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Contatos intergalácticos e revelações sobre o surgimento da<br />

humanidade no planeta terra há mais de 600.000 anos.<br />

Paulo Zam


Os Dois Senhores<br />

ESTE LIVRO FOI CANALIZADO POR PAULO DE TARSO<br />

ZAMARIOTTI, DITADO PELO SER INTERDIMENSIONAL<br />

ZUR-KWA no ano de 1986.<br />

Este livro é cedi<strong>do</strong> <strong>gratuitamente</strong>. Portanto, o mesmo não<br />

poderá ser vendi<strong>do</strong>.<br />

O exemplar poderá ser copia<strong>do</strong> e distribuí<strong>do</strong> a qualquer<br />

interessa<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, deverão preservar o seu conteú<strong>do</strong><br />

e to<strong>do</strong>s os créditos ao Centro Espiritual Xamânico Céu <strong>Luz</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Amanhecer</strong>.<br />

É PROIBIDA A VENDA DESTE MATERIAL<br />

Caso deseje nos ajudar, faça uma contribuição voluntária<br />

entran<strong>do</strong> em contato conosco.<br />

Rua Sassaki, 438 – Cidade Ademar - São Paulo – SP<br />

site: www.ceuluz<strong>do</strong>amanhecer.com.br<br />

e-mail: ceuluz<strong>do</strong>amanhecer@gmail.com<br />

telefone: 11 – 5678-4664<br />

2


Capitulo I<br />

OS DOIS SENHORES<br />

Desde há muito tempo, dia após<br />

dia, noite após noite, ano após ano o<br />

aspecto da superfície daquele planeta era<br />

o mesmo: um deserto de pedras,<br />

começan<strong>do</strong> pelas pequenas, até as<br />

imensas, que formavam os montes e<br />

montanhas.<br />

Nas planícies amareladas e de<br />

solo racha<strong>do</strong>, desprendia-se um calor<br />

intenso e visível. Onde outrora eram os<br />

leitos <strong>do</strong>s rios e lagos, agora eram leitos<br />

vazios, apenas formações de depressões.<br />

Os mares eram escuros, sem vida com<br />

águas radioativas.<br />

Daquele céu também amareloocre,<br />

brotava um sol implacável, que<br />

quan<strong>do</strong> desaparecia por traz de nuvens<br />

negras, prenunciava tempestades terríveis,<br />

com explosões múltiplas de raios, seguidas<br />

de chuva ácida. Estas provocavam erosões<br />

3


colossais, aceleran<strong>do</strong> a devastação<br />

naquele solo morto. Mesmo assim insetos<br />

semelhantes a baratas e escorpiões<br />

comiam-se uns aos outros na luta pela<br />

sobrevivência e pelo limite de seus<br />

territórios.<br />

Quan<strong>do</strong> noite, o brilho das quatros<br />

luas trazia um colori<strong>do</strong> especial, mas<br />

estranho, devi<strong>do</strong> aos diferentes matizes de<br />

cada uma, desde o pratea<strong>do</strong> ao vermelho<br />

vivo (a lua mais próxima deste planeta).<br />

A lua mais brilhante era a mais distante e<br />

de tempos em tempos se eclipsava com as<br />

outras duas <strong>do</strong> meio, uma amarelada e a<br />

outra de um alaranja<strong>do</strong> forte.<br />

Eram noites abafadas pela<br />

solidão e o frio congelante.<br />

Nada naquele lugar era bonito aos olhos<br />

de quem pudesse ver e sentir. Dias que<br />

não eram dias e noites que não eram<br />

noites. Era um grande nada claro e um<br />

grande nada escuro, que nem sequer<br />

chegava a ser escuro. Morto. Sim, morto<br />

era o significa<strong>do</strong> naquele planeta, que não<br />

tinha mais rios, nem lagos, nem mares com<br />

águas verdes, como fora antes. Parecia<br />

que tu<strong>do</strong>, até a vida havia se evapora<strong>do</strong>.<br />

4


Numa destas noites, duas<br />

pequenas naves sobrevoavam o planeta,<br />

numa rotina de observação e<br />

patrulhamento, seus tripulantes<br />

manejavam instrumentos de medição<br />

radiográfica, sensores de calor e<br />

detectores de vida, de médio e longo<br />

alcance, adapta<strong>do</strong>s nas pontas de suas<br />

pequenas asas e leme superior.<br />

- Nada parece ter muda<strong>do</strong><br />

comandante!<br />

- Sim, Velz, o mesmo de setenta e<br />

<strong>do</strong>is anos atrás. Veja o sensor KRANSET:<br />

Setenta ponto oito celtz. Nenhum micro a<br />

menos. Parece que o planeta morreu<br />

mesmo. Vamos voltar.<br />

- Sim, senhor.<br />

As duas pequenas naves<br />

desenharam um grande semicírculo no céu<br />

multicolor e tomaram o rumo de suas<br />

bases. Num da<strong>do</strong> momento, um “bip” soou<br />

e os de<strong>do</strong>s <strong>do</strong> comandante Zeuez<br />

acionaram a chave, à sua frente, no painel<br />

de sua nave, atenden<strong>do</strong> o chama<strong>do</strong>.<br />

- Zag-tres. Na escuta. Pode falar.<br />

5


- Aqui é Zag-Zero. Saia já daí. Em<br />

menos de <strong>do</strong>ze marcas, você estará bem<br />

no meio de uma tempestade daquelas.<br />

Nossos monitores acusam que é uma das<br />

maiores <strong>do</strong>s últimos tempos. Dirija-se para<br />

a Base-Meridional-Leste. Repetin<strong>do</strong> vá<br />

para a Base-Meridional-Leste!<br />

- Certo... Você ouviu Velz?<br />

- Sim, comandante. Mas porque os<br />

nossos monitores não acusam esta<br />

tempestade?<br />

- Simples você tem um monitor<br />

KRANSET multidirecional acopla<strong>do</strong> com<br />

LKB de medição de superfície que ocupam<br />

nossa fuselagem inteira. Exatamente o<br />

mesmo que eu, o que significa que<br />

meteorologicamente estamos cegos. Você<br />

não aprendeu isso na escola de oficiais de<br />

vôo?<br />

- Sim, é claro, desculpe o<br />

esquecimento, senhor.<br />

- Então vamos sair d<strong>aqui</strong>. Digite<br />

sua rota para <strong>do</strong>is, zero, cinco.<br />

- Sim, senhor.<br />

Ao longe, as nuvens escuras,<br />

quase pretas surgiam enquanto um novo<br />

semicírculo era traça<strong>do</strong> entre sacudões<br />

ocasiona<strong>do</strong>s pela ventania, já presente.<br />

6


Confirma<strong>do</strong> o novo curso, o jovem<br />

piloto e quase oficial Velz, comentava com<br />

seus botões a sua gafe.<br />

- Como pude me esquecer disso?<br />

O que está acontecen<strong>do</strong> comigo? E ainda<br />

mais com o comandante Zeuez. Acho que<br />

depois desta, só terei o meu diploma o ano<br />

que vem...<br />

O comandante Zeuez era um ser<br />

de meia idade e ti<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s como um<br />

marco da aviação de seu tempo naquele<br />

planeta. Sua capacidade era como sua<br />

altura (muito alto), com olhar penetrante,<br />

de traços firmes e <strong>do</strong>no de uma grande<br />

paciência. Foi ele que desenhou e<br />

construiu os primeiros protótipos daquelas<br />

naves. O principal instrutor e comandante<br />

<strong>do</strong>s pré-oficiais, que tinha como<br />

passatempo escrever poemas e tocar um<br />

instrumento de cordas chama<strong>do</strong> Voilah.<br />

Um ser de muitos recursos, diziam.<br />

-... Que burrada!!!<br />

Neste momento o comunica<strong>do</strong>r de<br />

Velz soou com a voz de seu comandante,<br />

como se estivesse ouvin<strong>do</strong> seus<br />

pensamentos.<br />

- Velz, está me ouvin<strong>do</strong>?<br />

- Alto e claro, comandante.<br />

7


- Saiba que na primeira vez que<br />

voei com meu líder, Fanna, também<br />

esqueci de muitas coisas e a mais<br />

importante de todas: Olhar para frente, que<br />

até um bebê sabe disso. Em outras<br />

palavras, quase me esborrachei no monte<br />

Pakeus.<br />

- Não olhou para frente, senhor?<br />

- Pois é, fiquei tão excita<strong>do</strong> em<br />

pilotar aquele aerojato, sobra de guerra,<br />

que a simples visão <strong>do</strong>s instrumentos de<br />

bor<strong>do</strong>, me deixou... Abobalha<strong>do</strong>. Afinal, era<br />

o meu primeiro vôo solo! E aquela<br />

máquina... Hum!!! Quan<strong>do</strong> me lembro<br />

daquela máquina, sinto arrepios...<br />

- O que aconteceu, senhor?<br />

- Ora, quan<strong>do</strong> o líder percebeu o<br />

meu transe e que iria bater, gritou tão alto,<br />

que acho que o ouvi de sua própria<br />

cabine... Puxei o manche a tempo, antes<br />

de me esborrachar na montanha. Foi por<br />

um triz.<br />

Velz não pode conter o riso. Era<br />

muito engraça<strong>do</strong>, o seu comandante quase<br />

se matara, porque esquecera de olhar para<br />

frente.<br />

8


- Fique tranqüilo, Velz – Continuou<br />

Zeuez – o primeiro solo é sempre assim.<br />

Você está se sain<strong>do</strong> muito bem.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, senhor. A missão, o<br />

solo e a transmissão, me deixaram mais<br />

nervoso <strong>do</strong> que esperava.<br />

- Sossegue Velz. Agora, fique de<br />

olho no seu visor LKB-WALZZ e se houver<br />

alguma alteração, informe.<br />

- Bem a propósito, senhor, na<br />

medida em que nos aproximamos ao<br />

meridiano <strong>do</strong> planeta, o sensor KRANSET<br />

indica maior radioatividade. Estamos<br />

agora, em setenta e um, ponto zero Celtz.<br />

- Sim, <strong>aqui</strong> nesta parte <strong>do</strong> planeta<br />

havia duas cidades prósperas e belas:<br />

MIRVIAM e VLAUPORA. Era o centro das<br />

artes e <strong>do</strong>s esportes, respectivamente.<br />

- Ah, sim: Nossos livros de histórias<br />

dedicam vários capítulos sobre elas.<br />

Gostaria de te-las conheci<strong>do</strong>.<br />

- Eu também. Os mais velhos<br />

contam que nelas se encontravam as mais<br />

belas garotas de Someron.<br />

O diálogo sobre os tempos de<br />

outrora continuou por várias marcas de<br />

tempo até o avistamento <strong>do</strong> Monte Pakeus,<br />

a Base-Meridional-Leste.<br />

9


- Aqui é Zag-tres e Zag-quatro.<br />

Nivelar para zero ponto <strong>do</strong>is zero sete,<br />

portão <strong>do</strong>is e três, oeste. Ajustar cursores<br />

de desaceleração para <strong>do</strong>is ponto zerozero.<br />

Zag-tres, ponto um quatro. Zagquatro,<br />

ponto um cinco - cinco.<br />

- Positivo. Estamos em curso.<br />

E assim, duas comportas se<br />

abriram na montanha. Ao longe pareciam<br />

ser minúsculas, mas aumentan<strong>do</strong><br />

conforme a aproximação.<br />

Os <strong>do</strong>is March-1 penetraram na<br />

montanha, feito setas, seguin<strong>do</strong> por túneis<br />

triangulares e ilumina<strong>do</strong>s com sistemas<br />

estroboscópicos, coordenan<strong>do</strong> a<br />

velocidade e direção até a parada total.<br />

Eram pistas, tanto para pouso,<br />

quanto para lançamentos de naves<br />

menores, iguais àquelas.<br />

Tão logo passaram, as comportas<br />

fecharam reestabilizan<strong>do</strong> à atmosfera<br />

interna.<br />

- Aqui estamos Velz. Sãos e<br />

salvos.<br />

- Sim, comandante. Notei que as<br />

pistas d<strong>aqui</strong> são iguais das que temos em<br />

KRÒPITUS!<br />

10


- Ah, sim, você ainda não tinha<br />

vin<strong>do</strong> até <strong>aqui</strong>. São todas iguais, exceto os<br />

cômo<strong>do</strong>s internos. Lembrem-se, as bases<br />

são todas iguais: mesmo desenho,<br />

mesmas estruturas e quase as mesmas<br />

dimensões. Afinal, foi nosso líder, Fanna,<br />

quem as projetou.<br />

11


CAPITULO ll<br />

Depois da guerra Neutrônica em<br />

que o leste e o Oeste finalmente levaram à<br />

destruição da grande massa social daquele<br />

planeta e tu<strong>do</strong> ou mais que nele havia, os<br />

que sobreviveram em abrigos construí<strong>do</strong>s<br />

no subsolo, constataram ser impossível a<br />

vida na superfície. A atmosfera tornara-se<br />

inóspita, radioativa e cruel. Muitos<br />

morreram tentan<strong>do</strong> viver lá fora.<br />

O instinto de sobrevivência e<br />

perpetuação da espécie agiu em medidas<br />

criativas para aquele confinamento<br />

força<strong>do</strong>. Aos poucos, os abrigos<br />

transformaram-se em “Núcleos de Vida”,<br />

evoluin<strong>do</strong> para comunidades e<br />

expandin<strong>do</strong>-se em pequenas cidades. As<br />

montanhas compostas de rochas,<br />

literalmente derretidas e alguns planaltos,<br />

aqueles que ofereciam dureza segura para<br />

escavação, foram transforma<strong>do</strong>s em bases<br />

com finalidades específicas, desde os<br />

estu<strong>do</strong>s para reciclagem da atmosfera à<br />

exploração <strong>do</strong> espaço sideral.<br />

12


Em quarenta e <strong>do</strong>is anos pós<br />

guerra <strong>do</strong>s somerianos, as ciências<br />

evoluíram, multiplican<strong>do</strong>-se em outras<br />

tantas, forman<strong>do</strong> novos campos de<br />

pesquisa e novas tecnologias e com isso<br />

novas esperanças para aquele povo.<br />

A primeira base construída,<br />

mediante um Plano-diretor traça<strong>do</strong> por seu<br />

líder Erus Fanna, chamou-se Base-<br />

Meridional-Oeste, situada no interior da<br />

montanha chamada KRÓPITOS. Para o<br />

coman<strong>do</strong> desta base Tutkan foi o<br />

escolhi<strong>do</strong>.<br />

Tutkan era uma espécie de herói militar,<br />

sobrevivente ao holocausto, de hábitos e<br />

costumes simples. Tinha uma estatura<br />

avantajada, praticante de esportes, com<br />

cabelos vermelhos encaracola<strong>do</strong>s, um<br />

olhar de criança esperta e um tanto<br />

temperamental. Dedicava-se totalmente ao<br />

trabalho e à família, que também<br />

participavam ativamente nos diversos<br />

setores ocupacionais da Base. Verna sua<br />

esposa e cinco filhos – três machos e duas<br />

fêmeas.<br />

13


Solun, Apolun e Ozy, que se<br />

ocupavam na pesquisa da navegação<br />

espacial.<br />

Zart e Walm eram encarregadas<br />

<strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res de bor<strong>do</strong> e sensores de<br />

médio alcance.<br />

Verna era uma espécie de conselheira,<br />

<strong>do</strong>na de um equilíbrio fantástico e como<br />

Tutkan sempre dizia: o apoio e a<br />

consciência de Krópitus.<br />

Dois perío<strong>do</strong>s (mês de Someron)<br />

<strong>do</strong> término da Base-Meridional-Oeste,<br />

foram completadas as Bases Hemisferial<br />

Norte e Sul.<br />

A Base Hemisferial Norte tinha<br />

como seu comandante, um <strong>do</strong>s principais<br />

cientistas de Someron: Thorc. Considera<strong>do</strong><br />

gênio em Física-Quântica-Núcleo-<br />

Molecular, diploma<strong>do</strong> na Faculdade de<br />

Ciências de Atlantis, então a capital <strong>do</strong><br />

Oeste. Era um ser de estatura mediana,<br />

<strong>do</strong>no de uma barriga considerável e um<br />

senso de humor próprio e para cima. Foi<br />

quem idealizou o Transprotton, que<br />

14


materializava os átomos vegetais,<br />

extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ar e das sobras enlatadas da<br />

guerra.<br />

A Base Hemisferial Sul, era<br />

comandada por outro cientista, Zur-kwa,<br />

gênio da química. O cria<strong>do</strong>r de to<strong>do</strong>s os<br />

sistemas de depuração de ar e água,<br />

transformação de dejetos em fontes<br />

energéticas e junto a Thorc, o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> Transprotton. Tinha<br />

pouca estatura e era muito magro, meti<strong>do</strong><br />

em seu inseparável jaleco de branco<br />

imacula<strong>do</strong>, atrás de um bigode espesso e<br />

espeta<strong>do</strong>, assim como seus cabelos que<br />

nunca eram escova<strong>do</strong>s. Passava a maior<br />

parte <strong>do</strong> tempo em seu laboratório, crian<strong>do</strong><br />

novas fórmulas e passan<strong>do</strong> os seus<br />

conhecimentos aos alunos. Tinha pouco<br />

mais de vinte anos quan<strong>do</strong> aconteceu a<br />

guerra, e faltan<strong>do</strong> um ano para se formar<br />

em Ciências Químicas na Faculdade de<br />

Ciências de Atlantis.<br />

Thorc e Zur-Kwa eram muito uni<strong>do</strong>s, desde<br />

os tempos de escola. Tratavam-se como<br />

irmãos e comemoravam seus aniversários<br />

no mesmo dia (apesar de Thorc ser mais<br />

15


velho <strong>do</strong>is anos e três dias). Foram os<br />

principais incentiva<strong>do</strong>res e cria<strong>do</strong>res das<br />

primeiras escolas pós-guerra, no subsolo.<br />

Em certa ocasião nos velhos<br />

tempos de faculdade, em Atlantis,<br />

apaixonaram-se pela mesma garota e<br />

tiveram uma briga terrível, tanto que<br />

naquele ano não comemoraram juntos os<br />

seus aniversários. As coisas só<br />

melhoraram depois que descobriram<br />

serem ambos engana<strong>do</strong>s por ela. Havia<br />

um terceiro namora<strong>do</strong> e depois um quarto<br />

e um quinto. Deram grandes risadas<br />

quan<strong>do</strong> souberam a existência de um sexto<br />

namora<strong>do</strong> e que este morava na mesma<br />

cidade interiorana <strong>do</strong>nde ela viera e que<br />

por fim acabaram se casan<strong>do</strong>.<br />

Provavelmente teria outros tantos<br />

namora<strong>do</strong>s depois de casada. Como Zur-<br />

Kwa costumava dizer ela era “uma<br />

incansável” nas práticas <strong>do</strong> amor.<br />

Havia outras seis Bases,<br />

destinadas ao Plantio e cultivo das mais<br />

variadas plantas, hortaliças e grãos para a<br />

alimentação <strong>do</strong> povo. Nestes laboratórios<br />

16


subterrâneos, verdadeiras fazendasempresas<br />

com estufas e iluminação termosolar<br />

artificial, proviam a climatização<br />

própria para o desenvolvimento e colheita<br />

de víveres. Fora, nelas, desenvolvi<strong>do</strong> um<br />

solo sintético com fibras que continham<br />

propriedades enriquecidas em cálcio,<br />

potássio, ferro, magnésio, lítio, zinco com<br />

to<strong>do</strong>s os oligoelementos e substâncias<br />

necessárias para a dieta daqueles seres.<br />

De tempos em tempos eram recicladas<br />

pelo Transprotton, manten<strong>do</strong>-as fertilizadas<br />

conforme a demanda.<br />

Estas Fazendas atuavam dentro<br />

de um conceito industrial com seus<br />

diversos setores. Desde os pedi<strong>do</strong>s até a<br />

distribuição, devidamente beneficia<strong>do</strong>s e<br />

embala<strong>do</strong>s, seguin<strong>do</strong> seus destinos<br />

através de aeronaves especialmente<br />

adaptadas àquela função. De certa forma,<br />

é possível se dizer que a comida era<br />

racionada. Cada família recebia estes<br />

produtos mediante o número de seres.<br />

Assim era manti<strong>do</strong> o equilíbrio<br />

necessário, não sobrava nem faltava.<br />

Havia um consenso geral desta questão:<br />

17


“Tu<strong>do</strong> que sobrar para alguém, certamente<br />

faltará para outro alguém”. Era o que<br />

diziam, acreditavam e agiam.<br />

O sistema daquele povo<br />

funcionava em quase perfeita harmonia,<br />

como engrenagens giran<strong>do</strong> em torno de si<br />

próprias moven<strong>do</strong> um to<strong>do</strong>, não haven<strong>do</strong><br />

questões sobre a qual era a mais<br />

importante ou a mais bonita. Tu<strong>do</strong> se<br />

resumia em consciência e prática. Os<br />

valores eram basea<strong>do</strong>s na ética, moral e,<br />

sobretu<strong>do</strong> no amor ao próximo.<br />

Os remanescentes de Someron<br />

aprenderam muito com o sofrimento e com<br />

horizonte fecha<strong>do</strong>.<br />

Erus Fanna lhes deu, além de<br />

esperança, um sistema “Equalitarista”,<br />

onde as oportunidades eram comuns a<br />

to<strong>do</strong>s, cada um poden<strong>do</strong> escolher o que<br />

fazer e o fazen<strong>do</strong>, executan<strong>do</strong>-o bem. “Em<br />

outras palavras, usan<strong>do</strong> as palavras de<br />

Fanna: Dar o melhor de si para to<strong>do</strong>s e a si<br />

próprio como reação”.<br />

18


O sistema monetário e econômico<br />

fora aboli<strong>do</strong>. O dinheiro constituira-se a<br />

causa de toda a ruína, porque seus<br />

antepassa<strong>do</strong>s acreditavam ser ele, o<br />

dinheiro, o portentor <strong>do</strong> poder e a glória. A<br />

honra, a capacidade e o talento eram<br />

meras merca<strong>do</strong>rias que se podia comprar<br />

ou vender, e em alguns casos até mesmo<br />

alugar.<br />

Era um povo inteligente, sadio,<br />

solidário e com fome <strong>do</strong> amanhã.<br />

Permitiam a si mesmos, compartilhar tu<strong>do</strong>,<br />

o que na verdade multiplicava-lhes o<br />

prazer de estarem juntos.<br />

Os velhos ou aqueles que não<br />

podiam participar <strong>do</strong>s trabalhos mais<br />

pesa<strong>do</strong>s, dedicavam seus momentos<br />

cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bebês mais cresci<strong>do</strong>s, e no<br />

auxílio de professores e mestres de artes,<br />

possibilitan<strong>do</strong> uma cultura permanente e<br />

em crescente evolução.<br />

Esta ajuda era de fundamental<br />

importância devi<strong>do</strong> às suas experiências<br />

ainda no Mun<strong>do</strong> Vivo. Os recém-nasci<strong>do</strong>s<br />

permaneciam com suas mães no primeiro<br />

ciclo de vida que era de sete anos.<br />

19


Em cinqüenta de seus anos, eram<br />

trezentos mil somerianos e segun<strong>do</strong> as<br />

projeções <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res, em mais<br />

vinte e cinco anos a população estaria<br />

beiran<strong>do</strong> os quatrocentos e cinqüenta mil.<br />

Isto era preocupante uma vez que a<br />

capacidade de acondicionamento de<br />

pessoal, mesmo resistin<strong>do</strong> à falta de<br />

espaço, teriam o problema da fome. A<br />

capacidade de fornecimento e produção de<br />

alimentos estaria esgotada bem antes<br />

desta marca. Era preciso pensar numa<br />

saída para o impasse vin<strong>do</strong>uro.<br />

A tecnologia existente permitialhes<br />

a construção de colônias lunares,<br />

amplian<strong>do</strong> os núcleos de pesquisas já em<br />

pleno funcionamento, mas o problema da<br />

fome continuava. E mais, isto poderia<br />

deflagrar uma guerra, o que seria o fim de<br />

sua espécie, devi<strong>do</strong> aos próprios avanços<br />

tecnológicos que poderiam ser fàcilmente<br />

adapta<strong>do</strong>s para a destruição. O<br />

Transprotton, por exemplo, inverten<strong>do</strong> suas<br />

polaridades, transformava-se numa terrível<br />

arma, dispara<strong>do</strong>ra de raios Prótrons, capaz<br />

de explodir uma pequena Lua. Se<br />

20


voltassem a guerrear entre si, desta vez<br />

não sobraria pedra sobre pedra.<br />

Erus Fanna chamou seus<br />

principais cientistas e alguns anciãos para<br />

debaterem o problema.<br />

Na medida em que as alternativas<br />

surgiam, imediatamente após eram<br />

derrubadas, ora pela fome, ora pela<br />

superpolução.<br />

Zur-Kwa sugeriu a construção de<br />

abóbadas climatizadas feitas de material<br />

sintético transparente, e com filtros<br />

infravermelho e ultravioleta de camadas<br />

ozonizadas na superfície interna. Sob<br />

estas abóbadas, poder-se-ia erguer novas<br />

cidades e aos poucos, reconstituir o solo<br />

favorecen<strong>do</strong> novas fazendas. No entanto a<br />

despoluição <strong>do</strong>s locais levaria muito tempo<br />

e até lá o controle de natalidade teria que<br />

ser rigoroso.<br />

Thorc, por sua vez, defendia a<br />

construção de cidades orbitais,<br />

aproveitan<strong>do</strong> os sintéticos de Zur-Kwa e a<br />

tecnologia já existente <strong>do</strong>s solos de fibra<br />

21


enriquecida. Isto levaria menos tempo. No<br />

máximo dez anos.<br />

Entretanto, Erus Fanna, tinha outra idéia,<br />

que poderia acabar de vez com to<strong>do</strong>s os<br />

problemas. Ele a apresentou chaman<strong>do</strong>-a<br />

de Projeto Pakeus e Projeto Kosmos. Duas<br />

fases de uma só idéia: Sair de Someron e<br />

procurar um Novo Planeta.<br />

O Projeto Pakeus consistia em<br />

uma edificação gigantesca na montanha<br />

maior <strong>do</strong> Planeta. Também se chamaria de<br />

Base-Meridional-Leste. Ali, poderiam ter o<br />

espaço suficiente para as forjas, que<br />

fundiriam as peças que formariam a<br />

carcaça da grande nave Kosmos. Tu<strong>do</strong> o<br />

que sabiam e tinham, poderia ser leva<strong>do</strong> e<br />

quem sabe, encontrariam um lugar seguro<br />

para viver. Apesar das especulações sobre<br />

esta questão, os projetos foram aprova<strong>do</strong>s<br />

inânememente, afinal as experiências no<br />

espaço, tinham avança<strong>do</strong> depois da<br />

criação de pequenas naves denominadas<br />

March-1 em homenagem ao pai de seu<br />

inventor, Zeuez.<br />

22


O cronograma previa <strong>do</strong>is anos e<br />

meio para a construção da base e cerca de<br />

outros três, talvez quatro anos, à<br />

finalização <strong>do</strong> projeto Kosmos.<br />

Em seis dias as escavações se<br />

iniciaram e como sempre, os acidentes<br />

eram freqüentes. Mesmo que as<br />

escavadeiras fossem pilotadas à distância<br />

com controles remotos, a montagem das<br />

estruturas e as ejeções de cimento<br />

provocavam vez por outra,<br />

desmoronamentos e consequentemente<br />

baixa de feri<strong>do</strong>s e até alguns mortos.<br />

Era inevitável, principalmente com<br />

as próprias agitações das placas <strong>do</strong><br />

planeta, em constante movimentação.<br />

Encontravam consolo nas palavras<br />

de um antigo sábio, que dizia: “Se tu<strong>do</strong> o<br />

que fazemos ou pensamos é bom e certo,<br />

o que acontecerá quan<strong>do</strong> o mal aparecer?<br />

Devemos aprender todas as coisas e ter a<br />

consciência <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal. Então<br />

escolher o caminho levan<strong>do</strong> o bem e o mal.<br />

Porque os <strong>do</strong>is fazem parte <strong>do</strong> mesmo ser.<br />

Um não existe sem o outro”.<br />

23


A obra foi concluída no prazo<br />

estabeleci<strong>do</strong> e na medida em que as salas<br />

eram acabadas, imediatamente os<br />

computa<strong>do</strong>res, periféricos e outros<br />

instrumentos ocupavam os espaços em<br />

franca operação. Paralelamente os<br />

estu<strong>do</strong>s e experimentos de novos materiais<br />

tornavam realidade os estu<strong>do</strong>s até então<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s nas pranchetas.<br />

No início <strong>do</strong> ano sessenta e três,<br />

uma nave tripulada, foi lançada rumo ao<br />

segun<strong>do</strong> quadrante estelar, assim<br />

denomina<strong>do</strong> por eles, que abrangia o<br />

próximo sistema solar, com um sol azula<strong>do</strong><br />

e segun<strong>do</strong> suas sondas, frio. Havia lá, pelo<br />

menos, <strong>do</strong>is planetas que valeria à pena<br />

sondar de perto. Um deles tinha uma Lua,<br />

quase <strong>do</strong> tamanho de Someron. Esta<br />

viagem foi feita em quatro anos e trouxe<br />

inestimáveis préstimos, a partir <strong>do</strong><br />

mapeamento estelar ao ajuste entre<br />

sensores e instrumentos de navegação<br />

espacial, além de ter que rever os projetos<br />

sobre combustível e motores. Teriam que<br />

seguir mais longe, pois tanto os planetas<br />

como a lua, eram impossíveis de viver,<br />

segun<strong>do</strong> os seus conhecimentos.<br />

24


Também foram testa<strong>do</strong>s os<br />

defletores lazers, que formavam um<br />

escu<strong>do</strong> protetor contra meteoritos e<br />

partículas, esbarra<strong>do</strong>s durante a trajetória<br />

em altíssima velocidade da nave<br />

experimental Merah (nome da primeira<br />

lua).<br />

Durante este perío<strong>do</strong>, as Bases<br />

Lunares, acusaram em seus monitores,<br />

pressões externas mais altas <strong>do</strong> que<br />

poderiam suportar, algo inédito e<br />

inexplicável colocan<strong>do</strong> em risco muitas<br />

vidas e o conhecimento adquiri<strong>do</strong> das<br />

experiências ligadas ao Projeto Kosmos.<br />

Este risco fez com que alguns<br />

projetos, a muito aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, fossem<br />

retoma<strong>do</strong>s e postos em prática; ou seja, a<br />

montagem de cinco estações orbitais. Na<br />

prancheta, suas funções seriam espionar e<br />

monitorar possíveis inimigos entre eles.<br />

Havia descontentes alegan<strong>do</strong> insanidade<br />

<strong>do</strong>s líderes. Por isso, os melhoramentos<br />

cabíveis foram feitos às pressas para<br />

acolher o pessoal das Bases Lunares e<br />

to<strong>do</strong> o equipamento.<br />

25


Em três perío<strong>do</strong>s (mês<br />

somerianos), graças a uma liga metálica<br />

desenvolvida a muito por Zur-Kwa foi<br />

possível mixar to<strong>do</strong>s os metais<br />

encontra<strong>do</strong>s desde a sobra de guerra.<br />

Assim as peças foram fundidas e<br />

colocadas em órbita. Mais um perío<strong>do</strong> foi<br />

gasto na montagem.<br />

Estas estações orbitais<br />

contribuíram enormemente em<br />

experimentos com gravidade zero e<br />

passaram a ser os olhos e os ouvi<strong>do</strong>s de<br />

Someron, num sistema de comunicação<br />

integrada entre as Bases e povoa<strong>do</strong>s.<br />

Poniack era a maior delas e para o<br />

seu coman<strong>do</strong>, fora designa<strong>do</strong> Whorc, o<br />

irmão caçula de Thorc, ex-aluno e<br />

assistente de Zur-Kwa, perito em<br />

combustíveis e propulsão magnética (ainda<br />

em desenvolvimento). Nesta ocasião,<br />

trabalhava e trocava informações com<br />

Tutkan, sobre um novo expansor de<br />

aceleração molecular. Era um combustível<br />

pastoso magnetiza<strong>do</strong>, muito explosivo, de<br />

difícil <strong>do</strong>mínio, devi<strong>do</strong> à instabilidade<br />

provocada pelos choques e a ativação das<br />

26


partículas em temperaturas altas. Fora<br />

denomina<strong>do</strong> de KR-7.<br />

O KR-7 era a esperança para tocar<br />

a grande nave Kosmos e o seu <strong>do</strong>mínio era<br />

uma questão de tempo. Então<br />

inexplicavelmente uma chuva de<br />

meteoritos atingiu Poniack em cheio<br />

explodin<strong>do</strong>-a, sem chance de escape para<br />

ninguém. Tu<strong>do</strong> aconteceu em segun<strong>do</strong>s.<br />

Muitos morreram com Worc.<br />

Este lamentável incidente provocou uma<br />

profunda comoção entre os somerianos.<br />

Worc era um ser muito queri<strong>do</strong>. Afora isso,<br />

os estu<strong>do</strong>s e pesquisas <strong>do</strong> novo<br />

combustível estavam sensivelmente<br />

prejudica<strong>do</strong>s, trazen<strong>do</strong> a desesperança.<br />

Talvez tivessem que continuar enterra<strong>do</strong>s<br />

em seu próprio mun<strong>do</strong>, para sempre.<br />

Uma onda pessimista cobriu<br />

Someron, provocan<strong>do</strong> reações estéricas<br />

por parte de alguns, revolta por parte de<br />

outros e confusão geran<strong>do</strong> confusão.<br />

Com esforços re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s, a<br />

estação foi reconstruída e acabada dias<br />

27


antes da volta da nave Merah. Mas, então,<br />

com outras finalidades, sen<strong>do</strong> a principal<br />

delas, abrigar e reciclar os<br />

“revolucionários”. Não era de to<strong>do</strong> uma<br />

prisão e sim a readaptação <strong>do</strong>s seres<br />

descontentes, em uma nova área de<br />

atuação e profissão. Erus Fanna acreditava<br />

que quan<strong>do</strong> poucos se revoltam no que a<br />

maioria crê isto seria um reflexo direto da<br />

má escolha da profissão. A escolha certa<br />

<strong>do</strong> que fazer é importante para o<br />

desenvolvimento espiritual, mental e físico.<br />

Fanna dizia: “Um ser perfeitamente<br />

ajusta<strong>do</strong> no que faz, não terá razões para<br />

revolta, uma vez que nada é feito por fazer.<br />

O crescimento interior das criaturas<br />

<strong>do</strong>tadas de razão, está liga<strong>do</strong> diretamente<br />

n<strong>aqui</strong>lo que pensa, fala e faz.” Estar<br />

descontente é racional, no entanto, no<br />

nosso caso, a revolta contra a lógica, é<br />

irracional.<br />

28


CAPÍTULO III<br />

O pouso se completara e as duas<br />

pequenas naves, deslizan<strong>do</strong> lentamente<br />

pelo piso-esteira magnética se<br />

encontraram no Hangar onde outras naves<br />

recebiam as atenções de técnicos e pilotos<br />

com suas lidas na manutenção.<br />

Zeuez e Velz foram leva<strong>do</strong>s à sala<br />

de descontaminação através de um túnel<br />

acopla<strong>do</strong> diretamente às carlingas de suas<br />

naves. Foram recepciona<strong>do</strong>s por uma<br />

fêmea de cabelos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s e trajes<br />

colantes arrancan<strong>do</strong> um suspiro no préoficial<br />

Velz.<br />

- Queiram me acompanhar, nosso<br />

líder os espera no nível um.<br />

- Obriga<strong>do</strong> – disseram os <strong>do</strong>is em<br />

coro.<br />

O eleva<strong>do</strong>r os conduziu,<br />

ràpidamente, deixan<strong>do</strong> para baixo o hangar<br />

com suas fumaças e cheiros. Pouco<br />

depois, a jovem se deteve à frente de uma<br />

porta metálica onde digitou sua senha no<br />

29


dispositivo ao la<strong>do</strong>. A porta abriu-se dan<strong>do</strong><br />

entrada a uma pequena sala onde um<br />

homem de barba grisalha e vestes claras,<br />

atrás de uma mesa metálica, abarrotada de<br />

coisas, examinava um rolo de papel<br />

lamina<strong>do</strong>.<br />

- Podem entrar – disse ela,<br />

permanecen<strong>do</strong> à porta.<br />

- Comandante Zeuez e pré-oficial<br />

Velz, da sexta frota Zag se apresentan<strong>do</strong>,<br />

senhor – disse Zeuez a um passo à frente.<br />

- Por favor, rapazes, entrem e<br />

sentem-se – disse Fanna ainda com olhos<br />

fixos no material que examinava, e<br />

dirigin<strong>do</strong>-se à moça – Obriga<strong>do</strong>, Zuila.<br />

Erus Fanna líder de Someron e<br />

também o comandante da Base-<br />

Meridional-Leste, era um ser bem<br />

humora<strong>do</strong>, cheio de graça, alto, de<br />

expressão bon<strong>do</strong>sa, que sempre se vestia<br />

com mantos claros. Era adepto aos<br />

esportes e fora o grande campeão de<br />

arremesso de dar<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> jovem e<br />

agora o líder de seu povo, escolhi<strong>do</strong><br />

inânememente por suas decisões justas e<br />

pelo seu espírito de liderança. Fora quem<br />

reuniu o povo após guerra e os fez<br />

30


acreditar em si próprios, como os<br />

escolhi<strong>do</strong>s para perpetuar a raça. Era<br />

considera<strong>do</strong> o liberta<strong>do</strong>r que movia mares<br />

e montanhas para encontrar um meio de<br />

tirá-los dali e encontrar, talvez um novo<br />

mun<strong>do</strong>.<br />

Sempre que podia trocadilhar com<br />

os seus, o fazia em grande estilo.<br />

Então os maus ventos, me<br />

trouxeram meus bons companheiros, e<br />

quem sabe, boas novas?<br />

- Pra dizer a verdade – disse<br />

Zeuez, aconchega<strong>do</strong> naquela macia e<br />

confortável cadeira de encosto branco<br />

triangular, cujas listras horizontais pretas<br />

ajustavam à anatomia de suas costas–<br />

nada de novo, nem bom, nem ruim.<br />

- Já é um consolo, saber que nada<br />

de ruim se abate sobre nós, exceto uma<br />

tempestade, lá fora.<br />

- E quem é este jovem oficial ao<br />

seu la<strong>do</strong>?<br />

- Este é Velz, recém forma<strong>do</strong> da<br />

Academia de Vôo de Krópitos. Este é o<br />

primeiro vôo solo dele e promete muito.<br />

31


- Muito bem. E o que faz aí de pé?<br />

Sente-se.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, senhor.<br />

- Mas, diga-me como vai aquele<br />

matreiro <strong>do</strong> Tutkan? Já faz algum tempo<br />

que não o vejo. Será que ele está<br />

esconden<strong>do</strong> alguma coisa?<br />

- Ele está muito bem. Faz dias que<br />

não o vejo, também. Soube que está<br />

totalmente envolvi<strong>do</strong> em experiências com<br />

o ativa<strong>do</strong>r KR-7.<br />

- Fanna, como vão as coisas com<br />

a nossa nave inter-estelar?<br />

Não se fala em outra coisa. Ela está em<br />

fase de conclusão?<br />

- Meu caro amigo, nada está em<br />

fase de conclusão. Veja você mesmo - e<br />

desenrolou mais a planta que estudava<br />

minutos antes e mostran<strong>do</strong> outros rolos<br />

empilha<strong>do</strong>s no canto da mesa, abrin<strong>do</strong>-os<br />

a seguir, - estamos encalha<strong>do</strong>s. Nossas<br />

dificuldades estão nos alojamentos. Há<br />

poucos...<br />

O intercomunica<strong>do</strong>r soou,<br />

interrompen<strong>do</strong> sua digressão.<br />

- Pode falar Zuila.<br />

32


E aquela voz feminina, agradável, suave e<br />

delicada, disse:<br />

- O comandante Tutkan está no<br />

Tele-externo.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, querida.<br />

Fanna ativou a tela, no console ao la<strong>do</strong> da<br />

mesa, aparecen<strong>do</strong> Tutkan em seu traje<br />

azul-escuro.<br />

- Tutkan, seu matreiro, estávamos<br />

falan<strong>do</strong> em você. Não me diga que<br />

também está corren<strong>do</strong> de uma<br />

tempestadezinha à toa?<br />

- Não, ainda não, mas soube que<br />

<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s meus rapazes tiveram que pousar<br />

aí.<br />

- Escute Erus, trate-os bem, pois<br />

<strong>do</strong> contrário, você não vai andar de<br />

brinquedinho novo.<br />

- Não acredito no que você está<br />

dizen<strong>do</strong>. Você matou a charada <strong>do</strong> KR-7?<br />

- Pode apostar meu amigo.<br />

- Mas isso merece uma<br />

comemoração, melhor dizen<strong>do</strong> uma<br />

bebemoração. Vamos brindar com Somir<br />

e...<br />

- Calma, calma, meu velho!<br />

Matamos a charada, mas temos outra.<br />

- Outra?<br />

33


- Sim, nossos motores.<br />

- Mas, o que há com nossos<br />

motores?<br />

- Eles não agüentam a pressão de<br />

empuxo <strong>do</strong> KR-7. Simplesmente fundem.<br />

Já estamos trabalhan<strong>do</strong> nisso, mas, temos<br />

outro assunto a tratar, e é sério.<br />

- Por que tanto mistério, Tut?<br />

- Prefiro conversar com você aí<br />

mesmo. A coisa é séria demais, Enviei um<br />

Condset, acho que dentro de microns o<br />

receberá, aliás, tomei a liberdade de<br />

mandar um para cada comandante de<br />

base, convocan<strong>do</strong> uma reunião<br />

extraordinária para amanhã.<br />

- Está certo, Tut... Espere um<br />

momento...<br />

Nisto um rapaz entrou com uma folha<br />

laminada, impressa pelo Codset.<br />

- Com licença, senhor. Isto acaba<br />

de chegar, Foi envia<strong>do</strong> pelo comandante<br />

Tutkan da Base-Meridional-Oeste.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Samis... Tut estou<br />

com seu Codset... Hum! ... Mas isso é<br />

grave – disse Fanna com os olhos fixos no<br />

relatório, coçan<strong>do</strong> a barba com a ponta <strong>do</strong>s<br />

de<strong>do</strong>s – Desde quan<strong>do</strong> estamos com esta<br />

poluição no ar?<br />

34


- Os sensores acusaram os<br />

primeiros microns, há três dias e parece<br />

que a fonte e causa está em Berla.<br />

- Puxa logo numa base de<br />

produção alimentícia! Você já falou com<br />

Thorc, sobre isso?<br />

- Sim, ele mesmo foi até lá com<br />

alguns técnicos, ontem. Dois membros <strong>do</strong><br />

setor de embalagens morreram esta<br />

manhã e acabamos de saber que tinham<br />

um índice de intoxicação radioativa, acima<br />

<strong>do</strong> normal espera<strong>do</strong>. Estamos<br />

preocupa<strong>do</strong>s.<br />

- É verdade, Tut. É muito<br />

preocupante... Está certo, nos veremos<br />

amanhã... Quer que os rapazes voltem?<br />

- Não, eles devem ir para Berla,<br />

buscar Thorc. O transporte dele é muito<br />

lento. Eu irei com Ozy e Ur. Nos vemos<br />

amanhã.<br />

- Perfeito, Tut. Faça boa viagem.<br />

Erus Fanna desativou a tela,<br />

pensativo, com o relatório Condset nas<br />

mãos, voltan<strong>do</strong> para junto de seus<br />

visitantes.<br />

- Senhor – disse Velz, ainda com a<br />

planta da grande nave nas mãos –<br />

enquanto falava com o comandante<br />

35


Tutkan, eu examinava este projeto, me<br />

perguntei várias vezes se estas medidas<br />

estavam corretas?<br />

- Sim, é exatamente o que você<br />

viu.<br />

- Então, esta nave tem o tamanho<br />

de uma cidade!<br />

Mais ou menos <strong>do</strong> tamanho de Mirviam ou<br />

Vlaupora.<br />

- Nossa!!! ... A propósito –<br />

continuou Velz, largan<strong>do</strong> a planta e se<br />

dirigin<strong>do</strong> ao mapa desenha<strong>do</strong> no grande<br />

vidro, no fim da sala – quan<strong>do</strong> passamos<br />

por cima delas, isto é, <strong>do</strong> que restou delas,<br />

os sensores Kranset apontavam setenta e<br />

um ponto zero Celtz de radiação, isto quer<br />

dizer que, segun<strong>do</strong> o professor Thorc,<br />

estamos beiran<strong>do</strong> os limites de<br />

autocombustão-molecular?<br />

- Sim, se subirmos oito Celtz na<br />

radioatividade. Mas acho que não devemos<br />

nos preocupar muito com isso. Faz mais de<br />

vinte anos que estes níveis estão<br />

estabiliza<strong>do</strong>s e a tendência é diminuir, no<br />

máximo se manter estável.<br />

- Isto é uma coisa que eu não<br />

enten<strong>do</strong> – entrou Zeuez – O que o faz<br />

pensar na continuidade destes níveis, uma<br />

36


vez que, antes destes vinte anos, havia<br />

uma medição mais baixa?<br />

- Não temos certeza disto também.<br />

Apenas vivemos esta constatação e se os<br />

depura<strong>do</strong>res de Zur-Kwa se mantiverem<br />

em zero, acho que estes níveis continuarão<br />

onde estão.<br />

Neste ponto, Zeuez levantou-se de<br />

sua cadeira, consideran<strong>do</strong> já ter toma<strong>do</strong><br />

bastante tempo de seu líder, que gostava<br />

de um bom papo e com a mão sobre o<br />

ombro de Velz, disse:<br />

-Bem, Fanna, acho que a nossa<br />

tempestade já passou e...<br />

-Esperem, Tutkan disse para irem<br />

à Berla buscar Thorc e isto pode ser mais<br />

tarde. Podem ir amanhã ce<strong>do</strong> e enquanto<br />

isso descansem um pouco. Aproveitem a<br />

folga e vão até o Cassino e bebam um gole<br />

por mim. E um conselho: Fiquem longe das<br />

garotas, pois em sete tempos terão uma<br />

viagem pela frente.<br />

- Está certo – disse Zeuez, baten<strong>do</strong><br />

as costas de Velz, que se mostrava to<strong>do</strong><br />

excita<strong>do</strong> com a idéia – Vamos meter nossos<br />

narizes de baixo de um bom banho e<br />

descansar...<br />

37


- Mas e o nosso gole – atropelou<br />

Velz – Afinal não é to<strong>do</strong> dia que se pode<br />

beber mais um por conta <strong>do</strong> nosso líder!!!<br />

- Sim, sim, rapazes. Agora vão –<br />

disse Fanna, gesticulan<strong>do</strong> com os braços,<br />

como se estivesse nadan<strong>do</strong> para trás –<br />

Zuila cuidará de vocês.<br />

Fanna os conduziu pela porta lateral, até a<br />

sala, e pediu que a jovem os<br />

acompanhasse até seus aposentos.<br />

Zuila era uma daquelas garotas de<br />

corpo esbelto e escultural, que faz com que<br />

os machos percam o fôlego. Foi o que<br />

aconteceu com Velz ao rever aqueles<br />

olhos verdes. Em to<strong>do</strong> o trajeto, até o<br />

alojamento de oficiais visitantes, ela seguia<br />

calada à frente <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Naturalmente<br />

Velz não deixava de observar todas<br />

aquelas curvas, se mexen<strong>do</strong> dentro<br />

daquele traje colante e reluzente. Zeuez se<br />

divertia, ven<strong>do</strong> a boca <strong>do</strong> seu<br />

companheiro, completamente aberta.<br />

- Comandante Zeuez – disse, ela,<br />

ao chegarem ao alojamento – importa-se<br />

em ficar com seu auxiliar, na mesma<br />

célula? Estamos com pouco espaço e...<br />

38


- Ora, o que é isto Zuila. Sem<br />

problemas. Eu e... – apontan<strong>do</strong> para o<br />

companheiro.<br />

- Velz, meu nome é Velz – ele<br />

atropelou.<br />

- Muito prazer - disse ela, num<br />

grande sorriso – sou Zuila e seja bem<br />

vin<strong>do</strong>!<br />

Velz não conseguia largar a mão<br />

da garota.<br />

- Mais tarde, isto é, d<strong>aqui</strong> a pouco,<br />

o comandante e eu iremos até o cassino e<br />

será que a veremos lá?<br />

-Sinto muito, Velz, hoje não será<br />

possível. Tenho muito trabalho para<br />

terminar. Outro dia, talvez.<br />

E dizen<strong>do</strong> isso, retirou a mão<br />

vagarosamente e se despediu com seu<br />

sorriso encanta<strong>do</strong>r. Deu meia volta e<br />

seguiu para o seu trabalho. Velz ficou ali<br />

para<strong>do</strong>, estático, escora<strong>do</strong> à porta, até que<br />

ela desaparecesse no fim <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r.<br />

- Parece que ela gostou de você –<br />

disse Zeuez, num ar provoca<strong>do</strong>r.<br />

- Ah???<br />

39


- Eu disse: Parece que ela gostou<br />

de você.<br />

-...<br />

Zeuez virou-se e ele ainda estava<br />

lá, pasmo teve que puxa-lo para dentro<br />

pelo braço e falar de novo. Mas Velz<br />

continuava em transe.<br />

Depois de fechar a porta, sacudiu Velz,<br />

novamente.<br />

- O que está acontecen<strong>do</strong>, Velz?<br />

-Estou apaixona<strong>do</strong>.<br />

Completamente apaixona<strong>do</strong>.<br />

- Ela é realmente apaixonante.<br />

- O senhor também comandante?<br />

- Sim. Conheço esta menina desde<br />

que nasceu e sempre foi assim.<br />

- Ela disse que não pode ir ao<br />

cassino, acho que vou atrás dela para<br />

convencê-la o contrário. Talvez o senhor<br />

possa intervir com o líder para liberá-la.<br />

- Ora, deixe disso, desacelere,<br />

muita calma com a filha <strong>do</strong> chefe. Vamos<br />

tomar um banho, relaxar, depois iremos ao<br />

Cassino, isso vai servir para espairecer.<br />

Tomaram um banho quente e<br />

vestiram uniformes limpos, que traziam em<br />

suas sacolas de viagem e foram ao “gole”.<br />

40


O Cassino estava cheio e com<br />

muitas garotas, como observou Zeuez.<br />

Pessoas circulan<strong>do</strong>, conversan<strong>do</strong> e<br />

beben<strong>do</strong> alguma coisa. Havia música ao<br />

fun<strong>do</strong> das conversas e risadas, com o ar<br />

impregna<strong>do</strong> de perfume e o cheiro<br />

característico de Somir, típico de lugares<br />

como aquele.<br />

Zeuez não demorou muito para<br />

encontrar alguns velhos companheiros e<br />

conheci<strong>do</strong>s, onde estava Carvelus, um<br />

velho companheiro <strong>do</strong>s tempos da<br />

academia de pilotos de reconhecimento e<br />

caça.<br />

Depois <strong>do</strong>s abraços,<br />

cumprimentos e apresentações foram até<br />

uma mesinha, ao fun<strong>do</strong>, no canto <strong>do</strong> salão<br />

e se acomodaram, logo pedin<strong>do</strong> o que<br />

beber.<br />

- E então meu velho, há quanto<br />

tempo a gente não se via? Acho que no<br />

mínimo seis ou sete perío<strong>do</strong>s, não?<br />

- Mais ou menos, Carvelus, mas<br />

diga-me, continua voan<strong>do</strong>?<br />

41


- Nunca parei e acho que se um<br />

dia parar, foi porque morri, ou descobri<br />

algo melhor.<br />

- Nada é melhor <strong>do</strong> que voar –<br />

disse Velz.<br />

- É então se eu parar...<br />

Já sabemos – atropelou Zeuez, rin<strong>do</strong> a<br />

bessa – você morreu.<br />

- E vocês, o que fazem por <strong>aqui</strong> na<br />

Base Leste?<br />

- Estávamos em missão de<br />

reconhecimento e apareceu uma daquelas<br />

tempestades pelo caminho e...<br />

Zeuez não completou a frase. As luzes se<br />

apagaram junto a um ruí<strong>do</strong> estron<strong>do</strong>so e<br />

sur<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> imediatamente de um<br />

tremor leve, mas ameaça<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong>s mu<strong>do</strong>s por instantes.<br />

As luzes vermelhas de emergência<br />

acenderam-se iluminan<strong>do</strong> o ambiente<br />

numa penumbra tênue, mostran<strong>do</strong> muitos<br />

olhos assusta<strong>do</strong>s. Suas cabeças viraram<br />

de um la<strong>do</strong> para outro, lentamente,<br />

observan<strong>do</strong> o teto, como se estivesse à<br />

procura de algo invisível.<br />

- O que está acontecen<strong>do</strong>? –<br />

perguntou Velz.<br />

42


- Carvelus, o que é isso? – reforçou<br />

Zeuez.<br />

- Não sei... Isto nunca tinha<br />

aconteci<strong>do</strong> antes!!!<br />

Neste instante as luzes voltaram<br />

ao normal, assim como o murmúrio geral.<br />

- Acho que o perigo já passou, <strong>do</strong><br />

contrário ainda estaríamos na penumbra –<br />

concluiu Carvelus.<br />

- Será que tem a ver com o Codset<br />

que o comandante Tutkan passou para o<br />

nosso líder Fanna? – perguntou Velz, para<br />

Zeuez ao seu la<strong>do</strong>.<br />

- Hei! Que negócio é este de<br />

Codset?<br />

- Não é nada – respondeu Zeuez.<br />

- Como não é nada. Não se passa<br />

um Codset para dizer nada. O que havia<br />

neste Codset, Zeuez?<br />

- Não sabemos. Fanna não nos<br />

disse nada – e viran<strong>do</strong>-se para Velz – não<br />

creio que tenha a ver uma coisa com a<br />

outra.<br />

A garçonete apareceu trazen<strong>do</strong><br />

uma bandeja com uma garrafa de Somir,<br />

43


outra com água, três copos e um baldinho<br />

com cubos de gelo.<br />

- Até que enfim – disse Velz, num<br />

grande suspiro.<br />

A garota serviu os copos e retirouse.<br />

Cada um se serviu das misturas<br />

que desejavam. Zeuez pos um pouco de<br />

água, Velz <strong>do</strong>is cubos de gelos e Carvelus<br />

preferiu puro.<br />

- Vocês vão permanecer <strong>aqui</strong>, até<br />

quan<strong>do</strong>? – perguntou Carvelus molhan<strong>do</strong><br />

os bigodes, depois de um grande gole.<br />

- Não sabemos. Amanhã pela<br />

manhã vamos à Berla apanhar Thorc e<br />

traze-lo para cá. Talvez a gente vá embora,<br />

depois.<br />

- O que Thorc vem fazer <strong>aqui</strong>?<br />

- Ora, Carvelus, como posso<br />

saber?<br />

- Zeuez, me diga uma coisa, Thorc<br />

não tem transporte próprio?<br />

- Você chama aquele ferro velho,<br />

de transporte? – gracejou Velz.<br />

- Bem, to<strong>do</strong>s nós temos transporte<br />

– disse Zeuez.<br />

- E então?<br />

44


- Então eu já disse tu<strong>do</strong> o que<br />

sei...<br />

- Então que isto é muito estranho,<br />

mesmo porque a Base de Thorc não é em<br />

Berla e soman<strong>do</strong> com este Codset<br />

misterioso... Não sei, não! Acho que o<br />

velho Gideonis tem razão – disse Carvelus<br />

acaban<strong>do</strong> com o conteú<strong>do</strong> de seu copo.<br />

- Quem é este velho?<br />

- É um velho místico religioso das<br />

antigas, que diz que estamos próximos <strong>do</strong><br />

fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

- Mas isso não é novidade para<br />

ninguém. Não é preciso de misticismo e<br />

nem de religião para ver o que está<br />

acontecen<strong>do</strong>. Lembre-se que foi por aí que<br />

começaram as guerras, como diz Fanna:<br />

Enquanto houver religiões, não há paz.<br />

Esqueça disso.<br />

Carvelus não gostou de ouvir<br />

<strong>aqui</strong>lo. E com um sorriso de desprezo<br />

apanhou a garrafa e perguntou:<br />

- Vai mais uma rodada?<br />

- Não, acho que não. Temos esta<br />

missão logo ce<strong>do</strong> e precisamos manter<br />

nossas cabeças em ordem, sem ressacas.<br />

Você sabe, não há água em nossas naves.<br />

45


- Ah, ah, ah!!! Até parece que os<br />

nossos cientistas projetistas não bebem –<br />

gracejou Carvelus, se levantan<strong>do</strong> e se<br />

despedin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s amigos, que já estavam<br />

em pé – Até mais rapazes. A gente se vê<br />

por aí!<br />

Os <strong>do</strong>is cruzaram o salão <strong>do</strong><br />

Cassino e foram direto para o alojamento.<br />

No caminho Zeuez chamou a atenção de<br />

Velz por ter cita<strong>do</strong> e envio <strong>do</strong> Codset de<br />

Tutkan para Fanna.<br />

-Mas por quê? Carvelus não é de<br />

confiança?<br />

- É claro que é, mas suponha que<br />

ele venha a espalhar, a sua maneira.<br />

Qualquer coisa dita errada pode gerar<br />

confusão e pânico, ainda mais que temos<br />

um “Ilumina<strong>do</strong>” contan<strong>do</strong> histórias por aí.<br />

Nós mesmos não sabemos de nada e, uma<br />

coisa você tem que aprender. Nunca se<br />

menciona para ninguém o que acontece<br />

dentro de uma sala de coman<strong>do</strong>, e<br />

principalmente quan<strong>do</strong> se está na sala de<br />

nosso líder. Vamos esquecer o assunto por<br />

enquanto. Estou certo de que se for<br />

importante to<strong>do</strong>s saberão, dito por nossos<br />

comandantes.<br />

46


Na manhã seguinte estavam no<br />

refeitório se programan<strong>do</strong> para a viagem,<br />

quan<strong>do</strong> chegou um mensageiro trazen<strong>do</strong>lhes<br />

um envelope, endereçada ao<br />

comandante Zeuez, que imediatamente<br />

abriu e leu o seu conteú<strong>do</strong>.<br />

-A missão fora cancelada<br />

- Cancelada?<br />

- Sim, <strong>aqui</strong> diz que Thorc e sua<br />

equipe estão a caminho. Saíram de Berla<br />

ontem a noite mesmo e que devemos<br />

permanecer <strong>aqui</strong> até segunda ordem.<br />

- Esquisito, isto, hein,<br />

comandante?<br />

- É sim. Deve ter algo erra<strong>do</strong> e<br />

muito sério acontecen<strong>do</strong>.<br />

Mas <strong>do</strong> que depressa levantaram<br />

e foram até o hangar, onde estavam suas<br />

naves. Entretanto, o que procuravam os<br />

sensores Kranset, não mais estavam lá.<br />

- Os retiramos a pedi<strong>do</strong> de Berla e<br />

os acoplamos ao Codset – disse o jovem<br />

que se aproximara deles, enquanto<br />

verificavam as naves – e parece que os<br />

computa<strong>do</strong>res enlouqueceram, desde<br />

então. A radiação externa sofreu abalos<br />

pouco antes da tempestade e depois dela.<br />

47


A conversa foi interrompida com o<br />

alerta da evacuação da área. Estava para<br />

pousar um grande número de naves e este<br />

era um procedimento normal, uma vez que,<br />

as comportas ao se abrirem, uma onda<br />

radioativa entrava junto. Somente<br />

permaneciam ali, o pessoal de pistas com<br />

trajes especiais até a descontaminação e<br />

pressurização total <strong>do</strong> lugar.<br />

Em cima, nos observatórios, eram<br />

da<strong>do</strong>s os coman<strong>do</strong>s de taxiamento e<br />

manobras das aeronaves, que se uniam<br />

aos túneis e rampas de acesso para outras<br />

salas de descontaminação. Nestas salas,<br />

agia uma bateria de raios purifica<strong>do</strong>res.<br />

Tutkan e seu filho Ozy – na mesma<br />

nave – e Ur, seu outro filho, noutra nave<br />

March-1, foram os primeiros a aportar,<br />

segui<strong>do</strong> de Thorc, na nave de Prazin.<br />

Pouco depois, chegaram os comandantes<br />

de outras Bases, em suas navestransporte.<br />

Erus Fanna os aguardava no<br />

observatório central, com o seu sorriso<br />

amigo de sempre. Recebeu a to<strong>do</strong>s com<br />

48


um forte abraço e de pronto os convi<strong>do</strong>u<br />

para irem à sala de reuniões. Zuila já havia<br />

prepara<strong>do</strong> o local e organiza<strong>do</strong> as coisas,<br />

de tal mo<strong>do</strong> que a reunião poderia<br />

acontecer em curso normal e sem<br />

interrupções. Cada cadeira, com seu<br />

próprio terminal de computa<strong>do</strong>r, to<strong>do</strong>s os<br />

relatórios e pastas pessoais, necessárias.<br />

To<strong>do</strong>s tomaram seus lugares.<br />

- Senhores, - disse Fanna, dan<strong>do</strong><br />

início aos trabalhos – Estamos<br />

atravessan<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong> crítico, como<br />

sabem, e espero que saiamos d<strong>aqui</strong>, com<br />

a solução para o problema. Thorc, por<br />

favor, queira começar nos trazen<strong>do</strong> a<br />

situação real de Berla.<br />

- Fanna, senhores, não quero ser<br />

alarmista, mas temos um problema nas<br />

mãos e receio ser fatal. Se não, vejamos:<br />

Primeiro, os depura<strong>do</strong>res de ar em Berla<br />

apresentam sinais de desgaste em seus<br />

núcleos.<br />

Detectamos vazamentos e os<br />

consertamos, mas os dutos estão em<br />

franca decomposição. Não devemos<br />

duvidar que as outras Bases também não<br />

49


apresentem este defeito. Segun<strong>do</strong>.<br />

Constatamos que o núcleo <strong>do</strong> planeta está<br />

em franca agitação, o que significa que em<br />

breve teremos movimentação das placas<br />

rochosas da crosta e consequentemente,<br />

tremores, o que certamente as nossas<br />

estruturas não agüentarão. Terceiro. Zur-<br />

Kwa me alertou no caminho; se os<br />

depura<strong>do</strong>res pifarem, corremos risco<br />

externo, que significa o aumento de<br />

radiação provocan<strong>do</strong> estresse nos vários<br />

núcleos, liberan<strong>do</strong> as misturas de<br />

hidrogênio e oxigênio e nesse caso, basta<br />

um, para provocar combustão espontaria e<br />

até mesmo a implosão <strong>do</strong> planeta. E em<br />

quarto lugar, se isto tu<strong>do</strong> vazar, sem<br />

dúvida provocará pânico, desesperança,<br />

desordem e por conseqüência o fim de<br />

tu<strong>do</strong>, antes de piscarmos os olhos. Em<br />

suma, as esperanças de um futuro estão<br />

seriamente ameaçadas. Todas as<br />

providências cabíveis já foram dadas e<br />

ordenadas ao pessoal de reparos e<br />

estamos torcen<strong>do</strong> para que Berla seja a<br />

pior avaria que temos.<br />

Erus Fanna ouviu atentamente o<br />

relato <strong>do</strong> companheiro, alisan<strong>do</strong> a sua<br />

50


arba e viajan<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong>s tempos. As<br />

coisas estavam começan<strong>do</strong> a se<br />

atropelarem umas nas outras. Dirigiu-se,<br />

então, ao “pai da química”.<br />

- O que você tem a dizer, Zur-<br />

Kwa?<br />

- Bem, em nossos laboratórios,<br />

fizemos as análises com o comportamento<br />

<strong>do</strong> solo, as previsões não são nada boas e<br />

confirmam tu<strong>do</strong> o que Thorc acaba de nos<br />

dizer.<br />

- Diga Mathews, você acha que<br />

corremos risco de intoxicação alimentar,<br />

devi<strong>do</strong> ao vazamento de Berla? –<br />

questionou Fanna.<br />

- Não posso garantir a qualidade<br />

de alimentos desta remessa, tanto que já<br />

pedi revisão completa em todas as<br />

unidades embaladas. Contu<strong>do</strong>, perdemos<br />

um sexto <strong>do</strong> que foi embala<strong>do</strong> até agora.<br />

Seria recomendável racionar a alimentação<br />

e a água, pelo menos até termos certeza<br />

<strong>do</strong>s fatos. Não podemos nos esquecer que<br />

temos <strong>do</strong>is mortos e vários casos de<br />

intoxicação radioativa em nossos<br />

ambulatórios.<br />

- Creio que se não forem toma<strong>do</strong>s<br />

to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s, muitos morrerão.<br />

51


- Ambhórius, e as nossas<br />

fazendas?<br />

- Tu<strong>do</strong> isso que foi fala<strong>do</strong> acontece<br />

na fazenda Um. Na fazenda Dois já há<br />

bastante tempo temos diminuí<strong>do</strong> a<br />

produção e pelas projeções<br />

computa<strong>do</strong>rizadas em seis perío<strong>do</strong>s não<br />

teremos mais água potável. Na Três e na<br />

Quatro, embora sobrecarregadas ainda<br />

estão normais.<br />

- Tutkan?<br />

- Penso que só temos uma<br />

alternativa se quisermos continuar vivos.<br />

Sair d<strong>aqui</strong> deste planeta o mais breve<br />

possível.<br />

Fanna levantou-se, com o cenho<br />

preocupa<strong>do</strong> e foi até a mesinha ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

console de Tele-externo e lá apanhou <strong>do</strong>is<br />

rolos, conten<strong>do</strong> plantas e medições. Voltou<br />

e perguntou a Thorc, que revisava as<br />

variáveis no mapa <strong>do</strong> planeta, no terminal<br />

de computa<strong>do</strong>r a sua frente,<br />

- Thorc, quanto tempo ainda<br />

temos?<br />

- Não sei. Difícil dizer.<br />

- Quanto à contaminação, se<br />

mantivermos vigilância constante, no<br />

52


máximo um ano, talvez um pouco mais, um<br />

ou <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s. Devemos estar<br />

prepara<strong>do</strong>s para antes disso. O problema<br />

principal está numa avaliação melhor sobre<br />

a agitação das placas, Zur-Kwa é<br />

autoridade nisso.<br />

Zur-Kwa parecia absorto, com o<br />

olhar perdi<strong>do</strong>, no entanto, saiu falan<strong>do</strong> sem<br />

tirar os olhos <strong>do</strong> além.<br />

- Penso que neste ponto, as coisas<br />

são diferentes, diria até imprevisíveis. Não<br />

temos meios de prever e nem avaliar os<br />

abalos, tampouco suas intensidades e<br />

muito menos como agem, ou quan<strong>do</strong> o<br />

farão,<br />

De certa maneira estamos cegos.<br />

Também acho que as nossas estruturas,<br />

mesmo com pequenos abalos e<br />

constantes, não agüentarão por muito<br />

tempo. Estas agitações de núcleos de<br />

planetas, da maneira que o nosso está, se<br />

apresenta em um campo desconheci<strong>do</strong><br />

para nós. Isto jamais aconteceu e nunca<br />

estudamos esta questão. Não podemos<br />

confiar. Nossos sismógrafos dizem que o<br />

solo, digo, o núcleo está se expandin<strong>do</strong>,<br />

53


movimentan<strong>do</strong> as placas <strong>do</strong> planeta como<br />

um to<strong>do</strong> aleatoriamente o que significa<br />

dizer que a crosta <strong>do</strong> planeta está em<br />

movimento. Outra fatalidade está em nossa<br />

magnetosfera que em breve, muito breve<br />

teremos seus pólos inverti<strong>do</strong>s,quer dizer,<br />

de um momento para outro, podemos ter<br />

novidades. Tutkan tem razão quan<strong>do</strong> diz<br />

que a nossa única esperança é o projeto<br />

Pakeus, e o quanto antes, melhor.<br />

Fanna introduziu um disquete em<br />

seu terminal e começou sua narrativa, com<br />

toda calma, procuran<strong>do</strong> assim, desfazer o<br />

desânimo presente visíveis em alguns<br />

olhos.<br />

- Pois bem, senhores, os<br />

acontecimentos estão se precipitan<strong>do</strong><br />

muito rapidamente, sem querer ser<br />

redundante e com tristeza vejo que o<br />

nosso mun<strong>do</strong> agoniza e ao que parece,<br />

irreversivelmente. Se encararmos a<br />

sobrevivência e a continuação de nossa<br />

espécie como o fator número um, e para<br />

isso, em outro planeta, os nossos<br />

problemas não menores.<br />

54


Para sairmos d<strong>aqui</strong>, ainda não<br />

temos motores suficientemente<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s, embora já tenhamos um<br />

combustível capaz para a tarefa, o KR-7,<br />

segun<strong>do</strong> Tutkan. E depois de ouvir as<br />

péssimas condições em que estamos.<br />

Ocorreu-me o seguinte: Devemos achar<br />

um meio de montar nossa nave e se<br />

possível as outras, de apoio, lá em cima<br />

em órbita, assim como fizemos nas<br />

estações orbitais e com os telescópios de<br />

longo alcance. Precisarei de suas mentes<br />

para fazer isto. Quanto ao risco de<br />

contaminação <strong>do</strong> ar e água, sugiro que o<br />

programa alimentar seja desenvolvi<strong>do</strong> em<br />

nossas estações orbitais, e isto pode ser<br />

feito agora mesmo. Aqui estão as plantas<br />

da grande nave... Por favor, reparem em<br />

seus terminais... E logo a seguir, as outras<br />

duas, menores, que serão os nossos<br />

celeiros. Vejam... Todas as partes externas<br />

já estão fundidas... Cada depósito... cada<br />

laboratório... tu<strong>do</strong> devidamente<br />

programa<strong>do</strong>. O que temos de fazer é,<br />

levar isto tu<strong>do</strong> lá para cima e montar o<br />

quebra-cabeças lá mesmo. O que acham?<br />

- É uma boa idéia – disse Thorc –<br />

mas acho que as peças destes<br />

55


inquedinhos, principalmente as da<br />

grande nave, são grandes demais para os<br />

reboca<strong>do</strong>res, até mesmo para os<br />

cargueiros Mir.<br />

- Simples – cortou Zur-Kwa –<br />

repartiremos as peças <strong>do</strong> tamanho<br />

suportável e que caibam nos cargueiros e<br />

re-soldamos, lá em cima.<br />

- Bravos rapazes! – Disse Fanna,<br />

com um sorriso alivia<strong>do</strong> – Vamos ao<br />

trabalho. Temos muito que planejar e fazer.<br />

Se nós conseguimos construir edifícios<br />

dentro de montanhas, montar uma nave no<br />

espaço será uma brincadeira de criança – e<br />

uma injeção de ânimo e otimismo, Fanna<br />

continuou – Já posso ver, nossas naves<br />

desbravan<strong>do</strong> o Universo, aprenden<strong>do</strong> os<br />

mistérios <strong>do</strong> espaço sideral – ele brincava<br />

com a maquete da Kosmos- mapean<strong>do</strong> as<br />

estrelas, outras galáxias e encontran<strong>do</strong> um<br />

planeta que nos acolha...<br />

Como sempre, a forte<br />

determinação de Erus Fanna, aliada as<br />

inteligências incomuns e o otimismo<br />

valente, os problemas em sua maioria<br />

eram encara<strong>do</strong>s como passatempos. Mas<br />

56


agora, a coisa era séria demais e tinham o<br />

tempo como maior inimigo.<br />

Durante muitos dias e muitas<br />

noites, foram traça<strong>do</strong>s os planos de ação.<br />

Zur-Kwa com sua genialidade, conseguiu<br />

diminuir a força <strong>do</strong> KR-7 diluin<strong>do</strong>-o em<br />

soluções adequadas. Tutkan observava<br />

aquelas modificações com espanto,<br />

censuran<strong>do</strong>-se por não ter pedi<strong>do</strong> ajuda<br />

antes. Aqueles intrinca<strong>do</strong>s conjuntos de<br />

números eram-lhe desconheci<strong>do</strong>s. A<br />

genialidade daquele baixinho era<br />

surpreendente à medida que todas as<br />

misturas aplicadas no KR-7 anulavam o<br />

eletron que transformava o combustível em<br />

uma solução auto-explosiva.<br />

Com a ajuda de Thorc, fora<br />

produzi<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> um material<br />

sintético-metaliza<strong>do</strong>. Esta liga chamaramna<br />

de Trillium; que respondera<br />

satisfatoriamente no fabrico <strong>do</strong>s motores.<br />

Em <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s, os cargueiros,<br />

reboca<strong>do</strong>res e naves transportes, assim<br />

como os March-1, receberam a nova<br />

tecnologia. Os reboca<strong>do</strong>res sofreram<br />

57


outros melhoramentos, tais como grandes<br />

braços mecânicos, adequan<strong>do</strong>-se à nova<br />

realidade, promoven<strong>do</strong> rapidamente a<br />

montagem das naves.<br />

No quarto perío<strong>do</strong>, as naves<br />

transportes e tu<strong>do</strong> o mais que pudesse se<br />

mover, receberam novos instrumentos de<br />

bor<strong>do</strong>, sistemas de navegação e motores<br />

readapta<strong>do</strong>s ao KR-7.<br />

O ano deste planeta tinha<br />

dezesseis perío<strong>do</strong>s de vinte o oito dias e lá<br />

pelo sétimo perío<strong>do</strong>-daquele ano os abalos<br />

sísmicos tornaram-se mais freqüentes e<br />

como conseqüência, diversas avarias<br />

detonavam o sistema de depuração de ar e<br />

água, principalmente em Berla. Apesar de<br />

to<strong>do</strong>s os esforços e vigilância constante,<br />

muitos a<strong>do</strong>eciam e morriam. Mathews e<br />

depois Ambhórius, desativaram as<br />

estações fazendas, uma vez que além de<br />

contaminadas, a maior parte delas, não<br />

absorviam a reciclagem pelo Transprotton.<br />

Suas colheitas eram pobres em nutrientes.<br />

No começo <strong>do</strong> oitavo perío<strong>do</strong> o<br />

pessoal de Berla foi transferi<strong>do</strong> para outras<br />

58


Bases, sen<strong>do</strong> que em sua maioria, para a<br />

estação orbital Poniack, onde se<br />

desenvolvia duas fazendas, com duas<br />

espécies de plantas comestíveis, aquelas<br />

que possuíam maior valor alimentício,<br />

sen<strong>do</strong> elas Frizalis paniculata e Chlorella.<br />

No décimo perío<strong>do</strong>, a maior parte<br />

das naves, estava em plena montagem<br />

final, em órbita de Someron, que ao longe<br />

se mostrava ser uma imensa bola amarela.<br />

Os trabalhos eram executa<strong>do</strong>s<br />

com toda a urgência.<br />

No planeta, a cada dia que<br />

passava, a sobrevivência tornava-se mais<br />

difícil. Não havia como evitar. As crianças e<br />

os mais velhos ocupavam as listas de óbito<br />

e os nascimentos eram fatais, para os<br />

bebes e suas mães.<br />

No décimo - primeiro perío<strong>do</strong>,<br />

Verna e Solon – esposa e filho caçula de<br />

Tutkan – a<strong>do</strong>eceram e os médicos foram<br />

unânimes em diagnosticar a morte<br />

eminente causada por uma espécie rara de<br />

inanição <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is seres. O sofrimento de<br />

59


Tutkan o deixou desorienta<strong>do</strong>, apático,<br />

completamente sem ação. Foi até Fanna e<br />

pediu o seu afastamento <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> da<br />

Base-Meridional-Oeste. Para cuidar e<br />

passar com seus queri<strong>do</strong>s os seus últimos<br />

momentos. Para tal indicou Zeuez como<br />

substituto. Fanna con<strong>do</strong>í<strong>do</strong> concor<strong>do</strong>u,<br />

sem, contu<strong>do</strong> destituí-lo de to<strong>do</strong>, pois<br />

muitas decisões, as de natureza extrema,<br />

assim como a incorporação de<br />

computa<strong>do</strong>res de última geração às novas<br />

máquinas espaciais, deveriam estar sob<br />

sua tutela. Tão somente seria chama<strong>do</strong> em<br />

caso de urgência urgentíssima.<br />

Neste mesmo perío<strong>do</strong> as Bases<br />

Borkus e Jhar, de produção alimentícia,<br />

explodiram quase que simultaneamente,<br />

devi<strong>do</strong> as suas proximidades. Os<br />

depura<strong>do</strong>res e conversores de Thorc<br />

tiveram suas fadigas extremas. Os<br />

sensores Kranset apontaram<br />

imediatamente uma contagem alta e<br />

subin<strong>do</strong>. Velz constatou, em uma de suas<br />

patrulhas, uma radiação de setenta e seis,<br />

ponto oito Celtz na região de Mirviam e<br />

Vlaupora. Era incrível ver a formação de<br />

ciclones em combustão espontânea. Algo<br />

60


até então inédito. Todas as notícias e<br />

situações, a cada tempo tornavam-se mais<br />

desespera<strong>do</strong>ras. Borkus e Jhar não<br />

deixaram sobreviventes e a terceira Base<br />

Alimentar, Kahal apresentava nos seus<br />

bancos de da<strong>do</strong>s contaminação suficiente<br />

para explodir em questão de momentos.<br />

As estruturas <strong>do</strong> subsolo<br />

apresentavam estar em seus limites<br />

máximos com alguns setores em pleno<br />

desmoronamento.<br />

Os andamentos das obras no<br />

espaço, embora acelera<strong>do</strong>s, não<br />

acompanhavam o fluxo de acontecimentos<br />

em Someron. Erus Fanna sabia que o fim<br />

era próximo e seus esforços haviam<br />

excedi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os limites. Tu<strong>do</strong> agora<br />

era uma questão de tempo e uma boa <strong>do</strong>se<br />

de sorte.<br />

No fim <strong>do</strong> décimo - primeiro<br />

perío<strong>do</strong> a companheira e o caçula de<br />

Tutkan não resistiram e morreram, com<br />

diferença de um tempo (hora local). Isto<br />

fora demais para ele. Entrou em choque,<br />

quase perden<strong>do</strong> a razão, se revoltan<strong>do</strong><br />

61


contra tu<strong>do</strong> e contra to<strong>do</strong>s. O seu<br />

pensamento era apenas um: Morrer. Suas<br />

filhas Zart e Walln e os seus outros <strong>do</strong>is<br />

filhos. Apollum e Ozy, com muita paciência<br />

e to<strong>do</strong> o amor possível, trouxeram o pai à<br />

razão naquele perío<strong>do</strong> de luto e muitas<br />

dificuldades para a família que sempre fora<br />

tão unida.<br />

Zeuez, neste perío<strong>do</strong> fez o<br />

possível e o impossível para não<br />

incomodar seu comandante, inclusive nas<br />

questões de disciplina em Krópitus .<br />

Contu<strong>do</strong>, as coisas não iam para frente,<br />

pelo menos, não no ritmo que precisavam.<br />

Aquela base estava contaminada pelo<br />

maior inimigo que poderiam enfrentar : O<br />

desânimo.<br />

Quan<strong>do</strong> Tutkan voltou ao mun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s úteis e reassumiu seu coman<strong>do</strong>, o<br />

programa espacial tomou grande impulso,<br />

começan<strong>do</strong> a se definir e finalmente a<br />

grande nave Kosmos passou a ser<br />

montada em seu interior.<br />

No final <strong>do</strong> décimo - terceiro<br />

perío<strong>do</strong>, as cabines de coman<strong>do</strong> estavam<br />

62


concluídas,com seus módulos<br />

acondiciona<strong>do</strong>s no esqueleto da nave.<br />

A cada módulo pronto, entravam em<br />

operação com mais e mais tripulantes<br />

sen<strong>do</strong> trazi<strong>do</strong>s e toman<strong>do</strong> conhecimento<br />

nas novas instalações, assim como seus<br />

funcionamentos.<br />

Tutkan, Zur-Kwa, Mathews,<br />

Ambhórius e depois Thorc, tomaram seus<br />

coman<strong>do</strong>s no espaço fican<strong>do</strong> na superfície,<br />

Fanna no monte Pakeus e Zeuez, em<br />

Krópitus.<br />

As combustões espontâneas e<br />

tempestades eram freqüentes, tornan<strong>do</strong><br />

por demais perigosas as missões de<br />

reconhecimento e por isso mesmo,<br />

canceladas por ordem de Erus Fanna.<br />

Foram planta<strong>do</strong>s oito sensores<br />

Kranset, em pontos estratégicos de<br />

Someron e liga<strong>do</strong>s diretamente aos<br />

computa<strong>do</strong>res das Bases ativadas e à<br />

Kosmos. Mostravam que to<strong>do</strong>s os limites<br />

previstos estavam ultrapassa<strong>do</strong>s, não<br />

haven<strong>do</strong> mais segurança em qualquer<br />

ponto <strong>do</strong> planeta. Enormes rachaduras no<br />

63


solo se desprendia o magma <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong><br />

planeta, levantan<strong>do</strong> paredes de fogo em<br />

explosões espetaculares. Estas fendas aos<br />

poucos transformava antigos vales em rios<br />

de lava.<br />

Os cargueiros passaram a<br />

transportar o pessoal de superfície e os<br />

alojan<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> e qualquer espaço que<br />

houvesse nas instalações da Kosmos, nas<br />

estações orbitais e por fim nos próprios<br />

cargueiros, fican<strong>do</strong> um pessoal reduzi<strong>do</strong><br />

nas Bases Leste e Oeste que resistiam à<br />

fúria <strong>do</strong> planeta.<br />

As bases Celeiros, já desativadas<br />

e esvaziadas, foram explodin<strong>do</strong>, uma após<br />

outra, em menos de meio perío<strong>do</strong>, em<br />

exatamente dez dias. As estruturas de<br />

Pakeus e Krópitus, cediam, forman<strong>do</strong><br />

rachaduras enormes nas paredes,<br />

desprenden<strong>do</strong> calor vin<strong>do</strong>s das entranhas<br />

<strong>do</strong> planeta, até que Erus Fanna decidiu<br />

subir com os restantes da superfície.<br />

Ainda não estavam concluídas as<br />

naves- celeiro quan<strong>do</strong> numa das estações<br />

orbitais surgiram complicações por<br />

64


excesso de população. Havia um começo<br />

de revolta encabeçada por Carvelus, que<br />

se tornara um líder inconveniente<br />

transcen<strong>do</strong> intrigas e brigas por<br />

alimentação e espaço. Ele possuía uma<br />

espécie de <strong>do</strong>mínio e liderança<br />

principalmente aos mal informa<strong>do</strong>s.<br />

Contava com alguns seres inteligentes em<br />

seu apoio principalmente por Gideonis e<br />

seus discípulos que o deixava mais<br />

confiante. Em seu discurso dizia que os<br />

ocupantes das outras naves tinham<br />

instalações de primeira, com espaço até<br />

para jogos e dispunham de excelente<br />

comida, enquanto que ali, estavam to<strong>do</strong>s<br />

aperta<strong>do</strong>s e tinham de racionar suas<br />

porções de água e comida, de péssima<br />

qualidade. Temos de exigir os nossos<br />

direitos – dizia - e eles tem que nos<br />

respeitar como seres de mesma espécie,<br />

além de desejar voltar para as Bases.<br />

A revolta estourou com formas e<br />

sentimentos bélicos. Tomaram o coman<strong>do</strong><br />

da estação orbital, e no empurra, empurra<br />

a fatalidade se desempenhou em tragédia<br />

com a morte estúpida e violenta <strong>do</strong> então<br />

comandante, Mathew. Entretanto momento<br />

65


antes de sua morte enviara um Codset<br />

para Fanna, relatan<strong>do</strong> a situação que se<br />

apresentava lá.<br />

Erus Fanna, ainda no monte<br />

Pakeus, incrédulo, determinou a Tutkan,<br />

isolar Carvelus, antes que se matassem<br />

uns aos outros, causan<strong>do</strong> reações<br />

precipitadas ou coisa pior, atingin<strong>do</strong> outras<br />

naves ou estações.<br />

- Faça-os ver – disse – o que já<br />

conseguimos trabalhan<strong>do</strong> juntos, uni<strong>do</strong>s.<br />

Não podemos desistir agora que estamos<br />

no final da etapa mais importante de<br />

nossas vidas. Estamos viven<strong>do</strong> um<br />

momento histórico, uma façanha jamais<br />

imaginada antes. Precisamos nos manter<br />

uni<strong>do</strong>s.<br />

- Como posso chegar até lá sem<br />

que haja troca de tiros, eles estão arma<strong>do</strong>s<br />

até os dentes e além disso, fizeram muitos<br />

reféns e não reivindicam nada !<br />

- Tut, use sua imaginação. Faça o<br />

seguinte: Organize uma votação para<br />

saber quem quer ir para o Novo Mun<strong>do</strong>, e<br />

quem quer ficar. Depois de estar com o<br />

resulta<strong>do</strong>, seja qual for, passe os filmes<br />

que temos, mostran<strong>do</strong> qual a situação <strong>aqui</strong><br />

66


em baixo. Então faça nova votação. Se<br />

alguém ainda quiser vir para cá, arrume um<br />

transporte grande, ponha-os dentro e os<br />

mande até <strong>aqui</strong> no monte Pakeus, que<br />

ainda está de pé. Será exatamente neste<br />

transporte que Zeuez com seu pessoal de<br />

Krópitus e eu com o meu, subiremos até aí.<br />

Você tem <strong>do</strong>is dias para resolver este<br />

assunto e no terceiro dia, que seja feita a<br />

viagem de troca. Está certo?<br />

- Vou tentar, Erus.<br />

- Não tente. Faça. Nos veremos<br />

em breve, meu amigo.<br />

Tutkan, com toda a diplomacia<br />

possível, enviou uma mensagem a<br />

Carvelus, sugerin<strong>do</strong> que eles e os seus, se<br />

reunissem no porão <strong>do</strong> cargueiro Mir-6 – o<br />

único ainda ativo nas questões de<br />

transporte – e assim fosse feita uma<br />

assembléia e encontrar uma solução<br />

pacífica para o impasse.<br />

- Não haverá sanções pelo<br />

lamentável acidente que ocasionou a<br />

morte de Mathew ? – perguntou Carvelus.<br />

- Não haverá – disse, Tutkan, um<br />

tanto contraria<strong>do</strong>, mas seguin<strong>do</strong> as<br />

instruções de Fanna.<br />

67


Então nos encontraremos no Mir-6, hoje,<br />

dentro de três tempos, se está bom para<br />

você.<br />

- Está certo. Em três tempos. Mais<br />

uma coisa, quero a sua palavra de que<br />

to<strong>do</strong>s estarão desarma<strong>do</strong>s, assim como<br />

nós. Apenas queremos dar um fim neste<br />

problema.<br />

- Tutkan, não posso garantir isso,<br />

afinal, to<strong>do</strong>s estão revolta<strong>do</strong>s e<br />

desespera<strong>do</strong>s.<br />

- Mas não há porque se<br />

desesperar. Vamos apenas nos reunir e<br />

fazermos uma votação, com total<br />

democracia, como sempre o fizemos. Se<br />

alguém quiser voltar para as Bases de<br />

Someron, será trata<strong>do</strong> com respeito e feito<br />

a sua vontade. Tu<strong>do</strong> num clima pacífico e<br />

ordeiro.<br />

- Não sei – disse, Carvelus, o que<br />

desejam, então?<br />

- Talvez, voltar para Someron seja<br />

o que desejamos.<br />

- Então está combina<strong>do</strong>, em três<br />

tempos nos encontraremos no Mir-6 e<br />

votaremos – encerrou, Tutkan, já perden<strong>do</strong><br />

a paciência.<br />

68


Na primeira contagem, cerca de<br />

oito mil seres, declararam suas intenções<br />

de voltarem ao planeta. Então, habilmente,<br />

Tutkan autorizou a projeção <strong>do</strong> filme,<br />

mostran<strong>do</strong> o que encontrariam lá em baixo<br />

e ordenou a segunda votação, tal qual<br />

Fanna havia sugeri<strong>do</strong>. Neste mesmo<br />

instante, os falantes de comunicação<br />

interna <strong>do</strong> cargueiro, noticiavam que<br />

Krópitus estava em chamas, totalmente<br />

destruída. A votação foi interrompida por<br />

instantes, entran<strong>do</strong> no telão as imagens <strong>do</strong><br />

local, modifican<strong>do</strong> sensivelmente os<br />

desejos, contrarian<strong>do</strong> Carvelus e seus<br />

chega<strong>do</strong>s. Surgiu, no final da contagem,<br />

<strong>do</strong>is mil e seiscentos e nove seres com o<br />

desejo firme de voltar.<br />

Tutkan combinou com Carvelus<br />

para que a viagem de retorno se desse no<br />

mesmo dia, dan<strong>do</strong> o tempo necessário de<br />

apanharem os seus pertences.<br />

Mais, tarde na Kosmos, enviou<br />

uma mensagem à Fanna, comunican<strong>do</strong><br />

como havia finaliza<strong>do</strong> a questão e para os<br />

preparos da troca, que segun<strong>do</strong> seus<br />

cálculos, poderia ser feita em sete tempos.<br />

69


A Base Meridional Oeste, em<br />

Krópitus, estava completamente em<br />

chamas quan<strong>do</strong> Zeuez ordenou a sua<br />

evacuação. Na corrida desabalada, <strong>do</strong><br />

“salve-se quem puder”, em direção <strong>do</strong>s<br />

transportes, Zeuez foi atingi<strong>do</strong> por<br />

estilhaços em meio às pequenas explosões<br />

nos túneis de acesso ao hangar.<br />

Imobiliza<strong>do</strong>, e bastante feri<strong>do</strong>, pediu para<br />

Velz organizar a evacuação, favorecen<strong>do</strong>,<br />

primeiro, as mulheres e crianças no envio<br />

para o Monte Pakeus, onde Fanna já havia<br />

prepara<strong>do</strong> as acomodações. Neste mesmo<br />

tempo, três naves transportes, pequenas,<br />

traziam médicos e medicamentos.<br />

Enquanto isso, na Base Meridional<br />

Leste, no Monte Pakeus, ficava<br />

praticamente deserta, apenas com Fanna,<br />

Zuila e alguns seres necessários para a<br />

manutenção das comunicações. Era<br />

preciso que to<strong>do</strong>s quantos pudessem<br />

ajudar, fossem manda<strong>do</strong>s em auxílio de<br />

Zeuez e os seus – disse, Fanna.<br />

Numa ação rápida e ordenada,<br />

Velz conseguiu despachar a to<strong>do</strong>s e trouxe<br />

consigo, em seu March-1, seu comandante<br />

70


e amigo, Zeuez, em coma. Tão logo<br />

partiram, uma explosão colossal, acabou<br />

com o que ainda restava de Krópitus . _ Foi<br />

por um triz – disse, Velz consigo mesmo,<br />

dan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> nos motores de sua nave para<br />

não receber em cheio os detritos que<br />

voavam em sua direção.<br />

Dois tempos, após, chegava ao<br />

Monte Pakeus o cargueiro Mir-6, vin<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

espaço. O pouso no pé da montanha, foi<br />

difícil. As plataformas pressurizadas de<br />

desembarque e as rampas condutoras de<br />

pessoal, não funcionavam. Havia uma<br />

desordem completa, nada estava no lugar.<br />

Nos túneis, que acoplavam a nave aos<br />

portões da montanha jaziam algumas<br />

carcaças e três transportes pequenos,<br />

desativa<strong>do</strong>s, apresentan<strong>do</strong> muito calor<br />

avarias múltiplas , por falta de conservação<br />

ou manutenção, há mais de oito perío<strong>do</strong>s.<br />

Nestas condições, os passageiros<br />

<strong>do</strong> Mir-6, obrigaram-se a vestir trajes<br />

adequa<strong>do</strong>s contra poluição e radiação, e<br />

fazer o trajeto até o centro <strong>do</strong> Monte, a pé,<br />

levan<strong>do</strong> os pesa<strong>do</strong>s tubos de oxigênio às<br />

costas; primitivos e a muito não usa<strong>do</strong>s,<br />

71


mas era o que tinham. Conforma<strong>do</strong>s,<br />

Carvelus e os seus se puseram em<br />

marcha. Em vista deste cenário, muitos,<br />

sequer desembarcaram e outros que já<br />

estavam fora, assim como Gideonis,<br />

voltaram para dentro <strong>do</strong> cargueiro,<br />

sorrateiramente, temerosos por alguma<br />

retalharão por parte de Carvelus ou de<br />

seus discípulos.<br />

Erus Fanna os aguardava no<br />

observatório central, que tempos antes era<br />

cheio de vida, ocupa<strong>do</strong> por muitas<br />

máquinas, antes laboratório <strong>do</strong>s<br />

computa<strong>do</strong>res, onde expuseram suas<br />

colocações, na voz de Carvelus, que agora<br />

se vestia tal qual os profetas de sua<br />

antiguidade.<br />

- Como porta-voz dessa gente,<br />

gostaria de revelar que nos sentimos<br />

discrimina<strong>do</strong>s, não ten<strong>do</strong> os nossos<br />

direitos respeita<strong>do</strong>s. Em primeiro lugar,<br />

não tínhamos as mesmas vantagens <strong>do</strong>s<br />

outros, isto é, nem espaço físico, nem água<br />

e tampouco alimentação descente.<br />

Segun<strong>do</strong>, nos sentimos mais seguros <strong>aqui</strong>,<br />

em nossos núcleos de vida, que provaram<br />

ao longo <strong>do</strong> tempo, ser eficazes contra os<br />

72


problemas de radiação externa e bem<br />

melhor acomoda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que na estação<br />

orbital. Em terceiro lugar, notamos que<br />

estavam nas estações orbitais, tão<br />

somente os seres de menor grau na<br />

comunidade. Em sua maioria<br />

trabalha<strong>do</strong>res braçais ou opera<strong>do</strong>res de<br />

máquinas de escavação e planta<strong>do</strong>res.<br />

Alguns como eu, <strong>do</strong>nos de inteligência e<br />

ocupantes de pontos estratégicos e<br />

experiência em ciência núcleo-molecular,<br />

fomos obriga<strong>do</strong>s a compartilhar fome e<br />

miséria, além de não termos como nos<br />

mexer, como já disse. Isto não é<br />

admissível. Em quarto lugar, somos<br />

contrários a esta utopia de aban<strong>do</strong>narmos<br />

o nosso planeta natal. Achamos que toda<br />

esta tecnologia desenvolvida, deveria estar<br />

voltada para o controle <strong>do</strong> meio-ambiente,<br />

que foi totalmente aban<strong>do</strong>nada por vocês,<br />

em função deste sonho louco de desbravar<br />

o espaço para encontrar nada, só a morte.<br />

Não acredito que se possa encontrar vida<br />

lá fora, mas, admitin<strong>do</strong> que possa existir<br />

este novo mun<strong>do</strong>, encanta<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s que lá<br />

pousassem seriam considera<strong>do</strong>s<br />

invasores. Não sabemos quais os avanços<br />

e costumes que poderiam ter e no mínimo,<br />

73


seríamos elimina<strong>do</strong>s como seres de<br />

segunda ordem. Ainda correríamos o risco<br />

de enfrentar <strong>do</strong>enças e até mesmo<br />

epidemias de pestes desconhecidas.<br />

Pensan<strong>do</strong> nesta linha, teríamos que sofrer<br />

adaptações de uma nova atmosfera e nos<br />

tornarmos mutantes, degeneran<strong>do</strong> nossa<br />

espécie, talvez nos transforman<strong>do</strong> em<br />

monstros, para não dizer criaturas<br />

indesejáveis. Não queremos fazer parte<br />

deste sonho tolo, que certamente trará a<br />

morte, para vocês que se julgam os<br />

senhores da verdade. Se tivermos que<br />

morrer, que seja <strong>aqui</strong>, bem no lugar em<br />

que respiramos o nosso primeiro ar, neste<br />

mun<strong>do</strong> ao qual pertencemos e nos<br />

pertence. Mesmo porque segun<strong>do</strong> nossas<br />

antigas profecias determinam a expulsão<br />

<strong>do</strong>s não crentes nos favorecen<strong>do</strong> com a<br />

chegada <strong>do</strong> nosso Salva<strong>do</strong>r: Krasha-<br />

Halah. Acho que com suas bênçãos e com<br />

sacrifício re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>, conseguiremos<br />

reconstruir tu<strong>do</strong>, e se algum dia voltarem,<br />

tentem reconstruir suas vidas numa das<br />

luas, pois <strong>aqui</strong>, não haverá lugar para<br />

derrota<strong>do</strong>s.<br />

74


Erus Fanna, a cada palavra que<br />

ouvia, sentia-se mais e mais ira<strong>do</strong>, pois<br />

não entendia, como alguém; e neste caso<br />

muitos alguéns; poderia ser tolo o<br />

bastante, depois de tu<strong>do</strong> o que havia si<strong>do</strong><br />

feito e amplamente divulga<strong>do</strong> e discuti<strong>do</strong><br />

para salvar o planeta?<br />

- Meus irmãos – disse ele, em voz<br />

pausada, controlada – Sei que o primeiro ar<br />

respira<strong>do</strong> por nossos pulmões define o que<br />

somos e de onde pertencemos e<br />

compreen<strong>do</strong> suas intenções... nobres... de<br />

permanecerem <strong>aqui</strong>. Mas ouçam, to<strong>do</strong>s os<br />

esforços em manter vivo o nosso mun<strong>do</strong>,<br />

se extinguiram. Inclusive você mesmo e o<br />

próprio Mathew, assessorara Thorc e<br />

chegaram a conclusão de que em breve o<br />

nosso mun<strong>do</strong> explodirá. E na melhor das<br />

hipóteses teremos lá fora, uma mistura de<br />

monóxi<strong>do</strong> de carbono, hélio e um mar de<br />

hidrogênio, abafa<strong>do</strong>s por um efeito estufa<br />

brutal, sem contar com a radioatividade e<br />

que isto durará, pelo menos um milhão de<br />

anos. Em suma, impossível, sequer<br />

imaginar em por o nariz para fora d<strong>aqui</strong>,<br />

isto se já não estivéssemos mortos. As<br />

coisas ainda estão se definin<strong>do</strong>, em uma<br />

transformação espantosa, causada pela<br />

75


eacomodação de nossas placas<br />

tectônicas, que não sabemos no que vai<br />

dar, nem Krasha-Halah sabe.<br />

Vocês to<strong>do</strong>s sabem que temos um<br />

núcleo ativo de puro metal em fusão,<br />

pronto para explodir, e ainda não se sabe<br />

quan<strong>do</strong>, e eu, não preten<strong>do</strong> estar <strong>aqui</strong> para<br />

ver. Portanto, última chamada. Quem<br />

quiser vir, será bem-vin<strong>do</strong>. Partiremos em<br />

<strong>do</strong>is tempos e nem um microm a mais. Aos<br />

que ficam, desejo-lhes boa sorte. Sei que<br />

vão precisar de toda que puderem<br />

encontrar. Ficará à sua disposição três<br />

naves transporte capazes de acolher a<br />

to<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>is March-1, da frota Zag. Todas<br />

as naves digitadas e direcionadas para o<br />

curso que iremos tomar. Elas também<br />

dispõem de comunica<strong>do</strong>res de longo<br />

alcance e com combustível necessário ao<br />

longo percurso de duas Marcas. Volto a<br />

dizer, aqueles que vierem serão bemvin<strong>do</strong>s.<br />

No vigésimo - quarto dia <strong>do</strong><br />

décimo quinto perío<strong>do</strong>, <strong>do</strong> septuagésimo -<br />

terceiro ano após guerra, a nave Kosmos<br />

estava completamente acabada e pronta<br />

76


para o início da grande viagem. Junto a<br />

ela, duas naves-celeiro, em fase de<br />

complementação, oito cargueiros Mir, três<br />

estações orbitais transformadas e<br />

equipadas com motores TTZ em<br />

homenagem aos seus cria<strong>do</strong>res: Tutkan,<br />

Thorc e Zur-Kwa, duzentos e seis<br />

pequenas naves transportes em volta de<br />

nove reboca<strong>do</strong>res. To<strong>do</strong>s devidamente<br />

prepara<strong>do</strong>s para o desafio e a realização<br />

da maior aventura até então jamais<br />

pensada: Desbravar e viajar pelo espaço<br />

sideral e explorar, quem sabe, novos<br />

mun<strong>do</strong>s.<br />

No grande dia Erus Fanna chamou<br />

to<strong>do</strong>s para os monitores e os convi<strong>do</strong>u<br />

para a oração. Seu rosto emanava uma<br />

alegria e um otimismo contagiante.<br />

- Meu povo – disse, - depois de<br />

anos de muito trabalho e de sacrifícios<br />

incontáveis, trazen<strong>do</strong>-nos muita <strong>do</strong>r em<br />

nossos corações e por vezes, até, à beira<br />

da desistência, afinal, podemos nos sentir<br />

felizes. Hoje sairemos, infelizmente, <strong>do</strong><br />

lugar onde os nossos antepassa<strong>do</strong>s<br />

viveram, construíram e depois o<br />

destruíram. Devemos nos lembrar de como<br />

77


foram suas vidas e exatamente os valores<br />

com os quais os levaram a fazer o que<br />

fizeram. Vamos, pois, levar estes da<strong>do</strong>s<br />

em nossos corações e contar para os<br />

nossos filhos, para que contem aos deles e<br />

sucessivamente to<strong>do</strong>s venham, de um<br />

mo<strong>do</strong> ou de outro, saber, como aconteceu<br />

o que aconteceu.<br />

Vamos em busca de um Novo<br />

Mun<strong>do</strong>, onde possamos viver em paz e<br />

multiplicarmos-nos, levan<strong>do</strong> o amor e a<br />

solidariedade como herança maior. Vamos<br />

jurar fidelidade, amor ao próximo, perdão<br />

aos fracos de opinião. Nunca cometer<br />

infelicidade ao conjugue nem promover tais<br />

ações. Jamais mataremos e nem nos<br />

deixaremos matar por falsas ideologias.<br />

Combateremos o mal como se fosse uma<br />

<strong>do</strong>ença, eliminan<strong>do</strong>-o cientificamente e<br />

com méto<strong>do</strong>s adequa<strong>do</strong>s, sem que nossas<br />

mãos se sujem com sangue de<br />

semelhante. Não lançaremos falso<br />

testemunho. Cuidaremos de nossos<br />

corpos, pois neles, Deus habita. A mentira<br />

e a intriga, não farão parte de nossa<br />

cultura, intenções ou palavras e que<br />

sejamos felizes enquanto vivermos.<br />

78


A cada palavra que Fanna<br />

proferia, era repetida em coro, juran<strong>do</strong> e<br />

oran<strong>do</strong>, com seus pensamentos eleva<strong>do</strong>s a<br />

Deus.<br />

Finalmente Fanna, a plenos pulmões<br />

trouxe-lhes a sentença final.<br />

- Meu povo, vamos partir. A NOVA<br />

ERA já começou.<br />

79


CAPÍTULO IV<br />

Após passarem pelo segun<strong>do</strong><br />

quadrante estelar, em curso zero <strong>do</strong>is oito<br />

um, pelo la<strong>do</strong> já conheci<strong>do</strong> em direção <strong>do</strong><br />

sol azul e frio, os engenheiros de vôo,<br />

agora, navega<strong>do</strong>res, iniciaram a confecção<br />

<strong>do</strong> mapa estelar. Na medida em que<br />

avançavam, percebiam a vastidão e seus<br />

instrumentos mostravam que seu sistema<br />

solar era um minúsculo ponto entre bilhões<br />

de sóis de diferentes magnitudes. Os<br />

maiores tinham várias vezes o tamanho de<br />

seu próprio sistema solar. Por duas vezes,<br />

em distancias longínquas, <strong>do</strong>is sóis de<br />

magnitude média orbitavam-se um ao<br />

outro, merecen<strong>do</strong> observações e estu<strong>do</strong>s<br />

por parte de Thorc e Zur-Kwa com o corpo<br />

científico Someriano.<br />

Um grande “S” se formava na<br />

horizontal, circundan<strong>do</strong> um volumoso “O”<br />

que o chamaram de Órion, assim como<br />

corpos e fenômenos importantes<br />

encontra<strong>do</strong>s eram batiza<strong>do</strong>s, ora por quem<br />

descobria, ora por nomes de grandes seres<br />

antepassa<strong>do</strong>s.<br />

80


No decorrer <strong>do</strong> tempo, os motores<br />

sofreram modificações extremas, a ponto<br />

de ser aboli<strong>do</strong> o KR-7. Desenvolveram<br />

uma energia limpa, sem poluentes após a<br />

sua queima. Assim, o rastro de poeira<br />

semelhante ao dióxi<strong>do</strong> de carbono, velho<br />

conheci<strong>do</strong> pela abundância atmosférica de<br />

Someron fazia parte <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, morto e<br />

esqueci<strong>do</strong>.<br />

A nova tecnologia desenvolvida<br />

pelo corpo de cientistas lidera<strong>do</strong>s pelos<br />

<strong>do</strong>is gênios, Thorc e Zur-Kwa era algo<br />

fantástico. Os motores RAM-THORC-KWA<br />

alimentavam-se de pura eletricidade<br />

magnética retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong><br />

próprio Universo. Novos metais eram<br />

extraí<strong>do</strong>s de asteróides e processa<strong>do</strong>s.<br />

Sua propulsão se definia através<br />

de troca de forças. Na medida em que a<br />

geração de luz ionizada era potencializada,<br />

gerava a energia necessária para<br />

deslocamento no vácuo, se aproveitan<strong>do</strong><br />

da matéria escura como muro de<br />

sustentação para o impulso. Entrementes,<br />

a velocidade para este empuxo era<br />

81


estabilizada através <strong>do</strong>s tubos de ar<br />

comprimi<strong>do</strong>.<br />

Outros engenheiros, projetistas e<br />

cientistas continuavam seus estu<strong>do</strong>s e<br />

esforços no aprimoramento <strong>do</strong>s<br />

instrumentos e equipamentos sensoriais.<br />

Os próprios computa<strong>do</strong>res geravam novos<br />

desenhos, sistemas e circuitos.<br />

Depois de <strong>do</strong>is anos e oito<br />

perío<strong>do</strong>s, podia-se dizer que viajavam em<br />

outras naves.<br />

Os pequenos Mach-1,<br />

readapta<strong>do</strong>s para a gravidade zero,<br />

contavam, agora, com três novos motores,<br />

promoven<strong>do</strong> mudanças e ajustes tanto nos<br />

instrumentos de bor<strong>do</strong>, quanto nos pilotos.<br />

Com os motores encapa<strong>do</strong>s por<br />

carenagem, se ajustavam melhor à<br />

“espaço-dinâmico”, sem perder as<br />

características aero dinâmicas. Eram<br />

verdadeiros bate<strong>do</strong>res rápi<strong>do</strong>s, num ótimo<br />

desempenho no vácuo <strong>do</strong> espaço.<br />

Formaram-se <strong>do</strong>ze coman<strong>do</strong>s<br />

com duas unidades cada. Sempre em<br />

82


patrulha de <strong>do</strong>is coman<strong>do</strong>s. As patrulhas<br />

de reconhecimento formavam um leque de<br />

trezentos e sessenta graus, com um<br />

apogeu da Kosmos, em justos dez<br />

Macrons – o seu senti<strong>do</strong> maior de distância.<br />

O Universo era tranqüilo, salvo pelas<br />

inoportunas chuvas de meteoritos, desde<br />

que entraram naquele quadrante. Com a<br />

ajuda <strong>do</strong>s bate<strong>do</strong>res March-1, a varredura<br />

era completa através das canhoneiras<br />

Prottons acrescentadas sob as pequenas<br />

asas. Mesmo assim, eram força<strong>do</strong>s a<br />

diminuir a marcha. Segun<strong>do</strong> os cálculos de<br />

Thorc, a velocidade segura seria a mínima<br />

possível acima da velocidade de escape da<br />

galáxia, cerca de 450 mil Centons por<br />

microm. Assim seus instrumentos<br />

detectariam estas ameaças a tempo de<br />

defesa, transforman<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em nada,<br />

menos <strong>do</strong> que poeira, mostran<strong>do</strong> muito<br />

bem <strong>do</strong> que eram capazes.<br />

Esses momentos eram<br />

aproveita<strong>do</strong>s para exercícios de<br />

sobrevivência no espaço.<br />

83


Sem perceber, Tutkan tinha sob<br />

seu coman<strong>do</strong>, ainda Zag, um bom conjunto<br />

de ataque e defesa, bem como nos velhos<br />

tempos. Eram ótimas máquinas armadas<br />

com excelentes pilotos.<br />

Erus Fanna divertia-se com as<br />

“batalhas” de Tutkan.<br />

Em uma destas noites, segun<strong>do</strong><br />

seus marca<strong>do</strong>res de tempo, o comandante<br />

Tutkan, convocou seu pessoal para uma<br />

palestra. Fanna era o convida<strong>do</strong> especial.<br />

- Senhores - disse Tutkan, de peito<br />

estufa<strong>do</strong> – hoje é um dia – e olhan<strong>do</strong> para o<br />

seu relógio – quero dizer noite – houve uma<br />

gargalhada geral -... -Uma noite de real<br />

importância para mim. Hoje a esquadra<br />

Zag terá o seu significa<strong>do</strong>, seu objetivo e<br />

sua missão, defini<strong>do</strong>s. Seremos uma<br />

corporação militar... com uniforme e tu<strong>do</strong> –<br />

novas gargalhadas, devi<strong>do</strong> às caretas de<br />

seu comandante -... Apesar de não termos<br />

com quem brigar além de meteoros e<br />

meteoritos “meliantes”- estouro de risos -...<br />

Bem, formaremos uma escola militar que<br />

será treinada em manobras de precisão, de<br />

ataque e defesa coletiva e individual.<br />

84


Vamos ter patentes, cargos e o<br />

aprendiza<strong>do</strong> tático-estratégico e<br />

principalmente psicológico. Onde a arte de<br />

guerrear será compreendida como:<br />

“DEFESA DE NOSSOS BENS E<br />

INTERESSES COLETIVOS”. Sem estas<br />

prerrogativas, nada faremos. Quero<br />

enfatizar que, jamais partirá de nós<br />

qualquer provocação. Como juramos ao<br />

sair de casa, não mataremos, mas<br />

combateremos o mal como se fosse uma<br />

<strong>do</strong>ença, usan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s nossos recursos<br />

necessários e disponíveis para a defesa de<br />

nossa existência. Não nos deixaremos<br />

matar por falsas ideologias. Só reagiremos<br />

se formos ataca<strong>do</strong>s e se infelizmente<br />

formos força<strong>do</strong>s a tirar a vida de outro ser.<br />

Acho que fui bem claro, não?<br />

- To<strong>do</strong>s responderam com um<br />

estron<strong>do</strong>so “Sim”.<br />

- Muito bem, resumin<strong>do</strong>, haverá<br />

uma hierarquia, somente pilotarão os<br />

March-1, a partir <strong>do</strong>s oficiais, observan<strong>do</strong><br />

de baixo para cima, tenente e seu superior,<br />

o capitão. Os capitães se reportarão a seus<br />

comandantes. As unidades permanecerão<br />

como estão, isto é, cada esquadrilha com<br />

duas unidades e onde era comandante e<br />

85


oficial, agora passa a ser, capitão e<br />

tenente.<br />

Um jovem levantou o braço,<br />

pedin<strong>do</strong> a palavra.<br />

- Pode falar Maxun.<br />

- Senhor, continuares com os<br />

mesmos pares?<br />

- Sim, se for da vontade de to<strong>do</strong>s,<br />

mas se alguém quiser trocar, este é o<br />

momento... Mais alguma pergunta?<br />

To<strong>do</strong>s pareciam satisfeitos e sem<br />

perguntas.<br />

- Então podemos continuar.<br />

- A partir de agora cada<br />

esquadrilha contará com sua própria<br />

equipe de manutenção.<br />

O líder Erus Fanna, diplomará<br />

os primeiros oficiais em suas patentes.<br />

Fanna, por favor, a palavra é sua.<br />

- Olá, rapazes, parece que o<br />

comandante Tutkan resolveu... Hum...<br />

descascar um abacaxi e me deu a faca... e<br />

o abacaxi – a sala, quase veio a baixo -... e<br />

por falar nisso, já faz tempo que não como<br />

86


um abacaxi... – a explosão de gargalhadas,<br />

não parava. Fanna aguar<strong>do</strong>u, rin<strong>do</strong> de<br />

suas próprias piadas, até que a<br />

normalidade voltou e continuou.<br />

– Estou certo, encontraremos<br />

inimigos poderosíssimos pelo caminho...<br />

asteróides e meteoritos ainda maiores – a<br />

platéia delirou em risadas tão altas quanto<br />

às de seu líder e de seu comandante<br />

Tutkan -... Mas o assunto é sério, rapazes<br />

podem apostar.<br />

- Agora mesmo estamos no meio<br />

<strong>do</strong> nada e precisamos estar prepara<strong>do</strong>s,<br />

quem sabe, para um nada maior <strong>do</strong> que<br />

nós mesmos – neste ponto, to<strong>do</strong>s<br />

choravam de tanto rir.<br />

Depois de se divertirem. Fanna<br />

assumiu um ar sério e neste tom começou<br />

a falar.<br />

- Na verdade, nunca é demais<br />

estarmos prepara<strong>do</strong>s para situações<br />

inconvenientes. Estas situações serão<br />

simuladas em to<strong>do</strong>s os seus graus.<br />

Faremos exercício de combate, tanto de<br />

defesa, como os de contra-ataque, em<br />

módulos simula<strong>do</strong>res cria<strong>do</strong>s por seres da<br />

mais alta competência e genialidade; como<br />

87


to<strong>do</strong>s sabem: Thorc e Zur-Kwa; Zart, filha<br />

<strong>do</strong> comandante Tutkan, responsável pela<br />

programação <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res de bor<strong>do</strong><br />

nos simula<strong>do</strong>res; de vosso comandante<br />

sairá às diversas situações e estratégias; e<br />

de mim, que considero o menos<br />

competente – e o humor anterior voltou.<br />

Continuan<strong>do</strong>, senhores, tenho em mãos a<br />

lista <strong>do</strong>s novos capitães e tenentes, que já<br />

fizeram seus juramentos de manter a<br />

ordem, a lei, segun<strong>do</strong> a conhecemos e o<br />

bom senso nas decisões, seguin<strong>do</strong> nossos<br />

padrões de ética e moral. A pedi<strong>do</strong> de<br />

Zuila, faremos a chamada por ordem de<br />

idade, começan<strong>do</strong> pelos mais velhos. Na<br />

medida em que forem chama<strong>do</strong>s, dirigamse<br />

a esta mesa, para receber <strong>do</strong><br />

comandante Tutkan, os diplomas, e de<br />

mim, as insígnias. Iniciaremos pelos<br />

capitães: Zeuez ... Velz ... Ozy ... Ur ...<br />

Maxun ... Kobel ... Apollun ... Tameron ...<br />

Ansuir ... Bel-Zur ... e Megaron. Agora<br />

vamos aos tenentes : Fremil ... Atum ...<br />

Lúcifer ... Margeron ... Kalibur ... Ziem ...<br />

Tunsan ... Zel ... Maritz ... Brizz ... Almus e<br />

Prott.<br />

88


Era pura alegria entre os<br />

diploma<strong>do</strong>s. Velz, em to<strong>do</strong> o tempo em que<br />

ouvia os discursos não tirava os olhos da<br />

bela Zuila, que permanecia junto ao líder.<br />

Esta é a oportunidade que eu esperava –<br />

pensava. Vou convidá-la para uma<br />

comemoração mais tarde no Cassino.<br />

Mas tal não aconteceu. To<strong>do</strong>s<br />

foram convida<strong>do</strong>s a conhecer os <strong>do</strong>is<br />

módulos simula<strong>do</strong>res recém-construí<strong>do</strong>s<br />

no hangar principal. Eram duas coisas<br />

esquisitas penduradas por <strong>do</strong>is braços<br />

mecânicos, la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> e totalmente<br />

fecha<strong>do</strong>s em suas voltas. Tão somente ao<br />

entrar, é que se percebia o que eram. Era<br />

exatamente uma réplica da cabine de<br />

coman<strong>do</strong>, de um March-1, numa projeção<br />

de realidade virtual.<br />

Ao ativar aqueles coman<strong>do</strong>s, era como se<br />

estivessem prontos para disparo na pista<br />

de lançamento da Kosmos. Apresentavam<br />

as mesmas sensações de uma nave de<br />

verdade, inclusive com pressão de<br />

empuxo, tanto no disparo, como nas<br />

manobras e por vezes as sensações de<br />

89


arrasto pela resistência de matéria escura<br />

constituinte no hiper-espaço. Era perfeito.<br />

As novidades continuavam.<br />

Foram-lhes apresenta<strong>do</strong>s os novos March-<br />

1 aperfeiçoa<strong>do</strong>s com novos instrumentos<br />

de bor<strong>do</strong> e sistemas de navegação<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de maior precisão e alcance nos<br />

sensores. Agora equipa<strong>do</strong>s com <strong>do</strong>is<br />

canhões Protton, com potência até cinco<br />

Vetrons. Os três motores passaram a ter<br />

dupla ação e reversão de mesma potência,<br />

propician<strong>do</strong> parada total em cinco microns,<br />

mesmo estan<strong>do</strong> em velocidade máxima.<br />

Apesar de não serem guerreiros, estavam<br />

bem arma<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> o seu<br />

conhecimento.<br />

Naquela noite, ficaram ocupa<strong>do</strong>s<br />

demais com todas aquelas novidades.<br />

No dia seguinte deu inicio ao<br />

curso. Eram treinamentos e exercícios<br />

entre aulas teóricas e práticas.<br />

Na escola de cadetes, os mais<br />

jovens eram seleciona<strong>do</strong>s por vários<br />

90


exames eliminatórios, sen<strong>do</strong> o primeiro<br />

deles, de natureza psíquica.<br />

Aqueles que prosseguiam, no<br />

decorrer <strong>do</strong> curso, aprendiam tu<strong>do</strong> sobre o<br />

fabrico das naves que mais tarde iriam<br />

pilotar, desde o Trillium – a liga metálica de<br />

suas carcaças e motores – até a montagem<br />

de um defletor KWA. Qualquer forma<strong>do</strong>,<br />

poderia montar o seu próprio March-1.<br />

apenas desconhecen<strong>do</strong> a montagem <strong>do</strong>s<br />

canhões Prottons; estes tão somente Thorc<br />

e Zur-Kwa, conheciam seus segre<strong>do</strong>s.<br />

A constante evolução tecnológica<br />

permitia a este povo, novas descobertas,<br />

em to<strong>do</strong>s os campos, e a maior delas foi na<br />

área de alimentação. Fora desenvolvi<strong>do</strong>,<br />

nas naves celeiro, um novo alimento<br />

produzi<strong>do</strong>s a partir de cruzas e fusões de<br />

plantas que eram curativas e<br />

enriquece<strong>do</strong>res de seus sistemas<br />

imunológicos. As <strong>do</strong>enças já não os atingia<br />

e a longevidade era uma mera<br />

conseqüência disto. A média de idade de<br />

antes, de cento e cinqüenta anos de seu<br />

tempo, analisadas pelos computa<strong>do</strong>res,<br />

projetavam aos trezentos e dez anos em<br />

91


média, dependen<strong>do</strong> apenas de suas<br />

construções genéticas.<br />

O exemplo de que estavam<br />

viven<strong>do</strong> mais e melhor, estava em Thorc, o<br />

mais velho de to<strong>do</strong>s, que após <strong>do</strong>ze anos<br />

no espaço, apresentava uma aparência<br />

mais jovem <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> iniciaram a<br />

grande viagem. Zur-Kwa atribuiu este<br />

fenômeno a falta de gravidade e as<br />

influencias <strong>do</strong>s diversos sóis; que<br />

passaram; e soma<strong>do</strong> ao sistema imunoalimentar,<br />

os efeitos da velocidade, quase<br />

a da luz.<br />

Com o passar <strong>do</strong> tempo, a grande<br />

atração constituira-se em subir até os<br />

observatórios óticos, nas cúpulas das<br />

naves, e apreciar o espaço sideral. Eram<br />

como grandes bolhas de vidro que atraia<br />

os pares românticos numa visão incomum,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> passavam por<br />

planetas de aspecto interessante, por seus<br />

anéis colori<strong>do</strong>s, ou pela curiosa existência<br />

de suas muitas luas.<br />

Enquanto isto, os mapas<br />

estelares, iam sen<strong>do</strong> desenha<strong>do</strong>s e<br />

92


dividi<strong>do</strong>s, os quadrantes numa relação<br />

estreita de espaço-velocidade-tempo.<br />

Ao passarem <strong>do</strong> sétimo para o<br />

oitavo quadrante estelar, a grande nave<br />

Kosmos captou em seus monitores, uma<br />

espécie de sinal. Mais parecia um ranger<br />

de dentes. Isso sem dúvida, quebrou a<br />

monotonia da viagem que durava <strong>do</strong>ze<br />

anos e oito perío<strong>do</strong>s.<br />

Muitas expectativas tomavam<br />

conta de Tutkan, que se sentia responsável<br />

pela segurança da esquadra, então<br />

convi<strong>do</strong>u seus coman<strong>do</strong>s para uma<br />

reunião extraordinária e foi logo<br />

Dizen<strong>do</strong> :<br />

- Muito bem, rapazes, parece que<br />

vamos desenferrujar nossas pernas.<br />

Vamos correr em direção destes sinais e<br />

descobrir o que é. Se for constata<strong>do</strong> ser<br />

perigoso para a frota, vamos correr muito<br />

mais em senti<strong>do</strong> contrário.<br />

Caíram na gargalhada.<br />

- Senhor, - adiantou-se o capitão<br />

Maxun – Acho que estamos prepara<strong>do</strong>s<br />

para qualquer missão e fui escolhi<strong>do</strong> pelos<br />

93


colegas para lhe dizer que estamos<br />

ansiosos para entrarmos em ação para<br />

mantermos nossa frota a salvo.<br />

- Muito bem, rapazes, fico<br />

contente em saber da disposição de vocês,<br />

mas primeiro, vamos ver qual o tamanho<br />

<strong>do</strong> asteróide que vamos enfrentar e ... –<br />

enquanto to<strong>do</strong>s riam, Zart entrou com uma<br />

mensagem em mãos. Tutkan a leu e<br />

perguntou-lhe se Fanna já havia toma<strong>do</strong><br />

conhecimento de seu conteú<strong>do</strong>. Ela<br />

afirmou que sim.<br />

- Pois bem, irmãos, nossas<br />

sondas já localizaram o fenômeno e os<br />

monitores dizem que estamos perto<br />

demais, cerca de vinte Macrons.<br />

Quero três formações no hangar,<br />

agora mesmo. Velz, Maxun e Tameron,<br />

peguem seus pares e partam<br />

imediatamente. Os outros permanecerão<br />

em alerta máximo.<br />

Dito isto, Tutkan se dirigiu à ponte<br />

de coman<strong>do</strong> da Kosmos, onde Klemps, o<br />

piloto de coman<strong>do</strong> avança<strong>do</strong> da grande<br />

nave, trabalhava nos sensores e<br />

94


computa<strong>do</strong>res com os seus piscas<br />

coloridas e luminosas.<br />

- Klemps, vamos diminuir a<br />

marcha a meio motor até mais três<br />

Macrons. Depois vamos parar. Informe a<br />

tropa.<br />

- Sim, comandante.<br />

- Zuila, informe Fanna que<br />

estamos na ponte, caso ele queira se unir<br />

a nós.<br />

- Não é preciso, Zuila - disse<br />

Fanna , adentran<strong>do</strong> pela porta da ponte – já<br />

estou <strong>aqui</strong>. Não pensam que perderia isto,<br />

pensam?<br />

Tutkan, apesar de tenso,<br />

descontraiu e riu um pouco. Fanna sempre<br />

quebrava o gelo e a tensão, por onde<br />

passava. Aproveitou e decidiu brincar mais<br />

com seu velho companheiro e amigo.<br />

- Não poderia imaginar você<br />

meti<strong>do</strong> em baixo da cama, principalmente<br />

quan<strong>do</strong> ela poderá estar prestes a desabar<br />

– e entre risos mais descontraí<strong>do</strong>s,<br />

continuou - ... todavia seria bom deixá-la<br />

preparada, pois posso precisar me<br />

esconder , também.<br />

95


Fanna riu da piada <strong>do</strong> amigo e<br />

disse :<br />

- Certo pessoal, já nos divertimos,<br />

agora, vamos ao trabalho.<br />

Tutkan passou para o controle<br />

<strong>do</strong>s transmissores contatan<strong>do</strong> com os<br />

coman<strong>do</strong>s Zag em curso ao fenômeno.<br />

- Kosmos, para Zag-1 , está me<br />

ouvin<strong>do</strong>?<br />

- Alto e claro, comandante.<br />

- Os senrores acusam a<br />

aproximação <strong>do</strong> sinal em dezoito Macrons<br />

de nós e <strong>do</strong>ze de vocês. Está bem na sua<br />

frente. Cheque o seu RAN.<br />

- Afirmativo, comandante, mas<br />

parece estar para<strong>do</strong>.<br />

- Perfeito. Nós também vamos<br />

parar <strong>aqui</strong> . Ficaremos a dezessete<br />

Macrons de distância <strong>do</strong> alvo.<br />

- Está certo, senhor.<br />

E pela primeira vez desde então,<br />

a grande Kosmos e a frota inteira parou no<br />

espaço.<br />

Era uma situação inédita, que<br />

proporcionou um começo de pânico num<br />

<strong>do</strong>s cargueiros Mir, superlota<strong>do</strong>.<br />

96


As notícias correram rápidas,<br />

distorcen<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> real nas palavras<br />

místicas agourentas <strong>do</strong>, agora, mestre<br />

Gideonis. Foi preciso alguma energia por<br />

parte de Tutkan para conter os ânimos <strong>do</strong><br />

pessoal a bor<strong>do</strong>.<br />

- Mas que droga ! Logo agora que<br />

estamos na eminência de, talvez, a maior<br />

descoberta de to<strong>do</strong>s os tempos, vocês<br />

resolvem entrar em histeria coletiva?<br />

- Sentimos muito, senhor – disse,<br />

Pramotiz, o controla<strong>do</strong>r responsável <strong>do</strong><br />

Mir-4 – não voltará acontecer. O principal<br />

causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> susto foi conti<strong>do</strong>. Aquele velho<br />

meti<strong>do</strong> a curandeiro e grande guru foi<br />

neutraliza<strong>do</strong>. Ele espalhou estarmos sen<strong>do</strong><br />

ataca<strong>do</strong>s por sei lá o que!<br />

- Pois fiquem tranqüilos. Tu<strong>do</strong><br />

está sob controle e se houver novidades,<br />

serão avisa<strong>do</strong>s oficialmente. Caso ainda<br />

não saibam, tem duas esquadrilhas Zag,<br />

cobrin<strong>do</strong> a retaguarda. Mantenham-se em<br />

suas ocupações e deixem que façamos<br />

nosso trabalho sem pressões nem<br />

desordem e tu<strong>do</strong> sairá melhor.<br />

- Sim, senhor. Como disse antes,<br />

não voltará a acontecer.<br />

97


Após estas palavras, Tutkan<br />

mu<strong>do</strong>u a freqüência e chamou a<br />

esquadrilha Zag, no “fronte”.<br />

- Zag-1, <strong>aqui</strong> é a Kosmos –<br />

Responda, por favor.<br />

- Sim, comandante.<br />

- Velz, estamos para<strong>do</strong>s no<br />

segun<strong>do</strong> setor <strong>do</strong> oitavo quadrante,<br />

exatamente a dezessete Macrons <strong>do</strong> sinal.<br />

Informe o seu RAN de bor<strong>do</strong>, para a volta.<br />

Agora, assuma o coman<strong>do</strong>. Vocês estão<br />

sen<strong>do</strong> monitora<strong>do</strong>s. Boa sorte !<br />

- Certo comandante. Deixe por<br />

nossa conta. Desligan<strong>do</strong>.<br />

Velz, no coman<strong>do</strong> da missão<br />

passou para a comunicação de bor<strong>do</strong> entre<br />

os March-1 e seus tripulantes.<br />

- Atenção, rapazes, estamos a<br />

<strong>do</strong>is Macrons <strong>do</strong> ... ora, <strong>do</strong> que nos espera.<br />

