Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Se autores como William Gibson, John Shirley e Neal<br />
Stephenson fizeram um necessário upgrade na ficção científica,<br />
Miéville e figuras como Jeff VanderMeer (que teve<br />
seu A Situação também publicado pela <strong>Tarja</strong> <strong>Editorial</strong>) e<br />
Kelly Link têm injetado na fantasia elementos de horror,<br />
policial e mistério, gerando uma nova estética chamada por<br />
alguns de new weird.<br />
O termo deve sua existência em parte à revista Weird<br />
Tales, veterano veículo de contos pulp, e também a uma declaração<br />
do próprio Miéville, que disse que escrevia sobre<br />
tais temas porque simplesmente gostava de “weird shit”. É<br />
exatamente essa mixagem entre o pop subterrâneo urbano e<br />
a estilística literária de nomes como Jorge Luís Borges que<br />
caracteriza o new weird. Uma festa onde Raymond Chandler<br />
e Lovecraft conversam com Bioy Casares e M. John Harrison.<br />
Em <strong>Rei</strong> <strong>Rato</strong>, Miéville já mostra os elementos que<br />
dois anos depois viriam a consagrá-lo com Perdido Street<br />
Station, sua obra-prima (publicada em 2000). Estão neste<br />
livro o ambiente urbano ao mesmo tempo familiar e estranho,<br />
espaços que normalmente só vemos das janelas dos<br />
trens e ônibus e que aqui são esfregados em nossos narizes.<br />
Uma fantasia (sub)urbana da melhor estirpe, <strong>Rei</strong> <strong>Rato</strong><br />
tem uma narrativa permeada pelo ritmo do jungle: frases<br />
quebradas, pontuação em loop, uso de pontos, uma vírgula!<br />
Essa tentativa de aplicar ao papel o ritmo dos<br />
breakbeats torna a tarefa de traduzir King Rat ao mesmo tempo<br />
fascinante e árdua. A língua inglesa é pontual por excelência,<br />
presta-se ao papel de marcar a batida de cada break,<br />
de cada linha de baixo. A língua portuguesa é excelente