iras. Foi bem divertido. Cada programa tinha um bicho principal,<br />
uma busca que exigia uma aventura, e em cada abertura eu ia até o hábitat<br />
do animal para estabelecer uma relação com as diferenças <strong>de</strong>le e <strong>de</strong>saava<br />
o telespectador a adivinhar qual seria o bicho do programa. Cheguei a me<br />
pendurar em uma árvore, <strong>de</strong> cabeça para baixo, no programa dos morcegos e<br />
me atolei completamente no mangue no programa dos caranguejos.
De repente, senti uma mordida na lateral<br />
externa do meu pé esquerdo. Não foi possível<br />
ficar indiferente e, instintivamente, minha perna<br />
afastou-se. Claudião, que estava gravando<br />
a cena com uma câmera night shot, reforçou:<br />
“Não se mexe! Meu, que lindo!”. Senti o bicho<br />
encostando novamente em meu pé e já sabia<br />
o que estava acontecendo. Após um tempo<br />
garantindo a imagem, <strong>de</strong>cidimos acen<strong>de</strong>r<br />
a luz da câmera e continuamos a gravar,<br />
com o bicho nem um pouco intimidado.<br />
Quando estava redondo <strong>de</strong> gordo (daí o nome<br />
científico da espécie – rotundus), outro<br />
morcego pousou na cama e o substituiu.<br />
Incrível! A equipe queria mais, que eu<br />
alimentasse todos os morcegos do quarto.<br />
Que o <strong>Richard</strong> é apaixonado por bichos<br />
todo mundo sabe. Mas e o que acontece<br />
por trás das câmeras? Como é o dia a dia<br />
do nosso aventureiro? Será que ele enfrenta<br />
muitos animais perigosos em suas viagens<br />
pelo Brasil e pelo mundo? E como foi que<br />
ele iniciou essas <strong>aventuras</strong>? Tudo isso é o que<br />
ele conta neste livro. Uma aventura emocionante,<br />
com histórias <strong>de</strong> tirar o fôlego e fotos<br />
<strong>de</strong>slumbrantes. Vale a pena conferir!<br />
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