Mantenha formação Maxun, você está<br />

muito afasta<strong>do</strong>, aproxime-se.<br />

- Já estou in<strong>do</strong> – e comunican<strong>do</strong>se<br />

com seu par – Zel, vamos nos aproximar<br />

<strong>do</strong> pessoal. Eles se sentem sós.<br />

- Afirmativo, capitão.<br />

- Hei, vocês aí ! entrou Velz –<br />

parecem duas comadres. Conversem<br />

98


menos e fiquem de olhos abertos. Estamos<br />

a um Macron <strong>do</strong> alvo.<br />

- Hei, parece que o sinal parou.<br />

Não estou mais receben<strong>do</strong> – disse o<br />

capitão Maxun.<br />

- É mesmo – concor<strong>do</strong>u, Velz – o<br />

quer que seja, parou de emitir.<br />

- Novidades, capitão Velz – entrou<br />

Tameron – Parece ser um asteróide e <strong>do</strong>s<br />

grandes ... vejam a duas horas ... aquele<br />

ponto esbranquiça<strong>do</strong>, acho que as<br />

emissões vem de lá...<br />

- Concor<strong>do</strong>, disse Velz – vamos<br />

dar uma espiada de perto. Tameron, você<br />

e Kalibur, vão pela direita e dêem uma<br />

órbita bem devagar. Maxun, você e Zel<br />

entrem por baixo, e eu vou por cima. Ao<br />

meu coman<strong>do</strong> formaremos um exaédro a<br />

partir d<strong>aqui</strong>. Asthon, você fica para<strong>do</strong> a<br />

duzentos e cinquenta centons e mantenha<br />

to<strong>do</strong>s os sensores ativa<strong>do</strong>s. Dê cobertura<br />

em caso de retirada.<br />

- Positivo, senhor – respondeu<br />

Asthon, com os olhos arregala<strong>do</strong>s.<br />

- Vamos, agora. Ativem os<br />

sensores Kranset e veremos <strong>do</strong> que é feito<br />

este asteróide.<br />

99


As cinco pequenas naves<br />

separaram-se e abriram-se num grande<br />

globo, circundan<strong>do</strong> vagarosamente o<br />

asteróide.<br />

- Já estou com ele na tela – disse<br />

Maxun – Parece ser de puro metal ... mas o<br />

sensor Kranset desconhece a composição<br />

química deste material ... só diz que não é<br />

ferroso.<br />

De repente, to<strong>do</strong>s os monitores<br />

acusaram a volta daquele sinal. Em certos<br />

momentos, a fonte parecia vir <strong>do</strong> centro <strong>do</strong><br />

asteróide e em outros, parecia surgir de<br />

diversos lugares, até mesmo de fora. A<br />

impressão que tinham era a de estar no<br />

meio de um vale de ecos. Em da<strong>do</strong><br />

momento, o sinal vinha de todas as<br />

direções, geran<strong>do</strong>-lhes desorientação.<br />

- O que está acontecen<strong>do</strong> ? –<br />

perguntou Maxun – Estamos dentro de um<br />

sino?<br />

- Parece, mesmo – concor<strong>do</strong>u Velz<br />

– Estamos dentro de um campo de<br />

ressonância, só vamos saber se tocarmos<br />

nesta coisa. Quem se oferece para o<br />

primeiro toque?<br />

100


- Eu vou – disse, Tameron –<br />

Kalibur vem comigo na cobertura.<br />

- Positivo, capitão.<br />

- Não há nada <strong>aqui</strong> além de<br />

metal.<br />

- Mas o sinal continua –<br />

acrescentou Kalibur.<br />

- Mas com certeza, não é a fonte –<br />

observou Tameron.<br />

- Então de onde vêm estes sinais?<br />

– perguntou, Maxun, realmente intriga<strong>do</strong>.<br />

- Bem, rapazes – entrou, Velz – Já<br />

vimos que os sinais estão sen<strong>do</strong> emiti<strong>do</strong>s<br />

por outra fonte. Este metal gigante apenas<br />

o reflete. Isto significa que vamos ter que<br />

procurar mais. Tameron, você e Kalibur,<br />

voltem à base e levem as análises <strong>do</strong><br />

Kranset-II. Talvez os computa<strong>do</strong>res da<br />

Kosmos analisem melhor este metal.<br />

Maxun, você e Zel, formarão comigo e<br />

Asthon, e seguiremos em frente.<br />

As ordens foram cumpridas,<br />

Tameron e kalibur voltaram para a Kosmos<br />

e as outras duas formações seguiram em<br />

frente à procura da direção certa <strong>do</strong><br />

misterioso ruí<strong>do</strong>, numa varredura em leque.<br />

101


Frequentemente captavam o<br />

sinal, ora mais fraco, e vin<strong>do</strong> em direções<br />

opostas ao asteróide, oportunizan<strong>do</strong> uma<br />

pequena certeza <strong>do</strong> rumo certo. A partir<br />

disso, definiram as coordenadas <strong>do</strong><br />

asteróide em seus computa<strong>do</strong>res de bor<strong>do</strong><br />

e sistemas de navegação. Batizaram-no de<br />

“O asteróide de Tameron”, por ter si<strong>do</strong> ele<br />

o único a “tocá-lo”. Mais tarde este corpo<br />

constaria em seus mapas estelares.<br />

Os projetores de navegação<br />

indicavam que a quarenta e <strong>do</strong>is graus <strong>do</strong><br />

setor cinco – a boreste <strong>do</strong> asteróide – os<br />

sinais ficavam mais vivos, e assim<br />

tomaram seu curso.<br />

- Zag-um, chaman<strong>do</strong> a base. Zagum,<br />

chaman<strong>do</strong> a base ...<br />

Os receptores de áudio <strong>do</strong>s<br />

March-1, traziam apenas ruí<strong>do</strong>s de<br />

estática.<br />

Há um Macro de distância <strong>do</strong><br />

asteróide, Zel rompeu o silêncio<br />

“barulhento” <strong>do</strong>s monitores.<br />

102


- Capitão Velz, o meu conversor<br />

magnético aponta que terei energia apenas<br />

para voltar. Não posso prosseguir.<br />

- O meu também – disse, Maxun.<br />

- Certo rapazes, o meu também.<br />

Asthon, como está o seu?<br />

- Tenho <strong>do</strong>is terços de energia,<br />

senhor. Devo continuar a missão?<br />

- Nada disso. Vamos voltar e ver<br />

com nossos superiores o que resolvem,<br />

além <strong>do</strong> mais, estamos sem contato com a<br />

base.<br />

- Será por causa <strong>do</strong> asteróide? –<br />

perguntou, Maxun.<br />

- Provavelmente – disse, Velz.<br />

Deram meia-volta e seguiram<br />

para o “asteróide de Tameron”, onde<br />

refariam as coordenadas para a base.<br />

Muitas perguntas rondavam a<br />

mente de Velz. A primeira delas era,<br />

porque o comandante Tutkan o escalara<br />

para aquele coman<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que numa<br />

missão ao desconheci<strong>do</strong>, igual aquela,<br />

hierárquicamente deveria ser dada a<br />

Zeuez? Ele era o mais experiente dentre<br />

to<strong>do</strong>s e naturalmente to<strong>do</strong>s os oficiais,<br />

assim como ele próprio, se sentiriam mais<br />

103


seguros. E afinal, seria possível o Komptor<br />

desvendar a natureza <strong>do</strong> metal <strong>do</strong><br />

“Asteróide de Tameron” e a causa <strong>do</strong> sinal<br />

que aquela grande massa emitia, sem<br />

nenhum componente eletrônico,<br />

aparentemente? E por falar nisso, por que<br />

a interrupção das comunicações com a<br />

Kosmos? Aqueles equipamentos<br />

sofistica<strong>do</strong>s, em várias oportunidades,<br />

mostraram ser eficazes em distâncias<br />

maiores <strong>do</strong> que trinta Macrons! Nunca<br />

houvera falhas neles!<br />

Talvez estas perguntas fossem<br />

respondidas ao chegarem à base, que<br />

certamente estaria ocupadíssima em<br />

desvendar to<strong>do</strong>s estes mistérios.<br />

Neste mesmo instante, a Kosmos<br />

permanecia parada e sem comunicação<br />

com Zag-um e Zag-<strong>do</strong>is, entretanto,<br />

monitorava o regresso de Zag-tres.<br />

- Zag-tres, <strong>aqui</strong> é a Kosmos,<br />

responda.<br />

- Zag-tres na escuta, pode falar<br />

comandante.<br />

- Tameron, o que está<br />

acontecen<strong>do</strong>? Por que está voltan<strong>do</strong> numa<br />

só formação? Onde estão os outros?<br />

104


- Senhor, achamos um corpo<br />

relativamente grande, parecen<strong>do</strong> ser um<br />

asteróide gigante, de onde aparentemente<br />

vinham os sinais ...<br />

Um relatório detalha<strong>do</strong> foi<br />

passa<strong>do</strong> ao coman<strong>do</strong>. Ao mesmo tempo o<br />

Telecon era ativa<strong>do</strong>, captan<strong>do</strong> as<br />

informações obtidas pelo Kramset-II, em<br />

conexão direta com o Komptor – o<br />

analiza<strong>do</strong>r frequencial, que traduzia em<br />

linguagem absoluta, to<strong>do</strong>s os materiais que<br />

por ele passava.<br />

O Komptor fora desenvolvi<strong>do</strong>, a<br />

partir <strong>do</strong> próprio sensor analiza<strong>do</strong>r<br />

Kramset-II por Zur-Kwa e Thorc durante a<br />

viagem.<br />

Muitos planetas haviam si<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s,<br />

trazen<strong>do</strong> curiosidades, tais como: os<br />

elementos mais comuns no espaço sideral<br />

eram o hélio, hidrogênio, e seus deriva<strong>do</strong>s.<br />

Neste tocante, Thorc com sua<br />

mente prática, começou a imaginar um<br />

meio de compatibilizar estes elementos<br />

aos energiza<strong>do</strong>res. Se estas constatações<br />

permanecessem, seria uma boa idéia,<br />

estabelecen<strong>do</strong> assim nestes planetas, uma<br />

espécie de postos de abastecimento no<br />

espaço. Mas isso seria um estu<strong>do</strong> longo<br />

105


demais e a autoridade em química era Zur-<br />

Kwa. E mais, no momento tinham uma<br />

realidade nova, ou seja, um asteróide<br />

inteiramente de metal não ferroso e de liga<br />

leve.<br />

Os analisa<strong>do</strong>res frequenciais <strong>do</strong><br />

Komptor, confirmavam o que o Kramset-II,<br />

de Tameron, analisara no toque. A única<br />

novidade introduzida era, ser este metal<br />

altamente magnetiza<strong>do</strong>, entretanto fora <strong>do</strong><br />

alcance <strong>do</strong>s programas e conhecimento de<br />

seus computa<strong>do</strong>res.<br />

Momentos depois, as manobras<br />

de aproximação eram feitas para a<br />

reentrada <strong>do</strong>s March-1 e de Zag-tres.<br />

Dadas as coordenadas, Tameron e Kalibur<br />

entraram nas pistas-túneis três e quatro,<br />

semelhantes às de outrora em Krópitus e<br />

Pakeus.<br />

Erus Fanna, como sempre, estava<br />

no observatório central com Tutkan, à<br />

espera de seus rapazes, com o seu<br />

inseparável sorriso.<br />

Ao sair da nave, Tameron<br />

reparou que o cabo de toque não estava no<br />

106


seu devi<strong>do</strong> lugar. Não entendeu muito bem<br />

porque, e então pediu para um <strong>do</strong>s<br />

rapazes da manutenção verificar o defeito.<br />

Em seguida, tomou a rampa de acesso à<br />

cela estratifica<strong>do</strong>ra e purifica<strong>do</strong>ra com seu<br />

companheiro. Um procedimento normal,<br />

sempre que passavam momentos fora da<br />

ambientação natural – como chamavam. Só<br />

depois de uma checagem completa em<br />

seus corpos e vestes, eram libera<strong>do</strong>s para<br />

o alojamento adjacente, onde cada um<br />

tinha seu nome estampa<strong>do</strong> à porta <strong>do</strong>s<br />

armários.<br />

Depois das boas-vindas ao<br />

pessoal de Zag-tres, Fanna e Tutkan<br />

voltaram para a ponte de coman<strong>do</strong>, com<br />

suas sobrancelhas arqueadas em visível<br />

preocupação. Ao se olharem, antes da sala<br />

principal, falaram juntos, perguntan<strong>do</strong> um<br />

ao outro, como se em coro de jogral :<br />

- O que estarão fazen<strong>do</strong> aqueles<br />

...<br />

- Como posso saber – atalhou<br />

Fanna – e depois, eu perguntei primeiro!<br />

- Acho que perguntamos juntos –<br />

disse Tutkan.<br />

107


- É claro que perguntamos juntos,<br />

mas afinal, que droga! Vamos pensar em<br />

alguma coisa, Tut. Você não acha que<br />

deveríamos ter envia<strong>do</strong> Zeuez nesta<br />

missão?<br />

- Não, acho que não, Erus. Zeuez<br />

está com fadiga e o <strong>do</strong>utor Grohalv acha<br />

que ele nunca se recuperou daquele<br />

acidente em Krópitus, lembra-se?<br />

- Sim, foi terrível.<br />

- Pois é, e além disso ele ficou em<br />

coma por mais de um perío<strong>do</strong> e teve duas<br />

desativações cerebrais e várias paradas<br />

cardíacas. Quase o perdemos. Infelizmente<br />

ele não está em sua capacidade plena.<br />

Não podemos mandá-lo numa missão<br />

destas, ao desconheci<strong>do</strong>. O melhor de tu<strong>do</strong><br />

isso, é que ele ficou muito satisfeito<br />

quan<strong>do</strong> soube ser Velz o comandante da<br />

primeira missão de risco. Sem contar que<br />

mantém to<strong>do</strong>s os cadetes na linha e<br />

ocupa<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s depositam muita<br />

confiança nele. Mantê-lo a bor<strong>do</strong>, o moral<br />

<strong>do</strong>s rapazes continua alto. Imagine se o<br />

tivéssemos manda<strong>do</strong> nesta missão e algo<br />

erra<strong>do</strong> acontecesse, e como vemos, pode<br />

estar acontecen<strong>do</strong>, sem ele as coisas na<br />

academia poderiam ficar tensas. Quem<br />

108


pode saber o que lhe aconteceria em<br />

pressão máxima? Ele é mais útil <strong>aqui</strong>, <strong>do</strong><br />

que lá fora!<br />

Fanna concor<strong>do</strong>u. Zeuez era um<br />

grande alia<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong>, caso as coisas<br />

viessem a engrossar.<br />

Ao adentrarem na sala nervosa<br />

da Kosmos, a preocupação era eminente<br />

em seus rostos.<br />

Klemps dirigiu-se a eles, mais<br />

especificamente ao comandante Tutkan.<br />

- Senhor, acabo de enviar <strong>do</strong>is<br />

olhos-sonda, para tentar monitorar as<br />

outras duas formações. Mas em minha<br />

opinião, deveríamos seguir o rastro, pois as<br />

naves que pousaram a pouco, estavam<br />

com seus energiza<strong>do</strong>res totalmente<br />

fatiga<strong>do</strong>s. Estas naves não andariam<br />

nenhum centon a mais. Temo que os<br />

nossos companheiros estejam em situação<br />

difícil, porque sem energia, seus Telecons<br />

não chegam até nós.<br />

- Talvez fosse uma boa idéia, mas<br />

vamos aguardar um pouco mais. Pode ser<br />

que as sondas os encontrem e não creio<br />

109


que os rapazes fossem tolos o bastante<br />

para não observarem seus tempos de vôo.<br />

- Pode ser, senhor, mas como se<br />

explica o esvaziamento total de energia<br />

das naves que chegaram? To<strong>do</strong>s os<br />

March-1 têm a mesma autonomia e ...<br />

- Calma, Klemps. Tu<strong>do</strong> no seu<br />

devi<strong>do</strong> tempo – atalhou, Fanna - Pode ser o<br />

problema que está na prancheta de Zur-<br />

Kwa e Thorc. Trata-se da compensação<br />

negativa que os instrumentos de bor<strong>do</strong><br />

resultam nos propulsores. A princípio<br />

tentamos separá-los em grupos distintos,<br />

com acumula<strong>do</strong>res energéticos. Mas isso<br />

influiria diretamente na questão ... vamos<br />

dizer ... de espaço interno.<br />

De súbito, as telas de<br />

rastreamento enviadas pelas duas sondas,<br />

detectaram a presença <strong>do</strong> pessoal em<br />

missão.<br />

- Olhem – disse, Samis – estamos<br />

com eles!!<br />

- Vamos Samis – disse, Tutkan –<br />

ative o Telecon e tente comunicação –<br />

viran<strong>do</strong>-se para o piloto – Klemps, verifique<br />

a exata coordenada em que estão.<br />

110


- Estão em zero ponto <strong>do</strong>is graus<br />

fora <strong>do</strong> curso em aproximadamente<br />

dezessete Macrons, passan<strong>do</strong> agora<br />

para... ora, estão em manobras ... o que é<br />

isso?... veja comandante, parece que<br />

pararam?<br />

- Ativar to<strong>do</strong>s os sensores –<br />

ordenou Tutkan ao se deparar com a tela<br />

<strong>do</strong> Telecon.<br />

O áudio <strong>do</strong> receptor Telecon<br />

acusava <strong>do</strong>is ruí<strong>do</strong>s diferentes. Um, já<br />

conheci<strong>do</strong>, envia<strong>do</strong> pelo asteróide e o<br />

outro, a estática <strong>do</strong>s emissores <strong>do</strong>s March-<br />

1, que pareciam para<strong>do</strong>s. A procura de<br />

freqüências estava ativada e de repente :<br />

- Aqui é Zag-um, para Kosmos ...<br />

Aqui é Zag-um, para Kosmos, responda,<br />

por favor ...<br />

_ Kosmos na escuta, pode falar<br />

Velz!<br />

- Comandante, que alívio em esc<br />

... tam ... e no ... és ... hãm... on - ...<br />

chhhhhhhh – zzzzzzzzzzz ...<br />

- Acho que os perdemos<br />

novamente – disse Samis, movimentan<strong>do</strong> o<br />

analiza<strong>do</strong>r frequencial-direcional.<br />

111


- Continue, tente novamente, abra<br />

os canais com todas as variáveis –<br />

disseTutkan.<br />

- Sim comandante ... Zag-um,<br />

<strong>aqui</strong> é a Kosmos, responda ...<br />

- Zag-um, para Kosmos ...<br />

- Já os pegamos novamente –<br />

disse Samis – Zag-um, estamos na escuta.<br />

Tutkan apressadamente tomou o<br />

comunica<strong>do</strong>r de Samis.<br />

- Velz o que está acontecen<strong>do</strong>?<br />

- Estamos em inércia, senhor. Os<br />

controles <strong>do</strong> console dizem que os<br />

propulsores estão ativa<strong>do</strong>s, mas não estão<br />

res ... ac ... tam... peq... – zzzzzzz.<br />

- Zag-um, Zag-um... fale, Zagum...<br />

mas que droga! Os perdemos de<br />

novo – protestou Tutkan.<br />

Os ruí<strong>do</strong>s de estática<br />

permaneciam no áudio <strong>do</strong> Telecon. Os<br />

receptores frequenciais buscavam todas as<br />

variáveis, quan<strong>do</strong> Klemps muito excita<strong>do</strong><br />

falou quase gritan<strong>do</strong> :<br />

- Estão se moven<strong>do</strong> senhor.<br />

Parece que em nossa direção.<br />

112


Samis ativou seus fones de<br />

ouvi<strong>do</strong> conectan<strong>do</strong> outras chaves<br />

seletoras, logo após anuncian<strong>do</strong> :<br />

- Estamos com eles novamente,<br />

senhor. Pode falar agora.<br />

-Muito bem, Samis. Zag-um,<br />

estamos com vocês. O que está<br />

acontecen<strong>do</strong> aí?<br />

- Não sei comandante. Tão logo<br />

as comunicações pararam, começamos a<br />

nos mover. Nada faz senti<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>. Nossos<br />

sensores e sistemas de navegação não<br />

funcionam. O direcional <strong>do</strong> tenente Zel<br />

aponta curso diferente <strong>do</strong> meu. Maxun não<br />

tem comunicação de áudio comigo, apenas<br />

podemos nos ver, e Asthon não está bem.<br />

Parece estar desacorda<strong>do</strong>. Não responde<br />

faz algum tempo. Estamos tentan<strong>do</strong><br />

rebocá-lo.<br />

- Zag-um, quan<strong>do</strong> isto aconteceu?<br />

- Antes da primeira comunicação,<br />

senhor.<br />

- Tu<strong>do</strong> bem, depois você nos<br />

explica melhor. Poupem seus<br />

energiza<strong>do</strong>res. Continuem com seus lemes<br />

em sintonia e aguardem novas ordens. Já<br />

estamos partin<strong>do</strong> ao encontro de vocês.<br />

Mantenha este curso. Isto é tu<strong>do</strong>.<br />

113


O ambiente estava tenso. Tutkan<br />

dirigiu-se ao piloto da Kosmos:<br />

- Klemps, mude o curso para três<br />

ponto zero um, manten<strong>do</strong> um quarto à<br />

frente – e acionan<strong>do</strong> uma chave – Atenção<br />

pessoal <strong>do</strong> hangar. Aqui fala o<br />

comandante, temos uma emergência com<br />

um <strong>do</strong>s Zags, Asthon está em dificuldade<br />

para a reentrada e pouso. Preparem a<br />

pista para pouso de emergência. Zag-tres<br />

e quatro, preparem-se para partir e levem o<br />

cordão de reboque para trazer nosso<br />

companheiro de volta.<br />

- Senhor entrou Zuila às pressas –<br />

este é o relatório da nave de Tameron.<br />

Tutkan passou os olhos pela folha<br />

laminada e disse para Zuila chamar Thorc<br />

e Zur-Kwa e quan<strong>do</strong> ela se retirava, virouse<br />

para Fanna.<br />

- Erus, dê uma olhada nisto.<br />

- Hummm !! ... O cabo usa<strong>do</strong> no<br />

toque <strong>do</strong> asteróide, está totalmente<br />

magnetiza<strong>do</strong> ... muito interessante ... toda<br />

vez que o energiza<strong>do</strong>r recebe alimentação,<br />

esta se esvai e se acumula no ponto<br />

extremo <strong>do</strong> cabo e se dispersa novamente<br />

... muito interessante – disse, devolven<strong>do</strong> o<br />

relatório à Tutkan.<br />

114


- Foi por isso que mandei chamar<br />

Thorc e Zur-Kwa. Talvez eles encontrem a<br />

razão disto.<br />

A correria dentro <strong>do</strong> hangar era<br />

grande e ràpidamente, duas formações<br />

Zag foram lançadas.<br />

- Senhor – disse Samis –<br />

Ambhórius deseja lhe falar pelo Intercom.<br />

- Obriga<strong>do</strong> Samis. Pode falar,<br />

Ambhórius.<br />

- Comandante Tutkan, queremos<br />

permissão para segui-los.<br />

- Seguir-nos, por que?<br />

- Não nos sentimos seguros,<br />

fican<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>. A frota deseja acompanhar a<br />

Kosmos.<br />

- Aguardem um pouco. Fanna é<br />

quem decidirá.<br />

- O que você acha, Erus? Eles<br />

estão com me<strong>do</strong> de ficarem para traz.<br />

- Não os censuro, mas esta é uma<br />

operação que seria mais prudente, eles<br />

ficarem onde estão. Faça o seguinte,<br />

destaque quatro formações para ficar junto<br />

a eles. Diga-lhes para não se preocuparem<br />

e que estamos em exercício de<br />

salvamento.<br />

115


- Esta certo. Ambhórius, estamos<br />

em manobras para exercício de<br />

salvamento e se to<strong>do</strong>s vierem não teremos<br />

espaço suficiente para as manobras, além<br />

<strong>do</strong> desperdício de energia.<br />

- Mas não estamos gostan<strong>do</strong> da<br />

idéia de ficarmos sós e há rumores...<br />

- Sem preocupações amigo –<br />

atalhou, Tutkan – tu<strong>do</strong> está sob controle.<br />

Para que vocês se sintam melhor, estou<br />

envian<strong>do</strong> quatro formações Zag para uma<br />

escolta e proteção. Está certo?<br />

- São exercícios apenas?<br />

- Sim. Fique tranqüilo e tranqüilize<br />

sua gente.<br />

- Está certo, mas não se percam<br />

da gente.<br />

- Sossegue, Ambhórius, não os<br />

perderemos de vista.<br />

- Amém!<br />

A grande Kosmos se afastou da<br />

frota, em direção <strong>do</strong>s Zags em<br />

dificuldades.<br />

- Zag-um, <strong>aqui</strong> é a Kosmos, pode<br />

me ouvir?<br />

- Alto e claro, comandante.<br />

116


- Estão seguin<strong>do</strong> em suas<br />

direções duas formações Zag e nós logo<br />

atrás. Como estão as coisas por aí?<br />

- Na mesma, comandante.<br />

- Pois bem, vocês estão a quinze<br />

Macrons de nós, neste momento. Vamos<br />

andar mais cinco, <strong>do</strong>nde ficaremos na<br />

espera. Mantenham o curso e velocidade<br />

constante em meio motor. Dentro de<br />

aproximadamente <strong>do</strong>is Macrons de vocês,<br />

haverá o encontro das duas formações que<br />

estão a caminho. Em breve estaremos com<br />

vocês. Boa sorte rapazes.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, senhor.<br />

Como o previsto, o encontro se<br />

deu, mais-ou-menos no instante em que a<br />

Kosmos parou – cerca de um Macrom de<br />

distância entre eles.<br />

Pouco depois, os March-1,<br />

reentravam, um por um, para o ninho,<br />

exceto Asthon, que permanecia<br />

desacorda<strong>do</strong>. Então Tutkan chamou Zeuez<br />

e o consultou:<br />

- Zeuez, quais as táticas usadas<br />

nos treinamentos de resgate e como ou<br />

117


quem teria as habilidades necessárias para<br />

fazê-lo?<br />

- Comandante, só existe um meio<br />

seguro, é fazen<strong>do</strong> a transferência de<br />

pilotos e esta é uma tarefa bastante<br />

delicada para a maioria <strong>do</strong>s rapazes. Com<br />

sua permissão, eu gostaria de tentar.<br />

- Está certo, Zeuez, vá buscá-lo.<br />

A nave de Asthon permanecia<br />

flutuan<strong>do</strong> à cerca de dez centons da<br />

Kosmos, em inércia total.<br />

Zeuez partiu imediatamente numa<br />

nave transporte com a equipe de resgate.<br />

Em instantes, estavam juntos <strong>do</strong><br />

pequeno March-1.<br />

Com traje apropria<strong>do</strong>, Zeuez saiu<br />

<strong>do</strong> transporte, flutuan<strong>do</strong> e se direcionan<strong>do</strong><br />

mediante os jatos de ar comprimi<strong>do</strong>, até a<br />

nave de Asthon. Eram movimentos<br />

vagarosos e bem planeja<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong> o<br />

cuida<strong>do</strong> era pouco na abertura e<br />

penetração à carlinga da nave, que se<br />

mantinha pressurizada. Um movimento em<br />

falso poderia arremessar Zeuez para muito<br />

longe, ou então acionar o dispositivo de<br />

118


ejeção, mandan<strong>do</strong> Asthon para os confins<br />

<strong>do</strong> Universo. Era uma operação delicada,<br />

como o próprio Zeuez dissera.<br />

Numa primeira olhada, Zeuez<br />

notou que Asthon tinha o capacete<br />

fecha<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> o seu próprio oxigênio e<br />

isto facilitava as coisas, então sinalizou<br />

para que outro viesse para ajudar na<br />

remoção <strong>do</strong> companheiro desacorda<strong>do</strong>. Ao<br />

mesmo tempo, com extrema habilidade e<br />

cuida<strong>do</strong>, abriu as válvulas de<br />

descompressão interna, bem de vagar.<br />

Para sua surpresa, a carlinga estava<br />

despressurizada. De certo mo<strong>do</strong>, foi fácil o<br />

restante da operação. O outro parceiro de<br />

Zeuez, conduziu Asthon até o transporte e<br />

ele tomou os controles <strong>do</strong> March-1. A<br />

operação fora concluída com sucesso.<br />

Enquanto isso, as naves<br />

estacionadas no hangar, que voltaram da<br />

missão, apresentavam um quadro curioso,<br />

com o mesmo diagnóstico. Seus<br />

energiza<strong>do</strong>res estavam completamente<br />

fatiga<strong>do</strong>s, os sistemas de navegação<br />

desmagnetiza<strong>do</strong>s e os computa<strong>do</strong>res,<br />

defletores e sensoriais, inoperantes.<br />

119


A nave transporte em que Asthon<br />

fora coloca<strong>do</strong> aos cuida<strong>do</strong>s médicos<br />

informou que ele estava morto, e a causa<br />

era asfixia.<br />

Neste mesmo instante, Zeuez<br />

tentava pousar na pista sete, enfrentan<strong>do</strong><br />

muitas dificuldades. Aquela nave não tinha<br />

forças para acionar o retrocesso, uma vez<br />

que, no momento de arranque, após o<br />

arremesso, os motores paravam de uma só<br />

vez. O pouso foi lamentável, mesmo com a<br />

frenagem magnética – da própria pista –<br />

auxiliares de desaceleração. A nave<br />

desgovernada bateu forte nas plataformas<br />

laterais, avarian<strong>do</strong> bastante, tanto a pista,<br />

como o próprio March-1. O perigo maior foi<br />

na asa direita, onde um <strong>do</strong>s canhões<br />

Prottons se desprendera, causan<strong>do</strong> faíscas<br />

e pequenas explosões. Felizmente estava<br />

desenergiza<strong>do</strong>. Foi um grande e perigoso<br />

susto.<br />

Os instrumentos das outras naves<br />

foram desmonta<strong>do</strong>s e leva<strong>do</strong>s para exame<br />

nos laboratórios de Thorc e Zur-Kwa e a<br />

equipe de cientistas. Nas preliminares<br />

nenhuma causa aparente foi constatada.<br />

120


Erus Fanna, pela primeira vez,<br />

demonstrava irritação, tentan<strong>do</strong> entender o<br />

que não dava para entender.<br />

- Tut, perdemos um companheiro,<br />

não descobrimos nada a respeito <strong>do</strong><br />

fenômeno e o que é pior, parece que<br />

fomos atingi<strong>do</strong>s por uma coisa que não<br />

sabemos o que é!<br />

- Pois eu acho que devemos<br />

voltar até lá e analisar a coisa mais de<br />

perto. Vou lhe dizer o que vamos fazer.<br />

Ficaremos a <strong>do</strong>is macrons de distância e<br />

colocaremos um laboratório bem em cima<br />

daquela coisa. Os monitores ainda acusam<br />

os sinais vin<strong>do</strong>s de lá e os computa<strong>do</strong>res<br />

parece que já começam a entender. São<br />

sinais que vem e vão em tempos iguais.<br />

Parece ser um código e isto significa que<br />

há vida inteligente e podem estar <strong>aqui</strong><br />

mesmo, neste quadrante.<br />

- É uma bela teoria, porém<br />

arrisca<strong>do</strong> demais, nos aproximarmos<br />

d<strong>aqui</strong>lo, sem antes termos uma idéia<br />

melhor <strong>do</strong> que é, Tut.<br />

- Talvez tenha razão, mas<br />

também não podemos seguir em frente ou<br />

tomar outro curso, sem antes verificar se<br />

<strong>aqui</strong>lo é um asteróide ou seja lá o que for.<br />

121


Erus, a meu ver, a hora da verdade<br />

chegou.<br />

- Mas se for algo perigoso e que<br />

não tenhamos recursos para resolver?<br />

- Então usaremos os Prottons, se<br />

<strong>aqui</strong>lo se configurar uma ameaça para<br />

nossa gente.<br />

Fanna pôs suas mãos às costas e<br />

deu meia volta lenta pela sala, pensativo,<br />

com seu semblante apreensivo.<br />

- Sabe Tut, detesto ficar confuso.<br />

- Como assim?<br />

- Acontece que uma parte de mim,<br />

diz para irmos. Outra, diz não. Vamos<br />

consultar o pessoal <strong>do</strong> laboratório. Vamos<br />

ver o que eles dizem, talvez já tenham<br />

respostas.<br />

Thorc foi direto e prático, como<br />

sempre.<br />

- Nossas naves foram<br />

contaminadas por vírus virtuais, cuja<br />

função age sobre os energiza<strong>do</strong>res<br />

magnéticos. Isto aconteceu a partir <strong>do</strong><br />

toque direto por Tameron.<br />

- Eu diria – entrou Zur-Kwa – que<br />

as estruturas ficaram contaminadas<br />

122


também e pelo que sabemos, a nave de<br />

Asthon foi a única que manteve to<strong>do</strong>s os<br />

sensores ativa<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> dava cobertura<br />

à inspeção <strong>do</strong> asteróide. Isto de certa<br />

maneira fez com que to<strong>do</strong>s os canais da<br />

nave se abrissem para a entrada deste<br />

“vírus”.<br />

- Ou ao contrário – disse Thorc,<br />

bastante pensativo.<br />

- Ao contrário? – perguntou Zur-<br />

Kwa, bastante admira<strong>do</strong>, se voltan<strong>do</strong> à<br />

Thorc, que coçava o queixo e com o olhar<br />

perdi<strong>do</strong> em meio àquela sala abarrotada de<br />

instrumentos e equipamentos diversos.<br />

- Sim, isto me passou pela<br />

cabeça, agora. Um detalhe que nos passou<br />

despercebi<strong>do</strong>. Se fosse vírus virtual,<br />

estaríamos nós e toda a frota contaminada.<br />

Isto não acontece. Então, Tameron foi o<br />

único a tocar no asteróide e se houvesse<br />

uma contaminação virótica, sua nave<br />

estaria apresentan<strong>do</strong> maior fadiga,<br />

exatamente pelo toque.<br />

- Explique melhor isto – disse Zur-<br />

Kwa, interessa<strong>do</strong> pela nova teoria e<br />

sentan<strong>do</strong>-se numa das cadeiras perto de<br />

um terminal de computa<strong>do</strong>r.<br />

123


- Se pensarmos em como<br />

funciona o nosso sistema Protton, que<br />

tanto serve para construir como para<br />

destruir, isto é ...<br />

- Entendi – disse Zur-Kwa – pode<br />

estabelecer um fenômeno que chamamos<br />

de força espelhada plena posteriorizada.<br />

- Traduza isto para nós, pobres<br />

mortais – disse Fanna.<br />

- É o seguinte – entrou, Thorc – se<br />

me permite, Zur-Kwa ...<br />

- É claro a teoria é sua ...<br />

- Então em miú<strong>do</strong>s é assim: Você<br />

emite uma força, esperan<strong>do</strong> uma reação<br />

no objeto; isto pode ser, em qualquer<br />

função, e no caso, Asthon foi o único que<br />

abriu to<strong>do</strong>s os seus canais, sugan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

asteróide sua composição química, massa,<br />

ligas, vetores de impacto, etc... E o que<br />

acontece então? Por favor, Zur-Kwa – disse<br />

Thorc ven<strong>do</strong> o companheiro excita<strong>do</strong> se<br />

remexen<strong>do</strong> à cadeira e com olhos<br />

faiscan<strong>do</strong> de brilhos.<br />

- A retroação, isto é, a resposta<br />

que vem <strong>do</strong> objeto é a mesma, só que usa<br />

a força e a energia <strong>do</strong> outro em seu<br />

benefício. Além de ele absorver todas as<br />

informações que o outro queria, inutiliza o<br />

124


seu sistema de mo<strong>do</strong> que, ao pedir<br />

potência em qualquer grau, esta se esvai<br />

na mesma proporção, em até três vezes<br />

mais.<br />

- Mistura potência com quantidade<br />

acumulada.<br />

- Interessante! ...Se eu pedir toda<br />

a potência, como um arranque e arremeço,<br />

esgota o tanque – ponderou, Fanna.<br />

- Se quisermos saber mais – disse<br />

Thorc – teremos que fazer uma visitinha<br />

àquela coisa e tentar extrair amostra <strong>do</strong><br />

material.<br />

- Fanna? – perguntou, Tutkan.<br />

- Está certo Tut. Vamos lá<br />

descobrir este enigma, acho também, que<br />

devemos trazer a frota mais para perto de<br />

nós. Ao que parece, se aquele negócio não<br />

é uma coisa natural... e se foi produzi<strong>do</strong>,<br />

existe vida inteligente. Pode ou não, ser<br />

uma ameaça... Nunca se sabe! ...<br />

- Está bem. Klemps comunique a<br />

Ambhórius, para que traga a frota para cá.<br />

Depois seguiremos juntos.<br />

Pouco tempo depois a frota já<br />

reunida, seguiu para o “Asteróide de<br />

Tameron” em velocidade média, até um<br />

125


Macron de distância dele, onde a frota<br />

parou. A Kosmos seguiu mais adiante,<br />

observan<strong>do</strong> uma distância de três mil<br />

centons <strong>do</strong> objeto.<br />

Uma das naves-transporte, foi<br />

transformada em laboratório, batizada de<br />

Mini-Lab, levan<strong>do</strong> Thorc, Zur-Kwa e o<br />

corpo de cientistas, acompanha<strong>do</strong>s por<br />

técnicos de programação e operações<br />

computa<strong>do</strong>rizadas.<br />

Depois de cinco órbitas sobre o<br />

asteróide, o Mini-Lab pousou suavemente,<br />

sem qualquer alteração aparente em seus<br />

sistemas.<br />

Quatro seres devidamente<br />

traja<strong>do</strong>s com macacões pressuriza<strong>do</strong>s,<br />

botas magnéticas e capacetes com visor<br />

largo, com a iluminação fornecida pelo<br />

Mini-Lab, deram início à exploração<br />

daquela parte plana. A seguir, conectaram<br />

várias sondas lazers entre o asteróide e os<br />

instrumentos <strong>do</strong> laboratório, e passa<strong>do</strong>s<br />

para o computa<strong>do</strong>r central <strong>do</strong> próprio.<br />

126


Eram movimentos vagarosos e<br />

comanda<strong>do</strong>s por Zur-Kwa, que se<br />

mantinha atento, com os olhos ora lá fora,<br />

ora nos instrumentos, que até então,<br />

mostravam-se operantes. Numa primeira<br />

análise, os toques apresentavam campos<br />

magnéticos fortíssimos e varia<strong>do</strong>s em<br />

potência e polarização definidas. Havia<br />

também um terceiro pólo e este sugava<br />

energia <strong>do</strong> Mini-Lab, apresentan<strong>do</strong><br />

constantes variações quanto ao grau<br />

magnético com variáveis estranhas, nunca<br />

vistas antes.<br />

Zur-Kwa acompanhava àquelas<br />

transformações, com a curiosidade de<br />

criança. O mesmo acontecia com Thorc,<br />

que via sua teoria se configuran<strong>do</strong>, na<br />

medida em que experimentava inversões<br />

de força, pelo qual, o asteróide respondia<br />

dentro de suas expectativas.<br />

Eram batidas chapas lazers,<br />

fotografan<strong>do</strong> o interior daquela massa<br />

uniforme, exceto por algumas bolhas em<br />

seu interior. Tinha a característica de um<br />

solo rochoso e derreti<strong>do</strong>.<br />

127


Resolveram perfurá-lo, mas quebraram-se<br />

todas as brocas, sem ao menos riscá-lo ou<br />

apresentar qualquer marca. Thorc decidiu<br />

usar os Prottons em potência mínima,<br />

surgin<strong>do</strong> algum resulta<strong>do</strong>. As amostras <strong>do</strong><br />

material recolhi<strong>do</strong> foram analisadas<br />

imediatamente, no mesmo instante em que<br />

o aspira<strong>do</strong>r parou de funcionar, e os<br />

Prottons simultaneamente cessaram suas<br />

ações. Thorc aumentou a potência,<br />

constatan<strong>do</strong> uma pressão inversa, pois o<br />

material encandecia e curiosamente<br />

tornava-se mais sóli<strong>do</strong> e até certo mo<strong>do</strong>,<br />

indestrutível, à meia força. As projeções <strong>do</strong><br />

Komptor acusavam em caso de aumento<br />

de potência, que aquela massa poderia<br />

suportar até trinta Vetrons.<br />

- Espantoso! – admirou-se – é a<br />

coisa mais dura que já vi! Seus átomos não<br />

se decompõem.<br />

Zur-Kwa estudava as análises <strong>do</strong><br />

Komptor. As amostras <strong>do</strong> material eram<br />

como disse Thorc, espantosas, seus<br />

átomos eram carrega<strong>do</strong>s de photons e sem<br />

dúvida nenhuma, <strong>aqui</strong>lo era metal. Metal<br />

duro, leve e excelente condutor de<br />

eletricidade e magnetismo por indução.<br />

128


- Imagine se conseguíssemos<br />

construir nossas naves com este material?<br />

– disse, Zur-Kwa – Os March, por exemplo<br />

seriam mais duros, leves...<br />

- Estava pensan<strong>do</strong> em aproveitar<br />

esta liga nos motores Íons – - Este<br />

foi um acha<strong>do</strong> valioso...<br />

- Só nos resta saber o que<br />

aconteceu com a expedição anterior,<br />

ocasionan<strong>do</strong> a morte de Asthon- disse um<br />

<strong>do</strong>s cientistas.<br />

- Isto nós já sabemos – disse,<br />

Thorc – Este material provoca a “Força<br />

Espelhada Plena Posteriorizada”. Tu<strong>do</strong><br />

que você emite ela devolve. Vocês não<br />

estão curiosos por que ainda mantemos os<br />

nossos energiza<strong>do</strong>res plenos, com os<br />

reservatórios cheios?<br />

- E ao que se deve isto? –<br />

perguntou um deles.<br />

- Pelo fato em que Thorc reverteu<br />

os vetores – entrou Zur-Kwa nervoso,<br />

ven<strong>do</strong> a falta de raciocínio deles –<br />

Injetamos força no asteróide, se é que se<br />

possa chamar de força. Assim a força que<br />

mandamos para ele nos é devolvida.<br />

- Desta maneira, quan<strong>do</strong> sugamos<br />

dele as informações que queremos, os<br />

129


energiza<strong>do</strong>res baixam consideravelmente<br />

as reservas, então se reverte os vetores e<br />

as válvulas <strong>do</strong> Mini-Lab absorvem toda a<br />

energia que esta coisa nos devolve. Asthon<br />

morreu porque usou toda sua energia.<br />

Então, nesta linha de pensamento,<br />

notaram que os sinais de áudio, envia<strong>do</strong>s<br />

pela Kosmos, sofriam variações de<br />

freqüência, ocasionan<strong>do</strong> distorções de<br />

largo espectro. Thorc decodificou estes<br />

níveis e os introduziu no Komptor. Os<br />

sinais anteriores ainda se mantinham<br />

intermitentes, contu<strong>do</strong> sem dar senti<strong>do</strong><br />

algum.<br />

- Vamos mediar o Komptor com<br />

os defletores refratores – disse Thorc.<br />

Instantes depois a tela <strong>do</strong> Komptor traduziu<br />

os sinais como pedi<strong>do</strong> de socorro.<br />

- Socorro?!?– inquiriu, Zur-Kwa.<br />

Fanna acompanhava da Kosmos<br />

to<strong>do</strong>s os acontecimentos e as projeções <strong>do</strong><br />

Komptor, via Telecon. Tutkan, junto a ele<br />

não acreditava no que via. Ou seja, um<br />

enorme SOCORRO impresso na tela.<br />

- O que você acha Erus?<br />

- Não sei no que pensar. Pode ser um<br />

pedi<strong>do</strong> de socorro e pode não ser.<br />

130


- Uma cilada?<br />

- Quem sabe?<br />

- Mas, e se for mesmo, socorro?<br />

- Mas de quem? Pelo visto aquele<br />

bloco de metal, logo à frente, foi cria<strong>do</strong><br />

pelos que clamam por socorro ...<br />

- Aonde você quer chegar? –<br />

perguntou Tutkan, ven<strong>do</strong> Fanna com olhar<br />

perdi<strong>do</strong>.<br />

- Algo terrível deve ter aconteci<strong>do</strong><br />

a ele, ou a eles, e se a nossa tecnologia<br />

não foi eficaz no desvendar aquele<br />

mistério, veja, quem está em apuros é<br />

porque foi subjuga<strong>do</strong> por força ainda<br />

maior...<br />

- E então?<br />

- Então, precisamos saber o que<br />

é. Você sabe, dúvidas acabam comigo.<br />

Quem poderíamos mandar numa missão<br />

de busca, como esta?<br />

-- Acho que desta vez,<br />

enviaremos Zeuez acompanha<strong>do</strong> por Velz.<br />

- Tut, traga a frota para cá,<br />

também. Ficaremos <strong>aqui</strong> até que voltem da<br />

missão.<br />

A aproximação da frota trouxe<br />

uma descontração benéfica nos ânimos até<br />

então apreensivos. E motivo de muita<br />

131


alegria ao serem libera<strong>do</strong>s para visitação<br />

no asteróide. Naturalmente, aqueles que<br />

se predisporam a abordá-lo, foram<br />

instruí<strong>do</strong>s em como proceder com suas<br />

naves.<br />

Então os Zags partiram, com<br />

cargas extras de energia.<br />

À cerca de trinta Macrons adiante<br />

penetraram num pequeno sistema solar,<br />

com um sol amarelo-esverdea<strong>do</strong> e cinco<br />

planetóides em sua órbita, muito próximos<br />

uns <strong>do</strong>s outros. Os sinais estavam mais<br />

fortes e os sensores direcionais e vetores,<br />

apontavam para um daqueles planetas.<br />

Não puderam seguir adiante e voltaram<br />

para a base, levan<strong>do</strong> consigo a nova<br />

notícia. Neste ínterim, Thorc e Zur-Kwa,<br />

encontraram um meio de neutralizar a ação<br />

reflexa provocada pelo, então, “Asteróide<br />

de Tameron”. Em estu<strong>do</strong>s finais,<br />

desvendar como extrair um pedaço dele<br />

para análises posteriores, procedência,<br />

composição química, etc.<br />

A notícia sobre a descoberta<br />

daquele sistema de planetóides e que<br />

provavelmente lhes pudesse oferecer<br />

132


guarida, causou uma onda otimista na vida<br />

<strong>do</strong>s Somerianos. Naturalmente Fanna<br />

ponderou to<strong>do</strong>s os prós e contras para<br />

então se decidir.<br />

Um dia após o retorno da missão<br />

Zag, Fanna entrou em rede nos Telecons<br />

da frota anuncian<strong>do</strong> sua decisão em<br />

avançar nas pesquisas. Isto porque Thorc<br />

e Zur-Kwa, finalmente conseguiram, por<br />

meio de um “fio fino” de raios Protton,<br />

extrair uma amostra, pequena, mas<br />

suficiente, <strong>do</strong> bloco de metal<br />

desconheci<strong>do</strong>. Esta decisão mereceu<br />

muitos “hurras” por parte de toda aquela<br />

gente.<br />

Em dez tempos saíram ao<br />

encontro de suas esperanças, que ficava<br />

no septuagésimo terceiro setor <strong>do</strong> oitavo<br />

quadrante estelar.<br />

Logo os monitores da Kosmos<br />

detectaram a presença <strong>do</strong> pequeno<br />

sistema, com um sol jovem, muito<br />

luminoso, brilhante, amarelo-esverdea<strong>do</strong>.<br />

Foi onde a frota estacionou novamente, a<br />

cinco Macrons de distância <strong>do</strong> planeta<br />

mais distante daquele sol. Novamente<br />

133


Zeuez e Velz foram escala<strong>do</strong>s para o<br />

reconhecimento, e assim partiram.<br />

O planeta responsável pela<br />

emissão <strong>do</strong>s sinais foi localiza<strong>do</strong> por<br />

Zeuez, que muito excita<strong>do</strong>, disse para<br />

Velz.<br />

- Vamos chegar mais perto.<br />

Era o menor planeta de to<strong>do</strong> o<br />

sistema e tinha de longe, uma coloração<br />

verde-clara. Na primeira órbita, os sinais<br />

agora eram níti<strong>do</strong>s, como se fosse uma<br />

porta abrin<strong>do</strong> e fechan<strong>do</strong>. Seu ranger era<br />

intermitente. Os sensores Kranset-II<br />

analisaram aquela atmosfera, acusan<strong>do</strong><br />

oxigênio raro e metano, numa camada<br />

atmosférica muito fina.<br />

Apresentava temperatura de duzentos e<br />

trinta graus negativos e tempestades<br />

constantes com neve de metano.<br />

- Com uma temperatura destas,<br />

como pode haver vida lá em baixo? –<br />

indagou, Velz.<br />

- Já vamos saber- disse Zeuez<br />

ignoran<strong>do</strong> as hostilidades atmosféricas dali<br />

134


– Vamos descer a dez centons e dar uma<br />

espiada melhor. Vamos rumo ao norte, é<br />

de lá que vem os sinais, veja no seu<br />

telemérico. Ajuste o seu com o meu.<br />

As pequenas naves saíram da<br />

órbita e penetraram na fina camada<br />

atmosférica, mergulhan<strong>do</strong> e receben<strong>do</strong> em<br />

cheio enxurradas de neve, sen<strong>do</strong><br />

necessário aquecer as carlingas. Aos<br />

poucos, a visibilidade voltava ao normal.<br />

- Estamos perto, comandante.<br />

Estou mudan<strong>do</strong> o curso para uma hora.<br />

- Esta certo. Mudei o meu. Vamos<br />

diminuir a marcha.<br />

- Afirmativo. Veja, parece que a<br />

tempestade cessou. Já posso ver o céu<br />

verde, quase limpo.<br />

- Sim, muito bonito e<br />

interess...minha nossa! O que é <strong>aqui</strong>lo?<br />

- Parece ser uma edificação ...<br />

triangular ... assimétrica...<br />

-... E com base quadrangular,<br />

senhor – concluiu Velz, que, tanto quanto<br />

Zeuez, tinha sua boca aberta, estupefatos.<br />

- Sim, isto foi construí<strong>do</strong> por<br />

criaturas inteligentes e prova muitas teorias<br />

antigas. Lembro-me de ter visto edificações<br />

135


semelhantes, nos velhos livros. Eram<br />

usadas como templos, outras eram uma<br />

espécie de celeiros, e as maiores<br />

acondicionavam usinas atômicas ... eram<br />

chamadas de pirâmides.<br />

- Pirâmides, senhor?<br />

- Sim. Dizem que sua construção<br />

e feitura energizavam e conservavam tu<strong>do</strong><br />

o que era guarda<strong>do</strong> nelas, não sofren<strong>do</strong><br />

deterioração.<br />

- E também eram templos?<br />

- Sim, esta energização de dentro<br />

permitia aos antigos sacer<strong>do</strong>tes, sua<br />

purificação espiritual, visões de Deus e<br />

aproximação de suas hostes e orientação<br />

ao seu povo. Seu principal sacer<strong>do</strong>te e<br />

mentor chamava-se Krasha-Halah.<br />

- O santo <strong>do</strong> Carvelus?<br />

- Isso mesmo.<br />

- E o que faremos agora?<br />

- Primeiro, vamos olhar mais de<br />

perto, depois a gente resolve.<br />

O céu agora tornara-se limpo,<br />

como uma grande abóbada verde e<br />

brilhante, ou no interior de uma lâmpada,<br />

como disse Velz, onde tão somente<br />

136


passava os raios solares, sem o sol<br />

aparecer.<br />

- Velz, vamos pousar e explorar<br />

aquela pirâmide. Mas, primeiro daremos<br />

voltas por ela, em espiral. Talvez a gente<br />

descubra alguma porta ou entrada, sei lá.<br />

- Positivo, comandante. Mas não<br />

será perigoso?<br />

- É, pode ser. Mas minha intuição<br />

diz que não.<br />

E assim foram dadas as voltas em<br />

espiral, diminuin<strong>do</strong> a extensão <strong>do</strong>s círculos<br />

conforme baixavam de altitude.<br />

No centro da parede leste, havia<br />

uma espécie de hal de entrada, com<br />

desenho triangular assimétrico. Uma<br />

pequena borda horizontal na parte<br />

superior, formava um quadra<strong>do</strong> até o chão<br />

gela<strong>do</strong>.<br />

Seus instrumentos de medição na<br />

curvatura espacial acusavam gravitacional<br />

de Um-G negativo. As naves pousaram e<br />

taxiaram na camada grossa de gelo, em<br />

direção a porta, que agora era bem grande.<br />

Ajustaram seus trajes de acor<strong>do</strong> com a<br />

137


gravidade local e desceram <strong>do</strong>s March-1,<br />

levan<strong>do</strong> cada um, um analisa<strong>do</strong>r Kramset-<br />

P (portátil), lanternas e suas armas<br />

Prottons.<br />

A grande porta estava fechada e<br />

com aparência de estar assim, há séculos.<br />

De súbito surgiu <strong>do</strong> nada, feito uma<br />

miragem um caminho para que pudessem<br />

chegar a grande porta. Para chegarem até<br />

ela, havia uma grande chapa de metal<br />

<strong>do</strong>ura<strong>do</strong> sintético, os conduzin<strong>do</strong> até cinco<br />

degraus, revelan<strong>do</strong> que a estatura de<br />

quem os construiu, não era muito maior <strong>do</strong><br />

que eles. Nas extremidades duas muretas<br />

baixas até a porta, acaban<strong>do</strong> com duas<br />

pedras maiores de tamanhos iguais,<br />

lapidadas em seu relevo, vários símbolos<br />

desconheci<strong>do</strong>s. No meio de ambas, de<br />

frente uma para outra, brotava uma luz<br />

branca, muito fina, mostran<strong>do</strong> a brancura<br />

daqueles degraus, que curiosamente não<br />

continham nem um pouco de neve. Esta<br />

luminosidade espontânea os deixou um<br />

tanto apreensivos. Entretanto de acor<strong>do</strong><br />

com os sensores que portavam, não<br />

acusava perigo, calor, ou presença de vida,<br />

138


dan<strong>do</strong>-lhes, de certo mo<strong>do</strong>, segurança e<br />

incentivo para prosseguir.<br />

Subitamente, a porta se dividiu ao<br />

meio, abrin<strong>do</strong>-se lentamente, fazen<strong>do</strong><br />

poeira de gelo, causan<strong>do</strong>-lhes susto e<br />

temor. Olharam-se por instantes e Zeuez<br />

decidiu entrar, perceben<strong>do</strong> o seu interior:<br />

uma sala média com uma porta bem a sua<br />

frente. Era uma porta pequena e parecia<br />

ser feita <strong>do</strong> mesmo material por onde<br />

pisaram antes.<br />

- Vamos Velz, entre, não há<br />

perigo. É gostoso, <strong>aqui</strong> dentro.<br />

- Comandante, estou com me<strong>do</strong>.<br />

Não seria melhor voltarmos e relatar o<br />

acha<strong>do</strong> ao líder?<br />

- Estou curioso demais, para<br />

voltar, Velz. Mas se quiser pode voltar.<br />

- Não senhor, não vou deixá-lo<br />

<strong>aqui</strong> sozinho.<br />

- E então Velz, o que está<br />

esperan<strong>do</strong>?<br />

Ao passarem para dentro, as duas<br />

metades da porta de entrada, se juntaram,<br />

numa rapidez espantosa, ocasionan<strong>do</strong><br />

agonia em Velz, que inutilmente tentava<br />

reabri-la em movimentos frenéticos.<br />

139


Imediatamente uma fumaça<br />

branca surgiu de <strong>do</strong>is pequenos orifícios<br />

laterais, paralizan<strong>do</strong>-os. A escuridão tomou<br />

conta <strong>do</strong> ambiente . Ativaram suas<br />

lanternas e instantes depois a fumaça<br />

cessou e a porta menor, abriu-se.<br />

- Ora, vejam só, parece que<br />

estamos num sonho – disse Zeuez com voz<br />

calma.<br />

Velz permanecia estupefato e<br />

amedronta<strong>do</strong>, não acreditan<strong>do</strong> no que via.<br />

Havia espalha<strong>do</strong> pelo interior da outra sala<br />

muitos aparelhos semelhantes aos seus<br />

computa<strong>do</strong>res, entretanto, à primeira vista,<br />

desativa<strong>do</strong>s. No centro da sala, havia uma<br />

grande pirâmide de cristal, conten<strong>do</strong> um<br />

líqui<strong>do</strong> borbulhante e transparente. Esta<br />

pirâmide pairava sobre um suporte<br />

metaliza<strong>do</strong> <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>.<br />

Com passos lentos e cuida<strong>do</strong>sos,<br />

com total atenção, examinaram tu<strong>do</strong> à<br />

volta. Encontraram às costas da pirâmide<br />

de cristal, um cabo conector, que<br />

terminava num aparelho ativa<strong>do</strong>, com<br />

vários controles e piscas colori<strong>do</strong>s.<br />

Nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is se atreveu a tocá-lo.<br />

140


- O que será isso? – perguntou,<br />

Velz .<br />

- Deve ser a fonte <strong>do</strong>s ruí<strong>do</strong>s que<br />

captamos. Vamos ver se encontramos<br />

alguém <strong>aqui</strong> dentro.<br />

- Não sei por que, senhor, mas<br />

agora me sinto calmo, tranqüilo, em paz<br />

comigo mesmo.<br />

- É verdade, Velz. Eu também<br />

sinto isto. É uma sensação repousante,<br />

muito reconforta<strong>do</strong>ra.<br />

- Veja, senhor ...<br />

- O que foi ? Zeuez, perguntou<br />

baixinho.<br />

- O meu sensor indica que temos<br />

gravidade normal, pressurização e<br />

oxigênio, <strong>aqui</strong> dentro.<br />

- Sim, só que o oxigênio é um<br />

pouco mais pesa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que aquele que<br />

estamos acostuma<strong>do</strong>s a respirar. Vamos<br />

tirar os capacetes.<br />

Pouco depois respiravam aquele<br />

ar e sentiam o cheiro característico de<br />

produtos usa<strong>do</strong>s em assepsia de<br />

ambientes.<br />

141


- Interessante – observou, Zeuez –<br />

até parece perfume!<br />

- Senhor, observe – disse Velz<br />

admira<strong>do</strong>- quan<strong>do</strong> falamos, o líqui<strong>do</strong> da<br />

pirâmide reage, borbulhan<strong>do</strong> mais.<br />

- É mesmo, parece ter vida!<br />

- Mas os nossos sensores não<br />

acusam presença de vida!<br />

- Talvez a gente não conheça este<br />

tipo de vida. Certamente, isto tu<strong>do</strong> é fruto<br />

de vida inteligente. Olhe, há quatro portas,<br />

uma em cada canto. Vamos ver o que há lá<br />

dentro.<br />

Entraram nos quatro<br />

compartimentos e nada encontraram, além<br />

de mais aparelhos desativa<strong>do</strong>s. Voltaram<br />

para a sala central e deram mais uma volta<br />

até que, Velz, acidentalmente tropeçou<br />

numa pequena saliência ao la<strong>do</strong> da<br />

pirâmide de cristal. Imediatamente outra<br />

porta, esta, menor <strong>do</strong> que as outras surgiulhe<br />

à frente, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> “rack” ativa<strong>do</strong>.<br />

Havia uma pequena escadaria, com<br />

degraus estreitos em espiral. Subiram por<br />

ela, encontran<strong>do</strong> outra sala, com vários<br />

armários de metal <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> numa das<br />

142


extremidades, e na outra, algo parecen<strong>do</strong><br />

ser uma cama.<br />

- Parece ser uma cela de repouso<br />

– disse, Zeuez.<br />

Após a cama, outra porta aberta,<br />

de onde podiam ver o encosto de uma<br />

poltrona, de costas para eles. Logo à sua<br />

frente, um console, com controles de um<br />

la<strong>do</strong> e uma mesa <strong>do</strong> outro. À frente uma<br />

tela enorme, toman<strong>do</strong> quase to<strong>do</strong> o espaço<br />

da parede.<br />

Ao entrar, viram à direita, junto à<br />

parede de pedra branca, muito lisa e<br />

uniforme, uma espécie de arquivo, que ia<br />

<strong>do</strong> chão até o teto, com muitos módulos<br />

em to<strong>do</strong>s eles, com toda sorte de símbolos,<br />

colori<strong>do</strong>s e em relevo.<br />

Ao virarem a poltrona, quase<br />

caíram de susto. Havia nela, um cadáver<br />

totalmente desidrata<strong>do</strong> com cabelos e<br />

barba compri<strong>do</strong>s e brancos. Ele estava<br />

vesti<strong>do</strong> com um manto branco, o teci<strong>do</strong><br />

desgasta<strong>do</strong> e toma<strong>do</strong> por poeira grossa e<br />

acinzentada. Ao la<strong>do</strong>, na mesa, repousava<br />

alguns objetos pessoais, um cálice de<br />

143


cristal e o que parecia ser um livro,<br />

conten<strong>do</strong> na capa, outro símbolo.<br />

- Quem quer que fosse esse ser –<br />

disse, Velz - deve ter deixa<strong>do</strong> alguma coisa<br />

para a posteridade, pode até ser um diário.<br />

- Estou certo que o pedi<strong>do</strong> de<br />

socorro, foi emiti<strong>do</strong> por ele.<br />

- Pena que chegamos tarde<br />

demais.<br />

- Vamos ver o que há neste livro.<br />

Tenha cuida<strong>do</strong>, Velz, não queremos<br />

acidentes com esta preciosidade.<br />

Mas, Zeuez ao pegá-lo,<br />

acidentalmente, com a <strong>do</strong>bra externa de<br />

sua luva, tocou numa chave, que parecia<br />

uma pequena alavanca, e ativou o console.<br />

Muitas luzes acenderam em piscas<br />

ordena<strong>do</strong>s e em seguida, a tela grande<br />

produziu luminosidade azulada. Zeuez<br />

repetiu a operação ao contrário e tu<strong>do</strong> se<br />

desligou. Voltou a ligar e desligar mais<br />

duas vezes.<br />

- Velz – disse Zeuez, com seus<br />

olhos esbugalha<strong>do</strong>s – já me sinto satisfeito<br />

com o que vimos. É tempo de voltarmos e<br />

contar ao nosso pessoal o que<br />

encontramos <strong>aqui</strong>. Levaremos este livro<br />

144


para os nossos cientistas se divertirem um<br />

pouco.<br />

- Mas acho que temos um<br />

problema. Como se faz para sair d<strong>aqui</strong>?<br />

- Da mesma maneira como<br />

entramos. Lembra-se daquelas luzes<br />

brancas, que saiam daquelas pedras lá<br />

fora?<br />

- Sim, acho que era uma espécie<br />

de células foto-elétricas.<br />

- Exatamente e acontece que eu<br />

vi outras, logo que entramos pela segunda<br />

porta e mais outras <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>. Penso<br />

que elas funcionarão em senti<strong>do</strong> contrário,<br />

nos levan<strong>do</strong> à saída.<br />

previra.<br />

E assim foi. Conforme Zeuez<br />

Lá fora estavam os <strong>do</strong>is March-1,<br />

<strong>do</strong> mesmo jeito que foram deixa<strong>do</strong>s,<br />

apenas apresentan<strong>do</strong> certo congelamento<br />

nas carlingas e asas. O frio era tanto que<br />

atravessava seus trajes impermeáveis,<br />

pressuriza<strong>do</strong>s e aqueci<strong>do</strong>s internamente.<br />

Subiram pela escadinha e<br />

acomodaram-se aos controles. Selaram as<br />

145


carlingas e numa breve manobra,<br />

arremeteram-se em velocidade máxima<br />

para casa.<br />

Na grande nave Kosmos, havia<br />

preocupação e aflição com o silêncio das<br />

comunicações. Já se passara dezesseis<br />

tempos e alguns microns desde que a<br />

missão Zag partira.<br />

- Aqui é Zag-um para a<br />

Kosmos...Zag-um para a Kosmos...<br />

- Kosmos na escuta, pode falar,<br />

Zag-um.<br />

- Chame o comandante Tutkan,<br />

Samis. Temos novidades – a voz de Zeuez<br />

era excitada, sem perceber, gritava.<br />

- Aguarde um instante, Zag-um.<br />

Tutkan estava no hangar de<br />

lançamentos, dan<strong>do</strong> instruções a Tameron<br />

e Maxun para partirem em busca <strong>do</strong>s<br />

outros <strong>do</strong>is Zags, quan<strong>do</strong> Samis o chamou<br />

pelo Intercon.<br />

- Comandante Tutkan, Zag-um e<br />

<strong>do</strong>is no Telecon.<br />

- Já não era sem tempo – disse<br />

consigo mesmo, e comunicou aos <strong>do</strong>is que<br />

se preparassem para o lançamento –<br />

146


Rapazes, aguardem um pouco – ativan<strong>do</strong> o<br />

Intercon – Obriga<strong>do</strong> Samis. Já estou in<strong>do</strong>.<br />

Tutkan partiu apressa<strong>do</strong> para a<br />

sala <strong>do</strong> Telecon, quase corren<strong>do</strong> e<br />

colidin<strong>do</strong> com outros que transitavam pelo<br />

corre<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong>-os curiosos.<br />

- Zeuez, pode falar. Tutkan na<br />

escuta.<br />

- Comandante, nem vai acreditar.<br />

Mal posso esperar para ver a cara de<br />

vocês, quan<strong>do</strong> chegar aí.<br />

- Ora, Zeuez, deixe de mistérios.<br />

Desembuche logo.<br />

- Pois, encontramos uma pirâmide<br />

e estamos levan<strong>do</strong> um presentinho para<br />

vocês ... – Zeuez falava rápi<strong>do</strong> demais<br />

atropelan<strong>do</strong> as palavras, sen<strong>do</strong><br />

interrompi<strong>do</strong> vez por outra, por Tutkan,<br />

para um melhor entendimento.<br />

Na medida em que era relatada a<br />

missão, tanto Tutkan, como Fanna, que se<br />

encontrava na ponte, ao chama<strong>do</strong> de<br />

Samis, pediam mais e mais detalhes.<br />

Tinham nos olhos a expressão de criança<br />

quan<strong>do</strong> descobre como acontece o<br />

nascimento.<br />

147


Por ordem de Fanna, os Telecons<br />

da frota estavam ativa<strong>do</strong>s em rede e no<br />

final da narrativa de Zeuez deram um belo<br />

e estron<strong>do</strong>so “hurra”, que podia ser ouvi<strong>do</strong><br />

pelo universo inteiro. Aquilo tu<strong>do</strong> os levou a<br />

um êxtase nunca antes visto nem senti<strong>do</strong>.<br />

Abraçavam-se, cantavam, pulavam.<br />

Pouco depois, as duas naves<br />

ganhavam as pistas de pouso da Kosmos<br />

e quan<strong>do</strong> pararam, havia uma pequena<br />

multidão à sua espera. O aplauso era<br />

estron<strong>do</strong>so.<br />

Fanna, de seu observatório, não<br />

escondia sua emoção e não parava de<br />

repetir à Tutkan:<br />

- Eu não disse, Tut, não estamos<br />

sós no Universo. Existem outros seres<br />

inteligentes, iguais ou mais <strong>do</strong> que nós...<br />

- Erus, você já me disse isso,<br />

quarenta e nove vezes. Mas pode me dizer<br />

mais mil que eu vou sentir como se fosse a<br />

primeira.<br />

E ria pra valer, da expressão de<br />

Fanna, admira<strong>do</strong> com o que ouvia de seu<br />

amigo.<br />

148


- Puxa, Tut, passamos por uma<br />

tensão tão grande, acho que devemos<br />

tomar um grande gole.<br />

- Grande idéia. Acho que vou<br />

beber uma garrafa inteira. Você me<br />

acompanha?<br />

- Claro, porque não? Inclusive<br />

acho que você pode beber quantas<br />

garrafas quiser.<br />

Naquele dia, os Somerianos<br />

baixaram consideravelmente os estoques<br />

de Somir e Ramza – uma comida feita de<br />

cereais torra<strong>do</strong>s e moí<strong>do</strong>s, depois assa<strong>do</strong><br />

com óleo de frutas.<br />

As cúpulas de observatórios das<br />

naves estavam repletas de gente e de<br />

alegria. Nesta ocasião, Velz conseguiu<br />

brindar com Zuila, e mais uma vez, sua<br />

timidez o impediu de dizer o quanto<br />

gostava dela.<br />

Depois de passada a euforia e<br />

muitas ressacas, as coisas voltaram ao<br />

normal. As atividades costumeiras<br />

retomadas.<br />

149


Decifrar aqueles rabiscos e<br />

símbolos encontra<strong>do</strong>s no livro, levou quase<br />

um perío<strong>do</strong> inteiro, precisamente vinte e<br />

um dias. Os peritos em lingüística com<br />

ajuda <strong>do</strong> Komptor, chegaram a um<br />

denomina<strong>do</strong>r comum. Nas páginas de um<br />

material poroso apareceu um relato e uma<br />

mensagem daquele ser que jazia na<br />

pirâmide. Dizia o seguinte :<br />

“Talvez nunca seja encontrada a<br />

minha casa e sei que nunca voltarei ao<br />

meu planeta natal, GORAN”. Mas se for<br />

encontra<strong>do</strong>, gostaria , se possível, ser<br />

tira<strong>do</strong> d<strong>aqui</strong>, pois a idéia de ficar para<br />

sempre neste lugar, me traz, ainda mais<br />

tristeza ao espírito.<br />

Saibam, portanto, que<br />

construímos neste planetóide, um posto de<br />

observação avança<strong>do</strong>, e encontrarão nos<br />

arquivos, tu<strong>do</strong> o que gravamos, em<br />

imagens de to<strong>do</strong>s os planetas habita<strong>do</strong>s e<br />

uma análise de seus comportamentos, na<br />

maioria primitivos.<br />

Nas páginas seguintes, haverá<br />

um esquema detalha<strong>do</strong> de como fazer e<br />

150


operar os computa<strong>do</strong>res de emissão<br />

holográficas no telão-visor. Talvez seja<br />

novidade o que verão, e se assim for,<br />

usem essas novas descobertas com<br />

sabe<strong>do</strong>ria, sempre para o bem e nunca<br />

façam delas mal a outrem, pois tu<strong>do</strong> o que<br />

inventamos e criamos, não há meios de se<br />

destruir e se, porventura, alguém tentar,<br />

possivelmente será destruí<strong>do</strong> antes de<br />

conseguir.<br />

Deixo estas coisas todas, como<br />

um pai que ama seu filho e não poden<strong>do</strong><br />

estar mais com ele, o entrega ao<br />

desconheci<strong>do</strong>. Mas que este desconheci<strong>do</strong><br />

saiba cuidá-lo e amá-lo tanto quanto eu.<br />

Um lembrete, esta edificação<br />

piramidal está equipada com senti<strong>do</strong>s e<br />

sensores, que perceberá as intenções de<br />

quem se aproximar. Portanto, sejam<br />

sensatos e pensem bem, antes de usar os<br />

arquivos,”<br />

HAMOUR – ZM<br />

151


De fato, nas páginas seguintes,<br />

vinha um esquema detalha<strong>do</strong> em como<br />

operar um sistema incrivelmente<br />

sofistica<strong>do</strong> e muito bem construí<strong>do</strong>.<br />

Erus Fanna disse : - Penso que<br />

Hamour sabia que estávamos à caminho,<br />

antes de nós mesmos. Temos que honrar o<br />

seu postula<strong>do</strong>. Tut, convoque as nossas<br />

maiores inteligências e vamos lá ver o que<br />

o futuro nos reserva.<br />

152


C A P Í T U L O V<br />

Ambhórius era um ser bastante<br />

respeita<strong>do</strong> entre os Somerianos, sen<strong>do</strong> por<br />

vezes, designa<strong>do</strong> por Fanna em sua<br />

ausência supervisor da frota. Desde que<br />

fora à reunião, onde resolveram partir para<br />

“o futuro”, seus neurôneos buscavam uma<br />

decisão importante: Participar da<br />

expedição que estudaria Hamour e sua<br />

pirâmide. Amis, sua única filha tentava<br />

encorajá-lo.<br />

- Papai, deves considerar uma<br />

honra, ser convoca<strong>do</strong> por nosso líder, para<br />

participar desta expedição significativa e<br />

histórica.<br />

Amis era uma das belas<br />

somerianas, esbelta, de cabelos longos,<br />

lisos e pretos, com pele muito clara. Seu<br />

pai costumava dizer que era o retrato vivo<br />

de sua mãe, principalmente os olhos<br />

amen<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s e escuros, combinan<strong>do</strong> com<br />

lábios carnu<strong>do</strong>s e rosa<strong>do</strong>s.<br />

- Minha filha, não creio, seja<br />

necessária a minha presença junto a esta<br />

153


expedição. Segun<strong>do</strong> soube, será<br />

constituída somente por cientistas e<br />

estudiosos de línguas e símbolos antigos.<br />

Acho que me sentiria desloca<strong>do</strong>.<br />

- Papai, você não é um cientista,<br />

mas é um <strong>do</strong>s mais respeita<strong>do</strong>s<br />

Somerianos. Você foi convida<strong>do</strong>,<br />

exatamente por não ser liga<strong>do</strong> às ciências.<br />

- Não sei... acho que o meu lugar<br />

é <strong>aqui</strong>, junto a você e os outros. E se algo<br />

acontecer? Não... nunca gostei de ir ao<br />

encontro <strong>do</strong> que não conheço...<br />

- Está bem, papai. Você é quem<br />

decide. Eu, sinceramente, gostaria que<br />

você fosse. Você acha que há perigo lá?<br />

- Não sei. Acho que não. O caso é<br />

que... ora, você me conhece, não gosto de<br />

aventuras... os meus nervos... não<br />

agüentam pressões... já não sou mais um<br />

garotinho... Não quero me expor desta<br />

maneira.<br />

- Você está com me<strong>do</strong>?<br />

- Estou filha. Pra dizer a verdade,<br />

estou mesmo.<br />

Com estas palavras, Ambhórius<br />

se retirou de seus aposentos, deixan<strong>do</strong> sua<br />

filha envolvida em seus estu<strong>do</strong>s sobre<br />

154


construções e adaptações de<br />

melhoramentos de espaço físico.<br />

Ele, ao chegar à ponte de<br />

coman<strong>do</strong> de sua nave, solicitou transporte<br />

para ir até a Kosmos. Queria falar com<br />

Fanna pessoalmente e comunicar sua<br />

decisão.<br />

Ao saber da ida <strong>do</strong> pai à navemãe,<br />

Amis se apressou e insistiu para ir<br />

também, pois gostaria de rever suas<br />

amigas Zuila e Zart e se possível, ter uma<br />

palavrinha com seu ex-professor, Zur-Kwa.<br />

Fazia mais de oito perío<strong>do</strong>s que não os via<br />

e além <strong>do</strong> mais, queria fofocar com Zart,<br />

sua confidente de sempre.<br />

Zuila e Zart estavam no<br />

observatório central, com Fanna, para<br />

receber a velha amiga de escola. Elas<br />

dividiram o mesmo núcleo de vida na<br />

pequena escola de ciências na antiga Base<br />

Hemisferial Sul, onde aprenderam muitas<br />

coisas com Zur-Kwa. Mais tarde se<br />

diplomaram em campos diferentes. Zart,<br />

em programação e construção de<br />

computa<strong>do</strong>res, prioriza<strong>do</strong>s em<br />

155


instrumentos de medição e precisão. Zuila<br />

diplomou-se em organização de empresas<br />

e mais tarde em Filosofia. Amis seguiu<br />

engenharia, especializan<strong>do</strong>-se pelos<br />

caminhos da arquitetura e apesar de pouca<br />

idade, era a responsável pela criação e<br />

desenvolvimento das naves-celeiro.<br />

Depois <strong>do</strong>s abraços e beijos<br />

costumeiros, com aqueles gritinhos de<br />

satisfação, as três passaram a fofocar<br />

baixinho.<br />

- Esperávamos que você<br />

estivesse <strong>aqui</strong> no dia da comemoração <strong>do</strong><br />

acha<strong>do</strong> – disse Zart, quan<strong>do</strong> estavam no<br />

corre<strong>do</strong>r, em direção de seus aposentos.<br />

- Não pude vir papai estava tão<br />

eufórico que bebeu duas garrafas de<br />

Somir, sozinho.<br />

- Duas garrafas? – perguntaram as<br />

duas em coro.<br />

- Sim, eu nunca tinha visto papai<br />

daquele jeito!<br />

- Acho que não foi só ele – disse<br />

Zuila, quase sussurran<strong>do</strong> ao ouvi<strong>do</strong> de<br />

Amis - papai e o comandante Tutkan,<br />

também. Quase nem podiam mais falar...<br />

156


Zart.<br />

-... Nem ficar em pé – completou<br />

Os risinhos eram contundentes, e<br />

logo chegaram ao alojamento, onde<br />

passaram o restante da tarde, uma vez que<br />

Zur-Kwa, estava por assim dizer,<br />

incomunicável, juntamente com Thorc, nas<br />

análises da amostra extraída <strong>do</strong> “Asteróide<br />

de Tameron”.<br />

Na sala de Fanna, o assunto não<br />

era assim, tão descontraí<strong>do</strong>. Ambhórius<br />

parecia embaraça<strong>do</strong>, sem conseguir<br />

expressar as palavras. Erus Fanna<br />

percebeu e atalhou na hora certa, antes<br />

que o amigo desabasse.<br />

- Pelo que entendi você não quer<br />

ir nesta expedição.<br />

- Sim, é isto, exatamente isto –<br />

disse ele com alívio.<br />

- Pois bem, Ambhórius, você é<br />

quem resolve. A vaga ainda estará à sua<br />

disposição, caso decida ir.<br />

- Muito agradeci<strong>do</strong>, Fanna. Minha<br />

decisão já foi tomada. Ficarei em minha<br />

nave, organizan<strong>do</strong> as coisas por lá.<br />

Estamos testan<strong>do</strong> um novo fertiliza<strong>do</strong>r e<br />

157


precisamos providenciar os estoques de<br />

Somir e Ramza.<br />

- Excelente idéia. Acho que da<br />

última vez, fomos fun<strong>do</strong> demais. Ainda<br />

me sinto ressaca<strong>do</strong>.<br />

- E quem não está?<br />

- Acho que só as mulheres<br />

beberam menos – disse Fanna dan<strong>do</strong> sua<br />

risada e um tapinha nas costas <strong>do</strong> amigo.<br />

- Diga-me, Fanna, apenas por<br />

curiosidade, quem estará no coman<strong>do</strong>,<br />

nesta expedição?<br />

- Tutkan, é claro. Já está<br />

preparan<strong>do</strong> suas coisas. Além de Thorc e<br />

Zur-Kwa, peritos na área de computação,<br />

provavelmente representa<strong>do</strong>s por Zart.<br />

Pela organização de sistemas e méto<strong>do</strong>s,<br />

Zuila e é claro, outros cientistas. Pensava<br />

em você como nosso observa<strong>do</strong>r e<br />

conselheiro.<br />

- Mas, sem escolta?<br />

- Ora, Ambhórius, é claro que Tut<br />

levará seu pessoal.<br />

- É, parece que irá uma boa<br />

turma.<br />

- Mas espere um pouco, isto me<br />

passou pela cabeça, agora... Que tal se em<br />

seu lugar fosse, Amis. Ela é perita em<br />

158


construções e além <strong>do</strong> mais, suas amigas<br />

irão... O que você acha?<br />

- Se ela quiser ir, por mim, tu<strong>do</strong><br />

bem.<br />

- Se ela quiser? Pode apostar que<br />

sim, meu velho. Você não notou a alegria<br />

delas, quan<strong>do</strong> se encontraram?<br />

- Notei. Elas se curtem muito.<br />

- E pelo que sei, desde os tempos<br />

de escola, Zuila sempre contava suas<br />

peripécias. Então está certo. Se ela quiser,<br />

poderá ir em seu lugar. Será uma maneira<br />

de termos você lá.<br />

Na verdade, Ambhórius também<br />

não gostara da idéia de sua filha ir ao<br />

desconheci<strong>do</strong>, mas esta seria uma questão<br />

que ela mesma deveria decidir e a<br />

conhecen<strong>do</strong> bem, sabia que ela iria.<br />

As três amigas conversavam<br />

animadamente, colocan<strong>do</strong> a conversa em<br />

dia. Zuila contara suas desconfianças<br />

sobre o jovem oficial Velz. Sentia que ele<br />

gostava dela, desde os tempos da Base-<br />

Meridional-Leste, em Someron. – muuuito<br />

tempo, as outras falaram com uma<br />

risadinha de canto, em suas bocas.<br />

159


– Ah, parem de caçoar dele! Ele é só<br />

um cara tími<strong>do</strong>... Mas estou pensan<strong>do</strong> em<br />

encorajá-lo qualquer dia desses.<br />

O Intercon chamou e Zart o<br />

atendeu. O aparelho estava no canto<br />

daquele aposento confortável em cima da<br />

prateleira, junto a outros objetos pessoais<br />

das meninas.<br />

- Sim, pois não... está. Só um<br />

instantinho. Amis, o líder quer te falar.<br />

- Ele quer falar comigo?<br />

- Sim, <strong>aqui</strong> mesmo no Intercon...<br />

pegue...<br />

Quan<strong>do</strong> Fanna fez o convite, ela<br />

simplesmente não acreditou e deu um grito<br />

de alegria, que, provavelmente, Fanna <strong>do</strong><br />

outro la<strong>do</strong>, deve ter coça<strong>do</strong> o ouvi<strong>do</strong>.<br />

- Muito agradecida, senhor. Nem<br />

sei o que dizer! ...<br />

Ao recolocar o fone no lugar,<br />

virou-se para as amigas com um grande<br />

sorriso nos lábios e disse, fazen<strong>do</strong><br />

“misterinho”:<br />

- Adivinhem quem vai à<br />

expedição?<br />

160


As outras duas pularam das<br />

cadeiras e se abraçaram, quase gritan<strong>do</strong>,<br />

emocionadas.<br />

- Meninas, preciso ir até nossa<br />

nave. Tenho que buscar minhas coisas e<br />

os instrumentos de medição. Voltarei em<br />

menos de um tempo. Nos veremos d<strong>aqui</strong> a<br />

pouco. Até mais!!<br />

O Mini-Lab e quatro March-1<br />

pousaram no Pólo Norte daquele<br />

planetóide, de atmosfera gelada e<br />

juntaram-se em frente à edificação<br />

piramidal. Tutkan, Zeuez,Velz, Maxun e<br />

mais <strong>do</strong>ze cientistas sob o coman<strong>do</strong> de<br />

Thorc e Zur-Kwa – entre eles, as três<br />

garotas.<br />

A pirâmide se impunha majestosa<br />

sobre o gelo. O comandante Zeuez lhes<br />

mostrou e os guiou pela grande plataforma<br />

<strong>do</strong>urada, subin<strong>do</strong> a escadaria até a grande<br />

porta. Pouco a pouco penetraram pelo<br />

portão central da parede leste em meio a<br />

muita admiração e curiosidade. Tu<strong>do</strong> era<br />

calmo e oferecia clima pacífico, silencioso<br />

e por demais, misterioso. Ficaram<br />

perplexos com a pirâmide de cristal. Ela<br />

161


não apresentava emendas e era<br />

assimétrica, repousan<strong>do</strong> sobre um suporte<br />

de ouro puro, - segun<strong>do</strong> as observações de<br />

Zur-Kwa- forman<strong>do</strong>, assim, um bloco<br />

compacto. Com a presença de muitos<br />

seres, Zeuez notou que o líqui<strong>do</strong><br />

transparente borbulhava muito mais, no<br />

que chamou a atenção de Tutkan.<br />

Enquanto Zur-Kwa tentava<br />

analisar o líqui<strong>do</strong>, Thorc e Zart<br />

examinavam com a maior atenção e<br />

curiosidade, toda aparelhagem espalhada<br />

pela grande sala. Eram sistemas<br />

sofistica<strong>do</strong>s demais para a sua<br />

compreensão. Estavam desativa<strong>do</strong>s e não<br />

encontraram interligações. Thorc deduziu<br />

serem aparelhos de funções alheias à<br />

pirâmide. Possuíam algo semelhante à<br />

tomadas com seis orifícios, em círculo e<br />

outro no centro. Não havia cabos<br />

condutores de força. Subitamente, notaram<br />

que suas lanternas estavam desativadas,<br />

contu<strong>do</strong> a grande sala estava iluminada<br />

sem aparecer a fonte, nem pontos de<br />

iluminação.<br />

162


Zur-Kwa ainda, em frente da<br />

pirâmide de cristal, fazia sombra aos<br />

demais. Foi então que notaram a<br />

luminosidade vinda dali, daquele líqui<strong>do</strong><br />

transparente e borbulhante. Clara e<br />

abundante.<br />

Velz acompanhava Zuila, onde<br />

quer que ela fosse. Ela, por sua vez,<br />

sentia-se segura junto dele. Zart observava<br />

seus movimentos e cochichou para Amis:<br />

- Logo teremos novidades com<br />

aqueles <strong>do</strong>is.<br />

Depois de uma rápida exploração,<br />

Tutkan pediu para Zeuez mostrar onde<br />

estava Hamour. Em poucos microns<br />

estavam na sala <strong>do</strong> acha<strong>do</strong>, onde sem<br />

dúvida, era o centro nervoso de tu<strong>do</strong>.<br />

Zur-Kwa deu início aos trabalhos,<br />

abrin<strong>do</strong> o seu próprio esquema, já<br />

completamente traduzi<strong>do</strong>. Familiarizou-se<br />

com cada um daqueles botões e chaves e<br />

em seguida, observan<strong>do</strong> a ordem certa de<br />

ação, os ativou. Era como se tivesse<br />

“liga<strong>do</strong>” a pirâmide. Um “Zum” quase<br />

inaudível acendeu o grande painel a sua<br />

163


volta, revelan<strong>do</strong> inúmeros pequenos<br />

quadra<strong>do</strong>s com símbolos luminosos<br />

estampa<strong>do</strong>s.<br />

Pequenas luzes coloridas surgiram<br />

no console, forman<strong>do</strong> desenhos<br />

intermitentes e uniformes.<br />

Uma das gavetas, suavemente<br />

abriu-se, ejetan<strong>do</strong> uma lâmina de cristal<br />

que emanava reflexos, semelhante aos<br />

seus antigos disquetes de computa<strong>do</strong>r,<br />

quan<strong>do</strong> expostos à luz. Esta lâmina,<br />

traduzida como número um, no istante que<br />

foi retirada, abriu-se outra gaveta no<br />

console à frente da poltrona de Hamour, ali<br />

como se fosse mais um especta<strong>do</strong>r.<br />

Imediatamente o telão ativou-se,<br />

haven<strong>do</strong>, por assim dizer, uma chuva de<br />

luzes, que pareciam brotar de to<strong>do</strong>s os<br />

la<strong>do</strong>s, em todas as direções. Então<br />

apareceu a imagem tridimensional em<br />

projeção holográfica <strong>do</strong> próprio Hamour,<br />

em tamanho natural. Com num sorriso<br />

largo, os cumprimentou.<br />

164


- Parabéns! Enfim, já não estou<br />

só. Não esperava tantos e peço desculpas,<br />

pelas acomodações...<br />

To<strong>do</strong>s se entreolharam. Como<br />

poderia saber que eram muitos ... Qual<br />

seria a técnica usada?<br />

- ... Agora, to<strong>do</strong>s os sensores<br />

desta unidade estão ativa<strong>do</strong>s e prontos<br />

para, começarmos <strong>aqui</strong>lo, que posso<br />

definir, um momento de rara emoção para<br />

to<strong>do</strong>s nós. Primeiro, porque sei que o meu<br />

desejo de ser leva<strong>do</strong> d<strong>aqui</strong> se cumprirá e<br />

segun<strong>do</strong>, porque estou e estarei em boa<br />

companhia.<br />

Houve um leve murmúrio por<br />

parte <strong>do</strong>s Somerianos, segui<strong>do</strong> de um<br />

enorme e ensurdece<strong>do</strong>r silêncio.<br />

Hamour continuou.<br />

- Acho que to<strong>do</strong>s estão curiosos<br />

para saber quem sou, de onde vim e<br />

porque fiquei <strong>aqui</strong>.<br />

Pois bem, como sabem, meu<br />

nome é Hamour, e vim de um planeta<br />

chama<strong>do</strong>, por nós, GORAN. Este planeta<br />

165


fica a muitos, muitos anos luz d<strong>aqui</strong>. Mais<br />

tarde saberão sua exata localização. O<br />

povo de GORAN sempre foi da<strong>do</strong> à<br />

exploração <strong>do</strong> espaço e à colonização de<br />

planetas subdesenvolvi<strong>do</strong>s, tentan<strong>do</strong><br />

contribuir para a edificação <strong>do</strong> grande<br />

TODO, reunin<strong>do</strong>-o novamente. Saibam,<br />

que no começo formávamos um To<strong>do</strong>, por<br />

tu<strong>do</strong> que havia a partir de energias vitais.<br />

Pois bem, devi<strong>do</strong> a este acúmulo de forças<br />

entrelaçadas e apoiadas por multi<br />

polarizações, forças contrárias<br />

desprenderam-se de seus núcleos,<br />

contaminan<strong>do</strong> os pólos neutros e causan<strong>do</strong><br />

<strong>aqui</strong>lo que denominamos de ira <strong>do</strong>s<br />

contrários. Isto causou uma enorme e<br />

brutal explosão, despedaçan<strong>do</strong>-se em<br />

quintilhões e quintilhões de pedaços,<br />

forman<strong>do</strong> o que chamamos hoje de<br />

Universo tri-dimensional e tu<strong>do</strong> que nele<br />

há. Este Universo está em constante<br />

expansão, tornan<strong>do</strong>-o cada vez maior.<br />

Consequentemente em constante<br />

renovação, crian<strong>do</strong> novos sistemas, à<br />

distâncias sempre mais largas. Esta<br />

formação está dentro da matéria escura, a<br />

principal constituição <strong>do</strong> Universo. As<br />

forças que mantém a expansão são<br />

166


traduzidas por energia escura. Então,<br />

como dizia, a missão <strong>do</strong> meu povo era<br />

garantir segurança e desenvolvimento <strong>do</strong>s<br />

seres, que de um mo<strong>do</strong> ou de outro,<br />

habitariam estes pedaços, os quais foram<br />

denomina<strong>do</strong>s de planetas, planetóides e<br />

planetetes. Estes, variam em volume,<br />

massa, composição e núcleo. Nossa gente,<br />

com a ajuda de Deus, tornou-se uma<br />

espécie de missionários-viajantes,<br />

tentan<strong>do</strong> evitar desequilíbrio entre as<br />

galáxias, ou sua deteriorização prematura.<br />

Isto pode afetar o sistema <strong>do</strong> Universo<br />

como um to<strong>do</strong>. A morte de planetas, sóis<br />

ou qualquer coisa que exista, até mesmo<br />

núcleos de anti-matéria, deve ter sua<br />

duração natural. Resumin<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> que<br />

nasce, cresce, se desenvolve, amadurece,<br />

gera descendentes, ou não, depois morre<br />

para aquele dimensional, forman<strong>do</strong> outra<br />

coisa, que por conseguinte se trata de um<br />

novo nascimento. Assim, nesse processo<br />

de purificação, voltaremos to<strong>do</strong>s a formar o<br />

To<strong>do</strong>. É claro, as células contrárias<br />

também fazem parte deste processo, no<br />

qual devemos ter bastante cuida<strong>do</strong> com<br />

elas.<br />

167


- Meus ancestrais localizaram<br />

aproximadamente setenta mil planetas,<br />

capazes de suportar vida como a<br />

conhecemos. Alguns poucos coloniza<strong>do</strong>s,<br />

cerca de <strong>do</strong>is mil. Foram planta<strong>do</strong>s,<br />

sementes <strong>do</strong> nosso mun<strong>do</strong>, que<br />

cresceram, floresceram e deram frutos.<br />

Também levamos insetos que produzem<br />

mel e seda. Verão, a seguir, no Telak,<br />

imagens de alguns destes planetas, onde a<br />

vida não passa de vegetais, micro insetos<br />

<strong>do</strong>s mais diversos, e animais frugívaros e<br />

erbívoros, ainda deven<strong>do</strong> ser coloniza<strong>do</strong>s.<br />

Existem outros com vida animal e são<br />

perigosos e deveras primitivos, preda<strong>do</strong>res<br />

e carnívoros. Os estu<strong>do</strong>s destas espécies<br />

está incluso ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s planetas, tais<br />

como detalhes sobre suas composições,<br />

superfícies, atmosferas, gravidades, etc.<br />

Estão nos quadros <strong>do</strong> arquivo ao seu<br />

re<strong>do</strong>r. Para obterem a informação<br />

desejada, basta tocar nos símbolos e a<br />

imagem se formará no Telak.<br />

A esta altura, os Somerianos<br />

estavam perplexos e de certo, assusta<strong>do</strong>s,<br />

com tu<strong>do</strong> o que viam e ouviam.<br />

168


Na tela, as imagens eram<br />

perfeitas, total nitidez, coloração e matizes.<br />

A projeção holográfica de Hamour era<br />

como se ele realmente estivesse ali, ao<br />

vivo, mostran<strong>do</strong> e narran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

acontecimentos. Mais <strong>do</strong> que isto, era<br />

fascinante, admirável, sem palavras para<br />

descrever.<br />

Em um da<strong>do</strong> momento, Tutkan,<br />

aproveitan<strong>do</strong>-se de uma pausa na<br />

narrativa, perguntou, com a naturalidade<br />

de um sacer<strong>do</strong>te:<br />

- O que você, exatamente, espera<br />

de nós?<br />

Hamour, que estava de la<strong>do</strong>,<br />

virou-se lentamente em direção ao<br />

pergunta<strong>do</strong>r.<br />

- Queira, por favor, reformular a<br />

pergunta, senhor.<br />

- Eu perguntei, o que, exatamente,<br />

espera de nós?<br />

- Muito bom. Gosto que<br />

perguntem. Vou tentar responder.<br />

169


Os olhos de Hamour, visavam<br />

diretamente os olhos de Tutkan, que teve<br />

um leve estremecimento.<br />

A platéia deu um estron<strong>do</strong>so Oh!!<br />

- O que espero de to<strong>do</strong>s vocês é,<br />

que, aproveitem o máximo desta<br />

experiência e saibam se conduzir pelo<br />

espaço, continuan<strong>do</strong>, se possível, de onde<br />

parei. Levan<strong>do</strong> e semean<strong>do</strong> o amor, o<br />

conhecimento e a solidariedade aos povos<br />

que nada sabem e que terão em vocês,<br />

sua única chance de sobreviverem e assim<br />

viver num mesmo espaço com dignidade.<br />

Hamour falava calmo, com voz<br />

pausada e um quase sorriso.<br />

- Perfeito, Hamour. Continue, por<br />

favor.<br />

Era impossível que Hamour não<br />

estivesse ali, dan<strong>do</strong> uma conferência.<br />

Anotações e perguntas eram<br />

feitas, e imediatamente respondidas,<br />

causan<strong>do</strong> sempre a mesma admiração.<br />

170


Ao ser pergunta<strong>do</strong> se o material e<br />

a aparelhagem que continha na sala<br />

abaixo, poderia ser removida para estu<strong>do</strong>s<br />

posteriores, ele não consentiu.<br />

- To<strong>do</strong> o conhecimento lhes será<br />

da<strong>do</strong> e vocês próprios construirão seus<br />

aparelhos. Isto os ajudará a conhecê-los<br />

melhor. Além <strong>do</strong> mais, estes a que se<br />

referem, estão avaria<strong>do</strong>s em sua maioria,<br />

Os assuntos aborda<strong>do</strong>s eram<br />

sempre interliga<strong>do</strong>s uns aos outros e<br />

sempre que mudava o tema, este tinha a<br />

ver com o anterior.<br />

Um conhecimento inteiramente<br />

novo foi-lhes revela<strong>do</strong>, até mesmo sobre<br />

línguas e dialetos. A construção de naves<br />

interplanetárias, com dispositivos de<br />

altíssima tecnologia, e o princípio da fusão<br />

de metal líqui<strong>do</strong> movi<strong>do</strong> por giroscópios,<br />

para viajar em velocidades muitas vezes<br />

superior a da luz, chamadas de Dobra<br />

(Des<strong>do</strong>bramento Operacional Base-Real<br />

Anti-matéria). Este ítem, mereceu por parte<br />

de Zur-Kwa, tempos consideráveis, por ser<br />

este tema uma de suas teorias. Estas<br />

<strong>do</strong>bras espaciais criavam túneis de atalho,<br />

171


aproximan<strong>do</strong> distâncias, que ele próprio<br />

denominava de buracos de minhoca.<br />

Junto a este tema, Hamour<br />

mostrou-lhes vários mapas estelares que<br />

para poder seguí-los haveria um<br />

sofistica<strong>do</strong> e amplo sistema de orientação<br />

e navegação, jamais sonha<strong>do</strong>s por Zur-<br />

Kwa e os demais.<br />

A conclusão daquela tão<br />

interessante reunião foi, sem dúvida<br />

estarrece<strong>do</strong>ra, referin<strong>do</strong>-se ao “Asteróide<br />

de Tameron”.<br />

-... Já nos últimos tempos que<br />

estava praticamente estaciona<strong>do</strong>, para não<br />

dizer preso, <strong>aqui</strong>, temi pela segurança <strong>do</strong>s<br />

meus irmãos e amigos. Minha nave estava<br />

desativada e intacta e sen<strong>do</strong> ela, a única<br />

de sua espécie; desconhecida até mesmo<br />

para as maiores tecnologias de seres da<br />

nossa dimensão; para não cair em mãos<br />

erradas, se me permitem assim dizer,<br />

resolvi desmontá-la e fundí-la num bloco<br />

só. Após, a despachei deste sistema, de<br />

mo<strong>do</strong> a parecer apenas, um grande<br />

asteróide vagan<strong>do</strong> pelo espaço. Um<br />

asteróide disforme e sem valor, com<br />

172


estrutura molecular alternada. Este<br />

material poderá ser renova<strong>do</strong> mediante<br />

fusão com gelo epíli<strong>do</strong>, aliás, abundante<br />

neste planetóide. Os gazes desprendi<strong>do</strong>s,<br />

purificarão os detritos, que propositalmente<br />

misturei à estrutura molecular original.<br />

Peço-lhes que não tentem fazê-lo por<br />

enquanto, pois se trata de uma operação<br />

complicada e devo avisá-los para terem<br />

cuida<strong>do</strong> com este gelo. Suas moléculas<br />

produzem queimaduras severas em<br />

contacto direto com qualquer derme, <strong>do</strong>s<br />

seres vivos. Este contato provoca reação<br />

instantânea com o sistema sanguíneo,<br />

infectan<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>ença rara, que faz os<br />

líqui<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo se dissipar causan<strong>do</strong><br />

uma desidratação rápida e fatal.<br />

- Acho que passei a primeira parte<br />

<strong>do</strong> programa. Sugiro que voltem às suas<br />

naves e façam uma recapitulação de tu<strong>do</strong><br />

o que aprenderam. Discutam<br />

possibilidades. Pensem bastante em como<br />

será utiliza<strong>do</strong> este novo conhecimento e<br />

voltem dentro de três dias e três noites.<br />

Desativem o equipamento antes de saírem.<br />

Gostaria de ter momentos a sós com seu<br />

líder na próxima visita. Senhores e<br />

senhoras, foi realmente um prazer, tê-los<br />

173


comigo neste tempo. Agora vão e voltem<br />

com seu líder. Acho que deve estar<br />

preocupa<strong>do</strong> com a demora, porque se<br />

passaram três dias e três noites desde que<br />

chegaram.<br />

Após estas palavras, o holograma<br />

se desfez, permanecen<strong>do</strong> as luzes brancoazuladas<br />

no telão. A lâmina de cristal saiu<br />

suavemente da gaveta <strong>do</strong> console e Zur-<br />

Kwa a recolocou na gaveta original<br />

- Incrível! – disse, Thorc –<br />

passamos <strong>aqui</strong> três dias e três noites, sem<br />

que precisássemos comer nem beber...<br />

- Nem <strong>do</strong>rmir. E parece que não<br />

durou mais <strong>do</strong> que um tempo – completou,<br />

Tutkan.<br />

- Foi uma conferencia e tanto –<br />

afirmou, Zur-Kwa, que tinha nos olhos uma<br />

expressão descançada, curiosa e de pura<br />

admiração, assim como os demais.<br />

Aos poucos saíam com a mesma<br />

incredulidade com que entraram. No<br />

interior daquela pirâmide, sentiam-se como<br />

que, se estivessem em suas próprias<br />

naves. Tinham oxigênio, gravidade e<br />

temperaturas ideais, dispensan<strong>do</strong> o uso de<br />

174


trajes, capacetes e botas gravitacionais. E<br />

assim como em suas naves, possuía antesala<br />

de regeneração, purificação e<br />

descompressão. Seria ou não, uma nave<br />

disfarçada, perguntava-se, Tutkan.<br />

Na viagem de volta, quase<br />

ninguém falava, exceto monossílabos, ou<br />

palavras como – Com licença, e o outro<br />

responden<strong>do</strong>, pois não!... Estavam<br />

pensativos, recapitulan<strong>do</strong> em suas<br />

anotações. Tu<strong>do</strong> era tão novo e fascinante.<br />

Até mesmo Someron fora visita<strong>do</strong> e<br />

coloniza<strong>do</strong> pelo povo de Goran. Tinham<br />

vivi<strong>do</strong> e constituí<strong>do</strong> família em várias<br />

regiões. Sempre discretos, envolvi<strong>do</strong>s em<br />

escolas e laboratórios.<br />

O que viram sobre o seu mun<strong>do</strong>,<br />

foi horrível. Fora um povo mesquinho,<br />

malicioso, cheios de vícios, corruptos,<br />

apresentan<strong>do</strong> alto nível de egoísmo e<br />

desprezo pelos menos afortuna<strong>do</strong>s, já que<br />

eram escravos <strong>do</strong> dinheiro. Sem contar<br />

com as inúmeras religiões, cuja única<br />

finalidade era escravizar suas mentes,<br />

seus corpos e seus espíritos. Criaram<br />

175


entidades deicas promoven<strong>do</strong> confusão,<br />

desordem, sabotagens, semean<strong>do</strong> a morte.<br />

Suas tendências auto-destrutivas,<br />

em nome <strong>do</strong> “progresso”, poluíam ar, solo<br />

e água. Derrubavam suas matas, sem as<br />

renovar. Como resulta<strong>do</strong>, arrasaram sua<br />

atmosfera e fizeram a guerra, em nome de<br />

Deus e o poder.<br />

Sentiam-se envergonha<strong>do</strong>s de<br />

seus ancestrais, que com sua ganância e<br />

mesquinhez, estragaram um lin<strong>do</strong> lugar<br />

para viver. Cada um repetia a si mesmo,<br />

que tais atrocidades não aconteceriam<br />

novamente.<br />

Fanna os aguardava<br />

ansiosamente. Mal pode esperar Tutkan e<br />

os outros, subirem a rampa de acesso ao<br />

observatório. O tempo que levaram nas<br />

ante-salas de regeneração e purificação,<br />

parecia não ter fim.<br />

Vestia-se em trajes de gala, com<br />

roupão branco imacula<strong>do</strong>, corrente no<br />

pescoço, conten<strong>do</strong> um medalhão <strong>do</strong>ura<strong>do</strong><br />

com o símbolo e as cores de Someron.<br />

176


Calçava suas botas <strong>do</strong>uradas e seu<br />

cinturão, também <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>, há muito,<br />

guarda<strong>do</strong>s.<br />

Deu um grande aperto de mão<br />

em Tutkan, quan<strong>do</strong> este entrou no<br />

observatório.<br />

- Espero que to<strong>do</strong>s estejam bem! –<br />

disse, com seu sorriso largo e confia<strong>do</strong>.<br />

- É claro que sim – respondeu-lhe,<br />

Tutkan, devolven<strong>do</strong>-lhe o cumprimento<br />

com a mesma alegria – Não poderíamos<br />

estar melhor. Erus, só me parece que<br />

Thorc, Zur-Kwa e seus assistentes,<br />

inclusive as garotas, terão belas <strong>do</strong>res-decabeça,<br />

porque irão trabalhar muito, d<strong>aqui</strong><br />

por diante.<br />

- Ora, não exagere – disse, Zur-<br />

Kwa, entran<strong>do</strong> e cumprimentan<strong>do</strong> o seu<br />

líder – Gostaria de passar minha vida toda<br />

me dedican<strong>do</strong> a estas “<strong>do</strong>res-de-cabeça”.<br />

- Imagino que sim. Você está<br />

sempre com elas, não é mesmo?<br />

- Fanna, esta é a maior delas, que<br />

já tive, ou terei.<br />

- Vamos, vamos, estou ansioso<br />

por saber das novidades, mas primeiro<br />

177


vamos comer alguma coisa. Acho que<br />

to<strong>do</strong>s estão famintos.<br />

- Você não vai acreditar – disse,<br />

Tutkan, com a mão no ombro de seu líder -<br />

, passamos três dias e três noites sem<br />

comer nem beber ou <strong>do</strong>rmir e não estamos<br />

com fome, sede e ou sono. Tampouco,<br />

cansa<strong>do</strong>s. Parece que acabamos de<br />

acordar.<br />

- Mas como, assim?<br />

- Não sabemos, apenas nos<br />

sentimos assim e é tu<strong>do</strong>.<br />

- Então, vamos às novidades! –<br />

completou, Fanna obscureci<strong>do</strong> pela<br />

curiosidade.<br />

Foram diretamente para a sala de<br />

reuniões, onde passaram tempos. Outras<br />

reuniões aconteciam simultaneamente em<br />

outras salas, em outras naves. Os<br />

participantes da expedição traziam maços<br />

de anotações, revelan<strong>do</strong> e discutin<strong>do</strong> com<br />

os outros, tão curiosos quanto incrédulos.<br />

Nos três dias e três noites que se<br />

seguiram, houve um verdadeiro rebuliço.<br />

Os poucos espaços de tempo que<br />

dispunham para <strong>do</strong>rmir, seus cérebros não<br />

178


se desligavam e sonhavam com tu<strong>do</strong><br />

<strong>aqui</strong>lo. As telas Telecon, das naves,<br />

permaneciam ativas, aos interesses<br />

científicos e curiosos.<br />

Na terceira noite, foram libera<strong>do</strong>s<br />

para passarem com suas famílias, amigos<br />

ou namora<strong>do</strong>s.<br />

Com a concordância de<br />

Ambhórius, Amis passou esta noite em<br />

companhia de suas amigas, que desde a<br />

volta da expedição, separaram-se,<br />

trabalhan<strong>do</strong> incansavelmente. O lugar<br />

escolhi<strong>do</strong> foi a cúpula da Kosmos, onde<br />

conversavam e observavam as estrelas, o<br />

universo, e ao longe, a fraca luminosidade<br />

daquele sol amarelo-esverdea<strong>do</strong>.<br />

- Sabe, Amis, disse Zuila, acho<br />

que estou apaixonada por Velz.<br />

- Eu sabia. Vi isto, no jeito como<br />

vocês se olham. Acho isso lin<strong>do</strong>!<br />

- Ora, nem tanto assim, disse,<br />

Zart, desdenhosamente – Ele nem se quer<br />

sabe falar!<br />

Você também tem seus<br />

segredinhos, hein, Zart?<br />

- Por que você diz isto, Amis?<br />

179


- Eu também vi como você olha e<br />

fala com Maxun.<br />

- É, eu também notei – disse,<br />

Zuila, acomodan<strong>do</strong>-se melhor no grande<br />

sofá circular da cúpula.<br />

- Você tem que fazer como sua<br />

irmã Walln. Acho que isto serve pra você<br />

também, Zuila - continuou, Amis.<br />

- O que Walln tem a ver com isto?<br />

- Ela não perdeu tempo com<br />

Tameron. Pense bem, enquanto estamos<br />

<strong>aqui</strong>, eles estão aconchega<strong>do</strong>s, bem<br />

juntinhos em seus aposentos. Quan<strong>do</strong> eu<br />

encontrar o meu macho e meu coração<br />

disser que sim, eu mesma quebrarei o gelo<br />

e o pegarei com as duas mãos.<br />

- Mas isto não é próprio para uma<br />

garota – disse, Zuila voltan<strong>do</strong> a olhar para o<br />

espaço, debruçan<strong>do</strong>-se no parapeito da<br />

abóbada de vidro – eles é quem devem<br />

tomar a iniciativa, Amis. Eu sinto, que às<br />

vezes, ele vai falar, mas acho que tem<br />

me<strong>do</strong>, talvez de levar um fora.<br />

- Pois então faça-o sentir-se<br />

confiante.<br />

- Talvez você tenha razão, mas<br />

temo por meu pai.<br />

180


- O que é isso!? Não seja ridícula!<br />

Fanna compreenderá.<br />

- Eu sei que ele vai entender.<br />

Acontece que eu não gostaria de deixá-lo<br />

sozinho, sabe? Eu sou tu<strong>do</strong> que ele tem ...<br />

- Isso também acontece comigo –<br />

disse, Zart – Depois que Walln se uniu a<br />

Tameron, sou eu quem cuida dele. Meus<br />

irmãos não ligam a mínima. Estão sempre<br />

ocupa<strong>do</strong>s com suas naves.<br />

- Mas vocês tem que entender, só<br />

se vive uma vez com este corpo e mentes.<br />

Precisamos viver nossas vidas. Nossos<br />

pais tem as deles e não creio que eles se<br />

sentirão bem, se souberem que estão<br />

interferin<strong>do</strong> em nossas vidas. O meu pai,<br />

por exemplo, é muito carente e tem só a<br />

mim também, contu<strong>do</strong>, sempre pautou pela<br />

liberdade e discernimento. Eu, tive uma<br />

criação tão independente quanto à de<br />

vocês.<br />

- Você tem razão, Amis – disse<br />

Zart, enquanto Zuila permanecia com olhar<br />

perdi<strong>do</strong> na vastidão <strong>do</strong> espaço - Escutem,<br />

meninas, vamos descer. Precisamos<br />

<strong>do</strong>rmir, temos uma missão logo mais.<br />

- Aahhh! sim! - bocejou, Zart -<br />

Nunca me senti tão cansada...<br />

181


Erus Fanna não conseguia <strong>do</strong>rmir,<br />

tentan<strong>do</strong> por os pensamentos em ordem.<br />

Havia tantas perguntas a fazer para<br />

Hamour, como um holograma poderia<br />

entender, absorver e responder a to<strong>do</strong>s<br />

que o questionavam, olhan<strong>do</strong>-os bem nos<br />

olhos? E como poderia saber de sua<br />

ausência, naquela primeira reunião?? Por<br />

que o sinal de socorro? Uma vez que<br />

qualquer um, bons ou maus, o poderiam<br />

tê-lo capta<strong>do</strong> e se beneficiar daqueles<br />

conhecimentos, que de certo mo<strong>do</strong>, eram<br />

perigosos e consequentemente, de<br />

responsabilidade tão extraordinária?<br />

Por fim, neste emaranha<strong>do</strong> de<br />

questões, a<strong>do</strong>rmeceu com o livro de<br />

Hamour ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> travesseiro.<br />

No alojamento <strong>do</strong>s oficiais<br />

solteiros, as mesmas perguntas<br />

atropelavam-se, como num turbilhão em<br />

suas mentes.<br />

Velz, por sua vez, tinha outros<br />

pensamentos. Logo, logo estaria com Zuila<br />

e desta vez, na primeira oportunidade, iria<br />

182


se declarar. Não tinha bem certeza, mas<br />

achava que seu amor era correspondi<strong>do</strong>.<br />

- Ora, mas que droga! Sempre<br />

quan<strong>do</strong> chego perto dela, não consigo falar<br />

nada!!<br />

Este fora o seu último<br />

pensamento, antes de a<strong>do</strong>rmecer e sonhar<br />

com ela.<br />

Enfim, o momento da partida<br />

chegara. Fanna organizara uma escala de<br />

coman<strong>do</strong>s enquanto estivesse fora, assim<br />

como Tutkan.<br />

Então, Ambhórius assumiria a<br />

liderança e Klemps, o coman<strong>do</strong> da<br />

Kosmos.<br />

A mesma formação anterior<br />

pousou nas proximidades da pirâmide,<br />

agora com Fanna a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> March-1 de<br />

