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10 – <strong>José</strong> <strong>Luiz</strong> <strong>da</strong> <strong>Luz</strong><br />
Cadáver<br />
Eu vi um cadáver no meio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />
que exalava sombrios os seus pecados:<br />
fugiram <strong>da</strong> luz os seus olhos cerrados;<br />
nem havia ternura na voz pungi<strong>da</strong>.<br />
Eu vi um cadáver fingindo viver:<br />
de insensível coração petrificado;<br />
de amor esquecido no sangue gelado;<br />
era uma fonte que deixou de verter.<br />
No parto dos sonhos, morreu agoniado.<br />
Estátua de gelo, de braços cruzados;<br />
não <strong>da</strong>vam afetos seus punhos fechados.<br />
Tornou-se uma pedra de um rio ensecado.<br />
Por cima do mundo, mas longe do céu,<br />
jogava os gritos pesados de langor:<br />
pois não eram de paz, nem eram de amor,<br />
mas eram espinhos jogados ao léu.<br />
Cadáver triste, que do mundo esqueceu:<br />
não sabia <strong>da</strong>s lin<strong>da</strong>s flores dos campos;<br />
tão pouco, do cintilar dos pirilampos.<br />
Era um corpo que an<strong>da</strong>va, mas que morreu.