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Contatos intergalácticos e revelações sobre o surgimento da<br />
humanidade no planeta terra há mais de 600.000 anos.<br />
Paulo Zam
Os Dois Senhores<br />
ESTE LIVRO FOI CANALIZADO POR PAULO DE TARSO<br />
ZAMARIOTTI, DITADO PELO SER INTERDIMENSIONAL<br />
ZUR-KWA no ano de 1986.<br />
Este livro é cedi<strong>do</strong> <strong>gratuitamente</strong>. Portanto, o mesmo não<br />
poderá ser vendi<strong>do</strong>.<br />
O exemplar poderá ser copia<strong>do</strong> e distribuí<strong>do</strong> a qualquer<br />
interessa<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, deverão preservar o seu conteú<strong>do</strong><br />
e to<strong>do</strong>s os créditos ao Centro Espiritual Xamânico Céu <strong>Luz</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Amanhecer</strong>.<br />
É PROIBIDA A VENDA DESTE MATERIAL<br />
Caso deseje nos ajudar, faça uma contribuição voluntária<br />
entran<strong>do</strong> em contato conosco.<br />
Rua Sassaki, 438 – Cidade Ademar - São Paulo – SP<br />
site: www.ceuluz<strong>do</strong>amanhecer.com.br<br />
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telefone: 11 – 5678-4664<br />
2
Capitulo I<br />
OS DOIS SENHORES<br />
Desde há muito tempo, dia após<br />
dia, noite após noite, ano após ano o<br />
aspecto da superfície daquele planeta era<br />
o mesmo: um deserto de pedras,<br />
começan<strong>do</strong> pelas pequenas, até as<br />
imensas, que formavam os montes e<br />
montanhas.<br />
Nas planícies amareladas e de<br />
solo racha<strong>do</strong>, desprendia-se um calor<br />
intenso e visível. Onde outrora eram os<br />
leitos <strong>do</strong>s rios e lagos, agora eram leitos<br />
vazios, apenas formações de depressões.<br />
Os mares eram escuros, sem vida com<br />
águas radioativas.<br />
Daquele céu também amareloocre,<br />
brotava um sol implacável, que<br />
quan<strong>do</strong> desaparecia por traz de nuvens<br />
negras, prenunciava tempestades terríveis,<br />
com explosões múltiplas de raios, seguidas<br />
de chuva ácida. Estas provocavam erosões<br />
3
colossais, aceleran<strong>do</strong> a devastação<br />
naquele solo morto. Mesmo assim insetos<br />
semelhantes a baratas e escorpiões<br />
comiam-se uns aos outros na luta pela<br />
sobrevivência e pelo limite de seus<br />
territórios.<br />
Quan<strong>do</strong> noite, o brilho das quatros<br />
luas trazia um colori<strong>do</strong> especial, mas<br />
estranho, devi<strong>do</strong> aos diferentes matizes de<br />
cada uma, desde o pratea<strong>do</strong> ao vermelho<br />
vivo (a lua mais próxima deste planeta).<br />
A lua mais brilhante era a mais distante e<br />
de tempos em tempos se eclipsava com as<br />
outras duas <strong>do</strong> meio, uma amarelada e a<br />
outra de um alaranja<strong>do</strong> forte.<br />
Eram noites abafadas pela<br />
solidão e o frio congelante.<br />
Nada naquele lugar era bonito aos olhos<br />
de quem pudesse ver e sentir. Dias que<br />
não eram dias e noites que não eram<br />
noites. Era um grande nada claro e um<br />
grande nada escuro, que nem sequer<br />
chegava a ser escuro. Morto. Sim, morto<br />
era o significa<strong>do</strong> naquele planeta, que não<br />
tinha mais rios, nem lagos, nem mares com<br />
águas verdes, como fora antes. Parecia<br />
que tu<strong>do</strong>, até a vida havia se evapora<strong>do</strong>.<br />
4
Numa destas noites, duas<br />
pequenas naves sobrevoavam o planeta,<br />
numa rotina de observação e<br />
patrulhamento, seus tripulantes<br />
manejavam instrumentos de medição<br />
radiográfica, sensores de calor e<br />
detectores de vida, de médio e longo<br />
alcance, adapta<strong>do</strong>s nas pontas de suas<br />
pequenas asas e leme superior.<br />
- Nada parece ter muda<strong>do</strong><br />
comandante!<br />
- Sim, Velz, o mesmo de setenta e<br />
<strong>do</strong>is anos atrás. Veja o sensor KRANSET:<br />
Setenta ponto oito celtz. Nenhum micro a<br />
menos. Parece que o planeta morreu<br />
mesmo. Vamos voltar.<br />
- Sim, senhor.<br />
As duas pequenas naves<br />
desenharam um grande semicírculo no céu<br />
multicolor e tomaram o rumo de suas<br />
bases. Num da<strong>do</strong> momento, um “bip” soou<br />
e os de<strong>do</strong>s <strong>do</strong> comandante Zeuez<br />
acionaram a chave, à sua frente, no painel<br />
de sua nave, atenden<strong>do</strong> o chama<strong>do</strong>.<br />
- Zag-tres. Na escuta. Pode falar.<br />
5
- Aqui é Zag-Zero. Saia já daí. Em<br />
menos de <strong>do</strong>ze marcas, você estará bem<br />
no meio de uma tempestade daquelas.<br />
Nossos monitores acusam que é uma das<br />
maiores <strong>do</strong>s últimos tempos. Dirija-se para<br />
a Base-Meridional-Leste. Repetin<strong>do</strong> vá<br />
para a Base-Meridional-Leste!<br />
- Certo... Você ouviu Velz?<br />
- Sim, comandante. Mas porque os<br />
nossos monitores não acusam esta<br />
tempestade?<br />
- Simples você tem um monitor<br />
KRANSET multidirecional acopla<strong>do</strong> com<br />
LKB de medição de superfície que ocupam<br />
nossa fuselagem inteira. Exatamente o<br />
mesmo que eu, o que significa que<br />
meteorologicamente estamos cegos. Você<br />
não aprendeu isso na escola de oficiais de<br />
vôo?<br />
- Sim, é claro, desculpe o<br />
esquecimento, senhor.<br />
- Então vamos sair d<strong>aqui</strong>. Digite<br />
sua rota para <strong>do</strong>is, zero, cinco.<br />
- Sim, senhor.<br />
Ao longe, as nuvens escuras,<br />
quase pretas surgiam enquanto um novo<br />
semicírculo era traça<strong>do</strong> entre sacudões<br />
ocasiona<strong>do</strong>s pela ventania, já presente.<br />
6
Confirma<strong>do</strong> o novo curso, o jovem<br />
piloto e quase oficial Velz, comentava com<br />
seus botões a sua gafe.<br />
- Como pude me esquecer disso?<br />
O que está acontecen<strong>do</strong> comigo? E ainda<br />
mais com o comandante Zeuez. Acho que<br />
depois desta, só terei o meu diploma o ano<br />
que vem...<br />
O comandante Zeuez era um ser<br />
de meia idade e ti<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s como um<br />
marco da aviação de seu tempo naquele<br />
planeta. Sua capacidade era como sua<br />
altura (muito alto), com olhar penetrante,<br />
de traços firmes e <strong>do</strong>no de uma grande<br />
paciência. Foi ele que desenhou e<br />
construiu os primeiros protótipos daquelas<br />
naves. O principal instrutor e comandante<br />
<strong>do</strong>s pré-oficiais, que tinha como<br />
passatempo escrever poemas e tocar um<br />
instrumento de cordas chama<strong>do</strong> Voilah.<br />
Um ser de muitos recursos, diziam.<br />
-... Que burrada!!!<br />
Neste momento o comunica<strong>do</strong>r de<br />
Velz soou com a voz de seu comandante,<br />
como se estivesse ouvin<strong>do</strong> seus<br />
pensamentos.<br />
- Velz, está me ouvin<strong>do</strong>?<br />
- Alto e claro, comandante.<br />
7
- Saiba que na primeira vez que<br />
voei com meu líder, Fanna, também<br />
esqueci de muitas coisas e a mais<br />
importante de todas: Olhar para frente, que<br />
até um bebê sabe disso. Em outras<br />
palavras, quase me esborrachei no monte<br />
Pakeus.<br />
- Não olhou para frente, senhor?<br />
- Pois é, fiquei tão excita<strong>do</strong> em<br />
pilotar aquele aerojato, sobra de guerra,<br />
que a simples visão <strong>do</strong>s instrumentos de<br />
bor<strong>do</strong>, me deixou... Abobalha<strong>do</strong>. Afinal, era<br />
o meu primeiro vôo solo! E aquela<br />
máquina... Hum!!! Quan<strong>do</strong> me lembro<br />
daquela máquina, sinto arrepios...<br />
- O que aconteceu, senhor?<br />
- Ora, quan<strong>do</strong> o líder percebeu o<br />
meu transe e que iria bater, gritou tão alto,<br />
que acho que o ouvi de sua própria<br />
cabine... Puxei o manche a tempo, antes<br />
de me esborrachar na montanha. Foi por<br />
um triz.<br />
Velz não pode conter o riso. Era<br />
muito engraça<strong>do</strong>, o seu comandante quase<br />
se matara, porque esquecera de olhar para<br />
frente.<br />
8
- Fique tranqüilo, Velz – Continuou<br />
Zeuez – o primeiro solo é sempre assim.<br />
Você está se sain<strong>do</strong> muito bem.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, senhor. A missão, o<br />
solo e a transmissão, me deixaram mais<br />
nervoso <strong>do</strong> que esperava.<br />
- Sossegue Velz. Agora, fique de<br />
olho no seu visor LKB-WALZZ e se houver<br />
alguma alteração, informe.<br />
- Bem a propósito, senhor, na<br />
medida em que nos aproximamos ao<br />
meridiano <strong>do</strong> planeta, o sensor KRANSET<br />
indica maior radioatividade. Estamos<br />
agora, em setenta e um, ponto zero Celtz.<br />
- Sim, <strong>aqui</strong> nesta parte <strong>do</strong> planeta<br />
havia duas cidades prósperas e belas:<br />
MIRVIAM e VLAUPORA. Era o centro das<br />
artes e <strong>do</strong>s esportes, respectivamente.<br />
- Ah, sim: Nossos livros de histórias<br />
dedicam vários capítulos sobre elas.<br />
Gostaria de te-las conheci<strong>do</strong>.<br />
- Eu também. Os mais velhos<br />
contam que nelas se encontravam as mais<br />
belas garotas de Someron.<br />
O diálogo sobre os tempos de<br />
outrora continuou por várias marcas de<br />
tempo até o avistamento <strong>do</strong> Monte Pakeus,<br />
a Base-Meridional-Leste.<br />
9
- Aqui é Zag-tres e Zag-quatro.<br />
Nivelar para zero ponto <strong>do</strong>is zero sete,<br />
portão <strong>do</strong>is e três, oeste. Ajustar cursores<br />
de desaceleração para <strong>do</strong>is ponto zerozero.<br />
Zag-tres, ponto um quatro. Zagquatro,<br />
ponto um cinco - cinco.<br />
- Positivo. Estamos em curso.<br />
E assim, duas comportas se<br />
abriram na montanha. Ao longe pareciam<br />
ser minúsculas, mas aumentan<strong>do</strong><br />
conforme a aproximação.<br />
Os <strong>do</strong>is March-1 penetraram na<br />
montanha, feito setas, seguin<strong>do</strong> por túneis<br />
triangulares e ilumina<strong>do</strong>s com sistemas<br />
estroboscópicos, coordenan<strong>do</strong> a<br />
velocidade e direção até a parada total.<br />
Eram pistas, tanto para pouso,<br />
quanto para lançamentos de naves<br />
menores, iguais àquelas.<br />
Tão logo passaram, as comportas<br />
fecharam reestabilizan<strong>do</strong> à atmosfera<br />
interna.<br />
- Aqui estamos Velz. Sãos e<br />
salvos.<br />
- Sim, comandante. Notei que as<br />
pistas d<strong>aqui</strong> são iguais das que temos em<br />
KRÒPITUS!<br />
10
- Ah, sim, você ainda não tinha<br />
vin<strong>do</strong> até <strong>aqui</strong>. São todas iguais, exceto os<br />
cômo<strong>do</strong>s internos. Lembrem-se, as bases<br />
são todas iguais: mesmo desenho,<br />
mesmas estruturas e quase as mesmas<br />
dimensões. Afinal, foi nosso líder, Fanna,<br />
quem as projetou.<br />
11
CAPITULO ll<br />
Depois da guerra Neutrônica em<br />
que o leste e o Oeste finalmente levaram à<br />
destruição da grande massa social daquele<br />
planeta e tu<strong>do</strong> ou mais que nele havia, os<br />
que sobreviveram em abrigos construí<strong>do</strong>s<br />
no subsolo, constataram ser impossível a<br />
vida na superfície. A atmosfera tornara-se<br />
inóspita, radioativa e cruel. Muitos<br />
morreram tentan<strong>do</strong> viver lá fora.<br />
O instinto de sobrevivência e<br />
perpetuação da espécie agiu em medidas<br />
criativas para aquele confinamento<br />
força<strong>do</strong>. Aos poucos, os abrigos<br />
transformaram-se em “Núcleos de Vida”,<br />
evoluin<strong>do</strong> para comunidades e<br />
expandin<strong>do</strong>-se em pequenas cidades. As<br />
montanhas compostas de rochas,<br />
literalmente derretidas e alguns planaltos,<br />
aqueles que ofereciam dureza segura para<br />
escavação, foram transforma<strong>do</strong>s em bases<br />
com finalidades específicas, desde os<br />
estu<strong>do</strong>s para reciclagem da atmosfera à<br />
exploração <strong>do</strong> espaço sideral.<br />
12
Em quarenta e <strong>do</strong>is anos pós<br />
guerra <strong>do</strong>s somerianos, as ciências<br />
evoluíram, multiplican<strong>do</strong>-se em outras<br />
tantas, forman<strong>do</strong> novos campos de<br />
pesquisa e novas tecnologias e com isso<br />
novas esperanças para aquele povo.<br />
A primeira base construída,<br />
mediante um Plano-diretor traça<strong>do</strong> por seu<br />
líder Erus Fanna, chamou-se Base-<br />
Meridional-Oeste, situada no interior da<br />
montanha chamada KRÓPITOS. Para o<br />
coman<strong>do</strong> desta base Tutkan foi o<br />
escolhi<strong>do</strong>.<br />
Tutkan era uma espécie de herói militar,<br />
sobrevivente ao holocausto, de hábitos e<br />
costumes simples. Tinha uma estatura<br />
avantajada, praticante de esportes, com<br />
cabelos vermelhos encaracola<strong>do</strong>s, um<br />
olhar de criança esperta e um tanto<br />
temperamental. Dedicava-se totalmente ao<br />
trabalho e à família, que também<br />
participavam ativamente nos diversos<br />
setores ocupacionais da Base. Verna sua<br />
esposa e cinco filhos – três machos e duas<br />
fêmeas.<br />
13
Solun, Apolun e Ozy, que se<br />
ocupavam na pesquisa da navegação<br />
espacial.<br />
Zart e Walm eram encarregadas<br />
<strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res de bor<strong>do</strong> e sensores de<br />
médio alcance.<br />
Verna era uma espécie de conselheira,<br />
<strong>do</strong>na de um equilíbrio fantástico e como<br />
Tutkan sempre dizia: o apoio e a<br />
consciência de Krópitus.<br />
Dois perío<strong>do</strong>s (mês de Someron)<br />
<strong>do</strong> término da Base-Meridional-Oeste,<br />
foram completadas as Bases Hemisferial<br />
Norte e Sul.<br />
A Base Hemisferial Norte tinha<br />
como seu comandante, um <strong>do</strong>s principais<br />
cientistas de Someron: Thorc. Considera<strong>do</strong><br />
gênio em Física-Quântica-Núcleo-<br />
Molecular, diploma<strong>do</strong> na Faculdade de<br />
Ciências de Atlantis, então a capital <strong>do</strong><br />
Oeste. Era um ser de estatura mediana,<br />
<strong>do</strong>no de uma barriga considerável e um<br />
senso de humor próprio e para cima. Foi<br />
quem idealizou o Transprotton, que<br />
14
materializava os átomos vegetais,<br />
extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ar e das sobras enlatadas da<br />
guerra.<br />
A Base Hemisferial Sul, era<br />
comandada por outro cientista, Zur-kwa,<br />
gênio da química. O cria<strong>do</strong>r de to<strong>do</strong>s os<br />
sistemas de depuração de ar e água,<br />
transformação de dejetos em fontes<br />
energéticas e junto a Thorc, o<br />
desenvolvimento <strong>do</strong> Transprotton. Tinha<br />
pouca estatura e era muito magro, meti<strong>do</strong><br />
em seu inseparável jaleco de branco<br />
imacula<strong>do</strong>, atrás de um bigode espesso e<br />
espeta<strong>do</strong>, assim como seus cabelos que<br />
nunca eram escova<strong>do</strong>s. Passava a maior<br />
parte <strong>do</strong> tempo em seu laboratório, crian<strong>do</strong><br />
novas fórmulas e passan<strong>do</strong> os seus<br />
conhecimentos aos alunos. Tinha pouco<br />
mais de vinte anos quan<strong>do</strong> aconteceu a<br />
guerra, e faltan<strong>do</strong> um ano para se formar<br />
em Ciências Químicas na Faculdade de<br />
Ciências de Atlantis.<br />
Thorc e Zur-Kwa eram muito uni<strong>do</strong>s, desde<br />
os tempos de escola. Tratavam-se como<br />
irmãos e comemoravam seus aniversários<br />
no mesmo dia (apesar de Thorc ser mais<br />
15
velho <strong>do</strong>is anos e três dias). Foram os<br />
principais incentiva<strong>do</strong>res e cria<strong>do</strong>res das<br />
primeiras escolas pós-guerra, no subsolo.<br />
Em certa ocasião nos velhos<br />
tempos de faculdade, em Atlantis,<br />
apaixonaram-se pela mesma garota e<br />
tiveram uma briga terrível, tanto que<br />
naquele ano não comemoraram juntos os<br />
seus aniversários. As coisas só<br />
melhoraram depois que descobriram<br />
serem ambos engana<strong>do</strong>s por ela. Havia<br />
um terceiro namora<strong>do</strong> e depois um quarto<br />
e um quinto. Deram grandes risadas<br />
quan<strong>do</strong> souberam a existência de um sexto<br />
namora<strong>do</strong> e que este morava na mesma<br />
cidade interiorana <strong>do</strong>nde ela viera e que<br />
por fim acabaram se casan<strong>do</strong>.<br />
Provavelmente teria outros tantos<br />
namora<strong>do</strong>s depois de casada. Como Zur-<br />
Kwa costumava dizer ela era “uma<br />
incansável” nas práticas <strong>do</strong> amor.<br />
Havia outras seis Bases,<br />
destinadas ao Plantio e cultivo das mais<br />
variadas plantas, hortaliças e grãos para a<br />
alimentação <strong>do</strong> povo. Nestes laboratórios<br />
16
subterrâneos, verdadeiras fazendasempresas<br />
com estufas e iluminação termosolar<br />
artificial, proviam a climatização<br />
própria para o desenvolvimento e colheita<br />
de víveres. Fora, nelas, desenvolvi<strong>do</strong> um<br />
solo sintético com fibras que continham<br />
propriedades enriquecidas em cálcio,<br />
potássio, ferro, magnésio, lítio, zinco com<br />
to<strong>do</strong>s os oligoelementos e substâncias<br />
necessárias para a dieta daqueles seres.<br />
De tempos em tempos eram recicladas<br />
pelo Transprotton, manten<strong>do</strong>-as fertilizadas<br />
conforme a demanda.<br />
Estas Fazendas atuavam dentro<br />
de um conceito industrial com seus<br />
diversos setores. Desde os pedi<strong>do</strong>s até a<br />
distribuição, devidamente beneficia<strong>do</strong>s e<br />
embala<strong>do</strong>s, seguin<strong>do</strong> seus destinos<br />
através de aeronaves especialmente<br />
adaptadas àquela função. De certa forma,<br />
é possível se dizer que a comida era<br />
racionada. Cada família recebia estes<br />
produtos mediante o número de seres.<br />
Assim era manti<strong>do</strong> o equilíbrio<br />
necessário, não sobrava nem faltava.<br />
Havia um consenso geral desta questão:<br />
17
“Tu<strong>do</strong> que sobrar para alguém, certamente<br />
faltará para outro alguém”. Era o que<br />
diziam, acreditavam e agiam.<br />
O sistema daquele povo<br />
funcionava em quase perfeita harmonia,<br />
como engrenagens giran<strong>do</strong> em torno de si<br />
próprias moven<strong>do</strong> um to<strong>do</strong>, não haven<strong>do</strong><br />
questões sobre a qual era a mais<br />
importante ou a mais bonita. Tu<strong>do</strong> se<br />
resumia em consciência e prática. Os<br />
valores eram basea<strong>do</strong>s na ética, moral e,<br />
sobretu<strong>do</strong> no amor ao próximo.<br />
Os remanescentes de Someron<br />
aprenderam muito com o sofrimento e com<br />
horizonte fecha<strong>do</strong>.<br />
Erus Fanna lhes deu, além de<br />
esperança, um sistema “Equalitarista”,<br />
onde as oportunidades eram comuns a<br />
to<strong>do</strong>s, cada um poden<strong>do</strong> escolher o que<br />
fazer e o fazen<strong>do</strong>, executan<strong>do</strong>-o bem. “Em<br />
outras palavras, usan<strong>do</strong> as palavras de<br />
Fanna: Dar o melhor de si para to<strong>do</strong>s e a si<br />
próprio como reação”.<br />
18
O sistema monetário e econômico<br />
fora aboli<strong>do</strong>. O dinheiro constituira-se a<br />
causa de toda a ruína, porque seus<br />
antepassa<strong>do</strong>s acreditavam ser ele, o<br />
dinheiro, o portentor <strong>do</strong> poder e a glória. A<br />
honra, a capacidade e o talento eram<br />
meras merca<strong>do</strong>rias que se podia comprar<br />
ou vender, e em alguns casos até mesmo<br />
alugar.<br />
Era um povo inteligente, sadio,<br />
solidário e com fome <strong>do</strong> amanhã.<br />
Permitiam a si mesmos, compartilhar tu<strong>do</strong>,<br />
o que na verdade multiplicava-lhes o<br />
prazer de estarem juntos.<br />
Os velhos ou aqueles que não<br />
podiam participar <strong>do</strong>s trabalhos mais<br />
pesa<strong>do</strong>s, dedicavam seus momentos<br />
cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bebês mais cresci<strong>do</strong>s, e no<br />
auxílio de professores e mestres de artes,<br />
possibilitan<strong>do</strong> uma cultura permanente e<br />
em crescente evolução.<br />
Esta ajuda era de fundamental<br />
importância devi<strong>do</strong> às suas experiências<br />
ainda no Mun<strong>do</strong> Vivo. Os recém-nasci<strong>do</strong>s<br />
permaneciam com suas mães no primeiro<br />
ciclo de vida que era de sete anos.<br />
19
Em cinqüenta de seus anos, eram<br />
trezentos mil somerianos e segun<strong>do</strong> as<br />
projeções <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res, em mais<br />
vinte e cinco anos a população estaria<br />
beiran<strong>do</strong> os quatrocentos e cinqüenta mil.<br />
Isto era preocupante uma vez que a<br />
capacidade de acondicionamento de<br />
pessoal, mesmo resistin<strong>do</strong> à falta de<br />
espaço, teriam o problema da fome. A<br />
capacidade de fornecimento e produção de<br />
alimentos estaria esgotada bem antes<br />
desta marca. Era preciso pensar numa<br />
saída para o impasse vin<strong>do</strong>uro.<br />
A tecnologia existente permitialhes<br />
a construção de colônias lunares,<br />
amplian<strong>do</strong> os núcleos de pesquisas já em<br />
pleno funcionamento, mas o problema da<br />
fome continuava. E mais, isto poderia<br />
deflagrar uma guerra, o que seria o fim de<br />
sua espécie, devi<strong>do</strong> aos próprios avanços<br />
tecnológicos que poderiam ser fàcilmente<br />
adapta<strong>do</strong>s para a destruição. O<br />
Transprotton, por exemplo, inverten<strong>do</strong> suas<br />
polaridades, transformava-se numa terrível<br />
arma, dispara<strong>do</strong>ra de raios Prótrons, capaz<br />
de explodir uma pequena Lua. Se<br />
20
voltassem a guerrear entre si, desta vez<br />
não sobraria pedra sobre pedra.<br />
Erus Fanna chamou seus<br />
principais cientistas e alguns anciãos para<br />
debaterem o problema.<br />
Na medida em que as alternativas<br />
surgiam, imediatamente após eram<br />
derrubadas, ora pela fome, ora pela<br />
superpolução.<br />
Zur-Kwa sugeriu a construção de<br />
abóbadas climatizadas feitas de material<br />
sintético transparente, e com filtros<br />
infravermelho e ultravioleta de camadas<br />
ozonizadas na superfície interna. Sob<br />
estas abóbadas, poder-se-ia erguer novas<br />
cidades e aos poucos, reconstituir o solo<br />
favorecen<strong>do</strong> novas fazendas. No entanto a<br />
despoluição <strong>do</strong>s locais levaria muito tempo<br />
e até lá o controle de natalidade teria que<br />
ser rigoroso.<br />
Thorc, por sua vez, defendia a<br />
construção de cidades orbitais,<br />
aproveitan<strong>do</strong> os sintéticos de Zur-Kwa e a<br />
tecnologia já existente <strong>do</strong>s solos de fibra<br />
21
enriquecida. Isto levaria menos tempo. No<br />
máximo dez anos.<br />
Entretanto, Erus Fanna, tinha outra idéia,<br />
que poderia acabar de vez com to<strong>do</strong>s os<br />
problemas. Ele a apresentou chaman<strong>do</strong>-a<br />
de Projeto Pakeus e Projeto Kosmos. Duas<br />
fases de uma só idéia: Sair de Someron e<br />
procurar um Novo Planeta.<br />
O Projeto Pakeus consistia em<br />
uma edificação gigantesca na montanha<br />
maior <strong>do</strong> Planeta. Também se chamaria de<br />
Base-Meridional-Leste. Ali, poderiam ter o<br />
espaço suficiente para as forjas, que<br />
fundiriam as peças que formariam a<br />
carcaça da grande nave Kosmos. Tu<strong>do</strong> o<br />
que sabiam e tinham, poderia ser leva<strong>do</strong> e<br />
quem sabe, encontrariam um lugar seguro<br />
para viver. Apesar das especulações sobre<br />
esta questão, os projetos foram aprova<strong>do</strong>s<br />
inânememente, afinal as experiências no<br />
espaço, tinham avança<strong>do</strong> depois da<br />
criação de pequenas naves denominadas<br />
March-1 em homenagem ao pai de seu<br />
inventor, Zeuez.<br />
22
O cronograma previa <strong>do</strong>is anos e<br />
meio para a construção da base e cerca de<br />
outros três, talvez quatro anos, à<br />
finalização <strong>do</strong> projeto Kosmos.<br />
Em seis dias as escavações se<br />
iniciaram e como sempre, os acidentes<br />
eram freqüentes. Mesmo que as<br />
escavadeiras fossem pilotadas à distância<br />
com controles remotos, a montagem das<br />
estruturas e as ejeções de cimento<br />
provocavam vez por outra,<br />
desmoronamentos e consequentemente<br />
baixa de feri<strong>do</strong>s e até alguns mortos.<br />
Era inevitável, principalmente com<br />
as próprias agitações das placas <strong>do</strong><br />
planeta, em constante movimentação.<br />
Encontravam consolo nas palavras<br />
de um antigo sábio, que dizia: “Se tu<strong>do</strong> o<br />
que fazemos ou pensamos é bom e certo,<br />
o que acontecerá quan<strong>do</strong> o mal aparecer?<br />
Devemos aprender todas as coisas e ter a<br />
consciência <strong>do</strong> bem e <strong>do</strong> mal. Então<br />
escolher o caminho levan<strong>do</strong> o bem e o mal.<br />
Porque os <strong>do</strong>is fazem parte <strong>do</strong> mesmo ser.<br />
Um não existe sem o outro”.<br />
23
A obra foi concluída no prazo<br />
estabeleci<strong>do</strong> e na medida em que as salas<br />
eram acabadas, imediatamente os<br />
computa<strong>do</strong>res, periféricos e outros<br />
instrumentos ocupavam os espaços em<br />
franca operação. Paralelamente os<br />
estu<strong>do</strong>s e experimentos de novos materiais<br />
tornavam realidade os estu<strong>do</strong>s até então<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s nas pranchetas.<br />
No início <strong>do</strong> ano sessenta e três,<br />
uma nave tripulada, foi lançada rumo ao<br />
segun<strong>do</strong> quadrante estelar, assim<br />
denomina<strong>do</strong> por eles, que abrangia o<br />
próximo sistema solar, com um sol azula<strong>do</strong><br />
e segun<strong>do</strong> suas sondas, frio. Havia lá, pelo<br />
menos, <strong>do</strong>is planetas que valeria à pena<br />
sondar de perto. Um deles tinha uma Lua,<br />
quase <strong>do</strong> tamanho de Someron. Esta<br />
viagem foi feita em quatro anos e trouxe<br />
inestimáveis préstimos, a partir <strong>do</strong><br />
mapeamento estelar ao ajuste entre<br />
sensores e instrumentos de navegação<br />
espacial, além de ter que rever os projetos<br />
sobre combustível e motores. Teriam que<br />
seguir mais longe, pois tanto os planetas<br />
como a lua, eram impossíveis de viver,<br />
segun<strong>do</strong> os seus conhecimentos.<br />
24
Também foram testa<strong>do</strong>s os<br />
defletores lazers, que formavam um<br />
escu<strong>do</strong> protetor contra meteoritos e<br />
partículas, esbarra<strong>do</strong>s durante a trajetória<br />
em altíssima velocidade da nave<br />
experimental Merah (nome da primeira<br />
lua).<br />
Durante este perío<strong>do</strong>, as Bases<br />
Lunares, acusaram em seus monitores,<br />
pressões externas mais altas <strong>do</strong> que<br />
poderiam suportar, algo inédito e<br />
inexplicável colocan<strong>do</strong> em risco muitas<br />
vidas e o conhecimento adquiri<strong>do</strong> das<br />
experiências ligadas ao Projeto Kosmos.<br />
Este risco fez com que alguns<br />
projetos, a muito aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, fossem<br />
retoma<strong>do</strong>s e postos em prática; ou seja, a<br />
montagem de cinco estações orbitais. Na<br />
prancheta, suas funções seriam espionar e<br />
monitorar possíveis inimigos entre eles.<br />
Havia descontentes alegan<strong>do</strong> insanidade<br />
<strong>do</strong>s líderes. Por isso, os melhoramentos<br />
cabíveis foram feitos às pressas para<br />
acolher o pessoal das Bases Lunares e<br />
to<strong>do</strong> o equipamento.<br />
25
Em três perío<strong>do</strong>s (mês<br />
somerianos), graças a uma liga metálica<br />
desenvolvida a muito por Zur-Kwa foi<br />
possível mixar to<strong>do</strong>s os metais<br />
encontra<strong>do</strong>s desde a sobra de guerra.<br />
Assim as peças foram fundidas e<br />
colocadas em órbita. Mais um perío<strong>do</strong> foi<br />
gasto na montagem.<br />
Estas estações orbitais<br />
contribuíram enormemente em<br />
experimentos com gravidade zero e<br />
passaram a ser os olhos e os ouvi<strong>do</strong>s de<br />
Someron, num sistema de comunicação<br />
integrada entre as Bases e povoa<strong>do</strong>s.<br />
Poniack era a maior delas e para o<br />
seu coman<strong>do</strong>, fora designa<strong>do</strong> Whorc, o<br />
irmão caçula de Thorc, ex-aluno e<br />
assistente de Zur-Kwa, perito em<br />
combustíveis e propulsão magnética (ainda<br />
em desenvolvimento). Nesta ocasião,<br />
trabalhava e trocava informações com<br />
Tutkan, sobre um novo expansor de<br />
aceleração molecular. Era um combustível<br />
pastoso magnetiza<strong>do</strong>, muito explosivo, de<br />
difícil <strong>do</strong>mínio, devi<strong>do</strong> à instabilidade<br />
provocada pelos choques e a ativação das<br />
26
partículas em temperaturas altas. Fora<br />
denomina<strong>do</strong> de KR-7.<br />
O KR-7 era a esperança para tocar<br />
a grande nave Kosmos e o seu <strong>do</strong>mínio era<br />
uma questão de tempo. Então<br />
inexplicavelmente uma chuva de<br />
meteoritos atingiu Poniack em cheio<br />
explodin<strong>do</strong>-a, sem chance de escape para<br />
ninguém. Tu<strong>do</strong> aconteceu em segun<strong>do</strong>s.<br />
Muitos morreram com Worc.<br />
Este lamentável incidente provocou uma<br />
profunda comoção entre os somerianos.<br />
Worc era um ser muito queri<strong>do</strong>. Afora isso,<br />
os estu<strong>do</strong>s e pesquisas <strong>do</strong> novo<br />
combustível estavam sensivelmente<br />
prejudica<strong>do</strong>s, trazen<strong>do</strong> a desesperança.<br />
Talvez tivessem que continuar enterra<strong>do</strong>s<br />
em seu próprio mun<strong>do</strong>, para sempre.<br />
Uma onda pessimista cobriu<br />
Someron, provocan<strong>do</strong> reações estéricas<br />
por parte de alguns, revolta por parte de<br />
outros e confusão geran<strong>do</strong> confusão.<br />
Com esforços re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s, a<br />
estação foi reconstruída e acabada dias<br />
27
antes da volta da nave Merah. Mas, então,<br />
com outras finalidades, sen<strong>do</strong> a principal<br />
delas, abrigar e reciclar os<br />
“revolucionários”. Não era de to<strong>do</strong> uma<br />
prisão e sim a readaptação <strong>do</strong>s seres<br />
descontentes, em uma nova área de<br />
atuação e profissão. Erus Fanna acreditava<br />
que quan<strong>do</strong> poucos se revoltam no que a<br />
maioria crê isto seria um reflexo direto da<br />
má escolha da profissão. A escolha certa<br />
<strong>do</strong> que fazer é importante para o<br />
desenvolvimento espiritual, mental e físico.<br />
Fanna dizia: “Um ser perfeitamente<br />
ajusta<strong>do</strong> no que faz, não terá razões para<br />
revolta, uma vez que nada é feito por fazer.<br />
O crescimento interior das criaturas<br />
<strong>do</strong>tadas de razão, está liga<strong>do</strong> diretamente<br />
n<strong>aqui</strong>lo que pensa, fala e faz.” Estar<br />
descontente é racional, no entanto, no<br />
nosso caso, a revolta contra a lógica, é<br />
irracional.<br />
28
CAPÍTULO III<br />
O pouso se completara e as duas<br />
pequenas naves, deslizan<strong>do</strong> lentamente<br />
pelo piso-esteira magnética se<br />
encontraram no Hangar onde outras naves<br />
recebiam as atenções de técnicos e pilotos<br />
com suas lidas na manutenção.<br />
Zeuez e Velz foram leva<strong>do</strong>s à sala<br />
de descontaminação através de um túnel<br />
acopla<strong>do</strong> diretamente às carlingas de suas<br />
naves. Foram recepciona<strong>do</strong>s por uma<br />
fêmea de cabelos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s e trajes<br />
colantes arrancan<strong>do</strong> um suspiro no préoficial<br />
Velz.<br />
- Queiram me acompanhar, nosso<br />
líder os espera no nível um.<br />
- Obriga<strong>do</strong> – disseram os <strong>do</strong>is em<br />
coro.<br />
O eleva<strong>do</strong>r os conduziu,<br />
ràpidamente, deixan<strong>do</strong> para baixo o hangar<br />
com suas fumaças e cheiros. Pouco<br />
depois, a jovem se deteve à frente de uma<br />
porta metálica onde digitou sua senha no<br />
29
dispositivo ao la<strong>do</strong>. A porta abriu-se dan<strong>do</strong><br />
entrada a uma pequena sala onde um<br />
homem de barba grisalha e vestes claras,<br />
atrás de uma mesa metálica, abarrotada de<br />
coisas, examinava um rolo de papel<br />
lamina<strong>do</strong>.<br />
- Podem entrar – disse ela,<br />
permanecen<strong>do</strong> à porta.<br />
- Comandante Zeuez e pré-oficial<br />
Velz, da sexta frota Zag se apresentan<strong>do</strong>,<br />
senhor – disse Zeuez a um passo à frente.<br />
- Por favor, rapazes, entrem e<br />
sentem-se – disse Fanna ainda com olhos<br />
fixos no material que examinava, e<br />
dirigin<strong>do</strong>-se à moça – Obriga<strong>do</strong>, Zuila.<br />
Erus Fanna líder de Someron e<br />
também o comandante da Base-<br />
Meridional-Leste, era um ser bem<br />
humora<strong>do</strong>, cheio de graça, alto, de<br />
expressão bon<strong>do</strong>sa, que sempre se vestia<br />
com mantos claros. Era adepto aos<br />
esportes e fora o grande campeão de<br />
arremesso de dar<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> jovem e<br />
agora o líder de seu povo, escolhi<strong>do</strong><br />
inânememente por suas decisões justas e<br />
pelo seu espírito de liderança. Fora quem<br />
reuniu o povo após guerra e os fez<br />
30
acreditar em si próprios, como os<br />
escolhi<strong>do</strong>s para perpetuar a raça. Era<br />
considera<strong>do</strong> o liberta<strong>do</strong>r que movia mares<br />
e montanhas para encontrar um meio de<br />
tirá-los dali e encontrar, talvez um novo<br />
mun<strong>do</strong>.<br />
Sempre que podia trocadilhar com<br />
os seus, o fazia em grande estilo.<br />
Então os maus ventos, me<br />
trouxeram meus bons companheiros, e<br />
quem sabe, boas novas?<br />
- Pra dizer a verdade – disse<br />
Zeuez, aconchega<strong>do</strong> naquela macia e<br />
confortável cadeira de encosto branco<br />
triangular, cujas listras horizontais pretas<br />
ajustavam à anatomia de suas costas–<br />
nada de novo, nem bom, nem ruim.<br />
- Já é um consolo, saber que nada<br />
de ruim se abate sobre nós, exceto uma<br />
tempestade, lá fora.<br />
- E quem é este jovem oficial ao<br />
seu la<strong>do</strong>?<br />
- Este é Velz, recém forma<strong>do</strong> da<br />
Academia de Vôo de Krópitos. Este é o<br />
primeiro vôo solo dele e promete muito.<br />
31
- Muito bem. E o que faz aí de pé?<br />
Sente-se.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, senhor.<br />
- Mas, diga-me como vai aquele<br />
matreiro <strong>do</strong> Tutkan? Já faz algum tempo<br />
que não o vejo. Será que ele está<br />
esconden<strong>do</strong> alguma coisa?<br />
- Ele está muito bem. Faz dias que<br />
não o vejo, também. Soube que está<br />
totalmente envolvi<strong>do</strong> em experiências com<br />
o ativa<strong>do</strong>r KR-7.<br />
- Fanna, como vão as coisas com<br />
a nossa nave inter-estelar?<br />
Não se fala em outra coisa. Ela está em<br />
fase de conclusão?<br />
- Meu caro amigo, nada está em<br />
fase de conclusão. Veja você mesmo - e<br />
desenrolou mais a planta que estudava<br />
minutos antes e mostran<strong>do</strong> outros rolos<br />
empilha<strong>do</strong>s no canto da mesa, abrin<strong>do</strong>-os<br />
a seguir, - estamos encalha<strong>do</strong>s. Nossas<br />
dificuldades estão nos alojamentos. Há<br />
poucos...<br />
O intercomunica<strong>do</strong>r soou,<br />
interrompen<strong>do</strong> sua digressão.<br />
- Pode falar Zuila.<br />
32
E aquela voz feminina, agradável, suave e<br />
delicada, disse:<br />
- O comandante Tutkan está no<br />
Tele-externo.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, querida.<br />
Fanna ativou a tela, no console ao la<strong>do</strong> da<br />
mesa, aparecen<strong>do</strong> Tutkan em seu traje<br />
azul-escuro.<br />
- Tutkan, seu matreiro, estávamos<br />
falan<strong>do</strong> em você. Não me diga que<br />
também está corren<strong>do</strong> de uma<br />
tempestadezinha à toa?<br />
- Não, ainda não, mas soube que<br />
<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s meus rapazes tiveram que pousar<br />
aí.<br />
- Escute Erus, trate-os bem, pois<br />
<strong>do</strong> contrário, você não vai andar de<br />
brinquedinho novo.<br />
- Não acredito no que você está<br />
dizen<strong>do</strong>. Você matou a charada <strong>do</strong> KR-7?<br />
- Pode apostar meu amigo.<br />
- Mas isso merece uma<br />
comemoração, melhor dizen<strong>do</strong> uma<br />
bebemoração. Vamos brindar com Somir<br />
e...<br />
- Calma, calma, meu velho!<br />
Matamos a charada, mas temos outra.<br />
- Outra?<br />
33
- Sim, nossos motores.<br />
- Mas, o que há com nossos<br />
motores?<br />
- Eles não agüentam a pressão de<br />
empuxo <strong>do</strong> KR-7. Simplesmente fundem.<br />
Já estamos trabalhan<strong>do</strong> nisso, mas, temos<br />
outro assunto a tratar, e é sério.<br />
- Por que tanto mistério, Tut?<br />
- Prefiro conversar com você aí<br />
mesmo. A coisa é séria demais, Enviei um<br />
Condset, acho que dentro de microns o<br />
receberá, aliás, tomei a liberdade de<br />
mandar um para cada comandante de<br />
base, convocan<strong>do</strong> uma reunião<br />
extraordinária para amanhã.<br />
- Está certo, Tut... Espere um<br />
momento...<br />
Nisto um rapaz entrou com uma folha<br />
laminada, impressa pelo Codset.<br />
- Com licença, senhor. Isto acaba<br />
de chegar, Foi envia<strong>do</strong> pelo comandante<br />
Tutkan da Base-Meridional-Oeste.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Samis... Tut estou<br />
com seu Codset... Hum! ... Mas isso é<br />
grave – disse Fanna com os olhos fixos no<br />
relatório, coçan<strong>do</strong> a barba com a ponta <strong>do</strong>s<br />
de<strong>do</strong>s – Desde quan<strong>do</strong> estamos com esta<br />
poluição no ar?<br />
34
- Os sensores acusaram os<br />
primeiros microns, há três dias e parece<br />
que a fonte e causa está em Berla.<br />
- Puxa logo numa base de<br />
produção alimentícia! Você já falou com<br />
Thorc, sobre isso?<br />
- Sim, ele mesmo foi até lá com<br />
alguns técnicos, ontem. Dois membros <strong>do</strong><br />
setor de embalagens morreram esta<br />
manhã e acabamos de saber que tinham<br />
um índice de intoxicação radioativa, acima<br />
<strong>do</strong> normal espera<strong>do</strong>. Estamos<br />
preocupa<strong>do</strong>s.<br />
- É verdade, Tut. É muito<br />
preocupante... Está certo, nos veremos<br />
amanhã... Quer que os rapazes voltem?<br />
- Não, eles devem ir para Berla,<br />
buscar Thorc. O transporte dele é muito<br />
lento. Eu irei com Ozy e Ur. Nos vemos<br />
amanhã.<br />
- Perfeito, Tut. Faça boa viagem.<br />
Erus Fanna desativou a tela,<br />
pensativo, com o relatório Condset nas<br />
mãos, voltan<strong>do</strong> para junto de seus<br />
visitantes.<br />
- Senhor – disse Velz, ainda com a<br />
planta da grande nave nas mãos –<br />
enquanto falava com o comandante<br />
35
Tutkan, eu examinava este projeto, me<br />
perguntei várias vezes se estas medidas<br />
estavam corretas?<br />
- Sim, é exatamente o que você<br />
viu.<br />
- Então, esta nave tem o tamanho<br />
de uma cidade!<br />
Mais ou menos <strong>do</strong> tamanho de Mirviam ou<br />
Vlaupora.<br />
- Nossa!!! ... A propósito –<br />
continuou Velz, largan<strong>do</strong> a planta e se<br />
dirigin<strong>do</strong> ao mapa desenha<strong>do</strong> no grande<br />
vidro, no fim da sala – quan<strong>do</strong> passamos<br />
por cima delas, isto é, <strong>do</strong> que restou delas,<br />
os sensores Kranset apontavam setenta e<br />
um ponto zero Celtz de radiação, isto quer<br />
dizer que, segun<strong>do</strong> o professor Thorc,<br />
estamos beiran<strong>do</strong> os limites de<br />
autocombustão-molecular?<br />
- Sim, se subirmos oito Celtz na<br />
radioatividade. Mas acho que não devemos<br />
nos preocupar muito com isso. Faz mais de<br />
vinte anos que estes níveis estão<br />
estabiliza<strong>do</strong>s e a tendência é diminuir, no<br />
máximo se manter estável.<br />
- Isto é uma coisa que eu não<br />
enten<strong>do</strong> – entrou Zeuez – O que o faz<br />
pensar na continuidade destes níveis, uma<br />
36
vez que, antes destes vinte anos, havia<br />
uma medição mais baixa?<br />
- Não temos certeza disto também.<br />
Apenas vivemos esta constatação e se os<br />
depura<strong>do</strong>res de Zur-Kwa se mantiverem<br />
em zero, acho que estes níveis continuarão<br />
onde estão.<br />
Neste ponto, Zeuez levantou-se de<br />
sua cadeira, consideran<strong>do</strong> já ter toma<strong>do</strong><br />
bastante tempo de seu líder, que gostava<br />
de um bom papo e com a mão sobre o<br />
ombro de Velz, disse:<br />
-Bem, Fanna, acho que a nossa<br />
tempestade já passou e...<br />
-Esperem, Tutkan disse para irem<br />
à Berla buscar Thorc e isto pode ser mais<br />
tarde. Podem ir amanhã ce<strong>do</strong> e enquanto<br />
isso descansem um pouco. Aproveitem a<br />
folga e vão até o Cassino e bebam um gole<br />
por mim. E um conselho: Fiquem longe das<br />
garotas, pois em sete tempos terão uma<br />
viagem pela frente.<br />
- Está certo – disse Zeuez, baten<strong>do</strong><br />
as costas de Velz, que se mostrava to<strong>do</strong><br />
excita<strong>do</strong> com a idéia – Vamos meter nossos<br />
narizes de baixo de um bom banho e<br />
descansar...<br />
37
- Mas e o nosso gole – atropelou<br />
Velz – Afinal não é to<strong>do</strong> dia que se pode<br />
beber mais um por conta <strong>do</strong> nosso líder!!!<br />
- Sim, sim, rapazes. Agora vão –<br />
disse Fanna, gesticulan<strong>do</strong> com os braços,<br />
como se estivesse nadan<strong>do</strong> para trás –<br />
Zuila cuidará de vocês.<br />
Fanna os conduziu pela porta lateral, até a<br />
sala, e pediu que a jovem os<br />
acompanhasse até seus aposentos.<br />
Zuila era uma daquelas garotas de<br />
corpo esbelto e escultural, que faz com que<br />
os machos percam o fôlego. Foi o que<br />
aconteceu com Velz ao rever aqueles<br />
olhos verdes. Em to<strong>do</strong> o trajeto, até o<br />
alojamento de oficiais visitantes, ela seguia<br />
calada à frente <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Naturalmente<br />
Velz não deixava de observar todas<br />
aquelas curvas, se mexen<strong>do</strong> dentro<br />
daquele traje colante e reluzente. Zeuez se<br />
divertia, ven<strong>do</strong> a boca <strong>do</strong> seu<br />
companheiro, completamente aberta.<br />
- Comandante Zeuez – disse, ela,<br />
ao chegarem ao alojamento – importa-se<br />
em ficar com seu auxiliar, na mesma<br />
célula? Estamos com pouco espaço e...<br />
38
- Ora, o que é isto Zuila. Sem<br />
problemas. Eu e... – apontan<strong>do</strong> para o<br />
companheiro.<br />
- Velz, meu nome é Velz – ele<br />
atropelou.<br />
- Muito prazer - disse ela, num<br />
grande sorriso – sou Zuila e seja bem<br />
vin<strong>do</strong>!<br />
Velz não conseguia largar a mão<br />
da garota.<br />
- Mais tarde, isto é, d<strong>aqui</strong> a pouco,<br />
o comandante e eu iremos até o cassino e<br />
será que a veremos lá?<br />
-Sinto muito, Velz, hoje não será<br />
possível. Tenho muito trabalho para<br />
terminar. Outro dia, talvez.<br />
E dizen<strong>do</strong> isso, retirou a mão<br />
vagarosamente e se despediu com seu<br />
sorriso encanta<strong>do</strong>r. Deu meia volta e<br />
seguiu para o seu trabalho. Velz ficou ali<br />
para<strong>do</strong>, estático, escora<strong>do</strong> à porta, até que<br />
ela desaparecesse no fim <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r.<br />
- Parece que ela gostou de você –<br />
disse Zeuez, num ar provoca<strong>do</strong>r.<br />
- Ah???<br />
39
- Eu disse: Parece que ela gostou<br />
de você.<br />
-...<br />
Zeuez virou-se e ele ainda estava<br />
lá, pasmo teve que puxa-lo para dentro<br />
pelo braço e falar de novo. Mas Velz<br />
continuava em transe.<br />
Depois de fechar a porta, sacudiu Velz,<br />
novamente.<br />
- O que está acontecen<strong>do</strong>, Velz?<br />
-Estou apaixona<strong>do</strong>.<br />
Completamente apaixona<strong>do</strong>.<br />
- Ela é realmente apaixonante.<br />
- O senhor também comandante?<br />
- Sim. Conheço esta menina desde<br />
que nasceu e sempre foi assim.<br />
- Ela disse que não pode ir ao<br />
cassino, acho que vou atrás dela para<br />
convencê-la o contrário. Talvez o senhor<br />
possa intervir com o líder para liberá-la.<br />
- Ora, deixe disso, desacelere,<br />
muita calma com a filha <strong>do</strong> chefe. Vamos<br />
tomar um banho, relaxar, depois iremos ao<br />
Cassino, isso vai servir para espairecer.<br />
Tomaram um banho quente e<br />
vestiram uniformes limpos, que traziam em<br />
suas sacolas de viagem e foram ao “gole”.<br />
40
O Cassino estava cheio e com<br />
muitas garotas, como observou Zeuez.<br />
Pessoas circulan<strong>do</strong>, conversan<strong>do</strong> e<br />
beben<strong>do</strong> alguma coisa. Havia música ao<br />
fun<strong>do</strong> das conversas e risadas, com o ar<br />
impregna<strong>do</strong> de perfume e o cheiro<br />
característico de Somir, típico de lugares<br />
como aquele.<br />
Zeuez não demorou muito para<br />
encontrar alguns velhos companheiros e<br />
conheci<strong>do</strong>s, onde estava Carvelus, um<br />
velho companheiro <strong>do</strong>s tempos da<br />
academia de pilotos de reconhecimento e<br />
caça.<br />
Depois <strong>do</strong>s abraços,<br />
cumprimentos e apresentações foram até<br />
uma mesinha, ao fun<strong>do</strong>, no canto <strong>do</strong> salão<br />
e se acomodaram, logo pedin<strong>do</strong> o que<br />
beber.<br />
- E então meu velho, há quanto<br />
tempo a gente não se via? Acho que no<br />
mínimo seis ou sete perío<strong>do</strong>s, não?<br />
- Mais ou menos, Carvelus, mas<br />
diga-me, continua voan<strong>do</strong>?<br />
41
- Nunca parei e acho que se um<br />
dia parar, foi porque morri, ou descobri<br />
algo melhor.<br />
- Nada é melhor <strong>do</strong> que voar –<br />
disse Velz.<br />
- É então se eu parar...<br />
Já sabemos – atropelou Zeuez, rin<strong>do</strong> a<br />
bessa – você morreu.<br />
- E vocês, o que fazem por <strong>aqui</strong> na<br />
Base Leste?<br />
- Estávamos em missão de<br />
reconhecimento e apareceu uma daquelas<br />
tempestades pelo caminho e...<br />
Zeuez não completou a frase. As luzes se<br />
apagaram junto a um ruí<strong>do</strong> estron<strong>do</strong>so e<br />
sur<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> imediatamente de um<br />
tremor leve, mas ameaça<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong>s mu<strong>do</strong>s por instantes.<br />
As luzes vermelhas de emergência<br />
acenderam-se iluminan<strong>do</strong> o ambiente<br />
numa penumbra tênue, mostran<strong>do</strong> muitos<br />
olhos assusta<strong>do</strong>s. Suas cabeças viraram<br />
de um la<strong>do</strong> para outro, lentamente,<br />
observan<strong>do</strong> o teto, como se estivesse à<br />
procura de algo invisível.<br />
- O que está acontecen<strong>do</strong>? –<br />
perguntou Velz.<br />
42
- Carvelus, o que é isso? – reforçou<br />
Zeuez.<br />
- Não sei... Isto nunca tinha<br />
aconteci<strong>do</strong> antes!!!<br />
Neste instante as luzes voltaram<br />
ao normal, assim como o murmúrio geral.<br />
- Acho que o perigo já passou, <strong>do</strong><br />
contrário ainda estaríamos na penumbra –<br />
concluiu Carvelus.<br />
- Será que tem a ver com o Codset<br />
que o comandante Tutkan passou para o<br />
nosso líder Fanna? – perguntou Velz, para<br />
Zeuez ao seu la<strong>do</strong>.<br />
- Hei! Que negócio é este de<br />
Codset?<br />
- Não é nada – respondeu Zeuez.<br />
- Como não é nada. Não se passa<br />
um Codset para dizer nada. O que havia<br />
neste Codset, Zeuez?<br />
- Não sabemos. Fanna não nos<br />
disse nada – e viran<strong>do</strong>-se para Velz – não<br />
creio que tenha a ver uma coisa com a<br />
outra.<br />
A garçonete apareceu trazen<strong>do</strong><br />
uma bandeja com uma garrafa de Somir,<br />
43
outra com água, três copos e um baldinho<br />
com cubos de gelo.<br />
- Até que enfim – disse Velz, num<br />
grande suspiro.<br />
A garota serviu os copos e retirouse.<br />
Cada um se serviu das misturas<br />
que desejavam. Zeuez pos um pouco de<br />
água, Velz <strong>do</strong>is cubos de gelos e Carvelus<br />
preferiu puro.<br />
- Vocês vão permanecer <strong>aqui</strong>, até<br />
quan<strong>do</strong>? – perguntou Carvelus molhan<strong>do</strong><br />
os bigodes, depois de um grande gole.<br />
- Não sabemos. Amanhã pela<br />
manhã vamos à Berla apanhar Thorc e<br />
traze-lo para cá. Talvez a gente vá embora,<br />
depois.<br />
- O que Thorc vem fazer <strong>aqui</strong>?<br />
- Ora, Carvelus, como posso<br />
saber?<br />
- Zeuez, me diga uma coisa, Thorc<br />
não tem transporte próprio?<br />
- Você chama aquele ferro velho,<br />
de transporte? – gracejou Velz.<br />
- Bem, to<strong>do</strong>s nós temos transporte<br />
– disse Zeuez.<br />
- E então?<br />
44
- Então eu já disse tu<strong>do</strong> o que<br />
sei...<br />
- Então que isto é muito estranho,<br />
mesmo porque a Base de Thorc não é em<br />
Berla e soman<strong>do</strong> com este Codset<br />
misterioso... Não sei, não! Acho que o<br />
velho Gideonis tem razão – disse Carvelus<br />
acaban<strong>do</strong> com o conteú<strong>do</strong> de seu copo.<br />
- Quem é este velho?<br />
- É um velho místico religioso das<br />
antigas, que diz que estamos próximos <strong>do</strong><br />
fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
- Mas isso não é novidade para<br />
ninguém. Não é preciso de misticismo e<br />
nem de religião para ver o que está<br />
acontecen<strong>do</strong>. Lembre-se que foi por aí que<br />
começaram as guerras, como diz Fanna:<br />
Enquanto houver religiões, não há paz.<br />
Esqueça disso.<br />
Carvelus não gostou de ouvir<br />
<strong>aqui</strong>lo. E com um sorriso de desprezo<br />
apanhou a garrafa e perguntou:<br />
- Vai mais uma rodada?<br />
- Não, acho que não. Temos esta<br />
missão logo ce<strong>do</strong> e precisamos manter<br />
nossas cabeças em ordem, sem ressacas.<br />
Você sabe, não há água em nossas naves.<br />
45
- Ah, ah, ah!!! Até parece que os<br />
nossos cientistas projetistas não bebem –<br />
gracejou Carvelus, se levantan<strong>do</strong> e se<br />
despedin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s amigos, que já estavam<br />
em pé – Até mais rapazes. A gente se vê<br />
por aí!<br />
Os <strong>do</strong>is cruzaram o salão <strong>do</strong><br />
Cassino e foram direto para o alojamento.<br />
No caminho Zeuez chamou a atenção de<br />
Velz por ter cita<strong>do</strong> e envio <strong>do</strong> Codset de<br />
Tutkan para Fanna.<br />
-Mas por quê? Carvelus não é de<br />
confiança?<br />
- É claro que é, mas suponha que<br />
ele venha a espalhar, a sua maneira.<br />
Qualquer coisa dita errada pode gerar<br />
confusão e pânico, ainda mais que temos<br />
um “Ilumina<strong>do</strong>” contan<strong>do</strong> histórias por aí.<br />
Nós mesmos não sabemos de nada e, uma<br />
coisa você tem que aprender. Nunca se<br />
menciona para ninguém o que acontece<br />
dentro de uma sala de coman<strong>do</strong>, e<br />
principalmente quan<strong>do</strong> se está na sala de<br />
nosso líder. Vamos esquecer o assunto por<br />
enquanto. Estou certo de que se for<br />
importante to<strong>do</strong>s saberão, dito por nossos<br />
comandantes.<br />
46
Na manhã seguinte estavam no<br />
refeitório se programan<strong>do</strong> para a viagem,<br />
quan<strong>do</strong> chegou um mensageiro trazen<strong>do</strong>lhes<br />
um envelope, endereçada ao<br />
comandante Zeuez, que imediatamente<br />
abriu e leu o seu conteú<strong>do</strong>.<br />
-A missão fora cancelada<br />
- Cancelada?<br />
- Sim, <strong>aqui</strong> diz que Thorc e sua<br />
equipe estão a caminho. Saíram de Berla<br />
ontem a noite mesmo e que devemos<br />
permanecer <strong>aqui</strong> até segunda ordem.<br />
- Esquisito, isto, hein,<br />
comandante?<br />
- É sim. Deve ter algo erra<strong>do</strong> e<br />
muito sério acontecen<strong>do</strong>.<br />
Mas <strong>do</strong> que depressa levantaram<br />
e foram até o hangar, onde estavam suas<br />
naves. Entretanto, o que procuravam os<br />
sensores Kranset, não mais estavam lá.<br />
- Os retiramos a pedi<strong>do</strong> de Berla e<br />
os acoplamos ao Codset – disse o jovem<br />
que se aproximara deles, enquanto<br />
verificavam as naves – e parece que os<br />
computa<strong>do</strong>res enlouqueceram, desde<br />
então. A radiação externa sofreu abalos<br />
pouco antes da tempestade e depois dela.<br />
47
A conversa foi interrompida com o<br />
alerta da evacuação da área. Estava para<br />
pousar um grande número de naves e este<br />
era um procedimento normal, uma vez que,<br />
as comportas ao se abrirem, uma onda<br />
radioativa entrava junto. Somente<br />
permaneciam ali, o pessoal de pistas com<br />
trajes especiais até a descontaminação e<br />
pressurização total <strong>do</strong> lugar.<br />
Em cima, nos observatórios, eram<br />
da<strong>do</strong>s os coman<strong>do</strong>s de taxiamento e<br />
manobras das aeronaves, que se uniam<br />
aos túneis e rampas de acesso para outras<br />
salas de descontaminação. Nestas salas,<br />
agia uma bateria de raios purifica<strong>do</strong>res.<br />
Tutkan e seu filho Ozy – na mesma<br />
nave – e Ur, seu outro filho, noutra nave<br />
March-1, foram os primeiros a aportar,<br />
segui<strong>do</strong> de Thorc, na nave de Prazin.<br />
Pouco depois, chegaram os comandantes<br />
de outras Bases, em suas navestransporte.<br />
Erus Fanna os aguardava no<br />
observatório central, com o seu sorriso<br />
amigo de sempre. Recebeu a to<strong>do</strong>s com<br />
48
um forte abraço e de pronto os convi<strong>do</strong>u<br />
para irem à sala de reuniões. Zuila já havia<br />
prepara<strong>do</strong> o local e organiza<strong>do</strong> as coisas,<br />
de tal mo<strong>do</strong> que a reunião poderia<br />
acontecer em curso normal e sem<br />
interrupções. Cada cadeira, com seu<br />
próprio terminal de computa<strong>do</strong>r, to<strong>do</strong>s os<br />
relatórios e pastas pessoais, necessárias.<br />
To<strong>do</strong>s tomaram seus lugares.<br />
- Senhores, - disse Fanna, dan<strong>do</strong><br />
início aos trabalhos – Estamos<br />
atravessan<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong> crítico, como<br />
sabem, e espero que saiamos d<strong>aqui</strong>, com<br />
a solução para o problema. Thorc, por<br />
favor, queira começar nos trazen<strong>do</strong> a<br />
situação real de Berla.<br />
- Fanna, senhores, não quero ser<br />
alarmista, mas temos um problema nas<br />
mãos e receio ser fatal. Se não, vejamos:<br />
Primeiro, os depura<strong>do</strong>res de ar em Berla<br />
apresentam sinais de desgaste em seus<br />
núcleos.<br />
Detectamos vazamentos e os<br />
consertamos, mas os dutos estão em<br />
franca decomposição. Não devemos<br />
duvidar que as outras Bases também não<br />
49
apresentem este defeito. Segun<strong>do</strong>.<br />
Constatamos que o núcleo <strong>do</strong> planeta está<br />
em franca agitação, o que significa que em<br />
breve teremos movimentação das placas<br />
rochosas da crosta e consequentemente,<br />
tremores, o que certamente as nossas<br />
estruturas não agüentarão. Terceiro. Zur-<br />
Kwa me alertou no caminho; se os<br />
depura<strong>do</strong>res pifarem, corremos risco<br />
externo, que significa o aumento de<br />
radiação provocan<strong>do</strong> estresse nos vários<br />
núcleos, liberan<strong>do</strong> as misturas de<br />
hidrogênio e oxigênio e nesse caso, basta<br />
um, para provocar combustão espontaria e<br />
até mesmo a implosão <strong>do</strong> planeta. E em<br />
quarto lugar, se isto tu<strong>do</strong> vazar, sem<br />
dúvida provocará pânico, desesperança,<br />
desordem e por conseqüência o fim de<br />
tu<strong>do</strong>, antes de piscarmos os olhos. Em<br />
suma, as esperanças de um futuro estão<br />
seriamente ameaçadas. Todas as<br />
providências cabíveis já foram dadas e<br />
ordenadas ao pessoal de reparos e<br />
estamos torcen<strong>do</strong> para que Berla seja a<br />
pior avaria que temos.<br />
Erus Fanna ouviu atentamente o<br />
relato <strong>do</strong> companheiro, alisan<strong>do</strong> a sua<br />
50
arba e viajan<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong>s tempos. As<br />
coisas estavam começan<strong>do</strong> a se<br />
atropelarem umas nas outras. Dirigiu-se,<br />
então, ao “pai da química”.<br />
- O que você tem a dizer, Zur-<br />
Kwa?<br />
- Bem, em nossos laboratórios,<br />
fizemos as análises com o comportamento<br />
<strong>do</strong> solo, as previsões não são nada boas e<br />
confirmam tu<strong>do</strong> o que Thorc acaba de nos<br />
dizer.<br />
- Diga Mathews, você acha que<br />
corremos risco de intoxicação alimentar,<br />
devi<strong>do</strong> ao vazamento de Berla? –<br />
questionou Fanna.<br />
- Não posso garantir a qualidade<br />
de alimentos desta remessa, tanto que já<br />
pedi revisão completa em todas as<br />
unidades embaladas. Contu<strong>do</strong>, perdemos<br />
um sexto <strong>do</strong> que foi embala<strong>do</strong> até agora.<br />
Seria recomendável racionar a alimentação<br />
e a água, pelo menos até termos certeza<br />
<strong>do</strong>s fatos. Não podemos nos esquecer que<br />
temos <strong>do</strong>is mortos e vários casos de<br />
intoxicação radioativa em nossos<br />
ambulatórios.<br />
- Creio que se não forem toma<strong>do</strong>s<br />
to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s, muitos morrerão.<br />
51
- Ambhórius, e as nossas<br />
fazendas?<br />
- Tu<strong>do</strong> isso que foi fala<strong>do</strong> acontece<br />
na fazenda Um. Na fazenda Dois já há<br />
bastante tempo temos diminuí<strong>do</strong> a<br />
produção e pelas projeções<br />
computa<strong>do</strong>rizadas em seis perío<strong>do</strong>s não<br />
teremos mais água potável. Na Três e na<br />
Quatro, embora sobrecarregadas ainda<br />
estão normais.<br />
- Tutkan?<br />
- Penso que só temos uma<br />
alternativa se quisermos continuar vivos.<br />
Sair d<strong>aqui</strong> deste planeta o mais breve<br />
possível.<br />
Fanna levantou-se, com o cenho<br />
preocupa<strong>do</strong> e foi até a mesinha ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
console de Tele-externo e lá apanhou <strong>do</strong>is<br />
rolos, conten<strong>do</strong> plantas e medições. Voltou<br />
e perguntou a Thorc, que revisava as<br />
variáveis no mapa <strong>do</strong> planeta, no terminal<br />
de computa<strong>do</strong>r a sua frente,<br />
- Thorc, quanto tempo ainda<br />
temos?<br />
- Não sei. Difícil dizer.<br />
- Quanto à contaminação, se<br />
mantivermos vigilância constante, no<br />
52
máximo um ano, talvez um pouco mais, um<br />
ou <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s. Devemos estar<br />
prepara<strong>do</strong>s para antes disso. O problema<br />
principal está numa avaliação melhor sobre<br />
a agitação das placas, Zur-Kwa é<br />
autoridade nisso.<br />
Zur-Kwa parecia absorto, com o<br />
olhar perdi<strong>do</strong>, no entanto, saiu falan<strong>do</strong> sem<br />
tirar os olhos <strong>do</strong> além.<br />
- Penso que neste ponto, as coisas<br />
são diferentes, diria até imprevisíveis. Não<br />
temos meios de prever e nem avaliar os<br />
abalos, tampouco suas intensidades e<br />
muito menos como agem, ou quan<strong>do</strong> o<br />
farão,<br />
De certa maneira estamos cegos.<br />
Também acho que as nossas estruturas,<br />
mesmo com pequenos abalos e<br />
constantes, não agüentarão por muito<br />
tempo. Estas agitações de núcleos de<br />
planetas, da maneira que o nosso está, se<br />
apresenta em um campo desconheci<strong>do</strong><br />
para nós. Isto jamais aconteceu e nunca<br />
estudamos esta questão. Não podemos<br />
confiar. Nossos sismógrafos dizem que o<br />
solo, digo, o núcleo está se expandin<strong>do</strong>,<br />
53
movimentan<strong>do</strong> as placas <strong>do</strong> planeta como<br />
um to<strong>do</strong> aleatoriamente o que significa<br />
dizer que a crosta <strong>do</strong> planeta está em<br />
movimento. Outra fatalidade está em nossa<br />
magnetosfera que em breve, muito breve<br />
teremos seus pólos inverti<strong>do</strong>s,quer dizer,<br />
de um momento para outro, podemos ter<br />
novidades. Tutkan tem razão quan<strong>do</strong> diz<br />
que a nossa única esperança é o projeto<br />
Pakeus, e o quanto antes, melhor.<br />
Fanna introduziu um disquete em<br />
seu terminal e começou sua narrativa, com<br />
toda calma, procuran<strong>do</strong> assim, desfazer o<br />
desânimo presente visíveis em alguns<br />
olhos.<br />
- Pois bem, senhores, os<br />
acontecimentos estão se precipitan<strong>do</strong><br />
muito rapidamente, sem querer ser<br />
redundante e com tristeza vejo que o<br />
nosso mun<strong>do</strong> agoniza e ao que parece,<br />
irreversivelmente. Se encararmos a<br />
sobrevivência e a continuação de nossa<br />
espécie como o fator número um, e para<br />
isso, em outro planeta, os nossos<br />
problemas não menores.<br />
54
Para sairmos d<strong>aqui</strong>, ainda não<br />
temos motores suficientemente<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s, embora já tenhamos um<br />
combustível capaz para a tarefa, o KR-7,<br />
segun<strong>do</strong> Tutkan. E depois de ouvir as<br />
péssimas condições em que estamos.<br />
Ocorreu-me o seguinte: Devemos achar<br />
um meio de montar nossa nave e se<br />
possível as outras, de apoio, lá em cima<br />
em órbita, assim como fizemos nas<br />
estações orbitais e com os telescópios de<br />
longo alcance. Precisarei de suas mentes<br />
para fazer isto. Quanto ao risco de<br />
contaminação <strong>do</strong> ar e água, sugiro que o<br />
programa alimentar seja desenvolvi<strong>do</strong> em<br />
nossas estações orbitais, e isto pode ser<br />
feito agora mesmo. Aqui estão as plantas<br />
da grande nave... Por favor, reparem em<br />
seus terminais... E logo a seguir, as outras<br />
duas, menores, que serão os nossos<br />
celeiros. Vejam... Todas as partes externas<br />
já estão fundidas... Cada depósito... cada<br />
laboratório... tu<strong>do</strong> devidamente<br />
programa<strong>do</strong>. O que temos de fazer é,<br />
levar isto tu<strong>do</strong> lá para cima e montar o<br />
quebra-cabeças lá mesmo. O que acham?<br />
- É uma boa idéia – disse Thorc –<br />
mas acho que as peças destes<br />
55
inquedinhos, principalmente as da<br />
grande nave, são grandes demais para os<br />
reboca<strong>do</strong>res, até mesmo para os<br />
cargueiros Mir.<br />
- Simples – cortou Zur-Kwa –<br />
repartiremos as peças <strong>do</strong> tamanho<br />
suportável e que caibam nos cargueiros e<br />
re-soldamos, lá em cima.<br />
- Bravos rapazes! – Disse Fanna,<br />
com um sorriso alivia<strong>do</strong> – Vamos ao<br />
trabalho. Temos muito que planejar e fazer.<br />
Se nós conseguimos construir edifícios<br />
dentro de montanhas, montar uma nave no<br />
espaço será uma brincadeira de criança – e<br />
uma injeção de ânimo e otimismo, Fanna<br />
continuou – Já posso ver, nossas naves<br />
desbravan<strong>do</strong> o Universo, aprenden<strong>do</strong> os<br />
mistérios <strong>do</strong> espaço sideral – ele brincava<br />
com a maquete da Kosmos- mapean<strong>do</strong> as<br />
estrelas, outras galáxias e encontran<strong>do</strong> um<br />
planeta que nos acolha...<br />
Como sempre, a forte<br />
determinação de Erus Fanna, aliada as<br />
inteligências incomuns e o otimismo<br />
valente, os problemas em sua maioria<br />
eram encara<strong>do</strong>s como passatempos. Mas<br />
56
agora, a coisa era séria demais e tinham o<br />
tempo como maior inimigo.<br />
Durante muitos dias e muitas<br />
noites, foram traça<strong>do</strong>s os planos de ação.<br />
Zur-Kwa com sua genialidade, conseguiu<br />
diminuir a força <strong>do</strong> KR-7 diluin<strong>do</strong>-o em<br />
soluções adequadas. Tutkan observava<br />
aquelas modificações com espanto,<br />
censuran<strong>do</strong>-se por não ter pedi<strong>do</strong> ajuda<br />
antes. Aqueles intrinca<strong>do</strong>s conjuntos de<br />
números eram-lhe desconheci<strong>do</strong>s. A<br />
genialidade daquele baixinho era<br />
surpreendente à medida que todas as<br />
misturas aplicadas no KR-7 anulavam o<br />
eletron que transformava o combustível em<br />
uma solução auto-explosiva.<br />
Com a ajuda de Thorc, fora<br />
produzi<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong> um material<br />
sintético-metaliza<strong>do</strong>. Esta liga chamaramna<br />
de Trillium; que respondera<br />
satisfatoriamente no fabrico <strong>do</strong>s motores.<br />
Em <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s, os cargueiros,<br />
reboca<strong>do</strong>res e naves transportes, assim<br />
como os March-1, receberam a nova<br />
tecnologia. Os reboca<strong>do</strong>res sofreram<br />
57
outros melhoramentos, tais como grandes<br />
braços mecânicos, adequan<strong>do</strong>-se à nova<br />
realidade, promoven<strong>do</strong> rapidamente a<br />
montagem das naves.<br />
No quarto perío<strong>do</strong>, as naves<br />
transportes e tu<strong>do</strong> o mais que pudesse se<br />
mover, receberam novos instrumentos de<br />
bor<strong>do</strong>, sistemas de navegação e motores<br />
readapta<strong>do</strong>s ao KR-7.<br />
O ano deste planeta tinha<br />
dezesseis perío<strong>do</strong>s de vinte o oito dias e lá<br />
pelo sétimo perío<strong>do</strong>-daquele ano os abalos<br />
sísmicos tornaram-se mais freqüentes e<br />
como conseqüência, diversas avarias<br />
detonavam o sistema de depuração de ar e<br />
água, principalmente em Berla. Apesar de<br />
to<strong>do</strong>s os esforços e vigilância constante,<br />
muitos a<strong>do</strong>eciam e morriam. Mathews e<br />
depois Ambhórius, desativaram as<br />
estações fazendas, uma vez que além de<br />
contaminadas, a maior parte delas, não<br />
absorviam a reciclagem pelo Transprotton.<br />
Suas colheitas eram pobres em nutrientes.<br />
No começo <strong>do</strong> oitavo perío<strong>do</strong> o<br />
pessoal de Berla foi transferi<strong>do</strong> para outras<br />
58
Bases, sen<strong>do</strong> que em sua maioria, para a<br />
estação orbital Poniack, onde se<br />
desenvolvia duas fazendas, com duas<br />
espécies de plantas comestíveis, aquelas<br />
que possuíam maior valor alimentício,<br />
sen<strong>do</strong> elas Frizalis paniculata e Chlorella.<br />
No décimo perío<strong>do</strong>, a maior parte<br />
das naves, estava em plena montagem<br />
final, em órbita de Someron, que ao longe<br />
se mostrava ser uma imensa bola amarela.<br />
Os trabalhos eram executa<strong>do</strong>s<br />
com toda a urgência.<br />
No planeta, a cada dia que<br />
passava, a sobrevivência tornava-se mais<br />
difícil. Não havia como evitar. As crianças e<br />
os mais velhos ocupavam as listas de óbito<br />
e os nascimentos eram fatais, para os<br />
bebes e suas mães.<br />
No décimo - primeiro perío<strong>do</strong>,<br />
Verna e Solon – esposa e filho caçula de<br />
Tutkan – a<strong>do</strong>eceram e os médicos foram<br />
unânimes em diagnosticar a morte<br />
eminente causada por uma espécie rara de<br />
inanição <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is seres. O sofrimento de<br />
59
Tutkan o deixou desorienta<strong>do</strong>, apático,<br />
completamente sem ação. Foi até Fanna e<br />
pediu o seu afastamento <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> da<br />
Base-Meridional-Oeste. Para cuidar e<br />
passar com seus queri<strong>do</strong>s os seus últimos<br />
momentos. Para tal indicou Zeuez como<br />
substituto. Fanna con<strong>do</strong>í<strong>do</strong> concor<strong>do</strong>u,<br />
sem, contu<strong>do</strong> destituí-lo de to<strong>do</strong>, pois<br />
muitas decisões, as de natureza extrema,<br />
assim como a incorporação de<br />
computa<strong>do</strong>res de última geração às novas<br />
máquinas espaciais, deveriam estar sob<br />
sua tutela. Tão somente seria chama<strong>do</strong> em<br />
caso de urgência urgentíssima.<br />
Neste mesmo perío<strong>do</strong> as Bases<br />
Borkus e Jhar, de produção alimentícia,<br />
explodiram quase que simultaneamente,<br />
devi<strong>do</strong> as suas proximidades. Os<br />
depura<strong>do</strong>res e conversores de Thorc<br />
tiveram suas fadigas extremas. Os<br />
sensores Kranset apontaram<br />
imediatamente uma contagem alta e<br />
subin<strong>do</strong>. Velz constatou, em uma de suas<br />
patrulhas, uma radiação de setenta e seis,<br />
ponto oito Celtz na região de Mirviam e<br />
Vlaupora. Era incrível ver a formação de<br />
ciclones em combustão espontânea. Algo<br />
60
até então inédito. Todas as notícias e<br />
situações, a cada tempo tornavam-se mais<br />
desespera<strong>do</strong>ras. Borkus e Jhar não<br />
deixaram sobreviventes e a terceira Base<br />
Alimentar, Kahal apresentava nos seus<br />
bancos de da<strong>do</strong>s contaminação suficiente<br />
para explodir em questão de momentos.<br />
As estruturas <strong>do</strong> subsolo<br />
apresentavam estar em seus limites<br />
máximos com alguns setores em pleno<br />
desmoronamento.<br />
Os andamentos das obras no<br />
espaço, embora acelera<strong>do</strong>s, não<br />
acompanhavam o fluxo de acontecimentos<br />
em Someron. Erus Fanna sabia que o fim<br />
era próximo e seus esforços haviam<br />
excedi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os limites. Tu<strong>do</strong> agora<br />
era uma questão de tempo e uma boa <strong>do</strong>se<br />
de sorte.<br />
No fim <strong>do</strong> décimo - primeiro<br />
perío<strong>do</strong> a companheira e o caçula de<br />
Tutkan não resistiram e morreram, com<br />
diferença de um tempo (hora local). Isto<br />
fora demais para ele. Entrou em choque,<br />
quase perden<strong>do</strong> a razão, se revoltan<strong>do</strong><br />
61
contra tu<strong>do</strong> e contra to<strong>do</strong>s. O seu<br />
pensamento era apenas um: Morrer. Suas<br />
filhas Zart e Walln e os seus outros <strong>do</strong>is<br />
filhos. Apollum e Ozy, com muita paciência<br />
e to<strong>do</strong> o amor possível, trouxeram o pai à<br />
razão naquele perío<strong>do</strong> de luto e muitas<br />
dificuldades para a família que sempre fora<br />
tão unida.<br />
Zeuez, neste perío<strong>do</strong> fez o<br />
possível e o impossível para não<br />
incomodar seu comandante, inclusive nas<br />
questões de disciplina em Krópitus .<br />
Contu<strong>do</strong>, as coisas não iam para frente,<br />
pelo menos, não no ritmo que precisavam.<br />
Aquela base estava contaminada pelo<br />
maior inimigo que poderiam enfrentar : O<br />
desânimo.<br />
Quan<strong>do</strong> Tutkan voltou ao mun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s úteis e reassumiu seu coman<strong>do</strong>, o<br />
programa espacial tomou grande impulso,<br />
começan<strong>do</strong> a se definir e finalmente a<br />
grande nave Kosmos passou a ser<br />
montada em seu interior.<br />
No final <strong>do</strong> décimo - terceiro<br />
perío<strong>do</strong>, as cabines de coman<strong>do</strong> estavam<br />
62
concluídas,com seus módulos<br />
acondiciona<strong>do</strong>s no esqueleto da nave.<br />
A cada módulo pronto, entravam em<br />
operação com mais e mais tripulantes<br />
sen<strong>do</strong> trazi<strong>do</strong>s e toman<strong>do</strong> conhecimento<br />
nas novas instalações, assim como seus<br />
funcionamentos.<br />
Tutkan, Zur-Kwa, Mathews,<br />
Ambhórius e depois Thorc, tomaram seus<br />
coman<strong>do</strong>s no espaço fican<strong>do</strong> na superfície,<br />
Fanna no monte Pakeus e Zeuez, em<br />
Krópitus.<br />
As combustões espontâneas e<br />
tempestades eram freqüentes, tornan<strong>do</strong><br />
por demais perigosas as missões de<br />
reconhecimento e por isso mesmo,<br />
canceladas por ordem de Erus Fanna.<br />
Foram planta<strong>do</strong>s oito sensores<br />
Kranset, em pontos estratégicos de<br />
Someron e liga<strong>do</strong>s diretamente aos<br />
computa<strong>do</strong>res das Bases ativadas e à<br />
Kosmos. Mostravam que to<strong>do</strong>s os limites<br />
previstos estavam ultrapassa<strong>do</strong>s, não<br />
haven<strong>do</strong> mais segurança em qualquer<br />
ponto <strong>do</strong> planeta. Enormes rachaduras no<br />
63
solo se desprendia o magma <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong><br />
planeta, levantan<strong>do</strong> paredes de fogo em<br />
explosões espetaculares. Estas fendas aos<br />
poucos transformava antigos vales em rios<br />
de lava.<br />
Os cargueiros passaram a<br />
transportar o pessoal de superfície e os<br />
alojan<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> e qualquer espaço que<br />
houvesse nas instalações da Kosmos, nas<br />
estações orbitais e por fim nos próprios<br />
cargueiros, fican<strong>do</strong> um pessoal reduzi<strong>do</strong><br />
nas Bases Leste e Oeste que resistiam à<br />
fúria <strong>do</strong> planeta.<br />
As bases Celeiros, já desativadas<br />
e esvaziadas, foram explodin<strong>do</strong>, uma após<br />
outra, em menos de meio perío<strong>do</strong>, em<br />
exatamente dez dias. As estruturas de<br />
Pakeus e Krópitus, cediam, forman<strong>do</strong><br />
rachaduras enormes nas paredes,<br />
desprenden<strong>do</strong> calor vin<strong>do</strong>s das entranhas<br />
<strong>do</strong> planeta, até que Erus Fanna decidiu<br />
subir com os restantes da superfície.<br />
Ainda não estavam concluídas as<br />
naves- celeiro quan<strong>do</strong> numa das estações<br />
orbitais surgiram complicações por<br />
64
excesso de população. Havia um começo<br />
de revolta encabeçada por Carvelus, que<br />
se tornara um líder inconveniente<br />
transcen<strong>do</strong> intrigas e brigas por<br />
alimentação e espaço. Ele possuía uma<br />
espécie de <strong>do</strong>mínio e liderança<br />
principalmente aos mal informa<strong>do</strong>s.<br />
Contava com alguns seres inteligentes em<br />
seu apoio principalmente por Gideonis e<br />
seus discípulos que o deixava mais<br />
confiante. Em seu discurso dizia que os<br />
ocupantes das outras naves tinham<br />
instalações de primeira, com espaço até<br />
para jogos e dispunham de excelente<br />
comida, enquanto que ali, estavam to<strong>do</strong>s<br />
aperta<strong>do</strong>s e tinham de racionar suas<br />
porções de água e comida, de péssima<br />
qualidade. Temos de exigir os nossos<br />
direitos – dizia - e eles tem que nos<br />
respeitar como seres de mesma espécie,<br />
além de desejar voltar para as Bases.<br />
A revolta estourou com formas e<br />
sentimentos bélicos. Tomaram o coman<strong>do</strong><br />
da estação orbital, e no empurra, empurra<br />
a fatalidade se desempenhou em tragédia<br />
com a morte estúpida e violenta <strong>do</strong> então<br />
comandante, Mathew. Entretanto momento<br />
65
antes de sua morte enviara um Codset<br />
para Fanna, relatan<strong>do</strong> a situação que se<br />
apresentava lá.<br />
Erus Fanna, ainda no monte<br />
Pakeus, incrédulo, determinou a Tutkan,<br />
isolar Carvelus, antes que se matassem<br />
uns aos outros, causan<strong>do</strong> reações<br />
precipitadas ou coisa pior, atingin<strong>do</strong> outras<br />
naves ou estações.<br />
- Faça-os ver – disse – o que já<br />
conseguimos trabalhan<strong>do</strong> juntos, uni<strong>do</strong>s.<br />
Não podemos desistir agora que estamos<br />
no final da etapa mais importante de<br />
nossas vidas. Estamos viven<strong>do</strong> um<br />
momento histórico, uma façanha jamais<br />
imaginada antes. Precisamos nos manter<br />
uni<strong>do</strong>s.<br />
- Como posso chegar até lá sem<br />
que haja troca de tiros, eles estão arma<strong>do</strong>s<br />
até os dentes e além disso, fizeram muitos<br />
reféns e não reivindicam nada !<br />
- Tut, use sua imaginação. Faça o<br />
seguinte: Organize uma votação para<br />
saber quem quer ir para o Novo Mun<strong>do</strong>, e<br />
quem quer ficar. Depois de estar com o<br />
resulta<strong>do</strong>, seja qual for, passe os filmes<br />
que temos, mostran<strong>do</strong> qual a situação <strong>aqui</strong><br />
66
em baixo. Então faça nova votação. Se<br />
alguém ainda quiser vir para cá, arrume um<br />
transporte grande, ponha-os dentro e os<br />
mande até <strong>aqui</strong> no monte Pakeus, que<br />
ainda está de pé. Será exatamente neste<br />
transporte que Zeuez com seu pessoal de<br />
Krópitus e eu com o meu, subiremos até aí.<br />
Você tem <strong>do</strong>is dias para resolver este<br />
assunto e no terceiro dia, que seja feita a<br />
viagem de troca. Está certo?<br />
- Vou tentar, Erus.<br />
- Não tente. Faça. Nos veremos<br />
em breve, meu amigo.<br />
Tutkan, com toda a diplomacia<br />
possível, enviou uma mensagem a<br />
Carvelus, sugerin<strong>do</strong> que eles e os seus, se<br />
reunissem no porão <strong>do</strong> cargueiro Mir-6 – o<br />
único ainda ativo nas questões de<br />
transporte – e assim fosse feita uma<br />
assembléia e encontrar uma solução<br />
pacífica para o impasse.<br />
- Não haverá sanções pelo<br />
lamentável acidente que ocasionou a<br />
morte de Mathew ? – perguntou Carvelus.<br />
- Não haverá – disse, Tutkan, um<br />
tanto contraria<strong>do</strong>, mas seguin<strong>do</strong> as<br />
instruções de Fanna.<br />
67
Então nos encontraremos no Mir-6, hoje,<br />
dentro de três tempos, se está bom para<br />
você.<br />
- Está certo. Em três tempos. Mais<br />
uma coisa, quero a sua palavra de que<br />
to<strong>do</strong>s estarão desarma<strong>do</strong>s, assim como<br />
nós. Apenas queremos dar um fim neste<br />
problema.<br />
- Tutkan, não posso garantir isso,<br />
afinal, to<strong>do</strong>s estão revolta<strong>do</strong>s e<br />
desespera<strong>do</strong>s.<br />
- Mas não há porque se<br />
desesperar. Vamos apenas nos reunir e<br />
fazermos uma votação, com total<br />
democracia, como sempre o fizemos. Se<br />
alguém quiser voltar para as Bases de<br />
Someron, será trata<strong>do</strong> com respeito e feito<br />
a sua vontade. Tu<strong>do</strong> num clima pacífico e<br />
ordeiro.<br />
- Não sei – disse, Carvelus, o que<br />
desejam, então?<br />
- Talvez, voltar para Someron seja<br />
o que desejamos.<br />
- Então está combina<strong>do</strong>, em três<br />
tempos nos encontraremos no Mir-6 e<br />
votaremos – encerrou, Tutkan, já perden<strong>do</strong><br />
a paciência.<br />
68
Na primeira contagem, cerca de<br />
oito mil seres, declararam suas intenções<br />
de voltarem ao planeta. Então, habilmente,<br />
Tutkan autorizou a projeção <strong>do</strong> filme,<br />
mostran<strong>do</strong> o que encontrariam lá em baixo<br />
e ordenou a segunda votação, tal qual<br />
Fanna havia sugeri<strong>do</strong>. Neste mesmo<br />
instante, os falantes de comunicação<br />
interna <strong>do</strong> cargueiro, noticiavam que<br />
Krópitus estava em chamas, totalmente<br />
destruída. A votação foi interrompida por<br />
instantes, entran<strong>do</strong> no telão as imagens <strong>do</strong><br />
local, modifican<strong>do</strong> sensivelmente os<br />
desejos, contrarian<strong>do</strong> Carvelus e seus<br />
chega<strong>do</strong>s. Surgiu, no final da contagem,<br />
<strong>do</strong>is mil e seiscentos e nove seres com o<br />
desejo firme de voltar.<br />
Tutkan combinou com Carvelus<br />
para que a viagem de retorno se desse no<br />
mesmo dia, dan<strong>do</strong> o tempo necessário de<br />
apanharem os seus pertences.<br />
Mais, tarde na Kosmos, enviou<br />
uma mensagem à Fanna, comunican<strong>do</strong><br />
como havia finaliza<strong>do</strong> a questão e para os<br />
preparos da troca, que segun<strong>do</strong> seus<br />
cálculos, poderia ser feita em sete tempos.<br />
69
A Base Meridional Oeste, em<br />
Krópitus, estava completamente em<br />
chamas quan<strong>do</strong> Zeuez ordenou a sua<br />
evacuação. Na corrida desabalada, <strong>do</strong><br />
“salve-se quem puder”, em direção <strong>do</strong>s<br />
transportes, Zeuez foi atingi<strong>do</strong> por<br />
estilhaços em meio às pequenas explosões<br />
nos túneis de acesso ao hangar.<br />
Imobiliza<strong>do</strong>, e bastante feri<strong>do</strong>, pediu para<br />
Velz organizar a evacuação, favorecen<strong>do</strong>,<br />
primeiro, as mulheres e crianças no envio<br />
para o Monte Pakeus, onde Fanna já havia<br />
prepara<strong>do</strong> as acomodações. Neste mesmo<br />
tempo, três naves transportes, pequenas,<br />
traziam médicos e medicamentos.<br />
Enquanto isso, na Base Meridional<br />
Leste, no Monte Pakeus, ficava<br />
praticamente deserta, apenas com Fanna,<br />
Zuila e alguns seres necessários para a<br />
manutenção das comunicações. Era<br />
preciso que to<strong>do</strong>s quantos pudessem<br />
ajudar, fossem manda<strong>do</strong>s em auxílio de<br />
Zeuez e os seus – disse, Fanna.<br />
Numa ação rápida e ordenada,<br />
Velz conseguiu despachar a to<strong>do</strong>s e trouxe<br />
consigo, em seu March-1, seu comandante<br />
70
e amigo, Zeuez, em coma. Tão logo<br />
partiram, uma explosão colossal, acabou<br />
com o que ainda restava de Krópitus . _ Foi<br />
por um triz – disse, Velz consigo mesmo,<br />
dan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> nos motores de sua nave para<br />
não receber em cheio os detritos que<br />
voavam em sua direção.<br />
Dois tempos, após, chegava ao<br />
Monte Pakeus o cargueiro Mir-6, vin<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
espaço. O pouso no pé da montanha, foi<br />
difícil. As plataformas pressurizadas de<br />
desembarque e as rampas condutoras de<br />
pessoal, não funcionavam. Havia uma<br />
desordem completa, nada estava no lugar.<br />
Nos túneis, que acoplavam a nave aos<br />
portões da montanha jaziam algumas<br />
carcaças e três transportes pequenos,<br />
desativa<strong>do</strong>s, apresentan<strong>do</strong> muito calor<br />
avarias múltiplas , por falta de conservação<br />
ou manutenção, há mais de oito perío<strong>do</strong>s.<br />
Nestas condições, os passageiros<br />
<strong>do</strong> Mir-6, obrigaram-se a vestir trajes<br />
adequa<strong>do</strong>s contra poluição e radiação, e<br />
fazer o trajeto até o centro <strong>do</strong> Monte, a pé,<br />
levan<strong>do</strong> os pesa<strong>do</strong>s tubos de oxigênio às<br />
costas; primitivos e a muito não usa<strong>do</strong>s,<br />
71
mas era o que tinham. Conforma<strong>do</strong>s,<br />
Carvelus e os seus se puseram em<br />
marcha. Em vista deste cenário, muitos,<br />
sequer desembarcaram e outros que já<br />
estavam fora, assim como Gideonis,<br />
voltaram para dentro <strong>do</strong> cargueiro,<br />
sorrateiramente, temerosos por alguma<br />
retalharão por parte de Carvelus ou de<br />
seus discípulos.<br />
Erus Fanna os aguardava no<br />
observatório central, que tempos antes era<br />
cheio de vida, ocupa<strong>do</strong> por muitas<br />
máquinas, antes laboratório <strong>do</strong>s<br />
computa<strong>do</strong>res, onde expuseram suas<br />
colocações, na voz de Carvelus, que agora<br />
se vestia tal qual os profetas de sua<br />
antiguidade.<br />
- Como porta-voz dessa gente,<br />
gostaria de revelar que nos sentimos<br />
discrimina<strong>do</strong>s, não ten<strong>do</strong> os nossos<br />
direitos respeita<strong>do</strong>s. Em primeiro lugar,<br />
não tínhamos as mesmas vantagens <strong>do</strong>s<br />
outros, isto é, nem espaço físico, nem água<br />
e tampouco alimentação descente.<br />
Segun<strong>do</strong>, nos sentimos mais seguros <strong>aqui</strong>,<br />
em nossos núcleos de vida, que provaram<br />
ao longo <strong>do</strong> tempo, ser eficazes contra os<br />
72
problemas de radiação externa e bem<br />
melhor acomoda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que na estação<br />
orbital. Em terceiro lugar, notamos que<br />
estavam nas estações orbitais, tão<br />
somente os seres de menor grau na<br />
comunidade. Em sua maioria<br />
trabalha<strong>do</strong>res braçais ou opera<strong>do</strong>res de<br />
máquinas de escavação e planta<strong>do</strong>res.<br />
Alguns como eu, <strong>do</strong>nos de inteligência e<br />
ocupantes de pontos estratégicos e<br />
experiência em ciência núcleo-molecular,<br />
fomos obriga<strong>do</strong>s a compartilhar fome e<br />
miséria, além de não termos como nos<br />
mexer, como já disse. Isto não é<br />
admissível. Em quarto lugar, somos<br />
contrários a esta utopia de aban<strong>do</strong>narmos<br />
o nosso planeta natal. Achamos que toda<br />
esta tecnologia desenvolvida, deveria estar<br />
voltada para o controle <strong>do</strong> meio-ambiente,<br />
que foi totalmente aban<strong>do</strong>nada por vocês,<br />
em função deste sonho louco de desbravar<br />
o espaço para encontrar nada, só a morte.<br />
Não acredito que se possa encontrar vida<br />
lá fora, mas, admitin<strong>do</strong> que possa existir<br />
este novo mun<strong>do</strong>, encanta<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s que lá<br />
pousassem seriam considera<strong>do</strong>s<br />
invasores. Não sabemos quais os avanços<br />
e costumes que poderiam ter e no mínimo,<br />
73
seríamos elimina<strong>do</strong>s como seres de<br />
segunda ordem. Ainda correríamos o risco<br />
de enfrentar <strong>do</strong>enças e até mesmo<br />
epidemias de pestes desconhecidas.<br />
Pensan<strong>do</strong> nesta linha, teríamos que sofrer<br />
adaptações de uma nova atmosfera e nos<br />
tornarmos mutantes, degeneran<strong>do</strong> nossa<br />
espécie, talvez nos transforman<strong>do</strong> em<br />
monstros, para não dizer criaturas<br />
indesejáveis. Não queremos fazer parte<br />
deste sonho tolo, que certamente trará a<br />
morte, para vocês que se julgam os<br />
senhores da verdade. Se tivermos que<br />
morrer, que seja <strong>aqui</strong>, bem no lugar em<br />
que respiramos o nosso primeiro ar, neste<br />
mun<strong>do</strong> ao qual pertencemos e nos<br />
pertence. Mesmo porque segun<strong>do</strong> nossas<br />
antigas profecias determinam a expulsão<br />
<strong>do</strong>s não crentes nos favorecen<strong>do</strong> com a<br />
chegada <strong>do</strong> nosso Salva<strong>do</strong>r: Krasha-<br />
Halah. Acho que com suas bênçãos e com<br />
sacrifício re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>, conseguiremos<br />
reconstruir tu<strong>do</strong>, e se algum dia voltarem,<br />
tentem reconstruir suas vidas numa das<br />
luas, pois <strong>aqui</strong>, não haverá lugar para<br />
derrota<strong>do</strong>s.<br />
74
Erus Fanna, a cada palavra que<br />
ouvia, sentia-se mais e mais ira<strong>do</strong>, pois<br />
não entendia, como alguém; e neste caso<br />
muitos alguéns; poderia ser tolo o<br />
bastante, depois de tu<strong>do</strong> o que havia si<strong>do</strong><br />
feito e amplamente divulga<strong>do</strong> e discuti<strong>do</strong><br />
para salvar o planeta?<br />
- Meus irmãos – disse ele, em voz<br />
pausada, controlada – Sei que o primeiro ar<br />
respira<strong>do</strong> por nossos pulmões define o que<br />
somos e de onde pertencemos e<br />
compreen<strong>do</strong> suas intenções... nobres... de<br />
permanecerem <strong>aqui</strong>. Mas ouçam, to<strong>do</strong>s os<br />
esforços em manter vivo o nosso mun<strong>do</strong>,<br />
se extinguiram. Inclusive você mesmo e o<br />
próprio Mathew, assessorara Thorc e<br />
chegaram a conclusão de que em breve o<br />
nosso mun<strong>do</strong> explodirá. E na melhor das<br />
hipóteses teremos lá fora, uma mistura de<br />
monóxi<strong>do</strong> de carbono, hélio e um mar de<br />
hidrogênio, abafa<strong>do</strong>s por um efeito estufa<br />
brutal, sem contar com a radioatividade e<br />
que isto durará, pelo menos um milhão de<br />
anos. Em suma, impossível, sequer<br />
imaginar em por o nariz para fora d<strong>aqui</strong>,<br />
isto se já não estivéssemos mortos. As<br />
coisas ainda estão se definin<strong>do</strong>, em uma<br />
transformação espantosa, causada pela<br />
75
eacomodação de nossas placas<br />
tectônicas, que não sabemos no que vai<br />
dar, nem Krasha-Halah sabe.<br />
Vocês to<strong>do</strong>s sabem que temos um<br />
núcleo ativo de puro metal em fusão,<br />
pronto para explodir, e ainda não se sabe<br />
quan<strong>do</strong>, e eu, não preten<strong>do</strong> estar <strong>aqui</strong> para<br />
ver. Portanto, última chamada. Quem<br />
quiser vir, será bem-vin<strong>do</strong>. Partiremos em<br />
<strong>do</strong>is tempos e nem um microm a mais. Aos<br />
que ficam, desejo-lhes boa sorte. Sei que<br />
vão precisar de toda que puderem<br />
encontrar. Ficará à sua disposição três<br />
naves transporte capazes de acolher a<br />
to<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>is March-1, da frota Zag. Todas<br />
as naves digitadas e direcionadas para o<br />
curso que iremos tomar. Elas também<br />
dispõem de comunica<strong>do</strong>res de longo<br />
alcance e com combustível necessário ao<br />
longo percurso de duas Marcas. Volto a<br />
dizer, aqueles que vierem serão bemvin<strong>do</strong>s.<br />
No vigésimo - quarto dia <strong>do</strong><br />
décimo quinto perío<strong>do</strong>, <strong>do</strong> septuagésimo -<br />
terceiro ano após guerra, a nave Kosmos<br />
estava completamente acabada e pronta<br />
76
para o início da grande viagem. Junto a<br />
ela, duas naves-celeiro, em fase de<br />
complementação, oito cargueiros Mir, três<br />
estações orbitais transformadas e<br />
equipadas com motores TTZ em<br />
homenagem aos seus cria<strong>do</strong>res: Tutkan,<br />
Thorc e Zur-Kwa, duzentos e seis<br />
pequenas naves transportes em volta de<br />
nove reboca<strong>do</strong>res. To<strong>do</strong>s devidamente<br />
prepara<strong>do</strong>s para o desafio e a realização<br />
da maior aventura até então jamais<br />
pensada: Desbravar e viajar pelo espaço<br />
sideral e explorar, quem sabe, novos<br />
mun<strong>do</strong>s.<br />
No grande dia Erus Fanna chamou<br />
to<strong>do</strong>s para os monitores e os convi<strong>do</strong>u<br />
para a oração. Seu rosto emanava uma<br />
alegria e um otimismo contagiante.<br />
- Meu povo – disse, - depois de<br />
anos de muito trabalho e de sacrifícios<br />
incontáveis, trazen<strong>do</strong>-nos muita <strong>do</strong>r em<br />
nossos corações e por vezes, até, à beira<br />
da desistência, afinal, podemos nos sentir<br />
felizes. Hoje sairemos, infelizmente, <strong>do</strong><br />
lugar onde os nossos antepassa<strong>do</strong>s<br />
viveram, construíram e depois o<br />
destruíram. Devemos nos lembrar de como<br />
77
foram suas vidas e exatamente os valores<br />
com os quais os levaram a fazer o que<br />
fizeram. Vamos, pois, levar estes da<strong>do</strong>s<br />
em nossos corações e contar para os<br />
nossos filhos, para que contem aos deles e<br />
sucessivamente to<strong>do</strong>s venham, de um<br />
mo<strong>do</strong> ou de outro, saber, como aconteceu<br />
o que aconteceu.<br />
Vamos em busca de um Novo<br />
Mun<strong>do</strong>, onde possamos viver em paz e<br />
multiplicarmos-nos, levan<strong>do</strong> o amor e a<br />
solidariedade como herança maior. Vamos<br />
jurar fidelidade, amor ao próximo, perdão<br />
aos fracos de opinião. Nunca cometer<br />
infelicidade ao conjugue nem promover tais<br />
ações. Jamais mataremos e nem nos<br />
deixaremos matar por falsas ideologias.<br />
Combateremos o mal como se fosse uma<br />
<strong>do</strong>ença, eliminan<strong>do</strong>-o cientificamente e<br />
com méto<strong>do</strong>s adequa<strong>do</strong>s, sem que nossas<br />
mãos se sujem com sangue de<br />
semelhante. Não lançaremos falso<br />
testemunho. Cuidaremos de nossos<br />
corpos, pois neles, Deus habita. A mentira<br />
e a intriga, não farão parte de nossa<br />
cultura, intenções ou palavras e que<br />
sejamos felizes enquanto vivermos.<br />
78
A cada palavra que Fanna<br />
proferia, era repetida em coro, juran<strong>do</strong> e<br />
oran<strong>do</strong>, com seus pensamentos eleva<strong>do</strong>s a<br />
Deus.<br />
Finalmente Fanna, a plenos pulmões<br />
trouxe-lhes a sentença final.<br />
- Meu povo, vamos partir. A NOVA<br />
ERA já começou.<br />
79
CAPÍTULO IV<br />
Após passarem pelo segun<strong>do</strong><br />
quadrante estelar, em curso zero <strong>do</strong>is oito<br />
um, pelo la<strong>do</strong> já conheci<strong>do</strong> em direção <strong>do</strong><br />
sol azul e frio, os engenheiros de vôo,<br />
agora, navega<strong>do</strong>res, iniciaram a confecção<br />
<strong>do</strong> mapa estelar. Na medida em que<br />
avançavam, percebiam a vastidão e seus<br />
instrumentos mostravam que seu sistema<br />
solar era um minúsculo ponto entre bilhões<br />
de sóis de diferentes magnitudes. Os<br />
maiores tinham várias vezes o tamanho de<br />
seu próprio sistema solar. Por duas vezes,<br />
em distancias longínquas, <strong>do</strong>is sóis de<br />
magnitude média orbitavam-se um ao<br />
outro, merecen<strong>do</strong> observações e estu<strong>do</strong>s<br />
por parte de Thorc e Zur-Kwa com o corpo<br />
científico Someriano.<br />
Um grande “S” se formava na<br />
horizontal, circundan<strong>do</strong> um volumoso “O”<br />
que o chamaram de Órion, assim como<br />
corpos e fenômenos importantes<br />
encontra<strong>do</strong>s eram batiza<strong>do</strong>s, ora por quem<br />
descobria, ora por nomes de grandes seres<br />
antepassa<strong>do</strong>s.<br />
80
No decorrer <strong>do</strong> tempo, os motores<br />
sofreram modificações extremas, a ponto<br />
de ser aboli<strong>do</strong> o KR-7. Desenvolveram<br />
uma energia limpa, sem poluentes após a<br />
sua queima. Assim, o rastro de poeira<br />
semelhante ao dióxi<strong>do</strong> de carbono, velho<br />
conheci<strong>do</strong> pela abundância atmosférica de<br />
Someron fazia parte <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, morto e<br />
esqueci<strong>do</strong>.<br />
A nova tecnologia desenvolvida<br />
pelo corpo de cientistas lidera<strong>do</strong>s pelos<br />
<strong>do</strong>is gênios, Thorc e Zur-Kwa era algo<br />
fantástico. Os motores RAM-THORC-KWA<br />
alimentavam-se de pura eletricidade<br />
magnética retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong><br />
próprio Universo. Novos metais eram<br />
extraí<strong>do</strong>s de asteróides e processa<strong>do</strong>s.<br />
Sua propulsão se definia através<br />
de troca de forças. Na medida em que a<br />
geração de luz ionizada era potencializada,<br />
gerava a energia necessária para<br />
deslocamento no vácuo, se aproveitan<strong>do</strong><br />
da matéria escura como muro de<br />
sustentação para o impulso. Entrementes,<br />
a velocidade para este empuxo era<br />
81
estabilizada através <strong>do</strong>s tubos de ar<br />
comprimi<strong>do</strong>.<br />
Outros engenheiros, projetistas e<br />
cientistas continuavam seus estu<strong>do</strong>s e<br />
esforços no aprimoramento <strong>do</strong>s<br />
instrumentos e equipamentos sensoriais.<br />
Os próprios computa<strong>do</strong>res geravam novos<br />
desenhos, sistemas e circuitos.<br />
Depois de <strong>do</strong>is anos e oito<br />
perío<strong>do</strong>s, podia-se dizer que viajavam em<br />
outras naves.<br />
Os pequenos Mach-1,<br />
readapta<strong>do</strong>s para a gravidade zero,<br />
contavam, agora, com três novos motores,<br />
promoven<strong>do</strong> mudanças e ajustes tanto nos<br />
instrumentos de bor<strong>do</strong>, quanto nos pilotos.<br />
Com os motores encapa<strong>do</strong>s por<br />
carenagem, se ajustavam melhor à<br />
“espaço-dinâmico”, sem perder as<br />
características aero dinâmicas. Eram<br />
verdadeiros bate<strong>do</strong>res rápi<strong>do</strong>s, num ótimo<br />
desempenho no vácuo <strong>do</strong> espaço.<br />
Formaram-se <strong>do</strong>ze coman<strong>do</strong>s<br />
com duas unidades cada. Sempre em<br />
82
patrulha de <strong>do</strong>is coman<strong>do</strong>s. As patrulhas<br />
de reconhecimento formavam um leque de<br />
trezentos e sessenta graus, com um<br />
apogeu da Kosmos, em justos dez<br />
Macrons – o seu senti<strong>do</strong> maior de distância.<br />
O Universo era tranqüilo, salvo pelas<br />
inoportunas chuvas de meteoritos, desde<br />
que entraram naquele quadrante. Com a<br />
ajuda <strong>do</strong>s bate<strong>do</strong>res March-1, a varredura<br />
era completa através das canhoneiras<br />
Prottons acrescentadas sob as pequenas<br />
asas. Mesmo assim, eram força<strong>do</strong>s a<br />
diminuir a marcha. Segun<strong>do</strong> os cálculos de<br />
Thorc, a velocidade segura seria a mínima<br />
possível acima da velocidade de escape da<br />
galáxia, cerca de 450 mil Centons por<br />
microm. Assim seus instrumentos<br />
detectariam estas ameaças a tempo de<br />
defesa, transforman<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em nada,<br />
menos <strong>do</strong> que poeira, mostran<strong>do</strong> muito<br />
bem <strong>do</strong> que eram capazes.<br />
Esses momentos eram<br />
aproveita<strong>do</strong>s para exercícios de<br />
sobrevivência no espaço.<br />
83
Sem perceber, Tutkan tinha sob<br />
seu coman<strong>do</strong>, ainda Zag, um bom conjunto<br />
de ataque e defesa, bem como nos velhos<br />
tempos. Eram ótimas máquinas armadas<br />
com excelentes pilotos.<br />
Erus Fanna divertia-se com as<br />
“batalhas” de Tutkan.<br />
Em uma destas noites, segun<strong>do</strong><br />
seus marca<strong>do</strong>res de tempo, o comandante<br />
Tutkan, convocou seu pessoal para uma<br />
palestra. Fanna era o convida<strong>do</strong> especial.<br />
- Senhores - disse Tutkan, de peito<br />
estufa<strong>do</strong> – hoje é um dia – e olhan<strong>do</strong> para o<br />
seu relógio – quero dizer noite – houve uma<br />
gargalhada geral -... -Uma noite de real<br />
importância para mim. Hoje a esquadra<br />
Zag terá o seu significa<strong>do</strong>, seu objetivo e<br />
sua missão, defini<strong>do</strong>s. Seremos uma<br />
corporação militar... com uniforme e tu<strong>do</strong> –<br />
novas gargalhadas, devi<strong>do</strong> às caretas de<br />
seu comandante -... Apesar de não termos<br />
com quem brigar além de meteoros e<br />
meteoritos “meliantes”- estouro de risos -...<br />
Bem, formaremos uma escola militar que<br />
será treinada em manobras de precisão, de<br />
ataque e defesa coletiva e individual.<br />
84
Vamos ter patentes, cargos e o<br />
aprendiza<strong>do</strong> tático-estratégico e<br />
principalmente psicológico. Onde a arte de<br />
guerrear será compreendida como:<br />
“DEFESA DE NOSSOS BENS E<br />
INTERESSES COLETIVOS”. Sem estas<br />
prerrogativas, nada faremos. Quero<br />
enfatizar que, jamais partirá de nós<br />
qualquer provocação. Como juramos ao<br />
sair de casa, não mataremos, mas<br />
combateremos o mal como se fosse uma<br />
<strong>do</strong>ença, usan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s nossos recursos<br />
necessários e disponíveis para a defesa de<br />
nossa existência. Não nos deixaremos<br />
matar por falsas ideologias. Só reagiremos<br />
se formos ataca<strong>do</strong>s e se infelizmente<br />
formos força<strong>do</strong>s a tirar a vida de outro ser.<br />
Acho que fui bem claro, não?<br />
- To<strong>do</strong>s responderam com um<br />
estron<strong>do</strong>so “Sim”.<br />
- Muito bem, resumin<strong>do</strong>, haverá<br />
uma hierarquia, somente pilotarão os<br />
March-1, a partir <strong>do</strong>s oficiais, observan<strong>do</strong><br />
de baixo para cima, tenente e seu superior,<br />
o capitão. Os capitães se reportarão a seus<br />
comandantes. As unidades permanecerão<br />
como estão, isto é, cada esquadrilha com<br />
duas unidades e onde era comandante e<br />
85
oficial, agora passa a ser, capitão e<br />
tenente.<br />
Um jovem levantou o braço,<br />
pedin<strong>do</strong> a palavra.<br />
- Pode falar Maxun.<br />
- Senhor, continuares com os<br />
mesmos pares?<br />
- Sim, se for da vontade de to<strong>do</strong>s,<br />
mas se alguém quiser trocar, este é o<br />
momento... Mais alguma pergunta?<br />
To<strong>do</strong>s pareciam satisfeitos e sem<br />
perguntas.<br />
- Então podemos continuar.<br />
- A partir de agora cada<br />
esquadrilha contará com sua própria<br />
equipe de manutenção.<br />
O líder Erus Fanna, diplomará<br />
os primeiros oficiais em suas patentes.<br />
Fanna, por favor, a palavra é sua.<br />
- Olá, rapazes, parece que o<br />