Tutkan. Logo após, Velz e Maxun<br />

destaca<strong>do</strong>s para a missão de<br />

reconhecimento e cobertura, dan<strong>do</strong> voltas<br />

ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> planetóide. Não queriam<br />

surpresas.<br />

183


Velz cumpriu aquelas ordens<br />

contraria<strong>do</strong>, sem contu<strong>do</strong> demonstrar para<br />

o seu comandante, Tutkan.<br />

Fanna, ao ver a majestosa<br />

construção, lembrou-se <strong>do</strong>s velhos livros,<br />

em sua infância, que tratava de assuntos<br />

antigos, com civilizações extintas, no<br />

começo de seu mun<strong>do</strong>. Eram usadas como<br />

templos <strong>do</strong>s antigos sacer<strong>do</strong>tes e também,<br />

para manter alimentos e coisas frescas, e<br />

aquelas maiores isolavam as usinas<br />

atômicas primitivas. Eram construídas em<br />

pontos estratégicos e energéticos.<br />

- Nunca pensei em ver de perto<br />

uma delas e muito menos num planeta<br />

longe <strong>do</strong> nosso.<br />

- Também nunca havíamos<br />

pensa<strong>do</strong> em ver “outro” planeta – brincou,<br />

Tutkan.<br />

Entraram por aquelas estranhas<br />

portas já conhecidas e pouco depois,<br />

estavam nos aposentos <strong>do</strong> corpo<br />

desidrata<strong>do</strong>, e instalaram-se o mais<br />

confortavelmente possível.<br />

184


Zur-Kwa ativou os controles e em<br />

seguida, para sua surpresa, o holograma<br />

tomou forma e voz, sem que precisasse<br />

colocar nenhum cristal na gaveta receptora<br />

<strong>do</strong> console.<br />

- Estou encanta<strong>do</strong> em tê-los<br />

novamente - começou a falar, Hamour - e<br />

percebo a presença de seu líder. Antes de<br />

começarmos a segunda etapa <strong>do</strong><br />

programa; sei que estão ansiosos por<br />

muitas respostas - gracejou -: aliás devo<br />

dizer-lhes que sempre perguntem se não<br />

se sentirem satisfeitos e que estas<br />

perguntas atentem diretamente à questão:<br />

gostaria, então, antes de recomeçarmos,<br />

que seu líder atravessasse o Telak, depois<br />

de totalmente ativa<strong>do</strong>. Não há perigo, lhes<br />

asseguro. Lá, encontrará coman<strong>do</strong>s iguais<br />

a estes que tem aí e os acionará. Leve<br />

consigo o Cristalton de número três e o<br />

injete na gaveta receptora <strong>do</strong> console.<br />

Ao tocar na gaveta <strong>do</strong> tal<br />

Cristalton, o Telão-Visor brilhou em<br />

intensidade máxima, indican<strong>do</strong> sua<br />

ativação.<br />

Fanna atravessou no que antes<br />

parecia ser sóli<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> a impressão de<br />

185


estar atravessan<strong>do</strong> uma parede, aos olhos<br />

<strong>do</strong>s outros.<br />

Era um aposento igual aos outros,<br />

exceto pelas dimensões menores. Havia<br />

uma poltrona igual àquela de Hamour e em<br />

sua frente um console semelhante.<br />

Sentou-se, tomou os coman<strong>do</strong>s e ativou o<br />

mesmo telão que a pouco atravessara.<br />

Do outro la<strong>do</strong>,Zur-Kwa deu início<br />

ao debate.<br />

- Primeiramente, temos um<br />

problema, até o momento insolúvel.<br />

Nossas prensas e fundições, não possuem<br />

tamanhos adequa<strong>do</strong>s conforme as plantas<br />

que nos deu. Precisamos de espaço físico<br />

também para acondicioná-las assim como<br />

para depósito de matéria prima. Para<br />

complicar ainda mais, nossa população,<br />

apesar <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s, cresce, absorven<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong>s os cantos disponíveis. Qual a<br />

sugestão para sairmos deste impasse?<br />

-Estou admira<strong>do</strong> por terem, já<br />

decodifica<strong>do</strong> todas as fórmulas de<br />

estrutura molecular e no que isso implica.<br />

Principalmente no se refere ao sistema e o<br />

desempenho eletro-magnetiza<strong>do</strong> que<br />

186


compõem, bàsicamente, os teleméricos de<br />

navegação espacial. Temo tê-los<br />

subestima<strong>do</strong>. Pois bem, vamos à solução<br />

deste problema. No segun<strong>do</strong> planetóide<br />

deste sistema, seus analisa<strong>do</strong>res devem<br />

ter detecta<strong>do</strong>, que, sua composição, de<br />

massa e núcleo é de Hélio com atmosfera<br />

ácida. Mas isto é apenas disfarce. Para<br />

atravessar a fina camada de hélio da<br />

ionosfera, que pelo meu senso de medida<br />

é de <strong>do</strong>is mil centons, aproximadamente,<br />

bastará desligar seus motores. Para voltar,<br />

isto não é necessário, aliás, passei bom<br />

tempo projetan<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong> este<br />

disfarce. Pois bem, lá encontrarão<br />

atmosfera agradável e to<strong>do</strong> o espaço que<br />

precisam. Façam como disse e não haverá<br />

perigo. Alguma pergunta neste aspecto?<br />

Então, Thorc tomou a palavra.<br />

- Nossos computa<strong>do</strong>res ...<br />

- Desculpe-me, pela interrupção,<br />

imper<strong>do</strong>ável de minha parte - cortou,<br />

Hamour -mas gostaria de saber seus<br />

nomes, para que possamos estabelecer<br />

nossa comunicação o mais informal<br />

possível...<br />

187


Novamente, os Somerianos<br />

estreolharam-se, interrogativos.<br />

- ... Por favor o seu nome??? –<br />

dirigiu-se à Zur-Kwa.<br />

- Zur-Kwa.<br />

- Zur-Kwa... – passaram-se alguns<br />

microns- ... Muito bem, meus bancos de<br />

memória já estão com seu nome e sua voz<br />

... e você – apontou para Thorc.<br />

- Eu sou Thorc, forma<strong>do</strong> em...<br />

- Queira desculpar mais uma vez.<br />

Não há necessidade de sua formação,<br />

apenas o nome basta. Thorc... muito bem,<br />

continue sua pergunta, por favor.<br />

- Nossos computa<strong>do</strong>res não<br />

concordam com a fórmula molecular <strong>do</strong><br />

Velux, na utilização como condiciona<strong>do</strong>r<br />

auto-renovável de energia. Conforme as<br />

projeções obtidas, ao simples contacto<br />

com oxigênio volátil ou mesmo líqui<strong>do</strong>,<br />

congestionaria os expansores, provocan<strong>do</strong><br />

super-aquecimento, explodin<strong>do</strong> e com ele<br />

tu<strong>do</strong> em volta num raio de <strong>do</strong>is mil centons.<br />

-É provável que em algum ponto<br />

de seus cálculos, ocorreu um erro.<br />

Acompanhe-me neste raciocínio Físicoquímico-molecular...<br />

188


Na medida em que Hamour<br />

falava, na tela apareciam os números e<br />

vetores das fórmulas, como se ele<br />

estivesse escreven<strong>do</strong>-as numa lousa.<br />

Naturalmente to<strong>do</strong>s o acompanhavam com<br />

seus próprios apontamentos e as dúvidas<br />

desapareciam pouco a pouco.<br />

Após os esclarecimentos sobre a<br />

fórmula <strong>do</strong> Velux, uma mulher tomou a<br />

palavra.<br />

- Eu sou Belzamir, assistente <strong>do</strong><br />

professor Zur-Kwa e gostaria de saber<br />

mais sobre a Dobra e seus efeitos sobre as<br />

pessoas que viajam nela.<br />

- Muito bem, Belzamir. O<br />

Des<strong>do</strong>bramento Operacional-Bipolar-Real-<br />

Antimatéria, age sobre to<strong>do</strong>s os tripulantes<br />

da nave. E é simples, muito mais <strong>do</strong> que<br />

imagina. Lembre-se, qualquer coisa que<br />

viaje na velocidade da luz, se torna luz,<br />

para isso contamos com o giroscópio de<br />

metal líqui<strong>do</strong> de nome Mercúrio. Quan<strong>do</strong><br />

ele é ativa<strong>do</strong> ao seu pico de luz, inverte<br />

completamente toda e qualquer polaridade,<br />

desfazen<strong>do</strong> as ligas da matéria. É claro<br />

que to<strong>do</strong>s já sabem que isto não implica<br />

em se transformar Anti-matéria. Funciona<br />

189


com o mesmo princípio da Desatomização<br />

e Reintegração átomo-molecular<br />

codificada, ou seja, no momento em que a<br />

contagem regressiva, para a nave entrar<br />

em Dobra, se dá, no campo magnético que<br />

nos envolve; e também no da nave;<br />

prepara nossa composição atômica a se<br />

desfazer. Os núcleos de cada átomo são<br />

separa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus orbitais, liberan<strong>do</strong><br />

seus prótons, elétrons, fótons, etc...<br />

misturam-se à energia elétro-magnética<br />

iônica monopolarizada. Em outras<br />

palavras, nos tornamos luz. Mas, luz em<br />

raios mais finos <strong>do</strong> que os raios Gama, e<br />

potentes, muitas vezes maior <strong>do</strong> que o<br />

lazer. Ao se desativar a Dobra, tu<strong>do</strong> se<br />

agrupa novamente, conforme os seus<br />

códigos anteriores.<br />

- E como se sentem aqueles que<br />

sofreram estas modificações?<br />

- Seu nome?<br />

- Ah, sim, desculpe. Meu nome é<br />

Amis.<br />

- Amis... Amis!... Bonito nome...<br />

Queira, por favor, reformular sua<br />

pergunta...<br />

- Como se sentem os que<br />

passaram por esta experiência?<br />

190


- Nas primeiras vezes, isto causa<br />

certo enjôo, depois acostuma.<br />

- Na verdade, perguntei erra<strong>do</strong>.<br />

Eu queria saber como é que se sente<br />

durante a separação núcleo-atômica?<br />

- Enten<strong>do</strong>, você quer saber se<br />

continuamos a nos ver, tocar etc. ... Sim.<br />

Tu<strong>do</strong> continua normal exceto pela<br />

coloração. Tu<strong>do</strong> se transforma em branco<br />

e as pessoas; como tu<strong>do</strong> o mais; ficam<br />

assim, como eu, agora, uma projeção<br />

holográfica. No entanto, como disse, sem<br />

cores. Satisfeita?<br />

Entrementes, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

telão, Hamour e Fanna tinham seus<br />

momentos.<br />

- Hamour, sou Erus Fanna, líder <strong>do</strong><br />

povo de Someron, <strong>do</strong>s que restaram após<br />

guerra. Estamos navegan<strong>do</strong> pelo espaço<br />

por mais de <strong>do</strong>ze anos de nosso tempo.<br />

Fomos obriga<strong>do</strong>s a aban<strong>do</strong>nar nosso<br />

mun<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> às condições atmosféricas e<br />

os abalos sísmicos provoca<strong>do</strong>s pela<br />

movimentação das placas tectônicas, e,<br />

núcleo em expansão <strong>do</strong> planeta. Partimos<br />

de lá em busca de um novo mun<strong>do</strong> que<br />

nos abrigue. Estamos agradeci<strong>do</strong>s pela<br />

191


sua grande contribuição, que sem ela,<br />

creio, levaríamos uma eternidade para<br />

encontrar o nosso objetivo. Se me permite,<br />

gostaria de saber o que o faz pensar que<br />

merecemos o conhecimento, que,<br />

graciosamente, nos está passan<strong>do</strong>?<br />

Hamour não respondeu de<br />

imediato. Parecia pensar.<br />

De súbito tirou a mão <strong>do</strong> queixo e falou em<br />

tom bran<strong>do</strong>.<br />

- De Someron?!? ...<br />

- Sim, de Someron – disse, Fanna,<br />

remexen<strong>do</strong>-se na poltrona.<br />

- Deixe-me ver ... hum, ... ah, sim,<br />

Someron... o planeta<br />

Shan ... Um povo de muitas qualificações<br />

e sem dúvida; queira me per<strong>do</strong>ar; pouco<br />

educa<strong>do</strong>. Talvez um <strong>do</strong>s povos mais brutos<br />

e rebeldes que conhecemos. Tiveram<br />

muitas guerras sangrentas, bárbaras e<br />

excessivas religões fundamentalistas.<br />

Tinham um sistema monetário e preços<br />

para tu<strong>do</strong>. Sim, conheço seu povo... os<br />

últimos informes que disponho, vocês<br />

realmente destruíram seu planeta numa<br />

guerra “santa” brutal, sem precedentes...<br />

192


Ao pronunciar aquelas palavras,<br />

Hamour tinha o cenho carrega<strong>do</strong>,<br />

desaprova<strong>do</strong>r, manten<strong>do</strong> os olhos fixos<br />

para o chão, perdi<strong>do</strong>s a procura de<br />

palavras menos hostis. Então fitou Fanna e<br />

num meio sorriso, continuou.<br />

- ... Fico feliz em saber que você<br />

reorganizou a ordem e os mantém uni<strong>do</strong>s.<br />

Não quero de mo<strong>do</strong> algum, que você<br />

pense que, foram escolhi<strong>do</strong>s para receber<br />

estes conhecimentos, e nem tampouco,<br />

que sejam gratuitos. Terão que demonstrar<br />

discernimento para usá-los e isto, a meu<br />

ver, é difícil aos incautos. As fórmulas que<br />

estou passan<strong>do</strong>, no outro la<strong>do</strong>, são apenas<br />

o começo. É uma maneira de mantê-los<br />

ocupa<strong>do</strong>s, enquanto meus sensores<br />

analisam seus comportamentos. Só<br />

poderão tirar proveito, aqueles que<br />

realmente estiverem aptos a possuir e<br />

desfrutar destas dádivas. O primeiro<br />

computa<strong>do</strong>r a ser construí<strong>do</strong>; sem que<br />

saibam, e peço-lhe para não revelar isto;<br />

estará <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de “para-sensores”, que fará<br />

comparações da energia e fluí<strong>do</strong>s<br />

psíquicos, colhi<strong>do</strong>s agora mesmo. Estas<br />

comparações revelarão quem está<br />

prepara<strong>do</strong> a prosseguir.<br />

193


- Você esta me dizen<strong>do</strong> que lhes<br />

preparou uma armadilha? E o que<br />

acontecerá, se alguns de nós não formos<br />

qualifica<strong>do</strong>s, ou mesmo, to<strong>do</strong>s?<br />

- Você saberá e deverá tomar as<br />

medidas necessárias, não deixan<strong>do</strong> que<br />

este ou aquele, venha a se apoderar de<br />

algum destes segre<strong>do</strong>s. No caso de não<br />

estarem, to<strong>do</strong>s prepara<strong>do</strong>s, nada<br />

funcionará. No caso ser rouba<strong>do</strong>, a<br />

medição <strong>do</strong> campo aural não permitirá sua<br />

operação. É auto-destrutível quan<strong>do</strong><br />

aciona<strong>do</strong>s por acidente ou por seres<br />

inabilita<strong>do</strong>s. Dificilmente cairá em mãos<br />

erradas. Esta é a minha, e a sua,<br />

segurança contra indesejáveis. Estes<br />

também são os sensores que possibilitam<br />

a nossa conversa, isto é, você e minha<br />

imagem holográfica. Estes sensores<br />

ativam um complexo de bancos de<br />

memória, copia<strong>do</strong> de nossos cérebros<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de freqüências orais e auditivas.<br />

Assim, quan<strong>do</strong> você fala, o áudio<br />

transforma suas palavras em códigos que<br />

percebem intenções e o seu campo aural.<br />

Depois reage e você pensa que me escuta,<br />

porque o transmissor falante está incluso<br />

exatamente onde você vê minha boca. A<br />

194


voz é a minha mesmo. Foram cinco anos<br />

programan<strong>do</strong> estes da<strong>do</strong>s. Deixe-me dizer<br />

que quan<strong>do</strong> estava só, o testei , falan<strong>do</strong><br />

comigo mesmo, isto é, com o meu<br />

holograma. Os parateleméricos são<br />

perfeitos.<br />

- Estou impressiona<strong>do</strong> com sua<br />

tecnologia. Então me diga, por que eu?<br />

Nunca nos vimos antes...<br />

- É verdade, mas tenho o seu<br />

histórico, sua pureza. Não falei inocência.<br />

Isto você não é.<br />

- E por que você quer vir conosco,<br />

não sabemos ao certo, para onde vamos?<br />

- Estava esperan<strong>do</strong> por esta<br />

pergunta. A razão principal, é que o meu<br />

corpo não está morto como parece. Está,<br />

apenas, desidrata<strong>do</strong>, causa<strong>do</strong> pelo contato<br />

acidental com o gelo epíli<strong>do</strong> deste planeta.<br />

Isto provocou um desequilíbrio celular e<br />

paralisia <strong>do</strong>s membros. Esta paralisia, com<br />

o passar <strong>do</strong> tempo, me impediria operar<br />

minha nave. Morreria a caminho de minhas<br />

origens. Então, desenvolvi um soro<br />

regenera<strong>do</strong>r, mas estava fraco e debilita<strong>do</strong><br />

demais para que pudesse viver o bastante<br />

para surtir efeito. Por isso, usei a única<br />

alternativa que tinha. Com a ajuda de <strong>do</strong>is<br />

195


andróides, minha essência vital foi<br />

transferida para o soro conti<strong>do</strong> na pirâmide<br />

cristal abaixo, até que seres de ín<strong>do</strong>le pura,<br />

pudessem me reviver. Pode-se dizer que<br />

estou em vários lugares ao mesmo tempo:<br />

Senta<strong>do</strong> naquela poltrona, <strong>aqui</strong> e no outro<br />

la<strong>do</strong>, falan<strong>do</strong> com seus concidadãos e lá<br />

em baixo, na pirâmide cristal. Saiba<br />

também, que as células de memória <strong>do</strong><br />

complexo estão interagin<strong>do</strong> com o soro<br />

transparente. De mo<strong>do</strong> que o meu esta<strong>do</strong><br />

líqui<strong>do</strong> assimila o que <strong>aqui</strong> se passa.<br />

- E o que foi feito <strong>do</strong>s andróides?<br />

- Se auto-destruiram, após a<br />

transferência. Encontrará estes registros<br />

no último cristalton, à sua esquerda.<br />

- Obriga<strong>do</strong> pela confiança. Mas<br />

saiba: Não posso tomar decisões sem que<br />

meus irmãos saibam. Concor<strong>do</strong> em<br />

compartilhar <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s e mante-los<br />

assim, <strong>do</strong>u-lhe minha palavra. Votaremos e<br />

decidiremos o que fazer. Isto é justo pra<br />

você?<br />

Por um breve momento houve<br />

silencio absoluto e Hamour parecia ter os<br />

olhos fixos em Fanna, que lhe retribuía o<br />

mesmo olhar.<br />

196


- Esta é a resposta que eu queria<br />

ouvir, disse Hamour expressan<strong>do</strong> alívio.<br />

Sim, é justo e sei que estou em boas mãos.<br />

- E como faremos para trazê-lo de<br />

volta?<br />

- Simples. Em baixo da pirâmide<br />

cristal encontrará o meio. Mas antes,<br />

estude bem nossos caracteres e depois<br />

você, e somente você, os traduzirá.<br />

Depois chame seus companheiros,<br />

aqueles de maior sabe<strong>do</strong>ria, para ajudá-lo<br />

na operação. Para encerrar este nosso<br />

primeiro contato, levante-se e puxe o<br />

assento de sua cadeira. Encontrará um<br />

livro, conten<strong>do</strong> as informações<br />

necessárias, para a realização <strong>do</strong> meu<br />

regresso.<br />

Não esqueça de acionar o botão<br />

verde duas vezes quan<strong>do</strong> o Cristalton for<br />

ejeta<strong>do</strong>. Boa sorte. Veremos-nos em breve<br />

e não se preocupe, o reconhecerei. Sua<br />

imagem está projetada em minha memória<br />

... hum ... vamos dizer, líquida.<br />

Fana fez o que Hamour lhe<br />

dissera e tinha em mãos o Cristalton e o<br />

livro. Desativou o restante <strong>do</strong>s controles e<br />

197


atravessou o Telão, encontran<strong>do</strong> Hamour<br />

falan<strong>do</strong> com os outros.<br />

Hamour, ao perceber a travessia<br />

<strong>do</strong> líder pela grande tela, interrompeu sua<br />

narrativa e o procurou com os olhos.<br />

- Muito bem, agora você poderá<br />

voltar para junto <strong>do</strong>s que ficaram em suas<br />

naves. Ainda ficarei um pouco mais com<br />

este pessoal, que parece ter “fome de<br />

saber”.<br />

- Fique à vontade – retrucou,<br />

Fanna, meio sem jeito, pego de surpresa.<br />

Ao passar pelo holograma, teve o cuida<strong>do</strong><br />

em desviá-lo. Era incrivelmente sóli<strong>do</strong>, ao<br />

vê-lo, assim, tão de perto. Aproveitou a<br />

pausa e despediu-se <strong>do</strong> pessoal.<br />

Perto da sala de descompressão.<br />

sentiu um toque no braço. Voltou-se,<br />

encontran<strong>do</strong> a figura sorridente de Zeuez.<br />

- Acho que sou o menos<br />

qualifica<strong>do</strong> para continuar nesta palestra. É<br />

muito técnica, fora <strong>do</strong> meu alcance, por<br />

isso, me ofereço para levá-lo de volta à<br />

Kosmos.<br />

198


- Muita gentileza sua, Zeuez. Mas<br />

tem certeza de que não está aproveitan<strong>do</strong><br />

nada <strong>do</strong> que Hamour está passan<strong>do</strong>?<br />

- Se tivesse maiores<br />

conhecimentos em química, talvez. Tu<strong>do</strong> o<br />

que ele diz, é profun<strong>do</strong> demais para mim.<br />

- Seu comandante está ciente de<br />

sua saída?<br />

- Está.<br />

- Está certo. Então vamos.<br />

A segunda parte <strong>do</strong> programa<br />

continuou até completarem-se três dias e<br />

três noites.<br />

A variação <strong>do</strong>s temas se deu<br />

desde a polinização de novas plantas, até<br />

o processo de fusão e aceleração de<br />

partículas, o último tema aborda<strong>do</strong>.<br />

- Muito bem, senhores e<br />

senhoras. Considero encerrada a segunda<br />

fase deste programa. A terceira, está nas<br />

mãos de seu líder.<br />

Na Kosmos, Erus Fanna ativou os<br />

computa<strong>do</strong>res e iniciou os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

caracteres conti<strong>do</strong>s naquele livro pequeno<br />

e de poucas páginas. Seu conteú<strong>do</strong> era<br />

fantasticamente simples, o processo de<br />

199


eversão e ressurreição de Hamour. Tinha<br />

tu<strong>do</strong> revela<strong>do</strong> antes mesmo da expedição<br />

retornar.<br />

Decidiu criar um conselho,<br />

forma<strong>do</strong> pelos mais velhos e mais<br />

equilibra<strong>do</strong>s. De acor<strong>do</strong> com a vontade de<br />

Hamour, deveriam voltar depois de três<br />

dias e três noites. E por que três dias e três<br />

noites? Por que este tempo determina<strong>do</strong>?<br />

Os expedicionários voltaram<br />

satisfeitos e não escondiam suas<br />

expressões de triunfo absoluto. Thorc e<br />

Zur-Kwa, tinham olhares de criança,<br />

prontas para começar uma arte, assim<br />

como Belzamir. As garotas, sempre juntas,<br />

conversavam animadamente, carregan<strong>do</strong><br />

suas sacolas a tiracol e maços de<br />

apontamentos. O recém cria<strong>do</strong> corpo de<br />

cientistas rodeavam Tutkan e caminhavam<br />

lentamente, discutin<strong>do</strong> e gesticula<strong>do</strong><br />

bastante. Os últimos a reentrar com suas<br />

naves, eram os <strong>do</strong>is capitães, Velz e<br />

Maxun.<br />

Velz, ao passar pelo líder, mal o<br />

cumprimentou. Parecia ser o único<br />

200


descontente. Fanna, não se suportou e o<br />

chamou reservadamente, fora daquela<br />

balbúrdia.<br />

- Velz, o que há com você?<br />

- Nada, senhor. Apenas um pouco<br />

cansa<strong>do</strong>.<br />

Seus olhos estavam gruda<strong>do</strong>s no<br />

piso da nave.<br />

- Faça o seguinte: coma algo<br />

sóli<strong>do</strong>, beba um, não, <strong>do</strong>is goles e depois<br />

de um banho relaxante, vá <strong>do</strong>rmir.<br />

Amanhã, vamos dizer... neste mesmo<br />

tempo, apresente-se a mim. Está certo?<br />

- Sim, senhor.<br />

Seus olhos permaneciam <strong>do</strong> mesmo jeito<br />

quan<strong>do</strong> deu meia-volta e se afastou.<br />

- O que estará erra<strong>do</strong> com este<br />

rapaz?<br />

Em vista <strong>do</strong> que acontecia com<br />

Velz, Fanna resolveu mandar to<strong>do</strong>s para<br />

suas naves e ter com os seus. A reunião se<br />

faria na manhã seguinte. Havia muito<br />

trabalho para to<strong>do</strong>s e coisas para serem<br />

resolvidas.<br />

No dia seguinte, convocou a<br />

assembléia, com nomes escolhi<strong>do</strong>s pelo<br />

Komptor.<br />

201


Tão logo os treze escolhi<strong>do</strong>s<br />

tomaram seus acentos, fizeram uma<br />

votação rápida, na escolha <strong>do</strong> presidente<br />

<strong>do</strong> conselho. Escolheram Ambhórius, pelo<br />

que Fanna ficou satisfeitíssimo e entrou<br />

direto ao assunto, relatan<strong>do</strong> sua<br />

experiência em seus mínimos detalhes,<br />

arrancan<strong>do</strong>-lhes um misto de pasmo,<br />

curiosidade e incredulidade.<br />

Ao encerrar a reunião, pediu-lhes<br />

que votassem, observan<strong>do</strong> a urgência em<br />

questão e suas decisões seriam soberanas<br />

e por tanto, cumpridas.<br />

De volta para sua sala pensava<br />

muito sobre o veredicto de Hamour. Não<br />

podia envolver Tut nesta decisão e muito<br />

menos Thorc e Zur-Kwa com suas visões<br />

científicas. Não seriam imparciais,<br />

passou nos laboratórios deles,<br />

encontran<strong>do</strong>-os animadíssimos, sobre<br />

tu<strong>do</strong>, Zur-Kwa, que não se cansava de<br />

elogiar sua assistente, Belzamir, pelo ótimo<br />

desempenho nas experiências preliminares<br />

da “Dobra”. Descobrira, nela, um cérebro<br />

privilegia<strong>do</strong>, acima da média.<br />

202


Thorc, naturalmente, aproveitou a<br />

ocasião para gozar o amigo e disse para<br />

Fanna :<br />

- Desta vez, ele se apaixonou,<br />

mas, pelos neurônios de Belzamir.<br />

Zur-Kwa, por sua vez, ficou<br />

vermelho e retrucou:<br />

- Você nem sabe o que são<br />

neurônios.<br />

- E além <strong>do</strong> mais – entrou, Fanna,<br />

- o resto não é de se jogar fora, hein, seu<br />

sabichão?<br />

- Ah!!! Você também, Erus!!<br />

- Não se preocupe, Zur-Kwa,<br />

desta vez nem, eu, nem Thorc, estamos<br />

interessa<strong>do</strong>s... não é mesmo, Thorc?<br />

- Mas você observou bem, - disse,<br />

Thorc, ela não é de se jogar fora...<br />

Zur-Kwa estava a ponto de<br />

explodir, com a gozação, quan<strong>do</strong> o<br />

Intercon chamou por Fanna.<br />

- Papai, Velz está <strong>aqui</strong> na sua<br />

sala.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, querida. E voltan<strong>do</strong>-se<br />

para os “<strong>do</strong>is malucos”, disse:<br />

- Até mais tarde, rapazes e<br />

esperem por mim para votarmos quem vai<br />

namorar com Belzamir.<br />

203


O baixinho acertou a porta com um<br />

tubo de ensaio. Fanna, saira bem a tempo.<br />

Ao entrar em sua sala, encontrou<br />

Velz muito alinha<strong>do</strong> com uniforme de gala<br />

e viu nos olhos <strong>do</strong> rapaz, certo nervosismo.<br />

O mesmo acontecia com Zuila, ao lhe<br />

trazer alguns resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s de sua<br />

pesquisa nos computa<strong>do</strong>res de Hamour;<br />

pesquisa esta, feita por ela, Zart e Amis.<br />

- Necessita de mais alguma coisa,<br />

papai?<br />

- Não, querida, obriga<strong>do</strong>!<br />

Assim como chegou, ela saiu, em<br />

passos rápi<strong>do</strong>s, olhan<strong>do</strong> discretamente<br />

para Velz, que não parava de se remexer<br />

em sua cadeira.<br />

- Senhor, disse, ele levantan<strong>do</strong>-se<br />

brusca e desajeitadamente, ao perceber<br />

estar diante de seu líder - estou <strong>aqui</strong>,<br />

conforme me pediu.<br />

- Fique a vontade, rapaz. Sentese.<br />

Primeiro, por favor, feche a porta.<br />

- Sim, senhor.<br />

- Então, agora, fale-me, o que<br />

está erra<strong>do</strong>?<br />

- Não há nada de erra<strong>do</strong>, senhor,<br />

apenas me sentia bastante cansa<strong>do</strong>.<br />

204


- Nada de erra<strong>do</strong>? Ontem você<br />

estava com cara de poucos amigos e<br />

agora, está aí nesta cadeira, se remexen<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong>, como se fosse uma galinha no ninho<br />

erra<strong>do</strong>!?<br />

Estas palavras, provocaram risos<br />

em ambos, quebran<strong>do</strong> o gelo de Velz, bem<br />

no estilo de Fanna.<br />

- Senhor, eu nem mesmo sei o<br />

que está acontecen<strong>do</strong> comigo...<br />

- Nada acontece sem motivação e<br />

você tem se mostra<strong>do</strong> um ótimo oficial.<br />

Alguma coisa deve estar erra<strong>do</strong>. Vamos,<br />

pode falar. Desabafe, rapaz.<br />

- Nem sei por onde começar...<br />

- Humm... já vi esta expressão<br />

antes ...<br />

- Mas, eu nunca antes ...<br />

- Sossegue, Velz ... acho que sei<br />

o que está acontecen<strong>do</strong>. Essa sua<br />

expressão é comum em quem está<br />

apaixona<strong>do</strong>. Estou certo?<br />

- Sim, senhor. Acho que estou ...<br />

- Foi o que pensei. E posso saber<br />

quem é a felizarda merece<strong>do</strong>ra de seus<br />

sentimentos?<br />

- Mas esse é o problema, senhor.<br />

205


- Ora, você não sabe por quem<br />

está apaixona<strong>do</strong>?<br />

- Sim, senhor, é claro que sei.<br />

- Então, me diga, rapaz. A menos<br />

que seja por um <strong>do</strong>s rapazes <strong>do</strong><br />

alojamento. Neste caso, não me conte.<br />

O riso foi relaxante. Mas Velz não<br />

sabia como falar que estava aman<strong>do</strong> a filha<br />

de seu líder. Ora, mais ce<strong>do</strong> ou mais tarde,<br />

teria que enfrentar aquela situação. Então<br />

que seja agora, pensou, se enchen<strong>do</strong> de<br />

coragem.<br />

- Senhor - e engoliu em seco - Eu<br />

amo Zuila.<br />

- Zuila?<br />

Fanna soltou uma estron<strong>do</strong>sa<br />

gargalhada.<br />

- Agora entendi tu<strong>do</strong>.<br />

- Como assim, senhor?<br />

- Claro, você gostaria de ter<br />

passa<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o tempo com ela na pirâmide<br />

de Hamour e eu, isto é, por minha ordem,<br />

seu comandante o escalou para<br />

reconhecimento e ronda <strong>do</strong> planetóide.<br />

Você deve ter me odia<strong>do</strong> o tempo inteiro,<br />

não? Diga-me, uma coisa, quan<strong>do</strong><br />

começaram o namoro?<br />

206


- Ainda não começamos. Ela<br />

ainda nem sabe disso...<br />

- Mas isto é realmente incrível!<br />

Desde quan<strong>do</strong> você a ama?<br />

- Desde a primeira vez que a vi na<br />

Base-Meridional-Leste, quan<strong>do</strong> o<br />

comandante Zeuez e eu lá pousamos,<br />

fugin<strong>do</strong> daquela terrível tempestade.<br />

- Mas isto já faz tempo... mais de<br />

quatorze anos. Mas você nunca se revelou<br />

a ela?<br />

- Não, senhor. Não consigo.<br />

Quan<strong>do</strong> estou perto dela, as palavras não<br />

vem. Mas espere um pouco, o senhor não<br />

se opõe?<br />

- Mas é claro que não. Vocês tem<br />

a minha benção.<br />

Velz, não acreditava no que ouvia<br />

e via, naquele sorriso de Fanna.<br />

- Senhor, peço-lhe permissão<br />

para ...<br />

- Calma, calma, meu filho,<br />

primeiro você tem que dizer a ela. Ela é<br />

quem vai dar ou não, permissão para<br />

namorá-la. A minha já está concedida.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, senhor, obriga<strong>do</strong>.<br />

- Agora vá, meu filho. Seja<br />

sensato e tenha calma. Faremos o<br />

207


seguinte, agirei como se não soubesse de<br />

nada.<br />

- Mais uma coisa – Velz já estava<br />

em pé, pronto para sair dali corren<strong>do</strong> –<br />

Pedirei ao seu comandante que lhe dê <strong>do</strong>is<br />

dias de folga. Aproveite-os e se decida,<br />

antes que outro chegue à sua frente.<br />

- Sim, senhor e obriga<strong>do</strong>!<br />

Tão logo Velz saiu, Fanna<br />

apanhou o maço de relatórios trazi<strong>do</strong> por<br />

Zuila e passou a examiná-los, antes,<br />

porém, comunicou Tutkan sobre a folga<br />

que prometera à Velz.<br />

Zeuez, mais tarde, escalou Maxun<br />

e Tameron para o reconhecimento <strong>do</strong><br />

planetóide cita<strong>do</strong> por Hamour e estes<br />

partiram imediatamente.<br />

Tutkan após constatar o<br />

desaparecimento <strong>do</strong> sinal de “socorro”, foi<br />

até o gabinete de Fanna. Deu duas<br />

batidinhas na porta e entrou, encontran<strong>do</strong>o<br />

com o cenho carrega<strong>do</strong>.<br />

- Você está ocupa<strong>do</strong>?<br />

- Olá, Tut, foi bom você ter<br />

chega<strong>do</strong>. Sente-se ...<br />

208


- E então, - disse, Tutkan–<br />

novidades?<br />

- De todas as espécies. E você?<br />

- Do meu la<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> calmo, só<br />

passei para bater um papo.<br />

- Mas <strong>do</strong> meu la<strong>do</strong>, a coisa não<br />

está fácil.<br />

- Achei que a tua vida estava mais<br />

fácil depois da criação <strong>do</strong> Conselho.<br />

Fanna estava sensivelmente<br />

preocupa<strong>do</strong>.<br />

- Sabe, Tut, são muitas coisas<br />

acontecen<strong>do</strong> ao mesmo tempo e tempo é<br />

uma coisa que nós não temos. Decisões<br />

devem ser tomadas e cada vez complica<br />

mais... Agora, dê uma espiada nisso-<br />

acionan<strong>do</strong> a tela maior, conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

relatório das meninas.<br />

- O que diz este monte de<br />

arquivos? – perguntou, Tutkan, queren<strong>do</strong><br />

abreviar as coisas.<br />

- Os exames que Amis, Zart e<br />

Zuila fizeram sobre aquela parafernália<br />

encontrada na pirâmide de Hamour, são,<br />

segun<strong>do</strong> a tradução <strong>do</strong>s caracteres,<br />

computa<strong>do</strong>res específicos para a guerra.<br />

Pelo menos, três de ataque, outros em<br />

defesa e contra-ataque.<br />

209


- Três computa<strong>do</strong>res para cada<br />

tática? Pensei que só se usavam<br />

programas ... diferentes, num só<br />

computa<strong>do</strong>r!<br />

- Pois são três para cada função e<br />

olhe, são media<strong>do</strong> entre si e ao que<br />

parece, automatizam to<strong>do</strong> o sistema da<br />

nave. Basta um só para operá-la. Você não<br />

acha isto, estranho?<br />

- Acho. É de se pensar porque<br />

tantas táticas de guerra?<br />

- Este é o ponto, Tut. Depois de<br />

ler e reler esses relatórios, dei “tratos à<br />

bola”. Acho que Hamour não nos falou<br />

tu<strong>do</strong>. Que motivos teria ele para se<br />

esconder naquele planetóide, decompor<br />

sua nave e remetê-la ao espaço e por que<br />

a camuflagem daquele segun<strong>do</strong> planeta?<br />

- É. Isto também me incomoda...<br />

não aconteceu de graça ...<br />

- E segun<strong>do</strong> o próprio Hamour,<br />

existem outros planetas, com civilizações<br />

inteligentes com tecnologias próprias,<br />

riquezas inimagináveis. Não seria isto, uma<br />

trama?<br />

- Que trama ?<br />

- Bem, o revivemos ...<br />

reconstruímos sua nave e ...<br />

210


- Ele me pareceu ser <strong>do</strong> bem...<br />

- Mas então me explica aquele<br />

equipamento sofistica<strong>do</strong> para se fazer<br />

guerra? E, um pormenor interessante:<br />

Hamour, segun<strong>do</strong> o de Amis, mostrou-lhes<br />

uma infinidade de mun<strong>do</strong>s com seus<br />

povos, etc., mas nunca se referiu ao dele<br />

próprio...<br />

- Goran ?<br />

- Exato. Não sabemos nada a<br />

respeito, nem dele nem de sua raça; o que<br />

nos leva a outra pergunta; por que ele está<br />

só e possuía a nave mais bem <strong>do</strong>tada de<br />

to<strong>do</strong> o Universo? Aí, tem coisa!<br />

Tutkan passava os olhos na tela e<br />

coçava a barba.<br />

- Bem, você conhece a minha<br />

opinião: Ficarmos <strong>aqui</strong> conjecturan<strong>do</strong>, não<br />

nos leva a nada.<br />

- Temos muitos, para cuidar ...<br />

não sei ...<br />

- Olha, Erus, deixa o conselho dar<br />

sua decisão e deixar o Universo seguir o<br />

seu curso natural. E a propósito, você já<br />

conseguiu decodificar os Cristaltons?<br />

- Estão com tua filha, Zart.<br />

- Então aquela gerigonça que ela<br />

está montan<strong>do</strong>, é para a leitura deles?<br />

211


- Sim. Você viu?<br />

- Vi e saí de perto. Ela apanhava<br />

daquele emaranha<strong>do</strong> de componentes.<br />

Então Zart bateu à porta e entrou.<br />

- Oi pai, oi Erus! Estão muito<br />

ocupa<strong>do</strong>s?<br />

- Entre, Zart, estávamos mesmo<br />

falan<strong>do</strong> em você.<br />

- Coisas boas espero.<br />

- É claro, seu pai dizia que você<br />

estava levan<strong>do</strong> uma surra das boas. E<br />

então, quem venceu?<br />

- Eu venci com ajuda de Thorc e<br />

transferimos os códigos para um de nossos<br />

disquetes – disse, ela entregan<strong>do</strong>-o para<br />

Fanna – se quiser pode injetar no seu<br />

terminal, e viran<strong>do</strong>-se para Tutkan – Papai<br />

as meninas e eu estamos pensan<strong>do</strong> em<br />

fazer uma festinha hoje, mais tarde no<br />

Cassino. Você vai precisar de mim?<br />

- Não, querida, tu<strong>do</strong> bem, vá com<br />

suas amigas.<br />

- Obrigada, papai – deu-lhe um<br />

beijo– Precisa de mais alguma coisa, Erus?<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Zart. Agora é comigo.<br />

Ela se foi e Fanna introduziu o<br />

disquete, surgin<strong>do</strong> a imagen de Hamour.<br />

212


Neste disquete trazia-lhes um<br />

mapa estelar, com definições de medida<br />

semelhante à deles.<br />

Numa rápida comparação de<br />

coordenadas, o mapa até então<br />

desenvolvi<strong>do</strong> por eles, mostrava-se<br />

correto. Aí, uma surpresa. O espaço,<br />

segun<strong>do</strong> aquelas medições, se dividia em<br />

<strong>do</strong>is setores conheci<strong>do</strong>s, conten<strong>do</strong> cada<br />

um, mil quadrantes e ali, onde estavam,<br />

seria o oito centésimo quadragésimo nono<br />

e cerca de <strong>do</strong>is anos-luz distantes de três<br />

sistemas aponta<strong>do</strong>s em vermelho.<br />

- Por que estão em vermelho? –<br />

quis saber Tutkan.<br />

- Já vamos saber – disse, Fanna,<br />

chaman<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s.<br />

Estes três sistemas, denomina<strong>do</strong>s<br />

de Meran...<br />

- Meran, o mesmo nome de uma<br />

de nossas luas.<br />

- Interessante!<br />

- Exatamente. Aí, deve haver<br />

alguma ligação que ainda não sabemos.<br />

- Continue,por favor, Erus.<br />

213


-Apresentavam povos<br />

semelhantes a eles. O planeta que dava o<br />

nome ao sistema, Meran, era <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de<br />

tecnologia avançada e de natureza<br />

guerreira com tendências ao canibalismo,<br />

<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> cerca de quinhentos<br />

quadrantes de outro setor, até então<br />

desconheci<strong>do</strong> pelos somerianos. O povo<br />

de Meran era considera<strong>do</strong> muito perigoso.<br />

- E estamos perto deles – retrucou,<br />

Tutkan.<br />

- Com o que possuem, podem<br />

chegar até nós em menos de <strong>do</strong>is<br />

perío<strong>do</strong>s.<br />

- Você está certo, Erus. Não foi à<br />

toa que Hamour camuflou o pequeno<br />

planeta e se protegeu com aquela<br />

parafernália de sensores aurais e tu<strong>do</strong> o<br />

mais.<br />

- Então o que devemos fazer, é<br />

sair d<strong>aqui</strong> “ontem”.<br />

- E Hamour, e o restante das<br />

coisas ... vamos deixar tu<strong>do</strong> para trás?<br />

- O Conselho vai ter que decidir<br />

isto.<br />

- Desta vez, acho melhor<br />

convocar Thorc e Zur-Kwa.<br />

- Também acho.<br />

214


Fanna comunicou-se com Zuila e<br />

pediu-lhe para chamar os “<strong>do</strong>is malucos” a<br />

fazer parte da reunião logo mais.<br />

- Eles estão <strong>aqui</strong>, disse, ela.<br />

- Mande-os entrar.<br />

- Tut, não vá atrás dessa história –<br />

disse, Zur-Kwa espavori<strong>do</strong>, porta adentro –<br />

É tu<strong>do</strong> conversa fiada.<br />

- Do que está falan<strong>do</strong>, Zur-Kwa?<br />

- Ué !? – disse, o baixinho,<br />

moven<strong>do</strong> os olhos para os la<strong>do</strong>s, como se<br />

estivesse procuran<strong>do</strong> algo – Então ele<br />

ainda não te falou!?<br />

- Falou o que ?<br />

- Ora to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já sabe – disse,<br />

Thorc, logo atrás de Zur-Kwa.<br />

Fanna, apesar <strong>do</strong>s problemas, ria<br />

baixinho.<br />

- O que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já sabe,<br />

Thorc?<br />

- Do namoro dele com Belzamir ...<br />

- É mentira – cortou, Zur-Kwa, em<br />

franco protesto.<br />

- Ele diz isto porque teme que<br />

vamos namorá-la também – Thorc se<br />

divertia à custa <strong>do</strong> colega.<br />

- Isto é um complô contra mim.<br />

215


_ Sossegue, Zur-Kwa – disse,<br />

Fanna – ela é só sua. Não estamos<br />

interessa<strong>do</strong>s, pelo menos não de minha<br />

parte.<br />

- Mas, pensan<strong>do</strong> melhor – disse,<br />

Tutkan – ela não é de se jogar fora ...<br />

- Você, também, Tut?<br />

- Então, vamos votar – disse,<br />

Thorc, ven<strong>do</strong> Zur-Kwa prestes a explodir –<br />

Quem está a fim de Belzamir, levante o<br />

de<strong>do</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s levantaram, ao mesmo<br />

tempo.<br />

- Vocês não tem nada melhor<br />

para fazer, <strong>do</strong> que encher a minha<br />

paciência?<br />

- Zur-Kwa – disse, Tutkan – parece<br />

que <strong>aqui</strong> to<strong>do</strong>s estão a fim. Será que tem<br />

mais?...<br />

- Como nos velhos tempos – disse,<br />

Fanna.<br />

- Mas ela é muito jovem para ele –<br />

comentou, Thorc.<br />

- E para vocês também ... e isto<br />

tu<strong>do</strong> é mentira. Espero que não caia nos<br />

ouvi<strong>do</strong>s dela, esta ... esta baboseira ...<br />

- Está certo, Zur-Kwa – disse,<br />

Fanna – Você venceu. Agora vamos<br />

216


trabalhar. Temos grandes problemas pela<br />

frente.<br />

O Intercon chamou. Fanna<br />

atendeu. Era Zuila queren<strong>do</strong> saber se ele<br />

precisava dela.<br />

- Não meu bem, antes de sair,<br />

traga para nós um chá bem quente.<br />

Num piscar de olhos, ela<br />

apareceu com as xícaras e uma jarra<br />

fumegante, sain<strong>do</strong> como chegou, rápida.<br />

- Pois bem, senhores – disse,<br />

Fanna depois de beber um pouco – Vamos<br />

aos fatos ... Temos que sair d<strong>aqui</strong> o quanto<br />

antes possível ...<br />

- Por que tanta pressa? – quis<br />

saber, Thorc.<br />

Fanna passou aos detalhes,<br />

narran<strong>do</strong> e mostran<strong>do</strong> os novos da<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Cristalton de Hamour.<br />

Pouco depois, a reunião foi<br />

interrompida pelo anúncio de Klemps, <strong>do</strong><br />

retorno da Missão Zag (Maxun e Tameron).<br />

Tão logo trouxeram as análises <strong>do</strong><br />

Kramset, foram dispensa<strong>do</strong>s por Tutkan.<br />

217


Numa conexão rápida <strong>do</strong> terminal<br />

de computa<strong>do</strong>r, as análises mostraram ser,<br />

aquele planetóide, de atmosfera<br />

“respirável”. Oxigênio rarefeito, com<br />

vegetação rasteira, grandes planícies, sem<br />

vida animal nem insetos, só vegetal e<br />

mineral. Possuía temperaturas suportáveis,<br />

com variação entre onze e trinta e <strong>do</strong>is<br />

graus Celtz. Seu meridiano seria o local<br />

adequa<strong>do</strong> para a construção de uma<br />

cidade, se quisessem.<br />

A entrada e saída da fina camada<br />

de hélio, não causaram problemas.<br />

Aconteceu exatamente como Hamour lhes<br />

dissera.<br />

- O lugar é perfeito para<br />

reconstruirmos a nave de Hamour, que a<br />

meu ver é o único com conhecimentos<br />

capazes de neutralizar qualquer atenta<strong>do</strong>,<br />

se, porventura, acontecer. – disse, Zur-<br />

Kwa.<br />

Fanna pensou um pouco mais e<br />

perguntou:<br />

- Quanto tempo levaria para a<br />

construção de prensas, usinas e<br />

fundi<strong>do</strong>ras?<br />

218


- No mínimo, <strong>do</strong>is anos, talvez<br />

mais – disse, Thorc.<br />

- É tempo demais – retrucou,<br />

Tutkan.<br />

- Bem, vocês mesmos viram a<br />

que distância estamos de Meran. Acho que<br />

o sinal emiti<strong>do</strong> por Hamour não foi ouvi<strong>do</strong><br />

apenas por nós ...<br />

- Andan<strong>do</strong> na velocidade da luz –<br />

cortou Zur-Kwa – levariam <strong>do</strong>is anos para<br />

chegar até nós...<br />

- Isto se andarem só com a<br />

velocidade da luz. Tu<strong>do</strong> depende de<br />

quantas <strong>do</strong>bras são capazes de andar.<br />

Zur-Kwa com seus olhos<br />

arregala<strong>do</strong>s projetou uma situação ainda<br />

pior, - dizen<strong>do</strong>:<br />

– Sem contar a possibilidade de<br />

possuírem tecnologia capaz de atravessar<br />

os tais buracos de minhoca, o que lhes<br />

possibilitaria aparecer de uma hora para<br />

outra em nossa frente.<br />

- ... E teríamos sei lá o que, nos<br />

nossos calcanhares – completou Fanna.<br />

- E para onde iríamos?<br />

- Não sei ainda. Com certeza, em<br />

senti<strong>do</strong> contrário de Meran.<br />

219


- Mas, também não podemos<br />

deixar isto tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> – disse, Zur-Kwa –<br />

Acho que é de interesse nosso, os<br />

conhecimentos de Hamour. O que você<br />

acha, Thorc?<br />

- Bom, se caso corremos risco,<br />

poderíamos levar tu<strong>do</strong><br />

conosco ...<br />

- E colocar onde? – quis saber,<br />

Fanna.<br />

- Ora, Hamour, a pirâmide cristal e<br />

as tralhas, no hangar acima <strong>do</strong> lastro da<br />

Kosmos. Mas, como levar o “asteróide”?<br />

Questionou Tutkan.<br />

Poderíamos instalar um motor e<br />

coman<strong>do</strong>s naquele pedaço de metal.<br />

Thorc falava e digitava no seu<br />

computa<strong>do</strong>r de bolso.<br />

- Acho que ... entre preparar tu<strong>do</strong><br />

... mais-ou-menos <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s, e ... hum,<br />

vejamos... mais quinze dias para a<br />

implantação <strong>do</strong>s motores; terão que ser<br />

<strong>do</strong>is ... é ... ida e volta, mais os testes ...<br />

digamos três perío<strong>do</strong>s e meio ...<br />

- Foi o que pensei. É muito tempo,<br />

quero sair antes.<br />

220


- Neste caso, precisamos de um<br />

dia para planejar, a menos que você tenha<br />

alguma idéia.<br />

Thorc falava com Zur-Kwa, que processava<br />

seus cálculos na mente.<br />

- Zur-Kwa, estou falan<strong>do</strong> com<br />

você – disse, Thorc, sacudin<strong>do</strong> o<br />

companheiro.<br />

- Eu ouvi. Eu ouvi, ou você acha<br />

que sou sur<strong>do</strong>? Estou com uma idéia, mas<br />

antes preciso ir ao laboratório. Existem<br />

cálculos complica<strong>do</strong>s para ...<br />

- Para ? – perguntou, Tutkan.<br />

- Primeiro, me deixa fazer os<br />

cálculos, depois eu falo.<br />

- Pode usar o meu terminal –<br />

disse-lhe, Fanna.<br />

-Tem outras coisas que eu<br />

preciso ver antes de pensar em cálculos.<br />

Tão logo, disse estas palavras,<br />

levantou-se de sua cadeira.<br />

- Você não vai ficar para a reunião<br />

<strong>do</strong> Conselho?<br />

- Não Erus, Já sei o que vão<br />

decidir e to<strong>do</strong>s sabem que votaria em<br />

trazer Hamour. Vou ao laboratório e você<br />

também, Thorc. Preciso de você lá...<br />

221


- É – disse, Thorc, piscan<strong>do</strong> um<br />

olho para Fanna – tenho que ir, afinal não<br />

podemos deixar ele sozinho com<br />

Belzamir...<br />

- Pode apostar – disse, Tutkan –<br />

ele é um perigo!! ...<br />

- Ora, vocês ... – disse o baixinho,<br />

passan<strong>do</strong> pela porta.<br />

Ambhórius tomou a palavra.<br />

- Erus, dividimos a questão toda<br />

em três itens. Primeiro, sem dúvida<br />

Hamour provou ser bastante evoluí<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />

bem, assim sen<strong>do</strong>, não nos traria mal. Em<br />

segun<strong>do</strong> lugar. Está confina<strong>do</strong> em uma<br />

espécie de prisão, que ele próprio<br />

construiu e precisa de nós para revivê-lo. A<br />

lógica indica, que seria grato, portanto, não<br />

nos faria mal, mesmo por que, é um mortal,<br />

assim como nós. Em terceiro, como você<br />

mesmo diz: Devemos esgotar todas as<br />

possibilidades em novas chances, até que<br />

haja reconhecimento geral e inexorável.<br />

Neste caso, devemos oportunizar Hamour.<br />

Ele mesmo provará quem é e o que<br />

realmente quer. E devo dizer, por tu<strong>do</strong> o<br />

que mostrou até o presente momento,<br />

222


existem muitos pontos a seu favor.<br />

Contu<strong>do</strong> sua permanência entre nós<br />

deverá ser vigiada com total discrição. Em<br />

face dessa análise, não seria justo deixálo,<br />

praticamente lhe rouban<strong>do</strong> o que já nos<br />

deu. Devemos trazê-lo no prazo, ou seja,<br />

depois de amanhã.<br />

- Muito bem, senhores. Alegrome<br />

que tenham chega<strong>do</strong> a esta conclusão.<br />

Alguém tem mais alguma coisa a<br />

ponderar?<br />

- Não, Erus, isto é tu<strong>do</strong>.<br />

- Obriga<strong>do</strong> por sua atenção e a<br />

propósito, este Conselho não será<br />

dissolvi<strong>do</strong>. De hoje em diante, será sempre<br />

consulta<strong>do</strong> sobre as questões que<br />

envolvem nossa gente. Teremos duas<br />

assembléias por perío<strong>do</strong>, uma no primeiro<br />

dia e outra no décimo-quarto e se preciso,<br />

faremos as extraordinárias.<br />

Dito isto, os aplausos encerraram<br />

a ocasião. To<strong>do</strong>s se despediram e se<br />

retiraram.<br />

- O que você acha, Tut?<br />

- Criar equipes e turnos e<br />

desenferrujar aquelas gruas. Aquele<br />

223


hangar pouco foi usa<strong>do</strong>, é mais um<br />

depósito de tralhas.<br />

- Sei. Quan<strong>do</strong> desenhei este<br />

andar, pensava nele como depósitos.<br />

A sala da Assembléia ficou às<br />

escuras e Tutkan foi para a ponte, preparar<br />

as equipes. Fanna foi para o seu gabinete<br />

e mal teve tempo de organizar seus<br />

pensamentos, quan<strong>do</strong> Thorc e Zur-Kwa<br />

entraram porta adentro, muito excita<strong>do</strong>s.<br />

- Erus – disse, Zur-kwa, sacudin<strong>do</strong><br />

seu micro computa<strong>do</strong>r. – achamos a<br />

solução e creio que poderemos sair d<strong>aqui</strong><br />

em pouco mais de seis tempos, talvez,<br />

sete!!...<br />

- E com muitas vantagens –<br />

entrou, Thorc.<br />

Aquele tempero de excitação,<br />

alegria e nervosismo, contagiaram Fanna,<br />

que saltou de sua cadeira e sentan<strong>do</strong>-se<br />

em sua própria mesa.<br />

- Sim, rapazes, falem logo.<br />

- Pois bem – começou, Zur-Kwa –<br />

se formos a marcha moderada, calculo,<br />

que no máximo em tres-quartos de<br />

potência, podemos construir uma tríade.<br />

- Uma tríade? O que vem a ser<br />

isto?<br />

224


Zur-Kwa lhe acoplou seu micro ao<br />

terminal e surgiu um desenho.<br />

- Veja, o bloco de metal, no meio<br />

de <strong>do</strong>is cargueiros Mir ... presos por estas<br />

hastes ... basta soldá-las ...<br />

- São aquelas – entrou Thorc – que<br />

usamos para a construção da Kosmos,<br />

lembra-se? Temos quarenta delas e<br />

usaremos só vinte.<br />

- Encontrei-as no depósito de<br />

tralhas – disse, Zur-Kwa – Não lembrava<br />

mais delas, mas ...<br />

- Muito bom, rapazes ...<br />

- ... E o melhor de tu<strong>do</strong> –<br />

continuou, Zur-Kwa – é que não<br />

precisaremos acoplar módulos de<br />

coman<strong>do</strong>, navegação ... estas coisas, nem<br />

motores ...<br />

- O volume e massa, são<br />

compatíveis para os <strong>do</strong>is cargueiros –<br />

completou, Thorc – e ainda por cima,<br />

teremos economia de combustível ... o que<br />

acha, Erus?<br />

- Esplêndi<strong>do</strong>! Realmente<br />

esplêndi<strong>do</strong>!! Mas tenho uma pergunta – e<br />

saiu <strong>do</strong>nde estava, encaminhan<strong>do</strong>-se até o<br />

mapa estelar – Segun<strong>do</strong> os cálculos de<br />

velocidade e ainda contan<strong>do</strong> com algum<br />

225


contra-tempo, quanto tempo levaríamos<br />

para irmos d<strong>aqui</strong> ... – apontan<strong>do</strong> no mapa –<br />

até este sistema, que fica no terceiro<br />

padrão, mais precisamente no<br />

septuagésimo sétimo quadrante?<br />

Os <strong>do</strong>is imediatamente digitaram<br />

o Komptor, que quase de imediato trouxelhes<br />

a resposta.<br />

- Cerca de três anos – disse,<br />

Thorc.<br />

- Precisamente, <strong>do</strong>is anos e oito<br />

perío<strong>do</strong>s luz – disse, Zur-Kwa.<br />

- Isto, se não houver nenhum<br />

contra-tempo – completou, Thorc.<br />

- Não dá – disse, Fanna – Temos<br />

que chegar antes ...<br />

Thorc tirou os olhos da tela <strong>do</strong><br />

Komptor, e perguntou?<br />

- Por que?<br />

- Estamos com quinhentos e<br />

quatro mil e nove seres e os últimos<br />

informes médicos que disponho, dizem que<br />

em oito perío<strong>do</strong>s teremos mais cinqüenta e<br />

nove mil e duzentos nascimentos.<br />

- Tu<strong>do</strong> isso? Mas não vi, assim<br />

tantas fêmeas grávidas – ponderou, Thorc.<br />

- Acontece que com nossa<br />

longevidade maior e os nutrientes que<br />

226


impregnaram nossas plantações, tem<br />

favoreci<strong>do</strong> nascimentos múltiplos, na<br />

maioria tri-gêmeo. Isto quer dizer que em<br />

<strong>do</strong>is anos e oito perío<strong>do</strong>s, estaremos com<br />

super-população dentro das naves ...<br />

- E outra <strong>do</strong>r-de-cabeça – disse,<br />

Zur-Kwa coçan<strong>do</strong> seus cabelos brancos e<br />

espeta<strong>do</strong>s.<br />

- Bem, temos mais vinte hastes de<br />

sobra ...<br />

- É isto – gritou o baixinho,<br />

baten<strong>do</strong>-se com a palma da mão, na testa,<br />

dan<strong>do</strong> um estalo – É isto! Acoplaremos<br />

mais <strong>do</strong>is Mir. Teremos velocidade normal.<br />

Thorc, faça os cálculos de massa,<br />

enquanto verifico se as hastes agüentam!...<br />

Fanna os observava. Eram<br />

rápi<strong>do</strong>s, precisos e “malucos”.<br />

- Se não encontrarmos nenhum<br />

buraco negro pela frente, nem<br />

magnetização de núcleos, elas agüentam.<br />

- Os cargueiros terão de ficar<br />

simétricos e funcionarão três de cada vez<br />

... não, podem funcionar to<strong>do</strong>s juntos. Só<br />

precisamos ficar de olho no aquecimento<br />

<strong>do</strong>s reatores. É um pouco arrisca<strong>do</strong>, mas<br />

com sorte, em ... <strong>do</strong>is anos. Dois ou três<br />

perío<strong>do</strong>s antes, talvez.<br />

227


- Ótimo, rapazes. Mãos à obra.<br />

Dois anos, acho que podemos agüentar.<br />

Vou comunicar isso ao Conselho e enviar<br />

uma mensagem a to<strong>do</strong>s, recomendan<strong>do</strong> o<br />

uso de anticoncepcionais.<br />

Zur-Kwa olhou mais uma vez para<br />

o mapa estelar e voltou-se para Fanna,<br />

ligeiramente intriga<strong>do</strong>.<br />

- Erus, diga-me uma coisa, estes<br />

pontos verdes <strong>aqui</strong> são planetas<br />

habitáveis?<br />

- Sim. Os amarelos são de<br />

planetas já popula<strong>do</strong>s.<br />

- Mas atentan<strong>do</strong> só para os<br />

verdes. Por que escolheu este? ... tem,<br />

pelo menos ... um ... <strong>do</strong>is ... três ... quatro<br />

... em condições antes deste ... Alguma<br />

razão especial, por ele?<br />

- Muitas. Muitas mesmo, mas<br />

falaremos disto qualquer dia destes. A<br />

propósito, como vão os trabalhos para a<br />

remoção de Hamour?<br />

- Dentro <strong>do</strong> cronograma – disse,<br />

Thorc – e por falar nisso, temos alguns<br />

itens para finalizar. Vamos Zur-Kwa, você<br />

não vai querer me deixar só com Belzamir,<br />

vai?<br />

228


Thorc saiu para fora, antes de ser<br />

acerta<strong>do</strong> com a prancheta de informações,<br />

nas mãos de Zur-Kwa.<br />

- Zur-Kwa, você vai ficar aí?<br />

- É, não adianta – disse, o baixinho<br />

– agora vocês vão ficar no meu pé ... – e<br />

saiu, fingin<strong>do</strong> desanimação.<br />

Perto dali, no quadragésimo<br />

quinto pavimento, no Cassino, os mais<br />

jovens e oficiais, aproveitavam suas folgas,<br />

lotan<strong>do</strong> as dependências <strong>do</strong> setor. Havia<br />

grande agitação, numa movimentação<br />

contínua de vai-e-vem entre eles. A música<br />

os balançava numa luminosidade tênue e<br />

aconchegante. Velz, senta<strong>do</strong> ao balcão,<br />

onde as bebidas eram servidas, olhava,<br />

sem piscar para a porta de entrada, Então,<br />

apareceu Maxun e lhe fez sinal para vir até<br />

o balcão. Este, por sua vez lhe apontou<br />

uma mesa que acabara de esvaziar,<br />

exatamente no canto, perto da porta.<br />

Imediatamente, Velz apanhou seu copo e<br />

foi para lá.<br />

- Nossa! – disse-lhe, Maxun, ao<br />

vê-lo chegar à mesa – Até parece que você<br />

vai a um casamento. Que estica!!<br />

229


No momento que iria se sentar,<br />

viu Tameron e Walln de braços da<strong>do</strong>s,<br />

entrarem.<br />

- Estamos <strong>aqui</strong> – gritou, Maxun.<br />

O casal juntou-se a eles em<br />

seguida.<br />

- Oi, pessoal! – sau<strong>do</strong>u, Walln.<br />

- Onde está Zart?<br />

- Está com Zuila. D<strong>aqui</strong> a pouco ...<br />

- Lá estão elas – disse, Velz – com<br />

o coração quase lhe sain<strong>do</strong> pela boca.<br />

Neste momento, muitos entravam,<br />

impedin<strong>do</strong>-lhes de ver os outros chaman<strong>do</strong><br />

e fazen<strong>do</strong> sinais.<br />

- Esperem um pouco, rapazes,<br />

vou lá buscá-las – disse, Walln.<br />

- Nossa! – disse, Tameron para<br />

Velz – onde é que você vai?<br />

- Um cara, como eu, tem que<br />

manter a fama. E então, como foi a<br />

missão?<br />

- Aquele planetóide é uma droga.<br />

- É, tem uma vegetação rasteira –<br />

completou, Maxun. É monótono, não tem<br />

vales, nem rios. Uma ou outra lagoa e a<br />

água não é boa. Sobrevoamos o seu<br />

meridiano, e lá de baixo, parece ser uma<br />

230


enorme planície, Dá até para ver a<br />

curvatura acentuada, no horizonte ...<br />

- E aí, rapazes – disse Zart, ao<br />

voltar com Walln e Zuila<br />

- Sentem-se, meninas – disse,<br />

Tameron.<br />

Velz levantou-se bruscamente,<br />

oferecen<strong>do</strong> um lugar para Zuila, que, ao<br />

vê-lo alinha<strong>do</strong>, também comentou:<br />

- Nossa! Que elegância!!<br />

Ele ficou mu<strong>do</strong>.<br />

Momentos depois, estavam<br />

falan<strong>do</strong>, rin<strong>do</strong> e Velz continuava mu<strong>do</strong>.<br />

Tinha um só pensamento; sair dali e quem<br />

sabe, levar Zuila para outro lugar, menos<br />

agita<strong>do</strong>.<br />

Na outra extremidade da mesa,<br />

Maxun parecia estar se dan<strong>do</strong> bem com<br />

Zart e à sua direita, Tameron e Walln entre<br />

uma risada e outra, trocavam beijos.<br />

Na dúvida de levar um fora e<br />

perdi<strong>do</strong> nestes pensamentos, tomou<br />

coragem e passou o braço em cima de<br />

Zuila e com sua mão no ombro oposto a<br />

puxou para si, com cuida<strong>do</strong> e muito<br />

lentamente. Ele não acreditou quan<strong>do</strong> ela<br />

veio, de mansinho. Ele, simplesmente<br />

engasgou. Ela percebeu seu embaraço,<br />

231


então, virou-se para ele, olhan<strong>do</strong>-o bem no<br />

fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s olhos e o beijou levemente. Em<br />

seguida, ele, quase sem fôlego, a puxou<br />

para si e a beijou longamente.<br />

- Ora, vivas!! Até que enfim!! –<br />

disse, Maxun – Isto merece uma<br />

comemoração.<br />

Foi então, que Velz “acor<strong>do</strong>u” e<br />

percebeu à sua frente seu copo cheio de<br />

Milkha (uma espécie de cerveja).<br />

- Sim, vamos brindar por nós<br />

to<strong>do</strong>s – disse, Zart.<br />

A noite acabou na cúpula da<br />

Kosmos, entre estrelas, promessas e<br />

beijos. Tameron e Walln foram para seus<br />

aposentos, após saírem <strong>do</strong> Cassino.<br />

Na manhã seguinte Fanna<br />

acor<strong>do</strong>u, com sua filha cantarolan<strong>do</strong> feliz,<br />

no preparo <strong>do</strong> desjejum. Foi até ela, na<br />

saleta ao la<strong>do</strong>. Ela ao vê-lo esboçou um<br />

grande sorriso.<br />

- Bom dia, papai!<br />

- Nossa, quanta alegria, hoje –<br />

disse ele após ganhar um beijo carinhoso<br />

da filha.<br />

232


- Ah, você já sabe! – disse ela com<br />

uma expressão marota nos olhos – Velz me<br />

contou tu<strong>do</strong>. Vocês, machos, sempre com<br />

seus segredinhos, hein? Bem que você<br />

podia ter me fala<strong>do</strong>.<br />

- Ora querida, eu não tinha o<br />

direito de me intrometer num assunto<br />

assim tão importante para você. Tinha que<br />

me manter neutro. Então, me diga, como<br />

foi?<br />

- Ah, papai – disse ela toda<br />

encabulada – Você sabe ... eu estou<br />

apaixonada ...<br />

- Alegro-me por você. Só gostaria<br />

que este romance não atrapalhasse seus<br />

trabalhos.<br />

- Sossegue, pai. Nada vai mudar.<br />

Afinal já estou bastante crescidinha e sei<br />

como tu<strong>do</strong> funciona.<br />

Fanna olhou para o seu medi<strong>do</strong>r<br />

de tempo, levantou-se de sua cadeira,<br />

bebeu o restante de seu suco de cereais,<br />

beijou a testa de sua filha.<br />

- Preciso ir, querida. Não se<br />

atrase, temos muito que fazer hoje.<br />

- É mesmo ... vamos buscar<br />

Hamour?<br />

233


- Sim, meu bem, temos que<br />

preparar espaço para acomodar o que virá<br />

lá de baixo. Não se atrase.<br />

- Estarei lá em um microm.<br />

Microns depois, Zuila chegou,<br />

encontran<strong>do</strong> seu pai de frente para o<br />

grande vidro, admiran<strong>do</strong> o mapa estelar,<br />

viajan<strong>do</strong> com sua mente.<br />

- Já sabe para onde vamos?<br />

- O que? – disse, Fanna, toma<strong>do</strong><br />

de surpresa.<br />

- Já encontrou o nosso planeta?<br />

- Ah, sim querida – disse, ele,<br />

apontan<strong>do</strong> para um ponto verde que era<br />

bem distante de onde estavam – Aqui está.<br />

Ela se juntou a ele, admiran<strong>do</strong>-o,<br />

também.<br />

- Como se chama, papai?<br />

- Kalérus.<br />

- E por que não ficamos num<br />

desses <strong>aqui</strong>? São mais perto!!<br />

- Porque Kalérus é o mais<br />

pareci<strong>do</strong> com Someron. Massa, clima,<br />

vegetação e oxigênio. Será como estarmos<br />

em casa, meu bem.<br />

- Mas, ele é o mais distante!<br />

234


- É sim. Mas, vai valer a pena.<br />

Você vai ver. Agora, vamos trabalhar. O<br />

que temos hoje?<br />

- O Factor, da estação de Amis,<br />

está apresentan<strong>do</strong> super-enriquecimento<br />

em proteínas ...<br />

Ao mesmo tempo em que Fanna<br />

se envolvia com os problemas normais<br />

ordinários, os guindastes acomodavam as<br />

hastes em duas naves-transporte, sob o<br />

coman<strong>do</strong> de Zeuez e seus auxiliares. Uma<br />

equipe de engenheiros repassava os<br />

esquemas de soldas, posições, etc., <strong>do</strong>s<br />

cargueiros. Da ponte, Tutkan observava e<br />

coordenava os avanços e posições em que<br />

os cargueiros deviam assumir, rodean<strong>do</strong> o<br />

asteróide. Thorc e Zur-Kwa checavam o<br />

Mini-Lab, com Belzamir, Amis e Zart.<br />

Tempos depois o Mini-Lab e o<br />

transporte usa<strong>do</strong> para manutenção da<br />

frota, com suas gruas e máquinas de<br />

superfície, partiram para o planetóide de<br />

Hamour, enquanto que os cargueiros Mir<br />

tinham entre si , anexadas duas hastes,<br />

cada um, em alinhamento ao bloco de<br />

Metal, carinhosamente chama<strong>do</strong> de “O<br />

235


Asteróide Tameron”. Na escolta, Velz e<br />

Maxun, com seus March-1.<br />

Dentro <strong>do</strong> Mini-Lab, as últimas<br />

recapitulações sobre o processo de<br />

remoção de Hamour com sua parafernália,<br />

entre ela, a pirâmide de cristal, gerava um<br />

pequeno transtorno, trazi<strong>do</strong> por Belzamir.<br />

- Como tirar a pirâmide de cristal<br />

de dentro da sala. Ela é maior <strong>do</strong> que a<br />

porta!?<br />

- Você já perguntou isso, pelo<br />

menos duas vezes, disse Thorc.<br />

- E nenhuma delas, você<br />

respondeu.<br />

- Por que a gente não faz o<br />

processo de “Ressurreição” lá mesmo,<br />

assim nos pouparia de remover todas<br />

aquelas tralhas? – ponderou, Zart.<br />

- Meninas, meninas – entrou, Zur-<br />

Kwa -, não apressem as coisas.<br />

- Então, como faremos?<br />

_ Belzamir – disse Zur-Kwa, com<br />

paciência incomum.<br />

- Aqui, neste esquema, Hamour<br />

diz que ao ativarmos os <strong>do</strong>is módulos, que<br />

ele chama de “sustentor- vital”, tu<strong>do</strong> se<br />

resolverá.<br />

236


- E o que vai acontecer?<br />

- Isto, não sabemos. Apenas diz<br />

para continuarmos com nossos trajes<br />

pressuriza<strong>do</strong>s.<br />

- Mas como vamos tratar de uma<br />

coisa que não sabemos o que é?<br />

- Tenha fé.<br />

- Mas, só fé, não basta ...<br />

- É claro que basta. Você nunca<br />

leu sobre os antigos, que faziam chover,<br />

tão somente pela fé?<br />

- Zur-Kwa – disse, ela baten<strong>do</strong> o<br />

pé – Você está me esconden<strong>do</strong> coisas.<br />

- Você não ouviu ele dizer, para<br />

ter fé? – entrou, Thorc – Tenha fé e tu<strong>do</strong> se<br />

resolverá.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Thorc – disse, Zur-<br />

Kwa, alivia<strong>do</strong>.<br />

- Hei, que negócio é esse, de fé? –<br />

questionou, Zart.<br />

- É!? _ entrou, Amis.<br />

- Desde quan<strong>do</strong> vocês tem fé? – entrou,<br />

Zuila e mais <strong>do</strong>is cientistas.<br />

- Desde que nascemos – disse,<br />

Thorc.<br />

- Aí, gente – anunciou o piloto -,<br />

vamos pousar em dez microns. Retornem<br />

aos seus assentos e apertem os cintos.<br />

237


Como sempre, encontraram o<br />

tempo firme e gela<strong>do</strong>.<br />

Pouco a pouco, foram ganhan<strong>do</strong> a<br />

pirâmide, entre a neve fofa e a menor<br />

gravidade.<br />

Após os procedimentos de<br />

entrada, pela sala de descompressão,<br />

permaneceram com seus trajes e deram<br />

início aos trabalhos, passo a passo,<br />

orienta<strong>do</strong>s por Zur-Kwa.<br />

Primeiramente a remoção<br />

cuida<strong>do</strong>sa de Hamour, em sua poltrona,<br />

que no momento em que foi suspensa<br />

ativou um campo magnético próprio,<br />

fazen<strong>do</strong>-a deslizar para o cômo<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong>,<br />

onde Fanna estivera. Foi coloca<strong>do</strong><br />

exatamente no centro <strong>do</strong> telão, onde se<br />

encaixou perfeitamente no suporte até<br />

então despercebi<strong>do</strong>. Simultaneamente, os<br />

<strong>do</strong>is módulos empoeira<strong>do</strong>s, liga<strong>do</strong>s ao<br />

suporte da pirâmide cristal, foram ativa<strong>do</strong>s.<br />

Imediatamente, o tremor segui<strong>do</strong> de um<br />

som ensurdece<strong>do</strong>r, desprenden<strong>do</strong> poeira<br />

fina e branca, tomou conta <strong>do</strong> lugar.<br />

238


As fileiras de luzes azuis, muito<br />

finas, cobriram Hamour por inteiro,<br />

forman<strong>do</strong> em sua volta uma espécie de<br />

cone protetor. Tão logo, a parede leste<br />

abria-se, quase por inteiro, em duas<br />

metades, trazen<strong>do</strong> para baixo, toda uma<br />

armação, cujo centro, encontrava-se<br />

Hamour, envolto pelo cone luminoso.<br />

- O que é isso? – perguntou,<br />

Belzamir.<br />

- Eu não disse para ter fé? –<br />

respondeu, Zur-Kwa, que como os outros,<br />

olhavam os acontecimentos, abobalha<strong>do</strong>s,<br />

mais uma vez, por entre os visores de seus<br />

capacetes.<br />

Neste ínterim, uma tela,<br />

semelhante a um vídeo, passou a emitir<br />

caracteres em vermelho, com uma voz,<br />

seguin<strong>do</strong>, como se fosse uma contagem<br />

regressiva. Em vista disto, Zur-Kwa<br />

ordenou a to<strong>do</strong>s que acelerassem os<br />

trabalhos pois <strong>aqui</strong>lo tu<strong>do</strong>, estaria prestes a<br />

explodir.<br />

O transporte <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de gruas,<br />

abriu a cobertura. Os braços mecânicos<br />

239


trabalharam na remoção de Hamour com<br />

seu cone, e a pirâmide cristal.<br />

Com cuida<strong>do</strong> e precisão, foram<br />

acondiciona<strong>do</strong>s em movimento calcula<strong>do</strong>s.<br />

Ao mesmo tempo, to<strong>do</strong>s se reacomodavam<br />

à bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mini-Lab.<br />

As manobras lentas de<br />

taxiamento e decolagem, procederam-se.<br />

Em microns, afastaram-se,<br />

ganhan<strong>do</strong> os céus verdes, a tempo de<br />

verem a tremenda explosão de tu<strong>do</strong> lá em<br />

baixo.<br />

Os March-1 voltaram e<br />

sobrevoaram o local.<br />

- Não sobrou pedra sobre pedra –<br />

disse, Velz, em comunica<strong>do</strong> oficial para o<br />

Mini-Lab.<br />

Da Kosmos, Fanna e Tutkan<br />

acompanhavam pelo monitor <strong>do</strong> Telecon.<br />

- Bem, disse, Fanna – Está feito.<br />

- Por <strong>aqui</strong>, também – anunciou,<br />

Zeuez, nas obras, entre os cargueiros Mir e<br />

o “Asteróide de Tameron”.<br />

240


- Klemps – disse, Tutkan – arrume<br />

as malas. Tão logo o Mini-Lab aporte,<br />

vamos sair deste lugar. Avise a frota.<br />

- Sim, senhor! – respondeu<br />

Klemps, com alegria.<br />

A atenção de toda a frota,<br />

concentrava-se na reentrada <strong>do</strong> Mini-Lab e<br />

principalmente em seu ilustre visitante.<br />

No observatório central, Fanna,<br />

Tutkan, Ambhórius e os membros <strong>do</strong><br />

Conselho, acompanhavam as manobras no<br />

hangar, em visível excitação.<br />

Quan<strong>do</strong> Hamour e seu cone<br />

luminoso foram removi<strong>do</strong>s por uma das<br />

gruas, ouviu-se um estron<strong>do</strong>so “OH!!”.<br />

Era uma operação delicada. O<br />

próprio hangar teve de ser pressuriza<strong>do</strong> e<br />

purifica<strong>do</strong>. Em movimentos lentos, Hamour<br />

e seu cone, foram leva<strong>do</strong>s para o<br />

laboratório, assim como, sua pirâmide<br />

cristal. Esta seguiu por outro caminho,<br />

previamente estudada por Zeuez, um<br />

pouco irrita<strong>do</strong> pelo acúmulo de Somerianos<br />

curiosos.<br />

241


Durante os três dias que se<br />

seguiram, o laboratório permaneceu<br />

fecha<strong>do</strong> para os demais, cerca<strong>do</strong> de<br />

mistérios.<br />

Os que permaneciam<br />

“incomunicáveis” dentro <strong>do</strong> laboratório,<br />

trabalhavam incansavelmente nos<br />

cuida<strong>do</strong>s e checagem daquele<br />

equipamento estranho. Dentro de uma<br />

re<strong>do</strong>ma coberta de material transparente,<br />

repousava Hamour. Seu corpo parecia<br />

crescer, inchar. Tanto Thorc, quanto Zur-<br />

Kwa e os demais auxiliares, não sabiam o<br />

que exatamente estava acontecen<strong>do</strong>,<br />

haven<strong>do</strong> especulações sobre o fenômeno.<br />

As observações tinham uma conotação<br />

diferente à medida que o corpo se enchia e<br />

o líqui<strong>do</strong> da pirâmide baixava. Zur-Kwa<br />

tinha nos olhos a desconfiança de uma<br />

ressurreição, mas não se atrevia a pensar.<br />

Fanna, fora bem claro : - No terceiro dia,<br />

me chamem e não toquem em nada.<br />

O terceiro dia chegara e pelo<br />

Intercon, Thorc chamou seu líder, que<br />

acompanhava, com Tutkan, na ponte, as<br />

manobras das esquadrilhas Zag,<br />

242


ombardean<strong>do</strong> e desintegran<strong>do</strong> o lixo de<br />

toda a frota.<br />

- Erus – disse, Thorc – estamos no<br />

terceiro dia. E o que acontece agora?<br />

Vamos ter outra sessão holográfica?<br />

- Esperem um pouco – Fanna<br />

consultou seu marca<strong>do</strong>r de tempo,<br />

confirman<strong>do</strong> ser o tempo da ressurreição –<br />

Estarei aí, em microns.<br />

- Tut, chegou o momento.<br />

- Que momento?<br />

- Vamos acordar Hamour e quero<br />

que você esteja lá. Thorc e Zur-Kwa, nem<br />

sua equipe sabem o que vai acontecer.<br />

- Você não contou para eles?<br />

- Não – disse, Fanna, tapan<strong>do</strong> o<br />

sorriso com a mão.<br />

- Então eles vão cair para trás –<br />

riu, Tutkan.<br />

- Fique por perto, Tut. Quero ver a<br />

cara deles!<br />

Zur-Kwa arregalou os olhos e com<br />

os cabelos em pé, mais <strong>do</strong> que nunca.<br />

Thorc, também, mas conseguiu<br />

falar.<br />

- Eu sabia. Eu sabia que tinha<br />

coisa ...<br />

243


Fanna, na verdade, não sabia se<br />

ficava sério ou se ria, principalmente de<br />

Zur-Kwa que apresentava o aspecto de um<br />

ser eletrocuta<strong>do</strong>.<br />

- Sabe, Erus – disse, Tutkan –<br />

Tem uns sujeitos que quan<strong>do</strong> ficam velhos,<br />

perdem a articulação da boca, por falta de<br />

dentes e não falam!<br />

Thorc puxou Zur-Kwa, não<br />

adianta ficar aí para<strong>do</strong>. Hamour não vai<br />

conseguir se levantar sozinho. Vamos, me<br />

ajude com isso!<br />

Sob o coman<strong>do</strong> de Fanna, no<br />

módulo apareceu, sùbitamente, os<br />

mesmos caracteres de contagem<br />

regressiva.<br />

Quan<strong>do</strong> a contagem cessou, o<br />

cilindro transparente de Hamour, destravou<br />

sua tampa, abrin<strong>do</strong>-se, brotan<strong>do</strong> de dentro,<br />

uma fumaça esbranquiçada e ino<strong>do</strong>ra.<br />

- Que Deus nos ilumine! – foi o<br />

que disse Fanna.<br />

Os instrumentos de medição e<br />

sustentação de vida, acusavam tênues<br />

244


atimentos cardíacos. A respiração era<br />

baixa, como se num sono profun<strong>do</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s rodearam Hamour. Tinha<br />

um aspecto mais jovem <strong>do</strong> que aquele que<br />

aparecia no holograma, somente com<br />

cabelos e barba cresci<strong>do</strong>s e escuros. Sua<br />

estatura, também era maior <strong>do</strong> que<br />

imaginavam. Suas unhas, tanto das mãos<br />

quanto <strong>do</strong>s pés, eram enormes e em<br />

espiral. Aquilo era assusta<strong>do</strong>r.<br />

Zur-Kwa continuava pasma<strong>do</strong>.<br />

Diante d<strong>aqui</strong>lo, não tinha dúvidas de que<br />

existia muito, mas muito mais para se<br />

aprender sobre o corpo, vida e morte. Para<br />

a existência, tem que haver um espírito,<br />

que é a vida em si. Este por sua vez<br />

comanda a energia, que sustenta e se<br />

manifesta no corpo, que reage ao coman<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> cérebro, o portentor da existência vital.<br />

O corpo de Hamour, fora destituí<strong>do</strong> de<br />

tu<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> seu espírito e sua essência<br />

preserva<strong>do</strong>s e transferi<strong>do</strong>s para a pirâmide<br />

cristal. Simples e ao mesmo tempo<br />

inacreditável.<br />

245


Fanna apanhou seu folheto<br />

explicativo e repassou os itens. A pirâmide<br />

estava vazia. Os três aparelhos<br />

conecta<strong>do</strong>s ao cilindro, desativa<strong>do</strong>s e o<br />

outro, que comandava os eletro<strong>do</strong>s presos<br />

envoltos à cabeça, tronco e membros,<br />

mantinha uma luzinha vermelha piscan<strong>do</strong>.<br />

Então, acionou o botão azul (abaixo desta<br />

luzinha) ocasionan<strong>do</strong> pequenos choques<br />

acionavam os eletro<strong>do</strong>s em seqüência<br />

regular. O osciloscópio acusava o pulsar<br />

<strong>do</strong> coração, em batimentos normais, o que<br />

significava : VIDA<br />

A ponta <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s da mão<br />

esquerda foram os primeiros a reagir, com<br />

movimentos leves e preguiçosos. Depois,<br />

os de<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pés, alguns tremiliques nos<br />

membros e por fim, as pálpebras, mui<br />

lentamente, abrin<strong>do</strong> e fechan<strong>do</strong>.<br />

Fanna apanhou um de seus<br />

próprios mantos, cobrin<strong>do</strong> o corpo de<br />

Hamour, que finalmente abriu os olhos<br />

numa luminosidade tênue. Ouvia-se tão<br />

somente a respiração daquele ser, lenta e<br />

compassada, enquanto lhe eram retira<strong>do</strong>s<br />

os eletro<strong>do</strong>s atrela<strong>do</strong>s ao tórax e pescoço.<br />

246


Belzamir e Amis, apressaram-se<br />

em lhe cortar as unhas.<br />

Seu primeiro movimento foi levar<br />

as mãos à testa, massagean<strong>do</strong>-a com a<br />

ponta <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s. Depois fez o mesmo nos<br />

olhos e têmporas. Resmungou qualquer<br />

coisa e a<strong>do</strong>rmeceu, logo após, numa<br />

respiração cansada.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxx<br />

A viagem transcorria normal,<br />

exceto pela novidade que logo se<br />

espalhou, trazen<strong>do</strong> muitos curiosos. To<strong>do</strong>s<br />

queriam ver Hamour e isto era, sem<br />

dúvida, impossível, no momento. Foi<br />

preciso deixar <strong>do</strong>is guardas pelo la<strong>do</strong> de<br />

fora da porta.<br />

Thorc e Zur-Kwa, mais o Dr.<br />

Grohalv, chefe <strong>do</strong> corpo médico da frota,<br />

faziam revezamento com mais <strong>do</strong>is<br />

auxiliares cada, manten<strong>do</strong> vigília até que o<br />

ilustre hóspede acordasse.<br />

247


Os únicos que tinham permissão<br />

para entrar no laboratório; além de Fanna,<br />

Tutkan, Belzamir, Amis e Zart, era o Dr.<br />

Crohalv e seus <strong>do</strong>is assistentes. Estes,<br />

faziam os exames periódicos e análises<br />

clínicas.<br />

O Dr. Crohalv, era, além de<br />

cientista biológico, forma<strong>do</strong> em Atlantis <strong>do</strong><br />

Velho Someron, um estudioso de<br />

engenharia genética e recentemente fazia<br />

experimentos com “motivação molecular<br />

multiplicada”, o que chamava de<br />

“Clonismo”, ou duplicatas vivas.<br />

- Está melhoran<strong>do</strong> – disse, para<br />

Zur-Kwa – Seus sinais vitais estão se<br />

fortalecen<strong>do</strong> a cada tempo (hora). Seu<br />

organismo e anatomia são idênticos aos<br />

nossos. Se não soubesse, ser ele de outro<br />

planeta, diria que é um de nós.<br />

Oito tempos depois, desde que<br />

Fanna apertara o botão azul da<br />

parafernália ressuscita<strong>do</strong>ra, Hamour,<br />

finalmente, acor<strong>do</strong>u. Era o turno de Thorc,<br />

que ao perceber os indícios, chamou o<br />

líder, Zur-Kwa e o Dr. Grohalv.<br />

248


Hamour abriu os olhos e<br />

pronunciou alguns sons inteligíveis, pelo<br />

que, Thorc, trouxe uma cadeira e sentouse<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> cilindro. Olhou bem no fun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s olhos muito azuis de Hamour e disse:<br />

- Vejo que acor<strong>do</strong>u, meu amigo,<br />

mas repita o que você disse.<br />

- Eu disse olá, no meu idioma.<br />

A voz era rouca e fraca,<br />

entretanto, clara.<br />

- É mesmo? E como é?<br />

- Etkmah!<br />

- E como você conhece o nosso?<br />

- Conheço muitos ...<br />

A porta <strong>do</strong> laboratório abriu,<br />

dan<strong>do</strong> passagem para Erus Fanna,<br />

segui<strong>do</strong> de Zur-Kwa.<br />

A cena era interessante, Hamour<br />

deita<strong>do</strong> num cilindro metálico, com a tampa<br />

transparente aberta, e ao seu la<strong>do</strong>, Thorc,<br />

conversan<strong>do</strong> com ele, animadamente, tal<br />

como, velhos conheci<strong>do</strong>s.<br />

- Creio não estar interrompen<strong>do</strong><br />

nada – disse, Fanna, aproximan<strong>do</strong>-se.<br />

- É claro que não ... veja, Hamour<br />

acor<strong>do</strong>u!<br />

249


Fanna apanhou outra cadeira e<br />

sentou-se <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>.<br />

- Pensei que você fosse <strong>do</strong>rmir<br />

um pouco mais, talvez uns trezentos anos.<br />

Seja bem-vin<strong>do</strong>!<br />

- Eu conheço você. Foi com você<br />

que falei no reserva<strong>do</strong>. Tenho-o na<br />

memória. Você é ... Erus Fanna, o líder <strong>do</strong>s<br />

... Somerianos!?!<br />

- Seu equipamento provou ser<br />

eficiente. Sim, sou Erus Fanna.<br />

- Este ... é ... Thorc ...<br />

- E eu – disse, o baixinho, em pé, atrás de<br />

Thorc – sou ...<br />

- Zur-Kwa ! – Atalhou, Hamour - ...<br />

havia outras pessoas ... Amis ... Belzamir<br />

... Zart , Zeuez, este foi o primeiro...<br />

- Boa memória, a sua – comentou,<br />

Zur-Kwa – mas, diga-nos, como se sente?<br />

- Apesar de ter <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong> bastante,<br />

um pouco cansa<strong>do</strong> ... e um pouco de frio,<br />

fome e sede. Gostaria de me levantar, mas<br />

acho que vou precisar de ... como se diz?...<br />

- Apoio – aju<strong>do</strong>u, Zur-Kwa.<br />

- Sim, isto. Apoio ...<br />

- Estávamos ansiosos por sua<br />

companhia – disse, Thorc, emociona<strong>do</strong>,<br />

confuso.<br />

250


- Obriga<strong>do</strong>! Muita gentileza, sua!<br />

Zur-Kwa, perceben<strong>do</strong> certo<br />

embaraço de Thorc, também de Fanna,<br />

tentou descontrair o ambiente, uma vez<br />

que o próprio líder brincara antes e Hamour<br />

pareceu não entender.<br />

- Você comeu alguma coisa, antes<br />

de <strong>do</strong>rmir, Hamour?<br />

- Acho que sim, mas sempre<br />

acor<strong>do</strong> com fome e desta vez, acho que<br />

<strong>do</strong>rmi demais ... Por conseguinte, mais<br />

fome...<br />

To<strong>do</strong>s caíram na risada, ainda um<br />

tanto nervosa. E Hamour continuou, no<br />

mesmo clima de humor:<br />

- Vocês, Somerianos, costumam<br />

comer, quan<strong>do</strong> acordam?<br />

Thorc se ajeitou melhor em sua<br />

cadeira e respondeu:<br />

- Sim, mas não costumamos<br />

<strong>do</strong>rmir tanto.<br />

Nova rodada de risos e Fanna<br />

entrou num tom mais sério.<br />

- O que você deseja, Hamour?<br />

- Para ser franco, qualquer coisa,<br />

desde que não seja <strong>do</strong> reino animal!<br />

- Que tal Ramza assada e<br />

refresco de Somir – disse, Zur-Kwa.<br />

251


- Nada disso, senhores disse<br />

Dr.Grohalv, energicamente, ao entrar<br />

naquele instante.<br />

- Estou decepciona<strong>do</strong> com você.<br />

Nem parece que estu<strong>do</strong>u medicina, antes<br />

de se tornar um químico ...<br />

Eles, ainda, olhavam para o<br />

<strong>do</strong>utor, com seus passos rápi<strong>do</strong>s e sua<br />

maletinha, quan<strong>do</strong> Hamour, se apoian<strong>do</strong><br />

com os cotovelos, reclamou:<br />

- Mas eu estou com uma fome<br />

daquelas ...<br />

- Eu já disse que não – repetiu o<br />

<strong>do</strong>utor, com firmeza – Você é meu paciente<br />

e fará <strong>aqui</strong>lo que eu mandar, Exatamente o<br />

que eu disser, estamos entendi<strong>do</strong>s?<br />

- Sim, senhor, - disse, Hamour,<br />

deitan<strong>do</strong> novamente, enquanto o médico,<br />

abrin<strong>do</strong> sua valise, examinava seu<br />

paciente com seus instrumentos.<br />

Ven<strong>do</strong> o <strong>do</strong>utor cala<strong>do</strong>,<br />

compenetra<strong>do</strong> nas leituras, Zur-Kwa<br />

aproveitou para gozá-lo.<br />

- Sabe, Thorc, tem uns sujeitos<br />

que quan<strong>do</strong> ficam velhos ...<br />

- Pode parar por aí, mesmo. Hoje<br />

não estou para brincadeiras.<br />

252


Os exames continuaram com a<br />

sala em silêncio, só se ouvin<strong>do</strong> os “bips”<br />

<strong>do</strong>s aparelhos <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor. Afinal receitoulhe<br />

uma sopa leve e água destilada. Após<br />

retirou-se, sem nada mais dizer.<br />

Zur-Kwa resmungou:<br />

- Ele nunca está ...<br />

- O que?<br />

- Ele disse que o <strong>do</strong>utor nunca<br />

está para brincadeiras – auxiliou Thorc.<br />

- Ora, deixem o <strong>do</strong>utor – disse,<br />

Fanna – agora, vamos falar de você,<br />

Hamour. Na verdade estamos meio que,<br />

sem saber o que fazer com você. Nunca<br />

conhecemos um Goraniano, antes ...<br />

- Ah, conheceram sim! Só que<br />

não sabiam ...<br />

- Apenas por curiosidade,<br />

Hamour, cite um.<br />

- Bem, vejamos ... estamos<br />

falan<strong>do</strong> de muito tempo atrás ... que me<br />

lembre, agora ... o professor Khron e sua<br />

esposa, Nefretire!?<br />

- Eu os conheci – disse, Zur-Kwa –<br />

Ele me deu aula de eletro-propulsão-bipolarizada...<br />

253


- Eu também os conheci – entrou,<br />

Thorc – mas não tive o prazer de tomar<br />

aulas com eles.<br />

- Lembro-me de Nefretire – disse<br />

Fanna – ela fazia parte <strong>do</strong> corpo de<br />

árbitros, nos jogos olímpicos ... na verdade,<br />

sempre a achei muito estranha...<br />

reservada...<br />

- Senhores – entrou, Hamour – se<br />

não se incomodam, gostaria de levantar.<br />

Por favor, ajudem-me a sair d<strong>aqui</strong> ...<br />

- É claro! – disse, Fanna, dan<strong>do</strong>lhe<br />

o braço, assim como os outros.<br />

Em microns, estava senta<strong>do</strong> na<br />

cadeira, onde Thorc estava. Este, trouxelhe<br />

um copo com água fresca Hamour<br />

bebeu gostosamente.<br />

- Obriga<strong>do</strong>! Se tiver um pouco<br />

mais... e como ia dizen<strong>do</strong>, também gostaria<br />

de um banho e roupas...<br />

- Naturalmente, amigo. Já<br />

providenciamos seus aposentos e lá,<br />

encontrará tu<strong>do</strong>. Se faltar alguma coisa, é<br />

só pedir. É claro, se estiver ao nosso<br />

alcance...<br />

Com a ajuda <strong>do</strong>s guardas, la<strong>do</strong> a<br />

la<strong>do</strong>, Hamour foi leva<strong>do</strong> aos seus<br />

254


aposentos, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> laboratório de Zur-<br />

Kwa.<br />

Durante aquela manhã, até o<br />

início da tarde, era impossível passar por<br />

ali. Fanna pediu-lhes para que fossem<br />

cuidar de seus afazeres.<br />

No momento oportuno, to<strong>do</strong>s<br />

iriam conhecer o novo hóspede.<br />

Hamour permaneceu mais <strong>do</strong>is<br />

dias confina<strong>do</strong> entre o laboratório e seus<br />

aposentos, sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> pelo Dr.Grohalv,<br />

entre soluções vitaminadas, sopas, água e<br />

exercícios fisioterapêuticos.<br />

Seus aposentos eram idênticos<br />

aos demais: um leito embuti<strong>do</strong>, uma<br />

cadeira, um armário para roupas, um<br />

aparelho Telecon e o reserva<strong>do</strong> com<br />

sanitários. Um espelho acima de uma pia<br />

metálica, um box com chuveiro. Tu<strong>do</strong> muito<br />

simples, prático e aperta<strong>do</strong>.<br />

Naqueles dias e noites, não se<br />

falava noutra coisa em to<strong>do</strong>s os cantos da<br />

frota, principalmente, nos Cassinos.<br />

255


No Cassino principal da Kosmos,<br />

três casais ocupavam a mesa de sempre:<br />

Tameron e Walln, já casa<strong>do</strong>s; Velz e Zuila;<br />

e, Maxun e Zart; faziam planos para o<br />

futuro, quan<strong>do</strong> aportassem no planeta<br />

Kálerus. Os solteiros se casariam e<br />

construiriam suas casas próximas uma das<br />

outras. Escolheriam um vale verde com<br />

árvores e lagos, onde plantariam sementes<br />

que traziam <strong>do</strong> velho mun<strong>do</strong>.<br />

Nesta noite, o pessoal de reparos<br />

tiveram que aban<strong>do</strong>nar o “rilex”, às<br />

pressas. Um <strong>do</strong>s cargueiros Mir, que<br />

puxava o “Asteróide de Tameron”,<br />

apresentou super-aquecimento em um de<br />

seus reatores. Foi desativa<strong>do</strong> a tempo de<br />

não explodir, forçan<strong>do</strong> a desaceleração da<br />

frota. Estavam a menos de um quarto.<br />

Esse fato gerou boatos, até certo<br />

ponto supersticiosos, atribuin<strong>do</strong> à Hamour,<br />

a quem se referiam de “o alienígena”, a<br />

responsabilidade <strong>do</strong>s acontecimentos.<br />

Mais tarde, Fanna entrou em<br />

cadeia pelo Intercon, apresentan<strong>do</strong> os<br />

motivos reais da pane ocorrida. Uma das<br />

256


válvulas de refrigeração, fora fechada,<br />

impedin<strong>do</strong> a passagem <strong>do</strong> oxigênio líqui<strong>do</strong><br />

pelas serpentinas <strong>do</strong> reator. E terminou<br />

dizen<strong>do</strong>-lhes:<br />

- Pensei termos deixa<strong>do</strong> para traz<br />

estas crendices tolas e importunas.<br />

Lembrem de que estamos <strong>aqui</strong> e agora,<br />

por causa de dinheiro, religiosidade<br />

excessiva e misticismo. Busquem a<br />

verdade e libertem-se destas coisas.<br />

A viagem prosseguiu até que<br />

sentiram seus motores pesa<strong>do</strong>s,<br />

desenvolven<strong>do</strong> pouco mais de um terço de<br />

velocidade a toda força e isto acontecia em<br />

todas as naves da frota.<br />

Um elemento novo surgira num<br />

repente, a força gravitacional de um buraco<br />

negro, a cerca de <strong>do</strong>is macrons.<br />

Este fenômeno não constava no<br />

mapa estelar de Hamour.<br />

Klemps, observan<strong>do</strong> os sensores,<br />

descobriu ser ali o centro da galáxia que<br />

percorriam e avisou Tutkan, que por sua<br />

vez chamou Thorc.<br />

257


Era, como se estivessem num pé<br />

de vento, sen<strong>do</strong> suga<strong>do</strong>s para o centro,<br />

numa força descomunal. Os mais<br />

prejudica<strong>do</strong>s eram os cargueiros Mir,<br />

atrela<strong>do</strong>s ao bloco de metal, de Hamour.<br />

Corria o risco de explodir, mesmo assim,<br />

Tutkan continuou firme em sua decisão de<br />

manter toda a força à frente.<br />

Mas estavam numa armadilha<br />

mortal e por maior esforço e energia, a<br />

atração <strong>do</strong> fenômeno era maior, anulan<strong>do</strong><br />

o empuxo <strong>do</strong>s motores.<br />

Thorc perguntou para Klemps,<br />

quanto tempo nós temos?<br />

- Pelas projeções <strong>do</strong> Komptor,<br />

dezesseis tempos, se não explodirmos<br />

antes.<br />

- E se desacelerarmos?<br />

- Desacelerar, você está maluco,<br />

Thorc? Seremos engoli<strong>do</strong>s...<br />

- Calma, Tut. E então, Klemps?<br />

- Dois tempos e meio, mais vinte e<br />

oito microns.<br />

- Isto é mau. Talvez não<br />

consigamos escapar, pelo menos, nem<br />

to<strong>do</strong>s.<br />

258


No hangar, na ponte de coman<strong>do</strong><br />

da frota Zag, Zeuez recebia pedi<strong>do</strong> de<br />

socorro de <strong>do</strong>is de seus rapazes. Eram<br />

Apollun, filho de Tutkan e Zien seu par.<br />

Velz e Maxun partiram em auxílio e logo<br />

após, os monitores acusavam a explosão<br />

de um March-1 e o outro sen<strong>do</strong> suga<strong>do</strong><br />

pelo buraco negro. Nada pode ser feito por<br />

eles.<br />

Simultaneamente, enquanto<br />

Tutkan assistia a luta de seu próprio filho,<br />

Apollun, sair da atração e Zien tentan<strong>do</strong><br />

reboca-lo, e Thorc absorvi<strong>do</strong> por cálculos,<br />

estourou o pânico em muitas naves<br />

menores, reacenden<strong>do</strong> os tais comentários<br />

agourentos e supersticiosos sobre o<br />

“alienígena”.<br />

Em microns surgiram Fanna e<br />

Zur-Kwa na ponte principal da Kosmos. Os<br />

<strong>do</strong>is malucos se concentraram no<br />

problema enquanto Fanna dava apoio ao<br />

sofri<strong>do</strong> amigo.<br />

Acontecera tu<strong>do</strong> muito rápi<strong>do</strong>. A<br />

patrulha de salvamento ainda pode ver<br />

259


Zien, tentan<strong>do</strong> rebocar Apollun e<br />

explodin<strong>do</strong> em mil pedaços, arremeten<strong>do</strong> o<br />

companheiro para o centro <strong>do</strong> que, à<br />

distância, parecia ser um espantoso<br />

redemoinho.<br />

De outro la<strong>do</strong> o pânico<br />

transformou-se num principio de revolta,<br />

liderada por Gideonis, atingin<strong>do</strong> boa parte<br />

da frota.<br />

Neste particular, Gideonis, ex<br />

parceiro de Carvelus e também promotor<br />

da última revolta quan<strong>do</strong> partiram de<br />

Someron, tornara-se aos poucos, uma<br />

espécie de líder espiritual, tolera<strong>do</strong> por<br />

Fanna até então.<br />

De sua cela, Hamour ainda<br />

debilita<strong>do</strong> também assistia tu<strong>do</strong> e se<br />

comunicou com Thorc totalmente<br />

absorvi<strong>do</strong> em fórmulas vetoriais, junto com<br />

o baixinho Zur-Kwa.<br />

- Só existe uma solução.<br />

Programar os teleméricos de navegação,<br />

irmos de encontro <strong>do</strong> buraco, orbitan<strong>do</strong>-o<br />

uma vez, aproveitan<strong>do</strong> a força dele mesmo<br />

para nos jogar para fora.<br />

260


- Maravilha, Hamour. Estamos<br />

trabalhan<strong>do</strong> nisso. A dificuldade está na<br />

rota de saída.<br />

- Usem as coordenadas da estrela<br />

mais brilhante, deve ser o sol Antares. A<br />

manobra é arriscada, por isso, entrem em<br />

senti<strong>do</strong> horário e sempre na beira <strong>do</strong><br />

redemoinho.<br />

- Eu ouvi isto, disse Gideonis,<br />

atropelan<strong>do</strong> no Telecon. Vocês não estão<br />

ven<strong>do</strong> que ele quer nos matar a to<strong>do</strong>s?<br />

Desde que encontramos esse alienígena,<br />

tu<strong>do</strong> começou a dar erra<strong>do</strong>...<br />

- Cale-se, idiota – entrou Fanna<br />

irrita<strong>do</strong>. E reprograme suas naves com as<br />

coordenadas enviadas por Thorc.<br />

- Nós não vamos fazer isso...<br />

- Desacelerar em trinta microns,<br />

senhor.<br />

- Muito bem, Klemps, comunique<br />

a to<strong>do</strong>s.<br />

Na contagem zero a frota<br />

desacelerou exceto as trinta e sete naves,<br />

lideradas, então, por Gideonis, à bor<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

último reboca<strong>do</strong>r.<br />

261


Uma por uma das naves eram<br />

atraídas, ganhan<strong>do</strong> velocidade e entran<strong>do</strong><br />

no giro orbital. Na distancia de um macron<br />

<strong>do</strong> centro aceleraram e na primeira volta<br />

completada, foram arremessa<strong>do</strong>s em<br />

velocidade espantosa na direção<br />

programada, Antares. Infelizmente,<br />

novecentos e noventa e sete seres,<br />

incluin<strong>do</strong> o “profeta”, ficaram para traz.<br />

Aos poucos, se afastaram <strong>do</strong><br />

terror, normalizan<strong>do</strong> a crise.<br />

- Erus, não consigo entender o<br />

que ele estava fazen<strong>do</strong> lá?<br />

- Podemos ouvir as gravações da<br />

missão. Talvez nos revele os fatos – e,<br />

imediatamente, Fanna acionou o Intercon –<br />

Klemps, localize Zeuez e peça-lhe que<br />

entre em contato comigo. Estou <strong>aqui</strong> no<br />

núcleo de coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> comandante<br />

