a palmeira nº31 - Associação dos Antigos Alunos Redentoristas
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CCRÓNICA<br />
nUm poeta em Paris<br />
Naquele 29 de Dezembro, a campainha tocou. Eram as 11h30.<br />
Fui abrir. Pela primeira vez, na minha frente, a presença e o sorriso<br />
do poeta Fernando ECHEVARRIA acompanhado da sua esposa,<br />
a Flor. Esta, fiel ao significado do nome, trazia na mão uma<br />
linda flor branca que ofereceu à minha esposa Marina. Nas mãos<br />
do Fernando, o seu livro, Obra Inacabada. Com um gesto amigo,<br />
abriu-me os braços e ofereceu-me o livro.<br />
Depois do ágape, passámos a tarde na conversa. Mas quando<br />
dois poetas se encontram, fala-se das coisas de toda a gente,<br />
menos de poesia. Falámos da nossa história e do seminário, sem<br />
excesso, pois as esposas não tinham andado por lá. Lembrámos<br />
o tempo de miú<strong>dos</strong> em que havia pés descalços pela rua e nos<br />
bancos da escola; do tempo adolescente, jovem e adulto que nos<br />
marcou e nos destinou; da Espanha e de Portugal, onde feridas,<br />
incompreensões e alegrias bailaram juntas. A poesia do Fernando<br />
é concisa, profunda, bela, nuclear. No encontro da palavra e<br />
da imagem, descobre-se um espírito que cheira à luz. Naquela<br />
tarde descobri o homem que amava a vida e incapaz de exprimir<br />
nem críticas nem amarguras contra o passado ou contra nomes<br />
vivos ou parti<strong>dos</strong>. Gostei de o conhecer. Homem de princípios<br />
e de mensagem humana e divina. Grande poeta. Obrigado pela<br />
tua vinda, Fernando. Até breve. Continua a semear passos.<br />
O “Grand palais”<br />
Esta imensa galeria de 77 000 m 2 , utilizada para exposições diversas,<br />
foi construída em 1887, fazendo parte da Exposição Universal<br />
de 1900. Entre 22 de Setembro de 2010 e 24 de Janeiro de<br />
2011, houve aí uma exposição de 200 quadros do grande pintor<br />
impressionista francês Claude Monet (1840-1925). Neste curto<br />
espaço de tempo, 900 000 pessoas desfilaram diante <strong>dos</strong> seus<br />
quadros maravilhosos. Torrentes de pessoas famintas de beleza<br />
e cansadas do barulho desta cidade que ultrapassa os 12 milhões<br />
de habitantes desafiavam o frio e a chuva. O apetite do público<br />
era tão imenso que, nos últimos 3 dias, a galeria ficou aberta de<br />
dia e de noite para deixar passar essa multidão esfomeada de arte<br />
e do sublime.<br />
Igrejas a vender e outras a construir<br />
Igrejas e catedrais construídas em França antes de 1905 pertencem<br />
ao Estado, embora utilizadas pelos católicos. Actualmente,<br />
em muitas regiões do país, a descristianização palpitante<br />
apresenta igrejas vazias, fechadas, abandonadas. Conservá-las<br />
é caro e sem finalidade. O Estado vê-se perante o dilema: uma<br />
despesa inútil pois os fiéis desapareceram, mas guardar torres e<br />
sinos ou deitar abaixo o que já não serve para perpetuar o diálogo<br />
entre os homens e Deus. De vez em quando, a decisão foi<br />
destruí-las, o que é pena pois é matar muita beleza. A moda,<br />
nesta época de rentabilidade, é vendê-las a empresas imobiliárias<br />
que as transformam em apartamentos e parece até que são<br />
Ecos de<br />
Paris<br />
muito aprecia<strong>dos</strong>. O mesmo acontece com certos seminários;<br />
neste caso, é a Igreja ou as congregações religiosas que tomam a<br />
decisão. Na região de Paris, existem 446 igrejas. Depois de 2005,<br />
construíram-se umas 7.<br />
Paris e outras religiões<br />
Paris e seus arredores têm apenas 9 mesquitas e algumas salas<br />
de pequena dimensão, onde os muçulmanos podem exprimir e<br />
viver o seu culto. Um problema que tem suscitado um debate<br />
político, pois acontece que certas ruas têm sido ocupadas pelos<br />
fiéis para poderem praticar a oração das sextas-feiras.<br />
Em 2010, os Suíços opuseram-se à multiplicação de mesquitas<br />
no seu território. Em França, a presença e o aumento do Islão,<br />
com uma história e integração mais ou menos dolorosas, provocam<br />
grandes debates políticos. Há quase medo ou pelo menos<br />
um certo receio de falar destes temas.<br />
Os protestantes possuem 590 templos e outros lugares mais<br />
pequenos destina<strong>dos</strong> ao culto.<br />
O judaísmo dispõe de 120 sinagogas e outros lugares de culto de<br />
dimensão inferior.<br />
Pai, perdoa-lhes pois eles não sabem…<br />
No Hospital Georges Pompidou, a dois passos da minha casa e<br />
o maior da Europa, houve, há tempos, uma reunião ecuménica<br />
religiosa entre as pessoas que acompanham os doentes na sua<br />
vida de fé. Houve muçulmanos, judeus, budistas, protestantes.<br />
O cardeal de Paris proibiu aos representantes católicos de assistir.<br />
Não se deve confundir… A verdade está do nosso lado. Pai,<br />
perdoa-lhes pois eles não sabem o que fazem!!!<br />
A cegueira do Sr. Manuel Durão Barroso<br />
Fernando Rosinha<br />
Curso de 1950<br />
A residir em Paris<br />
fernando.rosinha@sfr.fr<br />
Sob a presidência do senhor Manuel Durão Barroso, em 2010, a<br />
Comissão Europeia publicou 3 milhões de exemplares de uma<br />
agenda patrocinada pela União Europeia e destinada às escolas<br />
secundárias. Esta agenda menciona as festas judias, hindus,<br />
sikhs e muçulmanas e nenhum rasto nem cheiro das festas cristãs.<br />
Mesmo o dia de Natal aparece vazio. O senhor Barroso deve<br />
ter imenso trabalho pois foi incapaz de ver uma tal injustiça ou<br />
renegou bem a sua cultura e a história do seu e nosso país. Sei<br />
que, depois disso, houve aqui uma rede de protestos pela Internet<br />
e que, tendo esse grito chegado aos ouvi<strong>dos</strong> do nosso conterrâneo,<br />
o erro foi reparado. Partilho convosco algumas frases<br />
da mensagem duma antiga ministra francesa ao senhor Manuel<br />
Durão Barroso: “Sinto-me indignada como uma grande parte<br />
da população europeia cuja religião é o cristianismo. Recuso esta<br />
negação e este esquecimento do que constitui os valores e as convicções<br />
importantes para a vida de tantas pessoas. No nome desses<br />
milhões de cristãos que são assassina<strong>dos</strong> pela fé, eu protesto e não<br />
compreendo como ignorar uma religião pela qual eles sofrem e<br />
morrem.”●<br />
Paris, 2011<br />
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