comandante Tutkan resolveu... Hum...<br />
descascar um abacaxi e me deu a faca... e<br />
o abacaxi – a sala, quase veio a baixo -... e<br />
por falar nisso, já faz tempo que não como<br />
86
um abacaxi... – a explosão de gargalhadas,<br />
não parava. Fanna aguar<strong>do</strong>u, rin<strong>do</strong> de<br />
suas próprias piadas, até que a<br />
normalidade voltou e continuou.<br />
– Estou certo, encontraremos<br />
inimigos poderosíssimos pelo caminho...<br />
asteróides e meteoritos ainda maiores – a<br />
platéia delirou em risadas tão altas quanto<br />
às de seu líder e de seu comandante<br />
Tutkan -... Mas o assunto é sério, rapazes<br />
podem apostar.<br />
- Agora mesmo estamos no meio<br />
<strong>do</strong> nada e precisamos estar prepara<strong>do</strong>s,<br />
quem sabe, para um nada maior <strong>do</strong> que<br />
nós mesmos – neste ponto, to<strong>do</strong>s<br />
choravam de tanto rir.<br />
Depois de se divertirem. Fanna<br />
assumiu um ar sério e neste tom começou<br />
a falar.<br />
- Na verdade, nunca é demais<br />
estarmos prepara<strong>do</strong>s para situações<br />
inconvenientes. Estas situações serão<br />
simuladas em to<strong>do</strong>s os seus graus.<br />
Faremos exercício de combate, tanto de<br />
defesa, como os de contra-ataque, em<br />
módulos simula<strong>do</strong>res cria<strong>do</strong>s por seres da<br />
mais alta competência e genialidade; como<br />
87
to<strong>do</strong>s sabem: Thorc e Zur-Kwa; Zart, filha<br />
<strong>do</strong> comandante Tutkan, responsável pela<br />
programação <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res de bor<strong>do</strong><br />
nos simula<strong>do</strong>res; de vosso comandante<br />
sairá às diversas situações e estratégias; e<br />
de mim, que considero o menos<br />
competente – e o humor anterior voltou.<br />
Continuan<strong>do</strong>, senhores, tenho em mãos a<br />
lista <strong>do</strong>s novos capitães e tenentes, que já<br />
fizeram seus juramentos de manter a<br />
ordem, a lei, segun<strong>do</strong> a conhecemos e o<br />
bom senso nas decisões, seguin<strong>do</strong> nossos<br />
padrões de ética e moral. A pedi<strong>do</strong> de<br />
Zuila, faremos a chamada por ordem de<br />
idade, começan<strong>do</strong> pelos mais velhos. Na<br />
medida em que forem chama<strong>do</strong>s, dirigamse<br />
a esta mesa, para receber <strong>do</strong><br />
comandante Tutkan, os diplomas, e de<br />
mim, as insígnias. Iniciaremos pelos<br />
capitães: Zeuez ... Velz ... Ozy ... Ur ...<br />
Maxun ... Kobel ... Apollun ... Tameron ...<br />
Ansuir ... Bel-Zur ... e Megaron. Agora<br />
vamos aos tenentes : Fremil ... Atum ...<br />
Lúcifer ... Margeron ... Kalibur ... Ziem ...<br />
Tunsan ... Zel ... Maritz ... Brizz ... Almus e<br />
Prott.<br />
88
Era pura alegria entre os<br />
diploma<strong>do</strong>s. Velz, em to<strong>do</strong> o tempo em que<br />
ouvia os discursos não tirava os olhos da<br />
bela Zuila, que permanecia junto ao líder.<br />
Esta é a oportunidade que eu esperava –<br />
pensava. Vou convidá-la para uma<br />
comemoração mais tarde no Cassino.<br />
Mas tal não aconteceu. To<strong>do</strong>s<br />
foram convida<strong>do</strong>s a conhecer os <strong>do</strong>is<br />
módulos simula<strong>do</strong>res recém-construí<strong>do</strong>s<br />
no hangar principal. Eram duas coisas<br />
esquisitas penduradas por <strong>do</strong>is braços<br />
mecânicos, la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> e totalmente<br />
fecha<strong>do</strong>s em suas voltas. Tão somente ao<br />
entrar, é que se percebia o que eram. Era<br />
exatamente uma réplica da cabine de<br />
coman<strong>do</strong>, de um March-1, numa projeção<br />
de realidade virtual.<br />
Ao ativar aqueles coman<strong>do</strong>s, era como se<br />
estivessem prontos para disparo na pista<br />
de lançamento da Kosmos. Apresentavam<br />
as mesmas sensações de uma nave de<br />
verdade, inclusive com pressão de<br />
empuxo, tanto no disparo, como nas<br />
manobras e por vezes as sensações de<br />
89
arrasto pela resistência de matéria escura<br />
constituinte no hiper-espaço. Era perfeito.<br />
As novidades continuavam.<br />
Foram-lhes apresenta<strong>do</strong>s os novos March-<br />
1 aperfeiçoa<strong>do</strong>s com novos instrumentos<br />
de bor<strong>do</strong> e sistemas de navegação<br />
<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de maior precisão e alcance nos<br />
sensores. Agora equipa<strong>do</strong>s com <strong>do</strong>is<br />
canhões Protton, com potência até cinco<br />
Vetrons. Os três motores passaram a ter<br />
dupla ação e reversão de mesma potência,<br />
propician<strong>do</strong> parada total em cinco microns,<br />
mesmo estan<strong>do</strong> em velocidade máxima.<br />
Apesar de não serem guerreiros, estavam<br />
bem arma<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> o seu<br />
conhecimento.<br />
Naquela noite, ficaram ocupa<strong>do</strong>s<br />
demais com todas aquelas novidades.<br />
No dia seguinte deu inicio ao<br />
curso. Eram treinamentos e exercícios<br />
entre aulas teóricas e práticas.<br />
Na escola de cadetes, os mais<br />
jovens eram seleciona<strong>do</strong>s por vários<br />
90
exames eliminatórios, sen<strong>do</strong> o primeiro<br />
deles, de natureza psíquica.<br />
Aqueles que prosseguiam, no<br />
decorrer <strong>do</strong> curso, aprendiam tu<strong>do</strong> sobre o<br />
fabrico das naves que mais tarde iriam<br />
pilotar, desde o Trillium – a liga metálica de<br />
suas carcaças e motores – até a montagem<br />
de um defletor KWA. Qualquer forma<strong>do</strong>,<br />
poderia montar o seu próprio March-1.<br />
apenas desconhecen<strong>do</strong> a montagem <strong>do</strong>s<br />
canhões Prottons; estes tão somente Thorc<br />
e Zur-Kwa, conheciam seus segre<strong>do</strong>s.<br />
A constante evolução tecnológica<br />
permitia a este povo, novas descobertas,<br />
em to<strong>do</strong>s os campos, e a maior delas foi na<br />
área de alimentação. Fora desenvolvi<strong>do</strong>,<br />
nas naves celeiro, um novo alimento<br />
produzi<strong>do</strong>s a partir de cruzas e fusões de<br />
plantas que eram curativas e<br />
enriquece<strong>do</strong>res de seus sistemas<br />
imunológicos. As <strong>do</strong>enças já não os atingia<br />
e a longevidade era uma mera<br />
conseqüência disto. A média de idade de<br />
antes, de cento e cinqüenta anos de seu<br />
tempo, analisadas pelos computa<strong>do</strong>res,<br />
projetavam aos trezentos e dez anos em<br />
91
média, dependen<strong>do</strong> apenas de suas<br />
construções genéticas.<br />
O exemplo de que estavam<br />
viven<strong>do</strong> mais e melhor, estava em Thorc, o<br />
mais velho de to<strong>do</strong>s, que após <strong>do</strong>ze anos<br />
no espaço, apresentava uma aparência<br />
mais jovem <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> iniciaram a<br />
grande viagem. Zur-Kwa atribuiu este<br />
fenômeno a falta de gravidade e as<br />
influencias <strong>do</strong>s diversos sóis; que<br />
passaram; e soma<strong>do</strong> ao sistema imunoalimentar,<br />
os efeitos da velocidade, quase<br />
a da luz.<br />
Com o passar <strong>do</strong> tempo, a grande<br />
atração constituira-se em subir até os<br />
observatórios óticos, nas cúpulas das<br />
naves, e apreciar o espaço sideral. Eram<br />
como grandes bolhas de vidro que atraia<br />
os pares românticos numa visão incomum,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> passavam por<br />
planetas de aspecto interessante, por seus<br />
anéis colori<strong>do</strong>s, ou pela curiosa existência<br />
de suas muitas luas.<br />
Enquanto isto, os mapas<br />
estelares, iam sen<strong>do</strong> desenha<strong>do</strong>s e<br />
92
dividi<strong>do</strong>s, os quadrantes numa relação<br />
estreita de espaço-velocidade-tempo.<br />
Ao passarem <strong>do</strong> sétimo para o<br />
oitavo quadrante estelar, a grande nave<br />
Kosmos captou em seus monitores, uma<br />
espécie de sinal. Mais parecia um ranger<br />
de dentes. Isso sem dúvida, quebrou a<br />
monotonia da viagem que durava <strong>do</strong>ze<br />
anos e oito perío<strong>do</strong>s.<br />
Muitas expectativas tomavam<br />
conta de Tutkan, que se sentia responsável<br />
pela segurança da esquadra, então<br />
convi<strong>do</strong>u seus coman<strong>do</strong>s para uma<br />
reunião extraordinária e foi logo<br />
Dizen<strong>do</strong> :<br />
- Muito bem, rapazes, parece que<br />
vamos desenferrujar nossas pernas.<br />
Vamos correr em direção destes sinais e<br />
descobrir o que é. Se for constata<strong>do</strong> ser<br />
perigoso para a frota, vamos correr muito<br />
mais em senti<strong>do</strong> contrário.<br />
Caíram na gargalhada.<br />
- Senhor, - adiantou-se o capitão<br />
Maxun – Acho que estamos prepara<strong>do</strong>s<br />
para qualquer missão e fui escolhi<strong>do</strong> pelos<br />
93
colegas para lhe dizer que estamos<br />
ansiosos para entrarmos em ação para<br />
mantermos nossa frota a salvo.<br />
- Muito bem, rapazes, fico<br />
contente em saber da disposição de vocês,<br />
mas primeiro, vamos ver qual o tamanho<br />
<strong>do</strong> asteróide que vamos enfrentar e ... –<br />
enquanto to<strong>do</strong>s riam, Zart entrou com uma<br />
mensagem em mãos. Tutkan a leu e<br />
perguntou-lhe se Fanna já havia toma<strong>do</strong><br />
conhecimento de seu conteú<strong>do</strong>. Ela<br />
afirmou que sim.<br />
- Pois bem, irmãos, nossas<br />
sondas já localizaram o fenômeno e os<br />
monitores dizem que estamos perto<br />
demais, cerca de vinte Macrons.<br />
Quero três formações no hangar,<br />
agora mesmo. Velz, Maxun e Tameron,<br />
peguem seus pares e partam<br />
imediatamente. Os outros permanecerão<br />
em alerta máximo.<br />
Dito isto, Tutkan se dirigiu à ponte<br />
de coman<strong>do</strong> da Kosmos, onde Klemps, o<br />
piloto de coman<strong>do</strong> avança<strong>do</strong> da grande<br />
nave, trabalhava nos sensores e<br />
94
computa<strong>do</strong>res com os seus piscas<br />
coloridas e luminosas.<br />
- Klemps, vamos diminuir a<br />
marcha a meio motor até mais três<br />
Macrons. Depois vamos parar. Informe a<br />
tropa.<br />
- Sim, comandante.<br />
- Zuila, informe Fanna que<br />
estamos na ponte, caso ele queira se unir<br />
a nós.<br />
- Não é preciso, Zuila - disse<br />
Fanna , adentran<strong>do</strong> pela porta da ponte – já<br />
estou <strong>aqui</strong>. Não pensam que perderia isto,<br />
pensam?<br />
Tutkan, apesar de tenso,<br />
descontraiu e riu um pouco. Fanna sempre<br />
quebrava o gelo e a tensão, por onde<br />
passava. Aproveitou e decidiu brincar mais<br />
com seu velho companheiro e amigo.<br />
- Não poderia imaginar você<br />
meti<strong>do</strong> em baixo da cama, principalmente<br />
quan<strong>do</strong> ela poderá estar prestes a desabar<br />
– e entre risos mais descontraí<strong>do</strong>s,<br />
continuou - ... todavia seria bom deixá-la<br />
preparada, pois posso precisar me<br />
esconder , também.<br />
95
Fanna riu da piada <strong>do</strong> amigo e<br />
disse :<br />
- Certo pessoal, já nos divertimos,<br />
agora, vamos ao trabalho.<br />
Tutkan passou para o controle<br />
<strong>do</strong>s transmissores contatan<strong>do</strong> com os<br />
coman<strong>do</strong>s Zag em curso ao fenômeno.<br />
- Kosmos, para Zag-1 , está me<br />
ouvin<strong>do</strong>?<br />
- Alto e claro, comandante.<br />
- Os senrores acusam a<br />
aproximação <strong>do</strong> sinal em dezoito Macrons<br />
de nós e <strong>do</strong>ze de vocês. Está bem na sua<br />
frente. Cheque o seu RAN.<br />
- Afirmativo, comandante, mas<br />
parece estar para<strong>do</strong>.<br />
- Perfeito. Nós também vamos<br />
parar <strong>aqui</strong> . Ficaremos a dezessete<br />
Macrons de distância <strong>do</strong> alvo.<br />
- Está certo, senhor.<br />
E pela primeira vez desde então,<br />
a grande Kosmos e a frota inteira parou no<br />
espaço.<br />
Era uma situação inédita, que<br />
proporcionou um começo de pânico num<br />
<strong>do</strong>s cargueiros Mir, superlota<strong>do</strong>.<br />
96
As notícias correram rápidas,<br />
distorcen<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> real nas palavras<br />
místicas agourentas <strong>do</strong>, agora, mestre<br />
Gideonis. Foi preciso alguma energia por<br />
parte de Tutkan para conter os ânimos <strong>do</strong><br />
pessoal a bor<strong>do</strong>.<br />
- Mas que droga ! Logo agora que<br />
estamos na eminência de, talvez, a maior<br />
descoberta de to<strong>do</strong>s os tempos, vocês<br />
resolvem entrar em histeria coletiva?<br />
- Sentimos muito, senhor – disse,<br />
Pramotiz, o controla<strong>do</strong>r responsável <strong>do</strong><br />
Mir-4 – não voltará acontecer. O principal<br />
causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> susto foi conti<strong>do</strong>. Aquele velho<br />
meti<strong>do</strong> a curandeiro e grande guru foi<br />
neutraliza<strong>do</strong>. Ele espalhou estarmos sen<strong>do</strong><br />
ataca<strong>do</strong>s por sei lá o que!<br />
- Pois fiquem tranqüilos. Tu<strong>do</strong><br />
está sob controle e se houver novidades,<br />
serão avisa<strong>do</strong>s oficialmente. Caso ainda<br />
não saibam, tem duas esquadrilhas Zag,<br />
cobrin<strong>do</strong> a retaguarda. Mantenham-se em<br />
suas ocupações e deixem que façamos<br />
nosso trabalho sem pressões nem<br />
desordem e tu<strong>do</strong> sairá melhor.<br />
- Sim, senhor. Como disse antes,<br />
não voltará a acontecer.<br />
97
Após estas palavras, Tutkan<br />
mu<strong>do</strong>u a freqüência e chamou a<br />
esquadrilha Zag, no “fronte”.<br />
- Zag-1, <strong>aqui</strong> é a Kosmos –<br />
Responda, por favor.<br />
- Sim, comandante.<br />
- Velz, estamos para<strong>do</strong>s no<br />
segun<strong>do</strong> setor <strong>do</strong> oitavo quadrante,<br />
exatamente a dezessete Macrons <strong>do</strong> sinal.<br />
Informe o seu RAN de bor<strong>do</strong>, para a volta.<br />
Agora, assuma o coman<strong>do</strong>. Vocês estão<br />
sen<strong>do</strong> monitora<strong>do</strong>s. Boa sorte !<br />
- Certo comandante. Deixe por<br />
nossa conta. Desligan<strong>do</strong>.<br />
Velz, no coman<strong>do</strong> da missão<br />
passou para a comunicação de bor<strong>do</strong> entre<br />
os March-1 e seus tripulantes.<br />
- Atenção, rapazes, estamos a<br />
<strong>do</strong>is Macrons <strong>do</strong> ... ora, <strong>do</strong> que nos espera.<br />
Mantenha formação Maxun, você está<br />
muito afasta<strong>do</strong>, aproxime-se.<br />
- Já estou in<strong>do</strong> – e comunican<strong>do</strong>se<br />
com seu par – Zel, vamos nos aproximar<br />
<strong>do</strong> pessoal. Eles se sentem sós.<br />
- Afirmativo, capitão.<br />
- Hei, vocês aí ! entrou Velz –<br />
parecem duas comadres. Conversem<br />
98
menos e fiquem de olhos abertos. Estamos<br />
a um Macron <strong>do</strong> alvo.<br />
- Hei, parece que o sinal parou.<br />
Não estou mais receben<strong>do</strong> – disse o<br />
capitão Maxun.<br />
- É mesmo – concor<strong>do</strong>u, Velz – o<br />
quer que seja, parou de emitir.<br />
- Novidades, capitão Velz – entrou<br />
Tameron – Parece ser um asteróide e <strong>do</strong>s<br />
grandes ... vejam a duas horas ... aquele<br />
ponto esbranquiça<strong>do</strong>, acho que as<br />
emissões vem de lá...<br />
- Concor<strong>do</strong>, disse Velz – vamos<br />
dar uma espiada de perto. Tameron, você<br />
e Kalibur, vão pela direita e dêem uma<br />
órbita bem devagar. Maxun, você e Zel<br />
entrem por baixo, e eu vou por cima. Ao<br />
meu coman<strong>do</strong> formaremos um exaédro a<br />
partir d<strong>aqui</strong>. Asthon, você fica para<strong>do</strong> a<br />
duzentos e cinquenta centons e mantenha<br />
to<strong>do</strong>s os sensores ativa<strong>do</strong>s. Dê cobertura<br />
em caso de retirada.<br />
- Positivo, senhor – respondeu<br />
Asthon, com os olhos arregala<strong>do</strong>s.<br />
- Vamos, agora. Ativem os<br />
sensores Kranset e veremos <strong>do</strong> que é feito<br />
este asteróide.<br />
99
As cinco pequenas naves<br />
separaram-se e abriram-se num grande<br />
globo, circundan<strong>do</strong> vagarosamente o<br />
asteróide.<br />
- Já estou com ele na tela – disse<br />
Maxun – Parece ser de puro metal ... mas o<br />
sensor Kranset desconhece a composição<br />
química deste material ... só diz que não é<br />
ferroso.<br />
De repente, to<strong>do</strong>s os monitores<br />
acusaram a volta daquele sinal. Em certos<br />
momentos, a fonte parecia vir <strong>do</strong> centro <strong>do</strong><br />
asteróide e em outros, parecia surgir de<br />
diversos lugares, até mesmo de fora. A<br />
impressão que tinham era a de estar no<br />
meio de um vale de ecos. Em da<strong>do</strong><br />
momento, o sinal vinha de todas as<br />
direções, geran<strong>do</strong>-lhes desorientação.<br />
- O que está acontecen<strong>do</strong> ? –<br />
perguntou Maxun – Estamos dentro de um<br />
sino?<br />
- Parece, mesmo – concor<strong>do</strong>u Velz<br />
– Estamos dentro de um campo de<br />
ressonância, só vamos saber se tocarmos<br />
nesta coisa. Quem se oferece para o<br />
primeiro toque?<br />
100
- Eu vou – disse, Tameron –<br />
Kalibur vem comigo na cobertura.<br />
- Positivo, capitão.<br />
- Não há nada <strong>aqui</strong> além de<br />
metal.<br />
- Mas o sinal continua –<br />
acrescentou Kalibur.<br />
- Mas com certeza, não é a fonte –<br />
observou Tameron.<br />
- Então de onde vêm estes sinais?<br />
– perguntou, Maxun, realmente intriga<strong>do</strong>.<br />
- Bem, rapazes – entrou, Velz – Já<br />
vimos que os sinais estão sen<strong>do</strong> emiti<strong>do</strong>s<br />
por outra fonte. Este metal gigante apenas<br />
o reflete. Isto significa que vamos ter que<br />
procurar mais. Tameron, você e Kalibur,<br />
voltem à base e levem as análises <strong>do</strong><br />
Kranset-II. Talvez os computa<strong>do</strong>res da<br />
Kosmos analisem melhor este metal.<br />
Maxun, você e Zel, formarão comigo e<br />
Asthon, e seguiremos em frente.<br />
As ordens foram cumpridas,<br />
Tameron e kalibur voltaram para a Kosmos<br />
e as outras duas formações seguiram em<br />
frente à procura da direção certa <strong>do</strong><br />
misterioso ruí<strong>do</strong>, numa varredura em leque.<br />
101
Frequentemente captavam o<br />
sinal, ora mais fraco, e vin<strong>do</strong> em direções<br />
opostas ao asteróide, oportunizan<strong>do</strong> uma<br />
pequena certeza <strong>do</strong> rumo certo. A partir<br />
disso, definiram as coordenadas <strong>do</strong><br />
asteróide em seus computa<strong>do</strong>res de bor<strong>do</strong><br />
e sistemas de navegação. Batizaram-no de<br />
“O asteróide de Tameron”, por ter si<strong>do</strong> ele<br />
o único a “tocá-lo”. Mais tarde este corpo<br />
constaria em seus mapas estelares.<br />
Os projetores de navegação<br />
indicavam que a quarenta e <strong>do</strong>is graus <strong>do</strong><br />
setor cinco – a boreste <strong>do</strong> asteróide – os<br />
sinais ficavam mais vivos, e assim<br />
tomaram seu curso.<br />
- Zag-um, chaman<strong>do</strong> a base. Zagum,<br />
chaman<strong>do</strong> a base ...<br />
Os receptores de áudio <strong>do</strong>s<br />
March-1, traziam apenas ruí<strong>do</strong>s de<br />
estática.<br />
Há um Macro de distância <strong>do</strong><br />
asteróide, Zel rompeu o silêncio<br />
“barulhento” <strong>do</strong>s monitores.<br />
102
- Capitão Velz, o meu conversor<br />
magnético aponta que terei energia apenas<br />
para voltar. Não posso prosseguir.<br />
- O meu também – disse, Maxun.<br />
- Certo rapazes, o meu também.<br />
Asthon, como está o seu?<br />
- Tenho <strong>do</strong>is terços de energia,<br />
senhor. Devo continuar a missão?<br />
- Nada disso. Vamos voltar e ver<br />
com nossos superiores o que resolvem,<br />
além <strong>do</strong> mais, estamos sem contato com a<br />
base.<br />
- Será por causa <strong>do</strong> asteróide? –<br />
perguntou, Maxun.<br />
- Provavelmente – disse, Velz.<br />
Deram meia-volta e seguiram<br />
para o “asteróide de Tameron”, onde<br />
refariam as coordenadas para a base.<br />
Muitas perguntas rondavam a<br />
mente de Velz. A primeira delas era,<br />
porque o comandante Tutkan o escalara<br />
para aquele coman<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que numa<br />
missão ao desconheci<strong>do</strong>, igual aquela,<br />
hierárquicamente deveria ser dada a<br />
Zeuez? Ele era o mais experiente dentre<br />
to<strong>do</strong>s e naturalmente to<strong>do</strong>s os oficiais,<br />
assim como ele próprio, se sentiriam mais<br />
103
seguros. E afinal, seria possível o Komptor<br />
desvendar a natureza <strong>do</strong> metal <strong>do</strong><br />
“Asteróide de Tameron” e a causa <strong>do</strong> sinal<br />
que aquela grande massa emitia, sem<br />
nenhum componente eletrônico,<br />
aparentemente? E por falar nisso, por que<br />
a interrupção das comunicações com a<br />
Kosmos? Aqueles equipamentos<br />
sofistica<strong>do</strong>s, em várias oportunidades,<br />
mostraram ser eficazes em distâncias<br />
maiores <strong>do</strong> que trinta Macrons! Nunca<br />
houvera falhas neles!<br />
Talvez estas perguntas fossem<br />
respondidas ao chegarem à base, que<br />
certamente estaria ocupadíssima em<br />
desvendar to<strong>do</strong>s estes mistérios.<br />
Neste mesmo instante, a Kosmos<br />
permanecia parada e sem comunicação<br />
com Zag-um e Zag-<strong>do</strong>is, entretanto,<br />
monitorava o regresso de Zag-tres.<br />
- Zag-tres, <strong>aqui</strong> é a Kosmos,<br />
responda.<br />
- Zag-tres na escuta, pode falar<br />
comandante.<br />
- Tameron, o que está<br />
acontecen<strong>do</strong>? Por que está voltan<strong>do</strong> numa<br />
só formação? Onde estão os outros?<br />
104
- Senhor, achamos um corpo<br />
relativamente grande, parecen<strong>do</strong> ser um<br />
asteróide gigante, de onde aparentemente<br />
vinham os sinais ...<br />
Um relatório detalha<strong>do</strong> foi<br />
passa<strong>do</strong> ao coman<strong>do</strong>. Ao mesmo tempo o<br />
Telecon era ativa<strong>do</strong>, captan<strong>do</strong> as<br />
informações obtidas pelo Kramset-II, em<br />
conexão direta com o Komptor – o<br />
analiza<strong>do</strong>r frequencial, que traduzia em<br />
linguagem absoluta, to<strong>do</strong>s os materiais que<br />
por ele passava.<br />
O Komptor fora desenvolvi<strong>do</strong>, a<br />
partir <strong>do</strong> próprio sensor analiza<strong>do</strong>r<br />
Kramset-II por Zur-Kwa e Thorc durante a<br />
viagem.<br />
Muitos planetas haviam si<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s,<br />
trazen<strong>do</strong> curiosidades, tais como: os<br />
elementos mais comuns no espaço sideral<br />
eram o hélio, hidrogênio, e seus deriva<strong>do</strong>s.<br />
Neste tocante, Thorc com sua<br />
mente prática, começou a imaginar um<br />
meio de compatibilizar estes elementos<br />
aos energiza<strong>do</strong>res. Se estas constatações<br />
permanecessem, seria uma boa idéia,<br />
estabelecen<strong>do</strong> assim nestes planetas, uma<br />
espécie de postos de abastecimento no<br />
espaço. Mas isso seria um estu<strong>do</strong> longo<br />
105
demais e a autoridade em química era Zur-<br />
Kwa. E mais, no momento tinham uma<br />
realidade nova, ou seja, um asteróide<br />
inteiramente de metal não ferroso e de liga<br />
leve.<br />
Os analisa<strong>do</strong>res frequenciais <strong>do</strong><br />
Komptor, confirmavam o que o Kramset-II,<br />
de Tameron, analisara no toque. A única<br />
novidade introduzida era, ser este metal<br />
altamente magnetiza<strong>do</strong>, entretanto fora <strong>do</strong><br />
alcance <strong>do</strong>s programas e conhecimento de<br />
seus computa<strong>do</strong>res.<br />
Momentos depois, as manobras<br />
de aproximação eram feitas para a<br />
reentrada <strong>do</strong>s March-1 e de Zag-tres.<br />
Dadas as coordenadas, Tameron e Kalibur<br />
entraram nas pistas-túneis três e quatro,<br />
semelhantes às de outrora em Krópitus e<br />
Pakeus.<br />
Erus Fanna, como sempre, estava<br />
no observatório central com Tutkan, à<br />
espera de seus rapazes, com o seu<br />
inseparável sorriso.<br />
Ao sair da nave, Tameron<br />
reparou que o cabo de toque não estava no<br />
106
seu devi<strong>do</strong> lugar. Não entendeu muito bem<br />
porque, e então pediu para um <strong>do</strong>s<br />
rapazes da manutenção verificar o defeito.<br />
Em seguida, tomou a rampa de acesso à<br />
cela estratifica<strong>do</strong>ra e purifica<strong>do</strong>ra com seu<br />
companheiro. Um procedimento normal,<br />
sempre que passavam momentos fora da<br />
ambientação natural – como chamavam. Só<br />
depois de uma checagem completa em<br />
seus corpos e vestes, eram libera<strong>do</strong>s para<br />
o alojamento adjacente, onde cada um<br />
tinha seu nome estampa<strong>do</strong> à porta <strong>do</strong>s<br />
armários.<br />
Depois das boas-vindas ao<br />
pessoal de Zag-tres, Fanna e Tutkan<br />
voltaram para a ponte de coman<strong>do</strong>, com<br />
suas sobrancelhas arqueadas em visível<br />
preocupação. Ao se olharem, antes da sala<br />
principal, falaram juntos, perguntan<strong>do</strong> um<br />
ao outro, como se em coro de jogral :<br />
- O que estarão fazen<strong>do</strong> aqueles<br />
...<br />
- Como posso saber – atalhou<br />
Fanna – e depois, eu perguntei primeiro!<br />
- Acho que perguntamos juntos –<br />
disse Tutkan.<br />
107
- É claro que perguntamos juntos,<br />
mas afinal, que droga! Vamos pensar em<br />
alguma coisa, Tut. Você não acha que<br />
deveríamos ter envia<strong>do</strong> Zeuez nesta<br />
missão?<br />
- Não, acho que não, Erus. Zeuez<br />
está com fadiga e o <strong>do</strong>utor Grohalv acha<br />
que ele nunca se recuperou daquele<br />
acidente em Krópitus, lembra-se?<br />
- Sim, foi terrível.<br />
- Pois é, e além disso ele ficou em<br />
coma por mais de um perío<strong>do</strong> e teve duas<br />
desativações cerebrais e várias paradas<br />
cardíacas. Quase o perdemos. Infelizmente<br />
ele não está em sua capacidade plena.<br />
Não podemos mandá-lo numa missão<br />
destas, ao desconheci<strong>do</strong>. O melhor de tu<strong>do</strong><br />
isso, é que ele ficou muito satisfeito<br />
quan<strong>do</strong> soube ser Velz o comandante da<br />
primeira missão de risco. Sem contar que<br />
mantém to<strong>do</strong>s os cadetes na linha e<br />
ocupa<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s depositam muita<br />
confiança nele. Mantê-lo a bor<strong>do</strong>, o moral<br />
<strong>do</strong>s rapazes continua alto. Imagine se o<br />
tivéssemos manda<strong>do</strong> nesta missão e algo<br />
erra<strong>do</strong> acontecesse, e como vemos, pode<br />
estar acontecen<strong>do</strong>, sem ele as coisas na<br />
academia poderiam ficar tensas. Quem<br />
108
pode saber o que lhe aconteceria em<br />
pressão máxima? Ele é mais útil <strong>aqui</strong>, <strong>do</strong><br />
que lá fora!<br />
Fanna concor<strong>do</strong>u. Zeuez era um<br />
grande alia<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong>, caso as coisas<br />
viessem a engrossar.<br />
Ao adentrarem na sala nervosa<br />
da Kosmos, a preocupação era eminente<br />
em seus rostos.<br />
Klemps dirigiu-se a eles, mais<br />
especificamente ao comandante Tutkan.<br />
- Senhor, acabo de enviar <strong>do</strong>is<br />
olhos-sonda, para tentar monitorar as<br />
outras duas formações. Mas em minha<br />
opinião, deveríamos seguir o rastro, pois as<br />
naves que pousaram a pouco, estavam<br />
com seus energiza<strong>do</strong>res totalmente<br />
fatiga<strong>do</strong>s. Estas naves não andariam<br />
nenhum centon a mais. Temo que os<br />
nossos companheiros estejam em situação<br />
difícil, porque sem energia, seus Telecons<br />
não chegam até nós.<br />
- Talvez fosse uma boa idéia, mas<br />
vamos aguardar um pouco mais. Pode ser<br />
que as sondas os encontrem e não creio<br />
109
que os rapazes fossem tolos o bastante<br />
para não observarem seus tempos de vôo.<br />
- Pode ser, senhor, mas como se<br />
explica o esvaziamento total de energia<br />
das naves que chegaram? To<strong>do</strong>s os<br />
March-1 têm a mesma autonomia e ...<br />
- Calma, Klemps. Tu<strong>do</strong> no seu<br />
devi<strong>do</strong> tempo – atalhou, Fanna - Pode ser o<br />
problema que está na prancheta de Zur-<br />
Kwa e Thorc. Trata-se da compensação<br />
negativa que os instrumentos de bor<strong>do</strong><br />
resultam nos propulsores. A princípio<br />
tentamos separá-los em grupos distintos,<br />
com acumula<strong>do</strong>res energéticos. Mas isso<br />
influiria diretamente na questão ... vamos<br />
dizer ... de espaço interno.<br />
De súbito, as telas de<br />
rastreamento enviadas pelas duas sondas,<br />
detectaram a presença <strong>do</strong> pessoal em<br />
missão.<br />
- Olhem – disse, Samis – estamos<br />
com eles!!<br />
- Vamos Samis – disse, Tutkan –<br />
ative o Telecon e tente comunicação –<br />
viran<strong>do</strong>-se para o piloto – Klemps, verifique<br />
a exata coordenada em que estão.<br />
110
- Estão em zero ponto <strong>do</strong>is graus<br />
fora <strong>do</strong> curso em aproximadamente<br />
dezessete Macrons, passan<strong>do</strong> agora<br />
para... ora, estão em manobras ... o que é<br />
isso?... veja comandante, parece que<br />
pararam?<br />
- Ativar to<strong>do</strong>s os sensores –<br />
ordenou Tutkan ao se deparar com a tela<br />
<strong>do</strong> Telecon.<br />
O áudio <strong>do</strong> receptor Telecon<br />
acusava <strong>do</strong>is ruí<strong>do</strong>s diferentes. Um, já<br />
conheci<strong>do</strong>, envia<strong>do</strong> pelo asteróide e o<br />
outro, a estática <strong>do</strong>s emissores <strong>do</strong>s March-<br />
1, que pareciam para<strong>do</strong>s. A procura de<br />
freqüências estava ativada e de repente :<br />
- Aqui é Zag-um, para Kosmos ...<br />
Aqui é Zag-um, para Kosmos, responda,<br />
por favor ...<br />
_ Kosmos na escuta, pode falar<br />
Velz!<br />
- Comandante, que alívio em esc<br />
... tam ... e no ... és ... hãm... on - ...<br />
chhhhhhhh – zzzzzzzzzzz ...<br />
- Acho que os perdemos<br />
novamente – disse Samis, movimentan<strong>do</strong> o<br />
analiza<strong>do</strong>r frequencial-direcional.<br />
111
- Continue, tente novamente, abra<br />
os canais com todas as variáveis –<br />
disseTutkan.<br />
- Sim comandante ... Zag-um,<br />
<strong>aqui</strong> é a Kosmos, responda ...<br />
- Zag-um, para Kosmos ...<br />
- Já os pegamos novamente –<br />
disse Samis – Zag-um, estamos na escuta.<br />
Tutkan apressadamente tomou o<br />
comunica<strong>do</strong>r de Samis.<br />
- Velz o que está acontecen<strong>do</strong>?<br />
- Estamos em inércia, senhor. Os<br />
controles <strong>do</strong> console dizem que os<br />
propulsores estão ativa<strong>do</strong>s, mas não estão<br />
res ... ac ... tam... peq... – zzzzzzz.<br />
- Zag-um, Zag-um... fale, Zagum...<br />
mas que droga! Os perdemos de<br />
novo – protestou Tutkan.<br />
Os ruí<strong>do</strong>s de estática<br />
permaneciam no áudio <strong>do</strong> Telecon. Os<br />
receptores frequenciais buscavam todas as<br />
variáveis, quan<strong>do</strong> Klemps muito excita<strong>do</strong><br />
falou quase gritan<strong>do</strong> :<br />
- Estão se moven<strong>do</strong> senhor.<br />
Parece que em nossa direção.<br />
112
Samis ativou seus fones de<br />
ouvi<strong>do</strong> conectan<strong>do</strong> outras chaves<br />
seletoras, logo após anuncian<strong>do</strong> :<br />
- Estamos com eles novamente,<br />
senhor. Pode falar agora.<br />
-Muito bem, Samis. Zag-um,<br />
estamos com vocês. O que está<br />
acontecen<strong>do</strong> aí?<br />
- Não sei comandante. Tão logo<br />
as comunicações pararam, começamos a<br />
nos mover. Nada faz senti<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>. Nossos<br />
sensores e sistemas de navegação não<br />
funcionam. O direcional <strong>do</strong> tenente Zel<br />
aponta curso diferente <strong>do</strong> meu. Maxun não<br />
tem comunicação de áudio comigo, apenas<br />
podemos nos ver, e Asthon não está bem.<br />
Parece estar desacorda<strong>do</strong>. Não responde<br />
faz algum tempo. Estamos tentan<strong>do</strong><br />
rebocá-lo.<br />
- Zag-um, quan<strong>do</strong> isto aconteceu?<br />
- Antes da primeira comunicação,<br />
senhor.<br />
- Tu<strong>do</strong> bem, depois você nos<br />
explica melhor. Poupem seus<br />
energiza<strong>do</strong>res. Continuem com seus lemes<br />
em sintonia e aguardem novas ordens. Já<br />
estamos partin<strong>do</strong> ao encontro de vocês.<br />
Mantenha este curso. Isto é tu<strong>do</strong>.<br />
113
O ambiente estava tenso. Tutkan<br />
dirigiu-se ao piloto da Kosmos:<br />
- Klemps, mude o curso para três<br />
ponto zero um, manten<strong>do</strong> um quarto à<br />
frente – e acionan<strong>do</strong> uma chave – Atenção<br />
pessoal <strong>do</strong> hangar. Aqui fala o<br />
comandante, temos uma emergência com<br />
um <strong>do</strong>s Zags, Asthon está em dificuldade<br />
para a reentrada e pouso. Preparem a<br />
pista para pouso de emergência. Zag-tres<br />
e quatro, preparem-se para partir e levem o<br />
cordão de reboque para trazer nosso<br />
companheiro de volta.<br />
- Senhor entrou Zuila às pressas –<br />
este é o relatório da nave de Tameron.<br />
Tutkan passou os olhos pela folha<br />
laminada e disse para Zuila chamar Thorc<br />
e Zur-Kwa e quan<strong>do</strong> ela se retirava, virouse<br />
para Fanna.<br />
- Erus, dê uma olhada nisto.<br />
- Hummm !! ... O cabo usa<strong>do</strong> no<br />
toque <strong>do</strong> asteróide, está totalmente<br />
magnetiza<strong>do</strong> ... muito interessante ... toda<br />
vez que o energiza<strong>do</strong>r recebe alimentação,<br />
esta se esvai e se acumula no ponto<br />
extremo <strong>do</strong> cabo e se dispersa novamente<br />
... muito interessante – disse, devolven<strong>do</strong> o<br />
relatório à Tutkan.<br />
114
- Foi por isso que mandei chamar<br />
Thorc e Zur-Kwa. Talvez eles encontrem a<br />
razão disto.<br />
A correria dentro <strong>do</strong> hangar era<br />
grande e ràpidamente, duas formações<br />
Zag foram lançadas.<br />
- Senhor – disse Samis –<br />
Ambhórius deseja lhe falar pelo Intercom.<br />
- Obriga<strong>do</strong> Samis. Pode falar,<br />
Ambhórius.<br />
- Comandante Tutkan, queremos<br />
permissão para segui-los.<br />
- Seguir-nos, por que?<br />
- Não nos sentimos seguros,<br />
fican<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>. A frota deseja acompanhar a<br />
Kosmos.<br />
- Aguardem um pouco. Fanna é<br />
quem decidirá.<br />
- O que você acha, Erus? Eles<br />
estão com me<strong>do</strong> de ficarem para traz.<br />
- Não os censuro, mas esta é uma<br />
operação que seria mais prudente, eles<br />
ficarem onde estão. Faça o seguinte,<br />
destaque quatro formações para ficar junto<br />
a eles. Diga-lhes para não se preocuparem<br />
e que estamos em exercício de<br />
salvamento.<br />
115
- Esta certo. Ambhórius, estamos<br />
em manobras para exercício de<br />
salvamento e se to<strong>do</strong>s vierem não teremos<br />
espaço suficiente para as manobras, além<br />
<strong>do</strong> desperdício de energia.<br />
- Mas não estamos gostan<strong>do</strong> da<br />
idéia de ficarmos sós e há rumores...<br />
- Sem preocupações amigo –<br />
atalhou, Tutkan – tu<strong>do</strong> está sob controle.<br />
Para que vocês se sintam melhor, estou<br />
envian<strong>do</strong> quatro formações Zag para uma<br />
escolta e proteção. Está certo?<br />
- São exercícios apenas?<br />
- Sim. Fique tranqüilo e tranqüilize<br />
sua gente.<br />
- Está certo, mas não se percam<br />
da gente.<br />
- Sossegue, Ambhórius, não os<br />
perderemos de vista.<br />
- Amém!<br />
A grande Kosmos se afastou da<br />
frota, em direção <strong>do</strong>s Zags em<br />
dificuldades.<br />
- Zag-um, <strong>aqui</strong> é a Kosmos, pode<br />
me ouvir?<br />
- Alto e claro, comandante.<br />
116
- Estão seguin<strong>do</strong> em suas<br />
direções duas formações Zag e nós logo<br />
atrás. Como estão as coisas por aí?<br />
- Na mesma, comandante.<br />
- Pois bem, vocês estão a quinze<br />
Macrons de nós, neste momento. Vamos<br />
andar mais cinco, <strong>do</strong>nde ficaremos na<br />
espera. Mantenham o curso e velocidade<br />
constante em meio motor. Dentro de<br />
aproximadamente <strong>do</strong>is Macrons de vocês,<br />
haverá o encontro das duas formações que<br />
estão a caminho. Em breve estaremos com<br />
vocês. Boa sorte rapazes.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, senhor.<br />
Como o previsto, o encontro se<br />
deu, mais-ou-menos no instante em que a<br />
Kosmos parou – cerca de um Macrom de<br />
distância entre eles.<br />
Pouco depois, os March-1,<br />
reentravam, um por um, para o ninho,<br />
exceto Asthon, que permanecia<br />
desacorda<strong>do</strong>. Então Tutkan chamou Zeuez<br />
e o consultou:<br />
- Zeuez, quais as táticas usadas<br />
nos treinamentos de resgate e como ou<br />
117
quem teria as habilidades necessárias para<br />
fazê-lo?<br />
- Comandante, só existe um meio<br />
seguro, é fazen<strong>do</strong> a transferência de<br />
pilotos e esta é uma tarefa bastante<br />
delicada para a maioria <strong>do</strong>s rapazes. Com<br />
sua permissão, eu gostaria de tentar.<br />
- Está certo, Zeuez, vá buscá-lo.<br />
A nave de Asthon permanecia<br />
flutuan<strong>do</strong> à cerca de dez centons da<br />
Kosmos, em inércia total.<br />
Zeuez partiu imediatamente numa<br />
nave transporte com a equipe de resgate.<br />
Em instantes, estavam juntos <strong>do</strong><br />
pequeno March-1.<br />
Com traje apropria<strong>do</strong>, Zeuez saiu<br />
<strong>do</strong> transporte, flutuan<strong>do</strong> e se direcionan<strong>do</strong><br />
mediante os jatos de ar comprimi<strong>do</strong>, até a<br />
nave de Asthon. Eram movimentos<br />
vagarosos e bem planeja<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong> o<br />
cuida<strong>do</strong> era pouco na abertura e<br />
penetração à carlinga da nave, que se<br />
mantinha pressurizada. Um movimento em<br />
falso poderia arremessar Zeuez para muito<br />
longe, ou então acionar o dispositivo de<br />
118
ejeção, mandan<strong>do</strong> Asthon para os confins<br />
<strong>do</strong> Universo. Era uma operação delicada,<br />
como o próprio Zeuez dissera.<br />
Numa primeira olhada, Zeuez<br />
notou que Asthon tinha o capacete<br />
fecha<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> o seu próprio oxigênio e<br />
isto facilitava as coisas, então sinalizou<br />
para que outro viesse para ajudar na<br />
remoção <strong>do</strong> companheiro desacorda<strong>do</strong>. Ao<br />
mesmo tempo, com extrema habilidade e<br />
cuida<strong>do</strong>, abriu as válvulas de<br />
descompressão interna, bem de vagar.<br />
Para sua surpresa, a carlinga estava<br />
despressurizada. De certo mo<strong>do</strong>, foi fácil o<br />
restante da operação. O outro parceiro de<br />
Zeuez, conduziu Asthon até o transporte e<br />
ele tomou os controles <strong>do</strong> March-1. A<br />
operação fora concluída com sucesso.<br />
Enquanto isso, as naves<br />
estacionadas no hangar, que voltaram da<br />
missão, apresentavam um quadro curioso,<br />
com o mesmo diagnóstico. Seus<br />
energiza<strong>do</strong>res estavam completamente<br />
fatiga<strong>do</strong>s, os sistemas de navegação<br />
desmagnetiza<strong>do</strong>s e os computa<strong>do</strong>res,<br />
defletores e sensoriais, inoperantes.<br />
119
A nave transporte em que Asthon<br />
fora coloca<strong>do</strong> aos cuida<strong>do</strong>s médicos<br />
informou que ele estava morto, e a causa<br />
era asfixia.<br />
Neste mesmo instante, Zeuez<br />
tentava pousar na pista sete, enfrentan<strong>do</strong><br />
muitas dificuldades. Aquela nave não tinha<br />
forças para acionar o retrocesso, uma vez<br />
que, no momento de arranque, após o<br />
arremesso, os motores paravam de uma só<br />
vez. O pouso foi lamentável, mesmo com a<br />
frenagem magnética – da própria pista –<br />
auxiliares de desaceleração. A nave<br />
desgovernada bateu forte nas plataformas<br />
laterais, avarian<strong>do</strong> bastante, tanto a pista,<br />
como o próprio March-1. O perigo maior foi<br />
na asa direita, onde um <strong>do</strong>s canhões<br />
Prottons se desprendera, causan<strong>do</strong> faíscas<br />
e pequenas explosões. Felizmente estava<br />
desenergiza<strong>do</strong>. Foi um grande e perigoso<br />
susto.<br />
Os instrumentos das outras naves<br />
foram desmonta<strong>do</strong>s e leva<strong>do</strong>s para exame<br />
nos laboratórios de Thorc e Zur-Kwa e a<br />
equipe de cientistas. Nas preliminares<br />
nenhuma causa aparente foi constatada.<br />
120
Erus Fanna, pela primeira vez,<br />
demonstrava irritação, tentan<strong>do</strong> entender o<br />
que não dava para entender.<br />
- Tut, perdemos um companheiro,<br />
não descobrimos nada a respeito <strong>do</strong><br />
fenômeno e o que é pior, parece que<br />
fomos atingi<strong>do</strong>s por uma coisa que não<br />
sabemos o que é!<br />
- Pois eu acho que devemos<br />
voltar até lá e analisar a coisa mais de<br />
perto. Vou lhe dizer o que vamos fazer.<br />
Ficaremos a <strong>do</strong>is macrons de distância e<br />
colocaremos um laboratório bem em cima<br />
daquela coisa. Os monitores ainda acusam<br />
os sinais vin<strong>do</strong>s de lá e os computa<strong>do</strong>res<br />
parece que já começam a entender. São<br />
sinais que vem e vão em tempos iguais.<br />
Parece ser um código e isto significa que<br />
há vida inteligente e podem estar <strong>aqui</strong><br />
mesmo, neste quadrante.<br />
- É uma bela teoria, porém<br />
arrisca<strong>do</strong> demais, nos aproximarmos<br />
d<strong>aqui</strong>lo, sem antes termos uma idéia<br />
melhor <strong>do</strong> que é, Tut.<br />
- Talvez tenha razão, mas<br />
também não podemos seguir em frente ou<br />
tomar outro curso, sem antes verificar se<br />
<strong>aqui</strong>lo é um asteróide ou seja lá o que for.<br />
121
Erus, a meu ver, a hora da verdade<br />
chegou.<br />
- Mas se for algo perigoso e que<br />
não tenhamos recursos para resolver?<br />
- Então usaremos os Prottons, se<br />
<strong>aqui</strong>lo se configurar uma ameaça para<br />
nossa gente.<br />
Fanna pôs suas mãos às costas e<br />
deu meia volta lenta pela sala, pensativo,<br />
com seu semblante apreensivo.<br />
- Sabe Tut, detesto ficar confuso.<br />
- Como assim?<br />
- Acontece que uma parte de mim,<br />
diz para irmos. Outra, diz não. Vamos<br />
consultar o pessoal <strong>do</strong> laboratório. Vamos<br />
ver o que eles dizem, talvez já tenham<br />
respostas.<br />
Thorc foi direto e prático, como<br />
sempre.<br />
- Nossas naves foram<br />
contaminadas por vírus virtuais, cuja<br />
função age sobre os energiza<strong>do</strong>res<br />
magnéticos. Isto aconteceu a partir <strong>do</strong><br />
toque direto por Tameron.<br />
- Eu diria – entrou Zur-Kwa – que<br />
as estruturas ficaram contaminadas<br />
122
também e pelo que sabemos, a nave de<br />
Asthon foi a única que manteve to<strong>do</strong>s os<br />
sensores ativa<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> dava cobertura<br />
à inspeção <strong>do</strong> asteróide. Isto de certa<br />
maneira fez com que to<strong>do</strong>s os canais da<br />
nave se abrissem para a entrada deste<br />
“vírus”.<br />
- Ou ao contrário – disse Thorc,<br />
bastante pensativo.<br />
- Ao contrário? – perguntou Zur-<br />
Kwa, bastante admira<strong>do</strong>, se voltan<strong>do</strong> à<br />
Thorc, que coçava o queixo e com o olhar<br />
perdi<strong>do</strong> em meio àquela sala abarrotada de<br />
instrumentos e equipamentos diversos.<br />
- Sim, isto me passou pela<br />
cabeça, agora. Um detalhe que nos passou<br />
despercebi<strong>do</strong>. Se fosse vírus virtual,<br />
estaríamos nós e toda a frota contaminada.<br />
Isto não acontece. Então, Tameron foi o<br />
único a tocar no asteróide e se houvesse<br />
uma contaminação virótica, sua nave<br />
estaria apresentan<strong>do</strong> maior fadiga,<br />
exatamente pelo toque.<br />
- Explique melhor isto – disse Zur-<br />
Kwa, interessa<strong>do</strong> pela nova teoria e<br />
sentan<strong>do</strong>-se numa das cadeiras perto de<br />
um terminal de computa<strong>do</strong>r.<br />
123
- Se pensarmos em como<br />
funciona o nosso sistema Protton, que<br />
tanto serve para construir como para<br />
destruir, isto é ...<br />
- Entendi – disse Zur-Kwa – pode<br />
estabelecer um fenômeno que chamamos<br />
de força espelhada plena posteriorizada.<br />
- Traduza isto para nós, pobres<br />
mortais – disse Fanna.<br />
- É o seguinte – entrou, Thorc – se<br />
me permite, Zur-Kwa ...<br />
- É claro a teoria é sua ...<br />
- Então em miú<strong>do</strong>s é assim: Você<br />
emite uma força, esperan<strong>do</strong> uma reação<br />
no objeto; isto pode ser, em qualquer<br />
função, e no caso, Asthon foi o único que<br />
abriu to<strong>do</strong>s os seus canais, sugan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
asteróide sua composição química, massa,<br />
ligas, vetores de impacto, etc... E o que<br />
acontece então? Por favor, Zur-Kwa – disse<br />
Thorc ven<strong>do</strong> o companheiro excita<strong>do</strong> se<br />
remexen<strong>do</strong> à cadeira e com olhos<br />
faiscan<strong>do</strong> de brilhos.<br />
- A retroação, isto é, a resposta<br />
que vem <strong>do</strong> objeto é a mesma, só que usa<br />
a força e a energia <strong>do</strong> outro em seu<br />
benefício. Além de ele absorver todas as<br />
informações que o outro queria, inutiliza o<br />
124
seu sistema de mo<strong>do</strong> que, ao pedir<br />
potência em qualquer grau, esta se esvai<br />
na mesma proporção, em até três vezes<br />
mais.<br />
- Mistura potência com quantidade<br />
acumulada.<br />
- Interessante! ...Se eu pedir toda<br />
a potência, como um arranque e arremeço,<br />
esgota o tanque – ponderou, Fanna.<br />
- Se quisermos saber mais – disse<br />
Thorc – teremos que fazer uma visitinha<br />
àquela coisa e tentar extrair amostra <strong>do</strong><br />
material.<br />
- Fanna? – perguntou, Tutkan.<br />
- Está certo Tut. Vamos lá<br />
descobrir este enigma, acho também, que<br />
devemos trazer a frota mais para perto de<br />
nós. Ao que parece, se aquele negócio não<br />
é uma coisa natural... e se foi produzi<strong>do</strong>,<br />
existe vida inteligente. Pode ou não, ser<br />
uma ameaça... Nunca se sabe! ...<br />
- Está bem. Klemps comunique a<br />
Ambhórius, para que traga a frota para cá.<br />
Depois seguiremos juntos.<br />
Pouco tempo depois a frota já<br />
reunida, seguiu para o “Asteróide de<br />
Tameron” em velocidade média, até um<br />
125
Macron de distância dele, onde a frota<br />
parou. A Kosmos seguiu mais adiante,<br />
observan<strong>do</strong> uma distância de três mil<br />
centons <strong>do</strong> objeto.<br />
Uma das naves-transporte, foi<br />
transformada em laboratório, batizada de<br />
Mini-Lab, levan<strong>do</strong> Thorc, Zur-Kwa e o<br />
corpo de cientistas, acompanha<strong>do</strong>s por<br />
técnicos de programação e operações<br />
computa<strong>do</strong>rizadas.<br />
Depois de cinco órbitas sobre o<br />
asteróide, o Mini-Lab pousou suavemente,<br />
sem qualquer alteração aparente em seus<br />
sistemas.<br />
Quatro seres devidamente<br />
traja<strong>do</strong>s com macacões pressuriza<strong>do</strong>s,<br />
botas magnéticas e capacetes com visor<br />
largo, com a iluminação fornecida pelo<br />
Mini-Lab, deram início à exploração<br />
daquela parte plana. A seguir, conectaram<br />
várias sondas lazers entre o asteróide e os<br />
instrumentos <strong>do</strong> laboratório, e passa<strong>do</strong>s<br />
para o computa<strong>do</strong>r central <strong>do</strong> próprio.<br />
126
Eram movimentos vagarosos e<br />
comanda<strong>do</strong>s por Zur-Kwa, que se<br />
mantinha atento, com os olhos ora lá fora,<br />
ora nos instrumentos, que até então,<br />
mostravam-se operantes. Numa primeira<br />
análise, os toques apresentavam campos<br />
magnéticos fortíssimos e varia<strong>do</strong>s em<br />
potência e polarização definidas. Havia<br />
também um terceiro pólo e este sugava<br />
energia <strong>do</strong> Mini-Lab, apresentan<strong>do</strong><br />
constantes variações quanto ao grau<br />
magnético com variáveis estranhas, nunca<br />
vistas antes.<br />
Zur-Kwa acompanhava àquelas<br />
transformações, com a curiosidade de<br />
criança. O mesmo acontecia com Thorc,<br />
que via sua teoria se configuran<strong>do</strong>, na<br />
medida em que experimentava inversões<br />
de força, pelo qual, o asteróide respondia<br />
dentro de suas expectativas.<br />
Eram batidas chapas lazers,<br />
fotografan<strong>do</strong> o interior daquela massa<br />
uniforme, exceto por algumas bolhas em<br />
seu interior. Tinha a característica de um<br />
solo rochoso e derreti<strong>do</strong>.<br />
127
Resolveram perfurá-lo, mas quebraram-se<br />
todas as brocas, sem ao menos riscá-lo ou<br />
apresentar qualquer marca. Thorc decidiu<br />
usar os Prottons em potência mínima,<br />
surgin<strong>do</strong> algum resulta<strong>do</strong>. As amostras <strong>do</strong><br />
material recolhi<strong>do</strong> foram analisadas<br />
imediatamente, no mesmo instante em que<br />
o aspira<strong>do</strong>r parou de funcionar, e os<br />
Prottons simultaneamente cessaram suas<br />
ações. Thorc aumentou a potência,<br />
constatan<strong>do</strong> uma pressão inversa, pois o<br />
material encandecia e curiosamente<br />
tornava-se mais sóli<strong>do</strong> e até certo mo<strong>do</strong>,<br />
indestrutível, à meia força. As projeções <strong>do</strong><br />
Komptor acusavam em caso de aumento<br />
de potência, que aquela massa poderia<br />
suportar até trinta Vetrons.<br />
- Espantoso! – admirou-se – é a<br />
coisa mais dura que já vi! Seus átomos não<br />
se decompõem.<br />
Zur-Kwa estudava as análises <strong>do</strong><br />
Komptor. As amostras <strong>do</strong> material eram<br />
como disse Thorc, espantosas, seus<br />
átomos eram carrega<strong>do</strong>s de photons e sem<br />
dúvida nenhuma, <strong>aqui</strong>lo era metal. Metal<br />
duro, leve e excelente condutor de<br />
eletricidade e magnetismo por indução.<br />
128
- Imagine se conseguíssemos<br />
construir nossas naves com este material?<br />
– disse, Zur-Kwa – Os March, por exemplo<br />
seriam mais duros, leves...<br />
- Estava pensan<strong>do</strong> em aproveitar<br />
esta liga nos motores Íons – - Este<br />
foi um acha<strong>do</strong> valioso...<br />
- Só nos resta saber o que<br />
aconteceu com a expedição anterior,<br />
ocasionan<strong>do</strong> a morte de Asthon- disse um<br />
<strong>do</strong>s cientistas.<br />
- Isto nós já sabemos – disse,<br />
Thorc – Este material provoca a “Força<br />
Espelhada Plena Posteriorizada”. Tu<strong>do</strong><br />
que você emite ela devolve. Vocês não<br />
estão curiosos por que ainda mantemos os<br />
nossos energiza<strong>do</strong>res plenos, com os<br />
reservatórios cheios?<br />
- E ao que se deve isto? –<br />
perguntou um deles.<br />
- Pelo fato em que Thorc reverteu<br />
os vetores – entrou Zur-Kwa nervoso,<br />
ven<strong>do</strong> a falta de raciocínio deles –<br />
Injetamos força no asteróide, se é que se<br />
possa chamar de força. Assim a força que<br />
mandamos para ele nos é devolvida.<br />
- Desta maneira, quan<strong>do</strong> sugamos<br />
dele as informações que queremos, os<br />
129
energiza<strong>do</strong>res baixam consideravelmente<br />
as reservas, então se reverte os vetores e<br />
as válvulas <strong>do</strong> Mini-Lab absorvem toda a<br />
energia que esta coisa nos devolve. Asthon<br />
morreu porque usou toda sua energia.<br />
Então, nesta linha de pensamento,<br />
notaram que os sinais de áudio, envia<strong>do</strong>s<br />
pela Kosmos, sofriam variações de<br />
freqüência, ocasionan<strong>do</strong> distorções de<br />
largo espectro. Thorc decodificou estes<br />
níveis e os introduziu no Komptor. Os<br />
sinais anteriores ainda se mantinham<br />
intermitentes, contu<strong>do</strong> sem dar senti<strong>do</strong><br />
algum.<br />
- Vamos mediar o Komptor com<br />
os defletores refratores – disse Thorc.<br />
Instantes depois a tela <strong>do</strong> Komptor traduziu<br />
os sinais como pedi<strong>do</strong> de socorro.<br />
- Socorro?!?– inquiriu, Zur-Kwa.<br />
Fanna acompanhava da Kosmos<br />
to<strong>do</strong>s os acontecimentos e as projeções <strong>do</strong><br />
Komptor, via Telecon. Tutkan, junto a ele<br />
não acreditava no que via. Ou seja, um<br />
enorme SOCORRO impresso na tela.<br />
- O que você acha Erus?<br />
- Não sei no que pensar. Pode ser um<br />
pedi<strong>do</strong> de socorro e pode não ser.<br />
130
- Uma cilada?<br />
- Quem sabe?<br />
- Mas, e se for mesmo, socorro?<br />
- Mas de quem? Pelo visto aquele<br />
bloco de metal, logo à frente, foi cria<strong>do</strong><br />
pelos que clamam por socorro ...<br />
- Aonde você quer chegar? –<br />
perguntou Tutkan, ven<strong>do</strong> Fanna com olhar<br />
perdi<strong>do</strong>.<br />
- Algo terrível deve ter aconteci<strong>do</strong><br />
a ele, ou a eles, e se a nossa tecnologia<br />
não foi eficaz no desvendar aquele<br />
mistério, veja, quem está em apuros é<br />
porque foi subjuga<strong>do</strong> por força ainda<br />
maior...<br />
- E então?<br />
- Então, precisamos saber o que<br />
é. Você sabe, dúvidas acabam comigo.<br />
Quem poderíamos mandar numa missão<br />
de busca, como esta?<br />
-- Acho que desta vez,<br />
enviaremos Zeuez acompanha<strong>do</strong> por Velz.<br />
- Tut, traga a frota para cá,<br />
também. Ficaremos <strong>aqui</strong> até que voltem da<br />
missão.<br />
A aproximação da frota trouxe<br />
uma descontração benéfica nos ânimos até<br />
então apreensivos. E motivo de muita<br />
131
alegria ao serem libera<strong>do</strong>s para visitação<br />
no asteróide. Naturalmente, aqueles que<br />
se predisporam a abordá-lo, foram<br />
instruí<strong>do</strong>s em como proceder com suas<br />
naves.<br />
Então os Zags partiram, com<br />
cargas extras de energia.<br />
À cerca de trinta Macrons adiante<br />
penetraram num pequeno sistema solar,<br />
com um sol amarelo-esverdea<strong>do</strong> e cinco<br />
planetóides em sua órbita, muito próximos<br />
uns <strong>do</strong>s outros. Os sinais estavam mais<br />
fortes e os sensores direcionais e vetores,<br />
apontavam para um daqueles planetas.<br />
Não puderam seguir adiante e voltaram<br />
para a base, levan<strong>do</strong> consigo a nova<br />
notícia. Neste ínterim, Thorc e Zur-Kwa,<br />
encontraram um meio de neutralizar a ação<br />
reflexa provocada pelo, então, “Asteróide<br />
de Tameron”. Em estu<strong>do</strong>s finais,<br />
desvendar como extrair um pedaço dele<br />
para análises posteriores, procedência,<br />
composição química, etc.<br />
A notícia sobre a descoberta<br />
daquele sistema de planetóides e que<br />
provavelmente lhes pudesse oferecer<br />
132
guarida, causou uma onda otimista na vida<br />
<strong>do</strong>s Somerianos. Naturalmente Fanna<br />
ponderou to<strong>do</strong>s os prós e contras para<br />
então se decidir.<br />
Um dia após o retorno da missão<br />
Zag, Fanna entrou em rede nos Telecons<br />
da frota anuncian<strong>do</strong> sua decisão em<br />
avançar nas pesquisas. Isto porque Thorc<br />
e Zur-Kwa, finalmente conseguiram, por<br />
meio de um “fio fino” de raios Protton,<br />
extrair uma amostra, pequena, mas<br />
suficiente, <strong>do</strong> bloco de metal<br />
desconheci<strong>do</strong>. Esta decisão mereceu<br />
muitos “hurras” por parte de toda aquela<br />
gente.<br />
Em dez tempos saíram ao<br />
encontro de suas esperanças, que ficava<br />
no septuagésimo terceiro setor <strong>do</strong> oitavo<br />
quadrante estelar.<br />
Logo os monitores da Kosmos<br />
detectaram a presença <strong>do</strong> pequeno<br />
sistema, com um sol jovem, muito<br />
luminoso, brilhante, amarelo-esverdea<strong>do</strong>.<br />
Foi onde a frota estacionou novamente, a<br />
cinco Macrons de distância <strong>do</strong> planeta<br />
mais distante daquele sol. Novamente<br />
133
Zeuez e Velz foram escala<strong>do</strong>s para o<br />
reconhecimento, e assim partiram.<br />
O planeta responsável pela<br />
emissão <strong>do</strong>s sinais foi localiza<strong>do</strong> por<br />
Zeuez, que muito excita<strong>do</strong>, disse para<br />
Velz.<br />
- Vamos chegar mais perto.<br />
Era o menor planeta de to<strong>do</strong> o<br />
sistema e tinha de longe, uma coloração<br />
verde-clara. Na primeira órbita, os sinais<br />
agora eram níti<strong>do</strong>s, como se fosse uma<br />
porta abrin<strong>do</strong> e fechan<strong>do</strong>. Seu ranger era<br />
intermitente. Os sensores Kranset-II<br />
analisaram aquela atmosfera, acusan<strong>do</strong><br />
oxigênio raro e metano, numa camada<br />
atmosférica muito fina.<br />
Apresentava temperatura de duzentos e<br />
trinta graus negativos e tempestades<br />
constantes com neve de metano.<br />
- Com uma temperatura destas,<br />
como pode haver vida lá em baixo? –<br />
indagou, Velz.<br />
- Já vamos saber- disse Zeuez<br />
ignoran<strong>do</strong> as hostilidades atmosféricas dali<br />
134
– Vamos descer a dez centons e dar uma<br />
espiada melhor. Vamos rumo ao norte, é<br />
de lá que vem os sinais, veja no seu<br />
telemérico. Ajuste o seu com o meu.<br />
As pequenas naves saíram da<br />
órbita e penetraram na fina camada<br />
atmosférica, mergulhan<strong>do</strong> e receben<strong>do</strong> em<br />
cheio enxurradas de neve, sen<strong>do</strong><br />
necessário aquecer as carlingas. Aos<br />
poucos, a visibilidade voltava ao normal.<br />
- Estamos perto, comandante.<br />
Estou mudan<strong>do</strong> o curso para uma hora.<br />
- Esta certo. Mudei o meu. Vamos<br />
diminuir a marcha.<br />
- Afirmativo. Veja, parece que a<br />
tempestade cessou. Já posso ver o céu<br />
verde, quase limpo.<br />
- Sim, muito bonito e<br />
interess...minha nossa! O que é <strong>aqui</strong>lo?<br />
- Parece ser uma edificação ...<br />
triangular ... assimétrica...<br />
-... E com base quadrangular,<br />
senhor – concluiu Velz, que, tanto quanto<br />
Zeuez, tinha sua boca aberta, estupefatos.<br />
- Sim, isto foi construí<strong>do</strong> por<br />
criaturas inteligentes e prova muitas teorias<br />
antigas. Lembro-me de ter visto edificações<br />
135
semelhantes, nos velhos livros. Eram<br />
usadas como templos, outras eram uma<br />
espécie de celeiros, e as maiores<br />
acondicionavam usinas atômicas ... eram<br />
chamadas de pirâmides.<br />
- Pirâmides, senhor?<br />
- Sim. Dizem que sua construção<br />
e feitura energizavam e conservavam tu<strong>do</strong><br />
o que era guarda<strong>do</strong> nelas, não sofren<strong>do</strong><br />
deterioração.<br />
- E também eram templos?<br />
- Sim, esta energização de dentro<br />
permitia aos antigos sacer<strong>do</strong>tes, sua<br />
purificação espiritual, visões de Deus e<br />
aproximação de suas hostes e orientação<br />
ao seu povo. Seu principal sacer<strong>do</strong>te e<br />
mentor chamava-se Krasha-Halah.<br />
- O santo <strong>do</strong> Carvelus?<br />
- Isso mesmo.<br />
- E o que faremos agora?<br />
- Primeiro, vamos olhar mais de<br />
perto, depois a gente resolve.<br />
O céu agora tornara-se limpo,<br />
como uma grande abóbada verde e<br />
brilhante, ou no interior de uma lâmpada,<br />
como disse Velz, onde tão somente<br />
136
passava os raios solares, sem o sol<br />
aparecer.<br />
- Velz, vamos pousar e explorar<br />
aquela pirâmide. Mas, primeiro daremos<br />
voltas por ela, em espiral. Talvez a gente<br />
descubra alguma porta ou entrada, sei lá.<br />
- Positivo, comandante. Mas não<br />
será perigoso?<br />
- É, pode ser. Mas minha intuição<br />
diz que não.<br />
E assim foram dadas as voltas em<br />
espiral, diminuin<strong>do</strong> a extensão <strong>do</strong>s círculos<br />
conforme baixavam de altitude.<br />
No centro da parede leste, havia<br />
uma espécie de hal de entrada, com<br />
desenho triangular assimétrico. Uma<br />
pequena borda horizontal na parte<br />
superior, formava um quadra<strong>do</strong> até o chão<br />
gela<strong>do</strong>.<br />
Seus instrumentos de medição na<br />
curvatura espacial acusavam gravitacional<br />
de Um-G negativo. As naves pousaram e<br />
taxiaram na camada grossa de gelo, em<br />
direção a porta, que agora era bem grande.<br />
Ajustaram seus trajes de acor<strong>do</strong> com a<br />
137
gravidade local e desceram <strong>do</strong>s March-1,<br />
levan<strong>do</strong> cada um, um analisa<strong>do</strong>r Kramset-<br />
P (portátil), lanternas e suas armas<br />
Prottons.<br />
A grande porta estava fechada e<br />
com aparência de estar assim, há séculos.<br />
De súbito surgiu <strong>do</strong> nada, feito uma<br />
miragem um caminho para que pudessem<br />
chegar a grande porta. Para chegarem até<br />
ela, havia uma grande chapa de metal<br />
<strong>do</strong>ura<strong>do</strong> sintético, os conduzin<strong>do</strong> até cinco<br />
degraus, revelan<strong>do</strong> que a estatura de<br />
quem os construiu, não era muito maior <strong>do</strong><br />
que eles. Nas extremidades duas muretas<br />
baixas até a porta, acaban<strong>do</strong> com duas<br />
pedras maiores de tamanhos iguais,<br />
lapidadas em seu relevo, vários símbolos<br />
desconheci<strong>do</strong>s. No meio de ambas, de<br />
frente uma para outra, brotava uma luz<br />
branca, muito fina, mostran<strong>do</strong> a brancura<br />
daqueles degraus, que curiosamente não<br />
continham nem um pouco de neve. Esta<br />
luminosidade espontânea os deixou um<br />
tanto apreensivos. Entretanto de acor<strong>do</strong><br />
com os sensores que portavam, não<br />
acusava perigo, calor, ou presença de vida,<br />
138
dan<strong>do</strong>-lhes, de certo mo<strong>do</strong>, segurança e<br />
incentivo para prosseguir.<br />
Subitamente, a porta se dividiu ao<br />
meio, abrin<strong>do</strong>-se lentamente, fazen<strong>do</strong><br />
poeira de gelo, causan<strong>do</strong>-lhes susto e<br />
temor. Olharam-se por instantes e Zeuez<br />
decidiu entrar, perceben<strong>do</strong> o seu interior:<br />
uma sala média com uma porta bem a sua<br />
frente. Era uma porta pequena e parecia<br />
ser feita <strong>do</strong> mesmo material por onde<br />
pisaram antes.<br />
- Vamos Velz, entre, não há<br />
perigo. É gostoso, <strong>aqui</strong> dentro.<br />
- Comandante, estou com me<strong>do</strong>.<br />
Não seria melhor voltarmos e relatar o<br />
acha<strong>do</strong> ao líder?<br />
- Estou curioso demais, para<br />
voltar, Velz. Mas se quiser pode voltar.<br />
- Não senhor, não vou deixá-lo<br />
<strong>aqui</strong> sozinho.<br />
- E então Velz, o que está<br />
esperan<strong>do</strong>?<br />
Ao passarem para dentro, as duas<br />
metades da porta de entrada, se juntaram,<br />
numa rapidez espantosa, ocasionan<strong>do</strong><br />
agonia em Velz, que inutilmente tentava<br />
reabri-la em movimentos frenéticos.<br />
139
Imediatamente uma fumaça<br />
branca surgiu de <strong>do</strong>is pequenos orifícios<br />
laterais, paralizan<strong>do</strong>-os. A escuridão tomou<br />
conta <strong>do</strong> ambiente . Ativaram suas<br />
lanternas e instantes depois a fumaça<br />
cessou e a porta menor, abriu-se.<br />
- Ora, vejam só, parece que<br />
estamos num sonho – disse Zeuez com voz<br />
calma.<br />
Velz permanecia estupefato e<br />
amedronta<strong>do</strong>, não acreditan<strong>do</strong> no que via.<br />
Havia espalha<strong>do</strong> pelo interior da outra sala<br />
muitos aparelhos semelhantes aos seus<br />
computa<strong>do</strong>res, entretanto, à primeira vista,<br />
desativa<strong>do</strong>s. No centro da sala, havia uma<br />
grande pirâmide de cristal, conten<strong>do</strong> um<br />
líqui<strong>do</strong> borbulhante e transparente. Esta<br />
pirâmide pairava sobre um suporte<br />
metaliza<strong>do</strong> <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>.<br />
Com passos lentos e cuida<strong>do</strong>sos,<br />
com total atenção, examinaram tu<strong>do</strong> à<br />
volta. Encontraram às costas da pirâmide<br />
de cristal, um cabo conector, que<br />
terminava num aparelho ativa<strong>do</strong>, com<br />
vários controles e piscas colori<strong>do</strong>s.<br />
Nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is se atreveu a tocá-lo.<br />
140
- O que será isso? – perguntou,<br />
Velz .<br />
- Deve ser a fonte <strong>do</strong>s ruí<strong>do</strong>s que<br />
captamos. Vamos ver se encontramos<br />
alguém <strong>aqui</strong> dentro.<br />
- Não sei por que, senhor, mas<br />
agora me sinto calmo, tranqüilo, em paz<br />
comigo mesmo.<br />
- É verdade, Velz. Eu também<br />
sinto isto. É uma sensação repousante,<br />
muito reconforta<strong>do</strong>ra.<br />
- Veja, senhor ...<br />
- O que foi ? Zeuez, perguntou<br />
baixinho.<br />
- O meu sensor indica que temos<br />
gravidade normal, pressurização e<br />
oxigênio, <strong>aqui</strong> dentro.<br />
- Sim, só que o oxigênio é um<br />
pouco mais pesa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que aquele que<br />
estamos acostuma<strong>do</strong>s a respirar. Vamos<br />
tirar os capacetes.<br />
Pouco depois respiravam aquele<br />
ar e sentiam o cheiro característico de<br />
produtos usa<strong>do</strong>s em assepsia de<br />
ambientes.<br />
141
- Interessante – observou, Zeuez –<br />
até parece perfume!<br />
- Senhor, observe – disse Velz<br />
admira<strong>do</strong>- quan<strong>do</strong> falamos, o líqui<strong>do</strong> da<br />
pirâmide reage, borbulhan<strong>do</strong> mais.<br />
- É mesmo, parece ter vida!<br />
- Mas os nossos sensores não<br />
acusam presença de vida!<br />
- Talvez a gente não conheça este<br />
tipo de vida. Certamente, isto tu<strong>do</strong> é fruto<br />
de vida inteligente. Olhe, há quatro portas,<br />
uma em cada canto. Vamos ver o que há lá<br />
dentro.<br />
Entraram nos quatro<br />
compartimentos e nada encontraram, além<br />
de mais aparelhos desativa<strong>do</strong>s. Voltaram<br />
para a sala central e deram mais uma volta<br />
até que, Velz, acidentalmente tropeçou<br />
numa pequena saliência ao la<strong>do</strong> da<br />
pirâmide de cristal. Imediatamente outra<br />
porta, esta, menor <strong>do</strong> que as outras surgiulhe<br />
à frente, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> “rack” ativa<strong>do</strong>.<br />
Havia uma pequena escadaria, com<br />
degraus estreitos em espiral. Subiram por<br />
ela, encontran<strong>do</strong> outra sala, com vários<br />
armários de metal <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> numa das<br />
142
extremidades, e na outra, algo parecen<strong>do</strong><br />
ser uma cama.<br />
- Parece ser uma cela de repouso<br />
– disse, Zeuez.<br />
Após a cama, outra porta aberta,<br />
de onde podiam ver o encosto de uma<br />
poltrona, de costas para eles. Logo à sua<br />
frente, um console, com controles de um<br />
la<strong>do</strong> e uma mesa <strong>do</strong> outro. À frente uma<br />
tela enorme, toman<strong>do</strong> quase to<strong>do</strong> o espaço<br />
da parede.<br />
Ao entrar, viram à direita, junto à<br />
parede de pedra branca, muito lisa e<br />
uniforme, uma espécie de arquivo, que ia<br />
<strong>do</strong> chão até o teto, com muitos módulos<br />
em to<strong>do</strong>s eles, com toda sorte de símbolos,<br />
colori<strong>do</strong>s e em relevo.<br />
Ao virarem a poltrona, quase<br />
caíram de susto. Havia nela, um cadáver<br />
totalmente desidrata<strong>do</strong> com cabelos e<br />
barba compri<strong>do</strong>s e brancos. Ele estava<br />
vesti<strong>do</strong> com um manto branco, o teci<strong>do</strong><br />
desgasta<strong>do</strong> e toma<strong>do</strong> por poeira grossa e<br />
acinzentada. Ao la<strong>do</strong>, na mesa, repousava<br />
alguns objetos pessoais, um cálice de<br />
143
cristal e o que parecia ser um livro,<br />
conten<strong>do</strong> na capa, outro símbolo.<br />
- Quem quer que fosse esse ser –<br />
disse, Velz - deve ter deixa<strong>do</strong> alguma coisa<br />
para a posteridade, pode até ser um diário.<br />
- Estou certo que o pedi<strong>do</strong> de<br />
socorro, foi emiti<strong>do</strong> por ele.<br />
- Pena que chegamos tarde<br />
demais.<br />
- Vamos ver o que há neste livro.<br />
Tenha cuida<strong>do</strong>, Velz, não queremos<br />
acidentes com esta preciosidade.<br />
Mas, Zeuez ao pegá-lo,<br />
acidentalmente, com a <strong>do</strong>bra externa de<br />
sua luva, tocou numa chave, que parecia<br />
uma pequena alavanca, e ativou o console.<br />
Muitas luzes acenderam em piscas<br />
ordena<strong>do</strong>s e em seguida, a tela grande<br />
produziu luminosidade azulada. Zeuez<br />
repetiu a operação ao contrário e tu<strong>do</strong> se<br />
desligou. Voltou a ligar e desligar mais<br />
duas vezes.<br />
- Velz – disse Zeuez, com seus<br />
olhos esbugalha<strong>do</strong>s – já me sinto satisfeito<br />
com o que vimos. É tempo de voltarmos e<br />
contar ao nosso pessoal o que<br />
encontramos <strong>aqui</strong>. Levaremos este livro<br />
144
para os nossos cientistas se divertirem um<br />
pouco.<br />
- Mas acho que temos um<br />
problema. Como se faz para sair d<strong>aqui</strong>?<br />
- Da mesma maneira como<br />
entramos. Lembra-se daquelas luzes<br />
brancas, que saiam daquelas pedras lá<br />
fora?<br />
- Sim, acho que era uma espécie<br />
de células foto-elétricas.<br />
- Exatamente e acontece que eu<br />
vi outras, logo que entramos pela segunda<br />
porta e mais outras <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>. Penso<br />
que elas funcionarão em senti<strong>do</strong> contrário,<br />
nos levan<strong>do</strong> à saída.<br />
previra.<br />
E assim foi. Conforme Zeuez<br />
Lá fora estavam os <strong>do</strong>is March-1,<br />
<strong>do</strong> mesmo jeito que foram deixa<strong>do</strong>s,<br />
apenas apresentan<strong>do</strong> certo congelamento<br />
nas carlingas e asas. O frio era tanto que<br />
atravessava seus trajes impermeáveis,<br />
pressuriza<strong>do</strong>s e aqueci<strong>do</strong>s internamente.<br />
Subiram pela escadinha e<br />
acomodaram-se aos controles. Selaram as<br />
145
carlingas e numa breve manobra,<br />
arremeteram-se em velocidade máxima<br />
para casa.<br />
Na grande nave Kosmos, havia<br />
preocupação e aflição com o silêncio das<br />
comunicações. Já se passara dezesseis<br />
tempos e alguns microns desde que a<br />
missão Zag partira.<br />
- Aqui é Zag-um para a<br />
Kosmos...Zag-um para a Kosmos...<br />
- Kosmos na escuta, pode falar,<br />
Zag-um.<br />
- Chame o comandante Tutkan,<br />
Samis. Temos novidades – a voz de Zeuez<br />
era excitada, sem perceber, gritava.<br />
- Aguarde um instante, Zag-um.<br />
Tutkan estava no hangar de<br />
lançamentos, dan<strong>do</strong> instruções a Tameron<br />
e Maxun para partirem em busca <strong>do</strong>s<br />
outros <strong>do</strong>is Zags, quan<strong>do</strong> Samis o chamou<br />
pelo Intercon.<br />
- Comandante Tutkan, Zag-um e<br />
<strong>do</strong>is no Telecon.<br />
- Já não era sem tempo – disse<br />
consigo mesmo, e comunicou aos <strong>do</strong>is que<br />
se preparassem para o lançamento –<br />
146
Rapazes, aguardem um pouco – ativan<strong>do</strong> o<br />
Intercon – Obriga<strong>do</strong> Samis. Já estou in<strong>do</strong>.<br />
Tutkan partiu apressa<strong>do</strong> para a<br />
sala <strong>do</strong> Telecon, quase corren<strong>do</strong> e<br />
colidin<strong>do</strong> com outros que transitavam pelo<br />
corre<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong>-os curiosos.<br />
- Zeuez, pode falar. Tutkan na<br />
escuta.<br />
- Comandante, nem vai acreditar.<br />
Mal posso esperar para ver a cara de<br />
vocês, quan<strong>do</strong> chegar aí.<br />
- Ora, Zeuez, deixe de mistérios.<br />
Desembuche logo.<br />
- Pois, encontramos uma pirâmide<br />
e estamos levan<strong>do</strong> um presentinho para<br />
vocês ... – Zeuez falava rápi<strong>do</strong> demais<br />
atropelan<strong>do</strong> as palavras, sen<strong>do</strong><br />
interrompi<strong>do</strong> vez por outra, por Tutkan,<br />
para um melhor entendimento.<br />
Na medida em que era relatada a<br />
missão, tanto Tutkan, como Fanna, que se<br />
encontrava na ponte, ao chama<strong>do</strong> de<br />
Samis, pediam mais e mais detalhes.<br />
Tinham nos olhos a expressão de criança<br />
quan<strong>do</strong> descobre como acontece o<br />
nascimento.<br />
147
Por ordem de Fanna, os Telecons<br />
da frota estavam ativa<strong>do</strong>s em rede e no<br />
final da narrativa de Zeuez deram um belo<br />
e estron<strong>do</strong>so “hurra”, que podia ser ouvi<strong>do</strong><br />
pelo universo inteiro. Aquilo tu<strong>do</strong> os levou a<br />
um êxtase nunca antes visto nem senti<strong>do</strong>.<br />
Abraçavam-se, cantavam, pulavam.<br />
Pouco depois, as duas naves<br />
ganhavam as pistas de pouso da Kosmos<br />
e quan<strong>do</strong> pararam, havia uma pequena<br />
multidão à sua espera. O aplauso era<br />
estron<strong>do</strong>so.<br />
Fanna, de seu observatório, não<br />
escondia sua emoção e não parava de<br />
repetir à Tutkan:<br />
- Eu não disse, Tut, não estamos<br />
sós no Universo. Existem outros seres<br />
inteligentes, iguais ou mais <strong>do</strong> que nós...<br />
- Erus, você já me disse isso,<br />
quarenta e nove vezes. Mas pode me dizer<br />
mais mil que eu vou sentir como se fosse a<br />
primeira.<br />
E ria pra valer, da expressão de<br />
Fanna, admira<strong>do</strong> com o que ouvia de seu<br />
amigo.<br />
148
- Puxa, Tut, passamos por uma<br />
tensão tão grande, acho que devemos<br />
tomar um grande gole.<br />
- Grande idéia. Acho que vou<br />
beber uma garrafa inteira. Você me<br />
acompanha?<br />
- Claro, porque não? Inclusive<br />
acho que você pode beber quantas<br />
garrafas quiser.<br />
Naquele dia, os Somerianos<br />
baixaram consideravelmente os estoques<br />
de Somir e Ramza – uma comida feita de<br />
cereais torra<strong>do</strong>s e moí<strong>do</strong>s, depois assa<strong>do</strong><br />
com óleo de frutas.<br />
As cúpulas de observatórios das<br />
naves estavam repletas de gente e de<br />
alegria. Nesta ocasião, Velz conseguiu<br />
brindar com Zuila, e mais uma vez, sua<br />
timidez o impediu de dizer o quanto<br />
gostava dela.<br />
Depois de passada a euforia e<br />
muitas ressacas, as coisas voltaram ao<br />
normal. As atividades costumeiras<br />
retomadas.<br />
149
Decifrar aqueles rabiscos e<br />
símbolos encontra<strong>do</strong>s no livro, levou quase<br />
um perío<strong>do</strong> inteiro, precisamente vinte e<br />
um dias. Os peritos em lingüística com<br />
ajuda <strong>do</strong> Komptor, chegaram a um<br />
denomina<strong>do</strong>r comum. Nas páginas de um<br />
material poroso apareceu um relato e uma<br />
mensagem daquele ser que jazia na<br />
pirâmide. Dizia o seguinte :<br />
“Talvez nunca seja encontrada a<br />
minha casa e sei que nunca voltarei ao<br />
meu planeta natal, GORAN”. Mas se for<br />
encontra<strong>do</strong>, gostaria , se possível, ser<br />
tira<strong>do</strong> d<strong>aqui</strong>, pois a idéia de ficar para<br />
sempre neste lugar, me traz, ainda mais<br />
tristeza ao espírito.<br />
Saibam, portanto, que<br />
construímos neste planetóide, um posto de<br />
observação avança<strong>do</strong>, e encontrarão nos<br />
arquivos, tu<strong>do</strong> o que gravamos, em<br />
imagens de to<strong>do</strong>s os planetas habita<strong>do</strong>s e<br />
uma análise de seus comportamentos, na<br />
maioria primitivos.<br />
Nas páginas seguintes, haverá<br />
um esquema detalha<strong>do</strong> de como fazer e<br />
150
operar os computa<strong>do</strong>res de emissão<br />
holográficas no telão-visor. Talvez seja<br />
novidade o que verão, e se assim for,<br />
usem essas novas descobertas com<br />
sabe<strong>do</strong>ria, sempre para o bem e nunca<br />
façam delas mal a outrem, pois tu<strong>do</strong> o que<br />
inventamos e criamos, não há meios de se<br />
destruir e se, porventura, alguém tentar,<br />
possivelmente será destruí<strong>do</strong> antes de<br />
conseguir.<br />
Deixo estas coisas todas, como<br />
um pai que ama seu filho e não poden<strong>do</strong><br />
estar mais com ele, o entrega ao<br />
desconheci<strong>do</strong>. Mas que este desconheci<strong>do</strong><br />
saiba cuidá-lo e amá-lo tanto quanto eu.<br />
Um lembrete, esta edificação<br />
piramidal está equipada com senti<strong>do</strong>s e<br />
sensores, que perceberá as intenções de<br />
quem se aproximar. Portanto, sejam<br />
sensatos e pensem bem, antes de usar os<br />
arquivos,”<br />
HAMOUR – ZM<br />
151
De fato, nas páginas seguintes,<br />
vinha um esquema detalha<strong>do</strong> em como<br />
operar um sistema incrivelmente<br />
sofistica<strong>do</strong> e muito bem construí<strong>do</strong>.<br />
Erus Fanna disse : - Penso que<br />
Hamour sabia que estávamos à caminho,<br />
antes de nós mesmos. Temos que honrar o<br />
seu postula<strong>do</strong>. Tut, convoque as nossas<br />
maiores inteligências e vamos lá ver o que<br />
o futuro nos reserva.<br />
152
C A P Í T U L O V<br />
Ambhórius era um ser bastante<br />
respeita<strong>do</strong> entre os Somerianos, sen<strong>do</strong> por<br />
vezes, designa<strong>do</strong> por Fanna em sua<br />
ausência supervisor da frota. Desde que<br />
fora à reunião, onde resolveram partir para<br />
“o futuro”, seus neurôneos buscavam uma<br />
decisão importante: Participar da<br />
expedição que estudaria Hamour e sua<br />
pirâmide. Amis, sua única filha tentava<br />
encorajá-lo.<br />
- Papai, deves considerar uma<br />
honra, ser convoca<strong>do</strong> por nosso líder, para<br />
participar desta expedição significativa e<br />
histórica.<br />
Amis era uma das belas<br />
somerianas, esbelta, de cabelos longos,<br />
lisos e pretos, com pele muito clara. Seu<br />
pai costumava dizer que era o retrato vivo<br />
de sua mãe, principalmente os olhos<br />
amen<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s e escuros, combinan<strong>do</strong> com<br />
lábios carnu<strong>do</strong>s e rosa<strong>do</strong>s.<br />
- Minha filha, não creio, seja<br />
necessária a minha presença junto a esta<br />
153
expedição. Segun<strong>do</strong> soube, será<br />
constituída somente por cientistas e<br />
estudiosos de línguas e símbolos antigos.<br />
Acho que me sentiria desloca<strong>do</strong>.<br />
- Papai, você não é um cientista,<br />
mas é um <strong>do</strong>s mais respeita<strong>do</strong>s<br />
Somerianos. Você foi convida<strong>do</strong>,<br />
exatamente por não ser liga<strong>do</strong> às ciências.<br />
- Não sei... acho que o meu lugar<br />
é <strong>aqui</strong>, junto a você e os outros. E se algo<br />
acontecer? Não... nunca gostei de ir ao<br />
encontro <strong>do</strong> que não conheço...<br />
- Está bem, papai. Você é quem<br />
decide. Eu, sinceramente, gostaria que<br />
você fosse. Você acha que há perigo lá?<br />
- Não sei. Acho que não. O caso é<br />
que... ora, você me conhece, não gosto de<br />
aventuras... os meus nervos... não<br />
agüentam pressões... já não sou mais um<br />
garotinho... Não quero me expor desta<br />
maneira.<br />
- Você está com me<strong>do</strong>?<br />
- Estou filha. Pra dizer a verdade,<br />
estou mesmo.<br />
Com estas palavras, Ambhórius<br />
se retirou de seus aposentos, deixan<strong>do</strong> sua<br />
filha envolvida em seus estu<strong>do</strong>s sobre<br />
154
construções e adaptações de<br />
melhoramentos de espaço físico.<br />
Ele, ao chegar à ponte de<br />
coman<strong>do</strong> de sua nave, solicitou transporte<br />
para ir até a Kosmos. Queria falar com<br />
Fanna pessoalmente e comunicar sua<br />
decisão.<br />
Ao saber da ida <strong>do</strong> pai à navemãe,<br />
Amis se apressou e insistiu para ir<br />
também, pois gostaria de rever suas<br />
amigas Zuila e Zart e se possível, ter uma<br />
palavrinha com seu ex-professor, Zur-Kwa.<br />
Fazia mais de oito perío<strong>do</strong>s que não os via<br />
e além <strong>do</strong> mais, queria fofocar com Zart,<br />
sua confidente de sempre.<br />
Zuila e Zart estavam no<br />
observatório central, com Fanna, para<br />
receber a velha amiga de escola. Elas<br />
dividiram o mesmo núcleo de vida na<br />
pequena escola de ciências na antiga Base<br />
Hemisferial Sul, onde aprenderam muitas<br />
coisas com Zur-Kwa. Mais tarde se<br />
diplomaram em campos diferentes. Zart,<br />
em programação e construção de<br />
computa<strong>do</strong>res, prioriza<strong>do</strong>s em<br />
155
instrumentos de medição e precisão. Zuila<br />
diplomou-se em organização de empresas<br />
e mais tarde em Filosofia. Amis seguiu<br />
engenharia, especializan<strong>do</strong>-se pelos<br />
caminhos da arquitetura e apesar de pouca<br />
idade, era a responsável pela criação e<br />
desenvolvimento das naves-celeiro.<br />
Depois <strong>do</strong>s abraços e beijos<br />
costumeiros, com aqueles gritinhos de<br />
satisfação, as três passaram a fofocar<br />
baixinho.<br />
- Esperávamos que você<br />
estivesse <strong>aqui</strong> no dia da comemoração <strong>do</strong><br />
acha<strong>do</strong> – disse Zart, quan<strong>do</strong> estavam no<br />
corre<strong>do</strong>r, em direção de seus aposentos.<br />
- Não pude vir papai estava tão<br />
eufórico que bebeu duas garrafas de<br />
Somir, sozinho.<br />
- Duas garrafas? – perguntaram as<br />
duas em coro.<br />
- Sim, eu nunca tinha visto papai<br />
daquele jeito!<br />
- Acho que não foi só ele – disse<br />
Zuila, quase sussurran<strong>do</strong> ao ouvi<strong>do</strong> de<br />
Amis - papai e o comandante Tutkan,<br />
também. Quase nem podiam mais falar...<br />
156
Zart.<br />
-... Nem ficar em pé – completou<br />
Os risinhos eram contundentes, e<br />
logo chegaram ao alojamento, onde<br />
passaram o restante da tarde, uma vez que<br />
Zur-Kwa, estava por assim dizer,<br />
incomunicável, juntamente com Thorc, nas<br />
análises da amostra extraída <strong>do</strong> “Asteróide<br />
de Tameron”.<br />
Na sala de Fanna, o assunto não<br />
era assim, tão descontraí<strong>do</strong>. Ambhórius<br />
parecia embaraça<strong>do</strong>, sem conseguir<br />
expressar as palavras. Erus Fanna<br />
percebeu e atalhou na hora certa, antes<br />
que o amigo desabasse.<br />
- Pelo que entendi você não quer<br />
ir nesta expedição.<br />
- Sim, é isto, exatamente isto –<br />
disse ele com alívio.<br />
- Pois bem, Ambhórius, você é<br />
quem resolve. A vaga ainda estará à sua<br />
disposição, caso decida ir.<br />
- Muito agradeci<strong>do</strong>, Fanna. Minha<br />
decisão já foi tomada. Ficarei em minha<br />
nave, organizan<strong>do</strong> as coisas por lá.<br />
Estamos testan<strong>do</strong> um novo fertiliza<strong>do</strong>r e<br />
157
precisamos providenciar os estoques de<br />
Somir e Ramza.<br />
- Excelente idéia. Acho que da<br />
última vez, fomos fun<strong>do</strong> demais. Ainda<br />
me sinto ressaca<strong>do</strong>.<br />
- E quem não está?<br />
- Acho que só as mulheres<br />
beberam menos – disse Fanna dan<strong>do</strong> sua<br />
risada e um tapinha nas costas <strong>do</strong> amigo.<br />
- Diga-me, Fanna, apenas por<br />
curiosidade, quem estará no coman<strong>do</strong>,<br />
nesta expedição?<br />
- Tutkan, é claro. Já está<br />
preparan<strong>do</strong> suas coisas. Além de Thorc e<br />
Zur-Kwa, peritos na área de computação,<br />
provavelmente representa<strong>do</strong>s por Zart.<br />
Pela organização de sistemas e méto<strong>do</strong>s,<br />
Zuila e é claro, outros cientistas. Pensava<br />
em você como nosso observa<strong>do</strong>r e<br />
conselheiro.<br />
- Mas, sem escolta?<br />
- Ora, Ambhórius, é claro que Tut<br />
levará seu pessoal.<br />
- É, parece que irá uma boa<br />
turma.<br />
- Mas espere um pouco, isto me<br />
passou pela cabeça, agora... Que tal se em<br />
seu lugar fosse, Amis. Ela é perita em<br />
158
construções e além <strong>do</strong> mais, suas amigas<br />
irão... O que você acha?<br />
- Se ela quiser ir, por mim, tu<strong>do</strong><br />
bem.<br />
- Se ela quiser? Pode apostar que<br />
sim, meu velho. Você não notou a alegria<br />
delas, quan<strong>do</strong> se encontraram?<br />
- Notei. Elas se curtem muito.<br />
- E pelo que sei, desde os tempos<br />
de escola, Zuila sempre contava suas<br />
peripécias. Então está certo. Se ela quiser,<br />
poderá ir em seu lugar. Será uma maneira<br />
de termos você lá.<br />
Na verdade, Ambhórius também<br />
não gostara da idéia de sua filha ir ao<br />
desconheci<strong>do</strong>, mas esta seria uma questão<br />
que ela mesma deveria decidir e a<br />
conhecen<strong>do</strong> bem, sabia que ela iria.<br />
As três amigas conversavam<br />
animadamente, colocan<strong>do</strong> a conversa em<br />
dia. Zuila contara suas desconfianças<br />
sobre o jovem oficial Velz. Sentia que ele<br />
gostava dela, desde os tempos da Base-<br />
Meridional-Leste, em Someron. – muuuito<br />
tempo, as outras falaram com uma<br />
risadinha de canto, em suas bocas.<br />
159
– Ah, parem de caçoar dele! Ele é só<br />
um cara tími<strong>do</strong>... Mas estou pensan<strong>do</strong> em<br />
encorajá-lo qualquer dia desses.<br />
O Intercon chamou e Zart o<br />
atendeu. O aparelho estava no canto<br />
daquele aposento confortável em cima da<br />
prateleira, junto a outros objetos pessoais<br />
das meninas.<br />
- Sim, pois não... está. Só um<br />
instantinho. Amis, o líder quer te falar.<br />
- Ele quer falar comigo?<br />
- Sim, <strong>aqui</strong> mesmo no Intercon...<br />
pegue...<br />
Quan<strong>do</strong> Fanna fez o convite, ela<br />
simplesmente não acreditou e deu um grito<br />
de alegria, que, provavelmente, Fanna <strong>do</strong><br />
outro la<strong>do</strong>, deve ter coça<strong>do</strong> o ouvi<strong>do</strong>.<br />
- Muito agradecida, senhor. Nem<br />
sei o que dizer! ...<br />
Ao recolocar o fone no lugar,<br />
virou-se para as amigas com um grande<br />
sorriso nos lábios e disse, fazen<strong>do</strong><br />
“misterinho”:<br />
- Adivinhem quem vai à<br />
expedição?<br />
160
As outras duas pularam das<br />
cadeiras e se abraçaram, quase gritan<strong>do</strong>,<br />
emocionadas.<br />
- Meninas, preciso ir até nossa<br />
nave. Tenho que buscar minhas coisas e<br />
os instrumentos de medição. Voltarei em<br />
menos de um tempo. Nos veremos d<strong>aqui</strong> a<br />
pouco. Até mais!!<br />
O Mini-Lab e quatro March-1<br />
pousaram no Pólo Norte daquele<br />
planetóide, de atmosfera gelada e<br />
juntaram-se em frente à edificação<br />
piramidal. Tutkan, Zeuez,Velz, Maxun e<br />
mais <strong>do</strong>ze cientistas sob o coman<strong>do</strong> de<br />
Thorc e Zur-Kwa – entre eles, as três<br />
garotas.<br />
A pirâmide se impunha majestosa<br />
sobre o gelo. O comandante Zeuez lhes<br />
mostrou e os guiou pela grande plataforma<br />
<strong>do</strong>urada, subin<strong>do</strong> a escadaria até a grande<br />
porta. Pouco a pouco penetraram pelo<br />
portão central da parede leste em meio a<br />
muita admiração e curiosidade. Tu<strong>do</strong> era<br />
calmo e oferecia clima pacífico, silencioso<br />
e por demais, misterioso. Ficaram<br />
perplexos com a pirâmide de cristal. Ela<br />
161
não apresentava emendas e era<br />
assimétrica, repousan<strong>do</strong> sobre um suporte<br />
de ouro puro, - segun<strong>do</strong> as observações de<br />
Zur-Kwa- forman<strong>do</strong>, assim, um bloco<br />
compacto. Com a presença de muitos<br />
seres, Zeuez notou que o líqui<strong>do</strong><br />
transparente borbulhava muito mais, no<br />
que chamou a atenção de Tutkan.<br />
Enquanto Zur-Kwa tentava<br />
analisar o líqui<strong>do</strong>, Thorc e Zart<br />
examinavam com a maior atenção e<br />
curiosidade, toda aparelhagem espalhada<br />
pela grande sala. Eram sistemas<br />
sofistica<strong>do</strong>s demais para a sua<br />
compreensão. Estavam desativa<strong>do</strong>s e não<br />
encontraram interligações. Thorc deduziu<br />
serem aparelhos de funções alheias à<br />
pirâmide. Possuíam algo semelhante à<br />
tomadas com seis orifícios, em círculo e<br />
outro no centro. Não havia cabos<br />
condutores de força. Subitamente, notaram<br />
que suas lanternas estavam desativadas,<br />
contu<strong>do</strong> a grande sala estava iluminada<br />
sem aparecer a fonte, nem pontos de<br />
iluminação.<br />
162
Zur-Kwa ainda, em frente da<br />
pirâmide de cristal, fazia sombra aos<br />
demais. Foi então que notaram a<br />
luminosidade vinda dali, daquele líqui<strong>do</strong><br />
transparente e borbulhante. Clara e<br />
abundante.<br />
Velz acompanhava Zuila, onde<br />
quer que ela fosse. Ela, por sua vez,<br />
sentia-se segura junto dele. Zart observava<br />
seus movimentos e cochichou para Amis:<br />
- Logo teremos novidades com<br />
aqueles <strong>do</strong>is.<br />
Depois de uma rápida exploração,<br />
Tutkan pediu para Zeuez mostrar onde<br />
estava Hamour. Em poucos microns<br />
estavam na sala <strong>do</strong> acha<strong>do</strong>, onde sem<br />
dúvida, era o centro nervoso de tu<strong>do</strong>.<br />
Zur-Kwa deu início aos trabalhos,<br />
abrin<strong>do</strong> o seu próprio esquema, já<br />
completamente traduzi<strong>do</strong>. Familiarizou-se<br />
com cada um daqueles botões e chaves e<br />
em seguida, observan<strong>do</strong> a ordem certa de<br />
ação, os ativou. Era como se tivesse<br />
“liga<strong>do</strong>” a pirâmide. Um “Zum” quase<br />
inaudível acendeu o grande painel a sua<br />
163
volta, revelan<strong>do</strong> inúmeros pequenos<br />
quadra<strong>do</strong>s com símbolos luminosos<br />
estampa<strong>do</strong>s.<br />
Pequenas luzes coloridas surgiram<br />
no console, forman<strong>do</strong> desenhos<br />
intermitentes e uniformes.<br />
Uma das gavetas, suavemente<br />
abriu-se, ejetan<strong>do</strong> uma lâmina de cristal<br />
que emanava reflexos, semelhante aos<br />
seus antigos disquetes de computa<strong>do</strong>r,<br />
quan<strong>do</strong> expostos à luz. Esta lâmina,<br />
traduzida como número um, no istante que<br />
foi retirada, abriu-se outra gaveta no<br />
console à frente da poltrona de Hamour, ali<br />
como se fosse mais um especta<strong>do</strong>r.<br />
Imediatamente o telão ativou-se,<br />
haven<strong>do</strong>, por assim dizer, uma chuva de<br />
luzes, que pareciam brotar de to<strong>do</strong>s os<br />
la<strong>do</strong>s, em todas as direções. Então<br />
apareceu a imagem tridimensional em<br />
projeção holográfica <strong>do</strong> próprio Hamour,<br />
em tamanho natural. Com num sorriso<br />
largo, os cumprimentou.<br />
164
- Parabéns! Enfim, já não estou<br />
só. Não esperava tantos e peço desculpas,<br />
pelas acomodações...<br />
To<strong>do</strong>s se entreolharam. Como<br />
poderia saber que eram muitos ... Qual<br />
seria a técnica usada?<br />
- ... Agora, to<strong>do</strong>s os sensores<br />
desta unidade estão ativa<strong>do</strong>s e prontos<br />
para, começarmos <strong>aqui</strong>lo, que posso<br />
definir, um momento de rara emoção para<br />
to<strong>do</strong>s nós. Primeiro, porque sei que o meu<br />
desejo de ser leva<strong>do</strong> d<strong>aqui</strong> se cumprirá e<br />
segun<strong>do</strong>, porque estou e estarei em boa<br />
companhia.<br />
Houve um leve murmúrio por<br />
parte <strong>do</strong>s Somerianos, segui<strong>do</strong> de um<br />
enorme e ensurdece<strong>do</strong>r silêncio.<br />
Hamour continuou.<br />
- Acho que to<strong>do</strong>s estão curiosos<br />
para saber quem sou, de onde vim e<br />
porque fiquei <strong>aqui</strong>.<br />
Pois bem, como sabem, meu<br />
nome é Hamour, e vim de um planeta<br />
chama<strong>do</strong>, por nós, GORAN. Este planeta<br />
165
fica a muitos, muitos anos luz d<strong>aqui</strong>. Mais<br />
tarde saberão sua exata localização. O<br />
povo de GORAN sempre foi da<strong>do</strong> à<br />
exploração <strong>do</strong> espaço e à colonização de<br />
planetas subdesenvolvi<strong>do</strong>s, tentan<strong>do</strong><br />
contribuir para a edificação <strong>do</strong> grande<br />
TODO, reunin<strong>do</strong>-o novamente. Saibam,<br />
que no começo formávamos um To<strong>do</strong>, por<br />
tu<strong>do</strong> que havia a partir de energias vitais.<br />
Pois bem, devi<strong>do</strong> a este acúmulo de forças<br />
entrelaçadas e apoiadas por multi<br />
polarizações, forças contrárias<br />
desprenderam-se de seus núcleos,<br />
contaminan<strong>do</strong> os pólos neutros e causan<strong>do</strong><br />
<strong>aqui</strong>lo que denominamos de ira <strong>do</strong>s<br />
contrários. Isto causou uma enorme e<br />
brutal explosão, despedaçan<strong>do</strong>-se em<br />
quintilhões e quintilhões de pedaços,<br />
forman<strong>do</strong> o que chamamos hoje de<br />
Universo tri-dimensional e tu<strong>do</strong> que nele<br />
há. Este Universo está em constante<br />
expansão, tornan<strong>do</strong>-o cada vez maior.<br />
Consequentemente em constante<br />
renovação, crian<strong>do</strong> novos sistemas, à<br />
distâncias sempre mais largas. Esta<br />
formação está dentro da matéria escura, a<br />
principal constituição <strong>do</strong> Universo. As<br />
forças que mantém a expansão são<br />
166
traduzidas por energia escura. Então,<br />
como dizia, a missão <strong>do</strong> meu povo era<br />
garantir segurança e desenvolvimento <strong>do</strong>s<br />
seres, que de um mo<strong>do</strong> ou de outro,<br />
habitariam estes pedaços, os quais foram<br />
denomina<strong>do</strong>s de planetas, planetóides e<br />
planetetes. Estes, variam em volume,<br />
massa, composição e núcleo. Nossa gente,<br />
com a ajuda de Deus, tornou-se uma<br />
espécie de missionários-viajantes,<br />
tentan<strong>do</strong> evitar desequilíbrio entre as<br />
galáxias, ou sua deteriorização prematura.<br />
Isto pode afetar o sistema <strong>do</strong> Universo<br />
como um to<strong>do</strong>. A morte de planetas, sóis<br />
ou qualquer coisa que exista, até mesmo<br />
núcleos de anti-matéria, deve ter sua<br />
duração natural. Resumin<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> que<br />
nasce, cresce, se desenvolve, amadurece,<br />
gera descendentes, ou não, depois morre<br />
para aquele dimensional, forman<strong>do</strong> outra<br />
coisa, que por conseguinte se trata de um<br />
novo nascimento. Assim, nesse processo<br />
de purificação, voltaremos to<strong>do</strong>s a formar o<br />
To<strong>do</strong>. É claro, as células contrárias<br />
também fazem parte deste processo, no<br />
qual devemos ter bastante cuida<strong>do</strong> com<br />
elas.<br />
167
- Meus ancestrais localizaram<br />
aproximadamente setenta mil planetas,<br />
capazes de suportar vida como a<br />
conhecemos. Alguns poucos coloniza<strong>do</strong>s,<br />
cerca de <strong>do</strong>is mil. Foram planta<strong>do</strong>s,<br />
sementes <strong>do</strong> nosso mun<strong>do</strong>, que<br />
cresceram, floresceram e deram frutos.<br />
Também levamos insetos que produzem<br />
mel e seda. Verão, a seguir, no Telak,<br />
imagens de alguns destes planetas, onde a<br />
vida não passa de vegetais, micro insetos<br />
<strong>do</strong>s mais diversos, e animais frugívaros e<br />
erbívoros, ainda deven<strong>do</strong> ser coloniza<strong>do</strong>s.<br />
Existem outros com vida animal e são<br />
perigosos e deveras primitivos, preda<strong>do</strong>res<br />
e carnívoros. Os estu<strong>do</strong>s destas espécies<br />
está incluso ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s planetas, tais<br />
como detalhes sobre suas composições,<br />
superfícies, atmosferas, gravidades, etc.<br />
Estão nos quadros <strong>do</strong> arquivo ao seu<br />
re<strong>do</strong>r. Para obterem a informação<br />
desejada, basta tocar nos símbolos e a<br />
imagem se formará no Telak.<br />
A esta altura, os Somerianos<br />
estavam perplexos e de certo, assusta<strong>do</strong>s,<br />
com tu<strong>do</strong> o que viam e ouviam.<br />
168
Na tela, as imagens eram<br />
perfeitas, total nitidez, coloração e matizes.<br />
A projeção holográfica de Hamour era<br />
como se ele realmente estivesse ali, ao<br />
vivo, mostran<strong>do</strong> e narran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os<br />
acontecimentos. Mais <strong>do</strong> que isto, era<br />
fascinante, admirável, sem palavras para<br />
descrever.<br />
Em um da<strong>do</strong> momento, Tutkan,<br />
aproveitan<strong>do</strong>-se de uma pausa na<br />
narrativa, perguntou, com a naturalidade<br />
de um sacer<strong>do</strong>te:<br />
- O que você, exatamente, espera<br />
de nós?<br />
Hamour, que estava de la<strong>do</strong>,<br />
virou-se lentamente em direção ao<br />
pergunta<strong>do</strong>r.<br />
- Queira, por favor, reformular a<br />
pergunta, senhor.<br />
- Eu perguntei, o que, exatamente,<br />
espera de nós?<br />
- Muito bom. Gosto que<br />
perguntem. Vou tentar responder.<br />
169
Os olhos de Hamour, visavam<br />
diretamente os olhos de Tutkan, que teve<br />
um leve estremecimento.<br />
A platéia deu um estron<strong>do</strong>so Oh!!<br />
- O que espero de to<strong>do</strong>s vocês é,<br />
que, aproveitem o máximo desta<br />
experiência e saibam se conduzir pelo<br />
espaço, continuan<strong>do</strong>, se possível, de onde<br />
parei. Levan<strong>do</strong> e semean<strong>do</strong> o amor, o<br />
conhecimento e a solidariedade aos povos<br />
que nada sabem e que terão em vocês,<br />
sua única chance de sobreviverem e assim<br />
viver num mesmo espaço com dignidade.<br />
Hamour falava calmo, com voz<br />
pausada e um quase sorriso.<br />
- Perfeito, Hamour. Continue, por<br />
favor.<br />
Era impossível que Hamour não<br />
estivesse ali, dan<strong>do</strong> uma conferência.<br />
Anotações e perguntas eram<br />
feitas, e imediatamente respondidas,<br />
causan<strong>do</strong> sempre a mesma admiração.<br />
170
Ao ser pergunta<strong>do</strong> se o material e<br />
a aparelhagem que continha na sala<br />
abaixo, poderia ser removida para estu<strong>do</strong>s<br />
posteriores, ele não consentiu.<br />
- To<strong>do</strong> o conhecimento lhes será<br />
da<strong>do</strong> e vocês próprios construirão seus<br />
aparelhos. Isto os ajudará a conhecê-los<br />
melhor. Além <strong>do</strong> mais, estes a que se<br />
referem, estão avaria<strong>do</strong>s em sua maioria,<br />
Os assuntos aborda<strong>do</strong>s eram<br />
sempre interliga<strong>do</strong>s uns aos outros e<br />
sempre que mudava o tema, este tinha a<br />
ver com o anterior.<br />
Um conhecimento inteiramente<br />
novo foi-lhes revela<strong>do</strong>, até mesmo sobre<br />
línguas e dialetos. A construção de naves<br />
interplanetárias, com dispositivos de<br />
altíssima tecnologia, e o princípio da fusão<br />
de metal líqui<strong>do</strong> movi<strong>do</strong> por giroscópios,<br />
para viajar em velocidades muitas vezes<br />
superior a da luz, chamadas de Dobra<br />
(Des<strong>do</strong>bramento Operacional Base-Real<br />
Anti-matéria). Este ítem, mereceu por parte<br />
de Zur-Kwa, tempos consideráveis, por ser<br />
este tema uma de suas teorias. Estas<br />
<strong>do</strong>bras espaciais criavam túneis de atalho,<br />
171
aproximan<strong>do</strong> distâncias, que ele próprio<br />
denominava de buracos de minhoca.<br />
Junto a este tema, Hamour<br />
mostrou-lhes vários mapas estelares que<br />
para poder seguí-los haveria um<br />
sofistica<strong>do</strong> e amplo sistema de orientação<br />
e navegação, jamais sonha<strong>do</strong>s por Zur-<br />
Kwa e os demais.<br />
A conclusão daquela tão<br />
interessante reunião foi, sem dúvida<br />
estarrece<strong>do</strong>ra, referin<strong>do</strong>-se ao “Asteróide<br />
de Tameron”.<br />
-... Já nos últimos tempos que<br />
estava praticamente estaciona<strong>do</strong>, para não<br />
dizer preso, <strong>aqui</strong>, temi pela segurança <strong>do</strong>s<br />
meus irmãos e amigos. Minha nave estava<br />
desativada e intacta e sen<strong>do</strong> ela, a única<br />
de sua espécie; desconhecida até mesmo<br />
para as maiores tecnologias de seres da<br />
nossa dimensão; para não cair em mãos<br />
erradas, se me permitem assim dizer,<br />
resolvi desmontá-la e fundí-la num bloco<br />
só. Após, a despachei deste sistema, de<br />
mo<strong>do</strong> a parecer apenas, um grande<br />