Tutkan.<br />

- Afirmativo, senhor.<br />

Microns depois, Zeuez fez contato<br />

e a pedi<strong>do</strong> de Fanna, processou as<br />

gravações.<br />

Localiza<strong>do</strong> o trecho que importava, Zeuez,<br />

de sua ponte, fez a emissão pelo Intercon.<br />

262


- Está no ponto, Fanna, desde<br />

que foram lança<strong>do</strong>s.<br />

- Pode rodar.<br />

- ““... Zien, como está sua<br />

máquina?<br />

- Está ótima. Ontem na minha<br />

folga, dei uns ajustes no emissor<br />

energético e troquei as válvulas de pressão<br />

<strong>do</strong> acumula<strong>do</strong>r para o propulsor.<br />

- Por quê? Estavam gastas?<br />

- Não, achei que se colocassem<br />

as vetoriais DZ-4, poderia desenvolver<br />

mais, inclusive, estou com mais toque ...<br />

veja! ...<br />

Os motores <strong>do</strong> pequeno March<br />

roncaram forte e em poucos microns<br />

desapareceu da visão de Apollun, que o<br />

acompanhava pela tela Telecon.<br />

- Hei, espera aí! Aonde você vai?<br />

- Fique calmo, já estou voltan<strong>do</strong>.<br />

- Nossa! Como esta máquina está<br />

andan<strong>do</strong>!!<br />

- {Você viu} Apollun, aposto que<br />

você não consegue desenvolver esta<br />

velocidade.<br />

- Acho que posso até mais. Você<br />

só trocou as válvulas.<br />

263


- E o que você fez?<br />

- Eu estou com a DZ-4 e substituí<br />

a fonte. Coloquei as depura<strong>do</strong>ras vetoriais<br />

em paralelo com o energiza<strong>do</strong>r KR-7.<br />

- Mas isto não funciona. Ozy, já<br />

havia experimenta<strong>do</strong>.<br />

- Mas ele fez erra<strong>do</strong>, não usou os<br />

depura<strong>do</strong>res compatíveis. O motor<br />

engasga quan<strong>do</strong> pede maior energia e as<br />

turbinas de ar comprimi<strong>do</strong>, não dão conta,<br />

mesmo para os March, que não tem peso.<br />

- Você já experimentou?<br />

- Claro que já.<br />

- E daí?<br />

- E daí que a sua máquina não<br />

dá nem para a arrancada!<br />

O Intercon das duas naves<br />

anuncia a voz de Zeuez.<br />

- Zag cinco e seis. Estamos em<br />

área perigosa. Não se afastem.<br />

Magnetização de <strong>do</strong>is ponto zero zero.<br />

Buraco negro a bombor<strong>do</strong> e estamos com<br />

dificuldades com o Mir seis. Apenas<br />

destruam o lixo.<br />

- Entendi<strong>do</strong>, comandante –<br />

respondeu Apollun, logo após se<br />

comunicou com Zien – Vamos dar mais<br />

uma volta pela frota e quan<strong>do</strong> estivermos a<br />

264


um Macron, da retaguarda, a gente tira a<br />

teima. O que você acha?<br />

- Por mim, tu<strong>do</strong> bem.<br />

Então, deram meia volta e foram<br />

até onde combinaram. No meio <strong>do</strong> trajeto,<br />

Zeuez os informou, novamente, sem obter<br />

respostas. Repetiu suas ordens mais duas<br />

vezes e nada de resposta, então, microns<br />

mais tarde, Apollun respondeu:<br />

- Já estamos sain<strong>do</strong>, comandante.<br />

Saímos um pouco mais para testarmos os<br />

motores e se dirigin<strong>do</strong> ao companheiro –<br />

Zien, ao meu coman<strong>do</strong> na marca ... três ...<br />

<strong>do</strong>is ... um ... já!<br />

Partiram com tu<strong>do</strong>, mas, três<br />

microns depois, o motor principal de<br />

Apollun, parou e impediu passagem de<br />

energia para os outros <strong>do</strong>is. Em face disto,<br />

foi atraí<strong>do</strong> pelo buraco negro à sua<br />

esquerda.<br />

- Zien, estou em apuros. Estou<br />

sen<strong>do</strong> suga<strong>do</strong> pelo buraco.<br />

- Agüente firme. Já vou ... estou<br />

sen<strong>do</strong> atraí<strong>do</strong> também... estou bem atrás<br />

de você ... joguei o cabo reboca<strong>do</strong>r...<br />

- Vamos, Zien, puxe ...<br />

265


- Estou dan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, não sai <strong>do</strong><br />

lugar ...<br />

Zag cinco, chaman<strong>do</strong> Kosmos ...<br />

- Pode falar, Zag cinco.<br />

- Comandante, estamos em<br />

apuros. Meus motores pararam e o<br />

reboque de Zag-seis, inoperante.<br />

Precisamos de auxílio.<br />

- Já está a caminho ...<br />

- Não podemos agüentar por<br />

muito tempo.<br />

- Os vetoriais DZ-4 estão quentes<br />

demais ...<br />

Estas foram as últimas palavras<br />

de Zien. O March-1 explodiu.<br />

- Está explica<strong>do</strong> – disse, Tutkan,<br />

no final da transmissão – A imprudência os<br />

levou à morte ...<br />

Neste mesmo dia, foram feitas as<br />

cerimônias fúnebres <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

companheiros, com a frota em pleno<br />

andamento e em curso.<br />

Nesta ocasião, Fanna ressaltou<br />

as qualidades <strong>do</strong>s desapareci<strong>do</strong>s e muito<br />

hàbilmente, comentou sua desaprovação<br />

em atitudes “inova<strong>do</strong>ras”, modifican<strong>do</strong> as<br />

266


características de projetos tão amplamente<br />

estuda<strong>do</strong>s por engenheiros e projetistas da<br />

maior competência. Também lamentou a<br />

perda de tantos irmão segui<strong>do</strong>res de<br />

Gideonis.<br />

Zeuez instituiu medidas e sanções<br />

punitivas a tais procedimentos, para evitar<br />

maiores dissabores. Dali em diante,<br />

haveria controle no almoxarifa<strong>do</strong> e<br />

qualquer peça sobressalente só poderia<br />

sair com sua aprovação, e qualquer<br />

manutenção deveria ser acompanhada por<br />

um engenheiro devidamente autoriza<strong>do</strong>.<br />

Haveria, também, relatórios periódicos <strong>do</strong>s<br />

pilotos, pormenorizan<strong>do</strong> a performance de<br />

suas naves. O desacor<strong>do</strong> com essas<br />

regras, traria aos pilotos a perda das asas<br />

e outras punições extensivas aos demais<br />

implica<strong>do</strong>s.<br />

Na tarde seguinte, o Dr.Grohalv<br />

liberou Hamour de seu confinamento,<br />

contu<strong>do</strong> observan<strong>do</strong> a permanência de sua<br />

dieta.<br />

Depois de recomposto,<br />

devidamente vesti<strong>do</strong>, barba feita e cabelos<br />

267


corta<strong>do</strong>s, aparentava menos idade <strong>do</strong> que<br />

o seu holograma. Thorc resolveu levá-lo ao<br />

gabinete de Fanna e fazer-lhe uma<br />

surpresa.<br />

Ao percorrer os corre<strong>do</strong>res da<br />

Kosmos, era apenas mais um deles, um<br />

pouco mais alto que Thorc. Um ou outro<br />

olhava-o. pensan<strong>do</strong> se tratar de um<br />

visitante de outra nave. Nem mesmo Zuila,<br />

que já o conhecia pelo holograma, o<br />

reconheceu, quan<strong>do</strong> Thorc entrou em sua<br />

sala, e pedin<strong>do</strong> para ver Fanna. Ela<br />

perguntou, com olhos fixos no que fazia:<br />

- E o seu amigo, por favor, nome e<br />

qual nave?<br />

- D<strong>aqui</strong> mesmo – respondeu<br />

Thorc.<br />

- D<strong>aqui</strong>? ... Não me lembro de têlo<br />

visto antes ... de qual o setor?<br />

- Sou Hamour – ele respondeu<br />

com um sorriso tranqüilo.<br />

- Hamour? – ela teve um<br />

sobressalto – Hamour? ... não pode ser ... É<br />

mesmo ... são ... os mesmos olhos ...<br />

Thorc pediu-lhe que falasse mais<br />

baixo, com o gesto tradicional, colocan<strong>do</strong> o<br />

de<strong>do</strong> em riste à frente da boca.<br />

268


- Ssss! Não queremos que Fanna<br />

saiba antes de entrarmos. É uma surpresa.<br />

Anuncie somente o meu nome e diga-lhe<br />

que trago um amigo.<br />

- Está bem – disse, baixinho e<br />

ativou o Intercon – Papai, Thorc está <strong>aqui</strong><br />

para vê-lo e traz um amigo com ele.<br />

- Mande-o entrar com seu amigo.<br />

Fanna estava de la<strong>do</strong>, digitan<strong>do</strong><br />

no seu terminal, quan<strong>do</strong> a porta abriu,<br />

dan<strong>do</strong> passagem aos <strong>do</strong>is.<br />

- Entre, Thorc ... aguardem um<br />

pouco estou terminan<strong>do</strong> uma projeção. Se<br />

Zur-Kwa estiver certo, acho que<br />

chegaremos ao nosso destino, antes das<br />

nossas previsões ...<br />

Os <strong>do</strong>is se ajeitaram em cadeiras<br />

enquanto o líder acabava seus cálculos,<br />

que durou breves instantes. Após virou-se<br />

com seu jeito de ser e falou para Thorc.<br />

- Quero que fa ... – não terminou a<br />

frase – Hamour!?! Ora, mas você está<br />

ótimo!<br />

- Você acha? – Hamour lhe<br />

devolvia o sorriso.<br />

269


- É claro! Você está muito bem!!<br />

Não é mesmo Thorc? Até parece mais<br />

jovem!!<br />

- Bondade sua ...<br />

- Você esta melhor <strong>do</strong> que no seu<br />

holograma ...<br />

- Obriga<strong>do</strong>! Talvez seja pelo<br />

sono. Minha mãe costumava dizer que,<br />

nada melhor <strong>do</strong> que uma boa noite de sono<br />

para renovar as energias e eu tive muitas<br />

noites.<br />

- Isto prova que sua mãe estava<br />

certa. Mas diga-me como se sente <strong>aqui</strong>,<br />

isto é, está sen<strong>do</strong> bem trata<strong>do</strong>?<br />

- Me sinto em minha própria casa.<br />

Não poderia estar em melhor companhia.<br />

- Ótimo.<br />

Os momentos que se seguiram,<br />

foram como o reencontro de velhos amigos<br />

que há muito não se viam. Entre<br />

amenidades, piadas e coisas de menor<br />

importância, Fanna pediu à Zuila que<br />

chamasse Zur-Kwa, Ambhórius e Tutkan –<br />

mesmo com o luto e sofrimento <strong>do</strong> amigo.<br />

Haveria uma reunião na sala <strong>do</strong> Conselho,<br />

em meio tempo, se possível.<br />

270


Ambhórius e Tutkan, também se<br />

surpreenderam com a boa aparência <strong>do</strong><br />

“jovem” Goraniano, que não perdeu tempo<br />

em dizer:<br />

- O leite de minha mãe possuía<br />

qualidades tais como o elixir da juventude!<br />

Thorc, toma<strong>do</strong> de alguma<br />

intimidade, completou :<br />

- Acho que deveria ter conheci<strong>do</strong><br />

esta dama ...<br />

Após estas preliminares,<br />

passaram às perguntas, ainda, referentes,<br />

aos programas anteriores, no qual, Hamour<br />

demonstrou seu conhecimento, até que ele<br />

mesmo, perguntou:<br />

- Senhores, é possível que tenha<br />

esqueci<strong>do</strong> um ou outro detalhe, mas, antes<br />

que me passe novamente, minha nave já<br />

foi reconstituída?<br />

- Não. Ainda não – respondeu,<br />

Zur-Kwa – Não consideramos bom aquele<br />

planetóide coberto de hélio.<br />

- Tão pouco seguro, disse,<br />

Tutkan.<br />

- E depois, caso tivéssemos<br />

visitas, estaríamos completamente a<br />

descoberto – completou, Fanna.<br />

271


- Talvez, mas, não acho que os<br />

Mobis encontrariam aquele lugar.<br />

- Os Mobis? Quem são os Mobis?<br />

– quis saber, Fanna– Pensamos que<br />

corríamos riscos <strong>do</strong>s Meranianos, por sua<br />

proximidade!<br />

- Os Meranianos? Não, eles<br />

teriam que viajar mais-ou-menos, uns<br />

cento e cinqüenta anos. Eles estão no<br />

octogésimo quarto quadrante e ainda no<br />

segun<strong>do</strong> padrão estelar.<br />

- Bem, segun<strong>do</strong> os seus<br />

Cristaltons, eles possuem tecnologia de<br />

ponta e calculamos, pelo que vimos, que<br />

nos alcançariam em <strong>do</strong>is anos-luz.<br />

- Eles possuem tecnologia mas<br />

não conseguiram achar os parâmetros da<br />

Dobra. O máximo que conseguem se<br />

mover, é menos de meia Dobra. Suas<br />

naves são lentas, apesar de bem armadas.<br />

- Hamour – disse, Fanna, inquieto –<br />

Quem são os Mobis?<br />

- Acho que a culpa é minha por<br />

esta pequena falha...<br />

- Pequena falha? – retrucou,<br />

Ambhórius.<br />

- Não. Certamente que não.Omiti<br />

propositadamente este assunto. Não quis<br />

272


arriscar que entrassem em pânico e<br />

batessem em retirada, antes de<br />

aprenderem nossa tecnologia e ...<br />

- Hamour – atalhou, Fanna – isto<br />

sugere outras perguntas. Primeiro nos fale<br />

<strong>do</strong>s Mobis e depois, comece a nos explicar<br />

por que você quer que aprendamos sua<br />

tecnologia?<br />

- Está certo – e fez uma pausa,<br />

acomodan<strong>do</strong>-se melhor em sua cadeira –<br />

Os Mobis são, um povo; se é que se possa<br />

chamar assim, conquista<strong>do</strong>r e perverso,<br />

lidera<strong>do</strong>s por Ahdack. Seu império é vasto.<br />

Constitui todas as galáxias <strong>do</strong> quarto<br />

padrão setorial universal, com cerca de<br />

oitocentos planetas; totalmente subjuga<strong>do</strong>s<br />

pela força. Inclui a este império, parte <strong>do</strong><br />

terceiro padrão. É provável até que os<br />

próprios meranianos tenham sucumbi<strong>do</strong> a<br />

este tirano. Tem como auxiliares, um<br />

exército de andróides, desenvolvi<strong>do</strong>s e<br />

programa<strong>do</strong>s por ele próprio. Ahdack os<br />

chamou de Mobis. São sintéticos, muito<br />

pareci<strong>do</strong>s com um ser normal e o<br />

obedecem cegamente. Não possuem<br />

vontade nem raciocínios próprios ...<br />

- Hamour – entrou, Thorc – Você<br />

não acha que deveríamos saber disto,<br />

273


antes. Talvez no segun<strong>do</strong> encontro que<br />

tivemos na pirâmide?<br />

- Além <strong>do</strong> que – disse, Tutkan – se<br />

nós o encontramos, com nossa tecnologia<br />

absoleta, o mesmo poderia ter si<strong>do</strong> com<br />

Ahdack e seus Mobis! ...<br />

- Eles não poderiam. Cuidei disso,<br />

mesmo porque, não conhecem esse setor<br />

estelar. Eu conheço bem seus sistemas de<br />

sondas e o meu pedi<strong>do</strong> de socorro, nunca<br />

seria decodifica<strong>do</strong> por seus instrumentos.<br />

Captariam somente estática. Como disse,<br />

tive muito cuida<strong>do</strong> nisto, ajustei tu<strong>do</strong> em<br />

baixa freqüência, e isto, devi<strong>do</strong> à sua<br />

própria construção, não lhes é possível<br />

traduzir.<br />

- E por que, nós?<br />

- Devi<strong>do</strong> ao sistema implanta<strong>do</strong><br />

na pirâmide. Ninguém que não possuísse<br />

aura clara e vibrações, <strong>do</strong> meu interesse,<br />

não passaria pela porta central. Admitin<strong>do</strong><br />

que conseguissem entrar por outros meios;<br />

abrin<strong>do</strong> um buraco numa das paredes, por<br />

exemplo: não teriam tempo de pedir<br />

socorro. Explodiriam com tu<strong>do</strong> o mais, eu<br />

inclusive.<br />

274


Hamour passava-lhes confiança e<br />

suas palavras se traduziam em<br />

tranqüilidade.<br />

- Gostaria de ter meu console<br />

para poder projetar o telão. Vocês teriam<br />

uma idéia melhor <strong>do</strong> que estou falan<strong>do</strong>.<br />

- Você está falan<strong>do</strong> no módulo<br />

para o Cristalton?<br />

- Sim, Zur-Kwa. É uma pena ...<br />

- Não se preocupe – disse, Zur-<br />

Kwa apanhan<strong>do</strong> o Intercon – Zart, por favor<br />

nos traga o seu decodifica<strong>do</strong>r para o<br />

Cristalton número noventa e sete.<br />

Agora, era Hamour que<br />

expressava admiração, olhan<strong>do</strong> para Zur-<br />

Kwa, voltan<strong>do</strong> senhor de si, para sua<br />

cadeira.<br />

- Enquanto eu <strong>do</strong>rmia, vocês<br />

trabalhavam, hein?<br />

- Zur-Kwa – disse, Thorc, em tom<br />

zombeteiro – Ele acha que você é pouca<br />

porcaria.<br />

O baixinho apenas deu de ombros<br />

e Hamour depois de rir um pouco, assim<br />

como os demais, continuou.<br />

- Antes de prosseguirmos. Gostaria de<br />

saber o que foi feito <strong>do</strong> restante de minha<br />

nave, isto é, <strong>do</strong> que sobrou dela?<br />

275


Fanna respondeu:<br />

- É claro que a trouxemos, mas <strong>do</strong><br />

jeito que você deixou.<br />

- Ufa! Que alívio – disse, Hamour –<br />

e onde está?<br />

- Está sen<strong>do</strong> rebocada por quatro<br />

cargueiros Mir. Uma geringonça que estes<br />

<strong>do</strong>is improvisaram – disse, Tutkan,<br />

apontan<strong>do</strong> para “os malucos”. É uma longa<br />

história. Por que alívio?<br />

- Acontece que a matéria prima,<br />

com aquelas características, só é<br />

encontrada em planetas, que hoje são de<br />

<strong>do</strong>mínio de Ahdack.<br />

- E ele sabe disto? – Perguntou,<br />

Tutkan.<br />

- Graças a Deus, não. Ela é única<br />

de sua espécie.<br />

Microns depois, Zuila trouxe o<br />

carinho conten<strong>do</strong> o aparelho pedi<strong>do</strong> por<br />

Zur-Kwa, que imediatamente, passou às<br />

ligações e conexões no Komptor, em<br />

movimentos ligeiros e até certo ponto,<br />

hilários.<br />

- Ainda não temos telas tridimensional<br />

e não entendemos o seu<br />

idioma, ou <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como soam as<br />

palavras, associa<strong>do</strong>s ao som – dizia,<br />

276


trabalhan<strong>do</strong> nas ligações - ... é claro que<br />

avançamos bem, mas não a ponto de<br />

expressões como: Aft-halp!?!<br />

- Aftahalp – corrigiu, Hamour.<br />

- Sim, acho que é isso. Para nós<br />

soa como: “pata de mur”!? Não sabemos o<br />

que é mur.<br />

- Mur, era um antigo animal, em<br />

nosso mun<strong>do</strong>, muito queri<strong>do</strong>, de beleza<br />

impar, muito dócil e amigo, que foi extinto<br />

por caça<strong>do</strong>res de pele. O que Aftahalp<br />

quer dizer é uma espécie de nostalgia,<br />

saudade ...<br />

Então o telão <strong>do</strong> Komptor trouxelhes,<br />

a imagem. Vieram os caracteres<br />

Goranianos em seguida, um “zoon” pelo<br />

espaço, encontran<strong>do</strong> uma enorme bola<br />

metálica.<br />

A imagem não é tridimensional,<br />

mas tem boa leitura – observou, Hamour -.<br />

Então, temos aí as bases Mobis. São<br />

cinco, pelo que sei. Possuem núcleo<br />

gravitacional próprio, sistemas de defesa<br />

tri-polariza<strong>do</strong>; com defletores capazes de<br />

suportar até dez Vetrons e <strong>do</strong>tadas de<br />

raios Fratton ... deixem-me explicar melhor:<br />

277


Estes raios provocam combustão. Uma vez<br />

o alvo seja atingi<strong>do</strong>, não existe nada que o<br />

faça parar de queimar. Queima-se tu<strong>do</strong>,<br />

até mesmo as cinzas. No interior <strong>do</strong> Globo,<br />

acomoda duzentos e cinqüenta naves<br />

projetadas para combate. Cada uma,<br />

abrigan<strong>do</strong> três Mobis programa<strong>do</strong>s,<br />

exclusivamente, para combate; um, pilota,<br />

outro, traça coordenadas de ação e o<br />

terceiro, opera as armas. Estas pequenas<br />

naves são bastante rápidas e conseguem<br />

desenvolver duas Dobras. A nave-mãe<br />

nem sempre é comandada por um ser vivo.<br />

Existem andróides possui<strong>do</strong>res de<br />

inteligência e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de coman<strong>do</strong>s, uma<br />

cópia fiel de seu mestre – não na aparência<br />

e sim, na sua essência – As vezes penso<br />

que são arquetipa<strong>do</strong>s ao invés de<br />

arquiteta<strong>do</strong>s. Voltan<strong>do</strong> ao Globo, apesar de<br />

gigantesco, não tem mobilidade. Move-se a<br />

uma velocidade inferior a uma Dobra ...<br />

- É, mais-ou-menos, a nossa<br />

velocidade – observou, Thorc.<br />

- Mas pelo que pude observar –<br />

continuou, Hamour – esta nave, por<br />

exemplo, pode executar manobras – disse,<br />

se referin<strong>do</strong> à Kosmos – ao passo que o<br />

Globo, só anda em linha reta, e uma vez<br />

278


para<strong>do</strong>, apenas mantém um movimento de<br />

rotação; pelo seu eixo; lenta, mas como<br />

disse antes, seus sistemas de defesa são<br />

quase perfeitos. No caso de serem<br />

ataca<strong>do</strong>s, duas naves pilotadas por robots,<br />

se fixam nos pólos, aumentan<strong>do</strong> o campo<br />

gravitacional inverso; expelin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que<br />

deles se aproxima; enquanto outras cento<br />

e cinqüenta orbitam a base, deslizan<strong>do</strong><br />

sobre esta camada protetora, como se<br />

fossem os electrons de um átomo. Quan<strong>do</strong><br />

isso acontece, a própria fortaleza dispara<br />

os seus canhões Fratton,<br />

simultaneamente, em sincronia para não<br />

atingi-las. Entretanto, as outras cem, que<br />

saíram para o combate e caça de<br />

agressores, podem ser atingidas pelos<br />

raios Fratton. Esta é uma de suas falhas.<br />

Ahdack chama esta operação de “O globo<br />

da morte”. Pois bem, agora, vem a parte<br />

pior ...<br />

- Pior <strong>do</strong> que isto?<br />

- Sim, Thorc. Trata-se <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r e<br />

possui<strong>do</strong>r de tu<strong>do</strong> isto: O impera<strong>do</strong>r<br />

Ahdack, como ele mesmo se chama...<br />

Neste ponto, o Komptor se<br />

desativou.<br />

279


- Eu não tenho registros, nem<br />

fotos desta figura. Tu<strong>do</strong> o que lhes direi<br />

agora, são de relatos de sobreviventes que<br />

encontrei ao longo de minhas expedições<br />

em vários mun<strong>do</strong>s. Devo acrescentar, que<br />

seus testemunhos são verdadeiros. Pois<br />

bem, este tirano pratica o canibalismo<br />

múltiplo, isto é, além de literalmente comer<br />

alguns de seus prisioneiros, ele suga suas<br />

essências vitais. Vou explicar melhor: A<br />

cada cem dias, dez jovens previamente<br />

escolhi<strong>do</strong>s; desde que sejam fortes, não<br />

importa se macho ou fêmea, são coloca<strong>do</strong>s<br />

num aparelho que extrai suas energias e<br />

transferidas para Ahdack, em outro<br />

aparelho receptor. Após isto, <strong>do</strong>s dez<br />

corpos, vamos dizer, murchos, e ainda<br />

vivos, lhe são retira<strong>do</strong>s os hipotálamos <strong>do</strong>s<br />

cérebros, de onde extrai enzimas que<br />

incidem diretamente na renovação celular<br />

<strong>do</strong> seu próprio organismo. É um processo<br />

pareci<strong>do</strong> com o que vocês mesmos viram,<br />

com a minha pirâmide cristal. Pelo meu<br />

indica<strong>do</strong>r temporal – consultou-o, no pulso<br />

direito – ele deve ter, já, quinhentos e<br />

quarenta e nove anos de idade cronológica<br />

de seu tempo.<br />

280


- Este Ahdack, é a crueldade em<br />

pessoa – observou, Fanna.<br />

- Sim, por onde passa, devasta<br />

tu<strong>do</strong> e leva prisioneiros para a sua própria<br />

manutenção...<br />

Perceben<strong>do</strong> o temor e<br />

preocupação nos olhos de to<strong>do</strong>s, Hamour<br />

tratou de melhorar seus ânimos - ...<br />

- Senhores, não há motivos para nos<br />

preocupar com ele ainda. Não estamos ao<br />

alcance dele. Vocês me encontraram...<br />

hum, deixe-me ver... Há setenta e <strong>do</strong>is<br />

anos luz de distancia.<br />

- Muito bem, Hamour, mas vamos<br />

dizer que, os tempos mudaram e ele<br />

aperfeiçoou suas máquinas... e nos<br />

alcance; se formos ataca<strong>do</strong>s, quais as<br />

nossas chances?<br />

- Aproveitan<strong>do</strong> – entrou, Fanna –<br />

consideran<strong>do</strong> que não corramos perigo, o<br />

que você pretende, no futuro, conosco?<br />

- Está certo. Começarei por sua<br />

pergunta, Tutkan. É certo que os tempos<br />

são outros, a saber que cada padrão<br />

estelar dispõe de seu próprio tempo. Cada<br />

portão estelar, quan<strong>do</strong> atravessa<strong>do</strong> pelas<br />

Dobras, disparam a extensão temporal. Por<br />

exemplo: se saíssemos d<strong>aqui</strong> agora, numa<br />

281


velocidade em três Dobras, e<br />

alcançássemos um outro padrão, ao<br />

voltarmos, teria se passa<strong>do</strong> o equivalente<br />

aos anos-luz viaja<strong>do</strong>s. Então ida e volta, a<br />

três Dobras, seriam qualquer coisa de<br />

seiscentos anos. Não mais encontraríamos<br />

o que deixamos... mas para nós que<br />

viajamos, teríamos gasto cerca de <strong>do</strong>is<br />

perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus.<br />

- Esta é uma das minhas teorias<br />

sobre o buraco de michoca– disse, Zur-Kwa<br />

– Cada ponto de distância, pelo espaço<br />

afora, tem seu próprio tempo relativa<strong>do</strong> à<br />

distância...<br />

- Você esta certo, Zur-Kwa,<br />

calcular a diferença e acrescentá-la à<br />

velocidade. Estes são os atalhos a que<br />

você se refere por buracos de minhoca.<br />

Mas para isso também é necessário um<br />

sistema de navegação capaz de traçar um<br />

destino e material de construção nas naves<br />

com a pressurização necessária para<br />

resistir o arrasto de anti-matéria. Veremos<br />

isto com detalhes na reconstituição de to<strong>do</strong><br />

o equipamento. Então, continuan<strong>do</strong> em sua<br />

resposta, Tutkan, não creio que Ahdack<br />

tenha progredi<strong>do</strong> tanto assim com suas<br />

máquinas. Ele se julga o maioral e acha<br />

282


que dispõe de to<strong>do</strong>s os conhecimentos. E<br />

mais, por onde passou, não encontrou<br />

nada melhor <strong>do</strong> que já tinha, portanto, isso<br />

nos tranquiliza.<br />

Agora passan<strong>do</strong> à sua pergunta,<br />

Fanna, não precisam se preocupar comigo.<br />

Irei onde vocês forem. Vocês, agora, são<br />

minha família e quan<strong>do</strong> encontrarmos um<br />

bom planeta para viver; acho que os<br />

nossos genes são compatíveis; talvez<br />

venha a constituir a minha própria família e<br />

me dedicar tão somente a ela.<br />

De momento, as coisas estavam<br />

esclarecidas, pelo que, Fanna resolveu<br />

apresentar Hamour aos demais<br />

Somerianos. Primeiro pelas telas <strong>do</strong><br />

Telecon e depois, em visitas, nas outras<br />

naves. Hamour não fazia idéia de tantos<br />

seres, aglomera<strong>do</strong>s e viven<strong>do</strong> aperta<strong>do</strong>s,<br />

com população crescente.<br />

Neste cruzeiro, Hamour teve a<br />

oportunidade de ver sua própria nave<br />

derretida, atrelada a quatro cargueiros Mir<br />

e comentou ter si<strong>do</strong> uma boa idéia, aquela.<br />

283


Conheceu a frota Zag, onde teceu enormes<br />

incentivos e elogios.<br />

Após os dias de sua<br />

apresentação, Hamour decidiu ministrar<br />

aulas a to<strong>do</strong>s que quisessem aprender a<br />

nova tecnologia, mediante testes de<br />

aptidão e escolhi<strong>do</strong>s pelos sensores<br />

aurais. Entre eles, Thorc, Zur-Kwa e seus<br />

auxiliares.<br />

Novos méto<strong>do</strong>s de fusões,<br />

materiais e propulsores energéticos, foram<br />

meticulosamente estuda<strong>do</strong>s, assim como<br />

as Medições Espaciais Exométricas.<br />

Segun<strong>do</strong>, os Somerianos, esta<br />

nova tecnologia só poderia ser <strong>do</strong>minada<br />

em mais-ou-menos cento e cinqüenta anos<br />

de seu tempo. Eram méto<strong>do</strong>s e sistemas<br />

avança<strong>do</strong>s, capacitan<strong>do</strong>-os a construir<br />

naves, com recursos jamais sonha<strong>do</strong>s. A<br />

transformação molecular provida pela<br />

Dobra, era algo sensacional dentro <strong>do</strong>s<br />

caminhos da Anti-matéria.<br />

Hamour era cheio de surpresas.<br />

Trazia consigo um Cristalton, embuti<strong>do</strong> em<br />

284


seu medalhão, com to<strong>do</strong>s os cálculos e<br />

projeções de sua nave, poden<strong>do</strong> os<br />

cientistas, entender como se chegara<br />

àquelas equações. Este foi o maior e o<br />

último assunto.<br />

Thorc, numa conversa franca,<br />

disse, depois de conhecer os fatores, que<br />

ele e Zur-Kwa, há tempos, haviam pensa<strong>do</strong><br />

naquelas possibilidades.<br />

Concomitantemente, a grande<br />

Kosmos passou por transformações, sen<strong>do</strong><br />

equipada, até onde sua estrutura original<br />

permitisse.<br />

Instrumentos de navegação<br />

espacial, defletores, escu<strong>do</strong>s térmico-antimagnéticos,<br />

e o Telak <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de sensores<br />

diametrais de altíssimo alcance,<br />

aproximadamente mil Macrons, varren<strong>do</strong><br />

quase a metade de um quadrante. Assim<br />

considera<strong>do</strong>s seus novos olhos e ouvi<strong>do</strong>s.<br />

A viagem em busca <strong>do</strong> planeta<br />

Kálerus era bem aproveitada, adaptan<strong>do</strong> a<br />

Kosmos a uma nova realidade, quase tão<br />

285


sofisticada quan<strong>do</strong> as Bases Mobis e a<br />

própria nave de Hamour, ainda derretida.<br />

Hamour, por conseguinte,<br />

aprendia muito com os Somerianos, quanto<br />

de seus hábitos, costumes e a grande<br />

transformação de comportamento após<br />

guerra. Divertia-se à bessa com os <strong>do</strong>is<br />

malucos, Thorc e Zur-Kwa.<br />

Com o passar <strong>do</strong>s dias, Hamour<br />

deixou de ser novidade e pode com isto, se<br />

relacionar com to<strong>do</strong>s, com maior<br />

naturalidade, acaban<strong>do</strong> de vez com<br />

qualquer vestígio de “maus agouros”,<br />

prega<strong>do</strong>s pelo fina<strong>do</strong> guia espiritual<br />

Gideonis. Conhecia cada um <strong>do</strong>s<br />

Somerianos e passou a freqüentar o<br />

Cassino. Tinha consciência de ser mais um<br />

<strong>do</strong>s lidera<strong>do</strong>s por Erus Fanna, pelo qual,<br />

dedicou a maior admiração e<br />

consideração.<br />

Na noite de comemoração <strong>do</strong><br />

aniversário de Thorc e Zur-Kwa,<br />

convida<strong>do</strong>s de outras naves lotavam o<br />

Cassino da Kosmos, uma figura até então<br />

286


despercebida, saltou-lhe aos olhos. Amis<br />

estava mais linda <strong>do</strong> que nunca.<br />

Eis aí uma criatura pelo qual<br />

trocaria tu<strong>do</strong> o que jamais tive. Pensou<br />

reservadamente.<br />

Amis sabia cativar e perceben<strong>do</strong><br />

aquele olhar, não perdeu tempo e foi até<br />

ele.<br />

Ao vê-la caminhan<strong>do</strong> firme em<br />

sua direção, tentou desviar os olhos, sem,<br />

no entanto, conseguir. Seu coração batia<br />

forte, tanto que sentiu seu rosto e orelhas<br />

esquentarem.<br />

- Olá, Hamour! Está gostan<strong>do</strong> da<br />

festa?<br />

- Sim, sim, estou...<br />

- Você está se sentin<strong>do</strong> bem?<br />

- Acho que estou... ta-talvez o<br />

Somir... você sabe...<br />

- Neste caso, seria bom você<br />

pegar um lugar mais areja<strong>do</strong>. Nossa, você<br />

está vermelho!<br />

- Não se... se preocupe cocomigo...<br />

já - já vai passar...<br />

- Está bem. Você é quem sabe...<br />

- Não quer se sentar?<br />

287


- Bem pensa<strong>do</strong>, Hamour. Você se<br />

importa se formos à mesa de meus<br />

amigos?<br />

- Não, acho que não.<br />

- Então venha comigo.<br />

Ela pegou sua mão e o conduziu até a<br />

turma, passan<strong>do</strong> por Thorc, que lhe<br />

segurou o braço livre.<br />

- Hei, Hamour, onde você pensa<br />

que vai?<br />

- Vou até a mesa onde os amigos<br />

de Amis estão.<br />

- Mas primeiro, vamos tomar um<br />

gole juntos.<br />

Amis perceben<strong>do</strong> o embaraço<br />

cria<strong>do</strong>, disse:<br />

- Tu<strong>do</strong> bem, Hamour. Beba um<br />

pouco com eles. Eu estarei – e apontou o<br />

local – lá.<br />

As histórias sobre as<br />

comemorações juntas, <strong>do</strong>s aniversários<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is malucos eram relatadas por<br />

Thorc, quan<strong>do</strong> Zur-Kwa, acompanha<strong>do</strong> de<br />

sua assistente, Belzamir, mais Tutkan e<br />

Fanna vieram se juntar entre risadas e<br />

muitas gozações com o baixinho.<br />

288


E, assim, foi a noite toda, sem que<br />

Hamour pudesse se desvencilhar <strong>do</strong><br />

pessoal. Entretanto, vez ou outra, seu olhar<br />

esbarrava com o dela. Eram como se<br />

fossem cumprimentos à distância.<br />

- Bem – disse Ambhórius, a certa<br />

altura – acho que já vou. Tenho que<br />

acordar ce<strong>do</strong>. É dia de fertilização com o<br />

Transprotton.<br />

Amis viu seu pai se despedin<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> pessoal. Veio a eles e se dirigiu<br />

diretamente a Hamour:<br />

- Pois bem, Hamour, acho que fui<br />

trocada por um monte de velhos!<br />

- Oh, queira me desculpar,<br />

acontece que...<br />

- Fique tranqüilo - ela cortou sua<br />

frase – Eu enten<strong>do</strong> destas coisas.<br />

- Além disso – entrou, Fanna – não<br />

somos tão velhos assim!!<br />

- Bem, senhores – disse,<br />

Ambhórius – Boa noite!!<br />

Pai e filha se afastaram e Hamour<br />

pensava consigo mesmo – Poxa! Será que<br />

isto está acontecen<strong>do</strong> comigo? Mas isso<br />

não me é possível. Acho que estou<br />

sonhan<strong>do</strong> alto demais!!!<br />

289


O restante da noite continuou,<br />

mas não com tanta graça. Seu<br />

pensamento estava sempre em outro lugar,<br />

com ela. Thorc percebeu sua súbita<br />

mudança e perguntou:<br />

- Você está quieto. Bebeu<br />

demais?<br />

- Sabe, Thorc, acho que sim. Só<br />

espero que o Dr.Grohalv não me passe um<br />

sermão. Você sabe. Ele está sempre em<br />

cima!<br />

- Ora, não se preocupe com ele.<br />

Vamos, o seu copo está vazio...<br />

No dia seguinte, a ressaca lhes<br />

atormentava as cabeças. Bebiam toda a<br />

água que encontravam e como sempre,<br />

prometiam a si mesmos, nunca mais beber<br />

Somir puro.<br />

Nesta manhã, atravessavam um<br />

campo de estrelas luminosas e coloridas,<br />

muito próximas umas das outras. Eram<br />

pequenos sóis, iluminan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em re<strong>do</strong>r.<br />

Klemps ativou o Intercon:<br />

- Comandante, Entraremos na<br />

divisa <strong>do</strong> sistema Remgis em,<br />

aproximadamente, meio tempo e há <strong>do</strong>is<br />

290


Marcos Estelares <strong>do</strong> alvo. Temos sua<br />

leitura no Telak: Sol e sistemas orbitais.<br />

- Muito bem, Klemps. Avisarei<br />

Fanna.<br />

Tutkan, em seus aposentos,<br />

ocupa<strong>do</strong> com sua dieta, apressou-se no<br />

contato.<br />

- Erus, você já acor<strong>do</strong>u?<br />

- Já! E estou enjoa<strong>do</strong>...<br />

- Pois se vista e vá até a ponte.<br />

Estamos perto de Kálerus, qualquer coisa<br />

de <strong>do</strong>is Marcos Estelares.<br />

- Vinte Macrons, já?<br />

- Pode apostar, meu amigo.<br />

Incrível, pensava enquanto<br />

escolhia qual manto usar naquela manhã<br />

tão especial; já se passaram <strong>do</strong>is anos<br />

desde que encontramos Hamour e ...<br />

nossa! ... vinte anos e meio desde que<br />

saímos de Someron... Num cálculo rápi<strong>do</strong>,<br />

concluiu avistar Kálerus em quatro dias e,<br />

talvez, pousar nele, em seis.<br />

Tinha adrenalina aceleran<strong>do</strong>-lhe o<br />

coração e na boca, o gosto <strong>do</strong> Somir<br />

fermenta<strong>do</strong>.<br />

291


Ao chegar à ponte, encontrou o<br />

pessoal de tarefa, muito anima<strong>do</strong>s,<br />

assistin<strong>do</strong> pelo Telak, as gravações desde<br />

quan<strong>do</strong> avistaram a galáxia Remgis. Era<br />

lin<strong>do</strong>. No centro, uma grande bola de luz<br />

alongan<strong>do</strong>-se para os la<strong>do</strong>s, semelhante<br />

ao desenho da nave de Hamour; Com a<br />

camada de matéria escura no plano<br />

principal.<br />

Na medida em que as imagens,<br />

agora, tridimensionais, exibiam outras<br />

configurações desta imensa galáxia, uma<br />

delas chamava-lhes a atenção. O<br />

direcionamento aponta<strong>do</strong> para um <strong>do</strong>s<br />

braços <strong>do</strong> espiral, distante <strong>do</strong> centro e<br />

aproximan<strong>do</strong>-se para o seu interior. Ali<br />

estava o sistema Remgis com seu sol e<br />

planetas.<br />

- Klemps, qual, exatamente, a<br />

nossa distância? Perguntou, Fanna.<br />

- Dezoito Macrons, senhor e<br />

aproximan<strong>do</strong>.<br />

Hamour e Tutkan chegaram<br />

juntos e Hamour comentou:<br />

- Ah, que visão!! A mais bonita ...<br />

que já vi!<br />

292


- A que distância estamos?<br />

Perguntou Tutkan.<br />

- Dezoito Macrons e aproximan<strong>do</strong>,<br />

senhor.<br />

Imediatamente, Hamour<br />

introduziu o Cristalton relativo ao sistema<br />

Remgis e chamou as coordenadas de<br />

Kálerus. Este era o quarto planeta a partir<br />

<strong>do</strong> Sol Amarelo. Distância média <strong>do</strong> sol:<br />

137 bilhões de centons com excentricidade<br />

orbital variável; inclinação axial 29,59<br />

graus; 6.794.000 centons de diâmetro;<br />

núcleo ferroso; gravidade: 0,96 em relação<br />

à Someron, apesar de menor, pouco mais<br />

da metade de Someron. Temperatura<br />

equatorial de 46 graus celtz e menos 100,<br />

nos pólos ...<br />

- É um boca<strong>do</strong> quente em seu<br />

equa<strong>do</strong>r – disse, Thorc, ao chegar com Zur-<br />

Kwa e Belzamir – A que distância estamos?<br />

- Menos de dezoito Macrons, e<br />

aproximan<strong>do</strong> – respondeu Klemps.<br />

- É uma linda vista – observou,<br />

Belzamir.<br />

- ... Elementos físicos – continuou,<br />

Hamour na leitura <strong>do</strong> Telak – Perío<strong>do</strong><br />

sinótico, 779,9 dias; rotação 24,62<br />

tempos...<br />

293


- É um belo planeta – disse,<br />

Fanna.<br />

- Parece ser – ponderou, Tutkan –<br />

Só nos resta ver de perto.<br />

- Dezessete Macrons e<br />

aproximan<strong>do</strong> – disse, Klemps.<br />

- Na marca de cinco Macrons –<br />

disse, Tutkan – inicie o processo de<br />

desaceleração. Comunique isto à frota.<br />

- E a que velocidade<br />

avançaremos, senhor?<br />

- Um terço à frente.<br />

- O planeta ideal; com massa,<br />

gravidade e campo magnético – disse,<br />

Thorc - ; seria o terceiro, a partir <strong>do</strong> sol.<br />

- Seria – concor<strong>do</strong>u, Hamour -, mas<br />

pelo que sabemos; quan<strong>do</strong> estas<br />

informações foram colhidas; passava por<br />

um perío<strong>do</strong> glacial.<br />

- E quan<strong>do</strong> foi feito isto? –<br />

perguntou, Belzamir.<br />

- Bem, vejamos ... pelo tempo<br />

desta galáxia ... cerca de 65.000 mil anos...<br />

aliás este comentário também foi feito pelo<br />

comandante ASTHAR, ao passar por <strong>aqui</strong>.<br />

- Comandante Asthar?<br />

- Sim, Tutkan. O comandante da<br />

“Patrulha <strong>do</strong> Espaço”.<br />

294


- E o que foi feito dele?<br />

- Na verdade, não sabemos.<br />

- Coisa de Ahdack? – perguntou,<br />

Zur-Kwa.<br />

- Pode ser. Mas não acho<br />

provável.<br />

Subitamente o Telecon acusou<br />

um sinal semelhante ao que Hamour<br />

transmitia, deixan<strong>do</strong>-os apreensivos.<br />

Hamour, de imediato, situou-o ao<br />

Telak.<br />

- Tu<strong>do</strong> bem, gente. Alarme falso.<br />

São ondas de rádio emitidas por Pulsares.<br />

São parecidas com as que que eu emitia.<br />

- Mas, passamos por vários e não<br />

captamos nada, antes.<br />

- Bem, como podem ver, não são<br />

to<strong>do</strong>s que emitem ondas curtas. A maior<br />

parte deles, emite raios gama e são de alta<br />

freqüência.<br />

- Quinze Macrons, senhor. Temos<br />

uma espécie de turbulência...<br />

- Vem <strong>do</strong>s motores, senhor, disse<br />

Seimur, dan<strong>do</strong> varredura geral na nave.<br />

- Residual de matéria escura,<br />

entrou Hamour. Sugiro desaceleração.<br />

Estamos num campo magnético bastante<br />

sutil que nos atrai para aquele sol.<br />

295


- Klemps, avise a frota,<br />

desacelerar em quinze microns. E<br />

acionan<strong>do</strong> o Intercon – Zeuez...<br />

- Pode falar, comandante.<br />

- Prepare os rapazes. Envie uma<br />

patrulha assim que desacelerarmos.<br />

- Já estamos a postos, Tut.<br />

- Iniciar desaceleração, na marca<br />

... oito ... sete ... seis ... cinco ... quatro ...<br />

três ... <strong>do</strong>is ... um ... Agora!<br />

O retrocesso <strong>do</strong>s motores trouxelhes<br />

certo desconforto até estabilizar a<br />

frota por inteiro. Enfim a turbulência cessou<br />

e os visores virtuais deram lugar ao real.<br />

As janelas estavam abertas.<br />

Lá fora, podiam ver os primeiros<br />

raios daquele sol.<br />

- Entramos no sistema Remgis,<br />

senhor – informou, Klemps.<br />

...<br />

- Obriga<strong>do</strong> Zeuez...- Seimur,<br />

coordenadas e curso!<br />

- Em cinqüenta Microns,<br />

passaremos pelo vácuo <strong>do</strong> primeiro<br />

planeta, Contato visual em ... quatro ... três<br />

... <strong>do</strong>is ... um ...<br />

296


À esquerda da panorâmica, um<br />

planetóide de coloração acinzentada,<br />

refletin<strong>do</strong> bem sua camada gelada, surgia,<br />

passan<strong>do</strong> lentamente para a direita.<br />

- Este é o décimo-segun<strong>do</strong> –<br />

corrigiu, Hamour.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, senhor! Agradeceu,<br />

Seimur, desconcerta<strong>do</strong>... Em três microns,<br />

outro planetóide, ainda menor... o décimoprimeiro,<br />

senhor! E a seguir, um gigante...<br />

<strong>do</strong>is... um ...<br />

-Nossa! – admirou-se, Tutkan –<br />

Esse é grande!!<br />

- E são <strong>do</strong>is! – completou,<br />

Belzamir, ao fun<strong>do</strong>.<br />

- Coordenadas e curso,<br />

completa<strong>do</strong>s, senhor.<br />

- Klemps, meia-nau à frente,<br />

informe a frota.<br />

Os planetas passavam<br />

lentamente, flutuan<strong>do</strong> em meio à vastidão.<br />

Surgiu-lhes, então um planeta de<br />

beleza incomum, cerca<strong>do</strong> por anéis<br />

brilhantes e com matizes diversas.<br />

- Incrível!! – comentou, Thorc.<br />

- Previsão de órbita de Kálerus.<br />

Dois tempos e um quarto.<br />

297


- Klemps, passe a informação e<br />

estabeleça marca de aceleração zero, com<br />

orbital fixo, em 15.000 mil centons de<br />

Kálerus.<br />

- Bem, senhores – disse, Hamour –<br />

parece que estamos chegan<strong>do</strong> e se me<br />

dão licença; tenho que arrumar as malas.<br />

- Magnífica idéia!!! – sau<strong>do</strong>u, Zur-<br />

Kwa.<br />

Momentos depois, permanecia na<br />

ponte, Tutkan e o seu pessoal.<br />

Hamour, Thorc, Zur-Kwa e<br />

Belzamir foram diretos para o laboratório,<br />

ansiosos por organizarem suas coisas. Lá<br />

chegan<strong>do</strong>, em meio às tarefas, o Intercon<br />

chamou, Belzamir atendeu e chamou<br />

Hamour.<br />

- Amis quer falar com você.<br />

Hamour largou uma pilha de livros<br />

ao la<strong>do</strong> das mesas e foi atender, em<br />

movimentos quase que desastra<strong>do</strong>s, com o<br />

coração pulsan<strong>do</strong> forte. Thorc e Zur-Kwa<br />

olharam para Belzamir, que sinalizou não<br />

entender tal comportamento.<br />

- Sim, Amis. Pode falar...<br />

- Só liguei para saber como você<br />

está? Achei que você bebeu demais,<br />

ontem! ... e dizer Etkmah!<br />

298


- Ah ... Etkmah, obriga<strong>do</strong>! E você<br />

como está?<br />

- Maravilhada com o que vi, pelo<br />

Telak. Estão to<strong>do</strong>s excita<strong>do</strong>s, por <strong>aqui</strong>. É<br />

um sentimento diferente. Tem um “que” de<br />

... Aftahalp! ...<br />

- Ora , vejo que aprendeu<br />

algumas expressões, <strong>do</strong> meu povo.<br />

Expressa bem o que to<strong>do</strong>s sentimos...<br />

Thorc, Zur-Kwa e Belzamir<br />

continuavam se olhan<strong>do</strong>, agora com<br />

aquele sorriso malicioso, principalmente de<br />

Thorc – Aí tem coisa, Zur-Kwa!<br />

- ... Olha, Hamour, tão logo a frota<br />

pare, preciso ir até a Kosmos, levar um<br />

presentinho para o bebê de Walln.<br />

- Ela...?<br />

- Sim, Vai dar a luz dentro em<br />

breve e quero dar o presentinho antes de<br />

aportarmos em Kálerus. Quero que seja<br />

uma lembrança desse dia, tão especial.<br />

- Que bonito! Por que ... por que<br />

você não passa por <strong>aqui</strong>?<br />

Quan<strong>do</strong> se deu por conta, já havia<br />

dito, surpreenden<strong>do</strong>-se pela ousadia.<br />

- Está bem. Se não for incômo<strong>do</strong>.<br />

Por <strong>aqui</strong> existe uma correria, cada um,<br />

ajeitan<strong>do</strong> suas coisas ...<br />

299


- Por <strong>aqui</strong>, também, mas, se<br />

puder vir, será bem-vinda.<br />

Hamour ao voltar, com um sorriso<br />

estampan<strong>do</strong>-lhe a face, foi atropela<strong>do</strong> por<br />

Thorc.<br />

- Ora vivas! Temos um encontro,<br />

então!!<br />

- Ah, deixe disso, Thorc! É só uma<br />

amiga.<br />

- Amiga, hein! Eu vi, ontem, você<br />

e sua amiga!?!<br />

- Pelo menos, ele se decide! –<br />

disse, Belzamir, olhan<strong>do</strong><br />

significativamente, para Zur-Kwa.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

O processo de desaceleração da<br />

frota iniciara e em pouco estariam em<br />

órbita de Kalerus. Tutkan chamou Zeuez<br />

para comandar a missão exploratória <strong>do</strong><br />

planeta, assim que houvesse a parada<br />

total.<br />

Zeuez convocou Velz, Tameron e<br />

Maxun. Em microns, o hangar de<br />

lançamentos movimentava-se no<br />

300


posicionamento das naves. Cada bate<strong>do</strong>r<br />

em sua pista.<br />

A caminho <strong>do</strong>s módulos móveis,<br />

mais tarde acopla<strong>do</strong>s à carlinga, Zeuez<br />

recordava os velhos tempos em Someron,<br />

quan<strong>do</strong> Fanna decidira partir em busca de<br />

um planeta novo. Ele mesmo considerara<br />

uma epopéia. Algo de ficção, impossível.<br />

Integrara-se ao sonho porque se tivesse<br />

que morrer, queria estar com...<br />

- Comandante!<br />

- Sim, Velz!<br />

- Está tu<strong>do</strong> bem, senhor?<br />

- Ah, sim. Tu<strong>do</strong> bem. Só estava<br />

em Someron. Você lembra quan<strong>do</strong> toda<br />

essa coisa começou?<br />

- Bem, deixa me ver...para mim...<br />

foi quan<strong>do</strong> conheci Zuila. No dia <strong>do</strong> meu<br />

primeiro vôo solo. Eu estava com o senhor<br />

e fomos força<strong>do</strong>s a desviar nossa rota para<br />

o Monte Pakeus.<br />

- É. Foi aí mesmo.<br />

- E em que pensava, senhor?<br />

- Em muitas coisas. Desde a noite<br />

a que se refere, <strong>do</strong> projeto inicial de Fanna<br />

e o sonho gera<strong>do</strong> em nós, avanços<br />

tecnológicos, por tu<strong>do</strong> o que passamos, o<br />

301


acha<strong>do</strong> de Hamour, enfim. E agora<br />

estamos <strong>aqui</strong>...<br />

- O que o senhor acha que vamos<br />

encontrar lá em baixo?<br />

- Espero que a realização <strong>do</strong>s<br />

nossos sonhos, um bom lugar pra morar.<br />

- Assim espero, disse Tameron.<br />

Waln está grávida e queremos um lugar<br />

assim para criar nosso filho.<br />

Alguns passos depois estavam<br />

frente aos seus módulos, onde as equipes<br />

de manutenção já os aguardavam.<br />

Acomodaram-se e esteiras magnéticas os<br />

levaram às suas carlingas.<br />

Do observatório central, as<br />

garotas assistiam as manobras de<br />

taxeamento <strong>do</strong>s rapazes e o lançamento.<br />

Fato incomum, mas, era um dia especial.<br />

O momento era chega<strong>do</strong>. Cada<br />

um partiu levan<strong>do</strong> a lembrança <strong>do</strong>s olhos<br />

delas.<br />

Microns depois, Amis aportava<br />

com seu pai, convida<strong>do</strong> por Fanna, para<br />

302


assistir toda a operação, pelo Telak da<br />

Kosmos.<br />

Pouco depois, os informes com as<br />

análises e observações <strong>do</strong>s pilotos Zag.<br />

- Tem <strong>do</strong>is satélites naturais, que<br />

o mantém na inclinação axial regular em 24<br />

horas. Atmosfera favorável, climas<br />

diferentes em várias regiões. Montanhas e<br />

vales, muita água. Mares, vegetação<br />

variada, espessa e regular.<br />

- Semelhante à que tínhamos no<br />

nosso velho mun<strong>do</strong>, comentou Fanna.<br />

- Rico em minerais ... há vida<br />

animal, nos mares e florestas ... Parece<br />

bom, visto d<strong>aqui</strong> de cima, continuou Zeuez<br />

- E lugar para pousar, Zeuez,?<br />

- Há uma imensa planície dentro<br />

de uma bacia. Parece ser bom. Velz está lá<br />

em baixo, agora. Nos informe, Velz.<br />

- A Vegetação é espessa, mas<br />

existem várias clareiras, bem próximas<br />

umas das outras, ao la<strong>do</strong> leste da bacia...<br />

estou sobrevoan<strong>do</strong> o local. É um bom lugar<br />

para pouso... acho que cabe to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

<strong>aqui</strong>...<br />

- Trace as coordenadas e mandenos<br />

imagens.<br />

303


Velz via.<br />

As imagens confirmavam o que<br />

Sim, era como se estivessem em<br />

casa, nos velhos e bons tempos.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Velz – disse, Tutkan –<br />

aguardem por aí. Zeuez, suba com Maxun<br />

para escoltar o pessoal. Estamos ansiosos<br />

por descer.<br />

Enquanto isso, Hamour amargava<br />

com as piadinhas de Thorc, Zur-Kwa e<br />

Belzamir.<br />

- Até que ela é bem bonitinha! –<br />

disse, Thorc.<br />

- É uma gracinha, mesmo –<br />

respondeu, Zur-Kwa, desdenhosamente.<br />

- Mal posso esperar para comer<br />

um bolo de Pegúnia (uma espécie de<br />

cereja) – atacou, Belzamir.<br />

- ... Com Ramza assada regada a<br />

Milkha bem gelada – acrescentou, Thorc.<br />

- E muito Somir – completou, Zur-<br />

Kwa.<br />

Hamour, quase venci<strong>do</strong> e<br />

entregan<strong>do</strong> seus sentimentos, apanhava<br />

outra pilha de livros e ao passar pela porta<br />

<strong>do</strong> laboratório, esta se abriu, chocan<strong>do</strong>-se<br />

304


a ele e sua carga, espalhan<strong>do</strong>-a pelo chão<br />

emborracha<strong>do</strong>. Isto aconteceu no momento<br />

em que dizia:<br />

- Vocês, seus ... estão apressan<strong>do</strong> as<br />

coisas ... não exist ...<br />

- Oi! Oh, desculpe, Hamour! ...<br />

Ele, de quatro, apanhan<strong>do</strong> os<br />

livros, em movimentos rápi<strong>do</strong>s, olhou para<br />

ela, com um sorriso amarelo.<br />

- Não foi nada ... isso acontece!...<br />

- Você está se sentin<strong>do</strong> bem? –<br />

disse ela ven<strong>do</strong>-o novamente vermelho.<br />

- Estávamos falan<strong>do</strong> de você –<br />

disse, Thorc.<br />

- Em mim, ou “de” mim?<br />

- As duas coisas, querida – disse,<br />

Belzamir, matreiramente.<br />

- Ora ... – entrou, Hamour – não<br />

ouça o que eles estão falan<strong>do</strong> ... só sai ...<br />

- Besteiras, da boca deles –<br />

completou, Amis, em auxílio à procura<br />

de palavras, de Hamour.<br />

- Sim, é isto ... – disse,ele<br />

levantan<strong>do</strong>-se com alguns livros.<br />

- Tu<strong>do</strong> bem, Hamour ... acho que<br />

estou interrompen<strong>do</strong> sua lida. Eu volto<br />

mais tarde.<br />

- Bem, eu ...<br />

305


- Ora, o que é isso?! – entrou,<br />

Thorc- Não precisamos mais de você,<br />

Hamour . Se quiser, pode ir conversar<br />

com Amis...<br />

- Por que vocês não aproveitam a<br />

cúpula da Kosmos, para...<br />

- “Conversar”. Lá é mais tranqüilo <strong>do</strong> que<br />

<strong>aqui</strong> - Belzamir completou a frase de<br />

Zur-Kwa.<br />

Amis apanhou os livros das mãos<br />

de Hamour e puxou-o para fora da sala.<br />

- Vamos, Hamour. Deixe esses<br />

três goza<strong>do</strong>res de la<strong>do</strong>. Vamos para a<br />

cúpula. Lá é mais tranqüilo, mesmo.<br />

No que a porta foi fechada, Zur-<br />

Kwa comentou:<br />

- Mocinha decidida, ela, hein,<br />

Thorc?<br />

-Tem gente que precisa aprender<br />

com ela – disse, Belzamir, em franco<br />

deboche à Zur-Kwa, que baixou a<br />

cabeça e tratou de apanhar os livros<br />

deixa<strong>do</strong>s por Hamour.<br />

Pelos corre<strong>do</strong>res da grande nave,<br />

a excitação e agitação eram fora <strong>do</strong><br />

comum.<br />

306


- Vocês já arrumaram suas<br />

coisas? – perguntou uma jovem de<br />

passagem por Amis e Hamour.<br />

- Já – foi o que Amis respondeu.<br />

Na ponte, Fanna acompanhava,<br />

com Tutkan e Ambhórius, os relatórios<br />

emiti<strong>do</strong>s pelos sensores de Velz,<br />

comparan<strong>do</strong>-os com os obti<strong>do</strong>s pelo<br />

Cristalton de Hamour.<br />

- Há vida animal e uma espécie<br />

pre<strong>do</strong>minante. São seres de<br />

pouquíssima inteligência, para não<br />

dizer nenhuma – comentava, Fanna –<br />

Bastante primitivos. A gente de Hamour<br />

os denominou de humanóides. São<br />

frugívaros, andam em ban<strong>do</strong>s e são<br />

antropófagos. Comem os guerreiros<br />

perde<strong>do</strong>res de suas batalhas.<br />

- Deve ser um planeta novo –<br />

disse, Ambhórius.<br />

- Tem cerca de quatro bilhões de<br />

anos e em pleno desenvolvimento de<br />

suas espécies – completou, Fanna.<br />

- - Comandante Zeuez, pedin<strong>do</strong><br />

reentrada, senhor.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Klemps. Cumpra o<br />

procedimento.<br />

307


Realmente, a cúpula da Kosmos,<br />

estava vazia e dali podiam ver os<br />

contornos de Kálerus em azul escuro,<br />

mancha<strong>do</strong> por espirais brancos.<br />

- Bonito, não? – disse, ela,<br />

contemplan<strong>do</strong> o novo mun<strong>do</strong> com suas<br />

duas minúsculas luas.<br />

- Sim, muito – disse ele, com voz<br />

truncada, rouca – Tem a cor de seus<br />

olhos...<br />

Ela virou-se para ele, fitan<strong>do</strong>-o<br />

profundamente, como que, se quisesse<br />

ver o fun<strong>do</strong> de sua mente e ler seus<br />

pensamentos. Assim, encontrou os<br />

olhos dele.<br />

- Por que me olha, assim? – ela<br />

perguntou, após um breve silêncio.<br />

- Porque me agrada, muito, o que<br />

vejo!!<br />

- E o que você vê?<br />

- Um ser de beleza <strong>do</strong>ce...<br />

Ela, provocantemente, chegou<br />

mais perto, com o olhar preso ao dele.<br />

- Só isso?<br />

- Não ... também o meu amor.<br />

Ele a tomou para si, beijan<strong>do</strong>-a<br />

suavemente na testa e após, suas<br />

308


ocas se encontraram frente a frente,<br />

excitantes, ao selo. Ela tomou a<br />

iniciativa e ... o beijo foi longo e<br />

apaixona<strong>do</strong>. Seus corpos tremiam e<br />

ardiam entre carícias. Subitamente ele<br />

a afastou de si.<br />

- O que estamos fazen<strong>do</strong>, Amis?<br />

O que “eu” estou fazen<strong>do</strong>?<br />

- Hamour... – ela não sabia o que<br />

dizer.<br />

- Amis, eu .. eu .. acho que não<br />

devemos...<br />

- Devemos, sim, meu amor...<br />

- Não sei se o teu povo<br />

aprovaria...<br />

- Thorc, Zur-Kwa e Belzamir,<br />

parece que já aprovaram – disse, ela,<br />

com um sorriso especial -, e as<br />

meninas também...<br />

- Que meninas?<br />

- Zuila, Zart e Walln ...<br />

- Mas ... como?... – ele estava<br />

desconcerta<strong>do</strong>.<br />

- Eu contei para elas, hoje pela<br />

manhã, quan<strong>do</strong> cheguei...<br />

- Então... ?... você...?<br />

Ela concor<strong>do</strong>u com a cabeça,<br />

beijan<strong>do</strong>-o levemente nos lábios.<br />

309


Sentaram-se no grande sofá<br />

circular e continuaram o beijo.<br />

Então os falantes trouxeram a voz<br />

de Erus Fanna, carregada de emoção.<br />

- “Meu povo! Chegamos ao nosso<br />

tão sonha<strong>do</strong> destino. Com a ajuda de<br />

Deus, nos estabeleceremos neste novo<br />

mun<strong>do</strong> e criaremos nossos filhos, e os<br />

ensinaremos a paz, o companheirismo<br />

solidário. Semearemos amor e o<br />

incentivo fomenta<strong>do</strong>r da criatividade, da<br />

ordem e da ética, para que sejamos um<br />

povo justo e misericordioso. Contu<strong>do</strong>,<br />

firmes em nossa personalidade e<br />

caráter, E então seremos fortes. Mais<br />

fortes <strong>do</strong> que jamais fomos. Portanto,<br />

lembrem-se de tu<strong>do</strong> por que passamos<br />

e agradeçam a Deus por esta nova<br />

oportunidade, que, sua infinita<br />

bondade, hora nos enseja ...”<br />

- Amis, meu amor – disse, Hamour<br />

levantan<strong>do</strong>-se – Acho que Erus precisa<br />

de mim... você já arrumou suas coisas?<br />

- Sim, queri<strong>do</strong>, a única coisa que<br />

faltava, era você, e agora, não falta mais –<br />

disse, ela levantan<strong>do</strong>-se e oferecen<strong>do</strong> seus<br />

lábios, pelo que Hamour os aceitou em<br />

novo e apaixona<strong>do</strong> beijo.<br />

310


- Agora, precisamos ir – disse, ele.<br />

- Sim, queri<strong>do</strong>... como se diz; até<br />

mais tarde, em sua língua?<br />

- Sion-Hámara!<br />

- Então, Sion-Hámara, queri<strong>do</strong>!<br />

- Sion-Hámara, meu amor!<br />

Em três dias e três noites, as<br />

naves menores desceram à superfície<br />

da planície cercada de montanhas,<br />

bosques e lagos.<br />

Ao pousar, seus corações batiam<br />

forte. Ao pisar no solo, ajoelharam-se e<br />

o beijaram com carinho e lágrimas.<br />

Para muitos, era a primeira vez<br />

que respiravam ar livre. Tu<strong>do</strong> era<br />

diferente e lin<strong>do</strong>.<br />

Os dias e noites se seguiram em<br />

muito trabalho, nas novas<br />

acomodações.<br />

Barracas atreladas às pequenas<br />

naves, instalações sanitárias, dutos<br />

condutores de água colhida em<br />

vertentes, etc... Embora o desconforto<br />

311


fosse grande, ninguém queria ficar nem<br />

mais um mícron no espaço.<br />

Ambhórius, imediatamente após<br />

se acomodar, iniciou, junto aos seus, o<br />

plantio, com ferramentas improvisadas.<br />

Simultaneamente, com Hamour –<br />

sempre por perto – os estu<strong>do</strong>s sobre<br />

estações e sua climatização, a<br />

fertilização espontânea <strong>do</strong> solo e seus<br />

efeitos com as mudas e sementes<br />

trazidas.<br />

A Kosmos permaneceu em órbita<br />

fixa ao ponto onde estavam, com os<br />

March-1, no patrulhamento e ronda,<br />

tanto no planeta, como no sistema<br />

inteiro.<br />

Havia muito que fazer e<br />

conscientes disso, formaram<br />

comissões de ação, agin<strong>do</strong>, desde a<br />

construção de suas moradias, até às<br />

forjas e prensas que reconstituiriam a<br />

nave de Hamour. Mais tarde, o<br />

“asteróide” foi trazi<strong>do</strong>.<br />

312


As prioridades foram observadas.<br />

Em quatro perío<strong>do</strong>s (meses), foi<br />

ergui<strong>do</strong> um pequeno hospital e oitenta<br />

e três escolas; to<strong>do</strong> um sistema de<br />

saneamento, adequa<strong>do</strong> à nova<br />

realidade e quase todas as moradias,<br />

além, das primeiras colheitas.<br />

Trabalhavam rápi<strong>do</strong>. Thorc, Zur-<br />

Kwa e Hamour, transformaram alguns<br />

daqueles veículos espaciais, em<br />

verdadeiros tratores, semea<strong>do</strong>ras e<br />

colheitadeiras. Um motor RAN, já há<br />

muito desativa<strong>do</strong>, foi remonta<strong>do</strong> e<br />

adapta<strong>do</strong> em torres capta<strong>do</strong>ras de<br />

energia para o fornecimento de<br />

eletricidade. Fontes energéticas para<br />

as várias aldeias já formadas.<br />

As noites tinham um aspecto<br />

romântico, favoreci<strong>do</strong> pelas duas<br />

pequenas luas, mas muito brilhantes<br />

num céu estrela<strong>do</strong>.<br />

Então, nasceu o primeiro<br />

Kalerusiano.<br />

313


Capitulo VI<br />

Os nativos de Kálerus<br />

espreitavam àquela movimentação,<br />

curiosos e temerosos, em seus<br />

esconderijos naturais – florestas e cavernas<br />

– nas regiões rochosas, e montanhas. Eram<br />

criaturas primitivas, peludas, que não<br />

falavam, grunhiam. Eram nômades e<br />

viviam em grupos, e, cada grupo com seu<br />

líder. Cada macho possuía quantas fêmeas<br />

pudesse defender, entretanto, indiferente<br />

quanto ao líder. Este possuía a todas, mas<br />

não tinha suas próprias, e permanecia<br />

assim até que algum pretendente ao trono<br />

o derrotasse. Toda a primavera, esta luta<br />

de morte acontecia e o derrota<strong>do</strong> era<br />

devora<strong>do</strong> pela pequena comunidade. Sua<br />

alimentação, além de frutas e folhas, se<br />

constituía de pequenos outros animais,<br />

principalmente no inverno, sen<strong>do</strong><br />

caça<strong>do</strong>res, os machos. Estes comiam<br />

primeiro, depois, a vez <strong>do</strong>s filhotes e por<br />

último as fêmeas que brigavam entre si,<br />

pelas sobras. Mas a caça era abundante e<br />

314


aramente elas ficavam sem ter o que<br />

comer.<br />

Eram comuns as batalhas entre<br />

os pequenos grupos. Os venci<strong>do</strong>s eram<br />

também comi<strong>do</strong>s, inclusive os<br />

sobreviventes. Aqueles que conseguiam<br />

fugir escondiam-se em árvores, tocas,<br />

cavernas ou qualquer outro lugar que lhes<br />

oferecesse segurança, até que fossem<br />

descobertos. Então eram devora<strong>do</strong>s por<br />

outros animais, ou seus próprios<br />

semelhantes. Não eram aceitos em outros<br />

grupos. Pelo menos, não, os machos.<br />

A chegada de outros seres<br />

mu<strong>do</strong>u um pouco as coisas por lá,<br />

aproximan<strong>do</strong> alguns grupos entre si.<br />

Talvez isto salvasse um ou outro refugia<strong>do</strong>.<br />

Era interessante, curioso, olhar para<br />

aquelas luzes estranhas, à noite e durante<br />

o dia, aquelas coisas que andavam pelo<br />

solo, com criaturas dentro. Outras que<br />

voavam como pássaros, muito luminosas e<br />

o mais interessante, coisas que possuíam<br />

longos braços, levantan<strong>do</strong> outras e rugiam<br />

fortemente. Quan<strong>do</strong> passavam por perto, o<br />

chão tremia e parecia um trovão, fazen<strong>do</strong>-<br />

315


os acomodarem-se nas cavernas à espera<br />

da chuva. Tu<strong>do</strong> era por demais estranho.<br />

Não podiam compreender o que era.<br />

Apenas sentiam me<strong>do</strong>.<br />

Os visitantes mantinham-se<br />

ocupa<strong>do</strong>s em suas realizações. A primeira<br />

colônia a se organizar, teve seu nome<br />

inspira<strong>do</strong> na antiga Mirviam, depois se<br />

seguiram Vlaupora, Pakeus e Krópitus, o<br />

que os deixava à vontade. Era como se<br />

estivessem no velho e sau<strong>do</strong>so Someron.<br />

Situavam-se a pouca distância entre elas,<br />

em regiões escolhidas por seus<br />

representantes, também chama<strong>do</strong>s de<br />

governa<strong>do</strong>res.<br />

Fora uma separação bastante<br />

discutida, pois a princípio, tencionavam<br />

viver to<strong>do</strong>s juntos numa só cidade.<br />

Fanna os convencera de que<br />

separa<strong>do</strong>s seria melhor. Isto traria um<br />

aspecto comunitário saudável, quanto às<br />

centralizações e polarizações, <strong>do</strong> ponto de<br />

vista, independente. Como antes, o<br />

crescimento e desenvolvimento,<br />

independente de cada cidade, criaria uma<br />

316


espécie de competição saudável, para que<br />

pudessem se orgulhar <strong>do</strong> que criavam e<br />

construíam.<br />

Assim, poderiam se visitar e ter<br />

realmente o que falar.<br />

Tal como Fanna previra, cada<br />

cidade esmerava-se em suas avenidas<br />

largas, nos “designers” de suas praças e<br />

casas, tu<strong>do</strong> já previamente sonha<strong>do</strong><br />

enquanto viajavam pelo espaço.<br />

O inverno chegava com sua cor<br />

branca e temperatura muito baixa,<br />

manten<strong>do</strong> os Somerianos, mais<br />

aconchega<strong>do</strong>s em suas moradias, onde as<br />

visitas eram comuns e motivos de grande<br />

orgulho por parte <strong>do</strong> anfitrião. As noites<br />

tornavam-se calorosas e de alegre<br />

convívio.<br />

Para os mais jovens e solteiros,<br />

fora cria<strong>do</strong>, em cada cidade, Centros de<br />

Integração, bastante semelhantes aos<br />

antigos Cassinos. Velz e Maxun eram<br />

assíduos freqüenta<strong>do</strong>res, em suas folgas,<br />

naturalmente por causa de Zuila e Zart, em<br />

317


Mirvian. Hamour e Amis, às vezes<br />

apareciam, e seu namoro, era de fato<br />

consuma<strong>do</strong> e aceito por to<strong>do</strong>s.<br />

Numa destas noites, em que<br />

haviam combina<strong>do</strong> de se encontrarem lá, a<br />

ausência de Hamour e Amis foi bastante<br />

comentada e sentida. Entretanto, Amis<br />

havia decidi<strong>do</strong> ser aquela noite especial.<br />

Hamour foi convida<strong>do</strong> a cear em sua casa<br />

e participar a Ambhórius, que lhe havia<br />

pedi<strong>do</strong> em casamento. Certamente,<br />

Ambhórius sabia de seu namoro, sem que,<br />

até então nada lhe haviam revela<strong>do</strong>. Mas,<br />

era notório e não era justo manter essa<br />

relação sem sua aprovação por mais<br />

tempo.<br />

A casa de Ambhórius, apesar de<br />

não concluída, era grande e aconchegante,<br />

com várias salas separadas por cortinas e<br />

folhagens locais, e, algumas trazidas de<br />

Someron. Era uma casa construída com<br />

pedras e forradas com madeira das<br />

florestas locais. Na sala principal, um sofá<br />

enorme, alaranja<strong>do</strong>, com muitas almofadas<br />

e outros três, espalha<strong>do</strong>s em volta de uma<br />

mesa transparente; com bujigangas<br />

318


espalhadas por cima; acolhia Hamour e<br />

Ambhórius.<br />

Os <strong>do</strong>is tiveram vários assuntos,<br />

enquanto Amis preparava o jantar. Falaram<br />

sobre fertilizantes, plantio e colheita,<br />

costumes de Goran e Someron, etc. e lá<br />

pelas tantas, passaram para a sala de<br />

jantar, ao chama<strong>do</strong> de Amis. Ela, por trás<br />

<strong>do</strong> pai, sinalizou a Hamour, discretamente,<br />

como quem diz: E daí? Já falou? Ele<br />

respondeu também em gesto discreto,<br />

menean<strong>do</strong> a cabeça, que não.<br />

Sentaram-se à mesa posta e<br />

Amis começou por servir os pratos,<br />

arrancan<strong>do</strong> elogios <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Ela lhes<br />

respondia, que não era tanto assim, suas<br />

fomes é que tornava a comida mais<br />

deliciosa. Durante alguns tempo, Hamour<br />

expunha suas idéias de construir uma<br />

pirâmide como casa, ao passo que Amis o<br />

olhava numa espécie de censura, por não<br />

entrar diretamente no assunto principal. De<br />

certa maneira, Hamour se divertia com<br />

<strong>aqui</strong>lo. Amis ficava linda quan<strong>do</strong> arqueava<br />

suas sobrancelhas e no fun<strong>do</strong>, não tinha<br />

coragem ou não sabia como iniciar a<br />

319


conversa. Então, ela mesma decidiu e<br />

entrou rachan<strong>do</strong>.<br />

- Papai, Hamour e eu,<br />

gostaríamos de aproveitar essa ceia, para<br />

que você abençoasse a nossa união.<br />

Ambhórius se engasgou com o<br />

ensopa<strong>do</strong> e teve um acesso de tosse.<br />

Hamour não sabia, exatamente, como agir<br />

naquelas circunstâncias e corou a face e<br />

as orelhas.<br />

Quan<strong>do</strong> Ambhórius parou de<br />

tossir. Ainda com a toalheta nas mãos e à<br />

boca, começou a rir, deixan<strong>do</strong>, tanto Amis,<br />

quanto Hamour, perplexos.<br />

- Desculpe Hamour. Nada com<br />

você... é que Amis arruma cada momento<br />

para falar em coisas... você sabe –<br />

gesticulava, ele, tentan<strong>do</strong> enrolar o ar.<br />

Ela continuou na carga.<br />

- Ora, eu acho esse momento tão<br />

bom, quanto qualquer outro... e sei o<br />

quanto você aprecia momentos como esse,<br />

entre família...<br />

- Sossegue filha. Vamos deixar<br />

Hamour falar um pouco. Por enquanto só<br />

você quer e fala...<br />

320


Hamour, diante da situação,<br />

continuava vermelho, to<strong>do</strong> embaraça<strong>do</strong>,<br />

sem saber se ria ou saia corren<strong>do</strong> dali.<br />

Respirou fun<strong>do</strong> e falou:<br />

- Ambhórius, é muito difícil, para<br />

mim, expressar os meus sentimentos...<br />

- Pare aí, mesmo, meu rapaz.<br />

Você gosta ou não gosta de minha filha?<br />

- Naturalmente...<br />

- E então?<br />

- Bem, nesse caso... gostaria que<br />

você abençoasse nossa união.<br />

- Muito bem, agora já ouvi os<br />

<strong>do</strong>is...<br />

E fez uma pausa, crian<strong>do</strong><br />

suspense.<br />

-... Agora, me ouçam. Não quero<br />

jogar água fria em nossas emoções, mas<br />

vocês já pensaram nas conseqüências<br />

desse enlace?<br />

- Você quer saber se somos<br />

compatíveis para a procriação?<br />

- Sim, Hamour, não sabia muito<br />

bem, como me expressar a respeito. Você<br />

deve saber que este é um assunto delica<strong>do</strong><br />

e que nos envolve a to<strong>do</strong>s!<br />

321


- Bem, segun<strong>do</strong> o Dr.Grohalv, não<br />

há problemas. Você poderá ter netos fortes<br />

e sadios. Perfeitamente normais.<br />

- Pois muito bem. Você tem a<br />

minha benção e que Deus ilumine e<br />

consagre esta união...<br />

- Muito obrigada, papai – disse<br />

Amis pulan<strong>do</strong> euforicamente de sua<br />

cadeira em direção <strong>do</strong> pai, beijan<strong>do</strong>-lhe a<br />

face, num enorme estalo.<br />

Ambhórius, por sua vez, recebia o<br />

agradecimento de sua filha, ostentan<strong>do</strong> no<br />

semblante certo orgulho.<br />

Amis refletia pura felicidade em<br />

to<strong>do</strong> seu ser, assim como Hamour.<br />

- Isto merece um brinde – disse<br />

Ambhórius.<br />

Longe dali, devi<strong>do</strong> à aglomeração<br />

das criaturas locais, sabe-se lá por que,<br />

uma tremenda e violenta luta, se<br />

desencadeou, fazen<strong>do</strong> muitas mortes entre<br />

eles. Aqueles que continuaram no local,<br />

tinham alimentação garantida para to<strong>do</strong> o<br />

inverno. No entanto, havia um macho e<br />

uma fêmea, vivos entre os cadáveres e<br />

pedaços espalha<strong>do</strong>s. Eles,<br />

milagrosamente, foram deixa<strong>do</strong>s para trás,<br />

322


feri<strong>do</strong>s e quase mortos de tantas pauladas<br />

e pedradas. Ali permaneceram imóveis até<br />

que, por acaso, foram encontra<strong>do</strong>s por<br />

Zeuez. Este, com muito cuida<strong>do</strong> os colocou<br />

no transporte e os levou para o laboratório<br />

de Zur-Kwa, em Mirvian.<br />

Ao chegar, foi recebi<strong>do</strong> por<br />

Belzamir.<br />

- Zeuez, que bom vê-lo!<br />

- Da mesma forma, Belzamir, e<br />

como está Zur-Kwa?<br />

- Continua o mesmo – Disse, ela,<br />

sorrin<strong>do</strong> e conduzin<strong>do</strong>-o para dentro. – No<br />

momento, ministran<strong>do</strong> uma palestra sobre<br />

desenvolvimento genético das espécies.<br />

- É mesmo? Não sabia que ele<br />

<strong>do</strong>minava essa matéria!<br />

- É a sua nova “<strong>do</strong>r de cabeça”.<br />

Dele e <strong>do</strong> Dr.Grohalv.<br />

- Bem, então, acho que cheguei na<br />

hora certa – disse Zeuez, ainda para<strong>do</strong> à<br />

porta – trouxe-lhes um presentinho.<br />

- É mesmo? E o que é?<br />

- Veja por si mesma.<br />

Ela o acompanhou até o<br />

transporte.<br />

- Encontrei-os desse jeito...<br />

323


- Coitadinhos – con<strong>do</strong>eu-se, ela,<br />

num rápi<strong>do</strong> exame – estão tão<br />

machuca<strong>do</strong>s... e quase congela<strong>do</strong>s...<br />

- Deve ter havi<strong>do</strong> luta. Havia<br />

outros mortos e muitos despedaça<strong>do</strong>s... Só<br />

estes <strong>do</strong>is estavam vivos...<br />

Belzamir chamou ajuda e pouco<br />

depois estavam no ambulatório,<br />

imobiliza<strong>do</strong>s em suas macas.<br />

O acha<strong>do</strong> quebrou-lhes a rotina,<br />

principalmente para o corpo científico que<br />

a muito custo, conseguiu salvar a vida<br />

daquelas duas criaturas.<br />

Os exames revelavam coisas<br />

interessantes <strong>do</strong> ponto de vista genéticoevolutivo.<br />

Pertenciam à raça símia, com<br />

cérebro bastante evoluí<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> até<br />

mesmo pensar. Seus instintos eram<br />

aguça<strong>do</strong>s, mas não podiam articular<br />

palavras, contu<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de memória.<br />

Os testes de sangue e de líqui<strong>do</strong> retira<strong>do</strong><br />

da espinha <strong>do</strong>rsal, soma<strong>do</strong>s aos Lazers-<br />

Encéfalo trouxeram-lhes uma conclusão<br />

espantosa.<br />

324


- Não sei como – disse Zur-Kwa –<br />

mas, estes animais são idênticos aos que<br />

os nossos ancestrais diziam ser, o começo<br />

de nossa própria espécie.<br />

Foram batiza<strong>do</strong>s de Bô e Gá.<br />

A bateria de exames continuava<br />

e, Bô e Gá, já manifestavam horror, em<br />

seus pequenos olhos pretos. Toda vez que<br />

alguém de roupas brancas e compridas<br />

aparecia, gritavam, corriam e buscavam<br />

refúgio sob lençóis ou qualquer coisa que<br />

achavam. Sabiam que sentiriam <strong>do</strong>r.<br />

- Acho que deveríamos dar uma<br />

folga a eles – comentou Belzamir, para Zur-<br />

Kwa – Temos bastante elementos para<br />

estu<strong>do</strong>s... e, veja, nos seus olhinhos...<br />

tristes... Eles querem carinho! ...<br />

- Agh, Belzamir, são apenas<br />

animais!<br />

- Mas os animais também<br />

gostam de carinho... veja – disse, ela,<br />

acarician<strong>do</strong> a cabeça de Gá, e com isso,<br />

Bô juntou-se a ela, expon<strong>do</strong> sua cabeça,<br />

pedin<strong>do</strong> um afago também.<br />

325


Zur-Kwa chegou mais perto e<br />

com isso, Bô saltou para longe, mostran<strong>do</strong><br />

os dentes ameaça<strong>do</strong>res.<br />

- Viu só, Zur-Kwa? Você significa<br />

<strong>do</strong>r, para ele. Você terá que conquistar sua<br />

amizade e confiança...<br />

- Pode ser que eu vá perder o<br />

meu tempo e... bajular esses macacos!<br />

- Você estará ganhan<strong>do</strong> tempo<br />

se for amigo deles.<br />

- Pois vou lhe dizer uma coisa.<br />

Já estou farto <strong>do</strong> cheiro deles, e tu<strong>do</strong> o<br />

mais deles. Já sabemos o necessário<br />

sobre eles e no meu ver, deveriam estar<br />

junto aos seus. Lá seriam mais “felizes”<br />

você não acha?<br />

Naquela mesma tarde, Bô e Gá<br />

foram entregues à sua própria sorte, nas<br />

matas perto dali.<br />

Estranhamente, na manhã<br />

seguinte, estavam de volta e faziam muitos<br />

sinais e grunhi<strong>do</strong>s histéricos. Tão logo<br />

Belzamir abriu a porta <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

laboratório, eles entraram dan<strong>do</strong><br />

cambalhotas e demonstran<strong>do</strong> certo<br />

contentamento. Belzamir, que os havia<br />

trata<strong>do</strong> anteriormente, tratou de estudar<br />

326


aqueles sinais. Zur-Kwa curioso,<br />

perguntou-lhe?<br />

- O que eles estão dizen<strong>do</strong>? – sua<br />

voz era desdenhosa.<br />

- Acho que é mais-ou-menos:<br />

“Não queremos ficar lá. Seremos mortos e<br />

devora<strong>do</strong>s pelos outros. Gostamos mais<br />

d<strong>aqui</strong>...”.<br />

Ao dizer isto, Belzamir e Zur-Kwa<br />

se surpreenderam com a reação de Bô,<br />

que saltou no colo de Belzamir, agarran<strong>do</strong>se<br />

a ela como se num abraço afetuoso.<br />

- Acho que é isso mesmo,<br />

Belzamir. Eles querem ficar <strong>aqui</strong>!! E já que<br />

é assim, vamos estudar seus<br />

comportamentos.<br />

Um alojamento especial foi<br />

providencia<strong>do</strong>, com câmaras e microfones,<br />

onde Bô e Gá foram morar.<br />

Naquela noite, após um dia de<br />

muito trabalho, Zur-Kwa demorou bastante<br />

para conciliar o sono. Estava ten<strong>do</strong> outra<br />

“<strong>do</strong>r-de-cabeça”, e, desta vez das grandes.<br />

Pulou de sua cama antes <strong>do</strong><br />

amanhecer, rebuscou alguns rabiscos<br />

feitos antes de <strong>do</strong>rmir, acrescentou-lhes<br />

327


novos da<strong>do</strong>s e fórmulas. Estas fórmulas<br />

haviam si<strong>do</strong> amplamente discutidas e<br />

estudadas com o Dr.Grohalv. Ah, o<br />

Dr.Grohalv – pensou em voz alta ao passálas<br />

para as anotações – Que falta ele me<br />

faz agora. Bem que o hospital podia ter<br />

si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> e não em<br />

Krópitus!!Mas ainda tenho Belzamir... e por<br />

falar nisso... – Ele, largou suas anotações e<br />

tratou de armar o cenário.<br />

Era obvio que ela iria se opor<br />

àquela idéia, como pessoa comum, mas<br />

como cientista e ótima pesquisa<strong>do</strong>ra, a<br />

curiosidade e o espírito científico,<br />

prevaleceriam. Então, decidi<strong>do</strong>, apanhou o<br />

Intercon e a chamou.<br />

Em movimentos rápi<strong>do</strong>s,<br />

organizou a bagunça em cima das mesas –<br />

normalmente ela brigava muito com ele,<br />

quanto à desordem e isto acontecia to<strong>do</strong>s<br />

os dias-. Desta vez não queria desvios<br />

desnecessários. Vestiu um jaleco limpo.<br />

A campainha soou – Deve ser<br />

ela, pensou – e deu uma última olhada em<br />

328


sua volta. Sorriu consigo mesmo. O<br />

laboratório estava um brinco.<br />

A campainha soou novamente.<br />

- Já vou, já vou...<br />

Ele abriu a porta,<br />

apressadamente. Lá fora, caía uma chuva<br />

fina e gelada, mais parecen<strong>do</strong> flocos<br />

miú<strong>do</strong>s de neve.<br />

- Nossa que frio... por que<br />

demorou, Zur-Kwa?<br />

- Quase não <strong>do</strong>rmi, esta noite...<br />

pensan<strong>do</strong>. Acho que pensei a noite toda.<br />

- Mas isto não é novidade.<br />

As palavras eram sarcásticas.<br />

Normalmente iniciariam uma conversa não<br />

muito amistosa. Mas desta vez, não<br />

importava. Tu<strong>do</strong> teria que sair certo,<br />

conforme havia planeja<strong>do</strong>.<br />

- Venha, sente-se <strong>aqui</strong> –<br />

apontan<strong>do</strong> para o grande divã da ante-sala<br />

– Já estou trabalhan<strong>do</strong> numa idéia...<br />

- Mas, você disse que passou a<br />

noite inteira pensan<strong>do</strong>...<br />

- Sim, sim, deixe-me explicar.<br />

Ainda estou trabalhan<strong>do</strong> nela, mas por<br />

enquanto, apenas com a cabeça. Nada<br />

efetivo, ainda.<br />

- Fala logo, Zur-Kwa!<br />

329


- Belzamir – fez uma cara de<br />

suspense.<br />

- Esta idéia é a mais<br />

revolucionária, inova<strong>do</strong>ra, nos meios<br />

científicos. Acho que sei como ajudar Bô e<br />

Gá, e os seus, se desenvolverem como<br />

raça inteligente, isto é, se meus cálculos<br />

estiverem certos.<br />

- Isto seria, sem dúvida, um<br />

grande passo... continue, acho que vou<br />

gostar <strong>do</strong> que vou ouvir!<br />

Estas eram as palavras que ele<br />

queria ouvir.<br />

- Vou deixar que você mesma,<br />

analise... pegue, olhe com atenção estes<br />

apontamentos. Os fiz esta noite!<br />

Ela concentrou-se naqueles<br />

rabiscos. A cada linha, suas sobrancelhas<br />

arqueavam mais e mais. Seus olhos<br />

percorriam àqueles trechos, incrédulos,<br />

fascina<strong>do</strong>s.<br />

- Mas isto é impossível... é<br />

loucura. Maravilhoso, mas... loucura!!!<br />

Impossível... não dará certo. Eles possuem<br />

um par de cromossomos a menos... não<br />

podemos criar monstros... não podemos,<br />

não são compatíveis...<br />

330


Podemos, sim. Podemos<br />

emprestar o par que lhes falta, com isso..<br />

- E o que é isso?<br />

- Reconstituí um pouco daquela<br />

fórmula líquida que reidratou e reviveu<br />

Hamour.<br />

- Mas quan<strong>do</strong> você fez isso?<br />

- Já faz algum tempo. O<br />

Dr.Grohalv e eu fazíamos um estu<strong>do</strong> sobre<br />

os elementos nela conti<strong>do</strong>s... é uma velha<br />

e longa história...<br />

- E onde esta fórmula entra?<br />

- Bem, na verdade boa parte de<br />

sua composição é hormonal, uma espécie<br />

de placenta e quan<strong>do</strong> Grohalv e eu<br />

estudávamos; o que ele chama de<br />

“Clonismo”; descobrimos que ela poderia<br />

simular cromossomos... é muito<br />

complica<strong>do</strong>...<br />

- Eu sei. Eu mesma participei de<br />

algumas experiências quan<strong>do</strong> Samira,<br />

mulher de Seimur não engravidava...<br />

- Exatamente, inoculamos um<br />

pouco desta fórmula nos genes, em seus<br />

óvulos e logo ela engravi<strong>do</strong>u. Era uma<br />

combinação de...<br />

- Está bem, Zur-Kwa, não se<br />

perca. Vá direto ao assunto.<br />

331


- Então, veja, não há<br />

possibilidade de erro. Pelo menos não<br />

teoricamente. Só temos que experimentar.<br />

O pequeno grande maluco tinha<br />

sempre algo escondi<strong>do</strong> na manga. Quan<strong>do</strong><br />

falava em algo, certamente já havia<br />

pensa<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong>. Em microns, ela<br />

repassou tu<strong>do</strong> de novo, mas agora, com<br />

aquela expressão de fascínio, como Zur-<br />

Kwa queria.<br />

- Está ven<strong>do</strong>? Não podemos errar.<br />

Está tu<strong>do</strong> aí.<br />

- Fanna já sabe deste projeto?<br />

- Não. É claro que não. Ele anda<br />

muito ocupa<strong>do</strong> no seu próprio projeto de<br />

construir a nova capital, Atlantis, e<br />

preten<strong>do</strong> lhe fazer uma surpresa.<br />

- Ele pode não gostar, você sabe.<br />

- Talvez, mas acho que a<br />

experiência em si, vale o risco. Pense o<br />

que isto representará para o corpo<br />

científico!! E para Fanna, ele não está<br />

sempre reclaman<strong>do</strong> a falta de mão de<br />

obra?<br />

- Mas afinal, você pretende inovar<br />

no campo científico, ou pretende criar uma<br />

raça de escravos?<br />

332


- Ora, Belzamir, você me<br />

conhece. A minha visão é puramente<br />

científica!<br />

A excitação de Zur-Kwa era<br />

contagiante.<br />

Ela parecia indecisa.<br />

- Sabe Zur-Kwa, como cientista<br />

digo sim, mas como pessoa, digo não.<br />

- Mas você, como pessoa, não<br />

gostaria de estar aliada num projeto<br />

destes? Um projeto de altíssimo nível que<br />

certamente colaborará no avanço e<br />

aperfeiçoamento das raças?<br />

Ela pensava e ele continuou:<br />

- Na semana passada, você<br />

mesma disse para os seus alunos em<br />

Mirvian; suas palavras: Devemos estar<br />

prontos, de mentes abertas, para facilitar o<br />

desenvolvimento e o crescimento das<br />

raças, etc. e etc., lembra-se?<br />

- Sim, estou lembrada, mas isto é<br />

diferente. Trata-se de “criar” uma nova<br />

raça...<br />

- Eu não vejo por estes olhos.<br />

Vejo como facilitar o desenvolvimento<br />

desta raça. Especificamente, desta raça.<br />

Provavelmente terão que continuar assim<br />

por mais de um bilhão de anos e “nós”...<br />

333


veja, eu disse “nós”, podemos abreviar isto!<br />

... Você e eu, nós, entende?<br />

- No caso de eu concordar; o que<br />

eu ainda preciso pensar; quem seriam os<br />

<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res <strong>do</strong> semem?<br />

- Nós.<br />

- Nós?<br />

- Sim. Você e eu.<br />

- Zur-Kwa, você não pode estar<br />

falan<strong>do</strong> sério...<br />

- Nunca falei tão sério em toda a<br />

minha vida. Agora pense, pense comigo...<br />

Quem mais <strong>do</strong> que nós está qualifica<strong>do</strong><br />

para a <strong>do</strong>ação? E ainda temos o fato <strong>do</strong><br />

sigilo absoluto. Isso nos torna <strong>do</strong>is, os<br />

escolhi<strong>do</strong>s. Belzamir, nós precisamos<br />

fazer... nós temos, devemos fazer. Este é<br />

um passo definitivo para o avanço da<br />

ciência genética.<br />

Ela pensava consigo mesma, “ele,<br />

certamente, passou muito tempo no<br />

espaço e o contato com o novo mun<strong>do</strong>,<br />

deve ter mexi<strong>do</strong> com sua cabeça” – mas a<br />

coisa toda era simplesmente brilhante,<br />

genial...<br />

- Está certo, mas com uma<br />

condição.<br />

- Sim, o que você quiser.<br />

334


- Fanna deverá aprovar este<br />

projeto.<br />

Ele pareceu levar uma paulada na<br />

testa.<br />

- Mas isto é impossível. Ele jamais<br />

concordará. Ele não pensa como nós<br />

cientistas, e além <strong>do</strong> mais, está muito<br />

ocupa<strong>do</strong> com Atlantis, não teria condições<br />

de pensar melhor, mesmo que quisesse.<br />

Era evidente o abatimento <strong>do</strong><br />

mestre, que, caminhava de um la<strong>do</strong> para<br />

outro, gesticulan<strong>do</strong> bastante, quase<br />

arrancan<strong>do</strong> seus próprios cabelos.<br />

- Você não percebe que estamos<br />

diante de um fato inédito? Estamos prestes<br />

a criar uma nova raça, que como disse<br />

antes, levaria, pelo menos, um bilhão de<br />

anos para chegar ao estágio que podemos<br />

abreviar agora! ... Podemos lhes dar<br />

inteligência, com todas as propriedades<br />

necessárias para se desenvolverem e se<br />

multiplicarem com dignidade. O que eles<br />

são agora? São inferiores. Só sabem<br />

copular e matam-se uns aos outros. Nós<br />

temos o conhecimento, a tecnologia e a<br />

oportunidade para propiciar-lhes a virtual<br />

capacidade de, eles próprios, buscarem<br />

sua própria purificação. E você, você<br />

335


despreza tu<strong>do</strong> isto, porque pensa baixo<br />

demais. Ora, Belzamir, pense... pense bem<br />

no que uma coisa destas representa para a<br />

ciência. Seja sensata. Olhe para frente.<br />

Não seja fraca a esta realização, que só<br />

nós... só nós <strong>do</strong>is poderemos finalizar em<br />

êxito! ...<br />

- Está bem, Zur-Kwa, está bem.<br />

Você me convenceu. Aliás, se eu não<br />

concordar, você vai levar um bilhão de<br />

anos falan<strong>do</strong> e eu estou com um pouco de<br />

pressa. Tenho uma sala cheia de pessoas<br />

me esperan<strong>do</strong> e preciso recompor as<br />

idéias.<br />

- Mas recompor o que?<br />

- Ora, você esta brincan<strong>do</strong> de “ser<br />

Deus” e eu preciso me recompor. Esta foi<br />

demais para mim! E quan<strong>do</strong> você pretende<br />

iniciar?<br />

- Eu já comecei, só falta você.<br />

Quan<strong>do</strong> você pode?<br />

- Talvez, hoje à tarde, depois das<br />

aulas. Está bem?<br />

- Muito bem, menina. Gostei de ver,<br />

Sim, começaremos hoje. Vá para suas<br />

aulas, enquanto isso farei os preparativos.<br />

- Vá com calma, não se apresse.<br />

Temos a vida toda pela frente.<br />

336


Mas ele, como sempre,<br />

demonstrava sua impaciência. Parecia<br />

uma criança com seu brinque<strong>do</strong> novo e<br />

com olhos brilhan<strong>do</strong> por suas travessuras.<br />

O planejamento e construção de<br />

Atlantis, a nova capital, ocupavam<br />

inteiramente o tempo de Fanna e<br />

consequentemente, absorvia sua total<br />

atenção. Ele, Zuila e outros assistentes,<br />

trabalhavam num balcão improvisa<strong>do</strong>,<br />

conten<strong>do</strong> nele, tão somente os apetrechos<br />

para o desempenho das tarefas e os<br />

Telecons para manter contato com Tutkan,<br />

na Kosmos, em órbita.<br />

Ambhórius, ainda o porta-voz <strong>do</strong><br />

Conselho, fez-lhe uma visita.<br />

Ao chegar, encontro-o perdi<strong>do</strong><br />

numa montanha de papéis, pertinentes às<br />

obras da nova cidade.<br />

- Posso entrar?<br />

- Ambhórius, meu velho! Que<br />

surpresa agradável!! Entre, entre e<br />

acomode-se. Desculpe-me pela falta de<br />

maior conforto.<br />

337


- Você sempre enrola<strong>do</strong> em papeis,<br />

hein? – disse Ambhórius trazen<strong>do</strong> uma<br />

cadeira para perto da enorme prancheta,<br />

onde o líder matutava.<br />

- Parece mentira, mas quanto mais<br />

eu trabalho, mais trabalho aparece – disse<br />

Fanna, sain<strong>do</strong> de trás da papelada e<br />

juntan<strong>do</strong>-se ao amigo – E você? Está com<br />

boa aparência... Krópitus está lhe fazen<strong>do</strong><br />

bem! ...<br />

- Krópitus está maravilhosa. Já faz<br />

algum tempo que você não nos honra com<br />

sua visita.<br />

- Ah, meu velho, como você vê,<br />

estou atulha<strong>do</strong> de coisas e além <strong>do</strong> mais –<br />

e olhan<strong>do</strong> em direção de Zuila que trazia<br />

outra pilha de folhas – preciso apressar as<br />

coisas por <strong>aqui</strong>. Logo, logo, ficarei sem a<br />

minha secretária favorita.<br />

- Ora, papai – disse ela, largan<strong>do</strong> as<br />

folhas sobre a prancheta – Oi, Ambhórius!<br />

Não ligue para ele... e Amis? Ela veio com<br />

você?<br />

- Sim. A deixei na construção da<br />

pirâmide de Hamour.<br />

- Papai, você se importa se eu for<br />

até lá? Gostaria de...<br />

338


- Esta certo filha. Se eu precisar de<br />

você, ligo para lá.<br />

Ela deu um pulinho de felicidade e<br />

um beijo na face <strong>do</strong> pai, sain<strong>do</strong> toda<br />

sorridente.<br />

- Hum, o que está acontecen<strong>do</strong>?<br />

Nunca vi Zuila assim!!<br />

- Ela está aman<strong>do</strong>.<br />

- É mesmo? E quem é o<br />

felizar<strong>do</strong>?<br />

- O jovem oficial Velz.<br />

- Um belo rapaz, Erus.<br />

- Sem dúvida. Mas a que devo a<br />

visita?<br />

- Na verdade, Erus, quan<strong>do</strong><br />

soube que você planejou a casa <strong>do</strong><br />

Governo, achei interessante, a idéia.<br />

Então, conversei com o governa<strong>do</strong>r de<br />

Mirvian, Lahdecker, e pensamos em criar<br />

nas respectivas cidades, uma casa<br />

governamental, isto é, separamos as<br />

coisas. Achamos que trabalharmos em<br />

nossas próprias casas não traz ou não<br />

promove a condição exata <strong>do</strong>s cargos.<br />

- Concor<strong>do</strong>. Acho que devemos<br />

to<strong>do</strong>s, ter um centro de operações e<br />

administração. Todavia, há que se ter<br />

cuida<strong>do</strong> nisso. Você sabe o que penso<br />

339


sobre política. Graças aos nossos políticos,<br />

Someron acabou. Não quero de maneira<br />

alguma, reeditar o mesmo erro. Queremos,<br />

no entanto, uma administração pública<br />

enxuta, capaz de resolver os problemas e<br />

não criá-los. Veja, agora, no começo,<br />

temos uma população reduzida, fácil de<br />

controlar e orientar. A meu ver, não há<br />

necessidade de muitos cargos, secretária<br />

pra isto, secretária para <strong>aqui</strong>lo...<br />

- Bem, esta é a exata questão –<br />

disse Ambhórios, com um ar muito sério e<br />

retiran<strong>do</strong> de uma pasta maior, duas<br />

menores; uma vermelha e outra verde;<br />

abrin<strong>do</strong> a verde.<br />

- Olhe, segun<strong>do</strong> os meus cálculos,<br />

teremos um núcleo de operações, visan<strong>do</strong><br />

um funcionário para cada <strong>do</strong>is mil<br />

habitantes. Nossa cidade tem, hoje, oitenta<br />

e cinco mil concidadãos. Destes, quatro mil<br />

e setecentos, são crianças, com menos de<br />

dezoito anos. Isto nos levaria a quarenta<br />

servi<strong>do</strong>res públicos, distribuí<strong>do</strong>s em áreas,<br />

como transportes, saneamento básico,<br />

iluminação, escolas, hospitais, etc....<br />

- Enten<strong>do</strong>. Você está propon<strong>do</strong><br />

maior agilização nos setores. Vamos fazer<br />

o seguinte: Em dez dias, reuniremos o<br />

340


Conselho e decidiremos como fazer isto.<br />

Até lá, você mesmo se encarregará de<br />

notificar a assembléia. Façam um estu<strong>do</strong><br />

sobre a matéria e apresentem-na, na<br />

reunião.<br />

- Está certo. Agora – e puxou a<br />

pasta vermelha – tenho em mãos um<br />

problema. Recebemos, há <strong>do</strong>is dias, um<br />

bilhete anônimo... como nos velhos tempos<br />

– gracejou -... que diz estar se passan<strong>do</strong><br />

coisas estranhas no laboratório de Zur-<br />

Kwa. Mais precisamente, Lahdecker, o<br />

recebeu... veja – e o entregou para Fanna -<br />

... só menciona: coisas estranhas. Eu,<br />

pessoalmente, fui até lá e confesso que<br />

não vi nada de anormal, exceto Zur-Kwa,<br />

um pouco nervoso e Belzamir, um tanto<br />

reservada demais.<br />

- Se conheço Zur-Kwa, deve estar<br />

ten<strong>do</strong> uma de suas “<strong>do</strong>res - de- cabeça”.<br />

- Dores-de-cabeça?<br />

- É você não sabe? Esta é a frase<br />

que costuma dizer, quan<strong>do</strong> está<br />

trabalhan<strong>do</strong> em algum projeto novo e muito<br />

complica<strong>do</strong>.<br />

- Ah, sim, enten<strong>do</strong>. E o que<br />

podemos fazer para aliviar a cabeça dele?<br />

341


- Temo que nada possa ser feito,<br />

agora. D<strong>aqui</strong> a pouco, ele aparecerá com<br />

alguma coisa maluca. Você sabe. Seja o<br />

que for, deve ser importante.<br />

- E sobre as “coisas estranhas”?<br />

- Meu caro Ambhórius, Zur-Kwa<br />

sempre foi, e sempre será estranho aos<br />

olhos <strong>do</strong>s outros. Fique calmo. Até mesmo<br />

Hamour o considera um ser estranho.<br />

Inteligente, malucamente inteligente, por<br />

isso mesmo, estranho.<br />

Ambhórius deu de ombros e<br />

levantou-se para se despedir.<br />

- Bem, Erus, já está fican<strong>do</strong> tarde<br />

e tenho que buscar Amis antes que<br />

anoiteça. Ah, ia me esquecen<strong>do</strong>. Acho que<br />

teremos uma festa d<strong>aqui</strong> a alguns dias.<br />

- Festa? Quem está de<br />

aniversário?<br />

- Ninguém está de aniversário, é<br />

que Amis e Hamour estão pretenden<strong>do</strong> se<br />

unir.<br />

- Ora, mas que notícia agradável.<br />

Meus parabéns, Ambhórius, humm...<br />

- Sim!? ... Continue!<br />

- Agora entendi da pressa, da<br />

construção da pirâmide.<br />

342


Agora, Fanna tinha aquele sorriso<br />

matreiro.<br />

Ambhórius se despediu e seguiu<br />

para os seus afazeres. Precisava se<br />

comunicar com três membros <strong>do</strong> Conselho<br />

em Vlaupora. Lá, as comunicações<br />

individuais estavam sen<strong>do</strong> implantadas e<br />

mesmo, precisava conversar com<br />

Ahmenotep, o governa<strong>do</strong>r de lá.<br />

Fanna ficou pensan<strong>do</strong> – Acho que<br />

em breve teremos uma festa, por <strong>aqui</strong>,<br />

também.<br />

Hamour e Thorc ficaram muito<br />

amigos e uni<strong>do</strong>s. Thorc construira sua casa<br />

ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> lote de Hamour onde erguia sua<br />

pirâmide, na nova cidade.<br />

Perto dali, as forjas e prensas,<br />

estavam em sua fase final e o trabalho de<br />

restauração da nave de Hamour era uma<br />

questão de tempo, não dependen<strong>do</strong> mais<br />

dele.<br />

Ao la<strong>do</strong> das obras da fundição,<br />

jazia o asteróide, que mais se parecia com<br />

343


um grande pedaço de pedra, soman<strong>do</strong>-se<br />

a tantas outras, por lá espalhadas. No<br />

momento, servia de esconderijo para<br />

alguns refugia<strong>do</strong>s locais.<br />

Thorc parecia ser o irmão mais<br />

velho de Hamour. Sempre dan<strong>do</strong> palpite,<br />

em sua maioria, fura<strong>do</strong>s, mas Hamour não<br />

de importava com isto. Apreciava a<br />

companhia <strong>do</strong> maluco, que estudava os<br />

fenômenos físicos promovi<strong>do</strong>s pela<br />

aceleração Dobra e sua consequente Antimatéria.<br />

Naturalmente, estranhavam o<br />

afastamento de Zur-Kwa, mas sabiam que<br />

algo ele estava aprontan<strong>do</strong>. Em breve ele<br />

surgiria com algum projeto louco e<br />

acaba<strong>do</strong>. O baixinho era motivo de muitas<br />

especulações. Da última vez que o<br />

visitaram, estudava os Cristaltons de<br />

Hamour, sobre funções e disfunções<br />

genéticas. Tencionava descongelar e<br />

maturar alguns embriões de cães, trazi<strong>do</strong>s<br />

por Hamour, que os havia comenta<strong>do</strong>: -<br />

São ótimos companheiros. Seriam a<br />

alegria das crianças, bons amigos e<br />

guardiães.<br />

344


Vez por outra, Hamour recebia<br />

Amis e Ambhórius na casa de Thorc e<br />

quase sempre Thorc acabava a noite<br />

embriaga<strong>do</strong>, com Ambhórius, e cantan<strong>do</strong><br />

velhas canções de Someron. Havia nelas,<br />

uma ponta de saudade ou Aftahalp como<br />

preferia Amis.<br />

A primavera se anunciou com seu<br />

clima tempera<strong>do</strong> e na exuberância das<br />

cores, pássaros e borboletas multicores.<br />

Junto a ela, muitas novidades; a<br />

finalização de Atlantis, o início da<br />

reconstrução da nave de Hamour, o<br />

anuncio de seus casamentos, Hamour e<br />

Amis, Velz e Zuila, e, Maxun e Zart.<br />

O fato que chamou a atenção era<br />

o nascimento <strong>do</strong> pequeno Gui, filho de Bô<br />

e Gá. Naturalmente este fato atraiu a<br />

atenção de Fanna, Hamour, Thorc,<br />

principalmente, e serviu como um chama<strong>do</strong><br />

para o visitarem.<br />

O pequeno Gui nasceu forte e com<br />

muito apetite. Bô, o pai orgulhoso, era<br />

carinhoso com sua cria. Gá, uma<br />

345


verdadeira defensora de seu bebê.<br />

Ninguém podia chegar perto de Gui, exceto<br />

Zur-Kwa e Belzamir.<br />

Muitos curiosos queriam ver a<br />

criaturinha e tocá-lo, o que era impossível,<br />

devi<strong>do</strong> à agressividade da mãe.<br />

Ao saber disto, Hamour decidiu<br />

levar uma de suas máquinas holográficas.<br />

Encontrou Zur-Kwa mais nervoso e evasivo<br />

<strong>do</strong> que nunca. Lá pelas tantas, ainda sem<br />

entregar o presente, Hamour lhe<br />

perguntou:<br />

- O que está haven<strong>do</strong> com você?<br />

Há algo erra<strong>do</strong>?<br />

- Não, Hamour. Não há nada<br />

erra<strong>do</strong>. Talvez seja por esta agitação em<br />

torno <strong>do</strong> pequeno Gui. Bô e Gá ficam<br />

nervosos com toda essa gente.<br />

- Não seja por isso, meu amigo.<br />

Trouxe-lhe um presentinho que vai acabar<br />

com suas preocupações. Vamos ao<br />

transporte. Você vai gostar.<br />

Havia uma grande caixa<br />

aluminizada, no porta-bagagens.<br />

- O que é isso?<br />

346


- É um projetor holográfico. Trouxe<br />

um Cristalton comigo e podemos filmar os<br />

macacos e exibir seus hologramas numa<br />

jaula.<br />

- Grande idéia, Hamour. Como não<br />

pensei nisso antes?? Muito conveniente. É<br />

como eu sempre digo a cabeça não serve<br />

apenas para separar as orelhas.<br />

Imediatamente a filmagem foi feita<br />

e microns depois, a jaula era exibida ao<br />

público impaciente, no pátio <strong>do</strong> laboratório.<br />

To<strong>do</strong>s podiam ver e juravam tê-los<br />

visto ao vivo. É claro que este pequeno<br />

segre<strong>do</strong> foi manti<strong>do</strong>, para não perder a<br />

graça.<br />

De volta para Atlantis, Hamour<br />

sabia que algo mais atormentava Zur-Kwa<br />

e mais, onde estaria Belzamir? O que<br />

estaria realmente acontecen<strong>do</strong> lá? Enfim,<br />

não gostara da expressão no olhar <strong>do</strong><br />

baixinho.<br />

A reunião <strong>do</strong> Conselho postergou<br />

a visita de Fanna ao Laboratório de Zur-<br />

Kwa. Esta reunião era uma das mais<br />

347


importantes, <strong>do</strong>s últimos tempos. Todas as<br />

matérias estavam previamente<br />

“mastigadas”, só precisan<strong>do</strong> de aprovação.<br />

Gastaram cerca de quatro tempos para as<br />

decisões. Haveria eleições periódicas – de<br />

quatro em quatro anos – estabelecidas por<br />

voto direto. Cada um <strong>do</strong>s candidatos, antes<br />

de ser efetivamente candidato, teria que se<br />

submeterem os testes de avaliação<br />

psicotécnicos, cursos de administração,<br />

segun<strong>do</strong> suas áreas de atuação. Mediante<br />

a apuração de médias, nunca inferiores a<br />

oito; assim como nos conceitos gerais;<br />

para a aprovação, conferin<strong>do</strong>-lhes o direito<br />

de candidatar-se a uma vaga; a aprovação<br />

final seria a de defender suas teses. Esta<br />

oportunidade seria comum a to<strong>do</strong>s que<br />

quisessem seguir a carreira política.<br />

Naturalmente teriam que seguir fielmente a<br />

pequena Constituição, elaborada por<br />

Fanna e o Conselho, poden<strong>do</strong>, o candidato<br />

eleito perder seu mandato se em um ano,<br />

nada <strong>do</strong> que apresentou como campanha,<br />

fosse pelo menos inicia<strong>do</strong>. O risco de<br />

perder o mandato continuaria, caso<br />

houvesse insatisfação daqueles que o<br />

elegeram. Então haveria uma assembléia<br />

para o julgamento <strong>do</strong>s fatos.<br />

348


A Constituição resumia-se em:<br />

& 1 – To<strong>do</strong>s são iguais perante<br />

to<strong>do</strong>s, portanto, com os mesmos direitos e<br />

deveres.<br />

& 2 - Ninguém sofrerá<br />

interferências em sua vida privada, em<br />

to<strong>do</strong>s os seus aspectos.<br />

& 3 - A capacidade de cada um<br />

nivelará os seus limites e assim será<br />

respeita<strong>do</strong>.<br />

& 4 - O solo e o meio ambiente são<br />

integrantes na coletividade e por isso,<br />

trata<strong>do</strong>s com respeito e dignidade, como<br />

qualquer ser.<br />

& 5 - A vida é inviolável.<br />

& 6 - A cultura, o trabalho e o<br />

lazer, são comuns para to<strong>do</strong>s.<br />

& 7 - As ações contrárias serão<br />

apreciadas, julgadas e sentenciadas pelo<br />

Conselho de Justiça e afins, onde a<br />

maioria terá voz.<br />

Também foi decidi<strong>do</strong> que haveria<br />

um representante para cada <strong>do</strong>is mil<br />

habitantes e se dividiriam em setores com<br />

total autonomia de resoluções. Estas<br />

resoluções poderiam ser, ou não,<br />

contestadas em Conselho.<br />

349


Foi estabeleci<strong>do</strong> que cada cidade<br />

devesse ser auto-suficiente em suas<br />

necessidades básicas, tanto na agricultura,<br />

como, na indústria, poden<strong>do</strong> haver trocas,<br />

evitan<strong>do</strong> exclusividades. As faculdades<br />

científicas e tecnológicas ficariam na<br />

capital, promoven<strong>do</strong> a modernização e<br />

influin<strong>do</strong> diretamente nos costumes das<br />

outras cidades.<br />

O Conselho permaneceria<br />

existin<strong>do</strong>, promoven<strong>do</strong> renovação em seu<br />

quadro, por eleições. E como no<br />

Congresso, poderá haver substituições, ou<br />

pelas já citadas, por abdicância ou morte.<br />

A partir da primeira eleição, se reuniria<br />

uma vez por perío<strong>do</strong>, na capital, salvo as<br />

convocações extraordinárias.<br />

Estas decisões deixaram Erus<br />

Fanna satisfeito com seu povo.<br />

De volta para o seu galpão, agora<br />

transforma<strong>do</strong> em sua residência, foram-lhe<br />

trazi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is exemplares nativos, seda<strong>do</strong>s<br />

e presos numa pequena jaula. Estes foram<br />

apanha<strong>do</strong>s rouban<strong>do</strong> comida num<br />

armazém, perto <strong>do</strong> asteróide, pelo qual<br />

350


decidiu fazer uma visita à Zur-Kwa e levar<br />

os <strong>do</strong>is macacos para, quem sabe,<br />

estu<strong>do</strong>s.<br />

Na manhã seguinte, tão logo<br />

amanheceu, um transporte levou o líder e<br />

mais <strong>do</strong>is “hóspedes” até Zur-Kwa, que<br />

não escondeu surpresa ao vê-lo. Sim, fazia<br />

um bom tempo que não o via.<br />

- Erus, mas que prazer!!! Entre,<br />

entre, por favor. Fique à vontade, a casa é<br />

sua!<br />

- Meu caro, você anda sumi<strong>do</strong> e<br />

pensei, cá com meus botões, será que ele<br />

está ten<strong>do</strong> uma daquelas <strong>do</strong>res-decabeça?<br />

- É bem possível. É bem possível.<br />

Mas entre, por favor. Não fique aí para<strong>do</strong>!<br />

- Espere, trouxe um, não, <strong>do</strong>is<br />

presentinhos...<br />

Fanna voltou até o transporte,<br />

acompanha<strong>do</strong> por Zur-Kwa. Ao abrir a<br />

porta traseira <strong>do</strong> veicúlo, lá estavam eles,<br />

semi-paraliza<strong>do</strong>s, com seus olhos<br />

interrogativos e agarra<strong>do</strong>s um ao outro.<br />

- Ora, ora... são <strong>do</strong>is belos<br />

espécimes. Como os conseguiu?<br />

351


- Foram apanha<strong>do</strong>s rouban<strong>do</strong><br />

comida.<br />

- Humm... que safadinhos, hein?<br />

Dois auxiliares levaram a jaula<br />

para os fun<strong>do</strong>s e Fanna ao voltar com Zur-<br />

Kwa, antes de entrar à porta da ante-sala,<br />

comentou zombeteiramente:<br />

- Não se parece com alguém que<br />

você conhece?<br />

- Sim, com Bô, Gá e Gui...<br />

- Não. Não estes. Olhe bem para<br />

os olhos e os pelos da cabeça...<br />

- Não entendi!?<br />

- Ora vamos, Zur-Kwa, você não<br />

tem espelho?<br />

- Ta, ta... lá vem você com as<br />

suas...<br />

- Mas não é mesmo? – Erus se<br />

divertia com o maluco – Olhe bem, os olhos<br />

e os cabelos, são idênticos...<br />

Três passos depois, estavam na<br />

ante-sala.<br />

- E então, Zur-Kwa, o que você<br />

anda esconden<strong>do</strong> da gente?<br />

- Esconden<strong>do</strong>?<br />

De repente se sentia<br />

desconcerta<strong>do</strong>.<br />

- Por que diz “esconden<strong>do</strong>”?<br />

352


- Calma. Calma... não precisa ficar<br />

nervoso.<br />

- Não estou nervoso.<br />

Mas, estava.<br />

- Bem, o que eu quero dizer é, que<br />

você não aparece mais, não se comunica.<br />

É preciso convite especial?<br />

- Acontece que tenho trabalha<strong>do</strong><br />

num projeto. Isso tem me absorvi<strong>do</strong> por<br />

inteiro.<br />

- E parece que sua assistente,<br />

também...<br />

- Ora, não ironize Erus. Aposto<br />

que andam mexerican<strong>do</strong> sobre nós, hein?<br />

- Bem, pelo menos, motivos não<br />

faltam. Vocês <strong>do</strong>is, praticamente se<br />

isolaram de to<strong>do</strong>s. Soube que Belzamir<br />

pouco aparece em casa e sai da escola,<br />

direto para cá. Você há de concordar<br />

comigo, que para as comadres, isto é um<br />

prato cheio!<br />

- Talvez você tenha razão. Vou<br />

pensar nisso. Mas diga-me, como está<br />

Atlantis, a nova capital?<br />

- Vá lá e veja por si mesmo. Está<br />

linda, maravilhosa. Faz lembrar Macênia ...<br />

- Ah, Macênia... Macênia – disse,<br />

ele, sau<strong>do</strong>so – A velha capital. Há quanto<br />

353


tempo não ouço esse nome... Traz<br />

recordações de minha infância, meus pais,<br />

minha irmã, meus irmãos... Sabe Erus, às<br />

vezes sonho com minha gente... meus<br />

irmãos e eu corren<strong>do</strong> pelos campos de<br />

Macênia.<br />

- Eram grandes, aqueles tempos,<br />

hein, Zur-Kwa?<br />

- Se eram... – respondeu Zur-Kwa<br />

emociona<strong>do</strong>, com uma lágrima lhe<br />

corren<strong>do</strong> pela face.<br />

- Mas, vamos, fale-me deste<br />

projeto, tão importante assim, que nos tem<br />

priva<strong>do</strong> de sua companhia.<br />

Zur-Kwa enxugou os olhos e<br />

guar<strong>do</strong>u o lenço marron, no bolso <strong>do</strong><br />

jaleco, respirou fun<strong>do</strong> e, enfim, mais ce<strong>do</strong><br />

ou mais tarde, teria que contar para Fanna.<br />

- Erus, o projeto é incrível. Talvez<br />

o que vou te mostrar, não seja <strong>do</strong> teu<br />

inteiro agra<strong>do</strong>, mas considere isto, como<br />

interesse científico.<br />

Ao dizer estas palavras, levantouse<br />

<strong>do</strong> sofá e conduziu Fanna ao<br />

laboratório.<br />

- Eis <strong>aqui</strong> a minha “<strong>do</strong>r-decabeça”<br />

– disse o baixinho, num tom<br />

eloqüente de satisfação e orgulho.<br />

354


- Sim, mas desculpe a ignorância,<br />

mas o que é isso?<br />

À sua frente, havia, cerca de trinta<br />

balões de ensaio, hermeticamente<br />

fecha<strong>do</strong>s, conten<strong>do</strong> um líqui<strong>do</strong><br />

transparente e borbulhante, com coisas<br />

dentro, que mais pareciam sementes.<br />

Sementes grandes de feijão branco.<br />

- Você não está ven<strong>do</strong>?<br />

- Sim, estou ven<strong>do</strong>, mas não estou<br />

entenden<strong>do</strong>.<br />

- São embriões humanos.<br />

- Humanos? O que são “embriões<br />

humanos”?<br />

- É uma criação genética.<br />

Resumin<strong>do</strong>, uma mistura de criaturas<br />

assim como nós, com as que encontramos<br />

<strong>aqui</strong>, neste planeta. Uma nova raça<br />

concebida, criada e desenvolvida, <strong>aqui</strong><br />

mesmo, neste laboratório.<br />

- Zur-Kwa, você está louco?<br />

Perdeu o juízo? Você está crian<strong>do</strong><br />

monstros, criaturas, que seja lá como for<br />

não é de nossa alçada.<br />

Não convém a nós, nos metermos em<br />

coisas tão delicadas, tão... como posso<br />

dizer... divinas. Você está contrarian<strong>do</strong><br />

355


tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>lo que aprendeu com seus pais, e<br />

os pais deles, e assim por diante!!!<br />

- Espere um pouco, Erus. Não é<br />

nada disto <strong>do</strong> que está pensan<strong>do</strong>. As<br />

coisas e os seres vivos têm a tendência da<br />

evolução e purificação. Eu apenas abreviei<br />

o processo de desenvolvimento dessas<br />

criaturas, que para chegarem ao estágio da<br />

fala e a coordenação motora, em relação<br />

ao pensamento, levariam, mais-ou-menos,<br />

cerca de um bilhão de anos.<br />

Fanna coçou a barba, refletiu e<br />

caminhou em volta <strong>do</strong>s balões, olhan<strong>do</strong>-os<br />

mais de perto.<br />

- Como foi feito isso?<br />

- É um processo muito complica<strong>do</strong>,<br />

mas extraí<strong>do</strong> diretamente de semens.<br />

- Quem foram os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res?<br />

- Além <strong>do</strong>s macacos, Belzamir e<br />

eu.<br />

- Zur-Kwa, você tem que mandar<br />

examinar a sua cabeça. A sua e a de<br />

Belzamir. Não creio que vocês estejam<br />

baten<strong>do</strong> muito bem.<br />

- Erus, venha comigo. Vai mudar<br />

sua opinião sobre nós, num instante.<br />

Dizen<strong>do</strong> isto, os olhos <strong>do</strong> “louco”<br />

brilharam. Com passos miú<strong>do</strong>s,<br />

356


apressa<strong>do</strong>s e firmes, levaram os <strong>do</strong>is, por<br />

outra porta, passan<strong>do</strong> por um corre<strong>do</strong>r<br />

estreito e muito ilumina<strong>do</strong>. Chegaram a<br />

outro compartimento, onde Belzamir<br />

estava dan<strong>do</strong> mamadeira para um bebê de<br />

aspecto normal, aparentan<strong>do</strong> quatro meses<br />

de idade, pelo tamanho e peso. Tinha uma<br />

tez mais escura, de olhos amen<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s e<br />

cabelos escuros, e ralos.<br />

- Veja... ele é igual a nós. Tem<br />

duas mãos e <strong>do</strong>is pés. Ao contrário <strong>do</strong>s<br />

nativos, que tem quatro mãos e rabo.<br />

Possuem pelos só nas cabeças e não pelo<br />

corpo to<strong>do</strong>. Seus encefalogramas<br />

apresentam propriedades de memória, fala<br />

e intelecto. Talvez sejam menos<br />

inteligentes <strong>do</strong> que nós, mas poderão<br />

pensar e falar.<br />

Havia na outra extremidade <strong>do</strong><br />

quarto, mais três bercinhos apenas um,<br />

ocupa<strong>do</strong>.<br />

- E aqueles?<br />

- O <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> é uma fêmea. O que<br />

está no colo de Belzamir, é um machinho.<br />

Ele tem um dia de diferença.<br />

- E o outro berço?<br />

- Era de outra fêmea, que morreu<br />

com oito dias de vida.<br />

357


- E o que você pretende fazer com<br />

estes, se sobreviverem?<br />

- Ainda não sei bem. A idéia maior<br />

é, criá-los e estudá-los. Também me<br />

passou pela cabeça, <strong>do</strong>á-los para casais<br />

estéreis. Não sei dizer ao certo...<br />

- Você tem problemas, amigo.<br />

Dificilmente, alguém vai querer a<strong>do</strong>tá-los e<br />

se os largarmos à sua própria sorte,<br />

certamente vão encher a barriga de algum<br />

outro nativo. Como disse, você tem<br />

problemas. Estou certo de que vai tratar de<br />

solucioná-los tão bem, quanto soube criálos.<br />

Fanna estava visivelmente mais<br />

irrita<strong>do</strong> <strong>do</strong> que admira<strong>do</strong>.<br />

