Schelling e Hegel: a relação entre arte e natureza
Schelling e Hegel: a relação entre arte e natureza
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Fernando R. de Moraes Barros <strong>Schelling</strong> e <strong>Hegel</strong>: a <strong>relação</strong> <strong>entre</strong> <strong>arte</strong> e <strong>natureza</strong><br />
fundamentais, nem a <strong>natureza</strong> já dada fornece a regra à <strong>arte</strong> nem a reprodução dos<br />
fenômenos como tais é o fim do fazer artístico. Razões bastantes para não confundir a<br />
<strong>arte</strong> com o princípio estrito de imitação da <strong>natureza</strong>. Tanto é assim que, logo na<br />
Introdução dos Cursos de estética, <strong>Hegel</strong> dirá: “A finalidade da <strong>arte</strong> deve residir ainda<br />
em algo distinto da mera imitação formal do que está diante de nós, pois esta imitação<br />
em todos os casos só traz à luz artifícios [Kunststücke] técnicos, mas não obras de <strong>arte</strong><br />
[Kunstwerke].” 35<br />
A <strong>arte</strong> não pretende nem mesmo adaptar a <strong>natureza</strong> ao espírito, mas permitir que<br />
a Ideia apareça numa figuração sensível a ela adequada. Mas, por isso mesmo, a<br />
objetividade enquanto tal é um momento que a <strong>arte</strong> já deveria, ao menos em princípio,<br />
ter superado, transmudando a aparência sensorial em “bela aparência.” 36 O que está<br />
fundamentalmente em jogo, aqui, é uma reformulação da própria distinção tradicional<br />
<strong>entre</strong> aparência e realidade. Pensar a diversidade sensível já não implicará remetê-la a<br />
um princípio supra-sensível do qual ela é apenas uma cópia imperfeita. O que se deve<br />
pensar, doravante, é o próprio movimento de aparecer, pelo qual a efetividade<br />
(Wirklichkeit) é fruto de uma causa que age e atua (wirken) na produção do efeito<br />
(Wirkung). A própria palavra “obra” não faria senão que reiterar esta atividade<br />
producente. Como dirá Gérard Bras a esse propósito: “o movimento psicológico do<br />
trabalho artístico, da produção de uma obra (Werk) evoca esse tornar-se efetivo<br />
(wirklich)”. 37 Mas, e <strong>Schelling</strong>? Teria ele ainda algum crédito em tal contabilidade<br />
teórica?<br />
III. Semelhanças e dessemelhanças<br />
Em nosso entender, mais importante do que identificar as divergências <strong>entre</strong> <strong>Hegel</strong> e<br />
<strong>Schelling</strong> é, em última análise, assinalar a comunidade de suas intenções. Como foi<br />
alusivamente indicado, a consequência a que <strong>Hegel</strong> espera nos conduzir é a de que o<br />
sensível constitui apenas um meio para que a <strong>arte</strong> apresente o espírito que a cruza e<br />
35 Id. Cursos de estética I. op. cit., p. 65.<br />
36 Como bem lembra Marco Aurélio Werle: “A <strong>natureza</strong> tal e qual, o campo do 'um-fora-do-outro'<br />
[Aussereinander], é um momento do espírito, que na <strong>arte</strong> já deve ter sido abandonado.” (M. A. Werle, A<br />
poesia na estética de <strong>Hegel</strong>. São Paulo, Humanitas, 2005, p.53).<br />
37 G. Bras,. <strong>Hegel</strong> e a <strong>arte</strong>. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,<br />
1990, p. 21.<br />
Revista Eletrônica Estudos <strong>Hegel</strong>ianos ano. 8, n. 14, v.1<br />
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