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Thaumaturgo do Sertão - Biblioteca Virtual José de Mesquita

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O THAUMATURGO DO SERTÃO<br />

VIII<br />

Nativismo mal entendi<strong>do</strong><br />

Por minha parte, eu, que <strong>de</strong>sejo, que solicito, que <strong>de</strong> braços<br />

abertos recebo toda coadjuvação <strong>do</strong> estrangeiro para a<br />

prosperida<strong>de</strong> material e moral da minha pátria, não posso repellir<br />

o <strong>do</strong> religioso, cuja serena esphera <strong>de</strong> acção está acima <strong>do</strong>s tiros<br />

<strong>do</strong> nativismo.<br />

(Carlos <strong>de</strong> Laet — O Fra<strong>de</strong> estrangeiro)<br />

O ru<strong>de</strong> vendaval que sacudiu a novel Província e to<strong>do</strong> o<br />

país, na sua crise <strong>de</strong> crescimento, e por pouco, abalou até as<br />

instituições e quiçá a nossa autonomia nuperconquistada,<br />

esten<strong>de</strong>u os seus effeitos até a Prelazia <strong>de</strong> Matto Grosso que o<br />

nativismo exagera<strong>do</strong> não podia ver com bons olhos entregue ás<br />

mãos <strong>do</strong> varão virtuosíssimo e bemquisto mas que viera á luz<br />

em outras plagas que não as <strong>do</strong> Brasil.<br />

Tão longe levavam os campeões <strong>do</strong> nativismo os seus<br />

ciosos amores pelo Brasil que o simples facto <strong>de</strong> ser<br />

extrangeiro se tornava feio <strong>de</strong>licto e grave <strong>de</strong>mérito á gente <strong>de</strong><br />

1830.<br />

Accresce que Fr. <strong>José</strong>, com ser italiano, ainda que mais<br />

<strong>de</strong> uma década <strong>de</strong> labores apostólicos o <strong>de</strong>vesse ter<br />

amattogrossensa<strong>do</strong>, era também, dada a feição <strong>do</strong> seu espírito,<br />

cheio <strong>de</strong>sse amor universal <strong>de</strong> todas as creaturas que<br />

caracterizou o seu gran<strong>de</strong> Pae e mestre S. Francisco <strong>de</strong> Assis,<br />

contrario a to<strong>do</strong>s os excessos e <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s que, sob color <strong>de</strong><br />

nacionalismo, as<br />

43<br />

JOSÉ DE MESQUITA<br />

paixões partidárias <strong>de</strong>flagraram contra os portugueses e os que<br />

lhes eram sympathicos.<br />

Dá exemplo <strong>de</strong>ssa forte tendência <strong>de</strong> seu espírito curioso<br />

episodio occorri<strong>do</strong> no Diamantino, por occasião da Rusga, e no<br />

qual a opinião publica lobrigou uma das muitas manifestações<br />

<strong>do</strong> seu po<strong>de</strong>r divinatório, <strong>de</strong>vassa<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s arcanos <strong>do</strong> porvir.<br />

Iniciara-se a perseguição tenaz e implacável aos<br />

“bicu<strong>do</strong>s" e "caramurus", — nomes pelos quaes a gíria fazia<br />

conhecer os portugueses e os que os protegiam. A sanha feroz<br />

<strong>do</strong>s nativistas não podia tolerar o espírito <strong>de</strong> christan<br />

mansuetu<strong>de</strong> <strong>do</strong> capuchinho, ao qual, por sua vez, se figuravam<br />

excessos con<strong>de</strong>mnaveis os <strong>de</strong>svarios <strong>do</strong>s pseu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>fensores <strong>do</strong><br />

nacionalismo.<br />

Quan<strong>do</strong> irrompeu a lucta estava Frei <strong>José</strong> no Diamantino,<br />

e ven<strong>do</strong> a sanha com que eram procura<strong>do</strong>s os portugueses<br />

dissera:<br />

— "Isto não acabará emquanto não fôr <strong>de</strong>rrama<strong>do</strong> sangue<br />

brasileiro.”<br />

E effectivamente, tal aconteceu, como previra o santo<br />

varão.<br />

Dan<strong>do</strong> caça, que outra expressão não se ajusta ao caso, ao<br />

medico português João <strong>José</strong> Monteiro, morto iníqua e<br />

barbaramente <strong>de</strong>ntro da própria moradia, fizeram os jacobinos<br />

alvo <strong>de</strong> suas iras a um filho <strong>do</strong> mesmo, brasileiro nato,<br />

inconscientemente victima<strong>do</strong> pela sanguinária cólera <strong>do</strong>s seus<br />

próprios patrícios.<br />

Foi este facto <strong>do</strong>loroso e revoltante o epílogo da "Rusga"<br />

na villa <strong>do</strong> Diamantino.<br />

O tufão que se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ava sobre a Província e o país<br />

exigia, porém, novas immolações ao Molóch <strong>do</strong> patriotismo<br />

vesgo e daltoniza<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas phases <strong>de</strong> transição e <strong>de</strong> revolta.<br />

O infatigável Missionário foi uma das victimas. Os<br />

nativistas <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong>-lhe feia macula na circumstancia <strong>de</strong> não<br />

ter nasci<strong>do</strong> sob o céu <strong>do</strong> Cruzeiro<br />

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