Belzamir permaneceu o tempo<br />

inteiro, alimentan<strong>do</strong> o machinho. Não teve<br />

coragem, se quer de olhar para o líder.<br />

- Bem, acho que já vi demais, por<br />

hoje. Mantenha-me informa<strong>do</strong> sobre essa<br />

sua “<strong>do</strong>r-de-cabeça” e já que isso é de<br />

interesse da ciência, acho que o<br />

Dr.Grohalv, deveria estar junto no estu<strong>do</strong><br />

dessas criaturas. Ele saberá ser discreto<br />

quanto ao sigilo desta operação.<br />

358


Na décima noite da primavera,<br />

deu-se a maior festa, até então realizada<br />

em Atlantis e porque não dizer, em<br />

Kálerus. Uniram-se em matrimônio,<br />

Hamour e Amis, Velz e Zuila, e, Maxun e<br />

Zart.<br />

Foi uma festa maravilhosa ao ar<br />

livre, numa noite clara, cheia de estrelas e<br />

os <strong>do</strong>is satélites, resplandecen<strong>do</strong> sua<br />

maior luminosidade. Graças aos artistas e<br />

seus instrumentos musicais exóticos,<br />

mantiveram-se num embalo sem<br />

precedentes.<br />

A cerimônia seguiu a tradição <strong>do</strong>s<br />

Somerianos. Os pais das noivas eram que<br />

abençoavam e selavam a união <strong>do</strong>s<br />

conjugues, e apadrinha<strong>do</strong>s pelos<br />

escolhi<strong>do</strong>s, que por sua vez traziam-lhes<br />

presentes de toda ordem.<br />

Tutkan nesta noite desceu da<br />

Kosmos, e apadrinhou a to<strong>do</strong>s, assim<br />

como Fanna, Ambhórius, Thorc e o<br />

Dr.Grohalv.<br />

359


Entre os convida<strong>do</strong>s especiais, os<br />

únicos que não apareceram, foram Zur-<br />

Kwa e Belzamir, que por causa disto, eram<br />

lembra<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong> o instante e xinga<strong>do</strong>s.<br />

Não muito longe dali, os nativos de<br />

Kálerus, observavam e como sempre, nada<br />

entendiam d<strong>aqui</strong>lo que viam e ouviam.<br />

Para eles, era um grande barulho que<br />

lembrava as tormentas, manten<strong>do</strong>-os<br />

abriga<strong>do</strong>s para o caso de desabar a chuva.<br />

Os filhotes e as fêmeas se sacudiam –<br />

entre grunhi<strong>do</strong>s e pulos – freneticamente,<br />

tentan<strong>do</strong> imitar os outros – lá, <strong>do</strong> grande<br />

barulho – e se divertiam, com isto. Suas<br />

caras, naquela noite, eram diferentes, pois,<br />

até conseguiam rir, ou pelo menos<br />

grunhi<strong>do</strong>s em forma de risadas. Era uma<br />

coisa diferente, gostosa. Pouco tempo<br />

depois, estavam entregues à cópula<br />

generalizada, até entre os filhotes.<br />

Antes <strong>do</strong> encerramento da festa,<br />

os casais de “pombinhos”, retiraram-se<br />

para as núpcias. Velz e Maxum, com suas<br />

companheiras, foram até o terceiro planeta,<br />

que resplandecia exuberância. Dividi<strong>do</strong> em<br />

quatro continentes e recém saí<strong>do</strong> de uma<br />

360


era glacial. Tinha um céu muito azul e<br />

mares verdes, permanecen<strong>do</strong> em geleiras<br />

tão somente seus pólos.<br />

As duas garotas foram levadas<br />

para os trópicos e encantadas com o lugar,<br />

não se cansavam de dizer:<br />

- Este é o planeta mais lin<strong>do</strong> que já<br />

vi. E tem uma lua...<br />

Nossa como é linda! Parece de prata!<br />

Deveríamos ter vin<strong>do</strong> para cá! É perfeito...<br />

igual, aquela brilhante de Someron!!!<br />

-Não se enganem com as<br />

aparências, garotas – disse Velz – Também<br />

é muito perigoso. Devemos ficar <strong>aqui</strong>, perto<br />

da praia, sempre.<br />

- Das outras vezes que <strong>aqui</strong><br />

estivemos, encontramos criaturas<br />

gigantescas e carnívoras. São<br />

ferocíssimas e rápidas. Ás vezes mal dá<br />

tempo de reagir – completou Maxun.<br />

- Além destas, existem outras<br />

menores, capazes de um bom estrago –<br />

entrou Velz – Eu mesmo fui ataca<strong>do</strong> por<br />

uma e não fosse por Maxun certamente,<br />

não estaríamos juntos, agora. Devemos<br />

manter sempre acesas as fogueiras à<br />

noite. São preda<strong>do</strong>ras de verdade.<br />

361


- Mas, ainda continuo dizen<strong>do</strong>:<br />

Este é o planeta mais lin<strong>do</strong> que já vi – disse<br />

Zuila.<br />

- Este será o planeta <strong>do</strong> futuro –<br />

disse, Zart – Se puder, venho morar <strong>aqui</strong>.<br />

- Eu também - disse Zuila,<br />

enroscada no pescoço de Velz, enquanto<br />

passeavam pela praia de areias brancas e<br />

espuma branca das águas, vez por outra,<br />

banhan<strong>do</strong>-lhes os pés.<br />

Hamour havia decora<strong>do</strong> sua<br />

pirâmide, por fora e interiores,<br />

cuida<strong>do</strong>samente, para receber Amis – que<br />

em Someronês significava: Flor <strong>do</strong> Campo<br />

-. Por dentro, havia canteiros, forman<strong>do</strong><br />

jardins suspensos, separan<strong>do</strong> os<br />

ambientes por caminhos empareda<strong>do</strong>s de<br />

flores, azuis, amarelas, vermelhas, brancas<br />

e violetas. Em sua maioria, brancas, iguais<br />

às ornamentais tecidas ao vesti<strong>do</strong> de noiva<br />

de Amis. Estes caminhos eram<br />

acarpeta<strong>do</strong>s em teci<strong>do</strong> verde aveluda<strong>do</strong> e<br />

bastante espesso. To<strong>do</strong>s os sofás eram<br />

fixos e acolchoa<strong>do</strong>s, confortáveis. Alguns<br />

com encostos apoia<strong>do</strong>s nos canteiros<br />

altos. Tu<strong>do</strong> muito lin<strong>do</strong> e ilumina<strong>do</strong> por<br />

luzes branco-azuladas, que brotavam das<br />

362


paredes laterais, poden<strong>do</strong> ser aumentadas<br />

ou diminuídas em suas intensidades. O<br />

quarto <strong>do</strong> casal ficava, exatamente, no<br />

centro da pirâmide, suspenso por colunas<br />

lapidadas em motivos Goranianos.<br />

Ela ainda não tinha visto tu<strong>do</strong><br />

termina<strong>do</strong> e quan<strong>do</strong> viu, não acreditou.<br />

Abraçou e beijou Hamour, fortemente,<br />

deslumbrantemente.<br />

- Pôxa queri<strong>do</strong>, isto não é uma<br />

pirâmide, é um palácio piramidal!!!<br />

- Como você quiser. Mas, eu tenho<br />

outra definição.<br />

- Então me diga...!?<br />

- Esta é a nossa casa.<br />

- Sim, meu amor. Esta é a nossa<br />

casa.<br />

Sete dias depois, algo começou a<br />

incomodar Hamour. Algo que não sabia o<br />

que, por isso mesmo, incomodava mais.<br />

Tentava de todas as maneiras, esconder<br />

isto de Amis. Sempre que algo não estava<br />

certo, sentia uma espécie de<br />

esquentamento à nuca e de <strong>do</strong>is dias para<br />

cá, fervia. Então Zur-Kwa apareceu,<br />

trazen<strong>do</strong> um enorme ramalhete de flores.<br />

363


Thorc apareceu quase que<br />

simultaneamente.<br />

Hamour regava seu jardim<br />

externo e espantou-se ao ver Zur-Kwa e<br />

Thorc, entran<strong>do</strong> pelo portão.<br />

- Zur-Kwa, seu ladino... Thorc...<br />

Marcaram encontro?<br />

- Como vai, Hamour? Thorc?<br />

Hamour aproveitou a ocasião para<br />

gozar o baixinho:<br />

- Escute meu caro, quan<strong>do</strong> você<br />

resolver se unir a Belzamir, nem adianta<br />

mandar convite não é mesmo, Thorc?<br />

- Sim. Nós iremos com ou sem<br />

convite e levaremos a cidade toda...<br />

Era mesmo uma gozação, menos<br />

para Zur-Kwa.<br />

- Ta, ta, mas isto não será<br />

necessário e não vai acontecer. Belzamir e<br />

eu somos apenas colegas cientistas,<br />

dedica<strong>do</strong>s ao nosso trabalho, nada mais.<br />

- Pois sim... – disse Thorc,<br />

zombeteiramente.<br />

- Os comentários que andam<br />

corren<strong>do</strong> por aí, dizem outras coisas –<br />

comentou Hamour.<br />

364


- Aposto que sim... – e viran<strong>do</strong>-se<br />

para Hamour -... sinto muito não poder ter<br />

vin<strong>do</strong> ao seu casamento, amigo. Contu<strong>do</strong>,<br />

trouxe isso para Amis. Ela está?<br />

- Não. Saiu há pouco com Walln.<br />

Foram visitar Zuila e Zart que acabaram de<br />

chegar, de sua viagem de núpcias.<br />

- Que pena! Por favor, lhe entregue<br />

estas flores e meus parabéns, a vocês<br />

<strong>do</strong>is!!<br />

- Muito obriga<strong>do</strong>, Zur-Kwa. Mas,<br />

vamos entrar.<br />

Ao se dirigirem à porta, Zur-Kwa,<br />

entre os <strong>do</strong>is, olhou para Thorc e disse:<br />

- Foi muito bom tê-lo encontra<strong>do</strong><br />

<strong>aqui</strong>, Thorc. Tenho novidades fresquinhas.<br />

- É mesmo? – os <strong>do</strong>is perguntaram<br />

em coro, olhan<strong>do</strong>-se um para o outro, com<br />

as sobrancelhas arqueadas sob um olhar<br />

sarcástico.<br />

Então entraram.<br />

- Nossa! ... O que é isto?<br />

- É a minha casa, Zur-Kwa.<br />

- Tu<strong>do</strong> isto?<br />

O baixinho tinha sua boca aberta,<br />

pasmo. Seus olhos percorriam to<strong>do</strong> o<br />

interior.<br />

365


- Hamour, que beleza de casa,<br />

digo, pirâmide!<br />

- Venham, vou mostra-lhes tu<strong>do</strong>.<br />

Thorc também não viu o restante.<br />

- Estou maravilha<strong>do</strong>!!<br />

Lá dentro, a temperatura ambiente<br />

era fresca, gostosa e clara.<br />

- Tu<strong>do</strong> o que vêem <strong>aqui</strong>, é<br />

programável, por este pequeno aparelho e<br />

tu<strong>do</strong>, alimenta<strong>do</strong> por energia solar.<br />

- Meus parabéns pelo bom gosto –<br />

disse Thorc.<br />

- E pela genialidade – completou<br />

Zur-Kwa.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, rapazes! Agora, vamos<br />

nos sentar e ouvir suas novidades, Zur-<br />

Kwa.<br />

Ao acomodaram-se às poltronas<br />

confortáveis, Hamour, como bom anfitrião,<br />

trouxe-lhes refresco gela<strong>do</strong>, de sidra,<br />

colocan<strong>do</strong> a jarra sobre a pequena mesa<br />

de centro, separan<strong>do</strong> as grandes poltronas.<br />

- Os copos estão aí, quem quiser,<br />

por favor, sirvam-se.<br />

Em microns, seus copos estavam<br />

cheios e sua<strong>do</strong>s <strong>do</strong> gelo.<br />

- E então, meu velho – disse<br />

Hamour – conte-nos tu<strong>do</strong>.<br />

366


- O assunto é sério. Muito sério.<br />

- Então, fale – disse Thorc -. Deixe<br />

de mistérios.<br />

- Já sei – entrou Hamour – Belzamir<br />

não o está mais agüentan<strong>do</strong>.<br />

- Se for isto, diga-lhe que estou<br />

<strong>aqui</strong>, a sua disposição – disse, Thorc, numa<br />

gargalhada.<br />

- Calma, calma, vocês estão<br />

alegres demais. Esperem por saber.<br />

- Está certo, Zur-Kwa, disse, Thorc<br />

– você venceu, mas se o assunto for sério<br />

demais, o que acho que é, com licença – e<br />

fez menção de se levantar, provocan<strong>do</strong> o<br />

amigo.<br />

- Não, não, fique aí... o assunto é<br />

sério, mas, interessante e, <strong>do</strong> ponto de<br />

vista científico, você vai gostar...<br />

Zur-Kwa não perdeu mais tempo<br />

e foi diretamente ao ponto. À medida que<br />

relatava suas experiências, Thorc se<br />

mostrava cada vez mais interessa<strong>do</strong> e às<br />

vezes confuso, fazen<strong>do</strong> com que aquela<br />

questão fosse repetida. Hamour nada<br />

falava e tão pouco mostrava qualquer<br />

reação. Por fim disse:<br />

367


- Eu sabia que você estava se<br />

meten<strong>do</strong> nisso, pode crer. Lembra-se de<br />

quan<strong>do</strong> o pequeno Gui nasceu?<br />

- Sim, mas não vejo ligação entre o<br />

pequeno Gui e isto.<br />

- Tem, sim. Vi, naquela ocasião, o<br />

brilho <strong>do</strong>s seus olhos, típico <strong>do</strong>s cientistas<br />

loucos, e m<strong>aqui</strong>nan<strong>do</strong> experiências<br />

proibidas. Conheço estas coisas quan<strong>do</strong> as<br />

vejo amigo. Até acho que você nem se deu<br />

conta de que não apareci mais. Pois saiba<br />

que vi o que você estava pensan<strong>do</strong> e por<br />

isto, me afastei. Não queria interferir no<br />

seu trabalho, por respeito à nossa<br />

amizade. Precisava deixar que você<br />

mesmo pensasse melhor. E tem mais,<br />

senti que você, naquela ocasião, queria a<br />

minha aprovação nesta loucura.<br />

- Até, você, me julga louco?<br />

- Mas, então, me diga o que é?<br />

- Ora, uma experiência como<br />

qualquer outra.<br />

- Não, meu caro. A vida não pode<br />

ser encarada apenas como uma<br />

experiência. A vida é a vida. É um <strong>do</strong>m de<br />

Deus e só Ele pode girar a roda <strong>do</strong><br />

aperfeiçoamento, seja genético ou<br />

espiritual, seja animal, vegetal ou mineral.<br />

368


- Até posso compreender os<br />

interesses que te levam a esta proeza –<br />

entrou Thorc -, mas acho, sinceramente,<br />

que você deveria primeiro ter consulta<strong>do</strong><br />

Erus, depois, nós e os outros cientistas.<br />

Pelo menos, já que era uma coisa só sua<br />

você devia criar apenas um e não trinta e<br />

seis novos seres.<br />

- Mas, como Fanna disse o que<br />

está feito, está feito. Gostaria de contar<br />

com a ajuda de vocês, para pensarmos no<br />

que fazer com eles. Não posso<br />

simplesmente destruí-los. São seres quase<br />

como nós. São humanos, não posso matálos.<br />

- Sabe Zur-Kwa – disse Hamour –<br />

você mexeu no TODO. Você abreviou a<br />

evolução natural das coisas. Estou certo de<br />

que você criou seres <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de<br />

inteligência, mas provavelmente, com<br />

reações animalescas. Isto os fará errantes<br />

e levarão quase o mesmo tempo para<br />

purificarem suas reações e espíritos. Você<br />

imagina um espírito atrasa<strong>do</strong> <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de<br />

mente inteligente de genética animal, feroz<br />

com to<strong>do</strong>s os seus defeitos carnais, o que<br />

pode dar isso?<br />

369


- Este seu “ser humano”, não pode<br />

dar certo – comentou Thorc.<br />

- É exatamente isso, Thorc. Não se<br />

pode alterar a natureza e principalmente,<br />

em questões como estas. Por exemplo, os<br />

clones, <strong>do</strong> Dr. Grohalv. Ele parou com suas<br />

experiências porque chegou a conclusão<br />

de que muito embora pudesse fazer uma<br />

cópia fiel de alguém, com total herança<br />

genética, quais os espíritos que habitariam<br />

aquele corpo, uma vez que não surgiu da<br />

maneira natural? Ou seja, o novo ser não<br />

passou pela experiência <strong>do</strong> nascimento e<br />

tão pouco foi concebi<strong>do</strong>, como fruto de<br />

amor ou mesmo, por desamor. Mas houve,<br />

no perío<strong>do</strong> de gestação, o que chamamos<br />

de integração cósmica, matéria e espírito.<br />

- Você nos meteu numa enrascada<br />

danada, meu velho – completou Thorc.<br />

- Sinto muito. Não tinha visto por<br />

este prisma. Mas como ficamos? Vocês me<br />

ajudam, ou não?<br />

- Está bem. Meu velho. Vamos<br />

pensar em alguma coisa. Não vamos<br />

deixá-lo na mão. O que você acha Thorc,<br />

<strong>do</strong>is dias?<br />

- Pensei que você iria sugerir três<br />

dias e três noites – gracejou, Thorc.<br />

370


- Ah, mas isto foi antes, quan<strong>do</strong><br />

precisava recarregar os sensores e o<br />

complexo energético da pirâmide de Oz.<br />

- Oz?<br />

- Sim. O nome daquele planetóide,<br />

da<strong>do</strong> por mim, é claro.<br />

- É claro – riu Thorc.<br />

- Então está certo, rapazes.<br />

Voltarei em <strong>do</strong>is dias. Vou estudar,<br />

também, o caso. Espero que ao voltar, já<br />

tenhamos uma solução... Porque, eu já<br />

pensei e pensei, e não cheguei a nada!<br />

Zur-Kwa se despediu e se foi,<br />

deixan<strong>do</strong> seus amigos com o “pepino” nas<br />

mãos.<br />

O Telecon da Kosmos chamou<br />

Tutkan, que fazia manobras e exercícios<br />

militares no espaço, órbita de Kálerus.<br />

falar.<br />

Eram, Hamour e Thorc, na linha.<br />

- Sim, Tutkan na escuta. Pode<br />

- Sabe Thorc, tem uns caras, que<br />

quan<strong>do</strong> ficam velhos demais, por absoluta<br />

falta de coordenação mental, ficam<br />

dizen<strong>do</strong>: Fulano na escuta...<br />

371


-... E ficam caducos – completou<br />

Thorc.<br />

- Ah, ah, ah!!! Muito engraça<strong>do</strong>!<br />

Quan<strong>do</strong> recebi a ligação, até pensei que<br />

fosse gente... Só ligaram pra me gozar?<br />

Os outros <strong>do</strong>is riam a beça pela<br />

“brabeza” de Tutkan.<br />

- Quan<strong>do</strong> é que você vai se dignar<br />

a descer <strong>aqui</strong>, entre nós, pobres mortais? –<br />

perguntou Hamour.<br />

- Ele, agora, é muito importante.<br />

Não tem tempo para a plebe!<br />

- Ora, Thorc, não precisa ironizar.<br />

Você sabe que <strong>aqui</strong> em cima, a coisa não<br />

é brincadeira...<br />

- É claro, a batalha contra<br />

asteróides, continua...<br />

- Está bem, vocês ligaram só para<br />

me tirar o sossego!<br />

- Precisamos falar – disse Hamour,<br />

desta feita, sério.<br />

- Nesse caso, acho que terei uma<br />

folga depois de revisar a nave e<br />

provavelmente terei de fazer algumas<br />

inspeções no equipamento defensivo, aí<br />

em baixo. Digamos, <strong>do</strong>is dias, está bem<br />

pra vocês, pobres mortais?<br />

372


- Está ótimo – disse Thorc –<br />

Estaremos a tua espera, com uma garrafa<br />

de Somir, geladinha, hein, Hamour?<br />

- Combina<strong>do</strong>. Ligue antes de sair, a<br />

gente vai te buscar no hangar <strong>do</strong> aeroporto<br />

de Atlantis.<br />

- Combina<strong>do</strong>.<br />

Velz quan<strong>do</strong> soube que seu<br />

comandante passaria alguns dias em terra,<br />

se apressou e foi ter com ele.<br />

- Comandante, posso entrar?<br />

- À vontade, Velz. O que é?<br />

- Soube que o senhor vai a<br />

Kálerus na próxima inspeção.<br />

- Tu<strong>do</strong> bem, já entendi. Você quer<br />

ir também.<br />

- Sim, comandante. Gostaria de ir,<br />

se possível.<br />

- Fale com Zeuez e veja a escala.<br />

- Já falei senhor e troquei com<br />

Ozy. Só faltava a sua aprovação.<br />

- Está certo, rapaz. Agora vá,<br />

temos que apressar as coisas.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, senhor.<br />

Tutkan pousou no Aeroporto de<br />

Atlantis, ao anoitecer e com ele, Velz e<br />

Maxun com seus March.<br />

373


No hangar, estavam Hamour,<br />

Thorc, Zuila e Zart, além <strong>do</strong> pessoal normal<br />

de serviço.<br />

No transporte de superfície, não<br />

falavam nada mais <strong>do</strong> que bobagens,<br />

fazen<strong>do</strong> piadas uns <strong>do</strong>s outros.<br />

Os rapazes e suas esposas foram<br />

noutro transporte. Combinaram de mais<br />

tarde encontrarem-se no Centro<br />

Recreativo, da capital, mas antes queriam<br />

conhecer a pirâmide.<br />

Quan<strong>do</strong> chegaram, Amis estava<br />

dan<strong>do</strong> os toques finais para o jantar, que<br />

seria o primeiro com relação às visitas.<br />

- Amis – disse Tutkan, ao vê-la –<br />

como você está linda!...<br />

Quan<strong>do</strong> se cançar desse chato, <strong>do</strong><br />

Hamour, não exite em me procurar.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Tut. Vou me lembrar.<br />

- Hei, espere um pouco, aí. Que<br />

negócio é esse de cantar minha fêmea<br />

bem na frente de meu nariz!?!<br />

- A carne é fraca, meu caro – disse,<br />

Tutkan, abraçan<strong>do</strong> Amis, se divertin<strong>do</strong><br />

muito às custas <strong>do</strong> amigo.<br />

374


Ao entrar, o comandante<br />

contemplou aquela maravilha.<br />

- Minha nossa!! Isso não é uma<br />

casa, é uma...<br />

- Pirâmide – completou Thorc.<br />

- É claro que é uma pirâmide, mas<br />

só por fora. Por dentro é um palácio, não, é<br />

um jardim, não, é... ora, sei lá o que é. Só<br />

sei que é muito bonito. Meus parabéns,<br />

que lugar!!!<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Tut.<br />

- Não há de que, Amis. Pensan<strong>do</strong><br />

bem, acho que eu preciso de um mari<strong>do</strong>,<br />

assim, igual ao seu.<br />

To<strong>do</strong>s caíram na gargalhada.<br />

Microns depois, Amis anunciava o<br />

jantar.<br />

Enquanto comiam, os elogios para<br />

os <strong>do</strong>tes culinários dela, eram enalteci<strong>do</strong>s<br />

como “arte”. Jamais comeram algo igual e<br />

com isso, surgiram comentários mal<strong>do</strong>sos,<br />

sobre o quanto Ambhórius odiava Hamour,<br />

por tê-la tira<strong>do</strong> dele.<br />

- Pelo menos vai emagrecer um<br />

pouco – gozou Thorc.<br />

Após o jantar, desceram para a<br />

sala, por uma escada estreita, onde se<br />

acomodaram confortavelmente.<br />

375


Neste mesmo instante, a<br />

campainha soou. Eram os rapazes e<br />

esposas que vieram apreciar a arquitetura<br />

de Hamour. Após os já costumeiros e<br />

rasga<strong>do</strong>s elogios, Amis, ven<strong>do</strong> que<br />

Hamour, Thorc e Tutkan tinham coisas<br />

para discutir, beijou a testa <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> e foi<br />

com a turma para o Centro Recreativo.<br />

Os três a sós, não perderam tempo,<br />

entran<strong>do</strong> no assunto, puxa<strong>do</strong> por Tutkan,<br />

que a esta altura morria de curiosidade.<br />

- Então, rapazes, quais as<br />

novidades?<br />

Thorc iniciou a narrativa das<br />

peripécias de Zur-Kwa, na exploração <strong>do</strong><br />

campo genético, tentan<strong>do</strong> repetir<br />

textualmente o que ouvira. Tutkan ouviu<br />

com toda a atenção e por fim, disse:<br />

- Acho que preciso tomar um gole.<br />

Levantou-se e foi até o barzinho e<br />

serviu-se de um, grande.<br />

- Alguém me acompanha?<br />

Mais <strong>do</strong>is copos foram servi<strong>do</strong>s.<br />

- Aquele maluco, com suas <strong>do</strong>resde-cabeça...<br />

376


- Sim, e o pior é que a trouxe para<br />

nós. Fanna foi bem claro, dizen<strong>do</strong> para ele<br />

descascar o abacaxi – disse Hamour.<br />

- É como Fanna sempre diz – entrou<br />

Thorc – Zur-Kwa resolveu descascar um<br />

abacaxi e nos deu a faca e o abacaxi.<br />

- Bem, eu não acho que isso seria<br />

uma solução, mas...<br />

- Fale, Tut – disse Thorc – acho que<br />

qualquer coisa serve de solução.<br />

- Acontece que Velz e Maxun,<br />

passaram o seu perío<strong>do</strong> de núpcias no<br />

terceiro planeta...<br />

- Mas isso é impossível – entrou<br />

Hamour – o planeta Shan está em perío<strong>do</strong><br />

glacial.<br />

- Pois parece que não está mais,<br />

Hamour. Segun<strong>do</strong> eles, é um belo planeta,<br />

mas...<br />

- Mas?<br />

Calma, Thorc deixe-me beber,<br />

primeiro...<br />

Tutkan deu um grande gole,<br />

proposital, aumentan<strong>do</strong> o suspense.<br />

- Mas, parece que existem lá,<br />

criaturas ferozes, carnívoras. Bem mais<br />

agressivas <strong>do</strong> que as que temos <strong>aqui</strong>. No<br />

377


entanto, existem lá, ótimos lugares que<br />

carecem desenvolvimento.<br />

-Deveríamos dar uma espiada<br />

neste lugar – disse Thorc.<br />

- O que você acha Hamour?<br />

- Bem, Tu<strong>do</strong> o que sei é que...<br />

bem, não importa. Acho que devemos dar<br />

uma espiada. Mas não sei se esta seria a<br />

solução, mesmo porque, afastaríamos de<br />

nós um ser que, a meu ver, é muito mais<br />

útil <strong>aqui</strong>, <strong>do</strong> que noutro planeta, não<br />

acham? Poderíamos encontrar um local<br />

adequa<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> mesmo em Kálerus, afinal,<br />

de certo mo<strong>do</strong>, ainda está deserto. Há<br />

muito lugar.<br />

- Mas, eu fiquei curioso sobre este<br />

planeta.<br />

- Thorc, eu também. Pensan<strong>do</strong><br />

melhor, talvez seja a solução.<br />

Um planeta recém saí<strong>do</strong> de um perío<strong>do</strong><br />

glacial, onde poderia receber uma nova<br />

raça e se desenvolver com ela... E quem<br />

sabe, seja esta a melhor solução. Só nos<br />

resta saber se Zur-Kwa estaria disposto a ir<br />

para lá e dar inicio num mun<strong>do</strong> novo.<br />

- Bem, se ele gostou de brincar de<br />

ser Deus, eis aí uma oportunidade para<br />

poder continuar.<br />

378


- Não seja cruel, Thorc.<br />

- Não estou sen<strong>do</strong> cruel, Tut.<br />

Apenas realista.<br />

- Quan<strong>do</strong> você acha que<br />

poderíamos dar a tal espiada, lá?<br />

- Hamour, por estes dias vou estar<br />

ocupadíssimo, na inspeção <strong>do</strong><br />

equipamento de superfície, mas espere...<br />

acho que Velz e Maxun gostariam de levar<br />

vocês, mesmo porque, eles já conhecem o<br />

planeta.<br />

- Precisamos antes, consultar Erus<br />

– entrou Thorc – e saber o que ele acha. É<br />

bem possível que ele queira ir e ver<br />

também.<br />

- Tutkan levantou-se e sugeriu que<br />

passassem o restante da noite com o<br />

pessoal no Centro Recreativo, com o qual,<br />

foi “ovaciona<strong>do</strong>” pela magnífica idéia.<br />

Na manhã seguinte, Erus Fanna<br />

ouviu atentamente a “nova solução”.<br />

- Seria uma espécie de<br />

“colonização”. Não deixa de ser uma boa<br />

idéia, mas, não gosto muito de deixar o<br />

baixinho só, e nada sabemos <strong>do</strong> lugar.<br />

Pelos Cristaltons, aquele planeta não<br />

oferece condições de vida.<br />

379


- Mas sabemos que os nossos<br />

da<strong>do</strong>s estão desatualiza<strong>do</strong>s.<br />

- A nossa alternativa, será<br />

organizar uma expedição, com o próprio<br />

Zur-Kwa. Precisamos de da<strong>do</strong>s concretos<br />

sobre o lugar. Thorc, você poderia<br />

organizar as coisas.<br />

- Você acha que poderíamos usar<br />

um Convair para a exploração?<br />

- Não sei isto é com Tut.<br />

- Posso emprestar um.<br />

- Então está decidi<strong>do</strong>. Tão logo<br />

haja condições, partiremos para o planeta<br />

Shan e ver o que existe lá.<br />

Dois dias depois, a nave Convair –<br />

de porte médio – escoltada por Velz e<br />

Maxun, levava Fanna, Zeuez, - este na<br />

capitania – Hamour, Thorc, Zur-Kwa,<br />

Belzamir e outros <strong>do</strong> (corpo científico)<br />

interessa<strong>do</strong>s.<br />

Numa primeira tomada, havia<br />

discordância total com o Cristaltons de<br />

Hamour, desde a sua climatização, ao que<br />

se referia à sua composição, tanto química,<br />

quanto física. O planeta, neste momento<br />

apresentava-se vivo, com imensas<br />

380


florestas, de fauna e flora riquíssimas,<br />

numa abundância nunca vistas. Possuía<br />

solo rochoso e arenoso e apresentan<strong>do</strong><br />

grande fertilidade. Das nascentes, brotava<br />

água límpida e leve para beber. Em<br />

algumas regiões apresentava-se uma<br />

espécie de círculo de fogo, numa série de<br />

vulcões ativos. Com a mesma intensidade<br />

e riqueza, os mares abrigavam inúmeras<br />

espécies de peixes, assim como os rios e<br />

lagos. A gravidade, acrescentada de<br />

atmosfera e campos magnéticos envoltos<br />

no planeta era totalmente favoráveis ao<br />

desenvolvimento da vida, tal como a<br />

conheciam.<br />

Zur-Kwa, assim como os demais,<br />

estavam maravilha<strong>do</strong>s com o lugar, e<br />

Hamour passou a filmar e gravar<br />

imediatamente aquela nova realidade.<br />

O alto oriente foi escolhi<strong>do</strong> para o<br />

pouso, em meio a uma enorme clareira,<br />

rodeada por uma floresta exuberante, com<br />

árvores verdadeiramente gigantescas.<br />

No primeiro dia de pesquisas e<br />

busca de amostras <strong>do</strong>s habitantes locais,<br />

381


descobriram no continente – mais para o<br />

sul – diversas tribos, constituídas por<br />

criaturas bem mais evoluídas, das que<br />

havia em Kálerus. Essas criaturas<br />

andavam eretas e se comunicavam por<br />

sinais. Apresentavam um crânio, e a testa<br />

era projetada para trás e - mais tarde, nos<br />

exames – <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de um cérebro maior,<br />

contu<strong>do</strong> pouco desenvolvi<strong>do</strong>. Foi trazi<strong>do</strong><br />

um corpo, era um símio desenvolvi<strong>do</strong> e ao<br />

que parecia, ao ser disseca<strong>do</strong>, estava a um<br />

passo da transformação tal qual Zur-Kwa<br />

chegara.<br />

- Pelo menos, <strong>aqui</strong> – disse Fanna –<br />

a diferença é menor.<br />

- Talvez, cerca de vinte a trinta mil<br />

anos – completou o próprio Zur-Kwa.<br />

Neste instante Hamour, mediante<br />

seus cálculos temporais, em frente ao<br />

Komptor, disse:<br />

- Acho que a diferença <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Cristalton para hoje, é de mais de<br />

800.000 anos.<br />

- Como você chegou a isso? –<br />

perguntou Thorc.<br />

- Pelas amostras <strong>do</strong> solo. Incrível,<br />

não?<br />

382


- Já que falamos nisso, seria<br />

possível voltar ao passa<strong>do</strong>, digo, ao tempo<br />

de seus ancestrais?<br />

- Acho que sim, mas, ainda não sei<br />

como fazer a inversão da Dobra.<br />

- Senhores – entrou Zur-Kwa – não<br />

quero interromper uma conversa de tão<br />

alto nível, mas, se me permitem, devemos<br />

concentrar nossas atenções nos estu<strong>do</strong>s<br />

de hoje...<br />

- Nossa Zur-Kwa – disse Belzamir –<br />

não sabia que você poderia se comunicar<br />

assim, tão “civilizadamente”!!<br />

- Belzamir – disse Thorc – existem<br />

uns caras que quan<strong>do</strong> ficam velhos...<br />

-... Ficam assim – completou<br />

Fanna.<br />

- Ta, ta!! – disse o baixinho,<br />

voltan<strong>do</strong> aos exames <strong>do</strong> corpo morto,<br />

encontra<strong>do</strong> por Zeuez e Velz. – Já vi que<br />

com vocês, não se pode ser educa<strong>do</strong>...<br />

Em sete dias, os exames e<br />

estu<strong>do</strong>s, pelo menos os que interessavam<br />

sobre o planeta Shan, estavam completos.<br />

Zur-Kwa mostrava-se excita<strong>do</strong> com a idéia<br />

de continuar suas experiências e<br />

383


principalmente, dentro de sua mente, se<br />

considerar o pai de uma nova raça.<br />

De volta a Kálerus, a notícia da<br />

mudança <strong>do</strong> laboratório de Zur-Kwa,<br />

chamou a atenção de vários cientistas,<br />

entre eles o Dr. Grohalv, que sabe<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong>s motivos, apresentaram-se à Fanna,<br />

interessa<strong>do</strong>s em participar <strong>do</strong> projeto.<br />

Alguns, licencia<strong>do</strong>s por Fanna, foram<br />

escolhi<strong>do</strong>s pelo baixinho “maluco” e em<br />

quinze dias, rumaram para o novo planeta,<br />

numa nave Convair, equipada com to<strong>do</strong>s<br />

os apetrechos necessários, extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

laboratório.<br />

Mudaram-se para o planeta Shan,<br />

Zur-Kwa, Belzamir e cinco cientistas, mais<br />

um grupo de engenheiros, além <strong>do</strong> pessoal<br />

de bor<strong>do</strong>, técnicos em escavações e outras<br />

funções. Eram vinte e um ao to<strong>do</strong>.<br />

Dois anos se passaram como um<br />

piscar de olhos. Kálerus vivia ótimos<br />

momentos.<br />

Atlantis, como previra Fanna, com<br />

suas faculdades, trazia constantes<br />

384


modificações e avanços, influin<strong>do</strong><br />

diretamente nas outras cidades.<br />

A nave de Hamour, tinha uma<br />

fuselagem totalmente fundida e<br />

transportada para o hangar da Kosmos,<br />

para a iniciação de sua montagem final.<br />

Esta nave em particular, era bem diferente<br />

<strong>do</strong>s moldes conheci<strong>do</strong>s. Era totalmente<br />

circular, com muitas cavidades em sua<br />

volta, no plano inferior e superior. Apesar<br />

disto, não apresentava janelas, aparentes.<br />

Era como se fosse um monobloco, sem<br />

emendas.<br />

Então...<br />

- Kosmos, <strong>aqui</strong> é Zag-um ...<br />

Kosmos. Aqui é zag-um ...<br />

- Pode falar Zag-um, Kosmos na<br />

escuta.<br />

- Senhor, tem visitas. Estamos<br />

detectan<strong>do</strong> grande massa, a trinta Macrons<br />

e aproximan<strong>do</strong>-se depressa.<br />

Klemps ativou o Intercon e chamou<br />

o comandante.<br />

- Sinto incomodá-lo, senhor, mas<br />

precisamos <strong>do</strong> senhor <strong>aqui</strong> na ponte com<br />

urgência.<br />

385


- Tu<strong>do</strong> bem, já estou a caminho –<br />

foi o que Tutkan respondeu, vestin<strong>do</strong>-se<br />

rapidamente.<br />

Ao chegar à ponte, foi informa<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s novos acontecimentos e<br />

imediatamente passou as ordens.<br />

- Atenção, <strong>aqui</strong> fala o seu<br />

comandante. To<strong>do</strong>s a seus postos. Rápi<strong>do</strong>,<br />

acelera<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s a seus postos,<br />

acelera<strong>do</strong>. Isto não é um exercício. Repito<br />

isto não é um exercício. Estamos em frente<br />

real.<br />

Nunca houve tamanha agitação<br />

dentro da Kosmos. Era uma correria cheia<br />

de excitação e ansiedade, e, talvez, me<strong>do</strong>.<br />

- Zag-um, Kosmos chaman<strong>do</strong>...<br />

- Pois não, comandante.<br />

- Onde vocês estão o Telak não<br />

acusa a presença de vocês.<br />

- Correto, senhor. Passamos pelo<br />

portão estelar três, em vinte microns e a<br />

oitenta e <strong>do</strong>is macrons daí. Nossos<br />

sensores indicam que fomos monitora<strong>do</strong>s,<br />

mas agora, estamos fora de alcance.<br />

Estamos em um ponto três marca luz.<br />

- Muito bem, Velz e quem está com<br />

você?<br />

386


- Eu, senhor – entrou Maxun – e<br />

ativei o sensor Kramset E-12. Em dez<br />

Macrons, estaremos em sua tela, posição<br />

onze horas.<br />

- Perfeito, agora façam o seguinte:<br />

Ao entrarem em tangente cinqüenta,<br />

fiquem aí. Segue ajuda.<br />

- Está certo, senhor.<br />

Tão logo se passaram os dez<br />

Macrons, as duas naves foram acusadas<br />

na tela <strong>do</strong> Telak e em constante<br />

aproximação. Distância de setenta e <strong>do</strong>is<br />

Macrons.<br />

- Klemps, notifique Fanna para que<br />

prepare defesa na superfície, podemos<br />

precisar dela – e ativan<strong>do</strong> o Intercon –<br />

Zeuez, envie, já, três pares Zag, em auxílio<br />

de Velz e Maxun. Que estejam arma<strong>do</strong>s.<br />

- Serão lança<strong>do</strong>s agora mesmo,<br />

senhor.<br />

As três esquadrilhas partiram.<br />

- Hamour – disse Fanna, pelo<br />

Intercon – Precisamos de você e agora.<br />

Temos visitas lá em cima.<br />

- Está bem, Erus. Já estou in<strong>do</strong>.<br />

387


Amis estava assustada ao ver<br />

Hamour agita<strong>do</strong>, organizan<strong>do</strong> suas coisas<br />

após a ligação de Fanna.<br />

- Problemas?<br />

- Acho que sim, querida.<br />

Ela o beijou longamente antes dele<br />

sair.<br />

- Está tu<strong>do</strong> bem com você?<br />

- Sim, meu bem. Estou bem.<br />

Ligarei para você mais tarde.<br />

Ele saiu corren<strong>do</strong> até o transporte e<br />

ao entrar, ela gritou:<br />

- Cuide bem de nós, queri<strong>do</strong>.<br />

Hamour partiu de sua pirâmide,<br />

com a maior pressa até o edifício de<br />

administração de Atlantis. Ele, mais <strong>do</strong> que<br />

ninguém, tinha a consciência <strong>do</strong>s fatos que<br />

estavam por acontecer. Não demoraria<br />

muito para Ahdack aparecer com seus<br />

Mobis e o seu “pesadelo”. Já o conhecia<br />

bem, pois há muito, haviam combati<strong>do</strong><br />

entre si.<br />

Logo agora, este chato vem nos<br />

tirar o sono – disse, no caminho, para o<br />

centro administrativo.<br />

388


Sua pequena nave pousou no pátio<br />

de estacionamento <strong>do</strong> prédio. Hamour não<br />

esperou o eleva<strong>do</strong>r e subiu as escadas<br />

pulan<strong>do</strong> os degraus de três em três, até o<br />

compartimento superior, onde encontrou<br />

Fanna, no Telecon, falan<strong>do</strong> com Tutkan.<br />

- Entre, Hamour e se acomode.<br />

Tut, Hamour chegou, quer falar com ele?<br />

- Sim, ponha-o na linha.<br />

Enquanto isso, Hamour ativava o<br />

outro Telak.<br />

- Hamour, você já sabe e o que<br />

acha?<br />

- Bem, pelo menos estão longe e<br />

sabemos onde estão. A esta altura, já<br />

devem nos ter monitora<strong>do</strong> e isso é mau...<br />

- Você acha que eles virão com<br />

tu<strong>do</strong>?<br />

- Não. Tentarão transmitir qualquer<br />

coisa, dan<strong>do</strong> demonstração de amizade,<br />

ou coisa <strong>do</strong> gênero. Ahdack nunca ataca,<br />

sem antes, verificar a força <strong>do</strong> inimigo.<br />

- Você tem certeza de que é ele?<br />

- Sim, tenho. Veja você mesmo, a<br />

formação <strong>do</strong> Telak...<br />

- Sim, o que há com ela?<br />

- Existe uma massa esférica no<br />

centro, que deve ser uma Base, com cinco<br />

389


pontos, em formação pentagonal, com<br />

cerca de cento e cinqüenta centons de<br />

distância, no máximo.<br />

- Sim, você acaba de descrever o<br />

que vejo.<br />

- Então, não há dúvidas. Acho que<br />

devemos nos preparar para o pior.<br />

- Diga-me, a que distância, está<br />

exatamente?<br />

- Não os tenho no Telak, apenas a<br />

monitoração <strong>do</strong>s March, que fazem a<br />

espera na tangente cinqüenta.<br />

- Acho melhor tirá-los daí e<br />

escondê-los, inclusive a Kosmos. Ainda<br />

temos aquele cargueiro Mir, equipa<strong>do</strong>s<br />

com armas antigas?<br />

- Aquele ferro-velho?<br />

- Sim.<br />

- Ele está <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> planeta,<br />

monitoran<strong>do</strong> de lá.<br />

- Então, coloque-o no seu lugar e<br />

escondam-se atrás das luas. Não podemos<br />

deixar que saibam <strong>do</strong> nosso poder de fogo.<br />

- Positivo. Já havia me precavi<strong>do</strong><br />

neste senti<strong>do</strong>. Estamos invisíveis, ativei os<br />

escu<strong>do</strong>s.<br />

390


- Ótimo, mas, não confie muito.<br />

Saia daí e faça o que lhe disse. Mais uma<br />

coisa, você man<strong>do</strong>u alguém à espera dele?<br />

- Sim, três esquadrilhas Zag.<br />

- Tire-as de lá. Não interceptem.<br />

- Tutkan – entrou Fanna – como está<br />

o pessoal, aí em cima?<br />

- Por enquanto, estão bem. Um<br />

pouco nervosos, talvez.<br />

- Não vamos nos preocupar<br />

demais, por enquanto. Ahdack não nos<br />

fará nada, sem primeiro nos visitar. Outra<br />

coisa, ele não deve saber que eu estou<br />

<strong>aqui</strong>. Não podemos dar a ele, esta<br />

vantagem, pois já nos conhecemos e nos<br />

enfrentamos. Sei todas as suas táticas e<br />

como opera em suas manobras.<br />

- Fique tranqüilo, amigo. Ele não<br />

saberá.<br />

- Tut, Hamour e eu vamos traçar<br />

alguns planos de ação, <strong>aqui</strong> em baixo e<br />

logo entraremos em contato com você.<br />

- Mais uma coisa – entrou Hamour –<br />

no caso de você ser monitora<strong>do</strong>, o que é<br />

bem possível apesar <strong>do</strong>s escu<strong>do</strong>s, inverta<br />

a polaridade <strong>do</strong>s seqüenciais, vetor um,<br />

para que os sensores dele possam<br />

detectar nada mais <strong>do</strong> que um laboratório e<br />

391


instrumentos de navegação espacial<br />

ultrapassa<strong>do</strong>s. Ele deve se sentir seguro,<br />

superior em sua tecnologia. Passe a<br />

informação para os que estão fora.<br />

- Já entendi aonde você quer<br />

chegar. Deixe que venha. Vamos armar a<br />

ratoeira.<br />

O Telecon foi desativa<strong>do</strong>.<br />

Imediatamente os planos de ação<br />

começaram a ser elabora<strong>do</strong>s, enquanto<br />

Tutkan armava a sua camuflagem, as<br />

defesas de superfície de Kálerus, foram<br />

acionadas e devidamente disfarçadas,<br />

esconden<strong>do</strong> por inversão de polarização,<br />

os canhões Protton.<br />

- Erus, - disse Hamour – não<br />

devemos subestimar o poder de Ahdack.<br />

Aquela Base, é uma verdadeira fortaleza,<br />

como já vimos e pode ter sofri<strong>do</strong><br />

melhoramentos, além <strong>do</strong> que, os módulos<br />

de ataque são bastante rápi<strong>do</strong>s e<br />

numerosos.<br />

- Continue Hamour, aonde você<br />

quer chegar?<br />

- Pois bem, aqueles Mobis, além de<br />

rápi<strong>do</strong>s e numerosos, são programa<strong>do</strong>s<br />

392


para batalha, coisa que nosso povo, não<br />

é...<br />

- Ora, Hamour, vá direto ao ponto.<br />

- Isto significa que, no caso de<br />

batermos em retirada, será o fim, para nós.<br />

- O quer dizer com: bater em<br />

retirada?<br />

- Se ele perceber que a Kosmos<br />

não é o que se faz ser, ele a pegará como<br />

uma pata choca, num piscar de olhos. E os<br />

raios Fratton, são implacáveis, assim como<br />

o próprio Ahdack.<br />

- Mas os vetores inverti<strong>do</strong>s? E<br />

toda essa camuflagem <strong>aqui</strong> em baixo, além<br />

de que não sabe de você, isto não nos dá<br />

uma chance?<br />

- Sim, mas acontece que Ahdack<br />

não é nada tolo. Segun<strong>do</strong> um de seus<br />

lemas, ninguém está totalmente indefeso e<br />

por pior que seja, temos tecnologia<br />

suficiente para colocar coisas no espaço.<br />

Isto, provavelmente o fará pensar duas<br />

vezes, quan<strong>do</strong> nos visitar e não encontrar<br />

nada.<br />

- Você acha que ele vai desconfiar<br />

de nós?<br />

- Tenho certeza de que vai. Se ele<br />

não vê nada, é porque, ou não temos, ou<br />

393


estamos bem equipa<strong>do</strong>s, a ponto de<br />

esconder de seus instrumentos, uma<br />

tecnologia avançada.<br />

- Quer dizer então, que se<br />

corrermos o bicho pega e se ficarmos o<br />

bicho come!<br />

- É bem isso, meu caro. Temos que<br />

pensar com carinho nisto tu<strong>do</strong>. Nossas<br />

vidas estão em jogo.<br />

- Na mesa de Fanna, muitos<br />

rabiscos feitos em diversas folhas, se<br />

acumulavam. Um deles continha a<br />

formação da esquadra inimiga, além <strong>do</strong><br />

esquema da grande esfera.<br />

- Em caso de batalha – disse<br />

Hamour, apontan<strong>do</strong> para um <strong>do</strong>s rabiscos -<br />

, o que vai acontecer mais ce<strong>do</strong>, ou mais<br />

tarde, tentaremos invadir o núcleo da Base.<br />

- Como?<br />

- Estou pensan<strong>do</strong>. Se<br />

conseguirmos destruir seus Teleméricos<br />

Exométricos... sem eles, não há coman<strong>do</strong>,<br />

e sem coman<strong>do</strong>, os Mobis não sabem o<br />

que fazer... humm... neste caso, não<br />

vamos deixar para depois o que devemos<br />

fazer já.<br />

- O quer dizer com isto? Não está<br />

pensan<strong>do</strong> em atacar, está?<br />

394


plano.<br />

- Mais ou menos isto. Ouça o<br />

Em exatamente setenta Macrons<br />

dali, uma grande nave esférica, <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>r Ahdack, monitorava o planeta e<br />

sua pequena nave órbita, acompanhada de<br />

oito minúsculas naves armadas, em sua<br />

retaguarda. Seus Telaks analisavam com<br />

precisão, tu<strong>do</strong>, desde os tripulantes até os<br />

instrumentos de bor<strong>do</strong>.<br />

Subitamente, as oito minúsculas<br />

naves, vieram em sua direção.<br />

- Naves se aproximan<strong>do</strong>. Naves se<br />

aproximan<strong>do</strong>. Cinqüenta e cinco Macrons e<br />

se aproximan<strong>do</strong> – dizia uma voz metálica,<br />

sem entonação nem dinâmica, apenas<br />

estridente.<br />

Numa enorme sala, com cinco<br />

paredes em forma pentagonal, <strong>do</strong>tadas<br />

com inúmeros consoles e vasta<br />

instrumentação espacial – haven<strong>do</strong>, numa<br />

das paredes uma tela <strong>do</strong> seu tamanho,<br />

completamente diagramada, muitos seres<br />

estranhos trabalhavam em observações e<br />

operações. No centro, num plano mais<br />

395


eleva<strong>do</strong>, uma figura toda de negro, sentada<br />

numa poltrona, (que mais parecia um trono<br />

real) rodea<strong>do</strong> de outros consoles, emitiu a<br />

seguinte ordem:<br />

- Não interceptar. Deixem se<br />

aproximar. Ativar comunica<strong>do</strong>r com<br />

tradutor Universal Sansur; freqüência Zeta.<br />

Ativar Telak. Exométricos planetários.<br />

A grande tela se iluminou.<br />

Aparecen<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o sistema solar de<br />

Kálerus e com aproximação<br />

computa<strong>do</strong>rizada visual, trazen<strong>do</strong> o<br />

planeta em primeiro plano. Os<br />

instrumentos acusavam a presença de<br />

vida, embora com certas diferenças de<br />

espécies. As análises incluíam detalhes,<br />

desde sua atmosfera até a composição<br />

molecular <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong> planeta. Remgis<br />

era um sistema solar <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ze<br />

planetas, sen<strong>do</strong> Kálerus, o quarto a partir<br />

<strong>do</strong> sol.<br />

- Um belo planeta azul-esverdea<strong>do</strong> –<br />

disse aquela figura de negro.<br />

- Excelência, está em condições de<br />

transmissão – disse um <strong>do</strong>s Mobis,<br />

chegan<strong>do</strong> à sua frente, inclinan<strong>do</strong>-se<br />

mesuradamente.<br />

396


Atrás, apareceu outro, trazen<strong>do</strong>-lhe<br />

uma almofada, conten<strong>do</strong> uma corrente com<br />

medalhão <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> e um cetro craveja<strong>do</strong> de<br />

pedras luminosas, e lhe entregan<strong>do</strong>, após<br />

outra longa mesura.<br />

- Sim, vamos transmitir, agora.<br />

Da Kosmos, Tutkan transmitia<br />

ordens aos Zags.<br />

- Não se aproximem demais.<br />

Mantenham distância prudente e<br />

aguardem novas ordens. Isto é tu<strong>do</strong>.<br />

- Certo comandante – disse Zeuez,<br />

que estava na liderança.<br />

Imediatamente após a ordem, o<br />

Telecon acusou entrada de freqüência<br />

externa e logo aquela figura de preto<br />

apareceu nas telas da Kosmos e nas da<br />

superfície de Kálerus.<br />

- Povo de Kálerus, sei que estão<br />

me ven<strong>do</strong> e ouvin<strong>do</strong>...<br />

Hamour, imediatamente, pulou de<br />

sua cadeira.<br />

- Este, não é Ahdack!<br />

- Esta voz... é-me familiar – disse<br />

Fanna.<br />

- Somos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> Padrão<br />

Estelar e viemos em paz...<br />

397


- Eu conheço esta voz, mas não<br />

consigo associar...<br />

-... Queremos apenas reabastecer<br />

nossas naves, um pouco de alimento e<br />

água potável...<br />

- Já sei – disse Fanna, num estalo -<br />

... mas não pode ser...<br />

- Quem você acha que é Erus?<br />

- Carvelus, sim, é a voz de<br />

Carvelus.<br />

- Carvelus? Quem é Carvelus?<br />

- Se for Carvelus, estamos salvos<br />

Hamour. Ele é um <strong>do</strong>s nossos. Graças a<br />

Deus... tomara... – e Fanna emitiu –<br />

Carvelus é você?<br />

- Sim, este é o meu nome e quem é<br />

você?<br />

- Fanna. Sou eu, Erus Fanna...<br />

- Fanna? ... Ah, mas isto é<br />

maravilhoso. Mas, que enorme prazer<br />

reencontrá-lo!!<br />

Aquilo soava falso. Hamour<br />

percebeu e não gostou.<br />

-... Então são desnecessárias as<br />

formalidades de apresentação. Em breve<br />

nos veremos.<br />

O Telão se desativou.<br />

398


- Erus, me responda quem é<br />

Carvelus?<br />

- Lembra-se de que lhe falei a<br />

respeito <strong>do</strong>s que ficaram em Someron?<br />

Carvelus foi um deles.<br />

- Ah, sim, o líder da rebelião,<br />

apoia<strong>do</strong> por aquele místico, como era<br />

mesmo o nome dele?<br />

- Ah ! esqueça d<strong>aqui</strong>lo. Está,<br />

aonde deve estar.<br />

- Então, meu caro, creio que o<br />

perigo não acabou. A voz dele soou falsa<br />

demais... e, o que ele está fazen<strong>do</strong> numa<br />

Fortaleza Mobis e ainda mais, no<br />

coman<strong>do</strong>?<br />

- Não faço a menor idéia. Espero<br />

que ele mesmo nos diga.<br />

- É, e ele mesmo se convi<strong>do</strong>u. Não<br />

confio nele...<br />

- Nem eu. Vamos manter tu<strong>do</strong> como<br />

está – e ativou a comunicação com a<br />

Kosmos – Você ouviu Tut?<br />

- Ouvi e não gostei nenhum pouco.<br />

Achei-o diferente daquele Carvelus que<br />

conhecemos. Pareceu-me bastante<br />

prepotente, como sempre.<br />

- Hamour também não gostou.<br />

399


- O jogo continua. Vou tirar isto a<br />

limpo e já.<br />

- Veja lá, o que você vai fazer<br />

hein?<br />

- Sossegue Erus – e Tutkan ativou<br />

o Telecon, manten<strong>do</strong> a ligação com Fanna<br />

– Carvelus, <strong>aqui</strong> é Tutkan, o seu<br />

comandante, pode me ouvir?<br />

- Posso vê-lo, também, mas<br />

deixemos estas formalidades. Não temos<br />

mais nada em comum, mas permitirei que<br />

me fale “senhor”.<br />

- O que você está fazen<strong>do</strong> nesta<br />

Base Mobis?<br />

Tutkan sentiu imediatamente o fora<br />

que dera, ao Carvelus, perguntar-lhe:<br />

- Ora!!! Então você conhece nossas<br />

fortalezas?<br />

- Encontramos alguns manuscritos,<br />

longe d<strong>aqui</strong>, que falavam a respeito delas –<br />

remen<strong>do</strong>u.<br />

- E o que continha nestes<br />

“manuscritos”?<br />

- Tutkan realmente não sabia como<br />

falar a respeito <strong>do</strong>s Mobis, como viajantes<br />

<strong>do</strong> espaço, possui<strong>do</strong>res de um império<br />

invejável, contan<strong>do</strong> com muitos planetas e<br />

povos de muitas raças...<br />

400


- Muito bem, então você já sabe da<br />

existência <strong>do</strong> nosso Império.<br />

“Nosso Império”<br />

Hamour e Fanna se entreolharam,<br />

comentan<strong>do</strong> baixinho.<br />

Nisto, o Telak anunciou a<br />

aproximação da esquadra de Carvelus, em<br />

trinta Macrons. Na velocidade que vinham,<br />

estariam orbitan<strong>do</strong> Kálerus em um dia.<br />

- Como você saiu de Someron? –<br />

perguntou Tutkan.<br />

- Esta é uma longa história. Logo<br />

falaremos sobre isto, frente a frente. Mal<br />

posso esperar para este nosso ...<br />

“reencontro”.<br />

Tutkan mu<strong>do</strong>u o tom de voz,<br />

tentan<strong>do</strong> ser mais amável, quanto podia.<br />

- Estamos esperan<strong>do</strong>. Não demore<br />

muito!<br />

- Muito bem, isto é tu<strong>do</strong>.<br />

Dito isto as comunicações foram<br />

cortadas, mas, o Telecon, permaneceu<br />

ativa<strong>do</strong>. Fanna, Hamour e Tutkan,<br />

continuaram.<br />

- Está na cara que ele quer muito<br />

mais <strong>do</strong> que reabastecer com água e<br />

comida. Olhe Tut, não gostei nadinha <strong>do</strong><br />

401


jeito que ele falou, como se fosse o <strong>do</strong>no<br />

<strong>do</strong> Universo.<br />

- Nem eu, Hamour. Você acha que<br />

ele vai tentar algo? ... Quero dizer, aos<br />

moldes <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r?<br />

Aposto que sim.<br />

- Vamos dar corda a ele – atalhou<br />

Fanna – e ver que se enforque sozinho.<br />

- Por outro la<strong>do</strong> – disse Hamour – se<br />

dermos corda demais, poderá enforcar a<br />

nós to<strong>do</strong>s.<br />

- Concor<strong>do</strong> – disse Fanna – Vamos<br />

dar-lhe, apenas, a quantidade que precisa,<br />

para seu uso próprio.<br />

Afinal, a ratoeira continuava<br />

armada, com trinta formações Zag e <strong>do</strong>is<br />

cruza<strong>do</strong>res, arma<strong>do</strong>s até os dentes, além<br />

da Kosmos, se caso fossem <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s,<br />

isto não seria barato.<br />

Os preparativos para a chegada de<br />

Carvelus, deram a ordem <strong>do</strong> dia. A<br />

população foi avisada de que em breve<br />

teriam a visita de um antigo companheiro e<br />

que fosse preparada uma recepção<br />

condigna <strong>do</strong>s Somerianos.<br />

402


CAPÍTULO VII<br />

A dez Macrons de distância de<br />

Kálerus, entre o sétimo e o oitavo planeta<br />

<strong>do</strong> Sistema Remgis, a fortaleza de<br />

Carvelus, iniciou o procedimento de<br />

desaceleração, paran<strong>do</strong> entre o sexto e<br />

quinto. Precisamente, perto <strong>do</strong> sexto. Este<br />

chama<strong>do</strong> de Plus tinha uma beleza<br />

inigualável, visto de longe, com seus anéis<br />

colori<strong>do</strong>s, resplandecen<strong>do</strong> ante os raios<br />

solares. Era constituí<strong>do</strong> de hidrogênio<br />

líqui<strong>do</strong> puro, apresentan<strong>do</strong> núcleo sóli<strong>do</strong>.<br />

Totalmente insólito e perigoso.<br />

O Telecon acusou e entrada de<br />

freqüência externa.<br />

- Eu, Carvelus, comandante da<br />

quarta esquadra Imperial Mobis, digo que;<br />

dentro de cinco tempos, estarei pousan<strong>do</strong><br />

no seu novo e belo planeta, com minha<br />

nave particular. Levarei comigo, duas<br />

esquadrilhas Mobis-7V para minha escolta.<br />

Para familiarizá-los sobre estas naves, são<br />

403


ovaladas rápidas e letais aos inimigos <strong>do</strong><br />

Império.<br />

Para Fanna e os seus, não era<br />

novidade nenhuma, aquelas naves. No<br />

vídeo <strong>do</strong> Komptor, envia<strong>do</strong> pelo Telak,<br />

mostravam os pormenores de cada uma<br />

das naves que compunham o complexo<br />

arma<strong>do</strong> de cada fortaleza. Eram<br />

repassa<strong>do</strong>s, os mapeamentos de cada<br />

unidade, com detalhes. Era, sem dúvida,<br />

uma vantagem de que Carvelus não<br />

dispunha, além <strong>do</strong>s defletores vetoriais da<br />

Kosmos, simulan<strong>do</strong> velhos instrumentos e,<br />

portanto inofensivos.<br />

Os sensores analisa<strong>do</strong>res da<br />

grande fortaleza faziam o mesmo.<br />

Memorizava nos seus computa<strong>do</strong>res, os<br />

detalhes <strong>do</strong>s pequenos March-1 e da<br />

Kosmos, velha conhecida de Carvelus.<br />

Este pensava consigo mesmo: - Não darão<br />

trabalho algum, na conquista. Estão muito<br />

mal arma<strong>do</strong>s e não entendem nada sobre<br />

batalhas no espaço. O impera<strong>do</strong>r terá um<br />

bom lucro nesta empreitada e eu terei mais<br />

uma estrela para o meu colete metálico.<br />

Posso até mesmo ter a generosidade dele,<br />

404


gozar de sua simpatia e ganhar aquele<br />

pedaço no céu. Será ótimo ter Fanna como<br />

meu servo pessoal e Tutkan... Tutkan...<br />

você é repulsivamente repugnante...<br />

você... vou matá-lo pessoalmente.<br />

Enquanto tais pensamentos<br />

povoavam sua mente, preparava alguns<br />

instrumentos de espia em seu colete.<br />

Instrumentos, estes, que fariam as análises<br />

de sua presa. Teria junto, <strong>do</strong>is robots RT-6,<br />

que dariam os últimos retoques sob o<br />

coman<strong>do</strong> de um Mobi, nas pesquisas<br />

instrumentais <strong>do</strong> inimigo.<br />

Agora sim, estava prepara<strong>do</strong> para<br />

viagem. Por fim, vestiu sua capa, com o<br />

auxílio de <strong>do</strong>is andróides servi<strong>do</strong>res.<br />

Na Kosmos, Tutkan, de olho no<br />

Telak, percebeu a movimentação na<br />

fortaleza e transmitiu suas ordens.<br />

- Zag-um e Zag-<strong>do</strong>is, vocês e seus<br />

pares, escoltem a nave de Carvelus e os<br />

seus. Os demais voltem para a base.<br />

- Certo comandante. Como quer a<br />

formação?<br />

405


- Em parelha com os Mobis-7V.<br />

Mantenham seus olhos abertos. Não creio<br />

que façam nada, mas é bom estarmos<br />

prepara<strong>do</strong>s. Nunca se sabe o que Carvelus<br />

está m<strong>aqui</strong>nan<strong>do</strong>.<br />

Um Mobis 5-A, acompanha<strong>do</strong> por<br />

outros menores, os 7-V, deixaram a<br />

fortaleza, com destino a Kálerus. Carvelus<br />

não gostou nem um pouco, quan<strong>do</strong><br />

percebeu a aproximação <strong>do</strong>s March-1 e<br />

muito menos ainda, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

emparelhamento com sua escolta. Neste<br />

instante, Tutkan entrou em sua tela.<br />

- Carvelus, <strong>aqui</strong> é Tutkan. Pode me<br />

ouvir?<br />

- Alto e claro. Pode falar.<br />

- Estamos com você e fazemos<br />

questão de escoltá-lo até nossas humildes<br />

dependências. Nossos rapazes estão<br />

contentes em voar com você e os seus.<br />

Sentem-se honra<strong>do</strong>s em trazê-lo à nossa<br />

companhia.<br />

Carvelus sentiu-se envaideci<strong>do</strong> e<br />

assumiu sua expressão de poder, tal qual<br />

aprendera com seu impera<strong>do</strong>r. Aliás,<br />

sentia-se o próprio.<br />

406


- Mas quanta gentileza. Não<br />

esperava uma acolhida tão... humm...<br />

como posso dizer ... tão fraternal!<br />

- Ora, ora! É pelos velhos tempos!!<br />

- Diga-me, Zeuez, ainda continua<br />

na ativa?<br />

- Sim, e está no coman<strong>do</strong> de sua<br />

escolta.<br />

- Ponha-o na linha. Quero falar com<br />

ele.<br />

- Ele está na escuta. Pode falar<br />

Zeuez.<br />

- Olá, Carvelus, vejo que você subiu<br />

na vida!<br />

- Sim, é claro e como vai você?<br />

- Estou bem. Apenas um pouco<br />

mais velho e você?<br />

- Um pouco mais rico, meu caro.<br />

Agora, Carvelus ria muito e por um<br />

momento reportou-se aos velhos tempos<br />

em que ele e Zeuez compartilhavam de<br />

sólida amizade e faziam parte da mesma<br />

esquadrilha, voan<strong>do</strong> nas velhas máquinas<br />

de Someron. Mas, logo voltou ao seu novo<br />

estilo.<br />

- Muito bem, Zeuez, agora volte<br />

aos seus afazeres de me prestar escolta,<br />

407


preciso transmitir algumas ordens ao meu<br />

coman<strong>do</strong>.<br />

Desativou o Telak<br />

descaradamente, deixan<strong>do</strong> Zeuez e<br />

Tutkan, falan<strong>do</strong> sozinhos, atônitos e<br />

furiosos.<br />

Apesar da situação delicada e<br />

perigosa, o povo de Kálerus, nada sabia,<br />

exceto <strong>aqui</strong>lo que os governa<strong>do</strong>res lhes<br />

disseram. A vida continuava a mesma nas<br />

cidades, mas agora, com a expectativa da<br />

volta de um irmão.<br />

Quan<strong>do</strong> a nave de Carvelus e os<br />

Mobis pousaram, cerca de dez mil seres,<br />

aguardavam-no, no saguão e arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Aeroporto de Atlantis. Proporcionaram-lhe<br />

uma verdadeira festa de boas vindas, com<br />

cartazes e coisas <strong>do</strong> gênero, dignas,<br />

realmente, de um impera<strong>do</strong>r. Ele, Carvelus,<br />

jamais pensara em tal homenagem. Isto o<br />

deixou mais cheio de si mesmo.<br />

Ao descer de sua nave, assumiu<br />

uma pose toda especial. Da rampa de sua<br />

própria nave, sau<strong>do</strong>u a to<strong>do</strong>s, com acenos,<br />

408


sorridente, e porque não dizer, vitorioso.<br />

Enquanto sorria, pensava -... esse povo me<br />

a<strong>do</strong>ra. Amanhã, eu serei o seu<br />

conquista<strong>do</strong>r e líder... e vocês se<br />

ajoelharão diante de mim e me servirão...<br />

Aquela figura, toda de negro, com<br />

colete metálico <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> e capa pesada<br />

(também preta), caminhava dentro<br />

daquelas botas lustrosas, dan<strong>do</strong> a<br />

impressão de um herói, de sua literatura<br />

antiga.<br />

O povo o reverenciava,<br />

impressiona<strong>do</strong>s com sua elegância e<br />

beleza.<br />

Ele se sentiu poderoso diante de<br />

“sua” plebe.<br />

Dois Mobis andróides, com a<br />

aparência de um ser normal, o seguiam,<br />

afastan<strong>do</strong> os que queriam saudá-lo de<br />

perto.<br />

O povo abriu um corre<strong>do</strong>r e eles<br />

passaram.<br />

409


Erus Fanna estava no fim desse<br />

corre<strong>do</strong>r e deu-lhe as boas vindas<br />

costumeiras. A seguir os convi<strong>do</strong>u para<br />

entrarem no transporte de superfície, que<br />

os conduziu ao prédio de Administração de<br />

Atlantis.<br />

Durante to<strong>do</strong> o trajeto, Carvelus<br />

permaneceu em pé acenan<strong>do</strong> e<br />

distribuin<strong>do</strong> beijos para a população<br />

encantada, que gritava “hurras e vivas”.<br />

Chegan<strong>do</strong> ao prédio, foram<br />

diretamente para o salão principal, num<br />

cortejo espantoso. Durante este trajeto,<br />

Carvelus sequer dignou-se a falar com<br />

Fanna, deixan<strong>do</strong>-o, visivelmente<br />

embaraça<strong>do</strong>. Somente falou, ao entrar no<br />

salão devidamente prepara<strong>do</strong> com faixas<br />

de boas vindas e saudações fraternais.<br />

- Belo lugarzinho, esse seu, hein,<br />

Fanna?<br />

Eram palavras de puro desprezo,<br />

apesar de proferi-las num amplo e cordial<br />

sorriso aos em sua volta.<br />

- Atlantis. Esta é Atlantis.<br />

- Ora, mas que nomezinho original,<br />

você deu... Atlantis?!<br />

410


O comentário e a pergunta<br />

exclamada eram por demais desdenhosos,<br />

pelo qual, Fanna se controlou para não<br />

fazer uma besteira, ali mesmo. Preferiu<br />

seguir o jogo.<br />

No centro <strong>do</strong> salão, havia uma<br />

grande mesa para onde, segun<strong>do</strong> a<br />

programação, seria a confraternização.<br />

- Realmente, é um lugarzinho<br />

interessante!<br />

Fanna, sem perder a compostura,<br />

respondeu de imediato:<br />

- Esse “lugarzinho interessante”, é<br />

em homenagem à estrela solitária mais<br />

brilhante <strong>do</strong> nosso antigo sistema.<br />

- Estou deveras impressiona<strong>do</strong><br />

com sua criatividade. E o que mais você<br />

“homenageou”, <strong>do</strong> nosso “sistema”?<br />

- Aqui temos Vlaupora, Mirvian,<br />

Pakeus e Krópitus.<br />

- É mesmo? Que interessante!!<br />

- Sim – disse Fanna, ignoran<strong>do</strong><br />

aquelas insinuações<br />

Arrogantes. - Construímos nossas cidades,<br />

pensan<strong>do</strong> nas que amávamos e fomos<br />

obriga<strong>do</strong>s a aban<strong>do</strong>nar, você sabe...<br />

411


- Pakeus... – ao pronunciar este<br />

nome, Carvelus comprimiu os olhos,<br />

dardejan<strong>do</strong> faíscas – Pakeus... foi<br />

construída, também, num monte de lixo?<br />

Fanna perdeu as estribeiras.<br />

- Olha <strong>aqui</strong>, Carvelus, se não<br />

gosta de estar <strong>aqui</strong>, por que veio então?<br />

Carvelus o mirou por cima <strong>do</strong><br />

ombro e não respondeu, deixan<strong>do</strong> Fanna<br />

mais furioso ainda, tentan<strong>do</strong> adivinhar os<br />

pensamentos daquela cabeça <strong>do</strong>entia.<br />

Contu<strong>do</strong> fez o mesmo. Calou-se.<br />

Sentou-se à mesa, exceto os <strong>do</strong>is<br />

andróides, que permaneceram em pé, um<br />

de cada la<strong>do</strong> de seu mestre. Fanna<br />

contava até dez, para não explodir e<br />

consequentemente estragar tu<strong>do</strong>. Era<br />

preciso agüentar a energia repulsiva<br />

causada por Carvelus. Tinha que mantê-lo<br />

ocupa<strong>do</strong>, pelo menos <strong>do</strong>is tempos para<br />

que o plano traça<strong>do</strong> por Hamour, pudesse<br />

vingar.<br />

- Carvelus – disse Fanna, agora<br />

mais calmo – Diga-me, o que o traz <strong>aqui</strong>?<br />

- Ora, meu caro, a saudade <strong>do</strong>s<br />

“velhos amigos”.<br />

412


- Como conseguiu sair de<br />

Someron?<br />

- Um perío<strong>do</strong> após terem saí<strong>do</strong>,<br />

apareceu o meu Impera<strong>do</strong>r, Ahdack, cuja<br />

generosidade, me salvou daquele lugar<br />

horrível, que você me deixou para morrer.<br />

Fanna ouviu e respirou fun<strong>do</strong>,<br />

ignoran<strong>do</strong> a injustiça lhe atribuída.<br />

- E os outros que aconteceu a<br />

eles?<br />

- Os que não morreram, servem o<br />

impera<strong>do</strong>r, assim como eu.<br />

- Mas você, se saiu melhor, não?<br />

- Sim, naturalmente, como vê,<br />

tenho a minha própria frota e o meu<br />

coman<strong>do</strong>.<br />

- Sim, continue, fale-me mais de<br />

você.<br />

- Sim, como disse antes, você me<br />

deixou lá, para morrer e...<br />

- Êpa, espere um pouco. Você e<br />

tão somente você, foi quem quis ficar.<br />

Você, Matlew e os seus segui<strong>do</strong>res. Eu<br />

não deixei ninguém para morrer...<br />

- Na situação que estávamos!? ...<br />

Ora, não havia lugar para to<strong>do</strong>s... você<br />

mesmo sugeriu que ficássemos.<br />

413


- Você sabe que não foi assim.<br />

Vocês que não quiseram vir conosco, por<br />

acaso teriam outro lugar para ir?<br />

Carvelus ignorou a pergunta e<br />

continuou:<br />

- Então, como ia dizen<strong>do</strong>, após a<br />

partida de vocês, Ahdack, o meu<br />

impera<strong>do</strong>r, nos encontrou e nos levou para<br />

a sua Fortaleza Imperial. Aliás, devo lhe<br />

dizer que esta Fortaleza tem o tamanho da<br />

terceira lua de Someron. Pois bem,<br />

Matlew, por exemplo, foi designa<strong>do</strong> para o<br />

setor de robótica e eu, pela minha<br />

experiência, para o setor bélico. O restante<br />

foi transferi<strong>do</strong> para alguns de seus<br />

planetas, no Segun<strong>do</strong> Setor Estelar, de sua<br />

propriedade. Isto tu<strong>do</strong> confirma a profecia<br />

de Krasha-Halah que dizia: “No final <strong>do</strong>s<br />

tempos os incautos se afastarão e aqueles<br />

que me seguirem herdarão os Céus”.<br />

Fanna ignorou as profecias e lhe<br />

perguntou, com muita paciência:<br />

- Seus planetas? Suas<br />

propriedades?<br />

- Evidentemente, meu caro. O<br />

Impera<strong>do</strong>r Ahdack é o único senhor de<br />

tu<strong>do</strong> e o seu império, é o maior, de todas<br />

414


as galáxias e não tem inimigos. Ahdack é o<br />

ser mais poderoso <strong>do</strong> Universo.<br />

- Muito bem! E você diz que ele<br />

não tem inimigos?<br />

- Naturalmente que não. Quem se<br />

atreveria a ser contra o Impera<strong>do</strong>r Ahdack?<br />

Você? Certamente que não. Vocês to<strong>do</strong>s,<br />

são nada, perto <strong>do</strong> meu impera<strong>do</strong>r. Com<br />

um simples estalar de de<strong>do</strong>s, seriam<br />

dizima<strong>do</strong>s. Jamais poderiam pensar em<br />

enfrentá-lo, com este ferro-velho que<br />

possuem.<br />

- Jamais pensaríamos nisto.<br />

- É bom que pense assim. Você<br />

deve reconhecer a sua inferioridade. Isto é<br />

muito esperto, mesmo vin<strong>do</strong> de você.<br />

- Por que está me dizen<strong>do</strong> isto,<br />

Carvelus?<br />

- Para você saber quem é o senhor<br />

de tu<strong>do</strong>. O único senhor.<br />

A bor<strong>do</strong> da Kosmos, a conversa<br />

era outra, apesar <strong>do</strong> que passava em<br />

Atlantis, estar sen<strong>do</strong> totalmente<br />

monitoriza<strong>do</strong>.<br />

- Comandante, eles estão bem<br />

guarda<strong>do</strong>s. Os sensores<br />

415


Kramset II revelam a existência de uma<br />

barreira invisível. Não poderíamos passar,<br />

sem sermos detecta<strong>do</strong>s. Isto se<br />

conseguisse passar.<br />

Maxun havia orbita<strong>do</strong> a fortaleza,<br />

duas vezes.<br />

- Maxun, reative seus sensores<br />

Kranset II e faça mais uma órbita, mas<br />

desta vez, bem devagar – disse Tutkan.<br />

- Sim, senhor.<br />

- Veja Hamour – que estava a bor<strong>do</strong><br />

da Kosmos – são os pólos que emanam a<br />

barreira deles.<br />

- Espere um pouco. Acabo de ter<br />

uma idéia e acho que vai funcionar.<br />

Hamour foi até o Komptor, traçou<br />

algumas projeções e voltou<br />

apressadamente, com alguns rabiscos<br />

numa folha.<br />

- Existe um meio – e comunicou-se<br />

com Maxun – Maxun, escute com atenção.<br />

Vá até o pólo norte da esfera. Lance um<br />

dar<strong>do</strong> sonda-telemérica, ativada apenas<br />

com ondas curtas de rádio. Agora, preste<br />

muita atenção. Este dar<strong>do</strong> tem que atingir<br />

exatamente o centro <strong>do</strong> pólo, ele vai<br />

atravessar o campo e confundirá os<br />

sensores Mobis.<br />

416


- Está certo, Hamour, vamos tentar –<br />

e se comunicou com o seu par, Kalibur –<br />

Kal, você ouviu?<br />

- Afirmativo capitão.<br />

- Então, vamos entrar em leque. Eu<br />

vou entrar por cima e nos encontraremos<br />

lá. Eu mergulho e jogo o nosso<br />

presentinho, enquanto você passa reto e<br />

continua a órbita.<br />

- Positivo capitão.<br />

Os <strong>do</strong>is March reativaram seus<br />

defletores e rolaram a órbita. As duas<br />

naves se encontraram no topo e Maxun<br />

mergulhou, preparou o sintoniza<strong>do</strong>r de<br />

pontaria, ajustou o mira<strong>do</strong>r e disparou,<br />

sain<strong>do</strong> em seguida.<br />

- Dar<strong>do</strong> dispara<strong>do</strong>.<br />

- Capitão, temos companhia, são<br />

<strong>do</strong>is à sua esquerda e <strong>do</strong>is atrás de mim,<br />

e, estão atiran<strong>do</strong>.<br />

- Vamos, Kal, pé na tábua.<br />

As duas pequenas naves partiram,<br />

aceleran<strong>do</strong> o máximo seus motores em<br />

manobras evasivas de fuga.<br />

- O que faremos capitão, estamos<br />

sem os Prottons, não podemos com eles!<br />

417


- Zag cinco para a base, estamos<br />

em dificuldades. Estão atiran<strong>do</strong> para<br />

valer... precisamos de ajuda.<br />

Neste instante, Zeuez e Velz<br />

surgiram por trás, equipa<strong>do</strong>s com seus<br />

Prottons, abrin<strong>do</strong> fogo.<br />

- Fiquem calmos, estamos <strong>aqui</strong>.<br />

Não vai sobrar nada desses caras.<br />

- Fui atingi<strong>do</strong> – gritou Kalibur – o<br />

motor um parou, pouca aceleração...<br />

- Não entre em pânico, estou atrás<br />

<strong>do</strong> seu caça<strong>do</strong>r – disse Velz – quan<strong>do</strong> eu<br />

disser já, saia pela esquerda.<br />

- Sim, senhor.<br />

Quan<strong>do</strong> o sensor de alvo se<br />

encaixou na mira eletrônica, o March<br />

caça<strong>do</strong>r, gritou:<br />

- Já!<br />

O cursor foi ativa<strong>do</strong> e os <strong>do</strong>is<br />

Prottons dispararam simultaneamente seus<br />

raios azula<strong>do</strong>s, Kalibur saiu e o Mobis 7V<br />

explodiu.<br />

- Capitão, à sua esquerda!!<br />

Zeuez fez um espiral, ativan<strong>do</strong> os<br />

motores em retrocesso e os <strong>do</strong>is Mobis<br />

passaram. Zeuez, só acelerou e disparou<br />

em um deles, mas, os <strong>do</strong>is explodiram.<br />

Logo, a surpresa se explicou, com Velz se<br />

418


mostran<strong>do</strong> na sua asa direita. Então<br />

abriram, pois vinha um persegui<strong>do</strong>r<br />

atiran<strong>do</strong>. Este seguiu na caça de Zeuez.<br />

- Capitão, vamos experimentar o<br />

“X”?<br />

- Vamos, entre por baixo.<br />

- Está certo... na marca... agora.<br />

No encontro <strong>do</strong> vértice <strong>do</strong> “X”, Velz<br />

disparou seguidas vezes, pegan<strong>do</strong> o Mobis<br />

em cheio.<br />

- Kalibur, como está sua nave? –<br />

perguntou Zeuez.<br />

- Aceleração prejudicada, senhor.<br />

Agora, quase nenhuma.<br />

- Vamos rebocá-lo. Maxun tome<br />

conta, nós damos cobertura.<br />

- É pra já, senhor.<br />

- Rapazes – entrou Tutkan –<br />

Afrouxem os cintos, a tela está limpa.<br />

Erus Fanna não agüentava mais a<br />

arrogância de Carvelus e como precisava<br />

de <strong>do</strong>is tempos, para a distração, consultou<br />

seu marca<strong>do</strong>r de tempo. Os tempos<br />

haviam se esgota<strong>do</strong> e pensou – Deve estar<br />

tu<strong>do</strong> pronto.<br />

419


- Diga-me, Carvelus, você só veio<br />

<strong>aqui</strong> para nos dizer que Ahdack é o<br />

“grande senhor <strong>do</strong> Universo”, e com que<br />

propósito?<br />

- Ora, meu caro, não se faça de<br />

desentendi<strong>do</strong>!!<br />

- Desentendi<strong>do</strong>. Por que?<br />

- Naturalmente, você não vai<br />

querer decepcionar o Impera<strong>do</strong>r, aliás,<br />

nosso impera<strong>do</strong>r, vai?<br />

- Decepcionar, como? Nosso povo,<br />

como você já sabia, é pacífico, trabalha<strong>do</strong>r<br />

e só queremos viver nossas vidas, sem<br />

importunar o seu “impera<strong>do</strong>r”, ou quem<br />

quer que seja!<br />

- Ótimo, creio que nos entendemos<br />

bem, por isso, estabelecerei <strong>aqui</strong>, um<br />

ponto avança<strong>do</strong> <strong>do</strong> Império, onde to<strong>do</strong>s<br />

poderão ter a oportunidade de servir e<br />

a<strong>do</strong>rar o Impera<strong>do</strong>r.<br />

- Servir, a<strong>do</strong>rar o impera<strong>do</strong>r? Você<br />

não está falan<strong>do</strong> sério!?!<br />

- Ora, você entendeu muito bem.<br />

As palavras que saíam da boca de<br />

Carvelus, eram calmas e arrogantes. Era<br />

como uma faca afiada nos nervos de cada<br />

um que o ouvia e via aquela cara<br />

deslavada com voz pastosa.<br />

420


- Eu declaro, pelos direitos e<br />

poderes a mim concedi<strong>do</strong>s, este povo,<br />

mais uma propriedade <strong>do</strong> Império de<br />

Ahdack – nisto, Carvelus se levantou e<br />

ergueu o cetro -... E de agora em diante,<br />

enquanto viverem servirão a mim... até que<br />

o Impera<strong>do</strong>r em pessoa os honre com sua<br />

visita e decida quem os liderará.<br />

Fanna, vermelho de raiva, bateu<br />

com o punho fecha<strong>do</strong>, com toda a força, na<br />

mesa e falou bem alto:<br />

- Basta, Carvelus...<br />

Este, por sua vez, sorria<br />

desdenhosamente, fazen<strong>do</strong> gesto,<br />

impedin<strong>do</strong> as reações <strong>do</strong>s andróides, que<br />

permaneceram, como antes, feito estátuas.<br />

-... Agora, pegue estes bonecos e<br />

ponha-se d<strong>aqui</strong> para fora, imediatamente.<br />

- Amanhã, você mudará o tom,<br />

meu caro e se ajoelhará diante de mim,<br />

imploran<strong>do</strong> por sua miserável vida.<br />

Os membros <strong>do</strong> Conselho que até<br />

então, permaneciam cala<strong>do</strong>s, cochicharam<br />

alguma coisa entre si e foram até Fanna<br />

que caminhava, pesadamente, em direção<br />

de sua sala.<br />

- Erus! – chamou Ambhórius –<br />

precisamos falar.<br />

421


- Está certo, acho que temos.<br />

Vamos reunir a assembléia em um tempo,<br />

não meio. Na sala <strong>do</strong> Conselho, em meio<br />

tempo.<br />

Fanna foi direto ao Telecon, sen<strong>do</strong><br />

interrompi<strong>do</strong> por um rapaz que subia os<br />

degraus da escadaria de acesso ao<br />

primeiro piso.<br />

- Senhor, Carvelus deseja saber,<br />

quem o levará ao aeroporto?<br />

- Diga-lhe, que mandei que fosse a<br />

pé.<br />

- Mas, senhor, devi<strong>do</strong> à<br />

transmissão, muitos lá fora estão<br />

revolta<strong>do</strong>s e propensos a alguma<br />

bobagem.<br />

- Pois ele que se arranje. Se for tão<br />

poderoso como diz ser, que providencie<br />

sua retirada. Nós cumprimos nossa parte,<br />

o recebemos de braços abertos, mas ele<br />

os fechou.<br />

- O rapaz desceu com o reca<strong>do</strong> e<br />

Fanna continuou o seu caminho. Sentou-se<br />

ao Telecon e transmitiu uma ordem ao seu<br />

povo.<br />

- Meu povo, deixe que este verme<br />

se una aos seus. Não lhe façam mal, pois<br />

não merece este esforço. Eles irão a pé até<br />

422


o Aeroporto. Estou certo que posso confiar<br />

em suas decisões e bom senso. Vamos<br />

conceder-lhe uma última oportunidade,<br />

para que pense no que está fazen<strong>do</strong>.<br />

Depois destas palavras contatou<br />

com a Kosmos.<br />

- E então, vocês viram? O que<br />

acham?<br />

- Sem dúvida – se adiantou Hamour<br />

– Ele vai atacar e hoje à noite. Pelo que vi e<br />

ouvi, Carvelus aprendeu muito bem, as<br />

maneiras de seu mestre. Chega como<br />

quem não quer nada, se mostra superior,<br />

depois, quanto menos se espera, decreta<br />

no que vê sua propriedade. Independente<br />

ou não da resposta, ataca e destrói o que<br />

está pela frente. Isto lhe faz bem ao ego.<br />

Erus, se ele atacar, estaremos prepara<strong>do</strong>s.<br />

- Erus – entrou, Tutkan – enquanto<br />

vocês falavam, plantamos uma Sonda<br />

Telemérica Ativada na Fortaleza. Tivemos<br />

uma pequena batalha e constatamos que<br />

são perigosos, mas, sem cérebros.<br />

Abatemos quatro deles e sofremos uma<br />

avaria, num <strong>do</strong>s March, desarma<strong>do</strong>s.<br />

- Ele, certamente se dará conta de<br />

que lhe fizemos uma visitinha, fará uma<br />

busca e lá se vai o nosso Dar<strong>do</strong>.<br />

423


- Não creio – disse Hamour – a<br />

sonda está desativada no momento, além<br />

<strong>do</strong> que, não ultrapassamos o seu escu<strong>do</strong>.<br />

E tem mais, ele está muito senhor de si.<br />

Acredita que nada pode detê-lo, mesmo<br />

porque, como poderíamos, com este ferrovelho?<br />

Lembrem-se, eles não contam com<br />

uma reação nossa. Não estão<br />

acostuma<strong>do</strong>s a ter resistência.<br />

- Erus – disse Tutkan, continuan<strong>do</strong> o<br />

raciocínio – talvez, se fosse o próprio<br />

Ahdack e se soubesse da existência de<br />

Hamour, as coisas fossem diferentes.<br />

- Está certo, rapazes. Vamos lutar.<br />

Agora, deixe-me contar as últimas. O povo<br />

está revolta<strong>do</strong> com Carvelus e não há<br />

transporte para mandá-lo para o aeroporto,<br />

de maneiras, que o mandei ir a pé.<br />

- A pé?<br />

- Sim, e está fazen<strong>do</strong> um dia<br />

daqueles. Acho que ele vai derreter dentro<br />

daquela roupa pomposa e preta.<br />

- E cheio de bolhas nos pés –<br />

concluiu, Tutkan, dan<strong>do</strong> risadas junto aos<br />

outros.<br />

- Ele bem que merece. Agora,<br />

preciso ir. Tenho uma reunião com o<br />

Conselho. Vou deixar o Telecon da sala,<br />

424


ativa<strong>do</strong>, para que vocês possam<br />

acompanhar daí.<br />

Fanna apanhou seus apetrechos<br />

e foi para a sala de reuniões.<br />

Ao entrar, os conselheiros, já<br />

reuni<strong>do</strong>s, silenciaram-se ao vê-lo passar e<br />

ocupar seu assento na cabeceira da<br />

grande mesa.<br />

- Desculpem-me, pela demora.<br />

Tive que tomar algumas providências pelo<br />

caminho. Vamos direto ao assunto.<br />

- Muito bem, Erus – falou<br />

Ambhórius – queremos falar sobre a<br />

ameaça que paira sobre nossas cabeças.<br />

- Sou to<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>.<br />

- Em nossa opinião, deveríamos<br />

conversar novamente com Carvelus e<br />

tentar negociar outras alternativas, mesmo<br />

que tenhamos que servir o Impera<strong>do</strong>r dele.<br />

- Mas, por que dizem essa asneira?<br />

- Ora, Erus – entrou o Dr.Grohvalv –<br />

não é que não apreciamos a sua liderança,<br />

que tem si<strong>do</strong> a melhor que já tivemos, e<br />

isto, to<strong>do</strong>s reconhecemos. Mas, devemos<br />

pensar em nossas famílias. Temos<br />

mulheres e crianças e as nossas próprias<br />

vidas!!<br />

- Sim, e daí?<br />

425


Fanna estava seco, diferente<br />

daquele que conheciam.<br />

- Erus – entrou Ambhórius – você<br />

não acha, que deveríamos reconsiderar e<br />

tentar uma aproximação, mais amistosa<br />

com Carvelus?Talvez ele seja<br />

benevolente, uma vez que é um irmão<br />

nosso, e com isto, nos poupe <strong>do</strong> pior?<br />

- Este é o pensamento de vocês?<br />

- Receio que sim – disse Ambhórius<br />

baixan<strong>do</strong> a cabeça.<br />

- Pois muito bem. Ouçam o que<br />

vou lhes dizer: Voltem para suas famílias.<br />

Escondam-se, de preferência longe <strong>do</strong> raio<br />

de ação e defesa, o mais longe que<br />

puderem das cidades. Partam agora, ainda<br />

há tempo.<br />

- Mas, Erus...<br />

- Ambhórius, por favor, não se<br />

acovarde em minha frente.<br />

- Mas, não se trata de covardia...<br />

- Então, o que é? Estão to<strong>do</strong>s, com<br />

o rabo entre as pernas...<br />

Vocês presenciaram tu<strong>do</strong>. Viram e<br />

ouviram o que aquele crápula disse e ainda<br />

pensam... acham sinceramente, que ele<br />

pouparia alguém sob o seu <strong>do</strong>mínio? ...<br />

426


Vocês o conhecem, não é de hoje, sabem<br />

quem ele é! ...<br />

Havia silêncio total na sala e Fanna<br />

continuou.<br />

-... To<strong>do</strong>s <strong>aqui</strong>, sem exceção, nos<br />

tornaríamos escravos daquele tirano, e<br />

isto, na melhor das hipóteses, se não<br />

fossemos mortos antes.<br />

- Talvez, servi<strong>do</strong>res e não<br />

escravos. Carvelus também nos conhece.<br />

Não nos faria mal...<br />

- Basta! Esse Conselho parece que<br />

se tornou em um ban<strong>do</strong> de covardes e não<br />

permitirei esta <strong>baixe</strong>za em minha frente.<br />

Partam já. É uma ordem. A reunião está<br />

encerrada.<br />

Ninguém falou mais. Nem sequer,<br />

tiveram a coragem de olhar nos olhos de<br />

Fanna. Partiram com suas cabeças baixas,<br />

para casa.<br />

- E não esqueçam de avisar os<br />

outros, em suas cidades. Em Atlantis, eu<br />

mesmo me encarrego. Evacuem as<br />

cidades.<br />

Fanna mostrava a sua irritação<br />

diante a fraqueza daqueles, que sempre<br />

considerou equilibra<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>nos de bom<br />

senso.<br />

427


Fazia um calor terrível e o colete<br />

metálico, mais as vestes pretas... Ah,<br />

aquelas botas... – Vou matá-los, to<strong>do</strong>s. Vou<br />

queimá-los vivos – dizia Carvelus, entre<br />

dentes, em meio a estron<strong>do</strong>sas vaias.<br />

Enfim, depois de muito caminhar,<br />

conseguiu chegar a sua nave. A primeira<br />

coisa que fez, ao entrar, foi tirar as botas e<br />

depois o colete. Estava ensopa<strong>do</strong> de suor.<br />

Vermelho de tanto calor e raiva, não, ódio.<br />

Acionou os motores e deu ordens aos<br />

andróides, para seguirem direto, o mais<br />

rápi<strong>do</strong> que pudessem, rumo a Fortaleza.<br />

O Mobis-5 decolou sob os apupos<br />

da pequena multidão presente.<br />

Já em curso, preparou seus planos<br />

de ação. Segun<strong>do</strong> os sensores embuti<strong>do</strong>s<br />

no colete e mais as informações colhidas,<br />

pelos andróides, não havia nada em<br />

Atlantis que lhe oferecesse resistência. Era<br />

a capital, de mo<strong>do</strong> que as outras cidades<br />

seriam mais fáceis ainda. O seu<br />

pensamento fixo, agora, era destruir<br />

428


Fanna, Tutkan e fazer daquela gentalha,<br />

seus escravos. Esta idéia o fazia sorrir.<br />

- Primeiro, vou destruir aquele ferrovelho<br />

que está em órbita. Será uma<br />

surpresa. Não darei tempo para que<br />

aqueles ratos se escondam em seus<br />

buracos. Sim, aqueles ratos... sem a<br />

comunicação de cima, estarão cegos,<br />

sur<strong>do</strong>s e mu<strong>do</strong>s... e aquele idiota <strong>do</strong><br />

Fanna, como se atreveu a me insultar? ...<br />

eu, Carvelus! ... ele nem faz idéia <strong>do</strong> que o<br />

espera. Vou matá-lo pessoalmente e<br />

pendurar sua cabeça no mastro central de<br />

sua cidadezinha..., que mudarei o nome<br />

para: Carvelópolis...<br />

Então, chegou a sua Fortaleza e<br />

imediatamente man<strong>do</strong>u que preparassem<br />

sua armadura de guerra e seus Mobis-7V,<br />

equipa<strong>do</strong>s para combate.<br />

- Quero to<strong>do</strong>s prepara<strong>do</strong>s, agora.<br />

Enquanto era vesti<strong>do</strong>, por seus<br />

servi<strong>do</strong>res, BH-1 série 3, passou-lhe seu<br />

relatório.<br />

- Quan<strong>do</strong> Sua Excelência fazia o<br />

seu reconhecimento em Kálerus, duas<br />

naves inimigas orbitaram cinco vezes,<br />

nossa base. Os escu<strong>do</strong>s estavam ativa<strong>do</strong>s<br />

429


e não chegaram perto. Ordenei duas<br />

patrulhas para interceptar e abater,<br />

conforme suas ordens. As naves inimigas<br />

bateram em retirada sem oferecer<br />

resistência e as ordens ainda estão em<br />

vigor. Ainda não voltaram. Parece que a<br />

perseguição continua fora de nosso<br />

alcance.<br />

- Houve revide por parte deles?<br />

- Não, Excelência. Como disse,<br />

bateram em retirada, rumo ao portão<br />

estelar, fora <strong>do</strong> alcance de nossas telas.<br />

- Então quer dizer, que ousaram vir<br />

espionar... BH-1, nossos sensores<br />

acusaram qualquer lançamento, de<br />

qualquer objeto, por parte deles?<br />

- Não, Excelência. Nossos escu<strong>do</strong>s<br />

estavam ativa<strong>do</strong>s, desde que o senhor<br />

saiu. Nada foi detecta<strong>do</strong>.<br />

- Você tem certeza, BH-1?<br />

- Sim, Excelência. O escu<strong>do</strong>, como<br />

disse, estava ativa<strong>do</strong> e arma<strong>do</strong>.<br />

Carvelus tinha um brilho muito<br />

especial nos olhos, e gargalhava<br />

sinistramente.<br />

430


Em sua frente, admirava-se no<br />

grande espelho, com seus braços<br />

ergui<strong>do</strong>s, com seus <strong>do</strong>mésticos vestin<strong>do</strong>lhe<br />

sua armadura. O colete, as perneiras, a<br />

capa negra, botas magnéticas e seu elmo<br />

de liderança.<br />

- Vamos com isto, não temos o dia<br />

to<strong>do</strong>... Vamos, andem...<br />

Finalmente, foi-lhe coloca<strong>do</strong> o<br />

cinturão, onde carregava sua arma de raios<br />

desintegra<strong>do</strong>res.<br />

- Pois bem – disse, com seu<br />

comunica<strong>do</strong>r, disposto no console ao la<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> espelho – Preparem-se para partir, em<br />

um quarto de tempo. Não vamos deixá-los<br />

esperan<strong>do</strong>.<br />

Dizen<strong>do</strong> isto, ria, num tom<br />

desprezível.<br />

Caminhou pomposamente até o<br />

coman<strong>do</strong>, sentou-se no “trono” e deu<br />

ordem de partida aos seus Mobis 7V.<br />

- Está acontecen<strong>do</strong> – disse Tutkan –<br />

Esperem se afastar um pouco mais da<br />

Fortaleza... assim... humm... mais um<br />

pouquinho... Klemps ative o Dar<strong>do</strong>...<br />

preparem-se... Agora rapazes, caiam em<br />

cima deles.<br />

431


Os efeitos <strong>do</strong> Dar<strong>do</strong>-Sonda,<br />

quan<strong>do</strong> ativa<strong>do</strong>, eram exatamente de<br />

confundir a leitura <strong>do</strong>s Telaks inimigos e<br />

impedir mensagens de coman<strong>do</strong>. Em<br />

outras palavras, Carvelus não tinha nem<br />

visão, nem coman<strong>do</strong> sobre os seus Mobis,<br />

que por sua vez, não sabiam o que fazer.<br />

Só conseguiriam atirar, mediante contato<br />

visual e eram muito bem arma<strong>do</strong>s.<br />

- Velz, a sua direita – avisou Maxun.<br />

- Vamos entrar em “X”, Eu sou a<br />

isca e você o abate. Agora.<br />

Maxun só teve o trabalho de<br />

apertar o gatilho.<br />

Zeuez, não teve a mesma sorte.<br />

Foi atingi<strong>do</strong> e perdeu o leme, tornan<strong>do</strong>-se<br />

presa fácil. Kalibur e Tameron estavam por<br />

perto e tentaram atrair o persegui<strong>do</strong>r de<br />

Zeuez, mas era tarde demais. O March-1<br />

de Zeuez transformou-se numa bola de<br />

fogo, explodin<strong>do</strong> a seguir.<br />

- Malditos – gritou Tameron, que<br />

tinha <strong>do</strong>is em sua perseguição e atiran<strong>do</strong>.<br />

- Estou atrás de vocês – gritou Velz<br />

– Saia, vou atirar.<br />

Tameron saiu e os <strong>do</strong>is foram<br />

atingi<strong>do</strong>s, quase que ao mesmo tempo.<br />

432


Ozy gritou – A coisa esta preta <strong>aqui</strong>,<br />

preciso de auxílio.<br />

Ele tinha três caça<strong>do</strong>res e as<br />

manobras estavam apertadas, mas<br />

felizmente conseguiu escapar. Os três<br />

foram abati<strong>do</strong>s um a um.<br />

Tutkan ordenou da Kosmos.<br />

- Quero os <strong>do</strong>is cruza<strong>do</strong>res, um em<br />

cada la<strong>do</strong> daquela bola de metal, agora, e<br />

explodam-na.<br />

- Vamos lá pessoal – disse Velz, no<br />

campo de batalha – vamos treinar tiro ao<br />

alvo.<br />

O efeito devasta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> dar<strong>do</strong> era<br />

notório. Os Mobis eram desorganiza<strong>do</strong>s e<br />

de certo mo<strong>do</strong>, presas fáceis.<br />

Os <strong>do</strong>is cruza<strong>do</strong>res recém<br />

construí<strong>do</strong>s, saíram de trás <strong>do</strong> planeta<br />

Plus, rugin<strong>do</strong> seus RAN-THORCK-VELUX,<br />

e em pouco chegaram ao seu destino, a<br />

Fortaleza.<br />

- Vamos lá, seus molengas – gritou<br />

Tutkan – temos que pegá-la antes que<br />

Carvelus se dê conta <strong>do</strong> que está<br />

acontecen<strong>do</strong>. Rápi<strong>do</strong> com isso, vocês<br />

parecem duas tartarugas...<br />

433


A tela gigante de Carvelus, em seu<br />

trono, não tinha imagens diretas, se não<br />

alguns flashes e suas comunicações<br />

estavam bloqueadas.<br />

- Estes sacanas... – berrava<br />

furiosamente, dan<strong>do</strong> murros no seu<br />

console, sem que nada lhe obedecesse -...<br />

BH-1 mande toda a frota, tu<strong>do</strong> o que<br />

temos, quero to<strong>do</strong>s lá.<br />

- Excelência, não seria melhor<br />

ativar o Globo da morte?<br />

- Não, seu idiota, não vê que nada<br />

funciona <strong>aqui</strong>. Quero to<strong>do</strong>s lá... ande...<br />

quero que destruam aqueles patifes.<br />

To<strong>do</strong>s. Não quero sobreviventes. Quero<br />

que acertem a base deles... Ande...<br />

agora!!!!<br />

A força inteira foi lançada, que se<br />

soman<strong>do</strong> com o que havia lá fora, somavase<br />

mais de duzentos.<br />

Tutkan ao perceber a<br />

movimentação, interveio, novamente.<br />

- Atenção, vocês aí, de trás das<br />

moitas, tem serviço de campo, cubram os<br />

cruza<strong>do</strong>res.<br />

Nossa quantos Mobis, Hamour!<br />

Veja, tem mais de duzentos!!<br />

434


- Ele lançou tu<strong>do</strong> o que tinha. Uma<br />

atitude idiota e covarde ao mesmo tempo.<br />

Ele deveria estar lá fora, comandan<strong>do</strong> e<br />

orientan<strong>do</strong> suas naves.<br />

- Não sei o que Ahdack viu nele<br />

para lhe dar um coman<strong>do</strong>.<br />

- Graças a Deus! – concluiu<br />

Hamour.<br />

As vinte esquadrilhas Zag tinham<br />

mais serviço, mas o inimigo, sem<br />

coordenação pouco perigo oferecia e eram<br />

abati<strong>do</strong>s.<br />

Os cruza<strong>do</strong>res, agüentaram bem<br />

os disparos que sofreram, apresentan<strong>do</strong><br />

algumas avarias e incêndios ocasionais.<br />

O comandante Carvelus não<br />

acreditava e não entendia o que via nos<br />

flashes. De repente, viu, em seqüência<br />

rápida de imagens, os <strong>do</strong>is cruza<strong>do</strong>res se<br />

posicionan<strong>do</strong> aos la<strong>do</strong>s. Sentiu o que iria<br />

acontecer em breve, muito breve.<br />

- Preparem minha nave.<br />

Depressa... Andem... rápi<strong>do</strong>...<br />

Desceu ao hangar o mais<br />

depressa que pode.<br />

435


Mal teve tempo de sair. Os<br />

Prottons lançaram suas cargas antimoleculares.<br />

A explosão foi gigantesca,<br />

espalhan<strong>do</strong> pedaços daquela fortaleza por<br />

to<strong>do</strong>s os cantos <strong>do</strong> Universo.<br />

Em Kálerus, houve tremores no<br />

solo, tempestades de vento e maremotos.<br />

- Santo Deus!! – Exclamou Hamour<br />

– Que arma poderosa, esta?!<br />

- E foram somente quinze Vetrons.<br />

- Quinze você disse só quinze?<br />

Quer dizer que tem mais ainda?<br />

- Podem ser programadas até<br />

cinqüenta.<br />

- Mas isto muda as coisas.<br />

- Por que?<br />

- Nunca vi nada igual. Esta é a<br />

arma mais poderosa que já vi. As que<br />

conheço e vi em operação, mesmo as de<br />

Ahdack, não possuem este poder de<br />

destruição.<br />

- Então, somos mais poderosos,<br />

Hamour?<br />

- Acho que sim. Quem desenvolveu<br />

esta coisa?<br />

- Estes brinquedinhos, foram<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s por Thorc e Zur-Kwa.<br />