asteróide vagan<strong>do</strong> pelo espaço. Um<br />
asteróide disforme e sem valor, com<br />
172
estrutura molecular alternada. Este<br />
material poderá ser renova<strong>do</strong> mediante<br />
fusão com gelo epíli<strong>do</strong>, aliás, abundante<br />
neste planetóide. Os gazes desprendi<strong>do</strong>s,<br />
purificarão os detritos, que propositalmente<br />
misturei à estrutura molecular original.<br />
Peço-lhes que não tentem fazê-lo por<br />
enquanto, pois se trata de uma operação<br />
complicada e devo avisá-los para terem<br />
cuida<strong>do</strong> com este gelo. Suas moléculas<br />
produzem queimaduras severas em<br />
contacto direto com qualquer derme, <strong>do</strong>s<br />
seres vivos. Este contato provoca reação<br />
instantânea com o sistema sanguíneo,<br />
infectan<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>ença rara, que faz os<br />
líqui<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo se dissipar causan<strong>do</strong><br />
uma desidratação rápida e fatal.<br />
- Acho que passei a primeira parte<br />
<strong>do</strong> programa. Sugiro que voltem às suas<br />
naves e façam uma recapitulação de tu<strong>do</strong><br />
o que aprenderam. Discutam<br />
possibilidades. Pensem bastante em como<br />
será utiliza<strong>do</strong> este novo conhecimento e<br />
voltem dentro de três dias e três noites.<br />
Desativem o equipamento antes de saírem.<br />
Gostaria de ter momentos a sós com seu<br />
líder na próxima visita. Senhores e<br />
senhoras, foi realmente um prazer, tê-los<br />
173
comigo neste tempo. Agora vão e voltem<br />
com seu líder. Acho que deve estar<br />
preocupa<strong>do</strong> com a demora, porque se<br />
passaram três dias e três noites desde que<br />
chegaram.<br />
Após estas palavras, o holograma<br />
se desfez, permanecen<strong>do</strong> as luzes brancoazuladas<br />
no telão. A lâmina de cristal saiu<br />
suavemente da gaveta <strong>do</strong> console e Zur-<br />
Kwa a recolocou na gaveta original<br />
- Incrível! – disse, Thorc –<br />
passamos <strong>aqui</strong> três dias e três noites, sem<br />
que precisássemos comer nem beber...<br />
- Nem <strong>do</strong>rmir. E parece que não<br />
durou mais <strong>do</strong> que um tempo – completou,<br />
Tutkan.<br />
- Foi uma conferencia e tanto –<br />
afirmou, Zur-Kwa, que tinha nos olhos uma<br />
expressão descançada, curiosa e de pura<br />
admiração, assim como os demais.<br />
Aos poucos saíam com a mesma<br />
incredulidade com que entraram. No<br />
interior daquela pirâmide, sentiam-se como<br />
que, se estivessem em suas próprias<br />
naves. Tinham oxigênio, gravidade e<br />
temperaturas ideais, dispensan<strong>do</strong> o uso de<br />
174
trajes, capacetes e botas gravitacionais. E<br />
assim como em suas naves, possuía antesala<br />
de regeneração, purificação e<br />
descompressão. Seria ou não, uma nave<br />
disfarçada, perguntava-se, Tutkan.<br />
Na viagem de volta, quase<br />
ninguém falava, exceto monossílabos, ou<br />
palavras como – Com licença, e o outro<br />
responden<strong>do</strong>, pois não!... Estavam<br />
pensativos, recapitulan<strong>do</strong> em suas<br />
anotações. Tu<strong>do</strong> era tão novo e fascinante.<br />
Até mesmo Someron fora visita<strong>do</strong> e<br />
coloniza<strong>do</strong> pelo povo de Goran. Tinham<br />
vivi<strong>do</strong> e constituí<strong>do</strong> família em várias<br />
regiões. Sempre discretos, envolvi<strong>do</strong>s em<br />
escolas e laboratórios.<br />
O que viram sobre o seu mun<strong>do</strong>,<br />
foi horrível. Fora um povo mesquinho,<br />
malicioso, cheios de vícios, corruptos,<br />
apresentan<strong>do</strong> alto nível de egoísmo e<br />
desprezo pelos menos afortuna<strong>do</strong>s, já que<br />
eram escravos <strong>do</strong> dinheiro. Sem contar<br />
com as inúmeras religiões, cuja única<br />
finalidade era escravizar suas mentes,<br />
seus corpos e seus espíritos. Criaram<br />
175
entidades deicas promoven<strong>do</strong> confusão,<br />
desordem, sabotagens, semean<strong>do</strong> a morte.<br />
Suas tendências auto-destrutivas,<br />
em nome <strong>do</strong> “progresso”, poluíam ar, solo<br />
e água. Derrubavam suas matas, sem as<br />
renovar. Como resulta<strong>do</strong>, arrasaram sua<br />
atmosfera e fizeram a guerra, em nome de<br />
Deus e o poder.<br />
Sentiam-se envergonha<strong>do</strong>s de<br />
seus ancestrais, que com sua ganância e<br />
mesquinhez, estragaram um lin<strong>do</strong> lugar<br />
para viver. Cada um repetia a si mesmo,<br />
que tais atrocidades não aconteceriam<br />
novamente.<br />
Fanna os aguardava<br />
ansiosamente. Mal pode esperar Tutkan e<br />
os outros, subirem a rampa de acesso ao<br />
observatório. O tempo que levaram nas<br />
ante-salas de regeneração e purificação,<br />
parecia não ter fim.<br />
Vestia-se em trajes de gala, com<br />
roupão branco imacula<strong>do</strong>, corrente no<br />
pescoço, conten<strong>do</strong> um medalhão <strong>do</strong>ura<strong>do</strong><br />
com o símbolo e as cores de Someron.<br />
176
Calçava suas botas <strong>do</strong>uradas e seu<br />
cinturão, também <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>, há muito,<br />
guarda<strong>do</strong>s.<br />
Deu um grande aperto de mão<br />
em Tutkan, quan<strong>do</strong> este entrou no<br />
observatório.<br />
- Espero que to<strong>do</strong>s estejam bem! –<br />
disse, com seu sorriso largo e confia<strong>do</strong>.<br />
- É claro que sim – respondeu-lhe,<br />
Tutkan, devolven<strong>do</strong>-lhe o cumprimento<br />
com a mesma alegria – Não poderíamos<br />
estar melhor. Erus, só me parece que<br />
Thorc, Zur-Kwa e seus assistentes,<br />
inclusive as garotas, terão belas <strong>do</strong>res-decabeça,<br />
porque irão trabalhar muito, d<strong>aqui</strong><br />
por diante.<br />
- Ora, não exagere – disse, Zur-<br />
Kwa, entran<strong>do</strong> e cumprimentan<strong>do</strong> o seu<br />
líder – Gostaria de passar minha vida toda<br />
me dedican<strong>do</strong> a estas “<strong>do</strong>res-de-cabeça”.<br />
- Imagino que sim. Você está<br />
sempre com elas, não é mesmo?<br />
- Fanna, esta é a maior delas, que<br />
já tive, ou terei.<br />
- Vamos, vamos, estou ansioso<br />
por saber das novidades, mas primeiro<br />
177
vamos comer alguma coisa. Acho que<br />
to<strong>do</strong>s estão famintos.<br />
- Você não vai acreditar – disse,<br />
Tutkan, com a mão no ombro de seu líder -<br />
, passamos três dias e três noites sem<br />
comer nem beber ou <strong>do</strong>rmir e não estamos<br />
com fome, sede e ou sono. Tampouco,<br />
cansa<strong>do</strong>s. Parece que acabamos de<br />
acordar.<br />
- Mas como, assim?<br />
- Não sabemos, apenas nos<br />
sentimos assim e é tu<strong>do</strong>.<br />
- Então, vamos às novidades! –<br />
completou, Fanna obscureci<strong>do</strong> pela<br />
curiosidade.<br />
Foram diretamente para a sala de<br />
reuniões, onde passaram tempos. Outras<br />
reuniões aconteciam simultaneamente em<br />
outras salas, em outras naves. Os<br />
participantes da expedição traziam maços<br />
de anotações, revelan<strong>do</strong> e discutin<strong>do</strong> com<br />
os outros, tão curiosos quanto incrédulos.<br />
Nos três dias e três noites que se<br />
seguiram, houve um verdadeiro rebuliço.<br />
Os poucos espaços de tempo que<br />
dispunham para <strong>do</strong>rmir, seus cérebros não<br />
178
se desligavam e sonhavam com tu<strong>do</strong><br />
<strong>aqui</strong>lo. As telas Telecon, das naves,<br />
permaneciam ativas, aos interesses<br />
científicos e curiosos.<br />
Na terceira noite, foram libera<strong>do</strong>s<br />
para passarem com suas famílias, amigos<br />
ou namora<strong>do</strong>s.<br />
Com a concordância de<br />
Ambhórius, Amis passou esta noite em<br />
companhia de suas amigas, que desde a<br />
volta da expedição, separaram-se,<br />
trabalhan<strong>do</strong> incansavelmente. O lugar<br />
escolhi<strong>do</strong> foi a cúpula da Kosmos, onde<br />
conversavam e observavam as estrelas, o<br />
universo, e ao longe, a fraca luminosidade<br />
daquele sol amarelo-esverdea<strong>do</strong>.<br />
- Sabe, Amis, disse Zuila, acho<br />
que estou apaixonada por Velz.<br />
- Eu sabia. Vi isto, no jeito como<br />
vocês se olham. Acho isso lin<strong>do</strong>!<br />
- Ora, nem tanto assim, disse,<br />
Zart, desdenhosamente – Ele nem se quer<br />
sabe falar!<br />
Você também tem seus<br />
segredinhos, hein, Zart?<br />
- Por que você diz isto, Amis?<br />
179
- Eu também vi como você olha e<br />
fala com Maxun.<br />
- É, eu também notei – disse,<br />
Zuila, acomodan<strong>do</strong>-se melhor no grande<br />
sofá circular da cúpula.<br />
- Você tem que fazer como sua<br />
irmã Walln. Acho que isto serve pra você<br />
também, Zuila - continuou, Amis.<br />
- O que Walln tem a ver com isto?<br />
- Ela não perdeu tempo com<br />
Tameron. Pense bem, enquanto estamos<br />
<strong>aqui</strong>, eles estão aconchega<strong>do</strong>s, bem<br />
juntinhos em seus aposentos. Quan<strong>do</strong> eu<br />
encontrar o meu macho e meu coração<br />
disser que sim, eu mesma quebrarei o gelo<br />
e o pegarei com as duas mãos.<br />
- Mas isto não é próprio para uma<br />
garota – disse, Zuila voltan<strong>do</strong> a olhar para o<br />
espaço, debruçan<strong>do</strong>-se no parapeito da<br />
abóbada de vidro – eles é quem devem<br />
tomar a iniciativa, Amis. Eu sinto, que às<br />
vezes, ele vai falar, mas acho que tem<br />
me<strong>do</strong>, talvez de levar um fora.<br />
- Pois então faça-o sentir-se<br />
confiante.<br />
- Talvez você tenha razão, mas<br />
temo por meu pai.<br />
180
- O que é isso!? Não seja ridícula!<br />
Fanna compreenderá.<br />
- Eu sei que ele vai entender.<br />
Acontece que eu não gostaria de deixá-lo<br />
sozinho, sabe? Eu sou tu<strong>do</strong> que ele tem ...<br />
- Isso também acontece comigo –<br />
disse, Zart – Depois que Walln se uniu a<br />
Tameron, sou eu quem cuida dele. Meus<br />
irmãos não ligam a mínima. Estão sempre<br />
ocupa<strong>do</strong>s com suas naves.<br />
- Mas vocês tem que entender, só<br />
se vive uma vez com este corpo e mentes.<br />
Precisamos viver nossas vidas. Nossos<br />
pais tem as deles e não creio que eles se<br />
sentirão bem, se souberem que estão<br />
interferin<strong>do</strong> em nossas vidas. O meu pai,<br />
por exemplo, é muito carente e tem só a<br />
mim também, contu<strong>do</strong>, sempre pautou pela<br />
liberdade e discernimento. Eu, tive uma<br />
criação tão independente quanto à de<br />
vocês.<br />
- Você tem razão, Amis – disse<br />
Zart, enquanto Zuila permanecia com olhar<br />
perdi<strong>do</strong> na vastidão <strong>do</strong> espaço - Escutem,<br />
meninas, vamos descer. Precisamos<br />
<strong>do</strong>rmir, temos uma missão logo mais.<br />
- Aahhh! sim! - bocejou, Zart -<br />
Nunca me senti tão cansada...<br />
181
Erus Fanna não conseguia <strong>do</strong>rmir,<br />
tentan<strong>do</strong> por os pensamentos em ordem.<br />
Havia tantas perguntas a fazer para<br />
Hamour, como um holograma poderia<br />
entender, absorver e responder a to<strong>do</strong>s<br />
que o questionavam, olhan<strong>do</strong>-os bem nos<br />
olhos? E como poderia saber de sua<br />
ausência, naquela primeira reunião?? Por<br />
que o sinal de socorro? Uma vez que<br />
qualquer um, bons ou maus, o poderiam<br />
tê-lo capta<strong>do</strong> e se beneficiar daqueles<br />
conhecimentos, que de certo mo<strong>do</strong>, eram<br />
perigosos e consequentemente, de<br />
responsabilidade tão extraordinária?<br />
Por fim, neste emaranha<strong>do</strong> de<br />
questões, a<strong>do</strong>rmeceu com o livro de<br />
Hamour ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> travesseiro.<br />
No alojamento <strong>do</strong>s oficiais<br />
solteiros, as mesmas perguntas<br />
atropelavam-se, como num turbilhão em<br />
suas mentes.<br />
Velz, por sua vez, tinha outros<br />
pensamentos. Logo, logo estaria com Zuila<br />
e desta vez, na primeira oportunidade, iria<br />
182
se declarar. Não tinha bem certeza, mas<br />
achava que seu amor era correspondi<strong>do</strong>.<br />
- Ora, mas que droga! Sempre<br />
quan<strong>do</strong> chego perto dela, não consigo falar<br />
nada!!<br />
Este fora o seu último<br />
pensamento, antes de a<strong>do</strong>rmecer e sonhar<br />
com ela.<br />
Enfim, o momento da partida<br />
chegara. Fanna organizara uma escala de<br />
coman<strong>do</strong>s enquanto estivesse fora, assim<br />
como Tutkan.<br />
Então, Ambhórius assumiria a<br />
liderança e Klemps, o coman<strong>do</strong> da<br />
Kosmos.<br />
A mesma formação anterior<br />
pousou nas proximidades da pirâmide,<br />
agora com Fanna a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> March-1 de<br />
Tutkan. Logo após, Velz e Maxun<br />
destaca<strong>do</strong>s para a missão de<br />
reconhecimento e cobertura, dan<strong>do</strong> voltas<br />
ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> planetóide. Não queriam<br />
surpresas.<br />
183
Velz cumpriu aquelas ordens<br />
contraria<strong>do</strong>, sem contu<strong>do</strong> demonstrar para<br />
o seu comandante, Tutkan.<br />
Fanna, ao ver a majestosa<br />
construção, lembrou-se <strong>do</strong>s velhos livros,<br />
em sua infância, que tratava de assuntos<br />
antigos, com civilizações extintas, no<br />
começo de seu mun<strong>do</strong>. Eram usadas como<br />
templos <strong>do</strong>s antigos sacer<strong>do</strong>tes e também,<br />
para manter alimentos e coisas frescas, e<br />
aquelas maiores isolavam as usinas<br />
atômicas primitivas. Eram construídas em<br />
pontos estratégicos e energéticos.<br />
- Nunca pensei em ver de perto<br />
uma delas e muito menos num planeta<br />
longe <strong>do</strong> nosso.<br />
- Também nunca havíamos<br />
pensa<strong>do</strong> em ver “outro” planeta – brincou,<br />
Tutkan.<br />
Entraram por aquelas estranhas<br />
portas já conhecidas e pouco depois,<br />
estavam nos aposentos <strong>do</strong> corpo<br />
desidrata<strong>do</strong>, e instalaram-se o mais<br />
confortavelmente possível.<br />
184
Zur-Kwa ativou os controles e em<br />
seguida, para sua surpresa, o holograma<br />
tomou forma e voz, sem que precisasse<br />
colocar nenhum cristal na gaveta receptora<br />
<strong>do</strong> console.<br />
- Estou encanta<strong>do</strong> em tê-los<br />
novamente - começou a falar, Hamour - e<br />
percebo a presença de seu líder. Antes de<br />
começarmos a segunda etapa <strong>do</strong><br />
programa; sei que estão ansiosos por<br />
muitas respostas - gracejou -: aliás devo<br />
dizer-lhes que sempre perguntem se não<br />
se sentirem satisfeitos e que estas<br />
perguntas atentem diretamente à questão:<br />
gostaria, então, antes de recomeçarmos,<br />
que seu líder atravessasse o Telak, depois<br />
de totalmente ativa<strong>do</strong>. Não há perigo, lhes<br />
asseguro. Lá, encontrará coman<strong>do</strong>s iguais<br />
a estes que tem aí e os acionará. Leve<br />
consigo o Cristalton de número três e o<br />
injete na gaveta receptora <strong>do</strong> console.<br />
Ao tocar na gaveta <strong>do</strong> tal<br />
Cristalton, o Telão-Visor brilhou em<br />
intensidade máxima, indican<strong>do</strong> sua<br />
ativação.<br />
Fanna atravessou no que antes<br />
parecia ser sóli<strong>do</strong>, dan<strong>do</strong> a impressão de<br />
185
estar atravessan<strong>do</strong> uma parede, aos olhos<br />
<strong>do</strong>s outros.<br />
Era um aposento igual aos outros,<br />
exceto pelas dimensões menores. Havia<br />
uma poltrona igual àquela de Hamour e em<br />
sua frente um console semelhante.<br />
Sentou-se, tomou os coman<strong>do</strong>s e ativou o<br />
mesmo telão que a pouco atravessara.<br />
Do outro la<strong>do</strong>,Zur-Kwa deu início<br />
ao debate.<br />
- Primeiramente, temos um<br />
problema, até o momento insolúvel.<br />
Nossas prensas e fundições, não possuem<br />
tamanhos adequa<strong>do</strong>s conforme as plantas<br />
que nos deu. Precisamos de espaço físico<br />
também para acondicioná-las assim como<br />
para depósito de matéria prima. Para<br />
complicar ainda mais, nossa população,<br />
apesar <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s, cresce, absorven<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong>s os cantos disponíveis. Qual a<br />
sugestão para sairmos deste impasse?<br />
-Estou admira<strong>do</strong> por terem, já<br />
decodifica<strong>do</strong> todas as fórmulas de<br />
estrutura molecular e no que isso implica.<br />
Principalmente no se refere ao sistema e o<br />
desempenho eletro-magnetiza<strong>do</strong> que<br />
186
compõem, bàsicamente, os teleméricos de<br />
navegação espacial. Temo tê-los<br />
subestima<strong>do</strong>. Pois bem, vamos à solução<br />
deste problema. No segun<strong>do</strong> planetóide<br />
deste sistema, seus analisa<strong>do</strong>res devem<br />
ter detecta<strong>do</strong>, que, sua composição, de<br />
massa e núcleo é de Hélio com atmosfera<br />
ácida. Mas isto é apenas disfarce. Para<br />
atravessar a fina camada de hélio da<br />
ionosfera, que pelo meu senso de medida<br />
é de <strong>do</strong>is mil centons, aproximadamente,<br />
bastará desligar seus motores. Para voltar,<br />
isto não é necessário, aliás, passei bom<br />
tempo projetan<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong> este<br />
disfarce. Pois bem, lá encontrarão<br />
atmosfera agradável e to<strong>do</strong> o espaço que<br />
precisam. Façam como disse e não haverá<br />
perigo. Alguma pergunta neste aspecto?<br />
Então, Thorc tomou a palavra.<br />
- Nossos computa<strong>do</strong>res ...<br />
- Desculpe-me, pela interrupção,<br />
imper<strong>do</strong>ável de minha parte - cortou,<br />
Hamour -mas gostaria de saber seus<br />
nomes, para que possamos estabelecer<br />
nossa comunicação o mais informal<br />
possível...<br />
187
Novamente, os Somerianos<br />
estreolharam-se, interrogativos.<br />
- ... Por favor o seu nome??? –<br />
dirigiu-se à Zur-Kwa.<br />
- Zur-Kwa.<br />
- Zur-Kwa... – passaram-se alguns<br />
microns- ... Muito bem, meus bancos de<br />
memória já estão com seu nome e sua voz<br />
... e você – apontou para Thorc.<br />
- Eu sou Thorc, forma<strong>do</strong> em...<br />
- Queira desculpar mais uma vez.<br />
Não há necessidade de sua formação,<br />
apenas o nome basta. Thorc... muito bem,<br />
continue sua pergunta, por favor.<br />
- Nossos computa<strong>do</strong>res não<br />
concordam com a fórmula molecular <strong>do</strong><br />
Velux, na utilização como condiciona<strong>do</strong>r<br />
auto-renovável de energia. Conforme as<br />
projeções obtidas, ao simples contacto<br />
com oxigênio volátil ou mesmo líqui<strong>do</strong>,<br />
congestionaria os expansores, provocan<strong>do</strong><br />
super-aquecimento, explodin<strong>do</strong> e com ele<br />
tu<strong>do</strong> em volta num raio de <strong>do</strong>is mil centons.<br />
-É provável que em algum ponto<br />
de seus cálculos, ocorreu um erro.<br />
Acompanhe-me neste raciocínio Físicoquímico-molecular...<br />
188
Na medida em que Hamour<br />
falava, na tela apareciam os números e<br />
vetores das fórmulas, como se ele<br />
estivesse escreven<strong>do</strong>-as numa lousa.<br />
Naturalmente to<strong>do</strong>s o acompanhavam com<br />
seus próprios apontamentos e as dúvidas<br />
desapareciam pouco a pouco.<br />
Após os esclarecimentos sobre a<br />
fórmula <strong>do</strong> Velux, uma mulher tomou a<br />
palavra.<br />
- Eu sou Belzamir, assistente <strong>do</strong><br />
professor Zur-Kwa e gostaria de saber<br />
mais sobre a Dobra e seus efeitos sobre as<br />
pessoas que viajam nela.<br />
- Muito bem, Belzamir. O<br />
Des<strong>do</strong>bramento Operacional-Bipolar-Real-<br />
Antimatéria, age sobre to<strong>do</strong>s os tripulantes<br />
da nave. E é simples, muito mais <strong>do</strong> que<br />
imagina. Lembre-se, qualquer coisa que<br />
viaje na velocidade da luz, se torna luz,<br />
para isso contamos com o giroscópio de<br />
metal líqui<strong>do</strong> de nome Mercúrio. Quan<strong>do</strong><br />
ele é ativa<strong>do</strong> ao seu pico de luz, inverte<br />
completamente toda e qualquer polaridade,<br />
desfazen<strong>do</strong> as ligas da matéria. É claro<br />
que to<strong>do</strong>s já sabem que isto não implica<br />
em se transformar Anti-matéria. Funciona<br />
189
com o mesmo princípio da Desatomização<br />
e Reintegração átomo-molecular<br />
codificada, ou seja, no momento em que a<br />
contagem regressiva, para a nave entrar<br />
em Dobra, se dá, no campo magnético que<br />
nos envolve; e também no da nave;<br />
prepara nossa composição atômica a se<br />
desfazer. Os núcleos de cada átomo são<br />
separa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus orbitais, liberan<strong>do</strong><br />
seus prótons, elétrons, fótons, etc...<br />
misturam-se à energia elétro-magnética<br />
iônica monopolarizada. Em outras<br />
palavras, nos tornamos luz. Mas, luz em<br />
raios mais finos <strong>do</strong> que os raios Gama, e<br />
potentes, muitas vezes maior <strong>do</strong> que o<br />
lazer. Ao se desativar a Dobra, tu<strong>do</strong> se<br />
agrupa novamente, conforme os seus<br />
códigos anteriores.<br />
- E como se sentem aqueles que<br />
sofreram estas modificações?<br />
- Seu nome?<br />
- Ah, sim, desculpe. Meu nome é<br />
Amis.<br />
- Amis... Amis!... Bonito nome...<br />
Queira, por favor, reformular sua<br />
pergunta...<br />
- Como se sentem os que<br />
passaram por esta experiência?<br />
190
- Nas primeiras vezes, isto causa<br />
certo enjôo, depois acostuma.<br />
- Na verdade, perguntei erra<strong>do</strong>.<br />
Eu queria saber como é que se sente<br />
durante a separação núcleo-atômica?<br />
- Enten<strong>do</strong>, você quer saber se<br />
continuamos a nos ver, tocar etc. ... Sim.<br />
Tu<strong>do</strong> continua normal exceto pela<br />
coloração. Tu<strong>do</strong> se transforma em branco<br />
e as pessoas; como tu<strong>do</strong> o mais; ficam<br />
assim, como eu, agora, uma projeção<br />
holográfica. No entanto, como disse, sem<br />
cores. Satisfeita?<br />
Entrementes, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
telão, Hamour e Fanna tinham seus<br />
momentos.<br />
- Hamour, sou Erus Fanna, líder <strong>do</strong><br />
povo de Someron, <strong>do</strong>s que restaram após<br />
guerra. Estamos navegan<strong>do</strong> pelo espaço<br />
por mais de <strong>do</strong>ze anos de nosso tempo.<br />
Fomos obriga<strong>do</strong>s a aban<strong>do</strong>nar nosso<br />
mun<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> às condições atmosféricas e<br />
os abalos sísmicos provoca<strong>do</strong>s pela<br />
movimentação das placas tectônicas, e,<br />
núcleo em expansão <strong>do</strong> planeta. Partimos<br />
de lá em busca de um novo mun<strong>do</strong> que<br />
nos abrigue. Estamos agradeci<strong>do</strong>s pela<br />
191
sua grande contribuição, que sem ela,<br />
creio, levaríamos uma eternidade para<br />
encontrar o nosso objetivo. Se me permite,<br />
gostaria de saber o que o faz pensar que<br />
merecemos o conhecimento, que,<br />
graciosamente, nos está passan<strong>do</strong>?<br />
Hamour não respondeu de<br />
imediato. Parecia pensar.<br />
De súbito tirou a mão <strong>do</strong> queixo e falou em<br />
tom bran<strong>do</strong>.<br />
- De Someron?!? ...<br />
- Sim, de Someron – disse, Fanna,<br />
remexen<strong>do</strong>-se na poltrona.<br />
- Deixe-me ver ... hum, ... ah, sim,<br />
Someron... o planeta<br />
Shan ... Um povo de muitas qualificações<br />
e sem dúvida; queira me per<strong>do</strong>ar; pouco<br />
educa<strong>do</strong>. Talvez um <strong>do</strong>s povos mais brutos<br />
e rebeldes que conhecemos. Tiveram<br />
muitas guerras sangrentas, bárbaras e<br />
excessivas religões fundamentalistas.<br />
Tinham um sistema monetário e preços<br />
para tu<strong>do</strong>. Sim, conheço seu povo... os<br />
últimos informes que disponho, vocês<br />
realmente destruíram seu planeta numa<br />
guerra “santa” brutal, sem precedentes...<br />
192
Ao pronunciar aquelas palavras,<br />
Hamour tinha o cenho carrega<strong>do</strong>,<br />
desaprova<strong>do</strong>r, manten<strong>do</strong> os olhos fixos<br />
para o chão, perdi<strong>do</strong>s a procura de<br />
palavras menos hostis. Então fitou Fanna e<br />
num meio sorriso, continuou.<br />
- ... Fico feliz em saber que você<br />
reorganizou a ordem e os mantém uni<strong>do</strong>s.<br />
Não quero de mo<strong>do</strong> algum, que você<br />
pense que, foram escolhi<strong>do</strong>s para receber<br />
estes conhecimentos, e nem tampouco,<br />
que sejam gratuitos. Terão que demonstrar<br />
discernimento para usá-los e isto, a meu<br />
ver, é difícil aos incautos. As fórmulas que<br />
estou passan<strong>do</strong>, no outro la<strong>do</strong>, são apenas<br />
o começo. É uma maneira de mantê-los<br />
ocupa<strong>do</strong>s, enquanto meus sensores<br />
analisam seus comportamentos. Só<br />
poderão tirar proveito, aqueles que<br />
realmente estiverem aptos a possuir e<br />
desfrutar destas dádivas. O primeiro<br />
computa<strong>do</strong>r a ser construí<strong>do</strong>; sem que<br />
saibam, e peço-lhe para não revelar isto;<br />
estará <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de “para-sensores”, que fará<br />
comparações da energia e fluí<strong>do</strong>s<br />
psíquicos, colhi<strong>do</strong>s agora mesmo. Estas<br />
comparações revelarão quem está<br />
prepara<strong>do</strong> a prosseguir.<br />
193
- Você esta me dizen<strong>do</strong> que lhes<br />
preparou uma armadilha? E o que<br />
acontecerá, se alguns de nós não formos<br />
qualifica<strong>do</strong>s, ou mesmo, to<strong>do</strong>s?<br />
- Você saberá e deverá tomar as<br />
medidas necessárias, não deixan<strong>do</strong> que<br />
este ou aquele, venha a se apoderar de<br />
algum destes segre<strong>do</strong>s. No caso de não<br />
estarem, to<strong>do</strong>s prepara<strong>do</strong>s, nada<br />
funcionará. No caso ser rouba<strong>do</strong>, a<br />
medição <strong>do</strong> campo aural não permitirá sua<br />
operação. É auto-destrutível quan<strong>do</strong><br />
aciona<strong>do</strong>s por acidente ou por seres<br />
inabilita<strong>do</strong>s. Dificilmente cairá em mãos<br />
erradas. Esta é a minha, e a sua,<br />
segurança contra indesejáveis. Estes<br />
também são os sensores que possibilitam<br />
a nossa conversa, isto é, você e minha<br />
imagem holográfica. Estes sensores<br />
ativam um complexo de bancos de<br />
memória, copia<strong>do</strong> de nossos cérebros<br />
<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de freqüências orais e auditivas.<br />
Assim, quan<strong>do</strong> você fala, o áudio<br />
transforma suas palavras em códigos que<br />
percebem intenções e o seu campo aural.<br />
Depois reage e você pensa que me escuta,<br />
porque o transmissor falante está incluso<br />
exatamente onde você vê minha boca. A<br />
194
voz é a minha mesmo. Foram cinco anos<br />
programan<strong>do</strong> estes da<strong>do</strong>s. Deixe-me dizer<br />
que quan<strong>do</strong> estava só, o testei , falan<strong>do</strong><br />
comigo mesmo, isto é, com o meu<br />
holograma. Os parateleméricos são<br />
perfeitos.<br />
- Estou impressiona<strong>do</strong> com sua<br />
tecnologia. Então me diga, por que eu?<br />
Nunca nos vimos antes...<br />
- É verdade, mas tenho o seu<br />
histórico, sua pureza. Não falei inocência.<br />
Isto você não é.<br />
- E por que você quer vir conosco,<br />
não sabemos ao certo, para onde vamos?<br />
- Estava esperan<strong>do</strong> por esta<br />
pergunta. A razão principal, é que o meu<br />
corpo não está morto como parece. Está,<br />
apenas, desidrata<strong>do</strong>, causa<strong>do</strong> pelo contato<br />
acidental com o gelo epíli<strong>do</strong> deste planeta.<br />
Isto provocou um desequilíbrio celular e<br />
paralisia <strong>do</strong>s membros. Esta paralisia, com<br />
o passar <strong>do</strong> tempo, me impediria operar<br />
minha nave. Morreria a caminho de minhas<br />
origens. Então, desenvolvi um soro<br />
regenera<strong>do</strong>r, mas estava fraco e debilita<strong>do</strong><br />
demais para que pudesse viver o bastante<br />
para surtir efeito. Por isso, usei a única<br />
alternativa que tinha. Com a ajuda de <strong>do</strong>is<br />
195
andróides, minha essência vital foi<br />
transferida para o soro conti<strong>do</strong> na pirâmide<br />
cristal abaixo, até que seres de ín<strong>do</strong>le pura,<br />
pudessem me reviver. Pode-se dizer que<br />
estou em vários lugares ao mesmo tempo:<br />
Senta<strong>do</strong> naquela poltrona, <strong>aqui</strong> e no outro<br />
la<strong>do</strong>, falan<strong>do</strong> com seus concidadãos e lá<br />
em baixo, na pirâmide cristal. Saiba<br />
também, que as células de memória <strong>do</strong><br />
complexo estão interagin<strong>do</strong> com o soro<br />
transparente. De mo<strong>do</strong> que o meu esta<strong>do</strong><br />
líqui<strong>do</strong> assimila o que <strong>aqui</strong> se passa.<br />
- E o que foi feito <strong>do</strong>s andróides?<br />
- Se auto-destruiram, após a<br />
transferência. Encontrará estes registros<br />
no último cristalton, à sua esquerda.<br />
- Obriga<strong>do</strong> pela confiança. Mas<br />
saiba: Não posso tomar decisões sem que<br />
meus irmãos saibam. Concor<strong>do</strong> em<br />
compartilhar <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s e mante-los<br />
assim, <strong>do</strong>u-lhe minha palavra. Votaremos e<br />
decidiremos o que fazer. Isto é justo pra<br />
você?<br />
Por um breve momento houve<br />
silencio absoluto e Hamour parecia ter os<br />
olhos fixos em Fanna, que lhe retribuía o<br />
mesmo olhar.<br />
196
- Esta é a resposta que eu queria<br />
ouvir, disse Hamour expressan<strong>do</strong> alívio.<br />
Sim, é justo e sei que estou em boas mãos.<br />
- E como faremos para trazê-lo de<br />
volta?<br />
- Simples. Em baixo da pirâmide<br />
cristal encontrará o meio. Mas antes,<br />
estude bem nossos caracteres e depois<br />
você, e somente você, os traduzirá.<br />
Depois chame seus companheiros,<br />
aqueles de maior sabe<strong>do</strong>ria, para ajudá-lo<br />
na operação. Para encerrar este nosso<br />
primeiro contato, levante-se e puxe o<br />
assento de sua cadeira. Encontrará um<br />
livro, conten<strong>do</strong> as informações<br />
necessárias, para a realização <strong>do</strong> meu<br />
regresso.<br />
Não esqueça de acionar o botão<br />
verde duas vezes quan<strong>do</strong> o Cristalton for<br />
ejeta<strong>do</strong>. Boa sorte. Veremos-nos em breve<br />
e não se preocupe, o reconhecerei. Sua<br />
imagem está projetada em minha memória<br />
... hum ... vamos dizer, líquida.<br />
Fana fez o que Hamour lhe<br />
dissera e tinha em mãos o Cristalton e o<br />
livro. Desativou o restante <strong>do</strong>s controles e<br />
197
atravessou o Telão, encontran<strong>do</strong> Hamour<br />
falan<strong>do</strong> com os outros.<br />
Hamour, ao perceber a travessia<br />
<strong>do</strong> líder pela grande tela, interrompeu sua<br />
narrativa e o procurou com os olhos.<br />
- Muito bem, agora você poderá<br />
voltar para junto <strong>do</strong>s que ficaram em suas<br />
naves. Ainda ficarei um pouco mais com<br />
este pessoal, que parece ter “fome de<br />
saber”.<br />
- Fique à vontade – retrucou,<br />
Fanna, meio sem jeito, pego de surpresa.<br />
Ao passar pelo holograma, teve o cuida<strong>do</strong><br />
em desviá-lo. Era incrivelmente sóli<strong>do</strong>, ao<br />
vê-lo, assim, tão de perto. Aproveitou a<br />
pausa e despediu-se <strong>do</strong> pessoal.<br />
Perto da sala de descompressão.<br />
sentiu um toque no braço. Voltou-se,<br />
encontran<strong>do</strong> a figura sorridente de Zeuez.<br />
- Acho que sou o menos<br />
qualifica<strong>do</strong> para continuar nesta palestra. É<br />
muito técnica, fora <strong>do</strong> meu alcance, por<br />
isso, me ofereço para levá-lo de volta à<br />
Kosmos.<br />
198
- Muita gentileza sua, Zeuez. Mas<br />
tem certeza de que não está aproveitan<strong>do</strong><br />
nada <strong>do</strong> que Hamour está passan<strong>do</strong>?<br />
- Se tivesse maiores<br />
conhecimentos em química, talvez. Tu<strong>do</strong> o<br />
que ele diz, é profun<strong>do</strong> demais para mim.<br />
- Seu comandante está ciente de<br />
sua saída?<br />
- Está.<br />
- Está certo. Então vamos.<br />
A segunda parte <strong>do</strong> programa<br />
continuou até completarem-se três dias e<br />
três noites.<br />
A variação <strong>do</strong>s temas se deu<br />
desde a polinização de novas plantas, até<br />
o processo de fusão e aceleração de<br />
partículas, o último tema aborda<strong>do</strong>.<br />
- Muito bem, senhores e<br />
senhoras. Considero encerrada a segunda<br />
fase deste programa. A terceira, está nas<br />
mãos de seu líder.<br />
Na Kosmos, Erus Fanna ativou os<br />
computa<strong>do</strong>res e iniciou os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
caracteres conti<strong>do</strong>s naquele livro pequeno<br />
e de poucas páginas. Seu conteú<strong>do</strong> era<br />
fantasticamente simples, o processo de<br />
199
eversão e ressurreição de Hamour. Tinha<br />
tu<strong>do</strong> revela<strong>do</strong> antes mesmo da expedição<br />
retornar.<br />
Decidiu criar um conselho,<br />
forma<strong>do</strong> pelos mais velhos e mais<br />
equilibra<strong>do</strong>s. De acor<strong>do</strong> com a vontade de<br />
Hamour, deveriam voltar depois de três<br />
dias e três noites. E por que três dias e três<br />
noites? Por que este tempo determina<strong>do</strong>?<br />
Os expedicionários voltaram<br />
satisfeitos e não escondiam suas<br />
expressões de triunfo absoluto. Thorc e<br />
Zur-Kwa, tinham olhares de criança,<br />
prontas para começar uma arte, assim<br />
como Belzamir. As garotas, sempre juntas,<br />
conversavam animadamente, carregan<strong>do</strong><br />
suas sacolas a tiracol e maços de<br />
apontamentos. O recém cria<strong>do</strong> corpo de<br />
cientistas rodeavam Tutkan e caminhavam<br />
lentamente, discutin<strong>do</strong> e gesticula<strong>do</strong><br />
bastante. Os últimos a reentrar com suas<br />
naves, eram os <strong>do</strong>is capitães, Velz e<br />
Maxun.<br />
Velz, ao passar pelo líder, mal o<br />
cumprimentou. Parecia ser o único<br />
200
descontente. Fanna, não se suportou e o<br />
chamou reservadamente, fora daquela<br />
balbúrdia.<br />
- Velz, o que há com você?<br />
- Nada, senhor. Apenas um pouco<br />
cansa<strong>do</strong>.<br />
Seus olhos estavam gruda<strong>do</strong>s no<br />
piso da nave.<br />
- Faça o seguinte: coma algo<br />
sóli<strong>do</strong>, beba um, não, <strong>do</strong>is goles e depois<br />
de um banho relaxante, vá <strong>do</strong>rmir.<br />
Amanhã, vamos dizer... neste mesmo<br />
tempo, apresente-se a mim. Está certo?<br />
- Sim, senhor.<br />
Seus olhos permaneciam <strong>do</strong> mesmo jeito<br />
quan<strong>do</strong> deu meia-volta e se afastou.<br />
- O que estará erra<strong>do</strong> com este<br />
rapaz?<br />
Em vista <strong>do</strong> que acontecia com<br />
Velz, Fanna resolveu mandar to<strong>do</strong>s para<br />
suas naves e ter com os seus. A reunião se<br />
faria na manhã seguinte. Havia muito<br />
trabalho para to<strong>do</strong>s e coisas para serem<br />
resolvidas.<br />
No dia seguinte, convocou a<br />
assembléia, com nomes escolhi<strong>do</strong>s pelo<br />
Komptor.<br />
201
Tão logo os treze escolhi<strong>do</strong>s<br />
tomaram seus acentos, fizeram uma<br />
votação rápida, na escolha <strong>do</strong> presidente<br />
<strong>do</strong> conselho. Escolheram Ambhórius, pelo<br />
que Fanna ficou satisfeitíssimo e entrou<br />
direto ao assunto, relatan<strong>do</strong> sua<br />
experiência em seus mínimos detalhes,<br />
arrancan<strong>do</strong>-lhes um misto de pasmo,<br />
curiosidade e incredulidade.<br />
Ao encerrar a reunião, pediu-lhes<br />
que votassem, observan<strong>do</strong> a urgência em<br />
questão e suas decisões seriam soberanas<br />
e por tanto, cumpridas.<br />
De volta para sua sala pensava<br />
muito sobre o veredicto de Hamour. Não<br />
podia envolver Tut nesta decisão e muito<br />
menos Thorc e Zur-Kwa com suas visões<br />
científicas. Não seriam imparciais,<br />
passou nos laboratórios deles,<br />
encontran<strong>do</strong>-os animadíssimos, sobre<br />
tu<strong>do</strong>, Zur-Kwa, que não se cansava de<br />
elogiar sua assistente, Belzamir, pelo ótimo<br />
desempenho nas experiências preliminares<br />
da “Dobra”. Descobrira, nela, um cérebro<br />
privilegia<strong>do</strong>, acima da média.<br />
202
Thorc, naturalmente, aproveitou a<br />
ocasião para gozar o amigo e disse para<br />
Fanna :<br />
- Desta vez, ele se apaixonou,<br />
mas, pelos neurônios de Belzamir.<br />
Zur-Kwa, por sua vez, ficou<br />
vermelho e retrucou:<br />
- Você nem sabe o que são<br />
neurônios.<br />
- E além <strong>do</strong> mais – entrou, Fanna,<br />
- o resto não é de se jogar fora, hein, seu<br />
sabichão?<br />
- Ah!!! Você também, Erus!!<br />
- Não se preocupe, Zur-Kwa,<br />
desta vez nem, eu, nem Thorc, estamos<br />
interessa<strong>do</strong>s... não é mesmo, Thorc?<br />
- Mas você observou bem, - disse,<br />
Thorc, ela não é de se jogar fora...<br />
Zur-Kwa estava a ponto de<br />
explodir, com a gozação, quan<strong>do</strong> o<br />
Intercon chamou por Fanna.<br />
- Papai, Velz está <strong>aqui</strong> na sua<br />
sala.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, querida. E voltan<strong>do</strong>-se<br />
para os “<strong>do</strong>is malucos”, disse:<br />
- Até mais tarde, rapazes e<br />
esperem por mim para votarmos quem vai<br />
namorar com Belzamir.<br />
203
O baixinho acertou a porta com um<br />
tubo de ensaio. Fanna, saira bem a tempo.<br />
Ao entrar em sua sala, encontrou<br />
Velz muito alinha<strong>do</strong> com uniforme de gala<br />
e viu nos olhos <strong>do</strong> rapaz, certo nervosismo.<br />
O mesmo acontecia com Zuila, ao lhe<br />
trazer alguns resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s de sua<br />
pesquisa nos computa<strong>do</strong>res de Hamour;<br />
pesquisa esta, feita por ela, Zart e Amis.<br />
- Necessita de mais alguma coisa,<br />
papai?<br />
- Não, querida, obriga<strong>do</strong>!<br />
Assim como chegou, ela saiu, em<br />
passos rápi<strong>do</strong>s, olhan<strong>do</strong> discretamente<br />
para Velz, que não parava de se remexer<br />
em sua cadeira.<br />
- Senhor, disse, ele levantan<strong>do</strong>-se<br />
brusca e desajeitadamente, ao perceber<br />
estar diante de seu líder - estou <strong>aqui</strong>,<br />
conforme me pediu.<br />
- Fique a vontade, rapaz. Sentese.<br />
Primeiro, por favor, feche a porta.<br />
- Sim, senhor.<br />
- Então, agora, fale-me, o que<br />
está erra<strong>do</strong>?<br />
- Não há nada de erra<strong>do</strong>, senhor,<br />
apenas me sentia bastante cansa<strong>do</strong>.<br />
204
- Nada de erra<strong>do</strong>? Ontem você<br />
estava com cara de poucos amigos e<br />
agora, está aí nesta cadeira, se remexen<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong>, como se fosse uma galinha no ninho<br />
erra<strong>do</strong>!?<br />
Estas palavras, provocaram risos<br />
em ambos, quebran<strong>do</strong> o gelo de Velz, bem<br />
no estilo de Fanna.<br />
- Senhor, eu nem mesmo sei o<br />
que está acontecen<strong>do</strong> comigo...<br />
- Nada acontece sem motivação e<br />
você tem se mostra<strong>do</strong> um ótimo oficial.<br />
Alguma coisa deve estar erra<strong>do</strong>. Vamos,<br />
pode falar. Desabafe, rapaz.<br />
- Nem sei por onde começar...<br />
- Humm... já vi esta expressão<br />
antes ...<br />
- Mas, eu nunca antes ...<br />
- Sossegue, Velz ... acho que sei<br />
o que está acontecen<strong>do</strong>. Essa sua<br />
expressão é comum em quem está<br />
apaixona<strong>do</strong>. Estou certo?<br />
- Sim, senhor. Acho que estou ...<br />
- Foi o que pensei. E posso saber<br />
quem é a felizarda merece<strong>do</strong>ra de seus<br />
sentimentos?<br />
- Mas esse é o problema, senhor.<br />
205
- Ora, você não sabe por quem<br />
está apaixona<strong>do</strong>?<br />
- Sim, senhor, é claro que sei.<br />
- Então, me diga, rapaz. A menos<br />
que seja por um <strong>do</strong>s rapazes <strong>do</strong><br />
alojamento. Neste caso, não me conte.<br />
O riso foi relaxante. Mas Velz não<br />
sabia como falar que estava aman<strong>do</strong> a filha<br />
de seu líder. Ora, mais ce<strong>do</strong> ou mais tarde,<br />
teria que enfrentar aquela situação. Então<br />
que seja agora, pensou, se enchen<strong>do</strong> de<br />
coragem.<br />
- Senhor - e engoliu em seco - Eu<br />
amo Zuila.<br />
- Zuila?<br />
Fanna soltou uma estron<strong>do</strong>sa<br />
gargalhada.<br />
- Agora entendi tu<strong>do</strong>.<br />
- Como assim, senhor?<br />
- Claro, você gostaria de ter<br />
passa<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o tempo com ela na pirâmide<br />
de Hamour e eu, isto é, por minha ordem,<br />
seu comandante o escalou para<br />
reconhecimento e ronda <strong>do</strong> planetóide.<br />
Você deve ter me odia<strong>do</strong> o tempo inteiro,<br />
não? Diga-me, uma coisa, quan<strong>do</strong><br />
começaram o namoro?<br />
206
- Ainda não começamos. Ela<br />
ainda nem sabe disso...<br />
- Mas isto é realmente incrível!<br />
Desde quan<strong>do</strong> você a ama?<br />
- Desde a primeira vez que a vi na<br />
Base-Meridional-Leste, quan<strong>do</strong> o<br />
comandante Zeuez e eu lá pousamos,<br />
fugin<strong>do</strong> daquela terrível tempestade.<br />
- Mas isto já faz tempo... mais de<br />
quatorze anos. Mas você nunca se revelou<br />
a ela?<br />
- Não, senhor. Não consigo.<br />
Quan<strong>do</strong> estou perto dela, as palavras não<br />
vem. Mas espere um pouco, o senhor não<br />
se opõe?<br />
- Mas é claro que não. Vocês tem<br />
a minha benção.<br />
Velz, não acreditava no que ouvia<br />
e via, naquele sorriso de Fanna.<br />
- Senhor, peço-lhe permissão<br />
para ...<br />
- Calma, calma, meu filho,<br />
primeiro você tem que dizer a ela. Ela é<br />
quem vai dar ou não, permissão para<br />
namorá-la. A minha já está concedida.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, senhor, obriga<strong>do</strong>.<br />
- Agora vá, meu filho. Seja<br />
sensato e tenha calma. Faremos o<br />
207
seguinte, agirei como se não soubesse de<br />
nada.<br />
- Mais uma coisa – Velz já estava<br />
em pé, pronto para sair dali corren<strong>do</strong> –<br />
Pedirei ao seu comandante que lhe dê <strong>do</strong>is<br />
dias de folga. Aproveite-os e se decida,<br />
antes que outro chegue à sua frente.<br />
- Sim, senhor e obriga<strong>do</strong>!<br />
Tão logo Velz saiu, Fanna<br />
apanhou o maço de relatórios trazi<strong>do</strong> por<br />
Zuila e passou a examiná-los, antes,<br />
porém, comunicou Tutkan sobre a folga<br />
que prometera à Velz.<br />
Zeuez, mais tarde, escalou Maxun<br />
e Tameron para o reconhecimento <strong>do</strong><br />
planetóide cita<strong>do</strong> por Hamour e estes<br />
partiram imediatamente.<br />
Tutkan após constatar o<br />
desaparecimento <strong>do</strong> sinal de “socorro”, foi<br />
até o gabinete de Fanna. Deu duas<br />
batidinhas na porta e entrou, encontran<strong>do</strong>o<br />
com o cenho carrega<strong>do</strong>.<br />
- Você está ocupa<strong>do</strong>?<br />
- Olá, Tut, foi bom você ter<br />
chega<strong>do</strong>. Sente-se ...<br />
208
- E então, - disse, Tutkan–<br />
novidades?<br />
- De todas as espécies. E você?<br />
- Do meu la<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> calmo, só<br />
passei para bater um papo.<br />
- Mas <strong>do</strong> meu la<strong>do</strong>, a coisa não<br />
está fácil.<br />
- Achei que a tua vida estava mais<br />
fácil depois da criação <strong>do</strong> Conselho.<br />
Fanna estava sensivelmente<br />
preocupa<strong>do</strong>.<br />
- Sabe, Tut, são muitas coisas<br />
acontecen<strong>do</strong> ao mesmo tempo e tempo é<br />
uma coisa que nós não temos. Decisões<br />
devem ser tomadas e cada vez complica<br />
mais... Agora, dê uma espiada nisso-<br />
acionan<strong>do</strong> a tela maior, conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
relatório das meninas.<br />
- O que diz este monte de<br />
arquivos? – perguntou, Tutkan, queren<strong>do</strong><br />
abreviar as coisas.<br />
- Os exames que Amis, Zart e<br />
Zuila fizeram sobre aquela parafernália<br />
encontrada na pirâmide de Hamour, são,<br />
segun<strong>do</strong> a tradução <strong>do</strong>s caracteres,<br />
computa<strong>do</strong>res específicos para a guerra.<br />
Pelo menos, três de ataque, outros em<br />
defesa e contra-ataque.<br />
209
- Três computa<strong>do</strong>res para cada<br />
tática? Pensei que só se usavam<br />
programas ... diferentes, num só<br />
computa<strong>do</strong>r!<br />
- Pois são três para cada função e<br />
olhe, são media<strong>do</strong> entre si e ao que<br />
parece, automatizam to<strong>do</strong> o sistema da<br />
nave. Basta um só para operá-la. Você não<br />
acha isto, estranho?<br />
- Acho. É de se pensar porque<br />
tantas táticas de guerra?<br />
- Este é o ponto, Tut. Depois de<br />
ler e reler esses relatórios, dei “tratos à<br />
bola”. Acho que Hamour não nos falou<br />
tu<strong>do</strong>. Que motivos teria ele para se<br />
esconder naquele planetóide, decompor<br />
sua nave e remetê-la ao espaço e por que<br />
a camuflagem daquele segun<strong>do</strong> planeta?<br />
- É. Isto também me incomoda...<br />
não aconteceu de graça ...<br />
- E segun<strong>do</strong> o próprio Hamour,<br />
existem outros planetas, com civilizações<br />
inteligentes com tecnologias próprias,<br />
riquezas inimagináveis. Não seria isto, uma<br />
trama?<br />
- Que trama ?<br />
- Bem, o revivemos ...<br />
reconstruímos sua nave e ...<br />
210
- Ele me pareceu ser <strong>do</strong> bem...<br />
- Mas então me explica aquele<br />
equipamento sofistica<strong>do</strong> para se fazer<br />
guerra? E, um pormenor interessante:<br />
Hamour, segun<strong>do</strong> o de Amis, mostrou-lhes<br />
uma infinidade de mun<strong>do</strong>s com seus<br />
povos, etc., mas nunca se referiu ao dele<br />
próprio...<br />
- Goran ?<br />
- Exato. Não sabemos nada a<br />
respeito, nem dele nem de sua raça; o que<br />
nos leva a outra pergunta; por que ele está<br />
só e possuía a nave mais bem <strong>do</strong>tada de<br />
to<strong>do</strong> o Universo? Aí, tem coisa!<br />
Tutkan passava os olhos na tela e<br />
coçava a barba.<br />
- Bem, você conhece a minha<br />
opinião: Ficarmos <strong>aqui</strong> conjecturan<strong>do</strong>, não<br />
nos leva a nada.<br />
- Temos muitos, para cuidar ...<br />
não sei ...<br />
- Olha, Erus, deixa o conselho dar<br />
sua decisão e deixar o Universo seguir o<br />
seu curso natural. E a propósito, você já<br />
conseguiu decodificar os Cristaltons?<br />
- Estão com tua filha, Zart.<br />
- Então aquela gerigonça que ela<br />
está montan<strong>do</strong>, é para a leitura deles?<br />
211
- Sim. Você viu?<br />
- Vi e saí de perto. Ela apanhava<br />
daquele emaranha<strong>do</strong> de componentes.<br />
Então Zart bateu à porta e entrou.<br />
- Oi pai, oi Erus! Estão muito<br />
ocupa<strong>do</strong>s?<br />
- Entre, Zart, estávamos mesmo<br />
falan<strong>do</strong> em você.<br />
- Coisas boas espero.<br />
- É claro, seu pai dizia que você<br />
estava levan<strong>do</strong> uma surra das boas. E<br />
então, quem venceu?<br />
- Eu venci com ajuda de Thorc e<br />
transferimos os códigos para um de nossos<br />
disquetes – disse, ela entregan<strong>do</strong>-o para<br />
Fanna – se quiser pode injetar no seu<br />
terminal, e viran<strong>do</strong>-se para Tutkan – Papai<br />
as meninas e eu estamos pensan<strong>do</strong> em<br />
fazer uma festinha hoje, mais tarde no<br />
Cassino. Você vai precisar de mim?<br />
- Não, querida, tu<strong>do</strong> bem, vá com<br />
suas amigas.<br />
- Obrigada, papai – deu-lhe um<br />
beijo– Precisa de mais alguma coisa, Erus?<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Zart. Agora é comigo.<br />
Ela se foi e Fanna introduziu o<br />
disquete, surgin<strong>do</strong> a imagen de Hamour.<br />
212
Neste disquete trazia-lhes um<br />
mapa estelar, com definições de medida<br />
semelhante à deles.<br />
Numa rápida comparação de<br />
coordenadas, o mapa até então<br />
desenvolvi<strong>do</strong> por eles, mostrava-se<br />
correto. Aí, uma surpresa. O espaço,<br />
segun<strong>do</strong> aquelas medições, se dividia em<br />
<strong>do</strong>is setores conheci<strong>do</strong>s, conten<strong>do</strong> cada<br />
um, mil quadrantes e ali, onde estavam,<br />
seria o oito centésimo quadragésimo nono<br />
e cerca de <strong>do</strong>is anos-luz distantes de três<br />
sistemas aponta<strong>do</strong>s em vermelho.<br />
- Por que estão em vermelho? –<br />
quis saber Tutkan.<br />
- Já vamos saber – disse, Fanna,<br />
chaman<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s.<br />
Estes três sistemas, denomina<strong>do</strong>s<br />
de Meran...<br />
- Meran, o mesmo nome de uma<br />
de nossas luas.<br />
- Interessante!<br />
- Exatamente. Aí, deve haver<br />
alguma ligação que ainda não sabemos.<br />
- Continue,por favor, Erus.<br />
213
-Apresentavam povos<br />
semelhantes a eles. O planeta que dava o<br />
nome ao sistema, Meran, era <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de<br />
tecnologia avançada e de natureza<br />
guerreira com tendências ao canibalismo,<br />
<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> cerca de quinhentos<br />
quadrantes de outro setor, até então<br />
desconheci<strong>do</strong> pelos somerianos. O povo<br />
de Meran era considera<strong>do</strong> muito perigoso.<br />
- E estamos perto deles – retrucou,<br />
Tutkan.<br />
- Com o que possuem, podem<br />
chegar até nós em menos de <strong>do</strong>is<br />
perío<strong>do</strong>s.<br />
- Você está certo, Erus. Não foi à<br />
toa que Hamour camuflou o pequeno<br />
planeta e se protegeu com aquela<br />
parafernália de sensores aurais e tu<strong>do</strong> o<br />
mais.<br />
- Então o que devemos fazer, é<br />
sair d<strong>aqui</strong> “ontem”.<br />
- E Hamour, e o restante das<br />
coisas ... vamos deixar tu<strong>do</strong> para trás?<br />
- O Conselho vai ter que decidir<br />
isto.<br />
- Desta vez, acho melhor<br />
convocar Thorc e Zur-Kwa.<br />
- Também acho.<br />
214
Fanna comunicou-se com Zuila e<br />
pediu-lhe para chamar os “<strong>do</strong>is malucos” a<br />
fazer parte da reunião logo mais.<br />
- Eles estão <strong>aqui</strong>, disse, ela.<br />
- Mande-os entrar.<br />
- Tut, não vá atrás dessa história –<br />
disse, Zur-Kwa espavori<strong>do</strong>, porta adentro –<br />
É tu<strong>do</strong> conversa fiada.<br />
- Do que está falan<strong>do</strong>, Zur-Kwa?<br />
- Ué !? – disse, o baixinho,<br />
moven<strong>do</strong> os olhos para os la<strong>do</strong>s, como se<br />
estivesse procuran<strong>do</strong> algo – Então ele<br />
ainda não te falou!?<br />
- Falou o que ?<br />
- Ora to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já sabe – disse,<br />
Thorc, logo atrás de Zur-Kwa.<br />
Fanna, apesar <strong>do</strong>s problemas, ria<br />
baixinho.<br />
- O que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> já sabe,<br />
Thorc?<br />
- Do namoro dele com Belzamir ...<br />
- É mentira – cortou, Zur-Kwa, em<br />
franco protesto.<br />
- Ele diz isto porque teme que<br />
vamos namorá-la também – Thorc se<br />
divertia à custa <strong>do</strong> colega.<br />
- Isto é um complô contra mim.<br />
215
_ Sossegue, Zur-Kwa – disse,<br />
Fanna – ela é só sua. Não estamos<br />
interessa<strong>do</strong>s, pelo menos não de minha<br />
parte.<br />
- Mas, pensan<strong>do</strong> melhor – disse,<br />
Tutkan – ela não é de se jogar fora ...<br />
- Você, também, Tut?<br />
- Então, vamos votar – disse,<br />
Thorc, ven<strong>do</strong> Zur-Kwa prestes a explodir –<br />
Quem está a fim de Belzamir, levante o<br />
de<strong>do</strong>.<br />
To<strong>do</strong>s levantaram, ao mesmo<br />
tempo.<br />
- Vocês não tem nada melhor<br />
para fazer, <strong>do</strong> que encher a minha<br />
paciência?<br />
- Zur-Kwa – disse, Tutkan – parece<br />
que <strong>aqui</strong> to<strong>do</strong>s estão a fim. Será que tem<br />
mais?...<br />
- Como nos velhos tempos – disse,<br />
Fanna.<br />
- Mas ela é muito jovem para ele –<br />
comentou, Thorc.<br />
- E para vocês também ... e isto<br />
tu<strong>do</strong> é mentira. Espero que não caia nos<br />
ouvi<strong>do</strong>s dela, esta ... esta baboseira ...<br />
- Está certo, Zur-Kwa – disse,<br />
Fanna – Você venceu. Agora vamos<br />
216
trabalhar. Temos grandes problemas pela<br />
frente.<br />
O Intercon chamou. Fanna<br />
atendeu. Era Zuila queren<strong>do</strong> saber se ele<br />
precisava dela.<br />
- Não meu bem, antes de sair,<br />
traga para nós um chá bem quente.<br />
Num piscar de olhos, ela<br />
apareceu com as xícaras e uma jarra<br />
fumegante, sain<strong>do</strong> como chegou, rápida.<br />
- Pois bem, senhores – disse,<br />
Fanna depois de beber um pouco – Vamos<br />
aos fatos ... Temos que sair d<strong>aqui</strong> o quanto<br />
antes possível ...<br />
- Por que tanta pressa? – quis<br />
saber, Thorc.<br />
Fanna passou aos detalhes,<br />
narran<strong>do</strong> e mostran<strong>do</strong> os novos da<strong>do</strong>s<br />
obti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Cristalton de Hamour.<br />
Pouco depois, a reunião foi<br />
interrompida pelo anúncio de Klemps, <strong>do</strong><br />
retorno da Missão Zag (Maxun e Tameron).<br />
Tão logo trouxeram as análises <strong>do</strong><br />
Kramset, foram dispensa<strong>do</strong>s por Tutkan.<br />
217
Numa conexão rápida <strong>do</strong> terminal<br />
de computa<strong>do</strong>r, as análises mostraram ser,<br />
aquele planetóide, de atmosfera<br />
“respirável”. Oxigênio rarefeito, com<br />
vegetação rasteira, grandes planícies, sem<br />
vida animal nem insetos, só vegetal e<br />
mineral. Possuía temperaturas suportáveis,<br />
com variação entre onze e trinta e <strong>do</strong>is<br />
graus Celtz. Seu meridiano seria o local<br />
adequa<strong>do</strong> para a construção de uma<br />
cidade, se quisessem.<br />
A entrada e saída da fina camada<br />
de hélio, não causaram problemas.<br />
Aconteceu exatamente como Hamour lhes<br />
dissera.<br />
- O lugar é perfeito para<br />
reconstruirmos a nave de Hamour, que a<br />
meu ver é o único com conhecimentos<br />
capazes de neutralizar qualquer atenta<strong>do</strong>,<br />
se, porventura, acontecer. – disse, Zur-<br />
Kwa.<br />
Fanna pensou um pouco mais e<br />
perguntou:<br />
- Quanto tempo levaria para a<br />
construção de prensas, usinas e<br />
fundi<strong>do</strong>ras?<br />
218
- No mínimo, <strong>do</strong>is anos, talvez<br />
mais – disse, Thorc.<br />
- É tempo demais – retrucou,<br />
Tutkan.<br />
- Bem, vocês mesmos viram a<br />
que distância estamos de Meran. Acho que<br />
o sinal emiti<strong>do</strong> por Hamour não foi ouvi<strong>do</strong><br />
apenas por nós ...<br />
- Andan<strong>do</strong> na velocidade da luz –<br />
cortou Zur-Kwa – levariam <strong>do</strong>is anos para<br />
chegar até nós...<br />
- Isto se andarem só com a<br />
velocidade da luz. Tu<strong>do</strong> depende de<br />
quantas <strong>do</strong>bras são capazes de andar.<br />
Zur-Kwa com seus olhos<br />
arregala<strong>do</strong>s projetou uma situação ainda<br />
pior, - dizen<strong>do</strong>:<br />
– Sem contar a possibilidade de<br />
possuírem tecnologia capaz de atravessar<br />
os tais buracos de minhoca, o que lhes<br />
possibilitaria aparecer de uma hora para<br />
outra em nossa frente.<br />
- ... E teríamos sei lá o que, nos<br />
nossos calcanhares – completou Fanna.<br />
- E para onde iríamos?<br />
- Não sei ainda. Com certeza, em<br />
senti<strong>do</strong> contrário de Meran.<br />
219
- Mas, também não podemos<br />
deixar isto tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> – disse, Zur-Kwa –<br />
Acho que é de interesse nosso, os<br />
conhecimentos de Hamour. O que você<br />
acha, Thorc?<br />
- Bom, se caso corremos risco,<br />
poderíamos levar tu<strong>do</strong><br />
conosco ...<br />
- E colocar onde? – quis saber,<br />
Fanna.<br />
- Ora, Hamour, a pirâmide cristal e<br />
as tralhas, no hangar acima <strong>do</strong> lastro da<br />
Kosmos. Mas, como levar o “asteróide”?<br />
Questionou Tutkan.<br />
Poderíamos instalar um motor e<br />
coman<strong>do</strong>s naquele pedaço de metal.<br />
Thorc falava e digitava no seu<br />
computa<strong>do</strong>r de bolso.<br />
- Acho que ... entre preparar tu<strong>do</strong><br />
... mais-ou-menos <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s, e ... hum,<br />
vejamos... mais quinze dias para a<br />
implantação <strong>do</strong>s motores; terão que ser<br />
<strong>do</strong>is ... é ... ida e volta, mais os testes ...<br />
digamos três perío<strong>do</strong>s e meio ...<br />
- Foi o que pensei. É muito tempo,<br />
quero sair antes.<br />
220
- Neste caso, precisamos de um<br />
dia para planejar, a menos que você tenha<br />
alguma idéia.<br />
Thorc falava com Zur-Kwa, que processava<br />
seus cálculos na mente.<br />
- Zur-Kwa, estou falan<strong>do</strong> com<br />
você – disse, Thorc, sacudin<strong>do</strong> o<br />
companheiro.<br />
- Eu ouvi. Eu ouvi, ou você acha<br />
que sou sur<strong>do</strong>? Estou com uma idéia, mas<br />
antes preciso ir ao laboratório. Existem<br />
cálculos complica<strong>do</strong>s para ...<br />
- Para ? – perguntou, Tutkan.<br />
- Primeiro, me deixa fazer os<br />
cálculos, depois eu falo.<br />
- Pode usar o meu terminal –<br />
disse-lhe, Fanna.<br />
-Tem outras coisas que eu<br />
preciso ver antes de pensar em cálculos.<br />
Tão logo, disse estas palavras,<br />
levantou-se de sua cadeira.<br />
- Você não vai ficar para a reunião<br />
<strong>do</strong> Conselho?<br />
- Não Erus, Já sei o que vão<br />
decidir e to<strong>do</strong>s sabem que votaria em<br />
trazer Hamour. Vou ao laboratório e você<br />
também, Thorc. Preciso de você lá...<br />
221
- É – disse, Thorc, piscan<strong>do</strong> um<br />
olho para Fanna – tenho que ir, afinal não<br />
podemos deixar ele sozinho com<br />
Belzamir...<br />
- Pode apostar – disse, Tutkan –<br />
ele é um perigo!! ...<br />
- Ora, vocês ... – disse o baixinho,<br />
passan<strong>do</strong> pela porta.<br />
Ambhórius tomou a palavra.<br />
- Erus, dividimos a questão toda<br />
em três itens. Primeiro, sem dúvida<br />
Hamour provou ser bastante evoluí<strong>do</strong> e <strong>do</strong><br />
bem, assim sen<strong>do</strong>, não nos traria mal. Em<br />
segun<strong>do</strong> lugar. Está confina<strong>do</strong> em uma<br />
espécie de prisão, que ele próprio<br />
construiu e precisa de nós para revivê-lo. A<br />
lógica indica, que seria grato, portanto, não<br />
nos faria mal, mesmo por que, é um mortal,<br />
assim como nós. Em terceiro, como você<br />
mesmo diz: Devemos esgotar todas as<br />
possibilidades em novas chances, até que<br />
haja reconhecimento geral e inexorável.<br />
Neste caso, devemos oportunizar Hamour.<br />
Ele mesmo provará quem é e o que<br />
realmente quer. E devo dizer, por tu<strong>do</strong> o<br />
que mostrou até o presente momento,<br />
222
existem muitos pontos a seu favor.<br />
Contu<strong>do</strong> sua permanência entre nós<br />
deverá ser vigiada com total discrição. Em<br />
face dessa análise, não seria justo deixálo,<br />
praticamente lhe rouban<strong>do</strong> o que já nos<br />
deu. Devemos trazê-lo no prazo, ou seja,<br />
depois de amanhã.<br />
- Muito bem, senhores. Alegrome<br />
que tenham chega<strong>do</strong> a esta conclusão.<br />
Alguém tem mais alguma coisa a<br />
ponderar?<br />
- Não, Erus, isto é tu<strong>do</strong>.<br />
- Obriga<strong>do</strong> por sua atenção e a<br />
propósito, este Conselho não será<br />
dissolvi<strong>do</strong>. De hoje em diante, será sempre<br />
consulta<strong>do</strong> sobre as questões que<br />
envolvem nossa gente. Teremos duas<br />
assembléias por perío<strong>do</strong>, uma no primeiro<br />
dia e outra no décimo-quarto e se preciso,<br />
faremos as extraordinárias.<br />
Dito isto, os aplausos encerraram<br />
a ocasião. To<strong>do</strong>s se despediram e se<br />
retiraram.<br />
- O que você acha, Tut?<br />
- Criar equipes e turnos e<br />
desenferrujar aquelas gruas. Aquele<br />
223
hangar pouco foi usa<strong>do</strong>, é mais um<br />
depósito de tralhas.<br />
- Sei. Quan<strong>do</strong> desenhei este<br />
andar, pensava nele como depósitos.<br />
A sala da Assembléia ficou às<br />
escuras e Tutkan foi para a ponte, preparar<br />
as equipes. Fanna foi para o seu gabinete<br />
e mal teve tempo de organizar seus<br />
pensamentos, quan<strong>do</strong> Thorc e Zur-Kwa<br />
entraram porta adentro, muito excita<strong>do</strong>s.<br />
- Erus – disse, Zur-kwa, sacudin<strong>do</strong><br />
seu micro computa<strong>do</strong>r. – achamos a<br />
solução e creio que poderemos sair d<strong>aqui</strong><br />
em pouco mais de seis tempos, talvez,<br />
sete!!...<br />
- E com muitas vantagens –<br />
entrou, Thorc.<br />
Aquele tempero de excitação,<br />
alegria e nervosismo, contagiaram Fanna,<br />
que saltou de sua cadeira e sentan<strong>do</strong>-se<br />
em sua própria mesa.<br />
- Sim, rapazes, falem logo.<br />
- Pois bem – começou, Zur-Kwa –<br />
se formos a marcha moderada, calculo,<br />
que no máximo em tres-quartos de<br />
potência, podemos construir uma tríade.<br />
- Uma tríade? O que vem a ser<br />
isto?<br />
224
Zur-Kwa lhe acoplou seu micro ao<br />
terminal e surgiu um desenho.<br />
- Veja, o bloco de metal, no meio<br />
de <strong>do</strong>is cargueiros Mir ... presos por estas<br />
hastes ... basta soldá-las ...<br />
- São aquelas – entrou Thorc – que<br />
usamos para a construção da Kosmos,<br />
lembra-se? Temos quarenta delas e<br />
usaremos só vinte.<br />
- Encontrei-as no depósito de<br />
tralhas – disse, Zur-Kwa – Não lembrava<br />
mais delas, mas ...<br />
- Muito bom, rapazes ...<br />
- ... E o melhor de tu<strong>do</strong> –<br />
continuou, Zur-Kwa – é que não<br />
precisaremos acoplar módulos de<br />
coman<strong>do</strong>, navegação ... estas coisas, nem<br />
motores ...<br />
- O volume e massa, são<br />
compatíveis para os <strong>do</strong>is cargueiros –<br />
completou, Thorc – e ainda por cima,<br />
teremos economia de combustível ... o que<br />
acha, Erus?<br />
- Esplêndi<strong>do</strong>! Realmente<br />
esplêndi<strong>do</strong>!! Mas tenho uma pergunta – e<br />
saiu <strong>do</strong>nde estava, encaminhan<strong>do</strong>-se até o<br />
mapa estelar – Segun<strong>do</strong> os cálculos de<br />
velocidade e ainda contan<strong>do</strong> com algum<br />
225
contra-tempo, quanto tempo levaríamos<br />
para irmos d<strong>aqui</strong> ... – apontan<strong>do</strong> no mapa –<br />
até este sistema, que fica no terceiro<br />
padrão, mais precisamente no<br />
septuagésimo sétimo quadrante?<br />
Os <strong>do</strong>is imediatamente digitaram<br />
o Komptor, que quase de imediato trouxelhes<br />
a resposta.<br />
- Cerca de três anos – disse,<br />
Thorc.<br />
- Precisamente, <strong>do</strong>is anos e oito<br />
perío<strong>do</strong>s luz – disse, Zur-Kwa.<br />
- Isto, se não houver nenhum<br />
contra-tempo – completou, Thorc.<br />
- Não dá – disse, Fanna – Temos<br />
que chegar antes ...<br />
Thorc tirou os olhos da tela <strong>do</strong><br />
Komptor, e perguntou?<br />
- Por que?<br />
- Estamos com quinhentos e<br />
quatro mil e nove seres e os últimos<br />
informes médicos que disponho, dizem que<br />
em oito perío<strong>do</strong>s teremos mais cinqüenta e<br />
nove mil e duzentos nascimentos.<br />
- Tu<strong>do</strong> isso? Mas não vi, assim<br />
tantas fêmeas grávidas – ponderou, Thorc.<br />
- Acontece que com nossa<br />
longevidade maior e os nutrientes que<br />
226
impregnaram nossas plantações, tem<br />
favoreci<strong>do</strong> nascimentos múltiplos, na<br />
maioria tri-gêmeo. Isto quer dizer que em<br />
<strong>do</strong>is anos e oito perío<strong>do</strong>s, estaremos com<br />
super-população dentro das naves ...<br />
- E outra <strong>do</strong>r-de-cabeça – disse,<br />
Zur-Kwa coçan<strong>do</strong> seus cabelos brancos e<br />
espeta<strong>do</strong>s.<br />
- Bem, temos mais vinte hastes de<br />
sobra ...<br />
- É isto – gritou o baixinho,<br />
baten<strong>do</strong>-se com a palma da mão, na testa,<br />
dan<strong>do</strong> um estalo – É isto! Acoplaremos<br />
mais <strong>do</strong>is Mir. Teremos velocidade normal.<br />
Thorc, faça os cálculos de massa,<br />
enquanto verifico se as hastes agüentam!...<br />
Fanna os observava. Eram<br />
rápi<strong>do</strong>s, precisos e “malucos”.<br />
- Se não encontrarmos nenhum<br />
buraco negro pela frente, nem<br />
magnetização de núcleos, elas agüentam.<br />
- Os cargueiros terão de ficar<br />
simétricos e funcionarão três de cada vez<br />
... não, podem funcionar to<strong>do</strong>s juntos. Só<br />
precisamos ficar de olho no aquecimento<br />
<strong>do</strong>s reatores. É um pouco arrisca<strong>do</strong>, mas<br />
com sorte, em ... <strong>do</strong>is anos. Dois ou três<br />
perío<strong>do</strong>s antes, talvez.<br />
227
- Ótimo, rapazes. Mãos à obra.<br />
Dois anos, acho que podemos agüentar.<br />
Vou comunicar isso ao Conselho e enviar<br />
uma mensagem a to<strong>do</strong>s, recomendan<strong>do</strong> o<br />
uso de anticoncepcionais.<br />
Zur-Kwa olhou mais uma vez para<br />
o mapa estelar e voltou-se para Fanna,<br />
ligeiramente intriga<strong>do</strong>.<br />
- Erus, diga-me uma coisa, estes<br />
pontos verdes <strong>aqui</strong> são planetas<br />
habitáveis?<br />
- Sim. Os amarelos são de<br />
planetas já popula<strong>do</strong>s.<br />
- Mas atentan<strong>do</strong> só para os<br />
verdes. Por que escolheu este? ... tem,<br />
pelo menos ... um ... <strong>do</strong>is ... três ... quatro<br />
... em condições antes deste ... Alguma<br />
razão especial, por ele?<br />
- Muitas. Muitas mesmo, mas<br />
falaremos disto qualquer dia destes. A<br />
propósito, como vão os trabalhos para a<br />
remoção de Hamour?<br />
- Dentro <strong>do</strong> cronograma – disse,<br />
Thorc – e por falar nisso, temos alguns<br />
itens para finalizar. Vamos Zur-Kwa, você<br />
não vai querer me deixar só com Belzamir,<br />
vai?<br />
228
Thorc saiu para fora, antes de ser<br />
acerta<strong>do</strong> com a prancheta de informações,<br />
nas mãos de Zur-Kwa.<br />
- Zur-Kwa, você vai ficar aí?<br />
- É, não adianta – disse, o baixinho<br />
– agora vocês vão ficar no meu pé ... – e<br />
saiu, fingin<strong>do</strong> desanimação.<br />
Perto dali, no quadragésimo<br />
quinto pavimento, no Cassino, os mais<br />
jovens e oficiais, aproveitavam suas folgas,<br />
lotan<strong>do</strong> as dependências <strong>do</strong> setor. Havia<br />
grande agitação, numa movimentação<br />
contínua de vai-e-vem entre eles. A música<br />
os balançava numa luminosidade tênue e<br />
aconchegante. Velz, senta<strong>do</strong> ao balcão,<br />
onde as bebidas eram servidas, olhava,<br />
sem piscar para a porta de entrada, Então,<br />
apareceu Maxun e lhe fez sinal para vir até<br />
o balcão. Este, por sua vez lhe apontou<br />
uma mesa que acabara de esvaziar,<br />
exatamente no canto, perto da porta.<br />
Imediatamente, Velz apanhou seu copo e<br />
foi para lá.<br />
- Nossa! – disse-lhe, Maxun, ao<br />
vê-lo chegar à mesa – Até parece que você<br />
vai a um casamento. Que estica!!<br />
229
No momento que iria se sentar,<br />
viu Tameron e Walln de braços da<strong>do</strong>s,<br />
entrarem.<br />
- Estamos <strong>aqui</strong> – gritou, Maxun.<br />
O casal juntou-se a eles em<br />
seguida.<br />
- Oi, pessoal! – sau<strong>do</strong>u, Walln.<br />
- Onde está Zart?<br />
- Está com Zuila. D<strong>aqui</strong> a pouco ...<br />
- Lá estão elas – disse, Velz – com<br />
o coração quase lhe sain<strong>do</strong> pela boca.<br />
Neste momento, muitos entravam,<br />
impedin<strong>do</strong>-lhes de ver os outros chaman<strong>do</strong><br />
e fazen<strong>do</strong> sinais.<br />
- Esperem um pouco, rapazes,<br />
vou lá buscá-las – disse, Walln.<br />
- Nossa! – disse, Tameron para<br />
Velz – onde é que você vai?<br />
- Um cara, como eu, tem que<br />
manter a fama. E então, como foi a<br />
missão?<br />
- Aquele planetóide é uma droga.<br />
- É, tem uma vegetação rasteira –<br />
completou, Maxun. É monótono, não tem<br />
vales, nem rios. Uma ou outra lagoa e a<br />
água não é boa. Sobrevoamos o seu<br />
meridiano, e lá de baixo, parece ser uma<br />
230
enorme planície, Dá até para ver a<br />
curvatura acentuada, no horizonte ...<br />
- E aí, rapazes – disse Zart, ao<br />
voltar com Walln e Zuila<br />
- Sentem-se, meninas – disse,<br />
Tameron.<br />
Velz levantou-se bruscamente,<br />
oferecen<strong>do</strong> um lugar para Zuila, que, ao<br />
vê-lo alinha<strong>do</strong>, também comentou:<br />
- Nossa! Que elegância!!<br />
Ele ficou mu<strong>do</strong>.<br />
Momentos depois, estavam<br />
falan<strong>do</strong>, rin<strong>do</strong> e Velz continuava mu<strong>do</strong>.<br />
Tinha um só pensamento; sair dali e quem<br />
sabe, levar Zuila para outro lugar, menos<br />
agita<strong>do</strong>.<br />
Na outra extremidade da mesa,<br />
Maxun parecia estar se dan<strong>do</strong> bem com<br />
Zart e à sua direita, Tameron e Walln entre<br />
uma risada e outra, trocavam beijos.<br />
Na dúvida de levar um fora e<br />
perdi<strong>do</strong> nestes pensamentos, tomou<br />
coragem e passou o braço em cima de<br />
Zuila e com sua mão no ombro oposto a<br />
puxou para si, com cuida<strong>do</strong> e muito<br />
lentamente. Ele não acreditou quan<strong>do</strong> ela<br />
veio, de mansinho. Ele, simplesmente<br />
engasgou. Ela percebeu seu embaraço,<br />
231
então, virou-se para ele, olhan<strong>do</strong>-o bem no<br />
fun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s olhos e o beijou levemente. Em<br />
seguida, ele, quase sem fôlego, a puxou<br />
para si e a beijou longamente.<br />
- Ora, vivas!! Até que enfim!! –<br />
disse, Maxun – Isto merece uma<br />
comemoração.<br />
Foi então, que Velz “acor<strong>do</strong>u” e<br />
percebeu à sua frente seu copo cheio de<br />
Milkha (uma espécie de cerveja).<br />
- Sim, vamos brindar por nós<br />
to<strong>do</strong>s – disse, Zart.<br />
A noite acabou na cúpula da<br />
Kosmos, entre estrelas, promessas e<br />
beijos. Tameron e Walln foram para seus<br />
aposentos, após saírem <strong>do</strong> Cassino.<br />
Na manhã seguinte Fanna<br />
acor<strong>do</strong>u, com sua filha cantarolan<strong>do</strong> feliz,<br />
no preparo <strong>do</strong> desjejum. Foi até ela, na<br />
saleta ao la<strong>do</strong>. Ela ao vê-lo esboçou um<br />
grande sorriso.<br />
- Bom dia, papai!<br />
- Nossa, quanta alegria, hoje –<br />
disse ele após ganhar um beijo carinhoso<br />
da filha.<br />
232
- Ah, você já sabe! – disse ela com<br />
uma expressão marota nos olhos – Velz me<br />
contou tu<strong>do</strong>. Vocês, machos, sempre com<br />
seus segredinhos, hein? Bem que você<br />
podia ter me fala<strong>do</strong>.<br />
- Ora querida, eu não tinha o<br />
direito de me intrometer num assunto<br />
assim tão importante para você. Tinha que<br />
me manter neutro. Então, me diga, como<br />
foi?<br />
- Ah, papai – disse ela toda<br />
encabulada – Você sabe ... eu estou<br />
apaixonada ...<br />
- Alegro-me por você. Só gostaria<br />
que este romance não atrapalhasse seus<br />
trabalhos.<br />
- Sossegue, pai. Nada vai mudar.<br />
Afinal já estou bastante crescidinha e sei<br />
como tu<strong>do</strong> funciona.<br />
Fanna olhou para o seu medi<strong>do</strong>r<br />
de tempo, levantou-se de sua cadeira,<br />
bebeu o restante de seu suco de cereais,<br />
beijou a testa de sua filha.<br />
- Preciso ir, querida. Não se<br />
atrase, temos muito que fazer hoje.<br />
- É mesmo ... vamos buscar<br />
Hamour?<br />
233
- Sim, meu bem, temos que<br />
preparar espaço para acomodar o que virá<br />
lá de baixo. Não se atrase.<br />
- Estarei lá em um microm.<br />
Microns depois, Zuila chegou,<br />
encontran<strong>do</strong> seu pai de frente para o<br />
grande vidro, admiran<strong>do</strong> o mapa estelar,<br />
viajan<strong>do</strong> com sua mente.<br />
- Já sabe para onde vamos?<br />
- O que? – disse, Fanna, toma<strong>do</strong><br />
de surpresa.<br />
- Já encontrou o nosso planeta?<br />
- Ah, sim querida – disse, ele,<br />
apontan<strong>do</strong> para um ponto verde que era<br />
bem distante de onde estavam – Aqui está.<br />
Ela se juntou a ele, admiran<strong>do</strong>-o,<br />
também.<br />
- Como se chama, papai?<br />
- Kalérus.<br />
- E por que não ficamos num<br />
desses <strong>aqui</strong>? São mais perto!!<br />
- Porque Kalérus é o mais<br />
pareci<strong>do</strong> com Someron. Massa, clima,<br />
vegetação e oxigênio. Será como estarmos<br />
em casa, meu bem.<br />
- Mas, ele é o mais distante!<br />
234
- É sim. Mas, vai valer a pena.<br />
Você vai ver. Agora, vamos trabalhar. O<br />
que temos hoje?<br />
- O Factor, da estação de Amis,<br />
está apresentan<strong>do</strong> super-enriquecimento<br />
em proteínas ...<br />
Ao mesmo tempo em que Fanna<br />
se envolvia com os problemas normais<br />
ordinários, os guindastes acomodavam as<br />
hastes em duas naves-transporte, sob o<br />
coman<strong>do</strong> de Zeuez e seus auxiliares. Uma<br />
equipe de engenheiros repassava os<br />
esquemas de soldas, posições, etc., <strong>do</strong>s<br />
cargueiros. Da ponte, Tutkan observava e<br />
coordenava os avanços e posições em que<br />
os cargueiros deviam assumir, rodean<strong>do</strong> o<br />
asteróide. Thorc e Zur-Kwa checavam o<br />
Mini-Lab, com Belzamir, Amis e Zart.<br />
Tempos depois o Mini-Lab e o<br />
transporte usa<strong>do</strong> para manutenção da<br />
frota, com suas gruas e máquinas de<br />
superfície, partiram para o planetóide de<br />
Hamour, enquanto que os cargueiros Mir<br />
tinham entre si , anexadas duas hastes,<br />
cada um, em alinhamento ao bloco de<br />
Metal, carinhosamente chama<strong>do</strong> de “O<br />
235
Asteróide Tameron”. Na escolta, Velz e<br />
Maxun, com seus March-1.<br />
Dentro <strong>do</strong> Mini-Lab, as últimas<br />
recapitulações sobre o processo de<br />
remoção de Hamour com sua parafernália,<br />
entre ela, a pirâmide de cristal, gerava um<br />
pequeno transtorno, trazi<strong>do</strong> por Belzamir.<br />
- Como tirar a pirâmide de cristal<br />
de dentro da sala. Ela é maior <strong>do</strong> que a<br />
porta!?<br />
- Você já perguntou isso, pelo<br />
menos duas vezes, disse Thorc.<br />
- E nenhuma delas, você<br />
respondeu.<br />
- Por que a gente não faz o<br />
processo de “Ressurreição” lá mesmo,<br />
assim nos pouparia de remover todas<br />
aquelas tralhas? – ponderou, Zart.<br />
- Meninas, meninas – entrou, Zur-<br />
Kwa -, não apressem as coisas.<br />
- Então, como faremos?<br />
_ Belzamir – disse Zur-Kwa, com<br />
paciência incomum.<br />
- Aqui, neste esquema, Hamour<br />
diz que ao ativarmos os <strong>do</strong>is módulos, que<br />
ele chama de “sustentor- vital”, tu<strong>do</strong> se<br />
resolverá.<br />
236
- E o que vai acontecer?<br />
- Isto, não sabemos. Apenas diz<br />
para continuarmos com nossos trajes<br />
pressuriza<strong>do</strong>s.<br />
- Mas como vamos tratar de uma<br />
coisa que não sabemos o que é?<br />
- Tenha fé.<br />
- Mas, só fé, não basta ...<br />
- É claro que basta. Você nunca<br />
leu sobre os antigos, que faziam chover,<br />
tão somente pela fé?<br />
- Zur-Kwa – disse, ela baten<strong>do</strong> o<br />
pé – Você está me esconden<strong>do</strong> coisas.<br />
- Você não ouviu ele dizer, para<br />
ter fé? – entrou, Thorc – Tenha fé e tu<strong>do</strong> se<br />
resolverá.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Thorc – disse, Zur-<br />
Kwa, alivia<strong>do</strong>.<br />
- Hei, que negócio é esse, de fé? –<br />
questionou, Zart.<br />
- É!? _ entrou, Amis.<br />
- Desde quan<strong>do</strong> vocês tem fé? – entrou,<br />
Zuila e mais <strong>do</strong>is cientistas.<br />
- Desde que nascemos – disse,<br />
Thorc.<br />
- Aí, gente – anunciou o piloto -,<br />
vamos pousar em dez microns. Retornem<br />
aos seus assentos e apertem os cintos.<br />
237
Como sempre, encontraram o<br />
tempo firme e gela<strong>do</strong>.<br />
Pouco a pouco, foram ganhan<strong>do</strong> a<br />
pirâmide, entre a neve fofa e a menor<br />
gravidade.<br />
Após os procedimentos de<br />
entrada, pela sala de descompressão,<br />
permaneceram com seus trajes e deram<br />
início aos trabalhos, passo a passo,<br />
orienta<strong>do</strong>s por Zur-Kwa.<br />
Primeiramente a remoção<br />
cuida<strong>do</strong>sa de Hamour, em sua poltrona,<br />
que no momento em que foi suspensa<br />
ativou um campo magnético próprio,<br />
fazen<strong>do</strong>-a deslizar para o cômo<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong>,<br />
onde Fanna estivera. Foi coloca<strong>do</strong><br />
exatamente no centro <strong>do</strong> telão, onde se<br />
encaixou perfeitamente no suporte até<br />
então despercebi<strong>do</strong>. Simultaneamente, os<br />
<strong>do</strong>is módulos empoeira<strong>do</strong>s, liga<strong>do</strong>s ao<br />
suporte da pirâmide cristal, foram ativa<strong>do</strong>s.<br />
Imediatamente, o tremor segui<strong>do</strong> de um<br />
som ensurdece<strong>do</strong>r, desprenden<strong>do</strong> poeira<br />
fina e branca, tomou conta <strong>do</strong> lugar.<br />
238
As fileiras de luzes azuis, muito<br />
finas, cobriram Hamour por inteiro,<br />
forman<strong>do</strong> em sua volta uma espécie de<br />
cone protetor. Tão logo, a parede leste<br />
abria-se, quase por inteiro, em duas<br />
metades, trazen<strong>do</strong> para baixo, toda uma<br />
armação, cujo centro, encontrava-se<br />
Hamour, envolto pelo cone luminoso.<br />
- O que é isso? – perguntou,<br />
Belzamir.<br />
- Eu não disse para ter fé? –<br />
respondeu, Zur-Kwa, que como os outros,<br />
olhavam os acontecimentos, abobalha<strong>do</strong>s,<br />
mais uma vez, por entre os visores de seus<br />
capacetes.<br />
Neste ínterim, uma tela,<br />
semelhante a um vídeo, passou a emitir<br />
caracteres em vermelho, com uma voz,<br />
seguin<strong>do</strong>, como se fosse uma contagem<br />
regressiva. Em vista disto, Zur-Kwa<br />
ordenou a to<strong>do</strong>s que acelerassem os<br />
trabalhos pois <strong>aqui</strong>lo tu<strong>do</strong>, estaria prestes a<br />
explodir.<br />
O transporte <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de gruas,<br />
abriu a cobertura. Os braços mecânicos<br />
239
trabalharam na remoção de Hamour com<br />
seu cone, e a pirâmide cristal.<br />
Com cuida<strong>do</strong> e precisão, foram<br />
acondiciona<strong>do</strong>s em movimento calcula<strong>do</strong>s.<br />
Ao mesmo tempo, to<strong>do</strong>s se reacomodavam<br />
à bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mini-Lab.<br />
As manobras lentas de<br />
taxiamento e decolagem, procederam-se.<br />
Em microns, afastaram-se,<br />
ganhan<strong>do</strong> os céus verdes, a tempo de<br />
verem a tremenda explosão de tu<strong>do</strong> lá em<br />
baixo.<br />
Os March-1 voltaram e<br />
sobrevoaram o local.<br />
- Não sobrou pedra sobre pedra –<br />
disse, Velz, em comunica<strong>do</strong> oficial para o<br />
Mini-Lab.<br />
Da Kosmos, Fanna e Tutkan<br />
acompanhavam pelo monitor <strong>do</strong> Telecon.<br />
- Bem, disse, Fanna – Está feito.<br />
- Por <strong>aqui</strong>, também – anunciou,<br />
Zeuez, nas obras, entre os cargueiros Mir e<br />
o “Asteróide de Tameron”.<br />
240
- Klemps – disse, Tutkan – arrume<br />
as malas. Tão logo o Mini-Lab aporte,<br />
vamos sair deste lugar. Avise a frota.<br />
- Sim, senhor! – respondeu<br />
Klemps, com alegria.<br />
A atenção de toda a frota,<br />
concentrava-se na reentrada <strong>do</strong> Mini-Lab e<br />
principalmente em seu ilustre visitante.<br />
No observatório central, Fanna,<br />
Tutkan, Ambhórius e os membros <strong>do</strong><br />
Conselho, acompanhavam as manobras no<br />
hangar, em visível excitação.<br />
Quan<strong>do</strong> Hamour e seu cone<br />
luminoso foram removi<strong>do</strong>s por uma das<br />
gruas, ouviu-se um estron<strong>do</strong>so “OH!!”.<br />
Era uma operação delicada. O<br />
próprio hangar teve de ser pressuriza<strong>do</strong> e<br />
purifica<strong>do</strong>. Em movimentos lentos, Hamour<br />
e seu cone, foram leva<strong>do</strong>s para o<br />
laboratório, assim como, sua pirâmide<br />
cristal. Esta seguiu por outro caminho,<br />
previamente estudada por Zeuez, um<br />
pouco irrita<strong>do</strong> pelo acúmulo de Somerianos<br />
curiosos.<br />
241
Durante os três dias que se<br />
seguiram, o laboratório permaneceu<br />
fecha<strong>do</strong> para os demais, cerca<strong>do</strong> de<br />
mistérios.<br />
Os que permaneciam<br />
“incomunicáveis” dentro <strong>do</strong> laboratório,<br />
trabalhavam incansavelmente nos<br />
cuida<strong>do</strong>s e checagem daquele<br />
equipamento estranho. Dentro de uma<br />
re<strong>do</strong>ma coberta de material transparente,<br />
repousava Hamour. Seu corpo parecia<br />
crescer, inchar. Tanto Thorc, quanto Zur-<br />
Kwa e os demais auxiliares, não sabiam o<br />
que exatamente estava acontecen<strong>do</strong>,<br />
haven<strong>do</strong> especulações sobre o fenômeno.<br />
As observações tinham uma conotação<br />
diferente à medida que o corpo se enchia e<br />
o líqui<strong>do</strong> da pirâmide baixava. Zur-Kwa<br />
tinha nos olhos a desconfiança de uma<br />
ressurreição, mas não se atrevia a pensar.<br />
Fanna, fora bem claro : - No terceiro dia,<br />
me chamem e não toquem em nada.<br />
O terceiro dia chegara e pelo<br />
Intercon, Thorc chamou seu líder, que<br />
acompanhava, com Tutkan, na ponte, as<br />
manobras das esquadrilhas Zag,<br />
242
ombardean<strong>do</strong> e desintegran<strong>do</strong> o lixo de<br />
toda a frota.<br />
- Erus – disse, Thorc – estamos no<br />
terceiro dia. E o que acontece agora?<br />
Vamos ter outra sessão holográfica?<br />
- Esperem um pouco – Fanna<br />
consultou seu marca<strong>do</strong>r de tempo,<br />
confirman<strong>do</strong> ser o tempo da ressurreição –<br />
Estarei aí, em microns.<br />
- Tut, chegou o momento.<br />
- Que momento?<br />
- Vamos acordar Hamour e quero<br />
que você esteja lá. Thorc e Zur-Kwa, nem<br />
sua equipe sabem o que vai acontecer.<br />
- Você não contou para eles?<br />
- Não – disse, Fanna, tapan<strong>do</strong> o<br />
sorriso com a mão.<br />
- Então eles vão cair para trás –<br />
riu, Tutkan.<br />
- Fique por perto, Tut. Quero ver a<br />
cara deles!<br />
Zur-Kwa arregalou os olhos e com<br />
os cabelos em pé, mais <strong>do</strong> que nunca.<br />
Thorc, também, mas conseguiu<br />
falar.<br />
- Eu sabia. Eu sabia que tinha<br />
coisa ...<br />
243
Fanna, na verdade, não sabia se<br />
ficava sério ou se ria, principalmente de<br />
Zur-Kwa que apresentava o aspecto de um<br />
ser eletrocuta<strong>do</strong>.<br />
- Sabe, Erus – disse, Tutkan –<br />
Tem uns sujeitos que quan<strong>do</strong> ficam velhos,<br />
perdem a articulação da boca, por falta de<br />
dentes e não falam!<br />
Thorc puxou Zur-Kwa, não<br />
adianta ficar aí para<strong>do</strong>. Hamour não vai<br />
conseguir se levantar sozinho. Vamos, me<br />
ajude com isso!<br />
Sob o coman<strong>do</strong> de Fanna, no<br />
módulo apareceu, sùbitamente, os<br />
mesmos caracteres de contagem<br />
regressiva.<br />
Quan<strong>do</strong> a contagem cessou, o<br />
cilindro transparente de Hamour, destravou<br />
sua tampa, abrin<strong>do</strong>-se, brotan<strong>do</strong> de dentro,<br />
uma fumaça esbranquiçada e ino<strong>do</strong>ra.<br />
- Que Deus nos ilumine! – foi o<br />
que disse Fanna.<br />
Os instrumentos de medição e<br />
sustentação de vida, acusavam tênues<br />
244
atimentos cardíacos. A respiração era<br />
baixa, como se num sono profun<strong>do</strong>.<br />
To<strong>do</strong>s rodearam Hamour. Tinha<br />
um aspecto mais jovem <strong>do</strong> que aquele que<br />
aparecia no holograma, somente com<br />
cabelos e barba cresci<strong>do</strong>s e escuros. Sua<br />
estatura, também era maior <strong>do</strong> que<br />
imaginavam. Suas unhas, tanto das mãos<br />
quanto <strong>do</strong>s pés, eram enormes e em<br />
espiral. Aquilo era assusta<strong>do</strong>r.<br />
Zur-Kwa continuava pasma<strong>do</strong>.<br />
Diante d<strong>aqui</strong>lo, não tinha dúvidas de que<br />
existia muito, mas muito mais para se<br />
aprender sobre o corpo, vida e morte. Para<br />
a existência, tem que haver um espírito,<br />
que é a vida em si. Este por sua vez<br />
comanda a energia, que sustenta e se<br />
manifesta no corpo, que reage ao coman<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> cérebro, o portentor da existência vital.<br />
O corpo de Hamour, fora destituí<strong>do</strong> de<br />
tu<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> seu espírito e sua essência<br />
preserva<strong>do</strong>s e transferi<strong>do</strong>s para a pirâmide<br />
cristal. Simples e ao mesmo tempo<br />
inacreditável.<br />
245
Fanna apanhou seu folheto<br />
explicativo e repassou os itens. A pirâmide<br />
estava vazia. Os três aparelhos<br />
conecta<strong>do</strong>s ao cilindro, desativa<strong>do</strong>s e o<br />
outro, que comandava os eletro<strong>do</strong>s presos<br />
envoltos à cabeça, tronco e membros,<br />
mantinha uma luzinha vermelha piscan<strong>do</strong>.<br />
Então, acionou o botão azul (abaixo desta<br />
luzinha) ocasionan<strong>do</strong> pequenos choques<br />
acionavam os eletro<strong>do</strong>s em seqüência<br />
regular. O osciloscópio acusava o pulsar<br />
<strong>do</strong> coração, em batimentos normais, o que<br />
significava : VIDA<br />
A ponta <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s da mão<br />
esquerda foram os primeiros a reagir, com<br />
movimentos leves e preguiçosos. Depois,<br />
os de<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pés, alguns tremiliques nos<br />
membros e por fim, as pálpebras, mui<br />
lentamente, abrin<strong>do</strong> e fechan<strong>do</strong>.<br />
Fanna apanhou um de seus<br />
próprios mantos, cobrin<strong>do</strong> o corpo de<br />
Hamour, que finalmente abriu os olhos<br />
numa luminosidade tênue. Ouvia-se tão<br />
somente a respiração daquele ser, lenta e<br />
compassada, enquanto lhe eram retira<strong>do</strong>s<br />
os eletro<strong>do</strong>s atrela<strong>do</strong>s ao tórax e pescoço.<br />
246
Belzamir e Amis, apressaram-se<br />
em lhe cortar as unhas.<br />
Seu primeiro movimento foi levar<br />
as mãos à testa, massagean<strong>do</strong>-a com a<br />
ponta <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s. Depois fez o mesmo nos<br />
olhos e têmporas. Resmungou qualquer<br />
coisa e a<strong>do</strong>rmeceu, logo após, numa<br />
respiração cansada.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxx<br />
A viagem transcorria normal,<br />
exceto pela novidade que logo se<br />
espalhou, trazen<strong>do</strong> muitos curiosos. To<strong>do</strong>s<br />
queriam ver Hamour e isto era, sem<br />
dúvida, impossível, no momento. Foi<br />
preciso deixar <strong>do</strong>is guardas pelo la<strong>do</strong> de<br />
fora da porta.<br />
Thorc e Zur-Kwa, mais o Dr.<br />
Grohalv, chefe <strong>do</strong> corpo médico da frota,<br />
faziam revezamento com mais <strong>do</strong>is<br />
auxiliares cada, manten<strong>do</strong> vigília até que o<br />
ilustre hóspede acordasse.<br />
247
Os únicos que tinham permissão<br />
para entrar no laboratório; além de Fanna,<br />
Tutkan, Belzamir, Amis e Zart, era o Dr.<br />
Crohalv e seus <strong>do</strong>is assistentes. Estes,<br />
faziam os exames periódicos e análises<br />
clínicas.<br />
O Dr. Crohalv, era, além de<br />
cientista biológico, forma<strong>do</strong> em Atlantis <strong>do</strong><br />
Velho Someron, um estudioso de<br />
engenharia genética e recentemente fazia<br />
experimentos com “motivação molecular<br />
multiplicada”, o que chamava de<br />
“Clonismo”, ou duplicatas vivas.<br />
- Está melhoran<strong>do</strong> – disse, para<br />
Zur-Kwa – Seus sinais vitais estão se<br />
fortalecen<strong>do</strong> a cada tempo (hora). Seu<br />
organismo e anatomia são idênticos aos<br />
nossos. Se não soubesse, ser ele de outro<br />
planeta, diria que é um de nós.<br />
Oito tempos depois, desde que<br />
Fanna apertara o botão azul da<br />
parafernália ressuscita<strong>do</strong>ra, Hamour,<br />
finalmente, acor<strong>do</strong>u. Era o turno de Thorc,<br />
que ao perceber os indícios, chamou o<br />
líder, Zur-Kwa e o Dr. Grohalv.<br />
248
Hamour abriu os olhos e<br />
pronunciou alguns sons inteligíveis, pelo<br />
que, Thorc, trouxe uma cadeira e sentouse<br />
ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> cilindro. Olhou bem no fun<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s olhos muito azuis de Hamour e disse:<br />
- Vejo que acor<strong>do</strong>u, meu amigo,<br />
mas repita o que você disse.<br />
- Eu disse olá, no meu idioma.<br />
A voz era rouca e fraca,<br />
entretanto, clara.<br />
- É mesmo? E como é?<br />
- Etkmah!<br />
- E como você conhece o nosso?<br />
- Conheço muitos ...<br />
A porta <strong>do</strong> laboratório abriu,<br />
dan<strong>do</strong> passagem para Erus Fanna,<br />
segui<strong>do</strong> de Zur-Kwa.<br />
A cena era interessante, Hamour<br />
deita<strong>do</strong> num cilindro metálico, com a tampa<br />
transparente aberta, e ao seu la<strong>do</strong>, Thorc,<br />
conversan<strong>do</strong> com ele, animadamente, tal<br />
como, velhos conheci<strong>do</strong>s.<br />
- Creio não estar interrompen<strong>do</strong><br />
nada – disse, Fanna, aproximan<strong>do</strong>-se.<br />
- É claro que não ... veja, Hamour<br />
acor<strong>do</strong>u!<br />
249
Fanna apanhou outra cadeira e<br />
sentou-se <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>.<br />
- Pensei que você fosse <strong>do</strong>rmir<br />
um pouco mais, talvez uns trezentos anos.<br />
Seja bem-vin<strong>do</strong>!<br />
- Eu conheço você. Foi com você<br />
que falei no reserva<strong>do</strong>. Tenho-o na<br />
memória. Você é ... Erus Fanna, o líder <strong>do</strong>s<br />
... Somerianos!?!<br />
- Seu equipamento provou ser<br />
eficiente. Sim, sou Erus Fanna.<br />
- Este ... é ... Thorc ...<br />
- E eu – disse, o baixinho, em pé, atrás de<br />
Thorc – sou ...<br />
- Zur-Kwa ! – Atalhou, Hamour - ...<br />
havia outras pessoas ... Amis ... Belzamir<br />
... Zart , Zeuez, este foi o primeiro...<br />
- Boa memória, a sua – comentou,<br />
Zur-Kwa – mas, diga-nos, como se sente?<br />
- Apesar de ter <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong> bastante,<br />
um pouco cansa<strong>do</strong> ... e um pouco de frio,<br />
fome e sede. Gostaria de me levantar, mas<br />
acho que vou precisar de ... como se diz?...<br />
- Apoio – aju<strong>do</strong>u, Zur-Kwa.<br />
- Sim, isto. Apoio ...<br />
- Estávamos ansiosos por sua<br />
companhia – disse, Thorc, emociona<strong>do</strong>,<br />
confuso.<br />
250
- Obriga<strong>do</strong>! Muita gentileza, sua!<br />
Zur-Kwa, perceben<strong>do</strong> certo<br />
embaraço de Thorc, também de Fanna,<br />
tentou descontrair o ambiente, uma vez<br />
que o próprio líder brincara antes e Hamour<br />
pareceu não entender.<br />
- Você comeu alguma coisa, antes<br />
de <strong>do</strong>rmir, Hamour?<br />
- Acho que sim, mas sempre<br />
acor<strong>do</strong> com fome e desta vez, acho que<br />
<strong>do</strong>rmi demais ... Por conseguinte, mais<br />
fome...<br />
To<strong>do</strong>s caíram na risada, ainda um<br />
tanto nervosa. E Hamour continuou, no<br />
mesmo clima de humor:<br />
- Vocês, Somerianos, costumam<br />
comer, quan<strong>do</strong> acordam?<br />
Thorc se ajeitou melhor em sua<br />
cadeira e respondeu:<br />
- Sim, mas não costumamos<br />
<strong>do</strong>rmir tanto.<br />
Nova rodada de risos e Fanna<br />
entrou num tom mais sério.<br />
- O que você deseja, Hamour?<br />
- Para ser franco, qualquer coisa,<br />
desde que não seja <strong>do</strong> reino animal!<br />
- Que tal Ramza assada e<br />
refresco de Somir – disse, Zur-Kwa.<br />
251
- Nada disso, senhores disse<br />
Dr.Grohalv, energicamente, ao entrar<br />
naquele instante.<br />
- Estou decepciona<strong>do</strong> com você.<br />
Nem parece que estu<strong>do</strong>u medicina, antes<br />
de se tornar um químico ...<br />
Eles, ainda, olhavam para o<br />
<strong>do</strong>utor, com seus passos rápi<strong>do</strong>s e sua<br />
maletinha, quan<strong>do</strong> Hamour, se apoian<strong>do</strong><br />
com os cotovelos, reclamou:<br />
- Mas eu estou com uma fome<br />
daquelas ...<br />
- Eu já disse que não – repetiu o<br />
<strong>do</strong>utor, com firmeza – Você é meu paciente<br />
e fará <strong>aqui</strong>lo que eu mandar, Exatamente o<br />
que eu disser, estamos entendi<strong>do</strong>s?<br />
- Sim, senhor, - disse, Hamour,<br />
deitan<strong>do</strong> novamente, enquanto o médico,<br />
abrin<strong>do</strong> sua valise, examinava seu<br />
paciente com seus instrumentos.<br />
Ven<strong>do</strong> o <strong>do</strong>utor cala<strong>do</strong>,<br />
compenetra<strong>do</strong> nas leituras, Zur-Kwa<br />
aproveitou para gozá-lo.<br />
- Sabe, Thorc, tem uns sujeitos<br />
que quan<strong>do</strong> ficam velhos ...<br />
- Pode parar por aí, mesmo. Hoje<br />
não estou para brincadeiras.<br />
252
Os exames continuaram com a<br />
sala em silêncio, só se ouvin<strong>do</strong> os “bips”<br />
<strong>do</strong>s aparelhos <strong>do</strong> <strong>do</strong>utor. Afinal receitoulhe<br />
uma sopa leve e água destilada. Após<br />
retirou-se, sem nada mais dizer.<br />
Zur-Kwa resmungou:<br />
- Ele nunca está ...<br />
- O que?<br />
- Ele disse que o <strong>do</strong>utor nunca<br />
está para brincadeiras – auxiliou Thorc.<br />
- Ora, deixem o <strong>do</strong>utor – disse,<br />
Fanna – agora, vamos falar de você,<br />
Hamour. Na verdade estamos meio que,<br />
sem saber o que fazer com você. Nunca<br />
conhecemos um Goraniano, antes ...<br />
- Ah, conheceram sim! Só que<br />
não sabiam ...<br />
- Apenas por curiosidade,<br />
Hamour, cite um.<br />
- Bem, vejamos ... estamos<br />
falan<strong>do</strong> de muito tempo atrás ... que me<br />
lembre, agora ... o professor Khron e sua<br />
esposa, Nefretire!?<br />
- Eu os conheci – disse, Zur-Kwa –<br />
Ele me deu aula de eletro-propulsão-bipolarizada...<br />
253
- Eu também os conheci – entrou,<br />
Thorc – mas não tive o prazer de tomar<br />
aulas com eles.<br />
- Lembro-me de Nefretire – disse<br />
Fanna – ela fazia parte <strong>do</strong> corpo de<br />
árbitros, nos jogos olímpicos ... na verdade,<br />
sempre a achei muito estranha...<br />
reservada...<br />
- Senhores – entrou, Hamour – se<br />
não se incomodam, gostaria de levantar.<br />
Por favor, ajudem-me a sair d<strong>aqui</strong> ...<br />
- É claro! – disse, Fanna, dan<strong>do</strong>lhe<br />
o braço, assim como os outros.<br />
Em microns, estava senta<strong>do</strong> na<br />
cadeira, onde Thorc estava. Este, trouxelhe<br />
um copo com água fresca Hamour<br />
bebeu gostosamente.<br />
- Obriga<strong>do</strong>! Se tiver um pouco<br />
mais... e como ia dizen<strong>do</strong>, também gostaria<br />
de um banho e roupas...<br />
- Naturalmente, amigo. Já<br />
providenciamos seus aposentos e lá,<br />
encontrará tu<strong>do</strong>. Se faltar alguma coisa, é<br />
só pedir. É claro, se estiver ao nosso<br />
alcance...<br />
Com a ajuda <strong>do</strong>s guardas, la<strong>do</strong> a<br />
la<strong>do</strong>, Hamour foi leva<strong>do</strong> aos seus<br />
254
aposentos, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> laboratório de Zur-<br />
Kwa.<br />
Durante aquela manhã, até o<br />
início da tarde, era impossível passar por<br />
ali. Fanna pediu-lhes para que fossem<br />
cuidar de seus afazeres.<br />
No momento oportuno, to<strong>do</strong>s<br />
iriam conhecer o novo hóspede.<br />
Hamour permaneceu mais <strong>do</strong>is<br />
dias confina<strong>do</strong> entre o laboratório e seus<br />
aposentos, sen<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> pelo Dr.Grohalv,<br />
entre soluções vitaminadas, sopas, água e<br />
exercícios fisioterapêuticos.<br />
Seus aposentos eram idênticos<br />
aos demais: um leito embuti<strong>do</strong>, uma<br />
cadeira, um armário para roupas, um<br />
aparelho Telecon e o reserva<strong>do</strong> com<br />
sanitários. Um espelho acima de uma pia<br />
metálica, um box com chuveiro. Tu<strong>do</strong> muito<br />
simples, prático e aperta<strong>do</strong>.<br />
Naqueles dias e noites, não se<br />
falava noutra coisa em to<strong>do</strong>s os cantos da<br />
frota, principalmente, nos Cassinos.<br />
255
No Cassino principal da Kosmos,<br />
três casais ocupavam a mesa de sempre:<br />
Tameron e Walln, já casa<strong>do</strong>s; Velz e Zuila;<br />
e, Maxun e Zart; faziam planos para o<br />
futuro, quan<strong>do</strong> aportassem no planeta<br />
Kálerus. Os solteiros se casariam e<br />
construiriam suas casas próximas uma das<br />
outras. Escolheriam um vale verde com<br />
árvores e lagos, onde plantariam sementes<br />
que traziam <strong>do</strong> velho mun<strong>do</strong>.<br />
Nesta noite, o pessoal de reparos<br />
tiveram que aban<strong>do</strong>nar o “rilex”, às<br />
pressas. Um <strong>do</strong>s cargueiros Mir, que<br />
puxava o “Asteróide de Tameron”,<br />
apresentou super-aquecimento em um de<br />
seus reatores. Foi desativa<strong>do</strong> a tempo de<br />
não explodir, forçan<strong>do</strong> a desaceleração da<br />
frota. Estavam a menos de um quarto.<br />
Esse fato gerou boatos, até certo<br />
ponto supersticiosos, atribuin<strong>do</strong> à Hamour,<br />
a quem se referiam de “o alienígena”, a<br />
responsabilidade <strong>do</strong>s acontecimentos.<br />
Mais tarde, Fanna entrou em<br />
cadeia pelo Intercon, apresentan<strong>do</strong> os<br />
motivos reais da pane ocorrida. Uma das<br />
256
válvulas de refrigeração, fora fechada,<br />
impedin<strong>do</strong> a passagem <strong>do</strong> oxigênio líqui<strong>do</strong><br />
pelas serpentinas <strong>do</strong> reator. E terminou<br />
dizen<strong>do</strong>-lhes:<br />
- Pensei termos deixa<strong>do</strong> para traz<br />
estas crendices tolas e importunas.<br />
Lembrem de que estamos <strong>aqui</strong> e agora,<br />
por causa de dinheiro, religiosidade<br />
excessiva e misticismo. Busquem a<br />
verdade e libertem-se destas coisas.<br />
A viagem prosseguiu até que<br />
sentiram seus motores pesa<strong>do</strong>s,<br />
desenvolven<strong>do</strong> pouco mais de um terço de<br />
velocidade a toda força e isto acontecia em<br />
todas as naves da frota.<br />
Um elemento novo surgira num<br />
repente, a força gravitacional de um buraco<br />
negro, a cerca de <strong>do</strong>is macrons.<br />
Este fenômeno não constava no<br />
mapa estelar de Hamour.<br />
Klemps, observan<strong>do</strong> os sensores,<br />
descobriu ser ali o centro da galáxia que<br />
percorriam e avisou Tutkan, que por sua<br />
vez chamou Thorc.<br />
257
Era, como se estivessem num pé<br />
de vento, sen<strong>do</strong> suga<strong>do</strong>s para o centro,<br />
numa força descomunal. Os mais<br />
prejudica<strong>do</strong>s eram os cargueiros Mir,<br />
atrela<strong>do</strong>s ao bloco de metal, de Hamour.<br />
Corria o risco de explodir, mesmo assim,<br />
Tutkan continuou firme em sua decisão de<br />
manter toda a força à frente.<br />
Mas estavam numa armadilha<br />
mortal e por maior esforço e energia, a<br />
atração <strong>do</strong> fenômeno era maior, anulan<strong>do</strong><br />
o empuxo <strong>do</strong>s motores.<br />
Thorc perguntou para Klemps,<br />
quanto tempo nós temos?<br />
- Pelas projeções <strong>do</strong> Komptor,<br />
dezesseis tempos, se não explodirmos<br />
antes.<br />
- E se desacelerarmos?<br />
- Desacelerar, você está maluco,<br />
Thorc? Seremos engoli<strong>do</strong>s...<br />
- Calma, Tut. E então, Klemps?<br />
- Dois tempos e meio, mais vinte e<br />
oito microns.<br />
- Isto é mau. Talvez não<br />
consigamos escapar, pelo menos, nem<br />
to<strong>do</strong>s.<br />
258
No hangar, na ponte de coman<strong>do</strong><br />
da frota Zag, Zeuez recebia pedi<strong>do</strong> de<br />
