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São Josemaria Escrivá, a Guerra Civil de Espanha e a ... - Opus Dei

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neste projecto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja eu a<br />

<strong>de</strong>cidir o que faço, que não tenha <strong>de</strong><br />

seguir nenhuma orientação, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

você aceite que eu não sou propriamente<br />

um génio e que farei o melhor que<br />

souber, mas tenho <strong>de</strong> ser fiel à minha<br />

verda<strong>de</strong>. Se isto lhe parecer bem, tenho<br />

todo o gosto em realizar este projecto.»<br />

E foi basicamente isto que aconteceu.<br />

Não tinha gran<strong>de</strong>s conhecimentos sobre<br />

<strong>Josemaria</strong>, tinha uma i<strong>de</strong>ia,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, mas foi principalmente<br />

aquele momento do DVD que suscitou o<br />

meu interesse pelo filme. Apareceu-me<br />

uma história sobre um homem, eu li essa<br />

história, e cheguei à conclusão <strong>de</strong> que<br />

tinha respeito por ele; na verda<strong>de</strong>, não se<br />

tratava apenas <strong>de</strong> ter respeito por ele,<br />

pareceu-me que, na sua luta, ele<br />

encarnava qualquer coisa <strong>de</strong><br />

maravilhoso que dizia respeito a todos os<br />

seres humanos, e foi essa história que eu<br />

quis contar, e o filme é sobre isso.<br />

Também não foi nada fácil tratar a<br />

<strong>Guerra</strong> <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> <strong>Espanha</strong>,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente. Teria sido mais fácil<br />

tomar partido por um dos lados, mas<br />

nesse caso teria contrariado o que eu<br />

queria que fosse o aspecto crucial <strong>de</strong>sta<br />

narrativa. A história nunca é imparcial; a<br />

história é escrita pelos vencedores e<br />

reescrita pelos vencidos. Muitas pessoas<br />

optam simplesmente por acreditar nos<br />

boatos ou nos mitos que mais lhes<br />

agradam, e eu não duvido <strong>de</strong> que<br />

teremos <strong>de</strong> nos confrontar com algumas<br />

opiniões sobre aquilo que é ou que era o<br />

<strong>Opus</strong> <strong>Dei</strong>, sobre quem era <strong>Josemaria</strong>, e<br />

sobre aquilo que realmente «foi» a<br />

<strong>Guerra</strong> <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> <strong>Espanha</strong>. Era minha<br />

intenção mostrar o que se passou em<br />

<strong>Espanha</strong> durante a guerra civil sem<br />

tomar partido. Na realida<strong>de</strong>, a <strong>Espanha</strong><br />

passou, durante um período muito curto,<br />

por aquilo mesmo por que a Grã-<br />

Bretanha, por exemplo, passou durante<br />

cem anos, e que foi absorvendo no<br />

<strong>de</strong>curso <strong>de</strong>sse período longo. A revolução<br />

industrial, i<strong>de</strong>ologias <strong>de</strong> classe muito<br />

marcadas, para além da perda do<br />

império e da instabilida<strong>de</strong> económica –<br />

em <strong>Espanha</strong>, as coisas foram mais<br />

marcadas, mais a preto e branco. A bem<br />

dizer, era muito fácil a socieda<strong>de</strong><br />

espanhola fracturar-se, como era muito<br />

fácil, tendo em conta a i<strong>de</strong>ologia da<br />

época, assumir posições opostas e<br />

intensamente estremadas sobre<br />

questões como a justiça social, o papel da<br />

Igreja e por aí fora. A certa altura, como<br />

geralmente acontece quando se gera este<br />

tipo <strong>de</strong> tensões sociais, as posições mais<br />

extremadas começaram a guerrear-se, o<br />

centro foi per<strong>de</strong>ndo peso e os pólos<br />

opostos foram-se reforçando. Ambos os<br />

lados da <strong>Guerra</strong> <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> <strong>Espanha</strong><br />

tinham i<strong>de</strong>ais e um acentuado sentido da<br />

própria virtu<strong>de</strong>. E, tal como aconteceu<br />

com movimentos políticos semelhantes<br />

no resto da Europa, as pessoas <strong>de</strong> ambos<br />

os lados começaram a <strong>de</strong>monizar-se<br />

mutuamente. Mas aquilo que, na Europa,<br />

conduziu a separações <strong>de</strong> base nacional,<br />

em <strong>Espanha</strong> tornou-se fratricida,<br />

<strong>de</strong>ixando cicatrizes psicológicas<br />

profundas e difíceis <strong>de</strong> sarar. Aquilo que<br />

aconteceu em <strong>Espanha</strong> foi<br />

extremamente complicado e dividiu as<br />

famílias <strong>de</strong> uma forma extremamente<br />

dolorosa. Um irmão escolhe uma via,<br />

outro irmão escolhe outra via, mas<br />

<strong>de</strong>ixam por isso <strong>de</strong> ser irmãos? E, se<br />

<strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> ser irmãos por causa disso,<br />