436


- É claro, só podia ser. Estes <strong>do</strong>is<br />

sempre me impressionaram.<br />

Então, Fanna entrou na tela da<br />

Kosmos.<br />

- Os pegamos, hein? Sentimos a<br />

explosão <strong>aqui</strong> em baixo.<br />

- Demos uma boa lição naquele<br />

safa<strong>do</strong> – disse Tutkan.<br />

- Tut, acho que desta vez tu<strong>do</strong> saiu<br />

certo.<br />

- Por que você diz: “desta vez”?<br />

- Volte a gravação <strong>do</strong> Telak,<br />

microns antes da explosão...<br />

Tutkan assim o fez e tanto ele,<br />

quanto Hamour ficaram brancos.<br />

- Sim, Erus, enten<strong>do</strong> o que você<br />

quer dizer. Aquele pilantra de uma figa<br />

conseguiu escapar.<br />

- E certamente trará reforços.<br />

- E o pior – entrou Hamour – é que<br />

Ahdack não deve estar muito longe d<strong>aqui</strong>,<br />

pois existem sempre três fortalezas por<br />

perto.<br />

- Esperto este Ahdack – comentou<br />

Tutkan.<br />

- Guerreiro, isto que ele é –<br />

continuou, Hamour – Ele acredita na guerra<br />

e perder uma batalha, faz parte da guerra.<br />

437


Agora, ele vai pensar melhor. Está diante<br />

de um fato novo. Temos uma arma<br />

poderosíssima, que o fará pensar duas<br />

vezes antes de atacar. Mas também, ficará<br />

irrita<strong>do</strong> fará de tu<strong>do</strong> para possuir esta nova<br />

arma.<br />

- Bem pensa<strong>do</strong>, Hamour. E o que<br />

sugere que façamos agora?<br />

- Erus, pelo que vejo, temos três<br />

alternativas. Primeira, ficamos <strong>aqui</strong> e o<br />

esperamos; certamente quan<strong>do</strong> vier, virá<br />

com tu<strong>do</strong>. Segunda, levantamos<br />

acampamento e fugimos d<strong>aqui</strong>, o que acho<br />

bastante difícil; porque não poderíamos<br />

levar a to<strong>do</strong>s. Terceiro, rastear a nave de<br />

Carvelus e pegar Ahdack de surpresa.<br />

Sinceramente não sei o que prefiro.<br />

- Eu fico com a terceira – disse<br />

Tutkan.<br />

- Talvez você esteja certo, Tut.<br />

Podemos rastrear a nave dele com aquele<br />

“grilo” planta<strong>do</strong>. Hamour, diga alguma<br />

coisa?<br />

- Não sei Erus. A responsabilidade<br />

é muito grande. Talvez eu ficasse com a<br />

terceira. Ahdack é muito astuto, não<br />

devemos menosprezá-lo. Eu confesso que<br />

a primeira alternativa – também é boa.<br />

438


Estaríamos à espera dele, em nosso<br />

próprio campo de batalha. Brigar em casa<br />

oferece certas vantagens. Além de<br />

conhecermos melhor o terreno, estamos<br />

perto <strong>do</strong>s nossos.<br />

- Concor<strong>do</strong>, mas diga-me, será que<br />

ele imaginaria ser ataca<strong>do</strong> em seu próprio<br />

território?<br />

- Não. Acho que não. Ninguém<br />

jamais fez isto, pelo que sei. Ele não<br />

esperaria por um ataque, contu<strong>do</strong>,<br />

também, nunca perdeu nenhuma batalha,<br />

exceto hoje e outra que tivemos, com muita<br />

gente, no primeiro quadrante estelar <strong>do</strong><br />

Segun<strong>do</strong> Padrão. Como disse, antes de<br />

nos atacar, vai pensar duas vezes. E no<br />

caso de ser ataca<strong>do</strong>, certamente, estará<br />

prepara<strong>do</strong> e pode apostar, ele vai pensar<br />

nisto, também.<br />

Enquanto Hamour e Fanna<br />

falavam, Seimur entregou a Tutkan a lista<br />

das baixas.<br />

- Erus, agora, vamos às más<br />

notícias. Tenho em mãos a lista de nossas<br />

baixas, Desgraçadamente perdemos oito<br />

rapazes. São eles: Amsuir, Bel-Zur, Brizz,<br />

Tunsan, Almuz, Kobel, Fremil e... Zeuez.<br />

439


- Droga! Zeuez se deixou matar,<br />

também!?!<br />

- Sentimos muito, Erus, Sabemos<br />

<strong>do</strong> apreço que você tinha por ele!<br />

- Sim, Tut, assim como você, fomos<br />

companheiros de asas.<br />

Aos poucos, as naves aninharamse<br />

no ventre da Kosmos, com seus<br />

tripulantes tristes pela morte de tantos<br />

irmãos.<br />

440


CAPITULO VIII<br />

A imensa abóbada central<br />

circular da Fortaleza Imperial era aclarada<br />

por luminárias também circulares,<br />

acompanhan<strong>do</strong> o formato das paredes<br />

entre as divisórias <strong>do</strong>s três mezaninos e<br />

telas Telak.<br />

Havia cinco portas (de duas<br />

abas) eqüidistantes umas das outras. Eram<br />

pretas, com moldura <strong>do</strong>urada e delas saia<br />

um tapete vermelho contrastan<strong>do</strong> com o<br />

chão escuro, quase preto, em direção ao<br />

centro. Uma, destas portas, era maior <strong>do</strong><br />

que as outras, em altura e largura,<br />

posicionada atrás <strong>do</strong> trono Imperial.<br />

Entre as portas, toman<strong>do</strong><br />

integralmente a parede, a farta<br />

instrumentação e equipamentos entre<br />

consoles com inúmeras luzinhas coloridas<br />

e telas menores, opera<strong>do</strong>s por seres de<br />

441


diversas raças e aparências, vin<strong>do</strong>s das<br />

galáxias conquistadas.<br />

No centro desta gigantesca sala,<br />

sobre uma escadaria re<strong>do</strong>nda de três<br />

degraus, pairava o trono de Ahdack, com<br />

um console acopla<strong>do</strong>, ergui<strong>do</strong>s por um<br />

pedestal, poden<strong>do</strong> estar em qualquer nível<br />

segun<strong>do</strong> seu coman<strong>do</strong>.<br />

De onde estava o impera<strong>do</strong>r,<br />

projetavam-se em seu re<strong>do</strong>r três telões<br />

Telak, monitoran<strong>do</strong> o espaço em direções<br />

diferentes, proporcionan<strong>do</strong>-lhe visão<br />

tridimensional em 360 graus. Estes telões<br />

tinham outras atribuições, pois também<br />

monitoravam as três bases conjuntas. No<br />

centro, a sua própria, à esquerda a Base<br />

de Carvelus e à direita a de Rumback, seu<br />

braço direito, como dizia.<br />

Rumback era um Goraniano,<br />

conterrâneo de Ahdack e o seu principal<br />

general. Era um <strong>do</strong>s mais temi<strong>do</strong>s<br />

sanguinários de to<strong>do</strong> o Império. Sua<br />

reputação era conhecida por muitos povos,<br />

de muitas galáxias. Havia a pouco<br />

retorna<strong>do</strong> de mais uma conquista, numa<br />

442


galáxia conhecida por eles como Sírius, no<br />

planeta Birzan.<br />

O povo de Birzan, também<br />

descendentes de símios, era totalmente<br />

volta<strong>do</strong> à paz e desconheciam a existência<br />

de vida alienígena.<br />

Quan<strong>do</strong> Rumback pousou em seu<br />

planeta, foi recebi<strong>do</strong> numa comemoração<br />

sem precedentes. Sua exuberante<br />

armadura, pose e retórica trouxe ao<br />

soberano de Birzan, verdadeira admiração,<br />

colocan<strong>do</strong> sua gente em prostração aos<br />

que consideravam deuses.<br />

Nesta ocasião, foi-lhe ofereci<strong>do</strong> um<br />

banquete, com diversas iguarias, dignas de<br />

um deus. No momento <strong>do</strong> banquete,<br />

Preiah-Lav, o soberano, man<strong>do</strong>u que<br />

chamassem sua mulher, Mesan-Lav e seus<br />

filhos (duas meninas a<strong>do</strong>lescentes e um<br />

menino de seis anos), para apresentá-los<br />

ao deus que chegara. Após certa demora,<br />

o servo voltou desola<strong>do</strong> por não tê-los<br />

encontra<strong>do</strong>. Eis que Rumback, num grande<br />

sorriso sádico, mostrou a Preiah-Lav, suas<br />

três crianças esquartejadas e seus<br />

443


pedaços assa<strong>do</strong>s e alguns já comi<strong>do</strong>s pelo<br />

próprio soberano. Diante de tal atrocidade,<br />

Preiah-Lav lançou-se, cegamente<br />

enfureci<strong>do</strong>, sobre Rumback, que o<br />

decapitou ali mesmo, em frente a to<strong>do</strong>s. A<br />

população entrou em pânico e muitos<br />

jovens revolta<strong>do</strong>s, atreveram-se em atacálo<br />

com suas lanças e armas rudimentares,<br />

pelos quais os andróides dispararam seus<br />

raios desintegra<strong>do</strong>res.<br />

A rainha e outras mulheres foram<br />

levadas como escravas e concubinas de<br />

outros Goranianos e Meranianos, seus<br />

associa<strong>do</strong>s. As crianças, os mais jovens<br />

(inclusive as de colo) foram congeladas<br />

vivas, ocupan<strong>do</strong> as vastas despensas de<br />

sua nave. Durante as viagens de longa<br />

duração, seriam servidas, para ele e seu<br />

Impera<strong>do</strong>r, em refeições regulares.<br />

Esta conquista valeu-lhe outra<br />

medalha, ou estrela, que ostentou,<br />

orgulhosamente, junto a muitas outras, em<br />

seu colete <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>.<br />

Sua reputação incluía também, a<br />

prática so<strong>do</strong>mita entre os jovens<br />

444


captura<strong>do</strong>s e o seu divertimento favorito, o<br />

necrofilismo.<br />

Era um monstro de preto, somente<br />

supera<strong>do</strong> pelo Impera<strong>do</strong>r.<br />

Ahdack, em seu trono, revia em<br />

imagens holográficas tridimensionais as<br />

gravações da conquista <strong>do</strong> povo de Birzan,<br />

quan<strong>do</strong> Totcha-man-chunk (um ser de<br />

aparência réptil) anunciou:<br />

- Excelência, queira per<strong>do</strong>ar a<br />

interrupção, mas estamos receben<strong>do</strong><br />

mensagem de Carvelus.<br />

- Ative sua tela.<br />

A tela de Carvelus foi ativada, mas<br />

nada apareceu, além de chuviscos e ruí<strong>do</strong><br />

de estática.<br />

- Mas, o que significa isto? –<br />

perguntou aquela voz cavernosa e gutural.<br />

- A mensagem está vin<strong>do</strong> pelo<br />

canal de emergência, Excelso Senhor.<br />

- Ative-o e passe para o telão... Por<br />

que você está em canal de emergência, o<br />

seu BH-1 série 3 não tem providencia<strong>do</strong> a<br />

manutenção de sua nave?<br />

- Meu Impera<strong>do</strong>r, fui embosca<strong>do</strong>.<br />

445


- Embosca<strong>do</strong>? Como, embosca<strong>do</strong><br />

e por quem?<br />

- Excelência, encontrei um planeta<br />

habita<strong>do</strong>, de nome Kálerus, no vigésimo<br />

oitavo setor, coordenada Kahal, <strong>do</strong> décimo<br />

quadrante estelar...<br />

- Ora, mas lá só existem macacos<br />

e macacos não tem inteligência.<br />

Ahdack, no momento em que<br />

falava com Carvelus, digitava as<br />

coordenadas em seu terminal, surgin<strong>do</strong><br />

imagens <strong>do</strong> planeta e seus habitantes.<br />

- Queira per<strong>do</strong>ar excelência, mas lá<br />

encontrei ex-conterrâneos meus, de<br />

Someron. Já lhe contei sobre eles. São os<br />

mesmos que me deixaram lá para morrer,<br />

quan<strong>do</strong>...<br />

- Vá direto ao ponto. Eu sei como<br />

encontrei você.<br />

- Excelência, só posso lhe dizer,<br />

que desde que partiram, adquiriram grande<br />

tecnologia...<br />

- E muita astúcia, pelo que vejo –<br />

atalhou o impera<strong>do</strong>r, com o mesmo tom<br />

inalterável – Você não agiu como lhe foi<br />

ensina<strong>do</strong>?<br />

- Meu impera<strong>do</strong>r, fiz exatamente,<br />

o que fiz nas últimas conquistas que lhe<br />

446


trouxe. Mas desta vez, algo saiu erra<strong>do</strong>. Ao<br />

que parece já me esperavam.<br />

- Está bem, Carvelus. Você já está<br />

chegan<strong>do</strong>. Continuaremos esta conversa<br />

<strong>aqui</strong>.<br />

E Ahdack, simplesmente cortou as<br />

comunicações, desativan<strong>do</strong> o sistema.<br />

- BH-1...<br />

- Sim, mestre.<br />

- Vá até o hangar e veja que<br />

Carvelus esteja <strong>aqui</strong>, tão logo pouse.<br />

Depois, quero uma análise completa em<br />

sua nave, enquanto estiver <strong>aqui</strong>. Leve<br />

ajuda, quero isto com urgência.<br />

- Sim, mestre.<br />

BH-1 saiu com <strong>do</strong>is andróides pela<br />

porta à direita da tela de Rumback.<br />

O impera<strong>do</strong>r ficou pensativo e<br />

sensivelmente, mal-humora<strong>do</strong>.<br />

- Totcha-man-chunk...<br />

- Sim, excelência!<br />

- Passe o monitor <strong>do</strong> hangar para<br />

o telão, vamos acompanhar a chegada de<br />

Carvelus e veja nos arquivos, tu<strong>do</strong> o que<br />

temos sobre Someron.<br />

- Sim, meu senhor.<br />

- Harmenankrav... (um ser de<br />

aparência felina)<br />

447


- Pois não, mestre!<br />

- Estabilize a nave e informe as<br />

coordenadas de Kálerus, ao sincroniza<strong>do</strong>r<br />

de navegação estelar. Isole as emissões<br />

da nave, até segunda ordem. Nada pode<br />

sair d<strong>aqui</strong>.<br />

- Sim, excelência!<br />

Xxxxxxxxxxxxxx<br />

Hamour andava de um la<strong>do</strong> para<br />

outro na sala de coman<strong>do</strong> da Kosmos,<br />

pensan<strong>do</strong> qual a decisão a tomar. Em se<br />

tratan<strong>do</strong> de Ahdack, tu<strong>do</strong> era possível e o<br />

pior, muito perigoso. Não sabia,<br />

exatamente, quais os melhoramentos<br />

incrementa<strong>do</strong>s nas Fortalezas e era<br />

impossível prever quais as reações <strong>do</strong><br />

tirano. Sabia que ele contava com generais<br />

da mais alta competência em assuntos de<br />

guerra. Vira isto há muito tempo. Se ao<br />

menos a minha nave estivesse concluída,<br />

pensou. Neste caso teriam uma boa<br />

chance, pois, mesmo porta<strong>do</strong>res de uma<br />

arma como os Prottons, as únicas naves<br />

capazes de se desvencilhar, em caso de<br />

ataque, seria a Kosmos e os March. Os<br />

antigos cargueiros em rápida<br />

448


transformação foram batiza<strong>do</strong>s de<br />

cruza<strong>do</strong>res. Mesmo assim eram lentos<br />

demais para Ahdack e seus Mobis. Não<br />

entendia como Carvelus fora escolhi<strong>do</strong><br />

para comandar uma de suas Fortalezas.<br />

Ele, Carvelus, não passava de um ser<br />

mesquinho e arrogante. Bem – disse,<br />

pensan<strong>do</strong> alto – isto aos olhos de Ahdack<br />

são grandes qualidades.<br />

- O que você disse? – perguntou<br />

Tutkan.<br />

- Pensava em voz alta. Não faz<br />

senti<strong>do</strong>, Carvelus comandan<strong>do</strong> uma<br />

Fortaleza Mobis. Existem outros generais<br />

de competência e astúcia...<br />

- Talvez, algum tenha morri<strong>do</strong> em<br />

batalha.<br />

- Pode ser...<br />

- Você disse que já enfrentou<br />

Ahdack antes...<br />

- Sim, e pelo que me lembro, ele<br />

levava a pior quan<strong>do</strong> man<strong>do</strong>u mensagem,<br />

pedin<strong>do</strong> uma conferência de paz. Nós,<br />

tolos, aceitamos. Fomos pegos de<br />

surpresa. Quan<strong>do</strong> menos esperávamos, no<br />

decorrer da tal conferência, ele atacou com<br />

tu<strong>do</strong> o que tinha.<br />

- Acha que ele tentará algo assim?<br />

449


- Talvez. Agora ele sabe, ou saberá<br />

por Carvelus, o que temos.<br />

E sabe, também, que sabemos quais são<br />

suas intenções e que o esperamos.<br />

- Talvez, não.<br />

- Talvez, talvez... essas<br />

incertezas...<br />

- Por mim, iria atrás dele, agora<br />

mesmo. Já rastreamos o “grilo” e temos<br />

suas ondas gravadas nos sensores de<br />

navegação...<br />

- Esta decisão não é minha. Se ao<br />

menos a minha nave...<br />

- Telecon, senhor – chamou<br />

Klemps.<br />

- Pode falar Erus.<br />

- Vamos atacar.<br />

- Ótimo. Você ouviu isto, Hamour?<br />

Ele sentou-se rapidamente ao la<strong>do</strong><br />

de Tutkan, no Telecon.<br />

- Muito bem, Erus. Você dá as<br />

ordens.<br />

- Já tenho os planos – entrou<br />

Tutkan.<br />

- Em um tempo, estarei aí.<br />

- Venha logo, não temos tempo a<br />

perder. Quer que lhe mande escolta?<br />

- Não, Tut, obriga<strong>do</strong>.<br />

450


Os conselheiros, tão logo<br />

souberam da vitória, foram ao encontro de<br />

Fanna. Ambhórius e os outros<br />

humildemente pediram desculpas por suas<br />

fraquezas.<br />

- Estamos envergonha<strong>do</strong>s – disse<br />

Ambhórius e pensan<strong>do</strong> melhor, nunca<br />

deveríamos tê-lo aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>...<br />

- Mas ainda não acabou – disse<br />

Fanna.<br />

Em microns, foram informa<strong>do</strong>s da<br />

nova ameaça e das três alternativas<br />

sugeridas por Hamour.<br />

Ambhórius, toma<strong>do</strong> de certa<br />

coragem, disse:<br />

- Devemos atacar. Não há outra<br />

alternativa. Fugir é impossível, ficar<br />

esperan<strong>do</strong> dá ao usurpa<strong>do</strong>r a escolha <strong>do</strong><br />

momento <strong>do</strong> ataque. Atacar é a lógica.<br />

Pegaríamos o tal <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r com as<br />

calças na mão.<br />

- Sábia decisão, senhores. Vamos<br />

então, organizar nossos planos de defesa.<br />

- Você pensa em ir junto?<br />

- Sim, Ambhórius.<br />

- E quem liderará e conduzirá<br />

nossas defesas?<br />

451


- Você na liderança e Zur-Kwa na<br />

defesa. Ele mais <strong>do</strong> que ninguém conhece<br />

os procedimentos com os Prottons. Ele os<br />

montou, lembra-se?<br />

- Quan<strong>do</strong> você pretende partir?<br />

- Assim que acabar as coisas <strong>aqui</strong>.<br />

O Intercon da pirâmide soou e<br />

Amis de um pulo só, foi atendê-lo.<br />

- Querida, você está bem?<br />

- Sim, queri<strong>do</strong>. Estava aflita. Já<br />

soube das novidades, mas isto é só o<br />

começo, não é?<br />

- Receio que sim, meu bem. Erus<br />

ligou, há pouco e decidiu atacar Ahdack.<br />

Quer acabar de uma vez por todas com<br />

esta história.<br />

- Você acha que podemos nos sair<br />

bem desta aventura?<br />

- Temos alguma chance, mas é<br />

bom estarmos prepara<strong>do</strong>s para o pior.<br />

Querida, quero que você faça o seguinte...<br />

Depois de todas as cautelas que<br />

deveria tomar, Hamour se despediu de<br />

Amis, com um beijo à distância.<br />

Da mesma forma, to<strong>do</strong>s os que<br />

enfrentariam a cruzada, se despediram <strong>do</strong>s<br />

seus, em Kálerus.<br />

452


Velz, Maxun, depois, Tameron se<br />

despediram de suas amadas, com as<br />

ligações ao mesmo tempo, terminan<strong>do</strong><br />

com Velz, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Não se preocupem. Voltaremos<br />

para o jantar.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

A grande porta, a maior delas, se<br />

abriu, como uma estrela de cinco pontas e<br />

por ela passou Carvelus, acompanha<strong>do</strong> de<br />

<strong>do</strong>is andróides. Sua aparência era<br />

deplorável. Tinha sua armadura<br />

empoeirada como se estivesse passa<strong>do</strong><br />

por uma chaminé de lareira. Diante <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>r, após as mesuras usuais,<br />

permaneceu com um joelho no chão e com<br />

o elmo sob o braço direito, enquanto o<br />

trono e toda aquela geringonça nivelavamse<br />

ao degrau plataforma.<br />

- Salve Ahdack, meu impera<strong>do</strong>r! –<br />

sau<strong>do</strong>u, com a mão esquerda erguida.<br />

- Diga-me, Carvelus, o líder <strong>do</strong><br />

povo de Someron continua sen<strong>do</strong> Erus<br />

Fanna?<br />

- Sim, meu senhor.<br />

453


- E quem é o seu guerreiro-mor?<br />

- Tutkan, meu senhor.<br />

-Então me diga, por que julgas ter<br />

si<strong>do</strong> embosca<strong>do</strong>, se, segun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

registros e suas próprias palavras, após<br />

guerra o seu povo tornara-se pacífico?<br />

A voz de Ahdack era como um<br />

trovão, anuncian<strong>do</strong> tormenta.<br />

-...?<br />

- Fale Carvelus.<br />

- Não sei meu senhor. Fiz tu<strong>do</strong><br />

conforme o regulamento. Visitei as<br />

instalações de superfície, com sensores<br />

ativa<strong>do</strong>s sob o colete, que nada<br />

detectaram. Os sensores da Fortaleza<br />

analisaram suas máquinas, dan<strong>do</strong> como<br />

resulta<strong>do</strong>; motores e equipamentos<br />

rudimentares, com pequenas armas<br />

defensivas de pouco alcance e poder, para<br />

não dizer, nenhum. Tinham também oito<br />

naves típicas, da época em que me<br />

deixaram seus March-1, muito antigos com<br />

motores melhora<strong>do</strong>s, mas, ineficazes, com<br />

pouca velocidade e desarma<strong>do</strong>s...<br />

- E você perdeu para este ferrovelho?<br />

- Pois é isto que não enten<strong>do</strong><br />

Excelência!?!<br />

454


- O que você não entende?<br />

- De repente, surgiram com<br />

velocidade espantosa e caíram sobre nós<br />

com poder de fogo que, mesmo nós não<br />

dispomos. Eram rápi<strong>do</strong>s e bem orienta<strong>do</strong>s.<br />

Em contra partida, os meus instrumentos<br />

de coman<strong>do</strong> e orientação de batalha, não<br />

obedeciam minhas ordens. Os Mobis em<br />

combate pareciam não me ouvir. O telão<br />

central entrou em colapso total. Minha<br />

visão, lá fora, era de apenas flashes e...<br />

- Pare. Não fale mais. Você me<br />

desapontou, Carvelus...<br />

- Mestre...<br />

- Cale-se ou você além de<br />

incompetente é sur<strong>do</strong> também? ... Você<br />

sabe que não admito erros. Você<br />

subestimou seu próprio povo e perdeu.<br />

Aqui, no meu império, não há lugar para<br />

perde<strong>do</strong>res. Levem-no d<strong>aqui</strong> – ordenou<br />

para os andróides que imediatamente<br />

ergueram-no.<br />

- Por favor, mestre, eu preciso de<br />

mais uma chance... por favor... não me<br />

levem... por favor... não... não... não...<br />

Carvelus foi leva<strong>do</strong>, se debaten<strong>do</strong><br />

e imploran<strong>do</strong> por uma nova chance, para a<br />

porta vermelha (a única, ao la<strong>do</strong> daquela<br />

455


que entrara) cujo centro, tinha uma<br />

circunferência preta com raios no interior.<br />

Carvelus sabia ser ali, a saleta de<br />

desintegra<strong>do</strong>res moleculares, usada para o<br />

extermínio de indesejáveis. A porta se<br />

fechou e com ela, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vivos para<br />

Carvelus.<br />

Neste mesmo instante, entrou BH-<br />

1, no salão, trazen<strong>do</strong> em sua mão um<br />

pequeníssimo objeto metálico circular, com<br />

duas minúsculas antenas, lembran<strong>do</strong> um<br />

grilo. Mostrou-o para o seu mestre.<br />

- Ainda está ativa<strong>do</strong>, excelência.<br />

- O que é isto?<br />

- Parece ser um emissor de sinais<br />

de longo alcance, mestre.<br />

Ahdack esbravejou com to<strong>do</strong>s<br />

os seus pulmões:<br />

- Aquele idiota, além de perder uma<br />

nave poderosíssima, ainda revela nossas<br />

posições. Eu deveria punir a mim mesmo<br />

por acreditar naquele inseto. Destrua esta<br />

coisa BH-1.<br />

O impera<strong>do</strong>r virou-se para o<br />

console <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong> e ativou o<br />

comunica<strong>do</strong>r com a outra base-fortaleza.<br />

- Rumback... Responda...<br />

- Pois não excelência!<br />

456


- Prepare-se para visitas, em breve.<br />

Vamos utilizar o plano <strong>do</strong>is em um.<br />

- O plano <strong>do</strong>is em um? Queira<br />

per<strong>do</strong>ar excelência, mas...<br />

- Poupe suas palavras. Carvelus já<br />

não existe mais.<br />

- Farei os preparativos, excelência.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

No interior da Kosmos, outros<br />

preparativos tomavam o tempo e a atenção<br />

das várias equipes de manutenção e<br />

reparos, colocan<strong>do</strong> a nave e os March em<br />

condições de combate.<br />

- Já temos as coordenadas? –<br />

Perguntou Tutkan, para Klemps, que<br />

observava o Telak.<br />

- Na verdade, o sinal desapareceu e<br />

a última sinalização, veio <strong>do</strong> oitavo<br />

quadrante <strong>do</strong> trigésimo setor.<br />

- Tão longe assim?<br />

- Com a velocidade <strong>do</strong>s cruza<strong>do</strong>res,<br />

levaríamos quase um perío<strong>do</strong> para chegar<br />

lá, isto se não esbarrarmos em campos de<br />

asteróides, senhor.<br />

- Hamour, o que você acha?<br />

457


- Não gosto. É longe e fica atrás <strong>do</strong><br />

portão estelar <strong>do</strong>is.<br />

- E o que significa isto?<br />

- Isto quer dizer que, se entrarmos,<br />

nunca sairemos e acho que sei como estão<br />

nos esperan<strong>do</strong>.<br />

- Como?<br />

- Acompanhem o raciocínio.<br />

Ahdack achou o nosso pequeno espião por<br />

isto, Carvelus deve ter si<strong>do</strong> puni<strong>do</strong> com a<br />

morte. Assim, ele deduzirá que mais ce<strong>do</strong><br />

ou mais tarde, iremos atrás dele...<br />

- Se fosse eu, - interrompeu<br />

Tutkan – sairia de lá.<br />

- Mas, não Ahdack. Ele, o “Senhor<br />

de tu<strong>do</strong>”, jamais fugiria de uma luta perante<br />

seus generais. Então, como dizia, ele sabe<br />

que vamos atrás dele e nos esperará com<br />

outra nave disposta exatamente no lugar<br />

que ele estava. Esta nave usará o Globo<br />

da Morte; já expliquei isto; são cento e<br />

vinte e cinco naves em órbita nivelada e<br />

sincronizada, atiran<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> e em todas<br />

as direções, enquanto outras cento e vinte<br />

e cinco naves Mobis 7V, orientadas de<br />

dentro <strong>do</strong> globo, distrai o inimigo e o atrai<br />

para ser destruí<strong>do</strong> pelo “Globo”.<br />

458


- E como passar por esta coisa? –<br />

quis saber Tutkan.<br />

- Não creio que exista maneira...<br />

mas...<br />

Mas? – perguntou Fanna.<br />

- Pode ou não pode? – entrou<br />

Tutkan.<br />

- Talvez...<br />

E dizen<strong>do</strong> isto, Hamour foi até o<br />

mapa estelar, apanhou a régua e traçou<br />

algumas retas, sinalizan<strong>do</strong>-as em certos<br />

pontos.<br />

- Vejam senhores, não posso dizer<br />

com certeza, mas a coisa é mais ou menos<br />

o seguinte: Haven<strong>do</strong> outra nave no lugar<br />

de Ahdack, preparada, a nossa espera,<br />

ele, provavelmente estará escondi<strong>do</strong> por<br />

de trás <strong>do</strong> portão estelar <strong>do</strong>is – e mostran<strong>do</strong><br />

sua localização no mapa -... <strong>aqui</strong>. Sua<br />

nave estará disfarçada de algum asteróide<br />

gigante por auto-holograma... Quan<strong>do</strong><br />

passarmos, estaremos entre <strong>do</strong>is fogos.<br />

Isto é o que ele espera que façamos.<br />

Entretanto, se entrarmos atiran<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong><br />

o que virmos, seja lá o que for, podemos<br />

acertar Ahdack em seu holograma-disfarce<br />

e...<br />

459


- Bum!! – disse Tutkan, com o seu<br />

sorriso matreiro.<br />

- Exatamente, meu caro. O maior<br />

bum que você já viu.<br />

Fanna andava em voltas, pensativo,<br />

dan<strong>do</strong> a impressão de quem comeu e não<br />

gostou. De repente, virou-se para os <strong>do</strong>is e<br />

disse:<br />

- Não gosto disso. Vamos lutar em<br />

território prepara<strong>do</strong> pelo inimigo... é<br />

suicídio. Vamos pensar em outra coisa. O<br />

melhor seria atrai-lo para cá. Ele<br />

certamente virá prepara<strong>do</strong> e disposto a nos<br />

destruir, mas então, nós teremos o campo<br />

prepara<strong>do</strong> para a luta.<br />

- Você tem razão – disse Hamour.<br />

Não devemos subestimar a astúcia de<br />

Ahdack.<br />

- Hamour – disse Tutkan – nos fale<br />

um pouco mais a respeito de Ahdack.<br />

Diga-nos tu<strong>do</strong> o que sabe sobre suas<br />

táticas, precisamos conhecê-lo melhor.<br />

Temos que saber como raciocina aquela<br />

cabeça.<br />

- Vamos encarar a coisa deste<br />

mo<strong>do</strong>. Ahdack é um joga<strong>do</strong>r, que usa<br />

táticas diferentes e todas elas, baseadas<br />

na fraqueza ou nos erros <strong>do</strong> oponente.<br />

460


Costuma infiltrar seus andróides como<br />

espiões. Plantam-os em setores de<br />

influência, muitas vezes, como duplicatas<br />

fiéis daqueles que misteriosamente<br />

desapareceram. Sua finalidade maior,<br />

como já disse, é escravizar to<strong>do</strong>s que<br />

encontra. Toma suas mulheres para o seu<br />

concubinato e <strong>do</strong>s seus generais. Mata por<br />

prazer. É frio e calculista. Tem um gênio<br />

temperamental e cruel. Gosta de ver seu<br />

nome estampa<strong>do</strong> pelas paredes por onde<br />

passa nunca menor <strong>do</strong> que o seu próprio<br />

tamanho. Caso contrário se enfurece. É o<br />

demônio em pessoa. O mais interessante<br />

de tu<strong>do</strong>, é que to<strong>do</strong>s, sem exceção, o<br />

a<strong>do</strong>ram e o temem, como um deus, e, lhe<br />

dão em sacrifício, seus próprios recémnasci<strong>do</strong>s.<br />

Ele sem o menor pejo os recebe<br />

para serem devora<strong>do</strong>s por ele e seus<br />

generais, como raras iguarias. Ahdack é<br />

destituí<strong>do</strong> de qualquer compaixão. Tu<strong>do</strong> e<br />

to<strong>do</strong>s são de sua propriedade. Ele se julga<br />

o “grande senhor” e to<strong>do</strong>s à sua volta, o<br />

obedecem cegamente.<br />

- Bela descrição – disse Tutkan.<br />

- E desencoraja<strong>do</strong>r – completou<br />

Fanna.<br />

461


- Pois é isto, senhores – concluiu<br />

Hamour – Temos pela frente uma boa “<strong>do</strong>rde-cabeça”.<br />

Como diria Zur-Kwa.<br />

- Acho que deveríamos chamá-lo.<br />

Mas acabo de lembrar que Ambhórius vai<br />

precisar dele para preparar e ativar nossas<br />

defesas.<br />

- Você acha que ele pode nos<br />

atacar, digo, nossas cidades?<br />

- Pode ser, Tut. Respondeu<br />

Hamour, e desta vez bem preocupa<strong>do</strong>.<br />

- Mas precisamos <strong>do</strong> baixinho<br />

<strong>aqui</strong>, ele e Thorc e ver, se tem alguma<br />

idéia. Temos que sair desta.<br />

- Boa idéia, Erus.<br />

- Então, Tut, mãos à obra. Faça a<br />

comunicação.<br />

Thorc recebeu sua convocação em<br />

meio a cálculos e projeções, tentan<strong>do</strong><br />

alinhavar os retoques finais da nave de<br />

Hamour e não gostou muito de ser<br />

interrompi<strong>do</strong>, principalmente por ter que<br />

passar mais “momentos” no espaço.<br />

Zur-Kwa, no planeta Shan,<br />

reclamou tu<strong>do</strong> que tinha direito. Teria que<br />

deixar sua “grande ocupação”, segun<strong>do</strong><br />

462


ele, em meio às experiências genéticas e<br />

seus recentes resulta<strong>do</strong>s. Como Thorc. A<br />

idéia de subir à Kosmos, e discutir<br />

assuntos que não eram <strong>do</strong> seu interesse<br />

científico e nem <strong>do</strong> seu agra<strong>do</strong>, aborrecia.<br />

Além <strong>do</strong> mais, seus “espécimes” tinham<br />

pouco mais de <strong>do</strong>is anos e sua maioria,<br />

lin<strong>do</strong>s e espertos, falan<strong>do</strong> suas primeiras<br />

palavras. E mais não teria tempo de ativar<br />

o sistema de defesa de Kálerus. E porque<br />

tu<strong>do</strong> isso?<br />

O mesmo transporte os levou.<br />

Ao chegarem ao hangar da<br />

Kosmos, ao serem recepciona<strong>do</strong>s por<br />

Fanna, Zur-Kwa entrou no observatório<br />

central resmungan<strong>do</strong> e reclaman<strong>do</strong><br />

impertinentemente.<br />

- Espero que este assunto mereça<br />

o tempo que não estou no laboratório...<br />

- Calma calma – disse Fanna<br />

sorrin<strong>do</strong> e se divertin<strong>do</strong> com as caretas <strong>do</strong><br />

velho amigo – primeiro diga “olá” e guarde<br />

suas pedras para o inimigo.<br />

- Inimigo? ... Eu não tenho<br />

inimigos!!<br />

463


- Você tem, sim, espere e já o<br />

conhecerá... e você, Thorc, também veio<br />

arma<strong>do</strong>?<br />

- Não, mas estou perigoso.<br />

Algumas risadas tomaram conta<br />

momentaneamente <strong>do</strong> compartimento.<br />

Mas não era hora de diversão e por isto,<br />

Fanna, rapidamente passou a situação e a<br />

repassou outras vezes auxilia<strong>do</strong> por Tutkan<br />

e Hamour, no gabinete de Tutkan.<br />

O âmago da questão era<br />

encontrar, mediante o que sabiam algum<br />

ponto fraco em Ahdack e assim explorá-lo<br />

convenientemente.<br />

Zur-Kwa, com a testa franzida e<br />

passan<strong>do</strong> a mão nos cabelos espavita<strong>do</strong>s,<br />

afirmou categoricamente:<br />

- O único ponto fraco dele, é o seu<br />

ego. Poderiam tornar sua visão bem<br />

turva se explorada corretamente.<br />

- Hamour – entrou Thorc – de que o<br />

impera<strong>do</strong>r gosta mais, de ser bajula<strong>do</strong> ou<br />

de destruir seres?<br />

- Na medida em que <strong>do</strong>mina, a<br />

bajulação é conseqüência normal,<br />

contu<strong>do</strong>...<br />

464


- Continue!<br />

-... Acho que poderíamos criar-lhe<br />

uma situação inédita.<br />

Thorc, impacientemente, se<br />

adiantou e disse, com um ar de quem já<br />

sabia de tu<strong>do</strong> o que Hamour tinha em<br />

mente:<br />

- É claro. Vamos nos render.<br />

- Ele perdeu a razão – disse Zur-<br />

Kwa.<br />

- Vamos simular esta rendição –<br />

disse Thorc, ignoran<strong>do</strong> a objeção <strong>do</strong><br />

colega.<br />

- Exatamente – entrou Hamour -,<br />

vamos continuar fazen<strong>do</strong> o seu próprio<br />

jogo.<br />

- Pode funcionar – disse Zur-Kwa,<br />

como que, queren<strong>do</strong> se desculpar pela<br />

falta de visão anterior.<br />

- Sejamos mais claros – disse<br />

Tutkan, um pouco contraria<strong>do</strong>.<br />

- Sim, por favor, senhores – disse<br />

Fanna, interessa<strong>do</strong> – vamos traduzir as<br />

metáforas.<br />

- Está bem, Erus, vamos ao<br />

assunto. Você quer começar Thorc?<br />

-Sim. Completei os estu<strong>do</strong>s e<br />

montei mais três iguais ao navega<strong>do</strong>r<br />

465


estelar para antimatéria... Enquanto Zur-<br />

Kwa brincava de deus...<br />

- Epa! Eu nunca brinquei de ser<br />

Deus...<br />

- É claro que não atalhou Fanna.<br />

- Ele se sentia o próprio – disse<br />

Tutkan em franca gozação.<br />

- Pois bem – disse Thorc,<br />

assumin<strong>do</strong> a seriedade da ocasião -<br />

Podemos introduzi-los no sistema da<br />

Kosmos e <strong>do</strong> Constelação, e ativa-los em<br />

menos de dez tempos, e estaremos em<br />

frente <strong>do</strong> portão estelar num piscar de<br />

olhos.<br />

- Parabéns, meu amigo – disse<br />

Hamour –Esta é uma excelente notícia. Mas<br />

temo que este atalho seja perigoso para a<br />

estrutura das naves.<br />

- Não, se revestirmos o casco com<br />

ionização refratária, simulan<strong>do</strong> atraves <strong>do</strong><br />

calor, aquela geringonça que você chama<br />

de giroscópio. Podemos atravessar o<br />

buraco de antimatéria sem causar danos<br />

nas estruturas.<br />

E se revertermos a refração para<br />

deflação, podemos usar esta energia em<br />

escu<strong>do</strong> de invisibilidade...<br />

466


- Bravo rapazes! Agora sim, estou<br />

ven<strong>do</strong> uma luz no fim <strong>do</strong> túnel – disse<br />

Hamour. Contamina<strong>do</strong> de otimismo – Estou<br />

gostan<strong>do</strong> deste plano. E o que faremos<br />

quan<strong>do</strong> estivermos lá?<br />

- Primeiro, nos certificaremos que<br />

Carvelus não esteja por perto para<br />

contestar nossas mentirinhas. Segun<strong>do</strong>,<br />

prepararemos um cruza<strong>do</strong>r...<br />

xxxxxxxxxxxxxxxx<br />

A Base de Rumback tomara o<br />

lugar da <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r, como Hamour<br />

previra.<br />

O Telak acusou a entrada de uma<br />

nave solitária pelo portão estelar <strong>do</strong>is e<br />

ordenou aos seus Mobis, a atenção e<br />

preparação <strong>do</strong> rodízio, até que a nave<br />

estivesse ao alcance de suas cargas.<br />

Subitamente a nave parou,<br />

passan<strong>do</strong> a emitir sinais codifica<strong>do</strong>s<br />

deixan<strong>do</strong> Rumback um tanto<br />

desconcerta<strong>do</strong>, a princípio.<br />

467


Tão logo as mensagens foram<br />

decodificadas e traduzidas, Rumback<br />

simplesmente não acreditou. O líder<br />

daquele “povinho” queria uma audiência<br />

com o impera<strong>do</strong>r, em pessoa. Mas que<br />

audácia! – pensou. O impera<strong>do</strong>r jamais os<br />

receberia. O que fazer? Incomodar<br />

Ahdack, com problemas “menores”,<br />

certamente o deixaria furioso. Em<br />

compensação, nunca houvera tamanha<br />

audácia por parte <strong>do</strong>s plebeus de todas as<br />

galáxias. Talvez o impera<strong>do</strong>r quisesse se<br />

divertir um pouco, antes de matá-los. Sim,<br />

por que não? Ativou seu comunica<strong>do</strong>r e<br />

passou a seguinte mensagem.<br />

- “Excelência, sinto incomodá-lo,<br />

mas temos uma coisa deveras<br />

interessante, a meu ver”.<br />

- Continue, Rumback.<br />

- Aqueles seres desprezíveis,<br />

acabam de entrar em contato, pedin<strong>do</strong><br />

uma audiência, uma pequena audiência<br />

com o impera<strong>do</strong>r, em pessoa. Acho que<br />

vieram pedir clemência, excelência.<br />

- E o que você respondeu<br />

Rumback?<br />

- Nada ainda, excelência.<br />

- Disseram mais alguma coisa?<br />

468


- Sim, que estavam dispostos a<br />

cooperar com o império.<br />

- Ah, Ah, Ah, Ah – Seu riso era<br />

amedronta<strong>do</strong>r – Então, eles querem falar<br />

comigo, hein? Pois lhes diga que os<br />

receberei aí, em cinco tempos.<br />

- Aqui, Excelência?<br />

- Sim, aí. Não queremos que<br />

saibam da existência de minha fortaleza,<br />

por enquanto. Portanto vamos nos divertir<br />

um pouco, em sua casa, Rumback.<br />

- Muito inteligente Excelência.<br />

- Não esqueça de enfatizar que<br />

receberei sua delegação, com a presença<br />

de seu líder e não outro, pois conheço o<br />

seu rosto.<br />

- Pois não, Excelência. Mandarei a<br />

mensagem agora mesmo.<br />

Fanna recebeu a mensagem a<br />

bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> cruza<strong>do</strong>r e transmitiu para a<br />

Kosmos.<br />

- Tut, ele engoliu e nos espera em<br />

cinco tempos, quer nos receber nesta<br />

fortaleza que podemos ver no Telak.<br />

- Ótimo. Estamos prepara<strong>do</strong>s para<br />

ele. Temos uma boa rede espalhada. Logo<br />

469


que sair da toca, o captaremos d<strong>aqui</strong>.<br />

Tenha cuida<strong>do</strong>, a coisa toda tem que<br />

parecer real. Sejam convincentes.<br />

- Fique tranqüilo. Tu<strong>do</strong> vai dar certo.<br />

Durante a espera, to<strong>do</strong> o plano foi<br />

revisto em seus mínimos detalhes. Fanna<br />

teria como assistente, o grande maluco<br />

Zur-Kwa e mais <strong>do</strong>is rapazes (voluntários).<br />

Uma nave transporte luxuosamente<br />

preparada, sairia escoltada por <strong>do</strong>is March,<br />

Velz e Maxun, arma<strong>do</strong>s, mas sem os<br />

Prottons. Eram armas nucleares<br />

ultrapassadas, com poder de carga<br />

relativos.<br />

Partiram.<br />

A meio caminho, cinco Mobis se<br />

juntaram na escolta da pequena comitiva.<br />

Ao chegarem mais perto, cada vez<br />

mais, aquela bola de metal, ficava maior e<br />

maior.<br />

Uma grande porta se abriu no<br />

centro. As naves penetraram numa espécie<br />

de “hall”, logo se abrin<strong>do</strong> outras pequenas<br />

470


portas, onde havia túneis, semelhantes aos<br />

que tinham na Kosmos. Pousaram,<br />

deslizan<strong>do</strong> pelas pistas e logo após,<br />

reboca<strong>do</strong>s e taxia<strong>do</strong>s por carros de<br />

superfície, até o hangar principal. Muito<br />

bem bola<strong>do</strong> – disse Zur-Kwa,<br />

impressiona<strong>do</strong> com tu<strong>do</strong> que via a sua<br />

volta. Três plataformas, enormes, davam<br />

diretamente a uma porta e esta porta, num<br />

eleva<strong>do</strong>r – que pelas luzes que piscavam,<br />

presumia-se que ali onde estavam, teriam<br />

mais dez setores para baixo e nove para<br />

cima. Ali seria o centro da nave. O<br />

eleva<strong>do</strong>r os conduziu para cima numa<br />

velocidade desconfortável, até o nível<br />

superior de onde estavam pelo que<br />

concluíram ser o centro da bola, o seu<br />

coman<strong>do</strong>.<br />

BH-1 série 3 de Rumback foi quem<br />

os recebeu ao entrarem no eleva<strong>do</strong>r,<br />

depois de conduzi<strong>do</strong>s por um andróide<br />

cala<strong>do</strong>.<br />

A porta da grande sala foi aberta,<br />

mediante a digitação de códigos <strong>do</strong> falante<br />

BH-1, que se mostrava cortês e bastante<br />

simpático, apesar de sua voz metálica e<br />

471


estridente. Do outro la<strong>do</strong>, junto ao marco<br />

direito da porta, um andróide manipulava<br />

instrumentos para captação de objetos,<br />

transportan<strong>do</strong> a imagem <strong>do</strong>s visitantes em<br />

raios “X”, no grande telão da direita, logo<br />

acima deles. A primeira coisa que viram foi<br />

o trono à meia altura no centro daquela<br />

sala incrivelmente grande. Fanna a<br />

comparou com os antigos estádios de<br />

esportes da velha capital de Someron. Os<br />

mezaninos em volta seriam as<br />

arquibancadas com os vãos entre os<br />

andares, iluminan<strong>do</strong> a abóbada da<br />

cobertura.<br />

Ao coman<strong>do</strong> e BH-1 Série 3,<br />

caminharam sobre um longo tapete<br />

vermelho, espesso e muito fofo.<br />

Aquele lugar era bem ilumina<strong>do</strong> e<br />

puderam analisar bem, durante o trajeto.<br />

Ao re<strong>do</strong>r era uma enorme rede de<br />

equipamentos ativa<strong>do</strong>s e seres nunca<br />

antes imagina<strong>do</strong>s, operan<strong>do</strong> os varia<strong>do</strong>s<br />

controles.<br />

- Aqui é o centro nervoso dessa<br />

coisa – disse Zur-Kwa, para Fanna, entre<br />

dentes.<br />

472


Logo chegaram ao pé da<br />

escadaria re<strong>do</strong>nda que amparava o<br />

pedestal <strong>do</strong> trono, ainda a meia altura, mas<br />

acima de suas cabeças.<br />

Numa mesura estranha, BH-1<br />

Série 3, anunciou:<br />

- Queiram ficar à vontade,<br />

colocamos assentos a sua disposição.<br />

Desculpem o desconforto, não estamos<br />

acostuma<strong>do</strong>s a visitas.<br />

- Está muito bem, BH-1.<br />

- Série três, senhor. Fiquem a<br />

vontade, sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />

Ahdack, estará <strong>aqui</strong> em alguns momentos.<br />

Fanna agradeceu e sentou-se com<br />

Zur-Kwa e os rapazes, que olhavam em<br />

volta, tentan<strong>do</strong> memorizar tu<strong>do</strong> o que viam.<br />

Os assentos estavam dispostos à<br />

frente da escadaria <strong>do</strong> trono.<br />

Enquanto isso, Ahdack e Rumback<br />

os examinavam nas telas de suas salas,<br />

em exames aprofunda<strong>do</strong>s sobre escutas<br />

ou sinaliza<strong>do</strong>res, que porventura não<br />

tivessem si<strong>do</strong> capta<strong>do</strong>s pelos raios “X”.<br />

473


- Estão limpos Excelência.<br />

Carregam com eles apenas essa coisa que<br />

traduz nosso idioma.<br />

- Muito bem, Rumback. Está na<br />

hora de ver o que esses imbecis querem.<br />

Prepare o projetor. Estarei em posição, tão<br />

logo, atravesse a porta.<br />

De repente, o trono baixou,<br />

nivelan<strong>do</strong>-se ao degrau mais alto e Ahdack<br />

surgiu na frente deles. Como por encanto.<br />

Nossa como é grande, esse ser,<br />

pensaram, ao vê-lo vesti<strong>do</strong> de negro, tal<br />

como Carvelus havia-lhes se apresenta<strong>do</strong>.<br />

Trazia consigo, aquele cetro e na cabeça<br />

uma coroa cravejada com pedras<br />

luminosas, em todas as cores, com<br />

movimentos circulares e constantes. Eram<br />

semelhantes às unidades de vida, no tórax<br />

<strong>do</strong>s autômatos que guardavam o la<strong>do</strong> de<br />

fora da porta, pela qual passaram com BH-<br />

1 série 3.<br />

O Impera<strong>do</strong>r sentou-se ao trono,<br />

esvoaçan<strong>do</strong> sua capa e começou sem<br />

rodeios.<br />

474


- Muito bem, senhores, queriam<br />

uma audiência? Estão ten<strong>do</strong>. Sou to<strong>do</strong><br />

ouvi<strong>do</strong>s.<br />

Levantaram-se de suas cadeiras e<br />

curvaram-se. Fanna iniciou a conversa.<br />

- Estamos honra<strong>do</strong>s de estarmos<br />

em sua presença, Excelência, e<br />

sensibiliza<strong>do</strong>s por sua benevolência em<br />

receber-nos, para tratarmos de um assunto<br />

tão importante, como o fortalecimento <strong>do</strong><br />

seu majestoso império. Sabemos, poder<br />

lhe oferecer o melhor para o<br />

engrandecimento de sua alteza.<br />

- Estou impressiona<strong>do</strong> com seus<br />

gestos de humildade e grande sabe<strong>do</strong>ria.<br />

Então se sentaram sem esperar que<br />

lhes fosse ordena<strong>do</strong>. No fun<strong>do</strong>, Ahdack<br />

gostou daquela insolência e resolveu<br />

condescender.<br />

- Primeiro, gostaríamos de nos<br />

desculpar pelo mal entendi<strong>do</strong>, provoca<strong>do</strong><br />

pelo seu emissário.<br />

- Mal entendi<strong>do</strong>? Vocês o atacaram<br />

sem lhe dar a menor chance de defesa.<br />

Vocês chamam isto de mal entendi<strong>do</strong>?<br />

- Excelência, não estamos <strong>aqui</strong><br />

para nos defender de boatos ou falácias de<br />

comadres e até pediríamos a presença de<br />

475


seu emissário, para que sua inigualável<br />

sabe<strong>do</strong>ria pudesse avaliar os fatos com a<br />

clareza que lhe é devida.<br />

- Carvelus, infelizmente nos deixou,<br />

portanto, prossigam.<br />

- Excelência, nós apenas<br />

defendemos o que é nosso. Afinal, não<br />

poderíamos ficar à mercê de um... como<br />

posso dizer... de um ser de qualificação<br />

duvidável, como ele mesmo deixou a<br />

entender.<br />

- E o que ele “deu a entender”?<br />

- Ora, quan<strong>do</strong> ele percebeu que<br />

possuíamos alguns inventos interessantes,<br />

propôs uma aliança. Como já o<br />

conhecíamos de longa data; e sabe<strong>do</strong>res<br />

da sua ambição desmesurada, muito clara,<br />

deduzimos suas intenções em querer trairvos<br />

e tomar o poder ele mesmo. Não<br />

concordamos. Ele mesmo destruiu metade<br />

de sua frota e danificou parte das<br />

instalações de sua nave, igual a esta, para<br />

mostrar que estava <strong>do</strong> nosso la<strong>do</strong>. Isto nos<br />

fez desconfiar.<br />

- Desconfiar de que?<br />

- Usar nossos inventos para trair-vos<br />

e depois, nos trair também. Isto era óbvio<br />

de perceber. Se deveríamos nos unir e nos<br />

476


curvar, realmente, teria que ser para o<br />

único senhor das galáxias, o qual ouvimos<br />

falar em nossa peregrinação, antes de<br />

conquistarmos aquele planeta desprezível.<br />

O impera<strong>do</strong>r se regozijava diante<br />

aquelas palavras, tão bem colocadas. O<br />

seu ego se inflava.<br />

- E como ele poderia vencer-me?<br />

Poderiam ser mais claros.<br />

- Certamente, Excelência. Ao<br />

longo de muitos anos, no espaço,<br />

conseguimos desenvolver tecnologia<br />

avançada. Veja por esse tradutor, que<br />

trago comigo. Este aparelho traduz<br />

qualquer idioma <strong>do</strong> universo, porque age<br />

diretamente sob as emissões de ondas<br />

enviadas pelo cérebro. Tanto que estamos<br />

falan<strong>do</strong> e nos entenden<strong>do</strong> perfeitamente.<br />

Nossa voz lhe é ouvida por intermédio<br />

deste aparelho, que a reproduz em sua<br />

língua. Agradecemos a gentileza de um de<br />

seus servi<strong>do</strong>res, em poder trazê-lo, para<br />

que pudéssemos nos comunicar. Quero lhe<br />

apresentar, se me permite o cria<strong>do</strong>r de<br />

tu<strong>do</strong> o que temos.<br />

- Este é Zur-Kwa.<br />

- Encanta<strong>do</strong>, Excelência – foi o que<br />

veio <strong>do</strong> grande maluco, meio embaraça<strong>do</strong>.<br />

477


Ahdack, queren<strong>do</strong> provar a<br />

capacidade de Zur-Kwa, lhe perguntou:<br />

- Por acaso, vocês já <strong>do</strong>minam o<br />

conhecimento da Transposição Prottaica,<br />

no seu campo de imposição automolecular?<br />

- Sem dúvida, Excelência, preten<strong>do</strong><br />

concluir as diretrizes tão logo disponha de<br />

um laboratório de campo de choque e<br />

reversão atômica, o que significa a autoimposição-molecular<br />

partirizada.<br />

O impera<strong>do</strong>r não pode conter sua<br />

admiração. Sim, aquele ser tinha o<br />

conhecimento para o fabrico de armas<br />

Prottons. A única coisa que ainda não tinha<br />

em seu vasto arsenal. Também, entendeu<br />

porque Carvelus estava ansioso por se<br />

aliar com eles, e concluiu ser verdade o<br />

que disseram sobre Carvelus.<br />

- Vocês já possuem alguns<br />

protótipos para o experimento final?<br />

- Não – mentiu Zur-Kwa – Ainda não<br />

temos. Como disse, falta-nos o laboratório<br />

de campo para medirmos as potências<br />

Vetrais. Com a aceleração que temos,<br />

poderíamos alcançar no máximo dez<br />

Vetrons.<br />

- E como sabem que funciona?<br />

478


- Por simples projeção de<br />

computa<strong>do</strong>res, Excelência.<br />

- E o que vocês pretendem,<br />

exatamente?<br />

Fanna tomou novamente a palavra.<br />

- Excelência, apenas,<br />

humildemente, fazer parte de seu império.<br />

E se possível, dedicar nossas vidas e<br />

invenções para a grandeza de sua<br />

Excelência. Não pedimos nada em troca,<br />

apenas o prazer e a honra em servi-lo.<br />

Esta era uma situação nova. Jamais<br />

fora aborda<strong>do</strong> daquela forma. Aqueles<br />

seres, ali em sua frente, eram inteligentes<br />

e tinham adquiri<strong>do</strong> tecnologia tão<br />

avançada, quanto à dele próprio, e talvez,<br />

i<strong>do</strong> mais longe. Isto não era de se<br />

desprezar, não pelo menos, por enquanto.<br />

O único ser com estes avanços, felizmente<br />

ou infelizmente, estava morto. Agora, tinha<br />

diante de si, mais uma oportunidade para<br />

possuir tal conhecimento. Sim, acho que<br />

vou permitir que vivam mais um pouco,<br />

pensou.<br />

- Então querem fazer parte <strong>do</strong> meu<br />

império? E como poderão fazer isto?<br />

- Excelência, como disse, servin<strong>do</strong>vos.<br />

Aliás, se Vossa Excelência me<br />

479


permite, devo dizer que to<strong>do</strong> grande<br />

império, para ficar ainda maior, deve contar<br />

com alia<strong>do</strong>s fortes de fato.<br />

- Sábias palavras, meu caro. Vou<br />

considerar o seu pedi<strong>do</strong> e providenciar<br />

para que fiquem <strong>aqui</strong>, como meus<br />

hóspedes. BH-1 prepare acomodações<br />

para os nossos convida<strong>do</strong>s. Prepare,<br />

também, comunicação para que<br />

transmitam aos seus, suas permanências<br />

<strong>aqui</strong>. É só – voltan<strong>do</strong>-se para os visitantes –<br />

Fiquem a vontade, logo mais nos<br />

encontraremos <strong>aqui</strong> mesmo e falaremos<br />

mais sobre Transposição Molecular<br />

Prottaica.<br />

Ahdack levantou-se, desceu os<br />

degraus, deu meia volta e desapareceu por<br />

uma das portas, atrás <strong>do</strong> trono, ao la<strong>do</strong> da<br />

única porta vermelha com um círculo preto<br />

e símbolos que pareciam raios.<br />

Os Somerianos foram leva<strong>do</strong>s até<br />

o quarto nível inferior pelo mesmo eleva<strong>do</strong>r<br />

que subiram, acompanha<strong>do</strong>s por BH-1<br />

série 3 e <strong>do</strong>is andróides arma<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong><br />

sem ostentar suas armas.<br />

480


Durante a caminhada pelos<br />

corre<strong>do</strong>res, viram vários pavilhões usa<strong>do</strong>s<br />

para a manutenção e acondicionamento de<br />

muitas naves Mobis V7 (de combate), logo<br />

após, à direita, duas portas com símbolos<br />

conheci<strong>do</strong>s por Zur-Kwa e Fanna. Ali era a<br />

sala de máquinas, onde o núcleo <strong>do</strong>s<br />

propulsores e força da nave trabalhavam.<br />

Havia autômatos na guarda destas portas.<br />

Mais adiante, entraram por um corre<strong>do</strong>r<br />

estreito e curvilíneo que terminava numa<br />

escada de poucos degraus, dan<strong>do</strong> numa<br />

sala com muitos instrumentos complexos,<br />

altos, fora <strong>do</strong> alcance. Pelos caracteres<br />

impressos, seriam pontes de lançamentos.<br />

Havia ali, inúmeras criaturas fora <strong>do</strong>s<br />

padrões até então conheci<strong>do</strong>s por eles. Ao<br />

retomarem a continuação <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r,<br />

subin<strong>do</strong> por outros degraus, depararam-se<br />

numa lacuna imensa, por onde se viam<br />

cinco gera<strong>do</strong>res fumegantes, no que<br />

concluíram estarem exatamente no centro<br />

da bola de metal de Ahdack.<br />

Zur-Kwa chegou mais perto <strong>do</strong><br />

corrimão, notan<strong>do</strong> uma bela distancia até<br />

os gera<strong>do</strong>res interliga<strong>do</strong>s por passarelas<br />

metálicas, com pisos emborracha<strong>do</strong>s.<br />

481


Olhou para baixo e para cima, <strong>aqui</strong>lo era<br />

simplesmente imenso. Os gases que<br />

circundavam aqueles reatores o impediam<br />

de ver as extremidades.<br />

- Caro senhor – disse BH-1 – para<br />

poder segurar no corrimão, deve manter os<br />

<strong>do</strong>is pés na faixa isolante.<br />

- Bela construção, essa – disse Zur-<br />

Kwa, paran<strong>do</strong> por instantes e obedecen<strong>do</strong><br />

as instruções de BH-1.<br />

- Por favor, senhores, estamos<br />

quase chegan<strong>do</strong> a seus aposentos.<br />

BH-1 virou-se e prosseguiu sua<br />

cicerone.<br />

Alguns passos depois, penetraram<br />

num corre<strong>do</strong>r mais fresco encontran<strong>do</strong><br />

uma porta com <strong>do</strong>is autômatos arma<strong>do</strong>s na<br />

frente. Com a aproximação de BH-1 e os<br />

Somerianos, eles recuaram e a porta se<br />

abriu em cinco pontas. Lá dentro a<br />

temperatura era fria e pairava no ar um<br />

aroma esquisito, um tanto almiscara<strong>do</strong>.<br />

Passaram por duas portas largas nos <strong>do</strong>is<br />

la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r. Mais à frente outra porta<br />

com guardas. Neste corre<strong>do</strong>r, agora mais<br />

estreito, com paredes lisas e luminosidade<br />

avermelhada, encontraram seus<br />

aposentos. Eram <strong>do</strong>is la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>. Fanna e<br />

482


Zur-Kwa ficaram num e os rapazes no<br />

outro.<br />

- Desejamos que fiquem à vontade.<br />

Encontrarão tu<strong>do</strong> o que precisam, basta<br />

que operem os consoles de coman<strong>do</strong>, que<br />

tomamos a liberdade de caracterizá-los<br />

com sinais de sua própria língua.<br />

- Muita consideração de sua parte.<br />

Obriga<strong>do</strong>, BH-1 – disse Fanna.<br />

- Série três, senhor.<br />

- Apenas por curiosidade, por que<br />

você faz questão de dizer Série três?<br />

- Porque somos os mais<br />

capacita<strong>do</strong>s da série BH. Possuímos super<br />

inteligência artificial, que nos torna uma<br />

super raça, por assim dizer. Somos apenas<br />

sessenta e cinco em to<strong>do</strong> o Império.<br />

E dizen<strong>do</strong> isso, BH-1 deu-lhes as<br />

costas e se foi.<br />

O alojamento era simples, tinha<br />

<strong>do</strong>is leitos e entre eles um pequeno<br />

console semelhante àqueles que<br />

encontraram na pirâmide de Hamour.<br />

Outra semelhança, notada por Fanna era a<br />

<strong>do</strong>s pontos luminosos, minúsculos, aos<br />

483


quatro cantos, no alto das paredes lisas e<br />

de cor cinza-chumbo.<br />

- O mesmo esquema da pirâmide<br />

de Hamour – observou Zur-Kwa.<br />

- Bem pareci<strong>do</strong>.<br />

Tão logo a porta se fechou, a<br />

parede de fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> console, abriu-se,<br />

surgin<strong>do</strong> um comunica<strong>do</strong>r de transmissão<br />

externa de longo alcance, com uma tela<br />

ativada. Fanna acomo<strong>do</strong>u-se nos controles<br />

e man<strong>do</strong>u a seguinte mensagem:<br />

- Povo de Someron, quem lhes fala<br />

é Erus Fanna. Estamos bem e ficaremos<br />

mais um pouco. Sua Excelência o<br />

Impera<strong>do</strong>r Ahdack, em sua magnitude,<br />

deseja conhecer-nos um pouco melhor...<br />

Ahdack, de sua sala, os monitorava<br />

com um sorriso tétrico nos lábios, falan<strong>do</strong><br />

consigo mesmo: - Apenas quero saber<br />

mais <strong>do</strong>s Prottons, seus imbecis.<br />

Apesar da rede armada em torno<br />

<strong>do</strong> quadrante inteiro, não foi possível a<br />

Kosmos detectar de onde “Sua<br />

Excelência”, com sua nave tinha saí<strong>do</strong>.<br />

484


Os Telaks permaneciam cegos,<br />

sur<strong>do</strong>s e mu<strong>do</strong>s, mas pelo menos, o plano<br />

até <strong>aqui</strong>, andava conforme o previsto.<br />

Fanna, Zur-Kwa e os rapazes levaram<br />

alguns brinquedinhos e a esta hora,<br />

deveriam estar planta<strong>do</strong>s dentro da<br />

Fortaleza, aguardan<strong>do</strong> o momento de<br />

serem ativa<strong>do</strong>s.<br />

Ahdack, não muito longe dali, em<br />

sua própria Fortaleza sentia-se <strong>do</strong>no da<br />

situação.<br />

- Estes tolos nem perceberam que<br />

falavam com minha projeção holográfica.<br />

- Não confio neles, Excelência –<br />

disse, Rumback pela tela – acho que<br />

deveríamos atacar e destruir o planeta<br />

deles, enquanto <strong>do</strong>rmem.<br />

- Ainda não, Rumback. Vamos<br />

brincar um pouco com estes idiotas.<br />

Enquanto isto faça um check-up em suas<br />

naves e veja que não tenhamos surpresas.<br />

Em breve, muito breve, farão companhia a<br />

Carvelus.<br />

E com estas palavras, a grande<br />

sala de coman<strong>do</strong>s de Ahdack, estremeceu<br />

com uma gargalhada estron<strong>do</strong>sa, feito um<br />

trovão.<br />

485


Durante três dias que se seguiram,<br />

houve várias audiências cujo prato<br />

principal era sobre a Transposição<br />

Molecular Prottaica. Era um assunto<br />

extenso com muitas variantes e todas elas<br />

com incontável número de fórmulas e<br />

progressões. Ahdack queria tu<strong>do</strong> em<br />

mínimos detalhes, pelo qual, Zur-Kwa se<br />

aproveitava, enrolan<strong>do</strong> o máximo que<br />

podia, trazen<strong>do</strong> equações que os levaria<br />

sempre ao mesmo estágio. Naturalmente<br />

nunca ao espera<strong>do</strong> por “Sua Excelência”.<br />

No início <strong>do</strong> quarto dia, o impera<strong>do</strong>r<br />

já parecia cansa<strong>do</strong> de seus visitantes.<br />

Rumback, que a tu<strong>do</strong> acompanhava,<br />

novamente o aconselhou a acabar com a<br />

“festa”.<br />

- Excelência, não quero me tornar<br />

repetitivo, mas acho ser perda de tempo<br />

continuarmos com estas sessões. Acho<br />

que estão apenas tentan<strong>do</strong> ganhar sua<br />

confiança. Eles nada sabem <strong>do</strong> que dizem<br />

saber...<br />

- Rumback, pelo que vi, estão<br />

tentan<strong>do</strong> ganhar tempo e sabem mais <strong>do</strong><br />

que estão apresentan<strong>do</strong>.<br />

- Tempo para que, Excelência?<br />

486


- Vamos ficar saben<strong>do</strong> disto<br />

também. Prepare-lhes novas<br />

acomodações, bem ao seu estilo.<br />

Naquela noite não houve<br />

comunicações, pelo que Tutkan e Hamour<br />

sabiam o por que.<br />

- Ahdack já percebeu o que Erus e<br />

Zur-Kwa estão fazen<strong>do</strong> – disse Tutkan –<br />

vamos acionar a segunda parte <strong>do</strong> plano.<br />

- Isto está me dan<strong>do</strong> nos nervos –<br />

disse Thorc.<br />

- Fique calmo – disse Hamour,<br />

junto as telas <strong>do</strong> Komptor, traçan<strong>do</strong><br />

coordenadas e projeções <strong>do</strong> campo<br />

estelar.<br />

- Klemps – entrou Tutkan –<br />

comunique-se com a superfície. Mandem<br />

que ativem as defesas. Vamos partir em<br />

dez microns.<br />

Uma agitação estranha tomou<br />

conta da Kosmos que logo tomou posição<br />

e ao coman<strong>do</strong> de Tutkan, partiu em direção<br />

à Fortaleza. Em sua retaguarda, outro<br />

cruza<strong>do</strong>r se posicionou como falso líder,<br />

passan<strong>do</strong> a emitir uma mensagem para a<br />

base de Rumback, logo que passaram pelo<br />

portão estelar.<br />

487


- “Aqui é a nave Constelação,<br />

queremos contato com nosso líder e nosso<br />

homem de ciências”...<br />

-...<br />

Como resposta os Telaks<br />

mostraram um giro das naves Mobis em<br />

torno da grande bola de metal, atiran<strong>do</strong> a<br />

esmo. OTelecon <strong>do</strong> Constelação recebeu,<br />

após a demonstração de força da fortaleza<br />

Mobis, uma mensagem.<br />

- Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />

Ahdack, considerou inconveniente a vossa<br />

manifestação, por isso man<strong>do</strong>u alguns<br />

avisos de advertência. Não se aproximem<br />

mais. Vosso líder e o homem das ciências,<br />

no entanto, estão muito ocupa<strong>do</strong>s, tratan<strong>do</strong><br />

de assuntos de interesse <strong>do</strong> império.<br />

Tutkan, olhan<strong>do</strong> para Hamour e<br />

Thorc, com segurança afirmou<br />

categoricamente – ele sabe que não<br />

faremos nada enquanto os nossos<br />

estiverem lá. Por que então esta<br />

palhaçada?<br />

- A esta altura – disse Hamour – ele<br />

já sabe que conhecemos e <strong>do</strong>minamos o<br />

Transpositor Prottaico e se sente<br />

ameaça<strong>do</strong>, e deve estar irrita<strong>do</strong> pela<br />

enrrolação de Zur-Kwa. Além disto, está<br />

488


tentan<strong>do</strong> ganhar tempo para nos estudar<br />

melhor.<br />

- Mas afinal, onde ele está? – disse<br />

Tutkan – Que droga! Só vejo uma bola.<br />

Onde está a outra? Como este pilantra<br />

pode ter saí<strong>do</strong> de sua base sem que o<br />

víssemos?<br />

- Esta é uma boa pergunta, Tut –<br />

respondeu Hamour.<br />

- A menos que estejamos engana<strong>do</strong>s<br />

– disse Thorc coçan<strong>do</strong> o queixo – talvez<br />

aquela seja mesmo a Fortaleza dele.<br />

- Improvável – disse Hamour – Nunca<br />

se vê a Fortaleza dele a menos que seja<br />

tarde demais. Não. Aquela é a de<br />

Rumback.<br />

- Esta é a parte <strong>do</strong> plano que não<br />

vai bem. Se não soubermos onde ele está,<br />

nossas chances se reduzem a nada.<br />

- Thorc, o jeito é prosseguir na<br />

busca com os mapas, uma coisa grande<br />

assim não se esconde à toa. Ele<br />

provavelmente está disfarça<strong>do</strong> de<br />

asteróide ou algo assim. Qualquer corpo<br />

não identifica<strong>do</strong> e não mapea<strong>do</strong> deve ser<br />

ele.<br />

489


- Senhor, - disse Klemps – temos<br />

força de anti-matéria para mais <strong>do</strong>is<br />

tempos. Após isto ficaremos visíveis.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Klemps, informe meio<br />

tempo antes de saturar, e prepare os<br />

Prottons com cinqüenta Vetrons.<br />

- Tu<strong>do</strong>? – perguntou Thorc.<br />

- Tu<strong>do</strong>. Logo que encontrarmos<br />

Ahdack, quero dar só um tiro.<br />

Xxxxxxxxxxxxx<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que pensavam<br />

Ahdack não estava simplesmente<br />

escondi<strong>do</strong> e para<strong>do</strong>. Sua grande bola de<br />

metal se aproximava de Kálerus.<br />

Na superfície <strong>do</strong> planeta, os Telaks<br />

detectavam-no sob a forma de um cometa.<br />

De repente, o cometa parou e dele<br />

saiu uma chuva de naves Mobis, que não<br />

deram chances para os cargueiros Mir e o<br />

Cruza<strong>do</strong>r Galáctico. Em microns clareavam<br />

a noite num bombardeio simultâneo sobre<br />

as cinco cidades. Eram vôos rasantes<br />

490


pelas avenidas, segui<strong>do</strong>s de explosões e<br />

incêndios, devastan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que havia,<br />

despedaçan<strong>do</strong> os seres e suas casas, em<br />

mil pedaços.<br />

O sistema de defesa se quer<br />

disparou qualquer tiro. Vinte formações<br />

Zag foram destruídas dentro <strong>do</strong>s hangares.<br />

- Socorro – gritava Ambhórius,<br />

desesperadamente ao Telecon – Estamos<br />

sen<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong>s... precisamos de ajuda...<br />

socorro, soc...<br />

O Telecon da Kosmos captou<br />

apenas fragmentos de imagens e sons.<br />

Eram to<strong>do</strong>s inteligíveis. Klemps não podia<br />

avaliar o que se passava, entenden<strong>do</strong> ser<br />

isto, decorrência à zona de asteróides<br />

perto dali. Logo a tela e áudio ficaram<br />

limpos, pelo que fez Tutkan concluir –<br />

Agora estamos longe demais, Fora <strong>do</strong><br />

alcance. Espero que tu<strong>do</strong> esteja bem.<br />

Em Kálerus havia uma total<br />

devassa. Não sobrara nada, apenas, tão<br />

somente, a pirâmide em pé.<br />

491


Os poucos sobreviventes foram<br />

leva<strong>do</strong>s a ferros para a Fortaleza de<br />

Ahdack, que se deliciava com seu poder<br />

devasta<strong>do</strong>r e ordenou o bombardeio total<br />

no planeta com raios Frattons.<br />

Ninguém mais além de<br />

conquista<strong>do</strong>res e conquista<strong>do</strong>s, sabiam o<br />

que havia aconteci<strong>do</strong> em Kálerus.<br />

Tutkan, assim como os demais,<br />

estavam cansa<strong>do</strong>s e nervosos com o<br />

insucesso das buscas. Haviam percorri<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong>s os cantos daquele quadrante e<br />

rastrea<strong>do</strong> outros <strong>do</strong>is, com sondas<br />

Teleméricas e nenhum vestígio fora<br />

encontra<strong>do</strong>.<br />

- Este maldito Ahdack. Será que<br />

percebeu nossas buscas?<br />

- Tu<strong>do</strong> é possível, Tut. Quan<strong>do</strong> se<br />

trata de “Sua Excelência”, tu<strong>do</strong> é possível –<br />

concor<strong>do</strong>u Hamour.<br />

- Onde este cretino foi se enfiar?<br />

- Talvez não esteja escondi<strong>do</strong> –<br />

ponderou Thorc.<br />

Com estas palavras, Hamour<br />

sentiu uma agulhada no peito.<br />

492


- Vamos voltar – disse com<br />

decisão.<br />

- Concor<strong>do</strong> – disse Tutkan – Vamos<br />

começar as buscas <strong>do</strong>nde começamos.<br />

- Não. – entrou Hamour com a<br />

expressão preocupada – Vamos voltar para<br />

Kálerus.<br />

- Para Kálerus?<br />

- Sim, Tut. Algo não está certo. Eu<br />

sinto isto. Que Deus nos ajude...<br />

- O que foi Hamour? – perguntou<br />

Thorc.<br />

- Não quero nem pensar...<br />

- E Fanna e os outros?<br />

- Ele estará bem enquanto Zur-<br />

Kwa não falar.<br />

O Constelação ficou para trás,<br />

atrás <strong>do</strong> portão estelar e a Kosmos tomou<br />

atalhos perigosos através de buracos e<br />

<strong>do</strong>bras <strong>do</strong> Universo e em pouco<br />

materializou-se por assim dizer, na órbita<br />

de Kálerus, pairan<strong>do</strong> e flutuan<strong>do</strong> enquanto<br />

transmitia para a superfície.<br />

- Não respondem – disse Klemps –<br />

Não há resposta, senhor. O Telecon está<br />

cego, sur<strong>do</strong> e mu<strong>do</strong>.<br />

493


Uma onda sinistra percorreu suas<br />

mentes, causan<strong>do</strong> arrepios e a sensação<br />

de estarem morren<strong>do</strong> por dentro.<br />

- Prepare minha nave – disse<br />

Tutkan – vou descer.<br />

- Vou com você – disse Thorc.<br />

- Eu também – disse Hamour, com<br />

uma expressão raivosa e continuou entre<br />

dentes – Ahdack... desta vez você foi longe<br />

demais... Que Deus me per<strong>do</strong>e, mas vou<br />

matá-lo... Você vai se arrepender de ter<br />

nasci<strong>do</strong>...<br />

Três March-1 desceram até<br />

Kálerus, sobrevoan<strong>do</strong> as cidades em<br />

ruínas, com focos de fogo e fumaça em<br />

vários pontos. As lágrimas lhes<br />

percorreram as faces.<br />

Pousaram fora <strong>do</strong>s limites de<br />

Atlantlis, agora, transformada em<br />

escombros. Ali mesmo, jaziam corpos<br />

mutila<strong>do</strong>s e queima<strong>do</strong>s.<br />

O restante <strong>do</strong> reconhecimento foi<br />

feito a pé. Nada. Ninguém vivo à vista. Os<br />

sensores Kramset foram ativa<strong>do</strong>s para<br />

494


calor e vibrações de seres vivos. Mas não<br />

acusavam nada, nem mesmo nativos.<br />

A pirâmide estava em pé e isto<br />

trouxe alguma esperança ao coração de<br />

Hamour que entrou às pressas. Tu<strong>do</strong><br />

estava revira<strong>do</strong>, com indícios de luta. Os<br />

controles internos, quebra<strong>do</strong>s.<br />

Conhecen<strong>do</strong> Ahdack, como<br />

conhecia Hamour, podia imaginar o que<br />

poderia ter ali aconteci<strong>do</strong>, e se Amis<br />

estivesse viva...<br />

Hamour sentou-se numa floreira<br />

em pedaços e chorou, desejan<strong>do</strong> que ela<br />

tivesse sucumbi<strong>do</strong> junto aos outros.<br />

Em Pakeus, Mirviam e Vlaupora, o<br />

cenário era o mesmo: cinzas, destroços e o<br />

cheiro da morte.<br />

Partiram para Krópitus e os<br />

sensores detectaram vida, mas em<br />

manifestações fracas, tão fracas que foram<br />

gastos <strong>do</strong>is tempos até que fosse<br />

detecta<strong>do</strong> sua fonte.<br />

495


Estavam sob escombros e tiveram<br />

que cavar com suas próprias mãos e<br />

ferramentas improvisadas.<br />

Depois de muitos esforços, foram<br />

encontradas, muito fracas, quase mortas,<br />

Zart e Walln, filhas de Tutkan.<br />

Zart, num fio de voz, conseguiu<br />

falar:<br />

- Por que nos aban<strong>do</strong>naram?<br />

E foi só o que disse, desfalecen<strong>do</strong>,<br />

logo em seguida.<br />

Tutkan a apoiou em seus braços,<br />

abraçou-a e beijou-lhe a face prejudicada<br />

pelos ferimentos e cinzas escuras.<br />

Hamour estremeceu ao vê-las.<br />

Sentiu que Amis estava viva e em poder de<br />

Ahdack e logo ele saberia. Ahdack, além<br />

das atrocidades que iria fazer com ela,<br />

saberia de sua presença.<br />

- Droga!... Aquele maldito, logo terá<br />

as cartas nas mãos e vai conduzir o jogo a<br />

seu bel-prazer.<br />

Ao olhar para cima perceberam<br />

vindas <strong>do</strong> leste uma enorme claridade, tal<br />

496


como uma aurora boreal. Auxiliou Tutkan a<br />

transportá-las para sua nave e foi de<br />

encontro a Thorc, que com seus sensores<br />

ativa<strong>do</strong>s, procurava mais sobreviventes.<br />

De súbito viu Tutkan partin<strong>do</strong> em sua nave,<br />

mas não levan<strong>do</strong> as garotas que estavam<br />

acomodadas confortavelmente numa<br />

armação improvisada.<br />

Enquanto Hamour corria<br />

novamente para sua nave com a intenção<br />

de se comunicar com Tutkan, Thorc<br />

encontrou naqueles escombros, Zac, filho<br />

de Walln, morto.<br />

- Ele só tinha três anos – disse<br />

Thorc entre lágrimas e verifican<strong>do</strong> seu<br />

sensor Kramset totalmente mu<strong>do</strong>.<br />

O Intercon da nave de Tutkan<br />

soou.<br />

-Tutkan na escuta, pode falar.<br />

- Sou eu, Tut, aonde você vai?<br />

- Até o planeta Shan, ver como<br />

estão as coisas com o laboratório de Zur-<br />

Kwa, Hamour.<br />

Tutkan tinha seus olhos para<strong>do</strong>s e<br />

estava calmo demais, feito um vulcão<br />

prestes a explodir.<br />

497


Hamour, por sua vez voltou junto a<br />

Thorc, que permanecia com Zac nos<br />

braços e repetia – Ele só tinha três anos...<br />

- Thorc, vamos sair rápi<strong>do</strong> d<strong>aqui</strong>,<br />

acho que ele usou os raios Frattons, veja o<br />

leste.<br />

- O que é aquela claridade?<br />

- Fogo, a maior fogueira que você<br />

já viu. O planeta vai virar cinzas.<br />

Enfim, a procura de sobreviventes<br />

continuou por mais um tempo e nada,<br />

ninguém mais parecia estar vivo.<br />

Zart e Walln foram colocadas na<br />

nave de Thorc que partiu para Kosmos,<br />

enquanto viam o planeta em chamas.<br />

Hamour foi de encontro à Tutkan no<br />

planeta Shan.<br />

Thorc a caminho, relatou os<br />

acontecimentos pelo que to<strong>do</strong>s<br />

emudeceram.<br />

Tutkan pousou entre árvores altas<br />

e copadas ao norte <strong>do</strong> laboratório que<br />

parecia intacto. Perto dali, Belzamir<br />

498


incava com filhotes humanos e foi de<br />

encontro a Tutkan ao vê-lo pousar.<br />

- Oi Tut, que bom vê-lo por <strong>aqui</strong>!!<br />

Na medida em que Tutkan se<br />

aproximava sem nada dizer, e com o olhar<br />

para<strong>do</strong>, Belzamir sentiu que algo estava<br />

erra<strong>do</strong> e parou.<br />

Foi um encontro dramático para<br />

ela. Tutkan em poucas palavras relatou os<br />

fatos, manten<strong>do</strong> aparentemente sua calma.<br />

- E Zur-Kwa?<br />

- Ele e Erus estão bem por hora.<br />

- Oh, meu Deus!! O que vai ser de<br />

nós? Está tu<strong>do</strong> acaba<strong>do</strong>...<br />

- Vamos, Belzamir, chame e reúna<br />

os outros.<br />

Ela não ouvia. Parecia em transe.<br />

- Eles destruíram tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s... Oh,<br />

meu Deus, o que vai ser de nós?<br />

- Mantenha-se calma, Belzamir –<br />

disse Tutkan, com voz áspera.<br />

- Desculpe Tut, desculpe... Oh, meu<br />

Deus!...<br />

Tutkan a abraçava e as lágrimas de<br />

ambos eram abundantes. Mesmo os<br />

filhotes humanos choravam agarra<strong>do</strong>s às<br />

vestes de Belzamir, sem saberem de nada.<br />

499


- Vamos, Belzamir, chame os<br />

outros, talvez não seja seguro ficar <strong>aqui</strong>.<br />

Eles podem voltar, devem ter nos<br />

detecta<strong>do</strong>...<br />

- Oh, Tut, o que vai ser de nós???<br />

Pouco depois, Tutkan e Belzamir<br />

comunicavam aos outros, com a<br />

choradeira <strong>do</strong>s humanos em sua volta. Foi<br />

então que Hamour pousou junto à nave de<br />

Tutkan e transmitiu para a Kosmos o<br />

pedi<strong>do</strong> de uma nave transporte capaz de<br />

levar a to<strong>do</strong>s e tu<strong>do</strong> o que pudesse ser<br />

transporta<strong>do</strong>, mesmo to<strong>do</strong> o complexo <strong>do</strong><br />

laboratório.<br />

- Hamour – disse Tutkan ao vê-lo –<br />

precisamos tirá-los d<strong>aqui</strong> o mais depressa<br />

possível.<br />

- Já pedi transporte, Tut. Logo<br />

estarão <strong>aqui</strong>, enquanto isso devemos<br />

organizar as coisas e, Tut, - chegan<strong>do</strong>-se<br />

mais perto, quase que cochichan<strong>do</strong> – temos<br />

que agir depressa, porque acho que<br />

levaram Amis e você sabe o que isto<br />

significa.<br />

- Sim, Hamour, vinha pensan<strong>do</strong><br />

nisto no caminho. Se a levaram, Ahdack<br />

saberá de sua existência.<br />

500


- Agora estamos sem escolha.<br />

Precisamos atacá-lo. Não podemos dar a<br />

ele chances de raciocinar.<br />

- O pior é que Erus, Zur-kwa e os<br />

nossos rapazes estão em seu poder, na<br />

outra Fortaleza... Droga, droga, droga!!! Mil<br />

vezes, droga!!!!!<br />

A situação era difícil. Tutkan se<br />

sentia impotente e Hamour, praticamente<br />

nas mãos <strong>do</strong> tirano.<br />

Da Fortaleza Imperial, Ahdack, o<br />

senhor de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s se comunicou<br />

com seu general favorito.<br />

- Rumback, prepare um Mobis TR-<br />

10 e mande os prisioneiros, com exceção<br />

<strong>do</strong> cientista, para a Colônia I. Vamos juntar<br />

o líder com seu povo. Afinal, ele mesmo<br />

disse que queria me servir. Hoje me sinto<br />

generoso e vou lhe conceder esta dádiva.<br />

- Certamente, Excelência, mas<br />

tenho duas perguntas a fazer, se me<br />

permite?<br />

- Diga.<br />

- A primeira diz respeito aos<br />

estoques de nossas despensas, por acaso<br />

501


Sua Excelência nos trouxe carne nova e<br />

fresca?<br />

- Desta vez não, Rumback. Apenas<br />

algumas mulheres e rapazes fortes o<br />

bastante para minhas experiências. Não<br />

trouxe crianças. E a segunda?<br />

- Uma pena, uma pena... a<br />

segunda, diz respeito àquele ferro-velho<br />

estaciona<strong>do</strong> perto <strong>do</strong> portão estelar Dois.<br />

Devo destruí-lo?<br />

- Sim, mas espere minhas ordens.<br />

Logo você as terá.<br />

- Desculpe a insistência,<br />

Excelência, mas por que não agora?<br />

- Muito simples Rumback, quan<strong>do</strong><br />

souberem o que aconteceu ao restante <strong>do</strong><br />

povo deles, eles mesmos irão a você,<br />

então – Ahdack gargalhou<br />

estron<strong>do</strong>samente – Então terá um bom<br />

momento de praticar tiro ao alvo. Bom<br />

divertimento, Rumback!<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Excelência.<br />

No calabouço da Fortaleza de<br />

Rumback, Erus Fanna, Zur-Kwa, Velz,<br />

Maxun e os <strong>do</strong>is jovens oficiais Simeon e<br />

Wurtz, organizavam o plano de fuga. Cada<br />

um memorizara partes da nave por onde<br />

502


passaram e agora, o mapa e suas<br />

peculiaridades eram coloca<strong>do</strong>s em papel<br />

lamina<strong>do</strong>. Zur-Kwa havia memoriza<strong>do</strong> os<br />

movimentos de digitação nas portas por<br />

onde passaram principalmente a de acesso<br />

à descomunal sala de coman<strong>do</strong>.<br />

Então, a porta da cela abriu-se num<br />

estouro, aparecen<strong>do</strong> BH-1 Série 3 com<br />

mais cinco andróides arma<strong>do</strong>s com seus<br />

rifles de raios, e foi logo dizen<strong>do</strong>, sem<br />

aquela simpatia anterior:<br />

- O comandante Rumback deseja<br />

vê-lo – apontan<strong>do</strong> para Fanna.<br />

- Comandante Rumback? Quem é<br />

Rumback?<br />

- É o comandante desta Fortaleza.<br />

- Não deixe seu amigo esperan<strong>do</strong> –<br />

disse Zur-Kwa.<br />

Fanna voltou-se para o baixinho e<br />

os outros que compreenderam o que os<br />

seus olhos diziam; era a hora de agir.<br />

- Ora, mas eu pensei que o<br />

comandante desta nave fosse Sua<br />

Excelência o Impera<strong>do</strong>r Ahdack!<br />

- O nosso Impera<strong>do</strong>r encontra-se<br />

em sua Fortaleza Imperial.<br />

- E onde está a Fortaleza Imperial?<br />

503


- Muito longe d<strong>aqui</strong>, agora vamos,<br />

o comandante Rumback o espera e não<br />

devemos demorar.<br />

- Sim, é claro.<br />

Neste ponto, Fanna terminava, ou<br />

representava terminar de se vestir, dan<strong>do</strong><br />

tempo para que os outros pudessem<br />

avaliar a situação. Então se aproximou de<br />

Zur-Kwa, simulan<strong>do</strong> despedida e<br />

passan<strong>do</strong>-lhe à mão, um grampo de seu<br />

broche.<br />

- Nos veremos em breve.<br />

Deu meia volta e seguiu com sua<br />

escolta.<br />

A porta voltou a fechar noutro<br />

estouro. Zur-Kwa aproximou-se de Maxun<br />

que mantinha o ouvi<strong>do</strong> cola<strong>do</strong> na parte<br />

mais fina <strong>do</strong> metal da porta.<br />

- Vamos dar tempo para Fanna<br />

atingir os limites <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r, depois,<br />

vamos sair d<strong>aqui</strong>.<br />

- Erus Fanna – disse Rumback no<br />

mesmo trono antes ocupa<strong>do</strong> por Ahdack -,<br />

meu nome é Rumback. Sou seu<br />

comandante por hora e tenho as seguintes<br />

ordens para você...<br />

504


- Antes de me passar os reca<strong>do</strong>s<br />

de seu Impera<strong>do</strong>r, diga-me, por que ele<br />

mesmo não está <strong>aqui</strong>?<br />

- Naturalmente, Sua Excelência<br />

tem outros assuntos de maior importância,<br />

no momento. Assuntos estes, que deverão<br />

interessar muito a você, meu caro.<br />

- Talvez, mas insisto, onde está<br />

seu Impera<strong>do</strong>r?<br />

Rumback ignorou a pergunta e<br />

seguiu:<br />

- Você e os seus, com exceção <strong>do</strong><br />

cientista, partirão em <strong>do</strong>is tempos, rumo a<br />

Fortaleza Imperial. Antes de partir, você<br />

fará um comunica<strong>do</strong> à sua gente, dizen<strong>do</strong><br />

que: De agora em diante, deverão<br />

obedecer e a<strong>do</strong>rar Sua Excelência, o<br />

Impera<strong>do</strong>r das Galáxias, Ahdack, o seu<br />

senhor. Para ser mais claro, de agora, para<br />

sempre.<br />

Fanna, calmo, observava aquele<br />

mesmo ar de “superioridade”, assim como<br />

Carvelus advindas <strong>do</strong> mestre deles.<br />

Subitamente o alarme interno<br />

disparou, trazen<strong>do</strong>-o novamente à<br />

realidade.<br />

505


Segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> alarme, uma voz<br />

metálica sem dinâmica ou inflexões vocais<br />

dizia: - “Corpos estranhos rondan<strong>do</strong> no<br />

corre<strong>do</strong>r cinqüenta e <strong>do</strong>is A, em direção <strong>do</strong><br />

eleva<strong>do</strong>r”...<br />

Rumback sacou sua arma de raios<br />

e a calibrou, depois disparou sua carga<br />

contra o peito de Fanna, paralisan<strong>do</strong>-o,<br />

abaixo, logo em sua frente. Ao mesmo<br />

tempo deu ordens pelo comunica<strong>do</strong>r<br />

interno:<br />

- Calibrem suas armas para<br />

paralisar. Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r, os<br />

quer vivos.<br />

Agora, era Rumback que ria<br />

estridentemente, pensan<strong>do</strong> nas razões<br />

pelas quais seu Impera<strong>do</strong>r os queria vivos.<br />

Seriam cobaias para experiências em<br />

cruzas com as várias raças. Coisa que não<br />

dera certo até então, da<strong>do</strong> à fraqueza das<br />

fêmeas capturadas.<br />

506


CAPÍTULO IX<br />

A grande nave Kosmos era<br />

novamente o centro nervoso e capital <strong>do</strong>s<br />

Somerianos. Era também o novo lar <strong>do</strong>s<br />

filhotes humanos, que ocupavam as<br />

dependências <strong>do</strong> antigo laboratório de<br />

Thorc e Zur-Kwa. Era um espaço para<br />

correr e brincar, cheio de bugigangas e<br />

geringonças engraçadas. Ajustaram-se<br />

bem ao novo ambiente, apesar de<br />

amedronta<strong>do</strong>s no início. Entretanto<br />

sentiam-se protegi<strong>do</strong>s sob os atentos olhos<br />

da mãe Belzamir e <strong>do</strong>s tios (outros<br />

participantes <strong>do</strong> projeto).<br />

No hangar principal, agora maior, a<br />

nave Atlantis recebia as atenções de to<strong>do</strong>s<br />

os envolvi<strong>do</strong>s em sua montagem. Este<br />

enorme salão recebeu em seu piso duas<br />

comportas, por onde a nova nave ganharia<br />

espaço. Era este lugar, chama<strong>do</strong> de “O<br />

Grande Ventre”.<br />

507


Dentro da Atlantis, Hamour<br />

supervisionava a montagem acelerada da<br />

parafernália computa<strong>do</strong>rizada. Cuidava<br />

pessoalmente <strong>do</strong>s testes nos Teleméricos<br />

e magnetiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> escu<strong>do</strong> externo da<br />

nave. Thorc ocupava-se na transferência<br />

de Velux sóli<strong>do</strong> para os depósitos vazios<br />

recém-instala<strong>do</strong>s. Uma equipe de oito<br />

Somerianos checava todas as manobras<br />

com o combustível dentro de seus<br />

recipientes especiais.<br />

A viagem até o portão estelar <strong>do</strong>is<br />

era propositadamente morosa e carregada<br />

de tensão. Outro fator importante era a<br />

indecisão sobre, se deveriam ou não levar<br />

os humanos. Haveria batalha e até que<br />

ponto era justo expo-los a tal perigo. O<br />

exemplo disso, o comandante Tutkan, que<br />

represava seus sentimentos, tinha o cenho<br />

carrega<strong>do</strong> e falava pouco.<br />

Então o Dr.Grohalv solicitou a<br />

presença de Tutkan, Hamour e Thorc, no<br />

ambulatório, Zart havia acorda<strong>do</strong>.<br />

Num piscar de olhos, Tutkan<br />

estava com ela.<br />

508


Havia um ar de tristeza naquele<br />

pequeno recinto.<br />

- Oh, minha filha querida... – disse<br />

Tutkan, em total consternação.<br />

- Oh, papai... – ela mal podia falar<br />

sob-hematomas, objetos de cura e<br />

eletro<strong>do</strong>s envoltos pelo corpo inteiro,<br />

principalmente na cabeça.<br />

-... Onde vocês estavam? ... Oh,<br />

papai... foi horrível...<br />

- Eu sei querida...<br />

Então Hamour entrou e se juntou à<br />

cabeceira da câmara de vida onde na outra<br />

extremidade o Dr.Grohalv não tirava os<br />

olhos <strong>do</strong>s monitores atrela<strong>do</strong>s à Zart.<br />

- Hamour... – disse ela,<br />

acompanhan<strong>do</strong>-o com os olhos.<br />

- Zart, você se sente bem?<br />

Mais lágrimas brotaram de seus<br />

olhos.<br />

- Acho que sim... e Walln? Ela<br />

sobreviveu?<br />

- Ela está bem – disse o Dr.Grohalv<br />

sem tirar os olhos <strong>do</strong>s monitores.<br />

Thorc juntou-se a eles.<br />

- Oh, Thorc, por que vocês nos<br />

aban<strong>do</strong>naram?<br />

509


- Querida!!! – foi o que Thorc<br />

conseguiu falar, depois sua garganta<br />

engasgou e as lágrimas lhe vieram.<br />

- Querida – entrou Tutkan –<br />

desabafe... conte-nos...<br />

- Papai, foi horrível...<br />

- Eu sei meu bem... eu sei!!!!<br />

- Nós estávamos na pirâmide...<br />

com Amis...<br />

- Nós, quem, minha filha?<br />

- Walln, com o pequeno Zac...<br />

Zuila, Amis e eu...<br />

- Sim, meu bem, continue.<br />

-... de repente o céu pareceu<br />

desabar sobre nós...<br />

As lágrimas eram escassas.<br />

-... estávamos no jardim... Zac<br />

dava pulinhos e ensaiava suas corridinhas<br />

pela grama... ouvimos explosões e gritos...<br />

então... aquelas naves... nós corremos<br />

para dentro da pirâmide... lá fora havia<br />

fogo por toda a parte... pessoas em<br />

chamas...<br />

- E como vocês foram parar em<br />

Krópitus?<br />

-... A pirâmide parecia resistir,<br />

quan<strong>do</strong> uma violenta explosão acabou com<br />

a porta... Oh, papai...<br />

510


e...<br />

Os soluços sacudiram-na.<br />

- Sim, filha, o que aconteceu?<br />

- O pequeno Zac estava perto...<br />

- Maldito!! – praguejou Tutkan,<br />

contrain<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os seus músculos. Tinha<br />

os olhos ejeta<strong>do</strong>s e os punhos cerra<strong>do</strong>s.<br />

Hamour olhou para o Dr.Grohalv,<br />

que entendeu aquela interrogação<br />

silenciosa e meneou a cabeça<br />

afirmativamente. Poderiam continuar por<br />

mais alguns instantes. Zart, apesar de<br />

bastante ferida, era forte e o desabafo lhe<br />

faria bem. Ela continuou:<br />

- Hamour, papai, Thorc... o<br />

pequeno Zac recebeu em cheio o<br />

desabamento...<br />

- Querida – Hamour tomou a<br />

palavra – se você não quiser, não precisa<br />

continuar.<br />

- Não, Hamour. Preciso lhe dizer...<br />

depois <strong>do</strong> dasabamento... aqueles<br />

andróides levaram Amis e Zuila para uma<br />

nave, e eu e Walln para outra... então<br />

alguém, na nave que estávamos gritou<br />

algo sobre outro rumo, no instante que<br />

fomos atingi<strong>do</strong>s e caímos... eis tu<strong>do</strong>...<br />

511


- Muito bem – disse o Dr.Grohalv –<br />

Você já falou tu<strong>do</strong> o que precisava, por<br />

hoje. Agora, faça como sua irmã. Durma<br />

para renovar as energias. Vamos precisar<br />

de você tão logo possa...<br />

- Sim, minha filha. Fique boa logo.<br />

Queremos você boa... Vamos pegar<br />

aqueles canalhas e fazer picadinho deles...<br />

Thorc desceu aos hangares, onde<br />

oficiais, recrutas, manutensores, etc.,<br />

revisavam as naves de combate e foi logo<br />

dizen<strong>do</strong>:<br />

- Rapazes, vamos preparar uma<br />

surpresinha para os Mobis. Faremos uns<br />

melhoramentos nestas naves.<br />

Enquanto isso, Tutkan, na ponte de<br />

coman<strong>do</strong>, não tirava os olhos <strong>do</strong> Telak,<br />

quan<strong>do</strong> Hamour chegou.<br />

- Não posso entender – disse<br />

Tutkan – Fiz uma varredura em to<strong>do</strong> este<br />

quadrante e nem sinal daquele crápula.<br />

- Isto não me surpreende Tut,<br />

Ahdack possui uma rara astúcia. Fez-nos<br />

pensar que estava num lugar e... bem que<br />

eu pensei. Aquela Fortaleza a vista não era<br />

dele.<br />

512


- Mas Fanna nos disse ter fala<strong>do</strong><br />

com ele em pessoa...<br />

- Falou com o holograma dele. É<br />

possível que ele tenha desvenda<strong>do</strong> o<br />

segre<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cristaltons.<br />

- Vinte macrons <strong>do</strong> portão estelar<br />

<strong>do</strong>is, comandante – disse Klemps, no leme.<br />

- Obriga<strong>do</strong>, Klemps. Hamour, e a<br />

sua nave?<br />

- Estamos nas checagens finais e<br />

a propósito, alguma noticia de Fanna e os<br />

outros?<br />

- Não. Nada. Os monitores <strong>do</strong><br />

Constelação não acusaram movimento<br />

algum. Ainda estão lá.<br />

- Pelo menos sabemos que<br />

Ahdack não está. De certa maneira isto é<br />

bom... Bem – completou Hamour,<br />

demonstran<strong>do</strong> cansaço – ainda temos um<br />

dia para Fanna derrubar a mesa por lá.<br />

Voltarei para os meus afazeres na Atlantis.<br />

Se precisar de mim...<br />

- Está certo, Hamour. Eu chamo.<br />

- Dez macrons <strong>do</strong> portão estelar<br />

<strong>do</strong>is, comandante.<br />

- Preparar desaceleração em cinco<br />

macrons, Klemps.<br />

513


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Erus Fanna, embora paralisa<strong>do</strong>,<br />

estava lúci<strong>do</strong> e concentrava-se emitin<strong>do</strong><br />

ordens aos seus membros. Sentia-se mais<br />

à vontade pela ausência de Rumback. Aos<br />

poucos o sangue corria mais forte e seus<br />

nervos e tendões reagiam bem. Os pés e<br />

as mãos pareciam estar destravan<strong>do</strong>.<br />

Então as pernas e os braços deram sinal<br />

de vida. Em microns, sentia-se reanima<strong>do</strong>,<br />

no entanto, mantinha-se na mesma<br />

posição, avalian<strong>do</strong> a situação. Não queria<br />

chamar a atenção <strong>do</strong>s tipos estranhos, em<br />

suas funções nos pisos mezaninos à sua<br />

volta.<br />

Precisava esperar a ocasião certa<br />

para sair por aquela porta, a <strong>do</strong> meio, por<br />

onde passara momentos antes.<br />

De repente o alarme soou<br />

novamente e uma voz metálica dizia coisas<br />

514


inteligíveis. Fanna olhou em sua volta,<br />

aquelas criaturas estavam nitidamente<br />

ocupadas em várias telas, onde vários<br />

locais e corre<strong>do</strong>res apareciam. Fanna se<br />

aproveitou deste momento para ativar o<br />

TSU – Tradutor Sensorial Universal – à sua<br />

frente, instala<strong>do</strong> num console metálico,<br />

desde que lá chegaram.<br />

A voz metálica dizia:<br />

- Intrusos, atenção, pessoal não<br />

autoriza<strong>do</strong> no nível quatro e no hangar...<br />

Atenção, intrusos...<br />

Totcha-man-chunk, o réptil, que<br />

fora encarrega<strong>do</strong> de preparar o Mobis-TR-<br />

10 e apanhar os prisioneiros para enviá-los<br />

a Ahdack, agora era o escu<strong>do</strong> protetor de<br />

Maxun. Fora apanha<strong>do</strong> no momento inicial<br />

<strong>do</strong> alarme, ao sair <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r, no corre<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> calabouço.<br />

Os prisioneiros em ação rápida<br />

<strong>do</strong>minaram andróides, exterminan<strong>do</strong>-os<br />

com suas próprias armas. Em poucos<br />

microns, estavam no hangar principal entre<br />

os grandes tanques de Velux líqui<strong>do</strong>, numa<br />

chuva de raios.<br />

515


Neste mesmo instante Rumback<br />

assumiu a ponte de coman<strong>do</strong>, em seu<br />

“trono”, passan<strong>do</strong> pelo “imobiliza<strong>do</strong>” Erus<br />

Fanna. Ven<strong>do</strong> os intrusos entre os tanques<br />

de combustível, pelo monitor, gritava com<br />

sua voz esganiçada:<br />

- Não atirem, não atirem seus<br />

idiotas...<br />

Por um triz <strong>aqui</strong>lo tu<strong>do</strong> não<br />

explodiu, entretanto Velz e seus<br />

companheiros mantinham fogo aberto,<br />

atingin<strong>do</strong> em cheio muitos andróides e<br />

criaturas. Ao coman<strong>do</strong> de Rumback os que<br />

estavam em pé saíram de mira e com isto,<br />

oportunizan<strong>do</strong> os intrusos rolarem mais<br />

para perto de suas naves.<br />

Rumback de repente olhou Fanna,<br />

ali, em sua frente, paralisa<strong>do</strong> e resolveu<br />

aproveitar-se da situação. Pensou consigo<br />

mesmo, com o líder deles em minhas<br />

mãos, se renderão. Então desceu de seu<br />

pedestal e em movimentos bruscos digitou<br />

alguns coman<strong>do</strong>s de seu console.<br />

Apareceu sua imagem nos telões, se<br />

aproximan<strong>do</strong> de Fanna. Logo, estava com<br />

516


sua arma voltada para a cabeça de seu<br />

prisioneiro, e gritou suas ordens:<br />

- Somerianos, rendam-se ou<br />

matarei seu líder.<br />

Para sua surpresa, suas palavras<br />

soaram em seu idioma (de Meran). Seu<br />

impulso imediato foi olhar o TSU ativa<strong>do</strong>,<br />

atrás de si. Neste instante Fanna o atacou<br />

por trás. A arma de raios caiu da mão <strong>do</strong><br />

atônito Rumback. Fanna, em um pulo<br />

desajeita<strong>do</strong>, conseguiu apanhá-la e<br />

disparou seus raios, pegan<strong>do</strong> em cheio<br />

naquela figura de negro, paralisan<strong>do</strong>-o.<br />

Tu<strong>do</strong> aparecia nos telões e<br />

monitores <strong>do</strong> globo inteiro. Zur-Kwa e os<br />

rapazes que estavam prestes a depor suas<br />

armas gritaram um grande “hurras”.<br />

Fanna, que também não acreditava<br />

em sua própria reação, paralisou-se em<br />

frente à Rumback por instantes. Algumas<br />

criaturas vieram em sua direção, mas a<br />

tempo, conseguiu paralisá-las também. Em<br />

seguida correu para a porta grande, <strong>do</strong><br />

meio, e digitou seu código de acesso. As<br />

517


portas abriram. Ele passou e após fechálas<br />

disparou nos controles, estouran<strong>do</strong>-os.<br />

O caminho a seguir parecia livre e<br />

em passos apressa<strong>do</strong>s chegou ao<br />

eleva<strong>do</strong>r. Os momentos de espera<br />

pareciam uma eternidade. Enfim a porta de<br />

metal abriu e atrás de si uma chuva de<br />

raios, quase o atingiram. Era BH-1 série 3<br />

com quatro andróides, vin<strong>do</strong>s a seu<br />

encalço. A porta <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r fechou e<br />

Fanna deu um grande suspiro de alívio.<br />

Microns depois Fanna estava no<br />

nível quatro e antes que a porta abrisse,<br />

jogou-se no chão <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r. Isto lhe<br />

salvou a vida, pois tão logo abriram, <strong>do</strong>is<br />

robots dispararam dentro. Fanna os pegou<br />

com <strong>do</strong>is disparos e rolou para fora no<br />

momento exato em que a porta fechava-se.<br />

Entretanto no final <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r, junto ao<br />

portão de acesso ao hangar havia uma<br />

enorme quantidade de Mobis e andróides,<br />

que imediatamente passaram a atirar.<br />

Maxun, ainda com Totcha-man-chunk, Velz<br />

e Simeon perceberam a súbita mudança<br />

de atenção <strong>do</strong> inimigo e tentaram chegar a<br />

suas naves, mas Zur-Kwa gritou:<br />

518


- Voltem, voltem. Eles estão<br />

atiran<strong>do</strong> em Fanna. Vai ajudá-lo.<br />

Nesta manobra, Totcha-man-chunk<br />

foi atingi<strong>do</strong> mortalmente, mas Maxun com<br />

habilidade o manteve como escu<strong>do</strong>,<br />

enquanto ele e os outros disparavam seus<br />

raios à vontade, avançan<strong>do</strong> em passos<br />

largos.<br />

A arma de Fanna fazia um bom<br />

estrago nos robots e andróides, contu<strong>do</strong><br />

não podia sair de onde estava e sabia que<br />

em pouco tempo teria à suas costas BH-1<br />

série 3, com mais inimigos. Pensava numa<br />

saída quan<strong>do</strong> ouviu seus passos,<br />

derruban<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que vinha pela frente. Mal<br />

pode escapar. BH-1 e os seus apareceram<br />

por outro acesso, quase pegan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s.<br />

Na corrida para o hangar, Wurtz<br />

que ficara protegen<strong>do</strong> Zur-Kwa, prestou<br />

cobertura.<br />

Novamente perto <strong>do</strong>s tanques de<br />

Velux líqui<strong>do</strong> a batalha se amenizava, mas<br />

então, os disparos eram fatais. Mais<br />

eficazes nos alvos. Zur-Kwa que estava<br />

519


perto de sua nave transporte, tentou<br />

alcançá-la e foi atingi<strong>do</strong>, cain<strong>do</strong> perto da<br />

escada de acesso à nave. Wurtz correu em<br />

seu auxílio. Velz e Maxun deram cobertura,<br />

Simeon cobria a retirada de Fanna, que foi<br />

direto ao transporte ajudar Wurtz na<br />

remoção <strong>do</strong> baixinho maluco. Tão logo Zur-<br />

Kwa, sangran<strong>do</strong> muito no peito, perto <strong>do</strong><br />

ombro direito, foi acomoda<strong>do</strong> e amarra<strong>do</strong><br />

num assento, Wurtz trouxe-lhe a maletinha<br />

de primeiros socorros a seu pedi<strong>do</strong>. Fanna<br />

acomo<strong>do</strong>u-se nos controles <strong>do</strong> transporte,<br />

ativan<strong>do</strong> seus motores em franca manobra.<br />

Foi nessa fração de microns, em que BH-1<br />

e os seus atentaram ao transporte. Velz,<br />

em <strong>do</strong>is pulos, estava nos coman<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

seu March-1. As manobras eram rápidas.<br />

Velz disparou de sua nave, contra o portão<br />

onde os inimigos se intrincheiravam.<br />

- Belo tiro – disse Maxun corren<strong>do</strong><br />

para sua nave.<br />

As carlingas fecharam-se enquanto<br />

Simeon corria ao transporte que taxeava,<br />

dan<strong>do</strong> lugar para Velz sair na frente, uma<br />

vez que as comportas da Fortaleza<br />

permaneciam trancadas.<br />

- Vá à frente – ordenou Fanna para<br />

Velz – dispare suas cargas nas comportas.<br />

520


Maxun, de sua nave em giros de<br />

leque, mantinha o inimigo com suas<br />

cabeças baixas. Os lasers atingiam tu<strong>do</strong>,<br />

menos os tanques de Velux.<br />

Uma explosão estourou as<br />

comportas <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> túnel de lançamento e<br />

Velz partiu. Atrás dele Fanna, com seu<br />

transporte e por fim, Maxun. A fuga foi<br />

rápida e precisa.<br />

Tão logo saíram da Fortaleza,<br />

Fanna torceu a argola sustenta<strong>do</strong>ra de seu<br />

medalhão e sorriu matreiramente.<br />

Virou-se para Zur-Kwa que se<br />

automedicava. Ele estava branco e<br />

gemen<strong>do</strong> muito.<br />

- Você está bem?<br />

- Acho que sim, mas... isso dói...<br />

- Você vai ficar bom.<br />

- É... eu acho que sim.<br />

Neste instante Maxun estava em<br />

franco mergulho no pólo norte <strong>do</strong> globo<br />

disparan<strong>do</strong> um dar<strong>do</strong>-sonda-Telemérico,<br />

enquanto Velz lhe dava cobertura.<br />

Simultaneamente, cinco Mobis-7V saíam<br />

no encalço da única nave que podiam ver:<br />

521


o transporte de Fanna. Este os detectou e<br />

chamou pelos seus.<br />

A única coisa que Rumback<br />

conseguia ver nos telões à sua frente era<br />

ele mesma, com seus olhos arregala<strong>do</strong>s e<br />

feito estátua. Duas criaturas exóticas de<br />

aparência p<strong>aqui</strong>dérmica aplicaram-lhe um<br />

antí<strong>do</strong>to, trazen<strong>do</strong>-o de volta.<br />

Com movimentos vagarosos e<br />

difícies conseguiu chegar ao console,<br />

mudan<strong>do</strong> as imagens <strong>do</strong> telão. Nos<br />

corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> nível quatro, jaziam<br />

inúmeros corpos. Alguns andróides<br />

mexiam-se desordenadamente, entre<br />

faíscas e fumaças. A seguir as imagens <strong>do</strong><br />

hangar principal era tomada de pura<br />

neblina e pode perceber que as naves<br />

inimigas não estavam lá.<br />

- Malditos, malditos, malditos... BH-<br />

1... BH-1...<br />

Eram gritos histéricos e<br />

estridentes.<br />

522


Neste mesmo instante BH-1 série<br />

três, adentrou pela porta principal<br />

explodida, escancarada.<br />

- Sim, Excelência.<br />

- Quero minha nave armada e a<br />

frota inteira no hangar, agora! E prepare o<br />

globo da morte. Ande imbecil.<br />

Aceleran<strong>do</strong>...<br />

- Está acontecen<strong>do</strong> – disse<br />

Lomaxis, de olho no Telak <strong>do</strong> Cruza<strong>do</strong>r<br />

Constelação e imediatamente passou a<br />

mensagem para a Kosmos, que acabara<br />

de atravessar pelos atalhos recémconheci<strong>do</strong>s<br />

através <strong>do</strong> Universo, parada<br />

nas coordenadas <strong>do</strong> portão estelar <strong>do</strong>is, no<br />

vácuo de matéria escura.<br />

- Graças ao Cria<strong>do</strong>r – disse Tutkan,<br />

francamente alivia<strong>do</strong> – Atenção rapazes,<br />

preparem suas naves – e voltan<strong>do</strong>-se ao<br />

Telecon – Lomaxis, prepare o seu pessoal,<br />

estaremos aí em dez microns.<br />

Um incêndio infernal tomava conta<br />

de boa parte <strong>do</strong> hangar principal da<br />

Fortaleza de Rumback. A turma de<br />

reparos, literalmente derretia ao jogar<br />

espuma para abafar aquele fogaréu.<br />

523


- Excelência, Excelência – disse<br />

BH-1 série três, entran<strong>do</strong> em desabalada<br />

corrida, à ponte de coman<strong>do</strong> – Estamos<br />

com grandes avarias. Sua nave está em<br />

chamas, junto à quase tu<strong>do</strong> no hangar...<br />

- Você é mesmo uma porcaria de<br />

andróide – disse Rumback, num misto de<br />

raiva e desânimo – Eu posso ver tu<strong>do</strong> isto<br />

d<strong>aqui</strong> e eu mesmo enviei cinco <strong>do</strong>s meus<br />

melhores atira<strong>do</strong>res em caça atrás<br />

daqueles... daqueles... Aghh... daqueles<br />

malditos...<br />

O único hangar sem chamas era o<br />

que Fanna e os seus estavam. Em<br />

compensação os tubos de lançamentos<br />

estavam completamente avaria<strong>do</strong>s.<br />

Rumback lembrava <strong>do</strong> que havia<br />

aconteci<strong>do</strong> à Carvelus e praguejava<br />

furiosamente.<br />

- O globo não obedece aos<br />

coman<strong>do</strong>s, Excelência e se quer a<br />

Fortaleza obedece. Estamos para<strong>do</strong>s...<br />

- Me diga alguma coisa que eu não<br />

saiba seu imbecil. Faça alguma coisa útil.<br />

Vá procurar a causa... Totcha-man-<br />

chunk... Totcha-man-chunk... Onde foi<br />

524


parar aquele traste??? Mas que droga está<br />

acontecen<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>? Onde estão to<strong>do</strong>s?...<br />