socorro de <strong>do</strong>is de seus rapazes. Eram<br />
Apollun, filho de Tutkan e Zien seu par.<br />
Velz e Maxun partiram em auxílio e logo<br />
após, os monitores acusavam a explosão<br />
de um March-1 e o outro sen<strong>do</strong> suga<strong>do</strong><br />
pelo buraco negro. Nada pode ser feito por<br />
eles.<br />
Simultaneamente, enquanto<br />
Tutkan assistia a luta de seu próprio filho,<br />
Apollun, sair da atração e Zien tentan<strong>do</strong><br />
reboca-lo, e Thorc absorvi<strong>do</strong> por cálculos,<br />
estourou o pânico em muitas naves<br />
menores, reacenden<strong>do</strong> os tais comentários<br />
agourentos e supersticiosos sobre o<br />
“alienígena”.<br />
Em microns surgiram Fanna e<br />
Zur-Kwa na ponte principal da Kosmos. Os<br />
<strong>do</strong>is malucos se concentraram no<br />
problema enquanto Fanna dava apoio ao<br />
sofri<strong>do</strong> amigo.<br />
Acontecera tu<strong>do</strong> muito rápi<strong>do</strong>. A<br />
patrulha de salvamento ainda pode ver<br />
259
Zien, tentan<strong>do</strong> rebocar Apollun e<br />
explodin<strong>do</strong> em mil pedaços, arremeten<strong>do</strong> o<br />
companheiro para o centro <strong>do</strong> que, à<br />
distância, parecia ser um espantoso<br />
redemoinho.<br />
De outro la<strong>do</strong> o pânico<br />
transformou-se num principio de revolta,<br />
liderada por Gideonis, atingin<strong>do</strong> boa parte<br />
da frota.<br />
Neste particular, Gideonis, ex<br />
parceiro de Carvelus e também promotor<br />
da última revolta quan<strong>do</strong> partiram de<br />
Someron, tornara-se aos poucos, uma<br />
espécie de líder espiritual, tolera<strong>do</strong> por<br />
Fanna até então.<br />
De sua cela, Hamour ainda<br />
debilita<strong>do</strong> também assistia tu<strong>do</strong> e se<br />
comunicou com Thorc totalmente<br />
absorvi<strong>do</strong> em fórmulas vetoriais, junto com<br />
o baixinho Zur-Kwa.<br />
- Só existe uma solução.<br />
Programar os teleméricos de navegação,<br />
irmos de encontro <strong>do</strong> buraco, orbitan<strong>do</strong>-o<br />
uma vez, aproveitan<strong>do</strong> a força dele mesmo<br />
para nos jogar para fora.<br />
260
- Maravilha, Hamour. Estamos<br />
trabalhan<strong>do</strong> nisso. A dificuldade está na<br />
rota de saída.<br />
- Usem as coordenadas da estrela<br />
mais brilhante, deve ser o sol Antares. A<br />
manobra é arriscada, por isso, entrem em<br />
senti<strong>do</strong> horário e sempre na beira <strong>do</strong><br />
redemoinho.<br />
- Eu ouvi isto, disse Gideonis,<br />
atropelan<strong>do</strong> no Telecon. Vocês não estão<br />
ven<strong>do</strong> que ele quer nos matar a to<strong>do</strong>s?<br />
Desde que encontramos esse alienígena,<br />
tu<strong>do</strong> começou a dar erra<strong>do</strong>...<br />
- Cale-se, idiota – entrou Fanna<br />
irrita<strong>do</strong>. E reprograme suas naves com as<br />
coordenadas enviadas por Thorc.<br />
- Nós não vamos fazer isso...<br />
- Desacelerar em trinta microns,<br />
senhor.<br />
- Muito bem, Klemps, comunique<br />
a to<strong>do</strong>s.<br />
Na contagem zero a frota<br />
desacelerou exceto as trinta e sete naves,<br />
lideradas, então, por Gideonis, à bor<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
último reboca<strong>do</strong>r.<br />
261
Uma por uma das naves eram<br />
atraídas, ganhan<strong>do</strong> velocidade e entran<strong>do</strong><br />
no giro orbital. Na distancia de um macron<br />
<strong>do</strong> centro aceleraram e na primeira volta<br />
completada, foram arremessa<strong>do</strong>s em<br />
velocidade espantosa na direção<br />
programada, Antares. Infelizmente,<br />
novecentos e noventa e sete seres,<br />
incluin<strong>do</strong> o “profeta”, ficaram para traz.<br />
Aos poucos, se afastaram <strong>do</strong><br />
terror, normalizan<strong>do</strong> a crise.<br />
- Erus, não consigo entender o<br />
que ele estava fazen<strong>do</strong> lá?<br />
- Podemos ouvir as gravações da<br />
missão. Talvez nos revele os fatos – e,<br />
imediatamente, Fanna acionou o Intercon –<br />
Klemps, localize Zeuez e peça-lhe que<br />
entre em contato comigo. Estou <strong>aqui</strong> no<br />
núcleo de coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> comandante<br />
Tutkan.<br />
- Afirmativo, senhor.<br />
Microns depois, Zeuez fez contato<br />
e a pedi<strong>do</strong> de Fanna, processou as<br />
gravações.<br />
Localiza<strong>do</strong> o trecho que importava, Zeuez,<br />
de sua ponte, fez a emissão pelo Intercon.<br />
262
- Está no ponto, Fanna, desde<br />
que foram lança<strong>do</strong>s.<br />
- Pode rodar.<br />
- ““... Zien, como está sua<br />
máquina?<br />
- Está ótima. Ontem na minha<br />
folga, dei uns ajustes no emissor<br />
energético e troquei as válvulas de pressão<br />
<strong>do</strong> acumula<strong>do</strong>r para o propulsor.<br />
- Por quê? Estavam gastas?<br />
- Não, achei que se colocassem<br />
as vetoriais DZ-4, poderia desenvolver<br />
mais, inclusive, estou com mais toque ...<br />
veja! ...<br />
Os motores <strong>do</strong> pequeno March<br />
roncaram forte e em poucos microns<br />
desapareceu da visão de Apollun, que o<br />
acompanhava pela tela Telecon.<br />
- Hei, espera aí! Aonde você vai?<br />
- Fique calmo, já estou voltan<strong>do</strong>.<br />
- Nossa! Como esta máquina está<br />
andan<strong>do</strong>!!<br />
- {Você viu} Apollun, aposto que<br />
você não consegue desenvolver esta<br />
velocidade.<br />
- Acho que posso até mais. Você<br />
só trocou as válvulas.<br />
263
- E o que você fez?<br />
- Eu estou com a DZ-4 e substituí<br />
a fonte. Coloquei as depura<strong>do</strong>ras vetoriais<br />
em paralelo com o energiza<strong>do</strong>r KR-7.<br />
- Mas isto não funciona. Ozy, já<br />
havia experimenta<strong>do</strong>.<br />
- Mas ele fez erra<strong>do</strong>, não usou os<br />
depura<strong>do</strong>res compatíveis. O motor<br />
engasga quan<strong>do</strong> pede maior energia e as<br />
turbinas de ar comprimi<strong>do</strong>, não dão conta,<br />
mesmo para os March, que não tem peso.<br />
- Você já experimentou?<br />
- Claro que já.<br />
- E daí?<br />
- E daí que a sua máquina não<br />
dá nem para a arrancada!<br />
O Intercon das duas naves<br />
anuncia a voz de Zeuez.<br />
- Zag cinco e seis. Estamos em<br />
área perigosa. Não se afastem.<br />
Magnetização de <strong>do</strong>is ponto zero zero.<br />
Buraco negro a bombor<strong>do</strong> e estamos com<br />
dificuldades com o Mir seis. Apenas<br />
destruam o lixo.<br />
- Entendi<strong>do</strong>, comandante –<br />
respondeu Apollun, logo após se<br />
comunicou com Zien – Vamos dar mais<br />
uma volta pela frota e quan<strong>do</strong> estivermos a<br />
264
um Macron, da retaguarda, a gente tira a<br />
teima. O que você acha?<br />
- Por mim, tu<strong>do</strong> bem.<br />
Então, deram meia volta e foram<br />
até onde combinaram. No meio <strong>do</strong> trajeto,<br />
Zeuez os informou, novamente, sem obter<br />
respostas. Repetiu suas ordens mais duas<br />
vezes e nada de resposta, então, microns<br />
mais tarde, Apollun respondeu:<br />
- Já estamos sain<strong>do</strong>, comandante.<br />
Saímos um pouco mais para testarmos os<br />
motores e se dirigin<strong>do</strong> ao companheiro –<br />
Zien, ao meu coman<strong>do</strong> na marca ... três ...<br />
<strong>do</strong>is ... um ... já!<br />
Partiram com tu<strong>do</strong>, mas, três<br />
microns depois, o motor principal de<br />
Apollun, parou e impediu passagem de<br />
energia para os outros <strong>do</strong>is. Em face disto,<br />
foi atraí<strong>do</strong> pelo buraco negro à sua<br />
esquerda.<br />
- Zien, estou em apuros. Estou<br />
sen<strong>do</strong> suga<strong>do</strong> pelo buraco.<br />
- Agüente firme. Já vou ... estou<br />
sen<strong>do</strong> atraí<strong>do</strong> também... estou bem atrás<br />
de você ... joguei o cabo reboca<strong>do</strong>r...<br />
- Vamos, Zien, puxe ...<br />
265
- Estou dan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, não sai <strong>do</strong><br />
lugar ...<br />
Zag cinco, chaman<strong>do</strong> Kosmos ...<br />
- Pode falar, Zag cinco.<br />
- Comandante, estamos em<br />
apuros. Meus motores pararam e o<br />
reboque de Zag-seis, inoperante.<br />
Precisamos de auxílio.<br />
- Já está a caminho ...<br />
- Não podemos agüentar por<br />
muito tempo.<br />
- Os vetoriais DZ-4 estão quentes<br />
demais ...<br />
Estas foram as últimas palavras<br />
de Zien. O March-1 explodiu.<br />
- Está explica<strong>do</strong> – disse, Tutkan,<br />
no final da transmissão – A imprudência os<br />
levou à morte ...<br />
Neste mesmo dia, foram feitas as<br />
cerimônias fúnebres <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
companheiros, com a frota em pleno<br />
andamento e em curso.<br />
Nesta ocasião, Fanna ressaltou<br />
as qualidades <strong>do</strong>s desapareci<strong>do</strong>s e muito<br />
hàbilmente, comentou sua desaprovação<br />
em atitudes “inova<strong>do</strong>ras”, modifican<strong>do</strong> as<br />
266
características de projetos tão amplamente<br />
estuda<strong>do</strong>s por engenheiros e projetistas da<br />
maior competência. Também lamentou a<br />
perda de tantos irmão segui<strong>do</strong>res de<br />
Gideonis.<br />
Zeuez instituiu medidas e sanções<br />
punitivas a tais procedimentos, para evitar<br />
maiores dissabores. Dali em diante,<br />
haveria controle no almoxarifa<strong>do</strong> e<br />
qualquer peça sobressalente só poderia<br />
sair com sua aprovação, e qualquer<br />
manutenção deveria ser acompanhada por<br />
um engenheiro devidamente autoriza<strong>do</strong>.<br />
Haveria, também, relatórios periódicos <strong>do</strong>s<br />
pilotos, pormenorizan<strong>do</strong> a performance de<br />
suas naves. O desacor<strong>do</strong> com essas<br />
regras, traria aos pilotos a perda das asas<br />
e outras punições extensivas aos demais<br />
implica<strong>do</strong>s.<br />
Na tarde seguinte, o Dr.Grohalv<br />
liberou Hamour de seu confinamento,<br />
contu<strong>do</strong> observan<strong>do</strong> a permanência de sua<br />
dieta.<br />
Depois de recomposto,<br />
devidamente vesti<strong>do</strong>, barba feita e cabelos<br />
267
corta<strong>do</strong>s, aparentava menos idade <strong>do</strong> que<br />
o seu holograma. Thorc resolveu levá-lo ao<br />
gabinete de Fanna e fazer-lhe uma<br />
surpresa.<br />
Ao percorrer os corre<strong>do</strong>res da<br />
Kosmos, era apenas mais um deles, um<br />
pouco mais alto que Thorc. Um ou outro<br />
olhava-o. pensan<strong>do</strong> se tratar de um<br />
visitante de outra nave. Nem mesmo Zuila,<br />
que já o conhecia pelo holograma, o<br />
reconheceu, quan<strong>do</strong> Thorc entrou em sua<br />
sala, e pedin<strong>do</strong> para ver Fanna. Ela<br />
perguntou, com olhos fixos no que fazia:<br />
- E o seu amigo, por favor, nome e<br />
qual nave?<br />
- D<strong>aqui</strong> mesmo – respondeu<br />
Thorc.<br />
- D<strong>aqui</strong>? ... Não me lembro de têlo<br />
visto antes ... de qual o setor?<br />
- Sou Hamour – ele respondeu<br />
com um sorriso tranqüilo.<br />
- Hamour? – ela teve um<br />
sobressalto – Hamour? ... não pode ser ... É<br />
mesmo ... são ... os mesmos olhos ...<br />
Thorc pediu-lhe que falasse mais<br />
baixo, com o gesto tradicional, colocan<strong>do</strong> o<br />
de<strong>do</strong> em riste à frente da boca.<br />
268
- Ssss! Não queremos que Fanna<br />
saiba antes de entrarmos. É uma surpresa.<br />
Anuncie somente o meu nome e diga-lhe<br />
que trago um amigo.<br />
- Está bem – disse, baixinho e<br />
ativou o Intercon – Papai, Thorc está <strong>aqui</strong><br />
para vê-lo e traz um amigo com ele.<br />
- Mande-o entrar com seu amigo.<br />
Fanna estava de la<strong>do</strong>, digitan<strong>do</strong><br />
no seu terminal, quan<strong>do</strong> a porta abriu,<br />
dan<strong>do</strong> passagem aos <strong>do</strong>is.<br />
- Entre, Thorc ... aguardem um<br />
pouco estou terminan<strong>do</strong> uma projeção. Se<br />
Zur-Kwa estiver certo, acho que<br />
chegaremos ao nosso destino, antes das<br />
nossas previsões ...<br />
Os <strong>do</strong>is se ajeitaram em cadeiras<br />
enquanto o líder acabava seus cálculos,<br />
que durou breves instantes. Após virou-se<br />
com seu jeito de ser e falou para Thorc.<br />
- Quero que fa ... – não terminou a<br />
frase – Hamour!?! Ora, mas você está<br />
ótimo!<br />
- Você acha? – Hamour lhe<br />
devolvia o sorriso.<br />
269
- É claro! Você está muito bem!!<br />
Não é mesmo Thorc? Até parece mais<br />
jovem!!<br />
- Bondade sua ...<br />
- Você esta melhor <strong>do</strong> que no seu<br />
holograma ...<br />
- Obriga<strong>do</strong>! Talvez seja pelo<br />
sono. Minha mãe costumava dizer que,<br />
nada melhor <strong>do</strong> que uma boa noite de sono<br />
para renovar as energias e eu tive muitas<br />
noites.<br />
- Isto prova que sua mãe estava<br />
certa. Mas diga-me como se sente <strong>aqui</strong>,<br />
isto é, está sen<strong>do</strong> bem trata<strong>do</strong>?<br />
- Me sinto em minha própria casa.<br />
Não poderia estar em melhor companhia.<br />
- Ótimo.<br />
Os momentos que se seguiram,<br />
foram como o reencontro de velhos amigos<br />
que há muito não se viam. Entre<br />
amenidades, piadas e coisas de menor<br />
importância, Fanna pediu à Zuila que<br />
chamasse Zur-Kwa, Ambhórius e Tutkan –<br />
mesmo com o luto e sofrimento <strong>do</strong> amigo.<br />
Haveria uma reunião na sala <strong>do</strong> Conselho,<br />
em meio tempo, se possível.<br />
270
Ambhórius e Tutkan, também se<br />
surpreenderam com a boa aparência <strong>do</strong><br />
“jovem” Goraniano, que não perdeu tempo<br />
em dizer:<br />
- O leite de minha mãe possuía<br />
qualidades tais como o elixir da juventude!<br />
Thorc, toma<strong>do</strong> de alguma<br />
intimidade, completou :<br />
- Acho que deveria ter conheci<strong>do</strong><br />
esta dama ...<br />
Após estas preliminares,<br />
passaram às perguntas, ainda, referentes,<br />
aos programas anteriores, no qual, Hamour<br />
demonstrou seu conhecimento, até que ele<br />
mesmo, perguntou:<br />
- Senhores, é possível que tenha<br />
esqueci<strong>do</strong> um ou outro detalhe, mas, antes<br />
que me passe novamente, minha nave já<br />
foi reconstituída?<br />
- Não. Ainda não – respondeu,<br />
Zur-Kwa – Não consideramos bom aquele<br />
planetóide coberto de hélio.<br />
- Tão pouco seguro, disse,<br />
Tutkan.<br />
- E depois, caso tivéssemos<br />
visitas, estaríamos completamente a<br />
descoberto – completou, Fanna.<br />
271
- Talvez, mas, não acho que os<br />
Mobis encontrariam aquele lugar.<br />
- Os Mobis? Quem são os Mobis?<br />
– quis saber, Fanna– Pensamos que<br />
corríamos riscos <strong>do</strong>s Meranianos, por sua<br />
proximidade!<br />
- Os Meranianos? Não, eles<br />
teriam que viajar mais-ou-menos, uns<br />
cento e cinqüenta anos. Eles estão no<br />
octogésimo quarto quadrante e ainda no<br />
segun<strong>do</strong> padrão estelar.<br />
- Bem, segun<strong>do</strong> os seus<br />
Cristaltons, eles possuem tecnologia de<br />
ponta e calculamos, pelo que vimos, que<br />
nos alcançariam em <strong>do</strong>is anos-luz.<br />
- Eles possuem tecnologia mas<br />
não conseguiram achar os parâmetros da<br />
Dobra. O máximo que conseguem se<br />
mover, é menos de meia Dobra. Suas<br />
naves são lentas, apesar de bem armadas.<br />
- Hamour – disse, Fanna, inquieto –<br />
Quem são os Mobis?<br />
- Acho que a culpa é minha por<br />
esta pequena falha...<br />
- Pequena falha? – retrucou,<br />
Ambhórius.<br />
- Não. Certamente que não.Omiti<br />
propositadamente este assunto. Não quis<br />
272
arriscar que entrassem em pânico e<br />
batessem em retirada, antes de<br />
aprenderem nossa tecnologia e ...<br />
- Hamour – atalhou, Fanna – isto<br />
sugere outras perguntas. Primeiro nos fale<br />
<strong>do</strong>s Mobis e depois, comece a nos explicar<br />
por que você quer que aprendamos sua<br />
tecnologia?<br />
- Está certo – e fez uma pausa,<br />
acomodan<strong>do</strong>-se melhor em sua cadeira –<br />
Os Mobis são, um povo; se é que se possa<br />
chamar assim, conquista<strong>do</strong>r e perverso,<br />
lidera<strong>do</strong>s por Ahdack. Seu império é vasto.<br />
Constitui todas as galáxias <strong>do</strong> quarto<br />
padrão setorial universal, com cerca de<br />
oitocentos planetas; totalmente subjuga<strong>do</strong>s<br />
pela força. Inclui a este império, parte <strong>do</strong><br />
terceiro padrão. É provável até que os<br />
próprios meranianos tenham sucumbi<strong>do</strong> a<br />
este tirano. Tem como auxiliares, um<br />
exército de andróides, desenvolvi<strong>do</strong>s e<br />
programa<strong>do</strong>s por ele próprio. Ahdack os<br />
chamou de Mobis. São sintéticos, muito<br />
pareci<strong>do</strong>s com um ser normal e o<br />
obedecem cegamente. Não possuem<br />
vontade nem raciocínios próprios ...<br />
- Hamour – entrou, Thorc – Você<br />
não acha que deveríamos saber disto,<br />
273
antes. Talvez no segun<strong>do</strong> encontro que<br />
tivemos na pirâmide?<br />
- Além <strong>do</strong> que – disse, Tutkan – se<br />
nós o encontramos, com nossa tecnologia<br />
absoleta, o mesmo poderia ter si<strong>do</strong> com<br />
Ahdack e seus Mobis! ...<br />
- Eles não poderiam. Cuidei disso,<br />
mesmo porque, não conhecem esse setor<br />
estelar. Eu conheço bem seus sistemas de<br />
sondas e o meu pedi<strong>do</strong> de socorro, nunca<br />
seria decodifica<strong>do</strong> por seus instrumentos.<br />
Captariam somente estática. Como disse,<br />
tive muito cuida<strong>do</strong> nisto, ajustei tu<strong>do</strong> em<br />
baixa freqüência, e isto, devi<strong>do</strong> à sua<br />
própria construção, não lhes é possível<br />
traduzir.<br />
- E por que, nós?<br />
- Devi<strong>do</strong> ao sistema implanta<strong>do</strong><br />
na pirâmide. Ninguém que não possuísse<br />
aura clara e vibrações, <strong>do</strong> meu interesse,<br />
não passaria pela porta central. Admitin<strong>do</strong><br />
que conseguissem entrar por outros meios;<br />
abrin<strong>do</strong> um buraco numa das paredes, por<br />
exemplo: não teriam tempo de pedir<br />
socorro. Explodiriam com tu<strong>do</strong> o mais, eu<br />
inclusive.<br />
274
Hamour passava-lhes confiança e<br />
suas palavras se traduziam em<br />
tranqüilidade.<br />
- Gostaria de ter meu console<br />
para poder projetar o telão. Vocês teriam<br />
uma idéia melhor <strong>do</strong> que estou falan<strong>do</strong>.<br />
- Você está falan<strong>do</strong> no módulo<br />
para o Cristalton?<br />
- Sim, Zur-Kwa. É uma pena ...<br />
- Não se preocupe – disse, Zur-<br />
Kwa apanhan<strong>do</strong> o Intercon – Zart, por favor<br />
nos traga o seu decodifica<strong>do</strong>r para o<br />
Cristalton número noventa e sete.<br />
Agora, era Hamour que<br />
expressava admiração, olhan<strong>do</strong> para Zur-<br />
Kwa, voltan<strong>do</strong> senhor de si, para sua<br />
cadeira.<br />
- Enquanto eu <strong>do</strong>rmia, vocês<br />
trabalhavam, hein?<br />
- Zur-Kwa – disse, Thorc, em tom<br />
zombeteiro – Ele acha que você é pouca<br />
porcaria.<br />
O baixinho apenas deu de ombros<br />
e Hamour depois de rir um pouco, assim<br />
como os demais, continuou.<br />
- Antes de prosseguirmos. Gostaria de<br />
saber o que foi feito <strong>do</strong> restante de minha<br />
nave, isto é, <strong>do</strong> que sobrou dela?<br />
275
Fanna respondeu:<br />
- É claro que a trouxemos, mas <strong>do</strong><br />
jeito que você deixou.<br />
- Ufa! Que alívio – disse, Hamour –<br />
e onde está?<br />
- Está sen<strong>do</strong> rebocada por quatro<br />
cargueiros Mir. Uma geringonça que estes<br />
<strong>do</strong>is improvisaram – disse, Tutkan,<br />
apontan<strong>do</strong> para “os malucos”. É uma longa<br />
história. Por que alívio?<br />
- Acontece que a matéria prima,<br />
com aquelas características, só é<br />
encontrada em planetas, que hoje são de<br />
<strong>do</strong>mínio de Ahdack.<br />
- E ele sabe disto? – Perguntou,<br />
Tutkan.<br />
- Graças a Deus, não. Ela é única<br />
de sua espécie.<br />
Microns depois, Zuila trouxe o<br />
carinho conten<strong>do</strong> o aparelho pedi<strong>do</strong> por<br />
Zur-Kwa, que imediatamente, passou às<br />
ligações e conexões no Komptor, em<br />
movimentos ligeiros e até certo ponto,<br />
hilários.<br />
- Ainda não temos telas tridimensional<br />
e não entendemos o seu<br />
idioma, ou <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como soam as<br />
palavras, associa<strong>do</strong>s ao som – dizia,<br />
276
trabalhan<strong>do</strong> nas ligações - ... é claro que<br />
avançamos bem, mas não a ponto de<br />
expressões como: Aft-halp!?!<br />
- Aftahalp – corrigiu, Hamour.<br />
- Sim, acho que é isso. Para nós<br />
soa como: “pata de mur”!? Não sabemos o<br />
que é mur.<br />
- Mur, era um antigo animal, em<br />
nosso mun<strong>do</strong>, muito queri<strong>do</strong>, de beleza<br />
impar, muito dócil e amigo, que foi extinto<br />
por caça<strong>do</strong>res de pele. O que Aftahalp<br />
quer dizer é uma espécie de nostalgia,<br />
saudade ...<br />
Então o telão <strong>do</strong> Komptor trouxelhes,<br />
a imagem. Vieram os caracteres<br />
Goranianos em seguida, um “zoon” pelo<br />
espaço, encontran<strong>do</strong> uma enorme bola<br />
metálica.<br />
A imagem não é tridimensional,<br />
mas tem boa leitura – observou, Hamour -.<br />
Então, temos aí as bases Mobis. São<br />
cinco, pelo que sei. Possuem núcleo<br />
gravitacional próprio, sistemas de defesa<br />
tri-polariza<strong>do</strong>; com defletores capazes de<br />
suportar até dez Vetrons e <strong>do</strong>tadas de<br />
raios Fratton ... deixem-me explicar melhor:<br />
277
Estes raios provocam combustão. Uma vez<br />
o alvo seja atingi<strong>do</strong>, não existe nada que o<br />
faça parar de queimar. Queima-se tu<strong>do</strong>,<br />
até mesmo as cinzas. No interior <strong>do</strong> Globo,<br />
acomoda duzentos e cinqüenta naves<br />
projetadas para combate. Cada uma,<br />
abrigan<strong>do</strong> três Mobis programa<strong>do</strong>s,<br />
exclusivamente, para combate; um, pilota,<br />
outro, traça coordenadas de ação e o<br />
terceiro, opera as armas. Estas pequenas<br />
naves são bastante rápidas e conseguem<br />
desenvolver duas Dobras. A nave-mãe<br />
nem sempre é comandada por um ser vivo.<br />
Existem andróides possui<strong>do</strong>res de<br />
inteligência e <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de coman<strong>do</strong>s, uma<br />
cópia fiel de seu mestre – não na aparência<br />
e sim, na sua essência – As vezes penso<br />
que são arquetipa<strong>do</strong>s ao invés de<br />
arquiteta<strong>do</strong>s. Voltan<strong>do</strong> ao Globo, apesar de<br />
gigantesco, não tem mobilidade. Move-se a<br />
uma velocidade inferior a uma Dobra ...<br />
- É, mais-ou-menos, a nossa<br />
velocidade – observou, Thorc.<br />
- Mas pelo que pude observar –<br />
continuou, Hamour – esta nave, por<br />
exemplo, pode executar manobras – disse,<br />
se referin<strong>do</strong> à Kosmos – ao passo que o<br />
Globo, só anda em linha reta, e uma vez<br />
278
para<strong>do</strong>, apenas mantém um movimento de<br />
rotação; pelo seu eixo; lenta, mas como<br />
disse antes, seus sistemas de defesa são<br />
quase perfeitos. No caso de serem<br />
ataca<strong>do</strong>s, duas naves pilotadas por robots,<br />
se fixam nos pólos, aumentan<strong>do</strong> o campo<br />
gravitacional inverso; expelin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que<br />
deles se aproxima; enquanto outras cento<br />
e cinqüenta orbitam a base, deslizan<strong>do</strong><br />
sobre esta camada protetora, como se<br />
fossem os electrons de um átomo. Quan<strong>do</strong><br />
isso acontece, a própria fortaleza dispara<br />
os seus canhões Fratton,<br />
simultaneamente, em sincronia para não<br />
atingi-las. Entretanto, as outras cem, que<br />
saíram para o combate e caça de<br />
agressores, podem ser atingidas pelos<br />
raios Fratton. Esta é uma de suas falhas.<br />
Ahdack chama esta operação de “O globo<br />
da morte”. Pois bem, agora, vem a parte<br />
pior ...<br />
- Pior <strong>do</strong> que isto?<br />
- Sim, Thorc. Trata-se <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r e<br />
possui<strong>do</strong>r de tu<strong>do</strong> isto: O impera<strong>do</strong>r<br />
Ahdack, como ele mesmo se chama...<br />
Neste ponto, o Komptor se<br />
desativou.<br />
279
- Eu não tenho registros, nem<br />
fotos desta figura. Tu<strong>do</strong> o que lhes direi<br />
agora, são de relatos de sobreviventes que<br />
encontrei ao longo de minhas expedições<br />
em vários mun<strong>do</strong>s. Devo acrescentar, que<br />
seus testemunhos são verdadeiros. Pois<br />
bem, este tirano pratica o canibalismo<br />
múltiplo, isto é, além de literalmente comer<br />
alguns de seus prisioneiros, ele suga suas<br />
essências vitais. Vou explicar melhor: A<br />
cada cem dias, dez jovens previamente<br />
escolhi<strong>do</strong>s; desde que sejam fortes, não<br />
importa se macho ou fêmea, são coloca<strong>do</strong>s<br />
num aparelho que extrai suas energias e<br />
transferidas para Ahdack, em outro<br />
aparelho receptor. Após isto, <strong>do</strong>s dez<br />
corpos, vamos dizer, murchos, e ainda<br />
vivos, lhe são retira<strong>do</strong>s os hipotálamos <strong>do</strong>s<br />
cérebros, de onde extrai enzimas que<br />
incidem diretamente na renovação celular<br />
<strong>do</strong> seu próprio organismo. É um processo<br />
pareci<strong>do</strong> com o que vocês mesmos viram,<br />
com a minha pirâmide cristal. Pelo meu<br />
indica<strong>do</strong>r temporal – consultou-o, no pulso<br />
direito – ele deve ter, já, quinhentos e<br />
quarenta e nove anos de idade cronológica<br />
de seu tempo.<br />
280
- Este Ahdack, é a crueldade em<br />
pessoa – observou, Fanna.<br />
- Sim, por onde passa, devasta<br />
tu<strong>do</strong> e leva prisioneiros para a sua própria<br />
manutenção...<br />
Perceben<strong>do</strong> o temor e<br />
preocupação nos olhos de to<strong>do</strong>s, Hamour<br />
tratou de melhorar seus ânimos - ...<br />
- Senhores, não há motivos para nos<br />
preocupar com ele ainda. Não estamos ao<br />
alcance dele. Vocês me encontraram...<br />
hum, deixe-me ver... Há setenta e <strong>do</strong>is<br />
anos luz de distancia.<br />
- Muito bem, Hamour, mas vamos<br />
dizer que, os tempos mudaram e ele<br />
aperfeiçoou suas máquinas... e nos<br />
alcance; se formos ataca<strong>do</strong>s, quais as<br />
nossas chances?<br />
- Aproveitan<strong>do</strong> – entrou, Fanna –<br />
consideran<strong>do</strong> que não corramos perigo, o<br />
que você pretende, no futuro, conosco?<br />
- Está certo. Começarei por sua<br />
pergunta, Tutkan. É certo que os tempos<br />
são outros, a saber que cada padrão<br />
estelar dispõe de seu próprio tempo. Cada<br />
portão estelar, quan<strong>do</strong> atravessa<strong>do</strong> pelas<br />
Dobras, disparam a extensão temporal. Por<br />
exemplo: se saíssemos d<strong>aqui</strong> agora, numa<br />
281
velocidade em três Dobras, e<br />
alcançássemos um outro padrão, ao<br />
voltarmos, teria se passa<strong>do</strong> o equivalente<br />
aos anos-luz viaja<strong>do</strong>s. Então ida e volta, a<br />
três Dobras, seriam qualquer coisa de<br />
seiscentos anos. Não mais encontraríamos<br />
o que deixamos... mas para nós que<br />
viajamos, teríamos gasto cerca de <strong>do</strong>is<br />
perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus.<br />
- Esta é uma das minhas teorias<br />
sobre o buraco de michoca– disse, Zur-Kwa<br />
– Cada ponto de distância, pelo espaço<br />
afora, tem seu próprio tempo relativa<strong>do</strong> à<br />
distância...<br />
- Você esta certo, Zur-Kwa,<br />
calcular a diferença e acrescentá-la à<br />
velocidade. Estes são os atalhos a que<br />
você se refere por buracos de minhoca.<br />
Mas para isso também é necessário um<br />
sistema de navegação capaz de traçar um<br />
destino e material de construção nas naves<br />
com a pressurização necessária para<br />
resistir o arrasto de anti-matéria. Veremos<br />
isto com detalhes na reconstituição de to<strong>do</strong><br />
o equipamento. Então, continuan<strong>do</strong> em sua<br />
resposta, Tutkan, não creio que Ahdack<br />
tenha progredi<strong>do</strong> tanto assim com suas<br />
máquinas. Ele se julga o maioral e acha<br />
282
que dispõe de to<strong>do</strong>s os conhecimentos. E<br />
mais, por onde passou, não encontrou<br />
nada melhor <strong>do</strong> que já tinha, portanto, isso<br />
nos tranquiliza.<br />
Agora passan<strong>do</strong> à sua pergunta,<br />
Fanna, não precisam se preocupar comigo.<br />
Irei onde vocês forem. Vocês, agora, são<br />
minha família e quan<strong>do</strong> encontrarmos um<br />
bom planeta para viver; acho que os<br />
nossos genes são compatíveis; talvez<br />
venha a constituir a minha própria família e<br />
me dedicar tão somente a ela.<br />
De momento, as coisas estavam<br />
esclarecidas, pelo que, Fanna resolveu<br />
apresentar Hamour aos demais<br />
Somerianos. Primeiro pelas telas <strong>do</strong><br />
Telecon e depois, em visitas, nas outras<br />
naves. Hamour não fazia idéia de tantos<br />
seres, aglomera<strong>do</strong>s e viven<strong>do</strong> aperta<strong>do</strong>s,<br />
com população crescente.<br />
Neste cruzeiro, Hamour teve a<br />
oportunidade de ver sua própria nave<br />
derretida, atrelada a quatro cargueiros Mir<br />
e comentou ter si<strong>do</strong> uma boa idéia, aquela.<br />
283
Conheceu a frota Zag, onde teceu enormes<br />
incentivos e elogios.<br />
Após os dias de sua<br />
apresentação, Hamour decidiu ministrar<br />
aulas a to<strong>do</strong>s que quisessem aprender a<br />
nova tecnologia, mediante testes de<br />
aptidão e escolhi<strong>do</strong>s pelos sensores<br />
aurais. Entre eles, Thorc, Zur-Kwa e seus<br />
auxiliares.<br />
Novos méto<strong>do</strong>s de fusões,<br />
materiais e propulsores energéticos, foram<br />
meticulosamente estuda<strong>do</strong>s, assim como<br />
as Medições Espaciais Exométricas.<br />
Segun<strong>do</strong>, os Somerianos, esta<br />
nova tecnologia só poderia ser <strong>do</strong>minada<br />
em mais-ou-menos cento e cinqüenta anos<br />
de seu tempo. Eram méto<strong>do</strong>s e sistemas<br />
avança<strong>do</strong>s, capacitan<strong>do</strong>-os a construir<br />
naves, com recursos jamais sonha<strong>do</strong>s. A<br />
transformação molecular provida pela<br />
Dobra, era algo sensacional dentro <strong>do</strong>s<br />
caminhos da Anti-matéria.<br />
Hamour era cheio de surpresas.<br />
Trazia consigo um Cristalton, embuti<strong>do</strong> em<br />
284
seu medalhão, com to<strong>do</strong>s os cálculos e<br />
projeções de sua nave, poden<strong>do</strong> os<br />
cientistas, entender como se chegara<br />
àquelas equações. Este foi o maior e o<br />
último assunto.<br />
Thorc, numa conversa franca,<br />
disse, depois de conhecer os fatores, que<br />
ele e Zur-Kwa, há tempos, haviam pensa<strong>do</strong><br />
naquelas possibilidades.<br />
Concomitantemente, a grande<br />
Kosmos passou por transformações, sen<strong>do</strong><br />
equipada, até onde sua estrutura original<br />
permitisse.<br />
Instrumentos de navegação<br />
espacial, defletores, escu<strong>do</strong>s térmico-antimagnéticos,<br />
e o Telak <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de sensores<br />
diametrais de altíssimo alcance,<br />
aproximadamente mil Macrons, varren<strong>do</strong><br />
quase a metade de um quadrante. Assim<br />
considera<strong>do</strong>s seus novos olhos e ouvi<strong>do</strong>s.<br />
A viagem em busca <strong>do</strong> planeta<br />
Kálerus era bem aproveitada, adaptan<strong>do</strong> a<br />
Kosmos a uma nova realidade, quase tão<br />
285
sofisticada quan<strong>do</strong> as Bases Mobis e a<br />
própria nave de Hamour, ainda derretida.<br />
Hamour, por conseguinte,<br />
aprendia muito com os Somerianos, quanto<br />
de seus hábitos, costumes e a grande<br />
transformação de comportamento após<br />
guerra. Divertia-se à bessa com os <strong>do</strong>is<br />
malucos, Thorc e Zur-Kwa.<br />
Com o passar <strong>do</strong>s dias, Hamour<br />
deixou de ser novidade e pode com isto, se<br />
relacionar com to<strong>do</strong>s, com maior<br />
naturalidade, acaban<strong>do</strong> de vez com<br />
qualquer vestígio de “maus agouros”,<br />
prega<strong>do</strong>s pelo fina<strong>do</strong> guia espiritual<br />
Gideonis. Conhecia cada um <strong>do</strong>s<br />
Somerianos e passou a freqüentar o<br />
Cassino. Tinha consciência de ser mais um<br />
<strong>do</strong>s lidera<strong>do</strong>s por Erus Fanna, pelo qual,<br />
dedicou a maior admiração e<br />
consideração.<br />
Na noite de comemoração <strong>do</strong><br />
aniversário de Thorc e Zur-Kwa,<br />
convida<strong>do</strong>s de outras naves lotavam o<br />
Cassino da Kosmos, uma figura até então<br />
286
despercebida, saltou-lhe aos olhos. Amis<br />
estava mais linda <strong>do</strong> que nunca.<br />
Eis aí uma criatura pelo qual<br />
trocaria tu<strong>do</strong> o que jamais tive. Pensou<br />
reservadamente.<br />
Amis sabia cativar e perceben<strong>do</strong><br />
aquele olhar, não perdeu tempo e foi até<br />
ele.<br />
Ao vê-la caminhan<strong>do</strong> firme em<br />
sua direção, tentou desviar os olhos, sem,<br />
no entanto, conseguir. Seu coração batia<br />
forte, tanto que sentiu seu rosto e orelhas<br />
esquentarem.<br />
- Olá, Hamour! Está gostan<strong>do</strong> da<br />
festa?<br />
- Sim, sim, estou...<br />
- Você está se sentin<strong>do</strong> bem?<br />
- Acho que estou... ta-talvez o<br />
Somir... você sabe...<br />
- Neste caso, seria bom você<br />
pegar um lugar mais areja<strong>do</strong>. Nossa, você<br />
está vermelho!<br />
- Não se... se preocupe cocomigo...<br />
já - já vai passar...<br />
- Está bem. Você é quem sabe...<br />
- Não quer se sentar?<br />
287
- Bem pensa<strong>do</strong>, Hamour. Você se<br />
importa se formos à mesa de meus<br />
amigos?<br />
- Não, acho que não.<br />
- Então venha comigo.<br />
Ela pegou sua mão e o conduziu até a<br />
turma, passan<strong>do</strong> por Thorc, que lhe<br />
segurou o braço livre.<br />
- Hei, Hamour, onde você pensa<br />
que vai?<br />
- Vou até a mesa onde os amigos<br />
de Amis estão.<br />
- Mas primeiro, vamos tomar um<br />
gole juntos.<br />
Amis perceben<strong>do</strong> o embaraço<br />
cria<strong>do</strong>, disse:<br />
- Tu<strong>do</strong> bem, Hamour. Beba um<br />
pouco com eles. Eu estarei – e apontou o<br />
local – lá.<br />
As histórias sobre as<br />
comemorações juntas, <strong>do</strong>s aniversários<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is malucos eram relatadas por<br />
Thorc, quan<strong>do</strong> Zur-Kwa, acompanha<strong>do</strong> de<br />
sua assistente, Belzamir, mais Tutkan e<br />
Fanna vieram se juntar entre risadas e<br />
muitas gozações com o baixinho.<br />
288
E, assim, foi a noite toda, sem que<br />
Hamour pudesse se desvencilhar <strong>do</strong><br />
pessoal. Entretanto, vez ou outra, seu olhar<br />
esbarrava com o dela. Eram como se<br />
fossem cumprimentos à distância.<br />
- Bem – disse Ambhórius, a certa<br />
altura – acho que já vou. Tenho que<br />
acordar ce<strong>do</strong>. É dia de fertilização com o<br />
Transprotton.<br />
Amis viu seu pai se despedin<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> pessoal. Veio a eles e se dirigiu<br />
diretamente a Hamour:<br />
- Pois bem, Hamour, acho que fui<br />
trocada por um monte de velhos!<br />
- Oh, queira me desculpar,<br />
acontece que...<br />
- Fique tranqüilo - ela cortou sua<br />
frase – Eu enten<strong>do</strong> destas coisas.<br />
- Além disso – entrou, Fanna – não<br />
somos tão velhos assim!!<br />
- Bem, senhores – disse,<br />
Ambhórius – Boa noite!!<br />
Pai e filha se afastaram e Hamour<br />
pensava consigo mesmo – Poxa! Será que<br />
isto está acontecen<strong>do</strong> comigo? Mas isso<br />
não me é possível. Acho que estou<br />
sonhan<strong>do</strong> alto demais!!!<br />
289
O restante da noite continuou,<br />
mas não com tanta graça. Seu<br />
pensamento estava sempre em outro lugar,<br />
com ela. Thorc percebeu sua súbita<br />
mudança e perguntou:<br />
- Você está quieto. Bebeu<br />
demais?<br />
- Sabe, Thorc, acho que sim. Só<br />
espero que o Dr.Grohalv não me passe um<br />
sermão. Você sabe. Ele está sempre em<br />
cima!<br />
- Ora, não se preocupe com ele.<br />
Vamos, o seu copo está vazio...<br />
No dia seguinte, a ressaca lhes<br />
atormentava as cabeças. Bebiam toda a<br />
água que encontravam e como sempre,<br />
prometiam a si mesmos, nunca mais beber<br />
Somir puro.<br />
Nesta manhã, atravessavam um<br />
campo de estrelas luminosas e coloridas,<br />
muito próximas umas das outras. Eram<br />
pequenos sóis, iluminan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em re<strong>do</strong>r.<br />
Klemps ativou o Intercon:<br />
- Comandante, Entraremos na<br />
divisa <strong>do</strong> sistema Remgis em,<br />
aproximadamente, meio tempo e há <strong>do</strong>is<br />
290
Marcos Estelares <strong>do</strong> alvo. Temos sua<br />
leitura no Telak: Sol e sistemas orbitais.<br />
- Muito bem, Klemps. Avisarei<br />
Fanna.<br />
Tutkan, em seus aposentos,<br />
ocupa<strong>do</strong> com sua dieta, apressou-se no<br />
contato.<br />
- Erus, você já acor<strong>do</strong>u?<br />
- Já! E estou enjoa<strong>do</strong>...<br />
- Pois se vista e vá até a ponte.<br />
Estamos perto de Kálerus, qualquer coisa<br />
de <strong>do</strong>is Marcos Estelares.<br />
- Vinte Macrons, já?<br />
- Pode apostar, meu amigo.<br />
Incrível, pensava enquanto<br />
escolhia qual manto usar naquela manhã<br />
tão especial; já se passaram <strong>do</strong>is anos<br />
desde que encontramos Hamour e ...<br />
nossa! ... vinte anos e meio desde que<br />
saímos de Someron... Num cálculo rápi<strong>do</strong>,<br />
concluiu avistar Kálerus em quatro dias e,<br />
talvez, pousar nele, em seis.<br />
Tinha adrenalina aceleran<strong>do</strong>-lhe o<br />
coração e na boca, o gosto <strong>do</strong> Somir<br />
fermenta<strong>do</strong>.<br />
291
Ao chegar à ponte, encontrou o<br />
pessoal de tarefa, muito anima<strong>do</strong>s,<br />
assistin<strong>do</strong> pelo Telak, as gravações desde<br />
quan<strong>do</strong> avistaram a galáxia Remgis. Era<br />
lin<strong>do</strong>. No centro, uma grande bola de luz<br />
alongan<strong>do</strong>-se para os la<strong>do</strong>s, semelhante<br />
ao desenho da nave de Hamour; Com a<br />
camada de matéria escura no plano<br />
principal.<br />
Na medida em que as imagens,<br />
agora, tridimensionais, exibiam outras<br />
configurações desta imensa galáxia, uma<br />
delas chamava-lhes a atenção. O<br />
direcionamento aponta<strong>do</strong> para um <strong>do</strong>s<br />
braços <strong>do</strong> espiral, distante <strong>do</strong> centro e<br />
aproximan<strong>do</strong>-se para o seu interior. Ali<br />
estava o sistema Remgis com seu sol e<br />
planetas.<br />
- Klemps, qual, exatamente, a<br />
nossa distância? Perguntou, Fanna.<br />
- Dezoito Macrons, senhor e<br />
aproximan<strong>do</strong>.<br />
Hamour e Tutkan chegaram<br />
juntos e Hamour comentou:<br />
- Ah, que visão!! A mais bonita ...<br />
que já vi!<br />
292
- A que distância estamos?<br />
Perguntou Tutkan.<br />
- Dezoito Macrons e aproximan<strong>do</strong>,<br />
senhor.<br />
Imediatamente, Hamour<br />
introduziu o Cristalton relativo ao sistema<br />
Remgis e chamou as coordenadas de<br />
Kálerus. Este era o quarto planeta a partir<br />
<strong>do</strong> Sol Amarelo. Distância média <strong>do</strong> sol:<br />
137 bilhões de centons com excentricidade<br />
orbital variável; inclinação axial 29,59<br />
graus; 6.794.000 centons de diâmetro;<br />
núcleo ferroso; gravidade: 0,96 em relação<br />
à Someron, apesar de menor, pouco mais<br />
da metade de Someron. Temperatura<br />
equatorial de 46 graus celtz e menos 100,<br />
nos pólos ...<br />
- É um boca<strong>do</strong> quente em seu<br />
equa<strong>do</strong>r – disse, Thorc, ao chegar com Zur-<br />
Kwa e Belzamir – A que distância estamos?<br />
- Menos de dezoito Macrons, e<br />
aproximan<strong>do</strong> – respondeu Klemps.<br />
- É uma linda vista – observou,<br />
Belzamir.<br />
- ... Elementos físicos – continuou,<br />
Hamour na leitura <strong>do</strong> Telak – Perío<strong>do</strong><br />
sinótico, 779,9 dias; rotação 24,62<br />
tempos...<br />
293
- É um belo planeta – disse,<br />
Fanna.<br />
- Parece ser – ponderou, Tutkan –<br />
Só nos resta ver de perto.<br />
- Dezessete Macrons e<br />
aproximan<strong>do</strong> – disse, Klemps.<br />
- Na marca de cinco Macrons –<br />
disse, Tutkan – inicie o processo de<br />
desaceleração. Comunique isto à frota.<br />
- E a que velocidade<br />
avançaremos, senhor?<br />
- Um terço à frente.<br />
- O planeta ideal; com massa,<br />
gravidade e campo magnético – disse,<br />
Thorc - ; seria o terceiro, a partir <strong>do</strong> sol.<br />
- Seria – concor<strong>do</strong>u, Hamour -, mas<br />
pelo que sabemos; quan<strong>do</strong> estas<br />
informações foram colhidas; passava por<br />
um perío<strong>do</strong> glacial.<br />
- E quan<strong>do</strong> foi feito isto? –<br />
perguntou, Belzamir.<br />
- Bem, vejamos ... pelo tempo<br />
desta galáxia ... cerca de 65.000 mil anos...<br />
aliás este comentário também foi feito pelo<br />
comandante ASTHAR, ao passar por <strong>aqui</strong>.<br />
- Comandante Asthar?<br />
- Sim, Tutkan. O comandante da<br />
“Patrulha <strong>do</strong> Espaço”.<br />
294
- E o que foi feito dele?<br />
- Na verdade, não sabemos.<br />
- Coisa de Ahdack? – perguntou,<br />
Zur-Kwa.<br />
- Pode ser. Mas não acho<br />
provável.<br />
Subitamente o Telecon acusou<br />
um sinal semelhante ao que Hamour<br />
transmitia, deixan<strong>do</strong>-os apreensivos.<br />
Hamour, de imediato, situou-o ao<br />
Telak.<br />
- Tu<strong>do</strong> bem, gente. Alarme falso.<br />
São ondas de rádio emitidas por Pulsares.<br />
São parecidas com as que que eu emitia.<br />
- Mas, passamos por vários e não<br />
captamos nada, antes.<br />
- Bem, como podem ver, não são<br />
to<strong>do</strong>s que emitem ondas curtas. A maior<br />
parte deles, emite raios gama e são de alta<br />
freqüência.<br />
- Quinze Macrons, senhor. Temos<br />
uma espécie de turbulência...<br />
- Vem <strong>do</strong>s motores, senhor, disse<br />
Seimur, dan<strong>do</strong> varredura geral na nave.<br />
- Residual de matéria escura,<br />
entrou Hamour. Sugiro desaceleração.<br />
Estamos num campo magnético bastante<br />
sutil que nos atrai para aquele sol.<br />
295
- Klemps, avise a frota,<br />
desacelerar em quinze microns. E<br />
acionan<strong>do</strong> o Intercon – Zeuez...<br />
- Pode falar, comandante.<br />
- Prepare os rapazes. Envie uma<br />
patrulha assim que desacelerarmos.<br />
- Já estamos a postos, Tut.<br />
- Iniciar desaceleração, na marca<br />
... oito ... sete ... seis ... cinco ... quatro ...<br />
três ... <strong>do</strong>is ... um ... Agora!<br />
O retrocesso <strong>do</strong>s motores trouxelhes<br />
certo desconforto até estabilizar a<br />
frota por inteiro. Enfim a turbulência cessou<br />
e os visores virtuais deram lugar ao real.<br />
As janelas estavam abertas.<br />
Lá fora, podiam ver os primeiros<br />
raios daquele sol.<br />
- Entramos no sistema Remgis,<br />
senhor – informou, Klemps.<br />
...<br />
- Obriga<strong>do</strong> Zeuez...- Seimur,<br />
coordenadas e curso!<br />
- Em cinqüenta Microns,<br />
passaremos pelo vácuo <strong>do</strong> primeiro<br />
planeta, Contato visual em ... quatro ... três<br />
... <strong>do</strong>is ... um ...<br />
296
À esquerda da panorâmica, um<br />
planetóide de coloração acinzentada,<br />
refletin<strong>do</strong> bem sua camada gelada, surgia,<br />
passan<strong>do</strong> lentamente para a direita.<br />
- Este é o décimo-segun<strong>do</strong> –<br />
corrigiu, Hamour.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, senhor! Agradeceu,<br />
Seimur, desconcerta<strong>do</strong>... Em três microns,<br />
outro planetóide, ainda menor... o décimoprimeiro,<br />
senhor! E a seguir, um gigante...<br />
<strong>do</strong>is... um ...<br />
-Nossa! – admirou-se, Tutkan –<br />
Esse é grande!!<br />
- E são <strong>do</strong>is! – completou,<br />
Belzamir, ao fun<strong>do</strong>.<br />
- Coordenadas e curso,<br />
completa<strong>do</strong>s, senhor.<br />
- Klemps, meia-nau à frente,<br />
informe a frota.<br />
Os planetas passavam<br />
lentamente, flutuan<strong>do</strong> em meio à vastidão.<br />
Surgiu-lhes, então um planeta de<br />
beleza incomum, cerca<strong>do</strong> por anéis<br />
brilhantes e com matizes diversas.<br />
- Incrível!! – comentou, Thorc.<br />
- Previsão de órbita de Kálerus.<br />
Dois tempos e um quarto.<br />
297
- Klemps, passe a informação e<br />
estabeleça marca de aceleração zero, com<br />
orbital fixo, em 15.000 mil centons de<br />
Kálerus.<br />
- Bem, senhores – disse, Hamour –<br />
parece que estamos chegan<strong>do</strong> e se me<br />
dão licença; tenho que arrumar as malas.<br />
- Magnífica idéia!!! – sau<strong>do</strong>u, Zur-<br />
Kwa.<br />
Momentos depois, permanecia na<br />
ponte, Tutkan e o seu pessoal.<br />
Hamour, Thorc, Zur-Kwa e<br />
Belzamir foram diretos para o laboratório,<br />
ansiosos por organizarem suas coisas. Lá<br />
chegan<strong>do</strong>, em meio às tarefas, o Intercon<br />
chamou, Belzamir atendeu e chamou<br />
Hamour.<br />
- Amis quer falar com você.<br />
Hamour largou uma pilha de livros<br />
ao la<strong>do</strong> das mesas e foi atender, em<br />
movimentos quase que desastra<strong>do</strong>s, com o<br />
coração pulsan<strong>do</strong> forte. Thorc e Zur-Kwa<br />
olharam para Belzamir, que sinalizou não<br />
entender tal comportamento.<br />
- Sim, Amis. Pode falar...<br />
- Só liguei para saber como você<br />
está? Achei que você bebeu demais,<br />
ontem! ... e dizer Etkmah!<br />
298
- Ah ... Etkmah, obriga<strong>do</strong>! E você<br />
como está?<br />
- Maravilhada com o que vi, pelo<br />
Telak. Estão to<strong>do</strong>s excita<strong>do</strong>s, por <strong>aqui</strong>. É<br />
um sentimento diferente. Tem um “que” de<br />
... Aftahalp! ...<br />
- Ora , vejo que aprendeu<br />
algumas expressões, <strong>do</strong> meu povo.<br />
Expressa bem o que to<strong>do</strong>s sentimos...<br />
Thorc, Zur-Kwa e Belzamir<br />
continuavam se olhan<strong>do</strong>, agora com<br />
aquele sorriso malicioso, principalmente de<br />
Thorc – Aí tem coisa, Zur-Kwa!<br />
- ... Olha, Hamour, tão logo a frota<br />
pare, preciso ir até a Kosmos, levar um<br />
presentinho para o bebê de Walln.<br />
- Ela...?<br />
- Sim, Vai dar a luz dentro em<br />
breve e quero dar o presentinho antes de<br />
aportarmos em Kálerus. Quero que seja<br />
uma lembrança desse dia, tão especial.<br />
- Que bonito! Por que ... por que<br />
você não passa por <strong>aqui</strong>?<br />
Quan<strong>do</strong> se deu por conta, já havia<br />
dito, surpreenden<strong>do</strong>-se pela ousadia.<br />
- Está bem. Se não for incômo<strong>do</strong>.<br />
Por <strong>aqui</strong> existe uma correria, cada um,<br />
ajeitan<strong>do</strong> suas coisas ...<br />
299
- Por <strong>aqui</strong>, também, mas, se<br />
puder vir, será bem-vinda.<br />
Hamour ao voltar, com um sorriso<br />
estampan<strong>do</strong>-lhe a face, foi atropela<strong>do</strong> por<br />
Thorc.<br />
- Ora vivas! Temos um encontro,<br />
então!!<br />
- Ah, deixe disso, Thorc! É só uma<br />
amiga.<br />
- Amiga, hein! Eu vi, ontem, você<br />
e sua amiga!?!<br />
- Pelo menos, ele se decide! –<br />
disse, Belzamir, olhan<strong>do</strong><br />
significativamente, para Zur-Kwa.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
O processo de desaceleração da<br />
frota iniciara e em pouco estariam em<br />
órbita de Kalerus. Tutkan chamou Zeuez<br />
para comandar a missão exploratória <strong>do</strong><br />
planeta, assim que houvesse a parada<br />
total.<br />
Zeuez convocou Velz, Tameron e<br />
Maxun. Em microns, o hangar de<br />
lançamentos movimentava-se no<br />
300
posicionamento das naves. Cada bate<strong>do</strong>r<br />
em sua pista.<br />
A caminho <strong>do</strong>s módulos móveis,<br />
mais tarde acopla<strong>do</strong>s à carlinga, Zeuez<br />
recordava os velhos tempos em Someron,<br />
quan<strong>do</strong> Fanna decidira partir em busca de<br />
um planeta novo. Ele mesmo considerara<br />
uma epopéia. Algo de ficção, impossível.<br />
Integrara-se ao sonho porque se tivesse<br />
que morrer, queria estar com...<br />
- Comandante!<br />
- Sim, Velz!<br />
- Está tu<strong>do</strong> bem, senhor?<br />
- Ah, sim. Tu<strong>do</strong> bem. Só estava<br />
em Someron. Você lembra quan<strong>do</strong> toda<br />
essa coisa começou?<br />
- Bem, deixa me ver...para mim...<br />
foi quan<strong>do</strong> conheci Zuila. No dia <strong>do</strong> meu<br />
primeiro vôo solo. Eu estava com o senhor<br />
e fomos força<strong>do</strong>s a desviar nossa rota para<br />
o Monte Pakeus.<br />
- É. Foi aí mesmo.<br />
- E em que pensava, senhor?<br />
- Em muitas coisas. Desde a noite<br />
a que se refere, <strong>do</strong> projeto inicial de Fanna<br />
e o sonho gera<strong>do</strong> em nós, avanços<br />
tecnológicos, por tu<strong>do</strong> o que passamos, o<br />
301
acha<strong>do</strong> de Hamour, enfim. E agora<br />
estamos <strong>aqui</strong>...<br />
- O que o senhor acha que vamos<br />
encontrar lá em baixo?<br />
- Espero que a realização <strong>do</strong>s<br />
nossos sonhos, um bom lugar pra morar.<br />
- Assim espero, disse Tameron.<br />
Waln está grávida e queremos um lugar<br />
assim para criar nosso filho.<br />
Alguns passos depois estavam<br />
frente aos seus módulos, onde as equipes<br />
de manutenção já os aguardavam.<br />
Acomodaram-se e esteiras magnéticas os<br />
levaram às suas carlingas.<br />
Do observatório central, as<br />
garotas assistiam as manobras de<br />
taxeamento <strong>do</strong>s rapazes e o lançamento.<br />
Fato incomum, mas, era um dia especial.<br />
O momento era chega<strong>do</strong>. Cada<br />
um partiu levan<strong>do</strong> a lembrança <strong>do</strong>s olhos<br />
delas.<br />
Microns depois, Amis aportava<br />
com seu pai, convida<strong>do</strong> por Fanna, para<br />
302
assistir toda a operação, pelo Telak da<br />
Kosmos.<br />
Pouco depois, os informes com as<br />
análises e observações <strong>do</strong>s pilotos Zag.<br />
- Tem <strong>do</strong>is satélites naturais, que<br />
o mantém na inclinação axial regular em 24<br />
horas. Atmosfera favorável, climas<br />
diferentes em várias regiões. Montanhas e<br />
vales, muita água. Mares, vegetação<br />
variada, espessa e regular.<br />
- Semelhante à que tínhamos no<br />
nosso velho mun<strong>do</strong>, comentou Fanna.<br />
- Rico em minerais ... há vida<br />
animal, nos mares e florestas ... Parece<br />
bom, visto d<strong>aqui</strong> de cima, continuou Zeuez<br />
- E lugar para pousar, Zeuez,?<br />
- Há uma imensa planície dentro<br />
de uma bacia. Parece ser bom. Velz está lá<br />
em baixo, agora. Nos informe, Velz.<br />
- A Vegetação é espessa, mas<br />
existem várias clareiras, bem próximas<br />
umas das outras, ao la<strong>do</strong> leste da bacia...<br />
estou sobrevoan<strong>do</strong> o local. É um bom lugar<br />
para pouso... acho que cabe to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
<strong>aqui</strong>...<br />
- Trace as coordenadas e mandenos<br />
imagens.<br />
303
Velz via.<br />
As imagens confirmavam o que<br />
Sim, era como se estivessem em<br />
casa, nos velhos e bons tempos.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Velz – disse, Tutkan –<br />
aguardem por aí. Zeuez, suba com Maxun<br />
para escoltar o pessoal. Estamos ansiosos<br />
por descer.<br />
Enquanto isso, Hamour amargava<br />
com as piadinhas de Thorc, Zur-Kwa e<br />
Belzamir.<br />
- Até que ela é bem bonitinha! –<br />
disse, Thorc.<br />
- É uma gracinha, mesmo –<br />
respondeu, Zur-Kwa, desdenhosamente.<br />
- Mal posso esperar para comer<br />
um bolo de Pegúnia (uma espécie de<br />
cereja) – atacou, Belzamir.<br />
- ... Com Ramza assada regada a<br />
Milkha bem gelada – acrescentou, Thorc.<br />
- E muito Somir – completou, Zur-<br />
Kwa.<br />
Hamour, quase venci<strong>do</strong> e<br />
entregan<strong>do</strong> seus sentimentos, apanhava<br />
outra pilha de livros e ao passar pela porta<br />
<strong>do</strong> laboratório, esta se abriu, chocan<strong>do</strong>-se<br />
304
a ele e sua carga, espalhan<strong>do</strong>-a pelo chão<br />
emborracha<strong>do</strong>. Isto aconteceu no momento<br />
em que dizia:<br />
- Vocês, seus ... estão apressan<strong>do</strong> as<br />
coisas ... não exist ...<br />
- Oi! Oh, desculpe, Hamour! ...<br />
Ele, de quatro, apanhan<strong>do</strong> os<br />
livros, em movimentos rápi<strong>do</strong>s, olhou para<br />
ela, com um sorriso amarelo.<br />
- Não foi nada ... isso acontece!...<br />
- Você está se sentin<strong>do</strong> bem? –<br />
disse ela ven<strong>do</strong>-o novamente vermelho.<br />
- Estávamos falan<strong>do</strong> de você –<br />
disse, Thorc.<br />
- Em mim, ou “de” mim?<br />
- As duas coisas, querida – disse,<br />
Belzamir, matreiramente.<br />
- Ora ... – entrou, Hamour – não<br />
ouça o que eles estão falan<strong>do</strong> ... só sai ...<br />
- Besteiras, da boca deles –<br />
completou, Amis, em auxílio à procura<br />
de palavras, de Hamour.<br />
- Sim, é isto ... – disse,ele<br />
levantan<strong>do</strong>-se com alguns livros.<br />
- Tu<strong>do</strong> bem, Hamour ... acho que<br />
estou interrompen<strong>do</strong> sua lida. Eu volto<br />
mais tarde.<br />
- Bem, eu ...<br />
305
- Ora, o que é isso?! – entrou,<br />
Thorc- Não precisamos mais de você,<br />
Hamour . Se quiser, pode ir conversar<br />
com Amis...<br />
- Por que vocês não aproveitam a<br />
cúpula da Kosmos, para...<br />
- “Conversar”. Lá é mais tranqüilo <strong>do</strong> que<br />
<strong>aqui</strong> - Belzamir completou a frase de<br />
Zur-Kwa.<br />
Amis apanhou os livros das mãos<br />
de Hamour e puxou-o para fora da sala.<br />
- Vamos, Hamour. Deixe esses<br />
três goza<strong>do</strong>res de la<strong>do</strong>. Vamos para a<br />
cúpula. Lá é mais tranqüilo, mesmo.<br />
No que a porta foi fechada, Zur-<br />
Kwa comentou:<br />
- Mocinha decidida, ela, hein,<br />
Thorc?<br />
-Tem gente que precisa aprender<br />
com ela – disse, Belzamir, em franco<br />
deboche à Zur-Kwa, que baixou a<br />
cabeça e tratou de apanhar os livros<br />
deixa<strong>do</strong>s por Hamour.<br />
Pelos corre<strong>do</strong>res da grande nave,<br />
a excitação e agitação eram fora <strong>do</strong><br />
comum.<br />
306
- Vocês já arrumaram suas<br />
coisas? – perguntou uma jovem de<br />
passagem por Amis e Hamour.<br />
- Já – foi o que Amis respondeu.<br />
Na ponte, Fanna acompanhava,<br />
com Tutkan e Ambhórius, os relatórios<br />
emiti<strong>do</strong>s pelos sensores de Velz,<br />
comparan<strong>do</strong>-os com os obti<strong>do</strong>s pelo<br />
Cristalton de Hamour.<br />
- Há vida animal e uma espécie<br />
pre<strong>do</strong>minante. São seres de<br />
pouquíssima inteligência, para não<br />
dizer nenhuma – comentava, Fanna –<br />
Bastante primitivos. A gente de Hamour<br />
os denominou de humanóides. São<br />
frugívaros, andam em ban<strong>do</strong>s e são<br />
antropófagos. Comem os guerreiros<br />
perde<strong>do</strong>res de suas batalhas.<br />
- Deve ser um planeta novo –<br />
disse, Ambhórius.<br />
- Tem cerca de quatro bilhões de<br />
anos e em pleno desenvolvimento de<br />
suas espécies – completou, Fanna.<br />
- - Comandante Zeuez, pedin<strong>do</strong><br />
reentrada, senhor.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Klemps. Cumpra o<br />
procedimento.<br />
307
Realmente, a cúpula da Kosmos,<br />
estava vazia e dali podiam ver os<br />
contornos de Kálerus em azul escuro,<br />
mancha<strong>do</strong> por espirais brancos.<br />
- Bonito, não? – disse, ela,<br />
contemplan<strong>do</strong> o novo mun<strong>do</strong> com suas<br />
duas minúsculas luas.<br />
- Sim, muito – disse ele, com voz<br />
truncada, rouca – Tem a cor de seus<br />
olhos...<br />
Ela virou-se para ele, fitan<strong>do</strong>-o<br />
profundamente, como que, se quisesse<br />
ver o fun<strong>do</strong> de sua mente e ler seus<br />
pensamentos. Assim, encontrou os<br />
olhos dele.<br />
- Por que me olha, assim? – ela<br />
perguntou, após um breve silêncio.<br />
- Porque me agrada, muito, o que<br />
vejo!!<br />
- E o que você vê?<br />
- Um ser de beleza <strong>do</strong>ce...<br />
Ela, provocantemente, chegou<br />
mais perto, com o olhar preso ao dele.<br />
- Só isso?<br />
- Não ... também o meu amor.<br />
Ele a tomou para si, beijan<strong>do</strong>-a<br />
suavemente na testa e após, suas<br />
308
ocas se encontraram frente a frente,<br />
excitantes, ao selo. Ela tomou a<br />
iniciativa e ... o beijo foi longo e<br />
apaixona<strong>do</strong>. Seus corpos tremiam e<br />
ardiam entre carícias. Subitamente ele<br />
a afastou de si.<br />
- O que estamos fazen<strong>do</strong>, Amis?<br />
O que “eu” estou fazen<strong>do</strong>?<br />
- Hamour... – ela não sabia o que<br />
dizer.<br />
- Amis, eu .. eu .. acho que não<br />
devemos...<br />
- Devemos, sim, meu amor...<br />
- Não sei se o teu povo<br />
aprovaria...<br />
- Thorc, Zur-Kwa e Belzamir,<br />
parece que já aprovaram – disse, ela,<br />
com um sorriso especial -, e as<br />
meninas também...<br />
- Que meninas?<br />
- Zuila, Zart e Walln ...<br />
- Mas ... como?... – ele estava<br />
desconcerta<strong>do</strong>.<br />
- Eu contei para elas, hoje pela<br />
manhã, quan<strong>do</strong> cheguei...<br />
- Então... ?... você...?<br />
Ela concor<strong>do</strong>u com a cabeça,<br />
beijan<strong>do</strong>-o levemente nos lábios.<br />
309
Sentaram-se no grande sofá<br />
circular e continuaram o beijo.<br />
Então os falantes trouxeram a voz<br />
de Erus Fanna, carregada de emoção.<br />
- “Meu povo! Chegamos ao nosso<br />
tão sonha<strong>do</strong> destino. Com a ajuda de<br />
Deus, nos estabeleceremos neste novo<br />
mun<strong>do</strong> e criaremos nossos filhos, e os<br />
ensinaremos a paz, o companheirismo<br />
solidário. Semearemos amor e o<br />
incentivo fomenta<strong>do</strong>r da criatividade, da<br />
ordem e da ética, para que sejamos um<br />
povo justo e misericordioso. Contu<strong>do</strong>,<br />
firmes em nossa personalidade e<br />
caráter, E então seremos fortes. Mais<br />
fortes <strong>do</strong> que jamais fomos. Portanto,<br />
lembrem-se de tu<strong>do</strong> por que passamos<br />
e agradeçam a Deus por esta nova<br />
oportunidade, que, sua infinita<br />
bondade, hora nos enseja ...”<br />
- Amis, meu amor – disse, Hamour<br />
levantan<strong>do</strong>-se – Acho que Erus precisa<br />
de mim... você já arrumou suas coisas?<br />
- Sim, queri<strong>do</strong>, a única coisa que<br />
faltava, era você, e agora, não falta mais –<br />
disse, ela levantan<strong>do</strong>-se e oferecen<strong>do</strong> seus<br />
lábios, pelo que Hamour os aceitou em<br />
novo e apaixona<strong>do</strong> beijo.<br />
310
- Agora, precisamos ir – disse, ele.<br />
- Sim, queri<strong>do</strong>... como se diz; até<br />
mais tarde, em sua língua?<br />
- Sion-Hámara!<br />
- Então, Sion-Hámara, queri<strong>do</strong>!<br />
- Sion-Hámara, meu amor!<br />
Em três dias e três noites, as<br />
naves menores desceram à superfície<br />
da planície cercada de montanhas,<br />
bosques e lagos.<br />
Ao pousar, seus corações batiam<br />
forte. Ao pisar no solo, ajoelharam-se e<br />
o beijaram com carinho e lágrimas.<br />
Para muitos, era a primeira vez<br />
que respiravam ar livre. Tu<strong>do</strong> era<br />
diferente e lin<strong>do</strong>.<br />
Os dias e noites se seguiram em<br />
muito trabalho, nas novas<br />
acomodações.<br />
Barracas atreladas às pequenas<br />
naves, instalações sanitárias, dutos<br />
condutores de água colhida em<br />
vertentes, etc... Embora o desconforto<br />
311
fosse grande, ninguém queria ficar nem<br />
mais um mícron no espaço.<br />
Ambhórius, imediatamente após<br />
se acomodar, iniciou, junto aos seus, o<br />
plantio, com ferramentas improvisadas.<br />
Simultaneamente, com Hamour –<br />
sempre por perto – os estu<strong>do</strong>s sobre<br />
estações e sua climatização, a<br />
fertilização espontânea <strong>do</strong> solo e seus<br />
efeitos com as mudas e sementes<br />
trazidas.<br />
A Kosmos permaneceu em órbita<br />
fixa ao ponto onde estavam, com os<br />
March-1, no patrulhamento e ronda,<br />
tanto no planeta, como no sistema<br />
inteiro.<br />
Havia muito que fazer e<br />
conscientes disso, formaram<br />
comissões de ação, agin<strong>do</strong>, desde a<br />
construção de suas moradias, até às<br />
forjas e prensas que reconstituiriam a<br />
nave de Hamour. Mais tarde, o<br />
“asteróide” foi trazi<strong>do</strong>.<br />
312
As prioridades foram observadas.<br />
Em quatro perío<strong>do</strong>s (meses), foi<br />
ergui<strong>do</strong> um pequeno hospital e oitenta<br />
e três escolas; to<strong>do</strong> um sistema de<br />
saneamento, adequa<strong>do</strong> à nova<br />
realidade e quase todas as moradias,<br />
além, das primeiras colheitas.<br />
Trabalhavam rápi<strong>do</strong>. Thorc, Zur-<br />
Kwa e Hamour, transformaram alguns<br />
daqueles veículos espaciais, em<br />
verdadeiros tratores, semea<strong>do</strong>ras e<br />
colheitadeiras. Um motor RAN, já há<br />
muito desativa<strong>do</strong>, foi remonta<strong>do</strong> e<br />
adapta<strong>do</strong> em torres capta<strong>do</strong>ras de<br />
energia para o fornecimento de<br />
eletricidade. Fontes energéticas para<br />
as várias aldeias já formadas.<br />
As noites tinham um aspecto<br />
romântico, favoreci<strong>do</strong> pelas duas<br />
pequenas luas, mas muito brilhantes<br />
num céu estrela<strong>do</strong>.<br />
Então, nasceu o primeiro<br />
Kalerusiano.<br />
313
Capitulo VI<br />
Os nativos de Kálerus<br />
espreitavam àquela movimentação,<br />
curiosos e temerosos, em seus<br />
esconderijos naturais – florestas e cavernas<br />
– nas regiões rochosas, e montanhas. Eram<br />
criaturas primitivas, peludas, que não<br />
falavam, grunhiam. Eram nômades e<br />
viviam em grupos, e, cada grupo com seu<br />
líder. Cada macho possuía quantas fêmeas<br />
pudesse defender, entretanto, indiferente<br />
quanto ao líder. Este possuía a todas, mas<br />
não tinha suas próprias, e permanecia<br />
assim até que algum pretendente ao trono<br />
o derrotasse. Toda a primavera, esta luta<br />
de morte acontecia e o derrota<strong>do</strong> era<br />
devora<strong>do</strong> pela pequena comunidade. Sua<br />
alimentação, além de frutas e folhas, se<br />
constituía de pequenos outros animais,<br />
principalmente no inverno, sen<strong>do</strong><br />
caça<strong>do</strong>res, os machos. Estes comiam<br />
primeiro, depois, a vez <strong>do</strong>s filhotes e por<br />
último as fêmeas que brigavam entre si,<br />
pelas sobras. Mas a caça era abundante e<br />
314
aramente elas ficavam sem ter o que<br />
comer.<br />
Eram comuns as batalhas entre<br />
os pequenos grupos. Os venci<strong>do</strong>s eram<br />
também comi<strong>do</strong>s, inclusive os<br />
sobreviventes. Aqueles que conseguiam<br />
fugir escondiam-se em árvores, tocas,<br />
cavernas ou qualquer outro lugar que lhes<br />
oferecesse segurança, até que fossem<br />
descobertos. Então eram devora<strong>do</strong>s por<br />
outros animais, ou seus próprios<br />
semelhantes. Não eram aceitos em outros<br />
grupos. Pelo menos, não, os machos.<br />
A chegada de outros seres<br />
mu<strong>do</strong>u um pouco as coisas por lá,<br />
aproximan<strong>do</strong> alguns grupos entre si.<br />
Talvez isto salvasse um ou outro refugia<strong>do</strong>.<br />
Era interessante, curioso, olhar para<br />
aquelas luzes estranhas, à noite e durante<br />
o dia, aquelas coisas que andavam pelo<br />
solo, com criaturas dentro. Outras que<br />
voavam como pássaros, muito luminosas e<br />
o mais interessante, coisas que possuíam<br />
longos braços, levantan<strong>do</strong> outras e rugiam<br />
fortemente. Quan<strong>do</strong> passavam por perto, o<br />
chão tremia e parecia um trovão, fazen<strong>do</strong>-<br />
315
os acomodarem-se nas cavernas à espera<br />
da chuva. Tu<strong>do</strong> era por demais estranho.<br />
Não podiam compreender o que era.<br />
Apenas sentiam me<strong>do</strong>.<br />
Os visitantes mantinham-se<br />
ocupa<strong>do</strong>s em suas realizações. A primeira<br />
colônia a se organizar, teve seu nome<br />
inspira<strong>do</strong> na antiga Mirviam, depois se<br />
seguiram Vlaupora, Pakeus e Krópitus, o<br />
que os deixava à vontade. Era como se<br />
estivessem no velho e sau<strong>do</strong>so Someron.<br />
Situavam-se a pouca distância entre elas,<br />
em regiões escolhidas por seus<br />
representantes, também chama<strong>do</strong>s de<br />
governa<strong>do</strong>res.<br />
Fora uma separação bastante<br />
discutida, pois a princípio, tencionavam<br />
viver to<strong>do</strong>s juntos numa só cidade.<br />
Fanna os convencera de que<br />
separa<strong>do</strong>s seria melhor. Isto traria um<br />
aspecto comunitário saudável, quanto às<br />
centralizações e polarizações, <strong>do</strong> ponto de<br />
vista, independente. Como antes, o<br />
crescimento e desenvolvimento,<br />
independente de cada cidade, criaria uma<br />
316
espécie de competição saudável, para que<br />
pudessem se orgulhar <strong>do</strong> que criavam e<br />
construíam.<br />
Assim, poderiam se visitar e ter<br />
realmente o que falar.<br />
Tal como Fanna previra, cada<br />
cidade esmerava-se em suas avenidas<br />
largas, nos “designers” de suas praças e<br />
casas, tu<strong>do</strong> já previamente sonha<strong>do</strong><br />
enquanto viajavam pelo espaço.<br />
O inverno chegava com sua cor<br />
branca e temperatura muito baixa,<br />
manten<strong>do</strong> os Somerianos, mais<br />
aconchega<strong>do</strong>s em suas moradias, onde as<br />
visitas eram comuns e motivos de grande<br />
orgulho por parte <strong>do</strong> anfitrião. As noites<br />
tornavam-se calorosas e de alegre<br />
convívio.<br />
Para os mais jovens e solteiros,<br />
fora cria<strong>do</strong>, em cada cidade, Centros de<br />
Integração, bastante semelhantes aos<br />
antigos Cassinos. Velz e Maxun eram<br />
assíduos freqüenta<strong>do</strong>res, em suas folgas,<br />
naturalmente por causa de Zuila e Zart, em<br />
317
Mirvian. Hamour e Amis, às vezes<br />
apareciam, e seu namoro, era de fato<br />
consuma<strong>do</strong> e aceito por to<strong>do</strong>s.<br />
Numa destas noites, em que<br />
haviam combina<strong>do</strong> de se encontrarem lá, a<br />
ausência de Hamour e Amis foi bastante<br />
comentada e sentida. Entretanto, Amis<br />
havia decidi<strong>do</strong> ser aquela noite especial.<br />
Hamour foi convida<strong>do</strong> a cear em sua casa<br />
e participar a Ambhórius, que lhe havia<br />
pedi<strong>do</strong> em casamento. Certamente,<br />
Ambhórius sabia de seu namoro, sem que,<br />
até então nada lhe haviam revela<strong>do</strong>. Mas,<br />
era notório e não era justo manter essa<br />
relação sem sua aprovação por mais<br />
tempo.<br />
A casa de Ambhórius, apesar de<br />
não concluída, era grande e aconchegante,<br />
com várias salas separadas por cortinas e<br />
folhagens locais, e, algumas trazidas de<br />
Someron. Era uma casa construída com<br />
pedras e forradas com madeira das<br />
florestas locais. Na sala principal, um sofá<br />
enorme, alaranja<strong>do</strong>, com muitas almofadas<br />
e outros três, espalha<strong>do</strong>s em volta de uma<br />
mesa transparente; com bujigangas<br />
318
espalhadas por cima; acolhia Hamour e<br />
Ambhórius.<br />
Os <strong>do</strong>is tiveram vários assuntos,<br />
enquanto Amis preparava o jantar. Falaram<br />
sobre fertilizantes, plantio e colheita,<br />
costumes de Goran e Someron, etc. e lá<br />
pelas tantas, passaram para a sala de<br />
jantar, ao chama<strong>do</strong> de Amis. Ela, por trás<br />
<strong>do</strong> pai, sinalizou a Hamour, discretamente,<br />
como quem diz: E daí? Já falou? Ele<br />
respondeu também em gesto discreto,<br />
menean<strong>do</strong> a cabeça, que não.<br />
Sentaram-se à mesa posta e<br />
Amis começou por servir os pratos,<br />
arrancan<strong>do</strong> elogios <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is. Ela lhes<br />
respondia, que não era tanto assim, suas<br />
fomes é que tornava a comida mais<br />
deliciosa. Durante alguns tempo, Hamour<br />
expunha suas idéias de construir uma<br />
pirâmide como casa, ao passo que Amis o<br />
olhava numa espécie de censura, por não<br />
entrar diretamente no assunto principal. De<br />
certa maneira, Hamour se divertia com<br />
<strong>aqui</strong>lo. Amis ficava linda quan<strong>do</strong> arqueava<br />
suas sobrancelhas e no fun<strong>do</strong>, não tinha<br />
coragem ou não sabia como iniciar a<br />
319
conversa. Então, ela mesma decidiu e<br />
entrou rachan<strong>do</strong>.<br />
- Papai, Hamour e eu,<br />
gostaríamos de aproveitar essa ceia, para<br />
que você abençoasse a nossa união.<br />
Ambhórius se engasgou com o<br />
ensopa<strong>do</strong> e teve um acesso de tosse.<br />
Hamour não sabia, exatamente, como agir<br />
naquelas circunstâncias e corou a face e<br />
as orelhas.<br />
Quan<strong>do</strong> Ambhórius parou de<br />
tossir. Ainda com a toalheta nas mãos e à<br />
boca, começou a rir, deixan<strong>do</strong>, tanto Amis,<br />
quanto Hamour, perplexos.<br />
- Desculpe Hamour. Nada com<br />
você... é que Amis arruma cada momento<br />
para falar em coisas... você sabe –<br />
gesticulava, ele, tentan<strong>do</strong> enrolar o ar.<br />
Ela continuou na carga.<br />
- Ora, eu acho esse momento tão<br />
bom, quanto qualquer outro... e sei o<br />
quanto você aprecia momentos como esse,<br />
entre família...<br />
- Sossegue filha. Vamos deixar<br />
Hamour falar um pouco. Por enquanto só<br />
você quer e fala...<br />
320
Hamour, diante da situação,<br />
continuava vermelho, to<strong>do</strong> embaraça<strong>do</strong>,<br />
sem saber se ria ou saia corren<strong>do</strong> dali.<br />
Respirou fun<strong>do</strong> e falou:<br />
- Ambhórius, é muito difícil, para<br />
mim, expressar os meus sentimentos...<br />
- Pare aí, mesmo, meu rapaz.<br />
Você gosta ou não gosta de minha filha?<br />
- Naturalmente...<br />
- E então?<br />
- Bem, nesse caso... gostaria que<br />
você abençoasse nossa união.<br />
- Muito bem, agora já ouvi os<br />
<strong>do</strong>is...<br />
E fez uma pausa, crian<strong>do</strong><br />
suspense.<br />
-... Agora, me ouçam. Não quero<br />
jogar água fria em nossas emoções, mas<br />
vocês já pensaram nas conseqüências<br />
desse enlace?<br />
- Você quer saber se somos<br />
compatíveis para a procriação?<br />
- Sim, Hamour, não sabia muito<br />
bem, como me expressar a respeito. Você<br />
deve saber que este é um assunto delica<strong>do</strong><br />
e que nos envolve a to<strong>do</strong>s!<br />
321
- Bem, segun<strong>do</strong> o Dr.Grohalv, não<br />
há problemas. Você poderá ter netos fortes<br />
e sadios. Perfeitamente normais.<br />
- Pois muito bem. Você tem a<br />
minha benção e que Deus ilumine e<br />
consagre esta união...<br />
- Muito obrigada, papai – disse<br />
Amis pulan<strong>do</strong> euforicamente de sua<br />
cadeira em direção <strong>do</strong> pai, beijan<strong>do</strong>-lhe a<br />
face, num enorme estalo.<br />
Ambhórius, por sua vez, recebia o<br />
agradecimento de sua filha, ostentan<strong>do</strong> no<br />
semblante certo orgulho.<br />
Amis refletia pura felicidade em<br />
to<strong>do</strong> seu ser, assim como Hamour.<br />
- Isto merece um brinde – disse<br />
Ambhórius.<br />
Longe dali, devi<strong>do</strong> à aglomeração<br />
das criaturas locais, sabe-se lá por que,<br />
uma tremenda e violenta luta, se<br />
desencadeou, fazen<strong>do</strong> muitas mortes entre<br />
eles. Aqueles que continuaram no local,<br />
tinham alimentação garantida para to<strong>do</strong> o<br />
inverno. No entanto, havia um macho e<br />
uma fêmea, vivos entre os cadáveres e<br />
pedaços espalha<strong>do</strong>s. Eles,<br />
milagrosamente, foram deixa<strong>do</strong>s para trás,<br />
322
feri<strong>do</strong>s e quase mortos de tantas pauladas<br />
e pedradas. Ali permaneceram imóveis até<br />
que, por acaso, foram encontra<strong>do</strong>s por<br />
Zeuez. Este, com muito cuida<strong>do</strong> os colocou<br />
no transporte e os levou para o laboratório<br />
de Zur-Kwa, em Mirvian.<br />
Ao chegar, foi recebi<strong>do</strong> por<br />
Belzamir.<br />
- Zeuez, que bom vê-lo!<br />
- Da mesma forma, Belzamir, e<br />
como está Zur-Kwa?<br />
- Continua o mesmo – Disse, ela,<br />
sorrin<strong>do</strong> e conduzin<strong>do</strong>-o para dentro. – No<br />
momento, ministran<strong>do</strong> uma palestra sobre<br />
desenvolvimento genético das espécies.<br />
- É mesmo? Não sabia que ele<br />
<strong>do</strong>minava essa matéria!<br />
- É a sua nova “<strong>do</strong>r de cabeça”.<br />
Dele e <strong>do</strong> Dr.Grohalv.<br />
- Bem, então, acho que cheguei na<br />
hora certa – disse Zeuez, ainda para<strong>do</strong> à<br />
porta – trouxe-lhes um presentinho.<br />
- É mesmo? E o que é?<br />
- Veja por si mesma.<br />
Ela o acompanhou até o<br />
transporte.<br />
- Encontrei-os desse jeito...<br />
323
- Coitadinhos – con<strong>do</strong>eu-se, ela,<br />
num rápi<strong>do</strong> exame – estão tão<br />
machuca<strong>do</strong>s... e quase congela<strong>do</strong>s...<br />
- Deve ter havi<strong>do</strong> luta. Havia<br />
outros mortos e muitos despedaça<strong>do</strong>s... Só<br />
estes <strong>do</strong>is estavam vivos...<br />
Belzamir chamou ajuda e pouco<br />
depois estavam no ambulatório,<br />
imobiliza<strong>do</strong>s em suas macas.<br />
O acha<strong>do</strong> quebrou-lhes a rotina,<br />
principalmente para o corpo científico que<br />
a muito custo, conseguiu salvar a vida<br />
daquelas duas criaturas.<br />
Os exames revelavam coisas<br />
interessantes <strong>do</strong> ponto de vista genéticoevolutivo.<br />
Pertenciam à raça símia, com<br />
cérebro bastante evoluí<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> até<br />
mesmo pensar. Seus instintos eram<br />
aguça<strong>do</strong>s, mas não podiam articular<br />
palavras, contu<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de memória.<br />
Os testes de sangue e de líqui<strong>do</strong> retira<strong>do</strong><br />
da espinha <strong>do</strong>rsal, soma<strong>do</strong>s aos Lazers-<br />
Encéfalo trouxeram-lhes uma conclusão<br />
espantosa.<br />
324
- Não sei como – disse Zur-Kwa –<br />
mas, estes animais são idênticos aos que<br />
os nossos ancestrais diziam ser, o começo<br />
de nossa própria espécie.<br />
Foram batiza<strong>do</strong>s de Bô e Gá.<br />
A bateria de exames continuava<br />
e, Bô e Gá, já manifestavam horror, em<br />
seus pequenos olhos pretos. Toda vez que<br />
alguém de roupas brancas e compridas<br />
aparecia, gritavam, corriam e buscavam<br />
refúgio sob lençóis ou qualquer coisa que<br />
achavam. Sabiam que sentiriam <strong>do</strong>r.<br />
- Acho que deveríamos dar uma<br />
folga a eles – comentou Belzamir, para Zur-<br />
Kwa – Temos bastante elementos para<br />
estu<strong>do</strong>s... e, veja, nos seus olhinhos...<br />
tristes... Eles querem carinho! ...<br />
- Agh, Belzamir, são apenas<br />
animais!<br />
- Mas os animais também<br />
gostam de carinho... veja – disse, ela,<br />
acarician<strong>do</strong> a cabeça de Gá, e com isso,<br />
Bô juntou-se a ela, expon<strong>do</strong> sua cabeça,<br />
pedin<strong>do</strong> um afago também.<br />
325
Zur-Kwa chegou mais perto e<br />
com isso, Bô saltou para longe, mostran<strong>do</strong><br />
os dentes ameaça<strong>do</strong>res.<br />
- Viu só, Zur-Kwa? Você significa<br />
<strong>do</strong>r, para ele. Você terá que conquistar sua<br />
amizade e confiança...<br />
- Pode ser que eu vá perder o<br />
meu tempo e... bajular esses macacos!<br />
- Você estará ganhan<strong>do</strong> tempo<br />
se for amigo deles.<br />
- Pois vou lhe dizer uma coisa.<br />
Já estou farto <strong>do</strong> cheiro deles, e tu<strong>do</strong> o<br />
mais deles. Já sabemos o necessário<br />
sobre eles e no meu ver, deveriam estar<br />
junto aos seus. Lá seriam mais “felizes”<br />
você não acha?<br />
Naquela mesma tarde, Bô e Gá<br />
foram entregues à sua própria sorte, nas<br />
matas perto dali.<br />
Estranhamente, na manhã<br />
seguinte, estavam de volta e faziam muitos<br />
sinais e grunhi<strong>do</strong>s histéricos. Tão logo<br />
Belzamir abriu a porta <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
laboratório, eles entraram dan<strong>do</strong><br />
cambalhotas e demonstran<strong>do</strong> certo<br />
contentamento. Belzamir, que os havia<br />
trata<strong>do</strong> anteriormente, tratou de estudar<br />
326
aqueles sinais. Zur-Kwa curioso,<br />
perguntou-lhe?<br />
- O que eles estão dizen<strong>do</strong>? – sua<br />
voz era desdenhosa.<br />
- Acho que é mais-ou-menos:<br />
“Não queremos ficar lá. Seremos mortos e<br />
devora<strong>do</strong>s pelos outros. Gostamos mais<br />
d<strong>aqui</strong>...”.<br />
Ao dizer isto, Belzamir e Zur-Kwa<br />
se surpreenderam com a reação de Bô,<br />
que saltou no colo de Belzamir, agarran<strong>do</strong>se<br />
a ela como se num abraço afetuoso.<br />
- Acho que é isso mesmo,<br />
Belzamir. Eles querem ficar <strong>aqui</strong>!! E já que<br />
é assim, vamos estudar seus<br />
comportamentos.<br />
Um alojamento especial foi<br />
providencia<strong>do</strong>, com câmaras e microfones,<br />
onde Bô e Gá foram morar.<br />
Naquela noite, após um dia de<br />
muito trabalho, Zur-Kwa demorou bastante<br />
para conciliar o sono. Estava ten<strong>do</strong> outra<br />
“<strong>do</strong>r-de-cabeça”, e, desta vez das grandes.<br />
Pulou de sua cama antes <strong>do</strong><br />
amanhecer, rebuscou alguns rabiscos<br />
feitos antes de <strong>do</strong>rmir, acrescentou-lhes<br />
327
novos da<strong>do</strong>s e fórmulas. Estas fórmulas<br />
haviam si<strong>do</strong> amplamente discutidas e<br />
estudadas com o Dr.Grohalv. Ah, o<br />
Dr.Grohalv – pensou em voz alta ao passálas<br />
para as anotações – Que falta ele me<br />
faz agora. Bem que o hospital podia ter<br />
si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> e não em<br />
Krópitus!!Mas ainda tenho Belzamir... e por<br />
falar nisso... – Ele, largou suas anotações e<br />
tratou de armar o cenário.<br />
Era obvio que ela iria se opor<br />
àquela idéia, como pessoa comum, mas<br />
como cientista e ótima pesquisa<strong>do</strong>ra, a<br />
curiosidade e o espírito científico,<br />
prevaleceriam. Então, decidi<strong>do</strong>, apanhou o<br />
Intercon e a chamou.<br />
Em movimentos rápi<strong>do</strong>s,<br />
organizou a bagunça em cima das mesas –<br />
normalmente ela brigava muito com ele,<br />
quanto à desordem e isto acontecia to<strong>do</strong>s<br />
os dias-. Desta vez não queria desvios<br />
desnecessários. Vestiu um jaleco limpo.<br />
A campainha soou – Deve ser<br />
ela, pensou – e deu uma última olhada em<br />
328
sua volta. Sorriu consigo mesmo. O<br />
laboratório estava um brinco.<br />
A campainha soou novamente.<br />
- Já vou, já vou...<br />
Ele abriu a porta,<br />
apressadamente. Lá fora, caía uma chuva<br />
fina e gelada, mais parecen<strong>do</strong> flocos<br />
miú<strong>do</strong>s de neve.<br />
- Nossa que frio... por que<br />
demorou, Zur-Kwa?<br />
- Quase não <strong>do</strong>rmi, esta noite...<br />
pensan<strong>do</strong>. Acho que pensei a noite toda.<br />
- Mas isto não é novidade.<br />
As palavras eram sarcásticas.<br />
Normalmente iniciariam uma conversa não<br />
muito amistosa. Mas desta vez, não<br />
importava. Tu<strong>do</strong> teria que sair certo,<br />
conforme havia planeja<strong>do</strong>.<br />
- Venha, sente-se <strong>aqui</strong> –<br />
apontan<strong>do</strong> para o grande divã da ante-sala<br />
– Já estou trabalhan<strong>do</strong> numa idéia...<br />
- Mas, você disse que passou a<br />
noite inteira pensan<strong>do</strong>...<br />
- Sim, sim, deixe-me explicar.<br />
Ainda estou trabalhan<strong>do</strong> nela, mas por<br />
enquanto, apenas com a cabeça. Nada<br />
efetivo, ainda.<br />
- Fala logo, Zur-Kwa!<br />
329
- Belzamir – fez uma cara de<br />
suspense.<br />
- Esta idéia é a mais<br />
revolucionária, inova<strong>do</strong>ra, nos meios<br />
científicos. Acho que sei como ajudar Bô e<br />
Gá, e os seus, se desenvolverem como<br />
raça inteligente, isto é, se meus cálculos<br />
estiverem certos.<br />
- Isto seria, sem dúvida, um<br />
grande passo... continue, acho que vou<br />
gostar <strong>do</strong> que vou ouvir!<br />
Estas eram as palavras que ele<br />
queria ouvir.<br />
- Vou deixar que você mesma,<br />
analise... pegue, olhe com atenção estes<br />
apontamentos. Os fiz esta noite!<br />
Ela concentrou-se naqueles<br />
rabiscos. A cada linha, suas sobrancelhas<br />
arqueavam mais e mais. Seus olhos<br />
percorriam àqueles trechos, incrédulos,<br />
fascina<strong>do</strong>s.<br />
- Mas isto é impossível... é<br />
loucura. Maravilhoso, mas... loucura!!!<br />
Impossível... não dará certo. Eles possuem<br />
um par de cromossomos a menos... não<br />
podemos criar monstros... não podemos,<br />
não são compatíveis...<br />
330
Podemos, sim. Podemos<br />
emprestar o par que lhes falta, com isso..<br />
- E o que é isso?<br />
- Reconstituí um pouco daquela<br />
fórmula líquida que reidratou e reviveu<br />
Hamour.<br />
- Mas quan<strong>do</strong> você fez isso?<br />
- Já faz algum tempo. O<br />
Dr.Grohalv e eu fazíamos um estu<strong>do</strong> sobre<br />
os elementos nela conti<strong>do</strong>s... é uma velha<br />
e longa história...<br />
- E onde esta fórmula entra?<br />
- Bem, na verdade boa parte de<br />
sua composição é hormonal, uma espécie<br />
de placenta e quan<strong>do</strong> Grohalv e eu<br />
estudávamos; o que ele chama de<br />
“Clonismo”; descobrimos que ela poderia<br />
simular cromossomos... é muito<br />
complica<strong>do</strong>...<br />
- Eu sei. Eu mesma participei de<br />
algumas experiências quan<strong>do</strong> Samira,<br />
mulher de Seimur não engravidava...<br />
- Exatamente, inoculamos um<br />
pouco desta fórmula nos genes, em seus<br />
óvulos e logo ela engravi<strong>do</strong>u. Era uma<br />
combinação de...<br />
- Está bem, Zur-Kwa, não se<br />
perca. Vá direto ao assunto.<br />
331
- Então, veja, não há<br />
possibilidade de erro. Pelo menos não<br />
teoricamente. Só temos que experimentar.<br />
O pequeno grande maluco tinha<br />
sempre algo escondi<strong>do</strong> na manga. Quan<strong>do</strong><br />
falava em algo, certamente já havia<br />
pensa<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong>. Em microns, ela<br />
repassou tu<strong>do</strong> de novo, mas agora, com<br />
aquela expressão de fascínio, como Zur-<br />
Kwa queria.<br />
- Está ven<strong>do</strong>? Não podemos errar.<br />
Está tu<strong>do</strong> aí.<br />
- Fanna já sabe deste projeto?<br />
- Não. É claro que não. Ele anda<br />
muito ocupa<strong>do</strong> no seu próprio projeto de<br />
construir a nova capital, Atlantis, e<br />
preten<strong>do</strong> lhe fazer uma surpresa.<br />
- Ele pode não gostar, você sabe.<br />
- Talvez, mas acho que a<br />
experiência em si, vale o risco. Pense o<br />
que isto representará para o corpo<br />
científico!! E para Fanna, ele não está<br />
sempre reclaman<strong>do</strong> a falta de mão de<br />
obra?<br />
- Mas afinal, você pretende inovar<br />
no campo científico, ou pretende criar uma<br />
raça de escravos?<br />
332
- Ora, Belzamir, você me<br />
conhece. A minha visão é puramente<br />
científica!<br />
A excitação de Zur-Kwa era<br />
contagiante.<br />
Ela parecia indecisa.<br />
- Sabe Zur-Kwa, como cientista<br />
digo sim, mas como pessoa, digo não.<br />
- Mas você, como pessoa, não<br />
gostaria de estar aliada num projeto<br />
destes? Um projeto de altíssimo nível que<br />
certamente colaborará no avanço e<br />
aperfeiçoamento das raças?<br />
Ela pensava e ele continuou:<br />
- Na semana passada, você<br />
mesma disse para os seus alunos em<br />
Mirvian; suas palavras: Devemos estar<br />
prontos, de mentes abertas, para facilitar o<br />
desenvolvimento e o crescimento das<br />
raças, etc. e etc., lembra-se?<br />
- Sim, estou lembrada, mas isto é<br />
diferente. Trata-se de “criar” uma nova<br />
raça...<br />
- Eu não vejo por estes olhos.<br />
Vejo como facilitar o desenvolvimento<br />
desta raça. Especificamente, desta raça.<br />
Provavelmente terão que continuar assim<br />
por mais de um bilhão de anos e “nós”...<br />
333
veja, eu disse “nós”, podemos abreviar isto!<br />
... Você e eu, nós, entende?<br />
- No caso de eu concordar; o que<br />
eu ainda preciso pensar; quem seriam os<br />
<strong>do</strong>a<strong>do</strong>res <strong>do</strong> semem?<br />
- Nós.<br />
- Nós?<br />
- Sim. Você e eu.<br />
- Zur-Kwa, você não pode estar<br />
falan<strong>do</strong> sério...<br />
- Nunca falei tão sério em toda a<br />
minha vida. Agora pense, pense comigo...<br />
Quem mais <strong>do</strong> que nós está qualifica<strong>do</strong><br />
para a <strong>do</strong>ação? E ainda temos o fato <strong>do</strong><br />
sigilo absoluto. Isso nos torna <strong>do</strong>is, os<br />
escolhi<strong>do</strong>s. Belzamir, nós precisamos<br />
fazer... nós temos, devemos fazer. Este é<br />
um passo definitivo para o avanço da<br />
ciência genética.<br />
Ela pensava consigo mesma, “ele,<br />
certamente, passou muito tempo no<br />
espaço e o contato com o novo mun<strong>do</strong>,<br />
deve ter mexi<strong>do</strong> com sua cabeça” – mas a<br />
coisa toda era simplesmente brilhante,<br />
genial...<br />
- Está certo, mas com uma<br />
condição.<br />
- Sim, o que você quiser.<br />
334
- Fanna deverá aprovar este<br />
projeto.<br />
Ele pareceu levar uma paulada na<br />
testa.<br />
- Mas isto é impossível. Ele jamais<br />
concordará. Ele não pensa como nós<br />
cientistas, e além <strong>do</strong> mais, está muito<br />
ocupa<strong>do</strong> com Atlantis, não teria condições<br />
de pensar melhor, mesmo que quisesse.<br />
Era evidente o abatimento <strong>do</strong><br />
mestre, que, caminhava de um la<strong>do</strong> para<br />
outro, gesticulan<strong>do</strong> bastante, quase<br />
arrancan<strong>do</strong> seus próprios cabelos.<br />
- Você não percebe que estamos<br />
diante de um fato inédito? Estamos prestes<br />
a criar uma nova raça, que como disse<br />
antes, levaria, pelo menos, um bilhão de<br />
anos para chegar ao estágio que podemos<br />
abreviar agora! ... Podemos lhes dar<br />
inteligência, com todas as propriedades<br />
necessárias para se desenvolverem e se<br />
multiplicarem com dignidade. O que eles<br />
são agora? São inferiores. Só sabem<br />
copular e matam-se uns aos outros. Nós<br />
temos o conhecimento, a tecnologia e a<br />
oportunidade para propiciar-lhes a virtual<br />
capacidade de, eles próprios, buscarem<br />
sua própria purificação. E você, você<br />
335
despreza tu<strong>do</strong> isto, porque pensa baixo<br />
demais. Ora, Belzamir, pense... pense bem<br />
no que uma coisa destas representa para a<br />
ciência. Seja sensata. Olhe para frente.<br />
Não seja fraca a esta realização, que só<br />
nós... só nós <strong>do</strong>is poderemos finalizar em<br />
êxito! ...<br />
- Está bem, Zur-Kwa, está bem.<br />
Você me convenceu. Aliás, se eu não<br />
concordar, você vai levar um bilhão de<br />
anos falan<strong>do</strong> e eu estou com um pouco de<br />
pressa. Tenho uma sala cheia de pessoas<br />
me esperan<strong>do</strong> e preciso recompor as<br />
idéias.<br />
- Mas recompor o que?<br />
- Ora, você esta brincan<strong>do</strong> de “ser<br />
Deus” e eu preciso me recompor. Esta foi<br />
demais para mim! E quan<strong>do</strong> você pretende<br />
iniciar?<br />
- Eu já comecei, só falta você.<br />
Quan<strong>do</strong> você pode?<br />
- Talvez, hoje à tarde, depois das<br />
aulas. Está bem?<br />
- Muito bem, menina. Gostei de ver,<br />
Sim, começaremos hoje. Vá para suas<br />
aulas, enquanto isso farei os preparativos.<br />
- Vá com calma, não se apresse.<br />
Temos a vida toda pela frente.<br />
336
Mas ele, como sempre,<br />
demonstrava sua impaciência. Parecia<br />
uma criança com seu brinque<strong>do</strong> novo e<br />
com olhos brilhan<strong>do</strong> por suas travessuras.<br />
O planejamento e construção de<br />
Atlantis, a nova capital, ocupavam<br />
inteiramente o tempo de Fanna e<br />
consequentemente, absorvia sua total<br />
atenção. Ele, Zuila e outros assistentes,<br />
trabalhavam num balcão improvisa<strong>do</strong>,<br />
conten<strong>do</strong> nele, tão somente os apetrechos<br />
para o desempenho das tarefas e os<br />
Telecons para manter contato com Tutkan,<br />
na Kosmos, em órbita.<br />
Ambhórius, ainda o porta-voz <strong>do</strong><br />
Conselho, fez-lhe uma visita.<br />
Ao chegar, encontro-o perdi<strong>do</strong><br />
numa montanha de papéis, pertinentes às<br />
obras da nova cidade.<br />
- Posso entrar?<br />
- Ambhórius, meu velho! Que<br />
surpresa agradável!! Entre, entre e<br />
acomode-se. Desculpe-me pela falta de<br />
maior conforto.<br />
337
- Você sempre enrola<strong>do</strong> em papeis,<br />
hein? – disse Ambhórius trazen<strong>do</strong> uma<br />
cadeira para perto da enorme prancheta,<br />
onde o líder matutava.<br />
- Parece mentira, mas quanto mais<br />
eu trabalho, mais trabalho aparece – disse<br />
Fanna, sain<strong>do</strong> de trás da papelada e<br />
juntan<strong>do</strong>-se ao amigo – E você? Está com<br />
boa aparência... Krópitus está lhe fazen<strong>do</strong><br />
bem! ...<br />
- Krópitus está maravilhosa. Já faz<br />
algum tempo que você não nos honra com<br />
sua visita.<br />
- Ah, meu velho, como você vê,<br />
estou atulha<strong>do</strong> de coisas e além <strong>do</strong> mais –<br />
e olhan<strong>do</strong> em direção de Zuila que trazia<br />
outra pilha de folhas – preciso apressar as<br />
coisas por <strong>aqui</strong>. Logo, logo, ficarei sem a<br />
minha secretária favorita.<br />
- Ora, papai – disse ela, largan<strong>do</strong> as<br />
folhas sobre a prancheta – Oi, Ambhórius!<br />
Não ligue para ele... e Amis? Ela veio com<br />
você?<br />
- Sim. A deixei na construção da<br />
pirâmide de Hamour.<br />
- Papai, você se importa se eu for<br />
até lá? Gostaria de...<br />
338
- Esta certo filha. Se eu precisar de<br />
você, ligo para lá.<br />
Ela deu um pulinho de felicidade e<br />
um beijo na face <strong>do</strong> pai, sain<strong>do</strong> toda<br />
sorridente.<br />
- Hum, o que está acontecen<strong>do</strong>?<br />
Nunca vi Zuila assim!!<br />
- Ela está aman<strong>do</strong>.<br />
- É mesmo? E quem é o<br />
felizar<strong>do</strong>?<br />
- O jovem oficial Velz.<br />
- Um belo rapaz, Erus.<br />
- Sem dúvida. Mas a que devo a<br />
visita?<br />
- Na verdade, Erus, quan<strong>do</strong><br />
soube que você planejou a casa <strong>do</strong><br />
Governo, achei interessante, a idéia.<br />
Então, conversei com o governa<strong>do</strong>r de<br />
Mirvian, Lahdecker, e pensamos em criar<br />
nas respectivas cidades, uma casa<br />
governamental, isto é, separamos as<br />
coisas. Achamos que trabalharmos em<br />
nossas próprias casas não traz ou não<br />
promove a condição exata <strong>do</strong>s cargos.<br />
- Concor<strong>do</strong>. Acho que devemos<br />
to<strong>do</strong>s, ter um centro de operações e<br />
administração. Todavia, há que se ter<br />
cuida<strong>do</strong> nisso. Você sabe o que penso<br />
339
sobre política. Graças aos nossos políticos,<br />
Someron acabou. Não quero de maneira<br />
alguma, reeditar o mesmo erro. Queremos,<br />
no entanto, uma administração pública<br />
enxuta, capaz de resolver os problemas e<br />
não criá-los. Veja, agora, no começo,<br />
temos uma população reduzida, fácil de<br />
controlar e orientar. A meu ver, não há<br />
necessidade de muitos cargos, secretária<br />
pra isto, secretária para <strong>aqui</strong>lo...<br />
- Bem, esta é a exata questão –<br />
disse Ambhórios, com um ar muito sério e<br />
retiran<strong>do</strong> de uma pasta maior, duas<br />
menores; uma vermelha e outra verde;<br />
abrin<strong>do</strong> a verde.<br />
- Olhe, segun<strong>do</strong> os meus cálculos,<br />
teremos um núcleo de operações, visan<strong>do</strong><br />
um funcionário para cada <strong>do</strong>is mil<br />
habitantes. Nossa cidade tem, hoje, oitenta<br />
e cinco mil concidadãos. Destes, quatro mil<br />
e setecentos, são crianças, com menos de<br />
dezoito anos. Isto nos levaria a quarenta<br />
servi<strong>do</strong>res públicos, distribuí<strong>do</strong>s em áreas,<br />
como transportes, saneamento básico,<br />
iluminação, escolas, hospitais, etc....<br />
- Enten<strong>do</strong>. Você está propon<strong>do</strong><br />
maior agilização nos setores. Vamos fazer<br />
o seguinte: Em dez dias, reuniremos o<br />
340
Conselho e decidiremos como fazer isto.<br />
Até lá, você mesmo se encarregará de<br />
notificar a assembléia. Façam um estu<strong>do</strong><br />
sobre a matéria e apresentem-na, na<br />
reunião.<br />
- Está certo. Agora – e puxou a<br />
pasta vermelha – tenho em mãos um<br />
problema. Recebemos, há <strong>do</strong>is dias, um<br />
bilhete anônimo... como nos velhos tempos<br />
– gracejou -... que diz estar se passan<strong>do</strong><br />
coisas estranhas no laboratório de Zur-<br />
Kwa. Mais precisamente, Lahdecker, o<br />
recebeu... veja – e o entregou para Fanna -<br />
... só menciona: coisas estranhas. Eu,<br />
pessoalmente, fui até lá e confesso que<br />
não vi nada de anormal, exceto Zur-Kwa,<br />
um pouco nervoso e Belzamir, um tanto<br />
reservada demais.<br />
- Se conheço Zur-Kwa, deve estar<br />
ten<strong>do</strong> uma de suas “<strong>do</strong>res - de- cabeça”.<br />
- Dores-de-cabeça?<br />
- É você não sabe? Esta é a frase<br />
que costuma dizer, quan<strong>do</strong> está<br />
trabalhan<strong>do</strong> em algum projeto novo e muito<br />
complica<strong>do</strong>.<br />
- Ah, sim, enten<strong>do</strong>. E o que<br />
podemos fazer para aliviar a cabeça dele?<br />
341
- Temo que nada possa ser feito,<br />
agora. D<strong>aqui</strong> a pouco, ele aparecerá com<br />
alguma coisa maluca. Você sabe. Seja o<br />
que for, deve ser importante.<br />
- E sobre as “coisas estranhas”?<br />
- Meu caro Ambhórius, Zur-Kwa<br />
sempre foi, e sempre será estranho aos<br />
olhos <strong>do</strong>s outros. Fique calmo. Até mesmo<br />
Hamour o considera um ser estranho.<br />
Inteligente, malucamente inteligente, por<br />
isso mesmo, estranho.<br />
Ambhórius deu de ombros e<br />
levantou-se para se despedir.<br />
- Bem, Erus, já está fican<strong>do</strong> tarde<br />
e tenho que buscar Amis antes que<br />
anoiteça. Ah, ia me esquecen<strong>do</strong>. Acho que<br />
teremos uma festa d<strong>aqui</strong> a alguns dias.<br />
- Festa? Quem está de<br />
aniversário?<br />
- Ninguém está de aniversário, é<br />
que Amis e Hamour estão pretenden<strong>do</strong> se<br />
unir.<br />
- Ora, mas que notícia agradável.<br />
Meus parabéns, Ambhórius, humm...<br />
- Sim!? ... Continue!<br />
- Agora entendi da pressa, da<br />
construção da pirâmide.<br />
342
Agora, Fanna tinha aquele sorriso<br />
matreiro.<br />
Ambhórius se despediu e seguiu<br />
para os seus afazeres. Precisava se<br />
comunicar com três membros <strong>do</strong> Conselho<br />
em Vlaupora. Lá, as comunicações<br />
individuais estavam sen<strong>do</strong> implantadas e<br />
mesmo, precisava conversar com<br />
Ahmenotep, o governa<strong>do</strong>r de lá.<br />
Fanna ficou pensan<strong>do</strong> – Acho que<br />
em breve teremos uma festa, por <strong>aqui</strong>,<br />
também.<br />
Hamour e Thorc ficaram muito<br />
amigos e uni<strong>do</strong>s. Thorc construira sua casa<br />
ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> lote de Hamour onde erguia sua<br />
pirâmide, na nova cidade.<br />
Perto dali, as forjas e prensas,<br />
estavam em sua fase final e o trabalho de<br />
restauração da nave de Hamour era uma<br />
questão de tempo, não dependen<strong>do</strong> mais<br />
dele.<br />
Ao la<strong>do</strong> das obras da fundição,<br />
jazia o asteróide, que mais se parecia com<br />
343
um grande pedaço de pedra, soman<strong>do</strong>-se<br />
a tantas outras, por lá espalhadas. No<br />
momento, servia de esconderijo para<br />
alguns refugia<strong>do</strong>s locais.<br />
Thorc parecia ser o irmão mais<br />
velho de Hamour. Sempre dan<strong>do</strong> palpite,<br />
em sua maioria, fura<strong>do</strong>s, mas Hamour não<br />
de importava com isto. Apreciava a<br />
companhia <strong>do</strong> maluco, que estudava os<br />
fenômenos físicos promovi<strong>do</strong>s pela<br />
aceleração Dobra e sua consequente Antimatéria.<br />
Naturalmente, estranhavam o<br />
afastamento de Zur-Kwa, mas sabiam que<br />
algo ele estava aprontan<strong>do</strong>. Em breve ele<br />
surgiria com algum projeto louco e<br />
acaba<strong>do</strong>. O baixinho era motivo de muitas<br />
especulações. Da última vez que o<br />
visitaram, estudava os Cristaltons de<br />
Hamour, sobre funções e disfunções<br />
genéticas. Tencionava descongelar e<br />
maturar alguns embriões de cães, trazi<strong>do</strong>s<br />
por Hamour, que os havia comenta<strong>do</strong>: -<br />
São ótimos companheiros. Seriam a<br />
alegria das crianças, bons amigos e<br />
guardiães.<br />
344
Vez por outra, Hamour recebia<br />
Amis e Ambhórius na casa de Thorc e<br />
quase sempre Thorc acabava a noite<br />
embriaga<strong>do</strong>, com Ambhórius, e cantan<strong>do</strong><br />
velhas canções de Someron. Havia nelas,<br />
uma ponta de saudade ou Aftahalp como<br />
preferia Amis.<br />
A primavera se anunciou com seu<br />
clima tempera<strong>do</strong> e na exuberância das<br />
cores, pássaros e borboletas multicores.<br />
Junto a ela, muitas novidades; a<br />
finalização de Atlantis, o início da<br />
reconstrução da nave de Hamour, o<br />
anuncio de seus casamentos, Hamour e<br />
Amis, Velz e Zuila, e, Maxun e Zart.<br />
O fato que chamou a atenção era<br />
o nascimento <strong>do</strong> pequeno Gui, filho de Bô<br />
e Gá. Naturalmente este fato atraiu a<br />
atenção de Fanna, Hamour, Thorc,<br />
principalmente, e serviu como um chama<strong>do</strong><br />
para o visitarem.<br />
O pequeno Gui nasceu forte e com<br />
muito apetite. Bô, o pai orgulhoso, era<br />
carinhoso com sua cria. Gá, uma<br />
345
verdadeira defensora de seu bebê.<br />
Ninguém podia chegar perto de Gui, exceto<br />
Zur-Kwa e Belzamir.<br />
Muitos curiosos queriam ver a<br />
criaturinha e tocá-lo, o que era impossível,<br />
devi<strong>do</strong> à agressividade da mãe.<br />
Ao saber disto, Hamour decidiu<br />
levar uma de suas máquinas holográficas.<br />
Encontrou Zur-Kwa mais nervoso e evasivo<br />
<strong>do</strong> que nunca. Lá pelas tantas, ainda sem<br />
entregar o presente, Hamour lhe<br />
perguntou:<br />
- O que está haven<strong>do</strong> com você?<br />
Há algo erra<strong>do</strong>?<br />
- Não, Hamour. Não há nada<br />
erra<strong>do</strong>. Talvez seja por esta agitação em<br />
torno <strong>do</strong> pequeno Gui. Bô e Gá ficam<br />
nervosos com toda essa gente.<br />
- Não seja por isso, meu amigo.<br />
Trouxe-lhe um presentinho que vai acabar<br />
com suas preocupações. Vamos ao<br />
transporte. Você vai gostar.<br />
Havia uma grande caixa<br />
aluminizada, no porta-bagagens.<br />
- O que é isso?<br />
346
- É um projetor holográfico. Trouxe<br />
um Cristalton comigo e podemos filmar os<br />
macacos e exibir seus hologramas numa<br />
jaula.<br />
- Grande idéia, Hamour. Como não<br />
pensei nisso antes?? Muito conveniente. É<br />
como eu sempre digo a cabeça não serve<br />
apenas para separar as orelhas.<br />
Imediatamente a filmagem foi feita<br />
e microns depois, a jaula era exibida ao<br />
público impaciente, no pátio <strong>do</strong> laboratório.<br />
To<strong>do</strong>s podiam ver e juravam tê-los<br />
visto ao vivo. É claro que este pequeno<br />
segre<strong>do</strong> foi manti<strong>do</strong>, para não perder a<br />
graça.<br />
De volta para Atlantis, Hamour<br />
sabia que algo mais atormentava Zur-Kwa<br />
e mais, onde estaria Belzamir? O que<br />
estaria realmente acontecen<strong>do</strong> lá? Enfim,<br />
