“Reestruturação produtiva”: forma atual da luta de classes - Sinergia
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50 50 - - outubro outubro<br />
outubro<br />
Edmundo Fernan<strong>de</strong>s Dias<br />
ser possível obter a disciplina, a incorporação ativa do trabalho vivo ao<br />
trabalho morto e conseguir que o trabalhador vista a camisa <strong>da</strong> empresa.<br />
Fazê-lo <strong>de</strong>sejar o capital. Para realizar essa tarefa faz-se necessária a<br />
introdução <strong>de</strong> tecnologias mais sofistica<strong>da</strong>s. Produziu-se uma<br />
reterritorialização do trabalho. Após tentar <strong>de</strong>sconstruir os espaços fabris<br />
clássicos, produtores <strong>da</strong> socialização operária amplia<strong>da</strong>, o<br />
neoliberalismo busca “reinventar” as <strong>forma</strong>s tipo trabalho doméstico,<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> artesanal, etc. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> trata-se <strong>da</strong> reintrodução do trabalho<br />
a domicílio: agora, face a face ao computador e, a um só tempo,<br />
artesanal; trabalho visto como emancipatório. Em suma um criador, um<br />
trabalhador “autônomo”. Trata-se, é bom que se diga, <strong>de</strong> uma “autonomia<br />
para o capital” e não para o trabalho.<br />
Não importa se nesse processo são eliminados postos <strong>de</strong> trabalho,<br />
isto é mero <strong>de</strong>talhe para os capitalistas. Busca-se <strong>de</strong>struir não apenas o<br />
trabalhador coletivo, mas seus os coletivos. Em suma, quer-se produzir<br />
um operário parcelar, <strong>de</strong>scontínuo e, acima <strong>de</strong> tudo, inteiramente subordinado<br />
ao capital. Um trabalhador que, por medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o emprego,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> não apenas a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do capital mas, até mesmo, a <strong>de</strong>missão<br />
dos seus companheiros. O caso <strong>da</strong>s ilhas <strong>de</strong> produção é exemplar:<br />
faz-se com que um trabalhador vigie o outro, dispensando assim a vigilância<br />
do patrão.<br />
A tecnologia, e o fetichismo por ela imposto, é aqui fun<strong>da</strong>mental.<br />
O trabalhador se torna um “associado” ao capital. O trabalhador-patrão,<br />
dono muitas vezes <strong>de</strong> pequenas empresas, aparece como responsável<br />
pela produção e pela satisfação dos <strong>de</strong>sejos e interesses dos clientes.<br />
Nessa operação “<strong>de</strong>saparecem” as contradições entre esses trabalhadores<br />
e seus antigos patrões, entre eles e os consumidores. Eliminado o<br />
horizonte antagonista do capital, a referência classista internacional,<br />
<strong>de</strong>sconstruído esse horizonte, <strong>de</strong>spolitizado o <strong>de</strong>bate, tudo se reduz à<br />
administração.<br />
V<br />
A mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> passa a ser o horizonte. O Estado — os práticos<br />
<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m do capital — busca <strong>da</strong>r aparência <strong>de</strong> universal ao que é particular:<br />
o predomínio localizado <strong>da</strong>s <strong>forma</strong>s capitalistas. O uso i<strong>de</strong>ológico<br />
<strong>da</strong> tecnologia permitiu então a maximização do fetichismo, do qual os<br />
trabalhadores tornaram-se prisioneiros, vendo como capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> operativa<br />
<strong>da</strong>s máquinas aquilo que era a sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> como força <strong>de</strong> trabalho.<br />
Velha ilusão, velho espetáculo. A tecnologia aparece agora como a salvação.<br />
A reestruturação produtiva coloca<strong>da</strong> como uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />
além <strong>da</strong>s <strong>luta</strong>s <strong>de</strong> classe se apresenta como inexorável. Para criar as<br />
condições <strong>de</strong>sta nova face <strong>da</strong> dominação capitalista é preciso liqui<strong>da</strong>r as