Por mais que Rumback apertasse<br />

os botões <strong>do</strong> console, ninguém respondia.<br />

BH-1 série três fazia o que podia, alertan<strong>do</strong><br />

seus sensores e equipamentos para<br />

cheque e sondagem de to<strong>do</strong>s os<br />

pormenores nas salas de máquinas e<br />

fontes de energia da Fortaleza.<br />

Mil pensamentos passavam pela<br />

mente de Rumback, ven<strong>do</strong> os flashes das<br />

naves que mandara ao encalço de seus<br />

fugitivos.<br />

- Pelo menos não irão longe –<br />

pensou em voz alta e com um leve sorriso<br />

no canto da boca.<br />

No Telak de Fanna, apareciam tão<br />

somente as naves inimigas e aproximan<strong>do</strong>se.<br />

Às suas costas, Zur-Kwa gemia baixo e<br />

fazia careta.<br />

Wurtz e Simeon estavam<br />

assusta<strong>do</strong>s, ven<strong>do</strong> seu líder preocupa<strong>do</strong><br />

com as comunicações. Velz e Maxun não<br />

respondiam e não apareciam no Telak.<br />

525


- Acho que nossas naves foram<br />

sabotadas. Eu faria isso – disse, Zur-Kwa.<br />

- Parece que sim – disse, Wurtz,<br />

olhan<strong>do</strong> para o medi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s energiza<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> transporte – e nossa energia está<br />

acaban<strong>do</strong>.<br />

- Ninguém nos ouve – disse, Fanna –<br />

Simeon venha para o Telecon e continue<br />

tentan<strong>do</strong>. Wurtz, venha comigo. Vamos<br />

abrir a caixa de transmissão...<br />

- Eles estão se aproximan<strong>do</strong>,<br />

senhor – disse, Simeon – Impacto em trinta<br />

e cinco microns...Senhor, não deveríamos<br />

ter o Capitão Velz e o Capitão Maxun na<br />

tela?<br />

- Deveríamos.<br />

- Mas... então onde eles estão?<br />

- Se não os vemos é porque estão<br />

fora de alcance...<br />

- Ou... – entrou, Zur-Kwa e se<br />

calan<strong>do</strong> em suspense.<br />

- Ou? – perguntou, Fanna.<br />

- Eles não estão lá.<br />

- Mas deveríamos, senhor – entrou<br />

Simeon – Saímos juntos... Impacto em<br />

trinta microns.<br />

O emaranha<strong>do</strong> de cabos e<br />

circuitos impressos, era de embaraçar a<br />

526


cabeça de qualquer um, menos a de<br />

Fanna. Com paciência e rapidez verificava<br />

o manual de operações e procedimentos e<br />

localizava o que queria.<br />

- E onde eles estão Zur-Kwa?<br />

- ...<br />

Zur-Kwa não respondeu por que<br />

provavelmente estava com sua mente<br />

noutro lugar. Repassava aqueles últimos<br />

momentos, desde que saíram no<br />

calabouço da Fortaleza.<br />

A Kosmos acabara de atravessar o<br />

portão estelar quan<strong>do</strong> recebeu a<br />

mensagem vinda <strong>do</strong> Cruza<strong>do</strong>r<br />

Constelação:<br />

- Senhor, temos uma nave<br />

transporte, das nossas, vin<strong>do</strong> em nossa<br />

direção. Parece ser a nave <strong>do</strong> líder Erus<br />

Fanna, mas não responde...<br />

- Estamos com ela no Telak –<br />

respondeu, Tutkan - ... e parece que tem<br />

cinco caça<strong>do</strong>res Mobis-7V, a trinta<br />

microns.<br />

- Acho que é Fanna e o pessoal. –<br />

disse, Thorc.<br />

527


- Precisamos nos certificar – entrou,<br />

Hamour – pode ser outro, <strong>do</strong>s truques de<br />

Ahdack.<br />

- Lomaxis, mande uma esquadrilha<br />

Zag, armada, para verificar.<br />

- Sim, senhor.<br />

Tameron e Kalibur partiram com<br />

tu<strong>do</strong>. Em seus Telaks, os Mobis-7V<br />

aproximavam-se a menos de vinte microns<br />

da aparente nave <strong>do</strong> líder Fanna.<br />

- Temos força para menos de um<br />

macron, senhor – disse, Simeon – e as<br />

naves inimigas aproximan<strong>do</strong>-se... quinze<br />

microns... e... temos <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s nossos,<br />

vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Cruza<strong>do</strong>r Constelação...<br />

- A que distância está? –<br />

interrompeu, Fanna.<br />

- Estão a menos de vinte macrons e<br />

estão em Dobra-um ponto cinco, senhor.<br />

- Chegarão <strong>aqui</strong> em... quarenta e<br />

cinco microns...<br />

- Será tarde demais – disse Zur-<br />

Kwa. Estamos quase sem força e quan<strong>do</strong><br />

acabar, não teremos nem os escu<strong>do</strong>s para<br />

nos proteger...<br />

- Mas que droga – disse, Fanna,<br />

após testar to<strong>do</strong>s os cabos de emissão de<br />

528


ondas <strong>do</strong> Telecon – O problema não é <strong>aqui</strong><br />

dentro.<br />

- Isto até chega a ser irônico – disse,<br />

Zur-Kwa – Fizeram conosco o que fizemos<br />

com eles. E isto deve ter aconteci<strong>do</strong> com<br />

Velz e Maxun.<br />

- Naves a dez microns... Senhor, o<br />

que faremos?<br />

- Alguma idéia, Zur-Kwa? –<br />

perguntou, Fanna.<br />

- Talvez... Bem, poderíamos usar o<br />

vácuo <strong>do</strong> espaço a nosso favor. Vistam<br />

seus trajes pressuriza<strong>do</strong>s e abram as<br />

escotilhas...<br />

- Não – gritou, Fanna – Não vamos<br />

deixar você. Tem que haver outro jeito.<br />

- Cinco microns e aproximan<strong>do</strong> –<br />

comunicou, Simeon.<br />

BH-1 série três tomou as funções<br />

<strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> Totcha-man-Chunk nos<br />

coman<strong>do</strong>s e pilotagem da grande<br />

Fortaleza, após uma busca detalhada<br />

pelos sensores da nave inteira. Seus<br />

próprios sensores estavam confusos.<br />

Parecia que sua programação não tinha a<br />

eficácia costumeira.<br />

529


Mas, a Fortaleza não se movia <strong>do</strong><br />

lugar. Nada funcionava.<br />

Rumback desconcerta<strong>do</strong>, tentava<br />

raciocinar sobre os acontecimentos,<br />

traçan<strong>do</strong> uma lógica. Seus pensamentos<br />

retrocederam até o momento em que<br />

Fanna e os seus abordaram a nave. Eles<br />

tiveram conta<strong>do</strong> com os andróides BH-O<br />

série 9-226 e 227. Depois com BH-1 série<br />

três, os autômatos AT-44-385 e 386,<br />

quan<strong>do</strong> trouxeram aquela que chamam de<br />

TSU. Entraram, sentaram <strong>aqui</strong>...<br />

O balanço era detalha<strong>do</strong>, por onde<br />

passaram e com quem tiveram contato.<br />

Imediatamente Rumback percorreu o<br />

roteiro com a conseqüente procura de<br />

objetos estranhos com seu Detect.<br />

Não demorou muito para encontrar<br />

no alojamento e nas carcaças <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

autômatos, os minúsculos Teleméricos. Os<br />

BH-O série 9-4.226 e 227 jaziam no nível<br />

quatro e neles também os minúsculos<br />

objetos estavam em suas capas. O próprio<br />

BH-1 série três tinha o seu, preso em sua<br />

capa.<br />

530


Após serem destruí<strong>do</strong>s, as<br />

comunicações internas pareciam funcionar<br />

e apesar de terem enfrenta<strong>do</strong> vários<br />

incêndios nos hangares, tinha Rumback a<br />

seu dispor, três quartos de sua frota em<br />

condições de combate.<br />

Após uma breve checagem, ele<br />

sorriu gostosamente.<br />

- Estes espertinhos não perdem por<br />

esperar. Vou transformá-los em farelo. BH-<br />

1 série três, iniciar operação Globo da<br />

Morte.<br />

- Pois não, Excelência!<br />

Mas nada acontecia.<br />

- Não está obedecen<strong>do</strong>,<br />

Excelência!<br />

Rumback desceu de seu trono,<br />

apanhou o TSU e jogou-o no<br />

desintegra<strong>do</strong>r.<br />

Então BH-1série três anunciou<br />

vitorioso.<br />

- Sim, Excelência, temos<br />

coman<strong>do</strong>s!!<br />

O Telak, voltou a funcionar. Pode<br />

ver seus cinco Mobis-7V em aproximação<br />

letal à nave transporte Someriano. Mais a<br />

frente, em velocidade espantosa, se<br />

531


aproximava duas naves pequenas e outras<br />

duas maiores, bem maiores.<br />

- Dois microns – anunciou, Simeon –<br />

- Bem, senhores – disse, Zur-Kwa –<br />

Foi um enorme prazer e honra ter<br />

conheci<strong>do</strong> e servi<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>s...<br />

- Um mícron para a área de<br />

alcance e impacto, senhor... e já estão<br />

atiran<strong>do</strong>.<br />

- Ativar defletores – disse, Fanna.<br />

Foi o que imediatamente Wurtz<br />

procedeu.<br />

- Parar os motores e ao meu<br />

coman<strong>do</strong> ativar os retrocessos.<br />

- Vamos lutar? – quis saber Zur-<br />

Kwa – Estamos desarma<strong>do</strong>s!<br />

- Mas eles não sabem... atenção<br />

Wurtz, na marca zero... três...<strong>do</strong>is...um...já.<br />

Os Mobis-7V passaram por eles,<br />

mas algumas cargas bateram em cheio no<br />

pequeno transporte. Os danos não eram<br />

<strong>do</strong>s piores mas os defletores mostraram<br />

possuir pouca resistência àquelas cargas.<br />

- Isto é mau – disse, Fanna,<br />

avalian<strong>do</strong> sua situação.<br />

- Eles estão voltan<strong>do</strong>, senhor.<br />

- Quanto de energia e força temos?<br />

532


- Estamos usan<strong>do</strong> as baterias de<br />

reserva, senhor.<br />

- E os nossos, a que distância<br />

estão?<br />

- Menos de vinte microns, mas<br />

parece que... sim estão em Dobra<br />

três...estarão <strong>aqui</strong>...<br />

- Até que desacelerem, dez, talvez<br />

<strong>do</strong>ze microns – entrou, Zur-Kwa.<br />

- Aí vem os Mobis, senhor.<br />

- Vá pra cima deles, com tu<strong>do</strong> que<br />

tiver, Simeon. Baixe os escu<strong>do</strong>s e vamos<br />

torcer para que não nos arrebentem agora.<br />

Aplique o espiral ao meu coman<strong>do</strong>.<br />

Segurem-se, rapazes. Zur-Kwa, você está<br />

bem firme aí?<br />

- Sim.<br />

- Atenção...já!<br />

Embora o transporte se<br />

arremetesse em espiral, a toda velocidade,<br />

as cargas inimigas o atingiam. Os vários<br />

curtos circuitos, dentro, viciavam o<br />

oxigênio. O Telak estava fora <strong>do</strong> ar.<br />

- Agora completou – disse, Zur-<br />

Kwa, tossin<strong>do</strong> muito. – Estamos cegos,<br />

sur<strong>do</strong>s, mu<strong>do</strong>s, quase sufoca<strong>do</strong>s...<br />

- ... e sem força – completou,<br />

Simeon.<br />

533


- Vamos vestir os trajes<br />

pressuriza<strong>do</strong>s – disse, Fanna – mas<br />

primeiro ajudem Zur-Kwa...<br />

E um tremen<strong>do</strong> sacudão os fez<br />

pipocarem entre vários sons de alarme.<br />

- Depressa, não vamos agüentar<br />

muito tempo – disse, Fanna...<br />

- Já devíamos ter feito isto –<br />

reclamou, Zur-Kwa, com seu ferimento<br />

sangran<strong>do</strong> muito- e... - outro sacudão - ...<br />

agora não adianta mais...<br />

Precisamos ganhar to<strong>do</strong> o tempo<br />

que pudermos – disse, Fanna.<br />

Aqueles covardes estão atacan<strong>do</strong> o<br />

transporte – disse, Tameron, para Kalibur –<br />

Temos que nos apressar, se não, não vai<br />

sobrar nada...<br />

- Quem está dentro <strong>do</strong> transporte?<br />

- Não dá pra saber... Atenção.<br />

Kalibur, na marca zero,<br />

desacelerar...três...<strong>do</strong>is...um...agora...<br />

ativar retrocesso...três...<strong>do</strong>is...um...já.<br />

Os motores rangeram fazen<strong>do</strong> os<br />

pequenos March-1 tremerem.<br />

- Vamos cair em cima deles em<br />

<strong>do</strong>is microns – disse Kalibur.<br />

- ... Um...Temos que ser rápi<strong>do</strong>s...o<br />

transporte está em chamas...agora...<br />

534


Num tremen<strong>do</strong> estron<strong>do</strong>, forman<strong>do</strong><br />

anéis de matéria escura, os March-1<br />

apareceram no meio <strong>do</strong>s Mobis 7V, que<br />

orbitavam o transporte totalmente em<br />

chamas por dentro.<br />

- Pegue o da direita, o da esquerda<br />

é meu – disse, Tameron.<br />

Os <strong>do</strong>is Mobis 7V explodiram<br />

quase que simultaneamente. Os outros<br />

três abriram-se em leque, mas não era<br />

páreo para os March-1 e seus pilotos. Em<br />

menos de <strong>do</strong>is microns não restava sequer<br />

indícios <strong>do</strong>s Mobis.<br />

Tameron se aproximou <strong>do</strong><br />

transporte à deriva e pode ver quatro seres<br />

vesti<strong>do</strong>s em trajes pressuriza<strong>do</strong>s, sain<strong>do</strong><br />

pela fumacenta escotilha superior.<br />

Rumback não acreditou no que viu.<br />

De repente, surgi<strong>do</strong> <strong>do</strong> nada duas<br />

pequenas naves varreram seus Mobis 7V,<br />

até então, serem eles, as melhores<br />

máquinas que conhecia.<br />

- Estes Somerianos malditos –<br />

praguejou odientamente – Estes<br />

desgraça<strong>do</strong>s...<br />

535


- Excelência, temos o rodízio em<br />

posição e 2/3 de capacidade.<br />

O pequeno transporte havia<br />

desapareci<strong>do</strong> também e de certo mo<strong>do</strong><br />

teria obti<strong>do</strong> uma pequena compensação,<br />

com sobras a seu favor.<br />

Então, as duas grandes naves que<br />

se aproximavam <strong>do</strong> seu quadrante,<br />

ameaça<strong>do</strong>ramente, lhe trouxe a realidade e<br />

pensou em voz alta:<br />

- Eles não são tão idiotas assim!?<br />

Talvez mais poderosos?!<br />

- BH-1?<br />

- Sim, Excelência!<br />

- A partir de agora, você me<br />

substituirá na coordenação de coman<strong>do</strong>s,<br />

<strong>aqui</strong> na Fortaleza. Eu estarei lá fora no<br />

coman<strong>do</strong> <strong>do</strong>s nossos Mobis.<br />

- Mas, Excelência!!! Estamos com<br />

<strong>do</strong>is terços de capacidade para combate.<br />

- Isso basta.<br />

Rumback se retirou<br />

apressadamente, rumo aos hangares <strong>do</strong><br />

nível cinco.<br />

Velz e Maxun esgueiravam-se por<br />

entre os Mobis 7V estaciona<strong>do</strong>s, inertes e<br />

ainda molha<strong>do</strong>s de espuma.<br />

536


O hangar <strong>do</strong> nível cinco, ainda<br />

apresentava os sinais vivos de um incêndio<br />

recém-<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>. Subitamente Rumback<br />

surgiu pela porta de um <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>res.<br />

Velz e Maxun quase foram<br />

descobertos, não fosse o puro reflexo que<br />

os abaixara por trás de uma das naves.<br />

Rumback esvoaçava sua capa<br />

negra caminhan<strong>do</strong> na direção <strong>do</strong>s<br />

Somerianos. Em movimentos apressa<strong>do</strong>s e<br />

bruscos entrou por uma das duas portas<br />

suspensas, feito as asas de um pássaro.<br />

Praticamente atrás de Rumback,<br />

Velz espiava os procedimentos de ativação<br />

daquela pequena nave, sen<strong>do</strong> quase<br />

surpreendi<strong>do</strong> no abaixar das portas.<br />

O mesmo pensamento percorreu<br />

por entre as mentes de Velz e Maxun. Para<br />

o Mobis 7V sair, haveria descompressão e<br />

falta de oxigênio ali. Isto fez com que os<br />

<strong>do</strong>is corressem para dentro de outro Mobis<br />

7V, logo ao la<strong>do</strong>.<br />

537


- Vamos com ele? – perguntou<br />

Maxun, no momento em que as portas<br />

abaixavam.<br />

- Não, vamos esperar um<br />

pouco...depois vamos acabar o que viemos<br />

fazer.<br />

Velz estudava os painéis da nave,<br />

sem saber muito por onde começar. Mas<br />

tão logo as portas lacraram houve<br />

pressurização imediata e os painéis<br />

ativaram-se crian<strong>do</strong> um ruí<strong>do</strong> semelhante<br />

ao da nave de Rumback. Este, por sua vez,<br />

aguardava na cabeceira da pista.<br />

- BH-1... – disse, ele.<br />

- Sim, Excelência!<br />

- Abra as comportas e fique atento<br />

ao meu coman<strong>do</strong>.<br />

- Pois não, Excelência!<br />

Fanna e os seus tinham conectores<br />

de seus trajes às naves que flutuavam<br />

entre a matéria escura <strong>do</strong> espaço.<br />

Tameron reportou à Kosmos os<br />

acontecimentos e pediu uma nave que<br />

pudesse acondicionar a to<strong>do</strong>s.<br />

538


Nestes conectores, além <strong>do</strong><br />

oxigênio, possibilitavam as comunicações<br />

em acoplagem direta com o Telecon.<br />

Fanna pode conversar diretamente<br />

com Tutkan e Hamour.<br />

- E Velz e Maxun, onde estão?<br />

- Não sabemos. É possível que<br />

estejam perdi<strong>do</strong>s. Assim como a nossa, as<br />

naves deles, devem ter si<strong>do</strong> sabotadas.<br />

Subitamente, o Telak acusou<br />

movimentação na Fortaleza e Tameron<br />

repassou a notícia para Fanna.<br />

- Alguma coisa deu erra<strong>do</strong> – disse<br />

Zur-Kwa – O conversores <strong>do</strong> TSU não está<br />

funcionan<strong>do</strong>...<br />

- Nem o dar<strong>do</strong> – completou, Fanna.<br />

Será que apanharam Velz e<br />

Maxun? Era o pensamento comum.<br />

- Precisamos sair d<strong>aqui</strong> o mais<br />

rápi<strong>do</strong> possível – disse, Fanna – a que<br />

distância está o transporte?<br />

- A menos de trinta microns –<br />

respondeu, Tutkan.<br />

- Estão ensaian<strong>do</strong> o Globo da<br />

Morte – disse Hamour – Nossas chances<br />

estão reduzidas.<br />

539


- Mesmo assim – entrou, Tutkan,<br />

determina<strong>do</strong> – vamos seguir o plano.<br />

Vamos atacar. Lomaxis ponha o seu ferrovelho<br />

em marcha...<br />

- Mas e os rapazes? – Perguntou,<br />

Thorc.<br />

- Você acha que eles estão lá<br />

dentro? – corroborou, Hamour.<br />

- Acho que sim...<br />

- Mas você, mesmo, ouviu Fanna<br />

dizer que eles saíram juntos...<br />

_ Tutkan, você conhece bem Velz<br />

e Maxun. Foram treina<strong>do</strong>s por Zeuez e...<br />

- Talvez você tenha razão, Thorc –<br />

entrou, Hamour – Nem o TSU nem o dar<strong>do</strong><br />

funcionam, o que quer dizer que...<br />

- Voltaram pra lá.<br />

- Talvez, talvez, talvez... estas<br />

dúvidas acabam comigo... Pelo sim e pelo<br />

não, manteremos o curso.<br />

- E não podemos deixar de lembrar<br />

que Ahdack, certamente está por perto...<br />

Dentro da Fortaleza, Velz e Maxun<br />

com trajes Mobis percorriam os corre<strong>do</strong>res<br />

da “sala nervosa”, onde os computa<strong>do</strong>res,<br />

navega<strong>do</strong>res, módulos sincroniza<strong>do</strong>s e os<br />

540


processa<strong>do</strong>res virtuais cumpriam suas<br />

tarefas.<br />

Não havia ninguém que lhes<br />

trouxesse perigo. Apenas alguns robots, de<br />

tarefas simples, sem inteligência artificial<br />

rodavam pra lá e pra cá, em seus trabalhos<br />

rotineiros.<br />

Pelos monitores podiam<br />

acompanhar o desenrolar <strong>do</strong>s movimentos<br />

externos, então, ordena<strong>do</strong>s por BH-1 série<br />

três e sua voz esganiçada.<br />

Velz localizou a porta com<br />

símbolos, os quais Zur-Kwa havia se<br />

referi<strong>do</strong>, no dia em que foram conduzi<strong>do</strong>s<br />

por BH-1 série três, aos seus “aposentos”.<br />

Dissera o baixinho: “Aqui é o núcleo desta<br />

coisa. Se quisermos sabotar a força deles,<br />

é bem <strong>aqui</strong>”. Desta vez não havia guardas.<br />

Entraram, o calor era terrível sob uma<br />

coloração avermelhada, semelhante à<br />

atmosfera <strong>do</strong> velho Someron. Era uma<br />

espécie de sala separada por favos e estes<br />

cheios de gavetas com símbolos<br />

semelhantes aos encontra<strong>do</strong>s na pirâmide<br />

de Hamour. Os corre<strong>do</strong>res continham o<br />

541


mesmo trilho emborracha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s demais<br />

corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora.<br />

Rumback após sair de sua<br />

Fortaleza, deu-lhe duas órbitas,<br />

encontran<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is March-1 pousa<strong>do</strong>s na<br />

camada metálica <strong>do</strong> pólo superior. O que<br />

estariam fazen<strong>do</strong> ali? – pensou com seus<br />

botões.<br />

- BH-1...<br />

- Pois não, Excelência!<br />

- Forme um pelotão de busca e<br />

vasculhe os núcleos vitais da Fortaleza e<br />

depois to<strong>do</strong>s os cantos. Há <strong>do</strong>is intrusos<br />

Somerianos aí.<br />

- Sim, Excelência!<br />

- BH-1, mais uma coisa...<br />

- Sim, Excelência!<br />

- Acione a contagem regressiva de<br />

trinta microns para o rodízio e lançamento<br />

da isca.<br />

- Queira desculpar, Excelência,<br />

mas como lhe disse, não temos força total.<br />

Para busca <strong>do</strong> inimigo, contamos com<br />

apenas oitenta e seis Mobis 7V, com sua<br />

tripulação completa.<br />

542


- BH-1, seu idiota, como já lhe<br />

disse e vou repetir pela última vez, “isto<br />

basta”- berrou, “Sua Excelência”.<br />

Rumback enfureci<strong>do</strong>, bombardeou<br />

as duas naves somerianas e depois subiu<br />

a aproximadamente a duzentos centons <strong>do</strong><br />

pólo superior. Coordenou seu Telak à<br />

espera <strong>do</strong> inimigo que se aproximava.<br />

No Telak da Kosmos, Tutkan,<br />

Hamour e Thorc acompanhavam aquele<br />

Mobis 7V solitário sobre a Fortaleza,<br />

enquanto os demais, cento e <strong>do</strong>is,<br />

mantinham-se para<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r da grande<br />

bola metálica.<br />

- Aquele lá em cima, deve ser<br />

Rumback – observou, Hamour – Não<br />

podemos perdê-lo de vista. Ele prepara-se<br />

para comandar o rodízio.<br />

- Klemps – ordenou, Tutkan – Aí<br />

está. Aonde quer que ele vá, o círculo o<br />

acompanhará.<br />

- O nosso pessoal está chegan<strong>do</strong> –<br />

observou, Thorc, de olho no Telak.<br />

Neste mesmo instante, Kalibur<br />

pedia entrada na Kosmos.<br />

543


Os <strong>do</strong>is March-1 e o transporte<br />

entraram pelas pistas-túneis. No hangar<br />

encontrava-se o Dr.Grohalv e logo se<br />

juntan<strong>do</strong> a ele, Thorc.<br />

O primeiro a passar pela sala de<br />

descontaminação foi Zur-Kwa num<br />

carrinho maca, segui<strong>do</strong> por Fanna e os<br />

<strong>do</strong>is oficiais, Simeon e Wurtz.<br />

Velz e Maxun trabalhavam rápi<strong>do</strong>,<br />

trocan<strong>do</strong> os cristaltons das gavetas <strong>do</strong>s<br />

favos à sua volta. Entretanto, o calor era<br />

demasia<strong>do</strong> e minava suas forças.<br />

Subitamente a porta principal, por onde<br />

entraram, apareceram pelo menos dez<br />

andróides arma<strong>do</strong>s e com instrumentos<br />

que os localizaram.<br />

A ação foi rápida e eficaz. Os <strong>do</strong>is<br />

foram paralisa<strong>do</strong>s e logo após leva<strong>do</strong>s<br />

para o então, comandante interino da<br />

Fortaleza, BH-1 série três.<br />

Hamour foi eleito para transmitir as<br />

más noticias para Fanna.<br />

544


Após um breve relato, Fanna tinha o<br />

seu coração esmaga<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>r e os olhos<br />

invadi<strong>do</strong>s de lágrimas. Estava difícil<br />

engolir.<br />

- Nossa gente... oh, meu Deus!!!...<br />

- Venha – disse, Thorc – venha<br />

comigo, temos alguns sobreviventes.<br />

Hamour o segurou pelo braço em<br />

apoio mais moral <strong>do</strong> que físico e o<br />

acompanhou até os alojamentos <strong>do</strong>s<br />

sobreviventes <strong>do</strong> holocausto. Lá estavam<br />

Zart e Walln. Walln inspirava maiores<br />

cuida<strong>do</strong>s e permanecia na célula de vida.<br />

No outro compartimento, estava Belzamir,<br />

cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bebês humanos, que ao vêlo<br />

entrar, quis saber sobre Zur-Kwa.<br />

- Ele vai ficar bom – foi o que Fanna<br />

respondeu, dan<strong>do</strong>-lhe um abraço<br />

carinhoso.<br />

Após seguiu por mais alguns<br />

alojamentos, onde em sua maioria eram<br />

habitantes <strong>do</strong> planeta Shan, <strong>do</strong> projeto de<br />

Zur-Kwa.<br />

Durante a visitação, Hamour<br />

relatava alguns acontecimentos,<br />

545


escolhen<strong>do</strong> as palavras. Entre eles o<br />

seqüestro de Zuila, sua filha e Amis.<br />

- Oh, meu Deus!... minha filha...<br />

Aquele crápula!...<br />

- Quan<strong>do</strong> penso nisto – disse,<br />

Hamour, desconsola<strong>do</strong> – me invade certo<br />

desespero. Talvez fosse melhor que elas<br />

estivessem mortas.<br />

- Compreen<strong>do</strong> – disse, Fanna –<br />

Com Amis viva ele saberá de você.<br />

- Não é só por isto, mas também<br />

pelas atrocidades que Ahdack é capaz de<br />

submetê-las, só para sua diversão.<br />

Então Tutkan os chamou à ponte.<br />

Chegara o momento de pulverizar<br />

Rumback e sua Fortaleza.<br />

A grande Kosmos e o cruza<strong>do</strong>r<br />

Constelação pararam a menos de um<br />

macron, fora <strong>do</strong> alcance das armas da<br />

Fortaleza, que neste instante iniciara seu<br />

rodízio, mas sem disparos. Em seguida,<br />

partiam de suas comportas, muitas naves<br />

Mobis 7V, identificadas pelo Komptor.<br />

Eram oitenta e seis, ao to<strong>do</strong>. Elas vinham<br />

diretas para eles.<br />

546


- Constelação, <strong>aqui</strong> é Tutkan.<br />

Responda...<br />

- Sim, comandante, pode falar.<br />

- Manobrar para combate. Lance<br />

suas esquadrilhas para receptar, na<br />

contagem de cinco, na marca zero. Cinco...<br />

quatro...<br />

As naves manobraram, a tal ponto<br />

que ficaram eqüidistantes uma da outra e<br />

da Fortaleza, forman<strong>do</strong> um triângulo<br />

eqüilátero. Entrementes os March partiam<br />

para receptar os Mobis 7V.<br />

- Preparar os Prottons para vinte<br />

vetrons – disse Tutkan.<br />

O que se seguiu foi uma tremenda<br />

batalha e um grande tiro ao alvo por parte<br />

<strong>do</strong>s Somerianos que se superavam diante<br />

<strong>do</strong> inimigo poderoso e muito mais<br />

numeroso. As melhorias de Thorc davam<br />

resulta<strong>do</strong>s surpreendentes, pois os<br />

pequenos March-1 foram equipa<strong>do</strong>s com<br />

Prottons na traseira, junto ao leme.<br />

Estavam muni<strong>do</strong>s de procura<strong>do</strong>res óticos<br />

com dispara<strong>do</strong>res automáticos. Sem<br />

chances para o inimigo que ao caçar, era<br />

caça<strong>do</strong>.<br />

547


Então os Mobis 7V começaram a<br />

fugir <strong>do</strong> combate e ao passar pela<br />

intercepção, aumentavam a velocidade, se<br />

lançan<strong>do</strong> em cima da Kosmos e <strong>do</strong><br />

Constelação.<br />

- Baixem o escu<strong>do</strong>. Eles vão bater.<br />

Ativar defletores no máximo... ordenava,<br />

Tutkan.<br />

Com o escu<strong>do</strong> abaixa<strong>do</strong>, as luzes<br />

vermelhas ativaram-se no interior das<br />

grandes naves Somerianas. O contato<br />

visual com o espaço, lá fora, era pelas<br />

telas virtuais <strong>do</strong> Telak.<br />

- Ele está ordenan<strong>do</strong> que se<br />

joguem contra nós – disse, Fanna.<br />

- Por essa eu não esperava – disse<br />

Tutkan, entre os sacudões e explosões no<br />

casco da nave.<br />

- Acha que não vamos agüentar<br />

por muito tempo com isto, senhor – disse<br />

Klemps.<br />

Tutkan pelo Telecon, contatou com<br />

os seus guerreiros lá fora.<br />

- O que está acontecen<strong>do</strong> com<br />

vocês? Parecem uma peneira. Estamos<br />

sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong>s...<br />

Também eram estas palavras que<br />

Lomaxis impunha aos seus.<br />

548


Eis que momentos depois os<br />

impactos pararam e o Telak estava limpo.<br />

- Abrir escu<strong>do</strong>s – ordenou Tutkan.<br />

O espaço apresentava-se como<br />

sempre, escuro e calmo, mas ao longe, a<br />

bola de metal flutuava com grande<br />

movimentação de naves em sua volta.<br />

- Aproximação de disparo –<br />

ordenou Tutkan, para Lomaxis – Ajustar os<br />

Prottons. Quero potência máxima.<br />

- Onde estará Ahdack? – pensou<br />

em voz alta. Hamour.<br />

- Aquele verme espacial covarde...<br />

– praguejou, Tutkan - ... bem que poderia<br />

aparecer agora...<br />

Rumback, em seu Mobis 7V, via-se<br />

em pleno desespero. Sabia que iria morrer,<br />

se não pelos Somerianos, pelo seu próprio<br />

impera<strong>do</strong>r.<br />

Em seu Telak, as duas naves<br />

Somerianas aproximavam-se e estavam<br />

muito perto <strong>do</strong> ponto de disparo.<br />

- BH-1 – gritou, ele.<br />

- Sim, Excelência!<br />

- Disparar o rodízio... agora.<br />

549


- Excelência, o que devo fazer com<br />

os <strong>do</strong>is Somerianos que encontramos...<br />

- Mate-os – interrompeu, Rumback,<br />

aos berros – Mate-os...<br />

Não... pensan<strong>do</strong> melhor, coloque-os na<br />

geladeira... Vou saboreá-los no jantar de<br />

hoje, depois que acabar com... aqueles<br />

desgraça<strong>do</strong>s...<br />

BH-1 série três, ativou os<br />

dispara<strong>do</strong>res automáticos em sincronia.<br />

O próprio Rumback não acreditava<br />

no que via. O seu Globo da Morte era tu<strong>do</strong>,<br />

menos Globo da Morte. Os tiros não<br />

tinham direção e acertavam-se uns nos<br />

outros, numa tremenda confusão.<br />

- BH-1, seu idiota, o que está<br />

fazen<strong>do</strong>??<br />

- Excelência, fiz o que o senhor<br />

man<strong>do</strong>u!<br />

- Ative o sincroniza<strong>do</strong>r, seu<br />

imbecil!!<br />

- Está ativa<strong>do</strong>, Excelência.<br />

Ven<strong>do</strong> seus Mobis desordena<strong>do</strong>s,<br />

Rumback não sabia exatamente o que<br />

fazer. Sua própria Fortaleza estava sen<strong>do</strong><br />

atingida pelos seus próprios guerreiros.<br />

- BH-1, libere as naves <strong>do</strong> módulo<br />

orbital.<br />

550


Entretan<strong>do</strong> nada funcionava, seus<br />

Mobis 7V permaneciam como que<br />

atrela<strong>do</strong>s àquela órbita devasta<strong>do</strong>ramente<br />

suicida.<br />

- Mas o que é que está<br />

acontecen<strong>do</strong> lá? – perguntou, Tutkan<br />

observan<strong>do</strong> pelo Telak, prestes a mandar<br />

tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>lo pelos ares – Eles mesmos estão<br />

se matan<strong>do</strong>...<br />

- Velz e Maxun – disse Zur-Kwa,<br />

apoia<strong>do</strong> por Thorc, entran<strong>do</strong> na ponte,<br />

naquele instante.<br />

- O que? – virou-se, Tutkan. –<br />

Como?<br />

- Muito simples...<br />

- Você não deveria estar na<br />

enfermaria, com o Dr.Grohalv? –<br />

perguntou, Fanna, interrompen<strong>do</strong> o<br />

baixinho maluco.<br />

- Deixe ele falar – entrou, Thorc.<br />

- Senhor – entrou, Lomaxis pelo<br />

Telecon – Estamos em posição de tiro.<br />

- Aguarde um pouco, Lomaxis – e<br />

viran<strong>do</strong>-se para Zur-Kwa – Explique melhor<br />

essa coisa.<br />

- Quan<strong>do</strong> saímos da Fortaleza,<br />

verificamos que estávamos sem<br />

comunicações e com pouco Velux. O<br />

551


mesmo deve ter aconteci<strong>do</strong> com eles.<br />

Então me reportan<strong>do</strong> ao momento em que<br />

Fanna foi leva<strong>do</strong> ao calabouço, eu e os<br />

rapazes minamos a fechadura da porta<br />

metálica <strong>do</strong> cal...<br />

- Zur-Kwa, não temos tempo para<br />

detalhes. Seja breve – interrompeu o<br />

ansioso Tutkan.<br />

- Bem, que vimos no desenrolar<br />

<strong>do</strong>s acontecimentos, o dar<strong>do</strong> Telemérico<br />

não funcionou, devi<strong>do</strong> à falta de<br />

comunicação de nossas naves e o mesmo<br />

não aconteceu com o gatilho que detonaria<br />

o TSU, na ponte de coman<strong>do</strong> da<br />

Fortaleza...<br />

- Então? – atalhou Tutkan, bastante<br />

impaciente.<br />

- Então, voltaram para dentro da<br />

Fortaleza e foram ao salão nervoso da<br />

coisa. Lá encontrariam, sem dúvida, os<br />

núcleos de ativação <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res,<br />

estabiliza<strong>do</strong>res, sincroniza<strong>do</strong>res temporais<br />

de disparo, etc.<br />

- É por isto, que, to<strong>do</strong> o complexo<br />

entrou em colapso – atalhou, Thorc – E isto<br />

significa que os nossos rapazes estão lá.<br />

- Senhor – disse, Klemps – a nave<br />

com o círculo está se afastan<strong>do</strong> em alta<br />

552


velocidade, e Lomaxis e eu queremos<br />

saber se disparamos na Fortaleza.<br />

- Não – entrou, Fanna – Vamos<br />

abordá-la. Precisamos aprender um pouco<br />

mais sobre os brinquedinhos daquele<br />

verme espacial. Quanto à nave de<br />

Rumback, lance um rastrea<strong>do</strong>r.<br />

- Sabias palavras – disse, Thorc – Já<br />

estava mesmo queren<strong>do</strong> ver como<br />

funciona aquela coisa.<br />

- Mas não podemos abordá-la com<br />

aquele festival de disparo ao nada.<br />

- Esquadrilhas Zag, orbitem a<br />

Fortaleza e destruam somente as naves<br />

em órbita. – ordenou, Tutkan e voltan<strong>do</strong>-se<br />

para Thorc – Ela será toda sua, Thorc.<br />

Klemps se encarregou de passar<br />

as novidades para Lomaxis, que gostaria<br />

muito mais de ter dispara<strong>do</strong> os seus<br />

Prottons.<br />

- Hamour – disse, Fanna – O que<br />

você acha que vai acontecer agora? Será<br />

que Ahdack nos atacará?<br />

- Bem, depois de duas derrotas<br />

consecutivas, ele vai avaliar melhor a<br />

situação. Vai reorganizar suas forças.<br />

Traçar uma nova estratégia e usar o que<br />

tem contra nós. É claro que vai nos seguir<br />

553


a distância, nos estudar, refletir sobre os<br />

nossos movimentos.<br />

- Não podemos nos esquecer de<br />

que ele tem Zuila e Amis em suas mãos.<br />

- Mesmo que ele venha a saber de<br />

mim, isto o fará recuar, pelo menos, um<br />

pouco mais, Erus.<br />

- Isto nos dará o tempo que<br />

precisamos para terminar os testes da<br />

Atlantis – disse, Thorc, com suas<br />

sobrancelhas arqueadas.<br />

- Então, tiraremos o sono daquele<br />

crápula – comentou, Tutkan.<br />

- Senhor – entrou, Klemps – A<br />

Fortaleza está limpa e em atividade.<br />

- Muito bem, recolha os March e<br />

envie duas sondas de averiguação<br />

primária.<br />

Para os que se encontravam dentro<br />

da Base, aquela abordagem era um fato<br />

inédito. Sem a direção de Rumback ou <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>r, não oferecia resistência,<br />

quan<strong>do</strong> Thorc e sua equipe, escoltada por<br />

Tameron e Kalibur entraram pelo hangar<br />

principal.<br />

554


Aquelas dependências<br />

encontravam-se em total desordem. Havia<br />

alguns Mobis 7V estaciona<strong>do</strong>s, queima<strong>do</strong>s,<br />

onde tão somente suas estruturas básicas<br />

sobravam. As pistas-túneis, por onde<br />

Fanna e os seus haviam passa<strong>do</strong>, estavam<br />

destruídas, sem condições de operação.<br />

Entretanto, em outros níveis, o que vieram<br />

a constatar mais tarde, muitas pistas de<br />

lançamentos e naves Mobis, encontravamse<br />

intactas.<br />

Na grande sala circular e ponte de<br />

coman<strong>do</strong>, a cena era cômica, pois seres de<br />

espécies diferentes faziam mesuras,<br />

curvan<strong>do</strong>-se aos seus novos<br />

conquista<strong>do</strong>res.<br />

Em tempo recorde os Somerianos<br />

tomaram posse da Fortaleza de Rumback,<br />

então as surpresas vieram. A primeira<br />

delas foi o ressurgimento de Tocha-manchum,<br />

trazen<strong>do</strong> em escolta de cinco<br />

andróides, os oficiais Velz e Maxun.<br />

Maxum por sua vez não entendia, como<br />

poderia este ser ter ressuscita<strong>do</strong>. As<br />

palavras de Tocha-man chum traziam<br />

alegria ao lhe responder que naquela<br />

555


situação, onde <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> servia-lhe de<br />

escu<strong>do</strong> e por isso ativou seu próprio<br />

escu<strong>do</strong> protetor e não havia outra<br />

alternativa a não ser se fingir de morto.<br />

Aquele reencontro, trouxe, de<br />

certa maneira, um novo alento aos<br />

Somerianos, que não faziam qualquer idéia<br />

<strong>do</strong> que era feito <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is oficiais. Isto é,<br />

haviam idéias mas nenhuma certeza.<br />

- Como prova de nossa inteira<br />

cooperação, Excelência – disse, Tochaman-Chum<br />

curvan<strong>do</strong>-se perante Thorc –<br />

Eis <strong>aqui</strong> seus homens, sãos e salvos.<br />

Também estou a vossa disposição para<br />

responder toda e qualquer informação que<br />

acaso lhe surja sobre esta Fortaleza.<br />

De volta a Kosmos, Tutkan fez<br />

questão de recebê-los e lhes conferin<strong>do</strong><br />

comendas de heroísmo, fato até então<br />

nunca antes feito. Não obstante, os<br />

acontecimentos em Kálerus, o rapto de<br />

Zuila, trouxe desespero para Velz. Maxun<br />

logo que soube, correu para Zart, ainda<br />

sob os cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Dr. Grohalv.<br />

556


Na ponte da Kosmos, Klemps não<br />

tirava os olhos <strong>do</strong> Telak, então comunicou<br />

à Tutkan:<br />

- Senhor, a nave inimiga<br />

desapareceu da tela.<br />

- Qual a direção?<br />

- Estava em linha reta em direção<br />

<strong>do</strong> décimo oitavo quadrante estelar... e o<br />

Komptor projeta para o vigésimo quarto ou<br />

trigésimo segun<strong>do</strong> quadrante.<br />

- Vigésimo quarto – disse, Hamour<br />

– lá existe o portão que dá para o segun<strong>do</strong><br />

Padrão... É lá que ele se esconde. Preciso<br />

vasculhar os cristaltons. Neles vamos<br />

encontrar qual o sistema solar que ele tem<br />

o seu QG.<br />

- Mas isto é maravilhoso – disse<br />

Fanna.<br />

- O que é maravilhoso? –<br />

perguntou, Tutkan, com cara de poucos<br />

amigos – Nada é maravilhoso. Tu<strong>do</strong> é<br />

horrível!!<br />

- Calma, Tut. Pense bem;<br />

sabemos onde aquele verme se esconde,<br />

em pouco tempo teremos a nave de<br />

Hamour para furar suas defesas, isto sem<br />

contar no que Thorc descobrirá, na<br />

557


Fortaleza, o que poderemos usar contra<br />

“Sua Excelência o verme espacial”...<br />

- E faremos com ele – cortou,<br />

Tutkan, com seu punho cerra<strong>do</strong> – o que ele<br />

fez com nossa gente. Concor<strong>do</strong>, é<br />

maravilhoso!<br />

- Pode apostar – completou, Fanna.<br />

A CONQUISTA DA FORTALEZA<br />

Nos dias que se seguiram, com a<br />

total cooperação de Tocha-man-chum, que<br />

se mostrava descontente com seu expatrão,”<br />

Sua Excelência”, houve uma<br />

verdadeira devassa em to<strong>do</strong>s os<br />

componentes da Base Mobis e outras<br />

naves, tanto de caça, como de transportes.<br />

Durante estes estu<strong>do</strong>s, a cooperação <strong>do</strong>s<br />

tripulantes da Fortaleza foram<br />

fundamentais para que alguns elementos,<br />

fórmulas e componentes, fossem<br />

realmente desvenda<strong>do</strong>s. Enquanto a<br />

própria Base era totalmente desativada. O<br />

que realmente chamava a atenção, foi que<br />

558


Tocha-man-Chum se referiu à: Despensa<br />

<strong>do</strong> general Rumback.<br />

Os relatórios sobre “os poderes de<br />

Sua Excelência” eram to<strong>do</strong>s examina<strong>do</strong>s,<br />

na Kosmos, por Hamour e Zur-Kwa, este,<br />

em franca recuperação.<br />

Thorc notara que durante os<br />

estu<strong>do</strong>s, havia por parte da tripulação da<br />

Base Mobis, isto é, <strong>do</strong>s seres vivos, uma<br />

certa alegria e sentia neles total<br />

sinceridade quan<strong>do</strong> diziam estar sob suas<br />

ordens. Isto fez com que os inquirisse<br />

sobre o porquê trabalhavam para o<br />

Impera<strong>do</strong>r. A resposta foi mais-ou-menos o<br />

que esperava: Ahdack os forçava ao<br />

trabalho porque mantinha suas famílias em<br />

seu poder. Em outras palavras, pura<br />

chantagem. Com isso, demonstraram um<br />

ódio mortal por “Sua Excelência” e se<br />

prontificaram em ajudar num ataque, se<br />

houvesse.<br />

Entre estes miseráveis, existiam<br />

aqueles (nove ao to<strong>do</strong>) que faziam o que<br />

faziam por riquezas, contu<strong>do</strong> estavam<br />

descontentes por que já algum tempo, não<br />

559


ecebiam pagamentos pelas conquistas<br />

realizadas.<br />

Por fim, as atenções de Thorc e sua<br />

equipe, concentraram-se nos robots e<br />

principalmente nos andróides. Era o<br />

sistema mais sofistica<strong>do</strong> em que puseram<br />

seus olhos. Eram programa<strong>do</strong>s na matriz e<br />

passavam por um perío<strong>do</strong> de<br />

amadurecimento e interatividade de<br />

memória artificial, crian<strong>do</strong> assim, uma<br />

espécie de inteligência. Eram quase vivos.<br />

Uma vez funcionan<strong>do</strong>, eram perfeitos,<br />

apenas não possuíam vontade própria.<br />

Nem mesmo Hamour tinha conhecimento<br />

desta tecnologia, que sem dúvida fora<br />

gerada nos anos em que estivera em<br />

refúgio na pirâmide daquele pequeno<br />

planeta distante.<br />

Nos últimos dias de pesquisas,<br />

Thorc voltou à Kosmos com um <strong>do</strong>s<br />

andróides BH-O série 9-226, o antecessor<br />

<strong>do</strong>s BH-1. Este andróide era programa<strong>do</strong><br />

para a batalha e era manti<strong>do</strong> dentro de<br />

uma célula de material transparente,<br />

envolto por muitos eletro<strong>do</strong>s. Bastante<br />

semelhante à câmara de vida de Hamour.<br />

560


To<strong>do</strong> este aparato estava conecta<strong>do</strong> em<br />

aparelhos (três) com muitos piscas, iguais<br />

às células de vida implantadas em seus<br />

tórax.<br />

Houve, então, uma reunião cujo<br />

tema era os “brinque<strong>do</strong>s de sua<br />

Excelência, o Impera<strong>do</strong>r Ahdack”.<br />

Presentes, Erus Fanna, Tutkan,<br />

Hamour, Zur-Kwa, Belzamir e Thorc. Entre<br />

eles, no centro da sala, o andróide BH-O<br />

série 9-226.<br />

Dizia, Thorc – Pelo que pude<br />

constatar, até agora, a tecnologia Mobis,<br />

comparada com a nossa, é bem<br />

equilibrada.<br />

- Acho que não –entrou, Zur-Kwa,<br />

com sua inigualável impertinência, com o<br />

braço direito na tipóia – A única coisa que<br />

ele tem de bom é o sistema de navegação,<br />

e o da Atlantis é melhor. Suas armas, por<br />

exemplo, são decepcionantes. Se forem<br />

ativadas em carga máxima, provavelmente<br />

explodirão nas mãos <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r...<br />

- Concor<strong>do</strong> – disse, Hamour –<br />

Ahdack ficou muito tempo sen<strong>do</strong> o “Grande<br />

561


Senhor de tu<strong>do</strong>” e não avançou em sua<br />

tecnologia bélica...<br />

- A não ser pelos andróides – disse,<br />

Belzamir.<br />

- E pelo sistema de rastreamento<br />

de longo alcance – completou, Thorc.<br />

- Muito interessante! – disse, Fanna<br />

– E as naves deles?<br />

- Me pareceram eficazes – entrou,<br />

Tutkan – só faltam mesmo, um piloto com<br />

iniciativa...<br />

- Você está certo, Tut – disse,<br />

Thorc – Os Mobis 7V possuem altíssima<br />

tecnologia Sensorial. Tem um design<br />

estranho para mim, mas são ágeis,<br />

potentes e precisas, Mas a meu ver, os<br />

nossos caças são melhores, a não ser por<br />

um detalhe: Os Mobis são ativa<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong><br />

os pilotos se conectam com a nave..<br />

Isto me fez pensar. A Atlantis<br />

também é Sensorial...<br />

- A fortaleza... Entendi, Thorc. Nos<br />

capacetes de nossos rapazes deve, haver<br />

esta comunicação entre piloto e nave.<br />

- Maravilha, Zur-Kwa. Por isto facilitei<br />

as coisas, fazen<strong>do</strong> um molde de circuito<br />

integra<strong>do</strong> para os March e um para os<br />

capacetes. Cada piloto fará suas próprias<br />

562


instalações. Só pra constar: Já tínhamos a<br />

tecnologia no tradutor universal. Só não<br />

tínhamos pensa<strong>do</strong> nisso.<br />

- O restante, talvez pouco<br />

melhores que as nossas, antes de<br />

encontrarmos Hamour.<br />

- Então, Ahdack não possui nada<br />

que nos faça temer – ponderou, Belzamir.<br />

- Não. Eu não disse isto. Eu disse<br />

que ele não é tão poderoso quanto<br />

imaginávamos. É claro que em poucos<br />

dias, é impossível saber tu<strong>do</strong>. Estas<br />

avaliações, podemos dizer que são<br />

preliminares.<br />

- Estou inteiramente de acor<strong>do</strong> com<br />

você – disse, Zur-Kwa.<br />

- E em quanto tempo teremos as<br />

respostas completas?<br />

- É difícil dizer. Vai depender um<br />

pouco da recuperação de Zur-Kwa e <strong>do</strong><br />

interesse de Zart. Os andróides, as<br />

máquinas, enfim... as complicações<br />

químicas, fogem um pouco de mim...<br />

- Não creio que Ahdack nos<br />

ofereça mais <strong>do</strong> que vimos até agora –<br />

disse, Hamour – Se bem que em se<br />

tratan<strong>do</strong> dele, tu<strong>do</strong> é possível.<br />

563


- E então, Zur-Kwa? – quis saber,<br />

Tutkan.<br />

- E então, o que?<br />

- Ora, em quanto tempo você acha<br />

que pode matar a charada?<br />

- Com auxiliares capacita<strong>do</strong>s,<br />

talvez um perío<strong>do</strong>, um pouco mais, um<br />

pouco menos. Com Zart, talvez<br />

andássemos mais rápi<strong>do</strong>. Ela é uma<br />

autoridade, quan<strong>do</strong> se trata de<br />

programações e computa<strong>do</strong>res. Você bem<br />

que poderia...<br />

- Pois é, Zur-kwa. Até agora ela<br />

tem-se mostra<strong>do</strong> distante, mal fala<br />

comigo...<br />

- Seria interessante se<br />

colocássemos Maxun, nesta tarefa de fazêla<br />

voltar ao normal. Pelo que percebi,<br />

Tameron tem consegui<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s<br />

com Walln.<br />

- Talvez você tenha razão,<br />

Hamour. Falarei com Maxun.<br />

- Muito bem, meus amigos – disse,<br />

por fim Fanna, de posse novamente de sua<br />

força interior e otimismo – vamos<br />

arremangar as mangas e fazer nossas<br />

mentes funcionar. Há muito que fazer. Que<br />

564


tal, pra começar, preparar uma nave<br />

direcionada ao planeta Schan...<br />

- Terra. Este é o nome que demos<br />

– atalhou, Belzamir.<br />

- Sim, Terra- confirmou Zur - Kwa,<br />

orgulhoso, Entendi você quer se livrar <strong>do</strong>s<br />

meus humanos.<br />

- Nada disso. Acho que não<br />

teremos tempo para cuidá-los e protege-los<br />

em batalha. Gostaria que seus humanos se<br />

desenvolvam em segurança.<br />

- Ta, ta.. Quem vai levá-los e<br />

quem ficará com eles?<br />

- Belzamir, escolha seus parceiros<br />

e parta o mais breve possível.<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

A Fortaleza Imperial viajava rumo a<br />

uma das galáxias mais distantes <strong>do</strong><br />

Segun<strong>do</strong> Padrão Estelar. Seu destino era o<br />

planeta Oiron, o quarto em órbita de um<br />

sol, aponta<strong>do</strong> em seus mapas, como Ziron-<br />

63. Este planeta era onde Ahdack possuía<br />

seus palácios e laboratórios, além das<br />

colônias com suas prisões concentradas.<br />

565


Era neste planeta que mantinha em<br />

cativeiros, prisioneiros de to<strong>do</strong> o Universo,<br />

por onde passara.<br />

Desta vez levava menos<br />

Somerianos nos calabouços de sua Base,<br />

<strong>do</strong> que a vez anterior, quan<strong>do</strong> capturara<br />

Carvelus e os seus.<br />

Era-lhes da<strong>do</strong> um tratamento<br />

relativamente bom, compara<strong>do</strong> com a vez<br />

anterior. Os queria vivos e saudáveis.<br />

Eram espécimes valiosos, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de<br />

inteligência superior e forte. Excelentes<br />

para continuar suas experiências,<br />

envolven<strong>do</strong> a tecnologia empregada na<br />

construção <strong>do</strong>s andróides e a engenharia<br />

genética <strong>do</strong>s seres vivos.<br />

Eis que agora tinha nova<br />

oportunidade para continuar seu projeto e<br />

criar uma nova raça de andróidesguerreiros-vivos.<br />

Um ser cibernético<br />

indestrutível <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de memória e iniciativa<br />

própria. Algo que seus andróides não<br />

possuíam: o instinto de preservação, mas<br />

controla<strong>do</strong>s em sua vontade.<br />

566


Nos calabouços da Fortaleza<br />

Imperial, trezentos e quatro prisioneiros<br />

Somerianos empilhavam-se em três<br />

calorentas salas de metal emborracha<strong>do</strong>. A<br />

única luminosidade que tinham, era<br />

quan<strong>do</strong> a porta abria e <strong>do</strong>is andróides, com<br />

escolta de cinco guardas, traziam <strong>do</strong>is<br />

recipientes (assemelha<strong>do</strong>s a baldes) com<br />

comida. Ou, quan<strong>do</strong> alguns deles eram<br />

leva<strong>do</strong>s para interrogatório, pois o<br />

Impera<strong>do</strong>r desejava saber sobre a pirâmide<br />

encontrada em Kálerus, segun<strong>do</strong> as<br />

palavras de BH-1 série três.<br />

A viagem durava cerca de um<br />

perío<strong>do</strong> (mês Someriano) e até então os<br />

interrogatórios dirigi<strong>do</strong>s por Chonk-Ank-<br />

Pontin (um ser de natureza réptil)<br />

encontravam boa resistência. To<strong>do</strong>s os<br />

interroga<strong>do</strong>s diziam (por recomendação de<br />

Amis), ter si<strong>do</strong> encontrada lá quan<strong>do</strong><br />

chegaram.<br />

Chonk-Ank-Pontin, por ordem <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>r, questionava seus prisioneiros<br />

sem tocá-los, apenas ouvia e os conduzia<br />

novamente às salas de prisão.<br />

567


Ahdack, acompanhava tais<br />

interrogatórios pelo monitor de sua sala e<br />

aposentos. Mantinha uma câmera,<br />

também, nas salas <strong>do</strong>s prisioneiros.<br />

Apesar de engolir a história sobre,<br />

terem encontra<strong>do</strong> a pirâmide em Kálerus,<br />

sentia-se inseguro e notara que to<strong>do</strong>s os<br />

prisioneiros interroga<strong>do</strong>s, após serem<br />

devolvi<strong>do</strong>s às celas, comunicavam-se com<br />

duas das mulheres. Exatamente as duas<br />

encontradas na pirâmide, as quais,<br />

pretendia interrogá-las em Oiron, a colônia-<br />

I. As queria em bom esta<strong>do</strong>, para outras<br />

experiências, pois eram sem dúvida, as<br />

mais belas fêmeas que já tinha visto.<br />

Entretanto, aquelas duas pareciam ser<br />

uma espécie de líderes. Seria, uma delas<br />

ou as duas, parentes ou mesmo, esposas<br />

de Erus Fanna?<br />

Este pensamento agulhou seu<br />

cérebro e uma onda sinistra lhe invadiu a<br />

alma, fazen<strong>do</strong> cintilar os olhos. Sim, elas<br />

não eram comuns, assim como o restante.<br />

A porta de aço abriu,<br />

repentinamente e por ela passou Chonk-<br />

568


Ank-Pontin. Atrás dele, BH-1 série três e<br />

cinco guardas, desta vez arma<strong>do</strong>s. Um<br />

guarda se aproximou com uma lanterna<br />

potente, ofuscan<strong>do</strong> os olhos por onde<br />

passava. O foco procurava por alguém.<br />

Era um fato novo, pois até então,<br />

apesar de estarem amontoa<strong>do</strong>s, quase que<br />

uns por cima <strong>do</strong>s outros, nunca se<br />

sentiram ameaça<strong>do</strong>s, como agora.<br />

Amis, em sua intuição, sabia que<br />

tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>lo, tinha a ver com ela e, de certo<br />

mo<strong>do</strong>, Hamour. Então, o foco caiu sobre<br />

ela.<br />

- Você. Aproxime-se – disse, BH-1<br />

série três.<br />

Ela obedeceu e o foco continuou<br />

até encontrar Zuila, que também foi<br />

intimada. Contu<strong>do</strong>, o foco continuou até<br />

encontrar uma, depois outra e mais outra,<br />

então, escolhidas pelo ser de<br />

descendência réptil.<br />

As cinco foram levadas sob os<br />

resmungos inteligíveis <strong>do</strong>s guardas,<br />

569


também da mesma raça descendente <strong>do</strong>s<br />

répteis.<br />

Após passarem por três<br />

eleva<strong>do</strong>res (o último deles, rápi<strong>do</strong> e<br />

desconfortável). Entraram num pavimento,<br />

ao contrário de onde estavam, muito frio.<br />

Seguiram pelo corre<strong>do</strong>r gela<strong>do</strong> até o fim,<br />

onde acabava em duas portas. Amis e<br />

Zuila seguiram com BH-1 série três, pela<br />

outra.<br />

- Por que elas foram com ele? –<br />

Perguntou Amis.<br />

- Porque vocês serão interrogadas<br />

por sua Excelência, o Impera<strong>do</strong>r Ahdack.<br />

- Interrogadas?- Perguntou, Zuila,<br />

olhan<strong>do</strong> assustada para Amis.<br />

- Mais interrogatório, por quê? –<br />

Quis saber, Amis – Todas nós já fomos<br />

interrogadas por... por...<br />

- Chonk-Ank-Pontin – auxiliou, BH-1.<br />

- ... e já falamos tu<strong>do</strong> o que<br />

sabíamos. O que mais o seu impera<strong>do</strong>r<br />

quer de nós?<br />

BH-1 não respondeu e continuou<br />

cala<strong>do</strong> o restante <strong>do</strong> caminho.<br />

Adiante, entraram noutro eleva<strong>do</strong>r,<br />

este vagaroso e bem climatiza<strong>do</strong>. Subiram<br />

570


mais três pavimentos. Acabaram numa<br />

ante-sala, onde Zuila ficou em companhia<br />

de <strong>do</strong>is guardas. Amis prosseguiu com BH-<br />

1 série três, e passan<strong>do</strong> pela porta, de<br />

repente, se viu numa sala pentagonal<br />

enorme. Em cada parede havia uma porta<br />

e no centro, havia um trono, em cima de<br />

pódios circulares, forman<strong>do</strong> oito degraus.<br />

O piso, parecia ser feito de material<br />

emborracha<strong>do</strong>, claro e de intenso brilho.<br />

- Espere <strong>aqui</strong> – disse, BH-1 série<br />

três, aos pés da escadaria, em frente ao<br />

trono, se retiran<strong>do</strong> em seguida.<br />

Amis olhou em sua volta e viu atrás<br />

de si, três telas ativadas mas sem<br />

imagens. Eram muito parecidas com<br />

aquelas que vira na pirâmide, quan<strong>do</strong><br />

conheceu Hamour. E isto a fez pensar<br />

nele, numa total saudade, que lhe trouxe<br />

lágrimas aos olhos. Hamour, queri<strong>do</strong>!<br />

- ela cochichou – Preciso tanto de você...!<br />

Então uma das portas abriu, à sua<br />

direita. Passaram por ela <strong>do</strong>is seres de<br />

descendência felina, e como to<strong>do</strong>s os<br />

outros, vestiam uma espécie de armadura<br />

leve sobre um teci<strong>do</strong> preto, sem elmo.<br />

Trazia, cada um, uma almofada preta,<br />

aveludada. Numa havia um cetro craveja<strong>do</strong><br />

571


com pedras coloridas e na outra, uma<br />

estrela de cinco pontas. Nas pontas<br />

continham pedras luminosas que<br />

apresentavam um movimento circular.<br />

As duas criaturas passaram por ela<br />

e subiram até o primeiro degrau, e<br />

permaneceram de frente para ela, feitas<br />

estátuas. Pareciam nem respirar. Amis<br />

tomou um susto, aquelas criaturas tinham<br />

um olhar frio, cortante. Era amedronta<strong>do</strong>r.<br />

Então Ahdack materializou-se, em<br />

pé, em frente ao trono. Estava impecável,<br />

em seu trono, em pessoa e naturalmente<br />

sorridente, tentan<strong>do</strong> falar macio, mesmo<br />

com o timbre muito grave e cavernoso.<br />

Contu<strong>do</strong>, arrogante, como sempre. Sentouse<br />

e falou:<br />

- Você – disse, ele, apontan<strong>do</strong> o<br />

indica<strong>do</strong>r direito, conten<strong>do</strong> nele, um grosso<br />

anel pratea<strong>do</strong> – foi uma das mulheres<br />

encontradas na pirâmide de Kálerus.<br />

Então, comece a dizer, quem é você? Mas<br />

antes disso agradeça a mim, somente a<br />

mim por estar viva.<br />

572


Amis, entenden<strong>do</strong> que nada<br />

podia fazer se não jogar o mesmo jogo de<br />

Ahdack, ajoelhou-se em sua frente.<br />

- Me sinto agradecida senhor.<br />

- Pode me chamar de<br />

“Excelência”.<br />

- Sim, Excelência.<br />

- Agora me diga : Quem é você?<br />

- Senhor, digo, Excelência, o que<br />

quereis saber de mim, se já fui interrogada<br />

por ...<br />

- Cale-se – interrompeu, o<br />

Impera<strong>do</strong>r – vou lhe perguntar só mais uma<br />

vez. Quem é você?<br />

- Uma simples fêmea, que sabe<br />

apenas <strong>do</strong>s afazeres <strong>do</strong>mésticos?<br />

- Afazeres <strong>do</strong>mésticos, hein?<br />

Então comece me dizen<strong>do</strong> seu nome.<br />

- Amis, Excelência. Sou Amis, filha<br />

de Ambhórius, nascida em Someron, no<br />

Monte Pakeus. Não me lembro muito bem,<br />

pois saí muito pequena de lá, vivíamos<br />

dentro da montanha, pois a atmosfera <strong>do</strong><br />

nosso mun<strong>do</strong>, não era boa para se viver<br />

com ela.<br />

- Quem é Ambhórius?<br />

- Meu pai era um simples cidadão,<br />

que tinha como tarefa, a direção de uma<br />

573


pequena fábrica têxtil e era membro <strong>do</strong><br />

Conselho <strong>do</strong> meu povo.<br />

- Agora, fale a verdade, qual é o<br />

seu grau de parentesco com Erus Fanna?<br />

- Nenhuma, Excelência.<br />

Ahdack pareceu admirar-se com a<br />

resposta.<br />

Em seu íntimo, o Impera<strong>do</strong>r<br />

pensava que sim, ela tinha que ser próxima<br />

de Fanna.<br />

Ahdack não sabia o que pensar.<br />

Então a tela, a sua direita vibrou com maior<br />

intensidade. Uma das criaturas felinas lhe<br />

trouxe o cetro, e nele, o impera<strong>do</strong>r<br />

sintonizou alguns sinais.<br />

Amis percebeu a súbita mudança<br />

nele e instintivamente pendeu seus olhos<br />

na direção da imagem tridimensional que<br />

se formava. Era uma figura também de<br />

negro, vestida para guerra, assim como<br />

todas as outras.<br />

Ahdack falou em seu idioma natal,<br />

comunican<strong>do</strong>-se com o ser da tela.<br />

Curiosamente, Amis entendia o diálogo.<br />

574


Falava, então, o recém chega<strong>do</strong>,<br />

sobre o terrível acontecimento, sen<strong>do</strong> o<br />

único sobrevivente de um ataque<br />

fulminante por parte <strong>do</strong>s Somerianos em<br />

sua Base.<br />

- Rumback – disse, o impera<strong>do</strong>r,<br />

pasmo com certa indignação -, não posso<br />

acreditar no que ouço. Você deixou Erus<br />

Fanna escapar e perdeu sua Base?<br />

- Excelência, acredite, fomos<br />

surpreendi<strong>do</strong>s. Mas o líder e o cientista<br />

foram abati<strong>do</strong>s durante a fuga...<br />

Amis gelou com a notícia. Perdera<br />

Fanna e mais alguém. Poderia ser<br />

qualquer um...<br />

- ... Foi necessário explodir a<br />

Base. Ordenei a BH-1 que o fizesse, no<br />

instante que bati em retirada. Não poderia<br />

deixá-la intacta nas mãos de um inimigo<br />

tão poderoso. Se forem capaz de<br />

neutralizar os nossos sistemas de<br />

coman<strong>do</strong>, poderiam usar nossa própria<br />

base contra nós. Possuem muito mais e é<br />

muito mais <strong>do</strong> que <strong>aqui</strong>lo que<br />

apresentavam ser.<br />

Ahdack estava lívi<strong>do</strong>.<br />

575


Em Amis, um milhão de<br />

pensamentos se amontoava em sua<br />

mente, suspensos por um fio de<br />

esperança.<br />

- Rumback – disse, o impera<strong>do</strong>r,<br />

com chispas nos olhos – Venha até minha<br />

nave, continuaremos <strong>aqui</strong>, esta conversa.<br />

Mas, primeiro certifique-se de que não<br />

deixou rastros.<br />

Dizen<strong>do</strong> isto, desativou a tela,<br />

recostan<strong>do</strong>-se no trono, num tom<br />

pensativo. Como, em tão pouco tempo, os<br />

Somerianos adquiriram tamanha<br />

tecnologia?<br />

Olhou direto nos olhos de Amis e<br />

disse, consigo mesmo:<br />

“Agora ficaremos saben<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong>,<br />

acionan<strong>do</strong> sua tela esquerda”.<br />

De lá saíram imagens, congelan<strong>do</strong><br />

e fican<strong>do</strong> a cinco passos de Amis, entre os<br />

pódios, num processo holográfico, já<br />

conheci<strong>do</strong> por ela.<br />

Imediatamente materializou-se<br />

uma cena. Eram as três companheiras<br />

576


escolhidas por Chunk-Ank-Pontin, em pé,<br />

uma ao la<strong>do</strong> da outra, em meio a uma<br />

geringonça estranha.<br />

Estavam imobilizadas da cintura<br />

para cima e pelos braços, numa barra de<br />

material metálico. Havia outra, horizontal,<br />

que lhes prendia seus pescoços e dali uma<br />

re<strong>do</strong>ma de matéria transparente, lhes<br />

envolvia totalmente a cabeça. Da re<strong>do</strong>ma<br />

saiam tubos finos subin<strong>do</strong> até o corte da<br />

imagem.<br />

O movimento circular das pedras<br />

incrustadas nas pontas da estrela, teve<br />

uma leve aceleração e o brilho, intenso,<br />

ficara levemente violeta, voltan<strong>do</strong> ao<br />

normal.<br />

- E quem mais, minha cara? Veja,<br />

suas amigas dependem de você.<br />

- Queira desculpar, Excelência, mas<br />

sou uma mulher ocupada com os afazeres<br />

<strong>do</strong>mésticos...<br />

O movimento da estrela, (sobre a<br />

almofada com o felino) voltou a acelerar e<br />

com a mesma coloração.<br />

577


Imediatamente, Ahdack acionou o<br />

seu cetro e em pouquíssimo tempo, as três<br />

mulheres foram sugadas, a suas<br />

essências, deixan<strong>do</strong> seus corpos,<br />

totalmente esvazia<strong>do</strong>s, murchos, mas<br />

vivas. Após isto, uma espécie de suporte<br />

que apoiava o elmo de material<br />

transparente, disparou uma lança,<br />

atravessan<strong>do</strong>-lhes, o crânio, por entre os<br />

ouvi<strong>do</strong>s. Depois subiram e desapareceram.<br />

- Você está me dan<strong>do</strong> meias<br />

verdades – e no mesmo lugar, outro<br />

holograma se formou. Desta vez era Zuila,<br />

sentada numa poltrona estranha em aço,<br />

com os mesmo aparatos na cabeça, e o<br />

corpo imobiliza<strong>do</strong>.<br />

- Zuila! – Gritou, Amis, num impulso<br />

de ir até ela. – Não...!<br />

- Responda, seus cientistas e quem<br />

mais? Quem construiu a pirâmide?<br />

Não havia outra maneira de manter<br />

Zuila viva.<br />

- Hamour, meu mari<strong>do</strong> e...<br />

- Hamour? Você disse Hamour?<br />

- Sim senhor, Excelência.<br />

- Então você é a mulher de<br />

Hamour?<br />

578


Agora enten<strong>do</strong> melhor as coisas.<br />

Tu<strong>do</strong> se encaixa ... Você é a mulher dele.<br />

A pirâmide...<br />

Ahdack tremeu a sala com sua<br />

gargalhada me<strong>do</strong>nha. Fez uma pausa no<br />

interrogatório enquanto pensava. – Sim isto<br />

explica. O seu povo não poderia ter tanta<br />

força sozinho. Mas como pode? – Hamour<br />

morreu!<br />

Era impossível, mas explicava.<br />

O grande Impera<strong>do</strong>r estava lívi<strong>do</strong>,<br />

não dava para acreditar, ele cuidara para<br />

que Hamour tivesse morri<strong>do</strong> e<br />

pessoalmente. – Aquele sacana, - pensou<br />

consigo mesmo – é mais cheio de truques<br />

<strong>do</strong> que pensei. Como pode ter escapa<strong>do</strong><br />

daquela prisão mortuária?<br />

- Fale-me um pouco mais <strong>do</strong> seu<br />

mari<strong>do</strong>.<br />

Amis percebeu a curiosidade de<br />

Ahdack, muito especialmente, sua<br />

inquietação e decidiu não falar tu<strong>do</strong>.<br />

Especular um pouco, seria melhor. Mas<br />

teria que conduzir o diálogo com habilidade<br />

579


para que aquele nojento não se desse<br />

conta.<br />

- Excelência, meu mari<strong>do</strong> e eu nos<br />

conhecemos ainda crianças, a bor<strong>do</strong> de<br />

uma nave cargueiro, chama<strong>do</strong> Mir, que<br />

fazia parte da frota que posou em<br />

Kálerus...<br />

- Quer dizer que Hamour é nasci<strong>do</strong><br />

de Someron?<br />

- Sim, Excelência. Ele é filho de<br />

Karbenal – na verdade Karbenal era meu<br />

tio – e fomos prometi<strong>do</strong>s um para o outro,<br />

assim que nascemos.<br />

Amis mantinha seus olhos baixos,<br />

temen<strong>do</strong> se entregar, mediante o olhar<br />

penetrante <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r. Em um milésimo<br />

de mícron, pensou, - eles já se conheciam.<br />

Porque Hamour nunca me falou?<br />

- Minha cara, acho que você está<br />

mentin<strong>do</strong> deliberadamente.<br />

Ela sentiu suas faces ficarem<br />

coradas, mas perceben<strong>do</strong> as intenções de<br />

Ahdack e temen<strong>do</strong> por sua vida e a <strong>do</strong>s<br />

outros, achou melhor permanecer em<br />

silêncio, tentan<strong>do</strong> pensar numa saída e<br />

com toda a calma possível. Se os <strong>do</strong>is já<br />

se conheciam, tinha que avisar seus<br />

companheiros e companheiras para<br />

580


eforçarem sua história, no caso de serem<br />

interroga<strong>do</strong>s também.<br />

- Então, o seu silêncio confirma sua<br />

mentira.<br />

- Excelência, como poderia mentir<br />

em vossa presença, ten<strong>do</strong> minha vida e de<br />

minha amiga em jogo? – e conduzin<strong>do</strong> a<br />

coisa pra outro la<strong>do</strong> “inocentemente” –<br />

Posso provar que fui casada.<br />

- Por que você diz que pode provar<br />

que foi casada?<br />

- Porque tivemos relacionamento<br />

íntimo e estou grávida.<br />

- Mas isto não prova nada.<br />

- Sim prova, excelência, no meu<br />

povo, temos o costume de não aceitar na<br />

sociedade as mulheres grávidas não<br />

casadas.<br />

- E como você me explica a<br />

construção da pirâmide?<br />

- Esta é uma velha história.<br />

- Sou to<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>s.<br />

- Bem, quan<strong>do</strong> estávamos na<br />

pequena escola, à bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> cargueiro Mir,<br />

nosso professor de arquitetura nos<br />

mostrou, segun<strong>do</strong> livros antigos, pela<br />

primeira vez uma pirâmide. Meu mari<strong>do</strong> e<br />

eu, estudávamos juntos, e decidimos que<br />

581


quan<strong>do</strong> chegássemos ao mun<strong>do</strong> novo,<br />

construiríamos uma edificação semelhante.<br />

Achamos interessante e era diferente das<br />

outras casas.<br />

- Muito bem, por enquanto vou<br />

acreditar em sua história. Pode se retirar.<br />

Amis sentiu que, ainda podia dar<br />

um pequeno reforço em sua história,<br />

levan<strong>do</strong> o assunto para outra direção,<br />

talvez com isto, ganhasse mais um ponto a<br />

favor.<br />

- Excelência, antes de ir, gostaria<br />

de lhe dizer, que não me importo se o<br />

senhor ache que nós construímos ou<br />

achamos pronta aquela edificação, como<br />

parece desconfiar.<br />

- Ah,ah,ah,ah,ah – riu o Impera<strong>do</strong>r –<br />

Quer dizer que você não se importa?<br />

- Não excelência. Nós a<br />

construímos e poderíamos construir outra,<br />

se meu mari<strong>do</strong> estivesse vivo agora.<br />

Estas últimas palavras, Amis<br />

mostrou ser uma grande atriz, porque<br />

dissera com tanta raiva – mais ou menos<br />

desafia<strong>do</strong>ra – que Ahdack, pareceu até se<br />

convencer. E entrou no seu jogo.<br />

- Pois eu acho que vocês a<br />

encontraram pronta.<br />

582


- Sua Excelência está muito<br />

engana<strong>do</strong> e se deseja posso desenhar<br />

uma planta para que possa construir a sua<br />

própria.<br />

- Então faça isto minha cara. Peça<br />

os ingredientes necessários à BH-1. Quero<br />

ver isto pronto amanhã.<br />

Ela, nada mais falou. Virou as<br />

costas, e saiu, com BH-1. O Impera<strong>do</strong>r<br />

parecia ter acredita<strong>do</strong> em seu jogo, mas<br />

ela tinha que avisar os outros, para que<br />

dessem apoio. O problema maior seria o<br />

contato com aqueles que estavam em<br />

celas separadas.<br />

As celas ficavam dispostas uma ao<br />

la<strong>do</strong> da outra e divididas por paredes<br />

maciças, de mo<strong>do</strong> a não poderem se<br />

comunicar e estavam no décimo quarto<br />

nível inferior da nave. Ao chegar, a primeira<br />

pessoa, que viu, com surpresa foi Zuila.<br />

BH-1 a trouxe de volta por ordem de<br />

Ahdack. Ela a esperava com ansiedade e<br />

angústia. Amis não perdeu tempo e se<br />

precipitou para dentro puxan<strong>do</strong> a amiga<br />

para o fun<strong>do</strong>, antes que BH-1 pudesse<br />

perceber.<br />

583


- Zuila – disse baixinho – ele vai te<br />

perguntar sobre Hamour e você diz a ele<br />

que nos conhecemos a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mir, que<br />

ele é filho de Karbenal, e nasci<strong>do</strong> de<br />

Someron...<br />

- A outra mulher – disse BH-1 série 3.<br />

- Preste atenção, insista que Hamour<br />

e eu construímos a pirâmide.<br />

- Insistir?<br />

- Sim, levei a conversa para este<br />

la<strong>do</strong>. Insista.<br />

- Onde está a outra mulher? – falou<br />

BH-1.<br />

- Estou <strong>aqui</strong>. Só um momento<br />

para terminar de me vestir. E o que mais<br />

Amis?<br />

- É isto. Hamour á nasci<strong>do</strong> de<br />

Someron, filho de Karbenal, ele e eu fomos<br />

prometi<strong>do</strong>s um ao outro assim que<br />

nascemos. Ah, e que decidimos construir a<br />

pirâmide quan<strong>do</strong> vimos Zur-Kwa nos<br />

explicar alguns livros antigos. Agora vá.<br />

Não fique nervosa. Se lhe ocorrer mais<br />

alguma coisa na hora, diga-lhe. Apenas ele<br />

não pode saber de onde e nem como<br />

encontramos Hamour. Também eu falei<br />

que ele morreu.<br />

- Está bem Amis. Vou tentar.<br />

584


- Não tente. Faça.<br />

- Estou pronta senhor.<br />

- Muito bem, então vamos.<br />

Zuila partiu com o andróide e sua<br />

escolta e Amis aproveitou, para passar<br />

adiante a história. Perguntaram-lhe o<br />

porquê da mentira, no que ela teve que<br />

explicar tu<strong>do</strong> de novo. Mas o problema<br />

esta nas outras salas. Existem males que<br />

vem para bem e aconteceu que devi<strong>do</strong> ao<br />

aperto e as más condições em que se<br />

encontravam os feri<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>entes<br />

começaram a piorar e morreram quase que<br />

simultaneamente. Os protestos e o barulho<br />

causa<strong>do</strong>s nas celas,chamou a atenção <strong>do</strong>s<br />

guardas. Muitos deles, seres de outros<br />

mun<strong>do</strong>s, pediram autorização ao<br />

Impera<strong>do</strong>r, para que pudessem aproveitar<br />

os mortos. Neste instante, exatamente<br />

Zuila estava sen<strong>do</strong> trazida de volta, pelo<br />

qual Amis implorou para que pudesse fazer<br />

a cerimônia de despedida de seus mortos.<br />

Ahdack, alivia<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> ao<br />

interrogatório da outra mulher que lhe<br />

confirmara o que a primeira lhe dissera,<br />

num lapso de generosidade, consentiu a<br />

cerimônia. Assim, a mentira se espalhou e<br />

585


ficou claro que o Impera<strong>do</strong>r não poderia<br />

conhecer a verdade sobre Hamour.<br />

Mais tarde o tirano man<strong>do</strong>u chamar<br />

um por um <strong>do</strong>s prisioneiros, queren<strong>do</strong><br />

saber quem eram, o que faziam e se<br />

conheciam Hamour, na qual responderam<br />

que sim, era um <strong>do</strong>s seus, nasci<strong>do</strong> em<br />

Someron, filho de Karbenal, confirman<strong>do</strong><br />

toda a história. Ahdack se tranqüilizou.<br />

Hamour era só um nome, coincidência e<br />

nada mais. Acontece que estava tranqüilo,<br />

mas de certo mo<strong>do</strong> excitante devi<strong>do</strong> às<br />

muitas coincidências. A pirâmide, o nome,<br />

a tecnologia e a derrota. E pensou: - Se<br />

to<strong>do</strong>s mentiram, logo se arrependerão.<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Naquele perío<strong>do</strong>, Zur-Kwa se<br />

recuperou totalmente e Zart, animada por<br />

Maxun, amigos e seu pai, passou a dedicar<br />

seu tempo no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s andróides.<br />

Principalmente, em como poderiam ser<br />

reprograma<strong>do</strong>s. BH-1 série três foi a chave<br />

de tu<strong>do</strong>. Parecen<strong>do</strong> entender que se não<br />

586


cooperasse, “morreria”; O sistema BH era<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de maior ou menor bancos de<br />

memória nas unidades, dependen<strong>do</strong> de<br />

sua função. Por exemplo: BH-O 9-226 era<br />

um piloto de caça. Já o BH-O 9-224 é um<br />

navega<strong>do</strong>r, e assim por diante – explicou.<br />

Com a promessa de ser reativa<strong>do</strong>,<br />

BH-1 se deixou desmontar.<br />

Thorc comentou, na ocasião que<br />

aquelas máquinas eram perfeitas. Ou<br />

quase vivas.<br />

Quan<strong>do</strong> BH-1 série três foi<br />

desativa<strong>do</strong> e sua célula de vida retirada,<br />

causou a impressão de realmente estar<br />

morren<strong>do</strong>. E na medida em que era<br />

desmonta<strong>do</strong>, seus segre<strong>do</strong>s se revelavam<br />

diante <strong>do</strong>s olhos de Thorc, Zur-Kwa, o Dr.<br />

Grohalv e to<strong>do</strong>s os cientistas peritos em<br />

genética.<br />

Eram incríveis. Eram seres<br />

sintéticos.<br />

Havia, também, os autômatos e<br />

robots, os quais, numa rápida<br />

587


eprogramação, auxiliavam em trabalhos<br />

simples.<br />

Desvenda<strong>do</strong>s os mistérios, até<br />

mesmos os andróides da série BH, foram<br />

reprograma<strong>do</strong>s.<br />

As crianças humanas ganharam<br />

um pequeno robot para auxiliar Belzamir e<br />

que foi apelida<strong>do</strong> de Oga.<br />

A própria Fortaleza foi<br />

reprocessada e recuperada pelos seres de<br />

sua tripulação, sob a orientação pessoal de<br />

Hamour, Thorc e Zur-Kwa. Muitos seres<br />

tripulavam-na, agora, soman<strong>do</strong>-se aos<br />

encontra<strong>do</strong>s nas despensas de “Sua<br />

Excelência”, que descongela<strong>do</strong>s,<br />

engrossava a diversificação de tipos<br />

exóticos. Destes, a maioria preferiu sair de<br />

vista. Ainda tinham me<strong>do</strong> e não<br />

compreendiam a situação, mesmo sen<strong>do</strong><br />

usa<strong>do</strong> os tradutores universais.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que se pensava, a<br />

Fortaleza conseguia desenvolver duas<br />

Dobras-luz e acompanhava bem, o<br />

Cruza<strong>do</strong>r Constelação e a Kosmos.<br />

588


CAPÍTULO X<br />

A frota desacelerou ao detectar<br />

grande massa de asteróides. Era um<br />

imenso campo cheio deles. Os sensores<br />

Kramset-II acusavam ser material<br />

altamente magnetiza<strong>do</strong>, conheci<strong>do</strong> por<br />

Merilun, a matéria prima <strong>do</strong>nde era<br />

extraí<strong>do</strong> o Trilliun.<br />

- Eis <strong>aqui</strong> uma boa fonte de<br />

material para as nossas naves, disse<br />

Hamour no coman<strong>do</strong> da Fortaleza de<br />

Rumback – É Trillium puro, quero dizer<br />

Merillun.<br />

Assim que penetraram no campo,<br />

os instrumentos direcionais de navegação<br />

entraram em colapso. As transmissões e<br />

recepções prejudicadas, forçan<strong>do</strong>-os<br />

diminuir os passos. Havia o risco de<br />

colisão. Parecia um campo mina<strong>do</strong>.<br />

Os andróides, autômatos e robots,<br />

sob o coman<strong>do</strong> de Velz, realizaram a tarefa<br />

de recolher material suficiente para encher<br />

589


os compartimentos e porões da Fortaleza.<br />

O que tinham recolhi<strong>do</strong> daria para fazer<br />

uma Kosmos novinha. A travessia foi lenta<br />

e durou mais um dia e meio.<br />

Paulatinamente as comunicações e<br />

os instrumentos de bor<strong>do</strong> se normalizaram.<br />

- Kosmos para a Fortaleza, pode<br />

me ouvir?<br />

- Sim, Tut, alto e claro.<br />

- Conseguiu pegar o que queria?<br />

- Mais <strong>do</strong> que precisamos o<br />

suficiente para o futuro.<br />

- Para o futuro?<br />

- Claro, por que não?<br />

- Você é um otimista, meu caro.<br />

- Apenas realista. Precaven<strong>do</strong>-me<br />

para o amanhã.<br />

- Você acha que pode andar bem,<br />

com esta carga?<br />

- Acho que posso, não sei. Temos<br />

que experimentar.<br />

- Então, andaremos mais devagar<br />

e aceleran<strong>do</strong> aos poucos.<br />

- Perfeito.<br />

Quarenta e oito dias Somerianos<br />

se passaram desde que partiram de<br />

590


Kálerus e conta<strong>do</strong>s por Tutkan, com certo<br />

furor. A memória de seus irmãos<br />

aprisiona<strong>do</strong>s por Ahdack, incentivava o<br />

trabalho de reconstrução da Atlantis.<br />

E finalmente a nave ficou pronta, e<br />

Hamour transferiu se da Fortaleza para a<br />

Kosmos, passan<strong>do</strong> o coman<strong>do</strong> para Velz.<br />

Era o seu primeiro coman<strong>do</strong> em uma nave<br />

mãe.<br />

A Atlantis foi acionada e assim que<br />

Hamour tomou os coman<strong>do</strong>s, passou a<br />

flutuar, a poucos microns <strong>do</strong> piso,<br />

produzin<strong>do</strong> um ruí<strong>do</strong> sibilante e um brilho<br />

azula<strong>do</strong>. Era linda, totalmente branca,<br />

circular e homogenia. Pareciam <strong>do</strong>is<br />

pratos, vira<strong>do</strong>s de boca, um para o outro.<br />

As comportas <strong>do</strong> grande ventre,<br />

da Kosmos, abriram-se, liberan<strong>do</strong> a<br />

Atlantis de seu ninho. Subitamente o brilho<br />

aumentou, a ponto de se transformar uma<br />

bola de luz e, em seguida, sumiu de vista,<br />

sen<strong>do</strong> detectada apenas pelos Telaks.<br />

591


Thorc, que já vinha fazen<strong>do</strong> testes<br />

e introduzira algumas melhorias nos<br />

sistemas, comentou:<br />

- Sua autonomia é quase<br />

ilimitada. Sua velocidade ultrapassa dez<br />

vezes a marca da luz, sem que nada<br />

modificasse em sua estrutura. Ao acelerar,<br />

produzia um campo magnético por fora,<br />

rechaçan<strong>do</strong>, com perfeição, toda e<br />

qualquer poeira cósmica. É<br />

completamente sensitiva. Pode traçar<br />

coordenadas e planos de vôo, e se<br />

arremeter aos confins <strong>do</strong> espaço, com o<br />

uso de um cristalton programa<strong>do</strong> para<br />

atender aos pensamentos <strong>do</strong> piloto.<br />

Pouco tempo depois a nave<br />

materializou-se no ponto de onde partira,<br />

voltan<strong>do</strong> lentamente ao ninho.<br />

Hamour abriu a portinhola de<br />

acesso e convi<strong>do</strong>u Fanna, Tutkan e Thorc<br />

para subirem a bor<strong>do</strong> e com seu sorriso<br />

largo disse:<br />

- Ela está ótima. Gostei das<br />

adaptações, Thorc. Foi uma boa idéia<br />

introduzir os <strong>do</strong>is canhões Prottons.<br />

592


- É uma pena Zur-Kwa não estar<br />

<strong>aqui</strong> para ver essa belezinha em ação,<br />

comentou Thorc.<br />

- Acho que depois disso, estamos<br />

perto de criar uma máquina, capaz de<br />

andar pelo tempo, tanto para frente como<br />

para trás.<br />

- Você está certo, meu caro.<br />

- observou Hamour nossos cientistas, em<br />

Goran, também disseram o mesmo.<br />

- Poxa! – disse Tutkan – Eu<br />

gostaria de ter uma destas e reparar tu<strong>do</strong> o<br />

que aconteceu com nosso povo, no<br />

passa<strong>do</strong>.<br />

- Temo não ser possível, Tut,<br />

porque tu<strong>do</strong> o que passou não deve ser<br />

muda<strong>do</strong>. Somente Deus poderia fazê-lo.<br />

- Está certo Hamour, o que está<br />

feito, está feito.<br />

- É isto aí, rapazes – completou<br />

Fanna.<br />

- Comandante – falou Klemps pelo<br />

Telecom - estamos no hiper espaço e já<br />

temos as coordenadas para o Segun<strong>do</strong><br />

padrão estelar.<br />

593


- Comunique a frota, vamos<br />

entrar em <strong>do</strong>bra <strong>do</strong>is, em dez microns.<br />

Houve um estremecimento na<br />

matéria escura, causan<strong>do</strong> ondas de vácuo<br />

quan<strong>do</strong> as três naves aceleraram seus<br />

motores.<br />

Acomoda<strong>do</strong>s na cúpula da Kosmos,<br />

após o processo de estabilização de<br />

empuxo, os planos de ataque eram<br />

traça<strong>do</strong>s e rearranja<strong>do</strong>s. Depois de muitas<br />

simulações, Fanna dirigin<strong>do</strong>-se à Hamour,<br />

num ar sério, comentou:<br />

- Sabe Hamour, sempre tive<br />

alguns tiques a seu respeito. Eu nunca falei<br />

com você sobre isto, mas devo dizer que<br />

sinto você, algo mais <strong>do</strong> que aparenta ser.<br />

- Fanna, você realmente<br />

consegue me embaraçar. O que você<br />

sente afinal?<br />

- Não sei Hamour, gostaria que<br />

você me dissesse.<br />

- Já é tempo de nos conhecermos<br />

melhor.<br />

594


No planeta Colônia I, batiza<strong>do</strong><br />

assim, por Ahdack, o alojamento de<br />

prisioneiros estava abarrota<strong>do</strong> de seres de<br />

muitos planetas, apresentan<strong>do</strong> uma<br />

heterogenia fantástica, muito além <strong>do</strong><br />

imaginável. Era sujo e malcheiroso, com<br />

calor insuportável. Não possuía janelas e o<br />

ar interno era bombea<strong>do</strong> por motores<br />

barulhentos, não dan<strong>do</strong> tréguas aos<br />

ouvi<strong>do</strong>s de ninguém. Da mesma forma com<br />

a iluminação vinda de <strong>do</strong>is pontos<br />

luminosos e quentes. Vez por outra a<br />

algazarra <strong>do</strong>s confina<strong>do</strong>s, era mais<br />

barulhenta <strong>do</strong> que os exaustores. Era<br />

quan<strong>do</strong> alguém fora morto e<br />

imediatamente consumi<strong>do</strong> pelos<br />

esfomea<strong>do</strong>s. A luta pela vida e morte era<br />

constante. A morte de alguns significava<br />

vida para outros.<br />

Os recém chega<strong>do</strong>s eram<br />

manti<strong>do</strong>s em separa<strong>do</strong> por grade de raios<br />

lasers, examina<strong>do</strong>s e alimenta<strong>do</strong>s<br />

diariamente com uma espécie de sopa<br />

quente, de cheiro e gosto ruins,<br />

provocan<strong>do</strong> vômitos em alguns. Mas a<br />

fome prevalecia.<br />

595


Tinham se passa<strong>do</strong> dezesseis<br />

dias e a situação piorava. A luta por<br />

comida, nos últimos três dias, tornara-se<br />

cada vez mais violetas, aumentan<strong>do</strong> o<br />

número de vítimas, a ponto de sobrar<br />

cadáveres intactos. Aqui e ali formavam-se<br />

ban<strong>do</strong>s de iguais, uns observan<strong>do</strong> os<br />

outros.<br />

Por ordem de “Sua excelência”,<br />

BH-1 Série 3 e seus comanda<strong>do</strong>s, deveria<br />

examinar os Somerianos e separar os<br />

<strong>do</strong>entes para alimentar os prisioneiros <strong>do</strong><br />

outro la<strong>do</strong> da grade eletrônica.<br />

Mais um someriano fora<br />

devora<strong>do</strong>. A revolta e a sensação de<br />

impotência geravam-lhes calma aparente,<br />

mas prestes a explodir. Havia união entre<br />

eles e quan<strong>do</strong> entenderam que a<strong>do</strong>eciam<br />

por causa da sopa, a fome também<br />

começava a agir. Passaram a beber suas<br />

próprias urinas.<br />

Amis, com Hamour em seus<br />

pensamentos, observava com atenção<br />

to<strong>do</strong>s os movimentos, desde quan<strong>do</strong> a<br />

porta <strong>do</strong> alojamento abria. Zuila fazia o<br />

596


mesmo de outra localização, dentro da<br />

grade.<br />

Então, sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />

Ahdack resolveu reiniciar seu programa de<br />

genética. Escolheu, para isto, quatro<br />

casais de diferentes espécies. Man<strong>do</strong>u BH-<br />

1 série três buscar os mais fortes, para as<br />

cruzas e separar os demais, os menos<br />

saudáveis para extermino dali a <strong>do</strong>is dias.<br />

Amis e Zuila deveriam ser poupadas, final<br />

eram as mais belas, e tinha planos mais<br />

adequa<strong>do</strong>s para elas.<br />

A porta <strong>do</strong> alojamento se abriu e<br />

BH-1 e seus guardas arma<strong>do</strong>s, entraram e<br />

com seus instrumentos mediam a saúde<br />

vital de cada um, reunin<strong>do</strong>-os por espécie<br />

em grupos.<br />

A população fora reduzida<br />

drasticamente e o cheiro podre de<br />

cadáveres e restos impregnava o<br />

ambiente.<br />

Amis e Zuila se seguraram ao ver<br />

à grade desativada e foram leva<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s,<br />

para perto das “tribos”.<br />

597


Era uma visita fora da rotina.<br />

Entendiam que tinha a ver com esta<strong>do</strong><br />

físico pelos atos <strong>do</strong> andróide, separan<strong>do</strong> os<br />

mais saudáveis. Era um momento<br />

diferente.<br />

A grade de raios se formou<br />

exatamente no meio <strong>do</strong> salão e lá<br />

confina<strong>do</strong>s a maioria <strong>do</strong>s prisioneiros,<br />

separan<strong>do</strong> os Somerianos, <strong>do</strong>is seres<br />

insetos, quatro seres répteis e um ser<br />

pelu<strong>do</strong> e muito gor<strong>do</strong>.<br />

BH-1 Série 3 apontou o de<strong>do</strong>,<br />

anuncian<strong>do</strong>:<br />

– Você, você, você, você, você e<br />

você, venham comigo.<br />

Dois casais de somerianos e<br />

outros <strong>do</strong>is de répteis foram escolhi<strong>do</strong>s e<br />

imediatamente empurra<strong>do</strong>s em direção <strong>do</strong><br />

portão.<br />

Zuila correu até seus irmãos<br />

leva<strong>do</strong>s aos trancos, mas foi detida e<br />

empurrada por um guarda, cain<strong>do</strong> entre o<br />

vão da porta metálica. Amis foi em seu<br />

socorro com um pedaço de osso na mão,<br />

598


tiran<strong>do</strong> a amiga a tempo, antes <strong>do</strong> portão<br />

se fechar. Dois seres insetos vieram ao<br />

ataque, e foram atingi<strong>do</strong>s violentamente<br />

pelos últimos três sobreviventes de<br />

Someron. Um deles feriu-se mortalmente<br />

na defesa de Amis e Zuila, e não<br />

conseguia se mover. Amis abaixou-se para<br />

ouvir as palavras <strong>do</strong> rapaz que sussurrava:<br />

- Amis, por favor, não deixe que<br />

me comam – disse, agarran<strong>do</strong>-se aos<br />

cabelos dela – Por favor, Amis mate-os<br />

antes. Não deixe...<br />

- Fique calmo Homarkus, não vou<br />

deixar.<br />

Ela sabia que era uma questão de<br />

tempo. Provavelmente no próximo dia,<br />

Homarkus seria banquetea<strong>do</strong> por aqueles<br />

seres horrorosos.<br />

De um la<strong>do</strong> da cerca, mais de<br />

quinhentas criaturas exóticas e <strong>do</strong> outro<br />

somente oito sobraram. Dois insetos e um<br />

pelu<strong>do</strong> gor<strong>do</strong>, que parecia não ter pernas<br />

de tão gor<strong>do</strong> e Amis e os seus.<br />

– Esta noite vamos sair d<strong>aqui</strong>,<br />

acho que sei como podemos fazer. Não<br />

quero mais estas coisas como companhia.<br />

- Amis não tem saída d<strong>aqui</strong> -<br />

599


- Eu acho que tem. Quan<strong>do</strong> BH-1<br />

esteve <strong>aqui</strong> e levou seus escolhi<strong>do</strong>s e fui te<br />

socorrer, tratei de encher o encaixe da<br />

fechadura com um pedaço de osso. Já<br />

verifiquei, a porta está escorada, dan<strong>do</strong> a<br />

impressão de estar fechada.<br />

- Então vamos sair hoje-<br />

- Zuila, não podemos levar estes<br />

insetos, nem o gor<strong>do</strong>.<br />

- Acho que devemos. Poderão ser<br />

úteis lá fora.<br />

- E Homarkus? Ele está muito<br />

feri<strong>do</strong>, ele não poderá nos acompanhar?<br />

- Homarkus está morto, não<br />

podemos fazer nada por ele.<br />

- Oh! Pobre Homarkus.<br />

- Pelo menos não será comi<strong>do</strong>,<br />

Zuila. Vamos tentar nos comunicar com<br />

estas criaturas, Talvez entendam o que<br />

deve ser feito.<br />

- Sim. Vamos.<br />

Os outros <strong>do</strong>is homens ajudaram<br />

na tarefa. As três criaturas pareciam<br />

amedrontadas. Um <strong>do</strong>s insetos cuidava <strong>do</strong><br />

outro, feri<strong>do</strong> na luta com o fina<strong>do</strong><br />

Homarkus e o gor<strong>do</strong> nem se mexia,<br />

parecen<strong>do</strong> paralisa<strong>do</strong>.<br />

600


- Como são burros – disse Lao -<br />

Acho que não podemos contar com eles<br />

para nada.<br />

- Você se engana, meu caro.<br />

To<strong>do</strong>s olharam para trás,<br />

abobalha<strong>do</strong>s.<br />

- Gor<strong>do</strong> você fala e nos entende?<br />

- Meu nome não é gor<strong>do</strong>. É<br />

Zwump.<br />

- Como é mesmo? – perguntou<br />

Amis.<br />

- Zwump. Zwump.<br />

- Zwump? – riu Zuila, mas que<br />

nome tão... tão...<br />

- Original – Aju<strong>do</strong>u Zwump.<br />

- Sim, sim, original. Mas diga-nos,<br />

de onde você é e como sabe nossa língua?<br />

- Sou <strong>do</strong> planeta Grrott e não sabia<br />

sua língua até chegarem <strong>aqui</strong>.<br />

- Como, não sabia nossa língua?<br />

- Sim, mas isto é... pouco de<br />

explicar...<br />

Pouco? -atalhou Amis – Você quer<br />

dizer fácil?<br />

- Sim, sim, fácil. Fácil de explicar.<br />

Eu ensina<strong>do</strong>r... de idiomas em meu planeta<br />

antes de ser captura<strong>do</strong>...<br />

601


- Você quer dizer professor,<br />

instrutor... – atalhou Amis.<br />

- Sim, professor de idiomas e<br />

considera<strong>do</strong> muito bom, - disse baixan<strong>do</strong><br />

os grandes olhos, com humildade neles.<br />

- Então Zwump, sinto muito a<br />

respeito de chamá-lo de burro...<br />

- Ora não tem importância, mas<br />

estou interessa<strong>do</strong> em sair d<strong>aqui</strong> também. E<br />

estes, que vocês chamam de... hum...<br />

insetos. Veja nenhum de nós parece ser o<br />

que vocês julgam. Apenas estamos há<br />

mais tempo <strong>aqui</strong>, e vocês mesmos viram<br />

como é a sobrevivência de to<strong>do</strong>s. E a<br />

propósito. Eles foram ao seu auxilio e não<br />

atacar. Mas é claro que vocês não sabiam<br />

e eles entendem isso.<br />

- Sim, lamentavelmente ficamos<br />

violentos-disse Zuila.<br />

- Zwump, por favor, comunique a<br />

eles o nosso plano e vamos sair d<strong>aqui</strong> hoje<br />

mesmo, talvez, agora.<br />

Amis foi até aos homens, com seus<br />

ouvi<strong>do</strong>s cola<strong>do</strong>s na grande porta,<br />

perguntan<strong>do</strong>-lhes-Como está o movimento<br />

lá fora?<br />

- Parece calmo – falou Zurt-Kel.<br />

602


- Então vamos nos preparar.<br />

Vamos agora.<br />

- Zurt-Kel, abriu a porta, bem<br />

devagar e foi espian<strong>do</strong> para fora. Não<br />

havia ninguém por perto. Aquela ruela<br />

parecia deserta.<br />

- Para onde vamos? Perguntou<br />

Zuila e Amis respondeu:<br />

- Ora, sei lá, o primeiro passo é sair<br />

d<strong>aqui</strong>...<br />

- Vamos para o palácio – disse<br />

Zwump, que parecia não caminhar.<br />

- Para o palácio, você está louco<br />

Zwump?<br />

- Não Amis, este é o seu nome<br />

não?<br />

- Sim, prazer em conhecê-lo. Mas<br />

porque no palácio?<br />

- Lá será o último lugar que<br />

imaginarão nos procurar.<br />

- Muito esperto Zwump. Vocês<br />

ouviram? Vamos para o Palácio.<br />

- Sim lá encontraremos comida, –<br />

disse Zwump.<br />

- Você precisa fazer um<br />

regimezinho – disse Zuila – coçan<strong>do</strong> a<br />

cabeça daquele gordalhão, e precisa<br />

aparar o cabelo e a barba, disse rin<strong>do</strong>.<br />

603


- Me sinto muito bem assim...<br />

As criaturas confinadas <strong>do</strong> outro<br />

la<strong>do</strong> da cerca passaram a gritar em seu<br />

próprio idioma e Zwump entenden<strong>do</strong> o<br />

pedi<strong>do</strong> de socorro virou-se para Amis e<br />

perguntou: - E eles, vamos solta-los?<br />

- O que você acha?<br />

- Acho que deveríamos, isto trará<br />

confusão e tempo para nos evadir.<br />

- Epa, vem vin<strong>do</strong> alguém – disse<br />

Zurt-Kel.<br />

Então é agora, disse Zuila em frente<br />

ao painel de luzes, baixan<strong>do</strong> a pequena<br />

alavanca, que observara nos movimentos<br />

de BH-1.<br />

A grande porta se abriu,<br />

libertan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os prisioneiros, que<br />

caíram em cima da patrulha que passava,<br />

dilaceran<strong>do</strong>-a em mil pedaços.<br />

Alguns prisioneiros eram alveja<strong>do</strong>s e<br />

jaziam inertes no chão empoeira<strong>do</strong>.<br />

Do outro la<strong>do</strong> da ruela, em frente a<br />

outro pavilhão semelhante ao seu cativeiro,<br />

havia uma comporta que em meio à<br />

confusão, os levou direto para o subsolo,<br />

604


Entraram rapidamente, exceto Zwump,<br />

Zuila que o puxava pelas pequenas<br />

pernas, entala<strong>do</strong> no bueiro, disse: - Eu não<br />

te falei que precisa de um regimezinho,<br />

meu caro?<br />

Os <strong>do</strong>is homens fizeram bastante<br />

força para puxá-lo para baixo e lá<br />

chegan<strong>do</strong>, olhou para Zuila, dizen<strong>do</strong>: -<br />

Acho que você tem razão. Preciso fazer<br />

um regime.<br />

To<strong>do</strong>s riram.<br />

- Puxa! Há quanto tempo a gente<br />

não ria? Faz uma eternidade! disse Amis.<br />

- Qual a direção <strong>do</strong> palácio?<br />

Perguntou Zuila.<br />

- Vamos seguir os insetos – disse<br />

Zwump. Eles também tem nome. Ele se<br />

chama Noisnn e ela Gruzlnn.<br />

- Como saber quem é ele e ela?<br />

- Ele tem anteninhas – Disse meio<br />

envergonha<strong>do</strong>.<br />

- Ah sim, enten<strong>do</strong> – disse Zuila,<br />

também envergonhada.<br />

Os subterrâneos daquele lugar<br />

fediam muito menos <strong>do</strong> que o alojamento,<br />

comentou Lao.<br />

605


Noisnn seguiu pelo longo túnel,<br />

voan<strong>do</strong> silenciosamente, desvian<strong>do</strong> de<br />

vários canos aqueci<strong>do</strong>s, observan<strong>do</strong> o<br />

melhor caminho, principalmente para<br />

Zwump. Este não conseguia desviar-se de<br />

to<strong>do</strong>s. O trajeto era cheio de surpresas.<br />

Muitos animais menores, de formas<br />

desconhecidas corriam-lhes por entre os<br />

pés.<br />

Depois de esgueirarem-se por um<br />

extenso trajeto, Noisnn parou, escutou e<br />

cochichou algo para Zwump, que agora<br />

servia de intérprete e disse que deveriam<br />

parar. Logo em frente havia guardas. Neste<br />

momento uma sirene muito alta soou.<br />

Deveria ser o alarme sobre a fuga deles. O<br />

caminho dali por diante seria mais difícil,<br />

mas não impossível. Segun<strong>do</strong> os cálculos<br />

de Zwump, deviam estar pelas imediações<br />

<strong>do</strong> palácio e ali estariam mais seguros,<br />

pelo menos por enquanto.<br />

O impera<strong>do</strong>r estava possesso.<br />

Gritava muito com seus BHs.<br />

- Seus idiotas, procurem-nos e<br />

me tragam <strong>aqui</strong>.<br />

606


- Só pode ser coisa daqueles<br />

Somerianos. Completou para si mesmo,<br />

cerran<strong>do</strong> os punhos.<br />

De repente as luxuosas<br />

dependências <strong>do</strong> palácio eram uma<br />

correria só. Guardas por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s<br />

com suas armas em punho, Toda a<br />

criadagem violentamente jogada no chão e<br />

interrogada. Alguns que corriam eram<br />

mortos. O pandemônio era geral.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Por volta <strong>do</strong> palácio, muitos<br />

pavilhões repletos de prisioneiros, também<br />

eram revista<strong>do</strong>s, assim como o povoa<strong>do</strong><br />

nativo.<br />

Os nativos daquele planeta eram<br />

baixotes, sem pelos e com orelhas longas<br />

e pontiagudas. Vestiam-se com farrapos.<br />

Eram escravos em minas de ouro e<br />

diamantes. Outros trabalhavam em<br />

607


fábricas de armamentos. Temiam e<br />

odiavam Ahdack e sentiam em seus<br />

íntimos, ser o alarme, com toda aquela<br />

agitação, presságio de boas novas, seus<br />

semblantes mostravam isto. Aqui e ali<br />

outros poucos se revoltavam por não<br />

saberem o porquê de toda aquela<br />

violência. Afinal isto jamais acontecera.<br />

Quan<strong>do</strong> o alarme soou, os<br />

guardas que estavam naquele<br />

compartimento, no subsolo, também<br />

saíram corren<strong>do</strong> a procura <strong>do</strong>s fugitivos.<br />

Noisnn acenou que o caminho<br />

estava livre. Gruzlnn resolveu descer mais<br />

outro nível e depois mais outro. Zurt-Kel<br />

assumiu o seu lugar na retaguarda. O<br />

gordalhão Zwump, nem que quisesse,<br />

passaria naquele corre<strong>do</strong>r estreito. Noisnn<br />

e Lao prosseguiram em frente.<br />

De súbito, Lao voltou e disse: - –<br />

Achamos Bellar e Thasco. Estão logo ao<br />

la<strong>do</strong> e tranca<strong>do</strong>s numa cela com grades<br />

elétricas como porta.. Impossível tira-los de<br />

lá. Em compensação tem uma escada que<br />

nos levará até um depósito de alimentos.<br />

608


- Comida? – disse Zwump – Preciso<br />

de comida, não como desde... hum, faz<br />

bastante tempo...<br />

- Não me diga! Você não estava<br />

gostan<strong>do</strong> <strong>do</strong> cardápio? – ironizou Amis.<br />

- Na verdade não. Em meu planeta,<br />

somos vegetarianos.<br />

- Coitadinho, - disse Zuila rin<strong>do</strong><br />

baixinho.<br />

- Ora parem com isso, preciso<br />

comer, estou morren<strong>do</strong> de fome.<br />

- Zzgrruiuinnn Bzzvzz Frrrrr<br />

Rrrrrrrrzz, disse Gruzlnn, retornan<strong>do</strong> de<br />

sua exploração.<br />

- O que ele disse? Perguntou Zurt-<br />

Kel.<br />

- Gruzlnn encontrou um caminho<br />

melhor. Mas tem uma escotilha pequena.<br />

Voltaram ao cruzamento anterior<br />

e pegaram o túnel da direita, por onde<br />

desceram várias escadarias e corre<strong>do</strong>res<br />

quentes, mas com espaço suficiente para<br />

Zwump. Então, Gruzlnn parou e apontou<br />

para cela onde somente um casal<br />

someriano era guarda<strong>do</strong>. Com a<br />

aproximação <strong>do</strong>s fugitivos, os prisioneiros<br />

vieram ao seu encontro, esbarran<strong>do</strong> na<br />

grade, semelhante à que tinham no<br />

609


alojamento, produzin<strong>do</strong>-lhes queimaduras<br />

leves, nas mãos e braços.<br />

Amis, que bom vê-los. Tire-nos<br />

d<strong>aqui</strong>... e quem são esses aí?<br />

- Não da pra tirá-los daí agora,<br />

mas voltaremos assim que pudermos. E<br />

onde estão Hosby e Lazzi?<br />

- Não sabemos. Foram leva<strong>do</strong>s<br />

pelo andróide BH 1.<br />

- Ta bom. Assim que der a gente<br />

volta, disse Amis, se apressan<strong>do</strong> e<br />

seguin<strong>do</strong> Gruzlnn - Agüentem firme,<br />

completou.<br />

Havia pressa. O som sobre suas<br />

cabeças acusava movimentação intensa<br />

no piso superior. Tinham um longo<br />

corre<strong>do</strong>r a sua frente e no fim dele, os<br />

insetos os aguardava. Ali encontraram a tal<br />

passagem estreita. Era uma escotilha alta<br />

e bem no centro <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r.<br />

- Não olhem para mim assim –<br />

disse Zwump, quase morto de tanto correr<br />

- Por favor, amigos, me ajudem a passar.<br />

Por favor, vocês tem que entender minha<br />

fome.<br />

- Está bem Zwump – disse Amis –<br />

Hei rapazes, vamos tentar atravessar<br />

Zwump.<br />

610


Seria uma situação quase cômica<br />

se não fosse trágica. Puxa-lo pelas pernas<br />

muito pequenas em relação ao corpanzil.<br />

Além disso, ouviam a aproximação de<br />

patrulhas.<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Hamour não sabia bem, como<br />

começar a “conversa”. Andava de um la<strong>do</strong><br />

para outro, tentan<strong>do</strong> encontrar as palavras.<br />

Na grande cúpula, agora escudada contra<br />

o brilho extra luminoso, causa<strong>do</strong> pelo<br />

acumulo de fótons a qual o casco se<br />

transformara.<br />

- Senhores – começou, com voz um<br />

tanto embargada – não sei bem como<br />

começar esta conversa... acho que<br />

começarei pelo início de tu<strong>do</strong>. Talvez<br />

assim seja mais fácil.<br />

- Há muito tempo atrás, no meu<br />

planeta, meu pai, Louhan<strong>do</strong>r, era possui<strong>do</strong>r<br />