não gostara da expressão no olhar <strong>do</strong><br />
baixinho.<br />
A reunião <strong>do</strong> Conselho postergou<br />
a visita de Fanna ao Laboratório de Zur-<br />
Kwa. Esta reunião era uma das mais<br />
347
importantes, <strong>do</strong>s últimos tempos. Todas as<br />
matérias estavam previamente<br />
“mastigadas”, só precisan<strong>do</strong> de aprovação.<br />
Gastaram cerca de quatro tempos para as<br />
decisões. Haveria eleições periódicas – de<br />
quatro em quatro anos – estabelecidas por<br />
voto direto. Cada um <strong>do</strong>s candidatos, antes<br />
de ser efetivamente candidato, teria que se<br />
submeterem os testes de avaliação<br />
psicotécnicos, cursos de administração,<br />
segun<strong>do</strong> suas áreas de atuação. Mediante<br />
a apuração de médias, nunca inferiores a<br />
oito; assim como nos conceitos gerais;<br />
para a aprovação, conferin<strong>do</strong>-lhes o direito<br />
de candidatar-se a uma vaga; a aprovação<br />
final seria a de defender suas teses. Esta<br />
oportunidade seria comum a to<strong>do</strong>s que<br />
quisessem seguir a carreira política.<br />
Naturalmente teriam que seguir fielmente a<br />
pequena Constituição, elaborada por<br />
Fanna e o Conselho, poden<strong>do</strong>, o candidato<br />
eleito perder seu mandato se em um ano,<br />
nada <strong>do</strong> que apresentou como campanha,<br />
fosse pelo menos inicia<strong>do</strong>. O risco de<br />
perder o mandato continuaria, caso<br />
houvesse insatisfação daqueles que o<br />
elegeram. Então haveria uma assembléia<br />
para o julgamento <strong>do</strong>s fatos.<br />
348
A Constituição resumia-se em:<br />
& 1 – To<strong>do</strong>s são iguais perante<br />
to<strong>do</strong>s, portanto, com os mesmos direitos e<br />
deveres.<br />
& 2 - Ninguém sofrerá<br />
interferências em sua vida privada, em<br />
to<strong>do</strong>s os seus aspectos.<br />
& 3 - A capacidade de cada um<br />
nivelará os seus limites e assim será<br />
respeita<strong>do</strong>.<br />
& 4 - O solo e o meio ambiente são<br />
integrantes na coletividade e por isso,<br />
trata<strong>do</strong>s com respeito e dignidade, como<br />
qualquer ser.<br />
& 5 - A vida é inviolável.<br />
& 6 - A cultura, o trabalho e o<br />
lazer, são comuns para to<strong>do</strong>s.<br />
& 7 - As ações contrárias serão<br />
apreciadas, julgadas e sentenciadas pelo<br />
Conselho de Justiça e afins, onde a<br />
maioria terá voz.<br />
Também foi decidi<strong>do</strong> que haveria<br />
um representante para cada <strong>do</strong>is mil<br />
habitantes e se dividiriam em setores com<br />
total autonomia de resoluções. Estas<br />
resoluções poderiam ser, ou não,<br />
contestadas em Conselho.<br />
349
Foi estabeleci<strong>do</strong> que cada cidade<br />
devesse ser auto-suficiente em suas<br />
necessidades básicas, tanto na agricultura,<br />
como, na indústria, poden<strong>do</strong> haver trocas,<br />
evitan<strong>do</strong> exclusividades. As faculdades<br />
científicas e tecnológicas ficariam na<br />
capital, promoven<strong>do</strong> a modernização e<br />
influin<strong>do</strong> diretamente nos costumes das<br />
outras cidades.<br />
O Conselho permaneceria<br />
existin<strong>do</strong>, promoven<strong>do</strong> renovação em seu<br />
quadro, por eleições. E como no<br />
Congresso, poderá haver substituições, ou<br />
pelas já citadas, por abdicância ou morte.<br />
A partir da primeira eleição, se reuniria<br />
uma vez por perío<strong>do</strong>, na capital, salvo as<br />
convocações extraordinárias.<br />
Estas decisões deixaram Erus<br />
Fanna satisfeito com seu povo.<br />
De volta para o seu galpão, agora<br />
transforma<strong>do</strong> em sua residência, foram-lhe<br />
trazi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is exemplares nativos, seda<strong>do</strong>s<br />
e presos numa pequena jaula. Estes foram<br />
apanha<strong>do</strong>s rouban<strong>do</strong> comida num<br />
armazém, perto <strong>do</strong> asteróide, pelo qual<br />
350
decidiu fazer uma visita à Zur-Kwa e levar<br />
os <strong>do</strong>is macacos para, quem sabe,<br />
estu<strong>do</strong>s.<br />
Na manhã seguinte, tão logo<br />
amanheceu, um transporte levou o líder e<br />
mais <strong>do</strong>is “hóspedes” até Zur-Kwa, que<br />
não escondeu surpresa ao vê-lo. Sim, fazia<br />
um bom tempo que não o via.<br />
- Erus, mas que prazer!!! Entre,<br />
entre, por favor. Fique à vontade, a casa é<br />
sua!<br />
- Meu caro, você anda sumi<strong>do</strong> e<br />
pensei, cá com meus botões, será que ele<br />
está ten<strong>do</strong> uma daquelas <strong>do</strong>res-decabeça?<br />
- É bem possível. É bem possível.<br />
Mas entre, por favor. Não fique aí para<strong>do</strong>!<br />
- Espere, trouxe um, não, <strong>do</strong>is<br />
presentinhos...<br />
Fanna voltou até o transporte,<br />
acompanha<strong>do</strong> por Zur-Kwa. Ao abrir a<br />
porta traseira <strong>do</strong> veicúlo, lá estavam eles,<br />
semi-paraliza<strong>do</strong>s, com seus olhos<br />
interrogativos e agarra<strong>do</strong>s um ao outro.<br />
- Ora, ora... são <strong>do</strong>is belos<br />
espécimes. Como os conseguiu?<br />
351
- Foram apanha<strong>do</strong>s rouban<strong>do</strong><br />
comida.<br />
- Humm... que safadinhos, hein?<br />
Dois auxiliares levaram a jaula<br />
para os fun<strong>do</strong>s e Fanna ao voltar com Zur-<br />
Kwa, antes de entrar à porta da ante-sala,<br />
comentou zombeteiramente:<br />
- Não se parece com alguém que<br />
você conhece?<br />
- Sim, com Bô, Gá e Gui...<br />
- Não. Não estes. Olhe bem para<br />
os olhos e os pelos da cabeça...<br />
- Não entendi!?<br />
- Ora vamos, Zur-Kwa, você não<br />
tem espelho?<br />
- Ta, ta... lá vem você com as<br />
suas...<br />
- Mas não é mesmo? – Erus se<br />
divertia com o maluco – Olhe bem, os olhos<br />
e os cabelos, são idênticos...<br />
Três passos depois, estavam na<br />
ante-sala.<br />
- E então, Zur-Kwa, o que você<br />
anda esconden<strong>do</strong> da gente?<br />
- Esconden<strong>do</strong>?<br />
De repente se sentia<br />
desconcerta<strong>do</strong>.<br />
- Por que diz “esconden<strong>do</strong>”?<br />
352
- Calma. Calma... não precisa ficar<br />
nervoso.<br />
- Não estou nervoso.<br />
Mas, estava.<br />
- Bem, o que eu quero dizer é, que<br />
você não aparece mais, não se comunica.<br />
É preciso convite especial?<br />
- Acontece que tenho trabalha<strong>do</strong><br />
num projeto. Isso tem me absorvi<strong>do</strong> por<br />
inteiro.<br />
- E parece que sua assistente,<br />
também...<br />
- Ora, não ironize Erus. Aposto<br />
que andam mexerican<strong>do</strong> sobre nós, hein?<br />
- Bem, pelo menos, motivos não<br />
faltam. Vocês <strong>do</strong>is, praticamente se<br />
isolaram de to<strong>do</strong>s. Soube que Belzamir<br />
pouco aparece em casa e sai da escola,<br />
direto para cá. Você há de concordar<br />
comigo, que para as comadres, isto é um<br />
prato cheio!<br />
- Talvez você tenha razão. Vou<br />
pensar nisso. Mas diga-me, como está<br />
Atlantis, a nova capital?<br />
- Vá lá e veja por si mesmo. Está<br />
linda, maravilhosa. Faz lembrar Macênia ...<br />
- Ah, Macênia... Macênia – disse,<br />
ele, sau<strong>do</strong>so – A velha capital. Há quanto<br />
353
tempo não ouço esse nome... Traz<br />
recordações de minha infância, meus pais,<br />
minha irmã, meus irmãos... Sabe Erus, às<br />
vezes sonho com minha gente... meus<br />
irmãos e eu corren<strong>do</strong> pelos campos de<br />
Macênia.<br />
- Eram grandes, aqueles tempos,<br />
hein, Zur-Kwa?<br />
- Se eram... – respondeu Zur-Kwa<br />
emociona<strong>do</strong>, com uma lágrima lhe<br />
corren<strong>do</strong> pela face.<br />
- Mas, vamos, fale-me deste<br />
projeto, tão importante assim, que nos tem<br />
priva<strong>do</strong> de sua companhia.<br />
Zur-Kwa enxugou os olhos e<br />
guar<strong>do</strong>u o lenço marron, no bolso <strong>do</strong><br />
jaleco, respirou fun<strong>do</strong> e, enfim, mais ce<strong>do</strong><br />
ou mais tarde, teria que contar para Fanna.<br />
- Erus, o projeto é incrível. Talvez<br />
o que vou te mostrar, não seja <strong>do</strong> teu<br />
inteiro agra<strong>do</strong>, mas considere isto, como<br />
interesse científico.<br />
Ao dizer estas palavras, levantouse<br />
<strong>do</strong> sofá e conduziu Fanna ao<br />
laboratório.<br />
- Eis <strong>aqui</strong> a minha “<strong>do</strong>r-decabeça”<br />
– disse o baixinho, num tom<br />
eloqüente de satisfação e orgulho.<br />
354
- Sim, mas desculpe a ignorância,<br />
mas o que é isso?<br />
À sua frente, havia, cerca de trinta<br />
balões de ensaio, hermeticamente<br />
fecha<strong>do</strong>s, conten<strong>do</strong> um líqui<strong>do</strong><br />
transparente e borbulhante, com coisas<br />
dentro, que mais pareciam sementes.<br />
Sementes grandes de feijão branco.<br />
- Você não está ven<strong>do</strong>?<br />
- Sim, estou ven<strong>do</strong>, mas não estou<br />
entenden<strong>do</strong>.<br />
- São embriões humanos.<br />
- Humanos? O que são “embriões<br />
humanos”?<br />
- É uma criação genética.<br />
Resumin<strong>do</strong>, uma mistura de criaturas<br />
assim como nós, com as que encontramos<br />
<strong>aqui</strong>, neste planeta. Uma nova raça<br />
concebida, criada e desenvolvida, <strong>aqui</strong><br />
mesmo, neste laboratório.<br />
- Zur-Kwa, você está louco?<br />
Perdeu o juízo? Você está crian<strong>do</strong><br />
monstros, criaturas, que seja lá como for<br />
não é de nossa alçada.<br />
Não convém a nós, nos metermos em<br />
coisas tão delicadas, tão... como posso<br />
dizer... divinas. Você está contrarian<strong>do</strong><br />
355
tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>lo que aprendeu com seus pais, e<br />
os pais deles, e assim por diante!!!<br />
- Espere um pouco, Erus. Não é<br />
nada disto <strong>do</strong> que está pensan<strong>do</strong>. As<br />
coisas e os seres vivos têm a tendência da<br />
evolução e purificação. Eu apenas abreviei<br />
o processo de desenvolvimento dessas<br />
criaturas, que para chegarem ao estágio da<br />
fala e a coordenação motora, em relação<br />
ao pensamento, levariam, mais-ou-menos,<br />
cerca de um bilhão de anos.<br />
Fanna coçou a barba, refletiu e<br />
caminhou em volta <strong>do</strong>s balões, olhan<strong>do</strong>-os<br />
mais de perto.<br />
- Como foi feito isso?<br />
- É um processo muito complica<strong>do</strong>,<br />
mas extraí<strong>do</strong> diretamente de semens.<br />
- Quem foram os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res?<br />
- Além <strong>do</strong>s macacos, Belzamir e<br />
eu.<br />
- Zur-Kwa, você tem que mandar<br />
examinar a sua cabeça. A sua e a de<br />
Belzamir. Não creio que vocês estejam<br />
baten<strong>do</strong> muito bem.<br />
- Erus, venha comigo. Vai mudar<br />
sua opinião sobre nós, num instante.<br />
Dizen<strong>do</strong> isto, os olhos <strong>do</strong> “louco”<br />
brilharam. Com passos miú<strong>do</strong>s,<br />
356
apressa<strong>do</strong>s e firmes, levaram os <strong>do</strong>is, por<br />
outra porta, passan<strong>do</strong> por um corre<strong>do</strong>r<br />
estreito e muito ilumina<strong>do</strong>. Chegaram a<br />
outro compartimento, onde Belzamir<br />
estava dan<strong>do</strong> mamadeira para um bebê de<br />
aspecto normal, aparentan<strong>do</strong> quatro meses<br />
de idade, pelo tamanho e peso. Tinha uma<br />
tez mais escura, de olhos amen<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s e<br />
cabelos escuros, e ralos.<br />
- Veja... ele é igual a nós. Tem<br />
duas mãos e <strong>do</strong>is pés. Ao contrário <strong>do</strong>s<br />
nativos, que tem quatro mãos e rabo.<br />
Possuem pelos só nas cabeças e não pelo<br />
corpo to<strong>do</strong>. Seus encefalogramas<br />
apresentam propriedades de memória, fala<br />
e intelecto. Talvez sejam menos<br />
inteligentes <strong>do</strong> que nós, mas poderão<br />
pensar e falar.<br />
Havia na outra extremidade <strong>do</strong><br />
quarto, mais três bercinhos apenas um,<br />
ocupa<strong>do</strong>.<br />
- E aqueles?<br />
- O <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> é uma fêmea. O que<br />
está no colo de Belzamir, é um machinho.<br />
Ele tem um dia de diferença.<br />
- E o outro berço?<br />
- Era de outra fêmea, que morreu<br />
com oito dias de vida.<br />
357
- E o que você pretende fazer com<br />
estes, se sobreviverem?<br />
- Ainda não sei bem. A idéia maior<br />
é, criá-los e estudá-los. Também me<br />
passou pela cabeça, <strong>do</strong>á-los para casais<br />
estéreis. Não sei dizer ao certo...<br />
- Você tem problemas, amigo.<br />
Dificilmente, alguém vai querer a<strong>do</strong>tá-los e<br />
se os largarmos à sua própria sorte,<br />
certamente vão encher a barriga de algum<br />
outro nativo. Como disse, você tem<br />
problemas. Estou certo de que vai tratar de<br />
solucioná-los tão bem, quanto soube criálos.<br />
Fanna estava visivelmente mais<br />
irrita<strong>do</strong> <strong>do</strong> que admira<strong>do</strong>.<br />
Belzamir permaneceu o tempo<br />
inteiro, alimentan<strong>do</strong> o machinho. Não teve<br />
coragem, se quer de olhar para o líder.<br />
- Bem, acho que já vi demais, por<br />
hoje. Mantenha-me informa<strong>do</strong> sobre essa<br />
sua “<strong>do</strong>r-de-cabeça” e já que isso é de<br />
interesse da ciência, acho que o<br />
Dr.Grohalv, deveria estar junto no estu<strong>do</strong><br />
dessas criaturas. Ele saberá ser discreto<br />
quanto ao sigilo desta operação.<br />
358
Na décima noite da primavera,<br />
deu-se a maior festa, até então realizada<br />
em Atlantis e porque não dizer, em<br />
Kálerus. Uniram-se em matrimônio,<br />
Hamour e Amis, Velz e Zuila, e, Maxun e<br />
Zart.<br />
Foi uma festa maravilhosa ao ar<br />
livre, numa noite clara, cheia de estrelas e<br />
os <strong>do</strong>is satélites, resplandecen<strong>do</strong> sua<br />
maior luminosidade. Graças aos artistas e<br />
seus instrumentos musicais exóticos,<br />
mantiveram-se num embalo sem<br />
precedentes.<br />
A cerimônia seguiu a tradição <strong>do</strong>s<br />
Somerianos. Os pais das noivas eram que<br />
abençoavam e selavam a união <strong>do</strong>s<br />
conjugues, e apadrinha<strong>do</strong>s pelos<br />
escolhi<strong>do</strong>s, que por sua vez traziam-lhes<br />
presentes de toda ordem.<br />
Tutkan nesta noite desceu da<br />
Kosmos, e apadrinhou a to<strong>do</strong>s, assim<br />
como Fanna, Ambhórius, Thorc e o<br />
Dr.Grohalv.<br />
359
Entre os convida<strong>do</strong>s especiais, os<br />
únicos que não apareceram, foram Zur-<br />
Kwa e Belzamir, que por causa disto, eram<br />
lembra<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong> o instante e xinga<strong>do</strong>s.<br />
Não muito longe dali, os nativos de<br />
Kálerus, observavam e como sempre, nada<br />
entendiam d<strong>aqui</strong>lo que viam e ouviam.<br />
Para eles, era um grande barulho que<br />
lembrava as tormentas, manten<strong>do</strong>-os<br />
abriga<strong>do</strong>s para o caso de desabar a chuva.<br />
Os filhotes e as fêmeas se sacudiam –<br />
entre grunhi<strong>do</strong>s e pulos – freneticamente,<br />
tentan<strong>do</strong> imitar os outros – lá, <strong>do</strong> grande<br />
barulho – e se divertiam, com isto. Suas<br />
caras, naquela noite, eram diferentes, pois,<br />
até conseguiam rir, ou pelo menos<br />
grunhi<strong>do</strong>s em forma de risadas. Era uma<br />
coisa diferente, gostosa. Pouco tempo<br />
depois, estavam entregues à cópula<br />
generalizada, até entre os filhotes.<br />
Antes <strong>do</strong> encerramento da festa,<br />
os casais de “pombinhos”, retiraram-se<br />
para as núpcias. Velz e Maxum, com suas<br />
companheiras, foram até o terceiro planeta,<br />
que resplandecia exuberância. Dividi<strong>do</strong> em<br />
quatro continentes e recém saí<strong>do</strong> de uma<br />
360
era glacial. Tinha um céu muito azul e<br />
mares verdes, permanecen<strong>do</strong> em geleiras<br />
tão somente seus pólos.<br />
As duas garotas foram levadas<br />
para os trópicos e encantadas com o lugar,<br />
não se cansavam de dizer:<br />
- Este é o planeta mais lin<strong>do</strong> que já<br />
vi. E tem uma lua...<br />
Nossa como é linda! Parece de prata!<br />
Deveríamos ter vin<strong>do</strong> para cá! É perfeito...<br />
igual, aquela brilhante de Someron!!!<br />
-Não se enganem com as<br />
aparências, garotas – disse Velz – Também<br />
é muito perigoso. Devemos ficar <strong>aqui</strong>, perto<br />
da praia, sempre.<br />
- Das outras vezes que <strong>aqui</strong><br />
estivemos, encontramos criaturas<br />
gigantescas e carnívoras. São<br />
ferocíssimas e rápidas. Ás vezes mal dá<br />
tempo de reagir – completou Maxun.<br />
- Além destas, existem outras<br />
menores, capazes de um bom estrago –<br />
entrou Velz – Eu mesmo fui ataca<strong>do</strong> por<br />
uma e não fosse por Maxun certamente,<br />
não estaríamos juntos, agora. Devemos<br />
manter sempre acesas as fogueiras à<br />
noite. São preda<strong>do</strong>ras de verdade.<br />
361
- Mas, ainda continuo dizen<strong>do</strong>:<br />
Este é o planeta mais lin<strong>do</strong> que já vi – disse<br />
Zuila.<br />
- Este será o planeta <strong>do</strong> futuro –<br />
disse, Zart – Se puder, venho morar <strong>aqui</strong>.<br />
- Eu também - disse Zuila,<br />
enroscada no pescoço de Velz, enquanto<br />
passeavam pela praia de areias brancas e<br />
espuma branca das águas, vez por outra,<br />
banhan<strong>do</strong>-lhes os pés.<br />
Hamour havia decora<strong>do</strong> sua<br />
pirâmide, por fora e interiores,<br />
cuida<strong>do</strong>samente, para receber Amis – que<br />
em Someronês significava: Flor <strong>do</strong> Campo<br />
-. Por dentro, havia canteiros, forman<strong>do</strong><br />
jardins suspensos, separan<strong>do</strong> os<br />
ambientes por caminhos empareda<strong>do</strong>s de<br />
flores, azuis, amarelas, vermelhas, brancas<br />
e violetas. Em sua maioria, brancas, iguais<br />
às ornamentais tecidas ao vesti<strong>do</strong> de noiva<br />
de Amis. Estes caminhos eram<br />
acarpeta<strong>do</strong>s em teci<strong>do</strong> verde aveluda<strong>do</strong> e<br />
bastante espesso. To<strong>do</strong>s os sofás eram<br />
fixos e acolchoa<strong>do</strong>s, confortáveis. Alguns<br />
com encostos apoia<strong>do</strong>s nos canteiros<br />
altos. Tu<strong>do</strong> muito lin<strong>do</strong> e ilumina<strong>do</strong> por<br />
luzes branco-azuladas, que brotavam das<br />
362
paredes laterais, poden<strong>do</strong> ser aumentadas<br />
ou diminuídas em suas intensidades. O<br />
quarto <strong>do</strong> casal ficava, exatamente, no<br />
centro da pirâmide, suspenso por colunas<br />
lapidadas em motivos Goranianos.<br />
Ela ainda não tinha visto tu<strong>do</strong><br />
termina<strong>do</strong> e quan<strong>do</strong> viu, não acreditou.<br />
Abraçou e beijou Hamour, fortemente,<br />
deslumbrantemente.<br />
- Pôxa queri<strong>do</strong>, isto não é uma<br />
pirâmide, é um palácio piramidal!!!<br />
- Como você quiser. Mas, eu tenho<br />
outra definição.<br />
- Então me diga...!?<br />
- Esta é a nossa casa.<br />
- Sim, meu amor. Esta é a nossa<br />
casa.<br />
Sete dias depois, algo começou a<br />
incomodar Hamour. Algo que não sabia o<br />
que, por isso mesmo, incomodava mais.<br />
Tentava de todas as maneiras, esconder<br />
isto de Amis. Sempre que algo não estava<br />
certo, sentia uma espécie de<br />
esquentamento à nuca e de <strong>do</strong>is dias para<br />
cá, fervia. Então Zur-Kwa apareceu,<br />
trazen<strong>do</strong> um enorme ramalhete de flores.<br />
363
Thorc apareceu quase que<br />
simultaneamente.<br />
Hamour regava seu jardim<br />
externo e espantou-se ao ver Zur-Kwa e<br />
Thorc, entran<strong>do</strong> pelo portão.<br />
- Zur-Kwa, seu ladino... Thorc...<br />
Marcaram encontro?<br />
- Como vai, Hamour? Thorc?<br />
Hamour aproveitou a ocasião para<br />
gozar o baixinho:<br />
- Escute meu caro, quan<strong>do</strong> você<br />
resolver se unir a Belzamir, nem adianta<br />
mandar convite não é mesmo, Thorc?<br />
- Sim. Nós iremos com ou sem<br />
convite e levaremos a cidade toda...<br />
Era mesmo uma gozação, menos<br />
para Zur-Kwa.<br />
- Ta, ta, mas isto não será<br />
necessário e não vai acontecer. Belzamir e<br />
eu somos apenas colegas cientistas,<br />
dedica<strong>do</strong>s ao nosso trabalho, nada mais.<br />
- Pois sim... – disse Thorc,<br />
zombeteiramente.<br />
- Os comentários que andam<br />
corren<strong>do</strong> por aí, dizem outras coisas –<br />
comentou Hamour.<br />
364
- Aposto que sim... – e viran<strong>do</strong>-se<br />
para Hamour -... sinto muito não poder ter<br />
vin<strong>do</strong> ao seu casamento, amigo. Contu<strong>do</strong>,<br />
trouxe isso para Amis. Ela está?<br />
- Não. Saiu há pouco com Walln.<br />
Foram visitar Zuila e Zart que acabaram de<br />
chegar, de sua viagem de núpcias.<br />
- Que pena! Por favor, lhe entregue<br />
estas flores e meus parabéns, a vocês<br />
<strong>do</strong>is!!<br />
- Muito obriga<strong>do</strong>, Zur-Kwa. Mas,<br />
vamos entrar.<br />
Ao se dirigirem à porta, Zur-Kwa,<br />
entre os <strong>do</strong>is, olhou para Thorc e disse:<br />
- Foi muito bom tê-lo encontra<strong>do</strong><br />
<strong>aqui</strong>, Thorc. Tenho novidades fresquinhas.<br />
- É mesmo? – os <strong>do</strong>is perguntaram<br />
em coro, olhan<strong>do</strong>-se um para o outro, com<br />
as sobrancelhas arqueadas sob um olhar<br />
sarcástico.<br />
Então entraram.<br />
- Nossa! ... O que é isto?<br />
- É a minha casa, Zur-Kwa.<br />
- Tu<strong>do</strong> isto?<br />
O baixinho tinha sua boca aberta,<br />
pasmo. Seus olhos percorriam to<strong>do</strong> o<br />
interior.<br />
365
- Hamour, que beleza de casa,<br />
digo, pirâmide!<br />
- Venham, vou mostra-lhes tu<strong>do</strong>.<br />
Thorc também não viu o restante.<br />
- Estou maravilha<strong>do</strong>!!<br />
Lá dentro, a temperatura ambiente<br />
era fresca, gostosa e clara.<br />
- Tu<strong>do</strong> o que vêem <strong>aqui</strong>, é<br />
programável, por este pequeno aparelho e<br />
tu<strong>do</strong>, alimenta<strong>do</strong> por energia solar.<br />
- Meus parabéns pelo bom gosto –<br />
disse Thorc.<br />
- E pela genialidade – completou<br />
Zur-Kwa.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, rapazes! Agora, vamos<br />
nos sentar e ouvir suas novidades, Zur-<br />
Kwa.<br />
Ao acomodaram-se às poltronas<br />
confortáveis, Hamour, como bom anfitrião,<br />
trouxe-lhes refresco gela<strong>do</strong>, de sidra,<br />
colocan<strong>do</strong> a jarra sobre a pequena mesa<br />
de centro, separan<strong>do</strong> as grandes poltronas.<br />
- Os copos estão aí, quem quiser,<br />
por favor, sirvam-se.<br />
Em microns, seus copos estavam<br />
cheios e sua<strong>do</strong>s <strong>do</strong> gelo.<br />
- E então, meu velho – disse<br />
Hamour – conte-nos tu<strong>do</strong>.<br />
366
- O assunto é sério. Muito sério.<br />
- Então, fale – disse Thorc -. Deixe<br />
de mistérios.<br />
- Já sei – entrou Hamour – Belzamir<br />
não o está mais agüentan<strong>do</strong>.<br />
- Se for isto, diga-lhe que estou<br />
<strong>aqui</strong>, a sua disposição – disse, Thorc, numa<br />
gargalhada.<br />
- Calma, calma, vocês estão<br />
alegres demais. Esperem por saber.<br />
- Está certo, Zur-Kwa, disse, Thorc<br />
– você venceu, mas se o assunto for sério<br />
demais, o que acho que é, com licença – e<br />
fez menção de se levantar, provocan<strong>do</strong> o<br />
amigo.<br />
- Não, não, fique aí... o assunto é<br />
sério, mas, interessante e, <strong>do</strong> ponto de<br />
vista científico, você vai gostar...<br />
Zur-Kwa não perdeu mais tempo<br />
e foi diretamente ao ponto. À medida que<br />
relatava suas experiências, Thorc se<br />
mostrava cada vez mais interessa<strong>do</strong> e às<br />
vezes confuso, fazen<strong>do</strong> com que aquela<br />
questão fosse repetida. Hamour nada<br />
falava e tão pouco mostrava qualquer<br />
reação. Por fim disse:<br />
367
- Eu sabia que você estava se<br />
meten<strong>do</strong> nisso, pode crer. Lembra-se de<br />
quan<strong>do</strong> o pequeno Gui nasceu?<br />
- Sim, mas não vejo ligação entre o<br />
pequeno Gui e isto.<br />
- Tem, sim. Vi, naquela ocasião, o<br />
brilho <strong>do</strong>s seus olhos, típico <strong>do</strong>s cientistas<br />
loucos, e m<strong>aqui</strong>nan<strong>do</strong> experiências<br />
proibidas. Conheço estas coisas quan<strong>do</strong> as<br />
vejo amigo. Até acho que você nem se deu<br />
conta de que não apareci mais. Pois saiba<br />
que vi o que você estava pensan<strong>do</strong> e por<br />
isto, me afastei. Não queria interferir no<br />
seu trabalho, por respeito à nossa<br />
amizade. Precisava deixar que você<br />
mesmo pensasse melhor. E tem mais,<br />
senti que você, naquela ocasião, queria a<br />
minha aprovação nesta loucura.<br />
- Até, você, me julga louco?<br />
- Mas, então, me diga o que é?<br />
- Ora, uma experiência como<br />
qualquer outra.<br />
- Não, meu caro. A vida não pode<br />
ser encarada apenas como uma<br />
experiência. A vida é a vida. É um <strong>do</strong>m de<br />
Deus e só Ele pode girar a roda <strong>do</strong><br />
aperfeiçoamento, seja genético ou<br />
espiritual, seja animal, vegetal ou mineral.<br />
368
- Até posso compreender os<br />
interesses que te levam a esta proeza –<br />
entrou Thorc -, mas acho, sinceramente,<br />
que você deveria primeiro ter consulta<strong>do</strong><br />
Erus, depois, nós e os outros cientistas.<br />
Pelo menos, já que era uma coisa só sua<br />
você devia criar apenas um e não trinta e<br />
seis novos seres.<br />
- Mas, como Fanna disse o que<br />
está feito, está feito. Gostaria de contar<br />
com a ajuda de vocês, para pensarmos no<br />
que fazer com eles. Não posso<br />
simplesmente destruí-los. São seres quase<br />
como nós. São humanos, não posso matálos.<br />
- Sabe Zur-Kwa – disse Hamour –<br />
você mexeu no TODO. Você abreviou a<br />
evolução natural das coisas. Estou certo de<br />
que você criou seres <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de<br />
inteligência, mas provavelmente, com<br />
reações animalescas. Isto os fará errantes<br />
e levarão quase o mesmo tempo para<br />
purificarem suas reações e espíritos. Você<br />
imagina um espírito atrasa<strong>do</strong> <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de<br />
mente inteligente de genética animal, feroz<br />
com to<strong>do</strong>s os seus defeitos carnais, o que<br />
pode dar isso?<br />
369
- Este seu “ser humano”, não pode<br />
dar certo – comentou Thorc.<br />
- É exatamente isso, Thorc. Não se<br />
pode alterar a natureza e principalmente,<br />
em questões como estas. Por exemplo, os<br />
clones, <strong>do</strong> Dr. Grohalv. Ele parou com suas<br />
experiências porque chegou a conclusão<br />
de que muito embora pudesse fazer uma<br />
cópia fiel de alguém, com total herança<br />
genética, quais os espíritos que habitariam<br />
aquele corpo, uma vez que não surgiu da<br />
maneira natural? Ou seja, o novo ser não<br />
passou pela experiência <strong>do</strong> nascimento e<br />
tão pouco foi concebi<strong>do</strong>, como fruto de<br />
amor ou mesmo, por desamor. Mas houve,<br />
no perío<strong>do</strong> de gestação, o que chamamos<br />
de integração cósmica, matéria e espírito.<br />
- Você nos meteu numa enrascada<br />
danada, meu velho – completou Thorc.<br />
- Sinto muito. Não tinha visto por<br />
este prisma. Mas como ficamos? Vocês me<br />
ajudam, ou não?<br />
- Está bem. Meu velho. Vamos<br />
pensar em alguma coisa. Não vamos<br />
deixá-lo na mão. O que você acha Thorc,<br />
<strong>do</strong>is dias?<br />
- Pensei que você iria sugerir três<br />
dias e três noites – gracejou, Thorc.<br />
370
- Ah, mas isto foi antes, quan<strong>do</strong><br />
precisava recarregar os sensores e o<br />
complexo energético da pirâmide de Oz.<br />
- Oz?<br />
- Sim. O nome daquele planetóide,<br />
da<strong>do</strong> por mim, é claro.<br />
- É claro – riu Thorc.<br />
- Então está certo, rapazes.<br />
Voltarei em <strong>do</strong>is dias. Vou estudar,<br />
também, o caso. Espero que ao voltar, já<br />
tenhamos uma solução... Porque, eu já<br />
pensei e pensei, e não cheguei a nada!<br />
Zur-Kwa se despediu e se foi,<br />
deixan<strong>do</strong> seus amigos com o “pepino” nas<br />
mãos.<br />
O Telecon da Kosmos chamou<br />
Tutkan, que fazia manobras e exercícios<br />
militares no espaço, órbita de Kálerus.<br />
falar.<br />
Eram, Hamour e Thorc, na linha.<br />
- Sim, Tutkan na escuta. Pode<br />
- Sabe Thorc, tem uns caras, que<br />
quan<strong>do</strong> ficam velhos demais, por absoluta<br />
falta de coordenação mental, ficam<br />
dizen<strong>do</strong>: Fulano na escuta...<br />
371
-... E ficam caducos – completou<br />
Thorc.<br />
- Ah, ah, ah!!! Muito engraça<strong>do</strong>!<br />
Quan<strong>do</strong> recebi a ligação, até pensei que<br />
fosse gente... Só ligaram pra me gozar?<br />
Os outros <strong>do</strong>is riam a beça pela<br />
“brabeza” de Tutkan.<br />
- Quan<strong>do</strong> é que você vai se dignar<br />
a descer <strong>aqui</strong>, entre nós, pobres mortais? –<br />
perguntou Hamour.<br />
- Ele, agora, é muito importante.<br />
Não tem tempo para a plebe!<br />
- Ora, Thorc, não precisa ironizar.<br />
Você sabe que <strong>aqui</strong> em cima, a coisa não<br />
é brincadeira...<br />
- É claro, a batalha contra<br />
asteróides, continua...<br />
- Está bem, vocês ligaram só para<br />
me tirar o sossego!<br />
- Precisamos falar – disse Hamour,<br />
desta feita, sério.<br />
- Nesse caso, acho que terei uma<br />
folga depois de revisar a nave e<br />
provavelmente terei de fazer algumas<br />
inspeções no equipamento defensivo, aí<br />
em baixo. Digamos, <strong>do</strong>is dias, está bem<br />
pra vocês, pobres mortais?<br />
372
- Está ótimo – disse Thorc –<br />
Estaremos a tua espera, com uma garrafa<br />
de Somir, geladinha, hein, Hamour?<br />
- Combina<strong>do</strong>. Ligue antes de sair, a<br />
gente vai te buscar no hangar <strong>do</strong> aeroporto<br />
de Atlantis.<br />
- Combina<strong>do</strong>.<br />
Velz quan<strong>do</strong> soube que seu<br />
comandante passaria alguns dias em terra,<br />
se apressou e foi ter com ele.<br />
- Comandante, posso entrar?<br />
- À vontade, Velz. O que é?<br />
- Soube que o senhor vai a<br />
Kálerus na próxima inspeção.<br />
- Tu<strong>do</strong> bem, já entendi. Você quer<br />
ir também.<br />
- Sim, comandante. Gostaria de ir,<br />
se possível.<br />
- Fale com Zeuez e veja a escala.<br />
- Já falei senhor e troquei com<br />
Ozy. Só faltava a sua aprovação.<br />
- Está certo, rapaz. Agora vá,<br />
temos que apressar as coisas.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, senhor.<br />
Tutkan pousou no Aeroporto de<br />
Atlantis, ao anoitecer e com ele, Velz e<br />
Maxun com seus March.<br />
373
No hangar, estavam Hamour,<br />
Thorc, Zuila e Zart, além <strong>do</strong> pessoal normal<br />
de serviço.<br />
No transporte de superfície, não<br />
falavam nada mais <strong>do</strong> que bobagens,<br />
fazen<strong>do</strong> piadas uns <strong>do</strong>s outros.<br />
Os rapazes e suas esposas foram<br />
noutro transporte. Combinaram de mais<br />
tarde encontrarem-se no Centro<br />
Recreativo, da capital, mas antes queriam<br />
conhecer a pirâmide.<br />
Quan<strong>do</strong> chegaram, Amis estava<br />
dan<strong>do</strong> os toques finais para o jantar, que<br />
seria o primeiro com relação às visitas.<br />
- Amis – disse Tutkan, ao vê-la –<br />
como você está linda!...<br />
Quan<strong>do</strong> se cançar desse chato, <strong>do</strong><br />
Hamour, não exite em me procurar.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Tut. Vou me lembrar.<br />
- Hei, espere um pouco, aí. Que<br />
negócio é esse de cantar minha fêmea<br />
bem na frente de meu nariz!?!<br />
- A carne é fraca, meu caro – disse,<br />
Tutkan, abraçan<strong>do</strong> Amis, se divertin<strong>do</strong><br />
muito às custas <strong>do</strong> amigo.<br />
374
Ao entrar, o comandante<br />
contemplou aquela maravilha.<br />
- Minha nossa!! Isso não é uma<br />
casa, é uma...<br />
- Pirâmide – completou Thorc.<br />
- É claro que é uma pirâmide, mas<br />
só por fora. Por dentro é um palácio, não, é<br />
um jardim, não, é... ora, sei lá o que é. Só<br />
sei que é muito bonito. Meus parabéns,<br />
que lugar!!!<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Tut.<br />
- Não há de que, Amis. Pensan<strong>do</strong><br />
bem, acho que eu preciso de um mari<strong>do</strong>,<br />
assim, igual ao seu.<br />
To<strong>do</strong>s caíram na gargalhada.<br />
Microns depois, Amis anunciava o<br />
jantar.<br />
Enquanto comiam, os elogios para<br />
os <strong>do</strong>tes culinários dela, eram enalteci<strong>do</strong>s<br />
como “arte”. Jamais comeram algo igual e<br />
com isso, surgiram comentários mal<strong>do</strong>sos,<br />
sobre o quanto Ambhórius odiava Hamour,<br />
por tê-la tira<strong>do</strong> dele.<br />
- Pelo menos vai emagrecer um<br />
pouco – gozou Thorc.<br />
Após o jantar, desceram para a<br />
sala, por uma escada estreita, onde se<br />
acomodaram confortavelmente.<br />
375
Neste mesmo instante, a<br />
campainha soou. Eram os rapazes e<br />
esposas que vieram apreciar a arquitetura<br />
de Hamour. Após os já costumeiros e<br />
rasga<strong>do</strong>s elogios, Amis, ven<strong>do</strong> que<br />
Hamour, Thorc e Tutkan tinham coisas<br />
para discutir, beijou a testa <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> e foi<br />
com a turma para o Centro Recreativo.<br />
Os três a sós, não perderam tempo,<br />
entran<strong>do</strong> no assunto, puxa<strong>do</strong> por Tutkan,<br />
que a esta altura morria de curiosidade.<br />
- Então, rapazes, quais as<br />
novidades?<br />
Thorc iniciou a narrativa das<br />
peripécias de Zur-Kwa, na exploração <strong>do</strong><br />
campo genético, tentan<strong>do</strong> repetir<br />
textualmente o que ouvira. Tutkan ouviu<br />
com toda a atenção e por fim, disse:<br />
- Acho que preciso tomar um gole.<br />
Levantou-se e foi até o barzinho e<br />
serviu-se de um, grande.<br />
- Alguém me acompanha?<br />
Mais <strong>do</strong>is copos foram servi<strong>do</strong>s.<br />
- Aquele maluco, com suas <strong>do</strong>resde-cabeça...<br />
376
- Sim, e o pior é que a trouxe para<br />
nós. Fanna foi bem claro, dizen<strong>do</strong> para ele<br />
descascar o abacaxi – disse Hamour.<br />
- É como Fanna sempre diz – entrou<br />
Thorc – Zur-Kwa resolveu descascar um<br />
abacaxi e nos deu a faca e o abacaxi.<br />
- Bem, eu não acho que isso seria<br />
uma solução, mas...<br />
- Fale, Tut – disse Thorc – acho que<br />
qualquer coisa serve de solução.<br />
- Acontece que Velz e Maxun,<br />
passaram o seu perío<strong>do</strong> de núpcias no<br />
terceiro planeta...<br />
- Mas isso é impossível – entrou<br />
Hamour – o planeta Shan está em perío<strong>do</strong><br />
glacial.<br />
- Pois parece que não está mais,<br />
Hamour. Segun<strong>do</strong> eles, é um belo planeta,<br />
mas...<br />
- Mas?<br />
Calma, Thorc deixe-me beber,<br />
primeiro...<br />
Tutkan deu um grande gole,<br />
proposital, aumentan<strong>do</strong> o suspense.<br />
- Mas, parece que existem lá,<br />
criaturas ferozes, carnívoras. Bem mais<br />
agressivas <strong>do</strong> que as que temos <strong>aqui</strong>. No<br />
377
entanto, existem lá, ótimos lugares que<br />
carecem desenvolvimento.<br />
-Deveríamos dar uma espiada<br />
neste lugar – disse Thorc.<br />
- O que você acha Hamour?<br />
- Bem, Tu<strong>do</strong> o que sei é que...<br />
bem, não importa. Acho que devemos dar<br />
uma espiada. Mas não sei se esta seria a<br />
solução, mesmo porque, afastaríamos de<br />
nós um ser que, a meu ver, é muito mais<br />
útil <strong>aqui</strong>, <strong>do</strong> que noutro planeta, não<br />
acham? Poderíamos encontrar um local<br />
adequa<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> mesmo em Kálerus, afinal,<br />
de certo mo<strong>do</strong>, ainda está deserto. Há<br />
muito lugar.<br />
- Mas, eu fiquei curioso sobre este<br />
planeta.<br />
- Thorc, eu também. Pensan<strong>do</strong><br />
melhor, talvez seja a solução.<br />
Um planeta recém saí<strong>do</strong> de um perío<strong>do</strong><br />
glacial, onde poderia receber uma nova<br />
raça e se desenvolver com ela... E quem<br />
sabe, seja esta a melhor solução. Só nos<br />
resta saber se Zur-Kwa estaria disposto a ir<br />
para lá e dar inicio num mun<strong>do</strong> novo.<br />
- Bem, se ele gostou de brincar de<br />
ser Deus, eis aí uma oportunidade para<br />
poder continuar.<br />
378
- Não seja cruel, Thorc.<br />
- Não estou sen<strong>do</strong> cruel, Tut.<br />
Apenas realista.<br />
- Quan<strong>do</strong> você acha que<br />
poderíamos dar a tal espiada, lá?<br />
- Hamour, por estes dias vou estar<br />
ocupadíssimo, na inspeção <strong>do</strong><br />
equipamento de superfície, mas espere...<br />
acho que Velz e Maxun gostariam de levar<br />
vocês, mesmo porque, eles já conhecem o<br />
planeta.<br />
- Precisamos antes, consultar Erus<br />
– entrou Thorc – e saber o que ele acha. É<br />
bem possível que ele queira ir e ver<br />
também.<br />
- Tutkan levantou-se e sugeriu que<br />
passassem o restante da noite com o<br />
pessoal no Centro Recreativo, com o qual,<br />
foi “ovaciona<strong>do</strong>” pela magnífica idéia.<br />
Na manhã seguinte, Erus Fanna<br />
ouviu atentamente a “nova solução”.<br />
- Seria uma espécie de<br />
“colonização”. Não deixa de ser uma boa<br />
idéia, mas, não gosto muito de deixar o<br />
baixinho só, e nada sabemos <strong>do</strong> lugar.<br />
Pelos Cristaltons, aquele planeta não<br />
oferece condições de vida.<br />
379
- Mas sabemos que os nossos<br />
da<strong>do</strong>s estão desatualiza<strong>do</strong>s.<br />
- A nossa alternativa, será<br />
organizar uma expedição, com o próprio<br />
Zur-Kwa. Precisamos de da<strong>do</strong>s concretos<br />
sobre o lugar. Thorc, você poderia<br />
organizar as coisas.<br />
- Você acha que poderíamos usar<br />
um Convair para a exploração?<br />
- Não sei isto é com Tut.<br />
- Posso emprestar um.<br />
- Então está decidi<strong>do</strong>. Tão logo<br />
haja condições, partiremos para o planeta<br />
Shan e ver o que existe lá.<br />
Dois dias depois, a nave Convair –<br />
de porte médio – escoltada por Velz e<br />
Maxun, levava Fanna, Zeuez, - este na<br />
capitania – Hamour, Thorc, Zur-Kwa,<br />
Belzamir e outros <strong>do</strong> (corpo científico)<br />
interessa<strong>do</strong>s.<br />
Numa primeira tomada, havia<br />
discordância total com o Cristaltons de<br />
Hamour, desde a sua climatização, ao que<br />
se referia à sua composição, tanto química,<br />
quanto física. O planeta, neste momento<br />
apresentava-se vivo, com imensas<br />
380
florestas, de fauna e flora riquíssimas,<br />
numa abundância nunca vistas. Possuía<br />
solo rochoso e arenoso e apresentan<strong>do</strong><br />
grande fertilidade. Das nascentes, brotava<br />
água límpida e leve para beber. Em<br />
algumas regiões apresentava-se uma<br />
espécie de círculo de fogo, numa série de<br />
vulcões ativos. Com a mesma intensidade<br />
e riqueza, os mares abrigavam inúmeras<br />
espécies de peixes, assim como os rios e<br />
lagos. A gravidade, acrescentada de<br />
atmosfera e campos magnéticos envoltos<br />
no planeta era totalmente favoráveis ao<br />
desenvolvimento da vida, tal como a<br />
conheciam.<br />
Zur-Kwa, assim como os demais,<br />
estavam maravilha<strong>do</strong>s com o lugar, e<br />
Hamour passou a filmar e gravar<br />
imediatamente aquela nova realidade.<br />
O alto oriente foi escolhi<strong>do</strong> para o<br />
pouso, em meio a uma enorme clareira,<br />
rodeada por uma floresta exuberante, com<br />
árvores verdadeiramente gigantescas.<br />
No primeiro dia de pesquisas e<br />
busca de amostras <strong>do</strong>s habitantes locais,<br />
381
descobriram no continente – mais para o<br />
sul – diversas tribos, constituídas por<br />
criaturas bem mais evoluídas, das que<br />
havia em Kálerus. Essas criaturas<br />
andavam eretas e se comunicavam por<br />
sinais. Apresentavam um crânio, e a testa<br />
era projetada para trás e - mais tarde, nos<br />
exames – <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de um cérebro maior,<br />
contu<strong>do</strong> pouco desenvolvi<strong>do</strong>. Foi trazi<strong>do</strong><br />
um corpo, era um símio desenvolvi<strong>do</strong> e ao<br />
que parecia, ao ser disseca<strong>do</strong>, estava a um<br />
passo da transformação tal qual Zur-Kwa<br />
chegara.<br />
- Pelo menos, <strong>aqui</strong> – disse Fanna –<br />
a diferença é menor.<br />
- Talvez, cerca de vinte a trinta mil<br />
anos – completou o próprio Zur-Kwa.<br />
Neste instante Hamour, mediante<br />
seus cálculos temporais, em frente ao<br />
Komptor, disse:<br />
- Acho que a diferença <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> Cristalton para hoje, é de mais de<br />
800.000 anos.<br />
- Como você chegou a isso? –<br />
perguntou Thorc.<br />
- Pelas amostras <strong>do</strong> solo. Incrível,<br />
não?<br />
382
- Já que falamos nisso, seria<br />
possível voltar ao passa<strong>do</strong>, digo, ao tempo<br />
de seus ancestrais?<br />
- Acho que sim, mas, ainda não sei<br />
como fazer a inversão da Dobra.<br />
- Senhores – entrou Zur-Kwa – não<br />
quero interromper uma conversa de tão<br />
alto nível, mas, se me permitem, devemos<br />
concentrar nossas atenções nos estu<strong>do</strong>s<br />
de hoje...<br />
- Nossa Zur-Kwa – disse Belzamir –<br />
não sabia que você poderia se comunicar<br />
assim, tão “civilizadamente”!!<br />
- Belzamir – disse Thorc – existem<br />
uns caras que quan<strong>do</strong> ficam velhos...<br />
-... Ficam assim – completou<br />
Fanna.<br />
- Ta, ta!! – disse o baixinho,<br />
voltan<strong>do</strong> aos exames <strong>do</strong> corpo morto,<br />
encontra<strong>do</strong> por Zeuez e Velz. – Já vi que<br />
com vocês, não se pode ser educa<strong>do</strong>...<br />
Em sete dias, os exames e<br />
estu<strong>do</strong>s, pelo menos os que interessavam<br />
sobre o planeta Shan, estavam completos.<br />
Zur-Kwa mostrava-se excita<strong>do</strong> com a idéia<br />
de continuar suas experiências e<br />
383
principalmente, dentro de sua mente, se<br />
considerar o pai de uma nova raça.<br />
De volta a Kálerus, a notícia da<br />
mudança <strong>do</strong> laboratório de Zur-Kwa,<br />
chamou a atenção de vários cientistas,<br />
entre eles o Dr. Grohalv, que sabe<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong>s motivos, apresentaram-se à Fanna,<br />
interessa<strong>do</strong>s em participar <strong>do</strong> projeto.<br />
Alguns, licencia<strong>do</strong>s por Fanna, foram<br />
escolhi<strong>do</strong>s pelo baixinho “maluco” e em<br />
quinze dias, rumaram para o novo planeta,<br />
numa nave Convair, equipada com to<strong>do</strong>s<br />
os apetrechos necessários, extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
laboratório.<br />
Mudaram-se para o planeta Shan,<br />
Zur-Kwa, Belzamir e cinco cientistas, mais<br />
um grupo de engenheiros, além <strong>do</strong> pessoal<br />
de bor<strong>do</strong>, técnicos em escavações e outras<br />
funções. Eram vinte e um ao to<strong>do</strong>.<br />
Dois anos se passaram como um<br />
piscar de olhos. Kálerus vivia ótimos<br />
momentos.<br />
Atlantis, como previra Fanna, com<br />
suas faculdades, trazia constantes<br />
384
modificações e avanços, influin<strong>do</strong><br />
diretamente nas outras cidades.<br />
A nave de Hamour, tinha uma<br />
fuselagem totalmente fundida e<br />
transportada para o hangar da Kosmos,<br />
para a iniciação de sua montagem final.<br />
Esta nave em particular, era bem diferente<br />
<strong>do</strong>s moldes conheci<strong>do</strong>s. Era totalmente<br />
circular, com muitas cavidades em sua<br />
volta, no plano inferior e superior. Apesar<br />
disto, não apresentava janelas, aparentes.<br />
Era como se fosse um monobloco, sem<br />
emendas.<br />
Então...<br />
- Kosmos, <strong>aqui</strong> é Zag-um ...<br />
Kosmos. Aqui é zag-um ...<br />
- Pode falar Zag-um, Kosmos na<br />
escuta.<br />
- Senhor, tem visitas. Estamos<br />
detectan<strong>do</strong> grande massa, a trinta Macrons<br />
e aproximan<strong>do</strong>-se depressa.<br />
Klemps ativou o Intercon e chamou<br />
o comandante.<br />
- Sinto incomodá-lo, senhor, mas<br />
precisamos <strong>do</strong> senhor <strong>aqui</strong> na ponte com<br />
urgência.<br />
385
- Tu<strong>do</strong> bem, já estou a caminho –<br />
foi o que Tutkan respondeu, vestin<strong>do</strong>-se<br />
rapidamente.<br />
Ao chegar à ponte, foi informa<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s novos acontecimentos e<br />
imediatamente passou as ordens.<br />
- Atenção, <strong>aqui</strong> fala o seu<br />
comandante. To<strong>do</strong>s a seus postos. Rápi<strong>do</strong>,<br />
acelera<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s a seus postos,<br />
acelera<strong>do</strong>. Isto não é um exercício. Repito<br />
isto não é um exercício. Estamos em frente<br />
real.<br />
Nunca houve tamanha agitação<br />
dentro da Kosmos. Era uma correria cheia<br />
de excitação e ansiedade, e, talvez, me<strong>do</strong>.<br />
- Zag-um, Kosmos chaman<strong>do</strong>...<br />
- Pois não, comandante.<br />
- Onde vocês estão o Telak não<br />
acusa a presença de vocês.<br />
- Correto, senhor. Passamos pelo<br />
portão estelar três, em vinte microns e a<br />
oitenta e <strong>do</strong>is macrons daí. Nossos<br />
sensores indicam que fomos monitora<strong>do</strong>s,<br />
mas agora, estamos fora de alcance.<br />
Estamos em um ponto três marca luz.<br />
- Muito bem, Velz e quem está com<br />
você?<br />
386
- Eu, senhor – entrou Maxun – e<br />
ativei o sensor Kramset E-12. Em dez<br />
Macrons, estaremos em sua tela, posição<br />
onze horas.<br />
- Perfeito, agora façam o seguinte:<br />
Ao entrarem em tangente cinqüenta,<br />
fiquem aí. Segue ajuda.<br />
- Está certo, senhor.<br />
Tão logo se passaram os dez<br />
Macrons, as duas naves foram acusadas<br />
na tela <strong>do</strong> Telak e em constante<br />
aproximação. Distância de setenta e <strong>do</strong>is<br />
Macrons.<br />
- Klemps, notifique Fanna para que<br />
prepare defesa na superfície, podemos<br />
precisar dela – e ativan<strong>do</strong> o Intercon –<br />
Zeuez, envie, já, três pares Zag, em auxílio<br />
de Velz e Maxun. Que estejam arma<strong>do</strong>s.<br />
- Serão lança<strong>do</strong>s agora mesmo,<br />
senhor.<br />
As três esquadrilhas partiram.<br />
- Hamour – disse Fanna, pelo<br />
Intercon – Precisamos de você e agora.<br />
Temos visitas lá em cima.<br />
- Está bem, Erus. Já estou in<strong>do</strong>.<br />
387
Amis estava assustada ao ver<br />
Hamour agita<strong>do</strong>, organizan<strong>do</strong> suas coisas<br />
após a ligação de Fanna.<br />
- Problemas?<br />
- Acho que sim, querida.<br />
Ela o beijou longamente antes dele<br />
sair.<br />
- Está tu<strong>do</strong> bem com você?<br />
- Sim, meu bem. Estou bem.<br />
Ligarei para você mais tarde.<br />
Ele saiu corren<strong>do</strong> até o transporte e<br />
ao entrar, ela gritou:<br />
- Cuide bem de nós, queri<strong>do</strong>.<br />
Hamour partiu de sua pirâmide,<br />
com a maior pressa até o edifício de<br />
administração de Atlantis. Ele, mais <strong>do</strong> que<br />
ninguém, tinha a consciência <strong>do</strong>s fatos que<br />
estavam por acontecer. Não demoraria<br />
muito para Ahdack aparecer com seus<br />
Mobis e o seu “pesadelo”. Já o conhecia<br />
bem, pois há muito, haviam combati<strong>do</strong><br />
entre si.<br />
Logo agora, este chato vem nos<br />
tirar o sono – disse, no caminho, para o<br />
centro administrativo.<br />
388
Sua pequena nave pousou no pátio<br />
de estacionamento <strong>do</strong> prédio. Hamour não<br />
esperou o eleva<strong>do</strong>r e subiu as escadas<br />
pulan<strong>do</strong> os degraus de três em três, até o<br />
compartimento superior, onde encontrou<br />
Fanna, no Telecon, falan<strong>do</strong> com Tutkan.<br />
- Entre, Hamour e se acomode.<br />
Tut, Hamour chegou, quer falar com ele?<br />
- Sim, ponha-o na linha.<br />
Enquanto isso, Hamour ativava o<br />
outro Telak.<br />
- Hamour, você já sabe e o que<br />
acha?<br />
- Bem, pelo menos estão longe e<br />
sabemos onde estão. A esta altura, já<br />
devem nos ter monitora<strong>do</strong> e isso é mau...<br />
- Você acha que eles virão com<br />
tu<strong>do</strong>?<br />
- Não. Tentarão transmitir qualquer<br />
coisa, dan<strong>do</strong> demonstração de amizade,<br />
ou coisa <strong>do</strong> gênero. Ahdack nunca ataca,<br />
sem antes, verificar a força <strong>do</strong> inimigo.<br />
- Você tem certeza de que é ele?<br />
- Sim, tenho. Veja você mesmo, a<br />
formação <strong>do</strong> Telak...<br />
- Sim, o que há com ela?<br />
- Existe uma massa esférica no<br />
centro, que deve ser uma Base, com cinco<br />
389
pontos, em formação pentagonal, com<br />
cerca de cento e cinqüenta centons de<br />
distância, no máximo.<br />
- Sim, você acaba de descrever o<br />
que vejo.<br />
- Então, não há dúvidas. Acho que<br />
devemos nos preparar para o pior.<br />
- Diga-me, a que distância, está<br />
exatamente?<br />
- Não os tenho no Telak, apenas a<br />
monitoração <strong>do</strong>s March, que fazem a<br />
espera na tangente cinqüenta.<br />
- Acho melhor tirá-los daí e<br />
escondê-los, inclusive a Kosmos. Ainda<br />
temos aquele cargueiro Mir, equipa<strong>do</strong>s<br />
com armas antigas?<br />
- Aquele ferro-velho?<br />
- Sim.<br />
- Ele está <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> planeta,<br />
monitoran<strong>do</strong> de lá.<br />
- Então, coloque-o no seu lugar e<br />
escondam-se atrás das luas. Não podemos<br />
deixar que saibam <strong>do</strong> nosso poder de fogo.<br />
- Positivo. Já havia me precavi<strong>do</strong><br />
neste senti<strong>do</strong>. Estamos invisíveis, ativei os<br />
escu<strong>do</strong>s.<br />
390
- Ótimo, mas, não confie muito.<br />
Saia daí e faça o que lhe disse. Mais uma<br />
coisa, você man<strong>do</strong>u alguém à espera dele?<br />
- Sim, três esquadrilhas Zag.<br />
- Tire-as de lá. Não interceptem.<br />
- Tutkan – entrou Fanna – como está<br />
o pessoal, aí em cima?<br />
- Por enquanto, estão bem. Um<br />
pouco nervosos, talvez.<br />
- Não vamos nos preocupar<br />
demais, por enquanto. Ahdack não nos<br />
fará nada, sem primeiro nos visitar. Outra<br />
coisa, ele não deve saber que eu estou<br />
<strong>aqui</strong>. Não podemos dar a ele, esta<br />
vantagem, pois já nos conhecemos e nos<br />
enfrentamos. Sei todas as suas táticas e<br />
como opera em suas manobras.<br />
- Fique tranqüilo, amigo. Ele não<br />
saberá.<br />
- Tut, Hamour e eu vamos traçar<br />
alguns planos de ação, <strong>aqui</strong> em baixo e<br />
logo entraremos em contato com você.<br />
- Mais uma coisa – entrou Hamour –<br />
no caso de você ser monitora<strong>do</strong>, o que é<br />
bem possível apesar <strong>do</strong>s escu<strong>do</strong>s, inverta<br />
a polaridade <strong>do</strong>s seqüenciais, vetor um,<br />
para que os sensores dele possam<br />
detectar nada mais <strong>do</strong> que um laboratório e<br />
391
instrumentos de navegação espacial<br />
ultrapassa<strong>do</strong>s. Ele deve se sentir seguro,<br />
superior em sua tecnologia. Passe a<br />
informação para os que estão fora.<br />
- Já entendi aonde você quer<br />
chegar. Deixe que venha. Vamos armar a<br />
ratoeira.<br />
O Telecon foi desativa<strong>do</strong>.<br />
Imediatamente os planos de ação<br />
começaram a ser elabora<strong>do</strong>s, enquanto<br />
Tutkan armava a sua camuflagem, as<br />
defesas de superfície de Kálerus, foram<br />
acionadas e devidamente disfarçadas,<br />
esconden<strong>do</strong> por inversão de polarização,<br />
os canhões Protton.<br />
- Erus, - disse Hamour – não<br />
devemos subestimar o poder de Ahdack.<br />
Aquela Base, é uma verdadeira fortaleza,<br />
como já vimos e pode ter sofri<strong>do</strong><br />
melhoramentos, além <strong>do</strong> que, os módulos<br />
de ataque são bastante rápi<strong>do</strong>s e<br />
numerosos.<br />
- Continue Hamour, aonde você<br />
quer chegar?<br />
- Pois bem, aqueles Mobis, além de<br />
rápi<strong>do</strong>s e numerosos, são programa<strong>do</strong>s<br />
392
para batalha, coisa que nosso povo, não<br />
é...<br />
- Ora, Hamour, vá direto ao ponto.<br />
- Isto significa que, no caso de<br />
batermos em retirada, será o fim, para nós.<br />
- O quer dizer com: bater em<br />
retirada?<br />
- Se ele perceber que a Kosmos<br />
não é o que se faz ser, ele a pegará como<br />
uma pata choca, num piscar de olhos. E os<br />
raios Fratton, são implacáveis, assim como<br />
o próprio Ahdack.<br />
- Mas os vetores inverti<strong>do</strong>s? E<br />
toda essa camuflagem <strong>aqui</strong> em baixo, além<br />
de que não sabe de você, isto não nos dá<br />
uma chance?<br />
- Sim, mas acontece que Ahdack<br />
não é nada tolo. Segun<strong>do</strong> um de seus<br />
lemas, ninguém está totalmente indefeso e<br />
por pior que seja, temos tecnologia<br />
suficiente para colocar coisas no espaço.<br />
Isto, provavelmente o fará pensar duas<br />
vezes, quan<strong>do</strong> nos visitar e não encontrar<br />
nada.<br />
- Você acha que ele vai desconfiar<br />
de nós?<br />
- Tenho certeza de que vai. Se ele<br />
não vê nada, é porque, ou não temos, ou<br />
393
estamos bem equipa<strong>do</strong>s, a ponto de<br />
esconder de seus instrumentos, uma<br />
tecnologia avançada.<br />
- Quer dizer então, que se<br />
corrermos o bicho pega e se ficarmos o<br />
bicho come!<br />
- É bem isso, meu caro. Temos que<br />
pensar com carinho nisto tu<strong>do</strong>. Nossas<br />
vidas estão em jogo.<br />
- Na mesa de Fanna, muitos<br />
rabiscos feitos em diversas folhas, se<br />
acumulavam. Um deles continha a<br />
formação da esquadra inimiga, além <strong>do</strong><br />
esquema da grande esfera.<br />
- Em caso de batalha – disse<br />
Hamour, apontan<strong>do</strong> para um <strong>do</strong>s rabiscos -<br />
, o que vai acontecer mais ce<strong>do</strong>, ou mais<br />
tarde, tentaremos invadir o núcleo da Base.<br />
- Como?<br />
- Estou pensan<strong>do</strong>. Se<br />
conseguirmos destruir seus Teleméricos<br />
Exométricos... sem eles, não há coman<strong>do</strong>,<br />
e sem coman<strong>do</strong>, os Mobis não sabem o<br />
que fazer... humm... neste caso, não<br />
vamos deixar para depois o que devemos<br />
fazer já.<br />
- O quer dizer com isto? Não está<br />
pensan<strong>do</strong> em atacar, está?<br />
394
plano.<br />
- Mais ou menos isto. Ouça o<br />
Em exatamente setenta Macrons<br />
dali, uma grande nave esférica, <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>r Ahdack, monitorava o planeta e<br />
sua pequena nave órbita, acompanhada de<br />
oito minúsculas naves armadas, em sua<br />
retaguarda. Seus Telaks analisavam com<br />
precisão, tu<strong>do</strong>, desde os tripulantes até os<br />
instrumentos de bor<strong>do</strong>.<br />
Subitamente, as oito minúsculas<br />
naves, vieram em sua direção.<br />
- Naves se aproximan<strong>do</strong>. Naves se<br />
aproximan<strong>do</strong>. Cinqüenta e cinco Macrons e<br />
se aproximan<strong>do</strong> – dizia uma voz metálica,<br />
sem entonação nem dinâmica, apenas<br />
estridente.<br />
Numa enorme sala, com cinco<br />
paredes em forma pentagonal, <strong>do</strong>tadas<br />
com inúmeros consoles e vasta<br />
instrumentação espacial – haven<strong>do</strong>, numa<br />
das paredes uma tela <strong>do</strong> seu tamanho,<br />
completamente diagramada, muitos seres<br />
estranhos trabalhavam em observações e<br />
operações. No centro, num plano mais<br />
395
eleva<strong>do</strong>, uma figura toda de negro, sentada<br />
numa poltrona, (que mais parecia um trono<br />
real) rodea<strong>do</strong> de outros consoles, emitiu a<br />
seguinte ordem:<br />
- Não interceptar. Deixem se<br />
aproximar. Ativar comunica<strong>do</strong>r com<br />
tradutor Universal Sansur; freqüência Zeta.<br />
Ativar Telak. Exométricos planetários.<br />
A grande tela se iluminou.<br />
Aparecen<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o sistema solar de<br />
Kálerus e com aproximação<br />
computa<strong>do</strong>rizada visual, trazen<strong>do</strong> o<br />
planeta em primeiro plano. Os<br />
instrumentos acusavam a presença de<br />
vida, embora com certas diferenças de<br />
espécies. As análises incluíam detalhes,<br />
desde sua atmosfera até a composição<br />
molecular <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong> planeta. Remgis<br />
era um sistema solar <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ze<br />
planetas, sen<strong>do</strong> Kálerus, o quarto a partir<br />
<strong>do</strong> sol.<br />
- Um belo planeta azul-esverdea<strong>do</strong> –<br />
disse aquela figura de negro.<br />
- Excelência, está em condições de<br />
transmissão – disse um <strong>do</strong>s Mobis,<br />
chegan<strong>do</strong> à sua frente, inclinan<strong>do</strong>-se<br />
mesuradamente.<br />
396
Atrás, apareceu outro, trazen<strong>do</strong>-lhe<br />
uma almofada, conten<strong>do</strong> uma corrente com<br />
medalhão <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> e um cetro craveja<strong>do</strong> de<br />
pedras luminosas, e lhe entregan<strong>do</strong>, após<br />
outra longa mesura.<br />
- Sim, vamos transmitir, agora.<br />
Da Kosmos, Tutkan transmitia<br />
ordens aos Zags.<br />
- Não se aproximem demais.<br />
Mantenham distância prudente e<br />
aguardem novas ordens. Isto é tu<strong>do</strong>.<br />
- Certo comandante – disse Zeuez,<br />
que estava na liderança.<br />
Imediatamente após a ordem, o<br />
Telecon acusou entrada de freqüência<br />
externa e logo aquela figura de preto<br />
apareceu nas telas da Kosmos e nas da<br />
superfície de Kálerus.<br />
- Povo de Kálerus, sei que estão<br />
me ven<strong>do</strong> e ouvin<strong>do</strong>...<br />
Hamour, imediatamente, pulou de<br />
sua cadeira.<br />
- Este, não é Ahdack!<br />
- Esta voz... é-me familiar – disse<br />
Fanna.<br />
- Somos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> Padrão<br />
Estelar e viemos em paz...<br />
397
- Eu conheço esta voz, mas não<br />
consigo associar...<br />
-... Queremos apenas reabastecer<br />
nossas naves, um pouco de alimento e<br />
água potável...<br />
- Já sei – disse Fanna, num estalo -<br />
... mas não pode ser...<br />
- Quem você acha que é Erus?<br />
- Carvelus, sim, é a voz de<br />
Carvelus.<br />
- Carvelus? Quem é Carvelus?<br />
- Se for Carvelus, estamos salvos<br />
Hamour. Ele é um <strong>do</strong>s nossos. Graças a<br />
Deus... tomara... – e Fanna emitiu –<br />
Carvelus é você?<br />
- Sim, este é o meu nome e quem é<br />
você?<br />
- Fanna. Sou eu, Erus Fanna...<br />
- Fanna? ... Ah, mas isto é<br />
maravilhoso. Mas, que enorme prazer<br />
reencontrá-lo!!<br />
Aquilo soava falso. Hamour<br />
percebeu e não gostou.<br />
-... Então são desnecessárias as<br />
formalidades de apresentação. Em breve<br />
nos veremos.<br />
O Telão se desativou.<br />
398
- Erus, me responda quem é<br />
Carvelus?<br />
- Lembra-se de que lhe falei a<br />
respeito <strong>do</strong>s que ficaram em Someron?<br />
Carvelus foi um deles.<br />
- Ah, sim, o líder da rebelião,<br />
apoia<strong>do</strong> por aquele místico, como era<br />
mesmo o nome dele?<br />
- Ah ! esqueça d<strong>aqui</strong>lo. Está,<br />
aonde deve estar.<br />
- Então, meu caro, creio que o<br />
perigo não acabou. A voz dele soou falsa<br />
demais... e, o que ele está fazen<strong>do</strong> numa<br />
Fortaleza Mobis e ainda mais, no<br />
coman<strong>do</strong>?<br />
- Não faço a menor idéia. Espero<br />
que ele mesmo nos diga.<br />
- É, e ele mesmo se convi<strong>do</strong>u. Não<br />
confio nele...<br />
- Nem eu. Vamos manter tu<strong>do</strong> como<br />
está – e ativou a comunicação com a<br />
Kosmos – Você ouviu Tut?<br />
- Ouvi e não gostei nenhum pouco.<br />
Achei-o diferente daquele Carvelus que<br />
conhecemos. Pareceu-me bastante<br />
prepotente, como sempre.<br />
- Hamour também não gostou.<br />
399
- O jogo continua. Vou tirar isto a<br />
limpo e já.<br />
- Veja lá, o que você vai fazer<br />
hein?<br />
- Sossegue Erus – e Tutkan ativou<br />
o Telecon, manten<strong>do</strong> a ligação com Fanna<br />
– Carvelus, <strong>aqui</strong> é Tutkan, o seu<br />
comandante, pode me ouvir?<br />
- Posso vê-lo, também, mas<br />
deixemos estas formalidades. Não temos<br />
mais nada em comum, mas permitirei que<br />
me fale “senhor”.<br />
- O que você está fazen<strong>do</strong> nesta<br />
Base Mobis?<br />
Tutkan sentiu imediatamente o fora<br />
que dera, ao Carvelus, perguntar-lhe:<br />
- Ora!!! Então você conhece nossas<br />
fortalezas?<br />
- Encontramos alguns manuscritos,<br />
longe d<strong>aqui</strong>, que falavam a respeito delas –<br />
remen<strong>do</strong>u.<br />
- E o que continha nestes<br />
“manuscritos”?<br />
- Tutkan realmente não sabia como<br />
falar a respeito <strong>do</strong>s Mobis, como viajantes<br />
<strong>do</strong> espaço, possui<strong>do</strong>res de um império<br />
invejável, contan<strong>do</strong> com muitos planetas e<br />
povos de muitas raças...<br />
400
- Muito bem, então você já sabe da<br />
existência <strong>do</strong> nosso Império.<br />
“Nosso Império”<br />
Hamour e Fanna se entreolharam,<br />
comentan<strong>do</strong> baixinho.<br />
Nisto, o Telak anunciou a<br />
aproximação da esquadra de Carvelus, em<br />
trinta Macrons. Na velocidade que vinham,<br />
estariam orbitan<strong>do</strong> Kálerus em um dia.<br />
- Como você saiu de Someron? –<br />
perguntou Tutkan.<br />
- Esta é uma longa história. Logo<br />
falaremos sobre isto, frente a frente. Mal<br />
posso esperar para este nosso ...<br />
“reencontro”.<br />
Tutkan mu<strong>do</strong>u o tom de voz,<br />
tentan<strong>do</strong> ser mais amável, quanto podia.<br />
- Estamos esperan<strong>do</strong>. Não demore<br />
muito!<br />
- Muito bem, isto é tu<strong>do</strong>.<br />
Dito isto as comunicações foram<br />
cortadas, mas, o Telecon, permaneceu<br />
ativa<strong>do</strong>. Fanna, Hamour e Tutkan,<br />
continuaram.<br />
- Está na cara que ele quer muito<br />
mais <strong>do</strong> que reabastecer com água e<br />
comida. Olhe Tut, não gostei nadinha <strong>do</strong><br />
401
jeito que ele falou, como se fosse o <strong>do</strong>no<br />
<strong>do</strong> Universo.<br />
- Nem eu, Hamour. Você acha que<br />
ele vai tentar algo? ... Quero dizer, aos<br />
moldes <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r?<br />
Aposto que sim.<br />
- Vamos dar corda a ele – atalhou<br />
Fanna – e ver que se enforque sozinho.<br />
- Por outro la<strong>do</strong> – disse Hamour – se<br />
dermos corda demais, poderá enforcar a<br />
nós to<strong>do</strong>s.<br />
- Concor<strong>do</strong> – disse Fanna – Vamos<br />
dar-lhe, apenas, a quantidade que precisa,<br />
para seu uso próprio.<br />
Afinal, a ratoeira continuava<br />
armada, com trinta formações Zag e <strong>do</strong>is<br />
cruza<strong>do</strong>res, arma<strong>do</strong>s até os dentes, além<br />
da Kosmos, se caso fossem <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s,<br />
isto não seria barato.<br />
Os preparativos para a chegada de<br />
Carvelus, deram a ordem <strong>do</strong> dia. A<br />
população foi avisada de que em breve<br />
teriam a visita de um antigo companheiro e<br />
que fosse preparada uma recepção<br />
condigna <strong>do</strong>s Somerianos.<br />
402
CAPÍTULO VII<br />
A dez Macrons de distância de<br />
Kálerus, entre o sétimo e o oitavo planeta<br />
<strong>do</strong> Sistema Remgis, a fortaleza de<br />
Carvelus, iniciou o procedimento de<br />
desaceleração, paran<strong>do</strong> entre o sexto e<br />
quinto. Precisamente, perto <strong>do</strong> sexto. Este<br />
chama<strong>do</strong> de Plus tinha uma beleza<br />
inigualável, visto de longe, com seus anéis<br />
colori<strong>do</strong>s, resplandecen<strong>do</strong> ante os raios<br />
solares. Era constituí<strong>do</strong> de hidrogênio<br />
líqui<strong>do</strong> puro, apresentan<strong>do</strong> núcleo sóli<strong>do</strong>.<br />
Totalmente insólito e perigoso.<br />
O Telecon acusou e entrada de<br />
freqüência externa.<br />
- Eu, Carvelus, comandante da<br />
quarta esquadra Imperial Mobis, digo que;<br />
dentro de cinco tempos, estarei pousan<strong>do</strong><br />
no seu novo e belo planeta, com minha<br />
nave particular. Levarei comigo, duas<br />
esquadrilhas Mobis-7V para minha escolta.<br />
Para familiarizá-los sobre estas naves, são<br />
403
ovaladas rápidas e letais aos inimigos <strong>do</strong><br />
Império.<br />
Para Fanna e os seus, não era<br />
novidade nenhuma, aquelas naves. No<br />
vídeo <strong>do</strong> Komptor, envia<strong>do</strong> pelo Telak,<br />
mostravam os pormenores de cada uma<br />
das naves que compunham o complexo<br />
arma<strong>do</strong> de cada fortaleza. Eram<br />
repassa<strong>do</strong>s, os mapeamentos de cada<br />
unidade, com detalhes. Era, sem dúvida,<br />
uma vantagem de que Carvelus não<br />
dispunha, além <strong>do</strong>s defletores vetoriais da<br />
Kosmos, simulan<strong>do</strong> velhos instrumentos e,<br />
portanto inofensivos.<br />
Os sensores analisa<strong>do</strong>res da<br />
grande fortaleza faziam o mesmo.<br />
Memorizava nos seus computa<strong>do</strong>res, os<br />
detalhes <strong>do</strong>s pequenos March-1 e da<br />
Kosmos, velha conhecida de Carvelus.<br />
Este pensava consigo mesmo: - Não darão<br />
trabalho algum, na conquista. Estão muito<br />
mal arma<strong>do</strong>s e não entendem nada sobre<br />
batalhas no espaço. O impera<strong>do</strong>r terá um<br />
bom lucro nesta empreitada e eu terei mais<br />
uma estrela para o meu colete metálico.<br />
Posso até mesmo ter a generosidade dele,<br />
404
gozar de sua simpatia e ganhar aquele<br />
pedaço no céu. Será ótimo ter Fanna como<br />
meu servo pessoal e Tutkan... Tutkan...<br />
você é repulsivamente repugnante...<br />
você... vou matá-lo pessoalmente.<br />
Enquanto tais pensamentos<br />
povoavam sua mente, preparava alguns<br />
instrumentos de espia em seu colete.<br />
Instrumentos, estes, que fariam as análises<br />
de sua presa. Teria junto, <strong>do</strong>is robots RT-6,<br />
que dariam os últimos retoques sob o<br />
coman<strong>do</strong> de um Mobi, nas pesquisas<br />
instrumentais <strong>do</strong> inimigo.<br />
Agora sim, estava prepara<strong>do</strong> para<br />
viagem. Por fim, vestiu sua capa, com o<br />
auxílio de <strong>do</strong>is andróides servi<strong>do</strong>res.<br />
Na Kosmos, Tutkan, de olho no<br />
Telak, percebeu a movimentação na<br />
fortaleza e transmitiu suas ordens.<br />
- Zag-um e Zag-<strong>do</strong>is, vocês e seus<br />
pares, escoltem a nave de Carvelus e os<br />
seus. Os demais voltem para a base.<br />
- Certo comandante. Como quer a<br />
formação?<br />
405
- Em parelha com os Mobis-7V.<br />
Mantenham seus olhos abertos. Não creio<br />
que façam nada, mas é bom estarmos<br />
prepara<strong>do</strong>s. Nunca se sabe o que Carvelus<br />
está m<strong>aqui</strong>nan<strong>do</strong>.<br />
Um Mobis 5-A, acompanha<strong>do</strong> por<br />
outros menores, os 7-V, deixaram a<br />
fortaleza, com destino a Kálerus. Carvelus<br />
não gostou nem um pouco, quan<strong>do</strong><br />
percebeu a aproximação <strong>do</strong>s March-1 e<br />
muito menos ainda, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
emparelhamento com sua escolta. Neste<br />
instante, Tutkan entrou em sua tela.<br />
- Carvelus, <strong>aqui</strong> é Tutkan. Pode me<br />
ouvir?<br />
- Alto e claro. Pode falar.<br />
- Estamos com você e fazemos<br />
questão de escoltá-lo até nossas humildes<br />
dependências. Nossos rapazes estão<br />
contentes em voar com você e os seus.<br />
Sentem-se honra<strong>do</strong>s em trazê-lo à nossa<br />
companhia.<br />
Carvelus sentiu-se envaideci<strong>do</strong> e<br />
assumiu sua expressão de poder, tal qual<br />
aprendera com seu impera<strong>do</strong>r. Aliás,<br />
sentia-se o próprio.<br />
406
- Mas quanta gentileza. Não<br />
esperava uma acolhida tão... humm...<br />
como posso dizer ... tão fraternal!<br />
- Ora, ora! É pelos velhos tempos!!<br />
- Diga-me, Zeuez, ainda continua<br />
na ativa?<br />
- Sim, e está no coman<strong>do</strong> de sua<br />
escolta.<br />
- Ponha-o na linha. Quero falar com<br />
ele.<br />
- Ele está na escuta. Pode falar<br />
Zeuez.<br />
- Olá, Carvelus, vejo que você subiu<br />
na vida!<br />
- Sim, é claro e como vai você?<br />
- Estou bem. Apenas um pouco<br />
mais velho e você?<br />
- Um pouco mais rico, meu caro.<br />
Agora, Carvelus ria muito e por um<br />
momento reportou-se aos velhos tempos<br />
em que ele e Zeuez compartilhavam de<br />
sólida amizade e faziam parte da mesma<br />
esquadrilha, voan<strong>do</strong> nas velhas máquinas<br />
de Someron. Mas, logo voltou ao seu novo<br />
estilo.<br />
- Muito bem, Zeuez, agora volte<br />
aos seus afazeres de me prestar escolta,<br />
407
preciso transmitir algumas ordens ao meu<br />
coman<strong>do</strong>.<br />
Desativou o Telak<br />
descaradamente, deixan<strong>do</strong> Zeuez e<br />
Tutkan, falan<strong>do</strong> sozinhos, atônitos e<br />
furiosos.<br />
Apesar da situação delicada e<br />
perigosa, o povo de Kálerus, nada sabia,<br />
exceto <strong>aqui</strong>lo que os governa<strong>do</strong>res lhes<br />
disseram. A vida continuava a mesma nas<br />
cidades, mas agora, com a expectativa da<br />
volta de um irmão.<br />
Quan<strong>do</strong> a nave de Carvelus e os<br />
Mobis pousaram, cerca de dez mil seres,<br />
aguardavam-no, no saguão e arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
Aeroporto de Atlantis. Proporcionaram-lhe<br />
uma verdadeira festa de boas vindas, com<br />
cartazes e coisas <strong>do</strong> gênero, dignas,<br />
realmente, de um impera<strong>do</strong>r. Ele, Carvelus,<br />
jamais pensara em tal homenagem. Isto o<br />
deixou mais cheio de si mesmo.<br />
Ao descer de sua nave, assumiu<br />
uma pose toda especial. Da rampa de sua<br />
própria nave, sau<strong>do</strong>u a to<strong>do</strong>s, com acenos,<br />
408
sorridente, e porque não dizer, vitorioso.<br />
Enquanto sorria, pensava -... esse povo me<br />
a<strong>do</strong>ra. Amanhã, eu serei o seu<br />
conquista<strong>do</strong>r e líder... e vocês se<br />
ajoelharão diante de mim e me servirão...<br />
Aquela figura, toda de negro, com<br />
colete metálico <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> e capa pesada<br />
(também preta), caminhava dentro<br />
daquelas botas lustrosas, dan<strong>do</strong> a<br />
impressão de um herói, de sua literatura<br />
antiga.<br />
O povo o reverenciava,<br />
impressiona<strong>do</strong>s com sua elegância e<br />
beleza.<br />
Ele se sentiu poderoso diante de<br />
“sua” plebe.<br />
Dois Mobis andróides, com a<br />
aparência de um ser normal, o seguiam,<br />
afastan<strong>do</strong> os que queriam saudá-lo de<br />
perto.<br />
O povo abriu um corre<strong>do</strong>r e eles<br />
passaram.<br />
409
Erus Fanna estava no fim desse<br />
corre<strong>do</strong>r e deu-lhe as boas vindas<br />
costumeiras. A seguir os convi<strong>do</strong>u para<br />
entrarem no transporte de superfície, que<br />
os conduziu ao prédio de Administração de<br />
Atlantis.<br />
Durante to<strong>do</strong> o trajeto, Carvelus<br />
permaneceu em pé acenan<strong>do</strong> e<br />
distribuin<strong>do</strong> beijos para a população<br />
encantada, que gritava “hurras e vivas”.<br />
Chegan<strong>do</strong> ao prédio, foram<br />
diretamente para o salão principal, num<br />
cortejo espantoso. Durante este trajeto,<br />
Carvelus sequer dignou-se a falar com<br />
Fanna, deixan<strong>do</strong>-o, visivelmente<br />
embaraça<strong>do</strong>. Somente falou, ao entrar no<br />
salão devidamente prepara<strong>do</strong> com faixas<br />
de boas vindas e saudações fraternais.<br />
- Belo lugarzinho, esse seu, hein,<br />
Fanna?<br />
Eram palavras de puro desprezo,<br />
apesar de proferi-las num amplo e cordial<br />
sorriso aos em sua volta.<br />
- Atlantis. Esta é Atlantis.<br />
- Ora, mas que nomezinho original,<br />
você deu... Atlantis?!<br />
410
O comentário e a pergunta<br />
exclamada eram por demais desdenhosos,<br />
pelo qual, Fanna se controlou para não<br />
fazer uma besteira, ali mesmo. Preferiu<br />
seguir o jogo.<br />
No centro <strong>do</strong> salão, havia uma<br />
grande mesa para onde, segun<strong>do</strong> a<br />
programação, seria a confraternização.<br />
- Realmente, é um lugarzinho<br />
interessante!<br />
Fanna, sem perder a compostura,<br />
respondeu de imediato:<br />
- Esse “lugarzinho interessante”, é<br />
em homenagem à estrela solitária mais<br />
brilhante <strong>do</strong> nosso antigo sistema.<br />
- Estou deveras impressiona<strong>do</strong><br />
com sua criatividade. E o que mais você<br />
“homenageou”, <strong>do</strong> nosso “sistema”?<br />
- Aqui temos Vlaupora, Mirvian,<br />
Pakeus e Krópitus.<br />
- É mesmo? Que interessante!!<br />
- Sim – disse Fanna, ignoran<strong>do</strong><br />
aquelas insinuações<br />
Arrogantes. - Construímos nossas cidades,<br />
pensan<strong>do</strong> nas que amávamos e fomos<br />
obriga<strong>do</strong>s a aban<strong>do</strong>nar, você sabe...<br />
411
- Pakeus... – ao pronunciar este<br />
nome, Carvelus comprimiu os olhos,<br />
dardejan<strong>do</strong> faíscas – Pakeus... foi<br />
construída, também, num monte de lixo?<br />
Fanna perdeu as estribeiras.<br />
- Olha <strong>aqui</strong>, Carvelus, se não<br />
gosta de estar <strong>aqui</strong>, por que veio então?<br />
Carvelus o mirou por cima <strong>do</strong><br />
ombro e não respondeu, deixan<strong>do</strong> Fanna<br />
mais furioso ainda, tentan<strong>do</strong> adivinhar os<br />
pensamentos daquela cabeça <strong>do</strong>entia.<br />
Contu<strong>do</strong> fez o mesmo. Calou-se.<br />
Sentou-se à mesa, exceto os <strong>do</strong>is<br />
andróides, que permaneceram em pé, um<br />
de cada la<strong>do</strong> de seu mestre. Fanna<br />
contava até dez, para não explodir e<br />
consequentemente estragar tu<strong>do</strong>. Era<br />
preciso agüentar a energia repulsiva<br />
causada por Carvelus. Tinha que mantê-lo<br />
ocupa<strong>do</strong>, pelo menos <strong>do</strong>is tempos para<br />
que o plano traça<strong>do</strong> por Hamour, pudesse<br />
vingar.<br />
- Carvelus – disse Fanna, agora<br />
mais calmo – Diga-me, o que o traz <strong>aqui</strong>?<br />
- Ora, meu caro, a saudade <strong>do</strong>s<br />
“velhos amigos”.<br />
412
- Como conseguiu sair de<br />
Someron?<br />
- Um perío<strong>do</strong> após terem saí<strong>do</strong>,<br />
apareceu o meu Impera<strong>do</strong>r, Ahdack, cuja<br />
generosidade, me salvou daquele lugar<br />
horrível, que você me deixou para morrer.<br />
Fanna ouviu e respirou fun<strong>do</strong>,<br />
ignoran<strong>do</strong> a injustiça lhe atribuída.<br />
- E os outros que aconteceu a<br />
eles?<br />
- Os que não morreram, servem o<br />
impera<strong>do</strong>r, assim como eu.<br />
- Mas você, se saiu melhor, não?<br />
- Sim, naturalmente, como vê,<br />
tenho a minha própria frota e o meu<br />
coman<strong>do</strong>.<br />
- Sim, continue, fale-me mais de<br />
você.<br />
- Sim, como disse antes, você me<br />
deixou lá, para morrer e...<br />
- Êpa, espere um pouco. Você e<br />
tão somente você, foi quem quis ficar.<br />
Você, Matlew e os seus segui<strong>do</strong>res. Eu<br />
não deixei ninguém para morrer...<br />
- Na situação que estávamos!? ...<br />
Ora, não havia lugar para to<strong>do</strong>s... você<br />
mesmo sugeriu que ficássemos.<br />
413
- Você sabe que não foi assim.<br />
Vocês que não quiseram vir conosco, por<br />
acaso teriam outro lugar para ir?<br />
Carvelus ignorou a pergunta e<br />
continuou:<br />
- Então, como ia dizen<strong>do</strong>, após a<br />
partida de vocês, Ahdack, o meu<br />
impera<strong>do</strong>r, nos encontrou e nos levou para<br />
a sua Fortaleza Imperial. Aliás, devo lhe<br />
dizer que esta Fortaleza tem o tamanho da<br />
terceira lua de Someron. Pois bem,<br />
Matlew, por exemplo, foi designa<strong>do</strong> para o<br />
setor de robótica e eu, pela minha<br />
experiência, para o setor bélico. O restante<br />
foi transferi<strong>do</strong> para alguns de seus<br />
planetas, no Segun<strong>do</strong> Setor Estelar, de sua<br />
propriedade. Isto tu<strong>do</strong> confirma a profecia<br />
de Krasha-Halah que dizia: “No final <strong>do</strong>s<br />
tempos os incautos se afastarão e aqueles<br />
que me seguirem herdarão os Céus”.<br />
Fanna ignorou as profecias e lhe<br />
perguntou, com muita paciência:<br />
- Seus planetas? Suas<br />
propriedades?<br />
- Evidentemente, meu caro. O<br />
Impera<strong>do</strong>r Ahdack é o único senhor de<br />
tu<strong>do</strong> e o seu império, é o maior, de todas<br />
414
as galáxias e não tem inimigos. Ahdack é o<br />
ser mais poderoso <strong>do</strong> Universo.<br />
- Muito bem! E você diz que ele<br />
não tem inimigos?<br />
- Naturalmente que não. Quem se<br />
atreveria a ser contra o Impera<strong>do</strong>r Ahdack?<br />
Você? Certamente que não. Vocês to<strong>do</strong>s,<br />
são nada, perto <strong>do</strong> meu impera<strong>do</strong>r. Com<br />
um simples estalar de de<strong>do</strong>s, seriam<br />
dizima<strong>do</strong>s. Jamais poderiam pensar em<br />
enfrentá-lo, com este ferro-velho que<br />
possuem.<br />
- Jamais pensaríamos nisto.<br />
- É bom que pense assim. Você<br />
deve reconhecer a sua inferioridade. Isto é<br />
muito esperto, mesmo vin<strong>do</strong> de você.<br />
- Por que está me dizen<strong>do</strong> isto,<br />
Carvelus?<br />
- Para você saber quem é o senhor<br />
de tu<strong>do</strong>. O único senhor.<br />
A bor<strong>do</strong> da Kosmos, a conversa<br />
era outra, apesar <strong>do</strong> que passava em<br />
Atlantis, estar sen<strong>do</strong> totalmente<br />
monitoriza<strong>do</strong>.<br />
- Comandante, eles estão bem<br />
guarda<strong>do</strong>s. Os sensores<br />
415
Kramset II revelam a existência de uma<br />
barreira invisível. Não poderíamos passar,<br />
sem sermos detecta<strong>do</strong>s. Isto se<br />
conseguisse passar.<br />
Maxun havia orbita<strong>do</strong> a fortaleza,<br />
duas vezes.<br />
- Maxun, reative seus sensores<br />
Kranset II e faça mais uma órbita, mas<br />
desta vez, bem devagar – disse Tutkan.<br />
- Sim, senhor.<br />
- Veja Hamour – que estava a bor<strong>do</strong><br />
da Kosmos – são os pólos que emanam a<br />
barreira deles.<br />
- Espere um pouco. Acabo de ter<br />
uma idéia e acho que vai funcionar.<br />
Hamour foi até o Komptor, traçou<br />
algumas projeções e voltou<br />
apressadamente, com alguns rabiscos<br />
numa folha.<br />
- Existe um meio – e comunicou-se<br />
com Maxun – Maxun, escute com atenção.<br />
Vá até o pólo norte da esfera. Lance um<br />
dar<strong>do</strong> sonda-telemérica, ativada apenas<br />
com ondas curtas de rádio. Agora, preste<br />
muita atenção. Este dar<strong>do</strong> tem que atingir<br />
exatamente o centro <strong>do</strong> pólo, ele vai<br />
atravessar o campo e confundirá os<br />
sensores Mobis.<br />
416
- Está certo, Hamour, vamos tentar –<br />
e se comunicou com o seu par, Kalibur –<br />
Kal, você ouviu?<br />
- Afirmativo capitão.<br />
- Então, vamos entrar em leque. Eu<br />
vou entrar por cima e nos encontraremos<br />
lá. Eu mergulho e jogo o nosso<br />
presentinho, enquanto você passa reto e<br />
continua a órbita.<br />
- Positivo capitão.<br />
Os <strong>do</strong>is March reativaram seus<br />
defletores e rolaram a órbita. As duas<br />
naves se encontraram no topo e Maxun<br />
mergulhou, preparou o sintoniza<strong>do</strong>r de<br />
pontaria, ajustou o mira<strong>do</strong>r e disparou,<br />
sain<strong>do</strong> em seguida.<br />
- Dar<strong>do</strong> dispara<strong>do</strong>.<br />
- Capitão, temos companhia, são<br />
<strong>do</strong>is à sua esquerda e <strong>do</strong>is atrás de mim,<br />
e, estão atiran<strong>do</strong>.<br />
- Vamos, Kal, pé na tábua.<br />
As duas pequenas naves partiram,<br />
aceleran<strong>do</strong> o máximo seus motores em<br />
manobras evasivas de fuga.<br />
- O que faremos capitão, estamos<br />
sem os Prottons, não podemos com eles!<br />
417
- Zag cinco para a base, estamos<br />
em dificuldades. Estão atiran<strong>do</strong> para<br />
valer... precisamos de ajuda.<br />
Neste instante, Zeuez e Velz<br />
surgiram por trás, equipa<strong>do</strong>s com seus<br />
Prottons, abrin<strong>do</strong> fogo.<br />
- Fiquem calmos, estamos <strong>aqui</strong>.<br />
Não vai sobrar nada desses caras.<br />
- Fui atingi<strong>do</strong> – gritou Kalibur – o<br />
motor um parou, pouca aceleração...<br />
- Não entre em pânico, estou atrás<br />
<strong>do</strong> seu caça<strong>do</strong>r – disse Velz – quan<strong>do</strong> eu<br />
disser já, saia pela esquerda.<br />
- Sim, senhor.<br />
Quan<strong>do</strong> o sensor de alvo se<br />
encaixou na mira eletrônica, o March<br />
caça<strong>do</strong>r, gritou:<br />
- Já!<br />
O cursor foi ativa<strong>do</strong> e os <strong>do</strong>is<br />
Prottons dispararam simultaneamente seus<br />
raios azula<strong>do</strong>s, Kalibur saiu e o Mobis 7V<br />
explodiu.<br />
- Capitão, à sua esquerda!!<br />
Zeuez fez um espiral, ativan<strong>do</strong> os<br />
motores em retrocesso e os <strong>do</strong>is Mobis<br />
passaram. Zeuez, só acelerou e disparou<br />
em um deles, mas, os <strong>do</strong>is explodiram.<br />
Logo, a surpresa se explicou, com Velz se<br />
418
mostran<strong>do</strong> na sua asa direita. Então<br />
abriram, pois vinha um persegui<strong>do</strong>r<br />
atiran<strong>do</strong>. Este seguiu na caça de Zeuez.<br />
- Capitão, vamos experimentar o<br />
“X”?<br />
- Vamos, entre por baixo.<br />
- Está certo... na marca... agora.<br />
No encontro <strong>do</strong> vértice <strong>do</strong> “X”, Velz<br />
disparou seguidas vezes, pegan<strong>do</strong> o Mobis<br />
em cheio.<br />
- Kalibur, como está sua nave? –<br />
perguntou Zeuez.<br />
- Aceleração prejudicada, senhor.<br />
Agora, quase nenhuma.<br />
- Vamos rebocá-lo. Maxun tome<br />
conta, nós damos cobertura.<br />
- É pra já, senhor.<br />
- Rapazes – entrou Tutkan –<br />
Afrouxem os cintos, a tela está limpa.<br />
Erus Fanna não agüentava mais a<br />
arrogância de Carvelus e como precisava<br />
de <strong>do</strong>is tempos, para a distração, consultou<br />
seu marca<strong>do</strong>r de tempo. Os tempos<br />
haviam se esgota<strong>do</strong> e pensou – Deve estar<br />
tu<strong>do</strong> pronto.<br />
419
- Diga-me, Carvelus, você só veio<br />
<strong>aqui</strong> para nos dizer que Ahdack é o<br />
“grande senhor <strong>do</strong> Universo”, e com que<br />
propósito?<br />
- Ora, meu caro, não se faça de<br />
desentendi<strong>do</strong>!!<br />
- Desentendi<strong>do</strong>. Por que?<br />
- Naturalmente, você não vai<br />
querer decepcionar o Impera<strong>do</strong>r, aliás,<br />
nosso impera<strong>do</strong>r, vai?<br />
- Decepcionar, como? Nosso povo,<br />
como você já sabia, é pacífico, trabalha<strong>do</strong>r<br />
e só queremos viver nossas vidas, sem<br />
importunar o seu “impera<strong>do</strong>r”, ou quem<br />
quer que seja!<br />
- Ótimo, creio que nos entendemos<br />
bem, por isso, estabelecerei <strong>aqui</strong>, um<br />
ponto avança<strong>do</strong> <strong>do</strong> Império, onde to<strong>do</strong>s<br />
poderão ter a oportunidade de servir e<br />
a<strong>do</strong>rar o Impera<strong>do</strong>r.<br />
- Servir, a<strong>do</strong>rar o impera<strong>do</strong>r? Você<br />
não está falan<strong>do</strong> sério!?!<br />
- Ora, você entendeu muito bem.<br />
As palavras que saíam da boca de<br />
Carvelus, eram calmas e arrogantes. Era<br />
como uma faca afiada nos nervos de cada<br />
um que o ouvia e via aquela cara<br />
deslavada com voz pastosa.<br />
420
- Eu declaro, pelos direitos e<br />
poderes a mim concedi<strong>do</strong>s, este povo,<br />
mais uma propriedade <strong>do</strong> Império de<br />
Ahdack – nisto, Carvelus se levantou e<br />
ergueu o cetro -... E de agora em diante,<br />
enquanto viverem servirão a mim... até que<br />
o Impera<strong>do</strong>r em pessoa os honre com sua<br />
visita e decida quem os liderará.<br />
Fanna, vermelho de raiva, bateu<br />
com o punho fecha<strong>do</strong>, com toda a força, na<br />
mesa e falou bem alto:<br />
- Basta, Carvelus...<br />
Este, por sua vez, sorria<br />
desdenhosamente, fazen<strong>do</strong> gesto,<br />
impedin<strong>do</strong> as reações <strong>do</strong>s andróides, que<br />
permaneceram, como antes, feito estátuas.<br />
-... Agora, pegue estes bonecos e<br />
ponha-se d<strong>aqui</strong> para fora, imediatamente.<br />
- Amanhã, você mudará o tom,<br />
meu caro e se ajoelhará diante de mim,<br />
imploran<strong>do</strong> por sua miserável vida.<br />
Os membros <strong>do</strong> Conselho que até<br />
então, permaneciam cala<strong>do</strong>s, cochicharam<br />
alguma coisa entre si e foram até Fanna<br />
que caminhava, pesadamente, em direção<br />
de sua sala.<br />
- Erus! – chamou Ambhórius –<br />
precisamos falar.<br />
421
- Está certo, acho que temos.<br />
Vamos reunir a assembléia em um tempo,<br />
não meio. Na sala <strong>do</strong> Conselho, em meio<br />
tempo.<br />
Fanna foi direto ao Telecon, sen<strong>do</strong><br />
interrompi<strong>do</strong> por um rapaz que subia os<br />
degraus da escadaria de acesso ao<br />
primeiro piso.<br />
- Senhor, Carvelus deseja saber,<br />
quem o levará ao aeroporto?<br />
- Diga-lhe, que mandei que fosse a<br />
pé.<br />
- Mas, senhor, devi<strong>do</strong> à<br />
transmissão, muitos lá fora estão<br />
revolta<strong>do</strong>s e propensos a alguma<br />
bobagem.<br />
- Pois ele que se arranje. Se for tão<br />
poderoso como diz ser, que providencie<br />
sua retirada. Nós cumprimos nossa parte,<br />
o recebemos de braços abertos, mas ele<br />
os fechou.<br />
- O rapaz desceu com o reca<strong>do</strong> e<br />
Fanna continuou o seu caminho. Sentou-se<br />
ao Telecon e transmitiu uma ordem ao seu<br />
povo.<br />
- Meu povo, deixe que este verme<br />
se una aos seus. Não lhe façam mal, pois<br />
não merece este esforço. Eles irão a pé até<br />
422
o Aeroporto. Estou certo que posso confiar<br />
em suas decisões e bom senso. Vamos<br />
conceder-lhe uma última oportunidade,<br />
para que pense no que está fazen<strong>do</strong>.<br />
Depois destas palavras contatou<br />
com a Kosmos.<br />
- E então, vocês viram? O que<br />
acham?<br />
- Sem dúvida – se adiantou Hamour<br />
– Ele vai atacar e hoje à noite. Pelo que vi e<br />
ouvi, Carvelus aprendeu muito bem, as<br />
maneiras de seu mestre. Chega como<br />
quem não quer nada, se mostra superior,<br />
depois, quanto menos se espera, decreta<br />
no que vê sua propriedade. Independente<br />
ou não da resposta, ataca e destrói o que<br />
está pela frente. Isto lhe faz bem ao ego.<br />
Erus, se ele atacar, estaremos prepara<strong>do</strong>s.<br />
- Erus – entrou, Tutkan – enquanto<br />
vocês falavam, plantamos uma Sonda<br />
Telemérica Ativada na Fortaleza. Tivemos<br />
uma pequena batalha e constatamos que<br />
são perigosos, mas, sem cérebros.<br />
Abatemos quatro deles e sofremos uma<br />
avaria, num <strong>do</strong>s March, desarma<strong>do</strong>s.<br />
- Ele, certamente se dará conta de<br />
que lhe fizemos uma visitinha, fará uma<br />
busca e lá se vai o nosso Dar<strong>do</strong>.<br />
423
- Não creio – disse Hamour – a<br />
sonda está desativada no momento, além<br />
<strong>do</strong> que, não ultrapassamos o seu escu<strong>do</strong>.<br />
E tem mais, ele está muito senhor de si.<br />
Acredita que nada pode detê-lo, mesmo<br />
porque, como poderíamos, com este ferrovelho?<br />
Lembrem-se, eles não contam com<br />
uma reação nossa. Não estão<br />
acostuma<strong>do</strong>s a ter resistência.<br />
- Erus – disse Tutkan, continuan<strong>do</strong> o<br />
raciocínio – talvez, se fosse o próprio<br />
Ahdack e se soubesse da existência de<br />
Hamour, as coisas fossem diferentes.<br />
- Está certo, rapazes. Vamos lutar.<br />
Agora, deixe-me contar as últimas. O povo<br />
está revolta<strong>do</strong> com Carvelus e não há<br />
transporte para mandá-lo para o aeroporto,<br />
de maneiras, que o mandei ir a pé.<br />
- A pé?<br />
- Sim, e está fazen<strong>do</strong> um dia<br />
daqueles. Acho que ele vai derreter dentro<br />
daquela roupa pomposa e preta.<br />
- E cheio de bolhas nos pés –<br />
concluiu, Tutkan, dan<strong>do</strong> risadas junto aos<br />
outros.<br />
- Ele bem que merece. Agora,<br />
preciso ir. Tenho uma reunião com o<br />
Conselho. Vou deixar o Telecon da sala,<br />
424
ativa<strong>do</strong>, para que vocês possam<br />
acompanhar daí.<br />
Fanna apanhou seus apetrechos<br />
e foi para a sala de reuniões.<br />
Ao entrar, os conselheiros, já<br />
reuni<strong>do</strong>s, silenciaram-se ao vê-lo passar e<br />
ocupar seu assento na cabeceira da<br />
grande mesa.<br />
- Desculpem-me, pela demora.<br />
Tive que tomar algumas providências pelo<br />
caminho. Vamos direto ao assunto.<br />
- Muito bem, Erus – falou<br />
Ambhórius – queremos falar sobre a<br />
ameaça que paira sobre nossas cabeças.<br />
- Sou to<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>.<br />
- Em nossa opinião, deveríamos<br />
conversar novamente com Carvelus e<br />
tentar negociar outras alternativas, mesmo<br />
que tenhamos que servir o Impera<strong>do</strong>r dele.<br />
- Mas, por que dizem essa asneira?<br />
- Ora, Erus – entrou o Dr.Grohvalv –<br />
não é que não apreciamos a sua liderança,<br />
que tem si<strong>do</strong> a melhor que já tivemos, e<br />
isto, to<strong>do</strong>s reconhecemos. Mas, devemos<br />
pensar em nossas famílias. Temos<br />
mulheres e crianças e as nossas próprias<br />
vidas!!<br />
- Sim, e daí?<br />
425
Fanna estava seco, diferente<br />
daquele que conheciam.<br />
- Erus – entrou Ambhórius – você<br />
não acha, que deveríamos reconsiderar e<br />
tentar uma aproximação, mais amistosa<br />
com Carvelus?Talvez ele seja<br />
benevolente, uma vez que é um irmão<br />
nosso, e com isto, nos poupe <strong>do</strong> pior?<br />
- Este é o pensamento de vocês?<br />
- Receio que sim – disse Ambhórius<br />
baixan<strong>do</strong> a cabeça.<br />
- Pois muito bem. Ouçam o que<br />
vou lhes dizer: Voltem para suas famílias.<br />
Escondam-se, de preferência longe <strong>do</strong> raio<br />
de ação e defesa, o mais longe que<br />
puderem das cidades. Partam agora, ainda<br />
há tempo.<br />
- Mas, Erus...<br />
- Ambhórius, por favor, não se<br />
acovarde em minha frente.<br />
- Mas, não se trata de covardia...<br />
- Então, o que é? Estão to<strong>do</strong>s, com<br />
o rabo entre as pernas...<br />
Vocês presenciaram tu<strong>do</strong>. Viram e<br />
ouviram o que aquele crápula disse e ainda<br />
pensam... acham sinceramente, que ele<br />
pouparia alguém sob o seu <strong>do</strong>mínio? ...<br />
426
Vocês o conhecem, não é de hoje, sabem<br />
quem ele é! ...<br />
Havia silêncio total na sala e Fanna<br />
continuou.<br />
-... To<strong>do</strong>s <strong>aqui</strong>, sem exceção, nos<br />
tornaríamos escravos daquele tirano, e<br />
isto, na melhor das hipóteses, se não<br />
fossemos mortos antes.<br />
- Talvez, servi<strong>do</strong>res e não<br />
escravos. Carvelus também nos conhece.<br />
Não nos faria mal...<br />
- Basta! Esse Conselho parece que<br />
se tornou em um ban<strong>do</strong> de covardes e não<br />
permitirei esta <strong>baixe</strong>za em minha frente.<br />
Partam já. É uma ordem. A reunião está<br />
encerrada.<br />
Ninguém falou mais. Nem sequer,<br />
tiveram a coragem de olhar nos olhos de<br />
Fanna. Partiram com suas cabeças baixas,<br />
para casa.<br />
- E não esqueçam de avisar os<br />
outros, em suas cidades. Em Atlantis, eu<br />
mesmo me encarrego. Evacuem as<br />
cidades.<br />
Fanna mostrava a sua irritação<br />
diante a fraqueza daqueles, que sempre<br />
considerou equilibra<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>nos de bom<br />
senso.<br />
427
Fazia um calor terrível e o colete<br />
metálico, mais as vestes pretas... Ah,<br />
aquelas botas... – Vou matá-los, to<strong>do</strong>s. Vou<br />
queimá-los vivos – dizia Carvelus, entre<br />
dentes, em meio a estron<strong>do</strong>sas vaias.<br />
Enfim, depois de muito caminhar,<br />
conseguiu chegar a sua nave. A primeira<br />
coisa que fez, ao entrar, foi tirar as botas e<br />
depois o colete. Estava ensopa<strong>do</strong> de suor.<br />
Vermelho de tanto calor e raiva, não, ódio.<br />
Acionou os motores e deu ordens aos<br />
andróides, para seguirem direto, o mais<br />
rápi<strong>do</strong> que pudessem, rumo a Fortaleza.<br />
O Mobis-5 decolou sob os apupos<br />
da pequena multidão presente.<br />
Já em curso, preparou seus planos<br />
de ação. Segun<strong>do</strong> os sensores embuti<strong>do</strong>s<br />
no colete e mais as informações colhidas,<br />
pelos andróides, não havia nada em<br />
Atlantis que lhe oferecesse resistência. Era<br />
a capital, de mo<strong>do</strong> que as outras cidades<br />
seriam mais fáceis ainda. O seu<br />
pensamento fixo, agora, era destruir<br />
428
Fanna, Tutkan e fazer daquela gentalha,<br />
seus escravos. Esta idéia o fazia sorrir.<br />
- Primeiro, vou destruir aquele ferrovelho<br />
que está em órbita. Será uma<br />
surpresa. Não darei tempo para que<br />
aqueles ratos se escondam em seus<br />
buracos. Sim, aqueles ratos... sem a<br />
comunicação de cima, estarão cegos,<br />
sur<strong>do</strong>s e mu<strong>do</strong>s... e aquele idiota <strong>do</strong><br />
Fanna, como se atreveu a me insultar? ...<br />
eu, Carvelus! ... ele nem faz idéia <strong>do</strong> que o<br />
espera. Vou matá-lo pessoalmente e<br />
pendurar sua cabeça no mastro central de<br />
sua cidadezinha..., que mudarei o nome<br />
para: Carvelópolis...<br />
Então, chegou a sua Fortaleza e<br />
imediatamente man<strong>do</strong>u que preparassem<br />
sua armadura de guerra e seus Mobis-7V,<br />
equipa<strong>do</strong>s para combate.<br />
- Quero to<strong>do</strong>s prepara<strong>do</strong>s, agora.<br />
Enquanto era vesti<strong>do</strong>, por seus<br />
servi<strong>do</strong>res, BH-1 série 3, passou-lhe seu<br />
relatório.<br />
- Quan<strong>do</strong> Sua Excelência fazia o<br />
seu reconhecimento em Kálerus, duas<br />
naves inimigas orbitaram cinco vezes,<br />
nossa base. Os escu<strong>do</strong>s estavam ativa<strong>do</strong>s<br />
429
e não chegaram perto. Ordenei duas<br />
patrulhas para interceptar e abater,<br />
conforme suas ordens. As naves inimigas<br />
bateram em retirada sem oferecer<br />
resistência e as ordens ainda estão em<br />
vigor. Ainda não voltaram. Parece que a<br />
perseguição continua fora de nosso<br />
alcance.<br />
- Houve revide por parte deles?<br />
- Não, Excelência. Como disse,<br />
bateram em retirada, rumo ao portão<br />
estelar, fora <strong>do</strong> alcance de nossas telas.<br />
- Então quer dizer, que ousaram vir<br />
espionar... BH-1, nossos sensores<br />
acusaram qualquer lançamento, de<br />
qualquer objeto, por parte deles?<br />
- Não, Excelência. Nossos escu<strong>do</strong>s<br />
estavam ativa<strong>do</strong>s, desde que o senhor<br />
saiu. Nada foi detecta<strong>do</strong>.<br />
- Você tem certeza, BH-1?<br />
- Sim, Excelência. O escu<strong>do</strong>, como<br />
disse, estava ativa<strong>do</strong> e arma<strong>do</strong>.<br />
Carvelus tinha um brilho muito<br />
especial nos olhos, e gargalhava<br />
sinistramente.<br />
430
Em sua frente, admirava-se no<br />
grande espelho, com seus braços<br />
ergui<strong>do</strong>s, com seus <strong>do</strong>mésticos vestin<strong>do</strong>lhe<br />
sua armadura. O colete, as perneiras, a<br />
capa negra, botas magnéticas e seu elmo<br />
de liderança.<br />
- Vamos com isto, não temos o dia<br />
to<strong>do</strong>... Vamos, andem...<br />
Finalmente, foi-lhe coloca<strong>do</strong> o<br />
cinturão, onde carregava sua arma de raios<br />
desintegra<strong>do</strong>res.<br />
- Pois bem – disse, com seu<br />
comunica<strong>do</strong>r, disposto no console ao la<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> espelho – Preparem-se para partir, em<br />
um quarto de tempo. Não vamos deixá-los<br />
esperan<strong>do</strong>.<br />
Dizen<strong>do</strong> isto, ria, num tom<br />
desprezível.<br />
Caminhou pomposamente até o<br />
coman<strong>do</strong>, sentou-se no “trono” e deu<br />
ordem de partida aos seus Mobis 7V.<br />
- Está acontecen<strong>do</strong> – disse Tutkan –<br />
Esperem se afastar um pouco mais da<br />
Fortaleza... assim... humm... mais um<br />
pouquinho... Klemps ative o Dar<strong>do</strong>...<br />
preparem-se... Agora rapazes, caiam em<br />
cima deles.<br />
431
Os efeitos <strong>do</strong> Dar<strong>do</strong>-Sonda,<br />
quan<strong>do</strong> ativa<strong>do</strong>, eram exatamente de<br />
confundir a leitura <strong>do</strong>s Telaks inimigos e<br />
impedir mensagens de coman<strong>do</strong>. Em<br />
outras palavras, Carvelus não tinha nem<br />
visão, nem coman<strong>do</strong> sobre os seus Mobis,<br />
que por sua vez, não sabiam o que fazer.<br />
Só conseguiriam atirar, mediante contato<br />
visual e eram muito bem arma<strong>do</strong>s.<br />
- Velz, a sua direita – avisou Maxun.<br />
- Vamos entrar em “X”, Eu sou a<br />
isca e você o abate. Agora.<br />
Maxun só teve o trabalho de<br />
apertar o gatilho.<br />
Zeuez, não teve a mesma sorte.<br />
Foi atingi<strong>do</strong> e perdeu o leme, tornan<strong>do</strong>-se<br />
presa fácil. Kalibur e Tameron estavam por<br />
perto e tentaram atrair o persegui<strong>do</strong>r de<br />
Zeuez, mas era tarde demais. O March-1<br />
de Zeuez transformou-se numa bola de<br />
fogo, explodin<strong>do</strong> a seguir.<br />
- Malditos – gritou Tameron, que<br />
tinha <strong>do</strong>is em sua perseguição e atiran<strong>do</strong>.<br />
- Estou atrás de vocês – gritou Velz<br />
– Saia, vou atirar.<br />
Tameron saiu e os <strong>do</strong>is foram<br />
atingi<strong>do</strong>s, quase que ao mesmo tempo.<br />
432
Ozy gritou – A coisa esta preta <strong>aqui</strong>,<br />
preciso de auxílio.<br />
Ele tinha três caça<strong>do</strong>res e as<br />
manobras estavam apertadas, mas<br />
felizmente conseguiu escapar. Os três<br />
foram abati<strong>do</strong>s um a um.<br />
Tutkan ordenou da Kosmos.<br />
- Quero os <strong>do</strong>is cruza<strong>do</strong>res, um em<br />
cada la<strong>do</strong> daquela bola de metal, agora, e<br />
explodam-na.<br />
- Vamos lá pessoal – disse Velz, no<br />
campo de batalha – vamos treinar tiro ao<br />
alvo.<br />
O efeito devasta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> dar<strong>do</strong> era<br />
notório. Os Mobis eram desorganiza<strong>do</strong>s e<br />
de certo mo<strong>do</strong>, presas fáceis.<br />
Os <strong>do</strong>is cruza<strong>do</strong>res recém<br />
construí<strong>do</strong>s, saíram de trás <strong>do</strong> planeta<br />
Plus, rugin<strong>do</strong> seus RAN-THORCK-VELUX,<br />
e em pouco chegaram ao seu destino, a<br />
Fortaleza.<br />
- Vamos lá, seus molengas – gritou<br />
Tutkan – temos que pegá-la antes que<br />
Carvelus se dê conta <strong>do</strong> que está<br />
acontecen<strong>do</strong>. Rápi<strong>do</strong> com isso, vocês<br />
parecem duas tartarugas...<br />
433
A tela gigante de Carvelus, em seu<br />
trono, não tinha imagens diretas, se não<br />
alguns flashes e suas comunicações<br />
estavam bloqueadas.<br />
- Estes sacanas... – berrava<br />
furiosamente, dan<strong>do</strong> murros no seu<br />
console, sem que nada lhe obedecesse -...<br />
BH-1 mande toda a frota, tu<strong>do</strong> o que<br />
temos, quero to<strong>do</strong>s lá.<br />
- Excelência, não seria melhor<br />
ativar o Globo da morte?<br />
- Não, seu idiota, não vê que nada<br />
funciona <strong>aqui</strong>. Quero to<strong>do</strong>s lá... ande...<br />
quero que destruam aqueles patifes.<br />
To<strong>do</strong>s. Não quero sobreviventes. Quero<br />
que acertem a base deles... Ande...<br />
agora!!!!<br />
A força inteira foi lançada, que se<br />
soman<strong>do</strong> com o que havia lá fora, somavase<br />
mais de duzentos.<br />
Tutkan ao perceber a<br />
movimentação, interveio, novamente.<br />