se estamos dispostos a matar os nossos<br />

irmãos em função das nossas convicções,<br />

que valor têm então as nossas opções?<br />

ZENIT – A realização <strong>de</strong>ste filme teve<br />

alguma influência sobre a sua vida<br />

pessoal?<br />

Joffé – Respondo-lhe da seguinte<br />

maneira: não sou propriamente uma<br />

pessoa com gran<strong>de</strong>s convicções<br />

religiosas, mas pediram-me que<br />

escrevesse sobre um homem que as<br />

tinha. E eu fui obrigado a recuar um<br />

passo e a dizer: «Quando escrever sobre<br />

<strong>Josemaria</strong>, tenho <strong>de</strong> tomar como<br />

verda<strong>de</strong>iro, com total honestida<strong>de</strong> e<br />

verda<strong>de</strong>, tudo aquilo que <strong>Josemaria</strong> me<br />

diz que era importante para ele, tudo<br />

aquilo que dava sentido à sua vida, tudo<br />

aquilo que a sua experiência religiosa<br />

significava. Tenho <strong>de</strong> me informar sobre<br />

o que é a experiência religiosa com<br />

honestida<strong>de</strong> e sem preconceitos, e <strong>de</strong><br />

permitir que ela me confronte.»<br />

Li uma série <strong>de</strong> coisas sobre a<br />

experiência religiosa. Comoveu-me e<br />

impressionou-me verificar que muitos<br />

cientistas (em especial físicos) tinham<br />

uma profunda experiência <strong>de</strong> Deus, e<br />

comoveu-me compreen<strong>de</strong>r que a<br />

distinção entre a ciência e a religião, que<br />

se tornou um lugar-comum no nosso<br />

tempo, é afinal falsa. Tive oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta da<br />

física mo<strong>de</strong>rna: que o nosso sentido <strong>de</strong><br />

realida<strong>de</strong> assenta em mo<strong>de</strong>los da mesma<br />

realida<strong>de</strong> que construímos no cérebro, e<br />

que portanto há muitos mo<strong>de</strong>los da<br />

realida<strong>de</strong>, muitos dos quais são<br />

insuficientes como explicação <strong>de</strong> todas as<br />

coisas, embora sejam a<strong>de</strong>quados como<br />

explicação <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>las. <strong>São</strong><br />

mo<strong>de</strong>los que nos proporcionam uma<br />

nova maneira <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o que é <strong>de</strong><br />

facto a realida<strong>de</strong>, ou as realida<strong>de</strong>s, e que<br />

tal compreensão <strong>de</strong> maneira nenhuma<br />

exclui a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Deus nem a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

uma dimensão espiritual do universo que<br />

habitamos; pelo contrário, o facto <strong>de</strong> a<br />

ciência nos ter levado a re<strong>de</strong>finir e<br />

reinterpretar aquilo que é real<br />

proporciona-nos mais uma oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reinterpretar e re<strong>de</strong>finir aquilo que é<br />

espiritual.<br />

Muito provavelmente, só daqui a alguns<br />

anos é que perceberei como foi que esta<br />

experiência me afectou. Julgo que,<br />

quando as coisas são profundas, levam<br />

algum tempo a revelar-se em toda a sua<br />

extensão. Mas aconteceu-me uma coisa<br />

muito estranha com a filmagem <strong>de</strong> There<br />

Be Dragons: eu estava convencido <strong>de</strong><br />

que seria uma experiência <strong>de</strong> solidão,<br />

mas na realida<strong>de</strong> foi uma experiência<br />

extremamente interessante e nada<br />

solitária. Dizer a mim próprio, <strong>de</strong> um<br />

momento para o outro: «<strong>Dei</strong>xa-me<br />

suspen<strong>de</strong>r as minhas respostas simples e<br />

viver antes com as perguntas» foi uma<br />

<strong>de</strong>cisão maravilhosamente empolgante,<br />

que me fez sentir muito, muito próximo<br />

<strong>de</strong>ste estilo <strong>de</strong> vida, e eu diria que nunca<br />

tinha sentido tal coisa. A verda<strong>de</strong> é que<br />

não sei bem até on<strong>de</strong> tudo isto me<br />

conduzirá.

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