de muitas riquezas. Elas vinham da<br />

linhagem, já por muitas gerações. Papai<br />

também era... Humm vamos dizer... uma<br />

611


espécie de líder <strong>do</strong> nosso povo. Assim<br />

como você, Fanna representa para os de<br />

Someron. Pois bem, depois que minha<br />

mãe, Hanna, faleceu contaminada por um<br />

vírus, que contrairá em outro planeta, meu<br />

velho entrou numa enorme depressão. Eu<br />

era, então, pouco mais que um bebê.<br />

- Mais tarde papai se uniu com<br />

outra mulher e teve um filho com ela.<br />

Ahdack foi o seu batismo...<br />

- Então Ahdack é seu irmão! – foi o<br />

que exclamou Tutkan.<br />

- Meio irmão – continuou Hamour-<br />

Eu tinha sete anos de idade quan<strong>do</strong><br />

Ahdack nasceu. Ele era, por assim dizer, o<br />

bonzinho lá em casa, e de certa maneira,<br />

era mesmo. Eu era o filho desmiola<strong>do</strong> que<br />

vivia meti<strong>do</strong> em encrencas e causan<strong>do</strong><br />

muita <strong>do</strong>r a meu pai. Ele não entendia as<br />

minhas idéias liberais. Ahdack era to<strong>do</strong><br />

certinho, fazia o que papai mandava, sem<br />

perguntar e mantinha o mesmo padrão <strong>do</strong>s<br />

outros. As moças da re<strong>do</strong>ndeza eram<br />

todas apaixonadas por ele. Quanto a mim,<br />

só restava mesmo, alguns amigos, também<br />

não muito bem vistos pelos mais velhos.<br />

- A mãe de Ahdack se chamava<br />

Shallaack e vinha de uma pequena<br />

612


província de nome Brehdug, berço de<br />

muito guerreiros. Não eram perigosos, mas<br />

de natureza guerreira. Os dirigentes<br />

militares de nosso povo provinham de lá e<br />

se orgulhavam disto.<br />

- Ahdack cursou a academia e<br />

Universidade de guerra, enquanto eu,<br />

depois de certa idade, e de causar <strong>do</strong>r de<br />

cabeça ao meu pai, fui para a Faculdade<br />

de Ciências, seguin<strong>do</strong> mais ou menos os<br />

passos de meu pai, já que ele, também,<br />

era um cientista, tão maluco em idéias<br />

quanto Thorc e Zur-Kwa.<br />

– Meu pai, naturalmente, tinha<br />

Ahdack como o filhinho certo e o<br />

paparicava to<strong>do</strong> o tempo. Eu entendia<br />

muito bem o porquê desta diferença, afinal,<br />

eu mesmo, nada fazia para que papai me<br />

compreendesse. Algumas boas ações que<br />

eu fazia minha segunda.<br />

mãe, Shallaack, tratava de abafar, ou<br />

distorcer os fatos, fazen<strong>do</strong> com que<br />

Ahdack tivesse o crédito. Estas coisas<br />

tornaram-se mais freqüentes. Papai,<br />

parecia não ver o que realmente acontecia.<br />

Eu via tu<strong>do</strong>, cala<strong>do</strong>, pois achava que, de<br />

certo mo<strong>do</strong>, merecia <strong>aqui</strong>lo e estava<br />

resigna<strong>do</strong> a continuar assim, até que<br />

613


pudesse ter o meu próprio laboratório. Era<br />

um trabalho fascinante, o campo de<br />

pesquisas, as pequenas experiências, e o<br />

glorioso sabor da realização.<br />

- Nossa tecnologia estava muito<br />

adiantada em relação a outros povos e isto<br />

também era motivo de orgulho.<br />

- Espero não estar lhes causan<strong>do</strong><br />

sono com meu relato.<br />

- Não, não. Continue, está muito<br />

interessante – disse Fanna.<br />

- Pois bem, então houve ameaça<br />

de guerra num planeta vizinho, em nosso<br />

sistema. Por conseguinte, papai resolveu<br />

intervir, discretamente, para que nada de<br />

drástico viesse. Afinal, não poderia admitir<br />

uma guerra atômica, que certamente<br />

influenciaria totalmente as órbitas de to<strong>do</strong><br />

o nosso sistema solar. To<strong>do</strong> o sistema<br />

sofreria um desequilíbrio brutal. Então<br />

papai designou Ahdack para tomar as<br />

providências cabíveis, para esfriar os<br />

ânimos, bem perto de explodir.<br />

Aconselha<strong>do</strong> pela mãe, fez tu<strong>do</strong> ao<br />

contrário. Ele próprio <strong>do</strong>minou o planeta e<br />

se declarou salva<strong>do</strong>r e posteriormente, seu<br />

Impera<strong>do</strong>r.<br />

614


- Havia aqueles que acreditavam<br />

no discurso de Ahdack e passaram para o<br />

seu la<strong>do</strong>. Estes, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s desta mísera<br />

autoridade, sentiam-se poderosos,<br />

manten<strong>do</strong> o seu próprio povo confina<strong>do</strong>s<br />

trabalhan<strong>do</strong> duro. A partir daí, o planeta foi<br />

batiza<strong>do</strong> de Colônia I. Lá construiu um<br />

grande e belo Palácio.<br />

- Quan<strong>do</strong> voltou à Goran, contou a<br />

história <strong>do</strong> jeito que lhe era mais<br />

conveniente.<br />

- Com isto, seu ego tomou conta<br />

de seu ser. Então começou a sugerir que<br />

papai, já bem i<strong>do</strong>so, transferisse o poder<br />

de liderança a um de nós. Ele sabia que<br />

seria o escolhi<strong>do</strong> e continuou fazen<strong>do</strong><br />

pressão, até que papai, disse-lhe que no<br />

próximo perío<strong>do</strong>, no seu dia primeiro,<br />

haveria de ser coroa<strong>do</strong> o novo líder. Papai<br />

precisava de tempo para convocar os<br />

anciãos <strong>do</strong> conselho e discutir a respeito.<br />

- Ahdack convocou to<strong>do</strong>s.<br />

Familiares e amigos, e man<strong>do</strong>u preparar<br />

uma grande festa para a sua coroação. Ele<br />

planejava como governar o povo de Goran,<br />

segun<strong>do</strong> sua visão de liderança.<br />

- No primeiro dia <strong>do</strong> quarto perío<strong>do</strong><br />

daquele ano, papai reuniu a to<strong>do</strong>s no<br />

615


sena<strong>do</strong> e disse: Eis o momento de<br />

transferir a liderança para o meu filho<br />

Hamour.<br />

- Ahdack teve um ataque histérico<br />

e se retirou da festa que ele mesmo havia<br />

prepara<strong>do</strong>. Levou, com ele, sua mãe e os<br />

seus. Partiram para a província de<br />

Brehdug.<br />

Eu também não acreditei no que<br />

papai falara, pois achava que Ahdack seria<br />

a escolha certa.<br />

- Não posso lhes dizer o que<br />

senti. Foi algo de muita emoção, mistura<strong>do</strong><br />

com surpresa e sei lá o que mais.<br />

- Soubemos momentos depois, que<br />

Ahdack tinha parti<strong>do</strong> com três fortalezas,<br />

com destino ignora<strong>do</strong>. O que aconteceu<br />

três dias depois foi um massacre. Ahdack<br />

atacou-nos com tu<strong>do</strong> e de surpresa. Não<br />

tivemos tempo de saber o que estava<br />

acontecen<strong>do</strong>, tal como fez em Kálerus. O<br />

pior é que havia muitos <strong>do</strong>s dele junto a<br />

nós, que trataram de assassinar papai e os<br />

outros <strong>do</strong> conselho. Não houve tempo para<br />

resistência. Em <strong>do</strong>is tempos o povo <strong>do</strong><br />

planeta foi dizima<strong>do</strong> e os que sobraram,<br />

foram aprisiona<strong>do</strong>s e joga<strong>do</strong>s dentro de<br />

616


cargueiros e transferi<strong>do</strong>s para o planeta<br />

Colônia I.<br />

- Minha nave ainda estava em<br />

experiência, mas mesmo assim,<br />

consegui fugir nela, levan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s que<br />

encontrei pela frente. Fugimos para o<br />

planeta Rhona, distante o bastante de<br />

Ahdack. Mas não foi o bastante. Logo nos<br />

descobriu e novamente atacou sem<br />

piedade, matan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s. Não sei bem<br />

como, mas pelo instinto de sobrevivência<br />

consegui fugir novamente. Minha nave<br />

apesar de bombardeada muitas vezes,<br />

saiu ilesa e me levou àquele planetóide,<br />

aonde vocês me encontraram. Os únicos<br />

que me faziam companhia, eram os <strong>do</strong>is<br />

andróides, que eu mesmo construí.<br />

Descobri que os sistemas e<br />

sensores da minha nave, eram facilmente<br />

rastrea<strong>do</strong>s por Ahdack, então a transformei<br />

num bloco só, o asteróide, que vocês<br />

batizaram de “O asteróide de Tameron”.<br />

– Fiquei com meus companheiros<br />

naquela pirâmide. Eu sabia que mais ce<strong>do</strong><br />

ou mais tarde, Ahdack me acharia, por isso<br />

simulei minha morte, por transferência de<br />

essência líquida, o que já sabem.<br />

617


- Ahdack me encontrou nos<br />

momentos finais. Ainda pude vê-lo rin<strong>do</strong> na<br />

minha frente, naquela poltrona. Aquele<br />

processo, era desconheci<strong>do</strong> para ele, por<br />

isso me julgou moribun<strong>do</strong> e ficou ali até<br />

que aparentemente, eu tivesse morri<strong>do</strong>. Eu<br />

estava temeroso, o tempo to<strong>do</strong> de que ele<br />

desconfiasse <strong>do</strong> meu truque, e me<br />

matasse realmente, por isto também um<br />

outro truque, o Holograma. Tu<strong>do</strong> que ele<br />

via dentro da pirâmide, eram paredes<br />

vazias.<br />

E assim permaneceria até que as<br />

baterias ativa<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> sistema se<br />

esgotassem, o que levou pelo menos treze<br />

anos.<br />

– Hamour – entrou Fanna - e como<br />

Ahdack passou por aquela bateria de<br />

sensores aurais, sem ser barra<strong>do</strong> ou<br />

mesmo morto?<br />

- Bem, quan<strong>do</strong> me contaminei com o<br />

gelo epíli<strong>do</strong> daquele planeta, imaginei que<br />

mais ce<strong>do</strong> ou mais tarde ele me<br />

encontraria, por isto programei os sensores<br />

para que ele pudesse entrar sem nenhuma<br />

interferência. Queria que me visse “morto”.<br />

Assim ele me esqueceria.<br />

618


- Comandante – chamou Klemps<br />

pelo Intercom - 25 microns para<br />

desacelerarão de <strong>do</strong>bra.<br />

- Sim, Klemps. Estarei aí em 10<br />

microns. – E voltan<strong>do</strong> para os reuni<strong>do</strong>s,<br />

anunciou - Bem, rapazes, tenho que voltar<br />

à ponte, vamos desacelerar d<strong>aqui</strong> a pouco.<br />

- Mas já? Mas logo agora?<br />

Questionou Fanna – enquanto Tutkan<br />

caminhava apressa<strong>do</strong> aos eleva<strong>do</strong>s, e lhe<br />

respondeu – Continuem sem mim. Volto já.<br />

- Ah sim, ia me esquecen<strong>do</strong> de um<br />

ponto importante. Na verdade, eu o deixei<br />

para o final desta novela.<br />

- Eu com meus andróides<br />

visitamos o seu planeta, Someron e vamos<br />

dizer... andei fazen<strong>do</strong> alguns truques com<br />

vocês. Lembram-se quan<strong>do</strong> a Estação<br />

Orbital... Deixe-me ver... Ah sim, vocês a<br />

chamavam de Poniack, explodiu devi<strong>do</strong> a<br />

uma chuva de meteoritos? Na verdade<br />

<strong>aqui</strong>lo foi um acidente. Seu irmão Thorc,<br />

Whorc, era o seu nome, estava fazen<strong>do</strong><br />

experiências com um elemento químico<br />

denomina<strong>do</strong> KR-7. Tinha teor explosivo<br />

muito alto e perigoso. Meus instrumentos<br />

analisavam um meio de estabilizar o<br />

combustível. Foi então, que ele me<br />

619


detectou. Não sei bem por que ativou suas<br />

armas defletoras e man<strong>do</strong>u carga. Eu<br />

apenas ativei o escu<strong>do</strong> protetor para não<br />

ser atingi<strong>do</strong> em cheio e o que aconteceu,<br />

foi a magnetização forte pelas re<strong>do</strong>ndezas,<br />

atrain<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> quanto era de metal que<br />

flutuava a cerca de um macro de diâmetro<br />

da Base Orbital.<br />

Aquela tempestade meteóritica o<br />

atingiu repentinamente. Eu escapei por<br />

pouco. Não pude fazer nada para impedir o<br />

que aconteceu. Lamento por seu irmão,<br />

amigo. Sei o quanto vocês eram uni<strong>do</strong>s.<br />

Thorc com a lembrança <strong>do</strong> irmão e<br />

<strong>do</strong> relato de Hamour, teve seus olhos<br />

inunda<strong>do</strong>s num mícron e disse – Lamento<br />

também.<br />

- Eu estava rondan<strong>do</strong> suas<br />

pesquisas, sem que me vissem. Apenas<br />

seguia os padrões de nosso povo, para<br />

iluminá-los nas pesquisas e poderem sair o<br />

mais rápi<strong>do</strong> daquele lugar. Vi o quanto se<br />

esforçaram e para ser sincero, com muita<br />

admiração. Todas aquelas construções no<br />

subsolo. A ameaça não era tão somente a<br />

atmosfera insípida <strong>do</strong> qual se tornara seu<br />

planeta, mas o perigo de nome Ahdack.<br />

Certamente descobriria Someron e os<br />

620


escravizaria como fez com to<strong>do</strong>s que<br />

encontrou em seu <strong>do</strong>mínio.<br />

Afinal encontrei um meio de fazer<br />

Tutkan desenvolver o KR-7 e Thorc<br />

redesenhar os motores. Usei a velha<br />

técnica de nossos ancestrais. É a de<br />

transmissões Tele-Para-Hipnóticas à<br />

distância. Amplificada e transmitida pelos<br />

meus Teleméricos ativa<strong>do</strong>s. E quan<strong>do</strong><br />

você, Fanna, disse para construir a<br />

Kosmos no espaço, creia-me, era minha<br />

sugestão, entran<strong>do</strong> diretamente em sua<br />

mente. Acho, no entanto que demoraram<br />

muito na construção da nave, mas afinal<br />

suas máquinas e reboques eram muito<br />

lentos e quanto a isso, eu nada podia<br />

fazer. E o pior, o tempo corria e Ahdack<br />

não tardaria a chegar. Graças a Deus<br />

vocês conseguiram sair a tempo.<br />

Minha esperança era, de um dia, libertar o<br />

que sobrou <strong>do</strong> meu povo, e to<strong>do</strong>s que<br />

pudesse, da tirania <strong>do</strong>entia de Ahdack.<br />

- Então era isso – Disse Fanna – Sabe<br />

Hamour, eu sempre achei você muito<br />

próximo, Também me sentia pressiona<strong>do</strong><br />

em certas decisões que tinha que tomar, e<br />

621


às vezes impotente quanto a problemas<br />

que não entendia. Isto explica melhor as<br />

coisas. Você sempre estava em contato<br />

com minha mente, não?<br />

- Às vezes, quan<strong>do</strong> sentia que você<br />

por absoluta inocência poderia tomar<br />

outros rumos e por tu<strong>do</strong> a perder. Não me<br />

entenda mal, eu apenas interferia nas<br />

questões que poderia levar, de um mo<strong>do</strong><br />

ou de outro, às garras daquele tirano. Mas<br />

sempre deixei que a decisão final fosse<br />

somente sua.<br />

De repente, o desconforto<br />

provoca<strong>do</strong> pela desaceleração foi<br />

compensa<strong>do</strong> pela desativação <strong>do</strong> escu<strong>do</strong><br />

de íons e o espaço se mostrou, como um<br />

céu limpo e estrela<strong>do</strong>.<br />

- Diga-me Hamour – disse Thorc, –<br />

Como você sabia que íamos encontrá-lo?<br />

- Não sabia. Apenas cuidei para<br />

que em sua trajetória encontrassem<br />

obstáculos e estes obstáculos<br />

confundissem seu sistema de navegação e<br />

os colocassem na rota que, certamente,<br />

viriam a me descobrir. E foi assim que<br />

descobriram ou esbarraram com a minha<br />

622


nave. Ela era o meu sinaliza<strong>do</strong>r ajusta<strong>do</strong> à<br />

sua freqüência.<br />

- Muito esperto – disse Fanna, já<br />

sorrin<strong>do</strong> e alivia<strong>do</strong> de seus<br />

pressentimentos.<br />

- Muito bem, senhores, agora<br />

entendem por que tive que manter segre<strong>do</strong><br />

de tu<strong>do</strong> e minha situação incógnita para<br />

Ahdack?<br />

- Sim Hamour, disse Fanna. Você<br />

fez bem em não dizer nada antes, talvez as<br />

coisas fossem diferentes para você, quero<br />

dizer, quanto ao nosso tratamento.<br />

Tutkan voltou com o velho<br />

semblante sorridente, anuncian<strong>do</strong>:<br />

Estamos a um macron <strong>do</strong> portão <strong>do</strong><br />

segun<strong>do</strong> padrão estelar.<br />

- Maravilha, Tut. Agora é com você.<br />

- À vitória – disse Tutkan.<br />

- Sim à Vitória – to<strong>do</strong>s saudaram.<br />

- Vamos partir tão logo tenhamos<br />

arruma<strong>do</strong> as malas – disse Hamour.<br />

To<strong>do</strong>s concordaram e foram para<br />

suas naves.<br />

Em três tempos a Kosmos, o<br />

Constelação e a Fortaleza partiram.<br />

623


A grande Fortaleza foi levada até<br />

os limites <strong>do</strong> quadrante e deixada lá com<br />

andróides e to<strong>do</strong> o pessoal de Ahdack, só<br />

que programa<strong>do</strong>s para atacá-lo se<br />

aparecesse por lá.<br />

Durante o percurso rumo ao<br />

segun<strong>do</strong> padrão estelar, em velocidade<br />

total, Hamour parecia preocupa<strong>do</strong> demais<br />

e com uma certa ansiedade, que Fanna<br />

percebeu. Convi<strong>do</strong>u Hamour para irem até<br />

o observatório, que ficava no topo da<br />

Kosmos, onde lá, aprecian<strong>do</strong> o espaço,<br />

viam-se as formações galácticas e muitas<br />

estrelas, contrastan<strong>do</strong> com a escuridão<br />

espacial.<br />

- Hamour, disse Fanna – Vejo que<br />

seu pensamento não nos acompanha,<br />

poderia dizer o que o preocupa tanto?<br />

- Sim, meu caro amigo, é claro que<br />

posso dizer. A minha mente está as voltas<br />

com minha mulher. O que lhe terá<br />

aconteci<strong>do</strong>? Eu a sinto viva, parece estar<br />

em perigo, mas não consigo atinar, que<br />

perigo seja este. Também não me sai da<br />

cabeça, o fato de Ahdack saber de mim.<br />

Amis sempre foi de uma perspicácia muito<br />

624


grande, e acho que não falou nada de mim<br />

para Ahdack, mas com ele tu<strong>do</strong> é possível!<br />

- É, imagino o que você está<br />

passan<strong>do</strong>. A mulher da gente é a mulher<br />

da gente e longe delas, a gente fica meio,<br />

como posso dizer...<br />

- Pela metade – comentou Hamour.<br />

- Sim, pela metade.<br />

- Diga-me Fanna, você nunca se<br />

casou? Quero dizer, nunca teve uma<br />

mulher?<br />

- Sim. Mihla, irmã de Verna,<br />

esposa de Tutkan. Mihla era a minha outra<br />

metade. Amávamos-nos muito. Tivemos<br />

um casal de filhos, Kenna e Prax. Kenna<br />

era exatamente igual à mãe, nas feições, e<br />

no temperamento. Prax, mais novo que<br />

ela, já era mais quieto e muito estudioso,<br />

inclusive a idéia de construir uma<br />

edificação dentro das montanhas, e a<br />

primeira no monte Pakeus, foi dele.<br />

- Eu não sabia que você tinha ti<strong>do</strong><br />

família.<br />

- Pois eu também guar<strong>do</strong> os meus<br />

segredinhos – disse Fanna, sorrin<strong>do</strong><br />

tentan<strong>do</strong> descontrair.<br />

- Mas Fanna, o que foi feito<br />

deles?<br />

625


- Esta é uma coisa que não gosto<br />

nem de me lembrar.<br />

- Ora se você quiser podemos<br />

falar em outra coisa, afinal não quero abrir<br />

velhas feridas e...<br />

- Fique sossega<strong>do</strong>, Hamour, você<br />

não está abrin<strong>do</strong> velhas feridas. Aliás, elas<br />

nunca fecharam. Não se pode esquecer a<br />

quem se ama. Deixe-me dizer, que sempre<br />

penso neles <strong>do</strong> mesmo jeito que estavam<br />

da última vez que os vi. Com aqueles<br />

olhares lin<strong>do</strong>s e aqueles sorrisos. É assim<br />

que me lembro deles. Veja e tirou de<br />

dentro <strong>do</strong> manto uma pequena caixa<br />

<strong>do</strong>urada, <strong>aqui</strong> estamos em nossa casa em<br />

Mirviam.<br />

Hamour pegou a caixa metálica já<br />

aberta e segurou as fotologramas<br />

tridimensionais. Eram quatro ao to<strong>do</strong>.<br />

- Bela família, disse Hamour,<br />

olhan<strong>do</strong> para elas e também olhan<strong>do</strong> para<br />

Fanna, que também as olhava com<br />

saudades estampadas nos olhos. – Você<br />

tinha razão quan<strong>do</strong> disse que sua filha era<br />

parecida com a mãe, e o rapaz também era<br />

bonitão. Tem os teus olhos e o mesmo jeito<br />

de sorrir.<br />

626


- Sim e Mihla dizia que sempre<br />

que estava com ele pelo antigo Telecon,<br />

onde não tinha vídeo, que não sabia com<br />

quem estava falan<strong>do</strong>, se comigo ou com<br />

Prax.<br />

Quan<strong>do</strong> Fanna guar<strong>do</strong>u<br />

novamente a caixa <strong>do</strong>urada, olhou para<br />

Hamour e com muita tristeza disse:<br />

- Eu tinha i<strong>do</strong> à Vlaupora, que era<br />

bem perto de Mirvian, para buscar algumas<br />

sementes de Phenon, pois Mihla havia<br />

decidi<strong>do</strong> ornamentar o jardim com aquelas<br />

flores, quan<strong>do</strong> estourou a guerra por parte<br />

<strong>do</strong> leste. Só consegui voltar oito dias<br />

depois com auxilio <strong>do</strong>s blinda<strong>do</strong>s.<br />

Minha casa estava totalmente<br />

destruída, em ruínas e não soube mais<br />

notícias deles. Sabe Hamour, para mim<br />

eles ainda estão vivos, em algum lugar <strong>do</strong><br />

espaço. Por isto compreen<strong>do</strong> você em<br />

relação à Amis. Contu<strong>do</strong>, você ainda tem<br />

uma condição de poder revê-la, o que não<br />

acontece comigo, se isto lhe serve de<br />

consolo.<br />

- Sim Fanna, me serve para<br />

consolo e obriga<strong>do</strong>.<br />

- Obriga<strong>do</strong>? Por que agradece?<br />

627


- Por me fazer sentir melhor, afinal<br />

você...<br />

- Sim, Klemps o que é?<br />

- O comandante Tutkan precisa <strong>do</strong><br />

senhor <strong>aqui</strong> na ponte, e pede para que<br />

Hamour venha também.<br />

Numa ação rápida desceram,<br />

encontran<strong>do</strong> Tutkan de olho no Telak.<br />

– Veja – disse. Temos companhia.<br />

Estão nos acompanhan<strong>do</strong>, Mesma<br />

distância mantida, desde que os<br />

detectamos. Os analisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Komptor<br />

desconhecem a natureza desta nave. Não<br />

temos registros.<br />

- Deixe-me ver isto – disse<br />

Hamour, aproximan<strong>do</strong>-se mais. – Estas<br />

naves parecem ser Arphênias.<br />

- Arphênias? – quis saber Tutkan.<br />

- Sim. São <strong>do</strong> Sétimo Padrão<br />

Estelar. Arphen é o nome <strong>do</strong> planeta deles.<br />

Dificilmente saem de seus limites<br />

dimensionais. O que estarão fazen<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>?<br />

- Hamour, disse Fanna – Outra<br />

dimensão... Eu sabia. Assim explica a<br />

morte... Eles são amigos?<br />

- Sei muito pouco sobre eles. Pelo<br />

que sei, não são guerreiros, mas possuem<br />

628


tecnologia muito além <strong>do</strong> que podemos<br />

imaginar.<br />

- Ahdack os conhece? Perguntou<br />

Thorc, recém chega<strong>do</strong>, sem se fazer notar.<br />

- Que bom que você veio – disse<br />

Fanna.<br />

- Sim, continuou Hamour – Ele os<br />

conhece, mas não se meteria com eles. Os<br />

Arphenis Estão acima, d<strong>aqui</strong>lo que<br />

podemos dizer...: Certo e erra<strong>do</strong>, o bem e<br />

o mal, etc. São seres diferentes de tu<strong>do</strong><br />

que conhecemos. São poucos, talvez uns<br />

<strong>do</strong>is mil deles,<br />

- Como assim? – quis saber Thorc.<br />

- Bem, disse Hamour - Eles são<br />

constituí<strong>do</strong>s de pura energia, isto é, não<br />

possuem corpos. Sua pele é a roupa que<br />

usam em explorações tridimensionais, de<br />

tempos em tempos são renovadas. São<br />

biotrajes, roupas vivas. Não se pode<br />

destruir um Arphen. O mais novo deles<br />

deve ter, mais ou menos, uns três milhões<br />

de anos de idade.<br />

- Meu Deus! Exclamou Fanna.<br />

- Vamos tentar nos comunicar<br />

com eles – disse Hamour, assumin<strong>do</strong> os<br />

sistemas de transmissão <strong>do</strong> Komptor.<br />

629


- SAUDAÇÕES DO POVO DE<br />

SOMERON.<br />

Esta mensagem foi repetida mais<br />

quatro vezes, com intervalo de dez<br />

microns.<br />

Algum tempo depois, o Telak<br />

recebeu:<br />

- SAUDAÇÕES DO POVO DE<br />

ARPHENIS – e aparecia uma figura<br />

totalmente luminosa na tela. Uma<br />

luminosidade branca. Pura energia, como<br />

dissera Hamour – SOMOS PELA PAZ.<br />

- TAMBÉM SOMOS PELA PAZ.<br />

- ESTAMOS EM MISSÃO DE<br />

SALVAMENTO E TALVEZ TENHAMOS<br />

QUE COMBATER.<br />

- QUEM ESTÁ ESPERANDO<br />

SALVAÇÃO?<br />

- NOSSOS IRMÃOS. ESTÃO EM<br />

PODER DE AHDACK, NO SEGUNDO<br />

PADRÃO ESTELAR, NO PLANETA<br />

COLONIA I.<br />

- AHDACK ESTÁ PREPARADO<br />

E ESPERANDO VOCÊS, NÃO HÁ<br />

CHANCES DE SOBREVIVER À SUA<br />

ARMADA. VOLTEM OU SERÃO<br />

DESTRUÍDOS POR AHDACK.<br />

630


- AGRADECEMOS O AVISO,<br />

MAS PRECISAMOS TENTAR.<br />

Por algum tempo o áudio foi<br />

interrompi<strong>do</strong>, até que:<br />

- CONCORDAMOS. PODEM IR.<br />

BOA SORTE.<br />

- AGRADECEMOS O<br />

INCENTIVO.<br />

O Telak registrou o afastamento<br />

das naves Arphênias e Tutkan perguntou<br />

para Hamour:<br />

- Podemos confiar neles?<br />

- Sim, acho que podemos.<br />

- Por que não nos ajudam?<br />

Perguntou Thorc.<br />

- Não sei bem, mas meu pai um<br />

dia me falou que não lhes é permiti<strong>do</strong><br />

interferir nos assuntos <strong>do</strong>s mortais.<br />

- Outra dimensão... Sempre<br />

pensei nesta possibilidade. É incrível!<br />

Existe mesmo, disseTutkan.<br />

- Sim, uma outra espécie de<br />

vida...<br />

- Acho difícil de compreender<br />

isto, - disse Thorc.<br />

- É. É meio esquisito –<br />

concor<strong>do</strong>u Fanna.<br />

631


- Erus- disse Tutkan – Preciso<br />

falar com você e Thorc, em particular. Não<br />

se ofenda Hamour eu apen...<br />

- Fiquem à vontade, senhores.<br />

Sintam-se em casa.<br />

Tutkan agradeceu e partiu com<br />

os <strong>do</strong>is. Não demorou e Fanna chamou<br />

Hamour para sua sala.<br />

- Hamour, - disse Fanna –<br />

Fizemos um votação por sugestão de Tut e<br />

decidimos que você será o comandante de<br />

toda a operação.<br />

- Eu? Eu não...<br />

- Não seja tão... Humm, modesto.<br />

Aceite. Acho que você é quem mais<br />

conhece Ahdack e seus méto<strong>do</strong>s e<br />

também o terreno, <strong>do</strong> jogo, vamos dizer.<br />

- Você e Tutkan têm si<strong>do</strong> ótimos.<br />

Não vejo o porquê de eu assumir o<br />

coman<strong>do</strong> desta operação.<br />

- Na verdade você tem<br />

comanda<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> desde o começo – falou<br />

Thorc zombeteiramente, por isso<br />

decidimos oficializar a coisa. Assuma logo<br />

e vamos trabalhar.<br />

Hamour teve que ir com os outros<br />

e não teve tempo de dizer que sim. Tutkan<br />

632


levantou seu braço direito e deu início as<br />

formalidades de praxe com juramento e<br />

tu<strong>do</strong>. Hamour recitou-o e repassaram os<br />

planos de ataque.<br />

633


CAPÍTULO XI<br />

OS DOIS SENHORES NA<br />

ÚLTIMA BATALHA<br />

Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />

encolerizou-se diante os relatórios de BH-1<br />

série três, sobre a fuga em massa <strong>do</strong><br />

pavilhão 118.<br />

Fora encontra<strong>do</strong> um pedaço de<br />

osso no encaixe da fechadura, impedin<strong>do</strong><br />

as trancas em sua função. 568 prisioneiros<br />

ao to<strong>do</strong>.<br />

As gravações mostravam muito<br />

bem, como tu<strong>do</strong> acontecera, desde quan<strong>do</strong><br />

BH 1 saiu <strong>do</strong> depósito. Sete deles<br />

entraram no acesso aos subterrâneos,<br />

enquanto os outros destruíam a patrulha.<br />

Microns depois, mais 43, de várias raças,<br />

entraram pelo mesmo bueiro. Estes foram<br />

mortos nos limites externos, <strong>do</strong>s<br />

respira<strong>do</strong>res extras, longe <strong>do</strong> palácio.<br />

634


Dois dias se passaram. A maior<br />

parte deles, mortos e o restante voltaram<br />

ao confinamento. Mas, nada <strong>do</strong>s<br />

somerianos, um casal de insetos e um<br />

calusiano.<br />

sumir?<br />

Como é que sete seres podem<br />

Não. Não era possível.<br />

Sua indignação causou a morte<br />

de vários guardas e muitos seres nativos.<br />

Ahdack, num momento de fúria,<br />

gritou aos demais: Tragam-me estes<br />

peçonhentos até a noite, se não to<strong>do</strong>s<br />

enfrentarão a minha ira. Agora saiam<br />

d<strong>aqui</strong> e achem-nos. Quero-os vivos ou<br />

mortos. Mexam-se.<br />

Então, BH -1série 3 anunciou o<br />

pouso de Rumback no hangar principal,<br />

nas imediações <strong>do</strong> palácio.<br />

Microns depois estava frente a<br />

frente com o poderoso Ahdack. Eram<br />

635


muitas as explicações de como perdera<br />

sua nave e garantiu que fora autodestruída.<br />

O impera<strong>do</strong>r, embora contraria<strong>do</strong><br />

e irrita<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os acontecimentos,<br />

teve que condescender e pensar melhor<br />

sobre aquela questão em particular.<br />

- Estes somerianos... Não perdem por<br />

esperar – disse ele, entredentes.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxx<br />

O gordalhão Zwump, não podia<br />

estar em lugar melhor. No depósito de<br />

alimentos e adega de “Sua Excelência”.<br />

Passara to<strong>do</strong> tempo comen<strong>do</strong> e beben<strong>do</strong>,<br />

sem dizer um único ai. Aumentara de<br />

tamanho.<br />

- Nossa como você come – disse<br />

Amis – Se você não parar vai explodir!<br />

- E nos denunciar <strong>aqui</strong>,<br />

completou Zurt-Kel.<br />

O pessoal riu baixinho.<br />

- Muito engraça<strong>do</strong> – Disse<br />

Zwump, sem parar de mastigar.<br />

636


- E, além disso – completou Zuila –<br />

Logo o Impera<strong>do</strong>r vai dar falta de sua<br />

comida e acabará nos descobrin<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>.<br />

Mais risadas.<br />

- Zvrrrggohoingafunzzrrg –<br />

fxousisan – falou Noissn<br />

- O que foi que ele disse – quis<br />

saber Amis.<br />

- Ora não importa – disse Zwump.<br />

- Hei, olha <strong>aqui</strong> Zwump, disse<br />

Amis, cerran<strong>do</strong> o punho em frente à cara<br />

gorda de Zwump.<br />

- Ele disse que terão que explodir<br />

a porta para eu poder passar.<br />

Era uma gozação só à custa de<br />

Zwump, que parecia ignorar a tu<strong>do</strong> e a<br />

to<strong>do</strong>s. Apenas continuava comen<strong>do</strong>.<br />

Bem – disse Amis – Já nos<br />

divertimos bastante, agora vamos pensar<br />

num jeito de tirar Bellar e Tasko.<br />

- E irmos para onde? – perguntou<br />

Zwump, ainda mastigan<strong>do</strong>.<br />

- Para longe d<strong>aqui</strong> – retrucou Lao.<br />

Não podemos ficar <strong>aqui</strong> para sempre.<br />

- Não vejo melhor lugar <strong>do</strong> que<br />

esse – disse Zwump.<br />

- Ora você só está pensan<strong>do</strong> em<br />

comer, comer e comer.<br />

637


- Não é só isso. Ouçam o<br />

Impera<strong>do</strong>r a esta altura deve ter triplica<strong>do</strong> a<br />

guarda, talvez quadruplica<strong>do</strong> e isso<br />

reduziria nossas chances<br />

consideravelmente. Seus amigos estão<br />

bem, Noissn os tem alimenta<strong>do</strong>. Aqui é o<br />

ultimo lugar que vão nos procurar...<br />

- É isso – atalhou Zuila. Vamos nos<br />

vestir como eles.<br />

- Sim, mas e eu? Disse Zwump-<br />

Acho que não encontrarão uniformes de<br />

meu número. Desta vez quem ria era o<br />

próprio Zwump.<br />

- Muito engraça<strong>do</strong> – falou Amis.<br />

- Brrgnnvvdzinng grrrvunnnn. –<br />

grunhio Noissnn.<br />

- Talvez seja uma idéia, disse<br />

Zwump.<br />

- O que foi que ele disse? –<br />

perguntou Amis.<br />

- Ele disse que talvez se<br />

conseguíssemos uma carcaça de Robots,<br />

eu pudesse me disfarçar.<br />

- Bravos!! Grande Noissnn, disse<br />

Amis dan<strong>do</strong>-lhe um beijo.<br />

- Zvrrgnn gunnz – grunhi Gruzlnn.<br />

- Ela é ciumenta – disse Zwump,<br />

rin<strong>do</strong> com sua bocarra.<br />

638


- Está certo – disse Amis, eu só<br />

queria...<br />

- Hei, - disse Zurt-Kel, vem vin<strong>do</strong><br />

alguém. Escondam-se.<br />

A porta se abriu num estouro,<br />

entran<strong>do</strong> um nativo, vesti<strong>do</strong> com mantos<br />

brancos. Ligou as luzes e começou a<br />

escolha de coisas.<br />

De súbito, pareceu farejar um<br />

o<strong>do</strong>r diferente e de pronto, pegou uma<br />

faca, olhan<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Saiu<br />

dali, pé por pé, de olhos arregala<strong>do</strong>s,<br />

seguin<strong>do</strong> seu nariz até um corre<strong>do</strong>r<br />

estreito, com toda espécie de frascos, a<br />

julgar pelo o<strong>do</strong>r, de bebidas. Descobriu<br />

Zwump.<br />

- Quem é você? Perguntou.<br />

- Meu nome é Zwump. – disse com<br />

os olhos abaixa<strong>do</strong>s em total submissão.<br />

- Zwump? – disse o pequeno<br />

orelhu<strong>do</strong> – Você é um <strong>do</strong>s prisioneiros que<br />

fugiram?<br />

- Sim – disse Zwump ainda <strong>do</strong><br />

mesmo jeito.<br />

O pequeno nativo baixou a faca e<br />

disse – Fique calmo. Não vou denunciá-lo.<br />

639


- Oh! Muito agradeci<strong>do</strong>. Sua<br />

generosidade um dia lhe será<br />

recompensada.<br />

- Não fale mais Zwump, podemos<br />

ser ouvi<strong>do</strong>s.<br />

- Sábias palavras, senhor.<br />

- Mas diga-me, disse baixinho,<br />

onde estão os outros? Estão <strong>aqui</strong> com<br />

você?<br />

- Não senhor, partiram há <strong>do</strong>is<br />

dias. Só eu fiquei... pelo meu tamanho,<br />

compreende?<br />

- Sim compreen<strong>do</strong>. Bem, devo ir.<br />

Fique tranqüilo, mais tarde quan<strong>do</strong> tiver<br />

termina<strong>do</strong> minhas tarefas, virei vê-lo, daí<br />

conversaremos. Até mais.<br />

- Até mais, - disse Zwump, sem<br />

saber o que fazer.<br />

O pequeno orelhu<strong>do</strong> colocou os<br />

mantimentos dentro de uma sacola de<br />

metal e mais duas garrafas de bebida,<br />

deixan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> às escuras como antes.<br />

Zuila que se escondera atrás de<br />

Zwump, perguntou-lhe se estava bem;<br />

- Zwump...<br />

Zwump estava paralisa<strong>do</strong>,<br />

suan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que podia.<br />

640


- Hei Zwump... Zuila o sacudiu<br />

pelo pequeno braço pelu<strong>do</strong>.<br />

- Hein?... Hã? Humm... Ah, sim, o<br />

que?<br />

- Eu perguntei se você está bem?<br />

- Sim, acho que sim. Não, não<br />

estou bem, acho que vou desmaiar.<br />

- Ora, pare com isso Zwump.<br />

Acho que encontramos o nosso passaporte<br />

para sair d<strong>aqui</strong>.<br />

- Passa o que?<br />

- Passaporte... ora deixa pra lá.<br />

Acho que temos um alia<strong>do</strong>.<br />

-Alia<strong>do</strong>?<br />

- Sim, alguém que está <strong>do</strong> nosso<br />

la<strong>do</strong>.<br />

- Do nosso la<strong>do</strong>?<br />

Nisto, entrou Amis e Noissnn e<br />

ven<strong>do</strong> que Zwump estava em choque,<br />

chamaram atenção de Zuila, que também<br />

estava ainda suan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s momentos que<br />

passara escondida atrás de Zwump.<br />

- Zuila – disse Amis. Deixa-o<br />

voltar, está em choque e não está<br />

entenden<strong>do</strong> nada <strong>do</strong> que você lhe fala.<br />

- Parece mesmo – concor<strong>do</strong>u<br />

Zuila, e não é pra menos, depois de tu<strong>do</strong> o<br />

641


que comeu, ter um susto destes é de<br />

admirar que não fizesse sujeira por <strong>aqui</strong>.<br />

- Bom pelo cheiro acho que já fez<br />

– disse Lao rin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pobre gordalhão.<br />

Pouco depois, Zwump recobrou a<br />

razão e sentou-se num saco de cereal e<br />

disse:<br />

- Desculpem por ter desliga<strong>do</strong>,<br />

simplesmente não consegui <strong>do</strong>minar o<br />

susto.<br />

- Não se preocupe, disse Zuila –<br />

Você se saiu muito bem com aquele nativo.<br />

Será que podemos confiar nele?<br />

- Pois é, talvez sim. Ele disse que<br />

não me denunciaria e voltará mais tarde,<br />

só.<br />

- Zgrrvn Psenttlgr Vnnizblezln,<br />

grunhio Noisnn.<br />

- E agora, o que Noisnn disse?<br />

Perguntou Zuila, ao seu la<strong>do</strong>.<br />

- Ele disse para termos cuida<strong>do</strong> e<br />

examinar bem a questão antes de<br />

prosseguirmos com o plano.<br />

- Zzgrrudll varpp nniguel charrgnt,<br />

zzwmp – disse Noisnn.<br />

- Ele disse que se o baixinho for<br />

amigo, teremos uma chance de fugir d<strong>aqui</strong>.<br />

642


Além disso ele poderá nos traçar um<br />

mampa de como sair.<br />

- Este Noisnn é mais esperto que<br />

pensávamos, disse Zurt-Kel.<br />

- Zgrratt.<br />

- Ele agradece – disse Zwump, o<br />

intérprete.<br />

- Engraça<strong>do</strong> – disse Amis, ele<br />

entende o que dizemos, por que não<br />

entendemos o que dizem?<br />

- Zzzmmt mrrgg trumzz mutrr grrt,<br />

- disse Gruzlnn.<br />

- Também somos idiomólogos em<br />

nosso planeta e não podemos nos<br />

comunicar porque não possuímos pregas<br />

vocais nem caixa de ressonância igual as<br />

suas – traduziu Zwump.<br />

- Está certo, pessoal, os burros,<br />

<strong>aqui</strong>, somos nós – disse Lao.<br />

- E o que faremos enquanto o<br />

esperamos? Quis saber Zurt-Kel.<br />

- Comer – sentenciou, Zwump.<br />

- Você só pensa em comer. Você<br />

parece um saco sem fun<strong>do</strong>, retrucou Amis.<br />

Acho melhor ficar prepara<strong>do</strong>. Você será<br />

nosso porta voz e precisa estar bem,<br />

quan<strong>do</strong> ele vier.<br />

643


- Só me sinto bem, de barriga<br />

cheia, concluiu ele.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

- Senhor, - disse Klemps: pelo<br />

Intercom, estamos a um macrom <strong>do</strong> portão<br />

estelar vinte e nove.<br />

Houve certo desconforto gera<strong>do</strong><br />

pela desaceleração da Kosmos, no<br />

Constelação e na Fortaleza.<br />

- Vamos nos separar agora - disse<br />

Hamour –Lembre-se, ele está nos<br />

esperan<strong>do</strong> com umas ou duas fortalezas<br />

<strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> portal.<br />

- Então, não vamos deixá-lo<br />

esperan<strong>do</strong>, concluiu Fanna.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

- Estamos aguardan<strong>do</strong> seu<br />

coman<strong>do</strong>. Aqui, estamos prontos.<br />

- Desculpem, estava pensan<strong>do</strong><br />

em Amis. Acho que podemos ir, disse.<br />

- Você acha? – perguntou Tutkan,<br />

impaciente.<br />

644


- Sim. Vamos agora.<br />

A nave Atlantis, num piscar de<br />

olhos, atravessou o portal, paran<strong>do</strong> de<br />

repente há poucos centons <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>..<br />

Em 30 microns, uma varredura completa<br />

detectou três fortalezas em cinco macrons,<br />

forman<strong>do</strong> um leque com menos de um<br />

macron de distância entre elas. Impossível<br />

de distingui-las a olho nu, confundin<strong>do</strong>-se<br />

com asteróides e pequenos sóis já<br />

extintos. Aquele pedaço de universo era<br />

um <strong>do</strong>s mais antigos, com cerca de<br />

quatorze bilhões de anos. Assim, mostrava<br />

uma infinidade de sóis em plena<br />

decadência e poucos em atividade,<br />

tornan<strong>do</strong>, aquele pedaço, mais escuro.<br />

Uma vez completada a varredura,<br />

Hamour retornou ao ninho.<br />

- Senhores, disse ele, Ahdack<br />

está nos respeitan<strong>do</strong>, mesmo.. Tem três<br />

fortalezas em formação, nos esperan<strong>do</strong>.<br />

Estão há 5 macrons depois <strong>do</strong> portal.<br />

- Muito esperto, disse Tutkan.<br />

Assim que desacelerarmos, caem em cima<br />

de nós, sem nos dar a mínima chance.<br />

645


- Exato. Vamos mudar a tática de<br />

entrada. Vou à frente e preciso de ajuda.<br />

Assim, Fanna e Thorc subiram a<br />

bor<strong>do</strong> da Atlantis e microns depois,<br />

pairavam, estáticos, a um macron de<br />

distância. Fora <strong>do</strong> alcance de tiros ultras<br />

sônicos, de “Sua Excelência”.<br />

- To<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> é pouco, disse<br />

Hamour, ativan<strong>do</strong> o Telstar, focaliza<strong>do</strong><br />

direto para as três fortalezas.<br />

Fanna entrou direto,<br />

surpreenden<strong>do</strong> os Telaks inimigos.<br />

- SOU ERUS FANNA, LIDER DO<br />

POVO DE SOMERON. NÃO DESEJAMOS<br />

DESTRUI-LOS, POR ISTO, RENDAM-SE.<br />

VOCES TEM SESSENTA MICRONS<br />

PARA RESPONDER A PARTIR DE<br />

AGORA.<br />

- Eu sei quem você é. Quem você<br />

pensa ser e por que está com a nave de<br />

Hamour?<br />

- Talvez o seu novo senhor,<br />

Rumback. Depende de você. E Hamour<br />

está morto.<br />

As fortalezas rodaram seus<br />

globos da morte, simultâneas. Mesmo<br />

646


assim, continuavam a receber a contagem<br />

regressiva emitida por Fanna.<br />

- QUARENTA E CINCO<br />

MICRONS. Quem quiser sobreviver,<br />

deponha as armas e partam pra os seus<br />

planetas de origem. Tem minha palavra de<br />

que nada lhes acontecerá.<br />

As fortalezas aceleraram em<br />

direção daquela ínfima luzinha brilhante no<br />

meio <strong>do</strong> nada.<br />

- Vinte e contan<strong>do</strong>. Rendam-se.<br />

Rumback, toma<strong>do</strong> de ira, ao ser<br />

invadi<strong>do</strong> por Fanna, no seu Telak, dan<strong>do</strong> o<br />

ultimatum, rosnou: - Vou te apagar,<br />

insetinho, ordenan<strong>do</strong> a fortaleza <strong>do</strong>is,<br />

comandada por Kancha Motcham, atacar.<br />

Este, imediatamente lançou-se sobre o<br />

alvo, disparan<strong>do</strong> cargas ultras sônicas<br />

encapsuladas com neutrônio e atrás, cento<br />

e vinte e cinco Mobis 7 V.<br />

Thorc.<br />

- São mais de <strong>do</strong>is Vetrons, disse<br />

647


- Acione os Prottons.<br />

A nave brilhou mais, crian<strong>do</strong> um<br />

escu<strong>do</strong> invisível, desvian<strong>do</strong>-se das cargas<br />

inimigas, há mais de <strong>do</strong>is mil centos.<br />

- O escu<strong>do</strong> perfeito, disse Thorc.<br />

Neste mesmo instante, a fortaleza<br />

comandada por Velz, atravessou o portal e<br />

ao desacelerar, estava entre a fortaleza de<br />

Rumback e Kancha Motcham, enquanto a<br />

fortaleza 3, comandada por Prox Mahalill,<br />

triangulava para cercar o invasor.<br />

Kancha Motcham man<strong>do</strong>u mais<br />

cargas, simultâneas, fazen<strong>do</strong> aquela<br />

luzinha dançar na matéria escura.<br />

- Esta foi uma idéia genial, Thorc.<br />

O aproveitamento de energia <strong>do</strong>s Prottons,<br />

amplifica a força <strong>do</strong> escu<strong>do</strong> propulsor.<br />

- E precisam cuidar onde atiram.<br />

Podem se matar, gracejou Thorc.<br />

Então a Kosmos e o<br />

Constelação entraram e desaceleraram<br />

bem atrás de Rumback, dan<strong>do</strong>-lhe um<br />

grande susto, pelo que praguejou:<br />

Malditos.<br />

Imediatamente enviou to<strong>do</strong>s<br />

seus caças ao ataque das duas naves<br />

invasoras, maldizen<strong>do</strong>-se, por não<br />

648


poder despejar-lhes suas cargas, com<br />

o risco de explodir junto com o inimigo.<br />

Tutkan e Lomaxis<br />

responderam.<br />

O esquadrão da Kosmos,<br />

comanda<strong>do</strong> por Ozy, e Maxun, a<br />

operação, ejeta<strong>do</strong>s pelo cruza<strong>do</strong>r<br />

estelar, invadiram o espaço, abrin<strong>do</strong><br />

fogo contra as naves Mobis 7V, cuja<br />

superioridade numérica era espantosa.<br />

Em instantes, naquele<br />

quadrante, parecia o pipocar de<br />

explosivos festivos. To<strong>do</strong>s estavam em<br />

combate, exceto, as naves mães.<br />

Contu<strong>do</strong>, a iniciativa <strong>do</strong>s pilotos<br />

somerianos, fazia a diferença. Pouco a<br />

pouco, as naves Mobis eram<br />

destruídas, trazen<strong>do</strong> poucas e<br />

honrosas baixas nos somerianos.<br />

Rumback não esperava tal<br />

poder inimigo. Sentia - se ameaça<strong>do</strong>.<br />

Apesar de comandar a arma mais letal<br />

de to<strong>do</strong> o universo, a Fortaleza <strong>do</strong><br />

próprio impera<strong>do</strong>r, estava ali, acua<strong>do</strong>.<br />

649


Então, uma depois outra<br />

nave,foram sain<strong>do</strong> das múltiplas<br />

comportas das imensas fortalezas e se<br />

arremeten<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os cantos.<br />

Algumas pelo próprio portal, voltan<strong>do</strong><br />

ao Setor dez <strong>do</strong> primeiro padrão.<br />

Rumback, ven<strong>do</strong> seus<br />

generais desertan<strong>do</strong>, fez o mesmo.<br />

Arremeteu-se com a nave de combate<br />

<strong>do</strong> próprio impera<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong><br />

programadas suas cargas<br />

encapsuladas, apontadas para o alvo,<br />

sua ex-fortaleza. Assim, diante a<br />

proximidade entre as grandes naves<br />

explodiriam todas, inclusive as suas.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Totcha Mant-chunk, ao leme<br />

da Fortaleza, percebeu o trava<strong>do</strong> de<br />

seus instrumentos informou Velz:<br />

Comandante, ele vai explodir tu<strong>do</strong> e<br />

está fugin<strong>do</strong>, e estamos sem poder nos<br />

650


mexer. Os controles estão escravos<br />

<strong>do</strong>s da Fortaleza <strong>do</strong> general Rumback.<br />

As canhoneiras, da superfície da<br />

enorme bola metálica, em ações lentas,<br />

abriam-se.<br />

Os monitores Telstar da nave<br />

Atlantis acusavam estes<br />

acontecimentos. Enquanto Hamour<br />

aconselhava calma – temos pouco<br />

tempo para pensarmos nisto. Rumback<br />

está com a nave de Ahdack. É lenta e<br />

ele quer estar numa distância segura,<br />

Vai explodir em mais... 92 microns.<br />

Thorc buscava nas plantas daquela<br />

fortaleza, seus sistemas e Fanna, de<br />

olhos para a nave de combate Imperial.<br />

Velz entendeu bem a<br />

mensagem. Segun<strong>do</strong> seus próprios<br />

cálculos, o fim deles to<strong>do</strong>s, era<br />

eminente. A explosão de todas as<br />

naves, redundaria numa onda de<br />

choque de magnitude abundante. E<br />

mesmo que Thorc conseguisse os<br />

códigos para desemperrar sua nave,<br />

dificilmente escapariam desta onda de<br />

651


choque. Lembrou-se de seu velho<br />

comandante e amigo Zeuez. Era jovem,<br />

inexperiente, esqueceu que estava nos<br />

velhos March 1, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s tão somente<br />

de instrumentação sensitiva à<br />

atmosfera. Foi quan<strong>do</strong> viu Zuila pela<br />

primeira vez... e...<br />

Tutkan e Lomaxis, depois de<br />

alguma discussão, foram convenci<strong>do</strong>s<br />

a partirem de volta ao portal estelar.<br />

Seria o caminho mais perto da<br />

salvação.<br />

Mas, Lomaxis tinha problemas.<br />

A maior parte de suas esquadrilhas,<br />

ainda não voltara. E alguns estavam<br />

longe, talvez longe demais.<br />

Iremos, assim que pudermos,<br />

informou a Tutkan e Fanna;<br />

- Nos vemos <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>,<br />

disse-lhes Tutkan, arremeten<strong>do</strong> a<br />

Kosmos.<br />

- Achei, disse Thorc, checan<strong>do</strong><br />

a contagem regressiva em 56 microns.<br />

Velz, conecte-me com Totcha Mantchunk...<br />

652


- Sim, sou eu, mestre.<br />

Logo à sua direita, abaixo <strong>do</strong><br />

seu console. Está a baia que comanda<br />

o sincronismo da roda da morte.<br />

Arranque tu<strong>do</strong> e arremeta-se, com<br />

propulsão de <strong>do</strong>bra 1 e complete <strong>do</strong>bra<br />

2 antes <strong>do</strong> portal.<br />

Microns depois, houve uma<br />

monumental explosão, liberan<strong>do</strong><br />

energia de bilhões de vetrons,<br />

desencadean<strong>do</strong> uma onda de choque<br />

jamais vista.<br />

A matéria escura evoluía em<br />

ondas quase sólidas, atingin<strong>do</strong> o<br />

Constelação no momento em que<br />

iniciava a ionização <strong>do</strong> casco, para<br />

atingir <strong>do</strong>bra 2.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

A possante nave de guerra<br />

pousou no hangar <strong>do</strong> palácio e logo<br />

653


Rumback, escolta<strong>do</strong> por BH 1 Série<br />

três e <strong>do</strong>is guardas Robots, foi ter com<br />

o impera<strong>do</strong>r. Este o aguardava na<br />

abóboda central <strong>do</strong> palácio.<br />

Ao entrar, sua escolta fechoulhe<br />

as portas, deixan<strong>do</strong>-o às sós com<br />

“Sua Excelência”. Curvou-se,<br />

prostran<strong>do</strong> um joelho no grosso tapete<br />

e relatou:<br />

- Tu<strong>do</strong> conforme Vossa<br />

Excelência planejou. Caíram na<br />

armadilha. Mas tínhamos um elemento<br />

novo: a nave de Hamour.<br />

- Você disse: a nave de<br />

Hamour? E ele estava lá?<br />

- Não. Quem se comunicou foi<br />

Erus Fanna, dan<strong>do</strong> voz para nos<br />

rendermos.<br />

- Aquele idiota, não passa de<br />

um desprezível verme. Mas, e Hamour,<br />

você não o viu?<br />

- Perguntei e Erus Fanna me<br />

disse que o encontrou morto num<br />

planetóide, no primeiro padrão.<br />

-Não sei... Quan<strong>do</strong> o deixei,<br />

estava morren<strong>do</strong>, contamina<strong>do</strong> com<br />

gelo epíli<strong>do</strong> daquele lugar. Também<br />

654


não encontramos sua nave. Ela era<br />

uma beleza, a maravilha mais moderna<br />

<strong>do</strong> universo. Você sabe se a nave dele<br />

explodiu com as outras?<br />

- Duvi<strong>do</strong> que alguém possa<br />

escapar diante a onda de expansão de<br />

matéria escura. A onda era de pura<br />

energia, sólida. Eu mesmo quase fui<br />

apanha<strong>do</strong> por ela.<br />

- Por segurança, vamos ativar<br />

a rede. Monte uma patrulha e vá<br />

conferir nossas defesas. Quero ser<br />

informa<strong>do</strong> a cada tempo, de como<br />

estão as coisas lá em cima.<br />

Doze fortalezas estão a<br />

caminho. Em pouco as teremos <strong>aqui</strong>.<br />

Tão logo as tenhamos reunidas, você<br />

comandará, de sua nave, as ações de<br />

ataque e combate. Isto, se vierem.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

O brilho baixou e a nave<br />

Atlantis flutuou no ninho da Kosmos,<br />

655


levan<strong>do</strong> seus ocupantes diretos à<br />

cúpula, para reavaliações.<br />

O Constelação estava fora de<br />

combate, seriamente danifica<strong>do</strong> e<br />

Lomaxis, com ferimentos leves e<br />

queimaduras. Fora um milagre terem<br />

sobrevivi<strong>do</strong> o portal em sua travessia.<br />

Velz constatou que a Fortaleza,<br />

completamente desarmada,<br />

apresentava falhas constantes em seus<br />

energiza<strong>do</strong>res, era um peso morto.<br />

Para Maxum, esta era sua<br />

primeira reunião nos coman<strong>do</strong>s táticos<br />

e estratégia de guerra.<br />

- Tu<strong>do</strong> não passou de um<br />

truque, estavam a nossa espera,<br />

concluiu Hamour.<br />

- Mas como sabia onde nós<br />

nos colocaríamos?<br />

- Tut, da forma como ele<br />

posicionou suas fortalezas. Ele contava<br />

com isso, porque só haveria um ponto<br />

fraco dele mesmo. Posicionamos-nos<br />

exatamente onde queria, observan<strong>do</strong><br />

distâncias entre suas naves. Se<br />

quiséssemos pega-lo. Se atirássemos<br />

pra valer, destruiríamos a ele e a nós<br />

656


mesmos. Ele sabia que não abriríamos<br />

fogo nestas condições, mas ele<br />

poderia, destruin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>. Por isso<br />

man<strong>do</strong>u Rumback, para o caso de algo<br />

sair erra<strong>do</strong>. Só não contava com o<br />

surgimento da nave Atlantis.<br />

- Então, já deve saber de<br />

você, ponderou Velz.<br />

- Acho que não, Erus foi<br />

bastante convincente em toda a<br />

transmissão com Rumback. Mas, em<br />

se tratan<strong>do</strong> de Ahdack...<br />

Tu<strong>do</strong> é possível. Foi a<br />

resposta em coro.<br />

- Bem, vamos descansar por<br />

três tempos e vamos partir. Ele deve ter<br />

prepara<strong>do</strong> mais surpresas, por isto,<br />

to<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> é pouco. Vamos seguir<br />

com nosso plano.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

A porta <strong>do</strong> depósito de<br />

mantimentos <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, se abriu,<br />

passan<strong>do</strong> por ela o pequeno nativo.<br />

657


Fechou-a com cuida<strong>do</strong>, ativou as<br />

luminárias e foi até Zwump, que o<br />

aguardava no mesmo lugar, atrás da<br />

enorme prateleira de bebidas.<br />

- Zwump?<br />

- Sim, senhor.<br />

- Meu nome não é senhor, é<br />

Krapnag.<br />

- Seus amigos ainda não foram<br />

localiza<strong>do</strong>s. Devem ter encontra<strong>do</strong> asilo<br />

com outros nativos. Existem muitos assim<br />

como eu, <strong>aqui</strong>.<br />

- Não entendi o que quis dizer com<br />

“como eu”.<br />

- São revolta<strong>do</strong>s como eu. Não<br />

suportamos mais este tirano louco.<br />

- Existem outros, então?<br />

- Sim, sim, muitos. Mas ouça o que<br />

tenho a lhe dizer. Soube que esta haven<strong>do</strong><br />

uma grande batalha no espaço e parece<br />

que são por parte <strong>do</strong>s seus<br />

companheiros... -<br />

- Hamour! – exclamou Amis,<br />

denuncian<strong>do</strong> sua posição. Krapnag se<br />

voltou para ela e finalmente voltou-se para<br />

Zwump, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Foram-se há <strong>do</strong>is dias, hein?<br />

658


- Zwump simplesmente baixou o<br />

olhar. Aquela maluca não soube manter a<br />

boca fechada.<br />

De repente reinou o silêncio.<br />

- Ouçam amigos, podem sair <strong>do</strong>s<br />

esconderijos. Eu sou amigo. Estou <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

de vocês. Acreditem.<br />

Amis foi a primeira a sair da toca.<br />

Pois bem, eu acredito em você. – Foi o que<br />

disse com determinação.<br />

Os outros foram sain<strong>do</strong> aos poucos<br />

e Krapnag foi logo se apresentan<strong>do</strong>,<br />

sorrin<strong>do</strong> e falan<strong>do</strong> de si.<br />

- Sou Krapnag, o prepara<strong>do</strong>r e<br />

prova<strong>do</strong>r das comidas <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r<br />

Ahdack. Sua Excelência não confia em<br />

ninguém...<br />

- Pois bem amigo, continue falan<strong>do</strong><br />

a respeito da batalha que está sen<strong>do</strong><br />

travada no espaço. – disse Amis com um<br />

brilho de esperança no olhar.<br />

- Sim, sim. Parece que três<br />

Fortalezas Imperiais foram destruídas e o<br />

Impera<strong>do</strong>r transmitiu ordens para que<br />

todas venham e se reúnam para atacar.<br />

-Todas? Quantas são? Quis saber<br />

Amis.<br />

659


- Existem mais <strong>do</strong>ze, que estavam<br />

fora em missão.<br />

- Mais <strong>do</strong>ze, Hamour não terá<br />

chance com tantas – disse Amis, com um<br />

nó na garganta.- Precisamos avisá-los.<br />

- Zgrraftt monzthalf grrzzl, ngruim<br />

mmzz. – disse Noisnn.<br />

- Sim, você está certo – disse<br />

Zwump.<br />

- Diga pra nós o que...<br />

- Calma, calma. Ele disse que se<br />

Krapnag conseguir os uniformes e um<br />

mapa <strong>do</strong> setor de controles d<strong>aqui</strong>,<br />

poderemos <strong>do</strong>minar o Palácio. – Disse<br />

Zwump.<br />

- Zzgrrunfs sswund drrgthnn zzvill<br />

rrrungbahat zznn.- grunhiu Gruzlnn.<br />

- Não podemos esquecer <strong>do</strong>s<br />

outros que estão presos. E onde estão os<br />

outros?<br />

- Acho que a esta altura, estão<br />

mortos. O impera<strong>do</strong>r faz experiências<br />

genéticas e o processo de mistura <strong>do</strong>s<br />

gens aplica<strong>do</strong>s nos pacientes, até agora,<br />

os levou à morte.<br />

- Isto explica porque foram<br />

leva<strong>do</strong>s em duplas de cada espécie. Eram<br />

casais.<br />

660


- Sim, acho que sim.<br />

Então Krapnag procurou uma<br />

superfície metálica, suja e começou a<br />

desenhar os corre<strong>do</strong>res, salas e saídas <strong>do</strong><br />

palácio. To<strong>do</strong>s procuraram fixar em suas<br />

memórias os lugares chaves para a<br />

operação de fuga.<br />

- Vocês devem esperar na porta<br />

lateral <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, esta <strong>aqui</strong>, apontan<strong>do</strong> no<br />

desenho rabisca<strong>do</strong>. -Lá encontrarão <strong>do</strong>is<br />

<strong>do</strong>s nossos, que cuidarão de vocês e os<br />

levarão para um lugar menos perigoso.<br />

Não digo seguro, porque nada é seguro<br />

<strong>aqui</strong>. Agora tenho que ir. Ah, sim ia me<br />

esquecen<strong>do</strong>, os nossos já os esperam e<br />

muito importante: Não lutar corpo a corpo<br />

com os guardas, eles são andróides e<br />

muito fortes. A menos que consigam<br />

armas.<br />

- Espere, Krapnag. Como<br />

podemos conseguir alguma? – disse Amis.<br />

- Isto, eu não sei, ainda. Talvez<br />

com os próprios guardas. Verei o que<br />

posso fazer.<br />

E dito isto o pequeno Krapnag saiu<br />

pela porta levan<strong>do</strong> uma cesta cheia de<br />

coisas.<br />

661


- Dividiram-se em <strong>do</strong>is grupos de<br />

três. Zwump ficaria lá mesmo, onde estava.<br />

Ele preferia comer um pouco mais e os<br />

atrasaria.<br />

Amis, Lao e Zuila foram em busca<br />

de uniformes e tu<strong>do</strong> que fosse útil para<br />

maior disfarce.<br />

Noisnn, Gruzlnn e Zurt-Kel, foram<br />

à busca de uma solução capaz de libertar<br />

Bellar, Tasko e, se possível, os demais. O<br />

reencontro seria no depósito de<br />

mantimentos.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

O Impera<strong>do</strong>r, acabara de<br />

transmitir ordens à Rumback e suas <strong>do</strong>ze<br />

Fortalezas, quan<strong>do</strong> BH-1 série três<br />

informou, que uma nave de natureza<br />

desconhecida, não identificada, havia<br />

orbita<strong>do</strong> o planeta dez vezes e, de repente,<br />

sumiu das telas.<br />

HAMOUR –<br />

662


- O que disse, Excelência? –<br />

perguntou BH-1<br />

- Hamour. É isto, Hamour. Não<br />

houve apenas coincidência de nomes.<br />

Aquela idiotinha havia menti<strong>do</strong>. De alguma<br />

forma Hamour estava de volta, pensou.<br />

Desta vez ele não escapará.<br />

Ahdack transmitiu às torres de<br />

suas defesas de superfície.<br />

- No caso de nossa rede for<br />

rompida, não quero que atinjam a nave<br />

desconhecida e nem seu ocupante. Este é<br />

um momento que eu mesmo quero<br />

desfrutar. Entenderam? Ele é meu.<br />

O brilho nos olhos de Ahdack era<br />

ainda maior. O seu desejo de pegar<br />

Hamour era o maior prazer de toda a sua<br />

vida. Destruí-lo com suas próprias mãos. E<br />

desta vez, não haveria truques.<br />

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz<br />

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz<br />

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz<br />

663


A equipe de Amis,<br />

conseguiu os uniformes e estava de volta,<br />

no grande corre<strong>do</strong>r, para o ponto de<br />

reencontro, quan<strong>do</strong> de súbito, Lao foi<br />

atingi<strong>do</strong> por uma carga pelas costas. Havia<br />

cinco guardas por trás e se preparavam<br />

para atirar, quan<strong>do</strong> Amis ouviu a voz de um<br />

deles, o líder da guarda.<br />

- Parem ou morrerão. Não<br />

resistam.<br />

Zuila simplesmente sentou-se no<br />

tapete emborracha<strong>do</strong>, enquanto, Amis<br />

deixou cair os uniformes. que tinha em<br />

seus braços e levantou suas mãos o mais<br />

alto que pode.<br />

Neste istante, uma centena de<br />

seres entraram corren<strong>do</strong> pelo corre<strong>do</strong>r,<br />

to<strong>do</strong>s de muitas raças, crian<strong>do</strong> confusão<br />

nos guardas.<br />

Zuila pegou alguns uniformes, e<br />

escondeu-se numa providencial coluna. Ao<br />

seu alcance.<br />

664


Amis não teve a mesma sorte.<br />

Fora capturada e levada por um deles. Ela<br />

no entanto percebeu que nem to<strong>do</strong>s os<br />

uniformiza<strong>do</strong>s eram andróides, pelo menos<br />

não aquele que a segurava. Isto, de certo<br />

mo<strong>do</strong>, a tranqüilizou.<br />

Zuila, conseguira entrar numa<br />

sala escura e tratou logo de vestir um<br />

daqueles uniformes plastifica<strong>do</strong>s. Na<br />

medida em que seus olhos foram se<br />

acostuman<strong>do</strong> com a escuridão, notou que<br />

estava na ante-sala de controles e<br />

comunicação. Mas não deu tempo de<br />

explorar, logo ouviu a voz <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, <strong>do</strong><br />

outro la<strong>do</strong> da porta. De acor<strong>do</strong> com o mapa<br />

memoriza<strong>do</strong>, sua única alternativa de fuga<br />

era no fun<strong>do</strong> da sala, contígua usada por<br />

Krapnag e que dava acesso, àquilo que<br />

chamavam de “cozinha imperial”. Dali, o<br />

corre<strong>do</strong>r de volta para o depósito de<br />

alimentos. Colocou o restante <strong>do</strong>s<br />

uniformes dentro de uma sacola e, nos<br />

braços, os quatro capacetes. A correria <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> de fora continuava. No fim <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r<br />

de acesso à despensa, viu Amis ser<br />

levada, certamente, para o Impera<strong>do</strong>r. Viu<br />

também Noisnn e sua companheira<br />

665


Gruzlnn, mais Zurt-Kel serem leva<strong>do</strong>s.<br />

Ficou feito uma estaca ao la<strong>do</strong> da porta, já<br />

vestida e esconden<strong>do</strong>, em movimentos<br />

rápi<strong>do</strong>s, a sacola abarrotada de coisas.<br />

Assim pode ver to<strong>do</strong>s entrarem pela porta<br />

em que se disfarçara de guarda.<br />

À medida que andava pelo<br />

corre<strong>do</strong>r, via corpos espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong>, inclusive os de Bellar e Tasko. To<strong>do</strong>s<br />

estavam mortos ou captura<strong>do</strong>s. Agora só<br />

tinha ela. Não – pensou – ainda tem Zwump.<br />

Neste caso o que fazer com este montão<br />

de capacetes e estas roupas?... Sim – falou<br />

consigo mesma – Uma boa fogueira. Isto<br />

vai esquentar um pouco mais por <strong>aqui</strong>.<br />

Mas desistiu por não ter com que acendela.<br />

- Zwump –disse ao chegar – temos<br />

problemas.<br />

O gordalhão estava petrifica<strong>do</strong><br />

com o susto ao vê-la naqueles trajes.<br />

- Zwump, sou eu, Zuila. Ora bolas,<br />

isto é hora de ter chiliques? Acorde, sou<br />

eu. Olhe. Está ven<strong>do</strong>, sou eu.<br />

Neste instante, Krapnag e mais<br />

<strong>do</strong>is nativos entraram às pressas, com um<br />

carrinho lota<strong>do</strong> de bugigangas, ven<strong>do</strong><br />

666


Zuila, sem o capacete, tentan<strong>do</strong> acordar o<br />

gordalhão.<br />

- Vamos, depressa, disse o<br />

cozinheiro aos outros. Ajudem <strong>aqui</strong>.<br />

- Trouxemos o casco de um<br />

Robot. Deve servir nele. E não se<br />

preocupe com os outros. Estão bem. Não<br />

pudemos salvar sua amiga, meu irmão<br />

teve que leva-la. Infelizmente.<br />

razão.<br />

Aos poucos Zwump foi voltan<strong>do</strong> à<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

- Ora, ora, o que temos <strong>aqui</strong> –<br />

disse Ahdack com aquele sorriso infernal.<br />

- Hoje sem dúvida é o meu dia de<br />

sorte. Primeiro Hamour e agora você,<br />

minha cara.<br />

- Hamour? O que você fez a<br />

Hamour, seu... seu...<br />

Amis estava furiosa e tentan<strong>do</strong> se<br />

desvencilhar <strong>do</strong> seu captor.<br />

- Calma, minha cara, ainda não fiz<br />

nada, mas agora que você confirmou, logo<br />

farei e você estará comigo para ver o que<br />

667


eservo para o seu Hamour. Viu, a mentira<br />

tem pernas curtas. E o seu tom de voz<br />

mu<strong>do</strong>u tanto quanto o seu olhar – Você<br />

mentiu e por isso morrerá junto com seu<br />

queridinho. Não é<br />

lin<strong>do</strong>, matar <strong>do</strong>is trastes com uma pedrada<br />

só?<br />

E Ahdack deu mais uma<br />

gargalhada terrível, fazen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />

tremerem, até mesmo os seus<br />

comanda<strong>do</strong>s.<br />

- O que faremos com estes <strong>aqui</strong>?<br />

Perguntou um <strong>do</strong>s guardas.<br />

Levem-nos de volta até as celas<br />

de reprodução e tranque-os. Depois de<br />

acabar com estes vermes que ousaram me<br />

desafiar, cuidarei deles pessoalmente.<br />

-E quanto aos corpos, devemos<br />

colocá-los no Desintegra<strong>do</strong>r Molecular?<br />

-E desperdiçar energia? Não,<br />

Levem-nos para os alojamentos de<br />

prisioneiros. E com aquele sorriso sinistro<br />

disse – Afinal, aqueles pobres coita<strong>do</strong>s<br />

precisam comer.<br />

A guarda se retirou, deixan<strong>do</strong><br />

Amis imobilizada e sentada ao fun<strong>do</strong> da<br />

sala, junto à Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />

Ahdack, junto às telas de observação.<br />

668


Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Tão somente a Kosmos<br />

atravessou o portal estelar e sem<br />

desacelerar, projetou-se ao único<br />

planeta daquele velho e distante<br />

sistema solar, com seu sol em declínio<br />

existencial. Parou a 25.000 mil centos<br />

da zona orbital <strong>do</strong> planeta.<br />

Os telaks de ambos os la<strong>do</strong>s<br />

acusaram suas imagens e novamente<br />

Fanna se apresentou.<br />

- “Ahdack, você já me<br />

conhece”. Sabe <strong>do</strong> que sou capaz.<br />

Deponha suas armas em rendição<br />

absoluta.<br />

Enquanto isto, uma varredura<br />

completa se desenvolvia, acusan<strong>do</strong>,<br />

em volta <strong>do</strong> planeta, uma malha fina<br />

constituída de anti matéria, que,<br />

imediatamente, entrou nos analíticos de<br />

669


Thorc, e a invasão de naves inimigas a<br />

bombor<strong>do</strong>.<br />

- Sessenta microns para<br />

distancia de tiro, senhor, informou<br />

Klemps.<br />

- Muito bem. Rapazes, sabem<br />

o que fazer, disse Tutkan.<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Mas, você é um idiota mesmo.<br />

Como ousa me desafiar na minha<br />

própria casa?<br />

- Você tem, a partir de agora,<br />

120 microns para se decidir. Renda-se.<br />

- Não sei se você terá to<strong>do</strong><br />

esse tempo.<br />

E a gargalhada de “Sua<br />

Excelência” foi ouvida por aquele<br />

quadrante inteiro.<br />

-Então, <strong>do</strong>ze fortalezas<br />

materializaram-se em volta da Kosmos,<br />

há um macrom de distância.<br />

670


- Surpresa! Zombou Ahdack.<br />

São <strong>do</strong>ze armas de última geração. E<br />

agora? Quem vai depor as armas? E<br />

diga para Hamour sair da toca que se<br />

esconde. Alguém quer lhe mandar um<br />

reca<strong>do</strong>.<br />

No telak da Kosmos aparecia<br />

Amis, imobilizada e sentada, com<br />

desespero na voz. – Hamour, queri<strong>do</strong>,<br />

choramingou, ela.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

- Aquele maldito a apanhou,<br />

disse Hamour.<br />

- 100 microns e contan<strong>do</strong>,<br />

entrou Fanna, antes que Hamour se<br />

denunciasse.<br />

- Hamour, disse Thorc – Essa<br />

malha é feita de anti-matéria. Se ao<br />

menos Zur-Kwa estivesse <strong>aqui</strong>, talvez<br />

ele soubesse avaliar melhor a questão.<br />

- A chave está nos Transprottons.<br />

Tinha a ver com isto. O seu princípio de<br />

671


fertilização era em convergência da antimatéria,<br />

para a fusão molecular orgânica.<br />

- Diga-me uma coisa, Thorc –<br />

entrou Fanna – e se inverter os pólos de<br />

freqüência <strong>do</strong> canhão Protton, ele não<br />

seria por acaso, o princípio <strong>do</strong><br />

Transprotton?<br />

- Pode ser. Pode ser. Vamos<br />

experimentar diretamente no escu<strong>do</strong> de<br />

Ahdack.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

Rumback ordenou a ativação <strong>do</strong>s<br />

globos da morte, agora sem o rodízio das<br />

naves Mobis 7V. As cargas partiam<br />

diretamente das canhoneiras das próprias<br />

bolas metálicas. Cada uma delas man<strong>do</strong>u<br />

sua rajada, convergin<strong>do</strong>-as para um ponto<br />

só: A Kosmos. Esta acelerou tu<strong>do</strong> o que<br />

tinha rumo ao sol, passan<strong>do</strong> entre os<br />

agressores num facho de luz, seguida<br />

pelas cargas vectrais. Estas, sugadas pela<br />

gravidade e calor, foram atraídas pela<br />

estrela agonizante, microns após a<br />

Kosmos, num desvio, quase suicida,<br />

672


protegeu-se por de trás daquele sol fraco,<br />

mas quente, que recebera a carga total.<br />

Rumback desconsertou-se por<br />

instantes, dan<strong>do</strong> a Velz, Maxum e suas<br />

esquadrilhas, a chance que queriam. A<br />

metade da patrulha Mobis de Rumback<br />

fora dizimada sem perdas <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>.<br />

Ele próprio fora atingi<strong>do</strong>, com o descui<strong>do</strong>.<br />

E as fortaleza reorganizaram suas<br />

posições.<br />

673


CAPÍTULO XII<br />

Enquanto as Fortalezas<br />

tomavam suas posições, agora, ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> planeta, e a atenção concentrada na<br />

Kosmos, atrás <strong>do</strong> sol, Fana continuou com<br />

sua contagem regressiva.<br />

De certo mo<strong>do</strong> estavam cercan<strong>do</strong><br />

a Kosmos.<br />

Na Atlantis, ainda com escu<strong>do</strong> de<br />

invisibilidade, Fanna mantinha contagem<br />

regressiva, deixan<strong>do</strong> Ahdack mais furioso e<br />

ocupa<strong>do</strong> com suas Fortalezas, até certo<br />

ponto, ineficazes.<br />

Tutkan disse com voz decidida:<br />

Vamos aproveitar esta confusão e<br />

entramos com tu<strong>do</strong>, com o Transprotton<br />

ativa<strong>do</strong>.<br />

- Certo – disse Hamour.<br />

674


- Velz, disse Ozy, temos dez<br />

Mobis atrás de nós, continue, vou atrai-los<br />

para mim, isto dará tempo de você e<br />

Maxum entrarem em “X” e pegá-los.<br />

Thorc, da nave de Hamour, disse –<br />

Tutkan não se afaste demais, a energia<br />

que o Transprotton vai usar, talvez o deixe<br />

desgasta<strong>do</strong>.<br />

- Você ouviu Tutkan, o que Thorc<br />

falou?<br />

- Sim, Hamour. Estou de olho nos<br />

tanques.<br />

Então Ozy entrou no telecom:<br />

- Vou sair de formação... agora.<br />

E o “X”foi completa<strong>do</strong>. As naves<br />

Mobis entraram em fogo cruza<strong>do</strong> e<br />

explodiram, fazen<strong>do</strong> o espaço escuro<br />

clarear-se por breves instantes.<br />

O March-1 de Maxum foi direto ao<br />

planeta segui<strong>do</strong> de Hamour, Velz e Ozy,<br />

filho de Tutkan. Neste trajeto ainda<br />

encontraram muitas formações Mobis, no<br />

qual foram destruí<strong>do</strong>s um por um.<br />

A barreira de anti matéria estava<br />

bem a sua frente e Tutkan disparou uma,<br />

675


duas, três, quatro cargas e abriu um<br />

grande buraco.<br />

- Aí está sua passagem, Hamour.<br />

Boa sorte. Ozy, você volta para a sua<br />

esquadrilha.<br />

- Certo papai, digo, comandante.<br />

Todas as Fortalezas estavam nos<br />

mesmos lugares.<br />

- Veja Ozy, estão esperan<strong>do</strong> por<br />

nós.<br />

A reentrada <strong>do</strong>s March-1 na<br />

Kosmos foi exatamente no instante que<br />

duas das Fortalezas entraram em<br />

velocidade de <strong>do</strong>bra. com seu rodízio<br />

mortal. Tutkan corria para chegar à ponte<br />

de coman<strong>do</strong>, ordenan<strong>do</strong> o contra ataque,<br />

quan<strong>do</strong> de súbito, foram atingi<strong>do</strong>s por uma<br />

violenta carga.<br />

- Continuem atiran<strong>do</strong>, não parem.<br />

As luzes vermelhas de<br />

emergência foram ativadas e os escu<strong>do</strong>s<br />

baixa<strong>do</strong>s, de tal forma que, to<strong>do</strong> o contato<br />

visual que dispunham, eram seus<br />

instrumentos.<br />

- Senhor, estamos com incêndio<br />

incontrolável no setor nove, perto <strong>do</strong> reator<br />

<strong>do</strong>is. Não estamos conseguin<strong>do</strong> debelá-lo.<br />

676


- Continuem tentan<strong>do</strong>, não<br />

podemos ficar sem motores agora.<br />

A situação estava de mal à pior. O<br />

incêndio tomava proporções gigantescas e<br />

os medi<strong>do</strong>res de radiação estavam<br />

passan<strong>do</strong> de perigoso para fatal, isto é, já<br />

passavam <strong>do</strong> vermelho para o preto.<br />

- Senhor, disse Klemps, - se não<br />

agirmos rapidamente explodiremos antes<br />

de sermos ataca<strong>do</strong>s. Não resistiremos<br />

muito mais. O incêndio continua.<br />

As telas observa<strong>do</strong>ras das três<br />

outras Fortalezas persegui<strong>do</strong>ras<br />

mostravam a parte traseira da Kosmos,<br />

totalmente envolvidas em chamas.<br />

Ahdack, da superfície, também<br />

tinha esta visão em sua tela e disse –<br />

Ataquem e destruam-na. Aproveitem sua<br />

estática e atirem to<strong>do</strong>s de uma vez só. Não<br />

quero que sobre nem a poeira <strong>do</strong> espírito<br />

deles.<br />

- Senhor o que vamos fazer?<br />

Disse Klemps. Os reatores estão<br />

aqueci<strong>do</strong>s demais, vamos explodir.<br />

A batalha entre os March e Mobis<br />

7V era intensa. Os BHs pilotos estavam<br />

677


mais bem programa<strong>do</strong>s.<br />

Tutkan estava em pressão total e sabia<br />

que se acionasse os motores para a<br />

retirada, explodiria na certa, e se ficasse as<br />

Fortalezas o pegariam. Tinha<br />

pouquíssimos microns para resolver.<br />

- Veja minha cara, - disse Ahdack<br />

para Amis – seus salva<strong>do</strong>res, parece-me<br />

que precisam de alguém para salva-los. E<br />

seu amorzinho? Ele sabe que você está<br />

em meu poder. Mas é tão covarde que nem<br />

se dignou aparecer. Ou, não liga para o<br />

que lhe aconteça.<br />

- Logo, você é quem vai precisar de<br />

ajuda – disse Amis – Hamour passou pela<br />

sua barreira de anti-matéria.<br />

- Sim, sim, estou a sua espera.<br />

- Ele vai explodir você e seu<br />

palácio.<br />

- 15 microns e contan<strong>do</strong>. Surgiu-lhes<br />

a voz de Fanna, nos monitores <strong>do</strong> palácio.<br />

Desta vez Ahdack ignorou a<br />

mensagem, apenas fazen<strong>do</strong> uma careta e<br />

continuou:<br />

- Não. Não com você <strong>aqui</strong>.<br />

Neste momento as luzes se<br />

apagaram, desativan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>.<br />

678


- Com mil demônios, o que está<br />

acontecen<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>?<br />

Amis sentiu aquele cheiro. Sim<br />

Zwump estava por perto, e bem perto, ao<br />

sentir sua mão no seu ombro. Vá e use isto<br />

para enxergar, disse ele, murmuran<strong>do</strong>-lhe<br />

ao pé <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>, entregan<strong>do</strong> um objeto.<br />

- Guardas, guardas e de repente<br />

entraram <strong>do</strong>is com lanternas, iluminan<strong>do</strong><br />

diretamente a cara de Ahdack. Procurem o<br />

ativa<strong>do</strong>r de luminárias, seus imbecis – disse<br />

e logo o ambiente estava novamente<br />

ilumina<strong>do</strong>. Ahdack nem percebeu a falta de<br />

sua prisioneira, não de imediato, e quan<strong>do</strong><br />

se deu por conta, saiu, ele mesmo, ao seu<br />

encalço, completamente fora de si.<br />

Vinha uma patrulha pelo outro<br />

corre<strong>do</strong>r e Ahdack ordenou-lhes que o<br />

seguissem e procurassem pela prisioneira.<br />

Também man<strong>do</strong>u os <strong>do</strong>is que o<br />

acompanhavam voltar e montar guarda na<br />

sua sala. Ele não gritava. Berrava a plenos<br />

pulmões.<br />

- Lá está ela, - apontou para o fim daquele<br />

corre<strong>do</strong>r, descen<strong>do</strong> pela escadaria, que<br />

679


daria acesso à rua – Peguem-na, não a<br />

deixem escapar.<br />

Amis corria e tropeçava em suas<br />

próprias passadas.<br />

Com a escapada de Amis,<br />

Zwump saiu de trás <strong>do</strong> grande console e<br />

sentan<strong>do</strong>-se na poltrona <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r,<br />

ativou os controles. Os coman<strong>do</strong>s estavam<br />

bem ali em sua frente e os <strong>do</strong>is guardas<br />

retiraram os capacetes. Zuila e Noisnn.<br />

passaram para a ante-sala.<br />

Depois de fechada, a porta que<br />

isolava o corre<strong>do</strong>r, dispararam raios de<br />

suas armas, no controla<strong>do</strong>r digital da<br />

tranca. Inutilizan<strong>do</strong>-o.<br />

Zwump parecia se deliciar,<br />

mexen<strong>do</strong> naqueles controles e imitan<strong>do</strong> a<br />

voz de Ahdack, passou outra mensagem<br />

às fortalezas, sem antes constatar, numa<br />

rápida análise, como estava a batalha no<br />

espaço. A Kosmos em chamas e as três<br />

Fortalezas em plena manobra de ataque.<br />

Não perdeu tempo e transmitiu:<br />

680


- Atenção todas as naves –<br />

gritan<strong>do</strong> como se fosse Ahdack-Atenção<br />

todas as naves. Não ataquem – Repito, não<br />

ataquem, aguardem novas instruções.<br />

As naves pararam sua trajetória.<br />

O comunica<strong>do</strong>r logo falou:<br />

- Excelência, não entendemos o<br />

porquê de súbita mudança nas ordens.<br />

- Vocês ouviram é só.<br />

Zwump desligou o comunica<strong>do</strong>r<br />

e ria pra valer. Como é bom ser poderoso,<br />

comentou.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

- Senhor, precisamos reentrar,<br />

estamos desnergiza<strong>do</strong>s e...<br />

- Ozy – disse Tutkan – Não se<br />

atreva a reentrar, estamos em chamas e<br />

no momento que abrirem as cabines, ou se<br />

vazar mais oxigênio aí no hangar,<br />

explodiremos... Oxigênio... sim, é isto –<br />

Atenção to<strong>do</strong>s. Aqui é o comandante,<br />

681


ponham suas máscaras de oxigênio,<br />

rápi<strong>do</strong>... e abram as comportas da nave.<br />

Todas as comportas... rápi<strong>do</strong>.<br />

Sim esta era a solução para não<br />

explodir. Sem oxigênio, não há fogo.<br />

Todas as comportas se abriram e<br />

imediatamente, como Tutkan previra o<br />

fogo, como por encanto, desapareceu. Os<br />

indica<strong>do</strong>res de radiação cederam ao ponto<br />

de limite.<br />

- Vamos ativar os motores e<br />

sair d<strong>aqui</strong>, rápi<strong>do</strong> – disse Tutkan, antes que<br />

eles nos peguem. E mantenham suas<br />

máscaras. Ativan<strong>do</strong> o Telecon disse –<br />

Muito bem rapazes, venham em rodízio<br />

reabastecer.<br />

O combate entre os March e os<br />

Mobis continuava, mas subitamente os<br />

Mobis voltaram para suas Bases,<br />

- O que Ahdack está traman<strong>do</strong>?<br />

- Também não entendi esse<br />

cessar fogo-disse Fanna.<br />

- O que está acontecen<strong>do</strong>?<br />

Perguntou Tutkan, às voltas com o rodízio<br />

682


de reabastecimento <strong>do</strong>s caças -- O que<br />

será que estão traman<strong>do</strong>?<br />

- Não sei, e não estou a fim de<br />

descobrir. Vamos meter carga neles.<br />

Mas Fanna que a tu<strong>do</strong><br />

observava, sentiu que alguma coisa estava<br />

errada entre os Mobis. Ahdack cessou o<br />

ataque em condições favoráveis... E não<br />

pediu rendição. Muito estranho, comentou<br />

com Hamour e Thorc, proceden<strong>do</strong> a<br />

varredura nas defesas de superfície.<br />

- Espere Tut, Pode ser que<br />

estejam se renden<strong>do</strong>, apesar de Ahdack<br />

não ter dito nada sobre rendição.<br />

- Hamour, você o conhece se não<br />

pediu nada, está traman<strong>do</strong> algo.<br />

- Você está certo. Ataque. Vamos<br />

acabar logo com isto.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

O comunica<strong>do</strong>r interno <strong>do</strong><br />

palácio falou novamente.<br />

683


- Excelência, não atiramos na<br />

nave circular, conforme ordenou, mas<br />

devemos atirar na outra menor?<br />

- Não. Deixem que pousem.<br />

- Assim será, Excelência.<br />

Zuila e Noisnn adentram na<br />

sala de coman<strong>do</strong> e não acreditaram no que<br />

viram. Zwump operan<strong>do</strong> os controles e<br />

falan<strong>do</strong> como se fosse Ahdack!<br />

- Zvrrn garnntszz?<br />

- Não, não estou louco, apenas<br />

me fazen<strong>do</strong> um pouco.<br />

- Zgrunzz rrughhtd brrzugzz.<br />

- Estou tentan<strong>do</strong>, mas ainda<br />

não consegui.<br />

- O que você está tentan<strong>do</strong> e<br />

ainda não conseguiu Zwump?<br />

- Comunicação com os seus.<br />

As coordenadas não dão certo. Acho que<br />

deve existir algum código, mas não<br />

consigo achá-lo.<br />

Amis foi novamente<br />

recapturada, havia caí<strong>do</strong> e não encontrou<br />

forças para continuar.<br />

- Minha cara fujona- disse<br />

Ahdack- você ainda não desconfia que é<br />

684


inútil querer fugir de mim? Vamos, temos<br />

ainda um bom espetáculo para assistir.<br />

- Estranho que não fomos<br />

ataca<strong>do</strong>s pelas baterias de superfície –<br />

disse Velz, quan<strong>do</strong> dava um rasante pelo<br />

palácio.<br />

- Acho que Ahdack nos quer<br />

vivos. Deve ter imagina<strong>do</strong> uma surpresinha<br />

para nós – comentou Hamour.<br />

- Acho que podemos pousar<br />

<strong>aqui</strong>. A cidade está limpa, parece que não<br />

há ninguém.<br />

- Então é <strong>aqui</strong> que vamos<br />

pousar.<br />

Estavam bem próximos <strong>do</strong><br />

Palácio e puseram-se a caminho,<br />

esgueiran<strong>do</strong>-se pelas ruas, andan<strong>do</strong><br />

sempre cola<strong>do</strong>s às paredes <strong>do</strong>s pavilhões<br />

e casebres. Não haviam guardas, nem<br />

seres, nem andróides e nem robots, mas<br />

sentiam-se observa<strong>do</strong>s.<br />

O que está acontecen<strong>do</strong> por<br />

<strong>aqui</strong>? - indagou Velz.<br />

- Sim, parece muito estranho.<br />

Estão nos observan<strong>do</strong>, mas não atacam.<br />

Por quê?<br />

685


- Velz... Hamour - uma voz veio<br />

de uma janela logo em frente. Hamour<br />

aguçou os ouvi<strong>do</strong>s e Velz calibrou sua<br />

arma. Maxum explorava mais à frente.<br />

- Hamour, <strong>aqui</strong> na janela. A<br />

janela está semi-aberta e posso vê-lo. Não<br />

atire sou eu Zurt-Kel de Someron. Zurt-Kel,<br />

irmão de Harvm-Kal.<br />

Velz cochichou, ao la<strong>do</strong> de<br />

Hamour – Parece que ele diz a verdade.<br />

Conheci o irmão dele.<br />

- O que você quer? – disse<br />

Hamour sussurran<strong>do</strong>, manten<strong>do</strong> a<br />

distância da janela.<br />

- Estou com outros, que<br />

também fogem de Ahdack. Temos muitos<br />

alia<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong> o povo desta cidade.<br />

- Está bem e daí?<br />

- E daí que não conseguimos<br />

trazer Amis. Ela está lá com ele, e tem<br />

mais três <strong>do</strong>s nossos, isto é Zuila, Noisnn e<br />

Zwump.<br />

- Zuila? – disse Velz-ela está<br />

viva? Velz estava radiante, parecia uma<br />

criança.<br />

686


- Quan<strong>do</strong> abrirmos a porta ao<br />

la<strong>do</strong> da janela entre, nós os levaremos até<br />

as portas <strong>do</strong> Palácio, e desta feita, Zurt-Kel<br />

se mostrou na janela.<br />

- Vamos, entrem, podem confiar.<br />

Velz, Hamour e Maxum se<br />

olharam e decidiram arriscar. A porta abriu<br />

e eles entraram de um pulo só.<br />

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />

O Impera<strong>do</strong>r chegou até a antesala<br />

e não conseguiu abrir a porta. Amis<br />

junto dele, nada entendia.<br />

- Maldição! A porta está<br />

trancada - trovejou Ahdack- Vamos,<br />

arrombem esta porta-ordenou aos seus<br />

guardas.<br />

Eles alvejaram a fechadura<br />

eletrônica, mas a porta não cedeu. Então,<br />

calibraram suas armas para raios<br />

contínuos e passaram a derreter sua<br />

fechadura. Aos poucos, uma passagem era<br />

aberta para o Impera<strong>do</strong>r. Este sentia algo<br />

erra<strong>do</strong> no ar.<br />

687


Pelo la<strong>do</strong> de dentro, Zuila,<br />

Noisnn e Zwump, perceberam a manobra<br />

<strong>do</strong>s raios atravessan<strong>do</strong> a porta.<br />

- Vamos sair d<strong>aqui</strong> – disse Zuila.<br />

- Zgrrfnn tzzff<br />

- Rápi<strong>do</strong>, pela janela.<br />

Ao chegarem à janela<br />

verificaram estar no terceiro piso e saltar,<br />

não seria possível, principalmente para<br />

Zwump que se apressou em dizer.<br />

- Vão, esqueçam-se de mim.<br />

- Não senhor, você vai conosco<br />

– disse Zuila.<br />

- Zgrr fn bzsnn drugrr trugs<br />

tufttn zbrrtn.<br />

- O que ele disse?<br />

Parece boa idéia. Rápi<strong>do</strong><br />

peguem as cordas daquela cortina,<br />

joguem-na pela janela e amarre a outra<br />

ponta <strong>aqui</strong>, neste aparelho.<br />

Noisnn jogou a corda. Zuila<br />

apressou-se em amarrá-la no pé metálico,<br />

preparan<strong>do</strong>-se pra pular, quan<strong>do</strong> Noisnn a<br />

segurou pelo braço, balançan<strong>do</strong> um não<br />

com a cabeça. Foi apenas o tempo de se<br />

688


esconderem atrás das cortinas, <strong>do</strong> outro<br />

la<strong>do</strong>.<br />

O Impera<strong>do</strong>r com Amis segura<br />

pelo braço entrou.<br />

Zwump tivera o cuida<strong>do</strong> e o<br />

prazer de danificar to<strong>do</strong> o sistema<br />

enquanto brincava nos controles.<br />

Maldição fugiram pela janela, -<br />

disse Ahdack, chegan<strong>do</strong> até ela, olhan<strong>do</strong><br />

para baixo e pegan<strong>do</strong> a corda. E quan<strong>do</strong><br />

foi checar os controles, daí sim, perdeu a<br />

cabeça e tremeu o planeta com seu berro<br />

cavernoso: – MALDIÇÃO!!!<br />

O Impera<strong>do</strong>r, agora tinha<br />

perdi<strong>do</strong> aquela tranqüilidade e em sua<br />

testa, gotas de suor brotavam aos<br />

borbulhões.<br />

- Vamos para minha nave,<br />

controlarei tu<strong>do</strong> de lá, foi o que disse.<br />

Imediatamente to<strong>do</strong>s saíram.<br />

Microns depois.<br />

- Ufa, esta foi por pouco – disse<br />

Zuila.<br />

- Zgrnt fzzn tzizzft Zwump.<br />

689


- O que ele disse? Oh! não. De<br />

novo não.<br />

Zwump estava imóvel, dentro<br />

<strong>do</strong> casco Robot.<br />

- Zwump. Zwump. Acorde, mas<br />

que hora pra ter...<br />

- Zfrgenn tuszznn grznn btlzzn.<br />

- E dito isto Noisnn tapou a<br />

boca de Zuila, que entendeu tu<strong>do</strong> desta<br />

vez, sem necessitar intérprete. Ouviam-se<br />

vozes e passos sorrateiros.<br />

Os passos foram chegan<strong>do</strong><br />

mais perto e de súbito alguém pulou para<br />

dentro, com sua arma pronta para disparo.<br />

Zuila viu pela fresta da cortina e desmaiou.<br />

Noisnn tentou segurá-la, mas foi em vão.<br />

Ela caiu e fez um barulhão.<br />

-Zuila, - disse Velz, guardan<strong>do</strong><br />

sua arma e chegan<strong>do</strong> mais perto. Noisnn já<br />

ia atacar quan<strong>do</strong> ela abriu os olhos e disse<br />

NÃO.<br />

Velz quase teve seu crânio<br />

esmaga<strong>do</strong> por Noisnn.<br />

- Noisnn, ele é <strong>do</strong>s nossos.<br />

- Zgrnft zzgrrn trrnzft minzmm<br />

- Fique calmo, Noisnn.<br />

690


- O que ele disse? Perguntou<br />

Velz- acarician<strong>do</strong>- lhe os cabelos.<br />

- Oh Velz! Velz deixa-me vê-lo<br />

queri<strong>do</strong>. Pensei que nunca mais veria você<br />

– disse com um choramingo, e abraçan<strong>do</strong>se<br />

a ele.<br />

- Calma, meu bem... diga-me<br />

existem outros amigos?<br />

- Sim. Muitos – e levantan<strong>do</strong>se,<br />

puxou Noisnn, com carinho-este é um<br />

deles. Noisnn este é Velz. Noisnn o<br />

cumprimentou com um abaixar de cabeça.<br />

Zuila abriu mais a cortina descobrin<strong>do</strong><br />

Grzlynn, depois o Robots, que ainda<br />

permanecia em choque, - Velz, esta é<br />

Gruzzlyn, a fêmea de Noisnn e este <strong>aqui</strong> é<br />

Zwump, que está disfarça<strong>do</strong> nesta...<br />

- O que há com ele?<br />

- Ele sempre fica assim depois<br />

que passa o perigo.<br />

- Depois que passa como é<br />

isso?<br />

- É uma longa história. Mas<br />

vamos, precisamos buscar Amis.<br />

- Onde ela está?<br />

- Foi levada por Ahdack, até sua<br />

nave.<br />

- E onde está a nave?<br />

691


- Ela faz parte da abóbada que<br />

fica em cima <strong>do</strong> Palácio.<br />

- Ora, ora... viva. Ele acor<strong>do</strong>u.<br />

Você está bem Zwump?<br />

- Sim, mas com uma fome<br />

terrível.<br />

- Zwump este é Velz e veio nos<br />

tirar d<strong>aqui</strong>.<br />

Ele arrotou e entrou em transe<br />

novamente.<br />

Quan<strong>do</strong> Ahdack ativou os<br />

controles de sua nave e reparou pela tela,<br />

suas Fortalezas sen<strong>do</strong> destruídas,<br />

simplesmente não acreditou.<br />

- Idiotas o que estão fazen<strong>do</strong> aí<br />

para<strong>do</strong>s, esperan<strong>do</strong> que eles acabem com<br />

to<strong>do</strong>s vocês?<br />

- Mas, Excelência – falou o<br />

intercomunica<strong>do</strong>r- o senhor mesmo<br />

man<strong>do</strong>u que não atacássemos e<br />

esperássemos novas ordens!<br />

- Droga. Maldição. Ataquem.<br />

Agora!!!<br />

- Tu<strong>do</strong> isto por sua culpa – disse<br />

apontan<strong>do</strong> para Amis. Você e seu maldito<br />

mari<strong>do</strong>. Você só não morre agora, por que<br />

quero que assista a morte daquele<br />

692


Hamour, com isto-e, mostrou-lhe uma<br />

adaga de laser. – Eu vou lhe arrancar a<br />

cabeça de cima <strong>do</strong>s ombros.<br />

- Senhor, apenas para confirmar<br />

suas ordens anteriores – disse outra voz<br />

pelo intercomunica<strong>do</strong>r – As três naves<br />

pousaram perto <strong>do</strong> palácio.<br />

- Três naves? Que naves?<br />

- Aquela estranha circular e há<br />

outras muito pequenas, de combate.<br />

- Muito bem – disse Ahdack-<br />

continuem com o que lhes mandei, e se<br />

ouvirem outra voz de coman<strong>do</strong> dizen<strong>do</strong><br />

algo em contrário, não obedeçam. São<br />

truques <strong>do</strong> inimigo.<br />

- Sim, Excelência.<br />

= BH 1... BH1... Onde se meteu<br />

aquele idiota?<br />

Ele virou-se para Amis e disse:<br />

- Seu amorzinho anda pelas<br />

re<strong>do</strong>ndezas. Não vamos deixá-lo<br />

esperan<strong>do</strong>. Vamos ao encontro dele.<br />

O Impera<strong>do</strong>r pegou sua refém<br />

pelo braço e aban<strong>do</strong>nou a nave descen<strong>do</strong><br />

a escadaria em busca de Hamour e<br />

man<strong>do</strong>u que seus guardas também o<br />

693


procurassem, mas sem atingi-lo, por que<br />

ele mesmo queria matá-lo.<br />

A Kosmos havia bombardea<strong>do</strong><br />

quase todas e quan<strong>do</strong> se dirigia para as<br />

últimas três, foi informa<strong>do</strong>:- Estão se<br />

mexen<strong>do</strong>, senhor. Parece que estão se<br />

preparan<strong>do</strong> para atacar.<br />

- Obriga<strong>do</strong> Klemps- disse<br />

Tutkan- Rapazes, parece que teremos<br />

mais uma sessão. Preparem-se para<br />

combate. Vamos com força total. Vamos<br />

pegar a <strong>do</strong> meio. Formaremos o grande Vê<br />

e atiraremos to<strong>do</strong>s simultaneamente.<br />

Quan<strong>do</strong> ela estourar, continuaremos em<br />

frente por entre os destroços. Quan<strong>do</strong> as<br />

outras duas se derem conta, estaremos em<br />

cima delas.<br />

O pessoal ficou anima<strong>do</strong> com o<br />

discurso de Tutkan e ao seu coman<strong>do</strong><br />

avançaram.<br />

Como o planeja<strong>do</strong>, foram para<br />

cima da grande bola de metal, e formaram<br />

um grande Vê, ten<strong>do</strong> a Kosmos como<br />

vértice. Mandaram suas cargas no<br />

momento que o rodízio era inicia<strong>do</strong>. Alguns<br />

694


March-1 da ponta <strong>do</strong> grande Vê foram<br />

abati<strong>do</strong>s. Mas o que se seguiu foi<br />

exatamente o que Tutkan tinha dito. A<br />

primeira estourou. E com ela to<strong>do</strong>s os<br />

Mobis de ataque.<br />

Enquanto isso, Hamour entrou<br />

com Krapnag na despensa, onde estavam<br />

to<strong>do</strong>s de volta, tentan<strong>do</strong> acordar Zwump,<br />

sem sua armadura. Logo após, Zurt-Kel<br />

apareceu, trazen<strong>do</strong> uma arma mais pesada<br />

<strong>do</strong> que as outras. Mais três seres<br />

conterrâneos de Krapnag, também<br />

arma<strong>do</strong>s, completaram o cenário.<br />

- Velz... Zuila, que bom vê-la,<br />

não consigo encontrar Ahdack, por acaso<br />

sabem onde ele está?<br />

- Hamour, ele está no topo <strong>do</strong><br />

palácio em sua nave, e está com Amis<br />

como refém. Parece que tem mais cinco<br />

guardas com ele.<br />

- Nós nos encarregaremos <strong>do</strong>s<br />

guardas Sr. Hamour- disse Krapnag-<br />

Esperamos por este momento, toda a<br />

nossa vida. E saiu com os seus em busca<br />

<strong>do</strong>s momentos maiores.<br />

- Vá Hamour, nós ficaremos<br />

<strong>aqui</strong> e daremos cobertura – disse Zuila,<br />

695


olhan<strong>do</strong> para Velz como se estivesse<br />

pedin<strong>do</strong> confirmação <strong>do</strong> que acabara de<br />

falar.<br />

- É isto ai – Hamour. Nós<br />

faremos cobertura. Pode ir.<br />

Hamour deu um sorriso e<br />

partiu para a escadaria. Afinal ele se veria<br />

frente a frente com seu irmão mais novo,<br />

que infelizmente havia enlouqueci<strong>do</strong>. A<br />

cada degrau que subia, tentava escutar, o<br />

que vinha lá de cima. De repente ouviu<br />

passos e os gemi<strong>do</strong>s de Amis.<br />

- Anda, - dizia Ahdack – não<br />

temos o dia to<strong>do</strong>. Seu amorzinho deve<br />

estar louco para ver você, querida. Vamos,<br />

ande.<br />

Hamour retrocedeu alguns<br />

degraus e afinal decidiu retroceder até<br />

chegar a um lugar plano, não queria<br />

arriscar a vida de Amis. Ahdack era cruel o<br />

suficiente para sacrificá-la em sua frente,<br />

apenas para vê-lo sofrer. Foi até o<br />

corre<strong>do</strong>r, e lá se escondeu atrás de uma<br />

coluna e calibrou o seu projetor<br />

holográfico.<br />

- Ahdack – disse Hamour atrás<br />

deles, que com o susto, descui<strong>do</strong>u-se e<br />

Amis correu, Mas ainda virou-se e com sua<br />

696


arma desferiu uma carga em Amis, que<br />

caiu.<br />

- Ahdack, agora sou eu e você.<br />

- Sim, - e partiu para cima <strong>do</strong><br />

holograma que se desfez, deixan<strong>do</strong>-o<br />

cuspin<strong>do</strong> ódio. – Onde está você, seu<br />

covarde?<br />

- Aqui. Estou <strong>aqui</strong>.<br />

Ahdack se virou e veio em sua<br />

direção, cuspin<strong>do</strong> no corpo de Amis,<br />

atirada no mármore frio. Sua adaga Lazer<br />

foi ativada e a lâmina luminosa surgiu. Ele<br />

apontou para Hamour e disparou várias<br />

delas, sem atingir o alvo. Nova projeção<br />

holográfica atrás e outros disparos de<br />

lâminas lazers, que atravessaram a<br />

holografia.<br />

- Você atira na minha mulher, está<br />

arma<strong>do</strong> e eu é que sou o covarde?<br />

Ahdack se vira novamente, mas<br />

daí, Hamour estava em cima e o agarrou<br />

no braço arma<strong>do</strong>, desferin<strong>do</strong>-lhe um golpe<br />

no queixo, que ao cair, lançou novas<br />

lâminas e uma atingiu Hamour no ombro<br />

direito, que o derrubou. Este com o ombro<br />

697


sangran<strong>do</strong>, tentou levantar, mas outra<br />

lâmina o atingiu na perna.<br />

Ahdack ria muito alto, afinal agora<br />

só teria o trabalho de desfechar o golpe<br />

derradeiro e pendurar a cabeça de Hamour<br />

no mastro mais alto da cidade. Queria que<br />

to<strong>do</strong>s vissem o que acontecera com aquele<br />

que ousou desafiar o Impera<strong>do</strong>r. Ele subiu<br />

a adaga e a baixou para o golpe fatal. Mas<br />

Hamour conseguiu passar-lhe o pé,<br />

<strong>do</strong>bran<strong>do</strong>-lhe os joelhos.<br />

Ahdack caiu e ficou imóvel, com<br />

sua adaga enfiada em sua própria barriga.<br />

Ali estava sua Excelência, o<br />

Impera<strong>do</strong>r, senta<strong>do</strong> com uma lâmina Lazer<br />

fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> seu corpo.<br />

Hamour ficou também onde estava<br />

deita<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> de Ahdack, como se<br />

estivesse tentan<strong>do</strong> recobrar a razão. Pouco<br />

a pouco foi se dan<strong>do</strong> conta <strong>do</strong> que havia<br />

aconteci<strong>do</strong> e, se arrastou até Amis, que<br />

ainda permanecia <strong>do</strong> mesmo jeito.<br />

- Deus, - dizia Hamour- não<br />

deixe que ela morra, não a tire de mim, e<br />

698


ao chegar <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong>, - Graças... ela está<br />

viva. Ainda está viva.<br />

Velz, Maxum e Zurt-Kel vieram<br />

em apoio.<br />

- Amis – Disse com esforço – ela<br />

precisa de socorro mais <strong>do</strong> que eu.<br />

Amis tinha um ferimento feio<br />

nas costas e provavelmente um pulmão<br />

perfura<strong>do</strong>.<br />

- Hamour – disse Velz, o povo<br />

d<strong>aqui</strong> <strong>do</strong>minou to<strong>do</strong>s os setores. Estão<br />

to<strong>do</strong>s felizes pela liberdade.<br />

Hamour não ouvia mais nada.<br />

- Ora, mas que droga – disse<br />

Velz – Vamos improvisar macas e vamos<br />

levá-los para a Atlantis. Thorc sabe como<br />

operar a Nave.<br />

Então Krapnagg e o seus surgiram com<br />

carrinhos especiais usa<strong>do</strong>s para o<br />

transporte de alimentos.<br />

- Zag-zero para a<br />

Kosmos...Zag-zero para a Kosmos...<br />

- Fale Zag-zero.<br />

- Precisamos de apoio médico.<br />

Amis está bastante ferida e Hamour<br />

também. Temos que subir agora.<br />

699


- Pode subir. Os médicos<br />

estarão na espera.<br />

- E os Mobis?<br />

A guerra acabou.<br />

-<br />

- - Aqui também acabou.<br />

Ahdack está morto.<br />

700


EPÍLOGO<br />

Quan<strong>do</strong> Hamour acor<strong>do</strong>u,<br />

tinha ao seu la<strong>do</strong>, Erus Fanna, que parecia<br />

não <strong>do</strong>rmir a mais de um perío<strong>do</strong>, mas<br />

ven<strong>do</strong> o seu amigo acordar, esboçou um<br />

grande e franco sorriso.<br />

- Hamour, você quan<strong>do</strong> resolve<br />

<strong>do</strong>rmir, sai da frente, você <strong>do</strong>rme mesmo.<br />

- A quanto tempo desta vez?<br />

- Primeiro você ficou na<br />

câmara de vida, quase cinco dias e depois<br />

foi trazi<strong>do</strong> para cá, bem... vejamos...ao<br />

to<strong>do</strong> você <strong>do</strong>rmiu oito dias.<br />

- E Amis, como está ela?<br />

- Ela ainda está na câmara de<br />

vida. Teve um pulmão seriamente atingi<strong>do</strong>.<br />

Ainda corre risco de morte. Seu esta<strong>do</strong> é<br />

muito grave.<br />

- Fanna, isto tu<strong>do</strong> aconteceu<br />

mesmo, não?<br />

- Sim, amigo. Tu<strong>do</strong> aconteceu<br />

de verdade.<br />

Neste instante chegaram Velz,<br />

Zuila e Zwump, depois Tutkan, Thorc,<br />

Maxun e Zurt-kel. A pequena cela ficou<br />

701


subitamente lotada. Thorc foi à frente e<br />

disse:<br />

- Meu amigo, que bom tê-lo<br />

novamente entre nós, e deu-lhe um<br />

cristalton, este é um pequeno presente<br />

para você.<br />

- O que contém nele?<br />

- Vá até a sua máquina e verá –<br />

disse Thorc, com um pouco de malícia nas<br />

palavras.<br />

- Não dá para adiantar nem um<br />

pouquinho?<br />

- Não. Veja por si próprio.<br />

Zuila trouxe Zwump pela mão e<br />

perguntou.<br />

- Você lembra de Zwump,<br />

Hamour?<br />

- Sim, claro que me lembro.<br />

Como vai meu amigo?<br />

- Estou bem, apenas com um<br />

pouco de fome.<br />

- Como sempre – foi o que to<strong>do</strong>s<br />

disseram em coro.<br />

- Queria agradecer-lhe o que<br />

fez por to<strong>do</strong>s nós, quero dizer, nós <strong>do</strong><br />

Universo inteiro, que estávamos nas mãos<br />

daquele tirano.<br />

702


- Ora, Zwump, tu<strong>do</strong> que fiz, foi<br />

em conjunto com to<strong>do</strong>s. Na verdade, os<br />

grandes heróis são: Erus Fanna e sua<br />

gente.<br />

- Ora não seja modesto- disse<br />

Fanna- Se não fosse por você, a história<br />

<strong>do</strong> Universo, hoje, seria outra.<br />

- Sim – disse Zwump- Quero<br />

agradecer sinceramente a to<strong>do</strong>s.<br />

- Muito obriga<strong>do</strong> Zwump, agora<br />

me diga, e aqueles outros seus amigos de<br />

natureza estranha, onde estão?<br />

- Se o senhor se refere à<br />

Noisnn e Gruzlnn, já estão em casa, por<br />

bondade <strong>do</strong> comandante Tutkan.<br />

- Sim, disse Tutkan, lhes<br />

demos uma carona... até o planeta deles e<br />

deixaram isto para você – e entregou outro<br />

disquete a Hamour.<br />

- E o que foi feito daquele BH 1...<br />

- Série três, interrompeu Fanna.<br />

- Sim, continuou Zuila – Aquela<br />

coisa horrorosa?<br />

- O nosso? Perguntou Thorc.<br />

- Não, o de Sua Excelência?<br />

- Conte a ela, Thorc, disse Fanna.<br />

- Bem, após pousarmos perto de<br />

um vilarejo deserto e Hamour e os rapazes<br />

703


saíram para explorar o lugar, o tal BH 1<br />

apareceu com mais 10 andróides arma<strong>do</strong>s.<br />

Nossas naves estavam invisíveis, mas ele<br />

nos detectou. Quan<strong>do</strong> finalizaram o cerco<br />

sobre o March de Velz, uma legião de<br />

nativos atacou, com armas pesadas,<br />

mandaram to<strong>do</strong>s pelos ares..<br />

- Eles sabiam que estávamos lá,<br />

desde o início, completou Fanna, e quanto<br />

ao nosso, querida, está com Totcha Mantchunk,<br />

levan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os prisioneiros que<br />

encontramos vivos, de volta aos seus<br />

planetas de origem. E, dirigin<strong>do</strong>-se a<br />

Hamour - não se preocupe com o Merillum<br />

que estava deposita<strong>do</strong> na Fortaleza. Nós o<br />

transferimos para cá, pra Kosmos.<br />

Logo chegou o <strong>do</strong>utor<br />

Halkmian, substituto <strong>do</strong> Dr. Grohalv, e foi<br />

dizen<strong>do</strong>:<br />

- Muito bem pessoal agora<br />

Hamour precisa descansar mais um pouco.<br />

Despeçam-se dele e adeusinho. Visitas só<br />

amanhã.<br />

- Ooohhh! ! ! ! – Foi o que to<strong>do</strong>s<br />

disseram.<br />

- Fanna ficou um pouco mais e<br />

disse:<br />

704


- Hamour, quan<strong>do</strong> voltamos<br />

e atravessamos o portão estelar,<br />

encontramos aqueles seres, os<br />

Arphenius e sabe o que eles disseram?<br />

- Mal posso imaginar.<br />

- Disseram que já estavam fartos<br />

de Sua Excelência, e como sempre,<br />

não interferiram diretamente, apenas,<br />

dimensionaram o tempo e o espaço<br />

para se desencadear a nosso favor.<br />

- Incrível, disse Hamour.<br />

- Agora meu amigo, descanse,<br />

pois amanhã, segun<strong>do</strong> o <strong>do</strong>utor, poderá<br />

ver Amis. Ela saiu <strong>do</strong> perigo e está na<br />

cela ao la<strong>do</strong> da sua. Talvez acorde<br />

amanhã.<br />

- Que Deus nos ajude- disse<br />

Hamour – Ah, espere... pra onde<br />

estamos in<strong>do</strong>?<br />

- Vamos deixar Zwump em casa.<br />

- E depois?<br />

- Vamos para o planeta Terra.<br />

- Terra?<br />

- Sim. Vamos rever nossos<br />

amigos da Terra.<br />

FIM<br />

705

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