- Atenção, vocês aí, de trás das<br />
moitas, tem serviço de campo, cubram os<br />
cruza<strong>do</strong>res.<br />
Nossa quantos Mobis, Hamour!<br />
Veja, tem mais de duzentos!!<br />
434
- Ele lançou tu<strong>do</strong> o que tinha. Uma<br />
atitude idiota e covarde ao mesmo tempo.<br />
Ele deveria estar lá fora, comandan<strong>do</strong> e<br />
orientan<strong>do</strong> suas naves.<br />
- Não sei o que Ahdack viu nele<br />
para lhe dar um coman<strong>do</strong>.<br />
- Graças a Deus! – concluiu<br />
Hamour.<br />
As vinte esquadrilhas Zag tinham<br />
mais serviço, mas o inimigo, sem<br />
coordenação pouco perigo oferecia e eram<br />
abati<strong>do</strong>s.<br />
Os cruza<strong>do</strong>res, agüentaram bem<br />
os disparos que sofreram, apresentan<strong>do</strong><br />
algumas avarias e incêndios ocasionais.<br />
O comandante Carvelus não<br />
acreditava e não entendia o que via nos<br />
flashes. De repente, viu, em seqüência<br />
rápida de imagens, os <strong>do</strong>is cruza<strong>do</strong>res se<br />
posicionan<strong>do</strong> aos la<strong>do</strong>s. Sentiu o que iria<br />
acontecer em breve, muito breve.<br />
- Preparem minha nave.<br />
Depressa... Andem... rápi<strong>do</strong>...<br />
Desceu ao hangar o mais<br />
depressa que pode.<br />
435
Mal teve tempo de sair. Os<br />
Prottons lançaram suas cargas antimoleculares.<br />
A explosão foi gigantesca,<br />
espalhan<strong>do</strong> pedaços daquela fortaleza por<br />
to<strong>do</strong>s os cantos <strong>do</strong> Universo.<br />
Em Kálerus, houve tremores no<br />
solo, tempestades de vento e maremotos.<br />
- Santo Deus!! – Exclamou Hamour<br />
– Que arma poderosa, esta?!<br />
- E foram somente quinze Vetrons.<br />
- Quinze você disse só quinze?<br />
Quer dizer que tem mais ainda?<br />
- Podem ser programadas até<br />
cinqüenta.<br />
- Mas isto muda as coisas.<br />
- Por que?<br />
- Nunca vi nada igual. Esta é a<br />
arma mais poderosa que já vi. As que<br />
conheço e vi em operação, mesmo as de<br />
Ahdack, não possuem este poder de<br />
destruição.<br />
- Então, somos mais poderosos,<br />
Hamour?<br />
- Acho que sim. Quem desenvolveu<br />
esta coisa?<br />
- Estes brinquedinhos, foram<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s por Thorc e Zur-Kwa.<br />
436
- É claro, só podia ser. Estes <strong>do</strong>is<br />
sempre me impressionaram.<br />
Então, Fanna entrou na tela da<br />
Kosmos.<br />
- Os pegamos, hein? Sentimos a<br />
explosão <strong>aqui</strong> em baixo.<br />
- Demos uma boa lição naquele<br />
safa<strong>do</strong> – disse Tutkan.<br />
- Tut, acho que desta vez tu<strong>do</strong> saiu<br />
certo.<br />
- Por que você diz: “desta vez”?<br />
- Volte a gravação <strong>do</strong> Telak,<br />
microns antes da explosão...<br />
Tutkan assim o fez e tanto ele,<br />
quanto Hamour ficaram brancos.<br />
- Sim, Erus, enten<strong>do</strong> o que você<br />
quer dizer. Aquele pilantra de uma figa<br />
conseguiu escapar.<br />
- E certamente trará reforços.<br />
- E o pior – entrou Hamour – é que<br />
Ahdack não deve estar muito longe d<strong>aqui</strong>,<br />
pois existem sempre três fortalezas por<br />
perto.<br />
- Esperto este Ahdack – comentou<br />
Tutkan.<br />
- Guerreiro, isto que ele é –<br />
continuou, Hamour – Ele acredita na guerra<br />
e perder uma batalha, faz parte da guerra.<br />
437
Agora, ele vai pensar melhor. Está diante<br />
de um fato novo. Temos uma arma<br />
poderosíssima, que o fará pensar duas<br />
vezes antes de atacar. Mas também, ficará<br />
irrita<strong>do</strong> fará de tu<strong>do</strong> para possuir esta nova<br />
arma.<br />
- Bem pensa<strong>do</strong>, Hamour. E o que<br />
sugere que façamos agora?<br />
- Erus, pelo que vejo, temos três<br />
alternativas. Primeira, ficamos <strong>aqui</strong> e o<br />
esperamos; certamente quan<strong>do</strong> vier, virá<br />
com tu<strong>do</strong>. Segunda, levantamos<br />
acampamento e fugimos d<strong>aqui</strong>, o que acho<br />
bastante difícil; porque não poderíamos<br />
levar a to<strong>do</strong>s. Terceiro, rastear a nave de<br />
Carvelus e pegar Ahdack de surpresa.<br />
Sinceramente não sei o que prefiro.<br />
- Eu fico com a terceira – disse<br />
Tutkan.<br />
- Talvez você esteja certo, Tut.<br />
Podemos rastrear a nave dele com aquele<br />
“grilo” planta<strong>do</strong>. Hamour, diga alguma<br />
coisa?<br />
- Não sei Erus. A responsabilidade<br />
é muito grande. Talvez eu ficasse com a<br />
terceira. Ahdack é muito astuto, não<br />
devemos menosprezá-lo. Eu confesso que<br />
a primeira alternativa – também é boa.<br />
438
Estaríamos à espera dele, em nosso<br />
próprio campo de batalha. Brigar em casa<br />
oferece certas vantagens. Além de<br />
conhecermos melhor o terreno, estamos<br />
perto <strong>do</strong>s nossos.<br />
- Concor<strong>do</strong>, mas diga-me, será que<br />
ele imaginaria ser ataca<strong>do</strong> em seu próprio<br />
território?<br />
- Não. Acho que não. Ninguém<br />
jamais fez isto, pelo que sei. Ele não<br />
esperaria por um ataque, contu<strong>do</strong>,<br />
também, nunca perdeu nenhuma batalha,<br />
exceto hoje e outra que tivemos, com muita<br />
gente, no primeiro quadrante estelar <strong>do</strong><br />
Segun<strong>do</strong> Padrão. Como disse, antes de<br />
nos atacar, vai pensar duas vezes. E no<br />
caso de ser ataca<strong>do</strong>, certamente, estará<br />
prepara<strong>do</strong> e pode apostar, ele vai pensar<br />
nisto, também.<br />
Enquanto Hamour e Fanna<br />
falavam, Seimur entregou a Tutkan a lista<br />
das baixas.<br />
- Erus, agora, vamos às más<br />
notícias. Tenho em mãos a lista de nossas<br />
baixas, Desgraçadamente perdemos oito<br />
rapazes. São eles: Amsuir, Bel-Zur, Brizz,<br />
Tunsan, Almuz, Kobel, Fremil e... Zeuez.<br />
439
- Droga! Zeuez se deixou matar,<br />
também!?!<br />
- Sentimos muito, Erus, Sabemos<br />
<strong>do</strong> apreço que você tinha por ele!<br />
- Sim, Tut, assim como você, fomos<br />
companheiros de asas.<br />
Aos poucos, as naves aninharamse<br />
no ventre da Kosmos, com seus<br />
tripulantes tristes pela morte de tantos<br />
irmãos.<br />
440
CAPITULO VIII<br />
A imensa abóbada central<br />
circular da Fortaleza Imperial era aclarada<br />
por luminárias também circulares,<br />
acompanhan<strong>do</strong> o formato das paredes<br />
entre as divisórias <strong>do</strong>s três mezaninos e<br />
telas Telak.<br />
Havia cinco portas (de duas<br />
abas) eqüidistantes umas das outras. Eram<br />
pretas, com moldura <strong>do</strong>urada e delas saia<br />
um tapete vermelho contrastan<strong>do</strong> com o<br />
chão escuro, quase preto, em direção ao<br />
centro. Uma, destas portas, era maior <strong>do</strong><br />
que as outras, em altura e largura,<br />
posicionada atrás <strong>do</strong> trono Imperial.<br />
Entre as portas, toman<strong>do</strong><br />
integralmente a parede, a farta<br />
instrumentação e equipamentos entre<br />
consoles com inúmeras luzinhas coloridas<br />
e telas menores, opera<strong>do</strong>s por seres de<br />
441
diversas raças e aparências, vin<strong>do</strong>s das<br />
galáxias conquistadas.<br />
No centro desta gigantesca sala,<br />
sobre uma escadaria re<strong>do</strong>nda de três<br />
degraus, pairava o trono de Ahdack, com<br />
um console acopla<strong>do</strong>, ergui<strong>do</strong>s por um<br />
pedestal, poden<strong>do</strong> estar em qualquer nível<br />
segun<strong>do</strong> seu coman<strong>do</strong>.<br />
De onde estava o impera<strong>do</strong>r,<br />
projetavam-se em seu re<strong>do</strong>r três telões<br />
Telak, monitoran<strong>do</strong> o espaço em direções<br />
diferentes, proporcionan<strong>do</strong>-lhe visão<br />
tridimensional em 360 graus. Estes telões<br />
tinham outras atribuições, pois também<br />
monitoravam as três bases conjuntas. No<br />
centro, a sua própria, à esquerda a Base<br />
de Carvelus e à direita a de Rumback, seu<br />
braço direito, como dizia.<br />
Rumback era um Goraniano,<br />
conterrâneo de Ahdack e o seu principal<br />
general. Era um <strong>do</strong>s mais temi<strong>do</strong>s<br />
sanguinários de to<strong>do</strong> o Império. Sua<br />
reputação era conhecida por muitos povos,<br />
de muitas galáxias. Havia a pouco<br />
retorna<strong>do</strong> de mais uma conquista, numa<br />
442
galáxia conhecida por eles como Sírius, no<br />
planeta Birzan.<br />
O povo de Birzan, também<br />
descendentes de símios, era totalmente<br />
volta<strong>do</strong> à paz e desconheciam a existência<br />
de vida alienígena.<br />
Quan<strong>do</strong> Rumback pousou em seu<br />
planeta, foi recebi<strong>do</strong> numa comemoração<br />
sem precedentes. Sua exuberante<br />
armadura, pose e retórica trouxe ao<br />
soberano de Birzan, verdadeira admiração,<br />
colocan<strong>do</strong> sua gente em prostração aos<br />
que consideravam deuses.<br />
Nesta ocasião, foi-lhe ofereci<strong>do</strong> um<br />
banquete, com diversas iguarias, dignas de<br />
um deus. No momento <strong>do</strong> banquete,<br />
Preiah-Lav, o soberano, man<strong>do</strong>u que<br />
chamassem sua mulher, Mesan-Lav e seus<br />
filhos (duas meninas a<strong>do</strong>lescentes e um<br />
menino de seis anos), para apresentá-los<br />
ao deus que chegara. Após certa demora,<br />
o servo voltou desola<strong>do</strong> por não tê-los<br />
encontra<strong>do</strong>. Eis que Rumback, num grande<br />
sorriso sádico, mostrou a Preiah-Lav, suas<br />
três crianças esquartejadas e seus<br />
443
pedaços assa<strong>do</strong>s e alguns já comi<strong>do</strong>s pelo<br />
próprio soberano. Diante de tal atrocidade,<br />
Preiah-Lav lançou-se, cegamente<br />
enfureci<strong>do</strong>, sobre Rumback, que o<br />
decapitou ali mesmo, em frente a to<strong>do</strong>s. A<br />
população entrou em pânico e muitos<br />
jovens revolta<strong>do</strong>s, atreveram-se em atacálo<br />
com suas lanças e armas rudimentares,<br />
pelos quais os andróides dispararam seus<br />
raios desintegra<strong>do</strong>res.<br />
A rainha e outras mulheres foram<br />
levadas como escravas e concubinas de<br />
outros Goranianos e Meranianos, seus<br />
associa<strong>do</strong>s. As crianças, os mais jovens<br />
(inclusive as de colo) foram congeladas<br />
vivas, ocupan<strong>do</strong> as vastas despensas de<br />
sua nave. Durante as viagens de longa<br />
duração, seriam servidas, para ele e seu<br />
Impera<strong>do</strong>r, em refeições regulares.<br />
Esta conquista valeu-lhe outra<br />
medalha, ou estrela, que ostentou,<br />
orgulhosamente, junto a muitas outras, em<br />
seu colete <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>.<br />
Sua reputação incluía também, a<br />
prática so<strong>do</strong>mita entre os jovens<br />
444
captura<strong>do</strong>s e o seu divertimento favorito, o<br />
necrofilismo.<br />
Era um monstro de preto, somente<br />
supera<strong>do</strong> pelo Impera<strong>do</strong>r.<br />
Ahdack, em seu trono, revia em<br />
imagens holográficas tridimensionais as<br />
gravações da conquista <strong>do</strong> povo de Birzan,<br />
quan<strong>do</strong> Totcha-man-chunk (um ser de<br />
aparência réptil) anunciou:<br />
- Excelência, queira per<strong>do</strong>ar a<br />
interrupção, mas estamos receben<strong>do</strong><br />
mensagem de Carvelus.<br />
- Ative sua tela.<br />
A tela de Carvelus foi ativada, mas<br />
nada apareceu, além de chuviscos e ruí<strong>do</strong><br />
de estática.<br />
- Mas, o que significa isto? –<br />
perguntou aquela voz cavernosa e gutural.<br />
- A mensagem está vin<strong>do</strong> pelo<br />
canal de emergência, Excelso Senhor.<br />
- Ative-o e passe para o telão... Por<br />
que você está em canal de emergência, o<br />
seu BH-1 série 3 não tem providencia<strong>do</strong> a<br />
manutenção de sua nave?<br />
- Meu Impera<strong>do</strong>r, fui embosca<strong>do</strong>.<br />
445
- Embosca<strong>do</strong>? Como, embosca<strong>do</strong><br />
e por quem?<br />
- Excelência, encontrei um planeta<br />
habita<strong>do</strong>, de nome Kálerus, no vigésimo<br />
oitavo setor, coordenada Kahal, <strong>do</strong> décimo<br />
quadrante estelar...<br />
- Ora, mas lá só existem macacos<br />
e macacos não tem inteligência.<br />
Ahdack, no momento em que<br />
falava com Carvelus, digitava as<br />
coordenadas em seu terminal, surgin<strong>do</strong><br />
imagens <strong>do</strong> planeta e seus habitantes.<br />
- Queira per<strong>do</strong>ar excelência, mas lá<br />
encontrei ex-conterrâneos meus, de<br />
Someron. Já lhe contei sobre eles. São os<br />
mesmos que me deixaram lá para morrer,<br />
quan<strong>do</strong>...<br />
- Vá direto ao ponto. Eu sei como<br />
encontrei você.<br />
- Excelência, só posso lhe dizer,<br />
que desde que partiram, adquiriram grande<br />
tecnologia...<br />
- E muita astúcia, pelo que vejo –<br />
atalhou o impera<strong>do</strong>r, com o mesmo tom<br />
inalterável – Você não agiu como lhe foi<br />
ensina<strong>do</strong>?<br />
- Meu impera<strong>do</strong>r, fiz exatamente,<br />
o que fiz nas últimas conquistas que lhe<br />
446
trouxe. Mas desta vez, algo saiu erra<strong>do</strong>. Ao<br />
que parece já me esperavam.<br />
- Está bem, Carvelus. Você já está<br />
chegan<strong>do</strong>. Continuaremos esta conversa<br />
<strong>aqui</strong>.<br />
E Ahdack, simplesmente cortou as<br />
comunicações, desativan<strong>do</strong> o sistema.<br />
- BH-1...<br />
- Sim, mestre.<br />
- Vá até o hangar e veja que<br />
Carvelus esteja <strong>aqui</strong>, tão logo pouse.<br />
Depois, quero uma análise completa em<br />
sua nave, enquanto estiver <strong>aqui</strong>. Leve<br />
ajuda, quero isto com urgência.<br />
- Sim, mestre.<br />
BH-1 saiu com <strong>do</strong>is andróides pela<br />
porta à direita da tela de Rumback.<br />
O impera<strong>do</strong>r ficou pensativo e<br />
sensivelmente, mal-humora<strong>do</strong>.<br />
- Totcha-man-chunk...<br />
- Sim, excelência!<br />
- Passe o monitor <strong>do</strong> hangar para<br />
o telão, vamos acompanhar a chegada de<br />
Carvelus e veja nos arquivos, tu<strong>do</strong> o que<br />
temos sobre Someron.<br />
- Sim, meu senhor.<br />
- Harmenankrav... (um ser de<br />
aparência felina)<br />
447
- Pois não, mestre!<br />
- Estabilize a nave e informe as<br />
coordenadas de Kálerus, ao sincroniza<strong>do</strong>r<br />
de navegação estelar. Isole as emissões<br />
da nave, até segunda ordem. Nada pode<br />
sair d<strong>aqui</strong>.<br />
- Sim, excelência!<br />
Xxxxxxxxxxxxxx<br />
Hamour andava de um la<strong>do</strong> para<br />
outro na sala de coman<strong>do</strong> da Kosmos,<br />
pensan<strong>do</strong> qual a decisão a tomar. Em se<br />
tratan<strong>do</strong> de Ahdack, tu<strong>do</strong> era possível e o<br />
pior, muito perigoso. Não sabia,<br />
exatamente, quais os melhoramentos<br />
incrementa<strong>do</strong>s nas Fortalezas e era<br />
impossível prever quais as reações <strong>do</strong><br />
tirano. Sabia que ele contava com generais<br />
da mais alta competência em assuntos de<br />
guerra. Vira isto há muito tempo. Se ao<br />
menos a minha nave estivesse concluída,<br />
pensou. Neste caso teriam uma boa<br />
chance, pois, mesmo porta<strong>do</strong>res de uma<br />
arma como os Prottons, as únicas naves<br />
capazes de se desvencilhar, em caso de<br />
ataque, seria a Kosmos e os March. Os<br />
antigos cargueiros em rápida<br />
448
transformação foram batiza<strong>do</strong>s de<br />
cruza<strong>do</strong>res. Mesmo assim eram lentos<br />
demais para Ahdack e seus Mobis. Não<br />
entendia como Carvelus fora escolhi<strong>do</strong><br />
para comandar uma de suas Fortalezas.<br />
Ele, Carvelus, não passava de um ser<br />
mesquinho e arrogante. Bem – disse,<br />
pensan<strong>do</strong> alto – isto aos olhos de Ahdack<br />
são grandes qualidades.<br />
- O que você disse? – perguntou<br />
Tutkan.<br />
- Pensava em voz alta. Não faz<br />
senti<strong>do</strong>, Carvelus comandan<strong>do</strong> uma<br />
Fortaleza Mobis. Existem outros generais<br />
de competência e astúcia...<br />
- Talvez, algum tenha morri<strong>do</strong> em<br />
batalha.<br />
- Pode ser...<br />
- Você disse que já enfrentou<br />
Ahdack antes...<br />
- Sim, e pelo que me lembro, ele<br />
levava a pior quan<strong>do</strong> man<strong>do</strong>u mensagem,<br />
pedin<strong>do</strong> uma conferência de paz. Nós,<br />
tolos, aceitamos. Fomos pegos de<br />
surpresa. Quan<strong>do</strong> menos esperávamos, no<br />
decorrer da tal conferência, ele atacou com<br />
tu<strong>do</strong> o que tinha.<br />
- Acha que ele tentará algo assim?<br />
449
- Talvez. Agora ele sabe, ou saberá<br />
por Carvelus, o que temos.<br />
E sabe, também, que sabemos quais são<br />
suas intenções e que o esperamos.<br />
- Talvez, não.<br />
- Talvez, talvez... essas<br />
incertezas...<br />
- Por mim, iria atrás dele, agora<br />
mesmo. Já rastreamos o “grilo” e temos<br />
suas ondas gravadas nos sensores de<br />
navegação...<br />
- Esta decisão não é minha. Se ao<br />
menos a minha nave...<br />
- Telecon, senhor – chamou<br />
Klemps.<br />
- Pode falar Erus.<br />
- Vamos atacar.<br />
- Ótimo. Você ouviu isto, Hamour?<br />
Ele sentou-se rapidamente ao la<strong>do</strong><br />
de Tutkan, no Telecon.<br />
- Muito bem, Erus. Você dá as<br />
ordens.<br />
- Já tenho os planos – entrou<br />
Tutkan.<br />
- Em um tempo, estarei aí.<br />
- Venha logo, não temos tempo a<br />
perder. Quer que lhe mande escolta?<br />
- Não, Tut, obriga<strong>do</strong>.<br />
450
Os conselheiros, tão logo<br />
souberam da vitória, foram ao encontro de<br />
Fanna. Ambhórius e os outros<br />
humildemente pediram desculpas por suas<br />
fraquezas.<br />
- Estamos envergonha<strong>do</strong>s – disse<br />
Ambhórius e pensan<strong>do</strong> melhor, nunca<br />
deveríamos tê-lo aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>...<br />
- Mas ainda não acabou – disse<br />
Fanna.<br />
Em microns, foram informa<strong>do</strong>s da<br />
nova ameaça e das três alternativas<br />
sugeridas por Hamour.<br />
Ambhórius, toma<strong>do</strong> de certa<br />
coragem, disse:<br />
- Devemos atacar. Não há outra<br />
alternativa. Fugir é impossível, ficar<br />
esperan<strong>do</strong> dá ao usurpa<strong>do</strong>r a escolha <strong>do</strong><br />
momento <strong>do</strong> ataque. Atacar é a lógica.<br />
Pegaríamos o tal <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r com as<br />
calças na mão.<br />
- Sábia decisão, senhores. Vamos<br />
então, organizar nossos planos de defesa.<br />
- Você pensa em ir junto?<br />
- Sim, Ambhórius.<br />
- E quem liderará e conduzirá<br />
nossas defesas?<br />
451
- Você na liderança e Zur-Kwa na<br />
defesa. Ele mais <strong>do</strong> que ninguém conhece<br />
os procedimentos com os Prottons. Ele os<br />
montou, lembra-se?<br />
- Quan<strong>do</strong> você pretende partir?<br />
- Assim que acabar as coisas <strong>aqui</strong>.<br />
O Intercon da pirâmide soou e<br />
Amis de um pulo só, foi atendê-lo.<br />
- Querida, você está bem?<br />
- Sim, queri<strong>do</strong>. Estava aflita. Já<br />
soube das novidades, mas isto é só o<br />
começo, não é?<br />
- Receio que sim, meu bem. Erus<br />
ligou, há pouco e decidiu atacar Ahdack.<br />
Quer acabar de uma vez por todas com<br />
esta história.<br />
- Você acha que podemos nos sair<br />
bem desta aventura?<br />
- Temos alguma chance, mas é<br />
bom estarmos prepara<strong>do</strong>s para o pior.<br />
Querida, quero que você faça o seguinte...<br />
Depois de todas as cautelas que<br />
deveria tomar, Hamour se despediu de<br />
Amis, com um beijo à distância.<br />
Da mesma forma, to<strong>do</strong>s os que<br />
enfrentariam a cruzada, se despediram <strong>do</strong>s<br />
seus, em Kálerus.<br />
452
Velz, Maxun, depois, Tameron se<br />
despediram de suas amadas, com as<br />
ligações ao mesmo tempo, terminan<strong>do</strong><br />
com Velz, dizen<strong>do</strong>:<br />
- Não se preocupem. Voltaremos<br />
para o jantar.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
A grande porta, a maior delas, se<br />
abriu, como uma estrela de cinco pontas e<br />
por ela passou Carvelus, acompanha<strong>do</strong> de<br />
<strong>do</strong>is andróides. Sua aparência era<br />
deplorável. Tinha sua armadura<br />
empoeirada como se estivesse passa<strong>do</strong><br />
por uma chaminé de lareira. Diante <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>r, após as mesuras usuais,<br />
permaneceu com um joelho no chão e com<br />
o elmo sob o braço direito, enquanto o<br />
trono e toda aquela geringonça nivelavamse<br />
ao degrau plataforma.<br />
- Salve Ahdack, meu impera<strong>do</strong>r! –<br />
sau<strong>do</strong>u, com a mão esquerda erguida.<br />
- Diga-me, Carvelus, o líder <strong>do</strong><br />
povo de Someron continua sen<strong>do</strong> Erus<br />
Fanna?<br />
- Sim, meu senhor.<br />
453
- E quem é o seu guerreiro-mor?<br />
- Tutkan, meu senhor.<br />
-Então me diga, por que julgas ter<br />
si<strong>do</strong> embosca<strong>do</strong>, se, segun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os<br />
registros e suas próprias palavras, após<br />
guerra o seu povo tornara-se pacífico?<br />
A voz de Ahdack era como um<br />
trovão, anuncian<strong>do</strong> tormenta.<br />
-...?<br />
- Fale Carvelus.<br />
- Não sei meu senhor. Fiz tu<strong>do</strong><br />
conforme o regulamento. Visitei as<br />
instalações de superfície, com sensores<br />
ativa<strong>do</strong>s sob o colete, que nada<br />
detectaram. Os sensores da Fortaleza<br />
analisaram suas máquinas, dan<strong>do</strong> como<br />
resulta<strong>do</strong>; motores e equipamentos<br />
rudimentares, com pequenas armas<br />
defensivas de pouco alcance e poder, para<br />
não dizer, nenhum. Tinham também oito<br />
naves típicas, da época em que me<br />
deixaram seus March-1, muito antigos com<br />
motores melhora<strong>do</strong>s, mas, ineficazes, com<br />
pouca velocidade e desarma<strong>do</strong>s...<br />
- E você perdeu para este ferrovelho?<br />
- Pois é isto que não enten<strong>do</strong><br />
Excelência!?!<br />
454
- O que você não entende?<br />
- De repente, surgiram com<br />
velocidade espantosa e caíram sobre nós<br />
com poder de fogo que, mesmo nós não<br />
dispomos. Eram rápi<strong>do</strong>s e bem orienta<strong>do</strong>s.<br />
Em contra partida, os meus instrumentos<br />
de coman<strong>do</strong> e orientação de batalha, não<br />
obedeciam minhas ordens. Os Mobis em<br />
combate pareciam não me ouvir. O telão<br />
central entrou em colapso total. Minha<br />
visão, lá fora, era de apenas flashes e...<br />
- Pare. Não fale mais. Você me<br />
desapontou, Carvelus...<br />
- Mestre...<br />
- Cale-se ou você além de<br />
incompetente é sur<strong>do</strong> também? ... Você<br />
sabe que não admito erros. Você<br />
subestimou seu próprio povo e perdeu.<br />
Aqui, no meu império, não há lugar para<br />
perde<strong>do</strong>res. Levem-no d<strong>aqui</strong> – ordenou<br />
para os andróides que imediatamente<br />
ergueram-no.<br />
- Por favor, mestre, eu preciso de<br />
mais uma chance... por favor... não me<br />
levem... por favor... não... não... não...<br />
Carvelus foi leva<strong>do</strong>, se debaten<strong>do</strong><br />
e imploran<strong>do</strong> por uma nova chance, para a<br />
porta vermelha (a única, ao la<strong>do</strong> daquela<br />
455
que entrara) cujo centro, tinha uma<br />
circunferência preta com raios no interior.<br />
Carvelus sabia ser ali, a saleta de<br />
desintegra<strong>do</strong>res moleculares, usada para o<br />
extermínio de indesejáveis. A porta se<br />
fechou e com ela, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vivos para<br />
Carvelus.<br />
Neste mesmo instante, entrou BH-<br />
1, no salão, trazen<strong>do</strong> em sua mão um<br />
pequeníssimo objeto metálico circular, com<br />
duas minúsculas antenas, lembran<strong>do</strong> um<br />
grilo. Mostrou-o para o seu mestre.<br />
- Ainda está ativa<strong>do</strong>, excelência.<br />
- O que é isto?<br />
- Parece ser um emissor de sinais<br />
de longo alcance, mestre.<br />
Ahdack esbravejou com to<strong>do</strong>s<br />
os seus pulmões:<br />
- Aquele idiota, além de perder uma<br />
nave poderosíssima, ainda revela nossas<br />
posições. Eu deveria punir a mim mesmo<br />
por acreditar naquele inseto. Destrua esta<br />
coisa BH-1.<br />
O impera<strong>do</strong>r virou-se para o<br />
console <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong> e ativou o<br />
comunica<strong>do</strong>r com a outra base-fortaleza.<br />
- Rumback... Responda...<br />
- Pois não excelência!<br />
456
- Prepare-se para visitas, em breve.<br />
Vamos utilizar o plano <strong>do</strong>is em um.<br />
- O plano <strong>do</strong>is em um? Queira<br />
per<strong>do</strong>ar excelência, mas...<br />
- Poupe suas palavras. Carvelus já<br />
não existe mais.<br />
- Farei os preparativos, excelência.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
No interior da Kosmos, outros<br />
preparativos tomavam o tempo e a atenção<br />
das várias equipes de manutenção e<br />
reparos, colocan<strong>do</strong> a nave e os March em<br />
condições de combate.<br />
- Já temos as coordenadas? –<br />
Perguntou Tutkan, para Klemps, que<br />
observava o Telak.<br />
- Na verdade, o sinal desapareceu e<br />
a última sinalização, veio <strong>do</strong> oitavo<br />
quadrante <strong>do</strong> trigésimo setor.<br />
- Tão longe assim?<br />
- Com a velocidade <strong>do</strong>s cruza<strong>do</strong>res,<br />
levaríamos quase um perío<strong>do</strong> para chegar<br />
lá, isto se não esbarrarmos em campos de<br />
asteróides, senhor.<br />
- Hamour, o que você acha?<br />
457
- Não gosto. É longe e fica atrás <strong>do</strong><br />
portão estelar <strong>do</strong>is.<br />
- E o que significa isto?<br />
- Isto quer dizer que, se entrarmos,<br />
nunca sairemos e acho que sei como estão<br />
nos esperan<strong>do</strong>.<br />
- Como?<br />
- Acompanhem o raciocínio.<br />
Ahdack achou o nosso pequeno espião por<br />
isto, Carvelus deve ter si<strong>do</strong> puni<strong>do</strong> com a<br />
morte. Assim, ele deduzirá que mais ce<strong>do</strong><br />
ou mais tarde, iremos atrás dele...<br />
- Se fosse eu, - interrompeu<br />
Tutkan – sairia de lá.<br />
- Mas, não Ahdack. Ele, o “Senhor<br />
de tu<strong>do</strong>”, jamais fugiria de uma luta perante<br />
seus generais. Então, como dizia, ele sabe<br />
que vamos atrás dele e nos esperará com<br />
outra nave disposta exatamente no lugar<br />
que ele estava. Esta nave usará o Globo<br />
da Morte; já expliquei isto; são cento e<br />
vinte e cinco naves em órbita nivelada e<br />
sincronizada, atiran<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> e em todas<br />
as direções, enquanto outras cento e vinte<br />
e cinco naves Mobis 7V, orientadas de<br />
dentro <strong>do</strong> globo, distrai o inimigo e o atrai<br />
para ser destruí<strong>do</strong> pelo “Globo”.<br />
458
- E como passar por esta coisa? –<br />
quis saber Tutkan.<br />
- Não creio que exista maneira...<br />
mas...<br />
Mas? – perguntou Fanna.<br />
- Pode ou não pode? – entrou<br />
Tutkan.<br />
- Talvez...<br />
E dizen<strong>do</strong> isto, Hamour foi até o<br />
mapa estelar, apanhou a régua e traçou<br />
algumas retas, sinalizan<strong>do</strong>-as em certos<br />
pontos.<br />
- Vejam senhores, não posso dizer<br />
com certeza, mas a coisa é mais ou menos<br />
o seguinte: Haven<strong>do</strong> outra nave no lugar<br />
de Ahdack, preparada, a nossa espera,<br />
ele, provavelmente estará escondi<strong>do</strong> por<br />
de trás <strong>do</strong> portão estelar <strong>do</strong>is – e mostran<strong>do</strong><br />
sua localização no mapa -... <strong>aqui</strong>. Sua<br />
nave estará disfarçada de algum asteróide<br />
gigante por auto-holograma... Quan<strong>do</strong><br />
passarmos, estaremos entre <strong>do</strong>is fogos.<br />
Isto é o que ele espera que façamos.<br />
Entretanto, se entrarmos atiran<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong><br />
o que virmos, seja lá o que for, podemos<br />
acertar Ahdack em seu holograma-disfarce<br />
e...<br />
459
- Bum!! – disse Tutkan, com o seu<br />
sorriso matreiro.<br />
- Exatamente, meu caro. O maior<br />
bum que você já viu.<br />
Fanna andava em voltas, pensativo,<br />
dan<strong>do</strong> a impressão de quem comeu e não<br />
gostou. De repente, virou-se para os <strong>do</strong>is e<br />
disse:<br />
- Não gosto disso. Vamos lutar em<br />
território prepara<strong>do</strong> pelo inimigo... é<br />
suicídio. Vamos pensar em outra coisa. O<br />
melhor seria atrai-lo para cá. Ele<br />
certamente virá prepara<strong>do</strong> e disposto a nos<br />
destruir, mas então, nós teremos o campo<br />
prepara<strong>do</strong> para a luta.<br />
- Você tem razão – disse Hamour.<br />
Não devemos subestimar a astúcia de<br />
Ahdack.<br />
- Hamour – disse Tutkan – nos fale<br />
um pouco mais a respeito de Ahdack.<br />
Diga-nos tu<strong>do</strong> o que sabe sobre suas<br />
táticas, precisamos conhecê-lo melhor.<br />
Temos que saber como raciocina aquela<br />
cabeça.<br />
- Vamos encarar a coisa deste<br />
mo<strong>do</strong>. Ahdack é um joga<strong>do</strong>r, que usa<br />
táticas diferentes e todas elas, baseadas<br />
na fraqueza ou nos erros <strong>do</strong> oponente.<br />
460
Costuma infiltrar seus andróides como<br />
espiões. Plantam-os em setores de<br />
influência, muitas vezes, como duplicatas<br />
fiéis daqueles que misteriosamente<br />
desapareceram. Sua finalidade maior,<br />
como já disse, é escravizar to<strong>do</strong>s que<br />
encontra. Toma suas mulheres para o seu<br />
concubinato e <strong>do</strong>s seus generais. Mata por<br />
prazer. É frio e calculista. Tem um gênio<br />
temperamental e cruel. Gosta de ver seu<br />
nome estampa<strong>do</strong> pelas paredes por onde<br />
passa nunca menor <strong>do</strong> que o seu próprio<br />
tamanho. Caso contrário se enfurece. É o<br />
demônio em pessoa. O mais interessante<br />
de tu<strong>do</strong>, é que to<strong>do</strong>s, sem exceção, o<br />
a<strong>do</strong>ram e o temem, como um deus, e, lhe<br />
dão em sacrifício, seus próprios recémnasci<strong>do</strong>s.<br />
Ele sem o menor pejo os recebe<br />
para serem devora<strong>do</strong>s por ele e seus<br />
generais, como raras iguarias. Ahdack é<br />
destituí<strong>do</strong> de qualquer compaixão. Tu<strong>do</strong> e<br />
to<strong>do</strong>s são de sua propriedade. Ele se julga<br />
o “grande senhor” e to<strong>do</strong>s à sua volta, o<br />
obedecem cegamente.<br />
- Bela descrição – disse Tutkan.<br />
- E desencoraja<strong>do</strong>r – completou<br />
Fanna.<br />
461
- Pois é isto, senhores – concluiu<br />
Hamour – Temos pela frente uma boa “<strong>do</strong>rde-cabeça”.<br />
Como diria Zur-Kwa.<br />
- Acho que deveríamos chamá-lo.<br />
Mas acabo de lembrar que Ambhórius vai<br />
precisar dele para preparar e ativar nossas<br />
defesas.<br />
- Você acha que ele pode nos<br />
atacar, digo, nossas cidades?<br />
- Pode ser, Tut. Respondeu<br />
Hamour, e desta vez bem preocupa<strong>do</strong>.<br />
- Mas precisamos <strong>do</strong> baixinho<br />
<strong>aqui</strong>, ele e Thorc e ver, se tem alguma<br />
idéia. Temos que sair desta.<br />
- Boa idéia, Erus.<br />
- Então, Tut, mãos à obra. Faça a<br />
comunicação.<br />
Thorc recebeu sua convocação em<br />
meio a cálculos e projeções, tentan<strong>do</strong><br />
alinhavar os retoques finais da nave de<br />
Hamour e não gostou muito de ser<br />
interrompi<strong>do</strong>, principalmente por ter que<br />
passar mais “momentos” no espaço.<br />
Zur-Kwa, no planeta Shan,<br />
reclamou tu<strong>do</strong> que tinha direito. Teria que<br />
deixar sua “grande ocupação”, segun<strong>do</strong><br />
462
ele, em meio às experiências genéticas e<br />
seus recentes resulta<strong>do</strong>s. Como Thorc. A<br />
idéia de subir à Kosmos, e discutir<br />
assuntos que não eram <strong>do</strong> seu interesse<br />
científico e nem <strong>do</strong> seu agra<strong>do</strong>, aborrecia.<br />
Além <strong>do</strong> mais, seus “espécimes” tinham<br />
pouco mais de <strong>do</strong>is anos e sua maioria,<br />
lin<strong>do</strong>s e espertos, falan<strong>do</strong> suas primeiras<br />
palavras. E mais não teria tempo de ativar<br />
o sistema de defesa de Kálerus. E porque<br />
tu<strong>do</strong> isso?<br />
O mesmo transporte os levou.<br />
Ao chegarem ao hangar da<br />
Kosmos, ao serem recepciona<strong>do</strong>s por<br />
Fanna, Zur-Kwa entrou no observatório<br />
central resmungan<strong>do</strong> e reclaman<strong>do</strong><br />
impertinentemente.<br />
- Espero que este assunto mereça<br />
o tempo que não estou no laboratório...<br />
- Calma calma – disse Fanna<br />
sorrin<strong>do</strong> e se divertin<strong>do</strong> com as caretas <strong>do</strong><br />
velho amigo – primeiro diga “olá” e guarde<br />
suas pedras para o inimigo.<br />
- Inimigo? ... Eu não tenho<br />
inimigos!!<br />
463
- Você tem, sim, espere e já o<br />
conhecerá... e você, Thorc, também veio<br />
arma<strong>do</strong>?<br />
- Não, mas estou perigoso.<br />
Algumas risadas tomaram conta<br />
momentaneamente <strong>do</strong> compartimento.<br />
Mas não era hora de diversão e por isto,<br />
Fanna, rapidamente passou a situação e a<br />
repassou outras vezes auxilia<strong>do</strong> por Tutkan<br />
e Hamour, no gabinete de Tutkan.<br />
O âmago da questão era<br />
encontrar, mediante o que sabiam algum<br />
ponto fraco em Ahdack e assim explorá-lo<br />
convenientemente.<br />
Zur-Kwa, com a testa franzida e<br />
passan<strong>do</strong> a mão nos cabelos espavita<strong>do</strong>s,<br />
afirmou categoricamente:<br />
- O único ponto fraco dele, é o seu<br />
ego. Poderiam tornar sua visão bem<br />
turva se explorada corretamente.<br />
- Hamour – entrou Thorc – de que o<br />
impera<strong>do</strong>r gosta mais, de ser bajula<strong>do</strong> ou<br />
de destruir seres?<br />
- Na medida em que <strong>do</strong>mina, a<br />
bajulação é conseqüência normal,<br />
contu<strong>do</strong>...<br />
464
- Continue!<br />
-... Acho que poderíamos criar-lhe<br />
uma situação inédita.<br />
Thorc, impacientemente, se<br />
adiantou e disse, com um ar de quem já<br />
sabia de tu<strong>do</strong> o que Hamour tinha em<br />
mente:<br />
- É claro. Vamos nos render.<br />
- Ele perdeu a razão – disse Zur-<br />
Kwa.<br />
- Vamos simular esta rendição –<br />
disse Thorc, ignoran<strong>do</strong> a objeção <strong>do</strong><br />
colega.<br />
- Exatamente – entrou Hamour -,<br />
vamos continuar fazen<strong>do</strong> o seu próprio<br />
jogo.<br />
- Pode funcionar – disse Zur-Kwa,<br />
como que, queren<strong>do</strong> se desculpar pela<br />
falta de visão anterior.<br />
- Sejamos mais claros – disse<br />
Tutkan, um pouco contraria<strong>do</strong>.<br />
- Sim, por favor, senhores – disse<br />
Fanna, interessa<strong>do</strong> – vamos traduzir as<br />
metáforas.<br />
- Está bem, Erus, vamos ao<br />
assunto. Você quer começar Thorc?<br />
-Sim. Completei os estu<strong>do</strong>s e<br />
montei mais três iguais ao navega<strong>do</strong>r<br />
465
estelar para antimatéria... Enquanto Zur-<br />
Kwa brincava de deus...<br />
- Epa! Eu nunca brinquei de ser<br />
Deus...<br />
- É claro que não atalhou Fanna.<br />
- Ele se sentia o próprio – disse<br />
Tutkan em franca gozação.<br />
- Pois bem – disse Thorc,<br />
assumin<strong>do</strong> a seriedade da ocasião -<br />
Podemos introduzi-los no sistema da<br />
Kosmos e <strong>do</strong> Constelação, e ativa-los em<br />
menos de dez tempos, e estaremos em<br />
frente <strong>do</strong> portão estelar num piscar de<br />
olhos.<br />
- Parabéns, meu amigo – disse<br />
Hamour –Esta é uma excelente notícia. Mas<br />
temo que este atalho seja perigoso para a<br />
estrutura das naves.<br />
- Não, se revestirmos o casco com<br />
ionização refratária, simulan<strong>do</strong> atraves <strong>do</strong><br />
calor, aquela geringonça que você chama<br />
de giroscópio. Podemos atravessar o<br />
buraco de antimatéria sem causar danos<br />
nas estruturas.<br />
E se revertermos a refração para<br />
deflação, podemos usar esta energia em<br />
escu<strong>do</strong> de invisibilidade...<br />
466
- Bravo rapazes! Agora sim, estou<br />
ven<strong>do</strong> uma luz no fim <strong>do</strong> túnel – disse<br />
Hamour. Contamina<strong>do</strong> de otimismo – Estou<br />
gostan<strong>do</strong> deste plano. E o que faremos<br />
quan<strong>do</strong> estivermos lá?<br />
- Primeiro, nos certificaremos que<br />
Carvelus não esteja por perto para<br />
contestar nossas mentirinhas. Segun<strong>do</strong>,<br />
prepararemos um cruza<strong>do</strong>r...<br />
xxxxxxxxxxxxxxxx<br />
A Base de Rumback tomara o<br />
lugar da <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r, como Hamour<br />
previra.<br />
O Telak acusou a entrada de uma<br />
nave solitária pelo portão estelar <strong>do</strong>is e<br />
ordenou aos seus Mobis, a atenção e<br />
preparação <strong>do</strong> rodízio, até que a nave<br />
estivesse ao alcance de suas cargas.<br />
Subitamente a nave parou,<br />
passan<strong>do</strong> a emitir sinais codifica<strong>do</strong>s<br />
deixan<strong>do</strong> Rumback um tanto<br />
desconcerta<strong>do</strong>, a princípio.<br />
467
Tão logo as mensagens foram<br />
decodificadas e traduzidas, Rumback<br />
simplesmente não acreditou. O líder<br />
daquele “povinho” queria uma audiência<br />
com o impera<strong>do</strong>r, em pessoa. Mas que<br />
audácia! – pensou. O impera<strong>do</strong>r jamais os<br />
receberia. O que fazer? Incomodar<br />
Ahdack, com problemas “menores”,<br />
certamente o deixaria furioso. Em<br />
compensação, nunca houvera tamanha<br />
audácia por parte <strong>do</strong>s plebeus de todas as<br />
galáxias. Talvez o impera<strong>do</strong>r quisesse se<br />
divertir um pouco, antes de matá-los. Sim,<br />
por que não? Ativou seu comunica<strong>do</strong>r e<br />
passou a seguinte mensagem.<br />
- “Excelência, sinto incomodá-lo,<br />
mas temos uma coisa deveras<br />
interessante, a meu ver”.<br />
- Continue, Rumback.<br />
- Aqueles seres desprezíveis,<br />
acabam de entrar em contato, pedin<strong>do</strong><br />
uma audiência, uma pequena audiência<br />
com o impera<strong>do</strong>r, em pessoa. Acho que<br />
vieram pedir clemência, excelência.<br />
- E o que você respondeu<br />
Rumback?<br />
- Nada ainda, excelência.<br />
- Disseram mais alguma coisa?<br />
468
- Sim, que estavam dispostos a<br />
cooperar com o império.<br />
- Ah, Ah, Ah, Ah – Seu riso era<br />
amedronta<strong>do</strong>r – Então, eles querem falar<br />
comigo, hein? Pois lhes diga que os<br />
receberei aí, em cinco tempos.<br />
- Aqui, Excelência?<br />
- Sim, aí. Não queremos que<br />
saibam da existência de minha fortaleza,<br />
por enquanto. Portanto vamos nos divertir<br />
um pouco, em sua casa, Rumback.<br />
- Muito inteligente Excelência.<br />
- Não esqueça de enfatizar que<br />
receberei sua delegação, com a presença<br />
de seu líder e não outro, pois conheço o<br />
seu rosto.<br />
- Pois não, Excelência. Mandarei a<br />
mensagem agora mesmo.<br />
Fanna recebeu a mensagem a<br />
bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> cruza<strong>do</strong>r e transmitiu para a<br />
Kosmos.<br />
- Tut, ele engoliu e nos espera em<br />
cinco tempos, quer nos receber nesta<br />
fortaleza que podemos ver no Telak.<br />
- Ótimo. Estamos prepara<strong>do</strong>s para<br />
ele. Temos uma boa rede espalhada. Logo<br />
469
que sair da toca, o captaremos d<strong>aqui</strong>.<br />
Tenha cuida<strong>do</strong>, a coisa toda tem que<br />
parecer real. Sejam convincentes.<br />
- Fique tranqüilo. Tu<strong>do</strong> vai dar certo.<br />
Durante a espera, to<strong>do</strong> o plano foi<br />
revisto em seus mínimos detalhes. Fanna<br />
teria como assistente, o grande maluco<br />
Zur-Kwa e mais <strong>do</strong>is rapazes (voluntários).<br />
Uma nave transporte luxuosamente<br />
preparada, sairia escoltada por <strong>do</strong>is March,<br />
Velz e Maxun, arma<strong>do</strong>s, mas sem os<br />
Prottons. Eram armas nucleares<br />
ultrapassadas, com poder de carga<br />
relativos.<br />
Partiram.<br />
A meio caminho, cinco Mobis se<br />
juntaram na escolta da pequena comitiva.<br />
Ao chegarem mais perto, cada vez<br />
mais, aquela bola de metal, ficava maior e<br />
maior.<br />
Uma grande porta se abriu no<br />
centro. As naves penetraram numa espécie<br />
de “hall”, logo se abrin<strong>do</strong> outras pequenas<br />
470
portas, onde havia túneis, semelhantes aos<br />
que tinham na Kosmos. Pousaram,<br />
deslizan<strong>do</strong> pelas pistas e logo após,<br />
reboca<strong>do</strong>s e taxia<strong>do</strong>s por carros de<br />
superfície, até o hangar principal. Muito<br />
bem bola<strong>do</strong> – disse Zur-Kwa,<br />
impressiona<strong>do</strong> com tu<strong>do</strong> que via a sua<br />
volta. Três plataformas, enormes, davam<br />
diretamente a uma porta e esta porta, num<br />
eleva<strong>do</strong>r – que pelas luzes que piscavam,<br />
presumia-se que ali onde estavam, teriam<br />
mais dez setores para baixo e nove para<br />
cima. Ali seria o centro da nave. O<br />
eleva<strong>do</strong>r os conduziu para cima numa<br />
velocidade desconfortável, até o nível<br />
superior de onde estavam pelo que<br />
concluíram ser o centro da bola, o seu<br />
coman<strong>do</strong>.<br />
BH-1 série 3 de Rumback foi quem<br />
os recebeu ao entrarem no eleva<strong>do</strong>r,<br />
depois de conduzi<strong>do</strong>s por um andróide<br />
cala<strong>do</strong>.<br />
A porta da grande sala foi aberta,<br />
mediante a digitação de códigos <strong>do</strong> falante<br />
BH-1, que se mostrava cortês e bastante<br />
simpático, apesar de sua voz metálica e<br />
471
estridente. Do outro la<strong>do</strong>, junto ao marco<br />
direito da porta, um andróide manipulava<br />
instrumentos para captação de objetos,<br />
transportan<strong>do</strong> a imagem <strong>do</strong>s visitantes em<br />
raios “X”, no grande telão da direita, logo<br />
acima deles. A primeira coisa que viram foi<br />
o trono à meia altura no centro daquela<br />
sala incrivelmente grande. Fanna a<br />
comparou com os antigos estádios de<br />
esportes da velha capital de Someron. Os<br />
mezaninos em volta seriam as<br />
arquibancadas com os vãos entre os<br />
andares, iluminan<strong>do</strong> a abóbada da<br />
cobertura.<br />
Ao coman<strong>do</strong> e BH-1 Série 3,<br />
caminharam sobre um longo tapete<br />
vermelho, espesso e muito fofo.<br />
Aquele lugar era bem ilumina<strong>do</strong> e<br />
puderam analisar bem, durante o trajeto.<br />
Ao re<strong>do</strong>r era uma enorme rede de<br />
equipamentos ativa<strong>do</strong>s e seres nunca<br />
antes imagina<strong>do</strong>s, operan<strong>do</strong> os varia<strong>do</strong>s<br />
controles.<br />
- Aqui é o centro nervoso dessa<br />
coisa – disse Zur-Kwa, para Fanna, entre<br />
dentes.<br />
472
Logo chegaram ao pé da<br />
escadaria re<strong>do</strong>nda que amparava o<br />
pedestal <strong>do</strong> trono, ainda a meia altura, mas<br />
acima de suas cabeças.<br />
Numa mesura estranha, BH-1<br />
Série 3, anunciou:<br />
- Queiram ficar à vontade,<br />
colocamos assentos a sua disposição.<br />
Desculpem o desconforto, não estamos<br />
acostuma<strong>do</strong>s a visitas.<br />
- Está muito bem, BH-1.<br />
- Série três, senhor. Fiquem a<br />
vontade, sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />
Ahdack, estará <strong>aqui</strong> em alguns momentos.<br />
Fanna agradeceu e sentou-se com<br />
Zur-Kwa e os rapazes, que olhavam em<br />
volta, tentan<strong>do</strong> memorizar tu<strong>do</strong> o que viam.<br />
Os assentos estavam dispostos à<br />
frente da escadaria <strong>do</strong> trono.<br />
Enquanto isso, Ahdack e Rumback<br />
os examinavam nas telas de suas salas,<br />
em exames aprofunda<strong>do</strong>s sobre escutas<br />
ou sinaliza<strong>do</strong>res, que porventura não<br />
tivessem si<strong>do</strong> capta<strong>do</strong>s pelos raios “X”.<br />
473
- Estão limpos Excelência.<br />
Carregam com eles apenas essa coisa que<br />
traduz nosso idioma.<br />
- Muito bem, Rumback. Está na<br />
hora de ver o que esses imbecis querem.<br />
Prepare o projetor. Estarei em posição, tão<br />
logo, atravesse a porta.<br />
De repente, o trono baixou,<br />
nivelan<strong>do</strong>-se ao degrau mais alto e Ahdack<br />
surgiu na frente deles. Como por encanto.<br />
Nossa como é grande, esse ser,<br />
pensaram, ao vê-lo vesti<strong>do</strong> de negro, tal<br />
como Carvelus havia-lhes se apresenta<strong>do</strong>.<br />
Trazia consigo, aquele cetro e na cabeça<br />
uma coroa cravejada com pedras<br />
luminosas, em todas as cores, com<br />
movimentos circulares e constantes. Eram<br />
semelhantes às unidades de vida, no tórax<br />
<strong>do</strong>s autômatos que guardavam o la<strong>do</strong> de<br />
fora da porta, pela qual passaram com BH-<br />
1 série 3.<br />
O Impera<strong>do</strong>r sentou-se ao trono,<br />
esvoaçan<strong>do</strong> sua capa e começou sem<br />
rodeios.<br />
474
- Muito bem, senhores, queriam<br />
uma audiência? Estão ten<strong>do</strong>. Sou to<strong>do</strong><br />
ouvi<strong>do</strong>s.<br />
Levantaram-se de suas cadeiras e<br />
curvaram-se. Fanna iniciou a conversa.<br />
- Estamos honra<strong>do</strong>s de estarmos<br />
em sua presença, Excelência, e<br />
sensibiliza<strong>do</strong>s por sua benevolência em<br />
receber-nos, para tratarmos de um assunto<br />
tão importante, como o fortalecimento <strong>do</strong><br />
seu majestoso império. Sabemos, poder<br />
lhe oferecer o melhor para o<br />
engrandecimento de sua alteza.<br />
- Estou impressiona<strong>do</strong> com seus<br />
gestos de humildade e grande sabe<strong>do</strong>ria.<br />
Então se sentaram sem esperar que<br />
lhes fosse ordena<strong>do</strong>. No fun<strong>do</strong>, Ahdack<br />
gostou daquela insolência e resolveu<br />
condescender.<br />
- Primeiro, gostaríamos de nos<br />
desculpar pelo mal entendi<strong>do</strong>, provoca<strong>do</strong><br />
pelo seu emissário.<br />
- Mal entendi<strong>do</strong>? Vocês o atacaram<br />
sem lhe dar a menor chance de defesa.<br />
Vocês chamam isto de mal entendi<strong>do</strong>?<br />
- Excelência, não estamos <strong>aqui</strong><br />
para nos defender de boatos ou falácias de<br />
comadres e até pediríamos a presença de<br />
475
seu emissário, para que sua inigualável<br />
sabe<strong>do</strong>ria pudesse avaliar os fatos com a<br />
clareza que lhe é devida.<br />
- Carvelus, infelizmente nos deixou,<br />
portanto, prossigam.<br />
- Excelência, nós apenas<br />
defendemos o que é nosso. Afinal, não<br />
poderíamos ficar à mercê de um... como<br />
posso dizer... de um ser de qualificação<br />
duvidável, como ele mesmo deixou a<br />
entender.<br />
- E o que ele “deu a entender”?<br />
- Ora, quan<strong>do</strong> ele percebeu que<br />
possuíamos alguns inventos interessantes,<br />
propôs uma aliança. Como já o<br />
conhecíamos de longa data; e sabe<strong>do</strong>res<br />
da sua ambição desmesurada, muito clara,<br />
deduzimos suas intenções em querer trairvos<br />
e tomar o poder ele mesmo. Não<br />
concordamos. Ele mesmo destruiu metade<br />
de sua frota e danificou parte das<br />
instalações de sua nave, igual a esta, para<br />
mostrar que estava <strong>do</strong> nosso la<strong>do</strong>. Isto nos<br />
fez desconfiar.<br />
- Desconfiar de que?<br />
- Usar nossos inventos para trair-vos<br />
e depois, nos trair também. Isto era óbvio<br />
de perceber. Se deveríamos nos unir e nos<br />
476
curvar, realmente, teria que ser para o<br />
único senhor das galáxias, o qual ouvimos<br />
falar em nossa peregrinação, antes de<br />
conquistarmos aquele planeta desprezível.<br />
O impera<strong>do</strong>r se regozijava diante<br />
aquelas palavras, tão bem colocadas. O<br />
seu ego se inflava.<br />
- E como ele poderia vencer-me?<br />
Poderiam ser mais claros.<br />
- Certamente, Excelência. Ao<br />
longo de muitos anos, no espaço,<br />
conseguimos desenvolver tecnologia<br />
avançada. Veja por esse tradutor, que<br />
trago comigo. Este aparelho traduz<br />
qualquer idioma <strong>do</strong> universo, porque age<br />
diretamente sob as emissões de ondas<br />
enviadas pelo cérebro. Tanto que estamos<br />
falan<strong>do</strong> e nos entenden<strong>do</strong> perfeitamente.<br />
Nossa voz lhe é ouvida por intermédio<br />
deste aparelho, que a reproduz em sua<br />
língua. Agradecemos a gentileza de um de<br />
seus servi<strong>do</strong>res, em poder trazê-lo, para<br />
que pudéssemos nos comunicar. Quero lhe<br />
apresentar, se me permite o cria<strong>do</strong>r de<br />
tu<strong>do</strong> o que temos.<br />
- Este é Zur-Kwa.<br />
- Encanta<strong>do</strong>, Excelência – foi o que<br />
veio <strong>do</strong> grande maluco, meio embaraça<strong>do</strong>.<br />
477
Ahdack, queren<strong>do</strong> provar a<br />
capacidade de Zur-Kwa, lhe perguntou:<br />
- Por acaso, vocês já <strong>do</strong>minam o<br />
conhecimento da Transposição Prottaica,<br />
no seu campo de imposição automolecular?<br />
- Sem dúvida, Excelência, preten<strong>do</strong><br />
concluir as diretrizes tão logo disponha de<br />
um laboratório de campo de choque e<br />
reversão atômica, o que significa a autoimposição-molecular<br />
partirizada.<br />
O impera<strong>do</strong>r não pode conter sua<br />
admiração. Sim, aquele ser tinha o<br />
conhecimento para o fabrico de armas<br />
Prottons. A única coisa que ainda não tinha<br />
em seu vasto arsenal. Também, entendeu<br />
porque Carvelus estava ansioso por se<br />
aliar com eles, e concluiu ser verdade o<br />
que disseram sobre Carvelus.<br />
- Vocês já possuem alguns<br />
protótipos para o experimento final?<br />
- Não – mentiu Zur-Kwa – Ainda não<br />
temos. Como disse, falta-nos o laboratório<br />
de campo para medirmos as potências<br />
Vetrais. Com a aceleração que temos,<br />
poderíamos alcançar no máximo dez<br />
Vetrons.<br />
- E como sabem que funciona?<br />
478
- Por simples projeção de<br />
computa<strong>do</strong>res, Excelência.<br />
- E o que vocês pretendem,<br />
exatamente?<br />
Fanna tomou novamente a palavra.<br />
- Excelência, apenas,<br />
humildemente, fazer parte de seu império.<br />
E se possível, dedicar nossas vidas e<br />
invenções para a grandeza de sua<br />
Excelência. Não pedimos nada em troca,<br />
apenas o prazer e a honra em servi-lo.<br />
Esta era uma situação nova. Jamais<br />
fora aborda<strong>do</strong> daquela forma. Aqueles<br />
seres, ali em sua frente, eram inteligentes<br />
e tinham adquiri<strong>do</strong> tecnologia tão<br />
avançada, quanto à dele próprio, e talvez,<br />
i<strong>do</strong> mais longe. Isto não era de se<br />
desprezar, não pelo menos, por enquanto.<br />
O único ser com estes avanços, felizmente<br />
ou infelizmente, estava morto. Agora, tinha<br />
diante de si, mais uma oportunidade para<br />
possuir tal conhecimento. Sim, acho que<br />
vou permitir que vivam mais um pouco,<br />
pensou.<br />
- Então querem fazer parte <strong>do</strong> meu<br />
império? E como poderão fazer isto?<br />
- Excelência, como disse, servin<strong>do</strong>vos.<br />
Aliás, se Vossa Excelência me<br />
479
permite, devo dizer que to<strong>do</strong> grande<br />
império, para ficar ainda maior, deve contar<br />
com alia<strong>do</strong>s fortes de fato.<br />
- Sábias palavras, meu caro. Vou<br />
considerar o seu pedi<strong>do</strong> e providenciar<br />
para que fiquem <strong>aqui</strong>, como meus<br />
hóspedes. BH-1 prepare acomodações<br />
para os nossos convida<strong>do</strong>s. Prepare,<br />
também, comunicação para que<br />
transmitam aos seus, suas permanências<br />
<strong>aqui</strong>. É só – voltan<strong>do</strong>-se para os visitantes –<br />
Fiquem a vontade, logo mais nos<br />
encontraremos <strong>aqui</strong> mesmo e falaremos<br />
mais sobre Transposição Molecular<br />
Prottaica.<br />
Ahdack levantou-se, desceu os<br />
degraus, deu meia volta e desapareceu por<br />
uma das portas, atrás <strong>do</strong> trono, ao la<strong>do</strong> da<br />
única porta vermelha com um círculo preto<br />
e símbolos que pareciam raios.<br />
Os Somerianos foram leva<strong>do</strong>s até<br />
o quarto nível inferior pelo mesmo eleva<strong>do</strong>r<br />
que subiram, acompanha<strong>do</strong>s por BH-1<br />
série 3 e <strong>do</strong>is andróides arma<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong><br />
sem ostentar suas armas.<br />
480
Durante a caminhada pelos<br />
corre<strong>do</strong>res, viram vários pavilhões usa<strong>do</strong>s<br />
para a manutenção e acondicionamento de<br />
muitas naves Mobis V7 (de combate), logo<br />
após, à direita, duas portas com símbolos<br />
conheci<strong>do</strong>s por Zur-Kwa e Fanna. Ali era a<br />
sala de máquinas, onde o núcleo <strong>do</strong>s<br />
propulsores e força da nave trabalhavam.<br />
Havia autômatos na guarda destas portas.<br />
Mais adiante, entraram por um corre<strong>do</strong>r<br />
estreito e curvilíneo que terminava numa<br />
escada de poucos degraus, dan<strong>do</strong> numa<br />
sala com muitos instrumentos complexos,<br />
altos, fora <strong>do</strong> alcance. Pelos caracteres<br />
impressos, seriam pontes de lançamentos.<br />
Havia ali, inúmeras criaturas fora <strong>do</strong>s<br />
padrões até então conheci<strong>do</strong>s por eles. Ao<br />
retomarem a continuação <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r,<br />
subin<strong>do</strong> por outros degraus, depararam-se<br />
numa lacuna imensa, por onde se viam<br />
cinco gera<strong>do</strong>res fumegantes, no que<br />
concluíram estarem exatamente no centro<br />
da bola de metal de Ahdack.<br />
Zur-Kwa chegou mais perto <strong>do</strong><br />
corrimão, notan<strong>do</strong> uma bela distancia até<br />
os gera<strong>do</strong>res interliga<strong>do</strong>s por passarelas<br />
metálicas, com pisos emborracha<strong>do</strong>s.<br />
481
Olhou para baixo e para cima, <strong>aqui</strong>lo era<br />
simplesmente imenso. Os gases que<br />
circundavam aqueles reatores o impediam<br />
de ver as extremidades.<br />
- Caro senhor – disse BH-1 – para<br />
poder segurar no corrimão, deve manter os<br />
<strong>do</strong>is pés na faixa isolante.<br />
- Bela construção, essa – disse Zur-<br />
Kwa, paran<strong>do</strong> por instantes e obedecen<strong>do</strong><br />
as instruções de BH-1.<br />
- Por favor, senhores, estamos<br />
quase chegan<strong>do</strong> a seus aposentos.<br />
BH-1 virou-se e prosseguiu sua<br />
cicerone.<br />
Alguns passos depois, penetraram<br />
num corre<strong>do</strong>r mais fresco encontran<strong>do</strong><br />
uma porta com <strong>do</strong>is autômatos arma<strong>do</strong>s na<br />
frente. Com a aproximação de BH-1 e os<br />
Somerianos, eles recuaram e a porta se<br />
abriu em cinco pontas. Lá dentro a<br />
temperatura era fria e pairava no ar um<br />
aroma esquisito, um tanto almiscara<strong>do</strong>.<br />
Passaram por duas portas largas nos <strong>do</strong>is<br />
la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r. Mais à frente outra porta<br />
com guardas. Neste corre<strong>do</strong>r, agora mais<br />
estreito, com paredes lisas e luminosidade<br />
avermelhada, encontraram seus<br />
aposentos. Eram <strong>do</strong>is la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>. Fanna e<br />
482
Zur-Kwa ficaram num e os rapazes no<br />
outro.<br />
- Desejamos que fiquem à vontade.<br />
Encontrarão tu<strong>do</strong> o que precisam, basta<br />
que operem os consoles de coman<strong>do</strong>, que<br />
tomamos a liberdade de caracterizá-los<br />
com sinais de sua própria língua.<br />
- Muita consideração de sua parte.<br />
Obriga<strong>do</strong>, BH-1 – disse Fanna.<br />
- Série três, senhor.<br />
- Apenas por curiosidade, por que<br />
você faz questão de dizer Série três?<br />
- Porque somos os mais<br />
capacita<strong>do</strong>s da série BH. Possuímos super<br />
inteligência artificial, que nos torna uma<br />
super raça, por assim dizer. Somos apenas<br />
sessenta e cinco em to<strong>do</strong> o Império.<br />
E dizen<strong>do</strong> isso, BH-1 deu-lhes as<br />
costas e se foi.<br />
O alojamento era simples, tinha<br />
<strong>do</strong>is leitos e entre eles um pequeno<br />
console semelhante àqueles que<br />
encontraram na pirâmide de Hamour.<br />
Outra semelhança, notada por Fanna era a<br />
<strong>do</strong>s pontos luminosos, minúsculos, aos<br />
483
quatro cantos, no alto das paredes lisas e<br />
de cor cinza-chumbo.<br />
- O mesmo esquema da pirâmide<br />
de Hamour – observou Zur-Kwa.<br />
- Bem pareci<strong>do</strong>.<br />
Tão logo a porta se fechou, a<br />
parede de fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> console, abriu-se,<br />
surgin<strong>do</strong> um comunica<strong>do</strong>r de transmissão<br />
externa de longo alcance, com uma tela<br />
ativada. Fanna acomo<strong>do</strong>u-se nos controles<br />
e man<strong>do</strong>u a seguinte mensagem:<br />
- Povo de Someron, quem lhes fala<br />
é Erus Fanna. Estamos bem e ficaremos<br />
mais um pouco. Sua Excelência o<br />
Impera<strong>do</strong>r Ahdack, em sua magnitude,<br />
deseja conhecer-nos um pouco melhor...<br />
Ahdack, de sua sala, os monitorava<br />
com um sorriso tétrico nos lábios, falan<strong>do</strong><br />
consigo mesmo: - Apenas quero saber<br />
mais <strong>do</strong>s Prottons, seus imbecis.<br />
Apesar da rede armada em torno<br />
<strong>do</strong> quadrante inteiro, não foi possível a<br />
Kosmos detectar de onde “Sua<br />
Excelência”, com sua nave tinha saí<strong>do</strong>.<br />
484
Os Telaks permaneciam cegos,<br />
sur<strong>do</strong>s e mu<strong>do</strong>s, mas pelo menos, o plano<br />
até <strong>aqui</strong>, andava conforme o previsto.<br />
Fanna, Zur-Kwa e os rapazes levaram<br />
alguns brinquedinhos e a esta hora,<br />
deveriam estar planta<strong>do</strong>s dentro da<br />
Fortaleza, aguardan<strong>do</strong> o momento de<br />
serem ativa<strong>do</strong>s.<br />
Ahdack, não muito longe dali, em<br />
sua própria Fortaleza sentia-se <strong>do</strong>no da<br />
situação.<br />
- Estes tolos nem perceberam que<br />
falavam com minha projeção holográfica.<br />
- Não confio neles, Excelência –<br />
disse, Rumback pela tela – acho que<br />
deveríamos atacar e destruir o planeta<br />
deles, enquanto <strong>do</strong>rmem.<br />
- Ainda não, Rumback. Vamos<br />
brincar um pouco com estes idiotas.<br />
Enquanto isto faça um check-up em suas<br />
naves e veja que não tenhamos surpresas.<br />
Em breve, muito breve, farão companhia a<br />
Carvelus.<br />
E com estas palavras, a grande<br />
sala de coman<strong>do</strong>s de Ahdack, estremeceu<br />
com uma gargalhada estron<strong>do</strong>sa, feito um<br />
trovão.<br />
485
Durante três dias que se seguiram,<br />
houve várias audiências cujo prato<br />
principal era sobre a Transposição<br />
Molecular Prottaica. Era um assunto<br />
extenso com muitas variantes e todas elas<br />
com incontável número de fórmulas e<br />
progressões. Ahdack queria tu<strong>do</strong> em<br />
mínimos detalhes, pelo qual, Zur-Kwa se<br />
aproveitava, enrolan<strong>do</strong> o máximo que<br />
podia, trazen<strong>do</strong> equações que os levaria<br />
sempre ao mesmo estágio. Naturalmente<br />
nunca ao espera<strong>do</strong> por “Sua Excelência”.<br />
No início <strong>do</strong> quarto dia, o impera<strong>do</strong>r<br />
já parecia cansa<strong>do</strong> de seus visitantes.<br />
Rumback, que a tu<strong>do</strong> acompanhava,<br />
novamente o aconselhou a acabar com a<br />
“festa”.<br />
- Excelência, não quero me tornar<br />
repetitivo, mas acho ser perda de tempo<br />
continuarmos com estas sessões. Acho<br />
que estão apenas tentan<strong>do</strong> ganhar sua<br />
confiança. Eles nada sabem <strong>do</strong> que dizem<br />
saber...<br />
- Rumback, pelo que vi, estão<br />
tentan<strong>do</strong> ganhar tempo e sabem mais <strong>do</strong><br />
que estão apresentan<strong>do</strong>.<br />
- Tempo para que, Excelência?<br />
486
- Vamos ficar saben<strong>do</strong> disto<br />
também. Prepare-lhes novas<br />
acomodações, bem ao seu estilo.<br />
Naquela noite não houve<br />
comunicações, pelo que Tutkan e Hamour<br />
sabiam o por que.<br />
- Ahdack já percebeu o que Erus e<br />
Zur-Kwa estão fazen<strong>do</strong> – disse Tutkan –<br />
vamos acionar a segunda parte <strong>do</strong> plano.<br />
- Isto está me dan<strong>do</strong> nos nervos –<br />
disse Thorc.<br />
- Fique calmo – disse Hamour,<br />
junto as telas <strong>do</strong> Komptor, traçan<strong>do</strong><br />
coordenadas e projeções <strong>do</strong> campo<br />
estelar.<br />
- Klemps – entrou Tutkan –<br />
comunique-se com a superfície. Mandem<br />
que ativem as defesas. Vamos partir em<br />
dez microns.<br />
Uma agitação estranha tomou<br />
conta da Kosmos que logo tomou posição<br />
e ao coman<strong>do</strong> de Tutkan, partiu em direção<br />
à Fortaleza. Em sua retaguarda, outro<br />
cruza<strong>do</strong>r se posicionou como falso líder,<br />
passan<strong>do</strong> a emitir uma mensagem para a<br />
base de Rumback, logo que passaram pelo<br />
portão estelar.<br />
487
- “Aqui é a nave Constelação,<br />
queremos contato com nosso líder e nosso<br />
homem de ciências”...<br />
-...<br />
Como resposta os Telaks<br />
mostraram um giro das naves Mobis em<br />
torno da grande bola de metal, atiran<strong>do</strong> a<br />
esmo. OTelecon <strong>do</strong> Constelação recebeu,<br />
após a demonstração de força da fortaleza<br />
Mobis, uma mensagem.<br />
- Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />
Ahdack, considerou inconveniente a vossa<br />
manifestação, por isso man<strong>do</strong>u alguns<br />
avisos de advertência. Não se aproximem<br />
mais. Vosso líder e o homem das ciências,<br />
no entanto, estão muito ocupa<strong>do</strong>s, tratan<strong>do</strong><br />
de assuntos de interesse <strong>do</strong> império.<br />
Tutkan, olhan<strong>do</strong> para Hamour e<br />
Thorc, com segurança afirmou<br />
categoricamente – ele sabe que não<br />
faremos nada enquanto os nossos<br />
estiverem lá. Por que então esta<br />
palhaçada?<br />
- A esta altura – disse Hamour – ele<br />
já sabe que conhecemos e <strong>do</strong>minamos o<br />
Transpositor Prottaico e se sente<br />
ameaça<strong>do</strong>, e deve estar irrita<strong>do</strong> pela<br />
enrrolação de Zur-Kwa. Além disto, está<br />
488
tentan<strong>do</strong> ganhar tempo para nos estudar<br />
melhor.<br />
- Mas afinal, onde ele está? – disse<br />
Tutkan – Que droga! Só vejo uma bola.<br />
Onde está a outra? Como este pilantra<br />
pode ter saí<strong>do</strong> de sua base sem que o<br />
víssemos?<br />
- Esta é uma boa pergunta, Tut –<br />
respondeu Hamour.<br />
- A menos que estejamos engana<strong>do</strong>s<br />
– disse Thorc coçan<strong>do</strong> o queixo – talvez<br />
aquela seja mesmo a Fortaleza dele.<br />
- Improvável – disse Hamour – Nunca<br />
se vê a Fortaleza dele a menos que seja<br />
tarde demais. Não. Aquela é a de<br />
Rumback.<br />
- Esta é a parte <strong>do</strong> plano que não<br />
vai bem. Se não soubermos onde ele está,<br />
nossas chances se reduzem a nada.<br />
- Thorc, o jeito é prosseguir na<br />
busca com os mapas, uma coisa grande<br />
assim não se esconde à toa. Ele<br />
provavelmente está disfarça<strong>do</strong> de<br />
asteróide ou algo assim. Qualquer corpo<br />
não identifica<strong>do</strong> e não mapea<strong>do</strong> deve ser<br />
ele.<br />
489
- Senhor, - disse Klemps – temos<br />
força de anti-matéria para mais <strong>do</strong>is<br />
tempos. Após isto ficaremos visíveis.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Klemps, informe meio<br />
tempo antes de saturar, e prepare os<br />
Prottons com cinqüenta Vetrons.<br />
- Tu<strong>do</strong>? – perguntou Thorc.<br />
- Tu<strong>do</strong>. Logo que encontrarmos<br />
Ahdack, quero dar só um tiro.<br />
Xxxxxxxxxxxxx<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que pensavam<br />
Ahdack não estava simplesmente<br />
escondi<strong>do</strong> e para<strong>do</strong>. Sua grande bola de<br />
metal se aproximava de Kálerus.<br />
Na superfície <strong>do</strong> planeta, os Telaks<br />
detectavam-no sob a forma de um cometa.<br />
De repente, o cometa parou e dele<br />
saiu uma chuva de naves Mobis, que não<br />
deram chances para os cargueiros Mir e o<br />
Cruza<strong>do</strong>r Galáctico. Em microns clareavam<br />
a noite num bombardeio simultâneo sobre<br />
as cinco cidades. Eram vôos rasantes<br />
490
pelas avenidas, segui<strong>do</strong>s de explosões e<br />
incêndios, devastan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que havia,<br />
despedaçan<strong>do</strong> os seres e suas casas, em<br />
mil pedaços.<br />
O sistema de defesa se quer<br />
disparou qualquer tiro. Vinte formações<br />
Zag foram destruídas dentro <strong>do</strong>s hangares.<br />
- Socorro – gritava Ambhórius,<br />
desesperadamente ao Telecon – Estamos<br />
sen<strong>do</strong> ataca<strong>do</strong>s... precisamos de ajuda...<br />
socorro, soc...<br />
O Telecon da Kosmos captou<br />
apenas fragmentos de imagens e sons.<br />
Eram to<strong>do</strong>s inteligíveis. Klemps não podia<br />
avaliar o que se passava, entenden<strong>do</strong> ser<br />
isto, decorrência à zona de asteróides<br />
perto dali. Logo a tela e áudio ficaram<br />
limpos, pelo que fez Tutkan concluir –<br />
Agora estamos longe demais, Fora <strong>do</strong><br />
alcance. Espero que tu<strong>do</strong> esteja bem.<br />
Em Kálerus havia uma total<br />
devassa. Não sobrara nada, apenas, tão<br />
somente, a pirâmide em pé.<br />
491
Os poucos sobreviventes foram<br />
leva<strong>do</strong>s a ferros para a Fortaleza de<br />
Ahdack, que se deliciava com seu poder<br />
devasta<strong>do</strong>r e ordenou o bombardeio total<br />
no planeta com raios Frattons.<br />
Ninguém mais além de<br />
conquista<strong>do</strong>res e conquista<strong>do</strong>s, sabiam o<br />
que havia aconteci<strong>do</strong> em Kálerus.<br />
Tutkan, assim como os demais,<br />
estavam cansa<strong>do</strong>s e nervosos com o<br />
insucesso das buscas. Haviam percorri<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong>s os cantos daquele quadrante e<br />
rastrea<strong>do</strong> outros <strong>do</strong>is, com sondas<br />
Teleméricas e nenhum vestígio fora<br />
encontra<strong>do</strong>.<br />
- Este maldito Ahdack. Será que<br />
percebeu nossas buscas?<br />
- Tu<strong>do</strong> é possível, Tut. Quan<strong>do</strong> se<br />
trata de “Sua Excelência”, tu<strong>do</strong> é possível –<br />
concor<strong>do</strong>u Hamour.<br />
- Onde este cretino foi se enfiar?<br />
- Talvez não esteja escondi<strong>do</strong> –<br />
ponderou Thorc.<br />
Com estas palavras, Hamour<br />
sentiu uma agulhada no peito.<br />
492
- Vamos voltar – disse com<br />
decisão.<br />
- Concor<strong>do</strong> – disse Tutkan – Vamos<br />
começar as buscas <strong>do</strong>nde começamos.<br />
- Não. – entrou Hamour com a<br />
expressão preocupada – Vamos voltar para<br />
Kálerus.<br />
- Para Kálerus?<br />
- Sim, Tut. Algo não está certo. Eu<br />
sinto isto. Que Deus nos ajude...<br />
- O que foi Hamour? – perguntou<br />
Thorc.<br />
- Não quero nem pensar...<br />
- E Fanna e os outros?<br />
- Ele estará bem enquanto Zur-<br />
Kwa não falar.<br />
O Constelação ficou para trás,<br />
atrás <strong>do</strong> portão estelar e a Kosmos tomou<br />
atalhos perigosos através de buracos e<br />
<strong>do</strong>bras <strong>do</strong> Universo e em pouco<br />
materializou-se por assim dizer, na órbita<br />
de Kálerus, pairan<strong>do</strong> e flutuan<strong>do</strong> enquanto<br />
transmitia para a superfície.<br />
- Não respondem – disse Klemps –<br />
Não há resposta, senhor. O Telecon está<br />
cego, sur<strong>do</strong> e mu<strong>do</strong>.<br />
493
Uma onda sinistra percorreu suas<br />
mentes, causan<strong>do</strong> arrepios e a sensação<br />
de estarem morren<strong>do</strong> por dentro.<br />
- Prepare minha nave – disse<br />
Tutkan – vou descer.<br />
- Vou com você – disse Thorc.<br />
- Eu também – disse Hamour, com<br />
uma expressão raivosa e continuou entre<br />
dentes – Ahdack... desta vez você foi longe<br />
demais... Que Deus me per<strong>do</strong>e, mas vou<br />
matá-lo... Você vai se arrepender de ter<br />
nasci<strong>do</strong>...<br />
Três March-1 desceram até<br />
Kálerus, sobrevoan<strong>do</strong> as cidades em<br />
ruínas, com focos de fogo e fumaça em<br />
vários pontos. As lágrimas lhes<br />
percorreram as faces.<br />
Pousaram fora <strong>do</strong>s limites de<br />
Atlantlis, agora, transformada em<br />
escombros. Ali mesmo, jaziam corpos<br />
mutila<strong>do</strong>s e queima<strong>do</strong>s.<br />
O restante <strong>do</strong> reconhecimento foi<br />
feito a pé. Nada. Ninguém vivo à vista. Os<br />
sensores Kramset foram ativa<strong>do</strong>s para<br />
494
calor e vibrações de seres vivos. Mas não<br />
acusavam nada, nem mesmo nativos.<br />
A pirâmide estava em pé e isto<br />
trouxe alguma esperança ao coração de<br />
Hamour que entrou às pressas. Tu<strong>do</strong><br />
estava revira<strong>do</strong>, com indícios de luta. Os<br />
controles internos, quebra<strong>do</strong>s.<br />
Conhecen<strong>do</strong> Ahdack, como<br />
conhecia Hamour, podia imaginar o que<br />
poderia ter ali aconteci<strong>do</strong>, e se Amis<br />
estivesse viva...<br />
Hamour sentou-se numa floreira<br />
em pedaços e chorou, desejan<strong>do</strong> que ela<br />
tivesse sucumbi<strong>do</strong> junto aos outros.<br />
Em Pakeus, Mirviam e Vlaupora, o<br />
cenário era o mesmo: cinzas, destroços e o<br />
cheiro da morte.<br />
Partiram para Krópitus e os<br />
sensores detectaram vida, mas em<br />
manifestações fracas, tão fracas que foram<br />
gastos <strong>do</strong>is tempos até que fosse<br />
detecta<strong>do</strong> sua fonte.<br />
495
Estavam sob escombros e tiveram<br />
que cavar com suas próprias mãos e<br />
ferramentas improvisadas.<br />
Depois de muitos esforços, foram<br />
encontradas, muito fracas, quase mortas,<br />
Zart e Walln, filhas de Tutkan.<br />
Zart, num fio de voz, conseguiu<br />
falar:<br />
- Por que nos aban<strong>do</strong>naram?<br />
E foi só o que disse, desfalecen<strong>do</strong>,<br />
logo em seguida.<br />
Tutkan a apoiou em seus braços,<br />
abraçou-a e beijou-lhe a face prejudicada<br />
pelos ferimentos e cinzas escuras.<br />
Hamour estremeceu ao vê-las.<br />
Sentiu que Amis estava viva e em poder de<br />
Ahdack e logo ele saberia. Ahdack, além<br />
das atrocidades que iria fazer com ela,<br />
saberia de sua presença.<br />
- Droga!... Aquele maldito, logo terá<br />
as cartas nas mãos e vai conduzir o jogo a<br />
seu bel-prazer.<br />
Ao olhar para cima perceberam<br />
vindas <strong>do</strong> leste uma enorme claridade, tal<br />
496
como uma aurora boreal. Auxiliou Tutkan a<br />
transportá-las para sua nave e foi de<br />
encontro a Thorc, que com seus sensores<br />
ativa<strong>do</strong>s, procurava mais sobreviventes.<br />
De súbito viu Tutkan partin<strong>do</strong> em sua nave,<br />
mas não levan<strong>do</strong> as garotas que estavam<br />
acomodadas confortavelmente numa<br />
armação improvisada.<br />
Enquanto Hamour corria<br />
novamente para sua nave com a intenção<br />
de se comunicar com Tutkan, Thorc<br />
encontrou naqueles escombros, Zac, filho<br />
de Walln, morto.<br />
- Ele só tinha três anos – disse<br />
Thorc entre lágrimas e verifican<strong>do</strong> seu<br />
sensor Kramset totalmente mu<strong>do</strong>.<br />
O Intercon da nave de Tutkan<br />
soou.<br />
-Tutkan na escuta, pode falar.<br />
- Sou eu, Tut, aonde você vai?<br />
- Até o planeta Shan, ver como<br />
estão as coisas com o laboratório de Zur-<br />
Kwa, Hamour.<br />
Tutkan tinha seus olhos para<strong>do</strong>s e<br />
estava calmo demais, feito um vulcão<br />
prestes a explodir.<br />
497
Hamour, por sua vez voltou junto a<br />
Thorc, que permanecia com Zac nos<br />
braços e repetia – Ele só tinha três anos...<br />
- Thorc, vamos sair rápi<strong>do</strong> d<strong>aqui</strong>,<br />
acho que ele usou os raios Frattons, veja o<br />
leste.<br />
- O que é aquela claridade?<br />
- Fogo, a maior fogueira que você<br />
já viu. O planeta vai virar cinzas.<br />
Enfim, a procura de sobreviventes<br />
continuou por mais um tempo e nada,<br />
ninguém mais parecia estar vivo.<br />
Zart e Walln foram colocadas na<br />
nave de Thorc que partiu para Kosmos,<br />
enquanto viam o planeta em chamas.<br />
Hamour foi de encontro à Tutkan no<br />
planeta Shan.<br />
Thorc a caminho, relatou os<br />
acontecimentos pelo que to<strong>do</strong>s<br />
emudeceram.<br />
Tutkan pousou entre árvores altas<br />
e copadas ao norte <strong>do</strong> laboratório que<br />
parecia intacto. Perto dali, Belzamir<br />
498
incava com filhotes humanos e foi de<br />
encontro a Tutkan ao vê-lo pousar.<br />
- Oi Tut, que bom vê-lo por <strong>aqui</strong>!!<br />
Na medida em que Tutkan se<br />
aproximava sem nada dizer, e com o olhar<br />
para<strong>do</strong>, Belzamir sentiu que algo estava<br />
erra<strong>do</strong> e parou.<br />
Foi um encontro dramático para<br />
ela. Tutkan em poucas palavras relatou os<br />
fatos, manten<strong>do</strong> aparentemente sua calma.<br />
- E Zur-Kwa?<br />
- Ele e Erus estão bem por hora.<br />
- Oh, meu Deus!! O que vai ser de<br />
nós? Está tu<strong>do</strong> acaba<strong>do</strong>...<br />
- Vamos, Belzamir, chame e reúna<br />
os outros.<br />
Ela não ouvia. Parecia em transe.<br />
- Eles destruíram tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s... Oh,<br />
meu Deus, o que vai ser de nós?<br />
- Mantenha-se calma, Belzamir –<br />
disse Tutkan, com voz áspera.<br />
- Desculpe Tut, desculpe... Oh, meu<br />
Deus!...<br />
Tutkan a abraçava e as lágrimas de<br />
ambos eram abundantes. Mesmo os<br />
filhotes humanos choravam agarra<strong>do</strong>s às<br />
vestes de Belzamir, sem saberem de nada.<br />
499
- Vamos, Belzamir, chame os<br />
outros, talvez não seja seguro ficar <strong>aqui</strong>.<br />
Eles podem voltar, devem ter nos<br />
detecta<strong>do</strong>...<br />
- Oh, Tut, o que vai ser de nós???<br />
Pouco depois, Tutkan e Belzamir<br />
comunicavam aos outros, com a<br />
choradeira <strong>do</strong>s humanos em sua volta. Foi<br />
então que Hamour pousou junto à nave de<br />
Tutkan e transmitiu para a Kosmos o<br />
pedi<strong>do</strong> de uma nave transporte capaz de<br />
levar a to<strong>do</strong>s e tu<strong>do</strong> o que pudesse ser<br />
transporta<strong>do</strong>, mesmo to<strong>do</strong> o complexo <strong>do</strong><br />
laboratório.<br />
- Hamour – disse Tutkan ao vê-lo –<br />
precisamos tirá-los d<strong>aqui</strong> o mais depressa<br />
possível.<br />
- Já pedi transporte, Tut. Logo<br />
estarão <strong>aqui</strong>, enquanto isso devemos<br />
organizar as coisas e, Tut, - chegan<strong>do</strong>-se<br />
mais perto, quase que cochichan<strong>do</strong> – temos<br />
que agir depressa, porque acho que<br />
levaram Amis e você sabe o que isto<br />
significa.<br />
- Sim, Hamour, vinha pensan<strong>do</strong><br />
nisto no caminho. Se a levaram, Ahdack<br />
saberá de sua existência.<br />
500
- Agora estamos sem escolha.<br />
Precisamos atacá-lo. Não podemos dar a<br />
ele chances de raciocinar.<br />
- O pior é que Erus, Zur-kwa e os<br />
nossos rapazes estão em seu poder, na<br />
outra Fortaleza... Droga, droga, droga!!! Mil<br />
vezes, droga!!!!!<br />
A situação era difícil. Tutkan se<br />
sentia impotente e Hamour, praticamente<br />
nas mãos <strong>do</strong> tirano.<br />
Da Fortaleza Imperial, Ahdack, o<br />
senhor de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s se comunicou<br />
com seu general favorito.<br />
- Rumback, prepare um Mobis TR-<br />
10 e mande os prisioneiros, com exceção<br />
<strong>do</strong> cientista, para a Colônia I. Vamos juntar<br />
o líder com seu povo. Afinal, ele mesmo<br />
disse que queria me servir. Hoje me sinto<br />
generoso e vou lhe conceder esta dádiva.<br />
- Certamente, Excelência, mas<br />
tenho duas perguntas a fazer, se me<br />
permite?<br />
- Diga.<br />
- A primeira diz respeito aos<br />
estoques de nossas despensas, por acaso<br />
501
Sua Excelência nos trouxe carne nova e<br />
fresca?<br />
- Desta vez não, Rumback. Apenas<br />
algumas mulheres e rapazes fortes o<br />
bastante para minhas experiências. Não<br />
trouxe crianças. E a segunda?<br />
- Uma pena, uma pena... a<br />
segunda, diz respeito àquele ferro-velho<br />
estaciona<strong>do</strong> perto <strong>do</strong> portão estelar Dois.<br />
Devo destruí-lo?<br />
- Sim, mas espere minhas ordens.<br />
Logo você as terá.<br />
- Desculpe a insistência,<br />
Excelência, mas por que não agora?<br />
- Muito simples Rumback, quan<strong>do</strong><br />
souberem o que aconteceu ao restante <strong>do</strong><br />
povo deles, eles mesmos irão a você,<br />
então – Ahdack gargalhou<br />
estron<strong>do</strong>samente – Então terá um bom<br />
momento de praticar tiro ao alvo. Bom<br />
divertimento, Rumback!<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Excelência.<br />
No calabouço da Fortaleza de<br />
Rumback, Erus Fanna, Zur-Kwa, Velz,<br />
Maxun e os <strong>do</strong>is jovens oficiais Simeon e<br />
Wurtz, organizavam o plano de fuga. Cada<br />
um memorizara partes da nave por onde<br />
502
passaram e agora, o mapa e suas<br />
peculiaridades eram coloca<strong>do</strong>s em papel<br />
lamina<strong>do</strong>. Zur-Kwa havia memoriza<strong>do</strong> os<br />
movimentos de digitação nas portas por<br />
onde passaram principalmente a de acesso<br />
à descomunal sala de coman<strong>do</strong>.<br />
Então, a porta da cela abriu-se num<br />
estouro, aparecen<strong>do</strong> BH-1 Série 3 com<br />
mais cinco andróides arma<strong>do</strong>s com seus<br />
rifles de raios, e foi logo dizen<strong>do</strong>, sem<br />
aquela simpatia anterior:<br />
- O comandante Rumback deseja<br />
vê-lo – apontan<strong>do</strong> para Fanna.<br />
- Comandante Rumback? Quem é<br />
Rumback?<br />
- É o comandante desta Fortaleza.<br />
- Não deixe seu amigo esperan<strong>do</strong> –<br />
disse Zur-Kwa.<br />
Fanna voltou-se para o baixinho e<br />
os outros que compreenderam o que os<br />
seus olhos diziam; era a hora de agir.<br />
- Ora, mas eu pensei que o<br />
comandante desta nave fosse Sua<br />
Excelência o Impera<strong>do</strong>r Ahdack!<br />
- O nosso Impera<strong>do</strong>r encontra-se<br />
em sua Fortaleza Imperial.<br />
- E onde está a Fortaleza Imperial?<br />
503
- Muito longe d<strong>aqui</strong>, agora vamos,<br />
o comandante Rumback o espera e não<br />
devemos demorar.<br />
- Sim, é claro.<br />
Neste ponto, Fanna terminava, ou<br />
representava terminar de se vestir, dan<strong>do</strong><br />
tempo para que os outros pudessem<br />
avaliar a situação. Então se aproximou de<br />
Zur-Kwa, simulan<strong>do</strong> despedida e<br />
passan<strong>do</strong>-lhe à mão, um grampo de seu<br />
broche.<br />
- Nos veremos em breve.<br />
Deu meia volta e seguiu com sua<br />
escolta.<br />
A porta voltou a fechar noutro<br />
estouro. Zur-Kwa aproximou-se de Maxun<br />
que mantinha o ouvi<strong>do</strong> cola<strong>do</strong> na parte<br />
mais fina <strong>do</strong> metal da porta.<br />
- Vamos dar tempo para Fanna<br />
atingir os limites <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r, depois,<br />
vamos sair d<strong>aqui</strong>.<br />
- Erus Fanna – disse Rumback no<br />
mesmo trono antes ocupa<strong>do</strong> por Ahdack -,<br />
meu nome é Rumback. Sou seu<br />
comandante por hora e tenho as seguintes<br />
ordens para você...<br />
504
- Antes de me passar os reca<strong>do</strong>s<br />
de seu Impera<strong>do</strong>r, diga-me, por que ele<br />
mesmo não está <strong>aqui</strong>?<br />
- Naturalmente, Sua Excelência<br />
tem outros assuntos de maior importância,<br />
no momento. Assuntos estes, que deverão<br />
interessar muito a você, meu caro.<br />
- Talvez, mas insisto, onde está<br />
seu Impera<strong>do</strong>r?<br />
Rumback ignorou a pergunta e<br />
seguiu:<br />
- Você e os seus, com exceção <strong>do</strong><br />
cientista, partirão em <strong>do</strong>is tempos, rumo a<br />
Fortaleza Imperial. Antes de partir, você<br />
fará um comunica<strong>do</strong> à sua gente, dizen<strong>do</strong><br />
que: De agora em diante, deverão<br />
obedecer e a<strong>do</strong>rar Sua Excelência, o<br />
Impera<strong>do</strong>r das Galáxias, Ahdack, o seu<br />
senhor. Para ser mais claro, de agora, para<br />
sempre.<br />
Fanna, calmo, observava aquele<br />
mesmo ar de “superioridade”, assim como<br />
Carvelus advindas <strong>do</strong> mestre deles.<br />
Subitamente o alarme interno<br />
disparou, trazen<strong>do</strong>-o novamente à<br />
realidade.<br />
505
Segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> alarme, uma voz<br />
metálica sem dinâmica ou inflexões vocais<br />
dizia: - “Corpos estranhos rondan<strong>do</strong> no<br />
corre<strong>do</strong>r cinqüenta e <strong>do</strong>is A, em direção <strong>do</strong><br />
eleva<strong>do</strong>r”...<br />
Rumback sacou sua arma de raios<br />
e a calibrou, depois disparou sua carga<br />
contra o peito de Fanna, paralisan<strong>do</strong>-o,<br />
abaixo, logo em sua frente. Ao mesmo<br />
tempo deu ordens pelo comunica<strong>do</strong>r<br />
interno:<br />
- Calibrem suas armas para<br />
paralisar. Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r, os<br />
quer vivos.<br />
Agora, era Rumback que ria<br />
estridentemente, pensan<strong>do</strong> nas razões<br />
pelas quais seu Impera<strong>do</strong>r os queria vivos.<br />
Seriam cobaias para experiências em<br />
cruzas com as várias raças. Coisa que não<br />
dera certo até então, da<strong>do</strong> à fraqueza das<br />
fêmeas capturadas.<br />
506
CAPÍTULO IX<br />
A grande nave Kosmos era<br />
novamente o centro nervoso e capital <strong>do</strong>s<br />
Somerianos. Era também o novo lar <strong>do</strong>s<br />
filhotes humanos, que ocupavam as<br />
dependências <strong>do</strong> antigo laboratório de<br />
Thorc e Zur-Kwa. Era um espaço para<br />
correr e brincar, cheio de bugigangas e<br />
geringonças engraçadas. Ajustaram-se<br />
bem ao novo ambiente, apesar de<br />
amedronta<strong>do</strong>s no início. Entretanto<br />
sentiam-se protegi<strong>do</strong>s sob os atentos olhos<br />
da mãe Belzamir e <strong>do</strong>s tios (outros<br />
participantes <strong>do</strong> projeto).<br />
No hangar principal, agora maior, a<br />
nave Atlantis recebia as atenções de to<strong>do</strong>s<br />
os envolvi<strong>do</strong>s em sua montagem. Este<br />
enorme salão recebeu em seu piso duas<br />
comportas, por onde a nova nave ganharia<br />
espaço. Era este lugar, chama<strong>do</strong> de “O<br />
Grande Ventre”.<br />
507
Dentro da Atlantis, Hamour<br />
supervisionava a montagem acelerada da<br />
parafernália computa<strong>do</strong>rizada. Cuidava<br />
pessoalmente <strong>do</strong>s testes nos Teleméricos<br />
e magnetiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> escu<strong>do</strong> externo da<br />
nave. Thorc ocupava-se na transferência<br />
de Velux sóli<strong>do</strong> para os depósitos vazios<br />
recém-instala<strong>do</strong>s. Uma equipe de oito<br />
Somerianos checava todas as manobras<br />
com o combustível dentro de seus<br />
recipientes especiais.<br />
A viagem até o portão estelar <strong>do</strong>is<br />
era propositadamente morosa e carregada<br />
de tensão. Outro fator importante era a<br />
indecisão sobre, se deveriam ou não levar<br />
os humanos. Haveria batalha e até que<br />
ponto era justo expo-los a tal perigo. O<br />
exemplo disso, o comandante Tutkan, que<br />
represava seus sentimentos, tinha o cenho<br />
carrega<strong>do</strong> e falava pouco.<br />
Então o Dr.Grohalv solicitou a<br />
presença de Tutkan, Hamour e Thorc, no<br />
ambulatório, Zart havia acorda<strong>do</strong>.<br />
Num piscar de olhos, Tutkan<br />
estava com ela.<br />
508
Havia um ar de tristeza naquele<br />
pequeno recinto.<br />
- Oh, minha filha querida... – disse<br />
Tutkan, em total consternação.<br />
- Oh, papai... – ela mal podia falar<br />
sob-hematomas, objetos de cura e<br />
eletro<strong>do</strong>s envoltos pelo corpo inteiro,<br />
principalmente na cabeça.<br />
-... Onde vocês estavam? ... Oh,<br />
papai... foi horrível...<br />
- Eu sei querida...<br />
Então Hamour entrou e se juntou à<br />
cabeceira da câmara de vida onde na outra<br />
extremidade o Dr.Grohalv não tirava os<br />
olhos <strong>do</strong>s monitores atrela<strong>do</strong>s à Zart.<br />
- Hamour... – disse ela,<br />
acompanhan<strong>do</strong>-o com os olhos.<br />
- Zart, você se sente bem?<br />
Mais lágrimas brotaram de seus<br />
olhos.<br />
- Acho que sim... e Walln? Ela<br />
sobreviveu?<br />
- Ela está bem – disse o Dr.Grohalv<br />
sem tirar os olhos <strong>do</strong>s monitores.<br />
Thorc juntou-se a eles.<br />
- Oh, Thorc, por que vocês nos<br />
aban<strong>do</strong>naram?<br />
509
- Querida!!! – foi o que Thorc<br />
conseguiu falar, depois sua garganta<br />
engasgou e as lágrimas lhe vieram.<br />
- Querida – entrou Tutkan –<br />
desabafe... conte-nos...<br />
- Papai, foi horrível...<br />
- Eu sei meu bem... eu sei!!!!<br />
- Nós estávamos na pirâmide...<br />
com Amis...<br />
- Nós, quem, minha filha?<br />
- Walln, com o pequeno Zac...<br />
Zuila, Amis e eu...<br />
- Sim, meu bem, continue.<br />
-... de repente o céu pareceu<br />
desabar sobre nós...<br />
As lágrimas eram escassas.<br />
-... estávamos no jardim... Zac<br />
dava pulinhos e ensaiava suas corridinhas<br />
pela grama... ouvimos explosões e gritos...<br />
então... aquelas naves... nós corremos<br />
para dentro da pirâmide... lá fora havia<br />
fogo por toda a parte... pessoas em<br />
chamas...<br />
- E como vocês foram parar em<br />
Krópitus?<br />
-... A pirâmide parecia resistir,<br />
quan<strong>do</strong> uma violenta explosão acabou com<br />
a porta... Oh, papai...<br />
510
e...<br />
Os soluços sacudiram-na.<br />
- Sim, filha, o que aconteceu?<br />
- O pequeno Zac estava perto...<br />
- Maldito!! – praguejou Tutkan,<br />
contrain<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os seus músculos. Tinha<br />
os olhos ejeta<strong>do</strong>s e os punhos cerra<strong>do</strong>s.<br />
Hamour olhou para o Dr.Grohalv,<br />
que entendeu aquela interrogação<br />
silenciosa e meneou a cabeça<br />
afirmativamente. Poderiam continuar por<br />
mais alguns instantes. Zart, apesar de<br />
bastante ferida, era forte e o desabafo lhe<br />
faria bem. Ela continuou:<br />
- Hamour, papai, Thorc... o<br />
pequeno Zac recebeu em cheio o<br />
desabamento...<br />
- Querida – Hamour tomou a<br />
palavra – se você não quiser, não precisa<br />
continuar.<br />
- Não, Hamour. Preciso lhe dizer...<br />
depois <strong>do</strong> dasabamento... aqueles<br />
andróides levaram Amis e Zuila para uma<br />
nave, e eu e Walln para outra... então<br />
alguém, na nave que estávamos gritou<br />
algo sobre outro rumo, no instante que<br />
fomos atingi<strong>do</strong>s e caímos... eis tu<strong>do</strong>...<br />
511
- Muito bem – disse o Dr.Grohalv –<br />
Você já falou tu<strong>do</strong> o que precisava, por<br />
hoje. Agora, faça como sua irmã. Durma<br />
para renovar as energias. Vamos precisar<br />
de você tão logo possa...<br />
- Sim, minha filha. Fique boa logo.<br />
Queremos você boa... Vamos pegar<br />
aqueles canalhas e fazer picadinho deles...<br />
Thorc desceu aos hangares, onde<br />
oficiais, recrutas, manutensores, etc.,<br />
revisavam as naves de combate e foi logo<br />
dizen<strong>do</strong>:<br />
- Rapazes, vamos preparar uma<br />
surpresinha para os Mobis. Faremos uns<br />
melhoramentos nestas naves.<br />
Enquanto isso, Tutkan, na ponte de<br />
coman<strong>do</strong>, não tirava os olhos <strong>do</strong> Telak,<br />
quan<strong>do</strong> Hamour chegou.<br />
- Não posso entender – disse<br />
Tutkan – Fiz uma varredura em to<strong>do</strong> este<br />
quadrante e nem sinal daquele crápula.<br />
- Isto não me surpreende Tut,<br />
Ahdack possui uma rara astúcia. Fez-nos<br />
pensar que estava num lugar e... bem que<br />
eu pensei. Aquela Fortaleza a vista não era<br />
dele.<br />
512
- Mas Fanna nos disse ter fala<strong>do</strong><br />
com ele em pessoa...<br />
- Falou com o holograma dele. É<br />
possível que ele tenha desvenda<strong>do</strong> o<br />
segre<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cristaltons.<br />
- Vinte macrons <strong>do</strong> portão estelar<br />
<strong>do</strong>is, comandante – disse Klemps, no leme.<br />
- Obriga<strong>do</strong>, Klemps. Hamour, e a<br />
sua nave?<br />
- Estamos nas checagens finais e<br />
a propósito, alguma noticia de Fanna e os<br />
outros?<br />
- Não. Nada. Os monitores <strong>do</strong><br />
Constelação não acusaram movimento<br />
algum. Ainda estão lá.<br />
- Pelo menos sabemos que<br />
Ahdack não está. De certa maneira isto é<br />
bom... Bem – completou Hamour,<br />
demonstran<strong>do</strong> cansaço – ainda temos um<br />
dia para Fanna derrubar a mesa por lá.<br />
Voltarei para os meus afazeres na Atlantis.<br />
Se precisar de mim...<br />
- Está certo, Hamour. Eu chamo.<br />
- Dez macrons <strong>do</strong> portão estelar<br />
<strong>do</strong>is, comandante.<br />
- Preparar desaceleração em cinco<br />
macrons, Klemps.<br />
513
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Erus Fanna, embora paralisa<strong>do</strong>,<br />
estava lúci<strong>do</strong> e concentrava-se emitin<strong>do</strong><br />
ordens aos seus membros. Sentia-se mais<br />
à vontade pela ausência de Rumback. Aos<br />
poucos o sangue corria mais forte e seus<br />
nervos e tendões reagiam bem. Os pés e<br />
as mãos pareciam estar destravan<strong>do</strong>.<br />
Então as pernas e os braços deram sinal<br />
de vida. Em microns, sentia-se reanima<strong>do</strong>,<br />
no entanto, mantinha-se na mesma<br />
posição, avalian<strong>do</strong> a situação. Não queria<br />
chamar a atenção <strong>do</strong>s tipos estranhos, em<br />
suas funções nos pisos mezaninos à sua<br />
volta.<br />
Precisava esperar a ocasião certa<br />
para sair por aquela porta, a <strong>do</strong> meio, por<br />
onde passara momentos antes.<br />
De repente o alarme soou<br />
novamente e uma voz metálica dizia coisas<br />
514
inteligíveis. Fanna olhou em sua volta,<br />
aquelas criaturas estavam nitidamente<br />
ocupadas em várias telas, onde vários<br />
locais e corre<strong>do</strong>res apareciam. Fanna se<br />
aproveitou deste momento para ativar o<br />
TSU – Tradutor Sensorial Universal – à sua<br />
frente, instala<strong>do</strong> num console metálico,<br />
desde que lá chegaram.<br />
A voz metálica dizia:<br />
- Intrusos, atenção, pessoal não<br />
autoriza<strong>do</strong> no nível quatro e no hangar...<br />
Atenção, intrusos...<br />
Totcha-man-chunk, o réptil, que<br />
fora encarrega<strong>do</strong> de preparar o Mobis-TR-<br />
10 e apanhar os prisioneiros para enviá-los<br />
a Ahdack, agora era o escu<strong>do</strong> protetor de<br />
Maxun. Fora apanha<strong>do</strong> no momento inicial<br />
<strong>do</strong> alarme, ao sair <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r, no corre<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> calabouço.<br />
Os prisioneiros em ação rápida<br />
<strong>do</strong>minaram andróides, exterminan<strong>do</strong>-os<br />
com suas próprias armas. Em poucos<br />
microns, estavam no hangar principal entre<br />
os grandes tanques de Velux líqui<strong>do</strong>, numa<br />
chuva de raios.<br />
515
Neste mesmo instante Rumback<br />
assumiu a ponte de coman<strong>do</strong>, em seu<br />
“trono”, passan<strong>do</strong> pelo “imobiliza<strong>do</strong>” Erus<br />
Fanna. Ven<strong>do</strong> os intrusos entre os tanques<br />
de combustível, pelo monitor, gritava com<br />
sua voz esganiçada:<br />
- Não atirem, não atirem seus<br />
idiotas...<br />
Por um triz <strong>aqui</strong>lo tu<strong>do</strong> não<br />
explodiu, entretanto Velz e seus<br />
companheiros mantinham fogo aberto,<br />
atingin<strong>do</strong> em cheio muitos andróides e<br />
criaturas. Ao coman<strong>do</strong> de Rumback os que<br />
estavam em pé saíram de mira e com isto,<br />
oportunizan<strong>do</strong> os intrusos rolarem mais<br />
para perto de suas naves.<br />
Rumback de repente olhou Fanna,<br />
ali, em sua frente, paralisa<strong>do</strong> e resolveu<br />
aproveitar-se da situação. Pensou consigo<br />
mesmo, com o líder deles em minhas<br />
mãos, se renderão. Então desceu de seu<br />
pedestal e em movimentos bruscos digitou<br />
alguns coman<strong>do</strong>s de seu console.<br />
Apareceu sua imagem nos telões, se<br />
aproximan<strong>do</strong> de Fanna. Logo, estava com<br />
516
sua arma voltada para a cabeça de seu<br />
prisioneiro, e gritou suas ordens:<br />
- Somerianos, rendam-se ou<br />
matarei seu líder.<br />
Para sua surpresa, suas palavras<br />
soaram em seu idioma (de Meran). Seu<br />
impulso imediato foi olhar o TSU ativa<strong>do</strong>,<br />
atrás de si. Neste instante Fanna o atacou<br />
por trás. A arma de raios caiu da mão <strong>do</strong><br />
atônito Rumback. Fanna, em um pulo<br />
desajeita<strong>do</strong>, conseguiu apanhá-la e<br />
disparou seus raios, pegan<strong>do</strong> em cheio<br />
naquela figura de negro, paralisan<strong>do</strong>-o.<br />
Tu<strong>do</strong> aparecia nos telões e<br />
monitores <strong>do</strong> globo inteiro. Zur-Kwa e os<br />
rapazes que estavam prestes a depor suas<br />
armas gritaram um grande “hurras”.<br />
Fanna, que também não acreditava<br />
em sua própria reação, paralisou-se em<br />
frente à Rumback por instantes. Algumas<br />
criaturas vieram em sua direção, mas a<br />
tempo, conseguiu paralisá-las também. Em<br />
seguida correu para a porta grande, <strong>do</strong><br />
meio, e digitou seu código de acesso. As<br />
517
portas abriram. Ele passou e após fechálas<br />
disparou nos controles, estouran<strong>do</strong>-os.<br />
O caminho a seguir parecia livre e<br />
em passos apressa<strong>do</strong>s chegou ao<br />
eleva<strong>do</strong>r. Os momentos de espera<br />
pareciam uma eternidade. Enfim a porta de<br />
metal abriu e atrás de si uma chuva de<br />
raios, quase o atingiram. Era BH-1 série 3<br />
com quatro andróides, vin<strong>do</strong>s a seu<br />
encalço. A porta <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r fechou e<br />
Fanna deu um grande suspiro de alívio.<br />
Microns depois Fanna estava no<br />
nível quatro e antes que a porta abrisse,<br />
jogou-se no chão <strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>r. Isto lhe<br />
salvou a vida, pois tão logo abriram, <strong>do</strong>is<br />
robots dispararam dentro. Fanna os pegou<br />
com <strong>do</strong>is disparos e rolou para fora no<br />
momento exato em que a porta fechava-se.<br />
Entretanto no final <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r, junto ao<br />
portão de acesso ao hangar havia uma<br />
enorme quantidade de Mobis e andróides,<br />
que imediatamente passaram a atirar.<br />
Maxun, ainda com Totcha-man-chunk, Velz<br />
e Simeon perceberam a súbita mudança<br />
de atenção <strong>do</strong> inimigo e tentaram chegar a<br />
suas naves, mas Zur-Kwa gritou:<br />
518
- Voltem, voltem. Eles estão<br />
atiran<strong>do</strong> em Fanna. Vai ajudá-lo.<br />
Nesta manobra, Totcha-man-chunk<br />
foi atingi<strong>do</strong> mortalmente, mas Maxun com<br />
habilidade o manteve como escu<strong>do</strong>,<br />
enquanto ele e os outros disparavam seus<br />
raios à vontade, avançan<strong>do</strong> em passos<br />
largos.<br />
A arma de Fanna fazia um bom<br />
estrago nos robots e andróides, contu<strong>do</strong><br />
não podia sair de onde estava e sabia que<br />
em pouco tempo teria à suas costas BH-1<br />
série 3, com mais inimigos. Pensava numa<br />
saída quan<strong>do</strong> ouviu seus passos,<br />
derruban<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que vinha pela frente. Mal<br />
pode escapar. BH-1 e os seus apareceram<br />
por outro acesso, quase pegan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s.<br />
Na corrida para o hangar, Wurtz<br />
que ficara protegen<strong>do</strong> Zur-Kwa, prestou<br />
cobertura.<br />
Novamente perto <strong>do</strong>s tanques de<br />
Velux líqui<strong>do</strong> a batalha se amenizava, mas<br />
então, os disparos eram fatais. Mais<br />
eficazes nos alvos. Zur-Kwa que estava<br />
519
perto de sua nave transporte, tentou<br />
alcançá-la e foi atingi<strong>do</strong>, cain<strong>do</strong> perto da<br />
escada de acesso à nave. Wurtz correu em<br />
seu auxílio. Velz e Maxun deram cobertura,<br />
Simeon cobria a retirada de Fanna, que foi<br />
direto ao transporte ajudar Wurtz na<br />
remoção <strong>do</strong> baixinho maluco. Tão logo Zur-<br />
Kwa, sangran<strong>do</strong> muito no peito, perto <strong>do</strong><br />
ombro direito, foi acomoda<strong>do</strong> e amarra<strong>do</strong><br />
num assento, Wurtz trouxe-lhe a maletinha<br />
de primeiros socorros a seu pedi<strong>do</strong>. Fanna<br />
acomo<strong>do</strong>u-se nos controles <strong>do</strong> transporte,<br />
ativan<strong>do</strong> seus motores em franca manobra.<br />
Foi nessa fração de microns, em que BH-1<br />
e os seus atentaram ao transporte. Velz,<br />
em <strong>do</strong>is pulos, estava nos coman<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
seu March-1. As manobras eram rápidas.<br />
Velz disparou de sua nave, contra o portão<br />
onde os inimigos se intrincheiravam.<br />
- Belo tiro – disse Maxun corren<strong>do</strong><br />
para sua nave.<br />
As carlingas fecharam-se enquanto<br />
Simeon corria ao transporte que taxeava,<br />
dan<strong>do</strong> lugar para Velz sair na frente, uma<br />
vez que as comportas da Fortaleza<br />
permaneciam trancadas.<br />
- Vá à frente – ordenou Fanna para<br />
Velz – dispare suas cargas nas comportas.<br />
520
Maxun, de sua nave em giros de<br />
leque, mantinha o inimigo com suas<br />
cabeças baixas. Os lasers atingiam tu<strong>do</strong>,<br />
menos os tanques de Velux.<br />
Uma explosão estourou as<br />
comportas <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> túnel de lançamento e<br />
Velz partiu. Atrás dele Fanna, com seu<br />
transporte e por fim, Maxun. A fuga foi<br />
rápida e precisa.<br />
Tão logo saíram da Fortaleza,<br />
Fanna torceu a argola sustenta<strong>do</strong>ra de seu<br />
medalhão e sorriu matreiramente.<br />
Virou-se para Zur-Kwa que se<br />
automedicava. Ele estava branco e<br />
gemen<strong>do</strong> muito.<br />
- Você está bem?<br />
- Acho que sim, mas... isso dói...<br />
- Você vai ficar bom.<br />
- É... eu acho que sim.<br />
Neste instante Maxun estava em<br />
franco mergulho no pólo norte <strong>do</strong> globo<br />
disparan<strong>do</strong> um dar<strong>do</strong>-sonda-Telemérico,<br />
enquanto Velz lhe dava cobertura.<br />
Simultaneamente, cinco Mobis-7V saíam<br />
no encalço da única nave que podiam ver:<br />
521
o transporte de Fanna. Este os detectou e<br />
chamou pelos seus.<br />
A única coisa que Rumback<br />
conseguia ver nos telões à sua frente era<br />
ele mesma, com seus olhos arregala<strong>do</strong>s e<br />
feito estátua. Duas criaturas exóticas de<br />
aparência p<strong>aqui</strong>dérmica aplicaram-lhe um<br />
antí<strong>do</strong>to, trazen<strong>do</strong>-o de volta.<br />
Com movimentos vagarosos e<br />
difícies conseguiu chegar ao console,<br />
mudan<strong>do</strong> as imagens <strong>do</strong> telão. Nos<br />
corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> nível quatro, jaziam<br />
inúmeros corpos. Alguns andróides<br />
mexiam-se desordenadamente, entre<br />
faíscas e fumaças. A seguir as imagens <strong>do</strong><br />
hangar principal era tomada de pura<br />
neblina e pode perceber que as naves<br />
inimigas não estavam lá.<br />
- Malditos, malditos, malditos... BH-<br />
1... BH-1...<br />
Eram gritos histéricos e<br />
estridentes.<br />
522
Neste mesmo instante BH-1 série<br />
três, adentrou pela porta principal<br />
explodida, escancarada.<br />
- Sim, Excelência.<br />
- Quero minha nave armada e a<br />
frota inteira no hangar, agora! E prepare o<br />
globo da morte. Ande imbecil.<br />
Aceleran<strong>do</strong>...<br />
- Está acontecen<strong>do</strong> – disse<br />
Lomaxis, de olho no Telak <strong>do</strong> Cruza<strong>do</strong>r<br />
Constelação e imediatamente passou a<br />
mensagem para a Kosmos, que acabara<br />
de atravessar pelos atalhos recémconheci<strong>do</strong>s<br />
através <strong>do</strong> Universo, parada<br />
nas coordenadas <strong>do</strong> portão estelar <strong>do</strong>is, no<br />
vácuo de matéria escura.<br />
- Graças ao Cria<strong>do</strong>r – disse Tutkan,<br />
francamente alivia<strong>do</strong> – Atenção rapazes,<br />
preparem suas naves – e voltan<strong>do</strong>-se ao<br />
Telecon – Lomaxis, prepare o seu pessoal,<br />
estaremos aí em dez microns.<br />
Um incêndio infernal tomava conta<br />
de boa parte <strong>do</strong> hangar principal da<br />
Fortaleza de Rumback. A turma de<br />
reparos, literalmente derretia ao jogar<br />
espuma para abafar aquele fogaréu.<br />
523
- Excelência, Excelência – disse<br />
BH-1 série três, entran<strong>do</strong> em desabalada<br />
corrida, à ponte de coman<strong>do</strong> – Estamos<br />
com grandes avarias. Sua nave está em<br />
chamas, junto à quase tu<strong>do</strong> no hangar...<br />
- Você é mesmo uma porcaria de<br />
andróide – disse Rumback, num misto de<br />
raiva e desânimo – Eu posso ver tu<strong>do</strong> isto<br />
d<strong>aqui</strong> e eu mesmo enviei cinco <strong>do</strong>s meus<br />
melhores atira<strong>do</strong>res em caça atrás<br />
daqueles... daqueles... Aghh... daqueles<br />
malditos...<br />
O único hangar sem chamas era o<br />
que Fanna e os seus estavam. Em<br />
compensação os tubos de lançamentos<br />
estavam completamente avaria<strong>do</strong>s.<br />
Rumback lembrava <strong>do</strong> que havia<br />
aconteci<strong>do</strong> à Carvelus e praguejava<br />
furiosamente.<br />
- O globo não obedece aos<br />
coman<strong>do</strong>s, Excelência e se quer a<br />
Fortaleza obedece. Estamos para<strong>do</strong>s...<br />
- Me diga alguma coisa que eu não<br />
saiba seu imbecil. Faça alguma coisa útil.<br />
Vá procurar a causa... Totcha-man-<br />
chunk... Totcha-man-chunk... Onde foi<br />
524
parar aquele traste??? Mas que droga está<br />
acontecen<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>? Onde estão to<strong>do</strong>s?...<br />
Por mais que Rumback apertasse<br />
os botões <strong>do</strong> console, ninguém respondia.<br />
BH-1 série três fazia o que podia, alertan<strong>do</strong><br />
seus sensores e equipamentos para<br />
cheque e sondagem de to<strong>do</strong>s os<br />
pormenores nas salas de máquinas e<br />
fontes de energia da Fortaleza.<br />
Mil pensamentos passavam pela<br />
mente de Rumback, ven<strong>do</strong> os flashes das<br />
naves que mandara ao encalço de seus<br />
fugitivos.<br />
- Pelo menos não irão longe –<br />
pensou em voz alta e com um leve sorriso<br />
no canto da boca.<br />
No Telak de Fanna, apareciam tão<br />
somente as naves inimigas e aproximan<strong>do</strong>se.<br />
Às suas costas, Zur-Kwa gemia baixo e<br />
fazia careta.<br />
Wurtz e Simeon estavam<br />
assusta<strong>do</strong>s, ven<strong>do</strong> seu líder preocupa<strong>do</strong><br />
com as comunicações. Velz e Maxun não<br />
respondiam e não apareciam no Telak.<br />
525
- Acho que nossas naves foram<br />
sabotadas. Eu faria isso – disse, Zur-Kwa.<br />
- Parece que sim – disse, Wurtz,<br />
olhan<strong>do</strong> para o medi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s energiza<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> transporte – e nossa energia está<br />
acaban<strong>do</strong>.<br />
- Ninguém nos ouve – disse, Fanna –<br />
Simeon venha para o Telecon e continue<br />
tentan<strong>do</strong>. Wurtz, venha comigo. Vamos<br />
abrir a caixa de transmissão...<br />
- Eles estão se aproximan<strong>do</strong>,<br />
senhor – disse, Simeon – Impacto em trinta<br />
e cinco microns...Senhor, não deveríamos<br />
ter o Capitão Velz e o Capitão Maxun na<br />
tela?<br />
- Deveríamos.<br />
- Mas... então onde eles estão?<br />
- Se não os vemos é porque estão<br />
fora de alcance...<br />
- Ou... – entrou, Zur-Kwa e se<br />
calan<strong>do</strong> em suspense.<br />
- Ou? – perguntou, Fanna.<br />
- Eles não estão lá.<br />
- Mas deveríamos, senhor – entrou<br />
Simeon – Saímos juntos... Impacto em<br />
trinta microns.<br />
O emaranha<strong>do</strong> de cabos e<br />
circuitos impressos, era de embaraçar a<br />
526
cabeça de qualquer um, menos a de<br />
Fanna. Com paciência e rapidez verificava<br />
o manual de operações e procedimentos e<br />
localizava o que queria.<br />
- E onde eles estão Zur-Kwa?<br />
- ...<br />
Zur-Kwa não respondeu por que<br />
provavelmente estava com sua mente<br />
noutro lugar. Repassava aqueles últimos<br />
momentos, desde que saíram no<br />
calabouço da Fortaleza.<br />
A Kosmos acabara de atravessar o<br />
portão estelar quan<strong>do</strong> recebeu a<br />
mensagem vinda <strong>do</strong> Cruza<strong>do</strong>r<br />
Constelação:<br />
- Senhor, temos uma nave<br />
transporte, das nossas, vin<strong>do</strong> em nossa<br />
direção. Parece ser a nave <strong>do</strong> líder Erus<br />
Fanna, mas não responde...<br />
- Estamos com ela no Telak –<br />
respondeu, Tutkan - ... e parece que tem<br />
cinco caça<strong>do</strong>res Mobis-7V, a trinta<br />
microns.<br />
- Acho que é Fanna e o pessoal. –<br />
disse, Thorc.<br />
527
- Precisamos nos certificar – entrou,<br />
Hamour – pode ser outro, <strong>do</strong>s truques de<br />
Ahdack.<br />
- Lomaxis, mande uma esquadrilha<br />
Zag, armada, para verificar.<br />
- Sim, senhor.<br />
Tameron e Kalibur partiram com<br />
tu<strong>do</strong>. Em seus Telaks, os Mobis-7V<br />
aproximavam-se a menos de vinte microns<br />
da aparente nave <strong>do</strong> líder Fanna.<br />
- Temos força para menos de um<br />
macron, senhor – disse, Simeon – e as<br />
naves inimigas aproximan<strong>do</strong>-se... quinze<br />
microns... e... temos <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s nossos,<br />
vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Cruza<strong>do</strong>r Constelação...<br />
- A que distância está? –<br />
interrompeu, Fanna.<br />
- Estão a menos de vinte macrons e<br />
estão em Dobra-um ponto cinco, senhor.<br />
- Chegarão <strong>aqui</strong> em... quarenta e<br />
cinco microns...<br />
- Será tarde demais – disse Zur-<br />
Kwa. Estamos quase sem força e quan<strong>do</strong><br />
acabar, não teremos nem os escu<strong>do</strong>s para<br />
nos proteger...<br />
- Mas que droga – disse, Fanna,<br />
após testar to<strong>do</strong>s os cabos de emissão de<br />
528
ondas <strong>do</strong> Telecon – O problema não é <strong>aqui</strong><br />
dentro.<br />
- Isto até chega a ser irônico – disse,<br />
Zur-Kwa – Fizeram conosco o que fizemos<br />
com eles. E isto deve ter aconteci<strong>do</strong> com<br />
Velz e Maxun.<br />
- Naves a dez microns... Senhor, o<br />
que faremos?<br />
- Alguma idéia, Zur-Kwa? –<br />
perguntou, Fanna.<br />
- Talvez... Bem, poderíamos usar o<br />
vácuo <strong>do</strong> espaço a nosso favor. Vistam<br />
seus trajes pressuriza<strong>do</strong>s e abram as<br />
escotilhas...<br />
- Não – gritou, Fanna – Não vamos<br />
deixar você. Tem que haver outro jeito.<br />
- Cinco microns e aproximan<strong>do</strong> –<br />
comunicou, Simeon.<br />
BH-1 série três tomou as funções<br />
<strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> Totcha-man-Chunk nos<br />
coman<strong>do</strong>s e pilotagem da grande<br />
Fortaleza, após uma busca detalhada<br />
pelos sensores da nave inteira. Seus<br />
próprios sensores estavam confusos.<br />
Parecia que sua programação não tinha a<br />
eficácia costumeira.<br />
529
Mas, a Fortaleza não se movia <strong>do</strong><br />
lugar. Nada funcionava.<br />
Rumback desconcerta<strong>do</strong>, tentava<br />
raciocinar sobre os acontecimentos,<br />
traçan<strong>do</strong> uma lógica. Seus pensamentos<br />
retrocederam até o momento em que<br />
Fanna e os seus abordaram a nave. Eles<br />
tiveram conta<strong>do</strong> com os andróides BH-O<br />
série 9-226 e 227. Depois com BH-1 série<br />
três, os autômatos AT-44-385 e 386,<br />
quan<strong>do</strong> trouxeram aquela que chamam de<br />
TSU. Entraram, sentaram <strong>aqui</strong>...<br />
O balanço era detalha<strong>do</strong>, por onde<br />
passaram e com quem tiveram contato.<br />
Imediatamente Rumback percorreu o<br />
roteiro com a conseqüente procura de<br />
objetos estranhos com seu Detect.<br />
Não demorou muito para encontrar<br />
no alojamento e nas carcaças <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
autômatos, os minúsculos Teleméricos. Os<br />
BH-O série 9-4.226 e 227 jaziam no nível<br />
quatro e neles também os minúsculos<br />
objetos estavam em suas capas. O próprio<br />
BH-1 série três tinha o seu, preso em sua<br />
capa.<br />
530
Após serem destruí<strong>do</strong>s, as<br />
comunicações internas pareciam funcionar<br />
e apesar de terem enfrenta<strong>do</strong> vários<br />
incêndios nos hangares, tinha Rumback a<br />
seu dispor, três quartos de sua frota em<br />
condições de combate.<br />
Após uma breve checagem, ele<br />
sorriu gostosamente.<br />
- Estes espertinhos não perdem por<br />
esperar. Vou transformá-los em farelo. BH-<br />
1 série três, iniciar operação Globo da<br />
Morte.<br />
- Pois não, Excelência!<br />
Mas nada acontecia.<br />
- Não está obedecen<strong>do</strong>,<br />
Excelência!<br />
Rumback desceu de seu trono,<br />
apanhou o TSU e jogou-o no<br />
desintegra<strong>do</strong>r.<br />
Então BH-1série três anunciou<br />
vitorioso.<br />
- Sim, Excelência, temos<br />
coman<strong>do</strong>s!!<br />
O Telak, voltou a funcionar. Pode<br />
ver seus cinco Mobis-7V em aproximação<br />
letal à nave transporte Someriano. Mais a<br />
frente, em velocidade espantosa, se<br />
531
aproximava duas naves pequenas e outras<br />
duas maiores, bem maiores.<br />
- Dois microns – anunciou, Simeon –<br />
- Bem, senhores – disse, Zur-Kwa –<br />
Foi um enorme prazer e honra ter<br />
conheci<strong>do</strong> e servi<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>s...<br />
- Um mícron para a área de<br />
alcance e impacto, senhor... e já estão<br />
atiran<strong>do</strong>.<br />
- Ativar defletores – disse, Fanna.<br />
Foi o que imediatamente Wurtz<br />
procedeu.<br />
- Parar os motores e ao meu<br />
coman<strong>do</strong> ativar os retrocessos.<br />
- Vamos lutar? – quis saber Zur-<br />
Kwa – Estamos desarma<strong>do</strong>s!<br />
- Mas eles não sabem... atenção<br />
Wurtz, na marca zero... três...<strong>do</strong>is...um...já.<br />
Os Mobis-7V passaram por eles,<br />
mas algumas cargas bateram em cheio no<br />
pequeno transporte. Os danos não eram<br />
<strong>do</strong>s piores mas os defletores mostraram<br />
possuir pouca resistência àquelas cargas.<br />
- Isto é mau – disse, Fanna,<br />
avalian<strong>do</strong> sua situação.<br />
- Eles estão voltan<strong>do</strong>, senhor.<br />
- Quanto de energia e força temos?<br />
532
- Estamos usan<strong>do</strong> as baterias de<br />
reserva, senhor.<br />
- E os nossos, a que distância<br />
estão?<br />
- Menos de vinte microns, mas<br />
parece que... sim estão em Dobra<br />
três...estarão <strong>aqui</strong>...<br />
- Até que desacelerem, dez, talvez<br />
<strong>do</strong>ze microns – entrou, Zur-Kwa.<br />
- Aí vem os Mobis, senhor.<br />
- Vá pra cima deles, com tu<strong>do</strong> que<br />
tiver, Simeon. Baixe os escu<strong>do</strong>s e vamos<br />
torcer para que não nos arrebentem agora.<br />
Aplique o espiral ao meu coman<strong>do</strong>.<br />
Segurem-se, rapazes. Zur-Kwa, você está<br />
bem firme aí?<br />
- Sim.<br />
- Atenção...já!<br />
Embora o transporte se<br />
arremetesse em espiral, a toda velocidade,<br />
as cargas inimigas o atingiam. Os vários<br />
curtos circuitos, dentro, viciavam o<br />
oxigênio. O Telak estava fora <strong>do</strong> ar.<br />
- Agora completou – disse, Zur-<br />
Kwa, tossin<strong>do</strong> muito. – Estamos cegos,<br />
sur<strong>do</strong>s, mu<strong>do</strong>s, quase sufoca<strong>do</strong>s...<br />
- ... e sem força – completou,<br />
Simeon.<br />
533
- Vamos vestir os trajes<br />
pressuriza<strong>do</strong>s – disse, Fanna – mas<br />
primeiro ajudem Zur-Kwa...<br />
E um tremen<strong>do</strong> sacudão os fez<br />
pipocarem entre vários sons de alarme.<br />
- Depressa, não vamos agüentar<br />
muito tempo – disse, Fanna...<br />
- Já devíamos ter feito isto –<br />
reclamou, Zur-Kwa, com seu ferimento<br />
sangran<strong>do</strong> muito- e... - outro sacudão - ...<br />
agora não adianta mais...<br />
Precisamos ganhar to<strong>do</strong> o tempo<br />
que pudermos – disse, Fanna.<br />
Aqueles covardes estão atacan<strong>do</strong> o<br />
transporte – disse, Tameron, para Kalibur –<br />
Temos que nos apressar, se não, não vai<br />
sobrar nada...<br />
- Quem está dentro <strong>do</strong> transporte?<br />
- Não dá pra saber... Atenção.<br />
Kalibur, na marca zero,<br />
desacelerar...três...<strong>do</strong>is...um...agora...<br />
ativar retrocesso...três...<strong>do</strong>is...um...já.<br />
Os motores rangeram fazen<strong>do</strong> os<br />
pequenos March-1 tremerem.<br />
- Vamos cair em cima deles em<br />
<strong>do</strong>is microns – disse Kalibur.<br />
- ... Um...Temos que ser rápi<strong>do</strong>s...o<br />
transporte está em chamas...agora...<br />
534
Num tremen<strong>do</strong> estron<strong>do</strong>, forman<strong>do</strong><br />
anéis de matéria escura, os March-1<br />
apareceram no meio <strong>do</strong>s Mobis 7V, que<br />
orbitavam o transporte totalmente em<br />
chamas por dentro.<br />
- Pegue o da direita, o da esquerda<br />
é meu – disse, Tameron.<br />
Os <strong>do</strong>is Mobis 7V explodiram<br />
quase que simultaneamente. Os outros<br />
três abriram-se em leque, mas não era<br />
páreo para os March-1 e seus pilotos. Em<br />
menos de <strong>do</strong>is microns não restava sequer<br />
indícios <strong>do</strong>s Mobis.<br />
Tameron se aproximou <strong>do</strong><br />
transporte à deriva e pode ver quatro seres<br />
vesti<strong>do</strong>s em trajes pressuriza<strong>do</strong>s, sain<strong>do</strong><br />
pela fumacenta escotilha superior.<br />
Rumback não acreditou no que viu.<br />
De repente, surgi<strong>do</strong> <strong>do</strong> nada duas<br />
pequenas naves varreram seus Mobis 7V,<br />
até então, serem eles, as melhores<br />
máquinas que conhecia.<br />
- Estes Somerianos malditos –<br />
praguejou odientamente – Estes<br />
desgraça<strong>do</strong>s...<br />
535
- Excelência, temos o rodízio em<br />
posição e 2/3 de capacidade.<br />
O pequeno transporte havia<br />
desapareci<strong>do</strong> também e de certo mo<strong>do</strong><br />
teria obti<strong>do</strong> uma pequena compensação,<br />
com sobras a seu favor.<br />
Então, as duas grandes naves que<br />
se aproximavam <strong>do</strong> seu quadrante,<br />
ameaça<strong>do</strong>ramente, lhe trouxe a realidade e<br />
pensou em voz alta:<br />
- Eles não são tão idiotas assim!?<br />
Talvez mais poderosos?!<br />
- BH-1?<br />
- Sim, Excelência!<br />
- A partir de agora, você me<br />
substituirá na coordenação de coman<strong>do</strong>s,<br />
<strong>aqui</strong> na Fortaleza. Eu estarei lá fora no<br />
coman<strong>do</strong> <strong>do</strong>s nossos Mobis.<br />
- Mas, Excelência!!! Estamos com<br />
<strong>do</strong>is terços de capacidade para combate.<br />
- Isso basta.<br />
Rumback se retirou<br />
apressadamente, rumo aos hangares <strong>do</strong><br />
nível cinco.<br />
Velz e Maxun esgueiravam-se por<br />
entre os Mobis 7V estaciona<strong>do</strong>s, inertes e<br />
ainda molha<strong>do</strong>s de espuma.<br />
536
O hangar <strong>do</strong> nível cinco, ainda<br />
apresentava os sinais vivos de um incêndio<br />
recém-<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>. Subitamente Rumback<br />
surgiu pela porta de um <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>res.<br />
Velz e Maxun quase foram<br />
descobertos, não fosse o puro reflexo que<br />
os abaixara por trás de uma das naves.<br />
Rumback esvoaçava sua capa<br />
negra caminhan<strong>do</strong> na direção <strong>do</strong>s<br />
Somerianos. Em movimentos apressa<strong>do</strong>s e<br />
bruscos entrou por uma das duas portas<br />
suspensas, feito as asas de um pássaro.<br />
Praticamente atrás de Rumback,<br />
Velz espiava os procedimentos de ativação<br />
daquela pequena nave, sen<strong>do</strong> quase<br />
surpreendi<strong>do</strong> no abaixar das portas.<br />
O mesmo pensamento percorreu<br />
por entre as mentes de Velz e Maxun. Para<br />
o Mobis 7V sair, haveria descompressão e<br />
falta de oxigênio ali. Isto fez com que os<br />
<strong>do</strong>is corressem para dentro de outro Mobis<br />
7V, logo ao la<strong>do</strong>.<br />
537
- Vamos com ele? – perguntou<br />
Maxun, no momento em que as portas<br />
abaixavam.<br />
- Não, vamos esperar um<br />
pouco...depois vamos acabar o que viemos<br />
fazer.<br />
Velz estudava os painéis da nave,<br />
sem saber muito por onde começar. Mas<br />
tão logo as portas lacraram houve<br />
pressurização imediata e os painéis<br />
ativaram-se crian<strong>do</strong> um ruí<strong>do</strong> semelhante<br />
ao da nave de Rumback. Este, por sua vez,<br />
aguardava na cabeceira da pista.<br />
- BH-1... – disse, ele.<br />
- Sim, Excelência!<br />
- Abra as comportas e fique atento<br />
ao meu coman<strong>do</strong>.<br />
- Pois não, Excelência!<br />
Fanna e os seus tinham conectores<br />
de seus trajes às naves que flutuavam<br />
entre a matéria escura <strong>do</strong> espaço.<br />
Tameron reportou à Kosmos os<br />
acontecimentos e pediu uma nave que<br />
pudesse acondicionar a to<strong>do</strong>s.<br />
538
Nestes conectores, além <strong>do</strong><br />
oxigênio, possibilitavam as comunicações<br />
em acoplagem direta com o Telecon.<br />
Fanna pode conversar diretamente<br />
com Tutkan e Hamour.<br />
- E Velz e Maxun, onde estão?<br />
- Não sabemos. É possível que<br />
estejam perdi<strong>do</strong>s. Assim como a nossa, as<br />
naves deles, devem ter si<strong>do</strong> sabotadas.<br />
Subitamente, o Telak acusou<br />
movimentação na Fortaleza e Tameron<br />
repassou a notícia para Fanna.<br />
- Alguma coisa deu erra<strong>do</strong> – disse<br />
Zur-Kwa – O conversores <strong>do</strong> TSU não está<br />
funcionan<strong>do</strong>...<br />
- Nem o dar<strong>do</strong> – completou, Fanna.<br />
Será que apanharam Velz e<br />
Maxun? Era o pensamento comum.<br />
- Precisamos sair d<strong>aqui</strong> o mais<br />
rápi<strong>do</strong> possível – disse, Fanna – a que<br />
distância está o transporte?<br />
- A menos de trinta microns –<br />
respondeu, Tutkan.<br />
- Estão ensaian<strong>do</strong> o Globo da<br />
Morte – disse Hamour – Nossas chances<br />
estão reduzidas.<br />
539
- Mesmo assim – entrou, Tutkan,<br />
determina<strong>do</strong> – vamos seguir o plano.<br />
Vamos atacar. Lomaxis ponha o seu ferrovelho<br />
em marcha...<br />
- Mas e os rapazes? – Perguntou,<br />
Thorc.<br />
- Você acha que eles estão lá<br />
dentro? – corroborou, Hamour.<br />
- Acho que sim...<br />
- Mas você, mesmo, ouviu Fanna<br />
dizer que eles saíram juntos...<br />
_ Tutkan, você conhece bem Velz<br />
e Maxun. Foram treina<strong>do</strong>s por Zeuez e...<br />
- Talvez você tenha razão, Thorc –<br />
entrou, Hamour – Nem o TSU nem o dar<strong>do</strong><br />
funcionam, o que quer dizer que...<br />
- Voltaram pra lá.<br />
- Talvez, talvez, talvez... estas<br />
dúvidas acabam comigo... Pelo sim e pelo<br />
não, manteremos o curso.<br />
- E não podemos deixar de lembrar<br />
que Ahdack, certamente está por perto...<br />
Dentro da Fortaleza, Velz e Maxun<br />
com trajes Mobis percorriam os corre<strong>do</strong>res<br />
da “sala nervosa”, onde os computa<strong>do</strong>res,<br />
navega<strong>do</strong>res, módulos sincroniza<strong>do</strong>s e os<br />
540
processa<strong>do</strong>res virtuais cumpriam suas<br />
tarefas.<br />
Não havia ninguém que lhes<br />
trouxesse perigo. Apenas alguns robots, de<br />
tarefas simples, sem inteligência artificial<br />
rodavam pra lá e pra cá, em seus trabalhos<br />
rotineiros.<br />
Pelos monitores podiam<br />
acompanhar o desenrolar <strong>do</strong>s movimentos<br />
externos, então, ordena<strong>do</strong>s por BH-1 série<br />
três e sua voz esganiçada.<br />
Velz localizou a porta com<br />
símbolos, os quais Zur-Kwa havia se<br />
referi<strong>do</strong>, no dia em que foram conduzi<strong>do</strong>s<br />
por BH-1 série três, aos seus “aposentos”.<br />
Dissera o baixinho: “Aqui é o núcleo desta<br />
coisa. Se quisermos sabotar a força deles,<br />
é bem <strong>aqui</strong>”. Desta vez não havia guardas.<br />
Entraram, o calor era terrível sob uma<br />
coloração avermelhada, semelhante à<br />
atmosfera <strong>do</strong> velho Someron. Era uma<br />
espécie de sala separada por favos e estes<br />
cheios de gavetas com símbolos<br />
semelhantes aos encontra<strong>do</strong>s na pirâmide<br />
de Hamour. Os corre<strong>do</strong>res continham o<br />
541
mesmo trilho emborracha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s demais<br />
corre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora.<br />
Rumback após sair de sua<br />
Fortaleza, deu-lhe duas órbitas,<br />
encontran<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is March-1 pousa<strong>do</strong>s na<br />
camada metálica <strong>do</strong> pólo superior. O que<br />
estariam fazen<strong>do</strong> ali? – pensou com seus<br />
botões.<br />
- BH-1...<br />
- Pois não, Excelência!<br />
- Forme um pelotão de busca e<br />
vasculhe os núcleos vitais da Fortaleza e<br />
depois to<strong>do</strong>s os cantos. Há <strong>do</strong>is intrusos<br />
Somerianos aí.<br />
- Sim, Excelência!<br />
- BH-1, mais uma coisa...<br />
- Sim, Excelência!<br />
- Acione a contagem regressiva de<br />
trinta microns para o rodízio e lançamento<br />
da isca.<br />
- Queira desculpar, Excelência,<br />
mas como lhe disse, não temos força total.<br />
Para busca <strong>do</strong> inimigo, contamos com<br />
apenas oitenta e seis Mobis 7V, com sua<br />
tripulação completa.<br />
542
- BH-1, seu idiota, como já lhe<br />
disse e vou repetir pela última vez, “isto<br />
basta”- berrou, “Sua Excelência”.<br />
Rumback enfureci<strong>do</strong>, bombardeou<br />
as duas naves somerianas e depois subiu<br />
a aproximadamente a duzentos centons <strong>do</strong><br />
pólo superior. Coordenou seu Telak à<br />
espera <strong>do</strong> inimigo que se aproximava.<br />
No Telak da Kosmos, Tutkan,<br />
Hamour e Thorc acompanhavam aquele<br />
Mobis 7V solitário sobre a Fortaleza,<br />
enquanto os demais, cento e <strong>do</strong>is,<br />
mantinham-se para<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r da grande<br />
bola metálica.<br />
- Aquele lá em cima, deve ser<br />
Rumback – observou, Hamour – Não<br />
podemos perdê-lo de vista. Ele prepara-se<br />
para comandar o rodízio.<br />
- Klemps – ordenou, Tutkan – Aí<br />
está. Aonde quer que ele vá, o círculo o<br />
acompanhará.<br />
- O nosso pessoal está chegan<strong>do</strong> –<br />
observou, Thorc, de olho no Telak.<br />
Neste mesmo instante, Kalibur<br />
pedia entrada na Kosmos.<br />
543
Os <strong>do</strong>is March-1 e o transporte<br />
entraram pelas pistas-túneis. No hangar<br />
encontrava-se o Dr.Grohalv e logo se<br />
juntan<strong>do</strong> a ele, Thorc.<br />
O primeiro a passar pela sala de<br />
descontaminação foi Zur-Kwa num<br />
carrinho maca, segui<strong>do</strong> por Fanna e os<br />
<strong>do</strong>is oficiais, Simeon e Wurtz.<br />
Velz e Maxun trabalhavam rápi<strong>do</strong>,<br />
trocan<strong>do</strong> os cristaltons das gavetas <strong>do</strong>s<br />
favos à sua volta. Entretanto, o calor era<br />
demasia<strong>do</strong> e minava suas forças.<br />
Subitamente a porta principal, por onde<br />
entraram, apareceram pelo menos dez<br />
andróides arma<strong>do</strong>s e com instrumentos<br />
que os localizaram.<br />
A ação foi rápida e eficaz. Os <strong>do</strong>is<br />
foram paralisa<strong>do</strong>s e logo após leva<strong>do</strong>s<br />
para o então, comandante interino da<br />
Fortaleza, BH-1 série três.<br />
Hamour foi eleito para transmitir as<br />
más noticias para Fanna.<br />
544
Após um breve relato, Fanna tinha o<br />
seu coração esmaga<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>r e os olhos<br />
invadi<strong>do</strong>s de lágrimas. Estava difícil<br />
engolir.<br />
- Nossa gente... oh, meu Deus!!!...<br />
- Venha – disse, Thorc – venha<br />
comigo, temos alguns sobreviventes.<br />
Hamour o segurou pelo braço em<br />
apoio mais moral <strong>do</strong> que físico e o<br />
acompanhou até os alojamentos <strong>do</strong>s<br />
sobreviventes <strong>do</strong> holocausto. Lá estavam<br />
Zart e Walln. Walln inspirava maiores<br />
cuida<strong>do</strong>s e permanecia na célula de vida.<br />
No outro compartimento, estava Belzamir,<br />
cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bebês humanos, que ao vêlo<br />
entrar, quis saber sobre Zur-Kwa.<br />
- Ele vai ficar bom – foi o que Fanna<br />
respondeu, dan<strong>do</strong>-lhe um abraço<br />
carinhoso.<br />
Após seguiu por mais alguns<br />
alojamentos, onde em sua maioria eram<br />
habitantes <strong>do</strong> planeta Shan, <strong>do</strong> projeto de<br />
Zur-Kwa.<br />
Durante a visitação, Hamour<br />
relatava alguns acontecimentos,<br />
545
escolhen<strong>do</strong> as palavras. Entre eles o<br />
seqüestro de Zuila, sua filha e Amis.<br />
- Oh, meu Deus!... minha filha...<br />
Aquele crápula!...<br />
- Quan<strong>do</strong> penso nisto – disse,<br />
Hamour, desconsola<strong>do</strong> – me invade certo<br />
desespero. Talvez fosse melhor que elas<br />
estivessem mortas.<br />
- Compreen<strong>do</strong> – disse, Fanna –<br />
Com Amis viva ele saberá de você.<br />
- Não é só por isto, mas também<br />
pelas atrocidades que Ahdack é capaz de<br />
submetê-las, só para sua diversão.<br />
Então Tutkan os chamou à ponte.<br />
Chegara o momento de pulverizar<br />
Rumback e sua Fortaleza.<br />
A grande Kosmos e o cruza<strong>do</strong>r<br />
Constelação pararam a menos de um<br />
macron, fora <strong>do</strong> alcance das armas da<br />
Fortaleza, que neste instante iniciara seu<br />
rodízio, mas sem disparos. Em seguida,<br />
partiam de suas comportas, muitas naves<br />
Mobis 7V, identificadas pelo Komptor.<br />
Eram oitenta e seis, ao to<strong>do</strong>. Elas vinham<br />
diretas para eles.<br />
546
- Constelação, <strong>aqui</strong> é Tutkan.<br />
Responda...<br />
- Sim, comandante, pode falar.<br />
- Manobrar para combate. Lance<br />
suas esquadrilhas para receptar, na<br />
contagem de cinco, na marca zero. Cinco...<br />
quatro...<br />
As naves manobraram, a tal ponto<br />
que ficaram eqüidistantes uma da outra e<br />
da Fortaleza, forman<strong>do</strong> um triângulo<br />
eqüilátero. Entrementes os March partiam<br />
para receptar os Mobis 7V.<br />
- Preparar os Prottons para vinte<br />
vetrons – disse Tutkan.<br />
O que se seguiu foi uma tremenda<br />
batalha e um grande tiro ao alvo por parte<br />
<strong>do</strong>s Somerianos que se superavam diante<br />
<strong>do</strong> inimigo poderoso e muito mais<br />
numeroso. As melhorias de Thorc davam<br />
resulta<strong>do</strong>s surpreendentes, pois os<br />
pequenos March-1 foram equipa<strong>do</strong>s com<br />
Prottons na traseira, junto ao leme.<br />
Estavam muni<strong>do</strong>s de procura<strong>do</strong>res óticos<br />
com dispara<strong>do</strong>res automáticos. Sem<br />
chances para o inimigo que ao caçar, era<br />
caça<strong>do</strong>.<br />
547
Então os Mobis 7V começaram a<br />
fugir <strong>do</strong> combate e ao passar pela<br />
intercepção, aumentavam a velocidade, se<br />
lançan<strong>do</strong> em cima da Kosmos e <strong>do</strong><br />
Constelação.<br />
- Baixem o escu<strong>do</strong>. Eles vão bater.<br />
Ativar defletores no máximo... ordenava,<br />
Tutkan.<br />
Com o escu<strong>do</strong> abaixa<strong>do</strong>, as luzes<br />
vermelhas ativaram-se no interior das<br />
grandes naves Somerianas. O contato<br />
visual com o espaço, lá fora, era pelas<br />
telas virtuais <strong>do</strong> Telak.<br />
- Ele está ordenan<strong>do</strong> que se<br />
joguem contra nós – disse, Fanna.<br />
- Por essa eu não esperava – disse<br />
Tutkan, entre os sacudões e explosões no<br />
casco da nave.<br />
- Acha que não vamos agüentar<br />
por muito tempo com isto, senhor – disse<br />
Klemps.<br />
Tutkan pelo Telecon, contatou com<br />
os seus guerreiros lá fora.<br />
- O que está acontecen<strong>do</strong> com<br />
vocês? Parecem uma peneira. Estamos<br />
sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong>s...<br />
Também eram estas palavras que<br />
Lomaxis impunha aos seus.<br />
548
Eis que momentos depois os<br />
impactos pararam e o Telak estava limpo.<br />
- Abrir escu<strong>do</strong>s – ordenou Tutkan.<br />
O espaço apresentava-se como<br />
sempre, escuro e calmo, mas ao longe, a<br />
bola de metal flutuava com grande<br />
movimentação de naves em sua volta.<br />
- Aproximação de disparo –<br />
ordenou Tutkan, para Lomaxis – Ajustar os<br />
Prottons. Quero potência máxima.<br />
- Onde estará Ahdack? – pensou<br />
em voz alta. Hamour.<br />
- Aquele verme espacial covarde...<br />
– praguejou, Tutkan - ... bem que poderia<br />
aparecer agora...<br />
Rumback, em seu Mobis 7V, via-se<br />
em pleno desespero. Sabia que iria morrer,<br />
se não pelos Somerianos, pelo seu próprio<br />
impera<strong>do</strong>r.<br />
Em seu Telak, as duas naves<br />
Somerianas aproximavam-se e estavam<br />
muito perto <strong>do</strong> ponto de disparo.<br />
- BH-1 – gritou, ele.<br />
- Sim, Excelência!<br />
- Disparar o rodízio... agora.<br />
549
- Excelência, o que devo fazer com<br />
os <strong>do</strong>is Somerianos que encontramos...<br />
- Mate-os – interrompeu, Rumback,<br />
aos berros – Mate-os...<br />
Não... pensan<strong>do</strong> melhor, coloque-os na<br />
geladeira... Vou saboreá-los no jantar de<br />
hoje, depois que acabar com... aqueles<br />
desgraça<strong>do</strong>s...<br />
BH-1 série três, ativou os<br />
dispara<strong>do</strong>res automáticos em sincronia.<br />
O próprio Rumback não acreditava<br />
no que via. O seu Globo da Morte era tu<strong>do</strong>,<br />
menos Globo da Morte. Os tiros não<br />
tinham direção e acertavam-se uns nos<br />
outros, numa tremenda confusão.<br />
- BH-1, seu idiota, o que está<br />
fazen<strong>do</strong>??<br />
- Excelência, fiz o que o senhor<br />
man<strong>do</strong>u!<br />
- Ative o sincroniza<strong>do</strong>r, seu<br />
imbecil!!<br />
- Está ativa<strong>do</strong>, Excelência.<br />
Ven<strong>do</strong> seus Mobis desordena<strong>do</strong>s,<br />
Rumback não sabia exatamente o que<br />
fazer. Sua própria Fortaleza estava sen<strong>do</strong><br />
atingida pelos seus próprios guerreiros.<br />
- BH-1, libere as naves <strong>do</strong> módulo<br />
orbital.<br />
550
Entretan<strong>do</strong> nada funcionava, seus<br />
Mobis 7V permaneciam como que<br />
atrela<strong>do</strong>s àquela órbita devasta<strong>do</strong>ramente<br />
suicida.<br />
- Mas o que é que está<br />
acontecen<strong>do</strong> lá? – perguntou, Tutkan<br />
observan<strong>do</strong> pelo Telak, prestes a mandar<br />
tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>lo pelos ares – Eles mesmos estão<br />
se matan<strong>do</strong>...<br />
- Velz e Maxun – disse Zur-Kwa,<br />
apoia<strong>do</strong> por Thorc, entran<strong>do</strong> na ponte,<br />
naquele instante.<br />
- O que? – virou-se, Tutkan. –<br />
Como?<br />
- Muito simples...<br />
- Você não deveria estar na<br />
enfermaria, com o Dr.Grohalv? –<br />
perguntou, Fanna, interrompen<strong>do</strong> o<br />
baixinho maluco.<br />
- Deixe ele falar – entrou, Thorc.<br />
- Senhor – entrou, Lomaxis pelo<br />
Telecon – Estamos em posição de tiro.<br />
- Aguarde um pouco, Lomaxis – e<br />
viran<strong>do</strong>-se para Zur-Kwa – Explique melhor<br />
essa coisa.<br />
- Quan<strong>do</strong> saímos da Fortaleza,<br />
verificamos que estávamos sem<br />
comunicações e com pouco Velux. O<br />
551
mesmo deve ter aconteci<strong>do</strong> com eles.<br />
Então me reportan<strong>do</strong> ao momento em que<br />
Fanna foi leva<strong>do</strong> ao calabouço, eu e os<br />
rapazes minamos a fechadura da porta<br />
metálica <strong>do</strong> cal...<br />
- Zur-Kwa, não temos tempo para<br />
detalhes. Seja breve – interrompeu o<br />
ansioso Tutkan.<br />
- Bem, que vimos no desenrolar<br />
<strong>do</strong>s acontecimentos, o dar<strong>do</strong> Telemérico<br />
não funcionou, devi<strong>do</strong> à falta de<br />
comunicação de nossas naves e o mesmo<br />
não aconteceu com o gatilho que detonaria<br />
o TSU, na ponte de coman<strong>do</strong> da<br />
Fortaleza...<br />
- Então? – atalhou Tutkan, bastante<br />
impaciente.<br />
- Então, voltaram para dentro da<br />
Fortaleza e foram ao salão nervoso da<br />
coisa. Lá encontrariam, sem dúvida, os<br />
núcleos de ativação <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res,<br />
estabiliza<strong>do</strong>res, sincroniza<strong>do</strong>res temporais<br />
de disparo, etc.<br />
- É por isto, que, to<strong>do</strong> o complexo<br />
entrou em colapso – atalhou, Thorc – E isto<br />
significa que os nossos rapazes estão lá.<br />
- Senhor – disse, Klemps – a nave<br />
com o círculo está se afastan<strong>do</strong> em alta<br />
552
velocidade, e Lomaxis e eu queremos<br />
saber se disparamos na Fortaleza.<br />
- Não – entrou, Fanna – Vamos<br />
abordá-la. Precisamos aprender um pouco<br />
mais sobre os brinquedinhos daquele<br />
verme espacial. Quanto à nave de<br />
Rumback, lance um rastrea<strong>do</strong>r.<br />
- Sabias palavras – disse, Thorc – Já<br />
estava mesmo queren<strong>do</strong> ver como<br />
funciona aquela coisa.<br />
- Mas não podemos abordá-la com<br />
aquele festival de disparo ao nada.<br />
- Esquadrilhas Zag, orbitem a<br />
Fortaleza e destruam somente as naves<br />
em órbita. – ordenou, Tutkan e voltan<strong>do</strong>-se<br />
para Thorc – Ela será toda sua, Thorc.<br />
Klemps se encarregou de passar<br />
as novidades para Lomaxis, que gostaria<br />
muito mais de ter dispara<strong>do</strong> os seus<br />
Prottons.<br />
- Hamour – disse, Fanna – O que<br />
você acha que vai acontecer agora? Será<br />
que Ahdack nos atacará?<br />
- Bem, depois de duas derrotas<br />
consecutivas, ele vai avaliar melhor a<br />
situação. Vai reorganizar suas forças.<br />
Traçar uma nova estratégia e usar o que<br />
tem contra nós. É claro que vai nos seguir<br />
553
a distância, nos estudar, refletir sobre os<br />
nossos movimentos.<br />
- Não podemos nos esquecer de<br />
que ele tem Zuila e Amis em suas mãos.<br />
- Mesmo que ele venha a saber de<br />
mim, isto o fará recuar, pelo menos, um<br />
pouco mais, Erus.<br />
- Isto nos dará o tempo que<br />
precisamos para terminar os testes da<br />
Atlantis – disse, Thorc, com suas<br />
sobrancelhas arqueadas.<br />
- Então, tiraremos o sono daquele<br />
crápula – comentou, Tutkan.<br />
- Senhor – entrou, Klemps – A<br />
Fortaleza está limpa e em atividade.<br />
- Muito bem, recolha os March e<br />
envie duas sondas de averiguação<br />
primária.<br />
Para os que se encontravam dentro<br />
da Base, aquela abordagem era um fato<br />
inédito. Sem a direção de Rumback ou <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>r, não oferecia resistência,<br />
quan<strong>do</strong> Thorc e sua equipe, escoltada por<br />
Tameron e Kalibur entraram pelo hangar<br />
principal.<br />
554
Aquelas dependências<br />
encontravam-se em total desordem. Havia<br />
alguns Mobis 7V estaciona<strong>do</strong>s, queima<strong>do</strong>s,<br />
onde tão somente suas estruturas básicas<br />
sobravam. As pistas-túneis, por onde<br />
Fanna e os seus haviam passa<strong>do</strong>, estavam<br />
destruídas, sem condições de operação.<br />
Entretanto, em outros níveis, o que vieram<br />
a constatar mais tarde, muitas pistas de<br />
lançamentos e naves Mobis, encontravamse<br />
intactas.<br />
Na grande sala circular e ponte de<br />
coman<strong>do</strong>, a cena era cômica, pois seres de<br />
espécies diferentes faziam mesuras,<br />
curvan<strong>do</strong>-se aos seus novos<br />
conquista<strong>do</strong>res.<br />
Em tempo recorde os Somerianos<br />
tomaram posse da Fortaleza de Rumback,<br />
então as surpresas vieram. A primeira<br />
delas foi o ressurgimento de Tocha-manchum,<br />
trazen<strong>do</strong> em escolta de cinco<br />
andróides, os oficiais Velz e Maxun.<br />
Maxum por sua vez não entendia, como<br />
poderia este ser ter ressuscita<strong>do</strong>. As<br />
palavras de Tocha-man chum traziam<br />
alegria ao lhe responder que naquela<br />
555
situação, onde <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> servia-lhe de<br />
escu<strong>do</strong> e por isso ativou seu próprio<br />
escu<strong>do</strong> protetor e não havia outra<br />
alternativa a não ser se fingir de morto.<br />
Aquele reencontro, trouxe, de<br />
certa maneira, um novo alento aos<br />
Somerianos, que não faziam qualquer idéia<br />
<strong>do</strong> que era feito <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is oficiais. Isto é,<br />
haviam idéias mas nenhuma certeza.<br />
- Como prova de nossa inteira<br />
cooperação, Excelência – disse, Tochaman-Chum<br />
curvan<strong>do</strong>-se perante Thorc –<br />
Eis <strong>aqui</strong> seus homens, sãos e salvos.<br />
Também estou a vossa disposição para<br />
responder toda e qualquer informação que<br />
acaso lhe surja sobre esta Fortaleza.<br />
De volta a Kosmos, Tutkan fez<br />
questão de recebê-los e lhes conferin<strong>do</strong><br />
comendas de heroísmo, fato até então<br />
nunca antes feito. Não obstante, os<br />
acontecimentos em Kálerus, o rapto de<br />
Zuila, trouxe desespero para Velz. Maxun<br />
logo que soube, correu para Zart, ainda<br />
sob os cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Dr. Grohalv.<br />
556
Na ponte da Kosmos, Klemps não<br />
tirava os olhos <strong>do</strong> Telak, então comunicou<br />
à Tutkan:<br />
- Senhor, a nave inimiga<br />
desapareceu da tela.<br />
- Qual a direção?<br />
- Estava em linha reta em direção<br />
<strong>do</strong> décimo oitavo quadrante estelar... e o<br />
Komptor projeta para o vigésimo quarto ou<br />
trigésimo segun<strong>do</strong> quadrante.<br />
- Vigésimo quarto – disse, Hamour<br />
– lá existe o portão que dá para o segun<strong>do</strong><br />
Padrão... É lá que ele se esconde. Preciso<br />
vasculhar os cristaltons. Neles vamos<br />
encontrar qual o sistema solar que ele tem<br />
o seu QG.<br />
- Mas isto é maravilhoso – disse<br />
Fanna.<br />
- O que é maravilhoso? –<br />
perguntou, Tutkan, com cara de poucos<br />
amigos – Nada é maravilhoso. Tu<strong>do</strong> é<br />
horrível!!<br />
- Calma, Tut. Pense bem;<br />
sabemos onde aquele verme se esconde,<br />
em pouco tempo teremos a nave de<br />
Hamour para furar suas defesas, isto sem<br />
contar no que Thorc descobrirá, na<br />
557
Fortaleza, o que poderemos usar contra<br />
“Sua Excelência o verme espacial”...<br />
- E faremos com ele – cortou,<br />
Tutkan, com seu punho cerra<strong>do</strong> – o que ele<br />
fez com nossa gente. Concor<strong>do</strong>, é<br />
maravilhoso!<br />
- Pode apostar – completou, Fanna.<br />
A CONQUISTA DA FORTALEZA<br />
Nos dias que se seguiram, com a<br />
total cooperação de Tocha-man-chum, que<br />
se mostrava descontente com seu expatrão,”<br />
Sua Excelência”, houve uma<br />
verdadeira devassa em to<strong>do</strong>s os<br />
componentes da Base Mobis e outras<br />
naves, tanto de caça, como de transportes.<br />
Durante estes estu<strong>do</strong>s, a cooperação <strong>do</strong>s<br />
tripulantes da Fortaleza foram<br />
fundamentais para que alguns elementos,<br />
fórmulas e componentes, fossem<br />
realmente desvenda<strong>do</strong>s. Enquanto a<br />
própria Base era totalmente desativada. O<br />
que realmente chamava a atenção, foi que<br />
558
Tocha-man-Chum se referiu à: Despensa<br />
<strong>do</strong> general Rumback.<br />
Os relatórios sobre “os poderes de<br />
Sua Excelência” eram to<strong>do</strong>s examina<strong>do</strong>s,<br />
na Kosmos, por Hamour e Zur-Kwa, este,<br />
em franca recuperação.<br />
Thorc notara que durante os<br />
estu<strong>do</strong>s, havia por parte da tripulação da<br />
Base Mobis, isto é, <strong>do</strong>s seres vivos, uma<br />
certa alegria e sentia neles total<br />
sinceridade quan<strong>do</strong> diziam estar sob suas<br />
ordens. Isto fez com que os inquirisse<br />
sobre o porquê trabalhavam para o<br />
Impera<strong>do</strong>r. A resposta foi mais-ou-menos o<br />
que esperava: Ahdack os forçava ao<br />
trabalho porque mantinha suas famílias em<br />
seu poder. Em outras palavras, pura<br />
chantagem. Com isso, demonstraram um<br />
ódio mortal por “Sua Excelência” e se<br />
prontificaram em ajudar num ataque, se<br />
houvesse.<br />
Entre estes miseráveis, existiam<br />
aqueles (nove ao to<strong>do</strong>) que faziam o que<br />
faziam por riquezas, contu<strong>do</strong> estavam<br />
descontentes por que já algum tempo, não<br />
559
ecebiam pagamentos pelas conquistas<br />
realizadas.<br />
Por fim, as atenções de Thorc e sua<br />
equipe, concentraram-se nos robots e<br />
principalmente nos andróides. Era o<br />
sistema mais sofistica<strong>do</strong> em que puseram<br />
seus olhos. Eram programa<strong>do</strong>s na matriz e<br />
passavam por um perío<strong>do</strong> de<br />
amadurecimento e interatividade de<br />
memória artificial, crian<strong>do</strong> assim, uma<br />
espécie de inteligência. Eram quase vivos.<br />
Uma vez funcionan<strong>do</strong>, eram perfeitos,<br />
apenas não possuíam vontade própria.<br />
Nem mesmo Hamour tinha conhecimento<br />
desta tecnologia, que sem dúvida fora<br />
gerada nos anos em que estivera em<br />
refúgio na pirâmide daquele pequeno<br />
planeta distante.<br />
Nos últimos dias de pesquisas,<br />
Thorc voltou à Kosmos com um <strong>do</strong>s<br />
andróides BH-O série 9-226, o antecessor<br />
<strong>do</strong>s BH-1. Este andróide era programa<strong>do</strong><br />
para a batalha e era manti<strong>do</strong> dentro de<br />
uma célula de material transparente,<br />
envolto por muitos eletro<strong>do</strong>s. Bastante<br />
semelhante à câmara de vida de Hamour.<br />
560
To<strong>do</strong> este aparato estava conecta<strong>do</strong> em<br />
aparelhos (três) com muitos piscas, iguais<br />
às células de vida implantadas em seus<br />
tórax.<br />
Houve, então, uma reunião cujo<br />
tema era os “brinque<strong>do</strong>s de sua<br />
Excelência, o Impera<strong>do</strong>r Ahdack”.<br />
Presentes, Erus Fanna, Tutkan,<br />
Hamour, Zur-Kwa, Belzamir e Thorc. Entre<br />
eles, no centro da sala, o andróide BH-O<br />
série 9-226.<br />
Dizia, Thorc – Pelo que pude<br />
constatar, até agora, a tecnologia Mobis,<br />
comparada com a nossa, é bem<br />
equilibrada.<br />
- Acho que não –entrou, Zur-Kwa,<br />
com sua inigualável impertinência, com o<br />
braço direito na tipóia – A única coisa que<br />
ele tem de bom é o sistema de navegação,<br />
e o da Atlantis é melhor. Suas armas, por<br />
exemplo, são decepcionantes. Se forem<br />
ativadas em carga máxima, provavelmente<br />
explodirão nas mãos <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r...<br />
- Concor<strong>do</strong> – disse, Hamour –<br />
Ahdack ficou muito tempo sen<strong>do</strong> o “Grande<br />
561
Senhor de tu<strong>do</strong>” e não avançou em sua<br />
tecnologia bélica...<br />
- A não ser pelos andróides – disse,<br />
Belzamir.<br />
- E pelo sistema de rastreamento<br />
de longo alcance – completou, Thorc.<br />
- Muito interessante! – disse, Fanna<br />
– E as naves deles?<br />
- Me pareceram eficazes – entrou,<br />
Tutkan – só faltam mesmo, um piloto com<br />
iniciativa...<br />
- Você está certo, Tut – disse,<br />
Thorc – Os Mobis 7V possuem altíssima<br />
tecnologia Sensorial. Tem um design<br />
estranho para mim, mas são ágeis,<br />
potentes e precisas, Mas a meu ver, os<br />
nossos caças são melhores, a não ser por<br />
um detalhe: Os Mobis são ativa<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong><br />
os pilotos se conectam com a nave..<br />
Isto me fez pensar. A Atlantis<br />
também é Sensorial...<br />
- A fortaleza... Entendi, Thorc. Nos<br />
capacetes de nossos rapazes deve, haver<br />
esta comunicação entre piloto e nave.<br />
- Maravilha, Zur-Kwa. Por isto facilitei<br />
as coisas, fazen<strong>do</strong> um molde de circuito<br />
integra<strong>do</strong> para os March e um para os<br />
capacetes. Cada piloto fará suas próprias<br />
562
instalações. Só pra constar: Já tínhamos a<br />
tecnologia no tradutor universal. Só não<br />
tínhamos pensa<strong>do</strong> nisso.<br />
- O restante, talvez pouco<br />
melhores que as nossas, antes de<br />
encontrarmos Hamour.<br />
- Então, Ahdack não possui nada<br />
que nos faça temer – ponderou, Belzamir.<br />
- Não. Eu não disse isto. Eu disse<br />
que ele não é tão poderoso quanto<br />
imaginávamos. É claro que em poucos<br />
dias, é impossível saber tu<strong>do</strong>. Estas<br />
avaliações, podemos dizer que são<br />
preliminares.<br />
- Estou inteiramente de acor<strong>do</strong> com<br />
você – disse, Zur-Kwa.<br />
- E em quanto tempo teremos as<br />
respostas completas?<br />
- É difícil dizer. Vai depender um<br />
pouco da recuperação de Zur-Kwa e <strong>do</strong><br />
interesse de Zart. Os andróides, as<br />
máquinas, enfim... as complicações<br />
químicas, fogem um pouco de mim...<br />
- Não creio que Ahdack nos<br />
ofereça mais <strong>do</strong> que vimos até agora –<br />
disse, Hamour – Se bem que em se<br />
tratan<strong>do</strong> dele, tu<strong>do</strong> é possível.<br />
563
- E então, Zur-Kwa? – quis saber,<br />
Tutkan.<br />
- E então, o que?<br />
- Ora, em quanto tempo você acha<br />
que pode matar a charada?<br />
- Com auxiliares capacita<strong>do</strong>s,<br />
talvez um perío<strong>do</strong>, um pouco mais, um<br />
pouco menos. Com Zart, talvez<br />
andássemos mais rápi<strong>do</strong>. Ela é uma<br />
autoridade, quan<strong>do</strong> se trata de<br />
programações e computa<strong>do</strong>res. Você bem<br />
que poderia...<br />
- Pois é, Zur-kwa. Até agora ela<br />
tem-se mostra<strong>do</strong> distante, mal fala<br />
comigo...<br />
- Seria interessante se<br />
colocássemos Maxun, nesta tarefa de fazêla<br />
voltar ao normal. Pelo que percebi,<br />
Tameron tem consegui<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s<br />
com Walln.<br />
- Talvez você tenha razão,<br />
Hamour. Falarei com Maxun.<br />
- Muito bem, meus amigos – disse,<br />
por fim Fanna, de posse novamente de sua<br />
força interior e otimismo – vamos<br />
arremangar as mangas e fazer nossas<br />
mentes funcionar. Há muito que fazer. Que<br />
564
tal, pra começar, preparar uma nave<br />
direcionada ao planeta Schan...<br />
- Terra. Este é o nome que demos<br />
– atalhou, Belzamir.<br />
- Sim, Terra- confirmou Zur - Kwa,<br />
orgulhoso, Entendi você quer se livrar <strong>do</strong>s<br />
meus humanos.<br />
- Nada disso. Acho que não<br />
teremos tempo para cuidá-los e protege-los<br />
em batalha. Gostaria que seus humanos se<br />
desenvolvam em segurança.<br />
- Ta, ta.. Quem vai levá-los e<br />
quem ficará com eles?<br />
- Belzamir, escolha seus parceiros<br />
e parta o mais breve possível.<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
A Fortaleza Imperial viajava rumo a<br />
uma das galáxias mais distantes <strong>do</strong><br />
Segun<strong>do</strong> Padrão Estelar. Seu destino era o<br />
planeta Oiron, o quarto em órbita de um<br />
sol, aponta<strong>do</strong> em seus mapas, como Ziron-<br />
63. Este planeta era onde Ahdack possuía<br />
seus palácios e laboratórios, além das<br />
colônias com suas prisões concentradas.<br />
565
Era neste planeta que mantinha em<br />
cativeiros, prisioneiros de to<strong>do</strong> o Universo,<br />
por onde passara.<br />
Desta vez levava menos<br />
Somerianos nos calabouços de sua Base,<br />
<strong>do</strong> que a vez anterior, quan<strong>do</strong> capturara<br />
Carvelus e os seus.<br />
Era-lhes da<strong>do</strong> um tratamento<br />
relativamente bom, compara<strong>do</strong> com a vez<br />
anterior. Os queria vivos e saudáveis.<br />
Eram espécimes valiosos, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de<br />
inteligência superior e forte. Excelentes<br />
para continuar suas experiências,<br />
envolven<strong>do</strong> a tecnologia empregada na<br />
construção <strong>do</strong>s andróides e a engenharia<br />
genética <strong>do</strong>s seres vivos.<br />
Eis que agora tinha nova<br />
oportunidade para continuar seu projeto e<br />
criar uma nova raça de andróidesguerreiros-vivos.<br />
Um ser cibernético<br />
indestrutível <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de memória e iniciativa<br />
própria. Algo que seus andróides não<br />
possuíam: o instinto de preservação, mas<br />
controla<strong>do</strong>s em sua vontade.<br />
566
Nos calabouços da Fortaleza<br />
Imperial, trezentos e quatro prisioneiros<br />
Somerianos empilhavam-se em três<br />
calorentas salas de metal emborracha<strong>do</strong>. A<br />
única luminosidade que tinham, era<br />
quan<strong>do</strong> a porta abria e <strong>do</strong>is andróides, com<br />
escolta de cinco guardas, traziam <strong>do</strong>is<br />
recipientes (assemelha<strong>do</strong>s a baldes) com<br />
comida. Ou, quan<strong>do</strong> alguns deles eram<br />
leva<strong>do</strong>s para interrogatório, pois o<br />
Impera<strong>do</strong>r desejava saber sobre a pirâmide<br />
encontrada em Kálerus, segun<strong>do</strong> as<br />
palavras de BH-1 série três.<br />
A viagem durava cerca de um<br />
perío<strong>do</strong> (mês Someriano) e até então os<br />
interrogatórios dirigi<strong>do</strong>s por Chonk-Ank-<br />
Pontin (um ser de natureza réptil)<br />
encontravam boa resistência. To<strong>do</strong>s os<br />
interroga<strong>do</strong>s diziam (por recomendação de<br />
Amis), ter si<strong>do</strong> encontrada lá quan<strong>do</strong><br />
chegaram.<br />
Chonk-Ank-Pontin, por ordem <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>r, questionava seus prisioneiros<br />
sem tocá-los, apenas ouvia e os conduzia<br />
novamente às salas de prisão.<br />
567
Ahdack, acompanhava tais<br />
interrogatórios pelo monitor de sua sala e<br />
aposentos. Mantinha uma câmera,<br />
também, nas salas <strong>do</strong>s prisioneiros.<br />
Apesar de engolir a história sobre,<br />
terem encontra<strong>do</strong> a pirâmide em Kálerus,<br />
sentia-se inseguro e notara que to<strong>do</strong>s os<br />
prisioneiros interroga<strong>do</strong>s, após serem<br />
devolvi<strong>do</strong>s às celas, comunicavam-se com<br />
duas das mulheres. Exatamente as duas<br />
encontradas na pirâmide, as quais,<br />
pretendia interrogá-las em Oiron, a colônia-<br />
I. As queria em bom esta<strong>do</strong>, para outras<br />
experiências, pois eram sem dúvida, as<br />
mais belas fêmeas que já tinha visto.<br />
Entretanto, aquelas duas pareciam ser<br />
uma espécie de líderes. Seria, uma delas<br />
ou as duas, parentes ou mesmo, esposas<br />
de Erus Fanna?<br />
Este pensamento agulhou seu<br />
cérebro e uma onda sinistra lhe invadiu a<br />
alma, fazen<strong>do</strong> cintilar os olhos. Sim, elas<br />
não eram comuns, assim como o restante.<br />
A porta de aço abriu,<br />
repentinamente e por ela passou Chonk-<br />
568
Ank-Pontin. Atrás dele, BH-1 série três e<br />
cinco guardas, desta vez arma<strong>do</strong>s. Um<br />
guarda se aproximou com uma lanterna<br />
potente, ofuscan<strong>do</strong> os olhos por onde<br />
passava. O foco procurava por alguém.<br />
Era um fato novo, pois até então,<br />
apesar de estarem amontoa<strong>do</strong>s, quase que<br />
uns por cima <strong>do</strong>s outros, nunca se<br />
sentiram ameaça<strong>do</strong>s, como agora.<br />
Amis, em sua intuição, sabia que<br />
tu<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>lo, tinha a ver com ela e, de certo<br />
mo<strong>do</strong>, Hamour. Então, o foco caiu sobre<br />
ela.<br />
- Você. Aproxime-se – disse, BH-1<br />
série três.<br />
Ela obedeceu e o foco continuou<br />
até encontrar Zuila, que também foi<br />
intimada. Contu<strong>do</strong>, o foco continuou até<br />
encontrar uma, depois outra e mais outra,<br />
então, escolhidas pelo ser de<br />
descendência réptil.<br />
As cinco foram levadas sob os<br />
resmungos inteligíveis <strong>do</strong>s guardas,<br />
569
também da mesma raça descendente <strong>do</strong>s<br />
répteis.<br />
Após passarem por três<br />
eleva<strong>do</strong>res (o último deles, rápi<strong>do</strong> e<br />
desconfortável). Entraram num pavimento,<br />
ao contrário de onde estavam, muito frio.<br />
Seguiram pelo corre<strong>do</strong>r gela<strong>do</strong> até o fim,<br />
onde acabava em duas portas. Amis e<br />
Zuila seguiram com BH-1 série três, pela<br />
outra.<br />
- Por que elas foram com ele? –<br />
Perguntou Amis.<br />
- Porque vocês serão interrogadas<br />
por sua Excelência, o Impera<strong>do</strong>r Ahdack.<br />
- Interrogadas?- Perguntou, Zuila,<br />
olhan<strong>do</strong> assustada para Amis.<br />
- Mais interrogatório, por quê? –<br />
Quis saber, Amis – Todas nós já fomos<br />
interrogadas por... por...<br />
- Chonk-Ank-Pontin – auxiliou, BH-1.<br />
- ... e já falamos tu<strong>do</strong> o que<br />
sabíamos. O que mais o seu impera<strong>do</strong>r<br />
quer de nós?<br />
BH-1 não respondeu e continuou<br />
cala<strong>do</strong> o restante <strong>do</strong> caminho.<br />
Adiante, entraram noutro eleva<strong>do</strong>r,<br />
este vagaroso e bem climatiza<strong>do</strong>. Subiram<br />
570
mais três pavimentos. Acabaram numa<br />
ante-sala, onde Zuila ficou em companhia<br />
de <strong>do</strong>is guardas. Amis prosseguiu com BH-<br />
1 série três, e passan<strong>do</strong> pela porta, de<br />
repente, se viu numa sala pentagonal<br />
enorme. Em cada parede havia uma porta<br />
e no centro, havia um trono, em cima de<br />
pódios circulares, forman<strong>do</strong> oito degraus.<br />
O piso, parecia ser feito de material<br />
emborracha<strong>do</strong>, claro e de intenso brilho.<br />
- Espere <strong>aqui</strong> – disse, BH-1 série<br />
três, aos pés da escadaria, em frente ao<br />
trono, se retiran<strong>do</strong> em seguida.<br />
Amis olhou em sua volta e viu atrás<br />
de si, três telas ativadas mas sem<br />
imagens. Eram muito parecidas com<br />
aquelas que vira na pirâmide, quan<strong>do</strong><br />
conheceu Hamour. E isto a fez pensar<br />
nele, numa total saudade, que lhe trouxe<br />
lágrimas aos olhos. Hamour, queri<strong>do</strong>!<br />
- ela cochichou – Preciso tanto de você...!<br />
Então uma das portas abriu, à sua<br />
direita. Passaram por ela <strong>do</strong>is seres de<br />
descendência felina, e como to<strong>do</strong>s os<br />
outros, vestiam uma espécie de armadura<br />
leve sobre um teci<strong>do</strong> preto, sem elmo.<br />
Trazia, cada um, uma almofada preta,<br />
aveludada. Numa havia um cetro craveja<strong>do</strong><br />
571
com pedras coloridas e na outra, uma<br />
estrela de cinco pontas. Nas pontas<br />
continham pedras luminosas que<br />
apresentavam um movimento circular.<br />
As duas criaturas passaram por ela<br />
e subiram até o primeiro degrau, e<br />
permaneceram de frente para ela, feitas<br />
estátuas. Pareciam nem respirar. Amis<br />
tomou um susto, aquelas criaturas tinham<br />
um olhar frio, cortante. Era amedronta<strong>do</strong>r.<br />
Então Ahdack materializou-se, em<br />
pé, em frente ao trono. Estava impecável,<br />
em seu trono, em pessoa e naturalmente<br />
sorridente, tentan<strong>do</strong> falar macio, mesmo<br />
com o timbre muito grave e cavernoso.<br />
Contu<strong>do</strong>, arrogante, como sempre. Sentouse<br />
e falou:<br />
- Você – disse, ele, apontan<strong>do</strong> o<br />
indica<strong>do</strong>r direito, conten<strong>do</strong> nele, um grosso<br />
anel pratea<strong>do</strong> – foi uma das mulheres<br />
encontradas na pirâmide de Kálerus.<br />
Então, comece a dizer, quem é você? Mas<br />
antes disso agradeça a mim, somente a<br />
mim por estar viva.<br />
572
Amis, entenden<strong>do</strong> que nada<br />
podia fazer se não jogar o mesmo jogo de<br />
Ahdack, ajoelhou-se em sua frente.<br />
- Me sinto agradecida senhor.<br />
- Pode me chamar de<br />
“Excelência”.<br />
- Sim, Excelência.<br />
- Agora me diga : Quem é você?<br />
- Senhor, digo, Excelência, o que<br />
quereis saber de mim, se já fui interrogada<br />
por ...<br />
- Cale-se – interrompeu, o<br />
Impera<strong>do</strong>r – vou lhe perguntar só mais uma<br />
vez. Quem é você?<br />
- Uma simples fêmea, que sabe<br />
apenas <strong>do</strong>s afazeres <strong>do</strong>mésticos?<br />
- Afazeres <strong>do</strong>mésticos, hein?<br />
Então comece me dizen<strong>do</strong> seu nome.<br />
- Amis, Excelência. Sou Amis, filha<br />
de Ambhórius, nascida em Someron, no<br />
Monte Pakeus. Não me lembro muito bem,<br />
pois saí muito pequena de lá, vivíamos<br />
dentro da montanha, pois a atmosfera <strong>do</strong><br />
nosso mun<strong>do</strong>, não era boa para se viver<br />
com ela.<br />
- Quem é Ambhórius?<br />
- Meu pai era um simples cidadão,<br />
que tinha como tarefa, a direção de uma<br />
573
pequena fábrica têxtil e era membro <strong>do</strong><br />
Conselho <strong>do</strong> meu povo.<br />
- Agora, fale a verdade, qual é o<br />
seu grau de parentesco com Erus Fanna?<br />
- Nenhuma, Excelência.<br />
Ahdack pareceu admirar-se com a<br />
resposta.<br />
Em seu íntimo, o Impera<strong>do</strong>r<br />
pensava que sim, ela tinha que ser próxima<br />
de Fanna.<br />
Ahdack não sabia o que pensar.<br />
Então a tela, a sua direita vibrou com maior<br />
intensidade. Uma das criaturas felinas lhe<br />
trouxe o cetro, e nele, o impera<strong>do</strong>r<br />
sintonizou alguns sinais.<br />
Amis percebeu a súbita mudança<br />
nele e instintivamente pendeu seus olhos<br />
na direção da imagem tridimensional que<br />
se formava. Era uma figura também de<br />
negro, vestida para guerra, assim como<br />
todas as outras.<br />
Ahdack falou em seu idioma natal,<br />
comunican<strong>do</strong>-se com o ser da tela.<br />
Curiosamente, Amis entendia o diálogo.<br />
574
Falava, então, o recém chega<strong>do</strong>,<br />
sobre o terrível acontecimento, sen<strong>do</strong> o<br />
único sobrevivente de um ataque<br />
fulminante por parte <strong>do</strong>s Somerianos em<br />
sua Base.<br />
- Rumback – disse, o impera<strong>do</strong>r,<br />
pasmo com certa indignação -, não posso<br />
acreditar no que ouço. Você deixou Erus<br />
Fanna escapar e perdeu sua Base?<br />
- Excelência, acredite, fomos<br />
surpreendi<strong>do</strong>s. Mas o líder e o cientista<br />
foram abati<strong>do</strong>s durante a fuga...<br />
Amis gelou com a notícia. Perdera<br />
Fanna e mais alguém. Poderia ser<br />
qualquer um...<br />
- ... Foi necessário explodir a<br />
Base. Ordenei a BH-1 que o fizesse, no<br />
instante que bati em retirada. Não poderia<br />
deixá-la intacta nas mãos de um inimigo<br />
tão poderoso. Se forem capaz de<br />
neutralizar os nossos sistemas de<br />
coman<strong>do</strong>, poderiam usar nossa própria<br />
base contra nós. Possuem muito mais e é<br />
muito mais <strong>do</strong> que <strong>aqui</strong>lo que<br />
apresentavam ser.<br />
Ahdack estava lívi<strong>do</strong>.<br />
575
Em Amis, um milhão de<br />
pensamentos se amontoava em sua<br />
mente, suspensos por um fio de<br />
esperança.<br />
- Rumback – disse, o impera<strong>do</strong>r,<br />
com chispas nos olhos – Venha até minha<br />
nave, continuaremos <strong>aqui</strong>, esta conversa.<br />
Mas, primeiro certifique-se de que não<br />
deixou rastros.<br />
Dizen<strong>do</strong> isto, desativou a tela,<br />
recostan<strong>do</strong>-se no trono, num tom<br />
pensativo. Como, em tão pouco tempo, os<br />
Somerianos adquiriram tamanha<br />
tecnologia?<br />
Olhou direto nos olhos de Amis e<br />
disse, consigo mesmo:<br />
“Agora ficaremos saben<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong>,<br />
acionan<strong>do</strong> sua tela esquerda”.<br />
De lá saíram imagens, congelan<strong>do</strong><br />
e fican<strong>do</strong> a cinco passos de Amis, entre os<br />
pódios, num processo holográfico, já<br />
conheci<strong>do</strong> por ela.<br />
Imediatamente materializou-se<br />
uma cena. Eram as três companheiras<br />
576
escolhidas por Chunk-Ank-Pontin, em pé,<br />
uma ao la<strong>do</strong> da outra, em meio a uma<br />
geringonça estranha.<br />
Estavam imobilizadas da cintura<br />
para cima e pelos braços, numa barra de<br />
material metálico. Havia outra, horizontal,<br />
que lhes prendia seus pescoços e dali uma<br />
re<strong>do</strong>ma de matéria transparente, lhes<br />
envolvia totalmente a cabeça. Da re<strong>do</strong>ma<br />
saiam tubos finos subin<strong>do</strong> até o corte da<br />
imagem.<br />
O movimento circular das pedras<br />
incrustadas nas pontas da estrela, teve<br />
uma leve aceleração e o brilho, intenso,<br />
ficara levemente violeta, voltan<strong>do</strong> ao<br />
normal.<br />
- E quem mais, minha cara? Veja,<br />
suas amigas dependem de você.<br />
- Queira desculpar, Excelência, mas<br />
sou uma mulher ocupada com os afazeres<br />
<strong>do</strong>mésticos...<br />
O movimento da estrela, (sobre a<br />
almofada com o felino) voltou a acelerar e<br />
com a mesma coloração.<br />
577
Imediatamente, Ahdack acionou o<br />
seu cetro e em pouquíssimo tempo, as três<br />
mulheres foram sugadas, a suas<br />
essências, deixan<strong>do</strong> seus corpos,<br />
totalmente esvazia<strong>do</strong>s, murchos, mas<br />
vivas. Após isto, uma espécie de suporte<br />
que apoiava o elmo de material<br />
transparente, disparou uma lança,<br />
atravessan<strong>do</strong>-lhes, o crânio, por entre os<br />
ouvi<strong>do</strong>s. Depois subiram e desapareceram.<br />
- Você está me dan<strong>do</strong> meias<br />
verdades – e no mesmo lugar, outro<br />
holograma se formou. Desta vez era Zuila,<br />
sentada numa poltrona estranha em aço,<br />
com os mesmo aparatos na cabeça, e o<br />
corpo imobiliza<strong>do</strong>.<br />
- Zuila! – Gritou, Amis, num impulso<br />
de ir até ela. – Não...!<br />
- Responda, seus cientistas e quem<br />
mais? Quem construiu a pirâmide?<br />
Não havia outra maneira de manter<br />
Zuila viva.<br />
- Hamour, meu mari<strong>do</strong> e...<br />
- Hamour? Você disse Hamour?<br />
- Sim senhor, Excelência.<br />
- Então você é a mulher de<br />
Hamour?<br />
578
Agora enten<strong>do</strong> melhor as coisas.<br />
Tu<strong>do</strong> se encaixa ... Você é a mulher dele.<br />
A pirâmide...<br />
Ahdack tremeu a sala com sua<br />
gargalhada me<strong>do</strong>nha. Fez uma pausa no<br />
interrogatório enquanto pensava. – Sim isto<br />
explica. O seu povo não poderia ter tanta<br />
força sozinho. Mas como pode? – Hamour<br />
morreu!<br />
Era impossível, mas explicava.<br />
O grande Impera<strong>do</strong>r estava lívi<strong>do</strong>,<br />
não dava para acreditar, ele cuidara para<br />
que Hamour tivesse morri<strong>do</strong> e<br />
pessoalmente. – Aquele sacana, - pensou<br />
consigo mesmo – é mais cheio de truques<br />
<strong>do</strong> que pensei. Como pode ter escapa<strong>do</strong><br />
daquela prisão mortuária?<br />
- Fale-me um pouco mais <strong>do</strong> seu<br />
mari<strong>do</strong>.<br />
Amis percebeu a curiosidade de<br />
Ahdack, muito especialmente, sua<br />
inquietação e decidiu não falar tu<strong>do</strong>.<br />
Especular um pouco, seria melhor. Mas<br />
teria que conduzir o diálogo com habilidade<br />
579
para que aquele nojento não se desse<br />
conta.<br />
- Excelência, meu mari<strong>do</strong> e eu nos<br />
conhecemos ainda crianças, a bor<strong>do</strong> de<br />
uma nave cargueiro, chama<strong>do</strong> Mir, que<br />
fazia parte da frota que posou em<br />
Kálerus...<br />
- Quer dizer que Hamour é nasci<strong>do</strong><br />
de Someron?<br />
- Sim, Excelência. Ele é filho de<br />
Karbenal – na verdade Karbenal era meu<br />
tio – e fomos prometi<strong>do</strong>s um para o outro,<br />
assim que nascemos.<br />
Amis mantinha seus olhos baixos,<br />
temen<strong>do</strong> se entregar, mediante o olhar<br />
penetrante <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r. Em um milésimo<br />
de mícron, pensou, - eles já se conheciam.<br />
Porque Hamour nunca me falou?<br />
- Minha cara, acho que você está<br />
mentin<strong>do</strong> deliberadamente.<br />
Ela sentiu suas faces ficarem<br />
coradas, mas perceben<strong>do</strong> as intenções de<br />
Ahdack e temen<strong>do</strong> por sua vida e a <strong>do</strong>s<br />
outros, achou melhor permanecer em<br />
silêncio, tentan<strong>do</strong> pensar numa saída e<br />
com toda a calma possível. Se os <strong>do</strong>is já<br />
se conheciam, tinha que avisar seus<br />
companheiros e companheiras para<br />
580
eforçarem sua história, no caso de serem<br />
interroga<strong>do</strong>s também.<br />
- Então, o seu silêncio confirma sua<br />
mentira.<br />
- Excelência, como poderia mentir<br />
em vossa presença, ten<strong>do</strong> minha vida e de<br />
minha amiga em jogo? – e conduzin<strong>do</strong> a<br />
coisa pra outro la<strong>do</strong> “inocentemente” –<br />
Posso provar que fui casada.<br />
- Por que você diz que pode provar<br />
que foi casada?<br />
- Porque tivemos relacionamento<br />
íntimo e estou grávida.<br />
- Mas isto não prova nada.<br />
- Sim prova, excelência, no meu<br />
povo, temos o costume de não aceitar na<br />
sociedade as mulheres grávidas não<br />
casadas.<br />
- E como você me explica a<br />
construção da pirâmide?<br />
- Esta é uma velha história.<br />
- Sou to<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>s.<br />
- Bem, quan<strong>do</strong> estávamos na<br />
pequena escola, à bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> cargueiro Mir,<br />
nosso professor de arquitetura nos<br />
mostrou, segun<strong>do</strong> livros antigos, pela<br />
primeira vez uma pirâmide. Meu mari<strong>do</strong> e<br />
eu, estudávamos juntos, e decidimos que<br />
581
quan<strong>do</strong> chegássemos ao mun<strong>do</strong> novo,<br />
construiríamos uma edificação semelhante.<br />
Achamos interessante e era diferente das<br />
outras casas.<br />
- Muito bem, por enquanto vou<br />
acreditar em sua história. Pode se retirar.<br />
Amis sentiu que, ainda podia dar<br />
um pequeno reforço em sua história,<br />
levan<strong>do</strong> o assunto para outra direção,<br />
talvez com isto, ganhasse mais um ponto a<br />
favor.<br />
- Excelência, antes de ir, gostaria<br />
de lhe dizer, que não me importo se o<br />
senhor ache que nós construímos ou<br />
achamos pronta aquela edificação, como<br />
parece desconfiar.<br />
- Ah,ah,ah,ah,ah – riu o Impera<strong>do</strong>r –<br />
Quer dizer que você não se importa?<br />
- Não excelência. Nós a<br />
construímos e poderíamos construir outra,<br />
se meu mari<strong>do</strong> estivesse vivo agora.<br />
Estas últimas palavras, Amis<br />
mostrou ser uma grande atriz, porque<br />
dissera com tanta raiva – mais ou menos<br />
desafia<strong>do</strong>ra – que Ahdack, pareceu até se<br />
convencer. E entrou no seu jogo.<br />
- Pois eu acho que vocês a<br />
encontraram pronta.<br />
582
- Sua Excelência está muito<br />
engana<strong>do</strong> e se deseja posso desenhar<br />
uma planta para que possa construir a sua<br />
própria.<br />
- Então faça isto minha cara. Peça<br />
os ingredientes necessários à BH-1. Quero<br />
ver isto pronto amanhã.<br />
Ela, nada mais falou. Virou as<br />
costas, e saiu, com BH-1. O Impera<strong>do</strong>r<br />
parecia ter acredita<strong>do</strong> em seu jogo, mas<br />
ela tinha que avisar os outros, para que<br />
dessem apoio. O problema maior seria o<br />
contato com aqueles que estavam em<br />
celas separadas.<br />
As celas ficavam dispostas uma ao<br />
la<strong>do</strong> da outra e divididas por paredes<br />
maciças, de mo<strong>do</strong> a não poderem se<br />
comunicar e estavam no décimo quarto<br />
nível inferior da nave. Ao chegar, a primeira<br />
pessoa, que viu, com surpresa foi Zuila.<br />
BH-1 a trouxe de volta por ordem de<br />
Ahdack. Ela a esperava com ansiedade e<br />
angústia. Amis não perdeu tempo e se<br />
precipitou para dentro puxan<strong>do</strong> a amiga<br />
para o fun<strong>do</strong>, antes que BH-1 pudesse<br />
perceber.<br />
583
- Zuila – disse baixinho – ele vai te<br />
perguntar sobre Hamour e você diz a ele<br />
que nos conhecemos a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mir, que<br />
ele é filho de Karbenal, e nasci<strong>do</strong> de<br />
Someron...<br />
- A outra mulher – disse BH-1 série 3.<br />
- Preste atenção, insista que Hamour<br />
e eu construímos a pirâmide.<br />
- Insistir?<br />
- Sim, levei a conversa para este<br />
la<strong>do</strong>. Insista.<br />
- Onde está a outra mulher? – falou<br />
BH-1.<br />
- Estou <strong>aqui</strong>. Só um momento<br />
para terminar de me vestir. E o que mais<br />
Amis?<br />
- É isto. Hamour á nasci<strong>do</strong> de<br />
Someron, filho de Karbenal, ele e eu fomos<br />
prometi<strong>do</strong>s um ao outro assim que<br />
nascemos. Ah, e que decidimos construir a<br />
pirâmide quan<strong>do</strong> vimos Zur-Kwa nos<br />
explicar alguns livros antigos. Agora vá.<br />
Não fique nervosa. Se lhe ocorrer mais<br />
alguma coisa na hora, diga-lhe. Apenas ele<br />
não pode saber de onde e nem como<br />
encontramos Hamour. Também eu falei<br />
que ele morreu.<br />
- Está bem Amis. Vou tentar.<br />
584
- Não tente. Faça.<br />
- Estou pronta senhor.<br />
- Muito bem, então vamos.<br />
Zuila partiu com o andróide e sua<br />
escolta e Amis aproveitou, para passar<br />
adiante a história. Perguntaram-lhe o<br />
porquê da mentira, no que ela teve que<br />
explicar tu<strong>do</strong> de novo. Mas o problema<br />
esta nas outras salas. Existem males que<br />
vem para bem e aconteceu que devi<strong>do</strong> ao<br />
aperto e as más condições em que se<br />
encontravam os feri<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>entes<br />
começaram a piorar e morreram quase que<br />
simultaneamente. Os protestos e o barulho<br />
causa<strong>do</strong>s nas celas,chamou a atenção <strong>do</strong>s<br />
guardas. Muitos deles, seres de outros<br />
mun<strong>do</strong>s, pediram autorização ao<br />
Impera<strong>do</strong>r, para que pudessem aproveitar<br />
os mortos. Neste instante, exatamente<br />
Zuila estava sen<strong>do</strong> trazida de volta, pelo<br />
qual Amis implorou para que pudesse fazer<br />
a cerimônia de despedida de seus mortos.<br />
Ahdack, alivia<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> ao<br />
interrogatório da outra mulher que lhe<br />
confirmara o que a primeira lhe dissera,<br />
num lapso de generosidade, consentiu a<br />
cerimônia. Assim, a mentira se espalhou e<br />
585
ficou claro que o Impera<strong>do</strong>r não poderia<br />
conhecer a verdade sobre Hamour.<br />
Mais tarde o tirano man<strong>do</strong>u chamar<br />
um por um <strong>do</strong>s prisioneiros, queren<strong>do</strong><br />
saber quem eram, o que faziam e se<br />
conheciam Hamour, na qual responderam<br />
que sim, era um <strong>do</strong>s seus, nasci<strong>do</strong> em<br />
Someron, filho de Karbenal, confirman<strong>do</strong><br />
toda a história. Ahdack se tranqüilizou.<br />
Hamour era só um nome, coincidência e<br />
nada mais. Acontece que estava tranqüilo,<br />
mas de certo mo<strong>do</strong> excitante devi<strong>do</strong> às<br />
muitas coincidências. A pirâmide, o nome,<br />
a tecnologia e a derrota. E pensou: - Se<br />
to<strong>do</strong>s mentiram, logo se arrependerão.<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Naquele perío<strong>do</strong>, Zur-Kwa se<br />
recuperou totalmente e Zart, animada por<br />
Maxun, amigos e seu pai, passou a dedicar<br />
seu tempo no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s andróides.<br />
Principalmente, em como poderiam ser<br />
reprograma<strong>do</strong>s. BH-1 série três foi a chave<br />
de tu<strong>do</strong>. Parecen<strong>do</strong> entender que se não<br />
586
cooperasse, “morreria”; O sistema BH era<br />
<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de maior ou menor bancos de<br />
memória nas unidades, dependen<strong>do</strong> de<br />
sua função. Por exemplo: BH-O 9-226 era<br />
um piloto de caça. Já o BH-O 9-224 é um<br />
navega<strong>do</strong>r, e assim por diante – explicou.<br />
Com a promessa de ser reativa<strong>do</strong>,<br />
BH-1 se deixou desmontar.<br />
Thorc comentou, na ocasião que<br />
aquelas máquinas eram perfeitas. Ou<br />
quase vivas.<br />
Quan<strong>do</strong> BH-1 série três foi<br />
desativa<strong>do</strong> e sua célula de vida retirada,<br />
causou a impressão de realmente estar<br />
morren<strong>do</strong>. E na medida em que era<br />
desmonta<strong>do</strong>, seus segre<strong>do</strong>s se revelavam<br />
diante <strong>do</strong>s olhos de Thorc, Zur-Kwa, o Dr.<br />
Grohalv e to<strong>do</strong>s os cientistas peritos em<br />
genética.<br />
Eram incríveis. Eram seres<br />
sintéticos.<br />
Havia, também, os autômatos e<br />
robots, os quais, numa rápida<br />
587
eprogramação, auxiliavam em trabalhos<br />
simples.<br />
Desvenda<strong>do</strong>s os mistérios, até<br />
mesmos os andróides da série BH, foram<br />
reprograma<strong>do</strong>s.<br />
As crianças humanas ganharam<br />
um pequeno robot para auxiliar Belzamir e<br />
que foi apelida<strong>do</strong> de Oga.<br />
A própria Fortaleza foi<br />
reprocessada e recuperada pelos seres de<br />
sua tripulação, sob a orientação pessoal de<br />
Hamour, Thorc e Zur-Kwa. Muitos seres<br />
tripulavam-na, agora, soman<strong>do</strong>-se aos<br />
encontra<strong>do</strong>s nas despensas de “Sua<br />
Excelência”, que descongela<strong>do</strong>s,<br />
engrossava a diversificação de tipos<br />
exóticos. Destes, a maioria preferiu sair de<br />
vista. Ainda tinham me<strong>do</strong> e não<br />
compreendiam a situação, mesmo sen<strong>do</strong><br />
usa<strong>do</strong> os tradutores universais.<br />
Ao contrário <strong>do</strong> que se pensava, a<br />
Fortaleza conseguia desenvolver duas<br />
Dobras-luz e acompanhava bem, o<br />
Cruza<strong>do</strong>r Constelação e a Kosmos.<br />
588
CAPÍTULO X<br />
A frota desacelerou ao detectar<br />
grande massa de asteróides. Era um<br />
imenso campo cheio deles. Os sensores<br />
Kramset-II acusavam ser material<br />
altamente magnetiza<strong>do</strong>, conheci<strong>do</strong> por<br />
Merilun, a matéria prima <strong>do</strong>nde era<br />
extraí<strong>do</strong> o Trilliun.<br />
- Eis <strong>aqui</strong> uma boa fonte de<br />
material para as nossas naves, disse<br />
Hamour no coman<strong>do</strong> da Fortaleza de<br />
Rumback – É Trillium puro, quero dizer<br />
Merillun.<br />
Assim que penetraram no campo,<br />
os instrumentos direcionais de navegação<br />
entraram em colapso. As transmissões e<br />
recepções prejudicadas, forçan<strong>do</strong>-os<br />
diminuir os passos. Havia o risco de<br />
colisão. Parecia um campo mina<strong>do</strong>.<br />
Os andróides, autômatos e robots,<br />
sob o coman<strong>do</strong> de Velz, realizaram a tarefa<br />
de recolher material suficiente para encher<br />
589
os compartimentos e porões da Fortaleza.<br />
O que tinham recolhi<strong>do</strong> daria para fazer<br />
uma Kosmos novinha. A travessia foi lenta<br />
e durou mais um dia e meio.<br />
Paulatinamente as comunicações e<br />
os instrumentos de bor<strong>do</strong> se normalizaram.<br />
- Kosmos para a Fortaleza, pode<br />
me ouvir?<br />
- Sim, Tut, alto e claro.<br />
- Conseguiu pegar o que queria?<br />
- Mais <strong>do</strong> que precisamos o<br />
suficiente para o futuro.<br />
- Para o futuro?<br />
- Claro, por que não?<br />
- Você é um otimista, meu caro.<br />
- Apenas realista. Precaven<strong>do</strong>-me<br />
para o amanhã.<br />
- Você acha que pode andar bem,<br />
com esta carga?<br />
- Acho que posso, não sei. Temos<br />
que experimentar.<br />
- Então, andaremos mais devagar<br />
e aceleran<strong>do</strong> aos poucos.<br />
- Perfeito.<br />
Quarenta e oito dias Somerianos<br />
se passaram desde que partiram de<br />
590
Kálerus e conta<strong>do</strong>s por Tutkan, com certo<br />
furor. A memória de seus irmãos<br />
aprisiona<strong>do</strong>s por Ahdack, incentivava o<br />
trabalho de reconstrução da Atlantis.<br />
E finalmente a nave ficou pronta, e<br />
Hamour transferiu se da Fortaleza para a<br />
Kosmos, passan<strong>do</strong> o coman<strong>do</strong> para Velz.<br />
Era o seu primeiro coman<strong>do</strong> em uma nave<br />
mãe.<br />
A Atlantis foi acionada e assim que<br />
Hamour tomou os coman<strong>do</strong>s, passou a<br />
flutuar, a poucos microns <strong>do</strong> piso,<br />
produzin<strong>do</strong> um ruí<strong>do</strong> sibilante e um brilho<br />
azula<strong>do</strong>. Era linda, totalmente branca,<br />
circular e homogenia. Pareciam <strong>do</strong>is<br />
pratos, vira<strong>do</strong>s de boca, um para o outro.<br />
As comportas <strong>do</strong> grande ventre,<br />
da Kosmos, abriram-se, liberan<strong>do</strong> a<br />
Atlantis de seu ninho. Subitamente o brilho<br />
aumentou, a ponto de se transformar uma<br />
bola de luz e, em seguida, sumiu de vista,<br />
sen<strong>do</strong> detectada apenas pelos Telaks.<br />
591
Thorc, que já vinha fazen<strong>do</strong> testes<br />
e introduzira algumas melhorias nos<br />
sistemas, comentou:<br />
- Sua autonomia é quase<br />
ilimitada. Sua velocidade ultrapassa dez<br />
vezes a marca da luz, sem que nada<br />
modificasse em sua estrutura. Ao acelerar,<br />
produzia um campo magnético por fora,<br />
rechaçan<strong>do</strong>, com perfeição, toda e<br />
qualquer poeira cósmica. É<br />
completamente sensitiva. Pode traçar<br />
coordenadas e planos de vôo, e se<br />
arremeter aos confins <strong>do</strong> espaço, com o<br />
uso de um cristalton programa<strong>do</strong> para<br />
atender aos pensamentos <strong>do</strong> piloto.<br />
Pouco tempo depois a nave<br />
materializou-se no ponto de onde partira,<br />
voltan<strong>do</strong> lentamente ao ninho.<br />
Hamour abriu a portinhola de<br />
acesso e convi<strong>do</strong>u Fanna, Tutkan e Thorc<br />
para subirem a bor<strong>do</strong> e com seu sorriso<br />
largo disse:<br />
- Ela está ótima. Gostei das<br />
adaptações, Thorc. Foi uma boa idéia<br />
introduzir os <strong>do</strong>is canhões Prottons.<br />
592
- É uma pena Zur-Kwa não estar<br />
<strong>aqui</strong> para ver essa belezinha em ação,<br />
comentou Thorc.<br />
- Acho que depois disso, estamos<br />
perto de criar uma máquina, capaz de<br />
andar pelo tempo, tanto para frente como<br />
para trás.<br />
- Você está certo, meu caro.<br />
- observou Hamour nossos cientistas, em<br />
Goran, também disseram o mesmo.<br />
- Poxa! – disse Tutkan – Eu<br />
gostaria de ter uma destas e reparar tu<strong>do</strong> o<br />
que aconteceu com nosso povo, no<br />
passa<strong>do</strong>.<br />
- Temo não ser possível, Tut,<br />
porque tu<strong>do</strong> o que passou não deve ser<br />
muda<strong>do</strong>. Somente Deus poderia fazê-lo.<br />
- Está certo Hamour, o que está<br />
feito, está feito.<br />
- É isto aí, rapazes – completou<br />
Fanna.<br />
- Comandante – falou Klemps pelo<br />
Telecom - estamos no hiper espaço e já<br />
temos as coordenadas para o Segun<strong>do</strong><br />
padrão estelar.<br />
593
- Comunique a frota, vamos<br />
entrar em <strong>do</strong>bra <strong>do</strong>is, em dez microns.<br />
Houve um estremecimento na<br />
matéria escura, causan<strong>do</strong> ondas de vácuo<br />
quan<strong>do</strong> as três naves aceleraram seus<br />
motores.<br />
Acomoda<strong>do</strong>s na cúpula da Kosmos,<br />
após o processo de estabilização de<br />
empuxo, os planos de ataque eram<br />
traça<strong>do</strong>s e rearranja<strong>do</strong>s. Depois de muitas<br />
simulações, Fanna dirigin<strong>do</strong>-se à Hamour,<br />
num ar sério, comentou:<br />
- Sabe Hamour, sempre tive<br />
alguns tiques a seu respeito. Eu nunca falei<br />
com você sobre isto, mas devo dizer que<br />
sinto você, algo mais <strong>do</strong> que aparenta ser.<br />
- Fanna, você realmente<br />
consegue me embaraçar. O que você<br />
sente afinal?<br />
- Não sei Hamour, gostaria que<br />
você me dissesse.<br />
- Já é tempo de nos conhecermos<br />
melhor.<br />
594
No planeta Colônia I, batiza<strong>do</strong><br />
assim, por Ahdack, o alojamento de<br />
prisioneiros estava abarrota<strong>do</strong> de seres de<br />
muitos planetas, apresentan<strong>do</strong> uma<br />
heterogenia fantástica, muito além <strong>do</strong><br />
imaginável. Era sujo e malcheiroso, com<br />
calor insuportável. Não possuía janelas e o<br />
ar interno era bombea<strong>do</strong> por motores<br />
barulhentos, não dan<strong>do</strong> tréguas aos<br />
ouvi<strong>do</strong>s de ninguém. Da mesma forma com<br />
a iluminação vinda de <strong>do</strong>is pontos<br />
luminosos e quentes. Vez por outra a<br />
algazarra <strong>do</strong>s confina<strong>do</strong>s, era mais<br />
barulhenta <strong>do</strong> que os exaustores. Era<br />
quan<strong>do</strong> alguém fora morto e<br />
imediatamente consumi<strong>do</strong> pelos<br />
esfomea<strong>do</strong>s. A luta pela vida e morte era<br />
constante. A morte de alguns significava<br />
vida para outros.<br />
Os recém chega<strong>do</strong>s eram<br />
manti<strong>do</strong>s em separa<strong>do</strong> por grade de raios<br />
lasers, examina<strong>do</strong>s e alimenta<strong>do</strong>s<br />
diariamente com uma espécie de sopa<br />
quente, de cheiro e gosto ruins,<br />
provocan<strong>do</strong> vômitos em alguns. Mas a<br />
fome prevalecia.<br />
595
Tinham se passa<strong>do</strong> dezesseis<br />
dias e a situação piorava. A luta por<br />
comida, nos últimos três dias, tornara-se<br />
cada vez mais violetas, aumentan<strong>do</strong> o<br />
número de vítimas, a ponto de sobrar<br />
cadáveres intactos. Aqui e ali formavam-se<br />
ban<strong>do</strong>s de iguais, uns observan<strong>do</strong> os<br />
outros.<br />
Por ordem de “Sua excelência”,<br />
BH-1 Série 3 e seus comanda<strong>do</strong>s, deveria<br />
examinar os Somerianos e separar os<br />
<strong>do</strong>entes para alimentar os prisioneiros <strong>do</strong><br />
outro la<strong>do</strong> da grade eletrônica.<br />
Mais um someriano fora<br />
devora<strong>do</strong>. A revolta e a sensação de<br />
impotência geravam-lhes calma aparente,<br />
mas prestes a explodir. Havia união entre<br />
eles e quan<strong>do</strong> entenderam que a<strong>do</strong>eciam<br />
por causa da sopa, a fome também<br />
começava a agir. Passaram a beber suas<br />
próprias urinas.<br />
Amis, com Hamour em seus<br />
pensamentos, observava com atenção<br />
to<strong>do</strong>s os movimentos, desde quan<strong>do</strong> a<br />
porta <strong>do</strong> alojamento abria. Zuila fazia o<br />
596
mesmo de outra localização, dentro da<br />
grade.<br />
Então, sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />
Ahdack resolveu reiniciar seu programa de<br />
genética. Escolheu, para isto, quatro<br />
casais de diferentes espécies. Man<strong>do</strong>u BH-<br />
1 série três buscar os mais fortes, para as<br />
cruzas e separar os demais, os menos<br />
saudáveis para extermino dali a <strong>do</strong>is dias.<br />
Amis e Zuila deveriam ser poupadas, final<br />
eram as mais belas, e tinha planos mais<br />
adequa<strong>do</strong>s para elas.<br />
A porta <strong>do</strong> alojamento se abriu e<br />
BH-1 e seus guardas arma<strong>do</strong>s, entraram e<br />
com seus instrumentos mediam a saúde<br />
vital de cada um, reunin<strong>do</strong>-os por espécie<br />
em grupos.<br />
A população fora reduzida<br />
drasticamente e o cheiro podre de<br />
cadáveres e restos impregnava o<br />
ambiente.<br />
Amis e Zuila se seguraram ao ver<br />
à grade desativada e foram leva<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s,<br />
para perto das “tribos”.<br />
597
Era uma visita fora da rotina.<br />
Entendiam que tinha a ver com esta<strong>do</strong><br />
físico pelos atos <strong>do</strong> andróide, separan<strong>do</strong> os<br />
mais saudáveis. Era um momento<br />
diferente.<br />
A grade de raios se formou<br />
exatamente no meio <strong>do</strong> salão e lá<br />
confina<strong>do</strong>s a maioria <strong>do</strong>s prisioneiros,<br />
separan<strong>do</strong> os Somerianos, <strong>do</strong>is seres<br />
insetos, quatro seres répteis e um ser<br />
pelu<strong>do</strong> e muito gor<strong>do</strong>.<br />
BH-1 Série 3 apontou o de<strong>do</strong>,<br />
anuncian<strong>do</strong>:<br />
– Você, você, você, você, você e<br />
você, venham comigo.<br />
Dois casais de somerianos e<br />
outros <strong>do</strong>is de répteis foram escolhi<strong>do</strong>s e<br />
imediatamente empurra<strong>do</strong>s em direção <strong>do</strong><br />
portão.<br />
Zuila correu até seus irmãos<br />
leva<strong>do</strong>s aos trancos, mas foi detida e<br />
empurrada por um guarda, cain<strong>do</strong> entre o<br />
vão da porta metálica. Amis foi em seu<br />
socorro com um pedaço de osso na mão,<br />
598
tiran<strong>do</strong> a amiga a tempo, antes <strong>do</strong> portão<br />
se fechar. Dois seres insetos vieram ao<br />
ataque, e foram atingi<strong>do</strong>s violentamente<br />
pelos últimos três sobreviventes de<br />
Someron. Um deles feriu-se mortalmente<br />
na defesa de Amis e Zuila, e não<br />
conseguia se mover. Amis abaixou-se para<br />
ouvir as palavras <strong>do</strong> rapaz que sussurrava:<br />
- Amis, por favor, não deixe que<br />
me comam – disse, agarran<strong>do</strong>-se aos<br />
cabelos dela – Por favor, Amis mate-os<br />
antes. Não deixe...<br />
- Fique calmo Homarkus, não vou<br />
deixar.<br />
Ela sabia que era uma questão de<br />
tempo. Provavelmente no próximo dia,<br />
Homarkus seria banquetea<strong>do</strong> por aqueles<br />
seres horrorosos.<br />
De um la<strong>do</strong> da cerca, mais de<br />
quinhentas criaturas exóticas e <strong>do</strong> outro<br />
somente oito sobraram. Dois insetos e um<br />
pelu<strong>do</strong> gor<strong>do</strong>, que parecia não ter pernas<br />
de tão gor<strong>do</strong> e Amis e os seus.<br />
– Esta noite vamos sair d<strong>aqui</strong>,<br />
acho que sei como podemos fazer. Não<br />
quero mais estas coisas como companhia.<br />
- Amis não tem saída d<strong>aqui</strong> -<br />
599
- Eu acho que tem. Quan<strong>do</strong> BH-1<br />
esteve <strong>aqui</strong> e levou seus escolhi<strong>do</strong>s e fui te<br />
socorrer, tratei de encher o encaixe da<br />
fechadura com um pedaço de osso. Já<br />
verifiquei, a porta está escorada, dan<strong>do</strong> a<br />
impressão de estar fechada.<br />
- Então vamos sair hoje-<br />
- Zuila, não podemos levar estes<br />
insetos, nem o gor<strong>do</strong>.<br />
- Acho que devemos. Poderão ser<br />
úteis lá fora.<br />
- E Homarkus? Ele está muito<br />
feri<strong>do</strong>, ele não poderá nos acompanhar?<br />
- Homarkus está morto, não<br />
podemos fazer nada por ele.<br />
- Oh! Pobre Homarkus.<br />
- Pelo menos não será comi<strong>do</strong>,<br />
Zuila. Vamos tentar nos comunicar com<br />
estas criaturas, Talvez entendam o que<br />
deve ser feito.<br />
- Sim. Vamos.<br />
Os outros <strong>do</strong>is homens ajudaram<br />
na tarefa. As três criaturas pareciam<br />
amedrontadas. Um <strong>do</strong>s insetos cuidava <strong>do</strong><br />
outro, feri<strong>do</strong> na luta com o fina<strong>do</strong><br />
Homarkus e o gor<strong>do</strong> nem se mexia,<br />
parecen<strong>do</strong> paralisa<strong>do</strong>.<br />
600
- Como são burros – disse Lao -<br />
Acho que não podemos contar com eles<br />
para nada.<br />
- Você se engana, meu caro.<br />
To<strong>do</strong>s olharam para trás,<br />
abobalha<strong>do</strong>s.<br />
- Gor<strong>do</strong> você fala e nos entende?<br />
- Meu nome não é gor<strong>do</strong>. É<br />
Zwump.<br />
- Como é mesmo? – perguntou<br />
Amis.<br />
- Zwump. Zwump.<br />
- Zwump? – riu Zuila, mas que<br />
nome tão... tão...<br />
- Original – Aju<strong>do</strong>u Zwump.<br />
- Sim, sim, original. Mas diga-nos,<br />
de onde você é e como sabe nossa língua?<br />
- Sou <strong>do</strong> planeta Grrott e não sabia<br />
sua língua até chegarem <strong>aqui</strong>.<br />
- Como, não sabia nossa língua?<br />
- Sim, mas isto é... pouco de<br />
explicar...<br />
Pouco? -atalhou Amis – Você quer<br />
dizer fácil?<br />
- Sim, sim, fácil. Fácil de explicar.<br />
Eu ensina<strong>do</strong>r... de idiomas em meu planeta<br />
antes de ser captura<strong>do</strong>...<br />
601
- Você quer dizer professor,<br />
instrutor... – atalhou Amis.<br />
- Sim, professor de idiomas e<br />
considera<strong>do</strong> muito bom, - disse baixan<strong>do</strong><br />
os grandes olhos, com humildade neles.<br />
- Então Zwump, sinto muito a<br />
respeito de chamá-lo de burro...<br />
- Ora não tem importância, mas<br />
estou interessa<strong>do</strong> em sair d<strong>aqui</strong> também. E<br />
estes, que vocês chamam de... hum...<br />
insetos. Veja nenhum de nós parece ser o<br />
que vocês julgam. Apenas estamos há<br />
mais tempo <strong>aqui</strong>, e vocês mesmos viram<br />
como é a sobrevivência de to<strong>do</strong>s. E a<br />
propósito. Eles foram ao seu auxilio e não<br />
atacar. Mas é claro que vocês não sabiam<br />
e eles entendem isso.<br />
- Sim, lamentavelmente ficamos<br />
violentos-disse Zuila.<br />
- Zwump, por favor, comunique a<br />
eles o nosso plano e vamos sair d<strong>aqui</strong> hoje<br />
mesmo, talvez, agora.<br />
Amis foi até aos homens, com seus<br />
ouvi<strong>do</strong>s cola<strong>do</strong>s na grande porta,<br />
perguntan<strong>do</strong>-lhes-Como está o movimento<br />
lá fora?<br />
- Parece calmo – falou Zurt-Kel.<br />
602
- Então vamos nos preparar.<br />
Vamos agora.<br />
- Zurt-Kel, abriu a porta, bem<br />
devagar e foi espian<strong>do</strong> para fora. Não<br />
havia ninguém por perto. Aquela ruela<br />
parecia deserta.<br />
- Para onde vamos? Perguntou<br />
Zuila e Amis respondeu:<br />
- Ora, sei lá, o primeiro passo é sair<br />
d<strong>aqui</strong>...<br />
- Vamos para o palácio – disse<br />
Zwump, que parecia não caminhar.<br />
- Para o palácio, você está louco<br />
Zwump?<br />
- Não Amis, este é o seu nome<br />
não?<br />
- Sim, prazer em conhecê-lo. Mas<br />
porque no palácio?<br />
- Lá será o último lugar que<br />
imaginarão nos procurar.<br />
- Muito esperto Zwump. Vocês<br />
ouviram? Vamos para o Palácio.<br />
- Sim lá encontraremos comida, –<br />
disse Zwump.<br />
- Você precisa fazer um<br />
regimezinho – disse Zuila – coçan<strong>do</strong> a<br />
cabeça daquele gordalhão, e precisa<br />
aparar o cabelo e a barba, disse rin<strong>do</strong>.<br />
603
- Me sinto muito bem assim...<br />
As criaturas confinadas <strong>do</strong> outro<br />
la<strong>do</strong> da cerca passaram a gritar em seu<br />
próprio idioma e Zwump entenden<strong>do</strong> o<br />
pedi<strong>do</strong> de socorro virou-se para Amis e<br />
perguntou: - E eles, vamos solta-los?<br />
- O que você acha?<br />
- Acho que deveríamos, isto trará<br />
confusão e tempo para nos evadir.<br />
- Epa, vem vin<strong>do</strong> alguém – disse<br />
Zurt-Kel.<br />
Então é agora, disse Zuila em frente<br />
ao painel de luzes, baixan<strong>do</strong> a pequena<br />
alavanca, que observara nos movimentos<br />
de BH-1.<br />
A grande porta se abriu,<br />
libertan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os prisioneiros, que<br />
caíram em cima da patrulha que passava,<br />
dilaceran<strong>do</strong>-a em mil pedaços.<br />
Alguns prisioneiros eram alveja<strong>do</strong>s e<br />
jaziam inertes no chão empoeira<strong>do</strong>.<br />
Do outro la<strong>do</strong> da ruela, em frente a<br />
outro pavilhão semelhante ao seu cativeiro,<br />
havia uma comporta que em meio à<br />
confusão, os levou direto para o subsolo,<br />
604
Entraram rapidamente, exceto Zwump,<br />
Zuila que o puxava pelas pequenas<br />
pernas, entala<strong>do</strong> no bueiro, disse: - Eu não<br />
te falei que precisa de um regimezinho,<br />
meu caro?<br />
Os <strong>do</strong>is homens fizeram bastante<br />
força para puxá-lo para baixo e lá<br />
chegan<strong>do</strong>, olhou para Zuila, dizen<strong>do</strong>: -<br />
Acho que você tem razão. Preciso fazer<br />
um regime.<br />
To<strong>do</strong>s riram.<br />
- Puxa! Há quanto tempo a gente<br />
não ria? Faz uma eternidade! disse Amis.<br />
- Qual a direção <strong>do</strong> palácio?<br />
Perguntou Zuila.<br />
- Vamos seguir os insetos – disse<br />
Zwump. Eles também tem nome. Ele se<br />
chama Noisnn e ela Gruzlnn.<br />
- Como saber quem é ele e ela?<br />
- Ele tem anteninhas – Disse meio<br />
envergonha<strong>do</strong>.<br />
- Ah sim, enten<strong>do</strong> – disse Zuila,<br />
também envergonhada.<br />
Os subterrâneos daquele lugar<br />
fediam muito menos <strong>do</strong> que o alojamento,<br />
comentou Lao.<br />
605
Noisnn seguiu pelo longo túnel,<br />
voan<strong>do</strong> silenciosamente, desvian<strong>do</strong> de<br />
vários canos aqueci<strong>do</strong>s, observan<strong>do</strong> o<br />
melhor caminho, principalmente para<br />
Zwump. Este não conseguia desviar-se de<br />
to<strong>do</strong>s. O trajeto era cheio de surpresas.<br />
Muitos animais menores, de formas<br />
desconhecidas corriam-lhes por entre os<br />
pés.<br />
Depois de esgueirarem-se por um<br />
extenso trajeto, Noisnn parou, escutou e<br />
cochichou algo para Zwump, que agora<br />
servia de intérprete e disse que deveriam<br />
parar. Logo em frente havia guardas. Neste<br />
momento uma sirene muito alta soou.<br />
Deveria ser o alarme sobre a fuga deles. O<br />
caminho dali por diante seria mais difícil,<br />
mas não impossível. Segun<strong>do</strong> os cálculos<br />
de Zwump, deviam estar pelas imediações<br />
<strong>do</strong> palácio e ali estariam mais seguros,<br />
pelo menos por enquanto.<br />
O impera<strong>do</strong>r estava possesso.<br />
Gritava muito com seus BHs.<br />
- Seus idiotas, procurem-nos e<br />
me tragam <strong>aqui</strong>.<br />
606
- Só pode ser coisa daqueles<br />
Somerianos. Completou para si mesmo,<br />
cerran<strong>do</strong> os punhos.<br />
De repente as luxuosas<br />
dependências <strong>do</strong> palácio eram uma<br />
correria só. Guardas por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s<br />
com suas armas em punho, Toda a<br />
criadagem violentamente jogada no chão e<br />
interrogada. Alguns que corriam eram<br />
mortos. O pandemônio era geral.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Por volta <strong>do</strong> palácio, muitos<br />
pavilhões repletos de prisioneiros, também<br />
eram revista<strong>do</strong>s, assim como o povoa<strong>do</strong><br />
nativo.<br />
Os nativos daquele planeta eram<br />
baixotes, sem pelos e com orelhas longas<br />
e pontiagudas. Vestiam-se com farrapos.<br />
Eram escravos em minas de ouro e<br />
diamantes. Outros trabalhavam em<br />
607
fábricas de armamentos. Temiam e<br />
odiavam Ahdack e sentiam em seus<br />
íntimos, ser o alarme, com toda aquela<br />
agitação, presságio de boas novas, seus<br />
semblantes mostravam isto. Aqui e ali<br />
outros poucos se revoltavam por não<br />
saberem o porquê de toda aquela<br />
violência. Afinal isto jamais acontecera.<br />
Quan<strong>do</strong> o alarme soou, os<br />
guardas que estavam naquele<br />
compartimento, no subsolo, também<br />
saíram corren<strong>do</strong> a procura <strong>do</strong>s fugitivos.<br />
Noisnn acenou que o caminho<br />
estava livre. Gruzlnn resolveu descer mais<br />
outro nível e depois mais outro. Zurt-Kel<br />
assumiu o seu lugar na retaguarda. O<br />
gordalhão Zwump, nem que quisesse,<br />
passaria naquele corre<strong>do</strong>r estreito. Noisnn<br />
e Lao prosseguiram em frente.<br />
De súbito, Lao voltou e disse: - –<br />
Achamos Bellar e Thasco. Estão logo ao<br />
la<strong>do</strong> e tranca<strong>do</strong>s numa cela com grades<br />
elétricas como porta.. Impossível tira-los de<br />
lá. Em compensação tem uma escada que<br />
nos levará até um depósito de alimentos.<br />
608
- Comida? – disse Zwump – Preciso<br />
de comida, não como desde... hum, faz<br />
bastante tempo...<br />
- Não me diga! Você não estava<br />
gostan<strong>do</strong> <strong>do</strong> cardápio? – ironizou Amis.<br />
- Na verdade não. Em meu planeta,<br />
somos vegetarianos.<br />
- Coitadinho, - disse Zuila rin<strong>do</strong><br />
baixinho.<br />
- Ora parem com isso, preciso<br />
comer, estou morren<strong>do</strong> de fome.<br />
- Zzgrruiuinnn Bzzvzz Frrrrr<br />
Rrrrrrrrzz, disse Gruzlnn, retornan<strong>do</strong> de<br />
sua exploração.<br />
- O que ele disse? Perguntou Zurt-<br />
Kel.<br />
- Gruzlnn encontrou um caminho<br />
melhor. Mas tem uma escotilha pequena.<br />
Voltaram ao cruzamento anterior<br />
e pegaram o túnel da direita, por onde<br />
desceram várias escadarias e corre<strong>do</strong>res<br />
quentes, mas com espaço suficiente para<br />
Zwump. Então, Gruzlnn parou e apontou<br />
para cela onde somente um casal<br />
someriano era guarda<strong>do</strong>. Com a<br />
aproximação <strong>do</strong>s fugitivos, os prisioneiros<br />
vieram ao seu encontro, esbarran<strong>do</strong> na<br />
grade, semelhante à que tinham no<br />
609
alojamento, produzin<strong>do</strong>-lhes queimaduras<br />
leves, nas mãos e braços.<br />
Amis, que bom vê-los. Tire-nos<br />
d<strong>aqui</strong>... e quem são esses aí?<br />
- Não da pra tirá-los daí agora,<br />
mas voltaremos assim que pudermos. E<br />
onde estão Hosby e Lazzi?<br />
- Não sabemos. Foram leva<strong>do</strong>s<br />
pelo andróide BH 1.<br />
- Ta bom. Assim que der a gente<br />
volta, disse Amis, se apressan<strong>do</strong> e<br />
seguin<strong>do</strong> Gruzlnn - Agüentem firme,<br />
completou.<br />
Havia pressa. O som sobre suas<br />
cabeças acusava movimentação intensa<br />
no piso superior. Tinham um longo<br />
corre<strong>do</strong>r a sua frente e no fim dele, os<br />
insetos os aguardava. Ali encontraram a tal<br />
passagem estreita. Era uma escotilha alta<br />
e bem no centro <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r.<br />
- Não olhem para mim assim –<br />
disse Zwump, quase morto de tanto correr<br />
- Por favor, amigos, me ajudem a passar.<br />
Por favor, vocês tem que entender minha<br />
fome.<br />
- Está bem Zwump – disse Amis –<br />
Hei rapazes, vamos tentar atravessar<br />
Zwump.<br />
610
Seria uma situação quase cômica<br />
se não fosse trágica. Puxa-lo pelas pernas<br />
muito pequenas em relação ao corpanzil.<br />
Além disso, ouviam a aproximação de<br />
patrulhas.<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Hamour não sabia bem, como<br />
começar a “conversa”. Andava de um la<strong>do</strong><br />
para outro, tentan<strong>do</strong> encontrar as palavras.<br />
Na grande cúpula, agora escudada contra<br />
o brilho extra luminoso, causa<strong>do</strong> pelo<br />
acumulo de fótons a qual o casco se<br />
transformara.<br />
- Senhores – começou, com voz um<br />
tanto embargada – não sei bem como<br />
começar esta conversa... acho que<br />
começarei pelo início de tu<strong>do</strong>. Talvez<br />
assim seja mais fácil.<br />
- Há muito tempo atrás, no meu<br />
planeta, meu pai, Louhan<strong>do</strong>r, era possui<strong>do</strong>r<br />
de muitas riquezas. Elas vinham da<br />
linhagem, já por muitas gerações. Papai<br />
também era... Humm vamos dizer... uma<br />
611
espécie de líder <strong>do</strong> nosso povo. Assim<br />
como você, Fanna representa para os de<br />
Someron. Pois bem, depois que minha<br />
mãe, Hanna, faleceu contaminada por um<br />
vírus, que contrairá em outro planeta, meu<br />
velho entrou numa enorme depressão. Eu<br />
era, então, pouco mais que um bebê.<br />
- Mais tarde papai se uniu com<br />
outra mulher e teve um filho com ela.<br />
Ahdack foi o seu batismo...<br />
- Então Ahdack é seu irmão! – foi o<br />
que exclamou Tutkan.<br />
- Meio irmão – continuou Hamour-<br />
Eu tinha sete anos de idade quan<strong>do</strong><br />
Ahdack nasceu. Ele era, por assim dizer, o<br />
bonzinho lá em casa, e de certa maneira,<br />
era mesmo. Eu era o filho desmiola<strong>do</strong> que<br />
vivia meti<strong>do</strong> em encrencas e causan<strong>do</strong><br />
muita <strong>do</strong>r a meu pai. Ele não entendia as<br />
minhas idéias liberais. Ahdack era to<strong>do</strong><br />
certinho, fazia o que papai mandava, sem<br />
perguntar e mantinha o mesmo padrão <strong>do</strong>s<br />
outros. As moças da re<strong>do</strong>ndeza eram<br />
todas apaixonadas por ele. Quanto a mim,<br />
só restava mesmo, alguns amigos, também<br />
não muito bem vistos pelos mais velhos.<br />
- A mãe de Ahdack se chamava<br />
Shallaack e vinha de uma pequena<br />
612
província de nome Brehdug, berço de<br />
muito guerreiros. Não eram perigosos, mas<br />
de natureza guerreira. Os dirigentes<br />
militares de nosso povo provinham de lá e<br />
se orgulhavam disto.<br />
- Ahdack cursou a academia e<br />
Universidade de guerra, enquanto eu,<br />
depois de certa idade, e de causar <strong>do</strong>r de<br />
cabeça ao meu pai, fui para a Faculdade<br />
de Ciências, seguin<strong>do</strong> mais ou menos os<br />
passos de meu pai, já que ele, também,<br />
era um cientista, tão maluco em idéias<br />
quanto Thorc e Zur-Kwa.<br />
– Meu pai, naturalmente, tinha<br />
Ahdack como o filhinho certo e o<br />
paparicava to<strong>do</strong> o tempo. Eu entendia<br />
muito bem o porquê desta diferença, afinal,<br />
eu mesmo, nada fazia para que papai me<br />
compreendesse. Algumas boas ações que<br />
eu fazia minha segunda.<br />
mãe, Shallaack, tratava de abafar, ou<br />
distorcer os fatos, fazen<strong>do</strong> com que<br />
Ahdack tivesse o crédito. Estas coisas<br />
tornaram-se mais freqüentes. Papai,<br />
parecia não ver o que realmente acontecia.<br />
Eu via tu<strong>do</strong>, cala<strong>do</strong>, pois achava que, de<br />
certo mo<strong>do</strong>, merecia <strong>aqui</strong>lo e estava<br />
resigna<strong>do</strong> a continuar assim, até que<br />
613
pudesse ter o meu próprio laboratório. Era<br />
um trabalho fascinante, o campo de<br />
pesquisas, as pequenas experiências, e o<br />
glorioso sabor da realização.<br />
- Nossa tecnologia estava muito<br />
adiantada em relação a outros povos e isto<br />
também era motivo de orgulho.<br />
- Espero não estar lhes causan<strong>do</strong><br />
sono com meu relato.<br />
- Não, não. Continue, está muito<br />
interessante – disse Fanna.<br />
- Pois bem, então houve ameaça<br />
de guerra num planeta vizinho, em nosso<br />
sistema. Por conseguinte, papai resolveu<br />
intervir, discretamente, para que nada de<br />
drástico viesse. Afinal, não poderia admitir<br />
uma guerra atômica, que certamente<br />
influenciaria totalmente as órbitas de to<strong>do</strong><br />
o nosso sistema solar. To<strong>do</strong> o sistema<br />
sofreria um desequilíbrio brutal. Então<br />
papai designou Ahdack para tomar as<br />
providências cabíveis, para esfriar os<br />
ânimos, bem perto de explodir.<br />
Aconselha<strong>do</strong> pela mãe, fez tu<strong>do</strong> ao<br />
contrário. Ele próprio <strong>do</strong>minou o planeta e<br />
se declarou salva<strong>do</strong>r e posteriormente, seu<br />
Impera<strong>do</strong>r.<br />
614
- Havia aqueles que acreditavam<br />
no discurso de Ahdack e passaram para o<br />
seu la<strong>do</strong>. Estes, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s desta mísera<br />
autoridade, sentiam-se poderosos,<br />
manten<strong>do</strong> o seu próprio povo confina<strong>do</strong>s<br />
trabalhan<strong>do</strong> duro. A partir daí, o planeta foi<br />
batiza<strong>do</strong> de Colônia I. Lá construiu um<br />
grande e belo Palácio.<br />
- Quan<strong>do</strong> voltou à Goran, contou a<br />
história <strong>do</strong> jeito que lhe era mais<br />
conveniente.<br />
- Com isto, seu ego tomou conta<br />
de seu ser. Então começou a sugerir que<br />
papai, já bem i<strong>do</strong>so, transferisse o poder<br />
de liderança a um de nós. Ele sabia que<br />
seria o escolhi<strong>do</strong> e continuou fazen<strong>do</strong><br />
pressão, até que papai, disse-lhe que no<br />
próximo perío<strong>do</strong>, no seu dia primeiro,<br />
haveria de ser coroa<strong>do</strong> o novo líder. Papai<br />
precisava de tempo para convocar os<br />
anciãos <strong>do</strong> conselho e discutir a respeito.<br />
- Ahdack convocou to<strong>do</strong>s.<br />
Familiares e amigos, e man<strong>do</strong>u preparar<br />
uma grande festa para a sua coroação. Ele<br />
planejava como governar o povo de Goran,<br />
segun<strong>do</strong> sua visão de liderança.<br />
- No primeiro dia <strong>do</strong> quarto perío<strong>do</strong><br />
daquele ano, papai reuniu a to<strong>do</strong>s no<br />
615
sena<strong>do</strong> e disse: Eis o momento de<br />
transferir a liderança para o meu filho<br />
Hamour.<br />
- Ahdack teve um ataque histérico<br />
e se retirou da festa que ele mesmo havia<br />
prepara<strong>do</strong>. Levou, com ele, sua mãe e os<br />
seus. Partiram para a província de<br />
Brehdug.<br />
Eu também não acreditei no que<br />
papai falara, pois achava que Ahdack seria<br />
a escolha certa.<br />
- Não posso lhes dizer o que<br />
senti. Foi algo de muita emoção, mistura<strong>do</strong><br />
com surpresa e sei lá o que mais.<br />
- Soubemos momentos depois, que<br />
Ahdack tinha parti<strong>do</strong> com três fortalezas,<br />
com destino ignora<strong>do</strong>. O que aconteceu<br />
três dias depois foi um massacre. Ahdack<br />
atacou-nos com tu<strong>do</strong> e de surpresa. Não<br />
tivemos tempo de saber o que estava<br />
acontecen<strong>do</strong>, tal como fez em Kálerus. O<br />
pior é que havia muitos <strong>do</strong>s dele junto a<br />
nós, que trataram de assassinar papai e os<br />
outros <strong>do</strong> conselho. Não houve tempo para<br />
resistência. Em <strong>do</strong>is tempos o povo <strong>do</strong><br />
planeta foi dizima<strong>do</strong> e os que sobraram,<br />
foram aprisiona<strong>do</strong>s e joga<strong>do</strong>s dentro de<br />
616
cargueiros e transferi<strong>do</strong>s para o planeta<br />
Colônia I.<br />
- Minha nave ainda estava em<br />
experiência, mas mesmo assim,<br />
consegui fugir nela, levan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s que<br />
encontrei pela frente. Fugimos para o<br />
planeta Rhona, distante o bastante de<br />
Ahdack. Mas não foi o bastante. Logo nos<br />
descobriu e novamente atacou sem<br />
piedade, matan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s. Não sei bem<br />
como, mas pelo instinto de sobrevivência<br />
consegui fugir novamente. Minha nave<br />
apesar de bombardeada muitas vezes,<br />
saiu ilesa e me levou àquele planetóide,<br />
aonde vocês me encontraram. Os únicos<br />
que me faziam companhia, eram os <strong>do</strong>is<br />
andróides, que eu mesmo construí.<br />
Descobri que os sistemas e<br />
sensores da minha nave, eram facilmente<br />
rastrea<strong>do</strong>s por Ahdack, então a transformei<br />
num bloco só, o asteróide, que vocês<br />
batizaram de “O asteróide de Tameron”.<br />
– Fiquei com meus companheiros<br />
naquela pirâmide. Eu sabia que mais ce<strong>do</strong><br />
ou mais tarde, Ahdack me acharia, por isso<br />
simulei minha morte, por transferência de<br />
essência líquida, o que já sabem.<br />
617
- Ahdack me encontrou nos<br />
momentos finais. Ainda pude vê-lo rin<strong>do</strong> na<br />
minha frente, naquela poltrona. Aquele<br />
processo, era desconheci<strong>do</strong> para ele, por<br />
isso me julgou moribun<strong>do</strong> e ficou ali até<br />
que aparentemente, eu tivesse morri<strong>do</strong>. Eu<br />
estava temeroso, o tempo to<strong>do</strong> de que ele<br />
desconfiasse <strong>do</strong> meu truque, e me<br />
matasse realmente, por isto também um<br />
outro truque, o Holograma. Tu<strong>do</strong> que ele<br />
via dentro da pirâmide, eram paredes<br />
vazias.<br />
E assim permaneceria até que as<br />
baterias ativa<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> sistema se<br />
esgotassem, o que levou pelo menos treze<br />
anos.<br />
– Hamour – entrou Fanna - e como<br />
Ahdack passou por aquela bateria de<br />
sensores aurais, sem ser barra<strong>do</strong> ou<br />
mesmo morto?<br />
- Bem, quan<strong>do</strong> me contaminei com o<br />
gelo epíli<strong>do</strong> daquele planeta, imaginei que<br />
mais ce<strong>do</strong> ou mais tarde ele me<br />
encontraria, por isto programei os sensores<br />
para que ele pudesse entrar sem nenhuma<br />
interferência. Queria que me visse “morto”.<br />
Assim ele me esqueceria.<br />
618
- Comandante – chamou Klemps<br />
pelo Intercom - 25 microns para<br />
desacelerarão de <strong>do</strong>bra.<br />
- Sim, Klemps. Estarei aí em 10<br />
microns. – E voltan<strong>do</strong> para os reuni<strong>do</strong>s,<br />
anunciou - Bem, rapazes, tenho que voltar<br />
à ponte, vamos desacelerar d<strong>aqui</strong> a pouco.<br />
- Mas já? Mas logo agora?<br />
Questionou Fanna – enquanto Tutkan<br />
caminhava apressa<strong>do</strong> aos eleva<strong>do</strong>s, e lhe<br />
respondeu – Continuem sem mim. Volto já.<br />
- Ah sim, ia me esquecen<strong>do</strong> de um<br />
ponto importante. Na verdade, eu o deixei<br />
para o final desta novela.<br />
- Eu com meus andróides<br />
visitamos o seu planeta, Someron e vamos<br />
dizer... andei fazen<strong>do</strong> alguns truques com<br />
vocês. Lembram-se quan<strong>do</strong> a Estação<br />
Orbital... Deixe-me ver... Ah sim, vocês a<br />
chamavam de Poniack, explodiu devi<strong>do</strong> a<br />
uma chuva de meteoritos? Na verdade<br />
<strong>aqui</strong>lo foi um acidente. Seu irmão Thorc,<br />
Whorc, era o seu nome, estava fazen<strong>do</strong><br />
experiências com um elemento químico<br />
denomina<strong>do</strong> KR-7. Tinha teor explosivo<br />
muito alto e perigoso. Meus instrumentos<br />
analisavam um meio de estabilizar o<br />
combustível. Foi então, que ele me<br />
619
detectou. Não sei bem por que ativou suas<br />
armas defletoras e man<strong>do</strong>u carga. Eu<br />
apenas ativei o escu<strong>do</strong> protetor para não<br />
ser atingi<strong>do</strong> em cheio e o que aconteceu,<br />
foi a magnetização forte pelas re<strong>do</strong>ndezas,<br />
atrain<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> quanto era de metal que<br />
flutuava a cerca de um macro de diâmetro<br />
da Base Orbital.<br />
Aquela tempestade meteóritica o<br />
atingiu repentinamente. Eu escapei por<br />
pouco. Não pude fazer nada para impedir o<br />
que aconteceu. Lamento por seu irmão,<br />
amigo. Sei o quanto vocês eram uni<strong>do</strong>s.<br />
Thorc com a lembrança <strong>do</strong> irmão e<br />
<strong>do</strong> relato de Hamour, teve seus olhos<br />
inunda<strong>do</strong>s num mícron e disse – Lamento<br />
também.<br />
- Eu estava rondan<strong>do</strong> suas<br />
pesquisas, sem que me vissem. Apenas<br />
seguia os padrões de nosso povo, para<br />
iluminá-los nas pesquisas e poderem sair o<br />
mais rápi<strong>do</strong> daquele lugar. Vi o quanto se<br />
esforçaram e para ser sincero, com muita<br />
admiração. Todas aquelas construções no<br />
subsolo. A ameaça não era tão somente a<br />
atmosfera insípida <strong>do</strong> qual se tornara seu<br />
planeta, mas o perigo de nome Ahdack.<br />
Certamente descobriria Someron e os<br />
620
escravizaria como fez com to<strong>do</strong>s que<br />
encontrou em seu <strong>do</strong>mínio.<br />
Afinal encontrei um meio de fazer<br />
Tutkan desenvolver o KR-7 e Thorc<br />
redesenhar os motores. Usei a velha<br />
técnica de nossos ancestrais. É a de<br />
transmissões Tele-Para-Hipnóticas à<br />
distância. Amplificada e transmitida pelos<br />
meus Teleméricos ativa<strong>do</strong>s. E quan<strong>do</strong><br />
você, Fanna, disse para construir a<br />
Kosmos no espaço, creia-me, era minha<br />
sugestão, entran<strong>do</strong> diretamente em sua<br />
mente. Acho, no entanto que demoraram<br />
muito na construção da nave, mas afinal<br />
suas máquinas e reboques eram muito<br />
lentos e quanto a isso, eu nada podia<br />
fazer. E o pior, o tempo corria e Ahdack<br />
não tardaria a chegar. Graças a Deus<br />
vocês conseguiram sair a tempo.<br />
Minha esperança era, de um dia, libertar o<br />
que sobrou <strong>do</strong> meu povo, e to<strong>do</strong>s que<br />
pudesse, da tirania <strong>do</strong>entia de Ahdack.<br />
- Então era isso – Disse Fanna – Sabe<br />
Hamour, eu sempre achei você muito<br />
próximo, Também me sentia pressiona<strong>do</strong><br />
em certas decisões que tinha que tomar, e<br />
621
às vezes impotente quanto a problemas<br />
que não entendia. Isto explica melhor as<br />
coisas. Você sempre estava em contato<br />
com minha mente, não?<br />
- Às vezes, quan<strong>do</strong> sentia que você<br />
por absoluta inocência poderia tomar<br />
outros rumos e por tu<strong>do</strong> a perder. Não me<br />
entenda mal, eu apenas interferia nas<br />
questões que poderia levar, de um mo<strong>do</strong><br />
ou de outro, às garras daquele tirano. Mas<br />
sempre deixei que a decisão final fosse<br />
somente sua.<br />
De repente, o desconforto<br />
provoca<strong>do</strong> pela desaceleração foi<br />
compensa<strong>do</strong> pela desativação <strong>do</strong> escu<strong>do</strong><br />
de íons e o espaço se mostrou, como um<br />
céu limpo e estrela<strong>do</strong>.<br />
- Diga-me Hamour – disse Thorc, –<br />
Como você sabia que íamos encontrá-lo?<br />
- Não sabia. Apenas cuidei para<br />
que em sua trajetória encontrassem<br />
obstáculos e estes obstáculos<br />
confundissem seu sistema de navegação e<br />
os colocassem na rota que, certamente,<br />
viriam a me descobrir. E foi assim que<br />
descobriram ou esbarraram com a minha<br />
622
nave. Ela era o meu sinaliza<strong>do</strong>r ajusta<strong>do</strong> à<br />
sua freqüência.<br />
- Muito esperto – disse Fanna, já<br />
sorrin<strong>do</strong> e alivia<strong>do</strong> de seus<br />
pressentimentos.<br />
- Muito bem, senhores, agora<br />
entendem por que tive que manter segre<strong>do</strong><br />
de tu<strong>do</strong> e minha situação incógnita para<br />
Ahdack?<br />
- Sim Hamour, disse Fanna. Você<br />
fez bem em não dizer nada antes, talvez as<br />
coisas fossem diferentes para você, quero<br />
dizer, quanto ao nosso tratamento.<br />
Tutkan voltou com o velho<br />
semblante sorridente, anuncian<strong>do</strong>:<br />
Estamos a um macron <strong>do</strong> portão <strong>do</strong><br />
segun<strong>do</strong> padrão estelar.<br />
- Maravilha, Tut. Agora é com você.<br />
- À vitória – disse Tutkan.<br />
- Sim à Vitória – to<strong>do</strong>s saudaram.<br />
- Vamos partir tão logo tenhamos<br />
arruma<strong>do</strong> as malas – disse Hamour.<br />
To<strong>do</strong>s concordaram e foram para<br />
suas naves.<br />
Em três tempos a Kosmos, o<br />
Constelação e a Fortaleza partiram.<br />
623
A grande Fortaleza foi levada até<br />
os limites <strong>do</strong> quadrante e deixada lá com<br />
andróides e to<strong>do</strong> o pessoal de Ahdack, só<br />
que programa<strong>do</strong>s para atacá-lo se<br />
aparecesse por lá.<br />
Durante o percurso rumo ao<br />
segun<strong>do</strong> padrão estelar, em velocidade<br />
total, Hamour parecia preocupa<strong>do</strong> demais<br />
e com uma certa ansiedade, que Fanna<br />
percebeu. Convi<strong>do</strong>u Hamour para irem até<br />
o observatório, que ficava no topo da<br />
Kosmos, onde lá, aprecian<strong>do</strong> o espaço,<br />
viam-se as formações galácticas e muitas<br />
estrelas, contrastan<strong>do</strong> com a escuridão<br />
espacial.<br />
- Hamour, disse Fanna – Vejo que<br />
seu pensamento não nos acompanha,<br />
poderia dizer o que o preocupa tanto?<br />
- Sim, meu caro amigo, é claro que<br />
posso dizer. A minha mente está as voltas<br />
com minha mulher. O que lhe terá<br />
aconteci<strong>do</strong>? Eu a sinto viva, parece estar<br />
em perigo, mas não consigo atinar, que<br />
perigo seja este. Também não me sai da<br />
cabeça, o fato de Ahdack saber de mim.<br />
Amis sempre foi de uma perspicácia muito<br />
624
grande, e acho que não falou nada de mim<br />
para Ahdack, mas com ele tu<strong>do</strong> é possível!<br />
- É, imagino o que você está<br />
passan<strong>do</strong>. A mulher da gente é a mulher<br />
da gente e longe delas, a gente fica meio,<br />
como posso dizer...<br />
- Pela metade – comentou Hamour.<br />
- Sim, pela metade.<br />
- Diga-me Fanna, você nunca se<br />
casou? Quero dizer, nunca teve uma<br />
mulher?<br />
- Sim. Mihla, irmã de Verna,<br />
esposa de Tutkan. Mihla era a minha outra<br />
metade. Amávamos-nos muito. Tivemos<br />
um casal de filhos, Kenna e Prax. Kenna<br />
era exatamente igual à mãe, nas feições, e<br />
no temperamento. Prax, mais novo que<br />
ela, já era mais quieto e muito estudioso,<br />
inclusive a idéia de construir uma<br />
edificação dentro das montanhas, e a<br />
primeira no monte Pakeus, foi dele.<br />
- Eu não sabia que você tinha ti<strong>do</strong><br />
família.<br />
- Pois eu também guar<strong>do</strong> os meus<br />
segredinhos – disse Fanna, sorrin<strong>do</strong><br />
tentan<strong>do</strong> descontrair.<br />
- Mas Fanna, o que foi feito<br />
deles?<br />
625
- Esta é uma coisa que não gosto<br />
nem de me lembrar.<br />
- Ora se você quiser podemos<br />
falar em outra coisa, afinal não quero abrir<br />
velhas feridas e...<br />
- Fique sossega<strong>do</strong>, Hamour, você<br />
não está abrin<strong>do</strong> velhas feridas. Aliás, elas<br />
nunca fecharam. Não se pode esquecer a<br />
quem se ama. Deixe-me dizer, que sempre<br />
penso neles <strong>do</strong> mesmo jeito que estavam<br />
da última vez que os vi. Com aqueles<br />
olhares lin<strong>do</strong>s e aqueles sorrisos. É assim<br />
que me lembro deles. Veja e tirou de<br />
dentro <strong>do</strong> manto uma pequena caixa<br />
<strong>do</strong>urada, <strong>aqui</strong> estamos em nossa casa em<br />
Mirviam.<br />
Hamour pegou a caixa metálica já<br />
aberta e segurou as fotologramas<br />
tridimensionais. Eram quatro ao to<strong>do</strong>.<br />
- Bela família, disse Hamour,<br />
olhan<strong>do</strong> para elas e também olhan<strong>do</strong> para<br />
Fanna, que também as olhava com<br />
saudades estampadas nos olhos. – Você<br />
tinha razão quan<strong>do</strong> disse que sua filha era<br />
parecida com a mãe, e o rapaz também era<br />
bonitão. Tem os teus olhos e o mesmo jeito<br />
de sorrir.<br />
626
- Sim e Mihla dizia que sempre<br />
que estava com ele pelo antigo Telecon,<br />
onde não tinha vídeo, que não sabia com<br />
quem estava falan<strong>do</strong>, se comigo ou com<br />
Prax.<br />
Quan<strong>do</strong> Fanna guar<strong>do</strong>u<br />
novamente a caixa <strong>do</strong>urada, olhou para<br />
Hamour e com muita tristeza disse:<br />
- Eu tinha i<strong>do</strong> à Vlaupora, que era<br />
bem perto de Mirvian, para buscar algumas<br />
sementes de Phenon, pois Mihla havia<br />
decidi<strong>do</strong> ornamentar o jardim com aquelas<br />
flores, quan<strong>do</strong> estourou a guerra por parte<br />
<strong>do</strong> leste. Só consegui voltar oito dias<br />
depois com auxilio <strong>do</strong>s blinda<strong>do</strong>s.<br />
Minha casa estava totalmente<br />
destruída, em ruínas e não soube mais<br />
notícias deles. Sabe Hamour, para mim<br />
eles ainda estão vivos, em algum lugar <strong>do</strong><br />
espaço. Por isto compreen<strong>do</strong> você em<br />
relação à Amis. Contu<strong>do</strong>, você ainda tem<br />
uma condição de poder revê-la, o que não<br />
acontece comigo, se isto lhe serve de<br />
consolo.<br />
- Sim Fanna, me serve para<br />
consolo e obriga<strong>do</strong>.<br />
- Obriga<strong>do</strong>? Por que agradece?<br />
627
- Por me fazer sentir melhor, afinal<br />
você...<br />
- Sim, Klemps o que é?<br />
- O comandante Tutkan precisa <strong>do</strong><br />
senhor <strong>aqui</strong> na ponte, e pede para que<br />
Hamour venha também.<br />
Numa ação rápida desceram,<br />
encontran<strong>do</strong> Tutkan de olho no Telak.<br />
– Veja – disse. Temos companhia.<br />
Estão nos acompanhan<strong>do</strong>, Mesma<br />
distância mantida, desde que os<br />
detectamos. Os analisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Komptor<br />
desconhecem a natureza desta nave. Não<br />
temos registros.<br />
- Deixe-me ver isto – disse<br />
Hamour, aproximan<strong>do</strong>-se mais. – Estas<br />
naves parecem ser Arphênias.<br />
- Arphênias? – quis saber Tutkan.<br />
- Sim. São <strong>do</strong> Sétimo Padrão<br />
Estelar. Arphen é o nome <strong>do</strong> planeta deles.<br />
Dificilmente saem de seus limites<br />
dimensionais. O que estarão fazen<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>?<br />
- Hamour, disse Fanna – Outra<br />
dimensão... Eu sabia. Assim explica a<br />
morte... Eles são amigos?<br />
- Sei muito pouco sobre eles. Pelo<br />
que sei, não são guerreiros, mas possuem<br />
628
tecnologia muito além <strong>do</strong> que podemos<br />
imaginar.<br />
- Ahdack os conhece? Perguntou<br />
Thorc, recém chega<strong>do</strong>, sem se fazer notar.<br />
- Que bom que você veio – disse<br />
Fanna.<br />
- Sim, continuou Hamour – Ele os<br />
conhece, mas não se meteria com eles. Os<br />
Arphenis Estão acima, d<strong>aqui</strong>lo que<br />
podemos dizer...: Certo e erra<strong>do</strong>, o bem e<br />
o mal, etc. São seres diferentes de tu<strong>do</strong><br />
que conhecemos. São poucos, talvez uns<br />
<strong>do</strong>is mil deles,<br />
- Como assim? – quis saber Thorc.<br />
- Bem, disse Hamour - Eles são<br />
constituí<strong>do</strong>s de pura energia, isto é, não<br />
possuem corpos. Sua pele é a roupa que<br />
usam em explorações tridimensionais, de<br />
tempos em tempos são renovadas. São<br />
biotrajes, roupas vivas. Não se pode<br />
destruir um Arphen. O mais novo deles<br />
deve ter, mais ou menos, uns três milhões<br />
de anos de idade.<br />
- Meu Deus! Exclamou Fanna.<br />
- Vamos tentar nos comunicar<br />
com eles – disse Hamour, assumin<strong>do</strong> os<br />
sistemas de transmissão <strong>do</strong> Komptor.<br />
629
- SAUDAÇÕES DO POVO DE<br />
SOMERON.<br />
Esta mensagem foi repetida mais<br />
quatro vezes, com intervalo de dez<br />
microns.<br />
Algum tempo depois, o Telak<br />
recebeu:<br />
- SAUDAÇÕES DO POVO DE<br />
ARPHENIS – e aparecia uma figura<br />
totalmente luminosa na tela. Uma<br />
luminosidade branca. Pura energia, como<br />
dissera Hamour – SOMOS PELA PAZ.<br />
- TAMBÉM SOMOS PELA PAZ.<br />
- ESTAMOS EM MISSÃO DE<br />
SALVAMENTO E TALVEZ TENHAMOS<br />
QUE COMBATER.<br />
- QUEM ESTÁ ESPERANDO<br />
SALVAÇÃO?<br />
- NOSSOS IRMÃOS. ESTÃO EM<br />
PODER DE AHDACK, NO SEGUNDO<br />
PADRÃO ESTELAR, NO PLANETA<br />
COLONIA I.<br />
- AHDACK ESTÁ PREPARADO<br />
E ESPERANDO VOCÊS, NÃO HÁ<br />
CHANCES DE SOBREVIVER À SUA<br />
ARMADA. VOLTEM OU SERÃO<br />
DESTRUÍDOS POR AHDACK.<br />
630
- AGRADECEMOS O AVISO,<br />
MAS PRECISAMOS TENTAR.<br />
Por algum tempo o áudio foi<br />
interrompi<strong>do</strong>, até que:<br />
- CONCORDAMOS. PODEM IR.<br />
BOA SORTE.<br />
- AGRADECEMOS O<br />
INCENTIVO.<br />
O Telak registrou o afastamento<br />
das naves Arphênias e Tutkan perguntou<br />
para Hamour:<br />
- Podemos confiar neles?<br />
- Sim, acho que podemos.<br />
- Por que não nos ajudam?<br />
Perguntou Thorc.<br />
- Não sei bem, mas meu pai um<br />
dia me falou que não lhes é permiti<strong>do</strong><br />
interferir nos assuntos <strong>do</strong>s mortais.<br />
- Outra dimensão... Sempre<br />
pensei nesta possibilidade. É incrível!<br />
Existe mesmo, disseTutkan.<br />
- Sim, uma outra espécie de<br />
vida...<br />
- Acho difícil de compreender<br />
isto, - disse Thorc.<br />
- É. É meio esquisito –<br />
concor<strong>do</strong>u Fanna.<br />
631
- Erus- disse Tutkan – Preciso<br />
falar com você e Thorc, em particular. Não<br />
se ofenda Hamour eu apen...<br />
- Fiquem à vontade, senhores.<br />
Sintam-se em casa.<br />
Tutkan agradeceu e partiu com<br />
os <strong>do</strong>is. Não demorou e Fanna chamou<br />
Hamour para sua sala.<br />
- Hamour, - disse Fanna –<br />
Fizemos um votação por sugestão de Tut e<br />
decidimos que você será o comandante de<br />
toda a operação.<br />
- Eu? Eu não...<br />
- Não seja tão... Humm, modesto.<br />
Aceite. Acho que você é quem mais<br />
conhece Ahdack e seus méto<strong>do</strong>s e<br />
também o terreno, <strong>do</strong> jogo, vamos dizer.<br />
- Você e Tutkan têm si<strong>do</strong> ótimos.<br />
Não vejo o porquê de eu assumir o<br />
coman<strong>do</strong> desta operação.<br />
- Na verdade você tem<br />
comanda<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> desde o começo – falou<br />
Thorc zombeteiramente, por isso<br />
decidimos oficializar a coisa. Assuma logo<br />
e vamos trabalhar.<br />
Hamour teve que ir com os outros<br />
e não teve tempo de dizer que sim. Tutkan<br />
632
levantou seu braço direito e deu início as<br />
formalidades de praxe com juramento e<br />
tu<strong>do</strong>. Hamour recitou-o e repassaram os<br />
planos de ataque.<br />
633
CAPÍTULO XI<br />
OS DOIS SENHORES NA<br />
ÚLTIMA BATALHA<br />
Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />
encolerizou-se diante os relatórios de BH-1<br />
série três, sobre a fuga em massa <strong>do</strong><br />
pavilhão 118.<br />
Fora encontra<strong>do</strong> um pedaço de<br />
osso no encaixe da fechadura, impedin<strong>do</strong><br />
as trancas em sua função. 568 prisioneiros<br />
ao to<strong>do</strong>.<br />
As gravações mostravam muito<br />
bem, como tu<strong>do</strong> acontecera, desde quan<strong>do</strong><br />
BH 1 saiu <strong>do</strong> depósito. Sete deles<br />
entraram no acesso aos subterrâneos,<br />
enquanto os outros destruíam a patrulha.<br />
Microns depois, mais 43, de várias raças,<br />
entraram pelo mesmo bueiro. Estes foram<br />
mortos nos limites externos, <strong>do</strong>s<br />
respira<strong>do</strong>res extras, longe <strong>do</strong> palácio.<br />
634
Dois dias se passaram. A maior<br />
parte deles, mortos e o restante voltaram<br />
ao confinamento. Mas, nada <strong>do</strong>s<br />
somerianos, um casal de insetos e um<br />
calusiano.<br />
sumir?<br />
Como é que sete seres podem<br />
Não. Não era possível.<br />
Sua indignação causou a morte<br />
de vários guardas e muitos seres nativos.<br />
Ahdack, num momento de fúria,<br />
gritou aos demais: Tragam-me estes<br />
peçonhentos até a noite, se não to<strong>do</strong>s<br />
enfrentarão a minha ira. Agora saiam<br />
d<strong>aqui</strong> e achem-nos. Quero-os vivos ou<br />
mortos. Mexam-se.<br />
Então, BH -1série 3 anunciou o<br />
pouso de Rumback no hangar principal,<br />
nas imediações <strong>do</strong> palácio.<br />
Microns depois estava frente a<br />
frente com o poderoso Ahdack. Eram<br />
635
muitas as explicações de como perdera<br />
sua nave e garantiu que fora autodestruída.<br />
O impera<strong>do</strong>r, embora contraria<strong>do</strong><br />
e irrita<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os acontecimentos,<br />
teve que condescender e pensar melhor<br />
sobre aquela questão em particular.<br />
- Estes somerianos... Não perdem por<br />
esperar – disse ele, entredentes.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxx<br />
O gordalhão Zwump, não podia<br />
estar em lugar melhor. No depósito de<br />
alimentos e adega de “Sua Excelência”.<br />
Passara to<strong>do</strong> tempo comen<strong>do</strong> e beben<strong>do</strong>,<br />
sem dizer um único ai. Aumentara de<br />
tamanho.<br />
- Nossa como você come – disse<br />
Amis – Se você não parar vai explodir!<br />
- E nos denunciar <strong>aqui</strong>,<br />
completou Zurt-Kel.<br />
O pessoal riu baixinho.<br />
- Muito engraça<strong>do</strong> – Disse<br />
Zwump, sem parar de mastigar.<br />
636
- E, além disso – completou Zuila –<br />
Logo o Impera<strong>do</strong>r vai dar falta de sua<br />
comida e acabará nos descobrin<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>.<br />
Mais risadas.<br />
- Zvrrrggohoingafunzzrrg –<br />
fxousisan – falou Noissn<br />
- O que foi que ele disse – quis<br />
saber Amis.<br />
- Ora não importa – disse Zwump.<br />
- Hei, olha <strong>aqui</strong> Zwump, disse<br />
Amis, cerran<strong>do</strong> o punho em frente à cara<br />
gorda de Zwump.<br />
- Ele disse que terão que explodir<br />
a porta para eu poder passar.<br />
Era uma gozação só à custa de<br />
Zwump, que parecia ignorar a tu<strong>do</strong> e a<br />
to<strong>do</strong>s. Apenas continuava comen<strong>do</strong>.<br />
Bem – disse Amis – Já nos<br />
divertimos bastante, agora vamos pensar<br />
num jeito de tirar Bellar e Tasko.<br />
- E irmos para onde? – perguntou<br />
Zwump, ainda mastigan<strong>do</strong>.<br />
- Para longe d<strong>aqui</strong> – retrucou Lao.<br />
Não podemos ficar <strong>aqui</strong> para sempre.<br />
- Não vejo melhor lugar <strong>do</strong> que<br />
esse – disse Zwump.<br />
- Ora você só está pensan<strong>do</strong> em<br />
comer, comer e comer.<br />
637
- Não é só isso. Ouçam o<br />
Impera<strong>do</strong>r a esta altura deve ter triplica<strong>do</strong> a<br />
guarda, talvez quadruplica<strong>do</strong> e isso<br />
reduziria nossas chances<br />
consideravelmente. Seus amigos estão<br />
bem, Noissn os tem alimenta<strong>do</strong>. Aqui é o<br />
ultimo lugar que vão nos procurar...<br />
- É isso – atalhou Zuila. Vamos nos<br />
vestir como eles.<br />
- Sim, mas e eu? Disse Zwump-<br />
Acho que não encontrarão uniformes de<br />
meu número. Desta vez quem ria era o<br />
próprio Zwump.<br />
- Muito engraça<strong>do</strong> – falou Amis.<br />
- Brrgnnvvdzinng grrrvunnnn. –<br />
grunhio Noissnn.<br />
- Talvez seja uma idéia, disse<br />
Zwump.<br />
- O que foi que ele disse? –<br />
perguntou Amis.<br />
- Ele disse que talvez se<br />
conseguíssemos uma carcaça de Robots,<br />
eu pudesse me disfarçar.<br />
- Bravos!! Grande Noissnn, disse<br />
Amis dan<strong>do</strong>-lhe um beijo.<br />
- Zvrrgnn gunnz – grunhi Gruzlnn.<br />
- Ela é ciumenta – disse Zwump,<br />
rin<strong>do</strong> com sua bocarra.<br />
638
- Está certo – disse Amis, eu só<br />
queria...<br />
- Hei, - disse Zurt-Kel, vem vin<strong>do</strong><br />
alguém. Escondam-se.<br />
A porta se abriu num estouro,<br />
entran<strong>do</strong> um nativo, vesti<strong>do</strong> com mantos<br />
brancos. Ligou as luzes e começou a<br />
escolha de coisas.<br />
De súbito, pareceu farejar um<br />
o<strong>do</strong>r diferente e de pronto, pegou uma<br />
faca, olhan<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Saiu<br />
dali, pé por pé, de olhos arregala<strong>do</strong>s,<br />
seguin<strong>do</strong> seu nariz até um corre<strong>do</strong>r<br />
estreito, com toda espécie de frascos, a<br />
julgar pelo o<strong>do</strong>r, de bebidas. Descobriu<br />
Zwump.<br />
- Quem é você? Perguntou.<br />
- Meu nome é Zwump. – disse com<br />
os olhos abaixa<strong>do</strong>s em total submissão.<br />
- Zwump? – disse o pequeno<br />
orelhu<strong>do</strong> – Você é um <strong>do</strong>s prisioneiros que<br />
fugiram?<br />
- Sim – disse Zwump ainda <strong>do</strong><br />
mesmo jeito.<br />
O pequeno nativo baixou a faca e<br />
disse – Fique calmo. Não vou denunciá-lo.<br />
639
- Oh! Muito agradeci<strong>do</strong>. Sua<br />
generosidade um dia lhe será<br />
recompensada.<br />
- Não fale mais Zwump, podemos<br />
ser ouvi<strong>do</strong>s.<br />
- Sábias palavras, senhor.<br />
- Mas diga-me, disse baixinho,<br />
onde estão os outros? Estão <strong>aqui</strong> com<br />
você?<br />
- Não senhor, partiram há <strong>do</strong>is<br />
dias. Só eu fiquei... pelo meu tamanho,<br />
compreende?<br />
- Sim compreen<strong>do</strong>. Bem, devo ir.<br />
Fique tranqüilo, mais tarde quan<strong>do</strong> tiver<br />
termina<strong>do</strong> minhas tarefas, virei vê-lo, daí<br />
conversaremos. Até mais.<br />
- Até mais, - disse Zwump, sem<br />
saber o que fazer.<br />
O pequeno orelhu<strong>do</strong> colocou os<br />
mantimentos dentro de uma sacola de<br />
metal e mais duas garrafas de bebida,<br />
deixan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> às escuras como antes.<br />
Zuila que se escondera atrás de<br />
Zwump, perguntou-lhe se estava bem;<br />
- Zwump...<br />
Zwump estava paralisa<strong>do</strong>,<br />
suan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que podia.<br />
640
- Hei Zwump... Zuila o sacudiu<br />
pelo pequeno braço pelu<strong>do</strong>.<br />
- Hein?... Hã? Humm... Ah, sim, o<br />
que?<br />
- Eu perguntei se você está bem?<br />
- Sim, acho que sim. Não, não<br />
estou bem, acho que vou desmaiar.<br />
- Ora, pare com isso Zwump.<br />
Acho que encontramos o nosso passaporte<br />
para sair d<strong>aqui</strong>.<br />
- Passa o que?<br />
- Passaporte... ora deixa pra lá.<br />
Acho que temos um alia<strong>do</strong>.<br />
-Alia<strong>do</strong>?<br />
- Sim, alguém que está <strong>do</strong> nosso<br />
la<strong>do</strong>.<br />
- Do nosso la<strong>do</strong>?<br />
Nisto, entrou Amis e Noissnn e<br />
ven<strong>do</strong> que Zwump estava em choque,<br />
chamaram atenção de Zuila, que também<br />
estava ainda suan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s momentos que<br />
passara escondida atrás de Zwump.<br />
- Zuila – disse Amis. Deixa-o<br />
voltar, está em choque e não está<br />
entenden<strong>do</strong> nada <strong>do</strong> que você lhe fala.<br />
- Parece mesmo – concor<strong>do</strong>u<br />
Zuila, e não é pra menos, depois de tu<strong>do</strong> o<br />
641
que comeu, ter um susto destes é de<br />
admirar que não fizesse sujeira por <strong>aqui</strong>.<br />
- Bom pelo cheiro acho que já fez<br />
– disse Lao rin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pobre gordalhão.<br />
Pouco depois, Zwump recobrou a<br />
razão e sentou-se num saco de cereal e<br />
disse:<br />
- Desculpem por ter desliga<strong>do</strong>,<br />
simplesmente não consegui <strong>do</strong>minar o<br />
susto.<br />
- Não se preocupe, disse Zuila –<br />
Você se saiu muito bem com aquele nativo.<br />
Será que podemos confiar nele?<br />
- Pois é, talvez sim. Ele disse que<br />
não me denunciaria e voltará mais tarde,<br />
só.<br />
- Zgrrvn Psenttlgr Vnnizblezln,<br />
grunhio Noisnn.<br />
- E agora, o que Noisnn disse?<br />
Perguntou Zuila, ao seu la<strong>do</strong>.<br />
- Ele disse para termos cuida<strong>do</strong> e<br />
examinar bem a questão antes de<br />
prosseguirmos com o plano.<br />
- Zzgrrudll varpp nniguel charrgnt,<br />
zzwmp – disse Noisnn.<br />
- Ele disse que se o baixinho for<br />
amigo, teremos uma chance de fugir d<strong>aqui</strong>.<br />
642
Além disso ele poderá nos traçar um<br />
mampa de como sair.<br />
- Este Noisnn é mais esperto que<br />
pensávamos, disse Zurt-Kel.<br />
- Zgrratt.<br />
- Ele agradece – disse Zwump, o<br />
intérprete.<br />
- Engraça<strong>do</strong> – disse Amis, ele<br />
entende o que dizemos, por que não<br />
entendemos o que dizem?<br />
- Zzzmmt mrrgg trumzz mutrr grrt,<br />
- disse Gruzlnn.<br />
- Também somos idiomólogos em<br />
nosso planeta e não podemos nos<br />
comunicar porque não possuímos pregas<br />
vocais nem caixa de ressonância igual as<br />
suas – traduziu Zwump.<br />
- Está certo, pessoal, os burros,<br />
<strong>aqui</strong>, somos nós – disse Lao.<br />
- E o que faremos enquanto o<br />
esperamos? Quis saber Zurt-Kel.<br />
- Comer – sentenciou, Zwump.<br />
- Você só pensa em comer. Você<br />
parece um saco sem fun<strong>do</strong>, retrucou Amis.<br />
Acho melhor ficar prepara<strong>do</strong>. Você será<br />
nosso porta voz e precisa estar bem,<br />
quan<strong>do</strong> ele vier.<br />
643
- Só me sinto bem, de barriga<br />
cheia, concluiu ele.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
- Senhor, - disse Klemps: pelo<br />
Intercom, estamos a um macrom <strong>do</strong> portão<br />
estelar vinte e nove.<br />
Houve certo desconforto gera<strong>do</strong><br />
pela desaceleração da Kosmos, no<br />
Constelação e na Fortaleza.<br />
- Vamos nos separar agora - disse<br />
Hamour –Lembre-se, ele está nos<br />
esperan<strong>do</strong> com umas ou duas fortalezas<br />
<strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> portal.<br />
- Então, não vamos deixá-lo<br />
esperan<strong>do</strong>, concluiu Fanna.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
- Estamos aguardan<strong>do</strong> seu<br />
coman<strong>do</strong>. Aqui, estamos prontos.<br />
- Desculpem, estava pensan<strong>do</strong><br />
em Amis. Acho que podemos ir, disse.<br />
- Você acha? – perguntou Tutkan,<br />
impaciente.<br />
644
- Sim. Vamos agora.<br />
A nave Atlantis, num piscar de<br />
olhos, atravessou o portal, paran<strong>do</strong> de<br />
repente há poucos centons <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>..<br />
Em 30 microns, uma varredura completa<br />
detectou três fortalezas em cinco macrons,<br />
forman<strong>do</strong> um leque com menos de um<br />
macron de distância entre elas. Impossível<br />
de distingui-las a olho nu, confundin<strong>do</strong>-se<br />
com asteróides e pequenos sóis já<br />
extintos. Aquele pedaço de universo era<br />
um <strong>do</strong>s mais antigos, com cerca de<br />
quatorze bilhões de anos. Assim, mostrava<br />
uma infinidade de sóis em plena<br />
decadência e poucos em atividade,<br />
tornan<strong>do</strong>, aquele pedaço, mais escuro.<br />
Uma vez completada a varredura,<br />
Hamour retornou ao ninho.<br />
- Senhores, disse ele, Ahdack<br />
está nos respeitan<strong>do</strong>, mesmo.. Tem três<br />
fortalezas em formação, nos esperan<strong>do</strong>.<br />
Estão há 5 macrons depois <strong>do</strong> portal.<br />
- Muito esperto, disse Tutkan.<br />
Assim que desacelerarmos, caem em cima<br />
de nós, sem nos dar a mínima chance.<br />
645
- Exato. Vamos mudar a tática de<br />
entrada. Vou à frente e preciso de ajuda.<br />
Assim, Fanna e Thorc subiram a<br />
bor<strong>do</strong> da Atlantis e microns depois,<br />
pairavam, estáticos, a um macron de<br />
distância. Fora <strong>do</strong> alcance de tiros ultras<br />
sônicos, de “Sua Excelência”.<br />
- To<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> é pouco, disse<br />
Hamour, ativan<strong>do</strong> o Telstar, focaliza<strong>do</strong><br />
direto para as três fortalezas.<br />
Fanna entrou direto,<br />
surpreenden<strong>do</strong> os Telaks inimigos.<br />
- SOU ERUS FANNA, LIDER DO<br />
POVO DE SOMERON. NÃO DESEJAMOS<br />
DESTRUI-LOS, POR ISTO, RENDAM-SE.<br />
VOCES TEM SESSENTA MICRONS<br />
PARA RESPONDER A PARTIR DE<br />
AGORA.<br />
- Eu sei quem você é. Quem você<br />
pensa ser e por que está com a nave de<br />
Hamour?<br />
- Talvez o seu novo senhor,<br />
Rumback. Depende de você. E Hamour<br />
está morto.<br />
As fortalezas rodaram seus<br />
globos da morte, simultâneas. Mesmo<br />
646
assim, continuavam a receber a contagem<br />
regressiva emitida por Fanna.<br />
- QUARENTA E CINCO<br />
MICRONS. Quem quiser sobreviver,<br />
deponha as armas e partam pra os seus<br />
planetas de origem. Tem minha palavra de<br />
que nada lhes acontecerá.<br />
As fortalezas aceleraram em<br />
direção daquela ínfima luzinha brilhante no<br />
meio <strong>do</strong> nada.<br />
- Vinte e contan<strong>do</strong>. Rendam-se.<br />
Rumback, toma<strong>do</strong> de ira, ao ser<br />
invadi<strong>do</strong> por Fanna, no seu Telak, dan<strong>do</strong> o<br />
ultimatum, rosnou: - Vou te apagar,<br />
insetinho, ordenan<strong>do</strong> a fortaleza <strong>do</strong>is,<br />
comandada por Kancha Motcham, atacar.<br />
Este, imediatamente lançou-se sobre o<br />
alvo, disparan<strong>do</strong> cargas ultras sônicas<br />
encapsuladas com neutrônio e atrás, cento<br />
e vinte e cinco Mobis 7 V.<br />
Thorc.<br />
- São mais de <strong>do</strong>is Vetrons, disse<br />
647
- Acione os Prottons.<br />
A nave brilhou mais, crian<strong>do</strong> um<br />
escu<strong>do</strong> invisível, desvian<strong>do</strong>-se das cargas<br />
inimigas, há mais de <strong>do</strong>is mil centos.<br />
- O escu<strong>do</strong> perfeito, disse Thorc.<br />
Neste mesmo instante, a fortaleza<br />
comandada por Velz, atravessou o portal e<br />
ao desacelerar, estava entre a fortaleza de<br />
Rumback e Kancha Motcham, enquanto a<br />
fortaleza 3, comandada por Prox Mahalill,<br />
triangulava para cercar o invasor.<br />
Kancha Motcham man<strong>do</strong>u mais<br />
cargas, simultâneas, fazen<strong>do</strong> aquela<br />
luzinha dançar na matéria escura.<br />
- Esta foi uma idéia genial, Thorc.<br />
O aproveitamento de energia <strong>do</strong>s Prottons,<br />
amplifica a força <strong>do</strong> escu<strong>do</strong> propulsor.<br />
- E precisam cuidar onde atiram.<br />
Podem se matar, gracejou Thorc.<br />
Então a Kosmos e o<br />
Constelação entraram e desaceleraram<br />
bem atrás de Rumback, dan<strong>do</strong>-lhe um<br />
grande susto, pelo que praguejou:<br />
Malditos.<br />
Imediatamente enviou to<strong>do</strong>s<br />
seus caças ao ataque das duas naves<br />
invasoras, maldizen<strong>do</strong>-se, por não<br />
648
poder despejar-lhes suas cargas, com<br />
o risco de explodir junto com o inimigo.<br />
Tutkan e Lomaxis<br />
responderam.<br />
O esquadrão da Kosmos,<br />
comanda<strong>do</strong> por Ozy, e Maxun, a<br />
operação, ejeta<strong>do</strong>s pelo cruza<strong>do</strong>r<br />
estelar, invadiram o espaço, abrin<strong>do</strong><br />
fogo contra as naves Mobis 7V, cuja<br />
superioridade numérica era espantosa.<br />
Em instantes, naquele<br />
quadrante, parecia o pipocar de<br />
explosivos festivos. To<strong>do</strong>s estavam em<br />
combate, exceto, as naves mães.<br />
Contu<strong>do</strong>, a iniciativa <strong>do</strong>s pilotos<br />
somerianos, fazia a diferença. Pouco a<br />
pouco, as naves Mobis eram<br />
destruídas, trazen<strong>do</strong> poucas e<br />
honrosas baixas nos somerianos.<br />
Rumback não esperava tal<br />
poder inimigo. Sentia - se ameaça<strong>do</strong>.<br />
Apesar de comandar a arma mais letal<br />
de to<strong>do</strong> o universo, a Fortaleza <strong>do</strong><br />
próprio impera<strong>do</strong>r, estava ali, acua<strong>do</strong>.<br />
649
Então, uma depois outra<br />
nave,foram sain<strong>do</strong> das múltiplas<br />
comportas das imensas fortalezas e se<br />
arremeten<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os cantos.<br />
Algumas pelo próprio portal, voltan<strong>do</strong><br />
ao Setor dez <strong>do</strong> primeiro padrão.<br />
Rumback, ven<strong>do</strong> seus<br />
generais desertan<strong>do</strong>, fez o mesmo.<br />
Arremeteu-se com a nave de combate<br />
<strong>do</strong> próprio impera<strong>do</strong>r, deixan<strong>do</strong><br />
programadas suas cargas<br />
encapsuladas, apontadas para o alvo,<br />
sua ex-fortaleza. Assim, diante a<br />
proximidade entre as grandes naves<br />
explodiriam todas, inclusive as suas.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Totcha Mant-chunk, ao leme<br />
da Fortaleza, percebeu o trava<strong>do</strong> de<br />
seus instrumentos informou Velz:<br />
Comandante, ele vai explodir tu<strong>do</strong> e<br />
está fugin<strong>do</strong>, e estamos sem poder nos<br />
650
mexer. Os controles estão escravos<br />
<strong>do</strong>s da Fortaleza <strong>do</strong> general Rumback.<br />
As canhoneiras, da superfície da<br />
enorme bola metálica, em ações lentas,<br />
abriam-se.<br />
Os monitores Telstar da nave<br />
Atlantis acusavam estes<br />
acontecimentos. Enquanto Hamour<br />
aconselhava calma – temos pouco<br />
tempo para pensarmos nisto. Rumback<br />
está com a nave de Ahdack. É lenta e<br />
ele quer estar numa distância segura,<br />
Vai explodir em mais... 92 microns.<br />
Thorc buscava nas plantas daquela<br />
fortaleza, seus sistemas e Fanna, de<br />
olhos para a nave de combate Imperial.<br />
Velz entendeu bem a<br />
mensagem. Segun<strong>do</strong> seus próprios<br />
cálculos, o fim deles to<strong>do</strong>s, era<br />
eminente. A explosão de todas as<br />
naves, redundaria numa onda de<br />
choque de magnitude abundante. E<br />
mesmo que Thorc conseguisse os<br />
códigos para desemperrar sua nave,<br />
dificilmente escapariam desta onda de<br />
651
choque. Lembrou-se de seu velho<br />
comandante e amigo Zeuez. Era jovem,<br />
inexperiente, esqueceu que estava nos<br />
velhos March 1, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s tão somente<br />
de instrumentação sensitiva à<br />
atmosfera. Foi quan<strong>do</strong> viu Zuila pela<br />
primeira vez... e...<br />
Tutkan e Lomaxis, depois de<br />
alguma discussão, foram convenci<strong>do</strong>s<br />
a partirem de volta ao portal estelar.<br />
Seria o caminho mais perto da<br />
salvação.<br />
Mas, Lomaxis tinha problemas.<br />
A maior parte de suas esquadrilhas,<br />
ainda não voltara. E alguns estavam<br />
longe, talvez longe demais.<br />
Iremos, assim que pudermos,<br />
informou a Tutkan e Fanna;<br />
- Nos vemos <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>,<br />
disse-lhes Tutkan, arremeten<strong>do</strong> a<br />
Kosmos.<br />
- Achei, disse Thorc, checan<strong>do</strong><br />
a contagem regressiva em 56 microns.<br />
Velz, conecte-me com Totcha Mantchunk...<br />
652
- Sim, sou eu, mestre.<br />
Logo à sua direita, abaixo <strong>do</strong><br />
seu console. Está a baia que comanda<br />
o sincronismo da roda da morte.<br />
Arranque tu<strong>do</strong> e arremeta-se, com<br />
propulsão de <strong>do</strong>bra 1 e complete <strong>do</strong>bra<br />
2 antes <strong>do</strong> portal.<br />
Microns depois, houve uma<br />
monumental explosão, liberan<strong>do</strong><br />
energia de bilhões de vetrons,<br />
desencadean<strong>do</strong> uma onda de choque<br />
jamais vista.<br />
A matéria escura evoluía em<br />
ondas quase sólidas, atingin<strong>do</strong> o<br />
Constelação no momento em que<br />
iniciava a ionização <strong>do</strong> casco, para<br />
atingir <strong>do</strong>bra 2.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
A possante nave de guerra<br />
pousou no hangar <strong>do</strong> palácio e logo<br />
653
Rumback, escolta<strong>do</strong> por BH 1 Série<br />
três e <strong>do</strong>is guardas Robots, foi ter com<br />
o impera<strong>do</strong>r. Este o aguardava na<br />
abóboda central <strong>do</strong> palácio.<br />
Ao entrar, sua escolta fechoulhe<br />
as portas, deixan<strong>do</strong>-o às sós com<br />
“Sua Excelência”. Curvou-se,<br />
prostran<strong>do</strong> um joelho no grosso tapete<br />
e relatou:<br />
- Tu<strong>do</strong> conforme Vossa<br />
Excelência planejou. Caíram na<br />
armadilha. Mas tínhamos um elemento<br />
novo: a nave de Hamour.<br />
- Você disse: a nave de<br />
Hamour? E ele estava lá?<br />
- Não. Quem se comunicou foi<br />
Erus Fanna, dan<strong>do</strong> voz para nos<br />
rendermos.<br />
- Aquele idiota, não passa de<br />
um desprezível verme. Mas, e Hamour,<br />
você não o viu?<br />
- Perguntei e Erus Fanna me<br />
disse que o encontrou morto num<br />
planetóide, no primeiro padrão.<br />
-Não sei... Quan<strong>do</strong> o deixei,<br />
estava morren<strong>do</strong>, contamina<strong>do</strong> com<br />
gelo epíli<strong>do</strong> daquele lugar. Também<br />
654
não encontramos sua nave. Ela era<br />
uma beleza, a maravilha mais moderna<br />
<strong>do</strong> universo. Você sabe se a nave dele<br />
explodiu com as outras?<br />
- Duvi<strong>do</strong> que alguém possa<br />
escapar diante a onda de expansão de<br />
matéria escura. A onda era de pura<br />
energia, sólida. Eu mesmo quase fui<br />
apanha<strong>do</strong> por ela.<br />
- Por segurança, vamos ativar<br />
a rede. Monte uma patrulha e vá<br />
conferir nossas defesas. Quero ser<br />
informa<strong>do</strong> a cada tempo, de como<br />
estão as coisas lá em cima.<br />
Doze fortalezas estão a<br />
caminho. Em pouco as teremos <strong>aqui</strong>.<br />
Tão logo as tenhamos reunidas, você<br />
comandará, de sua nave, as ações de<br />
ataque e combate. Isto, se vierem.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
O brilho baixou e a nave<br />
Atlantis flutuou no ninho da Kosmos,<br />
655
levan<strong>do</strong> seus ocupantes diretos à<br />
cúpula, para reavaliações.<br />
O Constelação estava fora de<br />
combate, seriamente danifica<strong>do</strong> e<br />
Lomaxis, com ferimentos leves e<br />
queimaduras. Fora um milagre terem<br />
sobrevivi<strong>do</strong> o portal em sua travessia.<br />
Velz constatou que a Fortaleza,<br />
completamente desarmada,<br />
apresentava falhas constantes em seus<br />
energiza<strong>do</strong>res, era um peso morto.<br />
Para Maxum, esta era sua<br />
primeira reunião nos coman<strong>do</strong>s táticos<br />
e estratégia de guerra.<br />
- Tu<strong>do</strong> não passou de um<br />
truque, estavam a nossa espera,<br />
concluiu Hamour.<br />
- Mas como sabia onde nós<br />
nos colocaríamos?<br />
- Tut, da forma como ele<br />
posicionou suas fortalezas. Ele contava<br />
com isso, porque só haveria um ponto<br />
fraco dele mesmo. Posicionamos-nos<br />
exatamente onde queria, observan<strong>do</strong><br />
distâncias entre suas naves. Se<br />
quiséssemos pega-lo. Se atirássemos<br />
pra valer, destruiríamos a ele e a nós<br />
656
mesmos. Ele sabia que não abriríamos<br />
fogo nestas condições, mas ele<br />
poderia, destruin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>. Por isso<br />
man<strong>do</strong>u Rumback, para o caso de algo<br />
sair erra<strong>do</strong>. Só não contava com o<br />
surgimento da nave Atlantis.<br />
- Então, já deve saber de<br />
você, ponderou Velz.<br />
- Acho que não, Erus foi<br />
bastante convincente em toda a<br />
transmissão com Rumback. Mas, em<br />
se tratan<strong>do</strong> de Ahdack...<br />
Tu<strong>do</strong> é possível. Foi a<br />
resposta em coro.<br />
- Bem, vamos descansar por<br />
três tempos e vamos partir. Ele deve ter<br />
prepara<strong>do</strong> mais surpresas, por isto,<br />
to<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> é pouco. Vamos seguir<br />
com nosso plano.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
A porta <strong>do</strong> depósito de<br />
mantimentos <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, se abriu,<br />
passan<strong>do</strong> por ela o pequeno nativo.<br />
657
Fechou-a com cuida<strong>do</strong>, ativou as<br />
luminárias e foi até Zwump, que o<br />
aguardava no mesmo lugar, atrás da<br />
enorme prateleira de bebidas.<br />
- Zwump?<br />
- Sim, senhor.<br />
- Meu nome não é senhor, é<br />
Krapnag.<br />
- Seus amigos ainda não foram<br />
localiza<strong>do</strong>s. Devem ter encontra<strong>do</strong> asilo<br />
com outros nativos. Existem muitos assim<br />
como eu, <strong>aqui</strong>.<br />
- Não entendi o que quis dizer com<br />
“como eu”.<br />
- São revolta<strong>do</strong>s como eu. Não<br />
suportamos mais este tirano louco.<br />
- Existem outros, então?<br />
- Sim, sim, muitos. Mas ouça o que<br />
tenho a lhe dizer. Soube que esta haven<strong>do</strong><br />
uma grande batalha no espaço e parece<br />
que são por parte <strong>do</strong>s seus<br />
companheiros... -<br />
- Hamour! – exclamou Amis,<br />
denuncian<strong>do</strong> sua posição. Krapnag se<br />
voltou para ela e finalmente voltou-se para<br />
Zwump, dizen<strong>do</strong>:<br />
- Foram-se há <strong>do</strong>is dias, hein?<br />
658
- Zwump simplesmente baixou o<br />
olhar. Aquela maluca não soube manter a<br />
boca fechada.<br />
De repente reinou o silêncio.<br />
- Ouçam amigos, podem sair <strong>do</strong>s<br />
esconderijos. Eu sou amigo. Estou <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />
de vocês. Acreditem.<br />
Amis foi a primeira a sair da toca.<br />
Pois bem, eu acredito em você. – Foi o que<br />
disse com determinação.<br />
Os outros foram sain<strong>do</strong> aos poucos<br />
e Krapnag foi logo se apresentan<strong>do</strong>,<br />
sorrin<strong>do</strong> e falan<strong>do</strong> de si.<br />
- Sou Krapnag, o prepara<strong>do</strong>r e<br />
prova<strong>do</strong>r das comidas <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r<br />
Ahdack. Sua Excelência não confia em<br />
ninguém...<br />
- Pois bem amigo, continue falan<strong>do</strong><br />
a respeito da batalha que está sen<strong>do</strong><br />
travada no espaço. – disse Amis com um<br />
brilho de esperança no olhar.<br />
- Sim, sim. Parece que três<br />
Fortalezas Imperiais foram destruídas e o<br />
Impera<strong>do</strong>r transmitiu ordens para que<br />
todas venham e se reúnam para atacar.<br />
-Todas? Quantas são? Quis saber<br />
Amis.<br />
659
- Existem mais <strong>do</strong>ze, que estavam<br />
fora em missão.<br />
- Mais <strong>do</strong>ze, Hamour não terá<br />
chance com tantas – disse Amis, com um<br />
nó na garganta.- Precisamos avisá-los.<br />
- Zgrraftt monzthalf grrzzl, ngruim<br />
mmzz. – disse Noisnn.<br />
- Sim, você está certo – disse<br />
Zwump.<br />
- Diga pra nós o que...<br />
- Calma, calma. Ele disse que se<br />
Krapnag conseguir os uniformes e um<br />
mapa <strong>do</strong> setor de controles d<strong>aqui</strong>,<br />
poderemos <strong>do</strong>minar o Palácio. – Disse<br />
Zwump.<br />
- Zzgrrunfs sswund drrgthnn zzvill<br />
rrrungbahat zznn.- grunhiu Gruzlnn.<br />
- Não podemos esquecer <strong>do</strong>s<br />
outros que estão presos. E onde estão os<br />
outros?<br />
- Acho que a esta altura, estão<br />
mortos. O impera<strong>do</strong>r faz experiências<br />
genéticas e o processo de mistura <strong>do</strong>s<br />
gens aplica<strong>do</strong>s nos pacientes, até agora,<br />
os levou à morte.<br />
- Isto explica porque foram<br />
leva<strong>do</strong>s em duplas de cada espécie. Eram<br />
casais.<br />
660
- Sim, acho que sim.<br />
Então Krapnag procurou uma<br />
superfície metálica, suja e começou a<br />
desenhar os corre<strong>do</strong>res, salas e saídas <strong>do</strong><br />
palácio. To<strong>do</strong>s procuraram fixar em suas<br />
memórias os lugares chaves para a<br />
operação de fuga.<br />
- Vocês devem esperar na porta<br />
lateral <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, esta <strong>aqui</strong>, apontan<strong>do</strong> no<br />
desenho rabisca<strong>do</strong>. -Lá encontrarão <strong>do</strong>is<br />
<strong>do</strong>s nossos, que cuidarão de vocês e os<br />
levarão para um lugar menos perigoso.<br />
Não digo seguro, porque nada é seguro<br />
<strong>aqui</strong>. Agora tenho que ir. Ah, sim ia me<br />
esquecen<strong>do</strong>, os nossos já os esperam e<br />
muito importante: Não lutar corpo a corpo<br />
com os guardas, eles são andróides e<br />
muito fortes. A menos que consigam<br />
armas.<br />
- Espere, Krapnag. Como<br />
podemos conseguir alguma? – disse Amis.<br />
- Isto, eu não sei, ainda. Talvez<br />
com os próprios guardas. Verei o que<br />
posso fazer.<br />
E dito isto o pequeno Krapnag saiu<br />
pela porta levan<strong>do</strong> uma cesta cheia de<br />
coisas.<br />
661
- Dividiram-se em <strong>do</strong>is grupos de<br />
três. Zwump ficaria lá mesmo, onde estava.<br />
Ele preferia comer um pouco mais e os<br />
atrasaria.<br />
Amis, Lao e Zuila foram em busca<br />
de uniformes e tu<strong>do</strong> que fosse útil para<br />
maior disfarce.<br />
Noisnn, Gruzlnn e Zurt-Kel, foram<br />
à busca de uma solução capaz de libertar<br />
Bellar, Tasko e, se possível, os demais. O<br />
reencontro seria no depósito de<br />
mantimentos.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
O Impera<strong>do</strong>r, acabara de<br />
transmitir ordens à Rumback e suas <strong>do</strong>ze<br />
Fortalezas, quan<strong>do</strong> BH-1 série três<br />
informou, que uma nave de natureza<br />
desconhecida, não identificada, havia<br />
orbita<strong>do</strong> o planeta dez vezes e, de repente,<br />
sumiu das telas.<br />
HAMOUR –<br />
662
- O que disse, Excelência? –<br />
perguntou BH-1<br />
- Hamour. É isto, Hamour. Não<br />
houve apenas coincidência de nomes.<br />
Aquela idiotinha havia menti<strong>do</strong>. De alguma<br />
forma Hamour estava de volta, pensou.<br />
Desta vez ele não escapará.<br />
Ahdack transmitiu às torres de<br />
suas defesas de superfície.<br />
- No caso de nossa rede for<br />
rompida, não quero que atinjam a nave<br />
desconhecida e nem seu ocupante. Este é<br />
um momento que eu mesmo quero<br />
desfrutar. Entenderam? Ele é meu.<br />
O brilho nos olhos de Ahdack era<br />
ainda maior. O seu desejo de pegar<br />
Hamour era o maior prazer de toda a sua<br />
vida. Destruí-lo com suas próprias mãos. E<br />
desta vez, não haveria truques.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz<br />
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz<br />
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz<br />
663
A equipe de Amis,<br />
conseguiu os uniformes e estava de volta,<br />
no grande corre<strong>do</strong>r, para o ponto de<br />
reencontro, quan<strong>do</strong> de súbito, Lao foi<br />
atingi<strong>do</strong> por uma carga pelas costas. Havia<br />
cinco guardas por trás e se preparavam<br />
para atirar, quan<strong>do</strong> Amis ouviu a voz de um<br />
deles, o líder da guarda.<br />
- Parem ou morrerão. Não<br />
resistam.<br />
Zuila simplesmente sentou-se no<br />
tapete emborracha<strong>do</strong>, enquanto, Amis<br />
deixou cair os uniformes. que tinha em<br />
seus braços e levantou suas mãos o mais<br />
alto que pode.<br />
Neste istante, uma centena de<br />
seres entraram corren<strong>do</strong> pelo corre<strong>do</strong>r,<br />
to<strong>do</strong>s de muitas raças, crian<strong>do</strong> confusão<br />
nos guardas.<br />
Zuila pegou alguns uniformes, e<br />
escondeu-se numa providencial coluna. Ao<br />
seu alcance.<br />
664
Amis não teve a mesma sorte.<br />
Fora capturada e levada por um deles. Ela<br />
no entanto percebeu que nem to<strong>do</strong>s os<br />
uniformiza<strong>do</strong>s eram andróides, pelo menos<br />
não aquele que a segurava. Isto, de certo<br />
mo<strong>do</strong>, a tranqüilizou.<br />
Zuila, conseguira entrar numa<br />
sala escura e tratou logo de vestir um<br />
daqueles uniformes plastifica<strong>do</strong>s. Na<br />
medida em que seus olhos foram se<br />
acostuman<strong>do</strong> com a escuridão, notou que<br />
estava na ante-sala de controles e<br />
comunicação. Mas não deu tempo de<br />
explorar, logo ouviu a voz <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, <strong>do</strong><br />
outro la<strong>do</strong> da porta. De acor<strong>do</strong> com o mapa<br />
memoriza<strong>do</strong>, sua única alternativa de fuga<br />
era no fun<strong>do</strong> da sala, contígua usada por<br />
Krapnag e que dava acesso, àquilo que<br />
chamavam de “cozinha imperial”. Dali, o<br />
corre<strong>do</strong>r de volta para o depósito de<br />
alimentos. Colocou o restante <strong>do</strong>s<br />
uniformes dentro de uma sacola e, nos<br />
braços, os quatro capacetes. A correria <strong>do</strong><br />
la<strong>do</strong> de fora continuava. No fim <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r<br />
de acesso à despensa, viu Amis ser<br />
levada, certamente, para o Impera<strong>do</strong>r. Viu<br />
também Noisnn e sua companheira<br />
665
Gruzlnn, mais Zurt-Kel serem leva<strong>do</strong>s.<br />
Ficou feito uma estaca ao la<strong>do</strong> da porta, já<br />
vestida e esconden<strong>do</strong>, em movimentos<br />
rápi<strong>do</strong>s, a sacola abarrotada de coisas.<br />
Assim pode ver to<strong>do</strong>s entrarem pela porta<br />
em que se disfarçara de guarda.<br />
À medida que andava pelo<br />
corre<strong>do</strong>r, via corpos espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong><br />
la<strong>do</strong>, inclusive os de Bellar e Tasko. To<strong>do</strong>s<br />
estavam mortos ou captura<strong>do</strong>s. Agora só<br />
tinha ela. Não – pensou – ainda tem Zwump.<br />
Neste caso o que fazer com este montão<br />
de capacetes e estas roupas?... Sim – falou<br />
consigo mesma – Uma boa fogueira. Isto<br />
vai esquentar um pouco mais por <strong>aqui</strong>.<br />
Mas desistiu por não ter com que acendela.<br />
- Zwump –disse ao chegar – temos<br />
problemas.<br />
O gordalhão estava petrifica<strong>do</strong><br />
com o susto ao vê-la naqueles trajes.<br />
- Zwump, sou eu, Zuila. Ora bolas,<br />
isto é hora de ter chiliques? Acorde, sou<br />
eu. Olhe. Está ven<strong>do</strong>, sou eu.<br />
Neste instante, Krapnag e mais<br />
<strong>do</strong>is nativos entraram às pressas, com um<br />
carrinho lota<strong>do</strong> de bugigangas, ven<strong>do</strong><br />
666
Zuila, sem o capacete, tentan<strong>do</strong> acordar o<br />
gordalhão.<br />
- Vamos, depressa, disse o<br />
cozinheiro aos outros. Ajudem <strong>aqui</strong>.<br />
- Trouxemos o casco de um<br />
Robot. Deve servir nele. E não se<br />
preocupe com os outros. Estão bem. Não<br />
pudemos salvar sua amiga, meu irmão<br />
teve que leva-la. Infelizmente.<br />
razão.<br />
Aos poucos Zwump foi voltan<strong>do</strong> à<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
- Ora, ora, o que temos <strong>aqui</strong> –<br />
disse Ahdack com aquele sorriso infernal.<br />
- Hoje sem dúvida é o meu dia de<br />
sorte. Primeiro Hamour e agora você,<br />
minha cara.<br />
- Hamour? O que você fez a<br />
Hamour, seu... seu...<br />
Amis estava furiosa e tentan<strong>do</strong> se<br />
desvencilhar <strong>do</strong> seu captor.<br />
- Calma, minha cara, ainda não fiz<br />
nada, mas agora que você confirmou, logo<br />
farei e você estará comigo para ver o que<br />
667
eservo para o seu Hamour. Viu, a mentira<br />
tem pernas curtas. E o seu tom de voz<br />
mu<strong>do</strong>u tanto quanto o seu olhar – Você<br />
mentiu e por isso morrerá junto com seu<br />
queridinho. Não é<br />
lin<strong>do</strong>, matar <strong>do</strong>is trastes com uma pedrada<br />
só?<br />
E Ahdack deu mais uma<br />
gargalhada terrível, fazen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />
tremerem, até mesmo os seus<br />
comanda<strong>do</strong>s.<br />
- O que faremos com estes <strong>aqui</strong>?<br />
Perguntou um <strong>do</strong>s guardas.<br />
Levem-nos de volta até as celas<br />
de reprodução e tranque-os. Depois de<br />
acabar com estes vermes que ousaram me<br />
desafiar, cuidarei deles pessoalmente.<br />
-E quanto aos corpos, devemos<br />
colocá-los no Desintegra<strong>do</strong>r Molecular?<br />
-E desperdiçar energia? Não,<br />
Levem-nos para os alojamentos de<br />
prisioneiros. E com aquele sorriso sinistro<br />
disse – Afinal, aqueles pobres coita<strong>do</strong>s<br />
precisam comer.<br />
A guarda se retirou, deixan<strong>do</strong><br />
Amis imobilizada e sentada ao fun<strong>do</strong> da<br />
sala, junto à Sua Excelência o Impera<strong>do</strong>r<br />
Ahdack, junto às telas de observação.<br />
668
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Tão somente a Kosmos<br />
atravessou o portal estelar e sem<br />
desacelerar, projetou-se ao único<br />
planeta daquele velho e distante<br />
sistema solar, com seu sol em declínio<br />
existencial. Parou a 25.000 mil centos<br />
da zona orbital <strong>do</strong> planeta.<br />
Os telaks de ambos os la<strong>do</strong>s<br />
acusaram suas imagens e novamente<br />
Fanna se apresentou.<br />
- “Ahdack, você já me<br />
conhece”. Sabe <strong>do</strong> que sou capaz.<br />
Deponha suas armas em rendição<br />
absoluta.<br />
Enquanto isto, uma varredura<br />
completa se desenvolvia, acusan<strong>do</strong>,<br />
em volta <strong>do</strong> planeta, uma malha fina<br />
constituída de anti matéria, que,<br />
imediatamente, entrou nos analíticos de<br />
669
Thorc, e a invasão de naves inimigas a<br />
bombor<strong>do</strong>.<br />
- Sessenta microns para<br />
distancia de tiro, senhor, informou<br />
Klemps.<br />
- Muito bem. Rapazes, sabem<br />
o que fazer, disse Tutkan.<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Mas, você é um idiota mesmo.<br />
Como ousa me desafiar na minha<br />
própria casa?<br />
- Você tem, a partir de agora,<br />
120 microns para se decidir. Renda-se.<br />
- Não sei se você terá to<strong>do</strong><br />
esse tempo.<br />
E a gargalhada de “Sua<br />
Excelência” foi ouvida por aquele<br />
quadrante inteiro.<br />
-Então, <strong>do</strong>ze fortalezas<br />
materializaram-se em volta da Kosmos,<br />
há um macrom de distância.<br />
670
- Surpresa! Zombou Ahdack.<br />
São <strong>do</strong>ze armas de última geração. E<br />
agora? Quem vai depor as armas? E<br />
diga para Hamour sair da toca que se<br />
esconde. Alguém quer lhe mandar um<br />
reca<strong>do</strong>.<br />
No telak da Kosmos aparecia<br />
Amis, imobilizada e sentada, com<br />
desespero na voz. – Hamour, queri<strong>do</strong>,<br />
choramingou, ela.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
- Aquele maldito a apanhou,<br />
disse Hamour.<br />
- 100 microns e contan<strong>do</strong>,<br />
entrou Fanna, antes que Hamour se<br />
denunciasse.<br />
- Hamour, disse Thorc – Essa<br />
malha é feita de anti-matéria. Se ao<br />
menos Zur-Kwa estivesse <strong>aqui</strong>, talvez<br />
ele soubesse avaliar melhor a questão.<br />
- A chave está nos Transprottons.<br />
Tinha a ver com isto. O seu princípio de<br />
671
fertilização era em convergência da antimatéria,<br />
para a fusão molecular orgânica.<br />
- Diga-me uma coisa, Thorc –<br />
entrou Fanna – e se inverter os pólos de<br />
freqüência <strong>do</strong> canhão Protton, ele não<br />
seria por acaso, o princípio <strong>do</strong><br />
Transprotton?<br />
- Pode ser. Pode ser. Vamos<br />
experimentar diretamente no escu<strong>do</strong> de<br />
Ahdack.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
Rumback ordenou a ativação <strong>do</strong>s<br />
globos da morte, agora sem o rodízio das<br />
naves Mobis 7V. As cargas partiam<br />
diretamente das canhoneiras das próprias<br />
bolas metálicas. Cada uma delas man<strong>do</strong>u<br />
sua rajada, convergin<strong>do</strong>-as para um ponto<br />
só: A Kosmos. Esta acelerou tu<strong>do</strong> o que<br />
tinha rumo ao sol, passan<strong>do</strong> entre os<br />
agressores num facho de luz, seguida<br />
pelas cargas vectrais. Estas, sugadas pela<br />
gravidade e calor, foram atraídas pela<br />
estrela agonizante, microns após a<br />
Kosmos, num desvio, quase suicida,<br />
672
protegeu-se por de trás daquele sol fraco,<br />
mas quente, que recebera a carga total.<br />
Rumback desconsertou-se por<br />
instantes, dan<strong>do</strong> a Velz, Maxum e suas<br />
esquadrilhas, a chance que queriam. A<br />
metade da patrulha Mobis de Rumback<br />
fora dizimada sem perdas <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>.<br />
Ele próprio fora atingi<strong>do</strong>, com o descui<strong>do</strong>.<br />
E as fortaleza reorganizaram suas<br />
posições.<br />
673
CAPÍTULO XII<br />
Enquanto as Fortalezas<br />
tomavam suas posições, agora, ao re<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> planeta, e a atenção concentrada na<br />
Kosmos, atrás <strong>do</strong> sol, Fana continuou com<br />
sua contagem regressiva.<br />
De certo mo<strong>do</strong> estavam cercan<strong>do</strong><br />
a Kosmos.<br />
Na Atlantis, ainda com escu<strong>do</strong> de<br />
invisibilidade, Fanna mantinha contagem<br />
regressiva, deixan<strong>do</strong> Ahdack mais furioso e<br />
ocupa<strong>do</strong> com suas Fortalezas, até certo<br />
ponto, ineficazes.<br />
Tutkan disse com voz decidida:<br />
Vamos aproveitar esta confusão e<br />
entramos com tu<strong>do</strong>, com o Transprotton<br />
ativa<strong>do</strong>.<br />
- Certo – disse Hamour.<br />
674
- Velz, disse Ozy, temos dez<br />
Mobis atrás de nós, continue, vou atrai-los<br />
para mim, isto dará tempo de você e<br />
Maxum entrarem em “X” e pegá-los.<br />
Thorc, da nave de Hamour, disse –<br />
Tutkan não se afaste demais, a energia<br />
que o Transprotton vai usar, talvez o deixe<br />
desgasta<strong>do</strong>.<br />
- Você ouviu Tutkan, o que Thorc<br />
falou?<br />
- Sim, Hamour. Estou de olho nos<br />
tanques.<br />
Então Ozy entrou no telecom:<br />
- Vou sair de formação... agora.<br />
E o “X”foi completa<strong>do</strong>. As naves<br />
Mobis entraram em fogo cruza<strong>do</strong> e<br />
explodiram, fazen<strong>do</strong> o espaço escuro<br />
clarear-se por breves instantes.<br />
O March-1 de Maxum foi direto ao<br />
planeta segui<strong>do</strong> de Hamour, Velz e Ozy,<br />
filho de Tutkan. Neste trajeto ainda<br />
encontraram muitas formações Mobis, no<br />
qual foram destruí<strong>do</strong>s um por um.<br />
A barreira de anti matéria estava<br />
bem a sua frente e Tutkan disparou uma,<br />
675
duas, três, quatro cargas e abriu um<br />
grande buraco.<br />
- Aí está sua passagem, Hamour.<br />
Boa sorte. Ozy, você volta para a sua<br />
esquadrilha.<br />
- Certo papai, digo, comandante.<br />
Todas as Fortalezas estavam nos<br />
mesmos lugares.<br />
- Veja Ozy, estão esperan<strong>do</strong> por<br />
nós.<br />
A reentrada <strong>do</strong>s March-1 na<br />
Kosmos foi exatamente no instante que<br />
duas das Fortalezas entraram em<br />
velocidade de <strong>do</strong>bra. com seu rodízio<br />
mortal. Tutkan corria para chegar à ponte<br />
de coman<strong>do</strong>, ordenan<strong>do</strong> o contra ataque,<br />
quan<strong>do</strong> de súbito, foram atingi<strong>do</strong>s por uma<br />
violenta carga.<br />
- Continuem atiran<strong>do</strong>, não parem.<br />
As luzes vermelhas de<br />
emergência foram ativadas e os escu<strong>do</strong>s<br />
baixa<strong>do</strong>s, de tal forma que, to<strong>do</strong> o contato<br />
visual que dispunham, eram seus<br />
instrumentos.<br />
- Senhor, estamos com incêndio<br />
incontrolável no setor nove, perto <strong>do</strong> reator<br />
<strong>do</strong>is. Não estamos conseguin<strong>do</strong> debelá-lo.<br />
676
- Continuem tentan<strong>do</strong>, não<br />
podemos ficar sem motores agora.<br />
A situação estava de mal à pior. O<br />
incêndio tomava proporções gigantescas e<br />
os medi<strong>do</strong>res de radiação estavam<br />
passan<strong>do</strong> de perigoso para fatal, isto é, já<br />
passavam <strong>do</strong> vermelho para o preto.<br />
- Senhor, disse Klemps, - se não<br />
agirmos rapidamente explodiremos antes<br />
de sermos ataca<strong>do</strong>s. Não resistiremos<br />
muito mais. O incêndio continua.<br />
As telas observa<strong>do</strong>ras das três<br />
outras Fortalezas persegui<strong>do</strong>ras<br />
mostravam a parte traseira da Kosmos,<br />
totalmente envolvidas em chamas.<br />
Ahdack, da superfície, também<br />
tinha esta visão em sua tela e disse –<br />
Ataquem e destruam-na. Aproveitem sua<br />
estática e atirem to<strong>do</strong>s de uma vez só. Não<br />
quero que sobre nem a poeira <strong>do</strong> espírito<br />
deles.<br />
- Senhor o que vamos fazer?<br />
Disse Klemps. Os reatores estão<br />
aqueci<strong>do</strong>s demais, vamos explodir.<br />
A batalha entre os March e Mobis<br />
7V era intensa. Os BHs pilotos estavam<br />
677
mais bem programa<strong>do</strong>s.<br />
Tutkan estava em pressão total e sabia<br />
que se acionasse os motores para a<br />
retirada, explodiria na certa, e se ficasse as<br />
Fortalezas o pegariam. Tinha<br />
pouquíssimos microns para resolver.<br />
- Veja minha cara, - disse Ahdack<br />
para Amis – seus salva<strong>do</strong>res, parece-me<br />
que precisam de alguém para salva-los. E<br />
seu amorzinho? Ele sabe que você está<br />
em meu poder. Mas é tão covarde que nem<br />
se dignou aparecer. Ou, não liga para o<br />
que lhe aconteça.<br />
- Logo, você é quem vai precisar de<br />
ajuda – disse Amis – Hamour passou pela<br />
sua barreira de anti-matéria.<br />
- Sim, sim, estou a sua espera.<br />
- Ele vai explodir você e seu<br />
palácio.<br />
- 15 microns e contan<strong>do</strong>. Surgiu-lhes<br />
a voz de Fanna, nos monitores <strong>do</strong> palácio.<br />
Desta vez Ahdack ignorou a<br />
mensagem, apenas fazen<strong>do</strong> uma careta e<br />
continuou:<br />
- Não. Não com você <strong>aqui</strong>.<br />
Neste momento as luzes se<br />
apagaram, desativan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>.<br />
678
- Com mil demônios, o que está<br />
acontecen<strong>do</strong> <strong>aqui</strong>?<br />
Amis sentiu aquele cheiro. Sim<br />
Zwump estava por perto, e bem perto, ao<br />
sentir sua mão no seu ombro. Vá e use isto<br />
para enxergar, disse ele, murmuran<strong>do</strong>-lhe<br />
ao pé <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>, entregan<strong>do</strong> um objeto.<br />
- Guardas, guardas e de repente<br />
entraram <strong>do</strong>is com lanternas, iluminan<strong>do</strong><br />
diretamente a cara de Ahdack. Procurem o<br />
ativa<strong>do</strong>r de luminárias, seus imbecis – disse<br />
e logo o ambiente estava novamente<br />
ilumina<strong>do</strong>. Ahdack nem percebeu a falta de<br />
sua prisioneira, não de imediato, e quan<strong>do</strong><br />
se deu por conta, saiu, ele mesmo, ao seu<br />
encalço, completamente fora de si.<br />
Vinha uma patrulha pelo outro<br />
corre<strong>do</strong>r e Ahdack ordenou-lhes que o<br />
seguissem e procurassem pela prisioneira.<br />
Também man<strong>do</strong>u os <strong>do</strong>is que o<br />
acompanhavam voltar e montar guarda na<br />
sua sala. Ele não gritava. Berrava a plenos<br />
pulmões.<br />
- Lá está ela, - apontou para o fim daquele<br />
corre<strong>do</strong>r, descen<strong>do</strong> pela escadaria, que<br />
679
daria acesso à rua – Peguem-na, não a<br />
deixem escapar.<br />
Amis corria e tropeçava em suas<br />
próprias passadas.<br />
Com a escapada de Amis,<br />
Zwump saiu de trás <strong>do</strong> grande console e<br />
sentan<strong>do</strong>-se na poltrona <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r,<br />
ativou os controles. Os coman<strong>do</strong>s estavam<br />
bem ali em sua frente e os <strong>do</strong>is guardas<br />
retiraram os capacetes. Zuila e Noisnn.<br />
passaram para a ante-sala.<br />
Depois de fechada, a porta que<br />
isolava o corre<strong>do</strong>r, dispararam raios de<br />
suas armas, no controla<strong>do</strong>r digital da<br />
tranca. Inutilizan<strong>do</strong>-o.<br />
Zwump parecia se deliciar,<br />
mexen<strong>do</strong> naqueles controles e imitan<strong>do</strong> a<br />
voz de Ahdack, passou outra mensagem<br />
às fortalezas, sem antes constatar, numa<br />
rápida análise, como estava a batalha no<br />
espaço. A Kosmos em chamas e as três<br />
Fortalezas em plena manobra de ataque.<br />
Não perdeu tempo e transmitiu:<br />
680
- Atenção todas as naves –<br />
gritan<strong>do</strong> como se fosse Ahdack-Atenção<br />
todas as naves. Não ataquem – Repito, não<br />
ataquem, aguardem novas instruções.<br />
As naves pararam sua trajetória.<br />
O comunica<strong>do</strong>r logo falou:<br />
- Excelência, não entendemos o<br />
porquê de súbita mudança nas ordens.<br />
- Vocês ouviram é só.<br />
Zwump desligou o comunica<strong>do</strong>r<br />
e ria pra valer. Como é bom ser poderoso,<br />
comentou.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
- Senhor, precisamos reentrar,<br />
estamos desnergiza<strong>do</strong>s e...<br />
- Ozy – disse Tutkan – Não se<br />
atreva a reentrar, estamos em chamas e<br />
no momento que abrirem as cabines, ou se<br />
vazar mais oxigênio aí no hangar,<br />
explodiremos... Oxigênio... sim, é isto –<br />
Atenção to<strong>do</strong>s. Aqui é o comandante,<br />
681
ponham suas máscaras de oxigênio,<br />
rápi<strong>do</strong>... e abram as comportas da nave.<br />
Todas as comportas... rápi<strong>do</strong>.<br />
Sim esta era a solução para não<br />
explodir. Sem oxigênio, não há fogo.<br />
Todas as comportas se abriram e<br />
imediatamente, como Tutkan previra o<br />
fogo, como por encanto, desapareceu. Os<br />
indica<strong>do</strong>res de radiação cederam ao ponto<br />
de limite.<br />
- Vamos ativar os motores e<br />
sair d<strong>aqui</strong>, rápi<strong>do</strong> – disse Tutkan, antes que<br />
eles nos peguem. E mantenham suas<br />
máscaras. Ativan<strong>do</strong> o Telecon disse –<br />
Muito bem rapazes, venham em rodízio<br />
reabastecer.<br />
O combate entre os March e os<br />
Mobis continuava, mas subitamente os<br />
Mobis voltaram para suas Bases,<br />
- O que Ahdack está traman<strong>do</strong>?<br />
- Também não entendi esse<br />
cessar fogo-disse Fanna.<br />
- O que está acontecen<strong>do</strong>?<br />
Perguntou Tutkan, às voltas com o rodízio<br />
682
de reabastecimento <strong>do</strong>s caças -- O que<br />
será que estão traman<strong>do</strong>?<br />
- Não sei, e não estou a fim de<br />
descobrir. Vamos meter carga neles.<br />
Mas Fanna que a tu<strong>do</strong><br />
observava, sentiu que alguma coisa estava<br />
errada entre os Mobis. Ahdack cessou o<br />
ataque em condições favoráveis... E não<br />
pediu rendição. Muito estranho, comentou<br />
com Hamour e Thorc, proceden<strong>do</strong> a<br />
varredura nas defesas de superfície.<br />
- Espere Tut, Pode ser que<br />
estejam se renden<strong>do</strong>, apesar de Ahdack<br />
não ter dito nada sobre rendição.<br />
- Hamour, você o conhece se não<br />
pediu nada, está traman<strong>do</strong> algo.<br />
- Você está certo. Ataque. Vamos<br />
acabar logo com isto.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
O comunica<strong>do</strong>r interno <strong>do</strong><br />
palácio falou novamente.<br />
683
- Excelência, não atiramos na<br />
nave circular, conforme ordenou, mas<br />
devemos atirar na outra menor?<br />
- Não. Deixem que pousem.<br />
- Assim será, Excelência.<br />
Zuila e Noisnn adentram na<br />
sala de coman<strong>do</strong> e não acreditaram no que<br />
viram. Zwump operan<strong>do</strong> os controles e<br />
falan<strong>do</strong> como se fosse Ahdack!<br />
- Zvrrn garnntszz?<br />
- Não, não estou louco, apenas<br />
me fazen<strong>do</strong> um pouco.<br />
- Zgrunzz rrughhtd brrzugzz.<br />
- Estou tentan<strong>do</strong>, mas ainda<br />
não consegui.<br />
- O que você está tentan<strong>do</strong> e<br />
ainda não conseguiu Zwump?<br />
- Comunicação com os seus.<br />
As coordenadas não dão certo. Acho que<br />
deve existir algum código, mas não<br />
consigo achá-lo.<br />
Amis foi novamente<br />
recapturada, havia caí<strong>do</strong> e não encontrou<br />
forças para continuar.<br />
- Minha cara fujona- disse<br />
Ahdack- você ainda não desconfia que é<br />
684
inútil querer fugir de mim? Vamos, temos<br />
ainda um bom espetáculo para assistir.<br />
- Estranho que não fomos<br />
ataca<strong>do</strong>s pelas baterias de superfície –<br />
disse Velz, quan<strong>do</strong> dava um rasante pelo<br />
palácio.<br />
- Acho que Ahdack nos quer<br />
vivos. Deve ter imagina<strong>do</strong> uma surpresinha<br />
para nós – comentou Hamour.<br />
- Acho que podemos pousar<br />
<strong>aqui</strong>. A cidade está limpa, parece que não<br />
há ninguém.<br />
- Então é <strong>aqui</strong> que vamos<br />
pousar.<br />
Estavam bem próximos <strong>do</strong><br />
Palácio e puseram-se a caminho,<br />
esgueiran<strong>do</strong>-se pelas ruas, andan<strong>do</strong><br />
sempre cola<strong>do</strong>s às paredes <strong>do</strong>s pavilhões<br />
e casebres. Não haviam guardas, nem<br />
seres, nem andróides e nem robots, mas<br />
sentiam-se observa<strong>do</strong>s.<br />
O que está acontecen<strong>do</strong> por<br />
<strong>aqui</strong>? - indagou Velz.<br />
- Sim, parece muito estranho.<br />
Estão nos observan<strong>do</strong>, mas não atacam.<br />
Por quê?<br />
685
- Velz... Hamour - uma voz veio<br />
de uma janela logo em frente. Hamour<br />
aguçou os ouvi<strong>do</strong>s e Velz calibrou sua<br />
arma. Maxum explorava mais à frente.<br />
- Hamour, <strong>aqui</strong> na janela. A<br />
janela está semi-aberta e posso vê-lo. Não<br />
atire sou eu Zurt-Kel de Someron. Zurt-Kel,<br />
irmão de Harvm-Kal.<br />
Velz cochichou, ao la<strong>do</strong> de<br />
Hamour – Parece que ele diz a verdade.<br />
Conheci o irmão dele.<br />
- O que você quer? – disse<br />
Hamour sussurran<strong>do</strong>, manten<strong>do</strong> a<br />
distância da janela.<br />
- Estou com outros, que<br />
também fogem de Ahdack. Temos muitos<br />
alia<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong> o povo desta cidade.<br />
- Está bem e daí?<br />
- E daí que não conseguimos<br />
trazer Amis. Ela está lá com ele, e tem<br />
mais três <strong>do</strong>s nossos, isto é Zuila, Noisnn e<br />
Zwump.<br />
- Zuila? – disse Velz-ela está<br />
viva? Velz estava radiante, parecia uma<br />
criança.<br />
686
- Quan<strong>do</strong> abrirmos a porta ao<br />
la<strong>do</strong> da janela entre, nós os levaremos até<br />
as portas <strong>do</strong> Palácio, e desta feita, Zurt-Kel<br />
se mostrou na janela.<br />
- Vamos, entrem, podem confiar.<br />
Velz, Hamour e Maxum se<br />
olharam e decidiram arriscar. A porta abriu<br />
e eles entraram de um pulo só.<br />
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx<br />
O Impera<strong>do</strong>r chegou até a antesala<br />
e não conseguiu abrir a porta. Amis<br />
junto dele, nada entendia.<br />
- Maldição! A porta está<br />
trancada - trovejou Ahdack- Vamos,<br />
arrombem esta porta-ordenou aos seus<br />
guardas.<br />
Eles alvejaram a fechadura<br />
eletrônica, mas a porta não cedeu. Então,<br />
calibraram suas armas para raios<br />
contínuos e passaram a derreter sua<br />
fechadura. Aos poucos, uma passagem era<br />
aberta para o Impera<strong>do</strong>r. Este sentia algo<br />
erra<strong>do</strong> no ar.<br />
687
Pelo la<strong>do</strong> de dentro, Zuila,<br />
Noisnn e Zwump, perceberam a manobra<br />
<strong>do</strong>s raios atravessan<strong>do</strong> a porta.<br />
- Vamos sair d<strong>aqui</strong> – disse Zuila.<br />
- Zgrrfnn tzzff<br />
- Rápi<strong>do</strong>, pela janela.<br />
Ao chegarem à janela<br />
verificaram estar no terceiro piso e saltar,<br />
não seria possível, principalmente para<br />
Zwump que se apressou em dizer.<br />
- Vão, esqueçam-se de mim.<br />
- Não senhor, você vai conosco<br />
– disse Zuila.<br />
- Zgrr fn bzsnn drugrr trugs<br />
tufttn zbrrtn.<br />
- O que ele disse?<br />
Parece boa idéia. Rápi<strong>do</strong><br />
peguem as cordas daquela cortina,<br />
joguem-na pela janela e amarre a outra<br />
ponta <strong>aqui</strong>, neste aparelho.<br />
Noisnn jogou a corda. Zuila<br />
apressou-se em amarrá-la no pé metálico,<br />
preparan<strong>do</strong>-se pra pular, quan<strong>do</strong> Noisnn a<br />
segurou pelo braço, balançan<strong>do</strong> um não<br />
com a cabeça. Foi apenas o tempo de se<br />
688
esconderem atrás das cortinas, <strong>do</strong> outro<br />
la<strong>do</strong>.<br />
O Impera<strong>do</strong>r com Amis segura<br />
pelo braço entrou.<br />
Zwump tivera o cuida<strong>do</strong> e o<br />
prazer de danificar to<strong>do</strong> o sistema<br />
enquanto brincava nos controles.<br />
Maldição fugiram pela janela, -<br />
disse Ahdack, chegan<strong>do</strong> até ela, olhan<strong>do</strong><br />
para baixo e pegan<strong>do</strong> a corda. E quan<strong>do</strong><br />
foi checar os controles, daí sim, perdeu a<br />
cabeça e tremeu o planeta com seu berro<br />
cavernoso: – MALDIÇÃO!!!<br />
O Impera<strong>do</strong>r, agora tinha<br />
perdi<strong>do</strong> aquela tranqüilidade e em sua<br />
testa, gotas de suor brotavam aos<br />
borbulhões.<br />
- Vamos para minha nave,<br />
controlarei tu<strong>do</strong> de lá, foi o que disse.<br />
Imediatamente to<strong>do</strong>s saíram.<br />
Microns depois.<br />
- Ufa, esta foi por pouco – disse<br />
Zuila.<br />
- Zgrnt fzzn tzizzft Zwump.<br />
689
- O que ele disse? Oh! não. De<br />
novo não.<br />
Zwump estava imóvel, dentro<br />
<strong>do</strong> casco Robot.<br />
- Zwump. Zwump. Acorde, mas<br />
que hora pra ter...<br />
- Zfrgenn tuszznn grznn btlzzn.<br />
- E dito isto Noisnn tapou a<br />
boca de Zuila, que entendeu tu<strong>do</strong> desta<br />
vez, sem necessitar intérprete. Ouviam-se<br />
vozes e passos sorrateiros.<br />
Os passos foram chegan<strong>do</strong><br />
mais perto e de súbito alguém pulou para<br />
dentro, com sua arma pronta para disparo.<br />
Zuila viu pela fresta da cortina e desmaiou.<br />
Noisnn tentou segurá-la, mas foi em vão.<br />
Ela caiu e fez um barulhão.<br />
-Zuila, - disse Velz, guardan<strong>do</strong><br />
sua arma e chegan<strong>do</strong> mais perto. Noisnn já<br />
ia atacar quan<strong>do</strong> ela abriu os olhos e disse<br />
NÃO.<br />
Velz quase teve seu crânio<br />
esmaga<strong>do</strong> por Noisnn.<br />
- Noisnn, ele é <strong>do</strong>s nossos.<br />
- Zgrnft zzgrrn trrnzft minzmm<br />
- Fique calmo, Noisnn.<br />
690
- O que ele disse? Perguntou<br />
Velz- acarician<strong>do</strong>- lhe os cabelos.<br />
- Oh Velz! Velz deixa-me vê-lo<br />
queri<strong>do</strong>. Pensei que nunca mais veria você<br />
– disse com um choramingo, e abraçan<strong>do</strong>se<br />
a ele.<br />
- Calma, meu bem... diga-me<br />
existem outros amigos?<br />
- Sim. Muitos – e levantan<strong>do</strong>se,<br />
puxou Noisnn, com carinho-este é um<br />
deles. Noisnn este é Velz. Noisnn o<br />
cumprimentou com um abaixar de cabeça.<br />
Zuila abriu mais a cortina descobrin<strong>do</strong><br />
Grzlynn, depois o Robots, que ainda<br />
permanecia em choque, - Velz, esta é<br />
Gruzzlyn, a fêmea de Noisnn e este <strong>aqui</strong> é<br />
Zwump, que está disfarça<strong>do</strong> nesta...<br />
- O que há com ele?<br />
- Ele sempre fica assim depois<br />
que passa o perigo.<br />
- Depois que passa como é<br />
isso?<br />
- É uma longa história. Mas<br />
vamos, precisamos buscar Amis.<br />
- Onde ela está?<br />
- Foi levada por Ahdack, até sua<br />
nave.<br />
- E onde está a nave?<br />
691
- Ela faz parte da abóbada que<br />
fica em cima <strong>do</strong> Palácio.<br />
- Ora, ora... viva. Ele acor<strong>do</strong>u.<br />
Você está bem Zwump?<br />
- Sim, mas com uma fome<br />
terrível.<br />
- Zwump este é Velz e veio nos<br />
tirar d<strong>aqui</strong>.<br />
Ele arrotou e entrou em transe<br />
novamente.<br />
Quan<strong>do</strong> Ahdack ativou os<br />
controles de sua nave e reparou pela tela,<br />
suas Fortalezas sen<strong>do</strong> destruídas,<br />
simplesmente não acreditou.<br />
- Idiotas o que estão fazen<strong>do</strong> aí<br />
para<strong>do</strong>s, esperan<strong>do</strong> que eles acabem com<br />
to<strong>do</strong>s vocês?<br />
- Mas, Excelência – falou o<br />
intercomunica<strong>do</strong>r- o senhor mesmo<br />
man<strong>do</strong>u que não atacássemos e<br />
esperássemos novas ordens!<br />
- Droga. Maldição. Ataquem.<br />
Agora!!!<br />
- Tu<strong>do</strong> isto por sua culpa – disse<br />
apontan<strong>do</strong> para Amis. Você e seu maldito<br />
mari<strong>do</strong>. Você só não morre agora, por que<br />
quero que assista a morte daquele<br />
692
Hamour, com isto-e, mostrou-lhe uma<br />
adaga de laser. – Eu vou lhe arrancar a<br />
cabeça de cima <strong>do</strong>s ombros.<br />
- Senhor, apenas para confirmar<br />
suas ordens anteriores – disse outra voz<br />
pelo intercomunica<strong>do</strong>r – As três naves<br />
pousaram perto <strong>do</strong> palácio.<br />
- Três naves? Que naves?<br />
- Aquela estranha circular e há<br />
outras muito pequenas, de combate.<br />
- Muito bem – disse Ahdack-<br />
continuem com o que lhes mandei, e se<br />
ouvirem outra voz de coman<strong>do</strong> dizen<strong>do</strong><br />
algo em contrário, não obedeçam. São<br />
truques <strong>do</strong> inimigo.<br />
- Sim, Excelência.<br />
= BH 1... BH1... Onde se meteu<br />
aquele idiota?<br />
Ele virou-se para Amis e disse:<br />
- Seu amorzinho anda pelas<br />
re<strong>do</strong>ndezas. Não vamos deixá-lo<br />
esperan<strong>do</strong>. Vamos ao encontro dele.<br />
O Impera<strong>do</strong>r pegou sua refém<br />
pelo braço e aban<strong>do</strong>nou a nave descen<strong>do</strong><br />
a escadaria em busca de Hamour e<br />
man<strong>do</strong>u que seus guardas também o<br />
693
procurassem, mas sem atingi-lo, por que<br />
ele mesmo queria matá-lo.<br />
A Kosmos havia bombardea<strong>do</strong><br />
quase todas e quan<strong>do</strong> se dirigia para as<br />
últimas três, foi informa<strong>do</strong>:- Estão se<br />
mexen<strong>do</strong>, senhor. Parece que estão se<br />
preparan<strong>do</strong> para atacar.<br />
- Obriga<strong>do</strong> Klemps- disse<br />
Tutkan- Rapazes, parece que teremos<br />
mais uma sessão. Preparem-se para<br />
combate. Vamos com força total. Vamos<br />
pegar a <strong>do</strong> meio. Formaremos o grande Vê<br />
e atiraremos to<strong>do</strong>s simultaneamente.<br />
Quan<strong>do</strong> ela estourar, continuaremos em<br />
frente por entre os destroços. Quan<strong>do</strong> as<br />
outras duas se derem conta, estaremos em<br />
cima delas.<br />
O pessoal ficou anima<strong>do</strong> com o<br />
discurso de Tutkan e ao seu coman<strong>do</strong><br />
avançaram.<br />
Como o planeja<strong>do</strong>, foram para<br />
cima da grande bola de metal, e formaram<br />
um grande Vê, ten<strong>do</strong> a Kosmos como<br />
vértice. Mandaram suas cargas no<br />
momento que o rodízio era inicia<strong>do</strong>. Alguns<br />
694
March-1 da ponta <strong>do</strong> grande Vê foram<br />
abati<strong>do</strong>s. Mas o que se seguiu foi<br />
exatamente o que Tutkan tinha dito. A<br />
primeira estourou. E com ela to<strong>do</strong>s os<br />
Mobis de ataque.<br />
Enquanto isso, Hamour entrou<br />
com Krapnag na despensa, onde estavam<br />
to<strong>do</strong>s de volta, tentan<strong>do</strong> acordar Zwump,<br />
sem sua armadura. Logo após, Zurt-Kel<br />
apareceu, trazen<strong>do</strong> uma arma mais pesada<br />
<strong>do</strong> que as outras. Mais três seres<br />
conterrâneos de Krapnag, também<br />
arma<strong>do</strong>s, completaram o cenário.<br />
- Velz... Zuila, que bom vê-la,<br />
não consigo encontrar Ahdack, por acaso<br />
sabem onde ele está?<br />
- Hamour, ele está no topo <strong>do</strong><br />
palácio em sua nave, e está com Amis<br />
como refém. Parece que tem mais cinco<br />
guardas com ele.<br />
- Nós nos encarregaremos <strong>do</strong>s<br />
guardas Sr. Hamour- disse Krapnag-<br />
Esperamos por este momento, toda a<br />
nossa vida. E saiu com os seus em busca<br />
<strong>do</strong>s momentos maiores.<br />
- Vá Hamour, nós ficaremos<br />
<strong>aqui</strong> e daremos cobertura – disse Zuila,<br />
695
olhan<strong>do</strong> para Velz como se estivesse<br />
pedin<strong>do</strong> confirmação <strong>do</strong> que acabara de<br />
falar.<br />
- É isto ai – Hamour. Nós<br />
faremos cobertura. Pode ir.<br />
Hamour deu um sorriso e<br />
partiu para a escadaria. Afinal ele se veria<br />
frente a frente com seu irmão mais novo,<br />
que infelizmente havia enlouqueci<strong>do</strong>. A<br />
cada degrau que subia, tentava escutar, o<br />
que vinha lá de cima. De repente ouviu<br />
passos e os gemi<strong>do</strong>s de Amis.<br />
- Anda, - dizia Ahdack – não<br />
temos o dia to<strong>do</strong>. Seu amorzinho deve<br />
estar louco para ver você, querida. Vamos,<br />
ande.<br />
Hamour retrocedeu alguns<br />
degraus e afinal decidiu retroceder até<br />
chegar a um lugar plano, não queria<br />
arriscar a vida de Amis. Ahdack era cruel o<br />
suficiente para sacrificá-la em sua frente,<br />
apenas para vê-lo sofrer. Foi até o<br />
corre<strong>do</strong>r, e lá se escondeu atrás de uma<br />
coluna e calibrou o seu projetor<br />
holográfico.<br />
- Ahdack – disse Hamour atrás<br />
deles, que com o susto, descui<strong>do</strong>u-se e<br />
Amis correu, Mas ainda virou-se e com sua<br />
696
arma desferiu uma carga em Amis, que<br />
caiu.<br />
- Ahdack, agora sou eu e você.<br />
- Sim, - e partiu para cima <strong>do</strong><br />
holograma que se desfez, deixan<strong>do</strong>-o<br />
cuspin<strong>do</strong> ódio. – Onde está você, seu<br />
covarde?<br />
- Aqui. Estou <strong>aqui</strong>.<br />
Ahdack se virou e veio em sua<br />
direção, cuspin<strong>do</strong> no corpo de Amis,<br />
atirada no mármore frio. Sua adaga Lazer<br />
foi ativada e a lâmina luminosa surgiu. Ele<br />
apontou para Hamour e disparou várias<br />
delas, sem atingir o alvo. Nova projeção<br />
holográfica atrás e outros disparos de<br />
lâminas lazers, que atravessaram a<br />
holografia.<br />
- Você atira na minha mulher, está<br />
arma<strong>do</strong> e eu é que sou o covarde?<br />
Ahdack se vira novamente, mas<br />
daí, Hamour estava em cima e o agarrou<br />
no braço arma<strong>do</strong>, desferin<strong>do</strong>-lhe um golpe<br />
no queixo, que ao cair, lançou novas<br />
lâminas e uma atingiu Hamour no ombro<br />
direito, que o derrubou. Este com o ombro<br />
697
sangran<strong>do</strong>, tentou levantar, mas outra<br />
lâmina o atingiu na perna.<br />
Ahdack ria muito alto, afinal agora<br />
só teria o trabalho de desfechar o golpe<br />
derradeiro e pendurar a cabeça de Hamour<br />
no mastro mais alto da cidade. Queria que<br />
to<strong>do</strong>s vissem o que acontecera com aquele<br />
que ousou desafiar o Impera<strong>do</strong>r. Ele subiu<br />
a adaga e a baixou para o golpe fatal. Mas<br />
Hamour conseguiu passar-lhe o pé,<br />
<strong>do</strong>bran<strong>do</strong>-lhe os joelhos.<br />
Ahdack caiu e ficou imóvel, com<br />
sua adaga enfiada em sua própria barriga.<br />
Ali estava sua Excelência, o<br />
Impera<strong>do</strong>r, senta<strong>do</strong> com uma lâmina Lazer<br />
fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> seu corpo.<br />
Hamour ficou também onde estava<br />
deita<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> de Ahdack, como se<br />
estivesse tentan<strong>do</strong> recobrar a razão. Pouco<br />
a pouco foi se dan<strong>do</strong> conta <strong>do</strong> que havia<br />
aconteci<strong>do</strong> e, se arrastou até Amis, que<br />
ainda permanecia <strong>do</strong> mesmo jeito.<br />
- Deus, - dizia Hamour- não<br />
deixe que ela morra, não a tire de mim, e<br />
698
ao chegar <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong>, - Graças... ela está<br />
viva. Ainda está viva.<br />
Velz, Maxum e Zurt-Kel vieram<br />
em apoio.<br />
- Amis – Disse com esforço – ela<br />
precisa de socorro mais <strong>do</strong> que eu.<br />
Amis tinha um ferimento feio<br />
nas costas e provavelmente um pulmão<br />
perfura<strong>do</strong>.<br />
- Hamour – disse Velz, o povo<br />
d<strong>aqui</strong> <strong>do</strong>minou to<strong>do</strong>s os setores. Estão<br />
to<strong>do</strong>s felizes pela liberdade.<br />
Hamour não ouvia mais nada.<br />
- Ora, mas que droga – disse<br />
Velz – Vamos improvisar macas e vamos<br />
levá-los para a Atlantis. Thorc sabe como<br />
operar a Nave.<br />
Então Krapnagg e o seus surgiram com<br />
carrinhos especiais usa<strong>do</strong>s para o<br />
transporte de alimentos.<br />
- Zag-zero para a<br />
Kosmos...Zag-zero para a Kosmos...<br />
- Fale Zag-zero.<br />
- Precisamos de apoio médico.<br />
Amis está bastante ferida e Hamour<br />
também. Temos que subir agora.<br />
699
- Pode subir. Os médicos<br />
estarão na espera.<br />
- E os Mobis?<br />
A guerra acabou.<br />
-<br />
- - Aqui também acabou.<br />
Ahdack está morto.<br />
700
EPÍLOGO<br />
Quan<strong>do</strong> Hamour acor<strong>do</strong>u,<br />
tinha ao seu la<strong>do</strong>, Erus Fanna, que parecia<br />
não <strong>do</strong>rmir a mais de um perío<strong>do</strong>, mas<br />
ven<strong>do</strong> o seu amigo acordar, esboçou um<br />
grande e franco sorriso.<br />
- Hamour, você quan<strong>do</strong> resolve<br />
<strong>do</strong>rmir, sai da frente, você <strong>do</strong>rme mesmo.<br />
- A quanto tempo desta vez?<br />
- Primeiro você ficou na<br />
câmara de vida, quase cinco dias e depois<br />
foi trazi<strong>do</strong> para cá, bem... vejamos...ao<br />
to<strong>do</strong> você <strong>do</strong>rmiu oito dias.<br />
- E Amis, como está ela?<br />
- Ela ainda está na câmara de<br />
vida. Teve um pulmão seriamente atingi<strong>do</strong>.<br />
Ainda corre risco de morte. Seu esta<strong>do</strong> é<br />
muito grave.<br />
- Fanna, isto tu<strong>do</strong> aconteceu<br />
mesmo, não?<br />
- Sim, amigo. Tu<strong>do</strong> aconteceu<br />
de verdade.<br />
Neste instante chegaram Velz,<br />
Zuila e Zwump, depois Tutkan, Thorc,<br />
Maxun e Zurt-kel. A pequena cela ficou<br />
701
subitamente lotada. Thorc foi à frente e<br />
disse:<br />
- Meu amigo, que bom tê-lo<br />
novamente entre nós, e deu-lhe um<br />
cristalton, este é um pequeno presente<br />
para você.<br />
- O que contém nele?<br />
- Vá até a sua máquina e verá –<br />
disse Thorc, com um pouco de malícia nas<br />
palavras.<br />
- Não dá para adiantar nem um<br />
pouquinho?<br />
- Não. Veja por si próprio.<br />
Zuila trouxe Zwump pela mão e<br />
perguntou.<br />
- Você lembra de Zwump,<br />
Hamour?<br />
- Sim, claro que me lembro.<br />
Como vai meu amigo?<br />
- Estou bem, apenas com um<br />
pouco de fome.<br />
- Como sempre – foi o que to<strong>do</strong>s<br />
disseram em coro.<br />
- Queria agradecer-lhe o que<br />
fez por to<strong>do</strong>s nós, quero dizer, nós <strong>do</strong><br />
Universo inteiro, que estávamos nas mãos<br />
daquele tirano.<br />
702
- Ora, Zwump, tu<strong>do</strong> que fiz, foi<br />
em conjunto com to<strong>do</strong>s. Na verdade, os<br />
grandes heróis são: Erus Fanna e sua<br />
gente.<br />
- Ora não seja modesto- disse<br />
Fanna- Se não fosse por você, a história<br />
<strong>do</strong> Universo, hoje, seria outra.<br />
- Sim – disse Zwump- Quero<br />
agradecer sinceramente a to<strong>do</strong>s.<br />
- Muito obriga<strong>do</strong> Zwump, agora<br />
me diga, e aqueles outros seus amigos de<br />
natureza estranha, onde estão?<br />
- Se o senhor se refere à<br />
Noisnn e Gruzlnn, já estão em casa, por<br />
bondade <strong>do</strong> comandante Tutkan.<br />
- Sim, disse Tutkan, lhes<br />
demos uma carona... até o planeta deles e<br />
deixaram isto para você – e entregou outro<br />
disquete a Hamour.<br />
- E o que foi feito daquele BH 1...<br />
- Série três, interrompeu Fanna.<br />
- Sim, continuou Zuila – Aquela<br />
coisa horrorosa?<br />
- O nosso? Perguntou Thorc.<br />
- Não, o de Sua Excelência?<br />
- Conte a ela, Thorc, disse Fanna.<br />
- Bem, após pousarmos perto de<br />
um vilarejo deserto e Hamour e os rapazes<br />
703
saíram para explorar o lugar, o tal BH 1<br />
apareceu com mais 10 andróides arma<strong>do</strong>s.<br />
Nossas naves estavam invisíveis, mas ele<br />
nos detectou. Quan<strong>do</strong> finalizaram o cerco<br />
sobre o March de Velz, uma legião de<br />
nativos atacou, com armas pesadas,<br />
mandaram to<strong>do</strong>s pelos ares..<br />
- Eles sabiam que estávamos lá,<br />
desde o início, completou Fanna, e quanto<br />
ao nosso, querida, está com Totcha Mantchunk,<br />
levan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os prisioneiros que<br />
encontramos vivos, de volta aos seus<br />
planetas de origem. E, dirigin<strong>do</strong>-se a<br />
Hamour - não se preocupe com o Merillum<br />
que estava deposita<strong>do</strong> na Fortaleza. Nós o<br />
transferimos para cá, pra Kosmos.<br />
Logo chegou o <strong>do</strong>utor<br />
Halkmian, substituto <strong>do</strong> Dr. Grohalv, e foi<br />
dizen<strong>do</strong>:<br />
- Muito bem pessoal agora<br />
Hamour precisa descansar mais um pouco.<br />
Despeçam-se dele e adeusinho. Visitas só<br />
amanhã.<br />
- Ooohhh! ! ! ! – Foi o que to<strong>do</strong>s<br />
disseram.<br />
- Fanna ficou um pouco mais e<br />
disse:<br />
704
- Hamour, quan<strong>do</strong> voltamos<br />
e atravessamos o portão estelar,<br />
encontramos aqueles seres, os<br />
Arphenius e sabe o que eles disseram?<br />
- Mal posso imaginar.<br />
- Disseram que já estavam fartos<br />
de Sua Excelência, e como sempre,<br />
não interferiram diretamente, apenas,<br />
dimensionaram o tempo e o espaço<br />
para se desencadear a nosso favor.<br />
- Incrível, disse Hamour.<br />
- Agora meu amigo, descanse,<br />
pois amanhã, segun<strong>do</strong> o <strong>do</strong>utor, poderá<br />
ver Amis. Ela saiu <strong>do</strong> perigo e está na<br />
cela ao la<strong>do</strong> da sua. Talvez acorde<br />
amanhã.<br />
- Que Deus nos ajude- disse<br />
Hamour – Ah, espere... pra onde<br />
estamos in<strong>do</strong>?<br />
- Vamos deixar Zwump em casa.<br />
- E depois?<br />
- Vamos para o planeta Terra.<br />
- Terra?<br />
- Sim. Vamos rever nossos<br />
amigos da Terra.<br />
FIM<br />
705